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Introdução às Ciências Sociais I - 2449
Óscar Soares Barata
Emile Durkheim, defende que devem considerar-se como factos sociais os modos de
agir e as representações que são exteriores ao indivíduo, e com os quais este tem de
conformar-se por efeito da vida em grupo.
Apresentam-se como modelos de acção e valores em que a pessoa é criada e educada
pelo grupo e em relação aos quais apenas se toleram desvios limitados.
Cada Papel pode ainda analisar-se nas expectativas que funcionam em relação a cada
pessoa ou pessoas com que no exercício desse papel se contacta.
Exp. O papel de chefe de família compreende as expectativas de comportamento em
relação dos diversos membros da família, vizinhos, colectividade, etc. dá-se o nome
de Role segments ou segmentos do papel.
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A constelação de papéis sociais, que resulta das diversas posições que o indivíduo
ocupa, delimita largamente a área em que decorre a sua vida, indicando muito sobre
ele e em que área pode afirmar-se a sua individualidade.
A) A liberdade que resulta do papel não estar definido com rigor na sua
totalidade;
B) A liberdade que decorre do facto de as exigências do papel serem definidas
sobretudo por exclusão, como coisas a não fazer;
C) A possibilidade que o indivíduo tem de influenciar o meio social em que vive
e por aí modificar o conteúdo do papel.
Posições Sociais:
A) As ascribed positions ou posições atribuídas; estas são quase todas as que
resultam de características físicas ou acidentes de nascimento.
Nota: A distinção nem sempre é clara, exp.: a posição de chefe de Estado pode ser
alcançada ou atribuída como acontece nas monarquias.
2. A Identificação do Social:
Para chegar ao ao entendimento dos papéis sociais é necessário identificar os grupos a
que se reportam as expectativas de comportamento.
As normas e sanções são definidas por grupos diferentes consoante os vários tipos de
expectativas de comportamento.
As expectativas obrigatórias, correspondem a comportamentos codificados nos textos
legais, implicam uma definição pela sociedade no seu conjunto.
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Max Weber, definiu a ciência social como a ciência que procura explicar as acções
humanas dotadas de sentido.
Na definição de Max Weber, a ciência procura o entendimento das acções com vista a
encontrar “uma explicação causal do seu desenvolvimento e dos seus efeitos” tem de
dedicar o principal dos seus cuidados ao sentido ou significado dessas acções.
Ora, esta longa análise dos critérios de interpretação seguidos nas ciências sociais,
conduz a dois problemas de base:
1º - É o de saber o que realmente se tem em vista quando se fala de explicações
causais;
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Nas ciências sociais as explicações causais têm de ser menos seguras do que é
corrente nas ciências da natureza.
Julien Freund, afirma que: “a realidade é única, mas não se deixa apreender de uma
maneira única, como pretende o naturalismo. Ela é acessível, por um lado, à
experiência externa e, por outro, à experiência interna, as duas formas sendo
igualmente legítimas, sem que uma possa abolir a outra. Se a natureza está sujeita às
condições da consciência, esta, por seu lado, está sujeita às condições da natureza.
Hayek, observa que “os métodos que os cientistas ou os homens fascinados pelas
ciências naturais têm tantas vezes tentado impor às ciências sociais não são sempre
necessariamente aqueles que os cientistas de facto seguem no seu próprio campo, mas
mais aqueles que eles julgam ter empregado. O cientista nem sempre é um guia digno
de confiança.
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O que unicamente pode fazer a ciência é isolar certos aspectos para fins de
interpretação com a ajuda de um sistema de conceitos.
Muito do que se escreve sobre o valor científico das ciências sociais tem implícitas
concepções sobre as normas da explicação científica decorrentes da teoria hipotético-
dedutiva, que como nota Alan Ryan, goza tradicionalmente de uma posição de
primeiro plano na filosofia das ciências.
A teoria sustenta que a explicação científica tem de apoiar-se na formulação das leis
gerais, entendidas como hipóteses acerca da ordem natural das coisas, das quais se
deduzem as consequências que podem esperar-se dadas certas condições
Assim, verificado certo acontecimento, dada a lei geral aplicável, têm de se esperar
necessariamente certas consequências.
A) Que a proposição que define a lei geral e as condições iniciais seja tal que
acarrete a conclusão;
B) Que as premissas sejam verdadeiras ou pelo menos suficientemente
fundamentadas;
C) Que a explicação seja verificável empiricamente, para que possa ser
desmentida se for caso disso.
O que conduz a que qualquer explicação deva ser reformulada com respeito de
três regras:
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Estas regras mostram apenas como os factos se verificam, indicam que dados certos
acontecimentos, outros se seguem mas não indicam porque se verificam.
Karl Popper, defende que não se pode demonstrar definitivamente a verdade de uma
explicação empírica, apenas se pode demonstrar definitivamente a sua falsidade.
Alan Ryan, defende que, “uma importante diferença entre razões e causas é que as
razões podem ser avaliadas como boas ou más, próprias ou impróprias, enquanto uma
causa enunciada só pode ser ou não ser a causa do que quer que se estiver a explicar.
A todos é dada uma opção de escolha na orientação das suas próprias acções.
Explicar o sentido das acções por regras e valores colectivos e o sentido das regras e
valores pelo sentido do conjunto social supõe uma última fase na explicação cientifica
que é a procura das causas e consequências da configuração que tomo o conjunto
social. Problema que cuja solução não parece poder afastar-se da fórmula geral do
estabelecimento da causalidade.
Jean Piaget, sustenta que nem quanto aos métodos nem mesmo quanto ao domínio do
estudo se pode afirmar uma oposição marcada entre as ciências humanas e as ciências
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5. Teorias e Paradigmas
As teorias são explicações gerais das hipóteses e leis empíricas, interpretações das
razões que estão na base da existência das relações que as hipóteses e leis empíricas
enunciam.
Em muitos casos as teorias não resultam directamente dos factos observados e de que
procuram dar conta as hipóteses e leis empíricas.
Raymond Boudon, salienta que nas ciências sociais é mais corrente o caminho de a
partir de certas concepções iniciais tirar certas concepções explicativas sem ser
rigorosamente por via dedutiva.
A este tipo de explicações parece-lhe convir melhor a designação de paradigmas do
que a de teorias.
Boudon, nota que na leitura actual das ciências sociais podem encontrar-se, pelo
menos, três tipos de paradigmas:
Nota: No caso B e C não se procede por analogia mas por subsunção, operação lógica
que consiste em fazer entrar um caso individual num género ou num facto no âmbito
de uma lei.
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Este tipo de paradigmas parece ter, na opinião de Boudon, uma “função de detecção
de factores explicativos” e uma “função de generalização”.
Os paradigmas são por sua vez susceptíveis de uma certa transmutação que permite,
quer a sua generalização, quer a transformação de paradigmas analógicos em
paradigmas formais, quer a transformação de paradigmas conceptuais em paradigmas
formais.
O caminho do progresso da teoria faz-se muitas vezes pela crítica de paradigmas
existentes e pela formulação de novos paradigmas.
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Max Weber, nota que mesmo no plano das opções referidas a valores é lícito à ciência
empírica intervir desde que saiba distinguir-se o que respeita aos meios do que se
reporta aos fins.
Decidir em última instância dos fins últimos da actividade humana não é tarefa da
ciência empírica, mas da própria pessoa à luz da sua consciência, guiada pelas normas
éticas a que presta homenagem.
Também não se deve esperar que das ciências sociais possa tirar-se uma formulação
de tais normas.
Max Weber – afirma que «Trata-se simplesmente de uma ingenuidade quando por
vezes até alguns especialistas continuam a acreditar que é preciso estabelecer antes de
mais um ‘‘princípio’’ para a ciência social prática e consolida-lo cientificamente
como verdadeiro, para poder deduzir em seguida, e de forma idêntica, as normas para
a solução dos problemas particulares da prazis.
Por muito necessárias que sejam nas ciências sociais as discussões ‘’de princípio’’ em
torno de problemas práticos – reduzir ao seu denominador comum os juízos de valor
que se nos impõem irreflexamente – e o estabelecimento de um denominador comum
prático para os nossos problemas, sob a forma de uns ideais superiores de vaidade
universal, não pode ser de modo algum a tarefa da revista nem de nenhuma ciência
empírica.»
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C. Wright Mils, defende que «liberdade não é a mera possibilidade de fazer o que se
quer; nem é a mera oportunidade de escolher entre oportunidades fixas.
A liberdade é, primeiro de tudo, a possibilidade de formular as opções realizáveis, de
arguir sobre elas e, então, escolher.
É por isso que a liberdade não pode existir sem um mais lato papel da razão dos
negócios humanos.
A tarefa social da razão é formular as opções, alargar o âmbito das decisões humanas
na construção da história.
Capítulo I
O ESTUDO DO SOCIAL
1 – Natureza e cultura:
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Toda a tentativa de explicação empírica dos factos sociais pode reconduzir-se aos
seguintes quatro factores:
A) Hereditariedade;
B) meio físico;
C) cultura;
D) relações sociais.
Pode-se mostrar com numerosos exemplos que não há coincidência geral entre a
dolicocefalia e a superioridade social ou cultural ou entre o cabelo loiro e a
pigmentação clara e a eminência intelectual ou a distinção social.
De modo geral não se pode resistir à crítica científica, a tese geral de que as
características físicas coincidem necessariamente com a superioridade ou a
inferioridade social dos indivíduos ou grupos.
Para Galton, que morreu em 1911 e mostrava-se bastante receptivo às novas ideias,
pode assim tomar conhecimento das novas concepções sobre a hereditariedade
decorrentes das ideias genéticas, mantendo-se assim, tal como Karl Pearson, fiel à
sua ideia inicial de uma lei da hereditariedade que explicava as semelhanças entre os
filhos e os pais na base de uma certa continuidade de características.
2. Mendel, por sua vez, mostrou que a hereditariedade é definida pela combinação de
genes realizada no momento da fecundação.
Os genes são em regra unidades independentes e estáveis, que se combinam segundo
as leis do acaso, constituindo os caracteres hereditários que «são transmitidos de uma
geração à outra como unidades distintas, independentes e não fragmentáveis».
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ALELOS: qualquer um de dois genes que ocupam a mesma posição relativa em cromossomas
homólogos e que têm a mesma função, mas que diferem na sua expressão, comportando-se como
antagónico.
GENE: porção de um cromossoma, considerada como a unidade hereditária ou genética, visto ser
responsável pela transmissão das características hereditárias de uma geração para a outra.
CROMOSSOMA: estrutura constituída por ADN e proteína que se tornam visíveis na altura da
reprodução celular, em número definido por cada espécie, que é mito importante na reprodução das
células e na transmissão das característica hereditárias.
GENÓTIPO: constituição hereditária de um organismo; natureza e arranjo dos genes num organismo
individual.
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As células multiplicam-se por divisões sucessivas em que cada nova célula recebe o
mesmo número de cromossomas da célula original e por essa forma se processa o
crescimento e evolução do organismo.
No caso do homem estas células contêm 23 cromossomas.
Quando se dá a fecundação juntam-se os cromossomas de cada progenitor,
reconstituindo-se as séries de cromossomas da célula somática.
O que significa que na célula humana fecundada se forma uma série de 23 pares de
cromossomas, contendo 23 cromossomas do pai e 23 da mãe, a qual, por divisões
sucessivas, vai constituir o indivíduo adulto.
Quando por sua vez neste indivíduo se formam os gâmetas separam-se 23
cromossomas por segregação dos genes homólogos. A série que entra na composição
dos gâmetas pode conter em proporções diversos elementos provenientes de ambos os
seus progenitores, os quais finalmente se irão juntar-se, aquando da fecundação, com
uma série constituída pelo mesmo processo nos gâmetas do individuo do outro sexo.
Isto significa em termos probabilísticos que nos gâmetas de cada indivíduo se podem
formar mais de oito milhões de combinações diversas de cromossomas, e na junção
dos gâmetas de dois indivíduos de sexos diferentes, quando da fecundação, pode
teoricamente estimar-se a possibilidade da realização de mais de setenta biliões de
combinações diversas de cromossomas. O que traduz bem a variedade da lotaria
genética que define a hereditariedade de cada pessoa.
GÂMETAS: Célula sexual; célula reprodutora masculina (espermatozóide) o feminina (óvulo) que se
une à célula oposta durante a reprodução sexual, para dar lugar ao ovo ou zigoto.
Eugène Binder, explica que, «os genes situados num mesmo cromossoma não passam
sempre juntos. No decurso dos fenómenos que precedem a redução cromática [a
separação dos pares de cromossomas homólogos para a formação dos gâmetas]
acontece que dois cromossomas homólogos se cortem no mesmo lugar e troquem um
dos seus troços; os genes que se encontravam de um lado e do outro do corte são
então separados e arrastados para gâmetas diferentes, é o crossing over. Ele é tão mais
frequente entre dois loci quanto estes estão mais afastados um do outro.»
4. Os genes são portadores de elementos que determinam a sua duplicação que está na
base de todo o processo de crescimento e reprodução dos organismos.
DESOXIRRIBONUCLEICO: ácido composto por uma substância macromolecular formada por uma
série de nucleóticos, que se encontra na cromotina do núcleo das células vivas, apresentando-se sob a
forma de duas cadeias agrupadas em hélice, e que é responsável pela transmissão de características
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David Paterson, explica que «as mutações são, de facto, de dois tipos: as mutações
genéticas e os remanejamentos cromosómicos.
A mutação genética afecta a estrutura interna de um gene. Pode ser a substituição de
uma base por outra numa molécula de ADN;
Um remanejamento cromossómico, é uma modificação que afecta o conjunto de um
cromossoma.
Ao nível dos cromossomas a mutação pode realizar-se por mudança no número dos
cromossomas ou por mudança na estrutura de um cromossoma. No homem a doença
designada por mongolismo é o resultado da presença de três cromossomas em vez de
dois no par cromossomático do grupo 21 ou da transportação de um elemento deste
grupo para outro cromossoma.
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Eugène Binder, diz que «a estabilidade do fenótipo normal não é uma lei absoluta,
pois nas espécies ou nas populações que têm de fazer face a condições muito diversas
nem sempre existe um fenótipo óptimo único, mas acontece, pelo contrário, pelo
contrário que em condições diferentes que representam cada um o óptimo. Nesses
casos a selecção da segunda ordem tende, não a estabilizar um fenótipo, mas a
elaborar dispositivos adaptativos complexos em que as reacções organo-formativas
são influenciadas de forma precisa pelos factores externos e podem conduzir a toda
uma gama de fenótipos correspondendo a uma gama de condições do meio.»
Há assim toda uma variação com as condições geográficas que se manifesta com mais
frequência na morfologia externa, mas pode ter reflexos citológicos (parte da biologia
que estuda as células) (nas características celulares), nos caracteres fisiológicos, nos
caracteres etológicos (os que respeitam ao comportamento dos animais no seu meio
natural – EDP. canto das aves, migrações, etc).
São muito antigas as tentativas de classificação dos homens em raças, mas não parece
até agora ter-se resolvido de forma satisfatória o problema dos tipos intermédios.
Carl Linneu, botânico sueco, propôs em 1745, a classificação dos homens em quatro
grupos designados pela área geográfica em que predominavam e identificados
sobretudo na base da pigmentação – europeus, africanos, asiáticos e índios
americanos.
O mesmo autor diz que esta definição das raças humanas «São agrupamentos naturais
de homens que apresentam um conjunto de caracteres físicos hereditários comuns,
quaisquer que sejam as suas línguas, costumes ou nacionalidades.»
Por características físicas hereditárias comuns entende «os caracteres que respeitam a
própria natureza dos homens: estes são pequenos ou grandes, de pele clara ou
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pigmentada; têm cabelos lisos ou crespos, braços compridos ou membros curtos; o seu
sangue mostra a presença ou ausência de certas substâncias; a sua inteligência é
flexível ou ágil ou, pelo contrário lenta e preguiçosa, etc.
É o conjunto formado por estas quatro ordens de factos que é utilizado para definir as
raças. Há que ter em conta que estes caracteres só têm valor se forem hereditários.
Disposições que se tenham desenvolvido sob a acção do meio em que vive um
indivíduo e que desapareceriam nos descendentes não podem ser consideradas como
raciais.»
Boyd, propôs a seguinte definição de raça. «É uma população que difere de maneira
significativa das outras populações humanas pela frequência de um ou de vários gene
que ela possui. A escolha dos loci sobre eu repousa a distinção de uma “constelação”
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significativa é, e muito uma decisão arbitrária; parece preferível, por uma lado, não
distinguir uma multiplicidade de raças diferindo somente umas das outras por um
único par ou uma série de alelos e, por outro lado, não exigir que todas as raças que se
definam difiram umas das outras pelo conjunto dos seu genes».
4. As teorias mais aceites neste campo, seguindo a regra genética do ajustamento dos
caracteres das populações às características do meio, explicam a variação das raças
humanas substancialmente em função dos meios geográficos em que se consolidaram,
embora, dada a lentidão da reprodução das sucessivas gerações humanas, muitos
caracteres possam permanecer mesmo quando o habitat deixou de ser aquele em que o
carácter se estabilizou.
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Assim avançou-se uma teoria de que é ao meio ambiente social e educacional, mais
do à hereditariedade, que é justo atribuir o sucesso educacional e social das pessoas.
Explicando portanto que os jovens não têm à partida as mesmas oportunidades. Uns
são criados em famílias prósperas e educadas e beneficiam de todo um ambiente
favorável à aquisição das qualidades necessárias para alcançarem uma posição de
distinção social. Outros são criados em ambientes modestos, marcados quer pela
mediocridade educacional, pelo que têm necessariamente mis dificuldades em
adquirir as qualidades necessárias a uma carreira a um nível social superior ao da sua
família.
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4. Este debate fez ressurgir a já antiga questão do valor dos testes de inteligência. Os
testes correntes, que são derivados dos testes concebidos por Binet em começos deste
século para a selecção escolar das crianças, com vista a separar as atrasadas das com
desenvolvimento normal, visam medir o quociente de inteligência ou o quociente
intelectual, em termos de relação entre a idade mental e a idade cronológica, pela
seguinte fórmula:
Joanna Ryan, explica que «há várias razões para supor que é em princípio impossível
medir “o potencial inato” e também que essa própria noção não faz sentido. A razão
principal resulta do facto de que no processo de medida algum aspecto do
comportamento corrente do indivíduo tem de ser usado, ou seja, algumas das perícias
que se desenvolvem durante uma vida. Isto porque o potencial se exprime no
comportamento efectivo; e não há nada extra “por detrás” do comportamento
correspondente ao potencial que possa ser observado independentemente do próprio
comportamento»…
«Assim a noção de aptidão potencial, como alguma coisa abstraída de todas as
interacções com o ambiente e ao mesmo tempo como alguma coisa mensurável no
comportamento de uma pessoa, não faz sentido.»
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Outra questão coloca-se com os testes de Stanford- Binet e Wechsler, usados nos
Estados Unidos e que foram normalizados apenas com base na população branca.
Joanna Ryan, nota que quando se usam deste tipo para medir o QI dos negros o que
se averigua é a aptidão destes para fazerem em cada idade as mesmas coisas que
fazem os brancos nessa idade e não propriamente a sua posição relativamente às
médias de desenvolvimento da população a que pertencem. Para medir a inteligência
dos negros seria necessário normalizar os testes em relação à sua própria população.
O cérebro é, talvez mais do que qualquer outro órgão, influenciado pelas condições
em que se passam os primeiros anos de vida.
O seu desenvolvimento faz-se muito rapidamente:
Aos cinco anos o cérebro tem 90% do peso que tem num adulto e aos dez anos 95%.
Um ambiente mais ou menos favorável, quer sob a forma nutricional, quer sob a
forma da interacção mental, pode ter efeitos decisivos sobre o desenvolvimento das
faculdades naturais da pessoa. Diversos exemplos conhecidos mostram que o simples
enriquecimento da dieta em idades jovens pode ter efeitos sensíveis no QI.
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2. Hoje, grande parte das concepções de Lombroso foram abandonadas. Num livro
recente Pierre Grapin sintetiza a antropologia criminal em 4 correntes:
a) As tendências Neurocebralistas
Anomalias de configuração neurocerebral responsáveis por determinadas propensões
psicológicas ou psicopatológicas, como resultado de lesões congenitais ou de doenças
ou traumatismos posteriores ao nascimento.
b) As tendências Biotipológicas
Resumo da totalidade dos indivíduos a um número restrito de tipos
morfológicos (na base da conformação exterior do corpo) ou de tipos constitucionais
(na base de características fisiológicas ou psicológicas) que se procuram relacionar
com os actos delituosos ou criminais.
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c) A Genética Criminal
Procura relacionar anomalias genéticas com a propensão para o crime.
d) A Tendência Neo-Antropológica
Procura redefinir o problema tendo em conta os conhecimentos actuais
sobre a interacção entre a hereditariedade e o meio ambiente na conformação das
personalidades individuais.
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2. O meio físico e o clima são segundo alguns, factores determinantes para os níveis
de civilização alcançados uma vez que condicionam os níveis de prosperidade, de
conforto, de saúde e longevidade, de educação, de produção industrial, etc...
Ellsworth Huntington dá-nos um exemplo. Estudou que num país como os estados
unidos, determinadas situações abaixo enumeradas diferem de zona para zona:
Número de pessoas por divisão das habitações
Número de nascimentos por mil habitantes
Número de homicídios
Proporção de famílias possuidoras de rádio
Etc...
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Por isto e depois de estudar os factores subjacentes concluiu que estas diferenças se
deviam a:
Estado geral de saúde e vigor físico
Inclinação para trabalhar
Capacidade de trabalho
Para este estudioso, além do vigor hereditário e do nível de cultura dos grupos, são
também factores determinantes o meio físico e especialmente o clima (eficiência
climática).
A eficiência climática significa, a eficiência relativa que teriam pessoas com todas as
características semelhantes se apenas se verificasse a variação climatérica.
A eficiência climática revela-se no vigor e ritmo de trabalho que varia conforme as
regiões, as estações, as horas do dia e mais geralmente, no vigor dos povos e nações.
Esta definição defende que para além do que se pode atribuir à constituição
hereditária e à cultura, o elemento fundamental do padrão geográfico revelado pela
civilização é o clima.
Segundo Huntington, toda a gente sabe que sentimentos humanos, saúde e actividade
são extremamente sensíveis ao tempo e ao clima; por isso, apoiando-se em numerosos
elementos estatísticos procurou delimitar as grandes zonas mundiais de diversa
eficiência climática.
A temperatura tem um papel relevante que se manifesta na variação dos rendimentos
de trabalho nas fábricas, sendo que o valor óptimo de temperatura é igual para todas
as raças. No seu entender, é a temperatura que explica que as grandes civilizações
tenham surgido em primeiro lugar nas latitudes 25º a 35º e as civilizações menores
entre os 25º e o equador. Os casos que se conhecem de grandes civilizações em zonas
muito quentes, são realmente criações de povos que aí se estabeleceram no decurso de
migrações, trazendo consigo culturas formadas em áreas de clima estimulante.
Da mesma forma, a variação da natalidade é influenciada pela temperatura. Nos
países frios as concepções diminuem no inverno e o máximo é atingido na primavera
ou no verão, na altura em que a temperatura atinge o seu valor óptimo; pelo contrário,
em climas muito quentes como por exemplo o norte da Índia, este valor óptimo
coincidente com o máximo de concepções é atingido no Inverno, altura única em que
a temperatura desce o suficiente.
Tal como os animais nascem na primavera para terem mais probabilidades de
subsistência, assim, para que o homem primitivo tivesse probabilidades de
subsistência, era natural que a maioria dos nascimentos tivesse que ocorrer na
primavera. A nossa espécie adquiriu as suas adaptações climatéricas primárias num
tipo intermediário de clima moderadamente quente, mas de modo nenhum equatorial.
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11. A CULTURA
1. As ciências sociais têm estudado aquilo que a antropologia cultural denomina como
cultura. Na famosa definição de Merville J. Herkovits “A cultura é a parte do
ambiente feita pelo homem”. Por este facto engloba as técnicas, a ciência, o direito, a
moral, os costumes e tudo o mais que o Homem implantou sobre a natureza. Ao que
no passado se chamava civilização hoje denominamos cultura. Esta palavra, aparece
com o sentido que hoje lhe damos, pela primeira vez na obra de Gustav K. Kemm
(1843-1852) “Allgemeine Culturgeschichte der Menschkeit, que é a história geral de
cultura.
Parece ser nesta obra que Taylor recolhe o novo sentido da palavra que na “Primitiva
cultura” (1871) define desta forma “cultura ou civilização... é o todo complexo que
inclui a crença a arte, a lei, a moral, o costume e quaisquer outras capacidades e
hábitos adquiridos pelo Homem como membro de uma sociedade”. A partir de Taylor
a palavra tornou-se de uso corrente em inglês, passando depois a outras línguas, no
sentido antropológico.
A aptidão para criar cultura é o que distingue os homens dos animais. A cultura passa
de geração em geração moldando os comportamentos, as atitudes e as visões das
coisas e das pessoas. A cultura constitui um todo, complexo, que absorve todos os
aspectos da vida das pessoas. Cada grupo de pessoas implantado numa certa área é
relativamente diferenciado de grupos vizinhos semelhantes, tendo por isso a sua
própria cultura. Porém, essas culturas particulares são muitas vezes de uma mesma
família cultural que abrange uma área mais vasta. Numa sociedade integrada, diversos
grupos compõem uma mesma cultura global.
No entanto algumas fracções de uma certa sociedade podem ter uma visão específica
do mundo tão distinto que se pode dizer que estamos diante de uma subcultura. Esta
ideia é definida por antropólogos que descrevem o ambiente social de bairros pobres
quando esta pobreza coincide com marginalidade étnica.
Para facilitar o esclarecimento dos factos individuais e das relações observadas entre
eles é útil fazer uma decomposição de cultura em elementos componentes.
Clark Wissler estudou os Índios do continente americano, procurando distinguir em
cada cultura os traços componentes como sendo as menores unidades culturais
individualizáveis.
Estes agrupam-se em complexos culturais que por sua vez se agrupam em padrões de
cultura. Como a observação mostra que muitos padrões culturais são comuns a povos
vizinhos e se estendem por regiões extensas, chega-se assim à noção de área cultural
que é uma área delimitada pela presença de padrões culturais substancialmente
idênticos. Foi desta forma possível identificar em relação às culturas de índios
americanos um certo número de áreas culturais. A aplicação destes conceitos depara-
se porém com algumas dificuldades. É difícil chegar a acordo sobre quais as
condições mínimas que um elemento cultural deve reunir para poder ser chamado de
traço cultural. O mesmo acontece com o complexo cultural, padrão de cultura e área
cultural.
A expressão complexo de traços tem sido algumas vezes substituída por instituição,
expressão igualmente controversa. Isto deve-se à grande densidade de culturas mesmo
quando se trata de grupos que vivem nas condições mais rústicas.
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1. Durkheim diz que se chama suicídio a toda a morte que resulta mediata ou
imediatamente de um acto positivo ou negativo, realizado pela própria vitima.
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Durkheim faz então uma análise ao suicídio segundo o credo religioso, a instrução, o
sexo, o casamento, o celibato, o divórcio e a viuvez, a coesão da sociedade política,
etc... e constata que o suicídio egoísta resulta do enfraquecimento dos laços que ligam
o indivíduo à sociedade. “O suicídio varia na razão inversa do grau de integração dos
grupos sociais de que o indivíduo faz parte” ... “se, pois, convirmos em chamar
egoísta este estado em que o individual se afirma com excesso em face ao social e à
custa deste, podemos dar o nome de egoísta ao tipo particular de suicídio que resulta
de uma individualização desmesurada.”
O suicídio altruísta acontece em sociedades em que o indivíduo conta pouca coisa e
é treinado para se sujeitar às necessidades da colectividade. São exemplos disto:
a. As mulheres indianas que se suicidavam por ocasião da morte dos
maridos
b. A morte voluntária dos indivíduos quando atingiam determinadas
idades avançadas
c. O suicídio dos servos que seguiam na morte os seus senhores
d. O suicídio por motivos de prestígio
e. Etc...
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13 AS RELAÇÕES SOCIAIS
Este estudo de Emile Durkheim sobre o suicídio (ver ponto 12) mostra que por vezes
as relações sociais levam o indivíduo ao suicídio pela excessiva coesão social, e
outras vezes pelo excessivo relaxamento. Isto leva-nos necessariamente a estudar um
quarto factor da explicação social, as formas da solidariedade.
Segundo Durkheim as pessoas podem sentir-se atraídas umas pelas outras pelas suas
semelhanças ou pelas suas diferenças ( o fraco sente-se atraído pelo forte ou o tímido
pelo resoluto, mas nunca o franco pelo hipócrita ou o pródigo pelo avarento).
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Os elementos deste tipo de grupo não podem ser tão iguais que se tornem invisíveis
nem tão diferentes que comprometam a homogeneidade.
Pelo contrário a solidariedade orgânica assenta nas diferenças que os seus membros
detêm, coordenados por um órgão moderador. As pessoas agrupam-se, não em função
de descendência, mas em tendo em conta as funções sociais que desempenham. Este
sistema não pode “coexistir” com o anterior, antes, para que exista, o anterior tem que
ser substituído.
A história mostra-nos que os clãs das sociedades primitivas evoluíram
progressivamente, fazendo-nos chegar a uma organização segmentar de base
territorial, dando então lugar a comunidades locais, como elementos organizadores da
sociedade. Com a diminuição de importância dos clãs, as relações entre os indivíduos
alargam-se, juntando pessoas dos diversos segmentos. A este fenómeno Durkheim
chama aumento da densidade dinâmica ou moral. Ao mesmo tempo dá-se um
fenómeno de aproximação natural a que chama aumento da densidade notarial (este
dá-se através da concentração das populações e melhoria das comunicações).
O aumento da densidade moral depende da densidade material. O aparecimento das
cidades é o clímax deste processo, uma vez que acontece uma condensação da
sociedade ao mesmo tempo que se vê um alargamento da massa populacional
(elevação do volume social).
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a) Conteúdo: tudo o que está presente nos indivíduos sob qualquer forma
(inclinação, interesse, impulso, estado psíquico, etc...) tudo o que está presente
no indivíduo capaz de provocar efeitos em outros ou receber os efeitos de
outros. Estas coisas não são sociais. O amor, fome, trabalho, resultado da
inteligência, não são sociais, são factores de associação.
Estrutura Social é o ordenamento particular das partes que constituem o todo social.
A relação entre um traço social e a sua estrutura é a sua função.
Segundo este autor, os conceitos de processo, de estrutura e de função sociais são os
componentes de uma teoria única ou seja, os elementos de um esquema de
interpretação dos sistemas sociais humanos.
Função define as relações do processo e da estrutura.
Esta teoria é aplicável ao estudo da permanência das formas da vida social e
igualmente aos processos de mudança dessas formas.
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Esta preocupação com as relações sociais como uma realidade própria tem criado uma
acentuada divergência. Radcliffe Brown diverge completamente dos pontos de vista
de Malinowski que se volta mais para o estudo da cultura. Esta divergência ampliou-
se à escala de toda a ciência antropológica. Os antropólogos americanos mantêm-se
fiéis à orientação “culturista” enquanto os britânicos juntamente com os do
Commonwelth defendem a orientação “estruturalista”. Para esta corrente, a
antropologia social, é vista como um ramo da sociologia que se preocupa sobretudo
com as sociedades primitivas e por isso procura os seus antecedentes teóricos na obra
de Spencer e Durkheim que são tomados como fundadores da sociologia e da
antropologia.
Evans Pritchard, figura eminente da escola britânica, diz assim num texto de uma
série de palestras pronunciadas em 1950 na BBC: “ os primeiros antropólogos
(Durkheim, Morgan e Spencer) concebiam aquilo a que hoje se chama de
antropologia social como a classificação e análise funcional das estruturas sociais.
Este ponto de vista é sustentado ainda pelos adeptos de Durkheim em França, alguns
antropólogos britânicos e na sociologia formal alemã (Simmel, Von Wise).
Taylor, pelo contrário, é mais inclinado à etnologia pelo que considera que o objecto
da antropologia é classificar e analisar as culturas. Este ponto de vista foi muito
defendido pelos antropólogos americanos, provavelmente pelo facto de eles
estudarem sociedades Índias fraccionadas ou desintegradas onde se tornava mais fácil
estudar a cultura do que as relações sociais. Além disso, normalmente os
investigadores americanos não faziam trabalho de campo intensivo por
desconhecerem as línguas vernáculas, ao (contrário dos britânicos) e tinham mais
inclinações para estudarem a cultura e os costumes do que as relações sociais.
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sociabilidade espontânea por oposição parcial e ligação mutua entre eu, tu, ele
constituindo as relações com outrem.
A participação num Nós leva as pessoas no seio de um grupo a criarem algo diferente
das diversas contribuições individuais. Nós é uma unidade que não se pode decompor
embora dependa das partes ao mesmo tempo que as partes dependem do todo. A
intensidade deste fenómeno é variável conforme os “nós” são activos ou passivos,
conscientes ou semiconscientes, etc... Esta participação não implica a identificação
dos participantes no entanto pressupõe uma semelhança acompanhada de diferenças.
Havendo identidade dos elementos o grupo não se constituiria em quadro social, em
“todo concreto” antes iria dissolver-se numa reunião sem ligações entre exemplares
idênticos. É necessária uma certa afinidade entre os membros participantes num
mesmo conjunto, conjunto este que serve de base à diferenciação entre os elementos.
À medida que esta diferenciação cresce, a afinidade aumenta também assim como a
participação no conjunto.
No que diz respeito às relações com outrem, o sentimento de relação conjunta,
também está presente, no entanto o elemento de delimitação e diferenciação dos
participantes sobrepõe-se ao elemento comum (Nós). É este o motivo porque Gurvitch
denominou as relações com outros, como sociabilidade por oposição parcial. Esta
heterogeneidade estende-se a todas as formas de relações com outrem, e isto abrange
as relações de conflitos, direitos e deveres, bem como as relações familiares próximas.
O autor dá-nos o exemplo de um casal cuja união revela as duas formas de
sociabilidade:
b) Sociabilidade por participação num Nós, por exemplo em relação aos filhos
c) Sociabilidade por oposição parcial e ligação mutua no que respeita à relação
entre os cônjuges.
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b) Relações de afastamento
c) Relações mistas
1 – Os grupos situam-se no plano macrosociológico e estão mais perto dos níveis mais
rígidos e organizados do social do que das formas de sociabilidade em que a
espontaneidade é mais visível. Os grupos não se confundem com a sociedade global,
nem são apenas relações de interacção e interdependência que ligam os indivíduos.
Cada pessoa pertence a inúmeros grupos.
2–
a) os grupos não são uma quantidade ou uma colecção de indivíduos
semelhantes nem simples categorias sociais. (Os indivíduos do mesmo sexo,
da mesma idade, da mesma profissão, etc... não constituem apenas por isso um
grupo).
b) Os grupos não são médias estatísticas. (O homem médio, o chefe de família
médio, o operário ou o intelectual médio não traduzem realidades
sociológicas. É possível formular-se a este respeito conceitos matemáticos mas
estes não têm necessariamente que bater certo com a realidade, ao ponto do
contraste entre o resultado destes conceitos e a realidade ter sido utilizado pela
escola sociológica americana como teste da realidade do grupo).
c) Os grupos não são simples ajuntamentos (assemblages) de pessoas reunidas
e justapostas. (As pessoas que por qualquer motivo se encontram num
determinado local, não têm que ser grupo. Muitas vezes um grupo é
constituído por pessoas distantes embora ligadas de alguma forma).
d) Os grupos não são simples relações sociais nem relações sociais positivas e
complementares nem sistemas ou unidades de interacções humanas.
(Sociólogos americanos influentes, têm-se dedicado sobre este aspecto,
insistindo nas relações com outrem da sociabilidade, porém têm desconhecido
o papel desempenhado pela participação num mesmo Nós, mesmo como
elemento das relações com outrem. A acentuação exclusiva do aspecto
positivo ignora que as oposições têm também importância, pertencendo à
mesma realidade comum cuja unidade permite que um grupo possa de facto
existir).
e) Os grupos não são simples conjuntos de estatutos e de papéis sociais.
(Normalmente, os estatutos e os papéis sociais definem-se como consequência
da participação dos indivíduos nos grupos pelo que a realidade de grupo se
lhes sobrepõe).
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3 – Por tudo isto, Gurvitch define grupo como uma unidade colectiva real mas parcial,
directamente observável e assente em atitudes colectivas, contínuas e activas, tendo
uma obra comum a realizar, unidade de atitudes, de obras e de comportamentos, a
qual constitui um quadro social estruturável tendendo para uma coesão relativa das
formas de sociabilidade.
Os grupos são unidades colectivas que englobam uma multiplicidade de formas de
sociabilidade e são um elemento constitutivo das sociedades globais. A sua
existência depende da presença de atitudes comuns e activas por parte dos seus
constituintes, uma vez que as atitudes mesmo que comuns, se não forem duradouras
são incapazes de reunir as pessoas num grupo. A obra comum e a unidade de
comportamentos dão-lhe uma certa coesão fazendo-o sobrepor-se às relações com
outrem e ao sistema de Nós. A constante evolução dos múltiplos elementos do social,
dentro do grupo pode permitir uma certa organização das múltiplas hierarquias
existentes e uma definição do grupo relativamente ao meio em que se insere. Esta
estruturação pode vir a traduzir-se ou não numa ou mais organizações conforme as
tendências do grupo.
Os factos que são objecto de estudo das ciências sociais são rodeados de uma certa
delicadeza, e isto dificulta muitas vezes a observação. Os indivíduos têm dificuldade
em aceitar que alguém possa ter em relação a eles uma posição de simples curiosidade
científica. Isto pode vedar o acesso a muitas opiniões, atitudes, comportamentos,
realizações e outros factos, criando vivas reacções de oposição à curiosidade exterior.
Relativamente à vida íntima dos indivíduos não é fácil conseguir que as pessoas
prestem informações nem é socialmente correcto solicitá-las. Isto impõe o maior
cuidado para se manter dentro do tolerável em cada sociedade.
As diversas técnicas de observação usadas nas ciências sociais podem agrupar-se,
segundo Maurice Duverger, em três categorias principais:
a) A observação documental, que procura estudar os factos sociais a partir dos
documentos dos mais diversos tipos, que estes tenham deixado atrás de si.
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b) A observação directa extensiva, que procura estudar os actos para além dos
documentos, situando-se nas grandes comunidades e recorrendo muitas vezes
ao estudo de amostras representativas.
c) A observação directa intensiva, que procura penetrar nas pequenas
comunidades e nos comportamentos individuais, procurando a visão em
profundidade.
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história e as civilizações que não deixaram escrita ou que pelo menos ainda não foi
possível decifrar, este é o principal ou único apoio dos estudiosos. São também
incluídas aqui as imagens e a linguagem. Duverger agrupa-os da seguinte forma:
Documentação técnica
Documentação iconográfica e fotográfica
Documentação fonética
São documentação técnica, objectos destinados à produção, objectos de defesa e
guerra, vestuário, habitação e móveis. Podem ser analisados tendo em conta as
características dos materiais com que são feitos, os fins a que se destinam e o que
significam para quem os utiliza. Assim, avalia-se o estado da cultura, o seu nível
tecnológico e a importância que para ela têm os objectos que a rodeiam.
A documentação iconográfica e fotográfica está muito valorizada sobretudo pela
larga difusão da fotografia como um instrumento indispensável ao estudo de muitos
factos sociais.
A documentação linguística e fonográfica que se obtém graças às modernas técnicas
de gravação, é uma mais valia no estudo das línguas e também na análise da evolução
dos grupos no decorrer das suas sessões de debate, ou para o estudo das técnicas de
propaganda, etc...
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16.1 A Amostragem
A observação directa extensiva tem como objectivo analisar uma população
numerosa de forma a que os resultados se aproximem da realidade, consiste em fazer
uma sondagem, transportando os dados da parte para o conjunto. É necessário
escolher as pessoas a sondar de forma que sejam indicativas do conjunto. Existem
dois métodos para esta sondagem:
O método das Quotas, geralmente usado para avaliar a opinião
pública sobre certos produtos ou nas sondagens pré-eleitorais. Consiste
em escolher quotas como por exemplo um certo número de homens, de
mulheres, de pessoas de vários grupos etários, das diversas profissões,
de zonas rurais, de zonas urbanas, etc... As pessoas a interrogar
poderão se livremente escolhidas pelo entrevistador desde que tenham
as características especificadas.
O método probabilistico, em que as pessoas são escolhidas ao acaso,
de forma a que todas as pessoas tenham a mesma probabilidade de vir
a ser incluídas na amostra independentemente das suas características.
Podem escolher-se nomes à sorte numa lista ou ficheiro que inclui o
grupo completo que se pretende estudar. Pode em vez disso escolher-se
por clusters, interrogando agregados e vez de indivíduo. Pode ainda
escolher-se por clusters e dentro deles escolher novamente
aleatoriamente os indivíduos a interrogar, finalmente pode ainda
escolher-se por estratificação. Cria-se um modelo teórico, escolhendo
os diversos estratos que são relevantes, depois escolhe-se ao acaso
dentro de cada estrato.
Existem dois casos particulares da técnica de sondagem
Sondagem por fases – numa primeira fase constitui-se uma grande
amostra a que se faz um inquérito rápido. Deste grupo escolhe-se outro
menor que é submetido a um inquérito mais profundo e assim
sucessivamente.
Método do Master-sample – cria-se uma amostra permanente,
geralmente volumosa que é representativa do conjunto da população.
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A ordem das perguntas tem em vista pôr as pessoas à vontade antes de abordar
assuntos importantes, por isso normalmente as primeiras perguntas são normalmente
respondidas sem que a pessoa se sinta demasiadamente comprometida. Por outro lado,
tem em conta que umas perguntas podem influenciar outras, por isso, normalmente
repartem-se de forma a separar as que são susceptíveis de contágio.
A redacção das perguntas tem que ter em conta certas tendências básicas:
a) A tendência para a resposta “sim” quando a pergunta permite um receio
perante sugestões me mudança
b) O receio de certas palavras ou estereótipos
c) A influencia positiva ou negativa das personalidades
d) A pergunta põe em causa essas personalidades
e) Questões de simpatia ou de antipatia
Duverger reuniu alguns exemplos no seu manual da metodologia. Depois de
preparado o projecto de questionário, testa-se num grupo restrito. Testa-se a fidelidade
fazendo o questionário duas vezes às mesmas pessoas com um intervalo de tempo.
Usam-se inquiridores diferentes para testar a influência do inquiridor. Verifica-se a
validade, fazendo uma entrevista aprofundada às pessoas de forma a testar se as
respostas correspondem ao estado de espírito.
2. A utilização do questionário pode ser feita segundo dois métodos principais:
a) Apresentado directamente às pessoas, que o preenchem elas próprias
b) Apresentado por um inquiridor que preenche o questionário
No primeiro pode enviar-se pelo correio indicando o objectivo e prometendo segredo,
solicitando uma resposta rápida. Pode também entregar-se numa reunião e pedir-se
que seja entregue no fim. Esta segunda hipótese tem vantagens, porém nem sempre é
praticável. Tem sido utilizada em grupos de estudantes, militares, etc... a primeira em
grupos mais vastos, tendo no entanto alguns inconvenientes:
Elevado número de pessoas que não responde (pode comprometer a
amostra)
Grau desigual de espontaneidade (uns respondem logo, outros pensam
primeiro, consultam amigos, etc...)
O processo mais viável para vencer a inércia é o mais dispendioso, enviar um
entrevistador que também garante uma certa espontaneidade. Porém, também aqui há
algumas desvantagens:
Equação pessoal do entrevistador (capaz de influenciar as respostas)
Problemas de prestígio
Desconfiança
O aspecto do inquiridor) mais ou menos simpático, distinto ou
elegante)
Tendência para se valorizar ou menosprezar na presença do
entrevistador (raramente as pessoas se mostram iguais a si próprias)
O segredo parece comprometido pela presença do inquiridor
16.3 A Apresentação dos Resultados
Depois as respostas são passadas para um cartão mecanográfico, neste processo
traduzem-se os milhares de respostas em algumas categorias restritas, aqui, embora o
trabalho tenha sido planeado, tal como os inquéritos supõe uma certa incidência de
interpretação pessoal. A análise que se faz depois disto interpreta os resultados
obtidos, deparando-se com alguns problemas:
Significado eventual
Falta de respostas em muitos questionários
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17.1 A Entrevista
A observação directa intensiva distingue-se sobretudo pela profundidade que a
pretende chegar no estudo das atitudes e comportamentos dos indivíduos que estuda.
Procura grupos restritos para os conhecer em pormenor. Uma técnica habitual é a
entrevista, idêntica ao questionário mas com maior e mais
metódica atenção dada ao entrevistado. Procura:
Informações sobre dados que dificilmente se
conhecerão de outra forma
Recolha de informações sobre opiniões,
atitudes, comportamentos prováveis.
Contacto com personalidades eminentes ou
dirigentes
Opiniões de indivíduos vulgares
representativos da média do grupo
A entrevista é tão cuidadosamente preparada quanto o questionário com um plano
de perguntas estabelecidas, embora o entrevistado não se aperceba disso, sobretudo se
o entrevistador as tiver memorizado.
Entrevista Dirigida – respeita-se o plano com rigidez com as perguntas numa ordem
preestabelecida.
Entrevista livre – deixa-se evoluir a conversação com o entrevistado colocando as
perguntas na ordem que as circunstancias permitam.
Na preparação prevê-se uma fase inicial que tem como objectivo por o entrevistado à
vontade. Estudam-se respostas a dar a quaisquer dúvidas que possam surgir. Requer
uso de pessoal devidamente treinado. Os sociólogos americanos criaram algumas
técnicas particulares:
A técnica do panel, que foi usada por Lazarsfeld para medir a
evolução das atitudes e opiniões politica no decurso de uma campanha
eleitoral. É uma entrevista repetida às mesmas pessoas (panel) em
intervalos mais ou menos espaçados.
As focused interviews, usadas por Merton para medir o impacto de
certas experiências sobre os indivíduos. Serve para analisar o efeito de
um filme, um programa de rádio, etc.… entrevistando os indivíduos
depois dessa experiência.
A entrevista clínica, usada por adorno em estudos sobre a
“personalidade autoritária”. Consiste em planear uma entrevista
visando o esclarecimento dos motivos básicos de certas atitudes,
abordando os diferentes aspectos relevantes da personalidade das
pessoas.
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1. As atitudes são medidas com testes que têm sido usados para este fim como para
outros, por exemplo a selecção de pessoal para empresas ou cargos. Dos diversos
testes de personalidade, o mais famoso é o teste de Rohrs-Chach de 1921 quer
apresentam manchas te tinta obtidas por dobragens de papel e que não representam
nada em concreto. Solicita-se às pessoas que digam o que para elas representam essas
imagens, e tiram-se conclusões sobre a sua personalidade. Outro teste do mesmo tipo,
mas apresentando imagens ambíguas em vez de manchas de tinta é o Thematic
Apperception test (T.A.T.) de Murray. Testes deste tipo podem por o sujeito perante
certas situações sociais. Partindo-se da interpretação dada pelo sujeito para a
avaliação das suas atitudes e opiniões. O método tem sido usado para o estudo dos
preconceitos étnicos e de certas opiniões políticas. Existem ainda testes em que se dá
uma lista de palavras pedindo-se depois ao paciente que de cada palavra, escreva
outra que esta lhe sugira. Pode pedir-se para completar frases, que desenhe figuras,
etc.… Porém a interpretação dos resultados, suscita muitas dúvidas e controvérsia
pelo que se tem moderado a confiança neles, aconselhando-se prudência no seu uso
fora do domínio da investigação.
2. Um outro processo para medir a intensidade das opiniões e atitudes é a das escalas.
Constrói-se uma escala graduada com diferentes intensidades de uma atitude ou
opinião e segue-se um de dois caminhos:
Pede-se ao próprio que identifique na escala
a sua posição.
Pede-se a uma avaliador independente que
faça a avaliação.
Ambas as opções são subjectivas e susceptíveis de erro.
Numa forma mais aperfeiçoada reúnem-se uma série de
proposições que exprimem diferentes graus de intensidade
de uma atitude ou opinião e pede-se ao interrogado que
identifique aquelas com que concorda e as que repudia.
Associando as respostas dadas pela mesma pessoa pode
chegar-se a um número que exprime o grau de intensidade
com que mantém certa opinião ou atitude. A dificuldade principal é definir com rigor
os graus de intensidade e colocá-los na escala em intervalos iguais. Por isso nasceram
uma série de métodos propostos para a construção das escalas de opiniões ou
atitudes. A primeira das escalas utilizadas em sociologia e psicologia social foi a
escala de distância social preparada em 1925 por Bogardus. Este procurou medir a
intensidade do preconceito racial, colocando nomes numa lista e solicitando que
dissessem se os aceitariam como:
1. Parentes pelo casamento
2. Membros e camaradas do mesmo clube
3. Vizinhos da mesma rua
4. Colegas de trabalho
5. Cidadãos do mesmo país
6. Visitantes do seu país
7. Ou se excluiriam do seu país
Pela sua simplicidade, serviu de modelo a muitas outras. Outro método foi proposto
em 1929-1931 por Thurstone para a solução do problema da igualdade dos intervalos
entre as diversas posições. São apresentadas diversas posições a que o sujeito pode
aderir ou pode repudiar. Aderir à primeira significa a posição mais favorável e à
última a mais desfavorável. Depois um grupo numeroso de pessoas qualificadas
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As descrições fazem-se já tendo em vista uma certa ideia de classificação e essa ideia
de classificação anda já ligada a uma hipótese inicial sobre a explicação dos factos.
Temos de ter em conta que no que respeita às ciências sociais o plano de explicações
gerais é aquele onde se têm registado menores progressos, o que não deixa de ter
reflexos na dificuldade que correntemente se encontra em conseguir o acordo dos
especialistas sobre as diferentes classificações propostas.
Muito do trabalho dos estudiosos das ciências sociais tem-se até hoje orientado para a
descrição dos factos, sendo por isso que o sector mais desenvolvido do método das
ciências sociais é o das técnicas de observação.
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Não considerando as obras dos grandes clássicos como: Helbert Spencer, Emile
Durkheim, Max Weber, ou Vilfredo Pareto, que pela sua natureza são de difícil
imitação e estão ultrapassadas em certos aspectos, então temos de reconhecer que é de
há poucos anos a tendência para a classificação dos fenómenos. Embora o caminho se
tenha feito nesse sentido, os resultados são de valor desigual, devido ás já referidas
dificuldades que o problema apresenta.
As Classificações até agora propostas, que visam o estabelecimento de certos «tipos»
capazes de traduzirem linhas essenciais de várias categorias de fenómenos, seguindo
princípios diversos e reflectindo a diversidade das correntes que se apresentam na
interpretação dos factos sociais.
As tipologias tomaram grande importância na análise nas ciências sociais, como ponto
intermédio entre a descrição e a formulação de teorias gerais de explicação. A
tendência actual é para circunscrever o âmbito de verificação das eventuais
generalizações ou «leis sociais», a certo quadro social definido no espaço e do tempo,
e que corresponde à ideia de tipo social na sua concepção mais lata.
O determinismo social concebido por alguns dos primeiros estudiosos, segundo o qual
se poderia estabelecer uma relação de causalidade entre A e B, por forma a que uma
vez verificado A viesse a surgir necessariamente B, veio cada vez mais a ser
substituído pela ideia da relação funcional entre os fenómenos correspondendo à ideia
matemática de função e pela ideia de determinismo probabilístico.
A teoria nas ciências sociais tem conhecido poucos progressos. As grandes teorias
gerais da evolução das sociedades que têm sido propostas não tem conseguido ser
objecto de uma geral aceitação entre os especialistas. Mas nem por isso deixaram de
ter um impacte considerável no pensamento contemporâneo, com se pode ver na obra
de Marx ou a de Spengler ou a de Toynbee.
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Não sendo possível nas ciências sociais um recurso tão amplo à experimentação como
se pratica nas ciências da natureza.
No entanto, os estudiosos dos fenómenos sociais têm procurado por processos mais ou
menos engenhosos contornar esta dificuldade, quer criando situações artificiais, que
são verdadeiras experiências no sentido tradicional, quer valendo-se das
oportunidades de observação do processo social em marcha criadas por circunstâncias
ocasionais. Em todos os casos se trata de uma «experimentação» realizada em
condições menos rigorosamente controladas do que é habitual nas ciências da
natureza, em que pode á vontade fazer-se variar cada um dos elementos da situação
mantendo os outros fixos, mas que tem, apesar disso, de se reconhecer um interesse
substancial.
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Duverger nota por isso que o método supõe uma classificação prévia dos factos, dado
que terá de fazer-se a comparação entre coisas do mesmo tipo.
A comparação neste caso tem de assentar na analogia entre os fenómenos, analogia
que pode ser estrutural ou funcional conforme se estudam estruturas ou funções e que
tem em qualquer dos casos de ter em conta se há efectivamente analogia de dimensão,
de contexto cultural e de significado, pois coisas que parecem do mesmo tipo não
podem legitimamente comparar-se se não houver uma certa semelhança do contexto
dimensional em que se verificam, nem se situarem em contextos culturais demasiado
diferente, nem se, embora em situações análogas de dimensão e de contexto cultural,
tiverem efectivamente significações diferentes.
Por exemplo não é cientificamente legitimo comparar um sistema politico francês
com o método de escolha de chefes e exercício da autoridade numa tribo africana ou a
monarquia inglesa com a de uma tribo da Melanésia, porque tanto o contexto
dimensional como o contexto cultural são muito diversos, assim como não parece
apropriado comparar as rivalidades de grupos numa tribo australiana com o fenómeno
da luta dos partidos e dos grupos de pressão nos países ocidentais, porque existe
claramente uma diferença de significado.
Reserva que é válida tanto para as comparações no espaço como para as comparações
no tempo, entre fenómenos evoluindo no quadro de épocas muito afastadas, embora
dentro do mesmo país ou na vida do mesmo povo.
Como observa Duverger deve distinguir-se entre dois tipos de comparações, que
designa por «comparações próximas» e «comparações afastadas».
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elementos que o observador pôde isolar. Nesse sentido o método comparativo é para
as ciências sociais um substituto da experiência. Este tipo de estudo comparativo tem
naturalmente de ser muito exigente quanto às condições de analogia a satisfazer pelas
coisas que se desejam comparar.
As comparações afastadas são aquelas que se fazem entre coisas cuja analogia não é
à primeira vista evidente e que por isso, graças ao génio particular de um observador,
abrem novos caminhos à ciência. Neste caso a comparação parece fazer-se com
quebra das regras de determinação da analogia atrás referidas. Isso é o que em ciência
distingue as descobertas notáveis. No entanto, não é realizável senão por pessoas que
já adquiriram um grande conhecimento e domínio do campo que estudam e, por aí,
pouco corrente no trabalho da maioria dos estudiosos.
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