Bom dia radiouvintes da Rádio Rural; do programa Rádio Comunidade e
do programa Falando por você! Caríssimos ouvintes, fui hoje pela manhã cedinho caminhar na Ilha de Sant’Ana. Como já disse semana passada, a ilha é belíssimo espaço público para caminhadas; para encontrar os amigos; para passeios das famílias etc. Lembrei também que a prefeitura faz um esforço para manter o espaço limpo e sempre encontramos alguém cortando ou aparando a grama que nesses dias cresce devido às chuvas. É um espaço que as pessoas também usam para piqueniques ou pequenas festas e até mesmo pequenos churrascos particulares. Na segunda pela manhã, principalmente, sempre encontramos lixo com resto de comida; garrafas de vidro ou de plástico vazias; copos descartáveis etc. Os gatos que ali vivem se aproveitam para fazer suas refeições matinais da segunda-feira. Alguns acondicionam seus lixos em sacos ou sacolas plásticas e deixam ali no pé das árvores a espera dos garis que certamente passarão na segunda pela manhã cedo. Outros apenas encostam o lixo produzido no pé das árvores, aí vem o vento e copos descartáveis e tudo mais tomam contam da Ilha. Uma pena! Hoje cedo me deparei com pequeno lixo que continha umas três garrafas de bebida alcoólicas vazias: uma cidra cerezer; uma garrafa de catuaba e outra que não identifiquei só com o olhar. Parece que alguém fez alguns coquetéis, pois ao lado dessas garrafas e jogadas no chão encontravam-se cascas de limão; de maracujá e, parece-me, de laranja. Deve ter sido uma festa ótima. Ao redor da árvore também era possível ver copos descartáveis com restos de bebidas e outros que já se espalhavam no entorno. Uma pena que nossas festas tão bonitas terminem sempre em lixo. Pior ainda quando não temos o mínimo de educação e cuidado com o espaço público e com a natureza. Olhamos a natureza sempre de fora. Parece que nós homens não somos partes da natureza. Esquecemos que fomos criados como coroamento dessa mesma natureza: “Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra’.” Tudo já estava criado quando o homem foi criado. O reinado que temos sobre a natureza não pode se converter em um reinado de destruição. Há quinze dias nós acompanhamos a tragédia de Brumadinho em Minhas Gerias. Uma tragédia que é fruto da ganancia; do querer lucrar mais etc. Nós precisamos explorar a natureza a nosso favor, mas também devemos conserva-la, pois somente conservando-a nós também nos conservamos; conservamos a nossa espécie. Não adianta exploramos o espaço a procura de uma nossa casa. Essa é a nossa casa comum. Devemos ensinar isso a nossos filhos e eles devem aprender isso na escola. Em outubro desse ano, o Papa Francisco receberá os bispos de diversos países para pensar a Amazônia, os povos que ali vivem e sua conservação. Carlão, hoje pela manhã vinha pensando sobre o que falar nesse nosso encontro de hoje. Pensei em retomar o discurso sobre a fé que havia iniciado semana passada. Aí, na abertura do Rádio Comunidade ouvi você dizer três palavras importantes que tem a ver com a nossa maneira de encarar a vida: ter fé; fazer tudo com vontade e bola pra frente. Essas três coisinhas que Carlão disse hoje deve ser o programa de vida de Carlão. O modo como ele encara o seu dia-a-dia, seu trabalho, sua relação com os amigos e com a família. Acho que podemos também tomar isso como indicativo para a nossa vida. Eu penso o seguinte, se isso serve para alguém pode também servir para mim. O que significa ter fé? No evangelho de hoje, a fé é o que move as multidões em busca de Jesus. Elas ouviam dizer que Jesus estava em um determinado lugar e para lá levavam os seus doentes para serem curados: “Percorrendo toda aquela região, levavam os doentes deitados em suas camas para o lugar onde ouviam falar que Jesus estava. E, nos povoados, cidades e campos onde chegavam, colocavam os doentes nas praças e pediam-lhe para tocar, ao menos, a barra de sua veste. E todos quantos o tocavam ficavam curados”. A fé em Jesus é o que movimenta as pessoas a procura-lo. Quem não tem fé fica parado, pois perde a confiança em si, a confiança nos outros e na vida. Por isso Carlão diz “bola para frente”! O começo de tudo é a fé; a fé gera esperança de dias melhores e a esperança nos faz buscar; sair de nós mesmos e confiar! O começo de tudo é a fé. O profeta Isaias dizia o seguinte: “Se não acreditardes, não compreendereis.” Praticamente todos os filósofos e teólogos cristãos que refletiram sobre a fé, citaram esse passo de Isaias. Por um lado, ele indica que a fé, a crença, a confiança é a base do nosso conhecimento sobre Deus e sobre o mundo. A fé é o começo daquilo que sabemos sobre Deus e sobre as coisas. Primeiro temos fé e depois buscamos entender. A fé nos diz que Deus é o nosso criador, nosso pai, nosso protetor providente... depois a gente tenta entender o que significa tudo isso. Tudo está complicado, embolado ou abraçado pela fé. Ela é o que nos sustenta nas nossas fragilidades. Posso até não entender, mas no horizonte da minha fé vou buscando um sentido. Essa busca de sentido é o que faz ser gente. Por isso, Carlão diz, “Bola pra frente”! A fé nos impulsiona a compreender os mistérios de Deus e da vida. Às vezes somos arrogantes enquanto homens! Nossa racionalidade nos cega e pensamos que podemos saber de tudo! A fé nos diz que não podemos compreender tudo; não podemos saber de tudo; que somos limitados na nossa compreensão dos mistérios divinos e nos mistérios da vida. A razão não pode tudo. Por isso, diante das coisas que não compreendemos; que não aceitamos por não compreendermos é necessário um pouquinho de fé; um pouquinho de confiança em Deus e nos outros; na nossa família e nos nossos amigos. Por fim, é necessário ainda pensar numa terceira coisa. Primeiramente dissemos que a fé nos impulsiona a seguir em frente. Diante do desconhecido, daquilo que nos amedronta; do que não entendemos... a fé nos diz: siga em frente. Acredite que você vai entender! Tenha paciência! Deixe a arrogância da razão de lado e abra espaço para o desconhecido que deve ser acolhido no horizonte da fé. Antes de tudo compreenda que você não vai compreender tudo. Aceite a sua ignorância sobre muitas coisas. A terceira coisa que ia dizer tem a ver com a vontade. Diz Jacques Ranciere, filósofo francês, em o Mestre ignorante, que todos os homens possuem inteligência iguais. Somos iguais quanto a nossa inteligência. Qualquer homem pode conhecer o que quiser. Pode aprender o que quiser. Pode aprender uma nova língua. Pode aprender uma nova ciência. E isso tudo sozinho! Basta que alguém nos acorde do nosso sono. Que alguém nos diga que somos capazes quanto à inteligência. Somos intelectualmente iguais. A diferença entre os homens não está na inteligência, mas na vontade. Esse é o grande problema do nosso tempo. Por isso, Carlão disse hoje que devemos fazer as coisas com vontade: primeiro ter fé; segundo fazer as coisas com vontade e bola pra frente! É isso! Decretamos que todos os homens são iguais na inteligência. A diferença está na vontade. Em fazer as coisas com empenho, com vontade ou em simplesmente fazer. Quem faz as coisas por fazer, está fadado ao fracasso. O fracasso não tem a ver com a inteligência. Tem a ver com vontade. Muitos são professores por serem; muitos são radialistas por serem; muitos são políticos porque os pais foram; os avós foram... não são por vontade; não implicam a vontade própria no que fazem. Daí o resultado é sempre medíocre. Por isso, temos tantos professores medíocres; tantos radialistas medíocres; tantos políticos medíocres... não é porque são burros... é por não quererem. Quem é pai ou professor ou mestre de algum ofício sabe como é difícil ensinar a quem não quer aprender. Culpamos a inteligência, mas o problema é a vontade. Os melhores mestres na escola ou em qualquer ofício serão aqueles que souberem reconhecer que todos somos iguais na inteligência; que não é necessário que alguém explique ou ensine o que se pode aprender sozinho.... o melhor mestre será aquele que consiga “dobrar” e direcionar a vontade dos seus estudantes para que eles entendam que podem o que querem. Nesse inicio de semana; nesse início de ano letivo, de ano de trabalho e de lutas pensemos: coloquemos a fé como base e como luz da inteligência; a vontade como poder fazer o que desejarmos com nossa inteligência iluminada pela fé e o entusiasmo de seguir em frente poderá contaminar a nossa vida.