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RESUMO
A proposta apresentada nessa comunicação é analisar as narrativas da Chapada Diamantina
a partir das referências de Castoriadis (1992) sobre a “instituição imaginária da sociedade”
e de Teixeira Coelho (2008) sobre cultura. De acordo com Castoriadis, “o entendimento é
social-historicamente instituído e a cada vez imerso na instituição imaginária global da
sociedade” (1992 p. 63). O sujeito, neste contexto, é entendido como um ser dotado de
uma natureza racional, porém carregado de subjetividades, de quem não é possível separar
a cultura, as origens e a história. De acordo com Teixeira Coelho (2008), “a globalização
não significa necessariamente conflito de culturas, nem aniquilação, mas um amplo
deslocamento de diferentes culturas em várias direções, trazendo como resultado profundas
modificações em cada uma delas”. Para o autor, a cultura é “livre, móvel, flutuante e não
dispõe mais de uma âncora presa a algum sólido leito de algum simbólico, mas duro fundo
de mar”. (Teixeira Coelho, 2008). É nesse contexto que analisamos o fenômeno cultural
que ocorre no território de identidade da Chapada Diamantina, lugar que abriga diversas
comunidades quilombolas, onde os mitos locais se misturam a relatos de aparições de
discos voadores e assombrações. Dessa forma, o imaginário acaba se constituindo de
historias, memórias e vivências, onde elementos contemporâneos se misturam à tradição e
aos registros orais. Na pesquisa realizada no território da Chapada Diamantina desde 2006,
foram coletadas historias nas cidades de Piatã, Lençóis, Remanso, Iuna e no distrito de
Caeté-Açú, no município de Palmeiras. As histórias analisadas apontam para um
imbricamento entre os relatos das aparições e os mitos locais.
1
Clarissa Bittencourt de Pinho e Braga é doutora em Educação pela FACED-UFBA. Coordena o grupo
CULT (IHAC/FACOM-UFBA) e o projeto de extensão Canto do Conto.
2
Pedro Almeida Pereira da Silva é graduando no Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades do IHAC-
UFBA, bolsista IC CNPq, voluntário no projeto de extensão Canto do Conto.
ABSTRACT:
The exhibited ideia on this communication is analyze the Chapada Diamantina’s narratives
from references bringed up by Castoriadis (1992) about the “imaginary institution of
society” and from Teixeira Coelho (2008) about culture. According to Castoriadis,
“the understanding is institued social-historically and on each time immersed in the global
imaginary institution of society” (1992 p. 63). The bloke, in this context, is understood as a
been duped of a rational nature, but filled of subjectivities, becoming impossible separete it
from culture, origins and history. According to Teixeira (2008), the globalization
necessarily means conflict of cultures, nor anihilation, but a huge disloate of different
cultures trough diverse directions, bringing as result deep changes in each one. To the
author the culture is “Free, mobile, floating and don’t have one anchor fixed on some solid
layer of some harder symbolic deep sea”. (Teixeira Coelho, 2008. In this context that is
analyzed the cultural events of the Chapada Diamantina’s territory, place that has various
quilombolas communities, where the local myths are mixed with the reports of sightings of
UFO and hauntings. By this way, the imaginary start to build the histories, memories and
experiences, where contemporary elements get mixed with the traditions and oral records.
On the research realized on the territory of Chapada Diamantina since 2006, have been
collected histories at the cities of Piatã, Lençóis, Remanso, Iuna and on the district of Caté-
Açú, on the city of Palmeiras. The analyzed histories show one overlap between the reports
of sightings and local myths.
A cultura de um lugar não deveria ser vista como a soma de tudo, mas
apenas do específico daquele lugar: não o universal, mas o particular;
cultura não era o todo de todos, mas o relativo a um grupo, com a
implicação de que cada cultura resvestia-se de um atributo a ela relativo
(COELHO, 2008 PG. 21)
“Não compreenderei nada desse assunto, se não tentar penetrar todo outro mundo
de significações, de motivações, de afetos, o qual comporta (...)” (Castoriadis, 1992 pg 63).
Na discussão sobre pesquisa social-histórica, Cornelius Castoriadis (1992) afirma que o
conhecimento é social e historicamente construído a partir da instituição imaginária da
sociedade. Assim, ao observarmos a cultura, os costumes e os valores de outras sociedades,
de outros lugares e de outros tempos, estamos fazendo a partir das concepções do que ele
chama de nosso próprio “mundo imaginário”.
Tal fato não parece excluir a região em quesitos tecnológicos, já que a internet,
principal elemento na construção de intercâmbios culturais contemporâneos e inserção
cultural, está presente no cotidiano de boa parte da população, mas claro, que não
igualmente presente como nas capitais. De forma geral, na Chapada Diamantina, o contato
com imaginários estrangeiros foi fundamental para construção de seu imaginário atual,
onde aparições antes relacionadas aos mitos e contos locais hoje dialogam com discos
voadores e “coisas de outro mundo”.
Conta-se, por exemplo, que em certo ponto da estrada que liga Abaíra à Piatã,
durante o período da noite, a pessoa que estiver na estrada irá enxergar duas luzes muito
fortes e distantes, semelhante a de dois faróis. Quando as pessoas se aproximam da
luminosidade, misteriosamente ela desaparece. As pessoas acreditam que as luzes são
sinais de uma nave extraterrestre. É da prática dos moradores visitar a cidade vizinha para
comércio, encontro com familiares e amigos. Mas no período noturno, a maioria dos
piatanenses se recolhe nas suas casas e não ousa atravessar o tão temido pedaço da estrada,
pelo medo de serem abduzidos.
Mas não é só à noite que se observam luzes e objetos suspeitos no céu: muitas
vezes os relatos apontam para aparições em plena luz do dia, como no seguinte acontecido,
narrado por um senhor, que nasceu e morou toda sua vida na vila de Conceição dos Gatos
no município de Palmeiras:
“[...] quando olhei pra cima, rapaz vinha um foco de lá um negócio grande e eu tou
‘oiando’ aquilo dali rapaz, ai é vem aquela luz ai eu falei ‘moço aquilo não é coisa
desse mundo’, [...] toda certeza absoluta era um disco voador, era um disco. Ai eu
falei com um rapaz né, que é motorista carrega turista e tal, [...] e ele disse que é
vinha com o carro e viu o negócio vim [...] ia dar umas sete hora, foi esse horário
que passou lá em casa umas sete hora.”
“[...] era um negócio parecendo um refletor de cima da serra [...] eu fiquei besta com
negócio daquele, besta! Eu disse meu Deus o que é aquilo? [...] e eu falando com o pessoal
que morava naquelas bandas de lá que é lá por volta das serra e o povo tava falando, isso ai
já tem é dias aparecendo, [...] até carro povo bateu, depois sumiu e nunca mais apareceu
ninguém sabe o que foi, ‘cabou’.”
Considerações finais: