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Neste ponto, marcados por práticas econômicas encobertas pelo caráter ideológico das
“empresas” europeias e o exercício de inferiorização. Para Arthur Ramos5, a trajetória do
translato de comunidades a serem escravizadas para o Brasil conta com dados curiosos de
1
Acadêmica de História Licenciatura do VIII período na UEMASUL – Universidade Estadual da Região
Tocantina do Maranhão; e-mail: milena.mirandaa@hotmail.com
2
CARVALHO, Flávia Maria De. Diáspora Africana: travessia atlântica e identidade recriadas nos espaços
coloniais. MNEME – Revista de Humanidades, Centro de Ensino Superior do Seridó – Campus de Caicó.
Semestreal ISSN – 1548-3394, 2010.
3
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 14-15.
4
BURKE, Peter. História e Teoria Social. São Paulo: UNESP, 2002. p. 123-124.
5
RAMOS, Arthur. As Culturas Negras no Novo Mundo, O Negro Brasileiro – III. São Paulo: Ed. Brasiliana,
1946. p. 276.
Martin Afonso de Souza. Para o donatário da capitania de São Vicente, em 1531 já havia serviço
empregatício no ramo de transporte de escravos no território bahiano.
Neste sentido, é válido pontuar evidente relação eurocêntrica e antagônica delineada por
um simbolismo de palhetas. Para Paul Gilroy9, estas cores são vinculadas à objetificação e à
um poder cultural que necessita ser categorizado e sustentado sob a prerrogativa de uma
esgotante relação maniqueísta do branco para o negro.
6
RAMOS, op. cit., p. 269
7
Ibid., p. 277.
8
GOMES, Flávio dos Santos. A Hidra e os Pântanos: mocambos, quilombos e comunidades de fugitivos no
Brasil (séculos XVII-XIX). São Paulo: UNESP, 1997. p. 44.
9
GILROY, Paul. O Atlântico Negro. São Paulo: Ed. 34, 1956. p. 34.
Nesta perspectiva, conforme os trabalhos de A.B. Ellis Burton, Frobenius, Farrow e
outros10, os cultos nagôs bahianos eram de certa forma exemplares fiéis da religião dos orixás
da Nigéria. Como refere o francês Élisée Reclus, esses remanescentes são os que cantavam os
bordões da África e utilizavam a velha língua para as cerimônias religiosas11.
10
RAMOS, op. cit., p. 283.
11
RODRIGUES, Raimundo Nina. Os Africanos No Brasil. Disponível em:
books.scielo.org/id/mmtct/pdf/rodrigues-9788579820106.pdf. Acesso em 29 de julho de 2019
12
BASTIDE, Roger. O Candomblé na Bahia. São Paulo: Editora Brasiliana, 1961. p. 7.
13
OLIVEIRA, Cristina Nascimento. Discursos do Sagrado: práticas de uma religiosidade afro-amazônica.
Jundiaí: Paco Editorial, 2015.
14
BASTIDE, op. cit., p. 11.
15
RAMOS, op. cit., p. 284.
16
Ibid., p. 287
forma, as cerimônias, os ritos de passagem e o acompanhamento melodioso e gesticulado são
características conservadas dos ritos sudaneses da Costa que os escravizados transportaram17.
Em seus quase 20 anos de existência, a ideia da comunidade fugitiva era funcionar como
uma medida de sobrevivência fora do controle da sociedade branca. Em análises da planta do
mocambo, a estrutura das casas continha uma forte influência das senzalas do engenho, e não a
reprodução de um modelo afro em particular. No entanto, quando se trata do local em que eram
realizadas as cerimônias ou “debates”, são evidenciados componentes identificáveis em grupos
Bantu do noroeste, como os Koko, Take e Mabea23.
17
RAMOS, op. cit., p. 287.
18
BASTIDE, op. cit., p. 17.
19
Proveniente do Reino de Daomé (XVII-XIX), região de Benim.
20
BASTIDE, op. cit., p. 18.
21
Definição atribuída por Clóvis Moura (2004) para um refúgio de negros escravizados (1744-1763) em Itapuã,
bairro de Salvador - BA.
22
SCHWARTZ, Stuart B. Escravos, Roceiros e Rebeldes. Bauru: EDUSC, 2001. p. 238.
23
Ibid., p. 238.
Embora as presentes discussões sejam a respeito de origens sudanesas, e não banto, estes
são dados relevantes para um outro ponto: dentro do mocambo haviam menções a termos como
“mandingueiro”, indicando participantes de origem Mandinga, região étnica que engloba
Gâmbia, Serra Leoa, Costa do Marfim e Libéria, anteriormente mencionados.
Desta forma, existem fortes indícios de que embora a religião praticada seja
desconhecida, os indivíduos que são referidos como “feiticeiros”, um deles sendo uma estimada
mulher idosa, apontam referências ao Candomblé sudanês por questões de afinidade. Como a
tradição em liderança matriarcal e a importação em larga escala de nativos yorubá no território
bahiano entre 1743 e 176324.
Assim, retrata escravizados que por não conseguirem se adaptar, optaram por fuga.
Logo, mesclando informações que se referem à duas nações diferentes, apontando um possível
hibridismo de Candomblés particulares que se tornaram plurais. Neste sentido, as alianças
interétnicas auxiliam na possibilidade de reorganização dos cultos. Seja por via de santos
católicos, outros grupos africanos ou alianças com personalidades influentes que contribuíssem
para a proteção dos terreiros (indígenas, mestiços ou brancos).
24
SCHWARTZ, op. cit., p. 241.
25
RAMOS, op. cit., p. 285.
26
SANT’ANNA. Márcia. Escravidão no Brasil: os terreiros de candomblé e a resistência cultural dos povos
negros. Disponível em:
http://www.pontaojongo.uff.br/sites/default/files/upload/escravidao_no_brasil_os_terreiros_de_candomble_e_a_
resistencia_cultural_dos_povos_negros.pdf. Acesso em: 29 de julho de 2019. p. 8.
O surgimento dessas instituições no Brasil foram tramas de sobrevivência cultural, física
e de integração interétnica. Foram transportadas e “transgeradas”, assim como refúgio e
“embrião” de uma sociedade civil para os africanos em tempos de escravidão27.
Como rememora o depoimento de Roger Bastide, o viajante que à noite adentrou nestes
subúrbios na Bahia, testemunhou a familiaridade saudosa das habitações com as florestas. E
embora presos ao imaginário obscuro e periférico, não são residuais, mas, naturais e insistentes.
No qual no fundo se ouve o “martelar” dos tambores sagrados e contempla os sinais de que as
divindades vieram da África se materializar na terra em que os seus filhos foram exilados.
Cidade santa por excelência28.
Referências
BASTIDE, Roger. O Candomblé na Bahia. São Paulo: Editora Brasiliana, 1961.
BOURDIEU, P. O poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
BURKE, Peter. História e Teoria Social. São Paulo: UNESP, 2002.
CARVALHO, Flávia Maria De. Diáspora Africana: travessia atlântica e identidades recriadas
nos espaços coloniais. MNEME – Revista de Humanidades, Centro de Ensino Superior do
Seridó – Campus de Caicó. Semestral ISSN ‐ 1518‐3394, 2010.
27
SANT’ANNA, op. cit., p. 9.
28
BASTIDE, op. cit., p. 17.