Sei sulla pagina 1di 8

TRANSCRIÇÃO DE ENREVISTAS

Fabiana Lopes da Cunha, Londres. Inglaterra, 2017.

Henrique da Silva e Alex Dave

Tempo: 1:16:24min.

Fabiana: Estamos aqui dando continuidade em nossa entrevista com o


Henrique da Silva e Alex Dave. Quais carnavais vocês ganharam?

Henrique da Silva: Ganhamos o de 2005. Mas em 2012 nas Olimpíadas


teve uma discussão, porque deram o carnaval para gente e depois fizemos
uma grande apresentação sobre a importância do chá.

Alex Dave: Sim. Foi uma tentativa de mostrar um pouco da história da


Inglaterra, de Londres. O Tea Party havia também uma grande xicara
caindo chá, foi muito legal.

Fabiana: Isso é muito interessante.

Henrique da Silva: Sim. Eu lembro que nesse ano tinha, além da xicara,
uma chaleira muito grande, que eu mesmo montei, foi uma loucura.

Alex Dave: Sim, parecia um carro alegórico. Uma chaleira bem grande.

Fabiana: Eles devem ter amando né.

Henrique da Silva: Bem, não foi bem assim. Antes desse carnaval, o
marido da Betina havia nos dito que tínhamos modificado a cara do
Carnaval londrino. Depois desse ai do chá ele disse “Agora tudo mudou,
eles odeiam vocês por isso”. Foi um dia de muita chuva, o pessoal estava
eufórico para ver a Paraíso, e quando a gente passou todo mundo tinha ido
embora.

Fabiana: E que horas a Paraíso costuma entrar?

Henrique da Silva: Bom, agente entre por volta de 12h, que é nosso
horário.

Fabiana: Então vocês ganharam dois carnavais?


1
Henrique da Silva: Ganhamos das Olimpíadas, ai teve uma briga. O
comitê provou que a Paraíso era campeã e eles queriam dar a vitória para
outra escola. A Paraíso era a única escola que tinha mais de 250 pessoas.
No fim, nenhuma escola levou o título e no ano seguinte não havia jurados
enfim.

Alex Dave: Pois é, é difícil para eles ter que dar o título para a Paraíso
todo ano. Eu acho nosso trabalho impecável, nossa organização temática,
nossas abordagens realmente impressionam. Nenhum grupo faz isso.

Fabiana: Gente, que loucura.

Henrique da Silva: Teve um ano que trouxemos u tema da Amazônia e


simplesmente havia uma cachoeira que compunha o um dos carros, com
uma menina tomando banho. Então, a Paraíso se destaca nesse aspecto, a
gente trabalha os temas, pensa muito bem antes das montagens. Temos uma
equipe muito empenhada, com a Alex e muitos outros. A gente faz
acontecer.

Fabiana: E ai você observa, como que é isso? Porque tem que ter uma
engenharia para tudo isso. Como funciona?

Alex Dave: Bom, realmente é muito trabalho. Mas o Henrique em conjunto


o irmão dele, o Esteves, ficam dia e noite em cima disso. No Verão, no
começo de junho, julho, eles estão todos os dias ali em cima para que
realmente as coisas possam acontecer.

Henrique da Silva: Sim, aqui em Londres temos um seguro saúde


(Helping Saved) que nos proporciona uma série de coisas para que tudo
ocorra bem. Aqui, se acontecesse o que a aconteceu com a Tucuruvi no
Brasil isso realmente acabaria com a escola. A Tucuruvi jamais deveria
estar numa posição dessas, isso é absurdo. Eu acho incrível como eles
colocam um carnaval na frente de uma vida humana. Querem ganhar a
qualquer custo.

Fabiana: Realmente, isso de fato é um absurdo.

Henrique da Silva: Hoje em dia todas as construções de edifícios tem esse


seguro, tudo tem que estar documentado para as coisas caminharem. No
Brasil mesmo, tivemos há uns 4 anos o caso da boate Kiss, que teve o
incêndio e matou muita gente.

2
Alex Dave: Diferente do Brasil, aqui existe uma estrutura para as escolas.
Para começar o desfile aqui dura em média de 3 a 4 horas, no Brasil, salvo
engano é de 1:30, no máximo. Então, existe toda uma preocupação com a
alimentação, com o bem estar, tem água, barras de cereais. Tem os
ajudantes que forma um apoio, toda essa equipe preza pela segurança de
todos.

Fabiana: Realmente, no quesito segurança, existe uma falha gigantesca


nos carnavais no Brasil.

Henrique da Silva: Mas isso tem que ser prioridade. Porque as pessoas, as
400 pessoas que fazem esse carnaval acontecer tem estar bem, tem que
começar e terminar em segurança total. Eu sou responsável por essa
segurança. Funciona como espécie de sindicato de artistas, caso ocorra
algum incidente essas pessoas estarão asseguradas.

Fabiana: Isso é fundamental...

Henrique da Silva: Mas na hora, no momento tem ter uma


responsabilidade da equipe. O carnaval é um circulo, a polícia se preocupa
mais com o público e minha preocupação é a segurança da nossa escola.
Temos que ficar atento com as ações da polícia, pois podem nos prejudicar.
Hoje existe um diálogo maior. Eu não posso ter minha equipe dividida, e
eles fazem isso se deixar. Mas com o tempo fomos acertando as coisas e
hoje a dinâmica está bem acertada.

Alex Dave: Uma coisa importante que eu gostaria de frisar é que tudo isso
só funciona e funciona bem porque existe um trabalho de equipe muito
bom coeso. O Henrique é uma máquina de pensar, sempre atento com
enredo, fantasia, segurança, com tudo. Então tem que ter uma equipe muito
sincronizada e dinâmica para dar conta de todo esse processo. Cada um tem
uma responsabilidade, tudo está divido em setores, tudo organizado em
reuniões. As pessoas que fazem parte da Paraíso são médicos, advogados,
então existe uma relação de organização e uma noção de trabalho equipe
que são fundamentais para escola realizar suas atividades carnavalescas.

Fabiana: E a publicidade da escola, como funciona? Imagino que os


integrantes da escola contribuam para isso.

Henrique da Silva: Existe uma publicidade em escala internacional. Olha,


por exemplo, na China, tudo bem organizado no idioma.
3
Fabiana: Como conseguiu esse contato?

Henrique da Silva: Com pessoas que já participaram, desfilaram e se


encantaram com o nosso trabalho. Existem pessoas do mundo todo.

Fabiana: Incrível, isso engloba o mundo todo. Impressionante!

Henrique da Silva: Sim, isso demonstra o potencial da escola.

Fabiana: Sim, com certeza!

Henrique da Silva: A gente não tem patrocínio. Nós temos apoio no


governo britânico.

Fabiana: E essa dinâmica internacional é extremamente importante,


culturalmente...

Henrique da Silva: Sim, nós amamos o Brasil. Nosso coração bate do lado
certo do peito. Nós buscamos levar o melhor de nossa cultura, o samba, o
calor, todo nosso ritmo para o mundo. Então ter esses contatos
internacionais é realmente muito alucinante. Trazer todo esse ritmo, do
Rio, de Maricá para eles é fazer com eles conheçam o Brasil de outra
forma.

Fabiana: Sim. Me lembrei agora da Maísa, grande cantora brasileira, que


era de Maricá..

Henrique da Silva: Claro, a Maísa, com certeza. Imagina, trazermos todo


esse drama que foi a vida dela, sensacional!

Fabiana: Bom, outra dúvida que eu tenho e gostaria de perguntar para


vocês, surgiu quando estava lendo o trabalho do Ulisses. Ele menciona o
projeto Phoenix inúmeras vezes. Então, eu gostaria de saber o que foi esse
projeto? Qual seu significado.

Henrique da Silva: Bom, o projeto Phoenix foi criado pelo mestre Esteves
(Esteves da Silva). O que acontecia na época era que os carnavalescos da
London School aprendia o samba com o mestre Esteves e quando ele
voltava para o Brasil eles acabavam se desviando um pouco, buscando
referenciais do Olodum da Bahia, muita influência Africana. A gente
queria que eles compreendessem que o samba não é puramente africano, é
um ritmo autêntico do Brasil e que tem muitas influências de suas batidas
das religiões afro-brasileiras.
4
Fabiana: Então esse projeto queria ressaltar a importância do samba nos
ritmos carnavalescos brasileiros?

Henrique da Silva: Ele trazia o espírito do partido alto, do pagode. Um


lado mais voltado para a criação do samba. O que fazia as pessoas amar e
admirar esse ritmo. Era esse o objetivo, demonstrar a complexidade do
samba e de sua musicalidade, suas diferenças em relação a outros ritmos. O
projeto do Mestre Esteves tinha esse intuito. O Samba de mesa, de
botequim era um componente importante, pois ali estava a essência do
samba carioca. Por isso nome Phoenix, por causa dessa essência que o
Esteves buscou transportar para o carnaval londrino.

Fabiana: Então eram verdadeiras aulas de samba. E tudo isso era realizado
numa igreja?

Henrique da Silva: Sim, muito louco isso, não? E o projeto Phoenix


buscou inserir o samba com mais intensidade e acabou abrindo espaço para
a criação da Paraíso. E o mais engraçado é que desde sempre os ensaios da
Paraíso foram sempre realizados em igrejas. Isso acontecia sempre aos
domingos. Ou seja, em vez de irmos a igreja para rezar, nós íamos para
fazer um samba. (risos)

Fabiana: Isso é muito interessante. Claro que está relacionado ao ecletismo


religioso que predomina na sociedade inglesa, fruto da ruptura com o
catolicismo durante o século XVI por Henrique VIII. No Brasil isso jamais
seria possível, visto a forte e predominante influência do catolicismo.

Henrique da Silva: Depois fomos para Brixtol, na Igreja de São Matheus,


começamos a dar aulas lá e foi um sucesso.

Fabiana: Que interessante.

Henrique da Silva: Então a Paraíso tem essa graça de Deus, somos


abençoados independente da religião de cada um. Somos todos filhos do
samba.

Fabiana: Isso retorna a importância de Henrique VIII para a criação dessa


cultura religiosa muito peculiar que existe aqui.

Henrique da Silva: Sim, de Henrique para Henrique aqui. Porque segundo


eu sei, quando ele realiza essa cisão com o catolicismo ele acaba com o

5
carnaval também, pois era uma prática festiva ligada as festividades cristãs,
como a Páscoa.

Fabiana: Sim...

Alex Dave: Quando eu assumi minhas atividades aqui na Paraíso eu tive


que estudar muito sobre a cultura inglesa, sobre a história. Nós temos que
ter esse aprendizado para compor, para o processo criativo.

Fabiana: O trabalho que vocês realizam aqui é de fato muito importante


para mim, para minhas pesquisas, estou interessada particularmente na
Paraíso School, claro que com isso não quero aqui desprestigiar o trabalho
feito pela London School.

Henrique da Silva: A London foi um momento importante para todos nós


aqui. O que ocorreu em relação a ruptura que tivemos, eu e meu irmão
Esteves, foi inevitável. Eu digo que fomos vitimas do nosso próprio
sucesso.

Alex Dave: Eu queria destacar a importância do pioneirismo do Henrique e


do Esteves para o Carnaval de Londres, pois foi algo muito impactante e
que influenciou não só a Paraíso, mas todas as outras escolas. O Helping
Saved, que começou com a Paraíso, e depois de um tempo a London
também começou a seguir isso. Os carros alegóricos foi algo bem
impactante, as fantasias, enfim. Porque antes da Paraíso nenhuma escola
estava habituada a essas dinâmicas.

Fabiana: Olha, tudo isso é muito importante...

Henrique da Silva: O Fred do Salgueiro também disse algo parecido.


“Está vendo Henrique, agora estão querendo copiar os carros alegóricos e
tudo mais. Incrível você havia dito isso há 15 anos e ninguém te ouvi. Foi
preciso a Paraíso nascer e dar uma surra neles no carnaval para eles
aprenderem.” Bom, agora existe uma nova geração na London School, que
bem bacana. Mas na época existiu esse conflito, com uma geração muito
burocrática. Carnaval para mim Fabiana é na rua e não dentro de escritórios
lidando com tesoureiros.

Alex Dave: Hoje existe uma imensa diferença entre a London e a Paraíso,
isso é notável. As diferenças entre uma mentalidade inglesa e brasileira são
muito grandes. O Brasileiro tem um talento carnavalesco que foge do

6
padrão de qualquer sociedade, então até mesmo na combinação de cores. A
Paraíso é vermelho e branca, mas no desfile o que se observa de fato é que
existe algo muito colorido, vivo. A London, que tem suas cores verde e
branca não, se você observar o desfile ele será verde e branco do começo
ao fim, é algo muito frio. Quando eu penso na London eu penso numa
espécie de quadradinho e quando eu penso na Paraíso em num espiral
dinâmico e sempre em movimento. Então, acredito que esse talento
carnavalesco traz uma diferença fundamental.

Henrique da Silva: Quando criamos a Paraíso, nós convidamos a London


para inauguração da escola, assim como convidamos a Quilombo. Eles não
aceitaram pois achavam que nós íamos durar. Nós fizemos com a
Quilombo que hoje não existe mais, mas era composta por brasileiros
também, muito bacana. Bom, no fim deu tudo certo e nós continuamos na
caminhada. Nós recebemos apoio e independente de nossas dificuldades
muitos acreditaram no nosso trabalho. Quatro anos depois, em 2005,
ganhamos nosso primeiro carnaval. Nosso primeiro carnaval oficial foi em
2002, o ano que lançamos a Paraíso.

Fabiana: Que bacana...

Henrique da Silva: Nós buscamos ressaltar a autenticidade do samba.


Mostrar suas particularidades. Sabe, bife à milanesa não é bife ali na mesa.
As coisas são diferentes, sobretudo na música. (risos).

Fabiana: E hoje a London toca mais samba?

Henrique da Silva: Eles ainda mantem uma tradição inglesa, ainda não se
abriram para o espirito de uma escola de samba. Eles ficam tocando ainda
grandes sucessos da Bahia, como Ivete Sangalo, mas isso não é o objetivo
de uma escola de samba. Eles têm como referência o carnaval baiano, essa
coisa do trio elétrico. Mas é muito diferente de uma escola de samba.

Fabiana: E hoje a London procurar seguir caminhos que foram abertos


pela Paraíso, isso é um elogio, não?

Henrique da Silva: Claro, com certeza. Eles buscam incorpora certos


aspectos e isso realmente é muito gratificante. A gente da Paraíso não
busca fomentar nenhum tipo de rivalidade, isso vai contra o espirito do
samba. Sempre tratei todos muito bem, abri meus camarins, com bebida,
tudo. Eles até me chamam de “o legendário Henrique”. (risos).
7
Fabiana: E tem uma festa para a rainha de bateria?

Henrique da Silva: Sim, da Paraíso será agora em junho. Eu trouxe isso


do Rio. No começo foi difícil conseguir dinheiro para fazer isso acontecer.
Mas mesmo assim, isso não impediu em nada para que nós ganhássemos
dois carnavais e a London que recebe muito mais não ganhou nada.

Fabiana: Nossa isso deve ter sido terrível para eles. (risos).

Henrique da Silva: Essa questão de dinheiro sempre gerou certos


conflitos. Nós sempre recebemos menos dinheiro mas sempre estávamos
sempre muito bem apresentados. São questões políticas que envolvem as
relações entre as escolas. Mas nós hoje estamos num patamar acima, pois o
carnaval deles é de um nível muito baixo, e hoje a Paraíso está numa boa
posição em relação a investimentos. As coisas se inverteram.

Fabiana: Interessante, a escola está construindo laços indentitários, isso é


muito interessante.

Henrique da Silva: Sim, nós somos uma família unida pelo samba. Nós
nos preocupamos em fazer as coisas acontecerem de maneira correta, não
queremos crescer em cima de ninguém.

Fabiana: Isso é importante para o futuro da escola. Quer dizer, que vai
herdar todo esse projeto concebido por vocês. Realmente vocês
construíram uma estrutura e isso deve ser preservado pelas próximas
gerações.

Potrebbero piacerti anche