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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

ASSESSORIA DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA (AEDI)

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

FACULDADE DE GEOLOGIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOLOGIA DE MINAS E TÉCNICAS


DE LAVRA À CÉU ABERTO
(GEOMINAS)

GEOLOGIA APLICADA À MINERAÇÃO


Módulo 1: unidades 1, 2 e 3

Organização: Prof. Marcio D. Santos

Belém/PA
2019

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SUMÁRIO
MÓDULO 1
.......................................................................................................... 03
1.1 HISTÓRICO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE GEOLOGIA ............................ 03
1.2- GEOLOGIA E O HOMEM ....................................................................................... 05
.............................................................................................. 08
2.1- INTRODUÇÃO: métodos de investigação do interior terrestre ............................... 08
2.2- METEORITOS ........................................................................................................ 08
2.3- TERREMOTOS ...................................................................................................... 10
2.4- ESTRUTURA INTERNA DA TERRA ..................................................................... 13
2.5- CAMPOS GRAVITACIONAL E MAGNÉTICO DA TERRA .................................... 16
2.5.1- Campo Gravitacional ......................................................................................... 16
2.5.2- Campo Magnético .............................................................................................. 18
........................................................................................ 26
3.1- INTRODUÇÃO: Teoria da deriva continental ......................................................... 26
3.2- TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS ................................................................. 28
3.2.1- Regime divergente de placas litosféricas ........................................................ 35
3.2.2- Regime convergente de placas litosféricas ..................................................... 37
3.2.3- Regime transformante ou conservativo de placas litosféricas ..................... 41
3.3- CICLO DE WILSON E DANÇA DOS CONTINENTES ........................................... 42
3.4- TECTÔNICA DE PLACAS E OS DEPÓSITOS MINERAIS ................................... 47
3.5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 47
3.6- ATIVIDADES DESTE MÓDULO PARA OS ESTUDANTES ................................. 48

MÓDULO 2

4- OS MATERIAIS TERRESTRES: Minerais e rochas

5- ESTRUTURAS GEOLÓGICAS

MÓDULO 3

6- GEOLOGIA DOS DEPÓSITOS MINERAIS

7- TEMPO GEOLÓGICO

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APRESENTAÇÃO

O presente documento é o texto de referência da disciplina “Geologia Aplicada à


Mineração” do curso de especialização em Geologia de Minas e Técnicas de Lavra à
Céu Aberto (Geominas), ofertado pela Faculdade de Geologia (Fageo) do Instituto de
Geociências (IG) da Universidade Federal do Pará (UFPA), na modalidade à distância
(Eadi). A Geologia Aplicada à Mineração é uma disciplina básica do Geominas que visa
dar suporte geológico de nivelamento necessário para as disciplinas específicas do
Geominas, especialmente para os cursistas que não são geólogos e nem engenheiros
de minas. A disciplina aborda de forma integrada os principais processos geológicos,
como a origem dos oceanos e continentes, formação das rochas e depósitos minerais,
estruturas geológicas e o tempo geológico.
O tema central do Geominas são as técnicas de mineração de jazidas minerais e,
consequentemente, o objeto fundamental do curso são os minérios, tradados na
disciplina Geologia Aplicada à Mineração como uma categoria especial de rocha, cuja
especificidade é seu interesse econômico. As características e os processos genéticos
dos principais tipos de minérios são tópicos abordados na disciplina, de extrema
importância para a definição das técnicas de mineração tratadas nas disciplinas
específicas do Geominas. Desse modo, a disciplina Geologia Aplicada à Mineração
corresponde ao alicerce geológico do Geominas, onde estão assentadas as disciplinas
específicas que tratam da mineração e técnicas de lavra das jazidas minerais.

Prof. Dr. Marcio D. Santos


Geólogo econômico
Coordenador Acadêmico do Geominas

3
Os assuntos abordados nos itens a seguir possuem um cunho introdutório ao
conhecimento geológico, abrangendo aspectos da geologia geral objetivando um
conhecimento do nosso planeta dentro de variados aspectos: sua constituição física,
processos que atuam no interior e na superfície da Terra, os principais produtos gerados
por esses processos e suas aplicações na vida das pessoas.
Este texto foi desenvolvido de modo a facilitar o entendimento dos temas
propostos a seguir. Foi redigido dentro de uma linguagem acessível a qualquer campo
do conhecimento e sem a preocupação de esgotar os assuntos. Deverá, outrossim, servir
de base para que o leitor possa complementar com leituras auxiliares, de fácil obtenção
nas bibliotecas tradicionais e eletrônicas.
1.1- HISTÓRICO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE GEOLOGIA
O termo Geologia vem do grego Geo, que quer dizer Terra e Logos que significa
palavra, pensamento, ciência. No sentido que lhe damos atualmente, o termo Geologia
foi usado pela primeira vez pelo naturalista Ulisse Aldrovandi (1522-1605), em uma
publicação de 1648. O primeiro livro de mineralogia (parte da Geologia que estuda os
minerais), escrito em português, foi “Tábuas Mineralógicas” de autoria do professor
Manuel José Barjona (1758-1831), da Universidade de Coimbra, Portugal.
A Geologia é uma ciência histórica. Ela estuda fenômenos que não se repetem,
únicos em cada tempo, que ficam registrados nas rochas, como a erosão e alterações
intempéricas, que refletem a atuação do clima, e as deformações, metamorfismo,
magmatismo e formação de cadeias de montanhas, resultantes de esforços tectônicos e
do calor interno da Terra. As ciências geológicas, certamente, se originaram das
civilizações mais antigas que sofriam os efeitos de terremotos, observavam as atividades
dos vulcões, contemplavam o trabalho incessante das ondas e das correntes, e sem
dúvida sentiam-se curiosos pela explicação de tudo aquilo que viam. Observavam,
igualmente, as conchas marinhas no alto das montanhas, os minerais de formas
geométricas regulares e, assim, as explicações foram aos poucos se avolumando,
aumentando o conhecimento da Terra em que vivemos.
Marcos na História da Geologia
O primeiro marco na História da Geologia foram as observações do filósofo grego
Tales de Mileto (624/625-556/558 AC), nascido na cidade homônima da Ásia Menor,
atual Turquia, sobre o trabalho dos rios Meandro (atual Meanderes) e Nilo que o levaram
a concluiu que “a água podia modificar a face da Terra”. Tales anunciara, então, a
ação erosiva das águas, uma das leis fundamentais da Geologia.
No ano 79 da Era Cristã, o Vesúvio, vulcão situado
próximo à cidade de Nápoles (Itália), entrou em erupção,
soterrando as cidades de Pompéia e Herculano. Nesta
erupção o naturalista Caio Plínio, o Velho (23 DC - 79 DC),
faleceu sufocado pelas cinzas do vulcão. O seu sobrinho
Plínio, o Moço, vinte e cinco anos após a erupção, em duas
cartas dirigidas ao historiador Tácito, narrou detalhadamente
os eventos, tornando-se assim o primeiro vulcanologista da
História. As erupções do tipo da ocorrida no Vesúvio, por essa
razão, são denominadas plinianas.
Figura 1.1- Georgius
Outro marco importante na história da Geologia foi a
Agrícola (1494-1555)
publicação em 1556 do livro “De Re Metallica” (sobre a
natureza dos metais), de autoria do médico e mineralogista alemão Georg Pawer, mais
conhecido como Georgius Agrícola (Fig. 1.1). O livro é voltado ao estudo da mineração

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o qual, juntamente com “De Natura Fossilium” dedicado ao estudo dos minerais, levaram
Agricola a ser considerado como o Pai da Mineralogia.
O bispo católico e cientista dinamarquês Niels Stensen,
mais conhecido como Nicolaus Steno (Fig. 1.2), viajou
muitos anos pela Europa (França, Itália, Países Baixos)
para estudar as rochas, minerais e fósseis. Nos seus
estudos científicos, ao invés de se basear apenas nos
autores antigos, confiava nas suas observações, mesmo
quando estas contrariavam as doutrinas tradicionais. Na
mineralogia, Steno anunciou a constância dos ângulos
interfaciais dos cristais, conhecida como “lei de Steno”. No
campo das rochas sedimentares, Steno enunciou três
princípios básicos da Estratigrafia (estudo do
empilhamento das camadas de rocha): Lei da
sobreposição de estratos e os princípios da
horizontalidade original e continuidade lateral.
Figura 1.2- Nicolas Steno
(1638-1686). O primeiro marco sobre o aspecto prático da
geologia foi estabelecido pelo agrimensor britânico William
Smith (Fig. 1.3). Smith não tinha formação acadêmica,
mas era autodidata e trabalhou muitos anos na construção
de canais para escoamento de carvão em várias regiões
da Inglaterra. Nesta tarefa teve oportunidade de observar
as diversas camadas geológicas (estratos) e os fósseis a
elas associados. Ele registrou suas observações em
milhares de anotações e traçou mapas de campo,
mostrando a posição de cada camada e seus fósseis.
Seus estudos levaram-no a deduzir que “cada estrato
Figura 1.3- William Smith
(1769-1839).
contém fosseis organizados que lhe são peculiares”.
A partir dessa dedução ele conseguiu correlacionar
camadas afastadas entre si por muitos quilômetros. Em 1801 ele esboçou o mapa
geológico preliminar da Inglaterra, reconhecido como o primeiro mapa geológico de
grande escala feito pelo homem. Finalmente, em 1815, ele publicou seu mapa geológico
da Grã-Bretanha, medindo 2,50 x 2,00 m, com os diversos estratos coloridos à mão em
20 cores, abrangendo a Inglaterra, País de Gales e parte da Escócia. William Smith foi o
primeiro homem que colocou a Geologia a serviço da humanidade e o seu famoso mapa,
que ficou conhecido como o mapa que mudou o mundo, atualmente é exibido na
Burlington House, no centro de Londres, sede da Geological Society of London. As
conclusões de Smith, sobre a evolução das rochas sedimentares e a vida marinha, com
base na sucessão das camadas estratigráficas e seus fósseis, forneceram as bases para
a teoria da evolução das espécies anunciada por Charles Darwin quase seis décadas
depois.
Um marco mais recente na história da Geologia foi estabelecido apenas no início
do século XX, embora tenha sido especulado desde longa data: a teoria da deriva
continental. A ideia da união da África e a América do Sul no passado vem desde a
época dos primeiros ensaios cartográficos, representando as margens desses dois
continentes. O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) já havia apresentado esta
hipótese no século XVII. Entretanto, uma teoria da deriva dos continentes apoiada em
conhecimento geológico, paleontológico, paleoclimático e outros, só foi proposta no
início do século XX, independentemente pelo geólogo americano Frank B. Taylor (1860-
1939) em 1910, e pelo meteorologista alemão Alfred L. Wegener (1880-1930) em 1912.
De acordo com Wegener, os continentes atuais teriam se originado da fragmentação de
um continente primitivo denominado Pangeia. Os fragmentos resultantes teriam se
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afastado uns dos outros desde o Jurássico ou Cretáceo (cerca de 200-150 milhões de
anos atrás), derivando sobre o manto oceânico até as posições atuais. A Deriva
Continental foi a teoria precursora da Tectônica de Placas, conceito que emergiu na
década de 60 do século XX.
Os elementos essenciais da Tectônica de Placas são:
A superfície da terra é dividida em cerca de 13 placas principais e outras menores.
Os limites entre as placas podem ser construtivos, destrutivos e transcorrentes. No
primeiro caso, as placas aumentam de tamanho, no segundo diminuem e, no terceiro,
as dimensões ficam inalteradas.
As placas podem abranger tanto terrenos continentais como oceânicos (fundo dos
mares). O Brasil está situado na placa Sul Americana, cuja metade leste é oceânica e
a metade oeste, continental. Seus limites são: a leste, a cadeia Mesoatlântica (limite
construtivo); a oeste, a cordilheira dos Andes (limite destrutivo); a norte a placa do
Caribe e a sul a placa Scotia (limites transcorrentes).
1.2- A GEOLOGIA E O HOMEM
A geologia tem repercussão em praticamente todos os segmentos da sociedade
e sua atuação se faz presente em diversos órgãos públicos federais, estaduais e
municipais e, também, em empresas estatais e privadas. Os órgãos e empresas estatais
atuam nas áreas de levantamento geológico básico, com vistas à caracterização do meio
físico, e na identificação e caracterização de ambientes geológicos e sua
compartimentação tectônica, potencialmente favoráveis à ocorrência de depósitos
minerais de interesse para a sociedade, enquanto que as empresas privadas e algumas
estatais atuam principalmente na mineração de jazidas minerais, petróleo e gás.
Podem se distinguir dois aspectos na ciência geológica: a Geologia Geral ou
Dinâmica e a Geologia Histórica. A Geologia Geral compreende as diversas partes da
geologia que investigam os processos genéticos formadores das rochas da crosta
terrestre, envolvendo os fenômenos que agem não somente sobre a superfície, como
também no interior do nosso planeta. Duas diferentes fontes de energia agem sobre a
Terra. Uma delas provém do Sol, que age direta ou indiretamente, esculpindo a
superfície do globo terrestre, constantemente retrabalhada pelo movimento das águas e
ventos, alimentado pela energia solar. Fazem parte deste conjunto de fenômenos, o
intemperismo, a erosão e a formação das rochas sedimentares (ciclo sedimentar),
denominados de dinâmica externa. A segunda fonte de energia provém do interior da
terra (calor interno), formando e modificando sua estrutura interna. Fazem parte desse
conjunto de fenômenos a tectônica de placas, formação e deformação das rochas ígneas
e metamórficas, denominados de dinâmica interna. Estas duas fontes de energia agem
independentemente, havendo, contudo, interação entre elas.
A Geologia Histórica estuda e procura datar cronologicamente a evolução das
modificações geológicas (estruturais, petrológicas, geográficas e biológicas) do nosso
planeta e posicioná-las no tempo geológico.
São inúmeras as aplicações práticas da geologia em benefício da humanidade e
das condições da vida na Terra que compreendem os ramos específicos da geologia,
denominados conjuntamente de Geologia Aplicada. Os mais importantes deles são
descritas brevemente a seguir:
Geologia Econômica
É o estudo dos recursos minerais utilizados pelo homem. O aumento geométrico
na demanda por bens minerais não renováveis pela crescente população humana
mundial tem provocado também um aumento paralelo no trabalho de pesquisa e
exploração mineral nas rochas da crosta terrestre para atender a demanda crescente por
recursos minerais. Desse modo, a procura de petróleo, carvão mineral, minerais

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metálicos e não-metálicos, exige o conhecimento pormenorizado dos processos de
formação desses bens minerais, do tipo de rochas relacionadas, da época em que se
teriam formado, e também da quantidade provável destes recursos ainda existente na
crosta terrestre acessível ao homem.
Geologia de Engenharia (Geotécnica)
Não menos importante é a geologia no âmbito da Engenharia, sobretudo na
construção de grandes obras, como túneis, barragens, fundações que deverão suportar
grandes cargas, e também, no estudo dos deslizamentos por vezes catastrófico, que
podem sepultar grandes áreas e que dependem da natureza do solo e de sua
estabilidade.
Geologia Ambiental
Este ramo da geologia consiste no estudo dos problemas geológicos, decorrentes
da relação que existe entre o homem e a superfície terrestre, assunto cuja importância
vem crescendo atualmente. As alterações no ambiente onde vivemos, provocados pelas
atividades humanas (poluição, desmatamento, alterações climáticas) extrapoladas para
um futuro muito próximo, poderão determinar, se não forem tomadas providências
adequadas, condições inadequadas à sobrevivência da raça humana no nosso planeta.
O impacto das atividades humanas no meio ambiente tem sido tão marcante que alguns
geocientistas já estão propondo um novo período geológico denominado Antropoceno
(pós holoceno). A ciência ambiental (ecologia) é multidisciplinar e, portanto, muito
complexa, pois envolve o conhecimento integrado de diversas áreas das ciências, como
biologia, física, química, geologia, geografia, agronomia, meteorologia, etc.
Geodiversidade, Geoconservação, Geoturismo
Estudos sobre a geodiversidade, geoconservação e o geoturismo, têm sido
enfatizados a partir dos anos 90 do século passado. Geodiversidade é “a variedade de
ambientes, fenômenos e processos geológicos ativos que dão origem a paisagens,
rochas, minerais, fósseis, solos e outros materiais superficiais que dão suporte para a
vida na Terra”. A geodiversidade possui enormes valores econômicos, científicos,
didáticos, culturais, etc., e a geoconservação do patrimônio geológico e o geoturismo,
que é o aproveitamento turístico desse patrimônio, são consequências óbvias da
geodiversidade.
Geologia Médica (Geomedicina)
Área das geociências que estuda os efeitos benéficos ou maléficos de diversos
minerais e de fatores e ambientes geológicos sobre a saúde humana e dos animais.
Estuda, por exemplo, a exposição excessiva ou a deficiência de elementos ou minerais
no organismo, a inalação de poeiras minerais provenientes de minas ou vulcões, a
exposição à materiais radioativos, entre outras complicações na saúde relacionadas às
condições e ambientes geológicos. No Brasil, a geomedicina ainda é rudimentar. O
Programa Nacional de Pesquisa em Geoquímica Ambiental e Geologia Médica
(PGAGEM), é uma das principais iniciativas nessa área que procura fornecer subsídios
à saúde pública através do controle da contaminação da água e solos.
Todas as atividades humanas, mesmo remotamente, estão ligadas à geologia,
com efeitos diretos ou indiretos na saúde humana. Um exemplo simples pode ser
encontrado em uma moradia, como mostra tabela 1 abaixo.

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Material Substância Mineral
Tijolo Argila Vermelha
Argamassa Calcário (cimento), areia e brita
Fundações Calcário (cimento), areia, brita e ferro (armação)
Contrapiso Calcário (cimento), areia e brita
Argila (telhas), betume, calcário, areia (acabamento) zinco
Telhado ou petróleo (PVC)
Calha Zinco ou petróleo (PCV)
Caixa d’água Amianto e cimento
Fiação Cobre e petróleo (conduítes de PVC)
Pintura Óxido de titânio (pigmento), gipsita (gesso) e calcário (cal)
Lâmpada Wolfrâmio (filamento) e alumínio (soquete)
Aparelhos eletrônicos Quartzo, silício metálico e germânio (transistores)
Vaso sanitário Argila vermelha ou branca
Cama Ferro ou cobre (armação), petróleo (espuma de PVC)
Chuveiro Liga de cobre e zinco (caixa) e mica (isolante)
Encanamentos Ferro, zinco, cobre e petróleo
Louça sanitária Argila branca, caulim e feldspato (esmaltados)
Eletrodomésticos Alumínio, cobre, fibras de vidro e petróleo
Botijão de gás Ferro e manganês (aço), gás natural ou de petróleo (GLP)
Azulejos Argila branca e feldspato
Automóvel Ferro, alumínio, cromo e petróleo (combustível)
Lajotas de Argila vermelha, areia (vitrificados) e manganês
revestimento (pigmentos)
Janelas/Esquadrias Ferro, alumínio e liga de cobre e estanho (bronze)
Tabela 1.1- Materiais utilizados na construção de uma residência comum e suas respectivas
substância minerais.
Além desses materiais, o homem utiliza diversos bens minerais no seu dia-a-dia,
por exemplo: Alimentação: Sal, fosfato, potássio, calcário, nitrato, etc.;
Embalagens: Alumínio, ferro, estanho, caulim, talco etc.;
Saúde e higiene: Água, caulim, talco, calcita, gipso etc.;
Transportes: Ferro, manganês, carvão, níquel, titânio etc.;
Bens de consumo: Ouro, prata, diamante, petróleo etc.

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2.1- INTRODUÇÃO
O furo de sondagem mais profundo até hoje realizado (em Kola, Rússia) atingiu
apenas 12 km, dimensão insignificante diante do raio da Terra de 6 370 km. Não é
possível, portanto, ter acesso às partes mais profundas da Terra devido as limitações
tecnológicas para enfrentar as altas temperaturas e pressões do interior terrestre. Desse
modo, a estrutura interna do nosso planeta só pode ser estudada de maneira indireta,
com base principalmente em dois tipos de fontes indiretas de informações: os meteoritos
e os terremotos. Os meteoritos são fragmentos do interior de corpos espaciais da parte
interna do sistema solar que podem fornecem informações importantes sobre o interior
da Terra, considerando que se os corpos do sistema solar tiveram uma origem comum,
não deve haver diferenças significativas entre os corpos de tamanhos equivalentes da
parte interna desse sistema, onde fica o planeta Terra. Por outro lado, os terremotos são
abalos sísmicos, estudados pelo ramo da geofísica denominado sismologia, que embora
causem catástrofes em diversas regiões do planeta, fornecem informações sobre o
comportamento das rochas do interior terrestre submetidas a esforços mecânicos, como
o estado físico e a composição das rochas. A associação das informações provenientes
dos terremotos e meteoritos, juntamente com os dados do campo gravitacional e campo
magnético do nosso planeta, permitiram definir um modelo consistente da estrutura
interna da Terra que é o tema central desta unidade.
2.2- METEORITOS
Meteoritos são pequenos fragmentos ( 10 m) de matéria sólida provenientes do
espaço que penetram a atmosfera terrestre e atingem a superfície da Terra. Se o
fragmento for menor que 10 m, normalmente ele é destruído e volatilizado pelo atrito com
a atmosfera antes de atingir a superfície, sendo denominado nesta condição, de meteoro.
As estrelas cadentes que, em noites de bom tempo, podem ser vistas como estrias
luminosas que riscam o céu, são meteoros penetrando na atmosfera terrestre. Asteroides
são pequenos corpos planetários, com dezenas a centenas de Km de diâmetro, cuja
maioria está orbitando no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, e que podem ser
formados por fragmentação de corpos maiores (planetas ou satélites). Todos os corpos
do Sistema Solar (planetas, satélites, inclusive os asteroides) vêm sofrendo impactos de
meteoritos e asteroides que correspondem ao processo de acresção planetária que
ainda continua acontecendo atualmente, embora com menor intensidade que no
passado. Os impactos de corpos maiores, como os asteroides, deixam vestígios na
forma de crateras que ocorrem praticamente em todos os corpos do Sistema Solar.
O estudo de milhares de amostras de meteoritos permitiu elaborar uma
classificação destes corpos, de acordo com suas estruturas internas e suas composições
químicas e mineralógicas, em três classes seguintes (Tabela 2.1):
1) Meteoritos rochosos: classe francamente dominante, com 95 % das amostras
estudadas, que se subdivide em condritos (86 %) e acondritos (9 %).
2) Meteoritos ferro-pétreos ou siderólitos: classe menos frequente, com apenas 1 %
das amostras estudadas;
3) Meteoritos metálicos ou sideritos, com 4 % das amostras estudadas.
Os meteoritos condríticos (Fig. 2.1 a) são constituídos por pequenos glóbulos
(côndrulos) milimétricos de minerais silicáticos (principalmente olivina, piroxênio e
plagioclásio), além de minerais metálicos intersticiais (sulfetos ou ligas de Fe e Ni) e,
mais raramente, compostos orgânicos (condritos carbonáceos). Os condritos são
interpretados como fragmentos de corpos primitivos menores da parte interna do sistema
solar que não chegaram a sofrer diferenciação química, preservando, portanto, suas
estruturas internas (côndrulos) e também sua composição originais (silicatos + minerais

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metálicos), com exceção dos elementos mais voláteis (H e He) que escaparam no
estágio precoce do sistema, ainda muito quente (1700 a 2000ºC). A estrutura condrítica
é a melhor evidência do processo de acresção gravitacional de partículas que teria
gerado os planatésimos e protoplanetas, precursores dos atuais planetas rochosos do
sistema solar.
Características: Primitivos não
Ordinários diferenciados. Idade entre 4,5 e 4,6 Ga.
(81 %) Possuem côndrulos, à exceção de
alguns condritos carbonáceos.
Condritos Composição: Minerais silicáticos
(86 %) (olivina, piroxênio, plagioclásio) e fases
Carbonáceos refratárias metálicas intersticiais (Fe-Ni)
Meteoritos (5 %) + matéria orgânica (carbonáceos).
Rochosos Proveniência: Corpos não
(95 %) diferenciados do cinturão de asteroides.
Características: Diferenciados. Idade: 4,4 a 4,6 Ga
Composição: Heterogênea, em muitos casos similar à
Acondritos dos basaltos terrestres. Minerais principais: Olivina,
(9 %) piroxênios e plagioclásio.
Proveniência: Corpos diferenciados (manto silicático)
do cinturão de asteroides, muitos da superfície da lua e
alguns da superfície de Marte.
Meteoritos
Ferro- Composição: Mistura de minerais silicáticos e metálicos (Fe-Ni).
pétreos Proveniência: Interior de corpos diferenciados do cinturão de
(Siderólitos) asteroides.
(1 %)
Meteoritos Composição: Minerais metálicos (Fe-Ni).
Metálicos
(Sideritos) Proveniência: Núcleo de corpos diferenciados do cinturão de
(4 %) asteroides.

Tabela 2.1- Classificação e características dos meteoritos.


Os meteoritos não condríticos (ou acondríticos) podem ser de três tipos seguintes:
acondritos rochosos, ferro-pétreos (ou siderólitos) e metálicos (ou sideritos). Os
acondritos rochosos são constituídos por minerais silicáticos (principalmente olivina,
piroxênio e plagioclásio), sem fases metálicas significativas e, em muitos casos, similares
a composição dos basaltos terrestres. Os meteoritos siderólitos são constituídos por
misturas de silicatos e minerais metálicos de Fe e Ni, enquanto que os sideritos são
basicamente constituídos por minerais metálicos de Fe e Ni (Fig. 2.1 b).
A composição metálica pura dos meteoritos sideríticos conduz à interpretação de
serem eles fragmentos do núcleo metálico de corpos maiores da parte interna do sistema
solar que atingiram dimensões suficientes para gerar calor interno capaz de causar fusão
interna e, consequentemente, diferenciação mecânica e química, com separação das
fases silicáticas e metálicas e destruição da estrutura condrítica original. Os corpos
diferenciados (maiores, com crosta, manto e núcleo) e não diferenciados (menores)
colidiram entre si produzindo fragmentos de objetos menores, como os atuais asteroides
e meteoritos de corpos diferenciados (metálicos e acondritos) e não diferenciados
(condritos), dos quais muitos acabaram, eventualmente, sendo capturados pelo campo

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gravitacional da Terra. Os meteoritos siderólitos correspondem a situações mais raras
nas quais os fragmentos de corpos diferenciados conteriam porções tanto do núcleo
metálico como do manto silicático.
a

b
Figura 2.1- Amostras de meteorito condrítico, Museu de história Natural, Nova York, EUA (a) e
de meteorito siderito de Coopertown, EUA (b).

2.3- TERREMOTOS
O calor interno da Terra provoca fusão de porções rochosas do interior terrestre
gerando magma que adquire mobilidade, podendo extravasar na superfície através dos
vulcões. Essa mobilidade magmática gera movimentos tectônicos que afetam não só os
continentes, mas toda a litosfera terrestre, gerando tensões que se acumulam em vários
pontos, principalmente ao longo das bordas das placas tectônicas. Quando essas
tensões atingem o limite de resistência das rochas ocorre uma ruptura repentina,
denominada falha geológica, gerando vibrações que se propagam em todas as direções,
fazendo a terra tremer Os terremotos ocorrem mais frequentemente no limite entre as
placas litosféricas (Fig. 2.2), mas podem ocorrer também no interior das placas, sem que
a falha atinja a superfície. O ponto onde se inicia a ruptura é denominado de hipocentro
ou foco, e sua projeção na superfície é o epicentro, sendo a profundidade focal a
distância hipocentro-epicentro (Fig. 2.3). O tamanho da área de ruptura é proporcional à
intensidade das vibrações e à magnitude dos terremotos que pode variar desde
pequenos abalos ou tremores de terra até os grandes eventos sísmicos destrutivos.
Quando ocorre uma ruptura na crosta terrestre, as vibrações sísmicas geradas se
propagam em todas as direções na forma de ondas. São essas ondas sísmicas que
causam danos nas proximidades do epicentro e que podem ser registradas por
sismógrafos em todo o mundo (Fig. 2.4).
As vibrações são causadas por dois tipos principais de ondas sísmicas seguintes:
Ondas longitudinais ou primárias (ondas P) que vibram na mesma direção de
propagação das ondas, tal como as ondas sonoras;
Ondas transversais ou secundárias (ondas S) que vibram perpendicularmente à
direção de propagação das ondas, tal como as ondas luminosas (Fig. 2.5).
As velocidades das ondas P e S dependem essencialmente do meio por onde elas
passam. Normalmente quanto maior a densidade de uma rocha maior será a velocidade
de propagação das ondas sísmicas (Fig. 2.6), sendo que as ondas P são mais rápidas
que as ondas S, razão pela qual são as primeiras (primárias) e as ondas S são as
segundas (secundárias) a chegar (P de primária e S de secundária). Além disso, as
ondas S só se propagam em meio líquido, enquanto que as ondas P se propagam tanto
em meio líquido quanto sólido.

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Figura 2.2- Sismicidade mundial mostrada em mapa de epicentros de sismos com magnitude 
5,0 no período 1964 a 1995. Fonte: Serviço Geológico americano.

Figura 2.3- Geração de um sismo por Figura 2.4- Registro na estação sismológica
acúmulo e liberação de esforços em uma de Valinhos-SP de um sismo ocorrido em
ruptura. As tensões compressivas (a) 23/11/97 na fronteira entre Argentina e
deformam as rochas (b), causando ruptura Bolívia, com magnitude 6,4 (a), mostrando o
nas mesmas que geram vibrações que se movimento do chão nas três dimensões
propagam em todas as direções (c) espaciais (b).

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Figura 2.5- Propagação das ondas
sísmicas: Onda longitudinal (P) com
vibração paralela à direção de propagação Figura 2.6- Velocidade de propagação das
(a). Onda transversal (S) com vibração ondas P para alguns materiais e rochas mais
perpendicular à direção de propagação (b). comuns.

Tal como qualquer outro fenômeno ondulatório, as ondas sísmicas sofrem


refração e reflexão quando passam para um meio de densidade diferente, obedecendo
a lei de Snell, segundo a qual quando um raio passa pela interface entre dois meios com
densidades diferentes, as razões entre os senos dos ângulos que os raios (refletidos e
refratados) fazem com a normal à interface e as velocidades dos raios, se mantém
constante (Fig. 2.7 a). Como consequência da lei de Snell, quando as ondas sísmicas
passam para um meio de maior densidade (e maior velocidade), o raio refratado se
afasta da normal à interface entre os dois meios (Fig. 2.7 b) e, ao contrário, quando as
ondas passam para um meio de menor densidade (e menor velocidade), o raio refratado
se aproxima da normal à interface (Fig. 2.7 c).

b c
a

Figura 2.7- Lei de Snell: quando um raio passa por uma interface entre dois meios de
densidades diferentes, as razões dos senos dos ângulos que os raios (refletido e refratado)
fazem com a normal à interface e as velocidades dos raios, se mantém constante (a). Raio
sísmico refratado passando para um meio de maior densidade, afastando-se da normal à
interface (b), e passando para um meio de menor densidade, aproximando-se da normal (c).

Em um meio litologicamente homogêneo (mesmo tipo de rocha), a velocidade das


ondas sísmicas aumenta progressivamente com a profundidade, por causa do aumento
da densidade provocada pelo aumento da pressão com a profundidade. Essa situação
equivale a uma sucessão infinita de camadas extremamente finas e de densidades
progressivamente maior com a profundidade, pelas quais as ondas sísmicas percorrem
uma trajetória curva, obedecendo a lei de Snell. Como os ângulos ( ) com a vertical são
progressivamente maiores, os raios sísmicos penetram até uma profundidade máxima e
depois voltam à superfície. No trajeto de volta os ângulos ( ) diminuem
progressivamente, já que os raios estão seguindo o trajeto inverso, com a densidade
progressivamente mais baixa (Fig. 2.8 a,b). No caso de haver uma descontinuidade
litológica no interior da Terra separando dois meios rochosos diferentes, de modo que o

13
meio inferior apresente menor velocidade das ondas sísmicas, o ângulo ( ) com a vertical
diminuirá e os raios sísmicos se aproximarão da normal à interface. Se apenas o raio
sísmico que mais se aprofundar atingir esta descontinuidade, ele se afastará muito em
relação aos outros raios, provocando uma interrupção na curva tempo-distância, por
causa do seu atraso, denominada “zona de sombra” na superfície (Fig. 2.8 c).

b c

Figura 2.8- Lei de Snell em uma sucessão de camadas, com aumento progressivo da densidade
com a profundidade, implicando em aumento progressivo da velocidade e do ângulo (com a
normal à interface (a). curva tempo-distância com a volta dos raios à superfície (b).
Descontinuidade litológica produzindo uma interrupção na curva tempo-distância denominada
“zona de sombra” entre os raios B e C (c).

2.4- ESTRUTURA INTERNA DA TERRA


Análises de milhares de terremotos durante muitas décadas permitiram construir
as curvas tempo-distância das ondas sísmicas refratadas e refletidas e deduzir as
principais propriedades físicas das rochas do interior da Terra, o que sustentou a
formulação de um modelo consistente da estrutura interna da Terra em três camadas
concêntricas (crosta, manto e núcleo), conforme as figuras 2.9 a 2.9 b. A crosta terrestre
é a camada mais externa e mais fina da Terra, havendo dois tipos de crosta: a continental
e a oceânica (Fig. 2.9 c). A espessura da crosta terrestre varia entre 5 km na crosta
oceânica até 70 km nos continentes e a velocidade das ondas P varia de 5,5 km/s na
crosta superior a 7 km/s na crosta inferior (Fig. 2.10a). A crosta continental é formada
principalmente por rochas graníticas, de densidade mais baixa (em torno de 2,7), com
espessura variando de 30 a 50 Km, podendo atingir até 70 Km sob as grandes cadeias
de montanhas. É constituída principalmente pelos elementos Si e Al, sendo referida, por
esta razão, como (Fig. 2.10 b). A crosta oceânica é formada por rochas basálticas,
de maior densidade (em torno de 3,0), que formam o fundo dos oceanos, com espessura
de 5 a 7 Km. É constituída principalmente pelos elementos Si e Mg, sendo referida, por
esta razão, como (Fig. 2.10 b).
O limite entre a crosta e o manto é marcado pela descontinuidade Moho (em
referência a Mohorovicic que a descobriu em 1910), caracterizada pelas mudanças
bruscas nas velocidades das ondas sísmicas (Fig. 2.10a). Abaixo da crosta, as
velocidades das ondas P e S e a densidade das rochas do manto aumentam
progressivamente até a descontinuidade de Gutenberg na profundidade de 2.900 km
(limite entre manto e núcleo). A velocidade das ondas P no manto aumentam de 8,0 km/s
a 13,8 km/s, e das ondas S de 4,4 a 7,3 km/s, enquanto que a densidade no manto
aumenta de 3,4 a 5,6 (Fig. 2.11a). O manto terrestre é subdividido em manto superior e
inferior, estando o manto superior situado abaixo da crosta terrestre, a partir da Moho,
até a profundidade de 670 Km (Fig. 2.9 b e 2.11a). Estudos detalhados no manto superior
mostraram que tanto a densidade como as velocidades das ondas sísmicas aumentam
14
com a profundidade, embora não de maneira contínua (Fig. 2.11a), indicando
heterogeneidade litológica, com alternância de camadas rígidas e dúcteis (Fig. 2.9 b).
Entre, aproximadamente 100 e 250 km de profundidade, há uma ligeira diminuição nas
velocidades sísmicas nessa parte do manto superior, especialmente sob os oceanos
(Fig. 2.10a), indicando uma diminuição na rigidez do material que deve estar
parcialmente fundido e, portanto, comportar-se plasticamente nesta parte do manto
denominada astenosfera ou “zona de baixa velocidade”. O limite inferior da astenosfera
não é bem definido, mas admite-se que pode chegar até 350Km de profundidade.

b
c

Figura 2.9- Modelo da estrutura interna da Terra, mostrando em (a) o raio da Terra e as
dimensões do manto e núcleo. Em (b), as três camadas do interior terrestre (crosta, manto e
núcleo) à esquerda e as três descontinuidades sísmicas (Moho, Gutenberg e Lehmann), os seus
descobridores e o ano da descoberta, à direita. Em (c), detalhe da porção mais superficial,
mostrando as relações entre crosta, litosfera e astenosfera.

a
b

Figura 2.10- Variação da velocidade das ondas P na crosta e no manto superior, mostrando a
descontinuidade de Moho, a litosfera e a astenosfera (a). Litosfera (crosta + manto litosférico)
flutuando na astenosfera pouco rígida (b).
15
a b

Figura 2.11- Variações das velocidades das ondas P (V P) e S (VS) e densidade (ρ) no interior
da Terra, mostrando as descontinuidades entre manto superior e inferior, núcleo externo e
interno (a). Zona de sombra entre 103 e 142 de latitude, definida pela refração das ondas P
ao passar pela descontinuidade de Gutenberg, entre o manto e o núcleo externo (b).

A crosta terrestre, juntamente com a parte do manto rígido acima da astenosfera


(manto litosférico), forma a camada externa mais dura e rígida da Terra, chamada
litosfera, a verdadeira casca de nosso planeta, com espessura em torno de 100Km e
que, pode-se dizer, flutua na astenosfera pouco rígida (Fig. 2.10b). Essa situação
possibilita que a litosfera se ajuste na astenosfera, por soerguimento ou subsidência, em
decorrência, respectivamente, de perda de massa (por exemplo erosão, degelo) ou
ganho de massa (por exemplo derrames basálticos, coberturas de gelo). Esse
mecanismo, denominado de isostasia, é baseado no princípio de equilíbrio hidrostático
de Arquimedes, pelo qual um corpo flutuante desloca uma quantidade de água
equivalente ao volume do corpo submerso. Existem dois tipos de litosfera (Fig. 2.10 b):
litosfera continental (crosta continental + manto litosférico) e litosfera oceânica (crosta
oceânica + manto litosférico). Admite-se que o manto superior seja constituído por rochas
ultramáficas (peridotitos) compostas por silicatos de Mg e Fe (olivinas e piroxênios),
formados em temperatura de até 3.400C, semelhantes aos meteoritos rochosos
acondríticos, considerados como porções mantélicas de corpos diferenciados da parte
interna do sistema solar.
O limite entre o manto superior e inferior, em torno de 670 Km (Fig. 2.9 b e 2.11a),
é marcado por uma mudança no comportamento da densidade e da velocidade das
ondas sísmicas. Até 670 Km (manto superior), tanto a densidade como a velocidade das
ondas sísmicas aumentam com a profundidade, mas de modo oscilante entre altos e
baixos (Fig. 2.11a). A partir de 670 Km, no entanto, o aumento tanto da densidade como
das velocidades das ondas sísmicas é contínuo e linear. A velocidade das ondas P
aumentam de 10,8 para 13,8 Km/s e das ondas S de 6 para 7,3 Km/s, enquanto que a
densidade aumenta de 4,4 para 5,6 até a descontinuidade de Gutenberg, na
profundidade de 2.900 Km, limite entre o manto e o núcleo (Fig. 2.9 b e 2.11a). Esse
comportamento é compatível com certa homogeneidade na composição litológica do
manto inferior, formado provavelmente também por rochas ultramáficas de alta pressão,
com temperaturas de até 4.000C.
A descontinuidade de Gutenberg é caracterizada pela interrupção das ondas S,
brusco aumento de densidade e diminuição na velocidade das ondas P que causa uma
interrupção na curva tempo-distância, definindo uma zona de sombra (Fig. 2.11a e b).
Abaixo da descontinuidade de Gutenberg, as velocidades das ondas P aumentam
progressivamente de 8,1 (em 2.900 km) até 10,4 km/s na profundidade de 5.150 km,
16
intervalo denominado de núcleo externo, onde as ondas S não se propagam, o que indica
o estado líquido (ou quase líquido) do material e justifica a menor velocidade das ondas
P em relação ao manto (Fig. 2.11a), apesar da maior densidade do núcleo externo (10
a 12,2), e temperatura em torno de 4.000C. Dentro do núcleo existe um caroço central
denominado núcleo interno, caracterizado por um pequeno, porém brusco, aumento nas
velocidades das ondas P (de 10,4 para 11,0 Km/s) e na densidade (de 12,2 para 12,9),
a partir de 5.150 km, que marca a descontinuidade descoberta por I. Lehmann em 1936
(Fig. 9 b e 11a). No núcleo interno as ondas S voltam a se propagar com velocidade
muito baixa (3,6 km/s), o que caracteriza seu estado sólido (Fig. 11a). Estas
características de velocidades sísmicas baixas e densidades altas indicam que o núcleo
da Terra é constituído predominantemente por ferro e níquel (Nife), com densidade em
torno de 12 e temperatura acima de 4.000C, semelhante às composições de meteoritos
sideríticos, considerados como porções de núcleos de corpos diferenciados da parte
interna do sistema solar.
2.5- CAMPOS GRAVITACIONAL E MAGNÉTICO DA TERRA
2.5.1- Campo Gravitacional da Terra
A gravitação é uma propriedade fundamental da matéria que se manifesta em
qualquer escala de grandeza, desde a atômica até a cósmica. No final do século 17,
Newton a definiu como uma força de atração, cuja intensidade é proporcional ao produto
das massas dos corpos e inversamente proporcional ao quadrado da distância que os
separa, de acordo com a equação seguinte:
m1  m2 Sendo m1 e m2 = massa dos corpos 1 e 2 respectivamente
F =G 2
Dd G = constante de gravitação universal, e d = distância entre 1 e 2
A gravidade é uma força fraca que só é perceptível em corpos de dimensão
planetária, como a Terra, que criam um campo gravitacional ao seu redor com
intensidade significativa (proporcional a sua massa) e igual em todas as direções
(isotrópico). Qualquer objeto na Terra está sujeito, portanto, à ação da força da gravidade
cuja aceleração (ag) aponta para o centro da Terra e sua intensidade depende apenas
da distância do objeto ao centro da Terra (igual ao raio da Terra se o objeto estiver na
superfície) e da massa da Terra, conforme demonstrado a seguir:
mT  mOb F mT  mOb mT
F =G F = a g  mOb  a g =  a g = G  a g = G
Dd
2 mOb d 2  mOb d2
Sendo mT = massa da Terra, e mOb = massa do objeto
A intensidade da força de atração gravitacional que afeta os objetos na Terra seria
igual ao valor acima se a Terra não tivesse movimento de rotação. Entretanto, como a
Terra está em rotação em torno de seu eixo, qualquer ponto de seu interior ou de sua
superfície sofre o efeito da aceleração centrífuga (ac), com direção perpendicular ao eixo
de rotação e intensidade diretamente proporcional à distância até este eixo. Desse modo,
os únicos locais onde não há aceleração centrífuga (a c = 0) são os polos geográficos da
Terra, pois estão situados sobre o eixo de rotação. Todos os outros pontos da Terra
sofrem uma aceleração centrífuga, atingindo valores máximos na linha do equador, onde
a distância para o eixo de rotação é máxima (Fig. 2.12). Ou seja, enquanto a aceleração
do campo gravitacional (ag) possui intensidade aproximadamente constante e direção
variável (radial), a aceleração centrífuga (a c), ao contrário, possui direção constante
(perpendicular ao eixo de rotação) e intensidade variável, dependendo da latitude. A
soma vetorial da aceleração gravitacional (ag) e da aceleração centrífuga (ac) é
denominada gravidade (g), cujo intensidade é: g = ag + ac.

17
Tanto a direção como a intensidade de (g) variam conforme a posição sobre a
superfície terrestre. Como a intensidade da aceleração gravitacional (ag) é maior que da
aceleração centrífuga (ac) e os dois vetores componentes possuem sentidos opostos, a
somatória deles será igual à diferença entre os módulos de (a g) e (ac), cuja resultante (g)
é normalmente menor que (ag). Os polos geográficos são os únicos pontos da superfície
terrestre onde g = ag , já que nestes pontos a componente centrífuga é nula (a c = 0) e a
gravidade (g) possui valor máximo. A intensidade de (g) diminui dos polos em direção ao
Equador, onde atinge o valor mínimo, acompanhando o aumento gradual da intensidade
de ac em direção ao Equador. Se a velocidade de rotação da Terra fosse aumentada a
ponto de ac ficar maior que ag (g negativa), poderíamos ser atirados para fora da Terra.

Figura 2.12- Gravidade terrestre (g) igual à soma


da aceleração da gravidade (a g) com a aceleração
centrífuga (ac)  g = ag + ac

O valor médio da gravidade (g) na superfície terrestre é aproximadamente


9,80 m/s2 ou 980 Gal (Galileu = 1cm/s2), com uma diferença de 5,3 Gal entre o valor
mínimo (no equador) e o valor máximo (nos polos), o que representa uma variação
pequena, em torno de 0,5 %. Esta situação (gravidade máxima nos polos e mínima no
equador) explica porque um objeto é levemente mais pesado nas maiores latitudes que
nas latitudes baixas, tendo peso máximo nos polos e mínimo no equador. Explica
também a razão do achatamento da Terra nos polos, pois o efeito maior da gravidade
polar ao longo da história geológica da Terra, resultou em um raio polar menor (R P =
6357 km) que o raio equatorial (RE = 6378 km), com uma diferença de 21 km. O grau de
achatamento da Terra (f) é pequeno e pode ser medido pela equação:
RE ( RP , 6378 ( 6357
f= onde f =  f = 0,003 (0,3%)
DRE 6378
O campo gravitacional da Terra associa, portanto, a cada ponto da sua superfície
um vetor de aceleração da gravidade (g), caracterizado por sua intensidade (módulo de
g) e sua direção denominada vertical. O campo da geofísica que estuda a gravidade é
denominado gravimetria e gravímetros são equipamentos que medem a gravidade.
Denomina-se anomalia magnética para um valor da gravidade diferente (maior ou menor)
do valor esperado de um determinado ponto ou área da superfície terrestre, denominado
background. Anomalias gravimétricas negativas são causadas por rochas com
densidade relativamente baixa em contato com rochas de maior densidade existentes no
18
substrato. Por exemplo, cadeias de montanhas, com raízes profundas, constituídas por
rochas com densidade relativamente baixa, ou corpos rochosos intrusivos de baixa
densidade, como domos de sal (Fig. 2.13 a). As anomalias gravimétricas positivas são
causadas pela presença de materiais com densidade relativamente alta, na superfície ou
em profundidade como, por exemplo, rochas máficas (mais densas) em contato com
rochas sedimentares (Fig. 2.13 b). Depósitos de minerais metálicos de alta densidade,
em subsuperfície, também produzem anomalias gravimétricas positivas e podem ser
localizados através de levantamentos gravimétricos de detalhe.

a b

Anomalia negativa
de gravidade

Figura 2.13- Anomalias gravimétricas: negativa, causada pelo granito Tourão, no Rio Grande
do Norte (a) e positiva, causada pelas rochas basálticas da bacia do Paraná (b).

2.5.2- Campo Magnético da Terra


A bússola, como instrumento de orientação, já era utilizada pelos chineses por
volta de 1.100 DC, a quem é atribuída a descoberta do magnetismo terrestre. Mas foi
somente no século seguinte, em 1.269, que o francês Pierre Pelerin de Maricourt realizou
as primeiras investigações científicas desta propriedade física da Terra. Maricourt
observou que aproximando pequenos ímãs a uma amostra esférica de magnetita (óxido
de ferro magnético), eles orientavam-se segundo linhas que circundavam a esfera e
interceptavam-se em dois pontos opostos, da mesma forma que as linhas de longitude
sobre a Terra interceptam-se nos polos geográficos do planeta. Por analogia, Maricourt
denominou os dois pontos de polos do ímã. O inglês William Gilbert reconheceu que a
Terra era um imenso ímã semelhante a uma esfera de magnetita e reuniu todo o
conhecimento da época sobre o magnetismo na obra De Magnete publicada em 1.600.
Entretanto, medidas sistemáticas da intensidade do campo geomagnético começaram a
ser obtidas somente a partir de 1838, pelo físico alemão Carl Friedrich Gauss que
concluiu que 95 % do campo magnético terrestre origina-se no interior do planeta e
somente uma pequena parte restante provém de fontes externas.
A partir da constatação de Gilbert de que o campo magnético terrestre é
semelhante à de uma esfera de magnetita com campo dipolar, como o de um ímã de
barra denominado de dipolo, pode-se imaginar a Terra como uma esfera uniformemente
magnetizada, no centro da qual existe um dipolo com linhas de força que emergem do
polo sul para o polo norte (Fig. 2.14). Os polos magnéticos da Terra estão localizados

19
aproximadamente a 78 N 104 W (polo norte) e
65 S 139 E (polo sul) e, portanto, não são
diametralmente simétricos. Por esta razão o eixo do
dipolo magnético terrestre está deslocado 490 km
do centro da Terra e faz um ângulo de 11,5 com o
eixo de rotação da Terra, sendo denominado de
dipolo excêntrico.

Figura 2.14- Campo magnético dipolar da Terra, com


linhas de força do polo sul para o polo norte, cujo eixo
faz um ângulo de 11,5º com o eixo de rotação do
planeta e está um pouco afastado do centro da Terra.
Como o eixo magnético e o eixo de rotação da Terra não são coincidentes e nem
paralelos, a agulha de uma bússola não aponta diretamente para o norte geográfico,
fazendo normalmente um ângulo com a direção norte-sul, denominado declinação
magnética, fato que já era conhecido dos grandes navegadores desde o século 16. O
valor da declinação magnética (D) depende do local do observador em relação aos polos
geográfico e magnético e varia também com o tempo. A única situação na qual a agulha
da bússola aponta diretamente para o norte geográfico é quando não há declinação
magnética (D = 0), o que somente ocorre quando o ponto de observação está alinhado
no mesmo meridiano com os polos geográfico e magnético (Fig. 2.15). Se a agulha da
bússola desvia para leste (à direita) do norte geográfico, a declinação é considerada
positiva e se desvia para oeste (à esquerda), a declinação é negativa (Fig. 2.15).
Como a agulha da bússola acompanha as linhas de força do campo magnético
terrestre, ela normalmente não se mantém em posição horizontal, de tal forma que a
extremidade norte da agulha inclina-se para baixo no hemisfério norte e para cima no
hemisfério sul. O ângulo que a agulha faz com o plano horizontal é chamado de
inclinação magnética (Fig. 2.16). A inclinação magnética (I) varia de zero no equador
magnético, onde as linhas de força são paralelas à superfície, a 90 nos polos
magnéticos, onde as linhas de força são verticais.

Positiva

Negativa

Figura 2.15- Posição do polo norte geográfico e do polo norte magnético, mostrando duas
situações de declinação positiva (direção do norte magnético a leste do norte geográfico), duas
situações de declinação negativa (direção do norte magnético a oeste do norte geográfico) e
uma situação sem declinação magnética (D = 0).

20
Figura 2.16- Representação vetorial do campo
geomagnético (vetor F), mostrando as componentes
horizontal (FH) e vertical (FV), a declinação (D) e
inclinação (I) magnéticas.
F = FH + FV
2 2
F = (FH + FV )½ FH = (x 2 + y 2)½
2
F = (x 2 + y 2 + FV )½
tgD = y/x  D = arctg(y/x)
tgI = FV /FH  I = arctg(FV /FH)

O campo magnético terrestre pode ser representado como um vetor, cuja direção
e intensidade variam no espaço e no tempo (Fig. 2.16). A direção do campo magnético
é definida pela declinação (D) e inclinação (I) magnéticas e a intensidade corresponde
ao módulo do vetor F, cujas componentes horizontal e vertical são respectivamente F H
e FV. No equador magnético, onde I = 0, a componente vertical do campo magnético é
zero (FV = 0) e, portanto, F = FH, ao passo que nos polos magnéticos, onde I = 90 , a
componente horizontal é zero (F H = 0) e, portanto, F = FV.
A intensidade do campo geomagnético é baixa e varia com a localização
geográfica, sendo mínima próxima do equador magnético e aumenta em direção aos
polos magnéticos, atingindo 60.000 nT no polo magnético norte e 70.000 nT no polo
magnético sul, sendo Tesla (T) uma unidade de campo magnético e 1 nano Tesla
(nT) = 10 9 T. Além disso, a intensidade do campo magnético também varia lentamente
com o tempo (variações seculares), cuja origem está relacionada aos processos
geradores do campo geomagnético no núcleo da Terra. Os polos magnéticos se
deslocam a uma velocidade média de 0,2 por ano ao redor dos polos geográficos,
percorrendo uma trajetória irregular, porém normalmente sem se afastar mais do que 30
do polo geográfico e levam milhares de anos para dar uma volta completa de 360 ao
redor dos polos geográficos. Desse modo, tanto a declinação como a inclinação
magnética de um local varia continuamente com o tempo, aumentando ou diminuindo.
Como a declinação define a direção do campo magnético na superfície terrestre há
necessidade de correção deste valor a cada 5 anos aproximadamente.
Apesar de fraco, o campo geomagnético, denominado magnetosfera, ocupa um
volume muito grande, com suas linhas de força estendendo-se a distâncias 10 a 13 vezes
o raio da Terra. A magnetosfera exibe uma forma assimétrica em relação à Terra,
assemelhando-se a uma gota com cauda comprida (Fig. 2.17), como consequência
principalmente do movimento de partículas emitidas pelo Sol (núcleo de átomos
sobretudo H e elétrons), denominado vento solar que flui a uma velocidade de 300 a
500 km/s. Próximo à Terra, o vento solar comprime o campo geomagnético no lado
iluminado pelo Sol, de tal modo que no lado não iluminado (noite) as linhas de força não
sofrem pressão do vento solar e estendem-se a distâncias maiores que 2.000 vezes o
raio da Terra, alcançando a lua.
O campo geomagnético exerce um papel importante de blindagem ao vento e
erupções solares, impedindo que as partículas mais energéticas atinjam a superfície
terrestre, causando danos à biosfera. Entretanto, nas regiões polares as partículas e
radiações solares penetram facilmente até a atmosfera superior (ionosfera inferior),
conduzidas pelas próprias linhas de força posicionadas verticalmente à superfície da

21
Terra. A ionosfera, por ser eletricamente condutora, é utilizada na radiocomunicação.
Quando esta parte da atmosfera é invadida por um fluxo de radiação solar mais intenso
(tempestades magnéticas) pode provocar interrupções ou interferências na comunicação
de rádio. Uma tempestade magnética ocorre em geral um dia após o aparecimento das
chamas solares (grandes emissões luminosas na região mais externa do Sol). Um dos
fenômenos luminosos mais intensos e fascinantes no céu, denominado de aurora boreal
e austral, observado nas regiões polares norte e sul respectivamente, pode ocorrer
durante uma tempestade magnética. A aurora aparece como uma cortina luminosa de
cor esverdeada ou rósea, com a borda inferior a cerca de 100 km de altura e a superior
em torno de 1.000 km (Fig. 2.18).

Figura 2.17- Representação esquemática da


magnetosfera e a ação do vento solar sobre Figura 2.18- Fotografia de uma aurora boreal.
as linhas de força do campo geomagnético.

A distribuição do campo geomagnético sobre a superfície da Terra pode ser


observada em cartas isomagnéticas, ou seja, mapas com linhas que unem pontos com
o mesmo valor de um determinado parâmetro magnético, como a intensidade do campo
geomagnético (Fig. 2.19) ou a declinação magnética. Em escala global, essas cartas
geomagnéticas não mostram relação alguma com as principais feições geológicas e
geográficas do planeta, como continentes, oceanos, cadeias de montanhas, indicando
que a origem do campo geomagnético deve necessariamente ser profunda. Se o campo
magnético terrestre fosse um simples dipolo geocêntrico, as linhas de mesmo valor de
intensidade total seriam paralelas ao equador magnético do dipolo que se tornariam
progressivamente mais curvas ao aproximar-se dos polos. Entretanto, no mapa da
intensidade do campo geomagnético (Fig. 2.19) observa-se linhas com curvatura
variável, indicando que o campo magnético terrestre é mais complexo que o campo de
um dipolo geocêntrico perfeito. Essas variações na curvatura das linhas geomagnéticas
são devidas a valores anormais do campo geomagnético, denominados de anomalias
geomagnéticas. Essas anomalias são evidenciadas normalmente em cartas
geomagnéticas mais detalhadas que podem mostrar valores diferentes da média da
região (background), podendo ser acima (anomalia positiva) ou abaixo (anomalia
negativa) do background (Fig. 2.20). Anomalias positivas podem estar relacionadas a
concentrações de minerais magnéticos em rochas, como jazidas de ferro, ou correntes
elétricas fracas na crosta ou nos oceanos. A busca e interpretação de anomalias
magnéticas são a base do método magnético em prospecção geofísica.
As características do campo geomagnético descritas acima indicam que sua
origem é profunda, mas o que poderia causar esse magnetismo? Os dados sísmicos do
interior da Terra combinados com as hipóteses da origem do sistema solar indicam a
existência de um núcleo metálico, composto de ferro e níquel, com raio de 3.470 km
(tamanho aproximado do planeta Marte), constituído de um núcleo interno sólido, com

22
raio de 1.220 km, e um núcleo externo fluido. Embora não haja divergência quanto ao
estado dinâmico do núcleo externo e que esse movimento gera corrente elétrica que, por
sua vez, induz um campo magnético, sua fonte de energia e como esse movimento pode
gerar um campo magnético, estão ainda em discussão. Entretanto, a maioria dos autores
converge para uma hipótese pela qual o núcleo atua como uma espécie de dínamo
autossustentável, capaz de converter energia mecânica em energia elétrica, sustentada
pela combinação de dados teóricos e experimentais e sugerida inicialmente por Bullard
e Elsasser no início da década de 1950 do século passado. O dínamo magnético da
Terra pode ter sido induzido por um campo magnético externo, como o próprio campo
do sistema solar, após o que continuou produzindo o seu próprio campo magnético sem
suprimento de energia externa.

Figura 2.19- Mapa de intensidade total do campo geomagnético em milhares de nT.

Figura 2.20- Anomalia magnética positiva de


intensidade total do campo geomagnético,
gerada por concentração de minerais
magnéticos em corpo ígneo na região de
Juquiá-SP.

As diferenças de temperatura do núcleo fluido, entre o seu interior, próximo do


núcleo interno (maiores temperaturas), e a sua periferia, próximo do manto (menores
temperaturas), provoca movimento de convecção de fases menos densas profundas
para a periferia mais fria do núcleo. Além disso, o movimento de rotação da Terra provoca
uma força no fluido do núcleo (força de coriolis) com direção perpendicular ao seu
movimento convectivo. A combinação entre o movimento convectivo e a força de coriolis
resulta em um movimento espiral autossustentável do material fluido e condutor do

23
núcleo, em direção a sua periferia (Fig. 2.21), que gera um campo magnético dipolar cujo
eixo é aproximadamente paralelo ao eixo de rotação da Terra.

Figura 2.21- Movimento do fluido


condutor do núcleo externo e geração do
campo magnético dipolar, indicado pelas
linhas de força, com eixo quase paralelo
ao eixo de rotação da Terra.

Os dados obtidos do campo geomagnético atual da Terra remontam apenas há


alguns séculos atrás que é um intervalo de tempo muito curto em relação à história
geológica da Terra. Como obter, então, dados sobre o campo geomagnético passado da
Terra. Terá ele tido sempre o mesmo padrão do atual? Terá ele sempre existido?
Questões como essas só puderam ser respondidas a partir da metade do século passado
quando se verificou que a história magnética da Terra não se perde completamente, pois
fica registrada como um magnetismo fóssil nas rochas. Alguns minerais magnéticos de
ferro se alinham ao campo magnético terrestre no momento de sua cristalização
juntamente com a rocha que os contém. A magnetita (Fe 3O4) e a pirrotita (Fe1 xS) são
minerais magnéticos naturais, enquanto que a hematita (Fe 2O3) e ilmenita (FeTiO3) são
minerais originalmente não magnéticos que são magnetizados permanentemente pelo
campo geomagnético, sendo que todos eles se alinham ao campo magnético terrestre.
A intensidade da magnetização das rochas é normalmente fraca, mas fica preservada
ao longo do tempo como uma magnetização remanescente, mesmo que a rocha sofra
transformações e deformações após a sua formação. Além disso, eventuais mudanças
futuras no campo geomagnético não mais afetarão o alinhamento dos minerais
magnéticos que foram cristalizados na época de formação da rocha. A intensidade e a
direção da magnetização remanescente das
rochas são determinadas por instrumentos
sensíveis (magnetômetros) para tentar
reconstruir o passado magnético da Terra,
campo de estudo da geofísica denominado
paleomagnetismo. Com a determinação da
declinação e inclinação magnéticas
remanescentes de uma rocha pode-se
determinar a posição do polo magnético
correspondente (Fig. 2.22)

Figura 2.22- Vetor do campo magnético de uma


rocha (seta), definido pelos ângulos de
declinação (D) e inclinação (I) e a posição do
polo paleomagnético (P) correspondente.

24
As pesquisas paleomagnéticas indicam que a Terra tem mantido um campo
magnético significativo há pelos menos 2,7 bilhões de anos. Entretanto, os dados
paleomagnéticos associados com datações radiométricas das rochas indicam
claramente que houve no passado vários períodos com polaridade magnética inversa à
do campo geomagnético atual, ou seja, com linhas de força que emergem do polo norte
e convergem para o polo sul. Para se interpretar que as inversões da polaridade
magnética em algumas rochas estejam refletindo a inversão da polaridade geomagnética
do planeta e não alguma especificidade daquelas rochas, as inversões teriam que ser
confirmadas nas rochas de todos os continentes. Dados paleomagnéticos sistemáticos
de várias regiões da Terra, obtidos na década de 1960, permitiram elaborar uma escala
com os dados normais e inversos destas regiões, confirmando as inversões de
polaridade geomagnética do planeta (Fig. 2.23). Estes dados mostram que o campo
geomagnético permanece com uma determinada polaridade durante intervalos variáveis,
em torno de 100 mil a 10 milhões de anos, e para completar uma transição de polaridade
são necessários 1.000 a 10.000 anos.

a b

Figura 2.23- Escala de inversões da polaridade do campo geomagnético


nos últimos 80 milhões de anos (a). À direita, detalhe da coluna,
mostrando épocas de polaridade normal ou inversa ocorridas nos
últimos 4,5 milhões de anos que receberam nomes especiais (b). Faixas
escuras representam polaridade normal e faixas claras polaridade
inversa. Notar que a polaridade normal atual já dura 700 mil anos.

O paleomagnetismo contribuiu não só para a reconstituição da história do campo


magnético da Terra, como também para a retomada das ideias sobre a deriva
continental, formuladas por Alfred Wegner no início do século 20, e só reconsiderada 40
anos depois apoiada pelas evidências geofísicas, tais como dados sísmicos do interior
da terra, dados paleomagnéticos e datações geocronológicas das rochas basálticas do
fundo dos oceanos.

25
3.1- INTRODUÇÃO: A teoria da deriva continental
Apesar da aparente quietude que normalmente sentimos, a Terra é um planeta
dinâmico. Se fosse fotografada do espaço a cada século, desde a sua formação, para
formar um filme, o que veríamos seria um planeta azul com seus continentes se
movimentando, ora colidindo, ora se afastando entre si, em uma espécie de dança dos
continentes. As ideias de que os continentes nem sempre estiveram onde estão
nasceram quando surgiram os primeiros mapas das linhas das costas atlânticas da
América do Sul e África. Em 1.620, o filósofo inglês Francis Bacon foi o pioneiro em
considerar a hipótese de que a América do Sul e África estiveram unidas no passado,
com base no quase perfeito encaixe entre suas linhas de costa.
Mas foi somente no início do século 20 que o geógrafo
e meteorologista alemão Alfred Wegner (1890-1930, Fig. 3.1)
estabeleceu, com bases mais científicas, a teoria da deriva
continental, segundo a qual todos os continentes estiveram
unidos no passado, formando um único supercontinente,
denominado de Pangeia (Pan significa todo e Geia Terra, em
grego). Poucas ideias no meio científico foram tão fantásticas
e impactantes como essa. De acordo com essa teoria,
apresentada em 1912 por Wegner, a fragmentação da Pangeia
começou por volta de 220 milhões de anos (Ma) atrás, no
período Triássico, quando a Terra era habitada por
A fred Wegner dinossauros, e teria prosseguido até o presente tempo. A
Pangeia teria iniciado sua fragmentação dividindo-se em dois
continentes, a Laurásia, no hemisfério norte, e a Gondwana, no hemisfério sul, que
ficaram separados pelo mar de Tethys (Fig. 3.2).

Figura 3.2- Pangeia e sua divisão em dois


continentes, Laurásia (à norte) e Gondwana
(à sul), separados pelo mar de Tethys.

Para fundamentar sua teoria, Wegner procurou evidências que a comprovassem,


além da coincidência entre as linhas de costa atuais dos continentes. Ele identificou
algumas feições geomorfológicas, como a cadeia de montanha da Serra do Cabo, na
África do Sul, de direção E-W, que seria a continuação da Sierra de La Ventana, na
Argentina, com mesma direção, e um planalto na Costa do Marfim, na África, que teria
continuidade no Brasil. Nessas feições geomorfológicas havia também semelhanças
litológicas e paleontológicas (Fig. 3.3). Identificou também Fósseis de glossopteris (um
tipo de arbusto) em regiões da África e Brasil que se correlacionam perfeitamente quando
se unem os dois continentes. Evidências de glaciação (rochas sedimentares glaciais com
estrias que indicam o movimento das geleiras), de idade em torno de 300 Ma, na região
sudeste do Brasil, sul da África, Índia, oeste da Austrália e Antártica, estariam indicando
uma glaciação extensa, afetando grande parte do hemisfério sul, sem evidências
semelhantes no hemisfério norte, um aparente paradoxo climático. A ideia da existência
de um supercontinente, há cerca de 300 Ma, oferece uma melhor explicação para os
registros de glaciação, pois neste caso as regiões glaciais estariam localizadas em uma
calota polar no sul do planeta, tal como ocorre atualmente (Fig. 3.4).
26
Figura 3.3 - Correlações geológicas de
unidades litológicas e morfológicas antigas
(pré-separação da Pangeia) entre América do
Norte e Europa e entre América do Sul e
África, reconhecidas por Wegner.

a b
Figura 3.4- Distribuição atual das evidências geológicas de existência de geleiras há 300 Ma,
mostrando a direção de movimento das geleiras (setas), com base nas estrias (a). Ensaio de
como seria a distribuição das geleiras se os continentes estivessem unidos, mostrando que elas
estariam reunidas em uma calota polar no hemisfério sul (b).

Em 1915, Wegner reuniu todas as evidências que encontrou para justificar a teoria
da deriva continental em um livro denominado “A origem dos continentes e oceanos”.
Wegner influenciou muitos cientistas com a sua teoria, mas não conseguiu responder
questões fundamentais formuladas principalmente pelos geofísicos, como, por exemplo:
Que forças seriam capazes de mover os imensos blocos continentais? Como uma crosta
continental rígida deslizaria sobre outra crosta rígida, como a oceânica, sem que fossem
fragmentadas pelo atrito? Naquela época a astenosfera plástica, sob a crosta
continental, ainda não era conhecida, o que impediu Wegner de explicar e justificar
fisicamente sua teoria que não obteve respaldo de grande parte do meio científico. Após
a morte de Wegner, em 1930, a teoria da deriva continental caiu no esquecimento, só
sendo retomada na década de 1950, com novos dados sobre o fundo dos oceanos.

27
3.2- TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS
Ao contrário do que muitos cientistas imaginavam, a chave para explicar a
dinâmica da Terra não se encontrava nas rochas continentais, mas sim no fundo dos
oceanos. Na década de 1940, devido as necessidades militares de localizar submarinos
durante a segunda guerra mundial, foram desenvolvidos equipamentos, como os
sonares, para mapear detalhadamente o relevo do fundo oceânico. Os mapas revelaram
um relevo muito acidentado, com cadeias de montanhas, fossas e fendas muito
profundas, bem diferente da planície monótona com alguns picos e planaltos isolados
que se imaginava para o fundo dos mares.
No final da década de 1940, pesquisadores das universidades de Columbia e
Princeton (EUA) iniciaram o trabalho de mapeamento do fundo do oceano Atlântico com
sonares mais sofisticados e coletas de amostras. A conclusão do trabalho, já na década
de 1950, revelou uma enorme cadeia de montanha submarina, denominada dorsal ou
cadeia meso-oceânica, que estende-se continuamente, ao longo da parte central do
oceano Atlântico, por 84.000Km, com largura média de 1.000Km (Fig. 3.5). Foi
constatado que a cadeia meso-oceânica é uma zona de forte atividade sísmica e
vulcânica, com fluxo térmico mais elevado que nas rochas adjacentes da crosta
oceânica. No eixo central desta cadeia de montanha foram identificados vales, com 1 a
3Km de profundidade, associados a sistemas de riftes, indicando um regime de forças
distensivas. A dorsal meso-oceânica divide a crosta submarina em duas partes (à leste
e à oeste da dorsal), praticamente acompanhando a direção das linhas de costas da
América (à oeste) e da África e Europa (à leste). Desse modo, o eixo central da dorsal
meso-oceânica poderia representar a ruptura ou a cicatriz produzida durante a
separação dos continentes (Fig. 3.5).

Figura 3.5- Dorsal


Mesoatlântica que divide
o oceano Atlântico em
duas partes (leste e
oeste). Pontos pretos
são focos de terremotos.

28
O advento dos métodos geocronológicos de datação absoluta, no final da década
de 1950, mostrou que, novamente, ao contrário do se imaginava, a crosta oceânica não
era constituída pelas rochas mais antigas do planeta, mas, ao contrário, é formada por
rochas muito jovens (até 200 Ma). A distribuição das idades revelou um padrão no qual
faixas de rochas de mesma idade situam-se simetricamente nos dois lados da dorsal
meso-oceânica, com as idades mais jovens mais próximas à dorsal (Fig. 3.6).

Figura 3.6- Distribuição das idades geocronológicas das rochas do fundo do oceano Atlântico
norte, mostrando as idades mais jovens próximas à dorsal meso-oceânica (linha vermelha).

Estudos de paleomagnetismo das rochas também contribuíram para uma melhor


compreensão da dinâmica da crosta continental. Se os continentes não se movem,
rochas da mesma idade de qualquer parte do planeta, teoricamente, devem indicar a
mesma localização para os polos magnéticos. Entretanto, a magnetização remanescente
de rochas antigas de mesma idade, provenientes de continentes distintos, indicam
frequentemente polos magnéticos diferentes. Como só existem dois polos (norte e sul),
a melhor intepretação para estes dados paleomagnéticos é que os continentes devem
ter se movido em relação aos outros e em relação aos polos magnéticos, ou seja, os
polos foram obtidos em rochas que modificaram de posição e, portanto, não
correspondem à verdadeira posição dos polos paleomagnéticos na época de formação
das respectivas rochas. As mudanças de posição dos polos magnéticos terrestre ao
longo do tempo são obtidas por meio de dados paleomagnéticos em diferentes
continentes e em períodos geológicos consecutivos. As posições dos polos em cada
período são interligadas para obter a curva de deriva polar (Fig. 3.7). Por exemplo, as
curvas de deriva polar para a América do Sul e África indicam que até 200 Ma atrás os
dois continentes estavam unidos e começaram a divergir entre 200 e 130 Ma. Ou seja, a
deriva polar, na verdade, estaria indicando movimentos relativos e divergentes entre os
dois continentes e não a movimentação do eixo polar magnético.
As pesquisas paleomagnéticas nas rochas da crosta oceânica feitas por navios
oceanográficos revelaram um padrão de anomalias magnéticas lineares, diferente de
qualquer padrão conhecido nos continentes, formado por faixas alternadas de polaridade
normal e inversa, dispostas simetricamente em relação à cadeia meso-oceânica que
ficou conhecido como padrão zebrado (Fig. 3.8). Vine & Mathews propuseram, em 1963,
que o padrão zebrado era consequência da expansão do assoalho oceânico e das
reversões de polaridade do campo geomagnético que teriam ocorrido durante o processo
de expansão. O material basáltico fundido que forma a crosta oceânica ascende do
manto através da cadeia meso-oceânica e quando cristaliza no fundo do oceano registra
a polaridade geomagnética nos minerais magnéticos na época da cristalização da rocha.
Com a continuidade da erupção vulcânica submarina, a rocha já cristalizada é empurrada
pela ascensão de nova erupção basáltico, afastando-a da cadeia meso-oceânica e,
desse modo, as inversões de polaridade magnética que ocorrem durante a expansão do
assoalho oceânico ficam registradas na rocha basáltica, formando o padrão zebrado.

29
a

b
Figura 3.7- Curvas de deriva polar para a América do Sul e África (a). Justaposição das duas
curvas indicando a divergência entre elas a partir de 200 milhões de anos atrás (b).

a
b

Figura 3.8- Padrão zebrado de anomalias magnéticas dos


basaltos oceânicos, formado por faixas alternadas de
polaridade normal e inversa (a) e sua relação com a
expansão do assoalho oceânico (b).
Essas novas informações sobre a crosta oceânica, sobretudo os dados
geocronológicos e paleomagnéticos das rochas basálticos do fundo dos oceanos
(padrão zebrado), foram consideradas, por grande parte dos geofísicos, como evidências
suficientes em favor de um processo de expansão do assoalho oceânico que favorecia
a teoria da deriva continental defendida por Wegner no começo do século 20.
No começo da década de 1960, Harry Hass da universidade de Princeton (EUA)
fundamentou a hipótese da expansão do assoalho oceânico, com base nos dados
geológicos e geofísicos disponíveis sobre a crosta oceânica, publicado em 1962, no livro
History of Ocean basins. Hess propôs que a expansão do assoalho oceânico estaria
relacionada a correntes de convecção no manto superior da Terra, mais precisamente
na astenosfera (Fig. 3.9), uma camada pouco rígida abaixo da litosfera, com até 250Km
de espessura (entre 100 e 350Km de profundidade). Esse mecanismo de convecção é
evidenciado pelo alto fluxo de calor emanado das fendas centrais da dorsal que
provocaria ascensão de material magmático mais quente e, portanto, menos denso, da
parte inferior da astenosfera. Ao atingir a superfície, parte desse material magmático
extravasa pelas fendas centrais da dorsal, resfria em contato com a água do mar e
consolida-se como rocha basáltica. A parte desse magma resfriado que não se consolida
retorna para a parte inferior da astenosfera, por ser mais densa, alimentando a corrente
de convecção que se torna autossustentável (Fig. 3.9). De acordo com o modelo de
Hess, a rocha basáltica que se forma na dorsal se movimenta lateralmente, se afastando
do eixo da dorsal. As fendas existentes na crista da dorsal não crescem porque o espaço
deixado pelo material que saiu para formar a nova crosta oceânica é preenchido
30
continuamente pela chegada de novas erupções de lavas basálticas, formando um novo
assoalho oceânico que se expande com a continuidade do processo. Desse modo, a
força motriz da expansão do fundo oceânico e da deriva continental seriam as correntes
de convecção mantélicas.

Astenosfera

Figura 3.9- Correntes de convecção, de acordo com o modelo de Hess (1963), que atuam sob
as dorsais meso-oceânicas.

O modelo de Hess, portanto, oferecia uma explicação física aceitável tanto para a
expansão do assoalho oceânico como para a deriva continental. Nesse processo, os
continentes viajariam como passageiros, como parte de uma placa litosférica, como se
estivesse sendo levado por uma esteira rolante (a astenosfera). A geração contínua de
crosta oceânica deveria implicar na existência de outros locais onde deveria haver
consumo e destruição de crosta oceânica, caso contrário a Terra se expandiria
continuamente, o que sabemos não ser possível. Esses locais onde ocorre destruição
de crosta oceânica são denominados de zonas de subducção. Nessas zonas, a crosta
oceânica mais antiga mergulha de volta para o interior da Terra, por ser mais densa, até
atingir condições de temperatura e pressão suficientes para sofrer fusão e ser
incorporada novamente ao manto superior.
Os mecanismos de expansão do assoalho oceânico e da deriva continental fazem
parte do mesmo processo, cuja fundamentação passou a denominar-se teoria da
tectônica global ou tectônica de placas, pois o que se movimenta nesse mecanismo
são placas litosféricas ou tectônicas que são fragmentos ou pedaços da litosfera que se
movem sobre a astenosfera. A espessura da litosfera é muito variada, sendo, porém,
mais espessa sob os continentes (litosfera continental), variando entre 130 e 150 Km (30
a 50 Km de crosta + 100 Km de manto). A espessura da litosfera oceânica varia de 50 a
100 Km, maior parte pertencente ao manto (apenas 5 a 7 Km de crosta). Entretanto, a
espessura da parte mantélica da litosfera oceânica diminui progressivamente em direção
à dorsal, até praticamente desaparecer sob o eixo da dorsal, onde a espessura da
litosfera iguala-se à da crosta oceânica. A litosfera é compartimentada, por falhas e
fraturas profundas, em 13 placas tectônicas maiores e mais algumas placas menores,
cuja distribuição geográfica é mostrada na figura 3.10.
O limite inferior da litosfera é marcado pela astenosfera, uma parte do manto
superior, com espessura em torno de 150Km, que é plástica ou pouco rígida, onde as
temperaturas alcançam valores próximos do ponto de fusão das rochas. O limite superior
da astenosfera (com a litosfera) situa-se em torno de 100Km de profundidade, mas seu
limite inferior não é bem definido, admitindo-se situar-se em torno de 250Km, podendo
chegar até 350Km de profundidade. O estado plástico da astenosfera permite que a
litosfera mais rígida deslize sobre ela, tornando possível o deslocamento lateral das
placas tectônicas e a deriva continental. As placas tectônicas são principalmente de dois
tipos: oceânica, como a placa de Naska, e as placas constituídas por crosta continental
e oceânica, como as placas Sul-Americana, Africana e Norte Americana. A placa Pacífica

31
é quase totalmente oceânica, mas inclui uma pequena parte da Califórnia, onde fica a
cidade de Los Angeles (Fig. 3.10 e 3.11).

Figura 3.10- Distribuição geográfica das principais placas tectônicas da Terra. Os números
representam as velocidades de movimento entre as placas em cm/ano e as setas as direções
dos movimentos.

Figura 3.11- Placa


Pacífica, limitada pelo
círculo de fogo, formado
por focos de terremotos
(pontos pretos) e
vulcões (círculos
vermelhos) na borda da
placa.

Os limites das placas tectônicas podem ser de três tipos, correspondendo a três
regimes tectônicos seguintes:
1) : caracterizados pelas dorsais meso-oceânicas, onde
predominam esforços distensivos que provocam afastamento entre as placas
tectônicas com limites divergentes e formação de nova crosta oceânica, como as
dorsais do Atlântico, Sudoeste Indiano e do Pacífico Leste (Fig. 3.10).
32
2) : onde predominam esforços compressivos que provocam a
colisão entre as placas convergentes, com a mais densa mergulhando sob a outra,
gerando uma zona de intenso magmatismo, denominada zona de subducção, com
fusão parcial da crosta subductada que passa a ser consumida. Por exemplo, as
zonas de subducção das placas Nazca sob a Sul-Americana e das placas Pacífica
sob a Norte-Americana, na costa oeste da América do Sul e do Norte (Fig. 3.10).
3) : onde as placas tectônicas se movimentam
lateralmente, uma em reação à outra, ao longo de falhas denominadas
transformantes, sem destruição ou geração de crosta. Por exemplo, a falha Santo
André na costa SW dos EUA, onda a placa Pacífica se desloca para norte em relação
à placa Norte-Americana (Fig. 3.10).
São nesses limites de placas onde se concentram as atividades geológicas mais
intensas do planeta, como terremotos, magmatismo e orogênese. Processos
magmáticos também ocorrem no interior das placas, mas em menor intensidade e
natureza diferente.
Existe considerável consenso no meio científico de que o motor que move as
placas tectônicas são as correntes de convecção da astenosfera, onde as temperaturas
estão próximas do ponto de fusão das rochas. Mas como essas correntes começam o
movimento? Elas têm força suficiente para movimentar placas litosféricas gigantescas?
Essas são questões mais complexas para responder. Entretanto, imagina-se que as
dorsais meso-oceânicas estão sobre anomalias térmicas da astenosfera, onde as rochas
atingem seus pontos de fusão, gerando magma que, por ser menos denso, ascende até
a superfície, enquanto o material mais afastado e mais frio (mais denso) tende a descer
para ocupar o lugar do magma que subiu, iniciando as correntes de convecção proposta
por Hess. Desse modo, as forças tectônicas que movimentam as placas litosféricas e
provocam a expansão do assoalho oceânico teriam sua origem nas correntes de
convecção da astenosfera. A litosfera e a astenosfera estão intrinsicamente ligadas, ou
seja, quando a astenosfera se move a litosfera também se move.
As correntes de convecção teriam força suficiente para movimentar as placas
tectônicas? A maioria dos cientistas acredita que as correntes de convecção são apenas
um dos mecanismos (a força motriz) que, em conjunto com outros, movimentam as
placas. As placas oceânicas tornam-se mais frias e mais espessas a medida que se
afastam da dorsal meso-oceânica onde foram criadas, modelando os limites entre a
litosfera e astenosfera como superfícies inclinadas. Mesmo com uma baixa inclinação
dessa superfície, o próprio peso da placa tectônica mais espessa ajuda a movimentar a
placa que acaba inclinando-se abruptamente e mergulhando sob uma crosta continental
ou mesmo sob outra crosta oceânica menos densa, puxando o resto da placa que retorna
ao manto, nas zonas de subducção (Fig. 3.12).
a
b

Figura 3.12- Correntes de convecção na astenosfera (a). Criação de crosta oceânica na dorsal
meso-oceânica que torna-se mais espessa a medida que se afasta da dorsal até mergulhar
para o interior do manto, puxando o resto da placa tectônica (b).

33
Como o material da astenosfera é muito viscoso (10 18 vezes mais viscoso que a
água), o movimento é muito lento, 2 a 3 centímetros, em média, por ano, embora haja
diferenças consideráveis entre placas diferentes. Normalmente quanto maior a
porcentagem de crosta continental nas placas menor será suas velocidades. Por
exemplo, as placas Sul-Americana e Africana, com muita crosta continental, são mais
lentas que a placa Pacífica, quase que totalmente oceânica. Além disso, como as placas
não são planas e sim curvas (convexas), elas se movem sobre uma superfície esférica
em torno de um eixo de rotação e de um polo de expansão (interseção entre o eixo e a
superfície terrestre). Desse modo, para uma determinada velocidade angular da placa,
as velocidades de diferentes pontos sobre a placa aumentam à medida que se
distanciam do polo onde a velocidade é zero, pois o polo gira, mas não percorre nenhuma
distância (Fig. 3.13). Nem todas as placas necessariamente se movem em um
determinado tempo. A placa Africana parece estar estacionária atualmente por estar
delimitada quase inteiramente por limites divergentes de placas que se afastam a
velocidades similares.

Figura 3.13- Movimento de uma placa curva sobre uma


superfície esférica, em torno de um eixo e de um polo de
expansão, mostrando dois pontos da placa com
velocidades diferentes, pois percorrem diferentes
distâncias no mesmo intervalo de tempo. O ponto 2 possui
velocidade maior que o ponto 1.

As velocidades medidas das placas litosféricas geralmente são relativas (uma


placa em relação a outra), mas as velocidades absoltas podem ser determinadas através
da utilização de alguma referência, como os pontos quentes (hot spots) que são
estacionários, em relação às placas. Esses pontos quentes são processos magmáticas
anorogênicos (sem relação com a movimentação das placas litosféricas), relacionados
à ascensão de material magmático mantélico denominado de plumas mantélicas. As
atividades magmáticas dessas plumas ficam registradas nas placas em movimento, na
forma de ilhas vulcânicas (como o arquipélago do Havaí) e até cordilheiras ou platôs
submarinos. Frequentemente, a passagem de uma placa litosférica sobre um hot spot
resulta em um rastro de feições lineares (ilhas ou cadeia de montanha vulcânicas) na
superfície da placa. A datação das rochas vulcânicas dessas ilhas indica a direção do
movimento da placa, da ilha mais jovem para a mais antiga (Fig. 3.14). Conhecendo-se
as distâncias entre as ilhas e as idades de suas rochas pode-se calcular a velocidade de
movimentação da placa.

34
a b

c d
Figura 3.14- Formação do arquipélago de ilhas vulcânicas do Havaí, por ação de um mesmo
hot spot, a partir de 5,6 Ma. A primeira ilha (mais antiga) se forma, com o hot spot fixo e a placa
em movimento (a). Depois de 2-3 Ma, a segunda ilha se forma em outro lugar (b), assim como
a terceira ilha, depois de mais 1 Ma (c). O mapa do arquipélago mostra o alinhamento das ilhas
e as idades, indicando o movimento da placa, da ilha mais jovem para a mais antiga.

3.2.1- Regime divergente de placas litosféricas


Um regime divergente de placas litosféricas inicia com um processo de
fragmentação da crosta continental, a partir de uma anomalia térmica pontual no manto
superior astenosférico (possivelmente um hot spot) que provoca soerguimento e
abaulamento na crosta continental, seguido de fraturamento e extrusão de rochas
máficas (Fig. 3.15 a). Este processo é denominado de rifteamento, palavra derivada do
termo geológico em inglês que significa grande vale formado por esforços
distensivos (tangenciais e divergentes) na crosta. A crosta continental normalmente se
rompe ao longo de um sistema de três fraturas regionais, fazendo um ângulo em torno
de 120 entre elas, com invasão da água do mar. O ponto de interseção das três fraturas
é denominado ponto tríplice que marca o ponto da anomalia térmica do manto onde
iniciou a fragmentação da crosta. Normalmente o processo de rifteamento evolui em
apenas duas fraturas, ficando a terceira apenas como um vale no continente,
denominado rift abortado (Fig. 3.16). O processo evolui com a instalação de um sistema
de corrente de convecção na astenosfera, com esforços distensivos e falhamentos
normais e o desenvolvimento de um sistema do tipo rift valey envolvendo apenas duas
fraturas do sistema tríplice inicial (Fig. 3.15 b). Com a progressão do movimento
distensivo, ocorre o adelgaçamento da crosta continental até o seu rompimento,
iniciando a formação de uma crosta basáltica oceânica incipiente e um proto-oceano
(Fig. 3.15 c). A medida que o processo distensivo continua e a crosta oceânica expande,
o proto-oceano aumenta e forma-se uma cadeia meso-oceânica ao logo do eixo do rift
valey (Fig. 3.15 d, 3.17). Ao longo das margens adelgaçadas dos continentes, de um lado
e outro do oceano em formação, forma-se uma plataforma continental com abatimento
de blocos por falhamentos normais subverticais (Fig. 3.15 d). Margens continentais
nessas condições, separadas por um sistema divergente de placas tectônicas, são
denominadas de , como as costas leste da América e
oeste da África e Europa que limitam o oceano Atlântico.

35
a

c Figura 3.16- Ponto tríplice inicial


de um sistema rift valey, mostrando
o rift abortado e os dois riftes que
evoluem.

Figura 3.15- Esquema evolutivo de um sistema de placas tectônicas divergentes, mostrando a


ruptura e fragmentação de uma massa continental (a), com vulcanismo basáltico (b) formação
de um oceano (c), uma dorsal meso-oceânica e margens continentais passivas (d).

Figura 3.17- Dorsal Mesoatlântica, separando as placas Norte-


Americana e Eurasiana (a). Ilha da Islândia na dorsal Mesoatlântica e
os rift valeys da dorsal (b).

Um dos melhores exemplos atuais de junção tríplice ocorre entre a Arábia Saudita
e o noroeste da África, onde o golfo de Aden e o mar Vermelho correspondem aos dois
riftes ativos e o rift do Leste Africano que se estende para o interior do continente africano
é o rift abortado (Fig. 3.18 a). A reconstituição da Pangeia antes de sua fragmentação
também mostra um grande sistema de junções tríplices entre América do Norte, África e
América do Sul, onde as bordas leste da América do Sul e oeste da África seriam os rifts
ativos que evoluíram para formar o oceano Atlântico, e o rio Niger e o rio Amazonas
seriam riftes abortados que se estendem para o interior dos continentes africano e sul-
americano respectivamente (Fig. 3.18 b).

36
a b
Figura 3.18- Junção tríplice
do golfo de Aden, mar
Vermelho e rift do Leste
Africano (a). Junção tríplice
entre América do Norte,
África e América do Sul no
início da fragmentação da
Pangeia (b).

Graben no Falha transformante


continente
Rift com sedimentos Cadeia meso-oceânica
coberto pelo mar e graben central.

3.2.2- Regime convergente de placas litosféricas


Um regime convergente de placas litosféricas ocorre quando duas placas com
movimentos convergentes colidem, gerando rochas e feições morfológicas
características. Este processo é denominado de , pois no processo de colisão
uma das duas placas normalmente mergulha sob a outra placa. Zona de subducção é a
região onde ocorreu ou está ocorrendo subducção. Existem três tipos de colisão entre
duas placas litosféricas, seguintes:
1) Colisão entre duas placas oceânicas, com subducção de uma sob a outra.
2) Colisão entre uma placa oceânica e outra continental, com subducção da placa
oceânica sob a continental.
3) Colisão entre duas placas continentais, com subducção de uma sob a outra.
Na colisão entre duas placas oceânicas, a placa mais densa (mais antiga, mais fria e
mais espessa) mergulha sob a outra placa (mais jovem, mais quente e menos espessa),
em direção ao manto, carregando parte dos sedimentos marinhos acumulados sobre ela
que irão fundir juntamente com a crosta oceânica subductada. Esse tipo de subducção
produz intensa atividade vulcânica de composição andesítica, originada pela fusão
parcial da crosta basáltica subductada, que normalmente se manifesta na forma de
arquipélagos de ilhas vulcânicas denominados de arcos de ilhas (Fig. 3.19 a, b), por
causa de sua morfologia arqueada. O arco de ilha situa-se na placa não subductada,
limitado à frente pela fossa, em direção à placa subductada, e atrás pela bacia trás-arco
(ou retro-arco), em direção ao continente (Fig. 3.19 b).
Arco
a Fossa Bacia trás-arco
b

Figura 3.19- Colisão entre duas placas oceânicas, mostrando a zona de subducção, com a
fossa, o arco de ilhas vulcânicas formadas pela fusão da placa oceânica subductada e a bacia
trás-arco (a). Zona de subducção, com a fossa, o arco de ilhas e a bacia trás-arco entre o arco
e o continente (b).

37
As ilhas japonesas são exemplos de um sistema de arco de ilhas em um regime
de subducção entre duas placas oceânicas, a placa Pacífica (subductada) e a placa
Eurasiática (Fig. 3.20 a). O conjunto de ilhas exibe forma arqueada, com a concavidade
voltada para a bacia trás-arco, situada entre o arco de ilhas e o continente. O mar do
Japão é a bacia trás-arco do sistema de arco de ilhas do Japão, (Fig. 3.20 b).

a b

Mar do
Japão

Figura 3.20- Arco de ilhas do Japão, formado pela subducção da placa Pacífica sob a placa
Eurasiana (a). Mapa das ilhas Japonesas em forma de arco e o mar do Japão (b).
Em uma colisão entre uma placa continental e outra oceânica ocorrerá a
subducção desta última sob a placa continental, pelo fato de a placa oceânica ser mais
densa que a continental (Fig. 3.21a, b). Este tipo de subducção produz intensa atividade
magmática, tanto vulcânica como plutônica, formando um arco magmático na borda do
continente, constituído por rochas vulcânicas andesíticas e dacíticas, além de rochas
plutônicas, principalmente de composição diorítica e granodiorítica. Esse processo de
subducção também provoca deformação e metamorfismo tanto nas rochas continentais
preexistentes como nas rochas do arco magmático. As feições fisiográficas mais
importantes geradas nesse processo são as grandes cordilheiras de montanhas
dobradas, como os Andes e as Montanhas Rochosas na costa ocidental da América do
Sul e América do Norte, respectivamente, formadas pelo espessamento crustal
provocado pelo magmatismo do arco magmático e pelo enrugamento da borda da placa
continental causado pela deformação (Fig. 3.21 b). Margens continentais nessas
condições, com arco magmático formado por uma subducção oceânica, são
denominadas .
Margem continental ativa Cordilheira dos Andes
a b

Figura 3.21- Colisão entre uma placa oceânica e outra continental, mostrando a subducção da
primeira e sua fusão para formar os arcos magmáticos na margem continental ativa (a). Arco
magmático e cordilheira dos Andes na margem continental oeste ativa da América do Sul,
formada pela subducção da placa Nazca sob a placa Sul-Americana (b).

As principais feições geológicas deste tipo de colisão (entre placa oceânica e


placa continental), são: bacias pós-arco (ou ante-arco), bacias trás-arco (ou retro-arco),
fossa, prisma de acresção e associações litológicas típicas de subducção como
mélanges e ofiolitos (Fig. 3.22). As são paralelas ao arco e

38
se formam na placa continental, a primeira entre o arco e a fossa (na frente do arco),
enquanto que a segunda entre o arco e o continente (atrás do arco) e recebem
sedimentos provenientes da erosão das rochas magmáticas do próprio arco adjacente a
elas. As bacias pós-arco se formam em consequência do choque entre as duas placas
litosféricas que produz um soerguimento na borda da placa continental, formando uma
bacia entre esta elevação e o arco magmático (Fig. 3.22). Por outro lado, as bacias trás-
arco nem sempre ocorrem e se formam por ação de esforços distensivos que podem
ocorrer durante a subducção e que provocam adelgaçamento da crosta continental atrás
do arco. Esses esforços distensivos normalmente ocorrem em placas oceânicas mais
antigas e mais espessas que mergulham com grande ângulo de subducção por causa
de sua maior densidade. Se o ângulo de subducção for maior que 45 , a zona de
subducção migrará para frente e a placa continental que contém o arco sofrerá distensão,
gerando a bacia trás-arco. As bacias trás-arco são preenchidas por sedimentos marinhos
típicos de mar raso, podendo ocorrer vulcanismo basáltico associado aos movimentos
distensivos (como se fosse uma pequena cadeia meso-oceânica).
As fossas ou trincheiras normalmente contêm sedimentos marinhos e sedimentos
provenientes da extremidade da placa continental (Fig. 3.22). Parte dos sedimentos é
levada para baixo pela placa oceânica que mergulha na zona de subducção e outra parte
mais expressiva dos sedimentos é deformada pelos esforços compressivos que ocorrem
nas margens convergentes. Essa mistura caótica de sedimentos deformados denomina-
se mélange (palavra francesa que significa mistura). As mélanges são rochas
sedimentares metamorfisadas em condições de alta pressão e baixa temperatura (já que
são próximas à superfície) que tipicamente resultam na formação dos xistos azuis, cuja
cor azulada deve-se a um anfibólio alcalino denominado glaucofana, um mineral da
classe dos silicatos.

Manto superior rígido

Astenosfera
Astenosfera

Figura 3.22- Principais feições geológicas de uma colisão entre uma crosta oceânica e outra
continental, mostrando a fossa, prisma de acresção, arco magmático, bacia ante-arco (ou pós-
arco) e bacia retro-arco (ou trás-arco), situados na placa continental.

No processo de subducção entre uma placa oceânica e outra continental, a crosta


oceânica normalmente é subductada, por ser mais densa. Entretanto, dependendo da
magnitude e direção dos esforços compressivos, pode ocorre o fraturamento da litosfera
oceânica em subducção e posterior cavalgamento de seus fragmentos sobre o arco
magmático, processo denominado de obducção (Fig. 3.23 a). A exposição de rochas da
litosfera oceânica sobre o arco magmático ou crosta continental denomina-se ofiolito
(Fig. 3.23 b) que, além das rochas basálticas + sedimentos da crosta oceânica, pode
conter também porções do manto superior rígido (rochas ultramáficas) na base da
sequência. Denomina-se prisma de acresção ao conjunto de rochas que compõem a
39
extremidade da placa continental soerguida, adjacente à fossa, constituído pelas
mélanges, ofiolitos e porções da crosta oceânica subductada adicionada tectonicamente
ao prisma de acresção (Fig. 3.22, 3.23 c).
a b

c
Figura 3.23- Processo de obducção de litosfera
oceânica sobre o arco magmático (a). Ofiolito
com pilow lavas (lavas almofadadas), cortado por
dique, do complexo de Troodos, Chipre (b).
Fragmentos da crosta oceânica adicionada ao
prisma de acresção (c).

Fotografia de B. B. Brito Neves

Em uma colisão entre duas placas continentais, com margens continentais ativas,
uma das duas (normalmente a menos densa) cavalga sobre a outra em subducção,
provocando um espessamento crustal e enrugamento da placa cavalgante, formando
uma cordilheira de montanha. O melhor exemplo desse tipo de colisão é a colisão das
placas Indiana (subductada) e Eurasiana que cavalgou sobre a Indiana, formando a
cordilheira do Himalaia (a mais alta do mundo) e o planalto do Tibete (Fig. 3.24). Essa
colisão iniciou-se há 70 Ma atrás e continua até hoje.

Figura 3.24- Colisão entre a placa indiana (subductada) e a placa Eurasiana que cavalgou sobre
a indiana, formando a cordilheira do Himalaia e o planalto do Tibete.

A colisão continente-continente normalmente evolui a partir de um sistema com


duas margens continentais opostas, uma ativa com colisão oceano-continente,
subducção da crosta oceânica e arco magmático sobre a placa continental, e outra
margem continental passiva. Nesse sistema, a colisão entre os dois continentes ocorre
após a placa oceânica ser totalmente consumida pela subducção na margem continental
ativa (Fig. 3.25 a, b).

40
Uma placa continental de margem passiva Os dois continentes colidem ao longo de um
converge para outra de margem ativa. a b complexo sistema de falhas de empurrão.

co nti nental
m
va l
a

Margem
co arge
Pa n ent

Ativa
M

ssi
n ti

Figura 3.25- Convergência de duas margens continentais opostas, uma ativa com subducção
oceano-continente, e outra passiva (a), que colidem no estágio final, com subducção da crosta
continental passiva e formação de uma cadeia de montanha na crosta continental ativa (b).

A colisão continente-continente provoca terremotos violentos na crosta continental


que está sofrendo enrugamento. Esse tipo de colisão não gera vulcanismo expressivo,
como nos outros dois tipos de colisão (oceano-oceano e oceano-continente), mas produz
intenso metamorfismo de rochas continentais pré-existentes e fusão parcial de porções
da crosta continental subductada, gerando magmatismo granítico.
3.2.3- Regime transformante ou conservativo de placas litosféricas
No regime transformante, as placas litosféricas se deslocam lateralmente e
tangencialmente, uma em relação à outra, sem haver geração ou destruição de crosta,
e, por isso, seus limites são denominados conservativos. Esse movimento relativo das
placas ocorre ao longo de falhas com deslocamento horizontal, denominadas falhas
transformantes que podem ocorrer entre blocos rochosos diferentes. As falhas
transformantes ocorrem tipicamente ao longo de dorsais meso-oceânicas, onde o
movimento divergente tem sua continuidade interrompida com deslocamento horizontal
transversal ao movimento divergente. As falhas transformantes também podem conectar
limites de placas divergentes com limites convergentes e limites convergentes com
outros limites convergentes. A falha de Santo André na Califórnia é um dos melhores
exemplos de falha transformante continental, na qual a placa Pacífica, contendo a cidade
de Los Angelis e a zona da baixa Califórnia, se desloca para norte em relação à placa
Norte-Americana que contém a cidade de São Francisco (Fig. 3.26). Grandes terremotos
podem ocorrer nos limites de placas transformantes, como o que destruiu a cidade de
São Francisco em 1906.

Figura 3.26- Vista para o norte da falha transformante de Santo André na planície de Carrizo,
na Califórnia central, com movimento para norte da placa Pacífica, à esquerda, em relação à
placa Norte-Americana, à direita. Notar o deslocamento dos canais dos riachos.

41
Cada placa litosférica é limitada por uma combinação de limites convergentes,
divergentes e transformantes. Por exemplo, a placa Nazca, no oceano Pacífico, tem três
lados com regimes divergentes e dorsais meso-oceânicas deslocadas por falhas
transformantes, e um limite convergente com a zona de subducção Peru-Chile (Fig.
3.27). A placa Norte-Americana é limitada à leste pela dorsal meso-atlântica (zona de
divergência), à oeste pela falha de Santo André e outros limites transformantes e, à
noroeste, por zonas de subducção (limites convergentes) e limites transformantes que
se estendem desde o estado de Oregon (EUA) até a cadeia dos Aleutas (Fig. 3.27).

Figura 3.27- Mosaico atual das placas litosféricas relacionadas com o continente americano,
mostrando os tipos de limites em cada placa: convergente (azul), divergente (vermelho) e
transformante (amarelo). As setas mostram as direções de movimento das placas e os números
as velocidades relativas em mm/ano.

3.3- CICLO DE WILSON E A DANÇA DOS CONTINENTES


O ciclo completo da movimentação das placas tectônicas, desde a abertura de
uma bacia oceânica até seu fechamento, é denominado ciclo de Wilson (Fig. 3.28), em
homenagem J. T. Wilson, um dos idealizadores da teoria da expansão do assoalho
oceânico. Esse ciclo inicia-se com a ruptura de uma massa continental, através de um
sistema de rifteamento, seguido pela abertura de uma pequena bacia oceânica, como o
mar Vermelho atualmente. Esse proto-oceano expande-se até uma extensão

42
indeterminada como, por exemplo, a do atual oceano Atlântico, limitado por duas
margens continentais passivas. Em seguida, os movimentos se invertem, iniciando uma
convergência com subducção de crosta oceânica em uma ou ambas as margens
continentais, que passam a ser ativas, até a colisão das duas margens continentais, com
fechamento total ou parcial do oceano por meio de um processo orogenético com
subducção do continente com margem passiva e geração de uma cadeia de montanha,
formando um supercontinente. Os registros geológicos existentes indicam que o ciclo de
Wilson ocorreu várias vezes na história geológica da Terra, com uma movimentação
contínua dos continentes em diversas direções, ora se aglutinando ora se fragmentando,
como se fosse uma verdadeira dança dos continentes.

Figura 3.28- Ciclo de Wilson: Inicia com o rifteamento de um continente . A medida que os
esforços distensivos progridem e o oceano se abre, as margens passivas resfriam-se com
acumulação de sedimentos . Inversão dos esforços e início de uma convergência, tornando
uma das margens continentais (ou ambas) ativas com subducção e arco magmático .
Acreção de sedimentos da placa subductada ao continente e fim da expansão da crosta
oceânica . Colisão continental, com subducção do continente com margem passiva, orogenia
e formação de cadeia de montanha que espessa a crosta, formando um novo supercontinente
. Erosão do novo continente, adelgaçando e enfraquecendo a crosta continental que pode
ser rompida novamente, começando um novo ciclo  .

43
Os dados geológicos disponíveis, sobretudo geocronológicos, paleomagnéticos e
geotectônicos, indicam que a fragmentação da Pangeia, há 200 milhões de anos atrás,
um processo da grande importância na história geológica de nosso planeta, corresponde
apenas a fragmentação do último supercontinente importante que se formou na Terra e
que resultou na configuração atual dos continentes. Antes da Pangeia, as massas
continentais formavam blocos de dimensões e formatos diferentes dos atuais. Os
primeiros blocos continentais formaram-se em torno de 3,96 bilhões de anos (Ga) atrás
e foram crescendo, por meio de orogêneses, com formação de nova crosta continental,
até as dimensões atuais. Há 550 milhões de anos, cerca de 95% das áreas continentais
atuais já estavam formadas.
Há 2,0 Ga (Paleoproterozoico), as massas continentais estavam reunidas em três
microcontinentes, Ártica, Antártica e Ur, com partes do que seria a futura América do Sul
fazendo parte da Antártica. Entre 2,0 e 1,3 Ga, estes três microcontinentes se
fragmentaram, por meio de rifteamento, com os fragmentos colidindo entre si para gerar
blocos continentais maiores. Entre 1,3 e 1,1 Ga atrás (Mesoproterozoico), os principais
blocos continentais se juntaram para formar o primeiro supercontinente, denominado
Rodínia, envolvido pelo oceano Miróvia, palavras de origem russa que significam,
respectivamente, mãe-pátria e paz (Fig. 3.29 a). A América do Sul fazia parte dos blocos
Amazônia, Rio da Prata e São Francisco do supercontinente Rodínia. A partir de 750 Ma
atrás, o continente Rodínia começou a se fragmentar (Fig. 3.29 b), formando a
Gondwana (que inclui a América do Sul e África) e outros três continentes menores,
Laurêntia, Báltica e Sibéria, em torno de 458 Ma, no Ordoviciano Médio (Fig. 3.29 c). A
partir de 390 Ma (Devoniano Inferior), começa um processo de aglutinação das massas
continentais (Fig. 3.29 d) que se completa com a formação do supercontinente Pangeia
há 237 Ma (Triássico Inferior).
A fragmentação da Pangeia começou há 200 Ma, no Jurássico Inferior (Fig.
3.30 a). Em torno de 150 Ma atrás (Jurássico Superior), o oceano Atlântico começou a se
formar, o oceano Tethys contraiu-se e os continentes do norte (Laurásia) já estavam
separados e, no sul, a Gondwana começava a se dividir entre Índia + Austrália +
Antártida e África + América do Sul (Fig. 3.30 b). Há cerca de 66 Ma (Cretáceo
Superior/Paleoceno Inferior), o Atlântico sul abriu-se, a contração do oceano Tethys
progrediu de modo a transformá-lo em um mar intracontinental (Mediterrâneo), a Índia
começou a derivar para norte em direção a Ásia e, após 135 Ma de deriva, os continentes
começam a adquirir a configuração atual (Fig. 3.30 c). O ponto vermelho marca o local
do impacto do asteroide que teria causado a extinção dos dinossauros e muitas formas
de vida na Terra. A configuração atual dos continentes ocorreu nos últimos 65 Ma: a Índia
colidiu com a Ásia para formar a cordilheira do Himalaia e a Austrália separou-se da
Antártida (Fig. 3.30 d). Nos próximos 50 Ma, o oceano Atlântico deve ampliar-se e o mar
Mediterrâneo deve fechar-se, por ação de uma convergência com subducção da placa
Eurasiática sob a placa Africana, formando uma cadeia de montanha (Fig. 3.30 e).

44
a

Figura 3.29- Formação da Pangeia: resultado da fragmentação de um supercontinente


denominado Rodínia, formado há 1,1 Ga (a) que começou a se fragmentar há 750 Ma, no
Proterozoico Superior (b), formando a Gondwana, Laurêntia, Báltica e Sibéria, há 458 Ma, no
Ordoviciano Médio (c). A partir de 390 Ma (Devoniano Inferior) começa um processo de
aglutinação das massas continentais (d) que se completa com a formação do supercontinente
Pangeia há 237 Ma, no Triássico Inferior (e).

45
a

e
d

Figura 3.30- Fragmentação da Pangeia: Iniciou-se com rifteamento do supercontinente e


vulcanismo basáltico, no Jurássico Inferior, cerca de 200 Ma atrás (a). O oceano Atlântico
começou a se formar em torno de 150 Ma atrás, no Jurássico Superior, o oceano Tethys
contraiu-se, os continentes do norte (Laurásia) se separaram e, no sul, a Gondwana começou
a se dividir, com Índia, Antártida e Austrália se separando da África (b). Há 66 Ma (Cretáceo
Superior/Paleoceno Inferior), o Atlântico sul abriu-se, a contração do Tethys progride, formando
um mar intracontinental (Mediterrâneo) e a Índia começou a derivar para norte, em direção à
Ásia (c). A configuração atual dos continentes ocorreu nos últimos 65 Ma: a Índia colidiu com a
Ásia para forma os Himalaias, e a Austrália se separou da Antártida (d). Nos próximos 50 Ma, o
oceano Atlântico deve ampliar-se e o mar Mediterrâneo deve fechar-se, por ação da subducção
da placa Eurasiática sob a placa Africana (e).

46
3.4- TECTÔNICA DE PLACAS E OS DEPÓSITOS MINERAIS
Os depósitos minerais são concentrações anômalas de metais ou minerais de
minério nas rochas da crosta terrestre que ocorrem em regiões onde os processos
geológicos atuantes viabilizaram tal concentração dos metais. A tectônica de placas
representa o controle regional de maior amplitude na distribuição dos depósitos minerais
na crosta terrestre (Fig. 3.31). Os depósitos minerais se concentram preferentemente
nas regiões tectonicamente ativas, onde normalmente há incidência de processos
geológicos (magmáticos, metamórficos e sedimentares) que disponibilizam metais e
favorecem a sua concentração, tais como bordas das placas convergentes (zonas de
subducção), com depósitos porfiríticos de Cu-Mo, epitermais de Au-Ag e sulfeto maciço
vulcanogênico (SMV) de Cu-Pb-Zn, ou bordas de placas divergentes (cadeias meso-
oceânicas), com depósitos de Fe-Mn e SMV de Cu-Pb-Zn. Nas regiões cratônicas e no
interior das placas tectônicas também pode haver geração de depósitos minerais em
áreas onde houve atividade magmática anorogênica (plumas), com depósitos de Sn-W
em granitos, Cr-Pt e Ni-Cu em complexos máfico-ultramáficos acamadados, ou em áreas
onde houve atividade tectônica antes da estabilização do cráton, tais como em rifts com
depósitos de Nb-Ta-TR-Zr-Ti em carbonatitos, diamantes em kimberlitos, em bordas de
cratons, e greenstone belts com depósitos auríferos, Ni-Cu em rochas ultramáficas e
SMV de Cu-Zn.

Figura 3.31- Depósitos minerais relacionados com os ambientes tectônicos em regimes de


divergência (dorsal meso-oceânica) e convergência (zonas de subducção) de placas litosféricas.

4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Branco P.M. 2016. Breve História da Terra. CPRM, Serviço Geológico do Brasil.
Acesso em 25 outubro 2018, disponível em: http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-
Institucionais/Rede-de-Bibliotecas---Rede-Ametista/Canal-Escola/Breve-Historia-
da-Terra-1094.html
Carneiro, C.D.R; Hasui, Y; Gonçalves, P. W. 2012. Geologia do Brasil. Organizado por
Hasui Y, Carneiro C. D. R, Almeida F. F. M, Bartorelli A. São Paulo, Beca, 900p.
Press F, Siever R, Grotzinger J, Jordan T. H. 2006. Para Entender a Terra, 4a edição.
Tradução coordenada por Rualdo Menegat. Porto Alegre-RS, Bookman, 656p.
Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Recursos Humanos,
DRM-JR. 2013. Teoria da Tectônica de Placas. Acesso em 25 outubro de 2018,
disponível em: http://www.drm.rj.gov.br/index.php/areas-de-atuacao/44-
pedagogico/100-pedagogicoteoria

47
Takeuchi H, Uyeda S, Kanamori H. 1974. A Terra um planeta em debate. São Paulo,
Edart, Editora da Universidade de São Paulo, 188p.
Teixeira W, Fairchild T. R, Toledo M. C. M, Taioli F. 2009. Decifrando a Terra, 2a Edição.
São Paulo, companhia Editora Nacional. 624p.
Wyllie, P. J. 1971. The Dynamic of Earth: Textbook in Geosciences. New York, John
Wiley & Sons, Inc. University of Chicago, 416p.

5- ATIVIDADES DESTE MÓDULO PARA OS ESTUDANTES


1) O que causa a zona de sombra na descontinuidade Gutenberg, entre o manto inferior
e núcleo externo?
2) Existe muita confusão na literatura entre os termos crosta terrestre e litosfera,
sobretudo na literatura não especializada, inclusive em alguns casos considerando os
dois termos como sinônimos. Diferencie precisamente os dois termos e faça um
desenho esquemático, mostrando a diferença entre eles. Explique o termo placa
litosférica.
3) O que aconteceria se a velocidade de rotação da Terra fosse aumentada? O que
aconteceria com o nosso peso? Poderíamos ser atirados para fora da Terra? Qual a
causa do achatamento polar da Terra que apresenta raio equatorial maior que o raio
polar?
4) Explique a origem do campo magnético da Terra e como o efeito de Coriolis afeta este
campo magnético.
5) Sabe-se que os polos magnéticos da Terra não são fixos; eles mudam de posição
com o tempo (deriva polar). Sabe-se também que os continentes também estão em
movimento (deriva continental). Em determinações paleomagnéticas, como
diferenciar deriva polar (movimentação real dos polos magnéticos com o tempo) e
deriva continental ? uma vez que as determinações paleomagnéticas são afetadas
pela deriva continental que pode indicar uma deriva polar irreal.
6) Como o padrão zebrado, mostrado pelas medidas paleomagnéticas das rochas
basálticas do fundo dos oceanos, pode evidenciar o espalhamento do assoalho
oceânico e a deriva continental ?
7) Sabe-se que a velocidade absoluta das placas litosféricas pode ser determinada por
meio da datação de ilhas vulcânicas formadas por hot spots (não relacionadas com a
tectônica de placas), cujas distâncias entre elas são conhecidas. Utilize as ilhas
havaianas, cujas idades são mostradas na figura 3.14, para determinar a velocidade
absoluta e a direção do movimento da placa pacífica. Pesquise em algum programa
georreferenciado, como Google Maps, para determinar as distâncias entre as ilhas
havaianas datadas.
8) No texto foi mostrado as ilhas japonesas como exemplo de arco de ilhas relacionado
com subducção oceano-oceano. Procure nas bordas de placas no mapa tectônico
global e em mapas geográficos globais, como o Google Maps, mais dois exemplos de
arcos de ilhas (ilhas com forma arqueada em borda de placas).
9) Considerando o ciclo de Wilson, explique qual seria o futuro do oceano Atlântico?
10) Porque as bordas das placas tectônicas são muito favoráveis para formação de
depósitos minerais?

48

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