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ORIXÁS DA BAHIA

Bahia de todos os Santos! Que poderia ser batizada também de: Bahia de Todos os Orixás...
Pois nesta cidade, se é famosa pôr ostentar a riqueza e o número das suas basílicas e catedrais,
das suas igrejas e conventos, monumentos que fazem a admiração de viajantes e turistas de
passagem, não é menos célebre pôr ser a cidade que, fora da África abriga os mais autênticos
centros de culto aos deuses longínquos, trazidos do além mar:
Orixás Nagôs, Voduns Daomehanos, Inkissis de Angola e Congo.
A presença destas religiões africanas no Novo Mundo é uma conseqüência imprevista do tráfico
de escravos. Escravos estes que foram trazidos para os diferentes países da África escalonadas
de maneira descontínua, ao longo da costa ocidental, entre Sanegâmbia e Angola. Provenientes,
também, da contra-costa, da região de Moçambique e da Ilha de São Lourenço, nome dado na
época a Madagascar.
Disto resultou, no Mundo Novo, uma mistura de cativos que não falavam a mesma língua,
possuindo hábitos de vida diferentes e religiões distintas. Em comum, não tinham senão a
infelicidade de estar, todos eles, reduzidos a escravidão, longe de suas terras de origem.
Relações privilegiadas estabeleceram-se entre certos países das Américas e das Antilhas e
determinadas regiões do continente africano.
No tocante a Bahia, estes contatos foram particularmente intensos com Angola e Congo, até o
final do século XVII aproximadamente, desviando-se mais tarde, em direção à Costa de Leste do
Castelo São Jorge de Mina, situado no Golfo de Benin, entre o Rio Volta e o Rio Lagos. Tais
relações limitaram-se, posteriormente à parte central da referida região, conhecida pela triste
denominação de Ilha dos Escravos, evidenciando-se, então uma preferência marcada pelo seu
ponto mais importante, denominado Glehué pelos daomehanos, Igelefé pelos Yorubás, Ajuda
pelos portugueses, Judá ou Gregori pelos franceses, Whydah pelos ingleses e Fidá pelos
holandeses.
Desde muito cedo, ainda no século XVI, constata-se na Bahia a presença de negros Bantus, que
deixaram a sua influência no vocabulário brasileiro. Em seguida verifica-se a chegada de
numeroso contingente de africanos provenientes de regiões habitadas pelos daomehanos (Jêje) e
pelos Yorubás (Nagôs), cujos rituais de adoração aos deuses parecem ter servido de modelo às
etnias já instaladas na Bahia.
Os navios negreiros transportaram através do Atlântico, durante mais de 350 anos, não apenas o
corpo de cativos destinados aos trabalhos de mineração, dos canaviais, das plantações de fumo
localizadas no Novo Mundo, como também a sua personalidade, a sua maneira de ser e de se
comportar, as suas crenças.
Houve então na Bahia uma preocupação em salvar as almas dos negros das garras dos heréticos,
chegando-se a ponto de proibir, no final do século XVIII, que estrangeiros protestantes que
residiam na Bahia, comprassem ou possuíssem negros, especialmente os recém-chegados, a fim
de que lhe fossem inculcados seus próprios erros e para que eles não fossem doutrinados senão
na verdadeira fé.
Na Bahia, Todos os Santos do Paraíso foram invocados para ajudar esta respeitável atividade.
Corvetas, galeras e sumacas levavam belos nomes, tais como: Nossa Senhora da Conceição e
Esperança, Nossa Senhora Mãe de Deus e dos homens, Santo André dos Pobres e Almas, Nossa
Senhora da Ajuda, Santo Antonio e Almas.
Esta boa consciência dos negreiros era total. Pôr volta de 1820, diversos comerciantes
estabelecidos em Angola solicitaram ao Rei de Portugal, refugiado no Brasil desde 1808,
recompensa pelo zelo que sempre souberam demonstrar nesta espécie de atividade. Solicitaram
inclusive títulos honoríficos.
A fé dos traficantes de escravos na proteção divina permaneceu inalterada até o final do tráfico,
mesmo clandestino. O Barão Forth Rouen, ao passar pela Bahia, em 1847, escrevia o seguinte:
numa igreja da cidade (a do Senhor do Bonfim, sem dúvida) tive a oportunidade de ver, entre
um grande número de ex-votos, um quadro bem recente representando um navio negreiro sob
pavilhão brasileiro, sendo esse perseguido pôr dois barcos, um francês e outro inglês. No céu
aparecia a figura de Cristo que, com sua mão poderosa, protegia o navio brasileiro, permitindo-
lhe escapar do perigo e entrar calmamente na enseada.

Sociedade Guardiões de Luaê / Fortes de Luaê.

RELAÇÕES BAHIA-ÁFRICA
Entre os filhos de africanos da primeira geração que retornaram, no século passado, para se
educar ou iniciar um aprendizado em Lagos, voltando depois à Bahia, onde tiveram uma certa
influência sobre a reafricanização dos cultos, temos que citar dois, cujos nomes ficaram gravados
nos anais dos Candomblés.
Um deles foi muito digno Martiniano Eliseu do Bonfim, Ajimuda, cujo pai trazido pôr volta de
1840 como escravo, comprou a sua alforria em 1850, depois de dez anos de cativeiro e cinco
anos mais tarde, comprou a de sua mulher (1855). Martiniano nasce livre, pôr volta de 1859 e
acompanhou seu pai, aos 16 anos (em 1875) a Lagos, onde trabalhou como aprendiz de
marceneiro. Seu pai regressou a Bahia e só se reencontraram em 1880, quando este passou dez
meses em Lagos. Martiniano voltou à Bahia pôr volta de 1886, aos 27 anos, sendo recebido de
braços abertos nos meios do Candomblé.
Sua permanência na África tinha lhe dado muito prestígio e tornou-se rapidamente Babalaô
-adivinho muito procurado. Ele possuía o título de Ojeladê entre aqueles que na Bahia, cultuavam
os espíritos dos mortos, os Egunguns. Muito amigo de Aninha, ele a ajudava com seus
conselhos e conhecimentos sobre a história dos Yorubás, o que levou a criar, no Opô
Afonjá, em 1935, os títulos honoríficos de 12 Obas Xangô, reis e ministros, concedidos aos
amigos e protetores do terreiro. Três dos colaboradores desta obra se orgulham de aí estarem
incluídos: Caribe, Oba Otum Onan Xokun, Jorge Amado, Oba Otun Arolu, e Oju Oba.
O rival mais importante de Martiniano Eliseu do Bonfim era Felisberto Américo Sousa, cujo nome
foi inglesado para Sowser e cognominado Benzinho, ironicamente, pois era freqüentemente
agressivo. Seu pai africano nasceu pôr volta de 1833, em Abeokuta. No Brasil recebeu o nome de
Eduardo Américo de Sousa Gomes e com Júlia Maria de Andrade, filha de Rodolfo Martins de
Andrade, Bangboxé Obitikô, trazido de Kêtu pôr Marcelina Obatossi, teve Felisberto Benzinho.
Eduardo voltou para a África onde teve numerosa prole.
Felisberto fez o mesmo na Bahia e suas filhas Irene Sousa dos Santos e Caetana Américo Sowser
tem mantido fielmente as tradições trazidas da África. Na geração seguinte, o atual, Ary Sowser
tornou-se pai de santo de um terreiro na Boca do Rio, muito bem organizado e onde se festeja,
com muita pompa, Oxaguiã, a quem ele é consagrado.

PRIMEIROS TERREIROS DO CANDOMBLÉ

A instituição de confrarias religiosas sob a égide da Igreja Católica, separava as etnias africanas.
Os pretos de angola formavam a Venerável Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora das
Portas do Carmo, fundada na Igreja Nossa Senhora do Rosário do Pelourinho. Os Daomehanos
(Jêjes) reuniam-se em volta da devoção de Nosso Senhor bom Jesus das Necessidades e
Redenção dos Homens Pretos, na capela do Corpo Santo, na cidade Baixa. Os
Nagôs cuja maioria pertencia à nação Kêtu, formavam duas irmandades: uma das mulheres a da
Nossa Senhora da Boa Morte, outra reservada aos homens, a de Nosso Senhor dos Martírios.
Pôr volta de 1826, a polícia da Bahia havia recolhido, no decorrer de buscas efetuadas com o
objetivo de prevenir possíveis levantes de africanos, escravos ou livres, na cidade ou nas
redondezas, atabaques (tambores), espanta moscas e outros objetos que pareciam mais
adequados ao Candomblé, para adoração dos orixás Nagôs, do que a sua sangrenta
revolução. Nina Rodrigues se refere a certo quilombo, existente nas matas do Urubu, em Pirajá,
o qual se mantinha com o auxílio de uma casa de fetiche da vizinhança, chamada Casa de
Candomblé.

Um artigo do jornal da Bahia, de 03 de Maio de 1855, faz alusão a uma reunião na casa Ilé
Iyanassô: Foram presas, e colocadas as disposições da polícia: Cristóvam Francisco Tavares,
africano emancipado, Maria Salomé, Joana Francisca, Leopoldina Maria da Conceição, Escolástica
Maria da Conceição, o mesmo com o qual seria batizada, trinta e cinco anos mais
tarde, Dona Menininha, a famosa mãe de santo do Gantois.
Quando da morte de Marcelina da Silva Obatossi, foi Maria Júlia Figueiredo Omonikê, também
chamada Yalodê Erelú, na sociedade Geledé que se tornou à nova mãe de santo. Isso provocou
sérias discussões entre os membros mais antigos do terreiro de Ilé Iyanassô, tendo como
conseqüência a criação de dois novos terreiros, originários do primeiro. Júlia Maria da Conceição
Nazaré, fundadora do Terreiro do Gantois teria sido irmã de santo e não filha de santo de
Marcelina Obatossi. Um personagem importante nos meios do Candomblé, chamado Babá Adetá
Okalendé, consagrado a Oxossi, originário de Kêtu, teria tido um papel importante quando foi
criado o terreiro do Gantois, Iyá Omi Axé Iyamassê.
Eugênia Ana Santos, Aninha Obabiyi, cujo orixá era Xangô, auxiliada pôr Joaquim Vieira da
Silva, Obasanya, um africano vindo do Recife e saudado Essá Oburô, fundaram outro terreiro
saído do Ilé Iyanassô e chamado Centro Cruz Santa do Axé Opô Afonjá, que foi instalado em
1910, em São Gonçalo do Retiro, depois do Axé ter funcionado provisoriamente no lugar
denominado Camarão, no bairro do Rio Vermelho.
Sob o impulso dessa grande mãe de santo, o novo terreiro rapidamente se igualou e talvez,
tenha ultrapassado, em reputação os outros terreiros de Candomblé Kêtu.
Maria da Purificação Lopez, Tia Bada Olufandei, sucedeu, em 1938 a Aninha e deixou em 1941 o
encargo do terreiro a Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora Oxunmiwá, filha espiritual de
Aninha Obabiyi.
Pelos jogos complicados das filiações; Senhora era bisneta de Obatossi pôr laços de sangue e sua
neta somente pôr laços espirituais da iniciação. As coisas ficaram ainda mais complicadas quando
Senhora recebeu em 1952 o título honorífico de Iyanassô, dado pelo Aláfin Oyó da Nigéria, pôr
intermédio de uma carta de que tivera a honra de ser portador. Senhora abolindo o tempo
passado, graças a esta distinção, tornou-se espiritualmente fundadora desta última família de
terreiros de candomblé da nação Kêtu, na Bahia, confirmando tão elevada posição em 1962,
quando foi presidir, seguida de seus Ogãs, o Axexê ou cerimônia mortuária da saudosa e mais
centenária Mãe de Santo do Ilé Iyanassô da Casa Branca do Engenho Velho: Maximiana Maria da
Conceição, Tia Massi Oinfunkê.
Após o desaparecimento da saudosa mãe Senhora em 1967, duas novas mães de santo lhe
sucederam a frente do Axé Opô Afonjá. A atual Estella de Azevedo Santos, Odé Kayodê,
retornando a tradição de Iyanassô e de Obatossi, foi fazer uma viagem às fontes na Nigéria e no
ex-Daomé.
Nem todos os africanos e africanas libertos e seus descendentes, que voltaram à África,
retornaram ao Brasil, depois de terem completado seus conhecimentos do ritual do culto. Muitos
deles regressaram a África para ali permanecerem em caráter definitivo, porém não se
esqueciam do Brasil e levaram então nossos costumes para a África, havendo hoje, portanto um
intercâmbio de tradições, onde a cultura africana e a cultura brasileira em muito se parecem.
Após a morte de Senhora, outros terreiros foram criados, originários todos do Axé Opô Afonjá,
formando uma terceira geração desta família de Candomblés que nasceu na Barroquinha.
Citemos Axé Opô Aganjú, de Balbino Daniel de Paula, Obaraim, que viajou para a África e aí
participou das festas de Xangô, com perfeita naturalidade, como se sua família nunca
houvesse deixado aquele país a várias gerações.
Existem numerosos outros terreiros que seguem o ritual Kêtu, como o do Ilé Mariolagê no
Matatu, mais conhecido sob o nome de Alaketú, cuja mãe de santo atual, Olga de Alaketú, já foi
várias vezes a África. Citemos ainda o terreiro de Ilé Ogunjá, também do Matatu, do falecido pai
de santo Procópio Xavier de Souza, Ogunjobi.

Ao lado dos terreiros Nagô-Kétu, há na Bahia os da nação Ijexá. O mais digno dentre eles é o de
Eduardo Antonio Mangabeira, meio-irmão de Otávio Mangabeira, que foi governador do estado
da Bahia. Durante a década de 50 ele enviou cartas redigidas em perfeito Yorubá a seu distante
parente, o Rei de Ijexá, que as recebeu bastante emocionado.
Os terreiros Jêje, onde se praticava o culto dos Voduns do Daomé eram muito raros. O mais
conhecido era o de Bogum, da falecida Emiliana Piedade dos Reis, a qual sucedeu a falecida
Valentina Maria dos Anjos, Mãe Runhó.
Os cultos Jêje e Nagô se fundiam em terreiros como o de Oxumarê, na Rua Vasco da Gama,
dos falecidos Antonio de Oxumarê, Cotinha e Simpliciana.
O ritual dos cultos de origem Bantu era inicialmente diferente das cerimônias Nagôs e Jêjes.
Misturaram-se depois, tornando-se bastante próximos. A originalidade destes cultos Bantus é
difícil de definir. Não se sabe se os rituais Jêje e Nagô foram ou não influenciados pôr escravos
do Congo e de Angola, já presentes no Brasil em grande quantidade, no final do século XVII.
Relações mais constantes estabeleceram-se nos séculos posteriores, entre Bahia e Pernambuco e
a Costa dita dos Escravos, a maioria dos cativos desembarcaram nestas duas províncias que era
então constituída pelos Jêjes e Nagô (Daomehanos e Yorubás).
Um estudo em separado do ritual Bantu na Bahia é tarefa bastante difícil, pois seria necessário
fazê-lo em diversos pontos do Brasil, em lugares onde a influência Jêje Nagô não tivesse feito
sentir.
Existe na Bahia o terreiro Congo do falecido Manoel Bernardino da Paixão, o Bate-Folha, no
bairro de Beiru, o terreiro Angola da falecida, Neném do Tumbeuci, também no Beiru e o de seu
filho de santo, o falecido Manoel Ciriaco de Jesus, o Tumba Juçara, no Alto do Corrupio, hoje
sob a direção da mãe de santo Dere.
Destaquemos finalmente o caso do falecido pai de santo João Alves de Torres, mais conhecido
como Joãozinho da Goméia, que deve seu renome ao Caboclo Pedra Preta, cujo culto,
realizando a maneira africana, era dedicado a ancestrais indígenas, senhores da terra do
Brasil. Iniciado no ritual Angola pôr Jubiabá, Joãozinho foi herdeiro de uma Iansã e se orientou,
cada vez mais, em direção ao ritual Nagô.
É possível que existam estes tipos de culto, mas na Bahia, eles tomaram uma forma bem
próxima da concepção Yorubá.

SINCRETISMO
Os mesmos santos que haviam protegido os interesses negreiros e a vida de uma parte dos
negros transportados tiveram o bom senso de realizar em seguida um exame de consciência, do
qual resultou uma troca de posição: passaram a proteger os escravos, ajudando-os a mistificar os
seus senhores...
Talvez tivessem partilhado dos remorsos tardios de Padre Bartolomeu de Las Casas o qual levado
pela piedosa intenção de preservar as vidas dos índios Caraíbas, tentativa, aliás, sem
resultado..., Desempenhou no século XVI, o papel de instigador do tráfico transatlântico de
negros. Aliás, este tráfico África-Europa já existia há bastante tempo.
Mas voltando aos santos do Paraíso Católico, é certo que eles ajudaram os escravos a lograr e a
despistar os seus senhores sobre a natureza das danças que estavam autorizados a realizar, aos
domingos, quando se reagrupavam em batuques, pôr nações de origem. Em 1758, o Conde dos
Arcos, 7º Vice-rei do Brasil, mostrava-se partidário das distrações desta natureza, não pôr
espírito filantrópico, mas julgar útil que os escravos guardassem a lembrança de suas origens e
não esquecessem os sentimentos de aversão recíproca que os levaram a guerrear em terras
africanas.
Os senhores vendo seus escravos dançarem de acordo com os seus hábitos e cantarem em sua
própria língua julgavam não haver ali senão divertimentos de negros nostálgicos. Na realidade
nem desconfiavam que o que eles cantavam no decorrer de tais reuniões eram preces e
louvações a seus Orixás, a seus Voduns, a seus Inkissis. Quando tinham que justificar o
sentido de seus cantos, os escravos declaravam que louvavam, nas suas línguas os Santos do
Paraíso Católico. Na verdade pediam proteção aos seus deuses.
Não se pode afirmar que já se tratava de sincretismo entre os deuses da África, pôr um lado, e
os Santos Católicos, pôr outro, pois, no século XVIII, as características das divindades
africanas eram ainda desconhecidas dos senhores e do clero português enquanto que os
escravos, não podiam também conhecer detalhes da vida dos santos católicos.
É difícil precisar o momento exato em que este sincretismo pode se estabelecer. Parece ter se
baseado, de maneira geral, sobre detalhes das estampas religiosas que poderiam lembrar certas
características de deuses africanos.
Pode parecer estranho, a primeira vista, que Xangô, deus do trovão, violento e viril, tenha sido
comparado a São Jerônimo, representado pôr um ancião calvo, estudioso e inclinado sobre
velhos livros, mas que é freqüentemente acompanhado, em suas imagens pôr um leão
docilmente deitado aos seus pés. E como o leão é um símbolo de realeza, entre os Yorubás, São
Jerônimo foi comparado a Xangô, o terceiro soberano desta nação. A aproximação entre
Obaluaiê e São Lázaro é mais evidente, pois o primeiro é o deus da varíola e o corpo do
segundo é representado coberto de feridas e abscesso. Yemanjá a mãe de numerosos orixás,
foi sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, e Nanã a mais velha divindade das águas foi
comparada a Sant’Ana, mãe da Virgem Maria. Iansã, primeira mulher de Xangô, ligada as
tempestades e aos relâmpagos, identificou-se com Santa Bárbara. Segundo a lenda, o pai desta
santa católica sacrificou-a devido a sua conversão ao cristianismo sendo, ele próprio, logo em
seguida atingido pôr um raio e reduzido a cinzas. A relação entre o Senhor do Bonfim e Oxalá,
divindade da criação, é mais dificilmente explicável, a não ser pelo imenso amor e
respeito que ambos inspiram. Na Bahia, São Jorge é identificado com Oxossi, deus dos
caçadores, mas no Rio de Janeiro, é ligado a Ogum, deus da guerra, que é compreensível em
relação aos dois orixás, pois São Jorge é representado nas gravuras como um valente cavaleiro,
vestido em brilhante armadura, montado sobre um cavalo ricamente ajaezado em ferro, que bate
no chão com as patas. Armado de uma lança, São Jorge da Capadócia, mata um dragão
enfurecido, caça predileta do deus dos caçadores, para maior satisfação do deus dos
guerreiros, no Rio de Janeiro, desde os tempos do Império, segundo Arthur Ramo, São Jorge
aparecia nas procissões montado num cavalo branco, com honras de coronel e recebendo as
continências da tropa a sua passagem. Na Bahia, no entanto é com Santo Antonio que Ogum vai
ser sincretizado.
Os santos católicos ao se aproximarem dos deuses africanos tornavam-se mais compreensíveis
e familiares aos recém-convertidos. É difícil saber se essa tentativa contribuiu efetivamente para
converter os africanos, ou se ela encorajou na utilização dos santos para dissimular as suas
verdadeiras crenças. É o que Nina Rodrigues indagava em 1890, numa época em que o
sincretismo entre orixás e santos católicos ainda estava em formação e onde a equivalência
entre eles era flutuante e variável de acordo com os terreiros. Existia ainda na época, a tendência
de se identificar Xangô com Santa Bárbara, como se vê até hoje em Cuba, apesar da diferença
de sexo, pois o argumento das relações com o trovão parece dominar.
Os africanos escravizados se declaravam e aparentavam convertidos ao catolicismo, as práticas
fetichistas puderam manter-se entre eles até hoje quais tão extremas quanto na África.
Com o passar do tempo, graças à participação de descendentes de africanos e de mulatos cada
vez mais numerosos, educados num igual respeito pelas duas religiões, tornaram-se tão
sinceramente católicos, quando vão à igreja, como ligados às tradições africanas quando
participam zelosamente das cerimônias de Candomblé.

O ESPAÇO SAGRADO
Se na África o culto dos orixás está circunscrito a determinadas regiões ou cidades, no Brasil a
coisa foi totalmente diferente. Lá existe uma localidade especificamente destinada ao culto de
determinada divindade, contendo a mesma história, sua origem, seus mitos e seus ritos. Assim
Ifé, na Nigéria é o centro de criação para o mundo nagô-yorubá, é a capital do mundo místico e
mágico negro, é o Iluaiye de que tanto fala os negros da diáspora. Em Ilê-Ifé está o culto a
Oduduwa, fundador dos povos Yorubás, assim como Obatalá ou Oxalá, o deus que criou os
homens. Em Oyó está Xangô, que foi seu quarto rei e é o deus do fogo e do trovão, sendo
um de seus antecessores seu pai Oranyan, que foi o primeiro rei de Oyó. Em Ire Ogum,
deus do ferro e da guerra, invadiu e dominou a cidade tornando-se rei com o nome de Ogum
Onirê. Em Abeokuta corre a tradição de lá ter nascido Yemanjá, bem como a de Oyá ou Iansã
(para os brasileiros), ter nascido em Ira. Erinlé, mais conhecido como Inlé ou Ibualama, com
seu culto em Ilobu, além de ter rio com seu nome. De Ilesa recebemos grande herança. De lá
veio o culto a Logum-Edé cujo sacerdote mais velho e mais importante do Brasil, o Babalorixá
Eduardo Mangabeira, popularmente conhecido como Eduardo Ijexá, hoje com 99 anos de idade.
De Ikija perto de Ijebu Ode surgiu Oxossi, que veio a ser o primeiro rei de Kêtu, cidade que
depois foi dominada, destruída e anexada ao Dahomé, hoje Popular República do Benin. De seu
culto nada mais resta a não ser lembranças, especificamente na Bahia. Oxum tem seu culto
principal em Osogbo, além das cidades Abotô, Akpará, Ipetu, Ijimu, dentre outras. Oxalá andou
muito. Saiu de Ifé peregrinando pôr diversas regiões, tomando nomes diferentes, ao tempo em
que se torna rei dos referidos locais. Em Ejigbo tomou o nome de Oxaguiã, em Ifon, Orixá
Olofun e assim pôr diante.
Também chegou até a Bahia o culto a Iyá Mapo, patrona da vagina, pôr ser através dela que
todos os seres humanos vêm ao mundo, daí a sua sacralização. Iyá Mapo é muito venerada e
cultuada em Igbeti. Existe um Itan Ifá (história de Ifá), pertencente ao odú Osá-Meji que
conta como foi colocada a vagina, no devido lugar da mulher. Pôr isso estiveram envolvidos
não só o Odú Osá-Meji, mas também Exu e Iyami Oxorongá, num ebó feito com duas
bananas e um pote, cabendo a Exu a sua localização atual, bem como a do pênis do homem do
qual Exu é dono. Quem viaja pela Nigéria encontrará enormes pênis esculpidos em pedra pelas
estradas, em reverência a Exu. Na Bahia, o Exu da porteira do Asé Opô Afonjá é assentado com
grande pênis esculpido em madeira.
Ao saírem da África os primeiros negros com destino ao Brasil, aportaram primeiramente na
Bahia. Foram negros provenientes de diversas etnias e regiões, todos se misturaram formando
um todo, como se proviessem de uma só região. Porém não podiam acomodar seus hábitos,
costumes, tradições e religiões isoladamente nas diversas regiões do país, primeiro pela condição
de cativos, segundo pôr não haver semelhança quanto a localização do culto. Uma solução teria
que ser encontrada sendo a primeira um agrupamento desses negros em etnias, para efeito de
professamento religioso, em seguida transportar para a Bahia todas as regiões, onde se
professam o culto na África, bem como as divindades.
Para isso necessitavam de uma área muito grande, com muitas plantações que davam o nome de
loko ou roça, em nosso falar, ou simplesmente uma faixa de terra para construir o Ilé Orixá
(casa do orixá), o barracão de festa e na maioria dos casos, também a casa de morada, ficando
depois de tudo pronto com a denominação de terreiro.
Uma vez escolhido o local, segundo a vontade do orixá, faz-se a demarcação da roça, cuidando-
se logo de cercá-la, com plantações de uso litúrgico, sendo mais freqüente o ewe peregun, mais
conhecido como folha de nativo. Escolhida a entrada, comumente chamada de porteira, realiza-
se aí o primeiro ato religioso na área, que é assentar a porteira, a qual consiste no assentamento
de um Exu, para guardar toda a área. Esse Exu tem o nome de acordo com suas características
e procedências, como é o caso do Exu da porteira do Axé Opô Afonjá, que é um Exu
proveniente de Kêtu, conhecido pôr Exu Alaketú ou Bára Kêtu. Já os negros de proveniência
Fon chamam ao Exu de sua porteira e dos mercados de Axi-Legba.
Após este ato religioso vem a construção da casa da divindade a qual a roça vai pertencer. Em
seguida constrói-se a do Exu, para depois construir as demais casas de outras entidades e o
barracão de festa, o qual são feitos uma série de preceitos no chão e depois de levantadas as
paredes, faz-se o preceito final que é o de dar comida a cumeeira. Uma vez pronto, vem a
inauguração do que se chama roça, Candomblé, axé, casa de santo, terreiro ou ilê-orixá. Assim
tem o sítio sagrado terrestre, mas os atos sagrados vão além do espaço terrestre, realizam-se
nos rios (odo), no mar (okun), nas fontes e poços (ibu), nas lagoas (osa), no ar, no firmamento
(ofurufu), enfim em todo canto do mundo (aiye), que se fazem necessário. Nesses casos, os fiéis
se deslocam de seu sítio sagrado para esses lugares, também sagrados, mas que são de uso de
todos.

TERREIROS DE CANDOMBLÉ
Na Bahia no início do século, os terreiros dedicados ao culto dos orixás eram freqüentemente
instalados longe do centro da cidade. Com o crescimento da população e a extensão formada
pelos novos bairros, eles progressivamente, se viram incluídos na zona urbana. Estes terreiros
são geralmente compostos de uma construção denominada barracão, com grande sala para
danças e cerimônias públicas e de uma série de casas onde são instalados os pejis, consagrados
aos diversos orixás, e de locais de moradias das pessoas que fazem parte do Candomblé.
- A responsabilidade do culto repousa sobre o pai ou mãe de santo, correspondentes aos
termos Yorubá de Babalorixá ou Iyalorixá. São chamados também Zelador ou Zeladora, cuidam
do axé, ou do poder do orixá.
- Pai pequeno ou mãe pequena auxiliam o Zelador ou Zeladora. Existe ainda uma série de
ajudantes:
- Dagan: antes das cerimônias públicas se encarrega junto com a Yamorô de despachar
Exu, no ato do padê.
- Iyatebexe: que se encarrega da seqüência de cânticos dos orixás durante uma festa
pública.
- Iyabassê: que supervisiona e é encarregada pela cozinha do santo, das comidas
principalmente.
- Ekedji: encarregada de cuidar das Iaôs tão logo entrem em transe.
- Serepegbé: leva as mensagens para a sociedade do terreiro.
- Axogún: encarregado de fazer os sacrifícios dos animais consagrados aos orixás.
- Alagbé: chefe dos tocadores de atabaques.
- Ogan: tem funções especiais, mas ajudam materialmente o terreiro e contribuem para
protegê-lo. Formam uma sociedade de ajuda mútua, cujos objetivos humanitários são
explícitos.
- Iaôs: mulheres ou esposas de orixá, conhecidas no Brasil como filha ou filho de
santo.

Nos dias de festa, os orixás são invocados dentro do barracão para possuírem seus eleitos e
novamente virem a terra dançar e trazer axé aos mortais.
A cerimônia se inicia pelo padê, ato de alimentar Exu, para que tudo corra bem durante a festa.
Em seguida toda a família de santo entra no barracão dançando ao som de atabaques. À frente a
mãe ou pai de santo vem trazendo nas mãos o adjá, espécie de sino de três ou mais bocas,
chamando os santos para a cerimônia.
Depois de adentrarem ao salão, há a troca de bênçãos dos mais novos para os mais velhos e de
todos para com a mãe ou pai de santo.
Começa então o xirê, onde são louvados todos os orixás com cantigas que retratam suas
personalidades, conquistas e feitos.
É nessa hora que pode ocorrer o fenômeno da possessão, onde os deuses descem a terra
montando seus eleitos.
São recolhidos ao ronkó, pelas ekedis e vestidos com suas roupas rituais, seus emblemas,
ferramentas e insígnias.
Voltam novamente ao barracão para dançarem vestidos com roupas vistosas e nas cores que lhe
são consagradas.
Depois de dançarem algum tempo, os orixás são novamente recolhidos, e vão embora.
As Iaôs voltam ao barracão, cantam as cantigas de encerramento e voltam para as suas casas
com a certeza da obrigação cumprida.
Este ciclo se repete infinitamente e sempre respeitando a antigas tradições.
O candomblé visto como religião confere aos seus adeptos uma maior interiorização e respeito ao
próximo.
A fé é que faz este ciclo ser contínuo, os orixás são respeitados e suas vontades quase sempre
cumpridas de acordo.
A Iaô é submisso ao Pai ou Mãe de santo e estes aos orixás. A ligação com o divino é
constante e necessária. Uma vez que se começa, jamais existe a desistência, sem que haja um
castigo do santo. Pôr isso tudo o que é feito dentro do candomblé, principalmente a iniciação, é
sempre muito bem pensado e consultado aos orixás, através de Ifá (jogo de búzios), para que
não haja erros.
É um caminho a ser seguido, cujo final se escreve todo dia.

OS ORIXÁS

EXÚ
Exu é um orixá de múltiplos e contraditórios aspectos, o que torna difícil defini-lo de maneira
coerente. Com caráter irascível, gosta de suscitar dissensões e disputas, de provocar acidentes e
calamidades. É astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente, a tal ponto que os primeiros missionários
assustados com estas características, assimilaram-no ao diabo, dele fazendo o símbolo de tudo o
que é maldade, perversidade, abjeção, ódio, em oposição a bondade, a pureza, a elevação e ao
amor de Deus.
Entretanto ele possui o seu lado bom e se Exu é tratado com consideração reage
favoravelmente, mostrando-se serviçal e prestativo.
Ele tem suas qualidades e seus defeitos, pois é dinâmico e jovial, constituindo-se assim um orixá
protetor, havendo mesmo pessoas que usam orgulhosamente na África nomes como Exubiyi
(concebido pôr Exu) ou Exutosin (Exu merece ser adorado).
Como personagem histórico Exu teria sido um dos companheiros de Oduduwa quando de sua
chegada a Ifé, e se chamava Exu Obassim. Tornou-se mais tarde, um dos assistentes de
Orunmilà, que preside a adivinhação pôr meio de Ifá.
Exu serve como intermediário entre os homens e o os orixás, pôr esse motivo nada pode ser
feito sem que ele recebe primeiro suas oferendas.

No Brasil Exu foi sincretizado ao diabo. Não inspira, porém grande terror, pois se sabe que
quando bem tratado, ele trabalha para o bem.
Chamam-no familiarmente de Compadre ou Homem da Encruzilhada, pois é nesses lugares que
se depositam de preferência, as oferendas que lhe são destinadas. Poucas pessoas lhe são
abertamente consagradas, em razão deste suposto sincretismo com o diabo. A tendência
quando ele se manifesta é de acalmá-lo, de fixá-lo, oferecendo-lhe sacrifícios e procedendo a
iniciação da pessoa em proveito de seu irmão Ogum, o qual Exu divide o caráter violento e
arrebatado.
O local consagrado a Exu é ao ar livre, ou no interior de uma pequena choupana isolada ou
ainda atrás da porta da casa. É simbolizado pôr um tridente de ferro, plantado sobre um
montículo de terra e algumas vezes pôr estatueta, igualmente de ferro.
A segunda é o dia da semana a ele consagrado. As pessoas que procuram sua proteção usam
colares preto e branco. As oferendas são constituídas de bodes e galos, pretos de preferência e
pôr pratos de comidas feitos no azeite de dendê. Não se deve jamais lhe servir um certo tipo de
azeite, o adi, extraído dos caroços e não da polpa do dendê. Este adi tem a fama de ser portador
da violência e da cólera.
Existem na Bahia 21 Exus, segundo uns e 07 segundo outros, desses nomes podem passar pôr
apelidos, outros parecem ser letras dos cânticos ou fórmulas de louvores. Eis aqui alguns:
- Exu Elegba
- Exu Elegbara
- Exu Bára ou Ibará
- Exu Alaketú
- Exu Lalu
- Exú Jelu
- Exú Lona
- Exú Akessan
- Exú Agbô
- Exú Inãn
- Exú Odara
- Exu Tiriri
O arquétipo de Exu era muito comum em nossa sociedade, onde proliferam pessoas com caráter
ambivalente, ao mesmo tempo, boas e más, porém com inclinações para a maldade, o desatino,
a obscenidade, a depravação e a corrupção. Pessoas que tem a arte de inspirar confiança e dela
abusar, mas que apresentam em contrapartida, a faculdade de inteligente compreensão dos
problemas dos outros e a dar poderosos conselhos com tanto zelo que esperam recompensa. As
cogitações intelectuais enganadoras e as intrigas políticas lhe convêm particularmente e são para
elas garantia de sucesso na vida.

OGUM
Ogum na África, em país Yorubá, é o deus do ferro, dos ferreiros e de todos aqueles que
utilizam este metal: agricultores, caçadores, açougueiros, barbeiros, marceneiros, carpinteiros,
escultores de madeira. Desde o início do século, os mecânicos, os motoristas de automóveis ou
de trens, os reparadores de velocípedes e de máquinas de costura vieram juntar ao grupo de
seus fiéis.
No Brasil Ogum é uma única divindade, tendo, porém 07 nomes:
1. Ogum Méji
2. Ogum Alagmedé
3. Ogum Onirê
4. Ogum Alakorô
5. Ogunjá
6. Ogum Omini
7. Ogum Wari
O número 07 lhe é associado e representado nos locais que lhe são consagrados pôr
instrumentos de ferro forjado, em número de 07, 14 ou 21, alinhados todos sobre uma haste
de ferro: lança, espada, enxadas, torquês, facão, ponta de flecha, enxó, símbolos de suas
atividades guerreiras, agrícolas, de ferreiro, de caçador, de escultor, etc.
Ogum teria sido o filho mais velho de Oduduwa, fundador de Ifé. Era um terrível guerreiro
que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos. Guerreou contra a cidade de Ará e destruiu.
Apossou-se da cidade de Ire, matou o rei ai instalou seu próprio filho no trono e regressou
glorioso, usando ele mesmo o título de Onirê, rei de Ire, sendo chamado Ogum Onirê.
Pôr razões que ignoramos, Ogum nunca teve direito a usar coroa, foi autorizado apenas a
usar um simples diadema chamado akorô e isto lhe valeu ser saudado como Ogum Alakorô.
Ogum decidiu após numerosos anos ausente de Ire, voltar para visitar seu filho. Infelizmente
as pessoas da cidade, celebravam no dia de sua chegada, uma cerimônia na qual os
participantes não podiam falar, sobre pretexto algum. Ogum tinha fome e sede. Descobriu
alguns potes destinados a vinho de palma, mas ignorava que estivessem vazios. Ninguém o
havia saudado ou respondido as suas próprias perguntas. Ele não reconhecia o local pôr ter
ficado ausente durante tanto tempo.
Ogum cuja paciência é pequena enfureceu-se com o silêncio geral, para ele considerado
ofensivo. Começou a quebrar, com golpes de sabre, os potes e logo depois, sem poder se
conter, começou a cortar a cabeça das pessoas mais próximas, até que seu filho apareceu
oferecendo-lhe suas comidas prediletas, tais como cães, caramujos, feijões regados com
azeite de dendê e potes de vinho de palma. Enquanto saciava a sua fome e a sua sede, os
habitantes de Ire cantavam louvores onde não faltava a menção a Ogunjá. Satisfeito e
calmo, Ogum lamentou seus atos de violência e declarou que já vivera bastante. Baixou a
ponta de seu sabre em direção ao chão e desapareceu pela terra adentro, transformando-se
em orixá.
No Brasil as pessoas consagradas a Ogum usam colares de conta de vidro azul-escuro e
algumas vezes, verde. Terça-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. Seu nome sempre
é mencionado, pôr ocasião de sacrifícios dedicados a diversos orixás, no momento em que a
cabeça do animal é decepada, pelo uso da faca, da qual ele é o senhor.
É o primeiro a ser saudado depois de Exu. No momento da entrada dos orixás manifestados
e vestidos, no barracão, Ogum entra na frente, abrindo caminho, para os outros orixás.
Ogum também é representado pôr franjas de mariwo (folhas de dendezeiro devidamente
desfiadas). Era segundo se diz a roupa que ele usava, em outros tempos, quando a tecelagem
ainda não tinha sido inventada.
Estes mariwo’s pendurados em cima das portas e janelas de uma casa ou na entrada dos
caminhos, representam proteção e barreira contra más influências. Na África os locais
consagrados a Ogum ficam ao ar livre, na entrada dos palácios dos reis e nos mercados. São
geralmente pedras em forma de bigorna colocada sob uma grande árvore, Araba e protegida
pôr uma cerca de nativos, Peregun ou de Akokô. Nestes locais periodicamente
realizam-se sacrifícios de cachorros e galos.
O culto a Ogum é bastante difundido no conjunto dos territórios onde se fala Yorubá e
ultrapassa as fronteiras dos países vizinhos, Jêjes, no Daomé e no Togo, onde é chamado de
Gun. Em todos estes países, Ogum-Gun é respeitado e temido. A vida amorosa deste orixá
caracteriza-se pela instabilidade. Ogum o primeiro marido de Oyá, teve relações com Oxum
e também com Obá.
O arquétipo de Ogum é o das pessoas violentas, brigonas e impulsivas, incapazes de
perdoarem as ofensas de que foram vítimas. Das pessoas que perseguem energicamente seus
objetivos e não se desencorajam facilmente. Daquelas que nos momentos difíceis triunfam
onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda esperança, das que
possuem humor mutável, passando furiosos acessos de raiva ao mais tranqüilo dos
comportamentos. Finalmente é o arquétipo das pessoas impetuosas e arrogantes, daquelas
que se arriscam a melindrar os outros pôr uma certa falta de discrição quando lhe prestam
serviços, mas que, devido à sinceridade e franqueza de suas intenções, tornam-se difíceis de
serem odiadas.
OXÓSSI
Oxossi o deus dos caçadores, seria o irmão mais jovem de Ogum. Seu culto encontra-se
extinto na África, nos países de língua Yorubá, o entanto é muito difundido no Novo Mundo,
tanto no Brasil quanto em Cuba. Isto se explica talvez, pelo fato de Kêtu, na África, haver sido
completamente destruído e saqueado pelas tropas do rei de Daomé, no século passado,
sendo os seus habitantes vendidos como escravos para o Brasil e para Cuba.
No Brasil seus numerosos iniciados usam colares de cor verde ou azul claro e quinta-feira é
seu dia de culto. Oxossi tem como símbolo tanto no Brasil quanto na África o ofá (arco e
flecha de ferro batido), come axoxô, servido com fatias de coco. Oxossi é sincretizado na
Bahia com São Jorge e no Rio de Janeiro com São Sebastião. No decorrer das cerimônias
públicas do xirê dos orixás ele segura em uma das mãos o arco e a flecha, seus símbolos e
tem na outra um erukerê, insígnia de dignidade dos reis da África e que lembra ter sido ele rei
de Kêtu. Sua dança imita a caça, a perseguição do animal e o arremesso da flecha. É saudado
com o grito de: Okê!
O arquétipo de Oxossi é aquele das pessoas espertas, rápidas, sempre alertas e em
movimento. São pessoas cheias de iniciativa e sempre na pista de novas descobertas ou de
novas atividades. Tem o senso da responsabilidade e dos cuidados para com a família, são
hospitaleiras, generosas, amigas da ordem, mas gostam muito de trocar de local, de
residência e achar novos meios de existência em detrimento, algumas vezes, de uma vida
doméstica harmoniosa e calma.

INLÉ E IBUALAMA
Na África um rio chamado Erinlé corre em país Ijexá. Há, igualmente, um deus da caça com o
mesmo nome. Seu templo principal fica em Ilobu, onde segundo alguns, os dois cultos teriam se
fundido: o do rio e o do caçador de elefantes, que vinha, freqüentemente, ajudar os habitantes
de Ilobu a combater seus adversários. Seu símbolo é um pássaro de ferro forjado, pousado sobre
uma barra igualmente de ferro e 16 outros pássaros empoleirados, sobre outras tantas barras de
ferro, fixadas em volta de uma haste central. O culto a Erinlé realiza-se a beira de diversos
lugares profundos do rio, Ibu. Cada um desses lugares leva o nome particular, mas é sempre
Erinlé quem é adorado, embora sob designações diferentes. São feitos oferendas de inhames,
banana, feijão e milho assado, regado com azeite de dendê.
Dentre os lugares profundos de Erinlé, um deles é chamado de Ibualama que desfruta de certa
notoriedade no Novo Mundo, particularmente na Bahia.
Suas Iaôs trazem a mão o símbolo de Oxossi, arco e flecha, em fero forjado, e o Bilala, espécie
de chicote com o qual se fustigam durante as danças.

LOGUN EDÉ
Erinlé teria tido com Oxum Ipondá um filho chamado Logun-Edé, cujo culto realiza-se muito
raramente, em Ilexá na África e parece estar em vias de desaparecimento. No Brasil, na Bahia
ele tem, ao contrário, numerosos adeptos. Logun-Edé tem a particularidade de viver durante
seis meses do ano, sobre a terra, alimentando-se de caça e nos outros seis meses embaixo
d’água, num rio, comendo peixe. Seria também, alternadamente seis meses do sexo masculino e
seis meses do sexo feminino. Este deus, segundo o que se diz na África, demonstra aversão
pelas roupas de cor vermelha ou marrom. Nenhum de seus fiéis ousaria usar tais cores nas suas
vestimentas, mas em contrapartida, o azul turquesa parece merecer sua aprovação.

OSSAIM
Ossaim é deus das plantas medicinais e litúrgicas. A sua importância é fundamental, pois
nenhuma cerimônia pode ser feita sem sua presença, sendo ele o detentor do axé, imprescindível
até aos próprios deuses. O nome das plantas e sua utilização e os encantamentos que seu
poder são os elementos mais secretos do ritual dos cultos aos deuses Yorubás. O símbolo de
Ossaim é uma haste de ferro tendo ao alto um pássaro de ferro forjado, esta mesma haste é
cercada pôr seis varetas pontudas dirigidas em leque para o alto. O pássaro é a representação do
poder de Ossaim, é o mensageiro que vai a toda parte, volta e se empoleira sobre a cabeça de
Ossaim para lhe dizer o seu relato. Este pássaro representa o axé, o poder conhecido das
feiticeiras.
Cada divindade tem duas plantas e folhas particulares, dotadas de virtude, de acordo com a
personalidade do deus.
A colheita dessas folhas deve ser feita com um cuidado extremo, sempre em lugar selvagem,
onde elas crescem livremente. Aquelas cultivadas em jardins devem ser desprezadas, porque
Ossaim vive na floresta, em companhia de Aroni, um anãozinho com uma única perna, que
dizem, fuma um cachimbo feito da casca do caramujo.
Pôr causa desta união com Aroni, Ossaim é saudado com a seguinte frase: Holá! Proprietário
de uma única perna que come com o proprietário de duas pernas! Alusão às oferendas de galos
e pombos, que possuem duas patas, a Ossaim-Aroni, que não tem senão uma perna.
Os curandeiros quando vão recolher plantas para seus trabalhos, devem fazê-lo em estado de
pureza, abstendo-se de relações sexuais na noite que precede o ato, além disso, devem ter o
cuidado de deixar uma oferenda em dinheiro, no chão, logo que cheguem ao local da colheita.
Na África, os curandeiros, chamados Olossanyin não entram em transe de possessão. Adquirem
a ciência do uso das plantas após longa aprendizagem.
No Brasil as pessoas dedicadas a Ossaim usam colares verde e branco. Sábado é seu dia de
culto, seus Iaôs costumam entrar em transe, mas nem sempre possuem conhecimento profundo
sobre plantas. Ossaim é particularmente rápido, saltitante e ofegante. Saúda-se o deus da
folhas e das ervas gritando: EWE O! - Oh folhas.
O arquétipo de Ossaim é o das pessoas de caráter equilibrado, capazes de controlar seus
sentimentos e emoções. Daqueles que não deixam suas simpatias e antipatias intervir nas suas
decisões ou influenciar as suas opiniões, sobre as pessoas e acontecimentos.

XANGÔ
Xangô pôr seu aspecto divino é filho de Oranyan, tendo Yamassê como mãe e sendo marido
de três divindades: Oxum, Oyá e Obá, que se tornaram rios no país Yorubá.
Xangô é viril e potente, violento e justiceiro, castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores.
Pôr isso a morte pôr um raio é considerado castigo de Xangô. Oferecem-lhe dentre as
oferendas, o amalá que ele gosta bastante.
O emblema de Xangô é o machado duplo, estilizado (Oxê), que seus iniciados trazem na mão
quando em transe.
O chocalho chamado xére, feito de cabaça alongada, contendo pequenos grãos é sacudido em
honra a Xangô. Convenientemente agitada, quando são anunciados os seus louvores, este
instrumento imita o barulho da chuva.
Xangô é o irmão mais jovem, não somente de Dadá, mas também de Obaluaiê, não pôr
parentesco, mas pôr causa dos territórios a eles consagrados.
O culto de Xangô é muito popular no Novo Mundo, tanto no Brasil como nas Antilhas. Em
Recife, seu nome serve mesmo para designar o conjunto de cultos africanos praticados no estado
de Pernambuco. Na Bahia, seus fiéis usam colares vermelhos e brancos, como na África. Quarta-
feira é o dia da semana a ele consagrado, saúdam-no gritando: Kwo-Kabiyisilé!
Xangô foi sincretizado com São Jerônimo, no Brasil e com Santa Bárbara em Cuba. Já
assinalamos anteriormente o caráter estranho de semelhantes escolhas.
Na Bahia, quando uma festa é celebrada em honra de Dadá, irmão mais velho de Xangô, a
cerimônia relembra tempos antigos.
O arquétipo de Xangô é aquele das pessoas voluntariosas e enérgicas, altivas e conscientes de
sua importância, real ou suposta. Das pessoas que podem ser ao mesmo tempo, grandes
senhoras, corteses, mas que não toleram a menor contradição e nestes casos, são capazes de se
deixarem levar pôr crises de cólera, violentas e incontroláveis. Das pessoas sensíveis ao charme
do sexo oposto e que se conduzem com tato e encanto no decurso de reuniões sociais, mas que
podem perder o controle e ultrapassar os limites da decadência. Enfim o arquétipo de Xangô é
aquele das pessoas que possuem elevado sentido de sua própria dignidade e de suas obrigações,
o que as leva a se comportarem com um misto de severidade e benevolência, segundo os
humores do momento, mas sabendo guardar, geralmente, um profundo e constante sentimento
de justiça.

OYÁ-YANSÃN
Oyá, mais conhecida no Brasil como Iansã, é a divindade dos ventos, das tempestades e do Rio
Níger, quem em Yorubá chama-se Odô-Oyá. Foi a primeira esposa de Xangô, de temperamento
ardente e impetuoso.
O número 09 está relacionado a Oyá, está na origem de seu nome Iansã e encontramos esta
referência no ex-Daomé, onde o culto a Oyá é feito em Porto Novo sob o nome de Avessãn, no
bairro Akron, Lokorô dos Yorubás, e sob o Abessãn, mais ao norte, em Baningbé. Estes nomes
teriam pôr origem a expressão Aborimesan, com nove cabeças, alusão ao que parece, aos nove
braços do delta do Níger.
Oyá seria ainda a rainha do Eguns, pôr ter sido este segundo as lendas, o seu nono filho.
Quando vem sob esta denominação chama-se Oyá-Igbálé.
No Brasil, as pessoas dedicadas a Oyá usam colares de contas de vidro cor vinho. A quarta-feira
é o dia da semana, a ela, consagrado. Seus símbolos são os chifres de búfalo e um alfanje,
colocados sobre seu Peji. Ela recebe oferendas de acarajé, mas detesta abóbora. Quando se
manifesta sobre suas iniciadas, está adornada de uma coroa cujas franjas de contas escondem
seu rosto. Traz nas mãos um alfanje e um erukerê, feito da cauda do cavalo.
Suas danças são guerreiras. Evoca também através de seus gestos a força dos ventos e das
tempestades. Seus fiéis saúdam-na gritando: Eparrei Oyá! No Brasil está sincretizada a Santa
Bárbara e em Cuba a Nossa Senhora da Candelária.
As Oyá-Igbálé, logo que começam a dançar, parecem expulsar as lamas errantes com seus
braços longamente estendidos para frente.
O arquétipo de Iansã é o das mulheres audaciosas, poderosas e autoritárias. Mulheres que
podem ser fiéis e de lealdade absoluta em certas circunstâncias, mas que, em outros momentos,
quando contrariadas em seus projetos e seus empreendimentos, são capazes de se deixar
levarem a manifestações de extrema cólera. Mulheres enfim cujo temperamento sensual e
voluptuoso pode levá-las a aventuras amorosas extraconjugais múltiplas e freqüentes, sem
reserva nem decência, o que não as impede de continuar muito ciumentas de seus maridos pôr
elas mesmas enganados.

OXUM
Oxum é a divindade de um rio do mesmo nome que corre na Nigéria.
Oxum é chamada de Ialodê, título da pessoa que ocupa o lugar mais importante entre todas as
mulheres da cidade. Os axés de Oxum constituem-se de pedras do fundo do rio, de jóias de
cobre e um pente de tartaruga. Oxum tem verdadeiro amor pelo cobre.
No Brasil, os adeptos de Oxum usam colares de contas de vidro de cor amarelo-ouro e
numerosos braceletes de latão, o dia da semana que lhe é consagrado é o sábado e ela é
saudada na África pela expressão: Ora Yeye ô!
É recomendável oferecer a Oxum omoluku, feijão fradinho, adún. Sua dança lembra o
comportamento de uma mulher vaidosa e sedutora que vai ao rio para se banhar, enfeita-se de
colares, agita os braços para fazer tilintar os seus braceletes, abana-se graciosamente e
contempla-se no espelho. O ritmo que acompanha suas danças é o Ijexá, nome de uma região
da África, pôr onde corre o rio Oxum.
No Brasil é sincretizada a Nossa Senhora das Candeias (Bahia) e Nossa Senhora dos Prazeres
(Recife), enquanto em Cuba é assimilada a Nossa Senhora da Caridade, cuja igreja encontra-se
em El Cobre.
O arquétipo de Oxum é o das mulheres graciosas e elegantes, com paixão pelas jóias, perfumes,
vestimentas caras. Das mulheres que são símbolos de charme e beleza. Voluptuosas e sensuais,
porém mais reservadas que Oyá. Elas evitam chocar a opinião pública a qual dão grande
importância. Sobre sua aparência graciosa e sedutora escondem uma vontade muito forte e um
grande desejo de ascensão social.

OBÁ
Obá, divindade de um rio que leva o mesmo nome, é a terceira mulher de Xangô. Uma grande
rivalidade, porém, não demorou a surgir entre ela e Oxum.
No Brasil, assim que Obá aparece num Candomblé montada sobre uma de suas iniciadas, ata-se
um turbante sobre sua cabeça a fim de esconder uma de suas orelhas, como recordação do
passado. Se Oxum se manifesta, no mesmo momento, a tradição exige que as duas divindades
encarnadas procurem lutar novamente e é preciso então intervir energicamente para separá-las.
A dança de Obá é guerreira, ela brande um sabre com uma das mãos e leva um escudo na
outra.
São lhe feitas oferendas de comidas iguais a de Iansã.
É sincretizada com Santa Catarina, mas como existem muitas santas com esse nome, não se
sabe ao certo, a qual Santa Catarina se refere.
O arquétipo de Obá é aquele das mulheres valorosas e incompreendidas. Suas tendências um
pouco viris, fazem-na freqüentemente voltar-se para o feminismo ativo. As atitudes militares e
agressivas são conseqüências de experiências infelizes ou amargas pôr ela vivida. Os seus
insucessos são freqüentemente resultado de um ciúme um pouco mórbido. Entretanto encontram
geralmente compensações para as frustrações sofridas, em êxitos materiais, onde a sua avidez
de ganho e o cuidado de nada perder de seus bens tornam-se garantias de sucesso.

YEMANJÁ
Yemanjá seria filha de Olokun. Aparece casada a primeira vez com Orunmilà (senhor da
adivinhação), e depois com Oxalá com o qual teve 10 filhos.
As imagens que representam Yemanjá dão-lhe o aspecto de uma matrona, com seios
volumosos, símbolo de maternidade fecunda e nutritiva.
Yemanjá recebe oferendas à base de milho branco, azeite, sal e cebolas. Ela se apresenta sob
diversos nomes, como no caso de Oxum, ligados aos lugares onde se manifesta.
Na Bahia os adeptos de Yemanjá usam colares de contas de vidro transparentes e vestem-se de
preferência de azul claro. Seu axé é constituído de conchas e pedras marinhas, guardadas numa
sopeira de louça azul. Saúda-se Yemanjá gritando: Odoyá! Sábado é o seu dia de culto.
Na festa de 02 de Fevereiro, uma das mais populares do ano na Bahia, na Praia do Rio Vermelho
uma multidão imensa de fiéis e admiradores levam presentes e oferendas à deusa do mar.
Durante todo esse dia, forma-se um lento desfile de pessoas de todas as origens e de todos os
meios sociais, trazendo ramos de flores frescas, pratos de comidas, frascos de perfume,
sabonetes, bonecas, cortes de tecido. Cartas e súplicas não faltam, nem presentes em dinheiro,
assim como colares e pulseiras. Ao final da tarde, os ramos são colocados nas cestas, juntamente
com os outros presentes e entregues no mar. O entusiasmo da multidão chega ao máximo.
As filhas de Yemanjá são voluntariosas, fortes, rigorosas, protetoras, altivas e algumas vezes
impetuosas e arrogantes, põem a prova às amizades que lhe são devotadas, custam muito a
perdoar uma ofensa e se a perdoam, não esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são
maternais e sérias. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam de luxo, de tecidos vistosos e
jóias caras. Tem tendência à vida suntuosa mesmo se as possibilidades do cotidiano não lhes
permitirem um tal fausto.
OXUMARÊ
É a serpente arco-íris. Suas funções são múltiplas. Um de seus trabalhos consiste em recolher a
água caída sobre a terra, durante a chuva e levá-las as nuvens.
É o símbolo da mobilidade e do movimento. É a continuidade e a permanência e algumas
vezes representado pôr uma serpente que se enrosca e morde a própria cauda. Oxumarê é
ao mesmo tempo macho / fêmea, esta dupla natureza aparece nas cores vermelha e azul que
cercam o arco-íris. Representa também a riqueza, muito importante no mundo Yorubá.
No Brasil as pessoas dedicadas a Oxumarê usam colares de contas de vidro amarelas e
verdes, terça-feira é o dia da semana a ele dedicado. Seus iniciados usam brajás, longos
colares de búzios e trazem na mão duas serpentes de ferro simbolizando a força telúrica da
terra.
Quando manifestado as pessoas gritam: Arroboboi!
Recebe comida de feijão fradinho, milho e camarões, cozidos no azeite de dendê.
Na Bahia Oxumarê é sincretizado a São Bartolomeu e festejado a 24 de Agosto. As origens
deste deus, pouco conhecido na Nigéria, são tidas como estando no país Mahi, ao norte de
Abomey.

OBALUAÊ / OMULÚ
Obaluaiê e Omulu são nomes dados a Xapanãn, deus da varíola e das doenças contagiosas,
cujo nome é perigoso ser pronunciado.
É sincretizado com São Lázaro e São Roque na Bahia e com São Sebastião no Recife. As pessoas
que lhe são dedicadas usam colares de cores preta, branca e vermelha.
Quando o deus se manifesta sobre um de seus iniciados, é acolhido pelo grito de: Atotô! Suas
Iaôs dançam inteiramente revestidos de palha da costa. A cabeça também é recoberta pôr um
capuz de palha, cujas franjas recobrem o seu rosto. Leva na mão um xaxará, espécie de
vassoura feita de nervuras do dendezeiro, decorada com búzios, contas pequenas e cabaças.
Dançam curvados para frente, como que atormentados pelas dores, imitam o sofrimento, a
coceira e os tremores de febre. Seu ritmo é o opanijé. Gosta de aberém e pipocas. Segunda-feira
é o dia da semana a ele consagrado.
O arquétipo de Obaluaiê é o de pessoas com tendência masoquista, que gosta de exibir seus
sofrimentos e as tristezas que o afligem intimamente. Pessoas que são incapazes de sentir
satisfação, quando sua vida corre tranqüila. Podem atingir situações materiais invejáveis e
rejeitar, um belo dia todas essas vantagens por causa de certos escrúpulos imaginários.
Pessoas que em certos casos, sentem-se capazes de se consagrar ao bem estar dos outros,
fazendo completa abstração de seus próprios interesses e necessidades vitais.

NANÃ BURUKÚ
É conhecida no Brasil como a mãe de Obaluaiê. É sincretizada com Sant’Ana. Os colares de
contas de vidro usado pôr aquele que lhe é consagrado são de cores brancas, vermelha e azul.
Segundo uns o seu dia é a segunda-feira juntamente com seu filho Obaluaiê, segundo outros
seria o sábado junto com as outras Yabás.
Seus adeptos dançam com a dignidade que convém a uma senhora idosa e respeitável. Seus
movimentos lembram um andar lento e penoso, apoiado num bastão imaginário que os
dançarinos, curvados para frente parecem puxar para si.
Quando se manifesta num terreiro, é logo saudada pelo grito: Salubá!
Fazem-lhe oferendas com camarões, sem azeite, mas bem temperados.
É considerada a mais antiga das divindades da água, das águas paradas dos lagos e
lamacentas dos pântanos.
Nanã é uma divindade muito antiga na África, a área de influência de seu culto é bastante
vasta e parece estender-se a leste, para além do rio Níger.
O arquétipo das pessoas dedicadas a Nanã, é o das pessoas que agem com calma, benevolência
e gentileza. Das pessoas lentas no cumprimento de seus trabalhos e que julgam ter a eternidade
a sua frente para acabar seus afazeres. Elas gostam de crianças e educam-nas, talvez com
excesso de mansidão, pois tem tendências a se comportar com a indulgência das avós. Age com
tal segurança e tão majestosamente, que desviam os enganadores, inspirando-lhes um saudável
terror, o que os impede de envolvê-las com seus projetos maldosos. Suas reações bem
equilibradas e a pertinência de suas decisões as mantêm sempre no caminho da sabedoria e da
justiça.

OXALÁ
O Rei da Roupa Branca, o Grande Orixá, são nomes pelos quais Oxalá é conhecido e respeitado
como o mais importante deus Yorubá. Foi o primeiro a ser criado pôr Olodumare, que lhe deu o
poder de sugerir e realizar o axé.
Oxalá é considerado tanto no Brasil como na África, como sendo o maior dos orixás. Seus
adeptos usam colares de contas brancas e vestem-se igualmente de branco. Sexta-feira é o dia
da semana a ele consagrado.
É sincretizado ao Senhor do Bonfim, sem outra razão aparente a não ser o enorme prestígio que
ambos possuem na Bahia.
Dizem na Bahia que existem 16 Oxalá’s, porém os mais invocados são:
1. Oxaguiã
2. Oxalufã
Oxalufã é os Oxalá velhos, que se apóia no paxorô para poder andar; já Oxaguiã
representa o Oxalá novo, e tem preferência pôr inhame.
A saudação para Oxalá é: Epa, epa Babá!
Numa sexta-feira, dia da semana que no Brasil é consagrado a Oxalá, os axés do deus são
retirados do seu peji e levados em procissão até uma pequena cabana feita de palmas
trançadas e simbolizando a viagem de Oxalufã, que durou 07 anos.
Na sexta-feira seguinte, ou seja, 07 dias depois, tem lugar à cerimônia Água de Oxalá, o
maior silêncio é observado a partir da quinta-feira ao pôr do sol, estendendo-se até a manhã
seguinte. Os participantes vão apanhar água vestida de branco e com a cabeça coberta pôr
um pano igualmente branco.
O terceiro domingo finalizando o ciclo das cerimônias é chamado de Pilão de Oxaguiã evoca
as preferências gastronômicas deste deus.
Uma versão simplificada das Águas de Oxalá é a lavagem da escadaria do Bonfim.
O arquétipo de Oxalá é das pessoas calmas e dignas de confiança, das pessoas respeitáveis e
reservadas, dotadas de força de vontade inquebrantável que nada pode influenciar. Em
nenhuma circunstância modificam seus planos e seus projetos. Tais pessoas, no entanto,
sabem aceitar sem reclamar, os resultados amargos dai decorrentes.
É Oxalá que fecha o xirê dos orixás, assegurando a calma a paz e a comunhão que deve
existir entre toda a humanidade.

Sociedade Guardiões de Luaê / Fortes de Luaê.

A VINDA DOS ESCRAVOS

Antes mesmo do descobrimento do Brasil os portugueses já traficavam escravos da África. Não


existe uma documentação precisa dessas diversas importações a não ser vagas notícias de
paradas de navios negreiros, ou nesse ou naquele porto do continente negro. A informação mais
precisa vem de Azurara, onde o autor da Crônica do Descobrimento da Guiné faz um relato de
como Antão Gonçalves, em 1441 capturou e trouxe para o infante D. Henrique os primeiros
escravos africanos, bem como a transação com Afonso Goterres, para aprisionar os negros do
Rio do Ouro.

Isso foi o começo para que o espírito aventureiro de conquista de portugueses criasse usura no
continente africano, em busca de um comércio, não obstante desumano e humilhante, porém
fácil e estritamente rendoso. A coisa cresceu tanto, que em pouco tempo, já podia sentir Lisboa
com um cheiro de cidade mulata. Mas com o passar do tempo, longe de se pensar na extinção
dessa atividade, ela toma um impulso vigoroso, agora com forte aval da Igreja, com a
justificativa de que os portugueses fariam os povos ditos bárbaros adeptos de Cristo e para
tanto, mais papas e bulas houvesse. O Papa Eugênio IV, pelas bulas Dudum cum, de 31 de Julho
de 1436, Rex Regnum, de 08 de Setembro de 1436 e a Preclaris tuis de 25 de Maio de 1437,
renovou a concessão ao rei D. Duarte de todas as terras que conquistasse na África, desde que o
território não pertencesse ao príncipe cristão. Não ficou somente aí o esdrúxulo privilégio.
Remexendo o bulário português, nos arquivos da Torre do Tombo, Calogeras encontrou várias
outras, inclusive a mesma bula Rex Regnum, concedida pelo papa Eugênio IV a D. Duarte, porém
agora com outro destinatário, que foi D. Afonso V, com data de 03 de Janeiro de 1443. No
pontificado de Nicolau V, D. Afonso V, o infante D. Henrique e todos os reis de Portugal assim
como seus sucessores passariam a donos de todas as conquistas feitas na África, com as ilhas
nos mares a ela adjacentes, começando pelos cabos Bojador e não fazendo pouso na Guiné, com
toda sua costa meridional, incorporando a tudo isso as regalias que o cérebro humano
imaginasse tirar dessas terras e desse povo. Essa pequena bagatela de oferendas foi concedida
pela bula Romanus Pontifex Regni Celestis Claviger, de 08 de Janeiro de 1454. Esses favores
eram confirmados pelo papa que ascendia ao pontificado. E nessa matéria o recorde foi batido
pelo papa Calixto III com a célebre bula Inter cetera que nobis divina disponente clementia
incumbunt paragenda, de 13 de Março de 1456, a qual além de confirmar todas as dádivas
anteriores, acresceu a Índia e tudo mais que depois se adquirisse. E o melhor de tudo foi o
arremate de que o descobrimento daquelas partes o não possam fazer senão os reis de Portugal.

Em meio a toda essa confusão da Santa Sé, deve-se fazer justiça a alguns papas, que
protestaram contra semelhante estado das coisas, como Pio II com a bula de 07 de Outubro de
1462, Paulo III em 1537, Urbano VIII com a bula de 22 de Abril de 1639, Benedito XIV pela bula
de 03 de Dezembro de 1839, condena e proíbe a escravidão de negros.

Esse casamento estranho da coroa portuguesa com a mitra permitiu que os portugueses agissem
livremente, em nome de Cristo, Nosso Senhor e da sua santa fé, o que para tanto não fizeram
cerimônia. Não é assim que, pouco tempo depois dessas concessões, descobre a grande colônia
da América do Sul. Era a princípio Terra Santa Cruz, para depois passar a ser colonizada com o
nome de Brasil.

Argumenta-se que a sobrevivência das primeiras engenhocas, o plantio de cana-de-açúcar, do


algodão, do café e do fumo fora, os elementos decisivos para que a metrópole enviasse para o
Brasil os primeiros escravos africanos, vindos de diversas partes da África, trazendo consigo, seus
hábitos, costumes, música, dança, culinária, língua, mitos, ritos e a religião, que infiltrou no povo,
formando, ao lado da religião católica, as duas maiores religiões do Brasil.

ORIXÁS DA BAHIA

Bahia de todos os Santos! Que poderia ser batizada também de Bahia de Todos os Orixás... Pois
nesta cidade, se é famosa pôr ostentar a riqueza e o número das suas basílicas e catedrais, das
suas igrejas e conventos, monumentos que fazem a admiração de viajantes e turistas de
passagem, não é menos célebre pôr ser a cidade que, fora da África abriga os mais autênticos
centros de culto aos deuses longínquos, trazidos do além mar:
Orixás Nagôs, Voduns Daomehanos, Inkissis de Angola e Congo.

A presença destas religiões africanas no Novo Mundo é uma conseqüência imprevista do tráfico
de escravos. Escravos estes que foram trazidos para os diferentes países da África escalonadas
de maneira descontínua, ao longo da costa ocidental, entre Sanegâmbia e Angola. Provenientes,
também, da contracosta, da região de Moçambique e da Ilha de São Lourenço, nome dado na
época a Madagascar.

Disto resultou, no Mundo Novo, uma mistura de cativos que não falavam a mesma língua,
possuindo hábitos de vida diferentes e religiões distintas. Em comum, não tinham senão a
infelicidade de estar, todos eles, reduzidos a escravidão, longe de suas terras de origem.
Relações privilegiadas estabeleceram-se entre certos países das Américas e das Antilhas e
determinadas regiões do continente africano.

No tocante a Bahia, estes contatos foram particularmente intensos com Angola e Congo, até o
final do século XVII aproximadamente, desviando-se mais tarde, em direção a Costa de Leste do
Castelo São Jorge de Mina, situado no Golfo de Benin, entre o Rio Volta e o Rio Lagos. Tais
relações limitaram-se, posteriormente a parte central da referida região, conhecida pela triste
denominação de Ilha dos Escravos, evidenciando-se, então uma preferência marcada pelo seu
ponto mais importante, denominado Glehué pelos daomehanos, Igelefé pelos Yorubás, Ajuda
pelos portugueses, Judá ou Grégory pelos franceses, Whydah pelos ingleses e Fidá pelos
holandeses.

Desde muito cedo, ainda no século XVI, constata-se na Bahia a presença de negros Bantus, que
deixaram a sua influência no vocabulário brasileiro. Em seguida verifica-se a chegada de
numeroso contingente de africanos provenientes de regiões habitadas pelos daomehanos (Jêje) e
pelos Yorubás (Nagôs), cujos rituais de adoração aos deuses parecem servido de modelo as
etnias já instaladas na Bahia.

Os navios negreiros transportaram através do Atlântico, durante mais de 350 anos, não apenas o
corpo de cativos destinados aos trabalhos de mineração, dos canaviais, das plantações de fumo
localizadas no Novo Mundo, como também a sua personalidade, a sua maneira de ser e de se
comportar, as suas crenças.

Houve então na Bahia uma preocupação em salvar as almas dos negros das garras dos heréticos,
chegando-se ao ponto de proibir, no final do século XVIII, que estrangeiros protestantes que
residiam na Bahia, comprassem ou possuíssem negros, especialmente os recém-chegados, a fim
de que lhe fossem inculcados seus próprios erros e para que eles não fossem doutrinados senão
na verdadeira fé.

Na Bahia, Todos os Santos do Paraíso foram invocados para ajudar esta respeitávelatividade.
Corvetas, galeras e sumacas levavam belos nomes, tais como: Nossa Senhora da Conceição e
Esperança, Nossa Senhora Mãe de Deus e dos homens, Santo André dos Pobres e Almas, Nossa
Senhora da Ajuda, Santo Antonio e Almas.

Esta boa consciênciados negreiros era total. Pôr volta de 1820, diversos comerciantes
estabelecidos em Angola solicitaram ao Rei de Portugal, refugiado no Brasil desde 1808,
recompensa pelo zelo que sempre souberam demonstrar nesta espécie de atividade. Solicitaram
inclusive títulos honoríficos.
A fé dos traficantes de escravos na proteção divina permaneceu inalterada até o final do tráfico,
mesmo clandestino. O Barão Forth Rouen, ao passar pela Bahia, em 1847, escrevia o seguinte:
numa igreja da cidade (a do Senhor do Bonfim, sem dúvida) tive a oportunidade de ver, entre
um grande número de ex-votos, um quadro bem recente representando um navio negreiro sob
pavilhão brasileiro, sendo esse perseguido pôr dois barcos, um francês e outro inglês. No céu
aparecia a figura de Cristo que, com sua mão poderosa, protegia o navio brasileiro, permitindo-
lhe escapar do perigo e entrar calmamente na enseada.

RELAÇÕES BAHIA-ÁFRICA

Entre os filhos de africanos da primeira geração que retornaram, no século passado, para se
educar ou iniciar um aprendizado em Lagos, voltando depois a Bahia, onde tiveram uma certa
influência sobre a reafricanização dos cultos, temos que citar dois, cujos nomes ficaram gravados
nos anais dos Candomblés.

Um deles foi muito digno Martiniano Eliseu do Bonfim, Ajimuda, cujo pai trazido pôr volta de
1840 como escravo, comprou a sua alforria em 1850, depois de dez anos de cativeiro e cinco
anos mais tarde, comprou a de sua mulher (1855). Martiniano nasce livre, pôr volta de 1859 e
acompanhou seu pai, aos 16 anos (em 1875) a Lagos, onde trabalhou como aprendiz de
marceneiro. Seu pai regressou a Bahia e só se reencontraram em 1880, quando este passou dez
meses em Lagos. Martiniano voltou à Bahia pôr volta de 1886, aos 27 anos, sendo recebido de
braços abertos nos meios do Candomblé.
Sua permanência na África tinha lhe dado muito prestígio e tornou-se rapidamente Babalaô-
adivinho muito procurado. Ele possuía o título de Ojeladê entre aqueles que na Bahia, cultuavam
os espíritos dos mortos, os Egunguns. Muito amigo de Aninha, ele a ajudava com seus conselhos
e conhecimentos sobre a história dos Yorubás, o que levou a criar, no Opô
Afonjá, em 1935, os títulos honoríficos de 12 Obás Xangô, reis i ministros, concedidos aos amigos
e protetores do terreiro. Três dos colaboradores desta obra se orgulham de aí estarem incluídos:
Carybé, Oba Otum Onan Xokun, Jorge Amado, Oba Otun Arolu, e Oju Oba.

O rival mais importante de Martiniano Eliseu do Bonfim era Felisberto Américo Sousa, cujo nome
foi inglesado para Sowser e cognominado Benzinho, ironicamente, pois era freqüentemente
agressivo. Seu pai africano nasceu pôr volta de 1833, em Abeokutá. No Brasil recebeu o nome de
Eduardo Américo de Sousa Gomes e com Júlia Maria de Andrade, filha de Rodolfo Martins de
Andrade, Bangboxé Obitikô, trazido de Kétu pôr Marcelina Obatossi, teve
Felisberto Benzinho. Eduardo voltou para a África onde teve numerosa prole.
Felisberto fez o mesmo na Bahia e suas filhas Irene Sousa dos Santos e Caetana Américo Sowser
tem mantido fielmente as tradições trazidas da África. Na geração seguinte, o atual, Ary Sowser
tornou-se pai de santo de um terreiro na Boca do Rio, muito bem organizado e onde se festeja,
com muita pompa, Oxaguiã, a quem ele é consagrado.

PRIMEIROS TERREIROS DO CANDOMBLÉ

A instituição de confrarias religiosas sob a égide da Igreja Católica, separava as etnias africanas.
Os pretos de angola formavam a Venerável Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora das
Portas do Carmo, fundada na Igreja Nossa Senhora do Rosário do Pelourinho. Os Daomehanos
(Jêjes) reuniam-se em volta da devoção de Nosso Senhor bom Jesus das Necessidades e
Redenção dos Homens Pretos, na capela do Corpo Santo, na cidade Baixa. Os
Nagôs cuja maioria pertencia a nação Kêtu, formavam duas irmandades: uma das mulheres e da
Nossa Senhora da Boas Morte, outra reservada aos homens, a de Nosso Senhor dos Martírios.
Pôr volta de 1826, a polícia da Bahia havia recolhido, no decorrer de buscas efetuadas com o
objetivo de prevenir possíveis levantes de africanos, escravos ou livres, na cidade ou nas
redondezas, atabaques (tambores), espanta moscas e outros objetos que pareciam mais
adequados ao Candomblé, para adoração dos orixás Nagôs, do que a sua sangrenta
revolução. Nina Rodrigues se refere a certo quilombo, existente nas matas do Urubu, em Pirajá,
o qual se mantinha com o auxílio de uma casa de fetiche da vizinhança, chamada Casa de
Candomblé.

Um artigo do jornal da Bahia, de 03 de Maio de 1855, faz alusão a uma reunião na casa Ilé
Iyanassô: Foram presos e colocados a disposição da polícia, Cristóvam Francisco Tavares,
africano emancipado, Maria Salomé, Joana Francisca, Leopoldina Maria da Conceição, Escolástica
Maria da Conceição, o mesmo com o qual seria batizada, trinta e cinco anos mais
tarde, Dona Menininha, a famosa mãe de santo do Gantois.

Quando da morte de Marcelina da Silva Obatossi, foi Maria Júlia Figueiredo Omonikê, também
chamada Yalodê Erelú, na sociedade Geledé que se tornou à nova mãe de santo. Isso provocou
sérias discussões entre os membros mais antigos do terreiro de Ilé Iyanassô, tendo como
conseqüência a criação de dois novos terreiros, originários do primeiro. Júlia Maria da Conceição
Nazaré, fundadora do Terreiro do Gantois teria sido irmã de santo e não filha de santo de
Marcelina Obatossi. Um personagem importante nos meios do Candomblé, chamado Babá Adetá
Okalendé, consagrado a Oxossi, originário de Kêtu, teria tido um papel importante quando foi
criado o terreiro do Gantois, Iyá Omi Axé Iyamassê.

Eugênia Ana Santos, Aninha Obabiyi, cujo orixá era Xangô, auxiliada pôr Joaquim Vieira da Silva,
Obasanya, um africano vindo do Recife e saudado Essá Oburô, fundaram outro terreiro saído do
Ilé Iyanassô e chamado Centro Cruz Santa do Axé Opô Afonjá, que foi instalado em 1910, em
São Gonçalo do Retiro, depois do Axé ter funcionado provisoriamente no lugar denominado
Camarão, no bairro do Rio Vermelho.

Sob o impulso dessa grande mãe de santo, o novo terreiro rapidamente se igualou e talvez,
tenha ultrapassado, em reputação os outros terreiros de Candomblé Kêtu.

Maria da Purificação Lopez, Tia Bada Olufandei, sucedeu, em 1938 a Aninha e deixou em 1941 o
encargo do terreiro a Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora Oxunmiwá, filha espiritual de
Aninha Obabiyi.

Pelo jogo complicado das filiações, Senhora era bisneta de Obatossi pôr laços de sangue e sua
neta somente pôr laços espirituais da iniciação. As coisas ficaram ainda mais complicadas quando
Senhora recebeu em 1952 o título honorífico de Iyanassô, dado pelo Aláfin Oyó da Nigéria, pôr
intermédio de uma carta de que tivera a honra de ser portador. Senhora
abolindo o tempo passado, graças a esta distinção, tornou-se espiritualmente fundadora desta
última família de terreiros de candomblé da nação Kêtu, na Bahia, confirmando tão elevada
posição em 1962, quando foi presidir, seguida de seus Ogãs, o Axexê ou cerimônia mortuária da
saudosa e mais centenária Mãe de Santo do Ilé Iyanassô da Casa Branca do Engenho
Velho, Maximiana Maria da Conceição, Tia Massi Oinfunkê.

Após o desaparecimento da saudosa mãe Senhora em 1967, duas novas mães de santo lhe
sucederam a frente do Axé Opô Afonjá. A atual Estella de Azevedo Santos, Odé Kayodê,
retornando a tradição de Iyanassô e de Obatossi, foi fazer uma viagem às fontes na Nigéria e no
ex-Daomé.
Nem todos os africanos e africanas libertos e seus descendentes, que voltaram a África,
retornaram ao Brasil, depois de terem completado seus conhecimentos do ritual do culto. Muitos
deles regressaram a África para ali permanecerem em caráter definitivo, porém não se
esqueciam do Brasil e levaram então nossos costumes para a África, havendo hoje, portanto um
intercâmbio de tradições, onde a cultura africana e a cultura brasileira em muito se parecem.

Após a morte de Senhora, outros terreiros foram criados, originários todos do Axé Opô Afonjá,
formando uma terceira geração desta família de Candomblés que nasceu na Barroquinha.
Citemos Axé Opô Aganjú, de Balbino Daniel de Paula, Obaraim, que viajou para a África e aí
participou das festas de Xangô, com perfeita naturalidade, como se sua família nunca
houvesse deixado aquele país a várias gerações.

Existem numerosos outros terreiros que seguem o ritual Kêtu, como o do Ilé Mariolagê no
Matatu, mais conhecido sob o nome de Alaketú, cuja mãe de santo atual, Olga de Alaketú, já foi
várias vezes a África. Citemos ainda o terreiro de Ilé Ogunjá, também do Matatu, do falecido pai
de santo Procópio Xavier de Souza, Ogunjobi.

Ao lado dos terreiros Nagô-Kétu, há na Bahia os da nação Ijexá. O mais digno dentre eles é o de
Eduardo Antonio Mangabeira, meio-irmão de Otávio Mangabeira, que foi governador do estado
da Bahia. Durante a década de 50 ele enviou cartas redigidas em perfeito Yorubá a seu distante
parente, o Rei de Ijexá, que as recebeu bastante emocionado.

Os terreiros Jêje, onde se praticava o culto dos Voduns do Daomé eram muito raros. O mais
conhecido era o de Bogum, da falecida Emiliana Piedade dos Reis, a qual sucedeu a falecida
Valentina Maria dos Anjos, Mãe Runhó.

Os cultos Jêje e Nagô se fundiam em terreiros como o de Oxumarê, na Rua Vasco da Gama, dos
falecidos Antonio de Oxumarê, Cotinha e Simpliciana.

O ritual dos cultos de origem Bantu era inicialmente diferente das cerimônias Nagôs e Jêjes.
Misturaram-se depois, tornando-se bastante próximos. A originalidade destes cultos Bantus é
difícil de definir. Não se sabe se os rituais Jêje e Nagô foram ou não influenciados pôr escravos
do Congo e de Angola, já presentes no Brasil em grande quantidade, no final do século XVII.
Relações mais constantes estabeleceram-se nos séculos posteriores, entre Bahia e Pernambuco e
a Costa dita dos Escravos, a maioria dos cativos desembarcaram nestas duas províncias que era
então constituída pelos Jêjes e Nagô (Daomehanos e Yorubás).

Um estudo em separado do ritual Bantu na Bahia é tarefa bastante difícil, pois seria necessário
fazê-lo em diversos pontos do Brasil, em lugares onde a influência Jeje-Nagô não tivesse feito
sentir.

Existe na Bahia o terreiro Congo do falecido Manoel Bernardino da Paixão, o Bate-Folha, no


bairro de Beiru, o terreiro Angola da falecida Neném do Tumbeuci, também no Beiru e o de seu
filho de santo, o falecido Manoel Ciriaco de Jesus, o Tumba Juçara, no Alto do Corrupio, hoje sob
a direção da mãe de santo Dere.

Destaquemos finalmente o caso do falecido pai de santo João Alves de Torres, mais conhecido
como Joãozinho da Goméia, que deve seu renome ao Caboclo Pedra Preta, cujo culto, realizando
a maneira africana, era dedicado a ancestrais indígenas, senhores da terra do Brasil. Iniciado no
ritual Angola pôr Jubiabá, Joãozinho foi herdeiro de uma Iansã e se orientou, cada vez mais, em
direção ao ritual Nagô.

É possível que existam estes tipos de culto, mas na Bahia, eles tomaram uma forma bem
próxima da concepção Yorubá.

SINCRETISMO

Os mesmos santos que haviam protegido os interesses negreiros e a vida de uma parte dos
negros transportados tiveram o bom senso de realizar em seguida um exame de consciência, do
qual resultou uma troca de posição: passaram a proteger os escravos, ajudando-os a mistificar os
seus senhores...

Talvez tivessem partilhado dos remorsos tardios de Padre Bartolomeu de Las Casas o qual levado
pela piedosa intenção de preservar as vidas dos índios Caraíbas, tentativa, aliás, sem resultado...,
Desempenhou no século XVI, o papel de instigador do tráfico transatlântico de negros. Aliás, este
tráfico África-Europa já existia há bastante tempo.

Mas voltando aos santos do Paraíso Católico, é certo que eles ajudaram os escravos a lograr e a
despistar os seus senhores sobre a natureza das danças que estavam autorizados a realizar, aos
domingos, quando se reagrupavam em batuques, pôr nações de origem. Em 1758, o Conde dos
Arcos, 7º Vice-rei do Brasil, mostrava-se partidário das distrações desta
natureza, não pôr espírito filantrópico, mas julgar útil que os escravos guardassem a lembrança
de suas origens e não esquecessem os sentimentos de aversão recíproca que os levaram a
guerrear em terras africanas.

Os senhores vendo seus escravos dançarem de acordo com os seus hábitos e cantarem em sua
própria língua julgavam não haver ali senão divertimentos de negros nostálgicos. Na realidade
nem desconfiavam que o que eles cantavam no decorrer de tais reuniões eram preces e
louvações a seus Orixás, a seus Voduns, a seus Inkissis. Quando tinham que justificar o sentido
de seus cantos, os escravos declaravam que louvavam, nas suas línguas os Santos do Paraíso
Católico. Na verdade pediam proteção aos seus deuses.

Não se pode afirmar que já se tratava de sincretismo entre os deuses da África, pôr um lado, e
os Santos Católicos, pôr outro, pois, no século XVIII, as características das divindades africanas
eram ainda desconhecidas dos senhores e do clero português enquanto que os escravos, não
podiam também conhecer detalhes da vida dos santos católicos.

É difícil precisar o momento exato em que este sincretismo pode se estabelecer. Parece ter se
baseado, de maneira geral, sobre detalhes das estampas religiosas que poderiam lembrar certas
características de deuses africanos.

Pode parecer estranho, a primeira vista, que Xangô, deus do trovão, violento e viril, tenha sido
comparado a São Jerônimo, representado pôr um ancião calvo, estudioso e inclinado sobre
velhos livros, mas que é freqüentemente acompanhado, em suas imagens pôr um leão
docilmente deitado aos seus pés. E como o leão é um símbolo de realeza, entre os Yorubás, São
Jerônimo foi comparado a Xangô, o terceiro soberano desta nação. A aproximação entre
Obaluaiê e São Lázaro é mais evidente, pois o primeiro é o deus da varíola e o corpo do
segundo é representado coberto de feridas e abscesso. Yemanjá a mãe de numerosos orixás,
foi sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, e Nanã a mais velha divindade das águas foi
comparada a Sant’Ana, mãe da Virgem Maria. Iansã, primeira mulher de Xangô, ligada as
tempestades e aos relâmpagos, identificou-se com Santa Bárbara. Segundo a lenda, o pai desta
santa católica sacrificou-a devido a sua conversão ao cristianismo sendo, ele próprio, logo em
seguida atingido pôr um raio e reduzido a cinzas. A relação entre o Senhor do Bonfim e Oxalá,
divindade da criação, é mais dificilmente explicável, a não ser pelo imenso amor e
respeito que ambos inspiram. Na Bahia, São Jorge é identificado com Oxossi, deus dos
caçadores, mas no Rio de Janeiro, é ligado a Ogum, deus da guerra, que é compreensível em
relação aos dois orixás, pois São Jorge é representado nas gravuras como um valente cavaleiro,
vestido em brilhante armadura, montado sobre um cavalo ricamente ajaezado em ferro, que bate
no chão com as patas. Armado de uma lança, São Jorge da Capadócia, mata um dragão
enfurecido, caça predileta do deus dos caçadores, para maior satisfação do deus dos guerreiros,
no Rio de Janeiro, desde os tempos do Império, segundo Arthur Ramo, São Jorge aparecia nas
procissões montado num cavalo branco, com honras de coronel e recebendo as continências da
tropa a sua passagem. Na Bahia, no entanto é com Santo Antonio que Ogum vai ser
sincretizado.

Os santos católicos ao se aproximarem dos deuses africanos tornavam-se mais compreensíveis e


familiares aos recém-convertidos. É difícil saber se essa tentativa contribuiu efetivamente para
converter os africanos, ou se ela encorajou na utilização dos santos para dissimular as suas
verdadeiras crenças. É o que Nina Rodrigues indagava em 1890, numa época em que o
sincretismo entre orixás e santos católicos ainda estava em formação e onde a equivalência entre
eles era flutuante e variável de acordo com os terreiros. Existia ainda na época, a tendência de
se identificar Xangô com Santa Bárbara, como se vê até hoje em Cuba, apesar da diferença de
sexo, pois o argumento das relações com o trovão parece dominar.

Os africanos escravizados se declaravam a aparentavam convertidos ao catolicismo, as práticas


fetichistas puderam manter-se entre eles até hoje quais tão extremas quanto na África.

Com o passar do tempo, graças a participação de descendentes de africanos e de mulatos cada


vez mais numerosos, educados num igual respeito pelas duas religiões, tornaram-se tão
sinceramente católicos, quando vão a igreja, como ligados as tradições africanas quando
participam zelosamente das cerimônias de Candomblé.

O ESPAÇO SAGRADO

Se na África o culto dos orixás está circunscrito a determinadas regiões ou cidades, no Brasil a
coisa foi totalmente diferente. Lá existe uma localidade especificamente destinada ao culto de
determinada divindade, contendo a mesma história, sua origem, seus mitos e seus ritos. Assim
Ifé, na Nigéria é o centro de criação para o mundo nagô-yorubá, é a capital do mundo místico e
mágico negro, é o Iluaiye de que tanto fala os negros da diáspora. Em Ilê-Ifé está o culto a
Oduduwa, fundador dos povos Yorubás, assim como Obatalá ou Oxalá, o deus que criou os
homens. Em Oyó está Xangô, que foi seu quarto rei e é o deus do fogo e do trovão, sendo um
de seus antecessores seu pai Oranyan, que foi o primeiro rei de Oyó. Em Ire Ogum,
deus do ferro e da guerra, invadiu e dominou a cidade tornando-se rei com o nome de Ogum
Onirê. Em Abeokutá corre a tradição de lá ter nascido Yemanjá, bem como a de Oyá ou Iansã
(para os brasileiros), ter nascido em Ira. Erinlé, mais conhecido como Inlé ou Ibualama, com
seu culto em Ilobu, além de ter rio com seu nome. De Ilesa recebemos grande herança. De lá
veio o culto a Logum-Edé cujo sacerdote mais velho e mais importante do Brasil, o Babalorixá
Eduardo Mangabeira, popularmente conhecido como Eduardo Ijexá,
hoje com 99 anos de idade. De Ikija perto de Ijebu Ode surgiu Oxossi, que veio a ser o primeiro
rei de Kêtu, cidade que depois foi dominada, destruída e anexada ao Dahomey, hoje Popular
República do Benin. De seu culto nada mais resta a não ser lembranças, especificamente na
Bahia. Oxum tem seu culto principal em Osogbo, além das cidades Abotô, Akpará, Ipetu, Ijimu,
dentre outras. Oxalá andou muito. Saiu de Ifé peregrinando pôr
diversas regiões, tomando nomes diferentes, ao tempo em que se torna rei dos referidos locais.
Em Ejigbo tomou o nome de Oxaguiã, em Ifon, Orixá Olofun e assim pôr diante.

Também chegou até a Bahia o culto a Iyá Mapo, patrona da vagina, pôr ser através dela que
todos os seres humanos vêm ao mundo, daí a sua sacralização. Iyá Mapo é muito venerada e
cultuada em Igbeti. Existe um Itan Ifá (história de Ifá), pertencente ao odú Osá-Meji que
conta como foi colocada a vagina, no devido lugar da mulher. Pôr isso estiveram envolvidos
não só o Odú Osá-Meji, mas também Exu e Iyami Oxorongá, num ebó feito com duas
bananas e um pote, cabendo a Exu a sua localização atual, bem como a do pênis do homem do
qual Exu é dono. Quem viaja pela Nigéria encontrará enormes pênis esculpidos em pedra pelas
estradas, em reverência a Exu. Na Bahia, o Exu da porteira do Asé Opô Afonjá é assentado com
grande pênis esculpido em madeira.

Ao saírem da África os primeiros negros com destino ao Brasil, aportaram primeiramente na


Bahia. Foram negros provenientes de diversas etnias e regiões, todos se misturaram formando
um todo, como se proviessem de uma só região. Porém não podiam acomodar seus hábitos,
costumes, tradições e religiões isoladamente nas diversas regiões do país, primeiro pela condição
de cativos, segundo pôr não haver semelhança quanto a localização do culto. Uma solução teria
que ser encontrada sendo a primeira um agrupamento desses negros em etnias, para efeito de
professamento religioso, em seguida transportar para a Bahia todas as regiões, onde se
professam o culto na África, bem como as divindades.

Para isso necessitavam de uma área muito grande, com muitas plantações que davam o nome de
loko ou roça, em nosso falar, ou simplesmente uma faixa de terra para construir o Ilé Orixá (casa
do orixá), o barracão de festa e na maioria dos casos, também a casa de morada, ficando depois
de tudo pronto com a denominação de terreiro.

Uma vez escolhido o local, segundo a vontade do orixá, faz-se a demarcação da roça, cuidando-
se logo de cercá-la, com plantações de uso litúrgico, sendo mais freqüente o ewe peregun, mais
conhecido como folha de nativo. Escolhida a entrada, comumente chamada de porteira, realiza-
se aí o primeiro ato religioso na área, que é assentar a porteira, a qual consiste no assentamento
de um Exu, para guardar toda a área. Esse Exu tem o nome de
acordo com suas características e procedências, como é o caso do Exu da porteira do Axé Opô
Afonjá, que é um Exu proveniente de Kêtu, conhecido pôr Exu Alaketú ou Bára Kêtu. Já os
negros de proveniência Fon chamam ao Exu de sua porteira e dos mercados de Axi-Legba.

Após este ato religioso vem a construção da casa da divindade a qual a roça vai pertencer. Em
seguida constrói-se a do Exu, para depois construir as demais casas de outras entidades e o
barracão de festa, o qual são feitos uma série de preceitos no chão e depois de levantadas as
paredes, faz-se o preceito final que o de dar comida a cumeeira. Uma vez pronto, vem a
inauguração do que se chama roça, Candomblé, axé, casa de santo, terreiro ou ilê-orixá. Assim
tem o sítio sagrado terrestre, mas os atos sagrados vão além do espaço terrestre, realizam-se
nos rios (odo), no mar (okun), nas fontes e poços (ibu), nas lagoas (osa), no ar, no firmamento
(ofurufu), enfim em todo canto do mundo (aiye), que se fazem necessário. Nesses casos, os fiéis
se deslocam de seu sítio sagrado para esses lugares, também sagrados, mas que são de uso de
todos.

TERREIROS DE CANDOMBLÉ
Na Bahia no início do século, os terreiros dedicados ao culto dos orixás eram freqüentemente
instalados longe do centro da cidade. Com o crescimento da população e a extensão formada
pelos novos bairros, eles progressivamente, se viram incluídos na zona urbana. Estes terreiros
são geralmente compostos de uma construção denominada barracão, com grande sala para
danças e cerimônias públicas e de uma série de casas onde são instalados os pejis, consagrados
aos diversos orixás, e de locais de moradias as pessoas que fazem parte do Candomblé.

- A responsabilidade do culto repousa sobre o pai ou mãe de santo, correspondentes aos


termos Yorubá de Babalorixá ou Iyalorixá. São chamados também Zelador ou Zeladora, cuidam
do axé, ou do poder do orixá.
- pai pequeno ou mãe pequena auxiliam o Zelador ou Zeladora. Existe ainda uma série de
ajudantes:
- Dagan: antes das cerimônias públicas se encarrega junto com a Yamorô de despachar
Exu, no ato do padê.
- Iyatebexe: que se encarrega da seqüência de cânticos dos orixás durante uma festa
pública.
- Iyabassê: que supervisiona e é encarregada pela cozinha do santo,
das comidas principalmente.
- Ekédi: encarregada de cuidar dos Yaôs tão logo entrem em transe.
- Serepegbé: leva as mensagens para a sociedade do terreiro.
- Axogún: encarregado de fazer os sacrifícios dos animais
consagrados aos orixás.
- Alagbé: chefe dos tocadores de atabaques.
- Ogãns: tem funções especiais mas ajudam materialmente o terreiro
e contribuem para protegê-lo. Formam uma sociedade de ajuda mútua, cujos
objetivos humanitários são explícitos.
- Yaôs: mulheres ou esposas de orixá, conhecidas no Brasil como
filha ou filho de santo.

Nos dias de festa, os orixás são invocados dentro do barracão para possuírem seus eleitos e
novamente virem a terra dançar e trazer axé aos mortais.

A cerimônia se inicia pelo padê, ato de alimentar Exu, para que tudo corra bem durante a festa.

Em seguida toda a família de santo entra no barracão dançando ao som de atabaques. À frente a
mãe ou pai de santo vem trazendo nas mãos o adjá, espécie de sino de três ou mais bocas,
chamando os santos para a cerimônia.

Depois de adentrarem ao salão, há a troca de bênçãos dos mais novos para os mais velhos e de
todos para com a mãe ou pai de santo.

Começa então o xirê, onde são louvados todos os orixás com cantigas que retratam suas
personalidades, conquistas e feitos.

É nessa hora que pode ocorrer o fenômeno da possessão, onde os deuses descem a terra
montando seus eleitos.
São recolhidos ao ronkó, pelas ekédes e vestidos com suas roupas rituais, seus emblemas,
ferramentas e insígnias.
Voltam novamente ao barracão para dançarem vestidos com roupas vistosas e nas cores que lhe
são consagradas.
Depois de dançarem algum tempo, os orixás são novamente recolhidos, e vão embora.
Os Yaôs voltam ao barracão, cantam as cantigas de encerramento e voltam para as suas casas
com a certeza da obrigação cumprida.
Este ciclo se repete infinitamente e sempre respeitando a antigas tradições.
O candomblé visto como religião confere aos seus adeptos uma maior interiorização e respeito ao
próximo.
A fé é que faz este ciclo ser contínuo, os orixás são respeitados e suas vontades quase sempre
cumpridas de acordo.
O Yaô é submisso ao Pai ou Mãe de santo e estes aos orixás. a ligação com o divino é constante
e necessária. Uma vez que se começa, jamais existe a desistência, sem que haja um castigo do
santo. Pôr isso tudo o que é feito dentro do candomblé, principalmente a iniciação, é sempre
muito bem pensado e consultado aos orixás, através de Ifá (jogo de búzios), para que não haja
erros.
É um caminho a ser seguido, cujo final se escreve todo dia.

OS ORIXÁS
EXÚ

Exu é um orixá de múltiplos e contraditórios aspectos, o que torna difícil defini-lo de maneira
coerente. Com caráter irascível, gosta de suscitar dissensões e disputas, de provocar acidentes e
calamidades. É astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente, a tal ponto que os primeiros missionários
assustados com estas características, assimilaram-no ao diabo, dele fazendo
o símbolo de tudo o que é maldade, perversidade, abjeção, ódio, em oposição
a bondade, a pureza, a elevação e ao amor de Deus.
Entretanto ele possui o seu lado bom e se Exú é tratado com consideração
reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e prestativo.

Ele tem suas qualidades e seu defeitos, pois é dinâmico e jovial,


constituindo-se assim um orixá protetor, havendo mesmo pessoas que usam
orgulhosamente na África nomes como Exubiyi (concebido pôr Exú) ou Exutosin
(Exú merece ser adorado).

Como personagem histórico Exú teria sido um dos companheiros de Oduduwá


quando de sua chegada a Ifé, e se chamava Exú Obassim. Tornou-se mais
tarde, um dos assistentes de Orumilá, que preside a adivinhação pôr meio de
Ifá.

Exú serve como intermediário entre os homens e o os orixás, pôr esse motivo
nada pode ser feito sem que ele recebe primeiro suas oferendas.

No Brasil Exú foi sincretizado ao diabo. Não inspira, porém grande terror,
pois sabe-se que quando bem tratado, ele trabalha para o bem.

Chamam-no familiarmente de Compadre ou Homem da Encruzilhada, pois é nesses


lugares que se depositam de preferência, as oferendas que lhe são
destinadas. Poucas pessoas lhe são abertamente consagradas, em razão deste
suposto sincretismo com o diabo. A tendência quando ele se manifesta é de
acalmá-lo, de fixá-lo, oferecendo-lhe sacrifícios e procedendo a iniciação
da pessoa em proveito de seu irmão Ogum, o qual Exú divide o caráter
violento e arrebatado.
O local consagrado a Exú é ao ar livre, ou no interior de uma pequena
choupana isolada ou ainda atrás da porta da casa. É simbolizado pôr um
tridente de ferro, plantado sobre um montículo de terra e algumas vezes pôr
estatueta, igualmente de ferro.

A segunda é o dia da semana a ele consagrado. As pessoas que procuram sua


proteção usam colares preto e branco. As oferendas são constituídas de
bodes e galos, pretos de preferência e pôr pratos de comidas feitos no
azeite de dendê. Não se deve jamais servir-lhe um certo tipo de azeite, o
adí, extraído dos caroços e não da polpa do dendê. Este adí tem a fama de
ser portador da violência e da cólera.

Existem na Bahia 21 Exús, segundo uns e 07 segundo outros, desses nomes


podem passar pôr apelidos, outros parecem ser letras dos cânticos ou
fórmulas de louvores. Eis aqui alguns:
- Exú Elegba
- Exú Elegbara
- Exú Bara ou Ibará
- Exú Alakétu
- Exú Laalú
- Exú Jelu
- Exú Lonã
- Exú Akessan
- Exú Agbô
- Exú Inãn
- Exú Odara
- Exú Tiriri

O arquétipo de Exú era muito comum em nossa sociedade, onde proliferam


pessoas com caráter ambivalente, ao mesmo tempo, boas e más, porém com
inclinações para a maldade, o desatino, a obscenidade, a depravação e a
corrupção. Pessoas que tem a arte de inspirar confiança e dela abusar, mas
que apresentam em contrapartida, a faculdade de inteligente compreensão dos
problemas dos outros e a dar poderosos conselhos com tanto zelo que esperam
recompensa. As cogitações intelectuais enganadoras e as intrigas políticas
lhe convém particularmente e são para elas garantia de sucesso na vida.

OGUM
Ogum na África, em país Yorubá, é o deus do ferro, dos ferreiros e de todos
aqueles que utilizam este metal: agricultores, caçadores, açougueiros,
barbeiros, marceneiros, carpinteiros, escultores de madeira. Desde o início
do século, os mecânicos, os motoristas de automóveis ou de trens, os
reparadores de velocípedes e de máquinas de costura vieram juntar ao grupo
de seus fiéis.

No Brasil Ogum é uma única divindade, tendo, porém 07 nomes:


1. Ogum Mejê
2. Ogum Alagmedé
3. Ogum Onirê
4. Ogum Alakorô
5. Ogunjá
6. Ogum Omini
7. Ogum Wari
O número 07 lhe é associado e representado nos locais que lhe são
consagrados pôr instrumentos de ferro forjado, em número de 07, 14 ou 21,
alinhados todos sobre uma haste de ferro: lança, espada, enxadas, torquês,
facão, ponta de flecha, enxó, símbolos de suas atividades guerreiras,
agrícolas, de ferreiro, de caçador, de escultor, etc.
Ogum teria sido o filho mais velho de Oduduwá, fundador de Ifé. Era um
terrível guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos.
Guerreou contra a cidade de Ará e destruiu. Apossou-se da cidade de Irê,
matou o rei ai instalou seu próprio filho no trono e regressou glorioso,
usando ele mesmo o título de Onirê, rei de Irê, sendo chamado Ogum Onirê.
Pôr razões que ignoramos, Ogum nunca teve direito a usar coroa, foi
autorizado apenas a usar um simples diadema chamado akorô e isto lhe valeu
ser saudado como Ogum Alakorô. Ogum decidiu após numerosos anos ausente de
Irê, voltar para visitar seu filho. Infelizmente as pessoas da cidade,
celebravam no dia de sua chegada, uma cerimônia na qual os participantes
não podiam falar, sobre pretexto algum. Ogum tinha fome e sede. Descobriu
alguns potes destinados a vinho de palma, mas ignorava que estivessem
vazios. Ninguém o havia saudado ou respondido as suas próprias perguntas.
Ele não reconhecia o local pôr ter ficado ausente durante tanto tempo.

Ogum cuja paciência é pequena, enfureceu-se com o silêncio geral, para ele
considerado ofensivo. Começou a quebrar, com golpes de sabre, os potes e
logo depois, sem poder se conter, começou a cortar a cabeça das pessoas
mais próximas, até que seu filho apareceu oferecendo-lhe suas comidas
prediletas, tais como cães, caramujos, feijões regados com azeite de dendê
e potes de vinho de palma. Enquanto saciava a sua fome e a sua sede, os
habitantes de Irê cantavam louvores onde não faltava a menção a Ogunjá.
Satisfeito e calmo, Ogum lamentou seus atos de violência e declarou que já
vivera bastante. Baixou a ponta de seu sabre em direção ao chão e
desapareceu pela terra adentro, transformando-se em orixá.

No Brasil as pessoas consagradas a Ogum usam colares de conta de vidro


azul-escuro e algumas vezes, verde. Terça-feira é o dia da semana que lhe é
consagrado. Seu nome sempre é mencionado, pôr ocasião de sacrifícios
dedicados a diversos orixás, no momento em que a cabeça do animal é
decepada, pelo uso da faca, da qual ele é o senhor.

É o primeiro a ser saudado depois de Exú. No momento da entrada dos orixás


manifestados e vestidos, no barracão, Ogum entra na frente, abrindo
caminho, para os outros orixás.

Ogum também é representado pôr franjas de mariwô (folhas de dendezeiro


devidamente desfiadas). Era segundo se diz a roupa que ele usava, em outros
tempos, quando a tecelagem ainda não tinha sido inventada.

Estes mariwôs pendurados em cima das portas e janelas de uma casa ou na


entrada dos caminhos, representam proteção e barreira contra más
influências. Na África os locais consagrados a Ogum ficam ao ar livre, na
entrada dos palácios dos reis e nos mercados. São geralmente pedras em
forma de bigorna colocadas sob uma grande árvore, Araba e protegidas pôr
uma cerca de nativos, Perégun ou de Akokô. Nestes locais periodicamente
realizam-se sacrifícios de cachorros e galos.

O culto a Ogum é bastante difundido no conjunto dos territórios onde se


fala Yorubá e ultrapassa as fronteiras dos países vizinhos, Jejes, no Daomé
e no Togo, onde é chamado de Gun. Em todos estes países, Ogum-Gun é
respeitado e temido. A vida amorosa deste orixá caracteriza-se pela
instabilidade. Ogum o primeiro marido de Oyá, teve relações com Oxum e
também com Obá.

O arquétipo de Ogum é o das pessoas violentas, brigonas e impulsivas,


incapazes de perdoarem as ofensas de que foram vítimas. Das pessoas que
perseguem energicamente seus objetivos e não se desencorajam facilmente.
Daquelas que nos momentos difíceis triunfam onde qualquer outro teria
abandonado o combate e perdido toda esperança, das que possuem humor
mutável, passando furiosos acessos de raiva ao mais tranqüilo dos
comportamentos. Finalmente é o arquétipo das pessoas impetuosas e
arrogantes, daquelas que se arriscam a melindrar os outros pôr uma certa
falta de discrição quando lhe prestam serviços, mas que, devido a
sinceridade e franqueza de suas intenções, tornam-se difíceis de serem odiadas.

OXÓSSI
Oxóssi o deus dos caçadores, seria o irmão mais jovem de Ogum. Seu culto
encontra-se extinto na África, nos países de língua Yorubá, o entanto é
muito difundido no Novo Mundo, tanto no Brasil quanto em Cuba. Isto
explica-se talvez, pelo fato de Kétu, na África, haver sido completamente
destruído e saqueado pelas tropas do rei de Daomé, no século passado, sendo
os seus habitantes vendidos como escravos para o Brasil e para Cuba.

No Brasil seus numerosos iniciados usam colares de cor verde ou azul claro
e quinta-feira é seu dia de culto. Oxóssi tem como símbolo tanto no Brasil
quanto na África o ofá (arco e flecha de ferro batido), come axoxô, servido
com fatias de coco. Oxóssi é sincretizado na Bahia com São Jorge e no Rio
de Janeiro com São Sebastião. No decorrer das cerimônias públicas do xirê
dos orixás ele segura em uma das mãos o arco e a flecha, seus símbolos e
tem na outra um erukerê, insígnia de dignidade dos reis da África e que
lembra ter sido ele rei de Kétu. Suas dançam imitam a caça, a perseguição
do animal e o arremesso da flecha. É saudado com o grito de: Okê!

O arquétipo de Oxóssi é aquele das pessoas espertas, rápidas, sempre


alertas e em movimento. São pessoas cheias de iniciativa e sempre na pista
de novas descobertas ou de novas atividades. Tem o senso da
responsabilidade e dos cuidados para com a família, são hospitaleiras,
generosas, amigas da ordem, mas gostam muito de trocar de local, de
residência e achar novos meios de existência em detrimento, algumas vezes,
de uma vida doméstica harmoniosa e calma.

INLÉ E IBUALAMA
Na África um rio chamado Erinlé corre em país Ijexá. Há, igualmente, um
deus da caça com o mesmo nome. Seu templo principal fica em Ilobu, onde
segundo alguns, os dois cultos teriam se fundido , o do rio e o do caçador
de elefantes que vinha, freqüentemente, ajudar os habitantes de Ilobu a
combater seus adversários. Seu símbolo é um pássaro de ferro forjado,
pousado sobre uma barra igualmente de ferro. de 16 outros pássaros
empoleirados, sobre outras tantas barras de ferro, fixadas em volta de uma
haste central. O culto a Erinlé realiza-se a beira de diversos lugares
profundos do rio, Ibu. Cada um desses lugares leva o nome particular, mas é
sempre Erinlé quem é adorado, embora sob designações diferentes. São feitas
oferendas de inhames, banana, feijão e milho assado, regados com azeite de
dendê.

Dentre os lugares profundos de Erinlé, um deles é chamado de Ibu Alama que


desfruta de certa notoriedade no Novo Mundo, particularmente na Bahia

Seus Yaôs trazem a mão o símbolo de Oxossi, arco e flecha, em fero forjado,
e o Bilala, espécie de chicote com o qual se fustigam durante as danças.

LOGUN EDÉ
Erinlé teria tido com Oxum Ipondá um filho chamado Logun Edé, cujo culto
realiza-se muito raramente, em Ilexá na África e parece estar em vias de
desaparecimento. No Brasil, na Bahia ele tem, ao contrário, numerosos
adeptos. Logun Edé tem a particularidade de viver durante seis meses do
ano, sobre a terra, alimentando-se de caça e nos outros seis meses embaixo
dágua, num rio, comendo peixe. Seria também, alternadamente seis meses do
sexo masculino e seis meses do sexo feminino. Este deus, segundo o que se
diz na África, demonstra aversão pelas roupas de cor vermelha ou marron.
Nenhum de seus fiéis ousariam usar tais cores nas suas vestimentas, mas em
contrapartida, o azul turquesa parece merecer sua aprovação.

OSSAIM
Ossaim é deus das plantas medicinais e litúrgicas. A sua importância é
fundamental pois nenhuma cerimônia pode ser feita sem sua presença, sendo
ele o detentor do axé, imprescindível até aos próprios deuses. O nome das
plantas e sua utilização e os encantamentos que seu poder são os elementos
mais secretos do ritual dos cultos aos deuses Yorubás. O símbolo de Ossaim
é uma haste de ferro tendo ao alto um pássaro de ferro forjado, esta mesma
haste é cercada pôr seis varetas pontudas dirigidas em leque para o alto. O
pássaro é a representação do poder de Ossaim, é o mensageiro que vai a toda
parte, volta e se empoleira sobre a cabeça de Ossaim para lhe dizer o seu
relato. Este pássaro representa o axé, o poder conhecido das feiticeiras.

Cada divindade tem duas plantas e folhas particulares, dotadas de virtude,


de acordo com a personalidade do deus.

A colheita dessas folhas deve ser feita com um cuidado extremo, sempre em
lugar selvagem, onde elas crescem livremente. Aquelas cultivadas em jardins
devem ser desprezadas, porque Ossaim vive na floresta, em companhia de
Aroni, um anãozinho com uma única perna, que dizem, fuma um cachimbo feito
da casca do caramujo.

Pôr causa desta união com Aroni, Ossaim é saudado com a seguinte frase:
Holá! Proprietário de uma única perna que come com o proprietário de duas
pernas!, alusão as oferendas de galos e pombos, que possuem duas patas, a
Ossaim-Aroni, que não tem senão uma perna.

Os curandeiros quando vão recolher plantas para seus trabalhos, devem


fazê-lo em estado de pureza, abstendo-se de relações sexuais na noite que
precede o ato, além disso devem ter o cuidado de deixar uma oferenda em
dinheiro, no chão, logo que cheguem ao local da colheita.

Na África, os curandeiros, chamados Olossanyin não entram em transe de


possessão. Adquirem a ciência do uso das plantas após longa aprendizagem.

No Brasil as pessoas dedicadas a Ossaim usam colares verde e branco. Sábado


é seu dia de culto, seus Yaôs costumam entrar em transe, mas nem sempre
possuem conhecimento profundo sobre plantas. Ossaim é particularmente
rápido, saltitante e ofegante. Saúda-se o deus da folhas e das ervas
gritando: EWE O! Oh folhas.

O arquétipo de Ossaim é o das pessoas de caráter equilibrado, capazes de


controlar seus sentimentos e emoções. Daqueles que não deixam suas
simpatias e antipatias intervir nas suas decisões ou influenciar as suas
opiniões, sobre as pessoas e acontecimentos.

XANGÔ
Xangô pôr seu aspecto divino é filho de Oraniyan, tendo Yamassê como mãe e
sendo marido de três divindades: Oxum, Oyá e Obá, que se tornaram rios no
país Yorubá.

Xangô é viril e potente, violento e justiceiro, castiga os mentirosos, os


ladrões e os malfeitores. Pôr isso a morte pôr um raio é considerado
castigo de Xangô. Oferecem-lhe dentre as oferendas, o amalá que ele gosta
bastante.

O emblema de Xangô é o machado duplo, estilizado (Oxê), que seus iniciados


trazem na mão quando em transe.

O chocalho chamado xére, feito de cabaça alongada, contendo pequenos grãos


é sacudido em honra a Xangô. Convenientemente agitada, quando são
anunciados os seus louvores, este instrumento imita o barulho da chuva.

Xangô é o irmão mais jovem, não somente de Dadá mas também de Obaluaê, não
pôr parentesco, mas pôr causa dos territórios a eles consagrados.

O culto de Xangô é muito popular no Novo Mundo, tanto no Brasil como nas
Antilhas. Em Recife, seu nome serve mesmo para designar o conjunto de
cultos africanos praticados no estado de Pernambuco. Na Bahia, seus fiéis
usam colares vermelhos e brancos, como na África. Quarta-feira é o dia da
semana a ele consagrado, saúdam-no gritando: Kwo-Kabiyisilé !

Xangô foi sincretizado com São Jerônimo, no Brasil e com Santa Bárbara em
Cuba. Já assinalamos anteriormente o caráter estranho de semelhantes escolhas.
Na Bahia, quando uma festa é celebrada em honra de Dadá, irmão mais velho
de Xangô, a cerimônia relembra tempos antigos.

O arquétipo de Xangô é aquele das pessoas voluntariosas e enérgicas,


altivas e conscientes de sua importância, real ou suposta. Das pessoas que
podem ser ao mesmo tempo, grandes senhoras, corteses, mas que não toleram
a menor contradição e nestes casos, são capazes de se deixarem levar pôr
crises de cólera, violentas e incontroláveis. Das pessoas sensíveis ao
charme do sexo oposto e que se conduzem com tato e encanto no decurso de
reuniões sociais, mas que podem perder o controle e ultrapassar os limites
da decadência. Enfim o arquétipo de Xangô é aquele das pessoas que possuem
elevado sentido de sua própria dignidade e de suas obrigações, o que as
leva a se comportarem com um misto de severidade e benevolência, segundo os
humores do momento, mas sabendo guardar, geralmente, um profundo e
constante sentimento de justiça.

OYÁ-YANSÃN
Oyá, mais conhecida no Brasil como Yansãn, é a divindade dos ventos, das
tempestades e do Rio Níger, quem em Yorubá chama-se Odô-Oyá. Foi a primeira
esposa de Xangô, de temperamento ardente e impetuoso.

O número 09 está relacionado a Oyá, está na origem de seu nome Yansãn e


encontramos esta referência no ex-Daomé, onde o culto a Oyá é feito em
Porto Novo sob o nome de Avessãn, no bairro Akron, Lokorô dos Yorubás, e
sob o Abessãn, mais ao norte, em Baningbé. Estes nomes teriam pôr origem a
expressão Aborimesan, com nove cabeças, alusão ao que parece, aos nove
braços do delta do Níger.

Oyá seria ainda a rainha do Éguns, pôr ter sido este segundo as lendas, o
seu nono filho. Quando vem sob esta denominação chama-se Oyá-Igbálé.

No Brasil, as pessoas dedicadas a Oyá usam colares de contas de vidro cor


vinho. A quarta-feira é o dia da semana a ela consagrado. Seus símbolos são
os chifres de búfalo e um alfange, colocados sobre seu Peji. Ela recebe
oferendas de acarajé, mas detesta abóbora. Quando se manifesta sobre suas
iniciadas, está adornada de uma coroa cujas franjas de contas escondem seu
rosto. Traz nas mãos um alfanje e um erukerê, feito da cauda do cavalo.
Suas danças são guerreiras. Evoca também através de seus gestos a força dos
ventos e das tempestades. Seus fiéis saúdam-na gritando: Eparrei Oyá!. No
Brasil está sincretizada a Santa Bárbara e em Cuba a Nossa Senhora da
Candelária.

As Oyá-Igbálé, logo que começam a dançar, parecem expulsar as lamas


errantes com seus braços longamente estendidos para frente.

O arquétipo de Yansãn é o das mulheres audaciosas, poderosas e


autoritárias. Mulheres que podem ser fiéis e de lealdade absoluta em certas
circunstâncias mas que, em outros momentos, quando contrariadas em seus
projetos e seus empreendimentos, são capazes de se deixar levarem a
manifestações de extrema cólera. Mulheres enfim cujo temperamento sensual e
voluptuoso pode levá-las a aventuras amorosas extraconjugais múltiplas e
freqüentes, sem reserva nem decência, o que não as impede de continuar
muito ciumentas de seus maridos pôr elas mesmas enganados.

OXUM
Oxum é a divindade de um rio do mesmo nome que corre na Nigéria.

Oxum é chamada de Iyalodê, título da pessoa que ocupa o lugar mais


importante entre todas as mulheres da cidade. Os axés de Oxum constituem-se
de pedras do fundo do rio, de jóias de cobre e um pente de tartaruga. Oxum
tem verdadeiro amor pelo cobre.

No Brasil, os adeptos de Oxum usam colares de contas de vidro de cor


amarelo-ouro e numerosos braceletes de latão, o dia da semana que lhe é
consagrado é o sábado e ela é saudada na África pela expressão: Ora Yeye ô !.

É recomendável oferecer a Oxum omolukum, feijão fradinho, adún. Sua dança


lembra o comportamento de uma mulher vaidosa e sedutora que vai ao rio para
se banhar, enfeita-se de colares, agita os braços para fazer tilintar os
seus braceletes, abana-se graciosamente e contempla-se no espelho. O ritmo
que acompanha suas danças é o Ijexá, nome de uma região da África, pôr onde
corre o rio Oxum.

No Brasil é sincretizada a Nossa Senhora das Candeias (Bahia) e Nossa


Senhora dos Prazeres (Recife), enquanto em Cuba é assimilada a Nossa
Senhora da Caridade, cuja igreja encontra-se em El Cobre.

O arquétipo de Oxum é o das mulheres graciosas e elegantes, com paixão


pelas jóias, perfumes, vestimentas caras. Das mulheres que são símbolos de
charme e beleza. Voluptuosas e sensuais, porém mais reservadas que Oyá.
Elas evitam chocar a opinião pública a qual dão grande importância. Sobre
sua aparência graciosa e sedutora escondem uma vontade muito forte e um
grande desejo de ascensão social.

OBÁ
Obá, divindade de um rio que leva o mesmo nome, é a terceira mulher de
Xangô. Uma grande rivalidade, porém, não demorou a surgir entre ela e Oxum.

No Brasil, assim que Obá aparece num Candomblé montada sobre uma de suas
iniciadas, ata-se um turbante sobre sua cabeça afim de esconder uma de suas
orelhas, como recordação do passado. Se Oxum se manifesta, no mesmo
momento, a tradição exige que as duas divindades encarnadas, procurem lutar
novamente e é preciso então intervir energicamente para separá-las. A dança
de Obá é guerreira, ela brande um sabre com uma das mãos e leva um escudo
na outra.

São lhe feitas oferendas de comidas iguais a de Yansãn.

É sincretizada com Santa Catarina, mas como existem muitas santas com esse
nome, não se sabe ao certo, a qual Santa Catarina se refere.
O arquétipo de Obá é aquele das mulheres valorosas e incompreendidas. Suas
tendências um pouco viris, fazem-na freqüentemente voltar-se para o
feminismo ativo. As atitudes militares e agressivas são conseqüências de
experiências infelizes ou amargas pôr ela vivida. Os seus insucessos são
freqüentemente resultado de um ciúme um pouco mórbido. Entretanto encontram
geralmente compensações para as frustrações sofridas, em êxitos materiais,
onde a sua avidez de ganho e o cuidado de nada perder de seus bens,
tornam-se garantias de sucesso.

YEMANJÁ
Yemanjá seria filha de Olokun. Aparece casada a primeira vez com Orunmilá
(senhor da adivinhação), e depois com Oxalá com o qual teve 10 filhos.

As imagens que representam Yemanjá dão-lhe o aspecto de uma matrona, com


seios volumosos, símbolo de maternidade fecunda e nutritiva.

Yemanjá recebe oferendas a base de milho branco, azeite, sal e cebolas. Ela
se apresenta sob diversos nomes, como no caso de Oxum, ligados aos lugares
onde se manifesta.

Na Bahia os adeptos de Yemanjá usam colares de contas de vidro


transparentes e vestem-se de preferência de azul claro. Seu axé é
constituído de conchas e pedras marinhas, guardadas numa sopeira de louça
azul. Saúda-se Yemanjá gritando: Odoyá ! sábado é o seu dia de culto.

Na festa de 02 de Fevereiro, uma das mais populares do ano na Bahia, na


Praia do Rio Vermelho uma multidão imensa de fiéis e admiradores levam
presentes e oferendas a deusa do mar. Durante todo esse dia, forma-se um
lento desfile de pessoas de todas as origens e de todos os meios sociais,
trazendo ramos de flores frescas, pratos de comidas, frascos de perfume,
sabonetes, bonecas, cortes de tecido. Cartas e súplicas não faltam, nem
presentes em dinheiro, assim como colares e pulseiras. Ao final da tarde,
os ramos são colocados nas cestas, juntamente com os outros presentes e
entregues no mar. O entusiasmo da multidão chega ao máximo.

As filhas de Yemanjá são voluntariosas, fortes, rigorosas, protetoras,


altivas e algumas vezes impetuosas e arrogantes, põem a prova as amizades
que lhe são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e se a perdoam,
não esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérias.
Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam de luxo, de tecidos vistosos e
jóias caras. Tem tendência a vida suntuosa mesmo se as possibilidades do
cotidiano não lhes permitirem um tal fausto.

OXUMARÊ
É a serpente arco-íris. Suas funções são múltiplas. Um de seus trabalhos
consiste em recolher a água caída sobre a terra, durante a chuva e levá-las
as nuvens.

É o símbolo da mobilidade e do movimento. É a continuidade e a permanência


e algumas vezes representado pôr uma serpente que se enrosca e morde a
própria cauda. Oxumarê é ao mesmo tempo macho e fêmea, esta dupla natureza
aparece nas cores vermelha e azul que cercam o arco-íris. Representa também
a riqueza, muito importante no mundo Yorubá.

No Brasil as pessoas dedicadas a Oxumarê usam colares de contas de vidro


amarelas e verdes, terça-feira é o dia da semana a ele dedicado. Seus
iniciados usam brajás, longos colares de búzios e trazem na mão duas
serpentes de ferro simbolizando a força telúrica da terra.

Quando manifestado as pessoas gritam: Arroboboi !

Recebe comidas de feijão fradinho, milho e camarões, cozidos no azeite de


dendê.

Na Bahia Oxumarê é sincretizado a São Bartolomeu e festejado a 24 de


Agosto. As origens deste deus, pouco conhecido na Nigéria, são tidas como
estando no país Mahi, ao norte de Abomey.

OBALUAÊ / OMULÚ
Obaluaê ou Omulú, são nomes dados a Xapanãn, deus da varíola e das doenças
contagiosas, cujo nome é perigoso ser pronunciado.

É sincretizado com São Lázaro e São Roque na Bahia e com São Sebastião no
Recife. As pessoas que lhe são dedicadas usam colares de cores preta,
branca e vermelha.

Quando o deus se manifesta sobre um de seu iniciados, é acolhido pelo grito


de : Atotô!. Seus Yaôs dançam inteiramente revestidos de palha da costa. A
cabeça também é recoberta pôr um capuz de palha, cujas franjas recobrem o
seu rosto. Leva na mão um xaxará, espécie de vassoura feita de nervuras do
dendezeiro, decorada com búzios, contas pequenas e cabaças. Dançam curvados
para frente, como que atormentados pelas dores, imitam o sofrimento, a
coceira e os tremores de febre. Seu ritmo é o opanijé. Gosta de aberém e
pipocas. Segunda-feira é o dia da semana a ele consagrado.

O arquétipo de Obaluaê é o de pessoas com tendência masoquista, que gosta


de exibir seus sofrimentos e as tristezas que o afligem intimamente.
Pessoas que são incapazes de sentir satisfação, quando sua vida corre
tranqüila. Podem atingir situações materiais invejáveis e rejeitar, um belo
dia todas estas vantagens pôr causa de certos escrúpulos imaginários.
Pessoas que em certos casos, sentem-se capazes de se consagrar ao bem estar
dos outros, fazendo completa abstração de seus próprios interesses e
necessidades vitais.

NANÃ BURUKÚ
É conhecida no Brasil como a mãe de Obaluaê. É sincretizada com SantAna. Os
colares de contas de vidro usados pôr aqueles que lhe são consagrados são
de cores brancas, vermelha e azul. Segundo uns o seu dia é a segunda-feira
juntamente com seu filho Obaluaê, segundo outros seria o sábado junto com
as outras Yabás.

Seus adeptos dançam com a dignidade que convém a uma senhora idosa e
respeitável. Seus movimentos lembram um andar lento e penoso, apoiado num
bastão imaginário que os dançarinos, curvados para a frente parecem puxar
para si.

Quando se manifesta num terreiro, é logo saudada pelo grito: Salubá!

Fazem-lhe oferendas com camarões, sem azeite mas bem temperados.

É considerada a mais antiga das divindades da água, das águas paradas dos
lagos e lamacentas dos pântanos.

Nanã é uma divindade muito antiga na África, a área de influência de seu


culto é bastante vasta e parece estender-se a leste, para além do rio Níger.

O arquétipo das pessoas dedicadas a Nanã, é o das pessoas que agem com
calma, benevolência e gentileza. Das pessoas lentas no cumprimento de seus
trabalhos e que julgam ter a eternidade a sua frente para acabar seus
afazeres. Elas gostam de crianças e educam-nas, talvez com excesso de
mansidão, pois tem tendências a se comportar com a indulgência das avós.
Age com tal segurança e tão majestosamente, que desviam os enganadores,
inspirando-lhes um saudável terror, o que os impede de envolvê-las com seus
projetos maldosos. Suas reações bem equilibradas e a pertinência de suas
decisões as mantêm sempre no caminho da sabedoria e da justiça.

OXALÁ
O Rei da Roupa Branca, o Grande Orixá, são nomes pelos quais Oxalá é
conhecido e respeitado como o mais importante deus Yorubá. Foi o primeiro a
ser criado pôr Olodumarê, que lhe deu o poder de sugerir e realizar o axé.

Oxalá é considerado tanto no Brasil como na África, como sendo o maior dos
orixás. seus adeptos usam colares de contas brancas e vestem-se igualmente
de branco. Sexta-feira é o dia da semana a ele consagrado.

É sincretizado ao Senhor do Bonfim, sem outra razão aparente a não ser o


enorme prestígio que ambos possuem na Bahia.

Dizem na Bahia que existem 16 Oxalás, porém os mais invocados são:


1. Oxaguiãn
2. Oxalufãn

Oxalufãn é o Oxalá velho, que se apoia no paxorô para poder andar, já


Oxaguiãn representa o Oxalá novo, e tem preferência pôr inhame.

A saudação para Oxalá é: Epa epa Babá!

Numa sexta-feira, dia da semana que no Brasil é consagrado a Oxalá, os axés


do deus são retirados do seu pejí e levados em procissão até uma pequena
cabana feita de palmas trançadas e simbolizando a viagem de Oxalufãn, que
durou 07 anos.

Na sexta-feira seguinte, ou seja 07 dias depois, tem lugar a cerimônia Água


de Oxalá, o maior silêncio é observado a partir da quinta-feira ao pôr do
sol, estendendo-se até a manhã seguinte. Os participantes vão apanhar água
vestidos de branco e com a cabeça coberta pôr um pano igualmente branco.

O terceiro domingo finalizando o ciclo das cerimônias é chamado de Pilão de


Oxaguiã evoca as preferências gastronômicas deste deus.

Uma versão simplificada das Águas de Oxalá é a lavagem da escadaria do Bonfim.

O arquétipo de Oxalá é das pessoas calmas e dignas de confiança, das


pessoas respeitáveis e reservadas, dotadas de força de vontade
inquebrantável que nada pode influenciar. Em nenhuma circunstância
modificam seus planos e seus projetos. Tais pessoas, no entanto, sabem
aceitar sem reclamar, os resultados amargos dai decorrentes.

É Oxalá que fecha o xirê dos orixás, assegurando a calma a paz e a comunhão
que deve existir entre toda a humanidade.

Sociedade Guardiões de Luaê / Fortes de Luaê.

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