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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS - FMU

FELIPE ANDREOLI FERRARIAS

Psilocybe cubensis

Uma revisão bibliográfica

SÃO PAULO
2018
FELIPE ANDREOLI FERRARIAS

Psilocybe cubensis
Uma revisão bibliográfica

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de
graduação em Farmácia da FMU,
sob a orientação da Professora
Mestre Fernanda Aparecida
Gonçalves Branco.

SÃO PAULO
2018
FELIPE ANDREOLI FERRARIAS

Psilocybe cubensis
Uma revisão bibliográfica

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de
graduação em Farmácia da FMU,
sob a orientação da Professora
Mestre Fernanda Aparecida
Gonçalves Branco e aprovado
pelos membros da Banca
Examinadora abaixo:

___________________________________________
Prof. Mestre Fernanda Aparecida Gonçalves Branco
FMU – Orientador

___________________________________________
Prof. – Banca Examinadora
FMU

___________________________________________
Prof. – Banca Examinadora
FMU

SÃO PAULO
2018
Dedico este trabalho aos meus pais e a
minha noiva pelo apoio, pelo amor e pelo
suporte que me deram durante toda
trajetória da minha graduação.
RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso disserta sobre aspectos históricos e populares, como uso
religioso e recreativo, bioquímica, com foco no seu mecanismo de ação, atividades biológicas
e pesquisas atuais dos fungos do gênero Psilocybe spp., visando demonstrar que, apesar de ser
uma substância restrita e proibida pela ANVISA, possui estudos internacionais que vem
apresentando resultados satisfatórios para algumas enfermidades neurológicas e, com isso,
abrir espaço para este fungo ser estudado nacionalmente. Para realização deste trabalho foi
feita uma revisão literária de artigos e textos acadêmicos internacionais visto que no Brasil
não foram localizados trabalhos práticos para o fungo acima mencionado.

Palavras-Chave: Psilocibina. Psilocina. Fungos alucinógenos. Psilocybe cubensis.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 6
1.1. OBJETIVO .......................................................................................................................... 6
1.2. METODOLOGIA ................................................................................................................ 6
2. CLASSIFICAÇÃO GERAL ................................................................................................ 7
2.1. FILO BASIDIOMYCOTA .................................................................................................. 7
3. MICOTOXINAS................................................................................................................... 7
4. Psilocybe cubensis ................................................................................................................. 9
4.1. DESCRIÇÃO ...................................................................................................................... 9
4.2. HABITAT............................................................................................................................ 9
4.3. MORFOLOGIA .................................................................................................................. 9
4.4. ALCALÓIDES PRESENTES ........................................................................................... 11
4.5. NECESSIDADE DE CRESCIMENTO IN VITRO ........................................................... 12
4.5.1. CULTIVO E FRUTIFICAÇÃO ..................................................................................... 13
4.6. EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................................ 14
5. HISTÓRICO DE USO E FINALIDADE ......................................................................... 15
6. APLICAÇÃO E PESQUISA ............................................................................................. 16
7. TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO ........................................................................................... 17
7.1. EXTRAÇÃO PSILOCIBINA E PSILOCINA .................................................................. 17
7.2. EXTRAÇÃO EXCLUSIVA PSILOCINA ........................................................................ 18
8. ABSORÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, METABOLISMO E EXCREÇÃO ........................... 18
9. INTERAÇÃO FÁRMACO-RECEPTOR ........................................................................ 20
9.1. EFEITOS EM ATIVIDADES NEURAIS ESPECÍFICAS ............................................... 21
10. TOXICIDADE .................................................................................................................. 21
11. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS .......................................................................... 22
12. PSILOCIBINA E A LEI .................................................................................................. 23
12.1.BRASIL ............................................................................................................................ 23
12.2. INTERNACIONAL ........................................................................................................ 23
13. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO ....................................................................................... 24
14. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 26
1. INTRODUÇÃO

Cogumelos alucinógenos são utilizados desde 500 a.C. para os mais diversos fins,
sendo que no início seu uso era restrito a cerimônias religiosas. Com o passar do tempo tomou
outro rumo, seguindo para uso recreativo e terapêutico, com efeitos comprovadamente
benéficos se usados de forma controlada (DINIZ, 1999).
O gênero Psilocybe spp. é um dos mais difundidos no mundo devido sua fácil
adaptação em diversos ambientes. O Psilocybe cubensis, uma das espécies capazes de
produzir efeitos alucinógenos, é a mais conhecida dentre os fungos do gênero Psilocybe,
(DINIZ, 1999) motivo pelo qual foi escolhida para este trabalho.
No Brasil, devido barreiras legais e consequente dificuldade para se conseguir uma
autorização, não existem estudos em andamento para o cogumelo supracitado, ficando
restritos aos países considerados de primeiro mundo, principalmente Estados Unidos. Por este
motivo quase todas as fontes consultadas para elaboração deste trabalho são de origem
internacional.

1.1. OBJETIVO
A elaboração deste trabalho tem por finalidade incentivar a pesquisa em território
nacional, visto que existem resultados promissores acerca das substâncias presentes no
cogumelo em questão, e também demonstrar que o Brasil deve quebrar paradigmas e facilitar
estudos de substâncias que hoje são vistas apenas como prejudiciais para a saúde ou
sociedade.

1.2. METODOLOGIA
As referências usadas para este trabalho foram, em sua maioria, internacionais e
localizadas no banco de dados da PUBMED, visto a dificuldade achar pesquisas, mesmo que
traduzidas, do fungo revisado em língua portuguesa.
7

2. CLASSIFICAÇÃO GERAL

Em 1969, Whittaker agrupou os fungos em um único reino, o Fungi, de acordo com


suas características. Com o passar do tempo a classificação foi sendo diferenciada e
incrementada de acordo com o avanço da ciência, tendo alguns marcos como a classificação
de Alexopoulos (ALEXOPOULOS; MIMS; BLACKWELLS, 1996) que agrupa no Reino
Fungi os filos Chytridiomycota, Zygomycota, Ascomycota e Basidiomycota. Cerca de 80.000
a 120.000 espécies estão descritas atualmente, porém são estimados números de até 1.500.000
(HAWKSWORTH, 2001; GIMENES, 2010).
Fungos são aclorofilados (não realizam fotossíntese), eucariontes, reprodução
sexuada/assexuada/parassexuada, uni ou pluricelulares, heterotróficos (normalmente
saprófitos), alimentam-se por absorção, parede celular composta por quitina e glucanos,
podem ser, além de saprófitos, parasitas e simbióticos, podem ser filamentosas ou leveduras
(WEBSTER; WEBER, 2007; GIMENES, 2010).

2.1. FILO BASIDIOMYCOTA


O filo basidiomycota abrange mais de 30000 espécies diferentes, incluindo trufas,
puffballs, cogumelos alucinógenos e patógenos. A maioria dos basidiomicetos são terrestres e
dispersam seus esporos no ar, porém também existem espécies aquáticas. São em sua maioria
saprófitas, ou seja, alimentam-se de material orgânico, podendo ser simbióticos, parasitas ou
comensais (WEBSTER; WEBER, 2007).
Como são fungos saprófitas, tem um papel importantíssimo na reciclagem do
material orgânico, tendo como único ponto negativo que podem prejudicar estruturas de
madeira por exemplo (WEBSTER; WEBER, 2007).
Segundo os autores nem todos basidiomicetos crescem em forma micelial, podendo
ser leveduras ou dimórficos, este último que mudam sua forma de crescimente entre micélio e
levedura. Esse dimorfismo pode ser térmico ou a partir de mudanças nas características do
hospedeiro. Uma das espécies perigosas para os seres humanos é a Paracoccidiodes
brasiliensis, causadora da paracoccidioidomicose, uma doença que produz lesões ulcerativas
na boca e nariz, além de danos em linfonodos e no pulmão (WEBSTER; WEBER, 2007).

3. MICOTOXINAS

Micotoxinas são pequenas partículas orgânicas produzidas como metabólito


secundário por diversas espécies de fungos. Pertencem a um grupo termicamente estável e
8

notavelmente tóxico. Contaminam seres vivos, como parasitas, ou ambientes, como


decompositores, resistindo inclusive aos processos pós-colheita quando relacionado à
alimentos (TURNER et al., 2015).
Possuem massa atômica variando entre 300-700 daltons e existe uma clara diferença
entre metabólitos tóxicos e metabólitos de reações bioquímicas. As classes mais comuns de
micotoxinas são aflatoxinas, ocratoxinas, fumonisina (TURNER et al, 2015).
Algumas micotoxinas são bastante tóxicas, podendo levar à morte, porém se
manipuladas e utilizadas de forma correta, possuem ação terapêutica, citando como exemplo a
toxina do fungo Claviceps purpúrea, chamada de ergotamina (WEBSTER; WEBER, 2007).
Os cogumelos do gênero Galerina (fig. 1) são altamente tóxicos, causando morte em
caso de ingestão se não for tratado e, muitas vezes, são confundidos com os do gênero
Psilocybe (fig. 2) devido sua grande semelhança (STAMETS, 1996) Possuem a mesma toxina
de alguns cogumelos do gênero Amanita, as amatoxinas e falotoxinas (CERVELLIN et al.,
2017).

Figura 1. Cogumelos do gênero Galerina, demonstrando


sua semelhança com os do gênero Psilocybe
Fonte: North American Mycological Association

Figura 2. Cogumelos do gênero Psilocybe


Fonte: FreeSpores.com
9

4. Psilocybe cubensis
O fungo escolhido para realização da revisão bibliográfica foi o Psilocybe cubensis.
Tal motivo deve-se pelo fato do gênero Psilocybe ser um gênero de fungos cosmopolita, em
especial o Psilocybe cubensis, que é a espécie mais difundida no planeta especialmente pela
sua facilidade de cultivo (DINIZ, 1999).

4.1. DESCRIÇÃO
Segundo Diniz (1999), o cogumelo em questão é classificado no Reino Fungi,
Classe Basidiomycetes, Subclasse Holobasidiomycetidae, Ordem Hymenomycetales, Família
Agaricaceae, Gênero Psilocybe, Espécie P. cubensis. Ainda segundo Diniz, alguns trabalhos
classificam este cogumelo como sendo da Família Strophoreaceae, devido ao fato de a
reclassificação no gênero Psilocybe ter sido feita na década de 1970 pelo micologista Rolf
Singer.

4.2. HABITAT
O Psilocybe cubensis necessita de temperaturas medianas e alta umidade para ter
sucesso em seu crescimento, por este motivo são facilmente encontrados em pastos (mais
especificamente no esterco) em dias quentes precedidos por chuva (OSS; OERIC, 1976).
Segundo Diniz (1999), estes cogumelos são encontrados mundialmente, bastando
apenas um clima quente e chuvoso e não se limitando ao esterco, podendo ser encontrado até
em vasos de plantas.

Figura 3. Cogumelo Psilocybe cubensis em seu habitat natural


Fonte: Smithsonian Tropical Research Institute

4.3. MORFOLOGIA
O corpo frutífero possui cor de palha (fig. 4) que se torna azul por pressão ou dano
em qualquer parte do corpo. Capelo variando entre 1,5-8cm de largura, forma cônica que se
10

torna convexa com a idade, de cor esbranquiçada à amarelo pálido, superfície lisa e macia.
Estípite entre 4-15cm de altura por 0,5-1,5cm de largura, anel membranáceo persistente
próximo ao capelo. Lamelas ligadas diretamente à estípite quando jovem e anexas com a
idade, de cor escura (fig. 5) (MUSSHOFF et al., 2000).
O impresso de esporos (fig. 6) possui cor entre púrpura e marrom, de formato
arredondado ou oval. A reação pela qual o cogumelo azula-se quando é ferido ou pressionado
é basicamente uma oxidação enzimática de algum substrato indólico, porém não é exclusivo
desse gênero, visto que outras espécies como Russula ou Boletus também apresentam
alteração de coloração, porém nesses casos não está relacionado aos componentes indólicos
(OSS; OERIC, 1976).

Figura 4. Progressão do corpo frutífero do Cogumelo Psilocybe cubensis


Fonte: Diniz (1999)

Figura 5. Morfologia do Cogumelo Psilocybe cubensis


Fonte: Diniz (1999)
11

Figura 6. Carimbo de Esporo do Cogumelo Psilocybe cubensis


Fonte: Shroomology.org

4.4. ALCALÓIDES PRESENTES


Os alcaloides presentes no Psilocybe cubensis responsáveis pelos seus efeitos no
sistema nervoso central são a Psilocibina (4-fosforiloxi-N, N-dimetiltriptamina) (fig. 7) e
Psilocina (4-hidróxi-N, N-dimetiltriptamina) (fig. 8), sendo que as quantidades encontradas
por cogumelo variam de 0-1,07% e 0.01-0.23% respectivamente (MUSSHOFF et al., 2000).
A psilocibina é um alcaloide derivado da triptamina, isolado de vários gêneros do
reino Fungi, incluindo o Psilocybe e possui propriedades ansiolíticas, alucinógenas e
psicoativas. Quando administrada em organismos vivos, a psilocibina é rapidamente
degradada em psilocina que se liga e ativa receptores de serotonina (5-HT2A) no sistema
nervoso central, imitando os efeitos da serotonina. Possui fórmula molecular C12H17N2O4P,
peso molecular de 284.252 g/mol, sendo que a forma da substância pura é descrita como
cristais à partir de água fervida, apresenta leve sabor de amônia, seu ponto de fusão é
aproximadamente de 220-228 ºC, sua solubilidade é de 120 partes em metanol fervente,
dificilmente solúvel em etanol, praticamente insolúvel em clorofórmio e benzeno e solúvel em
20 partes de água fervente e pH 5.2 em solução 50% água-etanol (National Center For
Biotechnology Information, 2018).

Figura 7. Molécula Psilocibina


Fonte: Sociedade Brasileira de Química
12

A psilocina é um composto aromático encontrado em cogumelos conhecidos como


psicodélicos juntamente com a psilocibina, a diferença é que a psilocina não possui a
ramificação fosforilada porém possui os mesmos efeitos da psilocibina. Sua fórmula
molecular é C12H16N2O, peso molecular de 204.273 g/mol, sendo descrito como um sólido e
apresenta ponto de fusão de 174.5 ºC (National Center For Biotechnology Information, 2018).
A solubilidade em água é estimada em 4,08mg/mL, visto que não há experimentos para
comprovação de tal (The Metabolomics Innovation Center, 2018).

Figura 8. Molécula Psilocina


Fonte: Sociedade Brasileira de Química

4.5. NECESSIDADES DE CRESCIMENTO IN VITRO


Psilocybe cubensis podem ser inoculados em 3 tipos de ágar, ABD (ágar batata-
dextrose), AEM (ágar de extrato de malte) e MFP (ágar malte-fermento-peptona), os quais
promovem um crescimento fácil e seguro (OSS; OERIC, 1976; GOTTLIEB, 1976,
BADHAM, 1980).
O ágar batata-dextrose deve ser feito na proporção de 250g de batatas, 15g de ágar,
10g de dextrose e 1,5g extrato de fermento. O ágar de extrato de malte deve ser feito na
proporção de 20g de extrato de malte, 25g de ágar, 0,1g de potássio dibásico, 0,1g de
carbonato de cálcio para 1 litro de água fervente. O ágar de malte-fermento-peptona deve ser
feito na proporção de 7g de extrato de malte, 1g de peptona, 0,5g de extrato de fermento e 15g
de ágar para 1 litro de água fervente. (OSS; OERIC, 1976; GOTTLIEB, 1976, BADHAM,
1980).
Segundo Catalfomo e Tyler (1964), para culturas submersas em que foi analisado a
produção de psilocibina no micélio, a maior produção de psilocibina ocorreu no sétimo dia
com o pH entre 4-4.6 usando ágar batata-dextrose sem nenhum aditivo. A adição de triptofano
não oferece nenhuma vantagem na produção de psilocibina pelo micélio, apesar de ser um
13

precursor. Culturas que tiveram adição de glucose a 1%, no sétimo dia, com pH 3.9, a
porcentagem de psilocibina ficou em 1,06%.

4.5.1. CULTIVO E FRUTIFICAÇÃO


OSS e OERIC (1976) citam um método caseiro para cultivar e frutificar o fungo após
o crescimento in vitro, conforme segue resumido:
-Preparar um substrato com 160ml (150g peso seco aproximado) de centeio ou
qualquer outro tipo de cereal (arroz integral, trigo, aveia, cevada, sorgo e painço) com 130ml
de água de torneira ou destilada e meia colher de carbonato de cálcio (CaCO3), adicionar essa
mistura em um pote, ocupando metade da sua capacidade total, e quando tampá-lo deixar um
espaço para saída de ar, colocar os potes em panela de pressão com no mínimo 1-1,5 litros de
água por 1 hora para esterilizar, esperar resfriar por completo antes de abrir a panela, após
abrir a panela descartar qualquer pote com rachadura, caso possua um ambiente estéril
melhor, caso contrário colocar os potes em uma superfície previamente limpa sem abri-los,
com auxílio de um bisturi esterilizado (pode ser usado fogo na lâmina) retire um pedaço de 1
– 1,5cm do ágar previamente colonizado em placas de Petri, abra a tampa do pote esterilizado
o mínimo possível para colocar o ágar e feche-a imediatamente, agite vigorosamente, repita
este passo até a quantidade de potes desejada.
-Incubar entre 21-26ºC (dando preferência para o limite superior) por volta de 14 dias,
ou até completa colonização do substrato, que se mostrará como uma neve branca, valendo
dizer que se deve agitar o fraco por volta do oitavo dia para espalhar o micélio e diminuir o
tempo de colonização
-Após colonização completa procede-se para o “casing”; preparar, esterilizar e
umedecer, na proporção de 7,5:3,5:4:2 de turfa, vermiculita, areia fina lavada e CaCO3,
respectivamente, completar os potes até quase o bocal e pode-se escolher entre deixar aberto
ou cobrir com um papel-filme não esquecendo de ventilar durante o dia para ocorrer a
dissipação de CO2 e entrada de O2. Borrifar uma boa quantidade de água 2-3 vezes por dia a
fim de não deixar o micélio secar. Manter próximo de 21ºC
-Após 14-20 dias deverá aparecer os primeiros pontos brancos que se diferem do
micélio, que são os cogumelos em seu estágio inicial. Recomenda-se o uso de luz para dar
sentido ao crescimento dos cogumelos, evitando que cresça dentro e fiquem prensados na
parede do pote.
14

4.6. EPIDEMIOLOGIA
Fungos, em sua maioria, são saprófitas, obtém alimento de matéria orgânica em
decomposição. A espécie Psilocybe cubensis pode ser encontrada em qualquer local que tenha
matéria orgânica em decomposição, podendo ser encontrado próximo de parques, casas,
escolas, campos de golfe, entre outros, e vem sendo notável sua adaptação e desenvolvimento
à vários ambientes distintos, sendo documentadas por volta de 80 espécies diferentes do
gênero Psilocybe ao redor do mundo até 1995 (GUZMÁN, 1983, STAMETS, 1996;
WEBSTER; WEBER, 2007).
Seus esporos são levados por correntes de ar que cruzam continentes, motivo pelo
qual o fungo é encontrado em qualquer canto do mundo, valendo citar também os modernos
meios de transporte que também possibilitam essa propagação. Os habitats mais comuns que
podem ser encontrados são pastagens, depósitos de estrume, zonas ripícolas, jardins, bosques,
terreno pantanoso e terras queimadas (GUZMÁN, 1983; STAMETS, 1996).
Em consulta a um mapa online elaborado por caçadores de cogumelos alucinógenos
(fig. 9), percebe-se que no Brasil eles ficam concentrados no sul e sudeste, porém não se pode
afirmar que em outros estados o cogumelo não cresce, visto que é um cogumelo altamente
adaptativo.

Figura 9. Mapa de Ocorrência de Cogumelos Psicoativos no Brasil


Fonte: Formulário do Google associado com Google Maps.
15

5. HISTÓRICO DE USO E FINALIDADE


Os fungos possuem diversos usos importantes para os seres humanos, estando presentes
diariamente em nossas vidas como em remédios ou alimentos. Infelizmente, quando se fala
em fungos as pessoas costumam a fazer uma associação negativa aos danos que alguns deles
causam (como alergias e micoses em pessoas ou animais) e os benefícios infelizmente são
esquecidos. Todos os dias as pessoas usufruem de produtos originados pelos fungos, como
exemplo, a ação fermentativa de fungos para a fabricação de massas, queijos e bebidas
alcóolicas (cerveja e vinho). A produção de cogumelos comestíveis, industrial ou caseira,
comum entre populações de outros países, é uma prática que aos poucos está tomando lugar
no Brasil, visto que já existem kits para essa produção em pequena escala (GIMENES, 2010).
A maior e mais importante descoberta relacionada a fungos é a penicilina, que pode ser
considerada o medicamento que revolucionou o mundo na questão de tratamento de infecções
bacterianas. Hoje fala-se biotecnologia quando se usa microrganismos para algum fim
específico, e em relação aos fungos muitas espécies estão sendo estudadas para aplicação na
degradação e tratamento de resíduos (GIMENES, 2010).
Fungos possuem um histórico de uso recreacional/cerimonial um tanto abrangente, sendo
citados, inicialmente, em países americanos com os povos incas e astecas. Existem indicações
de que o uso cerimonial começou a crescer no período anterior ao aparecimentos dos
europeus no continente americano. Em países como El Salvador, Guatemala e México foram
encontradas esculturas de pedra com formato de cogumelo (fig. 10) sendo que na sua estipe
estavam presente imagens esculpidas de anjos e demônios. Alguns exemplos mais antigos são
datados de 500 a.C. segundo alguns arqueólogos. Os astecas chamavam tais cogumelos de
“teonanactl”, que significa “carne dos deuses” (HOFFMAN, 1980).
Os povos que usavam com finalidade cerimonial acreditavam que o cogumelo fazia eles
se conectarem com anjos ou demônios, permitir projeções astrais, ter visões do futuro, entre
outros (HOFFMAN, 1980).
A primeira evidência escrita de povos que usaram cogumelos alucinógenos, com
finalidade recreacional ou religiosa, foi achada em cronistas espanhóis e naturalistas do século
16, sendo que o mais importante dos relatos é do frade franciscano Bernardino Sahagun que
descreveu os cogumelos mágicos e seus efeitos em várias passagens do seu livro “Historia
General de las Cosas de Nova Espanha”, escrito entre 1529 e 1590 (HOFFMAN, 1980).
16

Figura 10. Cogumelo de Pedra


Fonte: Diniz (1999)

6. APLICAÇÃO E PESQUISA
Matharu (2005) é o primeiro a mencionar cientificamente, em forma de relato de caso, o
uso da psilocibina para tratamento de enxaquecas, ele descreve que um paciente sofria de
crises intermitentes de enxaqueca e havia passado por diversos tipos de tratamento, incluindo
polifarmácia, sem sucesso. O único tratamento com sucesso foi com verapramil 720mg, mas
causou problemas gengivais graves e com isso reduziram para 480mg diários. O paciente
relatou que usou 1g de algum fungo que continha psilocibina e, que após esse uso, a dor
reduziu drasticamente sua frequência por 1 mês, a partir desse momento ele relata que
continua a usar 1g a cada 1 ou 2 meses concomitantemente com 480mg diários de verapramil.
Um estudo de novembro de 2016 avaliou os efeitos da psilocibina no tratamento de
depressão e ansiedade em 51 pessoas que faziam tratamento vitalício para câncer. Os
resultados foram bem satisfatórios. Seis meses após a última sessão, cerca de 80% dos
participantes continuaram apresentando redução significativa da ansiedade e depressão, 83%
relataram melhoras no bem-estar geral (GRIFFITHS et al., 2016).
17

Roland Griffiths, professor e psicofarmacologista da Universidade de Johns Hopkins


com mais de 15 anos conduzindo experiências com psilocibina, afirma que uma simples dose
de psilocibina é mais eficaz do que o tratamento usual para algumas condições psiquiátricas,
que pode levar meses (MACMAINS, 2017).
Outro estudo, publicado em 30 de agosto de 2016, avaliou as chamadas “bad trips”
(situação em que as alucinações causadas por drogas levam o indivíduo a sentir sensações
ruins, podendo trazer riscos à integridade física dele ou de terceiros) em aproximadamente
2.000 pessoas, não se limitando apenas à psilocibina. O professor Griffiths afirma que é
impossível para alguém avaliar os riscos do uso da psilocibina baseados nos relatos dos
efeitos positivos e negativos existentes (CARBONARO et al., 2016).
Ainda nesse estudo, o resultado que mais chama atenção é que 10.7% dos entrevistados
relataram que se colocaram em risco de lesão física arriscando até mesmo outras pessoas,
porém, com o uso controlado e supervisionado estes riscos podem ser perfeitamente
eliminados (CARBONARO et al., 2016).
Johnson e Griffiths (2017) demonstram a eficácia da psilocibina para o tratamento de
diversos sintomas/enfermidades, com dados obtidos através do uso terapêutico e controlado
em humanos. A psilocibina mostrou-se como uma ótima substância para tratamento de
depressão e ansiedade a longo prazo, a partir de 3 meses de uso com dose oral de 0.2mg/kg
com intervalo de várias semanas entre a dose, sem apresentar qualquer evento adverso
significativo.
Além do tratamento acima citado, no mesmo estudo de Johnson e Griffiths (2017) são
mostradas diversas outras aplicações, entre elas o uso da psilocibina para tratamento de vícios
(álcool/tabaco), transtorno obsessivo compulsivo e enxaquecas, valendo-se dizer novamente
que tais resultados foram obtidos através de uso com doses terapêuticas seguidas de sessões
de terapia convencional.

7. TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO
A extração pode ser direcionada para psilocibina seguida da psilocina, ou psilocina
somente.

7.1. EXTRAÇÃO PSILOCIBINA E PSILOCINA


O método de extração por Gottlieb (1976) é o processo abaixo:
Triturar, pulverizar e misturar 10ml de metanol a cada 100mg de cogumelo triturado,
colocar o frasco em banho maria por quatro horas, filtrar o líquido por sucção através de um
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filtro de papel em um funil de buchner com Celite (terra diatomácea) para prevenir
entupimento, coletar e guardar o filtrado, aquecer a pasta que ficou retida no filtro de papel
com metanol em banho maria por quatro horas por mais duas vezes, filtrar e juntar os líquidos
das três extrações. Em um béquer com o líquido extraído proceder para um banho maria ou
usar um secador de cabelo para evaporar todo metanol. O resíduo apresentará por volta de
25%-50% de psilocibina/psilocina. O resíduo pode ser purificado porém necessitará de
solventes e equipamento de cromatografia. Cada 100g de cogumelos secos rendem por volta
de 2g de material extraído, contendo no mínimo 500mg de psilocibina/psilocina.
Outro método de extração descrito por Zhuk (2015) é o seguinte processo:
Secar os cogumelos em 40ºC por 24 horas, pulverizar moer em um almofariz, transferir
para um frasco de Erlenmeyer, adicionar 50 mL de metanol (para 500mg de amostra), levar
para um banho ultrassônico por 3 horas, filtrar e evaporar até secagem completa.
Para comprovar que os alcaloides foram extraídos siga os seguintes passos:
Pegue uma porção da pasta usada e teste com o reagente de Keller (ácido acético
glacial, cloreto ferroso e ácido sulfúrico concentrado), caso a cor apresente-se violeta, os
alcaloides ainda estão na pasta e necessitam de outra extração com metanol (GOTTLIEB,
1976; MUSSHOFF et al., 2000; ZHUK et al., 2015).

7.2. EXTRAÇÃO EXCLUSIVA PSILOCINA


Casale (1985) descreve o processo para extração isolada da psilocina, baseado na
desfosforilação através do aquecimento do ácido acético, conforme segue:
Triturar 2-10g de cogumelos secos até obter um fino pó, misturar o pó com 100ml de
ácido acético diluído em um béquer de 250ml, ajustar o pH para 4 usando ácido acético
glacial, repousar 1 hora, colocar o béquer em banho maria de 8 a 10 minutos ou até a
temperatura da mistura alcançar 70ºC, resfriar o béquer à temperatura ambiente com água
corrente, a mistura ácida é separada do pó dos cogumelos usando lã de vidro; O filtrado é
elevado para pH 8 usando hidróxido concentrado de amônio e rapidamente extraído com duas
porções de 50ml de dietil éter; Misturar calmamente para prevenir uma emulsão; O éter é seco
através do sulfato de sódio; Filtrar e evaporar com nitrogênio sem aquecimento para obter um
resíduo de cor esverdeada.

8. ABSORÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, METABOLISMO E EXCREÇÃO


A psilocibina é absorvida através da ingestão dos cogumelos da espécie Psilocybe
cubensis¸ podendo também ser fumegados (menos comum). Devido a psilocibina apresentar
19

um grupo fosfato altamente polar, é mais solúvel em água do que a psilocina, entretanto as
duas são moderadamente solúveis em etanol e metanol. (BALLESTEROS et al., 2006),
entretanto a psilocina é melhor absorvida no trato gastrointestinal (cólon e jejuno). Estudos in
vivo em ratos demonstraram que a psilocibina é rapidamente desfosforilada no intestino e
converte-se em psilocina, significando que a psilocibina é absorvida quase que totalmente na
sua forma desfosforilada, psilocina (EIVINDVIK et al., 1989).
Em humanos, a psilocibina foi detectada no plasma em quantidades significativas entre
20-40 minutos após a ingestão com o estômago vazio, enquanto a psilocina foi detectada no
plasma a partir de 30 minutos. Um estudo bioquímico precoce demonstrou que a psilocina
pode ser a principal, senão exclusiva, responsável pelos efeitos. Outro estudo, em tecidos de
roedores, apresentou resultados que indicam que a psilocibina é convertida totalmente em
psilocina antes de entrar na circulação sistêmica. Diante dos resultados assumiu-se que grande
parte da conversão da psilocibina em psilocina advém do efeito de primeira passagem no
fígado (PASSIE et al., 2002).
Após a conversão e distribuição da psilocina para a corrente sanguínea, ela é
metabolizada pela desmetilação e deaminção oxidativa catalisadas pela enzima MAO
(monoamina oxidase) ou aldeído desidrogenase presentes no fígado, através deu metabólito
intermediário, 4-hidroxindole-3-acetaldeído, para se obter o ácido 4-hidroxi-indol-3-acético,
4-hidroxi-indole-3-acetaldeído e 4-hidroxitriptoftol. (KALBERER et al., 1962;
LINDENBLATT et al., 1998)
Alguns usuários costumam usar outras substâncias para potencializar o efeito
alucinógeno, consumindo juntamente com o cogumelo, inibidores de MAO, etanol e tabaco.
O etanol possui como metabólito primário um acetaldeído que, in vivo, reage com aminas
produzindo dois inibidores de MAO, tetraidroisoquinolinas e β-carbolinas. Já o uso do tabaco
está associado a níveis diminuídos de MAO no cérebro e tecidos periféricos. (HALPERN,
2004; FOWLER et al., 1996)
A eliminação de psilocibina inalterada (3-10%) ocorre através dos rins (PASSIE et al.,
2002) e possui meia-vida plasmática de aproximadamente 160 minutos, enquanto a psilocina
é de 50 minutos aproximadamente (HASLER et al., 1997; MARTIN et al., 2013). Um estudo
controlado em humanos mostrou que em 24 horas, 2,5-4,3% da dose administrada de
psilocibina é excretada na urina na forma livre de psilocina. (HASLER et al., 2002). Outros
estudos farmacocinéticos e forenses revelaram que apenas uma pequena parte é excretada
como psilocina livre (aproximadamente 20%), sendo a outra parte excretada como psilocina-
glicuronídeo (aproximadamente 80%), sendo esse último um produto da glicuronidação,
20

importante passo para detoxificação da psilocina e possibilitar sua excreção na urina


(STICHT; KAFERSTEIN, 2000) (fig. 11).

Figura 11. Conversão e metabolização da psilocibina


Fonte: Natural Products - Scientific Figure on ResearchGate.

9. INTERAÇÃO FÁRMACO-RECEPTOR
A psilocibina é uma indolalquilamina alucinógena derivada da dimetiltriptamina, a
mediação causada nos receptores por drogas alucinógenas ainda não é suficientemente
conclusiva, porém há fortes indícios de serem no receptor 5-HT2A, visto que é uma
característica de todas as drogas derivadas da dimetiltriptamina (WINSTOCK, KAAR,
BORSCHMANN, 2013; ZHUK et al. 2015) pois drogas de outras classes farmacológicas não
produzem alucinações e drogas antagonistas à esse receptor bloqueiam os efeitos
alucinógenos. Este receptor é o principal responsável pelos efeitos alucinógenos e alteração de
21

comportamento em animais. A psilocina liga-se, com afinidade moderada para alta, nos
receptores 5-HT de maneira não seletiva e também nos receptores com traços de amina e σ1
(HALBERSTADT, 2015; GLENNON, TITELER, MCKENNEY, 1984).
Em relação à tolerância, drogas alucinógenas produzem de maneira rápida tal efeito,
citando inclusive a tolerância cruzada, indicando que tais drogas compartilham algumas
características relativas ao mecanismo de ação. (HALBERSTADT, 2015)
Passie et al. (2002) mostra que a psilocibina e seu metabólito ativo, psilocina, em
contraste com indolaminas, não tem afinidade nenhuma com receptores dopaminérgicos D2,
porém usar antagonistas de D2 antes da psilocibina reduz os efeitos alucinógenos, o que leva
a crer tais efeitos podem ser uma resposta secundária para o aumento de transmissões
dopaminérgicas.

9.1 EFEITOS EM ATIVIDADES NEURAIS ESPECÍFICAS


Halberstadt (2015) também cita algumas atividades neurais específicas quando do uso
de algum alucinógeno que interage com receptores 5-HT, valendo citar o cerúleo, que após a
administração do alucinógeno ocorreu um aumento significativo na resposta que mesmo
estímulos sensoriais inócuos emitiram uma resposta; o cortéx pré-frontal, no qual os
receptores de 5-HT são fortemente expressos.

10. TOXICIDADE
Passie et al. (2002) demonstra em sua revisão que não foram identificados efeitos
significativos de possível intoxicação, apenas efeitos somáticos esperados como alteração da
frequência cardíaca, da pressão arterial, reflexos, entre outros; valendo citar que em ratos
também não foi detectada nenhuma possível alteração mutagênica, porém reforça a
necessidade de testes mais conclusivos.
Um efeito tóxico ainda pouco conhecido é uma síndrome chamada de Transtorno de
Percepção Persistente Alucinógena (HPPD, em inglês). Trata-se de uma síndrome
caracterizada basicamente pela recorrência dos efeitos alucinógenos mesmo após meses sem
consumir tal substância, podendo ser leves ou bem graves a ponto de incapacitar a pessoa por
um período indefinido. Pode ocorrer com uso de diversas drogas, inclusive psilocibina, porém
sendo mais comum com uso da dietilamida do ácido lisérgico. Existem casos documentados
de pacientes que desenvolveram “HPPD” após interação de 1 ou mais drogas, citando como
exemplo o consumo de cannabis com psilocibina (ORSOLINI et al., 2017).
22

Existe uma diferença entre “flashbacks” e a síndrome “HPPD”, sendo que a primeira
trata-se de sintomas mais brandos, com baixa persistência e efeitos, por vezes, agradáveis. Já
na “HPPD” trata de sintomas com persistência altíssimas e por vezes incapacitantes em algum
grau. (HERMLE; RUCHSOW; TÄSCHNER, 2015)
A DL50 estimada em ratos e camundongos fica entre 280 – 325mg/kg, sendo os valores
mais altos derivados de extratos metanólicos, significando que uma pessoa de 60kg deveria
ingerir 1,7kg de cogumelos frescos para alcançar essa dose; outros efeitos tóxicos agudos
relatados incluem: problemas cardiovasculares, dores de cabeça, confusão, fraqueza, euforia,
náuseas, falência renal, midríase, e acidentes fatais decorrentes de desestabilização emocional
ou alucinações (ZHUK et al. 2015; DINIS-OLIVEIRA, 2017).
Em um estudo com ratos usando-se psilocina sintética e extraída demonstrou que há um
grande sinergismo entre as substâncias presentes no cogumelo (baeocistina, norbaeocistina,
aeruginascina) e que essa interação pode potencializar os efeitos alucinógenos e diminuir os
efeitos tóxicos, visto que a dose da psilocina extraída usada foi dez vezes menor do que a
psilocina sintetizada para causar os efeitos esperados (ZHUK et al., 2015)
Johnson, Sewell e Griffiths (2012) conduziram um estudo com indivíduos saudáveis e
mostraram evidências fortes que a psilocibina pode induzir dores de cabeça por diversos
mecanismos, sendo o mais aceito a liberação de óxido nítrico, porém citando também que não
trata-se de uma dor de cabeça severa ou debilitante e que isso não será uma barreira para
futuros estudos.

11. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS


A psilocibina é metabolizada pela monoaminoxidase (MAO) ou aldeído dehidrogenase.
Sendo assim, o consumo de inibidores de MAO aumentam os efeitos alucinógenos por
aumentar sua biodisponibilidade, e o consumo associado com etanol estimula a produção de
inibidores MAO (tetrahidroisoquinolina e β-carbolina) visto que o primeiro metabólito do
etanol, acetaldeído, reage com aminas endógenas produzindo tais inibidores. O uso de tabaco
também está relacionado com baixos níveis da enzima MAO (DINIS-OLIVEIRA, 2017).
Uma série de estudos conduzidos por Vollenweider (1998) no Hospital Universitário de
Psiquiatria em Zurich, mostrou que os efeitos alucinógenos da psilocibina, numa dose 215-
260 μg/kg, foram completamente bloqueados com um pré-tratamento de cetanserina
(antagonista 5-HT2A/2C) ou risperidona (antagonista 5-HT2A/D2).
23

12. PSILOCIBINA E A LEI


12.1 BRASIL
A Lei nº 11.343/06, que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas,
define como droga, em seu Artigo 1º, como qualquer substância e/ou produtos capazes de
causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas pela
União. No seu Artigo 2º proíbe em todo território nacional plantio, cultura, colheita e
exploração de vegetais ou substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas.
Conforme a Lista F2 da Portaria nº 344/98 da ANVISA, a psilocibina é uma substância
de uso proscrito no Brasil, sendo seu uso, produção e comércio proibidos dentro do território
brasileiro. Nessa mesma portaria, na Lista E, que elenca planta que podem originar
substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas, o Psilocybe cubensis não é citado, restando
dúvidas quanto a permissão ou não do cultivo do fungo, além de haver uma confusão visto
que esta lista fala de plantas porém espécies de fungos estão listadas também, vide Claviceps
paspali.

12.2 INTERNACIONALMENTE
A Convenção de Substâncias Psicotrópicas de 1971 das Nações Unidas em Viena
coloca a psilocibina na lista I das substâncias, porém libera o uso para aplicações científicas e
médicas no seu Artigo 7º.
A Lei de Substâncias Controladas dos Estados Unidos também lista a psilocibina em
sua Lista I, visto que os Estados Unidos foi um dos que aderiram à Convenção de Viena, e
também libera a substâncias para pesquisas científicas e restritos usos médicos. (USC, 1971)
24

13. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO


Cogumelos alucinógenos são usados desde os tempos mais antigos com objetivo
religioso, passando, com o tempo, a serem usados de maneira recreativa, existindo relatos
desde o século 16.
O Psilocybe cubensis tornou-se o fungo alucinógeno mais consumido mundialmente
pelo sua facilidade de adaptação, cultivo e por ter efeitos similares à outras drogas
alucinógenas, porém sem os efeitos colaterais.
A psilocibina, e seu metabólito psilocina, são os responsáveis pelos efeitos
alucinógenos, agindo principalmente nos receptores 5-HT2A, visto que são indolalquilaminas
derivadas da dimetriltriptamina (DMT), porém seu mecanismo de ação completo ainda é
desconhecido.
Verificou-se que restou uma dúvida entre os autores que pesquisaram a conversão da
psilocibina em psilocina, sendo que Eivindvik et al. (1989) afirma que a conversão ocorre no
intestino, enquanto Passie et al. (2002) afirma que ocorre no fígado.
Sua toxicidade é baseada em reações de hiperestimulação de receptores de serotonina
e incluem alteração de frequência cardíaca, midríase, entre outros, porém, em raros casos,
pode desenvolver um Transtorno de Percepção Persistente Alucinógena.
Estudos recentes demonstram um grande potencial terapêutico para a psilocibina,
sendo usada para diversos fins, dentre eles enxaquecas, ansiedade e depressão, já sendo
realizados testes com seres humanos, em pequenos grupos seletos, por instituições renomadas
como a Universidade Johns Hopkins nos Estados Unidos. Estudos mais conclusivos são
necessários para avaliar o real risco e potencial terapêutico da substância.
A psilocibina usada nas pesquisas atuais normalmente é extraída de cogumelos
coletados no ambiente ou através da compra de laboratórios que as sintetizam, por esse
motivo as referências de produção do micélio e respectiva frutificação são antigas, porém não
obsoletas. Existem outros métodos de cultivo e frutificação que não estão documentados de
maneira oficial, e até de outros fungos alucinógenos, por exemplo o “bolo PF-TEK”,
“Ambrosia” e “Grain to Grain”.
O método de crescimento, colonização e frutificação pode sofrer variações em relação
aos substratos, recipientes e à proteção contra contaminantes e consequente erradicação. OSS
e ERIC (1976) também citam os problemas mais comuns quando do cultivo caseiro, como
mau controle de aeração, aparecimento de abortos e alguns dos contaminantes mais comuns.
Em relação à parte legal da pesquisa de drogas alucinógenas, o Brasil não fica atrás
dos outros países que fazem parte da Convenção de Viena, estando incluído na lei de drogas,
25

mediante autorização da União, o plantio, cultura e colheita para fins medicinais e científicos.
Porém, na parte prática, nota-se uma grande resistência por parte do governo no sentido de
liberar, incentivar e investir quando comparamos com outros países de primeiro mundo.
Em relação a metodologia usada, fica notável a falta de incentivo do governo, e
consequentemente desinteresse da parte de micologistas e outros profissionais da saúde, para
conduzir estudos de micologia ambiental, visando a descoberta e estudo de substâncias com
potenciais terapêuticos.
26

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