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337-344, 2009
[Chronic mitral valvular disease in dogs: assessment of functional clinical stage and echocardiographic
measurement of the mitral valve]
RESUMO
Foram descritos os achados do exame físico em cães com degeneração mixomatosa crônica da valva mitral e
mensurado o comprimento e a espessura das cúspides da valva mitral pelo exame ecocardiográfico.
Utilizaram-se 81 cães de diferentes raças de pequeno a médio porte, com idade de 11,12±2,51 anos e peso de
6,24kg±3,19, dos quais 20 eram clinicamente normais (grupo-controle) e 61 apresentavam evidências clínicas
de cardiopatia. Os animais foram distribuídos em três classes distintas segundo a insuficiência cardíaca
congestiva (grupos I, II e III), de acordo com os dados do histórico e dos sinais clínicos apresentados. Ao
exame ecocardiográfico, avaliaram-se as medidas das cúspides da valva mitral, que não apresentaram
diferença entre os cães do grupo I e II, embora estivessem anormais se comparadas às dos cães do grupo-
controle. Nos animais do grupo III, as medidas das valvas avaliadas foram maiores que as dos cães dos
grupos I e II. Foram observados nódulos com formato arredondado e, nos cães do grupo III, as cúspides
estavam bastante alongadas e espessadas.
ABSTRACT
Physical and echocardiographic aspects were studied in dogs with chronic mitral valvular disease. The
length and thickness of the mitral valve leaflets were echocardiographically measured. Eighty-one dogs of
small-medium breeds (mean of 6.24kg±3.19), older than six years (11.12±2.51 years) were used. Twenty
were clinically normal dogs (control group) and 61 presented myxomatous degeneration of the mitral valve.
The diseased dogs were categorized into three classes of congestive heart failure (I, II, and III groups)
according to the information on clinical manifestations. On the echocardiographic exam, the measurements of
the mitral valve leaflets were evaluated and no diferences between dogs of groups I and II were found, though
they were abnormal if compared with control group animals. Group III dogs presented measurements higher
than those of animals of groups I and II, as well as leaflets very thick and round-shaped nodules were
observed.
degenerativas mixomatosas estão relacionadas à em leve, moderada e grave, com base nas
idade e à raça. Cães idosos e de raças de pequeno características do fluxo regurgitante e do
porte são os mais afetados (Kittleson, 1998; tamanho atrial esquerdo. Para Shah (1994) e
Sisson et al., 1999). Hyun (2005), além dessas características,
pacientes com DMVM apresentam espessamento
Os sinais clínicos são decorrentes da disfunção em graus variados da cúspide septal e, em menor
do complexo valvar mitral (Bright e Mears, grau, da cúspide parietal da valva mitral, que
1997). A tosse é o sinal clínico mais comum, e é também apresenta boa correlação com o grau de
a mais citada observação do proprietário. Os regurgitação mitral, sendo um método útil na
episódios de tosse são frequentemente seguidos classificação de insuficiência cardíaca. Em
de dispneia, taquipneia, ortopneia, perda de humanos, o espessamento valvular é um
apetite e letargia (Atkins, 1994; Bright e Mears, importante marcador prognóstico, refletindo a
1997; Kittleson, 1998; Muzzi et al., 1999). gravidade da lesão; quanto maior e mais
Outros achados, frequentemente observados nos alongada a cúspide, pior o quadro clínico.
quadros mais graves, são fadiga, cianose, tempo
de perfusão capilar acima de dois segundos e Como não há estudos na medicina veterinária
mucosas pálidas (Kittleson, 1998; Sisson et al., que classifiquem a insuficiência cardíaca com
1999). Ao exame físico, o sopro constitui o base na espessura das cúspides da valva mitral,
achado clínico mais precoce, sendo mais esta pesquisa foi realizada com os objetivos de
facilmente auscultado no ápice cardíaco descrever os achados do exame físico em cães
esquerdo. À auscultação pulmonar, os ruídos com DMVM e mensurar a espessura da valva
podem estar normais ou revelar crepitações mitral pelo exame ecocardiográfico, avaliando-se
difusas, dependendo do estágio da doença a possibilidade de classificar os pacientes como
(Bright e Mears, 1997; Kittleson, 1998; Pedersen portadores de insuficiência mitral discreta,
et al., 1999; Sisson et al., 1999; Morais e Pereira, moderada ou grave, por meio dessas medidas.
2001).
MATERIAL E MÉTODOS
A ecocardiografia é um exame complementar
muito útil no diagnóstico da DMVM, sendo Foram utilizados 81 cães de raças de pequeno e
exequível e não-invasivo. Embora, para a médio porte, com idade de 11,12± 2,51 anos e peso
realização do exame ecocardiográfico, a sedação médio de 6,24±3,19kg, dos quais 61 eram
não seja essencial, pode-se utilizá-la para portadores de degeneração mixomatosa crônica
promover relaxamento no paciente e evitar o da valva mitral e 20 eram clinicamente sadios.
estresse. Para Stepien et al. (1995), sedativos Dos 61 cães avaliados com DMVM, 42 eram
seguros e efetivos são necessários na maioria dos machos e 19 fêmeas. As raças representadas
procedimentos diagnósticos na medicina foram: Poodle toy e médio e seus mestiços (19),
veterinária, sobretudo na ecocardiografia, por Pinscher e seus mestiços (14), Cocker Spaniel
promoverem um estudo de alta qualidade. É Inglês e Americano (3), Yorkshire Terrier (4),
recomendada a combinação de maleato de Terrier Brasileiro (4), Teckel (3) e Pequinês (2)
acepromazina e buprenorfina, a qual, além de além de cães sem raça definida (12). O grupo-
bem tolerada hemodinamicamente, permite controle constituiu-se de animais clinicamente
excelente sedação, sem deteriorar a função sadios (7 machos e 13 fêmeas). As raças
cardiorrespiratória. Outra vantagem de utilizar o observadas neste grupo foram: Pinscher e seus
sedativo é a diminuição da frequência cardíaca, mestiços (10), Cocker Spaniel Inglês e
que pode estar aumentada pelo próprio Americano (3), Poodle médio (2) e Yorkshire
mecanismo fisiopatológico da doença ou por Terrier (1), e cães sem raça definida (4).
situações de estresse, como os exames clínico ou
cardiológico, alterando os valores diagnósticos Os animais doentes foram selecionados com base
(Jacobs e Mahjoob, 1988; Cape et al., 1993; nos seguintes critérios: presença de sopro
Häggström et al., 1995). sistólico de regurgitação mitral, exclusão para
uso de medicação para o coração (digitálicos,
Segundo Soares et al. (2005), o exame vasodilatadores ou diuréticos), exclusão para
ecocardiográfico permite a avaliação da qualquer outra doença cardíaca e idade acima de
gravidade da doença mitral e sua classificação seis anos. Os animais do grupo-controle foram
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selecionados pela ausência de cardiopatia e idade pericárdio e o aspecto morfológico das valvas
acima de seis anos. cardíacas.
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graus IV/VI a VI/VI em ápice esquerdo, com o O ECG detectou a presença de arritmia sinusal
ponto de máxima intensidade em foco mitral, que em 77 animais (95%), tendo sido ainda
irradiava dorsal e cranial, assim como para o observada taquicardia sinusal em um cão do
hemitórax direito. Em sete animais (33%) foi grupo II e em dois do grupo III, e fibrilação atrial
detectado sopro de regurgitação mesossistólico em um cão do grupo III. Nos 10 minutos iniciais
também em ápice direito, de graus IV/VI a V/VI. após a sedação, a frequência cardíaca passou de
117±18 batimentos por minuto (bpm) para
Todos os animais do grupo III apresentavam 106±14 bpm e a frequência respiratória de
sinais clínicos graves de ICC. Os proprietários 24±3,1 movimentos respiratórios por minuto
relataram tosse, cansaço excessivo mesmo em (mrm) para 20±3mrm.
repouso, fadiga, ortopneia, perda de peso,
anorexia e letargia. Ao exame físico, Os resultados das medidas do comprimento e da
apresentavam estado geral regular, mucosas espessura das cúspides parietal (CCP e ECP) e
pálidas ou cianóticas, tempo de perfusão capilar septal (CCS e ECS) da valva mitral são
aumentado em 16 cães (88%) e taquipneia. Oito apresentados na Tab. 1. Nos cães sadios, a valva
animais (44%) apresentaram ascite e um, mitral não apresentou espessamento nem
desidratação. Observou-se, ainda, a ocorrência de prolapso valvar. Nos portadores de DMVM, a
síncope em um animal. À auscultação pulmonar, valva encontrava-se com graus variados de
constataram-se crepitações de leves a intensas, espessamento e prolapso em direção ao átrio
em todo o campo pulmonar. Na auscultação esquerdo. Tanto o comprimento quanto a
cardíaca, foi possível observar sopro de espessura das cúspides apresentaram diferença
regurgitação meso a holossistólico de graus entre os grupos. Os animais do grupo III
IV/VI a VI/VI em ápice esquerdo, que irradiava demonstraram grau de espessamento grave e os
dorsal, cranial e para o hemitórax direito. Nove dos grupos I e II, grau de espessamento discreto
animais (50%) possuíam sopro de regurgitação a moderado. Sete cães, especialmente do grupo
meso a holossistólico em ápice direito, de graus III, apresentaram espessamentos localizados na
IV/VI a V/VI. Foi ainda detectado ritmo de borda livre da cúspide, principalmente na septal.
galope em quatro cães (22%). Nenhum animal
apresentou efusão pericárdica.
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