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-Escutem, pois estas serão seus últimos momentos com seus colegas de turma.

A partir
deste semestre, vocês terão de conseguir comida e agua, construir um abrigo, evitar que
outro grupo os roube e assistir aulas pela parte da manha neste local em que todos estão
agora. – o diretor gritava para ser ouvido, preocupado com todos os seus diversos
estudantes enquanto os mandava para a floresta e mantinha o máximo de pessoas de sua
inteira confiança protegendo todos os alunos humanos dos que não o são.

- A sua parceria é o único que esta do seu lado, pois estarão todos tentando sobreviver e
muitos de vocês iniciarão um verdadeiro ataque sob aqueles que consideram mais
fracos. O torneio foi apenas para separa-los de maneira que não fiquem em
desvantagem, mas vocês podem escolher sua parceria se assim acharem melhor. - ele
olhou alguns alunos da turma dois (que eu suspeito serem criaturas meio humanas) com
um olhar de advertência. O diretor apontara o sino, para chamar a atenção dos alunos
que estão cochichando entre si e assim prestar atenção nele.

-No inicio de cada manhã será tocado três vezes para anunciar que a aula esta
começando e dar o tempo necessário para vocês chegarem aqui. A dupla que faltar a
mais de três aulas receberá uma punição escolhida por todos e o professor do dia.
Poderão levar uma mochila com equipamentos de cozinha, roupas, algumas ferramentas
de entalhe e costura. Podem escolher agora.

Segurei o braço de Allen vendo Canda fazer o mesmo em Alice, assim como os outros.
Muitas duplas são as mesmas da parceria de quarto e o diretor não parece nem um
pouco surpreso. Afinal, as parcerias de dormitório já são separadas de maneira a deixar
os alunos em certa vantagem. Mesmo as garotas, que geralmente dividem o quarto com
a garota mais oposta a elas, escolheram justamente suas supostas “inimigas” para fazer
parceria nestes seis meses. Acredito que elas saibam exatamente o que elas não querem
ter de enfrentar caso fiquem com suas amigas, o que eu compreendo perfeitamente.

-Boa sorte a todos. -desejara a vice-diretora, apos todos estarmos separados e usando
uma placa de identificação semelhante as que o exercito utiliza para identificar seu
pessoal.
Percebi o medo de Allen, uma vez que o líder do conselho estudantil tentará pegá-lo
dentro desta floresta. Todos que desejam o sangue dele farão ao menos uma tentativa,
disso temos a mais absoluta certeza.

-Entrem na floresta. -dissera nos olhando.


-Coff, coff. -tossira a professora de carpintaria, conseguindo a atenção de todos. -
"Mochilas". -sussurrara, de olho em nós.
-Ah é. -dissera o diretor, batendo em sua própria cabeça. - Cada um pegue uma mochila
e depois podem ir. -ele sorriu para todos, vendo o receio em nossos olhos.
Me aproximei da mochila mais pesada a jogando nas costas e puxei Allen para que ele
fizesse o mesmo, só que pegando a mochila mais leve. Pude ver que ele não gostara de
ser o centro das atenções, visto que seu rosto esta tão vermelho quanto um pimentão
maduro.
-Hei, vamos logo. -murmurei puxando-o pelo braço para chamar sua atenção.
Os segundos a pegarem suas mochilas foram Canda e Alice, ou pelo menos eu acho que
foram eles, pois estou rebocando Allen para longe desta clareira. O tempo será crucial
para nos ocultarmos na floresta caso ele deseje não ser um “alvo” esta noite.

-Allen, escute-me. Precisamos sair daqui rápido. -disse bem serio, vendo que ele esta
prestando atenção no que digo.

-OK. -murmurara balançando a cabeça.

Parecia estar tão alheio a sua situação quanto eu estou com raiva dele por ter de me
colocar na função de protetor dele em vez de parceria, o que é uma droga. Muito em
breve eu terei de treina-lo para a maior variedade de inimigos possíveis e meu humor
esta ficando cada vez pior. Odeio fazer algo a quem não quer ser ajudado.

-Temos de nos afastar desta área, pois estaremos expostos e também precisamos
encontrar um esconderijo que mascare o seu cheiro para passar a noite. -disse sentindo o
medo que emana dele como uma neblina.

-Por quê? -perguntara olhando a floresta como se algo hostil fosse pular dos arbustos.

-Por que tenho certeza de que todos os alunos do primeiro ano estão nesta floresta,
incluindo os do conselho estudantil que queriam te pegar. -disse vendo o pânico de ele
aumentar, enquanto ele procura por traz dos arbustos algo que poderia usar como arma.

Olhei ao redor, vendo que mais para frente tem um rio e algumas cavernas com animais
selvagens. O tipo de animal que não permite a aproximação de pessoas desconhecidas
ou de criaturas sobrenaturais, pois esta relação nunca acaba bem para o ser mais frágil e
é exatamente este tipo de animal que nos manterão ocultos.

-Allen, eu vou te proteger deles. -disse o segurando pelos ombros para acalma-lo e ao
mesmo tempo chamar sua atenção para o fato de que ele não esta sozinho. - Mas hoje
quero dormir um pouco, ainda estou cansado.

A vontade que tenho é de larga-lo para traz e fazer tudo sozinho, mas infelizmente tenho
de mantê-lo vivo e esta ficando escuro demais para procurar outros abrigos menos
óbvios. Temos de sair desta área vasta logo, ou muito em breve seremos encontrados e
não tenho forças para lutar contra eles neste momento. Maldita hora que participei
daquelas disputas da semana passada, eu ainda estou longe de ter me recuperado
daquele chute que Felix me dera.

-Venha, nós podemos ficar ali por enquanto. -disse vendo uma ursa entrar na caverna
com seus filhotes.

Allen me encara como se eu estivesse fazendo uma brincadeira de muito mau gosto,
mas eu não estou brincando. Seu medo retorna como se fosse uma barreira de aço,
sendo que aquele pobre urso deveria ser o menor dos seus problemas. A ursa virou a
cabeça em nossa direção; provavelmente sentindo o cheiro do medo de Allen e não por
nos ver como uma ameaça.
-Não vou entrar ali. -dissera olhando a caverna como se ela pegasse fogo.

-Allen, o urso encobrirá o seu cheiro e manterá a todos afastados. -disse olhando ao
redor por um instante.

Algo me diz que será difícil convencer Allen a entrar na caverna e, ironicamente, aquele
é o local mais seguro para ele. Se esta ursa sentir que somos uma ameaça ai sim
estaremos em problemas sérios, mas se não nutrirmos sentimentos hostis em direção a
ela e aos seus filhotes dificilmente seremos atacados.

-Seres não humanos dificilmente conseguem permanecer com animais grandes, pois os
animais sabem exatamente quem lhes fará mal e quem não quer lhes ferir. Estaremos
seguros ali, pois eles saberão que nada lhes acontecerá. -disse vendo que ele ainda esta
morrendo de medo, mas que confiará em mim desta vez.

Corremos para a caverna antes que alguém se aproximasse de nós, mas a ursa bloqueava
a passagem e encurralava seus filhotes dentro da caverna. Pelo visto Allen esta nutrindo
algum tipo de sentimento que a faça sentir em nós uma ameaça em potencial; mas não
consigo notar nada de “errado” emanando dele.

-Eu espero que você esteja certo. -dissera Allen escondendo-se atrás de mim.

A ursa nos olha com hostilidade por um instante, mas tão rápido quanto um piscar de
olhos ela lambera o meu rosto e o de Allen e permitira a nossa entrada. O olhar dela é o
de quem conseguiu um novo amigo, nos oferecendo um lugar em sua barriga para
descansarmos. Allen a olha com uma expressão chocada, mas depois sorri aceitando a
oferta e notando que seus medos estavam totalmente errados.

-Viu, ela nos deixara ficar. -disse antes de dormir, com um tom convencido.

-E ela é tão macia. -dissera fazendo um carinho na barriga da ursa.

Dormimos até o sol nascer, pois foi quando a ursa nos acordou para que ela pudesse ir
caçar a comida dos seus filhotes. Mas algo na entrada da caverna a põe na defensiva,
pois ela rosna uma vez, mostrando as garras para uma pessoa que ela considera uma
ameaça em potencial. Mantive a nós dois ocultos em uma fenda imperceptível atrás dos
pequenos filhotes, ainda que tenha de tampar a boca de Allen antes mesmo que ele
perceba que temos companhia e entregue nossa posição.

-Quieto urso estupido! -dissera um garoto, entrando devagar na caverna.

Assim que percebera a minha mão tapando sua boca, tentara afasta-la entrando em
pânico. Enquanto o que falara mal o urso procura algo que acredita estar nesta caverna,
seu parceiro cuida da retaguarda deles impedindo um possível ataque. Sendo que, no
presente momento, isso é tudo o que não quero ser forçado a fazer, pois chamará a
atenção de outros e colocará a ursa em perigo.
-Vamos embora Hold, eles não estão aqui. -dissera olhando atentamente. O urso teria
barrado eles também, já que a pureza da linhagem Roadica é ameaçadora por si só.

Hold olha o urso um instante antes de sair da caverna e ir para outro lugar. Allen olha a
entrada com medo, aguardando que eu nos tire do local em que estamos para que
iniciemos uma fuga que provavelmente nos deixará expostos para que outros façam as
suas tentativas.

*Fique quieto, isso é um teste para ver se a gente sai do esconderijo.*- pensei na mente
dele, exatamente como fazia com Canda antes dele aprender a compartilhar
pensamentos.

*Eles não são os primeiros a me perseguir, Allen. Nós ficaremos bem desde que
façamos a minha maneira.*- pensei, vendo que ele esta querendo me responder da
mesma maneira que eu estava falando com ele.

*Você ainda é muito fraco para falar em minha mente, assim como Canda também
era.*- senti o cheiro da indignação dele.

*Não falei para te ofender, apenas para lhe informar que não vai conseguir fazer isso
ainda. Eu vou nos tirar daqui por uma rota segura, eu só peço que me siga.*- pensei,
fazendo um buraco ao nosso lado e o empurrando na direção do mesmo.

Allen fez exatamente como deveria, seguiu o buraco até a saída do outro lado do rio
sem dizer uma palavra. Mas assim que eu fechei o túnel, ele me olhara serio,
perguntando algo seríssimo.

-A ursa vai ficar bem?

-Vai. -disse apontando o outro lado do rio.

A ursa estava caçando, para dar a seus filhotes que a aguardam na beira do rio como se
nada tivesse acontecido. A área parece estar segura para ela, mas seus filhotes ficam
olhando ao redor com expressões assustadas e desconfiadas dos mínimos movimentos
que acontecem ao seu redor.

-Posso perguntar uma coisa? -a curiosidade e o receio em seu tom de voz é quase o de
alguém assustado e com medo do que possa vir a acontecer com ele.

-Suba em minhas costas e fique calado um instante, conseguirei nosso café da manhã. -
disse abaixando levemente para que ele suba, ignorando o seu pedido para perguntar
algo.

Assim que ele fez o que lhe pedi, eu peguei dois peixes com ambas as mãos e mais três
para agradecer a ursa. Olhei-o de maneira calma, os três ursos estavam comendo os
peixes deles calmamente quando nos aproximamos. Coloquei um peixe na frente de
cada um e me afastei sem dizer nada, sei que eles entenderão a minha comunicação não
verbal.
-Por que você fez isso? -sua curiosidade transborda como um jarro cheio de agua.

-Ela poderia ter nos dedurado. -disse dando ombros. Tinha de agradecê-la.

Encontrei dois galhos grandes o suficiente para assarmos os peixes, antes de iniciar uma
fogueira com meus dedos. Assei os dois peixes, assim que retirei suas entranhas e
escamas, passando um galho a ele.

-Você responderia a uma pergunta? -recomeçara ele, olhando o chão enquanto come o
peixe.

-Sim, eu respondo a outra pergunta além desta que você já fez. -murmurei, comendo o
meu peixe e olhando sua expressão com muita atenção.

-Como você consegue falar em minha mente, mas eu não posso fazer o mesmo? -o seu
tom de voz é curioso e um pouco ofendido também.

-A sua mente esta em uma frequência diferente da minha, por isso posso falar com você,
mas você não consegue fazer o mesmo. -disse guardando os espinhos para um momento
em que eles fossem necessários.

-Canda esta em uma frequência diferente também?

-Canda e eu temos um laço sanguíneo, por isso conseguimos conversar mentalmente. A


frequência dele é a mesma da sua, se isso serve de consolo. -disse de maneira bem seria
vendo o sorriso se formar nos olhos dele.

Ainda bem que ele não pode fazer o inverso, ou minha mente estaria cheia de perguntas
que não posso responder sem entregar informações perigosas a ele. Ou então ele poderia
ver algo que o coloque em uma situação muito pior que sua situação atual.

-Quando você foi perseguido, Oliver? -perguntara ele olhando para mim com
expectativas.

-Termine de comer. -disse sem respondê-lo, com uma expressão distante.

O garoto não é estupido, percebera que não quero falar sobre isso e sei que não insistirá
por agora. Terminara de comer o peixe e lavara o rosto e as mãos no riacho, ainda sem
pronunciar uma palavra. Não posso dizer a ele que muito antes dos seus tataravôs
sonharem em nascer eu já existia neste mundo e fugia de pessoas com uma mente tão
pequena quanto uma ervilha em se tratando de coisas que desconhecem.

-Allen...

Infelizmente o sino começou a soar neste momento, algo que nenhum de nós poderia
sequer acreditar. O olhar que trocamos é o mais chocado que já troquei com outro ser
vivo em toda a minha vida, algo que nunca aconteceu com Canda ou com algum
membro da minha família.
-Depois, Oliver. Temos de ir. -dissera correndo o mais rápido que conseguia.

*Não é rápido o suficiente.*- pensei, o segurando nos braços e o jogando em minhas


costas para deixar as mãos vazias.

Ele esta protestando o máximo que consegue, mas assim que percebera que havia
pessoas nos seguindo sua voz se tornou apenas um sussurro semelhante ao soprar do
vento. Tudo está indo para o mesmo local, mas isso não quer dizer nada para eles, pois
competir é o que realmente importa.

-Bem vindos. -dissera o diretor para todos que chegaram junto conosco. -Ainda falta
uma badalada para iniciar a aula, tem agua e comida para vocês em cima da mesa.

Olhei em direção a mesa que ele indicou sem muito interesse. Allen por outro lado
parece louco para experimentar aquela comida oferecida tão livremente. Olhei Canda,
que esta muito perto da mesa e balancei a cabeça, mas já é tarde demais para Alice. Ela
já estava com um pão mordido em uma das mãos e o olhar de pânico dela é assustador.
Canda a olha cheio de preocupação, como se ela estivesse fazendo algo muito
inapropriado para sua própria segurança e ao mesmo tempo seus pensamentos
demonstram o quanto ele sofrerá com a morte dela e o quão desesperado ele realmente
esta.

Olhei para Allen, indo em direção a Alice e o rebocando junto. Assim que toquei Alice,
percebi o que realmente tinha naquela comida e quase vomitei. Como assim os
professores fornecem aos alunos humanos uma dose de sangue de lobo mesclado com
sangue vampírico e aguardam que algum deles sobreviva? Se ambos os sangues já são
antagônicos entre si, imagine juntar os dois em um corpo completamente humano?

-Mon. ami, ela esta morrendo!- Canda gritou com Oliver com uma voz tão angustiada
que parecia estar ele mesmo morrendo antes de poder ajudar as pessoas com quem mais
se importa.

-Ela não esta morrendo, ela esta apenas reagindo com uma coisa muito além de nossa
compreensão. -disse olhando-o nos olhos de maneira significativa. - Desculpe Alice. -
murmurei no ouvido dela, lhe dando um soco forte o suficiente para fazê-la vomitar.

O choque no olhar da menina é visível, uma vez que ela não tivera tempo de pensar em
uma manteria de se defender daquele golpe que a acerta em cheio e a faz vomitar tudo o
que ela comeu hoje.

-Desculpa por isso. -disse de novo, a apoiando para que vomite tudo sem se sujar.

Allen olha Canda sem saber o que fazer o choque estampado em seu rosto cheio de
horror pelo que fiz a uma garota. Pobre Alice, ainda teria de vomitar muito antes de se
sentir bem de novo e ainda terá muita sorte se seu sangue não se tornar algo muito
perigoso para os seus órgãos humanos.

-Ela vai ficar bem? -perguntara Canda olhando sua parceira, cheio de preocupação.
-Acho que sim, ela precisa comer alguma coisa que reponha tudo o que ela esta
vomitando. -dissera Oliver triste. - O que vocês comeram ontem?

-Algumas frutas.

O seu tom foi calmo, mas posso ver o medo em seus olhos ao mesmo tempo em que
percebo a movimentação ao nosso redor. Passei Alice a ele, observando que os recém-
chegados estão de olho em Allen e as intenções com o garoto parecem ser as piores
possíveis. Canda percebe que alguma coisa muito ruim esta para acontecer, mas sua
mente esta focada em Alice e em tudo o que ela representa para ele; essa atitude faz
com que os presentes na clareira e arbustos não o vejam como um alvo em potencial e
muito menos como um empecilho para o que estão prestes a fazer a Allen.

*Leve Alice para um lugar seguro, eu despisto eles.*- pensei segurando o ombro dele.

-Por favor, mon. ami. -disse olhando-o nos olhos. - Eu já te alcanço.

-Sei... -dissera olhando os recém-chegados com raiva.

*Proteja Alice, mon. ami. Eu ficarei bem.* - pensei para ele, atento para o fato que
ainda existem muitos outros escondidos.

Ele notou, sem me forçar a dizer, que eu não quero que aconteça a Alice o mesmo que
acontecera a Hana. Perder Alice será devastador para ele, uma vez que ela é a primeira
garota por quem ele se apaixonou em séculos de convivência. Não será justo ela ser
"tirada" dele por um ato estupido.

*Te encontro na clareira correta?*- perguntara ele, pegando Alice com cuidado e
iniciando uma corrida até o local correto.

*Certo.*- pensei de volta, observando os garotos com interesse.

Nenhum deles fez qualquer tentativa de seguir Canda e Alice, de modo que tenho a
certeza de que eles ficarão bem caso cheguem à clareira correta. Espero que eles
consigam afinal Alice precisa de cuidados médicos muito além do que posso oferecer
no momento e Canda sabe disso. Aguardaram os dois se afastarem da clareira sem nem
mesmo os seguir e assim ter alguma vantagem sobre mim caso as coisas não saiam
como o desejado por eles, o que foi uma completa burrice da parte deste grupo aqui.
Afinal é sempre bom ter uma vantagem sobre o seu inimigo.

-Sabe dançar algo além do que aprendera para o baile? -perguntei a Allen, o puxando
para uma posição de dança.

-Não. - dissera Allen assustado, obviamente percebendo que não teremos a mínima
chance de fugir.

-Sabe lutar?- perguntei por perguntar, posso ver em seus olhos a resposta e ela não me
agrada em nada.
-Não conclui o treinamento básico. - dissera olhando a roda que se forma ao nosso redor
com um pavor crescente.

Os nossos inimigos estão a rir de sua sorte, uma vez que eles estão em maior numero e
em vantagem tática que supera em muito todas as minhas habilidades juntas. Joguei
Allen nas costas para ter as mãos livres e assim conseguir uma chance se sobreviver ao
que acontecerá aqui, mesmo sabendo que minhas chances são bem pequenas. O garoto
que fora chamado de Hold dera um passo à frente e me encara como se eu estivesse
louco, seus colegas rindo de minha expressão e pose de luta.

-Oliver não queremos lutar contra você. – dissera com as mãos levantadas.

- Isso é muito bom, pois eu também não quero lutar contra vocês. – disse olhando
apenas para ele.

- Nós queremos apenas o garoto Michaelis, você pode prosseguir o seu caminho
livremente. – dissera a parceria de Hold, com uma calma que parece contagiar a área.

-Mas que guarda-costas de merda eu seria por entregar aquele a quem devo proteger
para seus assassinos. – o meu tom é o mais sarcástico que conheço, mas posso ver que
eles estão bem assustados com a perspectiva de me enfrentar em um combate limpo.

- Nós sabemos que você já provou da Srta. Michaelis, mas não fazíamos ideia que já
experimentara o primo dela também. – gritara alguém de dentro da floresta de maneira
debochada.

- Eu nunca experimentei Hana, ela morreu exatamente como viera ao mundo. – disse de
maneira a deixar muitos deles sem graça. – E eu jamais fiz algo com o garoto Michaelis.

- Por Deus, Oliver! A menina morreu sem experimentar a presença do ser amado em
seu ventre? – uma voz feminina e incrédula se fez ouvir vinda da floresta.

- Mal teve a coragem de ama-la? – uma voz masculina tão surpresa e indignada quanto
à menina se fez ouvir. - Essa é a primeira vez que escuto que um Road não teve culhões
para ter a sua amada de toas as maneiras possíveis.

- Estou com pena da garota. Confiou seu coração a Oliver e ele a deixa morrer
virgem... – dissera outra garota de maneira desolada.

-Silencio!- dissera Hold tentando retomar a ordem inicial. – Nós apenas queremos uma
chance de ser como você e o resto do mundo, nunca pedimos o que nos aconteceu.

O tom dele é o de quem vive com uma maldição, embora não sinta o cheiro de lobo ou
de vampiro nele. Seja lá o que aconteça a ele, não parece ser tão grave a ponto de
colocar a vida de pessoas em risco.

- Eu não posso entrega-lo. Não me importa o que vocês são.


- Então vamos dar o gostinho de ser diferente a você, Oliver Road. Afinal você é apenas
humano e assim pode ser infectado de diversas maneiras possíveis. - dissera o parceiro
de Hold, com um tom cruel.

-Tem certeza que ele é humano? A energia ao redor dele é de algo perigoso. – dissera
uma nova voz, ainda escondida.

- Ele é humano, examinamos o sangue dele durante o Campeonato. Embora o conselho


estudantil diga que ele é Dependente de Sangue, não conseguimos encontrar nada em
seu exame sanguíneo que confirme as afirmações deles. – dissera Hold de maneira a
fazer todo o outro me olharem como se eu fosse um exemplo vivo de que há cura para o
que quer que eles sejam.

-“Dependente de Sangue”? – perguntei confuso.

-Viram? Ele nem mesmo conhece o mais simples dos nomes para se referir aos
Pontiagudos. – dissera Hold aos seus “associados”.

-Vamos acabar logo com isso!

-É, vamos logo!

-Chega de bate-papo, Hold! Não viemos aqui para isso!

Muitas outras vozes estão a expressar o seu desgosto pela demora, o que
definitivamente é um fator que força as pessoas ao nosso redor que façam alguma coisa
e consigam a “cura para todos os males” que esta em minhas costas aterrorizada. Eu
posso sentir o medo dele tão intenso quanto o ar que esta circulando e posso cheirar o
quanto eles adoram o cheiro do medo. Deixei minhas correntes expostas para o caso de
ter que me proteger deles, ao mesmo tempo em que sinto o meu sangue ser consumido
para que eu as utilize e a crescente dor de minhas feridas de semana passada.

Se não fosse o fato de que mais da metade dos garotos sobrenaturais do primeiro ano
estar nesta clareira, eu teria mostrado a eles o que realmente sou e o que estou passando
neste momento para ter uma chance de sobreviver ao que acontecerá aqui. Não posso
confiar em nenhum deles com o meu segredo assim como não posso permitir que eles
conseguissem colocar as mãos em Allen.

- Já que não teremos outra escolha... – dissera Hold contrariado.

Hold parece tão diferente do diplomático de segundos atrás, seus ataques estão
sincronizados de maneira incrível a sua parceria o que me deixa com inveja deles. Se eu
estivesse com Canda, esse nível de sincronismo não seria nada em comparação ao que
temos, pois vai muito além do fato de sermos de raças que se ajudam mutuamente. Isso
chega a ser uma luta injusta, afinal de contas eles podem facilmente se mover como um
e eu tenho de lutar por dois.

...
Canda corre com uma Alice desacordada em seus braços, lutando contra a preocupação
por seu mestre e a saúde de sua amada. Mesmo sabendo que Oliver não vai morrer para
um grupo de crianças que ainda não tiveram um terço do que ele já passou, o fato dele
estar ferido fica passando por sua mente enquanto ele corre pelas arvores com rapidez e
cautela.

“Não ouse voltar aqui, mon ami. Se fizer isso eu mato Alice eu mesmo!”- pensara Oliver
para mim, ameaçadoramente.

Como é que ele sabe o que eu ia fazer? Às vezes, ele sabe coisas que me assustam. Eu
sei que Alice precisa de ajuda, mas se algo acontecer a ele e eu não puder fazer nada
para ajudar tenho certeza que Alice vai se culpar por isso. Foi à fome dela que nos
colocou nesta desvantagem.

“Allen vai te ajudar a destruí-los?” – pensei para ele, tentando visualizar o que esta
acontecendo e sendo bloqueado por Oli.

“Mon ami, isso é para ser uma piada? O que diabos ele sabe para me ajudar? Eu farei
isso sozinho e depois te encontrarei na clareira, junto a uma Alice cheia de perguntas e
um monte de bandagens.” - pensara de volta, com um tom autoritário. – “Concentre-se
no caminho, ou vai acabar batendo em uma arvore. Chamar atenção não é uma boa
ideia no momento, mon ami.” – o tom dele é o de quem sabe exatamente do que esta
falando e ao mesmo tempo aguarda uma resposta que vá de encontro ao que dissera.

Algo que não quero fazer, uma vez que ele sempre quis o melhor para mim. Se ele diz
que vai conseguir chegar lá com vida, só posso acreditar nele e aguardar o seu retorno.
Afinal de contas, aquele é o Oliver. Um elementarista, um lutador fantástico e acima de
tudo, um vampiro tão antigo que muitos dos atuais não sabem do seu vampirismo. Creio
que ele vai ficar bem.

“Tudo bem mon ami. Estarei te aguardando na clareira correta com bandagens e uma
Alice cheia de perguntas.” – pensei para ele, sorrindo.

Eu espero estar fazendo a coisa certa, pois se as coisas derem errado; terei sacrificado
uma amizade de quase mil anos por uma garota que morrerá em menos de 60 ou 90
anos. Bom, no momento tenho de fazer o que posso e pensar no futuro que ira me
aguardar caso algo aconteça com Alice é muito pior do que sacrifica-la para ir ajudar
Oliver. Uma escolha que ele já fez uma vez e Hana perdeu seu corpo de garota, mas não
sei se Alice terá a mesma sorte. Em minha velocidade atual falta só uma clareira à frente
e chegarei até os professores, e tenho certeza que eles conseguirão fazer algo por ela.

...

Usando as minhas correntes da maneira mais trabalhosa e dispersa o possível, pude


atacar diversos grupos de uma vez mesmo sabendo que não conseguirei manter o nível
dos ataques por muito tempo e ainda me fingir de humano. Meu corpo agirá de acordo
aos instintos mais básicos e matará a qualquer coisa que cruze o meu caminho, sem
distinção ou escolha. Apenas pelo fato simples de saciar a fome, de sentir o alivio as
dores e câimbras mais severas enquanto se esbalda no sangue...

“Droga!” – pensei ao sentir o inicio dos espasmos de fome.

Não posso me permitir que as coisas cheguem a este ponto ou estarei mais ferrado do
que já estive até agora. Minha condição deve ser oculta a qualquer custo, mesmo que
isso signifique matar a todos eles de uma única só vez sem deixar nenhuma pista.
Alguns deles estão distraídos pelos ataques da corrente, de modo que não percebem a
minha aproximação e eu posso finaliza-los com ataques rápidos e precisos. Os que
percebem são difíceis de nocautear, por isso sei que só tenho uma alternativa: Antes que
um deles consiga me atingir gravemente, fiz com que o chão desta área se torne tão
perigoso para criaturas sobrenaturais quanto areia movediça e tão inofensiva a humanos
quanto à agua é para o peixe. “Ser Elemental às vezes é tão útil.” – pensei, olhando ao
redor serio.

Aguardei que caíssem na armadilha; atacando a todos de uma única vez e assim me
aproveitando desta vantagem momentânea. O mais difícil foi esperar que eles se
atolassem nesta armadilha engenhosa, pois quanto mais espero, pior fica o meu estado
de fome. E não posso deixar isso me afetar ou que me entregue a eles de maneira
nenhuma, pois se isso acontecer eu posso estar mais ferrado do que já estou no
momento.

Mas a minha vontade é ir atrás destes desgraçados e mata-los um por um; sentir o gosto
do sangue deles satisfazer a quantidade perdida e controlar a mente deles sem que
tenham a mínima ideia; mas não posso fazer isso sem me expor para Allen e sem expor
minha família. Posso sentir minhas presas crescerem apenas com a expectativa de caçar
os que fugiram até que tenha matado a todos eles, embora tenha a certeza de que não
farei isso agora. Por enquanto não posso me expor desta maneira sem colocar todos os
Roads e os meus amigos não humanos em perigo.

-Ah, mas que bosta! Eu nem ao menos posso mata-los da maneira honrosa a qual vocês
lutaram. – gritei exasperado aos que estão feridos demais para sair dali andando. – Estou
tão cansado...

Senti que um deles se aproveita desta fraqueza momentânea para vir em minha direção
com um objeto em mãos e assim fazer o que não tenho forças para fazer a eles. O
problema é que uma de suas pernas esta quebrada em mais de um local, o que
possibilita a minha fuga e o imobiliza por alguns instantes.

“Mon ami, onde você esta?”- pensara Canda preocupado.

“No meio do caminho, já estou chegando ai.” – pensei realmente cansado.

Sei que deveria estar correndo o máximo que posso, mas as minhas chances de
sobreviver serão nulas caso eu gaste todas as minhas energias em um esforço
descomunal para nos levar até a clareira principal e antes de alcança-la algo nos ataque.
E eu já estou cansado demais para manter a fachada, minhas presas ainda estão em um
tamanho aparentemente humano, mas ao menor descuido minha fome pode acabar
tomando a melhor sobre mim e tirar todos os pensamentos conscientes que ainda tenho
e me tornar a criatura mais letal que existe.

A única coisa que mantém minha mente no lugar é a mera lembrança das consequências
para a minha família caso eu me deixe levar e mate alguém, eles merecem ser
protegidos e cuidados como fizeram comigo quando eu era criança. Minha mente, neste
momento é um grande caos entre consciência – instinto - controle e sede –
consequências - necessidade do qual as minhas chances de ganhar são microscópicas.
Ninguém nunca conseguiu ganhar uma disputa entre consciência e instinto de
sobrevivência antes, a mera especulação do fato que algum dia isso vai realmente
acontecer é descartada há anos.

Muito sutilmente, Allen me abraça como se pressentisse que minha mente esta
desfalecendo aos poucos; o que ajudou a manter o foco. Não era um abraço do tipo,
“por favor, não me abandone”, mas sim um abraço do tipo “você não esta sozinho,
mesmo que isso seja a única coisa que eu possa fazer”; o que foi mais reconfortante do
que pensar e sentir todos aqueles espasmos de dor que seguem por meu corpo e chegam
bem perto de me imobilizar completamente. Aquilo me lembra do meu objetivo, que
consiste em protegê-lo de todos que querem seu sangue ou o seu corpo sem o seu
consentimento prévio.

No momento que chegamos à clareira, Canda e Alice vieram em nossa direção


preocupados; Canda me mostra as bandagens com um sorriso muito aliviado e feliz; ao
mesmo tempo em que Alice dá um largo sorriso a seu parceiro. Muitos alunos das
turmas humanas já estão ali, seja revisando alguma coisa, seja comendo alguma coisa.
Coloquei Allen no chão com cuidado, suas roupas estão cobertas de sujeira e sangue dos
nossos inimigos, seu rosto assustado como a morte; mas vivo em todos os sentidos que
importam para todos aqueles que respiram e circulam por ai.

-Mon ami, vocês estão bem? – perguntei a Canda, limpando a min e a Allen com um
movimento de mãos.

-Estamos vivos, – disse com um tom aliviado. - e isso é o que importa.

Sorri para eles, aliviado para o fato de Alice ainda estar viva e basicamente humana
como sempre fora. Sei que deve ter sido um choque para Canda ver o que fiz a ela, mas
ainda sim deve ter sido muito melhor do que ver o que poderia acontecer caso ela
tivesse sido infectada ou corrompida pelo sangue de uma das espécies que estavam
naquele pão. E sabemos o que acontece com humanos infectados, para o azar deles.

“Tirando as minhas condições atuais.”- pensei ironicamente, sentindo meu corpo mais
pesado e dolorido do que estava instantes atrás.

-As bandagens estão prontas, exatamente como requisitara mon ami. - dissera ele,
mostrando o material organizado em uma mesa improvisada por ele e Alice.
Alice olhara Canda confusa e curiosa, parecia saber tanto quanto Allen. Sua expressão é
hilária, uma mistura de confusão e desconhecimento que a deixa com um olhar de puro
terror e medo. Podia ver todas as milhões de perguntas passando por sua mente mais
rápidas que a anterior, o que me deixou meio receoso quanto às respostas que ela
poderia vir a pedir.

-Quando foi que ele “requisitou as bandagens”?

Canda parecia querer discutir com ela, mas as minhas feridas ainda estão abertas e
sangrando o suficiente para me debilitar pelo resto do dia. Ele é o único em quem confio
para fazer os devidos curativos em meu corpo sem colocar a vida dele em perigo por
conta de uma reação instintiva e incontrolável.

Alice, porem, não parece ter percebido isso ainda, ou então ela não estaria iniciando
uma discussão com ele em vez de calar a boca e deixa-lo fazer aquilo que será
necessário para a minha sobrevivência.

-Mond! – chamara Alice, tentando forçar Canda a olha-la. - Me diga! Quando?!

Allen me apoia ao perceber que minhas feridas e contusões mais graves finalmente
ganham a disputa com o meu controle e minha consciência, mesmo que eu ainda esteja
parcialmente consciente do que esta acontecendo ao meu redor. Mas Alice esta muito
obviamente focada em seu parceiro, pois pelo que posso perceber, ela esta ofendida pelo
que Canda não revelou a ela ainda.

-Agora não, Alice. –disse tossindo um pouco. –Mon ami...

Ele parece meio indeciso, mas percebe que se não fizer algo logo as coisas irão piorar
drasticamente e não haverá outra solução pela qual prosseguir para conseguir salvar a
minha vida. Ele terá de nos expor para eles e assim me forçar a mordê-lo para então
curar as feridas abertas e sangrentas; bem como repor todo o sangue que eu estou
perdendo por conta de sua indecisão.

-Quando você estava desacordada pelo veneno contido na comida de mais cedo. –
dissera com um tom cortante e serio, o que a faz empalidecer.

Essa foi a primeira vez que ela percebeu que seu namorado havia colocado a saúde dela
sob a minha, o seu melhor amigo, e visto as consequências da escolha dele em primeira
mão. E no momento, eu sou aquele que mais necessita de ajuda pelo simples fato de já
estar ferido previamente e estar perdendo sangue. Perder sangue é algo ruim, sempre
coloca todos a nossa volta em perigo e às vezes o que tenho de fazer para repor o sangue
perdido é algo que vai de encontro a tudo o que acredito. Ele me passou um pano
cuidadosamente dobrado e começara a separar o material que ele irá utilizar antes de
usar as bandagens.
– “Morda isso, precisarei te costurar em alguns locais e nós não queremos chamar a
atenção dos alunos para o fato de você estar ferido, não é mesmo?” – sussurra para mim,
exatamente como havia dito a ele mais cedo.

Chamar a atenção deles para o fato de que no momento eu sou o alvo mais fácil de ser
abatido realmente é o ultimo que desejo. Ter de machucar os humanos não vai ser nem
um pouco divertido, pois eu preciso me alimentar e o sangue deles será algo tentador
demais. Peguei o pano com um olhar conformado, o colocando na boca e o mordendo
antes mesmo que ele inicie a costura.

- Muito bem, Ollie. – dissera em um tom de aprovação, estendendo a mão para pegar a
agulha que já estava pronta para ser usada. – Vou começar.

Sei que ele só me avisou para que eu pudesse fechar os olhos, que mudam de cor devido
à dor que estou sentindo, assim evita que eu chame a atenção dos alunos que já estão
aqui e os que ainda estão chegando. Afinal estamos relativamente bem escondidos entre
os arbustos selvagens e as arvores caídas em uma área isolada da Clareira- aula; sendo
que uma delas esta sendo utilizada de maca e a outra de mesa instrumentaria com os
seus poucos recursos de primeiros socorros.

- A sua força de vontade foi maior do que a do inimigo, eu imagino. – dissera Canda
analisando todas as minhas feridas como se elas fossem mais simples do que ele havia
imaginado. – Quantos foram mon ami?

“O suficiente.” – o meu tom foi o de quem esta fazendo uma brincadeira, mas ele
entende que eu estive muito perto de não sobreviver hoje. “Allen precisa de um
treinamento urgente. Não quero me sentir daquela maneira de novo”. – pensei para ele
vendo que ele concorda comigo.

“Nós faremos juntos, mon ami”. – pensa ele com um tom de promessa. “Como
sempre.”

Posso perceber no ar o quanto ele sempre quis pensar aquilo, mas as promessas feitas a
um Road não podem ser quebradas mesmo que este venha a morrer. As coisas nunca
acabam bem quando as promessas não são cumpridas, embora este seja Canda. Fardiens
não podem mentir para seus donos, pois uma traição pode ser sentida no sangue deles e
causar a morte antes mesmo do fardien ter chance de “quebrar o contrato”.

“Mon ami, seja rápido com isso.” – pensei alguns instantes depois que ele começou a
costurar.

-Não posso me dar ao luxo de fazer isso de qualquer maneira mon ami. – dissera ele
com um tom serio. – Queremos que elas se fechem da maneira correta e não que elas
infeccionem, e assim, se tornado uma maneira de deixa-lo doente.

“Apenas seja rápido, ainda temos de assistir aula.” – pensei e quase posso visualiza-lo
revirando os olhos.
“É serio que você esta pensando em assistir aula quando eu terminar de costurar e
enfaixar suas feridas?” – ele parece estar surpreso e pelo que vejo em sua mente ele
esta se imaginando com uma sobrancelha incrédula levantada. Isso é tão Canda,
expressar suas expressões faciais através dos pensamentos e assim proporcionar a
conversa mental mais engraçada que você terá em séculos.

“Mon ami, esta seriamente pensando em pular aula?”- perguntei seriamente,


imaginando o inexperiente Allen sozinho contra muitos inimigos e sem a mínima
chance de sair vivo. Isso é a ultima coisa que quero que aconteça a Allen, ou a qualquer
outra pessoa que não tenha a mínima chance de escapar de inimigos que podem te
rastrear como um animal selvagem.

“Mas você consegue se forçar a fazer isso?” – perguntara ao sentir o quanto esta
conversa me distrai.

“Tenho uma escolha real nesta resposta? Allen não sabe lutar, não sabe caçar, não
sabe analisar o terreno e duvido que saiba como cozinhar. Se ele não aprender alguma
coisa nas aulas não deveríamos estar aqui, onde é basicamente, uma aula pratica de
seis meses.” – pensei irônico.

-Alice, poderia ver se Allen esta ferido de alguma forma? – perguntara Canda a ela,
vendo que sua questionadora namorada esta o obedecendo mesmo que lhe desse um
olhar de desafio.

“Alice odeia quando eu a ordeno a fazer coisas.” - pensara de volta com um tom
desolado.

“Imagino que você descobriu isso ontem, quando ela não quis fazer algo que garantiria
uma comida mais saborosa do que frutas.” - pensei para ele com um tom especulativo.

“É, ela se tornou rebelde quando disse a ela para calar a boca e me seguir.” – pensara
sombriamente, revirando os olhos. - “Estas palavras não foram as mais inteligentes
para dizer a ela, eu sei disso agora.”.

“Com certeza não foram.” – concordei.

-Ele esta em estado de choque, repetindo “foi minha culpa, minha culpa.” – dissera ela
seria. - Mond acho que Allen ainda não havia notado o quanto as pessoas o querem.

-Duvido que tenha outra chance de se dar conta disso e sair vivo. - dissera com um tom
sombrio.

-Eu achava que isso era uma piada entre você e Oliver...

-“Piada?”- o tom dele é incrédulo.

-Quero dizer, o fato dos garotos o desejarem sempre me foi obvio, mas não achava que
iriam tão longe... – o choque e o medo em sua voz é um lembrete de que não posso me
descuidar jamais. - Afinal de contas Allen ainda é um garoto.
-Pense Alice, por que atacar Allen? – Canda esta apenas passando as bandagens agora, o
que me deixa mais tranquilo para retirar a toalha da boca. – Por que não atacar uma
garota?

-Por que as garotas os trucidariam- a confusão em seu rosto é engraçada, mas não posso
rir. - ... E Allen não?

Ela não precisa da minha resposta, pois sua mente junta as pecas e posso ver o que ela
realmente esta pensando só de olhar pra ela. A postura de Alice muda completamente
quando ela finalmente entende o que o diretor realmente me pediu para fazer enquanto
estou presente nesta escola, embora sua expressão seja a de puro choque em vez de uma
expressão de satisfação pela nova fofoca.

-Pronto mon ami. - dissera Canda, me passando uma camisa escura e por sinal idêntica a
de antes.

-Allen!

“Minha culpa, o Ollie pode morrer por minha culpa, minha culpa...”- pensa ele, sem
realmente estar prestando atenção ao seu redor.

Bati nele uma vez, vendo sua reação lenta em perceber o tapa e o ressentimento por
ganhar um tapa meu. Não foi forte, mas seus olhos jorram um medo que impregna o ar
como se fosse fumaça de grama sendo queimada.

-JAMAIS diga que isso foi sua culpa. – disse furioso, o encarando por um longo
momento. – Ouviu bem?

“Não se culpe por aqueles merdas que não conseguem viver com o que são desde o
nascimento, ninguém tem culpa pelo que você consegue fazer e tenho certeza que não
pedira para nascer com isso.” – pensei para ele, olhando o quanto ele quer chorar.

-Você é um homem, se controle! – disse em um tom severo, ouvindo um leve fungar


vindo dele.

-Eu não vou chorar.

Allen secou o rosto, fazendo cara de ofendido. Teria sido uma cena muito seria, se
Canda não estivesse rolando de rir junto a Alice, que se recuperara do choque de sua
descoberta de instantes atrás com uma rapidez impressionante, ambos mal se
aguentando de tanto dar risadas; e Allen não estivesse da cor de um tomate maduro.

Saímos de nosso esconderijo, vendo que muitos alunos não estão surpresos por nos ver
chegando agora, mas sim pelo fato de Alice e Canda estarem andando-falando e rindo
ao mesmo tempo sobre algum assunto que claramente me enfurece bastante. Sei que
eles estão felizes por todos estarem bem, mas não quero que os outros achem que isso é
uma possível abertura para que prossigam e assim tentem me atacar em grandes grupos
e matar Allen.
-Mon ami, pare com isso. Esta chamando atenção demais. - disse olhando ao redor,
atento.
-Ninguém vai tentar nada, não se preocupe. - dissera ele com um tom confiante.

-É Oliver, qualquer coisa os professores estão ai. - dissera Alice com uma expressão
incrédula.

-E Allen ainda esta vivo, o que significa que você esta fazendo um trabalho excelente. –
dissera Canda passando um braço ao redor de Alice e a levando para longe.

O garoto me olhou atentamente e me ofereceu um sorriso antes de abaixar a cabeça e


corar por um instante, quase como se soubesse o que esta passando pela mente do casal
que se afastava de nós. Às vezes eu odeio a logica de Canda quando ele esta com Alice,
pois todos os seus pensamentos racionais vão dar uma volta em algum lugar distante e
ele pensa apenas na alegria que as coisas trarão a ela. Enquanto ainda terei muito o que
fazer enquanto protejo, treino Allen e tento manter minha mente bem longe a minha
necessidade crescente por sangue.

-Esse semestre vai ser longo... - murmuro ao vento, olhando os alunos já em seus
lugares.

Ainda bem que isso é só pela manha, se fosse o dia todo eu estaria ferrado de verdade.

...

Oliver parece estar tão mal quanto estava antes do meu incidente, o que não é nada
reconfortante. Mesmo que ele não diga nada, posso ver o tremor dele e sei que jamais
abrirá a boca para reclamar ou pedir algo, pois isso significa mostrar fraquezas. Sei o
quanto ele odeia parecer fraco na frente daqueles em quem não confia, tive uma
experiência pouco antes dele iniciar sua “proteção”, não sei se manter a todos longe
consta como proteção, mas nao é como se eu tivesse muito poder de escolha.

Ele me protegeria se soubesse que sou sua Hana? Depois de ter conseguido juntar forças
para superar a minha “morte”, poderia ele me amar, sabendo que venho mentindo para
ele por uns bons dois meses? Canda não acha que fará diferença, mas eu me pergunto o
que Oliver faria comigo se descobrisse o que venho escondendo dele enquanto ele da
um duro tentando me manter viva. Se o meu sangue opera tamanhos milagres, como é
que ele não me protege ou me cura das feridas feitas em algumas fugas? Ou melhor, se
meu sangue faz tanta coisa assim, como é que ele não mudou o Oliver? Ele continua o
mesmo, embora Canda diga que o cheiro dele mudou depois que usamos meu sangue
para salva-lo de uma morte que os alunos não humanos já haviam dado como certa...

Olho para ele de relance, vendo o quanto ele esta cansado e ainda sim esta nesta aula
quase que inútil. Sei que ele jamais precisou de uma coisa destas, pois ele sabe fazer
coisas incriveis sem esforço algum e isso me deixa muito curiosa. A professora esta
ensinando a fazer uma rede de pesca com cipó e raízes de arvore, demonstrando a
alguns alunos sem destreza como enlaçar o material de modo seguro e funcional.
-“Preste atenção Srta. Slov, ou sua rede será tão desastrosa quanto à do Sr. Ungluk”. -
dissera a professora de modo severo, olhando a garota com um olhar de desaprovação.

-“Desculpe Sra. Simut. Irei prestar mais atenção...”- dissera a garota, com um tom triste.

-“Faça isso”. - dissera ela, andando pela sala.

Olhei a minha rede, vendo o grande numero de erros e nós cegos que fiz, iniciando um
ataque de pânico. Desfiz a maior parte, reiniciando tudo antes que ela chegue a nossa
mesa, ouvindo as risadas de alguns dos alunos no fundo da sala com as reclamações da
professora aos alunos da frente.

-Pelo que vejo você também não tem o dom dos nós, Sr. Michaelis. - dissera uma voz
severa do meu lado, quase me matando do coração. - Eu achei que se sairia melhor em
uma tarefa que não exija ter força, mas pelo visto estou enganada...

-A minha rede, ao contrario da minha parceria, esta em perfeitas condições. - dissera


Oliver jogando a rede na direção da professora. - E me certificarei que ele aprenda a
fazer uma rede tão boa quanto a que fiz agora, não se preocupe Sra. Simut.

-Não poderá carrega-lo nas costas para sempre, Sr. Road. –dissera a professora, nos
olhando com raiva.

-Sei disso, Sra. Simut. - dissera com um tom distante, sem realmente ver o quão pálido
estão os lábios da professora. - Não tenho a mínima intenção de impedir o treinamento
dele pois é exatamente para isto que estamos aqui, não é mesmo?

A professora continuou a rondar a sala, destilando seu mau humor pelos alunos que não
possuíam sua destreza. Alice e Canda se deram muito bem, pois ambos fizeram duas
redes quase que transparentes e assim que a professora passou por eles pude ver o
sorriso debochado que eles lançao para nossa mesa. Olho de relance para Oliver, mas
ele parece estar tirando um cochilo enquanto espera a aula acabar. O que me faz ter
muitas duvidas sobre o que ele realmente é.

Quando eu era garota ele nunca chegou a me contar, mas pelo que os outros alunos
dizem toda vez que tentam me pegar, Oliver pode ser um vampiro. Um vampiro
diferente: segundo os “inimigos”; pois ele é capaz de viver com os humanos, comer
comida “humana” e se passar por humano de maneira que nem mesmo os professores
desconfiem dele.

Não me parece lógico continuar a pensar isso visto que ele não se cura rápido o
suficiente para ser algo sobrenatural, ou encara os pescoços por ai como se eles fossem
filés disfarçados. Tudo o que ele faz é seguir sua existência aparentemente solitária sem
ser acompanhado de alguém em quem confie o suficiente para que conte seus segredos.

-“Oliver.”- chamei-o alguns minutos depois, para que a professora não o pegue
dormindo.-“Oliv...
-“Não me toque, Allen”.-dissera ele com um tom sombrio, antes que eu encoste nele.

Deixo minha mao cair, sem entender o olhar sombrio que ele me lançou antes de me
impedir de toca-lo. Mas ele não disse nada, uma vez que estamos em aula.

-“O que eu fiz de errado?”- sussurrei para ele, confusa.

-“Depois.”- dissera ele, olhando para a aproximação da professora como se ela fosse lhe
fazer mal.

“Depois quando?” –pensei olhando para ele com uma curiosidade além do que se é
esperado de um garoto.

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