Sei sulla pagina 1di 4

Gramática e Literatura em Português I – Aula I

1. Resumo

A poesia costuma ser definida como uma arte da linguagem. O que significa isso? Em
que sentido a poesia é uma “arte da linguagem”?

A linguagem é o instrumento fundamental não apenas de nossa comunicação, mas de


nosso conhecimento e de nosso autoconhecimento (é bom lembrar que, para as artes
liberais, o autoconhecimento é um objetivo fundamental). Autoconhecer-se não é
exatamente algo simples já que a matéria com que estamos lidando—nossos
pensamentos, nossos sentimentos e sensações, humores, ideias—parece difusa e
imprecisa. A linguagem tem papel essencial nessa tarefa, pois ela fornece os
instrumentos concretos com que podemos efetuá-la – as palavras – e uma técnica de
como utilizar tais instrumentos para essa tarefa – as regras e procedimentos sintáticos
e semânticos. É a partir dessas entidades sonoras (na fala) e visuais (na escrita) que se
formam os conceitos com que compreendemos o mundo e a nós mesmos.

Há diversas maneiras de utilizarmos a linguagem como instrumento de


autoconhecimento, e são essas maneiras que vão dar origem às áreas do saber. Na
filosofia, usa-se a linguagem para se entenderem os objetos do mundo e suas relações;
na teologia, ela é usada para o conhecimento dos fatos sobrenaturais e divinos; na
sociologia, para o conhecimento de fatos e agentes sociais e assim por diante. Será que
o mesmo pode ser dito da poesia? Se a poesia é uma área do conhecimento, o que se
pode conhecer por meio dela? Enfim, a poesia é o uso da linguagem para o
conhecimento do quê?

Antes de seguirmos, é importante esclarecer algo: aqui, quando falamos em “poesia”,


falamos em “poesia lírica”. Apesar da importância da épica, vamos focar, neste primeiro
módulo, na poesia lírica. Voltando à questão anterior, então, o que se conhece por meio
da poesia lírica? A poesia lírica fala do quê? É provável que se tenha a tentação aqui de
responder “os sentimentos e as emoções” como é comum pensar. Tal resposta não é
incorreta, mas é parcial e insuficiente. Em primeiro lugar, se examinarmos as obras de
muitos poetas, vemos a presença de pensamentos e ideias tanto quanto de sentimentos
e emoções, mas não é por essa razão que a resposta está incompleta. A razão se
encontra no fato de a poesia não se definir tanto por seu objeto ou assunto, mas sim
pela forma como a linguagem é utilizada e articulada no texto poético. Não há dúvida
de que a poesia é uma forma de conhecimento, mas seu conhecimento não se dá tanto
pelo versar sobre um assunto, mas sim pelo seu fazer linguístico, o trabalho artesanal
com a linguagem.

Vamos lembrar que as ciências linguísticas dividem a linguagem em níveis


fundamentais: o nível fonológico, o nível morfológico, o nível sintático, o nível
semântico e o nível pragmático (este último nem sempre é incluído). A linguagem é
feita de sons elementares ou fonemas (nível fonológico), elementos que formam
palavras ou morfemas (nível morfológico), a articulação das palavras em unidades
significativas, ou frases, segundo determinadas regras (nível sintático), o sentido que
essas palavras têm dentro das possíveis frases que se podem formar (nível semântico) e
o uso contextual delas (nível pragmático). No caso da filosofia, da teologia ou de outras
áreas do conhecimento, estamos preocupados essencialmente com o sentido das
palavras e o modo como são usadas para falar de um assunto. Ao lermos um tratado de
uma dessas áreas, raramente paramos para analisar a sintaxe ou a morfologia da frase;
isso pode vir a ocorrer quando a frase está ambígua, mas não é um procedimento
comum. Não é assim que se dá com a poesia. Se lemos um poema atentando apenas
para seu sentido, se não nos focamos na sonoridade das palavras, na construção da
frase, perdemos grande parte de sua riqueza, de seu artesanato.

O crítico brasileiro José Guilherme Merquior – um dos melhores que tivemos – no


ensaio “A Natureza da lírica” define a poesia como “o tipo de mensagem linguística em
que significante é tão visível quanto o significado, ou seja, em que a carne das palavras
é tão importante quanto seu sentido”. Outro crítico e teórico, Roman Jakobson, dizia
que a poesia é a manifestação mais formalizada da linguagem. Por sua vez, voltando ao
Merquior, se pode definir a lírica como o tipo de poesia que não se volta para as ações
em si, mas os estados internos que vão deflagrar tais ações.

É aqui talvez que encontramos uma espécie de paradoxo da poesia lírica. Já foi dito que
o conteúdo da poesia não são atos ou fatos, mas sim estados internos – sensações,
sentimentos, ideias, pensamentos. Como já falamos, esses estados, por serem
subjetivos, nos parecem menos precisos e concretos que fatos e ações. A poesia lírica
lida, então, com um mundo inefável, abstrato e muitas vezes impreciso.
Paradoxalmente, as regras e técnicas de composição da poesia – e os critérios de sua
leitura – são extremamente concretos e até físicos: a métrica, o ritmo e a rima de um
poema são elementos físicos, podem ser ouvidos, classificados e até contados, ou seja,
são critérios numéricos; a sintaxe pode ser analisada e encontrada concretamente no
texto poético; e mesmo as figuras de linguagem e ideias podem ser localizadas em
determinados versos ou partes de versos. Ou seja, na poesia lírica, a imprecisão dos
estados internos é, por assim dizer, “compensada” pela precisão dos recursos
versificatórios e gramaticais. Voltando ao ensaio do Merquior, ele usa uma definição de
um autor chamado Wolfgang Kayser: a poesia se caracteriza por uma “dissolução dos
contornos do universo objetivo, e a compensação desta evanescência pelo rigor que
ganha a música das palavras”.

Essa é, em grande parte, a chave para o tipo de leitura de poesia que faremos aqui. Os
recursos da análise gramatical e da versificação são muito importantes para se ter uma
leitura mais objetiva e rica da poesia. Se leio um soneto de Camões com o único
objetivo de saber o que Camões “quer dizer”, perco todo a riqueza de recursos
estilísticos e formais que o poema tem, e a própria beleza dele me escapa. Nosso
objetivo, então, neste curso, é fazer leituras poéticas que usem todos esses
conhecimentos gramaticais e versificatórios sem deixar de lado a mensagem do poema.
Nosso objetivo, enfim, é entender como os recursos da linguagem podem ser usados
para construir uma mensagem poética.

 
2. REFERÊNCIAS

JAKOBSON, R. Poésie de la grammaire et grammaire de la poésie. In: JAKOBSON, R. Questions 
de poétique. Éditions du Seuil. Paris. 1973. P. 219‐233. 

MERQUIOR, J. G. A natureza da lírica. In: MERQUIOR, J. G. A Astúcia da mimese ‐ Ensaios sobre 
Lírica. Topbooks. Rio de Janeiro. 1997. P. 17‐33. 

MERQUIOR,  J.  G.  Crítica,  razão  e  lírica.  In:  MERQUIOR,  J.  G.  A  razão  do  poema.  Civilização 
Brasileira.  Rio  de  Janeiro.  1965.  P.  153‐188  (OBSERVAÇÃO  IMPORTANTE:  embora  eu  tenha 
usado  a  edição  original,  de  1965,  obviamente  fora  de  catálogo,  este  livro  foi  recentemente 
reeditado pela É Realizações e encontra‐se em catálogo.) 

3. EXERCÍCIOS DE REVISÃO
 
1. A poesia é frequentemente definida como “arte da linguagem”. Seria correto
também defini-la como uma forma de conhecimento, tal como filosofia, teologia
e outras áreas?
a. Não, pois, ao contrário do que ocorre com essas áreas, não existe
conhecimento na poesia, apenas beleza e fruição.
b. Sim, mas há uma diferença essencial entre a forma de se conhecer na
poesia e nessas áreas, especialmente no que toca à importância do objeto
de conhecimento.
c. Sim, pois a poesia é a disciplina que fala de nossos sentimentos e
emoções.
d. Não, pois o objetivo da poesia é desconstruir todos os conhecimentos
que temos e nos lançar em um mundo de total imprecisão e perda de
sentido.
e. Sim, a poesia é uma área do conhecimento que se divide em cinco níveis:
fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática.

2. Por que se diz não ser produtivo estudar poesia fundamentalmente a partir do
que ela diz ou do seu assunto?
a. Porque, a rigor, a poesia nunca tem um assunto, consistindo seu texto
em sentimentos e sensações sem precisão.
b. Porque a imputação de um assunto a um poema pode limitar seu escopo
e restringir sua capacidade de produzir sentido.
c. Porque, no texto poético, a forma como os recursos linguísticos são
articulados tem tanta importância quanto a mensagem que é
comunicada.
d. Porque a leitura de um poema é inteiramente subjetiva e não pode ser
uniformizada.
e. Porque, sendo a poesia essencialmente uma arte da linguagem, o
assunto ou mensagem que transmite não tem importância nenhuma; só
têm importância a forma e o uso da linguagem.
3. Wolfgang Kayser, citado por Merquior, fala em uma espécie de “compensação
poética”. De que compensação se trata?
a. A falta de assunto da poesia é compensada por sua beleza.
b. O tempo que dispendemos lendo um poema é compensado pelo prazer
estético que ele nos suscita.
c. A dificuldade de se ler um poema é compensada pelas reflexões sobre a
linguagem e sobre nós mesmos que esse poema pode nos oferecer.
d. A imprecisão de seu conteúdo é compensada pela precisão
proporcionada pelo rigor de seus critérios formais.
e. O preço dos livros é compensado pela qualidade dos poemas.

4. Qual a importância do conhecimento da gramática para a leitura de um poema?

a. Ser capaz de analisar um poema gramaticalmente nos ajuda no


entendimento de seu sentido e na apreciação de sua qualidade estética.
b. Sem conhecer as regras gramaticais, escrevemos poemas em português
errado e lemos de forma desleixada e sem acerto.
c. Nenhuma, pois o que importa, na leitura de um poema, é deixar que ele
toque nossas emoções e nossos sentimentos.
d. O objetivo da leitura de poesia é, antes de tudo, aprendermos
corretamente as regras de nosso idioma.
e. A importância da gramática para a leitura do poema consiste
exclusivamente em ajudar a entender o que o poeta quer dizer.

Potrebbero piacerti anche