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* Felipe Fulanetto é técnico em Web Design, graduado em Teologia no STNB, bacharel em Teologia
reconhecido pela UNICESUMAR e mestrando em missiologia no CEM. Pastor e missionário pela Igreja do
Nazareno, coordenador de pesquisas missionárias institucional da AMTB, pertence à equipe do projeto
Vocacionados e do movimento VOCARE. Organizador e co-autor do e-book “Vocação e Juventude”
publicado pela editora Ultimato.
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1. INTRODUÇÃO
A hegemonia de uma religião não é mais realidade em nossa sociedade e todos nós
podemos nitidamente observar. O intercambio religioso outrora uniforme e unilateral,
vindo do Ocidente para o resto do mundo, transformou-se em pulverizado e bilateral,
oriundo de diversos ambientes e com fortes tendências ao sincretismo. Aulas de yoga,
mesquitas, provérbios confucionistas, meditações zen, horóscopo do dia, amuletos de
proteção e entre outros, são atualmente rotineiros na vida de milhões de brasileiros.
Essa nova ambivalência gera um desafio hermenêutico para a teologia
contemporânea. Trata-se de um novo paradigma que antes era somente vivenciado pelos
missionários em seus respectivos campos, entretanto, hoje as igrejas e as agências
enviadoras enfrentam uma realidade desafiadora para cumprir a sua missão.
Deve-se ressaltar que esse artigo não tem a intenção de analisar as religiões e
apresentar uma resposta apologética, tampouco discutir modelos de agências e estratégias
evangelísticas, muito menos finalizar a discussão proposta, pois por ser um assunto
complexo e dinâmico, exige-se muito mais que uma simples resposta metodológica e
teológica. Não obstante, levantaremos inquietudes latentes no meio cristão evangélico na
sua relação cultura-fé. O objetivo é demonstrar historicamente o surgimento do
pensamento pluralista inclusivista, apontando como esse fenômeno se alastrou dentro do
corpo eclesiástico, para então, estudar a sua influência tanto na pessoa vocacionada a obra
missionária, como nas agências missionárias. Desta forma, será levantada a indagação, se
os vocacionados e as agências agem como cooperadores ou competidores. Por fim,
finalizaremos com um diálogo otimista hermenêutico bíblico, a fim de nortear nossas
atitudes.
Gerard Biard, redator-chefe do jornal “Charlie Hebdo”², nos mostra quão vivo essa
filosofa humanista é vigente, “cada vez que desenhamos a caricatura de Maomé, de
profetas, de Deus, defendemos a liberdade de religião. Deus não deve ser uma figura
política ou pública, mas sim privada". (COLON, 2015)
De acordo com Lesslie Newbigin nós somos pluralistas em respeito do que
chamamos de “crença”, mas não somos no que chamamos de “fatos” (NEWBIGIN, 1989,
p. 27), ou seja, a fé por ser uma “crença” já não é objetiva, porém subjetiva, não é
¹ De acordo com Ricardo Quadros Gouvêa (GOUVÊA, 1996), a evolução do pensamento pluralista deu-se em
duas etapas, primeiro o pluralismo moderno (entenda-se iluminista dos séculos XV a XIX) visava à
convivência amigável entre visões diferentes e opostas, relacionada ao ideal iluminista da fraternidade
universal e tolerância. Já o pluralismo pós-moderno (entenda-se pós-kantiano) dá um passo além e propõe
não apenas tolerância, mas inclusivismo.
² No dia 7 de janeiro de 2015 em Paris, França, o jornal satírico “Charlie Hebdo” foi alvo de um atentado
terrorista que deixou 12 mortos. O motivo do ataque foi após uma série de publicações de caricaturas de
Maomé, algo considerada proibida por muitos muçulmanos, pois segundo os líderes religiosos, poderiam
provocar idolatria.
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baseada na verdade factual, mas sim, na opinião própria, com isso o pluralismo religioso
têm se expandido e catequisado a sociedade pós-moderna. Religiões inclusivistas e
sincréticas como Hinduísmo, Fé Bahá’i, Cristo Cósmico, Divino Pai Eterno, Seicho-no-
ie, Nova Era, Candomblé etc., crescem por causa da sociedade pluralista. O ditame é que
todas as religiões são validas, pois não existe o certo e o errado. Para o pluralista é
inconcebível que qualquer religião específica deva ser verdadeira, e todas as outras falsas.
Logo, seguir qualquer um dos caminhos religiosos nos capacita alcançar o divino e no
nome do “politicamente correto”, não é possível confrontar crenças e erros das outras
pessoas. Portanto, a filosofia reinante é o hedonismo (não necessariamente
promiscuidade), buscando imperativamente o prazer, pois aquilo que te agrada é o
correto. Frases como: “se isso te faz feliz”, “tudo pelo amor”, “o que importa é sua
felicidade”, “busque o que esta no seu coração”, são constantemente ouvidas por pessoas
de todos os níveis.
A única maneira das religiões atraírem prosélitos é enfocar nas necessidades latentes
de seus adeptos, visando uma resposta simplista e imediata. Notoriamente essa é a
realidade vivenciada nas igrejas cristãs protestantes no Brasil, por isso, devemos fazer
uma tomografia do corpo eclesiástico e averiguarmos as medidas cabíveis ao diagnóstico
apresentado.
Cristão com teologia rasa e experiências místicas profundas, gera heresias profundas
e maturidade espiritual rasa. Se antigamente mudar de religião significava uma ruptura
brusca com sua cosmovisão religiosa e aderir uma nova concepção de vida libertadora
(metanonia), agora conversão denota uma busca de realizações pessoais e incorporar
novas crenças em suas antigas experiências (sincretismo). Esse ambiente de
multiplicidade de experiências subjetivas, busca do divino através da magia e igrejas
orientadas pelo consumo, inevitavelmente afetou aos vocacionados a obra missionária e
justamente nesse ponto que este artigo se propõe articular.
4. VOCACIONADOS DESORIENTADOS
A nova geração é o alvo mais fácil para cair na cilada do pluralismo, pois desde muito
cedo a multiplicidade de opções que lhe são oferecidos, lhe parecem como grande parque
da Disney World, tantos atrativos e pouquíssimo tempo, forçando-os a escolher o que
mais lhe agrada. O vocacionado a obra missionária se encontra na mesma encruzilhada.
Tudo é uma mera questão de opções. Escolher aquilo que mais lhe atrai. O que se encaixa
mais perfeitamente ao seu plano de carreira.
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De tudo que discutimos até então, desejo discorrer cinco pontos principais que o
pluralismo religioso tem moldado os vocacionados a obra missionária.
c. Infidelidade institucional
O resultado do antropocentrismo nas motivações ministeriais desemboca no terceiro
ponto da nossa análise. Primeiramente os vocacionados não decidem afiliar-se a uma
agência missionária por uma discussão avaliativa do propósito, campo e metodologia,
muito menos por direção espiritual. O compromisso está no que é atrativo, confortável e
maleável. O leque das opções de agências missionárias proporciona um mercado de
trabalho, onde os currículos são distribuídos e o que tiver melhor custo benefício ganhará.
Consequentemente, o resultado dessas decisões gera obreiros infiéis a suas
organizações missionárias. Qualquer imprevisto ou descuido da agência, o vocacionado
sente-se no dever de cortar ligações com a instituição, e assim como um profissional,
busca-se uma nova que proporcione e cumpra com suas exigências trabalhistas.
d. Crise epistemológica
O quarto ponto importante a ser analisado é concernente ao preparo acadêmico e
prático do obreiro transcultural. A multiplicidade de centros teológicos e missiológicos,
em partes é uma grande conquista, entrementes, pode se tornar um inimigo, pois se perde
a qualidade e identidade dos formandos. Outro ponto relevante são as fontes dos estudos
teológicos, missiológicos e religioso que os vocacionados estão bebendo. Com a
pluralidade religiosa, muitos centros de treinamentos divulgam teologias mancas e
missiologias míopes, criando missionários diplomados, porém despreparados para a
realidade. Conforme o resultado da pesquisa missiológica “As principais razões que
impedem a Igreja brasileira de enviar missionários transculturais”³, podemos averiguar
³ Em 2012 com a iniciativa da Comibam, Sepal, AMTB e o Movimento de Lausanne, quarenta líderes
evangélicos conhecedores da realidade brasileira, levantaram quatro grandes blocos dos motivos que a
Igreja brasileira não está enviando mais missionários transculturais. Para conhecimento da pesquisa acesse:
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e. Evangelização triunfalista
Por último, a crise epistemológica nos apresenta o panorama da práxis missionária,
e ela é entristecedor. A crise eclesiástica que estamos vivenciando gerou projetos
desastrosos no campo missionário, transportando a teologia triunfalista para a esfera da
evangelização, esperando romper todas as barreiras transculturais com pragmatismo
impregnado de etnocentrismo, contradições e romantismo. Com maestria, o filósofo
brasileiro Mario Sergio Cortella, compara a diferença entre viver velozmente e
apressadamente, o primeiro emprega todos os seus conhecimentos meticulosamente o
mais rápido possível dentro da sua capacidade, enquanto que o segundo finaliza o seu
dever rapidamente em detrimento da qualidade final (CORTELLA, 20). Da mesma
forma, os projetos missionários são feitos apressadamente visando somente resultados
numéricos, ao invés de agirem velozmente e com destreza.
Por causa disso, no afã de ganhar vidas para ao Reino, obreiros empregam projetos
evangelísticos sem nenhum amparo teológico, buscando apenas resultados batismais. A
evangelização foi infecionada pelo hedonismo, retirando de sua pauta a teologia do
sofrimento, transformando o missionário impersistente e murmurador.
O sentimento de união outrora notório no meio missionário foi abandonado. Hoje
há uma competição de quem mais planta igrejas, batiza pessoas e arrecada mais ofertas.
De acordo com Justo González, o ecumenismo surgiu no seio do movimento missionário,
pois um dependia do outro para realizar o objetivo que tinham em comum (GONZÁLEZ;
ORLANDI, 2010, p. 249-256). Todavia, a realidade hoje vivenciada é divergente com as
décadas passadas, o missionário tornou-se mais um profissional lutando pelas suas causas
pessoais. Uma história da missionária voluntária que viveu na Guiné Bissau exemplifica
perfeitamente essa competição entre vocacionados. Depois de anos batalhando para
iniciar um trabalho pioneiro da denominação, ela foi obrigada, de uma forma traiçoeira, a
passar todos os documentos e igrejas para o missionário de carreira, pois ele, o
“profissional”, que deveria legalmente ser o “pioneiro” no campo. Infelizmente no final
de toda essa arapuca muitas igrejas estão morrendo e o missionário de carreira não obteve
respeito do povo local.
http://www.indigena.org.br/v1/index.php?option=com_content&view=article&id=95:principaisrazoesnaoe
nviomissionariostransculturais&catid=12:manifestos&Itemid=19
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6. RESPOSTA CRISTÃ
A proposta desse artigo não é terminar sem nenhuma resposta, mas apresentar
(dentro do possível) uma solução para à atual situação que estamos vivenciando. E, para
respondermos efetivamente, podemos resumir as influências do pluralismo religioso
dentro do seguinte panorama religioso:
Pluralismo Religioso > Relativismo > Mercado > Hedonismo
é a igreja que deve cumprir uma missão de salvação no mundo; é a missão do Filho e do
Espírito mediante o Pai que inclui a igreja" (BOSCH, 1998, p. 468).
Se entendermos corretamente que Deus é o agente principal na obra missionária,
descartaremos qualquer forma de pragmatismo, compreendendo que Deus trará os
missionários que Ele deseja para cada agência missionária e plantará as igrejas onde Ele
quiser. Uma teologia de missões saudável nos levará à conclusão de que os resultados do
labor missionário definitivamente não nos pertencem (PADRO FILHO, 2009, p. 648).
Qualquer atitude competitiva entre os missionários e as agências, devem ser confrontadas
com a Missio Dei, apontando a Deus como o protagonista e dono da história.
Ademais, todas as agências/juntas missionárias deveriam fazer parte da AMTB⁴,
cuja intenção é trazer união e comunicação, para assim haver um intercambio de
ferramentas e conhecimentos, como também evitar duplicação da força missionária.
(PADRO FILHO, 2009)
⁴ Qualquer agências/junta missionária que deseja filiar-se a Associação de Missões Transculturais Brasileiras
(AMTB) acesse o site para mais informações: http://siteamtb.tk/
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7. CONCLUSÃO
Devemos crer que mesmo com todos esses percalços que analisamos, Deus é o dono
da Missão. Ele está no controle de todas as coisas e o Cabeça da Igreja, está edificando o
Seu reino apesar das nossas falhas. Na obra missionária não somos competidores uns dos
outros, muito menos das outras religiões, mas devemos ser servos fieis que propaga a
mensagem da verdade em busca da glória daquele que nos chamou. Concluíamos com um
texto bíblico norteador escrito por Paulo, inspirado pelo Espírito Santo:
Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de
coração compassivo, de benignidade, humildade, mansidão,
longanimidade, suportando-vos e perdoando-vos uns aos outros, se
alguém tiver queixa contra outro; assim como o Senhor vos
perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos do
amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Cristo, para a qual
também fostes chamados em um corpo, domine em vossos
corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós
ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns
aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a
Deus com gratidão em vossos corações. E tudo quanto fizerdes por
palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por
ele graças a Deus Pai. (Colossenses 3:12-17)
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ANEXO A
Lista do ano e nome das organizações missionárias fundadas no Brasil dentro do período
de 1900 a 2010.1
1975 SEMADETS
1998 SEMADEG
BIBLIOGRAFIA
COLON, L. (2015, 01 19). Igrejas brasileiras são atacadas no Níger. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/01/1576984-igrejas-brasileiras-sao-atacadas-
no-niger.shtml?cmpid=%22facefolha%22. Acesso 19 Janeiro de 2015.
CRAIG, W. L. Apologética para questões difíceis da vida. São Paulo: Vida Nova, 2010.
_____, Paul; SHAW, Daniel; TIÉNOU, Tite. Religião Popular. Monte Verde: Horizontes
América Latina, 2009.