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sempre e que manifesta em vários poemas. Como tal são frequentes as tensões ou
dicotomias que espelham a sua complexidade interior.
Quanto à dicotomia sinceridade/fingimento, o poeta questiona-se sobre a
sinceridade poética e conclui que «fingir é conhecer-se», daí a despersonalização
do poeta fingidor que fala e se identifica com a própria criação poética, como
impõe o modernismo. Lugares de destaque ocupam os poemas “Isto” e
“Autopsicografia” (onde teoriza a criação artística), em que se definem claramente
os lugares da inteligência e do coração (as sensações), na criação artística. É assim
que este poeta, possuidor de uma grande capacidade de despersonalização (sem
todavia deixar de ser um), procura, através da fragmentação do eu
(“Continuamente me estranho”, “Não sei quantas almas tenho”), atingir a
finalidade da arte, servindo-se da intelectualização do sentimento que fundamenta
o poeta fingidor. O poeta debate-se frequentemente com as dialéticas
sentir/pensar e consciência/inconsciência, tentando encontrar um ponto de
equilíbrio, o que não consegue. Em “Ela canta pobre ceifeira”, o poeta vive
intensamente estas dicotomias: deseja ser a ceifeira que canta inconscientemente,
(«Ter a tua alegre inconsciência»), e simultaneamente («ter a consciência disso»).
Enquanto ela se julga feliz por apenas sentir, o sujeito poético está infeliz porque
pensa, racionaliza em excesso. Na mesma linha, cita-se o poema “Gato que brincas
na rua”, no qual o sujeito poético reforça a ideia da felicidade de não pensar, («És
feliz porque és assim/Que tens instintos gerais/E sentes só o que sentes»). Em
“Leve, breve, suave”, Pessoa manifesta o seu desalento, a sua frustração quando
o “eu” consciente do poeta intervém (Escuto, e passou…/Parece que só porque
escutei/ Que parou.”). A frustração é resultante de uma incapacidade de atingir
plenamente a satisfação, a felicidade. A luta incessante entre as várias dialéticas
origina a dor de pensar e a angústia existencial que bem caracterizam este poeta,
e se verificam no poema “Tudo o que faço ou medito”. Pessoa ortónimo é o poeta
da desilusão, tem uma visão negativa do mundo e da vida, como o manifesta no
poema “Abdicação”, onde se entrega à «noite eterna” (morte) como se fosse a sua
própria mãe.
Outra temática abordada pelo poeta é a desagregação do tempo. Para o poeta, o
tempo é um fator de desagregação porque tudo é breve, efémero. Esta fugacidade
da vida fá-lo desejar ser criança de novo, visto que a infância lhe surge como o
único momento possível de paz e felicidade, como documentam os poemas
“Quando era criança” e “Quando as crianças brincam”.
Coexistem duas vertentes na produção poética de Pessoa ortónimo: uma de
carácter tradicionalista e outra de carácter modernista. A primeira oferece poemas
de métrica curta, manifestando preferência pela quadra e a quintilha. A segunda
oferece poemas que iniciam o processo de rutura com esta corrente.
A dor de pensar:
tensões:
pensar/sentir
consciência/inconsciência
pensamento/vontade
fingimento/sinceridade
permanente intelectualização
inveja e desejo de inconsciência
estranheza de si próprio
desconhecimento do “eu”
O tédio existencial:
A nostalgia da infância:
A fragmentação interior: