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Ensino e Geografia
Palavras-chave:
Abstract:
ensino de Geografia,
This article focuses on the concept of scale at the geography education in particular at
climatologia, escala
the cli-matology area. Using concepts proposed by Piaget (1996), Carvalho (2006) and
Tuan (1975), the authors aim to identify the appropriate scale for treatment of clima-
tological phenomens in the classroom, analyzing textbooks to understand how they
abord such science. After this theoretical discussion, a survey of teachers from elemen- Key-Words:
tary and high school from Curitiba and its metropolitan area was conducted in order to
understand how in fact the climatology is the teaching at the classroom, and also the Geography teaching,
relationship between the teacher and the textbook, since the second approach proved climatology, scale
to be very general. At the end of the research, it was ob-served that in the greater part
of the cases, the choice of in which scale to work, it ends to be a personal choice of
the teacher, due that only 6,38% claimed that not have freedom to work with subjects
beyond the official material, and also 6,38 claimed that not have the freedom to get
deeper in the books subjects.
O processo de ensino possui inúmeras dificul- - Analisar o material produzido por alguns dos
dades para ser concretizado, tanto do ponto de vis- principais materiais didáticos utilizados na área de es-
ta do professor quanto do aluno. A distância entre o tudo, acerca da climatologia.
aluno e sua realidade e o objeto de estudo sempre - Comparar o que de fato é passado em classe
foi marcante e surge como uma das principais bar- pelos professores com o proposto pelo livro.
reiras para o ensino/aprendizado. O que se observa - Observar o quão livre os professores são para
em especifico em assuntos da climatologia, é de uma definir as prioridades de estudo na área de climatologia.
maneira generalizada, uma não compreensão dos
4. METODOLOGIA
processos básicos desta ciência por parte dos alunos.
A escala com o qual o professor aborda as Em um primeiro momento foi realizada uma
questões levantadas acaba tendo um papel primor- análise do conteúdo de cinco livros didáticos da rede
dial para garantir a facilidade deste processo, uma pública de ensino do estado do Paraná, onde se obser-
vez que, a assimilação de conhecimento é uma di- vou que a escala estadual era a mais abordada dentro
nâmica que é facilitada quando a escala de ensino é da climatologia escolar, ainda se notou que em alguns
reduzida para a realidade do estudante. livros, alguns aspectos climáticos gerais dos estados
A geografia, como ciência que estuda a re- eram tratados, todavia aspectos mais locais eram dei-
lação homem/natureza apresenta uma gama de xados de lado.
opções que facilitam tal caso. Aulas de campo, de- Assim foram analisados livros didáticos de 6º e 7º
monstrações em sala de aula, entre outros, são mui- ano para se observar como a climatologia vem sendo
tos aspectos utilizados por professores da área como tratada. Os conteúdos de 6º ano abordam de maneira
uma tentativa de reduzir a questão de ensino. Além mais direta a temática do clima. Assim, foram analisa-
do mais, é função da geografia enquanto disciplina dos os livros “Geografia Homem e Espaço” de Lucci e
escolar, desenvolver o chamado raciocínio escalar Branco, da editora Saraiva de 2010, e “Geografia espaço
entre seus alunos (CARVALHO e FILIZOLA, 2006). e vivência 6º ano” da editora Atual.
Aproximar o ensino do conceito de “lugar” traba- Em relação ao sétimo ano, foram analisados os
lhado neste projeto seria uma forma de diminuir esta livros “Geografias do Mundo” de Marcos e Diamantino
barreira, contudo tal aspecto não vem sendo tratado da Editora FTD de 2009, “Projeto Araribá” da Editora
no ensino da climatologia em especifico. Os conteúdos Moderna de 2007 e “Geografia, Espaço e Vivência 7º
observados em livro didático apontam tal realidade. ano” da Editora Atual de 2009.
Desta forma, reduzindo a escala de ensino Tendo esta analise como base e levando em
para o que chamamos de “local” ou mesmo para o consideração discussões ocorridas no eixo “Ensino de
“lugar” seria uma forma de facilitar a compreensão climatologia” do XI Simpósio Brasileiro de Climatologia
de conteúdos por parte dos alunos.
Geográfica ocorrido em outubro de 2014, pensou-se professor pertencia, as três questões seguintes aborda-
em um pequeno questionário que visasse esclarecer va a relação professor/livro didático, procurando com-
alguns pontos levantados ao longo da apresentação preender se o professor tinha liberdade para escolher o
de trabalhos no dito tema e que englobassem os obje- livro, para tratar de assuntos não abordados pelo livro,
tivos deste trabalho. e para se aprofundar em assuntos do livro. Já a última
Ao longo do debate entre professores, alunos abordava a questão da escala de ensino em clima de
e pesquisadores do tema chegou-se a uma questão maneira mais direta.
chave no que diz respeito à escala a qual o ensino é Segundo dados da Secretaria do Estado de Edu-
aplicado aos alunos. Tal problemática já foi abordada cação, existem no Paraná, 5.338 professores de geo-
na climatologia por Castelhano (2014) neste mesmo grafia na rede pública estadual, sendo que somente
simpósio, e diz respeito a quão próximo da realidade em Curitiba são 745 e somando-os com as cidades da
do aluno o tema tratado está inserido. região metropolitana chegamos ao valor de 1.248 pro-
A fim de se compreender melhor a relação fessores de geografia, o que representa cerca de 23%
professor/livro didático e mesmo de fato se analisar a de todos os professores da rede pública do estado.
questão da escala no âmbito do ensino da climatologia Este valor de 745 professores foi a base para o
em especifico foi elaborado um questionário contendo cálculo da amostragem do número de questionários
cinco questões que tentam trazer a realidade vivida pe- aplicados. Em função da dificuldade de se obter os nú-
los professores para este debate. meros de professores tanto nas escolas privadas quan-
Este questionário foi feito com professores da to nas redes municipais e federais, optou-se por fazer
disciplina de geografia que trabalham tanto na rede um cálculo probabilístico para se estimar este valor.
pública quanto privada em Curitiba e Região Metropo- Assim, o número de professores de geografia da
litana, de modo que possa ser alcançado certo univer- rede estadual foi dividido pelo número de instituições
so de profissionais e a realidade dos mesmos possa ser estaduais de ensino para obter um valor médio de pro-
mais bem retratada. fessores por instituição. Para este cálculo o número de
A confecção do questionário foi feita baseando- alunos por instituição foi generalizado, o que pode dis-
se na proposta de Aaker et al. (2001), o qual propõe uma farçar este número, todavia, a média de professores por
série de questões a serem levadas em conta no momen- instituição não é o dado que se busca, e sim será utiliza-
to de se formular um questionário com fins científicos. do para se levantar um número total de professores de
Optou-se por perguntas dicotômicas e de múl- geografia na cidade de Curitiba.
tipla escolha, portanto não foram realizadas quaisquer A Tabela 1 apresenta o número de instituições
tipo de perguntas abertas aos entrevistados. Mattar em Curitiba conforme a rede a qual pertence:
(1994) aponta que as perguntas dicotômicas têm como O número de professores da rede pública esta-
principal vantagem sua objetividade e agilidade na dual dividido pelo número de instituições estaduais
resposta e um menor risco de imparcialidade do entre- nos deu uma média de 5,28 professores por instituição,
vistado, todavia o autor aponta que se o tema tratado que, aplicados ao número totalizado de 554 institui-
não couber entre uma dicotomia à pesquisa será muito ções chegamos a um valor estimado de 2.925 profes-
prejudicada em função da polarização das respostas. sores geografia no município de Curitiba, sendo este o
Sobre questões de múltipla escolha, o autor universo de estudo desta pesquisa.
aponta as diversas opções, assim como a agilidade e a Assim foi calculado o tamanho da amostra a ser
objetividade como vantagem, todavia, aponta o cuida- feita com base nestes dados e na equação (Eq. 1) apon-
do que deve ser levado ao realizar tal tipo de entrevis- tada por Santos (2014):
ta, uma vez que o entrevistado pode ser influenciado a
responder algo em função das respostas pronta apre- ( 1 )
sentadas pelo entrevistador.
As questões levantadas foram aplicadas em am-
biente virtual e também com conversas envolvendo A equação leva em conta margem de erro (e),
professores. A primeira questão abordava qual rede o nível de confiabilidade (Z) tamanho do universo a ser
Tabela 1: Número de instituições de ensino fundamental e/ou climatologia, diferentemente de outros estados do
médio por rede.
país (SOUZA e OLIVEIRA, 2012) todavia a mesma se
REDE TOTAL
insere sistemicamente dentro de outros conteúdos a
Estadual 141 serem ministrados (Tabela 2).
Privada 225 A questão climática pode ser abordada,
portanto dentro de todos estes temas, todavia,
Federal 3
suas definições conforme citadas acima ficam
Municipal 185 muito superficiais, dando certa liberdade para
Total 554 que o tema possa ser tratado conforme cada li-
vro ou professor preferir.
Fonte: Secretaria do Estado de Educação – Paraná (2014).
Ao tratar do conceito de escala, logo nos
mensurado (N) e heterogeneidade do universo (p) para remetemos à escala cartográfica, o que pode
se chegar ao tamanho da amostra (n). ser considerado muito reducionista em se tra-
Assim, foi levantada uma margem de erro de tando da amplitude e complexidade de tal con-
12% para a pesquisa, para mais ou para menos. Segun- ceito dentro da geografia.
do Triola (1999) “Erro Amostral é a diferença entre um A noção de escala em cartografia nos remete
resultado amostral e o verdadeiro resultado populacio- a relação entre o espaço analisado dentro de um
nal; tais erros resultam de flutuações amostrais aleató- mapa ou uma carta com o real espaço o qual este
rias”. O autor aponta que a diminuição deste percentual representa. Desta maneira, um mapa com uma
de erro requer uma amostragem maior, o que não foi escala grande representa uma área mais limitada,
possível de se realizar em função das limitações logísti- todavia o nível de detalhes será maior. Já um mapa
cas desta pesquisa. com uma escala pequena é mais abrangente espa-
O nível de confiança estipulado foi de 90%, o ta- cialmente falando, todavia, fatalmente seus deta-
manho do universo de 2.945 pessoas estimadas e uma lhes serão generalizados e simplificados, diminuin-
heterogeneidade do universo de 50%. do sua carga de informação. Partindo desta
A distribuição de Gauss leva em conta o nível de explanação, podemos entender a importância de
confiança e calcula um índice “Z” a ser utilizado na for- se discutir a escala dentro da geografia. Desta for-
mula, assim, a um nível de confiança de 90% estima-se ma observamos uma situação deverás platônica:
o índice de 1, 645. ou se aumenta a área de estudo e se simplificam os
Esta proporção “p” (heterogeneidade) aparece na
detalhes ou o inverso, diminuímos a área de estudo
fórmula quando uma população é muito uniforme, con-
e aumentamos os detalhes.
vergindo para um mesmo padrão populacional, permi-
Esta discussão não se contenta em manter-
tindo reduzir o tamanho da amostra. Se, no entanto, não
se nos estudos da geografia, chegando a ser uma
se tem ideia do tipo de população a ser tratada, a opção
questão filosófica por si só, conforme aponta Cas-
mais prudente seria usar o pior cenário: a população se
tro (1992). Sobre esta discussão a autora aponta:
distribui em partes iguais, logo p=50% (LEVINE, 2000).
Portanto aplicados estes parâmetros a formula A questão da escala remete tanto é percepção do real nos di-
citada, chegou-se ao resultado de quarenta e sete pro- versos ‘tableaux visuels’ de Merleau-Ponty, como também ao
fessores como uma amostra adequada amostra esta significado da escolha do conteúdo de cada “tableau”. Aqui
entramos numa problemática cara às ciências do espaço -
que representa aproximadamente 1,6% do universo geografia, arquitetura -e as que estudam os processos físicos
de análise. Esta pequena quantidade de amostragem e biológicos no espaço. As projeções do real e a realidade
contida em cada uma ultrapassam, portanto as possibilida-
se justifica pelo alto nível de erro aplicado à pesquisa. des explicativas e a simplicidade operacional da escala grá-
fica. A questão que se coloca refere-se ao significado do que
5. FUNDAMENTAÇÃO TEORICA se torna visível a uma determinada escala, e o seu significado
em relação ao que permanece invisível (também as noções
As diretrizes curriculares do ensino de geo- de visível e invisível aqui subsumidas devem ser remetidas a
Merleau-Ponty). Neste sentido o que importa é a percepção
grafia no estado do Paraná, propostas em 2008, não resultante, na qual o real é presente. A escala é, portanto o
apresentam especificamente um tema abordando a artifício visual que dá visibilidade ao real (p.22).
Tabela 2: Distribuição de conteúdos os quais podemos inserir Neste trabalho trataremos do lugar gene-
o ensino de Climatologia de acordo com a DCE do Paraná no
ensino Fundamental. ricamente como espaço vivido, portanto um es-
ANO CONTEÚDOS paço onde estão contidas percepções, atitudes e
valores provenientes dos homens que os habitam.
Formação e transformação das
Santos (1996) esclarece tal conceito e o
paisagens naturais e culturais traz para perto da noção de escala. Segundo o
Dinâmica da natureza e sua alteração autor (p. 273) “Cada lugar é, ao mesmo tempo,
pelo emprego de tecnologias de objeto de uma razão global e de uma razão local,
6º exploração e produção convivendo dialeticamente”.
Com esta afirmação do autor, observa-se
A formação, localização, exploração e
a importância da noção de escala ao se abordar
utilização dos recursos naturais fenômenos espaciais. O aumento da escala de
As diversas regionalizações do espaço um fenômeno não faz com que o mesmo deixe
geográfico de ter sua razão global, da mesma maneira que
diminuir sua escala não fará com que o mesmo
A dinâmica da natureza e sua
perca sua razão global.
alteração pelo emprego de
Agora voltamos à ideia de Piaget (1996) utili-
tecnologias de exploração e produção zada no início deste trabalho acerca da assimilação,
As diversas regionalizações do espaço uma etapa fundamental para o processo cogni-
brasileiro tivo. Segundo o autor, esta é a maneira como um
7º novo dado perceptual ou um conceito é integrado
A formação, o crescimento das
à estrutura cognitiva que o aluno já possui. Ressal-
cidades, a dinâmica dos espaços tando que tal estrutura provém da realidade vivida
urbanos e a urbanização pelo aluno e esta deve ser abordada pelo professor.
Fonte: organizado pelos autores Reduzir a escala dos fenômenos para a reali-
dade vivida, portanto o lugar, não faz com que os
Podemos conceituar a escala como a lente mesmos percam sua razão frente à escala global,
individual que aplicamos ao representar e inter- e é ferramenta fundamental para a assimilação do
pretar fenômenos presentes na realidade concreta conhecimento por parte dos alunos.
em que vivemos, e que tem sua concretude mais
conhecida e observada dentro da cartografia, mas 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
que também existe em uma série de outras ciên-
6.1 Abordagens presentes nos livros didáticos
cias e na nossa própria concepção dos fenômenos,
como uma maneira de melhor compreende-los. Foram observados que os conteúdos os
Assim, ao se analisar um dado fenômeno quais a climatologia pode ser inserida estão pre-
espacial podemos utilizar o recurso da escala sentes principalmente no 6º e 7º anos do ensino
para aumentá-lo, e assim também sua riqueza fundamental, definidos assim como objeto desta
de detalhes, ou então diminuí-lo e assim au- pesquisa.
mentando sua abrangência. Começando pelo livro Espaço e Vivência, ob-
Outro conceito que tentamos trazer para serva-se que o livro destaca uma unidade inteira
esta discussão é o “lugar”. Este conceito tão dis- dividida em três capítulos para o ensino de clima-
cutido na geografia contemporânea, em especial tologia. Assim primeiramente são explicadas ao
pelos geógrafos humanistas já era discutido por La aluno, de maneira simples através de quadrinhos
Blache em sua celebre afirmação “A geografia é a e imagens as diferenças entre clima e tempo, além
ciência dos lugares e não dos homens”. De lá para da existência de diferenças entre climas e métodos
cá foi amplamente discutido e aplicado. para medir, tais como estações meteorológicas.
Saindo desta temática introdutória, o livro nios Morfoclimáticos Brasileiros feito pelo geógra-
passa a apresentar questões mais gerais sobre a fo Aziz Ab’Saber. Apresentando uma simples ex-
natureza do clima. Assim, primeiramente com planação sobre cada um dos domínios apontados
o auxílio de um mapa é proposta uma discus- pelo autor, além de imagens representativas para
são sobre os tipos de clima do mundo, seguido auxiliar a assimilação do aluno. Por fim no capitu-
por alguns exemplos de variáveis que alteram lo intitulado “Biodiversidade e Questão Ambiental
os climas, como vegetação, relevo, proximidade no Brasil” são tratados assuntos como mudanças
do mar entre outros. climáticas, buraco na camada de ozônio e desma-
Em seguida o livro aborda rapidamente as tamento. Para tanto o livro se utiliza de imagens
diferenças climáticas no Brasil, trazendo gráficos explicativas e um infográfico didático acerca da
de diferentes cidades ao longo do país para ilustrar composição dos gases que compõe a atmosfera.
tal diferença, e por fim propõe uma abordagem in- Outro livro do 7º ano, Geografia Espaço e
trodutória sobre a questão das mudanças climáti- Vivência, aborda logo em seu início os domínios
cas, poluição atmosférica, e camada de ozônio. morfoclimáticos do Brasil, seguindo a classificação
O outro livro de 6º ano analisado, Geogra- de Ab’Saber, inclusive utilizando o mesmo mapa
fia Homem e Espaço, também dá um importante do livro anterior, todavia, observamos aqui uma
destaque para a climatologia, destacando todo especial ênfase à questão climática na descrição
um capitulo para o tema. Assim como no livro an- de cada domínio, sendo que, são apresentado
terior, este também inicia sua abordagem com um junto com imagens de cada domínio, um gráfico
mapa da classificação de Koppen, passando para representativo de cidades pertencentes ao domí-
uma brevíssima explicação de cada tipo de clima, nio, contendo, temperaturas e chuvas ao longo do
e suas relações com a vegetação. ano, mostrando as diferentes nuances climáticas
Aspectos como o El Niño também são apon- de cada região brasileira.
tados ao longo do capitulo, com uma serie de ima- A temática da poluição atmosférica e sua
gens explicativas cobre o tema. Todavia se limita a relação com a urbanização e industrialização tam-
isto, aspectos da atmosfera ainda são brevemente bém foi abordado no capitulo intitulado “O espa-
tratados em outro capitulo, assim como a diferen- ço urbano brasileiro”, todavia o assunto é tratado
ça entre clima e tempo, todavia não é dada a mes- de maneira muito breve. Em seguida, o livro parte
ma atenção a temas como clima urbano, poluição para uma abordagem regional do Brasil. No capí-
atmosférica entre outros. tulo referente a região nordeste, a questão do regi-
A fraqueza de detalhes deste livro em relação me de chuvas, e relação com o relevo é muito bem
ao anterior é muito grande, não sendo observados tratada, utilizando-se de imagens e infográficos,
gráficos, tampouco muitas imagens explicativas ou onde inclusive se propõe uma comparação entre
mesmo uma abordagem dos climas do Brasil. o regime de chuvas de cidades do sertão nordesti-
O livro “Geografias do Mundo” para o 7º ano no com cidades do deserto chileno.
aborda a questão da urbanização, e rede urbana no No capítulo referente a região sul, o clima
Brasil, dentro o qual, está inserida a questão da re- volta a ser abordado no que diz respeito ao seu as-
lação entre urbanização e qualidade do ar, alvo de pecto urbano, dando especial ênfase as enchentes
pesquisa entre muitos geógrafos da climatologia. É nas grandes cidades da região como Belo Horizon-
apresentada uma série de dados simplificados para te e São Paulo.
os alunos indicando as cidades brasileiras com maio- No capítulo referente à região tratada, o
res índices de poluição por material particulado. regime de chuvas da região amazônica é espe-
Outro aspecto climático tratado no livro apa- cialmente tratado, sendo devidamente explicada
rece no capitulo de nome “Território Brasileiro e a como se dão estes processos, e sua relação com a
Dinâmica Regional”. Neste apartado observamos vegetação. O clima do Sul também foi abordado
um trecho explicativo acerca do mapa de Domí- sendo desta vez relacionado com a agricultura. As-
sim, o clima majoritariamente temperado foi com- robora com a ideia de que, se o professor depender
parado com as No capítulo referente a região sul, o exclusivamente do livro didático o conteúdo de cli-
clima volta a ser abordado no que diz respeito ao matologia será apresentado de maneira deficitária.
seu aspecto urbano, dando especial ênfase as en- Esta “distância” observada nos livros didá-
chentes nas grandes cidades da região como Belo ticos e consequentemente nas aulas interfere na
Horizonte e São Paulo. capacidade do aluno de assimilar a climatologia
No capítulo referente a região tratada, o enquanto parte de seu aprendizado. Uma das pos-
regime de chuvas da região amazônica é espe- sibilidades para sanar tal dificuldade é a proposta
cialmente tratado, sendo devidamente explicada de Carvalho e Filizola (2005) de desenvolvimento
como se dão estes processos, e sua relação com a do raciocínio escalar.
vegetação. O clima do sul também foi abordado Segundo os autores:
sendo desta vez relacionado com a agricultura. As-
sim, o clima majoritariamente temperado foi com- [...] raciocínio escalar que permite que a criança pos-
sa estabelecer relações de proporção e entender o que
parado com as culturas da região. A região centro acontece com os fenômenos geográficos nas diferentes
-oeste foi a única onde a questão climática não foi escalas dos lugares e do território (igarapé, vila, rio, re-
gião, morro, país, cidade, arroio, continente, planeta, ilha,
abordada pelo livro. laguna, cidade, praia, distrito, bairro, etc.) (p. 30).
Por fim o último livro analisado, Projeto Ara-
ribá, apresenta de início, a localização do Brasil O desenvolvimento de um raciocínio escalar
dentre as grandes zonas térmicas da Terra. Em se- enquanto parte de um raciocínio geográfico (FILI-
guida, tratando de processos urbanizatórios, trata ZOLA, 2005), permite que o educando estabeleça
de maneira pobre a questão da poluição atmosfé- a noção de localização, distância e magnitude e
rica nos grandes centros, deixando aspectos como assim assimile fenômenos geográficos dentre os
a enchente de fora. quais trataremos os relacionados ao clima.
Entrando na regionalização do Brasil, o livro A aplicação de raciocínio escalar no ensino
se inicia com a região norte, e dedica mais afinco de climatologia, a qual chamaremos de climato-
a questão climática do local, em especial aos altos logia escalar se baseia em métodos os quais per-
índices de chuva, trazendo um mapa de precipita- mitem que o educando assimile os fenômenos de
ção e outro de temperatura. climatologia e então possa expandi-los, compreen-
Assim segue na região nordeste, onde a dendo em seguida a distribuição de tais no espaço.
questão da seca é tratada com mais aprofunda- Alguns destes métodos, já são amplamen-
mento, destacando-se que algumas áreas especi- te explorados ou já foram propostos dentro da
ficas do nordeste sofrem com seca e não a região academia. Venturini (2004 apud Souza, 2012)
como um todo. Vasconcelos (2012), Rezende et al. (2012) dentre
As regiões sul e sudeste têm seus climas po- outros, propõe a confecção de equipamentos de
bremente descritos e trabalhados, somente com o medições meteorológicas simples como ferra-
advento de textos, sem a presença de mapas ou menta de auxílio ao ensino. Instrumentos estes
imagens explicativas. O mesmo não ocorre com feitos de materiais simples como garrafas PET. Não
a região centro-oeste, última a ser abordada, que só a confecção de tais equipamentos, mas princi-
apresenta uma descrição mais detalhada de seus palmente, o monitoramento de fenômenos atra-
aspectos climáticos, contando com mapas de vés destes se configura como um método chave.
temperatura e precipitação. Através de tal monitoramento, podem-se
O que se observou nas análises acima feitas realizar comparações entre os fenômenos ocor-
foram abordagens generalizadas da climatologia ridos ao longo de um ano, ou de um mês, pro-
no ensino de geografia inseridas como partes de pondo que o educando assimile a magnitude
outros conteúdos. A aproximação maior que ob- dos mesmos. Em conjunto a tal ideia, pode-se
servamos foi no âmbito municipal. Tal analise, cor- realizar uma saída a campo visando mostrar ao
aluno na pratica a consequência deste evento, a escolha do livro didático, sendo que a maioria,
por exemplo, em um córrego próximo, ou mes- 82,98%, possui tal liberdade. Outros 14,89%, res-
mo através de imagens ou vídeos. ponderam que não possuem tal liberdade, e so-
A questão físico-química da climatologia mente 2,13%citaram que sua escola não possui
também pode ser abordada dentro deste contex- livro didático (Figura 2).
to com a utilização de modelos rústicos de mensu- Interessante fazer outra analise desta pes-
ração de material particulado em suspensão, MPS quisa separando os resultados por tipo de rede de
como o proposto por Santos (2011). Tal método se ensino. Assim observa-se que em todas as redes a
utiliza de filtros de café convencionais e pesagens maioria dos professores tem esta liberdade, toda-
para atingir parâmetros de tal poluente. via este valor cai ao se aplicar esta lente apenas nos
A utilização da realidade do aluno como ob- professores da rede privada e chegam a totalidade
jeto de estudo, e consequentemente de ensino, é ao ser aplicada as do ensino municipal (Figura 3).
outra estratégia do desenvolvimento desta clima-
tologia escalar em sala de aula. Uma atividade pro-
posta, neste caso seria necessária a interação entre
escolas, seria a medição conjunta, por exemplo, da
temperatura, em escolas localizadas em locais di-
ferentes, o que permitiria aos alunos compreende-
ram a questão das ilhas de calor em grandes cida-
des. O mesmo pode ser feito com o método para
Figura 1: Respostas concernentes à pergunta 1: “A rede o qual
medição de MPS. E assim subsequentemente, se você ensina pertence a qual rede?”
elevando a escala do fenômeno. Fonte: elaborado pelos autores.
Esta discussão foi levada ao XI Simpósio
Brasileiro de Climatologia Geográfica, ocorrido
no mês de outubro em Curitiba, e foram trata-
das no eixo “Ensino de Climatologia”.
Tal debate correu ao ponto em que se
concluiu que o professor não pode e não deve
ser refém do livro didático, e que não há como
o próprio livro abordar escalas locais do ensino,
Figura 2: Respostas concernentes a pergunta 2: “O local onde
uma vez que, o mesmo é produzido de maneira você é professor lhe dá liberdade para escolher ou discutir a
geral para o Brasil todo, cabendo ao professor o escolha do livro didático a ser utilizado no ano letivo?”
papel de fazer tal aproximação. Fonte: elaborado pelos autores.
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