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Polícia Interativa
Natal/RN
2019
Natal/RN
2019
1Janildo da Silva Arante, 2º Sargento QPMP-0 - PMRN, é formado em Matemática Licenciatura Plena pela UFRN e pós-graduando em
Polícia Comunitária (UNYLEYA) e em Criminologia (Faculdade Futura). Possui diversos cursos na área de Segurança Pública. Já ministrou,
junto ao CFAPM, além dessa disciplina, as disciplinas de Estatística Aplicada à segurança Pública (CFS - CFAPM), Sistema e Gestão em
Segurança Pública (CAS), Polícia Comunitária (CAS), Fundamentos da Gestão Pública Aplicados à Segurança Pública (CFS – Nova Cruz),
Sistemas de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária (CFS – CFAPM e Nova Cruz) e Didática Aplicada à segurança Pública (CFS -
CFAPM).
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 2
Parte I - Policiamento Orientado para o Problema
Objetivo: Capacitar os discentes do CAS a que possam potencializar suas tarefas enquanto operadores do
Sistema de Segurança Pública, as quais devem ser focadas na identificação das causas dos problemas de segurança
vividos pela comunidade, bem como em sua decorrente solução, com o apoio de lideranças comunitárias.
Ementa:
1. Conceito e componentes de situações-problema;
2. Diagnóstico de situações problemáticas;
3. Etapas da solução de problemas;
4. Identificação de alternativas;
5. Avaliação de alternativas;
6. Discussão, planejamento e encaminhamento participativo de soluções;
7. Análise de etapas e forma de comunicação;
8. Resposta
9. Avaliação de resultados;
10. Ferramentas de auxílio à tomada de decisão.
Metodologia: Aulas expositivas, práticas e simulações.
Contextualização e Objetivos:
Este curso possibilitará a você, que é operador do sistema de segurança pública, utilizar o método IARA:
➢ Identificar os problemas vividos na sua comunidade;
➢ Analisar as suas causas principais;
➢ Responder com ações criativas; e
➢ Avaliar os seus impactos com o apoio da comunidade.
Além de estudar o conteúdo do curso e realizar os exercícios propostos, verifique as atividades propostas no
ambiente de aprendizagem.
Este curso criará condições para que você possa:
Ampliar conhecimentos para:
➢ Conceituar policiamento orientado para o problema;
➢ Descrever as eras da polícia moderna;
➢ Analisar as estratégias do policiamento moderno;
➢ Descrever o método IARA (identificação, análise, resposta e avaliação);
➢ Compreender o gerenciamento da rotina de trabalho;
➢ Conceituar a teoria do crime de oportunidades; e
➢ Identificar o processo do “triângulo do crime”.
Desenvolver e exercitar habilidades para:
➢ Utilizar o método IARA para resolver os problemas de segurança pública;
➢ Elaborar o diagrama causa-efeito e plano de ação (5w2h)
➢ Aplicar o “triângulo do crime” na análise do problema;
➢ Utilizar a técnica de prevenção do crime situacional.
O relatório constatou haver uma hostilidade profunda entre a comunidade dos guetos e a polícia, fato gerador de
revoltas sociais, porém não o único. Outros fatores apontados pela comissão era o sistema de justiça criminal que
apresentava, em relação aos pobres, grandes discrepâncias nas sentenças, equipamentos e serviços correcionais
antiquados, entre outras desigualdades. A comissão relatou, ainda, comentários negativos acerca das práticas
policiais tendo como destaque o “patrulhamento preventivo agressivo”. (MARCINEIRO, 2009, p. 46, grifo do
autor)
Diante dessas constatações, os pesquisadores bem como os gestores de polícia, concluíram não pela extinção,
mas pela necessidade do aperfeiçoamento do modelo profissional de polícia, dando início ao modelo de polícia de
proximidade e, subsequentemente, à Teoria da resolução de problemas com a comunidade (HIPÓLITO; TASCA,
2012).
A denominada era da resolução de problemas com a comunidade evidencia-se, especialmente, em 1970, com a
realização de experiências de reestruturação dos departamentos de polícia com foco no relacionamento entre polícia e
comunidade, havendo descentralização do serviço policial em nível de comunidade e um sistema cooperativo com a
finalidade de buscar uma solução preventiva para os problemas locais. (GOLDSTEIN, 1990).
[...] É um grupo de duas ou mais ocorrências (cluster de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos
(procedimentos, localização, pessoas e tempo - PADRÃO), que causa danos e, além disso, é uma preocupação para
a polícia e, principalmente, para a comunidade”; e acomete, em pouco tempo, grande número de pessoas. [...].
Nesse sentido, destacam-se alguns elementos que tornam esses incidentes comuns, ligando-os, tais como tipo da
infração praticada (furto, lesão, roubo), procedimento modus operandi,ou seja, consulta sobre a operacionalização dos
incidentes, comportamentos, local, contexto físico e social, incidentes que por algum motivo ocorrem sempre no mesmo
local, tempo, horários e dias da semana, pessoas, ou seja, os atores envolvidos no problema, que incluem vítimas,
infratores, e terceiros, e, finalmente, evento, ou seja, incidentes que ocorrem devido a eventos (show, festa, feira), ou em
determinado período do mês, do dia ou da semana (GOLDSTEIN, 1990).
Outro ponto de relevância, nessa etapa, trata-se dos atores a quem se destina a tarefa de identificar os problemas,
ponto em que se reveste de relevância o termo disseminado pela polícia comunitária, qual seja, parceria, já que essa
tarefa não está adstrita a um segmento único de tal forma que Hipólito e Tasca (2012) atribuem a três grandes grupos
essa tarefa (comunidade, gestores de polícia e policiais de ponta).
Já quanto às formas de identificação desses problemas, aponta-se, além de reuniões junto a conselhos
comunitários, para a possibilidade de realização de entrevista, aplicação de questionários, urnas, conversas informais,
queixas em rádios comunitárias, registros de ocorrências. Esse processo é importante para que a identificação dos
problemas não se resuma a visão parcial e simplificada da polícia que possui conhecimentos restritos acerca dos
problemas que afetam a comunidade (GOLDSTEIN, 1990).
2Com a expressão mencionada o autor referencia um caso em que, hipoteticamente, todos os dias crianças caíam na água e eram levadas pela
correnteza, forçando quem passava pelo local a continuamente arriscar-se para salvá-las, parecendo óbvio e urgente que, tão logo a repetição das
ocorrências fosse comprovada, deveria se desvendar o que estava acontecendo com as crianças antes de elas caírem na água. (ROLIM, 2009).
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 5
Da mesma forma, pode-se utilizar, tanto na fase da identificação quanto na fase da análise dos problemas, de
uma técnica denominada brainstorming, ou seja, tempestade de ideias, a qual visa reunir, de forma preliminar, as
diversas ideias de variados segmentos da sociedade para a identificação e solução dos problemas. (OLIVEIRA, 2006).
Por fim, Hipólito e Tasca (2012) sublinham que, para uma ação eficaz e focada, apresenta-se como relevante a
priorização dos problemas identificados, elegendo, dentre esses, aqueles em que as ações conjugadas serão empregadas
em um primeiro momento, propondo-se, para esse fim, a utilização da matriz Gravidade x Urgência x Tendência
(GUT) e a qual elencará os problemas conforme sua gravidade (impacto do problema), urgência (tempo disponível e
necessário para resolução) e tendência (potencial de crescimento do problema).
Uma vez identificado e priorizado o problema, passa-se à etapa de análise, que consiste em entender, conhecer o
problema de forma que se possa descobrir a sua causa, sendo esta etapa primordial para a eficácia do método,
consistindo, nas palavras de Goldstein (1990), no centro do processo de resolução de problemas.
Para tanto, Oliveira (2006) propõe a utilização de um modelo de análise do problema baseado em
questionamentos referentes a três categorias (atores envolvidos no problema, incidentes que o compõem e ações
empreendidas pela comunidade e demais órgãos), sugerindo o uso de uma tabela para formatação dessa análise de forma
a detalhar os componentes do problema.
Destaca-se, ainda, que, segundo Goldstein (1990), tais informações podem ser colhidas por meio de trabalhos
acadêmicos (artigos científicos, monografias, dissertações), registros policiais, policiais de ponta, vítimas, comunidades,
infratores e outras agências governamentais e não governamentais.
Finalmente, Hipólito e Tasca (2012) sugerem o uso do diagrama de Ishikawa ou diagrama espinha de peixe
(figura 4 – seção 3) para auxiliar na mensuração das causas e efeitos, caracterizando o problema com suas causas prin-
cipais e secundárias.
Na terceira etapa do método I.A.R.A, busca-se o estabelecimento da solução mais adequada ao problema para
posterior implementação, trata-se da fase das respostas. Nessa fase, Oliveira (2006) destaca a importância de
dimensionar objetivos, os quais podem representar a supressão completa do problema com ações sobre as causas ou,
ainda, a redução de sua amplitude ou gravidade.
Para cumprir essa meta, Oliveira (2006) ressalta a necessidade de buscar respostas mais amplas do que, aquelas
rotineiramente aplicadas, que, em regra, voltam-se apenas a reprimir um determinado fato delituoso ou prender um
infrator ou, ainda, apenas repassar o problema a outra agência governamental, sem esquecer, contudo, que as respostas
devem ser pautadas por ações adequadas, preferencialmente, de baixo custo e máximo benefício, sem esquecer de
dimensionar objetivos estratégicos, os quais podem representar a supressão completa do problema com ações sobre as
causas ou, ainda, a redução de sua amplitude ou gravidade.
Para tanto, destacam-se várias alternativas que podem ser exploradas, tais como: ações voltadas à redução de
oportunidades, alteração na prestação de serviços governamentais, fornecimento de informações confiáveis da polícia à
comunidade (procedimentos de segurança, informação, etc), desenvolvimento de novas habilidades e competências dos
policiais, novas formas de autoridade, mobilização da comunidade etc, evitando o uso exclusivo de técnicas policiais
tradicionais (HIPÓLITO; TASCA).
No mesmo sentido, Bondaruk (2011) destaca as estratégias de prevenção ao crime através do desenho urbano,
envolvendo técnicas como a melhoria da vigilância natural, controle de acesso que permita visualização do ambiente,
bem como reforço territorial, marcado pela presença e vigilância constante de pessoas e habitantes de determinado local.
Para tanto, existem algumas técnicas aptas a facilitar o desenvolvimento dessas respostas, tais como o Triângulo
de Análise de Problemas (TAP), que levam em conta a vítima, o infrator e o ambiente para, com base em ações criativas
e de baixo custo, oferecer respostas relacionadas às causas descobertas na fase de análise dos problemas sem esquecer a
viabilidade econômica da implementação dessas soluções (BONDARUK, 2011).
Essas ideias podem, ainda, ser explanadas por meio de uma ferramenta denominada 5W2H, por meio da qual são
propostas cinco perguntas What? Why? Who? Where? When?, How? How much? (O que será feito? Por que? Quem
vai fazer? Quando será feito? Como será feito? e Quanto custará?) para esclarecer a estratégia adotada na solução de um
problema (CAMARGO, 2014).
Finalmente, Oliveira (2006) destaca que após aplicada a estratégia de solução dos problemas, passa-se à
avaliação do emprego dessa técnica visando auferir o efeito que a estratégia teve sobre a resolução do problema.
A importância dessa fase revela-se em especial por dois aspectos. Primeiro, possibilita o acompanhamento social
do desempenho da polícia e, segundo, permite que a própria instituição policial aprenda sobre a efetividade das
estratégias desenvolvidas para determinados problemas aprimorando-as ou descartando-as (HIPÓLITO; TASCA,
2012).
Para tal análise, segundo os autores, se faz necessária a clara compreensão do pro blema, a concordância sobre
quais interesses serão contemplados por meio da resolução do problema, a definição transparente do que se espera da
polícia em relação ao problema, a determinação acerca dos efeitos esperados de curto ou longo prazo, a certeza de que a
resposta implementada é legal e equânime e, ainda, o padrão de desempenho desejado em relação aos objetivos
estabelecidos.
Diante do exposto, verifica-se que essa metodologia, destaca-se, não só pelo fato de possibilitar seu emprego na
busca para a solução de vários problemas comuns ao cotidiano policial, sejam eles de desordem, crime ou contravenção
3 Clarke, Roland V., e John E. Eck. Crime Analysis for Problem Solvers in 60 Small Steps. Washington, D.C.: U.S. Department of Justice, Office of
Community Oriented Policing Services, 2005.
4 Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Especialista em Gestão da Segurança Pública pela Faculdade
Barddal. Aspirante a oficial da Polícia Militar de Santa Catarina.igor4444@gmail.com
5 Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Bacharel em Segurança Pública pela Universidade do Vale do Itajaí.
Especialista em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera. Capitão da Polícia Militar de Santa Catarina. thiagoaugusto.vieira@gmail.com
6 Policiamento Orientado para a Solução de Problemas
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 8
Para GOLDSTEIN (2001) um problema no policiamento comunitário podeser definido como“um grupo de duas
ou mais ocorrências (cluster de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos (procedimentos,localização,
pessoas e tempo), que causa danos e, além disso, é uma preocupação para a polícia e principalmente para a
comunidade.”
CERQUEIRA (2001), conceitua que problema (no contexto de Polícia Comunitária), “é qualquer situação que
cause alarme, dano ameaça ou medo,ou que possa evoluir para um distúrbio na comunidade” - Fonte: SENASP.
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Para iniciar o método Iara, é necessário definir o que é um problema. No contexto do POSP, um problema
corresponde a um grupo de incidentes similares em tempo, modo, lugar e pessoas, relacionados à segurança pública. Além
disso, um problema deve ser uma preocupação substancial tanto para a comunidade quanto para a polícia. Assim, tanto
polícia como comunidade devem participar juntos e ter paridade no processo de identificação do problema (TASCA,
2010). É importante também nesta etapa a participação da comunidade. Segundo Marcineiro (2009, p. 119), dar qualidade
ao serviço policial significa torná-lo mais próximo e acessível ao cidadão respeitando-lhe as necessidades e desejo e
considerando as díspares peculiaridade de cada comunidade no planejamento oferta do serviço policial
Além disso, segundo o autor,
Outro aspecto que deve ser levado em conta na identificação do problema é a necessidade de se eliminar o
‘achismo’, ou seja, deve-se trabalhar com atos concretos e dados coletados em fontes de informações confiáveis. A
experiência pessoal de cada um que participa na identificação do problema é importante, porém, para se
evitar desperdício de tempo e recursos na busca de soluções por um problema erroneamente identificado ou pouco
importante no contexto geral, deve-se procurar, sempre que possível, comprovar a experiência pessoal através de
dados estatísticos (Marcineiro, 2009, p. 180).
No tocante à contribuição da polícia, destaca-se o papel da inteligência de segurança pública como condição
primordial à identificação dos problemas e suas respectivas causas. Por isso, a inteligência de segurança pública deve
ser desenvolvida e aperfeiçoada constantemente com a integração de diversas bases de dados e não apenas com dados
de instituições de segurança pública, uma vez que órgãos, como secretarias de saúde e educação, podem fornecer
informações bastante valiosas à polícia. Nesse cenário, é interessante a utilização de tecnologias cada vez mais
avançadas de análise criminal no auxílio à inteligência de segurança pública (SANTA CATARINA, 2011).
Entretanto, segundo Rolim (2009, p. 41), infelizmente, muitas vezes só se obtêm: dados compilados partir dos
registros de ocorrência, o que assimila, inequivocamente, uma maneira ultrapassada de se lidar com indicadores de
criminalidade e violência.
Não por outra razão, o rol de indicadores de problemas deve ser amplo e diversificado. Do lado policial devem ser
considerados os órgãos da segurança pública no geral (policiais militares, policiais civis e bombeiros); do lado da
comunidade devem participar, além de moradores, empresários e lideranças locais representantes de outras instituições
públicas e privadas. Todos devem participar e conjunto para dar legitimidade ao processo (BRASIL, 2009).
Cabe salientar que, ao se isolar um determinado tipo de problema, há maior facilidade de resolvê-lo, e é
necessário considerar ainda que um pequeno grupo de problemas se mostra responsável por um número considerável
de ocorrências policiais. Segundo dados trazidos por Rolim (2009, p. 139) de pesquisa realizada no Estados Unidos
TEORIA DO CRIME 7
Triangulo do crime –Dinâmica no cenário shopping center
Por André Vicente dos Anjos
O primeiro centro de compras do país foi inaugurado em 1966 e, num primeiro momento, causou desconfiança em
empresários e investidores pelo formato fechado, conflitando com o badalado e luxuoso comércio de rua que
predominava na época. Com o tempo a disputa pelos melhores espaços provou que os visionários empreendedores
estavam certos em sua aposta, pois logo o empreendimento se transformou num importante ponto de encontro da
cidade de São Paulo. Mais de cinquenta anos se passaram e este modelo de centro de compras sofreu grandes mudanças
conceituais ao longo de todos estes anos, se transformando nos grandes locais de entretenimento que vemos hoje.
Os shopping centers são estruturas pensadas e construídas para receber grandes quantidades de pessoas que
buscam, em sua grande maioria, um ambiente confortável, climatizado, limpo, seguro, com ótimo atendimento desde
sua entrada e que ali possam resolver tudo com total segurança. Segundo dados da ABRASCE –Associação Brasileira
de Shopping Centers –temos hoje no Brasil 571 empreendimentos e outros tantos em construção que recebem
mensalmente mais de 400 milhões de clientes passando pelos corredores destes espaços confiantes que estão sendo
muito bem cuidados. Essa é a percepção dos clientes.
Por ser considerado um local seguro muitos empresários do segmento joias e relojoarias que possuíam lojas de rua
optaram em locar espaços dentro destes grandes empreendimentos onde podiam atender um público muito exigente de
forma diferenciada, discreta e segura. Este era o cenário …
Ocorre que, os shoppings passaram a ser alvo de constantes ataques de quadrilhas bem organizadas e articuladas
cujo foco principal são produtos de fácil negociação como relógios, joias e aparelhos telefônicos, situação que mudou
completamente o cenário anterior. As ações criminosas, cada vez mais ousadas, têm se mostrado recorrentes em alguns
empreendimentos, deixando algumas dúvidas, a saber:
1) Por que as ações criminosas se voltaram para os shoppings?
2) Quais os critérios adotados pelos criminosos para escolher um alvo específico?
3) Por que não se consegue dar uma resposta assertiva de modo a inibir atos criminosos?
4) Por que determinado empreendimento sofre com mais ataques que outro, situado no mesmo bairro?
Essas perguntas só podem ser respondidas se deixarmos de lado o modelo mental ultrapassado que tipifica um
criminoso como alguém sem estudo, com baixo nível intelectual e cultural e que seja incapaz de articular com outros
elementos em prol de um objetivo delituoso que gere benefícios para todos os envolvidos.
Isso mesmo. Esse modelo dominante nos fez imaginar que o shopping fosse algo intransponível enquanto
deixamos de considerar ainda outro importante fato. A sazonalidade das ações criminosas. Exatamente isso. Basta
analisar os dados estatísticos dos últimos anos e podemos observar claramente que existe uma mudança no foco das
7 André Anjos C.P.S.I / C.I.G.R / M.B.R / C.I.S.I. Gestor de Segurança no segmento varejo , Graduado e Pós-Graduado em Segurança
Privada e Ordem Públicas, Especialista em riscos corporativos com ênfase em grandes empreendimentos, Especialista em Administração de
Segurança, Certificado Profesional em Seguridad Internacional-C.P.S.I, Certificado Internacional en Gestion de Riesgos-C.I.G.R e Master
Business In Risk-MBR
Certificado Internacional em Segurança Integral e Prevenção de perdas-C.I.S.I. AGRADECIMENTOS: Nelson Junior:
Gerente de segurança – São Paulo, Marcelo Cabral: Gestor de Segurança – Rio de Janeiro, Tiago Miranda: Gestor de Segurança – Rio de
Janeiro, Djalma Santos: Coordenador de Segurança – Rio de Janeiro e Ubiratan Gomes: Coordenador de Segurança – Rio Grande
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 10
ações nos diferentes períodos da história recente.
Sem a necessidade de ser específico com datas, pois a temática abordada no estudo é o cenário shopping center,
observamos que, ao longo dos últimos vinte e cinco anos, as ações criminosas de grande vulto contemplaram as
seguintes modalidades:
Assalto a agências bancárias;
Sequestro e sequestro relâmpago;
Assaltos a casas lotéricas;
Explosões de caixas eletrônicos;
Assaltos a shoppings e
Roubo de cargas.
Não consideramos nesta lista o tráfico de drogas pelo simples fato que este apresenta uma característica
atemporal, ou seja, sempre existiu neste período independente das outras ocorrências e dos impactos causados por
tipo criminal.
Comprovadamente os tipos criminais mudaram ao longo dos anos assim como os objetivos e isto exigiu por
parte dos infratores certa perspicácia e um nível de inteligência capaz de identificar as VULNERABILIDADES em
cada alvo potencial.
As percepções deste breve estudo foram compartilhadas com cinco gestores de grandes administradoras do
varejo Brasileiro e, excetuando-se pequenas divergências sobre os fatores externos e de localização do
empreendimento, as conclusões uníssonas serviram de base para as respostas das perguntas feitas na introdução do
estudo.
1) Por que as ações criminosas se voltaram para os shoppings?
Os produtos de fácil repasse como celulares, joias, relógios e dinheiro (Casa de câmbio e lotéricas) dentro de um
ambiente vulnerável que não possibilita reação em razão dos impactos que esta pode causar. Algumas administradoras
optam em ter agentes desarmados.
2) Quais os critérios adotados pelos criminosos para escolher um alvo específico?
Os criminosos planejam muito bem suas ações e, durante as várias visitas a diferentes empreendimentos,
escolhem aquele que apresentar maior vulnerabilidade, facilidade de acesso e saída. Este será fatalmente um alvo
potencial. Rotas de fuga difíceis e proximidade de órgão públicos podem ser inibidores de ações em locais bem
específicos.
3) Por que não se consegue dar uma resposta assertiva de modo a inibir atos criminosos?
Para que uma resposta seja assertiva uma combinação de protocolos operacionais e técnicos devem ser
implantados, para isso é necessário que o empreendimento disponha de um aparato tecnológico (meios técnicos ativos)
que permita a rápida identificação de suspeitos, ou seja, um sistema de monitoramento capaz de apoiar a confirmação
de um rosto ou comportamento que denote ação iminente. As equipes de segurança devem passar por treinamentos que
ainda não são considerados em sua forma ampla nos cursos técnicos. Avaliar comportamentos, por exemplo, deve ser
uma das matérias obrigatórias para quem atua na área, afinal um shopping é aberto ao público durante todo o dia e
como identificar que uma ação está em curso? Alguns empreendimentos recebem milhares de pessoas e como saber
quais vão cometer um ato ilícito?
4) Por que determinado empreendimento sofre com mais ataques que outro, situado no mesmo bairro?
Simples. Se os criminosos estudam, sistematicamente os ambientes, é lógico que optarão pelo que se encontrar
mais vulnerável. Temos casos em que existem
dois shoppings muito próximos, mas apenas um
vira alvo recorrente de ações, justamente pelo
fato de ser encontrado em maior estado de
vulnerabilidade que o outro.
Aprofundado a questão das
vulnerabilidades, adaptamos o triângulo do
crime para o cenário shopping center de modo a
criar uma interface entre os critérios observados
para consumação de um fato criminal e as
variáveis do ambiente interno de um
empreendimento. Basta um olhar mais técnico e
criterioso sobre as nuances do cenário e a
relação sistêmica da teoria do crime, de certo
teremos corroboradas todas as assertivas dos
colegas gestores na figura ilustrativa. Vejamos.
Figura 3 – Triângulo do Crime.
A teoria do TRIANGULO DO CRIME pressupõe a prevalência de três variáveis para que um ato criminoso
ocorra:
As comunidades e as polícias devem compartilha as experiências bem-sucedidas de prevenção ao crime; aquelas que
geram efetiva segurança a curto e a longo prazo. Devem compartilhar as ideias específicas de como resolver
problemas de vizinhança. Ao destacar os programas que foram desenvolvidos, espera-se que esta informação sirva
como um catalisador para desenvolver maneiras eficazes de impedir o crime e aumentar a participação das
comunidades nestes esforços (DALMARCO, 2004, p. 22).
Segundo Skonieczny (2009), outro fator importante nesta fase é conhecer o impacto das medidas policiais sobre
a população.
4. Identificação de alternativas.
Identificar e Selecionar um Problema (Identificação)
Um problema pode ser definido como:
➢ Um conjunto de incidentes semelhantes, relacionados entre si e recorrentes, em vez de um único incidente; uma
preocupação comunitária concreta; (ou) uma componente do trabalho policial; 8
➢ Um tipo de comportamento (a vadiagem, o furto de viaturas); um local (um determinado centro comercial); Uma pessoa,
ou pessoas (um perpetrador recorrente de violência doméstica, ou as vítimas recorrentes de assaltos); ou um evento, ou época
especial (um desfile anual, ou os roubos de salários). Um problema, também, poderá ser uma combinação de quaisquer dos
problemas acima referidos;9 e
➢ Informalmente, um problema pode ser entendido como dois ou mais incidentes, de alguma forma semelhantes, e que
constitui motivo de preocupação para a polícia e é um problema para a comunidade.
Métodos de Identificação dos Problemas
Os problemas poderão obrigar-nos a prestar-lhes atenção de diversas maneiras, incluindo quando:
➢ Rotineiramente, analisamos as chamadas de serviço, os dados dos incidentes criminais e os registos de outras
agências policiais, para encontrar padrões e tendências que envolvam locais, vítimas, e ofensores repetidos. (as agências policiais
poderão ter que analisar as chamadas de serviço, recuando no tempo de seis meses a um ano, para conseguir formar uma imagem
precisa das chamadas repetidas relativas a alguns tipos de problemas);
➢ Mapeamos crimes específicos de acordo com a altura do dia, a proximidade a determinados locais, e outros
fatores semelhantes;
➢ Nos aconselhamos com agentes, supervisores, detetives, gestores intermédios e comandantes;
➢ Analisamos os relatórios policiais;
➢ Inquirimos os residentes da comunidade, os comerciantes, os autarcas ou os estudantes;
➢ Analisamos as reclamações e as cartas dos cidadãos;
➢ Participamos em reuniões comunitárias;
➢ Analisamos Informações provenientes das associações de moradores e das organizações sem fins lucrativos
(locais e nacionais);
➢ Consultamos os serviços de segurança social e outros organismos governamentais; e
➢ Seguimos a cobertura noticiosa dos órgãos de comunicação social.
Selecionar um Problema
É importante que, ambos, os membros da comunidade e a polícia dêem contributos para que os problemas sejam
priorizados assim que sejam identificados. Por vezes, os problemas que preocupam os membros da comunidade são algo
diferentes daquilo que são as expetativas policiais. Consultar os membros da comunidade, acerca do que são as suas
prioridades, não só garante que as preocupações comunitárias serão tratadas como, também, desenvolve os esforços de
resolução dos problemas em cada fase do processo. Os contributos dos cidadãos podem ser solicitados de diversas
formas, incluindo através de sondagens, de reuniões comunitárias e de grupos-alvo (por exemplo, um grupo de
estudantes, ou um conjunto de moradores de um bairro). Os contributos policiais para a seleção do problema são,
também, algo de importante, porque a polícia tem a perícia e a informação acerca dos problemas que, por norma, os
cidadãos não têm.
8Disorderly Youth in Public Places. Michael S. Scott. 2001. ISBN: 1-932582-05-3
9Loud Car Stereos. Michael S. Scott. 2001. ISBN: 1-932582-06-1
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 14
Ao selecionarmos um problema no qual nos deveremos focar, de entre os muitos problemas que a nossa
comunidade enfrenta, poderemos querer ter em atenção os seguintes fatores: 10
O impacto do problema na comunidade – a sua dimensão e custos;
➢ A presença de condições que ameacem a vida;
➢ O interesse da comunidade e o grau de apoio que provavelmente exista, tanto para o estudo como para as
subsequentes recomendações;
➢ As potenciais ameaças aos direitos constitucionais – como as que podem ocorrer quando os cidadãos tomam
posições no sentido de limitar o uso dos meios públicos, quando limitam o acesso às propriedades, ou quando restringem a
liberdade de expressão, de circulação, ou de reunião;
➢ O grau dos efeitos pelos quais o problema afeta negativamente o relacionamento entre a polícia e a comunidade;
➢ O interesse dos agentes policiais de base, e o seu grau de apoio, ao tratamento do problema;
➢ A especificidade do problema, dada a frustração associada ao se tentar entender reclamações que são indefinidas e
difusas; e
➢ O potencial para que surja algum progresso no tratamento do problema a que a exploração do problema,
provavelmente, conduzirá.
Redefinir o Problema
Logo que o problema tenha sido selecionado poderá ser necessário redefini-lo à medida que vão surgindo mais
informações acerca do mesmo. Isto é expetável. À medida que trabalhamos no decurso do processo de resolução do
problema poderemos vir a descobrir que o problema com o qual começamos é demasiado abrangente. Por outro lado,
poderemos vir a concluir que ele é, na realidade, sintoma de outro diferente problema e o qual merecerá a nossa atenção.
Será mesmo possível que aquilo que à primeira vista parecia um problema não seja, na realidade e de maneira nenhuma,
um problema assim que se olha com mais atenção. É normal que o problema venha a ter que ser redefinido à medida que
se avança através do processo de resolução do problema, e isto é uma das razões do porquê de se começar a implementar
as respostas, somente, após se ter analisado o problema na sua totalidade.
Identificar os Interessados no Problema Selecionado
As partes interessadas são organizações privadas e públicas, tipos ou grupos de pessoas (cidadãos idosos,
proprietários de residências, comerciantes, etc.) que beneficiarão se o problema for tratado, ou que poderão vir a sofrer
consequências negativas (devido a ferimentos, por lacunas dos serviços, por perda de rendimentos, devido a uma ação
policial mais rigorosa, etc.) se o problema não for tratado.
Poderemos incluir como partes interessadas:
➢ O serviço de segurança social local e os organismos governamentais com jurisdição no problema, ou com
interesse nalguns aspetos do problema;
➢ As vítimas do problema, e/ou as associações de defesa das vítimas;
➢ Os vizinhos, colegas de trabalho, amigos e parentes das vítimas, ou moradores das vizinhanças afetadas pelo
problema;
➢ Os organismos ou as pessoas que exercem algum tipo de controlo sobre os ofensores (pais, parentes, amigos,
funcionários das escolas, funcionários de reinserção social, gestores de edifícios, etc.);
➢ Os estabelecimentos comerciais negativamente afetados pelos problemas decorrentes do crime e da desordem; e
➢ As organizações nacionais ou as associações comerciais com algum interesse no problema [por exemplo, a
“Students Against Drunk Driving” para o problema da condução sob efeito do álcool pelos menores (nos EUA a idade mínima para
conduzir viaturas automóveis é os 16 anos)].
Deveremos identificar o máximo possível de partes interessadas, relativamente ao problema selecionado. Cada
parte interessada poderá contribuir com diferentes conhecimentos e poderá cooperar, à sua maneira, no sentido de
impulsionar os esforços de resolução do problema. Quantos mais interessados forem identificados, tantos mais recursos
estarão disponíveis para tratar do problema.
Contudo, algumas comunidades acabaram por descobrir que os esforços de resolução de problemas progridem
com mais eficácia se, somente, duas ou três partes interessadas – um grupo central – trabalharem no problema ao longo
do projeto. Com frequência, existem outras partes interessadas, mais periféricas, que podem contribuir com algo durante
algumas fases específicas, mas não ao longo de todo o processo.
Segue-se uma breve descrição de um problema exemplificativo e de uma lista de possíveis partes interessadas e
de parceiros.
Problema Exemplificativo (Roubo, Medo)
Uma cidade de médio tamanho do este dos EUA, com cerca de 35.000 habitantes e com taxas de criminalidade
relativamente baixas, sofreu uma série de roubos cometidos contra pessoas que faziam entregas de comida ao domicílio.
Em média, estava-se a registar um roubo, a uma daquelas pessoas, em cada mês. Muitas lojas de pizzas e de outros tipos
de comida rápida começaram a recusar a entrega dos seus produtos em bairros com moradores de baixos rendimentos e
predominantemente de raça negra, onde, segundo parecia, muitos dos roubos estariam a ocorrer. Os responsáveis dos
restaurantes disseram que haviam decidido não proceder à entrega de comida, naquela área, devido ao aumento do
número de funcionários que haviam sido agredidos quando se encontravam a trabalhar e porque, estes, temiam fazer as
suas entregas em áreas com grande criminalidade. Um morador do bairro onde as entregas não se estavam a processar
10 Using Crime Prevention Through Environmental Design in Problem-Solving. Diane Zahm. 2007. ISBN: 1-932582-81-9
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 15
reclamou acerca da não prestação do serviço de entregas e deu início a uma petição pública para que aquela norma fosse
alterada. A assembleia municipal teve em consideração a proposta, que solicitava que as entregas fossem feitas a todos
os moradores, independentemente da sua localização, e o assunto teve cobertura noticiosa nos jornais locais e regionais.
Partes Interessadas
(Para além da polícia)
Os potenciais clientes das entregas ao domicílio, moradores no bairro onde as mesmas estavam suspensas,
assinantes da petição.
Os trabalhadores das entregas de comida rápida (fast food, quentinhas).
Os gestores dos restaurantes de fast food (franchisados locais).
As redes nacionais de entregas de fast food ao domicílio.
A Associação Nacional de Restaurantes.
A secção local da National Association for the Advancement of Colored People - NAACP.
Os legisladores locais.
Os órgãos locais de comunicação social.
5. Avaliação de alternativas;
As eras do policiamento moderno
O objetivo desta aula é destacar como são divididos os períodos distintos do policiamento e como o
policiamento orientado para o problema é fruto da evolução das estratégias de policiamento moderno, através de seus
elementos de inovação nos Estados Unidos. Devido a influência dessa cultura nos países ocidentais, é necessário
verificar como essas. O objetivo desta aula é destacar como são divididos os períodos distintos do policiamento e como
o policiamento orientado para o problema é fruto da evolução das estratégias de policiamento moderno, através de seus
elementos de inovação nos Estados Unidos. Devido a influência dessa cultura nos países ocidentais, é necessário
verificar como essas transformações refletem e embasam, até os dias atuais, as estratégias implementadas nas polícias
latino-americanas.
De acordo com Moore, Trojanowicz (1993) e Dias Neto (2003), historicamente, o policiamento nos EUA é
dividido em três períodos fundamentais:
11 Fonte adaptada de KELLING, George L. e MOORE, Mark Harrinson. A evolução da estratégia de policiamento, perspectivas em
policiamento.Cadernos de Polícia, n. 10. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993.
DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento comunitário e controle sobre a polícia: A experiência norte- americana. 2ª edição. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2003.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 16
advindos dos curtumes, realizava recenseamento, apreendia animais perdidos, obrigava as pessoas a criar seus porcos
nos quintais e preservava o sabbath. (SKOGAN apud DIAS NETO, 2003, p. 7)12.
A polícia era uma importante instituição responsável pelo bem-estar social daquela sociedade,o grande objetivo
era atender aos cidadãos e aos políticos locais. Certamente suas ações eram muito influenciadas pelas instituições
político-partidárias locais, o que gerava uma enorme flexibilidade na atuação do policial. Para Dias Neto (2003), esta
postura gerava uma enorme discricionariedade policial e, muitas vezes, hostilidade entre o policial e a própria
comunidade, que para ser resolvida era utilizada a força. Toda esta característica gerava, entre a polícia e a comunidade
local, um vínculo muito forte.Destaca-se que a principal tática de policiamento era o deslocamento a pé ou a cavalo, o
que possibilitava um maior contato entre as pessoas.
Segundo Goldstein (2003),as maiores críticas à Era Política era a violência e corrupção policiais, dentre outros
desmandos, que foram evidenciados pela National Comminssion onLaw Observance and Enforcement ocorrida em
1931, nos Estados Unidos. Outro grave problema era a forma de ingresso na carreira policial, resumida a uma
oportunidade de emprego para protegidos políticos.
Os únicos requisitos necessários para a indicação de um policial eram influência política e força física [...] Não
havia necessidade de treinamento preliminar, os policiais eram considerados suficientemente preparados para o exercício de suas
funções se portassem um revólver, cassetete, algemas e vestissem um uniforme [...] Tratava-se de uma era de incivilidade,
ignorância, brutalidade e corrupção. (SKOGAN apud DIAS NETO, 2003, p. 7).
Baseando-se nessas contradições, várias críticas surgiram, principalmente dentro da própria polícia, para
aprimorar esse serviço. “Os defensores das reformas lutavam pela incorporação dos métodos gerenciais e operacionais
da iniciativa privada”. (Dias Neto (2003, p. 9). O objetivo era criar um departamento policial “perfeito” – afora
comumente chamado de modelo profissional. Portanto, havia um consenso que era preciso blindar a polícia de
interferências da política externa, centralizar as estruturas internas de comando e controle, delimitar a função do
policial para prender os infratores da lei e formar o profissional de polícia.
As características dessa Era Policial estão num serviço profissional distante da comunidade, focado no
combate repressivo do crime e que utiliza principalmente o automóvel e o telefone para implementar o rádio
patrulhamento. É inegável que surge uma máquina burocrática eficiente e de um corpo profissional treinado, com as
melhores tecnologias para o momento, mas os policiais não conseguem identificar os problemas cotidianos dos
cidadãos. Com essa lógica, o policial fica distante e inacessível às demandas políticas próprias do jogo democrático.
(DIAS NETO, 2003).
Com o modelo profissional surge uma obsessão pela eficiência operacional e administrativa, dificultando o
contato social sobre as decisões policiais. Uma das maiores críticas contra o modelo profissional refere-se à ausência de
controle sobre a conduta policial. Um movimento que aos poucos permitiu aos próprios cidadãos americanos de
representar a sociedade civil na apuração e no julgamento das denúncias contra abusos policiais. Esse foi um
importante passo para ter algum controle externo sobre a polícia, mas acirrou, ainda mais, os ânimos entre os ofendidos
e os policiais.
As atuais reformas na área policial estão fundadas na premissa de que deve haver uma relação sólida e
consistente entre a polícia e a sociedade para que tenha efeito a política de prevenção criminal e na produção de
segurança pública (DIAS NETO, 2003).
Diante das iniciativas frustradas de relações públicas ou de reforma na estrutura administrativa policial surgem
alternativas que fortalecem as ideias de partilhar entre a polícia e a comunidade a tarefa de planejar e implementar as
políticas de segurança pública.
As eras do policiamento moderno americano são apresentadas para uma análise temporal (quadro 1).
Nesta síntese é possível perceber quais são as principais características de cada período e como ocorreu essa
transformação que influenciou as principais estratégias de policiamento, que surgiram na Era da Reforma e na Era de
Solução de Problemas com a Comunidade.
Atenção! Deve-se ter o cuidado para não simplificar a análise de uma era policial somente em algumas
características, sob o risco de distorcer todo um contexto histórico-social. Uma característica (total ou parcial), de um
período pode repetir em outro, por exemplo: o relacionamento íntimo entre a polícia e a comunidade, presente na era
política e era da comunidade. Também é importante destacar que essas são características comuns entre a maioria dos
órgãos policiais naquele período, portanto, as datas são parâmetros.
Quadro 1 – Características das eras do policiamento moderno13
12Sabbath,ou sabá, é uma palavra de origem hebraica shabbath,que significa o descanso religioso que, conforme a legislação mosaica, devem os
judeus observar no sábado, consagrado a Deus. (FERREIRA, 2008)
13Fonte adaptada de KELLING, George L. e MOORE, Mark Harrinson. A evolução da estratégia de policiamento, perspectivas em
policiamento.Cadernos de Polícia, n. 10. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993.
MOORE, Mark Harrinson e TROJANOWICZ, Robert C. Estratégias institucionais para o policiamento.Cadernos de Polícia, n. 10. Rio de Janeiro:
Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993.
DIAS NETO, Theodomiro.Policiamento comunitário e controle sobre a polícia: A experiência norte- americana. 2ª edição. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2003.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 17
Era soluções de Problema
Era da Reforma 1930 -
Características gerais Era Política 1830 - 1930 com a Comunidade
1980
1980 – 2000
Autorização e Lei, profissionalismo e
Políticos locais e lei Lei e profissionalismo
legitimidade comunidade
Serviço policial amplo e
Função Serviço social amplo Controle do crime
personalizado
Relacionamento com
Íntimo Distante e remoto Íntimo
a comunidade
Patrulhamento a pé,
Patrulhamento motorizado e
envolvimento da
Táticas e tecnologia Patrulhamento a pé acionamento por
comunidade para solução
telefone
de problemas
Satisfação dos
Respostas rápidas para Qualidade de vida e
Resultados esperados cidadãos e dos políticos
controlar os crimes satisfação da comunidade
locais
As eras do policiamento moderno americano são apresentadas para uma análise temporal (quadro 1).
Estratégias de policiamento.
(esse item será visto em Polícia Comunitária)
Assunto Unidade
Elementos Tempo Características
abordado Organizacionais
• Propósitos • Complexo ou
• Departamento de Simples
• Objetivos Negócios • Prioriza a
• Estratégias • Departamento de qualidade ou
• Marketing
• Políticas Investigação quantidade
• Finanças internas • Curto • Seção de • Estratégico,Tát
• Segurança • Programas Finanças ico ou
• Médio
Operacional
•Saúde • Orçamentos • Divisão
• Longo • Confidencial ou
• Normas deCombate ao
• Recursos Público
Crime Organizado
Humanos • Códigos de • Formal ou
Conduta • Seção de
Informal
Prevenção
• Manuais de Criminal • Econômico ou
Procedimentos Oneroso
Eficácia É fazer as tarefas certas para produzir alternativas criativas, maximizar a utilização
dos recursos, obter resultado e aumentar o lucro.
Baseado nesse diagrama, quais são as modificações que você acha que podem ocorrer numa empresa?
Resposta:
As modificações relacionadas às pessoas podem corresponder à necessidade de treinamento, substituições,
transferências, avaliações periódicas, premiação, dentreoutras.
Na tecnologia, as modificações estão relacionadas com a evolução dos conhecimentos para desempenhar aquela
tarefa, uma nova maneira de desenvolver aquele serviço ou produzir o produto, no ajuste do ambiente.
No sistema, as modificações podem ocorrer na divisão das responsabilidades, na desconcentração da empresa,
na descentralização dos serviços, na criação de novas instruções, dentre outros. P ode ser dividido em três níveis,
observe:
Os níveis de planejamento
Planejamento Estratégico
É o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para estabelecer a melhor direção a ser tomada
para uma empresa. Busca otimizar o grau de interação entre os fatores externos – que não são controláveis – e internos para
formular objetivos e cursos de ação.
Planejamento Tático
É o processo administrativo que tem por objetivo otimizar uma determinada área da empresa, setor de finanças, setor
operacional, setor logístico, dentre outros. Portanto, trabalha com a decomposição dos objetivos do planejamento estratégico.
Planejamento Operacional
É o processo de formalizar, através de documentos, das metodologias e implantações estabelecidas. Basicamente, são os
planos de ação ou plano operacional.
O foco são as tarefas cotidianas.
ACTION (atuar)
Atue no processo em função dos resultados obtidos.
PLAN (planejar)
Defina asmetas.
Determine os métodos para alcançá-las.
DO (fazer)
Treine e eduque.
CHECK (avaliar)
Execute o trabalho.
Verifique os efeitos do trabalho executado.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 23
Para detalhar melhor o processo PDCA, observe (figura 12) a sequência de tarefas que deve ser
desencadeada para atingir uma meta e, consequentemente, aperfeiçoar a qualidade de uma empresa.
Resposta: Conforme pode ser constatado o PCDA, que é uma ferramenta gerencial desenvolvida, em 1924, inspirou aos
professores americanos John Eck e Bill Spelman no desenvolvimento do modelo SARA (modelo IARA), que é uma metodologia utilizada
na estratégia de policiamento orientado para o problema. O método IARA é uma técnica voltada para a melhoria da qualidade do serviço
policial.
Como parte da fase de análise, é importante descobrir-se o máximo, possível, de informações acerca de todos os
três lados do triângulo. Uma forma de se começar é perguntando: Quem? O quê? Quando? Onde? Como? Porquê? E
porque não? Acerca de cada um dos lados do triângulo. 17
Vítimas
É importante focarmo-nos no lado do triângulo referente à vítima. Como referido anteriormente, os estudos
recentes têm demonstrado que uma pequena quantidade de vítimas está relacionada com uma grande quantidade de
15Enhancing the Problem-Solving Capacity of Crime Analysis Units. Matthew B. White. 2008. ISBN: 1-932582-85-1
16 Este conceito foi desenvolvido por William Spelman e John E. Eck em 1989. Ele foi edificado sobre o trabalho prévio de Marcus Felson.
17Sampson, Rana. “Problem Solving,” Neighborhood-Oriented Policing in Rural Communities: A Program Planning Guide, Washington,
D.C.: U.S. Department of Justice, Office of Justice Programs, Bureau of Justice Assistance, 1994.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 25
incidentes criminais. Acrescentando, os pesquisadores, na Inglaterra, concluíram que as vítimas de assaltos, de
violência doméstica, e de outros crimes têm grande probabilidade de virem a ser revitimizadas a curto prazo, logo após
a primeira vitimização – com frequência no espaço de um a dois meses. 18 19As intervenções eficazes, destinadas às
vítimas repetidas, podem contribuir para uma redução significativa do crime.
Por exemplo, de acordo com um estudo referente a assaltos a residências, levado a efeito na Divisão da Polícia
de Huddersfield, em West Yorkshire, na Inglaterra, as residências que já tinham sido assaltadas tinham quatro vezes
mais probabilidades de voltarem a ser vitimizadas que as residências que nunca haviam sido vítimas, e que muitos dos
assaltos repetidos ocorriam dentro de seis semanas após o primeiro. Consequentemente, a Divisão de Huddersfield
desenvolveu uma resposta tripartida adaptada à medida das vítimas de assaltos repetidos, baseada no número de vezes
que as suas casas haviam sido assaltadas. De acordo com os relatórios iniciais, os assaltos a residências foram
reduzidos em 20% desde que o projeto se iniciou, e não se registou nenhuma deslocalização. 20 De facto, os assaltos a
estabelecimentos comerciais, na mesma área, também, foram reduzidos, apesar de este problema não ter sido um dos
objetivos da resposta. Contudo, a polícia teve alguma dificuldade em identificar as vítimas repetidas, porque o seu
sistema de base de dados não estava concebido para este tipo de pesquisa.
Ofensores
É fundamental, para o esforço de resolução dos problemas, que se encare, de uma forma renovada, o lado do
triângulo referente ao ofensor. No passado, foi colocada demasiada ênfase na identificação e na detenção dos ofensores.
Embora isto possa reduzir um tipo específico de problema criminal, particularmente se os ofensores detidos
contribuírem para uma grande parte do problema, essa redução é, frequentemente, temporária à medida que novos
ofensores substituem os antigos ofensores.
O problema da substituição dos ofensores é particularmente agudo nas atividades relacionadas com a aquisição
de dinheiro: como o tráfico de droga, os assaltos, os roubos, a prostituição, etc. Por esta razão, as polícias chegaram à
conclusão que ajuda aprender-se mais acerca das razões que levam os ofensores a serem atraídos por certas vítimas e
locais, daquilo que eles especificamente ganham ao ofender, e daquilo, se é que existe algo, que possa prevenir ou
reduzir as suas taxas de delito.
Locais
É igualmente importante que se analise o lado do triângulo referente ao local. Como referido anteriormente,
certos locais são responsáveis por uma significativa quantidade de atividade criminal. Uma análise desses locais poderá
indicar-nos a razão porque são tão favoráveis à ocorrência de um determinado tipo de crime e indicar-nos as formas
pelas quais eles poderão ser alterados, para inibir os ofensores e proteger as vítimas. Por exemplo, colocar os caixas
multibanco dentro das agências bancárias poderá fazer reduzir a quantidade de informação que um ofensor pode obter
acerca das suas potenciais vítimas (que elas estão a levantar dinheiro no banco, que elas põem o dinheiro no bolso da
frente do lado esquerdo) e poderá reduzir a vulnerabilidade das vítimas quando estão de costas para os potenciais
ofensores, ao servirem-se nos caixas multibanco.
Supervisores, Gestores e Guardiões
Existem pessoas, ou coisas, que podem exercer um controlo sobre cada um dos lados do triângulo, para que o
crime tenha menos probabilidade de ocorrer. Os ofensores poderão, por vezes, ser controlados por supervisores como a
polícia e os funcionários da reinserção social. Os alvos e as vítimas podem ser protegidos pela presença de guardiões.
Os locais, também, podem ter guardiões ou gerentes os quais poderão exercer influência tanto nos ofensores como nas
vítimas. A resolução de problemas, com sucesso, assenta na compreensão, não só, da forma como todos os três lados do
triângulo interagem mas, também, na forma como os ofensores, as vítimas e os locais são, ou não são, controlados por
terceiros.21
Questões Exemplificativas para se Analisar Problemas
As agências policiais deverão fazer uma lista das questões, acerca da natureza do problema, que necessitam de
ser respondidas, antes de se poder desenvolver respostas novas e eficazes. 22Seguem-se 15 questões exemplificativas
acerca do problema dos roubos, descrito anteriormente na parte “Identificar os Interessados”.
Vítimas
1. Quem são as vítimas (idade, raça, gênero)? Para quem trabalham? Qual foi a natureza das ofensas?
2. Em que altura do dia foram as vítimas ofendidas?
3. Existem alguns funcionários da entrega de comida ao domicílio que tenham sido ofendidos mais do que uma
vez? Existem alguns funcionários da entrega de comida, de determinados restaurantes, que foram ofendidos com mais
frequência que outros?
18 Sampson, Rana. “Problem Solving,” Neighborhood-Oriented Policing in Rural Communities: A Program Planning Guide, Washington,
D.C.: U.S. Department of Justice, Office of Justice Programs, Bureau of Justice Assistance, 1994.
19 Farrell, G. e K. Pease. 1993.
20Rave Parties. Michael S. Scott. 2002. ISBN: 1-932582-13-4
21 Módulo de formação não publicado e desenvolvido por Rana Sampson sob os auspícios do Community Policing Consortium do the Bureau of
Justice Assistance, U.S. Department of Justice.
22 Clandestine Methamphetamine Labs, 2.ª edição. Michael S. Scott e Kelly Dedel. 2006. ISBN: 1-932582-15-0
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 26
4. Qual o grau de medo que têm as pessoas que entregam comida ao domicílio? Quais as áreas que mais temem?
Eles têm algumas sugestões sobre formas de cumprirem com mais segurança as suas obrigações? Eles estão munidos
de algum tipo de equipamentos de segurança, ou foi-lhes prestada formação acerca da sua segurança?
5. O que é que outras jurisdições, que enfrentaram o mesmo problema, fizeram para aumentar a segurança das
pessoas que se dedicam à entrega de comida ao domicílio? Quais as normas que se mostraram mais eficazes e porquê?
Locais (Cena do Crime, Localização, Ambiente)
6. Onde é que os roubos ocorreram – no local das entregas, no percurso de ida para o local de entrega, ou perto
do estabelecimento de comida rápida? Qual a conformidade e proximidade entre os locais das ofensas e as áreas em
que as pessoas das entregas não costumam ir?
7. Dos roubos que ocorreram longe do estabelecimento de comida rápida, qual é a distribuição dos locais nos
quais os roubos ocorreram (prédios de apartamentos, condomínios fechados, casas isoladas, habitação social, motéis e
hotéis, parques de estacionamento, edifícios de escritórios, etc.)?
8. Os funcionários das entregas foram roubados perto das suas viaturas, ou longe delas? Qual o tipo de viatura
que os funcionários das entregas conduzem? Estão assinaladas como viaturas de entrega de comida?
9. Onde se encontra localizada a loja de comida rápida em relação ao bairro onde não são feitas as entregas?
Quais os caminhos que os empregados das entregas tomam para fazer as suas entregas?
10. Existem algumas semelhanças ambientais entre os locais específicos dos roubos (iluminação, arbustos,
isolamento ou com áreas escondidas)?
Ofensores
11. Qual é o método empregue nas ofensas? Existem alguns padrões evidentes? Que armas têm sido utilizadas, e
em quantos dos ataques?
12. Como é que os ofensores escolhem as suas vítimas? O que é que torna algumas vítimas mais atraentes ao
roubo que outras? O que é que torna as pessoas que não são vítimas menos atraentes?
13. Os ofensores fazem pedidos de entrega para atraírem a si os empregados das entregas, ou encontram as suas
vítimas por acaso? Se os ofensores fazem pedidos de comida para roubar os empregados das entregas, aqueles pedidos
são feitos no nome dos verdadeiros “clientes” ou são feitos com nomes falsos?
14. Que quantidade de dinheiro costuma ser roubada pelos ofensores numa ocorrência típica? Mais alguma coisa
é roubada?
15. Os ofensores vivem no(s) bairro(s) onde os roubos ocorrem? Se sim, eles são conhecidos dos moradores, os
quais possam ter alguma influência sobre aqueles?
(Para Informações adicionais sobre a análise de problemas, ver o capítulo sete do guia “Problem-Oriented
Policing”, de Herman Goldstein, e o capítulo cinco do guia “Neighborhood-Oriented Policing in Rural Communities”,
publicado pelo U.S. Department of Justice. Uma lista de referências completa pode ser encontrada na pág. 38).
Recursos que Poderão Ajudar a Analisar os Problemas
Existe um número de instrumentos que nos poderão ajudar a recolher dados, e outras informações, acerca dos
problemas criminais e de desordem.
Analistas criminais. Os analistas criminais podem-nos prestar uma grande ajuda na recolha e na análise de
dados, e outras Informações, acerca de crimes específicos e de problemas decorrentes de desordens.
Sistemas de Gestão de Registos. Este tipo de sistemas pode ajudar as agências policiais a recolher, a recuperar
e a analisar informações acerca dos problemas. Em particular, ele deve ser capaz de, rapidamente e com facilidade,
ajudar os utilizadores a identificar as chamadas de serviço repetidas relacionadas com vítimas, com locais e com
ofensores específicos.
Sistemas de informação geográfica/mapeamento. 23Estes sistemas podem-nos esclarecer a respeito dos
padrões, ajudam a identificar áreas problemáticas, e mostram as potenciais ligações entre os hot spots criminais e
outros tipos de estabelecimentos (máquinas multibanco, lojas de venda de bebidas, etc.).
Assistência técnica. Os profissionais ligados à justiça criminal, que se especializaram no uso das técnicas de
Resolução de Problemas, para resolver problemas criminais específicos como os homicídios, os roubos, o tráfico de
droga nas ruas, etc., podem fornecer uma ajuda inestimável às agências de polícia e aos membros da comunidade.
Acrescentando, outras pessoas não ligadas à justiça criminal, com formação numa diversidade de áreas, também,
poderão ajudar nos esforços de resolução de problemas. Por exemplo, um arquiteto poderá ser capaz de ajudar a avaliar
os riscos criminais relacionados com a concepção de um conjunto de blocos de apartamentos, e um perito em saúde
mental poderá ser capaz de ajudar a avaliar a resposta corrente de uma comunidade às pessoas com doença mental e
ajudar a melhorar a resposta.
Inquéritos aos moradores/comerciantes. Estes inquéritos podem ajudar a polícia e as entidades com base na
comunidade a identificar e a analisar os problemas, a calcular os níveis de medo, a identificar as respostas mais
indicadas e a determinar a eficácia real e percepcionada dos esforços de resolução dos problemas. Estes inquéritos,
também, podem ajudar a determinar as taxas de vitimização geral e repetida, particularmente as relacionadas com as
cifras negras e com os crimes raros.
9. Avaliação de resultados;
Avaliar o Impacto sobre o Problema Selecionado
Nos últimos 20 anos, tornou-se claro para muitos dos que se dedicam ao policiamento que, tanto as abordagens
tradicionais ao tratamento do crime, do medo e de outros problemas, como as avaliações da sua eficácia, ficaram
aquém das expetativas de muita gente. Isto fez com que um número significativo de departamentos de polícia
procurasse novas abordagens para lidar com velhos problemas. Isto, também, levou a que muitos departamentos de
polícia se começassem a interrogar se, e até que ponto, o seu trabalho realmente fazia a diferença, para além de lidar
com as ocorrências imediatas. 28
Medidas Tradicionais
Uma quantidade de parâmetros tem sido usada, tradicionalmente, pelas agências policiais e pelos membros das
comunidades, para avaliar a eficácia das suas medidas. Naqueles incluem-se: o número de detenções, os níveis dos
crimes denunciados, os tempos de resposta policial, a quantidade de autorizações concedidas, as reclamações dos
cidadãos e diversos outros indicadores do trabalho policial, como as chamadas de serviço e o número de entrevistas de
26 Check and Card Fraud. Graeme R. Newman. 2003. ISBN: 1-932582-27-4
27 Stalking. The National Center for Victims of Crime. 2004. ISBN: 1-932582-30-4
28 Gun Violence Among Serious Young Offenders. Anthony A. Braga. 2004. ISBN: 1-932582-31-2
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 29
campo realizadas. 29
Vários daqueles parâmetros poderão ser-nos úteis para se avaliar o impacto de um esforço de resolução de
problemas, incluindo: as chamadas de serviço relacionadas com o problema (especialmente uma redução na repetição
das chamadas de serviço envolvendo locais, vítimas e ofensores específicos); as mudanças na incidência dos crimes
denunciados; e as mudanças nos níveis das reclamações dos cidadãos. Outros parâmetros tradicionais, como as
detenções e o número de entrevistas de campo realizadas, poderão não ser assim tão úteis para os nossos esforços de
resolução de problemas, a não ser que esses parâmetros possam ser diretamente ligados a uma redução, a longo prazo,
dos malefícios associados a um determinado problema criminal.
Mesmo as reduções nas chamadas de serviço e nas reclamações dos cidadãos poderão não ser os melhores
indicadores de, e até que ponto, estarmos a causar um impacto positivo no problema, porque, nalguns casos, aqueles
parâmetros poderão, na realidade, aumentar como resultado do nosso esforço de resolução dos problemas. Nalguns
casos, tal incremento poderá ser um resultado positivo, se isso significar que os moradores se sentem mais à vontade
em registarem as suas reclamações, ou porque acreditam que as suas chamadas serão levadas a sério. Contudo, quando
o esforço de resolução de problemas resulta num aumento das detenções, ou num aumento das chamadas de serviço, as
agências policiais devem encarar aqueles resultados positivos com cautela. Será que eles são os resultados pretendidos
da iniciativa?
Uma Estrutura Não Tradicional
Avaliar o impacto de um esforço de resolução de problemas poderá requerer o uso de uma estrutura não
tradicional para se determinar a sua eficácia. Uma daquelas estruturas desenvolvida por Eck e por Spelman identifica
cinco diferentes níveis, ou tipos, de impactos positivos nos problemas. Eles são: 30
1. A total eliminação do problema;
2. Menos incidentes;
3. Incidentes menos graves ou perniciosos;
4. Melhor tratamento das ocorrências/uma resposta ao problema melhorada; e
5. A remoção do problema como uma das preocupações policiais (transferindo o tratamento para outros mais
capazes em lidar com o problema).
Também, foi sugerido um sexto impacto positivo:
6. As pessoas e as instituições afetadas pelo problema ficam melhor preparadas para lidar com um
problema semelhante no futuro.31
Alguns dos parâmetros listados acima poderão ser adequados para os nossos esforços de resolução dos
problemas. Outros, não listados acima, poderão ser, ainda, mais adequados. Após termos analisado o nosso problema,
poderemos pretender modificar os parâmetros inicialmente selecionados, ou rever os parâmetros. Os parâmetros que
selecionarmos dependerão da natureza do problema escolhido, das preferências da polícia e da comunidade, e da
habilidade da nossa jurisdição em recolher os dados necessários, tanto antes do início do projeto, bem como após ele ter
sido implementado no terreno por algum tempo.
Um número de parâmetros não tradicionais poderão esclarecer-nos sobre a forma como um problema foi
afetado.32 A chave está em nos focarmos nos parâmetros que demonstram o impacto no problema apontado.
Parâmetros Demonstrativos do Impacto no Problema
Quatro casas de crack, existentes numa área de 12 blocos de apartamentos, foram encerradas e as avaliações,
posteriores, indicaram que o tráfico de droga não se havia deslocalizado para os cinco blocos de apartamentos das
redondezas. As chamadas de serviço, relativamente ao tráfico de droga nas ruas da área-alvo, haviam sido reduzidas, de
uma média de 45 por mês par 8 por mês. O número de moradores que relataram ser testemunhas do tráfico de droga,
durante o mês anterior, foi reduzido de 65%, antes dos esforços policiais, para 10% após a intervenção.
Antes da intervenção policial, 40% daqueles que foram vitimizados duas vezes por assaltantes, no período de
seis meses seguinte foram, de novo, revitimizados. Após os esforços policiais, só 14% das vítimas voltaram a ser
revitimizadas. No cômputo geral, os assaltos na área-alvo foram reduzidos, de 68 num ano para 45 no ano seguinte.
Porque os esforços de resolução de problemas conseguiram interromper a venda de armas aos jovens que
procuravam a aquisição de armas de fogo semiautomáticas, mais letais, o comércio de armas, o número e a gravidade
das ofensas à integridade física, resultantes dos tiroteios a partir de viaturas em andamento, foram significativamente
reduzidas, mesmo, apesar do número de disparos com armas de fogo a partir de viaturas em andamento ter decrescido
ligeiramente. Antes da intervenção policial, ocorreram 52 daquelas ocorrências na cidade e que resultaram em 21
ofensas à integridade física graves e 5 homicídios. Após os esforços policiais, ocorreram 47 tiroteios a partir de viaturas
em andamento as quais resultaram em 8 ofensas graves à integridade física e nenhum homicídio.
No ano transato ao dos esforços policiais, a polícia recebeu uma média de 50 denúncias por mês relacionadas
com desavenças entre vizinhos. Uma média de 10 daquelas denúncias ficaram resolvidas com uma única intervenção
de um agente policial, mas aproximadamente 40 das chamadas de serviço eram efetuadas pelos moradores de 22 locais
29 Prescription Fraud. Julie Wartell e Nancy G. La Vigne. 2004. ISBN: 1-932582-33-9
30 Identity Theft. Graeme R. Newman. 2004. ISBN: 1-932582-35-3
31 Crimes Against Tourists. Ronald W. Glesnor e Kenneth J. Peak. 2004. ISBN: 1-932582-36-3
32 Underage Drinking. Kelly Dedel Johnson. 2004. ISBN: 1-932582-39-8
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 30
habitualmente problemáticos. Assim que os esforços de resolução do problema foram implementados, o departamento
policial passou a receber uma média de 12 denúncias mensais. Cinco dos locais repetidamente problemáticos
mantiveram-se sem alteração, mas eles contaram para menos de 25% das denúncias recebidas mensalmente.
Parâmetros Não Demonstrativos do Impacto no Problema
Foram realizadas cinco reuniões entre a polícia e a comunidade no decurso de um ano de projeto. (As
conclusões relativas ao impacto sobre o problema não se podem extrair deste parâmetro. Se um dos objetivos do
projeto for o de melhorar a compreensão da polícia acerca dos problemas comunitários, um dos parâmetros a ter em
conta é o nível de percepção dos moradores acerca dos melhoramentos que resultaram dos esforços desenvolvidos, o
qual poderá ser determinado através de inquéritos realizados antes e após a implementação das medidas.).
Foram realizadas verificações das condições de segurança em 43 residências, pelos agentes policiais, da
urbanização-alvo. (Embora isto possa ser importante para se documentar o número de verificações de segurança a
residências, seria mais importante saber-se até que ponto os assaltos foram reduzidos como resultado da iniciativa.)
Os agentes policiais e os membros da comunidade participaram numa limpeza ao bairro e removeram perto de
500 kg de lixo. (Esta informação não, necessariamente, indica uma redução nos níveis dos problemas criminais e de
desordem em causa, e uma limpeza esporádica poderá ser, somente, um melhoramento temporário. Seria mais
importante demonstrar-se que os problemas criminais e de desordem em causa foram reduzidos como resultado de, ou
em conjunto com, a limpeza realizada.)
A polícia apreendeu para cima de 10 quilos de cocaína durante a iniciativa, a qual procurou alvejar as atividades
ligadas ao tráfico de narcóticos no distrito do sudoeste. (Este resultado não indica até que ponto as vendas de droga nas
ruas e quaisquer outros problemas relacionados – como a prostituição, a vadiagem, os graffiti, o lixo e a intimidação
dos moradores – foram reduzidos.)
Ajustar as Respostas Baseadas na Avaliação
Se as respostas implementadas não forem eficazes, a informação recolhida durante a análise deve ser revista.
Poderá ser necessário recolher-se novas Informações antes de se desenvolver e testar novas respostas. 33
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36Junkai Renraku são atividades que os policiais comunitários realizam, por meio da visita a famílias e aos locais de trabalho,
ocasião em que repassam orientações sobre a prevenção de ocorrências de crimes e acidentes, além de recepcionarem informações
sobre problemas, solicitações e sugestões da comunidade (SENASP, p. 156).
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 38
No Japão, pelas próprias características e cultura, o sistema de policiamento comunitário é baseado em instalações
físicas fixas, denominadas Koban37 e Chuzaisho38, onde os policiais são fixados em territórios delimitados, passando a
fazer parte integrante da comunidade e exercendo uma polícia de defesa da cidadania em estreita parceria com a
própria comunidade.
A principal premissa do policiamento comunitário é o respeito aos princípios dos Direitos Humanos, norteando os serviços
de polícia em conformidade com as expectativas da comunidade, sendo necessária a participação dos cidadãos, além de entidades
públicas e privadas, na identificação e resolução rápida dos problemas ligados à segurança, com um objetivo maior: a melhoria da
qualidade de vida.
O embrião no Estado de São Paulo foi, no ano de 1985, a criação dos Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEG), os
quais, apesar de, na época, não se referirem ao Policiamento Comunitário, tinham e têm como objetivo a gestão participativa da
comunidade nas questões de segurança pública.
Apesar das poucas experiências e do curto espaço de tempo entre o conhecimento da teoria e o planejamento de sua
aplicabilidade, no ano de 1999, foram criadas, em todo Estado de São Paulo, diversas edificações Policiais Militares em locais
onde a maior presença policial militar era necessária, marcando o início da operacionalidade do policiamento comunitário. Tais
edificações Policiais Militares foram denominadas Bases Comunitárias de Segurança (BCS).
As BCS, apesar de objetivarem a presença policial militar junto à sociedade, não atenderam todas as expectativas,
principalmente pela falta de sistematização do emprego do efetivo, do emprego de recursos materiais e, principalmente,
pela ausência de padronização da forma de atuação.
Diante dessa evolução, em 19 de abril de 2004, foi firmado o Acordo de Cooperação Técnica entre Brasil e Japão,
na busca fundamental de estudos e planejamento de operacionalização do sistema de policiamento comunitário,
baseado no sistema japonês de Koban/Chuzaisho39, porém, não como cópia, mas sim com a adequação dos preceitos
utilizados pela Polícia Nacional do Japão, atendendo às características do Estado e da população de São Paulo,
semelhante ao ocorrido em outros países, como Cingapura, que, se valendo da experiência do Japão, pôde
desenvolver um sistema próprio para atender suas necessidades em relação à segurança pública.
Considerando, portanto, o sistema japonês, em consonância com a realidade paulista e consequentes adequações,
identificou-se as BCS como equivalentes aos Koban e, da mesma forma, foram idealizadas as Bases Comunitária de
Segurança Distritais (BCSD), segundo o modelo Chuzaisho; um local onde o policial reside e trabalha.
A partir de 2005 o Projeto Piloto iniciou a busca de padronização de procedimentos, onde 08 (oito) Bases Comunitárias de
Segurança (BCS) foram selecionadas e começaram a passar por um processo de padronização e sistematização metodológica.
Para tanto tivemos, em São Paulo a presença de um policial japonês para acompanhar o que consideramos um marco na História
do Policiamento Comunitário. Este policial participou do Grupo de Trabalho formado pelos Comandantes das Companhias, das
BCS Piloto, por Oficiais do Comando de Policiamento da Capital e da Divisão de Polícia Comunitária e de Direitos Humanos,
para adaptar o modelo japonês à realidade de nossa cultura, da criminalidade do Estado e das condições operacionais da Polícia
Militar, implementando o serviço nas BCS, padronização da escrituração, equipamentos, formas de abordagem e contato com a
comunidade, incentivo do desenvolvimento de projetos conjuntos, a criação de canais de comunicação entre a Polícia e a
Comunidade, buscando eficácia e eficiência na prevenção da criminalidade, missão constitucional da PM e grande objetivo do
Policiamento Comunitário. No final de 2006, em razão dos excelentes resultados obtidos, o Projeto Piloto com o apoio da JICA
foi ampliado para mais 12 (doze) Bases Comunitárias de Segurança, sendo mais 08 (oito) na capital, 02 (duas) na região
metropolitana (Taboão da Serra e Suzano) e 02 (duas) no interior (São José dos Campos e Santos).
Com o final do Acordo de Cooperação Técnica em 2008, em análise técnica e auditoria ao Projeto, elaborados
conjuntamente entre os integrantes do grupo de trabalho da PM, integrantes da JICA (Japan International Cooperation
Agency) e integrantes da Polícia Nacional do Japão, a Polícia Militar do Estado de São Paulo foi credenciada como
polo difusor do policiamento comunitário no modelo japonês, já adaptado à realidade brasileira, aos demais estados do
Brasil, bem como aos países da América Latina e África, onde se iniciaram novas tratativas no sentido de formalizar
novo Acordo de Cooperação Técnica.
Em novembro de 2008 foi firmado o novo Acordo de Cooperação Técnica, entre a JICA e a PMESP, com
duração de 03 (três) anos, onde a PMESP comprometeu-se a ser o polo difusor do policiamento comunitário aos
37Os kobans (sistema de policiamento japonês) eram vistos como bases fixas de patrulhamento - recebiam queixas e solicitações de serviço,
realizavam o patrulhamento a pé, de bicicletas, e de patinetes motorizados, respondendo, quando fosse viável, a chamadas de serviços de
emergência e dando atenção especial para a ligação com a comunidade e para a prevenção do crime. (Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY,
David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através do Mundo. p. 89). Os Kobans, localizam-se normalmente nos locais onde haja
grande fluxo de pessoas, como zonas comerciais, turísticas, de serviço,próximo às estações de metrô, etc., sendo que, nesse tipo de posto
trabalham equipes compostas por 03 ou mais policiais, conforme o fluxo de pessoas na área delimitada como circunscrição do posto,
funcionando 24 horas por dia, existindo atualmente mais de 6.500 Kobans em todo o país. (Cf. CAVALCANTE NETO, Miguel Libório. A
Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira. Encontro Nacional de Polícia Comunitária, realizado em Brasília/DF, de 13 a 16 de
dezembro de 2001. Disponível em:http://www.estacaodocomputador.com.br.p.1).
38É uma casa que serve de posto policial 24 (vinte e quatro) horas, onde o policial reside com seus familiares, e na sua ausência a esposa atende
aqueles que procuram o posto. Localiza-se normalmente nos bairros residenciais e conta atualmente com mais de 8.500 postos nesta modalidade.
(Cf. CAVALCANTE NETO, Miguel Libório. A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira.p.1
39 Antigamente, havia no Japão pequenos postos policiais, chamados “Kobansho”, que em 1881 foram denominados “Hashutsusho” e, em 1994,
a pedido da população, tornaram-se “Koban”, em que “Ko” significa troca e “Ban” vigilância. Logo, “sistema de vigilância por troca”, em
que a instalação física do Koban é referência para a comunidade procurar a polícia, enquanto a polícia oferece atenção à comunidade. Em 1888,
nascia o “Chuzaisho”. “Chuzai” é a residência onde trabalha e “sho” é o local. Ou seja: “instalação em que o policial mora e trabalha” com
a família, geralmente situada em áreas rurais ou cidades menores. Na ausência do policial, a esposa, remunerada para tal, atende aos solicitantes.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 39
demais estados brasileiros e aos países da América Latina. Para a concretização de tais objetivos, foram incorporados
dois novos parceiros ao Acordo: a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), ligado ao Ministério da
Justiça e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), ligada ao Ministério das Relações Exteriores. Como parte do
Acordo, a SENASP responsabiliza-se a implantar e implementar o policiamento comunitário no modelo japonês
(sistema Koban) aos estados brasileiros e a ABC responsabiliza-se com relação aos países da América Latina
(Nicarágua, Costa Rica, Guatemala, Honduras e El Salvador). A PMESP desenvolveu o material didático e o currículo
do Curso Internacional de Polícia Comunitária (Sistema Koban) para formação de Oficiais das polícias militares de 11
(onze) estados brasileiros (Acre, Pará, Alagoas, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do
Sul, Espírito Santo, Mato Grosso e Goiás) e Oficiais de 05 (cinco) países da América Central (Nicarágua, Honduras,
Guatemala, El Salvador e Costa Rica), que após formados estarão encarregados de difundir e implantar a filosofia e
doutrina do policiamento comunitário aos integrantes de suas instituições. O Acordo prevê também a participação da
PMESP na assessoria aos estados brasileiros e países da América Central, para implantação e implementação das BCS,
BCSD e Bases Comunitárias Móveis (BCM).
É de fundamental importância o entendimento de que os preceitos doutrinários de Policiamento Comunitário visam o
atendimento aos cidadãos de bem, pois aos infratores da lei e arredios às regras sociais, aplicam-se as normas e legislação
vigente. Ressalta-se que o Policiamento Comunitário não se traduz em forma branda de aplicabilidade legal, mas sim atuação de
uma Polícia voltada à cidadania e essencialmente participativa. Diante dessa evolução, em 19 de abril de 2004, foi firmado o
Acordo de Cooperação Técnica entre Brasil e Japão, na busca fundamental de estudos e planejamento de operacionalização do
sistema de policiamento comunitário, baseado no sistema japonês de Koban/Chuzaisho, porém, não como cópia, mas sim com a
adequação dos preceitos utilizados pela Polícia Nacional do Japão, atendendo às características do Estado e da população de São
Paulo, semelhante ao ocorrido em outros países, como Cingapura, que, se valendo da experiência do Japão, pôde desenvolver um
sistema próprio para atender suas necessidades em relação à segurança pública.
Considerando, portanto, o sistema japonês, em consonância com a realidade paulista e consequentes adequações,
identificaram-se as BCS como equivalentes aos Koban e, da mesma forma, foram idealizadas as Bases Comunitária de
Segurança Distritais (BCSD), segundo o modelo Chuzaisho; um local onde o policial reside e trabalha.
É de fundamental importância o entendimento de que os preceitos doutrinários de Policiamento Comunitário
visam o atendimento aos cidadãos de bem, pois aos infratores da lei e arredios às regras sociais, aplicam-se as normas e
legislação vigente. Ressalta-se que o Policiamento Comunitário não se traduz em forma branda de aplicabilidade legal,
mas sim atuação de uma Polícia voltada à cidadania e essencialmente participativa.
Disponível em: <http://www4.policiamilitar.sp.gov.br/unidades/dpcdh/index.php/policia-comunitaria/>. Acesso em
13 nov 18.
1.1. POLÍCIA COMUNITÁRIA COMPARADA – INTERNACIONAL
1.1.1 – Estados Unidos da América
Os principais programas comunitários desenvolvidos nos E.U.A são:
a. “Tolerância Zero – programa desenvolvido dentro do critério de que qualquer delito (de menor ou maior
potencial ofensivo) deve ser coibido com o rigor da lei”. Não apenas os delitos, mas as infrações de trânsito e atos
antissociais como embriaguez, pichações, comportamentos de moradores de rua, etc. O programa exige a participação
integrada de todos os órgãos públicos locais, fiscalizados pela comunidade. Não é uma ação apenas da polícia. A cidade
que implementou este programa com destaque foi Nova Iorque que, devido o excepcional gerenciamento reduziu quase
70% a criminalidade na cidade.
b. “Broken Windows Program”- baseado na “Teoria da Janela Quebrada” de George Kelling o programa
estabelece como ponto crucial a recuperação e estruturação de áreas comuns, comunitárias, ou mesmo a comunidade
assumir o seu papel de recuperação social. Um prédio público preservado, o apoio para recuperação de um jovem
drogado são mecanismos fortes de integração e participação comunitária. É a confirmação da teoria de Robert Putnam
(engajamento cívico). Este programa também preconiza formas de prevenção criminal, reeducando a comunidade;
c. “Policing Oriented Problem Solving” – o “Policiamento Orientado ao Problema” é mais um meio de
engajamento social. A premissa baseia-se no conceito de que a polícia deixa de reagir ao crime e passa a mobilizar os
seus recursos e esforços na busca de respostas preventivas para os problemas locais; ao invés de reagir contra incidentes,
isto é, aos sintomas dos problemas, a polícia passa a trabalhar para a solução dos próprios problemas. A noção do que
constitui um problema desde uma perspectiva policial expande-se consideravelmente para abranger o incrível leque de
distúrbios que levam o cidadão a evocar a presença policial. A expectativa é de que ao contribuir para o encaminhamento
de soluções aos problemas, a polícia atrairá a boa vontade e a cooperação dos cidadãos, além de contribuir para eliminar
condições propiciadoras de sensação de insegurança, desordem e criminalidade.
1.1.1.2 – Canadá
A Polícia Comunitária no Canadá teve seus primeiros passos há aproximadamente 20 anos, quando o descrédito na
instituição policial obrigou as autoridades e a população a adotarem providências para a reversão do quadro de
insatisfação. A implantação durou 8 anos e demandou medidas de natureza administrativa, operacional, mas
principalmente a mudança na filosofia de trabalho com nova educação de todos os policiais.
As cidades são divididas em distritos policiais e os distritos em pequenas vizinhanças. Transmite-se à população a
ideia de que a polícia está sempre perto. Em muitos bairros o policial circula de bicicleta.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 40
O Policial deve conhecer as pessoas e todos os problemas do bairro. A população e as empresas fazem parceria com
a Polícia, doam prédios e equipamentos, fora o aperfeiçoamento dos serviços. A divisão territorial está ligada a questões
geográficas e aos tipos de crimes em determinadas regiões. Quando uma modalidade criminosa chama a atenção, os
policiais fazem curso a respeito e são treinados a enfrentar e solucionar os problemas resultantes da ação criminosa
detectada. Na sua ronda o policial visita casa e empresas e demonstra estar trabalhando por prazer. Quando um problema
é identificado, o município, a população e a polícia se unem para solucioná-lo imediatamente. Exemplo: em um bairro
notou-se que os orelhões (telefones) tradicionais, serviam para esconder drogas. A população informou a polícia e em
menos de 30 dias todas as cabinas telefônicas foram envidraçadas ficando transparentes, o que impedia a ocultação das
drogas. Outras providências que demonstram a participação da população referem-se a iluminação de praças e ruas para
evitar ambientes que favorecem o crime.
1.1.1.3 – Japão
O Policiamento Comunitário é o centro das atividades policiais de segurança no Japão. 40% do efetivo da polícia é
destinado ao Policiamento Comunitário. Os outros 60% estão exercendo suas funções em atividades administrativas,
investigações criminais, segurança interna, escolas, bombeiros, trânsito, informações e comunicações, bem como para a
Guarda Imperial.
A importância dada ao Policiamento Comunitário pela Polícia Japonesa a qual é seguida à risca, se deve a algumas
premissas tidas como imprescindíveis:
a) a impossibilidade de investigar todos os crimes pressupõe um investimento de recursos na prevenção de crimes e
acidentes, para aumentar a confiança da população nas leis e na polícia.
b) impedir o acontecimento de crimes e acidentes é muito mais importante do que prender criminosos e socorrer
vítimas acidentadas.
c) a polícia deve ser levada aonde está o problema, para manter uma resposta imediata e efetiva aos incidentes
criminosos individuais e às emergências, com o objetivo de explorar novas iniciativas preventivas, visando a resolução
do problema antes de que eles ocorram ou se tornem graves. Para tanto descentralizar é a solução, sendo que os maiores
e melhores recursos da polícia devem estar alocados na linha de frente dos acontecimentos.
d) as atividades junto às diversas comunidades e o estreitamento de relações polícia e comunidade, além de incutir
no policial a certeza de ser um “mini-chefe” de polícia descentralizado em patrulhamento constante, gozando de
autonomia e liberdade de trabalhar como solucionador dos problemas da comunidade, também é a garantia de segurança
e paz para a comunidade e para o seu próprio trabalho.
Seguindo estas ideias básicas, a Polícia Japonesa descentralizou territorialmente sua bases de segurança em mais de
15.000 bases comunitárias de segurança, denominados Koban ou Chuzaisho, funcionando nas 24 horas do dia.
Os Kobans e os Chuzaishos são construídos pelas prefeituras das cidades onde estão localizados,
responsabilizando-se também pela manutenção do prédio, pagamento da água, luz, gás, etc. O critério para sua
instalação e localização é puramente técnico e é estabelecido pela Polícia de tal forma que garanta o atendimento
cuidadoso e atencioso às pessoas que procurem a polícia. Estes postos policiais (Kobans e Chuzaishos) estão
subordinados aos “Police Stations”.
Chuzaisho: Instalação e Funcionamento
O policial é instalado numa casa, juntamente a sua família. Esta casa, fornecida pela Prefeitura, é considerada um
posto policial, existindo mais de 8.500 em todo o Japão; cada Chuzaisho está vinculado diretamente a um “Police
Station” (Cia) do distrito policial onde atua. O policial trabalha no horário de expediente, executando suas rondas
fardado. Na ausência do policial, sua esposa auxiliará em suas atividades, atendendo ao rádio, telefone, telex e as
pessoas, sem que, para isso, seja considerada funcionária do Estado, mas essa sua atividade possibilita ao marido policial
o recebimento de uma vantagem salarial. Quanto aos gastos com energia, água, gás e a manutenção do prédio ficam a
cargo da prefeitura da cidade onde o posto está localizado.
Koban: Instalação e Funcionamento
Os Kobans, em número superior a 6.500 em todo o Japão, estão instalados em áreas de maior necessidade policial
(critério técnico). Os Kobans são construídos em dimensões racionais, em dois ou mais pavimentos, com uma sala para o
atendimento ao público, com todos os recursos de comunicações e informática, além de compartimentos destinados ao
alojamento (com camas e armários), cozinha, dispensa e depósito de materiais de escritório, segurança, primeiros
socorros, etc.
No Koban, trabalham equipes compostas por 03 ou mais policiais, conforme seu grau de importância, cobrindo às
24 horas do dia em sistema de rodízio por turnos de 08, 12 ou até mesmo 24 horas, o que é mais comum.
Há também reuniões com a comunidade, chamados conselhos comunitários (similar aos Conselhos Comunitários
de Segurança – CONSEGs ou Conselhos Comunitários de Cooperação para a Defesa Social - CCCDSs), os quais se
reúnem de 2 a 3 vezes por ano, isto porque, enquanto um ou mais problemas apresentados pela comunidade não forem
solucionados, não se discute novos problemas, para evitar que um problema se acumule sobre outro e não se resolva
nenhum.
As atividades num Koban são intensas e existe uma rotina estabelecida, que varia de dia para dia e de acordo com a situação.
- atendimento às pessoas;
- recebimento e transmissão de mensagens;
Pelos princípios policiais, Sir Robert Peel40 é considerado o pai do policiamento moderno. Ajudou a criar o
moderno conceito de força policial, e, por conta disto, os policiais metropolitanos ingleses são conhecidos
como Bobbies.
40 Sir Robert Peel - Robert Peel, 2.º Baronete (Bury, 5 de fevereiro de 1788 — Londres, 2 de julho de 1850) foi
um político britânico, primeiro-ministro de seu país de 10 de dezembro de 1834 a 8 de Abril de 1835 e de 30 de Agosto de 1841 a 29 de
Junho de 1846.
Ajudou a criar o conceito moderno da força policial do Reino Unido. Seu pai era um fabricante de têxtil na Revolução Industrial. Peel foi
educado na Escola primária Hipperholme, depois em Harrow School e finalmente na Christ Church, em Oxford.
Faleceu em Londres em 2 de julho de 1850, a consequência de um acidente de cavalo na estrada Constitution Hill. Encontra-se sepultado
em St Peter Churchyard, Drayton Bassett, Staffordshire na Inglaterra ( Robert Peel (em inglês) no Find a Grave ).
O historiador Charles Reith explicou em seu estudo sobre a História de Polícia (1956) que estes princípios
constituem uma abordagem ao policiamento “único na história e em todo o mundo”, porque é derivada, não de medo,
mas quase exclusivamente da cooperação entre o público e a polícia, induzida a partir de um comportamento total de
sensação de segurança que mantém para todos a aprovação, respeito e carinho do público. É possível implementar essas
ideias no Rio Grande do Norte? Podemos ter uma polícia comunitária cada vez relacionada com o convívio da sociedade
paulistana?
Segundo Cerqueira, não existe um conceito exclusivo de polícia comunitária no Brasil, embora o mais presente
entre as instituições policiais é: Polícia Comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona
uma nova parceria entre a população e a polícia. Tal parceria baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a
comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos, tais como
crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e, em geral, a decadência do bairro, com o objetivo de
melhorar a qualidade geral de vida da área. (TROJANOWICZ e BUCQUEROUX, 1994, p.4-5)
Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/princ%C3%Adpios-de-robert-peel-e-origem-da-pol
%C3%Adcia-moderna-miguel-liborio/>. Acesso em 15 nov 2018.
3. O PM E OS LIMITES DA LEI
Alex João Costa Gomes41
A temática é por deveras instigante e relevante ao serviço policial militar, pois a Lei é quem norteia as ações das
Policias Militares no Brasil, mesmo sendo essas discricionárias, autoexecutáveis e coercitivas, as Polícias Militares
não podem agir em desacordo com o que determina nosso ordenamento jurídico, ou seja, como bem entendem. Desta
feita, existe a necessidade da observância das normas e leis que regulam cada ação do Policial Militar ( PM), desde as
mais simples até as mais complexas. O PM é um dos poucos servidores do Estado que está em quase todo lugar do
país, trabalha diuturnamente para garantir a ordem pública, com o intuito de levar a segurança pública ou ao menos a
sensação dessa a cada cidadão brasileiro. Sendo que por diversas vezes têm segundos para tomar uma decisão em uma
ocorrência nas ruas do país, e essa decisão pode o levá-lo ao banco dos réus com a sociedade ao lado dele, ou
totalmente contra o mesmo.
“Os agentes policiais no exercício de suas funções encontram-se sujeitos ao limites da lei. A atividade policial
possui aspectos discricionários, que são essenciais para o cumprimento das funções de segurança pública.
O ato de polícia como ato administrativo é que fica sempre sujeito a invalidação pelo Poder Judiciário, quando
praticado com excesso ou desvio de poder.” (Hely Lopes Meirelles, 1972)
Hely Lopes Meirelles coloca muito bem a questão da atividade policial de forma geral, mas que está sujeita a
validação ou não da Justiça brasileira. Podemos inferir que isso reforça a ideia que o PM deve agir conforme as normas
e leis que norteiam a atividade do mesmo durante o trabalho, e podemos afirmar que por ser policial militar mesmo
41Alex João Costa Gomes – Bacharelado e Licenciatura Plena em História (UNIFAP 2001), Policial Militar (Aluno Oficial)
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 43
estando de folga, também deve não estando de serviço observar sua conduta em sociedade respeitando e obedecendo ao
ordenamento jurídico do Brasil.
A administração pública está sujeita aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência42, logo, os agentes públicos também estão sujeitos a tais princípios, pois são os executores dos serviços
públicos, são os que vão impor a força para manter a ordem ou restabelecer essa. É preciso convir que a segurança
pública é um direito fundamental do cidadão brasileiro, dessa maneira, os operadores da segurança pública devem
garantir esse direito a todos no país, mesmo aos estrangeiros.
“Os limites do poder de polícia exercido pelas forças policiais são três:
a ) os direitos do cidadão;
b) as prerrogativas individuais;
c) as liberdades públicas previstas nos dispositivos constitucionais e nas leis.” (Álvaro Lazzarini, 1988).
Para Álvaro Lazzarini são esses os limites do poder de polícia, assim, os policiais militares no Brasil devem
considerar tais informações na execução de seus trabalhos durante o serviço policial militar e durante sua folga, para
não incorrerem em omissão, pois ninguém pode alegar desconhecimento de lei, principalmente aqueles que operam
direto ou indiretamente, ou seja, aplicam a lei em nome do Estado em nossa sociedade.
Pelo exposto pudemos observar o quanto é limitada a atividade do policial militar, pois várias são as normas e leis
que regulam a conduta dos mesmos. Contudo, isso não significa que o trabalho desse esteja engessado, pelo contrário,
o operador da segurança pública deve trazer a lei para o seu lado, fazendo com essa dê respaldo ao trabalho
desenvolvido nas ruas do Brasil diuturnamente. O uso da força, do poder de polícia, devem se distanciar do abuso de
poder, bem como do abuso de autoridade, mas não devem ir ao encontro dos direitos dos cidadãos, na verdade devem
reforçar e garantir a efetivação desses. Não podemos de maneira alguma entender, ou seja, interpretar o trabalho do
policial militar como sendo algo simples e de fácil execução, pois não é, visto a complexidade que o envolve.
Para fixar:
Os limites do poder de polícia exercido pelas forças policiais são três:
a ) os direitos do cidadão;
b) as prerrogativas individuais;
c) as liberdades públicas previstas nos dispositivos constitucionais e nas leis.” (Álvaro Lazzarini, 1988)
"É preciso educarmo-nos, primeiro a nós mesmos, depois a comunidade e depois às futuras gerações de
policiais e lideranças comunitárias, para esse trabalho conjunto realizado em prol do bem comum…"
Os agentes da segurança pública e/ou defesa social, precisam inicialmente quebrar paradigmas do papel da polícia
na comunidade, respondendo à seguinte questão: O papel é de força, que tem como função principal fazer valer as leis
criminais? Ou de serviço, que tem função principal os problemas sociais?
Ainda que esses dois papéis sejam distintos, eles são interdependentes e deriva de um mandato mais fundamental
de manutenção da ordem - a resolução de conflitos através de meios que mesclam o potencial uso da força e o
provimento de serviços. Esses meios nem sempre precisam ser formais. Isso vale dizer que o trabalho policial não
pode ser conduzido sem uma colaboração organizada dos cidadãos.
A forma mais comum de organização dos cidadãos é a comunidade.
Para FERDINAND TONIES, “a comunidade pode ser definida como conjunto de pessoas que compartilham um território
geográfico e algum grau de interdependência, razão de viverem na mesma área”.
“Comunidade torna-se conceito de sentido operacional; comunidade é um grupo de pessoas que dividem o
interesse por um problema: a recuperação de uma praça, a construção de um centro comunitário, a prevenção de
atos de vandalismo na escola, a alteração de uma lei ou a ineficiência de um determinado serviço público. A
expectativa é que a somatória de experiências bem-sucedidas de mobilização social em torno de problemas possa,
ao longo do tempo, contribuir para melhorar o relacionamento entre polícia e sociedade e fortalecer os níveis de
organização da sociedade” (GOLDSTEIN, 1990, p.26).
O ideal de participação não corresponde ao cenário idílico de uma “comunidade” sem conflitos, mas de uma
sociedade capaz de dar dimensão política aos seus conflitos e viabilizar a convivência democrática entre distintas
expectativas de autonomia em um mesmo espaço territorial. (DIAS, THEODOMIRO).
5. PLANEJAMENTO:
5.1. GESTÃO PELA QUALIDADE EM SEGURANÇA PÚBLICA;
GESTÃO PELA QUALIDADE NA SEGURANÇA PÚBLICA.
É possível até se discutir o que é qualidade, mas não se pode negar que os princípios da gestão pela qualidade,
utilizados com êxito na administração de empresas públicas e privadas, auxiliam muito no planejamento, no
acompanhamento e na avaliação de produtos e serviços. Estes princípios aplicados à Segurança Pública, principalmente
na Polícia Comunitária, contribuirão para a melhoria da prestação do serviço à comunidade.
Estratégias Institucionais para o Policiamento
Discutindo estratégia
Por isso, é de fundamental importância elaborar metas e quantificar cada objetivo, atribuir valores (custos),
estabelecer prazos (tempo) e definir responsabilidades. A estratégia também orienta a maneira como a instituição irá se
relacionar com seus funcionários, seus parceiros e seus clientes. Uma estratégia é definida quando um executivo
descobre a melhor forma de usar sua instituição para enfrentar os desafios ou para explorar as oportunidades do meio.
Como observa FREITAS (2003), gerenciar a rotina é garantir meios para que o nível operacional atinja
resultados, esperados, de produtividade e qualidade pelo nível institucional. Geralmente, as empresas modernas (ou
pós-modernas), utilizam o sistema de gestão para atingir metas. Este processo de gerência envolve os três níveis de
uma instituição/organização:
Uma estratégia de policiamento orienta, dentre outras coisas, os objetivos da polícia, seu foco de atuação,
como se relaciona com a comunidade e as suas principais táticas.
Exemplos de estratégias:
Combate profissional do crime e policiamento estratégico têm como objetivo principal o controle do crime, pelo esforço
em baixar as taxas de crime;
Policiamento Orientado para o Problema e a “Polícia Comunitária” enfatizam a manutenção da ordem e a redução do
medo dentro de um enfoque mais preventivo.
Enquanto o policiamento tradicional mantém certo distanciamento da comunidade (os policiais é que são
especialistas), a Polícia Comunitária defende um relacionamento mais estreito com a comunidade como uma maneira
de controlar o crime, reduzir o medo e garantir uma melhor qualidade de vida.
As características das quatro estratégias de Policiamento
Veja: https://jus.com.br/artigos/28125/policiamento-comunitario-a-transicao-da-policia-tradicional-para-
policia-cidada
Resumindo as Estratégias
Experiências acumuladas pelo mundo policial
Ao longo dos últimos 50 anos o mundo policial acumulou experiências de policiamento, na tentativa de atingir seus
objetivos organizacionais e alcançar uma legitimação e apoio das comunidades que policiam. Foram identificados quatro grandes
grupos estratégicos que evidenciam uma evolução até chegar no policiamento comunitário, são eles:
a) Combate profissional ao crime ou Policiamento Tradicional:
O objetivo da estratégia de combate profissional do crime é criar uma força de combate do tipo militar, disciplinada e
tecnicamente sofisticada. Os principais objetivos desta estratégia é o controle da criminalidade e a resolução de crimes.
Características:
➢ Foco direto sobre o controle do crime como sendo a missão central da polícia, e só da polícia;
➢ Unidades centralizadas e definidas mais pela função (valorização das atividades especializadas), do que
geograficamente (definição de um território de atuação para cada um dos policiais);
➢ Altos investimentos (orçamentários e de pessoal) em tecnologia e treinamento.
b) Policiamento estratégico:
O conceito de policiamento estratégico tenta resolver os pontos fracos do policiamento profissional de combate ao crime,
acrescentando reflexão e energia à missão básica de controle do crime.
O objetivo básico da polícia permanece o mesmo que é o controle efetivo do crime. O estilo administrativo continua
centralizado. Através de pesquisas e estudos, a patrulha nas ruas é direcionada, melhorando a forma de emprego.
O policiamento estratégico reconhece que a comunidade pode ser um importante instrumento de auxilio para a polícia. O
policiamento estratégico enfatiza uma maior capacidade para lidar com os crimes que não estão bem controlados pelo modelo
tradicional.
c) Policiamento orientado para o problema:
O policiamento para resolução de problemas é também chamado de policiamento orientado para o problema (POP). Seu
objetivo inicial é melhorar a antiga estratégia de policiamento profissional, acrescentando reflexão e prevenção.
O POP pressupõe que os crimes podem estar sendo causados por problemas específicos e talvez contínuos na comunidade
tais como relacionamento frustrante, ou grupo de desordeiros, ou narcotráfico, entre outras causas. Conclui que o crime pode ser
controlado e mesmo evitado por ações diferentes das meras prisões de determinados delinquentes. A polícia pode, por exemplo,
resolver problemas ao, simplesmente restaurar a ordem em um local.
A comunidade é encorajada a lidar com problemas específicos. Podem, por exemplo, providenciar iluminação em
determinados locais, limpar praças e outros locais, acompanhar velhos e outras pessoas vulneráveis, etc. Outras instituições
governamentais e não-governamentais, de igual modo podem ser incentivadas a lidar com situações que levem a delitos
Essa estratégia de policiamento implica em mudanças estruturais da polícia, aumentando a discricionariedade do policial
(aumento de sua capacidade de decisão, iniciativa e de resolução de problemas).
d) Polícia comunitária:
No policiamento comunitário as instituições, como por exemplo, a família, as escolas, as associações de bairro e os
grupos de comerciantes, são considerados parceiros importantes da polícia para a criação de uma comunidade tranquila e segura.
O êxito da polícia está não somente em sua capacidade de combater o crime, mas na habilidade de criar e desenvolver
comunidades competentes para solucionar os seus próprios problemas.
➢ Abordagem do Policiamento Comunitário:
➢ Quantidade de ações proativas preventivas;
➢ Busca a ação pela prevenção;
➢ Avalia a qualidade pelo resultado;
➢ Estabelece a sensação de segurança.
O Ciclo PDCA
Entendendo a sigla: o nome PDCA é composto pelas primeiras letras dos verbos em inglês Plan (que significa planejar), Do
(que significa fazer, executar), Check (que significa checar, conferir) e Action, Act (que significa agir, no caso, agir
corretivamente). Esses verbos são a sequência do método PDCA. O ciclo PDCA é um método gerencial de tomada de decisões
para garantir o alcance das metas necessárias à sobrevivência de uma organização. Pelo ciclo PDCA consegue-se estabelecer uma
estratégia de melhoria contínua, que ao longo do tempo trará vantagens substanciais para a organização. Esse método visa a
controlar e atingir resultados eficazes e confiáveis nas atividades de uma organização.
As etapas que compõem o ciclo PDCA
Plan – Planejamento
Consiste no estabelecimento de metas e do método para alcançar essas metas. Três pontos importantes devem ser
considerados:
• Estabelecer os objetivos sobre os itens de controle
• Definir o caminho para atingi-los
• Decidir quais os métodos a serem usados para atingir os objetivos
Do - Execução
Compreende a execução das tarefas previstas na etapa anterior e na coleta dos dados a serem utilizados na próxima etapa.
Deve-se considerar também três pontos importantes:
• Treinar no trabalho o método a ser empregado;
• Executar o método;
• Coletar os dados para verificação do processo.
Check – Controle
Etapa onde se compara o resultado alcançado com a meta planejada, considerando-se os pontos a seguir:
• Verificar se o trabalho está sendo realizado conforme o padrão;
• Verificar se os resultados medidos variam e comparar com o padrão;
• Verificar se os itens de controle correspondem com as metas.
Action - Atuação Corretiva
Consiste em atuar no processo de função dos resultados obtidos, verificando os três passos a seguir:
• Se o trabalho desviar do padrão, tomar ações para corrigi-lo;
• Se um resultado estiver fora do padrão, investigar as causas e tomar ações para prevenir e corrigi-lo;
• Melhorar o sistema de trabalho e método
As empresas possuem problemas que as privam de obter melhor produtividade e qualidade de seus produtos, além
de prejudicar sua posição competitiva. Nós temos a tendência de achar que sabemos a solução desses problemas
43 PACHECO. Giovanni Cardoso e Marcineiro, Nazareno Polícia Comunitária e Segurança Pública. Tópicos Emergentes em Segurança
Pública III. UnisulVirtual. Palhoça, 2013
44 QC = Quality Control ou Controle de Qualidade
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 49
somente baseados na experiência ou naquilo que julgamos ser o conhecimento certo. No entanto, o verdadeiro
expert é aquele que alimenta seu conhecimento e experiência com fatos e dados, dessa maneira, assegura-se de usar
esse conhecimento, experiência e, principalmente, o seu tempo na direção correta. (CAMPOS, 1992, p.208).
O MASP é uma sequência de procedimentos lógicos, baseada em fatos e dados, que objetiva:
1. localizar a causa fundamental dos problemas;
2. mapear as soluções possíveis;
3. implantar as soluções;
4. avaliar os resultados das mudanças ocorridas com a implantação;
5. padronização (no caso da mudança ter sido efetiva) ou a revisão das ações (caso a mudança não tenha surtido o efeito
desejado).
Método IARA (Igor Araújo Barros de Morais45 e Thiago Augusto Vieira46) - Revisão.
Na resolução de problemas repetitivos de segurança, com base no POSP, a polícia deve utilizar a seguinte metodologia:
identificar e especificar os problemas, analisar para descobrir as causas desses problemas, responder baseada nos dados
analisados para eliminar as causas geradoras dos problemas e avaliar o sucesso de todo esse processo (CLARKE; ECK, 2013).
As mencionadas etapas de identificar, analisar, responder e avaliar foram sintetizadas na sigla Iara, traduzida da sigla
inglesa SARA, criada por John Eck e Bill Spelman para descrever as quatro fases de solução de problemas correspondentes no
inglês: scanning, analysis, response e assessment (CLARKE; ECK, 2013).
Este método foi desenvolvido por policiais e pesquisadores no projeto Newport News, na década de 1970 nos EUA,
modelo de solução de problemas que pode ser utilizado para lidar com o problema do crime e da desordem. Como resultado
desse projeto surgiu o método SARA, que traduzido para a língua portuguesa é denominado IARA.
45 Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Especialista em Gestão da Segurança Pública pela
Faculdade Barddal. Aspirante a oficial da Polícia Militar de Santa Catarina.
igor4444@gmail.com
46 Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Bacharel em Segurança Pública pela Universidade do Vale do
Itajaí. Especialista em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera. Capitão da Polícia Militar de Santa Catarina.
thiagoaugusto.vieira@gmail.com
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 50
É Importante ressaltar que existem diversas variações desta metodologia, detalhando ainda mais cada uma das
fases. O método IARA é de simples compreensão para os líderes comunitários e para os policiais que atuam na
atividade-fim, e não compromete a eficiência e eficácia do serviço apresentada pelo POP, assim como não contradiz
outros métodos, por isso, neste texto resolvemos adotá-la como referência. Observe como que o processo PDCA (muito
utilizado na administração de empresas), assemelha-se com o próprio método IARA, utilizado no policiamento
orientado para o problema (POP).Como primeiro passo, o policial deve identificar os problemas em sua área e procurar
por um padrão ou ocorrência persistente e repetitiva. A questão que pode ser formulada é: O QUE É O PROBLEMA?
Para GOLDSTEIN (2001) um problema no policiamento comunitário pode ser definido como “um grupo de duas ou mais
ocorrências (cluster47 de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos (procedimentos, localização, pessoas e tempo),
que causa danos e, além disso, é uma preocupação para a polícia e principalmente para a comunidade.”
CERQUEIRA (2001), conceitua que problema (no contexto de Polícia Comunitária), “é qualquer situação que cause
alarme, dano ameaça ou medo, ou que possa evoluir para um distúrbio na comunidade”
Fonte: SENASP
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Para iniciar o método Iara, é necessário definir o que é um problema. No contexto do Posp, um problema
corresponde a um grupo de incidentes similares em tempo, modo, lugar e pessoas, relacionados à segurança pública.
Além disso, um problema deve ser uma preocupação substancial tanto para a comunidade quanto para a polícia. Assim,
tanto polícia como comunidade devem participar juntos e ter paridade no processo de identificação do problema
(TASCA, 2010). É importante também nesta etapa a participação da comunidade. Segundo Marcineiro (2009, p. 119),
dar qualidade ao serviço policial significa torná-lo mais próximo e acessível ao cidadão respeitando-lhe as necessidades
e desejo e considerando as díspares peculiaridade de cada comunidade no planejamento oferta do serviço policial
Além disso, segundo o autor,
47Um cluster (do inglês TESTE: '‘grupo, aglomerado’) consiste em computadores fracamente ou fortemente ligados que trabalham em conjunto, de
modo que, em muitos aspectos, podem ser considerados como um único sistema. Diferentemente dos computadores em grade, computadores
em cluster têm cada conjunto de nós, para executar a mesma tarefa, controlado e programado por software.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 51
Outro aspecto que deve ser levado em conta na identificação do problema é a necessidade de se eliminar o
‘achismo’, ou seja, deve-se trabalhar com atos concretos e dados coletados em fontes de informações confiáveis. A
experiência pessoal de cada um que participa na identificação do problema é importante, porém, para se
evitar desperdício de tempo e recursos na busca de soluções por um problema erroneamente identificado ou pouco
importante no contexto geral, deve-se procurar, sempre que possível, comprovar a experiência pessoal através de
dados estatísticos (Marcineiro, 2009, p. 180).
No tocante à contribuição da polícia, destaca-se o papel da inteligência de segurança pública como condição
primordial à identificação dos problemas e suas respectivas causas. Por isso, a inteligência de segurança pública deve
ser desenvolvida e aperfeiçoada constantemente com a integração de diversas bases de dados e não apenas com dados
de instituições de segurança pública, uma vez que órgãos, como secretarias de saúde e educação, podem fornecer
informações bastante valiosas à polícia. Nesse cenário, é interessante a utilização de tecnologias cada vez mais
avançadas de análise criminal no auxílio à inteligência de segurança pública (SANTA CATARINA, 2011).
Entretanto, segundo ROLIM (2009, p. 41), infelizmente, muitas vezes só se obtêm: dados compilados partir dos registros
de ocorrência, o que assimila, inequivocamente, uma maneira ultrapassada de se lidar com indicadores de criminalidade e
violência.
Não por outra razão, o rol de indicadores de problemas deve ser amplo e diversificado. Do lado policial devem ser
considerados os órgãos da segurança pública no geral (policiais militares, policiais civis e bombeiros); do lado da comunidade
devem participar, além de moradores, empresários e lideranças locais representantes de outras instituições públicas e privadas.
Todos devem participar e conjunto para dar legitimidade ao processo (BRASIL, 2009).
Cabe salientar que, ao se isolar um determinado tipo de problema, há maior facilidade de resolvê-lo, e é necessário
considerar ainda que um pequeno grupo de problemas se mostra responsável por um número considerável de ocorrências
policiais. Segundo dados trazidos por ROLIM (2009, p. 139) de pesquisa realizada nos ESTADOS UNIDOS cerca de 10% das
vítimas estão envolvidas em 40% dos crimes; 10% dos agressores estão envolvidos em 50% dos crimes; e 10% dos lugares
formam o ambiente para cerca de 60% das ocorrências infracionais.
Acredita-se que a realidade seja semelhante no Brasil, seguindo o que se chama de Princípio de Pareto 48, de acordo com o
qual, geralmente, um pequeno número de causas (20%) é responsável por uma grande proporção de
resultados (80%) (TASCA, 2010).
ANÁLISE DO PROBLEMA
A fase de análise do problema corresponde ao coração do
método IARA. Nesta fase, buscam-se as raízes dos problemas
para, assim, conseguir atacar suas causas e não apena combater os
efeitos dos problemas (HIPÓLITO, TASCA, 2012).
Tentando analisar a gênese do crime, as teorias de
criminologia se concentram em fatores sociais. Simulam causas
em fatores longínquos, como as práticas de educação de crianças,
componentes genéticos e processos psicológicos ou sociais. Essas
constituem teorias difíceis de validação prática e focam em
políticas públicas incertas que estão fora do alcance da polícia
(CLARKE; ECK, 2013).
Ao contrário da criminologia tradicional, as teorias e os
conceitos da ciência do crime são muito mais úteis no trabalho
diário da polícia, pois segundo Clarke e Eck (2013, p. 38),
“lidam com as causas situacionais imediatas dos eventos
criminais, incluindo tentações e oportunidades e proteção
insuficiente dos alvos”.
Para esta fase é importante o conhecimento do triângulo de análise de problema (também conhecido como o triângulo
do crime), originado da teoria da atividade rotineira. Essa teoria, formulada por Lawrence Cohen e Marcus Felson, diz que o
crime ocorre quando um potencial infrator encontra-se com um potencial alvo (para aquele tipo de infrator) no mesmo tempo e
lugar, sem a presença de um guardião eficaz. Essa formulação forma o tripé da análise de problema representada por infrator,
alvo e local (CLARKE; ECK, 2013).
RESPOSTAS ÀS CAUSAS DO PROBLEMA
Após a identificação clara e análise detalhada do problema, a polícia enfrenta o desafio de procurar o meio mais
efetivo de lidar com ele, desenvolver ações adequadas com baixo custo e o máximo de benefício. Para isso, a polícia
deve evitar a tentação de respostas prematuras não fundamentadas nas fases anteriores do método Iara (BRASIL,
2009).
48 O princípio de Pareto (também conhecido como regra do 80/20, lei dos poucos vitais ou princípio de escassez do fator afirma que, para
muitos eventos, aproximadamente 80% dos efeitos vêm de 20% das causas.
Segundo Skonieczny (2009), outro fator importante nesta fase é conhecer o impacto das medidas policiais
sobre a população
Estratégias que favoreçam a participação e mobilização da
comunidade.
A gestão e as estratégias de Polícia Comunitária
Com a adoção da Polícia Comunitária, a polícia tem saído do isolamento e entendido que a comunidade deve
executar um importante papel na solução dos problemas de segurança e no combate ao crime. Como enfatizou Robert
Peel, em 1829, ao estabelecer os princípios da polícia moderna, “os policiais são pessoas públicas que são remunerados
para dar atenção integral ao cidadão no interesse do bem-estar da comunidade”.
A polícia tem percebido que não é possível mais fingir que sozinha consegue dar conta de todos os problemas de
segurança. A comunidade precisa policiar a si mesma e a polícia pode (ou deve) ajudar e orientar esta tarefa.
A percepção de que juntas, polícia e comunidade podem somar esforços na luta contra a violência e a criminalidade
tem possibilitado o fortalecimento de algumas estratégias utilizadas no âmbito da Polícia Comunitária:
- Mobilização das Lideranças Comunitárias
- Policiamento Comunitário
- Gestão de Serviços
- Comparando a gestão de serviço na Polícia Comunitária e na Polícia tradicional
É fato que não existe um programa único para descrever o policiamento comunitário, ele tem sido tentado em várias polícias
ao redor do mundo. O policiamento comunitário vai muito além que simplesmente implementar policiamento a pé, ciclopatrulha
ou postos de policiamento comunitário. Ele redefine o papel do policial na rua de “combatente” (combate ao crime), para
solucionador de problemas e ombudsman49 do bairro. Obriga uma transformação cultural da polícia, incluindo descentralização
da estrutura organizacional e mudanças na seleção, recrutamento, formação, treinamento de sistemas de recompensas, promoção
e muito mais.
Além do mais, essa filosofia pede para que os policiais escapem da lógica do policiamento dirigido para
ocorrências (rádio atendimento) e busquem uma solução proativa e criativa para equacionar o crime e a desordem.
POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO:
CONCEITOS E INTERPRETAÇÕES BÁSICAS
A primeira ideia que se tem a respeito do tema Polícia Comunitária é que ela, por si só, é particularizada, pertinente a uma
ou outra organização policial que a adota, dentro de critérios peculiares de mera aproximação com a sociedade sem, contudo,
49substantivo de dois gêneros. 1. pessoa encarregada pelo Estado de defender os direitos dos cidadãos, recebendo e investigando queixas e denúncias
de abuso de poder ou de mau serviço por parte de funcionários ou instituições públicas. 2. POR EXTENSÃO em empresas públicas ou privadas,
indivíduo encarregado do estabelecimento de um canal de comunicação entre consumidores, empregados e diretores.
É preciso deixar claro que “Polícia Comunitária” não tem o sentido de ASSISTÊNCIA POLICIAL, mas sim o
de PARTICIPAÇÃO SOCIAL.
Nessa condição entendemos que todas as forças vivas da comunidade devem assumir um papel relevante na sua
própria segurança e nos serviços ligados ao bem comum. Acreditamos ser necessária esta ressalva, para evitar a
interpretação de que estejamos pretendendo criar uma polícia ou de que pretendamos credenciar pessoas extras aos
quadros da polícia como policiais comunitários.
O policial é uma referência muito cedo internalizada entre os componentes da comunidade. A noção de medo da
polícia, erroneamente transmitida na educação e às vezes na mídia, será revertida desde que, o policial se faça perceber
por sua ação protetora e amiga.
O espírito de Polícia Comunitária que apregoamos se expressa de acordo com as seguintes ideias:
A primeira imagem da POLÍCIA é formada na família;
A POLÍCIA protetora e amiga transmitirá na família, imagem favorável que será transferida às crianças desenvolvendo-se
um traço na cultura da comunidade que aproximará as pessoas da organização policial;
O POLICIAL, junto à comunidade, além de garantir segurança, deverá exercer função didático-pedagógica, visando a
orientar na educação e no sentido da solidariedade social;
A orientação educacional do policial deverá objetivar o respeito à "Ordem Jurídica" e aos direitos fundamentais
estabelecidos na Constituição Federal;
A expectativa da comunidade de ter no policial o cidadão íntegro, homem interessado na preservação do ambiente, no
socorro em calamidades públicas, nas ações de defesa civil, na proteção e orientação do trânsito, no transporte de feridos em
acidentes ou vítimas de delitos, nos salvamentos e combates a incêndios;
A participação do cidadão se dá de forma permanente, constante e motivadora, buscando melhorar a qualidade de vida.
Antes, porém, de ser apresentadas definições de Polícia Comunitária e Policiamento Comunitário vale a pena verificar os aspectos
que auxiliam caracterizar comunidade e segurança.
a) Comunidade
Para não correr o risco de definições ou conceitos unilaterais, preferimos apresentar alguns traços que
caracterizam uma comunidade:
Forte solidariedade social;
Aproximação dos homens e mulheres em frequentes relacionamentos interpessoais;
Discussão e soluções de problemas comuns;
Sentido de organização possibilitando uma vida social durável.
b) Segurança
Jorge Wilheim, diz que a segurança do indivíduo envolve:
Reconhecimento do seu papel na sociedade;
A autoestima e a autossustentação;
A clareza dos valores morais que lhe permitam distinguir o bem do mal;
O sentimento de que não será perseguido por preconceito racial, religioso ou de outra natureza;
A expectativa de que não será vítima de agressão física, moral ou de seu patrimônio:
A possibilidade de viver num clima de solidariedade e de esperança.
Trojanowicz (1994) faz uma definição clara do que é Polícia Comunitária:
“É uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a
polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para
identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens
físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na
área.”
Dissecando o conceito de Polícia Comunitária:
Elementos de Definição
Estes elementos de definição podem ser facilmente identificados na definição de policiamento comunitário apresentado por
Trojanowicz. Também conhecidos como os nove P’s do policiamento comunitário, ou seja, os nove elementos que o definem.
Filosofia (philosofia). A filosofia do policiamento comunitário baseia-se na crença de que os desafios contemporâneos
requerem que a polícia forneça um serviço de policiamento completo, preventivo e repressivo, envolvendo diretamente a
comunidade como parceira no processo de identificação, priorização e resolução de problemas, incluindo crime, medo do crime,
drogas ilícitas, desordens físicas e sociais e decadência do bairro. Um amplo engajamento do departamento implica em mudanças
tanto nas políticas quanto nos procedimentos.
Policiamento. O policiamento comunitário mantém um forte enfoque repressivo; os policiais comunitários atendem às
chamadas de serviço e realizam prisões como qualquer outro policial, porém, eles se preocupam também com a resolução preventiva
dos problemas.
Patrulhamento. Os policiais comunitários patrulham o seu quadrante de policiamento, obedecendo ao Procedimento
Gestão de Serviços
Tabela 4. 5W2H
A Polícia Comunitária pede para que os policiais escapem da logica do policiamento dirigido para ocorrências
(radioatendimento) e busquem uma solução pró-ativa e criativa para equacionar o crime e a desordem. O diagrama
5W2H pode ajudar na gerencia do serviço policial. Esta metodologia, também conhecida nos países de língua
portuguesa como 4Q1POC (após a tradução), e muito utilizada na administração de empresas para gerenciar um plano
de ação para elaborar um serviço ou produto.
Este diagrama e composto por 7 perguntas que procuram orientar a gerência de um plano de ação.
Pergunta
Característica
Inglês - 5W2H Português - 4Q1POC
What? O que será feito? Etapa a cumprir
Who? Quem vai fazer Definição de Responsável
When? Quando será feito? Cronograna
How much? Quanto custará? Investimento
Why? Por quê? Razoes para a sua realização
Where? Onde será? Local de realização
How? Como será? Como atuar (operacionalizar)
50 Maurício Futryk Bohn, Mestrando em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Graduado
em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 64
comunidade;
O que determina a eficiência da polícia é o tempo de resposta; A polícia se ocupa mais com os problemas e as preocupações dos
cidadãos
O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas O que determina a eficácia da polícia é o apoio e a cooperação do
rápidas aos crimes sérios; publico;
A função do comando é prover os regulamentos e as O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito
determinações que devam ser cumpridas pelos policiais; relacionamento com a comunidade
As informações mais importantes são aquelas relacionadas a A função do comando é incutir valores institucionais;
certos crimes em particular;
O policial trabalha voltado unicamente para a marginalidade de As informações mais importantes são aquelas relacionadas com as
sua área, que representa, no máximo 2% da população residente atividades delituosas de indivíduos ou grupos;
ali onde “todos são inimigos, marginais ou paisano folgado, até
prova um contrário”;
O policial é do serviço; O policial trabalha voltado para os 98% da população de sua área,
que são pessoas de bem e trabalhadoras;
Emprego da força como técnica de resolução de problemas; O policial emprega a energia e eficiência, dentro da lei, na solução
dos problemas com a marginalidade, que no máximo chega a 2%
dos moradores de sua localidade de trabalho;
Presta contas somente ao seu superior; Os 98% da comunidade devem ser tratados como cidadãos e
clientes da organização policial;
As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrência. O policial presta contas de seu trabalho ao superior e à
comunidade;
Tabela 6. Diferenças entre a polícia tradicional e a polícia comunitária - Maurício Futryk Bohn
Disponível em: <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/cienciascriminais/IV/54.pdf> e em
<https://jus.com.br/artigos/28125/policiamento-comunitario-a-transicao-da-policia-tradicional-para-policia-cidada >.
Acesso em 07 de ago de 2018.
6. MOBILIZAÇÃO SOCIAL
6.1. MOBILIZAÇÃO SOCIAL
Em meio a uma comunidade verificam-se dois termos de importância fundamental para que a sociedade
venha atingir os seus objetivos em prol da ordem pública e de uma convivência pacífica entre os seres humanos:
a comunidade geográfica e a comunidade de interesse.
Esses conceitos se confundiam no passado quando ambas as comunidades se misturavam para abranger a
mesma população. Este fato é extremamente relevante para o uso de “comunidade” no policiamento comunitário
porque o crime, a desordem e o medo do crime podem criar uma comunidade de interesse dentro da comunidade
geográfica.
Incentivar e enfatizar esta comunidade de interesse dentro de uma área geográfica pode contribuir para que os
residentes trabalhem em parceria com o policial comunitário para criar um sentimento positivo na comunidade.
(TROJANOWICZ e BOUCQUEROUX, 1994)
Nesta ótica a mobilização social procura então alertar as autoridades policiais da necessidade dessa
aproximação.
A mobilização social é muitas vezes confundida com manifestações públicas, com a presença das pessoas em uma
praça, passeata, concentração. Mas isso não caracteriza uma mobilização. A mobilização ocorre quando um grupo de
pessoas, uma comunidade ou uma sociedade decide e age com um objetivo comum, buscando, quotidianamente,
resultados decididos e desejados por todos.
CONCEITO PROPOSTO:
Mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido
também compartilhados.
Participar ou não de um processo de mobilização social é um ato de escolha. Por isso se diz convocar, porque a
participação é um ato de liberdade. As pessoas são chamadas, mas participar ou não é uma decisão de cada u m. Essa
decisão depende essencialmente das pessoas se verem ou não como responsáveis e como capazes de provocar e
construir mudanças.
Fonte: http://www.aracati.org.br/portal/pdfs/13_Biblioteca/Publicacoes/mobilizacao_social.pdf
6.2 – Envolvimento dos cidadãos
Qualquer tentativa de trabalho ou programa de Polícia Comunitária deve incluir necessariamente a comunidade.
Embora a primeira vista possa parecer simples, a participação da comunidade é um fator importante na democratização
1. (1601)
2. ADJETIVO. 1.(1601). 2. que ou o que tem a qualidade de acalmar, de abrandar temporariamente um mal (diz-se de medicamento ou
tratamento); anódino. "<medicamento p.> " · "<essa terapia foi apenas um p.> ". p.ext.. 3. que ou que serve para atenuar um mal ou
protelar uma crise (diz-se de meio, iniciativa etc.). "<diante do desastre ecológico, só foram tomadas medidas p.> " · "<a distribuição
gratuita de alimentos foi um p. para a situação causada pela seca> ". ORIGEM ⊙ ETIM paliado (part. de paliar) sob a f. rad. paliat- + -
ivo
Polícia Comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional fundamentadas, principalmente, numa parceria
entre a população e as instituições de segurança pública e defesa social. Baseia-se na premissa de que tanto as
instituições estatais, quanto à população local, devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver
problemas que afetam a segurança pública, tais como o crime, o medo do crime, a exclusão e a desigualdade social
que acentuam os problemas relativos à criminalidade e dificultam o propósito de melhorar a qualidade de vida dos
cidadãos. (BRASIL, 2008b).
Esse modelo de policiamento envolve a comunidade e a faz sentir-se responsável por si e por todos. O fato de o
policial estar perto da comunidade, vivenciado a sua realidade e se fazendo presente por meio de conversas, conselhos
e solução de problemas, passa ao indivíduo, além da sensação de segurança, o sentir-se incluído – partícipe de decisões
-, o sentir-se importante para a sociedade. Realizar a atividade da polícia focada nos direitos humanos, em que há
respeito pela pessoa que vivencia os conflitos diretamente e por aquelas atingidas indiretamente. Resumidamente, o
policiamento comunitário adota o aumento da participação civil no policiamento.
A comunidade auxilia o policiamento, apresentando o que a comunidade entende como prioridade para aquela
área, o que mais preocupa e o que entende que deve ser feito para a obtenção de um lugar seguro de se viver. Preserva-
se a ordem com a aproximação entre a comunidade e a polícia, permitindo-se a maior confiança nas instituições
públicas, estimulando a participação ativa nas mudanças.
Dessa forma, a polícia comunitária associa e valoriza dois fatores, que frequentemente são dissociados e
desvalorizados pelas instituições de segurança pública e defesa social tradicionais: i) a identificação e resolução de
problemas de defesa social com a participação da comunidade e ii) a prevenção criminal. Esses pilares gravitam em
torno de um elemento central, que é a parceria com a comunidade, retroalimentando todo o processo, para melhorar
a qualidade de vida da própria comunidade. Na referida parceria, a comunidade tem o direito de não apenas ser
consultada, ou de atuar simplesmente como delatora, mas também participar das decisões sobre as prioridades das
instituições de defesa social, e as estratégias de gestão, como contrapartida da sua obrigação de colaborar com o
trabalho da polícia no controle da criminalidade e na preservação da ordem pública e defesa civil. As estratégias da
filosofia de polícia comunitária têm um caráter preferencialmente preventivo. Mas, além disso, estas estratégias
visam não apenas reduzir o número de crimes, mas também reduzir o dano da vítima e da comunidade e modificar
os fatores ambientais e comportamentais. Tendo em vista que a proposta da polícia comunitária implica numa
mudança de paradigma no modo de ser e estar a serviço da comunidade e, consequentemente, numa mudança de
postura profissional perante o cidadão, este tema também é trabalhado dentro de uma abordagem transversal,
estando presente em todas as práticas pedagógicas. (BRASIL, 2008b).
Essa mudança de proposta de policiamento, do tradicional para o comunitário, age na mudança de atitude da
polícia com a comunidade. Os policiais comunitários aconselham, mediam conflitos, ministram palestras, participam,
cooperam, comunicam-se, são acessíveis e encorajadores, tanto em lugares públicos como em privados.
Desenvolvido pelo Ministério da Justiça, o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci)
marca uma iniciativa inédita no enfrentamento à criminalidade no país. O projeto articula políticas de segurança com
ações sociais; prioriza a prevenção e busca atingir as causas que levam à violência, sem abrir mão das estratégias de
ordenamento social e segurança pública.
Entre os principais eixos do Pronasci destacam-se a valorização dos profissionais de segurança pública; a
reestruturação do sistema penitenciário; o combate à corrupção policial e o envolvimento da comunidade na
prevenção da violência. Para o desenvolvimento do Programa, o governo federal investirá R$ 6,707 bilhões até o
fim de 2012. (BRASIL, 2008a).
O ideal da construção da segurança a partir da participação da coletividade, apontando para uma sociedade mais
justa e fraterna, passa pela educação em direitos humanos, ou seja, “os enfrentamentos atuais para a construção da
democracia no Brasil passam, necessariamente, pela ética e pela educação para a cidadania” (SOARES, 1997, p. 12). A
mediação de conflitos apresenta-se como instrumento hábil para o desenvolvimento desta proposta, por ser um
mecanismo que pratica a educação em direitos humanos, pois busca a resolução de conflitos a partir da participação
ativa das pessoas.
A mediação é um procedimento consensual de solução de conflitos, no qual as pessoas envolvidas resolvem o
conflito. Contam com a participação de um terceiro – escolhido ou aceito pelas partes – que age no sentido de encorajar
e facilitar o diálogo. As pessoas envolvidas nesse conflito são as responsáveis pela decisão que melhor as satisfaça.
A mediação possibilita a visualização dos envolvidos de que o conflito é algo inerente à vida em sociedade,
possibilitando a mudança, o progresso nas relações, sejam elas individuais ou coletivas. A boa ou má administração de
um conflito é que resultará em desfecho positivo ou negativo. Por meio da mediação, buscam-se os pontos de
convergência entre os envolvidos na contenda que possam amenizar a discórdia e facilitar a comunicação. Muitas vezes
as pessoas estão de tal modo ressentidas que não conseguem visualizar nada de bom no histórico do relacionamento
entre elas. A mediação estimula, através do diálogo, o resgate dos objetivos comuns que possam existir entre os
indivíduos que estão vivendo o problema.
Outrossim, a mediação tenta demonstrar que é possível uma solução de conflito em que ambas as partes ganhem,
tentando, por meio do diálogo, restaurar os bons momentos que fizeram parte da relação, reconhecer e conhecer os
conflitos reais oriundos dos conflitos aparentes perfilados pelos envolvidos, suscitar o questionamento da razão real do
desentendimento, provocar a cooperação mútua e o respeito ao próximo ao analisar que cada pessoa tem a sua forma de
visualizar a questão, facilitar a compreensão da responsabilidade que cada um possui em face do problema e na sua
resolução e, assim, encontrar uma saída que todos aceitem, concordem e acreditem que a divergência será solucionada.
A polícia comunitária como uma polícia próxima da população encontra na mediação de conflitos um forte aliado
na consecução de uma política preventiva de segurança.
Percebe-se, assim, a existência de uma convergência de objetivos entre a mediação e a segurança pública sob o
aspecto da proposta de uma polícia comunitária, por possuir um denominador na construção e na vivência dos direitos
humanos, da justiça social, da cultura de paz e do desenvolvimento humano e social.
Mediação de conflitos: 5 técnicas que você precisa conhecer
Paulo é advogado e acabou de se graduar. Pensa em seguir a carreira como advogado, mas sabe que, para isso,
precisa se manter atualizado e aprender como funciona o mercado do Direito.
Assim, encontrou na mediação de conflitos um caminho que lhe interessa e quer aprender mais sobre o assunto
para tentar oportunidades nessa área.
E aí, se identificou com Paulo? Então, neste capítulo nós ensinamos o que é a mediação e apresentamos cinco
técnicas que você precisa conhecer para dominar definitivamente o assunto. Confira!
O que é e como funciona a mediação de conflitos
Basicamente, a mediação é um procedimento voluntário e informal de auxílio às pessoas em conflito, para que
identifiquem por si mesmas alternativas de benefício mútuo. É aplicável no Brasil em relação aos chamados direitos
disponíveis — que admitem transação e se constituem na esfera patrimonial de seu titular.
A mediação de conflitos possui caráter confidencial e utiliza a participação ativa e direta das partes, podendo ser
judicial ou extrajudicial. No primeiro caso, as partes encontram um terceiro — profissional graduado em Direito (há, pelo
menos, dois anos) e capacitado em cursos especializados.
Já na mediação extrajudicial, contrata-se uma pessoa com expertise no assunto tratado, e permite-se que ela
conduza o caso utilizando as leis e os costumes, para que dite a solução que julgue adequada ao caso de forma eficaz,
econômica e sigilosa.
5 (cinco) técnicas de mediação de conflitos que você precisa conhecer
Através dos Junkai Renraku, os policiais comunitários preenchem um cartão, no qual inserem informações úteis
para melhor conhecer o cidadão e acioná-lo no caso de desastre ou acidentes, ou ainda, para repassar orientações que
melhorem a sua segurança.
7.2.1.1 Objetivos da visita comunitária
A visita comunitária tem por objetivo geral estabelecer uma relação de amizade e confiança mútua, por meio de
constantes contatos diretos e pela presença asseguradora de policiais militares.
A SENASP (2010, p. 157) relaciona outros objetivos da visita comunitária:
Traçar perfil sócio-econômico da comunidade; Identificar problemas criminais e situação de riscos às pessoas;
Conhecer a comunidade com a qual trabalha; Interligar a população e demais órgãos públicos para a resolução de
problemas.
A visita comunitária ainda é um importante instrumento na prevenção de crimes, conforme assevera a Secretaria
Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça (SENASP, 2010, p. 157):
As visitas comunitárias têm o objetivo de proporcionar condições para que o policial militar possa transmitir
informações sobre prevenção de crimes, divulgar os projetos desenvolvidos, a forma de atuação policial militar e os
objetivos do policiamento comunitário, além de ser excelente ferramenta para o marketing institucional.
A busca da prevenção, utilizando a visita comunitária possui dois focos: combater a vitimização através de
orientações que venham a instigar a pessoa a se preocupar com sua segurança, deixando de ser uma vítima fácil e, o
segundo foco, contribuir com a polícia através de informações fidedignas que propiciam a prisão de criminosos, o
combate a crimes e a identificar locais e pessoas vulneráveis.
7.2.1.2 – Estabelecendo uma relação de confiança com o cidadão.
A primeira preocupação na concretização da visita comunitária é estabelecer uma relação de confiança entre a
polícia e a comunidade. Nesse sentido, o policial militar deve:
a) Conhecer como desempenha uma visita comunitária;
b) Ser compromissado com o policiamento comunitário e defender a filosofia;
c) Ser atencioso com as pessoas, ouvindo-as atentamente;
d) Orientar e dar explicações sobre os questionamentos;
e) Superar os obstáculos que historicamente distanciaram a polícia da sua comunidade;
f) Acreditar no seu trabalho, independente dos resultados iniciais não serem compatíveis com o planejamento;
g) Estimular o cidadão a compartilhar a responsabilidade pela segurança e a fortalecer a parceria com a Polícia
Militar.
* Como realizar uma visita comunitária
O policial militar do quadrante deve estar convicto que a visita comunitária é uma rotina de trabalho. O policial
militar deve entender que o cidadão é coparticipante do processo preventivo e nesse sentido, um bom atendimento é
fundamental para construir uma relação saudável. Ao realizar uma visita comunitária, o policial militar deve:
a) Saudar educadamente o cidadão;
b) Apresentar-se como o policial militar do quadrante;
c) Apresentar o novo modelo de policiamento e asseverar a intenção da Polícia Militar em prestar um serviço que
lhe proporciona uma segurança real, verdadeira;
d) Estimular o morador a melhor se prevenir, analisando suas fragilidades e lhe repassando cuidados específicos;
e) Pedir a colaboração do morador para a qualidade de vida do bairro;
f) Entregar o cartão com dados funcionais do quadrante;
g) Despedir com a mesma educação da apresentação.
A visita comunitária é uma modalidade de policiamento preventivo e deve revestir-se da devida formalidade
exigida na relação de um prestador de serviço com seu cliente. A amizade conquistada não deve ingressar no campo
pessoal, sem, contudo, deixar alcançar a empatia com a situação do cidadão.
7.2.1.3 – Visita comunitária residencial
É aquela realizada em residências para:
[...] verificar as carências daquela família, a situação sócio-econômica, identificar as formas mais comuns de
violência a que estão sujeitos, além de colher solicitações e informações pertinentes à criminalidade e aos conflitos
A visita comunitária em residência, como modalidade de policiamento propicia a infiltração da Polícia Militar
em áreas pouco policiadas e leva ao morador o sentimento de preocupação e zelo que o Estado está denotando a seu
respeito.
7.2.1.4 – Visita comunitária comercial
No comércio, a frequência de visita comunitária é maior e, consequentemente, se repete com maior facilidade
por três motivos:
1) número de estabelecimentos comerciais é menor que de residências;
2) se situa em locais de maior fluxo de pessoas e
3) são mais suscetíveis a furto e roubo.
“Nas visitas comerciais, devem ainda ser observadas as condições de segurança e a vulnerabilidade a eventos
criminosos (principalmente furto e roubo) de modo que o policial militar possa orientar sobre as formas de
prevenção” (SENASP, 2010, p. 160).
No patrulhamento tradicional os policiais militares patrulham distantes das pessoas, executando o equivocado
método de prevenção pela exclusividade do policiamento. Por mais público que seja o policiamento não há
impedimento aos policiais militares de acessarem os estabelecimentos comerciais.
Adentrar ao imóvel, conversar com os comerciários e clientes e aproveitar para transmitir orientações de
prevenção e formas de acionar a PM no caso de emergência, trata-se de um modelo de policiamento eficiente e que
aproxima o cidadão da Polícia Militar.
7.2.1.5 - Visita comunitária em órgão público ou entidade privada.
Os policiais militares do quadrante devem buscar a aproximação do órgão público como creches, escolas,
hospitais e entes privados, como igrejas, Organização não Governamental (ONG), associações, com fim comum da
visita que é a prevenção, por métodos próprios e aproximação com a PM, bem como para “[...] o levantamento de dados
sobre o funcionamento e a atuação de cada órgão [...]” (SENASP, 2010, p. 160) para, através dele, encaminhar
solicitações do cidadão para a resolução de problemas e para ser possível o acionamento do diretor, presidente ou chefe
do órgão em caso de emergência, pois nesses locais, geralmente, estão fechados à noite e finais de semana, estando
vulneráveis ao crime.
7.2.2 - Visita Solidária
A visita solidária ocorre quando os policiais militares visitam as vítimas de crime e incivilidades havidas no
quadrante, para outras providências policiais e orientações sobre prevenção.
É através da visita solidária que o policial militar faz um estudo de caso e conduz a vítima a refletir se o seu
comportamento contribuiu para o desfecho delituoso. Igualmente, o policial militar enriquece sua lista com novas
maneiras de prevenção. A aproximação do policial militar após a ocorrência criminal é importante para renovar a
confiança do cidadão em relação à Polícia Militar, às vezes abalada após a ocorrência de um crime que a PM não
conseguiu evitar. É através da visita solidária que o policial militar se projeta no lugar da vítima e, através da empatia,
possa sentir melhor a aflição da pessoa e, com isso, valorizar o seu serviço e dedicar-se com melhor eficiência.
Por meio da visita solidária o policial militar pode suscitar mais informações a respeito do delito e sobre o
criminoso, propiciando conhecer sua forma de atuação, possibilitando a identificação da autoria e a elucidação de outros
crimes.
O policiamento comunitário é completo, abrangendo a prevenção e a repressão criminal e o modelo fomentado
pelo Governo Federal, através da Secretaria Nacional de Segurança Pública, apóia a “Assistência à Vítima” como
oportunidade ampla para, resgatar a confiança do cidadão, para melhorar a atuação da polícia e até para elucidar o
delito:
Diariamente, o policial deve consultar o banco de dados e relacionar as ocorrências no dia anterior, ou outro período
pré-definido, deslocar-se ao local e fazer contato com a vítima a fim de colher dados necessários para o planejamento
adequado de ações. Desta forma, também, o cidadão sente-se prestigiado, aumentando a sensação de segurança e
criando, acima de tudo, um vínculo entre a polícia e a comunidade (SENASP, 2010, p. 166).
52 localidade que possuem histórico de atendimentos policiais anteriores, dos quais geram suspeição de atividades criminosas.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 73
a procurar a polícia por acreditar ser apenas um ato burocrático. Outra razão é a ineficiência investigatória que deveria
se iniciar no momento em que os policiais militares atendem um incidente. Na realidade, quase tão somente aqueles
casos já encaminhados por policiais militares é que geram investigação criminal. Quase nunca as vítimas vão à
delegacia de polícia para registrar algum roubo, por exemplo.
O assaltante que rouba pequenos valores, costumeiramente, é da região, e confia na impunidade para continuar a
agir. Assim, em poucos casos de roubos e furtos a PM é acionada, menor é o número de prisões e ínfimo é a presença da
vítima na delegacia. Esse panorama é favorável ao delinquente.
O monitoramento é um patrulhamento realizado no quadrante pelos policiais militares com foco na vítima,
quando procura identificar suas fragilidades e buscar orientá-la, no ambiente oportuno, com atenção às ZQC, nos
horários de maior incidência criminal. Enquanto isso, os delinquentes conhecidos passam a ser encontrados e abordados
habitualmente com a finalidade de inibir suas ações.
O monitoramento deve ser priorizado aos ZQC e os policiais militares devem estar atentos aos dias e horários de
frequência de pessoas, de incidentes e presença de suspeitos.
Os delinquentes devem ter ciência que os policiais estão patrulhando a região com total atenção a eles. Devem
estar cientes que eles são os alvos da monitoração.
É bom sabermos que os delinquentes são agressores da sociedade e a Polícia Militar é a defensora. Assim, é
totalmente legítima a atenção fiscalizadora sobre o delinquente conhecido no quadrante.
7.2.4 – Mensuração
O policiamento comunitário é um modelo de administração gerencial, e como tal utiliza-se da mesma
metodologia e instrumentos.
Como administração gerencial o foco do policiamento também está na qualidade e a sua definição é dada pela
expectativa do cliente.
A satisfação do cliente sobre determinado produto é que define a qualidade, independente do desempenho do
produto. Nesse sentido, qual seria o produto entregue ao cidadão, seu cliente?
O produto pode ser definido com bem (fungível) ou serviço, e no caso da Polícia Militar, trata-se de um serviço
público. Esse produto é difícil de ser mensurado, pois ele seria composto de valores negativos.
A percepção do cidadão ocorre pela sensação de segurança, melhor sentida pela ausência de crimes (por isso
valores negativos ou decrescentes). Assim, o produto desejado pelo cidadão é a segurança e resposta ao crime.
A segurança desejada pelo cidadão não pode ser medida pelos números crescentes de prisões e apreensões, mas
pelos valores que decrescem não podem estar desassociados de ações. Portanto, determina-se que a Policia Militar deve
promover ações que contribuem para diminuir os crimes. Essas ações denominam-se “proatividade”. A segurança e a
sensação de segurança é produto de um processo, que se chama de processo produtivo. O modelo gerencial busca
atentar ao processo, criando procedimentos padrões para estabelecer a eficiência desse processo.
Para que o produto seja aquele pretendido, o processo deve ser minuciosamente monitorado e isto significa
análise dos dados comparados aos indicadores pré-estabelecidos. O monitoramento do processo é garantia de qualidade
do produto.
Mensurar o processo é uma delicada tarefa. Mais delicado é mensurar o produto ofertado pela Polícia Militar.
Como muitos esperam, a quantidade de prisões e apreensões não são os produtos esperados da PM pela sociedade. O
que se deseja da Polícia Militar seria ações que favorecem a ausência de crime. Trata-se de relação causa e efeito. Aliás,
essa relação é a definição de processo.
O efeito seria a ausência de crime e da sensação de segurança, que se denomina de produto, e quais seriam suas
causas? Para relacionar causa e efeito é necessário mensurar o processo.
Daí pergunta-se: O que a Polícia Militar pode realizar de proatividade para gerar mais segurança e sensação de
segurança?
A Polícia Militar do Estado de Goiás, por exemplo, adotou as seguintes ações:
a) Visita Comunitária;
b) Visita Solidária;
c) Reunião Comunitária;
d) Abordagem Policial;
e) Operações Policiais;
f) Patrulhamento;
g) Monitoramento;
h) Foragido recapturado e outros.
Anteriormente, o serviço policial militar era medido pela quantidade de ocorrências registradas. Os policiais
militares acostumados a “vagar” pelas ruas a espera de um crime para atender, chegavam a dizer que nada fizeram
quando não foram acionados.
Enquanto não são acionados para atendimento reativo, os policiais militares devem estar produzindo segurança
pública.
Medir as atividades é imprescindível para determinar a relação causa e efeito e mensurar o quanto as ações da
Polícia Militar são determinantes para diminuir a criminalidade.
“Polícia Comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma parceria entre população
e a polícia, baseada na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar (juntos) para
identificar, priorizar e resolver os problemas contemporâneos, como crimes, drogas, medos, desordens físicas,
morais, com o objetivo de melhorar a qualidade geral de vida da cidade. Tudo isso baseado na crença de que os
problemas sociais terão soluções cada vez mais efetivas, na medida em que haja a participação de todos na sua
identificação, análise e discussão”. (TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento
Comunitário: Como Começar. RJ: POLICIALERJ, 1994, p.04).
Policiamento Comunitário é o modelo colocado em prática de acordo com a filosofia de polícia comunitária.
No período compreendido de 1985 a 1995, houve uma série de estudos, propostas e projetos de reforma da polícia que
promoviam a implantação de policiamento comunitário, em diversos municípios e estados, mas, geralmente sem apoio
governamental e da própria polícia. Somente em 1996 este tipo de reforma da polícia, passou a receber maior apoio
governamental. No Estado da Bahia, através da Polícia Militar de forma pioneira e ostensiva, o policiamento comunitário
promove uma série de mudanças sistêmicas, as quais têm buscado tratar a Instituição como empresa e a Sociedade como cliente,
que exige e merece um serviço de qualidade. No policiamento comunitário as questões de segurança são tratadas junto com a
população, tanto na definição de quais devem ser as prioridades da polícia, como as estratégias de policiamento que desejam ver
implementadas. Nesse modo de policiamento, a polícia, além de prestar contas de suas atividades e resultados às autoridades
legais, presta contas também aos cidadãos a quem atende.
A filosofia da Polícia Comunitária visa a participação social, de forma que envolva todas as forças vivas da comunidade, na
busca de mais segurança e nos serviços ligados ao bem comum.
Saiba mais:
• A popularização da polícia comunitária pode representar um risco à sua implementação, em que pese a ocorrência de desvios em relação ao que
a filosofia pressupõe.
• O contexto de surgimento da polícia comunitária foi marcado por críticas ao sistema policial, em que reformas institucionais que aproximassem a polícia
e a sociedade eram reivindicadas.
• O modelo tradicional ou profissional de policiamento é caracterizado pela organização burocrático-legal voltada para a aplicação da lei.
• O processo de socialização se confunde com as características biológicas, pois os comportamentos são determinados de forma inata.
• O ingresso numa OSP pode ser considerado um processo de socialização secundária, em que hábitos, práticas e formas de pensar próprios da instituição
passam a influenciar o indivíduo em sua vida.
• A polícia comunitária estabelece formas de relacionamento com a comunidade que se encontram baseadas em pressupostos novos, como a coprodução
da segurança pública. Por isso, a polícia e a comunidade devem reaprender a se relacionar sob diferentes formas.
• A aproximação do policial comunitário deve ser antecedida pela confirmação das intenções do interlocutor nas relações com a comunidade.
• A realização de visitas e reuniões na comunidade representa uma etapa importante na implantação do policiamento comunitário, pois possibilita
compreender as formas como as pessoas interagem entre si e com o espaço geográfico.
• No processo de aproximação com a comunidade, as diferenças ideológicas entre as pessoas da vizinhança devem ser consideradas de forma imparcial e
objetiva, à luz da legislação, apesar de que quase sempre se transformam em conflitos.
• Ao buscar conhecer as realidades locais, o policial comunitário deve estar preparado para observar os direitos dos diversos grupos que compõem a
comunidade, independentemente de preferência religiosa, orientação sexual ou classe social dos possíveis envolvidos em um conflito.
• Sobre os grupos em situação de vulnerabilidade social, julgue os itens abaixo, marcando (V) para verdadeiro e (F) e para falsos:
◦ É considerada idosa a pessoa com idade superior a 60 anos de idade, sendo reservado a essa população o direito de não ser alvo de negligência,
discriminação, violência, crueldade ou opressão.
◦ Os idosos são frágeis e indefesos, mesmo assim, a polícia não deve priorizar o atendimento de seus chamados em detrimento do restante da
população (F).
◦ Apesar de ser contravenção, morar na rua não deve ser objeto de ações das OSPs como forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas
(F).
◦ As pessoas em situação de rua são marcadas pela pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia
convencional regular.
• É importante que os PSPs identifiquem as características e as necessidades dos diferentes grupos da comunidade em que trabalham.
• Por buscar reconhecer desigualdades, a polícia comunitária representa uma reorientação das OSP para minimizar injustiças.
• A noção de equidade diz respeito ao estabelecimento de mecanismos que diminuam desigualdades de oportunidades ou de acesso a recursos ou direitos
no convívio entre as pessoas em sociedade.
• O policiamento comunitário tem o potencial de melhorar a imagem das organizações justamente por se basear em novas formas de perceber como deve
ser o trabalho policial e como se relacionar com a comunidade, em um mesmo nível de interação.
• Em termos práticos, a Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do Policiamento Comunitário (ação de policiar junto à comunidade).
Aquela deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de segurança pública, esta permite as ações efetivas com a comunidade.
• A proposta de Polícia Comunitária oferece uma resposta tão simples que parece irreal: personalize a polícia, faça dela uma presença também comum.
• Polícia Comunitária é uma atitude na qual o policial aparece a serviço da comunidade e não como uma força. É um serviço público, antes de ser uma
força pública.
• A Polícia Comunitária não é caracterizada pelo uniforme distinto, o que possibilitaria uma maior receptividade pela comunidade.
• A consolidação de um projeto político que tenha como objetivo a promoção de uma sociedade igualitária e justa não pode desconsiderar a segurança de
cada cidadão e, ao mesmo tempo, a segurança da coletividade.
• No que tange à Polícia Comunitária:
◦ I - a participação social da polícia deve ser em qualquer nível social.
◦ II - construir ou reformar prédios da Polícia não significa implantação de Polícia Comunitária.
◦ III - Em relação ao Policiamento Comunitário é possível dizer que conforme Trojanowicz (1994), o Policiamento Comunitário exige um
comprometimento de cada um dos policiais e funcionários civis do departamento policial com sua filosofia.
• Algumas centenas de municípios, ao aderirem ao processo das conferências preparatórias da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública
(CONSEG) , constituíram as Comissões Organizadoras Municipais (COM). Quanto a essas comissões podemos afirmar que:
◦ I - As 27 unidades da Federação instituíram suas Comissões Organizadoras Estaduais (COE) .
◦ II - Estes grupos receberam a orientação de manter o formato tripartite, ou seja, reservar cadeiras igualitariamente para a sociedade, os
trabalhadores e os gestores.
◦ III - A principal atribuição destas comissões foi mobilizar e auxiliar nos preparativos das etapas municipais estaduais e distrital.
• "Para que possamos dizer que existe mobilização social de fato, é preciso que pessoas, comunidades ou sociedades se aglutinem para decidir e agir em
direção a um OBJETIVO COMUM"
• A primeira etapa do PDCA exige o estabelecimento de metas e procedimentos técnicos aptos a alcançar os resultados propostos.
• O policiamento comunitário surgiu da necessidade de uma aproximação entre a polícia e a comunidade e “cresceu a partir da concepção de que a polícia
poderia responder de modo sensível e apropriado aos cidadãos e às comunidades” (SKOLNICK, 2003:57).
• Tipos de prevenção:
◦ Prevenção primária: A prevenção não é percebida como de competência exclusiva das agências de segurança pública, mas também de famílias,
escolas e sociedade civil.
◦ Prevenção secundária Esse tipo de prevenção está fundamentado na noção de risco e proteção.
◦ Prevenção terciária: Atua quando já houve vitimização, procurando evitar a reincidência do autor e promover a reabilitação
individual e social da vítima.
• Um município que desejar aderir ao PRONASCI deve obrigatoriamente criar um Gabin.ete de Gestao ntegrada
• A fase de execução do planejado também implica a formação e o treinamento dos funcionários para a correta realização das metas estipuladas.
• O ciclo PDCA visa a melhoria contínua dos processos e a normalização dos procedimentos mais eficientes.