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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV JACOBINA


CURSO DE LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS
O ESTÉTICO E O LÚDICO NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL
SEMESTRE 2019.1
DOCENTE: Denise Dias de Carvalho Sousa
DISCENTES: Bruna Pereira Almeida, Camila Oliveira Reis Santos e Jobervan
Rios Evangelista Filho

ANÁLISE DO CONTO – A BELA E A FERA


Jeanne-Marie Leprince nasceu em Rouen, França, no ano de 1711. Foi uma
romancista e ficou conhecida especialmente pelo conto A Bela e a Fera. Foi também uma
educadora na corte de Lorena, onde ensinava músicas e boas maneiras para as crianças
que ali viviam. Em 1748 publicou sua primeira obra, intitulada O Triunfo da Verdade, o
Memorial de Madame de La Villette. Entre os anos de 1750 a 1755, Jeanne-Marie
publicou uma série de antologias de histórias, contos de fadas, ensaios e anedotas. Fundou
uma coleção literária e científica destinada à juventude, escrevendo quatro volumes de
contos, dentre os quais o mais conhecido Le Magasin des enfents, publicado em 1757, no
qual se inclui o conto A Bela e a Fera.
A versão de A Bela e a Fera de Jeanne-Marie Leprince foi inspirada na de
Madame de Villenueve – também escritora francesa, nascida em La Rochelle, em 1695 –
e publicada no ano de 1740, sendo muito mais extensa. A versão reduzida ganhou espaço
no cânone literário do conto de fadas ocidental, no qual são colocadas a bondade, a
modéstia e a compaixão como virtudes essenciais para as meninas, sendo a versão mais
difundida e conhecida.
A partir do surgimento da primeira versão do conto A Bela e a Fera (1740), da
escritora francesa Gabrielle Suzanne Barbot de Gallon de Villeneuve, outras versões
começaram a surgir, dentre elas destacando-se a mais conhecida a adaptação escrita por
Jeanne-Marie LePrince de Beaumont, na qual a autora faz um breve resumo da história
original modificando e omitindo as partes que possuem conteúdo não indicado para o
público infantil. Outra versão bastante conhecida e famosa dessa história é a da Disney
nos modelos de desenho (1991) e filme (2017).
Ao pôr tais versões em comparação, pode-se perceber, principalmente, a
influência do contexto histórico, dado que nas versões de Madame de Beaumont e de
Villeneuve Bela possui 6 irmãos e seu pai é um comerciante que perde toda a sua riqueza
e ao tentar reavê-la chega até a Fera que o obriga a trocar de lugar com sua filha. Já na
versão fantasiosa da Disney, Bela é filha única e seu pai se perde durante a tempestade,
sendo que ao roubar a flor se torna cativo da Fera e só troca de lugar com a filha quando
o cavalo volta e a leva – Bela – ao encontro do pai.
Outro ponto é a presença de elementos mágicos no filme, como os objetos e
móveis da casa que possuem vida e interagem com Bela contando a maldição da Fera e o
motivo da rosa que ele esconde em um quarto secreto. A Fera, revoltando-se com Bela
por descobrir o segredo, a manda embora e se envolve em uma briga com lobos, que
acabam o machucando, o que faz com que Bela lhe direcione seus cuidados e trate suas
feridas, começando assim a despertar os sentimentos da mesma por seu cavalheirismo e
gentileza. Há também a presença do personagem Gaston – apaixonado e rejeitado por
Bela – que após pedido do mercador se envolve em uma briga com a Fera, sendo após
este evento que Bela chora sobre seu corpo e o feitiço é desfeito.
Já nos contos das Madames, Bela vai ao encontro da Fera para salvar a vida do
seu pai, não existindo a presença de elementos tão fantásticos como nas versões da
Disney. Nas versões antigas, Bela só descobre que está apaixonada quando vai visitar o
pai que se encontra doente e, ao ter um sonho, corre ao encontro do monstro e o feitiço é
desfeito quando a mesma relata o seu amor e o seu desejo de casar-se com a Fera.
Para análise do conto de Jeanne-Marie e desbravamento da linguagem simbólica
que nele subsiste, utiliza-se o modelo do percurso gerativo de sentido proposto por Ernani
Terra e Jessyca Pacheco (2017). Baseado no viés teórico da semiótica discursiva, esta
proposta tem como objetivo destrinchar o sentido do texto a partir da análise de seus
diversos signos, perpassando, para tanto, por três níveis no plano do conteúdo: o nível
mais simples e abstrato (o fundamental); o nível intermediário (o narrativo); e o nível
mais complexo e concreto (o discursivo).
Deste modo, inicia-se a análise desta versão de A Bela e a Fera a partir do nível
discursivo de seu conteúdo. Nesse sentido, observa-se a presença de um narrador
onisciente, onipresente e em terceira pessoa, o que lhe garante domínio total na construção
das ações e uma enunciação que conduz a fantasia e o encantamento do leitor a partir da
caracterização dos cenários e das personagens. Estas, por sua vez, constituem-se
essencialmente no mercador, em Bela, nas suas duas irmãs, na Fera e na bruxa malvada,
sendo que todos operam suas ações em espaços determinados – a casa do mercador e o
palácio da Fera – e em um tempo definido, limitado aos acontecimentos da enunciação,
aspectos característicos do conto.
O nível discursivo permite ainda inferir temas e figuras que estabelecem paralelos
entre a constituição das personagens e sua interação mútua. Nesse sentido, vê-se nesta
versão de A Bela e a Fera temáticas como: a avareza e a mesquinhez, características das
irmãs de Bela – representadas por figuras como só aceitariam por marido um duque ou
um conde; a inveja, também característica das irmãs – morriam de inveja; a fidelidade,
traço de caráter de Bela – não posso deixar meu pai; a riqueza, que permeia a
caracterização dos espaços – luxuoso estilo de vida, placa de ouro; a feiura, marca da
personagem Fera – uma criatura horrenda; e a singeleza e doçura de Bela – como
representadas na figura traga-me uma rosa. São estas as principais categorias no nível
discursivo do conto.
Todavia, passa-se à análise do nível intermediário ou narrativo do percurso
gerativo do sentido (TERRA; PACHECO, 2017). Neste nível, o que se busca averiguar é
de que modo sujeitos sofrem transformações por intermédio da ação de outros sujeitos,
dinâmica que garante a narratividade da obra. Neste sentido, afirma-se ser Bela o sujeito
de estado do conto, dado que sai de uma posição inicial de disjunção para com a aparência
estética da Fera para um estado de conjunção com este objeto-valor – a aparência. Deste
modo, o objeto-valor que norteia a transformação do sujeito de estado realiza-se na
própria Fera, que por este motivo pode ser considerada como o objeto-concreto do nível
narrativo.
Entretanto, para além de objeto concreto, a função primordial da personagem Fera
é ser para a narrativa o sujeito do fazer que conduz as ações dos demais sujeitos para
realizar o seu intento de quebrar o feitiço que lhe foi imposto. Modalizado por este querer-
fazer, a Fera manipula o mercador através de intimidação – vai morrer por isso – e
tentação – vou deixá-lo partir, se ela concordar em vir morrer no seu lugar –, bem como
manipula Bela mediante o mesmo programa narrativo da tentação – estou aqui para servi-
la.
Conforme afirmam Ernani Terra e Jessyca Pacheco (2017), para além do percurso
narrativo da manipulação e da ação acima descritos, existe ainda o percurso da sanção,
que comumente serve para confirmar ou não a conjunção/disjunção do sujeito de estado
com o objeto-valor da obra, bem como permite a revelação de segredos e mentiras, além
de trazer uma recompensa ou punição para o sujeito do fazer. Desta forma, ao entrar em
conjunção com a aparência da Fera, Bela não só permite a revelação do segredo da
narrativa – uma bruxa malvada me transformou em fera –, como confirma o intento do
sujeito do fazer atribuindo-lhe uma recompensa – viveram felizes para sempre –, e às
irmãs invejosas uma sanção negativa e uma punição – as transformou em estátuas.
A análise do nível narrativo e do nível discursivo permitem revelar a
complexidade e concretude que permeiam a superficialidade do conto. Feito isto, atesta-
se aqui, por fim, seu nível fundamental, caracterizado por maior profundidade e abstração
consubstanciadas em uma oposição semântica que contém a essência do significado da
obra. Deste modo, afirma-se ser a oposição /essência v. aparência/ o caráter fundamental
desta versão de A Bela e a Fera, o que se atesta tanto pela conduta avara e mesquinha das
irmãs, que são punidas por sempre prezarem pelos bens materiais e a beleza externa,
quanto pela felicidade eterna concedida a Bela, que suprime a repulsa pela feiura em nome
da beleza interior da Fera e sua bondade no coração.
Este percurso gerativo do sentido proposto por Ernani Terra e Jessyca Pacheco
(2017) permite esmiuçar de que maneira o plano do conteúdo se articula com o plano da
expressão para enunciar determinada mensagem ao leitor. Todavia, mais do que o exposto
a partir deste processo, A Bela e a Fera, por se tratar de um conto infantil, reúne aspectos
essenciais como a fantasia, o deslumbramento e a intensidade expressiva que permitem à
criança estabelecer paralelos entre seus problemas interiores e vivências aos dilemas
morais das personagens.
Conforme afirma Bruno Bettelheim (2002), a importância dos contos de fadas se
dá quando, aplicando-se um método psicanalítico, percebe-se que transmitem importantes
mensagens à mente consciente e à inconsciente em qualquer nível de funcionamento, seja
para uma ingênua criança ou para um indivíduo adulto da mais alta sofisticação. É nesse
sentido que a linguagem simbólica contida na singeleza de uma rosa, no cuidado extremo
a um pai que se vê na iminência da morte – bem como na aceitação do que difere dos
padrões estabelecidos em nome do que se tem por essência – configuram aspectos que
permitem à criança significar sua existência mediante imagens esteticamente belas,
fantásticas e inspiradoras.
A mensagem intrínseca em A Bela e a Fera vai muito além, portanto, do
estabelecimento fundamental e opositivo entre essência e aparência. Este conto de fadas
permite à criança não só vislumbrar sua identidade e suas vivências no drama que se
desenrola no nível narrativo do conto, mas principalmente proporciona o
desenvolvimento de suas capacidades cognitivas e imaginativas a partir do esplendor
estético da fantasia e da ludicidade simbólica contida em seu nível mais concreto e
complexo – o discursivo. A bondade e a resiliência da Fera, bem como o amor e a
benevolência de Bela se tornam parâmetros comportamentais que funcionam como
solução para as prementes aflições infantis, driblando a avareza, a mesquinhez e a inveja
que representam a dinâmica do mundo humano que inevitavelmente estas crianças um
dia terão que lidar.

REFERÊNCIAS
ANGELOTTI, Christiane. Curiosidades - Jeanne Marie Leprince de Beaumont.
Qdivertido. 2017. Disponível em:
http://www.qdivertido.com.br/verpesquisa.php?codigo=17. Acesso em: 22 set. 2019.

BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. 16ª ed. Editora Paz e
Terra: 2002.

TERRA, Ernani. PACHECO, Jessyca. O conto: percurso gerativo de sentido. In:


TERRA, Ernani. PACHECO, Jessyca. O conto na sala de aula. Curitiba: InterSaberes,
2017. cap. 3, p. 134-181.

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