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São Luís
2019
BRENO VERÍSSIMO ALMEIDA VALE
JULIANA ESTER MARTINS GOMES
MARIA EDUARDA CHAVES SABOIA
MARINA VIANA MENDES
São Luís
2019
CAPÍTULO I
É muito comum fazer a conexão lógica entre direitos e codificação. Essa relação
tão comum atualmente não se tornou popular rapidamente, dado que os países anglo-saxônicos
não têm códigos. Essa relação só se tornou comum nos dois últimos séculos por conta de duas
codificações que se tornaram historicamente importantes: A Napoleônica e a Justiniana. O
Código Napoleônico por ter influenciado diversas outras codificações em países diferentes e o
Código de Justiniano por ter fundado o direito comum na Roma Antiga e Idade Média.
Apesar de serem de suma importância para o mundo jurídico e acabarem sendo
feitas conexões para explicá-las, é necessário ressaltar que tais codificações guardam suas
peculiaridades. O Código de Justiniano é um conglomerado de leis anteriores e fragmentos dos
principais jurisconsultos romanos. Já o Código Napoleônico é sistematizado e expressamente
elaborado como os códigos que existem atualmente.
O Código Napoleônico surge em meio ao ambiente revolucionário. A França vivia
sob a égide de vários códigos que se se alternavam de acordo com a localidade. Após os eventos
da Revolução Francesa, então surgiu um movimento para unificar e simplificar o direito
francês. A multiplicidade e a alta complexidade das leis francesas eram vistas pelos
revolucionários como um fruto do arbítrio da história. Logo, este corpo antigo deveria ser
substituído por um sistema simplificado e único que deveria ser baseado e dirigido pela ciência
da legislação.
Continuando nessa linha, pensou-se fazer uma legislação o mais simples possível,
já que os juristas racionalistas diziam que a natureza era simples e assim as leis deveriam ser.
É importante frisar que a multiplicidade das leis é fruto da corrupção. Essa máxima sempre era
relembrada visto que se procurava uma legislação em que todos pudessem ter amplo acesso.
A idealização de uma legislação jusnaturalista e iluminista se afastou
progressivamente daquilo que era projetado e caminhou para o direito comum francês. O
projeto definitivo do Código de Napoleão foi aprovado em 1804, mas antes desse ano houve
outras tentativas de implantar codificações. Esses projetos tinham carácter extremamente
iluminista por nasceram no âmbito da Convenção. O primeiro personagem desse período foi
Cambacérès (1753-1824). Tratava-se de um notório jurista e político que conseguiu transitar
por diversos períodos importantes durante este período por sua prudência.
Inicialmente, foi magistrado na cidade de Montpellier, mais tarde, advogado em
Paris, onde foi eleito membro da Convenção. Logo após o golpe de Estado de Napoleão do 18
Brumário, foi nomeado segundo-cônsul. Cambacérés permaneceu fiel à Napoleão mesmo
durante os Cem Dias.
Durante a Convenção e o Diretório, Cambacérès apresentou três propostas de
Código Civil com inspiração jusnaturalista. O primeiro foi apresentado em 1793, e se inspirava
em três princípios fundamentais: reaproximação da natureza, unidade e simplicidade. O projeto
tinha 719 artigos, estava dividido em duas partes: às pessoas e aos bens. Este primeiro código
estava baseado em um ideal de igualdade de todos perante a lei e a liberdade pessoal. Foi
recusado pelos demais deputados por ser considerado pouco “filosófico’’ e mais “jurídico’’.
O segundo Código foi apresentado por Cambacérès em 1794 (um mês e meio depois
da morte de Robespierre), tratava-se de um projeto mais simples com 287 artigos o qual ele
mesmo qualificou de “códigos de leis fundamentais’’ porque nele se estabelecia apenas os
princípios essenciais. Se caracterizava pelos princípios de: “ser senhor da pessoa própria’’,
“possuir bens para satisfazer as próprias necessidades’’ e ‘’poder dispor desses bens no
interesse próprio e da família’’. Este projeto fracassou por ter levantando conflitos e dos 287
artigos, apenas 10 foram discutidos.
O terceiro código foi apresentado em 1796, durante o Diretório, ao Conselho dos
Quinhentos. Percebendo que os juristas tradicionalistas barrariam um código com ideias
simples e unitárias, elaborou este com nada menos que 1.004 artigos e onde houve uma certa
timidez dos ideais naturalistas. O projeto não foi aprovado, entretanto teve uma importância
histórica pois exerceu influência na elaboração do projeto definitivo do Código Civil, o Código
Napoleônico.
O projeto definitivo do Código Napoleônico foi elaborado por uma comissão
nomeada por Napoleão em 1800 e composta por: Trochet, Maleville, Brigot- Préameneau e
Portalis. Quem teve maior importância neste projeto foi Jean Etienne Marie Portalis (1746-
1807), também jurista e político liberal moderado. Portalis foi preso por Robespierre por suas
convicções políticas, mas durante o Diretório atingiu uma posição política de destaque.
Entretanto, Portalis acabou sendo exilado por três anos (1797-1800) por ser acusado de manter
contato com emigrados políticos, uma acusação injusta.
A Comissão eleita para redigir o projeto do Código Civil elaborou um projeto que
foi subjugado no Conselho de Estado e foi discutido em sessões memoráveis, presididas pelo
próprio Napoleão, ele participou de 57 sessões do total de 102. Participou, também, ativamente
do exame das disposições do Código e se colocava como solucionador de divergências
levantadas no Conselho.No projeto final, toda a concepção jusnaturalista foi abandonado (nem
Cambacérès a defendia mais) dando lugar a tradição orgânica e sintética do direto comum
francês.
O Código Napolêonico não foi pensado para ser o fim de um princípio, mas sim a
confluência, um ponto de partida. Se o que se estigmatizou posteriormente foi o pensamento
que o Código de Napoleão foi uma ruptura, isso se dá por conta dos primeiros interpretadores
e não por conta dos redatores.
O autor inicia sua crítica à common law elencando cinco defeitos: a) incerteza da
common law, na qual o direito judiciário não traz segurança aos direitos individuais de toda
sociedade e o juiz exerce atividade criativa de direito, o que não lhe cabe, visto que já há um
direito preexistente e completo; b) retroatividade do direito comum, quando o juiz cria um
novo precedente ao usar uma norma que ele mesmo criou. Retroativa porque foi aplicada a um
comportamento quando ela ainda não existia, violando um dos fundamentos do pensamento
jurídico liberal da irretroatividade da lei, em que uma norma não deve ser aplicada a um fato
antes da vigência dela; c) não ser fundamentado no princípio da utilidade, pois o juiz funda-
se em uma regra preexistente ou em analogia a uma sentença precedente, aplicando e criando o
direito. Essa é oposta à Bentham, visto que ele é contra uma concepção positivista da atividade
judiciária, a qual prescinde da natureza dos interesses envolvidos, quando deveria ser do
legislador; d) falta de competência específica em todos os campos do direito: mesmo que o
juiz tenha o dever de solucionar controvérsias, ele não tem todo aparato para tal, devendo
recorrer a produção legislativa, responsável pela especificidade da redação de leis; e) o povo
não controla a produção do direito por parte dos juízes: quando o direito é criado pelo
Parlamento, expressa a vontade do povo. Este, então, tem controle dessa produção, mas quando
a criação do direito é feita pelos juízes, torna-se político.
Dessa maneira, é evidente que Bentham era contrário à redação de um código feita por
juízes. Esse comportamento era explicado por dois motivos: primeiro porque ele desconfiava
dos juristas, pois estes lucrariam com o caos do direito; segundo porque queria um código
unitário e simples, de modo a ser universal. A pessoa encarregada de escrever o código não
deveria receber remuneração, a fim de evitar abusos, além de ser submetida a concurso para
designar tal função, podendo inclusive ser estrangeira, já que, para ele, caso o fosse, estaria
livre de preconceitos.
Um bom código seguiria quatro requisitos fundamentais: utilidade, completitude,
cognoscibilidade e justificabilidade. O primeiro baseado no princípio do utilitarismo da “maior
felicidade para o maior número” (p.100), isto é, ser útil para o maior número de pessoas; o
segundo porque o código deve ser completo sem apresentar lacunas, de modo a evitar a atuação
inconveniente do judiciário; o terceiro implica a clareza que o código deve ter, para que todos
os cidadãos o conheçam; por fim, os motivos cognoscíveis da lei devem ser conhecidos, pois
só assim ela será compreensível.
25. Austin: a tentativa de mediação entre a escola histórica alemã e o utilitarismo inglês.
O direito judiciário da Inglaterra não era totalmente negado por Austin. Ele recorria a
“autoridade subordinada” que coloca o direito a partir do poder delegado pelo soberano, pois
mesmo que os juízes criem o direito, eles agem com base no poder estatal. A diferença entre o
direito legislativo e judiciário dá-se, desse modo, em que via foi posta pelo soberan, já que o
legislativo é constituído por normas gerais e abstratas, enquanto o judiciário por normas
específicas e particulares.
Embora Austin siga o ensinamento de Bentham da superioridade do direito
legislativo ao judiciário, ele também acredita que a produção deste não pode ser controlada pela
comunidade política. Além disso, refuta a natureza arbitrária do juiz, pois este não é totalmente
livre para agir como quer e elenca suas objeções em sete pontos: a) acessibilidade do direito
judiciário; b) menor ponderação da deliberação da produção do direito; c) eficácia retroativa;
d) judiciário é vago e incoerente; e) dificuldade de certificar a validade das normas do direito
judiciário; f) escassa compreensibilidade nos casos concretos; g) direito judiciário não é
autossuficiente e precisa de intervenção das normas legislativas.
Diante das críticas feitas ao sistema judiciário, ele deve ser substituído pela
codificação. Para essa sustentação, explica as fases do desenvolvimento do direito legislativo:
emanado para integrar o judiciário e para a lei ser a fonte de produção do direito, culminando
na codificação. O código, no entanto, não deve ser uma coleta de leis preexistentes, mas uma
reformulação do direito vigente na sociedade, com um texto coerente e unitário e uma inovação
quanto à forma. Ele faz objeções sobre o código: a) mesmo que o código seja incompleto, ainda
deixa menos lacunas que o judiciário; b) o código deve ter normas numerosas e minuciosas para
aproximar-se da completitude; c) deve ser inalterável, mas não da forma que o judiciário o faz,
por meio de analogia e precedentes; d) quando codificado, o direito torna-se menos maleável,
mas isso não seria um inconveniente, pois excessiva maleabilidade traz consigo insegurança
jurídica; e) o direito codificado favorece controvérsias, porque crescem os casos que admitem
pluralidade de soluções.
Austin refuta esta crítica, pois, para ele, a codificação elimina ambiguidades, de modo
a impossibilitar equívocos e controvérsias em imprecisões interpretativas. Para isso, ele difere
de Bentham da escolha da elaboração do código, porque ele não poderia ser obra de uma única
pessoa, mas também não de várias, já que traduziria uma codificação incoerente. Desse modo,
Austin formula uma solução intermediária: a elaboração por uma pessoa, mas posteriormente
analisado por uma comissão que faria correções se necessárias. Além disso, o jurista
conservador também difere de Bentham na questão da acessibilidade do código, pois defendia
que fosse acessível somente aos juristas, mas não ao povo (para ser acessível a todos os
cidadãos, o código deveria ser simples, o que o tornaria em um código ruim).