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TRABALHO EM GALERIAS SUBTERRÂNEAS

Sob nossos pés


RISCO DE EXPLOSÕES, INCÊNDIOS E INTOXICAÇÕES AUMENTA NESTES ESPAÇOS CONFINADOS
DEVIDO À PRESENÇA DE GASES E VAPORES INFLAMÁVEIS, ALÉM DE CONTAMINANTES TÓXICOS
Reportagem de Raira Cardoso

Não projetado para ocupação humana contínua e com meios limitados para evitar acidentes e adoecimentos
de entrada e saída, onde a ventilação existente é insuficiente para remover laborais?
contaminantes, os espaços confinados oferecem diversos riscos aos tra-
PANORAMA
balhadores. Muitos deles com consequências mortais ou particularmente Coexistindo de forma harmônica, ou
graves em casos de acidentes de trabalho. Entre os principais está o às vezes nem tanto, já chegam na casa
risco atmosférico, resultante da presença de gases e vapores inflamáveis, de muitos brasileiros por meio de redes
contaminantes tóxicos, deficiência ou excesso de oxigênio, que podem subterrâneas serviços de água e esgoto,
causar explosões, incêndios e intoxicações. gás, energia elétrica e os de telecomuni-
cação incluindo telefonia, internet e TV
Imagine somar aos desafios das atividades nos ECs os perigos vincu-
a cabo. Assim como a água e o esgoto, o
lados à distribuição dos serviços de água e esgoto, gás, energia elétrica

DIVULGAÇÃO/SABESP
e telecomunicações. Alguns já nativos das galerias subterrâneas e ou-
tros migrando aos poucos, os trabalhadores que realizam instalação e
manutenção para as empresas presentes nesses ambientes encontram
um cenário complexo e, por vezes, compartilhado, devendo ter muito
conhecimento do seu entorno.
Especialistas em Segurança e Saúde do Trabalho em espaços confinados
falam nesta reportagem sobre as medidas preventivas a serem observadas
para garantir uma atuação segura nas galerias subterrâneas. Também são
apresentadas iniciativas de empresas que vêm investindo na prevenção.

Saiu no mês passado decisão da por homicídio culposo e lesões culposas,


Agência Nacional de Energia Elétrica quando não há intenção de matar. No
de multar em R$ 29,5 milhões a Light, laudo foi apontado que a explosão se
responsável pela distribuição de energia deu devido à energização de uma linha
elétrica na Região Metropolitana do Rio paralela a uma outra, que já estava ‘li-
de Janeiro. A decisão penaliza a empresa gada’. A polícia atribuiu a ocorrência à
pela explosão ocorrida em um bueiro falta de investimentos na capacitação
em setembro de 2016 que deixou um de funcionários e de equipamentos de
morto e outros 10 feridos, todos tran- qualidade. Dias antes do acidente da
seuntes. Alegando que a concessionária Light, outra explosão em um bueiro no
deixou de assegurar a segurança das centro do RJ causou ferimentos em três
pessoas, a Aneel também relatou outras funcionários da Companhia Estadual de
não conformidades da empresa, como Gás que tentavam reparar um vazamento
procedimentos inadequados para loca- que já havia causado um incêndio mais
lização de falhas na rede subterrânea e cedo naquele dia.
desatualização tecnológica em técnicas Esses são apenas dois casos que re-
de operação e manutenção. tratam a complexidade de perigos nas
A ocorrência em questão não causou galerias subterrâneas pelo país afora e
danos físicos aos trabalhadores, que não que colocam em risco tanto os trabalha-
estavam no local no momento do acidente. dores que atuam no subterrâneo quanto
No entanto, Cleison da Silva Mendonça, os passantes. Mas quais serão todos esses
Antônio de Araújo Santos e Rafael Es- serviços que estão sendo distribuídos sob
teves de Andrade, que supervisionou o nossos pés? A que riscos estão expostos
reparo feito no espaço confinado, foram os colaboradores que realizam atividades
denunciados pelo Ministério Público do nesses locais e que ações preventivas
Trabalho e acabaram sendo indiciados estão ou deveriam estar sendo adotadas

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gás natural em galerias subterrâneas já após o fim do monopólio dos serviços de ção da população em geral aos campos
é adotado há muito tempo. A Comgás, telefonia, que ocasionou a abertura de eletromagnéticos gerados pelas redes de
por exemplo, fornece o produto para a mercado. “Não tinha mais como manter transmissão de energia elétrica. No entan-
cidade de São Paulo há 147 anos. No co- todas estas redes aéreas, principalmente to, o engenheiro de segurança lembra que,
meço abastecendo os lampiões das ruas e em grandes cidades. Onde não temos ao migrar seus serviços para os espaços
atualmente atendendo residências e esta- redes subterrâneas, os postes viram ema- confinados das redes subterrâneas, os
belecimentos de 88 municípios do mesmo ranhados de fios”, observa. Como pontua colaboradores estão sujeitos a um novo
Estado com mais de 17 mil quilômetros o auditor fiscal do trabalho da SRTE/RS, leque de perigos, além da potencialização
de dutos no subsolo. Ainda que mais re- que coordenou a elaboração da Norma dos já existentes em sua rotina laboral.
cente, também existe um movimento em Regulamentadora 33 (Segurança e Saúde
algumas cidades para o enterramento das nos Trabalhos em Espaços Confinados), ATMOSFÉRICO
redes aéreas das empresas de energia elé- a mudança reduz muito a exposição dos Apontando que todas as galerias sub-
trica e telecomunicações. Todos eles vão colaboradores ao trabalho em altura. Atu- terrâneas devem ser consideradas como
tomando seus espaços nas galerias con- ando na Serede, prestadora de serviços espaço confinado, a consultora Paula
forme liberação das agências reguladoras de rede de telefonia, o engenheiro de Scardino explica que, de modo geral, os
para acordos e contratos de empresas segurança e gerente de SST Henrique da trabalhos realizados nesses ECs se divi-
com concessão, respeitando legislações Fonseca Marques cita ainda o afastamento dem na implantação de novas instalações,
federais, estaduais e municipais. dos trabalhadores das vias públicas e dos reparos, limpezas, impermeabilizações,
Conforme o engenheiro de Segurança riscos relacionados ao trânsito. manutenções preventivas, corretivas e
do Trabalho Sérgio Letizia Garcia, este Para Luiz Carlos de Miranda Júnior, emergenciais. Sérgio Garcia exemplifica
cenário se proliferou principalmente outro ganho é a diminuição da exposi- que o entupimento de uma rede de es-
goto exige a entrada para desobstrução,
assim como a falha de um transformador
ou a perda do sinal de uma rede de TV a
cabo exigiria entrada no espaço confinado
para reparo. Ele afirma que a maioria dos
colaboradores que realiza essas atividades
no subterrâneo pertence a empresas ter-
ceirizadas, possuindo pouca experiência
e grande desconhecimento dos riscos.
“Outro agravante é que, normalmente,
estas manutenções são realizadas com
urgência, por serem serviços essenciais
para a população, ocorrendo com fre-
quência após algum fenômeno natural,
como ventos fortes, chuvas intensas ou
aumento acentuado da temperatura”,
pontua Garcia.
Tendo participado da criação da NR 33,
além de ter sido a coordenadora nacional
dos trabalhos que resultaram na NBR
14.787 e NBR 16.577, que estabelecem
requisitos para um trabalho seguro nos
ECs, Paula destaca que um dos riscos
que caracteriza as galerias subterrâneas
são os atmosféricos. “Os espaços confina-
dos contêm ou podem conter atmosferas
perigosas resultantes da presença de
gases e vapores inflamáveis, contami-
nantes tóxicos, excesso ou deficiência
de oxigênio. Os contaminantes tóxicos
mais comuns nas galerias subterrâneas
são o monóxido de carbono (CO) e o gás
sulfídrico (H2S)”, esclarece.
Ela explica que é muito comum o va-
zamento em postos de serviço; formação
natural de gás metano e CO2 (dióxido de
carbono) devido à decomposição de mate-
rial orgânico, bem como de gás sulfídrico
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(tóxico, asfixiante químico e inflamável).

ARQUIVO PESSOAL

ARQUIVO PESSOAL
Também podem ocorrer vazamentos de
gás canalizado e presença de monóxido
de carbono, causados especialmente pela
falta de integração de mapas do subsolo
e frequentes perfurações por método
destrutivo e não destrutivo, que encon-
tram ‘interferências’, fazendo com que o
esgoto adentre nas galerias. Há ainda, o
rompimento de tubulações de gás natural
em obras, entre outras situações.
“Existem outros gases tóxicos que
podem contaminar as galerias, depen-
dendo do local onde se encontram. Por
exemplo, aquelas próximas a indústrias
de fertilizantes que tiveram vazamento
de gás amônia (NH3) poderão conter em
seu interior a presença deste gás. Galerias Paula: gases tóxicos Garcia: riscos biológicos
perto de estações de tratamento poderão,
eventualmente, conter o gás cloro (CL2), é inexistente ou insuficiente. Podendo oxi-acetilênica, aquecimento com chama
as que possuem óleo podem conter gases faltar antes ou depois de o trabalhador e estanhagem também podem causar a
COVs – Compostos Orgânicos Voláteis entrar no EC, o oxigênio pode ser desloca- deficiência de oxigênio das galerias subter-
(tóxicos e inflamáveis) e assim por dian- do por um gás conhecido como asfixiante râneas, além da fermentação de materiais
te”, elucida Paula. simples, como o metano, o dióxido de orgânicos em decomposição, da secagem
Em alguns casos, a proximidade a pos- carbono, o argônio, o nitrogênio, entre de pintura e do próprio consumo humano
tos de abastecimento de combustíveis outros. Ele também poderá ser reduzido dos trabalhadores no local, etc.
pode gerar vazamentos com infiltração no devido ao consumo do mesmo por oxida- Com a presença de tantos gases, vapo-
interior das ERPs (Estações Redutoras de ção (ferrugem). res e substâncias voláteis, além da insu-
Pressão) e caixas de válvulas provocando Paula ressalta ainda que qualquer gás ficiência de oxigênio, podem coexistir no
vapores tóxicos e inflamáveis. pode matar ao substituir o ar e, assim, mesmo EC os riscos de explosão, incêndio
reduzir o nível de oxigênio a uma por- e intoxicação.
RISCOS MORTAIS centagem de concentração abaixo do As galerias subterrâneas também ofere-
Engenheiro de segurança e pesquisador nível normal vital para a vida humana. No cem riscos biológicos devido à presença
aposentado da Fundacentro, Francisco entanto, a presença de um gás asfixiante de agentes como fungos, bactérias, ver-
Kulcsar Neto destaca a importância de bioquímico, em pequenas quantidades, não mes e protozoários. Também é comum a
se verificar o percentual de oxigênio dis- compromete a manutenção do oxigênio presença de animais peçonhentos, ratos
ponível para os trabalhados em galerias dentro das condições normais, apesar de e baratas. O risco de submersão em re-
subterrâneas, onde a ventilação natural a atmosfera apresentar risco mortal. Solda des pluviais e de esgoto, principalmente
em dias de chuva, é outro apontado por
DIVULGAÇÃO/COMGÁS

Garcia. Kulcsar Neto acrescenta ainda as


questões ergonômicas de postura devido
ao trabalho desenvolvido em espaço re-
duzido, possibilidade de aprisionamento
ou encarceramento, presença de calor,
vibração, ruído, radiações ionizantes e não
ionizantes e pressão hiperbárica. Além da
chance de cortes, queda de objetos, queda
de altura e de mesmo nível, queimaduras,
entre outras.

INTENSIFICAÇÃO DE PERIGOS
No caso dos colaboradores que atuam
para empresas de distribuição de energia
elétrica, Miranda explica que os riscos
que eles já teriam normalmente na rede
aérea são intensificados no subterrâneo.
“No caso da ocorrência de um arco elétri-
co, por exemplo, ele tende a se dissipar
Entorno pode influenciar na geração de vapores tóxicos e inflamáveis nas ERPs como se fosse uma esfera, mas no espaço

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Passo a passo
ARQUIVO PESSOAL

Trabalho seguro nas quantificar os acidentes e doenças nesses


ambientes. “Isso porque essas ocorrências
galerias subterrâneas acabam sendo associadas somente aos
exige que todas as etapas fatores causantes, como asfixia, envene-
de SST sejam observadas namento, esmagamento, queda, corte,
choque elétrico, saturnismo, leptospirose,
e não ao tipo de ambiente. Inclusive na
Ambientes complexos por natureza, emissão da CAT, dificultando a estatística
os espaços confinados das galerias sub- sobre o assunto”, revela.
terrâneas tiveram seus riscos agravados Também reconhecendo a complexidade
e acrescidos com a chegada de diversas de se garantir a segurança e saúde dos
empresas fornecedoras de serviços bási- colaboradores nas galerias subterrâneas,
cos para a população. Tornando-se assim, o auditor fiscal do trabalho Sérgio Leti-
Miranda: arco elétrico intensificado
ainda mais importante e essencial cuida- zia Garcia enfatiza a importância de se
dos com a Segurança e Saúde do Trabalho observarem as exigências contempladas
confinado isso não acontece. Ali você para evitar adoecimentos e acidentes na Norma Regulamentadora 33, cuja ela-
tem um afunilamento da propagação da laborais que, devido a sua gravidade, boração ele coordenou. Assim como da
energia e uma concentração muito maior podem causar a morte dos colaboradores NBR 16.577, que trata da prevenção de
para o trabalhador que está executando a que estão no subterrâneo. acidentes, procedimentos e medidas de
atividade”, pontua. Desse modo, segundo Avaliando o cenário no país, a consul- proteção na atuação em espaço confinado.
ele, um trabalho em uma rede subterrâ- tora Paula Scardino demonstra preocupa- Observando que o principal desafio é
nea numa mesma tensão, com correntes ção quanto à realidade encontrada no dia se entender e implantar as informações
de curto-circuito iguais, tende a ter uma a dia das atividades realizadas por traba- e medidas preventivas disponíveis nessas
energia incidente muito maior. lhadores de empresas de água e esgoto, legislações, o engenheiro de segurança
Também pontua que, assim como nos gás, energia elétrica e telecomunicações Francisco Kulcsar Neto afirma que os
postes de distribuição pode haver um que atuam sob o solo. “Observamos que a procedimentos para evitar qualquer
emaranhado de fios, o mesmo pode ocor- grande maioria dos que trabalham nesses imprevistos começam muito antes de
rer nas galerias subterrâneas. “Ali também ambientes hostis, subcontratados ou não, os trabalhadores adentrarem o EC.
podem ocorrer interferências de uma infelizmente, não dispõe de infraestru- “Primeiro deve-se indicar formalmente
instalação com a outra, ter vazamento de tura mínima e básica de controle. Perdi o responsável técnico pelo cumprimento
gases como o natural. Daí a importância a conta de tantas intervenções que fiz das normas, sendo que esse profissional
desse grupo de trabalhadores ser muito vendo as equipes em risco eminente de deve ter conhecimento e experiência
bem treinado”, orienta. vida”, relata. no assunto. Depois deve ser elaborado
Com experiência no setor de teleco- O engenheiro de segurança Guilherme o cadastro desses espaços confinados,
municações, o engenheiro de segurança Nardi aponta também a dificuldade de se com a identificação de risco, perigos e
Guilherme Nardi explica que todas as
DIVULGAÇÃO/SABESP; DIEGO OIO/SABESP

fases desenvolvidas em galerias subterrâ-


neas oferecem perigos aos trabalhadores,
desde a construção da infraestrutura, a
passagem dos cabos e, posteriormente,
nos serviços de manutenção. “Mas os am-
bientes tendem a ficar mais contaminados
com o tempo e, com isso, o confinamento
tende a ser maior nos serviços de manu-
tenção. Principalmente se os ambientes
não são devidamente descontaminados”,
observa.
Com tanto para ser observado no plane-
jamento e realização de um trabalho segu-
ro e saudável nas galerias subterrâneas,
os profissionais de SST das empresas e
os trabalhadores que executam as tare-
fas nos ECs precisam estar em sintonia.
Sempre atuando à luz do que prevêem as
legislações em vigência no país. Ambientes hostis dificultam prevenção de acidentes e de adoecimentos

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possibilidade de forma- gás).“Em caso de suspeita de atmosfera
DIVULGAÇÃO/SEREDE

ção de uma atmosfera de IPVS (Imediatamente Perigosa à Vida ou


risco em poucos minutos. à Saúde) quando o risco é desconhecido,
Por isso a necessidade de os colaboradores deverão fazer uso de
monitoramento contínuo respirador de linha de ar comprimido, de
da atmosfera nas galerias demanda, com pressão positiva e cilindro
subterrâneas”, pontua o auxiliar para escape, atendendo o PPR
engenheiro de segurança (Programa de Proteção Respiratória) e
que coordenou a elabora- detector multigás.
ção da NR 33.
Segundo Luiz Carlos de EQUIPAMENTOS
Miranda Júnior o trabalha- A especialista Paula Scardino que é
dor precisará ter conhe- coordenadora nacional da ABNT NBR
cimento para utilizar os 16.577/2017 destaca ainda a correlação
equipamentos verificando entre os gases combustíveis ou inflamá-
o percentual de oxigênio veis e o gás de calibração escolhido pelo
nos ECs e a presença de usuário. “O sensor deve ser ajustado para
gases como monóxido de o gás-alvo que se deseja medir, porém
carbono (CO) e o gás sul- nesses ambientes dificilmente se encontra
fídrico (H2S). “Mais do que apenas um gás. Por isso, o ajuste pode ser
saber usar os aparelhos, o feito para um gás cuja resposta do sensor
colaborador precisa saber seja suficientemente próximo ao valor real
interpretar os resultados da mistura ou para valores mais restriti-
para conseguir garantir vos”, explica. Fica a cargo do fabricante e/
que a entrada na rede sub- ou fornecedor do equipamento descrever
terrânea seja segura”, des- no manual de operação, entregue com o
Sinalização, isolamento e bloqueio são etapas indispensáveis
taca o engenheiro de segu- detector, os fatores de correlação quando
medidas de controle”, elenca o também rança. Para tal, está disponível no mercado o aparelho for utilizado com gases diferen-
pesquisador da Fundacentro que contri- o detector tipo multigás convencional, que tes daquele utilizado na calibração.
buiu na elaboração da NR 33 e do Guia monitora quatro variáveis conforme sua Kulcsar Neto destaca também a ven-
Técnico da NR 33. Atualmente, uma das configuração. Mas Paula ressalta que ele tilação mecânica, fundamental para se
dificuldades citadas pelos especialistas não conseguirá identificar a existência de obter condições de entrada aceitáveis nas
é que não existe um cadastro único de outros gases tóxicos que podem contami- galerias subterrâneas por meio de insufla-
todos os espaços confinados subterrâneos nar as galerias, dependendo do local em ção e/ou exaustão do ar. Os ventiladores
públicos das concessionárias. que eles se encontram. Desse modo, para devem ser adequados ao trabalho, pos-
qualquer outro tipo de gás que seja iden- suindo marcação apropriada para áreas
AVALIAÇÃO AMBIENTAL tificado no ambiente perigoso, sensores classificadas, assim como serem prote-
A sinalização, o isolamento e o blo- devem ser configurados de forma comple- gidos contra descargas eletroestáticas.
queio vem a seguir. Conforme explica o mentar ou com o uso de instrumento para “O ventilador deve ter capacidade para
engenheiro de segurança Henrique da o gás identificado (detector do tipo mono- um número mínimo de 10 trocas de ar/
Fonseca Marques, isso pode ser feito com
ARQUIVO PESSOAL

SRI/FUNDACENTRO

cones, fita zebrada, gradil de segurança


e placas de sinalização, entre outros. “A
partir daí, será realizada uma avaliação
prévia no local de trabalho sobre possíveis
riscos envolvidos na atividade, que inclui
o monitoramento da caixa subterrânea”.
Com isso é providenciada a aquisição dos
equipamentos que serão necessários para
o trabalho seguro, incluindo-se os instru-
mentos para a avaliação da atmosfera,
para possíveis situações de emergência,
EPCs (Equipamentos de Proteção Cole-
tiva) e EPIs (Equipamentos de Proteção
Individual), conforme Garcia. “Avaliações
ambientais são muito importantes face
à variabilidade dos contaminantes exis-
tentes e suas concentrações, ao reduzido
tamanho de muitos destes espaços e à Marques: avaliação prévia Kulcsar Neto: ventilação mecânica

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hora, de acordo com o volume em metros poníveis e que os meios para acioná-los segura de acessar, se familiarizar com os
cúbicos da galeria. Com dutos flexíveis, estejam operantes. Já o vigia deverá per- equipamentos que irá utilizar e com os
devidamente aterrados, que atendam à manecer fora do espaço confinado, junto aparelhos de detecção. Poderá praticar,
necessidade do EC”, complementa Pau- à entrada, mantendo contato permanente inclusive, a parte de salvamento do plano
la. Afirmando que, muitas vezes, ainda é com os trabalhadores autorizados, reali- de emergência”.
necessário o uso de bomba tipo sapo para zando continuamente a contagem precisa
retirada de águas da chuva. do número de colaboradores que estão PERMISSÃO DE TRABALHO
Marques destaca também o uso do tripé nas galerias subterrâneas, assegurando Na Análise Preliminar de Risco serão
para eventual resgate. Os EPIs depende- que todos saiam ao final da atividade. avaliados os riscos presentes em cada
rão das tarefas a serem executadas nas ga- Outra de suas atribuições é adotar os pro- passo da tarefa que será realizada na
lerias. “Em geral são utilizados capacete e cedimentos de emergência, acionando a rede subterrânea, propiciando condição
calçado de segurança, cinto paraquedista, equipe de salvamento quando necessário para evitá-los ou mitigá-los de modo a
luvas de segurança, óculos e máscaras de e ordenar o abandono do espaço confina- manter uma condição de segurança labo-
proteção. Eventualmente são necessárias do sempre que reconhecer algum sinal de ral aceitável. Engenheiro de segurança e
luvas e botas de borracha ou PVC, entre alarme, perigo, queixa, etc. pesquisador aposentado da Fundacentro,
outros”, lista. Paula lembra ainda da José Possebon explica que a APR deve
necessidade de vestimenta apropriada CAPACITAÇÃO embasar a Permissão de Entrada e Tra-
para a atividade, macacões impermeáveis Todo trabalhador designado para atuar balho e o controle de energias perigosas
e herméticos para contaminação com nos ECs das galerias subterrâneas deve com bloqueio e etiquetagem.
esgoto e proteção respiratória de acordo ser submetido a exames médicos especí- “Se elaborada de forma adequada, a
com o PPR da Fundacentro. ficos para a função que irá desempenhar, PET permite que o trabalhador entre
A empresa também deve designar o incluindo os fatores de riscos psicosso- no espaço confinado, realize sua tarefa e
supervisor de entrada, vigia e trabalha- ciais, com a emissão do ASO (Atestado saia com segurança. Nela consta a iden-
dores autorizados para atuar nas galerias de Saúde Ocupacional). Marques destaca tificação do trabalho, a data, a duração
subterrâneas. Dentre as funções do super- ainda a importância de que estes colabo- da atividade, assim como o conjunto de
visor, está a emissão da PET (Permissão radores estejam devidamente treinados medidas de controle para a segurança do
de Entrada e Trabalho) antes do início das conforme exigências da NR 33, lembran- trabalhador e medidas de emergência e
atividades, assim como o seu encerramen- do que os trabalhadores devem receber resgate”, assinala. Um ponto importante
to após o término dos serviços. Também capacitação periódica a cada 12 meses de deste documento, segundo ele, é que
cabe a ele assegurar que os serviços de forma a torná-los autorizados, reconhe- nele consta a identificação de todos os
emergência e salvamento estejam dis- cendo os riscos, medidas de controle e trabalhadores que atuarão no EC, deven-
procedimentos seguros do ser feita a conferência de que estão
MSA/DIVULGAÇÃO

de trabalho. devidamente capacitados. “O fato de o


Comentando sobre a supervisor de entrada assinar a PET é
recente atualização da mais uma forma de garantir a qualidade do
NR 1, que permite que documento. E o trabalhador que vai entrar
todas as capacitações no EC precisa ter uma cópia da PET, para
previstas nas Normas que tenha todas as informações consigo”,
Regulamentadoras se- complementa Possebon.
jam realizadas na moda- Ainda antes da realização da atividade
lidade EaD ou semipre- na galeria subterrânea, Kulcsar Neto
sencial, Miranda Júnior pontua que deve ser realizado um DDS
observa que a tendên- (Diálogo Diário de Segurança). “Após,
cia veio para ficar, mas pode haver a liberação do trabalho se-
que as particularidades guro de inspeção, manutenção, limpeza,
de cada atividade pre- pinturas, soldas, reparos, construção
cisam ser levadas em nos ECs. Finalizada a tarefa, a PET deve
consideração. “Teria ser encerrada e retirados os bloqueios,
que se limitar o ensino cadeados e etiquetas”. Acrescenta ainda
a distância a uma parte a necessidade de uma avaliação anual da
mais conceitual, teóri- gestão de Segurança e Saúde no Trabalho
ca, mas o trabalhador em espaços confinados da empresa.
que irá atuar em espa- No caso da ocorrência de acidentes
ço confinado precisa durante a realização das atividades nas
que uma parte robusta galerias subterrâneas, ele explica que
do curso seja prática, devem ser aplicadas medidas de contin-
quando ele irá acessar genciamento. Entre elas menciona manter
os locais simulados, a postos equipe de resgate, de salvamento
Trabalhadores precisam ter acesso a locais simulados para treinamento verificar a maneira mais e proteção contra incêndio, meios de co-

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municação com o Corpo de Bombeiros, e no desenvolvimento dos trabalhos
equipamentos de comunicação, iluminação precisa melhorar, assim como a troca de
de emergência, busca, resgate, primeiros informações entre as concessionárias e a
socorros e transporte das vítimas. As em- comunicação de riscos”, cita.
presas podem optar por treinar equipes de A seu ver, deve ser constituída uma enti-
salvamento ou recorrer ao poder público. dade independente que priorize e garanta
“Caso optem pelo poder público, devem o cadastro unificado de todos os espaços
atentar-se de que nem sempre o Corpo de confinados subterrâneos públicos das
Bombeiros terá infraestrutura de controle concessionárias, com a execução da base
como detectores de gases e vapores e cartográfica desses ECs. “A coordenação
ventiladores para uma possível reversão da gestão desse cadastro teria que ser
de atmosfera”, pontua Paula. Por isso, centralizada. Também se faz fundamental
ressalta que o responsável técnico deve a fiscalização para garantir o cumprimento
ter ciência disto e buscar esta interface das normas de Segurança e Saúde do Tra-
com os quartéis próximos de suas áreas balho em galerias subterrâneas”, finaliza.
de concessão. Com toda a complexidade de perigos
encontrados nas galerias subterrâneas,
POSSIBILIDADES que oferecem risco à segurança e à saúde,
Para ela, um cadastro consistente, um não só dos trabalhadores das empresas
sistema de permissão bem elaborado e distribuidoras dos serviços de água e
compreendido pelos trabalhadores envol- esgoto, gás, energia elétrica e telecomu-
vidos, assim como disciplina operacional nicações, mas também da população do
e análise de risco para gerenciamento do entorno, é necessário muito mais do que
espaço confinado certamente garantirão uma política de boa vizinhança. Além de
a segurança das operações em galerias estarem em comunicação com as demais
subterrâneas. empresas com as quais dividem espaço
Reforçando que o desenvolvimento nos ECs, as empresas precisam garantir
de uma cultura prevencionista é um dos que oferecem todos os subsídios aos
maiores desafios, Kulcsar Neto percebe trabalhadores que atuarão no subterrâ-
alguns pontos que poderiam ser aprimora- neo. O que vai desde os equipamentos
dos, promovendo mais segurança e saúde necessários para a avaliação ambiental
para todos os colaboradores que realizam e de segurança coletiva e individual até
tarefas nas galerias subterrâneas. “A uma capacitação de qualidade. Olhar
malha subterrânea urbana é gigantesca para a prevenção de acidentes e doenças
e o mapeamento digital das redes é com- laborais como investimento trará benefí-
plexo. A formalidade no uso, ocupação cios para todos.

Investindo na inovação
Empresas desenvolveram inclusive mecanismos direcionados para
suas necessidades específicas.
soluções para garantir Como é o caso da Embasa (Empresa
mais segurança Baiana de Águas e Saneamento), conces-
nos ECs sionária de serviços de saneamento básico
que é a principal executora das ações
no Estado, atendendo cerca de 85 por
Com a crescente adoção das galerias cento dos 417 municípios baianos. Com
subterrâneas para distribuição dos ser- mais de 50 mil ECs, incluindo PVs (poços
viços de energia elétrica e telecomunica- de visita) de esgoto; ETAs (Estações de
ções, além de água e esgoto e gás natural, Tratamento de Água); ETEs (Estações de
a Segurança e Saúde do Trabalho nestes Tratamento de Esgoto); EEE (Estações
espaços confinados se faz cada vez mais Elevatórias de Esgoto) e reservatórios,
essencial. Ciente de sua responsabilidade ela percebeu uma oportunidade de me-
em garantir um ambiente laboral seguro lhora no seu processo de cadastramento
e saudável para seus colaboradores, mui- e gerenciamento.
tas empresas que atuam nos locais têm Conforme o supervisor de Segurança
investido na prevenção, desenvolvendo do Trabalho, Adriano Nascimento Vaz,

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TRABALHO EM GALERIAS SUBTERRÂNEAS
a Embasa resolveu adaptar um sistema em Segurança e Saúde

DIVULGAÇÃO/COMGÁS
de georreferenciamento (Geoweb), que do Trabalho. Conforme
até então era utilizado apenas pelo setor a analista técnica de
comercial, criando o módulo denominado Segurança do Trabalho,
proCEC em 2017. O sistema permite Joice de Almeida Fran-
a localização de todos os ECs por meio cisco, esse trabalho
de um mapa digital disponibilizado em começa muito antes
um portal web. Nele é possível cadastrar de os colaboradores
e classificar os espaços confinados de adentrarem nos espa-
acordo com o seu tipo, riscos específi- ços confinados. Visto
cos, EPIs e EPCs previamente definidos, que todas as obras de
equipamentos de resgate e salvamento e implantação de rede,
sistemas de resgate. ramal, manutenção,
“Com o proCEC, os profissionais de remanejamento neces-
campo não entram em espaços confinados sitam ser previamen-
às escuras, pois antes de executarem o te autorizadas pelos
trabalho, eles têm acesso a toda gama órgãos competentes
de informações acerca dos ECs. É im- (prefeituras, conces-
portante destacar também que, com a sionárias e outros). É
plataforma, é possível perceber tendên- durante a elaboração
cias e focos baseados nos mapas, como a dos projetos que é rea-
concentração dos espaços confinados com lizada a compatibiliza-
maiores riscos à segurança do trabalha- ção das infraestruturas
dor”, explica o engenheiro de segurança. com as demais empre-
Segundo ele, isso permite que as ações sas presentes nas gale-
preventivas sejam melhor direcionadas. rias subterrâneas por
Ainda que recente, Vaz aponta que a pla- meio da solicitação dos
taforma já trouxe resultados importantes cadastros que intervêm Comgás adotou sistema monopé para entrada de trabalhadores
como a expansão do cadastramento dos na projeção da rede e de outras atividades. emissor da PET (Permissão de Entrada e
espaços confinados de algumas unidades Já durante a atuação nos ECs, ela explica Trabalho), dia, horário, etc.”, relata.
regionais do interior. Além de expandir o que os trabalhadores da Comgás ou presta- Com tipologias de ECs diferentes, com
uso do sistema para todo o estado baiano, dores de serviço são selecionados segundo acesso do tipo ‘quadrado’, por exemplo, a
ele ressalta a necessidade de continuar as exigências da NR 33 em relação aos Comgás constatou que o uso de um tripé
trabalhando na conscientização dos ges- treinamentos necessários e o Atestado de comum para descer o profissional seria
tores quanto à importância da prevenção. Saúde Ocupacional. “Temos um controle inviável. O que a levou a desenvolver um
por fotos, dimensões, endereços e riscos sistema monopé, que pode ser adotado
GÁS NATURAL de todos nossos espaços confinados. Deste em ECs de todos os formatos. “Outro
Distribuindo gás natural para 88 muni- modo, é sempre realizado um planejamen- destaque foi a aquisição do Porta Count
cípios do Estado de São Paulo, a Comgás to antecipado em que levamos em conta a próprio, que realiza teste quantitativo de
também possui investimento constante criticidade da atividade, escolha da equipe, vedação das máscaras utilizadas pelos
trabalhadores. O teste é importante para
a verificação de qual é o tamanho de
DIVULGAÇÃO/COMGÁS

VALDIR LOPES

máscara exato para cada colaborador,


evitando, assim, qualquer problema”,
complementa Joice.
A Comgás também possui um Progra-
ma de Eliminação de Espaço Confinado
que consiste em um estudo anual dos
ECs ativos de acordo com uma matriz de
riscos na qual são selecionados os locais
que apresentam maior risco de acesso,
permanência ou localização crítica, entre
outros. O resultado desta análise é en-
caminhado para a área de renovação de
ativos para eliminação conforme o grau de
risco potencial. Ainda, a cada dois anos, é
contratada uma auditoria de espaço confi-
nado para verificar os processos adotados
Joice: SST no projeto Vaz: expansão do cadastramento e possibilidades de melhorias.

46 REVISTA PROTEÇÃO OUTUBRO / 2019

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