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MARIA DA CONCEIÇÃO
INTRODUÇÃO
A legislação nacional para a educação quilombola atual surge de uma intensa luta e
uma forte articulação dos movimentos sociais negros, que pressionaram os diversos sistemas
governamentais, na busca pela garantia de um desenvolvimento sustentável que promova
participação e o engajamento desses cidadãos e suas lideranças como parte atuante em seu
próprio processo educacional, possibilitando a inclusão e acrescentando consciência política,
dando um novo significado a suas lutas e conquistas.
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Mestre em Ensino de Física, Secretaria de Educação do Estado do Ceará-SEDUC, Diretor escolar - Escola
Quilombola Luzia Maria da Conceição, alex.farias@escola.ce.gov.br.
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Apesar dessas dificuldades e talvez pela força que só os sertanejos que convivem com
as mais variadas formas de provações são capazes, uma parte dos moradores resolveu
enfrentar mais essa adversidade e buscaram junto aos poderes públicos seus direitos,
enfrentando dessa forma a força das famílias tradicionais e os coronéis da atualidade, desde
então batalhas vêm sendo travadas. Inicialmente através de ameaças, derrubadas e destruição
de propriedades dos quilombolas ou outros enfrentamentos encarados pelos moradores e
depois por vias jurídicas. Vitórias têm sido conquistadas, porém, ainda assim são
desgastantes, pois requerem recursos e muita disponibilidade para o engajamento nas lutas.
No ano de 2008 veio uma grande conquista, quando a fundação cultural Palmares2
reconheceu a comunidade como remanescente de quilombo. Em 04 de novembro de 2015 foi
publicada pela então presidenta da república Dilma Rousseff o decreto referente ao processo
que consta no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) com a
identificação INCRA/SR-02/nº 54130.000412/2008-59, que reafirmava mais uma vez o
reconhecimento dos moradores remanescentes como os verdadeiros donos da Terra.
A comunidade remanescente tem aproximadamente 2.947 (dois mil novecentos e
quarenta e sete) hectares e atualmente é constituída por 21 famílias e apesar dos problemas
enfrentados têm resistido e continuam a lutar pelo que deles é de direito, embora tenha que
enfrentar uma legislação lenta e burocrática. Mesmo sendo reconhecida pela fundação
palmares em 2008 e tendo seu território demarcado em 2015 através de um decreto
presidencial, ainda está aguardando o processo de titularização definitiva de suas terras.
Embora a região esteja enraizada no semiárido nordestino, tem uma rica diversidade
de fauna e flora. Pode-se destacar, entre a grande variedade de animais encontrados na região,
a onça parda, o veado, o mocó, o mambira (tamandua), o preá, peba (tatu), catitu (porco do
mato) raposa, gato maracajá, seriema, papagaio, nambu, juriti e uma grande variedade de
répteis. Entre as plantas destaca-se a macambira e uma grande diversidade de cactos. São
também encontradas árvores de grande porte como a oiticica, a imburana, os ipês-roxos, a
jurema, o juazeiro, o sabiá e a carnaúba.
Os quilombolas vivem da agricultura, criação de animais e pouquíssimos possuem
empregos formais. É relevante frisar que a maioria das famílias locais são classificadas como
de baixa renda e recebem o bolsa família, algumas têm como principal mantedor os
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No dia 22 de agosto de 1988, o Governo Federal fundou a primeira instituição pública voltada para promoção e
preservação da arte e da cultura afro-brasileira: a Fundação Cultural Palmares, entidade vinculada ao Ministério
da Cultura (MinC).
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aposentados, visto que, a região está localizada no meio da caatinga e os períodos chuvosos
nem sempre são suficientes para garantir a colheita e consequentemente o sustento.
As casas da região em sua maioria são “casas de taipa”, ou seja, feitas com barro e
madeira. Só recentemente estão sendo substituídas por casas de alvenaria, tudo muito simples.
Algumas habitações comportam mais de uma família, pois, os moradores eram proibidos de
construir novas casas e dessa forma a única opção, especialmente quando os filhos iam
constituir novos agrupamentos familiares era permanecer morando com seus pais.
Os remanescentes tem uma forte relação com a natureza e terão que se empenhar
ainda mais pela preservação ambiental, pois na região existe a caça predatória por pessoas que
vêm de outros lugares e vão até o território quilombola para caçar, principalmente veados. É
necessária a intensificação da fiscalização por parte dos órgãos ambientais e uma ação
educativa integrada a preservação dos recursos naturais.
A busca por direitos faz parte do cotidiano e uma das prerrogativas fundamentais é a
educação que tem um grande significado para os moradores dessa comunidade. A sociedade
brasileira ao longo do tempo tratou de silenciar as vozes que clamam por seus direitos, nesse
sentido o ato educativo tem um papel fundamental. Há um consenso que a partir do
conhecimento exista a possibilidade da conquista de uma cidadania verdadeira, reconhece-se
na educação crítica e reflexiva a possibilidade para contribuir na formação de um sujeito
participativo e engajado na busca por maior equidade e justiça social.
Nesse aspecto a construção de uma escola dentro da comunidade tem um significado
positivo e representa uma oportunidade real para a emancipação desses cidadãos, que muitas
vezes permaneceram imperceptíveis perante as ações do estado brasileiro.
O racismo entranhado na sociedade traz um grande prejuízo para toda a nação,
principalmente para os grupos considerados minoritários como é o caso dos remanescentes de
quilombo, assim faz se necessário o seu enfrentamento. O preconceito esconde a tentativa de
tornar invisível a luta do povo negro, tornando a segregação racial dentro das instituições algo
natural, negando a discriminação que acontece diariamente.
Houve nos últimos anos alguns progressos e conquistas dentro dos programas de
governo para essas comunidades, o que está longe de fazer justiça às mazelas pelas quais a
população negra sofreu durante séculos de preconceitos e injustiças. A redemocratização do
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país com a constituição de 1988 assegurou a essas comunidades a preservação de sua cultura e
identidade, o decreto 4887 de 20 de novembro de 2003 regulamentou os processos de
demarcação de terra, em 2004 foi criado o programa Brasil Quilombola. De acordo com
Cardoso e Arruti (2011):
injustiças, dessa forma as medidas apresentadas apenas amenizam esse longo percurso de
abusos e sofrimento que ainda perduram na atualidade. De acordo com Gomes (2008):
O Brasil sempre negou sua história de escravidão e na educação por um longo período
pouco se fez ou ainda pior, o negro e sua cultura sempre foram inferiorizados. Os livros de
história por um longo período tratavam com naturalidade e até justificavam essa realidade, o
país sempre esteve mais empenhado em exaltar suas raízes europeias.
Nesse contexto, as ações implementadas pelo poder público tem conseguido alguns
progressos, mas ainda são encontradas grandes discrepâncias especialmente quando se fala
em educação quilombola, que ao longo da história permaneceu quase invisível em meio aos
sistemas formais de ensino. Mesmo com os avanços ainda são ineficientes as iniciativas
capazes de preencher a grande lacuna causada pelos anos de esquecimento dentro das
políticas de estado para esses povos.
O sonho de ter uma escola para atender as crianças na própria comunidade fez com
que os moradores se mobilizassem e no ano de 2011 construísse um salão de bambu, que
funcionou por alguns anos como a única escola da comunidade e apesar de simples era a
realização dos ideais por tempo vislumbrados.
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Esse salão improvisado marcou o início das lutas pelo acesso a educação. Após alguns
anos atendendo nesse salão, finalmente foi construído um prédio escolar com duas salas de
aula, dois banheiros e uma cantina. A edificação apesar de não ter uma infraestrutura padrão
representou uma grande conquista para a comunidade.
Para que uma instituição escolar tenha todas as suas prerrogativas legais atendidas é
necessário além de sua infraestrutura física, a construção coletiva de seus documentos
reguladores, nesse sentido se destaca o Projeto Político pedagógico (PPP), o Regimento
Escolar e o Currículo a ser implantado. Faz-se necessário ainda a constituição dos órgãos
colegiados. A construção desses documentos constitui-se como pontos fundamentais e neles
deve está claro a posição da escola frente às discussões étnico-raciais, como forma de
combater a discriminação e o preconceito.
Nesse contexto a construção do Projeto educacional de uma escola quilombola deve
manifestar suas intenções e objetivos, envolver as lideranças e comunidade na construção de
sua própria educação para que possa corresponder ao que se propõe, ou seja, ser uma
instituição em sintonia com os anseios educacionais para esta população.
A escola Quilombola Luzia Maria da Conceição está em funcionamento desde 2015,
no entanto parte desses documentos só foram finalizados agora em 2018. Atualmente a escola
está passando pelo processo de credenciamento para que tenha regularizada sua situação junto
ao conselho estadual de educação do Ceará.
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O PPP é um dos documentos mais importantes para qualquer escola. Esse documento
deve ser resultado da ampla participação das pessoas envolvidas e que fazem parte da
comunidade escolar. Nele estão representadas as vozes dos pais, estudantes, professores,
gestores, servidores e comunidade.
Nesse sentido a escola tem um papel muito significativo, podendo contribuir para que
os estudantes possam conhecer, a memória e o protagonismo do movimento negro, assim
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A luta por uma educação que respeite as diferenças sejam elas de qualquer origem,
faz parte do projeto educacional da escola Luzia Maria da Conceição. A instituição tem como
princípios o que está estabelecido na lei 10.639/2003, o parecer do CNE/2004 que aprovou as
diretrizes nacionais para a educação das relações étnico-raciais, o plano nacional das diretrizes
nacionais para a educação étnico-raciais e as diretrizes nacionais para a educação quilombola
publicadas em 2012. De acordo com o PPP da escola, (2018)
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma das maiores riquezas do povo brasileiro é exatamente sua diversidade, o país é
formado pelo pluralismo cultural, assim é necessário que se aprenda a conviver com as
diferenças e se reconheça o papel fundamental da escola enquanto instituição responsável pela
formação de cidadãos livre de preconceitos de qualquer natureza.
É necessário cumprir o que está estabelecido como garantias nos diversos documentos
e diretrizes que versam sobre educação étnico-raciais e que trazem muitos avanços nesse
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sentido, mas é preciso reconhecer que ainda há muito a ser feito para que o respeito às
diferenças, possam ser vivenciadas na prática.
Nesse contexto surge a necessidade de uma articulação entre os diversos atores que
compõem o poder do estado para abertura de um diálogo, tendo em vista a concretização das
muitas reivindicações, por tempos negadas e silenciadas, em especial as políticas que tratam
da educação étnico-raciais para que possam corresponder e atender efetivamente aos
interesses para os quais foram criadas.
O direito à educação há muito tempo ocupa espaços importantes nas reivindicações
dos movimentos negros que lutavam e lutam pela emancipação de seu povo. Espera-se que
esta possa contribuir para a transformação e conquista da real cidadania, auxiliando a superar
o racismo que por muito tempo tem ocasionado injustiças e desigualdades.
A luta por uma educação diferenciada está a cada dia mais presente. Se por um lado a
inclusão dos temas referentes a educação étnico-raciais dentro das escolas representa um
grande avanço, por si só não basta. É necessário que se viabilize um projeto educacional que
atenda as reivindicações desses cidadãos, promovendo a inclusão e a equidade garantindo
assim o cumprimento do que está em lei.
Dessa forma o trabalho buscou uma discussão a respeito das perspectivas e desafios
encontrados na viabilização e execução das políticas educacionais tendo em vista o
fortalecimento da identidade étnico-racial, utilizando como referência as ações educacionais
ocorridas na escola Quilombola Luzia Maria da Conceição.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VERGULINO, Ana Rosa Silva; SILVA, Cleiton Sobral; SILVA, Débora Regina Machado.
Relações Étnico-Raciais no Espaço Escolar. Revista Interação, 2013. v.2. Disponível em:
http://vemprafam.com.br/wp-content/uploads/2016/11/7_Relacoes-Etnicos-Raciais-no-
Espaco-Escolar.pdf> Acesso em: 27 set. 2018.