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III – Perguntei-vos que coisa era falar bem, e ainda esperais pela
resposta.
Falar bem é falar corretamente, sem ofender o pudor da
gramática. Em suma, é expor as ideias com ordem lógica e
observância dos cânones da boa linguagem.
A primeira preocupação, pois, de quem fala ou escreve é
guardar as leis da gramática.
O advogado, portanto, há de estar atento e vigilante, não venha
a cair em erros graves, e pois inadmissíveis, de grafia, pronúncia ou
construção.
Quanto à prosódia, não lhe é lícito, ao advogado, v.g., dizer
“gratuíto” por gratuito nem “interim” por ínterim, ou “rúbrica” em vez
de rubrica.
O rol das pronúncias viciadas ou medonhas é imenso: avaro
(e não “ávaro”), tóxico (cs), e não “tóchico”, frustrar, ruim, exacerbar,
estupro (“estrupo” é crime hediondo também contra a gramática),
meritíssimo (e não “meretíssimo” ou “meretríssimo”), etc.
A despeito de frequentes, devem ser evitadas, porquanto
errôneas, construções deste naipe:
a) “Fazem” 10 min que o orador está falando e já bebeu um copo
d’água”. (Faz 10 min…);
b) “Haviam” mais de 50 advogados na conferência. (Havia mais de
50 advogados na conferência, e todos atentos);
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Ainda:
– “Juntou-se” documentos (por juntaram-se documentos);
– Se você “ver” o Dr. Zanoide, cumprimente-o. (Corrija-se a
linguagem: Se você vir o Dr. Zanoide, cumprimente-o pela feliz
gestão na OAB);
– Vossa Excelência “fostes” demasiado rigoroso. (Forma correta:
Vossa Excelência foi. Os pronomes de tratamento obrigam o verbo
à terceira pessoa).
Esse foi aquele Rui a quem Sílvio Romero deu, com justiça, o
epíteto de “o primeiro talento verbal da nossa raça”(4) e cuja morte a
Imprensa do tempo anunciou por estas solenes e impressionantes
palavras: “Apagou-se o Sol!”(5).
Nótula
A respeito do famoso drama judiciário de que foi protagonista
certa mãe, acusada de homicídio — matara o próprio filho, no dia 24
de abril de 1931, por haver furtado um chapéu(13) — e, afinal, julgada
e absolvida pelo júri, em veredicto unânime, tendo-se encarregado
de sua defesa o renomado criminalista Antônio Covello (Antônio
Augusto de Covello Jr.), escreveu Humberto de Campos uma página
imortal. Não posso menos de reproduzi-la aqui (adaptado o texto à
ortografia oficial), numa como simples e justa homenagem a esses
dois supremos artistas da palavra.
Mãe
O Tribunal do Júri absolveu ontem, por unanimidade, em São
Paulo, uma senhora que matou, com um tiro de revólver, o próprio
filho. Aglomerado à porta do templo da Justiça humana, o povo
prestou uma grande e ruidosa homenagem à criminosa, conduzindo-a
pelas ruas da cidade, entre aclamações entusiásticas. O assassinado era
menor, e havia furtado um chapéu num clube de regatas. A mãe,
temendo que seu filho se tornasse, pela vida adiante, um ladrão, correu
a uma casa de armas, comprou uma “Smith & Wesson”, e meteu-lhe
uma bala na cabeça. Presa e julgada, foi absolvida. Absolvida, foi
ovacionada, carregada em charola, glorificada pela multidão.
Eu não sei se, entre as pessoas que percorreram as ruas
paulistas, justificando publicamente essa criminosa, havia mulheres, e
se, entre as mulheres que lhe batiam palmas, havia alguma que fosse
mãe. As noções da honra e da probidade devem ser profundas, na
alma da mulher. Mais profundo deve ser, porém, no seu coração, o
amor a seu filho. A mãe de Pausânias, correndo a auxiliar os éforos
que muravam as portas do templo de Minerva, em Esparta, no qual se
refugiara o famoso capitão acusado de traição à pátria, pode parecer
admirável aos olhos dos historiadores e dos poetas antigos. Mais
sublime é, porém, Níobe, tornada em rochedo, petrificada de dor,
chorando surdamente os pedaços do coração que os deuses lhe
tinham levado.
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Notas
(1) “Nessun maggior dolore che ricordarsi del tempo felice nella miseria”
(Dante Alighieri, Inferno, canto V, v. 121);
(2) Júlio de Castilho, Os Dois Plínios, p. 195;
(3) In A Oração da Coroa, de Demóstenes, 1877, p. IX;
(4) Sílvio Romero, História da Literatura Brasileira, 1949, t. V, p. 448;
(5) Gazeta de Notícias, 2.3.23 (cf. Revista de Língua Portuguesa, nº 23,
p. 7);
(6) Heitor Pinto, Imagem da Vida Cristã, vol. I, p. 31;
(7) Do Museu do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
é Coordenador o eminente Des. Emeric Lévay, jurista e
historiador de nobre estirpe, a quem muito deve a cultura
paulista. (O autor deve-lhe também a gentileza da foto que
ilustra esta página);
(8) J. Soares de Mello, O Júri, 1941, p. 17;
(9) Ordenações, liv. I, tít. 1º;
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(10) Cf. Bento de Faria, Código de Processo Penal, 1960, vol. I, p. 253;
(11) Cícero: “Nihil ex omni parte perfectum natura expolivit” (apud Bluteau,
Vocabulário, 1720, t. VI, p. 420);
(12) A. Cardoso Borges Figueiredo, Retórica, 1875, p. 67;
(13) Cf. Pedro Paulo Filho, Grandes Advogados, Grandes Julgamentos,
1989, p. 153;
(14) Humberto de Campos, Os Párias, 1939, 8a. ed., pp. 128-131;
Livraria José Olympio Editora.
Carlos Biasotti
Desembargador aposentado do TJSP e ex-presidente da Acrimesp