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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA


CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

THAMIRES OHANA COELHO LIMA

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DO CONCRETO E DAS


PROPRIEDADES FÍSICO, QUÍMICO E MINERALÓGICAS DOS AGREGADOS
ALTERNATIVOS UTILIZADOS

Boa Vista/RR

2018
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THAMIRES OHANA COELHO LIMA

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DO CONCRETO E DAS


PROPRIEDADES FÍSICO, QUÍMICO E MINERALÓGICAS DOS AGREGADOS
ALTERNATIVOS UTILIZADOS

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado


como requisito para obtenção do título de Bacharel
em Engenharia Civil pela Universidade Federal de
Roraima.
Orientadora: Profa. Dra. Gioconda Santos e Souza
Martinez.

Boa Vista/RR

2018
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THAMIRES OHANA COELHO LIMA

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DO CONCRETO E DAS


PROPRIEDADES FÍSICO, QUÍMICO E MINERALÓGICAS DOS AGREGADOS
ALTERNATIVOS UTILIZADOS

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado


como requisito para obtenção do título de
Bacharel em Engenharia Civil pela
Universidade Federal de Roraima. Defendida
em 18 de julho de 2018 e avaliada pela
seguinte banca examinadora:

_______________________________________________
Profª. Drª. Gioconda Santos e Souza Martinez.
Orientadora / Curso de Engenharia Civil - UFRR

_______________________________________________
Profº. MSc. João Bosco Pereira Duarte
Curso de Engenharia Civil - UFRR

_______________________________________________
Profª. Drª. Elaine Jaricuna Pereira de Albuquerque
Curso de Engenharia Civil - UFRR
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Dedico este trabalho à Deus, Porque


dEle, e por Ele, e para Ele são todas as
coisas; glória, pois, a Ele eternamente.
Amém! (Rm 11:36). A minha família,
meu maior patrimônio.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, por sua infinita graça e amor. Por renovar minhas
forças e fé a cada dia, e por tudo que tem me proporcionado.
À minha mãe Aline Cristina Gomes Coelho, pelo amor, carinho, cuidado e atenção;
por sempre está ao meu lado me incentivando, aconselhando e dando todo suporte necessário.
Ao meu pai Evaristo Ferreira Lima, por sempre me apoiar e incentivar, por todas as
ligações diárias perguntando como foi meu dia na faculdade e sempre dizendo que eu iria
conseguir.
Aos meus irmãos Cristion Guilherme e Ronara Mirella e sobrinha Annabelle Lima,
por todo amor, carinho e paciência.
À minha orientadora Professora Drª. Gioconda Santos e Souza Martinez, por ter me
acolhido e me orientado durante esses dois anos e meio de elaboração de projetos de pesquisa.
Obrigada por ter agregado tanto na minha vida acadêmica e pessoal, por acreditar em mim e
sempre estar à disposição.
Agradeço ao Prof. MSc. João Bosco Pereira Duarte, por sempre está disponível para
tirar dúvidas e orientar. Obrigada pelas conversas e direcionamento.
Minha amiga Engenheira e Mestranda Márcia Severino da Costa, por sempre me
ajudar, auxiliar e orientar ao longo do meu curso, em especial na conclusão deste trabalho.
Ao laboratorista e amigo Glebisson Cunha da Silva, pelo auxilio nos ensaios de
laboratório e por sempre compartilhar seus conhecimentos.
Ao departamento e professores do curso de Engenharia Civil, em especial a
coordenação do curso pelo suporte no uso dos laboratórios do Núcleo de Pesquisa em
Engenharia (NUPENG).
Ao Instituto Euvaldo Lodi (IEL), pela iniciativa de cooperação com o projeto do
BITERR, que foi um dos primeiros projetos de pesquisa que fiz na graduação, e foi um
grande colaborador na elaboração dos meus projetos de pesquisa e conclusão deste trabalho.
Aos amigos que fiz na graduação, Nadyne Gonzales, Flaider Pimentel, Josiane Teles,
Gustavo Nunes, Lucas Matheus, Ylorranne Ferreira, Juciane Coelho e Vitória Araújo.
Obrigada pela ajuda, incentivo e momentos que passamos juntos.
Á todos meus amigos que de forma direta e indireta me ajudaram nessa jornada.
Obrigada a todos envolvidos na minha formação acadêmica.
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LIMA, T. O. C. (1); MARTINEZ, G. S. e S.(2), “Análise do comportamento mecânico do


concreto e das propriedades físico, químico e mineralógicas dos agregados alternativos
utilizados.”, tataohana12@gmail.com; gioconda.martinez@ufrr.br; (1) Acadêmica do Curso
de Engenharia Civil – UFRR; (2) Professora Drª. associada IV do Departamento de
Engenharia Civil- CCT-UFRR.

RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo realizado no Núcleo de Pesquisa em Engenharia


(NUPENG) da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e aborda a possibilidade de
inserção de agregados alternativos, considerados atualmente apenas como resíduos para
deposição em aterros sanitários. A escolha dos resíduos se deu em função do potencial
poluidor e da disponibilidade local, ou seja, foram escolhidos resíduos, para serem utilizados
como agregados alternativos, que tivessem impacto na região metropolitana de Boa Vista. Os
resíduos escolhidos foram a cinza da casca de arroz, palha de Inajá (Maximiliana maripa) e
pneus triturados. Foram analisadas as propriedades físicos, químico e mineralógicas dos
agregados e as propriedades do concreto no estado fresco e endurecido. O comportamento do
concreto foi analisado para as diferentes inserções de agregados alternativos. Ao final foi
determinado o agregado que mais contribuiu com a elevação da resistência à compressão
simples e os que trouxeram maior decréscimo da citada resistência. Foram ainda, analisadas
as possíveis causas desse comportamento. A cinza da casca de arroz foi o elemento que
promoveu maior incremento de resistência em idades superiores a 3 dias de cura.

Palavras-chaves: Agregados alternativos. Casca de arroz. Cinza no concreto. Pneu triturado.


Resitência à compressão simples.
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LIMA, T.O.C. (1); MARTINEZ, G. S. and S. (2), "Analysis of the mechanical behavior of
concrete and physical, chemical and mineralogical properties of the alternative
aggregates used", tataohana12@gmail.com; gioconda.martinez@ufrr.br; (1) Academic of the
Civil Engineering Course - UFRR; (2) Professor Drª. associate IV of the Department of Civil
Engineering - CCT-UFRR.

ABSTRACT

This work presents a study performed at the Nucleus of Engineering Research (NUPENG) of
the Federal University of Roraima (UFRR) and discusses the possibility of insertion of
alternative aggregates, currently considered only as waste for deposition in landfills. The
choice of residues was based on potential pollution and local availability, that is, residues
were chosen to be used as alternative aggregates that had an impact on the metropolitan area
of Boa Vista. The selected residues were the rice husk ash, Inajá straw (Maximiliana maripa),
and crushed tires. The physical, chemical and mineralogical properties of the aggregates and
the properties of the concrete in the fresh and hardened state were analyzed. The behavior of
the concrete was analyzed for the different insertions of alternative aggregates. At the end, it
was determined the aggregate that contributed the most to increase the resistance to simple
compression and those that brought greater decrease of the mentioned resistance. The possible
causes of this behavior were also analyzed. Rice husk ash was the element that promoted the
greatest increment of resistance at ages greater than 3 days of cure.

Keywords: Alternative aggregates. Rice husk. Ash on concrete. Shredded tire. Simple
compression strength.
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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Tipos de cimento Portland. ...................................................................................... 20


Quadro 2: Traço do concreto utilizado ..................................................................................... 24
Quadro 3: Resultados dos rompimentos de todas as idades. .................................................... 25
Quadro 4: Valores médios de resistência em MPa. .................................................................. 25
Quadro 5: Requisitos para resistência característica à compressão. ......................................... 26
Quadro 6: Resistência à compreensão média dos corpos de prova de concreto....................... 27
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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Ensaios de caracterização física do cimento Portland. ............................................. 28


Tabela 2: Ensaios de caracterização do agregado miúdo. ........................................................ 29
Tabela 3: Ensaios de caracterização do agregado graúdo. ....................................................... 29
Tabela 4: Quantidade de corpos de prova. ............................................................................... 38
Tabela 5: Pasta de consistência normal do cimento Portland. .................................................. 40
Tabela 6: Tempos de pega do cimento Portland....................................................................... 40
Tabela 7: Índice de finura do cimento Portland. ...................................................................... 40
Tabela 8: Massa específica dos agregados. .............................................................................. 42
Tabela 9: Traço de dosagem do concreto em massa. ............................................................... 44
Tabela 10: Quantidade de material para moldagem dos CPs. .................................................. 44
Tabela 11: Resultado ensaio de Slump test. ............................................................................. 44
Tabela 12: Resultados do ensaio de resistência a compressão simples do concreto. ............... 45
Tabela 13: Percentagem de acréscimo de RCS do Concreto.................................................... 46
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Coleta da casca de arroz na indústria. ....................................................................... 30


Figura 2: Palha de Inajá após beneficiamento. ......................................................................... 30
Figura 3: Resíduo de pneu triturado. ........................................................................................ 31
Figura 4: Fluxograma da metodologia adotada no trabalho. .................................................... 31
Figura 5: Forno elétrico tipo mufla, casca de arroz antes e após queima a 500ºC. .................. 32
Figura 6: Palha de Inajá separadas e cortadas. ......................................................................... 32
Figura 7: Ensaios de pasta de consistência e tempos de pega. ................................................. 33
Figura 8: Ensaio de quarteamento e Sequência de Peneiras da série normal. .......................... 33
Figura 9: Ensaio de massa específica da cinza da casca de arroz. ............................................ 35
Figura 10: Execução do ensaio de difração de Raios-X. .......................................................... 35
Figura 11: Planilha do traço de dosagem.................................................................................. 36
Figura 12: Materiais usados para dosagens do concreto. ......................................................... 37
Figura 13: Execução do ensaio de Slump test. ......................................................................... 37
Figura 14: Moldagem dos corpos de prova. ............................................................................. 38
Figura 15: Corpos de prova após moldagem e em câmara úmida. ........................................... 38
Figura 16: Máquina de resistência à compressão. .................................................................... 39
Figura 17: Corpos de prova rompidos. ..................................................................................... 39
Figura 18:Curva granulométrica da areia. ................................................................................ 41
Figura 19: Curva granulométrica da brita................................................................................. 41
Figura 20: Curva granulométrica do pneu triturado. ................................................................ 42
Figura 21: Difração de raios-X da cinza da casca de arroz. ..................................................... 43
Figura 22: Resistência à compressão simples do concreto. ...................................................... 45
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira De Normas Técnicas


cm Centimetro
cm³ Centímetro Cubico
CP Corpos De Prova
DRX Difração De Raios-X
g Grama
IEL Instituto Euvaldo Lodi
IPT Instituto De Pesquisas Tecnológicas
Kg Quilograma
mm Milímetro
MPa Megapascal
NBR Norma Brasileira
NM Normas Mercosul
NUPENG Núcleo De Pesquisa Em Engenharia
RCS Resistência A Compressão Simples
tnf Tonelada Força
UFRR Universidade Federal De Roraima
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 14
2. JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 16
3. OBJETIVOS ............................................................................................................. 17
3.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................... 17
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 17
4. REFERÊNCIAS TEÓRICO ................................................................................... 18
4.1 CONCRETO .............................................................................................................. 18
4.1.1 História do cimento .................................................................................................. 18
4.1.2 Experiência Brasileira .............................................................................................. 19
4.1.3 Tipos de cimento ....................................................................................................... 20
4.2 PROPRIEDADES DO CONCRETO FRESCO E ENDURECIDO .......................... 21
4.2.1 Concreto fresco ......................................................................................................... 21
4.2.1.1 Consistência ............................................................................................................... 21
4.2.1.2 Plasticidade ................................................................................................................ 21
4.2.1.3 Trabalhabilidade ......................................................................................................... 22
4.2.1.4 Exsudação .................................................................................................................. 22
4.2.2 Concreto endurecido ................................................................................................ 22
4.2.2.1 Resistência à compressão ........................................................................................... 22
4.2.2.2 Cura do Concreto........................................................................................................ 23
4.3 AGREGADOS ALTERNATIVOS - PESQUISAS RECENTES .............................. 24
4.3.1 Resíduos da cinza da casca de arroz ....................................................................... 24
4.3.2 Resíduos de pneu triturado ..................................................................................... 26
5. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 28
5.1 MATERIAIS .............................................................................................................. 28
5.1.1 Cimento ..................................................................................................................... 28
5.1.2 Agregado miúdo ....................................................................................................... 28
5.1.3 Agregado graúdo ...................................................................................................... 29
5.1.4 Água ........................................................................................................................... 29
5.1.5 Resíduos..................................................................................................................... 29
5.1.6 Cinza da casca de arroz ........................................................................................... 30
5.1.7 Palha de inajá............................................................................................................ 30
5.1.8 Pneu triturado........................................................................................................... 30
5.2 MÉTODOS ................................................................................................................. 31
5.2.1 Coleta dos agregados alternativos........................................................................... 31
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5.2.2 Beneficiamento dos agregados alternativos ........................................................... 32


5.2.3 Características físicas do concreto .......................................................................... 33
5.2.4 Analise granulométrica ............................................................................................ 33
5.2.5 Massa especifica ........................................................................................................ 34
5.2.6 Difração de Raios-X ................................................................................................. 35
5.2.7 Traço do concreto ..................................................................................................... 36
5.2.8 Dosagem do concreto................................................................................................ 37
5.2.9 Slump Test ................................................................................................................. 37
5.2.10 Moldagem e cura dos corpos de prova ................................................................... 37
5.2.11 Resistência à compressão simples ........................................................................... 39
6. RESULTADOS E DISCUSÕES ............................................................................. 40
6.1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO CONCRETO .................................................. 40
6.2 ANÁLISE GRANULOMETRICA ............................................................................ 40
6.3 MASSA ESPECIFICA ............................................................................................... 42
6.4 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X ........................................................................................ 43
6.5 TRAÇO DO CONCRETO ......................................................................................... 43
6.6 SLUMP TESTE .......................................................................................................... 44
6.7 RESISTENCIA À COMPRESSÃO SIMPLES ......................................................... 45
7. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 47
8. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ..................................................... 48
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 49
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1. INTRODUÇÃO

Há necessidade de promoção de ações que visem diminuir os impactos ambientais


causados pela indústria da construção civil, pois grande parte utiliza a matéria-prima não
renovável. O concreto de cimento Portland é o material resultante da mistura, em
determinadas proporções, de um aglomerante, cimento Portland, com um agregado miúdo,
geralmente areia lavada, um agregado graúdo, geralmente brita e água (ABCP, 2002). Em tal
mistura os agregados minerais são matérias primas extraídas da natureza. O trabalho proposto
é substituir uma porcentagem ótima dessa matéria prima, por uma de origem alternativa, que
ao mesmo tempo em que substitua o gasto envolvido, ainda elimine resíduos sólidos que
causam danos a natureza e são depositados nos lixões.

Os resíduos escolhidos neste trabalho para terem seu comportamento observado


enquanto substituintes de parte do agregado miúdo foram: cinza da casca de arroz, palha de
inajá e pneu triturado.

A palha de Inajá constitui-se numa praga que tem trazido grande transtorno aos
proprietários de terra no Estado de Roraima. Segundo a Fundação de Amparo à pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP), o inajá (Maximiliana maripa) é uma palmeira abundante na
região amazônica, sendo considerada uma praga por muitos habitantes locais. Traz prejuízos
à pecuária, pois suas sementes são dispersas facilmente por diversos animais, e a planta, que
atinge até 20 metros, resiste ao fogo, brotando novamente onde são feitas queimadas para
preparação de pastagens. Diante deste cenário e ciente de várias referências bibliográficas que
tem apontado para o potencial das fibras de algumas palmeiras como incrementadoras da
resistência do concreto.

No caso da casca de arroz, tais resíduos geram problemas pela deposição inadequada
no meio ambiente. O Estado de Roraima gera uma produção de aproximadamente 75 mil
toneladas de arroz em casca (SANTOS, 2014), e não destina adequadamente todo o
quantitativo de cascas que são originadas quando do beneficiamento do arroz. Neste contexto,
é viável a disponibilidade de cinzas, praticamente sem custos, às empresas locais, fomentando
a substituição do agregado convencional pelos resíduos de cinzas de casca de arroz na
fabricação de blocos de concreto para pavimentação.

Todos os resíduos descartados incorretamente causam enorme transtorno à natureza,


no caso dos pneus tem-se que tais elementos geram grandes problemas ao meio ambiente
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devido à dificuldade de seu descarte. A produção anual de pneus no Brasil é da ordem de 40


milhões de unidades, sendo estimado um descarte de cerca de 25 milhões de pneus por ano
(MIRANDA, 2006). Diante da necessidade de reaproveitamento desse material na construção
civil, parte do agregado miúdo será substituída por borracha fracionada do pneu triturada na
fabricação de blocos de concreto para pavimentação.

A escolha de tais elementos se deu em função do potencial de dano à natureza e em


função do impacto local que ocasionam. Por outro lado, Boa Vista se constitui numa cidade,
que está recebendo obras de drenagem, pavimentação, calçadas, meio-fio e sarjetas (PMBV,
2018), resultando num montante expressivo de quantitativo de elementos de concreto, pavers
ou similares, a se produzir. Logo, existe grande demanda por concreto visando pavimentação
para atender tráfego de médio e pequeno porte em calçadas e estacionamentos. Diante de tal
demanda, este trabalho apresenta propostas de substituição de agregado convencional por
novos agregados alternativos para a execução de concreto e ou fabricação de pavers para
pavimentação.
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2. JUSTIFICATIVA

A preocupação mundial em termos ecológicos mais impactante na atualidade diz


respeito à destinação final de resíduos de várias origens, uma vez que a decomposição desses
materiais se dá em grandes idades e invariavelmente poluem a natureza, trazendo riscos à
qualidade do ar, da água e poluição sonora. Essa situação se torna mais pertinente ainda
quando a cidade não dispõe de aterros sanitários, como ocorre em Boa Vista.
Neste contexto, a presente pesquisa traz um estudo sobre a inserção de agregados
alternativos, antes tratados como resíduos, na confecção de concretos e ou pavers para
pavimentação. Assim, este trabalho visa diminuir a destinação de elementos como a cinza da
casca de arroz, palha de inajá e pneu para o lixão local, transformando produtos geradores de
impacto ambiental em produtos ecologicamente corretos e inovadores utilizados na
construção civil.
Por outro lado, em termos comerciais, tem-se visto que produtos com apelo
ecológico tendem a ter um mercado melhor para as empresas, em função de uma consciência
ambiental das sociedades cada vez mais forte. Em Boa Vista, produtos com apelo ecológico
são invariavelmente oriundos de outras cidades. Existem vários casos de aquisição de
produtos vindos de Manaus, que dista quase 800km do mercado de Boa Vista. Dessa forma,
ocorre um vazio de oferta desse tipo de produto na cidade.
Este trabalho, trata-se de uma pesquisa com inovação, em termos de composição do
produto, tendo sido necessário conhecer as propriedades físicas e mecânicas adquiridas com a
inserção das modificações de comportamento oriundas desses novos agregados.
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3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral é analisar possibilidades de inserção de resíduos danosos à natureza


em obras de engenharia e o comportamento mecânico do concreto em termos de resistência à
compressão simples de corpos de prova moldados com adição de agregados alternativos.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Caracterizar os materiais naturais e artificiais constituintes do concreto;


 Caracterizar os agregados alternativos;
 Determinar as propriedades do concreto fresco e endurecido das novas misturas;
 Determinar o comportamento mecânico em termos de resistência à compressão
simples (RCS).
 Analisar comparativamente a resistência à compressão, dos distintos concretos
originados a partir dos diferentes agregados.
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4. REFERÊNCIAS TEÓRICO

4.1 CONCRETO

O concreto é constituído por uma mistura de água, cimento e agregados inertes, em


partículas de diversos tamanhos. A água e o cimento, quando recém-misturados, formam a
pasta que com o tempo endurece adquirindo resistência mecânica e aderindo às partículas de
agregados (GIAMMUSO,1992).
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem do
Brasil (ABESC,2007) O Cimento é um composto químico seco, finamente moído, que ao ser
misturado com água reage lentamente formando um novo composto, desta vez, sólido. O
Concreto é um material formado pela mistura de cimento, água, agregados (areia e pedra) e,
eventualmente, aditivos.
De acordo com a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP, 2017), o
cimento é um pó fino com propriedades aglomerantes, aglutinantes ou ligantes, que endurece
sob a ação de água. Na forma de concreto, torna-se uma pedra artificial, que pode ganhar
formas e volumes, de acordo com as necessidades de cada obra. Graças a essas características,
o concreto é o segundo material da construção civil mais consumido pela humanidade,
superado apenas pela água.
O cimento e a água formam a pasta que une os agregados quando endurecida. A este
conjunto denominamos concreto que, inicialmente encontra-se em estado plástico, permitindo
ser moldado nas mais diversas formas, texturas e finalidades (ABESC,2007).

4.1.1 História do cimento

A palavra cimento é originada do latim CAEMENTU, que designava na velha Roma


espécie de pedra natural de rochedos e não esquadrejada. A origem do cimento remonta há
cerca de 4.500 anos. Os imponentes monumentos do Egito antigo já utilizavam uma liga
constituída por uma mistura de gesso calcinado. As grandes obras gregas e romanas, como o
Panteão e o Coliseu, foram construídas com o uso de solos de origem vulcânica da ilha grega
de Santorino ou das proximidades da cidade italiana de Pozzuoli, que possuíam propriedades
de endurecimento sob a ação da água (ABCP,2017).
O grande passo no desenvolvimento do cimento foi dado em 1756 pelo inglês John
Smeaton, que conseguiu obter um produto de alta resistência por meio de calcinação de
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calcários moles e argilosos. Em 1818, o francês Vicat obteve resultados semelhantes aos de
Smeaton, pela mistura de componentes argilosos e calcários. Ele é considerado o inventor do
cimento artificial. Em 1824, o construtor inglês Joseph Aspdin queimou conjuntamente
pedras calcárias e argila, transformando-as num pó fino. Percebeu que obtinha uma mistura
que, após secar, tornava-se tão dura quanto as pedras empregadas nas construções. A mistura
não se dissolvia em água e foi patenteada pelo construtor no mesmo ano, com o nome de
cimento Portland, que recebeu esse nome por apresentar cor e propriedades de durabilidade e
solidez semelhantes às rochas da ilha britânica de Portland (ABCP,2017).

4.1.2 Experiência Brasileira

No Brasil, estudos para aplicar os conhecimentos relativos à fabricação do cimento


Portland ocorreram aparentemente em 1888, quando o comendador Antônio Proost
Rodovalho empenhou-se em instalar uma fábrica na fazenda Santo Antônio, de sua
propriedade, situada em Sorocaba-SP. Várias iniciativas esporádicas de fabricação de cimento
foram desenvolvidas nessa época. Assim, chegou a funcionar durante apenas três meses, em
1892, uma pequena instalação produtora na ilha de Tiriri, na Paraíba, cuja construção data de
1890, por iniciativa do engenheiro Louis Felipe Alves da Nóbrega, que estudara na França e
chegara ao Brasil com novas ideias, tendo inclusive o projeto da fábrica pronto e publicado
em livro de sua autoria. Atribui-se o fracasso do empreendimento não à qualidade do produto,
mas à distância dos centros consumidores e à pequena escala de produção, que não conseguia
competitividade com os cimentos importados da época (ABCP,2017).
A usina de Rodovalho lançou em 1897 sua primeira produção – o cimento marca
Santo Antonio – e operou até 1904, quando interrompeu suas atividades. Voltou em 1907,
mas experimentou problemas de qualidade e extinguiu-se definitivamente em 1918. Em
Cachoeiro do Itapemirim, o governo do Espírito Santo fundou, em 1912, uma fábrica que
funcionou até 1924, com precariedade e produção de apenas 8.000 toneladas por ano, sendo
então paralisada, voltando a funcionar em 1935, após modernização(ABCP,2017).
Todas essas etapas não passaram de meras tentativas que culminaram, em 1924, com
a implantação pela Companhia Brasileira de Cimento Portland de uma fábrica em Perus,
Estado de São Paulo, cuja construção pode ser considerada como o marco da implantação da
indústria brasileira de cimento. As primeiras toneladas foram produzidas e colocadas no
mercado em 1926. Até então, o consumo de cimento no país dependia exclusivamente do
produto importado. A produção nacional foi gradativamente elevada com a implantação de
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novas fábricas e a participação de produtos importados oscilou durante as décadas seguintes,


até praticamente desaparecer nos dias de hoje (ABCP, 2017).

4.1.3 Tipos de cimento

O mercado nacional dispõe de 8 opções, que atendem com igual desempenho aos
mais variados tipos de obras. O cimento Portland comum (CP I) é referência, por suas
características e propriedades, aos 11 tipos básicos de cimento Portland disponíveis no
mercado brasileiro.
Quadro 1: Tipos de cimento Portland.

Tipo Código
CP I-25, CP I-32, CP I-40
Comum
CP I-S-25, CP I-S-32, CP I-S-40
CP II-E-25, CP II-E-32, CP II-E-
40 CP II-Z-25, CP II-Z-32,
Composto
CP II-Z-40 CP II-F-25, CP II-F-
32, CP II-F-40
Alto-Forno CP III-25, CP III-32, CP III-40
Pozolânico CP IV-25, CP IV-32
Fonte: Adaptado Portland (2002).

Esses tipos se diferenciam de acordo com a proporção de clínquer e sulfatos de


cálcio, material carbonático e de adições, tais como escórias, pozolanas e calcário,
acrescentadas no processo de moagem. Podem diferir também em função de propriedades
intrínsecas, como alta resistência inicial, a cor branca etc.
O próprio Cimento Portland Comum (CP I) pode conter adição (CP I-S), neste caso,
de 1% a 5% de material pozolânico, escória ou fíler calcário e o restante de clínquer.
O Cimento Portland Composto (CP II- E, CP II-Z e CP II-F) tem adições de escória,
pozolana e filer, respectivamente, mas em proporções um pouco maiores que no CP I-S.
Já o Cimento Portland de Alto-Forno (CP III) e o Cimento Portland Pozolânico (CP
IV) contam com proporções maiores de adições: escória, de 35% a 70% (CP III), e pozolana
de 15% a 50% (CP IV).
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4.2 PROPRIEDADES DO CONCRETO FRESCO E ENDURECIDO

O concreto é considerado como fresco até o momento em que tem início a pega do
aglomerante e após o fim desse processo o material é considerado concreto endurecido.

4.2.1 Concreto fresco

Segundo ARAÚJO, et al (2000) o concreto fresco possui as seguintes propriedades:

4.2.1.1 Consistência

A consistência é o grau de fluidez da mistura do concreto fresco, estando, portanto,


diretamente relacionado com a mobilidade da pasta (mistura de cimento e água). Pode-se
considerar como o principal fator influente na consistência, o teor de água/materiais secos.
Quanto mais plástica for a consistência do concreto, maior é a facilidade de moldagem e
deslize do concreto entre a armadura, sem que ocorra a separação dos seus componentes. A
baixa ou alta consistência é definida baseando-se no espaçamento entre as paredes das formas,
natureza da obra e a distribuição da armadura no seu interior.
No Brasil o processo de determinação da consistência é o ensaio de abatimento
conhecido como Slump Test. Na elaboração do ensaio primeiramente molha-se o cone e a
chapa metálica sob o mesmo, após enche-se o cone com concreto em três camadas de igual
altura sendo cada camada “socada” com 25 golpes, com uma barra de ferro de 16 mm. Por
fim retira-se o cone verticalmente e mede-se o abatimento da amostra do concreto.

4.2.1.2 Plasticidade

Plasticidade é a propriedade que o concreto fresco possui, definida pela facilidade


com que o mesmo pode ser moldado sem se romper. Essa propriedade é inteiramente
dependente da consistência e do grau de coesão entre os componentes do concreto. Na
ausência da coesão ocorre a segregação que é definida como a separação dos grãos do
agregado da pasta de cimento que pode ocorrer durante o transporte, durante o lançamento,
durante o adensamento ou também pela ação da gravidade que provoca o assentamento dos
grãos mais pesados no fundo das formas, ficando os demais espalhados pela pasta de cimento.
A plasticidade tem muita importância no que se refere à quantidade de agregados
miúdos no concreto por exercerem influência preponderante sobre a plasticidade do mesmo
22

devido a elevada área específica. Também é extremamente importante lembrar que o uso de
areia em quantidades exageradas aumenta demasiadamente a coesão da mistura e dificulta o
lançamento e adensamento do concreto em formas, além de aumentarem o consumo do
cimento e, consequentemente, o custo final.

4.2.1.3 Trabalhabilidade

A trabalhabilidade é a propriedade do concreto fresco definida como a maior ou a


menor facilidade de seu emprego para atender a um determinado fim. O concreto é
considerado trabalhável quando no estado fresco apresenta consistência e dimensões máximas
dos agregados apropriadas ao tipo de obra a que se destina, levando em conta as dimensões
das peças, afastamento e distribuição das barras de aço, métodos de transporte, lançamento e
adensamento que serão adotados. A trabalhabilidade depende principalmente das condições
do local da aplicação do concreto, ou seja, um concreto adequado para peças de grandes
dimensões e pouco armado pode não sê-lo para peças delgadas e muito armado.

4.2.1.4 Exsudação

É o fenômeno que deve sempre ser evitado, caracterizado pela separação da água
dos demais componentes do concreto e pela subida deste até a superfície da peça concretada.
Este fenômeno acontece quando no processo de lançamento do concreto nas formas a parte
solida não é capaz de reter a água de amassamento e geralmente em concretos com pequena
porcentagem de finos provocando um concreto muito poroso e menos resistente.
A NBR NM 67 (ABNT, 1998) é o método de ensaio definido pela normalização
brasileira para determinação da consistência do concreto fresco através do abatimento do
tronco de cone. Nos concretos especiais como, por exemplo, os bombeados, as características
para a bombeabilidade (trabalhabilidade) dependerão não só do abatimento, mas também do
diâmetro máximo do agregado graúdo, do consumo de cimento e do teor de argamassa.

4.2.2 Concreto endurecido

4.2.2.1 Resistência à compressão

A resistência à compressão é importante tanto para si mesma como também pela


influência que ela exerce sobre outras propriedades do concreto endurecido. Ela dá uma ideia
23

geral da qualidade do concreto, pois está diretamente relacionada com a estrutura da pasta de
cimento hidratada. Propriedades como módulo de elasticidade, impermeabilidade e resistência
às intempéries são diretamente relacionadas com a resistência à compressão (MEHTA e
MONTEIRO, 1994; NEVILLE, 1997). A resistência de um material é dada como a
capacidade de resistir à tensão sem se romper. No concreto, a resistência está relacionada à
tensão necessária para causar a ruptura, definida como tensão máxima que a amostra do
concreto pode suportar (METHA e MONTEIRO, 1994).
A NBR 5738 (ABNT, 2015) determina os procedimentos para a moldagem e cura
dos corpos-de-prova, que podem ser realizados por imersão em água ou em câmara úmida,
com condição de temperatura e umidade relativa do ar controlada. Os corpos-de-prova devem
ser cilíndricos, sendo mais comumente utilizados no Brasil, os de 10cm de diâmetro por 20cm
de altura e os de 15cm de diâmetro por 30cm de altura. O ensaio de resistência à compressão
dos corpos de prova cilíndricos deve seguir os procedimentos da 5739 (ABNT, 2018), que
define os tratamentos que podem ser empregados no topo dos corpos-de-prova, a velocidade
de carregamento, a umidade dos corpos-de-prova, dentre outras condições de ensaio que
possam influenciar nos resultados. A qualidade potencial do concreto depende da relação
água/cimento e do grau de hidratação. São esses os dois principais parâmetros que regem as
propriedades de absorção capilar da água, de permeabilidade por gradiente de pressão de água
ou de gases, de difusividade da água ou dos gases, de migração elétrica de íons, assim como,
todas as propriedades mecânicas, tais como: módulo de elasticidade, resistência à compressão,
à tração, fluência, relaxação, abrasão e outras.

4.2.2.2 Cura do Concreto

De acordo com Neville (1997), a cura é a denominação dada aos procedimentos que
se recorre para promover a hidratação do cimento e consiste em controlar a temperatura e a
saída e entrada de umidade do concreto. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de
Serviços de Concretagem a cura do concreto é uma etapa importante da concretagem, pois
evita a evaporação prematura da água e fissuras no concreto. Depois de lançado e adensado, o
concreto desenvolve sua resistência ao longo do tempo e a água do interior da mistura tende a
evaporar. ABESC aconselha a cura através de aspersão de água sobre a superfície do
concreto, através da molhagem das fôrmas, pelo recobrimento com areia, serragem e outros,
através de membranas de cura, submersão ou cura a vapor.
A cura do concreto tem por objetivo evitar a perda de umidade e controlar a
24

temperatura por um período suficiente para atingir o nível de resistência desejado (METHA e
MONTEIRO, 1994).
4.3 AGREGADOS ALTERNATIVOS - PESQUISAS RECENTES

4.3.1 Resíduos da cinza da casca de arroz

Segundo a pesquisa do autor LUDWIG (2014) a cinza da casca de arroz utilizada


para os ensaios é da marca ‘Pilecco’ que produz arroz e também a cinza controlando a queima
da casca, com temperatura de até 500°C, para que a cinza obtenha a coloração preta, que é
rica em carbono fixos e sílica amorfa.
O traço utilizado para a moldagem dos corpos de prova foi de 1:3, 14:3,77(cimento,
areia e brita) e dosado para atingir resistência de 25 MPa, na quantidade de produção de 1m³
de concreto, conforme o quadro 2.

Quadro 2: Traço do concreto utilizado

Fonte: LUDWIG (2014)

Em termos de resistência o que se observou foram os seguintes dados nos quadros 3


e 4 a seguir.
25

Quadro 3: Resultados dos rompimentos de todas as idades.

Fonte: LUDWIG (2014)

Quadro 4: Valores médios de resistência em MPa.

Fonte: LUDWIG(2014)

Ainda segundo LUDWIG (2014) concluiu-se que o concreto com adição da cinza de
casca de arroz pode ter amplo espaço em meio ao mercado da construção civil, visto que o
produto testado com 3% de CCA possui desempenho superior ao concreto apresentado como
traço de referência no presente trabalho.
Portanto, cabe salientar que a adição de CCA é benéfica para a produção de concreto,
elevando sua resistência, mesmo que em uma quantidade não tão alta.
Com a redução da quantidade de cimento, o qual é produzido através da extração de
recursos naturais, e aplicação de CCA em concretos, introduz-se no processo um material
sustentável, gerado pelo resíduo da produção de arroz.
26

4.3.2 Resíduos de pneu triturado

Segundo SANTOS (2018), uma boa forma de aproveitamento dos resíduos de pneus,
como agregado miúdo, seria na fabricação de calçadas para pedestre, ciclovias, sarjetas e na
confecção de peças pré-moldadas tipo meio fio, uma vez garantida a resistência mínima
especificada por normas para esses materiais de construção.
Por outro lado, a necessidade de compatibilizar o concreto convencional para receber
a modificação, por meio da adição de determinados aditivos e o custo industrial da
modificação podem onerar o custo do concreto borracha em relação ao preço do convencional
em curto prazo. Mas este custo a mais é plenamente justificável perante o seu benefício.
O trabalho desenvolvido por SANTOS (2018), trata da análise das propriedades
mecânicas do concreto de cimento Portland, elaborado a partir da substituição de parte do
agregado miúdo por diferentes percentagens, em peso, de borracha de pneu inservíveis e
triturado.
Constatou-se que, entre os traços ensaiados, o resultado menos favorável foi obtido
para o concreto com 15% de borracha, tendo o mesmo atingido a resistência aos 28 dias de
8,37MPa. Esse resultado, no entanto, atende às prescrições da NBR 6136 (ABNT, 2016) para
a confecção de blocos vazados de concreto para alvenaria. Satisfazendo a resistência mínima
exigida para os blocos de todas as classes da referida norma, como ilustrado na Quadro 5. No
entanto, é importante ressaltar que a resistência não é o único fator a ser levado em relevância,
outros fatores devem ser estudados para realmente comprovar o uso de resíduos borracha em
bloco vazadas de concreto para alvenaria.

Quadro 5: Requisitos para resistência característica à compressão.


Resistência Absorção média em
Característica % Retração¹
Classe
𝑓𝑏𝑘 Agregado Agregado %
MPa Normal leve
A ≥ 6,0 ≤ 13,0%
B ≥ 4,0 (média)
≤ 10,0% ≤ 0,065%
C ≥ 3,0 ≤ 16,0%
D ≥ 2,0 (individual)
¹Facultativo
Fonte: Adaptado NBR 6136 (ABNT, 2016)
27

O concreto confeccionado com 5% de borracha atende as especificações técnicas


para fabricação de peças monolíticas de meio fio e sarjetas. Para esses serviços recomenda-se
uma resistência característica à compressão de no mínimo 11MPa, tendo o traço pesquisado
atingido aos 28 dias a resistência de 13,39MPa, com 10% de borracha o concreto atingiu
10,72MPa, também se aproximando do valor mínimo para fabricação das peças citadas.
Os resultados de resistência à compressão simples obtidos dos corpos de provas
ensaiados são mostrados no Quadro 6.

Quadro 6: Resistência à compreensão média dos corpos de prova de concreto

30,00

25,00
Resistência à compressão média

20,00

13,39

10,72
10,00
8,76

5,00

7 dias

Idade de ruptura

Fonte: SANTOS (2018)

Ainda segundo SANTOS (2018), pode-se observar que o aumento dos percentuais de
resíduos no concreto teve como consequência queda significativa na resistência à compressão
quando comparado o concreto referência. Nos corpos de prova com idade de 28 dias, os
concretos com incorporação de resíduo de borracha de 5%, 10% e 15% em substituição a
areia, apresentaram uma perda de resistência de 49,19%, 59,31% e 68,23%, respectivamente,
em relação ao concreto padrão.
Esse comportamento já era um esperado, visto que o mesmo foi constatado por
outros trabalhos encontrados na literatura consultada. Um dos fatores que podem ter afetado
nesta perda de resistência é má aderência entre a pasta de cimento e a borracha, como
constatado nas literaturas. Além disso, atribui-se a perda de resistência ao aumento do teor de
ar incorporado nos concretos com resíduos de borracha de pneu.
28

5. MATERIAIS E MÉTODOS

Nessa etapa são apresentadas os materiais e métodos utilizados para atingir os


objetivos desse trabalho.

5.1 MATERIAIS

Os materiais usados para este trabalho foram: cimento, agregado miúdo (areia),
agregado graúdo (brita 0), água e resíduos de cinza da casca de arroz, palha de inajá e pneu
triturado.

5.1.1 Cimento

O cimento usado nessa pesquisa foi o CP I-S-40 da marca CIMEX. O CP-I-S é um


tipo de cimento Portland com as mesmas características do CP-I, porém com adição de, no
máximo, 5% em massa de material pozolânico que garante uma menor permeabilidade às
peças confeccionadas com este tipo de cimento, com classe de resistência de 40 MPa de
acordo com NBR 16697 (ABNT, 2018). A Tabela 1 apresenta os ensaios de caracterização
físicas do cimento Portland usado no trabalho.

Tabela 1: Ensaios de caracterização física do cimento Portland.


ENSAIO NORMA
Pasta de consistência ABNT NBR NM 16606(2017)
Tempos de pega ABNT NBR NM 16607(2017)
Índice de finura ABNT NBR 11579(2012)
Fonte: Autoria própria.
5.1.2 Agregado miúdo

Agregado cujos grãos passam pela peneira com abertura de malha de 4,75 mm e
ficam retidos na peneira com abertura de malha de 150 µm em ensaio realizado de acordo
com a NBR NM 248 (ABNT,2003) com peneiras definidas pela NBR NM ISO 3310-1
(ABNT,2010). A Tabela 2 apresenta os ensaios realizados para caracterização do agregado
miúdo.
29

Tabela 2: Ensaios de caracterização do agregado miúdo.


ENSAIO NORMA
Massa especifica ABNT NBR NM 52(2009)
Analise granulométrica ABNT NBR NM 248(2003)
Fonte: Autoria própria.

A areia usada na pesquisa foi a areia média, proveniente do município de Boa


Vista/RR, extraída do leito do Rio Branco.

5.1.3 Agregado graúdo

Agregado cujos grãos passam pela peneira com abertura de malha de 75 mm e ficam
retidos na peneira com abertura de malha de 4,75 mm em ensaio realizado de acordo com a
NBR NM 248 (ABNT,2003) com peneiras definidas pela NBR NM ISO 3310-1
(ABNT,2010). A Tabela 3 apresenta os ensaios realizados para caracterização do agregado
graúdo.
Tabela 3: Ensaios de caracterização do agregado graúdo.
ENSAIO NORMA
Massa especifica ABNT NBR NM 53(2009)
Analise granulométrica ABNT NBR NM 248(2003)
Fonte: Autoria própria.

A brita usada na pesquisa foi a brita 0 (Basáltica), oriunda de jazidas do município de


Boa Vista, é um material proveniente do britamento de pedra, de dimensão nominal máxima
inferior a 4,8 mm e de dimensão nominal mínima igual ou superior a 0,075 mm.

5.1.4 Água

A água utilizada foi oriunda de poços artesianos do sistema de abastecimento do


castelo d’água do campus Paricarana da Universidade Federal de Roraima (UFRR).

5.1.5 Resíduos

Os agregados alternativos que tiveram suas características analisadas foram: cinza da


casca de arroz, palha de inajá e pneu triturado, substituindo o agregado convencional (areia
média).
30

5.1.6 Cinza da casca de arroz

As cascas de arroz foram adquiridas na empresa arroz Faccio localizada no Distrito


Industrial de Boa Vista/RR. A Figura 1 apresenta coleta da casca de arroz na indústria.

Figura 1: Coleta da casca de arroz na indústria.

Fonte: Autoria própria

5.1.7 Palha de inajá

As palhas de inajá foram coletadas no município de Mucajaí/RR e transportadas ao


Núcleo de Pesquisa em Engenharia (NUPENG), onde passaram por processo de
beneficiamento. A Figura 2 apresenta a Palha de inajá após beneficiamento.

Figura 2: Palha de Inajá após beneficiamento.

Fonte: Autoria própria.


5.1.8 Pneu triturado

Os resíduos de pneu foram adquiridos já fracionados e foram provenientes da cidade


de Manaus/AM da empresa Rio Limpo. A Figura 3 apresenta o resíduo de pneu triturado.
31

Figura 3: Resíduo de pneu triturado.

Fonte: Autoria própria.

5.2 MÉTODOS

O fluxograma da Figura 4 apresenta a sequência de procedimentos realizados no


desenvolvimento do trabalho.

Figura 4: Fluxograma da metodologia adotada no trabalho.

Caracterização
Coleta dos Análise
Beneficiamento física do
agregados granulométrica
cimento

Massa Difração de Traço do Dosagem do


específica Raios-X concreto concreto

Processo de Resistência à
Moldagem
Slump test cura em câmara compressão
dos CP umida simples

Fonte: Autoria própria.

5.2.1 Coleta dos agregados alternativos

A coleta dos agregados alternativos se deu por via terrestre, na região de Boa Vista –
Mucajaí, com exceção do pneu triturado que foi em Manaus/AM.
32

5.2.2 Beneficiamento dos agregados alternativos

As cascas de arroz foram submetidas à queima no forno elétrico tipo mufla (KK 260,
LINN HIGH THERM) a uma temperatura de 500ºC à taxa de 3ºC/min e patamar de 120 min
e resfriamento por convecção natural. A Figura 5 apresenta os resíduos da casca de arroz.

Figura 5: Forno elétrico tipo mufla, casca de arroz antes e após queima a 500ºC.

Fonte: Autoria própria.

As palhas de Inajá passaram por processo de beneficiamento tendo sido separadas,


lavadas e cortadas manualmente (Figura 6).

Figura 6: Palha de Inajá separadas e cortadas.

Fonte: Autoria própria.

Para a moldagem dos Corpos de Prova (CPs), o pneu triturado passou por um
processo de peneiramento na peneira de 1,18 mm de abertura.
33

5.2.3 Características físicas do concreto

Foi realizado o ensaio de pasta de consistência do cimento Portland segundo a NBR


NM 16606 (ABNT, 2017), em seguida foi executado o ensaio de tempos de pega, de acordo
com a NBR NM 16607 (ABNT, 2017) e por fim foi determinado o índice de finura do
cimento Portland, segundo a NBR 11579 (ABNT, 2012). A Figura 7 apresenta os ensaios de
pasta de consistência e tempos de pega.

Figura 7: Ensaios de pasta de consistência e tempos de pega.

Fonte: Autoria própria.

5.2.4 Analise granulométrica

Para determinação da composição granulométrica dos agregados convencionais e do


pneu triturado foi utilizada a NBR 248 (ABNT, 2003). As amostras passaram por
quarteamento (Figura 8), conforme a NBR NM 27 (ABNT,2001). Para a análise
granulométrica foram usadas peneiras da série normal (Figura 8).

Figura 8: Ensaio de quarteamento e Sequência de Peneiras da série normal.

Fonte: Autoria própria.


34

Para classificação dos agregados foi utilizada as Equações 5-1 e 5-2 respectivamente.

 Coeficiente de Uniformidade (Cu):

D
𝐶u = D60 Equação 5-1
10

Cu < 5 muito uniforme


5 < Cu < 15 uniformidade média
Cu > 15 não uniforme

 Coeficiente de Curvatura (CC):

D30 ²
𝐶𝐶 = D Equação 5-2
60 x D10

1 < CC < 3 material bem graduado


CC < 1 ou CC > 3 material mal graduado

Em que:
Cu = Coeficiente de uniformidade
Cc = Coeficiente de curvatura
𝐷10, 𝐷30, 𝐷60 = Diâmetro efetivo

5.2.5 Massa especifica

O ensaio de massa especifica foi realizado conforme a norma NBR 52 (ABNT, 2009)
para o agregado miúdo (areia), o pneu triturado e a cinza da casca de arroz. Para o ensaio de
massa especifica do agregado graúdo foi realizado conforme a norma NBR 53 (ABNT,2009).
Para a determinação da massa especifica da cinza de casca de arroz (Figura 9), optou-se por
utilizar querosene em substituição à água destilada devido à densidade do querosene ser
menor que da água destilada.
35

Figura 9: Ensaio de massa específica da cinza da casca de arroz.

Fonte: Autoria própria.

5.2.6 Difração de Raios-X

A difração de raios-X (DRX) foi empregada para caracterização mineralógica da


cinza da casca de arroz. Foi realizado no Laboratório de Física do Programa de Pós
Graduação em Física da UFRR, em um Difratômetro (XRD-6000, SHIMADZU) com
radiação CuKa, tensão de 40kV, corrente de 30 mA, modo fixe time, com passo de 0,02 e
tempo de contagem de 0,6s, com ângulo de 2Ɵ percorrido de 10º a 60º. A Figura 10 apresenta
a execução do ensaio de difração de raios-X.

Figura 10: Execução do ensaio de difração de Raios-X.

Fonte: Autoria própria.


36

5.2.7 Traço do concreto

O traço ideal de dosagem do concreto convencional e com substituição parcial de


agregado miúdo foi determinado utilizando o método do Instituto de Pesquisas Tecnológicas
(IPT), que hoje é conhecido como método IBRACON de dosagem de concreto.
Uma planilha foi utilizada para determinação do traço. A planilha foi efetuada a
partir do mini curso de dosagem de concreto ministrada pela professora Dra. Isaura Lobato
Paes, durante a X Semana de Engenharia Civil em setembro de 2016. A Figura 11 apresenta a
tela correspondente a planilha.

Figura 11: Planilha do traço de dosagem.

Fonte: Autoria própria.


37

5.2.8 Dosagem do concreto

Foram realizados quatro dosagens de concreto, uma dosagem de concreto


convencional, sem a substituição de agregado miúdo, e outras três dosagens (Figura 12), com
substituição do agregado miúdo (areia média) por uma porcentagem ótima dos agregados
alternativos (cinza, palha de Inajá e pneu triturado).

Figura 12: Materiais usados para dosagens do concreto.

Fonte: Autoria própria.

5.2.9 Slump Test

O ensaio Slump Test (Figura 13) foi realizado de acordo com a NBR NM 67(ABNT,
1998). Foram realizados 4 determinações de abatimento do cone, um para cada dosagem.

Figura 13: Execução do ensaio de Slump test.

Fonte: Autoria própria.

5.2.10 Moldagem e cura dos corpos de prova

Corpos de prova cilíndricos foram moldados (Figura 14), preparados e colocados em


38

câmara úmida (Figura 15) de acordo com a NBR 5738 (ABNT, 2015). Os Corpos de Prova
(CPs) foram de concreto convencional e com substituição do agregado miúdo (areia) por uma
porcentagem ótima dos agregados alternativos. A Tabela 4 apresenta a quantidade de CPs
moldados e a idade de rompimento.

Tabela 4: Quantidade de corpos de prova.

Resistência à Compressão Simples (dias)


Traço
3 7 14 28
Convencional 4 4 4 4
Com 5% Cinza da casca de arroz 4 4 4 4
Com 5% Palha de Inajá 4 4 4 4
Com 5% Pneu triturado 4 4 4 4
Total 64
Fonte: Autoria própria.

Figura 14: Moldagem dos corpos de prova.

Fonte: Autoria própria.

Figura 15: Corpos de prova após moldagem e em câmara úmida.

Fonte: Autoria própria.


39

5.2.11 Resistência à compressão simples

Para o ensaio de Resistência a Compressão Simples (RCS), os CPs com idade de 3,


7, 14 e 28 dias foram rompidos segundo a NBR 5739 (ABNT, 2018). Foi utilizada a prensa
hidráulica de compressão da Marca Solotest (Figura 16), com capacidade máxima para 100 tf.
A Figura 17 apresenta Corpos de prova rompidos.

Figura 16: Máquina de resistência à compressão.

Fonte: Autoria própria.

Figura 17: Corpos de prova rompidos.

Fonte: Autoria própria.


40

6. RESULTADOS E DISCUSÕES

Nesta etapa do trabalho são apresentadas os resultados obtidos nos ensaios de


laboratório descritos nos métodos.

6.1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO CONCRETO

A porcentagem de água necessária à obtenção da consistência normal do cimento


Portland foi encontrado na décima terceira tentativa. A Tabela 5 apresenta o resultado do
ensaio.

Tabela 5: Pasta de consistência normal do cimento Portland.

Água 141,459 g
Cimento 500g
Porcentagem de água 28,3%
Fonte: Autoria própria.

Os tempos de pega do cimento Portland estão apresentados na Tabela 6.

Tabela 6: Tempos de pega do cimento Portland.

Inicio de pega 3h30min


Fim de pega 4h15min
Fonte: Autoria própria.

O índice de finura esta apresentado na Tabela 7.

Tabela 7: Índice de finura do cimento Portland.

Massa retida na peneira nº200 1,248 g


Massa inicial 50,00 g
Índice de finura 2,50 %
Fonte: Autoria própria.

6.2 ANÁLISE GRANULOMETRICA

Com os dados das porcentagens retidas acumuladas de cada material, obteve-se as


curvas granulométricas da areia, brita e do pneu triturado conforme as Figuras 18, 19 e 20
respectivamente.
41

Figura 18:Curva granulométrica da areia.


100 0
90 10
% QUE PASSA DA AMOSTRA TOTAL

80 20
70 30
60 40

% RETIDA
50 50
40 60
30 70
20 80
10 90
0 100
0,10 0,20 0,40 0,80 1,60 3,20 6,40
DIÂMETRO DAS PARTÍCULAS(mm)

Fonte: Autoria própria.

A granulometria apresentada pelo agregado miúdo, corresponde a de uma areia


média, ou seja, com 80% retido acumulado entre as peneiras 0,60mm e 2,00mm. Apresentou
módulo de finura de 2,71 sendo esse valor dentro do módulo de finura da zona ótima que
varia de 2,20 a 2,90 de acordo com a NBR 7211(ABNT, 2009). O material apresentou Cu de
1,67 sendo classificado com um material uniforme segundo a Equação 5-1 e apresentou CC
de 1,16 sendo classificado como material bem graduado segundo a Equação 5-2.

Figura 19: Curva granulométrica da brita.


100 0
% QUE PASSA DA AMOSTRA TOTAL

90 10
80 20
70 30
60 40
% RETIDA

50 50
40 60
30 70
20 80
10 90
0 100
1,00 2,00 4,00 8,00
DIÂMETRO DAS PARTÍCULAS(mm)

Fonte: Autoria própria.

O agregado graúdo apresentou diâmetro máximo de 8 mm, sendo classificado como


brita 0, possuindo módulo de finura de 5,39. O material apresentou Cu de 2,0 sendo
classificado com um material uniforme segundo a Equação 5-1 e apresentou CC de 1,23
sendo classificado como material bem graduado segundo a Equação 5-2.
42

Figura 20: Curva granulométrica do pneu triturado.


100 0
% QUE PASSA DA AMOSTRA TOTAL

90 10
80 20
70 30
60 40

% RETIDA
50 50
40 60
30 70
20 80
10 90
0 100
0,10 0,20 0,40 0,80 1,60 3,20 6,40
DIÂMETRO DAS PARTÍCULAS(mm)

Fonte: Autoria própria.

O pneu triturado apresentou o módulo de finura de 3,35, sendo esse valor dentro do
módulo de finura da zona utilizável superior, que varia de 2,90 a 3,50, de acordo com a NBR
7211(ABNT, 2009). Este valor está próximo ao resultado de 3,45 encontrado por Santos
(2018). O material apresentou Cu de 4,67, sendo classificado com um material uniforme
segundo a Equação 5-1 e apresentou CC de 1,33, sendo classificado como material bem
graduado segundo a Equação 5-2.

6.3 MASSA ESPECIFICA

Os resultados de massa especifica dos agregados convencionais e alternativos estão


apresentados na Tabela 8.

Tabela 8: Massa específica dos agregados.


Material Massa Especifica(g/cm³)
Areia média 2,63
Brita 0 2,75
Cinza da casca de arroz 2,17
Pneu triturado 1,14
Fonte: Autoria própria.

Analisando o valor da massa especifica do pneu triturado, verificou-se que o


resultado de 1,14 g/cm³, é coerente com o encontrado por SANTOS (2018), que foi de 1,15
g/cm³. Já a cinza da casca de arroz apresentou massa especifica de 2,17g/cm³, próximo com o
encontrado por SOUZA (2008), que foi de 2,25 g/cm³.
43

6.4 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X

Com a realização do ensaio de difração de raios-X (Figura 21), observou-se que a


cinza da casca de arroz é um material predominantemente amorfo com presença de uma
banda associada a material amorfo situada em torno de 22º. Essa banda está relacionada à
sílica amorfa, conforme dados mostrados por SOUZA (2008).

Figura 21: Difração de raios-X da cinza da casca de arroz.

400
350
INTENSIDADE (u.a)

300
250
200
150
100
50
0
10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
2Ɵ (GRAUS)

Fonte: Autoria própria.

À presença de pequenos picos de difração relacionados a materiais cristalinos, que


não foram identificados, mas que se acredita estarem relacionados a impurezas associadas ao
processo de queima. Comparando os resultados obtidos com os apresentados por SOUZA
(2008), observou-se grande semelhança nos difratogramas. De acordo com o ensaio que
apresentou dióxido de silício (SiO2), pode-se dizer que é um dos indicadores para o material
ser considerado pozolânico.

6.5 TRAÇO DO CONCRETO

Segundo o método do IPT mencionado no item 5.2.7, foram calculados os traços


visando alcançar a RCS de 40 MPa, aos 28 dias. A Tabela 9 apresenta o traço de dosagem do
concreto utilizados no trabalho.
44

Tabela 9: Traço de dosagem do concreto em massa.


MATERIAL TRAÇO
Cimento 1
Areia 1,86
Brita 2,64
Água 0,58
Traço 1 : 1,86 : 2,64 : 0,58
Fonte: Autoria própria.

A Tabela 10 apresenta a quantidade de material utilizado para moldagem dos 16 CPs,


para o traço convencional e com a substituição dos 5% da areia pelos agregados alternativos
no caso, cinza da casca de arroz, palha de inajá e pneu triturado.

Tabela 10: Quantidade de material para moldagem dos CPs.


QUANTIDADE (kg)
MATERIAL
Convencional Cinza (5%) Palha (5%) Pneu (5%)
Cimento 10,32 10,32 10,32 10,32
Areia 19,20 18,24 18,24 18,24
Brita 27,24 27,24 27,24 27,24
Água 5,99 5,99 5,99 5,99
Cinza da casca de arroz - 0,96 - -
Palha de Inajá - - 0,96 -
Pneu - - - 0,96
Fonte: Autoria própria.

6.6 SLUMP TESTE

A Tabela 11 apresenta os resultados dos ensaio de Slump test para cada dosagem de
concreto. Os dados de slump atenderam aos critérios de trabalhabilidade requeridos para
concretagem dos CPs, que foi de 10 ± 2 cm.

Tabela 11: Resultado ensaio de Slump test.


DOSAGEM DO CONCRETO SLUMP TEST (cm)
Convencional 9,5
5% Cinza da casca de arroz 8,0
5% Palha de Inajá 5,0
5% Pneu triturado 8,5
Fonte: Autoria própria.

Verificou-se que os dois primeiros agregados alternativos (pneu e cinza da casca de


arroz) atenderam critérios de trabalhabilidade e apenas a palha de inajá apresentou
45

trabalhabilidade fora do requerido.

6.7 RESISTENCIA À COMPRESSÃO SIMPLES

Os resultados de RCS obtidos dos CPs ensaiados neste trabalho, são mostrados na
Tabela 12.

Tabela 12: Resultados do ensaio de resistência a compressão simples do concreto.


Resistência a Compressão Simples (MPa)
Idade(Dias)
Convencional Cinza (5%) Palha (5%) Pneu (5%)
3 24,72 23,92 21,75 14,55
7 30,20 31,33 25,93 17,62
14 34,65 37,58 28,57 20,44
28 40,21 43,32 33,07 23,64
Fonte: Autoria própria.

A Figura 22 apresenta um gráfico para melhor visualização dos resultados de RCS dos
CPs da dosagem convencional e com adição dos agregados alternativos.

Figura 22: Resistência à compressão simples do concreto.

50,00

45,00 43,32
40,21
40,00 37,58
34,65
35,00 33,07
31,33
RESISTÊNCIA (MPa)

30,20
30,00 28,57
25,93
24,72
25,00 23,92 23,64
21,75 20,77
20,00 17,62
14,77
15,00

10,00

5,00

0,00
3 7 14 28
IDADES DE ROMPIMENTO (DIAS)

CONVENCIONAL 5% CINZA 5% PALHA 5% PNEU

Fonte: Autoria própria.


46

A Tabela 13 apresenta as porcentagens de acréscimo e decréscimo na resistência do


concreto devido à substituição do agregado convencional pelos alternativos.

Tabela 13: Percentagem de acréscimo de RCS do Concreto.


Idade(dias) Cinza (%) Palha (%) Pneu (%)
3 -3,24 -12,01 -40,25
7 3,76 -14,13 -41,66
14 8,45 -17,55 -40,05
28 7,74 -17,75 -41,21
Fonte: Autoria própria.

Analisando os resultados obtidos no ensaio de RCS, pode-se observar que a


substituição do agregado miúdo (areia) pela cinza da casca de arroz, obteve o melhor
desempenho com 7,74% de acréscimo em termos de resistência, ficando com valor superior
ao do traço convencional para as idades de 7, 14 e 28 dias de cura. Isso indica que, para
idades maiores, ou seja, superiores a 28 dias, provavelmente, o comportamento se repetirá,
com acréscimo de resistência superior para os concretos com adição da cinza. Segundo
Bezerra et al. (2011), “A cinza da casca do arroz foi caracterizada como material pozolânico
por apresentar comportamento amorfo, elevado teor de sílica e índice de atividade pozolânica
superior ao estabelecido por norma, conferindo-lhe boa reatividade e, por isso mesmo,
considerada adequada para uso como aglomerante na produção de argamassas”.
Por outro lado, observou-se que, devido às reações pozolânicas serem mais lentas, os
ganhos de resistência observados foram maiores para idades mais altas (7, 14 e 28 dias
respectivamente). Dessa forma, pode-se afirmar que existe viabilidade de substituição, até
mesmo, de parte do cimento em massa, uma vez que tais reações favorecem o endurecimento
da peça, confirmando a vantagem da utilização das cinzas em termos do aumento da
resistência do concreto.
Outro aspecto observado ocorre em relação ao concreto moldado com pneu triturado
e palha de inajá. Observou-se um decréscimo da resistência nas várias idades de rompimento
dos CPs, o que não inviabiliza o seu uso como agregado, sendo possível indicar sua utilização
em pavimentos de tráfego leve como, por exemplo, calçadas para pedestres e
estacionamentos. Essa afirmação decorre da necessidade de encontrar alternativas para a
deposição menos maléfica de resíduos na natureza. Mesmo com diminuição dos valores de
resistência, no futuro será imperativo encontrar formas de se descartar responsavelmente tais
resíduos. Por outro lado, pode-se tentar redimensionar o tamanho das fibras de inajá e da
granulometria do pneu, visando melhor comportamento dos mesmos no concreto.
47

7. CONCLUSÃO

 Com relação à metodologia adotada conclui-se que essa atendeu aos objetivos
propostos, tendo sido considerada satisfatória.
 Com relação aos aspectos de viabilidade comercial para utilização de tais agregados,
pode-se afirmar que o mercado de Boa Vista carece de empresas que forneçam
serviços de beneficiamento de resíduos sólidos urbanos, notadamente para os
resíduos de pneus.
 Quanto às propriedades do concreto fresco, observou-se que a inserção de resíduos
de cinza da casca de arroz e de pneus não influencia significativamente na
trabalhabilidade da mistura, já para a palha o comportamento não foi o mesmo.
 Em termos de RCS, conclui-se que a cinza da casca de arroz foi o agregado que
apresentou maior incremento de resistência, sendo indicado para melhorar o
desempenho de concretos. Já a palha de inajá produziu uma queda de resistência,
devendo ser reanalisada com outro tipo de beneficiamento de fibra.
 Os CPs moldados com resíduos de pneus não apresentaram um bom desempenho
mecânico, provavelmente devido à falta de adesividade na mistura.
 Tecnicamente é viável a substituição dos três agregados alternativos usados neste
trabalho. Pois tais resistências atendem ao tráfego leve, como opção para elementos
que visem embutir na construção civil, resíduos que tenham grave impacto e
priorizem o respeito ao meio ambiente.
48

8. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Após a realização deste trabalho e análise de seus resultados, sugerem-se as seguintes


linhas para continuidade da pesquisa.
 Observado o potencial de utilização da fibra de inajá, estudar o comportamento
mecânico do concreto com inserção de fibras beneficiadas de outra forma, com corte
mais fino da palha e com outras dimensões.
 Caracterizar o comportamento mecânico do concreto alternativo com traço mais
secos utilizando mesas vibratórias para densificação da mistura.
 Estudar o comportamento mecânico do concreto, substituindo um percentual maior
do agregado miúdo (areia) por cinza da casca de arroz, visando-se obtenção de um
teor ótimo de inserção.
49

REFERÊNCIAS

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Rural, 2000.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - ABCP. Guia básico de


utilização do cimento Portland.7ed. São Paulo, dez, 2002. 28p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE SERVIÇOS DE CONCRETAGEM


DO BRASIL - ABESC. Manual do concreto dosado em central. Abril de 2017.36p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 7211: Agregado


para concreto- Especificações. Rio de Janeiro, 2009. 9 p.

______. NBR 67: Concreto - Determinação da consistência pelo abatimento do tronco de


cone. Rio de Janeiro, 1998. 8 p.

______. NBR 52: Agregado miúdo – Determinação da massa especifica e massa especifica
aparente. Rio de Janeiro, 2009. 6 p.

______. NBR 53: Agregado graúdo – Determinação da massa especifica, massa aparente e
absorção de água. Rio de Janeiro, 2009. 8 p.

______. NBR 248: Agregados - Determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro,


2003. 13 p.

______. NBR 7211: Agregados para concreto - Especificações. Rio de Janeiro, 2009. 9 p.

______. NBR 5738: Concreto - Procedimento para moldagem e cura de corpos de prova. Rio
de Janeiro, 2015. 9 p.

______. NBR 5739: Concreto- Ensaio de compressão de corpos-de-prova cilindrico. Rio de


Janeiro, 2018. 9 p.

______. NBR 16697: Cimento Portland- Requisitos. Rio de Janeiro, 2018. 16 p.

______. NBR 11579: Cimento Portland – Determinação do índice de finura por meio da
peneira 75 µm (nº 200). Rio de Janeiro, 2012. 4 p.

______. NBR 16606: Cimento Portland – Determinação da pasta de consistência normal. Rio
de Janeiro, 2017. 8 p.

______. NBR 16607: Cimento Portland – Determinação dos tempos de pega. Rio de Janeiro,
2017. 4 p.

______. NBR NM 27: Agregados – Redução de amostra de campo para ensaios de


laboratorio. Rio de Janeiro, 2001. 7 p.
50

______. NBR NM ISO 3310-1: Peneiras de ensaio-Requisitos técnicos e verificação Parte 1:


Peneiras de ensaio com tela de tecido metálico. Rio de Janeiro, 2010. 20 p.

______. NBR 6136: Blocos vazados de concreto simples para alvenaria — Requisitos. Rio de
Janeiro, 2016. 10 p.

BEZERRA, I. M. T. et al. Aplicação da cinza da casca do arroz em argamassas de


assentamento. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande,
v.15, n.6, p.639–645, jun. 2011.

FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO - AGÊNCIA


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GIAMMUSSO, S. Manual do concreto. São Paulo. PINI, 1992.

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Rio Grande do Sul. 2014.

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sustentabilidade. Universidade Municipal de São Caetano do Sul, São Paulo, 2014.

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Dissertação, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, jun. 2008.

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