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Informativo 635-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO AMBIENTAL
RESPONSABILIDADE CIVIL
Súmula 618-STJ.
DIREITO CIVIL
BEM DE FAMÍLIA
Os direitos do devedor fiduciante sobre o imóvel objeto do contrato de alienação fiduciária em garantia podem
receber a proteção da impenhorabilidade do bem de família legal.
CONTRATOS
Reconhecida a coligação contratual, é possível a extensão da cláusula compromissória prevista no contrato principal
de abertura de crédito aos contratos de swap.
DIREITO DO CONSUMIDOR
PLANO DE SAÚDE
Não é abusiva a cláusula de coparticipação para internação superior a 30 dias decorrentes de transtornos
psiquiátricos.
DIREITO EMPRESARIAL
FALÊNCIA
É cabível a interposição de agravo de instrumento contra todas as decisões interlocutórias em processo falimentar
e recuperacional.
HONORÁRIOS PERICIAIS
Mesmo que o dispositivo da sentença mencione apenas a condenação em custas processuais, é possível incluir a
cobrança dos honorários periciais.
RECURSOS
É cabível a interposição de agravo de instrumento contra todas as decisões interlocutórias em processo falimentar
e recuperacional.
EXECUÇÃO
Análise da impenhorabilidade prevista no art. 649, IV do CPC/1973 (art. 833, IV, do CPC/2015).
EXECUÇÃO FISCAL
Forma de contagem do prazo da prescrição intercorrente prevista no art. 40, da LEF.
DIREITO PENAL
CONTRABANDO / DESCAMINHO
Competência da Justiça Federal.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PREVIDÊNCIA PRIVADA
TR não pode ser utilizada como índice de correção monetária dos benefícios da previdência privada a partir de
05/09/1996.
DIREITO AMBIENTAL
RESPONSABILIDADE CIVIL
Súmula 618-STJ
É possível a inversão do ônus da prova nas ações em que se pede a reparação econômica pelos danos
causados ao meio ambiente?
SIM. A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.
Princípio da precaução
Uma das razões que justifica essa inversão do ônus da prova é o princípio da precaução.
Por meio do princípio da precaução, entende-se que o meio ambiente deve ter em seu favor o benefício
da dúvida no caso de incerteza.
Em outras palavras, se existe uma desconfiança, um risco de que determinada atividade pode gerar um dano
ambiental ao meio ambiente e à saúde humana, deve-se considerar que esta atividade acarreta sim este dano.
Logo, é a empresa-ré (empresa poluidora) quem tem o ônus de provar que a atividade econômica por ela
desempenhada não gerou o dano ambiental que foi alegado pelo autor na ação de reparação. Nesse sentido:
O princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório, competindo a quem supostamente
promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou ou que a substância lançada ao meio ambiente
não lhe é potencialmente lesiva.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.060.753/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 01/12/2009.
Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais tem o dever de reparar os danos causados e, em
tal contexto, transfere-se a ele todo o encargo de provar que sua conduta não foi lesiva.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.049.822/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 23/04/2009.
Esse princípio foi posteriormente incluído na Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Eco-92). Além desses documentos, o princípio da precaução está contido,
implicitamente, no art. 225, § 1º, IV e V, da CF/88:
Art. 225 (...)
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
(...)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
Regra de instrução
A inversão do ônus da prova de que trata o art. 6º, VIII, do CDC é REGRA DE INSTRUÇÃO, devendo a decisão
judicial que determiná-la ser proferida preferencialmente na fase de saneamento do processo ou, pelo
menos, assegurar à parte a quem não incumbia inicialmente o encargo a reabertura de oportunidade para
manifestar-se nos autos.
STJ. 2ª Seção. EREsp 422.778-SP, Rel. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgados em 29/2/2012.
DIREITO CIVIL
BEM DE FAMÍLIA
Os direitos do devedor fiduciante sobre o imóvel objeto do contrato de alienação fiduciária em
garantia podem receber a proteção da impenhorabilidade do bem de família legal
Importante!!!
Os direitos do devedor fiduciante sobre imóvel objeto de contrato de alienação fiduciária em
garantia possuem a proteção da impenhorabilidade do bem de família legal.
Ex: João fez um contrato de alienação fiduciária para aquisição de uma casa; ele está morando
no imóvel enquanto paga as prestações; enquanto não terminar de pagar, a casa pertence ao
banco; apesar disso, ou seja, a despeito de possuir apenas a posse, os direitos de João sobre o
imóvel não podem ser penhorados porque incide a proteção do bem de família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.079-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/09/2018 (Info 635).
Regramento
O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-
B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema:
• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97;
• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e
Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento
bancário com garantia de alienação fiduciária.
Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma
subsidiária:
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-
se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste
Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial.
Resumindo:
Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de
bens MÓVEIS fungíveis e bens MÓVEIS infungíveis
Alienação fiduciária de
infungíveis quando o credor quando o credor fiduciário for
bens IMÓVEIS
fiduciário for pessoa natural ou jurídica
instituição financeira (sem ser banco)
Lei nº 4.728/65 Código Civil de 2002
Lei nº 9.514/97
Decreto-Lei nº 911/69 (arts. 1.361 a 1.368-A)
Execução
João emitiu 10 cheques em favor de Pedro, totalizando R$ 100 mil. Ocorre que não havia fundos.
Pedro ingressou, então, com execução de título extrajudicial contra João cobrando os cheques.
O devedor foi citado, mas não pagou o débito.
João não tem nenhum bem em seu nome.
Diante disso, o juiz determinou a penhora, em favor de Pedro, dos direitos que João (devedor) possui
sobre o imóvel alienado fiduciariamente.
Assim, a penhora não recaiu sobre a propriedade do imóvel (considerando que João não a tem). A penhora
recaiu tão somente sobre os direitos obrigacionais que o devedor fiduciante possui sobre o imóvel.
Isso é permitido?
SIM. Mesmo sem previsão legal expressa, isso já era permitido na vigência do CPC/1973. Agora, contudo,
o CPC/2015 consagrou textualmente essa possibilidade. Confira:
Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
(...)
XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação fiduciária em
garantia;
Vale ressaltar que não se está penhorando o imóvel. O imóvel não pode ser penhorado por dívidas do
devedor fiduciante porque o bem não pertence a ele, mas sim à instituição financeira (credor fiduciário).
Veja como o STJ separa bem as coisas:
O bem alienado fiduciariamente, por não integrar o patrimônio do devedor, não pode ser objeto de
penhora.
Nada impede, contudo, que os direitos do devedor fiduciante oriundos do contrato sejam constritos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.646.249/RO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/4/2018.
Como a propriedade do bem é do credor fiduciário, não se pode admitir que a penhora em decorrência
de crédito de terceiro recaia sobre ele, mas podem ser constritos os direitos decorrentes do contrato de
alienação fiduciária.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 644.018/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 2/6/2016.
Impenhorabilidade
João alegou que o imóvel que está alienado fiduciariamente é o local onde ele mora com sua esposa. Logo,
deve ser considerado bem de família, nos termos do art. 1º da Lei nº 8.009/90.
Sendo bem de família, ele é impenhorável (art. 3º da mesma Lei).
O juiz negou a liberação da penhora alegando, entre outras razões, que o art. 1º da Lei nº 8.009/90 exige
que o imóvel pertença ao devedor, o que não é o caso, considerando que o bem pertence ao banco. Veja
a redação da Lei do Bem de Família e o trecho no qual o magistrado se baseou:
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não
responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza,
contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo
nas hipóteses previstas nesta lei.
João recorreu até que a questão chegou ao STJ. A tese alegada pelo devedor fiduciante foi aceita pelo STJ?
SIM.
Os direitos do devedor fiduciante sobre imóvel objeto de contrato de alienação fiduciária em garantia
possuem a proteção da impenhorabilidade do bem de família legal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.079-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/09/2018 (Info 635).
“(...) Mas não só a propriedade é protegida pela impenhorabilidade legal; também a posse é
abrangida pelo benefício. (...) A expressão 'imóvel residencial próprio', vale dizer, compreende
também o imóvel que está sendo adquirido, desde que incontroverso e devidamente registrado o
compromisso de compra e venda." (VASCONCELOS, Rita de Cássia Corrêa. A impenhorabilidade do
bem de família e as novas entidades familiares. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 48)
Desse modo, a exegese (interpretação) que melhor representa o objetivo da Lei é aquela que entende que
a expressão “imóvel residencial próprio” engloba a posse advinda de contrato celebrado com a finalidade de
transmissão da propriedade, a exemplo do compromisso de compra e venda ou de financiamento de imóvel
para fins de moradia. Isso porque não se pode perder de vista que a proteção abrange o imóvel em fase de
aquisição, sob pena de impedir que o devedor adquira o bem necessário à habitação da entidade familiar.
No caso, trata-se de contrato de alienação fiduciária em garantia, no qual, havendo a quitação integral da
dívida, o devedor fiduciante consolidará a propriedade para si (art. 25, caput, da Lei nº 9.514/97). Assim,
havendo a expectativa da aquisição do domínio, deve prevalecer a regra de impenhorabilidade.
CONTRATOS
Reconhecida a coligação contratual, é possível a extensão da cláusula compromissória
prevista no contrato principal de abertura de crédito aos contratos de swap
Nos contratos coligados, as partes celebram uma pluralidade de negócios jurídicos tendo por
desiderato um conjunto econômico, criando entre eles efetiva dependência.
Tendo sido reconhecida a coligação contratual, é possível que a cláusula compromissória
prevista no contrato principal (contrato de abertura de crédito) seja estendida ao contrato de
swap (dependente). Isso porque ambos são integrantes de uma operação econômica única.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.639.035-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/09/2018
(Info 635).
Parte desse valor emprestado pelo Banco seria pago pela empresa mediante a integralização de ações
societárias da devedora (Paranapanema) em favor do banco credor. Em palavras mais simples, o banco,
em vez de receber em dinheiro, seria pago com ações da empresa.
Cláusula compromissória
Vale ressaltar que este contrato de abertura de crédito tinha uma cláusula compromissória.
A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é...
- uma cláusula prevista no contrato,
- de forma prévia e abstrata,
- por meio da qual as partes estipulam que
- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato
- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal).
Exemplo:
“Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste
contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil
brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de
Arbitragem).”
Contrato de swap
Concomitantemente ao contrato de abertura de crédito, a empresa e o Banco celebraram também um
contrato de swap.
Swap é uma palavra de origem inglesa que significa “troca”, “permuta”.
O contrato de swap ocorre quando o contratante “1” assume o risco e a rentabilidade que eram
originalmente do contratante “2” e o contratante “2” assume o risco e a rentabilidade que eram
originalmente do contratante “1”.
Informativo 635-STJ (09/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8
Informativo
comentado
Contratos coligados
Conforme explica Carlos Roberto Gonçalves, contratos coligados são aqueles que, embora distintos, estão
ligados por uma cláusula acessória, implícita ou explícita.
Nos contratos coligados, as partes celebram uma pluralidade de negócios jurídicos tendo por desiderato
um conjunto econômico, criando entre eles efetiva dependência.
Conforme explica Daniel Carnacchioni:
“Nos contratos coligados ou conexos, há a agregação de vários negócios para a viabilização de
uma operação econômica.
(...)
Nos contratos coligados estes são desejados como um todo, pois isoladamente cada contrato não
viabilizaria o interesse dos contratantes. Os contratos condicionam-se reciprocamente em sua
existência e validade e, agregados, formam uma unidade econômica.” (Manual de Direito Civil.
Salvador: JusPodivm, 2017, p. 843).
Desse modo, extraindo-se que, num sistema de coligação contratual, o contrato reputado como sendo o
principal determina as regras que deverão ser seguidas pelos demais instrumentos que a este se ajustam,
não se mostra razoável que uma cláusula compromissória prevista no contrato principal (contrato de
abertura de crédito) não tivesse seus efeitos estendidos ao contrato acessório (contrato de swap).
Súmula 619-STJ: A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza
precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 24/10/2018, DJe 30/10/2018.
Neste lugar, que era apenas um terreno plano, sem qualquer edificação, estes invasores constroem 10
casas, onde passam a morar com as suas famílias. Além disso, fazem também galinheiros e outras
benfeitorias, além de plantações de milho, mandioca, feijão, cana e frutas.
Esses particulares permanecem no local por mais de 20 anos.
A TERRACAP, então, finalmente, decide ingressar com uma ação reivindicatória contra os “invasores”.
A partir dessa situação, podemos fazer algumas perguntas:
Se os ocupantes da área alegarem, em sua defesa, a existência de usucapião (Súmula 237-STF), este
argumento poderá ser acolhido pelo juízo?
NÃO. Isso porque o imóvel pertence ao poder público (empresa pública). Trata-se, portanto, de bem
público e os bens públicos não estão sujeitos a usucapião, conforme preveem os arts. 183, § 3º e 191,
parágrafo único, da CF/88 e o art. 102 do Código Civil.
Segundo o art. 98 do Código Civil:
Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito
público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
Se fôssemos levar em consideração a redação literal do art. 98 do CC, este imóvel não poderia ser
considerado como bem público, considerando que a TERRACAP é uma empresa pública (pessoa jurídica
de direito privado).
No entanto, a doutrina defende que também deve ser considerado bem público aquele pertencente à
pessoa jurídica de direito privado que seja prestadora de serviço público quando este bem estiver
vinculado à prestação dessa atividade. Nesse sentido: CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito
Administrativo. 14ª ed. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 391.
Esta orientação é acolhida pela jurisprudência, conforme aconteceu quando o STF reconheceu que os bens
dos Correios (empresa pública federal) são impenhoráveis:
Os bens, as rendas e os serviços da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos são impenhoráveis e a
execução deve observar o regime de precatórios.
STF. 1ª Turma. RE 393032 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 27/10/2009.
Além disso, no caso da TERRACAP, o STJ, há muito tempo, consolidou o entendimento de que seus bens
são públicos, considerando que eram bens do Distrito Federal e que foram transferidos à NOVACAP e
depois para a TERRACAP a fim de serem administrados descentralizadamente. Logo, permaneceram com
a mesma característica:
Os imóveis administrados pela Companhia Imobiliária de Brasília (TERRACAP) são públicos.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 762.197/DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 01/09/2016.
Desse modo, os ocupantes terão que realmente deixar o imóvel. No entanto, indaga-se: eles poderão
pedir indenização ao Poder Público pelas acessões e benfeitorias que fizeram no imóvel (exs: as casas,
os galinheiros, as plantações etc.)? Eles poderão se valer do direito de retenção, permanecendo no
imóvel enquanto o Poder Público não pagar a indenização devida?
NÃO. Vamos entender com calma os argumentos do STJ:
O legislador brasileiro, ao adotar a teoria objetiva de Ihering, definiu a posse como o exercício de algum
dos poderes inerentes à propriedade:
Art. 1.196 do CC. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não,
de algum dos poderes inerentes à propriedade.
O art. 1.219 do CC reconheceu, ao possuidor de boa-fé, o direito à indenização pelas benfeitorias úteis e
necessárias, além do direito de retenção:
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis,
bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem
detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias
e úteis.
Apesar de o art. 1.219 do CC mencionar apenas “benfeitorias”, a doutrina majoritária e o STJ entendem
que o direito de retenção abrange também as acessões (como é o caso de uma casa construída em um
terreno). Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. Resp 1.316.895/SP, julgado em 11/06/2013.
Foi o entendimento consagrado na I Jornada de Direito Civil do CJF/STF:
Enunciado 81: O direito de retenção previsto no art. 1.219 do CC, decorrente da realização de benfeitorias
necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias.
Aliás, o Código Civil possui um dispositivo semelhante para os casos de construções. Veja:
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do
proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a
indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno,
aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento
da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.
Mesmo o possuidor de má-fé tem direito à indenização pelas benfeitorias necessárias, não tendo,
contudo, direito de retenção:
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe
assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
Configurada a ocupação indevida de bem público, não há falar em posse, mas em mera detenção, de
natureza precária, o que afasta direitos típicos de posseiro.
STJ. 2ª Turma. REsp 1762597/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16/10/2018.
Mas o Poder Público foi omisso e permitiu que os invasores ficassem anos no local...
“O imóvel público é indisponível, de modo que eventual omissão dos governos implica responsabilidade
de seus agentes, nunca vantagem de indivíduos às custas da coletividade.
Invasores de áreas públicas não podem ser considerados sócios ou beneficiários da omissão, do descaso
e da inércia daqueles que deveriam zelar pela integridade do patrimônio coletivo.
(...)
Entender de modo diverso é atribuir à detenção efeitos próprios da posse, o que enfraquece a
dominialidade pública, destrói as premissas básicas do Princípio da Boa-Fé Objetiva, estimula invasões e
construções ilegais, e legitima, com a garantia de indenização, a apropriação privada do espaço público.
(...)
Saliente-se que o Estado pode – e deve – amparar aqueles que não têm casa própria, seja com a
construção de habitações dignas a preços módicos, seja com a doação pura e simples de residência às
pessoas que não podem por elas pagar. É para isso que existem as Políticas Públicas de Habitação federais,
estaduais e municipais. O que não se mostra razoável é torcer as normas que regram a posse e a
propriedade para atingir tais objetivos sociais e, com isso, acabar por dar tratamento idêntico a todos os
que se encontram na mesma situação de ocupantes ilegais daquilo que pertence à comunidade e às
gerações futuras – ricos e pobres.” (Min. Herman Benjamin, no Resp 945.055/DF).
Conclusões
• A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária.
• A mera detenção não confere ao detentor os mesmos direitos do possuidor.
• A mera detenção não gera direito de retenção ou de indenização por acessões e benfeitorias realizadas
no bem público.
SITUAÇÕES PECULIARES
Existem duas situações peculiares que podem gerar confusão com o tema tratado na Súmula 619, mas
que são ligeiramente diferentes. A fim de que você tenha um conhecimento completo sobre o assunto,
passo a tratar delas agora.
1) Particular pode ajuizar ação possessória tendo como objeto bem público de uso comum do povo
Imagine a seguinte situação hipotética:
A empresa “XX” começou a construir uma indústria em um terreno localizado na área rural do Município.
Ocorre que a obra avançou sobre uma rua que liga uma comunidade de 12 casas com a avenida principal.
Em outras palavras, parte da indústria em construção está invadindo a via de acesso para as casas dos
moradores locais.
Diante disso, os moradores ajuizaram ação de reintegração de posse contra a empresa alegando que a rua
que está sendo invadida representa uma servidão de passagem que dá acesso aos loteamentos há mais
de 20 anos.
A ré alegou, dentre outros argumentos, que a estrada objeto da controvérsia é bem público municipal de
uso comum, não podendo sua proteção possessória ser requerida por particulares. Isso porque os
particulares não detêm a posse dos bens públicos, mas sim a mera detenção, que não pode ser tutelada
por ações possessórias.
A tese da empresa foi acolhida pelo STJ?
Não. O STJ decidiu que:
Particulares podem sim ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício do uso de via municipal
(bem público de uso comum do povo) instituída como servidão de passagem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016 (Info 590).
Realmente, o STJ possui inúmeros julgados afirmando que a ocupação irregular de bem público dominical
não caracteriza posse, mas mera detenção, hipótese que afasta o reconhecimento de direitos em favor do
particular com base em alegada boa-fé.
Assim, por exemplo, se o particular invade um bem público que não é utilizado para nada (ex: um terreno
baldio), a jurisprudência entende que ele não é considerado possuidor, mas mero detentor. Nesse sentido
é a Súmula 619-STJ. Logo, o invasor não poderá invocar a proteção possessória contra o Poder Público.
Esse entendimento, porém, não se aplica para o caso de um particular que está defendendo seu direito
de usar um bem público de uso comum do povo. Aqui a situação é diferente.
No caso de bens públicos de uso comum do povo, podemos sim falar em posse e o particular poderá
defendê-la em juízo.
Desse modo, podemos concluir que:
• o ordenamento jurídico não permite que o particular que ocupa um bem público possa pedir proteção
possessória contra o Poder Público, considerando que a sua relação com o bem configura mera detenção;
• é possível, no entanto, que particulares exerçam proteção possessória para garantir seu direito de
utilizar bens de uso comum do povo, como é o caso, por exemplo, da tutela possessória para assegurar o
direito de uso de uma via pública.
2) Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua
permanência no local?
Imagine a seguinte situação hipotética:
João mora em uma chácara há 20 anos. Ele ajuizou ação de reintegração de posse contra Pedro, alegando
que o requerido invadiu metade do terreno em que vive.
O Distrito Federal pediu a sua intervenção no feito alegando que a chácara em que João mora pertence
ao Poder Público, em nome de quem está registrada. Trata-se, portanto, de bem público e, sendo assim,
não pode ser objeto de proteção possessória por parte do particular. Isso porque o particular que ocupa
um bem público não tem a posse deste imóvel, mas sim a mera detenção.
A jurisprudência sempre entendeu que se o particular ocupa um bem público, não se pode falar, neste
caso, em posse, havendo mera detenção. Nesse mesmo sentido é a Súmula 619-STJ.
Em suma, o ocupante de bem público é considerado mero detentor da coisa e, por conseguinte, não há
que se falar em proteção possessória, nem em indenização por benfeitorias ou acessões realizadas, por
configurar desvio de finalidade (interesse particular em detrimento do interesse público), além de violação
aos princípios da indisponibilidade do patrimônio público e da supremacia do interesse público.
Em razão disso, é juridicamente impossível que um particular que esteja ocupando irregularmente um
bem público ajuíze ação de reintegração ou de manutenção de posse contra o Poder Público, por exemplo.
Ocorre que o STJ, no REsp 1.296.964-DF, disse que essa posição (invasor como mero detentor) possui uma
exceção: se dois particulares estão litigando sobre a ocupação de um bem público, o STJ passou a entender
que, neste caso, é possível que, entre eles, sejam propostas ações possessórias (reintegração,
manutenção, interdito proibitório).
Assim, é cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de invasor de terra pública, desde que
contra outros particulares.
Existem decisões das duas Turmas do STJ nesse sentido:
STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).
Duas situações
Importante destacar mais uma vez que são duas situações que devem ter tratamentos diferentes:
1) particular invade imóvel público e deseja 2) particular invade imóvel público e deseja
proteção possessória em face do proteção possessória em face de outro
PODER PÚBLICO: PARTICULAR:
Não terá direito à proteção possessória. Terá direito, em tese, à proteção possessória.
Não poderá exercer interditos possessórios É possível o manejo de interditos possessórios em
porque, perante o Poder Público, ele exerce mera litígio entre particulares sobre bem público
detenção. dominical, pois entre ambos a disputa será relativa
à posse.
Voltando ao exemplo dado. O argumento invocado pelo Distrito Federal não poderá ser acolhido e o juiz
decidirá qual dos dois particulares tem a posse: João ou Pedro. No entanto, se o DF ajuizar uma ação
possessória contra João, este poderá invocar que tinha a posse e pedir indenização ou a retenção das
benfeitorias realizadas no local?
Não. Isso porque, conforme vimos acima, se o litígio for contra o Poder Público, a ocupação de área pública
pelo particular será considerada mera detenção, que não gera direitos de indenização ou retenção, não
havendo proteção possessória ao particular, neste caso.
Assim, o particular tem apenas detenção em relação ao Poder Público, não se cogitando de proteção
possessória.
DIREITO DO CONSUMIDOR
PLANO DE SAÚDE
Não é abusiva a cláusula de coparticipação para internação superior a 30 dias
decorrentes de transtornos psiquiátricos
Contudo, o art. 16, VIII da mesma Lei, afirma que o contrato poderá exigir do consumidor ou beneficiário
um percentual a título de coparticipação para as despesas médica, hospitalar e odontológica. A cautela
que a lei impõe é no sentido de que essa exigência deve ser feita com clareza.
Percebe-se, assim, que a Lei nº 9.656/98 autoriza, expressamente, a possibilidade de coparticipação do
contratante em despesas médicas específicas, desde que figure de forma clara e expressa a obrigação para
o consumidor no contrato.
Logo, não há ilegalidade na contratação de plano de saúde em regime de coparticipação. Ao contrário,
existe até mesmo previsão expressa na Lei (art. 16, VIII, da Lei nº 9.656/98).
Tais limitações estão previstas no art. 2º, VII da Resolução nº 8/1998 do CONSU:
Art. 2º Para adoção de práticas referentes à regulação de demanda da utilização dos serviços de
saúde, estão vedados:
(...)
VII - estabelecer co-participação ou franquia que caracterize financiamento integral do
procedimento por parte do usuário, ou fator restritor severo ao acesso aos serviços;
Não é possível atribuir ao usuário de plano de saúde, sob o disfarce da coparticipação, o custeio da maior
parte das despesas médicas, impedindo-o de usufruir dos serviços de assistência à saúde contratados. Ex:
seria abusiva a cláusula que previsse que o plano de saúde pagaria 20% do tratamento e o usuário os 80%
restantes.
VIII - estabelecer em casos de internação, fator moderador em forma de percentual por evento,
com exceção das definições específicas em saúde mental.
Assim, o STJ entende que não é abusiva a cláusula de coparticipação expressamente contratada e
informada ao consumidor, para a hipótese de internação superior a 30 dias decorrentes de transtornos
psiquiátricos. Não há abusividade porque o objetivo é justamente manter o equilíbrio entre as prestações
e contraprestações que envolvem a gestão dos custos dos contratos de planos de saúde.
DIREITO EMPRESARIAL
FALÊNCIA
É cabível a interposição de agravo de instrumento contra todas as
decisões interlocutórias em processo falimentar e recuperacional
Importante!!!
É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisões interlocutórias em
processo falimentar e recuperacional, ainda que não haja previsão específica de recurso na
Lei nº 11.101/2005 (LREF).
Fundamento: interpretação extensiva do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.722.866-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/09/2018 (Info 635).
A Lei nº 11.101/2005, no mesmo sentido, prevê que se aplica o CPC, “no que couber, aos procedimentos”
de falência e recuperação judicial.
Rol do art. 1.015 do CPC/2015 não afasta a incidência das hipóteses previstas na Lei de Falência
Existem algumas hipóteses em que a própria Lei nº 11.101/2005 fala que cabe agravo. Exemplo:
Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência
do pedido cabe apelação.
Essas situações trazidas pela Lei nº 11.101/2005 continuam existindo e não foram afetadas pelo novo CPC,
tendo em vista que são previsões de lei específica.
O próprio inciso XIII do art. 1.015 do CPC/2015 determina esse “respeito” pelas leis específicas:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Assim, havendo disposição expressa da Lei de Recuperação de Empresas e Falência, essa prevalecerá sobre
o dispositivo do CPC, de modo que a aplicação desse Código será apenas para suprimento de lacunas e
omissões.
Hipóteses do art. 1.015 do CPC/2015 podem ser levadas para o processo falimentar ou de recuperação
judicial
Se a decisão proferida no âmbito falimentar/recuperacional se enquadrar em uma das hipóteses do rol do
art. 1.015 do CPC/2015, também será possível o manejo do agravo de instrumento.
Parágrafo único do art. 1.015 do CPC/2015 deve ser aplicado às decisões interlocutórias proferidas nos
processos de falência e recuperação judicial
O art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015 prevê o seguinte:
Art. 1.015 (...)
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário.
Para o STJ, o mesmo raciocínio que inspirou a permissão do agravo de instrumento para o processo de
execução e para o processo de inventário, deve ser aplicado para a aplicação deste recurso ao processo
falimentar e recuperacional.
Veja o que disse o Min. Luis Felipe Salomão:
“Assim como nos procedimentos previstos no parágrafo único em comento, as decisões de maior
relevância na recuperação judicial e na falência são tomadas antes da sentença propriamente dita
(muitos não aconsideram, inclusive, como de mérito), que, via de regra, se limita a reconhecer
fatos e atos processuais firmados anteriormente.
Consequentemente, aguardar a análise pelo Tribunal apenas em sede de apelação equivaleria à
irrecorribilidade prática da interlocutória, devendo incidir a interpretação extensiva do art. 1.015,
parágrafo único, do CPC à LREF, sendo que, pela sua natureza, as decisões judiciais proferidas
durante seu curso devem ser de logo combatidas.”
Desse modo, o STJ determinou que o parágrafo único do art. 1.015 do CPC deveria ser interpretado
extensivamente para abranger também as decisões interlocutórias proferidas nos processos de falência e
recuperação judicial.
Essa já havia sido a conclusão adotada na I Jornada de Direito Processual Civil do CJF:
Enunciado nº 69: A hipótese do art. 1.015, parágrafo único, do CPC abrange os processos concursais, de
falência e recuperação.
Em suma:
É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisões interlocutórias em processo
falimentar e recuperacional, ainda que não haja previsão específica de recurso na Lei nº 11.101/2005
(LREF).
Fundamento: interpretação extensiva do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.722.866-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/09/2018 (Info 635).
PRESSUPOSTO PROCESSUAL
Não há motivo para ser citada a sociedade empresária
se todos os sócios fazem parte do processo como parte
Embora o autor não tenha requerido a dissolução parcial da sociedade, é certo que ao formular pedido de
cobrança de distribuição de lucros e dividendos, ele pretende promover a dissolução da sociedade e a
apuração de haveres.
Apuração de haveres é o procedimento por meio do qual se calcula o valor devido ao sócio que deixa a
sociedade (art. 1.031 do CC e art. 599, III, do CPC/2015)
Ora, se não é necessária a citação da sociedade para dissolução parcial com apuração de haveres, não
haveria motivo para reconhecer o litisconsórcio passivo na hipótese de simples cobrança de valores
quando todos os sócios foram citados, como ocorre no presente caso.
Como a sociedade fica sujeita aos efeitos da decisão que tem apenas as partes como sócios, não haveria
razão para anular o feito, sem qualquer prejuízo à sociedade.
Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery destacam que o parágrafo único do art. 601 do
CPC/2015 segue orientação do STJ segundo a qual não existe litisconsórcio passivo necessário entre a
sociedade e os sócios, pois se todos os sócios fazem parte do polo passivo, consideram-se representados
os interesses da sociedade (Comentários ao código de processo civil. São Paulo: RT, 2015, p. 1.421).
Realmente, mesmo antes do CPC/2015, o STJ assim já decidia:
Na ação de dissolução parcial de sociedade limitada, é desnecessária a citação da pessoa jurídica se todos
os que participam do quadro social integram a lide.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.121.530/RN, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 13/9/2011.
Logo, não há que se falar em ilegitimidade passiva ou necessidade de litisconsórcio passivo necessário,
tendo em conta que, nos termos do art. 601, parágrafo único, do CPC, se todos os sócios já integram a
lide, os interesses da sociedade empresária estão representados.
Em suma:
Na ação de cobrança, é desnecessária a citação da sociedade empresária se todos os que participam do
quadro social integram a lide.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.731.464-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 25/09/2018 (Info 635).
HONORÁRIOS PERICIAIS
Mesmo que o dispositivo da sentença mencione apenas a condenação
em custas processuais, é possível incluir a cobrança dos honorários periciais
Importante!!!
A sentença transitou em julgado condenando a parte a pagar "custas processuais", sem falar
sobre os honorários periciais. É possível que esses honorários periciais sejam cobrados da
parte sucumbente mesmo não tendo sido expressamente mencionados na sentença?
SIM. É adequada a inclusão dos honorários periciais em conta de liquidação mesmo quando o
dispositivo de sentença com trânsito em julgado condena o vencido, genericamente, ao
pagamento de custas processuais.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.519.445-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 19/09/2018 (Info 635).
João iniciou o cumprimento de sentença e cobrou de Pedro também o valor dos honorários do perito que
o autor teve que pagar durante a fase de conhecimento.
Pedro defendeu-se alegando que a sentença em nenhum momento o condenou a pagar os honorários do
perito. A condenação ficou limitada ao valor principal, mais as custas processuais e honorários advocatícios.
Segundo alegou o executado, os honorários periciais estão dentro do conceito de "despesas processuais",
o que não se confunde com "custas processuais". Como o juiz mencionou apenas custas, não se pode
cobrar as despesas processuais (ex: honorários do perito).
b) emolumentos: taxa paga pelo usuário do serviço como contraprestação pelos atos praticados pela
serventia (“cartório”) não estatizada (as serventias não estatizadas não são remuneradas pelos cofres
públicos, mas sim pelas partes);
c) despesas em sentido estrito: valor pago para remunerar profissionais que são convocados pela Justiça
para auxiliar nas atividades inerentes à prestação jurisdicional. Exs: honorários do perito, despesas com o
transporte do Oficial de justiça prestado por terceiros (ex: empresa de ônibus, táxi etc.).
Contudo, o STJ afirma que a interpretação a ser dada tem que superar o apego ao formalismo.
O processo deve dar a quem tem direito tudo aquilo e precisamente aquilo a que tem direito.
Se a parte ganhou a causa, ou seja, teve seu pedido julgado procedente, ela não pode ser obrigada a arcar
com as custas ou despesas de um processo para cuja formação não deu causa.
Aquele que vence não deve sofrer prejuízo por causa do processo.
Assim, surpreender o vencedor da demanda com a obrigação de arcar com os honorários periciais apenas
e tão somente porque a sentença condenava o vencido ao pagamento de “custas”, e não “despesas”,
representa medida contrária ao princípio da sucumbência e até mesmo à própria noção da máxima
eficiência da tutela jurisdicional justa.
RECURSOS
É cabível a interposição de agravo de instrumento contra todas as
decisões interlocutórias em processo falimentar e recuperacional
Importante!!!
É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisões interlocutórias em
processo falimentar e recuperacional, ainda que não haja previsão específica de recurso na
Lei nº 11.101/2005 (LREF).
Fundamento: interpretação extensiva do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.722.866-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/09/2018 (Info 635).
EXECUÇÃO
Análise da impenhorabilidade prevista no art. 649, IV do CPC/1973 (art. 833, IV, do CPC/2015)
Importante!!!
O art. 649, IV, do CP/1973 previa que as verbas de natureza salarial do executado eram
impenhoráveis.
O § 2º do art. 649 previa uma exceção explícita e dizia que era possível a penhora da verba
salarial do devedor para pagamento de prestação alimentícia.
O STJ, interpretando esse dispositivo, afirmou que é possível a penhora das verbas salariais
do devedor para pagamento de outras dívidas, além da prestação alimentícia, desde que essa
penhora preserve um valor que seja suficiente para o devedor e sua família continuarem
vivendo com dignidade.
Nas palavras do STJ: a regra geral da impenhorabilidade de salários, vencimentos, proventos
etc. do devedor (art. 649, IV, do CPC/1973) (art. 833, IV, do CPC/2015), também pode ser
excepcionada quando for preservado percentual de tais verbas capaz de dar guarida à
dignidade do devedor e de sua família.
Ex: Flávio recebe salário de R$ 30 mil por mês. Ricardo ajuizou execução contra Flávio. O juiz
determinou a penhora de 30% do salário de Flávio, todos os meses, até que a dívida que está
sendo executada seja paga. O STJ entendeu que essa penhora é válida e que não violou o art.
649, IV, do CPC/1973.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.582.475-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 03/10/2018 (Info 635).
O CPC/2015 ampliou as exceções e afirmou que é possível a penhora dos vencimentos (verba salarial) do
devedor:
a) para pagamento de prestação alimentícia (qualquer que seja a sua origem, ou seja, pode ser pensão
alimentícia decorrente de poder familiar, de parentesco ou mesmo derivada de um ato ilícito).
Ex: Pedro atropelou Júlia e foi condenado a pagar à vítima prestação alimentícia pelo período em que ela
ficar sem trabalhar. O salário de Pedro poderá ser penhorado para pagar essa dívida, sem que ele possa
invocar a regra da impenhorabilidade.
Discussão quanto à possibilidade de serem aceitas mais exceções que aquela prevista no § 2º do art. 649
Na vigência do CPC/1973, a jurisprudência enfrentou uma interessante discussão: seria possível admitir
outras exceções à regra da impenhorabilidade além daquela prevista no § 2º do art. 649? Dizendo de outro
modo: seria permitida a penhora das verbas salariais do devedor para outras situações além da prestação
alimentícia?
A resposta é SIM.
O STJ definiu, em embargos de divergência, que é possível a penhora das verbas salariais do devedor para
pagamento de outras dívidas, além da prestação alimentícia, desde que essa penhora preserve um valor
que seja suficiente para o devedor e sua família continuarem vivendo com dignidade.
As palavras do Tribunal foram as seguintes:
A regra geral de impenhorabilidade dos vencimentos do devedor, além da exceção explícita prevista no
§ 2º do art. 649, IV, do CPC/1973, também pode ser excepcionada quando preservado percentual capaz
de manter a dignidade do devedor e de sua família.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.582.475-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 03/10/2018 (Info 635).
Exemplo
Flávio recebe salário de R$ 30 mil por mês.
Ricardo ajuizou execução contra Flávio.
O juiz determinou a penhora de 30% do salário de Flávio, todos os meses, até que a dívida que está sendo
executada seja paga.
O STJ entendeu que essa penhora é válida e que não viola o art. 649, IV, do CPC/1973.
Nesse sentido:
A regra geral da impenhorabilidade dos valores depositados na conta bancária em que o executado recebe
a sua remuneração, situação abarcada pelo art. 649, IV, do CPC/73, pode ser excepcionada quando o
montante do bloqueio se revele razoável em relação à remuneração por ele percebida, não afrontando a
dignidade ou a subsistência do devedor e de sua família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1514931/DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 25/10/2016.
CPC/2015
Vale ressaltar que o precedente acima foi proferido tomando-se como base o CPC/1973. Penso, contudo,
que é perfeitamente possível aplicar o mesmo entendimento para o art. 833, IV, do CPC/2015, até mesmo
porque a redação do § 2º do art. 833 é mais abrangente, conforme já vimos.
EXECUÇÃO FISCAL
Forma de contagem do prazo da prescrição intercorrente prevista no art. 40, da LEF
Importante!!!
Termo inicial do prazo de 1 ano: data da intimação da Fazenda Pública
O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional previsto
no art. 40, §§ 1º e 2º da Lei nº 6.830/80 (LEF) tem início automaticamente na data da ciência
da Fazenda Pública a respeito da não localização do devedor ou da inexistência de bens
penhoráveis no endereço fornecido, havendo, sem prejuízo dessa contagem automática, o
dever de o magistrado declarar ter ocorrido a suspensão da execução.
Sem prejuízo do disposto anteriormente:
1.1) nos casos de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária (cujo
despacho ordenador da citação tenha sido proferido antes da vigência da Lei Complementar
n. 118/2005), depois da citação válida, ainda que editalícia, logo após a primeira tentativa
infrutífera de localização de bens penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução; e,
1.2) em se tratando de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária
(cujo despacho ordenador da citação tenha sido proferido na vigência da Lei Complementar
nº 118/2005) e de qualquer dívida ativa de natureza não tributária, logo após a primeira
tentativa frustrada de citação do devedor ou de localização de bens penhoráveis, o Juiz
declarará suspensa a execução.
processo deveria estar arquivado sem baixa na distribuição, na forma do art. 40, §§ 2º, 3º e 4º
da Lei n. 6.830/1980 - LEF, findo o qual o Juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de
ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.
Regramento
A execução fiscal é regida pela Lei nº 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC.
O procedimento da execução fiscal é especial e bem mais célere que o da execução “comum”.
“A prescrição intercorrente ocorre no curso do processo e em razão da conduta do autor que, ao não
prosseguir com o andamento regular ao feito, se queda inerte, deixando de atuar para que a demanda
caminhe em direção ao fim colimado.” (Min. Luis Felipe Salomão).
Fundamento
A prescrição intercorrente existe em nome da segurança jurídica e tem por objetivo evitar a eternização
dos conflitos. Além disso, é um instrumento de racionalidade e economicidade para o Estado,
considerando que evita a perenização de demandas que estão fadadas ao insucesso, acarretando apenas
gastos desnecessários ao erário.
O espírito da Lei de Execuções Fiscais, em seu art. 40, é o de que nenhuma execução fiscal já ajuizada
poderá permanecer eternamente nos escaninhos do Poder Judiciário ou da Procuradoria encarregada da
execução das respectivas dívidas fiscais.
Nessa lógica, com o intuito de acabar com as execuções fiscais com pouca ou nenhuma probabilidade de
êxito, estabeleceu-se então um prazo para que fossem localizados o devedor ou encontrados bens sobre
os quais pudessem recair a penhora.
Obs: alguns autores e julgados denominam o art. 40 da LEF de “suspensão-crise”.
Constitucionalidade
Existe uma discussão sobre a constitucionalidade do § 4º do art. 40 da LEF. Os que alegam a sua
inconstitucionalidade afirmam que ele tratou sobre prescrição de crédito tributário e que isso somente
poderia ser regulamentado por meio de lei complementar, nos termos do art. 146, III, “b”, da CF/88:
Art. 146. Cabe à lei complementar:
(...)
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:
(...)
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;
Esse tema será definido quando o STF julgar o RE 636562/SC, cuja repercussão geral já foi reconhecida,
estando aguardando para deliberação do mérito.
Por enquanto, prevalece que o dispositivo é constitucional e aplicável.
A petição inicial deverá ser instruída com a Certidão da Dívida Ativa (CDA), que dela fará parte integrante,
como se estivesse transcrita. A petição inicial e a CDA poderão constituir um único documento, preparado
inclusive por processo eletrônico.
2) Despacho do juiz
Se a petição estiver em ordem, o juiz irá proferir um “despacho” deferindo a inicial e determinado que o
executado seja citado.
3) Citação do devedor
Existe uma ordem de prioridades na citação do executado na execução fiscal.
Inicialmente, deve-se tentar a citação pelo correio.
Se não for possível, deve-se buscar a citação por Oficial de Justiça.
Caso esta também reste infrutífera, realiza-se a citação por edital. Nesse sentido:
Súmula 414-STJ: A citação por edital na execução fiscal é cabível quando frustradas as demais
modalidades.
Vale ressaltar, no entanto, que não é necessário o exaurimento de todos os meios para que o Oficial de
Justiça tente localizar o paradeiro do executado para se admitir a citação por edital. O meirinho procura o
devedor em seu domicílio fiscal e, se não o encontrar, a citação por edital é possível.
A prescrição ordinária é interrompida:
• Antes da LC 118/2005:
- se o crédito era tributário: a prescrição só se interrompia com a citação válida do devedor (por carta,
oficial de justiça ou edital) (com base na redação antiga do art. 174, I, do CTN).
- se o crédito era de outra natureza (não tributário): pelo despacho do juiz que ordenar a citação na
execução fiscal (com base no art. 8º, § 2º, da LEF).
• Depois da LC 118/2005: tanto no caso de crédito tributário como “não tributário”, a prescrição ordinária
é interrompida pelo despacho do juiz que ordenar a citação na execução fiscal. Isso porque a redação do
art. 174, I, do CTN foi alterada pela LC 118/2005.
4) Opções do executado:
Depois de citado, o executado terá um prazo de 5 dias para adotar uma das seguintes opções:
1º) pagar a dívida cobrada;
2º) garantir a execução;
3º) não pagar nem garantir.
6) Suspensão da execução
O caput do art. 40 afirma que o juiz deverá suspender a execução fiscal se:
a) o devedor não foi localizado; ou
b) o devedor foi localizado, mas não foram encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora.
Enquanto o processo estiver suspenso, não corre o prazo prescricional:
Art. 40. O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou
encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de
prescrição.
Obs1: registre-se que o art. 40, caput, da LEF não dá qualquer opção ao Juiz diante da constatação de que
não foram encontrados o devedor ou bens penhoráveis. O texto fala claramente que o Juiz “suspenderá”
o curso da execução.
Obs2: é possível que sejam encontrados bens em nome do devedor, mas que estes sejam impenhoráveis
(ex: bem de família, bem danificado, bem de valor irrisório etc). Assim, para que se aplique o art. 40 não
se exige a inexistência absoluta de bens. Exige-se que:
a) não tenha sido encontrado nenhum bem; ou
b) que o(s) bem(ens) encontrado(s) não possa(m) ser penhorado(s).
Obs1: depois que a Fazenda for intimada da localização do devedor ou da inexistência de bens
penhoráveis, o magistrado deverá proferir um despacho declarando que ocorreu a suspensão da
prescrição nos termos do § 1º do art. 40 da LEF.
Obs2: vale ressaltar que o processo já está suspenso automaticamente desde o dia da intimação da
Fazenda Pública. Assim, não é esse despacho do juiz que suspende o processo. A suspensão ocorre, por
força de lei, no dia da intimação. O despacho do juiz declarando ter ocorrido a suspensão da execução
ocorre apenas para melhor organização e controle do processo.
Exemplo:
• no dia 02/02, a Fazenda Pública é intimada de que não foram encontrados bens.
• em 04/04, o juiz declara que ocorreu a suspensão da execução.
• o prazo de 1 ano já teve início no dia 02/02; esse despacho do dia 04/04 é apenas uma formalidade e
tem conteúdo declaratório.
Esse entendimento está em harmonia com o teor da Súmula nº 314 do STJ: “Em execução fiscal, não
localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo da
prescrição quinquenal intercorrente”.
Obs3: repito que, neste prazo de 1 ano de suspensão do processo, o prazo prescricional também fica
suspenso, ou seja, ainda não está correndo.
Assim, após o prazo de 1 ano, se a Fazenda Pública não trouxer nenhuma informação que seja eficaz para
a retomada da execução, haverá o arquivamento dos autos, sem baixa na distribuição.
O processo ficará em um arquivo, mas sem que seja excluído da tramitação no sistema informatizado, ou
seja, sem baixa na distribuição.
O § 2º diz o seguinte: “o Juiz ordenará o arquivamento dos autos”. Desse modo, pela literalidade do
dispositivo, seria necessário que o juiz proferisse um comando (despacho ou decisão) determinando o
arquivamento dos autos.
O STJ, contudo, disse que isso não é necessário. O prazo é ex lege e seu fluxo é automático.
Assim, passado o prazo de 1 ano, os autos serão arquivados automaticamente.
Veja as palavras do Min. Relator Mauro Campbell:
“A compreensão de que o prazo de suspensão do art. 40, da LEF somente tem início mediante
peticionamento da Fazenda Pública ou determinação expressa do Juiz configura grave equívoco
interpretativo responsável pelos inúmeros feitos executivos paralisados no Poder Judiciário ou
Procuradorias, prolongando indevidamente o início da contagem do prazo da prescrição
intercorrente. Essa interpretação equivocada já foi rechaçada no leading case que originou a
Súmula n. 314/STJ (EREsp 97.328/PR).
Desse modo, havendo ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou não decisão judicial nesse
sentido (essas decisões e despachos de suspensão e arquivamento são meramente declaratórios,
não alterando os marcos prescricionais), inicia-se automaticamente o prazo prescricional de 5
(cinco) anos durante o qual o processo deveria estar arquivado sem baixa na distribuição.”
11) Passou o prazo de 1 ano = arquivamento automático dos autos = início automático da contagem do
prazo prescricional
Com o arquivamento dos autos, inicia-se automaticamente o prazo da prescrição intercorrente.
Qual é esse prazo prescricional?
Depende da natureza do crédito exequendo (crédito que está sendo executado). Isso porque na execução
fiscal podem ser cobrados “créditos tributários” ou “créditos não tributários”.
• Se estiver sendo executado um crédito tributário, o prazo prescricional será de 5 anos, conforme prevê
o art. 174 do CTN;
• Se estiver sendo executado um crédito não tributário, terá que ser analisado qual é o prazo prescricional
previsto na legislação correspondente.
Exemplo:
• no dia 02/02/2019, a Fazenda Pública é intimada de que não foram encontrados bens.
• em 04/04/2019, o juiz declara que ocorreu a suspensão da execução.
• o prazo de 1 ano já teve início no dia 02/02/2019.
• em 02/02/2020 termina o prazo de 1 ano e, automaticamente, inicia-se a contagem do prazo
prescricional.
Repare, portanto, que o legislador previu duas etapas com dois prazos diferentes:
1ª etapa: suspensão do curso da execução 2ª etapa: arquivamento dos autos
e suspensão do prazo prescricional e contagem do prazo prescricional
Duração: 1 ano Duração: o prazo prescricional previsto na lei.
• 5 anos (no caso de créditos tributários).
• créditos de outra natureza: depende da lei.
Termo inicial: data em que a Fazenda é intimada Termo inicial: tem início com o fim da primeira
da falta de localização de devedores ou bens parte, ou seja, a segunda parte começa com o fim
penhoráveis (art. 40, caput). do prazo de 1 ano da intimação da Fazenda.
Termo final: termina automaticamente depois de Termo final: termina automaticamente depois de
1 ano da intimação (art. 40, §§ 1º e 2º). expirado o prazo prescricional próprio do crédito
fiscal em cobrança.
Durante essa primeira parte, a execução fiscal fica Nessa segunda parte, a execução fiscal fica
suspensa com vista dos autos aberta ao arquivada no Poder Judiciário, sem baixa na
representante judicial da Fazenda Pública. distribuição.
O fluxo do prazo é automático. O fluxo do prazo também é automático.
Desse modo, na prática, se a Fazenda Pública estiver executando um crédito tributário haverá um prazo
de 6 anos contados para que a Fazenda Pública encontre o devedor ou os referidos bens. Esse prazo
começa automaticamente na data da ciência da Fazenda Pública a respeito da não localização do devedor
ou da inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido.
A providência deve ser requerida antes de terminar o prazo prescricional, ainda que seja efetivada depois
Se a Fazenda Pública peticionou trazendo informações sobre o devedor ou sobre bens penhoráveis antes
de esgotado o prazo prescricional e este requerimento foi frutífero/eficiente (conseguiu-se a efetiva
citação ou a efetiva constrição patrimonial), considera-se que houve a interrupção da prescrição, mesmo
que a providência requerida ao Poder Judiciário tenha ocorrido fora do prazo de 6 anos.
Nas palavras do STJ:
“A providência requerida ao Poder Judiciário deve resultar em efetiva citação ou penhora constrição
patrimonial (isto é: ser frutífera/eficiente), ainda que estas ocorram fora do prazo de 6 (seis) anos.”
Se a petição da Fazenda foi protocolizada após o prazo de 6 anos não haverá interrupção
Vale ressaltar que não é possível interromper a prescrição intercorrente fora do prazo de 6 anos. Isso por
conta de um motivo muito simples: não se interrompe aquilo que já acabou. Se o prazo prescricional já foi
todo ultrapassado, ele já acabou e a petição apresentada não tem o condão de reabri-lo.
13) Após o transcurso do prazo prescricional: oitiva da Fazenda e reconhecimento de ofício da prescrição
Passado o prazo prescricional sem que tenha havido a sua interrupção, o juiz deve intimar a Fazenda
Pública. Após a oitiva, o magistrado poderá, de ofício, decretar a prescrição, extinguindo o processo.
Essa é a redação do § 4º do art. 40:
Art. 40 (...)
§ 4º Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois
de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-
la de imediato. (Incluído pela Lei nº 11.051/2004)
§ 5º A manifestação prévia da Fazenda Pública prevista no § 4º deste artigo será dispensada no
caso de cobranças judiciais cujo valor seja inferior ao mínimo fixado por ato do Ministro de Estado
da Fazenda. (Incluído pela Lei nº 11.960/2009)
acordo com a natureza do crédito exequendo), durante o qual o processo deveria estar arquivado sem
baixa na distribuição, na forma do art. 40, §§ 2º, 3º e 4º da Lei n. 6.830/1980 - LEF, findo o qual o Juiz,
depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-
la de imediato.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/09/2018 (recurso
repetitivo) (Info 635).
14) E se o juiz decretar a prescrição sem antes ter intimado a Fazenda Pública?
O art. 40, § 4º determina que, antes de o juiz decretar a prescrição intercorrente, ele deverá intimar a
Fazenda Pública.
No entanto, eventual descumprimento dessa regra deverá ser analisado à luz do princípio da
instrumentalidade das formas, previsto no art. 277 do CPC:
Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato se, realizado
de outro modo, lhe alcançar a finalidade.
Sendo assim, se ao final do referido prazo de 6 anos, contados da falta de localização de devedores ou
bens penhoráveis, a Fazenda Pública for intimada do decurso do prazo prescricional, sem ter sido intimada
nas etapas anteriores, terá, nesse momento e dentro do prazo para se manifestar (que pode ser inclusive
em sede de apelação), a oportunidade de providenciar a localização do devedor ou dos bens e apontar a
ocorrência no passado de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição. Esse entendimento é
o que está conforme o comando contido no art. 40, § 3º, da LEF.
Por outro lado, caso a Fazenda Pública não faça uso dessa prerrogativa, deve ser reconhecida a prescrição
intercorrente.
O mesmo raciocínio é aplicável caso se entenda que a ausência de intimação das etapas anteriores tem
enquadramento nos arts. 280 e 281 do CPC. Isto porque o princípio da instrumentalidade das formas
recomenda que a Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar nos autos (art. 278 do CPC), ao
alegar a nulidade pela falta de intimação, demonstre o prejuízo que sofreu, e isso somente é possível se
houver efetivamente localizado o devedor ou os bens penhoráveis, ou tenha ocorrido qualquer causa
interruptiva ou suspensiva da prescrição.
Em suma, o STJ entende que somente deverá ser decretada a nulidade pela ausência de intimação se a
Fazenda Pública, ao vir nos autos alegar essa nulidade, demonstrar a ocorrência de prejuízo.
Veja a tese fixada sobre este ponto:
A Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar nos autos (art. 278 do CPC/2015), ao alegar
nulidade pela falta de qualquer intimação dentro do procedimento do art. 40 da LEF, deverá demonstrar
o prejuízo que sofreu. Assim, a Fazenda deverá demonstrar que havia uma causa interruptiva ou
suspensiva da prescrição que ela poderia ter alegado.
Exceção. Existe uma situação na qual a Fazenda Pública não precisará demonstrar prejuízo: se ela não
foi intimada da falta de localização de devedores ou bens penhoráveis (art. 40, caput). Isso porque o
prazo de 1 ano somente começa a ser contado na data em que a Fazenda Pública é intimada. Logo, esta
é uma situação de prejuízo presumido.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/09/2018 (recurso
repetitivo) (Info 635).
Com isso, restará a possibilidade de o exequente, intimado da decisão que reconheceu a prescrição
intercorrente, utilizar-se dos meios recursais cabíveis para questionar a contagem dos marcos legais
indicados na decisão judicial e demonstrar eventual equívoco do ato judicial impugnado.
A tese foi fixada nos seguintes termos:
O magistrado, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá fundamentar o ato judicial por meio da
delimitação dos marcos legais que foram aplicados na contagem do respectivo prazo, inclusive quanto
ao período em que a execução ficou suspensa.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/09/2018 (recurso
repetitivo) (Info 635).
Agradecimento
Agradeço ao amigo Felipe Duque pela troca de ideias e pelas valiosas contribuições.
DIREITO PENAL
CORRUPÇÃO PASSIVA
Chamada curta sobre o julgado
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a
praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
O juiz absolveu os réus sob o argumento de que Gilberto não detinha competência para permitir a entrada
de estrangeiro, circunstância que excluiria os crimes.
O magistrado afirmou que controlar a entrada dos estrangeiros no Brasil não era um “ato de ofício” de
Gilberto e, portanto, faltou um elemento objetivo dos tipos acima descritos.
Corrupção passiva não exige que o ato que o agente prometeu praticar esteja dentro de suas
competências formais
Ao se ler o art. 317 do CP percebe-se que o agente deve ter solicitado ou recebido a vantagem “em razão”
da sua função. Isso não significa, contudo, que o ato que ele prometeu praticar deve estar dentro das
competências formais do agente.
Assim, para a configuração do delito de corrupção passiva exige-se apenas que haja um nexo causal entre
a oferta (ou promessa) de vantagem indevida e a função pública exercida. Em outras palavras, o agente
recebeu “em razão” da função que ele exerce. No entanto, não é necessário que o ato esperado pelo
agente esteja dentro das competências formais do agente. Nesse sentido foi o voto da Ministra do STF
Rosa Weber no Inq 4506, julgado em 17/04/2018.
Assim, a expressão “ato de ofício” aparece apenas no caput do art. 333 do CP, como um elemento
normativo do tipo de corrupção ativa, e não no caput do art. 317 do CP, como um elemento normativo do
tipo de corrupção passiva.
Ao contrário, no que se refere a corrupção passiva, a expressão “ato de ofício” figura apenas na majorante
do art. 317, § 1º, do CP e na modalidade privilegiada do § 2º do mesmo dispositivo, o que reforça a ideia
de que o caput do art. 317 do CP não exige ato de ofício:
Art. 317 (...)
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever
funcional.
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Expressão “em razão dela” não exige que o ato tenha relação com a competência funcional do agente
O crime de corrupção passiva consuma-se ainda que a solicitação ou recebimento de vantagem indevida,
ou a aceitação da promessa de tal vantagem, esteja relacionada com atos que formalmente não se
inserem nas atribuições do funcionário público, mas que, em razão da função pública, materialmente
implicam alguma forma de facilitação da prática da conduta almejada.
Foi o caso de Gilberto que recebeu a vantagem indevida para facilitar a entrada do estrangeiro em razão
da função que desempenhava, apesar disso não estar dentro das suas competências formais (não era um
“ato de ofício”).
Em outros termos:
“Para a aptidão de imputação de corrupção passiva, não é necessária a descrição de um específico ato de
ofício, bastando uma vinculação causal entre as vantagens indevidas e as atribuições do funcionário
público, passando este a atuar não mais em prol do interesse público, mas em favor de seus interesses
pessoais” (STF. 1ª Turma. Inq 4.506, Rel. p/acórdão Min. Roberto Barroso, publicado em 04/09/2018).
Conclusões
1ª) não tem razão o Ministério Público quando pleiteia a condenação de Housseim, pois o tipo penal a ele
imputado, de fato, exige que a vantagem indevida seja oferecida ou prometida para determinar que
funcionário público pratique, omita ou retarde ato de ofício, isto é, que está dentro de suas atribuições
funcionais formais.
Como Gilberto não tinha competência para realizar controle imigratório no Aeroporto Internacional de
São Paulo/SP, Housseim não ofereceu nem prometeu vantagem indevida a funcionário público para que
ele praticasse “ato de ofício”.
2ª) tem razão o Ministério Público quando pleiteia a condenação de Gilberto. Isso porque:
O crime de corrupção passiva consuma-se ainda que a solicitação ou recebimento de vantagem
indevida, ou a aceitação da promessa de tal vantagem, esteja relacionada com atos que formalmente
não se inserem nas atribuições do funcionário público, mas que, em razão da função pública,
materialmente implicam alguma forma de facilitação da prática da conduta almejada.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.745.410-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Laurita Vaz, julgado em
02/10/2018 (Info 635).
Mas... para condenar por corrupção passiva não se exige que também se condene pela corrupção ativa?
NÃO.
Prevalece o entendimento de que, via de regra, os crimes de corrupção passiva e ativa, por estarem
previstos em tipos penais distintos e autônomos, são independentes, de modo que a comprovação de um
deles não pressupõe a do outro.
STJ. 5ª Turma. RHC 52.465-PE, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/10/2014 (Info 551)
CONTRABANDO / DESCAMINHO
Competência da Justiça Federal
Importante!!!
Compete à Justiça Federal a condução do inquérito que investiga o cometimento do delito
previsto no art. 334, § 1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda de mercadoria estrangeira,
permitida pela ANVISA, desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de pagamento de
imposto de importação.
STJ. Plenário. CC 159.680-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/08/2018 (Info 631).
Compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que
inexistentes indícios de transnacionalidade na conduta.
STJ. 3ª Seção. CC 160.748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/09/2018 (Info 635).
Importante!!!
Compete à Justiça Federal a condução do inquérito que investiga o cometimento do delito
previsto no art. 334, § 1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda de mercadoria estrangeira,
permitida pela ANVISA, desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de pagamento de
imposto de importação.
STJ. Plenário. CC 159.680-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/08/2018 (Info 631).
Compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que
inexistentes indícios de transnacionalidade na conduta.
STJ. 3ª Seção. CC 160.748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/09/2018 (Info 635).
• A competência para julgar o delito é da Justiça Federal, considerando que é praticado em detrimento de
interesse da União na arrecadação dos impostos.
• Em termos territoriais, a competência será da seção judiciária onde os bens foram apreendidos, não
importando o local por onde entraram no país (no caso de importação) ou de onde seguiriam para o
exterior (na hipótese de exportação). Tal entendimento está cristalizado em enunciado do STJ:
Súmula 151-STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho
define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.
Figuras equiparadas
O § 1º do art. 334 prevê condutas equiparadas a descaminho. Em outras palavras, são situações nas quais
o agente não é punido por ter importado ou exportado mercadoria iludindo o pagamento de imposto,
mas sim por ter praticado uma conduta relacionada com a prática de descaminho.
As figuras previstas no § 1º do art. 334 do CP são chamadas de “descaminho por assimilação”.
Voltando ao nosso exemplo: o inciso IV do § 1º do art. 334 fala em “exercício de atividade comercial”.
João pode ser acusado deste delito mesmo tendo apenas uma barraca de camelô? Isso é considerado
atividade comercial?
SIM. Veja o que diz o § 2º do art. 334 do CP:
Art. 334 (...)
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em
residências.
Assim, não há dúvida de que a mercadoria é estrangeira, que João exercia atividade comercial (ainda que
na informalidade) quando foi encontrada em sua posse, e que não apresentou a nota fiscal
correspondente à sua aquisição.
Por que João não responde pelo caput do art. 334 do CP?
Porque, no caso concreto, não ficou demonstrado nenhum indício de que ele tenha, de alguma maneira,
participado da importação dos cigarros.
Ele responderia pelo caput se tivesse importado os cigarros ou, de alguma forma, concorrido para esta
importação (ex: fornecido dinheiro para que alguém trouxesse os cigarros do Paraguai).
Por que João não responde por contrabando?
Antes de responder, é necessário relembrar as principais diferenças entre contrabando e descaminho:
CONTRABANDO DESCAMINHO
Tipificado no art. 334-A do CP. Tipificado no art. 334 do CP.
Consiste em “importar ou exportar mercadoria Consiste em “iludir, no todo ou em parte, o
proibida”. pagamento de direito ou imposto devido pela
entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria”
João não praticou contrabando porque a comercialização do cigarro da marca “Fume Bien” é permitida
no Brasil. Logo, não se trata de mercadoria proibida. No entanto, para que essa venda ocorresse, seria
necessário que o comerciante recolhesse os tributos devidos. Como não o fez, responde por descaminho
por equiparação.
Ressalte-se que, se os cigarros da marca “Fume Bien” fossem de importação proibida no Brasil (não fossem
aprovados pela ANVISA), aí a conduta de João configuraria contrabando.
Compete à Justiça Federal a condução do inquérito que investiga o cometimento do delito previsto no
art. 334, § 1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda de mercadoria estrangeira, permitida pela
ANVISA, desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de pagamento de imposto de importação.
STJ. Plenário. CC 159.680-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/08/2018 (Info 631).
Logo, não havendo transnacionalidade da conduta, a competência para julgar os fatos seria da Justiça
Estadual (e não da Justiça Federal).
Essa tese de João é aceita pelo STJ? Para que o descaminho seja de competência da Justiça Federal, é
necessária a comprovação da transnacionalidade da conduta?
NÃO.
Compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que
inexistentes indícios de transnacionalidade na conduta.
STJ. 3ª Seção. CC 160.748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/09/2018 (Info 635).
O simples fato do produto mantido em depósito ter origem estrangeira é suficiente, por si só, para atrair
a competência da Justiça Federal.
Os crimes de contrabando e de descaminho tutelam prioritariamente interesse da União porque a ela
compete privativamente definir os produtos que não podem ingressar no país, além de exercer a
fiscalização aduaneira e de fronteira (arts. 21, XXII e 22, VIII, da CF/88).
Além disso, os impostos exigidos para a entrada de mercadorias no país são tributos de competência da União.
Última pergunta: no caso concreto, seria possível aplicar o princípio da insignificância?
SIM. O STJ e a 2ª Turma do STF admitem a aplicação do princípio da insignificância para o descaminho se
o valor do tributo cujo pagamento foi iludido não superar R$ 20 mil.
Logo, na prática, nos casos concretos envolvendo camelô, geralmente é aplicado o princípio da
insignificância, tendo em vista que normalmente não se ultrapassa essa quantia.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PREVIDÊNCIA PRIVADA
TR não pode ser utilizada como índice de correção monetária
dos benefícios da previdência privada a partir de 05/09/1996
A Taxa Referencial (TR) não pode ser utilizada como fator de correção monetária dos
benefícios da previdência privada aberta, a partir de 5/9/1996, devendo o indexador ser
substituído por um Índice Geral de Preços de Ampla Publicidade, que será o IPCA, na ausência
de repactuação.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 280.389-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/09/2018 (Info 635).
Previdência complementar
Previdência complementar é um plano de benefícios feito pela pessoa que deseja receber, no futuro,
aposentadoria paga por uma entidade privada de previdência.
A pessoa paga todos os meses uma prestação e este valor é aplicado por uma pessoa jurídica, que é a
entidade gestora do plano (ex: Bradesco Previdência).
É chamada de “complementar” porque normalmente é feita por alguém que já trabalha na iniciativa
privada ou como servidor público e, portanto, já teria direito à aposentadoria pelo INSS ou pelo regime
próprio. Apesar disso, ela resolve fazer a previdência privada como forma de “complementar” a renda no
momento da aposentadoria.
O plano de previdência complementar é prestado por uma pessoa jurídica chamada de “entidade de
previdência complementar” (entidade de previdência privada).
Por quê?
Vamos fazer um rápido histórico sobre o tema.
Salário-mínimo
De início, os planos antigos de previdência privada utilizavam o salário-mínimo como fator de atualização
monetária dos benefícios que eram oferecidos.
Ocorre que, se muitas obrigações estão vinculadas ao salário mínimo, isso gera o aumento da inflação.
Isso porque todas as vezes em que há um reajuste do salário mínimo, todas essas obrigações sobem junto
e o preço dos produtos e serviços também sobe. Logo, aumenta a inflação e reduz o poder de compra da
pessoa que ganha o salário mínimo.
ORTN
Assim, em 1977, o governo federal, preocupado em desindexar a economia baseada no salário mínimo e
frear a inflação crescente da época, editou a Lei nº 6.435/77.
Esta Lei substituiu o salário-mínimo pela ORTN como índice de correção monetária:
Art. 22. Os valores monetários das contribuições e dos benefícios serão atualizados segundo índice de
variação do valor nominal atualizado das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN (...)
Parágrafo único. Admitir-se-á cláusula de correção monetária diversa da de ORTN, desde que
baseada em índices e condições aprovadas pelo órgão normativo do Sistema Nacional de Seguros
Privados.
Essa mudança de índice da Lei nº 6.435/77 aplicou-se imediatamente para os contratos em curso?
SIM. A jurisprudência entende que a lei que modifica o regime monetário (ex: correção monetária) possui
natureza institucional e estatutária, o que justifica a sua incidência imediata, inclusive em contratos em
curso de execução:
(...) Segundo reiterada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as normas que tratam do regime
monetário - inclusive, portanto, as de correção monetária -, têm natureza institucional e estatutária,
insuscetíveis de disposição por ato de vontade, razão pela qual sua incidência é imediata, alcançando as
situações jurídicas em curso de formação ou de execução. É irrelevante, para esse efeito, que a cláusula
estatutária esteja reproduzida em ato negocial (contrato), eis que essa não é circunstância juridicamente
apta a modificar a sua natureza. (...)
STF. RE 212609, Relator p/ Acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 29/04/2015.
(...) não há direito adquirido à indexação do benefício de previdência privada complementar ao salário
mínimo, devendo a norma de ordem pública que a vedou (Lei 6.435/77) ser aplicada à relação contratual,
sem retroação, de imediato. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 883.911/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/06/2011.
Desse modo, é de se concluir que, mesmo que houvesse previsão no contrato, o reajuste dos benefícios
da previdência complementar não poderia mais se fundar na variação do salário mínimo desde a edição
da Lei nº 6.435/77, situação que foi reforçada com a CF/88, que proibiu expressamente a vinculação:
Art. 7º (...)
IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades
vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder
aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
TR
A Taxa Referencial (TR) é um índice muito criticado. Isso porque ele não consegue evitar a perda de poder
aquisitivo da moeda.
Esse índice (TR) é fixado ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não relacionados com
a inflação considerada no período. Em outras palavras, a TR é calculada antes de a inflação ocorrer. Assim,
a remuneração da caderneta de poupança – diferentemente de qualquer outro índice oficial de inflação –
é sempre prefixada. Essa circunstância deixa claro que existe uma desvinculação entre a remuneração da
poupança e a evolução dos preços da economia, isto é, a TR não capta a variação da inflação.
Por essa razão, diz-se que todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a real flutuação de preços
apurada no período em referência. É o caso da TR.
Esses foram os motivos que levaram o STF a declarar a TR inconstitucional como índice de correção
monetária nas condenações impostas à Fazenda Pública: RE 870.947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, DJe
20/11/2017.
Vale ressalta que o STJ possui a seguinte súmula:
Súmula 295-STJ: A Taxa Referencial (TR) é indexador válido para contratos posteriores à Lei nº 8.177/91,
desde que pactuada.
Contudo, nos precedentes que deram origem a esta súmula, verifica-se que a TR não era utilizada
isoladamente, mas sim em conjunto com juros bancários ou remuneratórios (a exemplo da caderneta de
poupança, dos contratos imobiliários e das cédulas de crédito). Desse modo, não se pode encarar essa
súmula como uma permissão para a TR ser utilizada nos contratos de previdência complementar.
Repactuação
Assim, a partir da Circular/SUSEP nº 11/1996, ou seja, a partir de 5/9/1996, as entidades de previdência
deveriam fazer uma repactuação, substituindo a TR por um Índice Geral de Preços de Ampla Publicidade,
segundo as opções acima expostas.
Resumindo:
A Taxa Referencial (TR) não pode ser utilizada como fator de correção monetária dos benefícios da
previdência privada aberta, a partir de 5/9/1996, devendo o indexador ser substituído por um Índice
Geral de Preços de Ampla Publicidade, que será o IPCA, na ausência de repactuação.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 280.389-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/09/2018 (Info 635).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental. ( )
2) Os direitos do devedor fiduciante sobre imóvel objeto de contrato de alienação fiduciária em garantia
possuem a proteção da impenhorabilidade do bem de família legal. ( )
3) Tendo sido reconhecida a coligação contratual, é possível que a cláusula compromissória prevista no contrato
principal (contrato de abertura de crédito) seja estendida ao contrato de swap (dependente). ( )
4) A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção
ou indenização por acessões e benfeitorias, salvo se o detentor estiver de boa-fé. ( )
5) É abusiva a cláusula de coparticipação expressamente contratada e informada ao consumidor para a hipótese
de internação superior a 30 (trinta) dias decorrentes de transtornos psiquiátricos. ( )
6) É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisões interlocutórias em processo falimentar e
recuperacional, ainda que não haja previsão específica de recurso na Lei nº 11.101/2005 (LREF). ( )
7) Na ação de cobrança, é desnecessária a citação da sociedade empresária se todos os que participam do quadro
social integram a lide. ( )
8) Não é adequada a inclusão dos honorários periciais em conta de liquidação mesmo quando o dispositivo de
sentença com trânsito em julgado condena o vencido, genericamente, ao pagamento de custas processuais. ( )
9) O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional previsto no art. 40, §§ 1º e 2º
da Lei nº 6.830/80 (LEF) tem início automaticamente na data da ciência da Fazenda Pública a respeito da não
localização do devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido, havendo, sem prejuízo
dessa contagem automática, o dever de o magistrado declarar ter ocorrido a suspensão da execução. ( )
10) Havendo ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou não pronunciamento judicial nesse sentido, findo
o prazo de 1 (um) ano de suspensão, inicia-se automaticamente o prazo prescricional aplicável (de acordo
com a natureza do crédito exequendo), durante o qual o processo deveria estar arquivado sem baixa na
distribuição, na forma do art. 40, §§ 2º, 3º e 4º da Lei n. 6.830/1980 - LEF, findo o qual o Juiz, depois de ouvida
a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato. ( )
11) A efetiva constrição patrimonial e a efetiva citação (ainda que por edital) são aptas a interromper o curso da
prescrição intercorrente, não bastando para tal o mero peticionamento em juízo, requerendo, v.g., a feitura
da penhora sobre ativos financeiros ou sobre outros bens. Os requerimentos feitos pelo exequente, dentro
da soma do prazo máximo de 1 (um) ano de suspensão mais o prazo de prescrição aplicável (de acordo com
a natureza do crédito exequendo) deverão ser processados, ainda que para além da soma desses dois prazos,
pois, citados (ainda que por edital) os devedores e penhorados os bens, a qualquer tempo - mesmo depois de
escoados os referidos prazos -, considera-se interrompida a prescrição intercorrente, retroativamente, na
data do protocolo da petição que requereu a providência frutífera. ( )
12) A Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar nos autos (art. 278 do CPC/2015), ao alegar nulidade
pela falta de qualquer intimação dentro do procedimento do art. 40 da LEF, deverá demonstrar o prejuízo que
sofreu (exceto a falta da intimação que constitui o termo inicial, onde o prejuízo é presumido), por exemplo,
deverá demonstrar a ocorrência de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição. ( )
13) O magistrado, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá fundamentar o ato judicial por meio da
delimitação dos marcos legais que foram aplicados na contagem do respectivo prazo, inclusive quanto ao
período em que a execução ficou suspensa. ( )
14) O crime de corrupção passiva consuma-se ainda que a solicitação ou recebimento de vantagem indevida, ou
a aceitação da promessa de tal vantagem, esteja relacionada com atos que formalmente não se inserem nas
atribuições do funcionário público, mas que, em razão da função pública, materialmente implicam alguma
forma de facilitação da prática da conduta almejada. ( )
15) A Taxa Referencial (TR) pode ser utilizada como fator de correção monetária dos benefícios da previdência
privada aberta. ( )
Gabarito
1. C 2. C 3. C 4. E 5. E 6. C 7. C 8. E 9. C 10. C
11. C 12. C 13. C 14. C 15. E