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DIREITO À EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL

PROJETO APAC COM TODAS AS LETRAS

Ana Paula de Souza e Silva1


Vera Lopes2

RESUMO

Ler e escrever: essas são importantes habilidades, pelas quais nos relacionamos com o mundo,
desenvolvemos conhecimentos e sensibilidades. Sendo assim, as atividades realizadas no
projeto “APAC com Todas as Letras” buscam contribuir para esse desenvolvimento dos
recuperandos, associado à reflexão sobre nossa desafiante participação na sociedade. A
pertinência do estudo reside no baixo nível de letramento dos recuperandos, especialmente os
do Centro de Reintegração Social (CRS), de Santa Luzia-MG, com dificuldades na escrita, na
leitura e em posicionar-se ante o que leem. Assim, as oficinas preparadas objetivam o
desenvolvimento de habilidades necessárias à prática da leitura e da escrita. Já as preparadas
para os alfabetizados visam o desenvolvimento da leitura. A cada encontro, os alunos fazem
atividades junto com a professora/extensionista. A preparação das aulas leva em consideração
o aprendizado anterior: se foi oferecido aos alunos uma produção de texto, e a correção
constata problemas de pontuação, no encontro seguinte, serão desenvolvidas atividades
esclarecedoras desse aspecto (sequência didática). O processo de ensino-aprendizagem
possibilitou que gradativamente os recuperandos usassem as estratégias necessárias à
compreensão textual, como: reconhecer uma informação simples em enunciados de uma só
frase até a comparação entre informações sob diferentes perspectivas. Assim, estimulam-se os
alunos à leitura, promovendo sua proficiência, para que não só decodifiquem o sistema da
língua, mas atribuam sentido. Em relação à escrita, as atividades contribuíram para a inclusão
dos recuperandos na cultura letrada, assinando o próprio nome ou até escrevendo textos mais
longos. As oficinas, por exemplo, já têm repercussão direta na relação dos recuperandos com
os seus pares, familiares e amigos. Esse resultado nos faz acreditar que o direito a educação
no sistema prisional deve ser resguardado, pois contribui para a ressocialização de indivíduos
que cumprem a pena privativa de liberdade e favorece a diminuição da reincidência criminal.
Acreditamos que quando voltarem ao convívio social fora da APAC, os conhecimentos ali
adquiridos e/ou desenvolvidos serão utilizados para a sua inserção no mercado de trabalho,

1
Acadêmica do curso de Letras da PUC Minas. paulinha709@hotmail.com
2
Coordenadora/Professora do curso de Letras da PUC Minas São Gabriel. verasesamo@uol.com.br

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como também em outras atividades do seu cotidiano. É importante ressaltar que através da
extensão Universitária foi possível desenvolver habilidades de prática de sala de aula, em uma
realidade ainda pouco estudada.

Palavras-chave: sistema prisional, APAC, cidadania, letramento, ressocialização,

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1 INTRODUÇÃO
“A educação, por si só, não traz grandes mudanças,
mas nenhuma grande mudança se faz sem educação.”
Bernardo Toro

Os altos índices de reincidência criminal revelam que os egressos do sistema prisional


não passam por um processo de ressocialização adequado as suas reais necessidades e, ao
sair, praticam crimes mais violentos. Expõe-se assim, a ineficácia do sistema.
No intuito de diminuir falhas na sanção privativa de liberdade, foi criada, em 1972, a
Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC) em São José dos Campos - SP,
chegando a Minas Gerais em 1980. Outras prisões do Brasil e do exterior também adotaram o
método APAC por ser um modelo de ressocialização. Em 2006, foi criado o CRS, de Santa
Luzia-MG, sua construção foi possível graças a um grupo de voluntários cristãos da
congregação dos Irmãos Maristas, da Arquidiocese de Belo Horizonte, através da Pastoral
Carcerária da PUC Minas e da então Secretaria Adjunta de Direitos Humanos, órgão da então
Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos.
Em todos os detalhes, o sistema APAC diferencia-se, inclusive, com relação à
arquitetura, distinta do sistema prisional tradicional, pois garante ao recuperando condições
dignas de reclusão e desconstrói a concepção de que o preso deve ser excluído do contato
social e familiar.
O método APAC pauta-se no princípio da dignidade da pessoa humana e na
convicção de que ninguém é irrecuperável. Os doze elementos do método APAC são: 1º- A
participação da comunidade; 2º- Recuperando ajudando recuperando; 3º- Trabalho como
forma de inserção social; 4º- A religião e a importância de fazer-se a experiência com Deus;
5º- Assistência jurídica; 6º- Assistência à saúde; 7º- Valorização Humana; 8º- Valorização da
família; 9º- O serviço voluntário; 10º- Centro de Reintegração Social; 11º- Mérito; 12º-
Jornada de Libertação com Cristo.
Esses princípios revelam que o método APAC baseia-se na valorização humana, ou
seja, consiste em colocar em primeiro lugar o ser humano, recuperando o homem que errou. É
importante ressaltar que os reclusos no método APAC não são chamados de presos, e sim de
recuperandos, titulação que os ressignifica como seres humanos que passam por um processo
de recuperação. Faz parte do método chamá-los pelo nome e importar-se com suas histórias,
isso os valoriza, permite uma recuperação digna e os faz sonhar com um futuro melhor.

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Outras formas de dignificar a vida dessas pessoas é o atendimento as suas
necessidades médica/odontológica, material, jurídica, etc., fatores ainda fundamentais para
sua inserção no mundo.
É claro que a educação e o estudo devem fazer parte desse contexto, considerando que
a população prisional nacional é constituída de 75% de analfabetos ou semianalfabetos. No
mundo contemporâneo não é fácil inserir-se no mercado de trabalho, essa dificuldade
acentua-se caso esteja presente o analfabetismo, que cresce ainda mais se a pessoa tiver
passado por uma experiência no sistema prisional.
Assim, a simples inserção de um recuperando no mercado de trabalho já é algo pouco
provável. Caso ele seja analfabeto, as chances quase que desaparecem.
Por isso, acreditamos que a inclusão dos recuperandos na cultura letrada aumentará
suas poucas possibilidades de reinserção no mercado, principalmente se associada a outros
elementos que constituem o método APAC.
O direito à educação do recuperando deve ser promovido e resguardado, a fim de
contribuir para que este consiga uma oportunidade de trabalho e não passe a ser um
reincidente criminal.
Pode-se perceber que a leitura possui um papel fundamental na sociedade
contemporânea, sendo um dos instrumentos mais importantes de que um cidadão pode dispor.
Ensinar a ler e escrever, portanto, é uma tarefa essencial a ser desempenhada. Segundo Carla
Vianna Coscarelli,

[...] é desenvolvendo bons leitores que as escolas estão realmente cumprindo o seu
papel de preparar indivíduos para a vida. Os bons leitores são capazes de adquirir
informações sozinhos e, portanto, abrem para si mesmos as portas do aprendizado
constante que é tão valorizado nas sociedades modernas. (COSCARELLI, 2002. p.7)

Vejam como isso se acentua se olharmos mais especificamente para o público-


alvo do nosso trabalho – presidiários brasileiros – podemos encontrar na APAC muitos
recuperandos que estão abaixo do nível rudimentar de letramento, ou seja, alguns deles sequer
sabem decodificar um texto escrito. Outros, embora decodifiquem, apresentam muita
dificuldade de compreensão. Essa situação nos move a fazer algo para modificá-la: incluir os
recuperandos na cultura letrada, promovendo a participação deste em sua sociedade
civilizada, e, portanto, vinculada à leitura e à escrita. O mundo moderno precisa da escrita até
para as coisas mais simples, como compreensão de placas, instruções para o uso de máquinas,

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leitura de bulas de remédio, etc. Sendo assim, é importante que, ao sair da APAC, o
recuperando esteja apto a conseguir um lugar no mercado de trabalho, o que propiciará
chances de se manter longe da criminalidade.
Ouvir e falar, ler e escrever, argumentar, observar, refletir, sentir, etc. Essas são
algumas das mais importantes habilidades humanas, por meio das quais nos relacionamos
com o mundo e desenvolvemos os nossos conhecimentos e sensibilidades. As atividades
realizadas no projeto “APAC com Todas as Letras” pretendem contribuir para que os
recuperandos desenvolvam suas habilidades com a linguagem e também para que reflitam
sobre nossa desafiante participação no mundo e na sociedade, o que se faz sempre através da
linguagem.
Por outro lado, há também a carência de profissionais capacitados para atuar e propor
ações que possibilitem a esses indivíduos o desenvolvimento de determinadas habilidades,
tanto durante o período em que estiverem nas APACs, quanto após sua saída e a volta ao
convívio social.
Assim, há dois propósitos na oferta das oficinas “APAC com Todas as Letras”:
promover o bem-estar do recuperando e constituir um núcleo de profissionais que aprendam a
fazer essa promoção. Trata-se, então, de “rua de mão dupla”, algo essencial para o
crescimento da humanidade, todos ensinam, todos aprendem.
Diante disso, várias atividades foram sendo realmente construídas ao longo da
montagem das oficinas. Primeiramente, foi feito um diagnóstico entre os recuperandos
interessados, para sabermos em que nível de letramento encontravam-se os recuperandos,
tentando ter ciência de suas habilidades, dificuldades e interesses. O resultado: 1/3 deles eram
analfabetos e os 2/3 restantes sabiam ler e escrever de forma rudimentar.
Tal fato não é de todo estranho se entendermos, conforme Motta Roth, que:

A base dos problemas relativos ao desempenho pouco afetivo da leitura e da


redação pela população brasileira reside em problemas sócio-econômicos que
historicamente tem impedido o acesso privilegiado de indivíduos à comunicação
escrita. Uma vez que esse contato não acontece desde o berço, essa
responsabilidade é delegada exclusivamente à escola.(ROTH,1998.p 02).

Além disso, constatou-se grande interesse por participarem do concurso supletivo, que
seria ministrado no CRS.

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O quadro diagnosticou a necessidade de dividir os recuperandos em dois grupos,
respeitando a singularidade de cada um deles. A partir de então, passou a ocorrer um encontro
por semana para o qual eram preparadas duas aulas, uma para os alfabetizandos e outra para
os alfabetizados.
O objetivo principal era o desenvolvimento de habilidades necessárias à prática da
leitura e da escrita, de acordo com o nível de letramento de cada um, desde o aprendizado da
decodificação até o desenvolvimento da leitura crítica e a preparação dos recuperandos para o
exame do supletivo na disciplina Língua Portuguesa.
Outra decisão tomada, a partir do diagnóstico, foi a de fazer um acompanhamento bem
sistêmico e individualizado dos recuperandos. Decidiu-se, então, pela elaboração de pastas
controladas pelos próprios estudantes, nas quais eles colocariam suas atividades. Com esse
material em mãos, foi feito o acompanhamento do processo de aprendizado e relatórios desse
acompanhamento.
A cada encontro, os alunos faziam atividades na sala de aula junto com a
professora/extensionista. Ao final, eram deixadas atividades a serem feitas durante a semana.
Essas tarefas, corrigidas no encontro seguinte, possibilitavam aos recuperandos descobrir suas
dúvidas e esclarecê-las. Dessa forma, as aulas eram preparadas sempre levando em
consideração o encontro anterior. Por exemplo, foi proposto aos alunos uma produção de
texto, com as correções dessas redações dificuldades em relação à pontuação foram
evidenciadas e, no encontro seguinte, foram desenvolvidas atividades para o estudo do uso
adequado da pontuação.
Pretendia-se assim que, através do processo de ensino-aprendizagem, os recuperandos,
gradativamente, passassem a ter consciência de seu aprendizado, utilizando as estratégias
necessárias à compreensão textual, quais sejam desde localizar/reconhecer uma informação
simples, em enunciados de uma só frase, até a comparação de informações em diferentes
perspectivas.
Dessa forma, estimulamos os alunos a desenvolver a leitura, tornando-se leitores
proficientes e críticos, ou seja, que não só decodificassem o sistema da língua, mas
atribuíssem sentido ao que leem.
Em relação à escrita, as atividades desenvolvidas promoviam a participação dos
aprendizes na cultura letrada, podendo comunicar-se com o mundo além da oralidade, seja
assinando seu próprio nome ou até mesmo escrevendo textos mais longos.

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O que este artigo evidencia é a pertinência dessa prática na sala de aula. Retomemos,
assim, mais considerações sobre o valor do letramento para os recuperandos. A escola é, para
muitos, o único espaço de ensino-aprendizagem da língua. Para os recuperandos, o acesso a
esse direito deve ocorrer mesmo estando reclusos. Se a leitura e a escrita na antiguidade eram
privilégios para sacerdotes e nobres, o mesmo ocorrendo na Idade Média, elas são, hoje,
necessidade e direito de todos “como instrumento libertador e possível de ser usufruído por
todos” (MARTINS, 2003, p.35). É por meio da leitura e da escrita que temos a oportunidade
de ampliar nossos horizontes, elas nos possibilitam mudanças, fazem com que os sujeitos
atentem para fatos da vida cotidiana, sobre os quais ainda não haviam pensado. De acordo
com Paulo Freire, a educação:

Deve ultrapassar os limites puramente pedagógicos, para ser uma educação para a
decisão, para a responsabilidade social e política, para o desenvolvimento, para a
democracia. Educação que possibilite ao homem a discussão de sua problemática e
sua inserção nela, que o ajude a tomar consciência da realidade, numa atitude de
constante diálogo, na análise crítica das soluções encontradas, numa certa rebeldia,
na identificação com métodos e processos científicos. (FREIRE, 1967, p.97).

Além disso, no ensino da leitura, deve-se levar em consideração a complexidade que


essa atividade encerra, o que pressupõe certos cuidados que vão desde a concepção de língua
adotada até as condições extratextuais que, certamente, são relevantes na produção de sentido.
Quanto à língua, uma concepção mecanicista de seu funcionamento pode acarretar em
uma visão frágil que atribua ao texto o status de principal ingrediente da produção de sentido,
bastando, para isso, que o aluno o decodifique. Essa noção, além de colocar o leitor em papel
passivo no ato da decodificação (leitura), não consegue explicar as possíveis discrepâncias de
interpretação de um mesmo texto sem que, para isso, tenha de acusar o leitor de ser
ineficiente. Sírio Possenti, em seu artigo “A leitura errada existe”, acredita que a compreensão
do texto não deve ser feita exclusivamente de forma literal, e sim com o auxílio de
conhecimentos prévios sobre o tema ao qual o texto se refere. Sendo assim, não se deve levar
em consideração apenas o que está escrito, ou seja, explicitado, mas também o que pode ser
inferido do texto.
Dentro dessa perspectiva, entende-se por um leitor ativo aquele que, segundo
Dell’Isola (2001), possui participação essencial em seu processo inferencial para a produção
de sentidos, já que ele avalia, associa, predica e relaciona experiências a partir dos valores de
sua classe social, de seus costumes, universo cultural e cognitivo.

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Os processos inferenciais, segundo Coscarelli, são a “alma da leitura”. Portanto, um
leitor proficiente é aquele que “ sabe fazer diversos tipos de inferências que o texto escrito exige”, pois a
leitura em que ocorre apenas a decodificação sem compreensão torna-se improdutiva. No entanto, compreender
sem decodificar é impraticável. De acordo com o psicolinguista norte americano Frank Smith (apud Martins,
1986), a leitura consiste em “um processo, no qual o leitor participa com uma aptidão que não depende
basicamente de sua capacidade de decifrar sinais, mas sim de sua capacidade de dar sentido a eles, compreendê-
los”.(MARTINS, 1986,p 32).
Posto isso, dada a grande dificuldade que os recuperandos frequentemente apresentam,
foi possível perceber a necessidade de aulas/oficinas que buscassem esclarecer um pouco
mais sobre as práticas de leitura e escrita. Essas aulas procuraram explicitar a diferença entre
ler e apenas decodificar.
Para isso, nos concentramos na compreensão global do texto, bem como no gênero em
que ele se insere, nos seus mecanismos argumentativos, na identificação das vozes presentes
no texto e na identificação de polêmicas suscitadas no mesmo, uma vez que “se ensinarmos
um aluno a ler compreensivamente e a aprender a partir da leitura, estamos fazendo com que
ele aprenda a aprender, isto é, com que ele possa aprender de forma autônoma em uma
multiplicidade de situações” (SOLE, 1998. p.47).
No que tange ao processo de alfabetização, pode-se dizer que foi um desafio para o
projeto “APAC Com Todas as Letras”. Como não tínhamos experiência com alfabetização,
tivemos que construir um método de alfabetização em movimento de erro e acerto. Os
depoimentos dos recuperandos foram elementos motivadores que não nos deixaram
desanimar:

A escola aqui pra nóis é muito importante, sempre tive precisão de estudar, uma vez
eu fui trabalhar num sacolão, todo final da tarde eu tinha que anotar o que eu
vendi. Como eu não sabia anotar, eu tive que sair do emprego, porque eu não sabia
escrever. Aqui tem muito pai de família que precisa do estudo, até pra ensinar um
“para casa” pro filho (sic) (V.S, 28 anos);

[...] esses dias eu tirei minha identidade, eu num subi assinar meu nome, então a
identidade minha veio com nome “não assina”, isso é uma vergonha para mim (sic)
(S. C, 29 anos).

Assim se ratificava a “rua de mão dupla” sobre a qual falamos acima, todos
ensinamos, todos aprendemos, e esse processo se acentuava no decorrer do tempo.

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Nos primeiros encontros, os alfabetizandos estavam bastante entusiasmados. Com o
passar dos encontros, no entanto, notamos que alguns recuperandos estavam desistindo. Isso
fez com que repensássemos a metodologia que estava sendo utilizada. Empenhamo-nos em
pesquisar, receber orientações e conversar com pessoas que tinham experiência na
alfabetização de adultos a fim melhorar as aulas, porque sabemos que a evasão de um
recuperando da sala de aula poderia significar uma grande possibilidade de reincidência
criminal, pois, como já explicitamos, dificilmente um indivíduo com passagem na polícia
consegue uma oportunidade de trabalho e, se for analfabeto, a gravidade do problema toma
proporções gigantescas.
Durante o processo de ensino-aprendizagem, foi possível perceber que os
alfabetizandos sabiam falar o alfabeto inteiro, mas não atribuíam sentido a ele, não
conseguiam associar a imagem de uma letra à própria letra. O desenvolvimento de uma nova
estratégia se anunciou, caminhar no sentido da absorção dos elementos: letra/sílaba/palavra.
Primeiramente, estudamos as letras, até que conseguissem atribuir sentido a elas, por
exemplo, demonstrando como a mudança ou acréscimo de uma letra/fonema altera o signo (é
o caso de gato/pato; dentro de sua realidade: recuperado/recuperando). Em seguida, as sílabas
como um conjunto de letras com as quais podemos criar diferentes sons, para que eles
assimilassem que as palavras são um conjunto de sílabas, que são formadas por letras, vogais
e consoantes. Esse “encaixamento” de pedaços/sons das palavras trouxe um bom resultado.
Concomitantemente, o processo de ensino-aprendizagem possibilitou que
gradativamente os recuperandos utilizassem as estratégias necessárias à compreensão textual,
pois entendiam as palavras dentro de contextos relativos à realidade. Dessa forma, tentávamos
tornar exequível o desenvolvimento da leitura e da escrita.
Isso é o que fizemos até agora, sabemos que ainda deve ser feito muito mais e muito
continua sendo realizado: atualmente a APAC busca parcerias para oferecer aos recuperandos
o programa Educação de Jovens e Adultos (EJA). A expectativa é de que, em longo prazo,
seja construída uma escola dentro do CRS de Santa Luzia, para que seja realmente garantido o
direito à educação dos recuperandos.
Estamos e estaremos nessa luta, pois acreditamos na importância do resultado dos atos
de educação. As oficinas, por exemplo, já têm repercussão direta na relação dos recuperandos
com os seus pares, familiares e amigos. Posteriormente, quando voltarem ao convívio social

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fora da APAC, os conhecimentos ali adquiridos e/ou desenvolvidos serão utilizados para a sua
inserção no mercado de trabalho, como também em outras atividades do seu cotidiano.

ABSTRACT

To read and to write: these are important skills with which we relate to the world, and develop
our skills and sensibilities. Thus, the activities accomplished in the project "APAC With
Every Letter” seek to contribute to the development of recuperandos (people in the process of
rehabilitation), associated with the reflection on our challenging participation in society. The
relevance of this study lies on the recuperandos’ low literacy level, especially those from the
Centre for Social Reintegration (CRS), in the city of Santa Luzia, state of Minas Gerais, who
present difficulties in writing, reading and in positioning themselves against what they read.
Thus, our workshops aimed at developing the necessary skills to their reading and writing
practices. The lessons prepared for the literate students aimed at developing their reading
skills. In each meeting, students work on activities with the teacher’s help. The preparation of
lessons takes into account their previous class, for instance: if students were given a textual
production and the teacher finds some punctuation problems, these aspects will be highlighted
in the next meeting (didactic sequence). The teaching-learning process has allowed the
recuperandos to gradually use the strategies necessary for reading comprehension, such as
recognizing simple information contained in a single sentence by comparing this information
from different perspectives. Thus, students are encouraged to read and to promote their
expertise, not only to decode the language system, but to make sense of what they are reading.
In regards to writing, the activities have contributed to the inclusion of these recuperandos in
the literate culture, as they learn to sign their names or write longer texts. The workshops, for
example, already have a direct impact on the relationship of these recuperandos with their
peers, family and friends. This result makes us believe that the right to education in the prison
system should be protected as it contributes to the rehabilitation of individuals who meet the
deprivation of liberty, which promotes the reduction of recidivism. We believe that when they
return to social life outside APAC, the knowledge they have acquired or developed will be
used for their insertion in the labor market, as well as to perform other activities of everyday
life. It is important to emphasize that through the University extension program it was
possible to develop teaching skills in the classroom, in an environment still little studied.

Keywords: right to education in prisons, APAC, citizenship, literacy, resocialization,


teaching

REFERÊNCIAS
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Horizonte, v. 10, n. 1, p. 7-27, 2002.

1
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DELL’ISOLA, Regina Lúcia Péret. Leitura: inferências e contexto sócio-cultural. Belo


Horizonte: Formato, 2001.

FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.

MARI, Hugo; AGUIAR, Paulo Henrique Mendes. Processos de leitura: fator textual. In:

MARI, Hugo; WALTY, Ivete; VERSIANI, Zélia. Ensaios sobre leitura: Belo Horizonte:
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