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Resenha de “Pode o subalterno falar?” de Gayatri Spivak.

O trabalho de Gayatri Spivak se inicia fazendo uma crítica a qualquer concepção


baseada na soberania do sujeito, o que ela critica na obra de Deleuze e Foucault.
Ao mesmo tempo, ela também critica e se afasta de algumas linhas pós-coloniais
que, não se livrando da concepção de sujeitos soberanos, supervalorizam a
capacidade de agência e resistência de indivíduos, grupos e movimentos sociais.
Ela questiona as concepções homogêneas e monolíticas de sujeito coletivo e alega
que estas definições essencialistas são condizentes com uma definição singular de
cultura (SPIVAK, 2006), que determinaria a ação do sujeito. Segundo a autora, os
intelectuais em seus discursos especializados pressupõem uma essência ao falar
pelo subalterno. Com isso, o título do livro “Pode o subalterno falar?” mostra que
a principal intenção da autora em seu trabalho é tratar da questão da autonomia do
subalterno e de sua representação, tornando assim, a agência possível.

Além de todas as questões trazidas pela autora, ela busca reestabelecer a


importância da ideologia para se entender como opera o poder, algo que é
negligenciado por Foucault e Deleuze visto que seus trabalhos manifestaram uma
relação mecânica entre desejo e interesse e uma visão de um sujeito oprimido
não questionada que trataria o sujeito como indivisível e autônomo (SPIVAK,
2010). Para Spivak, abraçar a ideia do sujeito soberano dos autores pressuporia um
fazer teórico livre de dimensões ideológicas, na qual seria permissível para os
intelectuais representarem os subalternos (proposta epistêmica que constitui a
práxis do subalterno). No entanto, não é a representação no sentido que permite
agência deste grupo, fazendo com que eles saíssem do lugar da subalternidade.
Seria a representação no sentido “falar por” (vertretung), relacionada com as
instituições políticas e a suposição de conhecimento e substituição do
representado, e como “re-apresentação” (darstellung), vinculada a dimensões
estéticas e de encenação. Entender como opera o poder, portanto, deve levar em
conta a dimensão ideológica, ou o que a autora denomina “textura micrológica”,
que forma os sujeitos e solidifica os âmbitos macrológicos do capitalismo global e
do Estado-nação (como o desejo e mobilizado para conformar sujeitos).
De modo a fundamentar o problema da representação, vertretung e darstellung, a
autora faz uso da reflexão da consciência de classe na declaração do 18 de
Brumário (Marx), especialmente na declaração onde os pequenos proprietários
camponeses não podiam se representar e, por isso, deveriam ser representados
e da leitura do suicídio de uma jovem em Calcutá feita a partir do discurso
hegemônico de modo a impossibilitar a sua real representação e agência. Os fatos
mostrariam como a representação do oprimido que, por trás de um verniz
libertário, acaba por ajudar na manutenção de práticas essencialistas e imperialistas
que resultam em violência epistêmica cotidiana. A mesma lógica é apresentada
pela autora na questão colonial de proibição da imolação das viúvas, onde os
colonos britânicos acreditam estar salvando estas mulheres, mas reproduzem a
prática.

Spivak assinala os perigos das análises que buscam a “consciência” dos grupos
subordinados, visto que tanto o pesquisador quanto os movimentos sociais teriam
dificuldade de realmente desafiar a ideologia hegemônica. Além disso, toda
investigação teria consequências negativas ao ser baseada na busca positiva de
revelar a verdade de um sujeito, grupo ou classe. Para solucionar o problema, a
autora aconselha um restrito uso “estratégico” da noção de consciência (SPIVAK,
2010), tendo em vista sua artificialidade e transitoriedade que, não obstante, pode
gerar uma percepção crítica profícua. No campo político, paralelamente, pode-se
recorrer a um “essencialismo estratégico” que leve em conta o caráter provisório
das identificações, único modo de se limitar os perigos da adoção de um discurso
representativo, vertretung e darstellung.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? 1. ed. Trad. Sandra


Regina Goulart Almeida; Marcos Pereira Feitosa; André Pereira. Belo Horizonte:
Editora da UFMG, 2010.
______ (2006) “Culture Alive”. Theory, Culture & Society, v. 23 (2-3); pp. 359-
360.

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