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Carlos José de Brito
Geraldo Cheli Schulze
Antonio Cyro de Azevedo Junior
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. HISTÓRICO
. ENXERTOSSINTÉTICOS(PRÓTESES)
= PR9TESESDE DÁCRONE DE PTFE
c PRÓTESEDE POLlURETANO
= ENXERTOSHOMÓLOGOS
. ENXERTOS
HETERÓLOGOS
. ENXERTOSAUTÓLOGOS
& PERSPECTIVAS
FUTURAS
= PRÓTESESPLÁSTICASSEMEADASCOM CÉLULASENDOTELlAIS
= PRÓTESESPLÁSTICASIMPREGNADAS
= PRÓTESESABSORVíVEIS
. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Capítulo 8
ENXERTOS
VASCULARES
Enxertos vasculares são estruturas tubulares de vários valor reconhecido, os resultados obtidos foram desalen-
tipos, constituídos de tecidos sintéticos ou biológicos, tadores. Afirmaram DeBakeyl5 e Simeone, após a análise
cuja finalidade é substituir segmentos vasculares lesados de 2.471 casos, que nenhum outro procedimento além
por doenças ou traumas. de ligadura era aplicável à maioria dos traumatismos vas-
Os enxertos podem ser sintéticos, chamados pró teses, culares que chegavam ao cirurgião militar.
ou biológicos. Os biológicos podem ser obtidos do pró- Como os enxertos venosos não podiam ser aplicados
prio paciente, sendo denominados autólogos; de animal à aorta, os cirurgiões e pesquisadores continuaram a ima-
da mesma espécie, ou seja, de outro ser humano, chama- ginar e testar novos enxertos que pudessem ser aplicados
dos de homólogos; ou ainda serem provenientes de ani- a essa grande artéria.
mais de outra espécie, quando são chamados heterólogos. Em 1949, Robert Gross,16de Boston, relatou 15 enxer-
tos arteriais homólogos usados em coarctação de aorta
HISTÓRICO torácica e Tetralogia de Fallot. A partir dessa ocasião, gran-
des hospitais americanos mantiveram bancos de artérias
Uma breve revisão histórica é indispensável para acompa- usando técnicas, então desenvolvidas, de preservação de
nharmos a evolução do pensamento que culminou com os artérias removidas de indivíduos jovens que faleciam de
modernos enxertos vasculares. Foi sempre o sonho dos trauma ou doenças não malignas. Em 1951, Outdot17 pu-
cirurgiões conseguir reparar ou substituir partes lesadas blicou a primeira ressecção de uma bifurcação de aorta
do organismo. Quanto, especificamente, às substituições trombosada, usando na reconstituição um enxerto homó-
arteriais,Jaboulayl já, em 1896, em trabalho experimental, logo. As primeiras ressecções de aneurismas abdominais,
usou auto-enxertos arteriais em cães e previu que, com o com reconstituição vascular, foram feitas, em 1951, por
aperfeiçoamento dessa técnica, ela poderia ser utilizada Schafer18 e por Dubost19 que também utilizaram enxertos
no tratamento dos aneurismas vasculares e da aterosclero- homólogos. Particularmente em artérias mais periféricas,
se periférica no homem. O primeiro enxerto venoso foi esses enxertos apresentaram, com o passar do tempo, pro-
colocado em uma artéria carótida por Gluck,2 em 1898, cessos degenerativos com oclusões, formações aneurismá-
sendo que Goyannes3 é tido como o primeiro a usar um ticas e rupturas. Por esses inconvenientes - aliados às difi-
enxerto venoso no homem, em 1906, em caso de aneuris- culdades de obtenção, estocagem e disponibilidade em
ma de poplítea. Restaurou a continuidade da artéria com comprimento, forma e calibres diversos -, esses enxertos fo-
um segmento de veia poplítea homolateral, não dissociada ram progressivamente sendo abandonados.
dos tecidos vizinhos, operação que denominou "arterio- . O grande passo que sepultaria de vez os enxertos ho-
plastia venosa". Em 1907, Lexer4 relatou um enxerto veno- mólogos foi a publicação, em 1952, por Voorhees20 na qual
so bem-sucedido para correção de um aneurisma axilar, relatava o emprego de 1YnionN para restabelecer a continu-
tendo sido o pioneiro dos enxertos venosos livres. Em idade da aorta abdominal em 15 cães. Ficou demonstrado
1913, Pringlé relatou 2 enxertos venosos para o tratamen- como o plástico podia ser usado com bons resultados, subs-
to de aneurisma das artérias poplítea e braquial. tituindo segmentos arteriais. O conceito de um enxerto ar-
Em 1950, Holden6 ressecou a artéria femoral e a tificial e poroso tinha nascido. Mesmo com outros materia-
substituiu por enxerto venoso autólogo da femoral su- is utilizados, persistia o problema de que essas pró teses
perficial invertida com anastomoses terminoterminais. eram dificeis de manusear, as suas extremidades tinham
Em 1948, Kunlin7 introduziu o princípio do bypass e, em que ser dobradas para evitar o esgarçamento pela sutura,
1951, publicou sua experiência com o uso 'de 17 enxertos não tinham elasticidade e acotovelavam com facilidade.
venosos longos de safena interna, padronizando técnica Esse~ problemas foram resolvidos em 1955, quando
para seu uso em bypassnas obstruções segmentares da ar- Edwárds21 introduziu em prótese de náilon o princípio da
téria femoral superficial. 8 corrugação (crimPing). Os enxertos corrugados tinham
Foi no início do século passado que o gênio de Carrel elasticidade, eram maleáveis, fáceis de serem manuseados e
estabeleceu, em diversos trabalhos experimentais,9-13bases mantinham sua forma, dificultando o acotovelamento.
sólidas e até hoje válidas para a cirurgia arterial e, em parti- Outros materiais foram utilizados, como o orlon por
cular, para o emprego dos enxertos arteriais. Em 1912, Car- Hufnagel,22 em 1955, o teflon por Harrison,23 em 1958 e o
rel foi contemplado com o Prêmio Nobel de Medicina "em dácron por Julian,24 em 1957, Szilagyi25e DeBakey,26em
reconhecimento a seus trabalhos em suturas vasculares e 1958, que se mostrou o mais durável e resistente dos teci-
transplantes de vasos sanguíneos e órgãos".14 dos, sendo até hoje largamente utilizado. Rosemberg,27
Durante a Primeira Guerra Mundial, apesar do gran- em 1956, reportou, em uso experimental, o progresso de
de número de traumatismos arteriais, pouco foi feito uma técnica já anteriormente tentada de, pela digestão
com relação à restauração vascular. Na Segunda Guerra enzimática de enxerto obtido da carótida bovina, eliminar
Mundial, apesar de as suturas vasculares terem o seu a parte muscular e, portanto, celular, criando um tubo
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS
puramente colagênico. Só uma década depois esse enxer- ção, o que dentro de certo limite é desejável, para que ela
to teve uso clínico, com bons resultados iniciais. A experi- fique bem incorporada ao organismo. A implantação da
ência mostrou, entretanto, processos degenerativos com o prótese ativa de forma significativa o sistema de comple-
passar do tempo e índice importante de infecção. mento, embora ele volte ao normal em torno de 10 dias
A primeira tentativa de uso de veia umbilical humana após a cirurgia.34
foi feita por Nabseth,28 em 1960. Com resultados iniciais A prótese deve ser fisicamente resistente e durável,
decepcionantes, o método foi retomado por Dardik29 que, isto é, não pode apresentar, com o passar do tempo, dilata-
mudando o tratamento dado ao enxerto, publicou, em ção significativa, formação de aneurismas, rupturas ou
1976, os bons resultados obtidos com essa técnica. Para alongamento importante, que possam levar a acotovela-
tornar o enxerto mais resistente, foi introduzido um reves- mentos. Deve ainda ser passível de esterilização, sem que
timento externo com malha de dácron. esse processo altere a sua estrutura, e facilmente estocável
Em 1976 foi relatada a primeira aplicação clínica de por longos períodos, sem que isso comprometa a esterili-
uma nova pró tese de teflon: pela primeira vez uma pró te- zação. Dentro do possível, a prótese deve ser resistente à
se não teci da, mas resultante de uma expansão do mate- infecção. A porosidade do material é tida como impor-
rial, o tetrafluoroetileno expandido ou PTFE, até hoje tante para uma boa integração da pró tese ao organismo.
muito utilizado na cirurgia vascular.30 A compliância é a capacidade de um corpo permitir
Sparks31,32conduziu uma nova tentativa de criar um a alteração de sua forma mediante uma força aplicada.
tubo biológico e autólogo, implantando um mandril de Para as pró teses, significaria a dilatação (aumento de diâ-
silicone revestido de dupla malha de dácron no subcutâ- metro) quando a pressão interna aumentasse, resultando
neo do paciente já no trajeto do futuro bypass. Cinco ou 6 em maior ou menor pulsatilidade, que ocorre entre a sís-
semanas depois, o mandril era retirado, e o tubo do teci- tole e a diástole. As pró teses de dácron e PTFE têm pouca
do formado em torno desse mandril era isolado apenas compliância, existindo ainda urna alteração devida ao
em suas extremidades que, suturadas nas artérias recep- tecido cicatricial que envolve a pró tese.
toras, constituíam um bypass. Essa idéia foi retomada, em Em um seguimento feito em 8 pacientes com pró te-
1981, com o mandril implantado no subcutâneo de car- ses de dácron em posição iliofemoral, a variação do diâ-
neiros, com técnica modificada, mas os resultados tam- metro durante o ciclo cardíaco foi de 6% após um mês de
bém não foram duradouros.33 implante e de apenas 1%, um ano após.35 Qual a influên-
As próteses vasculares são dispositivos feitos pelo ho- cia da compliância inicial no funcionamento da pró tese
mem para substituir partes lesadas do sistema vascular. Além a longo prazo é controverso.36
das próteses inteiramente artificiais, o conceito pode ser A pró tese deve ser disponível em diversos tamanhos,
estendido para o material biológico modificado pelo ho- formas e comprimentos para que possa ser adaptada a
mem. Não estão incluídos nesse conceito os enxertos autá- diversas situações clínicas. Deve possuir ainda elasticida-
logos, que possuem tecido vivo; são os enxertos venosos e de e plasticidade suficientes para uma boa adaptação
arteriais, obtidos do próprio paciente e logo utilizados, sem aos trajetos e às anastomoses em artérias quase sempre
sofrerem alterações por métodos de preservação. com paredes alteradas e irregulares. Deve ser, portanto,
fácil de ser manuseada. As condições para a sutura de-
vem ser adequadas, isto é, não haver resistência excessiva
ENXERTOS SINTÉTICOS (PRÓTESES) à passagem da agulha, e a sutura não provocar qualquer
esgarçamento, mesmo a longo prazo. A superfície inter-
As pró teses sintéticas foram desenvolvidas a partir do uso na da Itrótese deve ser a menos trombogênica possível. A
do Vynion N por Voorhees,20 em 1952. As pró teses artifi- pró tese tem que ser ou se tornar inteiramente impermeá-
ciais modernas apresentam resultados muito bons em ar- vel. Como algumas pró teses têm poros grandes, há ne-
térias de grande calibre, mas deixam a desejar quando a cessidade de pré-coagulação ou de impregnação com
pró tese é de pequeno calibre, sendo que abaixo de 6 mm substâncias absorvíveis. O preço não deve onerar de for-
de diâmetro os resultados são ainda desanimadores. ma significativa o custo da cirurgia.
Existem diversas características que são consideradas
ideais, para que uma prótese possa ser utilizada no pacÍ- PRÓTESES DE DÁCRON E DE PTFE
ente. Em primeiro lugar, a biocompatibilidade com o
organismo em que ela vai ser implantada. O material pre- As próteses sintéticas podem ser tecidas ou derivadas de
cisa ser livre de qualquer efeito significativo, quer seja um material expandido. No primeiro caso estão as pró te-
tóxico, alérgico ou carcinogênico. Quando implantada, a ses de dácron que são fabricadas em duas formas de tece-
pró tese representa um corpo estranho e provoca uma lagem: woven, que é uma malha mais fechada (Fig. 8-1) e
reação tecidual com conseqüente processo de cicatriza- knitted com malha mais aberta e, portanto, poros maiores
Capítulo 8
ENXERTOS VASCULARES
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(Fig. 8-2). Essa última tem a vantagem de ser um enxerto mais difíceis de serem manuseadas pelo cirurgião, custam
de melhor plasticidade e, portanto, mais facilmente manu- mais a serem incorporadas ao organismo, e a vantagem
seado, Os poros maiores têm a vantagem da melhor incor- da não pré-coagulação sobre as knitted deixa de ter im-
poração da prótese ao organismo, e a desvantagem de portância após o aparecimento da técnica de impregna-
uma indispensável pré-coagulação, Para tomar os enxer- ção dos poros nessas últimas.
tos knitted impermeáveis, sem que a vantagem dos poros Uma outra alteração que visa a conferir uma melhor
grandes seja perdida, a malha foi impregnada com subs- integração da prótese ao organismo é a introdução de
tâncias absorvíveis, como colágeno bovino, albumina e uma superfície aveludada ao enxerto que pode ser feita
gelatina. No período de alguns meses essas substâncias na face externa da prótese, na interna ou em ambaso É a
eram absorvidas, deixando os poros abertos para que as chamada prótese velour ou double,velour respectivamente,
vantagens desse tipo de tecelagem fossem mantidas (Fig. a que pode ser tecida tanto em dácron knitted quanto
8-3)0Um possível risco dessa impregnação seria as reações woven (Figo84). As numerosas fibrilas que se projetam da
alérgicas ou imunológicas que essas substâncias protéicas superfície da prótese, tomando-a aveludada, conferem
poderiam provocar no organismo. A experiência adquiri- uma melhor fixação, tanto da prótese aos tecidos circun-
da com a comparação de enxertos não impregnados com vizinhos como também à pseudo-íntima. A tecelagem
aqueles impregnados mostrou que esses possíveis efeitos aveludada melhora a elasticidade e as condições de ma-
indesejados com albumina,37 gelatina3S,39e colágeno34,4043 nuseio da prótese. Quanto à trombogenicidade ou aos
ou não ocorriam ou, se ocorriam, não apresentavam qual- resultados a longo prazo, ainda não existem provas con-
quer tradução clínica. Apesar de se detectar ativação signi- clusivas de que h.ya diferença entre as próteses velour e as
ficativa do sistema de complemento quando um enxerto de dácron não-aveludadas.44
de dácron é implantado, a comparação feita com as pró te- A complicação mais freqüente nas próteses de dá-
ses impregnadas com colágeno não mostrou qualquer cron é a sua dilatação. Embora a dilatação possa ser fo-
aumento com relação a essa ativação.34 Os enxertos knitted cal, essa parece ser uma complicação muito pouco fre-
não perdem a sua característica de fácil manuseio com a qüente, sendo a dilatação generalizada, em maior ou me-
impregnação dos poros. nor grau, uma conseqüência praticamente constante em
As pró teses de tipo woven são mais resistentes; em todas as próteses. Os enxertos tipo woven têm tendência
geral não necessitam de pré-coagulação' em função de muito menor à dilatação que os do tipo knitted.45 No mo-
seus poros mais fechados e dilatam menos após a implan- mento em que o clampe proximal é retirado e a circula-
tação, com relação às do tipo knitted. São, entretanto, ção é estabelecida pela prótese de dácron knitted, há uma
dilatação imediata de 10% a 20%, com relação ao calibre
que vem discriminado na embalagem, e essa dilatação é
Fig. 8-4.
Microfotografia de
prótese de dácron
velour. Adaptado de
Brewster De. Prosthetic
grafts. In: Rutherford
RB,(Ed.) Vascular
Fig. 8-2. Microfotografia de prótese de dácron I>\IOven.
Adaptado de surgery. 5i!ed.,
Brewster De. Prosthetic grafts. In: Rutherford RB,(Ed.) Vascularsurgery. Philadelphia: WB
5i!ed., Philadelphia: WB Saunders, 2000, p. 559. Saunders, 2000, p. 559.
'~r~ SeçãoI
CAPíTULOS
BÁsICOS
mais ou menos progressiva com o passar do tempo. Estu- ropoplítea, sendo que a mortalidade chega a 75%, em
dos realizados com o seguimento dessas pró teses, usan- caso de envolvimento de prótese aórtica.5o Maiores deta-
do ultra-sonografia ou tomografia, mostraram, em lhes deverão ser procurados no capítulo "Infecção em
periodo que variou de 1 a 20 anos, crescimento que foi de prótese vascular".
23% a 94% quando comparado ao calibre no momento O segundo tipo de pró tese sintética é aquela consti-
da implantaçã04547 (Fig. 8-5). Wilson48 et alo relataram 2 tuída, não por técnicas de tecelagem, mas por expansão
casos de aneurismas que se desenvolveram em prótese do material. É a prótese de PTFE, ou seja, tetraclorofluo-
de dácron, um diagnosticado após 19 anos, e outro após roetileno expandido, que é o teflon expandido. É um
15 anos da cirurgia. Entre 1970 e 1996 os autores identifi- enxerto poroso, mas não necessita de pré-coagulação
caram 11 casos relatados na literatura de ruptura dessas desde que os poros são em grande número, mas peque-
pró teses, complicação, portanto, bastante rara. nos, não permitindo o extravasamento de sangue, quan-
Esses achados levam a duas conclusões práticas: a do o fluxo sanguíneo é liberado (Fig. 8-6). É de manuseio
primeira é de que devemos escolher uma prótese, com confortável, mas, pela sua pouca elasticidade, é mais difi-
calibre sempre um pouco menor do que aquele aparen- cilmente adaptável às anastomoses em artérias com pare-
temente adequado, e a segunda, de que há necessidade des muito alteradas. Sua superfície interna lisa facilita a
imperiosa de seguir a evolução do calibre dessas pró teses trombectomia com cateter de Fogarty em caso de reope-
através de métodos não-invasivos, pelo periodo de mui- ração, e seu grau de trombogenicidade é baixo.51 Tem
tos anos. A conseqüência mais freqüente dessa dilatação maior resistência à dilatação quando comparado aos
é a de que ela seja a causa ou, pelo menos, contribua para enxertos de dácron, e parece ser mais resistente a infec-
o aparecimento de aneurismas de boca anastomótica.49 ções.52Nas prótese de PTFE, o sangramento pelo orifício
Outra possível conseqüência é que a dilatação, se signifi- de passagem da agulha é maior, a ocorrência de falsos
cativa, facilite a formação de trombos pela queda da velo- aneurismas de boca anastomótica é mais freqüente, 53e o
cidade do fluxo sanguíneo, no interior da prótese. O se- aparecimento de hiperplasia de {ntima é causa comum
guimento das próteses com dilatação significativa mos- de falha da pró tese. 54Os enxertos de PTFE têm um custo
tra, entretanto, que os problemas -
especificamente devi- superior àqueles de dácron.
dos ao aumento do diâmetro - são ocasionais, e a grande Para artérias de médio calibre e para as derivações
maioria evolui sem qualquer complicação.46 Os seromas extra-anatõmicas, muitos cirurgiões dão preferência ao uso
em torno da prótese, sem infecção, em virtude de sua do PTFE. Para o uso na região aortoilíaca, a maioria dos
não incorporação aos tecidos vizinhos, são ocasionais. A cirurgiões prefere as próteses de dácron, embora alguns
complicação mais grave é evidentemente a'infecção que, usem, também, nessa região as próteses de PTFE. Na opi-
em geral, implica na retirada total da pró tese e em resul- nião dos autores, as bifurcações de PTFE na posição aortoi-
tados muito precários, especialmente se a pró tese for aór- líaca - apesar de melhoras feitas recentemente, especifica-
tica. A infecção da prótese pode ocorrer em qualquer -
mente, para as bifurcações não têm a mesma facilidade
periodo de tempo após a implantação da pró tese. A inci- de adaptação que as de dácron às condições, muitas vezes,
dência de infecção varia de 1,34% quando se refere à bastante adversas que as alterações da anatomia pela ateros-
região aórtica, até 6%, quando em relação à região femo-
clerosecriam nessa região. Os bypasses femoropoplíteos,aci-
ma do joelho, com PTFE, dão resultados que não diferem
muito daqueles obtidos pelos enxertos venosos autólogos,
mas os resultados na poplítea abaixo do joelho são bem pio-
res no fTFE com relação aos enxertos venosos, sendo que
para as artérias das pernas os resultados do PTFE são
decepcionantes.55 Apesar da grande experiência acumula-
da com o PTFE para a reconstrução infra-inguinal, ainda
não está claramente estabelecida sua vantagem sobre os
F,g ~.-8.Segmento de
I:ig 8-" Prótese de prótese de cordão
PTFE. a) PTFE anelado; umbilicalreforçada
b) PTFE simples. com malha de dácron.
'J...
Seção I
CAPíTULOSBÁsICOS
anatõmicas o enxerto foi também utilizado, como para casos relatados é pequeno, não existe ainda base para
bypasses extra-anatõmico e aortorrenal, mas nessas posi- uma correta avaliação. Outras tentativas foram feitas,
ções não mostrou vantagem sobre as próteses de plástico. usando-se um reforço externo como nos enxertos de veia
Mesmo nos bypasses infra-inguinais, a veia umbilical só foi umbilical, ou tratando carótidas de cães com detergen-
utilizada quando uma veia autóloga não estava disponível. tes, resultando um tubo acelular, contendo apenas elasti-
A grande questão é saber se esse enxerto, nessa situação, na e colágeno. Esse último enxerto deu resultados anima-
tem vantagens sobre a pró tese de PTFE. Alguns trabalhos dores em uso experimental, mas os resultados da utiliza-
mostraram a superioridade da veia umbilical em bypass ção em pacientes ainda não estão disponíveis.80 Entre nós
infra-inguinal, tanto acima como abaixo do joelho, quan- o uso do pericárdio bovino, quimicamente tratado, tem
do comparados às pró teses de PTFE.71,72Alguns outros sido aplicado em posição aórtica com tubo reto ou bifur-
trabalhos, entretanto, não confirmaram essa superiorida- cado, sendo totalmente impermeável e permitindo uma
de.73,74A veia umbilical apresenta algumas desvantagens. boa incorporação aos tecidos.81
A anastomose, especialmente em artérias de pequeno cali-
bre, é difícil, pois o enxerto tem a parede espessa, e os
pontos de sutura têm que englobar o revestimento de ENXERTOS AUTÓLOGOS
dácron. O manuseio tem que ser cuidadoso, pois o enxer-
to é friável e sujeito a dissecções parietais durante a mani- São aqueles obtidos do próprio paciente durante o ato
pulação. Na passagem pelos túneis, a fricção pode causar cirúrgico, com utilização imediata, isto é, sem ser subme-
danos ao revestimento de dácron e as reoperações são tido a qualquer processo de conservação. Os enxertos
mais difíceis; tanto pela dissecção como pelas dificuldades autólogos podem ser arteriais ou venosos.
com o uso de cateter de Fogarty. Após alguns anos de
implantação, nota-se uma tendência à degeneração parie- ENXERTOS ARTERIAIS AUTéLOGOS
tal, levando a possíveis tromboses ou rupturas.75 Os pro-
blemas apresentados pelos enxertos de veia umbilical leva- o enxerto arterial autólogo, é o que mais se aproxima do
ram a maioria dos cirurgiões a dar preferência à pró tese substituto vascular ideal. Foi inicialmente usado por Wylie82
de PTFE, sempre que uma veia autóloga, em boas condi- e tem como vantagem manter a viabilidade, não degenerar
ções, não esteja disponível. com o passar do tempo, aumentar proporcionalmente de
diâmetro, acompariliar o crescimento, quando usado em
crianças, cicatrizar em regiões infectadas e manter-se sem
ENXERTOS HETERÓLOGOS
--- acotovelamentos, quando atravessa uma articulação.
Denomina-se enxerto heterólogo àquele removido de A pouca disponibilidade é um inconveniente impor-
animal de espécie diferente. Esses enxertos sofriam di- tante desses enxertos. A ilíaca interna, por exemplo, pode
versos processos degenerativos em razão de problemas ser removida para um bypassaortorrenal, sem necessidade
de incompatibilidade celular entre o tecido do doador e de reconstituição, ficando naturalmente restrita a uma
do receptor. Tentando resolver esse problema, Rosem- remoção unilateral. Nos pacientes idosos, especialmente
berg,27 em 1956, usou a ficina para promover uma diges- do sexo masculino, com freqüência, existem lesões ateros-
tão enzimática de artéria carótida bovina, removendo, cleróticas a esse nível o que torna essas artérias inadequa-
dessa forma, a parte celular, resultando um tubo pratica- das. A ilíaca externa ou mesmo todo o segmento ilíaco, isto
mente só de colágeno e relativamente não-antigênico. é, comum e externa, também podem ser removidos, mas
Em 1976, foram relatadas séries com esses enxertos em com reconstrução do segmento retirado por uma pró tese
posição femoropoplítea, com resultados comparáveis de dádron ou PTFE. A artéria esplênica também pode ser
àqueles obtidos com as pró teses plásticas.76,77Com o pas- usada, mas com restrições, em razão das alterações dege-
sar do tempo, os enxertos mostraram uma tendência nerativas que podem existir em pacientes idosos. A artéria
para a formação de aneurismas e ocorrência de infec- radial também tem sido utilizada.83 Nas reconstruções da
ção.76 Esses enxertos foram usados com sucesso como artéria renal, os enxertos arteriais autólogos, pediculados,
acesso para hemodiálise, com funcionamento bastante de hepática e esplênica mostraram bons resultados.84 As
satisfatório.78 Como o PTFE usado com essa mesma finà- artérias mamárias internas também têm sido usadas em
lidade mostrou resultados considerados também muito cirurgia das coronárias, com ótimos resultados.
satisfatórios, esse enxerto tem sido o preferido da mai- Outra forma de usar a artéria autóloga é remover um
oria dos cirurgiões, em detrimento dos heterólogos. Saw- segmento ocluído por aterosclerose, quase sempre de fe-
yer,79 em 1987, relatou o uso da carótida bovina, tratada moral superficial ou, com menos freqüência, do eixo
com glutaraldeído, resultando um enxerto com carga iliofemoral, realizar uma endarterectomia e usá-Ias como
negativa e resultados promissores. Como o número de substitutos vasculares ou remendos.
Capítulo 8
ENXERTOS
VASCULARES
ram-se mais resistentes à infecção quando implantadas (d) O dácron woven tem características de maleabili-
em cachorros. Essa linha de pesquisa permanece ainda dade que tornam mais fácil o seu manuseio pelo
na fase experimental, e novos processos estão sendo tes- cirurgião, com relação ao knitted.
tados para tentar uma melhor retenção e liberação em
tempo prolongado do antibiótico.
2. Qual afirmação abaixo é correta?
(a) O melhor dos enxertos será sempre o de veia au-
tóloga, particularmente a safena interna.
PRÓTESESABSORVíVEIS (b) O cirurgião pode evitar a hiperplasia intimal se
manipular a safena de forma correta, antes de
Como a permanência da própria prótese no organismo utilizá-Ia como substituto arterial.
parece responder por muitos efeitos adversos, uma das solu- (c) O melhor dos enxertos é a artéria autóloga, cujo
ções imaginadas foi o desenvolvimento de um tipo de próte- defeito é a sua pouca disponibilidade.
se que, com o passar do tempo, fosse inteiramente absorvi- (d) A safena interna usada exsitu tem necessariamen-
da, deixando apenas um tubo, com as vantagens já referi- te que ser invertida em função do sentido do flu-
das, de tecido puramente autólogo, com uma provável redu- xo permitido pelas válvulas.
ção de trombogenicidade.97 Foi observado, entretanto, uma
tendência à dilatação ou mesmo à formação de aneurismas 3. Qual afirmação abaixo é correta?
nesses tubos autólogos, com o passar do tempo. (a) Enxerto heterólogo é aquele obtido de animal da
A evolução lógica seria, então, a de uma prótese que mesma espécie.
tivesse uma reabsorção durante um período longo de (b) Enxerto autólogo é o obtido de animal da mesma
tempo, com a esperança de que com a presença do refor- espécie.
ço de parte da malha da pró tese por mais tempo, houves- (c) Enxerto homólogo é aquele obtido do próprio
se também um período suficiente para o desenvolvimen- corpo do paciente operado.
to de um tubo autólogo mais resistente. Trabalhos experi- (d) A safena retirada do próprio paciente para uso
mentais têm sido relatados com o uso de materiais diver- em enxerto é autóloga.
sos na parede da pró tese, alguns, mais rapidamente bio- 4. Qual afirmação abaixo é correta?
degradáveis, permitindo rápido crescimento dos tecidos, (a) Todas as pró teses de dácron knitted apresentam
enquanto outros, com reabsorção mais lenta, manteriam alguma dilatação após serem implantadas como
a resistência mecânica do enxerto por tempo mais pro- substitutos arteriais.
longado.98,99 Embora represente um conceito promissor, (b) Os enxertos de veia umbilical têm como vanta-
essas pró teses ainda permanecem na área experimental. gem serem autólogos.
Assim, a procura por uma prótese ideal prossegue (c) O problema dos enxertos de plástico é a sua bai-
com intensidade, mas, como vimos, diversas idéias e con-
xa disponibilidade.
ceitos promissores ainda permanecem no terreno experi- (d) Os enxertos de safena obtidos do próprio pacien-
mental, e séries clínicas são aguardadas para que sejam te têm a vantagem de não sofrer alterações parie-
comprovadas as vantagens de seu uso no ser humano. tais com a passagem do tempo.
Atualmente, com o grande desenvolvimento das téc-
nicas endovasculares, foram desenvolvidas pró teses com 5. Qual afirmação abaixo é correta?
características especiais e que serão obje,to do próximo (a) As infecções nos enxertos plásticos são mais fre-
capítulo. qüentes na região aortoilíaca.
~b) As infecções que acometem os enxertos plásticos
QUESTÕES são mais graves que aquelas que atingem os autó-
logos.
1. Qual afirmação abaixo é correta? (c) Não ocorrem aneurismas verdadeiros nos enxer-
(a) A impregnação dos poros de dácron knitted por tos venosos autólogos, desde que a alteração pa-
substâncias absorvíveis foi uma solução para o rietal seja muito pequena com o passar do tempo.
sangramento peroperatório. (d) As próteses de PTFE dão resultados satisfatórios
(b) O dácron woven tem a vantagem de poder rece- quando implantadas em artérias da perna.
ber suturas junto às bordas sem perigo de esgar-
çamento. RESPOSTAS
(c) A prótese de PTFE tem a vantagem de ter a sua
superfície interna totalmente recoberta por célu- 1.A 2.C 3.D 4.A 5.B
las endoteliais, após algum tempo de implante.
Seção I
CAPíTULOSBÁSICOS
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