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Caio Avelino de Azevedo1; Daniel Fernando Jimeno Carta2; Denison Naino Moreira Gandra3;
Francisco Franklin Fontinele de Albuquerque4; Francisco Gefferson Silva Oliveira5;
Lisameyre Rocha da Fonseca6; Lucas Matheus Gomes Santiago7; Luiz Carlos Pereira Junior8;
Mateus André Lima Rodrigues9; Milton Maia Carvalho de Souza10; Nelson Poerschke11;
Wellisson Gomes de Sousa12; Ma. Márcia Severino da Costa13 (orientadora).
RESUMO
Atender à necessidade da população com um transporte público de qualidade passa inicialmente
pelo estado das vias por onde ele trafega. A proposta deste trabalho foi realizar um diagnóstico,
por meio de levantamento qualitativo, das condições de trafegabilidade das vias que recebem o
tráfego de ônibus. Considerou-se que os procedimentos adotados foram uma ferramenta válida
para a avaliação das condições do estado das vias, tempo de viagem, segurança e confiabilidade,
fatores indispensáveis a um transporte coletivo urbano eficiente e de qualidade. O trabalho foi
desenvolvido a partir de um levantamento qualitativo, utilizando metodologia de coleta de
dados, identificando todos os corredores tráfego por onde trafegam as linhas de ônibus. As
variáveis estudadas foram o comprimento total da malha, tipo de pavimentação, estado do
pavimento, vias de mão única e mão dupla com e sem canteiro central, faixa exclusiva para
ônibus, presença de ciclovias e sua interferência, quantidade e distribuição de semáforos e
lombadas e ocorrência de obras que obrigam a mudanças de trajeto. O trabalho de campo foi
executado percorrendo-se os itinerários de todas as dezesseis linhas de ônibus regulares,
perfazendo 580,5 quilômetros. Os dados do formulário foram observados, anotados, tratados e
analisados individualmente e em casos de interação entre eles e apresentados por meio de
quadros e gráficos. A conclusão que se chegou a partir deste estudo é que as linhas 301, 104 e
314 não oferecem qualidade igual ao restante da malha e necessitam prioridade na aplicação de
recursos para reparos. No restante da malha, isto é 96,0% da extensão total, Boa Vista possui
ruas e avenidas que oferecem trafegabilidade com adequada segurança, elevado índice de
pavimentação com boa manutenção, conforto e confiabilidade ao transporte público.
Palavras-chave: Tráfego. Estado das vias. Malha viária de Boa Vista. Ciclovia. Faixa exclusiva
para ônibus.
1
Acadêmico de Engenharia Civil; caioavelinoaz@hotmail.com.
2
Acadêmico de Engenharia Civil; d.carta31@gmail.com.
3
Acadêmico de Engenharia Civil; denison.naino@yahoo.com.br.
4
Acadêmico de Engenharia Civil; albuquerquefranklin@hotmail.com.
5
Acadêmico de Engenharia Civil; geffesilva13@gmail.com.
6
Acadêmica de Engenharia Civil; lisameyre30@gmail.com.
7
Acadêmico de Engenharia Civil; lucassantiagorr@hotmail.com.
8
Acadêmico de Engenharia Civil; luizcpjgr@gmail.com.
9
Acadêmico de Engenharia Civil; andress__rr@hotmail.com.
10
Acadêmico de Engenharia Civil; miltonvini11@live.com.
11
Acadêmico de Engenharia Civil; nelsonpoer@hotmail.com.
12
Acadêmico de Engenharia Civil; gomes.wellisson@gmail.com.
13
Mestre em Recursos Naturais; marciaengciv@gmail.com.
1 INTRODUÇÃO
Legenda:
MDCCC: Mão dupla com canteiro central
MDSCC: Mão dupla sem canteiro central
O ambiente de coleta de dados foi definido pelas rotas de ônibus coletivo urbano do município
de Boa Vista, Roraima.
No levantamento, o pesquisador deverá descrever detalhadamente o método que usará para
coletar seus dados. Basicamente, ele pode adotar como método de coleta de dados a utilização
de documentos, a observação, a informação obtida por meio de entrevista ou questionário. A
qualidade dos dados pode ser medida por meio da acurácia posicional e dos atributos, da
consistência lógica, da completude das informações e do meio de obtenção dos dados (FILHO;
IOCHPE, 1996 apud ARONOF, 1989).
Foi utilizado o método da pesquisa qualitativa, uma vez que apenas as vias por onde trafegam
ônibus coletivo foram estudadas. Foi empregado o método da observação, onde o pesquisador
percorreu as rotas de ônibus verificando as variáveis pré-definidas e tomando notas dos dados
por ele observados, dentro de critérios pré-determinados para impedir a discricionariedade. As
distâncias foram medidas com a utilização do aplicativo Google Maps.
14
Cavidade que se forma no revestimento por diversas causas (inclusive por falta de aderência entre camadas
superpostas, causando o desplacamento das camadas), podendo alcançar as camadas inferiores do pavimento,
provocando a desagregação dessas camadas. (NORMA DNIT 005/2003-TER, item 3.7).
15
Deformação permanente caracterizada por depressão da superfície do pavimento, acompanhada, ou não, de
solevamento, podendo apresentar-se sob a forma de afundamento plástico ou de consolidação. (NORMA DNIT
005/2003-TER, item 3.2).
16
Panela preenchida com uma ou mais camadas de pavimento na operação denominada de “tapa-buraco”.
(NORMA DNIT 005/2003-TER, item 3.8).
17
Critério sugerido pelos autores.
novamente. De acordo com o Art. 3º da Resolução nº 600, do Conselho Nacional de
Trânsito (CONTRAN), de 27 de maio de 2016:
A ondulação transversal pode ser do TIPO A ou do TIPO B e deve atender às
características constantes do ANEXO II da presente Resolução.[...]
TIPO A:
a) L (Largura) igual à da pista, mantendo-se as condições de drenagem
superficial;
b) C (Comprimento): 3,70 m;
c) H (Altura): 0,08m < ≤ h ≤ 0,10m [...]
TIPO B:
a) L (largura): igual à da pista, mantendo-se as condições de drenagem
superficial;
b) C (Comprimento): 1,50m;
c) H (altura): 0,06m ≤ h ≤ 0,08m. (CONTRAN, 2016, p. 1).
Para o tratamento dos dados será utilizado o programa Microsoft Excel 2013. Por meio desse
programa os dados coletados serão apresentados em quadros e interpretados em gráficos. Os
resultados obtidos por meio do levantamento de dados serão analisados à luz da literatura
existente na área da pesquisa para proporcionar meios de compreensão dos resultados que
poderão subsidiar a elaboração do relatório do estado da malha viária utilizado pelo transporte
coletivo urbano em Boa Vista, Roraima.
18
Concreto Betuminoso Usinado a Quente.
19
Concreto Betuminoso Pré-misturado a Frio.
Quadro 1 – Tipo de pavimento
A malha viária que recebe o tráfego do transporte público na cidade de Boa Vista classifica-se
em vias de mão única e em vias de mão dupla com e sem canteiro central. A separação física
entre aos sentidos de uma via de mão dupla pode ser feita por meio de canterios centrais,
barreiras de concreto ou defensas metálicas.
O canteiro central é o espaço utilizado para manter uma separação física, operacional,
psicológica e estética entre pistas de sentidos de tráfego opostos [...]. Também serve para
separar fisicamente o tráfego em sentidos opostos,minimizando as interações e a probabilidade
de acidentes mais graves. (LEAL, 2007. p. 57 apud GAO, 2003).
De acordo com a AASHTO (2011), é possível obter a eliminação quase total das colisões
frontais com o emprego de seções com canteiro central amplo ou [...]. (MISSATO, 2013, p.
30).
Quadro 3 – Vias de mão única e vias de mão dupla com e sem canteiro central
Mão dupla
Comprimento Mão única
Com canteiro Sem canteiro
Linha total da via
central central
(km)
km % km % km %
104 43,8 21,2 48,4 22,6 51,6 0 0
112 44,0 15,0 34,1 10,0 22,7 19,0 43,2
206 39,9 7,9 19,8 10,0 25,1 22,0 55,1
211 27,3 13,2 48,4 14,1 51,6 0,0 0,0
Mão dupla
Comprimento Mão única
Com canteiro Sem canteiro
Linha total da via
central central
(km)
km % km % km %
215 39,2 18,2 46,4 21,0 53,6 0,0 0,0
251 37,0 6,9 18,6 18,0 48,6 12,1 32,7
252 41,9 14,0 33,4 22,2 53,0 5,7 13,6
301 46,8 8,7 18,7 10,0 21,4 28,1 60,0
305 34,4 17,6 51,2 16,8 48,8 0,0 0,0
308 36,5 5,2 14,2 5,2 14,2 26,1 71,5
310 25,9 4,0 15,4 4,0 15,4 17,9 69,1
313 32,5 11,1 34,2 19,5 60,0 1,9 5,8
314 36,0 22,4 62,2 10,0 27,8 3,6 10,0
315 37,7 17,6 46,7 20,1 53,3 0,0 0,0
401 40,9 1,0 2,4 7,9 19,3 32,0 78,2
402 16,7 14,8 88,6 1,9 11,4 0,0 0,0
Totais 580,5 198,8 34,2 213,3 36,8 168,4 29,0
Fonte: Autores (2019).
Embasado nos dados disponíveis no Quadro 3, o Gráfico 3 permite visualizar o equilíbrio no
que tange à extensão das vias de mão dupla com a presença ou não de canteiro central e as vias
de mão única.
Gráfico 3 – Vias de mão dupla, com e sem canteiro central e vias de mão única
Faixas exclusivas são faixas de tráfego reservadas para o uso exclusivo de veículos de transporte
coletivo, separadas das faixas de tráfego geral por meio de pintura e/ou tachões no pavimento.
Estes dispositivos de separação não segregam totalmente a faixa em relação ao fluxo de tráfego
geral e, portanto, elas podem ser temporariamente compartilhadas com outros veículos para
acesso a propriedades lindeiras, movimentos de conversão permitidos, etc. (SEDU/PR, 2002.
p. 15).
As interferências longitudinais são causadas por outros veículos (e, mais raramente, por
pessoas) que se movimentam ou estão estacionados na mesma direção em que trafega o veículo
de transpor te coletivo, ao longo da via. [...] As interferências transversais são provocadas pelos
fluxos de veículos ou pessoas que circulam em passagens ou vias oblíquas àquela em que
circula o transporte coletivo. Esses dois tipos de interferências contribuem para reduzir a
velocidade do transporte coletivo, além de provocar desconforto e insegurança, e, por isso, as
medidas de prioridade se destinam a eliminar ou atenuar os conflitos que decorrem de ambos.
(SEDU/PR, 2002. p. 14).
Na cidade de Boa Vista as faixas exclusivas implantadas não a segregam completamente do
fluxo de tráfego geral. A exclusividade somente é válida em horários pré-definidos. Elas são
compartilhadas com outros veículos para acesso a propriedades lindeiras e movimentos de
conversão.
Os critérios para estudo das ciclovias que compartilham as vias de Boa Vista com os demais
veículos estão descritos no item 2.2.
Quadro 4 – Faixas exclusivas para ônibus e ciclovias
De acordo com Vilanova (2014), a implantação de um semáforo é uma decisão que acarreta
impactos consideráveis, que podem vir a ser tanto positivos como negativos.
Instalado corretamente, o semáforo propicia a diminuição de acidentes e o maior conforto de
veículos e pedestres. Entretanto, se for instalado em local cuja presença é inadequada, causa
aumento no número de paradas, do tempo de espera dos veículos e pedestres, do número de
acidentes, além de implicar em gastos desnecessários de instalação, operação e manutenção.
De acordo com o CONTRAN (2016) a lombada pode ser utilizada onde se necessite reduzir a
velocidade do veículo de forma imperativa, nos casos em que estudo técnico de engenharia de
tráfego demonstre índice significativo ou risco potencial de acidentes cujo fator determinante é
o excesso de velocidade praticado no local e onde outras alternativas de engenharia de tráfego
são ineficazes.
Os semáforos, lombadas e obras foram quantificados em unidades por quilômetro de via
(Quadro 5).
Quadro 5 – Semáforos, lombadas e obras na via
A proposta deste trabalho foi realizar um diagnóstico, por meio de levantamento qualitativo,
das condições de trafegabilidade das vias que recebem o tráfego de ônibus coletivo urbano na
cidade de Boa Vista, Roraima.
O conhecimento das inter-relações entre a superfície de deslocamento e os veículos de um
sistema de transporte público permitiu a identificação dos problemas existentes nas vias e a
elaboração de sugestões para aperfeiçoamento desse sistema.
Considerou-se que os procedimentos adotados foram uma ferramenta válida para a avaliação
das condições do estado das vias, tempo de viagem, segurança e confiabilidade, fatores
indispensáveis a um transporte coletivo urbano eficiente e de qualidade.
A malha viária utilizada pelas linhas de ônibus apresenta 99,8% de pavimentação asfáltica e
esse pavimento por sua vez possui 94,0% de sua extensão com boa qualidade no que tange ao
estado de conservação, porém, foi identificado que as linhas 301, com 32% de sua extensão
está com trechos deteriorados, a 104, com 15,1% e a 314, com 11,4%, requerem prioridade na
aplicação dos recursos para o reparo.
O grau de segurança em relação a acidentes está diretamente relacionado ao percentual de vias
de mão única e as vias de mão dupla com canteiro central. As vias de mão dupla sem canteiro
central oferecem maior risco a acidentes frontais. Com um percentual de apenas 29,0% de vias
sem canteiro central, é possível concluir pela boa segurança da malha viária.
Por falta de recursos ou falha de projeto, as faixas exclusivas implantadas em Boa Vista
resolvem apenas os problemas das interferências longitudinais, ignorando fluxos transversos
frequentes, o que reduz consideravelmente a sua eficácia. Há necessidade de rever os projetos,
identificar os pontos de maior interferência transversal e prever a aplicação de meios que
orientem o trânsito no sentido de garantir a prioridade para o transporte público. Da forma como
está implantada aliado a sua pequena extensão, apenas 5,2 % da malha total, sua contribuição
para a qualidade do transporte público é insignificante.
As ciclovias foram implantadas em sua grande maioria sobre os canteiros centrais. Apenas 0,9%
da extensão total da malha viária foi estreitada pela ciclovia a ponto de causar prejuízo ao fluxo,
permitindo apenas a circulação de um veículo por sentido naquele trecho da via. Desta forma
conclui-se que a interferência da ciclovia na qualidade do transporte público é insignificante.
Embora demandem, algumas vezes, a mudança da rota do transporte coletivo, as obras de
manutenção, infraestrutura e saneamento são extremamente importante para o desenvolvimento
de uma cidade. Essa mudança de rota deve ser estudada de forma a causar o menor impacto
possível no deslocamento dos usuários.
Na construção das lombadas observadas ao longo das vias não foram seguidas especificações
contidas na Resolução nº 600, de 24 de maio 2016, Conselho Nacional de Trânsito, quanto às
medidas de largura e altura.
Os semáforos estão instalados dentro da razoabilidade em relação à quantidade e distância entre
eles, porém foi verificado defeitos em sua programação quanto à sequência de abertura ao longo
de uma via.
É frequente ouvirmos reclamações em relação a um quesito ou outro relacionado com o estado
das vias, o que é justificável ao usuário comum cujo universo de observação é restrito, porém
o presente estudo mostrou que ao se observarmos a malha viária como um todo, é possível
concluir pela trafegabilidade com adequada segurança, elevado índice de pavimentação com
boa manutenção, oferecendo conforto e confiabilidade ao transporte público de Boa Vista,
Roraima.
REFERÊNCIAS
AMARAL, Gilberto Luiz do; YAZBEK, Cristiano Lisboa; OLENIKE, João Eloi. Frota
Brasileira de Veículos em Circulação. Publicação do Instituto Brasileiro de Planejamento e
Tributação. Curitiba: 2018.
BARIA, Igor. Percepção da sociedade e dos especialistas sobre os benefícios dos sistemas
de transporte público urbano sobre trilhos. Dissertação, São Carlos: 2009.
FERRAZ, A. C. P.; TORRES, I. G. E. Transporte público urbano. São Paulo: Rima, 2004.
LEAL, Bruno Alexandre Brandimarte. Análise da influência das via no número e na severidade
dos acidentes: estudo de caso na Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá. Dissertação (Mestrado em
ciências) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Transportes, Escola de Engenharia
de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2017.