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O Abikum

Abikum é um orixá de uma pessoa que morreu (vodunce) e por herança passou para
outra pessoa.
Este orixá constitui, portanto um orixá feito. Neste caso a pessoa não precisa raspar,
qualquer obrigação feita na cabeça desta pessoa é feito colocando uma cuia na
cabeça e feita a baixo dela.

O Abiku
Abikus são uma comunidade (Egbé) de crianças que vivem no Orun e GOSTAM de
viver lá.
Às vezes uma destas crianças nasce no Ayê (nossa terra), mas ao chegar é
continuamente chamada para voltar (NADA de inimigos, espíritos que querem se
vingar, etc).
A maneira de se fazer um abiku ficar, é faze-lo esquecer "este chamado", seja ao dar-
lhe um nome que o faça desligar-se deste grupo, seja por faze-lo querer ficar no Ayê
por outras formas, esquecendo do chamado de seus amigos do egbé... Não tem nada
a ver com alimentar o Orixá da pessoa, descarregos, etc.
Este conceito de reencarnar para evoluir, débitos kármicos não é um conceito Yorubá.
Tanto que na África se toma medida drástica para um Abiku que fica vindo e voltando
(tal como separa partes do corpo do abiku que faleceu, queima-lo e enterrar as cinzas
em lugares diferentes).
Voltar a viver e estar no Ayê (terra em que vivemos) é visto como um prazer, não um
local para cumprirmos penas para nos evoluirmos.

Abiku é que a palavra abiku quer dizer: (nascido da morte ou nascido para morrer), e,
que podemos identificar os Abikus de varias formas, uma delas é que quando a mãe
perde um filho espontaneamente durante a sua gravidez, a próxima gravidez gerará
uma criança abiku, a mesma devera passar por ebós específicos, outra maneira de
identificarmos alguns abikus são pelos sinais que carregam no corpo um exemplo
pessoas que têm seis dedos nas mãos ou pés. Os abikus após os ebós que são feitos
nas matas a beira de rio, são chamados a partir desde momento por outro nome como
exemplo Omodunte (aquele que voltou) para assim o pacto que existe entre o aiyê e
orum seja interrompido e não acha mais perigos. Os abikus geralmente são cargos
pois os mesmos não rodam de orixá.

O que é Abiku?
Sucessivos abortos em uma mesma mulher, partos seguidos da morte da criança
recém nascida, morte de crianças ou jovens repentinas e associadas a estágios
significativos de vida, tais como mudanças nas fases de crescimento, aniversários,
casamento ou nascimento do primeiro filho, são identificados como acontecimentos
ligados aos Abiku.

Itan do Odu Ìrosùn meji


Onde nós vemos quatro antigas divindades, bem, Orisá diz que há uma criança, Orisá
diz que essa pessoa, A pessoa para que nós jogamos quatro divindades, Òrìsà diz que
nós devemos perguntar à ela se tem uma criança que é um Abiku e que continua
morrendo.
Òrìsà diz que eles não sabem seu nome direito então ele continua morrendo como um
Abiku.
Você vê o caminho que Òrìsà diz que é assim?
"Ega p'oko l'eri f'ese kan osi bo'do" foi quem jogou para Arco Íris que era o filho do
proprietário do mercado de azeite.
Lá estava Arco Íris.
Eles não sabiam seu nome quando ele nasceu.
Era ele que iria morrer.
Os Babalawo que o examinaram. Eles disseram, "Ha! Se esta criança que nasceu
deve voltar".
"Ele é Veja o Mundo" e ele nasceu.
Eles disseram que a mãe de Arco Íris devia oferecer um sacrifício.
Ela disse, "quando uma mãe tem uma criança"."O que esta criança obterá dela?"
Ela não tinha oferecido o sacrifício.
Então eles disseram que uma faixa vermelha e preta era o que ela devia oferecer
como sacrifício.
A mãe de "Veja o Mundo". Ela não tinha oferecido uma faixa vermelha e preta. A mãe
de Arco Íris não tinha oferecido o sacrifício.
A mãe de "Veja o Mundo" era aquela que estava dançando. Ela estava alegrando-se.
Ela estava louvando os Babalawo e os Babalawo estavam louvando Òrìsà.
Aqueles Babalawo falaram a verdade "Ega p'oko l'eri f'ese kan osi bo'do" que jogou
para "Veja o Mundo" que veio do céu para a terra.
Você não sabe que o dia em que o Arco Íris vem para a terra é aquele em que ele
retorna para o céu?
Orisá diz que nós devemos oferecer sacrifício. Por um Abiku. Como Orisá disse, onde
nós vemos quatro antigas divindades.

Irossun - Esse texto faz referência explícita à questão do Abiku. Afinal de contas, o
que é "Abiku"?
A tradução literal é: "nascido para morrer" (a bi ku) ou "o parimos e ele morreu" (a bi o
ku), designando crianças ou jovens que morrem antes de seus pais. Há, portanto, dois
tipos de Abiku:
o primeiro, Abiku - omode, designando crianças e o segundo, Abiku - agba,
referindo-se a jovens ou adultos que morrem, via de regra, em momentos significativos
de suas vidas e sempre antes dos pais, apresentando nisso uma alteração da ordem
natural que socialmente é aceita e entendida como: aqueles que chegaram ao aiyê
(mundo físico) primeiro voltam primeiro ao orun (mundo espiritual).
Nessa questão, além da logicidade natural, está presente a garantia da continuidade
no aiyê e a certeza da lembrança e do culto ao ancestral que deixa descendentes que
recontarão sua história ao longo dos tempos, garantindo sua "sobrevivência" na
comunidade.
No orun vive um grupo de crianças chamadas Emere ou Elegbe e este grupo constitui
o Egbé orun Abiku, ou seja, sociedade das crianças que nascem para morrer. Contam
os mitos que a primeira vez que os Abiku vieram para a terra foi em Awaiye e
constituíam um grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, chefe deles no
orun. Na encruzilhada que une o orun ao aiyê, ikorita meta, todos pararam e vários
pactos foram feitos, definindo o momento particular do retorno de cada um ao orun.
Alguns voltariam quando vissem pela primeira vez o rosto da mãe, outros quando
casassem, um terceiro grupo voltaria quando completassem determinado tempo de
vida, um quarto grupo voltaria quando tivesse o primeiro filho, e assim por diante. E o
carinho dos pais, o amor que recebessem ou os presentes não seriam capazes de
retê-los no aiyê. Alguns assumiram o compromisso de que nem nasceriam. Esse pacto
deveria ser cumprido e seus companheiros no orun se manteriam presentes em sua
vida, interagindo no seu dia a dia, para que não o esquecessem e retornassem ao
orun tão logo o momento pactuado ocorresse.

Como chega a ocorrer o nascimento ou a manifestação de um Abiku em uma


gravidez?
O Yorubá acredita que a ação do Abiku ocorre por determinação do destino da mãe, ou
por força de magia/feitiçaria, ou por condições acidentais. O Prof. Sikiru Salami e a
Profa. Dra. Iyakemi Ribeiro, em sua monografia "Ayedungbe: a terra é doce para nela
se viver - rito na luta contra a morte de Abiku", definem essas condições acidentais
como "aquisição inadvertida de um Abiku por uma mulher grávida que não tenha
tomado os necessários cuidados para evitar isso". Existe a crença de que uma mulher
grávida, ao passar por determinados locais em que os Abiku se estabelecem, se não
estiver devidamente protegida, pode ver-se invadida por este "espírito" e tornar-se
sujeita à gravidez de um Abiku. Por isso cuidados especiais são tomados pelas
mulheres tão logo tenham consciência do estado de gravidez. Não é incomum que
mulheres grávidas carreguem junto a barriga um "ota", devidamente preparado, para
evitar essa "invasão" por parte de um Elegbe. Sacrifícios, oferendas e rezas são feitas
também com o objetivo de evitar que uma mulher tenha filhos Abiku ou que, grávida,
venha a ser "invadida" por um deles.
Exemplos: temos no ofo do Odu Oyeku meji que transcrevemos a seguir:
"Okin nibonranja
Igba gbogbo ni tekun
Ejo ni sare iku niga nigo
Lo ba oluwa re
Awon lo se Ifa fun Tite
Ti nse omo bibi inu Agbonmiregun
Ni Tite omo toun ko ni ku
Won mi bawo ni Orunmila se maa se
Ti Tite omo re ko ni ku
Orunmila da won lohun,
O ni
Ewe-mafowo-kan-omo-ni,
Ki nje oruko meji
O ni Tite omo toun ko ni ku
Orunmila no Oyeku meji
A ye iku lori Tite omo toun
A ye lo si ori omo elomiran"

"Okin nibonranja Igba gbogbo ni tekun” é a cobra que corre com seu veneno atrás do
ser humano.
Foram esses seres míticos que adivinharam para Tite que é filho de Agbonmiregun
(Orunmilá).
Todos diziam que Tite iria morrer.
Orunmilá respondeu à eles que Tite não morreria.
Perguntaram à Orunmilá o que ele faria para evitar a morte de Tite.
Orunmilá respondeu à eles dizendo:
“Ewe-mfowo-kan-omo-ni, Ki nje oruko meji”.
A folha sagrada não-pense-em-fazer-mal-a-meu-filho. Não-encoste-a-mão-no-meu-
filho. Não tem outro nome (não tem outra finalidade senão essa).
Orunmilá disse que Tite, o filho dele, não morreria e que Oyeku - Aquele que afasta a
Morte - afastará a morte prematura do destino de seu filho.
Ele conduzirá essa morte ao destino dos filhos de outros.

Deixando de lado condições acidentais ou efeito de magia/feitiçaria, temos observado


que a ocorrência de Abiku em uma mãe invariavelmente repete uma história familiar
que podemos reconhecer procurando os seus antecedentes. Ou seja, podemos
procurar nos antecedentes familiares da mãe para constatar, invariavelmente, que este
Abiku vem se fazendo presente na família, geração após geração, em linha direta ou
não.
Outra questão interessante é que podemos afirmar com grande precisão que alguns
odu de nascimento predispõem a ocorrência de Elegbe.
Assim, temos que mulheres regidas pelo odu Ògúndábèdé (Ogundá + Ogbe) são
naturalmente predispostas a gerarem filhos Abiku e, se identificadas quando ainda não
são mães, certas oferendas são realizadas e alimentos lhes são dados para prevenir a
ocorrência. Ebó igualmente é feito nas situações em que já geraram filhos ou planejam
os gerar - um preá é colocado acima da porta de entrada da casa e um peixe acima da
porta de trás, para proteger os moradores da visita dos Elegbe que ali vêm em busca
de seus companheiros. Neste caso, deixam de ter acesso ao interior da casa e
levarão, no lugar da pessoa que vieram buscar, o preá e o peixe.
Um Orin Egbé, cantiga dedicada a Aragbo ou Ere Igbo, Òrìsà protetor das crianças
Abiku, nos fala desse ebó:
Ere iwaju o
E gbeku e gbeku
Ki e maa lo
Ere eyinkule o
E gbeja e gbeja
Ki e maa lo
E lo so fun won
Lorun ajule
Wipe ile Ayedun,
Ng o de wa mo o

Os da frente recebam o preá, recebam o preá e vão-se embora.


Os de trás recebam o peixe, recebam o peixe e vão-se embora.
Vão dizer a eles no orun que a vida é doce.
Não quero mais ir para junto deles no orun.

Entendemos, assim, que Egbé é cultuado e louvado com a finalidade de defender as


crianças da morte prematura e oferendas lhe são feitas para que "desistam" de levar
os Àbíkú de volta para o orun, sendo um de seus objetivos a questão da manutenção
dessas crianças no aiyê.
Segundo o Prof. Sikiru Salami e a Profa. Dra. Iyakemi Ribeiro, na obra já citada: "...
estabelece-se assim um jogo de forças entre Aragbo e a comunidade de Àbíkú que
deseja levar seus membros do aiyê, mundo físico, para o orun, mundo dos mortos,
mundo espiritual. Cultos e oferendas são realizados tanto para que a comunidade de
Àbíkú abra mão de levá-los de volta, como para que Ere igbo os proteja de serem
reconduzidos à terra espiritual".
Todas as pessoas nascidas dentro do odu Ogundabede, homens e mulheres, devem
cultuar Egbé. Entende-se também que quem o cultua evoca suas bênçãos em
benefício das crianças do núcleo familiar. Aliás, o culto de Egbé e suas festas trazem
muita semelhança com as festas e o culto que se fazem no Brasil para "Cosme e
Damião" e que são, muitas vezes, confundidas com o culto do Òrìsà Ibeji. Este Òrìsà
e Egbé (ou Aragbo) são de distintas naturezas, justificam abordagens e tratamentos
diferenciados, têm formas particulares de serem louvados e acessados, são cultuados
por diferentes razões e necessidades, e seus cultos não podem ser confundidos sob
pena de incorrermos em erro de fundamento.
Outra questão que nos parece importante considerar quando falamos de Àbíkú é
quanto ao nome que é dado a essa criança por ocasião de seu nascimento. Nomes
que contam sobre a alegria de viver e ressaltam a doce qualidade da vida no aiyê são
usados no intuito de convencer o Àbíkú a não voltar ao orun e constituem-se, junto
com outras ações, em formas de trabalhar a questão relativa a ruptura do contrato que
levaria o Àbíkú à morte.
Relatamos, a seguir, Itan do odu Oyeku meji que fala sobre o uso de um nome
significativo para um Àbíkú:
Eni baba yereku yereku
Ola baba yereku yereku
O nle adie opipi
O jin si kotokoto ofin
O sare iku yereku yereku
A difa fun ikuye
Iku ye yi won ti bi titi
Nse lo nku
Ki nju ojo meje lo laye ko to ku
Igba ketandilogun lo to duro laye
Bara re ni oun ko ni fe aya miran
O lo difa
Won ni ki o lo rubo
O ru obuko giripa,
Pelu oromu adie
Ki iya ikuye fi oromu adie para
Ki o mu lo sidi Seu
Ki oromu adie naa ke ku fun rara e
Eni ti won ba da Ifa yi fun
T o ba bimo kuye ni ao maa pe

O conhecimento do pai que se esforça para afastar a morte


O conhecimento do pai que se esforça para afastar a morte
Ele, o ser mítico que é Baba Yereku
Perseguia um galo sem penas
Que posteriormente viria a cair em um buraco
Ao fugir da morte
Foi feito um jogo para Iku-ye (a morte se desviou)
Esse Iku-ye já nasceu várias vezes na mesma mãe
Assim que ele nascia, já morria.
Não passava de sete dias
Parou de morrer no décimo sétimo nascimento.
Seu pai disse que não casaria com outra mulher que não fosse a mãe de Iku-ye
(desejava que esta mulher fosse mãe de seu filho).
Foi consultar Ifá para saber como evitar nova morte de seu filho.
Foi aconselhado a fazer um ebó.
Ofertou um bode no ebó e também um pintinho.
A mãe de Iku-ye devia passar o pintinho no próprio corpo e depois o entregar aos pés
de Esu.
Esse pintinho deveria morrer piando (o som de seu piado reproduz o som iku-ye, iku-
ye, iku-ye - afaste-se, Morte! afaste-se, Morte! afaste-se, Morte!)
Portanto, quando a criança nascesse deveria ser chamada Kuye, contração de Iku-ye.
Ebó semelhante é feito com Egbé nascido dentro do odu Ogbè'Rosù (Ogbè + Ìrosù),
onde é usado um certo número de pintinhos e outros elementos, com a finalidade de
reter no aiyê este Àbíkú.
Podemos citar outros nomes dados a crianças Àbíkú: Ayedungbe (a terra é doce para
nela se viver), Malomo (não vá mais embora), Dirojaye (fique para usufruir a vida),
Fidimoaye (finque sua raiz na terra), Kokumo (não morrerá mais), Elegbede (chegou
aquele que pertence à sociedade de Àbíkú).
Por fim, podemos afirmar que os Àbíkú não são, como querem certos autores ou
sacerdotes, seres maléficos, que tem por "missão" causar sofrimento às suas mães.
Entendemos que, pela sua natureza, não ocorra juízo moral ou ético em relação aos
processos de que participam. Podemos pensar até que, talvez, tudo não passe, por
parte deles, de "uma divertida brincadeira". Não podemos nos esquecer que aos
"espíritos" ligados a Egbé são creditadas muitas "brincadeiras" junto aos humanos, tais
como esconder coisas ou fazer com que o dinheiro que você ganhe não se transforme
em poupança ou em benefício concreto.
Por último, dois aspectos são importantes de serem nomeados: o primeiro, diz respeito
ao que podemos chamar de comportamento peculiar da criança Àbíkú. São,
certamente, crianças que se distinguem por este aspecto. Segundo, a resistência, na
nossa cultura, que os pais têm em aceitar o fato de terem um filho Àbíkú e a
dificuldade conseqüente em lidar com esta criança e todas as necessidades
decorrentes da luta pela sua permanência no aiyê. Cabe aí um importante papel para
o sacerdote que pode ajudá-los a compreender a questão, dar-lhes orientação e
acompanhamento durante todo o processo.

Segundo A. B. ELLIS e seu livro...


"Os povos que falam Yorubá da costa dos escravos da África Ocidental – sua religião,
hábitos, costumes, leis e idioma".
ABIKU
(traduzido do livro)
Abiku, abi, "aquele que possui ikú, morte"; logo, "predestinado a morte" é a palavra
empregada para designer os espíritos das crianças que morrem antes de alcançar a
puberdade, e também uma classe de espíritos malvados que causam a morte de
crianças; uma criança que morre antes dos doze anos de idade é chamada de Abiku, e
o espírito ou os espíritos que causaram a morte sendo também chamados de Abiku.
A idéia geral parece ser de que as porções desabitadas do país são povoadas por
espíritos maus ou demônios que sofrem de fome, sede e frio já que ninguém oferece
sacrifícios para eles e eles não possuem templos e estão constantemente planejando
melhorar as suas condições entrando no corpo de recém nascidos. Apenas um único
Abiku pode entrar e viver no corpo de um recém nascido e há uma grande competição
entre eles para conquistar essa posição. Um Abiku somente consegue permissão dos
demais para entrar em um corpo pacificamente e ser reconhecido como tendo direitos
de posse sobre a criança, caso prometa aos demais parte dos confortos que ele está
para obter.
Quando um Abiku entra no corpo de uma criança ele toma para si e para os seus
companheiros a maior parte da comida que é fornecida à criança que em
conseqüência começa a definhar e torna-se raquítica.

Se um Abiku que entrou em uma criança não tivesse que suprir os desejos dos demais
Abiku que não conseguiram ainda um corpo, não haveria grande problema para a
criança já que os alimentos que a ela são dados seriam suficientes para sustentar
tanto ela como o seu "inquilino". São as intermináveis demandas feitas pelos famintos
Abikus de fora e que o Abiku que penetrou tem que atender que destroem a criança já
que toda a comida não é suficiente para satisfazer suas necessidades. Quando uma
criança é rabugenta e irritável, acredita-se que os Abiku de fora estão machucando-a
de modo a fazer com que o Abiku de dentro lhes dê mais comida, pois tudo que é feito
à criança é também sentido pelo Abiku. O Abiku de dentro é desta forma, praticamente
confundido com a própria criança e é possível que toda essa superstição possa ser
uma corrupção da crença que existe na Costa do Ouro (ver: os Povos que falam Tshi
da Costa do Ouro, capítulo XI).
A mãe que vê seu filho gradualmente ser consumido sem causa aparente, conclui que
um Abiku entrou em seu corpo ou, como se diz freqüentemente entre os nativos, ela
deu à luz um Abiku e ele está sempre faminto porque um Abiku está roubando tudo
que é oferecido para a sua nutrição. Para livrar-se do intruso e de seus companheiros
de fora a mãe ansiosa oferece um sacrifício de comida e enquanto os Abiku estão
comendo a parte espiritual da comida e, portanto com sua atenção divertida ela coloca
anéis de ferro e pequenos sinos nos tornozelos da criança e pendura correntes de
ferro em torno de seu pescoço. Os ruídos dos ferros e dos sinos supõem-se manterão
os Abiku à distância. Dessa forma, explica-se o numero de crianças que se vê com os
pés carregados de ornamentos de ferro.
Algumas vezes a criança se recupera e acredita-se que o procedimento descrito foi
efetivo e os Abiku foram expulsos para longe. Caso, todavia, nenhuma melhora ocorra,
ou a criança piore, a mãe tenta expulsá-los fazendo pequenas incisões no corpo da
criança e colocando neles pimenta verde ou temperos, pensando que isso causará,
dessa forma, dores no Abiku, fazendo-o fugir. A pobre criança grita de dor, mas a mãe
endurece seu coração na crença de que o Abiku está sofrendo da mesma forma.
Caso a criança morra, ela é enterrada (isso se for enterrada) sem nenhuma cerimônia
de funeral, longe da cidade ou vila, no mato. A maioria dos outros enterros é feita nos
chãos das casas.
Freqüentemente, o corpo é simplesmente atirado no mato, para punir o Abiku dizem os
nativos. Algumas vezes, a mãe, para amedrontar o Abiku que matou seu filho e evitar
que entre em outra criança que ela possa ter no futuro, bate, soca e mutila o pequeno
corpo, enquanto amaldiçoa e invoca todos os demônios sobre o Abiku que lhe causou
a calamidade. Acredita-se que o Abiku sinta os golpes e as feridas infringidas no corpo
da criança e ouça as maldições e fique terrificado pelas ameaças e pragas.

Segundo Pierre Verger...


ÀBIKÚ
Só mesmo um grande mestre como Pierre Verger para nos tirar da ignorância sobre
este tema, através da sua pesquisa e coragem, cujo legado será eterno.
Se uma mulher, em país yorubá dá à luz uma série de crianças natimortas ou mortas
em baixa idade, a tradição reza que não se trata da vinda ao mundo de várias crianças
diferentes, mas de diversas aparições do mesmo ser (para eles, maléfico) chamado
àbíkú (nascer-morrer) que se julga vir ao mundo por um breve momento para voltar ao
país dos mortos, orun (o céu), várias vezes.
Ele passa assim seu tempo a ir e voltar do céu para o mundo sem jamais permanecer
aqui por muito tempo, para grande desespero de seus pais, desejos de ter os filhos
vivos.
Essa crença se encontra entre os Akan, onde a mãe é chamada awomawu (ela bota
os filhos no mundo para a morte). Os ibo chamam os abikú de ogbanje, os hauças de
danwabi e os fanti, kossamah.
Encontramos informações a respeito dos abikú em oito itan (histórias) de ifá, sistema
de adivinhação doa yorubá, classificados nos 256 odu (sinais de ifá). Essas histórias
mostram que os abikú formam sociedades no egbá orun (céu), presididas por iyàjansà
(a mãe-se-bate-e-corre) para os meninos e olókó (chefe da reunião) para as meninas,
mas é Alawaiye (Rei de Awaiye) que as levou ao mundo pela 1ª vez na sua cidade de
Awaiye. Lá se encontra a floresta sagrada dos abikú, aonde os pais de abikú vão fazer
oferendas para que eles fiquem no mundo.
Quando eles vêm do céu para a terra, os abikú passam os limites do céu diante do
guardião da porta, oníbodé orun, seus companheiros vão com ele até o local onde eles
se dizem até logo. Os que partem declaram o tempo que vão ficar no mundo e o que
farão. Se prometerem a seus companheiros que não ficarão ausentes, essas, crianças
apesar de todos os esforços de seus pais, retornarão, para encontrar seus amigos no
céu.
Os abikú podem ficar no mundo por períodos mais ou menos longos. Um abikú menina
chamada "A-morte-os-puniu" declara diante de oníbodé orun que nada do que os seus
pais façam será capaz de retê-la no mundo, nem presentes nem dinheiro, nem roupas
que lhes ofereçam, nem todas as coisas que eles gostariam de fazer por ela atrairiam
os seus olhares nem lhe agradariam.
Um abikú menino, chamado ilere, diz que recusará todo alimento e todas as coisas
que lhe queiram dar no mundo. Ele aceitará tudo isto no céu.
Quando Alawaiye levou duzentos e oitenta abikú ao mundo pela primeira vez, cada um
deles tinha declarado, ao passar a barreira do céu, o tempo que iria ficar no mundo.
Um deles se propunha a voltar ao céu assim que tivesse visto sua mãe; outro iria
esperar até o dia em que seus pais decidissem que ele casasse; outro, que retornaria
ao céu, quando seus pais concebessem um novo filho, um ainda não esperaria mais
do que o dia em que começasse a andar.
Outros prometem a íyájanjàsá, que está chefiando a sua sociedade no céu,
respectivamente, ficar no mundo sete dias, ou até o momento em que começasse a
andar ou quando ele começasse a se arrastar pelo chão, ou quando começasse a ter
dentes ou ficar em pé.
Nossas histórias de Ifá nos dizem que oferendas feitas com conhecimento de causa
são capazes de reter no mundo esses abikú e de lhes fazer esquecer suas promessas
de volta, rompendo assim o ciclo de suas idas e vindas constantes entre o céu e a
terra, porque, uma vez que o tempo marcado para a volta já tenha passado, seus
companheiros se arriscam a perder o poder sobre eles.
É assim que nessas quatro histórias encontramos oferendas que comportam um
tronco de bananeira acompanhado de diversas outras coisas. Um só dos casos
narrados, o terceiro, explica a razão dessas oferendas:
"Um caçador que estava à espreita, no cruzamento dos caminhos dos abikú, escutou
quais eram as promessas feitas por três abikú quanto à época do seu retorno ao céu".
"Um deles promete que deixará o mundo assim, que o fogo utilizado por sua mãe, para
preparar sua papa de legumes, se apague por falta de combustível. O segundo
esperará que o pano que sua mãe utilizar, para carregá-lo nas costas se rasgue. A
terceira esperará, para morrer, o dia em que seus pais lhe digam que é tempo de ele
se casar e ir morar com seu esposo".

ÌTAN do Odu Òsé Ògúndá:


"O caçador vai visitar as três mães no momento em que elas estão dando à luz a seus
filhos abikú e aconselha à primeira que não deixe se queimar inteiramente a lenha sob
o pote que cozinha os legumes que ela prepara para seu filho; à segunda que não
deixe se rasgar o pano que ela usar para carregar seu filho nas costas, que utilize um
pano de qualidade diferente; ele recomenda, enfim à terceira, de não especificar,
quando chegar a hora, qual será o dia em que sua filha deverá ir para a casa do seu
marido".
As três mães vão, então consultar a sorte, ifá, que lhes recomenda que façam
respectivamente as oferendas de um tronco de bananeira, de uma cabra e de um galo,
impedindo, por meio deste subterfúgio, que os três abikú possam manter seu
compromisso. Porque, se a primeira instala um tronco de bananeira no fogo, destinado
a cozinhar a papa do seu filho, antes que ele se apague, o tronco de bananeira, cheia
de seiva e esponjosa, não pode queimar, e o abikú, vendo uma acha de lenha não
consumida pelo fogo, diz que o momento da sua partida ainda não é chegado. A pele
de cabra oferecida pela Segunda mãe serve para reforçar o pano que ela usa para
levar seu filho nas costas; a criança abikú não vai achar nunca que esse pano se
rasgou e não vai poder manter sua promessa. Não se sabe bem o porque do
oferecimento de um galo, mas a história conta que quando chegou a hora de dizer à
filha já uma moça, que ela deveria ir para casa do seu marido, os pais não lhe
disseram nada e a enviaram bruscamente para a casa dele.
Nossos três abikú não podem mais manter a promessa que fizeram, porque as
circunstâncias que devem anunciar sua partida não se realizaram tais como eles
tinham previsto na sua declaração diante de oníbodé orun. Estes três abikú não vão
mais morrer. Eles seguiram outro caminho.

Comentamos esta história com alguns detalhes porque ilustra bem o mecanismo das
oferendas e de sua função. Não é o seu lado anedótico (de lenda) que nos interessa
aqui, mas a tentativa de demonstração de que em país yorubá, a sorte (destino) pode
ser modificada, numa certa medida, quando certos segredos são conhecidos.
Entre as oferendas que os retêm aqui, na terra, figuram, em primeiro plano, as plantas
litúrgicas. Cinco delas são citadas nestas histórias:
- Abíríkolo (crotalaria lachnophera, papilolionacaae);
- Agídímagbayin (não identificada);
- Ídí (terminalia ivorensis, combretacae);
- Ijá àgborin (não identificada);
- Lara pupa (ricinus communis - mamona vermelha);
- Ainda mais duas plantas são freqüentemente utilizadas para reter os abikú e
que não figuram nessas histórias:
- Olobutoje (jatropha curcas, euphorbiaceae)
- Òpá eméré (waltheria americana, sterculiaceae).
-
A oferta dessas folhas constitui uma espécie de mensagem e é acompanhada por ofó
(encantamentos).

Em país yorubá, os pais para proteger seus filhos abikú e tentar retê-los no mundo,
podem se dedicar a certas práticas, tais como fazer pequenas incisões nas juntas da
criança e aí esfregar atin (um pó preto feito com osun, favas e folhas litúrgicas para
esse fim) ou ainda ligar à cintura da criança um ondè, talismã feito desse mesmo pó
negro, contido num saquinho de couro.
A ação protetora buscada nas folhas expressa nas fórmulas de encantamento, é
introduzida no corpo da criança por pequenas incisões e fricções, e a parte do pó
preto, contida no saquinho do ondé, representa uma mensagem não verbal, uma
espécie de apoio material e permanente da mensagem dirigida pelos elementos
protetores contra os elementos hostis, sendo essa forma de expressão menos efêmera
do que a palavra.
Em outra história, são feitas alusões aos xaorôs, anéis providos de guizos, usados nos
tornozelos pelas crianças abikú, para afastar os companheiros que tentam vir buscá-
los no mundo e lembrar-lhes suas promessas. De fato seus companheiros não aceitam
assim tão facilmente a falta de palavra dos abikú, retidos no mundo pelas oferendas,
encantamentos e talismãs preparados pelos pais, de acordo com o conselho dos
babalawos. Nem sempre essas precauções e oferendas são suficientes para reter as
crianças abikú sobre a terra. Íyájanjàsá é muitas vezes mais forte. Ela não deixa agir o
que as pessoas fazem para os reter e porá tudo a perder o que as pessoas tiverem
preparado. Contra os abikú não há remédios. Yiájanjàsá os atrairá à força para o céu.
Os corpos dos abikú que morrem assim são freqüentemente mutilados. A fim de que,
dizem, eles percam seus atrativos e seus companheiros no céu não queiram brincar
com eles, sobretudo para que o espírito do abikú, maltratado deste modo, não deseje
mais vir ao mundo.
Essas crianças abikú recebem no seu nascimento, nomes particulares.
Alguns desses nomes são acompanhados de saudações tradicionais. Eles podem ser
classificados: quer nomes que estabeleçam sua condição de abikú; quer nomes que
lhes aconselham ou lhe suplicam que permaneçam no mundo; quer em indicações de
que as condições para que o abikú volte não são favoráveis; quer em promessas de
bom tratamento, caso eles fiquem no mundo. A freqüência com que se encontram, em
país yorubá, esses nomes em adultos ou velhinhos que gozam de boa saúde, mostra
que muitos abikú ficam no mundo graças, pensam as almas piedosas, a todas essas
precauções, à ação de Òrúnmìlà, e à intervenção dos babalawos.

ALGUNS NOMES DADOS AOS ABIKÚ


Aiyédùn - a vida é doce
Aiyélagbe - Nós ficamos no mundo
Akúji - O que está morto, desperta
Bánjókó - Senta-se comigo
Dúrójaiyé - Fica para gozar a vida
Dúróoríìke - Fica, tu serás mimada
Èbèlokú - Suplica para que fique
Ilètán - A terra acabou (não há mais terra para enterra-lo)
Kalejaye - Sente-se e goze a vida.
Kikelomo - Crianças são feitas para serem mimadas.
Kòjékú - Não consinta em morrer
Kòkúmó - não morra mais
Kujore - Deus poupou este aqui.
Kúmápáyìí - A morte não leva este daqui
Maku - Não morra.
Moloko - Não tem mais enxada para enterrar.
Omolabake - Esta é uma criança que eu mimarei.
Omotúndé - A criança voltou
Siwoku - Pare de morrer. Tire as mãos da morte.
Tìjúikú - Envergonhado da morte (não deixa a morte te matar)

Os nomes Àbíkú negam a morte e contam a doçura e a alegria da vida.


Contam também como a Terra é bela e boa para se viver. Deve-se sempre chamar a
criança por este nome, que pode ser incorporado oficialmente ou não aos seus outros
nomes e sobrenomes. Isto também ajuda no rompimento do vínculo com o Egbé Òrun
Àbíkú.
Como a descoberta do pacto é algo difícil, sempre próximo ao dia do aniversário da
criança, até que esta complete 19 anos ou pelo prazo que o Ifá determinar, devem ser
feitas oferendas nos locais sacralizados, acompanhadas ou não de Ebó a Egbé
Eleeriko.

Para Òrìsà Egbé se colocam, em uma grande cabaça, os seguintes elementos: Ovos;
Acaçá; Iyan; Acará; Eba; cana-de-açúcar; Obi; Éerù, Ekodide; Bananas; Àádun; Doces
- em um número de 1 ou 6. Esta cabaça é fechada, colocada em um saco e solta num
rio, com acompanhamento de rezas e cantigas:

REZA (DE IBADAN)


Egbé, a afável mãe, aquela que é apoio suficiente para aqueles que a cultuam.
Aquela que veste veludo, a elegante que come Cana-de-Açúcar na estrada de Oyó.
Aquela que gasta muito dinheiro em óleo de palma.
Aquela que está sempre fresca e tem fartura de óleo com o qual ela realiza
maravilhas.
Aquela que tem dinheiro para o luxo, a linda.
Aquela que sucumbe a seu marido como a uma pesada clave de ferro.
Aquela que tem dinheiro para comprar quando as coisas estão caras [3].

CANTIGA [DE LALUPON]


Por favor, use um Ojá.
O Ojá é usado para atar as crianças em nossas costas.
Eu posso cultuá-la todo o quinto dia.
A Mãe Egbé que mora entre as plantas.
Dê-me meus próprios filhos.
Eu posso cultuá-la a cada cinco dias [3]

ITAN’S de IFÁ
- É preciso cuidar dos abikú, senão eles voltam para o céu
- Oferendas podem reter abikú no mundo
- Subterfúgios para reter os abikú no mundo
- Mosetán fica no mundo
- Olóìkó é o chefe da sociedade dos abikú
- Asejéjejaiyé fica no mundo na décima sexta vez que ele vem
- Os abikú chegam pela primeira vez em awaiye
- Íyájanjàsá não deixa os abikú ficar no mundo.

Estes itens completos são descritos numa edição da revista Afro-Ásia, 14 - 1983, sob
o título:
A SOCIEDADE EGBÉ ÒRUN DOS ÀBÍKÚ, AS CRIANÇAS NASCEM PARA
MORRER VÁRIAS VEZES

As cerimônias para os abikú parecem ser pouco freqüentes, entre os yorubá, a única
assistida por Pierre Verger, a cerimônia foi feita pela tanyinnon encarregada do culto
aos deuses protetores de uma família tradicional do bairro Houéta. Num canto da peça
principal, oito estatuetas de madeira com 20 centímetros de altura e eram colocadas
sobre uma banqueta de barro.

Todos vestidos de panos da mesma qualidade, mostrando pela uniformidade de suas


vestimentas, pertencer a uma mesma sociedade (egbé). Seis destas estatuetas
representam abikus e as outras duas ibeji. As oferendas consistiam de oká (pasta de
inhame) obèlá (espécie de caruru) èkuru (feijão moído e cozido nas folhas) eran dindi,
eja dindin (carne e peixe fritos) que, depois da prece da tanyionnon e da oferenda de
parte desta comida às estatuetas, foram distribuídas pela assistência. Uma sacerdotisa
de Obatalá assistiu à cerimônia sublinhando as ligações que existem entre o orixá da
criação, as pessoas de corpos mal formados, corcundas, alijados, albinos e aqueles
cujo nascimento é anormal (àbíkú e ibeji).

Portanto, ao contrário que muitos falam, nada tem a ver com a criança que já nasce
"feita" no santo.

ABIKÚ - CONSIDERAÇÕES DO AUTOR NOS TEMPOS DE HOJE


O legado dos antigos pelas suas crenças, histórias e ritos da sua prática religiosa e
cultural, se adapta e se aplicam em qualquer tempo, através da sua sabedoria, com
muita propriedade.

Em seu tempo, não há referências ao aborto, mas ao contrário, o esforço pela


manutenção da vida, inclusive em quantidade. Pela prática divinatória através do jogo
de búzios, nos dias de hoje identificamos muitos desses abikus, que percebemos em
uma segunda instância, muitos são "criados", passam a existir por ingerência do ser
humano através do aborto, é até simples de entender e ver por uma ótica e lógica
astral/espiritual a qual simplesmente não podemos deletá-la da nossa mente e
inteligência, ou na pior das hipóteses; ignorá-la: No instante em que o óvulo é
fecundado pelo espermatozóide, esta nova matéria existente já é provida de alma e
espírito, que os cristãos chamam de "anjo da guarda" e os Yorubá de "Orixá" (guardião
da cabeça), este fenômeno consta na teologia Yorubá, na lenda de Ajálá, que será
comentada.
Quando da execução do aborto propriamente dito, o ser humano supostamente,
exerce o "seu direito" de eliminar aquele ser; mas somente a parte material, o corpo,
por ele criado através do ato sexual de procriação, matando de forma definitiva o feto.
Mas e o que por ele não foi criado, alma e espírito, onde fica, para onde vai?
Esta análise via de regra não é feita ou levada em consideração, acaso haverá
conseqüências? Seriíssimas, que aqui descrevemos com muita convicção, pautado
nas mais diversas constatações através dos consulentes, por mais de duas décadas,
dos sintomas pós-aborto, a presença daquela "figura" que aparece de uma forma
genética, oriunda de gerações passadas, os que são provocados e voltam ainda na
mesma geração, e os que voltarão em nossos descendentes, e da forma mais
imprevisível possível. A grande maioria de seres que nascem com deformidades,
doenças graves, mortes prematuras... têm grandes possibilidades de serem abikus
fabricados pelo homem.

Nos dias de hoje, quando morre uma criança ainda nova, há muita possibilidade de ser
um abikú que está voltando ao "céu", bem como persiste a probabilidade de voltar em
um próximo filho, ainda na mesma geração ou na próxima; quando uma criança fica
muito doente e corre risco de vida, pode averiguar na família se já há caso de aborto
ou morte prematura, é bem possível. As reações, mais da mãe que do pai, em caso de
aborto, porque muitas vezes o pai não fica sabendo e não participa da decisão, na sua
vida, no seu dia a dia são sintomáticas: desequilíbrio generalizado, na vida pessoal, no
trabalho, em casa, nos estudos, nada dá certo, nada vai bem, angustia, depressão,
pessimismo, falta de ânimo, aparentemente tudo deveria estar bem, mas as coisas
não "vão"; É a influência daquele "ser", que contrariando as leis da natureza foi
"fisicamente" eliminado, o qual fica gravitando num outro plano próximo aos pais,
afetando suas vidas com estes sintomas.

Até mesmo por uma questão de justiça, não poderá um abikú que foi "gerado" por uma
família, aparecer em outra, que nada tem a ver com o ato irresponsável de outros, e
percebemos que uma criança que já nasce deformada de alguma forma, ou uma
doença grave com morte, quem sofre realmente na sua plenitude são os pais, porque
a dor interna é maior que a dor física, a criança já nasceu daquela forma, para ela que
não sentiu e não sabe ser saudável, não percebe e não imagina como se sente
alguém normal, portanto a sua dor ou problemas, para si é normal.

Esta situação pode e deve ser tratada no seu campo espiritual, os antigos nos legaram
instrumentos dentro da religião Yorubá, para fazê-lo, através de ebós e oferendas
específicas, que se vale do mesmo princípio aplicado nos países Yorubá, quer seja:
"enganar" os abikus; Muito se pode melhorar e modificar, evidente que em alguns
casos é irreversível após o nascimento, mas se detectado ou informado o babalorixá
ou yalorixá competente, pelo que foi descrito, a mãe que poderia vir a ter um filho
abikú, por meio desses ebós e oferendas pode-se evitar a vinda de um ser deformado
ou com problemas sérios, que na realidade, nada mais é que um "retorno sob forma de
castigo" de atos nossos ou de gerações passadas, de um processo que nunca foi
tratado ou interrompido.

Desta forma vê-se que o aborto é uma situação que transcende a ingerência das
pessoas, pois é algo ligado diretamente à natureza, e conseqüentemente ao Seu
Criador, modifica-se ou escapa da lei dos homens, mas não à Divina. Este é o fato
porque nenhuma religião da terra permite o aborto.

Segundo Yá Sandra Epega...


Várias histórias de Abiku nos são relatadas nos Itan Ifá, pelos odú Odi, Obará, Ejiogbe,
Irete-Irosun, Otura-Rete, Iwori-Wosa entre outros (Tradição oral):

IWORI-WOSA
O dia que uma criança dá o aviso que vai se suicidar.
Não se pode permitir que sua intenção se concretize.
Ifá foi consultado para Matanmi (não me engane).
Que estava vindo do Céu para a Terra.
Ele foi avisado que deveria fazer sacrifício.
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Morte?
Carneiro
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Doença?
Carneiro

EJIOGBE
O olho da agulha não goteja pus
No banheiro não se põe uma canoa a navegar
Ifá foi consultado para Òrúnmìlà
Quando ele fazia um pacto com Emere (Àbíkú)
Um pacto fora feito com Emere (Àbíkú)
Ele não iria morrer logo na flor da idade
O caso do Emere (Àbíkú) agora fica seguro com Ifá
A primeira vez que os Àbíkú vieram para a Terra foi em Awaiye, rei de Awaiye, num
grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e chefe deles no
Òrun. Na vinda para a Terra, todos pararam no portal do Céu e vários pactos foram
feitos. Eles voltariam ao Òrun quando:
Vissem pela primeira vez o rosto de sua mãe;
Casassem;
Completassem 7 dias de vida;
Tivessem novo irmão;
Construíssem uma casa;
Começassem a andar.

E nenhum queria aceitar o amor de seus pais, e os presentes e mimos seriam


insuficientes para retê-los na Terra, e talvez alguns absolutamente não nascessem.
Esta primeira leva de crianças Àbíkú combinou entre si também roupas, rituais,
chapéus e turbantes, tingidos de òsun que teriam valor simbólico de 1.400 búzios e
que, se seus pais adivinhassem estas roupas e dessem-nas como oferendas,
poderiam segurá-las na Terra.

As roupas seriam colocadas penduradas nas árvores do Bosque Sagrado dos Àbíkú,
em Awaiye, e seus pais fariam anualmente uma festa, com tambores e cantigas, para
alegrar os Àbíkú, que seriam untados com òsun, e não voltariam mais ao Òrun,
rompendo assim o pacto feito, e seu vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú.

Outras histórias são contadas por Òrúnmìlà sobre crianças que, depois de várias idas
e vindas entre o Céu e a Terra, puderam ser conservadas vivas, devido a seus pais
terem consultado Ifá e feito os Ebós determinados por Òrúnmìlà, trocando ou
acrescentando um nome que os desanimasse de morrer novamente, usando folhas
sagradas em fricções nos seus corpinhos, para afastar os outros companheiros Àbíkú,
colocando em seus tornozelos Sawooro, fazendo em seus corpos pequenas incisões,
e através delas inserindo pó preto e mágico de uma mistura de folhas, e com este
mesmo pó enchendo um amuleto de couro em forma de pequeno saco, chamado
Óndè que seria preso à cintura da criança.

Alguns Àbíkú também deveriam colocar em seus tornozelos pesadas argolas e


correntes que não os deixariam fugir para o Òrun. As oferendas eram feitas como
recomendavam os Itan Ifá - troncos de bananeira, cabras, galos, pombos, roupas e
chapéus tingidos com òsun, alimentos, guizos, búzios, doces, bebidas, a serem
entregues no Bosque Sagrado, ou enterrados à margem de um rio, ou soltas nas
águas.

Estes Ebós possibilitariam aos pais reter seus filhos na Terra, e eles não morreriam
mais.
Porém, se apesar das oferendas, os chefes das Comunidades Àbíkú, Oloiko e
Íyájanjàsá insistissem em vir à Terra em busca de suas crianças, e conseguissem levá-
las de volta ao Òrun, os pais deveriam marcar seus corpos com cortes, ou mesmo
mutilá-los ou queimá-los, para que seus pares no Òrun não os reconhecessem ou
aceitassem de volta. Também pelas marcas seriam reconhecidas quando voltassem à
Terra e não quereriam mais nascer.

Nas terras de ancestralidade Yorùbá, uma mãe que perde vários filhos antes ou depois
do nascimento, por morte brusca, súbita ou inexplicável, procura um Babalawo e
descobre estar dando à luz a uma criança Àbíkú, que pode nascer e morrer inúmeras
vezes impedindo-a também de ter filhos normais.

O Babalawo indica a necessidade de Ebó, o uso de folhas, procedimentos estes


usados para afastar o Àbíkú, se os filhos da mulher estiverem mortos, e para que ela
possa gerar crianças perfeitas. Ou para reter a criança na Terra e romper seu vínculo
com o Òrun, mantendo-a viva.

Até que a criança complete nove anos, sempre próximo à data do seu aniversário,
determinadas oferendas serão feitas e depois repetidas até o Àbíkú completar
dezenove anos. A criança deverá usar roupas especiais, com enfeites e cores
específicas, seu nome deve ser mudado ou a ele acrescentado outro, que desestimule
sua volta ao Òrun.
Guizos em quantidade devem ser presos a seus brinquedos, roupas, tornozelos, pulso,
pois o som dos guizos faz bem ao Àbíkú e afasta os amigos do Céu.

A fava Éerù, no Brasil chamada Bejerekun, deve ser usada em banhos e chás,
pacificando a criança, Efun também pode ser utilizado para acalmá-la. As folhas são
usadas em fricções ou banhos, e com elas é feita a mistura mágica com a qual se
protege a criança e se prepara o amuleto, que o Àbíkú carregará por toda a sua vida.
O corpo da mãe também deve ser defendido e esfregado com folhas, para que ela não
atraia uma nova criança Àbíkú.

Se a mãe tiver também problemas com Egbé, chamada Eleeriko, uma deusa
considerada o feminino de Egúngún, que atormenta as crianças, marcando-lhes o
corpo durante a noite, ela será avisada de que deve zelar por Egbé, entregando-lhe
cabaças com oferendas no rio, e louvando-a a cada quinto dia. Também um altar com
símbolos religiosos poderá ser instalado na casa, e anualmente serão feitos festas
com sacrifícios de animais, tambores e dança.

Nem toda criança Àbíkú é atormentada por Egbé que também pode dar filhos às mães
que a louvam.

Há alguns Orìkí de Egbé que demonstram bem esta ligação. Este que damos a seguir
é de Ibadan, e é uma súplica para que Egbé envie crianças sadias que não sejam
Àbíkú ou Emere.

Mãe, proteja-me, eu irei ao rio


Não permita Emere seguir-me em casa
Mãe proteja-me, eu irei ao rio
Não permita que uma criança amaldiçoada siga-me em casa
Mãe proteja-me, eu irei ao rio
Não permita que uma criança estúpida siga-me em casa
Olugbon morreu e deixou filhos atrás dele
Arega morreu e deixou filhos atrás dele
Olukoyi morreu e deixou filhos atrás dele
Eu não poderei morrer sem deixar filhos atrás de mim
Eu não poderei morrer de mãos vazias, sem descendentes [1].

No Brasil, porém, o termo: Àbíkú; dito "Abikum" tem significado totalmente diverso. A
mãe que entra grávida para o processo de iniciação, dá a luz à uma criança que já
nasce "feita pronta", sem necessidade da tonsura ritual. Quando esta criança completa
sete anos, sacrifícios são feitos para seu Òrìsà, sua cabeça é recoberta por uma
cabaça antes que o sangue seja derramado, pois sobre a cabeça de uma criança
"Abikum" o sangue não deve correr.

Esta criança nunca estará sujeita a um transe de possessão por um Òrìsà, a ela estará
vetada a maioria dos cargos dentro da hierarquia sacerdotal brasileira. Ao mesmo
tempo, ela já nasce com um posto honorífico, o de "feita sem ter sido raspada", e é tido
com certo que nenhum mal físico ou espiritual poderá atingi-la.

Dizem também alguns sacerdotes que as crianças que nascem em datas


determinadas são "Abikum". E, sendo assim, pais e mães ambiciosos, programam
seus filhos para que nasçam nestes dias, e até mesmo operações cesarianas são
realizadas, para adequar a chegada ao mundo das crianças às datas de nascimento
apropriadas para "Abikum".

O modo de encarar a pessoa "Abikum" muda de casa para casa, podendo ser
acrescentados ou eliminados detalhes dessa explanação. Os pais e mães de Òrìsà
brasileiros deveriam reavaliar seu conceito sobre crianças Àbíkú, uma vez que estes
nascimentos ocorrem não só na terra Yorùbá, elas nascem em todo o mundo e no
Brasil também. É imperioso também que se instruam sobre todo o ritual sacro a ser
realizado dentro da problemática Àbíkú.

Vários povos ao redor do Golfo de Guinéa têm a mesma crença nos Àbíkú, embora
dêem a eles nomes diferentes. Os Nupe chamam-nos de Kuchi ou Gaya-Kpeama.
Entre os Ibo, são chamados Ogbanje ou Eze-Nwanyi ou Agwu ou ainda Iyi-Uwa
Ogbanje. Já os Haussa chamam-nos Danwabi ou kyauta. Os Akan denominam a
mãe de um Àbíkú Awomawu e entre os Fanti são conhecidos por Kossamah.

Famílias que já perderam um ou mais filhos, tendem a buscar na religião um consolo e


uma explicação para estas mortes, e é dever da Tradição de Òrìsà e do Candomblé
Ketu, estar apta para oferecer, além de um amparo religioso que diminua o sofrimento
dos pais, uma solução para que tal tragédia não mais ocorra.

Temos muita pouca literatura em português sobre o assunto, talvez apenas a tradução
de um excelente artigo de Pierre Verger, publicado em 1983 na Revistas Afro-Asia nº
14, com uma explanação ampla sobre Itan Ifá, Oruko Àbíkú, folhas e Ofo do qual farei
citações literais mais adiante.

Outros autores africanos, franceses e ingleses falam sobre o assunto, em


considerações superficiais ou profundas, mas suas publicações não estão disponíveis
para a quase totalidade do sacerdócio brasileiro.

O fato de não possuirmos no Brasil local determinado, como a Floresta Àbíkú de


Awaiye, não nos impede de sacralizar parte de um bosque para receber as oferendas
das famílias das crianças Àbíkú. Tomando por base as recomendações do Itan Ifá, um
Ebó poderá ser montado com um pedaço de tronco de bananeira, roupas e gorros
tingidos de òsun e bordados de guizos e búzios, pratos com comidas [Iyan; Akara;
Ekuru; Eko; Doces; Canjica; Frutas; Mel; Guizos; Bebidas; Animais; Cabra; Pombo;
Galo; Folhas].
As roupas serão colocadas nos galhos das árvores, as comidas e oferendas ao redor
no chão, ou monta-se um carrego como para a morte, embrulhado em pano branco,
que será enterrado ou solto nas águas de um rio.

Não é necessário o uso de palavras, pois só o fato dos pais saberem qual o significado
da oferenda secreta é suficiente para dar força mágica ao Ebó. Nada porém dever ser
feito sem confirmação e autorização de Òrúnmìlà, pois só a ele cabe nos orientar em
nossas dificuldades e dúvidas. As folhas são colhidas como oferenda e utilizadas para
fazer fricções no corpo, ou na feitura de pós-mágicos que serão esfregados nas
incisões no corpo e rosto dos Àbíkú, e na confecção de amuletos (Onde) ou para
banhos rituais. Cada folha tem sua frase mágica, chamada Ofo, que aumenta seu
poder de atuação no Ebó.

Cito aqui textualmente os Ofo escritos por Pierre Verger:


Ewé Abirikolo, insinu Òrun e pehinda.
(Folhas de Abirikolo, coveiro do Céu, voltai)

Ewé Agidimagbayin, Olorum maa ti kun, a a ku mo


(Folha de Agidimagbayin, Olorun fecha a porta do Céu para que não morramos mais)

Ewé Idi l'ori ki ona Òrun temi odi


(Folha de Idi, dizei que o caminho do Céu está fechado para mim)

Ewé Ija Agbonrin


(Não ande pelo longo caminho que conduz ao Céu)

Ewé Lara Pupa ni osun a won Àbíkú


(A Folha de Lara Vermelha é o cânhamo dos Àbíkú)

Olubotuje ma je ki mi bi Àbíkú Omo


(Olubotuje não me deixe parir filhos Àbíkú)

Opa Emere ki pe ti fi ku, yio maa eu ni, nwon ni, nwon ba ri Opa Emere
(Vara de Emere não os deixe morrer, isto lhes agrada, ver a Vara de Emere) [2].

As crianças Àbíkú devem, no sétimo dia a partir do nascimento, se forem meninas, ou


no nono dia, se forem meninos (se for o caso de gêmeos, o dia certo é o oitavo)
passar pelo ritual de Ikomojade, quando recebem um nome específico que
desestimule sua volta ao Òrun.
Nesta cerimônia são usados: água, dendê, sal, mel, obì, peixe, gin, ataré.

O Bàbálòrìsà ou Ìyálòrìsà, tendo verificado que uma criança é Àbíkú, deve estar
preparado para contornar a natural reação dos familiares, de medo, susto, repulsa e
mesmo horror, porque a primeira impressão de pais não habituados ao assunto, é crer
que o sacerdote coloca seu filho em uma classificação espiritual de maldade e
perversão. Também o risco iminente de uma morte súbita apavora a família que tende
a reagir com agressividade ou incredulidade, e quer garantias infalíveis e imediatas
que isso não é verdade, por quaisquer meios.
Portanto, é necessário que se explique aos pais o problema, e que se dê ao mesmo
tempo soluções adequadas, que se cite casos e exemplos, naturalmente sem falar em
nomes ou detalhes desnecessários, a fim de que os familiares concordem em ser
totalmente esclarecidos e orientados para uma solução definitiva. Explicar também que
oferendas "podem" reter o Àbíkú na Terra, se feitas corretamente, mas antes que
tenha sido o pacto identificado e rompido, a oração e a crença profunda nos Òrìsà é de
grande valia.

Mães que já tenham perdido filhos Àbíkú devem ser avisadas da necessidade de
oferendas para que o Àbíkú não volte a nascer de seus corpos e elas possam dar à luz
crianças normais. Por vezes o nascer e morrer inúmeras vezes de uma criança pode
abalar física e psiquicamente a Mãe e recursos médicos e terapêuticos "nunca" devem
ser abandonados. Pelo contrário, sua utilização deve ser incentivada, em combinação
com o tratamento espiritual. Os pais não devem considerar isso com "castigo",
"karma", "feitiço" ou outras explicações engendradas pela falta de conhecimento. Para
isso o sacerdote deverá esclarecê-los e pacificá-los com a solidez e peso de seus
argumentos. Assim, no Brasil, como nos países Yorùbá, a problemática Àbíkú será
contornada e menos pais serão vítimas de sofrimento causado pela morte de seus
filhos.

*Ìyá Sandra Medeiros Epega preside a 35 anos o Ilê Euiwyato/Guararema/ SP.

Este trabalho pode ser copiado, divulgado, reproduzido, desde que na íntegra, e que
sejam mantidas suas características religiosas e divulgada a fonte.

BIBLIOGRAFIA
[1] - Yorùbá religion & medicine in Ibadan, 1980, George E. Simpson, Ibadan University
Press.
[2] - Afro-Asia NO. 14, 1983, A Sociedade Egbé orun dos Àbíkú, as crianças nascem
para morrer várias vezes, Pierre Verger, pg. 138 a 160.
[3] - Yorùbá religion & medicine in Ibadan, 1980, George E. Simpson, Ibadan University
Press.
As outras informações foram obtidas através da tradição oral, com os anciãos da
família Epega, em Ode Remo e Lagos.

GLOSSÁRIO
Àbíkú - nós nascemos para morrer, classificação espiritual em terra yorùbá.
Ìyá - Mãe.
Orun - mundo paralelo onde moram Ancestrais e Òrìsà, terceira dimensão que nos
rodeia, mundo espiritual.
Egbé - grupo, comunidade.
Emere - o mesmo que ábiku.
Itan Ifá - versos do Oráculo sagrado, sabedoria ancestral.
Odú - resposta do Ifá, traduzido por - você se manifesta.
Ifá - nome do Oráculo sagrado yorùbá. Por vezes Òrúnmìlà também é chamado
assim.
Osun - substancia vegetal vermelha, usada em rituais.
Òrúnmìlà - Òrìsà que responde no Oráculo Ifá, testemunha do destino do homem.
Ebó - oferenda, presente, sacrifício.
Sawooro - pequenos guizos ou sinos de metal.
Óndè - pequeno saco de couro que contém elementos mágicos, amuleto.
Yorùbá - língua falada em parte da Nigéria, povo que habita o Golfo de Guinéa, etnia
africana.
Babalawo - Pai do segredo, Sacerdote do Òrìsà Òrúnmìlà.
Èérù - fava africana.
Efun - substancia vegetal branca, usada em rituais.
Egbé - Òrìsà feminino, que é dona do ouro e da riqueza, também dá filhos às
mulheres.
Egúngún - Ancestral.
Orìkí - frase ou verso de louvor.
Ibadan - cidade da Nigéria.
Nupe - etnia africana.
Ibo - etnia africana.
Haussa - etnia africana.
Akan - etnia africana.
Fanti - etnia africana.
Ofo - palavra ou frase mágica.
Iyan - Massa de cará cozido e pilado.
Akara - bolo de feijão fradinho, conhecido no Brasil como acarajé.
Ekuru - bolo de feijão fradinho, enrolado em folha de bananeira e cozido no vapor.
Eko - Bolo de milho branco, acaçá.
Obi - Cola Acuminata, fruto africano, utilizado em rituais, presente no quotidiano dos
yorùbá.
Ekodide - pena do pássaro Odide, utilizado em rituais.
Àádun - Bolo de milho amarelo.
Ojá - pano que as mães usam para amarrar os filhos nas costas.
Bàbálòrìsà - Pai que têm os Òrìsà, Sacerdote.
Ìyálòrìsà - Mãe que têm os Òrìsà, Sacerdotisa.

*Iya Sandra Medeiros Epega, Ialorixá há 35 anos, é sacerdotisa do Ilê Leuiwyato, o


Templo de Culto aos Orisá, participa de diversas organizações ligadas a cultura negra
e a religião afro-descendente.
Tel.:(11)4693-1582/9950-0148.

Transcrevo abaixo uma parte do artigo "Os gêmeos e a morte: notas sobre os mitos
dos Ibeji e dos abiku na cultura afro-brasileira", da autoria de Monique Augras,
publicado em "As senhoras do pássaro da noite", coletânea organizada por Carlos
Eugênio Marcondes de Moura.

...Entre os iorubá, quando muitas crianças de uma mesma família nascem e morrem
sucessivamente, considera-se que, na realidade, trata-se da mesma criança que morre
e renasce continuamente. Ela não tem a menor intenção de permanecer neste mundo,
pois pertence a uma confraria de espíritos astuciosos que se divertem demais juntos e
que, desde seu nascimento, anseiam por regressar para junto de seus amigos e com
eles se entreterem. Quando são chamados para nascer, despedem-se, marcando um
encontro para o dia de seu retorno.
É por isso que são denominados Abiku, que, muito literalmente, significa "aqueles-que-
nascem-para-morrer". O "filho substituto", portanto, é necessariamente um abiku, pois
nasce após a morte de um irmão. É preciso multiplicar as precauções mágicas para
impedir essa criança de voltar a brincar com seus companheiros. Amarram-se guizos
em seus tornozelos ou então pulseiras de metal que se entrechocam.
Diz-se que, assustados com esse barulho, os espíritos travessos não viriam relembrar
à criança a promessa por ela feita e, talvez, ela a esqueça. Oferecem-se também
sacrifícios, alimentos que agradam aos espíritos Abiku, a fim de os tornar benfazejos.
Dá-se, sobretudo à criança um nome cuja virtude deve permitir-lhe resistir ao apelo da
morte:
"A-criança-voltou" (Omotunde),
"A-vida-é-suave" (Aiyédun),
"Não-morra" (Maaku),
"Aquele-que-vem-do-céu-voltou" (Ayorunbó),
"A-morte-o-esqueceu" (Kuforijin),
"Não-se-deixe-morrer" (Kojeku),

Para citar apenas alguns, entre tantos outros nomes levantados por R.C. Abraham e P.
Verger (1968).

Os membros das comunidades de origem africana conservam estas tradições no


Brasil. Ao nome geralmente católico acrescenta-se discretamente um desses "nomes
poderosos", como é o caso, por exemplo, de "Pedro Kiké" (indulgente), citado por
Verger (1968), dado ao neto da mãe-de-santo de um terreiro do Estado de São Paulo,
que reconheceu nele um abiku. Com efeito, não há necessidade de se esperar uma
sucessão de lutos para identificar uma criança-nascida-para-morrer. O jogo de búzios
(erindilogun), que os fiéis do candomblé consultam em todos os momentos decisivos
de suas vidas, permite prever as ameaças que pesam sobre o recém-nascido. As
crianças cujo parto foi muito difícil, aquelas que, por ocasião do nascimento, perdeu-se
a esperança de salvar, bem como aquelas que nascem após uma série de abortos,
são igualmente incluídas entre os abiku. O diagnóstico precoce, se assim se pode
dizer, da presença de uma criança-nascida-para-a-morte é extremamente importante.
Agindo-se com conhecimento de causa, poder-se-á multiplicar as precauções e as
oferendas, a fim de reter na vida o abiku recalcitrante.

Se, apesar de tudo, ele morrer, considera-se que é uma prova da maldade da
confraria. Os autores que realizaram investigações de campo na Nigéria e no Benin
(Abraham, 1962, Bascom, 1980, Verger, 1968) informam que, segundo o costume, o
pequenino cadáver é mutilado ou mesmo queimado, para privar o abiku de qualquer
vontade de recomeçar. Nada disto ocorre no Brasil, pelo menos no estágio atual de
nossos conhecimentos. Se, ao contrário, a criança sobreviver, tornar-se adulta e até
mesmo alcançar uma idade avançada, ela, entretanto, será tratada diferentemente das
outras pessoas.
Sabe-se que no candomblé brasileiro os sacerdotes e sacerdotisas têm a cabeça
raspada por ocasião da iniciação. A cabeça é, com efeito, o receptáculo do deus ao
qual o noviço é consagrado e que irá manifestar-se por meio da possessão. Ao longo
de toda a sua vida de iniciado, sua cabeça receberá um tratamento ritual que objetiva
fortalecê-la. Por ocasião dos aniversários religiosos, após um, três, sete e vinte e um
anos de iniciação, ou então por ocasião do acesso a cargos eminentes, a cabeça do
sacerdote será novamente raspada, entre outras manipulações destinadas à
construção simbólica do corpo do iniciado (Augras, 1986). Na linguagem dos fiéis do
candomblé, "ser raspado" tornou-se sinônimo de iniciação, e a navalha é um dos
instrumentos entregues com grande pompa à mãe-de-santo de um terreiro por ocasião
de sua investidura, como emblema de suas novas funções.

Ora, é proibido raspar a cabeça de um abiku. Se isso fosse feito, ele morreria na hora.
É que o rito tem por função estabelecer, se assim se pode dizer, a permeabilidade da
cabeça às forças do além. Então nenhuma barreira deixaria de se opor aos
chamamentos da confraria (dos abiku). Os ritos de iniciação incluem uma experiência
de morte simbólica. Aquele a quem se subtrai cotidianamente à morte não deve,
portanto, se expor jamais a ela. O laço que o liga à vida é tão tênue que se deve evitar
toda tentação a essa pessoa. Além disso, a criança prometida à morte, que escapou
de várias tentativas de retorno ao não nascimento, é, de algum modo, mantida em
constante estado de liminaridade, que se opõe à delimitação instituída pelos ritos de
passagem. A iniciação, ao mesmo tempo em que abre uma brecha entre dois níveis de
existência, logo a fecha. Ritos preliminares e pós-liminares garantem respectivamente
a separação do estado anterior e a agregação do novo estado (Van Gennep, 1909). A
ordem do mundo é novamente afirmada. O abiku, ao contrário, é o morto-vivo, o
espírito que reencarna incessantemente, o ser marginal. A presença desse espírito
matreiro e teimoso cria um estado permanente de alteridade, que proíbe o acesso a
esse outro tipo de desdobramento que é a possessão ritual, pois o deus não pode
manifestar-se em uma cabeça que não foi preparada segundo o costume. No caso do
abiku tudo parece transcorrer como se ele, encarnando seu próprio duplo, não
estivesse mais disponível para a manifestação do Outro divino. O reino da morte,
Outro absoluto, opõe-se ao dos deuses e, nas comunidades de candomblé, o culto dos
orixás é totalmente separado do culto dos espíritos ancestrais. A iniciação opera, de
algum modo, uma domesticação da morte no plano simbólico, necessária à construção
ritual da dualidade que, no instante culminante da possessão, se faz síntese (Augras,
1983).

O abiku, ao contrário, já é dado como um ser dual. Mantido à força entre os vivos,
movimenta-se em um espaço não delimitado, em um presente vivido no modo do
passado. O "filho substituto", na tradição ioruba, não é usurpador, como nas famílias
descritas por B. Brusset, mas de modo semelhante, é o filho do desejo de abolir a
morte e, como tal, não encontra seu lugar em parte alguma. Sem espaço definido e
sem tempo próprio, seu ser é o de outro.

Formas de Abikú
1- Abikú Inã ou Izô ou Àbíkú Inòn - Abikú do Fogo: que come a cabeça da mãe
(mata-a) no nascimento, ou do pai posteriormente pôr acidente... Extremamente
violentos! É um dos mais difíceis de ser tratados, geralmente apresentam uma
depressão que quando não tratada se torna irreversível. Devido ao grande
desconhecimento por parte da maioria dos sacerdotes da tradição e culto aos
orixás, que desconhecendo preceitos básicos e não sabem identificar um abiku
e o "recolhem" sem saber como chamar seu companheiro igual para o pé de
Iroko, não determinando sua ligação com Ibeji e as Iyami, quando verificados
os odus do nascimento e impondo seu vinculo com Oyá Ìyágbalè , Iroko e
Obaluwaye.
2- Abikú Omí ou Azin - Abikú da Água: este é o tipo de abikú que nasceu de 6, 7
ou 8 meses de gestação. Geralmente explode a bolsa´d'água da mãe nesse
período vai para a incubadora. Morre precocemente ou cresce e sai desse
período critico. São mais ligados aos avós do que seus próprios pais,
geralmente seu retorno se da entre os 3 e 5 anos, na maioria das vezes por
afogamento, tuberculose, desidratação ou cólera. Para evitarmos este retorno
deve-se usar o nome contrario ao que o trouxe do útero, promovendo ebó para
ofertar aos odus (destinos).
3- Abikú Alé ou Àbíkú aiyê - Abikú da terra: este é o tipo de abikú, que estão mais
intimamente ligados aos seus companheiros da floresta que com freqüência o
chamam de volta. Este segundo as nossas tradições yorubás é o mais usado na
comunicação entre os sacerdotes e parentes com os outros Abikus, que
constantemente o chamam de volta. Nasce por cesarianas de emergência ou
partos normais complicados. São nervosos com tendências neuróticas, e
costuma como o abiku inón, comer cabeças, porém de outras pessoas e não de
seus parentes.
Seu retorno se da através de queda de alturas, doenças cutâneas ou nos
órgãos digestivos, entre os 4 e 8 anos.
4- Abikú Fefe ou Abiku fééfé - Abikú do Vento: este tipo difere um pouco dos
demais pôr ser de especial origem no meio do convívio das pessoas. Ele
destaca-se em todo ambiente desde seu nascimento que, em geral, foi
inesperado ou não planejado. São emocionalmente instáveis... São abiku com
características especiais no seu meio de convívio, sempre se destaca em
qualquer ambiente. É fácil de lidar e manter sua instabilidade emocional,
aproveita bem as delicias da vida, e devido a sua relação com Èsù e Oyá pode
ser salvo na hora de seu retorno.
É costume na cultura Yorubá considera-los pela ancestral cultura africana como
pertencentes a uma legião de eboras que moram nas florestas ou em torno das
árvores de Iroko.

É sabido que cada um desses abikus quando nascem já trazem consigo o dia e a hora
em que vão retornar para o "outro lado da vida", para a companhia dos seus
companheiros das florestas de Iroko. Geralmente este tempo é determinado entre o
nascimento e os sete anos de vida.
Os òrìsà que tem fundamento com os àbíkú são: Iroko, Nàná, Èsù, Oyá, ODE,
Òòsààlà e à eles deverão ser feitas as oferendas conforme disser o oráculo de Ifá,
para desta forma Òrúnmìlà encontrar a melhor maneira de retê-los no aiyê.

Egbé
Se a mãe tiver também problemas com Egbé, chamada Eleeriko, uma deusa
considerada o feminino de Egúngún, que atormenta as crianças, marcando-lhes o
corpo durante a noite, ela será avisada de que deve zelar por Egbé, entregando-lhe
cabaças com oferendas no rio, e louvando-a a cada quinto dia. Também um altar com
símbolos religiosos poderá ser instalado na casa, e anualmente serão feitas festas
com sacrifícios de animais, tambores e dança.

No culto dos òrì s à no Brasil, no momento da iniciação o orí é raspado por ocasião da
iniciação. A cabeça é, com efeito, o receptáculo do òrì s à ao qual o noviço é
consagrado e que irá manifestar-se por meio da manifestação. Ao longo de toda a sua
vida de iniciado, sua cabeça receberá um tratamento ritual que objetiva fortalecê-la.
Por ocasião dos aniversários religiosos, após um, três, sete e vinte e um anos de
iniciação, ou então por ocasião do acesso a cargos eminentes, a cabeça do ELÉGÙN
será novamente raspada, entre outras manipulações destinadas à construção
simbólica do corpo do iniciado.

No Brasil "Ser raspado" tornou-se sinônimo de iniciação, e a Abe (navalha) é um dos


instrumentos entregues com símbolo de senioridade as Egbonmi de um terreiro por
ocasião da entrega de seu Oduje, como emblema de suas novas funções.

É que a Farí (raspagem) o rito tem por função estabelecer, se assim se pode dizer, a
permeabilidade da cabeça às forças do além. Então nenhuma barreira deixaria de se
opor aos chamamentos da Egbé -Àbiku (Sociedade dos abiku). Os ritos de iniciação
incluem uma experiência de morte simbólica. Aquele a quem se subtrai
quotidianamente à morte não deve, portanto, se expor jamais a ela. O laço que o liga à
vida é tão tênue que se deve evitar toda tentação a essa pessoa. Além disso, a criança
prometida à morte, que escapou de várias tentativas de retorno ao não nascimento, é,
de algum modo, mantida em constante estado de liminaridade, que se opõe à
delimitação instituída pelos ritos de passagem. A iniciação, ao mesmo tempo em que
abre uma brecha entre dois níveis de existência, logo a fecha. Ritos preliminares e
pós-liminares garantem respectivamente a separação do estado anterior
e a agregação do novo estado. A ordem do mundo é novamente afirmada.
O abiku, ao contrário, é o espírito que reencarna incessantemente, o ser marginal. A
presença desse espírito matreiro e teimoso cria um estado permanente de alteridade,
que proíbe o acesso a esse outro tipo de desdobramento que é a manifestação ritual,
pois o deus não pode manifestar-se em uma cabeça que não foi preparada segundo o
costume. No caso do abiku tudo parece transcorrer como se ele, encarnando seu
próprio duplo, não estivesse mais disponível para a manifestação do Outro divino. O
reino da morte, Outro absoluto, opõe-se ao dos deuses e, nas comunidades de culto
dos òrìsà é totalmente separado do culto dos espíritos ancestrais. A iniciação opera, de
algum modo, uma domesticação da morte no plano simbólico, necessária à construção
ritual da dualidade que, no instante culminante da possessão, se faz síntese.

trecho do ìtan Odù Òdí méjì:


O Babalawo foi consultar o oráculo para seu filho As e j é j é jàiyé.
Ele causa aborrecimentos ao Babalawo porque é a décima sexta vez que vem ao
mundo e morre.
É então que o Babalawo descobre seus èwò
O Babalawo diz que se prepare a folha de ìdí e tudo que for necessário.
Eles dizem que sejam feitas incisões no corpo de As e j é j é jàiyé.
Que façam incisões no rosto também
As incisões são feitas e se esfrega o pó (Atin).
Quando se acaba de fazer as incisões.
Eles dizem que a criança não conhece mais o caminho do Òrun (a morte).
Eles dizem que pegue o resto de pó negro.
Eles dizem que se confeccione um Talismã.
Eles dizem que amarrem na cintura da criança.
Eles dizem que ela não é mais capaz de partir.
Eles dizem que o caminho do céu não foi feito para ela.
A criança esfrega seu corpo com a folha de Lárà pupa (folha de rícino) não volta mais
para o céu.

Em um outro ìtòn, são feitas alusões aos Saworòs, anéis providos de guizos, usados
nos tornozelos pelas crianças abikú, para afastar os companheiros que tentam vir
buscá-los no mundo e lembrar-lhes suas promessas. De fato seus companheiros não
aceitam assim tão facilmente a falta de palavra dos abikú, retidos no mundo pelas
oferendas, encantamentos e talismãs preparados pelos pais, de acordo com o
conselho dos Babalawo. Nem sempre essas precauções e oferendas são suficientes
para reter as crianças abikú sobre a terra.

Ìyájanjàsa é muitas vezes mais forte. Ela não deixa agir o que as pessoas fazem para
retê-los e porá tudo a perder o que as pessoas tiverem preparado. Contra os abikú não
há remédios. Ìyájanjàsá os atrairá à força para o céu. Os corpos dos abikú que
morrem assim são freqüentemente mutilados. A fim de que, dizem, eles percam seus
atrativos e seus companheiros no céu não queiram brincar com eles, sobretudo para
que o espírito do abikú, maltratado deste modo, não deseje mais vir ao mundo.
Texto de Eduardo Fonseca Junior - Professor de Teologia e Cultura Afro-Negra.

Receita para manter um Àbíkú na Terra


Ingredientes:
Ewé abíríkolo – Folha de Crotalaria Lachnophora, Leguminosae Papilionoideae
Ewé agidimagbáyin – Folha de Sida Acuta, Malvaceae (vassourinha) nove folhas para
meninos e sete para meninas.

Preparação
A ó kó won sórí ara won.
Colocar as folhas uma sobre a outra.
A ó tefá lórí ìyèròsùn, a ó pe ofò rè. A ó dà gbogbo won sórí òwú.
Desenhar o odu em ìyèròsùn, pronunciando a encantação.
A ó fi òwú funfun àti dúdú wé e.
Amarrá-las com um fio de algodão branco e preto.
A ó so mó orùn àbíkú.
Pendurá-las no pescoço da criança.

Ofò
Canto ritual
Agidimagbáyin Olòrun mà tìnkùn.
Agidimagbáyin, Olòrun fechou mesmo a porta.
Olòrun mà tínún àwa ò wá mó.
Olòrun fechou mesmo a porta e nós não estamos vindo mais.
Agidimagbáyin Olòrun mà tìnkùn.
Agidimagbáyin, Olòrun fechou mesmo a porta.

O curioso é que o canto que se deve repetir para despertar o poder dos elementos é
pronunciado na primeira pessoa do plural, como se os próprios agentes da cura
fossem os supostos "demônios" que se deseja afastar. Essa é a natureza de Nanã
Burúkú: uma permanente conjunção de opostos, que se explicita ainda mais no cordão
de fios de algodão preto (funfun) e branco (dúdú) entrelaçados, sempre presentes nos
seus trabalhos.

Ìrosù'wòrì
(pequeno extrato de um itan deste Odu)
...Um dia, todos os tipos de pessoas, incluindo ladrões e outros praticantes de ações
ruins juntaram-se e foram consultar Òrúnmìnlà que estavam cansadas de ir e voltar
para a Terra.
Òrúnmìnlà! Permita que nos refugiemos para sempre no Orun!
Òrúnmìnlà disse-lhes que teriam que continuar a ir e voltar até que todos tivessem
atingido a boa posição que ele havia prescrito para todos os indivíduos.
Somente então poderiam residir no Orun...

As pessoas continuarão a ir para o Orun e retornar ao Ayê depois de sua morte até
que nosso mundo seja um bom mundo para todos. Muitas boas coisas do Orun que
ora não conhecemos serão trazidas para a Terra no seu devido tempo. Se você
pratica qualquer má ação, os bons espíritos voltarão as costas para você e farão
com que você sinta as repercussões de seus atos quando você retornar á Terra
depois de sua morte.

Os Abiku são espíritos que ocupam posição diferente perante o ciclo das
reencarnações a que se refere o Itan acima. Eles retornam para auxiliar o
cumprimento do Odu dos outros, estando ligados a Ayanmo. Daí, sua diferenciação no
que se refere à sua permanência no Ayê. Ela está relacionada à missão que se
propuseram a empreender. Dessa forma, apenas conhecendo-se essa missão pode-se
interferir em seus destinos. E seus destinos estão intimamente relacionados ao de
outras pessoas, de pouco adiantando tratá-los sem tratar as pessoas a que estão
ligados. O Ifá pode auxiliar a desvendar esses mistérios, mas apenas Olorun pode
sancionar tais ações. Infelizmente, Olorun retirou-se para o Orun... Por isso, os Abiku
não devem ser consagrados a nenhum Orixá específico, o que gerou o costume ritual
de não raspá-los (o que se compreende, já que as interpretações Yorubanas os ligam
a Ikú...)

Porém, toda regra tem exceções e, em alguns poucos casos, Olorun permite que
permaneçam mais tempo entre nós e, até mesmo, sejam consagrados a Orisá
específico, geralmente Orixalá. Às vezes, causam confusão no jogo, parecendo seu
Orí estar ligado a Ogiyan, Ogum, Erinlé, Oxossi ou Obaluwaye. Raspá-los, todavia,
pode ter graves conseqüências, já que estão, de fato, mais ligados a Olorun. Além
disso, é bom que tenhamos em mente que todos os seres humanos estão de fato
"mortos" para a vida espiritual, sendo que todos renascerão um dia (que espero esteja
bem distante). Os Yorubá diziam que o Ayê era o melhor dos Orun. Todavia, isso
carece de lógica, já que se correspondesse à verdade, todos os Orixás voltariam para
cá, pois quem pode mais, pode menos. A feitura é o renascer. Estando os Abiku não
mais sujeitos ao ciclo reencarnatório por já terem alcançado a boa posição citada em
Ìrosù'wòrì, a eles não pode ser dada a vida, pois já estão mortos para ela.

Mas, minha opinião pessoal não deve ser considerada, pois nada sei sobre o assunto,
sendo essas afirmações oriundas de intuição mediúnica.

O problema é que existem alguns "zeladores" que gostam de aparecer e inventam


algumas loucuras.
Houve uma época que no RJ havia mais abiku do que formigas, os espertos zeladores
pegavam ingênuos abiãs, quase sempre com muito dinheiro no bolso e saiam com
essa de que era abiku, que já haviam nascido com cargo de zelador e que não seriam
raspados, ai lá saia o palhaço, cabeludo, com suas contas de grau, seu deká, (ou de
lá) seu balaio de àse, sua cuia, seu bom orelhão, sua casa aberta e o que mais
pudesse pagar.
Abiku se vê no jogo, e não é fácil apurar, mas isso é questão para ser tratada dentro
do àse.
Na cabeça de uma abiku não vai navalha e nem sangue, por isso a cabaça, mais aí
tem que saber colocar; não pensem que é fazer um buraco na cabaça e colocar as
coisas dentro, é bem diferente.

Tabu que é muito discutido, é a polêmica "Abikú". Nas minhas leituras já vi tantas
desgraças relacionadas ao tabu abikú, que deixaria qualquer um de cabelo em pé, cito
aqui uma delas:
Outro dia lendo um jornal de Porto Alegre dedicado exclusivamente aos cultos afro-
descendentes li uma explanação de uma Iyalorixá sobre abikú que fiquei
"embasbacado" e até com vergonha de existirem pessoas assim em nossa religião,
pois a tal Iyalorixá afirmava com as seguintes palavras:
"- Abikú é filho do Demônio então tem que morrer para não atrapalhar os vivos".
Que me desculpem todos irmãos de culto, mas eu queria saber quem foi o Bàbá ou Iyá
que deu obrigação para essa pessoa e ensinou tamanha ignorância e falta de respeito
com os leitores do Jornal. Em toda minha vida de santo (que é pequena) eu nunca
ouvi falar em "Demônio" pois é um termo Cristianista e que eu saiba, não somos
Cristãos.
Gente, Abikú é um caso simples, e não um tabu nem um bicho de sete cabeças nem
uma desgraça e muito menos um "Demônio" como certas pessoas o fazem. Ao
contrário, um Abikú dentro de uma Ilê é uma benção, uma dádiva divina. Porque ele é
um espírito hiperevoluido que não tem mais necessidade de passar provações
terrenas, então o que fazemos a eles é pedir que fiquem conosco um "pouquinho"
mais, por isso fazemos oferendas com brinquedos para eles.
Morrer - todos morrem, uma hora ou outra. Abikú não é sinal de morte, mas sim de
vida e de evolução. Quanto ao que aquela Iyá de POA falou, prefiro esquecer, acho
que quando ela estava escrevendo a matéria, passava na TV "O Bebê de Rosemeire"
e o filme a influenciou.
Abraços fraternais.
Artur de Oxalufan.

Textos de Kànga, Artur de Oxalufan, Ekedji Paloma, Yá Maria Pimpa da Lista de Discussão Candomblé-Ketu. E do
Site Ijo-Orunmilá.

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