O Quinze se refere à grande seca de 1915, de Rachel de Queiroz. Aqui
está o drama da terra, nessa obra a prosa regionalista nordestina e o neorrealismo possuem profundas ligações. Seu estilo de escrita quase cronista, serve de base para uma espécie de denúncia da situação social do Ceará. Isso se torna muito claro nas descrições sobre as condições desumanas vividas dentro do campo de concentração em Fortaleza. Temos como personagens principais Conceição uma professora solteira de 22 anos. Independente, culta, suas leituras incluem feminismo e socialismo. As suas ideias avançadas são seus pontos fortes. Vicente – primo de Conceição, sertanejo, um pouco bruto e muito trabalhador. É desconfiado com as pessoas da cidade. Chico Bento – é um vaqueiro, mas perde o trabalho por causa da seca esse torna um retirante. Cordulina – mulher de Chico Bento. Mãe Nácia – Avó de Conceição. Rachel de Queiroz nasceu em 17 de novembro de 1910, em Fortaleza, Ceará. Ainda não havia completado 20 anos, em 1930, quando publicou O Quinze, seu primeiro romance. Rachel dedicou-se ao jornalismo, atividade que sempre exerceu paralelamente à sua produção literária. Tem vários livros publicados. O que caracteriza a criação de Rachel na crônica ou no romance sempre é a observação psicológica e a perspectiva social. Primeira escritora a integrar a Academia Brasileira de Letras (1977), faleceu no Rio de Janeiro, aos 92 anos, em 4 de novembro de 2003. Essa obra se passa no interior de Fortaleza, no início da história, no interior do Ceará. (Quixadá) Logradouro. Como lá está havendo uma seca muito grande Chico Bento sua família migram para Fortaleza e almejam chegar no Amazonas. Descreve alguns aspectos da vida no interior do Ceará em um dos períodos mais dramáticos que o povo atravessou. Mostra realidade do Nordeste Brasileiro. Em dois planos. No primeiro plano enfoca o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro, a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição sua prima culta e professora. 1. A história inicia falando dos primos, Conceição e Vicente. Conceição é forte de espírito, culta, ler muitos livros, já leu, ver-se isso no início da história quando ela fala que tinha decorado tudo, ela teve ideias avançadas sobre a condição feminina, ela também se arriscava a leituras socialistas, onde sua avó dizia que de lá que saia tais ideias estranhas e absurdas. 2. Esse enredo é interessante, porque fala do feminismo, do socialismo (Conceição). Ela dizia que tinha vocação pra ser solteirona, mas teve uma admiração pelo seu primo Vicente, só que os dois são diferentes, pois ele é vaqueiro e não quer sair de Quixadá, não quer largar a vida do interior, os gados, os pais que já estão velhos. No período de férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto de Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se “engraçava” a seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem. Com o advento da seca a f Mãe Nácia decide ir para a cidade a família de Vicente também, pois vão pra Quixadá e deixam Vicente cuidando de tudo, resistindo. Ele trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Para avó Nácia, como representante das tradições, a mulher teria que aceitar a sua condição enquanto mulher. 3. A sua avó Nácia é a representante das velhas tradições Ela consolando Conceição, quando a mesma soube que o primo estava de caso “com uma caboclinha qualquer”. Enquanto ela se revolta, Mãe Nácia a consola. “Minha filha a vida é assim mesmo... Desde hoje que é mundo... Eu acho até os homens de hoje melhores.” Aqui entra a questão do machismo que perdura até hoje na sociedade, nossos pais, avós, os próprios homens, alguns, algumas mulheres também, imagine naquela época. Na obra fala também do preconceito racial, observou-se isso em algumas passagens. 1. Mas você não é moreno como a Conceição, branco leva sol, fica corado, preto fica cinzento. 2. Até aquela filha do Zé Bernardo anda toda ancha, se fazendo de boa. Conceição indagou: e ele tem alguma coisa com ela? A mulata respondeu, o povo ignora muito.Se tiver pior pra ela. Que moço branco não é bico de cobra que nem nós.
3. Uma cabra, uma cunhã – à toa de cabelo pixaim e dente podre.
A obra é voltada para vários questionamentos sociais como: Mãe Nácia por ser ligada as tradições não queria sair da sua terra natal. Só que ela teve que ir para Fortaleza com sua neta Conceição, tem até uma passagem que ela diz o seguinte: os pais de Vicente foram para Quixadá, Vicente ficou em Logradouro, daí ela diz eu também podia ter ficado em Quixadá, junto com meus conhecidos, meus parentes, mais perto do meu canto da minha igreja. EX: Eu lembrei aqui do quadro que tinha de volta para minha terra, quantos não saíram e saem do Nordeste para São Paulo e Rio de Janeiro, atrás de uma vida melhor. Outro ponto importante observado é a fraternidade, a generosidade, como Chico Bento perdeu o seu emprego de vaqueiro ele foi a pé pela estrada tentar chegar em Fortaleza, e nessa andança, encontrou um grupo de retirantes que estavam comendo uma novilha, podre. Mesmo ele com pouca comida dividiu sua comida com os retirantes, um ato de generosidade, fraternidade em meio a fome, pois eles estavam dois dias sem comer, autora diz: generosidade matuta que vem na massa do sangue. Ex.: pessoas do interior. Fala ainda na obra sobre corrupção: Quando Chico Bento perde o emprego, ele vai até ao governo pegar passagens para ele e sua família viajarem para a Capital. Porém quando chega lá não consegue e um homem (Zacarias) falou para ele que as passagens eram para quem desse mais, Chico Bento reclama raivoso do governo, ele disse ajudar o governo ajuda, só que ele é um ratuíno vende as passagens a quem der mais. Corrupção que existe até hoje. EX:projetos sociais, funcionários do hospital. O segundo plano é a parte mais importante do livro. Apresenta a marcha trágica a Fortaleza de Chico Bento e sua família. Como Chico Bento por conta da seca, teve que a mando da dona Maroca, soltar o gado, por falta de pasto à sua sorte. Sem trabalho ele e sua família são obrigados a abandonar Quixadá. Sem dinheiro e sem apoio do governo, a família tem que fazer o percurso de Quixadá até Fortaleza a pé. Durante a viagem a fome é constante, a pouca comida que eles possuem não é suficiente para toda a viagem. A fome de Chico Bento e sua família cresce. Na estrada, eles encontram um animal, que Chico mata para dar a sua família. Mas o dono do animal surge de longe e reivindica a sua posse. Constrangido e com fome, o vaqueiro pede clemência e um pouco de carne para dar a sua família. O dono do animal lhe dá um pouco das tripas. Com muita fome, um dos filhos do casal come uma maniva e morre envenenado. Outro filho, o mais velho se perde durante a noite e segue com outro grupo de imigrantes. Essa narrativa é dividida entre o campo e a cidade, tendo a seca como pano de fundo e elemento de ligação entre duas realidades. No interior do Ceará, o que prevalece é a luta no campo contra a seca, a persistência do homem e o seu trabalho contra as situações adversas impostas pela natureza. Rachel de Queiroz se utiliza do neorrealismo corrente do século XX com um caráter ideológico marcadamente de esquerda/marxista. Tomada de posição perante o sofrimento agravado.