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Área: Atuação
Núcleo 2
Cuiabá, MT
2019
MT ESCOLA DE TEATRO
Ele cita o termo tanatopolítica, e cita como Mbembe destaca como os poderes
políticos tem se apropriado da morte como forma de gestão.
Na peça que está sendo montada pelo Núcleo 2, temos um conflito agrário
que culminou em combate armado entre os campesinos e indígenas, fomentado por
um latifundiário.
Isso acontece pelo Brasil afora, e nem todos ficam sabendo. As vezes é
noticiado pelas mídias locais.
No início do módulo, ao se inteirar do eixo narratividade e do operador
necropolítica, escolhemos a área da saúde e das fronteiras territoriais, religiosas,
étnicas, e minha pesquisa se deu em cima dos povos indígenas, massacrados
desde que os portugueses pensaram que descobriram o Brasil.
Colocar esse fato em cena é trazer a tona muito pouco do que está
acontecendo, mas, como diz o Doutor Fábio no vídeo, quando cita o movimento das
mães, quando trazem a tona o nome de seus filhos assassinados, seus filhos não
serão devolvidos com vida, mas o nome dele será dito e conhecido. Não vai passar
desapercebido.
Isso é citado pelo Fábio Luís como uma forma de resistência contra a
necropolítica.
A seguir, a transcrição dos vídeos. Essa transcrição foi feita antes do relatório
acima. Acrescento na transcrição, a definição de tanatopolítica pela filósofa Marcia
Tiburi, e trecho da tese de doutorado de Fábio Luís, sobre a necropolítica entre
Israel e Palestina, sobre Eyal Weizman, citado por Mbembe.
O que é Necropolítica.
A grande novidade trazida pelo Mbembe foi ter colocado no centro da reflexão
política uma discussão sobre os modos e as formas pelas quais o poder político, de
diferentes maneiras, se apropria da morte como um objeto de gestão. Isto é, o
poder, ele não só se apropria da vida, das formas de vida, o poder não apenas nos
limita, estabelece normas sobre como nós devemos viver, agir e nos conduzir, mas,
e é isso que aponta Mbembe, o poder também decide e toma medidas a respeito de
como devemos morrer, e de quem deve morrer e o que deve acontecer com essa
morte, com esse corpo.
Em primeiro lugar, creio que no Brasil, nós tenhamos que colocar formas de
gestão necropolítica com outras formas de gestão da vida. Isto é, não se trata de
pensar que necropolítica é a única maneira do poder gerir as mortes e gerir os
mortos. A necropolítica no Brasil ela entra, digamos assim, num dispositivo mais
complexo em que ela se encontra, por exemplo, com o racismo, com o discurso do
Tudo isso que você citou é muito presente no Brasil, nesse momento,
realmente. Falou sobre o racismo, sobre a questão da política neoliberal, e
tudo fica muito claro quando a gente pega o Rio de Janeiro, como exemplo,
que tem essa guerra às drogas, declarada pelo governador Witzel. O que ele
exerce é de fato a necropolítica lá no Rio de Janeiro?
Porque daí o que me leva a pensar é que você vai lotar o serviço público
de saúde, mas ao mesmo tempo você não vai investir porque você quer que
aquelas pessoas que vão para o sistema morram de fato.
Eu acho que essa política ela tem essa face, mas ela tem muitas outras.
Como eu disse: nenhum governo ele tem uma única face necropolítica. Ele tem uma
face necropolítica e tá vinculada a ela outras faces desse poder, outras
racionalidades e outros discursos. E eu insisto, no Brasil o discurso do inimigo
interno é muito presente e é muito potente como nós vimos nas últimas eleições
presidenciais. E o que diz o discurso do inimigo interno? O discurso do inimigo
interno, como alguns autores insistem, é um discurso que tá organizado e se orienta
a partir de uma lógica que nós podemos chamar de lógica imunológica. O que isso
quer dizer? Tal como na imunologia, em que uma entidade externa infecta e
contamina um corpo e, portanto, pra que eu posso manter a saúde desse corpo eu
preciso eliminar essa entidade externa que me infecta, é preciso, portanto, destruí-la,
a necropolítica, no Brasil aparece, por exemplo, como no período da ditadura, e
mesmo na atualidade, muito vinculada a essa lógica imunológica. Ou seja, é preciso
matar, é preciso fazer com que algumas pessoas, alguns grupos desapareçam pra
que eu possa garantir a saúde do Brasil, pra que eu possa garantir a saúde da nossa
população.
Essas pessoas que você se refere são esses desalentados, que são
essas pessoas que estão desempregados já há um tempo e que não estão
procurando emprego porque sabem da situação que o país passa.
Parte 2
Sempre procuro, quando falo sobre necropolítica, também pensar nas formas
de resistência a essa necropolítica e a essas formas de subjetivação, como eu
mencionei a melancolia que são induzidas e produzidas pela necropolítica. E temos
vários exemplos, várias formas de produzir resistência a isso.
Nesse contexto, por exemplo, os escravos eles eram aqueles que estavam
submetidos à necropolítica. Os seus corpos poderiam ser destruídos, eles poderiam
ser mortos a qualquer momento, e viviam em condições de fato limítrofes à morte.
Uma última pergunta. Vamos a uma luz no fim do túnel. Você falou que a
necropolítica tem uma relação direta com políticas neoliberais, com o racismo.
Não se combate ela diretamente. Se combate tudo isso? Como se faz o
combate à essa necropolítica?
A gente falou sobre essa questão do Witzel no Rio de Janeiro, você citou
também São Paulo, o governo Bolsonaro em si também exerce a
necropolítica?