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A Vida além,
da Morte
Conferencia realisada no "f\br~
go Thereza de Jesus" no dia 14
.:::::::::::: de Setembro de 1924 ~
. ~
(Distribuição gratulta)
. ,
RW DE JANEIRQ
Officinas GriJ.phicas da A NOITE - Rua do Ca1•mo, 29 a 35
1924
::.1c
Direitos de proriedade, reser-
vados ao !A.brigo Thereza de
Jesus.
OFFERTA DO AUTOR
RE11INISCE NCIAS
Senhores.
\7ERDADE E bUZ
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Ve rdade e L uz
Publlc19lo qulnzer11I fundada em 25 dt Maio dt 1880, por Anltnlt Gon9llf00 da Sllwa 8alolra
&rga11 da lm~a;ao bpirifa "Slo Pajre aSãs Paala" a da IDSfil;içlt Cim!I "Y11dd1 a luz"
REDACÇÃO: {RUA JOS_e BONll'ACIO, -41 sol>. Tl!LfPH. CENTRAL aro e 4"77
Rua espirita, 28.
REOACTOR GERAL NEOACTOR OERl!NTE
Dr. Pedro l.amdra d• Andrade O. Aul(U<to de Oliveira
NU.'>ll!RO 4 SÃO P•UlO, 18 DE JU~KO DE 1823 \ ANNO II da 2.a época
•
CONV ERS ÃO
- Sim. Tms razão. Coir.ba1i, com Sabes que, depois da morte da pc-
todas as mi11has 1 •rça,, o 41ue sempre quemna Es1her, que era o nosso en-
considerei a mais nd1cula das 'upcrs· levo a vida tomou-se sombria. A casa,
tições. Essa doutrina, hoje triumphan· dantes alegre com o riso crystallino
te em todo o mundo, não teve, entre da criança, mudou-se em jazigo me-
nó<, adversario maí~ intransigente, mais lancholico de saudade. Passei a viver
cruel do que cu. entre sombras lamentosas.
Em ca)a, onde a propaganda, ha- Minha mulher, para qnem a ncti·
bilmente in~inuada, conseguira fazer nhn era tudo, não fazia outra coisa se-
proselytos, todos temiJm·me, apezar nao evocai a. reunindo lembranças;
da minb.1 conhecida tolerancia em ma· roupas que clla vestira, brinquedos
teria de fé. porque eu não deixava que a acompanharam até á ul\ima hora,
parar um só dos livros de prepnração entte os quacs "boneca, que foi com
e oppu11ha·mc, com energia, ás taes clla para a cova, porque a pobresinha
sessões reveladoras. Mas que queres? não a deixou até expirar.
Não tiveram os christãos inimigo Julia. . . coitada 1 Nem sei como
mais acirrado do que '>aulo alê o mo- resistiu a tão fundos desgostos: seis
mento em que, na estrada de Damas- mezcs depois do marido, a filha.
co. por onde ia para a sua campanha Pensei perdei-a Todas as ma-
de perseguição, o céo abriu-se em luz nhans lã ia ella para o cemiterio, co·
e uma rnz do Alto o chamou á Fé. brir o pequenino tumulo de llOr~ e
E de inimigo que era tornou-se, desde lá ficava, horas e horas, conversando
logo, o tapeceiro de Tarso, o mais fer- com a terra, com o mesmo carinho
vente e abnegado apostolo do Chris· com que conversava com a filha . la
timismo, sahi11do a prégar a Palavra depois ao tumulo do marido e assim
suave ao gentio pagão. Pois, meu vivia entre mortos, alheia ao mais, tn
caro, a minha estrada de Damasco foi diflerente a tudo.
o meu escriptorio e. se nelle nao ma- Propuz mudarmo·nos para Copa·
c!iou a luz celestial, que deslumbrou cabana. Oppoz-se. fn5istiu cm ficar na
S. Paulo, soou uma voz do Além, voz casa em que !Ora fcl1z e desgraçada
mada, cu;o echo..uao morre em meu mas onde perduravam recordações
Cllrl"º· amavei• do H u tempo de venlura
\ ..P.l'tDADE E ITTZ
Temi que a Hduz:l-m para o esplr1· te, vem atE a et•da. ,.oderás 011
tismo, que a lonçassem no turbilhlo do vil a. f'ui.
mysterio em que se agitam as almas Como sabes. tenho dois appare·
do nosso tempo, como os endemoninha· lhos. um, no • ball •, outro, em ex-
dos da Idade Media corriam ao sab- tensão, no meu escriptorio. Ficamos
bat, nos desfiladeiros sinistros. No es- os dois, miqha mulher e eu, junto a
tado de abatimento moral em que ella balaustrada do primeiro andar. Julia
se achava seria arriscado perturbar-lhe falava embaixo, no escuro.
a razão com praticas nigromanticas. Por mais esforço que fizessemos
As minhas ordens, dadas em tom não conseguíamos ouvir uma palavra.
severo, foram obedecidas. Julia pas· Era um sussuro meigo, cortado de ri·
sava os dias no quarto, que fôra da sinhos. O que me pareceu, porque
pequena e de fóra ouvimol-a !alar, não dizei-o? !oi que a conversa era
rir, contar historias de fadas, exacta- de amor.
mente como fazia durante a vida da T•ve impcJos de violar o segredo
criança. de minha filha, mas o escrupulo do
Taes illusõcs dolorosas eram bal· meu cavalheirismo conteve-me :
samos que mitigavam o solfrimento - Porque dizes que ella fala com
d'alma. como a morphina alhvia as Esther? perguntei á minha mulher.
dôres. Cessada a illusão, o desespero - Porque? Porque ella mesma
irrompia mais acerbo. Era assim. m'o confessou e não imaginas com
que alegria.
Urna manhan, porém, com surprc· Figuei estatelado, sem compreh~n
sa de todos, Julia appareceu·nos ri<O·, der o que ouvia. De repente, numa
nha, posto que os olhos ainda con·
decisão, entrei no e<criptorio, desmon·
servassem lagrimas como as rosas con- lei lentamente o phone do apparclho,
servam orvalho na corolla, ao sol. apphquei·O ao ouvido e ouvi.
Interroguei-a; sorriu. lnlcrroguei Ouvi, meu amigo. Ouvi minha
minha mulher. Nada. Conles~o-te neta. Reconheci-lhe a voz, a doce voz,
que ch<.'guei a pensar na . . . volta da que era a musica da minha casa ...
primavera. Mas não foi a voz que me impres-
Luc11io tornara-se mais assíduo nas sionou, que me fez sorrir e chorar,
visitas, apparecendo·nos duas e tres senão o que clla dizia.
\•ezes por semana e o amor, bem sa. Ainda que eu duvidasse, com toda
bes, renova ; o amor é como o sol minha incredulidade, havia de conven·
que abre flôres nas proprias covas. cer-me, taes eram as referencias, as
Já começava a afanr-me a tal idéa allusões que a pequenina voz do Além
quando. uma noite, minha mulher en· fazia a facto<, incidentes da vida em
trou-me pelo escriptorio, lavada em que se calara, da vida que comnosco
IJgrimas, e disse-me, abraçando-se vivera e corpo da qual ella fôra o
commigo, que a filha enlouquecera. som.
- l'orquc? ! perguntei. Myslificaçiio? E que mystificador
- E-'lá lá embaixo, ao telephone, seria esse que conhrcia episodios igno
falando com E -lher. rado' de nós mesmos, passados na
- Que Esther? mais 'i?streita intim1d~de entre mãe e
- A filha ... filha. Não 1 Era ~lla, a minha nda,
Ene>irci-a demoradamente, certo de ou ante<: a sua alma visiladora que
que a louca era ella, não Julia se communicava daquclle mo:lo com
Como se• comprehendesse o meu o coração materno, lev~ntando-o da
pensamento. ella insistiu: dOr em que jazia para a consolaçA11
- I-' tstt Se queres convencer suprema.
\"ERDADE E Ll"Z 6ó!i
A FLORESTA
o·· alma humana ! torna a descer nos envolve de seus efluvios e de
á terra. recolhe te; vira as pág nas do seu my.tério. Aromas fecundos sobem
grande livro aberto a todos os olha· do sólo ;as plantas exhalam subtil per-
res; lé nas camadas do sólo que pi· fume.
sas, a historia da lenta formação dos
mundos, a acção d•s forças immensas
preparando o globo para a vida das Tudo na floresta é encanto, quer
sociedades. na prunavéra, quando as seivas po..
Depois, escuta. Escutas as harmo- tentes incham suas mil artérias, quer
nias da Natureza, os ruídos misterio· qu•nd9 os rebentos novos reverde-
sos das florestas, os écos dos mon· cem fartamente, quer quando o outo·
tes e dos vales, o hymno que atorren· mno adccóra de tintas ardentes, de cô-
te murmura nu silencio da noite. Es· res pre>tigiosas, ou quando o inverno
cu ta a grande voz do mar! a transforma em um magico p•lacio
Por toda a parte retine o cantico de cristal, que as sombrias ramadas
dos ~eres e das coisas, " vida ruido· moldam sob a neve ou se carregam
sa, o que:xume das almas que sotfrem de ping~ntes diamantinos, tran.for-
corno nós e fazem C>forço para se li· mando cada pinheiro em arvore do
bertarcm da ganga material que as Natal.
estre11a. A floresta estende até o ho- A floresta não é somente maravi-
risonte longmquo suas massas de ver lhoso espectaculo; é ainda perpetuo
du1a que estremecem sob a briza e ensinamento. Elia nos fala, sem ces-
ondulam de colina em colina. Através sar, das regras fortes, dos principios
as espessas ramadas. a luz se escoa augustos qua regem toda a vida e
em louras estrias sobre os troncos da• presidem a renovação dos seres e das
arvo1 es e sobre os musgos ; o sopro estações. Aos tumultuosos, aos agita·
da briza folga nas ramagens. O outo· dos, ella oflerece seus retiros prolun·
no junta a esses prestig10$a synphoma dos, propícios ã reflexão. Aos impa·
das cores, de~de o verde amar<llento cientes avidos de gooo, ella diz que
até o vermelho ruivo e o ouro puro ; nada é duradouro senão aqu11lo que
matiza e cresta as moitas; aguarela tem trabalho e tempo para germinar,
de ocre os castanheiros, de purpura para sa•r da som b111 e subir para o
as faias; aformoseia as urzes ró.eas céo. Aos violentos, aos impulsivos,
das clareiras. ella oppõe a vista da sua lenta evolu
Embrenbemo-noa sob a !oluagem. ção. l:.lla verte a calma nas almas en·
A.' 111cd1da que se av11tça, a flore.ta febrcc1das. Sywpatlu.ca As alegría.s, oom-