Sei sulla pagina 1di 4

CINCO PASSEIOS PELO BOSQUE DA POESIA FEMININA

Há muitos séculos a mulher ocupa o papel de musa inspiradora nos romances, na


poesia, na música e nas mais diversas formas de arte. Sua feminilidade e beleza
têm sido exaltadas e ratificar esses estereótipos é perpetuá-los.

Ainda que não exista igualdade de gênero, há um abismo entre o papel ocupado
pela mulher há séculos atrás, quando os cânones foram escritos, e nos dias atuais.
Por essa razão, para analisar uma obra, de um modo geral, é necessário conceber
cada produção e cada autor de acordo com o contexto ao qual está inserido. Há
muita obra considerada misógina quando analisada fora de sua contemporaneidade.
E isso é também um erro.

Não há uma solução objetiva para reverter o papel submisso e passivo da mulher
nas produções literárias. Não se pode apagar a história. Mas é necessário
reconhecer que a mulher é pouco representada na construção dos cânones, isso
porque foi e é pouco representada na crítica literária. E isso é reflexo de uma
sociedade que ainda caminha a passos lentos em direção à igualdade.

Abaixo está disposta uma curta antologia de cinco sonetos com temas inspirados
nas pautas da luta feminista.

O Soneto I aborda a permissividade do assédio que mulheres, desde sua tenra


idade, sofrem. O Soneto II retrata o caráter vazio da representação da mulher
quando se encontra em um relacionamento psicologicamente abusivo .O Soneto III
continua na temática de relacionamentos abusivos, mas focado na maternidade.O
Soneto IV versa sobre o aborto e sua culpabilidade unilateral. Também preconiza o
assunto do último soneto: o feminicídio.

1
Soneto I

Sei que a ti parece deveras apropriado,


Ao ver-me ir pulcra, bela e tão bem-apessoada,
Por lábia miserável e lisonja entoada
Saudar-me com famintos olhos de leopardo

Sei que pensas que teu galanteio enamorado


Torna-me celebrada, feliz, abençoada
Grande engano, senhor, sinto-me ameaçada
Teu olhar causa-me horror mesmo quando calado

Meu senhor predador de excitação sem freio,


Se me permites ouso dizer-te a verdade
Tu é que enxergas libido no habitat do recreio

Teu desejo nem minha meninice abranda


Creio que até te encanta minha pouca idade
Olhos febris penetram reino de ciranda

Soneto II

Ao incansável escudeiro, gratidão anunciada


São teus olhos seguros que guardam atentos
Minha frágil existência isenta de fomentos
Velada e protegida na acolhida dada

Incansável escudeiro, dono da vontade


Quereria eu outro destino de má-aventurança?
Outra sorte, outra vida, outros sonhos de criança?
Que outra sina teria além de ser tua metade

É quando falo, quando sinto e penso e vivo


Que penso estar vivendo, que penso que eu sou
“E pensar te compete?”, lembrou-me com tento

A sua sorte eu apresento, o seu fardo cativo


Deus fez-te a mulher, melhor dita não encontrou
Qual o valor de uma flor se não servir de ostento?

2
Soneto III

Padecer no paraíso anuncia boca sábia


Almejada alegria velar sono do infante
Estimada canção baixo arcabouço arfante
Prodigiosa e melódica inspiração da ábia

A dor que é companheira e galgou resiliência,


Não a algia do parto ou da pureza cedida,
Mas a que vem calada, no peito escondida,
A que tornou-se amiga, verteu-se paciência

Dor branda, dor recôndita, seja unguento


Pois se a gênese da mulher é o sofrimento
Teu resgate é a alforria desse injusto parecer

Sou enfeite cobiçado e convertido em madre


Questiono se haverá um conceito que enquadre
Quem quis, mas nunca foi para além do querer ser

Soneto IV

Companheira de gênero, lume do fato


Tire a venda que imposta imbui parcialidade
Corrompe seu equilíbrio usurpando a verdade
Iliba réu confesso, senil ou galifato

Estes que enxergarão pecado onde há redenção


Calçariam meu sapato e abririam mão de tudo?
Lançariam mão da vida, do seu eu, sobretudo?
É preciso pai e mãe para dar vida a um embrião

Dissipar prematuro fruto do meu ventre


Não será só uma dentre as culpas que carrego
Carrego as tuas que nem sei e as minhas firmemente

Se decido não errar, não há um que minha porta entre


Mas se escolho renegar e o aborto não sonego
É morte clandestina ou pena permanente

3
Soneto V

Amado Ceifador, trovador talentoso


Cantaste com amor os meus sonhos de guria
Pintou-se em belas vestes, romance de teoria
Deu guarida a triste alma habituada ao acintoso

Amado Ceifador, cantaste docemente


Tão doce que julguei ser arcanjo celeste
A voz que arrebatou mais rebanhos que a peste
Sem medo de castigo, matou impunemente

Quisera perceber tão breve quanto a chama


do afeto devoto nas odes ofertadas
O vulto do inimigo no osco do suporte

O toque das tuas mãos que minha face inflama


Tu chamas de amor, o que eu chamo bofetadas
Calaste minha sorte. Último grito: morte

Potrebbero piacerti anche