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COMPOSIÇÃO CONCEITUAL DE UM CENTRO DE

PESQUISA EM EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM


PARA ENGENHARIA (CEPEDAPE)
CONCEPTUAL COMPOSITION OF A CENTER FOR
RESEARCH IN EDUCATION AND LEARNING FOR ENGINEERING (CEPEDAPE)
Luís Carlos Passarini,1 Nídia Pavan Kuri2

DOI: 10.5935/2236-0158.20170009

RESUMO
A educação é dinâmica e mais intensa na medida em que galgamos seus níveis mais elevados, como o
nível superior e a pós-graduação. Tratando especificamente do ensino e aprendizagem de engenharia,
a partir da década de 1980, a preocupação com a formação do engenheiro tornou-se mais evidente.
Enquanto nos EUA surgia a Engineering Education Research (EER), motivada pelas preocupações com a
competitividade e quantidade de engenheiros graduandos daquele país, no Brasil, essa preocupação só
aconteceu recentemente. Com a revogação da resolução federal CFE 48/76 e subsequente substituição
pela resolução CNE/CES 11/2002, o ensino de engenharia no Brasil se viu diante de muitos desafios que
demandam soluções criativas e inovadoras. Tais demandas suscitaram oportunidades para mudanças
nos paradigmas de ensino-aprendizagem em vigor. O objetivo deste artigo é: a partir de novos concei-
tos, propor um Centro de Pesquisa em Educação e Aprendizagem para Engenharia, com o propósito de:
1) prospectar, discutir, avaliar e validar estratégias e ambientes de ensino-aprendizagem; 2) capacitar
e aprimorar o fator humano envolvido visando à implementação de metodologias ativas de ensino e
aprendizagem nos cursos da engenharia, à luz da CNE/CES 11/2002 e das novas oportunidades ofere-
cidas pelas tecnologias de ensino e aprendizagem; e 3) apresentar e discutir conceitos que visam a criar
e explorar no CEPEDAPE novos ambientes colaborativos de aprendizagem. Ao final deste trabalho, faze-
mos uma avaliação prospectiva dos ganhos esperados ao se investir nessa iniciativa.
Palavras-chave: Ensino inovador; aprimoramento do ensino; diagnóstico de perfis de aprendizagem;
espaços colaborativos; ensino e aprendizagem de Engenharia; Resolução 11/2002 CNE/CES.

ABSTRACT
Education is more dynamic and intense as long as its higher levels, aka upper level and graduate, are
achieved. Specifically talking about teaching and learning Engineering, since the 1980s the concerning
about engineers’ formation has become more evident. While in the USA the Engineering Education Re-
search (EER) came true, motivated by concerns about competitiveness and quantity of their graduate
engineers, in Brazil this concern only has been manifested recently by the repeal of the federal CFE
resolution 48/76 and its subsequent replacement by the resolution CNE/CES 11/2002. So, teaching of
Engineering in Brazil was faced with many challenges that require creative and innovative solutions.
Such demands raised opportunities for changes in teaching and learning paradigms. From new concepts,
the objective of this article is to propose a Research Center for Engineering Education and Learning for
Engineering (aka CEPEDAPE) for the purpose of: 1) to prospect, discuss, evaluate and validate teaching
and learning strategies and environments; 2) to train and improve the involved human factor focusing
on the implementation of active methods of teaching and learning in the courses of engineering and the

1 Professor doutor, livre docente, Escola de Engenharia de São Carlos.


2 Professora doutora, educadora CETEPE Escola de Engenharia de São Carlos.

Revista de Ensino de Engenharia, v. 36, n. 2, p. 3-15, 2017 – ISSN 2236-0158


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new opportunities offered by the teaching and learning technologies; and 3) to present and discuss con-
cepts in order to create and explore new collaborative learning environments at the CEPEDAPE. At the
end of this work we present a prospective assessment of the expected gains in investing in this initiative.
Keywords: Innovative teaching; improvement of teaching; learning diagnostic profiles; collaborative
spaces; engineering teaching and learning process.

INTRODUÇÃO novos ambientes de aprendizagem cola-


As demandas para a engenharia no século borativos;
XXI são tais que seu ensino precisaria ser re-
definido desde o nível da graduação (NERSES- CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
SIAN; NEWSTETTER, 2014). Para o Brasil, en- Nos países desenvolvidos, a preocupação
tendemos que esse processo precisaria atingir com a engenharia apareceu na virada do sécu-
também o ensino médio, pois a introdução de lo XVIII. Nos EUA, a tradicional ASEE é fundada
novos conhecimentos nos currículos de enge- em 1893. Ao longo das primeiras décadas do
nharia cria uma pressão para que conteúdos século XX, surgiram relatórios que focam estu-
fundamentais de matemática (pré-cálculo, cál- dos investigativos em educação para engenha-
culo, álgebra e geometria), física e química pas- ria (FROYD; LOHMANN, 2014). No Brasil, uma
sem a ser transferidos para o currículo do en- associação semelhante só apareceria em 1973,
sino médio. Um exemplo disso são os EUA, que com a fundação da Associação Brasileira de En-
já estão transferindo, sistematicamente, desde sino de Engenharia (ABENGE).
1986, os conteúdos fundamentais de Álgebra I Apenas a partir da década de 1980, a preo-
para os alunos do 8o ano1 (WALSTON; McCAR- cupação com a formação do engenheiro tornou-
ROLL, 2010). -se mais evidente. Nos EUA, a Engineering Edu-
A American Society for Engineering Edu- cation Research (EER) – que teve seus alicerces
cation (ASEE) constatou nos anos de 1990 que fincados em 1802, com a criação da Academia
estamos vivendo o momento de uma mudança de West Point – abria um campo de pesquisas com
revolucionária (ASEE, 1994). O desafio para os vistas à melhoria da educação em engenharia, mo-
cursos de graduação em engenharia é saber li- tivada pelas preocupações daquele país com a
dar com as demandas do século XXI, em que os competitividade e quantidade de engenheiros
currículos deverão apresentar mais multi, inter graduandos. A EER foi concebida como parte de
e transdisciplinaridade, exigindo muito mais um plano nacional para a engenharia dos EUA.
dos educadores e formadores de profissionais
No Brasil, nasceu, em 1981, o Centro de
da área de educação. Portanto, este trabalho
Tecnologia Educacional para Engenharia (CE-
propõe-se a:
TEPE), criado na Escola de Engenharia de São
i. apresentar um projeto conceitual para Carlos (EESC), no campus da USP, em São Car-
um Centro de Pesquisa em Educação e los, interior do estado de São Paulo. As moti-
Aprendizagem para Engenharia (CEPE- vações para a criação do CETEPE também vi-
DAPE) visando à implementação de me- savam à melhoria da educação em engenharia,
todologias ativas de ensino e aprendiza- mas o CETEPE tinha ambições muito menores
gem nos cursos de engenharia, à luz da e possuía uma abrangência muito mais local,
CNE/CES 11/2002 e das novas oportu- pois não foi concebido como parte de uma polí-
nidades oferecidas pelas tecnologias de tica brasileira de educação em engenharia.
ensino e aprendizagem; A partir do final do século XX, as rápidas
ii. apresentar e discutir conceitos que vi- transformações sociais, econômicas e tecnoló-
sam a criar e explorar, num CEPEDAPE, gicas pelas quais o mundo está passando tor-
naram necessário refletir acerca do papel que o
1 Alunos que estudam no 8º ano dos EUA possuem idade
engenheiro deverá desempenhar no século XXI
aproximada de 13 anos. e como deverá ser sua formação para tal.
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As preocupações com relação à globaliza- engenheiro de responsabilidade do Conselho


ção e a necessidade de inovar cresceram du- Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA),
rante as décadas de 1990 e 2000, e influencia- e fiscalizadas pelos Conselhos Regionais de En-
ram a pesquisa em educação para engenharia genharia (CREAs), a criação de novos cursos de
para que se descobrissem meios de produzir engenharia implicava adequar os conteúdos ao
engenheiros com quantidade, qualidade e di- exigido pelo currículo mínimo do MEC e garan-
versidade de conhecimentos, e em número su- tir atribuições profissionais via processos jurí-
ficiente para atender aos novos apelos dos pro- dicos nos CREAs.
blemas globais (ASEE, 1994), (MARCHMAN-III, Em 20 de dezembro de 1996, a resolução
1998). CFE 48/76 foi revogada pela Lei nº 9.394, que
EUA, Europa e Japão implementaram estabeleceu as Diretrizes e Bases da Educação
grandes mudanças em seus currículos de enge- Nacional (LDB), porém, as Diretrizes Curricu-
nharia nos anos de 1990, melhorando o ensino lares Nacionais do Curso de Graduação em En-
e o aprendizado nas áreas de Ciência, Tecnolo- genharia – resolução CNE/CES 11/2002 – só
gia, Engenharia e Matemática (STEM = Scien- foram publicadas no Diário Oficial da União
ce, Technology, Engineering and Mathematics) (DOU) em 9 de abril de 2002. A partir dessa
(CRAWLEY et al., 1994; LATORRE et al., 1994; data, todos os cursos de engenharia deveriam
SOUTAS-LITTLE; INMAN, 1997; WALKER et al., se adequar a essa nova realidade.
1998; KARAPETROVIC et al., 1998). Nessa épo- As principais modificações da CFE 48/76
ca, começou a surgir a ideia de um currículo de para a CNE/CES 11/2002 referem-se à flexibi-
engenharia adaptativo (LATORRE et al. 1994) e lização, formatação e duração dos cursos. As
a necessidade da multidisciplinaridade (MAR- maiores dificuldades3 advêm da falta de en-
CHMAN-III, 1998). O renascimento do perió- tendimento sobre como realizar as alterações
dico Journal of Engineeering Education (Re- necessárias de maneira a garantir uma real
vista de Educação em Engenharia), em 1993, mudança de foco, em vez de simples ajustes no
estabeleceu-o num centro de divulgação das currículo ou redução na carga horária.
pesquisas acadêmicas. Um autor muito citado Em teoria, pelo que estabeleceu a CNE/
e influente nessa época é o educador Ernest L. CES 11/2002, o papel do aluno, outrora bas-
Boyer2 (1928-1995), da Universidade de Prin- tante passivo, passou a ser predominantemen-
ceton, divulgador da corrente curricular adap- te ativo, porque o foco do processo de ensino-
tativa. -aprendizagem mudou. Agora ele deve ser cen-
Enquanto na década de 2000 diversos trado no aluno, que “deverá receber uma sólida
centros especializados em EER surgiram e for- formação técnico-científica e profissional geral
neceram a infraestrutura necessária para um e adquirir competências e habilidades a área”.
próspero campo de pesquisa acadêmica, no Essa estratégia de ensino e aprendizagem “vê o
Brasil, tais preocupações só se manifestam mo- aluno como um sujeito ativo e participante do
desta e isoladamente. Parte dessa indiferença processo de aprendizagem”, no qual ele tem a
foi motivada ou justificada pela estrutura apa-
rentemente rígida do “currículo mínimo de En-
3 Alguns problemas surgiram após a publicação da CNE/CES
genharia” exigido pelo Ministério da Educação
11/2002, como, por exemplo, permitir um amplo espectro
e Cultura (MEC) naquela época, por meio da de possibilidades, sem garantir que todos os aspectos refe-
resolução nº 48 de 27 de abril de 1976, ou CFE rentes à já referida flexibilização atinjam os objetivos enun-
48/76. Sendo as atribuições profissionais do ciados na resolução em vigor (PINTO, et al, 2003). Mas o
mais grave ficou por conta da regulamentação profissional.
Se, por um lado, a CFE 48/76 dividia a engenharia em seis
2 BOYER, E. L. Scholarship reconsidered: priorities of the pro- grandes áreas e estabelecia várias habilitações, a CNE/
fessoriate. Princeton, NJ: Carnegie Foundation for the Ad- CES 11/2002 deixou a divisão das áreas em aberto e foi
vancement of Teaching National Academies Press, 1990; omissa no estabelecimento das habilitações, ficando es-
BOYER, E. L. Reflections on the new reform in mathematics sas responsabilidades a cargo do CONFEA. As consequên-
education, School Science and Mathematics,volume 90, cias dessas mudanças fogem ao escopo deste trabalho e,
issue 6, pages 561-566, Oct., 1990. portanto, não são discutidas aqui.

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oportunidade de interagir “com seus colegas e troca, entende-se o intercâmbio de conheci-


professor, assimilando conceitos, informações, mentos, que geralmente se dá do docente para
construindo seu próprio conhecimento” (AL- o aluno. Nesse caso, o aluno é beneficiado com
CÂNTARA et al., 2004) e ajudando na constru- a experiência do docente e este – em termos de
ção do conhecimento de outrem. aprendizagem – tira pouco proveito da ativida-
Na prática, passados mais de treze anos da de, embora tenha que se preparar muito para
publicação da referida resolução, as mudanças ela. A troca acontece de uma maneira muito
mais significativas nos currículos dos cursos de linear, previsível, sequencial, limitada e organi-
engenharia referem-se à introdução da obriga- zada. Por emergência, entende-se o afloramen-
toriedade do Trabalho de Conclusão de Curso to de conhecimentos que surge durante uma
(TCC) e à facilidade para se criar novas áreas atividade multi/inter/transdisciplinar realiza-
de engenharia.4 Notadamente, o que se verifi- da por um grupo de alunos e docente(s) e que
ca hoje é que a grande maioria dos cursos de é benéfica para todos. Embora a emergência
engenharia se adaptou para atender ao que a produza muita integração disciplinar e pareça
CNE/CES 11/2002 preconiza. Mesmo nos cur- ser mais vantajosa que a troca, nem sempre é
sos que surgiram após a referida resolução, não possível ou conveniente produzi-la nos contex-
se viu grandes inovações. Na maioria dos casos, tos de ensino. O aprendizado por emergência
o aluno continua sendo figura passiva, estando é não linear, imprevisível, não sequencial e ili-
longe de poder definir seu próprio programa mitado.
de estudos e programar sua carreira. Partindo-se das premissas de que o CE-
O cenário brasileiro descrito acima expõe PEDAPE deve ser palco e referência de expe-
um quadro em que as estratégias de ensino e riências inovadoras no ensino e aprendizagem
aprendizagem tradicionais de Engenharia es- presenciais ou não, e de que o ensino de enge-
tão bastante saturadas e o novo modelo cen- nharia deve ser dinâmico e sua aprendizagem
trado no aprendizado do aluno é uma tendên- ativa, é necessário investir ininterruptamente
cia que se consolida muito gradativamente. Se no Centro: tempo, recursos humanos e mate-
esse modelo representa o futuro, conclui-se riais na pesquisa e prática de novas metodolo-
que é preciso repensar o ensino de engenharia gias de ensino e aprendizagem de engenharia.
e explorar o potencial dos métodos ativos de A pedagogia do CEPEDAPE compõe-se de três
aprendizagem e das novas tecnologias instru- partes que serão detalhadas ao longo do arti-
cionais para aprimorar a eficácia do processo go: o ciclo contínuo de aprimoramento, sua in-
de ensino-aprendizagem, além de melhorar as fraestrutura e seu corpo de profissionais.
condições dos ambientes de aprendizagem.

A PEDAGOGIA DO CEPEDAPE
Um dos objetivos desta proposta é a apre-
sentação e discussão de conceitos que visam
a criar e explorar, num CEPEDAPE, novos am-
bientes de ensino e aprendizagem colabora-
tivos, que facilitem a promoção de trocas e
emergências, ou seja, de experiências de apren-
dizagem que se manifestam quando os alunos
e profissionais estão trabalhando com pro-
blemas que envolvem multidisciplinaridade e
interdisciplinaridade, respectivamente, como
definem Nersessian e Newstetter (2014). Por
Figura 1 – O papel do CEPEDAPE no ciclo contínuo de
4 Embora seja fácil criar um curso novo de engenharia, a
definição de suas atribuições profissionais se tornou um
aprimoramento de ensino e aprendizagem de enge-
problema para o CONFEA e as instituições de ensino. nharia.

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Ciclo Contínuo de Aprimoramento veis de disciplinas, de ambientes, dos alunos e


O modelo de ensino e aprendizagem cen- dos docentes, como segue:
trado no aprendizado do aluno será desenvol- a) em nível de disciplinas, em que o Centro, en-
vido no CEPEDAPE através do Ciclo Contínuo tre outras possibilidades:
de 7 Fases para Aprimoramento do Ensino e i. fornece indicações importantes aos do-
Aprendizagem de Engenharia, como mostra- centes para o planejamento do processo
do na Figura 1. Um ciclo pode representar os
de ensino e aprendizagem em função
nascimentos de uma disciplina e/ou um labo-
das características dos seus alunos;
ratório integradores de conhecimento, como
preconiza a CNE/CES 11/2002; a concepção ii. facilita o treinamento dos docentes e servi-
de uma nova sala de aula; a introdução de uma dores em softwares, hardwares e tecnolo-
tecnologia nova ou um software; a concepção e gias emergentes ou em consolidação;
adoção de um dispositivo didático para uso em iii. produz e divulga na WEB diferentes tipos
sala de aula; enfim, são inúmeras as possibili- EAD e conteúdos informativos e formati-
dades. Nesse ciclo, a missão do Centro é pros- vos, para que o aluno e a comunidade te-
pectar, avaliar, incubar, validar e propor novas nham acesso em horários que lhes sejam
estratégias e ambientes de ensino e aprendi-
mais convenientes, de acordo com suas
zagem e ajudar/supervisionar nas suas imple-
disponibilidades e ritmos de aprendiza-
mentações.
Se percorrermos o ciclo da Figura 1 se- gem. É por esse motivo que faz sentido ter
quencialmente, após as soluções propostas e o CPMDigi digital dentro do CEPEDAPE:
desenvolvidas no Centro passarem por um pe- para produzir os conjuntos de experiên-
ríodo de incubação e maturação, a instituição cias de aprendizagem e colocá-los à dispo-
de ensino (IE) investirá nessas soluções e seus sição da comunidade (ensino a distância
professores serão motivados e preparados – EAD; e aprendizado online – AOL);
para encarar os desafios das inovações e das
b) em nível de ambientes de ensino e aprendi-
tecnologias. Na sequência, os alunos e os pro-
zagem (nível macro) em que o CEPEDAPE:
fessores de graduação e pós-graduação usu-
fruem dos benefícios dessas novas estratégias. i. sugere ou incuba e amadurece uma
Enquanto isso, o Centro se prepara para uma disciplina integradora ou um conteú-
nova sequência. É importante salientar que vá- do multi/inter/transdisciplinar5 para
rios desses ciclos poderão estar em andamento algum curso e avalia sua efetividade na
no Centro, em diferentes estágios de desenvol- grade curricular;
vimento. Porém, existem outros caminhos que ii. considera a concepção e avaliação do
o fluxo do ciclo pode seguir que não o sequen- ambiente onde as atividades de apren-
cial. Neles, é possível pular fases, retroalimen-
dizagem serão desenvolvidas. Se uma
tar uma ou mais fases do ciclo de volta para as
atividade que demanda mais partici-
fases de prospecção, incubação e maturação, e
executar apenas algumas fases dele. Em sínte- pação dos alunos for feita num espaço
se, essas estratégias são, inicialmente, sugeri- dimensionado para aulas expositivas, a
das, postas em prática, avaliadas, maturadas aprendizagem será pouco produtiva. O
dentro do CEPEDAPE e só depois introduzidas espaço precisa estar adequado para o
nas disciplinas e nos cursos de engenharia. tipo de atividade que receberá.
As descrições na Figura 1 são muito conci-
sas e não descrevem tudo o que pode acontecer 5 As disciplinas integradoras de conhecimento representam
em cada fase. Por causa disso, torna-se neces- um grande avanço introduzido pela CNE/CES 11/2002. A
proposição de uma disciplina integradora afeta o currículo
sário explicar a forma como o CEPEDAPE atua- do curso e envolve diversos aspectos (ambiente, docentes,
rá dentro do referido ciclo, que pode ser em ní- tecnologias, etc.).

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c) em nível dos aprendizes: fundamente aspectos multi/inter/transdisci-


i. propõe um trabalho de diagnóstico dos plinares do currículo de engenharia. Acima de
seus perfis, visando a despertar o interesse tudo, o espaço físico do Centro precisa motivar
e o envolvimento dos alunos na aprendiza- o florescimento de ideias e a colaboração entre
gem; as pessoas.
A integração natural de recursos e ambien-
ii. promove uma interação dinâmica no de-
tes entre o L-FAEA, estúdio de gravação e o cen-
senvolvimento de habilidades e o conhe- tro de produção de mídias digitais (CPMDigi)
cimento; certamente deverá ser levado em consideração
iii. toda atividade didático-pedagógica rea- no projeto arquitetônico. Isso significa que:
lizada pelo Centro será avaliada em ter-
a) atividades previstas para o CPMDigi pode-
mos de quanto conhecimento os alunos
rão acontecer dentro de um L-FAEA;
assimilaram e quais foram as facilidades
que a proposta implementada introdu- b) as desenvolvidas no L-FAEA poderão contar
ziu no processo de ensino e aprendiza- com o apoio do mockup studio, do CPMDigi
gem; e de sua transmissão por videoconferência
ou ipTV;
d) em nível dos docentes, auxilia com seus pla-
nos de aula, por meio de métodos, técnicas e c) o mockup studio poderá produzir dispositi-
recursos instrucionais adequados para me- vos didáticos para serem usados durante as
lhoria do desempenho dos alunos e na capa- atividades do L-FAEA e produção de mídias
cidade de aprender. do CPMDigi e assim por diante.

INFRAESTRUTURA É bastante importante que as facilidades


do Centro estejam ao alcance de todas as suas
O projeto arquitetônico para um CEPEDA- seções, a fim de minimizar a multiplicação de
PE, embora seja importante, foge do escopo do recursos e maximizar seu aproveitamento.
trabalho. No entanto, é necessário definir o que
Centro deverá abrigar em seu espaço físico, lo- Quadro 1 – Composição do Espaço Físico do CEPEDA-
cal onde serão desenvolvidas as atividades que PE.
apoiarão o Ciclo de Aprimoramento descritas
anteriormente. Resumidamente, o espaço fí- Secretaria Diretoria Almoxarifado
sico do CEPEDAPE deverá ser um lugar que L-FAEA I LFAEA II Mockup Studio
abrigue adequadamente uma secretaria, um
ou mais ambientes experimentais de ensino e Centro Estúdio de Produção
aprendizagem denominados Laboratórios Fle- Incubador de Estúdio de de Mídias Digitais
xíveis de Ambientes de Ensino e Aprendizagem Disciplinas Gravação (CPMDigi) e
(CID) Videoconferência
(L-FAEA), um estúdio de produção de mídias
digitais, facilidade para videoconferências, um
estúdio de gravação, um mockup studio (que A importância dos ambientes de ensino
pode ser entendido grosseiramente como uma e aprendizagem colaborativos
oficina de maquetes, modelos 3D e dispositivos
didáticos), um centro incubador de disciplinas Diferentemente de uma sala de reuniões
e um almoxarifado (ver Quadro 1). Certamente, ou sala de aula com mesas dispostas em círcu-
demais infraestruturas de suporte deverão ser lo(s), um ambiente colaborativo é um local de
previstas, como sanitários, escadas, elevador e trabalho planejado e construído e onde traba-
outras. Também deverá ser possível acomodar lham pessoas (grupo de trabalho) que se aju-
no CEPEDAPE outras atividades que não estão dam mutuamente para alcançar um ou mais
aqui descritas e que visam a explorar mais pro- objetivos e viabilizar ideias que foram criadas,
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desenvolvidas ou compartilhadas dentro do levado em consideração nos projetos de salas


grupo. É um espaço facilitador da colabora- de aprendizado.
ção, da inovação, da criatividade, de trocas e de Outro problema que ocorre na maioria
emergências. das vezes em que se vai criar um espaço cola-
Embora não exista um consenso quanto ao borativo é que a planta desse espaço já estava
limite do número de pessoas que compõem um definida para outra finalidade, frequentemente
grupo de estudos e/ou trabalho participativo, sem previsão de realizar ali atividades colabo-
existe uma certa restrição quando se propõe rativas. Quando o local de trabalho é planejado
grupos com mais de seis participantes em ati- para suportar realidades de colaboração, o re-
vidades de ensino e aprendizagem. Isso por- sultado é melhor aprendizado, mais inovações
e processo decisório mais rápido. Estas carac-
que barulho, conversas e dispersão podem e se
terísticas para o engenheiro do século XXI são
tornam problemas sérios para essas atividades
fundamentais.
(ARMSTRONG, 2012). O L-FAEA deverá ter por finalidade propor
Há de se ter em conta que um ambiente e testar novos conceitos de ambientes de ensi-
que consegue inspirar a colaboração entre as no e aprendizagem em que a forma de ensinar
pessoas é algo muito bom, mas pode ser pre- e aprender utilize também a interação entre os
judicial à produtividade, especialmente de pes- estudantes. Além do mobiliário voltado para
soas introvertidas – aquelas que são natural- flexibilizar o ambiente, facilitando a criação e a
mente energizadas pela solidão (ARMSTRONG, interação dos grupos de trabalho, deve-se levar
2012). Por isso, o ambiente colaborativo pre- em consideração que o ambiente possua todas
cisa prever também configurações que supor- as facilidades, compatíveis com as tarefas a se-
tem a contemplação e o trabalho individuais rem desenvolvidas, para atender aos grupos
e uma interferência discreta e construtiva do nas suas necessidades, como silêncio, acessi-
docente ou supervisor da atividade. Quando se bilidade, recursos audiovisuais interativos, co-
consegue essa flexibilidade, permitem-se mui- municação wi-fi, videoconferência, impressora
tas oportunidades para que a colaboração e a 3D, máquina de corte a laser, pontos de toma-
contemplação possam acontecer nas diferen- das de eletricidade e ar-comprimido.6 O con-
tes fases do trabalho, gerando menos estresse ceito de ambiente colaborativo flexível assim
e dispersão no grupo, pois, ao final da ativida- previsto e desenvolvido no L-FAEA permitirá
de, todos foram envolvidos e suas individuali- acomodar diferentes tipos de aulas teóricas
dades foram respeitadas (ARMSTRONG, 2012). ou práticas. É importante lembrar que o Labo-
ratório deverá possuir uma capacidade máxi-
É preciso enfatizar que o estudo e a cria-
ma de 24 assentos, pois a experiência tem de-
ção de ambientes colaborativos são recentes
monstrado que um número maior torna difícil
no Brasil. Salas para reuniões em grupo como ao professor interagir com todos os grupos e é
mencionado por Alves (2011) são espaços que mais fácil os grupos dispersarem da atividade.
estão próximos desse conceito, no entanto, O desenvolvimento da inovação e do pro-
acredita-se que, no futuro, haverá uma mudan- cesso criativo não é algo que pode ser feito sem
ça de paradigma e que a filosofia colaborativa a intervenção do docente. Por isso, em ambien-
se espalhará rapidamente pelo país. te colaborativo, a locomoção do docente dentro
dele deverá ser totalmente desimpedida, por-
Laboratório Flexível de Ambientes de Ensino e
que ela é fundamental para a ocorrência de tro-
Aprendizagem (L-FAEA)
ca e emergência entre os participantes. Além
Um dos elementos-chaves de um am-
biente colaborativo para ensino e aprendi- 6 Maiores informações envolvendo definições, conceitos
zagem está no design dos móveis planejados e experiências de aprendizagem colaborativa podem ser
encontradas em ALCÂNTARA e outros (2004). Orientações
para esse espaço. O design das mesas de traba- sobre acessos, iluminação, instalações elétricas e confor-
lho é muito importante, mas geralmente não é to ambiental podem ser encontradas em ALVES (2011).

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disso, a movimentação dos alunos e os acessos bem como testar no Laboratório as maneiras
aos recursos multimídia devem ser facilitados; mais adequadas de fazer isso. Para motivar a
enquanto as aulas práticas deverão contar tam- participação da comunidade, o Centro terá au-
bém com apoio ferramental e instrumental. tonomia para emitir certificados de participa-
Neste projeto para o CEPEDAPE, em que ção e aproveitamento para os participantes.
se busca maneiras de promover o desenvolvi- Toda atividade didático-pedagógica rea-
mento das habilidades e competências neces- lizada no L-FAEA será avaliada em termos de
sárias para a formação profissional dos alunos, quanto conhecimento os alunos assimilaram e
é inspirador o pensamento de Leiboff (2010), quais foram as facilidades que a proposta im-
que afirma que é importante que as salas co- plementada introduziu no processo de ensi-
laborativas não possuam formalmente “uma no-aprendizagem. Essa retroalimentação será
parte da frente” ou um palco sobre o qual o feita pelos próprios alunos que participam das
professor irá transmitir seus conhecimentos. atividades.
Cada grupo de trabalho deve ter seu próprio
campo visual direcionado a painéis montados Oficina de maquetes, modelos 3D e dispositivos
estrategicamente nas paredes da sala onde eles didáticos (Mockup Studio)
possam interagir, escrever, rabiscar, desenhar A ideia do CEPETAPE contar com um
e, talvez, até ter um projetor multimídia aloca- mockup studio surgiu da necessidade de se ter
do para uso do grupo. uma infraestrutura facilitadora para produção
O grande diferencial do L-FAEA em relação de maquetes, modelos 3D e dispositivos di-
a uma sala de aula tradicional ou um pequeno dáticos para as disciplinas de graduação e de
auditório é ser um facilitador de inovações, de pós-graduação em engenharia. Um mockup
trocas e de emergências. No entanto, deve-se studio deverá estar equipado com diversas
ter em mente que o tamanho do Laboratório e ferramentas correlatas como: linhas de distri-
o ambiente do CEPEDAPE não são adequados buição de energia elétrica, minitorno, fresado-
para se ministrar disciplinas regulares. Aulas ra universal, furadeira de bancada, lixadeira,
regulares num CEPEDAPE tendem a pertur- serra, moto esmeril, minirretífica, estação de
bar o ambiente com a rotina e os problemas solda, linhas de distribuição de ar comprimido,
naturais das salas de aula, prejudicando o de- compressor de ar, kit de pintura e sistema de
senvolvimento das atividades do Centro, sem exaustão, máquina de corte a laser, impressora
falar que o L-FAEA ficaria fixamente ocupado 3D, pias, coifa, exaustor, estufa, forno e armá-
pelo período de duração da disciplina, tirando rios de ferramentas e acessórios. A principal
a oportunidade de atividades inovadoras de vantagem de se contar com um mockup studio
ensino e aprendizagem. Um L-FAEA será me- está em facilitar a criação física, na construção
lhor utilizado quando só se ministrarem nele de modelos, maquetes e dispositivos didáticos,
minicursos e treinamentos de curta duração. e disponibilizar esses recursos para as discipli-
Por esse motivo é que esta proposta se apoia nas de graduação, sem dizer que o studio pode
fortemente no uso do Laboratório para o de- ajudar também os alunos nas suas atividades
senvolvimento e avaliação de metodologias ati- extracurriculares. Esses encontrarão muitas
vas de ensino. facilidades no mockup studio, mas a principal
Considerando as facilidades incorporadas é a possibilidade do aprendizado do “como se
ao L-FAEA, esta proposta sugere que o CEPE- faz” na prática do dia a dia, principalmente da-
DAPE estabeleça convênios e intercâmbios quilo que não pode ser visto e explorado nas
com empresas desenvolvedoras de softwares e salas de aulas. O mockup studio também auxilia
tecnologias, ofereça minicursos e workshops de na elaboração e construção dos ambientes di-
capacitação regulares para divulgação do esta- dáticos a serem explorados no L-FAEA, porque
do da técnica e treinamento dos docentes e alu- ele também é um ambiente colaborativo para
nos de graduação e pós-graduação envolvidos, as pessoas que trabalharem no Centro.
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Incubadora de laboratórios de ensino rios, palestras, treinamentos e cursos de curta


integradores duração – é uma maneira de acelerar a entrada
A introdução de novas disciplinas integra- e adaptação dos docentes ao novo modelo e de
doras na estrutura curricular dos cursos de en- ajudá-los na sua práxis.
genharia demandará do CEPEDAPE, conjunta- A experiência nos mostra que, através do
mente com os docentes, a elaboração de estra- tempo, os docentes expandem ou mudam a
tégias para criar e posicionar essas disciplinas maneira como usam a tecnologia. E não são as
nos currículos, bem como inserir as equipes dramáticas mudanças de modelos e de equipa-
estudantis que trabalham com problemas de mentos das salas de aula que promovem isso,
engenharia – e que são laboratórios natos para mas sim porque a pedagogia de ensinar é dinâ-
se fazer integração disciplinar e como tal de- mica, envolvente e também porque os profes-
vem receber apoio para isso. O papel do Centro sores mais jovens ficam mais à vontade no uso
pode ser resumido como um elemento catali- de uma tecnologia complexa (LEIBOFF, 2010).
sador pedagógico, já que é da interação equipe Novas metodologias e tecnologias estão aden-
de alunos e professores que nascerão as novas trando as salas de aulas e, portanto, quanto
disciplinas integradoras. mais cedo o docente for motivado e capacitado
para fazer uso desses recursos para facilitar o
CORPO DE PROFISSIONAIS aprendizado de seus alunos, mais cedo e facil-
mente isso irá acontecer.
O corpo técnico para o CEPEDAPE neces-
sita ser qualificado e experimentado, constituí- Produção de miniaulas
do de pedagogo(s), psicólogo(s), designer(s) e
Sendo a conectividade uma realidade que
modelador(es), profissional(is) das áreas de
precisa ser usada como uma poderosa aliada,
educação, de texto, imagem & som e da ciência
a proposta para o CEPEDAPE é implementar
de informação, entre outros que podem con-
o aprendizado online suportado por cursos a
tribuir com o Centro. O perfil profissional do
distância (EAD) adaptados ao estilo cognitivo
corpo não será discutido aqui, dados a comple-
de aprendizagem (ECA) de cada usuário,7 uti-
xidade e o nível de detalhes envolvidos. Em vez
lizando-se sistemas hipermídia adaptativos
disso, serão descritos o papel e as atividades
que, como o nome indica, são sistemas que se
que justificam o corpo da maneira como ele foi
adaptam de acordo com as preferências e rit-
apresentado.
mo de aprendizagem de cada aprendiz (DIAS
O fundamento do corpo de profissionais
et al. 2009).
do CEPEDAPE é este: se ensino é centrado no
A procura por cursos de nível superior on-
aluno e novas metodologias de ensino e apren-
line no Brasil tem aumentado gradativamente.
dizagem serão introduzidas e assimiladas nas
Os MOOCs (Massive Open Online Course = Curso
disciplinas, então, o professor terá que estar
Online Aberto e Massivo) proporcionam maior
capacitado para integrar todo o processo. Uma
flexibilidade e permitem o estudo dentro e fora
das missões do corpo técnico é ajudar nessa
da escola. Os MOOCs podem também facilitar
capacitação. Se, por um lado, os aspectos para
o processo de internacionalização da Univer-
que, como, onde e quanto o aluno aprende am-
sidade. Eles são muito atraentes, pois visam a
pliam seu envolvimento e participação, por ou-
atender ao ritmo de aprendizagem dos alunos
tro lado, o professor/orientador precisa estar
comprometido com o aprendizado/formação
desse aluno. O professor é agente e, ao mes-
7 Assumindo-se que o ECA do aluno foi previamente identifi-
mo tempo, catalisador do processo de ensino e cado por um teste indicador das preferências de aprendi-
aprendizagem. Desprezar essa premissa pode zagem, um ambiente EAD poderá estar configurado para
custar muito caro no futuro e é por isso que se melhor atender às expectativas, necessidades e ritmo de
aprendizagem do aluno, facilitando seu envolvimento e
acredita que investir na capacitação dos docen- maximizando sua responsabilidade para com a aprendiza-
tes da escola – através de workshops, seminá- gem.

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e à disponibilidade de tempo para se dedica- Minicursos e workshops de novas


rem aos estudos. tecnologias
A proposta para o CEPEDAPE é usar o es- Uma das principais características deste
túdio de produção de mídias digitais, o estú- novo século é a velocidade com que as novas
dio de gravação e até o L-FAEA para produzir tecnologias vão sendo desenvolvidas, assimila-
miniaulas para apoiar as disciplinas e divulgar das pela indústria e incorporadas em seus pro-
as pesquisas feitas na IE (em formato de repor- dutos. A título de ilustração, quem, em 1995,
tagem com aproximadamente 1 minuto de du- leu em A estrada do futuro, a afirmação:
ração). Sugere-se, inicialmente, miniaulas para
atender as disciplinas introdutórias das diver- [...] seu micro de bolso será capaz de registrar
sas carreiras de engenharia, com duração má- áudio, hora, lugar e até vídeo de tudo o que
acontecer com você. Será capaz de gravar
xima de 15 minutos, destinadas aos estudantes
cada palavra que você disser e cada palavra
pré-vestibulandos, a fim de proporcionar-lhes
dita a você, bem como temperatura corporal,
melhor orientação para a escolha da carreira. pressão sanguínea, pressão barométrica, e
uma variedade de outros dados sobre o am-
Microensino como ferramenta no
biente ao seu redor. Será capaz de controlar
desenvolvimento/aprimoramento de suas interações com a rodovia – todos os co-
habilidades de ensino mandos que você emitir, as mensagens que
Microensino é o nome da técnica empre- você enviar e as pessoas para as quais ligar
gada para ajudar na formação inicial docente ou que ligarem para você [...] (GATES, MYHR-
(AKASAKA; GODOY, 1997) e no aprimoramen- VOLD et al. 1995).
to da didática de docentes mais experientes. A certamente teve uma reação, no mínimo, de
técnica é tão eficaz que pode ser empregada desconfiança. No entanto, passados vinte anos,
em diferentes áreas do conhecimento (HILA, a realidade atual confirmou boa parte daquelas
2009; OLIVEIRA, 2013). No CEPEDAPE, com previsões e outras não estão tão longe assim
auxílio dos L-FAEA e do CPMDigi de mídias de se materializarem. De onde se conclui que,
digitais, o exercício do microensino consistirá mais do que nunca, os cursos de engenharia
na elaboração de um plano de aula por parte precisam acompanhar de perto o dia a dia das
de um participante que considere ambiente e indústrias para dar aos alunos melhor capaci-
seu público-alvo (simulado pelo grupo de par- tação para o mercado de trabalho.
ticipantes), contenha os objetivos e o conteúdo
da aula. A aula é de curta duração (~10 min), RESULTADOS ESPERADOS
gravada usando as facilidades do CPMDigi no Retomando as orientações da resolução
L-FAEA e avaliada pelos demais participantes. CNE/CES 11/2002 para as reformas curricu-
O avaliado receberá, além de relatório impres- lares dos cursos de engenharia, observa-se a
so sobre sua apresentação, a gravação da aula necessidade de se contar com docentes mais
para que ele faça sua autoavaliação e busque envolvidos com as fronteiras do conhecimento
melhorar os pontos em que seu desempenho inter/multi/transdisciplinar e com forte for-
se mostrou deficiente ou pouco interessante. mação didático-pedagógica para auxiliarem
Depois, ele se preparará novamente e apresen- não só na modelização do ensino praticado na
tará uma nova aula para o grupo. Esse processo engenharia, mas, sobretudo, na proposição,
poderá ser repetido quantas vezes forem ne- orientação e acompanhamento de diferentes
cessárias. O microensino pode ser usado para maneiras de introduzir e estruturar didatica-
se estudar que estratégias são melhores para mente conteúdos disciplinares que contem-
introduzir novos conceitos e tecnologias nas plem o novo perfil exigido do engenheiro. Tal
disciplinas de engenharia. constatação reforça a missão do CEPEDAPE e
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COMPOSIÇÃO CONCEITUAL DE UM CENTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM PARA ENGENHARIA (CEPEDAPE) [13]

a necessidade de sua disseminação por todo o tunidades de aprendizagem e tem por base um
país. tripé formado pelo aprendizado ativo, aprendi-
Da forma como foi concebido, o CEPEDA- zado online e um sistema de suporte avançado
PE deverá ter papel central e fundamental na composto por orientadores acadêmicos para
reforma curricular dos cursos de engenharia. apoiar os alunos em seus objetivos, planos de
Através do conceito de Ciclo Contínuo de 7 Fa- educação e pesquisas de emprego8 (TECHNO-
ses para Aprimoramento do Ensino e Aprendi- LOGY, 2015).
zagem de Engenharia, mostrado anteriormente
na Figura 1, o processo de reforma e inovação CONCLUSÕES
curricular será feito de maneira segura e orde-
A resolução CNE/CES 11/2002 trouxe fle-
nada, minimizando os improvisos e os sustos,
uma vez que o Centro prospecta e propõe novas xibilização na formatação e duração dos cursos
estratégias e ambientes de ensino-aprendiza- de Engenharia, permitindo um amplo espectro
gem, implementa e realiza os testes, validações de possibilidades. Acima de tudo, a referida re-
e avaliações, tudo em um ambiente controlado. solução mudou o centro do processo de apren-
Em seguida, as disciplinas e os cursos recebem dizagem, outrora centrado no docente, passan-
as inovações que forem pertinentes e seguras do-o agora para o aluno. Logo, para atender ao
de serem implementadas. Alunos, disciplinas, espírito que motivou tal resolução, é preciso
docentes e cursos saem ganhando. A expectati- repensar o ensino de engenharia e explorar o
va é acelerar o processo de reforma curricular potencial dos métodos ativos de aprendizagem
e enriquecer o cabedal de experiências de ensi- e das novas tecnologias instrucionais para apri-
no e aprendizagem do Centro, de modo que as morar a eficácia do processo de ensino-apren-
instituições que aproveitarem a oportunidade dizagem, além de melhorar as condições dos
histórica e investirem recursos em CEPEDAPEs ambientes de aprendizagem. No novo modelo
tornar-se-ão referências nacionais em ensino de ensino e aprendizagem focado no aluno, o
inovador de engenharia. mestre precisa estar envolvido e empenhado
Os benefícios dos ambientes colaborati- com o aprendizado do discente, do contrário, o
vos são, hoje, inquestionáveis. Se, por um lado, resultado final estará comprometido.
na proposta do CEPEDAPE, a ideia é fazer uso Do exposto acima, conclui-se que estraté-
extensivo desses ambientes, dentro, é claro, de gias e ambientes de ensino-aprendizagem e fa-
suas filosofias, por outro lado, entende-se que tor humano estão muito interligados. Assim, a
também é necessário investir na capacitação qualidade da aprendizagem do aluno depende
dos docentes das escolas de engenharia para do grau de harmonização e sintonia entre eles.
acelerar sua entrada e adaptação ao novo mo- Portanto, um CEPEDAPE, do modo como foi
delo de ensino e aprendizagem centrado no apresentado neste trabalho, é uma ferramenta
aluno. O docente contará com um auxílio muito estratégica na forma de um ambiente experi-
importante para suas aulas, que é o diagnóstico mental de estudos e pesquisas controlado que
dos perfis de aprendizagem das turmas de alu- está sendo proposto para prospectar, discutir,
nos. Se souber usá-lo com sabedoria, a sintonia avaliar e validar estratégias e ambientes de en-
mestre-aprendiz será fortalecida e a distância sino-aprendizagem e melhor capacitar o fator
entre eles será encurtada. Com isso, suas aulas humano envolvido no processo, a fim de pro-
serão menos desgastantes, mais proveitosas, mover verdadeiros saltos de qualidade no en-
prazerosas e produtivas. sino e aprendizagem de engenharia.
Um forte argumento a favor desta propos-
ta inovadora está no sucesso da mais recente
reforma curricular da Universidade de Tóquio,
8 Durante o ano acadêmico, todos os alunos deverão ter tido
realizada com o objetivo conduzir a IE a um
pelo menos uma reunião agendada com os seus respecti-
sistema de ensino que suporta diversas opor- vos assessores acadêmicos.

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DADOS DOS AUTORES

Luís Carlos Passarini possui graduação em Engenharia Mecânica, com ênfase em Ae-
ronaves, pela Universidade de São Paulo (1985), doutorado em Engenharia Mecânica
(1993) e livre docência (2009) pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é Profes-
sor Associado MS-5.1 em regime de dedicação integral da Escola de Engenharia de São
Carlos, desde 1988. Tem experiência nas áreas de Design Automotivo e Engenharia Me-
cânica, com ênfase em Dinâmica e Controle de Sistemas Mecânicos, atuando principal-
mente nos seguintes temas: dinâmica e controle eletrônico de motores de combustão
interna (modelagem e simulação, hardware e software para injeção eletrônica, sensores
e atuadores); simulação e otimização de sistemas de controle distribuídos via redes de
campo e uso racional e economia de energia; interação de agentes físicos sobre sistemas
biológicos; biodesign; acupuntura sob a ótica da medicina tradicional chinesa (MTC);
ensino e aprendizagem de engenharia. Foi diretor do Centro de Tecnologia Educacional
para Engenharia (CETEPE) da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de
São Paulo, de 2011 a 2015. É autor do livro Análise e projeto de válvulas injetoras, Editora
EESC. É coordenador da equipe estudantil EESCuderia Mileage para eficiência energé-
tica e orientador no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia na
área de Tecnologia da Saúde (interação de agentes físicos com sistemas biológicos).

Nídia Pavan Kuri possui Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Estadual Pau-
lista Júlio de Mesquita Filho (1969), mestrado em Educação pela Universidade Federal
de São Carlos (1990) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Fe-
deral de São Carlos (2004). Atualmente, é educadora da Universidade de São Paulo e
atua no do Centro de Tecnologia Educacional em Engenharia (CETEPE) desde 1982.
Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Estilos de Aprendizagem, atuando
principalmente nos seguintes temas: ensino de engenharia, planejamento de ensino-
-aprendizagem, métodos e técnicas instrucionais, tipos psicológicos e aprendizagem,
capacitação docente, avaliação do ensino e aprendizagem.

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