Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
N Ú C L E O D E A L T O S E S T U D O S A M A Z Ô N I C O S
P R O G R A M A D E D O U T O R A D O D O T R Ó P I C O Ú M I D O
Belém-Pa
2007
ALINE MARIA MEIGUINS DE LIMA
Belém-Pa
2007
ii
ALINE MARIA MEIGUINS DE LIMA
Banca Examinadora:
Prof. Dr. José Almir Rodrigues Pereira Prof. Dr. Lindenberg Farias
CT/UFPA CT/UFPA
iii
Dedico este trabalho aos meus pais, Luiz e
Sônia, e irmãos, Fábio e Amélia, que são
minha família, a razão de eu ter chegado a
este momento.
iv
AGRADECIMENTOS
Este trabalho dedico e agradeço a Deus que me deu força nos momentos mais
difíceis e nas vitórias conquistadas; e pais como Luiz e Sonia, que nunca se cansaram de
apoiar e incentivar minha vida acadêmica, da alfabetização ao doutorado. Nesta jornada, a
presença e a importância deles foram essenciais.
De forma especial, agradeço ao Prof. Dr. Marcos Ximenes Ponte por ter sido um
orientador, no sentido da palavra, direcionando e auxiliando o melhor caminho a tomar,
sempre de maneira profissional e amiga.
Durante o desenvolvimento dos trabalhos de campo contou-se com o apoio do Prof.
Dr. Maurílio Monteiro e do Prof. Dr. Juarez Pezzuti, aos quais agradeço e compartilho os
sucessos alcançados.
Ao final desta caminhada vejo-me obrigada a reconhecer as contribuições que recebi
de todos os professores com os quais tive a oportunidade de trabalhar e aprender. E em nome
daqueles que me orientaram em diferentes fases, agradeço aos demais: Prof. Dr. Francisco
Matos de Abreu (Iniciação Científica - UFPA), Prof. Dr. Candido Moura (Iniciação Científica
- UFPA), Prof. Dr. Paulo Gorayeb (Iniciação Científica e Trabalho de Conclusão de Curso -
UFPA) e Prof. Dr. Nilson Gandolfi (Mestrado - USP/EESC).
Existem vários amigos, colegas e familiares que de alguma forma contribuíram com
apoio, incentivo e orientações, a estes agradeço, esperando continuar contando em minha vida
profissional e pessoal com a sua participação.
Durante todos estes anos foram muitas as dúvidas, altos e baixos; manter o equilíbrio
exigiu fé, por isso meu último agradecimento é a quem recorri em diversos momentos, e
nestes encontrei o conforto que procurava, a Nossa Senhora de Fátima.
v
“O mundo não vai superar a crise atual
usando o mesmo pensamento que criou essa
situação.”
Albert Einstein
vi
RESUMO
vii
ABSTRACT
Management of the space unit denominated water basin demands of public administrators
understanding its variables and the politician-administrative limits relations. So it is necessary adapted
instruments to plan and implement the directives which have as base the water resources. With the
purpose to guarantee the future water sustainability the preventive management appears as the solution
to resolve the possible conflict situations or minimized their effects on water resources. Which should
be priority in the Amazonian states because their water potential in a global context.
This thesis contributes to offer water demand planning using as example the Capim basin. It
is based in an identification system, evaluation and analysis with the application of the prospective
study. In the prospective study each water basin analyzed defines their dynamics scenes. They have
the main function to join the natural characteristics and its answers associated to the process soil
occupation use, focusing the water resource sustainability in the basin. In the construction of these
scenes had been used indicators with objective to guide the future decisions. The strategic analysis
answers this demand because it is able to involve many variables, emphasizing the importance of
anticipate possible events and the conflicts of its use and recognizes the changes velocity.
As application example was used the river Capim basin located in the river Guamá basin in
Pará northeastern. Established the work principles and general intentions and chosen the study area,
the next stage was their execution. At first was identified the system dynamics using the landscape and
the 25 water basins components. These natural characteristics, the effects of social and economical
actions and the interactions of the water multiple uses had been studied. The first analysis of the
component has showed 38 variables associated with the water basin availability. The second analysis
of the component using the prospective analysis has gotten to reduce them for 13, which was
identified as the indicators of its behavior. Consequently had been identified more sensitivities areas
where the recovery capacity is smaller if are affected significantly. The final stage was characterized
by the formulation of future scenes based in the interventions, which the basin can or cannot suffer.
The gotten results have shown that if there is the implantation of the water resources
management integrated in the State and investments for detailed studies, connected to the basin plans,
there is a great guarantee of sustainability in the river Capim basin for a long period, even with the
productive sector advance. However, the stagnation of the water management process or its retrogress
because of the public political weakness will be able to imply in serious consequences to the
supplement of existing water, mainly in the stretch where exist more sensitivity.
ix
Figura 45. Superfícies em retomada de erosão: UT Candiru-Açu. ___________________________________ 99
Figura 46. Terraços fluviais com depósitos inconsolidados: UT Palheta – Jari. ________________________ 100
Figura 47. Colinas de topo aplainado com vales pouco profundos: UT Cajueiro – Pirajoara. _____________ 101
Figura 48. Geologia regional da área da bacia do rio Capim e entorno. ______________________________ 109
Figura 49. Sedimentos da Formação Itapecuru. ________________________________________________ 112
Figura 50. Feição erosiva nos sedimentos da Formação Ipixuna. ___________________________________ 112
Figura 51. Arenito da Formação Ipixuna. _____________________________________________________ 112
Figura 52. Sedimentos da Formação Barreiras._________________________________________________ 113
Figura 53. Depósitos aluvionares. ___________________________________________________________ 113
Figura 54. Cobertura de latossolos. __________________________________________________________ 113
Figura 55. Solo desenvolvido a partir de sedimentos aluviais com acumulação de matéria orgânica e textura
argilosa. _______________________________________________________________________________ 113
Figura 56. Unidades geológicas da bacia do rio Capim. __________________________________________ 119
Figura 57. Cobertura de solos da bacia do rio Capim.____________________________________________ 120
Figura 58. Províncias Hidrogeológicas do Brasil (REBOUÇAS et al, 2001). _________________________ 121
Figura 59. Principais aqüíferos do país (ANA, 2005). ___________________________________________ 122
Figura 60. Sistema de captação de água subterrânea na comunidade de Fortaleza. _____________________ 123
Figura 61. Unidades hidrogeológicas da bacia do rio Capim. ______________________________________ 124
Figura 62. Classificação climática da bacia do rio Capim. ________________________________________ 127
Figura 63. Deficiência hídrica na bacia do rio Capim. ___________________________________________ 128
Figura 64. Precipitação pluviométrica na bacia do rio Capim. _____________________________________ 129
Figura 65. Períodos menos chuvosos na bacia do rio Capim. _____________________________________ 130
Figura 66. Caracterização da cobertura vegetal da bacia do rio Capim. ______________________________ 134
Figura 67. Área desmatada para aproveitamento agropecuário. ____________________________________ 135
Figura 68.Área desmatada para aproveitamento madeireiro. ______________________________________ 135
Figura 69. Área de mata ciliar ______________________________________________________________ 135
Figura 70. Área de floresta primária._________________________________________________________ 136
Figura 71. Área de campos abertos. _________________________________________________________ 136
Figura 72. Desmatamento de encosta, gerando erosão e deslizamentos de massa. ______________________ 136
Figura 73. Etapa de avaliação das características socioeconômicas da bacia do rio Capim._______________ 137
Figura 74. Distribuição dos municípios na bacia do rio Capim. ____________________________________ 140
Figura 75. Sistema viário da bacia do rio Capim. _______________________________________________ 141
Figura 76. Sede municipal de São Domingos do Capim. _________________________________________ 145
Figura 77. Sede municipal de Aurora do Pará. _________________________________________________ 145
Figura 78. Sede municipal de Ipixuna do Pará. _________________________________________________ 145
Figura 79. O Baixo – Médio Capim: evolução populacional. ______________________________________ 151
Figura 80. O Alto Capim: evolução populacional. ______________________________________________ 152
Figura 81. Distribuição dos projetos de colonização e dos assentamentos na Amazônia Legal.____________ 153
Figura 82. Área destinada à pecuária. ________________________________________________________ 157
Figura 83. Infra-estrutura para produção de grãos em Paragominas. ________________________________ 160
Figura 84. Área desmatada para o plantio. ____________________________________________________ 160
Figura 85. Área sendo queimada para o roçado. ________________________________________________ 160
Figura 86. Produção de lenha nos municípios componentes da bacia do rio Capim. ____________________ 162
Figura 87. Transporte da madeira pelo rio Capim. ______________________________________________ 162
Figura 88. Ações conseqüentes do extrativismo vegetal: (a) pátio de madeira; (b) carvoaria; e (c) áreas de
reflorestamento._________________________________________________________________________ 163
Figura 89. Áreas de extração de material para construção civil. ____________________________________ 165
Figura 90. Ocorrências minerais na bacia do rio Capim.__________________________________________ 166
Figura 91. Lançamento de esgoto no Ig. Ipixuna em Ipixuna do Pará. _______________________________ 167
Figura 92. Traçado dos minerodutos que atraveçam a bacia do rio Capim. ___________________________ 169
Figura 93. Usos múltiplos: (a) travessia e navegação comercial; (b) lançamento de efluentes. ____________ 170
Figura 94. Usos múltiplos: (a) sinalização voltada à navegação; (b) turismo/lazer; (c) abastecimento público. 171
Figura 95. Fluxograma identificando os componentes da etapa de análise do sistema. __________________ 172
Figura 96. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim - climáticas. ______________________________ 177
Figura 97. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim - o perfil de alteração. ______________________ 178
x
Figura 98. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim - o modelo de terreno. ______________________ 180
Figura 99. (a) Pluviometria; e (b) Fluviometria na bacia do rio Capim. ______________________________ 182
Figura 100. Distribuições das estações pluviométricas e fluviométricas na bacia do rio Capim. ___________ 183
Figura 101. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim - os sistemas hídricos. _____________________ 184
Figura 102. Divisão da área em quadrantes, para o cálculo do percentual de manchas presentes. __________ 185
Figura 103. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim - a cobertura vegetal. ______________________ 188
Figura 104. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim - os sistemas produtivos locais. ______________ 193
Figura 105. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim - a ocupação territorial. ____________________ 196
Figura 106. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim - o uso e gestão dos recursos hídricos._________ 199
Figura 107. (a) Zona natural de acumulação no leito do rio Capim, com alta vulnerabilidade as modificações no
processo de remoção, transporte e deposição de material pelo sistema fluvial. Intervenções que podem gerar
modificações no sistema: (b) Desmatamento de encostas; e (c) Progressão de processos erosivos. _________ 203
Figura 108. (a) Ocupação marginal com retirada de mata ciliar; (b) Processo avançado de erosão com
desmoronamento; (c) Assoreamento de canais._________________________________________________ 204
Figura 109. 1º Avaliação da sensibilidade da bacia à perda de potencial hídrico._______________________ 206
Figura 110. Fluxograma identificando os componentes da etapa de formulação de tendências.____________ 207
Figura 111. Etapa nº 1: Análise do problema e delimitação do sistema. ______________________________ 209
Figura 112. Gráfico motricidade x dependência.________________________________________________ 214
Figura 113. (a) Gráfico motricidade x dependência para o Sistema 0-1; (b) Seleção das variáveis de pelotão. 215
Figura 114. (a) Gráfico motricidade x dependência para o Sistema potencial 1-2-3; (b) Seleção das variáveis de
pelotão. _______________________________________________________________________________ 216
Figura 115. Área desmatada ao longo do rio Capim, próxima a PA 256, exemplo de alteração significativa,
exercendo pressão sobre o seu leito. _________________________________________________________ 227
Figura 116. Mudança da paisagem, ocasionada pelo desflorestamento no Alto Capim. __________________ 227
Figura 117. Trabalhadores ampliando a rede viária, facilitando o acesso ao rio Capim: nova fronteira de
expansão. ______________________________________________________________________________ 227
Figura 118. 2º Avaliação da sensibilidade da bacia à perda de potencial hídrico._______________________ 228
Figura 119. Exemplo de combinações no processo de formulação de hipóteses para definição de estratégias. 235
Figura 120. Exemplo da análise morfológica. __________________________________________________ 235
Figura 121. Exemplo de combinações possíveis, efetuadas na análise morfológica. ____________________ 236
Figura 122. Cenário estável ou atual. ________________________________________________________ 240
Figura 123. Cenário sustentável. ____________________________________________________________ 241
Figura 124. Cenário restrito. _______________________________________________________________ 244
Figura 125. Gado bebendo água no leito do rio Capim. __________________________________________ 247
Figura 126. Desmatamento e assoreamento de curso d´água. ______________________________________ 247
Figura 127. Situação das áreas ocupadas na bacia do rio Capim, no ano de 2000. ______________________ 248
Figura 128. Situação das áreas ocupadas na bacia do rio Capim, no ano de 2004. ______________________ 249
Figura 129. Situação das áreas ocupadas na bacia do rio Capim, desde a década de 80. _________________ 250
Figura 130. (a) Critério hidrográfico: Regiões↔Bacias↔Sub-bacias hidrográficas; (b) Critério de dinâmica da
paisagem: Sistema e Unidade de Terreno._____________________________________________________ 252
Figura 131. Modificação da paisagem comum na bacia do rio Capim, desmatamento associado a geração de
feições erosivas de portes variáveis, agravadas pela ação do escoamento superficial. ___________________ 256
Figura 132. Situação clássica gerada pela ocupação irregular ao longo dos cursos d´água, gerando problemas
sociais (saúde e saneamento) e ambientais (poluição hídrica). _____________________________________ 258
Figura 133. Situação agravante, o leito do rio Capim sendo utilizado como lixão a céu aberto na localidade de
Canaã. ________________________________________________________________________________ 260
Figura 134. Nascente preservada, uma necessidade à manutenção do sistema hídrico da bacia. ___________ 261
Figura 135. Incremento populacional projetado pelo IBGE (2006). _________________________________ 272
Figura 136. Possibilidades futuras: (a) extrativismo vegetal; (b) turismo e lazer; e (c) poluição hídrica._____ 273
Figura 137. Possibilidades futuras: (a) ampliação de núcleos populacionais existentes – Santana do Capim; (b)
urbanização; e (c) expansão agrícola e pecuária.________________________________________________ 274
Figura 138. Exemplos de prioridades ao manejo: (a) reorientação das formas de ocupação; e (b) manutenção das
áreas de preservação permanente. ___________________________________________________________ 276
xi
LISTA DE TABELAS
xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
xiii
SUMÁRIO
Abstract ______________________________________________________________________________VIII
CAPÍTULO I ____________________________________________________________________________ 1
1 INTRODUÇÃO _____________________________________________________________________ 1
CAPÍTULO II ___________________________________________________________________________ 5
CAPÍTULO IV _________________________________________________________________________ 65
xiv
4.2 Sistema de informações geográficas ____________________________________________________ 72
4.3 Diagnóstico base da bacia do rio Capim _________________________________________________ 76
4.3.1 Componentes estruturais _____________________________________________________________ 76
4.3.2 Histórico do processo de ocupação ____________________________________________________ 137
4.3.3 Dinâmica atual de uso e ocupação _____________________________________________________ 154
4.4 Análise do sistema _________________________________________________________________ 172
4.4.1 Definição do questionamento condutor _________________________________________________ 172
4.4.2 Estruturação matricial das informações _________________________________________________ 173
4.5 Formulação de tendências ___________________________________________________________ 207
4.5.1 Etapa nº 1: Análise do problema e delimitação do sistema __________________________________ 208
4.5.2 Etapa nº 2: Diagnóstico do sistema ____________________________________________________ 208
4.5.3 Etapa nº 3: Análise estrutural _________________________________________________________ 209
4.5.4 Etapa nº 4: Definição da dinâmica e evolução ____________________________________________ 214
4.5.5 Etapa nº 5: Definição de cenários ambientais_____________________________________________ 221
4.5.6 Etapa nº 6: Identificação de estratégias _________________________________________________ 233
4.6 Perfil de demandas atuais e perspectivas futuras __________________________________________ 245
xv
Capítulo I
1 INTRODUÇÃO
O início da preocupação legal com a utilização das águas data de 1934, este veio com
o Código de Águas (Decreto n° 24.643, de 10 de junho de 1934) baseado nos princípios
estabelecidos pela 1ª Conferência de Direito Internacional de Haia, de 1930, e dando ênfase
ao aproveitamento hidráulico, que à época, representava uma condicionante do processo
industrial; este já trazia normas que submetiam o uso do recurso ao controle institucional no
interesse da saúde e segurança, empregando o conceito de outorga de direito de uso, ao
colocar que: “a ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as águas que não consome, com
prejuízo de terceiros”.
As pressões técnicas, sociais, econômicas ou legais que progressivamente se
desenvolveram nos últimos 70 anos, mostraram a necessidade de refinar, dinamizar e tornar a
resposta à sociedade mais efetiva com relação ao uso e aproveitamento dos recursos hídricos.
Porém, o progresso da implantação das políticas de recursos hídricos, especialmente
no Brasil, tem mostrado que o conflito (por escassez natural ou induzida pelas ações
antrópicas) é um fator mais motivador que a oferta.
A gestão preventiva, que visa garantir a sustentabilidade hídrica antes que o
problema se torne real, ficou enfraquecida, tanto que os estados da região norte do Brasil
incluindo o Pará, que representam cerca de 70% (REBOUÇAS et al, 2001) do potencial
hídrico existente no país, têm sido os últimos a implantarem seus sistemas e são os mais
defasados quanto a quantidade e qualidade de informação existente.
A implantação de instrumentos específicos aplicados à gestão da oferta hídrica
representam uma forma de sistematizar, analisar e representar as condições da bacia
hidrográfica visando o melhor aproveitamento do recurso, compatibilizando a
heterogeneidade de densidade de informações hídricas aos aspectos regionais, atuando como
1
elemento de suporte à decisão que busca incorporar critérios ambientais, sociais, técnicos e
econômicos compondo, desta forma, uma análise multicriterial.
A técnica de estudo da paisagem contempla o aspecto multicriterial, com a
possibilidade de identificação do grau de intervenção em cada sub-bacia hidrográfica e sua
composição, estabelecendo o zoneamento em termos da homogeneidade de suas formas
("landforms") e sensibilidade (“landscape sensibility”) ao uso inadequado de seus recursos
para o total da bacia, possibilitando ao planejador uma visão descritiva e dinâmica das
diversas interações que diretamente afetam os recursos hídricos presentes.
O estudo e caracterização da paisagem tem sido empregado para diversas finalidades,
desde o planejamento territorial a temas mais voltados ao estudo de ecossistemas. A técnica
passou a ser bastante usada como critério de entendimento da dinâmica das mudanças com o
tempo. Entender a paisagem como instrumento de planejamento é associá-la a parâmetros de
composição, conectividade, estrutura, integralidade, funcionalidade e organização, além de
um parâmetro livre, a complexidade, que acompanha o sistema durante toda a sua evolução
(UHLMANN, 2002). Contribuindo para que este seja uma antevisão de um estado, de um
ambiente futuro, aspecto fundamental à gestão da oferta hídrica que trabalha sobre a
perspectiva das mudanças que podem ocorrer e como o sistema irá responder as mesmas.
Esta resposta diferenciada está relacionada à diversidade de ambientes existentes na
bacia hidrográfica, dotados de resistências próprias e relações sinérgicas, onde cada elemento
componente passa a requerer estratégias individualizadas que sejam capazes de atender suas
demandas e explorar de forma mais adequada suas potencialidades. A análise prospectiva
estratégica aparece como este meio que permite antecipar a evolução dos futuros possíveis e
com base nesses cenários, avaliar as estratégias existentes e/ou definir uma nova visão
condutora da ação (RIBEIRO, 1997).
O objetivo principal de integrar o planejamento ao estudo da dinâmica da paisagem,
empregando como ferramenta de suporte à decisão a análise estratégica, é promover a gestão
hídrica em bacias hidrográficas caracterizadas pela oferta de água, baixa densidade de
informações, capacidade de recuperação variável com a velocidade, intensidade e recorrência
de seu processo de ocupação. Por meio deste objetivo esta tese identifica, avalia e analisa o
sistema da bacia do rio Capim e aplica o estudo prospectivo como base para o planejamento
hídrico.
2
Contempla a revisão e aprofundamento das bases conceituais da técnica do estudo da
paisagem, dos instrumentos de política e planejamento do uso dos recursos hídricos e da
análise estratégica.
Do ponto de vista prático tem-se a aplicação na bacia do rio Capim (Figuras 1 e 2),
pertencente à bacia do rio Guamá localizada no nordeste do estado do Pará, no eixo de maior
concentração, expansão econômica e ocupacional dos últimos 30 anos, direcionado ao longo
da Rodovia Belém-Brasília; tendo concentrado esforços em diversos sentidos, desde estudos
de viabilidade de projetos (hidrovia Guamá – Capim; e de implantação de projetos industriais
e mineiros), àqueles decorrentes da expansão das atividades extrativista (madeireira) e
agropecuária nos municípios da região. Com uma área total de 37.485,75 km2 (95,22 % no
estado do Pará e 4,78% no estado do Maranhão). O rio Capim, com aproximadamente
764,820 km (da sua foz com o rio Guamá, até a confluência com as bacias dos rios Surubiju e
Ararandeua), é navegável desde sua foz situada junto à cidade de São Domingos do Capim até
a foz do rio Potiritá, próximo a Vila de Canaã.
Encontrando-se estruturada em sete (07) capítulos. O primeiro aborda os aspectos
introdutórios, enfocando objetivo geral do estudo, a relevância da proposta e a localização da
área de estudo. O segundo discute os principais aspectos teóricos trabalhados, dando suporte à
metodologia adotada. Este é composto por três segmentos: (1) a bacia hidrográfica como um
sistema; (2) a sensibilidade e o modelo evolutivo da paisagem e; (3) o planejamento hídrico.
O terceiro apresenta a bacia do rio Capim e seus aspectos mais relevantes,
justificando o emprego desta bacia como modelo de área com potencial à problemas de
disponibilidade hídrica pela ausência de gestão direcionada a manutenção da mesma.
O quarto traz a proposta de trabalho desenvolvida, empregando metodologias
associadas ao estudo da paisagem àquelas voltadas ao planejamento estratégico, tendo como
meta a formulação de cenários tendenciais à bacia considerando sua situação atual de
ocupação e tendências futuras.
O quinto discute e avalia os resultados obtidos, neste são feitas considerações sobre o
método empregado e sua resposta operacional na bacia do rio Capim. Possivelmente, algumas
considerações realizadas só venham a ser melhor compreendidas após a leitura deste.
O sexto apresenta as avaliações finais e conclusões obtidas, finalizando-se com o
referencial bibliográfico consultado e citado.
3
Figura 1. Rio Capim – Aurora do Pará/Pará.
(a)
(b)
Figura 2. Cenários comuns ao longo do rio Capim: (a) ocupação irregular das margens; e (b)
queimadas.
4
Capítulo II
Discutir a oferta hídrica representa uma mudança de postura com relação ao que é
realizado atualmente em termos de gestão, cujo foco no geral é a escassez, mudando a visão
imediatista de resolução de situações emergenciais, passando a buscar um caráter mais
preventivo, que vise cenários futuros que garantam a maunenção desta disponibilidade.
Este argumento é discutido em Tundisi (2003) onde é ressaltado que os principais
problemas referentes a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos no Brasil mostram uma
situação diversificada e complexa que exige avanços institucionais e tecnológicos para
recuperação e proteção, além de novas visões para a gestão preventiva, integrada e
adaptativa.
A palavra adaptativa se enquadra para a situação dos estados da região Norte do
país, onde é necessária uma releitura da própria política hídrica, desta vez, voltada ao
gerenciamento da oferta, preventivo, integrado e corretivo.
Considerando os aspectos preventivos, integrados e corretivos, pode-se utilizar o
conceito de Ecotecnologias de Strakraba (1993, apud TUNDISI, 2003), que a define como o
uso de métodos tecnológicos para o gerenciamento de ecossistemas baseados no profundo
conhecimento de princípios do funcionamento dos ecossistemas naturais, e na transferência
deste conhecimento para o gerenciamento e aplicação de tal forma que os custos e os danos
ambientais possam ser minimizados, ou seja, dá-se ênfase ao uso de tecnologias derivadas do
conhecimento do próprio funcionamento dos ecossistemas, o que promove sustentabilidade de
longo prazo.
5
Os princípios gerais propostos por Tundisi & Strakraba (1995) atendem ao
gerenciamento da disponibilidade da oferta hídrica por:
1. Considerar a dinâmica do ecossistema;
2. Considerar a sensibilidade das bacias hidrográficas às entradas externas de material;
3. Utilizar o conhecimento das interações entre fatores abióticos e bióticos; retendo as
estruturas naturais e protegendo a biodiversidade, respeitando a sustentabilidade do
desenvolvimento;
4. Gerenciar a bacia hidrográfica como parte de um todo e adotar uma visão sistêmica;
5. Avaliar opções de longo prazo e os efeitos globais do gerenciamento;
6. Confrontar usos conflitantes;
7. E determinar a capacidade assimilativa do sistema e não excedê-la.
Estes pré-supostos permitem considerar que o gerenciamento dos recursos hídricos,
no contexto amazônico, por exemplo, necessita de uma abordagem articulada ao problema da
bacia hidrográfica como unidade e da água como bem finito de usos múltiplos e dotada de
valor econômico.
Como suporte a esta discussão citam-se os trabalhos abaixo, por abordarem os
principais aspectos referentes a(ao):
Bacia hidrográfica como um sistema:
Discute sobre o
Morin (1990); Prigogine (1997); Maia et al. (2001); Leff (2001).
pensamento sistêmico.
Aborda o equilíbrio
dinâmico dos sistemas e Bertrand (1971); Tricart (1977); Capra (1996); Tauk (1995); Branco
a teoria geral dos (1999); Maia et al. (2001); Uhlmann (2002); Fenzel (2003).
sistemas.
Sensibilidade e modelo evolutivo da paisagem:
Discute a paisagem seus Bertrand (1972); Tricart (1979); Tricart e Kilian (1982); Forman e
conceitos e dinâmica. Godron (1986); Ribeiro (1989); Dias (1998); Soares Filho (1998).
Conceitua e aplica o uso Brunsden e Thornes (1979); Allison e Thomas (1993); Lollo (1996);
dos landforms. Thomas e Simpson (2001).
Conceitua e aplica o uso
Chorley (1962); Chorley e Kenned (1971); Forman e Gordon (1986);
da sensibilidade da
Allison e Thomas (1993); Downs e Gregory (1993); Brunsden (200);
paisagem (Landscape
Thomas (2001); Thomas e Simpson (2001); Usher (2001).
Sensitivity)
Avalia as alterações
Christofoletti (1970); Schmm (1973); Gupta (1984); Brookes &
produzidas na bacia
Gregory (1988); Kochel & Patton (1988); Willgoose et al (1989);
hidrográfica, naturais
Petts et al. (1992); Burt et al (1993); Mello Filho (1994); Ahnert
ou induzidas por
(1996); Bragagnolo (2000); Paiva et al (2004).
atividades antrópicas.
6
Sensibilidade e modelo evolutivo da paisagem:
Baker (1989); Sklar e Costanza (1991); OECD (1993); Zayas (1994);
Discute modelos e
Tauk (1995); González et al. (1995); Ahnert (1996); OECD (1998);
indicadores da
Soares Filho (1998); Christofoletti (1999); Maturama (2000);
paisagem.
Domingues et al (2000) ; Maia et al. (2001); Santos (2004).
Planejamento hídrico:
Define e discute a bacia Strahler (1952); Schumm (1973); Christofoletti (1970); Viessman et
hidrográfica como al. (1972); Ramos et al. (1989); Black (1991); Molinier (1992); Costa
unidade de (2000); Guerra e Cunha (2001); Lanna (2001); Tucci (2001); MMA
planejamento. (2002); Campos (2003); Hogan e Carmo (2003).
Ross, (1991); Barraqué (1998a); Barraqué (1998b); Correia (1998);
Hernández (1998a); Hernández (1998b); Hubert (1998); Kraemer
(1998); Mostert (1998); Pigram (1998); Teube, (1998); Zabel e Rees
Discute o direito das
(1998); Antunes (2000); Fiorillo (2000); MMA (2000); Silva e Prousk
águas.
(2000); Anjos et al (2001); Donzier (2001); Granziera (2001); Sjef
Van Put (2001); Machado (2002); Falala (2003); Freitas (2003);
Veltwisch (2003); Pereira (2004).
Lanna et al (1990); Barraqué (1993); Tonet e Lopes (1994); Lanna
(1995); Tundisi & Strakraba (1995); Heijden (1997); Lanna (1997);
Discute as formas de Ribeiro (1997); Caldas e Perestrelo (1998); Lanna (1999); Lanna
planejamento e os (2001); Leal (1998); Barros e Barros (1998); Zuffo (1998); Fernandez
instrumentos de gestão (2000); Godet (2000); Setti (2000); Sena (2000a,b); Bodini (2001);
de recursos hídricos. Cabral (2001); Setti (2001); Barlow e Clarke (2003); Campos e Sousa
(2003); Maud e Lima (2003); Tundisi (2003); Godet (2004);
Boaventura et al (2005); Benini (2005).
A Figura 3 ilustra algumas interações que ocorrem na bacia do rio Capim que
demonstram a necessidade de se incorporar um conjunto de conhecimentos articulados
visando à manutenção das características hídricas da bacia.
7
(a)
(b)
(c)
Figura 3. Usos que geram conflitos na bacia: (a) ocupação urbana; (b) núcleo urbano,
associado à travessia no rio Capim, com transporte de cargas e pessoas; (c) Feição erosiva de
grande porte próximo à sede municipal de Ipixuna do Pará.
8
2.1 A BACIA HIDROGRÁFICA COMO ESPAÇO DE INTERAÇÕES
Discutir a bacia hidrográfica como uma unidade integrada exige a percepção tanto do
todo quanto das partes componentes; assim como, de suas inter-relações.
Quando se analisa esta perspectiva considerando as dimensões espaciais das bacias
hidrográficas dos Estados componentes da região Norte do país, entende-se o retardo do
avanço da implantação de suas políticas hídricas. A principal dificuldade está no
entendimento de seu funcionamento, potencialidades derivadas, limitações e capacidade de
autorecuperação.
Os sistemas hídricos podem ser discutidos dentro da teoria geral dos sistemas, onde
as propriedades das partes são entendidas a partir da organização do todo, desta forma, não há
a construção de um pensamento compartimentado e sim, de princípios de organização básicos
ressaltando o contextual e o analítico (TAUK, 1995; CAPRA, 1996; PRIGOGINE, 1997;
BRANCO, 1999; LEFF, 2001; MAIA et al., 2001; UHLMANN, 2002).
Tendo identificado os componentes e suas interações (considerando os fatores
abióticos e bióticos), parte-se para a compreensão de seu funcionamento integrado às ações
que se desenvolvem na bacia hidrográfica, sob a perspectiva dela como espaço de interações
sócio-econômicas, de caráter desenvolvimentista, e de expansão de novas tecnologias, ou seja,
como unidade básica do planejamento. Esta teoria compatibilizada ao planejamento hídrico
passa a compor duas bases principais (UHLMANN, 2002):
A análise de sistemas: voltada para o desenvolvimento e planejamento de modelos de
sistemas, inclusive matemáticos, adotado amplamente para a compreensão do todo das
organizações complexas, bem como, das relações existentes entre os seus componentes
(subsistemas); (Figura 4) e
A gestão: que se refere à adoção do pensamento sistêmico na condução, coordenação e
elaboração das estratégias de permanência dos sistemas complexos.
Como exemplo desta discussão cita-se o processo de gestão de grandes bacias
hidrográficas, como as dos rios Amazonas ou Tocantins, neste se observa uma complexidade
tanto estrutural, quanto funcional. Onde a análise do sistema é falha por não conseguir
contemplar todas as relações existentes entre os seus componentes (subsistemas) refletindo-se
na gestão que passa a ter seu processo de condução, coordenação e elaboração de estratégias
9
ainda distante da situação real, idealizando formulações que não atingem seus objetivos pelo
fato do modelo adotado não ser capaz de contemplar as variáveis necessárias.
A Figura 5 que ilustra a Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia e as
intervenções sofridas. Estas têm se mostrado capazes de afetar sua capacidade de recuperação,
principalmente no que se refere ao potencial hídrico (ANA, 2002), mostrando que são
necessários instrumentos capazes de avaliar a sensibilidade da bacia, tornando a análise do
sistema cada vez mais apta a fornecer subsídios concretos à gestão das diferenças existentes
entre a região à montante (estados de Goiás, Tocantins, Distrito Federal e Mato Grosso) e à
jusante (estados do Pará e do Maranhão), referente à disponibilidade hídrica, potenciais e
problemas existentes.
Sistema
socioeconômico
(demografia, economia,
uso do solo, infra-
estrutura)
10
Região Hidrográfica do Tocantins – Araguaia: (Resolução do CNRH nº 32, de 15 de outubro de 2003).
Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia: é constituída pela bacia hidrográfica do rio Tocantins até a sua foz no Oceano
Atlântico. Segundo a visão atual da gestão de recursos hídricos, surge a conceituação de Regiões Hidrográficas
(Resolução do CNRH nº 30, de 11 de dezembro de 2002), que agrupa bacias, tendo como um dos fatores a dinâmica
socioeconômica.
Fonte: Agência Nacional de Águas – ANA - 2002.
11
2.2 A SENSIBILIDADE DA PAISAGEM COMO ELEMENTO NORTEADOR DO
PLANEJAMENTO DE USO DOS RECURSOS HÍDRICOS
O desenvolvimento de modelos de sistemas, para a compreensão do todo e das
relações existentes entre os seus componentes, tem no estudo da paisagem um meio de análise
e de delimitação de espaços para a formulação metas que visem o planejamento estratégico.
O sistema bacia hidrográfica passa a ser decomposto em sub-sistemas
individualizados a partir de um conjunto de fatores que caracterizam dinâmicas ou paisagens
distintas.
Segundo Tricart e Kilian (1982, apud SOARES FILHO, 1998) a paisagem é uma
porção do espaço caracterizada por um tipo de combinação dinâmica, portanto instável, de
elementos geográficos diferenciados (físicos, biológicos e antrópicos) que, ao reagirem
dialeticamente entre si, fazem da paisagem um conjunto geográfico indissociável que evolui
em bloco, tanto sob o efeito das interações entre os elementos que o constitui como sob o
efeito da dinâmica própria de cada um dos elementos considerados separadamente (Figura 4).
Na decomposição de uma região hidrográfica, em um conjunto de bacias e estas em
um conjunto de micro-bacias utilizando seus elementos componentes, faz-se necessário
identificar fragmentos agrupados ou separados segundo suas similaridades ou diferenças a
nível estrutural. Para tanto, utiliza-se o método de avaliação do terreno. Este se baseia no
reconhecimento, interpretação e análise de feições do relevo denominadas de landforms as
quais, sendo reflexo dos processos naturais atuantes sobre os materiais da superfície terrestre,
devem refletir as condições dos mesmos (LOLLO, 1996). Ou seja, as paisagens atuais podem
ser compreendidas em termos de landforms e dos ecossistemas mantidos por processos
naturais, expressões da história ambiental, incluindo dos impactos e a interferência humana
(THOMAS & SIMPSON, 2001).
Em função das escalas diferenciadas de análise, o landform, pode ser descrito desde
o conjunto maior (sistema de terreno) ao menor elemento unitário (elemento de terreno),
permitindo a individualização eficaz de suas similaridades (Figura 6), principalmente no
estudo de bacias hidrográficas (THOMAS, 2001). Se o landform pode ser considerado o
elemento descritivo (estrutural), deve-se eleger outro componente (funcional) que considere
os fatores mais incidentes sobre as mudanças do meio, que seja dependente do tempo, ligado
aos processos evolutivos naturais e antrópicos.
12
Landform – categorias.
Representa o maior dos
níveis, sendo
caracterizado pela
SISTEMA associação de feições
0 DE de relevo com
TERRENO expressão morfológica
determinada e que
representa condições
similares de processos
evolutivos e de
materiais rochosos
associados.
13
Neste contexto, é empregada a análise de sensibilidade como indicadora do
funcionamento do sistema, por representar a resistência natural do mesmo, ou seja, sua
habilidade em resistir às mudanças. Uma vez que, nem todas as partes do sistema recebem
exatamente o mesmo número, seqüência, freqüência e duração de um ou mais processos; cada
componente da paisagem tem uma capacidade diferente de armazenamento da energia,
mecanismo de troca de calor, resposta de reação, tempo de relaxamento, resiliência,
tolerância, e conseqüentemente sensibilidade (BRUNSDEN, 2001).
O termo Landscape Sensitivity pode ser entendido de várias formas, segundo Allison
e Thomas (1993): como a susceptibilidade de um sistema a mudanças; a capacidade de
resposta do sistema a mudanças; ou a resposta do sistema a mudanças.
O conceito da sensibilidade da paisagem implica conseqüentemente em uma
instabilidade condicional no sistema, com a possibilidade de mudança rápida e irreversível
(THOMAS, 2001; BRUNSDEN, 2001).
Allison e Thomas (1993), Downs e Gregory (1993) reforçam que um dos mais
importantes aspectos desta abordagem envolve a ação antrópica, que age diretamente nesta
capacidade e velocidade de resposta do sistema, uma vez que sua intervenção pode ser tão
significativa (ex: obras hidráulicas de grande porte – canalizações) a ponto de modificarem de
forma permanente um sistema (ex: mudança do leito natural de rios, alterando características
como vazão e carga sedimentar em suspensão).
Resgatando o exemplo da Figura 5, onde também está inserida a bacia do rio Capim,
destaca-se que a Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia (com cerca de 918.279 km² -
aproximadamente 11% do território nacional) precisou para o entendimento de suas partes
componentes ser decomposta em 3 sub-regiões (sistemas de terreno), divididas em 18 bacias
hidrográficas (de acordo com a Resolução CNRH nº 32, de 15 de outubro de 2003). São 18
unidades de terreno cada uma com sua própria rede de interações (PNRH, 2006). Estas redes
podem ter suas relações qualificadas e quantificadas por meio do estudo da sensibilidade da
paisagem, propiciando informações a serem trabalhadas em um mecanismo de suporte à
decisão, onde o administrador irá se apoiar para definir como intervir na bacia.
14
2.3 SISTEMAS DE SUPORTE À DECISÃO
O planejamento do uso dos recursos hídricos necessita de elementos de quantificação
que permitam a construção de cenários futuros, principalmente, se o objetivo principal é
administrar a disponibilidade hídrica.
Nos últimos anos, os planos de recursos hídricos passaram por uma evolução na sua
forma de condução, passando de um ato realizado por setores usuários desses recursos, para
um modelo mais participativo e sistêmico, observando-se, para essas mudanças, a influência
dos crescentes focos de conflitos pelo uso da água e da conscientização da necessidade de
conservação ambiental (NEVES, 2004).
O planejamento não é um ato que se esgota no momento em que se conclui o plano,
pelo contrário, ele é um processo que se supõe contínuo (NEVES, 2004). Podendo ser
considerado com base em quatro passos (ZUFFO, 1998):
1. Identificação dos objetivos do sistema a ser planejado: este passo envolve a seleção de
objetivos no processo político;
2. Transformação dos objetivos em critérios: isto implica o desenvolvimento de critérios
detalhados para refletir os objetivos do sistema a ser planejado;
3. Desenvolvimento do sistema a ser planejado: usando os critérios anteriormente
desenvolvidos, que reflitam os objetivos; e
4. Revisão dos resultados: avaliação do processo do sistema planejado.
Para os estados da região Norte do país, mais especificadamente, o Pará, alguns
fatores de suporte à decisão voltados ao planejamento devem ser contextualizados
ultrapassando seu limite político-administrativo, dentre estes citam-se: que significativa parte
de seu território é dominada por cursos d´água federais (aproximadamente 30 %),
representados importantes bacias: Tocantins, Tapajós e Xingu; e a ampliação da fronteira do
desmatamento na região pressionando diretamente os sistemas hídricos (Figuras 7 e 8).
Logo, os métodos de suporte à decisão específicos ao planejamento hídrico devem
ser baseados em tecnologias que visem à análise integrada de informações geocodificadas,
que dêem suporte aos procedimentos diretamente relacionados à outorga de uso, ao
monitoramento dos usuários/usos, ao monitoramento da qualidade destes recursos, e às
questões socioeconômicas e legais, fomentando a integração interinstitucional e a maior
eficiência da gestão dos recursos hídricos.
15
Fonte: Núcleo de Hidrometeorologia – NHM / Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente – SECTAM, 2006.
Figura 7. Dominialidade dos cursos d´água no Estado do Pará.
Distribuição
geográfica e
intensidade
(“hotspots”) do
desmatamento
na Amazônia
entre 2000 e
2001.
Os hotspots
(áreas
vermelhas)
indicam as
áreas com alta
concentração de
fragmentos de
floresta
desmatados.
Fonte: Alencar
et al (2004).
17
2.4 A ANÁLISE PROSPECTIVA ESTRATÉGICA
Em termos de procedimentos e estratégias adotar-se-á a análise prospectiva, por
trabalhar de forma independente a formulação de estratégias, deixando o decisor livre para
melhor escolha; principalmente pelo uso da Matriz de Análise Estrutural que permite
ponderações qualitativas e/ou quantitativa das diversas variáveis envolvidas.
A análise prospectiva estratégica tem seus primeiros trabalhos durante a década de
70, trazendo como principais marcos: L'impact Societal et Economique de L'energie
Nucleaire au Brèsil (Eduardo Marques - 1976); Crise de la Prévision, Essor de la Prospective
(Michael Godet - 1977); Cours Prospective - Économie et Societé (Pierre F. Gonod - 1986);
Dynamique de la Prospective (Pierre F. Gonod - 1989); L'avenir Autrement (Michael Godet e
Armand Colin - 1991); De L'anticipation à L'action - Manuel de Prospective et de Stratégie
(Michael Godet - 1991). (BODINI, 2001)
Destacam-se como contribuições: Ribeiro (1997), Bodini (2001), Buarque (2001),
Moritz (2004), Romero e Cavalcante (2005), e Boaventura (2005).
Optou-se por trabalhar com a metodologia desenvolvida no LIPSOR – Laboratory
for Investigation in Prospective and Strategy (Chaire de prospective industrielle du
Conservatoire national des arts et métiers, Paris-França). Este método integra duas tarefas,
respectivamente a montante − o diagnóstico do sistema; e a jusante - o apoio às escolhas
estratégicas (RIBEIRO, 1997). Contemplando desta forma, as principais etapas para definição
de ações visando o planejamento hídrico (MENDIONDO et al, 2005):
Identificação do sistema;
Definição do sistema, incluindo as principais forças (clima, condições hidrogeológicas,
economia, etc.), sua extensão espacial e temporal;
Definição de indicadores do estágio do sistema;
Geração de cenários qualitativos: cenários de referência (ou de base) e cenários de
intervenção (ou de controle);
Quantificação dos cenários através da determinação dos indicadores dos estágios do
sistema no presente e no futuro usando modelos;
E a avaliação dos cenários.
O estudo prospectivo relaciona-se com o planejamento estratégico partindo do
princípio que este último tem por principal meta orientar as decisões futuras, envolvendo os
18
objetivos, as prioridades e o estudo das diversas conseqüências de determinado plano de ação.
Esse tipo de planejamento enfatiza a importância de antecipar os possíveis acontecimentos
por meio de técnicas de análise e formulação de cenários (MAUAD & LIMA, 2003).
De acordo com Webster & Le-Huu (2003), embora haja muitas variações, o
planejamento estratégico pode ser caracterizado pelos seguintes princípios:
• Os recursos são direcionados a atingir uma meta específica, freqüentemente dentro de
cenário bem definido e realístico.
• A meta é baseada em problemas identificados em conjunto pelos principais responsáveis.
• Enfatiza a importância da antecipação por meio de técnicas como análise e formulação de
cenários, porque esse tipo de planejamento reconhece que o mundo é um lugar de mudanças
rápidas.
Tendo como base o estudo prospectivo, o planejamento estratégico é construído
sobre prioridades que direcionam a utilização dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas.
A primeira e mais conhecida é a fase de diagnóstico. Esta tem sua base nos sistemas
de informação que reúnem dados fisiográficos, hidrológicos, hidrogeológicos,
hidrometeorológicos e socioeconômicos. A seguir tem-se a etapa de análise do sistema
identificando seu grau de independência, dependência e motricidade. Onde se procura
descrever a capacidade do sistema recuperar seu estado inicial após um distúrbio ou a
velocidade da recuperação. E finalizando são estruturadas tendências considerando: a
dinâmica e evolução; os cenários ambientais; e a identificação de estratégias.
Este conjunto de etapas quando projetados, em uma situação real, que para
caracterizar um sistema hídrico (das dimensões características dos componentes as Regiões
Hidrográficas Amazônicas ou Tocantins-Araguaia) são elencados cerca de 50 a 70, ou mais,
variáveis não se mostra tão simples de ser cumprido.
Portanto, é necessário um mecanismo de filtragem que permita elencar as variáveis
mais condicionadoras do comportamento do sistema.
O mecanismo que acompanha a análise estratégica com esta finalidade é a Matriz de
Análise Estrutural.
19
2.5 MATRIZ DE ANÁLISE ESTRUTURAL
A análise matricial parte da premissa da estruturação de um processo contínuo, com
possibilidades diversas de interações, baseado na administração das incertezas, empregando
tendências e padrões que denotam segundo Heijden (1997):
A existência de uma ordem temporal, com acontecimentos organizados numa seqüência
temporal;
A existência de uma co-variância, em que se assiste a diversas variáveis seguirem padrões
de comportamento semelhantes ao longo do tempo;
A existência de uma proximidade espacial ou temporal, em que se assume uma relação se
um acontecimento segue sempre outro;
A existência de semelhanças de forma ou padrão.
A Matriz de Análise Estrutural utilizando o método MICMAC (Matrice d’Impacts
Croisés – Multiplication Appliqué à um Classement / Matriz de Impactos Cruzados –
Multiplicação Aplicada a uma Classificação) permite reduzir a complexidade de um sistema,
detectando as variáveis - chave, no pressuposto da existência de inter-relações entre as
mesmas. Consiste em identificar as variáveis do ambiente externo, suas inter-relações e
relevância para explicar como atua a organização. Oferece a possibilidade de descrever um
sistema com o auxílio de uma matriz que relacione todos os elementos constitutivos, tendo
como objetivo fundamental ajudar a delinear a estrutura das relações entre as variáveis
qualitativas que o caracterizam (SILVA, 2005).
Na sua operacionalização são selecionadas as variáveis que influenciam o sistema (a
partir de um diagnóstico), estruturadas como uma matriz quadrada, capaz de descrever suas
relações. Esta, designada de Matriz de Análise Estrutural, tem tantas linhas e colunas quantas
as variáveis identificadas, sendo o elemento genérico aij ocupado por um 1, caso a variável i
influencie diretamente a variável j, e por um 0, caso contrário (CALDAS & PERESTRELO,
1998).
Os principais aspectos limites desta forma de análise são:
Definição do conteúdo das variáveis: quanto maior, mais complexo se torna seu
preenchimento.
Duplo sentido de algumas variáveis: algumas variáveis podem ser complementares ou
decorrentes, podendo levar a duplicação de resultados.
20
Ponto de vista do operador na distinção entre os efeitos diretos e indiretos entre variáveis:
é relativo à visão que o operador tem do processo.
Possibilidade de indução da informação: o operador pode conduzir a matriz a fornecer um
direcionamento na análise.
Porém seu grande mérito é possibilitar uma avaliação potencial das variáveis do
sistema e classificá-las, segundo uma tipologia, baseada no seu grau de motricidade e
dependência; permitindo a identificação dos elementos indicadores de seu funcionamento.
A motricidade é uma medida da influência da variável x sobre o conjunto do sistema
(soma em linha da matriz A). A dependência é dada pelo número de variáveis que a
influenciam (soma em coluna da matriz A). O grau de motricidade (dependência) de uma
variável é dado pela posição que ocupa na seqüência ordenada das variáveis segundo a sua
motricidade (dependência) (CALDAS & PERESTRELO, 1998). (Figura 10)
21
Variáveis de ligação: variáveis muito motrizes e muito dependentes – ocupam uma posição
de charneira, sendo objeto de fortes influências, propagam essas influências ao conjunto do
sistema.
Variáveis de resultado: variáveis pouco motrizes e muito dependentes – são muito
condicionadas pela dinâmica do sistema e exercem pouca influência sobre ele.
Variáveis excluídas: variáveis pouco motrizes e pouco dependentes – têm um papel pouco
relevante.
Variáveis de pelotão: variáveis medianamente motrizes e dependentes – ocupam uma
posição intermédia, difícil de caracterizar:
Godet (2004) considera que as variáveis-chave do sistema (as de maior sensibilidade)
são as variáveis de ligação.
Na construção de uma análise que avalie a influência de uma variável sobre outra, a
matriz estrutural pode ser preenchida a partir de uma escala que varia de 0 a 3 conforme a
influência de uma variável sobre outra é nula, fraca, média ou forte (Figura 11). Neste caso,
os procedimentos de determinação da motricidade e a tipologia de classificação das variáveis
se mantêm (CALDAS & PERESTRELO, 1998).
(Soma –
Matriz de análise Variável Variável Variável Variável Variável
linha)
estrutural A B C D E
Motricidade
Variável A 0 1 1 2 3 7
Variável B 1 0 2 2 2 7
Variável C 1 3 0 3 2 9
Variável D 2 3 3 0 3 11
Variável E 3 3 2 1 0 9
(Soma – coluna)
7 10 8 8 10
Dependência
Figura 11. Exemplo de preenchimento da matriz estrutura.
22
2.6 CENARIZAÇÃO
Autores como Barlow e Clarke (2003), De Villiers (2002) e Tundisi (2003) discutem
cenários futuros pessimistas em função da disponibilidade hídrica existente no mundo, no
século XXI, por outro lado a região Amazônica é clamada como o futuro oásis deste deserto
que se configura e consequentemente as ações de gestão deveriam prever tais cenários futuros
e construir meios que garantissem a sua sustentabilidade hídrica.
A construção de cenários envolve expectativas qualitativas ou fortemente embasadas
em dados quantitativos e modelos numéricos, projetando futuros múltiplos. Esta diversidade
de futuros no processo de cenários é enfatizada por Godet (1993) que explica que o futuro é
múltiplo e diversos futuros potenciais são possíveis.
A descrição de um potencial futuro e das progressões necessárias para atingi-lo
constitui um cenário (BOAVENTURA et al, 2005).
Segundo Ribeiro (1997) o processo de cenarização objetiva:
Identificar as questões a estudar em prioridade: por meio das Variáveis – Chaves, a partir
do estabelecimento de relações entre as variáveis que caracterizam o sistema estudado.
Determinar os atores fundamentais: suas estratégias e dos meios de que dispõe para chegar
à realização dos seus projetos.
Descrever, sob a forma de Cenários, da evolução do sistema estudado: tendo em conta as
evoluções mais prováveis das variáveis-chaves e a partir de jogos de hipóteses quanto ao
comportamento dos Atores.
Godet (2000) detalha o método e propõe um modelo constituído por um processo
dividido em nove etapas:
Etapa 1. Análise do problema e delimitação do sistema: tem em vista visualizar e simular a
globalidade do processo.
Etapa 2. Diagnóstico: onde é feita a completa radiografia do sistema.
Etapa 3. Análise estrutural: quando são verificadas quais as variáveis-chaves do
funcionamento do sistema.
Etapa 4. Dinâmica do sistema: entende-se a dinâmica do sistema com base na retrospectiva,
ou seja, sua evolução; o objetivo é identificar as questões-chave para o futuro.
23
Etapa 5. Cenários ambientais: procura-se reduzir as incertezas que influenciam as variáveis-
chaves, através da análise das principais tendências e de potenciais
descontinuidades.
Etapa 6. Identificação das estratégias: as diversas estratégias são detalhadas e confrontadas
com os cenários mais prováveis.
Etapa 7. Avaliação das estratégias: onde é realizada a avaliação das opções estratégicas.
Nesta fase termina-se a etapa que precede a decisão e a ação.
Etapa 8. Seleção das estratégias: finaliza a fase de decisão, que se submetem as alternativas
estratégicas ao corpo decisório para as escolhas.
Etapa 9. Planos de ação e monitoração da estratégia: conclui-se o processo com a
elaboração dos planos de ação e contratação por objetivos.
Godet (2000) salienta que o processo desta abordagem não é totalmente linear e que
da Etapa 4 até a Etapa 9, eventualmente, há retro-alimentações.
Sua estrutura de aplicação pode ser resumida em três grandes blocos (RIBEIRO,
1997):
1. Construção da base analítica e histórica: consiste em construir um conjunto de
representações do estado atual do sistema, esta fase inclui, portanto, a identificação das
variáveis-chaves e dos atores. Este bloco inclui: delimitação do sistema; análise estrutural;
análise atual e retrospectiva e análise do jogo de atores.
2. Exploração do campo das possíveis evoluções: resulta na redução das incertezas; pode
realizar-se através de uma análise morfológica que decomponha o sistema estudado em
dimensões essenciais, definindo as configurações mais prováveis para cada uma delas e
estude as combinações destas diferentes dimensões; neste bloco cabe ainda o processo de
redução de incerteza, com a estimação das probabilidades subjetivas de ocorrência dessas
diferentes combinações.
3. Elaboração dos cenários: entendidos, não só como descrição dos possíveis “estados
finais”, mas como descrição do caminho que possa conduzir da situação atual a estes,
passando por estados intermédios.
O fluxograma abaixo exemplifica o processo (Figura 12).
24
"Ateliers" de prospectiva Análise Estrutural
Identificação do problema e do Pesquisa das variáveis -
Sistema. chaves
(internas e externas).
Análise das
Estratégias dos Atores
Identificação das questões e
objetivos estratégicos.
ELABORAÇÃO DE
CENÁRIOS
Análise
Morfológica
Análise do campo de possibilidades
externas.
Métodos de Peritos e
Problematização
Conclusão quanto às questões
chaves para o futuro.
25
Figura 13. Processo de cenarização, segundo TUCCI (1998).
26
2.7 MATRIZ GERENCIAL DE RECURSOS HÍDRICOS: APLICAÇÃO DO MÉTODO
DE CENÁRIOS.
O emprego conjugado da Matriz Gerencial de Recursos Hídricos, no processo de
cenarização, auxilia a hierarquização das demandas de forma a garantir o atendimento das
mais prioritárias. Este atendimento poderá ser realizado com garantias decrescentes, em
função das prioridades. Em cada demanda, poderão ser buscados níveis de eficiência de uso,
com eliminação de desperdícios e controle de perdas (LANNA, 1997).
A Matriz Gerencial de Recursos Hídricos (MGRH) auxilia a inserção dos planos
setoriais e ações de instituições públicas e privadas ligadas a cada uso específico dos recursos
hídricos: abastecimento público e industrial, esgotamento sanitário, irrigação, navegação,
geração de energia, recreação, etc.
Em termos gerais, deve contemplar cenários compatíveis com (LANNA, 1999):
Desenvolvimento econômico: ocasionando o aumento das demandas de recursos hídricos,
seja como bem intermediário, seja como bem de consumo final.
Aumento populacional: trazendo a necessidade direta de maior disponibilidade de recursos
hídricos para consumo final.
Expansão do setor produtivo: aumentando o consumo regional de recursos hídricos para
irrigação e abastecimento, com possíveis conflitos de uso, quando a água for escassa e já
existirem outros usuários concorrentes.
Pressões regionais: voltadas a reivindicações de uma maior equidade nas condições inter-
regionais de desenvolvimento econômico, qualidade ambiental e bem-estar social,
pressionando os recursos hídricos no sentido do atendimento destes anseios.
Mudanças tecnológicas: que trazem necessidades especificas sobre os recursos hídricos, e
possibilitam novas técnicas construtivas e de utilização, modificando a situação vigente de
apropriação destes recursos.
Mudanças sociais: trazendo novos tipos de necessidades e demandas, ou modificando o
padrão das necessidades e demandas correntes das águas.
Necessidades ambientais: relacionada a manutenção dos sistemas bióticos locais.
Incerteza do futuro: permeando todos estes fatores existe a incerteza sobre quando, como,
onde e com que intensidade ocorrer às necessidades e demandas mencionadas.
27
O gerenciamento de recursos hídricos e o ambiental apresentam interfaces em
comum relacionadas (MUÑOZ, 2000): ao consumo de fatores ou ao capital tecnológico e
humano, no que diz respeito ao Gerenciamento do Uso dos Recursos Ambientais; ao estoque
dos fatores ou do capital natural, no referente ao Gerenciamento da Oferta do Ambiente; e a
compatibilização das duas gestões anteriores que ocorre no âmbito político, legal e
administrativo, ou no Gerenciamento Interinstitucional.
Considerando os componentes do ambiente em geral, como água, solo, flora, fauna,
etc, observa-se que os recursos ambientais exercem funções que podem ser classificadas em
(MUÑOZ, 2000):
Função de produção: quando são usados como bens de consumo final ou intermediário.
Função de suporte: quando criam condições para a vida e as atividades produtivas.
Função de regulação: quando limpam, acomodam, filtram, neutralizam ou absorvem
resíduos ou ruídos;
Função de informação: quando servem de indicadores sobre os estados ambientais.
Estas possuem relações que podem ser representadas pela estrutura matricial, na qual
uma das dimensões trata do gerenciamento das suas múltiplas demandas e a outra do
gerenciamento das suas ofertas (Figura 14).
Nesta fica evidenciada a localização do Gerenciamento das Águas na interseção do
Gerenciamento da Oferta do Ambiente Hídrico com diferentes setores usuários. Na adaptação
desta concepção são indicadas as formas específicas de uso setorial das águas, e sua oferta é
tratada em função da disponibilidade em qualidade e em quantidade, como proposto em
Lanna et al. (1990). (Figura 15)
Para finalizar a discussão sobre o gerenciamento da oferta hídrica, faz-se necessário
entender alguns aspectos legais da gestão de recursos hídricos e sua inserção junto às políticas
setoriais.
28
Gerenciamentos do Uso Setorial
dos Recursos Ambientais
CULTURA E LAZER
AGROPECUÁRIA
TRANSPORTE
INDÚSTRIA E
COMÉRCIO
PÚBLICOS
SERVIÇOS
Matriz do Gerenciamento Ambiental
ENERGIA
OUTROS
Ar
Solo
Água GERENCIAMENTO DAS ÁGUAS
Gerenciamento da
Minérios
Oferta do Ambiente
Fauna
Flora
Outros
ABASTECIMENT
O INDUSTRIAL
NAVEGAÇÃO
CULTURA E
IRRIGAÇÃO
O PÚBLICO
ENERGIA
OUTROS
LAZER
Potencial hídrico
Gerenciamento da
(quantidade e
Oferta das Águas
qualidade)
Figura 15. Matriz Gerencial de Recursos Hídricos (MGRH), modificada de Lanna et al.
(1990).
29
2.8 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS
A gestão representa um processo de organização e administração de uma sociedade,
fruto de uma necessidade de explicitar e conciliar interesses divergentes, que possam vir a
gerar conflitos, evitando assim a quebra do equilíbrio social (MELLO FILHO, 1994;
BARROS & BARROS, 1998).
Da mesma forma que na gestão pública, a gestão ambiental se instalou às vésperas da
crise, também a Gestão dos Recursos Hídricos (GRH) tornou-se mais difundida quando se
constatou que a reserva de água necessária à sobrevivência da espécie humana estava
ameaçada.
A Gestão das Águas é uma atividade analítica e criativa voltada à formulação de
princípios e diretrizes, ao preparo de documentos orientadores e normativos, à estruturação de
sistemas gerenciais e à tomada de decisões que têm por objetivo final promover o inventário,
uso, controle e proteção dos recursos hídricos. Fazem parte desta atividade os seguintes
elementos (LANNA, 1997):
Política das Águas: trata-se do conjunto consistente de princípios doutrinários que
conformam as aspirações sociais e/ou governamentais no que concerne à regulamentação ou
modificação nos usos, controle e proteção das águas.
Gerenciamento das Águas: conjunto de ações governamentais destinadas a regular o uso, o
controle e a proteção das águas, e a avaliar a conformidade da situação corrente com os
princípios doutrinários estabelecidos pela Política das Águas.
Plano de Uso, Controle ou Proteção das Águas: qualquer estudo prospectivo que busca, na
sua essência, adequar o uso, o controle e o grau de proteção dos recursos hídricos às
aspirações sociais e/ou governamentais expressas formal ou informalmente em uma Política
das Águas, através da coordenação, compatibilização, articulação e/ou projetos de
intervenções (Figura 16).
30
Plano de Uso, Controle ou Proteção
das Águas
Gerenciamento
das Águas
Política
das Águas
1
World Commission on Environment and Development. Our Common Future. Oxford University Press, 1987.
31
A legislação francesa, que foi a base teórica dessa política, trouxe alguns fatores
inovadores, tais como, a definição geográfica para o planejamento urbano, que não o
municipal ou estadual e sim a bacia hidrográfica, um termo quase restrito aos profissionais
das geociências e praticamente desconhecido de economistas e políticos. Mas o principal
estava no estabelecimento de um novo conceito de gestão, ou seja, da gestão participativa,
compartilhando com a sociedade as decisões sobre aquele que representa hoje, o mais
importante recurso natural da terra, a água, dada a sua distribuição geográfica irregular e
escassez (BARROS & BARROS, 1998; BARRAQUÉ, 1993).
O Brasil deu o primeiro passo em 1934 com o Código das Águas, porém só adotou
esse modelo em 1997 com o advento da Lei N° 9.433/97 que instituiu a Política Nacional de
Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Algumas das grandes dificuldades que se apresentam na operacionalização de tal
proposta, segundo Barros e Barros (1998), são:
A falta de delimitação clara de competências entre os três níveis de poder;
A necessidade de implementar programas e projetos de interesse nacional que algumas
vezes se confrontam com interesses de um ou mais estados federativos;
A cultura centralizadora da política pública brasileira;
As dificuldades inerentes a gestão participativa;
A disputa entre o executivo federal e o estadual pelo poder sobre a base municipal; e
A falta de uma estrutura de coordenação com credibilidade, aceita por todos.
Mesmo considerando a Lei N° 9.433/97 (define a Política Nacional de Recursos
Hídricos), como marco regulatório, já haviam no país estados com mais de 10 anos de política
de recursos hídricos (ex: Ceará e São Paulo), quando esta se instalou. Estes serviram de base
para várias das normas e procedimentos atualmente definidos.
Em termos de Pará o processo foi mais lento, até por que a premissa da escassez,
forte na Lei N° 9.433/97, aparentemente não existe no estado, que contempla uma fartura
hídrica e uma vocação ao desperdício. Por isso a pouca ou lenta conscientização dos governos
estadual e municipais, da população em geral, fez com que a Política Estadual de Recursos
Hídricos, só fosse definida em 2001 (Lei N° 6.381) e seu processo de regulamentação
atrasado em pelo menos 06 anos.
32
Como referências que contribuem com informações sobre vários aspectos da
legislação de recursos hídricos, podem ser citadas (Tabela 1):
Alemanha: Kraemer (1998); Teube, (1998); Veltwisch (2003).
Austrália: Pigram (1998).
Espanha: Hernández (1998a); Hernández (1998b).
França: Barraqué (1998a); Barraqué (1998b); Hubert (1998); Donzier (2001); Falala
(2003).
Holanda: Mostert (1998); Sjef Van Put (2001).
Inglaterra: Zabel & Rees (1998).
Portugal: Correia (1998).
Brasil: Lanna et al (1990); Tonet e Lopes (1994); Lanna (1995, 1997); Leal (1998); Lanna
(1999); Antunes (2000); Setti (2000); Anjos et al (2001); Lanna (2001); ANA (2003); Pereira
(2004).
Entre os Estados Membros da União Européia, não existem dois que tenham a
mesma organização institucional de gestão de recursos hídricos, mesmo assim existem
algumas características em comuns.
O sistema institucional da França, Alemanha, Holanda, Portugal e da Inglaterra tem
em si enraizado uma série de tradições distintas, e baseadas em estruturas legais
completamente diferentes, suas políticas tendem a convergir aos dilemas similares e a práticas
mais integradas, isto é o resultado de duas décadas de diretrizes orientadoras comuns e de
uma cultura comum lentamente em desenvolvimento, no referente a água e aos problemas
ambientais.
33
Tabela 1. Perfil síntese da gestão de recursos hídricos.
(a) Portugal.
Políticas N° 187 de 24/05/1993; e Decreto Lei N° 74/90 de 07/03/1990.
O Decreto Lei N° 74/90 de 07/03-1990 não categoriza instrumentos, apenas define 13 tipos de usos de domínio da água
que requerem licenças: água para consumo humano, descarga dos efluentes, todos os tipos de estruturas hidráulicas,
Princípios/
limpeza de cursos da água e trabalhos do rio, mineração da areia e de cascalho, qualquer tipo de construção, equipamento
Instrumentos
da praia, lugares de estacionamento e estradas de acesso, cultivar de peixes, produção de sal, navegação, estruturas
flutuando, plantação ou cortar das árvores. Os critérios de qualidade para cada uma das categorias.
Decreto Lei N° 188 de 24/05/1993.
Estrutura A coordenação global é de responsabilidade do Ministro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (MARN), com a
Organizacional colaboração de duas Secretarias de Estado: a de Recursos Naturais (SERN), com responsabilidade direta sobre a água; e
outra de Meio Ambiente e do Consumidor (SEAC).
Conselhos Sim, diretamente ligado ao Ministro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais.
Consultivos 15 Conselhos de Bacia e o Conselho Nacional da Água foram criados.
Não, antes de 1993 a administração era feita por bacias. Com a Lei foram criados 05 Diretórios Regionais do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais (DRARN): A Direção Regional do Ambiente e Recursos Naturais - Norte; a Direção
Regional do Ambiente e Recursos Naturais - Centro; A Direção Regional do Ambiente e Recursos Naturais - Lisboa e
Vale do Tejo; Direção Regional do Ambiente e Recursos Naturais - Alentejo; e A Direção Regional do Ambiente e
Setor Usuário
Recursos Naturais - Algarve. Responsáveis pela gestão ambiental, incluindo as águas.
e Comitês
Ao nível nacional, o Instituto Nacional – INAG, foi criado para colaborar com as Associações de Usuários – ARHs.
Esta organização seria responsável por preparar, executar e monitorar políticas, fornecer ferramentas técnicas e o
treinamento profissional, para procedimentos que segurem a consistência e a equidade em todo o país; além de
disseminar a informação a nível nacional, e cooperar com a Espanha na gerência de bacias internacionais.
Decretos Leis N° 045, 046 e 047 de 02/1994.
Planos de
15 Planos Diretores de Bacias foram criados em 2 anos e o Plano Diretor Nacional de Bacia foi criado em 3 anos, a
Bacias
partir de 1994.
Executa Adota o princípio do poluidor – pagador e do usuário – pagador tendo se tornado inteiramente operacional a partir de
Cobrança 1999, para usos domésticos e industriais e a partir de 2004 para retiradas da irrigação.
(b) Espanha.
Políticas N° 029 de 02/08/1985; Lei N° 10 de 05/07/2001.
Princípios básicos: da gerência, do tratamento integral, da economia da água, da descentralização, da coordenação, da
eficácia e da participação dos usuários; o respeito da unidade da bacia hidrográfica, os sistemas hidráulicos e o ciclo
Princípios/ hidrológico; a compatibilidade da gerência pública da água com o arranjo do território, da conservação e da proteção do
Instrumentos meio ambiente e da restauração da natureza; dos acordos direitos e subscritos internacionais.
Principais instrumentos: os planos diretores; a adoção das medidas precisas nos acordos e tratados internacionais; e
realizar consultas para concessões e autorizações nas bacias hidrográficas federais.
As nove Confederações de Bacias Hidrográficas do Estado são organizações da direita pública, com personalidade
legal, portadora de autonomia funcional total. São destinados os efeitos administrativos ao Ministro do Meio Ambiente;
embora cada Confederação elabore e controle seu próprio orçamento de renda e despesas. A maioria de suas finanças se
origina de fundos do orçamento do diretório de trabalho hidráulico e da qualidade das águas: As funções das
Estrutura
Confederações são, entre outras: elaboração dos Planos de Bacia, sua execução e revisão; administração do domínio
Organizacional
público hidráulico; administração das vantagens do interesse geral; execução e operação das infra-estruturas; e a
administração dos acordos com outras administrações.
Para o desenvolvimento destas ações são estruturados 4 setores, nas Confederações: o de monitoramento das águas; o
escritório de planejamento; o corpo técnico; e o Secretário Geral.
É o órgão consultivo supremo na matéria das águas. Foi criado pela Lei das Águas de 1985, compreendendo a
representação de todas as entidades interessadas na água como recurso: Administrações de Estado e autônomas; usuários
Conselhos educacionais; associações, propriedades; empresas; organizações; uniões agrárias; e organizações ecológicas. Suas
Consultivos funções são: regulamentar a política; definir propostas relacionadas à gestão das águas; e direcioná-las ao governo para
aprovação. É também instituído em cada Confederação um Conselho das Águas, para cada bacia. Sua atribuição
principal consiste em contribuir para os planos de bacias locais.
Setor Usuário As comunidades de usuários constituem organismos consultivos da bacia, regulamentadas pela Lei N° 030 de
e Comitês 26/12/1992.
É uma competência do Estado (Dec.Lei N° 927/1988). Objetiva: assegurar totalmente o fornecimento de água aos
centros urbanos e industriais; garantir a qualidade das águas; proteger o território de inundações; assegurar volumes
mínimos para os sistemas fluviais e para conservação das águas; manutenção dos recursos ambientais dependentes da
Planos de
água e da restauração hidrológico/florestal das bacias; modernização de sistemas de irrigação; gestão hidrelétrica; e
Bacias
conservação de infra-estruturas hidráulicas. Estas funções do planejamento serão feitas ou estão sendo feitas por meio de
dois tipos de instrumentos relacionados: O Plano Nacional de Bacias Hidrográficas e os Planos Estaduais de Bacias. Em
abril de 1993 foi apresentado ao Conselho Nacional das Águas a proposta do PNBH, tendo sido aprovada em 07/1994.
Executa A ocupação, uso, ou aproveitamento dos recursos hídricos, que requerem a concessão ou a autorização administrativa,
Cobrança deverá pagar uma taxa de uso destinada à proteção e melhoramento deste bem.
34
Tabela 1. Perfil síntese da gestão de recursos hídricos (continuação).
(c) França.
Políticas Lei N° 092 de 03/01/1992
A gestão dos recursos hídricos visa garantir: a preservação dos ecossistemas aquáticos; a proteção contra a poluição e a
recuperação dos sistemas fluviais e marinhos, superficiais e subterrâneos; o desenvolvimento e a proteção da água como
Princípios/
recurso; a valorização da água como recurso econômico e sua repartição, de forma a conciliar os diferentes usos; a água
Instrumentos
potável em padrões que atendam as normas de saúde pública; a conservação, o livre escoamento e a proteção contra
inundações; e as práticas de agricultura, aqüicultura, pesca, lazer e turismo, diretamente ligadas aos recursos hídricos.
O sistema francês opera em dois níveis. Num primeiro nível, o território francês foi dividido em 6 regiões
hidrográficas (bacias). Em cada uma das bacias há um conjunto de 3 elementos inter-atuantes: as comunas e os
departamentos; a Agência da Água, e o Comitê de Bacia.
A dinâmica de atuação é iniciada com as comunas e departamentos aprovando as classes ou cenários de qualidade
para os cursos de água que passem por suas área de domínio, que deverão ser alcançados ao longo dos anos; em
Estrutura seqüência, a Agência da Água - órgão de apoio técnico e administrativo da bacia – realiza estudos técnicos e econômicos
Organizacional identificando "pontos negros" e o respectivo elenco de ações (ou programas) de menor custo econômico global para a
consecução de tais objetivos e determina as cotas de contribuição (redevances) sobre os diversos usos da água,
necessárias para cobrir uma parcela ponderável dos investimentos planejados; no próximo passo, o Comitê de Bacia -
entidade colegiada composta por políticos locais, funcionários do governo central e usuários da água - analisa, discute,
solicita modificações e finalmente aprova as cotas de contribuição. Nesta fase é realizado o cotejo entre o custo da
solução e a sua efetividade possibilitando a reavaliação dos cenários estabelecidos.
Conselhos
O Conseil d´Ètat
Consultivos
Os Comitês funcionam como um Parlamento das Águas. São compostos por 38 representantes eleitos nas comunas e
departamentos, 38 representantes dos usuários da água, 20 representantes indicados pelo governo central e 7
Setor Usuário
representantes de entidades da sociedade civil. A Agência da Água tem um Conselho de Administração designado pelo
e Comitês
Comitê, formado por 8 representantes das coletividades locais, 8 representantes dos usuários, 8 representantes do Estado
e 1 dos funcionários.
Os programas plurianuais são votados pelos Comitês de Bacias para um período de cinco anos (seis a partir do próximo
Planos de
programa), seguida da aprovação pelo governo. Estabelecem a política de atuação da Agência de Bacia, sendo
Bacias
financiados pela cobrança pelo uso da água (autonomia financeira das Agências).
Neste país o sistema de cobrança é baseado na escassez da água e em quanto dela retorna ao ambiente. Os valores
cobrados geralmente são altos para captações em trechos de montante, onde as águas costumam ser menos poluídas.
Também mais altos são cobradas as captações de água subterrânea. Os recursos obtidos são usados, para financiar novos
Executa investimentos na melhoria da infra-estrutura hídrica. O valor cobrado é estabelecido pelo Conselho de Administração da
Cobrança Agência de Água tendo por referência os investimentos previstos no plano de bacia. A água para uso doméstico e
industrial é cobrada tendo por base três elementos: volume de água derivado durante o período de estiagem, uso
consultivo (valor anterior multiplicado por um fator de consumo) e local de derivação. Para o uso agrícola, a cobrança é
estimada como função do volume de água derivado durante a estação de estiagem.
(d) Holanda.
Políticas Water Management Act (1989).
Estrutura dos 4 principais aspectos da política de águas holandesa:
Estratégia, política principal e perspectiva;
Sistemas de água (água na cidade; águas regionais; rios grandes; o "coração molhado" (canal de Jsselmeer, canal de
Amsterdam-Rhine e canal do mar norte); delta do sul; costa e mar; e oceanos);
Princípios/
Temas (defesa da inundação; escassez; emissões; cama da água);
Instrumentos
Organização;
Instrumentos da política;
Política internacional da água; e
Fatores financeiros e econômicos.
O sistema de gerência holandês pode ser resumido em três pontos:
Um grande número organizações de gerência da água;
Estrutura
Um nível relativamente elevado de descentralização;
Organizacional
A preferência em usar processos comunicativos e de consenso, como o Conselho, o Planejamento e acordos
voluntários.
Conselhos Os conselhos relevantes para a gerência da água são: o de transporte e da água; o da política ambiental; da natureza; de
Consultivos recreação; e o conselho de planejamento do uso da terra.
Os principais elementos dos planos são: o estabelecimento das principais potencialidades hídricas a serem gerenciadas; a
Planos de indicação das diretrizes básicas que garantam o desenvolvimento, operação e proteção das águas; e definição dos
Bacias instrumentos de manutenção financeira dos planos e de desenvolvimento econômico da exploração das águas superficiais
e subterrâneas.
A gerência governamental da água é financiada por seis fontes: Carga do ato da poluição da água de superfície (21% dos
Executa custos totais); Pagamento do consumo domiciliar (10%); Explotação da água subterrânea (0,1% de custos totais);
Cobrança Lançamento de efluentes – esgotos (11%); Consumo de água potável (34%); e Impostos gerais, diretamente com os
subsídios (24%)
35
Tabela 1. Perfil síntese da gestão de recursos hídricos (continuação).
(e) Alemanha.
Política Act on the regulation of matters pertaining to water (Federal Water Act – WHG) – 19/08/2002 ).
Nacional
A Outorga de direito de uso dos recursos hídricos é o elemento central para o controle do uso racional das águas.
Todas as águas, incluindo as águas subterrâneas e as águas costeiras, são subordinadas integralmente à supervisão do
Estado.
Políticas
Todas as utilizações, como por exemplo, despejo de esgotos ou retirada de água, necessitam obrigatoriamente de uma
autorização. A princípio, a autorização está sujeita ao critério das autoridades estaduais (conforme planejamento
estadual).
União: Linhas básicas para a gestão de recursos hídricos em leis estruturais e em padrões ambientais; Assuntos
internacionais; e Vias navegáveis.
Estados: Planejamento e Gerenciamento; Leis, normas e regulamentações estaduais; Planejamento estadual; Outorga
Princípios/
pelo uso; Taxa de esgoto; Planejamento e obras de controle de enchentes; Manutenção de rios estaduais; Monitoramento;
Instrumentos
e Controle (despejos industriais e municipais).
Municípios: Planejamento técnico, implantação (inclusive financiamento) e operação (água, esgoto, lixo); e
Manutenção de rios municipais.
Um Consórcio Interestadual de Recursos Hídricos (Länderarbeits-gemeinschaft Wasser – LAWA), com encontros
Estrutura
regulares, dos representantes dos estados, pelos recursos hídricos, em nível político e técnico, aí incluindo um vasto
Organizacional
sistema de grupos de trabalho, que arca com todos os assuntos comuns de recursos hídricos.
Somente no Estado da Renânia do Norte-Vestfália, as sub-bacias dos afluentes do rio Reno formam a unidade regional
de gestão com Comitê de Bacia, compostas de usuários e com agência própria, responsável especialmente pelos assuntos
Conselhos de abastecimento de água e o tratamento dos esgotos municipais e industriais. A cooperação nas grandes bacias, que na
Consultivos maioria são bacias internacionais (Reno, Danúbio, Elba, Oder) se realiza em forma voluntária em Comissões de Bacia
baseadas em acordos nacionais e internacionais com a participação dos países da bacia, e no caso das nacionais, com a
participação dos estados envolvidos.
A Lei de Recursos Hídricos (WHG) dispõe de uma série de instrumentos de planejamento sintonizados entre si, em
Setor Usuário
Planos Integrados de Bacias, Planos de Gerenciamento (para a otimização da despoluição) e os planos setoriais como o
e Comitês
tratamento de esgoto em nível estadual, ou os planos de controle de enchentes em bacias ou sub-bacias.
Na Alemanha a Gestão das Águas é responsabilidade dos Länders (províncias) e por isto os sistemas de cobrança variam.
Valores mais altos são geralmente aplicados à captação de águas subterrâneas, especialmente quando suprem sistemas de
abastecimento públicos. O princípio usuário – pagador é realizado pelo instrumento da cobertura total das despesas pelos
usuários. Todos os custos de abastecimento de água, de esgotos e do tratamento de esgotos devem ser pagos pelos
Planos de usuários nos municípios ou pelas indústrias. Nos municípios, os custos deverão estar cobertos pelas contribuições dos
Bacias proprietários dos terrenos ligados à rede (investimento inicial da rede) e pelas tarifas pagas pelos usuários (ETE e
operação). A cobrança pelo uso da água ainda está, fora da taxa de esgoto, numa fase inicial. Somente em alguns estados
têm cobrança pela retirada de água subterrânea através das empresas de abastecimento e através da indústria. Esta
cobrança entra para um fundo estadual destinado ao financiamento de medidas de proteção das águas; somente 10%
podem ser utilizados pelas agências estaduais.
(f) Reino Unido.
Políticas Water Resources Act 1991.
Princípios/ Composto por duas estruturas principais:
Instrumentos O Escritório de Serviços de Água (Office of Water Services), com atribuições no controle do preço da água e da saúde
financeira das empresas regionais; a representação dos usuários e das comunidades neste órgão é viabilizada pelos
Comitês Regionais de Serviços dos Consumidores (Consumers Services Committees).
Estrutura E a Superintendência Nacional de Rios (National Rivers Authority) com atribuições no gerenciamento integrado dos
Organizacional recursos hídricos: inundações, pesca, navegação, recreação, lazer e o controle da poluição para o cumprimento dos
padrões ambientais. Um dos instrumentos usados para este controle é a cobrança pela poluição excedente a dado limite
preestabelecido.
Conselhos Existe também a Divisão de Água Potável (Drinking Water Inspectorate) da Secretaria do Meio Ambiente que
Consultivos monitora a qualidade da água potável.
Setor Usuário A participação dos usuários e das comunidades é restrita aos Comitês Regionais de Serviços aos Consumidores do
e Comitês Escritório de Serviços de Água.
Planos de Os planos são vinculados ao Escritório de Serviços de Água e a Superintendência Nacional de Rios.
Bacias
Na Inglaterra e País de Gales o objetivo á a recuperação de custos de regulação do sistema de recursos hídricos,
atribuição da Agência Ambiental. O sistema de cobrança é composto de duas componentes: uma que é paga de uma só
Executa vez quando um usuário solicita a outorga de dado volume de água e a outra um valor anual que depende do volume
Cobrança derivado, do manancial, da estação do ano, e de um fator de perdas. Valores distintos são aplicados em diferentes regiões
para levar em consideração a escassez da água. No entanto, os valores são relativamente reduzidos e não há intenção que
reflitam o valor real do recurso hídrico.
36
Tabela 1. Perfil síntese da gestão de recursos hídricos (continuação).
(g) Canadá.
Políticas Canada Water Act, R. S. 1985.
Estabelecer e manter inventários dos usos d´água.
Coletar, processar e fornecer informações sobre a qualidade, quantidade, distribuição e uso das águas.
Princípios/
Conduzir pesquisas em conjunto com instituições de pesquisa, cooperação e instituições públicas.
Instrumentos
Formular planos de gerenciamento das águas, incluindo os custos de implementação e beneficiários.
Definir projetos que visem o uso eficiente, a conservação e o uso sustentável das águas.
Estrutura
Organizacional; O Ministro pode, com a concordância do Governador, estabelecer, Agências e Comitês, a nível nacional, de
Conselhos província, de lagos ou de bacias hidrográficas, estes têm a função de: atuar como órgão consultivo em relação às
Consultivos; questões de pesquisa, planejamento, conservação, desenvolvimento e utilização da água. avaliar as políticas e programas
Setor Usuário e hídricos; e facilitar a coordenação e implantação destes.
Comitês
Planos de Bacias
São executados e regulados pelas Agências de Bacia.
Executa Cobrança
(h) Brasil.
Políticas Lei N° 9433/97.
Os Planos de Recursos Hídricos; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da
Princípios/
água; a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; a compensação a
Instrumentos
municípios; e o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos; os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; os
Estrutura
Comitês de Bacia Hidrográfica; os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais e municipais, cujas competências se
Organizacional
relacionem com a gestão de recursos hídricos; e as Agências de Água.
Composição: representantes dos Ministérios e Secretarias da Presidência da República com atuação no gerenciamento ou
Conselhos
no uso de recursos hídricos; representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos; representantes
Consultivos
dos usuários dos recursos hídricos; e representantes das organizações civis de recursos hídricos.
Os Comitês de Bacia Hidrográfica são compostos por representantes: da União; dos Estados e do Distrito Federal cujos
Setor Usuário e territórios se situem, ainda que parcialmente, em suas respectivas áreas de atuação; dos Municípios situados, no todo ou
Comitês em parte, em sua área de atuação; dos usuários das águas de sua área de atuação; e das entidades civis de recursos
hídricos com atuação comprovada na bacia.
Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o período de
implantação de seus programas e projetos e terão o seguinte conteúdo mínimo: diagnóstico da situação atual dos recursos
hídricos; análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos
padrões de ocupação do solo; balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e
qualidade, com identificação de conflitos potenciais; metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria
Planos de Bacias da qualidade dos recursos hídricos disponíveis; medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a
serem implantados, para o atendimento das metas previstas; responsabilidades para execução das medidas, programas e
projetos; cronograma de execução e programação orçamentário-financeira associados às medidas, programas e projetos;
prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos; diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos
recursos hídricos; e propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos
hídricos.
Executa
Em bacias federais e por iniciativa de alguns comitês estaduais.
Cobrança
(g) Austrália.
Políticas Second Report of the Working Group on Water Resource Policy (Council of Australian Governments, 04/1995)’
Uso sustentável da água e do ambiente, para manutenção do equilíbrio entre os interesses ambientais e de
desenvolvimento; adoção da bacia hidrográfica como uma unidade integrada de gerência do recurso água.; reforma,
Princípios/ fixando os preços de recuperação, remoção dos subsídios e provisão para a manutenção do recurso e de seu uso comum;
Instrumentos gestão dos sistemas de trocas de água; esclarecimento e adoção dos direitos de propriedade da água; reformas
institucional e organizacional; ajuste dos impactos social da reforma; e implantação de programas de consulta e de
instrução da comunidade.
Conselhos
Council of Australian Governments (COAG).
Consultivos
Setor Usuário e Os setores sociais e econômicos. de interesse no recurso água, serão envolvidos no planejamento e no processo de
Comitês tomada de decisão.
Foi fixada segundo alguns princípios: devem ser baseadas na maneira mais eficiente de fornecer serviços de água; a
administração dos recursos de água deve conseguir estabilidade financeira e um nível sustentável dos serviços de água; a
política fixando o preço, deve incentivar o melhor resultado para a comunidade, em termos de uso da água, seu
Executa
armazenamento, controle e entrega; os custos dos serviços de água devem ser pagos por aqueles que são responsáveis por
Cobrança
causar modificações qualitativas e/ou quantitativas; sendo que aqueles que mais usam ou modificam o recurso, devem
pagar mais; e a política fixando o preço, deve promover o uso ecologicamente sustentável da água e dos recursos usados
para armazenar, controlar e destinar essa água.
37
A França, a Alemanha e a Inglaterra são sistemas conhecidos de gestão citados
freqüentemente como paradigmas às demais políticas hídricas. Portugal e Holanda são
sistemas menos conhecidos, porém, ambos têm um histórico longo de organizações bem
estruturadas. Eles também refletem ambientes completamente distintos, com a Holanda no
norte úmido e Portugal no sul temperado a semi-árido.
A análise completa destas políticas mostra que em termos gerais existem três fatores
que dirigem seus princípios e/ou instrumentos de ação: ciência e tecnologia; processos e
estruturas de decisão; e os atores relevantes do segmento público.
O nível de interferência do estado é variável, assim como, as formas de organização
do setor usuário. O que se observa em comparação com a política brasileira, é que em países
como a França e a Alemanha, as discussões já se encontram em um estágio em que todos
estão inseridos no mesmo diálogo ou seja, tanto na base, setor usuário e sociedade civil,
quanto a nível institucional o pensamento é o mesmo e no centro das discussões está
principalmente o combate ao desperdício, a poluição e o controle do uso da água, seja pelo
sistema de outorga de direito de uso e/ou cobrança.
Nas Américas existe uma dificuldade de estabelecer comparações entre as políticas,
pois se trata de uma região de grandes contrastes, tanto sob o aspecto social quanto
econômico. Esta disparidade no grau de desenvolvimento tem uma influência na maneira
como as sociedades encaram a questão da proteção ambiental. Países com mais alto grau de
industrialização, desenvolvimento humano e conscientização, como o Canadá, os EUA, o
México, o Brasil, o Chile, a Argentina e o Uruguai possuem uma ordenação ambiental mais
desenvolvida e específica.
Outro fator que exerce uma grande influência neste contexto é o grau de organização
da sociedade civil. A maioria dos países da América Latina e do Sul viveu durante grande
parte do século XX sob ditaduras que restringiram as liberdades individuais. Grandes
projetos, implementados por governos ou grandes companhias nacionais ou multinacionais,
não tiveram seus impactos ambientais avaliados e discutidos com os grupos sociais atingidos
pelos projetos.
Embora em termos de recursos hídricos, os países da América do Sul sejam o centro
das atenções mundiais, pois são detentores das bacias: do rio Amazonas, dos rios Paraná e
Prata (localizadas entre a Bolívia, Paraguai, Brasil e Argentina), do rio Orinoco (localizada
38
entre a Venezuela e a Colômbia); e do maior aqüífero em todo o mundo, o Guarani (cobrindo
parte do território do Brasil, da Bolívia, Paraguai, Uruguai e da Argentina), a gestão dos
recursos hídricos e o processo de implementação das políticas hídricas é extremamente
desigual dentro e entre cada país.
Em outras regiões os recursos hídricos são mais escassos e sua falta representa um
desafio ao desenvolvimento futuro destas regiões. O México e o Peru, por exemplo, estão
entre os países com maiores problemas de escassez de água, já que utilizam anualmente cerca
de 15% de seu estoque de recursos hídricos.
As Américas Latina e do Sul tratadas como um todo tem como maior problema a
fraca implementação de sua legislação. Existem inúmeros exemplos, como:
Extensas áreas de floresta da Bacia Amazônica localizada no Peru, no Brasil e na
Colômbia, apesar de estarem sob proteção legal ainda são derrubadas por falta de controle das
autoridades da região.
No México grande parte dos recursos hídricos esta poluída por efluentes domésticos e
industriais, apesar de existir legislação que exige o tratamento destas emissões.
Na Nicarágua criaram-se diversas leis referentes à descarga de efluentes domésticos,
industriais e agrícolas que, todavia não são respeitadas, aumentando o nível de poluição dos
lagos e cursos de água.
Países como os EUA e o Canadá, por assimilarem e modificarem segundo suas
necessidades os sistemas europeus diferenciaram-se dos países Sul-Americanos, estando a
gestão dos recursos hídricos discutida ao nível de tratar a água como um recurso econômico
de significativo valor, a ponto de ser considerada uma commodity, negociada no mercado. Em
1998, o Banco Mundial previu que o comércio global da água em breve se transformaria em
uma indústria de US$ 800 bi, e antes de 2001, esta projeção tinha sido elevada para 1 trilhão
de dólares (BARLOW & CLARKE, 2003).
39
2.8.1 Mecanismos operacionais de gestão
A gestão dos recursos hídricos é operacionalizada por meio de mecanismos que pode
ser abordados em duas categorias de aplicação: a legal e a direta.
Os de aplicação legal correspondem aos instrumentos das políticas de recursos
hídricos. A Tabela 2 compara os definidos nas políticas nacional e do Pará.
Portanto, aqueles ligados diretamente aos principais usos consultivos dos recursos
hídricos – abastecimento humano, animal (dessedentação), industrial e irrigação – são: a
outorga dos direitos de uso, a cobrança pelo uso de recursos hídricos e o enquadramento
(classificação) dos corpos de água segundo os usos preponderantes (Figura 17).
As ações decorrentes da aplicação destes instrumentos em geral resultam em
propostas ligadas ao manejo de bacias hidrográficas – como ação mais ampla; e aos
programas de despoluição de forma mais específica.
Os Planos de Bacia Hidrográfica finalizam a discussão sobre mecanismos de gestão,
pois são tratados como seu instrumento principal. Na verdade sintetizam todas as ações
ocorridas neste espaço, sendo o mais complexo de se construir e aplicar, com um horizonte
temporal de médio e longo prazo.
40
Instrumento de integração
PLANO DE
RECURSOS
HÍDRICOS
Outorga dos
Compensação direitos de uso de
aos municípios recursos hídricos
Sistema de
Instrumentos de informações Instrumentos
envolvimento sobre recursos de regulação e
municipal e hídricos controle
social
Capacitação, Cobrança pelo
desenvolvimento uso de recursos
tecnológico e hídricos
educação
ambiental
Enquadramento
dos corpos de
água em classes,
segundo os usos
preponderantes
41
2.8.2 Aplicação legal
Em termos de entidades envolvidas no processo decisório, tem-se (PNRH – Política
Nacional de Recursos Hídricos; PERH – Política Estadual de Recursos Hídricos):
PNRH: Conselho Nacional de Recursos Hídricos, Secretaria de Recursos Hídricos -
SRH/MMA, Agência Nacional de Águas - ANA/MMA, Comitês de Bacia Hidrográfica,
Agências de Água, Órgãos Estaduais de Recursos Hídricos, representantes dos usuários de
água e da sociedade civil.
PERH-PA: Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Órgão Estadual de Recursos Hídricos,
Comitês de Bacia Hidrográfica, Agências de Água, representantes dos usuários de água e da
sociedade civil.
A competência de aplicação destas é:
PNRH: Conselho Nacional de Recursos Hídricos, Secretaria de Recursos Hídricos -
SRH/MMA, Agência Nacional de Águas - ANA/MMA.
PERH-PA: Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Órgão Estadual de Recursos Hídricos.
Os instrumentos empregados para atingir o Gerenciamento da Oferta das Águas são
baseados normas administrativas e legais, tais como: estabelecimento de programas e
projetos; enquadramento das águas em classes de usos preponderantes, de padrões de
emissão; cobrança pelo uso e poluição das águas; multas por infrações; promoção de ações
legais, etc (LANNA, 1999).
Dentre os instrumentos destacam-se:
a) Outorga de direito de uso
9 Definição: A outorga dos direitos de uso é ato administrativo que faculta a particulares e a
prestadores de serviço público, o uso das águas, em condições pré-estabelecidas, por
determinado tempo (VAN ACKER, 2000).
9 Aplicação: Estão sujeitos a outorga - derivação ou captação para consumo final, inclusive
abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; extração de água de aqüífero
subterrâneo para consumo final ou insumo em processo produtivo; lançamento em corpo
de água de esgotos e resíduos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou
disposição final; aproveitamento dos potenciais hidroelétricos; e outros usos que alteram o
regime, a quantidade ou a qualidade das águas. Na PERH-PA foi incluído o uso para
transporte em hidrovias. São considerados isentos de usos: para satisfazer as necessidades
42
de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural; e as derivações, captações,
lançamentos e acumulações consideradas insignificantes.
9 Principal contribuição para gestão: Esse é o mais importante dos instrumentos da Política
de Recursos Hídricos porque é por meio da outorga dos direitos de uso que ela será
efetivamente implantada. Tendo uma interface direta com o licenciamento ambiental,
especialmente nos casos de lançamentos de resíduos líquidos e de obras hidráulicas para
exploração de recursos hídricos: barragens para fins hidroelétricos, saneamento, irrigação,
abertura de canais para navegação, drenagem, retificação de cursos d’ água, abertura de
barras e embocaduras, transposição de bacias e construção de diques.
9 Restrições: Sua real aplicação demanda da configuração do Sistema de Informações de
Recursos Hídricos (SIRH), incluindo os indicadores de quantidade e qualidade dos
principais cursos d´água; o que em nível de Brasil e principalmente de Pará está longe de
atender a real dimensão e volume hídricos envolvidos tanto de água superficial quanto de
subterrânea, esta última com uma base de informações bastante irregular e mal distribuída
não permitindo um zoneamento consistente.
46
MANEJO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS (MBH)
CONSEQÜÊNCIAS
Degradação Degradação Degradação das DA AUSÊNCIA
dos solos das águas florestas DO MBH
CONSEQÜÊNCIAS GERAIS
Controle do escoamento Controle da poluição
superficial EM CADA CASO DA APLICAÇÃO
hídrica
DO MBH
Aumento da Preservação de
produtividade mananciais para
abastecimento público
Planejamento do uso do
solo CONSEQÜÊNCIAS CONSEQÜÊNCIAS
DA APLICAÇÃO DA APLICAÇÃO
DO MBH NO DO MBH NO
Redução da poluição AMBIENTE RURAL Recuperação ambiental AMBIENTE
dos recursos hídricos de áreas prioritárias URBANO
Emprega conhecimento técnico - científico como Emprega a organização social como elemento de
elemento de condução dos trabalhos. condução dos trabalhos.
Utiliza instrumentos diversos de investigação para Utiliza como instrumento principal os cadernos de
configuração de diagnósticos. planejamento construídos com base no conhecimento popular.
47
Segundo, os mesmos autores, os três primeiros enfoques estão direcionados no
sentido de proporcionar um uso, manejo e conservação adequados do solo. Busca-se também
alcançar maior cobertura média do solo, principalmente, nos períodos críticos. Com isto,
assegura-se a manutenção do sistema, melhores condições às comunidades locais, que terão
menos perdas de solo e uma série de impactos ambientais positivos, notadamente a melhoria
da qualidade dos recursos hídricos.
Costa (2000) destaca os impactos positivos ambientais e econômicos para o
desenvolvimento rural do manejo de micro-bacias:
• A diminuição sensível dos índices de erosão, por meio da cobertura permanente do solo
com espécies apropriadas;
• A alteração da relação do agricultor no trato com a terra, com a implantação das técnicas
de plantio direto e cultivo mínimo, que contribuíram também para humanizar seu trabalho,
pois reduziram o sofrimento imposto aos homens e animais pelo sistema convencional de
preparo do solo;
• O aumento da produtividade das lavouras e a redução dos custos de produção com
insumos;
• O incentivo ao planejamento do uso do espaço nas propriedades de acordo com a aptidão
natural dos solos; e
• O controle da poluição dos recursos hídricos por meio de ações variadas (a implantação de
saneamento básico na área rural, a proteção das fontes de água e a construção de depósitos
para lixo tóxico), visando reduzir o impacto do lançamento dos dejetos humanos e animais in
natura nos corpos d’água.
No caso de sistemas urbanos o uso e a ocupação do espaço são condicionados pelas
características intrínsecas da área da bacia hidrográfica onde o mesmo se situa. Esta determina
as potencialidades e limitações para as diversas modalidades de uso/ocupação e a visualização
de possíveis conflitos de interesses, determinando sua capacidade de suporte. Envolve
segundo Santana (2003):
48
• A identificação dos ecossistemas, evidenciando suas potencialidades e limitações para as
atividades econômicas, tais como: turismo e indústria.
• A identificação de mananciais para abastecimento público.
• A identificação de áreas para recuperação ambiental.
• E os fundamentos para a elaboração do plano de uso do espaço urbano.
Segundo Lanna (2001) uma das metodologias de ordenação de bacias hidrográficas
que tem sido aplicada no Brasil é a denominada: Manejo Conservacionista ou Administração
Ambiental de Bacias Hidrográficas. A estratégia adotada define duas vertentes: a institucional
e a comunitária (Figura 19):
• A vertente institucional: forma-se um grupo de especialistas das diversas áreas ou
disciplinas científicas, oriundos das instituições públicas com atribuições na bacia. O trabalho
é considerado como um processo de caráter técnico e científico, aproveitando os diversos
instrumentos modernos de apoio ao planejamento ambiental: fotos aéreas, imagens de satélite,
análises físico-químicas de água e solo, estatísticas secundárias, etc..
• A vertente comunitária: é formada por diversos lideres da sociedade civil organizada
existente nos municípios. Eles terão participação paritária na elaboração do plano ambiental.
Para permitir uma participação adequada desta vertente, são criados instrumentos próprios
denominados cadernos de planejamento popular. Estes instrumentos buscam captar a
percepção ambiental das comunidades rurais e urbanas da bacia, o resultado de sua vivência,
experiência e sensibilidade das transformações ambientais ao longo de sua existência na
região.
49
b) Programas de despoluição
Segundo CNRH (2000), Maciel (2000), Tucci (2001) e Brasil (2005) a recuperação
da qualidade hídrica de bacias hidrográficas envolve avaliar as fontes oriundas de efluentes
domésticos e industriais, de atividades agropecuárias e de outras fontes causadoras de
degradação ambiental sobre os recursos hídricos, bem como estabelecer parâmetros
indicadores para cada trecho do rio.
Neste procedimento são levantadas as áreas da bacia ameaçadas ou degradadas pelas
atividades antropológicas, observando os seguintes aspectos (CNRH, 2000; MACIEL, 2000):
• Áreas com problemas de erosão laminar e drenagens assoreadas que afetam a
disponibilidade e a qualidade dos recursos hídricos na bacia, identificando as atividades
causadoras;
• Áreas suscetíveis a processos de erosão e assoreamento;
• Lançamento de fontes de poluição e/ou contaminação em cursos d´água;
• Poluição e contaminação dos aqüíferos subterrâneos, identificando as atividades
causadoras;
• Vulnerabilidade das águas subterrâneas à contaminação, o que é resultante do
levantamento do risco natural à contaminação e do uso atual do solo, com ênfase nas
atividades potencialmente poluidoras.
Os principais aspectos a serem identificados e diagnosticados nestes programas são:
1. Fontes urbanas de poluição:
• Pontos de lançamento de esgotos domésticos;
• Estações de tratamento de esgoto;
• Sistema de esgotamento doméstico na bacia - domicílios e habitantes atendidos, os
constituintes potencialmente poluidores e suas cargas (total e residual), a eficiência de
tratamento, as vazões e os impactos ambientais sobre os recursos hídricos;
• Cargas poluidoras difusas provenientes das áreas urbanas (esgotamento sem sistema de
coleta e tratamento) e seus impactos ambientais sobre os recursos hídricos superficiais e
subterrâneos.
2. Fontes industriais de poluição:
• Principais estabelecimentos na bacia (incluindo os de geração de energia elétrica), os
principais pontos de lançamento de esgotos industriais;
50
• Constituintes potencialmente poluidores e suas cargas (total e residual), sobre eficiência de
tratamento, vazões de efluentes, impactos ambientais sobre os recursos hídricos superficiais e
subterrâneos.
3. Fontes agropecuárias de poluição: constituintes potencialmente poluidores e suas cargas
poluidoras difusas provenientes das áreas rurais, seus impactos ambientais sobre os recursos
hídricos superficiais e subterrâneos.
4. Outras fontes de poluição: tais como mineração, disposição de resíduos sólidos e seus
impactos sobre os recursos hídricos superficiais e subterrâneos.
Estes programas consideram os usos e ocupação do solo e da água, tendo em seu
cronograma o estabelecimento de parâmetros indicadores, observando-se as regras
estabelecidas na Resolução CONAMA nº 357/2005 e/ou normas estaduais quando existentes.
Com base no resultado do diagnóstico e nos parâmetros indicadores definidos são
elaborados prognósticos do uso e do aproveitamento do solo e dos recursos hídricos na bacia
hidrográfica.
Nesta etapa de prognóstico serão formuladas, conforme a Resolução nº 12/2000
(define procedimentos para o enquadramento de corpos de água em classes segundo os usos
preponderantes), projeções com horizontes de curto, médio e longo prazos, objetivando o
desenvolvimento sustentável, que incluirão:
• Evolução da distribuição das populações e das atividades econômicas;
• Evolução de usos e ocupação do solo;
• Políticas e projetos de desenvolvimento existentes e previstos;
• Evolução da disponibilidade e da demanda de água;
• Avolução das cargas poluidoras dos setores urbano, industrial, agropecuário e de outras
fontes causadoras de degradação ambiental dos recursos hídricos;
• Evolução das condições de quantidade e qualidade dos corpos hídricos, baseadas em
estudos de simulação consistentes; e
• Usos desejados de recursos hídricos em relação às características específicas da bacia.
Ao final de sua aplicação se objetiva adequar os usos desejados de recursos hídricos
em relação às características específicas da bacia, mantendo o equilíbrio e a qualidade do
sistema.
51
2.8.4 Planos de bacia hidrográfica
A gestão hídrica depende de planejamento institucionalizado não podendo o uso das
águas ser condicionado apenas a planos setoriais e, à decisão de cada caso concreto, sem
vinculação com o planejamento do uso dos recursos hídricos da bacia (VAN ACKER, 2000).
Os Planos de Recursos Hídricos constam nas políticas nacional (Lei 9.433/1997) e
estadual (Lei 6.381/2001) de recursos hídricos, sendo o instrumento síntese da gestão, com a
função de planejamento, fundamentado científica e tecnologicamente com vistas à solução de
problemas de uma maneira geral. Apesar de assimilar as diretrizes e princípios do
planejamento, tem características próprias que dependem de determinantes sócio-culturais e
políticos. São esses determinantes que permitem compreender a especificidade da prática do
planejamento ao longo do tempo (SANTOS, 2001). Merecem destaque:
• O estabelecimento de prioridades para a outorga de direitos de uso das águas e de critérios
para a cobrança de seu uso;
• A criação de áreas sujeitas à restrição de uso, que tem correlação com a articulação da
gestão dos recursos hídricos com a do uso do solo.
Segundo Campos & Sousa (2003) podem ser citadas onze regras básicas para a
elaboração de um bom plano:
1. Ser um documento que, sem dúvidas, é um Plano: um documento, para ser um plano, deve
conter objetivos alcançáveis, e conter cursos de ações alternativas para atingir esses
objetivos.
2. Estabelecer os objetivos e metas deforma clara: deve apresentar de forma clara e sucinta
os objetivos e as metas que se espera atingir com sua implementação.
3. Cobrir uma área racional de planejamento: a área de planejamento deve ser ampla o
bastante para tirar vantagem das oportunidades e das economias de escala, mas, por outro
lado, não deve ser mais ampla que o necessário.
4. Ter o nível de detalhe adequado para ajustar-se ao tipo de ação proposta: o nível de detalhe
apresentado para as ações propostas deve ser compatível com as dimensões dessas ações.
5. Ajustar-se ao planejamento multi-setorial: deve ajustar-se aos outros de atividades sócio-
econômicas desenvolvidos em áreas correlatas como saneamento básico, conservação
ambiental, irrigação e drenagem, geração de energia, controle hidrológico - manejo de
bacias e controle de inundações, transporte fluvial, turismo, lazer e outros.
52
6. Apresentar vantagens e desvantagens das alternativas propostas: as alternativas devem não
somente ser identificadas. Elas devem ser analisadas com vistas à apresentação de suas
vantagens e desvantagens e facilitar a tomada de decisão pelos setores competentes.
7. Alocação eqüitativa dos recursos: deve informar quais são os recursos necessários para
sua implementação e como eles devem ser usados. Essa apresentação irá incorporar
informações confiáveis, compatíveis com nível de planejamento, sobre os custos diretos e
indiretos envolvidos, sobre os benefícios econômicos, apresentado um quadro detalhado que
indique como os recursos disponíveis e possíveis de captar podem ser alocados.
8. Ter um balanceamento apropriado para adequar-se às incertezas: a grande defesa contra as
incertezas, inerentes aos planejamentos de médio e longo prazo, deve ser o desenvolvimento
de um plano bastante flexível que possa ajustar-se a futuras condições sem grandes perdas ou
traumas.
9. O plano deve ser implementável politicamente, tecnicamente, financeiramente e
legalmente: no Brasil e no mundo, muitos são os planos que foram desenvolvidos e se
acumularam em prateleiras, por falta de atendimento de somente um dos quatros
condicionantes relacionados. O que se propõe é que todas as grandes linhas de ação
propostas sejam avaliadas em suas viabilidades políticas, técnicas, financeiras e legais.
10. O plano deve ser desenvolvido com o adequado envolvimento público: o processo de
planejamento moderno requer que haja participação das populações envolvidas desde os
estágios iniciais. Uma das maneiras de proceder este envolvimento é a discussão com vários
públicos durante o desenvolvimento do plano.
11. O plano deve ter uma boa base técnica: para que o plano possa definir programas e
projetos tecnicamente apropriados, é necessário que haja uma boa base de dados e uma
avaliação adequada dos planos anteriores.
Segundo Neves (2004); os planos de recursos hídricos de bacias hidrográficas
passaram a ser elaborados no país principalmente a partir de 1990, sendo os que apresentaram
os melhores resultados: da bacia dos rios São Francisco, Paraíba do Sul, Piracibaca, Capivari
e Jundiaí - PCJ, Tubarão e Complexo Lagunar, Mogi-Guaçu, Pontal do Paranapanema e
Paracatu; o plano referente à bacia do rio Iguaçu foi o pior qualificado. Com exceção do plano
do Paracatu, os planos que obtiveram os melhores resultados têm em comum os fatos de:
serem recentes, tendo sido finalizados após 2000; terem contado com a participação de
53
Comitês de bacias no seu processo de elaboração; terem sido demandados por atores sociais
relevantes das respectivas bacias hidrográficas; terem sido elaborados para âmbitos
geográficos que já contavam com uma política de recursos hídricos instituída, quando do
início dos seus processos de elaboração; e de se referirem as bacias localizadas,
principalmente, nos estados do sul e sudeste do país, com exceção da bacia do rio São
Francisco.
Os Planos de Recursos Hídricos são de longo prazo, com horizonte de planejamento
compatível com o período de implementação de seus programas e projetos. A Tabela 3 ilustra
o conteúdo mínimo que deve constar, segundo as políticas nacional e do estado do Pará.
No âmbito da União, os marcos referenciais são:
• Resolução do CNRH nº 58, de 30 de janeiro de 2006 que aprova o Plano Nacional de
Recursos Hídricos.
• Resolução do CNRH nº 32, de 15 de outubro de 2003 que institui a Divisão Hidrográfica
Nacional.
• Resolução do CNRH nº 22, de 24 de maio de 2002, que estabelece as diretrizes para
inserção das águas subterrâneas nos planos de recursos hídricos.
• Resolução do CNRH nº 17, de 29 de maio de 2001, estabelece que os planos de recursos
hídricos, no seu conteúdo mínimo, deverão ser constituídos por diagnósticos e prognósticos,
alternativas de compatibilização, metas, estratégias, programas e projetos, contemplando os
recursos hídricos superficiais e subterrâneos, de acordo com o art. 7º da Lei 9.433/97.
Em relação ao estado do Pará ainda não existem perspectivas para definição final de
um Plano Estadual de Recursos Hídricos. Até o ano de 2006 haviam sido estruturados apenas
estudos preparatórios à discussão.
O Plano Nacional de Recursos Hídricos aprovado em 30 de janeiro de 2006 teve sua
concepção conforme acordado no âmbito da Câmara Técnica do Plano Nacional de Recursos
Hídricos CT- PNRH/CNRH. O Grupo Técnico de Coordenação e Elaboração utilizou como
referencial para desenvolver a cenarização do Plano Nacional de Recursos Hídricos a
metodologia PROSPEX – Prospectiva Exploratória.
54
Tabela 3. Conteúdo mínimo que deve constar nos Planos de Recursos Hídricos, segundo as
políticas nacional e do Estado do Pará.
Política Nacional de Recursos Hídricos Política de Recursos Hídricos do Estado do Pará (PERH-
(PNRH, Lei nº 9.433/1997) PA, Lei nº 6.381/2001)
Objetivos e diretrizes gerais visando ao aperfeiçoamento
do sistema de planejamento estadual e inter-regional de
recursos hídricos;
Inventário e balanço entre disponibilidade e demanda,
atual e futura, dos recursos hídricos, em quantidade e
Diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos; qualidade, com identificação de conflitos potenciais;
Diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos,
considerando os aspectos físicos, biológicos, antrópicos,
sociais e ambientais;
Análise de alternativas de crescimento demográfico, de
evolução de atividades produtivas e de modificações dos
usos e padrões de ocupação do solo;
Estudo de balanço hídrico, desenvolvimento tecnológico e
Análise de alternativas de crescimento
sistematização de informações relacionadas com os
demográfico, de evolução de atividades produtivas
recursos hídricos;
e de modificações dos padrões de ocupação do
Metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e
solo;
melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis;
Medidas a serem tomadas, programas a serem
Balanço entre disponibilidades e demandas futuras desenvolvidos e projetos a serem implantados para
dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, atendimento de metas previstas;
com identificação de conflitos potenciais; Propostas para a criação de áreas sujeitas à restrição de
uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos;
Metas de racionalização de uso, aumento da Prioridades para a outorga de direito de uso;
quantidade e melhoria da qualidade dos recursos Diretrizes e critérios para cobrança pelo uso dos recursos
hídricos disponíveis; hídricos;
Medidas a serem tomadas, programas a serem Diretrizes e critérios para o rateio do custo das obras e
desenvolvidos e projetos a serem implantados, para aproveitamento dos recursos hídricos de interesse comum
o atendimento das metas previstas; ou coletivo;
Responsabilidades para execução das medidas, Controle da exploração de recursos minerais em leito e
programas e projetos; margens de rios;
Diretrizes para implantar, obrigatoriamente, os planos de
Cronograma de execução e programação contingência contra lançamentos e/ou derramamento de
orçamentário-financeira associados às medidas, substâncias tóxicas ou nocivas em corpos de água,
programas e projetos; observado o disposto na lei federal 9.966, de 28 de abril
de 2000;
Prioridades para outorga de direitos de uso de Propostas de enquadramento dos corpos de água em
recursos hídricos; classes de usos preponderantes;
Diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos Diretrizes para o transporte fluvial nos cursos de água
recursos hídricos; onde haja tráfego de embarcações;
Estudos de gestão de águas subterrâneas, compreendendo
Propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição a pesquisa, o planejamento, o mapeamento da
de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos. vulnerabilidade à poluição, a delimitação de áreas
destinadas a sua proteção, o controle e o monitoramento.
55
Neste processo buscou-se diminuir as incertezas quanto ao futuro, respeitando-se a
complexidade e a organicidade da qual se reveste esta atividade. O resultado desta etapa do
Plano Nacional de Recursos Hídricos foi a descrição de futuros possíveis ,quanto aos recursos
hídricos do País (MMA, 2006).
Na descrição dos futuros possíveis foi necessário identificar o sistema que se tomou
como referência. No caso do Plano Nacional de Recursos Hídricos, o sistema em análise são
as regiões hidrográficas, o total de 12 no país. Estas se conformam a partir das inter-relações
de um conjunto de variáveis, que representam aspectos ou características das partes que as
compõe. O comportamento das variáveis foi definido segundo a opinião dos envolvidos no
seu processo de elaboração (MMA, 2006).
O resultado do PNRH atendeu parcialmente as premissas previstas em lei. O fator
mais deficitário ficou na base do diagnóstico, centrada basicamente em um conjunto muito
grande de informações secundárias de fontes diversas. Os reflexos deste mosaico se refletem
tanto no diagnóstico quanto na cenarização e vão pesar quando houver necessidade de
detalhar os Programas Regionais.
A grande homogeneização regional possibilitou cenários superestimados, este
problema era previsível em função das dimensões do país e a distribuição irregular da
informação hídrica, centrada no centro-sudeste-sul.
A região norte mostrou sua sensível diferença em relação às demais do país, com as
dificuldades de acesso, mobilização, disponibilidade de informação e adequação as
metodologias já empregadas no sul-sudeste e nordeste do país, adaptadas a gestão da escassez
de água e aos conflitos decorrentes.
56
2.9 OS DESAFIOS DA GESTÃO DA OFERTA HÍDRICA
Ao longo deste capítulo foram discutidos diversos elementos que compõe os aspectos
mais relevantes à gestão da disponibilidade hídrica. Inicialmente foi abordado o sistema
hídrico e suas inter-relações de sustentabilidade, reforçando a idéia de se entender a bacia
hidrográfica como um conjunto de partes que compõem um espaço de interações, internas e
externas; e que pode funcionar como a unidade básica de planejamento do território.
A seguir procurou-se explorar a sensibilidade da paisagem como elemento norteador
do planejamento de uso dos recursos hídricos, realçando sua capacidade de descrever e
indicar como o mesmo funciona, realçando suas potencialidades e vulnerabilidades naturais.
Esta técnica mostrou-se útil para compor elementos de suporte à decisão.
A análise prospectiva estratégica foi descrita como uma ferramenta que conduzirá o
gestor no processo de tomada de decisão, por permitir a avaliação conjunta de um grande
número de variáveis por meio da Matriz de Análise Estrutural. O resultado final possibilitará a
construção de cenários baseados nos usos múltiplos das águas, segundo a Matriz Gerencial de
Recursos Hídricos. Desta forma, o gestor é capaz de operar os mecanismos (instrumentos)
previstos em lei (outorga de direito de uso, cobrança pelo uso da água, enquadramento de
corpos d´água segundo classes de uso) visando à garantia da sustentabilidade hídrica;
podendo prever ações de manejo ou programas de despoluição para a recuperação de sistemas
que sofreram alguma forma de degradação.
Esta operacionalização é fundamental à construção dos Planos de Bacia Hidrográfica
para as bacias da região Norte do Brasil, que apresentam em comum uma oferta hídrica acima
da demanda e um grande desperdício; sobretudo considerando o atraso institucional de
implantação de órgãos estaduais específicos para a questão hídrica, regulamentação e
aplicação dos instrumentos previstos nas políticas estaduais, notadamente a outorga e os
planos de bacia (pela base irregular de informação hidrológica e hidrogeológica); os comitês
de bacia (em função das dimensões das bacias hidrográficas, o que dificulta a articulação e
mobilização social); e em decorrência as agências de bacia e a cobrança.
A bacia do rio Capim é um exemplo desta discussão, nela como um todo a oferta é
maior que a demanda, porém seu histórico de intervenções, se crescente produzirá um futuro
em que estas duas situações tendem ao equilíbrio e possivelmente possam caminhar para uma
situação de maior stress hídrico (Figuras 20, 21 e 22).
57
(a)
(b)
Figura 20. (a) Visão comum ao longo da BR 010, extensas áreas desmatadas, com finalidades
diversas; (b) Interferência comum observada próximo à sede do município de Ipixuna do
Pará: processos erosivos que geram ravinamentos de grande porte.
Figura 21. A atividade madeireira ainda como forte motor econômico da região.
58
59
Figura 22. Localização da bacia do rio Capim no Estado do Pará.
Capítulo III
60
Tabela 4. Evolução do processo de aproveitamento e controle dos recursos hídricos
(modificada de TUCCI et al, 2000).
Período Países desenvolvidos Brasil
1945-60
Uso dos recursos hídricos: abastecimento,
Engenharia
navegação hidroeletricidade, etc.; Inventário dos recursos hídricos;
com pouca
Qualidade da água dos rios; Início dos empreendimentos hidrelétricos e
preocupação
Medidas estruturais de controle das projetos de grandes sistemas.
ambiental
enchentes
1960-70
Controle de efluentes; Início da construção de grandes
Início da
Medidas não estruturais para enchentes; empreendimentos hidrelétricos;
pressão
Legislação para qualidade da água dos Deterioração da qualidade da água de rios e
ambiental
rios. lagos próximos a centros urbanos.
Usos múltiplos;
Ênfase em hidrelétricas e abastecimento de
Contaminação de aqüíferos;
água;
1970-1980 Deterioração ambiental de grandes áreas
Início da pressão ambiental;
controle metropolitanas;
Deterioração da qualidade da água dos rios
ambiental Controle na fonte de drenagem urbana;
devido ao aumento da produção industrial e
Controle da poluição doméstica e
concentração urbana.
industrial;
Legislação ambiental.
Impactos Climáticos Globais;
Preocupação com conservação das Redução do investimento em hidrelétricas
1980-90 florestas; devido à crise fiscal e econômica;
Interações Prevenção de desastres; Piora das condições urbanas: enchentes,
do Ambiente Fontes pontuais e não pontuais; qualidade da água;
Global Poluição rural; Fortes impactos das secas do Nordeste;
Controle dos impactos da urbanização Aumento de investimentos em irrigação;
sobre o ambiente Legislação ambiental
Contaminação de aqüíferos
Desenvolvimento Sustentável;
Legislação de recursos hídricos
Aumento do conhecimento sobre o
Investimento no controle sanitário das
comportamento ambiental causado pelas
1990-2000 grandes cidades;
atividades humanas;
Desenvolvi Aumento do impacto das enchentes urbanas;
Controle ambiental das grandes
mento Programas de conservação dos biomas
metrópoles;
Sustentável nacionais: Amazônia, Pantanal, Cerrado e
Pressão para controle da emissão de gases,
Costeiro;
preservação da camada de ozônio;
Início da privatização dos serviços de energia
Controle da contaminação dos aqüíferos e
e Saneamento.
das fontes não-pontuais.
Desenvolvimento da Visão Mundial da
Avanço do desenvolvimento dos aspectos
Água;
institucionais da água;
Uso integrado dos Recursos Hídricos;
Privatização do setor energético;
Melhora da qualidade da água das fontes
2000- Aumento de usinas térmicas para produção de
não-pontuais: rural e urbana;
Ênfase na energia;
Busca de solução para os conflitos
água Privatização do setor de saneamento;
transfronteiriços;
Aumento da disponibilidade de água no
Desenvolvimento do gerenciamento; dos
Nordeste;
recursos hídricos dentro de bases
Desenvolvimento de Planos de Drenagem
sustentáveis.
urbana para as cidades.
61
A administração dos problemas de recursos hídricos levando-se em conta os limites
de uma bacia hidrográfica não é uma tradição no Brasil, nem no estado do Pará. Os conflitos
envolvem não só setores usuários diferentes, como também; os interesses de unidades
político-administrativas distintas (Estados e Municípios).
Em se tratando de estado do Pará os questionamentos são diversos. A gestão de
recursos hídricos demanda por valores numéricos de quantidade e qualidade de água, e pelo
conhecimento das relações usuário-água e uso do solo-água.
A intensa vertente de ocupação do estado se concentra em seu eixo oriental, indo da
sua porção Sul-Sudeste à Costa Atlântica. Tal área de expansão atravessa a bacia do Capim,
gerando um processo de ocupação sem planejamento por décadas, cujos resultados, somente
atualmente, tem sido considerados pelos governos municipais e estadual.
A inserção da bacia do Guamá, como componente da Região Hidrográfica do
Tocantins (Resolução do CNRH nº 32, de 15 de outubro de 2003), compromete ainda mais a
gestão desta bacia, uma vez que, o rio Tocantins traz consigo uma série de ações a nível
nacional ligadas a interesses diversos, dentre estes a energia elétrica que é o mais conflitante.
Desta forma, a gestão da bacia do Guamá (e de seus afluentes principais: Capim,
Acará e Mojú) fica atrelada aos interesses do rio Tocantins, que é um rio nacional cuja área de
drenagem é dividida entre cinco estados (Pará, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso e Goiás),
mais o Distrito Federal.
A reação da maior parte dos problemas relacionados com a água é muito diferente de
região para região, exigindo um equilíbrio entre vários usos e entre soluções tecnológicas e
tradicionais (SELBORNE, 2001).
O que desequilibra bastante a balança entre os interesses envolvidos nas bacias dos
rios Tocantins e Guamá são ações de setores diretamente interessados (empresas
internacionais, companhias de mineração, de energia elétrica, agropecuária), que influenciam
a administração regional cuja agenda precisa ser ajustada para servir as necessidades da
região.
De forma geral, a gestão da bacia do rio Capim está atrelada aos mais diversos
interesses, desde transporte até abastecimento de água, estando esta disputa nas mais diversas
esferas, do municipal ao federal, sem estar, porém, definida ou estruturada segundo um plano
diretor ou planejamento específico para a mesma.
62
Este quadro, se ampliado para as demais bacias estaduais e federais que compõe o
estado do Pará, fomenta as seguintes considerações:
As legislações vigentes atendem as particularidades existentes nas bacias componentes das
Regiões Hidrográficas Amazônica e Tocantins-Araguaia?
Como caracterizar tais peculiaridades identificando potencialidades e demandas
prioritárias?
Quais seriam as variáveis capazes de identificar a estrutura e o funcionamento das bacias
hidrográficas componentes? Como selecioná-las? E de que modo elas poderiam ser
combinadas, visando à definição de cenários futuros que considerem o aproveitamento
núltiplo das águas?
Como o planejamento estratégico pode garantir a sustentabilidade hídrica destas bacias,
possibilitando a diversidade de usos, a recuperação e manejo das áreas de maior
vulnerabilidade e compatibilizando a ocupação do território à manutenção da oferta de água,
tanto superficial quanto subterrânea? (Figura 23)
63
(a)
(b)
Figura 23. (a) Foz do rio Capim – localidade de Santana do Capim; (b) Comunidade de
Fortaleza, ao longo do rio Capim.
64
Capítulo IV
Passado Futuro
Presente
65
Este entendimento implica na necessidade de estratégias, que permitem estimar a
direção que os acontecimentos podem tomar em tempo de se operarem ajustamentos,
tornando possíveis a sobrevivência e a obtenção de resultados.
O raciocínio do tipo causa/efeito possibilita associar o acontecimento em face de
uma série de estruturas, que estão relacionadas umas com as outras, por meio de modelagens
de atributos espaciais, que permitem identificar a variabilidade (passada, presente e futura) do
atributo dentro de uma região de interesse. Esta formulação parte de quatro princípios,
referentes à existência de:
Ordenamento espacial - temporal;
Padrões de comportamento semelhantes ao longo do tempo de diversas variáveis;
Proximidade espacial ou temporal, em que se assume uma relação se um acontecimento
segue sempre outro;
Semelhanças de forma ou padrão.
Seguindo estes princípios, para o entendimento da evolução dos mecanismos
atuantes e definidores da manutenção do sistema hídrico da bacia do rio Capim, compôs-se
uma análise compartimentada em 03 momentos (Figura 25):
1) Diagnóstico base: responsável pela formulação da estrutura e ordem espacial – temporal;
2) Análise do sistema: permite a análise dos padrões de comportamento semelhantes ao longo
do tempo, sua resiliência; e da proximidade espacial ou temporal de seus atributos;
3) Formulação de tendências: por meio das semelhanças de forma ou padrão permite estimar
cenários prováveis e possíveis.
66
MÉTODO DE TRABALHO
Componentes Diagnóstico
estruturais do sistema
Definição do questionamento
condutor
Histórico do Análise
processo de ocupação estrutural
Estruturação matricial das
informações
Dinâmica atual Definição da
de uso e ocupação dinâmica e evolução
Definição de
cenários ambientais
Avaliação da
sensibilidade da bacia
Avaliação de
tendências e eventos
67
Estruturação das informações em uma base matricial;
Definição das variáveis que seguem padrões de comportamento semelhantes;
Primeira avaliação de resiliência que descrever, a capacidade do sistema recuperar seu
estado inicial após um distúrbio ou a velocidade da recuperação.
E8 Seleção das
estratégias
E7 - Avaliação das
estratégias
E6 - Identificação de
estratégias
E5 - Definição de cenários
ambientais
E4 - Definição da dinâmica e evolução
E3 - Análise estrutural
E2 - Diagnóstico do sistema
68
Em função dos objetivos deste trabalho e desta metodologia ter seu berço no
planejamento empresarial, foram feitas adaptações de sistemática e utilizadas as etapas de 01
a 06:
Etapa nº 1: Análise do problema e delimitação do sistema
Tem como objetivo analisar o problema em questão e delimitar o sistema estudado; definição
de objetivos, metas, bacia e sub – bacias hidrográficas.
69
A etapa n.º 4: Definição da dinâmica e evolução
Identifica dentro da relação de motricidade e dependência das variáveis as:
1. motrizes: variáveis muito motrizes e pouco dependentes (influenciam a
dinâmica do sistema, mas são pouco condicionadas por ele).
2. de ligação: variáveis muito motrizes e muito dependentes (ocupam uma
posição de charneira: sendo objeto de fortes influências, propagam essas
influências ao conjunto do sistema).
3. de resultado: variáveis pouco motrizes e muito dependentes (são muito
condicionadas pela dinâmica do sistema e exercem pouca influência sobre ele)
4. e excluídas: variáveis pouco motrizes e pouco dependentes (têm um papel
pouco relevante).
As variáveis do pelotão representam a média da motricidade e da dependência. Desta
forma, seu desenvolvimento não é conhecido, sendo difícil determinar suas reais
características. Por este motivo, a presente análise não leva em consideração esse setor. A
hierarquização das variáveis permite confirmar, ou não, a importância de certas variáveis e
tratar daquelas que, num primeiro momento, foram consideradas de menor importância; após
esta análise, o sistema passa a ser analisado apenas em função das variáveis motrizes, de
ligação e de resultado. As variáveis de ligação por serem muito motrizes e muito dependentes,
são fortemente condicionadas pela dinâmica do sistema, podendo ser consideradas as de
maior sensibilidade em uma segunda avaliação de sensibilidade.
71
4.2 SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS
Um sistema de informações geográficas reúne um conjunto de ferramentas para a
entrada, armazenamento, recuperação, transformação, análise e representação de dados, seu
princípio fundamental de funcionamento é o georreferenciamento, ou seja, a indexação ou
codificação geográfica da informação utilizada por meio de um sistema de referência
cartográfica. Outra característica é a possibilidade de integrar informações espaciais e não
espaciais de natureza, origem e forma diversas numa única base de dados, possibilitando a
geração de novas informações derivadas e sua visualização na forma cartográfica (CÂMARA,
1993; WEBER et al, 1999).
O processamento de dados em SIG pressupõe que os mesmos estejam organizados
em planos de informação individuais, de acordo com a natureza dos diversos temas a serem
representados, como forma de efetuar análises que possam considerar separadamente as
características específicas de cada um (Figura 27).
72
A informação de cada plano é composta de basicamente duas partes. Uma delas é a
informação espacial, referenciada a um sistema de coordenadas e com a localização e
delimitação das classes da área de interesse. A outra parte é composta pelos atributos não
espaciais e reúne dados descritivos de natureza diversa sobre as classes, geralmente tabulados
e organizados em um sistema gerenciador de bancos de dados (WEBER et al, 1999).
O material e os programas utilizados no desenvolvimento da base de informações de
subsídio ao diagnóstico da bacia do rio Capim foram:
a) Base textual e passível de tabulação em planilhas:
Levantamento bibliográfico: envolvendo a pesquisa e a coleta de material existente sobre a
região de abrangência da bacia do rio Capim.
Síntese de indicadores sociais: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2004.
Projeção populacional: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2006.
Informações a cerca do setor produtivo (agricultura, pecuária, mineração, indústria):
disponíveis no site http://www.ibge.org.br e www.sectam.pa.gov.br, com base no censo federal
de 2000, e levantamento estadual de 2005 - 2006.
Números da produção mineral: SEPROD – Secretaria Especial de Produção do Estado do
Pará, 2006.
Dados hidrológicos: disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA), no site
http://www.ana.gov.br.
Informações e pontos georeferenciados: com base nas amostras coletadas nas etapas de
campo.
b) Base cartográfica:
Mapeamento geológico do Brasil: realizado pela Companhia de Pesquisa e Recursos
Minerais – CPRM (2000), incluindo as informações hidrogeológicas.
Sistema de Informações Georeferenciadas de Energia e Hidrologia: HIDROGEO,
disponibilizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, em 2000.
Base de dados em CD ROM: disponibilizada pelo Ministério do Meio Ambiente e dos
Recursos Hídricos - intitulada “Avaliação e identificação das ações prioritárias para a
conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da Biodiversidade na Amazônia
Brasileira”, da Série Biodiversidade da Amazônia Brasileira, em 2002.
Conjunto de Folhas da Carta Integrada do Brasil ao Milionésimo: produzidas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), disponibilizadas em CD ROM (2003).
73
Base de dados georeferenciada do Estado do Pará: GEOPARÁ (2004), produzida pelo
Governo do Estado do Pará.
Base de informações hidroclimatológicas: presentes em Lima et al (2005).
c) Cartas imagem:
Imagens de satélite LandSat TM, cenas: 223 – 61 (21-05-2003); 223 – 62 (21-05-2003); 223
– 63 (15-05-2004); 223 – 63/62/61 (31-07-2000); 223 – 63/62/61 (24-07-1991); 223 – 62/61
(27-07-1984); 223 – 63 (22-07-1988).
Imagens de satélite Cbers, cenas: 161 – 101/102/103 (06-07-2004); e 161 – 104/105 (01-08-
2004).
Imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission): cartas de elevação do terreno (com
dados topográficos), com resolução de 90m, produzidas a partir de imageamento de radar
acoplado a um satélite, fornecidas pala National Geospatial-Intelligence Agency (NGA) e pela
National Aeronautics and Space Administration (NASA), disponibilizadas a partir de junho de
2003. O documento base de referência para aplicação foi VALERIANO (2004).
d) Programas de digitalização, armazenamento, processamento e análise:
Programas de geoprocessamento e processamento digital de imagens: Auto Cad Map, Arc
View, Global Mapper e Spring.
Programas MICMAC (Matrice d’Impacts Croisés – Multiplication Appliqué à um
Classement / Matriz de Impactos Cruzados – Multiplicação Aplicada a uma Classificação) e
MORPHOL (Analyse Morphologique - Análise Morfológica): desenvolvidos no LIPSOR –
Laboratory for Investigation in Prospective and Strategy (Chaire de prospective industrielle du
Conservatoire national des arts et métiers, Paris-França).
O levantamento bibliográfico envolveu a pesquisa e a coleta de material existente
sobre a região de abrangência da bacia do rio Capim. Foram reunidas publicações com dados
estatísticos sobre cada um dos municípios integrantes da bacia hidrográfica e o levantamento
de materiais como, cartas topográficas e mapas temáticos da área estudada. Nos trabalhos de
campo cada local visitado foi descrito e caracterizado, fotografado e teve sua localização
determinada com auxílio de GPS; tendo sido realizadas viagens por terra e excursões de barco
no segmento navegável do rio Capim. Buscou-se identificar e detalhar zonas de conflito de
uso da água e do solo em torno dos cursos d’água (Figuras 28 e 29). Paralelamente a
realização desses levantamentos de campo foram desenvolvidas tarefas, como: a tabulação em
planilhas eletrônicas dos dados descritivos obtidos no levantamento bibliográfico e coletados
em campo; e a estruturação de dados cartográficos no SIG.
74
Figura 28. Encontro do rio Capim com o rio Guamá, próximo a São Domingos do Capim.
Figura 29. Rio Capim, trecho que atravessa o município de Ipixuna do Pará.
75
4.3 DIAGNÓSTICO BASE DA BACIA DO RIO CAPIM
4.3.1 Componentes estruturais
O fluxograma abaixo ilustra os elementos envolvidos no diagnóstico dentro dos
componentes estruturais:
MÉTODO DE TRABALHO
DIAGNÓSTICO FORMULAÇÃO
BASE DE TENDÊNCIAS
Componentes Diagnóstico
estruturais do sistema
Hidrografia
Topografia
Unidades
de relevo
Baixo – médio Alto
rio Capim rio Capim
Geologia
e solos
Unidade de Terreno: Unidade de Terreno:
Hidrogeologia Carataua - Açu Ararandeua - Surubiju
Unidade de Terreno:
Cajueiro - Pirajoara
76
4.3.1.1 Hidrografia
A bacia hidrográfica do rio Capim localiza-se na região nordeste do estado do Pará,
fazendo parte da Região Hidrográfica Costa Atlântica - Nordeste, conforme divisão estadual
proposta em Lima et al, (2001); e da Região Hidrográfica do Tocantins, segundo divisão
federal definida pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos - Resolução do CNRH nº 32,
de 15 de outubro de 2003. Com uma área total de 37.485,75 km2, desta 95,22 % estão no
estado do Pará e 4,78% no estado do Maranhão. O canal principal, o rio Capim, apresenta
com aproximadamente 764,820 km, considerando desde a sua foz com o rio Guamá, até a
confluência com as bacias dos rios Surubiju e Ararandeua. É navegável desde sua foz situada
junto à cidade de São Domingos do Capim até a foz do rio Potiritá, próximo a Vila de Canaã.
Nasce nas proximidades da Serra dos Coroados, no sudeste do estado do Pará. A rede
hidrográfica da bacia enfocada foi dividida em 25 sub – bacias (Figura 30), considerando o
sistema de ordem de canais definido por Strahler (1952) e o modelo funcional de Schumm
(1973) (Figura 31):
Sub-bacia Código Ordem
Igarapé Palheta Sb 01 3
Igarapé Jari Sb 02 4
Igarapé Juruará Sb 03 3
Igarapé Caratateuá Sb 04 4
Igarapé Jabuti Maior sb 05 4
Igarapé Cipoteuá sb 06 3
Rio Candiru-Miri sb 07 4
Rio Candiru-Açu sb 08 5
Igarapé Tracajá sb 09 3
Igarapé Carrapatinho sb 10 3
Rio Potiritá sb 11 5
Igarapé Caetano sb 12 3
Rio Jamanxim sb 13 5
Igarapé Itaquiteua Grande sb 14 3
Rio Surubiju sb 15 5
Rio Ararandeua sb 16 5
Igarapé Rio Verde sb 17 5
Bacias primárias sb 18 3
Igarapé Carataua - Açu sb 19 4
Igarapé da Fazenda Vargem Alegre sb 20 3
Igarapé Tracajá sb 21 3
Igarapé Maracaxi sb 22 3
Igarapé São Mateus sb 23 4
Igarapé Pirajoara sb 24 4
Igarapé do Porto Seguro sb 25 3
77
Figura 30. A rede hidrográfica da bacia do rio Capim, dividida em 25 sub – bacias.
78
Figura 31. Funcionalidade do sistema estabelecendo três zonas fundamentais: de produção, de
transferência e de deposição, segundo Schumm (1973).
79
Figura 32. Zonas distintas da bacia do rio Capim: o Alto rio Capim e o Baixo - Médio rio
Capim.
80
Figura 33. Sistemas de terreno da bacia do rio Capim.
81
A bacia hidrográfica do rio Capim tem a forma de um retângulo alongado e rede de
drenagem irregular, devido à declividade da região, com forte controle tectônico de seus
tributários.
No trecho superior, de planície, as larguras do rio variam entre 90 e 350 m,
predominando, porém larguras da ordem de 200 m. No trecho mais baixo, as larguras variam
de 150 a 1100 m, com largura média de 300 m. No trecho próximo a desembocadura no rio
Guamá, as larguras atingem 2000 a 3000 m.
Na caracterização da rede de drenagem foram empregados os conceitos definidos em
Christofoletti (1970), Christofoletti (1999) e Guerra e Cunha (2001), relativos a modelos
descrevendo processos em bacias hidrográficas.
Para caracterização morfológica da bacia foram empregados como indicadores
(CHRISTOFOLETTI, 1999):
a) Área (A): é toda a área drenada pelo conjunto do sistema fluvial, projetada no plano
horizontal.
b) Forma (Ic): toma-se como referência uma figura geométrica como parâmetro, para atribuir
a forma da bacia. O Índice de Circularidade é capaz de traduzir a relação existente entre a área
c) Amplitude altimétrica da bacia (H): diferença entre o valor altimétrico máximo e mínimo
na bacia, correspondendo à diferença entre a altitude da desembocadura e a altitude do ponto
mais alto situado em qualquer lugar da divisória topográfica.
d) Comprimento da bacia (Lb): distância em linha reta entre a foz e o ponto mais distante
situado no interflúvio.
82
e) Comprimento total dos canais da bacia (Lt): somatória do comprimento de todos os canais
contidos na bacia.
g) Densidade de drenagem (Dd): considera o comprimento total dos canais pela área da bacia:
Dd = Lt .
A
h) Densidade de rios (Dr): considera o número total de rios pela área da bacia:
Ir = nº _ total _ de _ canais .
A
A disposição espacial dos rios, controlada em grande parte pela estrutura geológica, é
definida como padrão de drenagem (GUERRA & CUNHA, 2001). Os principais padrões de
drenagem observados foram o meandrante, o dendrítico e o treliça, ocorrendo localmente
radial centrífuga. Estes ou aparecem conjugados ou definindo sistemas isolados. O primeiro
denota rochas de resistência uniforme e o segundo forte controle estrutural; o terceiro está
associado a divisores topográficos, constituindo amplitudes altimétricas significativas
(Figuras 34, 35 e 36).
83
Figura 34. Padrões de drenagem observados na bacia do rio Capim.
84
Figura 35. Lago formado por meandro abandonado do rio Capim.
Figura 36. Áreas de deposição alternadas às de erosão, padrão comum ao longo do rio Capim.
85
4.3.1.2 Topografia
A topografia da bacia indica a presença de 08 (oito) classes, que denotam
compartimentações distintas na bacia, individualizadas em suas sub – bacias componentes:
Classes gerais Intervalos
1 < 20 m
2 20 - 30 m
3 30 - 60 m
4 60 - 80 m
5 80 - 110 m
6 110 - 140 m
7 140 - 170 m
8 > 170 m
Tabela 5. Caracterização identificada para a bacia do rio Capim, com base nas variações
topográficas.
Classes Unidade Classes
Unidade de
Sub-bacia Código topográficas de Sub-bacia Código topográficas
terreno
(m) terreno (m)
Ig. Palheta Sb 01 Rio Potiritá Sb 11 < 30
Ig. Jari Sb 02 Rio Jamanxim Sb 13 30 – 60
60 – 80 Jamanxim -
80 – 110 Itaquiteua
< 20 Ig. Itaquiteua 110 – 140 Grande
Ig. Juruará Sb 03 Palheta - Sb 14
20 – 30 Grande 140 – 170
Jari
> 30 > 170
Ig. Caratateuá Sb 04 Rio Surubiju Sb 15
< 110
Ig. do Porto 110 – 140 Ararandeua -
Sb 25 Rio Ararandeua Sb 16
Seguro 140 – 170 Surubiju
Ig. Jabutí > 170
Sb 05 Ig. RioVerde Sb 17
Maior
< 20
Ig. da Fz.
Ig. Cipoteuá Sb 06 20 – 30 Sb 20
Candiru Vargem Alegre
30 – 60
Rio Candiru- - Açu
Sb 07 60 – 80 Ig. Tracajá Sb 21
Miri > 80 < 30
Cajueiro -
Rio Candiru- 30 – 60
Sb 08 Ig. Maracaxi Sb 22 Pirajorara
Açu > 60
Ig. Tracajá Sb 09 Ig. São Mateus Sb 23
Ig.
Sb 10 Ig. Pirajoara Sb 24
Carrapatinho < 30
Ig. Caetano Sb 12 30 – 60 Carataua
Bacias 60 – 80 -Açu
Sb 18 > 80
primárias
Ig. Carataua-
Sb 19
Açu
86
Figura 37. Caracterização da topografia na bacia do rio Capim.
87
Figura 38. Unidades de terreno da bacia do rio Capim.
88
4.3.1.3 Unidades de terreno
As unidades de terreno da bacia do rio Capim foram descritas acoplando as
características tipicamente morfológicas àquelas relacionadas a sua dinâmica. Desta forma
tem – se como:
Sistemas de terreno: os dois compartimentos estruturais diferenciados na bacia: o Alto rio
Capim e o Baixo – Médio rio Capim. Estes compõem conjuntos com estruturas e dinâmicas
bem distintas (Tabela 6, Figura 33).
Ig. Tracajá sb 21
Ig. Maracaxi sb 22 Cajueiro - Pirajorara
Ig. São Mateus sb 23
Ig. Pirajoara sb 24
Ig. Jabutí Maior sb 05
Ig. Cipoteuá sb 06
Candiru - Açu
Rio Candiru-Miri sb 07
Rio Candiru-Açu sb 08
Ig. Tracajá sb 09
Ig. Carrapatinho sb 10
Ig. Caetano sb 12 Carataua-Açu
Bacias primárias sb 18
Ig. Carataua-Açu sb 19
Rio Potiritá sb 11
Alto rio Capim
89
Unidades de terreno: as caracterizações específicas em cada sistema, definidas pelas
variações geológicas e topográficas locais (Figura 38).
Em relação a classificação geomorfológica, representada pelos Domínios ou
Unidades Morfoestruturais (RADAMBRASIL, 1976; ROSS, 1992; IBGE, 1997) que
apresentam características geológicas prevalecentes como direções estruturais que refletem o
comportamento geral do relevo ou o controle da drenagem principal (IBGE, 1995), tanto o
Alto quanto o Baixo – Médio Capim são formados por duas Unidades Morfoestruturais e
Morfoclimáticas: o Planalto Rebaixado da Amazônia (PRA) e Planalto Setentrional Pará-
Maranhão (PSPM); ambos pertencentes ao grande Domínio dos Planaltos Amazônicos
Rebaixados e Dissecados.
O PRA predomina no trecho norte-sul da bacia no Baixo-Médio rio Capim,
coincidindo com que IBGE (1997) denomina de Depressões do Meio-Norte.
O PSPM domina o trecho onde o rio se desloca para sudoeste no Alto rio Capim,
sendo coincidente com o que IBGE (1997) denomina de Chapadas do Meio Norte.
De forma geral o PRA constitui uma extensa e rebaixada superfície pleistocênica,
dissecada, seguindo um controle tectônico.
As formas de relevo predominantes são Superfícies Pediplanadas (Espp), que
correspondem a áreas de topografia plana, vales abertos e rasos, com retomada de erosão
recente.
O PSPM representa um conjunto de relevos tabulares, com cotas topográficas acima
de 150 m, drenagem bem definida, com vales estreitos e profundos.
As formas mais características são as Superfícies Tabulares Erosivas (Estb), que
constituem áreas aplainadas e topograficamente elevadas, com limites constituídos
principalmente por escarpas e rebordos erosivos.
A Figura 39 apresenta a classificação geomorfológica adotada para a bacia do rio
Capim elaborada a partir dos seguintes documentos cartográficos: RADAMBRASIL (1976) e
IBGE (1997).
90
Figura 39. Mapa de unidades geomorfológicas.
91
a. Alto rio Capim
a.1. Características gerais (Figuras 40 a 43):
Unidade de Terreno: Ararandeua – Surubiju
Aspectos estruturais da
Aspectos morfoestruturais do relevo Dinâmica fluvial
drenagem
Canal principal • Dinâmica intensa dos
Dissecação em ravinas, vales afluentes principais que
encaixados e interflúvios tabulares formam as cabeceiras do rio
(drvit). Capim – os rios Ararandeua e
Dissecação em colinas de topo Surubiju.
aplainado, com ravinas e vales • A drenagem encontra-se
encaixados (dctrv). fortemente estruturada sobre os
Dissecação em ravinas e vales sedimentos detrito - lateriticos
encaixados (drv): formas resultantes da Padrão: fortemente e os arenitos e siltitos da
evolução do ravinamento. meandrante. Formação Itapecurú;
Dissecação em colinas e ravinas apresentando forte controle
Ordem: 6° estrutural, onde predominam
(dcr): formas em colinas com
duas direções principais: SE –
ramificações de canais intermitentes,
Controle estrutural: NW e SW-NE; e duas
resultantes de retomada de erosão
N–S secundárias: S-N e E-W.
recente ou influência litológica.
• As sub – bacias
Dissecação em colinas (dc): componentes desta unidade
superfícies aplainadas por vales pouco estruturam um relevo formado
aprofundados e ravinas. por vales encaixados em
Dissecação em colinas de topo interflúvios tabulares, colinas
aplainado (dcta): superfícies aplainadas com topos aplainados, e
por vales pouco aprofundados. localmente colinas associadas
a vales pouco profundos.
92
Figura 40. Colinas de topo aplainado: UT Ararandeua – Surubiju.
Figura 43. Colinas de topo aplainado associada a vales com processo erosivo: UT Jamanxim -
Itaquiteua Grande.
93
a.2. Características específicas associadas a dinâmica do relevo
Unidade de Terreno: Ararandeua – Surubiju
◘ Escoamento superficial com forte condicionante estrutural, traduzido pelo controle linear
da drenagem segundo NE – SW e NW – SE, ocorrendo localmente segundo N – S e E - W.
Amplitude altimétrica e declividades consideradas as mais altas da bacia; densidade de
drenagem média a alta, e índice de rugosidade alto.
◘ Vales fechados, com vertentes côncavas e retilíneas; associados aos processos erosivos
atuantes, influenciados pelo escoamento superficial e condicionante estrutural. Topos
tabulares ou formados por colinas de topo aplainado. Amplitude altimétrica e declividades
consideradas as mais altas da bacia. Como ilustram as figuras abaixo [P01 – SB17 (a) e (b)]:
◘ Vales fechados e largos, com vertentes convexas e retilíneas; onde predominam processos
erosivos. Topos tabulares, com amplitudes altimétricas e declividades altas. Como ilustram as
figuras abaixo [P2 - SB 16 (a) e (b)]:
[P2 - SB 16 (a)]
95
[P2 - SB 16 (b)]
[P1 - SB 14 (a)]
96
[P1 - SB 14 (b)]
◘ Topos tabulares, com vertentes convexas e côncavo - retilíneas; associados vales abertos e
encaixados. Amplitude altimétrica e declividades variáveis de médias a altas. Como ilustram
as figuras abaixo (Perfil 1: [P2 - SB 11 (a) e (b)]; Perfil 2: [P2 - SB 14 (a)]):
97
Perfil 1: [P2 - SB 11 (b)]
98
Unidade de Terreno: Candiru-Açu
Aspectos morfoestruturais Aspectos estruturais da
Dinâmica fluvial
do relevo drenagem
Dissecação em Canal principal
interflúvios tabulares (dit): A largura do rio Capim neste é
forma com entalhamento em torno de 100 m e a passagem do
profundo de talvegue em canal fluvial para os terrenos
Padrão: meandrante,
relevos tabulares. marginais ocorre a partir de
localmente
Dissecação em colinas de anastomosado pela barrancos com alturas variáveis
topo aplainado, com ravinas presença de ilhas entre 1 e 3 m, até 20 m.
e vales encaixados (dctrv). As áreas sujeitas a inundações e
com presença de lagoas marginais
Superfícies pediplanadas Ordem: 6°
são presentes na forma de planícies
(Espp): aplainamentos em
aluviais.
retomada de erosão recente. Controle estrutural:
Nas áreas de terra firme ocorrem
Terraços fluviais (Atf): N – S, com ilhas
superfícies pediplanadas e tabulares
terraços com depósitos aluviais orientadas
erosivas, que constituem áreas
inconsolidados, neste sentido
aplainadas e elevadas, com limites
apresentando lagoas em constituídos por escarpas e rebordos
alguns trechos, podendo erosivos, da Formação Ipixuna.
estar pediplanados.
Figura 47. Colinas de topo aplainado com vales pouco profundos: UT Cajueiro – Pirajoara.
101
◘ Vales abertos, com vertente côncava; associados aos processos erosivos e deposicionais
atuantes; com terraços fluviais amplos. Topos tabulares aplainados. Como ilustram as figuras
abaixo [P1 - SB 10 (a) e (b)]:
[P1 - SB 10 (a)]
[P1 - SB 10 (b)]
◘ Vales fechados, com vertentes convexas; associados a processos erosivos. Formados por
colinas de topo aplainado. Como ilustram as figuras abaixo [P2 - SB 09 (a) e (b)]:
[P2 - SB 09 (a)]
102
[P2 - SB 09 (b)]
103
Perfil 2: [P1 - SB 12 (b)]
[P1 - SB 07 (a)]
104
[P1 - SB 07 (b)]
[P2 - SB 08 (a)]
105
[P2 - SB 08 (b)]
[P1 - SB 04 (a)]
106
[P1 - SB 04 (b)]
◘ Vales abertos, com vertente côncava; com terraços fluviais bem definidos; e topos
tabulares aplainados. Como ilustra a figura abaixo [P1 - SB 25]:
[P1 - SB 25]
107
[P1 - SB 24 (a)]
◘ Vales fechados, com vertentes convexas; associados aos processos erosivos. Formados
por colinas de topo aplainado. Como ilustram as figuras abaixo [P2 - SB 24 (b) e (c)]:
[P2 - SB 24 (b)]
[P2 - SB 24 (c)]
108
4.3.1.4 Geologia e solos
A bacia do rio Capim apresenta seus aspectos geológicos e tectônicos totalmente
inter-relacionados a sua dinâmica hídrica. Basicamente são observados: o Grupo Itapecuru e
as formações Ipixuna e Barreiras, além das coberturas quaternárias finalizando a seqüência.
Em termos tectônicos a área entre Marabá e Paragominas é condicionada por feições
planares predominantemente E-W e NE-SW (COSTA & HASUI, 1997). Encontrando-se
inserida no contexto tectônico da Serra do Tiracambu, descrita por Soares Jr (2002) como
uma área que experimentou um soerguimento (alto estrutural) durante o evento tectônico que
originou as bacias sedimentares da região, Evento Sul-Atlantiano segundo Schobbenhaus &
Campos (1984), estando sua evolução intimamente ligada à formação de bacias (Figura 48).
110
São Miguel do Guamá (PA) até 31 km a norte de Imperatriz (MA). Corresponde a um
intervalo estratigráfico com cerca de 40 m de espessura, e inclui arenitos caulínicos, com
granulometrias finas a grossas, coloração branca a avermelhada clara, que ocorrem
intercalados a pelitos, argilitos e conglomerados (SANTOS JR & ROSSETTI, 2001). Esta
característica é responsável por se observar nesta unidade jazimentos de importância
econômica, de caulim ao longo do vale do rio Capim e bauxita no município de Paragominas.
• Formação Barreiras: ocorre na maior parte da bacia do rio Capim, constitui-se de
sedimentos clásticos mal selecionados que variam de siltitos a conglomerados, assentando-se
discordantemente, sobre camadas do Grupo Itapecurú (ROSSETI & TRUCKENBRODT,
1999). São observados sedimentos areno-argilosos, arenosos (em geral cauliníticos), argilo-
siltosos e conglomeráticos de cores variadas, com idade pliocênica a pleistocênica,
depositados em ambiente continental com sistema de leques aluviais e planícies fluviais e
lacustres.
• Depósitos aluvionares: dominam o vale principal da bacia e de alguns tributários,
representam faixas, principalmente em trechos descontínuos adjacentes ao curso inferior do
rio Capim e trechos contínuos em seu curso médio e superior, correspondem a depósitos
aluvionares quaternários constituídos por cascalhos, areias e argilas inconsolidadas. Na
unidade Palheta – Jari predominam os depósitos constituídos por cascalhos, areias e argilas
inconsolidadas, de idade quaternária, que ocupam as áreas de topografia plana presentes.
A ação dos diversos processos que produzem alteração do substrato rochoso e a
própria dinâmica de erosão, transporte e deposição da bacia do rio Capim geraram um perfil
de alteração responsável pela formação de coberturas de: Argissolo Vermelho Amarelo
Argilosa; Argissolo Vermelho Amarelo Média/Argilosa; Latossolo Amarelo Argilosa;
Latossolo Amarelo Média; Latossolo Amarelo Muito Argilosa; Latossolo Vermelho Amarelo
Argilosa; Neossolo Flúvico Indiscriminada; e Solos Glay.
As unidades observadas na bacia apresentam como características
(RADAMBRASIL, 1976; EMBRAPA, 1982; SILVA & CARVALHO; 1986):
• Latossolos Amarelos: principal cobertura da bacia, sua textura é bastante variável, podendo
ser desde arenosa até argilosa, sendo compatível com as formações geológicas locais.
• Latossolos Vermelho-Amarelos: sua textura é bastante variável, podendo ser desde arenosa
até muito argilosa.
111
• Solos Hidromórficos e Aluviais Indiscriminados: estão presentes em faixas estreitas ao
longo do rio Capim. Os Solos Hidromórficos são solos desenvolvidos a partir de sedimentos
aluviais holocênicos e típicos de áreas baixas e normalmente planas. Apresentam espessura
média, acumulação de matéria orgânica total ou parcialmente decomposta no horizonte
superficial e textura argilosa.
Figura 55. Solo desenvolvido a partir de sedimentos aluviais com acumulação de matéria
orgânica e textura argilosa.
113
Em cada sub-bacia foram identificadas suas características geológicas e pedológicas,
considerando: os litotipos presentes, seu controle tectônico e os tipos de solos dominantes;
tendo como base a pesquisa bibliográfica feita - RADAMBRASIL (1976), Schobbenhaus e
Campos (1984), Góes (1981), Costa et al. (1996), Costa & Hasui (1997), Horbe e Costa
(1999), Rosseti e Truckenbrodt (1999), Santos Jr e Rossetti (2001), e Soares Jr (2002) - e as
atividades de campo (Tabela 8; Figuras 56 e 57).
04 Ordem 4ª
Ig. Caratateuá Zona funcional Deposição
Eon/
Período Litotipo Tipos de solos
Era
Depósitos aluvionares - Sedimento
Quaternário
Fanerozóico
Unidade de terreno Palheta – Jari
Depósitos detríticos –
Latossolo Amarelo Media
Laterita, Sedimento Detrito-Lateritico
Terciário Formação Ipixuna - Arenito, Argilito,
Siltito
03 Ordem 3ª
Ig. Jauará Zona funcional Deposição
Eon/
Período Litotipo Tipos de solos
Era
Depósitos aluvionares - Sedimento
Quaternário
Fanerozóico
Depósitos detríticos –
Latossolo Amarelo Média
Laterita, Sedimento Detrito-Lateritico
Terciário Formação Ipixuna - Arenito, Argilito,
Siltito
02 Ordem 4ª
Ig. Jari Zona funcional Deposição
Eon/
Período Litotipo Tipos de solos
Era
Depósitos aluvionares - Sedimento
Fanerozóico
/Cenozóico
114
Tabela 8. Caracterização das formações geológicas e cobertura de solos da bacia do rio
Capim. (continuação)
01 Ordem 3ª
terreno Palheta –
Quaternário
/Cenozóico
Quaternário
/Cenozóico
Terciário
Formação Ipixuna - Arenito, Argilito, Siltito
22 Ordem 3ª
Ig. Maracaxi Zona funcional Transferência - Deposição
Eon/ Era Período Litotipo Tipos de solos
Formação Barreiras - Arenito, Arenito
/Cenozóico
Fanerozóic
Terciário
Formação Ipixuna - Arenito, Argilito, Siltito Latossolo Amarelo Média
21 Ordem 3ª
Ig. Cajueiro Zona funcional Transferência - Deposição
Eon/ Era Período Litotipo Tipos de solos
Depósitos aluvionares - Sedimento
Quaternário
Aluvionar, Sedimento Detrito-Lateritico Latossolo Amarelo
Fanerozóico
/Cenozóico
115
Tabela 8. Caracterização das formações geológicas e cobertura de solos da bacia do rio
Capim. (continuação)
Código 08 Ordem 5ª
Sub –
Rio Candiru-Açu Zona funcional Transferência - Deposição
bacia
Eon/ Era Período Litotipo Tipos de solos
Depósitos detríticos –
Fanerozóico
/Cenozóico
Sedimento Detrito-Lateritico
Fanerozóico
Depósitos detríticos –
Laterita, Sedimento Detrito-Lateritico Latossolo Amarelo Media
Neossolo Flúvico
Formação Barreiras - Arenito, Arenito
Terciário Indiscriminada
conglomerático, Argilito Arenoso
Formação Ipixuna - Arenito, Argilito, Siltito
06 Ordem 3ª
Ig. Cipoteuá Zona funcional Transferência - Deposição
Eon/ Era Período Litotipo Tipos de solos
Depósitos aluvionares - Sedimento Aluvionar,
Quaternário
Fanerozóico
/Cenozóico
Sedimento Detrito-Lateritico
Depósitos detríticos – Latossolo Amarelo Argilosa
Laterita, Sedimento Detrito-Lateritico Latossolo Amarelo Média
Terciário
Formação Ipixuna - Arenito, Argilito, Siltito
05 Ordem 4ª
Ig. Jabuti Maior Zona funcional Transferência - Deposição
Eon/ Era Período Litotipo Tipos de solos
Formação Barreiras - Arenito, Arenito
Fanerozóico
/Cenozóico
116
Tabela 8. Caracterização das formações geológicas e cobertura de solos da bacia do rio
Capim. (continuação)
Código 18 Ordem 1ª e 2°
Sub –
Bacias primárias Zona funcional Produção
bacia
Eon/ Era Período Litotipo Tipos de solos
Latossolo Amarelo
Formação Barreiras - Arenito, Arenito
Terciário Argilosa
conglomerático, Argilito Arenoso
Latossolo Amarelo Média
Formação Barreiras - Arenito, Arenito
Terciário
conglomerático, Argilito Arenoso
Unidade de terreno Carataua-Açu
19 Ordem 4ª
Ig. Carataua-Açu Zona funcional Produção
Eon/ Era Período Litotipo Tipos de solos
Depósitos aluvionares - Sedimento Aluvionar, Latossolo Amarelo
Quaternário
Sedimento Detrito-Lateritico Argilosa
Depósitos detríticos – Neossolo Flúvico
Fanerozóico Laterita, Sedimento Detrito-Lateritico Indiscriminada
/Cenozóico Terciário
Formação Ipixuna - Arenito, Argilito, Siltito Latossolo Amarelo Média
12 Ordem 3ª
Ig. Caetano Zona funcional Produção
Eon/ Era Período Litotipo Tipos de solos
Depósitos aluvionares - Sedimento Aluvionar,
Quaternário Latossolo Amarelo
Sedimento Detrito-Lateritico
Depósitos detríticos – Argilosa
Fanerozóico Laterita, Sedimento Detrito-Lateritico Latossolo Amarelo Muito
/Cenozóico Terciário Argilosa
Formação Ipixuna - Arenito, Argilito, Siltito
10 Ordem 3ª
Ig. Carrapatinho Zona funcional Produção
Eon/ Era Período Litotipo Tipos de solos
Depósitos aluvionares - Sedimento Aluvionar, Latossolo Amarelo
Quaternário
Fanerozóico
117
Tabela 8. Caracterização das formações geológicas e cobertura de solos da bacia do rio
Capim. (continuação)
Código 14 Ordem 3ª
Sub –
Ig. Itaquiteua Grande Zona funcional Produção
bacia
Eon/ Era Período Litotipo Tipos de solos
Depósitos detríticos –
Fanerozóico
16 Ordem 5ª
Rio Ararandeua Zona funcional Produção
Eon/ Era Período Litotipo Tipos de solos
Depósitos detríticos – Latossolo Amarelo Argilosa
Cenozóico Terciário
Fanerozóico
118
Figura 56. Unidades geológicas da bacia do rio Capim.
119
Figura 57. Cobertura de solos da bacia do rio Capim.
120
4.3.1.5 Hidrogeologia
A bacia do rio Capim encontra-se em sua maior parte inserida na Província
Hidrogeológica do Parnaíba (FGV, 1998; REBOUÇAS et al, 2001). (Figura 58)
.
Figura 58. Províncias Hidrogeológicas do Brasil (REBOUÇAS et al, 2001).
121
no abastecimento humano no interior dos estados do Pará, Maranhão e Piauí, e para
abastecimento doméstico na cidade de São Luís (SOUSA, 2000).
O sistema aqüífero Barreiras tem ampla distribuição na costa brasileira, aflorando de
forma descontínua desde a região Norte até a Sudeste. Constitui um aqüífero
predominantemente livre que ocupa uma área de 176.532 km2 (ANA, 2005). O sistema
aqüífero Barreiras tem grande participação no abastecimento de várias capitais brasileiras,
particularmente das capitais litorâneas nordestinas de São Luís, Belém, Fortaleza, Natal e
Maceió.
Os Aqüíferos Barreiras e Aluvial são formados por arenitos, argilas e areias.
Ocorrem, o primeiro aqüífero na porção setentrional dos estados do Pará, Piauí e Maranhão e
o segundo em áreas descontinuas nestes estados ANA (2005):
122
A maior parte da água subterrânea da bacia do rio Capim vem das formações
cenozóicas; as vazões variam de 5 a 150m3/h. Os poços escavados em beira de rios são muito
freqüentes e fornecem vazões de 50 a 250m3/h. O conteúdo de ferro alcança algumas vezes
15mg/l, tornando as águas, muitas vezes, excessivamente corrosivas (AHIMOR, 2003).
Os aqüíferos são recarregados por meio dos inúmeros aluviões dos cursos da água
que drenam toda a região e dos 2000 mm médios de precipitação anual que são em parte
absorvidos por areais pleistocênicos existentes.
A pouca evaporação motivada pela elevada umidade do ar e a cobertura florestal
contribuem também para uma maior absorção das águas superficiais pelas rochas.
O aqüífero Itapecurú, que ocorre na porção sul da bacia, apresenta produtividade
média à fraca, tendo os poços vazões específicas entre 1 e 3 m3/h/m e a vazão entre 2,5 e
3,2m3/h, para rebaixamentos de 25m (AHIMOR, 2003; ANA, 2005).
Os aqüíferos Barreiras, Aluvial e o lençol freático ocorrem na maioria dos locais e
contribuem com a vazão das drenagens naturais e eventualmente sendo abastecido por estas.
124
4.3.1.6 Clima
Segundo a classificação de Köppen que considera as médias anuais de precipitação e
a presença de meses com precipitações inferiores a 60 mm, foram reconhecidos três subtipos
climáticos na bacia do rio Capim (GUIMARÃES et al, 2000; GUIMARÃES et al,2001;
OLIVEIRA et al, 2004; LIMA et al, 2005):
Subtipo Climático Af: denominado de Clima Tropical Chuvoso de Floresta, não apresenta
estação seca, sendo o valor do mês menos chuvoso igual ou superior a 60 mm. Na área são
identificadas duas subdivisões neste subtipo climático: Af2, com valores de precipitação
média anual variando de 2500 a 3000 mm; e Af3, caracterizado por valores médios anuais de
precipitação entre 2000 e 2500 mm.
Subtipo Climático Aw: denomina-se Clima de Savana, apresenta um inverno seco bem
definido, com ocorrência de meses com precipitação média inferior a 60 mm. Subdivide-se
em: Aw4, com valores entre 1500 e 2000; Aw5, apresenta valores que variam de 1000 a 1500
mm.
Subtipo Climático Am: denominado de Clima Tropical de Monção, este subtipo é
considerado intermediário entre o Af e Aw, apresentando uma estação seca moderada, com
ocorrência de no mínimo um mês, com valor de precipitação média inferior a 60 mm. Este
subtipo divide-se em: Am2, com valores entre 2500 e 3000 mm; Am3, com variações de 2000
a 2500.
De forma geral as temperaturas variam em torno de 26° C (média anual), com uma
umidade de 75 a 80% (média anual). Os meses mais chuvosos vão de fevereiro até
aproximadamente abril, enquanto que os menos chuvosos variam de agosto a outubro (Alto
rio Capim) ou de setembro a novembro (Baixo - Médio rio Capim). A precipitação varia de
1500 a 2000 mm ao ano (principalmente no Alto rio Capim); aumentando em direção a foz
onde passa a apresentar variações de 2000 a 2500 mm ao ano. Seu balanço hídrico mostra
uma deficiência de 500 a 300 mm (média anual) no Alto rio Capim, e de 300 a 100 mm no
Baixo - Médio rio Capim (média anual).
Desta forma, o Alto rio Capim se configura como a região de maior sensibilidade
com períodos mais longos de estiagem, podendo influir na quantidade de água que circula na
bacia (Tabela 9; Figuras 62, 63, 64 e 65).
125
Tabela 9. Informações climatológicas de cada sub-bacia componente da bacia do rio Capim.
Precipitação Meses menos Deficiência Classificação
Unidades de terreno Sub-bacia
(mm) chuvosos hídrica (mm) climática
Am3p
Bac. do Ig. Pirajoara 2000 – 2500 09 a 11 200 - 300
Am2p
Am2p
Bac. do Ig. São Mateus 2000 – 2500 09 a 11 200 - 300
Am3p
Cajueiro - Pirajoara Bac. do Ig. Maracaxi 2000 – 2500 09 a 11 200 - 300 Am2p
200 - 300 Am3p
Bac. do Ig. Cajueiro 2000 – 2500 09 a 11
300 - 400 Am2p
Bac. do Ig. da Fz. Vargem
2000 – 2500 09 a 11 300 - 400 Am3p
Alegre
08 a 10 Am4
Rio Surubiju 1500 – 2000 400 - 500
07 a 09 Aw4
< 1500 08 a 10 Am4
Ararandeua - Surubiju Rio Ararandeua 400 - 500 Aw4
1500 – 2000 07 a 09
Aw5
1500 – 2000 300 - 400 Am3p
Ig. Rio Verde 08 a 10
2000 – 2500 400 - 500 Am4
1500 – 2000 300 – 400 Am3p
Bac. do Ig. Itaquiteua Grande 08 a 10 Am4p
2000 – 2500 400 - 500
Aw4p
Jamanxim - Itaquiteua
300 - 400 Am4p
Grande Bac. do Rio Jamanxim 1500 – 2000 08 a 10
400 - 500 Aw4p
300 - 400 Am4p
Bac. do Rio Potiritá 1500 – 2000 08 a 10
400 - 500 Aw4p
1500 – 2000 09 a 11 Am3p
Bac. do Ig. Carataua Açu 300 - 400
2000 – 2500 08 a 10 Am4p
Bac. do Ig. Caetano 1500 – 2000 08 a 10 300 - 400 Am4p
09 a 11
Carataua-Açu Bac. do Ig. Carrapatinho 1500 – 2000 300 - 400 Am4p
08 a 10
1500 – 2000 09 a 11 Am4p
Bac. do Ig. Tracajá 300 - 400
2000 – 2500 08 a 10 Am3p
Bacias Primárias 2000 – 2500 08 a 10 300 - 400 Am3p
1500 – 2000 09 a 11 200 - 300 Am3p
Bac. do Rio Candiru - Açu
2000 – 2500 08 a 10 300 - 400 Am4p
1500 – 2000 200 - 300
Candiru-Açu Bac. do Rio Candiru Miri 09 a 11 Am3p
2000 – 2500 300 - 400
Bac. do Ig. Cipoteuá 2000 – 2500 09 a 11 200 - 300 Am3p
Bac. do Ig. Jabuti Maior 2000 – 2500 09 a 11 200 - 300 Am3p
< 100
Am3p
Bac. do Ig. Porto Seguro 2000 – 2500 09 a 11 100 - 200
200 - 300 Af3p
Bac. do Ig. Caratateuá 2000 – 2500 09 a 11 200 - 300 Am3p
Palheta - Jari Bac. do Ig. Jauará 2000 – 2500 09 a 11 200 - 300 Am3p
100 - 200 Am3p
Bac. do Ig. Jari 2000 – 2500 09 a 11
200 - 300 Af3p
100 - 200 Am3p
Bac. d Ig. do Palheta 2000 – 2500 09 a 11
200 - 300 Af3p
126
Figura 62. Classificação climática da bacia do rio Capim.
127
Figura 63. Deficiência hídrica na bacia do rio Capim.
128
Figura 64. Precipitação pluviométrica na bacia do rio Capim.
129
Figura 65. Períodos menos chuvosos na bacia do rio Capim.
130
4.3.1.7 Cobertura vegetal
De forma geral, predomina na bacia um forte grau de descaracterização da cobertura
vegetal, com modificação das composições florísticas e estruturais dos fragmentos
remanescentes, além do efeito de borda nos mesmos, resultante das intervenções antrópicas.
A fisionomia característica são florestas secundárias e campos, produtos da atividade
agropecuária local, incluindo as culturas de subsistência. É observada também a presença de
formações florestais aluviais em vários estágios de regeneração.
Ocorre o predomínio, em termos fitogeográficos, de vegetação influenciada pelos
fatores climáticos tropicais de elevadas temperaturas e de alta precipitação, bem distribuída
durante o ano (IBGE, 1992; MMA, 2002), associadas aos seguintes ambientes:
Aluvial – não varia topograficamente e apresenta sempre ambientes repetitivos nos terraços
aluviais dos cursos d’água; corresponde a formação ribeirinha que ocorre ao longo do rio
Capim e de seus principais afluentes, devido à exploração madeireira e outras ações
antrópicas, constantemente é encontrada formando campos abertos.
Terras Baixas – corresponde à altitude de 5 a 100 m, ocupa os terrenos quaternários da
bacia, tendo sofrido forte ação antrópica, principalmente por atividades agropecuárias.
Submontana – ocorre próxima às encostas e morros com cotas superiores aos 100 m; onde
se encontram alguns fragmentos de floresta primária.
No geral, tais composições de cobertura vegetal natural foram fortemente alteradas
pela ocupação humana, ou completamente ou no seu entorno; as principais formas resultantes
são: capoeiras, pastos, áreas cultivadas e áreas de desmatamento.
As várzeas, presentes em toda a extensão da bacia, merecem destaque por possuírem
composição variável em função das proximidades com o rio. Caracterizam-se por vegetação
de porte baixo, onde ocorrem espécies de gramíneas e arbustos, sujeitos à inundações
periódicas. Tais áreas sofrem com a dragagem de material (areia), permanência de áreas de
cultivo, pecuária e assentamentos. As sub-bacias consideradas como zonas de produção,
deveriam ter a cobertura vegetal melhor preservada da bacia, nestas, sua remoção ocasionará
em possíveis perdas de solo por erosão. O mesmo pode ser atribuído ao sistema aluvial e de
terras baixas que corre paralelamente ao curso principal do rio Capim e de seus afluentes, por
comporem matas ciliares, fundamentais para a retenção do processo intenso de erosão natural
do rio (Tabela 10; Figuras 67 a 72).
131
Tabela 10. Caracterização da cobertura vegetal na bacia do rio Capim.
Unidade de
Sub-bacia Ordem Descrição Zonas
terreno
Bac. do Ig. Sistema secundário de terras baixas, associado às áreas antropizadas.
4
Pirajoara Sistema secundário de terras baixas.
Bac. do Ig. São Sistema secundário de terras baixas, associado às áreas antropizadas.
4
Mateus Sistema secundário de terras baixas.
Bac. do Ig. Sistema secundário de terras baixas, associado às áreas antropizadas.
3
Maracaxi Sistema secundário de terras baixas.
Cajueiro - Sistema secundário de terras baixas, associado às áreas antropizadas. Transferência –
Pirajoara Sistema secundário com floresta densa. deposição
Bac. do Ig.
3
Cajueiro Sistema secundário de terras baixas.
Sistema secundário, associado à atividade madeireira e agropecuária.
Sistema secundário de terras baixas, associado às áreas antropizadas.
Bac. do Ig. da Sistema secundário com floresta densa.
Fz. Vargem 3
Alegre Sistema secundário de terras baixas.
Sistema secundário, associado à atividade madeireira e agropecuária.
Sistema secundário de terras baixas, associado às áreas antropizadas.
Rio Surubiju Sistema secundário associado a altitudes maiores que 100 m.
Sistema secundário com floresta densa.
5 Sistema secundário, associado à atividade madeireira e agropecuária,
caracterizado por fragmento de floresta aberta, associados com
Ararandeua - altitudes maiores que 100 m.
Rio Ararandeua Produção
Surubiju
Sistema secundário de terras baixas.
Sistema secundário, associado à atividade madeireira e agropecuária,
caracterizado por campos abertos.
Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
Ig. Rio Verde 5 antropizadas.
Sistema secundário com floresta densa.
Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
antropizadas.
Bac. do Ig. Sistema secundário com floresta densa.
3
Tracajá
Sistema secundário de terras baixas.
Sistema secundário, associado à atividade madeireira e agropecuária.
Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
antropizadas.
Bac. do Ig. Sistema secundário com floresta densa.
3
Carrapatinho Sistema secundário de terras baixas.
Sistema secundário, associado à atividade madeireira e agropecuária,
caracterizado por fragmento de floresta aberta.
Carataua- Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
Produção
Açu antropizadas.
Bac. do Ig. Sistema secundário com floresta densa.
4
Carataua-Açu Sistema secundário de terras baixas.
Sistema secundário, associado à atividade madeireira e agropecuária,
caracterizado por fragmento de floresta aberta.
Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
antropizadas.
Bac. do Ig. Sistema secundário com floresta densa.
3
Caetano Sistema secundário de terras baixas
Sistema secundário, associado à atividade madeireira e agropecuária,
caracterizado por fragmento de floresta aberta.
Bacias
1, 2 Sistema secundário de terras baixas.
Primárias
132
. Tabela 10. Caracterização da cobertura vegetal na bacia do rio Capim. (continuação)
Unidade de
Sub-bacia Ordem Descrição Zonas
terreno
Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
antropizadas.
Sistema secundário com floresta densa.
Bac. do Rio Potiritá 5 Sistema secundário de terras baixas.
Sistema secundário, associado à atividade madeireira e
agropecuária, caracterizado por fragmento de floresta aberta,
associados com altitudes maiores que 100 m.
Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
antropizadas.
Sistema secundário com floresta densa.
Jamanxim - Bac. do Rio
5 Sistema secundário de terras baixas.
Itaquiteua Jamanxim Produção
Grande Sistema secundário, associado à atividade madeireira e
agropecuária, caracterizado por fragmento de floresta aberta,
associados a altitudes maiores que 100 m.
Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
antropizadas.
Sistema secundário com floresta densa.
Bac. do Ig. Sistema secundário associado a altitudes maiores que 100 m.
3
Itaquiteua Grande Sistema secundário de terras baixas.
Sistema secundário, associado à atividade madeireira e
agropecuária, caracterizado por fragmento de floresta aberta,
associados a altitudes maiores que 100 m.
Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
antropizadas.
Sistema secundário com floresta densa.
Bac. do Rio Sistema secundário de terras baixas.
5 Sistema secundário, associado à atividade madeireira e
Candiru-Açu
agropecuária, caracterizado por fragmento de floresta aberta.
Sistema secundário, associado à atividade madeireira e
agropecuária, caracterizado por fragmento de floresta aberta,
associados a altitudes maiores que 100 m.
Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
antropizadas.
Sistema secundário com floresta densa.
Bac. do Rio Sistema secundário de terras baixas.
4 Sistema secundário, associado à atividade madeireira e
Candiru - Candiru Miri Transferência -
Açu agropecuária. deposição
Sistema secundário, associado a atividade madeireira e
agropecuária, caracterizado por fragmento de floresta aberta,
associados a altitudes maiores que 100 m.
Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
Bac. do Ig. antropizadas.
3
Cipoteuá
Sistema secundário de terras baixas.
Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
antropizadas.
Sistema secundário de terras baixas.
Bac. do Ig. Jabuti Sistema secundário, associado à atividade madeireira e
4
Maior agropecuária, caracterizado por campos abertos.
Sistema secundário, associado a atividade madeireira e
agropecuária, caracterizado por fragmento de floresta aberta,
associados a altitudes maiores que 100 m.
Bac. do Ig. Porto
3
Seguro
Bac. do Ig.
4
Palheta - Caratateuá Sistema secundário de terras baixas, associado com áreas
Bac. do Ig. Jauará 3 Deposição
Jari antropizadas.
Bac. do Ig. Jari 4
Bac. do Ig. do
3
Palheta
133
Figura 66. Caracterização da cobertura vegetal da bacia do rio Capim.
134
Figura 67. Área desmatada para aproveitamento agropecuário.
MÉTODO DE TRABALHO
DIAGNÓSTICO FORMULAÇÃO
BASE DE TENDÊNCIAS
Componentes Diagnóstico
estruturais do sistema
Criação de animais
Processo de ocupação
Usos Atuais da Água
Produção agrícola
Desenvolvimento de 1960 à
atualidade
Extrativismo vegetal Planejamento da utilização do
potencial hídrico
Eixos de ocupação da bacia
Atividade Mineral
Evolução populacional
Figura 73. Etapa de avaliação das características socioeconômicas da bacia do rio Capim.
137
4.3.2.1 Importância da bacia no contexto regional e estadual
A configuração político – administrativa da bacia do rio Capim é representada por 7
municípios (São Domingos do Capim, Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, Paragominas,
Goianésia do Pará, Dom Eliseu e Rondon do Pará) perfazendo 90,42% da bacia e 10
municípios localizados em suas bordas, totalizando 5,7% da mesma, o restante representa a
porção em território Maranhense (3,88%). Destes 7 municípios, 2 (Paragominas e DomEliseu)
apresentam sua sede fora da bacia e mais de 50% de seu território na bacia (Tabela 11).
138
Na avaliação socioeconômica da bacia é importante ressaltar que:
• A bacia do rio Capim é uma bacia estadual, a bacia do rio Ararandeua que constitui uma de
suas cabeceiras, é federal, pois apresenta sua nascente no Maranhão (a Lei nº 9.433/97 só
considera rio federal o curso d´água que ultrapassa os limites de um estado).
• Serão priorizados os municípios com mais de 50% de seu território na bacia, pela
dificuldade em se considerar espacialmente as contribuições inferiores a este valor.
Os sistemas viários, incluindo estradas e hidrovias, destacam-se como as principais
vias de ocupação e ligação dos municípios componentes da bacia: a PA 257, PA 252, PA 256,
PA 150 e PA 222, todas aproximadamente leste-oeste; a BR 010, PA 140 e a PA 150, ambas
aproximadamente norte-sul; e a hidrovia do Capim, em fase de construção, integrando ao rio
Guamá no km 110, altura de sua confluência com este rio, deste ponto em diante continua ao
longo do rio Capim, passando pelo entroncamento deste rio com a PA 256 em Paragominas e
estendendo-se até a fazenda Tauary no km 554, totalizando 444 km (Figuras 74 e 75). A
importância desta bacia para o estado pode ser avaliada sobre dois pontos, que apesar de
complementares, são melhor entendidos individualmente:
1. Demanda e potencial hídrico:
• Com relação à navegação: o rio Capim tem sido navegado, desde épocas bem anteriores,
por pequenas embarcações para transportes de passageiros e para abastecimento das
populações dispersas ao longo do rio; juntamente a navegabilidade do rio Guamá (do qual é
afluente o rio Capim) garante o acesso direto a Belém e ao transporte marítimo, ressaltando
assim a vocação natural deste rio como hidrovia.
• Abastecimento humano, dessedentação de animais e lançamento de efluentes: representam
uma demanda significativa, uma vez que dos 7 municípios componentes, 5 apresentam sua
sede na bacia, todas localizadas em sua margem ou em seus tributários.
• Irrigação: as atividades agrícolas se encontram em expansão na região, em detrimento ao
retrocesso da atividade madeireira (Tabela 12).
139
Figura 74. Distribuição dos municípios na bacia do rio Capim.
140
Figura 75. Sistema viário da bacia do rio Capim.
141
2. Relevância econômica: o interesse comercial na bacia do Capim foi despertado pela
descoberta de ricas jazidas de caulim e de bauxita. No Pará estão contidas cerca de 53% das
reservas nacionais; no município de Ipixuna – PA, encontram-se 99% de toda reserva
paraense, correspondendo a 7% de toda reserva mundial. O caulim da região do médio Capim
começou a ser pesquisado em 1968 e, a partir daí, várias jazidas passaram a ser utilizadas pela
indústria cerâmica do Estado do Pará.
Algumas das principais jazidas encontram-se às margens do rio. As reservas totais de
caulim de toda a área da região do rio Capim foram estimadas em 590 milhões de toneladas,
das quais cerca de 237 milhões constituem a reserva medida (AHIMOR, 2003; SEPROD,
2006).
Tabela 12. Atividades econômicas predominantes em cada município da bacia do rio Capim.
Município Atividades
Aurora do Pará Agricultura, pecuária e extrativismo
Ipixuna do Pará Exploração de caulim, cultivo de mandioca extração de madeira
Paragominas Exploração agropecuária e extração e processamento de madeira
São Domingos do Capim Exploração da pecuária e agricultura de subsistência
Goianésia do Pará Agricultura, pecuária e extrativismo
Rondon do Pará Agricultura, pecuária e extrativismo
Dom Eliseu Agricultura, pecuária e extrativismo
Fonte: Projeto Executivo da Hidrovia do Capim. AHIMOR. 2003.
142
últimos anos o maior fluxo populacional, dada a abertura para novas oportunidades de
investimentos e ofertas de terras (Tabela 13).
Segundo Kempel et al (2001) o processo histórico de ocupação humana e
urbanização da Amazônia, não se deu linearmente, o contexto político e econômico ao longo
do tempo foram determinantes destas flutuações. Atualmente, a urbanização da região
encontra-se em fase de estruturação, caracterizando-se ainda como uma região de "fronteira",
onde a dinâmica das cidades ainda é muito intensa e estável, incluindo o surgimento de novos
assentamentos urbanos.
143
20.000 habitantes. Como resultado, obteve-se a concentração dos núcleos urbanos ao longo
dos eixos fluvial e viário, desenhando um macrozoneamento regional (BECKER, 1999).
Os municípios predominantes na composição do Baixo - Médio rio Capim são:
Ipixuna do Pará, Aurora do Pará e São Domingos do Capim. Enquanto que os predominantes
no Alto rio Capim são: Paragominas, Goianésia do Pará, Rondon do Pará e Dom Eliseu
(Figuras 76, 77 e 78).
Os trabalhos que remontam sua história são escassos e incompletos, pela falta de
detalhamento das informações. Para esta abordagem foram consultadas como fontes: Pará
(2003), Pará (2005); Ribeiro (1990); IDESP (1998); Trindade & Uhl (1998); Becker (1999);
IBGE (2000, 2004) e Kempel et al. (2001). Estas são resumidamente apresentadas abaixo:
Baixo - Médio rio Capim: São Domingos do Capim
O Município de São Domingos do Capim localiza-se na foz da bacia do Capim, com sua sede próxima a
desembocadura do rio. O rio Capim serve de limite natural com Paragominas, na porção sul do Município,
percorrendo-o no sentido sudeste-nordeste e, depois sul-norte, até a sede Municipal. O rio Guamá, por sua vez,
faz limite natural, ao norte, com o Município de São Miguel do Guamá. Citam-se ainda como limites ao leste,
Irituia e Mãe do Rio; ao sul, Rondon do Pará e a oeste, Moju, Tailândia, Tomé-Açu, Bujarú e Concórdia do
Pará.
Sua história está vinculada às incursões realizadas pelos portugueses ao interior do Estado, durante os
tempos da Colônia, utilizando, para tais empreendimentos, os cursos dos rios Guajará, Guamá e Capim. A
localização geográfica da sede, por se encontrar, precisamente, na confluência de rios navegáveis, favoreceu
uma intensa atividade econômica e comercial. Mas, o que resultava numa vantagem natural, também
provocava momentos de angústia para seus habitantes, considerando que, por achar-se cercada de terrenos
baixos, sua extensão territorial ficava diminuída, por efeito das enchentes e da própria erosão das suas escassas
terras altas.
Em 1943, com a nova divisão territorial do Estado, a área territorial desse município sofreu uma primeira
redução para aumentar o patrimônio jurisdicional de São Miguel do Guamá, e também para permitir o
nascimento de Bujarú, que, originalmente, era distrito de São Domingos do Capim, pela Lei nº 4.505, de 30 de
dezembro de 1943, igualmente, a denominação desse município passou a ser unicamente Capim, outorgando-
lhe tão somente como patrimônio o seu distrito-sede. Mais adiante, no ano de 1955, outra parte do seu território
foi desmembrada para possibilitar o surgimento do Município de Santana do Capim, fato que, em 1956, foi
anulado. Em 1965, desta vez, ocorreu um novo desmembramento para concretizar o nascimento do Município
de Paragominas.
Atualmente é um dos municípios do Pará com forte apelo turístico, marcado principalmente pelo fenômeno
da pororoca. Tendo estado nos atuais planos de Governo, com a viabilização da Hidrovia Guamá – Capim, que
corresponde a uma nova rota de escoamento do Estado além das vias terrestres já exploradas.
144
Figura 76. Sede municipal de São Domingos do Capim.
145
Baixo – Médio rio Capim: Aurora do Pará
O Município de Aurora do Pará localiza-se no baixo Capim, estando sua sede municipal nos limites da
bacia, limita-se ao norte com o Município de São Domingos do Capim; ao sul com o Município de Ipixuna do
Pará; a leste com os Municípios de Mãe do Rio e Capitão Poço; e a oeste Município de Tomé-Açu e São
Domingos do Capim. Foi desmembrado dos Municípios de Irituia e São Domingos do Capim. Em 26 de outubro
de 1990, a Prefeitura de Irituia através do Ofício nº 080/90, comunica que a área territorial que constituía
posse de vila Aurora passaria a pertencer efetivamente a São Domingos do Capim. A emancipação do
Município de Mãe do Rio foi um fator que acelerou decisivamente o desejo emancipacionista dos aurorienses, o
que se deu em conjunto com os outros 22 Municípios, em dezembro de 1991.
146
Alto rio Capim: Dom Eliseu
O Município de Dom Eliseu compõe região de nascentes da bacia do rio Capim. Pertencendo tanto a bacia
do Capim quanto a bacia do Gurupí (médio curso). O rio Gurupí serve de limite com o Estado do Maranhão.
Outro rio importante é rio Sarapeú, e seu afluente o córrego do Mutum, que se localizam na porção oeste do
Município e possuem direção sul-norte, separando Dom Eliseu de Rondon do Pará. A sede Municipal fica fora
da bacia do rio Capim. Limita-se ao norte com os Municípios de Paragominas e Ulianópolis; ao sul e a leste
com o Estado do Maranhão e com o Município de Rondon do Pará; e a oeste com os Municípios de Rondon do
Pará e Goianésia do Pará. A origem de Dom Eliseu está relacionada ao Município de Paragominas, pois Dom
Eliseu pertencia aquele Município, como povoado, com o nome de Felinto Muller, até que, em 14 de setembro
de 1983, foi elevado á categoria de distrito, com o nome de Dom Eliseu. Em 10 de maio de 1989, através da Lei
Nº 5.450, Dom Eliseu passou á condição de Município, sendo seu território desmembrado do município de
Paragominas.
148
centros e principalmente das vias de escoamento e fluxo de mercadorias e pessoas, tanto por
terra quanto pelos seus rios.
A colonização do município de Paragominas se acelerou no início da década de 70,
com a abertura da rodovia Belém-Brasília, que o atravessa de Norte a Sul. Como ocorreu em
quase toda a Amazônia, aproveitar os recursos naturais através da mineração e da exploração
da madeira e valorizar as áreas assim desmatadas com a criação de gado de corte foram os
dois principais motivos da colonização da região.
Desta forma, nos 25 últimos anos, muitos fazendeiros, pecuaristas e madeireiros,
originários principalmente do sudeste, se instalaram em Paragominas, e ocupam atualmente
cerca de 96% dos 14.338 km2 do município. A agricultura familiar que se encontra totalmente
inserida entre as fazendas, é formada por pequenos agricultores, que vieram de outras regiões
do país para Amazônia com objetivos de adquirir terra e assim melhorar as condições de vida.
Nos últimos anos, notaram-se várias migrações internas no Nordeste Paraense em
conseqüência do processo de reorganização da ocupação do espaço rural, confirmando a
característica de fronteira agrícola (GUIA et al, 1997).
Em 1988, 34% da cobertura vegetal de Paragominas estava alterada, como resultado
das principais atividades praticadas no seu domínio. Da sua área total, 1.600.000 hectares
estavam cobertos de floresta natural; 242.000 hectares eram florestas exploradas pela
atividade madeireira; 263.000 hectares estavam cobertos por capoeira; enquanto 352.000
hectares eram áreas abertas dedicadas à atividade agropecuária (TRINDADE & UHL, 1998).
Nas últimas décadas, 80% das terras de Paragominas têm sido controladas por
pecuaristas; os madeireiros possuem 16% do município e o restante pertence aos pequenos
agricultores. Os pecuaristas estão envolvidos com a atividade madeireira através da venda do
direito de exploração de suas florestas, ou ainda eles próprios realizam a exploração. Ao
mesmo tempo, os madeireiros estão comprando áreas de floresta para garantir um estoque
futuro de madeira (TRINDADE & UHL, 1998).
Berardo et al (1998) indicam que tem havido uma exaustão dos recursos naturais do
estado, exatamente no trecho ocidental, onde se encontra a bacia do Capim. Resultante da
concentração potencial de atividades econômicas, migração populacional e do potencial
natural da região (destacando o mineral).
149
Este processo gerou intensas mudanças das formas tradicionais de exploração
econômica, induzidas principalmente por uma agressiva política de transportes centrada no
rodoviarismo, reforçada pela política de incentivos fiscais; acompanhado pela expansão da
agropecuária e da exploração madeireira, consolidando de um lado, expressivas
transformações sócio-econômicas e espaciais e de outro, um modelo de exploração dos
recursos naturais altamente comprometedor da sustentabilidade ambiental e social do Estado.
Tal situação, somente poderá ser resolvida com um redirecionamento de políticas
públicas, que alterem o processo, histórico, de exploração dos recursos naturais que tem se
desenvolvido na região.
150
O processo de ocupação, apesar dos atores participantes serem conflitantes, mostra
uma perfeita sintonia entre os diversos segmentos. Os ocupantes constituem uma garantia de
oferta de terra para os mais capitalizados; havendo um processo de substituição, quer seja
apoiada nos recursos naturais, nos incentivos econômicos ou na criação de novas alternativas.
Em termos de gestão dos recursos hídricos da bacia, estes devem se compatibilizar
ao potencial natural da mesma e resgatar, com projetos de recuperação e monitoramento, as
conseqüências produzidas ao longo dos últimos 15 anos na bacia, a fim de garantir seus usos
múltiplos, que é o fundamento principal da Política Nacional (Lei N° 9.433/1997) e Estadual
(Lei N° 6.381/2001).
80000
70000
50000
Habitantes
Aurora do Pará
40000
10000
0
População 1991 População 1996 População 2000
Desta forma Aurora do Pará e Ipixuna do Pará, tiveram seu início pautado em uma
forte dependência com São Domingos do Capim, e ao mesmo tempo, foram receptores de
151
todo fluxo migratório, ao longo da Belém – Brasília, criando uma formação sócio-econômica
heterogênea devida à multiplicidade de influência desde os dois processos de ocupação: da
colonização mais antiga, tradicional, hidroviária e a da recente pela expansão das vias
terrestres de acesso, possibilitando a maior interligação com os solos interioranos.
No Alto Capim, mesmo considerando Paragominas como o município mais antigo, e
Goianésia o mais recente, os municípios de Dom Eliseu e Rondon do Pará, foram os que mais
se destacaram em termos de crescimento populacional. Tendo sofrido grande influência dos
eixos viários que interligam o SE do Estado a capital Belém (Figura 80).
200000
180000
160000
Rondon do Pará
140000
Dom Eliseu (*)
Habitantes
120000
40000
20000
0
População 1991 População 1996 População 2000
Figura 81. Distribuição dos projetos de colonização e dos assentamentos na Amazônia Legal.
Os projetos de colonização englobam aqueles ao longo das rodovias Transamazônica e
Cuiabá-Santarém. A área destacada ( □ ) representa a de influência da bacia do rio Capim.
Fonte: Alencar et al (2004).
153
Pode-se notar, ainda, que há, nestes municípios, habitantes provenientes de outros
países, apesar de serem em número muito reduzido. A motivação para a migração da
população é à busca de empregos e melhores condições de vida, fato propiciado pelo
desenvolvimento de algumas atividades econômicas nestes municípios, tais como a
silvicultura e alternativas de produção agrícola.
154
Tabela 14. Atividade de criação de animais nos municípios componentes da bacia do rio
Capim.
Total
Rebanhos São Total –
Aurora Ipixuna (Baixo - Goianésia Dom Rondon
(n° de Domingos Paragominas (Alto
do Pará do Pará Médio do Pará Eliseu do Pará
cabeças) do Capim Capim)
Capim)
Bovinos 11200 25400 64200 100800 495000 60000 61732 136144 752876
Porcos 7600 6400 6800 20800 8062 8000 2277 7420 25759
Aves 78300 52350 71700 202350 27590 88000 11591 34310 161491
Eqüinos 1200 1180 2400 4780 2800 2700 2415 4950 12865
Bubalinos 8 100 210 318 892 ----------- 143 265 1300
Asininos 100 125 250 475 179 60 402 1690 2331
Muares 390 250 900 1540 1680 850 471 2650 5651
Caprinos 180 320 355 855 2016 200 690 1620 4526
Ovinos 790 1990 1605 4385 2875 800 805 1990 6470
Aves: galinhas, codornas, galos, frangas, frangos e pintos.
150.000
Rondon do Pará
100.000
50.000
0
bovinos porcos aves eqüinos bubalinos asininos muares caprinos ovinos
200.000
Total - BMC
rebanhos (n° de cabeças)
150.000 Total - AC
100.000
50.000
0
bovinos porcos aves eqüinos bubalinos asininos muares caprinos ovinos
155
Tabela 15. Atividade de criação de bovinos na bacia do rio Capim.
Municípios São Aurora Ipixuna Total Total Total
Goianésia Dom Rondon
Domingos do do Paragominas
do Pará Eliseu do Pará
do Capim Pará Pará
Ano Valor (ton) BMC AC Bacia
1995 Bovinos 33.351 21.100 37.100 70.451 450.000 40.050 75.150 181.918 40.050 110.501
1999 Bovinos 11.200 25.400 64.200 75.400 495.000 60.000 61.732 136.144 555.000 630.400
2003 Bovinos 15.984 61.810 97.882 61.810 400.877 75.800 124.910 292.290 768.967 830.777
900000
800000
700000 Baixo -Médio Capim
600000 Alto Capim
500000
ton
Bacia
400000
300000
200000
100000
0
1995 1999 2003 ano
400000
ton
300000
200000
100000
0
1995 1999 2003 ano
156
Tabela 16. Atividade de criação de bovinos na bacia do rio Capim: participação no percentual
total da criação, entre 1995 e 2003.
% de contribuição - criação bovina Baixo -Médio Capim Alto Capim Bacia
Ano Valor (ton) % Valor (ton) % Valor (ton)
1995 70451,00 63,76 40050,00 36,24 110501
1999 75400,00 11,96 555000,00 88,04 630400
2003 61810,00 7,44 768967,00 92,56 830777
50
40
30
20
10
0
1995 1999 2003 ano
157
Segundo o Macro Zoneamento Econômico Ecológico do Estado do Pará (Lei nº
6.745, de 6 de maio de 2005) o eixo oriental do Estado está destinado à expansão das
atividades produtivas, dentre estas está à pecuária que ocupa extensas áreas. A bacia do rio
Capim apresenta os reflexos desta abertura, principalmente quando é observado o percentual
de áreas desmatadas e destinadas a pasto, formando uma extensa faixa que a atravessa de
forma N-S, indiscriminadamente a manutenção das micro-bacias locais.
b. Produção agrícola
A produção agrícola é diversificada, ressaltando a produção de grãos (arroz, milho,
soja) e de mandioca. São destacados os municípios de Aurora do Pará no Baixo – Médio
Capim e Dom Eliseu e Paragominas no Alto Capim (Figuras 83, 84 e 85).
Estes se diferenciam, enquanto Dom Eliseu e Paragominas apresentam uma produção
diversificada e aproximadamente equilibrada; em Aurora do Pará, a monocultura é forte,
principalmente entre as pequenas propriedades (Tabelas 17 e 18).
Paragominas
6000
Goianésia do Pará
Dom Eliseu
4000
Rondon do Pará
2000
0
Algodão Amendoim Arroz Feijão Mandioca Milho Soja Abacaxi Melancia
158
Tabela 18. Produção agrícola na bacia do rio Capim: arroz e mandioca.
Municípios 1995 2000 2004 1995 2000 2004
Aurora do Para 1.080 810 585 4.400 6.090 4.320
Dom Eliseu 7.500 5.400 14.925 3.250 6.750 39.180
Produção Goianésia do Para 1.800 2.160 2.040 Produção 360 350 240
de arroz Ipixuna do Para 1.920 3.330 900 de milho 4.992 6.400 7.302
(ton) Paragominas 2.835 18.480 31.767 (ton) 2.688 46.200 60.450
Rondon do Para 960 12.750 7.700 720 4.000 11.406
São Domingos do Capim 108 108 65 3.280 1.995 2.185
Bacia - Total 16.203 43.038 57.982 19.690 71.785 125.083
100000
80000
ton
60000
40000
20000
0
Aurora do Pará Dom Eliseu Goianésia do Ipixuna do Paragominas Rondon do São Domingos Bacia
Pará Pará Pará do Capim
600.000
500.000
400.000
300.000
200.000
100.000
0
1996 2000 2004
159
Figura 83. Infra-estrutura para produção de grãos em Paragominas.
12000
10000 Paragominas
Don Eliseu
8000
ton
6000
4000
2000
0
ano
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
c. Extrativismo vegetal
O extrativismo vegetal é um elemento historicamente modificador da paisagem, em
virtude de seu próprio processo de ocupação, que teve como um dos elementos de atração, a
exploração madeireira. Não se detendo em um retrospecto da situação, para esta análise,
161
empregaram-se os dados de 2000 e 2002 disponibilizados pelo IBGE, para avaliar em termos
de quantidade e valor agregado.
Estes mostram que a produção madeireira continua relativamente alta na região, mas
sofreu uma queda de 2000 para 2002. A ausência desta informação em Paragominas (retirada
de madeira em tora), não permite avaliar como esta queda se manifestou neste município.
Os dados são referentes apenas à produção de lenha, que passou de 16910 m3, em
2000, para cerca de 1000.000 m3, em 2002. Valores extremamente altos de produção são
também encontrados também para o carvão vegetal (Figuras 86, 87 e 88).
900,00
ANO - 2000
800,00
700,00 ANO - 2002
Madeira em tora (Ton)
600,00
500,00
400,00
300,00
200,00
100,00
0,00
São Domingos Aurora do Pará Ipixuna do Pará Paragominas Goianésia do Rondon do Pará Dom Eliseu
do Capim Pará
Figura 86. Produção de lenha nos municípios componentes da bacia do rio Capim.
(b)
(c)
Figura 88. Ações conseqüentes do extrativismo vegetal: (a) pátio de madeira; (b) carvoaria; e
(c) áreas de reflorestamento.
163
d. Atividade Mineral
A extração de material para construção civil (areia principalmente) é amplamente
realizada na bacia, de forma difusa e irregular, inclusive no leito do rio, as conseqüências são
a geração e o agravamento de feições erosivas. O caulim, nos Municípios de Irituia e São
Domingos do Capim, começou a ser pesquisado em 1968 (AHIMOR, 2003). A produção
destina-se, em parte, ao consumo nacional, nas indústrias de papel e borracha e, em parte, à
exportação para as referidas indústrias e para a indústria de fiberglass (fibra de vidro).
O caulim calcinado é utilizado como produto refratário e, finamente, granulado para
coating de papel especial. As reservas totais de caulim no Estado do Pará foram medidas em
mais de 300 milhões de toneladas, das quais a maior parte encontra-se na região do rio Capim.
Das jazidas são extraídas cerca de 600.000 toneladas por ano (SEPROD, 2006). A bauxita é
outro importante minério explorado na bacia do rio Capim, destacando-se a região de
Paragominas e em menor participação São Domingos do Capim (Tabela 19, Figuras 89 e 90).
Esta região concentra cerca de 500 milhões de toneladas, quase metade do potencial medido
do Estado (SEPROD, 2006).
(b)
Figura 89. Áreas de extração de material para construção civil, abertas de forma irregular:
(a)ativa; (b)abandonada.
165
Figura 90. Ocorrências minerais na bacia do rio Capim.
166
4.3.3.2 Usos Atuais da Água
Os usos múltiplos das águas na bacia do rio Capim são caracterizados por atender a
expansão da agricultura, os processos industriais de minério, as atividades produtivas, bem
como a população em geral.
Como usualmente ocorre em comunidades ribeirinhas a água nestes municípios é
utilizada como meio de transporte, tanto de passageiros como mercadorias; para incremento
de renda e alimentação, com a pesca; para lazer em áreas informais e formais; para
dessedentação de animais e para abastecimento doméstico, tanto em comunidades rurais como
urbanas. Nas áreas urbanas a água tem a função, além das acima citadas, de diluir os
efluentes, considerando que o tratamento de esgoto nestes municípios é muito reduzido.
As bacias dos rios Potiritá, Jacamim e Candiru-Açu, são as que mais concentram
núcleos de ocupação, sendo visível sua intervenção e alteração no sistema de drenagem da
bacia, seja com redução da área drenada, seja pelo assoreamento de canais e de nascentes
(Figura 91).
A hidrovia Guamá-Capim tem seu curso coincidindo exatamente com as sub-bacias
mais degradadas, devendo ter acoplado a si um plano de gestão de forma a não agravar a
situação, já que passará a constituir um eixo viário formado pela PA 140, Hidrovia e BR 010,
de forte atrativo populacional e de implementação do setor produtivo.
Desta forma, para garantir os usos múltiplos das águas, é necessário que o plano
diretor da bacia trate de forma diferenciada as diversas bacias afluentes, atendendo as
demandas locais, relevantes às economias municipais e ao balanço hídrico e a manutenção
dos sistemas ecológicos da bacia.
168
Figura 92. Traçado dos minerodutos que atraveçam a bacia do rio Capim (Fonte:
MINERODUTO – RIMA, 2003).
169
O direcionamento para o manejo das áreas de maior necessidade de preservação da
bacia ficaria para ser definido no detalhamento do MZEE, que é a médio e longo prazo;
deixando assim um forte ponto de vulnerabilidade que permite a expansão imediata de
determinados setores produtivos, em função tanto do atraso na implementação da política
estadual de recursos hídricos quanto na execução de seu ZEE.
(a)
(b)
Figura 93. Usos múltiplos: (a) travessia e navegação comercial; (b) lançamento de efluentes.
170
(a)
(b)
(c)
Figura 94. Usos múltiplos: (a) sinalização voltada à navegação; (b) turismo e lazer; (c)
abastecimento público.
171
4.4 ANÁLISE DO SISTEMA
4.4.1 Definição do questionamento condutor
O questionamento que conduzirá a análise do sistema para a obtenção dos objetivos
propostos é: Quais as variáveis que favorecem ou não a manutenção do sistema hídrico da
bacia do rio Capim? Ou seja, quais os atributos identificados durante o diagnóstico que mais
contribuem para a manutenção positiva do balanço hídrico da bacia, e quais os mais sensíveis
às mudanças que ocasionam redução de seu potencial. Para esta identificação foram
detectadas variáveis - chave, baseando-se no pressuposto da existência de um relacionamento
entre as variáveis do sistema.
MÉTODO DE TRABALHO
Análise do problema e
delimitação do sistema
Definição do questionamento Estruturação matricial das
condutor informações Diagnóstico
do sistema
Quais as variáveis que Procedimentos de análise
favorecem ou não a
manutenção do sistema hídrico Análise
da bacia do rio Capim? estrutural
Definição da
dinâmica e evolução
Fatores climáticos Fatores do perfil de
alteração
172
Considerando que o sistema se apresenta sob a forma de um conjunto de elementos
(variáveis) é possível identificar suas relações qualitativas, quantificáveis ou não, que o
caracterizem, por meio da designada análise estrutural.
28. Navegação – Nv
29. Turismo e Lazer – Tl
30. Demografia – Dmg
Ocupação 31. Índice de desenvolvimento humano – Idh
territorial 32. Potencial de ocupação territorial – Pot
33. Infra - estrutura viária – Iev
34. Sistema de abastecimento de água – Sabas
Uso e gestão 35. Saneamento básico – Sb
dos recursos 36. Demanda por água – Da
hídricos 37. Sistema de informação em recursos hídricos – Sirh
38. Instrumentos de gestão de recursos hídricos – Igrh
174
Definições de pesos segundo o questionamento proposto – as variáveis foram analisadas
individualmente atribuindo-se pesos conforme sua capacidade de favorecer ou não a
manutenção do sistema hídrico da bacia (Tabela 22).
176
Figura 96. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim segundo as variáveis climáticas.
177
Como resultado obteve-se:
Jamanxim -
Cajueiro - Candiru - Carataua - Palheta -
Variáveis Unidades de terreno Ararandeua - Surubiju Itaquiteua
Pirajoara Açu Açu Jari
Grande
Geologia 3 3 3 3 3 3
Perfil de Solos 3 3 3 3 3 3
alteração
Dinâmica do
4 3 3 4 4 2
sistema
Figura 97. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim segundo as variáveis que
caracterizam o perfil de alteração.
178
c. Fatores de caracterização do modelo de terreno
Foram definidas as principais classes e identificada sua relevância, considerando as
categorias que favorecem: o escoamento superficial e a infiltração (↑); o assoreamento e a
erosão (↓) (Tabela 25).
179
Figura 98. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim segundo as variáveis que
caracterizam o modelo de terreno.
180
Como os dados de fluviometria empregados não permitem uma avaliação por
unidade de terreno (UT), nela se considera a bacia como um todo, avaliando-se as partes
componentes somente por meio da pluviometria.
181
500
450
Palheta - Jarí
Cajueiro - Pirajorara
400
Candiru Açú
350
Carataua Açú
300 Jamanxim - Itaquiteua Grande
mm
1200
31700000 (Badajós, 1971 - 2002)
1000 31680000 (Faz. Maringá, 1982 - 2003)
31650000 (Tauiri, 1977 - 1988)
800
600
m /s
3
400
200
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Fluviometria da bacia do rio Capim - Série histórica - Média mensal
(b)
Figura 99. (a) Pluviometria; e (b) Fluviometria na bacia do rio Capim.
Sistemas Dd 3 4 4 3 3 5
hídricos Dr 1 2 3 2 1 2
Quantidade de água superficial 2 3 2 2 2 3
Quantidade de água subterrânea 3 3 3 3 3 3
Qualidade da água 3 3 3 3 3 3
182
Figura 100. Distribuições das estações pluviométricas e fluviométricas na bacia do rio Capim.
183
A Figura 101 ilustra o resultado considerando as categorias da Tabela 22 e a média
do comportamento segundo as variáveis que caracterizam o sistema hídrico, para a avaliação
da disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim:
Jamanxim
Ararandeua Cajueiro - Candiru Carataua Palheta
Unidades de terreno - Itaquiteua
Variáveis - Surubiju Pirajorara - Açu - Açu - Jari
Grande
Média 3 3 3 3 3 3
Figura 101. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim segundo as variáveis que
caracterizam os sistemas hídricos.
184
e. Fatores de caracterização da cobertura vegetal
Foram definidas as principais classes e identificada sua relevância, quanto à
ocorrência de cobertura vegetal, fundamental à preservação da bacia (Tabela 28).
Associado a este foi avaliado o percentual de área com ausência de cobertura vegetal,
representado pelos índices: Percentual de área sem cobertura vegetal (Pcv) e Grau de
cobertura das matas ciliares e das nascentes (Gmcn). O Pcv para cada sub-bacia foi definido
com base no percentual de área com manchas características de ausência de cobertura vegetal.
O método empregado foi dividir a área em quadrantes e calcular o percentual de manchas
presentes em cada quadrante, a figura abaixo mostra em todos os casos 50% de área coberta
(Figura 102).
(a) (b)
(c) (d)
Figura 102. Divisão da área em quadrantes, para o cálculo do percentual de manchas
presentes.
185
O Gmcn tem por base a Lei 4.771/1965 e CONAMA 303/2002, que disciplinam o
uso dos recursos florestais, caracterizando as Áreas de Preservação Permanente (APP - poder
público proíbe ou restringe sua utilização por serem áreas consideradas importantes em
função de seus aspectos ecológicos) e as Áreas de Reserva Legal (ARL – onde o poder
público disciplina o uso da propriedade rural, reservando uma parcela desta onde o corte raso
não é permitido).
As APP´s identificadas na área correspondem às faixas ao longo dos rios ou de
qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:
APP (m) Cursos d'água - largura (m)
30 < 10
50 10 – 50
100 50 – 200
200 200 – 600
500 > 600
186
Tabela 29. Pesos atribuídos as variáveis que caracterizam o Percentual de área sem cobertura
vegetal (Pcv) e o Grau de cobertura das matas ciliares e das nascentes (Gmcn).
Pcv (Percentual de área sem cobertura vegetal) Gmcn (Grau de cobertura das matas ciliares e das nascentes)
Classe (%) Peso Classe (%) Peso
< 10 5 < 10 1
10 – 20 4 10 – 20 2
20 – 30 3 20 – 30 3
30 – 40 2 30 – 40 4
> 40 1 > 40 5
187
f. Fatores de caracterização dos sistemas produtivos
1) Potencial mineral: representa uma avaliação pontual dos locais onde estão ocorrendo
exploração mineral na bacia, e o potencial de dragagem do leito do rio, principalmente
de areia. Tendo sua forma de definição baseada, na localização dos pontos atuais e
futuros de extração mineral e o estabelecimento de eqüidistâncias em torno destes
(buffers) de 1, 2 e 3 km, avaliando sua proximidade com os cursos drenantes da bacia:
% de pontos de ocorrência de Pm
(Potencial mineral)
Classes Pesos
< 1 km 2
1 - 2km 3
2 - 3km 4
> 3km 5
Figura 103. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim segundo as variáveis que
caracterizam a cobertura vegetal.
188
2) Área de influência direta da hidrovia: como a implantação da hidrovia Guamá –
Capim é um fator relevante à gestão dos recursos hídricos locais; é estabelecia uma
zona de eqüidistância (buffer) de 2 km, considerada como Área de Influencia Direta da
Hidrovia (AIDH):
AIDH (Área de influencia direta da hidrovia)
Classes Pesos
Dentro da faixa de 2 km 5
Fora da faixa de 2 km 1
3) Agricultura irrigada: não foram encontrados nem nos trabalhos de campo, nem no
referencial bibliográfico indícios de prática de agricultura irrigada de grande porte,
portanto consideraram-se apenas duas categorias:
Agricultura irrigada
Classes Pesos
Não é praticada 5
É praticada 1
5) Indústria: com base nos dados identificados na literatura e nos coletados em campo,
foram identificadas as áreas de maior atividade industrial (empresas mineradoras,
madeireiras), considerando também o entorno das sedes municipais. Estas foram
avaliadas em função de sua proximidade com os cursos drenantes da bacia, tomando
como base o estabelecimento de eqüidistâncias (buffers) em torno de 1, 2 e 3 km:
189
Percentual de concentração da atividade industrial, em uma faixa até 3
km de distância dos cursos drenantes da bacia.
Classe (%) Peso
< 10 5
10 – 20 4
20 – 30 3
30 – 40 2
> 40 1
190
7) Navegação: o escoamento da produção dos municípios componentes da bacia do rio
Capim é feito por rodovias e pelos rios, estes últimos considerados como vias
tradicionais na região. A navegação do rio Capim é utilizada como apoio às atividades
agrícolas e pecuárias, tendo em vista a grande quantidade de fazendas dedicadas à
criação bovina; seu histórico indica que desde épocas bem anteriores já era
amplamente utilizado como via de transporte, por pequenas embarcações para
transportes de passageiros e para abastecimento das populações dispersas ao longo do
rio. Desta forma, na identificação de seu potencial à navegação, foram avaliadas as
regiões onde ela é ou tem perspectiva de ser desenvolvida e aquelas em que não é ou
apresenta limitações:
Potencial à navegação
Classes Pesos
Muito bem desenvolvido 5
Bem desenvolvido 4
Moderadamente desenvolvido 3
Pouco desenvolvido 2
Muito pouco desenvolvido 1
191
Como resultado obteve-se:
Potencial mineral
% de pontos de Ararandeua - Cajueiro - Candiru - Carataua- Jamanxim -
Palheta - Jari
ocorrência Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande
< 1 km 2 2 - - - 2
1 - 2km - - 3 - 3 -
2 - 3km - - - - 5 -
> 3km 5 - - - 5 -
Hidrovia
Ararandeua - Cajueiro - Candiru - Carataua- Jamanxim -
Influência do traçado da Palheta - Jari
Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande
hidrovia
1 5 5 5 1 5
Agropecuário e extrativismo vegetal
% de áreas destinadas em
uma faixa até 3 km de Ararandeua - Cajueiro - Candiru - Carataua- Jamanxim -
Palheta - Jari
distancia dos cursos Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande
drenantes da bacia.
até 1 km - SE 2 3 1 3 1 2
1 a 2 km - SE 3 3 3 3 3 2
2 a 3 km - SE 4 3 4 3 4 3
> 3km 4 3 5 4 4 4
Agricultura irrigada
Ararandeua - Cajueiro - Candiru - Carataua- Jamanxim -
% de atividade Palheta - Jari
Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande
desenvolvida
5 5 5 5 5 5
Indústria
% de áreas em uma faixa Ararandeua - Cajueiro - Candiru - Carataua- Jamanxim -
Palheta - Jari
até 3 km de distancia dos Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande
cursos da bacia. 3 4 4 5 3 5
Pesca
Ararandeua - Cajueiro - Candiru - Carataua- Jamanxim -
Área de abrangência Palheta - Jari
Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande
4 3 2 4 4 2
Navegação
Ararandeua - Cajueiro - Candiru - Carataua- Jamanxim -
Área de abrangência Palheta - Jari
Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande
4 3 2 4 4 2
Turismo e Lazer
Ararandeua - Cajueiro - Candiru - Carataua- Jamanxim -
Potencial Palheta - Jari
Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande
3 3 4 4 3 2
192
Figura 104. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim segundo as variáveis que
caracterizam os sistemas produtivos locais.
193
Percentual total da população residente na bacia, pela área
de cada município componente.
Classes (%) Pesos
<5 5
5 – 10 4
10 – 15 3
15 – 20 2
>20 1
2) Índice de desenvolvimento humano: este índice foi usado com a finalidade de associar,
mesmo indiretamente, as condições de sustentabilidade social a hídrica. Quanto
menores os problemas de degradação social, também serão menores seus efeitos sobre
os sistemas hídricos locais. Para considerar o IDH usou-se de uma extrapolação, assim
para a bacia foram considerados os valores de seus municípios componentes na forma
de uma média, resultando assim em uma avaliação aproximada:
IDH
Classes Pesos
<=0.2 1
02 - 0.4 2
0.4 - 0.6 3
0.6 - 0.8 4
>0.8 5
4) Infra - estrutura viária: nesta avaliação foi estabelecia uma zona de eqüidistância
(buffers) de 1, 2 e 3 km, em torno das principais vias de acesso e avaliada sua
influência sobre a rede de drenagem local:
194
Influência do sistema viário sobre a rede de drenagem
Classes Pesos
< 1 km 2
1 - 2km 3
2 - 3km 4
> 3km 5
196
‘Percentual de atendimento com relação ao abastecimento de água
Classes Pesos
<20% 1
20 – 40% 2
40 – 60% 3
60 – 80% 4
>80% 5
Percentual de atendimento com relação ao saneamento básico
Classes Pesos
<20% 1
20 - 40% 2
40 - 60% 3
60 - 80% 4
>80% 5
2) Demanda por água: com base nas informações obtidas nos itens que representam uso
direto das águas (indústria, agropecuária, abastecimento) foi avaliado de forma
qualitativa um grau de demanda segundo cada região:
Grau de demanda por água
Baixo 4
Moderado 3
Alto 2
197
Como resultado obteve-se:
Percentual de atendimento com relação ao abastecimento de água
Jamanxim –
Ararandeua – Cajueiro – Candiru - Carataua- Palheta –
Itaquiteua
Surubiju Pirajoara Açu Açu Jari
Grande
São Domingos do
- 2 - - - 2
Capim
Aurora do Pará - 2 2 - 2
Ipixuna do Pará 2 2 2 2 2 -
Paragominas 2 2 2 2 2 -
Goianésia do Pará 1 - - -
Dom Eliseu 4 - - -
Rondon do Pará 4 - - -
Percentual de atendimento com relação ao saneamento básico
Ararandeua - Cajueiro – Candiru - Carataua- Jamanxim – Palheta -
Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande Jari
São Domingos do
- 1 - - - 1
Capim
Aurora do Pará - 1 1 - - 1
Ipixuna do Pará 1 1 1 1 1 -
Paragominas 1 1 1 1 1 -
Goianésia do Pará 1 - - - - -
Dom Eliseu 1 - - - - -
Rondon do Pará 1 - - - - -
Grau de demanda por água
Ararandeua - Cajueiro – Jamanxim –
Candiru - Açu Carataua-Açu Palheta - Jari
Surubiju Pirajoara Itaquiteua Grande
2 3 3 3 3 4
Atuação do sistema de informação em recursos hídricos na bacia
Ararandeua - Cajueiro – Jamanxim –
Candiru - Açu Carataua-Açu Palheta - Jari
Surubiju Pirajoara Itaquiteua Grande
1 1 3 1 3 3
Atuação dos instrumentos de gestão de recursos hídricos na bacia
Ararandeua - Cajueiro – Jamanxim –
Candiru - Açu Carataua-Açu Palheta - Jari
Surubiju Pirajoara Itaquiteua Grande
1 1 1 1 1 1
198
Figura 106. Disponibilidade hídrica da bacia do rio Capim segundo as variáveis que
caracterizam o uso e gestão dos recursos hídricos.
199
O percentual de pesos por categoria resulta em:
% de variáveis que Jamanxim –
Ararandeua – Cajueiro – Candiru Carataua Palheta –
favorecem a manutenção Itaquiteua
Surubiju Pirajoara – Açu – Açu Jari
dos sistemas hídricos Grande
Não favorecem ou muito
10,53 7,89 5,26 10,53 7,89 5,26
pouco
Pouco favorecem 15,79 7,89 13,16 10,53 10,53 21,05
Favorecem moderadamente 31,58 57,89 44,74 34,21 44,74 36,84
Favorecem altamente com
28,95 18,42 26,32 34,21 23,68 23,68
algumas restrições
Favorecem
significativamente sem 13,16 7,89 10,53 10,53 13,16 13,16
restrições
200
Tabela 30. Matriz de correlação de variáveis.
Jamanxim -
Ararandeua - Cajueiro - Candiru - Carataua - Palheta
Atributos Unidades de terreno Itaquiteua
Surubiju Pirajoara Açu Açu – Jari
Grande
Umidade – U 4 4 4 4 4 4
Temperatura – T 3 3 3 3 3 3
Classificação climática –
Climáticos 2 3 3 3 3 3
Cc
Deficiência hídrica – Dfh 1 3 2 2 2 3
Precipitação pluviométrica
2 3 2 2 2 3
– Prp
Geologia – G 3 3 3 3 3 3
Perfil de
Solos – S 3 3 3 3 3 3
alteração
Dinâmica do sistema – Ds 4 3 3 4 4 2
Geomorfologia – Gm 3 3 4 3 3 4
CATEGORIS NATURAIS
Sistemas Apev
produtivos Agricultura irrigada – Ai 5 5 5 5 5 5
Indústria – Id 3 4 4 5 3 5
Pesca – Pc 4 3 2 4 4 2
Navegação – Nv 4 3 2 4 4 2
Turismo e Lazer – Tl 3 3 4 4 3 2
Demografia – Dmg 4 5 5 5 4 5
Índice de desenvolvimento
4 4 4 4 4 4
Ocupação humano – Idh
territorial Potencial de ocupação
3 3 3 3 3 3
territorial – Pot
Infra - estrutura viária – Iev 3 3 3 3 3 3
Sistema de abastecimento
3 2 2 2 2 2
de água – Sabas
Saneamento básico – Sb 1 1 1 1 1 1
Recursos Demanda por água – Da 2 3 3 3 3 4
hídricos Sistema de informação em
1 1 3 1 3 3
recursos hídricos – Sirh
Instrumentos de gestão de
1 1 1 1 1 1
recursos hídricos – Igrh
201
Este resultado mostra que os fatores naturais são os que mais contribuem para o
equilíbrio da situação e que qualquer alteração nestes, se significativa, implicará em maior
tempo de reabilitação do sistema; e aumentando o peso da intervenção poderão ocorrer
mudanças de alto impacto e longo período de recuperação; o que evidência a necessidade de
planejamento hídrico para bacia como forma de gerenciar o grau de intervenção que a mesma
pode sofrer (Figuras 107 e 108). Os gráficos (a) e (b) ilustram a situação:
Categorias naturais
80
70 Tornam a bacia dependente de
60 fatores externos
50
Atuam moderadamente na
(%)
40
30 garantia da disponibilidade
20 hídrica da bacia
10 Garantem a sustentabilidade da
0 bacia
Ararandeua - Cajueiro - Candirú - Açú Carataua - Açú Jamanxim - Palheta - Jarí
Surubijú Pirajorara Itaquiteua
Grande
(a)
Jamanxim -
% de variáveis naturais que favorecem a Ararandeua - Cajueiro - Candiru Carataua - Palheta -
Itaquiteua
manutenção dos sistemas hídricos Surubiju Pirajoara - Açu Açu Jari
Grande
Tornam a bacia dependente de fatores externos. 24 5 10 14 14 14
Atuam moderadamente na garantia da
33 71 67 52 48 52
disponibilidade hídrica da bacia.
Garantem a sustentabilidade da bacia. 43 24 24 33 38 33
30 garantia da disponibilidade
20 hídrica da bacia
Garantem a sustentabilidade
10
da bacia
0
Ararandeua - Cajueiro - Candirú - Açú Carataua - Açú Jamanxim - Palheta - Jarí
Surubijú Pirajorara Itaquiteua
Grande
(b)
% de variáveis de intervenção antrópica que Jamanxim -
Ararandeua - Cajueiro - Candiru Carataua - Palheta -
favorecem a manutenção dos sistemas Surubiju Pirajoara - Açu Açu
Itaquiteua
Jari
hídricos Grande
Tornam a bacia dependente de fatores externos. 29 29 29 29 24 41
Atuam moderadamente na garantia da
29 41 18 12 41 18
disponibilidade hídrica da bacia.
Garantem a sustentabilidade da bacia. 41 29 53 59 35 41
202
(a)
(b)
(c)
Figura 107. (a) Zona natural de acumulação no leito do rio Capim, com alta vulnerabilidade as
modificações no processo de remoção, transporte e deposição de material pelo sistema fluvial.
Intervenções que podem gerar modificações no sistema: (b) Desmatamento de encostas; e (c)
Progressão de processos erosivos.
203
(a)
(b)
(c)
Figura 108. (a) Ocupação marginal com retirada de mata ciliar; (b) Processo avançado de
erosão com desmoronamento; (c) Assoreamento de canais.
204
Considerando o exposto por Usher (2001) a sensibilidade da paisagem (S), pode ser
traduzida como o reflexo sofrido no sistema pelas modificações impostas aos seus
componentes, com base na seguinte escala:
S Resistência, resiliência e redistribuição de energia
Sensibilidade alta: as mudanças ocorridas nas partes estão se redistribuindo uniformemente no
S=1
todo, gerando compensação de efeitos.
Sensibilidade moderada: as mudanças ocorridas nas partes estão encontrando resistência ou não
1 > S ≥ 0,1
apresentam intensidade suficiente para afetar o todo.
Sensibilidade muito baixa: as mudanças ocorridas nas partes estão encontrando forte resistência
S < 0,1
e uma rápida capacidade de recuperação (alta resiliência), não gerando mudanças na paisagem..
Isto implica no fato que a bacia do rio Capim está sofrendo mudanças e estas estão
encontrando resistência ou não apresentam intensidade suficiente para afetar o todo.
Internamente pode ser feita uma hierarquia com base nestes valores, conforme a Figura 109.
205
Figura 109. 1º Avaliação da sensibilidade da bacia à perda de potencial hídrico.
206
4.5 FORMULAÇÃO DE TENDÊNCIAS
Esta etapa utiliza o produto da análise do sistema e do diagnóstico base, sendo a
finalizadora do processo. O objetivo desta é apresentar um quadro tendencial para a bacia do
rio Capim considerando os aspectos naturais, as intervenções atuais e as possibilidades de
aproveitamento futuro, permitindo uma previsão das conseqüências destes sobre os sistemas
hídricos componentes, seja individualmente, ou compondo o conjunto da bacia (Figura 110).
MÉTODO DE TRABALHO
Análise do problema e
delimitação do sistema
Definição da
dinâmica e evolução
Perfil de demandas atuais e Identificação de estratégias
perspectivas futuras Definição de cenários
ambientais
Admitindo o Cenário 1
Avaliação da sensibilidade da
bacia
Admitindo o Cenário 2
Avaliação de
tendências e eventos
207
4.5.1 Etapa nº 1: Análise do problema e delimitação do sistema
1. Definição dos principais objetivos:
Auxiliar à tomada de decisão em problemas envolvendo planejamento de recursos hídricos;
Selecionar modelos que melhor se adeqüem a estudos voltados ao planejamento dos
recursos hídricos; e
Adotar como instrumento a matriz gerencial dos recursos hídricos e a análise da paisagem,
por meio das características definidoras do seu estado e da sua dinâmica.
208
ELEMENTOS DE ANÁLISE:
38 vaiáveis indicadoras da
dinâmica do sistema.
Com os objetivos
de ...
Quais variáveis
SISTEMA HÍDRICO: Bacia do rio Capim
representam uma
instabilidade
condicional no • auxiliar à tomada de
sistema com a decisão;
SUB-BACIAS COMPONENTES:
possibilidade de • selecionar modelos que
06 UNIDADES DE TERRENO.
02 SISTEMAS DE TERRENO
209
Na análise estrutural será empregado o método MICMAC (Matrice d’Impacts
Croisés – Multiplication Appliqué à um Classement / Matriz de Impactos Cruzados –
Multiplicação Aplicada a uma Classificação), desenvolvido no LIPSOR – Laboratory for
Investigation in Prospective and Strategy (Chaire de prospective industrielle du
Conservatoire national des arts et métiers, Paris-França), por contemplar os aspectos básicos
do planejamento hídrico:
Identificação, definição das principais forças, extensão espacial e temporal do sistema;
Definição de indicadores do estágio do sistema, com geração de cenários qualitativos;
Determinação dos indicadores dos estágios do sistema no presente e no futuro;
Avaliação dos cenários.
Partindo de uma abordagem sistêmica, este método, procura identificar as variáveis
(variáveis - chaves) que expressam, sinteticamente, a realidade e, em seguida, analisa as
relações de causalidade (causa e efeito) entre as mesmas. Utilizando uma matriz quadrada,
cruza todas as variáveis entre si, atribuindo pesos que refletem a influência de cada uma sobre
todas as outras. Somando as linhas – adição de todas as influências individualizadas de cada
variável – chega-se a um resultado final que representa o poder de influência das mesmas
sobre o sistema; por outro lado, a soma das colunas apresenta uma hierarquia representativa
do grau de dependência das variáveis em relação ao sistema (BODINI, 2001).
A matriz de análise estrutural passa a ser analisada desta forma, sob uma nova
perspectiva, que permite estudar a difusão do impacto pelos caminhos e elos de retroação e,
por conseguinte, hierarquizar as variáveis por ordem de motricidade e de dependência.
Neste trabalho a matriz apresenta 38 variáveis (38 x 38), passando a ter linhas e
colunas identificadas, sendo o elemento genérico aij, conforme ilustrado abaixo:
Variáveis internas Variáveis externas
I
Variáveis internas II
210
Se a variável i influencia diretamente uma variável k e se k influencia diretamente a
variável j, temos que qualquer mudança que afete a variável i pode repercutir-se na variável j,
havendo, por conseguinte, uma relação indireta entre i e j, conforme ilustrado abaixo:
Logo, é possível definir uma relação ij, inicialmente admitindo apenas duas relações:
influência direta e reversa. Atribuindo-se o valor (1), caso a variável i influencie a variável j, e
(0), caso contrário (CALDAS & PERESTRELO, 1998). Nesta matriz, os elementos da
diagonal são sempre zero, uma vez que não se considera a influência de uma variável sobre si
própria, conforme ilustrado abaixo:
Variáveis A B C
A 0 1 0 1
Soma dos
B 1 0 1 2 elementos de
C 1 0 0 1 cada linha
2 1 1
Soma dos elementos de cada coluna
211
Nº Variáveis Dependentes Motrizes
1 Umidade – U 9 3
2 Temperatura – T 7 3
3 Classificação climática – Cc 8 6
4 Deficiência hídrica – Dfh 12 13
5 Precipitação pluviométrica – Prp 3 23
6 Geologia – G 0 15
7 Solos – S 8 10
8 Dinâmica do sistema – Ds 14 9
9 Geomorfologia – Gm 5 18
10 Amplitude altimétrica – H 2 10
11 Declividade – Dcv 3 7
12 Índice de rugosidade – Ir 15 5
13 Ordem da bacia – Ob 8 5
14 Densidade de drenagem – Dd 11 13
15 Densidade hidrográfica – Dh 13 14
16 Quantidade de água superficial – Qsp 18 10
17 Quantidade de água subterrânea – Qsb 14 7
18 Qualidade da água – Qa 21 4
19 Tipologia – Cvt 13 7
20 Percentual de área sem cobertura vegetal – Pcv 13 14
21 Grau de cobertura das matas ciliares e das nascentes – Gmcn 14 18
22 Potencial mineral – Pm 4 15
23 Área de influência direta da hidrovia – Aidh 8 15
24 Agropecuária e Extrativismo vegetal – Apev 7 20
25 Agricultura irrigada – Ai 9 4
26 Indústria – Id 6 15
27 Pesca – Pc 13 4
28 Navegação – Nv 19 4
29 Turismo e Lazer – Tl 20 6
30 Demografia – Dmg 4 19
31 Índice de desenvolvimento humano – Idh 9 3
32 Potencial de ocupação territorial – Pot 9 13
33 Infra - estrutura viária – Iev 10 8
34 Sistema de abastecimento de água – Sabas 17 2
35 Saneamento básico – Sb 11 4
36 Demanda por água – Da 18 6
37 Sistema de informação em recursos hídricos – Sirh 1 14
38 Instrumentos de gestão de recursos hídricos – Igrh 3 13
212
As principais dificuldades nesta fase residem: na definição do conteúdo das
variáveis; a deficiente especificação da variável pode levar a hesitação no preenchimento da
matriz; no duplo sentido de algumas variáveis; e na distinção entre efeitos diretos e indiretos.
Em um segundo momento, a matriz é novamente preenchida, porém desta vez
avaliada a ocorrência de uma relação potencial entre as variáveis, utilizando-se como
ponderação: a fraca ocorrência de influência (1), a influência média (2) e a influência forte
(3). O resultado obtido foi:
Nº Variáveis X Y
1 Umidade – U 58 52
2 Temperatura – T 54 50
3 Classificação climática – Cc 59 57
4 Deficiência hídrica – Dfh 74 75
5 Precipitação pluviométrica – Prp 66 87
6 Geologia – G 54 67
7 Solos – S 62 65
8 Dinâmica do sistema – Ds 74 69
9 Geomorfologia – Gm 65 78
10 Amplitude altimétrica – H 53 59
11 Declividade – Dcv 50 54
12 Índice de rugosidade – Ir 72 62
13 Ordem da bacia – Ob 58 55
14 Densidade de drenagem – Dd 72 74
15 Densidade hidrográfica – Dh 77 78
16 Quantidade de água superficial – Qsp 83 75
17 Quantidade de água subterrânea – Qsb 72 65
18 Qualidade da água – Qa 83 66
19 Tipologia – Cvt 70 64
20 Percentual de área sem cobertura vegetal – Pcv 77 78
21 Grau de cobertura das matas ciliares e das nascentes – Gmcn 83 87
22 Potencial mineral – Pm 60 71
23 Área de influência direta da hidrovia – Aidh 68 75
24 Agropecuária e Extrativismo vegetal – Apev 71 84
25 Agricultura irrigada – Ai 59 55
26 Indústria – Id 64 73
27 Pesca – Pc 67 59
28 Navegação – Nv 79 64
29 Turismo e Lazer – Tl 83 69
30 Demografia – Dmg 64 79
31 Índice de desenvolvimento humano – Idh 58 52
32 Potencial de ocupação territorial – Pot 68 72
33 Infra - estrutura viária – Iev 65 63
34 Sistema de abastecimento de água – Sabas 73 58
35 Saneamento básico – Sb 63 56
36 Demanda por água – Da 79 67
37 Sistema de informação em recursos hídricos – Sirh 53 66
38 Instrumentos de gestão de recursos hídricos – Igrh 56 66
213
Resumindo em função das categorias, têm-se:
Variáveis Dependentes Motrizes
Climáticas 311 321
Perfil de alteração 190 201
Modelo de terreno 240 253
Sistemas hídricos 445 413
Tipologia 230 229
Sistemas produtivos 551 550
Ocupação territorial 255 266
Recursos hídricos 324 313
Motrizes Ligação
Pelotão
Motrizes
Excluídas Resultado
Dependentes
(a)
Motrizes
24
30
9 21
6 22 26 23
37 20 15
38 32 4
14
10 7 16
8
33
11 17
3 19 36 29
13 12
25 35 27 28 18
2 1
31 34
Dependentes
(b)
Figura 113. (a) Gráfico motricidade x dependência para o Sistema 0-1; (b) Seleção das
variáveis de pelotão.
215
Para ponderação 1-2-3 obteve-se o apresentado na Figura 114.
(a)
Motrizes
5 21
24
30
9 20 15
23 4 16
26
32 14
22
8 29
6 36
38 18
7 17
37 28
33
19 12
10 27
34
3
35
13 25
11
1
2 31
Dependentes
(b)
Figura 114. (a) Gráfico motricidade x dependência para o Sistema potencial 1-2-3; (b)
Seleção das variáveis de pelotão.
15,79
% de variáveis excluídas 63,16
5,26
63,16
15,79
% de variáveis de Ligação 5,26
% de variáveis Excluídas % de variáveis Motrizes
% de variáveis de
7,89 % de variáveis de Ligação % de variáveis de Resultado
Resultado
217
d) Com base no Sistema binário 0-1 foi obtida uma redução de 38 para 14, no número de
variáveis (63,16%); abaixo é ilustrada sua classificação dentro das categorias existentes:
Categoria de variáveis %
7,14
Climáticos 7,14 7,14
28,57
Perfil de alteração 0,00
218
f) Com base no Sistema potencial 1-2-3 foi obtida uma redução de 38 para 13, no número de
variáveis (65,79%); abaixo é ilustrada sua classificação dentro das categorias existentes:
Categoria de variáveis % 8,33
16,67 0,00 8,33
Climáticos 8,33
8,33
Perfil de alteração 0,00
Modelo de terreno 8,33
25,00
Sistemas hídricos 25,00 13
25,00
Cobertura vegetal 16,67
16,67
Sistemas produtivos 25,00 Climáticos Perfil de alteração Modelo de terreno
Ocupação territorial 8,33 Sistemas hídricos Cobertura vegetal Sistemas produtivos
O resultado das duas formas de análise, sistema binário 0-1 e potencial 1-2-3,
mostram semelhanças e diferenças. Como principal semelhança destaca-se ter obtido
praticamente o mesmo percentual de filtragem (>60%), reduzindo bastante à amostragem de
variáveis envolvidas.
Em função da forma de atribuição de valores ser diferenciada, o primeiro (0-1)
restringe-se a avaliar apenas as relações diretas e o segundo atribui níveis de influência entre
as variáveis, a avaliação potencial mostrou uma melhor seleção das mesmas.
219
Algumas variáveis se repetem nas mesmas funções, porém outras são introduzidas ou
retiradas em função da forma de análise, como observado abaixo:
Variáveis – Chaves (Resultado 0-1) Variáveis – Chaves (Resultado 1-2-3)
Quantidade de água superficial
Qualidade da água Qualidade da água
Navegação Navegação
Resultado
Turismo e Lazer
Sistema de abastecimento de água
Demanda por água Demanda por água
Grau de cobertura das matas ciliares e das
Grau de cobertura das matas ciliares e das nascentes
nascentes
Quantidade de água superficial Quantidade de água superficial
Ligação Demanda por água
Turismo e Lazer
Agropecuária e Extrativismo vegetal
Densidade hidrográfica
Percentual de área sem cobertura vegetal
Precipitação pluviométrica Precipitação pluviométrica
Demografia Demografia
Agropecuária e Extrativismo vegetal
Motrizes
Geomorfologia Geomorfologia
Sistemas de informação em recursos hídricos
Instrumentos de gestão em recursos hídricos
222
Interagindo as duas matrizes obteve-se:
1. Variáveis-Chaves (Sistema 0-1) x Matriz de correlação: Pesos por variável
Categorias Jamanxim
Ararandeua Cajueiro - Candiru Carataua Palheta
- Itaquiteua
Resultado – Surubiju Pirajoara - Açu - Açu - Jari
Grande
Quantidade de água superficial 3 3 3 3 3 3
Sistemas hídricos
Qualidade da água 3 3 3 3 3 3
Navegação Sistemas 4 3 2 4 4 2
Turismo e Lazer produtivos 3 3 4 4 3 2
Sistemas de abastecimento de
3 2 2 2 2 2
água Recursos hídricos
Demanda por água 2 3 3 3 3 4
Ligação
Quantidade de água superficial Sistemas hídricos 2 3 2 2 2 3
Grau de cobertura das matas
Cobertura vegetal 2 3 2 3 3 3
ciliares e das nascentes
Motrizes
Precipitação pluviométrica Climáticos 2 3 2 2 2 3
Ocupação
Demografia 3 3 4 3 3 4
territorial
Agropecuária e Extrativismo Sistemas
4 5 5 5 4 5
vegetal produtivos
Geomorfologia Modelo do terreno 3 3 3 3 3 3
Sistemas de informação em
1 1 3 1 3 3
recursos hídricos
Recursos hídricos
Instrumentos de gestão em
1 1 1 1 1 1
recursos hídricos
223
Identificando assim as tendências e as ações necessárias para se chegar a cada um
dos estados finais, e projetar qualitativamente seus efeitos. Desta forma, o Sistema 0-1
passaria a apresentar o seguinte mapeamento de forças:
Ararandeua Cajueiro - Candiru - Carataua - Jamanxim - Palheta -
Tipo Categoria
- Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande Jari
Sistemas hídricos
Resultado Sistemas produtivos
Recursos hídricos
Sistemas hídricos
Ligação
Cobertura vegetal
Climáticos
Modelo do terreno
Motrizes Ocupação territórial
Sistemas produtivos
Recursos hídricos
224
2. Variáveis-Chaves (Sistema 1-2-3) x Matriz de correlação: Média por categoria
Jamanxim -
Ararandeua - Cajueiro - Candiru - Carataua - Palheta -
Itaquiteua
Resultado Surubiju Pirajoara Açu Açu Jari
Grande
Sistemas hídricos 3 3 3 3 3 3
Sistemas Produtivos 4 3 2 4 4 2
Recursos hídricos 2 3 3 3 3 4
Ligação
Recursos hídricos 2 3 3 3 3 4
Sistemas Produtivos 3 3 4 4 3 2
Sistemas hídricos 2 2 2 2 2 3
Cobertura vegetal 2 3 2 3 3 3
Motrizes
Climáticos 2 3 2 2 2 3
Ocupação territorial 4 5 5 5 4 5
Modelo do terreno 3 3 4 3 3 4
225
Na segunda avaliação, utilizando o mapeamento de forças motrizes, obteve-se o
seguinte resultado, considerando os pesos definidos por categoria (Tabela 22) e as variáveis
de ligação como indicadoras:
(1) Pesos definidos por categoria:
Pesos Categoria
1 Não favorecem ou muito pouco a manutenção dos sistemas hídricos. Tornam a bacia dependente
2 Pouco favorecem a manutenção dos sistemas hídricos. de fatores externos
Atuam moderadamente na
3 Favorecem moderadamente para a manutenção dos sistemas hídricos. garantia da disponibilidade
hídrica da bacia
4 Favorecem altamente com algumas restrições para a manutenção dos sistemas hídricos. Garantem a sustentabilidade
5 Favorecem significativamente sem restrições para a manutenção dos sistemas hídricos. da bacia
226
Figura 115. Área desmatada ao longo do rio Capim, próxima a PA 256, exemplo de alteração
significativa, exercendo pressão sobre o seu leito.
Figura 117. Trabalhadores ampliando a rede viária, facilitando o acesso ao rio Capim: nova
fronteira de expansão.
227
Figura 118. 2º Avaliação da sensibilidade da bacia à perda de potencial hídrico.
228
4.5.5.4 Avaliação de tendências e eventos
Na avaliação das tendências, prevendo a implantação de ações intervencionistas são
consideradas duas situações: 1º Tendência - o estabelecimento da gestão territorial e hídrica;
e 2º Tendência – a implantação de políticas desenvolvimentistas não vinculadas à
manutenção das potencialidades hídricas.
Estas são qualificadas segundo as ações e instrumentos da política de recursos
hídricos do Estado (Lei nº 6.381/2001) - AÇÕES DE GESTÃO: (1) Outorga; (2)
Fiscalização e monitoramento; (3) Enquadramento dos corpos d´água segundo classes de uso;
(4) Levantamentos bases (incluindo aspectos físicos-bióticos-socioeconômicos); (5) Cadastro
de usuários; e (6) Planejamento ambiental municipal.
As variáveis motrizes não são consideradas nesta análise pelo seu caráter de maior
independência das intervenções no sistema.
Para a 1º Tendência (o estabelecimento da gestão territorial e hídrica) avaliaram-se as
NECESSIDADES, relativas as ações de gestão de:
Implantação (I) I Não existe e precisa ser criado.
Fortalecimento (F) F Existe, mas atua de forma precária e precisa ser fortalecido.
Ampliação (A) A Existe e funciona, tendo necessidade de ampliação.
Consolidação (C) C Existe e funciona estando na fase de consolidação.
NA Não se aplica.
Variáveis/categorias Unidades de terreno
Ações de
Ararandeua Cajueiro - Candiru - Carataua - Jamanxim - Palheta –
Resultado gestão
- Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande Jari
1 I I I I I I
Qualidade da
2 F F F F F F
Sistemas
hídricos
3 I I I I I I
água
4 A A A A A A
5 I I I I I I
6 F F F F F F
1 I I I I I I
2 A A A A A A
Navegação
produtivos
Sistemas
3 I I I I I I
4 C C C C C C
5 I I I I I I
6 C F F A C F
1 I I I I I I
Demanda por
2 F F F F F F
Recursos
hídricos
3 I I I I I I
água
4 A A A A A A
5 I I I I I I
6 F F F F F F
229
Implantação (I) I Não existe e precisa ser criado.
Fortalecimento (F) F Existe, mas atua de forma precária e precisa ser fortalecido.
Ampliação (A) A Existe e funciona, tendo necessidade de ampliação.
Consolidação (C) C Existe e funciona estando na fase de consolidação.
NA Não se aplica.
Unidades de terreno
Ações de
Variáveis/categorias Ararandeua Cajueiro - Candiru - Carataua - Jamanxim - Palheta –
gestão
- Surubiju Pirajoara Açu Açu Itaquiteua Grande Jari
Ligação
1 I I I I I I
Demanda por
2 F F F F F F
Recursos
hídricos
3 I I I I I I
água
4 A A A A A A
5 I I I I I I
6 F F F F F F
1 I I I I I I
Turismo e Lazer
2 F F F F F F
produtivos
Sistemas
3 I I I I I I
4 C C C C C C
5 I I I I I I
6 F F F F F F
1 I I I I I I
Agropecuária e
2 F F F F F F
Extrativismo
produtivos
Sistemas
vegetalI
3 NA NA NA NA NA NA
4 C A C A C A
5 I I I I I I
6 F F F F F F
1 NA NA NA NA NA NA
2 NA NA NA NA NA NA
hidrográfica
Densidade
Sistemas
hídricos
3 NA NA NA NA NA NA
4 C C C C C C
5 NA NA NA NA NA NA
6 NA NA NA NA NA NA
1 I I I I I I
água superficial
Quantidade de
2 F F F F F F
Sistemas
hídricos
3 NA NA NA NA NA NA
4 F F F F F F
5 I I I I I I
6 F F F F F F
1 NA NA NA NA NA NA
2 F F F F F F
Cobertura
vegetal
3 NA NA NA NA NA NA
Gmcn
4 F F F F F F
5 NA NA NA NA NA NA
6 F F F F F F
1 NA NA NA NA NA NA
2 F F F F F F
Cobertura
vegetal
3 NA NA NA NA NA NA
Pcv
4 C F C F C F
5 NA NA NA NA NA NA
6 F F F F F F
230
O resultado mostra que para se alcançar as metas da 1ª Tendência, o estabelecimento
da gestão territorial e hídrica, as duas principais ações são a implantação e o fortalecimento,
seguido da ampliação dos instrumentos da política de recursos hídricos e do planejamento
ambiental.
Para a 2º Tendência (a implantação de políticas desenvolvimentistas não vinculadas à
manutenção das potencialidades hídricas) avaliaram-se as DECORRÊNCIAS, relativas as
ações de gestão, da:
Não Implantação (NI) NI Não existe e não será implantado.
Enfraquecimento (E) E Existe, mas com significativo enfraquecimento de ações.
Redução (R) R Existe, mas funciona precariamente com redução gradativa de ações.
Implementação lenta (IL) IL Existe, porém com lenta aplicação e resultados pontuais.
NA Não se aplica
Variáveis/categorias Unidades de terreno
Ações de
Ararandeua Cajueiro – Candiru Carataua - Jamanxim -
Resultado gestão Palheta – Jari
- Surubiju Pirajoara – Açu Açu Itaquiteua Grande
1 NI NI NI NI NI NI
Qualidade da
2 E E E E E E
Sistemas
hídricos
3 NI NI NI NI NI NI
água
4 R R R R R R
5 NI NI NI NI NI NI
6 E E E E E E
1 NI NI NI NI NI NI
2 R R R R R R
Navegação
produtivos
Sistemas
3 NI NI NI NI NI NI
4 IL IL IL IL IL IL
5 NI NI NI NI NI NI
6 IL E E R IL E
1 NI NI NI NI NI NI
Demanda por
2 E E E E E E
Recursos
hídricos
3 NI NI NI NI NI NI
água
4 R R R R R R
5 NI NI NI NI NI NI
6 E E E E E E
Ligação
1 NI NI NI NI NI NI
Demanda por
2 E E E E E E
Recursos
hídricos
3 NI NI NI NI NI NI
água
4 R R R R R R
5 NI NI NI NI NI NI
6 E E E E E E
1 NI NI NI NI NI NI
2 E E E E E E
produtivos
Turismo e
Sistemas
3 NI NI NI NI NI NI
Lazer
4 IL IL IL IL IL IL
5 NI NI NI NI NI NI
6 E E E E E E
231
Não Implantação (NI) NI Não existe e não será implantado.
Enfraquecimento (E) E Existe, mas com significativo enfraquecimento de ações.
Redução (R) R Existe, mas funciona precariamente com redução gradativa de ações.
Implementação lenta (IL) IL Existe, porém com lenta aplicação e resultados pontuais.
NA Não se aplica
Variáveis/categorias Unidades de terreno
Ações de
Ararandeua Cajueiro – Candiru Carataua - Jamanxim -
gestão Palheta – Jari
- Surubiju Pirajoara – Açu Açu Itaquiteua Grande
1 NI NI NI NI NI NI
Agropecuária e
Extrativismo
2 R R R R R R
produtivos
Sistemas
vegetal
3 NA NA NA NA NA NA
4 IL R IL R IL R
5 NI NI NI NI NI NI
6 E E E E E E
1 NA NA NA NA NA NA
Densidade de
2 NA NA NA NA NA NA
Sistemas
hídricos
3 NA NA NA NA NA NA
rios
4 IL IL IL IL IL IL
5 NA NA NA NA NA NA
6 NA NA NA NA NA NA
1 NI NI NI NI NI NI
água superficial
Quantidade de
2 E E E E E E
Sistemas
hídricos
3
4 E E E E E E
5 NI NI NI NI NI NI
6 E E E E E E
1 NA NA NA NA NA NA
2 E E E E E E
Cobertura
vegetal
3 NA NA NA NA NA NA
Gmcn
4 E E E E E E
5 NA NA NA NA NA NA
6 E E E E E E
1 NA NA NA NA NA NA
2 E E E E E E
Cobertura
vegetal
3 NA NA NA NA NA NA
Pcv
4 IL E IL E IL E
5 NA NA NA NA NA NA
6 E E E E E E
232
4.5.6 Etapa nº 6: Identificação de estratégias
4.5.6.1 Formulação de hipóteses
A definição de hipóteses sobre o comportamento futuro é o momento central da
construção dos cenários, na medida em que delas dependem as diversas alternativas possíveis.
Por isso, a formulação de hipóteses demanda um cuidado para assegurar sua pertinência com
o objeto e, principalmente, sua plausibilidade, ou seja, que seu comportamento seja previsível
de fato e possa efetivamente ocorrer (BODINI, 2001). Na sua formulação é feita a seguinte
associação da Figura 118.
Onde cada elemento corresponderá:
• Domínio: são considerados 02 Domínios, o Alto (DARC) e o Baixo – Médio rio Capim
(DBMRC).
• Variáveis: o DARC é associado a 02 e o DBMRC a 04 Unidades de Terreno.
• Hipóteses: as hipóteses se baseiam no desenvolvimento dos usos múltiplos na bacia
hidrográfica, empregando os critérios de controle e utilização da Matriz Gerencial de
Recursos Hídricos resultante da concepção do Modelo Sistêmico de Integração Participativa
do Gerenciamento das Águas (LANNA et al, 1990).
Definidos os elementos componentes da análise (Domínio – Variáveis – Hipóteses)
de seu desempenho futuro, o trabalho se concentra na montagem das combinações possíveis
das mesmas, gerando as diversas alternativas de comportamento do objeto.
Para estruturar estas combinações, facilitando o processo de análise da consistência
das mesmas, recorreu-se à Análise Morfológica que procura cruzar todas as possibilidades de
articulação das variáveis com suas hipóteses.
Esta técnica consiste, basicamente, em uma forma de organização das combinações
sob a forma de matriz ou rede, permitindo visualizar o conjunto articulado para a análise de
consistência. Apenas as combinações consideradas consistentes, cujas hipóteses combinadas
podem constituir uma realidade poderiam ser chamadas de cenários (eliminando aquelas que
parecem inconsistentes). (BUARQUE, 2001)
Como foi trabalhado um número limitado de hipóteses (cinco por variável) foi
possível constituir um bloco articulado de todas as possibilidades de agrupamento;
exemplificando: se forem definidos dois domínios, duas variáveis para cada um e duas
hipóteses para cada variável se chega a oito possibilidades de agrupamento.
233
O esforço analítico se concentra em observar cada uma das combinações (colunas)
para testar se algumas das hipóteses têm conflitos teóricos com outra do mesmo agrupamento,
invalidando, neste caso, toda a combinação (Figura 119).
No processamento das combinações foi empregado o programa MORPHOL (Analyse
Morphologique - Análise Morfológica), desenvolvido no LIPSOR – Laboratory for
Investigation in Prospective and Strategy (Chaire de prospective industrielle du
Conservatoire national des arts et métiers, Paris-França).
O Método MORPHOL (LIPSOR, 2005) é voltado à construção de cenários,
compreendendo um conjunto de etapas, que objetivam a definição de dimensões, variáveis e
probabilidade de ocorrência das hipóteses admitidas.
As hipóteses são combinadas entre si atribuindo-se valores que indicam a sua
probabilidade de ocorrência, estas são combinados uma a uma, estruturando os conjuntos
mais possíveis de ocorrerem e os cenários mais plausíveis (Figura 120).
Este processo consistiu 05 fases:
Fase (1) Definição dos eixos da matriz: são indicados os Domínios e as Variáveis. Onde:
DARC = Domínio Alto rio Capim; DBMRC = Domínio Baixo – Médio rio Capim;
Ararandeua - Surubiju (AS); Cajueiro - Pirajoara (CP); Candiru - Açu (CA); Carataua - Açu
(CTA); Jamanxim - Itaquiteua Grande (JI); Palheta – Jari (PJ).
Fase (2) Identificação das hipóteses: conforme a Matriz Gerencial de Recursos Hídricos são
contemplados os usos múltiplos das águas e considerada sua disponibilidade hídrica. Onde: T
= Transporte; TL = Turismo e Lazer; EVA = Extrativismo vegetal e agropecuária; LES =
Lançamento de efluentes e saneamento; AHI = Abastecimento humano e industrial. Estes
foram escolhidos por meio do resultado do diagnóstico, que mostrou serem os mais usuais na
bacia do rio Capim.
Fase (3) Valoração das hipóteses: cada uso múltiplo recebe uma valoração representando a
oferta hídrica disponível (Tabela 31).
234
C1 Combinação I
B1
C2 Combinação II
A1
C1 Combinação III
B2
C2 Combinação IV
C1 Combinação V
B1
C2 Combinação VI
A2
C1 Combinação VII
B2
C2 Combinação VIII
235
Tabela 31. Extrato da Tabela 30, referente aos usos múltiplos considerados para análise
morfológica.
Usos múltiplos/Pesos
Unidades de Terreno Turismo e Extrativismo Lançamento de
Transporte Abastecimento
lazer vegetal efluentes
Ararandeua - Surubiju 4 3 3 3 2
Jamanxim - Itaquiteua
4 3 3 3 3
Grande
Carataua - Açu 4 4 3 3 3
Candiru – Açu 2 4 3 3 3
Cajueiro - Pirajoara 3 3 3 3 3
Palheta – Jari 2 2 3 3 4
Onde:
Pesos Descrição
A oferta hídrica para o uso múltiplo enfocado e as demandas existentes não estão compatíveis, ou no
1 a 2,99
critério qualidade ou em quantidade.
3 a 3,99 A oferta hídrica para o uso múltiplo enfocado está compatível com as demandas.
4 a 5 A oferta hídrica para o uso múltiplo enfocado é muito superior as demandas.
DARC = Domínio Alto rio Capim; DBMRC = Domínio Baixo – Médio rio Capim.
AS = Ararandeua - Surubiju; CP = Cajueiro - Pirajoara; CA = Candiru - Açu;
CTA = Carataua - Açu; JI = Jamanxim - Itaquiteua Grande; PJ = Palheta – Jari (PJ).
T = Transporte; TL = Turismo e Lazer; EVA = Extrativismo vegetal e agropecuária;
LES = Lançamento de efluentes e saneamento; AHI = Abastecimento humano e industrial.
236
Fase (4) Análise combinatória total: são listadas as combinações possíveis (S), sendo o
total de 50; abaixo estão as 30 mais plausíveis:
237
Fase (5) Análise combinatória dirigida: esta consiste na definição das combinações mais
favoráveis e consequentemente os cenários possíveis.
Os cenários que priorizam a oferta hídrica superior a demanda na bacia do rio
Capim, favorecem os usos voltados ao transporte (navegação) e ao turismo e lazer; seguidos
do abastecimento humano e industrial.
Os cenários que mais restritivos quanto a oferta hídrica indicam os usos voltados ao
extrativismo vegetal e agropecuária, lançamento de efluentes e saneamento.
70
60
50
(%)
40
30
20
10
0
1988 1991 2000 2004
238
Esta situação marca os seguintes aspectos:
• O transporte continua sendo a atividade que menos compromete a qualidade/quantidade
das águas no Alto rio Capim; e o abastecimento humano e industrial juntamente ao
lançamento de efluentes e a ausência de saneamento básico, os mais comprometedores.
• No Baixo-Médio rio Capim é onde ocorre a maior diversificação de atividades, sendo que
as demandas hídricas por o turismo e lazer, abastecimento humano e industrial são as que
menos afetam a bacia. A atividade de transporte - navegação - passa a se comportar de forma
marcante, podendo interferir nos aspectos de qualidade/quantidade das águas (Figura 122).
b) Cenário Sustentável
Define-se como CENÁRIO SUSTENTÁVEL ao uso múltiplo das águas, aquele
que prevê melhoria as condições atuais, com a implantação, o fortalecimento e a ampliação
dos instrumentos da política de recursos hídricos e do planejamento ambiental (resultado da 1º
Tendência da avaliação de tendências e eventos - item 4.5.5.4):
Utilização de áreas parcialmente antropizadas com a implantação de
lavouras com tecnologia adequada. Recuperação de áreas degradadas ou
improdutivas, principalmente de matas ciliares e entorno de nascentes,
promovendo a consolidação das ações locais, fortalecendo-as e garantindo
o uso sustentável, identificando as áreas a serem submetidas a projetos de
recuperação ambiental. Tanto os sistemas produtivos, quanto a
consolidação de núcleos urbanos acompanham as propostas de gestão da
bacia, visando reduzir a pressão nos pontos mais vulneráveis.
239
Figura 122. Cenário estável ou atual.
240
Figura 123. Cenário sustentável.
241
c) Cenário Restrito
Define-se como CENÁRIO RESTRITO ao uso múltiplo das águas, aquele que
prevê o agravamento das condições atuais, com a presença de políticas desenvolvimentistas
não vinculadas à manutenção das potencialidades hídricas, mostrando o predomínio da não
implantação, enfraquecimento ou redução gradativa de ações voltadas ao planejamento
hídrico e ambiental (resultado da 2º Tendência da avaliação de tendências e eventos - item
4.5.5.4):
Consolidação e expansão das atividades produtivas principalmente nas
terras em que foram implantados extensos cultivos industriais e fazendas
para a criação de gado; ampliação da malha viária, de núcleos urbanos e
do número de empreendimentos industriais, incluindo os minerais. Estes
fatores indicam maior consumo d´água e aumento da área ocupada ao
longo dos corpos hídricos.
80
70
60
(%)
50
40
30
20
10
0
5 10 15 20 anos
242
Esta situação refletirá os seguintes aspectos:
• Este cenário considera o avanço dos sistemas produtivos na bacia, em especial a expansão
do setor extrativista e agropecuário.
• As UT´s de maior demanda hídrica pelo desenvolvimento de atividades ligadas ao setor
produtivo seriam: Jamanxim-Itaquiteua Grande, Candiru-Açu, e Ararandeua-Surubiju; as duas
últimas já indicadas como áreas de maior sensibilidade na bacia.
• A UT Ararandeua-Surubiju é a que mais imporia restrições quanto a cobertura vegetal e
demanda hídrica, necessitando de investimentos para a recuperação de áreas vitais a
preservação da disponibilidade hídrica da bacia (Figura 124).
243
Figura 124. Cenário restrito.
244
4.6 PERFIL DE DEMANDAS ATUAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS
Em função dos cenários identificados observa-se que a bacia do rio Capim deve ter
propostas de planejamento contextualizadas para utilização de seu potencial hídrico (Tabela
32).
Na avaliação de sensibilidade a primeira ponderação (Figura 109), que considerou
todas as 38 variáveis do diagnóstico base, mostrou que as UT´s que apresentariam maior
sensibilidade seriam a Ararandeua – Surubiju e a Palheta – Jari. Na segunda avaliação
(Figura 118), o mapeamento de forças reduziu para 13, mantendo a UT Ararandeua-Surubiju,
porém ressaltando mais as sub-bacias intermediárias do que as de jusante, coincidindo com as
observações de campo.
Esta informação é coincidente com a obtida por meio dos cenários que mostram as
cabeceiras e parte do trecho intermediário, como os pontos de maior vulnerabilidade e os que
mais precisariam de intervenções diretas para sua adequação segundo a Política de Recursos
Hídricos. A UT Ararandeua – Surubiju tem a particularidade de conter uma bacia hidrográfica
Federal, do rio Ararandeua, que apresenta parte de suas nascentes no Estado do Maranhão
tendo assim uma gestão compartilhada.
A gestão hídrica da bacia do rio Capim deve ser associada a um intenso programa de
manejo de bacias, voltado à recuperação de áreas prioritárias, especialmente ao longo da BR
010, que a corta no sentido N-S e influencia diretamente os seus afluentes da porção oriental.
A região ocidental da bacia deverá adotar um caráter mais preservacionista, pois
nesta ocorrem várias micro-bacias com canais até a 3º ordem, que são extremamente
vulneráveis, uma vez que dependem diretamente das nascentes ou da pluviometria local.
O canal do rio Capim apresenta um comportamento variável, ultrapassando áreas
intensamente retrabalhadas. Como o seu padrão é fortemente meandrante uma das principais
decorrências é a modificação do seu comportamento erosivo ao longo de seu curso (Figuras
125 e 126).
As figuras 127 a 129 ilustram a evolução temporal da ocupação na bacia do rio
Capim nas décadas de 80 e 90, e nos anos 2000 e 2004, mostrando a clara tendência de
ocupação de seu eixo oriental, e da região a montante da mesma.
245
Tabela 32. Ações prioritárias, segundo os cenários previstos.
Onde: OUT – Outorga, incluindo a de fiscalização; ECU - Enquadramento dos corpos d´água segundo classes de uso, considerando o
monitoramento da qualidade da água; SIRH – Sistema de Informações em Recursos Hídricos, abrangendo os levantamentos bases (incluindo
aspectos físicos – bióticos – socioeconômicos), o cadastro de usuários e o monitoramento hidrológico e hidrogeológico em quantidade e
qualidade; MBH – Manejo de Bacia Hidrográfica, incluindo a recuperação de matas ciliares e nascentes, assim como o reflorestamento de
áreas prioritárias; PAM – Planejamento ambiental municipal, voltado à integração da gestão hídrica com as questões de saneamento básico e
participação social; UC – Sistema de Unidades de Conservação, voltado à criação de áreas de uso restrito ou destinadas ao uso empregando o
manejo sustentável, visando à preservação dos corpos hídricos e seu uso múltiplo.
Previsão de aplicação
GERENCIA- prioritária dos Instrumentos da
MENTO CENÁRIO CENÁRIO CENÁRIO
DAS
Política de Recursos Hídricos e
ATUAL RESTRITIVO SUSTENTÁVEL
ÁGUAS Ambiental
OTG ECU SIRH MBH PAM UC
Avaliação do potencial real das
Ararandeua - Surubiju
247
Figura 127. Situação das áreas ocupadas na bacia do rio Capim, no ano de 2000.
248
Figura 128. Situação das áreas ocupadas na bacia do rio Capim, no ano de 2004.
249
Figura 129. Situação das áreas ocupadas na bacia do rio Capim, desde a década de 80.
250
Capítulo V
251
Sub-Bacia
Bacia hidrográfica C1
hidrográfica A
Bacia
hidrográfica C Sub-Bacia
hidrográfica C2
Bacia
hidrográfica B
Sub-Bacia
REGIÃO
hidrográfica C3
HIDROGRÁFICA
(a)
Sub-Bacia
hidrográfica A1
SISTEMA DE UNIDADE DE
TERRENO 1 TERRENO 1.1
Sub-Bacia
hidrográfica A2
Bacia
hidrográfica A
Sub-Bacia
hidrográfica A2
UNIDADE DE
TERRENO 1.2
Sub-Bacia
hidrográfica A2 (b)
A bacia do rio Capim foi sub-dividida em 25 sub-bacias que são as unidades básicas
da informação.
Objetivando integrar os aspectos tipicamente morfométricos as características do
terreno, resultantes da interação dos diversos processos nele atuantes, foi adotado como objeto
de análise as Unidades de Terreno derivadas do conceito de landforms. Estas se mostraram
bastante funcionais, pois permitiu individualizar o Alto e o Baixo-Médio Capim e suas sub-
252
unidades componentes; como se a bacia do rio Capim tivesse um conjunto de células
definidoras de seu funcionamento.
Com base nestes, foram executadas as avaliações da: hidrografia, topografia,
unidades de terreno, geologia, solos, hidrogeologia, clima e cobertura vegetal. A Tabela 33
sintetiza as principais vantagens e limitações associadas a cada tipo específico.
253
Tabela 33. Avaliação da etapa levantamentos básicos – componentes estruturais.
(continuação)
Variável Vantagens Limitações
1. Em função da escala, uma análise mais
As unidades descritas para a bacia foram específica, visando o uso múltiplo com área
definidas a partir do mapa pedológico presente de influência em torno de um curso d´água,
no Sistema de Informações Georeferenciadas de deve ter um detalhamento de suas unidades
Solos Energia e Hidrologia-HIDROGEO, da ANEEL, pedológicas componentes.
que apresenta um detalhamento de informações 2. O planejamento do potencial agrícola da
suficiente ao trabalho adotado e adequado a bacia hidrográfica deverá ser fundamentado
caracterização de bacias hidrográficas. em um mapeamento específico à esta
finalidade.
1. O detalhamento de ações voltadas ao
planejamento hídrico na bacia deve
necessariamente buscar a realização de seu
mapa hidrogeológico, com a definição dos
Como não foram detalhadas as potencialidades potenciais, da geometria dos aqüíferos e
Hidrogeologia hidrogeológicas, as informações gerais obtidas sua relação com as unidades hidrográficas.
permitiram algumas conclusões. 2. A ausência deste não permitiu uma
análise mais consistente das possibilidades
de uso múltiplo das águas na bacia, ficando
a maior parte das conclusões finais
atreladas ao potencial superficial.
A bacia hidrográfica precisa de uma
As informações obtidas, a partir dos trabalhos
distribuição de estações climatológicas
tomados como base, possibilitaram uma visão
mais adequadas a sua geometria e usos
panorâmica da climatologia geral da bacia,
Clima múltiplos, de forma a garantir uma visão
principalmente da variação da precipitação
mais concreta do seu potencial de recarga,
pluviométrica, que contou com série histórica de
dos períodos de escassez e de maior
dos dados.
precipitação pluviométrica.
Não se pode tratar a cobertura vegetal
O mapeamento da cobertura vegetal apresentado como algo estanque, sua velocidade de
pelo MMA (2002) foi empregado apenas como alteração é muito significativa, portanto
Cobertura
norteador da análise, uma vez que se reconhece este é um levantamento que deve ser
vegetal
que o fator cobertura vegetal é altamente continuado na bacia e associado ao seu
variável em função da ocupação na região. contexto hídrico (% de cobertura por sub-
bacia).
254
2. Quanto à dinâmica do relevo, foram identificados dois Sistemas de Terreno: o Alto rio
Capim e o Baixo-Médio rio Capim. No primeiro, predominam as maiores altitudes da bacia,
onde ocorre um forte entalhamento do sistema, marcado pela presença dos afluentes
principais que formam as cabeceiras do rio Capim: os rios Ararandeua e Surubiju. O Baixo-
Médio rio Capim corresponde às variações topográficas mais baixas da bacia, sofrendo a
influência da maré em parte do seu trecho principal.
3. O substrato geológico da bacia é basicamente formado pelas rochas sedimentares das
formações Itapecuru, Ipixuna e Barreiras, além das coberturas quaternárias finalizando a
seqüência. As formações Itapecuru e Ipixuna marcam o Alto rio Capim, e as formações
Ipixuna e Barreiras, o Baixo-Médio rio Capim. Estruturalmente, existem grandes feições que
denotam a tectônica marcante da região entre Marabá e Paragominas, condicionada por
feições planares predominantemente E-W e NE-SW, inserida no contexto tectônico da Serra
do Tiracambu. A ação dos processos exógenos, principalmente os pluviais e fluviais, geraram
espessos perfis de coberturas, onde se destacam: Argissolos, Latossolos e Solos Glay.
4. A bacia do rio Capim encontra-se em sua maior parte inserida na Província
Hidrogeológica do Parnaíba. Os sistemas aqüíferos são encontrados em sedimentos
Mesozóicos (Itapecuru) e Cenozóicos (Barreiras) formados por arenitos ou areias finas sobre
outras rochas. O aqüífero Itapecurú ocorre na porção sul da bacia com produtividade média à
fraca; os aqüíferos Barreiras, Aluvial e o lençol freático ocorrem na maioria dos locais e
contribuem com a vazão das drenagens naturais e eventualmente sendo abastecido por estas.
5. A análise das variáveis climáticas da bacia permitiu concluir que o Alto rio Capim
configura como a região de maior sensibilidade, podendo influir na quantidade de água que
circula na bacia. A precipitação varia de 1500 a 2000 mm ao ano no Alto rio Capim;
aumentando em direção a foz, onde passa a apresentar variações de 2000 a 2500 mm ao ano, o
que reflete em seu balanço hídrico, que mostra uma deficiência de 500 a 300 mm (média
anual) no Alto rio Capim, e de 300 a 100 mm no Baixo - Médio rio Capim (média anual).
6. Associado a estes fatores de natureza física observa-se uma cobertura vegetal em fase de
descaracterização, com modificação das composições florísticas e estruturais dos fragmentos
remanescentes, além do efeito de borda nos mesmos, resultante das intervenções antrópicas. A
fisionomia, antes, característica de florestas primárias, está sendo substituída por áreas de
255
florestas secundárias alternadas a campos, produtos da atividade agropecuária local, incluindo
as culturas de subsistência.
Resumidamente o perfil geral da bacia pode ser descrito da seguinte forma: “A bacia
do rio Capim corresponde a uma bacia de sexta ordem, de comportamento variável,
associado às variações geológicas e de retrabalhamento superficial condicionado pelos
processos fluviais. Este último é fortemente influenciado pela climatologia local responsável
por uma precipitação que apesar de garantir a sustentabilidade da bacia mostra variações
internas que diferenciam o Alto e o Baixo-Médio Capim. O aporte pluvio-fluviométrico local
possibilita formação de espessos perfis de alteração, responsáveis pela geração das
categorias de solos locais. O resultado e ao mesmo tempo a interação destas ações, produz
formas de relevo que compartimentam a bacia em dois grandes sistemas com dinâmicas
próprias, porém complementares. A cobertura vegetal natural tem garantido a
sustentabilidade hídrica da bacia, contudo o intenso processo de modificação por agentes
antrópicos produz variações e fragmentação destas unidades. Os recursos hídricos
superficiais têm correlação com o subterrâneo, porém esta interface de geometrias não é
clara pela falta de informações que permitam delineá-la. Logo, suas condições naturais são
favoráveis a sustentabilidade hídrica e ao aproveitamento múltiplo das águas ao longo do
curso d´água principal e afluentes.” (Figura 131)
256
5.1.2 Suporte do histórico do processo de ocupação e perfil socioeconômico
A Tabela 34 sintetiza as principais vantagens e limitações associadas a cada tipo
específico.
257
5. Na produção agrícola se destacam os grãos (arroz, milho, soja) e a mandioca; os
municípios mais presentes são: Aurora do Pará no Baixo – Médio Capim e Dom Eliseu e
Paragominas no Alto Capim; a soja merece uma análise a parte, pelo seu crescimento em
termos de produção principalmente em Paragominas e de Dom Eliseu.
6. O extrativismo vegetal é um elemento de aproveitamento histórico na região, em virtude
de seu próprio processo de ocupação que teve na exploração madeireira um de seus fortes
motores; atualmente, este está declinando e permitindo a ascensão da agricultura; porém a
implantação de usinas de siderurgia no Estado tem reanimado o setor para a produção de
carvão vegetal.
Resumidamente este perfil geral da bacia pode ser descrito da seguinte forma: “A
bacia do rio Capim encontra-se em um dos setores mais produtivos do Estado, historicamente
foi associada a forte atividade extrativista, representada pela exploração de madeira;
atualmente a mineração e a agricultura estão definindo as novas formas de ocupação;
atividades irregulares como carvoarias e extração de material para construção civil no leito
de rio, também tem agravado diversas situações de degradação hídrica e florestal. Todo este
processo não contemplou até o presente momento, a bacia hidrográfica como unidade de
planejamento, trazendo conseqüências como desmatamentos de matas ciliares, de entorno de
nascentes, interrupções de cursos d´água e uma contaminação não contabilizada pelo uso de
defensivos agrícolas.” (Figura 132)
Figura 132. Situação clássica gerada pela ocupação irregular ao longo dos cursos d´água,
gerando problemas sociais (saúde e saneamento) e ambientais (poluição hídrica).
258
5.1.3 Avaliação dos usos atuais da água e do planejamento da utilização do potencial
hídrico
A Tabela 35 sintetiza as principais vantagens e limitações associadas a cada tipo
específico.
Tabela 35. Avaliação da etapa levantamentos básicos – usos atuais da água e do planejamento
da utilização do potencial hídrico.
Variável Vantagens Limitações
Usos atuais da água 1. O levantamento dos usos múltiplos das águas
Permite qualificar/
ocorreu a partir de entrevistas de campo e do
quantificar os usos
Planejamento da referencial bibliográfico.
múltiplos existentes e sua
utilização do potencial 2. Como não existem formas concretas de
necessidade de
hídrico planejamento hídrico, as informações são
planejamento.
interpretadas a partir de bases pré-existentes.
259
6. Atualmente a região conta com um precário sistema de saneamento básico, sem rede de
tratamento interligada de esgoto e com a destinação do lixo para lixões a céu aberto, aterros
não controlados ou, como foi constatado em campo, o próprio leito do rio Capim.
Resumidamente, este perfil geral da bacia pode ser descrito da seguinte forma: ”A
bacia do rio Capim teve um processo de ocupação que não considerou sua sustentabilidade
hídrica. A utilização ampla de suas terras, sem observar limites como nascentes ou matas
ciliares, no decorrer dos anos agravou os processos locais de erosão e assoreamento de
canais. Estes são associados ao lançamento de efluentes domésticos e industriais de forma
difusa, de resíduos sólidos e captações irregulares, com obstrução de cursos d´água para
construção de açudes para bebedouro de animais. As perspectivas futuras mostram a
continuação deste cenário e sua ampliação, uma vez que, a bacia se encontra no “front”
produtivo do Estado, fazendo parte no âmbito nacional da Região Hidrográfica do
Tocantins-Araguaia, que tem associada a si, diversos projetos de ampliação de seu potencial
energético, fomentando assim o crescimento econômico regional, disponibilizando para o
setor produtivo os insumos principais: água, terras e energia.” (Figura 133)
Figura 133. Situação agravante, o leito do rio Capim sendo utilizado como lixão a céu aberto
na localidade de Canaã.
260
5.1.4 Considerações sobre a etapa de diagnóstico
Com base no exposto, conclui-se que:
1. O acervo de informações mais as complementações de escritório e campo, permitiram
uma análise concreta da bacia e de seus componentes mais atuantes, subsídios ao foco
principal deste trabalho que é o planejamento hídrico.
2. Foram contempladas as principais características naturais e antrópicas, sempre
considerando como referencia a unidade espacial da bacia hidrográfica.
3. Este último critério mostrou-se ser o mais complexo, como antevê a literatura,
principalmente pela dificuldade de espacializar a informação. Esta, é mais fácil quando se
consideram os fatores naturais, do que os socioeconômicos.
4. Definir critérios para a participação do município na bacia tentou minimizar as incertezas,
ou conduzir melhor o processo avaliativo. Porém, como no caso de Paragominas, pode
ocorrer de mais de 50% da área municipal estar na bacia, mas sua sede não.
Figura 134. Nascente preservada, uma necessidade à manutenção do sistema hídrico da bacia.
261
5.2 ANÁLISE DO SISTEMA
5.2.1 Definição do questionamento condutor
O questionamento conduziu a análise do sistema para a obtenção dos objetivos
propostos foi: Quais as variáveis que favorecem ou não a manutenção do sistema hídrico da
bacia do rio Capim?.
Segundo Meredith e Mantel (1995) para o planejamento é fundamental a fixação e
clareza dos objetivos para toda a missão. Estes foram:
1. Elencar dentre as características identificadas no diagnóstico base, as mais pertinentes a
avaliação das condições de sustentação do sistema hídrico da bacia do rio Capim.
2. Hierarquizar o grau de influência das variáveis selecionadas.
3. Permitir uma análise indicadora das condições de sustentação do sistema hídrico da bacia
que possibilite a formulação do quadro atual e das tendências futuras.
Para esta identificação contou-se com a análise por meio da Matriz de Correlação,
como modeladora das variáveis-chaves, baseando-se no pressuposto da existência de um
relacionamento entre as variáveis do sistema.
Os resultados obtidos mostraram que o questionamento condutor exerceu seu papel
de selecionador, ajudando a evitar análises dispersas, que tirariam o foco do trabalho
proposto.
262
Esta seqüência foi adotada, como forma de deixar as informações claras e bem
definidas, pois o número final de 38 variáveis, cada uma analisada individualmente em 06
unidades de terreno (228 células no total), gera uma matriz longa e trabalhosa.
Com base no questionamento condutor foi definido um sistema de pesos baseado em
hipóteses que apresentam alternativas ao mesmo.
A formulação das hipóteses tentou contemplar o leque de respostas das variáveis
envolvidas, em uma escala numérica de 1 a 5. O emprego de pesos justifica-se como
mecanismo de avaliação mais coerente e que representaria uma forma de delineamento do
grau de influência. Na Tabela 36 são apresentados os critérios empregados, organizados por
hipótese.
263
Tabela 36. Critérios empregados na definição dos pesos atribuídos.
1 2 3 4 5
Pesos Altamente com
Não ou muito Significativamente
Pouco Moderadamente algumas
pouco sem restrições
restrições
São capazes de
Relativo Trazem restrições, São capazes de
Não Trazem fortes favorecer, com
manutenção porém são capazes favorecer, sem
favorecem. restrições. algumas
da bacia de favorecer. restrições.
restrições.
muito maior
maior que a menor que a
que a menor que a
disponibilidade disponibilidade muito menor que a
A utilização disponibilidade disponibilidade do
do sistema, do sistema, e a disponibilidade do
dos recursos do sistema, sistema, porém
com lenta tendência de sistema.
hídricos é... sem tende a aumentar;
capacidade de aumentar é
capacidade de
recuperação; pequena;
recuperação;
a saída muito maior saída a saída de água é a saída de água é
Relativo a a saída de água é
maior que que entrada, menor que a que menor que a
entrada/saída muito menor que a
entrada, sem com lenta entrada, mas entrada, com
de água do entrada;
capacidade de capacidade de existem casos de curtos períodos
sistema...
recuperação; recuperação; escassez; de escassez;
não contribui,
HIPÓTESES
Relativo a
perda de água havendo não contribui,
ocorre de
do sistema em contribui para possibilidade disto sendo pequena a não contribui.
forma
quantidade que ocorra; ocorrer em função possibilidade
significativa;
e/ou da modificação de disto ocorrer;
qualidade... um ou outro fator;
não dificultam a
não dificultam a sua manutenção,
Relativo a dificultam a
sua manutenção, sendo limitados
área de geram redução; sua não dificultam.
podendo no futuro os fatores que
drenagem da manutenção;
vir a contribuir podem vir a
bacia...
para sua redução; contribuir para a
sua redução;
na total na parcial
que existe gestão que existe gestão
ausência de ausência de que existe gestão na
Implica ... na bacia, mas de na bacia, porém
gestão na gestão na bacia atuante.
limitada atuação; pouco efetiva;
bacia; bacia;
264
Tabela 37. Avaliação dos elementos de análise e sua resposta.
Fatores Proposta de análise Resultados Limitações
Favorecem o sistema as
Associa os critérios de: temperatura, classes que implicam em
umidade, classificação climática, maior possibilidade de
Climáticos
deficiência hídrica e precipitação entrada de água, e menores
pluviométrica. perdas por saída para a
atmosfera.
Não favorecem o sistema:
Avalia de forma conjugada as
as unidades potencialmente
informações: da geologia, dos solos
erodíveis e as zonas de As informações podem ser
e da dinâmica do sistema. Esta
intensa acumulação. mais detalhadas e
Perfil de utilizou como critérios de análise: o
Favorecem o sistema as contextualizadas em uma
alteração escoamento superficial, o
unidades que potencializam o escala maior.
armazenamento de água subterrânea
escoamento superficial e a
e infiltração; e a maior
recarga dos sistemas
vulnerabilidade à erosão.
aqüíferos.
Quanto mais dissecado o
Reúne as características descritivas sistema da bacia, mais ele
Modelo de
das formas e do grau de perde sua capacidade de
terreno
retrabalhamento do relevo. transporte e favorece a
deposição.
Agrupa as categorias indicadoras da: Permitem definir o perfil da
Sistemas
densidade de canais, quantidade e da bacia quanto à qualidade e
hídricos
qualidade das águas. quantidade de água.
Quanto maior a cobertura
Necessita-se de maior
vegetal em áreas de recarga,
Relaciona o tipo de cobertura quantidade de informações,
de mata ciliar e de nascentes,
vegetal, fundamental à preservação com a ampliação do
maiores as chances do
Cobertura da bacia; com o percentual de área monitoramento hídrico e
sistema hídrico não perder
vegetal sem cobertura vegetal e grau de ambiental nessa região.
sua produtividade ao longo
cobertura das matas ciliares e das
do tempo, reduzindo
nascentes.
processos como erosão e
assoreamento.
Avalia de forma integrada os
principais usos do setor produtivo
que podem exercer influencia sobre
Sistemas o sistema hídrico: potencial mineral,
produtivos área de influência direta da hidrovia, As informações são
agropecuária e extrativismo vegetal, Quanto maior a pressão indicadoras da situação entre
agricultura irrigada, indústria, pesca, destes setores, maior será o 2000 e 2006, devendo-se
navegação, turismo e lazer. uso do potencial hídrico. considerar sua velocidade de
Integra os índices que caracterizam: dinâmica temporal.
a demografia, o índice de
Ocupação
desenvolvimento humano, o
territorial
potencial de ocupação territorial, e a
infra - estrutura viária.
Avalia de forma integrada os As informações são
Caracterização
seguintes fatores: sistema de Quanto menor for o nível de indicadoras da situação entre
do uso e
abastecimento de água e saneamento estruturação e funcionalidade 2000 e 2006, devendo-se
gestão dos
básico, demanda por água, sistema destes, maior será a pressão considerar a possibilidade de
recursos
de informação e instrumentos de sobre os recursos hídricos. mudanças, para os sentidos
hídricos
gestão de recursos hídricos. mais e menos agravantes.
265
5.2.4 Matriz de correlação
Segundo Oliveira (2003) o processo para se cumprir os objetivos e as metas se dá, na
maioria das vezes, sob condições de informação parcial, sendo necessário um processo de
coleta e seleção de informações para realimentar o processo, a fim de se garantir o rumo na
direção desejada; o emprego da Matriz de Correlação teve este fim, permitindo individualizar
o comportamento geral do sistema, suas homogeneidades e heterogeneidades. A organização
de informações pertinentes e relevantes é necessária para dar fundamento e orientação ao
processo de planejamento (MARTIN, 2002).
Considerando-se seus objetivos e a necessidade de apresentar uma alternativa de
tratamento da complexidade do meio ambiente, que exige o reconhecimento e a identificação
dos fatores essenciais para dar agilidade na tomada de decisões, pois quanto maior é o número
de variáveis ou fatores, maiores são as suas possíveis influências no estado final dos
resultados, devido às constantes mudanças do meio; o emprego da Matriz de Correlação
mostrou-se um mecanismo hábil a ponderação de variáveis em função de suas significância
para a sustentabilidade hídrica.
Como produto desta ponderação obteve-se a primeira avaliação de sensibilidade da
paisagem, entendida em termos de equação como (USHER, 2001): S = ∆st ; Onde: S =
∆et
sensibilidade; ∆st = percentual de alterações sofridas no sistema; ∆et = percentual de
alterações sofridas em componentes do sistema.
Logo, quando S = 1, a somatória das alterações sofridas pelos seus componentes
refletirá diretamente no sistema como um todo. E quanto menor o valor de S (mais afastado
de 1), mais o sistema está tendo capacidade de se recuperar ou simplesmente de redistribuir as
alterações sofridas, de tal modo que no todo não é perceptível.
A análise realizada baseou-se na avaliação percentual dos pesos dados, indicando
que quanto maior o número de variáveis que tornam a bacia dependente de fatores externos,
maior será a probabilidade de o todo refletir rapidamente as alterações sofridas por seus
componentes, e mais próximo de 1 será o valor de S.
O resultado obtido trás praticamente toda a bacia para uma situação de garantia da
manutenção de seu potencial hídrico, indicando uma tendência menor nas UT´s Ararandeua –
Surubiju e Palheta – Jari.
266
Como para iniciar qualquer planejamento no campo dos recursos hídricos é
necessário entender a dinâmica do sistema, quem são seus limitadores e qual o seu nível de
intervenção (OLIVEIRA, 2003), o resultado obtido apenas pela Matriz de Correlação, pode
ser aprimorado, visando discriminar e individualizar os pontos focais para a gestão hídrica da
bacia do rio Capim. E como forma de aprimoramento foi empregada a Análise Estrutural.
Ao final observou-se que a melhor formulação foi quando se juntou as duas matrizes
(de correlação e a estrutural), a primeira com a ponderação de pesos e a segunda com a
seleção de variáveis.
268
As sub-bacias próximas à foz sofrem mudanças em taxas que permitem o reajuste
mútuo entre todos os seus componentes. Porém gradualmente, em direção a montante, as sub-
bacias estão sofrendo um aumento no valor e na taxa de stress aplicado aos seus
componentes; e o período do reajuste tende a ser maior, com os vários subsistemas tentando
restabelecer novos equilíbrios. Segundo Thomas (2001) estes não serão alcançados se a
freqüência dos eventos modificadores persistir ou se elevar, suficientemente para causar um
distúrbio maior.
269
Tabela 38. Situação dos sistemas de gerenciamento ambiental/hídrico municipais e do Estado.
Até o ano de 2006, o panorama dos municípios componentes da bacia do rio Capim e do Estado era...
São
Aurora Ipixuna Dom Rondon do Goianésia
Domingos Paragominas
do Pará do Pará Eliseu Pará do Pará
do Capim
Órgão/
Existente Existente
Departamento Não Não Existente como Não Não
como como
específico para o existente existente órgão existente existente
departamento departamento
Meio Ambiente
Estado do Pará
Ano de criação A Política Estadual de Recursos Hídricos foi homologada em 25 de julho de 2001.
Outorga Não regulamentada.
Fiscalização e
O hídrico ainda ligado ao ambiental.
monitoramento
Enquadramento
dos corpos Não regulamentado e sem rede de monitoramento próprio.
d´água
Com base em informações secundárias, a rede hidrológica pertence à Agência Nacional de Águas
Levantamentos
e a Hidrometeorológica com 11 estações – plataformas automáticas – gerenciadas pelo Estado,
bases
mas em parceria com o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Cadastro de
Existente, mais sem normalização.
usuários
270
3. Como ferramenta para manusear esta nova matriz foi empregada à análise morfológica das
respostas possíveis a cada um dos cinco usos múltiplos, pelo método MORPHOL (LIPSOR,
2005), onde foram selecionados os cenários mais prováveis.
4. Dentro da análise morfológica as hipóteses são combinadas entre si atribuindo-se valores
que indicam a sua situação de ocorrência, estas são combinados uma a uma, estruturando os
conjuntos mais possíveis de ocorrerem, que indicará os cenários mais plausíveis.
5. A construção de cenários pela análise morfológica parte do pré-suposto da existência de
um ou mais sistemas (Alto e Baixo-Médio Capim) que podem ser decompostos em
dimensões, ou componentes (transporte; turismo e lazer; extrativismo vegetal e agropecuária;
lançamento de efluentes e saneamento; abastecimento humano e industrial) cada um deste
componentes podendo ter um determinado número de estados possíveis (hipóteses que
indicam a oferta hídrica disponível). O encaminhamento, ou seja, a combinação associada à
configuração de cada componente passa a compor um cenário.
Esta formulação mostrou-se funcional ao problema de definição de estratégias, pois
permitiu ter um modelo adaptável e aplicável.
271
O perfil foi construído considerando os Cenários: RESTRITO, ATUAL e
SUSTENTÁVEL; com base no pré-suposto do crescimento do setor produtivo, do
abastecimento público, das condições de saneamento básico e no avanço da demanda de água
sobre a oferta. Prevendo, desta forma, a implantação do MZEE do Estado; do aumento do
potencial de extração mineral com a ampliação das áreas já explotadas e aberturas de novas;
da finalização da hidrovia Guamá-Capim; do crescimento do setor agropecuário e de serviços
na região, se verdadeiro o incremento populacional projetado pelo IBGE (2006). (Figura 135)
60000
50000 BAIXO-MÉDIO CAPIM
40000
30000
20000
10000
0
eu
as
rá
á
im
rá
rá
r
Pa
in
Pa
Pa
Pa
is
ap
El
C
do
do
do
do
o
om
do
ag
a
n
or
un
si
do
D
s
Pa
go
né
ur
ix
on
A
in
Ip
R
oi
om
G
D
o
Sã
O resultado ilustrado também sob a forma de cartas, mostra a evolução até 2004 da
ocupação na bacia, e o que ocorre com as perspectivas extremas. Conclui-se desta forma, que
a bacia do rio Capim em função de sua localização e aspectos naturais, demanda por ações de
ordenamento territorial, com a utilização do manejo de bacias, na recuperação das áreas
prioritárias; e de planos de bacias para o ordenamento do aproveitamento de seus usos
múltiplos com a aplicação dos instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos
(Figuras 136 e 137).
272
(a)
(b)
(c)
Figura 136. Possibilidades futuras: (a) extrativismo vegetal; (b) turismo e lazer; e (c) poluição
hídrica.
273
(a)
(b)
(c)
Figura 137. Possibilidades futuras: (a) ampliação de núcleos populacionais existentes –
Santana do Capim; (b) urbanização; e (c) expansão agrícola e pecuária.
274
5.4.1 Manejo de áreas prioritárias na bacia do rio Capim
O manejo da bacia hidrográfica do rio Capim deve ser orientado para a conservação
de sistemas hídricos e recuperação de áreas degradadas.
Os problemas identificados, associados aos usos inadequados do solo e dos recursos
hídricos, que mais se destacaram foram (Figura 138):
Degradação dos solos: nas UT´s Candiru-Açu e Jamanxim - Itaquiteua Grande ocorrem
ações que ameaçam a capacidade de sustentação do sistema, sobretudo nas áreas de intensa
atividade agrícola e madeireira.
Degradação dos cursos d'água: a necessidade de se chegar ao rio com travessia em
embarcações de madeira e a fixação de vastas fazendas próximas a cursos d´água, tem gerado
o uso inadequado das áreas marginais e das planícies de inundação, produzindo degradação
nas áreas de preservação permanente. Estas ações têm modificado em determinados trechos o
ciclo erosão-assoreamento, intensificando as perdas de solo, com conseqüentes modificações
no curso do leito do rio (observável nas UT´s: Candiru-Açu, Carataua-Açu, e Jamanxim -
Itaquiteua Grande).
Degradação de áreas florestais: com a exploração não-sustentável da vegetação primária e
secundária, as sub-bacias componentes tem perdido várias áreas de nascentes, reduzindo seu
potencial de recarga do sistema; este tem grandes possibilidades de ser o processo atuante na
UT Ararandeua – Surubiju devido a sua característica de fronteira (Estadual com o Maranhão
e de transição de bacias com a bacia hidrográfica do Tocantins-Araguaia) e a forma difusa
com que está se processando sua ocupação.
Modificação na qualidade das águas: apesar de não quantificada, a inexistência em quase
toda a bacia de sistemas de tratamento de esgoto e a forma difusa de fixação das atividades
produtivas, tem gerado uma poluição local, mas dispersa. Como não se conhece o background
natural das águas da bacia, não se tem parâmetros de comparação para a avaliação do
lançamento continuado de efluentes em seus diversos cursos d´água componentes.
Dentre as técnicas abordadas por Bragagnolo e Pan (2000) para o uso, manejo e
conservação dos recursos naturais (principalmente solo e água), no caso da bacia do rio
Capim sugere-se:
Aumento da cobertura vegetal do solo: nas áreas de preservação permanente e nas sub-
bacias responsáveis pela recarga do sistema superficial e de interação com o subterrâneo.
275
(a)
(b)
Figura 138. Exemplos de prioridades ao manejo: (a) reorientação das formas de ocupação; e
(b) manutenção das áreas de preservação permanente.
276
Controle do escoamento superficial: prevendo o monitoramento da ocorrência de focos de
erosão, realizando pequenas obras nos trechos mais críticos.
Controle da poluição: cadastrando e ordenando os pontos de lançamento, com a
caracterização físico-química e bacteriológica do efluente.
Incentivo ao planejamento do uso do espaço: nas propriedades de acordo com a aptidão
natural dos solos por sub-bacia.
Preservação de ecossistemas de potencial turístico.
Preservação de áreas de mananciais para abastecimento público.
E trabalhar a vertente comunitária do manejo: procurando as lideranças da sociedade civil
organizada existente nos municípios para captar sua percepção e empregá-la como elemento
de sensibilização para o uso adequado do sistema solo-água da bacia.
277
Consolidação de metas de racionalização de uso, aumento da disponibilidade e melhoria da
qualidade;
Previsão de enquadramento de cursos de água, definição de diretrizes para outorga e
fiscalização.
O Plano de Bacia requer que os esforços que estejam dirigidos aos temas, que
retratem as questões-chave para a sua sustentabilidade, individualizando as unidades
componentes da bacia; não a tratando como uma unidade integra em que todos os seus
componentes respondem com a mesma intensidade ao processo, garantindo a legitimidade das
proposições.
Apresenta-se, a seguir, uma relação indicativa de temas relevantes que podem ser
abordados na preparação do Plano de Bacia:
a) Para avaliação do potencial dos recursos hídricos:
O fornecimento de água potável: águas superficiais e subterrâneas.
A disposição e tratamento de efluentes domésticos e industriais.
A água como meio de sustentação dos ecossistemas naturais.
A água como meio de sustentação de comunidades locais.
A pesca comercial e a aqüicultura.
A irrigação como perspectiva futura.
O transporte hidroviário.
O controle de cheias.
O turismo e lazer.
278
Capítulo VI
6 CONCLUSÃO
6.1 O PLANEJAMENTO E A OFERTA HÍDRICA
No mundo são vários os exemplos de onde a escassez hídrica é o elemento condutor
de conflitos, são conhecidos os problemas do Oriente Médio, de diversos países
industrializados da Europa e no Norte Africano.
Porém, a discussão sobre a gestão da oferta é bem mais restrita. Basicamente é um
privilégio dos países latino-americanos, em especial dos amazônicos.
Aplicar políticas integradas que contenham dentro de suas prioridades a gestão dos
recursos hídricos, quando existem problemas que geram conflitos imediatos, como o
desmatamento, a poluição atmosférica e sociais agravantes, como as disputas por terras e bens
minerais; não tem sido uma meta fácil de ser atingida nos estados Amazônicos.
A gestão da oferta hídrica deve ser construída nas propostas de governo como uma
meta de garantia da sustentabilidade do recurso água, mesmo em situações agravantes como a
grande seca de 2005, que ocorreu na bacia Amazônica.
Para tanto, é necessário um grande esforço na compreensão da bacia hidrográfica
como um sistema que contém elementos naturais e antrópicos; cuja dinâmica aponta para um
conjunto complexo de variáveis de entrada e saída que estabelecem entre si diversas
correlações de motricidade, dependência, independência ou invariância. Esta unidade é
mutável ao longo do tempo e apresenta uma capacidade de recuperação, que se superada,
torna o sistema incapaz de voltar ao estado anterior ao da intervenção.
Desta forma, o modo de entender seu funcionamento não pode ser igual, devendo
sofrer adaptações de região para região. Novamente, contextualiza-se que os estados da
Região Norte não podem ter formulações iguais aos do Sudeste e Nordeste do Brasil.
279
A definição de mecanismos de planejamento adaptáveis a gestão da oferta hídrica
requer formas de modelamento apoiadas em processos que contemplem os diversos atores
envolvidos, identificando: os que implicam em maior vulnerabilidade, as particularidades dos
sistemas de informação em torno dos serviços públicos e os problemas ambientais. A
sustentabilidade do recurso água, passa a depender da implantação de políticas de
desenvolvimento econômico e socioambiental que fomentem a articulação entre as esferas
governamentais, principalmente reforçando a importância de uma gestão compartilhada.
O planejamento passa a incorporar, desta forma, um elenco de ações que contribuirão
para o seu efetivo alcance, visando minimizar os principais problemas relacionados aos
recursos hídricos e otimizar o seu uso múltiplo.
Essas ações poderão estar voltadas diretamente: para o aproveitamento dos recursos
hídricos; para a melhoria do conhecimento sobre as disponibilidades e demandas hídricas ou
de aspectos físicos, bióticos e sócio-econômicos que afetam ou são afetados pelos recursos
hídricos; para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos
hídricos; ou ainda para facilitar a implantação e o acompanhamento dos planos de manejo.
Este também deve prever: a proposição das diretrizes necessárias à implantação dos
instrumentos de gestão na bacia, definidos em lei; a proposta organizacional do
gerenciamento de recursos hídricos na bacia; e a capacitação material e técnica dos órgãos
gestores dos recursos hídricos.
Como elementos característicos das condicionantes amazônicas citam-se:
a variável escala como a mais significativa, ao se propor planos baseados nas informações
disponíveis, na articulação inter-setorial e na participação social esbarrar-se-á na característica
difusa da informação, com alguns vazios, principalmente nos quesitos quantidade e qualidade
das águas superficiais e subterrâneas;
na percepção diferenciada dos diversos segmentos componentes do processo de gestão das
águas, desde o ribeirinho ao produtor industrial, que apesar de a utilizarem em percentual
diferenciado, ambos trazem suas conseqüências;
e principalmente no referente à mobilização, a questão de logística que dificulta na maioria
das vezes a comunicação entre municípios e setores internos destes.
Além destes, acrescenta-se que o enfoque principal é a manutenção da
disponibilidade hídrica, com ações voltadas ao reordenamento territorial, que tenham dentre
280
suas prioridades o uso racional dos sistemas hídricos. Ou seja, o enfoque mais abrangente é o
preventivo (e não a gestão de conflitos) e localmente a aplicação medidas de maior controle.
Tal adaptação de comportamento pôde ser experimentada nesta tese; sua
contribuição está na articulação integrada de diferentes conceitos, tratando o planejamento
hídrico em um contexto estratégico, uma vez que se está lidando com a água, um recurso
dotado de valor econômico, mas um bem comum, de uso de todos.
282
Bacia do rio Capim: duas fácies do mesmo cenário.
283
Capítulo VII
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AHIMOR – ADMINISTRAÇÃO DAS HIDROVIAS DA AMAZÔNIA ORIENTAL. Relatório de
Impacto Ambiental – RIMA. Belém: AHIMOR, 2003. 110p.
ALENCAR, A.; NEPSTAD, D.; McGRATH, D.; MOUTINHO, P.; PACHECO, P.; DIAZ, M.D.C.V.;
SOARES FILHO, B. Desmatamento na Amazônia: indo além da “Emergência Crônica”. Belém:
IPAM, 2004. 85p.
ALLISON, R.J.; THOMAS, D.S.G. Landscape sensitivity. New York: John Wiley & Sons, 1993.
ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. O estado das águas no Brasil: 2001 – 2002. Brasília:
MMA/SRH/ANEEL/ANA, 2003. Cd. Room. (Edição Comemorativa do Dia Mundial da Água)
ANJOS, E.F.S.; SANTOS, D.G.; MASCARENHAS, A.C.M. Recursos hídricos no Brasil panorama
atual nos estados brasileiros. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, 21., 2001, João Pessoa. Anais... João Pessoa: ABES, 2001. 25p.
ANTUNES, P.B. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000. 592p.
BAKER, V.R.; KOCHEL, R.C.; PATTON, P.C. Flood geomorphology. New York: John Wiley &
Sons, 1988.
BARLOW, M.; CLARKE, T. Ouro azul: como as grandes corporações estão se apoderando da água
doce no planeta. São Paulo: M. Books, 2003. 331p.
284
BARRAQUÉ, B. Aspects institutionnels et juridiques de la gestion durable de l’eau en Europe.
Communication à la conferénce internationale ¨Eau et développment durable¨, Paris, 21 mars, 1998,
9p.
_______________. Water institutions and management in France. In: SIMP. BRAS. DE RECURSOS
HÍDRICOS, 10; SIMP. DE RECURSOS HÍDRICOS DO CONE SUL, 1., 1993, Gramado. Anais...
Gramado: ABRH, 1993.
_______________. Water institutions and management in France. In: SIMP. BRAS. DE RECURSOS
HÍDRICOS, 10; SIMP. DE RECURSOS HÍDRICOS DO CONE SUL, 1., 1993, Gramado. Anais...
Gramado: ABRH, 1993.
BECKER, B.K. Fronteira e urbanização repensadas. Revista Brasileira de Geografia, 1985, v. 51, n.
3-4, p. 357-371.
BENINI, R.M. Cenários de ocupação urbana e seus impactos no ciclo hidrológico na bacia do
córrego do Mineirinho. 2005. 122f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Hidráulica), Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005.
BERARDO, K.; VERÍSSIMO, A.; UHL. C. O Pará no século XXI: oportunidades para o
desenvolvimento sustentável. Belém: IMAZON, 1998. 66p.
BLACK, P.E. Watershed Hydrology. New York: Prentice Hall, 1991. 408p.
BRANCO, S.M. Ecossistêmica: uma abordagem integrada dos problemas do meio ambiente. São
Paulo: Edgar Blücher, 1999. 202p.
285
BRASIL. Lei no. 9.433 de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria
o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da
Constituição da República Federativa do Brasil e altera o art. 1º da Lei no. 8.001, de 13 de março de
1990, que modificou a Lei no. 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 8 jan. 1997.
BRUNSDEN, D.; THORNES, J.B. Landscape sensitivity and change. Transactions, Institute of
British Geographers, v. 4, p. 463-484, 1979.
BURT, T.P.; HEATHWAITE, A.L.; TRUDGILL; S.T. Catchment sensistivity to land use controls.
Landscape sensitivity. New York: John Wiley & Sons, 1993. p. 231-240.
CÂMARA, G.; SIMÕES, J.S. Geoprocessamento para projetos ambientais. In: SIMP. BRAS.
SENSORIAMENTO REMOTO. 1., 1996, São José dos Campos. Anais... São José dos Campos:
INPE, 1996.
CAMPOS, N. O modelo institucional. In: CAMPOS, N.; STUDART, T. Gestão das águas: princípios
e práticas. Porto Alegre: ABRH, 2003. 242p.
CAMPOS, N.; SOUSA, R.O. Planos de bacias hidrográficas. In: CAMPOS, N.; STUDART, T.
Gestão das águas: princípios e práticas. Porto Alegre: ABRH, 2003. 242p.
286
CAPRA, F. A teia da vida. São Paulo: Cultrix. 1996.
CHORLEY, R.J. Geomorphology and general systems theory. US Geological Survey Professional
Paper, n. 500-B, 1962.
CHORLEY, R.J.; KENNED, B.A. Physical geography: a systems approach. London: Prentice-Hall,
1971. 370p.
CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de sistemas ambientais. São Paulo: Edgar Blücher, 1999. 235p.
COSTA, A.J.F. Projeto de recuperação, conservação e manejo dos recursos naturais em microbacias
hidrográficas. In: FARAH, M. F. S; BARBOZA, H. B. Novas experiências de gestão pública e
cidadania. Rio de Janeiro: FGV, 2000. 296p.
COSTA, J.B.S.; HASUI, Y. Evolução geológica da Amazônia. In: COSTA, M.L.; ANGÉLICA, R.
(Coord.). Contribuições à geologia da Amazônia, I. Belém: FINEP/SBG- Núcleo Norte, 1997. p.15-
90.
CUNHA, E.C.N. Desafios jurídicos na gestão dos recursos hídricos em face dos instrumentos da
política nacional: papel da agência Nacional de Águas. Brasília: MMA, 2004. 15p. (Grandes
Eventos – Meio Ambiente)
CUNHA, S.B.; GUERRA, A.J.T. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de
Janeiro: Bertrand do Brasil, 2001. 472p.
DE VILLIERS, M. Água: como o uso deste precioso recurso natural poderá acarretar a mais séria
crise do século XXI. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. 457p.
287
DIAS, J. As potencialidades paisagísticas de uma região cárstica: o exemplo de Bonito, MS. 1998,
110f. Dissertação (Mestrado em Ciências Cartográficas), Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 1998.
DÖLL, P., KROL, M., FUHR, D., GAISER, T., HOEYNCK, S, MENDIONDO, E.M. Integrated
scenarios of regional development in semi-arid regions. In: M. Krol et al . Global change & regional
impacts. New York: Springer Vg-ABRH, 2003. p. 19-42.
DOMINGUES, E.; RIBEIRO, G.V.; SILVA, T.C. Indicadores de sustentabilidade para a gestão
dos recursos hídricos no Brasil. Fundação Getúlio Vargas. CIDS - Centro Internacional de
Desenvolvimento Sustentável. Projeto - Indicadores de Sustentabilidade para a Gestão de Recursos
Hídricos. Brasília: FGV, 95p. 2000.
DONZIER, J.F. Gestão integrada dos recursos hídricos: novas orientações para preparar o futuro.
Paris, França: Departamento Internacional da Água, 2001. 11p.
DOWNS, P.W.; GREGORY, K.J. The sensitivity of river channels in landscape system. Landscape
sensitivity. New York: John Wiley & Sons, 1993. p. 15-30.
DUCAN, F.M.; MCGREGOR, M.; THOMPSON, D.A. Geomorphology and land management in a
changing environment. Geomorphology and land management in a changing environment. New
York: John Wiley & Sons, 1995. p. 1-9.
FERNANDEZ, J. C. Estudo de cobrança pelo uso da água na bacia hidrográfica do rio Pirapama.
Recife: CPRH/DFID/ERM, 2000. 243p.
FIORILLO, C.A.P. O direito de antena em face do direito ambiental no Brasil. São Paulo: Saraiva,
2000. 218 p.
FORMAN, R.T.T.; GODRON, M. Landscape ecology. New York: John Wiley & Sons, 1986. 619p.
288
FRANÇA. Legislação de recursos hídricos. Disponível em: <www.eaufrance.com>. Acesso em 10
out. 2005.
FRANK, B.; PINHEIRO, A.; BOHN, N.. Relações entre a gestão de recursos hídricos e uso do solo: o
caso da bacia do Rio Itajaí – SC. In: MUÑOZ, H.R. Interfaces da gestão de recursos hídricos:
desafios da Lei de Águas de 1997. Brasília: Secretaria de Recursos Hídricos, 2000. 421p.
_________. A. Scenarios and strategies: a toolbox for problem solving. Cahiers du LIPSOR -
LIPSOR Working Papers. Paris: LIPSOR – Laboratory for Investigation in Prospective and Strategy.
2004. 109p.
GOMES. G.M.; VIRGOLINO, J.R. Trinta e cinco anos de crescimento na Amazônia 1960-1995.
Belém: SUDAM, 1997.
GRANZIERA, M.L.M.. O Direito das águas. São Paulo: Atlas, 2001. 245p.
GUERRA, A.J.T.; CUNHA, S.B. Geomorfologia, uma atualização de bases e conceitos. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. 472 p.
GUPTA, A. Urban hydrology and sedimentation in the human tropics. In: Developments and
applications of geomorphology. Berlin: Springer-Verlag, 1984.
289
HEIJDEN, K. Scenarios - the art of strategic conversation. London: John, Wiley and Sons, 1997.
HERNÁNDEZ, C.. La administración del agua y la planificación hidrológica en España. In: SIMP.
BRAS. DE RECURSOS HÍDRICOS, 10.; SIMP. DE RECURSOS HÍDRICOS DO CONE SUL, 1.,
1993, Gramado. Anais... Gramado: ABRH, 1993a.
HERNÁNDEZ, C.E. Recursos hídricos en la Península Ibérica. In: SIMP. BRAS. DE RECURSOS
HÍDRICOS, 10.; SIMP. DE RECURSOS HÍDRICOS DO CONE SUL, 1., 1993, Gramado. Anais...
Gramado: ABRH, 1993b.
HOGAN, D.J.; CARMO, R.L. Dinâmica demográfica e gestão dos recursos hídricos. In: SIMP.
BRAS. DE RECURSOS HÍDRICOS, 10.; SIMP. DE RECURSOS HÍDRICOS DO CONE SUL, 1.,
1993, Gramado. Anais... Gramado: ABRH, 1993.
HORBE, A.M.C.; COSTA, M.L. Relações genéticas entre latossolos e crostas lateríticas aluminosas e
alumino-ferruginosas da região de Paragominas, Pará. Revista Brasileira de Geociências. São Paulo,
v. 29, n 4, p. 497-504, 1999.
HUBERT, G. Les outils de planification de la gestion de l’eau en France. In: SIMP. BRAS. DE
RECURSOS HÍDRICOS, 10.; SIMP. DE RECURSOS HÍDRICOS DO CONE SUL, 1., 1993,
Gramado. Anais... Gramado: ABRH, 1993.
_________. Cartogramas do relevo. Unidades de relevo. Rio de Janeiro: IBGE, 1997. Disponível
em: <www.ibge.gov.br/home/geociencias>. Acesso em 09 jan. 2004.
_________. Dados estatísticos dos municípios do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. CD-ROM.
_________. Base cartográfica integrada do Brasil ao milionésimo digital. Rio de Janeiro: IBGE;
DCG; CCAR, 2003. CD-ROM.
_________. Dados estatísticos dos municípios do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2006. Disponível
em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 out. 2006.
290
KRAEMER, R. A. Water management and policy in Germany. In: SIMP. BRAS. DE RECURSOS
HÍDRICOS, 10.; SIMP. DE RECURSOS HÍDRICOS DO CONE SUL, 1., 1993, Gramado. Anais...
Gramado: ABRH, 1993.
LANNA, A.E. Gerenciamento de Bacia Hidrográfica. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis. Brasília: 1BAMA (Coleção Meio Ambiente), 1995. 171p.
_________. Gestão das águas. Porto Alegre: Instituto de Pesquisas Hidráulicas. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, 1997. 245p.
_________. Gestão das águas. Porto Alegre: Instituto de Pesquisas Hidráulicas. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, 1999. 245p.
LEAL, M.S.. Gestão de Recursos Hídricos: Princípios e Aplicações. Rio de Janeiro: CPRM, 1998.
122p.
LIMA, R.J.S.; LIMA, A.M.M; ARAÚJO, M.L. Navegando sob o céu do Pará: hidroclimatologia e
recursos hídricos do Estado. Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Belém:
SECTAM, 2005. 129p.
LIMA, R.J.S.; FONTINHAS, R.; GASPAR, M.; GUIMARÃES, P. Proposta de Divisão do Estado do
Pará em Regiões Hidrográficas. In.: SIMP. BRAS. DE RECURSOS HÍDRICOS, 14. e SIMP. DE
HIDRÁULICA E RECURSOS HÍDRICOS DOS PAÍSES DE LÍNGUA OFICIAL PORTUGUESA,
5., 2001, Alagoas. Anais...Alagoas: ABRH, 2001.
MACHADO, C.J.S. Gestão de águas doces. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. 372p.
291
MACHADO, L.O. Sistemas "longe do equilíbrio" e reestruturação espacial na Amazônia. Cadernos
do IPPUR, ano IX, nº ¼, jan./dez, 1995. p. 83-106.
MACIEL JR., P. Zoneamento das águas. Belo Horizonte: Gráfica, 2000. 112p.
MARQUES, J.F. Elementos para uma abordagem ambiental integrada. Embrapa - Meio
Ambiente. São Paulo: Embrapa, 2002. 13p.
MAUD, F.F; LIMA, G. Planejamento estratégico de sistemas hídricos. Uso e gestão dos recursos
hídricos no Brasil. Volume II. Desafios teóricos e político-institucionais. São Carlos: RiMa, 2003.
307p.
MENDIONDO, E.M.; OHNUMA JR, A.A.; BENINI, R.M.; PERES, R.B. Metodologia simplificada
de cenários de planejamento para a recuperação ambiental de bacias urbanas. In: CONGRESO
LATINOAMERICANO DE HIDRÁULICA, 21., 2004, São Pedro. Anais ..., São Pedro: São Paulo,
2004.
MEREDITH, J. R.; MANTEL JR., S. J. Project Management: a managerial approach. New York:
John Wiley & Sons Inc., 1995. 616p.
________________. Interfaces da Gestão de Recursos Hídricos: Desafio da lei das águas de 1997.
Brasília: MMA, 2000. 421p.
292
MOIGNE, G; SUBRAMANIAN, A; XIE, M.; GILNER, S. A guide to the formulation of water
resources strategy. World Bank Technical Paper, n. 263, 1994. 102p.
MOLINIER, M.; CUDO, K.J.; GUIMARÃES, V. Disponibilidade de água na bacia Amazônica. In:
SIMPÓSIO INTERNACIONAL DOS ESTUDOS AMBIENTAIS EM FLORESTAS TROPICAIS
ÚMIDA, 1992, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 1992, p. 24-29.
MOSTERT, E. Water resources management in the Netherlands. In: SIMP. BRAS. DE RECURSOS
HÍDRICOS, 10.; SIMP. DE RECURSOS HÍDRICOS DO CONE SUL, 1., 1993, Gramado. Anais...
Gramado: ABRH, 1993.
MUÑOZ, H.R. Interfaces da gestão de recursos hídricos: desafios da Lei de Águas de 1997.
Brasília: Secretaria de Recursos Hídricos, 2000. 421p.
NEVES, M.J.M. Efetividade dos Planos de Recursos Hídricos: uma Análise dos Casos no Brasil
após 1990. 2004. 216f. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Engenharia Civil e Ambiental),
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, 2004.
OLIVEIRA, G.C. Gestão de recursos hídricos: os fatores que influenciam no planejamento. 2003.
89f. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Economia), Universidade de Taubaté, Departamento de
Economia, Contabilidade, Administração e Secretariado. Taubaté: UNITAU, 2003.
OLIVEIRA, L.L.; FONTINHAS, R.L.; LIMA, A.M.M.; LIMA, R.J.S. Mapas dos parâmetros
climatológicos do estado do Pará: umidade, temperatura e insolação, médias anuais. In: CONG.
BRAS. DE METEREOLOGIA, 13., 2004, Fortaleza. Anais... Fortaleza, 2004.
PARÁ. Lei no. 6.381. de 25 de julho de 2001. Institui a Política Estadual de Recursos Hídricos, cria o
Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Diário Oficial do Estado. Belém/Pa, 27 de
julho de 2002. Seção.
PEREIRA Jr., J.S. Processo legislativo e organização institucional da gestão de recursos hídricos
no Brasil. Consultoria Legislativa. Câmara Federal dos Deputados. Brasília, 2004. 20p.
293
PERES, R.B.; MENDIONDO, E.M. Desenvolvimento de Cenários de Recuperação como
Instrumento ao Planejamento Ambiental e Urbano - Bases conceituais e Experiências Práticas.
In. SEMINÁRIO NEUR/CEAM, 2004, Brasília, DF. A questão Ambiental e Urbana: Experiências e
Perspectivas, Brasília: NEUR/CEAM/UnB, 2004.
PETTS, G.E.; LARGE, A.R.G.; GREENWOOD, M.T.; BICKERTON, M.A. Floodplain assessment
for restoration and conservation: linking hydrogeomorphology and ecology. Lowland Floodplain
Rivers: geomorphological perspectives. New York: John Wiley & Sons, 1992. p. 217-234.
RAMOS, F.; OCCHIPINTI, A.G.; VILLA NOVA, A.N.; REICHARDT, K.; MAGALHÃES, P.C.;
CLEARY, R.W. Engenharia Hidrológica. Porto Alegre: ABRH/UFRJ, 404p. 1989.
REBOUÇAS, A.C.; BRAGA, B.; TUNDISI, J.G. Águas Doces do Brasil - Capital Ecológico, Uso e
Conservação. São Paulo: Escrituras e USP, 2001. 717p.
RIBEIRO, A.G. Paisagem e organização espacial na região de Palmas e Guarapuava - PR. 1989.
Tese de Doutorado (Doutorado em Geografia), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, são Paulo, 1989. 336p.
RIBEIRO, W.C. Água doce: conflitos e segurança ambiental. In: MARTINS, R.C.;
VALENCIO, N.F.L.S. Uso e gestão dos recursos hídricos no Brasil. Vol II. São Carlos:
RiMa, 2003. 307p.
294
_____________. Registro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo.
Revista de Geografia. São Paulo: IG-USP, 1992.
SANTANA, D.P. Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas. Sete Lagoas: Embrapa Milho e
Sorgo, 2003. 63p. (Embrapa Milho e Sorgo. Documentos, 30).
SANTOS, R.F. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina do Texto, 2004. 184p.
SANTOS JR A.E.A.; ROSSETTI D.F. A influência marinha na Formação Ipixuna, área de Tomé-
Açú/Paragominas, nordeste do Pará. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 7., 2001,
Belém. Anais... Belém: SBG, 2001.
SCHUMM, S.A. Geomorphic thresholds and complex response drainage systems. Fluvial
geomorphology. New York: Binghampton publications in Geomorphology, 1973.
SELBORNE, L. A Ética do uso da água doce: um levantamento. Brasília: UNESCO, 2001. 80p.
SENA, L.B.R. Direito, direito administrativo, direito ambiental e direito das águas. Módulo II.
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior – ABEAS, Universidade Federal da Paraíba –
UFPB, 2000a.
SANTOS, D.G. Planos diretores como instrumento de gestão de recursos hídricos. In; ALVES, R.F.F.
Experiências de gestão de recursos hídricos. Brasília: MMA/ANA, 2001. 204p.
295
SETTI, A.A. Política, planejamento, gerenciamento de recursos hídricos e organização
institucional no Brasil e a nível internacional. Módulo I. Associação Brasileira de Educação
Agrícola Superior – ABEAS, Universidade Federal da Paraíba – UFPB, 2000.
SETTI, A.A.; LIMA, J.E.F.W.; CHAVES, A.G.M; PEREIRA, I.C. Introdução ao gerenciamento de
recursos hídricos. 2ª ed. – Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica, Superintendência de
Estudos e Informações Hidrológicas, 2001. 207p.
SILVA, I.P. Análise de cenário: teoria e aplicação para bancos de varejo no mercado brasileiro.
Monografia Universidade de São Paulo Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Departamento de Administração, 2005. 84 p.
SILVA, B.N.R.; CARVALHO, J.S. Os solos da Amazônia oriental. In: CONGRESSO PESQUISAS
SOBRE UTILIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO SOLO DA AMAZÔNIA ORIENTAL, 1986, Belém.
Anais... Belém, 1986.
SILVA, D.D.; PRUSKI, F.F. Gestão de Recursos Hídricos: Aspectos Legais, econômicos,
administrativos e sociais. Brasília: Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 2000. 659p.
SIMON H. A. The new science of management decision. NewYork: Harper & Row, 1960.
SJEF VAN PUT. Some administrative, policy and juridical aspects in relation to groundwater
protection (groundwater used as a drinking-water source) in the Netherlands. In: WORKSHOP ON
THE PROTECTION OF GROUNDWATERS USED AS A SOURCE OF DRINKING WATER
SUPPLY, 2001, Budapest. Anais… Budapest, 2001, 12p.
SKLAR, F.H.; COSTANZA, R. The development of dynamic spatial models for landscape ecology: a
review and Prognosis. In: Turner, G.M.; Gardner, R.H. Quantitative methods in landscape ecology:
the analyses and interpretation of landscape heterogeneity. New York: Springer Verlag, 1991.
SPRAGUE JR. R.H.; WATSON H.J. Decision support for management. New York: Prentice Hall
Inc, 1996.
SOLLERO, V.T.; FERREIRA, H.L.M.; MOREIRA, C.V.R.; ABREU, M.F. Concepção metodológica
para elaboração de planos diretores de recursos hídricos de bacias hidrográficas. In: CONGR. SOBRE
APROVEITAMENTOS E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS EM PAÍSES DE IDIOMA
PORTUGUÊS, 1., 2000, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABES - Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária e Ambiental, 2000.
SOUSA, S.B. Sistema aqüífero da Ilha do Maranhão (MA). In: CONGRESSO MUNDIAL
INTEGRADO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS, 1.; CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS
SUBTERRÂNEAS, 11., 2000, Fortaleza. Anais... Fortaleza: ABAS/AHLSUD/IAH, 2000. CD-ROM.
296
STRAHLER, A.N. Dynamic Basis of Geomorphology. Geological Society Americam Bulletin, v.
63, p. 923-938, 1952.
TAUK, S. M.. Análise ambiental: uma visão multidisciplinar. São Paulo: UNESP, 1995. 206p.
THOMAS, M.F. Landscape sensitivity in time and space - an introduction. Catena, v. 42, p. 83-98,
2001.
TRICART, J. Ecodinâmica: recursos naturais e meio ambiente. Rio de Janeiro: IBGE, 1977. 91p.
___________. Paisagem e Ecologia. Inter-Fácies. São José do Rio Preto: UNESP, 1979.
TUNDISI, J. G. Água no século XXI: enfrentando a escassez. São Carlos: RiMa, 2003. 248p.
TUNDISI, J.G.; STRASKRABA, M. Strategies for building partnerships in the context of river basin
management: the role of ecotechnology and ecological engineering. Lakes & Reservoirs: research
and management, Blackwell Publishing, v. 1, p.31-38, 1995.
USHER, M.B. Landscape sensitivity: from theory to practice. Catena, v. 42, n. 2-4, p. 375-383, 2001.
297
VALERIANO, M.M. Modelo digital de elevação com dados SRTM disponíveis para a América
do Sul. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. São José dos Campos/SP: INPE, 2004. 72p.
VAN ACKER, F.T. O direito de uso da água, o código de águas, a Lei nº 9.433, a proteção de
qualidade da água e marginal. Módulo IV. Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior –
ABEAS. Universidade Federal da Paraíba – UFPB, 2000.
VELTWISCH, D. Waste Water Law. Federal Water Act. Waste Water Charges Act. Alemanha:
Waste Water Ordinance, 2003. 46p.
VIESSMAN Jr., W.; HARBAUGH, T.E.; KNAPP, J.W.. Introduction to Hidrology. New York:
Intext Educational, 1972.
VINK, A.P.A. Landscape Ecology and Land Use. England: Harlow longman Group, 1983.
VITEK, J.D.; GIARDINO, J.R.; FITZGERALD, J.W. Mapping geomorphology: a journey from paper
maps, through computer mapping to GIS and virtual reality. Geomorphology, n.16, p. 233-249, 1996.
ZABEL, T.; REES, Y. Institutional Framework for Water Management in the United Kingdom. In:
SIMP. BRAS. DE RECURSOS HÍDRICOS, 10.; SIMP. DE RECURSOS HÍDRICOS DO CONE
SUL, 1., 1993, Gramado. Anais... Gramado: ABRH, 1993.
WEBER, E.; DUARTE, G. F.; FRANK, M.; HOFF, R.; ZOMER, S.; BASSANI, E.; JUNQUEIRA, I.
Estruturação de sistemas de informação ambiental em Bacias hidrográficas: o caso da bacia
hidrográfica do Rio Caí-RS. In: CONGRESSO E FEIRA PARA USUÁRIOS DE
GEOPROCESSAMENTO, 4., 1999, Curitiba. Anais... Curitiba, 1999.
298