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Séculos XIX-XX
FERNANDO PESSOA VIVEU TUDO ISTO (1888-1935) e isso impregnou as suas obras.
Literatura
era importante romper com tudo o que era academicista/tradicional o Manifesto Anti-Dantas
de Almada Negreiros foi um desses exemplos
Esta é a época do :
Pessoa viveu apaixonado por Ofélia e, segundo esta, ele vivia «Sempre nervosos, obcecado com
a sua obra». Aliás, Pessoa dormia com papel e caneta na sua mesa de cabeceira porque
durante a noite sentia necessidade de escrever. Podemos resumi-lo com os seus seguintes
versos:
E esse foi, na verdade, a sua tormenta e a da sua época: a procura por uma felicidade
equilibrada.
1) Demonstra como o título e o tema vai sendo desenvolvidos ao longo do poema (Nota: vê
também a secção de Métodos de Estudo)
2) Faz o levantamento dos tempos verbais e indica a sua importância para a mensagem
subjacente ao poema.
Sabe-se que a sua infância não foi 100%feliz. Entre os 5/6 anos de idade, o seu pai morre e teve
de partir com a sua família para a África do Sul. Estas situações vão marcar para sempre a sua
infância como um estado de felicidade e de conforto, uma ilusão, o único momento possível de
felicidade, uma vez que a vida é para ele uma ilusão fugaz. A vida foi sofrimento.
Quando era criança Inconsciência dessa condição – tema característico de Fernando Pessoa:
Vivi, sem saber, sentir/pensar.
Só para hoje ter
Hoje vive apenas uma lembrança porque não pode voltar a ser criança
Aquela lembrança.
Vamos às perguntas?
É importante reparares como estruturei a resposta: ao resumo das ideias principais que
já tínhamos ido buscar à análise estrófica eu fui adicionando exemplos, para reforçar o
que vou dizendo. No final terminei com uma breve conclusão, fechando o assunto do
título.
2) Faz o levantamento dos tempos verbais do poema e indica a sua importância para a
mensagem subjacente ao poema.
Aqui fiz: levantamento dos tempos verbais, expliquei a intenção. No final fiz uma
conclusão para terminar a minha explicação.
Para o poema que vem a seguir proponho-te 3 perguntas. O tema é o mesmo: nostalgia da
infância
Ler poema
Identificaste-te com alguma coisa do poema? Por exemplo eu identificar-me-ia com o sorriso
das crianças que me lembram sempre como essa fase é boa. Isto seria uma mais valia para
perceber o conteúdo do poema.
Quando as crianças brincam Aqui surge logo a resposta à 1 pergunta: começa por ver
E eu as oiço brincar, e depois ouvir. É o ouvir que o faz recordar-se da sua
Qualquer coisa em minha alma infância
Começa a se alegrar.
E toda aquela infância Aqui tens a resposta à 2 pergunta: ele não teve uma
Que não tive me vem, infância feliz
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.
Não sabe o que foi; é de difícil compreensão
Se quem fui é enigma,
E quem serei visão, Tem apenas uma ideia do que será mas não sabe o que é
Quem sou ao menos sinta
É também importante referir o presente para justificar
Isto no coração.
esta resposta. Por isso, ele quer sentir o que é, no coração.
Quer vivenciar
E toda aquela infância Repara que a infância não surge em forma de memória
Que não tive me vem, imediata, mas foi construída porque não teve. Por isso
Numa onda de alegria surge em forma de algo grandioso que o invade, uma onda
Que não foi de ninguém.
Neste poema podes ver que ele afirma não ter tido infância, felicidade. Porém, quando as
crianças brincam ele consegue ser feliz. Não te esqueças que a infância tem um caráter
meramente metafórico: permite a felicidade e o conforto. Este poema demonstra como a sua
infância foi duplamente alegre e triste. Ele foi feliz até aos 6 anos, como já vimos, mas depois
teve de imaginar como poderia ter sido feliz o resto da sua infância, uma vez que foi marcada
pela tristeza.
O sujeito poético começa por dizer na segunda estrofe que não teve uma infância feliz. O
seu passado é de difícil compreensão («Se quem fui é enigma») e o seu futuro é apenas uma
projeção, tendo apenas uma ideia do que será («E quem serei visão»). Denote-se que o
verbo “ser” surge conjugado nos três tempos (pretérito perfeito, futuro e presente) para
reforçar essa mesma ideia: «fui», «serei» e «sou». Sendo difícil de se definir no passado e
no futuro, é importante sentir aquilo que é e ouve no momento presente («Quem sou ao
menos sinta / isso no coração»). Em suma, ouve as crianças a brincar, o que o alegra, e essa
é a única certeza que tem.
A expressão destacada remete para uma memória que não é imediata, uma vez que não a teve.
O sujeito poético teve de a construir e acabou por ser invadido metaforicamente por uma «onda
de alegria», por algo grandioso. Porém, de uma forma mais profunda, esta expressão denota
sinestesicamente todas as sensações que a brincadeira das crianças lhe provocou, reforçando a
invasão da alegria por todos os sentidos.
Os poemas que aparecem logo associados a este tema são a «Autopsicografia» e o «Isto».
Há uma 4ª dor, defendida apenas por alguns: dor que pertence apenas ao leitor
O poema «Isto» vem esclarecer que o ato de “fingir” não significa “mentir”, mas é o ato de
manipular intelectualmente tudo o que se sente
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Estes dois poemas foram publicados na revista Presença (1932 e 1933). Consegues imaginar o
choque que provocou em algumas mentalidades mais tradicionalistas?
«Ouvi-la alegra e entristece». Alegria por ouvir o canto da inconsciência e tristeza porque isso
o leva a pensar mais uma vez.
Num ataque de despersonalização, de deixar de ser quem é, ele deseja ser a ceifeira e ter
consciência disso:
Pessoa procura outras vezes a evasão através do sonho. No poema «Viajar! Perder países!» ele
deseja “ser outro constantemente”, sem raízes e viver apenas da contemplação da paisagem.
Deseja captar a realidade apenas com o olhar, sem pensar em nada.
A dor de pensar incomoda-o tanto que vai criar heterónimos que vão refletir características
deste mesmo tema.
Alberto Caeiro, como verás, será o seu mestre, pois consegue ver as coisas como elas são,
recusando o pensamento.
E, por fim, Álvaro de Campos procura ser “toda a gente e toda a parte” sem que o pensamento
interfira nessa explosão de emoções.
Fernando pessoa é, sem sombra de dúvida um dos maiores génios de todos os tempos.
Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços Ele pede à noite, metáfora da morte e da solidão que
E chama-me teu filho... eu sou um rei o segure nos seus braços, aliviando-o e dando-lhe
que voluntariamente abandonei conforto.
O meu trono de sonhos e cansaços.
Assume-se como um rei que desistiu
voluntariamente por não ter forças para continuar
mais.
Minha espada, pesada a braços lassos, Abandona tudo o que é importante para um rei:
Em mão viris e calmas entreguei;
espada, cetro e a coroa
E meu cetro e coroa – eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.
Minha cota de malha, tão inútil, Liberta-se dos elementos utilizados nas lutas,
Minhas esporas de um tinir tão fútil, enquanto cavaleiro nobre
Deixei-as pela fria escadaria.
Despi a realeza, corpo e alma, Diz que se despiu de tudo o que tinha, ficando
E regressei à noite antiga e calma apenas com a solidão, o isolamento e a melancolia
Como a paisagem ao morrer do dia
Desenvolvimento do título: ao longo do poema ele vai mostrando que a sua desistência é
voluntária e, por isso, vai-se desfazendo de tudo o que o torna rei… de tudo o que é a sua vida.
Em poesia há muito mais a analisar do que o resumo de conteúdos e em Pessoa não é exceção.
As suas «crises de abundância» produtiva como ele afirma, não o impedem de trabalhar, como
já vimos, com o pensamento, tornando racional as emoções.
A tristeza calma que atravessa todo o poema é enriquecida por alguns recursos estilísticos.
Vamos ver:
Qual o valor expressivo, para que serve? Dirige-se à noite como se ela fosse uma pessoa e que o
viesse buscar nos seus braços e a ela pertencesse
___ “___
eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços – metáfora e dupla adjetivação. Qual o valor expressivo?
Reforça a ideia que ele abdicou da sua vida, que foi cheia de sonhos que fracassaram, que não
deram em nada.
___ “___
Em mão viris e calmas entreguei – dupla adjetivação que tem como função expressiva mostrar a
aceitação de um outro capaz de a carregar
___ “___
A fria escadaria – adjetivo em posição pré-nominal, antes do nome, acentua a ausência da vida no
palácio/vida
___ “___
Este poema mostra como a estrutura sintática é bastante simples, embora o seu conteúdo seja
nobre e rico.
Os tempos verbais utilizados são:
Estes tempos verbais permitem acentuar a mensagem do poema: ele pede à noite que o leve
porque ele é o que abdicou.
Este é o tema da noite e da solidão, que, aliado aos anteriores, permite reforçar o cansaço da
vida de pessoa e a sua desistência da vida.
Esta atitude de abdicação é comum em Fernando Pessoa, mas espero que não a seja em ti.
Agora que terminámos Fernando Pessoa ortónimo, proponho-te a realização de uma ficha
onde podes aplicar os teus conhecimentos e fazer a tua própria correção.