Sei sulla pagina 1di 16

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - CAMPUS CASCAVEL

PROJETO DE PESQUISA PARA O PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – SELEÇÃO


2020

JOÃO CARLOS DE CAMPOS

Temática: Educação e Integração Latino-Americana

INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA NAS ESCOLAS DE AGROECOLOGIA DA VIA CAMPESINA:


ESCOLA LATINO AMERICANA DE AGROECOLOGIA (BRASIL) E INSTITUTO AGROECOLÓGICO
LATINO-AMERICANO GUARANI (PARAGUAI)

Área de Concentração: Sociedade, Estado e Educação

Linha de Pesquisa: História da Educação


- Indicação de orientadores da linha:
1o Paulino José Orso.
2o Alexandre Felipe Fiuza.
3o João Carlos da Silva.

Cascavel
2019
2. RESUMO:

O presente projeto de pesquisa tem como foco o histórico e a interface entre a educação
universitária , a Educação do Campo, e a integração latino-americana no processo de
constituição de duas experiências educacionais populares do campo, a Escola Latino
Americana de Agroecologia no Brasil, e o Instituto Agroecológico Latino Americano
Guarani no Paraguai. Assume-se como objeto de estudo o processo de integração latino-
americana desenvolvido a partir destas duas escolas universitárias dos camponeses, que
engajadas aos movimentos Sociais Populares latino-americanos, buscam construir um
processo integracionista baseado na solidariedade de classe, visando a construção de um
projeto popular latino-americano, que busca romper com as relações de dominação do
modelo agroexportador e de saque das riquezas naturais hegemonizado pelo
agronegócio. Para perseguir o objetivo, a pesquisa será alicerçada numa análise
documental, revisão bibliográfica na perspectiva de historicizar o objeto em questão e
que versam acerca da geopolítica e a integração latino-americana em contexto, assim
como será utilizado pesquisa de campo, por meio de diário de campo, entrevistas com os
sujeitos envolvidos. A partir desse caminho pretende-se chegar a uma compreensão do
processo de integração na perspectiva contra-hegemônica, seus limites e desafios no
processo de construção das escolas de agroecologia referenciadas, principalmente no
marco dos avanços e recuos no contexto de governos neoliberais constituídos no último
período.

Palavras-chave: Via Campesina; Integração; América Latina; Agroecologia.


3. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA

A Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA) no Brasil e o Instituto


Agroecológico Latino Americano Guarani (IALA Guarani) no Paraguai, são duas
experiências de formação universitária construídas a partir do protagonismo dos
Movimentos Sociais Populares do Campo (MSP’doC 1) organizados na Via Campesina
(VC2), que iniciaram em 2005, nos marcos do V Fórum Social Mundial, a partir de parceria
com governos progressistas interessados em desenvolver um processo de integração
contra-hegemônico na região, a partir de outros parâmetros no que tange a cooperação,
construção de processos educacionais e da matriz tecnológica na agricultura. Assim, a
ELAA e o IALA Guarani, constituem experiências de educação popular internacionalistas,
que buscam uma formação voltada a Educação do Campo a partir dos cursos de
Tecnologia em Agroecologia e Engenharia em Agroecologia respectivamente, combinando
a formação acadêmica à formação política de sujeitos dos MSP’doC a partir dos princípios
do internacionalismo da classe trabalhadora e da integração dos povos no continente
latino-americano. Pode-se afirmar que a perspectiva construída nestas duas escolas de
trabalhadores, é aquela apontada por Mézzáros (2008), “uma educação para além do
capital”.
As escolas de agroecologia da VC se engajaram ao processo de integração latino-
americana proposto pela ALBA – Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América
(ALBA), criada em 14 de dezembro de 2004, integrada pelos países de Venezuela, Cuba,
Bolívia, Nicarágua, Mancomunidad de Dominica, São Vicente e Granadinas, Equador,
além de coordenar ações com diversas organizações e movimentos sociais da América
Latina e Caribe. A ALBA foi criada em contraposição a Área de Livre Comercio das
Américas (ALCA) e tem como proposta uma integração embasada na solidariedade,
cooperação e complementaridade entre os povos (CAMPOS, 2014).
1
Ao utilizar o termo Movimentos Sociais Populares do Campo – MSP‘sdoC, conforme Titton (2006) e
D‘Agostini (2009), quando utilizam os termos movimentos sociais confrontacionais‘ e/ou movimentos de
luta de classe‘, a perspectiva posta é a de compreender a atuação de determinados movimentos sociais
classistas – neste caso os dos povos do campo – que se configuram no confronto direto com o capital,
rompendo desta forma com uma postura Pós-Moderna, que ao utilizar-se do termo ―novos movimentos
sociais, deixa de lado a centralidade da luta de classes, e desvincula a luta destes movimentos sociais
da perspectiva de um projeto de sociedade contraposto ao da sociedade capitalista. (VERDÉRIO, 2011,
p.20).
2
A Via Campesina é um movimento internacional que reúne milhões de camponeses, pequenos e médios
agricultores, sem terra, jovens e mulheres rurais, indígenas, migrantes e trabalhadores agrícolas de todo
o mundo. São 182 organizações em 81 países. Retirado de: <https://viacampesina.org/es/quienes-
somos/que-es-la-via-campesina/> acesso em 11/09/2018, 22h25min.
A chamada rede de IALAs, pois já se constituem mais de 8 experiências em 7
países3, iniciou a partir da cooperação solidária entre organizações pertencentes a Via
Campesina e a partir dos acúmulos referentes as práticas educativas e à construção de
um outro modelo de agricultura, o objetivo destas escolas está relacionado à defesa da
soberania alimentar, a proteção e multiplicação de sementes crioulas e a valorização da
agricultura camponesa. Também com o objetivo da busca de técnicas adequadas ao
meio ambiente e a promoção da qualidade dos alimentos, já que a agricultura camponesa
é a grande produtora de alimentos para a sociedade, pelo menos no Brasil onde segundo
o senso agropecuário de 2006 é a responsável por aproximadamente 70% da produção
de alimentos consumidos no país. Outro objetivo é ampliar e popularizar o debate em
torno à defesa da Soberania Alimentar, da multiplicação e democratização das sementes,
inclusive com a produção de materiais pedagógicos audiovisuais que subsidiem o acesso
a estes conhecimentos por parte da sociedade em geral e em especial pelos camponeses
e indígenas (CASTELLANO, 2010).
Com o objetivo de superar limites econômicos e políticos na construção de um
projeto popular Latino-americano e caribenho, se tem feito ações no sentido de gerar
práticas sociais que contribuam no processo de integração regional. Essas ações são
impulsionadas significativamente a partir de 2005, quando governos e movimentos sociais
camponeses (Governo Bolivariano de Venezuela, Governo Estadual do Paraná, a VC, o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra -MST e a Universidade Federal do
Estado do Paraná - UFPR) assinaram um Protocolo de Intenções e Compromissos
(Acordo de Tapes) para o desenvolvimento de diferentes atividades conjuntas (VIA
CAMPESINA, 2005).
Como parte desta cooperação, está a criação de Institutos Agroecológicos Latino
Americanos - IALAs, uma rede que atua na área de educação superior possibilitando o
acesso aos camponeses a esse grau de ensino, em vista de que na maioria dos países
latino-americanos estes se encontram excluídos da educação universitária. A meta inicial
foi criar no ano de 2005 “um curso latino-americano, de nível superior, de formação de
técnicos em agroecologia”, que seria desenvolvido em dois grupos, um na UFPR e outro
em uma universidade da Venezuela. Por tanto, neste mesmo ano foi criada a ELAA, no
Estado do Paraná, Município da Lapa, e em 2006 foi criado na Venezuela o Instituto

3
Brasil – IALA Amazônico e ELAA, Paraguai – IALA Guarani, Colômbia – IALA Maria Cano, Chile – IALA
Semeadoras de Esperança, Nicarágua – IALA Mesoamerica, Venezuela – IALA Paulo Freire, Haiti – IALA Haiti.
Agroecológico Latino-americano Paulo Freire (IALA Paulo Freire). Estas são as duas
experiências pioneiras da rede de IALAs. O IALA Guarani se soma a esse processo em
2008 com a eleição de Fernando Lugo para a presidência da Republica do Paraguai, que
no ato de sua posse também assinou uma carta de intenções entre a República
Bolivariana da Venezuela e a Republica do Paraguai, em que uma das ações previstas foi
à criação de um Instituto de Agroecologia.
O grande desafio que assumem as organizações que se propõem a construir estas
escolas latino-americanas, é construir concretamente a integração camponesa, a partir da
capacitação técnico-científica e de um projeto popular que se articula nas diversas regiões
e países latino-americanos. As bandeiras que unificam essa luta pela aquisição de
ferramentas para esta construção social são:

“La defensa de la biodiversidad y de los recursos hídricos de nuestros


países, derecho a la soberanía alimentaria de nuestros pueblos, defensa
de la agricultura campesina y la reforma agraria, la defensa de nuestras
semillas, como parte de nuestros derechos a la autodeterminación y
soberanía nacional”. (VIA CAMPESINA, sp, 2005).

Sendo assim, inerente a construção desse processo de integração, está o debate


sobre o conceito de que sociedade se busca efetivar e de que integração é necessária.
Nesse sentido, a materialidade de origem das Escolas de Agroecologia é a luta dos
sujeitos camponeses organizados, para garantir sua reprodução social a partir do trabalho
na terra.
As sucessivas aproximações com o objeto de estudo “a interface entre educação
universitária, a educação do campo e a integração latino-americana nas escolas de
agroecologia da via campesina: escola latino americana de agroecologia, no Brasil e
instituto agroecológico latino americano guarani, no Paraguai”, vai suscitando a
necessidade de aprofundar nossa análise acerca de como tem se materializado estas
experiências, como tem sido o processo histórico de construção? Quais desafios e limites
se tem encontrado nessa trajetória de construção contra-hegemônica? Seria possível
identificar avanços no processo de integração proposto desde as escolas de agroecologia
da VC? No contexto geopolítico latino-americano há possibilidade de construção de
processos de integração contra-hegemônicos aos processos tradicionais de integração?
Nesse processo de construção quais são as interfaces entre a educação universitária, a
Educação do Campo e a integração latino-americana? Com estas questões busca-se uma
aproximação do problema aqui proposto.
Com tais apontamentos, compreende-se que o recorte assumido para a presente
proposta de pesquisa encontra vínculo com a Linha de Pesquisa História da Educação do
Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) nível de doutorado da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

4. JUSTIFICATIVA

No Brasil, a partir de 1998 com a realização da primeira Conferência Nacional de


Educação do Campo, a educação dos povos trabalhadores do campo passou a fazer
parte de forma mais contundente na agenda educacional brasileira. Esse fato se deve à
força de mobilização e pela capacidade de luta dos MSP’sdoC. Dessa maneira, é a partir
do fazer da luta dos MSP’sdoC, que vem se materializando a Educação do Campo em
nosso país.
É a partir desse legado da Educação do Campo, que desde 2005 se instituem
experiências latino-americanas de formação da Via Campesina em regime de
Alternância. O regime de alternância tem se configurado uma condição para o acesso dos
povos camponeses ao ensino universitário, esta forma de organização curricular divide os
cursos em dois tempos/espaços distintos, mas que se inter-relacionam no processo
formativo: o tempo universidade e o tempo comunidade.
O tempo universidade é o período de “[...] tempo presencial em que os estudantes
estão juntos na Universidade ou em outro local, onde se desenvolvem as aulas e
orientações para trabalhos práticos nas comunidades de origem e para o
desenvolvimento de todos os outros tempos educativos.” (ALMEIDA; ANTONIO, 2008, p.
28). Já o tempo comunidade

[...] é o tempo em que os estudantes estão em suas comunidades,


desenvolvendo suas práticas, bem como outras atividades do Curso,
de estudo e pesquisa. Entendemos esse tempo tanto para trabalhos
individuais de cada estudante, como tempo reservado para os
coletivos regionais, com acompanhamento de assessoria
pedagógica. (ALMEIDA; ANTONIO, 2008, p. 28).

Uma das questões determinantes para organização dos cursos sob o regime de
alternância é a própria origem do sujeito camponês, para o qual os cursos estão
propostos. O regime de alternância é condição para que o camponês, trabalhador do
campo acesse a Educação Universitária, sem ter que se desvincular do campo, nem de
sua comunidade, para exercer seu direito à educação, nesse caso em nível universitário.
Foi no contexto de avanço de governos progressistas na América Latina, que
possibilitou a VC propor a criação da ELAA e do IALA Guarani. Neste contexto de luta, foi
colocado em pauta a necessidade da efetivação de cursos de graduação para a formação
de tecnólogos e engenheiros em agroecologia. Assim sendo, a formação destes
educadores do campo tem um vínculo concreto com a luta e a resistência dos povos
trabalhadores do campo pela garantia de sua existência. A integração que vem sendo
desenvolvida através destas escolas de agroecologia, que se concretizam a partir do
esforço dos movimentos sociais, do intercâmbio e da solidariedade internacionalista da
classe trabalhadora, deixa claro a intencionalidade e disposição de construir uma
proposição pedagógica no processo integracionista latino-americano.
É a partir dessa realidade que se busca construir ações que estejam no marco da
luta internacionalista. “Assim como o capital exerce seu domínio em nível mundial, a
nossa luta tem que ser internacionalista, anti-imperialista, em defesa da soberania dos
povos” (ENFF, Guararema - outubro de 2007, p. 33). As experiências que pretendemos
analisar, se inserem no contexto de disputa de projetos de classe com conteúdos
antagônicos, estão na direção contrária dos projetos que defendem uma integração como
processo de incorporação de novos mercados.
Estas experiências se fundamentam na problemática latino-americana sobre o
direito a terra, as revoluções agrárias, as lutas rurais como resultado das históricas
reivindicações camponesas e indígenas as quais se integram, atualmente, nos
enfrentamentos aos processos agroindustriais capitalistas. Colocam no centro do debate
a questão da soberania alimentar, como um assunto fundamental para toda a sociedade,
pois a saúde humana está diretamente relacionada à alimentação, “Los seres humanos
necesitamos alimentos, nutritivos, saludables y en una cantidad adecuada” para viver
(IALA Guarani p. 40). A escassez ou baixa qualidade dos alimentos coloca em risco a
saúde e a reprodução humana. O sistema hegemônico atualmente, que domina a
produção, distribuição, e o consumo tem proliferado uma quantidade cada vez maior de
alimentos que não cumprem com os requisitos nutricionais. Por que no sistema capitalista
as necessidades humanas adotam a forma mercantil. No capitalismo não se produz
segundo a necessidade da população, o alimento é transformado em uma mercadoria
como as demais.
A presente proposta de pesquisa toma fôlego a partir da inserção prático teórica
deste pesquisador na implementação de experiências de Educação do Campo e de
integração latino-americana, por meio da participação em processos formativos na rede
de Institutos Agroecológicos Latino Americanos (IALAs), em especial no Paraguai. A partir
de 2009, isso tem se materializado na proposição e no processo de acompanhamento à
constituição político pedagógica do IALA Guarani e do Curso de Engenharia em
Agroecologia no Paraguai.
As escolas de agroecologia se tornaram objeto de estudo sistemático, para este
pesquisador, em 2012 com o processo de pesquisa e a elaboração do trabalho de
dissertação de Mestrado em Educação 4, sob o título: “A Integração Latino-americana nas
Escolas Latino-americanas de Agroecologia da Cloc-Via Campesina no Brasil e
Venezuela” (CAMPOS, 2014).
Vale ressaltar também, que desde a inserção política na luta dos MSP’sdoC,
especificamente a do MST, assume-se a condição de sujeito do processo pesquisado.
Este posicionamento e convicção política parte do pressuposto de que é necessário
ultrapassar a leitura de uma pretensa neutralidade científica frente aos desafios que o real
nos impõe. Deste modo, afirma-se que a postura política assumida, assim como, a
definição do presente objeto de pesquisa, se ancoram na objetividade da vida, na
inserção nos processos formativos forjados a partir da vinculação orgânica deste
pesquisador às lutas sociais da classe trabalhadora.

5. Objetivos

3.1 Objetivo Geral:

Analisar e compreender a interface entre educação universitária, a Educação do


Campo e a integração latino-americana no processo histórico de integração proposto pela
Via Campesina a partir da implementação da Escola Latino Americana de Agroecologia no
Brasil e do Instituto Agroecológico Latino Americano Guarani no Paraguai, desde a
relação dos MSP’sdoC entre si e com os governos em cada país, a política pública de
4
Curso de pós-graduação strictu sensu realizado no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), da
UNIOESTE, Campus de Cascavel-PR, no período de 2012 a 2014.
sustentação destas experiências e a forma de ingresso nestas instituições, apreendendo
os limites e possibilidades engendrados nas práticas que sustentam os processos
integrativos analisados.

3.2 Objetivos Específicos:

 Analisar e compreender a interface entre Educação Superior, Educação do


Campo e a integração latino-americana a partir das escolas de agroecologia da
Via Campesina;
 Analisar e compreender o processo histórico de constituição da Escola Latino
Americana de Agroecologia – ELAA e do Instituto Agroecológico Latino
Americano Guarani – IALA Guarani, no Brasil e Paraguai respectivamente;
 Analisar e compreender o processo histórico de configuração do Projeto Político
Pedagógico da ELAA e do IALA Guarani enquanto experiências educativas
voltadas a integração latino-americana;
 Identificar e analisar os limites e possibilidades históricas das ações dessas
escolas como articuladoras da integração latino-americana, tendo a formação
tecnológica, científica e política como eixos integradores;

6. Breve revisão da literatura e fundamentação teórica

O processo de integração latino-americana não é um debate novo, este tema esta


presente desde as lutas independentistas do século XIX. Na atualidade é retomado e
reivindicado, por nações, povos e movimentos sociais, trazendo a cena o pensamento de
grandes lutadores e pensadores latino-americanos, como Jose Martí, Simon Bolívar, Jose
Carlos Mariategui, que empenharam a vida na luta pela construção de uma “pátria
grande”, “Nuestra América” (CAMPOS, 2014). “Duas orientações antagônicas confrontam-
se nesse processo integracionista: Bolívar ou Monroe. O triunfo desta última categorizou a
integração como incorporação e submissão, perdurando ao longo dos séculos XIX e XX”
(VILLETTI ZUCK, 2011, p.07), onde nossas riquezas foram o fator da pobreza da grande
maioria da população latino-americana como bem pontuou Eduardo Galeano (2000) no
livro “As Veias Abertas da América Latina”.
A partir do fracasso, na década de 1980 e 1990, da implantação da agenda
neoliberal na América Latina, há uma confluência da luta anti-imperialista e antiliberal,
feita pelos movimentos sociais de esquerda com a eleição de governos de oposição ao
projeto liberal no contexto da primeira década deste século. Por tanto:

Na atualidade latino-americana coexistem vários processos de integração:


Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), Mercado Comum da Comunidade
do Caribe (CARICOM), União de Nações Sul-Americanas (UNASUL),
Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América, Tratado de Comércio
dos Povos (ALBA-TCP), entre outros. (VILLETTI ZUCK, 2011, p.14).

Nesse contexto de disputa de projetos com conteúdos antagônicos:

Por exemplo, a classe burguesa brasileira e a argentina, principais


economias da América do Sul, são partidárias de uma integração favorável
à sua dominação econômica sobre o resto da região. Querem seguir o
modelo da construção europeia, baseada num mercado único dominado
pelo grande capital. (VILLETTI ZUCK, 2011, p.14).

Nos termos de Villetti Zuck, “há outro projeto de integração que se inscreve no
pensamento bolivariano e que quer dar um conteúdo de justiça social à integração” (2011,
p.15). Que prima pelos princípios da solidariedade, a complementaridade e a cooperação.
Segundo Bossi:

Os americanos do Sul terão que inventar, mergulhar na nossa história,


escutar as "vozes do passado que nos iluminam o futuro", no dizer de
Eduardo Galeano; implantar um modelo endógeno regional que conduza à
unidade, que seja produto da nossa própria obra, para cobrir as nossas
necessidades e representar os nossos interesses (2005, sp).

É neste sentido de criação que se inscreve o projeto da Via Campesina, a partir da


construção de novas formas de produzir, integrando a ciência, a cultura camponesa e
indígena, construindo a agroecologia, entendida aqui como “[...] o estudo dos
agroecossistemas, considerados como o resultado de um processo coevolutivo entre a
sociedade e a natureza, também e em consequência uma forma de produzir alimentos
com a natureza e não contra ela” (IALA Guarani 2011, p.45). Por tanto este projeto de
escola e de integração vem “Questionar a lógica do mercado mundial na defesa dos
direitos dos camponeses o que exige integrar reciprocamente, o direito a uma
alimentação suficiente, nutritiva, livre de agrotóxicos e transgênicos” (IALA Guarani 2011
p. 44). Desta maneira pautando o debate da soberania alimentar que é de interesse de
toda a sociedade.
É nesse bojo, que apontamos a possibilidade das experiências das Escolas de
Agroecologia da Via Campesina, como uma rica e consistente tentativa de construção da
integração camponesa latino-americana, uma integração que esteja voltada aos
interesses da classe trabalhadora, na perspectiva de construir sua emancipação, em um
contexto em que nas palavras de Bossi: “a alternativa hoje já não é “vencer ou morrer”; a
alternativa hoje é muito mais exigente, ainda de maior responsabilidade”. “Como dizia o
patriota venezuelano José Félix Ribas: “é necessário vencer” (2005)”.

Originalidade da temática investigada

A constituição e efetivação das Escolas de Agroecologia da Via Campesina, no


marco do processo integracionista latino-americano no Brasil e Paraguai, indicam a
necessidade de reflexão e aprofundamento dos elementos que constituem tais processos.
As ações da Via Campesina na luta em defesa dos povos do campo, e neste contexto, o
debate da integração latino-americana desde a perspectiva popular, a partir das
experiencias de formação em agroecologia, tem sido provocado e, ao mesmo tempo, tem
sido provocador de inúmeras reflexões no interior e entre distintos sujeitos/espaços
sociais. Neste sentido, a pretensão com esta proposta de pesquisa, é buscar o
aprofundamento de compreensão acerca da interface entre Educação Universitária,
Educação do Campo e a integração latino-americana a partir das Escolas de Agroecologia
da Via Campesina.
Com a constituição das duas escolas de agroecologia em específico, e uma
crescente rede de escolas de agroecologia em nível de América Latina, a temática da
integração latino-americana desde a perspectiva dos setores populares tem encontrado
eco nas ações de governos e de instituições que atuam em nível internacional. Neste
contexto, a interface entre Educação Universitária, a Educação do Campo e a integração
latino-americana alcança destaque, sobretudo, quando considerado que a concretização
destas experiências são fruto da mobilização e luta dos MSP’sdoC e de sus acúmulos
históricos na discussão de projetos de campo, de educação e de integração dos povos.
Dentro do exposto, compreende-se que a integração latino-americana na interface
entre Educação Universitária e Educação do Campo se apresenta como um importante
foco de estudo com objetiva originalidade. Esse entendimento toma materialidade na
proposta de pesquisa aqui apresentada e no recorte assumido, que tem por objeto de
pesquisa “a interface entre educação universitária, a Educação do Campo e a integração
latino-americana nas escolas de agroecologia da via campesina: escola latino americana
de agroecologia, no Brasil e instituto agroecológico latino americano guarani, no
Paraguai.”

7. Descrição e fundamentação da metodologia a ser usada

O desenvolvimento deste projeto de pesquisa se dará a partir do levantamento de


dados acerca da constituição da Escola Latino Americana de Agroecologia e do Instituto
Agroecológico Latino Americano Guarani, no Brasil e Paraguai. Para o levantamento dos
dados necessários serão consultadas variadas fontes. A pretensão é realizar a coleta e o
exame dos dados por meio da pesquisa documental e da pesquisa de campo, o que
poderá ser alcançado a partir da investigação de forma direta e de forma indireta. A coleta
de dados de forma direta, conforme Marconi e Lakatos (2011, p. 43), “[...] constitui-se, em
geral, no levantamento de dados no próprio local onde os fenômenos ocorrem [...]”. Já a
coleta de dados de forma indireta “[...] serve-se de fontes de dados coletados por outras
pessoas, podendo constituir-se de material já elaborado ou não.” (MARCONI; LAKATOS,
2011, p. 43).
No trajeto da presente proposta de pesquisa utilizar-se-á das técnicas de
observação direta intensiva – através da observação e da entrevista e da pesquisa
documental em fontes primárias – e da pesquisa bibliográfica – em fontes secundárias.
Segundo Marconi e Lakatos (2011, p. 43), “Os documentos de fonte primária são aqueles
de primeira mão [...]. Englobam todos os materiais, ainda não elaborados, escritos ou não,
que podem servir como fonte de informação [...].” Enquanto a pesquisa de fontes
secundárias “Trata-se de levantamento de toda bibliografia já publicada, em forma de
livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. Sua finalidade é colocar o
pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto
[...].” (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 43-44).
A abordagem teórico metodológica desta proposta de pesquisa está ancorada na
teoria crítica do conhecimento. A abordagem dialética, aqui assumida, compreende “[...]
um método que permite uma apreensão radical (que vai a raiz) da realidade e, enquanto
práxis, isto é, unidade de teoria e prática na busca da transformação e de novas sínteses
no plano do conhecimento e no plano da realidade histórica.” (FRIGOTTO, 1991, p. 75).
Pretende-se a partir desse referencial, apreender o objeto da pesquisa considerando os
procedimentos de análise, as técnicas e os instrumentos de coletas de dados
mencionados anteriormente.
Visando a apreensão do objeto de estudo, num primeiro momento, a pesquisa se
debruçará sobre os processos integracionistas latino-americanos desde uma perspectiva
histórica, buscando focar os processos recentes de integração, principalmente aqueles
desenvolvidos a partir do enfraquecimento e superação da ALCA em 2002. Guiado pela
questão, após derrotada a ALACA, quais são os processos integracionistas na América
Latina que seguem em Disputa?
Como desdobramento dos objetivos específicos, buscar-se-á analisar e
compreender a interface entre Educação Universitária, Educação do Campo e a
integração latino-americana a partir das Escolas de Agroecologia da Via Campesina. Para
alcançar este objetivo realizar-se-á pesquisa bibliográfica e documental, com foco nas
bibliografias que tratam da construção da Educação do Campo nos marcos de seus 20
anos de construção e os processos desenvolvidos a partir do início da década de 2000 no
que tange a construção de escolas de agroecologia entre a Via Campesina e
determinados governos, que buscaram fortalecer a política de integração via estas ações
na dimensão da formação universitária.
Perseguindo os objetivos específicos elencados, buscar-se-á a descrever o
processo histórico de constituição das Escolas de Agroecologia da Via Campesina, essa
iniciativa que vem sendo construída a partir da organização coletiva e da luta social,
focalizaremos o olhar para o processo de integração camponesa na América Latina, o que
exigirá mais uma vez o olhar histórico sobre os processos de integração desenvolvidos e
quais são os conceitos de integração em disputa nesta cena política. Para tanto, será
desenvolvida uma revisão bibliográfica, envolvendo levantamento, seleção e estudo de
bibliografias, que tragam elementos teóricos capazes de analisar, articular, ou não, as
diferentes categorias de análise apontadas. Além de documentos oficiais das Escolas de
Agroecologia ou dos movimentos sociais implicados na construção destas.
Avançando na construção da pesquisa, pretendemos proceder à análise dos
Projetos Político e Pedagógico da ELAA e do IALA Guarani, nos países, Brasil e Paraguai
respectivamente. Nesta fase do trabalho, também se realizara entrevistas dialogadas
semiestruturadas com coordenadores das escolas, dirigentes da Via Campesina e
estudantes, assim como desenvolveremos observação .
Por ultimo, procurar-se-á fazer a avaliação ou análise acerca dos limites e
possibilidades da ELAA e IALA Guarani, como experiências articuladoras de um projeto
de integração latino-americana, considerando o desenvolvimento da experiência de
formação em escolas que são uma criação autentica dos MSP’sdoC, tendo a formação
tecnológica, científica e política como eixos integradores, buscaremos identificar os
determinantes que impulsionam ou que constituem barreiras para o desenvolvimento da
integração propostas pela Via Campesina a partir dessas escolas.
Assim a partir do desenvolvimento desse plano e trajeto de pesquisa, assim como
a dinâmica metodológica proposta, buscar-se-á a possibilidade de concretizar o objetivo
geral da presente intenção de pesquisa.

8. Cronograma de execução

Período 2020 2021 2022 2023


1º 2º 1º 2º 1º 2º 1º 2º Sem.
Atividade Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Sem.
Cumprimento dos
créditos exigidos
Estudo e elaboração
de fichamentos
conforme orientação
Recolhimento, seleção
e organização do
material de pesquisa
Realização do Estágio
de Docência

Análise do material de
pesquisa

Exame de proficiência
em língua estrangeira

Participação em
eventos científicos

Redação da tese

Realização do exame
de qualificação

Reescrita conforme
sugestões da banca
de qualificação

Defesa da tese

Redação e entrega do
texto final da tese

9. Referências

ALMEIDA, Benedita; ANTONIO, Clésio Acilino; ZANELLA, José Luiz (org.). Educação do
Campo: um projeto de formação de educadores em debate. Cascavel: EDUNIOESTE,
2008.

BOSSI, Fernando Ramón. Intervenção no Fórum da III Cimeira dos Povos. Mar del
Plata, 03/Novembro/2005. Tradução de José Paulo Gascão. O original encontra-se em:
<https://resistir.info/venezuela/alba_bossi.html>

CAMPOS, João Carlos de. A integração latino-americana nas escolas latino-


americanas de agroecologia da Cloc-Via campesina no Brasil e Venezuela.
Dissertação (Mestrado em Educação) Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Educação, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel/PR, 2014.

CASTELLANO, Maria Egilda (coord.). Documento fundacional. Instituto Universitário


Latinoamericano de Agroecologia “Paulo Freire”.Venezuela: Editorial Melvin, maio de
2010.

ENFF, Escola Nacional Florestan Fernandes. Cadernos de Estudo ENFF No 3, O


Legado de Ernesto Che Guevara, Guararema - outubro de 2007

FRIGOTTO, Gaudêncio. Enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa


educacional. In: Ivani Fazenda (org.), Metodologia da pesquisa educacional, São Paulo:
Cortez, 1991.

GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. Tradução de Galeno de Freitas. 39ª


ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. 307p. Título original: Las venas abiertas de America
Latina. (Coleção Estudos Latino-Americanos, v.12).

IALA Guarani – Instituto Agroecológico Latinoamericano Guarani. Proyecto Político


Pedagógico de la Carrera de Ingeniería en Agroecología. – Curuguaty, departamento
de Canindeyú, Paraguay – Mayo de 2011(mimeo).
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho
científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações
e trabalhos científicos. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2011.

VERDÉRIO, Alex. A materialidade da Educação do Campo e sua incidência nos


processos formativos que a sustentam: uma análise acerca do curso de Pedagogia da
Terra na UNIOESTE. 2011. 210 p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
Cascavel, PR, 2011.

VIA CAMPESINA. Protocolo de intenciones que hacen entre sí: la Vía Campesina, el
gobierno de la República Bolivariana de Venezuela, el gobierno Del Estado de
Paraná e instituciones de enseñanza del Brasil e de Venezuela. Tapes/ - RS, janeiro
de 2005 (mimeo).

VILLETTIZUCK, D. A integração da América latina expressa na educação


venezuelana dos governos Chávez: 1999-2009. Dissertação de Mestrado. 303 p.
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, Cascavel/PR, 2011.

Potrebbero piacerti anche