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RESENHAS BOOK REVIEWS 2193

VIDA E MORTE NO TRABALHO: ACIDENTES DO A partir daí, Tom Dwyer constrói sua teoria dos aci-
TRABALHO E A PRODUÇÃO SOCIAL DO ERRO. dentes industriais enquanto erros produzidos social-
Dwyer T. São Paulo: Editora da Unicamp/Multiação mente, conceituando que as relações entre os trabalha-
Editorial; 407 pp. dores em seus ambientes de trabalho são gerenciadas
ISBN: 85-26807-17 por meio de relações sociais de trabalho, que, nas in-
dústrias, podem ser identificadas em quatro níveis.
Para Giddens 1, em seu livro As Conseqüências da Mo- O primeiro é o nível de recompensa, que envolve
dernidade (1990), o industrialismo constitui um dos dos incentivos financeiros aos simbólicos que pre-
feixes organizacionais de modernidade. Sua principal miam a ampliação do trabalho que ocorre muitas vezes
característica é constituir uma organização social regu- em detrimento das condições de segurança.
larizada que tem como objetivo coordenar atividades O segundo nível é o de comando, que envolve o
humanas, máquinas e aplicações de matérias-primas autoritarismo e as restrições da autonomia dos traba-
para a produção de bens. Assim, embora tenha emergi- lhadores, com implicações sobre os grupos de traba-
do na Europa do século XVII, enquanto feixe organiza- lhos, ocasionando a desintegração dos mesmos e, por
cional da modernidade suas influências se estenderam conseguinte, dos conhecimentos e capacidades de re-
no tempo (aplicando-se mesmo aos cenários atuais sistência coletiva. Neste nível encontra-se também o
de alta tecnologia) e no espaço, atingindo não só as que o autor denomina de servidão voluntária, em que
diferentes partes do planeta, como se expandindo pa- trabalhadores consideram normal o trabalho em am-
ra além dos locais do trabalho e afetando transportes, bientes insalubres, preferindo estar em harmonia com
comunicações e a vida doméstica, só para citar alguns os objetivos do empregador ao invés de confrontá-lo.
exemplos. O terceiro é o organizacional, envolvendo a baixa
Historicamente, esse feixe organizacional que ga- qualificação dos trabalhadores, a rotina com empobre-
nhou materialidade nas indústrias, com a máquina a cimento do conteúdo do trabalho e a desorganização
vapor, e na busca de fontes de energia, nas minas de da indústria expressa na dissociação entre manutenção
carvão, teve como um de seus custos humanos aciden- e operação, na busca de atalhos perigosos no processo
tes e mortes de trabalhadores. Assim, se para a maioria produtivo para manter os níveis de produção, nos erros
da população os acidentes decorrentes da industriali- imprevistos dos sistemas complexos com processos al-
zação eram e ainda são uma preocupação distante, pa- tamente interligados.
ra uma minoria estes foram e ainda são uma realidade O quarto nível é o do indivíduo e sua autonomia.
cotidiana. Neste o trabalhador não é totalmente organizado, co-
Tom Dwyer em seu livro Vida e Morte no Traba- mandado e nem recompensado, de modo que os em-
lho – Acidentes do Trabalho e a Produção Social do Er- pregadores não governam e controlam suas conseqü-
ro (2006) não nos permite esquecer isso. Quinze anos ências. Assim, ainda que integrando uma organização
após a primeira publicação em inglês do livro Life and e afetado e influenciado pelas relações sociais dentro
Death at Work – Industrial Accidents as a Case of So- da mesma, o trabalhador detém certo grau de autono-
cially Produced Error, finalmente o leitor brasileiro foi mia, sobre a qual as empresas procuram desenvolver
presenteado com a publicação da tradução desta obra técnicas de administração (seleção, disciplina, rotina
de referência para todos aqueles que estudam a origem de trabalho etc.) de modo a restringi-la.
e as causas dos acidentes industriais que têm como Tem como base um amplo levantamento bibliográ-
principais vítimas os trabalhadores. Em um esforço de fico dos estudos sobre acidentes e a teoria social, uma
construção de uma sociologia dos acidentes de traba- robusta formulação teórica e conceitual e um amplo
lho, este é um importante livro para todos os que se de- trabalho empírico sobre o trabalho em turno e aciden-
dicam às questões relacionadas à saúde e à segurança tes de três fábricas, em que procura testar sua teoria
dos trabalhadores (profissionais como ergonomistas, dos acidentes industriais em cada um dos níveis pro-
engenheiros, psicólogos, médicos, sindicalistas e pes- postos. Esses elementos permitem que no último capí-
quisadores, por exemplo). tulo, denominado “reajustando o prisma”, Tom Dwyer
Inicialmente, o autor nos remete ao processo his- utilize os exemplos dos acidentes industriais ampliados
tórico em que o emprego de novas tecnologias no ocorridos nos anos 70 e 80 como desencadeadores de
processo de produção industrial e de seus acidentes um processo de crise e renovação das intervenções de
já surgia como um problema público, provocando in- profissionais e de governos nos países industrializados.
tervenções técnicas, bem como uma incipiente e limi- Tom Dwyer nos oferece não só o prazer de ler um
tada legislação com o objetivo de controlar e prevenir trabalho científico muito bem construído, mas tam-
acidentes industriais. Demonstra como, por meio das bém uma série de insights para se refletir e investigar
intervenções técnicas e das políticas de compensações sobre muitas questões relacionadas aos acidentes de
para os acidentes, principalmente no período entre o trabalho e industriais. Chamamos a atenção para du-
fim da I Guerra Mundial e os anos 60 do século XX, con- as. A primeira é a invisibilidade dos acidentes de traba-
solida-se um processo iniciado no século XIX, ou seja, a lho, cuja face mais conhecida para a Saúde Pública no
retirada da esfera pública da visibilidade dos acidentes Brasil é o ainda elevado nível de subnotificações destes
e da miséria de suas vítimas. eventos. A segunda, que se relaciona à primeira, é so-

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(9):2193-2196, set, 2008


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bre os mecanismos sociais que contribuem para que ção de pesquisa na forma de publicações periódicas
ainda perdure no país a culpabilização das vítimas pe- seriadas. Parte dessa lacuna vem a ser preenchida pela
las causas dos acidentes que afetam ou interrompem edição desse livro, o qual reúne alguns dos principais
suas vidas. estudos apresentados no Grupo de Trabalho de Políti-
Tornar os acidentes invisíveis e culpar as vítimas cas Públicas da ANPOCS entre 2001 e 2006.
dos mesmos quando se tornam visíveis são processos Essa publicação traz ao leitor um panorama atu-
que se encontram relacionados no papel que o Brasil al das análises sobre políticas públicas realizadas nas
ocupa dentro do industrialismo como uma das di- últimas décadas, campo de estudo que se desenvolve
mensões da globalização. Como observa Giddens 1, a no país como, a um só tempo, reflexo e motivação do
expansão da divisão global do trabalho é um dos as- processo de redemocratização. Os professores Gilber-
pectos do industrialismo enquanto feixe organizacio- to Hochman, da Casa de Oswaldo Cruz, da Fundação
nal da modernidade, e que inclui diferenciações tanto Oswaldo Cruz (COC/FIOCRUZ), e Marta Arretche e
entre áreas mais e menos industrializadas do mundo Eduardo Marques, do Departamento de Ciência Polí-
no mundo, como no que se refere à especialização re- tica, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Hu-
gional em termos de tipo de indústria, capacitações e manas, da Universidade de São Paulo (DCP/FFLCH/
a produção de matérias-primas. É esta divisão do tra- USP), reuniram e selecionaram as contribuições que
balho, que resulta em uma subseqüente divisão global posicionam o leitor quanto aos conceitos relevantes
dos riscos e dos custos humanos, que permite que o para acompanhar a discussão; informam-lhe sobre os
Brasil ainda não tenha vivido uma crise de renovação aspectos históricos da implementação de políticas se-
das intervenções de profissionais e de governos, pois toriais como as que envolvem as áreas da saúde e edu-
se a tivesse, não teríamos mais a possibilidade de sub- cação; e exploram analiticamente seus condicionantes,
notificações e também da culpabilização das vítimas. sua implementação, seus efeitos.
Em relação a essa segunda questão, basta lembrarmos Enriquece o projeto editorial a participação de um
como em todas as vezes que ocorre um acidente in- seleto grupo de profissionais ligados a importantes
dustrial, nos transportes (aviões e trens, por exemplo) instituições de diferentes estados brasileiros e do ex-
ou na busca de fontes de energias (plataformas de pe- terior. O leitor terá em mãos o ingresso de entrada ao
tróleo, por exemplo), antes mesmo de investigar suas ambiente vívido das reuniões da ANPOCS; transportar-
causas, profissionais e governos se apressam em culpar se-á para as mesas de debates e apresentação de traba-
os trabalhadores, procurando assim reafirmar que o lhos, tradicionalmente realizadas em Caxambu, Minas
industrialismo, enquanto organização social, vai bem e Gerais, Brasil; quase poderá erguer o braço no esforço
continuará operando de modo seguro. Perigosos são os por interagir e intensificar a reflexão. E, como nos con-
trabalhadores. gressos e reuniões científicas, em que selecionamos
Se este é o quadro atual, não podemos deixar de previamente no programa as sessões que serão acom-
ter a esperança que Tom Dwyer deposita no seu último panhadas a cada momento, o leitor poderá fazer sua
capítulo: “...a esperança de que os atores sociais e as re- própria agenda de leitura numa rayuela de capítulos,
lações sociais concretas passarão a ser considerados de a despeito do esforço dos organizadores em imprimir
maneira mais ampla como responsáveis pela produção uma consistente ordenação temática, dividindo os ca-
de acidentes...” (p. 28). Essa esperança não só transfor- pítulos em grupos de três, abordando respectivamente
maria os acidentes em eventos capazes de resultar em “conceitos”, “processos decisórios”, “condicionantes e
um aprendizado social, mas também em medidas de efeitos das políticas públicas” e “implementação e ava-
controle e prevenção mais contextualizadas e efetivas. liação”.
Meu jogo da amarelinha começa com a interes-
Carlos Machado de Freitas santíssima incursão histórica aos programas de erra-
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Os-
dicação da malária e da varíola no Brasil, instâncias
waldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.
carlosmf@ensp.fiocruz.br privilegiadas de articulação entre políticas nacionais e
a agenda internacional de saúde. Judiciosamente apre-
1. Giddens A. As conseqüências da modernidade. sentado no final do volume, o estudo comparativo do
São Paulo: Editora Unesp; 1990. sucesso de uma e do fracasso da outra política pública
culmina o volume pontuando elementos conceituais
e analíticos perpassados nos capítulos anteriores. Gil-
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL. Hochman G, berto Hochman, no melhor de sua forma de analista
Arretche M, Marques E, organizadores. Rio de da história e saúde, oferece argumentos e informações
Janeiro: Editora Fiocruz, 2007. 398 pp. que esclarecem o desenvolvimento institucional gera-
ISBN: 978-85-7541-124-7 do pelos dois programas de saúde. Em uma perspectiva
ainda mais abrangente, o autor nos situa quanto à con-
Acostumado à pujança dos congressos anuais da Asso- tribuição dos programas de saúde para o processo de
ciação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva formação do Estado brasileiro.
(ABRASCO), tidos internacionalmente como exemplo A predileção pela saúde e pela metodologia de pes-
de mobilização e integração de docentes, estudantes, quisa quantitativa atrai a leitura de Condicionantes Lo-
pesquisadores, técnicos e gestores dos serviços de saú- cais da Descentralização das Políticas de Saúde, capítu-
de, o leitor de Cadernos de Saúde Pública decerto não lo em que Marta Arretche e Eduardo Marques testam a
deixará de apreciar a função análoga dos encontros hipótese de que, ao concentrar no nível federal o poder
anuais da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Gra- de decisão para implementar políticas redistributivas,
duação em Ciências Sociais (ANPOCS) no meio da pes- o processo de descentralização do sistema de saúde
quisa social. Ao contrário da Saúde Coletiva, no entan- teria contribuído para reduzir diferenças regionais no
to, a área de Ciências Sociais não conta, no Brasil, com acesso a serviços. Para esse fim foram cotejados da-
um campo institucional tão dinâmico para a divulga- dos sócio-econômicos dos municípios e informações

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(9):2193-2196, set, 2008

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