Sei sulla pagina 1di 528

FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 1

2 PAAVO V. KOMI

K81f Komi, Paavo V.


Força e potência no esporte [recurso eletrônico] / Paavo V.
Komi ; tradução Vagner Raso, Ronei Silveira Pinto. – 2. ed. –
Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

Editado também como livro impresso em 2006.


ISBN 978-85-363-1495-2

1. Esporte – Força. 2. Esporte – Potência. I. Título.

CDU 796.012.11

Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto – CRB 10/1023


FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 3

Segunda edição
Paavo V. Komi

Volume III da Enciclopaedia


of Sports Medicine
An IOC Medical Commission
Publication

Com colaboração de
The International Federation of
Sports Medicine

Tradução:
VAGNER RASO
RONEI SILVEIRA PINTO

Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição:


RONEI SILVEIRA PINTO
Professor da Escola de Educação Física da UFRGS
Mestre em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS
Doutorando da Faculdade de Motricidade Humana da
Universidade Técnica de Lisboa, Portugal

Versão impressa
desta obra: 2006

2008
Obra traduzida do original intitulado
Strength and Power in Sport, Second Edition
© 2003 International Olympic Committe
Published by Blackwell Science Ltd.
ISBN 0-632-05911-7

Capa:
AMARILIS BARCELOS

Preparação do original:
CLÓVIS VICTORIA JÚNIOR

Leitura final:
GRACE BARROS
DIEIMI LOPES DEITOS

Supervisão editorial:
CLÁUDIA BITTENCOURT

Editoração e filmes:
WWW.GRAFLINE.COM.BR

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à


ARTMED® EDITORA S.A.
Av. Jerônimo de Ornelas, 670 – Santana
90040-340 Porto Alegre RS
Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte,


sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia,
distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora.

SÃO PAULO
Av. Angélica, 1091 – Higienópolis
01227-100 São Paulo SP
Fones (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333

SAC 0800 703-3444

IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Lista de colaboradores

R. AIT-HADDOU, PhD, Human Performance J. GARHAMMER, PhD, Biomechanics Laboratory,


Laboratory, Faculty of Kinesiology, University of Department of Kinesiology, California State
Calgary, 2500 University Drive, N. W. Calgary, AB University, Long Beach, CA 90840, USA
T2N 1N4, Canada
G. GOLDSPINK, PhD, Basic Biomedical Sciences,
B.A. ALKNER, MD, Department of Physiology and Royal Free Campus, Royal Free and University
Pharmacology, Karolinska Institute, Huddinge College Medical School, Rowland Hill Street, London
University Hospital, SE-17177, Stockholm, Sweden NW3 2PF, UK

R. BILLETER, PhD, School of Biomedical Sciences, A. GOLLHOFER, PhD, Institut für Sport und
University of Leeds, Worsley Building, Leeds LS2 9JT Sportwissenschaft, Universität Freiburg,
Schwarzwaldstr. 175 D-7800, Freiburg, Germany
V. DIETZ, FRCP, Paracare, Swiss Paraplegic Centre,
University Hospital Balgrist, Forchstrasse 340, K. HAINAUT, PhD, Laboratory of Biology, Université
CH-8008 Zürich, Switzerland Libre du Bruxelles 28, av. P. Heger, CP 168 1000,
Brussels, Belgium
J. DUCHATEAU, PhD, Laboratory of Biology,
Université Libre de Bruxelles, 28, av. P. Heger, CP S. HARRIDGE, PhD, Wellcome Research Fellow,
168 1000, Brussels, Belgium Department of Physiology, Royal Free and University
College Medical School, Rowland Hill Street, London
G.A. DUDLEY, PhD, Department of Exercise Science, NW3 2PF, UK
115 M Ramsey Student Center, The University of
Georgia, 300 River Road, Athens, GA 30602, USA W. HERZOG, PhD, Human Performance Laboratory,
Faculty of Kinesiology, University of Calgary, 2500
V.R. EDGERTON, PhD, Department of Physiological University Drive, N. W. Calgary, AB T2N 1N4,
Science, Neurobiology, and Brain Research Institute, Canada
University of California, Los Angeles, 695 Charles E.
Young Drive, Los Angeles, CA 90095-1761, USA H. HOPPELER, MD, Institute of Anatomy, University
of Bern, Bühlstrasse 26, CH-3000 Bern 9,
K.A.P. EDMAN, PhD, University of Lund, Switzerland
Department of Physiological Sciences, The Biomedical
Centre, F11 S-221 84, Lund, Sweden K. HÄKKINEN, PhD, Neuromuscular Research
Center, Department of Biology of Physical Activity,
S.J. FLECK, PhD, Sports Science Department, University of Jyväskylä, P.O.Box 35, FIN-40351,
Colorado College, Colorado Springs, CO 80903, USA Jyväskylä, Finland
VI LISTA DE COLABORADORES

H.G. KNUTTGEN, PhD, Harvard University, Faculty of Sports Science, 163, Avenue de Luminy CP
Spaulding Rehabilitation Hospital, 125 Nashua 910, F-13288, Marseille, Cedex 9, France
Street, Boston, MA 02114-1198, USA
N.A. RATAMESS, MS, Department of Kinesiology,
C. KARATZAFERI, PhD, Department of Unit 1110, The Human Performance Laboratory, The
Biochemistry/Biophysics, University of California at University of Connecticut, Storrs, CT 06269-1110,
San Francisco, P.O. Box 0448, San Francisco, CA USA
94143, USA
R.R. ROY, PhD, Brain Research Institute, 1320 Gonda
P.V. KOMI, PhD, Neuromuscular Research Center, Neuroscience and Genetics Building, University of
Department of Biology of Physical Activity, University California Los Angeles, 695 Charles E. Young Drive,
of Jyväskylä, P.O. Box 35, FIN-40351, Jyväskylä, Los Angeles, CA 90095-1761, USA
Finland
D.G. SALE, PhD, Department of Kinesiology,
W.J. KRAEMER, PhD, Department of Kinesiology, McMaster University, Hamilton, ON L8S 4K1,
Unit 1110, The Human Performance Laboratory, The Canada
University of Connecticut, Storrs, CT 06269-1110,
USA P. SPITZENPFEIL, PhD, Technische Universität
München, Connollystr. 32, D-80809, München,
A.M. LAI, MD, 927 Westwood Boulevard, Suite 650, Germany
Box 957087, Los Angeles, CA 90095-7087, USA
S. STEVENSON, PhD, Department of Kinesiology
B. LOITZ-RAMAGE, PhD, University of Calgary, and Health Promotion, California State Polytechnic
McCaig Centre for Joint Injury and Arthritis Research, University, Pomona, CA 91768, USA
3330 Hospital Drive, N. W. Calgary, AB T2N 1N4,
Canada M.H. STONE, PhD, Department of Sport Physiology,
USOC, One Olympic Plaza, Colorado Springs, CO
J.D. MACDOUGALL, PhD, Professor Emeritus, 80909, USA
Department of Kinesiology, McMaster University,
Hamilton, ON L8S 4K1, Canada B. TAKANO, Senior International Coach, USA
Weightlifting Federation, c/o Van Nuys High School,
S.A. MAZZETTI, MS, School of Physical Education, 6535 Cedros Avenue, Van Nuys, CA 91411, USA
Ball State University, Muncie, IN, 47304, USA
P.A. TESCH, PhD, Department of Physiology and
J. MESTER, PhD, Deutsche Sporthochschule, Köln, Pharmacology, Karolinska Institute, Huddinge
Carl-Diem-Weg 6, D-50933, Köln, Germany University Hospital, SE-17177, Stockholm, Sweden

R.J. MONTI, PhD, Brain Research Institute, 1320 Z. YUE, PhD, Deutsche Sporthochschule, Köln,
Gonda Neuroscience and Genetics Building, University Carl-Diem-Weg 6, D-50933, Köln, Germany
of California Los Angeles, 695 Charles E. Young
Drive, Los Angeles, CA 90095-1761, USA V.M. ZATSIORSKY, PhD, Pennsylvania State
University, Department of Kinesiology, Biomechanics
T. MORITANI, PhD, Kyoto University, Laboratory of Laboratory, 39 Recreation Building, University Park,
Applied Physiology, Graduate School of Human and PA 16802, USA
Environmental Studies, Sakyo-Ku, Kyoto, 606-850,
Japan R.F. ZERNICKE, PhD, University of Calgary, Faculty
of Kinesiology, Medicine and Engineering, 2500
C. NICOL, PhD, UMR 6559, Movement and University Drive, N. W. Calgary, AB T2N 1N4,
Perception CNRS, Université de la Méditerranée, Canada
Apresentação do COI

Em 1991, a Comissão Médica do Comitê Olímpico Um grande número de pesquisas apareceram na li-
Internacional (COI) publicou o volume III da enci- teratura desde a década de 1950 sobre o metabolis-
clopédia de Medicina do Esporte, sob o título Força e mo aeróbio e a importância da função cardiopulmo-
potência no esporte. O professor Paavo Komi, como nar em períodos relativamente longos de atividade
editor, recrutou uma equipe de 29 renomados cien- física. Subseqüentemente, pesquisas sobre eventos de
tistas internacionais para produzir um livro de refe- velocidade e esportes também surgiram. No entanto,
rência que constituísse uma importante contribui- a expressão física dos movimentos explosivos e o trei-
ção para a literatura científica em uma área na qual namento de força referente ao esporte foram negli-
havia relativamente pouco estudo em ciências do genciados. Inicialmente, o “treinamento de força” pro-
exercício e do esporte. vocou receios injustificáveis de que o atleta iria
Desde a publicação da primeira edição de Força e tornar-se um sujeito “limitado aos músculos”, com
potência no esporte, surgiram muitas pesquisas para re- conseqüente perda de flexibilidade. Essas crenças
forçar a informação nele contida e para expandir o equivocadas desencorajaram os atletas a treinarem
corpo da literatura referente ao treinamento e ao de- com pesos livres ou com equipamentos de sobrecar-
sempenho de força e potência. A popularidade da ga, agora associados com o treinamento de força e
primeira edição e a disponibilidade dessa grande potência.
quantidade de informação atualizada permitiram à Essa segunda edição acrescenta informação
Comissão Médica do COI concluir que uma segun- valiosa referente à ciência básica e fornece conheci-
da edição desse importante livro era justificada e es- mento capaz de otimizar o desempenho, prevenir
sencial. lesões, além de ampliar o engajamento da participa-
Parabenizo a Comissão Médica do COI por ou- ção esportiva pelo atleta de elite, pelo atleta de nível
tra valiosa contribuição para a literatura em medici- recreacional, assim como por atletas jovens e vete-
na e ciências do esporte. ranos.
Força e potência no esporte certamente continuará a
Dr. Jacques Rogge ser a fonte mais freqüentemente citada de informa-
Presidente do COI ção sobre essa temática. Nessa nova edição, aumenta
a contribuição para a saúde, para o bem-estar e para
o sucesso de atletas de todas as idades.
Gostaria de agradecer ao professor Komi por
novamente ter reunido uma equipe de cientistas e
autoridades em ciências do esporte reconhecidos
mundialmente para produzir esta segunda edição.

Príncipe Alexandre de Merode


Presidente da Comissão Médica do COI
Prefácio

Foi extremamente recompensador acompanhar o cia e à sua adaptação. O material é dividido em cinco
sucesso da primeira edição de Força e potência no espor- partes.
te. Desde sua publicação em 1991, o livro foi reim-
1 Definição de termos e conceitos fundamentais.
presso várias vezes, além de ter sido traduzido para o
2 Consideração compreensiva das bases biológicas
alemão (1994). Apesar do contínuo interesse nesse
para força e potência, incluindo os aspectos estrutu-
primeiro livro, tornou-se evidente a necessidade de
ral, hormonal, neural e mecânico. Esse conteúdo es-
atualizar o material antes de qualquer outra impres-
pecificamente está apresentado em 10 diferentes ca-
são ou tradução. Nos últimos 10 anos, uma quanti-
pítulos.
dade considerável de conhecimento tornou-se dis-
3 Análise detalhada das razões (mecanismos) que
ponível por meio do crescente número de estudos
induzem adaptações do organismo quando subme-
sobre os mecanismos básicos e sobre os aspectos apli-
tido aos vários exercícios de força e potência. Essa
cados do treinamento de força e potência. Assim, foi
parte considera nove diferentes tópicos, desde a adap-
necessário produzir uma nova edição.
tação celular e neural, às respostas endócrinas e car-
O trabalho editorial da primeira edição de Força e
diovasculares.
potência no esporte foi um desafio. A segunda edição,
4 Considerações especiais referentes ao treinamen-
por sua vez, foi uma experiência ainda mais motiva-
to de força e potência, incluindo alterações relacio-
dora. Além da aceitação de muitos dos autores ante-
nadas à idade, ao uso potencial da estimulação elé-
riores em revisar seus capítulos, novas contribuições
trica e a aspectos clínicos.
de outros autores também foram incluídas. A equipe
5 O livro termina com uma parte mais aplicada e
conta agora com a contribuição de 39 autores, re-
direcionada somente aos esportes, em que três capí-
presentando os mais proeminentes cientistas e bio-
tulos incluem o conhecimento atual dos princípios
médicos. Todos se interessam pelos vários proble-
práticos do treinamento de força e potência, com base
mas relacionados ao treinamento de força e potência.
no conhecimento científico disponível.
Mas, o que é mais importante, todos têm se destaca-
do como líderes mundiais em suas áreas de pesquisa. A maneira como o material é apresentado varia
Vários livros foram publicados sobre força e po- pouco entre os capítulos. Em alguns casos, conside-
tência. Eles aumentaram nossa compreensão sobre rável detalhamento e profundidade foram necessá-
o tema. Na edição atual, fizemos um esforço por ado- rios. Já outros capítulos foram escritos num formato
tar uma abordagem ligeiramente diferente do pro- mais agradável e do tipo revisão geral. Independen-
blema. Como é muito fácil demonstrar incremento temente do estilo, o material deve ser acessível aos
da força muscular por qualquer método (se suficien- leitores com conhecimento básico nos aspectos bio-
temente intenso), esta edição de Força e potência no lógicos das ciências do esporte. Espera-se que este
esporte analisa os mecanismos básicos e as razões para livro torne-se uma leitura necessária em muitos dos
os benefícios dos exercícios de força. Para fornecer programas de graduação em ciência e medicina do
informação como “estado da arte” – que é o propósi- esporte, em função da ampla cobertura das caracte-
to da Enciclopédia de Medicina do Esporte – grande rísticas relacionadas aos mecanismos básicos do trei-
parte do livro dedica-se às bases da força e da potên- namento de força e potência. O estudo da força e da
X PREFÁCIO

potência representa um dos principais componentes Médica do COI: foco na compreensão dos proble-
da ciência do esporte. Sob o mesmo prisma, a com- mas básicos nos vários aspectos da força e da potên-
preensão da relação entre os fatores neural, hormo- cia para analisar diferentes eventos esportivos e pla-
nal, muscular e mecânico é de extrema importância nejar objetivamente o treinamento e o condiciona-
para o desempenho esportivo, assim como para as mento não somente de atletas, mas também de
necessidades de força e potência de outras popula- outros grupos.
ções humanas. Assim, espera-se que esta segunda
edição de Força e potência no esporte cumpra bem os Paavo V. Komi
principais objetivos estabelecidos pela Comissão Jyväskylä, Finlândia
Unidades de medida e
terminologia*

Endurance: limite de tempo da habilidade de uma pes-


soa manter uma força isométrica ou um determina-
do nível de potência, envolvendo combinações de
Massa quilograma (kg) ações musculares concêntricas e/ou excêntricas (uni-
Distância metro (m) dade do sistema internacional: segundo).
Tempo segundo (s)
Força newton (N) Energia: capacidade de produzir força, realizar traba-
Trabalho joule (J) lho ou gerar calor (unidade do sistema internacional:
Potência watt (W) joule).
Velocidade metros por segundo
(m·s–1) Exercício: toda atividade que envolva geração de força
Torque newton-metro (N·m) pelo(s) músculo(s) ativo(s). Pode ser quantificado
Aceleração metros por segundo2 mecanicamente como força, torque, trabalho, potên-
(m·s–2) cia ou velocidade de progressão.
Ângulo radiano (rad)
Velocidade angular radianos por segundo Força:** capacidade que altera ou tende a alterar o es-
(rad·s–1) tado de repouso ou do movimento em questão. Um
Quantidade de substância moles (mol) músculo gera força em uma ação muscular (unidade
Volume litro (L) do sistema internacional: newton).

Força muscular:*** força ou torque máximos que um


músculo ou grupo muscular podem gerar em espe-
cífica ou determinada velocidade.
Ação concêntrica: ação em que as extremidades do mús-
culo aproximam-se. Intensidade de exercício: nível específico de atividade
muscular que pode ser quantificada em termos de
Ação excêntrica: ação em que a força externa ao mús- potência (energia despendida ou trabalho realizado
culo supera a força muscular e as extremidades do
músculo distanciam-se.
*Compilado de Sub-commission on Publications in the Sports
Ação isométrica: ação em que as extremidades do
músculo não se aproximam, sem alteração no com- Sciences, IOC Medical Commission.
**N. de R.T. Relativo à expressão inglesa “force”, abordada na
primento. perspectiva da física.
***N. de R.T. Relativo à expressão inglesa “strength”. Reflete a

Ação muscular: estado de atividade muscular. capacidade ou qualidade muscular.


XII UNIDADES DE MEDIDA E TERMINOLOGIA

por unidade de tempo), a força de oposição (p. ex., Potência: a taxa de realização de trabalho; o produto
peso livre ou placas de sobrecarga), força isométrica da força pela velocidade; a taxa de transformação de
mantida ou velocidade de progressão. energia potencial metabólica em trabalho ou calor
(unidade do sistema internacional: watt).
Massa: quantidade de matéria de determinado objeto
refletida em sua inércia (unidade do sistema interna- Trabalho: força expressa através de um deslocamento,
cional: quilograma). mas sem limitação de tempo (unidade do sistema in-
ternacional: joule; nota: 1 newton · 1 metro = 1 jou-
Peso: força exercida pela gravidade em um objeto (uni- le).
dade do sistema internacional: newton; unidade tra-
dicional: quilograma de peso — nota: massa = peso/ Torque: eficácia de uma força para vencer a inércia
aceleração da gravidade). rotacional de um determinado objeto. O produto da
força e da distância perpendicular da linha de ação
Peso livre: objeto de massa conhecida não acoplado a da força ao eixo de rotação (unidade do sistema in-
uma estrutura de suporte ou guia, o qual serve para ternacional: newton·metro).
o condicionamento físico e para o levantamento com-
petitivo.
Sumário

Parte I: Definições 9 Modelos mecânicos musculares e suas aplicações


na produção de força e de potência, 169
1 Considerações básicas sobre o exercício, 17 WALTER HERZOG E RACHID AIT-HADDOU
HOWARD G. KNUTTGEN E PAAVO V. KOMI
10 Ciclo alongamento-encurtamento, 200
PAAVO V. KOMI
Parte II: Bases biológicas da
força e da potência 11 Ciclo alongamento-encurtamento e sua
influência na produção de força e potência, 219
2 Controle neuronal do movimento funcional, 25 CAROLINE NICOL E PAAVO V. KOMI
VOLKER DIETZ

3 Excitabilidade da unidade motora e do Parte III: Mecanismos de adaptação no


motoneurônio no movimento explosivo, 41 treinamento de força e potência
TOSHIO MORITANI
12 Aspectos celulares e moleculares da adaptação
4 Bases musculares da força, 65 no músculo esquelético, 247
R. BILLETER E H. HOPPELER GEOFFREY GOLDSPINK E STEPHEN HARRIDGE

5 Mecanismos hormonais relacionados à 13 Hipertrofia e hiperplasia, 268


expressão da força muscular e da potência, 88 J. DUNCAN MACDOUGALL
WILLIAM J. KRAEMER E SCOTT A. MAZZETTI
14 Adaptações metabólicas musculares agudas e
6 Adaptações teciduais conjuntivas relacionadas ao crônicas ao treinamento de força, 281
exercício, 111 PER A. TESCH E BJÖRN A. ALKNER
RONALD F. ZERNICKE E BARBARA LOITZ-RAMAGE
15 Adaptação neural ao treinamento de força, 297
7 Desempenho contrátil das fibras DIGBY G. SALE
musculoesqueléticas, 129
K.A. PAUL EDMAN 16 Mecanismos de adaptação muscular e da
unidade motora ao treinamento de potência
8 Arquitetura musculoesquelética e unidade explosiva, 331
motora: efeitos no desempenho, 149 JACQUES DUCHATEAU E KARL HAINAUT
ROLAND R. ROY, RYAN J. MONTI, ALEX LAI E
V. REGGIE EDGERTON
XIII SUMÁRIO

17 Treinamento proprioceptivo: considerações 22 Utilização da estimulzação elétrica no


relativas à produção de força e potência, 346 treinamento de força e potência, 442
ALBERT GOLLHOFER GARY A. DUDLEY E SCOTT W. STEVENSON

18 Tecido conjuntivo e resposta óssea ao


treinamento de força, 358 Parte V: Treinamento de força e potência
MICHAEL H. STONE E CHRISTINA KARATZAFERI nos esportes

19 Respostas endócrinas e adaptações ao 23 Biomecânica da força e do treinamento de


treinamento de força e potência, 376 força, 455
WILLIAM J. KRAEMER E NICHOLAS A. RATAMESS VLADIMIR M. ZATSIORSKY

20 Respostas cardiovasculares ao treinamento de 24 Sobrecargas de vibração: potencial para a


força, 402 produção de força e potência, 503
STEVEN J. FLECK JOACHIM MESTER, PETER SPITZENPFEIL E
ZENGYUAN YUE

Parte IV: Considerações especiais no 25 Treinamento para o levantamento de pesos, 517


treinamento de força e potência JOHN GARHAMMER E BOB TAKANO

21 Envelhecimento e adaptação neuromuscular ao


treinamento de força, 425 Índice, 531
KEIJO HÄKKINEN
Parte I

Definições
Capítulo 1
Considerações básicas
sobre o exercício
HOWARD G. KNUTTGEN E PAAVO V. KOMI

O desempenho esportivo, assim como qualquer exer- ou, como no caso do exercício aeróbio, pela repeti-
cício físico, é o resultado da ação coordenada de gru- ção de movimentos. Também determina-se a potên-
pos musculares apropriados. Esses grupos muscula- cia instantaneamente em qualquer ponto do movi-
res, que agem por meio de sistemas de alavanca, mento ou pelo cálculo da média em determina-
fornecem força e potência capazes de ser transfor- da região do movimento ou em uma sessão de exer-
madas em movimento. A mensuração e a quantifica- cício.
ção desse desempenho são realizadas de acordo com
o Sistema Internacional de Medidas (SI) para força
(newton); energia, trabalho e calor (joule); torque Energia, potência e endurance
(newton·metro); e potência (watts). O desempenho
físico deve ser descrito nesses termos quando o exer- A relação entre a capacidade de manter o desem-
cício for definido como qualquer e toda atividade que penho e a potência em determinado exercício é apre-
envolva a geração de força pelos músculos ativos sentada na Figura 1.1. Nesse caso, o tempo de endu-
(Knuttgen e Komi, 1992; Knuttgen e Kraemer, 1987). rance até a exaustão é posicionado opostamente à
A força altera ou tende a alterar o estado de repou- potência metabólica durante o estado de equilíbrio
so ou de movimento em determinada situação. Traba- para um atleta do sexo masculino, de altura mediana.
lho equivale à força expressa por meio do deslocamen- Na Figura 1.2, as contribuições relativas do metabo-
to, sem limite de tempo. O torque representa a eficácia
da força em produzir a rotação de determinado objeto
sobre um eixo. Potência significa a taxa em que o traba-
lho é realizado ou a taxa de transformação da energia
potencial metabólica em trabalho e/ou calor.
A intensidade do exercício pode, portanto, ser
quantificada em inúmeras situações: produção de
força oposta no exercício dinâmico (p. ex., fornecida
por um peso livre, equipamento ou ergômetro); for-
ça isométrica; potência (gasto energético ou trabalho
realizado por segundo ou o produto da força pela
velocidade); ou velocidade (p. ex., corrida, ciclismo,
remo). Endurance representa o limite de tempo em que
o indivíduo é capaz de manter a força isométrica ou
determinada potência no exercício dinâmico — a
unidade básica de tempo no SI é o segundo. Figura 1.1 Relação entre o tempo de endurance e a potência
A potência pode ser determinada em um único metabólica para um atleta de 80 kg com consumo máximo de
movimento corporal, em uma série de movimentos oxigênio de 2,7 mmol·s–1.
18 PAAVO V. KOMI

Potência no esporte

A potência metabólica para eventos como arre-


messos e saltos no atletismo, levantamento de peso,
trampolim e mergulho em plataforma é obtida ex-
clusivamente dos compostos fosfato de alta energia.
Os eventos com duração aproximada de 10 s ou pou-
co mais (p. ex., corrida de 100 m) utilizam a glicólise
anaeróbia para a ressíntese de ATP. Quanto menor a
intensidade e maior a duração do exercício, melhor
será a glicólise anaeróbia capaz de fornecer energia.
Figura 1.2 As fontes de energia (metabolismo aeróbio, A contribuição dos carboidratos e das gorduras como
glicólise anaeróbia e fosfatos de alta energia) quando a potência substratos energéticos ocorre em eventos de pelo me-
metabólica está relacionada à potência mecânica. nos 60 s. A contribuição aeróbia é proporcionalmente
direta à duração do evento (em minutos e horas).
Para um atleta masculino, como exemplificado
na Figura 1.1, a produção metabólica superior a 5.000
W pode ser obtida exclusivamente do ATP. Entre
lismo aeróbio, da glicólise anaeróbia (indução para 3.500 e 5.000 W, a CP é utilizada para ressintetizar
formação de ácido láctico), assim como da adenosi- ATP da adenosina difosfato (ADP) e da CP, e a ener-
na trifosfato (ATP) e da fosfocreatina (CP), como es- gia total necessária é obtida destes dois fosfatos de
toques de energia, são apresentadas quando a potên- alta energia. Na amplitude entre 1.500 e 3.500 W, a
cia metabólica assume posição contrária à potência glicólise anaeróbia constitui a principal fonte de ener-
mecânica. gia para a ressíntese de ATP. Quando a potência ne-
O carreador bioquímico final de energia aos mio- cessária é menor que 2.000 W, o metabolismo aeró-
filamentos para o desenvolvimento de força pelos bio começa a fornecer pequena contribuição para a
músculos é o composto fosfato de alta energia ATP. ressíntese de ATP; quanto menor a potência exigida
Um segundo composto fosfato de alta energia, a CP, a partir deste ponto, maior é a contribuição dos car-
pode fornecer energia para a ressíntese imediata de boidratos e das gorduras no metabolismo aeróbio.
ATP durante o exercício de alta intensidade quando Abaixo de 1.000 W para esse atleta, a ressíntese de
outras fontes de energia não estão disponíveis. Sob ATP durante o exercício é totalmente provida pelo
condições de alta intensidade do exercício (p. ex., no metabolismo aeróbio. Com isso, ele pode continuar
desenvolvimento de potência), o ATP não é somente a correr, nadar, pedalar, remar, esquiar, por período
o carreador final de energia, mas a fonte única. Con- prolongado até a exaustão.
sidera-se, então, que seu papel seja importante tam- Os autores dos vários capítulos deste livro con-
bém como estoque de energia. De modo similar, o sideram apenas os mais elevados níveis de desenvol-
ATP continua a ser o passo final na transferência de vimento de força e de produção de potência mecâni-
energia em intensidades ligeiramente menores (p. ex., ca e metabólica. A glicólise anaeróbia fornece energia
5 a 10 s até a exaustão), mas junto com a CP consti- em intensidades menores. Tais intensidades reduzi-
tui o estoque de energia empregado. das são completamente acomodadas pelos próprios
Quando a intensidade do exercício diminui e a fosfatos de alta energia, mas em intensidades ainda
capacidade de manter o desempenho aumenta, a gli- muito maiores do que as extraídas pelo consumo má-
cólise anaeróbia pode fornecer energia para a ressín- ximo de oxigênio. O metabolismo aeróbio será con-
tese de ATP e CP. Em intensidades muito menores, siderado como tendo papel nulo no desempenho de
as células musculares dependem da oxidação (meta- exercícios de alta intensidade. No entanto, na reali-
bolismo aeróbio) da gordura (ácidos graxos), dos car- zação de qualquer uma dessas atividades de condi-
boidratos (glicose e glicogênio) e, em magnitude cionamento ou em eventos competitivos, assume-
muito limitada, das proteínas (aminoácidos) como se que ele atue como fonte de energia para a recupe-
fonte de energia para a ressíntese de ATP e CP. ração.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 19

Ações musculares ções não são dependentes somente do esforço, mas


também do músculo e da articulação.
A interação entre a força desenvolvida por gru- A ação dinâmica de um músculo em exercício e
pos musculares e as forças externas apresentadas pela no desempenho esportivo não envolve desenvolvi-
massa das partes do corpo, pela gravidade, pelos ob- mento de força constante devido às variações nas van-
jetos esportivos (p. ex., bola, disco, lançamento de tagens mecânicas quando o ângulo articular é altera-
dardo, peso) ou pelos adversários em esportes de con- do. Isso também ocorre com as diferenças na capa-
tato resulta em ações musculares que produzem exer- cidade de força máxima de um músculo ao longo de
cício estático (ausência de movimento nas articula- seu comprimento. Portanto, o termo “isotônico”,
ções envolvidas) ou dinâmico (alteração do ângulo implicando força uniforme por meio de uma ação
articular das regiões envolvidas). O exercício estático muscular dinâmica, é inapropriado para a descrição
do músculo ativo é tradicionalmente descrito como do desempenho humano e não deveria ser emprega-
isométrico. Há desenvolvimento de força, mas não ocor- do. Igualmente inapropriada é a antiga prática de iden-
re movimento, portanto, não há trabalho. As outras tificar o desenvolvimento da força muscular como
ações musculares envolvem movimento e, conse- uma contração, induzindo, portanto, à classificação
qüentemente, são designadas como dinâmicas. O ter- da “contração excêntrica ou concêntrica como um
mo concêntrico é empregado para identificar uma ação estado de alongamento ou encurtamento, respecti-
de encurtamento. Já excêntrico indica uma ação de vamente. No caso da “contração isométrica”, a signi-
alongamento (ver Tab. 1.1). ficação passaria a estado de inalteração tanto do alon-
As ações isométricas e dinâmicas podem ser ava- gamento como do encurtamento. Certos pesquisa-
liadas em qualquer comprimento determinado do dores que contribuem para este livro têm reconheci-
músculo e/ou posicionamento das regiões corporais do a continuação dessa prática.
relacionadas em termos de: força medida diretamen- Além disso, no que diz respeito aos aspectos
te do músculo ou de seu tendão; força em determi- mecânicos ocorre uma variação no movimento linear
nado ponto das regiões corporais relacionadas; ou dos músculos durante o desempenho dos gestos
torque sobre o eixo de rotação. Posteriormente, uma esportivos e dos exercícios em geral. Por essa razão, o
ação dinâmica deve ser descrita em termos de dire- termo “isocinético”, que corresponde a uma veloci-
ção (encurtamento ou alongamento), velocidade de dade constante, não deveria ser empregado para des-
alteração do comprimento muscular ou movimento crever uma ação muscular. Embora, em um aparelho
da região do corpo. de ginástica ou ergômetro, o movimento possa ser
As definições fornecidas na Tabela 1.1 referem- controlado em velocidade constante e descrito como
se, no entanto, a todo o complexo musculotendíneo. isocinético, este dispositivo não garante que o mús-
Como discutido no Capítulo 9 e especialmente no culo sob esforço no movimento esteja sendo ativado
10, o fascículo e o tendão podem não se correspon- em velocidade constante.
der (e todo o complexo musculotendíneo) em várias A locomoção humana raramente envolve formas
medidas da mecânica muscular, tais como as rela- puras de ações concêntricas, excêntricas ou isomé-
ções força-comprimento e força-velocidade. Será tricas isoladas. Isso ocorre porque os segmentos cor-
demonstrado no Capítulo 10 que, em movimentos porais são periodicamente submetidos a forças de
naturais envolvendo várias articulações, essas rela- impacto, como na corrida e no salto, e também pelo
fato de as forças externas, como a gravidade, induzi-
rem os músculos ao alongamento. Em muitas situa-
ções, os músculos primeiro agem excentricamente.
A ação concêntrica ocorre imediatamente. A combi-
Tabela 1.1 Classificação de exercício e tipos de ação muscular nação das ações excêntrica e concêntrica forma um
Exercício Ação muscular Comprimento muscular tipo natural de função muscular denominada ciclo
alongamento-encurtamento ou CAE (Norman e
Dinâmico Concêntrica Diminui Komi, 1979; Komi, 1984). O CAE representa uma
Excêntrica Aumenta
maneira econômica de produzir movimento e, con-
Estático Isométrica Não altera
seqüentemente, de potencializar o desempenho do
20 PAAVO V. KOMI

músculo. O Capítulo 10 dedica-se especialmente ao tições) induzem adaptações fisiológicas que resultam
desempenho muscular no CAE. em um incremento do desempenho aeróbio que pode
ser especialmente contraprodutivo para o desenvol-
vimento e para a expressão da força e de elevados
Força e níveis elevados de níveis de potência.
produção de potência A potência mecânica será extensivamente discu-
tida no Capítulo 9, no qual são consideradas as rela-
O termo força será empregado para identificar a ções força-velocidade obtidas com a ativação cons-
força ou torque máximo que pode ser desenvolvido tante em músculos isolados ou mesmo no músculo
pelos músculos que realizam determinado movimento humano. As curvas força-velocidade obtidas (e con-
articular (p. ex., flexão de cotovelo, extensão de joe- seqüentemente as curvas potência-velocidade) não
lho). No entanto, os músculos podem executar ações são, no entanto, naturalmente representativas da fun-
máximas na forma excêntrica, concêntrica ou isomé- ção muscular que está ocorrendo, na qual a ativação
trica. As duas ações dinâmicas podem ser realizadas é continuamente variável. Nessas situações, os ter-
em uma ampla variedade de velocidades. Um núme- mos relação instantânea força-velocidade e potên-
ro infinito de valores para a força do músculo pode cia-velocidade são mais apropriados (ver também
ser obtido pela preparação muscular isolada ou pelo Capítulo 10).
movimento humano de acordo com o tipo e com a O “treinamento de resistência” é realizado com
velocidade da ação. O mesmo ocorre com o compri- uma variedade de equipamentos, pesos livres ou mes-
mento do músculo quando a medida é realizada. mo com a gravidade agindo sobre a massa corporal
Portanto, a força não é o resultado da mensura- dos atletas. Para o uso na medicina física e na reabi-
ção realizada sob uma condição única. Devido ao nú- litação, muitos programas de treinamento de resis-
mero de variáveis ou condições envolvidas, a força tência baseiam-se nos testes de repetições máximas
de um músculo ou grupo muscular deve ser definida (RM), como o apresentado na metade da década de
como a força máxima gerada sob determinada velo- 1940 por T.L. De Lorme (De Lorme, 1945). Toda vez
cidade (Knuttgen e Kraemer, 1987). No caso do de- que o atleta realiza determinado exercício, a série cor-
sempenho de um exercício com pesos livres (p. ex., responde ao número máximo possível de repetições
desenvolvimento no levantamento de potência, arre- (repetições máximas ou RM). Esse número é regis-
messo no levantamento olímpico), a combinação das trado junto com a massa levantada ou força oposta
forças empregadas para completar a manobra é men- exercida por determinado aparelho. O teste repetido
surada como a maior massa levantada. com forças opostas progressivamente maiores even-
tualmente induz a determinação do 1-RM, no qual o
atleta pode realizar o movimento apenas uma vez e
Avaliação da força e prescrição não repeti-lo. Nesse sistema, a massa levantada ou a
de exercícios de força força oposta ao 1-RM é descrita como a força do atleta
em certo período de tempo e para determinado mo-
O incremento na produção de força e de potên- vimento (ver exemplo apresentado na Fig. 1.3).
cia máxima dos músculos ocorre em programa de As sessões de exercícios de força e o programa
exercícios de forças opostas muito elevadas (rotinei- diário podem ser baseados nas porcentagens de
ramente denominado “resistência”). As repetições são 1-RM ou, preferivelmente, em zonas de alta intensi-
limitadas a aproximadamente ≤ 20 e, portanto, apre- dade (3 a 5), moderadas (9 ou 10) e leves (15 a 18) das
sentam duração menor que 30 s. Os programas de RM (Fleck e Kraemer, 1997). O número de repeti-
exercícios de número maior de repetições (p. ex., 30 ções por série, o número de séries por dia e o núme-
a 50 repetições que induzem exaustão) desenvolvem ro de sessões diárias de treinamento por semana são,
endurance muscular, mas não levam ao desenvolvimen- então, prescritos para cada movimento ou grupo
to de força. Os exercícios com número muito grande muscular de acordo com o período da temporada
de repetições em uma série (p. ex., 400 a 1.000 repe- competitiva, com a condição física do atleta, com a
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 21

de alta energia, com a possível contribuição da glicó-


lise anaeróbia quando o exercício intenso de curta
duração prolonga-se por mais de poucos segundos.

Referências

De Lorme, T.L. (1945) Restoration of muscle power by he-


avy resistance exercises. Journal of Bone and Joint Surgery
27, 645.
Fleck, S.J. & Kraemer, W.J. (1997) Designing Resistance Trai-
ning Programs. Human Kinetics, Champaign, IL.
Knuttgen, H.G. & Komi, P.V. (1992) Basic definitions for
Figura 1.3 Relação entre a capacidade de endurance em
exercise. In: Strength and Power in Sport (ed. P.V. Komi),
repetições máximas (RM) e a massa dos pesos livres utilizados pp. 3-6. Blackwell Scientific Publications, Oxford.
por um atleta em determinado exercício (neste caso, o supino Knuttgen, H.G. & Kraemer, W.J. (1987) Terminology and
reto). measurement in exercise performance. Journal of Appli-
ed Sports Science Research 1(1),1.
Komi, P.V. (1984) Physiological and biomechanical corre-
lates of muscle function: effects of muscle structure and
variação do programa para as considerações fisioló- stretch-shortening cycle on force and speed. In: Exerci-
se and Sport Sciences Reviews, Vol. 12 (ed. R.L. Terjung),
gicas e psicológicas, assim como para os objetivos do
pp. 81-121. The Collamore Press, Lexington, MA.
programa. Norman, R.W. & Komi, P.V. (1979) Electromyographic de-
O incremento no tamanho (comumente deno- lay in skeletal muscle under normal movement condi-
minado hipertrofia) das células musculares do tipo II tions. Acta Physiologica Scandinavica 106, 241.
é a principal adaptação corporal do atleta. Em geral,
alude-se a ausência de intercâmbio entre as fibras tipo
I e II como resultado de programas específicos de Leituras adicionais
condicionamento.
Bureau International des Poids et Mésures (1977) Le Systè-
me International d’Unités (SI), 3rd edn. Sèvres, France.
Resumo Cavanagh, P.R. (1988) On ‘muscle action’ vs. ‘muscle con-
traction.’ Journal of Biomechanics 22(1), 69.
Komi, P.V. & Knuttgen, H.G. (1996) Sport science and
O desempenho esportivo em todos os exercí-
modern training. In: Sports Science Studies, Vol. 8, pp.
cios pode ser avaliado e descrito de acordo com a 44-62. Verlag Karl Hofmann, Schorndorf.
força, o trabalho, o torque, a potência, assim como
com o tempo de endurance. Então, o desempenho é
apresentado em unidades do Sistema Internacional
de Medidas (SI). O corpo humano é capaz de produ-
zir potência em uma ampla variedade de exercícios
aeróbios de baixa intensidade, de desenvolver o con-
sumo máximo de oxigênio dos músculos envolvidos,
de enfatizar a glicólise anaeróbia como principal fon-
te de energia no exercício anaeróbio de alta intensi-
dade e de elevar a produção de potência dependendo
somente dos fosfatos de alta energia. Os capítulos
deste livro englobam as principais expressões de po-
tência que envolvem predominantemente os fosfatos
Parte II

Bases biológicas da
força e da potência
Capítulo 2
Controle neuronal do
movimento funcional
VOLKER DIETZ

Resumo qüência de inputs aferentes, multissensorial e gerado


por circuitos espinais interneuronais extremamente
Este capítulo considera o controle neuronal do conectados com centros locomotores espinais. A
movimento funcional, que inclui as interações entre magnitude da modificação do timing do padrão pelo
os programas centrais e o input aferente, enfatizando input aferente ainda precisa ser determinada. Uma ne-
a postura e a locomoção como paradigmas do con- cessidade básica da locomoção bípede é ambas as per-
trole motor humano. O capítulo revisa as investiga- nas atuarem de forma cooperativa — cada membro
ções eletrofisiológicas que têm analisado os meca- afeta o timing e a força de ativação muscular do ou-
nismos neuronais responsáveis pela marcha. Entre tro. Algumas evidências demonstram que essa coor-
os objetivos dessa revisão está fornecer conhecimen- denação intermembros é mediada por circuitos in-
tos adicionais referentes aos mecanismos fisiológi- terneuronais espinais sob controle espinal (cerebral
cos básicos da locomoção. O comportamento biolo- e cerebelar).
gicamente útil não consiste da ação isolada de um No que se refere aos mecanismos de ação refle-
único neurônio, músculo ou membro. Uma ampla xa, os reflexos de estiramento de curta latência nos
variedade de fontes de atividades aferentes age em músculos extensores do joelho são profundamente
vários níveis do sistema nervoso para produzir pa- modulados na marcha. Isso ocorre principalmente
drões funcionalmente integrados de atividade mus- pela inibição pré-sináptica de input do grupo Ia e, em
cular. Essa complexidade necessita de uma aborda- menor escala, pelas influências fusimotoras. No en-
gem eclética em estudos da função do sistema tanto, esse reflexo pode estar predominantemente
nervoso. Além disso, tem de ser suplementada pelos envolvido na compensação de pequenas irregulari-
dados adquiridos em experimentos com modelos dades de superfície em distintas fases da marcha. Isso
animais. As discussões sobre a importância relativa inclui a ativação de grupos musculares sinergistas de
dos reflexos no ritmo central e na programação da ambas as pernas. Essas respostas EMG parecem ser
locomoção estavam presentes no início dessas inves- predominantemente modificadas pelo input periféri-
tigações e permanecem suscitando debates. O estado co dos aferentes do grupo II. Estes últimos conver-
atual da pesquisa nesse campo será apresentado aqui. gem (ao longo de diferentes inputs periféricos e su-
Os mecanismos centrais envolvidos na locomo- pra-espinais) em interneurônios espinais comuns
ção são refletidos em um padrão difásico ou trifásico dentro de uma via espinal. Os reflexos modulam o
de ativação muscular da perna após deslocamento padrão motor básico de circuitos interneuronais bá-
dos pés. A estrutura básica desse padrão parece ser sicos que fundamentam a tarefa motora.
programada. As estreitas similaridades com o padrão Evidências mais recentes têm enfatizado a im-
eletromiográfico (EMG) trifásico descrito para o mo- portância crucial do input do receptor de sobrecarga
vimento voluntário balístico sugerem a existência de no controle da postura bípede e da marcha. Sua na-
um mecanismo neuronal análogo que controla a lo- tureza ainda não está completamente compreendi-
comoção. Admite-se que o padrão EMG seja conse- da, nem mesmo sua interação com outros inputs afe-
26 PAAVO V. KOMI

rentes e com mecanismos de controle. As funções 1897; Hering, 1897) e, como resultado, a teoria da
vestibulares e visuais representam contextos prin- “cadeia de reflexos” como base da geração de movi-
cipalmente dependentes e somente se tornam mentos rítmicos alternados e, logo, da locomoção, foi
essenciais quando um input aferente de outras fon- rejeitada. Muitos anos após foi sugerido que o gera-
tes é reduzido. dor espinal era responsável pela locomoção (Lund-
berg, 1975). Essa proposição ampliou-se posterior-
mente quando Grillner (1981) sugeriu que o centro
Introdução locomotor espinal era ativado e controlado pelo tron-
co cerebral e também influenciado por mecanismos
No século 18, a investigação do movimento ba- periféricos de feedback.
seou-se na premissa de que a postura em pé e a mar- Os geradores centrais e os programas em intera-
cha, além da diferenciação dos movimentos ma- ção com os reflexos periféricos representam somen-
nuais, representavam um requerimento básico para te uma porção dos mecanismos envolvidos no con-
o desenvolvimento cultural humano (Herder, 1785). trole da locomoção. A informação aferente de várias
Tal perspectiva preconizava que o sistema nervoso fontes dos sistemas visual, vestibular e propriocepti-
funcionava automaticamente para equilibrar a mas- vo contribui para o controle total. A convergência
sa do centro do corpo sobre os pés em todas as ativi- das vias de reflexo espinal e os tratos descendentes
dades motoras. Em outras palavras, cada movimento em interneurônios espinais comuns parecem repre-
iniciaria e encerraria de acordo com um ajuste pos- sentar a regra mais do que a exceção, pois implicam
tural. que os interneurônios desempenhem papel integra-
A análise da marcha humana tornou-se inicial- dor (para revisão, ver Schomburg, 1990). A limitação
mente possível no final do século 19, com o desen- do estudo da locomoção humana reflete-se no fato
volvimento do registro fotográfico de movimentos de de a função dos mecanismos de controle motor hu-
corrida (Marey, 1894). Posteriormente, Bernstein mano somente poder ser determinada por métodos
(1936) estendeu o uso dessa técnica em registros bi- indiretos. Portanto, as descobertas devem ser extra-
omecânicos. Finalmente, a técnica para registrar as poladas a partir de experimentos com animais. Em-
respostas eletrofisiológicas na locomoção foi desen- bora claramente existam algumas características co-
volvida e empregada, a princípio, em gatos (Engberg muns entre o padrão de atividade e os mecanismos
e Lundberg, 1969; Grillner, 1972). neuronais básicos durante a locomoção quadrúpede
em gatos e os observados na marcha bípede em hu-
manos (Grillner, 1981; Nilsson et al., 1985; MacPher-
Requerimentos básicos son et al., 1989; Dietz, 1992; Dietz, 1997), há várias
diferenças que são necessárias para manter o corpo
A significância relativa dos reflexos no ritmo cen- em uma posição em pé durante a locomoção bípede.
tral e a programação da locomoção têm sido analisa- Independentemente das condições nas quais a
das. Hoffmann (1922) descreveu a via monossinápti- marcha é investigada, o padrão neuronal evocado em
ca como o mais simples sistema de feedback espinal. determinada tarefa tem geralmente o intuito de man-
Ele enfatizou que, em humanos, o chamado “aparato ter o centro da massa do corpo sobre a base de su-
de reflexo de Eigen” é responsável pela adaptação da porte. Uma conseqüência disso é que a seleção do
inervação muscular ao estresse inesperado. Förster input aferente pelos mecanismos centrais deve corres-
(1927) sugeriu que os reflexos lentos de alongamen- ponder aos requerimentos para a estabilização cor-
to e os “reflexos de adaptação” contribuiriam de for- poral. Toda informação sensorial referente ao con-
ma crucial para a coordenação motora. No entanto, trole do equilíbrio do corpo é considerada quando
descobriu-se que o padrão locomotor de gatos era os sinais neuronais indicando alongamento e/ou com-
preservado após desaferentação* completa (Bickel, primento muscular são insuficientes para manter o
controle da postura em pé.
No entanto, é geralmente aceito que os movi-
*N. de R.T. Eliminação ou interrupção dos impulsos nervosos mentos locomotores em mamíferos dependem pri-
aferentes. mariamente de mecanismos neuronais na coluna es-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 27

pinal. Tais mecanismos agem na ausência de qual- áreas supra-espinais, isto é, o cerebelo (Arshavsky et
quer input aferente (para revisão, ver Grillner, 1981). al., 1972; Armstrong, 1988).
A informação aferente promove a modificação do pa- Em vários aspectos, a neurofisiologia da marcha
drão locomotor espinal de acordo com as necessida- humana normal deve ser analisada de acordo com as
des externas (Duysens e Pearson, 1980; Forssberg et bases neuronais da locomoção animal. São sugeri-
al., 1977; para revisão, ver Grillner, 1981 e 1986). Tan- das as referências Grillner (1981) e Baldissera e cola-
to os centros locomotores espinais como os meca- boradores (1981) para informação mais detalhada
nismos de reflexo estão sob o controle do tronco ce- sobre esse campo de estudo. Os aspectos biomecâni-
rebral e dos centros motores supra-espinais (ver Fig. cos da postura e da marcha serão discutidos apenas
2.1). O refinamento posterior é atingido a partir das em relação aos eventos neuronais, embora os meca-
nismos neuronais claramente causem alterações
biomecânicas ao mesmo tempo que são controlados
pela biomecânica corporal (ver Thorstensson et al.,
1984). A neurofisiologia da marcha humana será fo-
calizada na programação central, assim como no com-
portamento reflexo durante a locomoção. O contro-
le antecipatório oferecido pelo sistema visual e o papel
do sistema vestibular na locomoção serão somente
considerados em conexão às interações entre os di-
ferentes sistemas.
No controle da marcha, a informação aferente é
selecionada a partir de uma variedade de fontes que
interagem com os programas centrais, modificando
o movimento de acordo com os requerimentos. A
consideração de sobreposição entre os sistemas está
presente, embora exista uma amplitude predominante
de trabalho para cada sistema de receptores. Então,
sob condições normais, os movimentos das passadas
são pouco afetados na ausência de um dos principais
sistemas, por exemplo, os sistemas visual e proprio-
ceptivo e o labirinto. É difícil separar a importância
relativa de cada um desses sistemas devido às suas
estreitas interações, especialmente entre os mecanis-
mos centrais e os reflexos proprioceptivos, na manu-
tenção da massa do centro do corpo sobre os pés.
Além dos movimentos das pernas, o balanço dos
braços é essencial para estabilizar o corpo durante a
locomoção (Elftman, 1939). Com base no padrão lo-
comotor induzido em pacientes com paraplegia ou
tetraplegia completa, sugere-se que os circuitos neu-
ronais responsáveis pelo controle da locomoção es-
tejam associados com os circuitos responsáveis pe-
los movimentos dos braços durante a locomoção
Figura 2.1 Esquema dos mecanismos neuronais envolvidos (Dietz et al., 1999). Nesse sentido, determinou-se que,
na marcha humana. Os músculos da perna ativam-se por meio quanto maior o nível de lesão da coluna espinal, mais
de um padrão programado gerado por circuitos interneuronais “normal” era o padrão locomotor. Isso sugere que os
espinais. Tal padrão é modulado por input aferente
multissensitivo, que adapta o padrão às necessidades reais. O circuitos neuronais que fundamentam a “geração do
padrão programado e os mecanismos de reflexo estão sob padrão” locomotor em humanos não estão restritos
controle supra-espinal (de Jankowska e Lundberg, 1981). a qualquer nível específico da coluna espinal. Antes,
28 PAAVO V. KOMI

uma complexa rede neuronal que contribui para a drão EMG programado dos músculos da perna ne-
locomoção bípede estende-se dos níveis toracolom- cessário para alcançar a modulação e a adaptação às
bar ao cervical. demandas momentâneas.
É razoável admitir que a informação aferente de-
veria influenciar o padrão central e, inversamente, que
Programação central o padrão do gerador central deveria selecionar a in-
formação aferente apropriada para produzir o movi-
Um “programa motor” tem sido definido na lite- mento funcional. Recentemente, foi estudado o efei-
ratura como “as comunicações no SNC baseadas em to da alteração das condições posturais no ajuste
experiência anterior e que podem gerar ajustes e postural antecipatório (APA) e no tempo de reação
movimentos posturais” (Brooks, 1979). Outra defi- (TR) ao movimento voluntário do braço (Dietz et al.,
nição sugere que é “o conjunto de comandos mus- 2000). Tanto o TR como a duração do APA podem
culares estruturados antes de se iniciar uma seqüên- ser modificados pela translação da superfície de su-
cia de movimentos, permitindo a realização da porte de maneira funcionalmente apropriada por
seqüência total sem influência de feedback periférico” meio da atualização da representação interna das
(Keele, 1968). No entanto, nenhuma das definições é condições posturais atuais no sistema nervoso central.
completamente precisa no que se refere à marcha hu- Além disso, a resposta motora programada pode
mana. Em relação à primeira definição, os progra- ser alterada pela instrução ou pela expectativa. Esse
mas não se baseiam apenas na experiência, mas tam- aspecto “conjunto”, depedente de resposta muscular
bém nas características inatas. Movimentos similares (ver Prochazka, 1989), parece depender da integrida-
aos da passada estão presentes no nascimento, es- de cerebelar (Hore e Vilis, 1985). Os comandos vo-
pontaneamente iniciados ou desencadeados por es- luntários têm de interagir com o gerador locomotor
tímulo periférico. Esses movimentos apresentam uma espinal para alterar, por exemplo, a direção da mar-
origem central, como se observa nos picos* de EMG cha ou para evitar ou contornar um obstáculo. A im-
que precedem os eventos mecânicos (Forssberg, portância do input corticospinal no padrão de mar-
1986). A passada infantil também ocorre em crianças cha tem sido investigada por meio da estimulação
anencefálicas (Forssberg, 1986), o que sugere a coor- magnética transcraniana do córtex motor na loco-
denação do movimento por um mecanismo espinal. moção (Schubert et al., 1997). Houve extrafacilita-
De forma mais geral, a programação central, no con- ção da resposta motora solicitada antes e durante a
texto da marcha, gera um padrão complexo e amplo fase de balanço** do ciclo da passada somente no
de ativação muscular disparado por eventos exter- músculo tibial anterior (ver Fig. 2.2). Essa facilitação
nos e internos. associada à fase foi proposta para assegurar a estabi-
Em relação à segunda definição de programação lidade postural no caso de intervenção corticospinal
central, os movimentos “programados” podem ser durante a locomoção.
influenciados pelo input sensorial sob algumas cir- Uma característica da postura em pé e da mar-
cunstâncias (Brooks, 1979). Isso é novamente ilus- cha em humanos é a manutenção elevada do centro
trado pelas passadas da criança. A criança é incapaz de gravidade sobre uma base de suporte relativamente
de manter o equilíbrio corporal, embora os movimen- pequena, ou seja, os pés. São necessários ajustes pos-
tos de perna alternados e rítmicos sejam coordena- turais para manter essa postura vertical constante.
dos por um gerador central. Falta a essas crianças Para investigar os mecanismos do controle do equi-
input aferente apropriado para ser integrado ao pa- líbrio são induzidos distúrbios do equilíbrio. Por

**N. deR.T. Fase da passada na qual ocorre um movimento de


*N.de R.T. Aumentos súbitos, curtos e de maior intensidade báscula lateral da pelve em razão da troca da perna de apoio.
ocorridos no sinal EMG. Fase aérea da perna que não está sendo apoiada no solo.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 29

Figura 2.2 Modulação do input


corticospinal durante a passada. Média da
resposta motora produzida por
estimulação cerebral magnética
transcraniana (EMR) nos músculos tibial
anterior (TA) e gastrocnêmio (G) durante a
marcha, em 10 sujeitos. As amplitudes
da EMR (raiz quadrada média*) foram
normalizadas de acordo com os valores
individuais no percentil 95. As médias, os
desvios padrão e os níveis P da análise de
variância (ANOVA, para medidas
repetidas) são indicados. O padrão EMG
retificado e médio (n = 45) de um ciclo
de passada é demonstrado para o TA e
para o G (área sombreada). As fases de
postura e de balanço são indicadas na
parte superior. Há uma modulação
significativa do sinal EMG com a atividade
EMG de TA e G (área sombreada) durante
o ciclo da passada, enquanto nenhuma
modulação é observada no músculo
adutor do dedo mínimo (AD) (controle).
Há extrafacilitação da amplitude da EMR
antes do início e ao final da fase de
balanço da marcha (de Schubert et al.,
1997).
*N. de R.T. Relativo à root mean square.

exemplo, a superfície inferior que apóia a perna pode durante a postura em apoio estreito (Nashner e Mc-
ser movimentada para a frente ou para trás pelo uso Collum, 1985). Os estudos desenvolvidos em sujei-
de uma esteira rolante. Alternativamente, a fase de tos com perda somatossensorial ou vestibular indi-
balanço da perna que não está apoiada pode ser blo- cam que ambos os tipos de informação sensorial
queada. Respostas compensatórias direcionalmente desempenham papel importante na seleção da estra-
específicas são induzidas em músculos sinergistas de tégia de movimento postural adequada (Horak et al.,
ambas as pernas após tais distúrbios. 1990).
Parece que o padrão de atividade de tais distúrbios O pressuposto de que os vários padrões de res-
é programado, embora uma contribuição reflexa que posta aos distúrbios posturais e da marcha são pro-
afeta a duração do primeiro pico fora do padrão te- gramados em sua estrutura básica (presumivelmente
nha sido demonstrada (Angel, 1974). A resposta mus- em nível espinal) e apropriadamente seleciona-
cular a determinado deslocamento difere conforme dos (disparados) é baseado na complexidade dos pró-
as condições da marcha. Por exemplo, a obstrução prios padrões, que não pode ser explicada pelo input
do movimento da perna pode ser introduzida no iní- aferente local e pela dependência do padrão de res-
cio ou no final da fase de balanço (Dietz et al., 1986b). posta nas condições momentâneas (a fase do ciclo da
O deslocamento dos pés também pode ser induzido passada).
30 PAAVO V. KOMI

As evidências adicionais referentes à liberação do locamentos unilaterais (Fig. 2.3). A rápida e automá-
programa central fixo nesses padrões posturais com- tica co-ação dos músculos da perna não-deslocada
pensatórios fundamentam-se na observação de que, fornece a base para compensar o distúrbio e para
no segundo impulso de distúrbio aplicado em dire- manter o centro de gravidade do corpo sobre os pés.
ção oposta rapidamente após o primeiro, a resposta Além disso, o estímulo tátil unilateral induzido pelo
compensatória inicial manteve-se inalterada indepen- padrão de resposta bilateral é modulado na relação
dentemente da amplitude e do timing. Os demais pa- fase-dependente (Tax et al., 1995).
drões de resposta induzidos pelo segundo distúrbio A coordenação intermembros parece basear-se
pareceram estar associados ao tempo do segundo es- em um mecanismo central. Já a coordenação de cur-
tímulo. Essa parte foi idêntica à parte corresponden- ta latência das respostas bilaterais provavelmente é
te da resposta obtida quando o segundo deslocamento mediada em nível espinal (Berger et al., 1984; Dietz
foi isoladamente aplicado (Dietz et al., 1986a). et al., 1989a; Tax et al., 1995). A contribuição cerebe-
A regulação da locomoção humana baseia-se na lar à coordenação intermembros, via neurônios reti-
coordenação afinada da ativação muscular entre as culoespinais, também tem sido sugerida (Bonnet et
pernas. A coordenação automática normal das per- al., 1976). Há estreita interação entre os circuitos in-
nas requer que mecanismos neuronais adequados terneuronais espinais responsáveis pela coordenação
atinjam ativação muscular bilateral das pernas de intermembros e o input aferente periférico. Quando
acordo com a tarefa. A coordenação intermembros deslocamentos de diferentes velocidades são unila-
serve para manter o centro de gravidade do corpo teralmente induzidos, as respostas reflexas nos mús-
sobre os pés (Dietz et al., 1989a). A ativação bilateral culos sinergistas de ambas as pernas são graduadas
dos músculos das pernas se processa durante os des- de acordo com o tamanho do input proprioceptivo

Figura 2.3 Coordenação


intermembros das pernas na fase de
apoio duplo e de passada. As vias
excitatórias e inibitórias que parecem
estar envolvidas na coordenação são
esquematicamente demonstradas (de
Dietz et al., 1989a).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 31

da articulação deslocada (Dietz et al., 1989a). Da mes- bora a informação proprioceptiva possa promover a
ma forma, na caminhada split-belt,* a coordenação in- servorregulação***, por exemplo, do comprimento
termembros fornece rápida adaptação às diferentes muscular durante a estabilização da postura, esta é
velocidades em ambos os lados (Jensen et al., 1998). apenas uma maneira específica de o sistema nervoso
A conclusão desses experimentos poderia relacionar- utilizar o input proprioceptivo. As respostas reflexas
se ao fato de que o input aferente influencia essa adap- espinais não são estereotipadas a determinado input
tação. Isso significa que existe interação entre os sensorial, mas, dependendo das condições descen-
mecanismos centrais e periféricos. A sobrecarga ou dentes e segmentares, diferentes vias disponíveis se-
sua ausência no corpo no período de treinamento rão utilizadas (ver Schomburg, 1990). As próximas
resultou em melhora do ajuste da velocidade da es- seções discutem a ação e a possível significância dos
teira rolante, o que sugere a importância do papel da reflexos espinais mono e polissinápticos.
informação de receptor de sobrecarga na programa-
ção do novo padrão de caminhada. Significância dos reflexos
monossinápticos
Mecanismos reflexos A significância potencial do input aferente do gru-
po I para a locomoção é baseada no fato de que o
Inúmeros estudos demonstram que a contribui- ganho pode ser modificado pela inibição pré-sináp-
ção do input proprioceptivo para a regulação da pos- tica e pelas alterações da sensibilidade do fuso mus-
tura e da locomoção não é pequena, como original- cular via sistema fusimotor (Matthews, 1972; Stein,
mente sugerido por Sherrington (1906). Esses 1978; Loeb e Hoffer, 1985). Vários estudos empre-
incluem estudos com pacientes com instabilidade gando métodos indiretos investigam a inibição pré-
postural (Marsden et al., 1984; Sanes e Evarts, 1984; sináptica dos aferentes do grupo I na marcha huma-
Sanes et al., 1985) ou sobre distúrbios de marcha (La- na (Morin et al., 1982; Capaday e Stein, 1986; Capaday
joie et al., 1996) observados em humanos com desa- e Stein, 1987). Tanto os inputs aferentes periféricos
ferentação** ou em pacientes após a perda do input como as influências supra-espinais têm sido impli-
proprioceptivo das pernas devido a bloqueio isquê- cados na modulação da inibição pré-sináptica da
mico de nervo (Mauritz e Dietz, 1980; Diener et al., transmissão de aferentes primários (para revisão ver,
1984). A informação feedback de músculos, articula- Baldissera et al., 1981). Essa modulação do ganho
ções e tecidos associados via sistema de reflexo pro- reflexo pode ocorrer nos mesmos interneurônios co-
prioceptivo é necessária para ajustar o programa muns em que se processa a convergência dos tratos
motor às irregularidades do solo na caminhada ou descendentes e dos inúmeros sistemas aferentes
para responder caso a perna encontre resistência. Esse (Lundberg, 1975; para revisão, ver Baldissera et al.,
input proprioceptivo modula a atividade EMG mus- 1981). Para os sistemas motores espinais, a inibição
cular nas pernas durante a locomoção em conexão pré-sináptica fornece uma maneira de modular a con-
às alterações na tensão. Tal sistema relacional asso- tribuição relativa dos aferentes à determinada resposta
cia-se ao nível de atividade EMG em diferentes velo- reflexa.
cidades de locomoção (Gollhofer et al., 1984). Em- Na locomoção, o limiar e a amplitude do reflexo
H do sistema muscular sóleo e gastrocnêmio são mo-
dulados sobre o ciclo completo da passada. Há facili-
tação máxima ao final da fase de duplo apoio, e a
inibição máxima ocorre durante o balanço e no iní-
*N. de R.T. Caminhada em esteira rolante construída com duas

esteiras independentes, uma para cada membro. Nesse caso


específico, foram experimentadas diferentes velocidades para
cada membro em um mesmo momento (teste).
**N. de R.T. Situação em que há a eliminação ou a interrupção ***N. de R.T. Sistema em que o feedback é utilizado para con-
dos impulsos nervosos aferentes, bem como destruição da via trolar alterações em outro sistema, no caso específico, o mus-
aferente. cular.
32 PAAVO V. KOMI

cio da fase de duplo apoio (Capaday e Stein, 1986; Segundo, a depressão do input Ia dos extensores da
Crenna e Frigo, 1987). No entanto, no ciclo comple- perna na fase de balanço previne a ocorrência de re-
to da passada, a amplitude do reflexo-H dos múscu- flexo de estiramento dos extensores na dorsiflexão
los extensores da perna foi consideravelmente peque- do tornozelo (Capaday e Stein, 1986).
na em comparação com o duplo apoio (Morin et al., A significância funcional dos reflexos de estira-
1984; Capaday e Stein, 1986; Capaday e Stein, 1987; mento monossinápticos durante a marcha permane-
Stein e Capaday, 1988). ce obscura pelas razões a seguir. Seu uso durante a
Estudos iniciais indicaram que os reflexos de es- marcha deveria ser restrito à compensação das irre-
tiramento monossinápticos são inibidos, na maioria gularidades do solo de acordo com as propriedades
das vezes, da mesma maneira que o reflexo-H duran- do reflexo de estiramento monossináptico (Sanes e
te a marcha (Berger et al., 1984; Burke, 1983; Evarts, 1984; para revisão, ver Matthews, 1972) com
Llewellyn et al., 1987; Dietz et al., 1990). Isso implica alta sensibilidade para pequenos inputs. Além disso,
a inexistência de alteração drástica no impulso do nas tarefas posturais, somente respostas EMG polis-
motoneurônio gama do fuso muscular do gastroc- sinápticas demonstram efeitos específicos de direção.
nêmio e sóleo. Experimentos recentes desenvolvidos Esse não é o caso das respostas EMG de curta latên-
em humanos indicam que a modulação dos reflexos cia (Woollacott et al., 1984).
de estiramento de curta latência ocorre no ciclo da
passada com contribuição reflexa significativa durante Significância dos reflexos
a transição da fase de apoio duplo para a de balanço polissinápticos
e também na fase inicial de duplo apoio. Nesses ex-
perimentos (Sinkjaer et al., 1996), um deslocamento Embora ocorra alongamento rápido do tríceps
rotacional que induziu dorsiflexão dos pés foi aplica- sural durante os movimentos translacionais da mar-
do em diferentes fases do ciclo da passada. No en- cha, nenhuma resposta EMG significativa é produzi-
tanto, um padrão de resposta qualitativamente dife- da na amplitude de uma variação monossináptica,
rente, com pequena ou ausente resposta do reflexo enquanto as fortes respostas EMG sugerem maior
de estiramento de curta latência, foi obtido por alon- latência. Investigações adicionais indicam que o input
gamentos similares do tríceps sural mais do que quan- aferente primário dos músculos das pernas e dos pés
do uma translação posterior foi induzida durante o provavelmente não desempenha papel dominante na
apoio e a marcha (Berger et al., 1984; Gollhofer et al., mediação das respostas EMG compensatórias dos
1989). A discrepância entre essas abordagens que músculos das pernas aos movimentos translacionais
investigam a contribuição dos reflexos de estiramen- (Berger et al., 1984; Dietz et al., 1985).
to de curta latência para a ativação muscular da per- Tem sido sugerido que as respostas polissinápti-
na durante a marcha pode relacionar-se ao tipo de cas compensatórias induzidas nos músculos das per-
deslocamento. Podem ocorrer diferentes inputs de re- nas pelos movimentos translacionais da marcha são
ceptores extensores de sobrecarga entre os desloca- predominantemente mediadas pelo input propriocep-
mentos translacionais e rotacionais (Dietz et al., 1992). tivo muscular das fibras aferentes do grupo II (ver
Isso pode representar as diferentes forças de ativida- Berger et al., 1984; Matthews, 1984; Lundberg et al.,
de reflexa de alongamento monossináptico entre os 1987; Nardone et al., 1996) e do grupo III (ver Hasan
dois tipos de distúrbio (ver também, “significância e Stuart, 1984). No entanto, deve-se mencionar que
do input do receptor de sobrecarga”). esses estudos não fornecem evidência direta positiva
As implicações funcionais da modulação do input para essa sistematização.
aferente do grupo I durante a locomoção parecem Uma via polissináptica provavelmente medeia os
ser duas vezes maiores. Primeiro, a facilitação do re- efeitos dos reflexos aferentes de flexão (FRA; para
flexo de estiramento gastrocnêmio e sóleo no final revisão, ver Lundberg, 1979) diante de várias simila-
da fase de duplo apoio contribui para a compensa- ridades à modulação fásica dos reflexos de flexão
ção das irregularidades do solo e auxilia na fase de durante a locomoção em humanos (Duysens e Pear-
afastamento (Nichols e Houk, 1976; Capaday e Stein, son, 1980; Kanda e Sato, 1983; Belanger e Patla, 1984;
1986; Capaday e Stein, 1987; Sinkjaer et al., 1996). Duysens et al., 1990; Duysens et al., 1996a; Duysens
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 33

et al., 1996b; Yang e Stein, 1990). Devido a essa via, o Significância do input do receptor
reflexo polissináptico permite a integração do input de sobrecarga
dos aferentes musculares, articulares e cutâneos com
comandos dos centros supra-espinais. Além disso, Para estudar a contribuição relativa de determi-
esses reflexos possuem conexões excitatórias e inibi- nados mecanismos no controle motor durante a pos-
tórias para os extensores e para os flexores, respecti- tura e a marcha humana, Nashner (1976) introduziu
vamente (Duysens et al., 1990; Duysens et al., 1996a; um paradigma experimental. Os sujeitos posiciona-
Duysens et al., 1996b). vam-se em uma plataforma móvel que poderia ser
Claramente, o sistema de reflexo polissináptico ativada sob comando para realizar deslizamento ho-
não se comporta como um simples mecanismo de rizontal anterior ou posterior ou, ainda, deslocamento
reflexo de estiramento quando sua função depende dos dedos dos pés para cima ou para baixo. O padrão
de informação aferente multissensorial e de influên- EMG induzido pela rotação em dorsiflexão dos pés
cias supra-espinais. No entanto, o comportamento foi basicamente diferente daquele induzido pelas
desses reflexos durante a locomoção deve ainda pro- translações posteriores da plataforma, mesmo que o
duzir um padrão definido de atividade (ver Gurfinkel tríceps sural estivesse alongado em uma velocidade
et al., 1979; Ito, 1982; Loeb et al., 1989). Com base similar nas duas condições.
nas descobertas de que a co-variação da atividade Após as rotações em dorsiflexão dos pés, a uma
muscular através das várias articulações não pode ser pequena resposta de curta latência no gastrocnêmio
simplesmente explicada pelas diferenças no input de seguiu-se forte ativação do músculo tibial anterior. A
alongamento dos músculos locais, uma estreita inte- última atividade foi necessária para compensar a in-
ração entre o programa central e o input propriocep- clinação posterior do corpo induzida pela rotação. Por
tivo muscular pode ocorrer para gerar padrão apro- sua vez, a translação posterior foi seguida somente
priado (Gurfinkel e Latash, 1979; Dietz et al., 1989a; pela forte atividade de longa latência (cerca de 80 ms)
Dietz, 1992; Dietz, 1996; Gurfinkel et al., 1979; Mat- do gastrocnêmio. Tal atividade EMG resultou na res-
thews, 1988; Macpherson et al., 1989). O input sen- tauração de uma posição vertical estável sob os pés.
sorial durante tarefas posturais pode determinar a Com isso, foi sugerido que a diferença no padrão
direção, a velocidade e a amplitude do ajuste neces- EMG entre as duas condições deveu-se à adaptação
sário para restaurar o centro de gravidade sobre os reflexa baseada no pressuposto de que a estabilização
pés. postural representa o produto da menor desesta-
No entanto, essa influência ocorre sob interação bilização muscular (Nashner, 1976). Admitiu-se que
contínua com outros inputs aferentes e mecanismos essa adaptação era alcançada através de uma seleção
centrais. Por exemplo, a modulação dos reflexos cu- de reflexos posturais apropriados. Há uma “adap-
tâneos demonstra um mecanismo que ocorre por al- tação” sucessiva das respostas reflexas no decorrer
terações do input do receptor de sobrecarga na cami- de 2 a 4 tentativas caso o input seja “inapropriado”
nhada (Bastiaanse et al., 2000). Em estudo recente, para a ativação funcionalmente direcionada do ti-
as amplitudes dos reflexos aumentaram com a falta bial anterior (rotacional) ou do gastrocnêmio (trans-
de sobrecarga e diminuíram com a sobrecarga cor- lacional).
poral. Entretanto, as respostas reflexas não represen- No entanto, experimentos subseqüentes foram
taram uma simples função do nível de atividade. Por incapazes de comprovar esse conceito de adaptação
exemplo, nos músculos gastrocnêmio e sóleo, as mai- do padrão de resposta. Alguns demonstraram existir
ores respostas reflexas ocorreram durante a caminha- alteração imediata na primeira tentativa após a per-
da com ausência de sobrecarga corporal quando a turbação (Hansen et al., 1988; Gollhofer et al., 1989).
atividade foi diminuída. Assim, condições de solo Portanto, os mecanismos neuronais são direciona-
estáveis (sobrecarga corporal) produzem reflexos dos para manter o centro da massa do corpo sobre
menores. Foi sugerido que os receptores de sobre- os pés. Dependendo da condição postural, o alonga-
carga estão envolvidos na regulação das respostas re- mento muscular não precisa necessariamente resul-
flexas cutâneas para adaptar o padrão locomotor às tar em resposta reflexa de alongamento compensa-
condições ambientais. tória, mas em ativação da musculatura antagonista.
34 PAAVO V. KOMI

Sugeriu-se a geração de um padrão de resposta com- força entre os pés e a plataforma de apoio deveria
pensatória apropriada para ser atingida pela integra- afetar as respostas para os movimentos de desestabi-
ção de múltiplos inputs sensoriais divergentes em ní- lização em caso de dependência gravitacional das res-
vel espinal (Hansen et al., 1988; Gollhofer et al., 1989). postas EMG compensatórias.
A questão de como a posição do centro da massa Durante a imersão, as reações posturais foram
do corpo relativa aos pés é abordada tem sido negli- qualitativamente similares às observadas sob condi-
genciada em muitas investigações de controle pos- ções normais e também em vôo espacial (Clément et
tural (para exceções, ver Clément et al., 1985; Mit- al., 1985). Houve estreita relação entre o peso corpo-
telstaedt, 1995). Na realidade, a apreciação sobre a ral atual e a magnitude das respostas EMG após des-
influência da gravidade na informação sensorial e no locamentos posteriores e anteriores (Dietz et al.,
comportamento motor começa a despertar interesse. 1989b). Entretanto, não houve correlação entre a
A informação periférica é necessária para determinar sobrecarga e as respostas EMG quando o sujeito não
a influência da “gravidade”, assim como dos inputs estava submerso. Essa saturação da resposta fora da
dos receptores de alongamento muscular e do siste- água pode representar uma limitação natural da ati-
ma vestibular para o apropriado desenvolvimento do vação muscular para prevenir possível lesão (p. ex.,
controle dos reflexos posturais. ruptura) do sistema musculoesquelético.
Um aspecto básico do controle neuronal da lo- Para definir o tipo e as propriedades dos recepto-
comoção quadrúpede do gato e da postura e marcha res que sinalizam a projeção do centro de massa do
bípede dos humanos refere-se à função antigravita- corpo em relação aos pés, movimentos de dorsifle-
cional dos extensores da perna (para revisão, ver xão plantar rotacionais e quase “translacionais” fo-
Dietz e Duysens, 2000). Em humanos, os reflexos pro- ram induzidos durante postura corporal horizontal e
prioceptivos envolvidos na manutenção do equilíbrio também com diferentes sobrecargas aplicadas ao cor-
do corpo dependem das forças de contato que se po (Dietz et al., 1992). Observou-se a existência de
opõem à gravidade. Os receptores de sobrecarga dos diferentes torques induzidos pela sobrecarga que re-
extensores parecem sinalizar as alterações da proje- sultaram na ativação compensatória dos músculos ex-
ção da massa do centro do corpo em relação aos pés. tensores da perna apenas durante os deslocamentos
De acordo com as observações em gatos, esse input translacionais. Os impulsos rotacionais foram acom-
aferente provavelmente surge dos órgãos tendinosos panhados por pequena resposta EMG de curta la-
de Golgi e representa mais uma função desses recep- tência (Fig. 2.4). Aos impulsos translacionais seguiu-
tores na regulação postural e da marcha. Desses ex- se forte resposta do gastrocnêmio à longa latência
perimentos, conclui-se que, durante a locomoção, as em comparação à resposta rotacional. A aplicação de
vias inibitórias extensoras Ib se fecham, enquanto há sobrecarga ao corpo agindo contra a plataforma mó-
a abertura das vias facilitatórias extensoras Ib. Em vel teve efeito significativo na magnitude da resposta
humanos, há evidência de contribuição significativa de longa latência do gastrocnêmio, seguindo um dis-
dos receptores de sobrecarga para a ativação muscu- túrbio translacional. O aumento da sobrecarga cor-
lar da perna, obtida a partir de experimentos em imer- poral contra a área de suporte incrementa o torque
são. A ativação muscular compensatória das pernas somente na condição de deslocamento translacional.
depende do peso corporal atual. Além disso, durante A magnitude do torque nos impulsos translacionais
a marcha, a força de ativação dos extensores da per- é diretamente proporcional à quantidade de sobre-
na na fase de duplo apoio depende da sobrecarga. carga, de acordo com a fórmula
O efeito da diminuição do peso induzida pela
imersão em água sobre os receptores envolvidos na T=L×r
sinalização das alterações na posição do centro da
massa do corpo tem sido estudado (Dietz et al., 1989b; onde T representa o torque, L a sobrecarga, e r sua
Dietz e Colombo, 1996). A vantagem dessa técnica distância de translação. Portanto, admitiu-se que os
particular, comparada às reações posturais durante o receptores de sobrecarga nos extensores da perna
vôo espacial (Clément et al., 1985), é a ausência de foram principalmente responsáveis pelos diferentes
efeito na função vestibular, ainda que isso permita a padrões EMG. Com isso, explicaram sua função an-
manipulação da massa corporal. A manipulação da tigravitacional (Dietz et al., 1992).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 35

Figura 2.4 Média das respostas EMGs (n=10) retificadas e médias dos músculos da perna junto com a posição articular do
tornozelo após uma rotação de dorsiflexão da plataforma colinear com a articulação do tornozelo, assim como com as articulações
do tornozelo acima de 25 cm do eixo rotacional na postura em pé. As ilustrações esquemáticas indicam o movimento induzido por
duas modalidades de impulso (Dietz et al., 1992).

Uma função potencialmente excitatória dos re- Função vestibular e visual


ceptores de sobrecarga durante a locomoção tem sido
descrita para os músculos extensores do gato (Duy- A contribuição do sistema vestibular para a de-
sens e Pearson, 1980; Conway et al., 1987; Pearson e sestabilização da postura e da marcha representa um
Collins, 1993; Gossard et al., 1994). Assim, a função ponto de debate. Várias observações indicam que esse
dos reflexos conhecidos como envolvidos na estabi- sistema está envolvido na estabilização da cabeça e
lização da postura humana (p. ex., reflexos proprio- na compensação da inclinação do corpo pelos refle-
ceptivos musculares e vestibuloespinais) pode depen- xos vestibuloespinais. O sistema vestibular parece ser
der da atividade dos receptores do corpo que indicam essencial para o equilíbrio independentemente de ou-
os desvios do centro de massa corporal de uma certa tras fontes de informação (p. ex., dos sistemas pro-
posição neutra. De modo similar ao gato, o input re- prioceptivo e visual), que são irregulares ou estão di-
ceptor de sobrecarga dos extensores humanos pode- minuídas (Horak et al., 1990). A contribuição do
ria fornecer tal informação essencial. Nos experimen- sistema vestibular para as reações compensatórias na
tos com gatos, foi sugerido que esses sinais receptores postura e na marcha é evidentemente de pouca sig-
são aumentados a partir dos órgãos tendinosos de nificância. Por exemplo, a atividade EMG muscular
Golgi e mediados pelos aferentes Ib do gerador loco- atribuída aos reflexos vestibuloespinais é pequena
motor espinal. comparada à induzida pelos reflexos proprioceptivos
36 PAAVO V. KOMI

em situações de deslocamento horizontal dos pés Interação entre programas


(Dietz et al., 1988a; Dietz et al., 1988b; Fitzpatrick et centrais e input aferente
al., 1994; Horak et al., 1994). As crianças que apre-
sentam perda da função vestibular têm respostas das Há ampla concordância em relação ao fato de o
pernas e do tronco quase que normais ao desloca- controle da marcha não ser baseado em respostas
mento da cabeça, sugerindo substituição dos inputs reflexas locais, mas estar associado à seleção e à inte-
somatossensoriais da região superior do tronco e do gração de inputs periféricos e supra-espinais que ge-
pescoço por inputs vestibulares durante o desenvol- ram um padrão de resposta apropriada (Baldissera et
vimento (Horak et al., 1994). al., 1981).
Na locomoção, o sistema visual tem-se mostra- Por exemplo, em muitos músculos das pernas, a
do essencial no controle antecipatório dos ajustes estimulação dos aferentes cutâneos dos pés produz
posturais e na estabilidade máxima quando o input respostas reflexas em amplitude e sinal dependente
aferente de outras fontes está reduzido (Fitzpatrick da fase do ciclo de passada durante a marcha (Pij-
et al., 1994). A informação visual regula a locomo- nappels et al., 1998). Isso é funcionalmente significati-
ção em nível local (base passo a passo) e em nível vo, pois os reflexos podem ser úteis em algumas fases,
global (planejamento de rota) e está relacionada ao mas desnecessários em outras. Por exemplo, um refle-
controle antecipatório do posicionamento do pé xo flexor é apropriado no início da fase de balanço,
para circundar obstáculos (Patla et al., 1991; Patla, quando a perna está flexionada. O mesmo reflexo, po-
1997). rém, não é conveniente ao final do balanço, quando o
A visão não somente contribui para a estabiliza- pé está pronto para suportar o peso corporal. Algumas
ção da inclinação corporal em amplitudes de baixa das modulações podem ser fornecidas pelo gerador de
freqüência, mas pode também influenciar a estabili- padrão locomotor, mas é também possível que a inte-
dade postural, especialmente quando é contrária a ração entre os inputs aferentes (Brooke et al., 1997) ou
outros inputs sensoriais. Nessas situações, a estabili- as fontes supra-espinais seja importante.
zação da postura é alcançada pela rápida adaptação a Recentemente, a convergência cortical nas vias
novas situações. Isso está relacionado à classificação reflexas dos nervos surais em humanos foi investiga-
alterada dos inputs aferentes (Nashner e Berthoz, 1978; da por meio de estimulação magnética transcraniana
Harris, 1980). do córtex no ciclo da passada durante caminhada em
A influência dos mecanismos supra-espinais nes- esteira rolante (Pijnapples et al., 1998). Tanto para o
sa classificação da informação aferente foi estudada músculo tibial anterior como para o bíceps femoral,
por meio de respostas motoras magneticamente in- os dados demonstraram facilitação significativa prin-
duzidas em uma tarefa de precisão de passos (Schu- cipalmente na fase de balanço do ciclo da passada.
bert et al., 1999). Houve incremento da facilitação Isso indica facilitação do input corticospinal dentro
dos potenciais motores induzidos do gastrocnêmio de vias reflexas cutâneas em diferentes fases do ciclo
na fase de balanço em uma tarefa visual, antes do de passada.
toque do calcanhar e da flexão plantar, que represen- Tais observações fazem surgir a questão de como
tou o momento em que o alvo foi acertado. Então, o essas informações podem ser processadas em curto
efeito do input visual no potencial motor induzido no período de tempo. Algumas hipóteses interessantes
tibial anterior e no gastrocnêmio foi diferencial e recí- referentes a esse problema têm sido elaboradas. To-
proco de acordo com o respectivo estado funcional. das são baseadas na premissa de que a detecção do
Os resultados comprovam a hipótese de efeito condi- erro ocorre por comparação durante o movimento
cionante do impulso visual, ou alternativamente vo- com um padrão de referência central, isto é, pela di-
luntário, nos potenciais motores induzidos durante as vergência dos movimentos antecipados por movimen-
passadas. tos atuais de passada (Nashner, 1980). Em 1950, von
O córtex motor representa evidentemente uma Holst e Mittelstaedt propuseram o “Reafferenzprin-
das principais estruturas envolvidas no controle de zip” como o princípio organizacional do controle
tais modificações antecipatórias da marcha (Belo- motor neuronal, idéia subseqüentemente ampliada
ozerova e Sirota, 1998; Drew, 1993). por Held (1961). De acordo com essa teoria, cada
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 37

comando central eferente é acompanhado por uma Belanger, M. & Patla, A.E. (1984) Corrective responses to
“cópia eferente” no gerador de padrão central. O perturbation applied during walking in humans. Neu-
movimento realizado é sinalizado de volta como rea- roscience Letters 49, 291-295.
ferente e comparado à cópia eferente. Os desvios dessa Beloozerova, I.N. & Sirota, M.G. (1988) Role of motor cor-
tex in control of locomotion. In: Stance and Motor, Facts
cópia determinam a reação compensatória. Uma or-
and Concepts (eds V.S. Gurfinkel, M.E. Joffe, J. Massion
ganização similar de ajuste da representação corpo- & J.P. Roll), pp. 163-176. Plenum Press, New York.
ral central durante o movimento (o “esquema corpo- Berger, W., Dietz, V. & Quintern, J. (1984) Corrective reac-
ral”) relativo à estabilização postural foi posterior- tions to stumbling in man: neuronal coordination of
mente apresentada por Gurfinkel e colaboradores bilateral leg muscle activity during gait. Journal of Physi-
(1988). ology (London) 357, 109-125.
Embora essas hipóteses ainda tenham de ser res- Bernstein, N.A. (1936) Die kymozyclographische Metho-
paldadas por descobertas experimentais, há uma acei- de der Bewegungsuntersuchung. In: Handbuch der Bio-
tação cada vez maior de tais mecanismos de contro- logischen Arbeitsmethoden, Sect. 5, Part 5A (ed. E. Abderhal-
den), pp. 629-680. Urban Schwarzenberg, Wien.
le. O sistema fusimotor pode estar agindo não para
Bickel, A. (1897) Über den Einfluss der sensiblen Nerven
registrar o que está momentaneamente ocorrendo nos und der Labyrinthe auf die Bewegungen der Tiere.
fusos, mas se o que está acontecendo difere daquilo Pflügers Archiv Gesamte Physiologic der Menschen Tiere 67,
que era esperado (Loeb, 1984). O indicativo desse 299-344.
controle é a similaridade entre os padrões de respos- Bonnet, M., Gurfinkel, S., Lipchits, M.J. & Popov, K.E. (1976)
ta da obstrução do movimento de um membro (Di- Central programming of lower limb muscular activity in
etz et al., 1986b) e o deslocamento do membro du- the standing man. Agressologie 17 (Suppl. B), 35-42.
rante a locomoção (Berger et al., 1984). Após um Brooke, J.D. et al. (1997) Sensori-sensory afferents conditi-
tropeço, o comando do músculo antagonista de cor- oning with leg movement: gain control in spinal reflex
and ascending paths. Progress in Neurobiology 51,
reção poderia, em teoria, ser computado na base da
393-421.
reaferência do comando muscular agonista de uma Brooks, V.B. (1979) Motor programs revisited. In: Posture
cópia eferente no cerebelo (Hore e Vilis, 1985). Nesse and Movement (eds R.E. Talbott & D.R. Humphrey),
processo, padrões compensatórios poderiam ser ra- pp.13-49. Raven Press, New York.
pidamente gerados. Burke, D. (1983) Critical examination of the case for or
against fusimotor involvement in disorders of muscle
tone. In: Advances in Neurology Motor Control: Mechanisms
in Health and Disease, Vol. 39 (ed. J.E. Desmedt), pp.
Referências 133-150. Raven, New York.
Capaday, C. & Stein, R.B. (1986) Amplitude modulation of
Angel, R.W. (1974) Electromyography during voluntary the soleus H-reflex in the human during walking and
movement: the two-burst pattern. Electroencephalogra- standing. Journal of Neuroscience 6, 1308-1313.
phy and Clinical Neurophysiology 36, 493-498. Capaday, C. & Stein, R.B. (1987) Difference in the ampli-
Armstrong, D.M. (1988) The supraspinal control of mam- tude of the human soleus H-reflex during walking and
malian locomotion. Journal of Physiology (London) running. Journal of Physiology (London) 392, 513-522.
405,1-37. Clément, G., Gurfinkel, S., Lestienne, F., Lipchits, M.I. &
Arshavsky, Y.I., Berkinblit, M.B., Gelfand, I.M., Orlovsky, Popov, K.E. (1985) Changes of posture during transi-
G.N. & Fukson, O.I. (1972) Activity of the neurons of ent perturbations in microgravity. Aviation Space and
the dorsal spinocerebellar tract during locomotion. Bi- Environmental Medicine 56, 666-671.
ophysics 17, 506-514. Conway, B.A., Hultborn, H. & Kiehn, O. (1987) Proprio-
Baldissera, F., Hultborn, H. & Illert, M. (1981) Integration ceptive input resets central locomotor rhythm in the
in spinal neuronal systems. In: Handbook of Physiology, spinal cat. Experimental Brain Research 68, 643-656.
Sect. 1, Vol. II, Part 1. The Nervous System. Motor Control Crenna, P. & Frigo, C. (1987) Excitability of the soleus
(eds J.M. Brookhart & V.B. Mountcastle), 12: pp. 509-595. H-reflex arc during walking and stepping in man. Ex-
American Physiological Society, Washington DC. perimental Brain Research 66, 49-60.
Bastiaanse, C.M., Duysens, J. & Dietz, J. (2000) Modulati- Diener, H.C., Dichgans, J., Guschlbauer, B. & Mau, H. (1984)
on of cutaneous reflexes by load receptor input during The significance of proprioception on postural stabiliza-
walking. Experimental Brain Research 135, 189-198. tion as assessed by ischemia. Brain Research 296, 103-109.
38 PAAVO V. KOMI

Dietz, V. (1992) Human neuronal control of automatic func- Duysens, J. & Pearson, K.G. (1980) Inhibition of flexor burst
tional movements: interaction between central programs generation by loading extensor muscles in walking cats.
and afferent input. Physiological Reviews 72, 33-69. Brain Research 187, 321-332.
Dietz, V. (1997) Neurophysiology of gait disorders: present Duysens, J., Trippel, M., Horstmann, G.A. & Dietz, V. (1990)
and future applications. Electroencephalography and Cli- Gating and reversal of reflexes in ankle muscles during
nical Neurophysiology (Review) 103, 333-355. human walking. Experimental Brain Research 82, 351-358.
Dietz, V. (1996) Interaction between central programs and Duysens, J., Tax, A.A.M., Murrer, L. & Dietz, V. (1996a)
afferent input in the control of posture and locomoti- Backward and forward walking use different patterns
on. Journal of Biomechanics 29, 841-844. of phase-dependent modulation of cutaneous reflexes
Dietz, V. & Colombo, G. (1996) Effects of body immersion in humans. Journal of Neurophysiology 76, 301-310.
on postural adjustments to voluntary arm movements Duysens, J., van Wezel, B.M.H., Prokop, T. & Berger, W.
in humans: role of load receptor input. Journal of Physi- (1996b) Medial gastrocnemius is more activated than
ology (London) 497, 849-856. lateral gastrocnemius in sural nerve induced reflexes
Dietz, V. & Duysens, J. (2000) Modulation of reflex mecha- during human gait. Brain Research 727, 230-232.
nisms by load receptors. Gait and Posture 11, 102-110. Elftman, H. (1939) The function of the arm during walking.
Dietz, V., Quintern, J., Berger, W. & Schenk, E. (1985) Ce- Human Biology 11, 529-535.
rebral potentials and leg muscle EMG responses asso- Engberg, I. & Lundberg, A. (1969) An electromyographic
ciated with stance perturbation. Experimental Brain Re- analysis of muscular activity in the hindlimb of the cat
search 57, 348-354. during unrestrained locomotion. Acta Physiologica Scan-
Dietz, V., Quintern, J. & Berger, W. (1986a) Stumbling re- dinavica 75, 614-630.
actions in man: release of a ballistic movement pattern. Fitzpatrick, R., Rogers, D.K. & McCloskey, D.I. (1994) Sta-
Brain Research 362, 355-357. ble human standing with lower-limb muscle vestibular
Dietz, V., Quintern, J., Boos, G. & Berger, W. (1986b) Obs- and visual proprioceptive afferents providing the only
truction of the swing phase during gait: phasedepen- sensory input. Journal of Physiology (London) 480, 395-403.
dent bilateral leg muscle coordination. Brain Research Forssberg, H. (1986) A developmental model of human lo-
384, 166-169. comotion. In: Wenner-Gren International Symposium Seri-
Dietz, V., Horstmann, G.A. & Berger, W. (1988a) Fast head es. Neurobiology of Vertebrate Locomotion, Vol. 45 (eds S.
tilt has only a minor effect on quick compensatory re- Grillner, P.S.G. Stein, D.G. Stuart, H. Forssberg & R.M.
actions during the regulation of stance and gait. Experi- Herman), pp. 485-501. Macmillan, London.
mental Brain Research 73, 470-476. Forssberg, H., Grillner, S. & Rossignol, S. (1977) Phasic
Dietz, V., Horstmann, G.A. & Berger, W. (1988b) Involve- gain control of reflexes from the dorsum of the paw
ment of different receptors in the regulation of human during spinal locomotion. Brain Research 132, 121-139.
posture. Neuroscience Letters 94, 82-87. Förster, O. (1927) Schlaffe und Spastische Lähmung. In:
Dietz, V., Horstmann, G.A. & Berger, W. (1989a) Interlimb Handbuch der Normalen und Pathologischen Physiologie, Vol.
coordination of leg muscle activation during perturba- 10 (eds A. Bethe, G. Bergmann, G. von Embden & A.
tion of stance in humans. Journal of Neurophysiology 62, Ellinger), pp. 893-972. Springer, Berlin.
680-693. Gollhofer, A., Schmidtbleicher, D. & Dietz, V. (1984) Regu-
Dietz, V., Horstmann, G.A., Trippel, M. & Gollhofer, A. lation of muscle stiffness in human locomotion. Inter-
(1989b) Human postural reflexes and gravity: an un- national Journal of Sports Medicine 5, 19-22.
derwater simulation. Neuroscience Letters 106, 350-355. Gollhofer, A., Horstmann, G.A., Berger, W. & Dietz, V. (1989)
Dietz, V., Discher, M., Faist, M. & Trippel, M. (1990) Am- Compensation of translational and rotational pertur-
plitude modulation of the human quadriceps tendon bations in human posture: stabilization of the centre of
jerk reflex during gait. Experimental Brain Research 82, gravity. Neuroscience Letters 105, 73-78.
211-213. Gossard, J.P., Brownstone, R.M., Barajon, I. & Hultborn,
Dietz, V., Gollhofer, A., Kleiber, M. & Trippel, M. (1992) H. (1994) Transmission in a locomotor-related group
Regulation of bipedal stance: dependence on ‘load’ re- Ib pathway from hindlimb extensor muscles in the cat.
ceptors. Experimental Brain Research 89, 229-231. Experimental Brain Research 98, 213-228.
Dietz, V., Nakazawa, K., Wirz, M. & Erni, Th. (1999) The Grillner, S. (1972) The role of muscle stiffness in meeting
level of spinal cord lesions determines the locomotor the changing postural and locomotor requirements for
activity in spinal man. Experimental Brain Research 128, force development by ankle extensors. Acta Physiologica
405-409. Scandinavica 86, 92-108.
Drew, T. (1993) Motor cortical activity during voluntary Grillner, S. (1981) Control of locomotion in bipeds, tetra-
gait modifications in the cat. I. Cells related to forelimbs. pods, and fish. In: Handbook of Physiology, Sect. 1, Vol. II,
Journal of Neurophysiology 79, 179-199. Part 2. The Nervous System. Motor Control, 26 (eds M.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 39

Brookhart & V.B. Mountcastle) pp.1179-1236. Ameri- Jankowska, E. & Lundberg, A. (1981) Interneurones in the
can Physiological Society, Washington DC. spinal cord. Trends in Neuroscience 4, 230-233.
Grillner, S. (1986) Interaction between sensory signals and Jensen, L., Prokop, T. & Dietz, V. (1998) Adaptational effects
the central networks controlling locomotion in lam- during human split belt walking: influence of afferent
prey, dogfish and cat. In: Neurobiology of Vertebrate Loco- input. Experimental Brain Research 118, 126-130.
motion, Vol. 45 (eds S. Grillner, P.S.G. Stein, D.G. Stuart, Kanda, K. & Sato, H. (1983) Reflex responses of human
H. Forssberg. & R.M. Herman), WennerGren Internatio- thigh muscles to non-noxious sural stimulation during
nal Symposium Series, pp. 505-512. Macmillan, London. stepping. Brain Research 288, 378-380.
Gurfinkel, V.S. & Latash, M.L. (1979) Segemental postural Keele, S.W. (1968) Movement control in skilled motor per-
mechanisms and reversals of muscle reflexes. Agressolo- formance. Psychological Bulletin 70, 387-403.
gie 20 (Suppl. B), 145-146. Lajoie, Y., Teasdale, N., Cole, J.D. et al. (1996) Gait of a de-
Gurfinkel, S., Lipchits, M.I. & Popov, K.E. (1979) On the afferented subject without large myelinated sensory fi-
origin of short-latency muscle responses to postural bers below the neck. Neurology 47, 109-115.
disturbances. Agressologie 20 (Suppl. B), 153-154. Llewellyn, M., Prochazka, A. & Vincent, S. (1987) Trans-
Gurfinkel, S., Levik, Y.S., Popov, K.E. & Sme-Tanin, B.N. mission of human tendon jerk reflexes during stance
(1988) Body scheme in the control of postural activity. and gait. Journal of Physiology (London) 382, 82P.
In: Stance and Motion Facts and Concepts (eds S. Gurfinkel, Loeb, G.E. (1984) The control and responses of mammali-
M.E. Joffe, J. Massion & J.P. Roll), pp.185-193. Plenum, an muscle spindles during normally executed motor
New York. tasks. Exercise and Sport Sciences Reviews 12, 157-204.
Hansen, P.D., Woollacott, M.H. & Debu, B. (1988) Postu- Loeb, G.E. & Hoffer, J.A. (1985) Activity of spindle affe-
ral responses to changing task conditions. Experimental rents from cat anterior thigh muscles. II. Effects of fu-
Brain Research 73, 627-636. simotor blockade. Journal of Neurophysiology 54, 565-577.
Harris, C.S. (1980) Insight or out of sight? Two examples Loeb, G.E., He, J. & Levine, W.S. (1989) Spinal cord cir-
of perceptual plasticity in the human adult. In: Visual cuits: are they mirrors of musculoskeletal mechanics?
Coding and Adaptability (ed. C.S. Harris), pp. 95-149. Erl- Journal of Motor Behaviour 21, 473-491.
baum and Hillsdale, NJ. Lundberg, A. (1975) Control of spinal mechanisms from
Hasan, Z. & Stuart, D.G. (1984) Mammalian muscle re- the brain. In: The Nervous System, Vol. 1 (ed. D. B. To-
ceptors. In: Handbook of the Spinal Cord, Vol. 3 (ed. R.A. wer), pp. 253-265. Raven. New York.
Davidoff), pp. 559-607. Dekker, New York. Lundberg, A. (1979) Multisensory control of spinal reflex
Held, R. (1961) Exposure history as a factor in maintaining pathways. In: Progress in Brain Research, Vol. 50. Reflex
stability of perception and coordination. Journal of Ner- Control of Posture and Movement (eds R. Granit & O. Pom-
vous and Mental Diseases 132, 26-32. peiano), pp. 12-28. Elsevier, Amsterdam.
Herder, J. G. (1785) Ideen zur Philosphie der Geschichte der Lundberg, A., Malmgren, K. & Schomburg, E.D. (1987)
Menschheit, Vol. I. Hartknoch, Leipzig. Reflex pathway from group I muscle afferents. 3. Se-
Hering, H.E. (1897) Ueber Bewegungsstörungen nach cen- condary spindle afferents and the FRA: a new hypothe-
tripetaler Lähmung. Archiv der Experimentellen Pathologie sis. Experimental Brain Research 65, 294-306.
und Pharmakologie 38, 266-283. MacPherson, J.M., Horak, F.B., Dunbar, D.C. & Dow, R.S.
Hoffmann, P. (1922) Die Eigenreflexe (Sehnenrefiexe) Mens- (1989) Stance dependence of automatic postural adjust-
chlicher Muskeln. Springer, Berlin. ments in humans. Experimental Brain Research 78, 557-566.
Horak, F.B., Nashner, L.M. & Diener, H.C. (1990) Postural Marey, E.J. (1894) Le Mouvement. Masson, Paris.
strategies associated with somatosensory and vestibu- Marsden, C.D., Rothwell, J.C. & Day, B.L. (1984) The use
lar loss. Experimental Brain Research 82, 167-177. of peripheral feedback in the control of movement.
Horak, F.B., Shupert, C.L., Dietz, V. & Horstmann, G. (1994) Trends in Neuroscience 7, 253-257.
Vestibular and somatosensory contributions to respon- Matthews, P.B.C. (1972) Mammalian Muscle Receptors and
ses to head and body displacements in stance. Experi- Their Central Actions. Arnold, London.
mental Brain Research 100, 93-106. Matthews, P.B.C. (1984) Evidence from the use of vibration
Hore, J. & Vilis, T. (1985) A cerebellar-dependent efference that the human long-latency stretch reflex depends
copy mechanism for generating appropriate muscle res- upon spindle secondary afferents. Journal of Physiology
ponses to limb perturbations. In: Proceedings in Life Sci- (London) 348, 383-415.
ences: Cerebellar Functions (eds J.R. Bloedel, J. Dichgans Matthews, P.B.C. (1988) Proprioceptors and their contri-
& W. Precht), pp. 1-23. Springer, Heidelberg. bution to somatosensory mapping: complex messages
Ito, M. (1982) The CNS as a multivariable control system. require complex processing. Canadian Journal of Physio-
Behavioral Brain Science 5, 552-553. logy and Pharmacology 66, 430-438.
40 PAAVO V. KOMI

Mauritz, K.H. & Dietz, V. (1980) Characteristics of postu- Pijnappels, M., van Wezel, B.M.H., Colombo, G., Dietz, V.
ral instability induced by blocking of leg afferents by & Duysens, J. (1998) Cortical facilitation of cutaneous
ischaemia. Experimental Brain Research 38, 117-119. reflexes in leg muscles during human gait. Brain Research
Mittelstaedt, H. (1995) The formation of the visual and the 787, 149-153.
postural vertical. In: Multisensory Control of Posture (eds T. Prochazka, A. (1989) Sensorimotor gain control: a basic
Mergner & F. Hlavacka), pp. 147-155. Plenum, New York. strategy of motor systems? Progress in Neurobiology 33,
Morin, C., Katz, R., Mazières, L. & Pierrot-Deseilligny, E. 281-307.
(1982) Comparison of soleus H-reflex facilitation at the Sanes, J.N. & Evarts, E.V. (1984) Motor psychophysics.
onset of soleus contractions produced voluntarily and Human Neurobiology 2, 217-225.
during the stance phase of human gait. Neuroscience Let- Sanes, J.N., Mauritz, K.H., Dalakas, M.C. & Evarts, E.V.
ters 33, 47-53. (1985) Motor control in humans with large-fiber sen-
Morin, C., Pierrot-Deseilligny, E. & Hultborn, H. (1984) sory neuropathy. Human Neurobiology 4,101-114.
Evidence for presynaptic inhibition of muslce spindle Schomburg, E.D. (1990) Spinal sensorimotor systems and
Ia afferents in man. Neuroscience Letters 44, 137-142. their supraspinal control. Neuroscience Research 7,
Nardone, A., Grasso, M., Giordano, A. & Schieppati, M. 265-340.
(1996) Different effect of height on latency of leg and Schubert, M., Curt, A., Jensen, L. & Dietz, V. (1997) Corti-
foot short- and medium-latency EMG responses to cospinal input in human gait: modulation of magneti-
perturbation of stance in humans. Neuroscience Letters cally evoked motor responses. Experimental Brain Rese-
206, 89-92. arch 115, 234-246.
Nashner, L.M. (1976) Adapting reflexes controlling the Schubert, M., Curt, A., Colombo, G., Berger, W. & Dietz, V.
human posture. Experimental Brain Research 26, 59-72. (1999) Voluntary control of human gait: conditioning
Nashner, L.M. (1980) Balance adjustments of humans per- of magnetically evoked responses in a precision step-
turbed while walking. Journal of Neurophysiology 44, ping task. Experimental Brain Research 126, 583-588.
650-664. Sherrington, C.S. (1906) On the proprioceptive system,
Nashner, L.M. & Berthoz, A. (1978) Visual contribution to especially its reflex aspect. Brain 29, 476-482.
rapid motor responses during postural control. Brain Sinkjaer, T., Anderson, J.B. & Larsen, B. (1996) Soleus
Research 150, 403-407. stretch reflex modulation during gait in humans.
Nashner, L.M. & McCollum, G. (1985) The organization Journal of Neurophysiology 76, 1112-1120.
of human postural movements: a formal basis and ex- Stein, P.S.G. (1978) Motor systems, with specific reference
perimental synthesis. Behavioral Brain Science 8, 135-172. to the control of locomotion. Annual Review of Neuros-
Nichols, T.R. & Houk, J. (1976) Improvement in linearity cience 1, 61-81.
and regulation of stiffness that results from actions of Stein, R.B. & Capaday, C. (1988) The modulation of hu-
stretch reflex. Journal of Neurophysiology 39, 119-142. man reflexes during functional motor tasks. Trends in
Nilsson, J., Thorstensson, A. & Halbertsma, J. (1985) Chan- Neuroscience 11, 328-332.
ges in leg movements and muscle activity with speed of Tax, A.A.M., van Wezel, B.M.H. & Dietz, V. (1995) Bipedal
locomotion and mode of progression in humans. Acta reflex coordination to tactile stimulation of the sural
Physiologica Scandinavica 123, 457-475. nerve during human running. Journal of Neurophysiolo-
Patla, A.E. (1997) Understanding the roles of vision in the gy 73, 1947-1964.
control of human locomotion (review article). Gait and Thorstensson, A., Nillson, J., Carlson, H. & Zomlefer, M.R.
Posture 5, 54-69. (1984) Trunk movements in human locomotion. Acta
Patla, A.E., Prentice, S.D., Robinson, C. & Neufeld, J. (1991) Physiologica Scandinavica 121, 9-22.
Visual control of locomotion: strategies for changing Woollacott, M.H., Bonnet, M. & Yabe, K. (1984) Prepara-
direction and for going over obstacles. Journal of Experi- tory process for anticipatory postural adjustments:
mental Psychology: Human Perception and Performance 17, modulation of leg muscles reflex pathways during pre-
603-634. paration for arm movements in standing man. Experi-
Pearson, K.G. & Collins, D.F. (1993) Reversal of the influ- mental Brain Research 55, 263-271.
ence of group Ib-afferents from plantaris on activity in Yang, J.F. & Stein, R.B. (1990) Phase-dependent reflex re-
medial gastrocnemius muscle during locomotor activi- versal in human leg muscles during walking. Journal of
ty. Journal of Neurophysiology 70, 1009-1017. Neurophysiology 63, 1109-1117.
Capítulo 3
Excitabilidade da unidade
motora e do motoneurônio no
movimento explosivo
TOSHIO MORITANI

Introdução pendentemente da intenção do paciente. A Figura 3.1


representa esquematicamente os componentes bási-
O sistema neuromuscular humano evolui para cos envolvidos no reflexo de estiramento.
enfrentar uma grande diversidade de demandas in- Em cada fibra muscular existem numerosos re-
ternas e externas. Tais exigências incluem a regula- ceptores sensoriais, os fusos musculares. Eles podem
ção da força em movimentos estáticos e dinâmicos fornecer informação aos vários sistemas sobre o com-
de extrema potência, a locomoção, a manipulação pre- primento muscular, bem como sobre a taxa de alte-
cisa, a postura em pé e mesmo o repertório de gestos. ração do comprimento (velocidade). A batida (referi-
Delineamos, neste capítulo, os princípios básicos do da anteriormente) alonga o músculo; o alongamento
controle motor que têm papel importante no con- resultante é, então, detectado pelos fusos muscula-
trole dos movimentos de força e explosivos em hu- res e conduzido diretamente ao motoneurônio espi-
manos, devido à impossibilidade de descrever isola- nal via aferente sensorial (aferente Ia). Isso provoca a
damente todas as características específicas dos vários excitação dos motoneurônios, e os impulsos eferen-
sistemas de controle neuromuscular. tes acionam o músculo correspondente. Dessa ma-
neira, o músculo é encurtado, o alongamento dos
fusos musculares é interrompido e sua atividade afe-
Fatores que afetam a atividade rente Ia diminui. Nesse processo, somente uma si-
das unidades motoras e as napse está envolvida: a aferente sensorial Ia ao mo-
características contráteis toneurônio. O termo monossináptico é, portanto,
tipicamente empregado para descrever o reflexo de
Mecanismo de controle neural estiramento. Embora o reflexo de estiramento seja
determinado como monossináptico, o aferente sen-
Há vários receptores localizados nos músculos, sorial do fuso também contata interneurônios, neu-
nos tendões, na fáscia e na pele. Eles fornecem infor- rônios sensoriais e neurônios que enviam projeções
mação a segmentos apropriados do sistema nervoso ascendentes aos centros elevados, como o tálamo.
central (SNC) em relação às características de com- Nesse ponto, as mensagens processadas retornam aos
primento e de força dos músculos durante o movi- motoneurônios, fechando um longo arco reflexo pa-
mento. O elemento funcional mais simples da ativi- ralelo. O reflexo de estiramento, portanto, também
dade motora é o “reflexo de estiramento”. Os reflexos possui componentes polissinápticos (i. e., envolven-
representam reações automáticas e consistentes ao do mais do que uma sinapse). Note que todos os re-
estímulo sensorial. Um exemplo típico pode ser de- flexos podem ser modificados por sinais do cérebro.
monstrado quando o médico dá leves batidas no jo- Os fusos musculares são compostos de fibras in-
elho do paciente, resultando em sua extensão, inde- trafusais, extremidades sensoriais e axônios motores.
42 PAAVO V. KOMI

Figura 3.1 Representação esquemática


simplificada dos componentes básicos
neurais envolvidos no reflexo de
estiramento.

Cada fuso contém várias fibras musculares e extre- A informação sensorial detectada pelos recepto-
midades sensoriais, sendo inervado pelos neurônios res OTGs é conduzida via aferentes sensoriais do gru-
fusomotores ou motoneurônios gama (γ) (ver Fig. 3.1). po Ib (ver Fig. 3.1). Os aferentes do grupo Ib desem-
A principal função dos neurônios fusomotores é con- penham papel crítico na inibição não-recíproca. A
trolar a sensibilidade dos fusos musculares aferentes inibição não-recíproca, também denominada inibi-
ao alongamento dinâmico pela inervação das fibras ção autogênica, refere-se ao input inibitório a um ago-
musculares intrafusais. Alguns neurônios fusomoto- nista (i. e., o motor primário) e a seus sinergistas con-
res (motoneurônios beta [β]) inervam fibras muscu- comitantes com um input excitatório aos músculos
lares tanto extrafusais (esqueléticas) como intrafu- opostos (antagonistas). A inibição dos motoneurôni-
sais (fuso muscular) de modo que se ajustem ao os antagonistas é realizada pelos interneurônios Ib.
comprimento para otimizar a sensibilidade. Esse tipo de inibição auxilia com o ajuste das forças
Conforme já descrito, os fusos musculares repre- musculares aos requerimentos de determinada tare-
sentam somente um tipo de receptor que fornece fa (Leonard, 1998). Os interneurônios Ib podem ser
informação necessária para o movimento. O contro- tanto facilitadores como inibidores. Portanto, a ati-
le dos movimentos dinâmicos e da postura requer vação do OTG resulta em muitas outras respostas
monitorização não somente do comprimento, mas adicionais à inibição não-recíproca.
também da tensão muscular. Há outro receptor es- Os movimentos suaves não dependem somente
pecializado, o órgão tendinoso de Golgi (OTG). Os da ativação muscular, mas também da desativação
OTGs são receptores sensoriais especializados que muscular. Seria impossível estender o braço pela ação
localizam-se primariamente na junção musculoten- do músculo tríceps braquial se os músculos opostos
dínea. Os OTGs fornecem informação referente à ao movimento (bíceps braquial) estivessem em con-
quantidade de força ou tensão gerada no músculo. tração. Conforme descrito anteriormente, os aferen-
Então, o funcionamento desses receptores periféri- tes Ia que conduzem a informação reflexa de alonga-
cos (fusos musculares e OTGs) é absolutamente es- mento ramificam-se quando entram na coluna espinal
sencial para o controle da ação muscular. Os OTGs (ver Fig. 3.2).
possuem menor limiar (i. e., tendem a responder a Alguns desses ramificam as sinapses nos inter-
pequenas alterações) para as alterações induzidas pela neurônios. Um tipo de interneurônio contatado é o
contração na tensão muscular e maior limiar para a interneurônio inibidor Ia. Quando o indivíduo tenta
tensão induzida pelo alongamento. estender o braço, os fusos musculares dos extenso-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 43

inibição mediada por Ib (discutida anteriormente na


descrição do OTG) e pelos mecanismos inibidores
pré-sinápticos. As células de Renshaw são interneu-
rônios que fazem sinapse direta nos motoneurônios
α e nos interneurônios inibidores Ia (ver Fig. 3.2).
Essas células inibem o motoneurônio α de um mús-
culo em contração e os seus sinergistas. Além disso,
inibem os interneurônios inibidores Ia dos múscu-
los antagonistas (desinibição). Isso auxilia na gradu-
ação das ações musculares e na co-ação agonista/an-
tagonista apropriada à tarefa (Leonard, 1998).

Unidade motora
A Figura 3.3 ilustra um diagrama esquemático
simplificado representando o sistema nervoso cen-
tral e o conceito de unidade motora (UM). Como se
sabe, o SNC é organizado de forma hierárquica. A
programação motora ocorre no córtex pré-motor, na
área motora suplementar e em outras áreas de asso-
ciação do córtex. Os inputs dessas áreas, do cerebelo
e, em alguma magnitude, do gânglio basal conver-
gem ao córtex motor primário e excitam ou inibem
os vários neurônios do córtex motor primário. Os
Figura 3.2 Circuito neural de reflexo de estiramento e
acoplamento neural-mecânico entre pares antagonistas da
produtos do córtex motor primário exercem influên-
musculatura dos membros (modificada de Moore e Hutton, cia poderosa sobre os interneurônios e motoneurô-
1980). nios do tronco cerebral e sobre a coluna espinal.
*N. de R.T. Também chamado facilitatório. Nesse local, há associação entre o trato corticospinal
e os motoneurônios α, fornecendo controle cortical
direto da atividade muscular.
res do braço são estimulados e produzem alongamen- Uma UM consiste de um motoneurônio α na
to reflexo associado com excitação desse interneurô- coluna espinal e das fibras musculares por ele iner-
nio inibidor Ia, que, por sua vez, dispõe de efeito ini- vadas. O motoneurônio α representa o ponto final
bidor sobre os motoneurônios que inervam os da somação de todos os inputs descendentes e refle-
músculos antagonistas ao músculo alongado, nesse xos; a membrana desse motoneurônio determina o
caso, os flexores do braço. Esse processo é referido padrão de descarga (freqüência de disparo do moto-
como inervação recíproca (inibição) ou inibição dis- neurônio) da unidade motora e, então, da atividade
sináptica devido às duas sinapses estarem envolvidas muscular. O número de unidades motoras por mús-
na via inibidora. O interneurônio inibidor Ia recebe culo em humanos pode variar de cerca de 100 nos
ricos inputs convergentes de muitas outras fontes e músculos pequenos das mãos até 1.000 ou mais nos
os processa de maneira que a quantidade apropriada músculos dos grandes membros (Henneman et al.,
de inibição muscular antagonista seja alcançada. Evi- 1981). Estudos demonstram que diferentes UMs va-
dentemente, diferentes tarefas motoras, incluindo riam muito na capacidade de geração de força, isto é,
ações estáticas e explosivas, requerem graus variados mais que 100 vezes na força de contração (Stephens
de inibição muscular antagonista e de ativação mus- e Usherwood, 1977; Garnett et al., 1979).
cular sinergista. Os primeiros estudos (Burke, 1981) identifica-
Finalmente, a inibição dos antagonistas e de ou- ram três tipos de unidades motoras de acordo com
tros grupos musculares pode também ser realizada propriedades fisiológicas tais como velocidade de ação
pela inibição mediada pelas células de Renshaw, pela e fatigabilidade (sensibilidade à fadiga). De acordo
44 PAAVO V. KOMI

Figura 3.3 Representação


esquemática de uma unidade motora e
seus componentes (modificada de
Sale, 1981).

com Burke (1981), três tipos de unidades motoras Recrutamento das unidades
podem ser distinguidos: (I) contração rápida, fatigá- motoras e freqüência de disparo
vel (FF); (II) contração rápida, resistente à fadiga (FR); (taxa de codificação)
e (III) contração lenta (S), mais resistente à fadiga. As
unidades motoras do tipo FF são predominantemente Em ações voluntárias, a força é modulada pela
encontradas no músculo pálido (elevado conteúdo combinação do recrutamento de UMs e alterações
de ATPase para utilização de energia anaeróbia, bai- na freqüência de ativação da UM (taxa de codifica-
xa capilarização, menor hemoglobina, mioglobina e ção) (Milner-Brown et al., 1973; Kukulka e Clamann,
mitocôndria para o suprimento energético oxidati- 1981; Moritani e Muro, 1987). Quanto maior for o
vo). No músculo vermelho (baixa ATPase, elevada número de unidades motoras recrutadas e sua fre-
capilarização, hemoglobina, mioglobina e mitocôn- qüência de disparo, maior será a força. É geralmente
dria abundante para o suprimento energético oxida- aceito que a informação dos centros cerebrais eleva-
tivo), tal como o músculo sóleo, encontram-se pre- dos aos motoneurônios seja codificada nos interva-
dominantemente unidades motoras tipo S. los de disparo em que os motoneurônios são esti-
A ampla variação nas propriedades morfológicas mulados a disparar. Em outras palavras, a transmissão
e eletrofisiológicas dos motoneurônios individuais da informação no sistema nervoso é realizada através
que compreendem um grupo de motoneurônios é da modulação da freqüência. Durante o recrutamento
correspondente a uma variedade igualmente ampla das UMs, a força muscular, quando ativada em qual-
de propriedades fisiológicas das unidades muscula- quer freqüência constante de disparo das unidades
res que eles inervam. É interessante observar que as motoras, é aproximadamente 2 a 5 kg·cm–2. Em ge-
fibras musculares inervadas por determinado tipo de ral, ela relativamente independe de espécie, gênero,
motoneurônios manifestam características bioquími- idade e estado de treinamento (Ikai e Fukunaga, 1970;
cas, histoquímicas e contráteis quase idênticas. Alway et al., 1990).
Assim, as fibras musculares podem também ser clas- Nossa compreensão atual do recrutamento das
sificadas em três tipos: fibra de contração rápida, gli- UMs é baseada no trabalho pioneiro de Henneman e
colítica (FG, ou equivalente humano do tipo IIb); de colaboradores na década de 1960. Nesse estudo, eles
contração rápida, glicolítica-oxidativa (FOG, tipo IIa); propuseram que as UMs são sempre recrutadas de
e de contração lenta, oxidativa (SO, tipo I). acordo com o aumento do tamanho. Visto que esse
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 45

“princípio do tamanho” de Henneman e colabora- se exige maior produção de força e/ou ações mais
dores (1965) foi inicialmente proposto com base em rápidas (Freund et al., 1975; Henneman e Mendell,
resultados relativos aos motoneurônios de gatos, for- 1981). A Figura 3.4 representa um conjunto típico
tes evidências apontam a existência de uma seqüên- de dados demonstrando alterações nos níveis de
cia específica de recrutamento de acordo com o au- ativação neural (registro eletromiográfico de super-
mento do tamanho do motoneurônio e da UM em fície [EMG]) do bíceps braquial e o correspondente
relação à ação muscular (Milner-Broen et al., 1973; espectro da freqüência de potência (componentes
Kukulka e Clamann, 1981; De Luca et al., 1982). da freqüência dos potenciais de ação) obtidos em
Goldberg e Derfler (1977) demonstraram correlações uma ação isométrica com variação linear da força
positivas entre a ordem de recrutamento, a amplitu- em um levantador de potência altamente treinado.
de de pico e a tensão de uma única UM no músculo Note que os grandes potenciais do “tipo pico”, pro-
masseter humano. Em geral, isso é referido como “se- vavelmente originados de UMs de contração rápi-
qüência normal de recrutamento” ou “recrutamento da, poderiam ser observados mesmo com registro
ordenado” devido ao elevado número de dados que EMG de superfície em maiores níveis de força (ver
respaldam essa ordem de recrutamento baseada no Fig. 3.4).
tamanho, dentro de uma variedade de condições ex- As dificuldades técnicas associadas com o regis-
perimentais (Heckman e Binder, 1993). Dados mais tro de uma simples UM em níveis elevados de força
recentes fornecem suporte adicional ao “princípio do em humanos, além da dificuldade em gerar forças
tamanho” ao demonstrar que a estimulação trans- controladas em experimentos com animais, limitam
cortical gera recrutamento ordenado normal (Bawa a acurácia com que o recrutamento preciso da UM e
e Lemon, 1993). a freqüência de disparo podem ser estabelecidos. No
Está bem documentado que o recrutamento das entanto, Kukulka e Clamann (1981) e Moritani e co-
UMs e a freqüência de disparos dependem prima- laboradores (1986a) demonstraram que no músculo
riamente do nível de força e da velocidade de ação. adutor do polegar em humanos para um grupo mus-
Quando as UMs de baixo limiar são recrutadas, o cular constituído principalmente de fibras tipo I, a
resultado consiste de uma ação muscular caracteri- freqüência de disparo das UMs desempenha papel
zada pela baixa capacidade de produção de força e mais proeminente na modulação da força. Para um
pela elevada resistência à fadiga. As UMs fatigáveis grupo muscular composto de fibras tipo I e II, o re-
de alto limiar são recrutadas nas situações em que crutamento das UMs parece representar o principal

Figura 3.4 Conjunto típico de dados


demonstrando as alterações no sinal
EMG bruto registrado do músculo bíceps
braquial e o correspondente espectro
de freqüência durante uma ação
muscular isométrica com variação linear
da força.
*N. de R.T. Relativo à contração voluntária máxima.
46 PAAVO V. KOMI

mecanismo na geração de força extra acima de 40 a te, isso ocorreu devido às complicações de tempo im-
50% da contração voluntária máxima (CVM). Então, postas pelos movimentos rápidos durante os quais o
nos músculos intrínsecos das mãos em humanos, o recrutamento do músculo lento poderia ser incom-
recrutamento das UMs parece ser essencialmente patível com as demandas do movimento. Em geral,
completo a cerca de 50% da força máxima, enquan- os estudos realizados em humanos não sustentam essa
to o recrutamento das UMs nos músculos bíceps, bra- idéia. Moritani e colaboradores (1991ab), no entanto,
quial e deltóide pode continuar até mais de 80% da registraram alguma evidência de ativação preferencial
força máxima ser alcançada (Kukulka e Clamann, e fase-dependente do músculo gastrocnêmio relativa-
1981; De Luca et al., 1982; Moritani et al., 1986a; mente “rápido” (quando comparado ao sóleo “lento”)
Moritani e Muro, 1987) (ver Fig. 3.5). com incremento da demanda de força e de velocidade
Quando a velocidade do movimento aumenta, a em diferentes tipos de saltos em humanos.
força suprida pelas UMs de contração lenta diminui
muito mais rapidamente do que a fornecida pelas Propriedade muscular catchlike*
unidades tipo F devido às diferenças nas relações for-
ça-velocidade. Como conseqüência, foi proposto que Burke e colaboradores (1970) demonstraram um
movimentos rápidos podem ser realizados pelo re- fenômeno contrátil muscular muito interessante, a
crutamento seletivo das UMs de contração rápida. chamada propriedade “catchlike”. Tal fenômeno con-
Esse recrutamento seletivo dos músculos lentos ou siste no aumento da força induzida pela adição de
rápidos dos extensores do tornozelo tem sido docu- um pulso extra (propriedade catchlike) durante a esti-
mentado em tarefas locomotoras em gatos (Smith et
al., 1980; Hodgson, 1983). Por exemplo, Smith e co-
laboradores (1980) demonstraram o recrutamento se- *N. de R.T. Propriedade muscular evidenciada pela adição de
letivo do músculo gastrocnêmio lateral (GL) rápido um impulso extra com o qual se observa uma resposta “gati-
durante tremor da pata sem o recrutamento conco- lho” e um incremento instantâneo na produção de força do
mitante do músculo sóleo (SOL) lento. Possivelmen- músculo.

Figura 3.5 Registros de pico intramuscular obtidos do músculo bíceps braquial durante uma ação muscular isométrica com
variação linear da força.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 47

mulação de freqüência constante do músculo ou de todos de estimulação foram empregados: (I) o nervo
uma única UM. As descobertas originais de Burke e tibial posterior foi estimulado em uma intensidade
colaboradores (1970), juntamente com os nossos supramáxima para induzir ações máximas do mús-
dados obtidos em humanos, são apresentadas na Fi- culo tríceps sural; e (II) a microestimulação intramus-
gura 3.6. Esses dados indicam claramente que um cular foi realizada para estudar a propriedade catchli-
impulso extra de elevada freqüência durante uma ke de fibras musculares individuais. As medidas foram
estimulação de freqüência constante poderia incre- feitas continuamente para a força e para os sinais ele-
mentar a força subseqüente, continuando por um pe- tromiográficos (onda-M) associados com a mensu-
ríodo de tempo durante o qual a freqüência de esti- ração do nível de oxigenação muscular durante a es-
mulação original fosse mantida (ver Fig. 3.6). timulação elétrica constante com (CATCH) ou sem
Investigamos essa propriedade catchlike de meca- (CONST) um pulso extra de 50 Hz. Os resultados
nismos de incremento da força em termos de res- indicaram que a força total durante o CATCH foi sig-
postas eletrofisiológicas e metabólicas no músculo nificativamente maior do que no CONST. No en-
esquelético humano por meio de registros EMG in- tanto, quando a amplitude média pico a pico da onda-
tramusculares e de superfície, e também por espec- M, obtida durante o CONST, foi comparada à obtida
troscopia com infravermelho (NIRS) (Moritani e no CATCH no mesmo período de tempo, nenhuma
Yoshitake, 1998). Nesse estudo, dois diferentes mé- diferença estatisticamente significativa foi observa-

Figura 3.6 Propriedade catchlike (potencialização da força) da estimulação de uma única unidade motora isolada (Burke et al.,
1970) e estimulação intramuscular e nervosa em humanos (Moritani e Yoshitake, 1998). As curvas de força obtidas durante
estimulação de freqüência constante (CONST) ou com pulso extra de alta freqüência (CATCH).
*N. de R.T. Ausência de um impulso que altera a freqüência padrão de impulsos.
48 PAAVO V. KOMI

da. Além disso, não houve diferença significativa nas ma de produzir essa propriedade catchlike pelas alte-
alterações totais da oxigenação muscular entre a es- rações induzidas pelo treinamento no que se refere
timulação de freqüência CONST e CATCH. ao padrão de disparo das UMs verificado no início
Nesse estudo, um incremento significativo da for- das ações musculares.
ça induzido por somente um pulso extra de elevada
freqüência adicional foi detectado tanto na estimula-
Impulso comum* das unidades
ção micro como na total do músculo tríceps sural
motoras na regulação da força
humano (ver Fig. 3.6). Apesar da diferença significa-
muscular
tiva na força produzida, não existiram diferenças sig-
nificativas entre os dois padrões de estimulação no
que se refere às características eletrofisiológicas e me- Vários estudos anteriores (Milner-Brown et al.,
tabólicas (ver Fig. 3.7). 1973; Tanji e Kato, 1973) demonstraram que a fre-
Nossos dados são compatíveis com as descober- qüência de disparo das UMs é incrementada propor-
tas anteriores de que os fatores neurais influenciam cionalmente ao aumento da força. Isso pode indicar
significativamente o incremento da força no estágio que o aumento da excitação no grupo de motoneu-
inicial do treinamento de força (Moritanio e de Vri- rônios musculares ativos eleva a freqüência de dis-
es, 1979; Komi, 1986; Moritani, 1993). Esses dados
também fornecem perspectivas neurofisiológicas in-
teressantes para o treinamento muscular, como for- *N. de R.T. Taxa de ativação constante.

Figura 3.7 Alterações nas curvas de força e potenciais de ação de massa evocados (ondas-M) registrados durante estimulação de
freqüência constante e com um pulso extra de alta freqüência (CATCH).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 49

paro de todas as UMs ativas. De Luca e colaboradores realidade, esse não é o caso. De Luca e Erim (1994)
(1982) investigaram esse padrão no comportamento demonstraram que as freqüências de disparo de uni-
da freqüência de disparo de UMs em até 8 UMs si- dades motoras inicialmente recrutadas são maiores do
multaneamente ativas em vários tipos de ação mus- que as UMs recrutadas no final. Uma possível expli-
cular isométrica: força constante, incremento da for- cação para as UMs de alto limiar serem estimuladas
ça em rampa* e força reversa. Os resultados indicaram em menores freqüências de disparo considera que
comportamento uníssono da freqüência de disparo elas sejam fatigadas mais rapidamente do que as UMs
das unidades motoras** em função do tempo e da de baixo limiar. Diante desse mecanismo, poderiam
força. Essa propriedade tem sido chamada de impulso rapidamente entrar em exaustão. Então, sob controle
comum. A existência desse impulso comum faz com voluntário, o sistema neuromuscular pode possuir
que o sistema nervoso não controle as freqüências uma capacidade de reserva para gerar níveis inco-
de disparo das UMs individualmente. Em vez disso, muns de força por breve período de tempo. Em cir-
modula o conjunto de motoneurônios de uma ma- cunstâncias extraordinárias, incluindo emergência,
neira uniforme; ou seja, uma demanda para a modu- competição e/ou como resultado do treinamento
lação da força pode ser alcançada pela modulação da muscular de alta intensidade, é particularmente con-
excitação e/ou pela inibição no conjunto dos moto- cebível que as UMs de alto limiar possam ser breve-
neurônios. mente ativadas com freqüências de disparo conside-
A análise associada do período de tempo das al- ravelmente maiores que a tetania. Assim, contribuem
terações na freqüência de disparo das UMs simulta- ainda mais para a capacidade de produção de força
neamente ativas revelou que elas agiam de forma al- muscular. Em geral, admite-se que os disparos du-
tamente independente. Em outras palavras, a plos das UMs, os quais podem apresentar uma po-
freqüência de disparo de todas as unidades motoras tencial propriedade catchlike, descrita anteriormente,
varia concomitantemente a um incremento (ou de- sejam mais freqüentemente observados em um gru-
créscimo) em determinada freqüência de disparo da po de atletas altamente treinados.
UM, sendo acompanhada por alterações similares na Com base na modulação da freqüência de dispa-
freqüência de disparo de outras UMs. A análise de ro, assim como no recrutamento das UMs mencio-
correlação entre as freqüências de disparo de todos nado anteriormente, De Luca e Erim (1994) propu-
os pares possíveis de UMs estudadas indicou eleva- seram um modelo hidráulico simples para resumir
do nível de correlação, atestando a existência de mo- os princípios básicos que controlam a regulação das
dulação neural para a estratégia de controle da fre- UMs durante a ação muscular. A Figura 3.8 apresen-
qüência de disparo simultânea das UMs (De Luca e ta tal modelo. De acordo com esse modelo, o fluxo
Erim, 1994). Devido ao fato de o impulso comum de água dentro do tanque corresponde ao recruta-
ocorrer mesmo nos músculos que não possuem fuso mento do conjunto de motoneurônios, enquanto o
muscular, por exemplo, o músculo orbicular do lábio fluxo de saída de cada torneira e a distância por ele
inferior da boca, e na ação muscular isométrica em percorrida correspondem ao recrutamento de deter-
que a atividade do fuso muscular é mínima, as flutu- minada UM e sua freqüência de disparo. O compri-
ações comuns observadas na freqüência de disparo mento de cada fluxo é representativo da freqüência
das UMs poderiam surgir do SNC. de disparo inicial da UM, e o acúmulo de água no
No entanto, se o sistema neuromuscular foi deli- tanque corresponde ao impulso comum (excitação-
neado para maximizar a produção de força, as UMs inibição). A Figura 3.8(a) representa o comportamen-
de alto limiar deveriam ser estimuladas a disparar fre- to das freqüências de disparo quando o impulso cen-
qüências mais elevadas, como as UMs que requerem tral é apenas suficiente para recrutar três UMs. A
freqüências de disparo mais elevadas para induzir a Figura 3.8(b) demonstra a situação quando o recru-
tetania e para produzir a sua máxima força. Mas, na tamento de uma nova UM e o incremento na fre-
qüência de disparo das unidades motoras ativas ocor-
rem como um impulso neural ao conjunto de
motoneurônios posteriormente aumentado. Final-
*N. de R.T. Aumento linear da força. mente, a convergência das freqüências de disparo para
**N. de R.T. Comportamento padrão, uniforme. o mesmo valor na freqüência máxima de disparo é
50 PAAVO V. KOMI

Figura 3.8 Modelo proposto por De Luca e Erim (1994),


referente ao recrutamento das unidades motoras e à regulação
da freqüência de disparo durante a contração muscular.

demonstrada na Figura 3.8(c). Diante de um impul- excedendo aproximadamente 30 W·kg–1 (Moritani et


so extremo, as diferenças entre os comprimentos dos al., 1991a). A Figura 3.9 apresenta o salto (topo) com
fluxos individuais se tornam insignificantes compa- diferentes alturas associado com os padrões de ati-
rados ao nível da água. Nesse modelo, o controle das vação neural registrados do gastrocnêmio medial
UMs em um músculo representa uma distinção fun- (GM) e do sóleo (SOL), respectivamente. Os dados
cional que relata as especificidades da graduação hi- referentes ao EMG médio claramente indicam maior
erárquica para a excitação relacionada ao tamanho incremento nos níveis relativos de ativação do GM
local das UMs. Embora a aplicabilidade desse mode- quando comparados aos do SOL durante os saltos
lo para as condições balísticas e não-isométricas per- de altura máxima (MAX) na fase de pré-ativação (an-
maneça a ser investigada, tal organização neural po- tes do contato com o solo) e excêntrica (alongamen-
deria livrar o sistema nervoso central de fornecer um to). Nos saltos intermediários (2 Hz) e MAX, com
input global ao conjunto de motoneurônios corres- um pico de força de reação do solo equivalente a 5,3
pondente à ativação muscular pretendida. e 6,4 vezes a massa corporal, o GM foi seletiva (fase
pré-contato) e predominantemente (fase excêntrica)
ativado (Fig. 3.3). Note que a pré-ativação do GM
Padrões de ativação da unidade ocorreu aproximadamente 200 ms antes do contato
motora durante movimentos com o solo, período durante o qual o SOL esteve
explosivos inativo por grande parte do tempo. Diferentemente
do salto mais rápido (RÁPIDO, altura média do salto
Desenvolvimento da potência menor que 1 cm) em que ambos os músculos, GM e
máxima SOL, apresentaram fase de pré-ativação quase simul-
tânea, o salto MAX poderia requerer não somente
O salto máximo é considerado um dos movimen- alta velocidade de ação, mas também quantidade con-
tos mais potentes que os humanos podem realizar, siderável de força. Para essas variáveis mecânicas e
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 51

de tempo extremas, o maior apoio dos sinergistas rá- tante na ativação seletiva dos músculos rápidos de
pidos do GM poderia ser mais compatível com as maneira sinérgica em humanos. No salto rápido e
demandas do movimento, enquanto o nível de ativa- muito potente, o recrutamento do SOL, sinergista
ção neural das UMs lentas do SOL pode ter sido sa- lento, pode ser incompatível com as demandas do
turado durante esse potente movimento. movimento.
As evidências de tal controle neural diferencial Já a magnitude em que os reflexos de estiramen-
das UMs lentas e rápidas no gato descerebrado fo- to contribuem para os movimentos explosivos em
ram reportadas por Kanda e colaboradores (1977). humanos ainda é alvo de controvérsia. Os dados apre-
Suas descobertas, de que o SOL sinergista lento e as sentados por Dietz e colaboradores (1979), no en-
fibras de contração lenta do GM foram inibidos quan- tanto, têm demonstrado claramente que os reflexos
do as fibras de contração rápida do GM foram prefe- espinais podem ter importante papel e ser mecanica-
rencialmente facilitadas durante a estimulação do mente eficazes na corrida, mesmo em velocidades
nervo sural, sugerem que complexas interações neu- muito elevadas, com tempo de contato com o solo de
ronais dentro do conjunto de motoneurônios podem aproximadamente 120 ms. Eles constataram que o
modificar a excitabilidade do motoneurônio (Burke, nível de ativação muscular máxima registrado imedi-
1971). O maior apoio observado no GM nas fases de atamente após o contato com o solo foi considera-
pré-ativação e ativação excêntrica no salto máximo velmente maior do que o impulso neural que pode
(ver Fig. 3.9) pode, então, sugerir que essas comple- ser exercido na contração voluntária máxima. Com
xas interações neuronais desempenham papel impor- isso, o alongamento ativo dos músculos durante as

Figura 3.9 Alterações na força de reação ao solo e os sinais EMGs do gastrocnêmio medial (GM) e do sóleo (SOL) registrados
durante três diferentes tipos de saltos, requerendo vários graus de força e velocidade de contração.
52 PAAVO V. KOMI

fases excêntrica ou de alongamento pode induzir re- determinada carga. As fibras de contração rápida con-
flexos segmentares que poderiam potencializar a ati- tribuíram 2,5 vezes a mais que as de contração lenta
vação muscular e contribuir para o aumento da rigi- para a potência total, quando foi analisada a curva de
dez muscular* de acordo com as enormes necessi- potência em vários músculos.
dades de força (Dietz et al., 1979; Grillner, 1981). Muitos estudos procuram demonstrar a especi-
Portanto, a pré-ativação parece ser uma necessidade ficidade de diferentes tipos de treinamento muscular
preparatória para o aumento do reflexo de estiramen- nas adaptações neurais e mecânicas (Komi e Viitasa-
to e para o avanço do início da ação muscular de lo, 1977; Komi et al., 1978). A especificidade dos efei-
acordo com o contato no solo durante esse movi- tos do treinamento de potência na relação força-ve-
mento altamente potente. A contribuição do reflexo locidade e na produção de potência máxima nos
de estiramento e o pico de força de cada unidade músculos humanos foi extensivamente estudada por
motora, por sua vez, surgiriam tarde demais para se- Kaneko e colaboradores (Kaneko, 1970; Kaneko,
rem efetivos (Moritani et al., 1991b). 1974; Kaneko et al., 1983). Kaneko (1974), por exem-
plo, estudou o curso de tempo das alterações nas ca-
Treinamento da potência máxima e racterísticas força-velocidade e a produção de potên-
adaptações neurais cia máxima resultante em diferentes sobrecargas de
treinamento (p. ex., 0, 30, 60, 100% F0 [força de con-
O desenvolvimento da potência muscular é de tração voluntária máxima]) por um período de 20
grande importância nos eventos esportivos que re- semanas. Esse estudo demonstrou uma melhoria ini-
querem elevado nível de força e velocidade. A potên- cial significativamente maior na curva força-veloci-
cia muscular representa o produto da força muscu- dade e na correspondente produção de potência me-
lar e da velocidade de ação, cada uma influenciada cânica como resultado do treinamento de potência
por propriedades musculares intrínsecas. As pro- muscular. Kaneko e colaboradores (1983) também
priedades intrínsecas primárias que controlam o de- demonstraram a “especificidade” do efeito do treina-
senvolvimento da força muscular são as relações for- mento de potência muscular: o treinamento realiza-
ça-comprimento e força-velocidade, além das cinéti- do com ações máximas com 0% F0 foi mais eficaz
cas de ativação e desativação muscular. para melhorar a velocidade máxima testada sem so-
Correlações significativas são demonstradas en- brecarga externa, enquanto o treinamento com 100%
tre as características força-velocidade, potência me- F0 induziu melhorias mais significativas na força má-
cânica muscular e composição da fibra muscular nos xima. A conclusão define que diferentes sobrecargas
músculos extensores do joelho (Thorstensson et al., de treinamento induziriam modificações específicas
1976; Tihanyi et al., 1982). Faulkner e colaboradores da relação força-velocidade, ademais, a sobrecarga de
(1986) estudaram as propriedades contráteis de fei- 30% F0 foi mais eficaz na melhoria da produção de
xes de fibras musculares do músculo esquelético potência mecânica máxima (Fig. 3.10).
humano e constataram que a produção de potência Nesse e em outros estudos (Caiozzo et al., 1981;
máxima das fibras de contração rápida foi quatro ve- Coyle et al., 1981), nenhum registro EMG foi feito,
zes maior do que a das fibras de contração lenta de- não sendo possível determinar os efeitos do treina-
vido à maior velocidade de encurtamento após uma mento de potência muscular no nível máximo de ati-
vação muscular e em outras possíveis adaptações neu-
rais. Portanto, investigamos os efeitos do treinamento
de potência muscular de curto prazo com 30% F0
*N. de R.T. Relacionado à expressão inglesa “muscle stiffness”, a sobre a curva força-velocidade, potência e parâme-
qual será traduzida ao longo do texto como rigidez muscular. tros eletrofisiológicos (Moritani et al., 1987). O mús-
Refere-se a uma qualidade de rigidez, resistência ou inflexibi- culo bíceps braquial direito foi treinado com sobre-
lidade tecidual. Na maioria das vezes, a intenção é descrever carga equivalente a 30% F0 com esforço máximo, 30
uma situação de esforço muscular intenso em que o estado de
vezes ao dia, três vezes por semana por duas sema-
tensão elevado possibilita ao músculo uma condição ótima
para armazenar energia elástica. Tal condição é favorável, so- nas. A EMG de superfície e a intramuscular das ca-
bretudo ao observar-se o ciclo alongamento-encurtamento beças longa e curta foram registradas simultaneamen-
(CAE). te e analisadas por meio do espectro de freqüência e
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 53

Figura 3.10 Curso de tempo de


alterações nas relações força-velocidade
(côncava) e força-potência (convexa)
em 20 semanas de treinamento de
potência muscular com diferentes
sobrecargas. Potência = força x
distância (trabalho) ÷ tempo
(velocidade) = força x velocidade
(baseada em Kaneko, 1974).

pelo uso de técnicas de histograma da amplitude de namento. A medição serviu posteriormente para elu-
freqüência das UM, respectivamente (Moritani et al., cidar a possibilidade de padrões de ativação muscu-
1985; Moritani et al., 1986b). Os resultados indica- lar sincrônicos ou de associação nos domínios do
ram que o nível de ativação muscular determinado tempo e da freqüência. As Figuras 3.11 e 3.12 repre-
pelos valores RMS (raiz quadrada da média — root sentam as alterações típicas observadas. Parece apa-
mean square) do sinal EMG incrementou considera- rente que dois potenciais de ação em forma de onda
velmente após o treinamento com qualquer sobre- tiveram pouca associação nos padrões de amplitude
carga. Por sua vez, a FM (freqüência média), que re- e de forma da onda no pré-treinamento, revelando
flete o componente de freqüência dos potenciais de um coeficiente de correlação máximo de (Rxy) 0,40
ação registrados, alterou-se para menores bandas de (ver Fig. 3.11). No entanto, formas de onda muito
freqüência como resultado de grandes oscilações do similares dos potenciais de ação foram obtidas após
sinal EMG de baixa freqüência, possivelmente devi- o treinamento, aumentando o Rxy para 0,91 (Fig. 3.12).
do à melhor somação (sincronização) dos potenciais Isso sugere maior ativação muscular e atividade mais
de ação mais baixos. sincronizada das UMs após o treinamento (Milner-
O espectro de freqüência, assim como os coefi- Brown e Stein, 1975). Essa evidência também aponta
cientes de correlação, foi obtido entre os potenciais para o aumento do “impulso comum”, o que gera
de ação registrados nas cabeças curta e longa do diferenças insignificantes na freqüência de disparo
músculo bíceps braquial nos períodos pré e pós-trei- das UMs entre as UMs ativas em impulso neural ex-
54 PAAVO V. KOMI

Figura 3.11 Conjunto típico de registros


de potenciais de ação das cabeças curta
e longa do músculo bíceps braquial e os
correspondentes coeficientes de espectro
de freqüência e de correlação obtidos
antes do treinamento (baseada em
Moritani et al., 1987).

tremamente alto (De Luca e Erim, 1994). Tal meca- significativo na produção de potência máxima, de
nismo pode ainda induzir o aumento da oscilação na RMS e de Rxy, associado com decréscimo significati-
EMG de superfície, que teoricamente aborda o nível vo na FM, após o treinamento em todas as condições
de ondas M ativadas ao máximo (potencial de ação de carga. Esses dados sugerem fortemente que as al-
de massa), indicando que todas as UMs estão agora terações induzidas pelo treinamento de curto prazo
completamente sincronizadas (Bigland-Ritchie, 1981). na relação força-velocidade e na produção de potên-
O conjunto de dados indicou incremento altamente cia mecânica resultante podem relacionar-se a adap-

Figura 3.12 Conjunto típico de registros


de potenciais de ação das cabeças curta
e longa do músculo bíceps braquial e os
correspondentes coeficientes de espectro
de freqüência e de correlação obtidos
após o treinamento (baseada em Moritani
et al., 1987).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 55

tações neurais, representadas pelo maior nível de ati- um número máximo de unidades motoras tem que
vação muscular e por padrões de ativação mais sin- ser recrutado, os motoneurônios em prontidão toni-
crônicos. camente ativos têm de ser liberados da atividade tô-
nica para a sincronia ótima.
Movimento balístico máximo Moritani e Shibata (1994) investigaram os possí-
veis mecanismos neurofisiológicos do SP que prece-
Os primeiros estudos a analisar a iniciação e a diam o movimento balístico voluntário de indivídu-
execução dos movimentos balísticos fundamentaram- os jovens. Os sujeitos foram orientados a executar a
se principalmente nos aspectos qualitativos e quan- flexão plantar com a maior força e velocidade possí-
titativos dos picos iniciais do sinal EMG dos múscu- veis em resposta a um sinal luminoso. Os sinais EMG
los agonistas (Hallett e Marsden, 1979; Lestienne, dos músculos agonistas (gastrocnêmio lateral [GL] e
1979). Os padrões trifásicos de ativação muscular sóleo [SOL]) e antagonistas (tibial anterior [TA]) fo-
agonista e antagonista têm sido intensivamente es- ram simultaneamente registrados em conjunto com
tudados em movimentos rápidos (Garland e Angel, o sinal da força. A Figura 3.13 apresenta um conjun-
1971; Sanes e Jennings, 1984). É interessante obser- to típico de dados demonstrando o aparecimento do
var que as manifestações iniciais dos movimentos rá- período SP anterior ao movimento balístico. Note o
pidos não representam ativação, mas depressão ou desaparecimento dos picos das UMs registrados de
“silêncio” da atividade EMG (período de “silêncio” forma intramuscular e a correspondente atividade da
pré-movimento [SP]). Este último tem sido descrito EMG de superfície na ausência da força e a atividade
tanto para os músculos agonistas como para os anta- muscular antagonista do TA.
gonistas (Yabe, 1976; Conrad et al., 1983; Kawahatsu A excitabilidade do conjunto de motoneurônios
e Miyashita, 1983; Mortimer et al., 1984; Aoki et al., α espinais por meio da análise do reflexo-H foi tam-
1989). O papel funcional definitivo do SP e de seus bém determinada em várias fases do movimento. A
mecanismos neurofisiológicos ainda precisa ser de- Figura 3.14 apresenta nosso método para demons-
terminado. Conrad e colaboradores (1983) sugerem trar o reflexo-H. Uma única estimulação elétrica do
que, em movimentos de alta velocidade, nos quais nervo tibial posterior produziu dois discretos poten-

Figura 3.13 Conjunto típico de dados


demonstrando uma curva de força,
registros EMG intramusculares e de
superfície dos músculos gastrocnêmio
lateral (GL) e antagonista tibial anterior
(TA) durante uma flexão plantar
balística. Note o completo “silêncio”
(SP) na atividade das UMs no GL e na
EMG de superfície. Devido ao tempo de
atraso eletromecânico (TAE) para o
relaxamento ser mais longo do que o
TAE induzido pela contração, a força
deveria ser sustentada na ausência de
ativação muscular (para mais detalhes,
ver Moritani e Shibata, 1994).
56 PAAVO V. KOMI

Figura 3.14 Conjunto típico de


potenciais de ação muscular evocados em
função da intensidade de estímulo
durante um teste de reflexo-H.

ciais de ação muscular nos músculos da perna. O vas com SP do que sem; (III) o decréscimo significa-
primeiro potencial de ação é referido como a onda tivo na amplitude da onda-H foi observado aproxi-
M. Ela resulta da estimulação direta dos axônios madamente 40 ms antes do aparecimento do SP, o
motores, enquanto o segundo potencial de ação, ou qual precede o desenvolvimento de força em cerca
onda-H, resulta da estimulação de axônios sensori- de 50 a 60 ms (ver Fig. 3.15). Vários mecanismos fisi-
ais maiores (aferentes do grupo Ia originados do fuso ológicos que podem explicar a ocorrência do SP fo-
muscular) com forte conexão monossináptica aos ram sugeridos por Mortimer e colaboradores (1984):
motoneurônios α. Portanto, o reflexo-H fornece um (I) inibição realizada pelos centros supra-espinais que
meio útil de testar a modulação reflexa espinal du- produzem falta de facilitação dos motoneurônios to-
rante o comportamento motor, da mesma forma que nicamente ativos; (II) inibição pós-sináptica pelos
a alteração na amplitude da onda-H poderia refletir interneurônios espinais; e (III) inibição pré-sináptica
alteração correspondente na excitabilidade reflexa realizada pela despolarização aferente primária. A ini-
monossináptica na medula espinal (Stein e Capaday, bição recíproca poderia não ser responsável devido
1988). ao SP ocorrer na ausência de qualquer pico na EMG
Nossos resultados indicaram que: (I) o SP ocor- dos antagonistas. Além disso, as latências do SP são
reu em algumas, mas não em todas as tentativas na muito mais curtas do que os tempos pré-motores mais
análise intra-sujeito e apresentou duração variável rápidos nos músculos pré-tensionados. Ward (1978)
intertentativas; (II) a taxa máxima de produção de apresentou argumentação contrária à inibição pós-
força* (dF/dt) foi significativamente maior nas tentati- sináptica via interneurônios espinais ativados em
paralelo com os motoneurônios.
Pode-se, no entanto, especular que o SP sirva para
incrementar a sincronia do conjunto de motoneurô-
*N. de R.T. Relativo à expressão inglesa maximal rate of force
nios; grande parte dos motoneurônios tonicamente
development. Serve para avaliar a qualidade do recrutamento das
UMs em determinado movimento ordenado em relação ao ativos poderia ser refratária quando o comando da
tempo. Importante variável a ser considerada no desempenho ação rápida alcança esse conjunto de motoneurôni-
da força explosiva. os. Nesse caso, Conrad e colaboradores (1983) suge-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 57

Figura 3.15 Dados agrupados (média ±


desvio padrão [n = 5]) da força, da
amplitude média do sinal EMG retificado
dos músculos gastrocnêmio lateral (GL),
sóleo (SOL) e tibial anterior (TA) (quatro
traços superiores) junto com as alterações
da amplitude do reflexo-H para o GL e
SOL durante flexão plantar balística
acompanhada de período de “silêncio” no
sinal EMG pré-movimento. Os reflexos-H
produzidos em diferentes fases do
movimento foram agrupados em conjuntos
de 10 ms. A média foi calculada em
relação ao início da produção de força
caracterizada como tempo 0.

riram que o SP exporia todos os motoneurônios em sideravelmente mais curta quando comparados a es-
estado refratário, habilitando todos os motoneurô- tudantes de Educação Física (Kawahatsu, 1981). Além
nios disponíveis em prontidão para dispararem ao disso, Nishizono e colaboradores (1984) observaram o
mesmo tempo. Isso poderia ser alcançado, por exem- SP anterior à liberação da flecha em arqueiros de nível
plo, pela inibição do motoneurônio α via interneu- mundial. Nesse caso, sua taxa de aparecimento foi sig-
rônios inibidores espinais conhecidos por serem ati- nificativamente maior no grupo de arqueiros extrema-
vados de maneira monossináptica pelo trato corti- mente habilidosos, em relação aos menos habilidosos
cospinal. Nossas descobertas em relação ao decrés- (Nishizono e Kato, 1987).
cimo da amplitude do reflexo-H e ao completo desa- Nossos dados da EMG de superfície e do refle-
parecimento do disparo das unidades motoras du- xo-H também aludem contra a inibição pós-sinápti-
rante o SP parecem, então, sustentar essa hipótese, ca via interneurônios espinais devido ao período de
embora possíveis mecanismos inibidores que ajam depressão da amplitude do reflexo-H não ter sido
nos centros supra-espinais, dificultando a atividade acompanhado por decréscimo nos registros da EMG
tônica, não possam ser descartados. de superfície do GL e do SOL. Esperava-se observar
O fato de manifestar duração variável intertenta- decréscimo simultâneo no reflexo-H e na atividade
tiva em que alguns sujeitos parecem ser mais capa- EMG de superfície caso existisse inibição pós-sináp-
zes de produzi-lo, sugere que o SP pode ser uma res- tica. No entanto, não observamos decréscimo para-
posta motora aprendida, em vez de um componente lelo. Isso sugere que a inibição pré-sináptica e a au-
do programa de movimento. Nesse caso, pode ser im- sência de facilitação provavelmente são mecanismos
portante notar que os atletas de nível mundial (velo- envolvidos no SP que precedem o movimento balís-
cistas e saltadores) demonstram duração do SP con- tico.
58 PAAVO V. KOMI

Modulação da excitabilidade do Moritani et al., 1991b; Moritani e Shibata, 1994). Um


motoneurônio no movimento único pulso retangular foi transmitido em 36 dife-
explosivo rentes fases do salto para obter fina resolução do tem-
po das alterações do reflexo-H durante o ciclo com-
Em geral, os reflexos espinais caracterizam-se por pleto do salto. Para alcançar essas medidas, o sujeito
padrões motores estereotipados com limitada possi- realizou entre 360 e 720 tentativas para cada tipo de
bilidade de modificação. No entanto, evidências re- salto em três diferentes ocasiões (um tipo de salto
centes sugerem que mesmo os grandes reflexos mo- por dia). Além disso, a relação temporal entre as alte-
nossinápticos de curta latência demonstram elevado rações do reflexo-H e a produção de força durante o
grau de modulação durante atividades motoras hu- salto foi também determinada pela rotina de correla-
manas simples como a caminhada e a postura em pé. ção cruzada implementada por computador.
Também há evidências de que o padrão de modula- A Figura 3.16 representa um conjunto de resul-
ção pode ser especificamente alterado pelos diferen- tados computadorizados. Ela demonstra a curva de
tes requerimentos funcionais de cada atividade (Ca- força e os sinais EMGs retificados do TA, do SOL e
paday e Stein, 1987; Stein e Capaday, 1988; Yamashita do GM, além da correspondente amplitude do refle-
e Moritani, 1989; Moritani et al., 1990). Por exem- xo H do SOL e do GM em várias fases do salto máxi-
plo, Capaday e Stein (1987) demonstraram que a mo (MAX). Os resultados indicaram que a amplitu-
amplitude do reflexo-H do sóleo desenvolve-se pro- de do reflexo-H (Hexp) do GM demonstrou incre-
gressivamente durante a fase de duplo apoio e alcan- mento marcado em relação à situação de repouso
ça seu pico de amplitude posteriormente, na fase de (Hcon) nas fases de pré-contato com o solo e excên-
duplo apoio na caminhada. Entretanto, o reflexo-H trica (alongamento) da ação muscular, isto é, o pico
parece ser significativamente menor na corrida do que de amplitude do reflexo-H aumentou progressiva-
na caminhada, sugerindo ganho de reflexo espinal mente a partir da amplitude de salto PEQUENA
modificado para diferentes requerimentos funcionais (4 Hz), LEVE (2 Hz) e MAX (1,6 Hz). A amplitude-H
do comportamento motor. Nossos estudos subse- correspondente para o SOL diminuiu. Com isso, o
qüentes confirmaram essas descobertas (Moritani et ganho de reflexo espinal pareceu ser modulado, o que
al., 1990; Moritani e Shibata, 1994). significa decréscimo para o SOL lento e incremento
Na seção anterior, sobre o desenvolvimento da para o relativamente rápido GM com aumento das
potência máxima, foi descrita a produção de potên- demandas de força e velocidade. A análise de corre-
cia máxima durante o salto máximo (mais alto possí- lação revelou que o curso de tempo das alterações da
vel) em conjunto com algumas evidências de ativa- amplitude do reflexo-H precedeu as curvas de força
ção preferencial do músculo gastrocnêmio, devido a em média de 45, 58 e 67 ms para o GM e 39, 59 e 54
esse tipo de salto requerer não somente elevada ve- ms para o SOL nos saltos PEQUENO, LEVE e MAX.
locidade de ação, mas extraordinária quantidade de Nossos dados estão em concordância com esses re-
força. Para esse tipo extremo de estímulo mecânico e sultados e sugerem que os reflexos espinais não re-
de tempo, o maior apoio do músculo gastrocnêmio presentam padrões motores estereotipados, mas po-
sinergista rápido deveria ser mais compatível com as dem ser especificamente modulados por diferentes
demandas do movimento, enquanto o nível de ativa- requerimentos funcionais dos músculos durante a
ção neural do músculo sóleo lento poderia ser supri- execução de movimentos altamente potentes.
mido durante esse poderoso movimento. Então, exa-
minamos a modulação neural em nível espinal dos
dois músculos funcionalmente especializados (gas- Potenciais corticais relacionados
trocnêmio e sóleo), representando os extensores do ao movimento durante a ação
tornozelo, em diferentes tipos de saltos, por meio do máxima
uso de paradigmas do reflexo-H (Moritani et al.,
1990). Para determinar a amplitude do reflexo-H em Os potenciais que precedem imediatamente e
várias fases do salto, uma técnica “fase-dependente” acompanham um movimento voluntário têm sido
foi empregada por um sistema de processamento definidos como potenciais corticais relacionados
de dados computadorizado (Moritani et al., 1991a; ao movimento (PCRM) (Neshige et al., 1988b). Os
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 59

Figura 3.16 Conjunto típico de dados para


execuções do salto máximo (27 cm de altura,
potência de 2.010 W), demonstrando as
alterações de curso de tempo das EMGs
retificadas dos músculos tibial anterior (TA), sóleo
(SOL) e gastrocnêmio medial (GM) junto com as
alterações do reflexos-H do SOL e do GM (Hexp),
sendo normalizado pelo valor de controle em
repouso na posição em pé (Hcont). O tempo zero
indica início do contato com o solo (conforme
curva de força no topo). Cada ponto representa a
média de 20 tentativas (baseada em Moritani et
al., 1990).

PCRMs humanos são estudados em sujeitos saudá- do PCRM (potencial de prontidão PP;* e a porção
veis (Deecke et al., 1969; Shibasaki et al., 1980; Neshi- final do PP, denominada alteração negativa [NS’]).
ge et al., 1988a; Neshige et al., 1988b) e em pacientes A Figura 3.17 apresenta exemplos de PCRMs re-
(Neshige et al., 1988b; Singh e Knight, 1990). O fato gistrados dos eletrodos do couro cabeludo por meio
de os PCRMs iniciarem em até 1,5 s antes dos movi- de um sistema internacional 10-20, para investigar a
mentos sugere que são gerados por circuitos neurais relação entre PCRMs e amplitude de força durante
envolvidos na preparação e na iniciação motora. ações isométricas entre 10 e 50% da CVM. Nessa
Os PCRMs registrados por eletrodos subdurais figura, somente os registros de Fz (giro médio-fron-
cronicamente implantados em pacientes indicam dis- tal, próximo ao córtex superior frontal), C3 e Cz são
creta fonte de PCRM no giro pré e pós-central com demonstrados com clareza. Para observar a atividade
contribuições adicionais do córtex suplementar e pré- EEG antes e após a flexão do braço direito, um ele-
motor (Neshige et al., 1988a; Neshige et al., 1988b). troencefalograma (EEG), tempo decorrido para o iní-
Muitos investigadores concordam que a principal cio da produção de força, foi preparado a partir de
fonte neural do potencial motor (PM) está na área
motora primária (Shibasaki et al., 1980; Singh e Kni-
ght, 1990). Os dados intracranianos diretos em hu- *N. de R.T. Da expressão inglesa potential readiness. Relativo a
manos (Neshige et al., 1988a; Neshige et al., 1988b) potencial negativo no eletroencefalograma, que lentamente au-
também indicam que o córtex sensório-motor é o menta e atinge um máximo imediatamente antes de um movi-
principal contribuinte para os componentes iniciais mento voluntário de determinado membro.
60 PAAVO V. KOMI

Figura 3.17 Potenciais corticais


relacionados ao movimento (PCRMs)
durante flexão do braço direito. Note o
aumento acentuado no PCRM registrado
da área motora contralateral durante
50% CVM quando comparada a 10%
CVM.

programas especiais de computador desenvolvidos em induzida por esforço bilateral simultâneo (BL) quan-
nosso laboratório. O PP, que corresponde ao Bereits- do comparado com esforço unilateral (UL) (Koh et
chaftspotential anteriormente descrito (Deecke et al., al., 1993; Oda e Moritani, 1994; Oda e Moritani,
1969), começou no mínimo 1.000 ms antes da pro- 1995). No entanto, o mecanismo neurofisiológico que
dução de força e lentamente teve um aumento de produz a força BL e os déficits na EMG permanecem
amplitude. desconhecidos. Temos investigado os PCRMs das
Aproximadamente 500 ms antes do início da for- áreas esquerda e direita do córtex motor (C3 e C4,
ça, a inclinação desse potencial negativo tornou-se respectivamente), além da força isométrica e da ati-
gradativa (inclinação negativa — NS — de acordo com vidade EMG em associação com ação de preensão
a terminologia empregada por Shibasaki e colabora- manual BL e UL máximas em oito sujeitos destros
dores, 1980). Esses dados indicam claramente que o (Oda e Moritani, 1995). A preensão manual BL exi-
NS e o PM são máximos nos locais do couro cabelu- biu déficits significativos na força máxima e no EMG
do contralaterais aos movimentos, sugerindo que as quando comparada à preensão UL. Nas ações UL, a
áreas sensório-motoras e a área motora suplementar amplitude dos PCRMs também foi significativamen-
participam na preparação dos movimentos, mas que te maior no hemisfério contralateral. Para as ações
principalmente o córtex contralateral gera as descar- BL, a assimetria de grandes potenciais para o lado con-
gas necessárias para produzir determinado movimen- tralateral desapareceu e menores potenciais simétri-
to (Neshige et al., 1988b; Singh e Knight, 1990; Oda cos foram observados (ver Fig. 3.18).
e Moritani, 1996a; Oda e Moritani, 1996b; Oda et A ação muscular é controlada principalmente
al., 1996; Shibata et al., 1997). O incremento signifi- pelo hemisfério cerebral contralateral; então, a ação
cativo do PM correspondente ao nível de força exer- BL é gerada pela ativação simultânea de ambos os
cido (10% versus 50% CVM) pode indicar aumento hemisférios. Portanto, uma explicação para os défi-
relativo da descarga das células do trato piramidal. cits na força e no EMG BL observados poderia re-
É interessante o fato de muitos investigadores presentar interações neurais entre os dois hemisféri-
registrarem a redução na força voluntária máxima os conectados por fibras nervosas comissurais
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 61

Figura 3.18 Médias dos dados de


PCRMs durante contrações unilaterais
(UL) e bilaterais (BL) para as mãos
esquerda (ESQ) e direita (DIR) (ver Oda
e Moritani, 1994 e 1995).

(Otsuki, 1983). Ferbert e colaboradores (1992) regis- Bawa, P. & Lemon, R.N. (1993) Recruitment of motor units
traram inibição inter-hemisférica pela estimulação in response to transcranial magnetic stimulation in man.
magnética do córtex motor dos dois hemisférios. Por- Journal of Physiology (London) 471, 445-464.
tanto, concluímos que os déficits bilaterais na força e Bigland-Ritchie, B. (1981) EMG/force relations and fatigue
of human voluntary contractions. Exercise and Sport Sci-
no EMG estão associados com um reduzido PCRM,
ences Reviews 9, 75-117.
sugerindo que a força bilateral e o déficit EMG, com- Burke, R.E. (1971) Control systems operating on spinal
parados às ações unilaterais, são causados, no míni- reflex mechanisms. Neuroscience Research Progress Bulletin
mo em parte, por um mecanismo de inibição inter- 9, 60-85.
hemisférica. Isso também pode explicar o comporta- Burke, R.E. (1981) Motor units. Anatomy, physiology and
mento comum observado em muitos atletas que pa- functional organization. In: Handbook of Physiology. The
recem preferir o treinamento de força muscular uni- Nervous System (ed. V.D. Brooks), pp. 345-422. Ameri-
lateral em vez do bilateral, uma vez que nesse último can Physiological Society, Bethesda.
poderia ser desenvolvida a excitação máxima do cór- Burke, R.E., Rundomin, P. & Zajac, F.E. (1970) Catch pro-
perty in single mammalian motor units. Science 168,
tex motor, sem supressão do hemisfério contralateral.
122-124.
Caiozzo, V.J., Perrine, J.J. & Edgerton, V.R. (1981) Training-
induced alterations of the in vivo force velocity rela-
Referências tionship of human muscle. Journal of Applied Physiology
51, 750-754.
Alway, S.E., Stray-Andersen, J., Grumbt, W.H. & Gonyea, Capaday, C. & Stein, R.B. (1987) Difference in the ampli-
W.J. (1990) Muscle cross sectional area and torque in tude of the human soleus H reflex during walking and
resistance-trained subjects. European Journal of Applied running. Journal of Physiology (London) 392, 513-522.
Physiology 60, 86-90. Conrad, B., Benecke, R. & Goehmann, M. (1983) Premo-
Aoki, H., Tsukahara, R. & Yabe, K. (1989) Effects of pre- vement silent period in fast movement initiation. Expe-
motion electromyographic silent period on dynamic rimental Brain Research 51, 310-313.
force exertion during a rapid ballistic movement in man. Coyle, E.F., Feiring, D.C., Rotkis, T.C., Cote, R.W. III &
European Journal of Applied Physiology 58, 426-432. Wilmore, J.H. (1981) Specificity of power improvements
62 PAAVO V. KOMI

through slow and fast isokinetic training. Journal of Ap- Henneman, E., Somjem, G. & Carpenter, D.O. (1965) Func-
plied Physiology 51,1437-1442. tional significance of cell size in spinal motoneurons.
De Luca, C.J. & Erim, Z. (1994) Common drive of motor Journal of Neurophysiology 28, 560-580.
units in regulation of muscle force. Trends in Neuros- Hodgson, J.A. (1983) The relationship between soleus and
cience 17, 299-305. gastrocnemius muscle activity in conscious cats — a
De Luca, C.J., LeFever, R.S., McCue, M.P. & Xenakis, A.P. model for motor unit recruitment? Journal of Physiology
(1982) Behavior of human motor units in different (London) 337, 553-562.
muscles during linearly varying contractions. Journal of Ikai, M. & Fukunaga, T. (1970) A study on training effect
Physiology (London) 329, 113-128. on strength per unit cross-sectional area of muscle by
Deecke, L., Scheid, P. & Kornhuber, H.H. (1969) Distribu- means of ultrasonic measurements. Internationale Zeits-
tion of readiness potential, pre-motion positivity, and chrift fur Angewandte Physiologie Einschliesslich Arbeitsphy-
motor potential of the human cerebral cortex prece- siologie 28, 173-180.
ding voluntary finger movements. Experimental Brain Kanda, K., Burke, R.E. & Walmsley, B. (1977) Differential
Research 7, 158-168. control of fast and slow twitch motor units in the dece-
Dietz, V., Schmidtbleicher, D. & Noth, J. (1979) Neural rebrate cat. Experimental Brain Research 29, 57-74.
mechanisms of human locomotion. Journal of Neuro- Kaneko, M. (1970) The relationship between force, veloci-
physiology 42, 1212-1222. ty and mechanical power in human muscle. Research
Faulkner, J.A., Claflin, D.R. & McCully, K.K. (1986) Power Journal of Physical Education Japan 14, 141-145.
output of fast and slow fibers from human skeletal muscles. In: Kaneko, M. (1974) The Dynamics of Human Muscle. Kyo-
Human Muscle Power (eds N.L. Jones, N. McCartney & rinshoin Book Company, Tokyo [in Japanese].
A.J. McComas), pp. 81-94. Human Kinetics, Illinois. Kaneko, M., Fuchimoto, T., Toji, H. & Suei, K. (1983) Trai-
Ferbert, A., Priori, A., Rothwell, J.C., Day, B.L., Colebatch, ning effect of different loads on the force-velocity rela-
H.G. & Marsden, C.D. (1992) Interhemispheric inhibi- tionship and mechanical power output in human mus-
tion of the human motor cortex. Journal of Physiology cle. Scandinavian Journal of Sports Sciences 5, 50-55.
(London) 453, 525-546. Kawahatsu, K. (1981) Switching mechanism of neuromuscular
Freund, H.J., Budingen, H.J. & Dietz, V. (1975) Activity of activity in top world athletes. In: Biomechanics VIII-A (eds
single motor units from human forearm muscles du- H. Matsui & K. Kobayashi), pp. 289-293. Human Ki-
ring voluntary isometric contractions. Journal of Neuro- netics, Illinois.
physiology 38, 993-946. Kawahatsu, K. & Miyashita, M. (1983) Electromyogram
Garland, H. & Angel, R.W. (1971) Spinal and supraspinal premotion silent period and tension development in
factors in voluntary movement. Experimental Neurology human muscle. Experimental Neurology 82, 287-302.
33, 343-350. Koh, T.J., Grabiner, M.D. & Clough, C.A. (1993) Bilateral
Garnett, R.A.F., O’Donovan, M.J., Stephens, J.A. & Taylor, deficit is larger for step than ramp isometric contracti-
A. (1979) Motor unit organization of human medial ons. Journal of Applied Physiology 74, 1200-1205.
gastrocnemius. Journal of Physiology 287, 33-43. Komi, P.V. (1986) Training of muscle strength and power:
Goldberg, L.J. & Derfler, B. (1977) Relationship among re- Interaction of neuromotoric, hypertrophic and mecha-
cruitment order, spike amplitude, and twitch tension of nical factors. International Journal of Sports Medicine 7, 10-15.
single motor units in human masseter muscle. Journal Komi, P.V. & Viitasalo, J.T. (1977) Changes in motor unit
of Neurophysiology 40, 879-890. activity and metabolism in human skeletal muscle du-
Grillner, S. (1981) Control of locomotion in bipeds, tetrapods, and ring and after repeated eccentric and concentric con-
fish. In: Handbook of Physiology. The Nervous System (ed. tractions. Acta Physiologica Scandinavica 100, 246-256.
V.B. Brooks), pp. 1179-1236. American Physiological Komi, P.V., Viitasalo, J.T., Rauramaa, R. & Vihko, V. (1978)
Society, Bethesda. Effect of isometric strength training on mechanical, elec-
Hallett, M. & Marsden, C.D. (1979) Ballistic flexion move- trical and metabolic aspects of muscle function. Euro-
ment of the human thumb. Journal of Physiology (Lon- pean Journal of Applied Physiology 40, 45-55.
don) 294, 33-50. Kukulka, C.G. & Clamann, H.P. (1981) Comparison of the
Heckman, C.J. & Binder, M.D. (1993) Computer simulati- recruitment and discharge properties of motor units in
on of the effects of different synaptic input system on human brachial biceps and adductor pollicis during iso-
motor unit recruitment. Journal of Neurophysiology 70, metric contractions. Brain Research 219, 45-55.
1827-1840. Leonard, C.T. (1998) The Neuroscience of Human Movement.
Henneman, E. & Mendell, L.M. (1981) Functional organiza- Mosby, St. Louis.
tion of the motoneuron pool and its inputs. In: Handbook of Lestienne, F. (1979) Effects of inertial load and velocity on
Physiology. The Nervous System (ed. V.B. Brooks), pp. 423- the braking process of voluntary limb movements. Ex-
507. American Physiological Society, Bethesda. perimental Brain Research 35, 407-418.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 63

Milner-Brown, H.S. & Stein, R.B. (1975) The relation be- cles during different motor tasks. Journal of Electromyo-
tween the surface electromyogram and muscular force. graphy and Kinesiology 1, 81-88.
Journal of Physiology (London) 246, 549-569. Mortimer, J.A., Eisengerb, P. & Palmer, S.S. (1984) Premo-
Milner-Brown, H.S., Stein, R.B. & Yemm, R. (1973) Chan- vement silence in agonist muscles preceding maximum
ges in firing rate of human motor units during linearly efforts. Experimental Neurology 98, 542-554.
changing voluntary contractions. Journal of Physiology Neshige, R., Luders, H., Friedman, L. & Shibasaki, H.
(London) 230, 371-390. (1988a) Recording of movement-related potentials from
Moore, M.A. & Hutton, R.S. (1980) Electromyographic the human cortex. Annals of Neurology 24, 439-445.
investigation of muscle stretching techniques. Medicine Neshige, R., Luders, H. & Shibasaki, H. (1988b) Recording
and Science in Sports and Exercise 12, 322-329. of movement-related potentials from scalp and cortex
Moritani, T. (1993) Neuromuscular adaptations during the in man. Brain 111, 719-736.
acquisition of muscle strength, power and motor tasks. Nishizono, H. & Kato, M. (1987) Inhibition of muscle activity
Journal of Biomechanics 26, 95-107. prior to skilled voluntary movement. In: Biomechanics X-A
Moritani, T. & deVries, H.A. (1979) Neural factors versus (ed. B. Jonsson), pp. 455-458. Human Kinetics, Illinois.
hypertrophy in the time course of muscle strength gain. Nishizono, H., Nakagawa, K., Suda, T. & Saito, K. (1984)
American Journal of Physical Medicine 58, 115-130. An electromyographical analysis of purposive muscle
Moritani, T. & Muro, M. (1987) Motor unit activity and activity and appearance of muscle silent period in ar-
surface electromyogram power spectrum during incre- chery shooting. Journal of Physical Fitness Japan 33, 17-26.
asing force of contraction. European Journal of Applied Oda, S. & Moritani, T. (1994) Maximal isometric force and
Physiology 56, 260-265. neural activity during bilateral and unilateral elbow fle-
Moritani, T. & Shibata, M. (1994) Premovement elec- xion in humans. European Journal of Applied Physiology
tromyographic silent period and α-motoneuron exci- 69, 240-243.
tability. Journal of Electromyography and Kinesiology 4, 1-10. Oda, S. & Moritani, T. (1995) Movement-related cortical
Moritani, T. & Yoshitake, Y. (1998) The use of electromyo- potentials during handgrip contractions with special
graphy in applied physiology. Journal of Electromyogra- reference to force and electromyogram bilateral deficit.
phy and Kinesiology 8, 363-381. European Journal of Applied Physiology 72, 1-5.
Moritani, T., Muro, M., Kijima, A., Gaffney, F.A. & Per- Oda, S. & Moritani, T. (1996a) Interlimb co-ordination of
sons, A. (1985) Electromechanical changes during elec- force and movement-related cortical potentials. Euro-
trically induced and maximal voluntary contractions: pean Journal of Applied Physiology 74, 8-12.
surface and intramuscular EMG responses during sus- Oda, S. & Moritani, T. (1996b) Cross-correlation studies
tained maximal voluntary contraction. Experimental Neu- of movement-related cortical potentials during unila-
rology 88, 484-499. teral and bilateral muscle contractions in humans. Eu-
Moritani, T., Muro, M., Kijima, A. & Berry, M.J. (1986a) ropean Journal of Applied Physiology 74, 29-35.
Intramuscular spike analysis during ramp force and Oda, S., Shibata, M. & Moritani, T. (1996) Forcedependent
muscle fatigue. Electromyography and Clinical Neurophy- changes in movement-related cortical potentials. Jour-
siology 26, 147-160. nal of Electromyography and Kinesiology 6, 247-252.
Moritani, T., Muro, M. & Nagata, A. (1986b) Intramuscu- Otsuki, T. (1983) Decrease in voluntary isometric strength
lar and surface electromyogram changes during mus- induced by simultaneous bilateral exertion. Behavior and
cle fatigue. Journal of Applied Physiology 60, 1179-1185. Brain Research 7, 165-178.
Moritani, T., Muro, M., Ishida, K. & Taguchi, S. (1987) Elec- Sale, D.G. (1991) Neural adaptation to strength training.
tromyographic analyses of the effects of muscle power In: Strength and Power in Sport (ed P.V. Komi), pp. 249-265.
training. Journal of Medicine and Sports Sciences (Japan) 1, Blackwell Scientific Publications, Oxford.
23-32. Sanes, J.N. & Jennings, V.A. (1984) Centrally programmed
Moritani, T., Oddsson, L. & Thorstensson, A. (1990) Di- patterns of muscle activity in voluntary motor behavior
fferences in modulation of the gastrocnemius and so- of humans. Experimental Brain Research 54, 23-32.
leus H-reflexes during hopping in man. Acta Physiologi- Shibasaki, H., Barrett, G., Halliday, E. & Halliday, A.M.
ca Scandinavica 138, 575-576. (1980) Components of the movement-related cortical
Moritani, T., Oddsson, L. & Thorstensson, A. (1991a) Phase potential and the scalp topography. Electroencephalogra-
dependent preferential activation of the soleus and gas- phy and Clinical Neurophysiology 49, 213-226.
trocnemius muscles during hopping in humans. Jour- Shibata, M., Oda, S. & Moritani, T. (1997) The relationship
nal of Electromyography and Kinesiology 1, 34-40. between movement-related cortical potentials and mo-
Moritani, T., Oddsson, L. & Thorstensson, A. (1991b) Ac- tor unit activity during muscle contraction. Journal of
tivation patterns of the soleus and gastrocnemius mus- Electromyography and Kinesiology 7, 79-85.
64 PAAVO V. KOMI

Singh, J. & Knight, R.T. (1990) Frontal lobe contribution Thorstensson, A., Grimby, G. & Karlsson, J. (1976)
to voluntary movements in humans. Brain Research 531, Force-velocity relations and fiber composition in hu-
45-54. man knee extensor muscles. Journal of Applied Physiology
Smith, J.L., Betts, B., Edgerton, V.R. & Zernicke, R.F. (1980) 40, 12-16.
Rapid ankle extension during paw shakes: selective re- Tihanyi, J., Apor, P. & Fekete, G. (1982) Force-velocity-po-
cruitment of fast ankle extensors. Journal of Neurophysi- wer characteristics and fiber composition in human
ology 43, 612-620. knee extensor muscles. European Journal of Applied Phy-
Stein, R.B. & Capaday, C. (1988) The modulation of hu- siology 48, 331-343.
man reflexes during functional motor tasks. Trends in Ward, T. (1978) Muscle state: reaction and movement time
Neurological Science 11, 328-332. in elbow extension. Archives of Physical Medicine and Reha-
Stephens, J.A. & Usherwood, T.P. (1977) The mechanical bilitation 59, 377-383.
properties of human motor units with special referen- Yabe, K. (1976) Premotion silent period in rapid voluntary
ce to their fatigability and recruitment threshold. Brain movement. Journal of Applied Physiology 41, 470-473.
Research 125, 91-97. Yamashita, N. & Moritani, T. (1989) Anticipatory changes
Tanji, J. & Kato, M. (1973) Firing rate of individual motor of soleus H-reflex amplitude during execution process
units in voluntary contraction of abductor digiti mini- for heel raise from standing position. Brain Research 490,
mi in man. Experimental Neurology 40, 771-783. 148-151.
Capítulo 4
Bases musculares da força
R. BILLETER E H. HOPPELER

“Maquinário” contrátil das fibras


musculares

O sarcômero
As fibras musculares, células do músculo esque-
lético, possuem uma função principal: gerar força. As
fibras musculares são grandes células que contêm
milhares de núcleos com aproximadamente 50 μm
de diâmetro e até 10 cm de comprimento. Calcula-se
que 80% da sua constituição seja formada por orga-
nelas contráteis, as miofibrilas. Essas miofibrilas têm
diâmetro de 1 a 2 μm e, geralmente, estendem-se ao
longo do comprimento total da fibra muscular. As
miofibrilas são constituídas por séries lineares de sar-
cômeros. Estes últimos representam as unidades con-
tráteis, constituídos de filamentos longitudinais tan-
to finos e grossos precisamente dispostos entre os
co-denominados discos-Z posicionados em interva-
los de 2,5 μm (Fig. 4.1). Os sarcômeros se contraem
por meio do deslizamento dos filamentos finos sobre
os grossos, puxando os discos-Z concomitantemen-
te por meio da adição de cálcio às miofibrilas isola-
das em um tubo de ensaio, como demonstrado na
micrografia eletrônica da Figura 4.2. A disponibili-
dade de íons cálcio no espaço ao redor das miofibri-
las determina a capacidade de os filamentos finos e
grossos deslizarem um contra o outro. O deslizamento
simultâneo das dezenas de milhares de sarcômeros
em série gera alteração considerável no comprimen-
to e no desenvolvimento de força nessa célula.
Uma conseqüência do modelo do “deslizamento Figura 4.1 Representação diagramática da composição
dos filamentos” é a unidirecionalidade das forças ge- estrutural do tecido musculoesquelético (de di Prampero,
1985).
radas entre as actinas e as miosinas de modo que ten-
dam a encurtar o sarcômero. A extensão de um mús-
culo ativo (ação excêntrica) ou de um músculo inativo
(relaxamento) tem de ser atingida por uma força ex-
66 PAAVO V. KOMI

O filamento grosso: miosina

A miosina é a principal proteína do filamento


grosso. Uma única molécula de miosina consiste de
duas cadeias pesadas com extremidades longas en-
trelaçadas e conectadas às cabeças alongadas com
duas cadeias leves ligadas a cada região do “pescoço”
(Fig. 4.3). As moléculas isoladas de miosina podem
espontaneamente formar filamentos em virtude das
suas extremidades agregarem-se, também esponta-
neamente, ao longo uma da outra. Parece que essa
agregação, durante o processo de desenvolvimento
dos sarcômeros, é controlada por proteínas acessórias,
dentre elas a titina, que desempenha uma função or-
ganizadora. Esse arranjo caracteriza os filamentos
grossos com uma estrutura bipolar constituída de cer-
ca de 290 miosinas com uma zona descoberta no meio
do filamento, onde as extremidades são posicionadas
em forma antiparalela; nenhuma cabeça é encontra-
da nessa região (Fig. 4.4). As cabeças de miosina re-
presentam os locais de geração de força no músculo.
A energia para a contração deriva da hidrólise da ade-
nosina trifosfato (ATP) em adenosina difosfato (ADP)
(ver a seguir). O local de clivagem da ATP, a atividade
ATPase, é a cabeça da miosina. Essa ATPase é ativa-
da várias centenas de vezes quando a cabeça da mio-
sina liga-se fortemente a uma molécula de actina do
filamento fino, como descrito a seguir. Ver a referên-
cia Gordon e colaboradores (2000) para revisão mais
detalhada da contração muscular.

O filamento fino: actina com


troponina e tropomiosina

Figura 4.2 Ilustração da teoria do “deslizamento dos Os filamentos finos (Fig. 4.5) consistem de dois
filamentos” da contração muscular. No estado estendido relaxado, cordões entrelaçados de moléculas de actina. Cada
as linhas-Z são separadas por aproximadamente 2,5 μm. Os cordão de actina possui um cordão contínuo adja-
filamentos grossos e finos sobrepõem-se apenas parcialmente. No
estado encurtado, as linhas-Z se aproximam, e os filamentos
cente de moléculas de tropomiosina ligados a ele. São
grossos e finos sobrepõem-se por quase todo seu comprimento. moléculas longas em formato de bastão com com-
A: banda-A; M: linha-M; mi: mitocôndria; rs: retículo primento de sete resíduos de actina cada. Cada mo-
sarcoplasmático (de Alberts et al., 1994). lécula de tropomiosina transporta um complexo tro-
ponina, consistindo de uma proteína troponina C com
terna. Cada músculo em nosso corpo é, portanto, formato de halter, de uma troponina I, mais globular,
ajustado por outro músculo que pode opor-se à sua e de uma troponina T alongada. Esta última esten-
ação. Esses músculos opositores são os antagonistas. de-se ao longo da região em que duas tropomiosinas
Isso significa que o músculo esquelético funciona adjacentes sobrepõem-se.
dentro do princípio agonista-antagonista. Para alguns A troponina C liga-se aos íons cálcio e aciona a
músculos, a gravidade pode adotar a função de anta- contração. A ligação do cálcio à troponina C induz
gonista. alteração conformacional (a molécula da troponina
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 67

Figura 4.3 Molécula de miosina. Ela


consiste de um total de seis cadeias protéicas,
duas cadeias pesadas entrelaçadas em cada
cabeça e quatro cadeias leves (cinza) com a
função de estabilizar o “braço de alavanca” na
base da cabeça. A atividade da ATPase
localiza-se nas cabeças (adaptada de Alberts
et al., 1994; e de Geeves e Holmes, 1999).

Figura 4.4 Representação do filamento grosso, constituído de moléculas de miosina alinhadas. As miosinas são agregadas às
suas caudas, com as cabeças projetando-se do filamento. A zona descoberta no meio, também denominada, zona-H, onde as
moléculas de miosina alteram sua orientação de acordo com o filamento, é composta de caudas. Suas metades ligam-se às
proteínas da linha-M (de Alberts et al., 1994).

C “abre-se”). Esse movimento desencadeia uma sé- troponina T, possibilitando o movimento do espiral
rie de movimentos moleculares. Assim, permite a ex- da tropomiosina sobre as faces da actina ligada da
posição de grande parte do local de ligação para a posição coberta onde muitos dos locais de ligação da
miosina sobre as moléculas de actina do filamento miosina estão para serem liberados. As cabeças de
fino: a troponina C inclina a troponina I, que move a miosina podem, agora, ligar-se fortemente à actina,
que move a espiral da tropomiosina um pouco mais
e ativa sua ATPase (Fig. 4.6). Um modelo mais deta-
lhado das alterações da troponina/tropomiosina sobre
a ativação do filamento fino com o cálcio pode ser
encontrado no endereço: http://www.biochem.
arizona.edu/classes/bioc462/462a/NOTES/
contractile protein/muscle contraction.html e
http://www.biochem.arizona.edu/classes/bioc462/
462a/NOTES/contractile protein/COMPLEX.GIF.
Uma unidade de tropomiosina com seu complexo
troponina adjacente forma a co-denominada “uni-
dade regulatória”. Um filamento fino de 1 μm de com-
primento possui 52 unidades regulatórias e consiste
Figura 4.5 Modelo de secção do filamento fino, indicando as em aproximadamente 360 moléculas de actina.
posições da actina, da tropomiosina e das subunidades da
troponina (TnI, TnC e TnT). Cada tropomiosina dispõe de sete
regiões uniformemente separadas de considerável homologia, O ciclo ponte cruzada: a miosina
cada uma das quais parece ligar-se a um único resíduo da “caminha” ao longo da actina
actina. Existe somente um complexo troponina para cada sete
resíduos de actina devido ao fato de a tropomiosina possuir um No músculo, a força é gerada pela ação coorde-
complexo troponina ligado (consistindo de uma molécula de
nada de milhões de cabeças de miosina. Elas se li-
troponina I, C e T). A troponina T alongada ocupa
aproximadamente um terço da molécula de tropomiosina e gam à actina, movimentam-se, desacoplam e intera-
cobre a região de sobreposição entre as sucessivas gem com outra actina, e assim sucessivamente. Essa
tropomiosinas (de Alberts et al., 1994). interação repetida actina-miosina (associada à degra-
68 PAAVO V. KOMI

Figura 4.6 Modelo de ciclo de ponte cruzada. A miosina liga-se ao ATP para desacoplar-se da actina (estado 1), hidrolizando o
ATP em ADP mais fosfato, produzindo o movimento do “braço de alavanca” na cabeça da miosina. O ADP e o fosfato ainda estão
retidos na cabeça, que, por sua vez, está livre ou fracamente ligada à actina (estado 2). A forte ligação à actina é acompanhada de
liberação de fosfato (estado 3), induzindo liberação de ADP e de movimento do braço de alavanca em aproximadamente 60°. Ocorre
movimento de todo o filamento fino (estado 4) devido à cabeça de miosina estar fortemente acoplada à actina. Esse representa o
passo que gera força (“golpe potente da miosina”). A cabeça é, então, desacoplada da actina; sendo que esse passo depende de
uma nova molécula de ATP. Apenas a transição entre os estados 1 e 2 é reversível (adaptada de Alberts et al., 1994; e de Geeves e
Holmes, 1999).

dação de ATP) constitui o chamado ciclo ponte cru- no filamento fino, sobre o qual o fosfato do ATP an-
zada (Fig. 4.6). O ciclo ponte cruzada pode ser subdi- terior é liberado (estado 3). A forte ligação e a libera-
vidido em quatro diferentes estados da cabeça de ção de fosfato é acompanhada pela rotação do “bra-
miosina. No estado 1, a cabeça de miosina não está ço de alavanca” nas costas da cabeça de miosina em
totalmente ou aparece fracamente ligada à actina e cerca de 60° da posição original. Com a actina ligada
apresenta ATP ligado na “bolsa” do local da enzima fortemente à cabeça, isso ajusta o filamento fino em
ATPase na cabeça. No estado 2, o ATP é hidrolizado direção ao meio do sarcômero (estado 4). Esse passo
em ADP mais fosfato (Pi), mas os produtos não são é denominado “golpe potente”* da miosina.
liberados; elas permanecem ligadas ao local da ATPa-
se. A parte distal da cabeça de miosina, co-denomi-
nada “braço de alavanca”, estabilizada por duas ca-
deias leves, é rotada em aproximadamente 60°. A
reação entre os estados 1 e 2 é reversível. A cabeça de *N. de
R.T. Movimento potente da miosina, semelhante a uma
miosina liga-se fortemente a um resíduo de actina remada. Da expressão inglesa power stroke.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 69

A passagem do estado 2 (sem miosina ou ligada Tabela 4.1 indica suas funções. As estruturas ou fun-
fracamente, o ADP e o fosfato ligam-se à cabeça) para ções de muitas das outras ainda não são bem conhe-
o 3 (forte ligação e “golpe potente”) representa a prin- cidas. Uma revisão detalhada das proteínas do fila-
cipal fase regulatória nesse ciclo. A cabeça de miosi- mento fino e de suas respectivas funções pode ser
na somente pode ligar-se fortemente e avançar ao encontrada em Littlefield e Fowler (1998).
estado 3 quando o local de ligação (sobre a actina) A titina é uma grande proteína que foi isolada.
está acessível. A acessibilidade para esse local de li- Apresenta inúmeras funções. A molécula de titina no
gação é regulada pela posição da tropomiosina no sarcômero alonga-se do disco-Z de todas as manei-
filamento fino. O local de ligação é acessível com o ras até a linha-M; então, alcança metade do sarcô-
cálcio ligado à troponina C e é obstruído pela tropo- mero. Há um forte ancoramento na linha-Z; parece
miosina quando nenhum cálcio está ligado à tropo- que essa parte ajuda a determinar a rigidez (e então a
nina C (ver anteriormente). Depois de a cabeça de força) do disco-Z da fibra. É provável que a titina se
miosina ter realizado seu “golpe potente”, ela se de- ligue fracamente ao longo do filamento fino; existe
sacopla da actina somente após ligar-se a uma molé- uma região de grande elasticidade aproximadamente
cula de ATP. Isso faz a miosina retornar ao estado 1, na metade do filamento fino, enquanto ao longo des-
mas com o filamento fino deslocado conforme a dis- sa estrutura a titina liga-se fortemente aos elementos
tância do “golpe potente”. Como a cada filamento nas extremidades alinhadas da miosina. Suspeita-se
grosso contém cerca de 500 cabeças e cada cabeça se que as porções elásticas da titina sejam instrumen-
movimenta do estado 1 ao 4 por algumas centenas de tais na manutenção dos filamentos grossos exatamen-
vezes em um segundo no período de um rápido en- te centrados no meio de um sarcômero. O seguinte
curtamento, os filamentos grosso e fino podem desli- endereço http://www.leeds.ac.uk/bms/research/
zar-se um sobre o outro em até 15 mm·ms–1. muscle/titin.htm apresenta uma versão animada desse
Então, o passo que requer ATP, o desacoplamen- conceito. Nos sarcômeros alongados da sobreposi-
to da cabeça de miosina do filamento de actina após ção filamento grosso-fino (p. ex., a perda de contato
o “golpe potente” (estado 4 retornando ao estado 1), entre os filamentos grosso e fino através das cabeças
não representa o passo regulatório que ativa e desa- de miosina), a titina ainda mantém os sarcômeros
tiva o ciclo da ponte cruzada. A regulação via cálcio- unidos; sem isso, o sarcômero tende a quebrar-se,
troponina C-tropomiosina afeta o passo do estado 2 desintegrar-se (Fig. 4.8). A titina também funciona-
ao 3. O músculo completamente depletado de ATP ria principalmente para mensurar a estabilidade no
torna-se muito rígido devido ao fato de as cabeças desenvolvimento do sarcômero, organizando os me-
não poderem ser liberadas do filamento de actina. A canismos responsáveis pelo controle preciso do com-
isso chamamos rigor mortis.* primento dos filamentos fino e grosso (Gregorie et
al., 1999).
O sarcômero é constituído de muito Nas fibras do músculo esquelético, os discos-Z
mais proteínas dos sarcômeros das miofibrilas vizinhas estão liga-
dos entre si via proteínas do citoesqueleto (p. ex.,
Enquanto a actina e a miosina são claramente as desmina [Fig. 4.7]), fornecendo aos músculos esque-
proteínas mais abundantes no sarcômero, muitas léticos sua aparência “estriada”. Essas conexões late-
outras são necessárias para o seu desenvolvimento, rais são estendidas à membrana das fibras, onde as
sua manutenção e função. A Figura 4.7 localiza um ligações são ancoradas em grandes complexos pro-
pequeno número de centenas ou das tantas diferen- téicos (os costâmeros e os complexos sarcoglicanos),
tes proteínas que parecem constituir o sarcômero. A dos quais existem conexões na malha fina do tecido
conjuntivo que circunda cada fibra muscular, sendo
adjacentes ao tendão muscular. Assim, fica definida
a não-existência, em cada disco-Z, apenas de trans-
missão de força vertical ao longo da miofibrila, mas
também (fraca, mas significativamente) de transmis-
*N. deR.T. Relativo ao endurecimento ou rigidez de um corpo são lateral de força nas estruturas do tecido conjun-
morto, associado à depleção de ATP nas fibras musculares. tivo do músculo.
70 PAAVO V. KOMI

Figura 4.7 Representação de proteínas sarcoméricas adicionais. A Tabela 4.1 lista as funções conhecidas das proteínas indicadas
nesta figura.

Acoplamento excitação- onde se ramifica e inerva várias fibras (até 2.000, em


contração grandes unidades motoras “rápidas”). A inervação de
determinada fibra ocorre através de uma única ter-
Os grandes músculos esqueléticos em nosso cor- minação nervosa (sinapse) localizada aproximada-
po consistem de milhões de fibras musculares. A co- mente no meio da fibra muscular (Fig. 4.9). Quando
ordenação exata da contração de todas essas fibras e uma unidade motora é ativada, os impulsos viajam
músculos é alcançada pela subdivisão dessa imensa pelo axônio em velocidade de vários metros por se-
população de fibras em unidades funcionais — as gundo e são distribuídos em todas as fibras na uni-
unidades motoras. Elas podem ser operadas pelo sis- dade motora. A excitação do nervo é transferida pela
tema nervoso central. sinapse para a membrana da fibra muscular. A des-
polarização da membrana da célula muscular percorre
A unidade motora o sistema de túbulos T na fibra muscular, onde o cál-
cio é liberado dos estoques do retículo sarcoplasmá-
A unidade motora consiste de um nervo motor, tico. Esses íons cálcio ativam o complexo troponina
que, no caso dos músculos dos membros, tem seu (ao se ligarem à troponina C) que desvia o ciclo das
corpo nervoso e núcleo localizados na substância cin- pontes cruzadas da miosina (ver anteriormente). O
za da coluna espinal e forma um longo axônio esten- processo total de ativação ocorre somente em pou-
dendo-se da extremidade do membro ao músculo, cos milissegundos. Devido ao fato de todas as fibras
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 71

Tabela 4.1 Proteínas sarcoméricas e suas funções

Elemento Proteína Função

Linha-Z α-actinina Mantém os filamentos finos em seu lugar e de forma organizada. As linhas-Z das fibras lentas têm
maior número de α-actinina do que as rápidas
Desmina Forma a conexão entre as linhas-Z adjacentes de diferentes miofibrilas. Isso mantém seus sarcômeros
alinhados. A desmina é responsável pela aparência estriada regular das fibras musculares
Filamento Actina Forma o núcleo do filamento fino. Interage com a miosina
fino Tropomiosina Movimenta-se sobre a superfície das actinas vizinhas no cálcio, ligando-se ao complexo troponina;
libera, portanto, o local para a forte ligação da cabeça de miosina
Troponina A troponina-C liga-se ao cálcio, alterando sua ligação, que induz movimento da tropomiosina,
transformando o sinal do cálcio em sinais moleculares, incluindo o ciclo das pontes cruzadas
Capa-Z Cobre a extremidade da linha-Z da extremidade da actina no filamento fino
Tropomodulina Cobre a extremidade interna da extremidade da actina no filamento fino
Nebulina Localizada ao longo do filamento fino. Parece ser o comando que determina o comprimento
precisamente ajustado dos filamentos finos
Filamento Miosina O “motor” do músculo. Quebra o ATP. Gera força na cabeça
grosso
Listras-C Proteína-C Parece incrementar a força do sarcômero em situações de maior demanda ao mover as cabeças de
miosina próximas à actina, aumentando a alteração de inúmeras cabeças ligadas a qualquer outra
no momento
Linha-M Proteína-M Mantém os filamentos grossos em disposição regular. É também um ponto de ancoramento para a
titina
Creatina cinase-M Fornece o ATP da creatina fosfato; localizada próxima às cabeças de miosina
(CK-M)
Filamento Titina Mantém o filamento grosso no meio dos dois discos-Z durante a contração e representa uma
elástico segurança contra o alongamento excessivo do sarcômero; parece também controlar o número de
moléculas de miosina contidas no filamento grosso

Figura 4.8 Ilustração esquemática da função do filamento de titina (elástico). (a) Os filamentos de titina ligam-se às linhas-M do
filamento grosso aos discos-Z. A titina é ligada ao filamento grosso, mas interage fracamente com o filamento fino. A parte dentada
da linha indica a região com maior elasticidade na titina. A ação desses elementos elásticos em ambos os lados mantém os
filamentos grossos centrados em repouso. (b) O sarcômero excessivamente alongado é mantido junto, apesar da perda de
sobreposição entre os filamentos fino e grosso (adaptada de Horowits e Podolsky, 1987).
72 PAAVO V. KOMI

cular. Liga-se a um receptor específico para acetilco-


lina que permite a abertura dos canais de sódio e
possibilita que o impulso elétrico se propague pela
membrana da célula muscular. A acetilcolina é rapi-
damente clivada (transformada, não-funcional), re-
tornando ao nervo terminal. Da junção neuromus-
cular, o impulso elétrico não somente se propaga e
retorna à membrana da fibra muscular (em velocida-
de maior que 1 m·s–1), mas também alcança o lado
interno da fibra muscular por meio das membranas
do sistema de túbulos-T (Fig. 4.11).

O retículo sarcoplasmático regula o


cálcio intracelular
O lado interno dos túbulos-T é conectado por
estruturas salientes ao retículo sarcoplamático por
uma lâmina de anastomose e por vesículas achatadas
que circundam cada miofibrila como uma rede de
abastecimento (Fig. 4.11). O retículo sarcoplasmáti-
co constitui um estoque de cálcio. Em seu interior, a
concentração de íons cálcio é aproximadamente
Figura 4.9 A unidade motora consiste de seu nervo motor,
10.000 vezes maior que no sarcoplasma da fibra mus-
que se ramifica para formar conexões com muitas fibras cular. Os túbulos-T são fisicamente conectados à sua
musculares através de sinapses, denominada placa motora parte vizinha do retículo sarcoplasmático via com-
terminal (Brooks et al., 2000). plexos protéicos (“pés juncionais”). Eles fornecem
contato entre os canais (de sódio) e transmitem os
impulsos elétricos através dos túbulos-T e dos ca-
nais de cálcio do retículo sarcoplasmático (Fig. 4.12).
de uma unidade motora contraírem-se simultanea- Normalmente, esses canais protéicos estão fechados.
mente, elas são do mesmo tipo de fibra histoquími- Com o impulso elétrico desencadeado através dos
ca. Além disso, apresentam propriedades metabóli- canais dos túbulos-T, os canais de cálcio conectados
cas e fisiológicas muito similares (ver a seguir). ao retículo sarcoplasmático são abertos e liberam
pequena quantidade de íons cálcio, suficiente para
permitir que a concentração interna de cálcio na fi-
A sinapse bra muscular eleve-se em 100 vezes. Essa liberação
de cálcio é coordenada pela grande diferença de con-
A “junção neuromuscular” é o local de transdu- centração entre o retículo sarcoplasmático e o sarco-
ção dos impulsos nervosos elétricos da membra- plasma da fibra muscular. Se nenhum outro impulso
na do nervo motor à membrana da fibra muscular chega aos túbulos-T, os íons cálcio são rapidamente
(Fig. 4.10), e a extremidade do axônio ou sinapse, que bombeados de volta pelas bombas de cálcio das mem-
no músculo esquelético apresenta extensões simila- branas do retículo sarcoplasmático. Essas bombas
res a dedos que penetram na superfície da fibra. As estão distantes dos pés juncionais. Após um único
membranas dessas extensões são separadas da mem- impulso, a concentração de cálcio no citosol é res-
brana da fibra muscular por uma fenda de somente taurada aos níveis de repouso, tipicamente em 30 ms.
0,05 μm. Quando um impulso elétrico chega na si- As bombas de cálcio derivam sua energia ao retornar
napse, a acetilcolina, uma pequena molécula, é libe- os íons ao retículo sarcoplasmático através da hidró-
rada pelo nervo terminal e se difunde rapidamente lise do ATP. Durante a contração, até 30% do ATP
por meio de pequenas fendas para a membrana mus- total da fibra muscular é utilizado pelas bombas de
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 73

Figura 4.10 A extremidade nervosa de uma fibra musculoesquelética tem extensões similares a dedos que são diminuídas dentro
da circunferência da fibra. Esta ilustração mostra uma secção transversa semelhante a um “dedo” da placa motora terminal. É
separado da fibra muscular por um espaço muito pequeno, a fenda sináptica, que apresenta entalhes adicionais em direção à fibra
muscular. A placa motora terminal utiliza acetilcolina como substância transmissora, estocada nas vesículas sinápticas. Quando um
impulso elétrico do axônio atinge a sinapse, a acetilcolina é liberada na fenda sináptica e capturada por receptores de acetilcolina
localizados no lado muscular da fenda na membrana da fibra. Então, os receptores de acetilcolina geram um impulso elétrico que
percorre a membrana muscular. No lado “exposto”, o axônio nervoso, assim como a extremidade nervosa (sinapse), é envolvido por
células de Schwann, que oferecem proteção e controle rígido ao ambiente iônico dos axônios (adaptada de Hall e Sanes, 1993).

Figura 4.11 Esquema de uma fibra


musculoesquelética demonstrando a
relação entre o retículo sarcoplasmático, a
cisterna terminal, os túbulos T e a
mitocôndria com as miofibrilas (de Krstic,
1978).
74 PAAVO V. KOMI

cálcio do retículo sarcoplasmático. Dentro do retí- Tipos de fibras musculares


culo sarcoplasmático, o excesso de íons cálcio é liga-
do à calsequestrina, uma proteína especial de ligação Isoformas das proteínas miofibrilares
do cálcio. Em uma contração normal, a fibra muscu-
lar ativada não recebe um único impulso nervoso, A maioria das proteínas do sarcômero e do retí-
mas inúmeros impulsos; os íons cálcio não podem culo sarcoplasmático apresenta-se em formas mole-
ser suficiente e rapidamente bombeados de volta en- culares distintas, chamadas de isoformas. As isofor-
tre esses impulsos. O cálcio pode então acumular em mas representam diferentes “edições” da mesma
maiores níveis no interior da fibra e ter melhor chan- proteína que variam entre si apenas em suas estrutu-
ce em ativar a maioria ou todos os filamentos finos ras. As diferenças funcionais entre as isoformas
em determinada fibra. Maior número de unidades incluem velocidades diversas de reação, forte ligação
regulatórias é ativado, assim como maiores níveis de às proteínas-alvo, etc.
força podem ser desenvolvidos durante tais “picos As isoformas da miosina são a base para a no-
tetânicos”, quando comparado a um único estímulo. menclatura dos tipos de fibras musculares. Tais iso-
A elevação na concentração de cálcio intracelular formas diferem na taxa em que a ATPase funciona
também exerce efeito estimulador no metabolismo na cabeça de miosina. Na contração de uma fibra
mitocondrial; com isso, a geração de ATP é potencia- muscular humana de contração rápida sem sobre-
lizada ao mesmo tempo em que o uso de ATP pelas carga, uma única cabeça de miosina rápida é estima-
miofibrilas é ativado. Outra possibilidade de regula- da para hidrolisar cerca de 80 ATP por segundo. As
ção da produção de força de determinado músculo é miosinas lentas trabalham em taxas 3 a 5 vezes me-
via modulação do número de fibras musculares ati- nores. As diferentes taxas de reação da ATPase cor-
vadas pelas unidades motoras (ver a seguir). respondem às propriedades contráteis das fibras
musculares com miosinas distintas. A estimativa re-
fere que uma fibra muscular humana de contração
rápida seja capaz de encurtar-se ao máximo em apro-
ximadamente um décimo de segundo; uma fibra de
contração lenta necessita de um terço de segundo.
As fibras com miosinas rápidas são muito bem usa-
das em movimentos rápidos, pois seu ciclo de ponte
cruzada é mais rápido. As fibras com miosinas lentas,
com ciclo de ponte cruzada mais lento, são mais ade-
quadas aos exercícios estáticos (tônicos) e para os
movimentos relativamente mais lentos da vida diá-
ria, assim como para a postura. Nessas velocidades
de contração, as fibras rápidas trabalham de forma
menos eficiente. A força que pode ser gerada por ca-
beça durante um ciclo de ponte cruzada não varia
entre as miosinas rápidas e lentas. Como as miosinas
rápidas hidrolisam ATP mais rapidamente (passo 2
no ciclo de pontes cruzadas descrito anteriormente),
a força gerada por cabeça na unidade de tempo é
maior para as miosinas rápidas quando comparadas
Figura 4.12 Conexão entre túbulos-T e retículo às lentas. Isso ocorre em virtude de o ciclo das pon-
sarcoplasmático. As duas estruturas estão conectadas por tes cruzadas das miosinas rápidas ser mais curto. Essa
grandes complexos protéicos, “pés juncionais”. Nesses pés relação configura-se experimentalmente para fibras
juncionais, os canais que transmitem o impulso através do
humanas isoladas (He et al., 2000). A transferência
túbulo-T promovem o contato direto com os canais de cálcio na
membrana do retículo sarcoplasmático. O impulso induz a de tais dados de fibras isoladas para o músculo total
abertura dos canais do retículo sarcoplasmático, liberando o não é direta. Deve-se levar em conta, porém, que a
cálcio do retículo sarcoplasmático (de Eisenberg, 1983). maioria dos estudos com humanos não consegue
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 75

demonstrar correlação entre força máxima e compo- a soluções ácidas e alcalinas (Fig. 4.13). Quando uma
sição do tipo de fibra (determinada por meio de bi- secção de músculo colocada em criostato* (de bióp-
ópsia de agulha); o principal fator determinante da sia de agulha, por exemplo) é incubada em uma so-
força máxima é o volume muscular. Essa aparente lução de pH 10,6 antes da reação da miosina ATPase
contradição pode dever-se à dificuldade de ativar si- ser realizada, apenas as fibras com miosinas predo-
multaneamente todas as fibras musculares ao máxi- minantemente rápidas demonstram reação de colo-
mo em determinado músculo. ração e, portanto, atividade da ATPase. Tais fibras são
as rápidas, de contração rápida ou do tipo II. Quan-
do uma secção de um músculo é incubada em pH
O tipo de fibra muscular é baseado na
4,3 antes da reação de ATPase, somente as fibras con-
análise histoquímica da ATPase
tendo a miosina lenta demonstram reação e, então,
miofibrilar
A maneira histoquímica clássica de estabelecer
os tipos de fibras baseia-se no reconhecimento de
três diferentes isoformas de miosina, classificadas de *N. de R.T. Em histologia, refere-se a uma câmara que contém

acordo com a sensibilidade de sua atividade da ATPase um micrótomo para cortar tecido congelado.

Figura 4.13 Classificação histoquímica das fibras musculares no músculo vasto lateral de humanos. (a) Reação ATPase miofibrilar
da secção criostato de 10 μm após pré-incubação em pH 4,3. A ATPase das fibras tipo I está ativa, enquanto a ATPase das fibras
tipo II está inativa. (b) Reação de ATPase miofibrilar após pré-incubação em pH 4,6. A ATPase das fibras tipo I está ativa, enquanto
a ATPase das fibras tipo II é moderadamente afetada; a ATPase das fibras IIA está inativada. (c) Reação de ATPase miofibrilar após
pré-incubação em pH 10,6. A ATPase das fibras tipo I está ativa, enquanto a ATPase das fibras tipo II está inativa. (d) Reação de
succinato desidrogenase. Essa marcação indica a capacidade oxidativa da fibra muscular. Note a atividade ligeiramente maior da
fibra IIA quando comparada à IIB. (e) Reação de α-glicerofosfato desidrogenase indica a capacidade glicolítica (geração de lactacto)
das fibras. Note a variabilidade nas fibras tipo I e a reação ligeiramente menor das fibras tipo II quando comparadas às tipo IIB.
76 PAAVO V. KOMI

atividade da ATPase. Essas fibras são lentas, de con- α-glicerol-fosfato desidrogenase. A intensidade de
tração lenta ou tipo I. A pré-incubação em pH 4,6 coloração da α-glicerol-fosfato desidrogenase indica
revela que a miosina ATPase de algumas fibras tipo II a capacidade glicolítica de uma fibra muscular. Essa
demonstra resistência contra esse pH, as miosinas é sua capacidade de formar lactato dos estoques de
de outras não. As fibras com ligeira coloração após glicogênio de uma fibra. As fibras tipo II geram ATP
incubação em pH 4,6 são do tipo IIb ou, alguns auto- para a produção de força principalmente através da
res, IIX; as fibras brancas são do segundo tipo IIa. glicólise anaeróbia, que produz lactato. As quantida-
Conforme indicado pelas diferenças na sensibili- des de mitocôndria são pequenas, e a produção de
dade ao ácido das suas reações de ATPase, as isofor- potência durante a ativação repetida não poderia ser
mas de miosina das fibras tipo IIa e IIb são distintas. alcançada por meio do ATP produzido em sua mito-
Em quase todos os músculos esqueléticos humanos côndria. Essas fibras tendem a fatigarem-se rapida-
existem somente duas isoformas de miosinas rápidas mente devido ao fato de acumularem o lactato pro-
(denominadas IIa e IIb neste capítulo). Nos múscu- duzido (até 30 vezes a concentração do músculo em
los de roedores, três isoformas rápidas de miosina repouso). O baixo pH associado com esse acúmulo
são encontradas: IIa, IIb e IIX. A seqüência de ami- de lactato, assim como a elevação correspondente no
noácidos das miosinas IIb e IIX é muito similar, mas fosfato livre, inibem a ATPase da miosina, tornando
ainda assim apresenta diferenças. Alguns autores ar- lenta a velocidade de contração ou interrompendo
gumentam que a coloração intermediária da miosina completamente a contração ativa. As fibras tipo IIa
das fibras humanas, após pré-incubação em pH 4,6, são intermediárias às fibras tipo I e IIb em suas ca-
é mais próxima em seqüência à miosina IIX dos roe- racterísticas contráteis e metabólicas.
dores do que a IIb. A partir dessa abordagem, classi- Como previamente mencionado, as fibras huma-
ficam-nas como IIX. A maior parte da literatura refe- nas do tipo II apresentam velocidade de encurtamento
rente aos tipos de fibras humanas ainda aplica a 2 a 5 vezes maior do que as do tipo I. No entanto, em
nomenclatura original, considerando essas fibras cada tipo de fibra, há uma amplitude considerável de
como IIb. É por essa razão que, neste livro, emprega- variação em parâmetros fisiológicos tais como a ve-
mos o termo original IIb para essa fibra. locidade, o tempo de relaxamento e a fatigabilidade.
A Figura 4.13 também demonstra que esses ti- A distribuição desses parâmetros entre as fibras de
pos de fibras musculares possuem capacidades me- determinado músculo é geralmente contínua. Esti-
tabólicas muito diferentes. As fibras tipo I (contração mativas apontam para o fato de a “afinação” da pro-
lenta) coloram mais para a succinato desidrogenase priedade fisiológica da fibra ao seu padrão exato de
quando comparadas às fibras tipo II (contração rápi- uso envolver combinações apropriadas de isoformas
da). Portanto, apresentam maior capacidade oxidati- de outras proteínas miofibrilares além da miosina (p.
va, por exemplo, mais mitocôndria com maior nú- ex., a troponina T, que ocorre em maior número de
mero de enzimas das vias de oxidação lipídica e da formas). Todavia, todas as fibras ao longo de uma uni-
glicose. Essas fibras geram ATP principalmente por dade motora possuem as mesmas propriedades con-
meio da oxidação das unidades de glicose e dos áci- tráteis e metabólicas. Portanto, poderiam também apre-
dos graxos (ver a seguir). Somente diante de produ- sentar composições idênticas de isoformas protéicas.
ção muito elevada de potência elas formam lactato. E
também podem usar lactato como fonte de energia. Recrutamento da unidade motora
Isso ocorre ao retirar lactato da corrente sangüínea
ou do tecido intersticial entre as fibras, transforman- Em muitas atividades voluntárias da vida diária,
do-o em piruvato e oxidando-o na mitocôndria. as unidades motoras lentas (tipo I) são as primeiras
Como mencionado anteriormente, as fibras lentas recrutadas. As unidades rápidas (tipo II) são ativadas
possuem menor velocidade de contração do que as de acordo com o aumento da produção de potência.
rápidas. As fibras tipo I demonstram maior resistên- As pessoas treinadas podem ativar muito mais, se não
cia devido ao seu metabolismo oxidativo e à sua maior todas as unidades motoras, em um grande músculo
eficiência. As fibras tipo II (contração rápida) colo- dos membros durante uma contração voluntária es-
ram mais fracamente para o succinato desidrogenase tática máxima. Em indivíduos não-treinados isso não
do que as tipo I, mas ainda coloram mais forte para a é possível. As unidades motoras mais rápidas (tipo
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 77

IIb) são preferencialmente ativadas em movimentos amostra muscular de um nadador especialista nos 50
corretivos rápidos e reflexos. As contrações máximas metros livres e a amostra de um ciclista profissional.
explosivas parecem ativar as unidades motoras rápi- O nadador dispõe aproximadamente de 80% de fi-
das e lentas simultaneamente. As unidades motoras bras tipo II (contração rápida) em seu músculo vasto
lentas geralmente contêm poucas fibras; as unidades lateral, enquanto o ciclista apresenta cerca de 80%
motoras rápidas são maiores e podem conter até 2.000 de fibras tipo I (contração lenta). Tal composição ex-
fibras. Ver o Capítulo 2 para outros detalhes referen- trema de tipo de fibra pode ser uma conseqüência da
tes ao recrutamento das unidades motoras. predeterminação genética, assim como do treinamen-
to desses atletas. O treinamento regular de endurance
Atletas podem possuir distribuições por período prolongado de tempo (vários meses) in-
extremas dos tipos de fibra duz a conversão do tipo de fibra IIb para IIa em mui-
tas das fibras do tipo IIb, e do tipo IIa para o tipo I em
Há várias décadas sabe-se que atletas de elite em um percentual menor das fibras originais do tipo IIa.
esportes que requerem alta velocidade ou endurance Volumes elevados de treinamento de endurance por
muito desenvolvida possuem diferentes composições muitos anos podem transformar um número subs-
de fibra em seus músculos. A Figura 4.14 ilustra essa tancial de fibras do tipo II em fibras do tipo I, como
situação. As imagens mostram a comparação entre a observado, por exemplo, no músculo vasto lateral.

Figura 4.14 Composição do tipo de


fibra de dois atletas de elite selecionados.
(a) Nadador cuja especialidade eram os
50 m rasos. (b) Ciclista profissional de
nível mundial do tipo “roller”. (c,d)
Secção criostato do músculo vasto lateral
de nadadores e ciclistas, marcada para
ATPase após pré-incubação em pH 4,3. A
coloração das fibras tipo I é escura,
enquanto as fibras tipo II não são
marcadas. (c) A grande maioria das fibras
do nadador é de tipo II (contração rápida).
(d) A grande maioria das fibras do ciclista
é tipo I (contração lenta).
78 PAAVO V. KOMI

Dados recentes indicam que a resposta a determina- mente mantida em funcionamento lento, a quanti-
da dose de treinamento pode ser muito diferente en- dade comparativamente pequena de energia consu-
tre os indivíduos (Bouchard e Rankinen, 2001); isso mida é gerada pela respiração celular ou “fosforila-
significa que a capacidade para transformar um tipo ção oxidativa”. Nesse processo, os substratos alimen-
de fibra devido ao treinamento seria efeito indireto tares, primariamente lipídeos, estão sendo degrada-
da capacidade da própria pessoa em responder ao trei- dos em um tipo de fornalha celular localizada em or-
namento. ganelas submicroscópicas específicas, as mitocôndrias
(Fig. 4.15). Esse processo permite a captura de cerca
de 50% da energia estocada em ligações químicas de
Sistemas de suprimento de substratos. No caso da sacarose e da frutose que in-
energia gerimos quando comemos uma maçã, essa energia
deriva da energia solar que serviu para ligar o CO2
A maquinaria contrátil ocupa cerca de 80% do atmosférico no momento em que a fruta estava ama-
volume da fibra muscular e representa aproximada- durecendo na árvore. A respiração pode ser conside-
mente um terço da massa corporal. A complexa rede rada uma forma de combustão celular que permite a
de túbulos T e cisternas do retículo sarcoplasmático, liberação de energia em uma forma reutilizável por
que regula a interação actina-miosina, é comparati- processos celulares que requerem energia. A energia
vamente compacta e ocupa cerca de 5% do volume não-utilizada ou desperdiçada é perdida como calor
da fibra. No entanto, ambos os processos de contra- e serve para manter a temperatura corporal.
ção muscular, assim como a manutenção de gradi- A combustão celular ocorre com a mesma eficiên-
entes de íons necessários dentro e ao redor das fibras cia em todos os mamíferos. Nesse caso, a quantidade
musculares, são criticamente dependentes do estado de oxigênio consumido é diretamente proporcional
energético da célula muscular. Esta seção explora as à potência do organismo. A produção de 1 W de po-
vias em que o canal de energia dentro do músculo tência metabólica requer o consumo de 3 mL·min–1
promove o desenvolvimento da força muscular. de oxigênio. Em repouso, o ser humano consome
300 mL·min–1 de oxigênio e, portanto, produz ener-
Metabolismo aeróbio gia metabólica em uma taxa de aproximadamente
100 W. Os principais consumidores de oxigênio são
Quando não há suprimento de energia mecânica o cérebro, o coração, os rins e os órgãos intestinais.
externa para uma célula muscular, sendo ela simples- Apesar de seu grande tamanho, a musculatura (ina-

Figura 4.15 Micrografia eletrônica


demonstra a secção transversa dos
segmentos das fibras musculares. O
capilar contém eritrócitos (E). Na fibra
muscular os filamentos de actina e
miosina (mf), assim como a mitocôndria
(m), são aparentes.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 79

tiva) consome menos que 20% da energia total em aeróbia em humanos desenvolve-se na comunidade
repouso. científica. Atualmente, existe considerável evidência
Isso é diferente durante o trabalho mecânico. de que todos os passos de transferência adicionam
Com o aumento da sobrecarga, por exemplo, em um alguma resistência ao fluxo de oxigênio na periferia
teste aeróbio realizado em cicloergômetro, o consu- (Fig. 4.17). O transporte cardiovascular é o principal
mo de oxigênio incrementa em proporção à sobre- fator limitante durante o exercício realizado com gran-
carga externa (Fig. 4.16). Eventualmente, os níveis de de massa muscular em humanos (di Prampero, 1985).
consumo de oxigênio e a subseqüente energia para o Contudo, evidências recentes realçam a importância
aumento da contração muscular devem ser primari- do pH intracelular nas fibras musculares (Conley et
amente supridos pela glicólise anaeróbia. Como con- al., 2001).
seqüência, observamos aumento rápido nos níveis de A respiração celular muscular deve ser próxima
lactato plasmático nesse momento de elevada pro- ao VO2máx para manter a mais elevada potência pos-
dução de potência. O processo da glicólise é aborda- sível por um período prolongado de tempo (p. ex.,
do a seguir. acima de 30 min [Fig. 4.18]). O homem jovem não-
Caso seja realizado teste de desempenho com treinado pode ser capaz de manter uma potência de
uma quantidade relativamente grande da massa mus- 200 W consumindo 3 L·min–1 de oxigênio. Um ci-
cular total, as observações podem demonstrar um clista profissional altamente treinado poderia ser ca-
platô no consumo de oxigênio. A partir desse platô, o paz de produzir potência maior que 400 W sob con-
consumo não poderá aumentar voluntariamente. Ao sumo de oxigênio correspondente a 6 L·min–1. Como
platô, dá-se o nome de consumo máximo de oxigê- discutido anteriormente, o limite para a produção de
nio ou VO2máx. No VO2máx, mais de 90% do oxi- potência mecânica aeróbia não fica restrito em virtu-
gênio consumido pelos pulmões é fornecido para as de da capacidade de consumo da maquinaria contrá-
mitocôndrias musculares (Åstrand e Rodahl, 1986). til, mas sim por conta das características do sistema
Então, existe grande variedade dinâmica de regula- respiratório total do indivíduo.
ção funcional da respiração celular musculoesquelé-
tica que supera muito a capacidade regulatória de Estoque e transferência de energia
outros órgãos. Um grande debate, em relação ao fato
de os passos de transferência dos pulmões à mito- No exercício aeróbio, o oxigênio deve ser supri-
côndria muscular serem limitantes e responsáveis do continuamente às fibras musculares. O fluxo de
pelo estabelecimento do ritmo do fluxo de energia oxigênio é, portanto, representativo do fluxo energé-

Figura 4.16 Aumento do consumo de


oxigênio (), da freqüência cardíaca
() e da concentração plasmática de
lactato () durante um típico teste em
cicloergômetro. A potência foi
aumentada em 35 W a cada 2 minutos
até a exaustão.
80 PAAVO V. KOMI

Figura 4.18 Decréscimo da potência mecânica máxima em


cicloergômetro em função da duração do exercício. As
contribuições aproximadas dos diferentes sistemas de
suprimento energético celular são indicadas sob a curva.

culo para o influxo de glicose e de ácidos graxos li-


vres na célula muscular. A energia também pode ser
gerada a partir dos aminoácidos, mas esse sistema é
de pouca importância para a provisão energética da
Figura 4.17 Modelo de troca respiratória no sistema célula muscular em trabalho em um indivíduo bem
respiratório humano.
nutrido. No entanto, certos aminoácidos têm sido im-
plicados no fenômeno relacionado à fadiga.
A degradação e a oxidação terminal dos substra-
tos via ciclo de Krebs e a cadeia respiratória na mito-
tico nas células musculares ativas. O oxigênio deve côndria produzem H2O e CO2; ambos são inócuos e
ser constantemente suprido devido ao fato de somen- rapidamente deixam a célula muscular, sendo trans-
te uma pequena quantidade de oxigênio poder ser portados através dos capilares da corrente sangüínea
estocada no tecido muscular em humanos. (Fig. 4.20). Do mesmo modo, o excesso de calor me-
Esse não é o caso dos substratos de combustão tabólico é dissipado e pode, caso seja realizado exer-
celular. A glicose (estocada na forma de glicogênio) e cício vigoroso em ambiente quente, representar sério
os lipídeos (em gotículas de gordura) são estocados perigo para o sujeito.
intracelularmente nas células musculares. O exercí- A energia “útil” é capturada em uma substância
cio contínuo de duração muito prolongada, tal como química altamente especializada: o ATP, composto
corrida de 100 km, induz a depleção quase que com- pela adenina de base purina e do açúcar ribose, aos
pleta desses estoques (Kayar et al., 1986 [Fig. 4.19]). quais três resíduos de fosfato são reversivelmente li-
O suprimento de nutrientes via corrente sangüínea gados (Fig. 4.21). A clivagem enzimática dessas liga-
através dos capilares pode, exceto para o exercício de ções de fosfato produz a energia diretamente utiliza-
muito baixa intensidade, apenas representar uma fra- da em todos os processos da célula muscular que
ção do uso do substrato celular. O transporte ativo requerem energia, tais como a contração, a bomba
através da membrana da célula parece ser um obstá- de íons, a biossíntese e outros. Grande parte dessa
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 81

Figura 4.19 Secção transversa das fibras musculares (a) antes e (b) após corrida de 100 km em 7h. Os estoques celulares do
substrato glicogênio (G) e lipídeo (L) quase que completamente desapareceram após corrida de longa distância.

energia química se torna disponível pela degradação me indicado anteriormente, os dois fosfatos restan-
do fosfato terminal do ATP (indicado por ~ na Fig. tes de ADP também podem ser clivados. No entanto,
4.21), liberando um ADP e um fosfato livre. Confor- o ganho de energia por ligação é pequeno e diferen-

Figura 4.20 Visão esquemática integrada das vias de suprimento energético às miofibrilas. A espessura das setas indica a
importância relativa de alguns dos fluxos de substrato. A proporção de lactato produzido diretamente oxidado na mitocôndria da fibra
está atualmente em debate. AA: aminoácidos; AcCoA: acetil coenzima A; C: creatina; CP: fosfocreatina; AGL: ácidos graxos livres;
IMP: inosina monofosfato; PEP: fosfoenolpiruvato; Pir: piruvato.
82 PAAVO V. KOMI

ligado à ATP (Fig. 4.21). A equação para a creatina


cinase é a seguinte:

[PCr] + [ADP] + [H+] ↔ [ATP] + [Cr] (1)

O símbolo [ ] indica concentração, por exemplo,


[ADP] representa a concentração de adenosina di-
fosfato e [Cr], a de fosfocreatina. [H+] representa a
concentração de prótons, por exemplo, equivalente
ao pH. O aumento da demanda de ATP pela contra-
ção muscular é adequada pelo ajuste na reação da
creatina cinase que diminui a fosfocreatina (PCr) sem
alteração na ATP. Esse ajuste de equilíbrio mantém a
ATP (e a energia livre da ATP ligada) relativamente
constante em ampla variedade de fluxos de ATP na
célula. Então, a PCr age como um capacitor químico
para a ATP, que pode ser degradado em elevada taxa
para a miosina ATPase diante da necessidade de ele-
vação. No exercício vigoroso, como o sprint, o pool de
PCr dura somente cerca de 10 s (Fig. 4.18).
O papel de tamponamento da PCr que mantém
Figura 4.21 Estrutura molecular da ATP (adenosina trifosfato) o ATP constante também produz sinal importante
e da CP (fosfocreatina). O símbolo ~ indica ligação rica em para a elevação da fosforilação oxidativa — ADP. O
energia. A clivagem dessa ligação em ATP produz a energia efeito de alteração na PCr sobre a ADP via equilíbrio
para as enzimas dependentes de energia em todos os da CK pode ser posto em termos matemáticos pelo
organismos. rearranjo da equação 1:

[ADP] = ([ATP]/[PCr]) · (1/(Keq · [H+])) ·


tes sistemas enzimáticos estão envolvidos. A mito- [ADP] = ([Cr] – [PCr]) (2)
côndria mantém a carga energética da célula muscu-
lar essencialmente pela refosforilação do ADP origi- onde Keq é a constante de equilíbrio da creatina cina-
nado do ATP, mantendo este último em um nível se. A importância da [ADP] (concentração de ADP)
relativamente constante e alto. está em seu papel como principal fator que regula a
fosforilação oxidativa mitocondrial e, portanto, o su-
O sistema fosfocreatina primento oxidativo de ATP. A elevação na [ADP] ati-
va a fosforilação oxidativa de modo similar na mito-
Uma ferramenta recentemente desenvolvida aju- côndria isolada e no músculo humano in vivo.
da os fisiologistas a monitorizar os diferentes pools de Portanto, esse sistema coordena o suprimento oxi-
fosfato, assim como o pH intracelular de maneira não- dativo de ATP para a demanda contrátil via um loop
invasiva. A nova tecnologia de espectroscopia de res- de feedback simples: no músculo em exercício, a alte-
sonância magnética (Fig. 4.22) possibilita a avaliação ração no fluxo de ATP causa queda na [PCr] e eleva-
do estado energético das células musculares, enquan- ção na [ADP] (sinal de feedback). Essa elevação da
to a força se desenvolve. Esses estudos revelam que [ADP] ativa o aumento no suprimento de ATP mito-
há um único sistema de sinalização que associa a de- condrial. A queda na [PCr] com o exercício continua
manda contrátil de ATP ao suprimento aeróbio de até a [ADP] elevar-se de forma suficiente para ativar
ATP. A fosfocreatina está no coração desse sistema. a fosforilação oxidativa mitocondrial e equilibrar o
Ela constitui a principal forma de estoque para ener- suprimento de ATP de acordo com a demanda. Uma
gia na célula e para a enzima creatina cinase (CK), vez que ocorreu equilíbrio na ATP, a degradação da
que catalisa a transferência do fosfato de alta energia [PCr] não é tão necessária para adequar-se às deman-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 83

Figura 4.22 Espectros de ressonância


magnética 31P representativa obtida em
repouso (a) e durante estimulação a 2 Hz
(b) no tecido muscular do rato. A área sob
o pico ilustra a concentração de
metabólitos. Note que a separação do CP
em Pi pico constitui um indicador de pH
intracelular (de Kushmerick, 1986).

das de ATP; a [PCr], então, alcança o estado de equi- fatos de alta energia sem um sistema especializado
líbrio. As alterações na [ADP] em repouso para a ca- de lançadeira. Além disso, experimentos com creati-
pacidade oxidativa do músculo em exercício corres- na cinase em camundongos transgênicos demons-
pondem às alterações observadas na mitocôndria tram pouco efeito funcional do desvio da creatina
isolada (ver Conley et al., 2001 [Fig. 4.23]). Com isso, cinase entre a mitocôndria e os elementos contráteis
o ajuste no equilíbrio da creatina cinase explica a al- ou o impedimento de isoenzimas específicas conjun-
teração na [PCr] que preserva os níveis de ATP para tamente. Então, o papel único de manutenção e si-
adequar-se às demandas energéticas de curto prazo e nalização do sistema de PCr-creatina cinase parece
também para elevar o sinal — [ADP] — para ativar a ser suficiente para explicar o equilíbrio dos níveis de
fosforilação oxidativa mitocondrial, de modo que as ATP e a ativação a longo prazo do suprimento mito-
necessidades a longo prazo da manutenção oxidativa condrial de ATP durante o exercício.
da ATP sejam alcançadas. Nos últimos anos, inúmeros estudos investiga-
Estudos sugerem que a transferência de ener- ram o efeito da suplementação de sais de creatina no
gia da mitocôndria aos filamentos para o sistema desempenho físico. Em muitos indivíduos, a inges-
PCr-creatina cinase obedece à organização de um tão adicional de creatina induz um leve incremento
transporte especializado de lançadeira. Nesse siste- no pool de CP no músculo, que pode melhorar um
ma, uma enzima especializada no espaço intermem- pouco o desempenho. O efeito manifesta-se mais cla-
branáceo mitocondrial transfere fosfatos de “alta ener- ramente na melhoria do desempenho em sprints cur-
gia” da ATP para a molécula de creatina (Fig. 4.21). tos e repetidos.
Hipoteticamente, configura-se o mecanismo de lan- Uma limitação da técnica de ressonância mag-
çadeira unidirecional da PCr para as isoformas espe- nética para avaliar a energia intracelular condiciona
cializadas de CK localizadas nos elementos contrá- a obtenção de medida somente por “volumes” relati-
teis. No entanto, a PCr e a ADP são livremente vamente grandes de tecido muscular, constituídos por
propagáveis e podem fornecer fluxo suficiente de fos- centenas de fibras musculares. Os dados de espec-
84 PAAVO V. KOMI

Figura 4.23 (a) Alterações no conteúdo de fosfocreatina (CP) e ADP durante exercício dos músculos dorsiflexores de humanos
quando determinado por espectroscopia de ressonância nuclear magnética. Note a queda relativamente rápida na CP, no início do
exercício, que, então, altera a um valor próximo da estabilização. A concentração de ADP (o sinal para a fosforilação oxidativa
mitocondrial) altera reciprocamente. No (b), os valores do experimento (a) são superimpostos como uma linha pontilhada sobre a
curva de ativação da fosforilação oxidativa determinada dos experimentos in vitro, empregando mitocôndria cardíaca humana. As
mitocôndrias musculoesquelética e cardíaca são muito similares em suas propriedades. Note que as concentrações de ADP durante
o exercício estão na parte íngrime da curva de ativação, isto é, uma alteração relativamente pequena na concentração, que induz
alteração significativa na fosforilação oxidativa (adaptada de Conley et al., 2001).

troscopia de ressonância magnética representam, a glicólise pode ocorrer em uma taxa muito elevada,
portanto, uma média de muitas fibras musculares que como indicado na Figura 4.20 pelas diferentes es-
podem estar em diferentes estados de ativação e fa- pessuras das setas. Há um acúmulo de lactato na cé-
diga. lula muscular caso a glicólise ocorra sob taxa que
exceda a capacidade de consumo da mitocôndria pelo
Glicólise piruvato (e lactato, ver a seguir). O ácido láctico di-
minui o pH intracelular, interferindo na atividade
Até agora, consideramos a respiração capaz de contrátil muscular mencionada. O pH da célula mus-
produzir potência relativamente baixa por um perío- cular precisa ser restaurado caso a atividade contrátil
do prolongado de tempo, assim como o sistema da tenha de ocorrer.
fosfocreatina que pode ser utilizado em exercício Dados recentes (Brooks, 2000) fornecem evidên-
muito vigoroso de curta duração (Fig. 4.18). A glicó- cias de que o lactato não precisa ser reconvertido a
lise representa um sistema adicional de suprimento piruvato antes de estar dentro da mitocôndria da fi-
energético. Ela pode produzir níveis intermediários bra muscular. No entanto, evidencia-se que a mito-
de potência por períodos prolongados de tempo. Além côndria possui transportadores que permitem a ela
disso, produz o metabólito piruvato, o principal com- direcionar o consumo e a metabolização do lactato
bustível para a fosforilação oxidativa mitocondrial produzido pela glicólise no sarcoplasma.
(Fig. 4.20). No exercício aeróbio, a glicólise fornece A glicólise também é acompanhada pela ativa-
piruvato que é transferido à mitocôndria, onde seu ção da adenilato cinase. Essa enzima converte duas
esqueleto de carbono é completamente degradado a moléculas de ADP (produzidas pela ação da miosi-
CO2. Esse processo de oxidação completa da glicose na ATPase) em uma de ATP e uma de AMP (adeno-
na mitocôndria produz 36 moléculas de ATP para sina monofosfato). A ATP pode ser reutilizada pela
cada molécula de glicose degradada. O processo gli- miosina ATPase. Parte da AMP gerada dessa ma-
colítico da glicose ao piruvato ou lactato fornece so- neira não é refosforilada a ADP e ATP, mas trans-
mente 2 ATP. Qual o motivo, então, para a célula formada em IMP (inosina monofosfato) pela enzi-
muscular se preocupar com a glicólise? A razão é que ma AMP deaminase. Nesse processo, há a produção
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 85

de amônia que é liberada para a corrente sangüí- célula muscular, mas nem todos utilizados no pro-
nea. O exercício muscular vigoroso, com a ativação cesso. Isso é diferente para a glicólise. A disponibili-
da glicólise, caracteriza-se pelo aparecimento do lac- dade de glicogênio pode ser freada em alguns minu-
tato e da amônia na corrente sangüínea (Fig. 4.20). tos caso a glicólise não seja rapidamente desviada pelo
acúmulo de ácido láctico na célula muscular. Os es-
Interdependência da energia toques de glicogênio a partir de fontes externas (nu-
muscular e escolha do substrato tricionais) podem demorar um dia todo para serem
restabelecidos, ainda que sob condições ótimas de
As diferentes vias metabólicas são ativadas como suprimento do substrato.
conseqüência da intensidade e da duração de deter- O exercício aeróbio por período prolongado de
minado tipo de exercício (Fig. 4.18). O sistema CP tempo não acumula níveis elevados de lactato em seu
pode ser ativado imediatamente devido à energia es- início. Apesar disso, a glicólise terá que suprir a de-
tar disponível em uma forma diretamente degradá- manda energética até a respiração ser completamen-
vel. A glicólise pode ser inibida de forma muito rápi- te ativada. Há uma elevação inicial no lactato plas-
da, mas isso ocorre 2 a 3 minutos antes da fosforilação mático quando a corrida é realizada a 75% da
oxidativa. Os substratos e metabólitos para o sistema capacidade aeróbia máxima. Mais tarde, a concen-
CP e para a glicólise podem ser considerados como tração de lactato diminui, quando a célula muscular
“a bordo” da célula muscular. Já o estímulo da respi- inclina-se ao uso da fosforilação oxidativa.
ração envolve a ativação de muitos processos de todo A capacidade máxima de exercício aeróbio de um
o corpo: a microcirculação deve ser aumentada nos determinado músculo ou grupo muscular de um in-
músculos em exercício; o débito cardíaco deve ser divíduo é essencialmente estabelecida pela quanti-
elevado através do incremento da freqüência cardía- dade de mitocôndrias, fornecendo o suprimento ca-
ca, assim como a ventilação pulmonar; e, por conse- pilar e oxigênio cardiovascular ajustados à capacidade
guinte, maior quantidade de sangue pode ser oxige- oxidativa mitocondrial. O exercício aeróbio não ape-
nada, o que ocorre em algum momento. Esses passos nas incrementa todos esses fatores como também
são primariamente regulados pelo sistema nervoso, auxilia na regulação de todo o sistema de transferên-
mas as influências metabólicas e hormonais também cia de energia. Em muitos mamíferos, a respiração
desempenham papel importante. celular (muscular) poderia teoricamente ocorrer em
Durante sprint de 10 s, o organismo é capaz de maiores taxas do que permitiria a capacidade máxi-
diminuir os estoques de CP até níveis muito baixos, ma de transporte dos substratos (p. ex., glicose e áci-
sem influência da glicólise, constituindo uma situa- dos graxos livres) através da membrana celular. O
ção de débito de oxigênio (energia) alático. O repou- exercício aeróbio de alta intensidade necessariamen-
so durante alguns minutos pode recuperar o sistema te induz a uma depleção gradual dos estoques dos
CP de modo a atingir a mesma produção de potência substratos intracelulares. Uma vez que esses são uti-
anterior. Isso não acontece em uma corrida de 800 a lizados, a respiração continua máxima na taxa de
1.000 m até a fadiga. A glicólise será completamente transporte da membrana dos substratos. Isso parece
ativada durante esse desempenho, e os níveis plas- ocorrer ao redor de 50% ou menos da taxa máxima
máticos de lactato podem alcançar valores muito al- de respiração. Então, no exercício de curta a média
tos (maiores que 20 mmol·L–1 em atletas treinados). duração, a capacidade oxidativa mitocondrial limita
Essa situação produz um desequilíbrio ácido-base, e o trabalho aeróbio, enquanto o suprimento de subs-
o pH pode cair bem abaixo de 6,9 (o normal é 7,4). E, trato torna-se importante de acordo com o aumento
ainda mais importante, devido à lentidão da remoção da distância percorrida.
de lactato das células musculares, a homeostase in-
tracelular é mais prejudicada do que aparenta nas
concentrações plasmáticas de metabólitos relevan- Bases estruturais do treinamento
tes. A célula muscular readquire o seu equilíbrio não muscular
em minutos, mas horas depois de um exercício qual-
quer ser interrompido. Deve-se considerar que o sis- Para determinado nível de ativação neural, a for-
tema CP utiliza nucleotídeos lançados ao redor da ça muscular é proporcional ao número total de pon-
86 PAAVO V. KOMI

tes cruzadas formadas em certo período de tempo, empregadas para preservar o funcionamento ótimo e
como indicado na primeira parte deste capítulo. A a recuperação será aperfeiçoada.
força em um músculo saudável é proporcional ao
número total de miofilamentos na secção transversa
do músculo ou — grosseiramente — na área de sec- Agradecimentos
ção transversa muscular devido ao fato de cada mio-
filamento conter o mesmo número de cabeças de Os autores expressam seus agradecimentos a
miosina. Em nível estrutural, o treinamento de força Kevin Conley pelo parágrafo e figura do sistema de
age através do incremento da área de secção trans- creatina cinase. Ambos os autores recebem apoio há
versa muscular. A tentativa de aumentar o pool de CP muitos anos da Swiss National Science Foundation
no músculo humano por meio do treinamento não e da Swiss Sports Research Fund.
tem sido bem-sucedida; o aumento da ingestão de
creatina pode induzir leve aumento no pool de CP,
com pequeno efeito, mas geralmente mensurável, so- Referências
bre o desempenho em sprint. A glicólise pode ser sig-
nificativamente aumentada com o treinamento de alta
Alberts, B., Bray, D., Lewis, J., Raff, M., Roberts, K. & Wat-
intensidade ou do tipo intervalado. Além disso, há son, J.D. (1994) Molecular Biology of the Cell, 3rd edn.
maior tolerância à acidose e ao aumento dos níveis Garland Publishing, New York.
de lactato, ambos em nível da fibra muscular e sistê- Åstrand, P.-O. & Rodahl, K. (1986) Textbook of Work Physio-
mico, promovidos por esses tipos de treinamento. A logy. Physiological Bases of Exercise, 3rd edn. McGraw-Hill
parte mais maleável do sistema de suprimento de International Editions, New York.
energia muscular provavelmente é a respiração (Ho- Brooks, G.A. (2000) Intra- and extra-cellular lactate shut-
wald, 1982). A capilaridade muscular e o conteúdo tles. Medicine and Science in Sports and Exercise 32, 790-799.
mitocondrial podem aumentar em velocidade e em Brooks, G.A., Fahey, T.D., White, T.P. & Baldwin, K.M. (eds)
(2000) Exercise Physiology: Human Bioenergetics and Its
magnitude com adequado estímulo de treinamento
Applications, 3rd edn. Mayfield Publishing Co, Moun-
(endurance). Ademais, o tamanho do coração e, con- tain View.
seqüentemente, o débito cardíaco máximo também Bouchard, C. & Rankinen, T. (2001) Individual differences
podem aumentar como resultado do treinamento in response to regular physical activity. Medicine and
aeróbio. Science in Sports and Exercise 33 (Suppl.), S446-S451; dis-
cussion S452-S453.
Conley, K.E., Kemper, W.F. & Crowther, G.J. (2001) Limits
Perspectiva to sustainable muscle performance: interaction betwe-
en glycolysis and oxidative phosphorylation. Journal of
Experimental Biology 204, 3189-3194.
O principal desafio para a pesquisa muscular bá-
di Prampero, P.E. (1985) Metabolic and circulatory limita-
sica é descobrir os mecanismos que controlam e ajus- tions to VO2max at the whole animal level. Journal of
tam as propriedades moleculares precisas dos siste- Experimental Biology 115, 319-332.
mas contrátil, regulatório e energético aos padrões Eisenberg, G.R. (1983) Quantitative ultrastructure of mam-
de uso. O progresso provavelmente surja de tecnolo- malian skeletal muscle. In: Handbook of Physiology. Skeletal
gias modernas, tais como a ressonância nuclear mag- Muscle (eds L. D. Peachy, R. H. Adrian & S. R. Geiger),
nética (RNM) (Fig. 4.23), que permite medidas in vivo. pp. 73-112. Williams & Wilkins, Baltimore.
Novas questões surgirão a partir de técnicas in vitro, Geeves, M.A. & Holmes, K.C. (1999) Structural mecha-
as quais permitem a análise simultânea de milhares nism of muscle contraction. Annual Review of Biochemis-
try 68, 687-728.
de proteínas (proteômica) ou milhares de genes ex-
Gordon, A.M., Homsher, E. & Reginer, M. (2000) Regula-
pressos (genômica). tion of contraction in striated muscle. Physiological
Isso beneficiará não apenas os atletas, mas todos Reviews 80, 854-924.
os seres humanos, na medida em que a qualidade de Gregorie, C.C., Granzier, H., Sorimachi, H. & Labeit,
vida depende de um sistema locomotor funcional S. (1999) Muscle assembly: a titanic achievement?
intacto e completo. A compreensão das estratégias Current Opinion in Cell Biology 11, 18-25.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 87

Hall, Z.W. & Sanes, J.R. (1993) Synaptic structure and Kayar, S.R., Hoppeler, H., Howand, H., Claassen, H. &
development: the neuromuscular junction. Cell 72 Oberholyer, F. (1986) Acute effects of endurance exer-
(Suppl.), 99-121. cise on mitochondrial distribution and skeletal muscle
He, Z.-H., Bottinelli, R., Pellegrino, M.A., Ferenczi, M.A. morphology. European Journal of Applied Physiology 54,
& Reggiani, C. (2000) ATP consumption and efficiency 578-584.
of human single muscle fibres with different myosin Krstic, R.B. (1978) Die Gewebe des Menschen und der Säugetiere.
isoform composition. Biophysical Journal 79, 945-961. Springer, Berlin.
Horowits, R. & Podolsky, R.J. (1987) The positional stability Kushmerick, M.J. (1986) Spectroscopic applications of
of thick filaments in activated skeletal muscle depends magnetic resonance to biomedical problems. Cardiovas-
on sarcomere length: evidence for the role of titin fila- cular and Interventional Radiology 8, 382-389.
ments. Journal of Cell Biology 105, 2217-2223. Littlefield, R. & Fowler, V.M. (1998) Defining actin fila-
Howald, H. (1982) Training-induced morphological and ment length in striated muscle. Rulers and caps or dy-
functional changes in skeletal muscle. International Jour- namic stability? Annual Review of Cell Biology 14, 487-525.
nal of Sports Medicine 3, 1-12.
Capítulo 5
Mecanismos hormonais
relacionados à expressão da força
muscular e da potência
WILLIAM J. KRAEMER E SCOTT A. MAZZETTI

Introdução potência. E, mais importante, os mecanismos hor-


monais envolvidos dependem da configuração do
Os exercícios com sobrecarga oferecem um con- estímulo do exercício (p. ex., características da ses-
junto específico de estímulos, os quais inervam a são de treinamento) e do tipo de programa de treina-
musculatura do corpo para produzir força. O resul- mento empregado. O objetivo primário do treinamen-
tado dessa atividade estabelece vários mecanismos to de força é o músculo esquelético. Portanto, as
fisiológicos para suportar as demandas agudas e crô- interações relacionadas a esse tecido-alvo suscitam
nicas do metabolismo, da recuperação, do reparo e grande interesse. No entanto, os hormônios intera-
da adaptação. O treinamento de força* é o único es- gem com inúmeras outras células e tecidos (células
tímulo natural que induz incremento na massa de imunológicas, neurônios) que afetam diretamen-
tecido magro, mas existem diferenças consideráveis te a adaptação musculoesquelética ao estresse por
entre os programas de treinamento de força na sua conta dos exercícios com sobrecarga (processo infla-
capacidade de produzir aumento no tamanho do te- matório durante o reparo).
cido muscular e conjuntivo. O sistema endócrino re- O sistema neuroendócrino tem papel crucial
presenta parte vital de um conjunto homeostático e como rede de comunicação primária entre os siste-
adaptativo de estratégias relacionadas aos exercícios mas fisiológicos e as células-alvo. O termo “sistema
com sobrecarga. Os mecanismos representam as se- neuro-endócrino-imune-musculoesquelético” propi-
qüências de eventos moleculares, bioquímicos e fisi- cia, então, a reflexão sobre uma ampla variedade de
ológicos necessários para produzir determinada res- importantes inter-relações entre os sistemas fisioló-
posta ou adaptação fisiológica. Os mecanismos gicos. Também auxilia a mediar as interações entre
agudos e crônicos medeiam funções fisiológicas agu- as fibras musculares ativadas (do exercício) e o me-
das e adaptações fisiológicas crônicas. Atualmente, canismo genético responsável pelos aspectos de si-
há uma variedade de mecanismos complexos em que nalização do crescimento e de remodelação estrutu-
os hormônios interagem para fornecer tal suporte fi- ral. Nesse ponto, podemos observar que a definição
siológico às demandas agudas dos programas de trei- clássica de hormônio está implicada em tal sinaliza-
namento de força e às adaptações crônicas. ção, quando uma molécula, a partir de sua liberação
O sistema neuroendócrino auxilia na mediação no sangue por uma glândula endócrina, percorre os
das adaptações cujo intuito é incrementar a força e a tecidos-alvo e interage com receptores específicos
para iniciar uma determinada mensagem biológica
que gera, por sua vez, uma seqüência de eventos
(p. ex., aumento da transcrição/tradução ou ativação
*N. de R.T. “Treinamento de força” e “treinamento com sobre- de determinada proteína). No entanto, torna-se cada
carga” serão tratados como sinônimos ao longo do texto. vez mais evidente que os fatores hormonais (relacio-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 89

nados ao crescimento), além da função endócrina, lacionados a tais interações com o músculo esquelé-
dispõem de uma ampla variedade de mecanismos. Por tico que influenciam os desempenhos de força mus-
exemplo, os fatores liberados por células podem sur- cular e de potência.
gir de células nervosas (norepinefrina, fator de cres-
cimento glial), imunológicas (citocinas) e muscula- Interações entre os sistemas
res (fator de crescimento insulina-símile). Também
podem interagir com células próximas (parácrina) ou Há uma rede complexa de controle cibernético
com a mesma célula (autócrina) (McCusker e Clem- entre os hormônios. Tal sistema configura-se em ra-
mons, 1994; Florini et al., 1996a; Florini et al., 1996b; zão de diferentes hormônios circulantes serem regu-
Frost et al., 1997). Além disso, o processamento pós- lados por inúmeros mecanismos de feedback, assim
translacional de alguns hormônios liberados (hormô- como por outros fatores permissivos que contribu-
nio do crescimento para a prolactina antes da libera- em ao meio hormonal resultante em que as células
ção no capilar sangüíneo) pode posteriormente alterar musculares crescem (Fig. 5.1). Nesse sentido, alguns
a mensagem original do sinal estimulatório. Os prin- hormônios amplificam os efeitos de outros hormô-
cipais avanços nos últimos 10 anos estenderam as nios e trabalham sinergisticamente para produzir de-
fronteiras de nosso paradigma teórico para a influ- terminado efeito (p. ex., o hormônio do crescimento
ência adaptativa dos hormônios e dos fatores libera- influencia a liberação do fator de crescimento insuli-
dos pelas células no desenvolvimento da célula mus- na-símile [IGF-I] nas células). É comum, no entanto,
cular-alvo. Essa configuração de influências afeta o diferentes grupos de fatores hormonais induzirem
desenvolvimento muscular e medeia o desempenho efeitos biológicos opostos (insulina e glucagon) na
de força e potência. Assim, o propósito deste capítu- tentativa de preservar o ambiente homeostático ce-
lo é descrever alguns dos mecanismos hormonais re- lular fortemente regulado. Os hormônios capazes de

Figura 5.1 Paradigma teórico relativo à


influência dos exercícios e do treinamento
de força nos fatores hormonais que
influenciam a hipertrofia e a força
musculares, assim como o desempenho
em potência.
90 PAAVO V. KOMI

produzir efeitos anabólicos no músculo esquelético representam os primeiros passos no crescimento


(testosterona, hormônio do crescimento, fatores de muscular. Os hormônios estão intimamente envol-
crescimento insulina-símile e, sob certas condições, vidos com esses mecanismos. A produção de proteí-
a insulina) incrementam a síntese protéica, enquan- nas contráteis, actina e miosina, além da incorpora-
to os hormônios catabólicos (cortisol, fator α de ne- ção dessas proteínas no sarcômero, é fundamental
crose tumoral) podem influenciar o aumento da de- para o processo de hipertrofia em nível molecular.
gradação protéica. Esse equilíbrio homeostático Inúmeros hormônios — incluindo os hormônios
dinâmico entre os metabolismos anabólico e catabó- anabólicos (hormônios que promovem crescimento
lico resultará tanto no ganho como na perda de mas- tecidual), tais como a insulina, fatores de crescimen-
sa muscular. Além disso, as próprias células muscu- to insulina-símile, testosterona e hormônio de cres-
lares-alvo alcançarão diferentes níveis de hipertrofia cimento — contribuem para muitos aspectos desse
(fibras musculares tipo I e tipo II diferem em sua ca- processo anabólico. O bloqueio dos efeitos celulares
pacidade de síntese e de degradação para atingir gan- dos hormônios catabólicos, tais como o cortisol e a
hos nas proteínas musculares). Evidentemente, o in- progesterona, que tentam degradar as proteínas ce-
cremento no tamanho muscular contribui na melhoria lulares, também é importante. Isso significa que a re-
da força e da potência observadas durante o treina- modelação do músculo envolve alterações no me-
mento com sobrecarga de longo prazo (para revisão, tabolismo protéico, que, por sua vez, induzem mu-
ver Fleck e Kraemer, 1997). Finalmente, caso o pro- danças estruturais pós-esforço. Existe relação direta
grama de treinamento de força seja eficaz (adequada entre o número de fibras musculares envolvidas em
prescrição de exercícios) em sua capacidade para me- determinado desempenho e a magnitude de remo-
lhorar os desempenhos de força e potência, tais adap- delação observada no músculo, o que se deve ao fato
tações serão mediadas através da ótima interação com de somente as fibras estimuladas estarem sujeitas à
os mecanismos neuroendócrinos. adaptação. Tais alterações representam o princípio da
Os mecanismos hormonais que interagem com “especificidade”. As interações hormonais que me-
o músculo esquelético fazem parte de um sistema deiam as subseqüentes alterações nas capacidades
integrado que medeia as alterações feitas nos pro- estruturais e funcionais das fibras musculares forne-
cessos metabólicos e celulares musculares resultan- cem a base para a influência adaptativa dos hormô-
tes do treinamento de força. A remodelação muscu- nios.
lar envolve a síntese de novas proteínas e sua
incorporação ordenada em sarcômeros ou o desen-
volvimento de novos sarcômeros. O incremento na O papel dos receptores na
quantidade de proteína contrátil muscular, actina e mediação das alterações
miosina, representa a adaptação mais proeminente hormonais
do treinamento com sobrecarga no músculo. Outras
alterações nessas proteínas também são significati- Os receptores são encontrados em todas as célu-
vas; por exemplo, as proteínas miosina de cadeia pe- las — das fibras musculares às células cerebrais. Um
sada podem ser submetidas à alteração da sua estru- dos princípios básicos em neuroendocrinologia pre-
tura molecular, passando de proteínas de cadeia coniza que determinado hormônio interage com um
pesada do tipo IIb para o tipo IIa. Ademais, a síntese receptor específico, fenômeno classicamente conhe-
inicial de proteínas não-contráteis é necessária para cido como teoria “chave-fechadura”. No entanto,
garantir a integridade e a orientação estrutural das enquanto somente um hormônio possui as caracte-
proteínas contráteis no interior do sarcômero. A es- rísticas certas necessárias para interagir com o re-
timulação da síntese protéica pelo treinamento com ceptor, há casos de reatividade cruzada, em que de-
sobrecarga permite introduzir qualidade e quantida- terminado receptor aceita hormônios que não são
de de músculo alterado em determinado período de especificamente delineados para isso. Quando isso
tempo. ocorre, as ações biológicas resultantes podem ser di-
O período de recuperação pós-sessão de treino é ferentes daquelas sinalizadas pelo hormônio primá-
de vital importância. Em geral, o incremento na sín- rio. Os receptores também podem dispor de locais
tese protéica e o decréscimo na degradação protéica de ligação alostérica, nos quais outras substâncias,
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 91

além dos hormônios, podem potencializar ou dimi- estrutura molecular: esteróides e polipeptídicos. Cada
nuir a resposta celular ao hormônio primário. Os re- tipo interage com as células musculares de diferen-
ceptores também podem ter inúmeros domínios, o tes maneiras.
que significa que podem ser externos à membrana
da célula, internalizados (uma parte dentro e outra Interações com os hormônios
fora da membrana) e/ou internos. Também podem esteróides
ser observados receptores na porção nuclear da cé-
lula para alguns hormônios (hormônios esteróides). Os hormônios esteróides, que incluem os do cór-
Evidências recentes, que eram apenas hipóteses des- tex adrenal e os secretados pelas gônadas, são lipos-
de a década de 1970, também sugerem que alguns solúveis e difundem-se pelo sarcolema da fibra mus-
hormônios (p. ex., oestrógenos) podem ter recepto- cular. Alguns cientistas acreditam na presença de
res similares na membrana celular para respostas rá- proteínas transportadoras no sarcolema que facili-
pidas quando comparados aos receptores nos elemen- tam esse movimento. A localização dos receptores
tos regulatórios do DNA usados para a sinalização esteróides na célula é controversa. Eles podem estar
de respostas mais permanentes (Razandi et al., 1999). no citosol* e/ou ligados à membrana nuclear. A série
A localização e a redundância de receptores repre- básica de eventos é a mesma, independentemente da
sentam um conceito em expansão sobre os aspectos localização do receptor. Após a difusão através do
moleculares da sinalização hormonal. sarcolema, o hormônio liga-se com o seu receptor
É geralmente o receptor ou o complexo hormô- para formar um complexo hormônio-receptor
nio-receptor que transmite a mensagem ao núcleo (H-RC), induzindo alteração conformacional no re-
da célula. O material genético do núcleo traduz a ceptor e ativando-o. O H-RC está no material gené-
mensagem hormonal de inibição ou de facilitação da tico no núcleo da célula e “abre-se” para expor as
síntese protéica. Quando uma adaptação não é pos- unidades de transcrição que codificam a síntese de
sível (p. ex., quantidade máxima de dor acumulada proteínas específicas. O H-RC reconhece poten-
na fibra), os receptores ficam não-responsivos ao cializadores específicos ou supra-ativa os elemen-
hormônio específico que tenta estimular aquela res- tos regulatórios dos genes. A polimerase II do RNA
posta da célula. Essa inabilidade interativa entre um liga-se ao promotor associado aos elementos regula-
hormônio e o receptor é chamada de “sub-regula- tórios específicos supra-ativados para o H-RC e, en-
ção” da função do receptor. Portanto, os receptores tão, transcreve o gene pela codificação da proteína
são capazes de incrementar ou diminuir sua sensibi- imposta pelo hormônio esteróide. O RNA-mensa-
lidade de ligação e “supra-regular” ou “sub-regular” geiro é processado e se move no sarcoplasma da cé-
o número atual de receptores disponíveis para a liga- lula, onde é traduzido para proteína. Com isso, a ação
ção. Dados indicam que o mecanismo predominante do hormônio esteróide completa-se com sua intera-
tem sido representado pelo incremento ou pelo de- ção no nível genético da célula. A Figura 5.2 demons-
créscimo da ligação máxima mais do que pela influên- tra as ações das seqüências de receptores esteróides
cia na sensibilidade da ligação no treinamento com padrão.
sobrecarga em ratos (Deschenes et al., 1994). As al-
terações nas características de ligação dos receptores Interações com os hormônios
ou no número de receptores que podem se ligar a polipeptídicos
determinado hormônio são adaptações geralmente
não consideradas nas adaptações induzidas pelo exer- Os hormônios polipeptídicos são produzidos a
cício e podem ser muito consideráveis. Estudos im- partir de aminoácidos; os exemplos são o hormônio
portantes ainda devem ser realizados nesse nível de do crescimento e a insulina. Os hormônios polipep-
adaptação conseqüente ao treinamento de força. Evi-
dentemente, pouca ou nenhuma alteração no meta-
bolismo ou na sinalização celular ocorre caso o re-
ceptor não responda ao hormônio. *N. de R.T. Relativo ao meio líquido do citoplasma, ou seja,
A partir de uma perspectiva clássica, surgem duas citoplasma menos organelas e componentes insolúveis não-
categorias principais de hormônios em termos de membranáceos.
92 PAAVO V. KOMI

Figura 5.2 Seqüência típica dos


eventos da testosterona na ligação para o
receptor nuclear em uma célula.

tídicos ligam-se aos receptores na superfície da célu- Hormônios anabólicos primários


la ou aos receptores com domínios integrados no
sarcolema. Os hormônios polipeptídicos dependem Família do hormônio do
do segundo mensageiro para transportar sua mensa- crescimento
gem ao núcleo da célula, pois não são lipossolúveis e
não podem penetrar no sarcolema. O segundo men- A hipófise é uma das mais interessantes glându-
sageiro é ativado pela alteração conformacional no las endócrinas. Ela secreta moléculas que constitu-
receptor induzida pelo hormônio. Ele direciona suas em a família polipeptídica do hormônio do cresci-
ações a áreas específicas na célula, onde a mensagem mento (GH), além de muitos outros importantes
hormonal é ampliada. A subseqüente cascata de even- hormônios regulatórios. A principal isoforma circu-
tos intracelulares eventualmente induz resposta fisio- lante de GH (1–191 aminoácidos) é o hormônio po-
lógica atribuída ao hormônio. A Figura 5.3 fornece uma lipeptídico 22-kDa derivado do gene GH-N no cro-
visão dos dois diferentes hormônios polipeptídicos e mossomo 17, sendo secretado pela hipófise anterior.
de suas interações celulares. Outros fragmentos ligados também são liberados,
Na fibra muscular, o hormônio alcança o sarco- incluindo resíduos de GH 32–46 de 20-kDa, resídu-
lema, formando um complexo receptor-hormônio. O os de GH 1–43 e 44–91, de 5 e 17-kDa, respectiva-
adenilato ciclase, enzima ligada à camada citoplas- mente. Além disso, os hospedeiros de outras molé-
mática do sarcolema, é ativado, catalisando a forma- culas monoméricas, diméricas, proteínas ligadas ao
ção do monofosfato de adenosina cíclico (AMPc), que, GH, novas proteínas ligadas, agregados de GH e mo-
então, ativa uma proteína cinase (enzima envolvida léculas quimicamente alteradas têm sido identifica-
na transferência de energia). Por sua vez, a proteína dos e constituem a superfamília do GH. Os papéis
cinase pode fosforilar e ativar enzimas que estimu- biológicos dessas diferentes isoformas e agregados re-
lam a síntese protéica. Isso demonstra somente um presentam atualmente o foco de novas investigações
de muitos sistemas do segundo mensageiro que esti- sobre o envolvimento da família do GH de polipeptí-
mula os hormônios peptídicos a ligarem-se ao re- deos e de proteínas ligadas no controle do metabo-
ceptor. lismo da gordura e em ações de promoção do cresci-
A natureza de muitos hormônios resume-se ao mento, ainda que os processos que medeiam os
fato de não possuírem múltiplos papéis em suas fun- eventos em nível molecular permaneçam especulati-
ções fisiológicas. No entanto, alguns são caracteriza- vos. Atualmente, os cientistas examinam as concen-
dos como mediadores anabólicos ou catabólicos no trações sangüíneas, as alterações com o exercício ou
metabolismo protéico do músculo esquelético. a administração de GH recombinante. Os trabalhos
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 93

Figura 5.3 Vias de sinalização do receptor. JAK2: janus cinase 2; STAT: transdução de sinal e ativação de moléculas de sinalização
de transcrição; IRS-1: substrato do receptor da insulina 1; PI3K: fosfatidil-inositol-3 Cinase; Shc: proteínas contendo homologia
SRC; Grb2: proteína de ligação do receptor do fator de crescimento 2; MAPK: proteína cinase ativada por mitógeno; p70s6k: p70-S6
cinase; BP: proteína de ligação circulante; S: hormônio esteróide; AR: receptor de andrógeno; HSP: proteína de choque térmico (heat
shock protein).

científicos para compreender a heterogeneidade mo- A compreensão do GH se dá essencialmente atra-


lecular do GH ainda se encontram em estágio inicial vés da análise do polipeptídeo imunorreativo 22-kDa
de desenvolvimento. Uma nova era nas pesquisas ou por meio da administração dessa isoforma recom-
sobre o GH parece estar associada à sua relação com binante. Os efeitos anabólicos do hormônio do cres-
o estresse pelo exercício (Hymer et al., 2000; Hymer cimento no músculo esquelético apresentam carac-
et al., 2001; McCall et al., 2000; Wallace et al., 2001). terísticas diretas e indiretas. Embora ainda não esteja
Então, como o clássico GH de 22-kDa interage com completamente compreendido, alguns dos efeitos do
receptores, os mecanismos fisiológicos e os efeitos GH parecem ser mediados pela estimulação dos fa-
endócrinos de integração do GH dentro do contexto tores de crescimento insulina-símile (IGFs) liberados
da sua superfamília, assim como as proteínas de liga- pelas células (fígado versus músculo) via mecanismos
ção, são questões que ainda devem ser estudadas, es- autócrino, parácrino e/ou endócrino (Florini et al.,
pecialmente em relação às adaptações no músculo 1996a; Florini et al., 1996b). Alguns dados, em por-
esquelético resultantes do treinamento de força. cos, demonstram que o GH liga-se ao músculo es-
94 PAAVO V. KOMI

quelético (Schnoebelen-Combes et al., 1996). A ad- assim como aumento do potencial para as interações
ministração exógena de GH em adultos saudáveis, dos receptores em função de treinamento com so-
assim como em crianças e adultos deficientes em GH, brecarga de alta intensidade direcionado ao aumen-
demonstra incrementar a massa muscular e diminuir to do tamanho, da força e da potência musculares.
a gordura corporal (Cuneo et al., 1991; Rooyackers e Alguns importantes fatores relacionados ao GH
Nair, 1997). Tais observações induzem à óbvia con- e a suas várias ações fisiológicas incluem a natureza
clusão de que esse hormônio possui papel anabólico pulsátil da sua liberação, os múltiplos mecanismos
significativo no crescimento muscular. As adaptações de segundo mensageiro ativados por sua ligação com
são provavelmente mediadas por efeitos positivos do seu receptor de membrana, a heterogeneidade da ação
hormônio do crescimento na síntese protéica mus- do hormônio em diferentes tecidos-alvo, a hetero-
cular (incremento) e na degradação protéica (decrés- geneidade dos agregados do GH, o processamento
cimo) (Fryburg e Barrett, 1995). O GH também é co- pós-translacional, a heterogeneidade das suas formas
nhecido por estimular a liberação de aminoácidos moleculares e a regulação do complexo cibernético
disponíveis para a síntese protéica in vivo, assim como dos sistemas GH/IGF. Além disso, a complexidade da
de outros fatores de crescimento (p. ex., IGF-I) das família dos polipeptídeos do GH começa a ser aceita
células musculares. Por isso, aparece implicado na re- pela comunidade científica. A natureza pulsátil da
cuperação e no reparo tecidual (Florini et al., 1996a). secreção do GH é caracterizada por suas variações
É o reparo e a remodelação proporcionada pelos exer- diurnas, com as maiores concentrações circulantes
cícios com sobrecarga que medeiam as respostas durante o sono. Esse padrão de secreção pode estar
adaptativas na unidade contrátil. Além disso, os es- ligado a importantes mecanismos de reparo tecidual,
tudos registram incremento nas concentrações cir- relacionados ao estresse pelos exercícios com sobre-
culantes de GH durante e/ou após a execução de exer- carga. É nessa situação que o GH pode incrementar
cícios com sobrecarga em homens (Kraemer et al., a síntese protéica corporal total em humanos. Isso o
1990; Kraemer et al., 1998b), em mulheres (Kraemer implica como influência hormonal anabólica primá-
et al., 1993) e em idosos (Kraemer et al., 1998a; ria para as adaptações relacionadas à força e à potên-
Kraemer et al., 1999). Essa constatação indica um cia. A Figura 5.4 apresenta alguns dos elementos re-
efeito estimulatório potencial sobre a secreção de GH, gulatórios clássicos da secreção de GH e seus alvos.

Figura 5.4 Paradigma típico para a


secreção dos hormônios do crescimento
e seus efeitos-alvo.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 95

Dois receptores de GH são expressos em huma- de GH (variantes moleculares ou agregados) resulta


nos, o receptor de comprimento total é um tipo e o em ativação diferencial das vias. Parece que regiões
outro caracteriza-se pela forma truncada, pela falta separadas dos receptores do GH (domínio SH2 ver-
de grande parte dos domínios intracelulares. Esse sus a metade carbóxi-terminal do receptor do GH)
receptor específico pode inibir a ação do receptor de podem mediar a ativação dessas vias de maneira di-
comprimento total. A proteína ligada ao GH circu- ferente, influenciando, portanto, a regulação do me-
lante representa um produto proteoliticamente cli- tabolismo do GH e o crescimento (Argetsinger e Car-
vado de ambos os receptores (Fisker et al., 2001). As ter-Su, 1996).
ações biológicas do hormônio do crescimento são, Outro conceito muito importante relacionado às
em parte, mediadas pelo GH ligado ao seu receptor distintas ações fisiológicas do hormônio do cresci-
de membrana (superfamília dos receptores de citoci- mento humano refere-se à presença de diferentes iso-
na) nos tecidos-alvo. Os receptores de GH podem formas de GH e à possível variabilidade em suas ati-
ser encontrados em níveis moderados a altos em vidades biológicas (Baumann, 1991a; Strasburger e
muitos tecidos humanos (fígado, músculo, rins, co- Dattani, 1997). Supõe-se que a ótima atividade bio-
ração, epiderme, gordura, timo e tecidos gonadais). É lógica depende da disponibilidade de dois receptores
interessante observar que aparecem em baixos níveis adjacentes do hormônio do crescimento para liga-
no músculo esquelético (Florini et al., 1996a). Uma rem-se a uma molécula de GH (Ilondo et al., 1994).
segunda proteína ligada ao GH, que parece ser for- Portanto, somente aquelas isoformas de GH com dois
mada pelo processamento pós-translacional do re- locais intactos de ligação são capazes de iniciar a
ceptor de GH, tem também sido identificada em transdução do sinal em células-alvo (Strasburger et
muitos tecidos humanos, assim como na circulação. al., 1996). Alguns investigadores especulam a crucial
Brevemente, o GH ligado ao seu receptor de mem- importância de mensurar a atividade biológica do
brana induz dimerização do receptor e recrutamento hormônio do crescimento quando as moléculas de
de uma enzima tirosina cinase, a janus cinase 2 (JAK2). GH possuem os dois locais necessários para a liga-
A JAK2 é ativada e forma um complexo com o recep- ção do receptor requeridos para a dimerização do
tor do GH (Argetsinger e Carter-Su, 1996). A ativa- receptor. No entanto, como outras isoformas do GH,
ção do complexo receptor de GH/JAK2 causa fosfo- as proteínas de ligação e o GH, bem como os agrega-
rilação (ativação) de outras tirosinas, tanto no receptor dos do GH que medeiam sua influência nos domí-
do GH como na JAK2. Essas tirosinas ativadas agem nios do receptor de GH, também podem ser impor-
como locais de ligação para várias moléculas de sina- tantes, com nítida diferença dos mecanismos clássi-
lização, incluindo as STATs 1, 3 e 5, as ERKs 1 e 2 e cos de dimerização do receptor.
as proteínas IRS; todas são importantes para a trans- A heterogeneidade da família das moléculas do
dução de sinal e para a ativação de transcrição (STAT), hormônio do crescimento humano inclui monôme-
para o crescimento e para a diferenciação celular RAS ros 22-kDa, variantes ligadas ao RNAm de 20-kDa,
(sistema de ativação reticular) cinase, ativadora de mi- homodímeros e heterodímeros desses monômeros
tógeno (ERK 1 e 2), além de processos metabólicos ligados ao dissulfeto, GH glicosilado, oligômeros de
celulares (enzimas) (proteínas IRS), respectivamente alto peso molecular, formas de GH ligadas ao recep-
(Argetsinger e Carter-Su, 1996). Essas diferentes vias tor, fragmentos de GH e de hormônios 5 e 17-kDa
de segundo mensageiro relacionadas à sinalização do resultantes de proteólise (Baumann, 1991a). A distri-
receptor do GH (p. ex., diacil-glicerol, cálcio, óxido buição de isoformas de 22-kDa e não 22-kDa varia
nítrico) identificam a variedade de mecanismos em no sangue humano e parece dever-se à remoção me-
que o hormônio do crescimento pode mediar suas tabólica diferencial, a proteínas de ligação circulan-
distintas ações fisiológicas, incluindo seus efeitos no tes e à formação de fragmentos de GH nos tecidos
crescimento corporal, no metabolismo e na síntese periféricos (Baumann, 1991b). É possível que alguns
protéica. Não está totalmente claro nem se consegue dos efeitos do hormônio do crescimento no metabo-
elucidar se todas essas vias de segundo mensageiro lismo dos lipídeos, dos carboidratos e das proteínas,
são igualmente ativadas em cada evento de ligação, do crescimento ósseo longitudinal e do turnover pro-
se vias separadas são somente ativadas em tecidos téico musculoesquelético sejam controlados por di-
específicos ou se a ligação por diferentes isoformas ferentes isoformas do GH devido à natureza comple-
96 PAAVO V. KOMI

xa da família das moléculas do hormônio do cresci- quelético (Florini et al., 1996a). Parece provável que
mento e às suas numerosas ações fisiológicas muitos dos efeitos do GH possam ser parcialmente
(Rowlinson et al., 1996; Hymer et al., 2001). mediados pelas ações dos IGFs, ainda que a influên-
Hymer e colaboradores (2001) recentemente cia direta do GH no músculo esquelético não possa
examinaram, através de técnicas de imunoensaio e ser descartada devido à heterogeneidade da família
bioensaio, os efeitos agudos dos exercícios com so- de polipeptídeos do GH.
brecarga sobre o hormônio do crescimento circulante
biologicamente ativo em mulheres jovens. Os resul-
Fatores de crescimento insulina-símile
tados desse estudo indicaram que os exercícios com
sobrecarga incrementaram significativamente as iso- Os fatores de crescimento insulina-símile (IGFs)
formas de GH de menor peso molecular (30- 60-kDa são estruturalmente relacionados à insulina (49 e 47%
e < 30-kDa), quando mensurados por ensaio imu- da identidade de seqüência para o IGF-I e o IGF-II,
nofuncional (Strasburger et al., 1996), mas não no respectivamente). Portanto, são membros da família
clássico bioensaio da linha do tibial do rato. No en- de hormônios peptídeos insulina/IGF. Os IGFs re-
tanto, observa-se o incremento circulatório agudo em presentam pequenos hormônios polipeptídicos (70 e
homens para o GH bioativo através de bioensaio da 67 resíduos de aminoácidos para o IGF-I e o IGF-II,
linha tibial (McCall et al., 2000). Tais dados demons- respectivamente) secretados quando produzidos.
tram que nossa compreensão a respeito da dinâmica Desse modo, não são estocados em grandes quanti-
da função hipofisária em resposta ao exercício co- dades em quaisquer órgãos ou tecidos. Similar à in-
meça a ficar mais complexa e a requerer estudo cui- sulina e a outros hormônios peptídicos, os IGFs são
dadoso antes de conclusões gerais em relação ao im- sintetizados como um grande precursor peptídico
pacto do treinamento no GH. As isoformas de GH, pós-translacionalmente processado na molécula fi-
os agregados e as proteínas de ligação poderiam ser nal IGF-I ou IGF-II. A principal diferença estrutural
importantes fatores hormonais na mediação das entre os IGFs e a insulina, no entanto, é que os IGFs
adaptações nos músculos como conseqüência dos são polipeptídeos de cadeia única desde que a liga-
exercícios com sobrecarga. Ainda carecem de estudo ção do peptídeo C entre as cadeias A e B da molécula
as características de resposta das isoformas aos dife- não seja removida, como ocorre no processamento
rentes tipos de treinamento. Um breve registro de- da pró-insulina em insulina (DeMeyts et al., 1994).
monstra aumento do GH da linha tibial em mulhe- Em razão de suas similaridades estruturais, os IGFs
res submetidas a treinamento de força de longo prazo, podem ligar-se ao receptor de insulina (IR) e vice-
sugerindo que moléculas de maior peso são adapta- versa. Dois tipos de receptores de IGF têm sido iden-
tivas em natureza (Rubin et al., 2000). Portanto, per- tificados e incluem os receptores IGF tipo 1 e 2. As
manecem incertos os mecanismos exatos que diferen- afinidades de ligação entre essas moléculas e seus re-
tes moléculas de GH interagem com seus receptores ceptores são as seguintes: IGF-I liga-se ao tipo 1 >>
para induzir suas ações de promoção do crescimento. tipo 2 >> IR; IGF-II liga-se ao tipo 2 >> tipo 1 >> IR;
Sua complexidade continua a ser pesquisada. e a insulina liga-se ao IR >> tipo 1 (Thissen et al.,
Uma importante questão ainda não respondida 1994). O receptor tipo 1 do IGF liga-se ao IGF-II,
referente às ações do GH está relacionada ao fato de com quase a mesma afinidade que o faria com o IGF-
o GH 22-kDa agir diretamente no músculo esquelé- I; as ações biológicas tanto do IGF-I como do IGF-II
tico para estimular seu crescimento. Alguns dados parecem ser mediadas pelas interações com o recep-
podem indicar efeito direto do GH no músculo es- tor tipo 1 (DeMeyts et al., 1994). O receptor tipo 2
quelético, em que a fosforilação da tirosina JAK2 e do IGF não se liga à insulina; tanto o IGF-I como o
STAT5 aumenta após administração intravenosa de IGF-II ligam-se ao receptor da insulina com somen-
GH em ratos (Chow et al., 1996). No entanto, esses te ~ 1% da afinidade da insulina. O fato de a insulina
dados ainda não eliminaram qualquer influência dos interagir com o receptor tipo 1 do IGF explica parci-
IGFs. Inúmeras interações entre o GH e os fatores de almente os seus profundos efeitos anabólicos em al-
crescimento insulina-símile (IGFs) são alvo de revi- tas concentrações.
sões detalhadas quando se considera os efeitos indi- Nos estudos de cultura celular, os IGFs estimu-
retos do hormônio do crescimento no músculo es- lam a proliferação e a diferenciação dos mioblastos,
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 97

inibem a proteólise e incrementam o consumo de gli- nase e, subseqüentemente, na ativação dos compo-
cose e de aminoácidos, assim como a síntese protéi- nentes ribossômicos S6 que estimulam a translação
ca em várias linhas de células do músculo esqueléti- dos RNAsm. Coolican e colaboradores (1997) regis-
co (revisão de Folirini et al., 1996a). Vários estudos traram que a ativação da PI3-cinase representa o
também demonstram a eficácia dos IGFs no incre- mecanismo molecular primário responsável pelos
mento da síntese protéica no músculo esquelético efeitos de diferenciação miogênica ou celular dos
humano (Fryburg, 1994; Fryburg, 1996; Russel-Jo- IGFs. Tal regulação de sinais complexos pelo sistema
nes et al., 1994; Fryburg et al., 1995). Essas ações de receptor IGF/insulina identifica diversos mecanis-
mitogênicas (proliferação), miogênicas (diferenciação) mos em que os IGFs, e mesmo a insulina, podem
e anabólicas ajudam a qualificar os efeitos profundos mediar vários processos importantes para o cresci-
de potencialização do crescimento dos IGFs no mús- mento e para o desenvolvimento da célula muscular,
culo esquelético (Florini et al., 1996a; Adams, 1998). especialmente em diferentes estágios do crescimen-
A capacidade dos IGFs de estimular tanto a pro- to, que incluem as adaptações musculares ao treina-
liferação como a diferenciação dos mioblastos atra- mento com sobrecarga em adultos.
vés de um único receptor (receptor do tipo 1 do IGF) O papel dos IGFs no crescimento musculoesque-
é bastante singular. Isso porque os IGFs representam lético como mediadores no sistema GH/IGF está bem
apenas um dos poucos mitógenos circulantes conhe- constituído há muitos anos. Esse sistema é bem ca-
cidos para estimular a diferenciação, assim como a racterizado pelo fato de o GH circulante 22-kDa con-
proliferação das células do músculo esquelético (Flo- figurar importante estímulo para a expressão gênica
rini et al., 1996b). Recentemente, um estudo que ana- e para a liberação do IGF no fígado (Copeland et al.,
lisou as vias de sinalização do receptor tipo 1 do IGF 1980). Os IGFs são produzidos por muitos outros
revelou que duas diferentes vias de sinalização po- tecidos, incluindo o músculo, embora o fígado pare-
dem mediar essas respostas biológicas mutuamente ça ser responsável pela maioria dos IGFs circulantes.
exclusivas (proliferação e diferenciação) no músculo A magnitude em que os IGFs circulantes (endócri-
esquelético (Coolican et al., 1997). Brevemente, a in- no) interagem com o músculo esquelético é muito
teração do IGF-I com seu receptor de membrana tipo contestada devido a grande parte dos IGFs circulan-
1 causa autofosforilação do receptor e subseqüente tes ( > 75%) estarem ligados como um complexo ter-
fosforilação de uma enzima tirosina cinase associa- nário com a proteína-3 ligada ao IGF (IGFBP-3) e
da. De modo similar à sinalização realizada pela mo- uma subunidade ácida instável (~ 150-kDa quando
lécula do receptor da insulina, a fosforilação da tiro- ligada), que aparentemente não atravessa o endotélio
sina cinase ativa (fosforila) proteínas de sinalização capilar (Binoux e Hossenlopp, 1988). Como resultado,
intracelular que incluem o substrato 1 do receptor foi proposto que os IGFs circulantes apresentam so-
da insulina (IRS-1) e as proteínas que contêm ho- mente pequeno efeito nas adaptações musculoesque-
mologia para SRC (Shc). A ativação do IRS-1 induz a léticas à sobrecarga mecânica (Yarasheski, 1994).
ativação da via da proteína 2 ligada ao receptor do Uma comprovação dessa premissa surge de es-
fator de crescimento (Grb2) associada à ativação de tudos recentes de treinamento com sobrecarga que
Ras e Raf-1/proteína cinase ativada por mitógeno não demonstraram efeitos aditivos da duplicação da
(MAP) (Florini et al., 1996b). A fosforilação de Shc concentração sérica total de IGF-I no desempenho
demonstra sua importância para a ativação das vias de força ou na síntese protéica após a administração
associadas a Grb2/Ras, promovendo a ativação da exógena de GH com o treinamento em indivíduos
MAP cinase. De acordo com Coolican e colaborado- idosos (Taaffe et al., 1994; Yarasheski et al., 1995).
res (1997), a ativação da MAP cinase parece consti- No entanto, possíveis limitações desses estudos po-
tuir o mecanismo molecular primário em que os IGFs dem estar relacionadas ao conhecido efeito estimu-
estimulam seus efeitos mitogênicos ou proliferativos. latório do GH circulante na secreção de IGFBPs do
A fosforilação do IRS-1 também induz interação com fígado, em particular IGFBP-3 (Florini et al., 1996a).
a subunidade regulatória p85 da enzima fosfatidil- Caso o tratamento exógeno com GH tenha elevado
inositol-3 cinase (PI3-cinase) (Florini et al., 1996b). as concentrações de IGFBP-3 (não-mensurado), en-
A ativação da PI3-cinase resulta na fosforilação de tão a porcentagem de IGF-I biologicamente ativo não-
uma serina/treonina cinase denominada P70-S6 ci- ligado pode ter permanecido essencialmente inalte-
98 PAAVO V. KOMI

rada nesses estudos (Taaffe et al., 1994; Yarasheski et demonstrando que o GH estimula a expressão gêni-
al., 1995). Em oposição ao argumento contrário ao ca de IGF-I no músculo esquelético de ratos e por-
papel dos IGFs circulantes, Borst e colaboradores cos (Turner et al., 1988; Loughna et al., 1992; Lewis
(2001) recentemente registraram decréscimo de 20% et al., 2000). No entanto, essa relação é questionável,
no IGFBP-3 circulante após 25 semanas de treina- pois influências estimulatórias do GH no IGF muscu-
mento de força com múltiplas séries. Esses dados lar ainda não foram conclusivamente demonstradas
sugerem que os IGFs circulantes tornam-se mais em humanos. A expressão gênica IGF-I local indepen-
importantes nas adaptações musculoesqueléticas com dente do GH também tem sido demonstrada no mús-
treinamento de força de duração prolongada, uma culo esquelético de vários modelos animais, incluindo
vez que as proteínas de ligação circulantes diminuem, frango, gado, carneiro e porco (Florini et al., 1996a).
permitindo incremento na porção de IGFs não-liga- Assim, as ações primárias dos IGFs locais no músculo
dos que atravessam o endotélio capilar e interagem esquelético não parecem ser muito influenciadas pelo
com o músculo. Essa tendência de decréscimo nos GH; talvez outros fatores (p. ex., sobrecarga mecânica,
elementos protéicos ligados ao IGF tem sido tam- alongamento, etc.) possam ser mais importantes para
bém recentemente demonstrada por ser iniciada den- a produção e a liberação local de IGF (Adams, 1998).
tro de poucas horas após uma sessão de exercícios Registros recentes descrevem a importância de
de força de alta intensidade. Nindl e colaboradores uma isoforma específica de IGF-I (também conheci-
(2001) demonstraram que as concentrações circulan- da como fator de mecanocrescimento) expressa pelo
tes das subunidades lábil a ácido começam a dimi- músculo esquelético em resposta ao alongamento e/
nuir duas horas após uma sessão de exercícios com ou sobrecarga (Perrone et al., 1995; Yang et al., 1996;
sobrecarga. Além disso, são ainda menores que os Goldspink, 1998; Bamman et al., 2001). Em 1996,
controles 13 horas pós-exercício. O estudo realizado Yang e colaboradores identificaram uma isoforma de
por Borst e colaboradores (2001) também registrou IGF no músculo esquelético de aves que somente foi
incremento de 20% nas concentrações circulantes sensível ao alongamento. O alongamento demonstra
de IGF-I após o treinamento — esse não é o único induzir secreção de IGFBPs em conjunto com IGFs
estudo a demonstrar aumento na concentração de por células musculoesqueléticas diferenciadas de aves
fatores de crescimento circulantes com o treinamen- em cultura de tecidos, possivelmente pelo incremen-
to de longo prazo (Kraemer et al., 1995). Então, pare- to do controle regulatório das ações do sistema IGF
ce que o sistema de IGF sofre, com o treinamento, no crescimento muscular local (Perrone et al., 1995).
adaptações que melhoram a capacidade dos IGFs cir- Recentemente, tem sido demonstrado que a sobre-
culantes de interagirem com o músculo esquelético carga mecânica do músculo humano (p. ex., exercí-
para o crescimento e o reparo celulares. Tais adapta- cios com sobrecarga) promove um incremento mus-
ções nas ações endócrinas dos IGFs no músculo es- cular, mas não no IGF-I sérico (Bamman et al., 2001).
quelético poderiam, teoricamente, ser mediadas pe- Os resultados desse estudo também demonstram que
las, ou simplesmente complementares às, ações a expressão musculoesquelética de IGF-I RNAm em
autócrinas/parácrinas dos IGFs. humanos foi maior após a sessão em que o exercício
As ações autócrinas/parácrinas dos IGFs nos pro- de agachamento foi realizado de forma excêntrica,
cessos de adaptação muscular são respaldadas pelos do que em uma sessão concêntrica (Bamman et al.,
resultados de vários estudos que demonstraram efei- 2001). Com isso, reforça-se a suspeita de que o com-
tos hipertróficos significativos da infusão local de IGF ponente alongamento nos exercícios com sobrecar-
diretamente no rato (Adams e McCue, 1998) e no ga (excêntrico) representa um potente estímulo para
músculo esquelético humano (Fryburg, 1994; Fry- a produção e a liberação de fatores de crescimento
burg, 1996; Russell-Jones et al., 1994; Fryburg et al., locais no músculo esquelético.
1995). Permanece incerto se a produção e a liberação Esses dados parecem enfatizar a importância das
local dos IGFs do músculo esquelético são influen- isoformas de IGF induzidas por sobrecarga mecâni-
ciadas primariamente pelo GH circulante ou por ou- ca na mediação das adaptações musculares ao trei-
tros fatores (p. ex., sobrecarga mecânica). Essa “hi- namento de força; no entanto, são necessários mais
pótese somatomedina” é corroborada por dados estudos que analisem essas respostas, em particular
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 99

as óbvias diferenças entre movimentos tradicionais miogênicos (diferenciação) no músculo esquelético


no treinamento excêntrico e concêntrico em diferen- (Damon et al., 1998). Os exercícios com sobrecarga
tes velocidades quando comparados aos movimen- provocam o decréscimo na IGFBP-4 RNAm do mús-
tos de força explosiva e potência (p. ex., power cleans*). culo esquelético humano, ante o aumento no IGF-I
O potencial papel do exercício excêntrico supramá- RNAm (Bamman et al., 2001), o que não surpreen-
ximo (e a concomitante expressão gênica local de IGF) de. Tais resultados indicam aumento das concentra-
na otimização do treinamento da força máxima e da ções de IGF-I livre no músculo esquelético como efei-
potência constitui assunto de interesse para os in- to induzido pela sobrecarga mecânica, provavelmente
vestigadores. Talvez os fatores de crescimento indu- relacionada à maior necessidade para o processo de
zidos pela sobrecarga excêntrica tenham papel me- crescimento e de reparo tecidual. Em adição aos re-
nos significativo no desenvolvimento da força sultados de Borst e colaboradores (2001), cuja obra
concêntrica máxima ou explosiva e da potência. Tal foi demonstrar que o treinamento com sobrecarga
perspectiva ajuda a explicar o fato de muitos fisicul- de longo prazo reduz as concentrações circulantes
turistas empregarem programas de treinamento com de IGFBP-3 e incrementa as concentrações circulan-
sobrecarga que enfatizam maior volume (séries e re- tes de IGF-I, esses estudos sugerem papel potencial-
petições) e menor velocidade. Nesse caso, os movi- mente importante para as ações sistêmicas agudas,
mentos são mais controlados (especialmente excên- locais e crônicas no músculo esquelético. Essas ações
trico) a fim de produzir ganhos no tamanho muscular, são medidas pelo fator de crescimento, resultante das
mas não necessariamente no desempenho de força e adaptações na força e na potência.
de potência (Fleck e Kraemer, 1997). Os efeitos diferenciais das IGFBPs são bastante
Como mencionado anteriormente, quase todos característicos, uma vez que muitas BPs podem mo-
os IGFs na circulação e alguns nos tecidos (muscu- dular as ações dos IGFs, por inibir ou posteriormen-
lar) estão ligados a proteínas de ligação do IGF. Essas te estimular as ações e a produção do IGF (Florini et
IGFBPs regulam a disponibilidade dos IGFs, uma vez al., 1996a). A proteína 5, ligada ao fator de cresci-
que prolongam sua meia-vida na circulação (~ 12 a mento insulina-símile, demonstra tanto estimular
15 horas), controlando seu transporte fora da circu- como inibir as ações miogênicas do IGF-I nas célu-
lação e localizando-os nos tecidos (Collett-Solberg e las musculares (Florini et al., 1996b; James et al.,
Cohen, 1996). Além disso, as IGFBPs diminuem o 1996). Frost e Lang (1999) verificaram que a regula-
potencial hipoglicêmico dos IGFs ao limitar a con- ção diferencial também pode ser mediada diretamente
centração de moléculas livres de IGF na circulação pela molécula de proteína de ligação per si, demons-
(DeMeyts et al., 1994). Atualmente, sete proteínas de trando que a IGFBP-1 inibiu a síntese protéica esti-
ligação ao IGF (IGFBP-1 a -7) estão identificadas. A mulada pelo IGF-1 e a degradação protéica por agir
IGFBP-3 representa a forma mais comum na circu- independentemente do IGF-I em culturas de células
lação, com papel primário no transporte e na bioati- musculares humanas (Frost e Lang, 1999). A capaci-
vidade dos IGFs circulantes (Zapf, 1997). Junto com dade inibitória ou estimulatória das IGFBPs parece
as moléculas de IGF, as IGFBPs são produzidas e se- depender de diferentes alterações pós-translacionais.
cretadas pelo fígado, assim como por muitas outras Estas últimas, como conseqüência, modificam a afi-
células, incluindo do músculo esquelético. Em várias nidade da proteína de ligação para as moléculas de
culturas de células, as células musculoesqueléticas IGF. A fosforilação, a defosforilação, a proteólise ou a
secretam grande parte das IGFBPs, entre elas a polimerização de uma proteína ligada podem alterar
IGFBP-1, -2, -4, -5 e -6 (Florini et al., 1996a; Frost e os efeitos biológicos dos IGFs, incluindo sua ação no
Lang, 1999). A proteína de ligação 4 do fator de cres- metabolismo protéico muscular (Jones e Clemmons,
cimento insulina-símile apresenta afinidade muito 1995; Sakai et al., 2001). Portanto, é evidente que a
alta para o IGF-I e aparentemente inibe seus efeitos produção e a liberação de proteínas de ligação pelas
células musculares, assim como diferentes modifica-
ções pós-translacionais das BPs, ampliam a comple-
xidade da regulação do crescimento musculoesque-
*N. de R.T. Relativo ao exercício “metida ao peito”. lético pelo sistema IGF.
100 PAAVO V. KOMI

Insulina essencial, tal como a fenilalanina (que não é produ-


zida nem mesmo metabolizada pelo músculo esque-
Com sua função primária na regulação da glico- lético), os resultados de muitos estudos sustentaram
se sangüínea, a secreção de insulina pancreática é o decréscimo na degradação, mas nenhuma altera-
pulsátil. Tal pulsabilidade é influenciada pelo con- ção na síntese protéica (Rooyackers e Nair, 1997). Sus-
teúdo alimentar e pela freqüência e quantidade de peita-se que a hipoaminoacidemia induzida pelo exer-
alimento consumido. A concentração circulante de cício ajuda a explicar a falta de efeito da insulina na
insulina também sofre influência da sensibilidade dos síntese protéica. Tal perspectiva sugere que a insuli-
tecidos periféricos para se ligarem à insulina (p. ex., na poderia aumentar a síntese protéica caso a con-
músculo esquelético). O fator descrito é alterado pelo centração intracelular de aminoácidos fosse mantida
nível de atividade física e exercício. Conseqüentemen- ou aumentada. Os estudos que utilizaram a infusão
te, uma pessoa que consome uma dieta saudável (3 de aminoácidos referem efeito estimulatório da in-
ou 4 refeições balanceadas por dia, com baixo índice sulina na síntese protéica muscular (Castellino et al.,
glicêmico) e exercita-se regularmente, em geral, exi- 1987; Tessari et al., 1987). Wolfe (2000) também ar-
be flutuações menos extremas das concentrações cir- gumenta que os estudos empregando metodologias
culantes de insulina e melhor sensibilidade à insuli- com marcadores não consideram os aminoácidos
na do que indivíduos que consomem alimentos com intracelulares que se originam da degradação protéi-
maior índice glicêmico e não se exercitam. ca. Esses experimentos também ignorariam os ami-
A capacidade da insulina de estimular incremen- noácidos originalmente liberados pela degradação
to na massa protéica é reconhecida desde a década protéica, mas reincorporados à proteína muscular
de 1940. Foi nessa época que indivíduos com diabete antes de alcançar a circulação. Ao considerar-se tal
tipo 1 (insulino-dependente) começaram a utilizar a comportamento no processo intracelular de turnover
terapia de insulina para auxiliar a regular a glicose de aminoácidos (metabolismo protéico), medidas
sangüínea. Infelizmente, permanece incerto se o mais precisas da síntese e degradação protéica total
aumento da massa protéica em humanos deve-se ao parecem ser possíveis (Biolo et al., 1995).
incremento da síntese protéica, ao decréscimo da Embora incerto, as concentrações fisiológicas de
degradação protéica ou à combinação de ambos insulina parecem aumentar a síntese protéica, desde
(Rooyackers e Nair, 1997; Wolfe, 2000). Os resulta- que seja mantida a disponibilidade intracelular de
dos atuais de muitas culturas de células e de estudos aminoácidos. Os mecanismos pelos quais a insulina
em modelos animais revelam que a insulina incre- estimula a síntese protéica muscular incluem incre-
menta a síntese e diminui a degradação protéica mento na ativação enzimática, translação do RNAm
(Rooyackers e Nair, 1997). Os resultados de outros e transcrição gênica (Wolfe, 2000). Parece, no entan-
estudos in vitro com células musculoesqueléticas hu- to, que as alterações nos processos translacionais são
manas confirmam incremento da síntese protéica pela as primeiras a ocorrer, sendo o processo de transcri-
insulina, mas também mostram não haver alteração ção posteriormente ativado. Como mencionado ante-
na degradação protéica (Rooyackers e Nair, 1997). riormente, a insulina pode ligar-se aos receptores de
De modo mais confuso, estudos in vivo em seres hu- IGF. Em maiores concentrações, tais como as verifica-
manos apresentam resultados mistos e parecem de- das após a ingestão de grande quantidade de carboi-
pender da metodologia científica empregada para drato, também pode contribuir para o incremento da
analisar os efeitos da insulina no metabolismo pro- síntese protéica mediado pelo receptor tipo 1 de IGF.
téico. Diante de metodologia com utilização de mar- A influência da insulina na degradação protéica
cadores* para diferenciar o equilíbrio entre as con- caracteriza-se pelo exercício de seus efeitos em duas
centrações arteriais e venosas de um aminoácido diferentes vias de degradação protéica: o sistema pro-
teolítico ubiquitina dependente de ATP e a degrada-
ção protéica lisossômica (Wolfe, 2000). Mais recen-
temente, postula-se que o sistema proteolítico
*N. de R.T. Da expressão inglesa “tracer methodology”, relativa a ubiquitina dependente de ATP é suprimido pelas con-
um procedimento de identificação ou seguimento de certas centrações normais em repouso de insulina. Tal su-
estruturas e substâncias, como um marcador radioativo. pressão, porém, é de baixo nível podendo ou não ser
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 101

alterada pela elevação aguda nas concentrações de belos no homem, parece que muito pouca enzima
insulina (após as refeições) (Wolfe, 2000). Esse tipo 5α-redutase é encontrada no músculo esquelético.
de comportamento na regulação da insulina pelo sis- Por isso, a testosterona é considerada o hormônio
tema de degradação proteolítica ajudaria a explicar o primário que interage com o músculo para o cresci-
porquê, na ausência de insulina, tal como observado mento celular (Wu, 1997). Por sua vez, o estradiol
no diabete melito insulino-dependente não-tratado, é importante por demonstrar que a testosterona
a degradação da proteína muscular aumenta, enquan- indiretamente estimula a secreção de GH e IGF-I pela
to a massa muscular diminui com o passar do tempo. sua conversão ao estradiol (Mauras et al., 1987;
Inversamente, o processo relacionado à degrada- Hobbs et al., 1993; Weissberger e Ho, 1993).
ção protéica lisossômica naturalmente incrementa Parece existir outro mecanismo anabólico de ação
após o exercício (Kesperek et al., 1992). Eis uma pers- da testosterona independentemente dos receptores de
pectiva que pode ajudar a explicar o motivo pelo qual andrógeno. Nesse sentido, a testosterona pode agir
a refeição pós-exercício diminui a degradação pro- como hormônio anticatabólico ao inibir o efeito esti-
téica muscular. Como efeito, a refeição pode induzir mulatório do cortisol na degradação protéica. Então, é
o pâncreas a aumentar a secreção de insulina, cau- um potente hormônio anabólico capaz de exercer suas
sando hiperinsulinemia fisiológica transiente (Biolo ações no crescimento e no reparo muscular através da
et al., 1995). Na vida diária normal, as concentrações ligação direta a receptores citoplasmáticos no múscu-
de insulina em repouso induzem efeito supressivo lo, incrementando a síntese protéica por mediar as res-
de baixo nível na degradação protéica via proteólise postas de outros hormônios que, por sua vez, incre-
ubiquitina dependente de ATP. Sob exercício agudo mentam a síntese e diminuem a degradação protéica
que tipicamente resulta em menor concentração de (GH, IGF-I) ou por agir como antiglicocorticóide na
insulina circulante, os efeitos inibitórios da insulina supressão da degradação protéica (Wu, 1997).
na degradação protéica lisossômica são reduzidos. Muitos fatores da fisiologia do esteróide influen-
Com isso, ocorre incremento transitório da degrada- ciam os mecanismos que fazem a testosterona esti-
ção protéica. Ainda permanecem incertas as concen- mular e preservar a massa muscular. Entre eles, está
trações insulínicas com efeitos drásticos na síntese um mecanismo singular de ligação citoplasmática, e
protéica. Essa situação pode ocorrer somente por a capacidade de alterar a transcrição, a sua necessi-
períodos de níveis extremos (muito baixos ou altos) dade na ligação das proteínas de forma a possibilitar
de síntese protéica (Szanberg et al., 1997; Farrell et o transporte regulado para os tecidos-alvo e sua pró-
al., 2000). Diante disso, o papel da insulina nas adap- pria secreção pulsátil. Por ser um hormônio esterói-
tações ao treinamento de força em seres humanos de, a testosterona é lipossolúvel e pode difundir-se
ainda permanece matéria de especulação, assim como livremente pela membrana da célula e interagir com
o período de tempo de sua mais importante contri- receptores citoplasmáticos (ou possivelmente nucle-
buição para o fenômeno de agregação protéica. ares). Um complexo citoplasmático receptor-ligante
ativado difunde-se no núcleo e liga-se a elementos
Testosterona de resposta do hormônio no DNA. Ao fazer isso, a
testosterona incrementa a transcrição de RNA, in-
A testosterona é um hormônio esteróide anabó- duzindo aumento da translação de proteínas especí-
lico sintetizado nos órgãos gonadais por uma série ficas necessárias para o crescimento e o reparo teci-
de conversões enzimáticas do colesterol em testoste- dual. Outro fator único para o esteróide e diferentes
rona. Nas mulheres, o córtex adrenal ainda contribui hormônios lipofílicos é a necessidade de proteínas
como importante fonte de andrógenos adrenais. Em de ligação de alta afinidade. A entrada e a interação
tecidos específicos, a testosterona também pode ser entre hormônios e esteróides com células-alvo deve
convertida pela 5α-redutase ou aromatase em outros ser regulada devido a esses hormônios possuírem a
metabólitos ativos, incluindo a diidrotestosterona ou capacidade de difusão passiva. Como resultado, gran-
o estradiol, respectivamente. Enquanto a dihidrotes- de parte da testosterona na circulação é ligada à
tosterona é importante para o desenvolvimento da globulina conectada ao hormônio sexual (SHBG)
genitália externa, de próstata e das vesículas semi- (~ 60%) ou a outras proteínas de ligação (p. ex.,
nais e, secundariamente, para o crescimento de ca- ~ 38% ligada à albumina), prolongando a meia-vida
102 PAAVO V. KOMI

da testosterona e regulando sua atividade biológica. física) e à herança genética. Qualquer incremento adi-
Por fim, a secreção pulsátil da testosterona é caracte- cional no tamanho muscular devido à testosterona
rizada pelo padrão diurno em que a testosterona cir- ocorreria como resultado de outros efeitos indiretos
culante está elevada durante as horas da manhã e len- desta (p. ex., estimulação do aumento da secreção de
tamente diminui durante o dia, com os menores GH e/ou IGF-I).
valores ocorrendo à noite. Tal variação diurna não A testosterona é conhecida por incrementar a
parece alterada pela sessão aguda de exercícios com secreção do hormônio do crescimento em crianças
sobrecarga realizados em diferentes momentos do dia, na puberdade (Mauras et al., 1987) e em homens
apesar dos efeitos conhecidos de tais atividades nas adultos saudáveis (Weissberger e Ho, 1993). Esse efei-
respostas hormonais anabólicas (Kraemer et al., 2001). to da testosterona no GH circulante é, no mínimo,
Portanto, a variação diurna da secreção de testoste- parcialmente mediado pela aromatização da testos-
rona, especialmente as maiores concentrações ma- terona a estradiol nos tecidos (Weissberger e Ho,
tutinas, pode ser um estímulo facilitado devido à ace- 1993); no entanto, um efeito direto da testosterona
leração da taxa metabólica pela manhã. Com o nos somatotrofos da hipófise anterior não pode ser
metabolismo acelerado, aumenta o turnover protéico. descartado. Devido ao aumento das concentrações
Assim, as maiores concentrações de testosterona são circulantes de GH, a produção e a secreção hepática
importantes para preservar o equilíbrio homeostáti- de IGF aumentam. Essa ativação do sistema GH/IGF
co de nitrogênio. aparece após administração de testosterona em ho-
Os efeitos diretos da testosterona no crescimen- mens saudáveis (Hobbs et al., 1993; Weissberger e
to muscular podem não ser tão marcantes como o de Ho, 1993). Na realidade, em homens idosos não en-
outros fatores de crescimento. Essa teoria baseia-se volvidos em programa regular de exercícios com so-
em estudos de cultura celular que demonstram mai- brecarga, quatro semanas de injeções de testostero-
or síntese protéica após exposição à insulina ou a IGFs na foram suficientes para produzir concentrações
do que após o contato com testosterona (Florini, similares àquelas de homens jovens, resultando em
1987). O argumento de que doses suprafisiológicas incremento do IGF-I RNAm muscular e no decrés-
de esteróides anabólicos em homens eugonadais cau- cimo da IGFBP-4 RNAm (Urban et al., 1995). Esses
sam platô da resposta biológica (p. ex., crescimento dados dão suporte à hipótese de que os efeitos ana-
muscular) devido à saturação dos receptores de an- bólicos da testosterona no músculo podem ser par-
drógenos (Wu, 1997) tem sido comprovado in vitro cialmente mediados pelas alterações nos fatores cir-
(Bartsch et al., 1983). Caso a testosterona seja um culantes do sistema GH/IGF. Além disso, as alterações
hormônio anabólico menos potente, talvez isso se nos fatores de crescimento liberados pela célula lo-
deva aos efeitos diferenciais no consumo de aminoá- cal também podem ser importantes.
cidos das células musculares quando comparados A testosterona também parece exercer ação ana-
com outros hormônios. bólica no músculo por meio de mecanismos inde-
Ferrando e colaboradores (1998) recentemente pendentes de receptores andrógenos. Nesse caso, a
demonstraram que a injeção de testosterona em ho- testosterona circulante pode agir como um antigli-
mens jovens saudáveis incrementou a síntese protéi- cocorticóide (Wu, 1997). Por esse mecanismo, levan-
ca, mas não induziu efeito no transporte de aminoá- ta-se a hipótese de que a testosterona bloqueia ou
cidos. Isso sugere que a testosterona promove a desloca os glicocorticóides, tal como o cortisol, da
reutilização dos aminoácidos intracelulares para au- interação com os receptores de glicocorticóides que
mentar a síntese e a adição protéica. Essas descober- auxiliam a regular a degradação protéica muscular.
tas contrariam a tese de estimulação do transporte Há demonstrações de aumento da massa protéica
interno de aminoácidos pela insulina, pelo IGF-I e devido ao decréscimo da degradação protéica no
pelo GH (Biolo et al., 1992). Na realidade, a capaci- músculo após a administração de testosterona (Mayer
dade tanto da insulina como dos IGFs estimularem a e Rosen, 1977), embora tais efeitos inibitórios na de-
síntese protéica é limitada pela disponibilidade dos gradação protéica limitem-se a doses suprafisiológi-
aminoácidos (Wolfe, 2000). Pode ser que a testoste- cas de testosterona (Hickson et al., 1990). Além dis-
rona estimule a síntese protéica (direta e/ou indireta- so, as doses suprafisiológicas de testosterona, como
mente) até um limiar sensível ao estímulo (atividade as observadas com a administração de esteróides,
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 103

parecem estar associadas com sub-regulação exten- 2) têm sido implicados nos processos anabólicos
siva do receptor de glicocorticóides (~ 90%). Diante musculares em modelos animais e de culturas celu-
disso, a testosterona pode exercer efeitos anticatabó- lares. A angiotensina II parece importante na hiper-
licos através de reduções nos receptores de cortisol trofia musculoesquelética e cardíaca induzida por so-
(Hickson e Marone, 1993). Muitos estudos registram brecarga. Gordon e colaboradores (2001) recentemente
o envolvimento da testosterona no incremento da demonstraram que a inibição da enzima de conversão
massa muscular primariamente por meio do aumen- da angiotensina (ECA) no músculo sóleo de ratos es-
to da síntese protéica, sem efeito na degradação pro- timulado reduziu a hipertrofia (96%), enquanto a per-
téica; permanece indefinido se as concentrações fisi- fusão da angiotensina II restaurou 71% da resposta
ológicas de testosterona diminuem a degradação hipertrófica. O mecanismo exato de influência da
protéica (Grigg et al., 1989; Urban et al., 1995; Fer- angiotensina II pela hipertrofia muscular ainda tem de
rando et al., 1998). ser elucidado. Porém, alterações concomitantes em
Profundas ações anabólicas da testosterona, in- outros fatores (p. ex., densidade do receptor tipo 1 da
dependentemente de quaisquer efeitos aditivos dos angiotensina) também parecem importantes. A angio-
exercícios com sobrecarga, foram recentemente de- tensina II pode muito bem ser outro fator envolvido
monstradas no músculo esquelético dos homens. nas complexas vias hormonais associadas com a sina-
Doses de reposição de testosterona por 12 a 24 se- lização intracelular necessárias para o crescimento e o
manas em homens hipogonadais aparentemente in- reparo tecidual após exercícios com sobrecarga.
crementam a massa livre de gordura e o tamanho Outro hormônio muito menos compreendido, o
muscular (Bhasin et al., 1997) através do aumento da “peptídeo da linha tibial”, foi recentemente encon-
síntese e da adição protéica (Griggs et al., 1989; Bro- trado no plasma e no tecido hipofisial pós-morte de
dsky et al., 1996). Adicionalmente, doses de reposi- seres humanos (Hymer et al., 2000). Esse peptídeo
ção de testosterona em homens idosos ( > 60 anos) seria estocado em um grânulo de secreção associado
(Urban et al., 1995) e doses suprafisiológicas de tes- com uma subpopulação específica de células do hor-
tosterona em homens normais aumentam a força mônio do crescimento, que contém uma seqüência
muscular, apesar da não realização de treinamento de resíduos de aminoácidos não encontrada no hor-
de força (Bhasin et al., 1996). A partir de tais dados e mônio do crescimento humano. É interessante men-
das diferenças pronunciadas na massa muscular en- cionar que esse pequeno peptídeo (~ 5kDa) apresen-
tre os gêneros, evidencia-se que a testosterona con- tou bioatividade no bioensaio de linha tibial, mas não
siste em um potente fator anabólico para o cresci- no imunoensaio do hormônio do crescimento. Ele
mento da célula muscular. Para atletas, isso é parece ser um hormônio biologicamente ativo, que
especialmente importante devido ao fato de as con- não se assemelha a uma isoforma de GH e nem mes-
centrações de testosterona circulante aumentarem mo a um fragmento da família polipeptídica do hor-
durante e imediatamente após exercícios com sobre- mônio do crescimento. Além disso, pode ter ativida-
carga em homens (Kraemer, 1988; Kraemer et de de promoção do crescimento.
al.,1990) e em mulheres (Kraemer et al., 1993). Essas A importância do sistema nervoso para a função
respostas agudas em função do tempo, como diante muscular tem sido detalhadamente estudada. Geral-
do treinamento de força a longo prazo, parecem aju- mente, admite-se que o tipo de unidade motora que
dar a mediar as alterações no tamanho, na força e na inerva uma fibra muscular (rápida ou lenta) determi-
potência musculares. na o tipo de fibra muscular resultante (fibra muscu-
lar tipo I ou II), além de sua capacidade para produzir
Outros fatores anabólicos força. Recentemente, um número maior de evidên-
cias sustenta que fatores nervosos miotróficos pro-
Progressivamente, aumenta a evidência de que vocam ações de crescimento e de diferenciação mus-
outros fatores potencializam o crescimento muscu- cular sem contato físico direto. A família da neuror-
lar, embora uma quantidade considerável de pesqui- regulina das proteínas neurotróficas é caracterizada
sa nessa área de estudo mantenha-se em curso. Ou- por proteínas glicosiladas transmembranáceas, inclu-
tros hormônios (p. ex., angiotensina II, peptídeo tibial) indo a heregulina, o fator de diferenciação neu e os
e fatores nervosos (p. ex., fator de crescimento glial fatores de crescimento glial (Florini et al., 1996). O
104 PAAVO V. KOMI

fator de crescimento glial 2, diferentemente dos mem- et al., 1998; Sapolsky et al., 2000). A importância dos
bros de sua família, não é uma proteína transmem- glicocorticóides para as adaptações de força e potên-
branácea. Com isso, pode funcionar como um fator cia está relacionada aos seus efeitos catabólicos no
nervoso liberado pela célula. Florini e colaboradores músculo esquelético.
(1996b) demonstraram que o fator de crescimento Embora mecanismos catabólicos específicos ain-
glial 2 representa um potente fator miotrófico (esti- da não sejam completamente compreendidos, as inú-
mula o crescimento e a diferenciação) em mioblastos meras ações catabólicas dos glicocorticóides são re-
em cultura, exibindo estimulação prolongada lenta guladas por uma complexa integração de ações
em seis dias (Florini et al., 1996). No mínimo, nas permissivas, supressoras, estimulatórias e preparati-
células musculares embriônicas, o fator de crescimen- vas. Teoricamente, todas elas trabalham em conjun-
to glial 2 pode ser importante para a regulação ou to para ajudar a preservar (ou restabelecer) um am-
para a manutenção a longo prazo de adição protéica biente celular de homeostase e, finalmente, a prevenir
muscular. Tal efeito miotrófico de longo prazo difere qualquer efeito deletério persistente resultante do es-
do conceito bem aceito de que os impulsos nervosos tresse agudo ao corpo (Sapolsky et al., 2000). Nesse
influenciam o tipo de fibra muscular, o que sugere caso, os exercícios com sobrecarga podem induzir mi-
um mecanismo autócrino/parácrino de ação do fator crotrauma adaptativo que, por sua vez, pode provo-
de crescimento glial 2. car inflamação local aguda, crônica e sistêmica, ati-
vando o eixo hipotalâmico-hipofisial-adrenal e o
subseqüente rápido incremento na concentração de
Hormônios catabólicos cortisol circulante para o reparo e para a remodela-
ção tecidual (Smith, 2000).
Os hormônios esteróides adenocorticóides, en- A secreção de cortisol em geral responde muito
tre eles o cortisol, foram originalmente denomina- rapidamente aos vários estressores (p. ex., exercício,
dos glicocorticóides devido a seus efeitos no meta- hipoglicemia, cirurgia, etc.), dentro de minutos. En-
bolismo intermediário. Tal nomenclatura fundamen- quanto muitas ações inflamatórias e regulatórias da
tava-se no fato de o cortisol, no estado de jejum, aju- glicose sangüínea relacionadas aos glicocorticóides
dar a manter a glicemia através do estímulo da glico- podem ser diretamente associadas com essas rápidas
neogênese e a liberação periférica de substratos, respostas, os desafios no turnover protéico muscular
ambos processos catabólicos. Nos tecidos periféri- são muito bem controlados pelos mecanismos clás-
cos, o cortisol estimula a lipólise nas células adipóci- sicos de ligação do hormônio esteróide. Como a tes-
tas, além de incrementar a degradação e diminuir a tosterona, o cortisol liga-se ao receptor citoplasmá-
síntese protéica nas células musculares, estimulando tico e ativa um complexo de receptores capaz de entrar
maior liberação de lipídeos e de aminoácidos na cir- no núcleo, de ligar elementos de resposta de hormô-
culação, respectivamente (Hickson e Marone, 1993). nios específicos no DNA e de agir diretamente no
Uma ação também importante dos glicocorticóides nível do gene. Ao fazer isso, o cortisol altera a trans-
refere-se aos mecanismos inflamatórios locais e sis- crição e a subseqüente translação de proteínas espe-
têmicos relacionados à secreção de cortisol sob a cíficas, mas esses processos demoram de horas a dias.
mediação de citocinas através do eixo hipotalâmico- Assim como com outros hormônios, a atividade
hipofisial-adrenal (revisão de Smith, 2000). No en- biológica dos glicocorticóides é regulada pela por-
tanto, talvez a função mais notável dos glicocorticói- centagem de hormônio livremente circulante. Cerca
des seja cumprir vários papéis na resposta corporal de 10% do cortisol circulante é livre, enquanto ~ 15%
ao estímulo estressante (p. ex., lesão, cirurgia, ativi- está ligado à albumina e 75% à globulina conectada
dade física, etc.). Embora exista acúmulo de evidên- ao corticoesteróide. A via primária para a secreção
cias sustentando outros conceitos, a síndrome de do cortisol começa com a estimulação do hipotála-
adaptação geral proposta por Hans Selye (a secreção mo pelo sistema nervoso central como resultado de
de glicocorticóides induzida por estresse incrementa hipoglicemia, pequenas alterações fisiológicas ou
e medeia as respostas ao estresse) permanece um tó- exercício. A liberação de cortisol mediada por citoci-
pico extensivamente pesquisado (Selye, 1936; Pacak nas está implicada no exercício de alta intensidade e
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 105

alto volume (especialmente nas ações musculares ex- alterar em resposta às diferentes concentrações cir-
cêntricas). O cortisol libera-se como resultado de le- culantes de determinado hormônio, alterando, por-
são por microtrauma adaptativo ao tecido muscular, tanto, a bioatividade (Hickson e Marone, 1993). Do
causando infiltração de neutrófilos e monócitos nos mesmo modo, o metabolismo, o estado nutricional e
tecidos (Smith, 2000). Os monócitos podem, então, as respostas de outros fatores hormonais influencia-
ser ativados na circulação ou nos tecidos onde per- rão o meio hormonal anabólico/catabólico resultan-
manecem e tornam-se macrófagos. As células imu- te. A hipersecreção crônica de glicocorticóides em es-
neativadas por monócitos circulantes ou macrófagos tados de doença, como a síndrome de Cushing, está
teciduais são capazes de secretar centenas de dife- associada com decréscimo da massa e da força mus-
rentes citocinas. Estas últimas medeiam os proces- culares. Além disso, o delicado equilíbrio entre os fa-
sos inflamatórios local e sistêmico. A interleucina 1 tores anabólicos e catabólicos é crucial para o turno-
(IL-1) e a IL-6 são citocinas pró-inflamatórias secre- ver protéico, e os glicocorticóides representam a
tadas por monócitos (ou macrófagos) ativados que influência catabólica primária no músculo. Foi ob-
são conhecidos por ativar o eixo hipotalâmico-hipo- servada, após sete semanas de treinamento com so-
fisial-adrenal (Kalra et al., 1990; Path et al., 1997). brecarga em ratos, secreção normal de testosterona
Essas citocinas interagem com receptores no hipo- pelos testículos, apesar da elevada concentração de
tálamo e estimulam a secreção seqüencial do hor- corticosterona. As atividades normais de ligação tam-
mônio de liberação da corticotrofina (CRH), do hor- bém podem ocorrer. Isso deve-se aparentemente à
mônio adrenocorticotrófico (ACTH) e do cortisol do “desinibição” dos receptores de testosterona com o
hipotálamo, da hipófise anterior e do córtex adrenal, exercício mediado via mecanismos de óxido nítrico/
respectivamente (Smith, 2000). Todas essas respos- β-endorfina e fluxo de fluidos. A incidência de eleva-
tas podem ser ampliadas de modo considerável, em das concentrações de cortisol pode não significar
cada nível de interação (neutrófilos a monócitos, a necessariamente que o processo catabólico predo-
citocinas, a outras citocinas, ao hipotálamo, etc.). A mina nos níveis celulares. Com o cortisol, o impor-
magnitude depende da gravidade do microtrauma tante papel de preservação do uso da glicose através
adaptativo inicial (p. ex., intensidade do exercício). da inibição dos processos que primariamente utili-
As respostas inflamatórias graves devem ocorrer so- zam glicose para a sua função (p. ex., metabolismo
mente após lesão, trauma ou infecção grave, exercí- celular do sistema imunitário) pode ser parte da sín-
cios com sobrecarga de intensidade muito alta ou trei- drome total de estresse analisada por Selye. Com o
namento de endurance de volume muito alto. Tais treinamento, esses efeitos agudos podem ser biologi-
respostas são implicadas na síndrome do sobretrei- camente supra-ativados.
namento (Stone et al., 1991; Fry e Kraemer, 1997;
Smith, 2000). No entanto, o treinamento diário é tam- Citocinas
bém associado a respostas locais e sistêmicas das ci-
tocinas em diferentes níveis, dependendo da intensi- Progressivamente, evidencia-se que diferentes
dade do exercício (Moldoveanu et al., 2001). citocinas provocam efeitos catabólicos capazes, dire-
Muitos estudos empregam várias relações com- ta ou indiretamente (através da interação com outros
parativas entre as concentrações sangüíneas de cor- fatores de crescimento), de influenciar o crescimen-
tisol e de testosterona para estimar o estado anabóli- to e a diferenciação musculares, embora ainda seja
co do corpo durante treinamento de força prolonga- necessário maior número de pesquisas in vivo. As ci-
do ou no sobretreinamento (Häkkinen et al., 1985; tocinas são substâncias glicoprotéicas solúveis pro-
Stone et al., 1991; Fry e Kraemer, 1997). Provavel- duzidas e secretadas por quase todas as células, se-
mente, isso irá refletir uma simplificação demasiada jam ou não imunológicas. Centenas de diferentes
do estado anabólico muscular, pois muitos outros citocinas já foram identificadas e podem estar envol-
fatores contribuem ao balanço protéico e nitrogena- vidas em funções anti e pró-inflamatórias. A citocina
do. Como ocorre com qualquer hormônio, o con- que parece afetar mais notavelmente a massa mus-
teúdo de receptor tecidual, bem como as concentra- cular é o fator α de necrose tumoral (TNF-α). Verifi-
ções circulantes de proteínas de ligação, podem se ca-se o aumento da concentração dessa citocina pró-
106 PAAVO V. KOMI

inflamatória em patologias que envolvem perda mus- outro trauma ainda tem de ser conclusivamente de-
cular, como a síndrome da imunodeficiência adqui- monstrado. Os novos reguladores de crescimento
rida (AIDS), podendo, de forma direta ou indireta, muscular devem ser estudados em populações de atle-
inibir a síntese protéica muscular. Recentemente, de- tas e de não-atletas para uma melhor compreensão
monstrou-se que o TNF-α diminui as concentrações dos papéis dessas citocinas na mediação das altera-
circulante e intramuscular de IGF-I. Esse decrésci- ções do tamanho e da força musculares.
mo está relacionado à menor síntese protéica mus-
cular em animais sépticos (Lang et al., 1996). Mais
recentemente, o TNF-α demonstrou inibir direta- Resumo
mente a síntese protéica de uma maneira dose-de-
pendente em cultura de células mioblásticas e de mi- Os mecanismos relacionados às interações hor-
otubo humanas (Frost et al., 1997). Então, a monais anabólicas e catabólicas no músculo esque-
hipersecreção de TNF-α, como durante infecção, lético como resultado dos exercícios com sobrecarga
trauma ou exercício intenso que induz lesão, pode começam a ser compreendidos a partir de constata-
influenciar negativamente o turnover protéico mus- ções advindas da pesquisa básica. São muitas as es-
cular, de forma direta pela supressão do sistema IGF. tratégias em nível molecular e celular capazes de in-
Indiretamente, outras citocinas também inibem duzir translação ao aumento da síntese protéica, além
a proliferação da célula muscular através de efeitos de adição e forma estrutural alterada do músculo.
supressores no sistema IGF. McCusker e Clemmons Nesse momento, o desafio é elucidar os mecanismos
(1994) sugerem que, por inibirem a secreção de operacionais conseqüentes aos vários tipos “especí-
IGFBP, algumas citocinas possuem a função de re- ficos” de programas de treinamento com sobrecarga.
gular as concentrações circulantes do complexo Nesse processo, a compreensão da plasticidade do
IGF-IGFBP nos fluidos extracelulares. Especificamen- sistema neuroendócrino e o complexo conceito de
te, a secreção de IGFBP-4, que parece inibir os efei- hipertrofia serão revelados. Esses fatores afetam a ca-
tos proliferativos e de diferenciação dos IGFs na cé- pacidade de um programa de treinamento específico
lula muscular, e de IGFBP-5 (estimulatória ou inibi- produzir melhoria no desempenho da força e da po-
tória) é reduzida pelo fator de crescimento de trans- tência. O clássico princípio biológico de “especifici-
formação β1 (TGF-β1) em culturas de linhas de célu- dade” para o estímulo proporcionado pelo exercício
las musculares de camundongos e ratos (McCusker e para a série de mecanismos biológicos não suscita
e Clemmons, 1994). Dessa maneira, propõe-se que a dúvida sobre a importância de revelar as muitas se-
função de algumas citocinas, como o TGF-β1, está qüências possíveis de estratégias que podem ser usa-
relacionada à limitação da circulação do complexo das para mediar as adaptações musculares que produ-
IGF-IGFBP que exceda uma concentração limiar em zem um incremento na força e na potência musculares.
que o crescimento e a diferenciação da célula mus-
cular são ótimos para a sobrevivência. Outro mem-
bro da superfamília do fator de crescimento de trans- Referências
formação β, a miostatina, também desempenha
importante papel regulador inibitório do crescimen- Adams, G. (1998) Role of insulin-like growth factor-I in
to muscular. In vitro, a miostatina diminui a prolife- the regulation of skeletal muscle adaptation to increa-
ração celular e a síntese protéica de células muscula- sed loading. Exercise and Sport Sciences Reviews 26, 31-60.
res de camundongos, enquanto a concentração Adams, G. & McCue, S. (1998) Localized infusion of IGF-I
circulante da proteína miostatina, em humanos, pa- results in skeletal muscle hypertrophy in rats. Journal of
rece ser significativamente maior em pacientes com Applied Physiology 84, 1716-1722.
Argetsinger, L.S. & Carter-Su, C. (1996) Mechanisms of
AIDS e com perda muscular grave do que em ho-
signaling by growth hormone receptor. Physiological Re-
mens saudáveis (Gonzalez-Cadavid et al., 1998; Taylor views 76, 1089-1107.
et al., 2001). Se podem ser observados efeitos inibi- Bamman, M.M., Shipp, J.R., Jiang, J. et al. (2001) Mechani-
tórios significativos dessas citocinas no crescimento cal load increases muscle IGF-I and androgen receptor
muscular em homens e em mulheres adultas saudá- mRNA concentrations in humans. American Journal of
veis (in vivo) em resposta ao exercício, à insônia ou a Physiology 280, E383-E390.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 107

Bartsch, W., Krieg, M. & Voigt, K.D. (1983) Regulation and Coolican, S.A., Samuel, D.S., Ewton, D.Z., McWade, F.J. &
compartmentalization of androgens in the rat prostate Florini, J.R. (1997) The mitogenic and myogenic actions
and muscle. Journal of Steroid Biochemistry 19, 929-937. of insulin-like growth factors utilize distinct signaling
Baumann, G. (1991a) Growth hormone heterogeneity: ge- pathways. Journal of Biological Chemistry 272, 6653-6662.
nes, isohormones, variants, and binding proteins. Endo- Copeland, K.C., Underwood, L.E. & Van Wyk, J.J. (1980)
crine Reviews 12, 424-443. Induction of immunoreactive somatomedin-C in hu-
Baumann, G. (1991b) Metabolism of growth hormone (GH) man serum by growth hormone: dose-response rela-
and different molecular forms of GH in biological fluids. tionships and effect on chromatographic profiles. Journal
Hormone Research Supplement 36, 5-10. of Clinical Endocrinology and Metabolism 50, 690-697.
Bhasin, S., Storer, T., Berman, N. et al. (1996) The effects of Cuneo, R.C., Salomon, F., Wiles, C.M., Hesp, R. & Sonksen,
supraphysiological doses of testosterone on the mus- P.H. (1991) Growth hormone treatment in growth
cle size and strength in normal men. New England Jour- hormone-deficient adults. I. Effects on muscle mass and
nal of Medicine 335, 1-7. strength. Journal of Applied Physiology 70, 688-694.
Bhasin, S., Storer, T.W., Berman, N. et al. (1997) Testoste- Damon, S.E., Haugk, K.L., Birnbaum, R.S. & Quinn, L.S.
rone replacement increases fat-free mass and muscle (1998) Retrovirally mediated overexpression of insulin-
size in hypogonadal men. Journal of Clinical Endocrinolo- like growth factor binding protein 4: evidence that
gy and Metabolism 82, 407-413. insulin-like growth factor is required for skeletal muscle
Binoux, M. & Hossenlopp, P. (1988) Insulin-like growth differentiation. Journal of Cell Physiology 175, 109-120.
factor (IGF) and IGF-binding proteins: comparison of DeMeyts, P., Wallach, B., Christoffersen, C.T. et al. (1994)
human serum and lymph. Journal of Clinical Endocrinolo- The insulin-like growth factor-I receptor. Hormone
gy and Metabolism 67, 509-514. Research 42, 152-169.
Biolo, G., Chinkes, D., Zhang, X. & Wolfe, R.R. (1992) A Deschenes, M.R., Maresh, C.M., Armstrong, L.E., Covault,
new model to determine in vivo the relationship be- J., Kraemer, W.J. & Crivello, J.F. (1994) Endurance and
tween amino acid transmembrane transport and pro- resistance exercise induce muscle fiber type specific
tein kinetics in muscle. Journal of Parenteral and Enteral responses in androgen binding capacity. Journal of Steroid
Nutrition 16, 305-315. Biochemistry and Molecular Biology 50, 175-179.
Biolo, G., Fleming, R.Y.D. & Wolfe, R.R. (1995) Physiologic Farrell, P.A., Hernandez, J.M., Fedele, M.J., Vary, T.C.,
hyperinsulinemia stimulates protein synthesis and Kimball, S.R. & Jefferson, L.S. (2000) Eukaryotic initia-
enhances transport of selected amino acids in human tion factors and protein synthesis after resistance exer-
skeletal muscle. Journal of Clinical Investigation 95, 811-819. cise in rats. Journal of Applied Physiology 88, 1036-1042.
Borst, S.E., DeHoyos, D.V., Garzarella, L. et al. (2001) Effects Ferrando, A.A., Tipton, K.D., Doyle, D., Phillips, S.M.,
of resistance training on insulin-like growth factor-1 Cortiella, J. & Wolfe, R.R. (1998) Testosterone injection
and IGF binding proteins. Medicine and Science in Sports stimulates net protein synthesis but not tissue amino
and Exercise 33, 648-653. acid transport. American Journal of Physiology 275,
Brodsky, I.G., Balagopal, P. & Nair, K.S. (1996) Effects of E864-E871.
testosterone replacement on muscle mass and muscle Fisker, S., Kristensen, K., Rosenfalck, A.M. et al. (2001) Gene
protein synthesis in hypogonadal men — a clinical re- expression of a truncated and the full-length growth
search center study. Journal of Clinical Endocrinology and hormone (GH) receptor in subcutaneous fat and skeletal
Metabolism 81, 3469-3475. muscle in GH-deficient adults: impact of GH treatment.
Castellino, P., Luzi, L., Simonson, D.C., Haymond, M. & Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism 86(2),
DeFronzo, R.A. (1987) Effect of insulin and plasma 792-796.
amino acid concentrations on leucine metabolism in Fleck, S.J. & Kraemer, W.J. (1997) Designing Resistance Training
man. Role of substrate availability on estimates of whole Programs, 2nd edn. Human Kinetics, Champaign, Illinois.
body protein synthesis. Journal of Clinical Investigation 80, Florini, J.R. (1987) Hormonal control of muscle growth.
1784-1793. Muscle and Nerve 10, 577-598.
Chow, J.C., Ling, P.R., Qu, Z. et al. (1996) Growth hormo- Florini, J.R., Ewton, D.Z. & Coolican, S.A. (1996a) Growth
ne stimulates tyrosine phosphorylation of JAK2 and hormone and the insulin-like growth factor system in
STAT5, but not IRS-1 or SHC proteins in liver and myogenesis. Endocrine Reviews 17, 481-517.
skeletal muscle of normal rats in vivo. Endocrinology 137, Florini, J.R., Samuel, D.S., Ewton, D.Z., Kirk, C. & Sklar,
2880-2886. R.M. (1996b) Stimulation of myogenic differentiation
Collett-Solberg, P.F. & Cohen, P. (1996) The role of the by a neuregulin, glial growth factor 2: are neuregulins
insulin-like growth factor binding proteins and the the long-sought muscle trophic factors secreted
IGFBP proteases in modulating IGF action. Endocrino- by nerves. Journal of Biological Chemistry 271, 12699-
logy and Metabolism Clinics of North America 25, 591-614. 12702.
108 PAAVO V. KOMI

Frost, R.A. & Lang, C.H. (1999) Differential effects of androgeni-anabolic steroids. Medicine and Science in Sports
insulin-like growth factor I (IGF-I) and IGF-binding and Exercise 22, 331-340.
protein-1 on protein metabolism in human skeletal Hobbs, C.J., Plymate, S.R., Rosen, C.J. & Adler, R.A. (1993)
muscle cells. Endocrinology 140, 3962-3970. Testosterone administration increases insulin-like
Frost, R.A., Lang, C.H. & Gelato, M.C. (1997) Transient growth factor-I levels in normal men. Journal of Clinical
exposure of human myoblasts to tumor necrosis Endocrinology and Metabolism 77, 776-779.
factor-α inhibits serum and insulin-like growth factor-I Hymer, W.C., Kirshnan, K., Kraemer, W.J., Welsch, J. & La-
stimulated protein synthesis. Endocrinology 138, nham, W. (2000) Mammalian pituitary growth hormo-
4153-4159. ne: applications of free flow electrophoresis. Electropho-
Fry, A.C. & Kraemer, W.J. (1997) Resistance exercise over- resis 21, 311-317.
training and overreaching. Sports Medicine 23, 106-129. Hymer, W.C., Kraemer, W.J., Nindl, B.C. et al. (2001) Cha-
Fryburg, D.A. (1994) Insulin-like growth factor I exerts racteristics of circulating growth hormone in women
growth hormone- and insulin-like actions on human following acute heavy resistance exercise. American Jour-
muscle protein metabolism. American Journal of Physio- nal of Physiology 281, E878-E888.
logy 267, E331-E336. Ilondo, M.M., Damholdt, A.B., Cunningham, B.A., Wells,
Fryburg, D.A. (1996) NG-monomethyl-L-arginine inhibits J.A., De Meyts, P. & Shymko, R.M. (1994) Receptor di-
the blood flow but not the insulin-like response of fo- merization determines the effects of growth hormone
rearm muscle to IGF-I: possible role of nitric oxide in in primary rat adipocytes and cultured IM-9 lympho-
muscle protein synthesis. Journal of Clinical lnvestigation cytes. Endocrinology 134, 2397-2403.
97, 1319-1328. James, P.L., Stewart, C.E. & Rotwein, P. (1996) Insulin-like
Fryburg, D.A. & Barrett, E.J. (1995) Insulin, growth hor- growth factor binding protein-5 modulates muscle di-
mone and IGF-I regulation of protein metabolism. Di- fferentiation through an insulin-like growth factor-
abetes Reviews 3, 93-112. dependent mechanism. Journal of Cell Biology 133,
Fryburg, D.A., Jahn, L.A., Hill, S.A., Oliveras, D.M. & Bar- 683-693.
rett, E.J. (1995) Insulin and insulin-like growth factor-I Jones, J.I. & Clemmons, D.R. (1995) Insulin-like growth
enhance human skeletal muscle protein anabolism factors and the binding proteins: biological actions.
during hyperaminoacidemia by different mechanisms. Endocrine Reviews 16, 3-34.
Journal of Clinical Investigation 96, 1722-1729. Kalra, P.S., Sahu, A. & Kalra, S.P. (1990) Interleukin-1 inhi-
Goldspink, G. (1998) Cellular and molecular aspects of bits the ovarian steroid-induced luteinizing hormone
muscle growth, adaptation and aging. Gerodontology 15, surge and release of hypothalamic luteinizing hormo-
35-43. ne-releasing hormone in rats. Endocrinology 126,
Gonzalez-Cadavid, N., Taylor, W.E., Yarasheski, K.E. et al. 2145-2152.
(1998) Organization of the human myostatin gene and Kesperek, S.J., Conway, G.R., Krayeski, D.S. & Lohne, J.J.
expression in healthy men and HIV-infected men with (1992) A reexamination of the effect of exercise on rate
muscle wasting. Proceedings of the National Academy of of muscle protein degradation. American Journal of Phy-
Sciences of the United States of America 95, 14938-14943. siology 263, E1144-E1150.
Gordon, S.E., Davis, B.S., Carlson, C.J. & Booth, F.W. (2001) Kraemer, W.J. (1988) Endocrine responses to resistance
ANG II is required for optimal overload-induced ske- exercise. Medicine and Science in Sports and Exercise 20
letal muscle hypertrophy. American Journal of Physiology (Suppl.), S152-S157.
280, E150-E159. Kraemer, W.J., Marchitelli, L.J., Gordon, S.E. et al. (1990)
Griggs, R.C., Kingston, W., Jozefowicz, R.F., Herr, B.E., For- Hormonal and growth factor responses to heavy resis-
bes, G. & Halliday, D. (1989) Effect of testosterone on tance exercise protocols. Journal of Applied Physiology 69,
muscle mass and muscle protein synthesis. Journal of 1442-1450.
Applied Physiology 66, 498-503. Kraemer, W.J., Fleck, S.J., Dziados, J.E. et al. (1993) Changes
Häkkinen, K., Pakarinen, A., Alén, M. & Komi, P.V. (1985) in hormonal concentrations after different heavy-
Serum hormones during prolonged training of neuro- resistance exercise protocols in women. Journal of Ap-
muscular performance. European Journal of Applied Phy- plied Physiology 75, 594-604.
siology 53, 287-293. Kraemer, W.J., Patton, J., Gordon, S.E. et al. (1995) Compa-
Hickson, R.C. & Marone, J.R. (1993) Exercise and inhibiti- tibility of high-intensity strength and endurance trai-
on of glucocorticoid-induced muscle atrophy. Exercise ning on hormonal and skeletal muscle adaptations. Jour-
and Sport Sciences Reviews 21, 135-167. nal of Applied Physiology 78, 976-989.
Hickson, R.C., Czerwinski, S.M., Falduto, M.T. & Young, Kraemer, W.J., Häkkinen, K., Newton, R.U. et al. (1998a)
A.P. (1990) Glucocorticoid antagonism by exercise and Acute hormonal responses to heavy resistance exercise
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 109

in younger and older men. European Journal of Applied doctrine of nonspecificity. American Journal of Physiology
Physiology 77, 206-211. 275, R1247-R1255.
Kraemer, W.J., Volek, J.S., Bush, J.A., Putukian, M. & Se- Path, G., Bornstein, S.R., Ehrhart-Bornstein, M. & Scher-
bastianelli, W.J. (1998b) Hormonal responses to conse- baum, W.A. (1997) Interleukin-6 and the interleukin-6
cutive days of heavy-resistance exercise with or without receptor in the human adrenal gland: expression and
nutritional supplementation. Journal of Applied Physiolo- effects on steroidogenesis. Journal of Clinical Endocrinolo-
gy 85, 1544-1555. gy and Metabolism 82, 2343-2349.
Kraemer, W.J., Häkkinen, K., Newton, R.U. et al. (1999) Perrone, C.E., Fenwick-Smith, D. & Vandenburgh, H.H.
Effects of heavy-resistance training on hormonal res- (1995) Collagen and stretch modulate autocrine secre-
ponse patterns in younger vs. older men. Journal of Ap- tion of insulin-like growth factor-1 and insulin-like
plied Physiology 87, 982-992. growth factor binding proteins from differentiated
Kraemer, W.J., Loebel, C.C., Volek, J.S. et al. (2001) The effect skeletal muscle cells. Journal of Biological Chemistry 270,
of heavy resistance exercise on the circadian rhythm of 2099-2106.
salivary testosterone in men. European Journal of Applied Razandi, M., Pedram, A., Greene, G.L. & Levin, E.R. (1999)
Physiology 84(1-2), 13-18. Cell membrane and nuclear estrogen receptors (Ers)
Lang, C.H., Fan, J., Cooney, R. & Vary, T. (1996) IL-1 re- originate from a single transcript: studies of ER alpha
ceptor antagonist attenuates sepsis-induced alterations and ER beta expressed in Chinese hamster ovary cells.
in the IGF system and protein synthesis. American Jour- Molecular Endocrinology 13, 307-319.
nal of Physiology 270, E430-E437. Rooyackers, O.E. & Nair, K.S. (1997) Hormonal regulation
Lewis, A.J., Wester, T.J., Burrin, D.G. & Dauncey, M.J. (2000) of human muscle protein metabolism. Annual Review of
Exogenous growth hormone induces somatotrophic Nutrition 17, 457-485.
gene expression in neonatal liver and skeletal muscle. Rowlinson, S.W., Waters, M.J., Lewis, U.J. & Barnard, R.
American Journal of Physiology 278, R838-R844. (1996) Human growth hormone fragments 1-43 and
Loughna, P.T., Mason, P. & Bates, P.C. (1992) Regulation 44-191: in vitro somatogenic activity and receptor bin-
of insulin-like growth factor I gene expression in skele- ding characteristics in human and nonprimate systems.
tal muscle. Symposium of the Society for Experimental Bio- Endocrinology 137, 90-95.
logy 46, 319-330. Rubin, M.R., Kraemer, W.J., Nindl, B.C. et al. (2000) Perio-
McCall, G.E., Grindeland, R.E., Roy, R.R. & Edgerton, V.R. dized resistance training potentiates in vivo bioactivity
(2000) Muscle afferent activity modulates bioassayable of human growth hormone. Medicine and Science in Sports
growth hormone in human plasma. Journal of Applied and Exercise 32, S186 (Abstract).
Physiology 89, 1137-1141. Russell-Jones, D.L., Umpleby, A., Hennessey, T. et al. (1994)
McCusker, R.H. & Clemmons, D.R. (1994) Effects of cytoki- Use of leucine clamp to demonstrate that IGF-I actively
nes on insulin-like growth factor binding protein se- stimulates protein synthesis in normal humans. American
cretion by muscle cells in vitro. Endocrinology 134, Journal of Physiology 267, E591-E598.
2095-2201. Sakai, K., Busby, W.H., Jr, Clarke, J.B. & Clemmons, D.R.
Mauras, N.M., Blizzard, R.M., Link, K., Johnson, M.L., (2001) Tissue transglutaminase facilitates the polyme-
Rogol, A.D. & Veldhuis, J.D. (1987) Augmentation of rization of insulin-like growth factor-binding protein-1
growth hormone secretion during puberty: evidence for (IGFBP-1) and leads to loss of IGFBP-1’s ability to inhi-
a pulse amplitude-modulated phenomenon. Journal of bit insulin-like growth factor-I stimulated protein syn-
Clinical Endocrinology and Metabolism 64, 596-601. thesis. Journal of Biological Chemistry 276, 8740-8745.
Mayer, M. & Rosen, F. (1977) Interaction of glucocorticoids Sapolsky, R.M., Romero, L.M. & Munck, A.U. (2000) How
and androgens with skeletal muscle. Metabolism 26, do glucocorticoids influence stress responses? Integra-
937-962. ting permissive, suppressive, stimulatory, and prepara-
Moldoveanu, A.I., Shephard, R.J. & Shek, P.N. (2001) The tive actions. Endocrine Reviews 21, 55-89.
cytokine response to physical activity and training. Sports Schnoebelen-Combes, S., Louveau, I., Postel-Vinay, M.C.
Medicine 31, 115-144. & Bonneau, M. (1996) Ontogeny of GH receptor and
Nindl, B.C., Kraemer, W.J., Marx, J.O. et al. (2001) Overnight GH-binding protein in the pig. Journal of Endocrinology
responses of the circulating IGF-I system after acute, 148(2), 249-255.
heavy-resistance exercise. Journal of Applied Physiology 90, Selye, H. (1936) A syndrome produced by diverse nocuous
1319-1326. agents. Nature 138, 32.
Pacak, K., Palkovits, M., Yadid, G., Kvetnansky, R., Kopin, Smith, L.L. (2000) Cytokine hypothesis of overtraining: a
I.J. & Goldstein, D.S. (1998) Heterogeneous neuroche- physiological adaptation to excessive stress? Medicine
mical responses to different stressors: a test of Selye’s and Science in Sports and Exercise 32, 317-331.
110 PAAVO V. KOMI

Stone, M.H., Keith, R.E., Kearney, J.T., Fleck, S.J., Wilson, Turner, J.D., Rotwein, P., Novakofski, J. & Bechtel, P.J. (1988)
G.D. & Triplett, N.T. (1991) Overtraining: a review of Induction of messenger RNA for IGF-I and -II during
the signs, symptoms, and possible causes. Journal of Ap- growth hormone-stimulated muscle hypertrophy. Ame-
plied Sports Science Research 5, 35-50. rican Journal of Physiology 255, E513-E517.
Strasburger, C.J. & Dattani, M.T. (1997) New growth hor- Urban, R.J., Bodenburg, Y.H., Gilkison, C. et al. (1995) Tes-
mone assays: potential benefits. Acta Paediatrica Supple- tosterone administration to elderly men increases ske-
ment 423, 5-11. letal muscle strength and protein synthesis. American
Strasburger, C.J., Wu, Z., Pfaulm, C. & Dressendorfer, R.A. Journal of Physiology 269, E820-E826.
(1996) Immunofunctional assay of human growth hor- Wallace, J.D., Cuneo, R.C., Bidlingmaier, M. et al. (2001)
mone (hGH) in serum: a possible consensus of quanti- The response of molecular isoforms of growth hormo-
tative hGH measurement. Journal of Clinical Endocrinolo- ne to acute exercise in trained adult males. Journal of
gy and Metabolism 81, 2613-2620. Clinical Endocrinology and Metabolism 86(1), 200-206.
Szanberg, E., Jefferson, L.S., Lundholm, K. & Kimball, S.R. Weissberger, A.J. & Ho, K.K. (1993) Activation of the so-
(1997) Postprandial stimulation of muscle protein syn- matotropic axis by testosterone in adult males: eviden-
thesis is independent of changes in insulin. American ce for the role of aromatization. Journal of Clinical Endo-
Journal of Physiology 272, E841-E847. crinology and Metabolism 76, 1407-1412.
Taaffe, D.R., Pruitt, L., Reim, J. et al. (1994) Effect of re- Wolfe, R.R. (2000) Effects of insulin on muscle tissue. Cur-
combinant human growth hormone on the muscle rent Opinion in Clinical Nutrition and Metabolic Care 3, 67-71.
strength response to resistance exercise in elderly men. Wu, F.C.W. (1997) Endocrine aspects of anabolic steroids.
Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism 79, Clinical Chemistry 43, 1289-1292.
1361-1366. Yang, S., Alnaqeeb, M., Simpson, H. & Goldspink, G. (1996)
Taylor, W.E., Bhasin, S., Artaza, J. et al. (2001) Myostatin Cloning and characterization of an IGF-1 isoform ex-
inhibits cell proliferation and protein synthesis in C2C12 pressed in skeletal muscle subjected to stretch. Journal
muscle cells. American Journal of Physiology 280, of Muscle Research and Cell Motility 17, 487-495.
E221-E228. Yarasheski, K.E. (1994) Growth hormone effects on meta-
Tessari, P., Inchiostro, S., Biolo, G. et al. (1987) Differential bolism, body composition, muscle mass, and strength.
effects of hyperinsulinemia and hyperaminoacidemia Exercise and Sport Science Review 22, 285-312.
on leucine-carbon metabolism in vivo. Evidence for Yarasheski, K.E., Zachwieja, J.J., Campbell, J.A. & Bier, D.M.
distinct mechanisms in regulation of net amino acid (1995) Effect of growth hormone and resistance exer-
deposition. Journal of Clinical Investigation 79, 1062-1069. cise on muscle growth and strength in older men. Ame-
Thissen, J.P., Ketelslegers, J.M. & Underwood, L.E. (1994) rican Journal of Physiology 268, E268-E276.
Nutritional regulation of the insulin-like growth fac- Zapf, J. (1997) Total and free IGF serum levels. European
tors. Endocrine Reviews 15, 80-101. Journal of Endocrinology 136, 146-147.
Capítulo 6
Adaptações teciduais conjuntivas
relacionadas ao exercício
RONALD F. ZERNICKE E BARBARA LOITZ-RAMAGE

Os tecidos fibrosos e conjuntivos ósseos reúnem a Osso


infra-estrutura essencial que permite ao corpo hu-
mano empenhar-se na busca do ideal olímpico — A natureza dinâmica do osso foi estabelecida há
citius, altius, fortius (mais rápido, mais alto, mais forte). mais de um século. Wolf, em 1892, propôs que: “cada
Nos movimentos, os tendões fortes, mas flexíveis, alteração na função óssea é acompanhada por certas
transmitem a força gerada pelos músculos aos ossos, alterações definidas na arquitetura interna e na con-
que servem como alavancas. Os ligamentos e os me- figuração externa de acordo com leis matemáticas”
niscos mantêm as complexas articulações das ala- (Carter, 1984, p. S19). Atualmente, contudo, os me-
vancas esqueléticas. A capacidade adaptativa dos te- canismos básicos pelos quais o osso de transfere even-
cidos fibrosos e conjuntivos ósseos em resposta ao tos de sobrecarga em respostas celulares ainda não
treinamento e ao exercício é discutida neste capítu- foram explicados. Cowin e colaboradores (1984) lis-
lo. As respostas dinâmicas do osso às suas deman- taram várias questões referentes à dinâmica de re-
das funcionais têm sido reconhecidas por mais de modelação óssea que precisam de resposta: (I) como
um século, mas a responsividade do tecido conjunti- o estímulo mecânico compete com o estímulo sistê-
vo fibroso ao exercício e ao condicionamento ape- mico?; (II) qual a natureza do estímulo mecânico que
nas recentemente passou a ser considerada. É cada influencia a remodelação óssea?; e (III) quais as es-
vez mais aparente que todos os tecidos fibrosos e truturas objetivas de remodelação óssea?
conjuntivos ósseos são sensíveis às sobrecargas
mecânicas. No entanto, a qualidade e a quantidade Estrutura
da sobrecarga ao tecido podem determinar um re-
sultado positivo ou a lesão.
Existe também excesso de informação significa- A matriz óssea constitui-se de três elementos:
tiva sobre tecido conjuntivo, muito mais do que po- orgânico, mineral e fluido. Os componentes orgâni-
deria ser considerada neste capítulo. Por isso, limita- cos representam 39% do volume ósseo total, con-
remos nossa discussão aos principais tecidos tendo 95% de colágeno do tipo I e 5% de proteogli-
conjuntivos transmissores de sobrecarga (osso, ten- canos. Os minerais incluem primariamente cristais
dão, ligamento e menisco), enfatizando as alterações de hidroxiapatita de cálcio e contribuem com 49%
adaptativas e mal-adaptativas que ocorrem nesses te- do volume ósseo total. Os canais vasculares preen-
cidos em conseqüência do exercício e do condicio- chidos por fluido e os espaços celulares formam o
namento após fornecermos conhecimentos básicos volume restante (Frost, 1987). Os componentes mi-
referentes à estrutura de cada tecido. nerais fornecem rigidez ao osso, enquanto a matriz
112 PAAVO V. KOMI

orgânica contribui para estabelecer a força óssea. A


resistência à deformação mediante sobrecarga pode
ser a propriedade física óssea mais importante (Al-
bright e Skinner, 1987). O osso, portanto, deve ter
rigidez e força adequadas para não romper quando
submetido a sobrecargas dinâmica ou estática (Cur-
rey, 1984). As características mecânicas ósseas refle-
tem equilíbrio entre as fases orgânicas e minerais.
O colágeno, a proteína mamífera mais abundan-
te (Buckwalter e Cooper, 1987), fornece o principal
suporte estrutural aos tecidos conjuntivos. Talvez
constitua um terço da proteína total no corpo e, por-
tanto, cerca de 6% do peso corporal (White et al.,
1964). A força tênsil do colágeno resulta dos poli-
peptídeos dispostos em cadeias α (Fig. 6.1). Cada ca-
deia α consiste de aminoácidos. A glicina, a lisina e a
prolina são particularmente importantes. A glicina, o
menor dos três, ocupa cada terceira posição na ca-
deia α, permitindo que a estrutura assuma forma he-
licoidal. Os grupos hidroxil fixam-se às moléculas li-
sina e prolina em uma cadeia α completa, tendo a
hidroxilação papel crítico na determinação da rigi-
dez do colágeno. Após a hidroxilação e a fixação dos
carboidratos, as cadeias α espiralam-se uma ao redor
da outra para formar uma tripla hélice, o pró-coláge-
no. Os osteoblastos secretam pró-colágeno em uma
Figura 6.1 Diagrama esquemático da fibrila colágena: (a) os
matriz circundante onde a clivagem dos peptídeos ter- aminoácidos juntam-se para formar uma cadeia α, (b) três
minais permite ao pró-colágeno envolver-se com as cadeias α juntam-se para formar uma molécula de pró-colágeno
ligações de maneira conjunta, formando moléculas de de tripla hélice, (c) os feixes do pró-colágeno ligam-se para
tropocolágeno, a estrutura molecular mais fundamental formar tropocolágeno, que se envolve em orientação alternada,
dos tecidos de colágeno (White et al., 1964; Ham, 1974). (d) fornecendo a fibrila colágena (e) a aparência estriada (de
Prockop e Guzman, 1977; Nordin e Frankel, 1989).
Fortes ligações cruzadas entre as moléculas de hidro-
xilisina de pró-colágeno dão força ao tropocolágeno.
As ligações cruzadas intramoleculares articulam as
moléculas de tropocolágeno para formar fibrilas de
colágeno. A magnitude das ligações cruzadas de hi- entrelaçado e laminar. O primeiro forma-se rapida-
droxilisina altera-se com a idade e entre os tipos de mente e assume padrão irregular de fibras colágenas
tecidos conjuntivos; um número maior de ligações cru- e osteócitos. Uma distribuição mineral esporádica
zadas produz a rigidez tecidual (Butler et al., 1978). também limita a capacidade de entrelaçamento para
O conteúdo mineral distingue o osso de outros suportar as sobrecargas mecânicas (Albright e Skin-
tecidos conjuntivos, sendo responsável por sua rigi- ner, 1987). Fratura do calo, regiões de ossificação
dez única, bem como por seu papel de manutenção endocondral ativa e alguns locais patológicos con-
da homeostase mineral no corpo. Skinner (1987) su- têm osso entrelaçado. Essa forma não é tipicamente
geriu que a mineralização óssea conta com uma liga- encontrada no esqueleto humano adulto saudável.
ção específica entre o colágeno tipo I e os cristais de Na maturação esquelética, o osso laminar sistemati-
hidroxiapatita no osso. camente substitui o entrelaçado, fornecendo rigidez
Embora diferentes na forma e no tamanho, to- funcional ao esqueleto adulto (Frost, 1987).
dos os ossos apresentam certas características estru- O laminar desempenha importante papel na
turais comuns. O osso possui duas formas básicas — transmissão de sobrecargas. Seu tipo compacto
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 113

(Fig. 6.2), geralmente circundado de osso laminar es- diferença de potencial, o potencial piezoelétrico, para
ponjoso, cobre todas as superfícies ósseas externas. desenvolver entre as extremidades opostas dos cris-
Sua espessura relativa varia desde os corpos verte- tais. O colágeno umedecido e enrijecido pelos mine-
brais finos às diáfises ósseas longas e espessas. Os rais pode reagir como um cristal entrelaçado quando
ossos laminares esponjosos assumem um entrelaça- deformado, além de fornecer potenciais piezoelétri-
do tridimensional contínuo com a superfície endos- cos gerados pelo estresse ósseo (Eriksson, 1976). A
teal do osso cortical. As colunas individuais ou pla- piezoeletricidade é altamente direcional, caracterís-
cas ósseas (trabecular) orientam-se paralelamente ao tica notável que pode explicar as diferentes sensibili-
eixo principal de tensão, fornecendo força máxima dades ósseas aos estresses compressivo e tênsil.
com mínimo material (Clark et al., 1975). Os íons carregados opostamente do fluido mi-
gram em direção à superfície quando esta é sólida e
Remodelação transporta uma carga de superfície que entra em con-
tato com um líquido polar. Se os fluidos fluírem, os
O fenômeno elétrico pode alterar a remodelação íons fracamente ligados se moverão, criando uma si-
e o reparo de fratura, assim como os efeitos elétricos tuação em que a diferença de potencial (potencial de
representam um provável meio de transferência de corrente) desenvolve-se nos locais contra a corrente
informação entre a deformação mecânica e a respos- e em direção à corrente. Quando o osso se deforma,
ta celular. Ainda que os mecanismos que produzem os fluidos polarizados extracelulares tendem a se mo-
potenciais elétricos ainda precisem ser completamen- ver. Os potenciais de corrente resultantes podem for-
te explicados, Currey (1984) cita duas possíveis fon- necer informação referente ao estímulo da tensão.
tes de fenômeno elétrico: piezoeletricidade e poten- Lanyon e Hartman (1977) demonstraram que,
ciais de corrente. Os cristais apresentam estrutura durante o arqueamento, a superfície tênsil de uma
entrelaçada, e nenhuma simetria central desenvolve amostra úmida de osso desenvolve uma carga positi-
uma rede de separação de carga entre ânions e cátions va, o lado compressivo torna-se negativamente car-
diante de deformação. A separação de carga gera uma regado e as diferenças de pico dependem da taxa e da

Figura 6.2 Osso laminar compacto com o


plano transverso demonstrando osteócitos
dispostos nos sistemas Haversiano e as lamelas
circunferenciais e intersticiais. Curso
longitudinal e transversal dos canais vasculares
no osso (de Ham, 1974).
114 PAAVO V. KOMI

intensidade da tensão. O potencial decai para zero modelação óssea. A reorientação dos proteoglicanos
em aproximadamente 2 s quando o osso é submeti- pode, portanto, fornecer estímulo induzido pela ten-
do à sobrecarga estática (Cochran et al., 1968). Eri- são aos osteócitos. Tal constituição sinaliza a história
ksson (1976) postulou que tal polarização induzida da tensão dinâmica óssea recente.
pela tensão foi ocasionada por potenciais de corren- Os estudos que mensuraram as concentrações
te gerados por fluxo unidirecional do fluido extrace- de prostaglandina (PG) induziram Yeh e Rodan (1984),
lular carregado positivamente em canais orientados assim como Binderman e colaboradores (1984), a
transversalmente. O arqueamento forçou a diminui- concluir que a PGE2 pode agir como transdutor en-
ção dos diâmetros dos canais na superfície côncava e tre a tensão mecânica e os osteoblastos. Yeh e Rodan
o incremento na convexa, movimentando o fluido em (1984) compararam a síntese de PG entre as células
direção ao lado convexo. Tal movimento cria uma ósseas em cultura com fitas de colágeno deixadas em
voltagem induzida pela tensão. Essa teoria comprova posição normal e células em cultura com fitas alon-
a insensibilidade óssea à sobrecarga estática (Hert et gadas em oito vezes em um período de duas horas. O
al., 1971; Lanyon e Rubin, 1984) e a sensibilidade a estiramento aumentou a síntese de PG em 3,5 vezes,
variações na taxa, assim como na magnitude da ten- comparada às faixas não-estiradas, confirmando o pa-
são (Rubin e Lanyon, 1985). Quando a sobrecarga pel da PG na translação do estímulo mecânico para a
estática é superimposta à atividade normal, resulta atividade celular. Binderman e colaboradores (1984)
em nova aposição de periósteo ósseo (Made et al., concluíram, de modo similar, que a membrana osteo-
1984). De forma não-inesperada, Liskova e Hert (1971) blástica pode apresentar sistema mecanorreceptor
registraram que o osso periósteo e endósteo é deposi- específico capaz de ser estimulado pelas tensões para
tado quando sobrecargas intermitentes de arqueamen- incrementar a síntese de PGE2.
to são aplicadas em diferentes condições fisiológicas. A remodelação se processa quando o osso sofre
O”Connor e colaboradores (1982) sugeriram que a taxa degradação e há novo osso formando-se em seu lu-
de alteração da tensão representa o principal determi- gar. Essa seqüência tem sido referida como ARF —
nante de nova deposição óssea em um osso que trans- ativação, reabsorção e formação (Martin e Burr, 1989).
porta peso, o que substancialmente se assemelha à taxa Portanto, o primeiro passo na remodelação é a ativa-
desenvolvida na locomoção normal. Vários investiga- ção dos osteoclastos para a reabsorção do osso exis-
dores (Carter et al., 1981; Churches e Howlett, 1981) tente. Uma linha de osteoclastos, o fronte osteoclás-
relataram uma resposta diferencial às sobrecargas de tico, promove incisão em um cone longitudinal
arqueamento, indicando maior deposição óssea em áre- através do osso pela secreção das enzimas ácido fos-
as de aumento de estímulos compressivos em compa- fatase, colagenase e outras proteolíticas (Buckwalter
ração às áreas de estímulo tênsil. e Cooper, 1987). A incisão em cone reabsorve aproxi-
Skerry e colaboradores (1988, 1990) propuseram madamente três vezes seu volume e, quando comple-
a reorientação dos proteoglicanos relacionada à so- tada, permite um canal de reabsorção de 1.000 a 10.000
brecarga para representar uma ligação entre a sobre- mm de profundidade (Albright e Skinner, 1987).
carga mecânica e a remodelação. Esses autores men- Os osteoblastos acompanham o fronte de reab-
suraram a reorientação do colágeno e dos proteogli- sorção, primeiramente colocando matriz mineraliza-
canos após aplicações de sobrecarga. A orientação da ao redor das paredes do canal de reabsorção, o
do colágeno não demonstrou diferenças entre os os- que forma uma linha aglutinada. As linhas aglutina-
sos estimulados e os que serviram de controle. Con- das contêm 10 a 15% menos mineral do que o osso
tudo, os proteoglicanos apresentaram diferença sig- circundante, tornando-as menos rígidas e propiciando
nificativa de 36% na orientação entre os ossos-con- caminhos para a propagação de fissuras. Os osteo-
trole e os estimulados. Nenhuma diferença foi deter- blastos produzem nova matriz que preenche o volu-
minada entre os ossos estimulados e os controles 48 me corroído pelos osteoclastos. O repreenchimento
horas após a interrupção dos estímulos. Os autores do cone requer três vezes mais tempo do que a reab-
concluíram que a sobrecarga dinâmica afetou a orien- sorção, apesar de os osteoblastos excederem em nú-
tação dos proteoglicanos em relação à magnitude e à mero os osteoclastos em mais de 200 vezes cada um
distribuição da sobrecarga, de forma similar às des- (Jaworski, 1984). A distância entre os osteoclastos e
crições anteriores em que se associou tensão e re- os osteoblastos representa o tempo necessário para
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 115

reverter o processo de reabsorção no curso da for- tanto objetivas como estimulantes para o processo
mação. Geralmente, esse período latente é de aproxi- de modelação e remodelação adaptativo”. De modo
madamente uma semana (Albright e Skinner, 1987). similar, Rubin e Lanyon (1985) formularam a hipó-
Os osteoblastos tornam-se então osteócitos, quando tese de que, se as tensões funcionais forem altas de-
se capturam em uma nova matriz, alterando seu pa- mais, a incidência de lesão e a probabilidade de inca-
pel de formação para manutenção óssea. pacidade aumentam. Caso as tensões sejam baixas
A análise da secção transversa de ossos longos demais, o osso será desnecessariamente ativado e a
revela que a remodelação ocorre em três áreas ou energia será perdida na síntese e na manutenção de
envelopes separados. No entanto, a seqüência de ati- sua matriz. Então, a tensão funcional parece ser o
vidade dos osteoclastos e dos osteoblastos aplica-se parâmetro de controle mais relevante (Fig. 6.3). Como
a todos os três envelopes. Cada superfície exibe com- notado por Judex e colaboradores (1999), contudo, a
portamento único para determinado estímulo e, por- característica específica da tensão (p. ex., taxa, gradi-
tanto, deve ser considerada de maneira independen- ente ou magnitude) mais osteogênica parece incerta.
te quando se descreve a remodelação. As superfícies Nos últimos 30 anos, dados experimentais des-
ósseas internas e externas são os envelopes endosteal creveram, quantitativamente, a relação entre a estru-
e periosteal; já o osso cortical que está nos intervalos tura óssea e a função. Numerosos estudos correlacio-
dos dois forma o envelope intracortical. A medida nam eventos de sobrecarga conhecidos com altera-
das alterações nos diâmetros periosteal e endosteal e ções na geometria e na força óssea. Entre as aborda-
na densidade cortical é, portanto, importante no es- gens empregadas estão a sobrecarga funcional, a so-
tudo das doenças esqueléticas e dos efeitos do desu- brecarga artificial e as tensões in vivo.
so ou do exercício no osso.
Sobrecarga funcional
Adaptação funcional e alterações
relacionadas ao exercício A adaptação esquelética à sobrecarga tem sido
documentada em cães (Chamay e Tschantz, 1972;
Judex e colaboradores (1999) descreveram as Carter et al., 1980; Meade et al., 1984), carneiros
medidas mecânicas empregadas para quantificar o
ambiente ósseo mecânico como “... forças, estresses
(força normalizada por unidade de área), tensões (de-
formações normalizadas), freqüência de tensão (nú-
mero de ciclos de tensão por unidade de tempo), taxa
de tensão (alteração na tensão por unidade de tem-
po) e gradientes de tensão (alteração na tensão por
unidade de comprimento) em várias direções dentro
do osso”. Em termos de adaptação relacionada ao
exercício, a identificação do estímulo potente é críti-
ca para otimizar os efeitos do exercício. Caso a taxa
de tensão, por exemplo, seja o estímulo mais forte
para a remodelação, o exercício que aplica sobrecar-
gas rápidas deveria ser utilizado. No entanto, é difícil
a identificação do estímulo potente devido ao fato de
a adaptação induzida pelo exercício também poder
ser influenciada por eventos fisiológicos, entre eles
alterações no fluxo sangüíneo ou liberação de fato-
res sistêmicos como as citocinas.
Lanyon (1987) descreve a remodelação como a
Figura 6.3 Relação hipotética entre nível de atividade, tensão
“interpretação e reação objetiva” a um estado de ten- óssea e resposta de remodelação. O equilíbrio entre reabsorção
são óssea, permitindo adaptação ao aumento ou à e deposição óssea parece manter um ambiente ótimo de tensão
diminuição das tensões. “As tensões funcionais são (de Rubin e Lanyon, 1987).
116 PAAVO V. KOMI

(Radin et al., 1982), suínos (Goodship et al., 1979; registraram os efeitos da remodelação de sobrecar-
Woo et al., 1981), ratos (Smith, 1977; Gordon et al., gas dinâmicas versus estáticas. A ulna privada de qual-
1989), camundongos (Saville e Whyte, 1969; Kiiski- quer sobrecarga e as que experimentaram sobrecar-
nen e Heinninen, 1973; Kiiskinen, 1977) e em hu- ga estática apresentaram incremento do diâmetro
manos (Jones et al., 1977; Krolner et al., 1983; Smith endosteal e porosidade intracortical, resultando em
et al., 1984; Simkin et al., 1987). Chamay e Tschantz 13% de decréscimo na secção transversa cortical. A
(1972) realizaram excisões radiais unilaterais em cães, ulna exposta a sobrecarga cíclica de 1 Hz por
colocando sobrecarga em todo o membro anterior e 100 s·dia–1 demonstrou 24% de incremento na sec-
sobrecarregando, dessa forma, a ulna. Em nove me- ção transversa cortical, com nova deposição óssea,
ses, a espessura cortical ulnar aumentou duas vezes. primariamente na superfície periosteal. Rubin (1984)
Após excisões na ulna de suínos, Goodship e colabo- registrou manutenção da massa óssea na ulna de ga-
radores (1979) registraram rápida deposição óssea; los com somente quatro ciclos de arqueamento por
após três meses, a área remodelada do rádio asseme- dia. As magnitudes de tensão geradas pela sobrecar-
lhou-se àquela do rádio e da ulna contralaterais jun- ga em cada um desses experimentos não excederam
tos. As tensões de superfície foram aproximadamen- a tensão mensurada com um leve bater de asas. Des-
te iguais no rádio antes da remoção ulnar e após a ses numerosos estudos, Lanyon e Rubin concluíram
remodelação, apesar de alterações consideráveis na que o osso parece ser sensível à magnitude e à distri-
geometria óssea. Esses estudos com sobrecarga sus- buição de tensões dinâmicas. Além do mais, a insen-
tentam a hipótese de que as sobrecargas mecânicas sibilidade às tensões experimentais estáticas reflete a
estimulam a remodelação óssea e que a remodelação falta de sensibilidade natural do esqueleto para se
continua até as tensões alcançarem um nível prede- adaptar às situações de sobrecarga estática. Lanyon
terminado específico ao local. (1996) também registrou sensibilidade óssea à distri-
buição de tensão. Caso o osso seja estimulado em
determinada tensão, que permaneça a mesma, mas
Sobrecarga artificial
sua distribuição seja alterada ao longo da secção, ocor-
A aplicação de sobrecarga artificial através de pi- re nova formação óssea.
nos corticais facilita a precisa mensuração das sobre-
cargas experimentadas pelo osso e permite correla-
Tensão in vivo
ções entre as alterações na sobrecarga e na remode-
lação. As sobrecargas aplicadas podem produzir me- Evans (1953) foi o primeiro a registrar o uso de
nos, igual ou maior tensão do que a aplicada durante um sensor de tensão composto de um elemento para
atividades normais. Dessa maneira, os efeitos podem mensurar a sobrecarga tensional na tíbia de um cão
ser quantificados tanto de sobrecargas insuficientes durante a caminhada, ainda que os dados tenham
quanto em excesso. Rubin e Lanyon (1985) privaram apresentado valor um tanto limitado devido ao fato
a ulna do peru de sobrecargas normais por meio de de a tensão ter sido mensurada somente ao longo do
osteotomia metafisária e aplicaram sobrecargas co- sensor. Lanyon (1973) aprimorou essa técnica inicial
nhecidas através de pinos nas diáfises. Encontraram ao colocar sensores em “formato de rosa” (três ele-
relação dose-resposta (r = 0,83) com sobrecargas que mentos) no calcâneo do carneiro e calcular os estí-
produziam tensão menor que 1.000 microstrain mulos compressivo, tênsil e de cisalhamento duran-
(μstrain),* resultando em perda óssea; as tensões en- te a caminhada. Os gradientes de tensão longitudinal
tre 1.000 e 2.000 μstrain mantiveram a massa óssea, normal têm sido bem correlacionados com locais es-
enquanto tensões acima de 2.000 μstrain estimula- pecíficos de formação óssea no periósteo (Gross et
ram a osteogênese. Por meio de um delineamento al., 1997). Embora tais dados melhorem nossa com-
experimental similar, Lanyon e Rubin (1984) também preensão da associação entre o ambiente mecânico
ósseo e a resposta adaptativa, as complexas intera-
ções entre variáveis mecânicas relacionadas à tensão
impedem a identificação de um estímulo mecânico
específico responsável pela iniciação da remodelação
*N. de R.T. Relativo à unidade de medida da tensão óssea. óssea.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 117

Efeitos do exercício reduziu a força óssea. É concebível, a partir das des-


cobertas desses autores, que o osso pode ter inicial-
As alterações ósseas relacionadas ao desuso e mente prejudicado a matriz inadequadamente mine-
originadas de imobilização (Uhthoff e Jaworski, 1978), ralizada em resposta ao estresse relacionado ao
vôo espacial (Morey e Baylink, 1978; Jee et al., 1983; exercício. Dada a duração do protocolo de exercício
Shaw et al., 1988) e suspensão de membros (Shaw et de Woo e colaboradores, a remodelação pode ter
al., 1987) sustentam a hipótese de que o osso requer melhorado a qualidade do osso imaturo. A melhoria
tensão fornecida por transporte de sobrecarga para pode ter sido significativa a ponto de, após um ano, o
manter a sua massa. De modo similar, os estudos que osso resultante não ser diferente daquele do contro-
quantificam as alterações ósseas relacionadas ao exer- le. A relação que pareceu existir entre remodelação e
cício reiteram a natureza dinâmica do osso por in- duração do protocolo do exercício pode explicar as
crementar a espessura cortical (Jones et al., 1977; Woo diferenças entre os dados desses estudos.
et al., 1981), o conteúdo mineral ósseo (Krolner et Judex e Zernicke (2000a) submeteram galos em
al., 1983) e a massa óssea (Wittich et al., 1998) após fase de crescimento a cinco curtas sessões de exercí-
programas de treinamento. No entanto, as variações cio em esteira rolante (5 min), três vezes ao dia, du-
entre os protocolos de exercício e as técnicas de me- rante oito semanas. A tensão in vivo mensurada du-
dida limitam a extrapolação de muitos resultados e rante a corrida revelou incremento de 19% no pico
conclusões referentes aos efeitos precisos do exercí- da magnitude de tensão, de 136% no pico de taxa de
cio no osso. Além disso, o estudo da adaptação óssea tensão e de 18% no pico do gradiente de tensão. Ape-
exclusivamente entre atletas profissionais e de elite sar desse estímulo, após o protocolo de treinamento
viola pressupostos de randomização amostral da po- de oito semanas, as propriedades mecânicas ou da
pulação geral. Woo e colaboradores (1981) estuda- área medial da diáfise e o peso mineral normalizado
ram os efeitos do exercício de longo prazo no osso não diferiram entre os corredores e os controles se-
cortical. Cinco suínos imaturos correram aproxima- dentários. Os dados sugeriram que os efeitos deleté-
damente 40 km·semana–1 entre 65 e 85% da freqüên- rios notados por Matsuda e colaboradores podem ter
cia cardíaca máxima por 12 meses. Após os animais sido suavizados pela redução do número de ciclos de
terem sido mortos, tiras de 4 mm de diâmetro extra- sobrecarga. Além disso, os autores sugeriram que, para
ídas do osso cortical das diáfises femorais anterior, o exercício induzir adaptação significativa, o ambi-
posterior, medial e lateral foram estimuladas em tes- ente mecânico relacionado ao exercício deve diferir
tes de arqueamento (quatro pontos) até a fadiga. Os substancialmente do ambiente habitual.
componentes bioquímicos das amostras corticais A definição exata de como o “exercício ou o con-
também foram mensurados. Os autores registraram dicionamento” afetam o sistema esquelético repre-
incremento relacionado ao exercício na força óssea senta um problema profundamente complexo. A in-
como resultado das alterações na geometria óssea, tensidade do exercício, a maturidade esquelética, os
com os animais exercitados desenvolvendo 17% de tipos de osso (trabecular ou cortical) e a localização
aumento na espessura cortical e 23% de incremento anatômica (axial ou extremidade) podem influenciar
na área de secção transversa cortical. A análise da a resposta específica de um exercício. O exercício re-
composição óssea demonstrou constituintes bioquí- gular prolongado pode incrementar a massa esque-
micos e densidade óssea similares entre os animais lética de adultos e de atletas (Dalen e Olsson, 1974;
dos grupos de exercício e de controle. Os autores con- Pirnay et al., 1987), mas particularmente o treina-
cluíram que o estresse interno induzido pelo exercí- mento vigoroso, no esqueleto imaturo, pode retardar
cio estimulou as alterações na remodelação sem mo- a maturação da ligação cruzada do colágeno nos te-
dificar a composição óssea. No entanto, nenhuma cidos conjuntivos articulares (Pedrini-Mille et al.,
tentativa foi feita para diferenciar as influências rela- 1988), desacelerar a taxa de crescimento dos ossos
cionadas ao crescimento daquelas referentes ao exer- longos (Kiiskinen e Heikkinen, 1973; Kiiskinen, 1977;
cício. Matsuda e colaboradores (1986) estudaram os Matsuda et al., 1986) ou afetar de maneira deletéria
efeitos do exercício na fase de crescimento em pinti- as características mecânicas do osso (Matsuda et al.,
nhos e determinaram que o exercício moderado in- 1986). O osso em fase de crescimento acelerado pa-
crementou a área de secção transversa cortical, mas rece ser mais afetado pelo comportamento da sobre-
118 PAAVO V. KOMI

carga mecânica, comparado com o osso maduro tativas do quanto os diferentes ossos em crescimen-
(Steinberg e Trueta, 1981; Carter, 1984). Já o osso to respondem ao exercício e se tais reações são espe-
trabecular, com seu rápido turnover (Bhasin et al., cíficas a determinados locais em um mesmo osso.
1988), pode ser mais sensível ao estímulo de remo- Keller e Spengler (1989) implantaram, in vivo, sen-
delação do que o osso cortical (Rambaut e Johnson, sores de tensão no fêmur de ratos com 30 semanas
1979). McDonald e colaboradores (1986) registraram de idade. Um dos grupos do experimento caminhou
diferenças relacionadas à idade no que se refere aos em uma tela metálica rolante por 2 min·dia–1, enquan-
padrões de mineralização óssea de ratos após o exer- to o outro foi exercitado durante 45 min·dia–1 na
cício, com os ossos axiais menos mineralizados do mesma velocidade (0,2 m·s–1) e intensidade (25% do
que os ossos que transportam peso. Em resposta a esforço máximo). Nenhuma diferença estatisticamen-
um programa de corrida vigorosa, Hou e colabora- te significativa foi encontrada para quaisquer parâ-
dores (1991) demonstraram efeitos diferenciais que metros de estresse ou tensão in vivo entre os grupos
o exercício vigoroso pode exercer sobre as proprie- de atividade. Os animais submetidos aos exercícios
dades mecânicas no colo femoral do osso trabecular também não demonstraram diferenças significativas
imaturo do rato, ao contrário da coluna vertebral. As quando comparados aos controles sedentários ajus-
propriedades materiais e estruturais do colo femoral tados para a idade. Os autores concluíram que o li-
foram significativa e adversamente afetadas, mas as miar de sobrecarga para a ocorrência de alterações
vértebras lombares não alteraram significativamente ósseas pode ser maior do que o produzido pelo es-
em resposta a 10 semanas de exercício vigoroso. Não forço estimado de 25% do máximo. Biewener e cola-
está claro se um programa de treinamento mais mo- boradores (1986) realizaram estudo similar em pinti-
derado teria o mesmo efeito no osso e em suas pro- nhos com três semanas de idade. Essas cobaias
priedades mecânicas. São necessários estudos cuida- animais correram em esteira rolante a 35% da velo-
dosos e bem controlados para caracterizar a relação cidade máxima por 15 min·dia–1. O protocolo de trei-
dose-resposta do exercício na geometria e nas pro- namento continuou até os animais alcançarem 4 a
priedades mecânicas ósseas. Nesse sentido, Silber- 17 semanas de idade. As medidas de tensão in vivo
mann e colaboradores (1990) examinaram os efeitos foram feitas na região tibiotarsal dos animais a 4, 8,
do exercício físico moderado de longo prazo no vo- 12 e 17 semanas. Esses dados são extremamente se-
lume e na composição do osso trabecular. Os auto- melhantes aos relatados por Keller e Spengler, com
res demonstraram que o exercício influenciou posi- magnitude, orientação e distribuição de tensão per-
tivamente a massa e a mineralização óssea trabecular manecendo consistentes, apesar do estímulo relaci-
quando a atividade física foi iniciada em idade pre- onado ao crescimento e ao exercício. Biewener e co-
coce (antes da meia-idade) e continuou durante o laboradores postularam um ambiente de tensão
envelhecimento. No entanto, os referidos autores não geneticamente predefinido, direcionando a remode-
encontraram os mesmos benefícios quando o pro- lação óssea. Conclusão similar àquela estabelecida por
grama de treinamento foi iniciado após a meia-ida- Keller e Spengler relativa à intensidade de exercício,
de. Silbermann e colaboradores sugeriram que, en- contudo, também deve ser considerada.
quanto os animais jovens (camundongos) responde- Matsuda e colaboradores (1986) analisaram as
ram favoravelmente ao exercício físico moderado, os limitações dos estudos anteriores ao submeter pinti-
animais idosos perderam alguma capacidade de adap- nhos em fase de crescimento a exercício com inten-
tação. sidade entre 70 e 80% da capacidade aeróbia máxi-
ma. Os animais correram em esteira rolante por 35 a
45 min·dia–1, cinco dias por semana, durante 5 ou 9
Interação exercício-crescimento
semanas. A atividade da fumarase muscular do gas-
As alterações nos ossos em crescimento relacio- trocnêmio lateral demonstrou incrementar significa-
nadas ao exercício constituem matéria de análise por tivamente a capacidade aeróbia nos animais exerci-
Keller e Spengler (1989), Biewener e colaboradores tados. Diferenças expressivas foram encontradas nas
(1986), Matsuda e colaboradores (1986) e Judex e propriedades geométricas e estruturais dos ossos tar-
Zernicke (2000b). O interesse na interação exercí- sais e metatarsais entre os que correram e os do gru-
cio-crescimento surge da falta de descrições quanti- po-controle. A rigidez flexural média dos corredores
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 119

foi 40% menor do que aquela dos controles após cin- nas, os animais exercitados apresentaram incremen-
co semanas de exercício e 52% menor do que após to significativo na taxa de formação óssea nas super-
nove semanas de exercício. Os corredores tiveram fícies periosteal (+40%) e endocortical (+370%). A
maior área de secção transversa cortical tanto após taxa de tensão correlacionou-se significativamente
cinco como após nove semanas de exercício. Os re- com a taxa de formação óssea na região endocorti-
sultados da área de secção transversa cortical sus- cal. Esses dados fundamentam a conclusão de que o
tentaram a hipótese de que o exercício estimula a re- osso em fase de crescimento é sensível a elevadas ta-
modelação da superfície óssea nos animais em fase xas de tensão.
de crescimento. Os dados também sugerem, contu-
do, que o exercício de alta intensidade produz de- Fadiga
créscimo na força do material. Os autores teoriza-
ram que o exercício de alta intensidade durante o “A fadiga no osso compacto determina uma fa-
período de crescimento rápido pode ter alterado a lha mecânica gradual por estresse ou por tensão de
calcificação da matriz novamente depositada, tornan- sobrecarga repetida muito menor do que aquela re-
do o osso menos rígido, apesar do aumento da área querida para fraturar o osso em uma única aplicação
cortical. de força” (Schaffler et al., 1989, p.207) (Fig. 6.5). So-
Judex e Zernicke (2000b) investigaram o efeito brecargas múltiplas em um osso podem eventualmen-
de saltos em profundidade de alto impacto sobre a te induzir a um processo de fadiga. Tais sobrecargas
formação óssea da diáfise medial tarsometatarsal de associam-se à fisiologia normal e patológica do osso.
galos. A mensuração da tensão in vivo revelou grande A microlesão relacionada à fadiga durante o exercí-
incremento (+740%) na taxa de tensão com aumen- cio pode estimular a remodelação óssea. No entanto,
to somente moderado na magnitude de tensão pode haver fratura por fadiga caso a sobrecarga seja
(+30%), além de nenhuma diferença na distribuição extensiva demais e a microlesão excessiva demais
da tensão. Após um programa de exercício de 200 (Lafferty e Raju, 1979; Carter e Caler, 1985). O osso
saltos em profundidade por dia, durante três sema- compacto perde progressivamente sua rigidez e for-

Figura 6.5 A curva força-deformação ilustra a fadiga que


Figura 6.4 Distribuição endocortical das taxas de tensão de pode resultar da sobrecarga repetida (linha sólida) ou fratura
pico no salto induzidas pelo salto em profundidade e diferenças partir da aplicação de uma única sobrecarga (linha pontilhada).
na BFR/BS (taxa de formação óssea por secção óssea) entre As forças cíclicas na fadiga podem eventualmente induzir a
saltadores e controles superestimulados em uma secção falha por fadiga. A fratura pode resultar da aplicação única de
tarsometatarsal no meio da diáfise (média ± desvio padrão) (de sobrecarga com magnitude dentro da zona de sobrecarga (de
Judex e Zernicke, 2000b, com permissão). Chamay e Tschantz, 1972, com permissão).
120 PAAVO V. KOMI

ça quando se fadiga, induzindo a falha por fadiga estar associada às sugestões iniciais de que os ten-
(Carter e Caler, 1985). As características exatas de epi- dões e ligamentos eram praticamente inertes (Butler
sódios de múltiplas sobrecargas (p. ex., número, mag- et al., 1978). No entanto, nas últimas duas décadas
nitude e taxa de tensão) permanecem a ser quantifi- ficou claro que esses tecidos fibrosos densos exibem
cadas. O exercício vigoroso gera indubitavelmente metabolismo viável e apresentam características sin-
elevada taxa, bem como magnitude de tensão. Como gulares de adaptação (Vailas et al., 1981).
o osso é viscoelástico (exibe dependência da taxa de
tensão), a sobrecarga em taxas mais elevadas de ten- Estrutura
são pode incrementar a rigidez óssea (Currey, 1988;
Schaffler e Burr, 1988), a qual pode aumentar a resis- O colágeno é a principal fibra nos tendões e nos
tência à fadiga no osso compacto. O comportamento ligamentos. Como descrito anteriormente, a molé-
de fadiga do osso compacto é similar àquele ocorri- cula de tropocolágeno (Viidik, 1973) fornece a estru-
do nos materiais compostos, os quais exibem perda tura molecular fundamental aos tendões e ligamen-
progressiva de rigidez e força (Hahn e Kim, 1980). tos. Geralmente, cinco moléculas paralelas de
No entanto, permanecem a ser quantificados os de- tropocolágeno são escalonadas para formar uma mi-
talhes de como a taxa e a magnitude de tensão asso- crofibrila (Viidik, 1973; Kastelic et al., 1978). Seqüen-
ciadas ao exercício relacionam-se às propriedades de cialmente, as microfibrilas são organizadas em fibri-
fadiga óssea. las e em fibras de colágeno (Viidik, 1973) (Fig. 6.6).
Um feixe de fibras primário representa um grupo de
fibras agrupadas em um endotendão. O grupo des-
Tendões e ligamentos ses feixes primários é denominado fascículo (Kastelic
et al., 1978), sendo circundado por uma bainha de
O movimento normal do esqueleto humano não epitendão. O tendão ou ligamento eventual repre-
poderia ocorrer sem os tendões e os ligamentos. senta um grupo de fascículos de colágeno agrupados
Embora importantes informações tenham sido reve- em uma bainha denominada paratendão (Buttler et
ladas sobre suas propriedades (Booth e Gould, 1975; al., 1978). A disposição e a organização dos fascícu-
Tipton et al., 1975; Butler et al., 1978; Akeson et al., los em tendão ou ligamento parece estar relacionada
1985; Buckwalter et al., 1987; Zernicke e Loitz, 1990), à direção de tração nas fibras de colágeno (Elliott,
há significativas brechas na explicação dos efeitos do 1965). Os tendões são geralmente grossos, formados
treinamento e do condicionamento nesses importan- por bandas brancas de colágeno que conectam o
tes tecidos conjuntivos fibrosos densos. Parte da ca- músculo ao osso e transmitem força tênsil. O con-
rência de informação referente ao treinamento pode teúdo de colágeno do tendão representa 70% de sua

Figura 6.6 Diagrama esquemático da


estrutura do tendão. As fibrilas são unidas
ao endotendão; o epitendão une as fibrilas
envolvidas para formar os fascículos. Os
fascículos são envolvidos por paratendões
de modo que se forme o tendão (de
Kastelic et al., 1978, com permissão).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 121

massa seca (Harkness, 1968). Os fascículos de um midade dessa região situa-se, segundo registros, en-
tendão são geralmente paralelos uns aos outros tre 1,5 e 4% (Viidik, 1973; Butler et al., 1978). Isso
(Viidik, 1973), mas a inserção do tendão no osso en- representa uma resposta relativamente linear seguin-
volve uma transição gradual do tendão à fibrocartila- do a região tortuosa. As fibras no tecido tornam-se
gem, à fibrocartilagem mineralizada e ao osso lami- mais paralelas e perdem a sua aparência ondulada
nar (Cooper e Misol, 1970). A fibra colágena de (Viidik, 1973; Butler et al., 1978). Se as fibras de co-
Sharpey conecta o tendão ao osso subcondral e com- lágeno são testadas isoladamente, o limite de tensão
bina-se às fibras colágenas do periósteo. No outro da região linear pode ser de 2 a 5% (Elliott, 1965). A
lado, o tendão fixa-se ao músculo via junção mioten- microincapacidade ocorre na extremidade da região
dínea; as miofibrilas intracelulares articulam-se às fi- de sobrecarga linear; uma vez que a sobrecarga má-
bras de colágeno extracelular. Estudos recentes reve- xima seja alcançada, a completa incapacidade mani-
lam uma interface multicamada relativamente festa-se rapidamente, bem como se perde a capaci-
complexa encontrada na conexão do filamento de dade do ligamento em suportar a sobrecarga (Butler
actina do sarcômero terminal às fibras de colágeno et al., 1978). Assim como o osso, os tecidos conjunti-
do tendão (Trotter et al., 1983; Ovalle, 1987). As mem- vos fibrosos são viscoelásticos e apresentam sensibi-
branas flexíveis na junção miotendínea incrementam lidade a diferentes taxas de tensão (Fung, 1967; Fung,
a área de superfície e reduzem o estresse na junção. 1972; Butler et al., 1978). Noyes e colaboradores
O trabalho realizado por Tidball (1983, 1984) reve- (1974a) demonstraram que a taxa de tensão exerce
lou que a força da junção adesiva entre o músculo e efeito significativo nas sobrecargas máximas que o
o tendão depende das propriedades dos tecidos adja- ligamento pode suportar.
centes e da orientação das forças que cruzam a junção. A junção miotendínea também é viscoelástica e
As junções sobrecarregadas em esforços de cisalha- seu comportamento mecânico depende da duração,
mento são mais fortes do que as compostas de gran- da freqüência e da magnitude das sobrecargas apli-
de componente tênsil perpendicular à membrana. cadas (Tidball e Daniel, 1986). Tidball e Daniel (1986)
Sob a luz do microscópio, o tendão parece enru- sugeriram que a duração das sobrecargas ajuda a es-
gado e em forma de onda, graças ao fenômeno de tabelecer o grau de flexibilidade na junção. Esses au-
encurvamento criado pela matriz intracelular em co- tores registraram que as células musculares de con-
lisão com as fibras colágenas (Butler et al., 1978). Na
matriz intercelular, além do colágeno, o tendão con-
tém pequenas quantidades de mucopolissacarídeos
e de elastina (Hooley et al., 1980).
Os ligamentos articulam-se junto aos ossos ad-
jacentes em suas extremidades e podem sustentar os
órgãos (Butler et al., 1978). Os ligamentos podem ser
internos ou externos à cápsula articular ou, ainda,
combinar-se com a cápsula. A cor dos ligamentos co-
lágenos é branca fosca devido à maior porcentagem
de fibras elásticas e reticulares entre os feixes das fi-
bras colágenas.

Propriedades mecânicas
Os tecidos colágenos, tais como tendões e liga-
mentos, fornecem resistência às sobrecargas de ten-
são. Durante um típico teste de força em condições
de alongamento, a sobrecarga inicial aplicada ao
tecido resulta em uma porção côncava da curva, de- Figura 6.7 Curva estresse-tensão exemplar para o colágeno.
nominada região tortuosa (Elliott, 1965; Viidik, 1973) Cada área da curva reflete o comportamento do colágeno
(Fig. 6.7). O alongamento relativo do tecido na extre- durante a sobrecarga tênsil (de Butler et al., 1978).
122 PAAVO V. KOMI

tração lenta possuem maior área de superfície jun-


cional do que as células musculares de contração rá-
pida. É provável que a maior área de superfície previ-
na a lise* das células musculares sob condições de
sobrecarga prolongada devido à redução do estresse
na membrana.

Efeitos do exercício
Os tecidos fibrosos densos são sensíveis ao de-
suso e ao treinamento (Booth e Gould, 1975; Bu-
ckwalter et al., 1987). No entanto, os mecanismos
responsáveis por essas alterações adaptativas não são
completamente compreendidos. Grande parte da in-
formação referente à resposta dos tecidos fibrosos
densos ao exercício está relacionada aos ligamentos.
Há pouca informação quantitativa sobre as adapta-
ções relacionadas ao exercício no tendão (Woo et al.,
Figura 6.8 Imobilização articular deletéria afeta as
1982; Michna, 1984). Tipton e colaboradores (1975) propriedades estruturais da unidade fêmur-ligamento cruzado
e Viidik (1973) realizaram algumas das investigações anterior-tíbia. Os tecidos imobilizados são menos rígidos e
mais sistemáticas e extensivas a respeito das influên- suportam menos sobrecarga nos pontos máximo e de falha (de
cias do treinamento e da atividade física nos ligamen- Butler et al., 1978).
tos. Em geral, foram observadas notáveis alterações
na substância dos ligamentos decorrentes de imobi-
lização ou desuso significativo (Akeson et al., 1967;
Woo et al., 1975) (Fig. 6.8). A imobilização reduz o Zuckerman e Stull, 1969; Zuckerman e Stull, 1973;
glicosaminoglicano e o conteúdo de água dos liga- Laros et al., 1971). A atividade diária normal (sem
mentos e dos tecidos tendíneos, incrementa a orien- treinamento) parece ser suficiente para manter 80 a
tação não-uniforme das fibrilas colágenas, além de 90% do potencial mecânico do ligamento (Frank,
aumentar a ligação cruzada do colágeno. As taxas de 1966). O exercício pode incrementar a força e a rigi-
síntese e degradação de colágeno aumentam com a dez do ligamento até um adicional de 10 a 20%. No
imobilização. Esse aumento se comprova diante do entanto, uma única sessão de exercício ou treinamen-
fato de a proporção de novos e velhos colágenos au- to com corrida de velocidade (sprint) não produz in-
mentar nos ligamentos não-sobrecarregados (Amiel cremento significativo na força juncional, embora o
et al., 1982). A massa total de colágeno (Amiel et al., treinamento com corrida de velocidade eleve marca-
1982) e a rigidez do ligamento também podem dimi- damente a massa do ligamento (Tipton et al., 1967;
nuir (Noyes et al., 1974b; Tipton et al., 1974). Tipton Tipton et al., 1974). Tipton e colaboradores demons-
e colaboradores (1975) concluíram que a força da jun- traram que, embora os tendões e ligamentos possam
ção entre o osso e o ligamento está extremamente ser influenciados por hormônios (Dougherty e Ber-
relacionada ao tipo e não apenas à duração do exer- liner, 1968), o treinamento de endurance pode incre-
cício. Muitos pesquisadores, investigando os efeitos mentar a força juncional do ligamento do joelho de
do exercício nos ligamentos, relatam incremento na ratos tireoideoctomizados e hipofisectomizados (Tip-
força final da sobrecarga máxima na força separação- ton et al., 1971; Vailas et al., 1978).
junção (Adams, 1966; Tipton et al., 1967; Tipton et Dos estudos disponíveis que quantificaram es-
al., 1970; Tipton et al., 1974; Tipton et al., 1975; pecificamente a resposta do tendão às alterações no
ambiente de sobrecarga, Michna (1984), Woo e cola-
boradores (1980) e Curwin e colaboradores (1988)
forneceram detalhes das alterações ao exercício. Os
*N. de R.T. Relativo à desintegração celular. camundongos exercitados uma semana em esteira
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 123

rolante apresentaram aumento no número e no ta- 1974; Krause et al., 1976). A ausência do menisco do
manho das fibrilas colágenas e maior área de secção joelho pode desenvolver frouxidão articular e pro-
transversa nos tendões dos flexores dos dedos quan- pensão de degeneração da cartilagem articular
do comparados a controles sedentários (Michna, (Slocum e Larson, 1968; Lufti e Sudan, 1975). Há
1984). Após sete semanas de treinamento contínuo, caso de degeneração morfológica e bioquímica da car-
o diâmetro fibrilar médio foi menor do que o do gru- tilagem articular após meniscectomia (Cox et al., 1975;
po-controle. Assim, pareceu que as fibrilas foram frag- Krause et al., 1976).
mentadas. Ao final das 10 semanas, as áreas de sec- Enquanto o menisco deve transmitir uma varie-
ção transversa do tendão flexor foram comparáveis dade de sobrecargas mecânicas (Shrive, 1974; Walker
em ambos os grupos. Woo e colaboradores (1980) e Erkman, 1975; Krause et al., 1976; Uezaki et al.,
exercitaram suínos imaturos durante um ano e ana- 1979; Jaspers et al., 1980), há pouca informação dis-
lisaram as adaptações nos tendões extensores. Após ponível sobre a adaptabilidade da importante fibro-
esse período de exercício moderado, não houve dife- cartilagem meniscal em resposta ao exercício. Alguns
renças nas propriedades mecânicas ou na área de sec- experimentos in vitro envolvendo condrócitos obti-
ção transversa entre os suínos-controle e os exerci- dos de fibrocartilagem indicam que a compressão cí-
tados. Atualmente, não se dispõe de informação clica incrementa a síntese de colágeno, de proteogli-
quantitativa sobre como os tendões extensores que canos e de ácido desoxirribonucléico (Veldhuijzen
transportam peso de animais maduros adaptam-se et al., 1979; De Witt et al., 1984). Além disso, um
ao exercício. Curwin e colaboradores (1988) demons- estudo realizado por Vailas e colaboradores (1986)
traram, no entanto, marcadas alterações bioquími- sugeriu que a fibrocartilagem meniscal também é sen-
cas no tendão imaturo após protocolo de exercício sível à sobrecarga relacionada ao exercício. Após de-
vigoroso. A síntese de colágeno aumentou conside- talhar as diferentes características regionais da com-
ravelmente, mas as concentrações de peso seco e de posição, da morfologia e das propriedades biomecâ-
colágeno do tendão do calcâneo não se alteraram, nicas do menisco do joelho de ratos (Vailas et al.,
sugerindo que a síntese equivaleu à degradação. 1985; Zernicke et al., 1986), Vailas e colaboradores
Por meio de um modelo de sobrecarga compen- treinaram ratos para correr em esteira rolante moto-
satório, Zamora e Marini (1988) relataram nítidas al- rizada, cinco dias por semana, durante 12 semanas.
terações na morfologia do tendão plantar. Os auto- Houve efeito significativo do treinamento, como evi-
res descreveram aumento substancial no número de denciado pelo incremento de 65% na concentração
fibroblastos ativos no tendão. O citoplasma do fibro- de succinato desidrogenase do gastrocnêmio. Além
blasto continha muitos vacúolos, indicando síntese disso, houve incremento significativo nas concentra-
protéica ativa. Zamora e Marini posteriormente des- ções de colágeno, de proteoglicano e de cálcio na re-
creveram as alterações na junção miotendínea após gião do menisco (corno póstero-lateral), que prova-
regime de sobrecarga. As alterações adaptativas à so- velmente recebeu a principal sobrecarga cíclica
brecarga consistiram de incremento na síntese de compressiva.
colágeno, com intensa renovação e reciclagem da Egner (1982) indicou que as fibras longitudinais
membrana. Barfred (1973) resumiu um extensivo do colágeno asseguram resistência de tensão no me-
conjunto de literatura relacionada aos tendões hu- nisco, enquanto os feixes das fibras transversas ligam-
manos, indicando que a atividade física e o treina- se às fibras longitudinais para reter a forma do me-
mento aparentemente mantêm a força e a integrida- nisco. O aumento na concentração de colágeno e de
de do tendão, além de reduzirem a probabilidade de proteoglicano no menisco como resultado da sobre-
ruptura com o avanço da idade. carga induzida pelo exercício deveria desenvolver a
capacidade do tecido para acomodar a sobrecarga
mecânica (Mow et al., 1984). Embora os pesquisa-
Menisco dores tenham duvidado da capacidade da fibrocarti-
lagem meniscal para se adaptar — devido à sua baixa
Os meniscos são estruturas fibrocartilagíneas que atividade metabólica e ao inadequado suprimento
transportam sobrecarga e incrementam a rotação nas sangüíneo (Videman et al., 1979; Danzing et al., 1983;
articulações sinoviais (Slocum e Larson, 1968; Shrive, Amiel et al., 1985) —, os dados sugeriram que a quan-
124 PAAVO V. KOMI

tidade de nutriente fornecida ao tecido é fortemente basis of the literature and rupture experiments on rats.
relacionada ao grau de exposição da superfície teci- Acta Orthopaedica Scandinavica Supplement 152.
dual ao fluido sinovial (Amiel et al., 1985). Durante o Bhasin, S., Sortoris, D.J., Felllingham, L., Zlatkin, M.B., An-
dre, M. & Resnick, D. (1988) Three dimensional quan-
exercício, a sobrecarga cíclica, assim como a ausên-
titative CT of the proximal femur: Relationship to ver-
cia de sobrecarga cíclica, pode melhorar o forneci- tebral trabecular bone density in postmenopausal
mento à matriz. women. Radiology 167, 145-149.
Biewener, A.A., Swartz, S.M. & Bertram, J.E. (1986) Bone
modelling during growth: Dynamic strain equilibrium
Comentários finais in the chick tibiotarsus. Calcified Tissue International 39,
390-395.
Binderman, L, Shimshone, Z. & Somjen, D. (1984) Bio-
Nas últimas décadas, pesquisas significativas in-
chemical pathways involved in the translation of physi-
vestigam as respostas do tecido conjuntivo ao exer- cal stimulus into biological message. Calcified Tissue In-
cício e ao treinamento. É aparente, a partir dos dados ternational 36, S82-S85.
disponíveis, que os tecidos conjuntivos fibrosos e ós- Booth, F.W. & Gould, E.W. (1975) Effects of training and
seos passaram a ser caracterizados como adaptativos disuse on connective tissue. Exercise and Sport Sciences
e muito sensíveis aos tipos de sobrecarga mecânica Reviews 3, 83-112.
transmitida. No entanto, muitas das relações entre Buckwalter, J.A. & Cooper, R.R. (1987) The Cells and Matri-
ces of Skeletal Connective Tissue. In: The Scientific Basis of
as propriedades bioquímicas, morfológicas e biome-
Orthopaedics (eds J.A. Albright & R.A. Brand), 2nd edn,
cânicas do osso e os tecidos conjuntivos fibrosos, além pp. 1-30. Appleton-Lange, Connecticut.
da quantidade e da qualidade da atividade física, ain- Buckwalter, J.A., Maynard, JA. & Vailas, A.C. (1987) Skele-
da têm de ser estabelecidas. As buscas referentes aos tal fibrous tissues. Tendon, joint capsule, and ligament.
mecanismos de remodelação e de adaptação nesses In: The Scientific Basis of Orthopaedics (eds J.A. Albright &
tecidos persistem como desafio primário para a con- R.A. Brand), 2nd edn, pp. 387-405. Appleton-Lange,
tinuação das pesquisas. Connecticut.
Butler, D.L., Grood, E.S., Noyes, F.R. & Zernicke, R.F. (1978)
Biomechanics of ligaments and tendons. Exercise and
Sport Sciences Reviews 6, 125-181.
Referências Carter, D.R. (1984) Mechanical loading histories and cor-
tical bone remodelling. Calcified Tissue International 36,
Adams, A. (1966) Effect of exercise upon ligament strength. S19-S24.
Research Quarterly for Exercise and Sport 37, 163-167. Carter, D.R. & Caler, W.E. (1985) A cumulative damage
Akeson, W.H., Amiel, D. & LaViolette, D. (1967) The con- model for bone fracture. Journal of Orthopaedic Research
nective-tissue response to immobility. Clinical Orthopa- 3, 84-90.
edics and Related Research 51, 183-197. Carter, D.R., Smith, D.J., Spengler, D.M., Daly, C.H. &
Akeson, W.H., Frank, C.B., Amiel, D. & Woo, S.L.-Y. (1985) Frankel, V.H. (1980) Measurement and analysis of in
Ligament biology and biomechanics. In: Symposium on vivo bone strains on the canine radius and ulna. Journal
Sports Medicine: The Knee (ed. G.A.M. Finerman), pp. of Biomechanics 13, 27-38.
111-151. C.V. Mosby, St. Louis. Carter, D.R., Caler, W.E., Spengler, D.M. & Frankel, V.H.
Albright, J.A. & Skinner, H.C. (1987) Bone. Structural or- (1981) Fatigue behavior of adult cortical bone: The in-
ganization and remodeling dynamics. In: The Scientific fluence of mean strain and strain range. Acta Orthopae-
Basis of Orthopaedics (eds J.A. Albright & R.A. Brand), dica Scandinavica 52, 481-490.
2nd edn, pp. 161-198. Appleton-Lange, Connecticut. Chamay, A. & Tschantz, P. (1972) Mechanical influences
Amiel, D., Woo, S.L., Harwood, F.L. & Akeson, W.H. (1982) in bone remodelling. Experimental research on Wolf’s
The effect of immobilization on collagen turnover in law. Journal of Biomechanics 5, 173-180.
connective tissue. Acta Orthopaedica Scandinavica 53, Churches, A.E. & Howlett, C.R. (1981) The response of
325-332. mature cortical bone to controlled time-varying loa-
Amiel, D., Abel, M.F. & Akeson, W.H. (1985) Nutrient de- ding. In: Mechanical Properties of Bone, Vol. 45 (ed. S.C.
livery in the diarthrial joint: An analysis of synovial fluid Cowin), pp. 69-80. American Society of Mechanical
transport in the rabbit knee. Transactions of the Orthopa- Engineers, New York.
edic Research Society 10, 196 (Abstract). Clark, E.A., Goodship, A.E. & Lanyon, L.E. (1975) Loco-
Barfred, T. (1973) Achilles tendon rupture: aetiology and motor bone strain as the stimulus for bone’s mechani-
pathogenesis of subcutaneous rupture assessed on the cal adaptability. Journal of Physiology 245, 57P.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 125

Cochran, G.V., Pawluk, R.J. & Bassett, C.A. (1968) Electro- Fung, Y.C.B. (1967) Elasticity of soft tissues in simple elon-
mechanical characteristics of bone under physiologic gation. American Journal of Physiology 213, 1532-1544.
moisture conditions. Clinical Orthopaedics and Related Fung, Y.C.B. (1972) Stress-strain relations of soft tissue in
Research 58, 249-270. simple elongation. In: Biomechanics: its Foundations and
Cooper, R.R. & Misol, S. (1970) Tendon and ligament in- Objectives (eds Y.C.B. Fung, N. Perrone & M. Anliker),
sertion. Journal of Bone and Joint Surgery 52A, 1-21. pp. 181-209. Prentice Hall, Englewood Cliffs.
Cowin, S.C., Lanyon, L.E. & Rodan, G. (1984) The Kroc Goodship, A.E., Lanyon, L.E. & MacFie, H. (1979) Functi-
Foundation conference on functional adaptation in onal adaptation of bone to increased stress. Journal of
bone tissue. Calcified Tissue International 36, S1-S6. Bone and Joint Surgery 61A, 539-546.
Cox, J.S., Nye, C.E., Schaefer, W.W. & Woodstein, I.J. (1975) Gordon, K.R., Perl, M. & Levy, C. (1989) Structural altera-
The degenerative effects of partial and total resection tions and breaking strength of mouse femora exposed
of the medial meniscus in dogs’ knees. Clinical Orthopa- to three activity regimens. Bone 10, 303-312.
edics and Related Research 109, 178-183. Gross, T.S., Edwards, J.L., McLeod, K.J. & Rubin, C.T. (1997)
Currey, J.D. (1984) The Mechanical Adaptations of Bones. Prin- Strain gradients correlate with sites of periosteal bone
ceton University Press, New Jersey. formation. Journal of Bone and Mineral Research 12, 982-988.
Currey, J.D. (1988) Strain rate and mineral content in fractu- Hahn, H.T. & Kim, R.V. (1980) Fatigue behavior of com-
re models of bone. Journal of Orthopaedic Research 6, 32-38. posite laminates. Journal of Composite Materials 10,
Curwin, S.L., Vailas, A.C. & Wood, J. (1988) Immature ten- 156-180.
don adaptation to strenuous exercise. Journal of Applied Ham, A. W. (1974) Histology. J.B. Lippincott, Philadelphia.
Physiology 65, 2297-2301. Harkness, R.D. (1968) Mechanical properties of collage-
Dalen, N. & Olsson, K.E. (1974) Bone mineral content and nous tissues. In: Treatise on Collagen, Vol. 2. Biology of
physical activity. Acta Orthopaedica Scandinavica 45, 170- Collagen (ed. B.S. Gould), Part A, pp. 241-310. Academic
174. Press, London.
Danzig, L., Resnick, D., Gonsalves, M. & Akeson, W.H. Hert, J., Liskova, M. & Landa, J. (1971) Reaction of bone to
(1983) Blood supply to the normal and abnormal me- mechanical stimuli. Part 1. Continuous and intermit-
nisci of the human knee. Clinical Orthopaedics and Rela- tent loading of tibia in rabbit. Folia Morphologica 19,
ted Research 172, 271-276. 290-300.
De Witt, M.T., Handley, C.J., Oakes, B.W. & Lowther, D.A. Hooley, C.J., McCrum, N. & Cohen, R.E. (1980) The vis-
(1984) In vitro response of chondrocytes to mechani- coelastic deformation of tendon. Journal of Biomechanics
cal loading. The effect of short-term mechanical tensi- 13, 521-528.
on. Connective Tissue Research 12, 97-109. Hou, J.C.-H., Salem, G.J., Zernicke, R.F. & Barnard, R.J.
Dougherty, T.F. & Berliner, D.L. (1968) The effects of hor- (1991) Structural and mechanical adaptations of im-
mones on connective tissue cells. In: Treatise on Colla- mature trabecular bone to strenuous exercise. Journal of
gen, Vol. 2. Biology of Collagen (ed. B.S. Gould), Part A, pp. Applied Physiology 69, 1309-1314.
361-394. Academic Press, London. Jaspers, P., Lange, A., Huiskes, R. & Van Reus, T.G. (1980)
Egner, E. (1982) Knee joint meniscal degeneration as it re- The mechanical function of the meniscus, experiments
lates to tissue fibre structure and mechanical resistan- on cadaveric pig knee joints. Acta Orthopaedica Belgica
ce. Pathology, Research and Practice 173, 310-324. 46, 663-668.
Elliott, D.H. (1965) Structure and function of mammalian Jaworski, Z.F.G. (1984) Lamellar bone turnover system and
tendon. Biological Reviews 40, 392-421. its effector organs. Calcified Tissue International 36,
Eriksson, C. (1976) Electrical properties of bone. In: The S46-S55.
Biochemistry and Physiology of Bone, Vol. IV. Calcification and Jee, W.S., Wronski, E.R., Morey, E.R. & Kimmel, D.B. (1983)
Physiology (ed. G.H. Bourne), 2nd edn, pp. 329-384. Effects of spaceflight on trabecular bone in rats. Ameri-
Academic Press, New York. can Journal of Physiology 244, R310-R314.
Evans, F.G. (1953) Methods of studying the biomechanical Jones, H.H., Prienst, J.B., Hayes, W.C., Tichenor, C.C. &
significance of bone form. American Journal of Physical Nagel, A. (1977) Humeral hypertrophy in response to
Anthropology 11, 413-436. exercise. Journal of Bone and Joint Surgery 59A, 204-208.
Frank, C.B. (1996) Ligament injuries. Pathophysiology and Judex, S. & Zernicke, R.F. (2000a) Does the mechanical
healing. In: Athletic Injuries and Rehabilitation (eds J.E. milieu associated with high-speed running lead to adap-
Zachazewski, D.J. Magee & W.S. Quillen), pp. 9-26. tive changes in diaphyseal growing bone? Bone 26,
Saunders, Philadelphia. 153-159.
Frost, H.M. (1987) Mechanical determinants of skeletal Judex, S. & Zernicke, R.F. (2000b) High-impact exercise
architecture. In: The Scientific Basis of Orthopaedics (eds and growing bone: Relation between high strain rates
J.A. Albright & R.A. Brand), 2nd edn, pp. 241-265. and enhanced bone formation. Journal of Applied Physio-
Appleton-Lange, Connecticut. logy 88, 2183-2191.
126 PAAVO V. KOMI

Judex, S., Whiting, W.C. & Zernicke, R.F. (1999) Exercise- McDonald, R., Hegenauer, J. & Saltman, P. (1986) Agere-
induced bone adaptation: Considerations for designing lated differences in the bone mineralization pattern
an osteogenically effective exercise program. Internatio- of rats following exercise. Journal of Gerontology 41,
nal Journal of Industrial Ergonomics 24, 235-238. 445-452.
Kastelic, J., Galeski, A. & Baer, E. (1978) The multicomposite Martin, R.B. & Burr, D.B. (1989) Structure, Function, and Adap-
structure of tendon. Connective Tissue Research 6, 11-23. tation of Compact Bone. Raven Press, New York.
Keller, T.S. & Spengler, D.M. (1989) Regulation of bone Matsuda, J.J., Zernicke, R.F., Vailas, A.C., Pedrini, V.A.,
stress and strain in the immature and mature rat femur. Pedrini-Mille, A. & Maynard, J.A. (1986) Structural and
Journal of Biomechanics 22, 1115-1128. mechanical adaptation of immature bone to strenuous
Kiiskinen, A. (1977) Physical training and connective tis- exercise. Journal of Applied Physiology 60, 2028-2034.
sue in young mice–physical properties of Achilles ten- Meade, J.B., Cowin, S.C., Klatwitter, J.J., Van Buskirk, W.C.
don and long bone growth. Growth 41, 123-127. & Skinner, H.B. (1984) Bone remodeling to continuou-
Kiiskinen, A. & Heikkinen, E. (1973) Effects of physical sly applied loads. Calcified Tissue International 36, S25-S30.
training on development and strength of tendons and Michna, H. (1984) Morphometric analysis of loading-in-
bone in growing mice. Scandinavian Journal of Clinical and duced changes in collagen-fibril populations in young
Laboratory Investigation 29 (Suppl. 123), 60. tendons. Cell and Tissue Research 236, 465-470.
Krause, W.R., Pope, M.H., Johnson, R.J. & Wilder, D.G. Morey, E.R. & Baylink, D.J. (1978) Inhibition of bone for-
(1976) Mechanical changes in the knee after meniscec- mation during space flight. Science 201, 1138-1141.
tomy. Journal of Bone and Joint Surgery 58A, 599-604. Mow, V.C., Holmes, M.H. & Lai, W.M. (1984) Fluid trans-
Krolner, B., Toft, B., Nielson, S.P. & Tondevold, E. (1983) port and mechanical properties of articular cartilage: a
Physical exercise as prophylaxis against involutional review. Journal of Biomechanics 17, 377-394.
vertebral bone loss: a controlled trial. Clinical Science 64, Nordin, M. & Frankel, V.H. (1989) Basic Biomechanics of the
541-546. Musculoskeletal System, 2nd edn. Lea & Febiger, Phila-
Lafferty, J.F. & Raju, P.V.V. (1979) The influence of stress delphia.
frequency on the fatigue strength of cortical bone. Jour- Noyes, F.R., De Lucas, J.L. & Torvik, P.J. (1974a) Biome-
nal of Biomechanical Engineering 101, 112-113. chanics of anterior cruciate ligament failure: An analy-
Lanyon, L.E. (1973) Analysis of surface bone strain in the sis of strain-rate sensitivity and mechanisms of failure
calcaneus of sheep during normal locomotion. Journal in primates. Journal of Bone and Joint Surgery 56A, 236-253.
of Biomechanics 6, 41-49. Noyes, F.R., Torvik, P.J., Hyde, W.B. & De Lucas, J.L. (1974b)
Lanyon, L.E. (1987) Functional strain in bone tissue as an Biomechanics of ligament failure. Journal of Bone and Jo-
objective and controlling stimulus for adaptive bone int Surgery 56A, 1406-1418.
remodelling. Journal of Biomechanics 20, 1083-1093. O’Connor, J.A., Lanyon, L.E. & McFie, H. (1982) The in-
Lanyon, L.E. (1996) Using functional loading to influence fluence of strain rate on adaptive bone remodeling. Jour-
bone mass and architecture: objectives, mechanisms, nal of Biomechanics 15, 767-781.
and relationship with estrogen of the mechanically adap- Ovalle, W.K. (1987) The human muscle-tendon junction:
tive process in bone. Bone 18, 37S-43S. a morphological study during normal growth and at
Lanyon, L.E. & Hartman, W. (1977) Strain related electri- maturity. Anatomy and Embryology 176, 281-294.
cal potentials recorded in vitro and in vivo. Calcified Tis- Pedrini-Mille, A., Pedrini, V.A., Maynard, JA. & Vailas, A.C.
sue Research 22, 315-327. (1988) Response of immature chicken meniscus to stre-
Lanyon, L.E. & Rubin, C.T. (1984) Static vs. dynamic loads nuous exercise: Biochemical studies of proteoglycan and
as an influence on bone remodelling. Journal of Biome- collagen. Journal of Orthopaedic Research 6, 196-204.
chanics 16, 897-905. Pirnay, F., Bodeux, M., Crielaard, J.M. & Franchimont, P.
Laros, G.S., Tipton, C.M. & Cooper, R.R. (1971) Influence (1987) Bone mineral content and physical activity. In-
of physical activity on ligament insertions in the knees ternational Journal of Sports Medicine 8, 331-335.
of dogs. Journal of Bone and Joint Surgery 53A, 275-286. Prockop, D.J. & Guzman, N.A. (1977) Collagen diseases
Liskova, M. & Hert, J. (1971) Reaction of bone to mecha- and the biosynthesis of collagen. Hospital Practice De-
nical stimuli. Part 2: Periosteal and endosteal reaction cember, 61-68.
of tibial diaphyses in rabbit to intermittent loading. Fo- Radin, E.L., Orr, R.B., Kelman, J.L., Paul, I.L. & Rose, M.R.
lia Morphologica 19, 301. (1982) Effect of prolonged walking on concrete on the
Lufti, A.M. & Sudan, K. (1975) Morphological changes in knees of sheep. Journal of Biomechanics 15, 487-492.
the articular cartilage after meniscectomy: An experi- Rambaut, P.C. & Johnson, R.S. (1979) Prolonged weightles-
mental study in the monkey. Journal of Bone and Joint sness and calcium loss in man. Acta Astronautica 6,
Surgery 57B, 525-527. 1113-1122.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 127

Rubin, C.T. (1984) Skeletal strain and the functional signi- Smith, E.L., Smith, P.E., Ensign, C.J. & Shea, M.M. (1984)
ficance of bone architecture. Calcified Tissue Internatio- Bone involution decrease in exercising middle-aged
nal 36, S11-S18. women. Calcified Tissue International 36, 5129-5138.
Rubin, C.T. & Lanyon, L.E. (1985) Regulation of bone mass Steinberg, M.E. & Trueta, J. (1981) Effects of activity on
by mechanical strain magnitude. Calcified Tissue Interna- bone growth and development in the rat. Clinical Ortho-
tional 37, 411-417. paedics and Related Research 156, 52-60.
Rubin, C.T. & Lanyon, L.E. (1987) Osteoregulatory nature Tidball, J.G. (1983) The geometry of actin filament-mem-
of mechanical stimuli: Function as a determinant for brane associations can modify adhesive strength of the
adaptive remodeling in bone. Journal of Orthopaedic Re- myotendinous junction. Cell Motility 3, 439-447.
search 5, 300-310. Tidball, J. G. (1984) Myotendinous junction: Morphologi-
Saville, P.D. & Whyte, M.P. (1969) Muscle and bone hyper- cal changes and mechanical failure associated with
trophy: Positive effect of running exercise in the rat. muscle cell atrophy. Experimental and Molecular Patholo-
Clinical Orthopaedics and Related Research 65, 81-88. gy 40, 1-12.
Schaffler, M.B. & Burr, D.B. (1988) Stiffness of compact Tidball, J.G. & Daniel, T.L. (1986) Myotendinous juncti-
bone: The effect of porosity and density. Journal of Bio- ons of tonic muscle cells. Structure and loading. Cell
mechanics 21, 13-16. and Tissue Research 245, 315-322.
Schaffler, M.B., Radin, E.L. & Burr, D.B. (1989) Mechani- Tipton, C.M., Schild, R.J. & Tomanek, R.J. (1967) Influen-
cal and morphological effects of strain rate on fatigue ce of physical activity on the strength of knee ligaments
on compact bone. Bone 10, 207-214. in rats. American Journal of Physiology 212, 783-787.
Shaw, S.R., Zernicke, R.F., Vailas, A.C., DeLuna, D., Tho- Tipton, C.M., James, S.L., Mergner, W. & Tcheng, T.K.
mason, D.B. & Baldwin, K.B. (1987) Mechanical, mor- (1970) Influence of exercise on strength of medial co-
phological and biochemical adaptations of bone and llateral knee ligaments of dogs. American Journal of Phy-
muscle to hindlimb suspension and exercise. Journal of siology 218, 894-902.
Biomechanics 20, 225-234. Tipton, C.M., Tcheng, T.K. & Mergner, W. (1971) Influen-
Shaw, S.R., Vailas, A.C., Grindeland, R.E. & Zernicke, R.F. ce of immobilization, training, exogenous hormones,
(1988) Effects of one-week space-flight on the morpho- and surgical repair on knee ligaments from hypophy-
logical and mechanical properties of growing bone. sectomized rats. American Journal of Physiology 221,
American Journal of Physiology 254, R78-R83. 1144-1150.
Shrive, N. (1974) The weight-bearing role of the meniscus Tipton, C.M., Matthes, R.D. & Sandage, D.S. (1974) In situ
of the knee. Journal of Bone and Joint Surgery 56B, 381-387. measurements of junction strength and ligament elon-
Silbermann, M., Bar-Shira-Maymon, B., Coleman, R. et al. gation in rats. Journal of Applied Physiology 37, 758-761.
(1990) Long-term physical exercise retards trabecular Tipton, C.M., Matthes, R.D., Maynard, J.A. & Carey, R.A.
bone loss in lumbar vertebrae of aging female mice. (1975) The influence of physical activity on tendons
Calcified Tissue International 46, 80-93. and ligaments. Medicine and Science in Sports 7, 165-175.
Simkin, A., Ayalon, J. & Leichter, I. (1987) Increased trabe- Trotter, J.A., Eberhard, S. & Samora, A. (1983) Structural
cular bone density due to bone-loading exercises in post- connections of the muscle-tendon junction. Cell Moti-
menopausal women. Calcified Tissue International 40, 59-63. lity 3, 431-438.
Skerry, T.M., Bitensky, L., Chayen, J. & Lanyon, L.E. (1988) Uezaki, N., Kobayashi, A. & Matushige, K. (1979) The vis-
Loading-related reorientation of bone proteoglycan in coelastic properties of the human semilunar cartilage.
vivo. Strain memory in bone tissue? Journal of Orthopa- Journal of Biomechanics 12, 65-73.
edic Research 6, 547-551. Uhthoff, H.K. & Jaworski, Z.F. (1978) Bone loss in respon-
Skerry, T.M., Suswillo, R., El Haj, A.J., Ali, N.N., Dodds, se to long-term immobilization. Journal of Bone and Joint
R.A. & Lanyon, L.E. (1990) Load-induced proteogly- Surgery 60B, 420-429.
can orientation in bone tissue in vivo and in vitro. Cal- Vailas, A.C., Tipton, C.M., Laughlin, H.L., Tcheng, T.K. &
cified Tissue International 46, 318-326. Matthes, R.D. (1978) Physical activity and hypophysec-
Skinner, H.C. (1987) Bone Mineralization. In: The Scientific tomy on the aerobic capacity of ligaments and tendons.
Basis of Orthopaedics (eds J.A. Albright & R.A. Brand), American Journal of Physiology 44, 542-546.
2nd edn, pp. 199-212. Appleton-Lange, Connecticut. Vailas, A.C., Tipton, C.M., Matthes, R.D. & Gart, M. (1981)
Slocum, D.B. & Larson, R.L. (1968) Rotatory instability of Physical activity and its influence on the repair process
the knee. Journal of Bone and Joint Surgery 50A, 211-225. of medial collateral ligaments. Connective Tissue Research
Smith, S.D. (1977) Femoral development in chronically 9, 25-31.
centrifuged rats. Aviation Space and Environmental Medi- Vailas, A.C., Zernicke, R.F., Matsuda, J. & Peller, D. (1985)
cine 48, 828-835. Regional biochemical and morphological characteris-
128 PAAVO V. KOMI

tics of rat knee meniscus. Comparative Biochemistry and Woo, S.L.-Y., Ritter, M.A., Amiel, D. et al. (1980) The bio-
Physiology 82B, 283-285. mechanical and biochemical properties of swine ten-
Vailas, A.C., Zernicke, R.F., Matsuda, J., Curwin, S. & Du- dons–long-term effects of exercise on the digital exten-
rivage, J. (1986) Adaptation of rat knee meniscus to pro- sors. Connective Tissue Research 7, 177-183.
longed exercise. Journal of Applied Physiology 60, 1031- Woo, S.L.-Y., Kuei, S.C., Amiel, D. et al. (1981) The effect of
1034. physical training on the properties of long bone: a stu-
Veldhuijzen, J.P., Bourret, L.A. & Rodan, G.A. (1979) In dy of Wolff’s law. Journal of Bone and Joint Surgery 63A,
vitro studies of the effect of intermittent compressive 780-787.
forces on cartilage cell proliferation. Journal of Cellular Woo, S.L.-Y., Gomez, M.A., Woo, Y.K. & Akeson, W.H.
Physiology 98, 299-306. (1982) Mechanical properties of tendons and ligaments.
Videman, T., Eronen, L, Friman, C. & Langenskiold, A. II. The relationships of immobilization and exercise on
(1979) Glycosaminoglycan metabolisms of the medial tissue remodeling. Biorheology 19, 397-408.
meniscus, the medial collateral ligaments and the hip Yeh, C.K. & Rodan, G.A. (1984) Tensile forces enhance pros-
joint capsule in experimental osteoarthritis caused by taglandin E synthesis in osteoblastic cells grown on co-
immobilization of the rabbit knee. Acta Orthopaedica Scan- llagen ribbons. Calcified Tissue International 36, S67-S71.
dinavica 50, 465-470. Zamora, A.J. & Marini, J.F. (1988) Tendon and myotendi-
Viidik, A. (1973) Functional properties of collagenous tis- nous junction in an overloaded skeletal muscle in the
sues. International Review of Connective Tissue Research 6, rat. Anatomy and Embryology 179, 89-96.
127-215. Zernicke, R.F. & Loitz, B.J. (1990) Myotendinous adaptati-
Walker, P.S. & Erkman, M.J. (1975) The role of menisci in on to conditioning. In: Sports-Induced Inflammation (eds
force transmission across the knee. Clinical Orthopaedics J. Buckwalter, S. Gordon & W. Leadbetter), pp. 687-698.
and Related Research 109, 184-191. American Academy of Orthopaedic Surgeons, Park Rid-
White, A., Handler, P. & Smith, E.L. (1964) Principles of ge, Illinois.
Biochemistry. McGraw-Hill, New York. Zernicke, R.F., Vailas, A.C., Shaw, S.R., Bogey, R.S., Hart,
Wittich, A., Mautalen, C.A., Oliveri, M.B., Bagur, A., So- T.J. & Matsuda, J. (1986) Heterogeneous mechanical
moza, F. & Rotemberg, E. (1998) Professional football response of rat knee menisci to thermochemical stress.
(soccer) players have a markedly greater skeletal mine- American Journal of Physiology 250, R65-R70.
ral content, density and size than age- and BMI-ma- Zuckerman, J. & Stull, G.A. (1969) Effects of exercise on
tched controls. Calcified Tissue International 63, 112-117. knee ligament separation force in rats. Journal of Applied
Woo, S.L.-Y., Matthews, J.V., Akeson, W.H., Amiel, D. & Physiology 26, 716.
Convery, F.R. (1975) Connective tissue response to im- Zuckerman, J. & Stull, G.A. (1973) Ligamentous separati-
mobility. Correlative study of biochemical measure- on force in rats as influenced by training, detraining
ments of normal and immobilized rabbit knees. Arthri- and cage restriction. Medicine and Science in Sports 5,
tis and Rheumatism 18, 257-264. 41-49.
Capítulo 7
Desempenho contrátil das
fibras musculoesqueléticas
K.A. PAUL EDMAN

O músculo esquelético é o maior órgão do corpo. Estrutura do sistema de geração


Constitui aproximadamente 40% do peso corporal de força
total, sendo organizado em centenas de entidades
separadas, ou músculos corporais. Cada um destina- A fibra muscular assemelha-se à estrutura de um
se a uma tarefa específica, possibilitando a grande cabo. Ela é composta de subunidades fortemente
variedade de movimentos essenciais à vida normal. agrupadas, as miofibrilas, que constituem grande parte
Cada músculo é constituído de inúmeras subunida- do volume da fibra (Fig. 7.1). As miofibrilas têm apro-
des, de fibras musculares, dispostas em paralelo e ti- ximadamente 1 μm de largura e dispõem-se em tor-
picamente estendidas de um tendão ao outro. É es- no do comprimento total da fibra. Elas contêm o apa-
sencial conhecer as propriedades mecânicas das fibras rato contrátil e são, portanto, as estruturas respon-
musculares para compreender o desempenho do sáveis, dentro do músculo, pela geração de força e
músculo. As técnicas laboratoriais atualmente dispo- pelo encurtamento ativo. As miofibrilas exibem um
níveis possibilitam estudar em riqueza de detalhes o padrão característico de bandas de segmentos alter-
comportamento contrátil de fibras intactas, isoladas nadamente escuros e claros quando analisadas em
dos músculos de anfíbios e mantidas imersas em uma microscópio. Como os segmentos claros e escuros
solução salina fisiológica. Tais fibras, se adequada- coincidem em miofibrilas adjacentes, toda a fibra
mente tratadas, são remarcadamente estáveis em seu muscular assume uma aparência estriada no micros-
comportamento contrátil, demonstrando respostas cópio. O músculo esquelético é, portanto, geralmen-
quase idênticas à estimulação elétrica durante um dia te referido como “músculo estriado”. Como ficará
inteiro de experimentos. Além disso, a preparação de claro, a aparência estriada representa uma expressão
fibras oferece a possibilidade de estudo do desempe- da regularidade com que o mecanismo contrátil é or-
nho mecânico sob restrito controle do comprimento ganizado dentro da miofibrila.
do sarcômero. O último aspecto é de particular im- Dois conjuntos de filamentos de diferentes es-
portância, pois o comprimento do sarcômero reflete pessuras que demonstram a disposição segmentada
o estado de sobreposição entre os dois conjuntos de e altamente organizada correspondente à aparência
filamentos que constituem os principais elementos estriada da miofibrila são os principais elementos na
funcionais do sistema contrátil. As seguintes consi- estrutura miofibrilar. Os filamentos grossos ocupam
derações esclarecerão algumas propriedades contrá- as bandas escuras da fibra (ver Fig. 7.1) e são consti-
teis básicas da fibra musculoesquelética. Também tuídos de uma proteína fibrosa, a miosina (Hanson e
tentaremos relacionar tais propriedades à estrutura Huxley, 1953; Hasselback, 1953). As propriedades
do sistema contrátil. óticas específicas desses filamentos em seu estado
130 PAAVO V. KOMI

Figura 7.1 Ilustração esquemática da estrutura muscular. Ver texto para explicação adicional (de di Prampero, 1985).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 131

ordenado fazem o segmento parecer escuro no mi- nem lateralmente, mas permaneçam separados du-
croscópio quando a fibra é iluminada sob condi- rante a contração muscular.
ções padrão. Os sinônimos para esses filamentos são: A miosina, que representa o principal constitu-
filamento grosso, filamento de miosina ou, referin- inte do filamento grosso, é uma estrutura similar a
do-se às suas propriedades óticas (anisotrópicas), um grande cajado, composta de uma haste longa com
filamento A. duas cabeças globulares na extremidade. As molécu-
O segundo conjunto de filamentos é principal- las de miosina são agrupadas de tal maneira que a
mente constituído de uma proteína globular, a acti- haste forma a espinha dorsal do filamento grosso. No
na. Esses filamentos são ancorados no disco-Z, loca- entanto, porção substancial da molécula de miosina,
lizado no centro da banda clara (Fig. 7.1). Eles se as duas cabeças e parte da haste, estende-se a partir
estendem do disco-Z e alcançam a banda-A adjacente, de uma estrutura similar a uma vara para formar pe-
onde se sobrepõem em algum grau aos filamentos daços laterais (ponte cruzada de miosina) em inter-
grossos (Hanson e Huxley, 1953). Os filamentos fi- valos regulares ao longo do filamento. As pontes cru-
nos (actina) apresentam propriedades óticas (isotró- zadas são posicionadas de tal maneira que a cada seis
picas) que diferem daquelas do filamento grosso, ex- de suas unidades, considerando do centro em dire-
plicando a aparência característica do segmento que ção à extremidade do filamento, ficarão a frente de
ocupam. Os filamentos finos são geralmente referi- determinado filamento fino. As duas metades do fi-
dos como filamentos I, e os segmentos que eles pre- lamento refletem as imagens uma da outra (Fig. 7.2).
enchem são geralmente classificados como banda-I. Também existe uma região central, c. 0,15 μm em
A visão transversal das miofibrilas mostra que esses comprimento, livre de pontes cruzadas (a “zona iner-
dois conjuntos de filamentos estão dispostos de ma- te”). O comprimento total do filamento grosso é de
neira altamente ordenada (Fig. 7.1). Cada filamento 1,55 μm.
A é circundado por seis filamentos I em disposição Como demonstrado na Figura 7.3, o monômero
hexagonal. O filamento individual A está, então, em de actina representa a principal estrutura do filamento
uma posição em que interage simultaneamente com fino. As moléculas de actina são polimerizadas para
seis filamentos I adjacentes. Nesse sentido, cada fila- formar dois elementos hélicos envolvidos um ao ou-
mento I é capaz de interagir com três filamentos A tro. Cada molécula de actina constitui um local onde
vizinhos. Tal disposição espacial dos miofilamentos é um filamento grosso adjacente pode interagir para
de grande importância funcional, pois confere esta- formar a conexão de uma ponte cruzada durante a
bilidade ao sistema contrátil durante a atividade. O atividade muscular (ver mais adiante). Outro impor-
fato de qualquer filamento ser capaz de interagir com tante constituinte do filamento fino é o sistema pro-
vários filamentos adjacentes concomitantemente téico que regula o nível de interação entre os fila-
assegura que os filamentos individuais não se agluti- mentos grosso e fino. Esse sistema está localizado no

Figura 7.2 Diagrama simplificado do


filamento de miosina (não desenhado
em escala) ilustrando a disposição das
moléculas de miosina. Note que as duas
partes do filamento são simétricas e que
a zona central, c. 0,15 μm de largura,
está livre das extensões de miosina
(pontes cruzadas) (após modelo
apresentado por Huxley, 1963).
132 PAAVO V. KOMI

encaixe entre os dois elementos de actina e a parte protéica, forma um filamento longo que se estende
integral do filamento fino. Tal estrutura é formada do disco-Z ao longo de todo o filamento fino (acti-
pela tropomiosina e pela troponina, das quais as fun- na), formando conexões regulares com as unidades
ções são atualmente muito bem compreendidas de actina. Outra parte do citoesqueleto é constituída
(Ebashi e Endo, 1968; Ebashi, 1980; Gordon et al., pelas proteínas desmina, vimentina e sinemina, que
2000). As moléculas de tropomiosina apresentam a forma um sistema de filamentos envolvidos ao redor
forma de um bastão. Elas são polimerizadas de uma do disco-Z e interconecta-se aos discos-Z vizinhos,
extremidade à outra para formar um cordão que dis- ambos transversalmente pela fibra muscular e longi-
põe cada um dos encaixes entre a actina ao longo de tudinalmente ao longo de cada miofibrila. Esse siste-
todo o filamento I. Cada molécula de tropomiosina ma de filamento de suporte é, em grande parte, res-
contém uma troponina acoplada (Fig. 7.3). A tropo- ponsável pelo registro axial do sarcômero, que fornece
nina, uma complexa proteína, possui alta afinidade ao músculo sua aparência estriada ao microscópio.
com o cálcio. A ligação do cálcio à troponina causa O exercício excessivo que induz lesão nessas estru-
alteração estrutural do complexo troponina-tropo- turas pode produzir desordem do padrão de sarcô-
miosina e induz ativação contrátil conforme descrito mero e distúrbio da função contrátil.
subseqüentemente. Procurar as referências Squire (1981), Squire
Além da actina, da miosina e das proteínas regu- (1997), Woledge e colaboradores (1985) e Gordon e
latórias que constituem os filamentos grossos e fi- colaboradores (2000) para informação mais detalha-
nos, como descrito anteriormente, há uma fina rede da da estrutura do sistema contrátil.
de estruturas filamentosas que formam um citoes-
queleto que serve para manter os filamentos alinha-
dos no sarcômero e para sustentar o registro lateral Eventos moleculares durante a
dos sarcômeros através das fibras musculares (para contração
revisão, ver Waterman-Storer, 1991; Wang, 1996;
Linke, 2000). Parte dessa rede de estruturas elásticas Nosso conhecimento sobre a organização estru-
é constituída por proteínas gigantescas, como a titi- tural do sistema contrátil na forma de dois conjun-
na e a nebulina. Cada molécula de titina forma um tos distintos de filamentos, como descrito anterior-
filamento longo que se estende do disco-Z à metade mente, provém do trabalho pioneiro de H.E. Huxley
da banda-A, acoplada em locais regulares ao longo e J. Hanson realizado no início da década de 1950
do filamento grosso (miosina). Os filamentos de titi- (Hanson e Huxley, 1953; Huxley, 1953; Huxley e
na em ambas as metades do sarcômero, pelo seu ar- Hanson, 1954). A observação de que os filamentos
ranjo, auxiliam na manutenção do alinhamento e do grossos e finos permanecem constantes em compri-
posicionamento dos filamentos de miosina no cen- mento durante a contração muscular, enquanto a
tro do sarcômero. A porção livre do filamento de titi- região de sobreposição entre eles altera com o com-
na, isto é, a parte que se estende da extremidade da primento da fibra, levou esses autores a sugerirem
miosina ao disco-Z, é complacente e responde por que a contração muscular é baseada no movimento
grande parte da elasticidade da fibra muscular em de deslizamento dos dois conjuntos de filamentos en-
repouso. A nebulina, similar a uma grande molécula trelaçados. Uma conclusão similar foi determinada

Figura 7.3 Representação


esquemática da porção do filamento fino
mostrando os dois elementos hélicos
das moléculas de actina. As proteínas
regulatórias, a troponina e a
tropomiosina estão posicionadas em
cada um dos dois encaixes entre os
elementos de actina (de Ebashi, 1980).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 133

no mesmo período por A.F. Huxley e Niedergerke experimentais sugerem que as pontes de miosina fa-
(1954). Esses autores foram capazes de demonstrar zem repetidos contatos com os filamentos finos ad-
que o comprimento das bandas-A (ocupadas pelos jacentes e que cada um desses contatos contribui para
filamentos grossos) permanece essencialmente cons- o desenvolvimento de força durante a contração. No
tante quando uma fibra muscular se encurta, enquan- entanto, o mecanismo preciso pelo qual a força é ge-
to o espaçamento da banda-I varia de acordo com o rada pela ponte cruzada ainda deve ser estabelecido.
comprimento da fibra. A idéia de que a contração A Figura 7.4 apresenta uma ilustração esquemá-
muscular envolve um movimento de deslizamento tica do ciclo de pontes cruzadas de acordo com o
dos filamentos grossos e finos, sem nenhuma altera- conhecimento atual. O processo inicia-se com o in-
ção significativa do comprimento, teve aceitação geral. cremento da concentração de cálcio ao redor das
De acordo com essa visão, o controle da força para o miofibrilas. Isso ocorre quando a fibra é estimulada,
movimento de deslizamento é gerado pelas pontes e o cálcio é liberado no mioplasma de seu local de
cruzadas de miosina dentro da região em que os fila- estoque no retículo sarcoplasmático. A ligação do cál-
mentos grossos e finos se sobrepõem. As evidências cio à troponina promove alteração no formato do

Figura 7.4 Ilustração esquemática do ciclo


das pontes cruzadas. Dois locais de ligação
no filamento de actina são marcados para
ilustrar o deslizamento do filamento fino
relativo ao da ponte cruzada de (a) para (d).
134 PAAVO V. KOMI

complexo troponina-tropomiosina que causa a re- pelo grau de ativação do sistema contrátil (controla-
tração da tropomiosina no encaixe entre os elemen- do pelos íons cálcio, como vimos anteriormente) e
tos da actina do filamento fino (Ebashi e Endo, 1968; pela quantidade de sobreposição entre os filamentos
Squire, 1981; Gordon et al., 2000). Dessa maneira, o grossos e finos. As pontes se acoplam ao filamento
obstáculo estérico para a interação entre os filamen- fino em uma posição em que são capazes de produ-
tos grossos e finos é eliminado, e as pontes cruzadas zir força ativa e, caso os filamentos sejam impedidos
de miosina têm a oportunidade de acoplar-se às mo- de realizar o deslizamento (que pode ser alcançado
léculas de actina ao seu alcance nos filamentos finos pela constante manutenção do comprimento do sar-
vizinhos. cômero através de controle de feedback), as pontes cru-
Não se conhece em detalhes a ação da ponte cru- zadas permanecem em posição de produção de força
zada. Como anteriormente considerado, cada ponte enquanto ficarem acopladas ao filamento fino. No
de miosina possui duas cabeças que trabalham de entanto, se ocorre turnover das pontes, mesmo sob
maneira alternada, isto é, somente uma cabeça pode condições isométricas (comprimento constante), elas
estar em ação em determinado momento. A Figura dissociam-se espontaneamente e são substituídas por
7.4 (a-d) ilustra, esquematicamente, a série de even- novas pontes, mantendo o número total de pontes
tos prováveis durante o ciclo de pontes cruzadas. Uma acopladas em determinado nível. Isso resulta em cer-
conexão é formada entre uma das cabeças globula- to gasto energético mesmo durante ação puramente
res da ponte e o local da actina (b). Isso provoca uma isométrica, em que o músculo não produz trabalho.
alteração no formato na região da cabeça (esquema- A força produzida pelas pontes cruzadas faz com
ticamente ilustrada como a inclinação da cabeça de que os filamentos finos deslizem em direção ao cen-
miosina) que impõe tensão na haste da ponte (c). A tro dos filamentos grossos quando as extremidades
força então produzida tende a mover o filamento fino musculares estão livres para movimentar-se. O mo-
na disposição dos filamentos grossos. Após o golpe vimento de deslizamento diminui a probabilidade de
potente, a cabeça da ponte cruzada é desacoplada do formação das pontes cruzadas desde que as pontes
filamento fino; isso ocorre quando a molécula de de miosina sejam expostas a um potencial local de
adenosina trifosfato (ATP) se liga à cabeça da miosi- ativação por período curto de tempo quando os fila-
na. A ligação da molécula de ATP é rapidamente cli- mentos deslizam entre si. Então, o número de pontes
vada, e a ponte reassume a sua forma original (“rela- acopladas é fortemente reduzido ao permitir-se que
xada”). A ponte está, portanto, pronta para acoplar-se o músculo encurte em velocidades progressivamen-
novamente ao filamento fino para um novo ciclo de te maiores (atingidas pelo decréscimo da sobrecarga
atividade (d). Cada ciclo completo de trabalho das ao músculo). Por esse mecanismo, o músculo é ca-
pontes cruzadas requer a hidrólise de uma molécula paz de ajustar-se ao número de pontes cruzadas ati-
de ATP que serve como fonte imediata de energia vas (e, portanto, ao seu gasto energético) para ade-
para o processo contrátil (ver Woledge et al., 1985). quar precisamente a sobrecarga elevada durante o
A ATP consumida é continuamente reposta. Tal pa- encurtamento.
tamar de reposição é parcialmente atingido através Devido ao movimento de alguns filamentos, cer-
da reutilização dos produtos clivados, a adenosina di- tas pontes acopladas adotam “posição de freio”* e
fosfato (ADP) e o fosfato inorgânico (Pi), para a for- agem contra o movimento de deslizamento. Quando
mação de ATP. No entanto, há acúmulo de ADP, Pi e a sobrecarga no músculo cai a zero, o número de
H+ durante exercício excessivo. A deposição dessas pontes cruzadas em “posição de freio” é exatamente
substâncias prejudica o desempenho das pontes cru- igual ao número de pontes em “posição de produção
zadas, representando uma causa de fadiga muscular de força”.** A distribuição entre as pontes cruzadas
(ver mais adiante). “em posição de produção de força” e em “posição de
De acordo com a hipótese das pontes cruzadas
(Huxley, 1957), as pontes são responsáveis por agi-
rem como geradoras independentes de força. Isso sig- *N. de R.T. Condição na qual a ponte cruzada opõe-se à reali-
nifica assumir que o desempenho de uma ponte não zação do movimento.
é influenciado pela atividade de outras pontes. O nú- **N. de R.T. Condição na qual a ponte cruzada participa ativa-

mero de pontes cruzadas formadas é determinado mente na produção de força pelo sarcômero.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 135

freio” sempre estará configurada de maneira que ne- (Edman e Reggiani, 1984; Edman e Reggiani, 1987)
nhuma força seja criada para o movimento de desli- demonstraram a necessidade de isolar um segmento
zamento (Huxley, 1957). Isso assegura que o múscu- consideravelmente menor de fibra (c. 0,5 mm em com-
lo encurte em velocidade constante. Caso a força para primento) para eliminar o erro na medida compri-
o movimento de deslizamento aumente, devido ao mento-tensão em virtude do comportamento não-
acoplamento inapropriado entre as pontes em “posi- uniforme do sarcômero.
ção de freio” e “em posição de produção de força”, o A Figura 7.5 ilustra o método utilizado para iso-
músculo deve acelerar durante a fase de encurtamen- lar um discreto e curto segmento de uma fibra mus-
to. Esse comportamento tende a tornar os movimen- cular (para mais detalhes, ver Edman e Höglund,
tos corporais “grossos” e menos precisos. 1981; Edman e Reggiani, 1984; Edman e Lou, 1990).
A fibra muscular (A) é posicionada horizontalmente
em solução salina fisiológica (B) entre o transdutor
Desempenho contrátil do músculo de força (C) e a haste (D) de um ativador eletromag-
estriado nético (E). A fibra é estimulada por meio de dois ele-
trodos de placa de platina (não-ilustrado) colocados
Relação comprimento-tensão ao lado da fibra no banho. Segmentos separados, com
aproximadamente 0,5 mm de comprimento, são de-
Há muito tempo sabe-se que a capacidade do finidos por finos marcadores opacos fortemente aco-
músculo de produzir força depende do comprimen- plados à superfície superior da fibra. A posição rela-
to em que ele é mantido. Também está estabelecido tiva de qualquer um dos dois marcadores adjacentes
que a força máxima é produzida próxima do compri- (descrevendo um segmento) pode ser determinada
mento em que o músculo normalmente é acionado com elevado grau de acurácia por meio de um ins-
no corpo.* Esse comprimento dependente do desem- trumento de registro fotoelétrico (I). Para o isolamen-
penho contrátil, tem atraído muita atenção graças à to, determinado segmento do ativador (E) é coman-
clara relação entre força e comprimento do sarcô- dado a fim de ajustar o comprimento total da fibra de
mero e ao fato de essa característica fornecer infor- maneira que o comprimento do segmento seja man-
mação relevante para o esclarecimento dos mecanis- tido constante durante a contração. Para essa mano-
mos de deslizamento dos filamentos da contração bra, o ativador é continuamente guiado pelo sinal for-
muscular. No entanto, o estudo da relação compri- necido pelo instrumento fotoelétrico. É possível,
mento do sarcômero-tensão se torna difícil pelo fato assim, manter o comprimento do sarcômero de um
de o padrão do sarcômero não ser precisamente uni- pequeno segmento da fibra constante (em 0,1%) du-
forme em uma fibra muscular, mas variar em magni- rante o tétano. O segmento isolado não é encurtado e
tude de uma região para outra ao longo da fibra. Na muito menos alongado na contração. A tensão regis-
tentativa de eliminar esse problema, técnicas que pos- trada sob essas condições é, portanto, a força isomé-
sibilitam o registro da força isométrica de somente trica real do segmento isolado. Geralmente, a força
uma parte da fibra intacta têm sido desenvolvidas. produzida permanece estável durante o período da te-
Gordon e colaboradores (1966) foram os primeiros tania, conforme ilustrado na Figura 7.6 (registro b).
a apresentar tal modelo. Com sua técnica de “spot A relação entre a força tetânica máxima e o com-
follower”, esses autores isolaram uma porção de 7 a primento do sarcômero está ilustrada na Figura 7.7.
10 mm de fibra muscular durante a tetania.** Assim, A curva baseia-se nas mensurações dos curtos seg-
excluíram as regiões extremas da fibra em um regis- mentos isolados avaliados, como descrito anterior-
tro da força. No entanto, experimentos posteriores mente, portanto, parecem refletir o desempenho me-
cânico de uma quantidade uniforme de sarcômeros
da fibra. Por vezes observa-se que a força máxima é
atingida próximo ao comprimento do sarcômero de
*N. de R.T. Refere-se à posição do músculo na condição de 2,0 μm. Também constata-se que a força é progressi-
repouso.
**N. de R.T. Relativo ao tétano fisiológico, condição de contra- vamente reduzida acima e abaixo desse comprimen-
ção muscular sustentada sem períodos de relaxamento. Cha- to. A força mensurada aproxima-se de zero quando
mada também de contração tetânica. os sarcômeros são estendidos de 3,6 a 3,7 μm.
136 PAAVO V. KOMI

Figura 7.5 (a) Equipamento para o


registro da força e do movimento em
segmentos curtos discretos de fibras
musculares intactas isoladas. A: fibra
muscular isolada; B: câmara muscular
preenchida com solução salina; C:
transdutor de força; D: haste móvel no
plano horizontal; E: ativador
eletromagnético; F: transdutor para registro
dos movimentos da haste D; G: caminho
do feixe de laser; H: microscópio
monocular em que a imagem da fibra (e
marcadores) é projetada. A união do
fotodiodo, I, posicionado no plano da
imagem registra a distância entre os
marcadores adjacentes. (b) Diagramação
de fibras musculares isoladas com
marcadores acoplados na superfície.

A relação comprimento do sarcômero-tensão di-


fere em alguns aspectos da curva poligonal compri-
mento-tensão originalmente descrita por Gordon e
colaboradores (1966). Os novos dados demonstram
que a relação comprimento-tensão não apresenta
platô distinto entre 2,0 e 2,2 μm de comprimento do
sarcômero (ver comparações das curvas na Fig. 7.8).
Além disso, a relação comprimento-tensão apresen-
ta uma forma mais uniforme do que a anteriormente
postulada.
A relação comprimento-tensão serve também
para estimar o comprimento funcional médio dos fi-
Figura 7.6 Força tetânica registrada em uma fibra muscular lamentos A e I e a variabilidade de sobreposição en-
isolada de rã com 2,95 μm de comprimento do sarcômero. (a) tre eles, uma vez que a força ativa seja proporcional
Registro convencional com as extremidades da fibra fixadas. ao grau de sobreposição entre os filamentos grosso e
Note a deformação contínua da tensão, indicando fino. Os resultados dessa análise (para detalhes, ver
comportamento não-uniforme dos sarcômeros ao longo da fibra. Edman e Reggiani, 1987) sugerem que os filamentos
(b) Registro de um segmento curto mantido em comprimento
constante durante contração por servomecanismo, descrito na grosso e fino do músculo esquelético da rã possuem
Figura 7.5. Note a constante produção de força, indicando comprimento médio de 1,55 e 1,94 μm, respectiva-
comportamento uniforme do sarcômero em um segmento curto. mente. Além disso, a quantidade de sobreposição
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 137

Figura 7.7 Variação da força tetânica


máxima com o comprimento do
sarcômero. As inserções mostram graus
de sobreposição dos filamentos em
quatro diferentes comprimentos do
sarcômero. A linha pontilhada mostra a
extrapolação à abscissa da porção
declinante da relação comprimento-
tensão. A intersecção da linha
pontilhada com a abscissa mostra o
comprimento do sarcômero em que a
maioria dos filamentos A e I estão na
posição extremidade a extremidade. Ver
o texto para informação adicional (de
Edman e Reggiani, 1987).

entre os dois conjuntos de filamentos na secção trans- mento dos filamentos e representa a forma uniforme
versa da fibra varia com desvio padrão de 0,21 μm. da curva comprimento-tensão.
Os comprimentos derivados do filamento estão de É importante considerar a posição relativa dos
acordo com os valores dos comprimentos dos fila- filamentos grosso e fino em algum ponto represen-
mentos A e I (1,55 e 1,92 a 1,96 μm, respectivamen- tativo ao longo da curva comprimento-tensão. Como
te). Tais parâmetros apresentados por Page (1968) e ilustrado na Figura 7.7 (inserido), os filamentos A e I
Huxley (1973) basearam-se na mensuração de mi- localizam-se ao longo das extremidades do compri-
croscopia eletrônica. A variação na sobreposição dos mento do sarcômero (aproximadamente 3,5 μm),
filamentos deve-se parcialmente ao imperfeito alinha- onde a força ativa é próxima de zero. No entanto, no

Figura 7.8 Relação comprimento-tensão


apresentada na Figura 7.7 (—) comparada
com a clássica curva poligonal
comprimento-tensão (---) descrita por
Gordon e colaboradores (1966).
138 PAAVO V. KOMI

comprimento do sarcômero a 2,0 μm, as extremida- quena, a força ativa pode tornar-se correspondente-
des do filamento I estão no centro do filamento A. mente pequena pelo aumento apropriado da veloci-
Esse grau de sobreposição poderia, conseqüentemen- dade de encurtamento. Inversamente, diante de alta
te, proporcionar o número máximo de pontes cruza- sobrecarga, o músculo incrementa a força ativa em
das ativas, condição em que se observa a máxima pro- mesmo nível, reduzindo a velocidade de encurtamen-
dução de força. A situação de sobreposição torna mais to de modo suficiente. Fenn e Marsh (1935) foram os
difícil a interpretação quando o comprimento do sar- primeiros a demonstrar a existência de determinada
cômero é inferior a 2,0 μm (fase ascendente da curva relação entre força ativa e velocidade de encurtamen-
comprimento-tensão). Caso os sarcômeros sejam en- to. Hill (1938) posteriormente caracterizou a relação
curtados abaixo do comprimento ótimo, por exem- força-velocidade e enfatizou a importância desse pa-
plo, a 1,8 μm, os filamentos I passarão na metade râmetro no estudo da função muscular. A relação for-
oposta do sarcômero, causando sobreposição de du- ça-velocidade tem sido fonte de muito interesse nos
plo filamento, como demonstrado na Figura 7.7. O últimos anos. Isso se tornou objeto de atenção cres-
significado funcional da dupla sobreposição não pode cente a partir da demonstração (Huxley, 1957) de que
ser avaliado no momento atual. É razoável supor, con- essa relação é consistente com o mecanismo de pon-
tudo, que o fenômeno seja casualmente relacionado tes cruzadas da contração muscular.
ao declínio na força ativa nesses comprimentos (para A Figura 7.9 demonstra a clássica curva sobre-
discussão adicional, ver Edman e Reggiani, 1987). Em carga — ou força-velocidade — publicada por Hill
comprimentos de sarcômero menores que 1,7 μm, (1938). Essa figura comprova a relação inversa entre
os filamentos grossos serão comprimidos quando força e velocidade de encurtamento no músculo sar-
avançarem aos discos-Z (Fig. 7.7). Isso prejudicará tório completamente isolado de uma rã. Hill demons-
posteriormente o deslizamento e reduzirá conside- trou que essa relação apresentava forma hiperbólica
ravelmente a força produzida pela fibra nesses com- e forneceu uma fórmula geral para a sua descrição. A
primentos. equação é amplamente aplicada na fisiologia muscu-
A ativação incompleta da fibra muscular repre- lar. A velocidade máxima de encurtamento (Vmáx) pode
senta, ainda, outra possível causa de declínio na ten- ser atingida com sobrecarga zero. A força máxima (P0),
são em comprimentos muito curtos. Como demons- por sua vez, é produzida quando o músculo está em
trado por Taylor e Rüdel (1970), o interior da fibra repouso, isto é, nem alongado nem encurtado.
pode não estar completamente ativado em compri- Os experimentos com fibras musculares isoladas
mentos mais curtos do que aproximadamente 1,6 μm (Edman et al., 1976; Edman, 1988) demonstraram que
devido à incapacidade de extensão intrínseca do po- a curva força-velocidade possui uma forma mais com-
tencial de ação sob essas condições. No entanto, essa plexa do que a observada no músculo total. Como
complicação não parece ser relevante na variação de ilustrado na Figura 7.10, a relação força-velocidade
comprimentos de sarcômero aqui considerada. Indi- contém duas diferentes curvaturas, cada uma com
cativamente, o incremento na liberação do cálcio ati- concavidade ascendente. As duas curvaturas estão lo-
vador na fibra (pela adição de cafeína) não afeta a calizadas em ambos os lados de um ponto de quebra
curva comprimento-tensão apresentada na Figura 7.7 próximo a 75% da força isométrica máxima, P0.
(Edman e Reggiani, 1987). Quando a sobrecarga excede P0, o músculo co-
meça a alongar-se (ação excêntrica) conforme indi-
Relação força-velocidade cado pelas velocidades negativas na Figura 7.10. No
entanto, a curva força-velocidade parece ser substan-
Conforme mencionado anteriormente, o músculo cialmente plana na variação de força ao redor de P0.
possui a capacidade inerente de ajustar a sua força Por exemplo, quando a sobrecarga é incrementada
de modo que se adapte precisamente à sobrecarga de 0,9 a 1,2 P0, 30% de alteração na sobrecarga, a
durante o encurtamento. Essa importante proprie- velocidade de encurtamento ou de alongamento é
dade, que distingue o músculo de um elemento elás- alterada em pelo menos 2% da Vmáx. A região plana
tico simples, é baseada no fato de a força ativa conti- da relação força-velocidade em torno de P0 é de maior
nuamente se ajustar à velocidade em que o sistema significância para a função muscular, promovendo
contrátil de move. Então, quando a sobrecarga é pe- estabilidade do sistema contrátil. Nesse caso, um mús-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 139

Figura 7.9 Relação entre força e


velocidade de encurtamento mensurada no
músculo sartório de rã. A equação para a
curva, que representa uma hipérbole
simples, é fornecida por Hill (1938). Ver o
texto para informação adicional (de Hill,
1938).

culo estimulado acima de seu próprio valor de P0 (isto mente pequena. O músculo alongará em alta veloci-
pode ocorrer durante saltos ou ao descer escada) não dade somente quando a sobrecarga estiver mais
será, todavia, capaz de suportar a sobrecarga muito de 40 a 50% acima de P0 (Fig. 7.10). A região pla-
bem. Isso quer dizer que o músculo não terá rendi- na da curva da relação força-velocidade pode, então,
mento considerável. Devido à menor velocidade de corresponder a um servomecanismo intracelular efi-
alongamento, a alteração total do comprimento dos caz que ajuda a manter o padrão uniforme do sarcô-
sarcômeros durante a ação excêntrica será relativa- mero quando o músculo trabalha em alta velocidade

Figura 7.10 Relação entre força e


velocidade de encurtamento registrada em
uma fibra muscular isolada de rã. Note que
a relação força-velocidade tem duas curvas
em ambos os lados de um ponto de quebra
próximo de 75% de P0. Quando a
sobrecarga excede a força isométrica (P0), o
músculo alonga-se, isto é, a velocidade
assume um valor negativo (de Edman,
1988).
140 PAAVO V. KOMI

e, mais importante, ao prevenir o alongamento ina- ração, uma leve carruagem puxada por somente um
propriado do músculo em situações em que a sobre- ou dois cavalos alcançaria a mesma velocidade máxi-
carga é subitamente elevada acima do nível isomé- ma quando puxada por muitos cavalos. Então, seria
trico. esperado que a velocidade máxima de encurtamento
A relação força-velocidade provavelmente refle- permanecesse constante em diferentes graus de so-
te as propriedades cinéticas das pontes cruzadas. Ela breposição entre os filamentos grossos e finos e tam-
avalia os vários passos do ciclo da ponte cruzada por bém em diferentes estados de ativação do sistema
meio do uso da informação fornecida pela curva for- contrátil. Essas predições foram experimentalmente
ça-velocidade (Huxley, 1957; Eisenberg e Hill, 1978; verificadas, conforme ilustrado na Figura 7.12. A Vmáx
Edman et al., 1997). Há razão para se acreditar que a é comparada à força tetânica quando o comprimen-
Vmáx expressa a taxa máxima cíclica das pontes cru- to do sarcômero é alterado de 1,7 a 2,7 μm. Pode ser
zadas. Em apoio a isso, a Vmáx tem sido bem correla- observado que, enquanto a força tetânica varia con-
cionada com a taxa máxima de hidrólise da ATP no sideravelmente, a velocidade máxima de encurtamen-
sistema contrátil. Isso foi inicialmente demonstrado to permanece constante nessa ampla variedade de
em músculos inteiros (Bárány, 1967) e posteriormen- comprimento do sarcômero. Então, ao contrário da
te, de maneira mais quantitativa (Edman et al., 1988), capacidade da fibra de produzir força, a velocidade
pela comparação entre a Vmáx e a atividade da ATPase máxima de encurtamento não depende do número
miofibrilar em fibras musculares isoladas (Fig. 7.11). de pontes de miosina aptas a interagir com os fila-
Se a Vmáx representa a velocidade máxima em que mentos finos. A Figura 7.13 demonstra que a Vmáx
as pontes cruzadas são capazes de entrar em ciclo, independe do grau de ativação do sistema contrátil.
presume-se que ela independa do número de pontes Essas descobertas fundamentam completamente o
que interagem com os filamentos finos. Por compa- modelo de deslizamento dos filamentos e a teoria dos
geradores de força independentes (Huxley, 1957).
Vários músculos do corpo humano diferem con-
sideravelmente em sua velocidade máxima de encur-
tamento (Buchthal e Schmalbruch, 1980). Há razão
para acreditar que essas diferenças devem-se à hete-
rogeneidade estrutural das proteínas contráteis en-
tre os músculos, resultando em diferentes proprie-
dades cinéticas do sistema de miofilamentos (Edman
et al., 1985; Schiaffino e Reggiani, 1995). Em geral,
as fibras individuais exibem diferenças substanciais
em suas características de encurtamento. Isso é mais
pronunciado nos músculos de mamíferos e de aves,
nos quais diferentes tipos de fibras, de contração rápi-
da e lenta, coexistem regularmente. A predominância
de um tipo particular de fibra determina o quanto um
músculo irá adquirir propriedades rápidas ou lentas.
Estudos recentes demonstraram que a diferen-
ciação das propriedades cinéticas dentro de um mús-
culo estende-se a um nível inferior ao da fibra. A des-
coberta de que tanto a Vmáx como o formato da curva
da relação força-velocidade variam substancialmen-
te de uma parte a outra ao longo da fibra indica o
acerto dessa proposição (Edman et al., 1985). Nor-
malmente, como ilustrado na Figura 7.14, a Vmáx va-
Figura 7.11 Relação entre a atividade da ATPase miofibrilar e ria de 10 a 45% ao longo do comprimento da fibra
a velocidade máxima de encurtamento, Vmáx, registrada em muscular da rã. A variação na Vmáx dentro de determi-
fibras musculares isoladas (de Edman et al., 1988). nada fibra pode, em alguns casos, ser tão grande como
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 141

Figura 7.12 Velocidade máxima de


encurtamento, Vmáx, mensurada em vários
comprimentos do sarcômero em três
diferentes fibras (indicadas por diferentes
símbolos). Vmáx pode ser observada por
manter-se muito constante quando o
comprimento do sarcômero é alterado. A
linha pontilhada demonstra, para
comparação, a variação na força isométrica
na amplitude do comprimento do
sarcômero (1,6 a 2,8 μm) (de Edman,
1979).

a registrada entre diferentes fibras de um músculo. isoforma da miosina na fibra (Edman et al., 1988). A
Cada fibra possui um padrão único de diferenças na razão dessa heterogeneidade na função é incerta, mas
Vmáx. No entanto, é interessante notar a existência de pode refletir um mecanismo de adaptação subcelu-
clara tendência da Vmáx diminuir na extremidade dis- lar. A fibra muscular geralmente se estende pelo com-
tal da fibra no corpo (Fig. 7.15). primento total do músculo, e as várias partes da fibra
As evidências experimentais sugerem que as di- podem representar diferentes condições de trabalho
ferenças segmentares na velocidade de encurtamen- quando o músculo funciona in situ. Nesse caso, a re-
to refletem diferenças regionais na composição da sistência passiva ao encurtamento pode variar ao lon-
go da fibra devido às diferenças na quantidade de te-
cido conjuntivo que mantém as fibras juntas. Além
disso, a parte distal de um músculo sofre maior trans-
lação durante o encurtamento quando comparada à
parte proximal. Ao ajustar apropriadamente a com-
posição da isoforma da miosina em várias regiões, a
fibra pode ser capaz de compensar qualquer diferen-
ça local na resistência passiva ao encurtamento que
pode ocorrer in situ no corpo.

Desativação pelo encurtamento


O músculo esquelético que encurta durante a
Figura 7.13 Velocidade máxima de encurtamento, Vmáx, atividade perde temporariamente parte de sua força
registrada em diferentes graus de ativação de fibras musculares contrátil. O efeito depressivo do encurtamento tem
isoladas , Vmáx durante tetania, isto é, em ativação total. , sido demonstrado tanto in situ (Joyce et al., 1969)
medida da Vmáx em contrações representando vários graus de
ativação submáxima como indicado na abscissa. Note que Vmáx como no músculo isolado (Jewell e Wilkie, 1960).
permanece virtualmente constante quando a ativação é alterada Ademais, esse fenômeno tem sido explorado com
(de Edman, 1979; Tabela 1). considerável detalhe em fibras musculares isoladas
142 PAAVO V. KOMI

Figura 7.14 Velocidade máxima de


encurtamento, Vmáx, registrada em
segmentos consecutivos de três fibras
musculares individuais (indicada por
diferentes símbolos). Os segmentos são
aproximadamente 0,8 mm em
comprimento e numerados da inserção
de um tendão a outro na respectiva fibra.
Note que Vmáx é consideravelmente
diferente ao longo das fibras. Cada fibra
possui um padrão único de velocidade
(de Edman et al., 1985).

(Edman e Kiessling, 1971; Edman, 1975; Edman, tração. Como pode ser observado claramente na Fi-
1980). gura 7.16, a força ativa é muito reduzida após o en-
A Figura 7.16 ilustra o efeito depressor do en- curtamento. O pico de força da segunda contração
curtamento ativo na fibra muscular isolada de uma no miograma B é, então, consideravelmente menor
rã. Os dois miogramas superpostos, A e B, demons- do que o da primeira contração do miograma A. Isso
tram o desenvolvimento da força durante a tetania é significativo, pois a tensão começa do ponto zero
parcialmente fundida no comprimento de sarcôme- em ambos os casos. A menor tensão na segunda con-
ro de 2,05 μm, isto é, próximo ao comprimento óti- tração do miograma B expõe uma redução real da
mo. As respostas aos respectivos estímulos são ca- habilidade da fibra em produzir força devido ao en-
racterizadas como arqueadas no registro e referidas curtamento precedente. Mesmo a terceira contração
como contrações. No miograma A, a contração total do miograma B é menor do que a primeira no mio-
é realizada no espaçamento de sarcômero de 2,05 μm. grama A. No entanto, deveria ser notado que o efeito
No miograma B, a contração é iniciada em maior depressor do encurtamento diminui gradualmente
comprimento de sarcômero, 2,55 μm. Nesse caso, é diante da contração; os efeitos praticamente desapa-
permitido à fibra encurtar a 2,05 μm na primeira con- receram ao final do período de tetania.

Figura 7.15 Vmáx de segmentos de fibras


individuais relacionadas à orientação da
fibra no corpo. O comprimento de cada
fibra é normalizado a 100%. Os pontos de
dados representam a média (± erro
padrão) de acordo com medidas de 14
fibras. Note declínio de Vmáx em direção à
extremidade distal da fibra (de Edman et
al., 1985).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 143

Figura 7.16 Efeito depressivo do


encurtamento durante tetania
parcialmente fundida da fibra muscular da
rã. Os miogramas A e B sobrepostos
demonstram o desenvolvimento da força
em 2,05 μm do comprimento do
sarcômero. No miograma B, a contração
inicia-se no comprimento do sarcômero
de 2,55 μm, sendo permitido à fibra
encurtar-se a 2,05 μm durante o primeiro
ciclo de contrações, como indicado na
parte inferior do registro b. Os primeiros
poucos ciclos contráteis nos miogramas A
e B são numerados para a identificação
no texto, onde a completa descrição é
fornecida.

O tempo necessário para o efeito do movimento sob condições em que o sistema contrátil não é com-
desaparecer é substancialmente constante de fibra pletamente ativado (Fig. 7.16). No entanto, o efeito é
para fibra, como demonstrado na Figura 7.17. Em- muito pequeno quando o movimento ocorre duran-
bora a depressão inicial da força varie em diferentes te a tetania completamente fundida (Edman, 1980).
fibras, dependendo da quantidade de encurtamento, É razoável supor que a depressão da força pelo en-
um período de tempo de aproximadamente 1 s é ne- curtamento exerce papel importante na vida diária
cessário para o efeito desaparecer em cada caso. devido à atividade muscular in vivo basear-se em te-
A magnitude da depressão da força depende do tania parcialmente fundida. É provável que o efeito
grau de ativação do sistema contrátil ao movimento. também influencie os resultados em certos esportes.
O efeito do movimento é maior durante uma contra- No levantamento de peso, por exemplo, presume-se
ção simples ou em tetania parcialmente fundida, isto é, que a capacidade muscular para levantar a sobrecar-

Figura 7.17 Período de tempo de desaparecimento do efeito depressivo do encurtamento ativo durante tetania incompletamente
fundida. Resultados de cinco experimentos (indicados por diferentes símbolos), com vários graus de depressão da força após
encurtamento.
144 PAAVO V. KOMI

ga decline progressivamente ao levantamento. No Mecanismo celular da fadiga


entanto, os músculos readquirem sua força contrátil muscular
novamente após breve pausa (1 a 2 s). O efeito de
movimento pode servir como mecanismo de segu- A fadiga muscular pode ser definida como o de-
rança para prevenir a exigência abusiva dos músculos. créscimo reversível da força contrátil. Ela ocorre após
Podemos concluir, então, que o efeito de movi- a atividade muscular repetida de longa duração. Há
mento é produzido pela alteração do próprio sistema motivos suficientes para acreditar que a fadiga hu-
de miofilamentos. Isso é demonstrado pelo fato de o mana constitui um complexo fenômeno que inclui
efeito depressor do encurtamento também aparecer incapacidade em mais de um local ao longo da ca-
nas fibras “manipuladas”. A “manipulação” diz res- deia de eventos que estimulam as fibras musculares
peito a situações em que a membrana celular foi re- (Edwards, 1981; Gandevia et al., 1995). É então pos-
movida, seja mecanicamente ou por tratamento quí- sível crer que a fadiga humana envolve um compo-
mico. Em tais fibras “livres de membrana”, o nente “central” que impõe um limite superior no nú-
mecanismo contrátil pode ser diretamente controla- mero de sinais de comando enviados aos músculos.
do pela variação da concentração de cálcio no meio. No entanto, há pouca dúvida em relação à fadiga mus-
Os resultados de tais estudos (Ekelund e Edman, cular também envolver um componente “periférico”.
1982) sugerem consistentemente que o encurtamento Na realidade, parte da incapacidade muscular em
ativo altera, de maneira transitória, o local de ligação produzir força é provavelmente conseqüência da al-
para o cálcio no filamento fino. Isso reduz a quanti- teração no próprio sistema de miofilamento. Isso é
dade de cálcio ligado às proteínas reguladoras, além fortemente sugerido pelo fato de o desempenho con-
de diminuir o grau de ativação do sistema contrátil. trátil da fibra muscular isolada depender muito de
Paralelamente, estamos diante da possibilidade de de- sua atividade mecânica precedente.
monstrar em fibras intactas que o cálcio é liberado A Figura 7.18 demonstra as alterações caracte-
de seus locais de ligação durante o encurtamento rísticas na força ativa quando a fibra muscular está
(Edman, 1996; Vandenboom et al., 1998). É provável fatigada pela ativação freqüente. O miograma A ilus-
que o decréscimo na afinidade do cálcio dos locais tra o controle da tetania; antes desse registro, a fibra
de ligação seja uma conseqüência direta da interação foi estimulada a produzir 1 s de tetania isométrica
actina-miosina durante o encurtamento, como dis- em intervalos de 15 minutos até a obtenção de res-
cutido detalhadamente em outros estudos (Edman, posta constante. O miograma B demonstra, por com-
1975; Edman, 1980; Vandenboom et al., 1982). Nes- paração, a tetania isométrica após o desenvolvimen-
se sentido, o efeito depressor do encurtamento pode to de fadiga; nesse caso, a fibra foi estimulada a
ser considerado parte integral do processo de desli- produzir tetania uma vez a cada 15 s por vários mi-
zamento dos filamentos. nutos. Pode-se observar que a redução do intervalo

Figura 7.18 Efeitos da fadiga na produção de força durante tetania em uma fibra muscular de rã. O miograma A demonstra
tetania durante período de controle, quando os intervalos entre a tetania foram de 15 min; o miograma B apresenta tetania após
estimulação que induz fadiga, quando os intervalos entre a tetania foram de 15 s; o miograma C descreve o retorno ao protocolo de
estimulação-controle, quando os intervalos entre a tetania foram de 15 minutos (de Edman e Mattiazzi, 1981).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 145

de repouso entre as contrações (de 15 min a 15 s) tinuamente reduzida (ordenada) quando a fadiga se
diminui a força durante a tetania. A amplitude total desenvolve (indicado pelo decréscimo da força tetâ-
da tetania é, então, substancialmente reduzida pela nica [abscissa]). Essa descoberta é relevante por su-
fadiga. Além disso, a força desenvolve-se menos ra- gerir que a fadiga envolve alteração das propriedades
pidamente no estado fatigado, e a fibra requer maior cinéticas das pontes cruzadas.
tempo de relaxamento. Essas alterações no desem- Informação adicional sobre o mecanismo mole-
penho contrátil são completamente revertidas após cular da fadiga surge do estudo da rigidez muscular.
retornar ao protocolo de estimulação-controle (mio- Essa medida fornece um índice relativo ao número
grama C; Fig. 7.18). de pontes cruzadas de miosina acopladas aos filamen-
A fadiga não afeta apenas a capacidade muscular tos finos (Ford et al., 1977). A rigidez muscular é
de produzir força, mas também diminui a velocidade mensurada pela aplicação de uma alteração rápida e
de encurtamento muscular (Edman e Mattiazzi, de comprimento muito pequeno a uma fibra isolada
1981). O último efeito está ilustrado na Figura 7.19. durante a atividade, enquanto se registra a alteração
O gráfico demonstra a alteração simultânea na força correspondente na força. Em princípio, a abordagem
tetânica e na velocidade máxima de encurtamento, é a mesma para testar a rigidez de uma banda elásti-
Vmáx, em diferentes graus de fadiga de fibras muscu- ca; há grande aumento na tensão quando a rigidez é
lares. A velocidade máxima de encurtamento é con- elevada em decorrência do estiramento da banda elás-
tica; a resposta ao estiramento é correspondentemente
pequena quando a rigidez é igualmente pequena. Ver
Edman e Lou (1990) para informações referentes às
técnicas utilizadas para a mensuração da rigidez atra-
vés do curso da contração.
A rigidez muscular parece ser apenas ligeiramente
alterada durante a fadiga moderada, como demons-
trado na Figura 7.20. Por exemplo, 25% de decrésci-
mo na capacidade muscular em produzir força são
associados com somente 9% de diminuição na rigi-
dez da fibra muscular. Essas descobertas sugerem que
o déficit de força durante a fadiga é somente parcial
devido às poucas pontes cruzadas acopladas. A prin-
cipal porção do declínio da força é atribuída à menor
força da ponte individual.
Em resumo, as seguintes alterações na função das
pontes cruzadas são prováveis durante a fadiga mus-
cular: (I) ligeiro decréscimo no número de pontes
cruzadas em interação; (II) menor produção de força
de uma única ponte cruzada; e (III) menor velocida-
de cíclica das pontes durante o encurtamento mus-
cular. Há razão para acreditar que todas as três alte-
rações são causadas pelo acúmulo dos produtos da
hidrólise de ATP dentro da fibra. A atividade muscu-
lar mantida aumenta a concentração de ADP, Pi e H+
(Edwards et al., 1975; Dawson et al., 1978; Dawson
et al., 1980). Esses produtos afetam a produção de
Figura 7.19 Decréscimo na velocidade máxima de força e a velocidade de encurtamento de forma com-
encurtamento (ordenada) em relação à depressão da força patível com as alterações observadas na fadiga
(abscissa) durante fadiga de fibras musculares isoladas. Cada
conjunto de dados conectados por uma linha sólida representa (Edman e Lou, 1990). Dos três produtos, o aumento
uma fibra isolada. A linha pontilhada constitui a média de todos da concentração de H+ parece ser de particular im-
os pontos (de Edman e Mattiazzi, 1981). portância para o desenvolvimento da fadiga muscu-
146 PAAVO V. KOMI

Figura 7.20 Relação entre força (abscissa) e rigidez (ordenada) registrada durante platô tetânico quando houve desenvolvimento
de fadiga em seis fibras musculares isoladas. Dados normalizados de acordo com a força e a rigidez máximas registradas sob
condições de repouso nas respectivas fibras. O valor-controle (indicado pelo grande círculo aberto) representa a média calculada
para todas as fibras em repouso. Os dados de determinada fibra são indicados pelo mesmo símbolo. A linha reta representa a
regressão da força sobre a rigidez baseada em todos os pontos. As inserções mostram exemplos de registros de força (a) e rigidez
tetânicas (b) sob condições-controle (traço 1) e, sobrepostas, após estimulação que induz fadiga (traço 2) (de Edman e Lou, 1990).

lar. Isso é sugerido devido à descoberta de que as al- e Edman, 1990). A quantidade de cálcio liberada no
terações contráteis observadas durante a fadiga (de- mioplasma dos locais de estoque do retículo sarco-
créscimo na força ativa, na velocidade de encurta- plasmático é reduzida sob essas condições extremas
mento e na potência) podem ser substancialmente (Allen et al., 1995), resultando em pequeno número
simuladas pela diminuição do pH intracelular (Ed- de pontes cruzadas ativas conforme indicado pela
man e Mattiazzi, 1981; Curtin e Edman, 1989; Ed- redução progressiva na rigidez da fibra (Edman e Lou,
man e Lou, 1990). No entanto, o papel relativo de 1992). Contudo, ainda permanece incerto se o inten-
vários produtos da hidrólise de ATP durante o de- so programa de estimulação, suficiente para provocar
senvolvimento da fadiga pode variar em diferentes incapacidade de ativação, pode mesmo ser alcançado
tipos de músculos (Fitts, 1994; Allen et al., 1995). sob condições in vivo antes que outros mecanismos de
Pode-se dizer que as alterações recém-descritas no fadiga mais centrais imponham um limite na estimu-
desempenho mecânico, durante a fadiga, referem-se lação do músculo (Gandevia et al., 1995).
a condições experimentais livres de incapacidade de
ativação do sistema contrátil (Edman e Lou, 1990).
Há incapacidade do acoplamento excitação-contra- Referências
ção, no entanto, caso o músculo isolado seja subme-
tido a um programa extremo de fadiga, por exemplo, Allen, D.G., Westerblad, H. & Lännergren, J. (1995) The
quando as contrações são induzidas em intervalos role of intracellular acidosis in muscle fatigue. In: Fati-
muito curtos (1 a 2 s) (Eberstein e Sandow, 1963; gue, Neural and Muscular Mechanisms. Advances in Experi-
mental Medicine and Biology (eds S.C. Gandevia, R. M.
Lännergren e Westerblad, 1986). Sob tais condições,
Enoka, A.J. McComas, D.G. Stuart & C.K. Thomas) 384,
haverá incapacidade de dispersão interna do poten- 57-68.
cial de ação ao longo dos túbulos-T. Com isso, o in- Bárány, M. (1967) ATPase activity of myosin correlated with
terior da fibra muscular torna-se, portanto, inadequa- speed of muscle shortening. Journal of General Physiology
damente ativado (Gonzalez-Serratos et al., 1981; Lou 50, 197-218.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 147

Buchthal, F. & Schmalbruch, H. (1980) Motor unit of mam- Edman, K.A.P. & Mattiazzi, A. (1981) Effects of fatigue and
malian muscle. Physiological Reviews 60, 90-142. altered pH on isometric force and velocity of shorte-
Curtin, N.A. & Edman, K.A.P. (1989) Effects of fatigue and ning at zero load in frog muscle fibres. Journal of Muscle
reduced intracellular pH on segment dynamics of ‘iso- Research and Cell Motility 2, 321-334.
metric’ relaxation of frog muscle fibres. Journal of Physio- Edman, K.A.P. & Reggiani, C. (1984) Redistribution of sar-
logy 413, 159-174. comere length during isometric contraction of frog
Dawson, M.J., Gadian, D.G. & Wilkie, D.R. (1978) Muscu- muscle fibres and its relation to tension creep. Journal of
lar fatigue investigated by phosphorus nuclear magne- Physiology 351, 169-198.
tic resonance. Nature 274, 861-866. Edman, K.A.P. & Reggiani, C. (1987) The sarcomere length-
Dawson, M.J., Gadian, D.G. & Wilkie, D.R. (1980) Mecha- tension relation determined in short segments of intact
nical relaxation rate and metabolism studied in fatiguing muscle fibres of the frog. Journal of Physiology 385,
muscle by phosphorus nuclear magnetic resonance. 709-732.
Journal of Physiology 299, 465-484. Edman, K.A.P., Mulieri, L.A. & Scubon-Mulieri, B. (1976)
Ebashi, S. (1980) Regulation of muscle contraction. Procee- Nonhyperbolic force-velocity relationship in single
dings of the Royal Society of London Series B 207, 259-286. muscle fibres. Acta Physiologica Scandinavica 98, 143-156.
Ebashi, S. & Endo, M. (1968) Calcium ion and muscle con- Edman, K.A.P., Reggiani, C. & te Kronnie, G. (1985) Diffe-
traction. Progress in Biophysics and Molecular Biology 18, rences in maximum velocity of shortening along single
125-183. muscle fibres of the frog. Journal of Physiology 365,
Eberstein, A. & Sandow, A. (1963) Fatigue mechanism in 147-163.
muscle fibres. In: The Effect of Use and Disuse on Neuro- Edman, K.A.P., Reggiani, C., Schiaffino, S. & te Kronnie,
muscular Functions (eds E. Gutman & P. Hnik), pp. G. (1988) Maximum velocity of shortening related to
515-526. Nakladatelstvi Ceskoslovenske Akademie ved myosin isoform composition in frog skeletal muscle fi-
Praha, Prague. bres. Journal of Physiology 395, 679-694.
Edman, K.A.P. (1975) Mechanical deactivation induced by Edman, K.A.P., Mansson, A. & Caputo, C. (1997) The bi-
active shortening in isolated muscle fibres of the frog. phasic force-velocity relationship in frog muscle fibres
Journal of Physiology 246, 255-275. and its evaluation in terms of cross-bridge mechanism.
Edman, K.A.P. (1979) The velocity of unloaded shortening Journal of Physiology 503, 141-156.
and its relation to sarcomere length and isometric for- Edwards, R.H.T. (1981) Human muscle and fatigue. In: Ciba
ce in vertebrate muscle fibres. Journal of Physiology 291, Foundation Symposium 82: Human Muscle Fatigue: Physio-
143-159. logical Mechanisms (eds R. Porter & J. Whelan), pp. 1-18.
Edman, K.A.P. (1980) Depression of mechanical perfor- Pitman Medical, London.
mance by active shortening during twitch and tetanus Edwards, R.H.T., Hill, D.K. & Jones, D.A. (1975) Metabo-
of vertebrate muscle fibres. Acta Physiologica Scandinavi- lic changes associated with the slowing of relaxation in
ca 109, 15-26. fatigued mouse muscle. Journal of Physiology 251,
Edman, K.A.P. (1988) Double-hyperbolic force-velocity 287-301.
relation in frog muscle fibres. Journal of Physiology 404, Eisenberg, E. & Hill, T.L. (1978) A cross-bridge model of
301-321. muscle contraction. Progress in Biophysics and Molecular
Edman, K.A.P. (1996) Fatigue vs. shortening-induced de- Biology 33, 55-82.
activation in striated muscle. Acta Physiologica Scandina- Ekelund, M. & Edman. K.A.P. (1982) Shortening induced
vica 156, 183-192. deactivation of skinned fibres of frog and mouse stria-
Edman, K.A.P. & Höglund, O. (1981) A technique for me- ted muscle. Acta Physiologica Scandinavica 116, 189-199.
asuring length changes of individual segments of an Fenn, W.O. & Marsh, B.S. (1935) Muscular force at diffe-
isolated muscle fibre. Journal of Physiology 317, 8-9. rent speed of shortening. Journal of Physiology 85,
Edman, K.A.P. & Kiessling, A. (1971) The time course of 277-297.
the active state in relation to sarcomere length and Fitts, R.H. (1994) Cellular mechanisms of muscle fatigue.
movement studied in single skeletal muscle fibres of Physiological Reviews 74, 49-94.
the frog. Acta Physiologica Scandinavica 81, 182-196. Ford, L.E., Huxley, A.F. & Simmons, R.M. (1977) Tension
Edman, K.A.P. & Lou, F. (1990) Changes in force and responses to sudden length change in stimulated frog
stiffness induced by fatigue and intracellular acidifi- muscle fibres near slack length. Journal of Physiology 269,
cation in frog muscle fibres. Journal of Physiology 424, 441-515.
133-149. Gandevia, S.C., Enoka, R.M., McComas, A.J., Stuart, D.G.
Edman, K.A.P. & Lou, F. (1992) Myofibrillar fatigue versus & Thomas, C.K. (eds) (1995) Fatigue, Neural and Muscu-
failure of activation during repetitive stimulation of frog lar Mechanisms. Advances in Experimental Medicine and Bio-
muscle fibres. Journal of Physiology 457, 655-673. logy 384.
148 PAAVO V. KOMI

Gonzalez-Serratos, H., Garcia, M., Somlyo, A., Somlyo, A.P. Joyce, G.C., Rack, P.M.H. & Westbury, D.R. (1969) The
& McClellan, G. (1981) Differential shortening of myo- mechanical properties of cat soleus muscle during con-
fibrils during development of fatigue. Biophysical Journal trolled lengthening and shortening movements. Journal
33, 224a. of Physiology 204, 461-474.
Gordon, A.M., Huxley, A.F. & Julian, F.J. (1966) The vari- Lännergren, J. & Westerblad, H. (1986) Force and mem-
ation in isometric tension with sarcomere length in brane potential during and after fatiguing, continuous
vertebrate muscle fibres. Journal of Physiology 184, high-frequency stimulation of single Xenopus muscle
170-192. fibres. Acta Physiologica Scandinavica 128, 359-368.
Gordon, A.M., Homsher, E. & Regnier, M. (2000) Regula- Linke, W.A. (2000) Stretching molecular springs: elasticity
tion of contraction in striated muscle. Physiological Re- of titin filaments in vertebrate striated muscle. Histology
view 80, 853-924. and Histopathology 15, 799-811.
Hanson, J. & Huxley, H.E. (1953) The structural basis of Lou, F. & Edman, K.A.P. (1990) Effects of fatigue on force,
the cross-striations in muscle. Nature 172, 530-532. stiffness and velocity of shortening in frog muscle fi-
Hasselbach. W. (1953) Elektronmikroskopische Untersu- bres. Acta Physiologica Scandinavica 140, 24A.
chungen an Muskelfibrillen bei totaler and partieller Page, S. (1968) Fine structure of tortoise skeletal muscle.
Extraktion des L-Myosins. Zeitschrift für Naturforschung Journal of Physiology 197, 709-715.
8b, 449-454. di Prampero, P.E. (1985) Metabolic and circulatory limita-
Hill, AN. (1938) The heat of shortening and the dynamic tions to VO2max at the whole animal level. Journal of Ex-
constants of muscle. Proceedings of the Royal Society of perimental Biology 115, 319-332.
London Series B 126, 136-195. Schiaffino, S. & Reggiani, C. (1995) Molecular diversity of
Huxley, H.E. (1953) Electron-microscope studies of the myofibrillar proteins: gene regulation and functional
organization of the filaments in striated muscle. Biochi- significance. Physiological Review 76, 371-423.
mica et Biophysica Acta 12, 387. Squire, J. (1981) The Structural Basis of Muscular Contraction.
Huxley, A.F. (1957) Muscle structure and theories of con- Plenum Press, New York.
traction. Progress in Biophysics and Biophysical Chemistry Squire, J. (1997) Architecture and function in the muscle
7, 255-318. sarcomere. Current Opinion in Structural Biology 2,
Huxley, H.E. (1963) Electron microscope studies on the 247-257.
structure of natural and synthetic protein filaments from Taylor, S.R. & Rüdel, R. (1970) Striated muscle fibers: inac-
striated muscle. Journal of Molecular Biology 7, 281-308. tivation of contraction induced by shortening. Science
Huxley, H.E. (1973) Molecular basis of contraction in cross- 167, 882-884.
striated muscle. In: The Structure and Function of Muscle, Vandenboom, R., Claflin, D.R. & Julian, F.J. (1998) Effects
Vol. 1 (ed. G. Bourne), 2nd edn, pp. 301-397. Academic of rapid shortening on rate of force regeneration and
Press, New York. myoplasmic [Ca+2] in intact frog skeletal muscle. Jour-
Huxley, H.E. & Hanson, J. (1954) Changes in the cross- nal of Physiology 511, 171-180.
striation of muscle during contraction and stretch and Wang, K. (1996) Titin/connectin and nebulin: giant pro-
their structural interpretation. Nature 173, 973-977. tein rulers of muscle structure and function. Advances
Huxley, A.F. & Niedergerke, R. (1954) Structural changes in Biophysics 33, 123-134.
in muscle during contraction: interference microscopy Waterman-Storer, C.M. (1991) The cytoskeleton of ske-
of living muscle fibres. Nature 173, 971-973. letal muscle: is it affected by exercise? A brief review.
Jewell, B.R. & Wilkie, D.R. (1960) The mechanical pro- Medicine and Science in Sports and Exercise 23, 1240-1249.
perties of relaxing muscle. Journal of Physiology 152, Woledge, R.C., Curtin, N.A. & Homsher, E. (1985) Energetic
30-47. Aspects of Muscle Contraction. Academic Press, London.
Capítulo 8
Arquitetura musculoesquelética
e unidade motora:
efeitos no desempenho
ROLAND R. ROY, RYAN J. MONTI, ALEX LAI E V. REGGIE EDGERTON

Introdução teral) do que sujeitos-controle (Kearns et al., 2000).


Essas características arquiteturais deveriam ser tra-
As características arquiteturais do músculo têm duzidas em incremento na capacidade de produção
um importante papel na determinação das proprie- de força. Registros declaram que as propriedades ar-
dades funcionais dos músculos individuais. Na edi- quiteturais (comprimento fascicular) do músculo es-
ção anterior deste livro (Roy e Edgerton, 1992), des- quelético em humanos não contribuem para as dife-
crevemos as relações básicas estrutura-função renças étnicas (cabeça longa do tríceps, vasto lateral
musculoesquelética, além do papel da massa mus- e gastrocnêmio medial em jogadores universitários
cular, do comprimento da fibra (fascículo) e do ân- de futebol americano brancos e negros) ou entre gê-
gulo de penação na determinação dessas proprieda- nero (os mesmos músculos em atletas universitá-
des. Várias revisões foram publicadas sobre esse rios) no desempenho de velocidade e de salto em in-
tópico na década passada (Fukunaga et al., 1997b; divíduos jovens altamente treinados (Abe et al., 1999).
Lieber e Friden, 2000). O principal avanço na área De modo similar, Ichinose e colaboradores (1998)
foi a determinação dessas inter-relações estrutura- registraram maiores diâmetro muscular médio e
função em humanos, particularmente em relação ao ângulo peniforme da fibra no tríceps braquial de atle-
desempenho esportivo e às diferenças entre os gêne- tas masculinos de elite de futebol e ginástica quando
ros. Esses avanços têm sido possíveis graças ao de- comparados aos femininos. Essa relação de medidas
senvolvimento de técnicas de imagem não-invasivas, não se confirmou em atletas de judô, embora esses
tais como o ultra-som e a imagem por ressonância autores apontem que as diferenças no ângulo peni-
magnética (RM) (ver a seguir “Padrões de tensão in forme foram mínimas na correção pelo tamanho mus-
vivo”). Abe e colaboradores (2000) registraram que cular. Em uma população geral de adultos saudáveis,
velocistas de elite do sexo masculino possuem maior Chow e colaboradores (2000) registraram que as
comprimento fascicular (vastos lateral e medial e gas- mulheres apresentavam comprimento mais longo do
trocnêmio lateral) e menor ângulo de penação (vasto feixe da fibra muscular e os homens maiores diâme-
lateral e gastrocnêmio medial) em músculos selecio- tro e ângulo peniforme nos músculos (sóleo e gas-
nados da perna que corredores de longa distância. trocnêmio — ambas as cabeças). Os autores consi-
Essas diferenças provavelmente se devem à “maior” deraram essas diferenças arquiteturais como
velocidade de contração dos velocistas em relação aos responsáveis pela maior produção total de força em
corredores de longa distância. Os lutadores de sumô homens do que em mulheres. Analisados juntos, es-
apresentam maior comprimento fascicular (cabeça ses resultados enfatizam a importância da melhor
longa do tríceps, vasto lateral e gastrocnêmio medial, compreensão do papel da arquitetura na definição
mas não no gastrocnêmio lateral) e maior ângulo pe- da função muscular quando se interpreta o movimen-
niforme (mesmos músculos, exceto para o vasto la- to ou o desempenho humano. No entanto, é preciso
150 PAAVO V. KOMI

ampliar qualitativamente a investigação antes de qual- motoras no músculo de mamíferos são consistentes
quer inter-relação estrutura-função definitiva ser com essas descobertas (Monti et al., 2001).
completamente demonstrada.
Na presente revisão, os dois principais tópicos Distribuição espacial das fibras das
considerados na edição anterior (Roy e Edgerton, unidades motoras
1992) serão enfatizados: (I) papel da arquitetura na
determinação da relação estrutura-função entre as Uma característica comum de todas as unidades
unidades motoras e as subdivisões do músculo; e (II) motoras no controle de animais adultos diz respeito
papel da arquitetura na determinação das lesões ao fato de as fibras inervadas por um motoneurônio
musculoesqueléticas em humanos por estresse-ten- serem intermescladas com fibras inervadas por ou-
são. A ênfase será dada a como as características ar- tros motoneurônios. Essa disposição é claramente
quiteturais das fibras individuais, as unidades moto- demonstrada nas unidades motoras depletadas em
ras e o músculo como um todo afetam a transmissão glicogênio (Fig. 8.1 [Bodine et al., 1988; Bodine-Fo-
de força durante as contrações. wler et al., 1990; Ounjian et al., 1991; Bodine-Fowler
et al., 1993]). Inúmeras análises de distribuição espa-
cial indicam que: (I) há pouca tendência de as fibras
Inter-relações estrutura-função na individuais, em uma unidade motora, agruparem-se
unidade motora ou dispersarem-se, isto é, a distribuição não é dife-
rente de uma aleatória; e (II) as fibras pertencentes à
Uma unidade motora inclui um motoneurônio e unidade motora são dispostas em pequenos suba-
todas as fibras por ele inervadas. Ela também é desig- grupamentos, que, provavelmente, refletem as fibras
nada como a unidade funcional básica do sistema inervadas por uma ramificação primária da árvore
neuromotor (Henneman e Olson, 1965). Embora axonal.* Essas propriedades espaciais parecem ter sido
muito se conheça sobre as propriedades fisiológicas estabelecidas no processo de inervação durante o
das unidades motoras e as características bioquími- desenvolvimento (Pfeiffer e Friede, 1985; Dahm e
cas de suas fibras constituintes (Burke e Edgerton, Landmesser, 1988). Com base em técnicas de mape-
1975; Burke, 1981; Enoka, 1995), relativamente pou- amento eletromiográfico, a disposição das unidades
cos dados estão disponíveis a respeito das proprieda- motoras no músculo humano assemelha-se à des-
des arquiteturais desses elementos neuromusculares. crita anteriormente (Stalberg, 1980; Stalberg e Anto-
Recentemente, publicamos uma revisão descreven- ni, 1980). No entanto, é importante salientar que a
do algumas das características das unidades motoras distribuição espacial das unidades motoras em algu-
e das fibras (Monti et al., 2001). Os pontos-chave são mas espécies é completamente diferente, por exem-
resumidos a seguir. plo, músculos das asas de aves, e pode ter significân-
cia funcional única (Sokoloff et al., 1998; Sokoloff e
Características regionais das Goslow, 1999).
unidades motoras
Forma e localização das fibras
As fibras que pertencem a uma unidade motora musculares da unidade motora em
estão localizadas em uma região da secção transversa um músculo
muscular. Além disso, a magnitude de dispersão das
fibras parece específica ao tipo de unidade motora e O uso de técnicas de maceração para isolar, bem
ao músculo. Por exemplo, a região das unidades mo- como a depleção de glicogênio e a microinjeção de
toras no músculo tibial anterior do gato varia de 8 a corante para reconstruir fibras individuais em um
24%: unidades motoras lentas geralmente possuem músculo, fornecem as seguintes informações: (I) existe
pequenas regiões quando comparadas às rápidas (Bo- ampla variedade de comprimentos de fibras, assim
dine et al., 1988). No músculo sóleo do gato, exclusi-
vamente lento, as regiões são maiores, variando de
41 a 76% da secção transversa. Em geral, outros da-
dos referentes ao tamanho regional das unidades *N. de R.T. Relativo a um conjunto de axônios.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 151

Figura 8.1 Fotomicrografia ilustrando o contraste entre fibras depletadas e não-depletadas de unidades motoras rápidas fatigáveis
em três níveis ao longo do músculo, isto é, 17(a), 28(b) e 37(c) mm da extensão mais proximal da unidade motora. A plotagem dos
movimentos da fibra baseou-se na análise das posições da fibra observadas em 27 secções selecionadas ao longo do comprimento
do fascículo. As secções histológicas foram marcadas para glicogênio por reação periódica do ácido Schiff, e a micrografia extraída
de uma imagem de nível cinzento no terminal de vídeo de um sistema de processamento de imagens. A barra representa 50 μm. As
alterações na posição relativa de várias fibras nas três secções são ilustradas em (d). O revestimento das micrografias foi aproximado
por ajustar os ângulos descritos pelas linhas tangenciais (não-demonstrado) extraídas ao longo das margens do fascículo. Os
números identificam as fibras e as letras da secção histológica (extraída de Ounjian et al., 1991).

como alta porcentagem de fibras, que se inserem in- Trotter, 1991; Eldered et al., 1993a; Eldered et al.,
trafascicularmente no músculo (Loeb et al., 1987; 1993b; Trotter et al., 1995; Sheard et al., 1999; Sheard,
Chanaud et al., 1991; Ounjian et al., 1991; Trotter et 2000; Young et al., 2000). Embora dados limitados
al., 1995; Young et al., 2000); e (II) as fibras muscula- estejam disponíveis, com base na depleção de glico-
res podem apresentar grande variedade de formas: gênio de unidades motoras e na secção serial do mús-
por exemplo, a área de secção transversa de uma fi- culo ao longo de seu comprimento, a região das uni-
bra pode ser relativamente constante ao longo de seu dades motoras (a forma e a localização da fibra) em
comprimento total ou ser cônica, isto é, demonstrar todo o comprimento do músculo pode ser recons-
decréscimo na área de secção transversa em uma truída (Burke e Tsairis, 1973; Burke et al., 1974; Kanda
ou em ambas as extremidades (Ounjian et al., 1991; e Hashizume, 1992; Roy et al., 1995). Esses dados
152 PAAVO V. KOMI

demonstram que a região de uma unidade motora (I) tina e a célula e a rede de proteínas fibrilares na ma-
varia em porção, mas não no comprimento total do triz extracelular (Fig. 8.3) (para revisão detalhada des-
músculo e (II) está restrita a uma porção da secção sas proteínas e de suas funções potenciais, Monti et
transversa muscular. Essa disposição está esquema- al., 1999; Patel e Lieber, 1997). Essas proteínas são
ticamente demonstrada na Figura 8.2. organizadas em uma série de bandas, os costâmeros,
ao longo da membrana celular (Pardo et al., 1983). O
Interface fibra muscular-tecido espaçamento dos costâmeros corresponde quase que
conjuntivo completamente ao da linha-Z nos sarcômeros, for-
necendo evidência anatômica para o papel dessas
As fibras musculoesqueléticas são conectadas ao proteínas na transmissão de força através da mem-
longo de seu comprimento à matriz extracelular. Um brana celular. As proteínas costaméricas podem ser
sistema extensivo de proteínas é responsável pela for- divididas em dois grupos. No primeiro, a actina liga-
mação de uma associação entre os filamentos de ac- se à distrofina, ligada à laminina-2 (merosina) na
matriz extracelular por um complexo protéico que
atravessa a membrana. No segundo grupo de prote-
ínas costaméricas, a actina liga-se à talina, que se liga,
via vinculina, aos membros da família integrina de
proteínas transmembranáceas* ligadas ao colágeno e
à laminina-1 na matriz extracelular. A recente des-
crição de grupos de proteínas associadas à membra-
na com conexões à matriz extracelular e às fibras ad-
jacentes é consistente com uma função para essas
proteínas de membrana periódicas na transmissão da
força (Young et al., 2000). Além disso, as especializa-
ções morfológicas das membranas celulares das fi-
bras com terminação intrafascicular poderiam redu-
zir as tensões na membrana relativas aos sarcômeros
nos locais de transmissão de força. A discussão da
interface fibra-tecido conjuntivo continua na próxi-
ma seção.

Tecido conjuntivo
musculoesquelético e elementos
elásticos

Cada célula muscular é envolvida por uma lâmi-


Figura 8.2 Representação esquemática da região de uma na basal que contém primariamente colágeno tipo
unidade motora ao longo do comprimento do fascículo no IV, fibronectina, enactina e lamininas. Essas molécu-
músculo esquelético. Observe que o tamanho da região da las de colágeno e de laminina possibilitam ligações
unidade motora altera-se ao longo do comprimento do músculo; às proteínas transmembranáceas, como discutido
em muitos casos, pode refletir o número de fibras musculares
em cada nível muscular. As fibras musculares podem estender- anteriormente. Consistente com seu papel na media-
se ao longo do comprimento total do fascículo ou da ção da associação entre as células musculares e a
extremidade intrafascicularmente. As fibras que terminam matriz extracelular, as deficiências congênitas dos
dentro do fascículo podem ter uma ligação em cada membros da família da laminina de glicoproteínas
extremidades do fascículo ou entre fascículos. As setas
identificam o mesmo nível muscular representado pelos discos
nas linhas direita e pontilhada da esquerda. Observe que a
localização do território das unidades motoras ao longo do *N. de R.T. Relativo à subunidade protéica exposta em ambos
comprimento muscular reflete o ângulo peniforme da fibra. os lados da membrana celular.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 153

Figura 8.3 Representação diagramática


generalizada das vias protéicas
conhecidas ou postuladas por fazerem
parte da transmissão de força à matriz
extracelular. Duas cadeias de proteínas
que teoricamente têm essa função foram
identificadas. Na primeira, a actina liga-
se à distrofina, que se liga ao β-
distroglicano. O β-distroglicano é, então,
ligado à laminina-2 (merosina) na matriz
extracelular pelo α-distroglicano. O
complexo sarcoglicano pode funcionar na
estabilização dessas associações. Na
segunda cadeia de proteínas, a actina
liga-se à talina, que se liga à vinculina. A
vinculina liga-se a um membro da família
das integrinas, que se liga ao colágeno e
à laminina-1 na matriz extracelular
(extraída de Monti et al., 1999).

geram tipos únicos de distrofia muscular (Wewer e Em comprimentos musculares curtos, a disposição
Engvall, 1996). Os demais elementos da matriz ex- do colágeno está propensa a ser circunferencial;
tracelular são divididos em três níveis de organização quando o comprimento muscular aumenta, as fibri-
de acordo com sua relação com as fibras musculares. las se tornam progressivamente orientadas ao longo
O endomísio é adjacente à lâmina basal das células do eixo do músculo (Tidball e Daniel, 1986; Purslow
musculares. O perimísio é um endomísio mais es- e Trotter, 1994). Uma ilustração da estrutura tridi-
pesso que limita os fascículos das fibras musculares. mensional do tecido conjuntivo intramuscular pode
O epimísio circunda a superfície externa do múscu- ser encontrada na Figura 8.4. Caso o leitor imagine
lo. Esses níveis de organização são mais distinguíveis essa estrutura de tecido conjuntivo se estendendo de
pela sua morfologia (Borg e Caulfield, 1980) do que cada extremidade do músculo, é possível conceber o
pela sua composição (Light e Champion, 1984). To- músculo como um tendão contínuo com as fibras
dos os três são primariamente compostos de coláge- incrustadas no seu interior.
no tipo I e III. O endomísio e o perimísio serão re-
feridos até o final deste capítulo como tecidos con- O que é o componente elástico em
juntivos intramusculares. Embora originalmente des- série (CES)?
crito como uma malha de fibrilas de colágeno alea-
toriamente orientadas quando analisado por micros- No modelo elementar do músculo esquelético
copia eletrônica (Borg e Caulfield, 1980; Rowe, 1981), estabelecido por Hill, a unidade musculotendínea é
análises mais recentes determinaram que esse tecido representada por uma estrutura contrátil com ele-
conjuntivo intramuscular está em algum grau dis- mentos elásticos em paralelo e em série (Hill, 1938).
posto de forma ordenada (Purslow e Trotter, 1994). Devido ao potencial elástico em série, junto com os
154 PAAVO V. KOMI

bros, a musculatura proximal freqüentemente con-


tém pouco ou nenhum tendão livre anatomicamente
identificável. A gradação no comprimento dos ten-
dões próximo-distais dos membros indica que essa
deve ser uma gradação de sua dominância na defini-
ção das propriedades do CES relativas aos elementos
contráteis ativos daquelas fibras musculares dispos-
tas em série e indiretamente nas fibras circundadas
dispostas em paralelo.
O que, então, constitui o elemento elástico em
série na musculatura mais proximal? Muitos mús-
culos dispõem de uma camada de tecido conjuntivo
similar a um tendão, a aponeurose. Ela serve como
local de fixação para as fibras musculares em uma ou
em ambas as extremidades. O papel da aponeurose
no estoque de energia mecânica foi sugerido por
Roberts e colaboradores (1997), a partir de seu tra-
balho realizado com perus durante a corrida. Nesses
animais, o tendão do músculo gastrocnêmio é calci-
ficado sobre a porção de seu comprimento. Esses
autores foram capazes de estabelecer, pelo uso da
sonomicrometria, que o músculo estava em condi-
ções isométricas em boa parte da fase de locomoção.
Portanto, qualquer trabalho realizado pelas alterações
de comprimento nos elementos elásticos deveria ser
feito primariamente pelos tecidos conjuntivos não-
tendíneos, como a aponeurose.
O tecido conjuntivo intramuscular constitui uma
fonte adicional de elasticidade potencial, como dis-
cutido anteriormente. Devido às fibras musculares
Figura 8.4 Microgafia eletrônica escaneada de superfície estarem efetivamente em série com a matriz extrace-
seccionada transversalmente do músculo esterno-mandibular
bovino após digestão de hidróxido de sódio. (a) A baixa lular por meio de suas conexões laterais, a deforma-
ampliação (x 100) demonstra o tecido conjuntivo do endomísio ção desse tecido conjuntivo pode contribuir para a
dentro de fascículos separados pelo tecido conjuntivo do elasticidade em série talvez de modo significativo no
perimísio. (b) Maior ampliação (x 3.200) da visão oblíqua da músculo sem tendão livre. Tidball e Daniel (1986)
superfície de corte mostra o endomísio separando (extraído) as demonstraram que as células musculoesqueléticas de
células musculares. O planar sob a forma de feltro das fibrilas
colágenas na camada reticular do endomísio é claramente rãs estocaram mais energia na fase passiva de oscila-
observado (extraída de Purslow e Trotter, 1994). ções sinusoidais com a membrana basal intacta do
que quando esta foi removida. Eis a importância das
proteínas transmembranáceas e da matriz extracelu-
lar no estoque de energia elástica.
elementos contráteis, de deformar em resposta à so-
brecarga e, desse modo, estocar energia potencial, esse Características comprimento-força
aspecto de modelação muscular tem recebido uma do tendão e aponeurose
grande atenção. Em geral, as propriedades dos ele-
mentos elásticos em série são admitidas por serem As propriedades mecânicas in vitro de tendões
dominadas por aquelas do tendão livre (Zajac, 1989). isolados de mamíferos estão bem caracterizadas. Ben-
Enquanto esse é, quase que certamente, o caso para nett e colaboradores (1986) testaram tendões com
os músculos distais com longos tendões dos mem- uma variedade de funções em sete animais diferen-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 155

tes, incluindo quadrúpedes de tamanhos distintos, suem propriedades mecânicas similares. Trestik e Li-
canguru e golfinho. Todos tiveram módulos de Young eber (1993) registraram 2% de tensão no tendão e na
aproximados (1,2 a 1,6 GPa) e falharam em estresses aponeurose do gastrocnêmio da rã estimulado passi-
similares. Além disso, todos demonstraram capaci- vamente a P0. A aponeurose e o tendão também pos-
dade similar para estocar e retornar a energia. Essa suem rigidez similar no sóleo do gato em contrações
uniformidade das propriedades mecânicas do tendão tetânicas (Scott e Loeb, 1995). Deve-se observar que
nas diferentes espécies foi confirmada por Pollock e os métodos empregados no estudo do registro de pro-
Shadwick (1994), demonstrando que o módulo elás- priedades similares são diferentes para o tendão e para
tico do tendão não se associou à massa corporal, mas a aponeurose, incluindo sobrecargas ativa e passiva;
permaneceu constante em ~1,2 GPa para 18 espé- com isso, os resultados não podem ser atribuídos às
cies com massa corporal variando de 0,5 a 500 kg. diferenças no método utilizado para estimular o teci-
Adicionalmente, não houve diferença nas proprieda- do.
des mecânicas dos tendões dos flexores e extensores Temos estudado o sóleo do rato em um esforço
do tornozelo, indicando que as propriedades mecâ- para compreender as propriedades mecânicas de sua
nicas dos tecidos tendíneos não são especializadas aponeurose e do tendão em sobrecargas que se apro-
de acordo com a função do músculo fixado. O pu- ximam em padrão e em magnitude daquelas encon-
nho e a mão dos seres humanos constituem um sis- tradas na condição in vivo. O músculo foi contraído
tema especializado em que esse padrão geral pode através da estimulação dos filamentos da raiz ven-
não se manter real (Loren e Lieber, 1995). tral, permitindo o recrutamento de diferentes frações
Os módulos reportados anteriormente, contudo, da população de fibras do músculo. As tensões fo-
representam módulos tangentes retirados da porção ram mensuradas por meio de videografia de raio X
linear das curvas estresse-tensão desses tendões. Ao para visualizar pequenas partículas de metal incrus-
contrário, o sóleo do gato (Proske e Morgan, 1984; tadas no tecido de interesse. A Figura 8.5 mostra os
Scott e Loeb, 1995) e o semitendíneo da rã (Lieber et resultados dessas medidas para o tendão livre e para
al., 1991) permanecem dentro da região não-linear as metades proximais e distais da aponeurose. As
inicial da curva estresse-tensão em uma ampla varie- curvas dessas linhas, enquanto não caracterizam a
dade de forças até o máximo que o músculo pode pro- rigidez no sentido mais puro, representam a relação
duzir. Portanto, o uso do módulo de Young da porção sobrecarga-deformação das diferentes áreas de inte-
linear da curva estresse-tensão pode fazer com que se resse. Nenhuma diferença significativa foi encontra-
subestime a extensão do tendão em um movimento, da nas curvas dessas linhas nas várias regiões. Então,
particularmente em baixos níveis de recrutamento. no sóleo do rato, as propriedades da aponeurose e do
Não há consenso claro referente às propriedades tendão são similares.
da aponeurose ou sobre a relação entre tendão e pro- Em alguns músculos, a rigidez da aponeurose
priedades da aponeurose. Rack e Westbury (1984) pode também não ser uniforme ao longo de seu com-
notaram que a rigidez total do tecido conjuntivo do primento. Em eventos de sobrecargas únicas, a ten-
sóleo do gato foi 3 a 5 vezes menor que a do tendão são na porção da aponeurose bem mais distante do
livre mensurado em isolamento, indicando que o ten- tendão é cinco vezes maior do que na porção próxi-
dão estava muito mais rígido do que outros elemen- ma ao tendão no gastrocnêmio medial do rato (Zuur-
tos do tecido conjuntivo (i. e., aponeurose). Outros bier et al., 1994). A tensão relativa da extremidade
registros em várias espécies também indicam dife- muscular da aponeurose também é três vezes maior
renças nas propriedades mecânicas do tendão e da do que aquela da extremidade tendínea no semiten-
aponeurose. No músculo tibial anterior de seres hu- díneo da rã (Trestik e Lieber, 1993) e no tibial ante-
manos, a tensão no tendão é aproximadamente três rior de seres humanos (Maganaris e Paul, 2000). En-
vezes à tensão na aponeurose durante contração vo- tão, não somente as propriedades do tendão e da apo-
luntária máxima (Maganaris e Paul, 2000); no mús- neurose parecem variar uma em relação à outra, mas
culo semitendíneo da rã, é cerca de quatro vezes maior as propriedades mecânicas da aponeurose podem
em uma sobrecarga passiva igual a tensão tetânica também variar ao longo de seu comprimento.
máxima (P0) (Lieber et al., 1991). No entanto, alguns Pode-se observar novamente na Figura 8.5 que
registros indicam que o tendão e a aponeurose pos- as duas regiões da aponeurose exibem rigidez apro-
156 PAAVO V. KOMI

Figura 8.5 Pontos na curva força-tensão


para o tendão e para partes iguais
proximais e distais da aponeurose do
músculo sóleo do rato são demonstrados.
A tensão foi mensurada através de
radiografia de raio X durante contração de
diferentes subgrupos de fibras
musculares. A inclinação das linhas,
extraída de cada conjunto de pontos,
representa a rigidez do tecido. As curvas
dos três tecidos não são diferentes
(P > 0,20), indicando que todos
possuem rigidez similar quando
submetidos à estimulação muscular.

ximadamente idêntica. Então, na variedade de ani- importante na definição das demandas funcionais
mais discutidos, as propriedades mecânicas do sóleo impostas no sistema nervoso para controlar o mús-
do rato parecem altamente uniformes. Essa varieda- culo esquelético.
de de propriedades inter-espécies, da uniformidade Uma característica comum da interação entre as
para uma variação cinco vezes maior, enfatiza a im- unidades motoras e os compartimentos neuromus-
portância de se caracterizar precisamente as unida- culares é que eles interagem não-linearmente. Ou
des musculotendíneas mais do que aplicar proprie- seja, a soma das forças individuais de duas subuni-
dades médias derivadas de inúmeros músculos e dades ativadas separadamente é, em geral, diferente
espécies. Isso é especialmente verdadeiro quando se da força observada quando são ativadas simultanea-
tenta desenvolver modelos matemáticos precisos da mente. Tanto somações de força menos do que linea-
função in vivo de determinados músculos. res [(A + B) < (A) + (B)], como mais do que lineares
[(A + B) > (A) + (B)] entre as unidades motoras têm
sido observadas.
Fisiologia e função As observações inicias de somação menos que
musculoesqueléticas linear durante a estimulação das raízes ventrais evi-
denciam que algumas fibras musculoesqueléticas são
Transmissão de força inervadas por mais de um neurônio (polinervação).
Assim, funcionalmente, são parte de mais de uma uni-
dade motora (Hunt e Kuffler, 1954). A partir dessa
Integração das fibras e forças das unida-
explicação, o déficit de força na estimulação simultâ-
des motoras
nea deve-se à sobreposição nas populações de fibras
A organização do músculo esquelético em uni- musculares inervadas por raiz. Embora isso repre-
dades motoras e em compartimentos neuromuscu- sente um mecanismo aceito nos músculos de anfí-
lares parte da questão de como essas várias unidades bios, estudos subseqüentes indicaram que provavel-
interagem no músculo. Se o músculo é completa- mente não tem importância nos músculos esque-
mente ativado, a importância das interações mecâni- léticos de mamíferos adultos, particularmente nas ex-
cas entre essas unidades não pode ser definida. No tremidades (Brown e Matthews, 1960). A principal
entanto, muitos movimentos envolvem o recrutamen- explicação para a não-linearidade nos músculos de
to dos músculos em níveis submáximos. Então, a clara mamíferos é a interação dos elementos contráteis das
compreensão da interação entre essas unidades or- fibras musculares com a elasticidade em série do
ganizacionais, se estão em modo ativo ou passivo, é músculo, particularmente aquela porção do CES for-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 157

mada por muitas ou por todas as fibras (i. e., tendão e Até recentemente, não havia informação dispo-
aponeurose). A força aplicada a esses elementos elás- nível sobre como a unidade motora poderia afetar a
ticos aumenta quando mais fibras musculares se con- interação de múltiplas unidades motoras. Exceto para
traem, induzindo maior encurtamento interno das o sóleo do gato, predominantemente lento, essa vari-
fibras musculares. Então, para movimentos que ini- ável pode ter papel importante em todos os múscu-
ciam em comprimento ótimo, como é o caso dos tes- los anteriormente mencionados. Troiani e colabora-
tes in situ, as fibras musculares encurtam em direção dores (1999) estudaram os tipos de unidades motoras
ao membro ascendente da sua relação comprimen- no fibular longo do gato. A ativação de pares de uni-
to-tensão, reduzindo a produção de força. Em estu- dades motoras lentas e/ou rápidas resistentes à fadi-
do recente, Sandercock (2000) ilustrou o papel desse ga (FR) produziu excesso de força total na soma al-
mecanismo em somações não-lineares. O autor esti- gébrica das forças das unidades individuais para 75%
mulou dois feixes de raízes ventrais, cada um iner- das lentas e FR e pares lentas + FR testados. Ao con-
vando metade do músculo sóleo do gato. Durante as trário, a ativação de diferentes pares de unidades
contrações em que o comprimento muscular foi man- motoras rápidas fatigáveis (FF) produziu aproxima-
tido constante, foi observado algo semelhante a uma damente a mesma força do que a predita em iguais
somação linear dependente do comprimento mus- proporções. A razão força-medida para o valor predi-
cular. Sandercock, então, calculou a extensão do CES to (desvio da linearidade) para os pares FF dependeu
esperada durante a contração de metade do múscu- da freqüência de estimulação e foi reduzida de ± 60%
lo. Ele usou um servomotor para equilibrar o encur- para ± 12% com o aumento da freqüência de esti-
tamento interno das fibras através do alongamento mulação (24 Hz versus 72 Hz). Também registrou-se
da unidade musculotendínea pela quantidade calcu- que a adição de unidades motoras FF às unidades
lada. Esse movimento produziu redução marcada na lentas + FR sempre resultou em menos força do que
magnitude da somação não-linear. a adição linear da força. Para os pares FF, as contra-
A somação não-linear também foi observada no ções em maiores freqüências produzirão mais força.
nível das unidades motoras. Os estudos geralmente Com isso, as unidades motoras estarão ativadas em
incluem os músculos sóleo e gastrocnêmio (Clamann uma região mais alta da curva estresse-tensão do CES.
e Schellorn, 1988), o fibular longo (Emonet-Denand Para pares mistos, a diferença pode dever-se às dife-
et al., 1990), o tibial posterior (Powers e Binder, 1991) renças nas propriedades força-comprimento dos di-
e o reto lateral de gatos (Goldberg et al., 1997). No- versos tipos de fibras, promovendo complexas inte-
vamente, as evidências referem que essas não-linea- rações entre as fibras em muitas partes das curvas
ridades podem ser explicadas pela resposta do CES. força-comprimento. Alternativamente, isso pode ser
Powers e Binder (1991) aplicaram pequenas altera- resultado de diferenças na produção de força por di-
ções de comprimento ao tibial posterior durante es- ferentes unidades. Por exemplo, Stephens e colabo-
timulação tetânica de pares de unidades motoras. Eles radores (1975) demonstraram que diferenças aparen-
detectaram que alterações tão pequenas como 50 μm tes no comprimento ótimo entre as unidades motoras
diminuíram significativamente a não-linearidade da rápidas e lentas não foram significativas quando as
interação. Quando um único elemento se contrai primeiras foram agrupadas com grandes unidades
(i. e., uma unidade ou compartimento motor), ele se motoras lentas.
encurta às custas do CES. A contração de dois ele- A arquitetura das fibras e as unidades motoras
mentos em série incrementa a quantidade de encur- individuais dificultam a interpretação das interações
tamento interno. Como resultado desse encurtamento entre as múltiplas unidades motoras. Nas ações sub-
adicional, os dois elementos estão em um compri- máximas, as fibras em muitas unidades motoras es-
mento menos curto quando se contraem juntos do tarão em contato com fibras passivas de outras uni-
que quando se contraem isoladamente, o que os po- dades (Bodine et al., 1988). Essas fibras inativas,
siciona em diferentes regiões da relação força-com- particularmente as dispostas em série, funcionarão
primento. Ao eliminar o encurtamento adicional, é como um componente da elasticidade experimenta-
possível reduzir ou diminuir a linearidade da intera- da pelas unidades motoras ativas. Conforme mencio-
ção (Powers e Binder, 1991; Sandercock, 2000). nado anteriormente, as fibras musculares têm um sis-
158 PAAVO V. KOMI

tema de proteína transmembranácea ao longo de seu motoras, demonstrou-se que a fração de força trans-
comprimento, conectando-as à matriz extracelular ou mitida em cada metade do tendão permaneceu qua-
diretamente às fibras musculares adjacentes. Essas se que constante quando a força muscular total foi
conexões, segundo estudos, respondem pela trans- maior que ~20% da Po. Por exemplo, se o músculo
missão lateral de forças dentro do músculo. Revisões foi estimulado a produzir 50% da Po, ambas as meta-
mais detalhadas sobre esse conceito de transmissão des do tendão produziram 25% da Po.
lateral das forças dos sarcômeros e sobre as estrutu- A base teórica dessas observações está ilustrada
ras celulares envolvidas podem ser encontradas na na Figura 8.6, que ilustra a porcentagem da secção
literatura (Trotter, 1993; Patel e Lieber, 1997; Monti transversa muscular ligada às fibras musculares ati-
et al., 1999). vas em função do recrutamento. O modelo assume
As evidências diretas que fundamentam a exis- unidades motoras aleatoriamente distribuídas com
tência de uma via lateral para a transmissão da força tamanho regional uniforme. As unidades motoras
são limitadas, mas consistentes. Street (1983) demons- foram recrutadas aleatoriamente, e calculou-se a área
trou que as forças passiva e ativa poderiam ser trans- de secção transversa total da região descrita pelas fi-
mitidas das fibras via ligações entre os sarcômeros e bras mais amplamente distribuídas. Em 20% de re-
as membranas celulares nos feixes das fibras muscu- crutamento, 93% da secção transversa muscular es-
lares. Alguns estudos estendem seus resultados ao taria contida na periferia descrita pelas fibras
nível muscular total. Goldberg e colaboradores (1997) musculares amplamente distribuídas. O músculo
extirparam parte do músculo reto lateral do gato em misto, contendo gradação de unidades motoras len-
uma profundidade de aproximadamente um terço do tas com pequenas regiões para unidades motoras rá-
diâmetro muscular. Apesar dessa grande interrupção pidas com grandes regiões, exibiria elevação gradati-
das fibras musculares, a tensão contrátil muscular va na porcentagem da secção transversa com fibras
total caiu somente 5%. Então, embora 33% das fi- ativas. Então, é possível que a matriz do tecido con-
bras do músculo não pudessem transmitir força ao juntivo do músculo filtre as interações mecânicas das
longo de seu comprimento, quase nenhuma redução unidades motoras.
na produção de força foi observada. Huijing e cola-
boradores (1998) utilizaram tenotomia* para inter-
Direção da aplicação de força
romper a transmissão de força das fibras musculares
à inserção tendínea. O músculo extensor longo dos As variações na anatomia da fibra e da unidade
dedos de ratos consiste de quatro compartimentos motora possibilitam às unidades motoras também
neuromusculares, cada um inserido em um tendão variar no eixo principal ao longo do qual elas produ-
distal separado. Após o corte de três dos quatro ten- zem força. Tal variabilidade somente se dá com as
dões, a transmissão de força pelo único tendão res- unidades motoras ativadas isoladamente. Isso pode-
tante foi mais do que 80% daquela produzida pelo ria causar variação no torque aplicado em uma arti-
músculo intacto, indicando um mecanismo interno culação por diferentes unidades motoras do mes-
bem desenvolvido para a transmissão de força atra- mo músculo. De modo não surpreendente, o grau
vés do tecido conjuntivo intramuscular ao tendão res- em que as unidades motoras variam o torque de-
tante. pende da morfologia do músculo. Sokoloff e cola-
As conseqüências funcionais da integração das boradores (1997) examinaram 158 unidades moto-
forças no músculo foram claramente ilustradas por ras do gastrocnêmio medial do gato. Observou-se
Proske e Morgan (1984). Esses autores dividiram lon- variabilidade no torque das unidades motoras indi-
gitudinalmente o tendão do músculo sóleo do gato, viduais quando estimuladas experimentalmente. No
fixando cada metade a um transdutor de força sepa- entanto, quando o músculo foi ativado de forma
rado. Ao estimular várias combinações das unidades reflexa em animais descerebrados, o torque do mús-
culo não variou com o nível de ativação. Portanto,
diante do recrutamento realizado pela ativação do
sistema nervoso central, não houve recrutamento
sistêmico das unidades motoras em relação ao tor-
*N. de R.T. Relativo ao corte de um tendão. que. Esse resultado indica que, enquanto existir al-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 159

Figura 8.6 A figura mostra um modelo


matemático simples relacionando o
recrutamento das unidades motoras à
secção transversa muscular total
associada à fibra muscular ativa. O
modelo assume uma população de
unidades motoras homogêneas com o
mesmo tamanho regional recrutado de
forma aleatória. Em um nível de
recrutamento relativamente baixo, 20%
das unidades motoras estão ativas e a
região ligada às unidades ativas
representa 93% da área de secção
transversa muscular.

guma variabilidade sutil entre o torque das unida- Interação entre elementos
des motoras no gastrocnêmio medial do gato, essa contráteis e elásticos
variabilidade não representa um fator importante
na determinação da ordem de recrutamento das Comprimento da fibra versus comprimen-
unidades motoras. to do tecido conjuntivo
Por sua vez, as medidas da linha de ação de uni-
dades motoras do masseter do coelho demonstraram Como mencionado anteriormente, o comprimen-
ampla variação, correlacionada com as propriedades to do tendão varia amplamente de proximal a distal
das unidades motoras (Turkawski et al., 1998). O nos membros. Há benefícios e custos referentes ao
agrupamento de unidades motoras de acordo com a aumento do comprimento do tendão. Essas caracte-
função ajustou-se bem à compartimentalização ana- rísticas são importantes na definição da função de de-
tômica do masseter. Então, a correlação entre a fun- terminado músculo na condição in vivo. Nos músculos
ção e a fisiologia foi aparentemente o resultado do proximais, a relação comprimento do tendão-compri-
agrupamento das fibras de tipos similares em com- mento da fibra muscular tende a ser relativamente pe-
partimentos. No entanto, a função das unidades mo- quena. Sendo assim, qualquer deslocamento articular
toras em cada compartimento estava de acordo com controlado por esses músculos deve ser primaria-
a função teórica daqueles compartimentos no movi- mente produzido pelas fibras musculares. No entanto,
mento do maxilar. Assim, em alguns músculos (p. ex., o encurtamento das fibras musculares é reproduzido
no gastrocnêmio medial do gato) o torque aplicado com um movimento articular. O elemento elástico em
parece ser constante quando a atividade aumenta, série desses músculos é muito curto e, conseqüente-
enquanto em outros (p. ex., no masseter do coelho) o mente, tem muito pouca capacidade para participar
sistema nervoso pode recrutar subgrupos de unida- na recuperação elástica da energia mecânica. Na mus-
des motoras para produzir diferentes movimentos. A culatura mais distal, a relação comprimento do ten-
potencial significância funcional dos vetores de for- dão-comprimento da fibra tende a aumentar. Esses
ça de unidades motoras simples, isoladamente ou em tendões são candidatos primários a estocar energia
combinação, necessita de análise adicional em estu- mecânica; sugere-se inclusive que desempenham fun-
dos futuros. ções em inúmeras espécies (Alexander, 1984; Gregor
160 PAAVO V. KOMI

et al., 1988; Griffiths, 1989; Biewener e Baudinette, contração muscular humana normal in vivo. As ques-
1995; Roberts et al., 1997; Biewener, 1998). Essa elas- tões fundamentais referem que os tecidos são ten-
ticidade poderia constituir-se às custas da precisão no sionados durante movimentos normais, isto é, con-
controle da posição articular devido, em grande parte, tração muscular; qual a magnitude de tensão, ou seja,
à força gerada pelas fibras musculares para alongar os a amplitude de valores normais? Muitos trabalhos,
tendões como resultado do encurtamento da fibra tentando determinar o local de lesão muscular por
muscular. A potência desses músculos será sensível de tensão, utilizam modelos animais in situ. Nesses ex-
acordo com a sua posição na curva comprimento-ten- perimentos, a unidade musculotendínea foi isolada e
são. Postula-se que o comprimento das unidades mus- alongada ao ponto de falência, definido como a rup-
culotendíneas com essa arquitetura permanece cons- tura da unidade musculotendínea identificável por
tante, enquanto o tendão realiza grande parte do tra- análise rudimentar. Usando um modelo de coelho,
balho mecânico derivado da energia estocada quando Garrett e colaboradores registraram que o local da
os elementos ativos se encurtam (Roberts et al., 1997; lesão estava quase sempre dentro das fibras muscu-
Biewener, 1998). Uma descoberta interessante na arti- lares, imediatamente proximal à junção miotendínea
culação do punho determinou a relação entre a arqui- (JMT) (para revisão, ver Garrett, 1996). A falência
tetura da fibra muscular e as dimensões do tendão nunca se processou no tendão. Tal afirmação se con-
como altamente especializada. Essa perspectiva se ma- firma como verdadeira diante da imposição de alon-
terializa mais consistentemente diante da existência de gamento passivo ou ativo nos músculos com carac-
distinção entre as unidades musculotendíneas relati- terísticas arquiteturais muito diferentes, por exemplo,
vamente rígidas e complacentes (Loren e Lieber, 1995). os músculos tibial e fibular longo (fusiforme), o ex-
Isso permite às unidades rígidas controlarem ativamen- tensor longo dos dedos (unipeniforme), assim como
te a posição articular, enquanto mais unidades com- o reto femoral (bipeniforme) (Garrett et al., 1988).
placentes resistem às perturbações na posição por Tidball e colaboradores (1993) estimularam uma pre-
atuarem, em parte, no amortecimento do impacto. paração muscular da unidade musculotendínea do
semitendíneo da rã com junções osteotendíneas in-
tactas. Tanto nos músculos estimulados como nos
Relação entre a arquitetura não-estimulados, a lesão ocorreu na JMT proximal,
muscular e a função in vivo não na distal. Com o auxílio de microscopia eletrô-
nica, os autores identificaram diferença no local de
As interações estrutura-função musculoesquelé- lesão de acordo com o estado de ativação do múscu-
tica descritas nas seções anteriores respondem por lo. Quando o músculo não foi estimulado, o local de
inúmeras implicações clínicas óbvias associadas às lesão estava dentro do músculo na JMT proximal. Já
lesões musculares. Uma questão fundamental refe- no músculo estimulado, a lesão ocorreu na lâmina
re-se ao fato de os elementos teciduais da arquitetu- lúcida da JMT proximal.
ra da unidade musculotendínea serem “tensionados” Garrett e colaboradores também avaliaram, por
a ponto de produzir lesão por exceder seus limites tomografia computadorizada e/ou ressonância mag-
elásticos. Há duas abordagens principais para soluci- nética (RM), as lesões provocadas por tensão aguda
onar esse problema: (I) os estudos em modelos ani- em universitários (Garrett et al., 1989; Speer et al.,
mais in situ com sobrecarga passiva e ativa da unida- 1993). As lesões estavam localizadas nos grupos mus-
de musculotendínea até a fadiga; e (II) estudos em culares quadríceps, isquiotibiais, adutores e tríceps
modelos humanos e animais in vivo, analisando a dis- sural e eram associadas com ações excêntricas. Em
tribuição da tensão na unidade musculotendínea todos os casos, esses estudos de imagens localizaram
durante movimentos de rotina. o rompimento próximo ao JMT. Como nos estudos
em modelos animais in situ, o rompimento nunca afe-
Localização das lesões por tensão tou áreas médias das fibras musculares. Além disso,
as lesões foram mais prevalentes em músculos biar-
O principal passo em direção à compreensão das ticulares (p. ex., bíceps femoral, reto femoral e gas-
lesões musculares por tensão diz respeito à determi- trocnêmio medial) ou em músculos com arquitetura
nação dos eventos biomecânicos que constituem a e função complexas (p. ex., adutor longo). Combina-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 161

dos, todos esses dados identificaram claramente a resultado ajusta-se às expectativas para um músculo
JMT como o local de lesão por tensão, além de indi- com muito pouco tendão e com fascículos longos
carem que o risco de o músculo se lesionar por ten- (ver “Comprimento da fibra versus comprimento do
são aumenta com a complexidade da sua arquitetura. tecido conjuntivo” anteriormente). Biewener e Gillis
(1999) também analisaram o músculo gastrocnêmio
Padrões de tensão in vivo de patos selvagens e encontraram encurtamento sig-
nificativo dos fascículos durante o nado (24%) e na
caminhada (37%). Enquanto esses músculos são ho-
Sonomicrometria e tensão tecidual em
mólogos aos do gato e do peru discutidos anterior-
animais
mente, por possuírem tendões livres relativamente
A sonomicrometria consiste de método experi- longos, a morfologia dos membros e as taxas cíclicas
mental que ajuda os investigadores a caracterizar as encontradas no nado e na caminhada podem reque-
tensões relativas nas fibras musculares e nas estrutu- rer às fibras musculares encurtamento ativo para ge-
ras tendíneas sem fundamentar-se nas estimativas da rar deslocamento.
complacência tecidual in vivo. Os cristais piezoelétri- Considerados juntos, esses resultados indicam
cos são implantados na unidade musculotendínea ao que a função muscular é correlacionada à arquitetu-
longo do eixo do fascículo, e a distância entre os dois ra musculotendínea. Como predito das relações ar-
cristais é determinada pelo uso do tempo de trânsito quiteturais gerais, as unidades musculotendíneas com
de um pulso ultra-sônico. Griffiths (1991) aplicou essa fascículos longos e tendões curtos experimentam
técnica para mensurar a tensão fascicular muscular maiores tensões nas fibras musculares. As unidades
in situ no gastrocnêmio medial do gato e contrações musculotendíneas com tendões longos podem tole-
de comprimento constante e in vivo durante a cami- rar maior tensão total em seus tendões do que os
nhada. O autor observou 28% de encurtamento com músculos com tendões curtos.
alongamento associado dos elementos passivos du-
rante as contrações in situ, mas que, durante a loco-
Ultra-sonografia e tensão tecidual em
moção, as fibras musculares somente se encurtaram
humanos
~7%. O gastrocnêmio lateral de perus que correram
livremente se encurtou menos de 6% na fase de apoio A característica invasiva da técnica de sonomi-
da passada (Roberts et al., 1997). Biewener e colabo- crometria constitui uma limitação inerente: os cris-
radores (1998b) estudaram a tensão nos músculos tais devem ser implantados no músculo. Em vista dis-
plantar e gastrocnêmio lateral de cangurus e deter- so, os investigadores desenvolveram outras técnicas
minara que, durante o movimento normal, esses ele- menos invasivas para estudar a tensão nos músculos
mentos alongaram-se e encurtaram-se aproximada- humanos. Fukunaga e colaboradores (Fukashiro et
mente 2 e 6%, respectivamente, o que representou 7 al., 1995; Fukunaga et al., 1996; Fukunaga et al.,
e 34% de tensão nos tendões de cada um desses 1997a; Ito et al., 1998) empregaram técnicas de ul-
músculos. A tensão no tendão pode ser 3 a 10 vezes tra-som para estudar o movimento do fascículo e da
maior do que a tensão fascicular muscular em inú- aponeurose muscular durante uma contração isomé-
meros animais (incluindo caminhada de mamíferos trica. Esse grupo registrou encurtamento do fascícu-
quadrúpedes, saltos de mamíferos e aves bípedes). Isso lo muscular de ~17% no tibial anterior com alonga-
pode implicar que, na articulação do tornozelo, onde mento tendíneo associado de ~7%. No gastrocnêmio,
os músculos tendem a ter relação relativamente cur- as contrações com comprimento fixo ou com movi-
ta entre fascículo e comprimento do tendão, os ten- mento livre têm sido estudadas. O tendão e a apo-
dões e as aponeuroses associadas fornecem grande neurose do gastrocnêmio alongaram-se de 5 a 6%
parte do deslocamento na locomoção. Contudo, nem durante as contrações em ângulo articular constante
todos os músculos são delineados para utilizar a ten- (Muramatsu et al., 2001). Recentemente, esses inves-
são do tendão para gerar deslocamento. Durante o tigadores extrapolaram seus resultados para o com-
vôo, os fascículos dos músculos peitorais de pombos portamento fascicular e tendíneo no salto vertical
são alongados 30 a 40% além do comprimento do (Kurokawa et al., 2001). Os autores observaram que
fascículo em repouso (Biewener et al., 1998a). Esse o fascículo encurtou em 26%, incluindo 6% de alon-
162 PAAVO V. KOMI

gamento nas estruturas tendíneas, na parte inicial de modo que o movimento tecidual nas três dimensões
um salto (350 a 100 ms antes dos dedos dos pés per- possa ser determinado. Essa técnica consiste de pro-
derem o contato com o solo). Nos últimos 100 ms, cedimento não-invasivo muito eficaz para mensurar
os fascículos permaneceram quase que isométricos, a dinâmica muscular e esquelética in vivo. Por exem-
enquanto o tendão recolheu-se ao seu comprimento plo, Drace e Pelc (1994) utilizam o contraste de se-
inicial, resultando em 5% de encurtamento da uni- qüência cinematográfica de RM de pulso codificada
dade musculotendínea. Dessa forma, em um salto a pela velocidade para traçar o movimento dos mús-
partir da situação de repouso, a tensão nos fascículos culos do antebraço durante a flexão e a extensão dos
do músculo gastrocnêmio medial humano foi de dedos. No caso dos músculos dos compartimentos
aproximadamente 6%, similar à observada em estu- anterior e posterior das extremidades inferiores, o
dos com animais discutidos anteriormente. contraste de seqüência é aplicado durante a flexão e
a dorsiflexão plantar em humanos. As imagens iden-
tificaram os grupos musculares mais ativos e demons-
RM* e tensão tecidual em humanos
traram movimentos recíprocos de extensão e flexão.
Um tipo particular de RM emprega contraste de Utilizando as mesmas técnicas, Sheehan e colabora-
seqüência de pulso cinematográfica codificada pela dores (1998) determinaram os perfis de velocidade
velocidade e pode oferecer outro método de imagem da patela, do fêmur e da tíbia em extensões do joe-
das alterações arquiteturais que a unidade musculo- lho. Seus dados indicaram que a flexão patelar atrasa
tendínea experimenta in vivo, além de algumas res- depois da flexão do joelho e que a patela inclina-se
postas referentes à variação fisiológica da tensão te- lateralmente e, então, medialmente quando os joe-
cidual nos movimentos normais. Nesse método, os lhos se estendem.
prótons em determinado volume tecidual são codifi- Atualmente, nosso laboratório utiliza técnica de
cados pela velocidade, tanto que sua intensidade de codificação da velocidade para investigar a dinâmica
sinal (densidade ótica) na imagem resultante repre- mecânica in vivo de ações isométricas do tríceps su-
senta uma medida de velocidade daquele volume de ral em múltiplas localizações dentro e entre os fascí-
tecido. Os deslocamentos e a tensão do tecido po- culos, aponeuroses e tendões em vários níveis de re-
dem ser rastreados através da multiplicação de um crutamento. A extremidade inferior do sujeito é
tempo constante conhecido entre as imagens com a imobilizada com gesso de fibra de vidro para manter
velocidade conhecida da densidade ótica. Sucessivas o joelho em extensão total e o tornozelo em 90°. So-
repetições desses cálculos podem ser realizadas para licita-se ao sujeito uma contração isométrica submá-
cada imagem tomada em diferentes fases da contra- xima dos flexores plantares em sincronia com me-
ção muscular a fim de traçar o volume tecidual atra- trônomo luminoso a uma freqüência de 49 bpm. O
vés da contração. torque gerado é mensurado pela contração via sen-
A técnica de codificação da velocidade apresenta sores de tensão fixados à superfície plantar do gesso.
várias vantagens sobre outras imagens técnicas: (I) as Antes de iniciar as contrações, é realizado um con-
medidas de tensão podem ser feitas em regiões que junto de imagens morfológicas por ressonância das
não possuem diferentes características anatômicas re- extremidades inferiores. Essas imagens são recons-
queridas para mensurar tensões por meio de ultra- truídas em três dimensões de modo que os dados
som; (II) o rastreamento da tensão em várias fases da referentes à velocidade e à tensão, obtidos da fase das
ação isométrica é possível, permitindo a determina- imagens de contraste, possam ser sobrepostos com
ção de distintos níveis de recrutamento das unidades base na arquitetura detalhada das extremidades infe-
motoras; e (III) as imagens nos três planos anatômi- riores. Exemplos da fase de imagens em contraste da
cos, isto é, sagital, axial e coronal, são fornecidas de mesma secção digital em fases distintas (Fig. 8.7) e
em planos sagitais diferentes (Fig. 8.8) são demons-
trados para uma contração isométrica. A informação
sobre a tensão obtida da fase de imagens em con-
traste na forma de marcas de grade sobrepostas na
imagem anatômica (magnitude) concomitante ilus-
*N. de R.T. Ressonância magnética. tra a capacidade para identificar áreas de elevada ten-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 163

Figura 8.7 Exemplos de imagem de contraste obtidos a partir do uso da seqüência de pulso de RM codificados pela velocidade. A
densidade ótica de cada ponto é proporcional à velocidade do volume do tecido representado pelo ponto. Cada imagem representa a
mesma secção sagital da perna de um sujeito normal durante a flexão plantar isométrica. O lado esquerdo da imagem é anterior, e o
lado direito, posterior. As velocidades e direção do movimento de determinado ponto são refletidas nas densidades óticas, com a
escala inferior das densidades óticas representando o movimento em uma direção, enquanto a escala superior representa
movimentos na direção oposta. Observe a diferença nas velocidades dentro e entre os músculos dos compartimentos anterior e
posterior (A. Lai, S. Sinha, J. Hodgson e V.R. Edgerton, observações não-publicadas).

Figura 8.8 Exemplos de imagem de contraste obtidos a partir do uso da seqüência de pulso de RM codificado pela velocidade em
diferentes planos sagitais da perna de um sujeito normal durante uma ação isométrica. O lado esquerdo da imagem é anterior,
enquanto o direito é posterior (A. Lai, S. Sinha, J. Hodgson e V.R. Edgerton, observações não-publicadas).

são durante a contração está apresentada na Figura truir as propriedades dinâmicas de tensão de estru-
8.9 (indicado pela seta branca). turas selecionadas dentro e entre os músculos. Por
exemplo, um dos objetivos iniciais é definir o nível e
a taxa de tensão na aponeurose para os músculos do
Arquitetura muscular, lesão por tríceps sural durante contrações normais.
tensão e recuperação da lesão A compreensão da dinâmica estresse-tensão de
por tensão encurtamento e de alongamento em um complexo
muscular durante o movimento normal representa o
O uso da RM por codificação de velocidade e o primeiro estágio nos esforços referentes ao esclare-
ultra-som parecem possíveis, embora muito difíceis, cimento da etiologia das lesões musculares induzi-
para principiar a compreensão de algumas das inte- das por tensão. A habilidade de mensurar a lesão por
rações mecânicas de múltiplos músculos em um gru- tensão é um prelúdio para (I) a identificação dos lo-
po de músculos sinergistas durante a função normal. cais de lesão por tensão; (II) a determinação de quais
Além disso, parece que seremos capazes de recons- propriedades de tensão dos movimentos normais
164 PAAVO V. KOMI

Figura 8.9 Exemplo de tensão no ponto


de intersecção de uma rede sobreposta em
magnitude de imagem extraída no mesmo
plano sagital com a imagem de fase de
contraste. A magnitude da imagem fornece
detalhe anatômico da perna. A rede de
tensão representa o deslocamento de cada
ponto em diferentes períodos de tempo
durante a ação isométrica. O deslocamento
é determinado a partir da imagem de fase
de contraste através do uso da informação
da velocidade da imagem da fase de
contraste e multiplicando a constante
tempo conhecida entre as aquisições de
imagens. Observe a elevada quantidade de
tensão na região do compartimento
muscular posterior (indicado pela seta
branca) nesse ponto da contração
isométrica (A. Lai, S. Sinha, J. Hodgson e
V.R. Edgerton, observações
não-publicadas).

podem levar à lesão por tensão; e (III) o desenvolvi- Agradecimentos


mento de métodos quantitativos para acompanhar o
curso e guiar o tipo de intervenção necessária para a Os autores expressam seus agradecimentos aos
otimização das propriedades de tensão durante a re- colaboradores que contribuíram significativamente
cuperação da função neuromuscular. neste capítulo. Uma grande parte deste trabalho foi
Quando ocorre lesão por tensão, caso os tecidos apoiada pelo NIH Grant NS16333.
estejam rompidos, como é tradicionalmente imagi-
nado, então o processo de remodelação segue e mui-
to provavelmente resulte em alterações na arquitetu- Referências
ra da unidade musculotendínea (Zarins e Ciullo,
1983). A estimulação global de cicatrização dentro Abe, T., Brown, J.B. & Brechue, W.F. (1999) Architectural
do músculo, seguida de lesão traumática, leva a alte- characteristics of muscle in black and white college foo-
rações nas propriedades dos tecidos conjuntivos, em tball players. Medicine and Science in Sports and Exercise
particular nos módulos de elasticidade das estrutu- 31, 1448-1452.
ras de tecido conjuntivo, dentro da unidade muscu- Abe, T., Kumagai, K. & Brechue, W.F. (2000) Fascicle length
lotendínea. Modelos animais de tais lesões demons- of leg muscles is greater in sprinters than distance run-
tram que esses processos alteram a distribuição e/ou ners. Medicine and Science in Sports and Exercise 32,
as propriedades mecânicas dos tecidos no interior da 1125-1129.
Alexander, R.M. (1984) Elastic energy stores in running
estrutura musculotendínea (Stauber, 1989; Lehto e
vertebrates. American Zoologist 24, 85-94.
Jarvinen, 1991; Taylor et al., 1993; Noonan et al., 1994; Bennett, M.B., Ker, R.F., Dimery, N.J. & Alexander, R.M.
Stauber et al., 1996). Portanto, a compreensão mais (1986) Mechanical properties of various mammalian
quantitativa das alterações na tensão tecidual duran- tendons. Journal of Zoology, London (A) 209, 537-548.
te o processo de cura está revestida de grande signi- Biewener, A.A. (1998) Muscle-tendon stresses and elastic
ficância clínica. energy storage during locomotion in the horse. Compa-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 165

rative Biochemistry and Physiology, Part B, Biochemistry and nical and architectural heterogeneity within the biceps
Molecular Biology 120, 73-87. femoris. Experimental Brain Research 85, 257-270.
Biewener, A.A. & Baudinette, R.V. (1995) In vivo muscle Chow, R.S., Medri, M.K., Martin, D.C. & Leekam, R.N.
force and elastic energy storage during steady-speed (2000) Sonographic studies of human soleus and gas-
hopping of tammar wallabies (Macropus eugenii). Journal trocnemius muscle architecture: gender variability. Eu-
of Experimental Biology 198, 1829-1841. ropean Journal of Applied Physiology and Occupational Phy-
Biewener, A.A. & Gillis, G.B. (1999) Dynamics of muscle siology 82, 236-244.
function during locomotion: accommodating variable Clamann, H.P. & Schelhorn, T.B. (1988) Nonlinear force
conditions. Journal of Experimental Biology 202, 3387- addition of newly recruited motor units in the cat hin-
3396. dlimb. Muscle and Nerve 11, 1079-1089.
Biewener, A.A., Corning, W.R. & Tobalske, B.W. (1998a) In Dahm, L.M. & Landmesser, L.T. (1988) The regulation of
vivo pectoralis muscle force-length behavior during le- intramuscular nerve branching during normal develo-
vel flight in pigeons (Columba livia). Journal of Experimen- pment and following activity blockade. Developmental
tal Biology 201, 3293-3307. Biology 130, 621-644.
Biewener, A.A., Konieczynski, D.D. & Baudinette, R.V. Drace, J.E. & Pelc, N.J. (1994) Measurement of skeletal
(1998b) In vivo muscle force-length behavior during muscle motion in vivo with phase-contrast MR ima-
steady-speed hopping in tammar wallabies. Journal of ging. Journal of Magnetic Resonance Imaging 4, 157-163.
Experimental Biology 201, 1681-1694. Eldred, E., Garfinkel, A., Hsu, E.S., Ounjian, M., Roy, R.R.
Bodine, S.C., Garfinkel, A., Roy, R.R. & Edgerton, V.R. (1988) & Edgerton, V.R. (1993a) The physiological cross-
Spatial distribution of motor unit fibers in the cat so- sectional area of motor units in the cat tibialis anterior.
leus and tibialis anterior muscles: local interactions. Jour- Anatomical Record 235, 381-389.
nal of Neuroscience 8, 2142-2152. Eldred, E., Ounjian, M., Roy, R.R. & Edgerton, V.R. (1993b)
Bodine-Fowler, S., Garfinkel, A., Roy, R.R. & Edgerton, V.R. Tapering of the intrafascicular endings of muscle fibers
(1990) Spatial distribution of muscle fibers within the and its implications to relay of force. Anatomical Record
territory of a motor unit. Muscle and Nerve 13, 1133-1145. 236, 390-398.
Bodine-Fowler, S.C., Unguez, G.A., Roy, R.R., Armstrong, Emonet-Denand, F., Laporte, Y. & Proske, U. (1990) Sum-
A.N. & Edgerton, V.R. (1993) Innervation patterns in mation of tension in motor units of the soleus muscle
the cat tibialis anterior six months after self-reinner- of the cat. Neuroscience Letters 116, 112-117.
vation. Muscle and Nerve 16, 379-391. Enoka, R.M. (1995) Morphological features and activation
Borg, T.K. & Caulfield, J.B. (1980) Morphology of connecti- patterns of motor units. Journal of Clinical Physiology 12,
ve tissue in skeletal muscle. Tissue and Cell 12, 197-207. 538-559.
Brown, M.C. & Matthews, P.B.C. (1960) An investigation Fukashiro, S., Ito, M., Ichinose, Y., Kawakami, Y. & Fuku-
into the possible existence of polyneuronal innervati- naga, T. (1995) Ultrasonography gives directly but no-
on of individual skeletal muscle fibers in certain ninvasively elastic characteristic of human tendon in
hind-limb muscles of the cat. Journal of Physiology (Lon- vivo. European Journal of Applied Physiology and Occupati-
don) 151, 436-457. onal Physiology 71, 555-557.
Burke, R.E. (1981) Motor units: anatomy, physiology, and Fukunaga, T., Ito, M., Ichinose, Y., Kuno, S., Kawakami, Y.
functional organization. In: Handbook of Physiology, Sec- & Fukashiro, S. (1996) Tendinous movement of a hu-
tion 1, The Nervous System, Volume 2, Motor Control (ed. man muscle during voluntary contractions determined
V.B. Brooks), pp. 345-422. American Physiological So- by real-time ultrasonography. Journal of Applied Physio-
ciety, Bethesda, MD. logy 81,1430-1433.
Burke, R.E. & Edgerton, V.R. (1975) Motor unit properties Fukunaga, T., Ichinose, Y., Ito, M., Kawakami, Y. & Fukashi-
and selective involvement in movement. Exercise and ro, S. (1997a) Determination of fascicle length and pen-
Sport Sciences Reviews 3, 31-81. nation in a contracting human muscle in vivo. Journal of
Burke, R.E. & Tsairis, P. (1973) Anatomy and innervation Applied Physiology 82, 354-358.
ratios in motor units of cat gastrocnemius. Journal of Fukunaga, T., Kawakami, Y., Kuno, S., Funato, K. &
Physiology (London) 234, 749-765. Fukashiro, S. (1997b) Muscle architecture and function
Burke, R.E., Levine, D.N., Salcman, M. & Tsairis, P. (1974) in humans. Journal of Biomechanics 30, 457-463.
Motor units in cat soleus muscle: physiological, histo- Garrett, W.E., Jr (1996) Muscle strain injuries. American Jour-
chemical and morphological characteristics. Journal of nal of Sports Medicine 24, S2-S8.
Physiology (London) 238, 503-514. Garrett, W.E., Jr, Nikolaou, P.K., Ribbeck, B.M., Glisson,
Chanaud, C.M., Pratt, C.A. & Loeb, G.E. (1991) Functio- R.R. & Seaber, A.V. (1988) The effect of muscle archi-
nally complex muscles of the cat hindlimb. II. Mecha- tecture on the biomechanical failure properties of ske-
166 PAAVO V. KOMI

letal muscle under passive extension. American Journal trocnemius during vertical jumping. Journal of Applied
of Sports Medicine 16, 7-12. Physiology 90, 1349-1358.
Garrett, W.E., Jr, Rich, F.R., Nikolaou, P.K. & Vogler, J.B., Lehto, M.U. & Jarvinen, M.J. (1991) Muscle injuries, their
3rd (1989) Computed tomography of hamstring mus- healing process and treatment. Annales Chirurgiae et
cle strains. Medicine and Science in Sports and Exercise 21, Gynaecologiae 80, 102-108.
506-514. Lieber, R.L. & Friden, J. (2000) Functional and clinical sig-
Goldberg, S.J., Wilson, K.E. & Shall, M.S. (1997) Sum- nificance of skeletal muscle architecture. Muscle and
mation of extraocular motor unit tensions in the late- Nerve 23, 1647-1666.
ral rectus muscle of the cat. Muscle and Nerve 20, 1229- Lieber, R.L., Leonard, M.E., Brown, C.G. & Trestik, C.L.
1235. (1991) Frog semitendinosis tendon load-strain and
Gregor, R.J., Roy, R.R., Whiting, W.C., Lovely, R.G., Hodg- stress-strain properties during passive loading. Ameri-
son, J.A. & Edgerton, V.R. (1988) Mechanical output of can Journal of Physiology-Cell Physiology 261, C86-C92.
the cat soleus during treadmill locomotion: in vivo vs Light, N. & Champion, A.E. (1984) Characterization of
in situ characteristics. Journal of Biomechanics 21, 721-732. muscle epimysium, perimysium and endomysium co-
Griffiths, R.I. (1989) The mechanics of the medial gastroc- llagens. Biochemical Journal 219, 1017-1026.
nemius muscle in the freely hopping wallaby (Thylogale Loeb, G.E., Pratt, C.A., Chanaud, C.M. & Richmond. F.J.
billardierii). Journal of Experimental Biology 147, 439-456. (1987) Distribution and innervation of short, interdigi-
Griffiths, R.I. (1991) Shortening of muscle fibres during tated muscle fibers in parallel-fibered muscles of the
stretch of the active cat medial gastrocnemius muscle: cat hindlimb. Journal of Morphology 191, 1-15.
the role of tendon compliance. Journal of Physiology (Lon- Loren, G.J. & Lieber, R.L. (1995) Tendon biomechanical
don) 436, 219-236. properties enhance human wrist muscle specialization.
Henneman, E. & Olson, C.B. (1965) Relations between Journal of Biomechanics 28, 791-799.
structure and function in the design of skeletal muscle. Maganaris, C.N. & Paul, J.P. (2000) Load-elongation cha-
Journal of Neurophysiology 28, 581-598. racteristics of in vivo human tendon and aponeurosis.
Hill, A.V. (1938) The heat of shortening and the dynamic Journal of Experimental Biology 203, 751-756.
constants of muscle. Proceedings of the Royal Society of Monti, R.J., Roy, R.R., Hodgson, J.A. & Edgerton, V.R.
London Series B: Biological Sciences 126, 136-195. (1999) Transmission of forces within mammalian ske-
Huijing, P.A., Baan, G.C. & Rebel, G.T. (1998) Nonmyo- letal muscles. Journal of Biomechanics 32, 371-380.
tendinous force transmission in rat extensor digitorum Monti, R.J., Roy, R.R. & Edgerton, V.R. (2001) Role of mo-
longus muscle. Journal of Experimental Biology 201, tor unit structure in defining function. Muscle and Ner-
683-691. ve 24, 848-866.
Hunt, C.C. & Kuffler, S.W. (1954) Motor innervation of Muramatsu, T., Muraoka, T., Takeshita, D., Kawakami, Y.
skeletal muscle: multiple innervation of individual mus- & Fukunaga, T. (2001) Mechanical properties of ten-
cle fibers and motor unit function. Journal of Physiology don and aponeurosis of human gastrocnemius muscle
(London) 126, 293-303. in vivo. Journal of Applied Physiology 90, 1671-1678.
Ichinose, Y., Kanehisa, H., Ito, M., Kawakami, Y. & Fuku- Noonan, T.J., Best, T.M., Seaber, A.V. & Garrett, W.E., Jr
naga, T. (1998) Morphological and functional differen- (1994) Identification of a threshold for skeletal muscle
ces in the elbow extensor muscle between highly trai- injury. American Journal of Sports Medicine 22, 257-261.
ned male and female athletes. European Journal of Applied Ounjian, M., Roy, R.R., Eldred, E. et al. (1991) Physiologi-
Physiology and Occupational Physiology 78, 109-114. cal and developmental implications of motor unit ana-
Ito, M., Kawakami, Y., Ichinose, Y., Fukashiro, S. & Fuku- tomy. Journal of Neurobiology 22, 547-559.
naga, T. (1998) Nonisometric behavior of fascicles du- Pardo, J.V., Siliciano, J.D. & Craig, S.W. (1983) A vinculin-
ring isometric contractions of a human muscle. Journal containing cortical lattice in skeletal muscle: transverse
of Applied Physiology 85, 1230-1235. lattice elements (‘costameres’) mark sites of attachment
Kanda, K. & Hashizume, K. (1992) Factors causing diffe- between myofibrils and sarcolemma. Proceedings of the
rence in force output among motor units in the rat National Academy of Sciences of the United States of America
medial gastrocnemius muscle. Journal of Physiology (Lon- 80, 1008-1012.
don) 448, 677-695. Patel, T.J. & Lieber, R.L. (1997) Force transmission in ske-
Kearns, C.F., Abe, T. & Brechue, W.F. (2000) Muscle enlar- letal muscle: from actomyosin to external tendons. Exer-
gement in sumo wrestlers includes increased muscle cise and Sport Sciences Reviews 25, 321-333.
fascicle length. European Journal of Applied Physiology and Pfeiffer, G. & Friede, R.L. (1985) The localization of axon
Occupational Physiology 83, 289-296. branchings in two muscle nerves of the rat. A contri-
Kurokawa, S., Fukunaga, T. & Fukashiro, S. (2001) Behavi- bution to motor unit topography. Anatomy and Embryo-
or of fascicles and tendinous structures of human gas- logy 172, 177-182.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 167

Pollock, C.M. & Shadwick, R.E. (1994) Relationship be- thoracicus) of pigeon (Columba livia). Philosophical Tran-
tween body mass and biomechanical properties of limb sactions of the Royal Society of London Series B: Biological
tendons in adult mammals. American Journal of Sciences 354, 917-925.
Physiology-Regulatory, Integrative and Comparative Physio- Sokoloff, A.J., Cope, T.C., Nichols, T.R. & English, A.W.
logy 266, R1016-R1021. (1997) Directions of torques produced about the ankle
Powers, R.K. & Binder, M.D. (1991) Summation of motor joint by cat medial gastrocnemius motor units. Motor
unit tensions in the tibialis posterior muscle of the cat Control 1, 340-353.
under isometric and nonisometric conditions. Journal Sokoloff, A.J., Ryan, J.M., Valerie, E., Wilson, D.S. & Gos-
of Neurophysiology 66, 1838-1846. low, G.E. (1998) Neuromuscular organization of avian
Proske, U. & Morgan, D.L. (1984) Stiffness of cat soleus flight muscle: morphology and contractile properties
muscle and tendon during activation of part of muscle. of motor units in the pectoralis (pars thoracicus) of pi-
Journal of Neurophysiology 52, 459-468. geon (Columba livia). Journal of Morphology 236, 179-208.
Purslow, P.P. & Trotter, J.A. (1994) The morphology and Speer, K.P., Lohnes, J. & Garrett, W.E., Jr (1993) Radiogra-
mechanical properties of endomysium in seriesfibred phic imaging of muscle strain injury. American Journal of
muscles: variations with muscle length. Journal of Mus- Sports Medicine 21, 89-95.
cle Research and Cell Motility 15, 299 308. Stalberg, E. (1980) Macro EMG, a new recording techni-
Rack, P.M. & Westbury, D.R. (1984) Elastic properties of que. Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry 43,
the cat soleus tendon and their functional importance. 475-482.
Journal of Physiology (London) 347, 479-495. Stalberg, E. & Antoni, L. (1980) Electrophysiological cross
Roberts, T.J., Marsh, R.L., Weyand, P.G. & Taylor, C.R. section of the motor unit. Journal of Neurology, Neurosur-
(1997) Muscular force in running turkeys: the economy gery and Psychiatry 43, 469-474.
of minimizing work. Science 275, 1113-1115. Stauber, W.T. (1989) Eccentric action of muscles: physio-
Rowe, R.W. (1981) Morphology of perimysial and endomy- logy, injury, and adaptation. Exercise and Sport Sciences
sial connective tissue in skeletal muscle. Tissue and Cell Reviews 17, 157-185.
13, 681-690. Stauber, W.T., Knack, K.K., Miller, G.R. & Grimmett, J.G.
Roy, R.R. & Edgerton, V.R. (1992) Skeletal muscle archi- (1996) Fibrosis and intercellular collagen connections
tecture and performance. In: Strength and Power in Sport: from four weeks of muscle strains. Muscle and Nerve 19,
Encyclopedia of Sports Medicine (ed. P.V. Komi), pp. 423-430.
115-129. Blackwell Scientific Publications, Oxford. Stephens, J.A., Reinking, R.M. & Stuart, D.G. (1975) The
Roy, R.R., Garfinkel, A., Ounjian, M. et al. (1995) Threedi- motor units of cat medial gastrocnemius: electrical and
mensional structure of cat tibialis anterior motor units. mechanical properties as a function of muscle length.
Muscle and Nerve 18, 1187-1195. Journal of Morphology 146, 495-512.
Sandercock, T.G. (2000) Nonlinear summation of force in Street, S.F. (1983) Lateral transmission of tension in frog
cat soleus muscle results primarily from stretch of the myofibers: a myofibrillar network and transverse
common-elastic elements. Journal of Applied Physiology cytoskeletal connections are possible transmitters. Jour-
89, 2206-2214. nal of Cellular Physiology 114, 346-364.
Scott, S.H. & Loeb, G.E. (1995) Mechanical properties of Taylor, D.C., Dalton, J.D., Jr, Seaber, A.V. & Garrett, W.E.,
aponeurosis and tendon of the cat soleus muscle du- Jr (1993) Experimental muscle strain injury. Early func-
ring whole-muscle isometric contractions. Journal of tional and structural deficits and the increased risk for
Morphology 224, 73-86. reinjury. American Journal of Sports Medicine 21, 190-194.
Sheard, P.W. (2000) Tension delivery from short fibers in Tidball, J.G. & Daniel, T.L. (1986) Elastic energy storage in
long muscles. Exercise and Sport Sciences Reviews 28, 51-56. rigored skeletal muscle cells under physiological loa-
Sheard, P.W., McHannigan, P. & Duxson, M.J. (1999) Sin- ding conditions. American Journal of Physiology Regula-
gle and paired motor unit performance in skeletal mus- tory, Integrative and Comparative Physiology 250, R56-R64.
cles: comparison between simple and series-fibred mus- Tidball, J.G., Salem, G. & Zernicke, R. (1993) Site and me-
cles from the rat and the guinea pig. Basic and Applied chanical conditions for failure of skeletal muscle in ex-
Myology 9, 79-87. perimental strain injuries. Journal of Applied Physiology
Sheehan, F.T., Zajac, F.E. & Drace, J.E. (1998) Using cine 74, 1280-1286.
contrast magnetic resonance imaging to noninvasively Trestik, C.L. & Lieber, R.L. (1993) Relationship between
study in vivo knee dynamics. Journal of Biomechanics 31, Achilles tendon mechanical properties and gastrocne-
21-26. mius muscle function. Journal of Biomechanical Enginee-
Sokoloff, A.J. & Goslow, G.E. (1999) Neuromuscular orga- ring 115, 225-230.
nization of avian flight muscle: architecture of single Troiani, D., Filippi, G.M. & Bassi, F.A. (1999) Nonlinear
muscle fibres in muscle units of the pectoralis (pars tension summation of different combinations of motor
168 PAAVO V. KOMI

units in the anesthetized cat peroneus longus muscle. Young, M., Paul, A., Rodda, J., Duxson, M. & Sheard, P. (2000)
Journal of Neurophysiology 81, 771-780. Examination of intrafascicular muscle fiber terminations:
Trotter, J.A. (1991) Dynamic shape of tapered skeletal mus- Implications for tension delivery in series-fibered mus-
cle fibers. Journal of Morphology 207, 211-223. cles. Journal of Morphology 245, 130-145.
Trotter, J.A. (1993) Functional morphology of force trans- Zajac, F.E. (1989) Muscle and tendon: properties, models,
mission in skeletal muscle. A brief review. Acta Anatomi- scaling, and application to biomechanics and motor
ca 146, 205-222. control. Critical Reviews in Biomedical Engineering 17,
Trotter, JA., Richmond, F.J.R. & Purslow, P.P. (1995) Func- 359-411.
tional morphology and motor control of series-fibered Zarins, B. & Ciullo, J.V. (1983) Acute muscle and tendon
muscles. Exercise and Sport Sciences Reviews 23, 167-213. injuries in athletes. Clinics in Sports Medicine 2, 167-182.
Turkawski, S.J., Van Eijden, T.M. & Weijs, W.A. (1998) For- Zuurbier, C.J., Everard, A.J., van der Wees, P. & Huijing,
ce vectors of single motor units in a multipennate mus- P.A. (1994) Length-force characteristics of the aponeu-
cle. Journal of Dental Research 77, 1823-1831. rosis in the passive and active muscle condition and in
Wewer, U.M. & Engvall, E. (1996) Merosin/laminin-2 and the isolated condition. Journal of Biomechanics 27,
muscular dystrophy. Neuromuscular Disorders 6, 409-418. 445-453.
Capítulo 9
Modelos mecânicos musculares e
suas aplicações na produção de
força e de potência
WALTER HERZOG E RACHID AIT-HADDOU

Introdução

Este é um período interessante para escrever um


capítulo sobre produção de força e potência no mús-
culo esquelético e seus modelos mecânicos corres-
pondentes. O momento é interessante devido ao fato
de a teoria das pontes cruzadas da produção de força
musculoesquelética ter dominado o pensamento
científico sobre o mecanismo de contração na segun-
da metade do último século (Huxley, 1957; Huxley,
1969; Huxley e Simmons, 1971). Mas novas técnicas
para determinar eventos mecânicos e bioquímicos das
interações de uma única ponte cruzada com uma
única molécula de actina (Finer et al., 1994) forne- Figura 9.1 Conceito de balanço do modelo de pontes
cem resultados experimentais que não se ajustam ao cruzadas com inúmeros estados de acoplamento, como
modelo rotacional da ponte cruzada (Yanagida, 1999). inicialmente proposto por Huxley e Simmons (1971). AB1
representa a conexão elástica da cabeça da ponte cruzada à
Portanto, surgem questões como: seriam incorretas estrutura da miosina. A1......A4 e M1......M4 representam pontos
essas novas descobertas devido, provavelmente, a pro- correspondentes de acoplamento para a actina com a cabeça da
blemas não solucionados com a nova técnica? Ou ponte cruzada de miosina, respectivamente. Observe como a
seriam corretas, de modo que nosso pensamento con- distância AB1 é menor do que AB2. Com isso, ocorre uma
ceitual referente à forma como um músculo produz alteração na força da ponte cruzada (força elástica transmitida
pelo elemento AB1/AB2), sem alteração na posição relativa da
força deva ser alterado? No momento em que escre- miosina em relação à actina. Observe posteriormente, como no
vo este capítulo, o resultado desse constante debate modelo de 1971 a rotação da cabeça da ponte cruzada ocorre
ainda não está claro. aproximadamente em seu local de acoplamento, enquanto a
A visão tradicional de contração muscular é compreensão atual admite uma rotação sobre a região da
associada com a teoria de rotação da ponte cru- extremidade do remo, com a configuração de acoplamento
fixada.
zada (Huxley, 1969; Huxley e Simmons, 1971). De
acordo com essa teoria, pedaços laterais (pontes cru-
zadas) do filamento grosso (miosina) acoplam-se (que representa a produção de força e o deslizamen-
de maneira cíclica a locais específicos do filamento to dos filamentos finos relativamente aos grossos)
fino (actina). Esses pedaços podem estar em diferen- parece ser produzida por um “golpe potente” desses
tes estados de acoplamento (Fig. 9.1). A contração pedaços, isto é, por uma alteração configuracional da
170 PAAVO V. KOMI

co-denominada região “da extremidade do remo”* das (Finer et al., 1994; Kojima et al., 1994; Block, 1995;
pontes cruzadas (Fig. 9.2). Embora existam paradig- Funatsu et al., 1995; Molloy et al., 1995; Nishizaka et
mas conflitantes referentes à contração (Iwazumi, al., 1995), tornou-se possível estudar as interações
1979; Pollack, 1995), nenhum deles atingiu aceita- de uma única ponte cruzada com um único filamen-
ção geral. to de actina. Com essas técnicas, experimentos que
Com o surgimento dos métodos de pinça óptica pareciam impossíveis há uma década agora podem
e do refinamento do microscópio de força atômica ser realizados. A força e o tamanho do deslocamento
potente de uma única ponte cruzada têm sido deter-
minados por meio de pinças laser e de microscópio
de força atômica. Com base no modelo tradicional
de rotação das pontes cruzadas, bem como da geo-
metria das cabeças das pontes cruzadas e da “extre-
midade do remo” (a parte tida como responsável pelo
“golpe potente”), é possível determinar um movimen-
to da miosina musculoesquelética de aproximada-
mente 10 nm. Também, deslocamentos de 11 a 30
nm têm sido registrados (Yanagida, 1999). Além dis-
so, a redução do comprimento da “extremidade do
remo” na miosina musculoesquelética por mutação
não diminui o tamanho do deslocamento, como se
poderia esperar com base na teoria de rotação da
ponte cruzada (Yanagida, 1999). Resultados simila-
res obtidos em outros motores moleculares que não
o musculoesquelético sugerem que a contração pode
ocorrer, no mínimo em parte, através da propensão
ao movimento browniano, geralmente referido como
roquete* molecular (Feynman et al., 1966).
Os roquetes moleculares funcionam de diversas
formas; todas elas contêm o elemento que torna o
movimento browniano das moléculas direcionalmen-
te propenso a promover o transporte de uma molé-
cula relativamente à outra. Tal propensão pode ser
produzida, por exemplo, por potenciais locais assi-
métricos, em que a molécula se isola (Julicher, 1999).
A tarefa de descrição de modelos mecânicos da pro-
dução de força/potência é difícil neste momento, pois
Figura 9.2 Representação esquemática e mecânica do ciclo os eventos moleculares da produção de força não
das pontes cruzadas de acordo com o pressuposto de Rayment foram completamente compreendidos. No entanto,
e colaboradores (1993). Observe que se admite que o golpe
potente ocorre em um ponto na região da extremidade do remo essa tarefa também é excitante por permitir a com-
da ponte cruzada. Além disso, observe como um ciclo de ponte paração de teorias tradicionais com teorias baseadas
cruzada é associado com um ciclo de hidrólise de ATP. em novas idéias.
A partir dos comentários anteriores, o presente
capítulo iniciará com considerações de vários mode-
los: (I) os modelos de Hill, baseados no trabalho clás-
*N. de R.T. No presente texto, esta estrutura da ponte cruzada, sico de A.V. Hill (1938) sobre a termodinâmica da
mais especificamente localizada na miosina, será tratada “re-
gião da extremidade do remo” em virtude da ligeira semelhan-
ça que apresenta com a extremidade inferior de um remo, a
qual entra em contato com a água. Relativo à expressão ingle-
sa “neck region”. *N. de R.T. Semelhante a uma engrenagem dentada.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 171

contração muscular e que, mais do que quaisquer a taxa de produção de calor é menor do que durante
outros modelos teóricos em biomecânica, ainda são uma contração isométrica (Hill, 1938). Além disso, a
extensivamente utilizados; (II) os modelos das pon- taxa total de liberação de energia é extremamente
tes cruzadas, fundamentados nos embriônicos tra- maior e menor nas contrações concêntrica e excên-
balhos de A.F. Huxley (1957), Huxley (1969) e Hux- trica, respectivamente, quando comparadas à contra-
ley e Simmons (1971); e, finalmente, os modelos tipo ção isométrica. As decrições anteriores não poderi-
roquete, que adquiriram notoriedade recente através am ser feitas caso a liberação de energia bioquímica
da apresentação de um mecanismo físico atual, no durante a contração fosse uma “constante muscu-
qual a contração poderia ocorrer, algo que nem o lar” e o fluxo de fluido viscoso em uma rede elástica
modelo de Hill, nem o das pontes cruzadas faz. representasse as alterações na força com a velocida-
Após descrição conceitual e matemática desses de de contração (Gasser e Hill, 1924). Portanto, o
modelos, consideraremos como os mecanismos mo- modelo viscoelástico proposto por Gasser e Hill
leculares da contração podem transferir-se em pro- (1924) (um fluido viscoso em uma rede elástica) não
priedades musculares. Finalmente, consideraremos poderia explicar as observações energéticas realiza-
como as propriedades mecânicas musculares podem das durante o encurtamento e o alongamento do
servir para analisar e otimizar o desempenho espor- músculo ativo e, então, deveriam ser refutadas como
tivo. um mecanismo primário para a relação força-veloci-
dade. No entanto, essa descoberta não significa que
os músculos não possuem elementos e propriedades
Modelos musculares viscosas ou viscoelásticas.
No seu mais famoso experimento em relação ao
Modelo de Hill calor do encurtamento do músculo esquelético, que
proporcionou a formulação do modelo que leva seu
“É estranho como o cérebro de uns falha em tra- nome, Hill (1938) demonstrou que o músculo pro-
balhar adequadamente quando teorias animais estão duziu calor durante contrações isométricas. Quando
envolvidas.” Esta citação de Hill (1970) descreve seus o músculo se contraiu de forma isométrica e foi su-
próprios sentimentos quando as evidências científi- bitamente liberado de uma sobrecarga, que permitiu
cas sugeriram que sua teoria viscoelástica da contra- o seu encurtamento, houve incremento na taxa de
ção muscular estava errada. Gasser e Hill (1924) ad- produção de calor proporcional à velocidade de en-
mitiram que o efeito da velocidade de contração sobre curtamento. A produção parou quando a velocidade
a força exercida por um músculo foi causado por uma de encurtamento foi interrompida (Fig. 9.3a). O ca-
rede elástica contendo um fluido viscoso. A contra- lor total extra produzido durante o encurtamento foi
ção muscular, com sua correspondente alteração da proporcional ao comprimento (distância) do encur-
forma, requereria que o fluido viscoso derivasse rela- tamento (Fig. 9.3b).
tivamente do tecido sólido. Um incremento da velo- Quando o tamanho do músculo é considerado e
cidade de contração e, portanto, da taxa de alteração a estimulação é constante (normalmente supramáxi-
na forma muscular aumentaria a força viscosa e pro- ma), o calor do encurtamento (H) pode ser expresso
vocaria um decréscimo na força produzida externa- como H = ax, onde x é o comprimento do encurta-
mente pelo músculo para o trabalho mecânico. mento durante a contração, e a, um fator constante
Gasser e Hill (1924) acreditaram que esse modelo vis- de proporcionalidade relacionando o calor de encur-
coso representava grande parte da relação força-ve- tamento e a distância encurtada; a assume as unida-
locidade observada no músculo esquelético em con- des de força.
tração. Caso essa alusão fosse correta, era de se esperar O valor da constante a depende do tamanho, ou,
que a quantidade de energia perdida como forma de mais precisamente, da área de secção transversa fi-
calor durante a contração seria proporcional à velo- siológica do músculo, além do nível de ativação. Hill
cidade de encurtamento ou de alongamento quando (1938) demonstrou que o valor de a/P0 (onde P0 re-
isso representasse a alteração na força viscosa com a presenta a força isométrica máxima) é razoavelmente
velocidade. No entanto, quando o músculo é alonga- constante (≈ 0,25). Esse resultado pode ser compre-
do em velocidade lenta (de modo que não “deslize”), endido ao perceber-se que P0 (como a) depende da
172 PAAVO V. KOMI

zero em contrações isométricas, isto é, quando P =


P0. Portanto:

(P + a)v = b(P0 – P) (1)

onde b é uma constante (em unidades de velocidade)


que define a taxa absoluta de liberação de energia.
Hill (1938) reescreveu a equação 1 como:

(P + a)(v + b) = (P0 + a)b = constante (2)

Outra maneira de escrever a equação de Hill é:

(3)

A equação de Hill pode ser verificada ao mensurar-


se a força (P) em diferentes velocidades (v) de encur-
tamento ou ao mensurar-se a velocidade de encurta-
mento em sobrecargas distintas exercidas no músculo.
Note que esse processo não requer qualquer medida
de calor. As equações (1) a (3) descrevem a perda de
Figura 9.3 Produção de calor em função do tempo durante o
encurtamento de um músculo esquelético de rã tetanizado a força com o incremento da velocidade de encurta-
0°C: (a) encurtamento em distância constante com diferentes mento de um músculo estimulado maximamente em
sobrecargas; (b) encurtamento em diferentes distâncias contra (ou próximo) comprimento ótimo. Eles representam
sobrecarga constante. Observe que o calor extra total produzido uma hipérbole retangular com assíntotas de P = –a e
(i. e., o calor acima daquele isometricamente observado)
v = –b (Fig. 9.4).
durante o encurtamento é aproximadamente proporcional à
distância encurtada (adaptada de Hill, 1938).

área de secção transversa fisiológica e do nível de ati-


vação muscular (por definição, o nível de ativação para
P0 é máximo).
Durante uma contração em encurtamento, o
músculo produz calor extra (i. e., calor que excede o
observado durante contrações isométricas) e traba-
lho mecânico. Como o calor extra (ou calor de en-
curtamento) é igual ao ax, e o trabalho é igual ao Px
(onde P representa a força do músculo), a energia
total em excesso em relação à produzida durante con-
trações isométricas torna-se (P + a)x. A taxa de libe-
ração de energia extra torna-se (P + a)dx/dt = (P + a)v,
onde v representa a velocidade de encurtamento.
Hill (1938) demonstrou que a taxa de liberação Figura 9.4 Relação força-velocidade do músculo estriado de
rã a 0°C. Os círculos representam a média de duas observações
de energia extra durante o encurtamento foi inversa-
experimentais. A linha corresponde à equação (P + 14,35)
mente proporcional à sobrecarga P aplicada aos mús- (V + 1,03) = 87,6. Observe que a relação força-velocidade
culos nos experimentos de encurtamento pós-carga. não representa uma propriedade contínua, mas uma relação
Por definição, a taxa de liberação de energia extra é discreta de pontos de dados distintos (adaptada de Hill, 1938).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 173

Com base no trabalho experimental disponível segue. Podendo a relação força-velocidade experimen-
em 1938, Hill (1938) concluiu que o músculo esque- tal ser expressa, simbolicamente, como:
lético pode ser observado como um “sistema de dois
componentes, consistindo de um elemento firme (5)
puramente elástico em série com um elemento con-
trátil, controlado pela equação característica (P + a) onde Fmáx representa a força isométrica máxima no
(v + b) = constante”. Uma modificação subseqüente platô da relação força-velocidade. Para outros com-
dessa idéia é a introdução de um elemento elástico primentos, que não o ótimo, a fórmula deveria ser
extra em paralelo com a combinação de dois elemen- decomposta por meio da relação F(l0)/ Fmáx, onde F(l0)
tos de Hill (Fig. 9.5). O elemento contrátil (CE) é um é a relação força-comprimento ativa avaliada em l0.
instrumento que introduz a relação força-velocidade Essa decomposição pode ser representada, no míni-
“pela porta dos fundos”, mais do que a sua obtenção mo, de duas maneiras:
como uma conseqüência do comportamento com-
binado de elementos simples. Através da mesma téc- fCE ( w , l0 ) = fexp ( w , F (l0 )) (6)
nica da porta dos fundos, o CE de Hill (originalmen-
te concebido para operar no platô da relação força- ou:
velocidade) pode ser generalizado por incluir a res-
posta força-comprimento total. O CE generalizado,
(7)
para ser empregado no seguinte modelo, é controla-
do por um parâmetro de ativação de tudo-ou-nada.
No estado inativo, o CE não pode manter qualquer Pode-se sugerir a seguinte fórmula de acordo com
força, e seu comprimento pode ser ajustado. No es- um exemplo da primeira opção:
tado ativo, o comportamento do CE pode ser descri-
to pela equação:  b
0 para w ≤ − F ( l0 )
a

 F ( l0 ) b + aw
(4) b
 −w + b para − F ( l0 ) < w ≤ 0
 a
fornecendo a força do elemento contrátil, fCE, como
 F ( l0 ) b′ + a′w

função da velocidade de contração, w·, e o compri- fCE = 1,5 F ( l0 ) − 0, 5
mento, l0, do CE no momento da ativação. Essa função  w + b′
 b′
pode estar relacionada aos dados empíricos como
 para 0 < w ≤ F ( l0 )
 a′
1,5 F l b′
 ( 0) para F ( l0 ) < w
a′

(8)

onde a, b, a’ e b’ são constantes. Na forma curta, a


equação representa uma forma reescrita direta da lei
de Hill (exceto que a velocidade, w·, é considerada
positiva no alongamento). O diagrama completo da
equação (8) está demonstrado na Figura 9.6.
Figura 9.5 Modelo de Hill, consistindo de um elemento
contrátil (EC), de um elemento elástico em série com rigidez Ks Para derivar as equações que controlam esse
e de um elemento elástico paralelo com rigidez Kp. Observe modelo de três elementos, mensuraremos os deslo-
que, no modelo de Hill, o elemento contrátil é dotado camentos, u, de um único estado de repouso corres-
(fenomenologicamente) com as propriedades força-velocidade pondente ao comprimento não-alongado, Lp, do ele-
(e, algumas vezes, mesmo as propriedades força-
mento elástico paralelo e o comprimento inicial, li,
comprimento) do músculo alvo. Então, essas propriedades são
introduzidas com base não nos primeiros princípios, mas do elemento contrátil inativo. O comprimento não-
através de uma forma “duvidosa” e sem explicação de alongado dos elementos elásticos em série é, portan-
mecanismo ou origem. to, Ls = Lp – li. O u0 representa o valor de u no instante
174 PAAVO V. KOMI

te, condições iniciais apropriadas devem ser especifi-


cadas em cada caso.

Crítica e possíveis extensões do modelo


de Hill

Existe um ponto sutil, oculto nas equações (10)


e (11), que necessita esclarecimento adicional. Por
definição, admitiu-se que a função FCE é fornecida
pela equação (8). Supõe-se que o músculo seja com-
pletamente ativado em velocidade muito lenta (i. e.,
quase estática). De acordo com a equação (11), ob-
ter-se-á (com w· = 0):
Figura 9.6 Relação força-velocidade como descrito na
equação 8.
(13)

em que a ativação é aplicada. Nesse momento, o alon-


e pela equação (10):
gamento do elemento contrátil também deve ser u0,
pois a força no elemento elástico em série (e, desse
f = kpu + F(l0) (14)
modo, seu alongamento) será zero até o instante an-
terior à ativação. Portanto, o comprimento do ele-
mento contrátil, no momento da ativação, de- Em outras palavras, a força desenvolve-se linearmente
ve ser: com o deslocamento, sempre com uma rigidez posi-
tiva igual a kp. Isso é esquematicamente representado
l0 = Lp + u0 – Ls = li + u0 (9) na Figura 9.7. Note que a rigidez positiva permanece
independentemente de o comprimento inicial estar
Conclui-se que a resposta do modelo de três elemen- na área ascendente ou descendente da relação força-
tos é controlada pelas equações: comprimento. Isso constitui importante fator do
modelo proposto, pois evidencia sua incondicional
f = kpu + ks (u –w) (10) estabilidade. Esse fator contrasta claramente com os
modelos nos quais a força produzida depende dire-
e tamente do comprimento instantâneo, erroneamen-
· 0)
ks (u –w) = fCE (w,l (11) te empregando a relação força-comprimento isomé-
trica para condições não-isométricas, levando, desse
com l0 fornecido pela equação (9) e w denotando o modo, necessariamente à instabilidade na área des-
alongamento do elemento contrátil referente ao seu cendente (rigidez diminuída). No entanto, um com-
comprimento no estado de repouso do sistema. Tido portamento em que a rigidez do músculo é diminuí-
como desnecessário, é possível eliminar o grau inter- da não tem sido observado experimentalmente. Muito
no de liberdade w na equação (10) e introduzir o re- ao contrário da maioria dos esforços de constituição
sultado na equação (11) para obter a equação dife- de modelo, demonstra-se de maneira convincente,
rencial não-linear de primeira ordem: que a produção de força estável proposta pelo mode-
lo mencionado anteriormente sobre a área descen-
dente da relação força-velocidade é muito mais rea-
(12) lista (Edman et al., 1978; Edman et al., 1982) do que
o pressuposto tradicional de instabilidade (Zahalak,
1997). Na realidade, parece que a rigidez positiva ins-
Caso a força aplicada f(t) seja fornecida, a equação tantânea, observada em um alongamento ativo, não
(12) pode solucionar u(t), e vice-versa. Naturalmen- é constante, mas depende do comprimento inicial do
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 175

zação da força, depressão da força, potencialização


[Herzog, 1998]).

Modelo das pontes cruzadas

1954: formulação da teoria das pontes


cruzadas
Antes de 1954, muitas teorias sobre a contração
muscular eram baseadas na idéia de que o encurta-
mento e a produção de força resultavam de algum
tipo de dobradiça ou espiral dos miofilamentos (par-
ticularmente dos filamentos grossos) em locais espe-
Figura 9.7 Representação esquemática da resposta da força cializados. No entanto, em 1954, H.E. Huxley e Han-
de um modelo muscular do tipo Hill, como descrito na equação sen (1954), assim como A.F. Huxley e Niedergerke
8. Observe que a força incrementa linearmente com o
alongamento, sempre com uma rigidez positiva igual a Kp. Tal
(1954), demonstraram que o encurtamento muscu-
comportamento significa que o modelo muscular é lar não estava associado com uma quantidade apre-
incondicionalmente estável, importante característica do ponto ciável de encurtamento dos miofilamentos. Portanto,
de vista teórico. Provavelmente constitua um comportamento postularam que a contração muscular era provavel-
biologicamente correto (Edman et al., 1978; Edman et mente causada pelo deslizamento dos miofilamentos
al.,1982).
finos sobre os grossos (teoria do deslizamento dos
filamentos). O mecanismo pelo qual esse deslizamen-
to do filamento é produzido foi proposto por A.F. Hu-
músculo na ativação, l0 (Edman et al., 1982). Esse xley (1957), sendo referido como teoria das pontes
fator pode ser incorporado ao modelo citado pela in- cruzadas.
trodução de outro elemento elástico paralelo, mas que Admitiu-se, na teoria das pontes cruzadas (Hux-
funciona como um suporte elástico engajado somente ley, 1957), que os filamentos grossos possuíam peda-
na ativação (Forcinito et al., 1997). ços laterais conectados por molas elásticas aos fila-
Os modelos de Hill descrevem o comportamen- mentos finos. A partir dessa perspectiva, a imagem
to aproximado dos músculos para certas condições do pedaço lateral com seu ponto de conexão M
contráteis. Os modelos não fomentam indagações a (Fig. 9.8) oscilando sobre sua posição de equilíbrio
respeito dos mecanismos de produção de força. Ape- (O) devido à agitação térmica provocou a mente dos
sar dessa limitação, são mais freqüentemente empre- pesquisadores. Assim, determinou-se que o M aco-
gados em biomecânica do que qualquer outro mo- plava-se a locais específicos (A) no filamento fino, caso
delo muscular. Seu sucesso é associado com a M viesse dos arredores de A. A combinação dos lo-
simplicidade matemática e com as predições qualita- cais M com os locais A pareceu espontânea e restrita
tivamente aceitáveis de força. Provavelmente, o mo- assimetricamente a um dos lados de O, de modo que
delo de Hill continuará a exercer importante papel a combinação dos locais M e A pudesse produzir for-
na modelação total do sistema musculoesquelético, ça (pois a tensão no elemento elástico reprimir o pe-
tal como a simulação da locomoção humana. Mas já daço lateral M) e movimento que tendesse a encur-
perdeu espaço em pesquisas cujo intuito era esclare- tar o sarcômero. Parecia que o acoplamento e o
cer os mecanismos da contração. Também não são desacoplamento eram controlados pelas funções f e
extraordinariamente úteis em produzir questões re- g, respectivamente. E f e g eram modelados a fim de
lacionadas ao desempenho esportivo ótimo, quando constituírem funções lineares da distância A, o local
importantes fatores da contração musculoesqueléti- ativo sobre o filamento fino, ao equilíbrio da posição
ca são introduzidos pela “porta dos fundos” (p. ex., O, do pedaço lateral (a distância x, Figs. 9.8 e 9.9).
as relações força-comprimento e força-velocidade) Devido à combinação dos locais M e A ocorrer es-
mais do que derivados da abordagem de princípios pontaneamente, a perda da conexão M-A tinha que
iniciais ou completamente ignorados (p. ex., otimi- estar associada com um processo ativo que requeria
176 PAAVO V. KOMI

modo que diferentes locais M e A poderiam entrar


em contato em distintos deslocamentos relativos de
dois miofilamentos. Acolheu-se, ainda, a idéia de que
os locais M e A deveriam estar tão distantes que o
evento de um local não influenciasse os eventos de
outro.
A teoria das pontes cruzadas, assim como sua
energética, está associada com estruturas definidas.
Os locais M são representados pelo subfragmento
S1 da proteína miosina (a ponte cruzada [Fig. 9.10]);
Figura 9.8 Modelo esquemático da teoria da ponte cruzada os locais A representam os locais de acoplamento da
inicialmente proposto por Huxley (1957). A secção representa actina próximos à troponina (Fig. 9.11); o fosfato de
um segmento da extremidade lateral de um sarcômero com a alta energia que supre a energia para o desacopla-
próxima linha-Z à direita. Admite-se que os locais M e A
combinem-se espontaneamente e, devido à sobrecarga das
mento das pontes cruzadas é associado à adenosina
molas, parece que o filamento de actina é deslocado trifosfato (ATP). Tipicamente, uma ATP é hidrolisa-
relativamente ao filamento de miosina, como indicado pelas da por ciclo total das pontes cruzadas.
setas. A distância x é definida como a distância da posição de Como o miofilamento grosso no músculo esque-
equilíbrio do local M ao local de acoplamento mais próximo da lético do mamífero tem 1.600 nm de comprimento e
actina, A.
contém pontes cruzadas ao longo de seu comprimen-
to total em intervalos de cerca de 14,3 nm (exceto
para aproximadamente 160 nm, onde não existe ponte
energia. Admitiu-se também que a energia para esse cruzada), metade do filamento grosso contém cerca
processo era fornecida pela clivagem de compostos de (720 nm: 14,3 nm) 50 pares de pontes cruzadas
fosfatos de alta energia. compensadas em 180°. Cada ponte cruzada parece
Para a produção de força ser uniforme, determi- conter duas cabeças para possível acoplamento no
nou-se que havia um número de locais M e A para filamento fino. Ao imaginar que os pares de pontes
possível combinação dos filamentos grossos e finos, cruzadas vizinhos sejam contrabalanceados em 60°
que estavam alternados um em relação ao outro, de (Fig. 9.12), levanta-se a hipótese de existir cerca de
(720 nm: 42,9 nm) 16 pedaços laterais disponíveis
em cada filamento grosso para interação com deter-

Figura 9.9 Funções de acoplamento, f, e de desacoplamento,


g, conforme proposto inicialmente por Huxley (1957) para o
modelo de dois estados das pontes cruzadas demonstrado na Figura 9.10 Ilustração esquemática do miofilamento grosso
Figura 9.8. As constantes foram derivadas de Huxley (1957) de com suas moléculas de miosina. As cabeças globulares,
maneira a se ajustarem às curvas força-velocidade de Hill estendendo-se para fora em pares, parecem representar as
(1938) para o músculo estriado de rãs. pontes cruzadas de geração de força.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 177

Para testar o modelo de pontes cruzadas da con-


tração muscular, Huxley (1957) comparou as predi-
ções de sua teoria (formuladas em termos matemáti-
cos precisos) com a relação experimental força-
velocidade obtida por Hill (1938) no músculo estria-
do de rãs durante estimulação tetânica a 0°C. Huxley
(1957) encontrou boa concordância entre a relação
força-velocidade normalizada de Hill (1938) e suas
próprias predições teóricas, graças à escolha cuida-
dosa das constantes de acoplamento e de desacopla-
Figura 9.11 Ilustração esquemática do miofilamento fino, mento (Fig. 9.9). Deve-se mencionar que essas cons-
consistindo de dois filamentos globulares de actina helicamente tantes não foram obtidas com base em qualquer
entrelaçados, tropomiosina e troponina. Admite-se que os locais
realidade física ou biológica, mas selecionadas da re-
de acoplamento das pontes cruzadas estão presentes em
intervalos de aproximadamente 38,5 nm. lação força-velocidade de Hill (1938), pois poderiam
ser adequadamente representadas. Portanto, o mo-
delo estrutural da produção de força das pontes cru-
zadas finaliza-se no nível de descrição das constan-
minado filamento fino. Pelo fato de determinado fi- tes, onde se torna puramente fenomenológico.
lamento fino interagir com três filamentos grossos Várias observações são feitas ao se comparar as
(no mínimo, no músculo esquelético mamífero), cada predições da teoria das pontes cruzadas às proprie-
filamento fino pode potencialmente interagir com dades do músculo ativo em alongamento forçado.
cerca de 48 pontes cruzadas. Admitindo que, duran- Katz (1939) constatou que a inclinação da curva for-
te uma contração isométrica máxima, cerca de meta- ça-velocidade para o alongamento lento foi cerca de
de de todas as pontes cruzadas possíveis é acoplada seis vezes maior que a inclinação correspondente para
em determinado instante (Woledge et al., 1985), pa- o encurtamento lento. A teoria de Huxley (1957) tam-
rece que o filamento fino nunca é acoplado a mais bém predisse essa assimetria na curva força-veloci-
do que aproximadamente 24 pontes cruzadas e, nor- dade sobre o ponto isométrico com uma diferença
malmente (em níveis submáximos de contração e de 4,33 nas inclinações. O pesquisador ainda cons-
condições dinâmicas) a muito menos. tatou que a força produzida no alongamento rápido
de um músculo estimulado foi cerca de 1,8 vezes a
força isométrica. Através do uso das funções forne-
cidas por Huxley (1957) pode-se verificar que a força
para maiores velocidades de alongamento aproxi-
ma-se assintoticamente a um valor de 5,33 vezes a
força isométrica. Tal valor é muito grande e parece
irreal para qualquer tipo de músculo testado até o
momento.
De modo similar, a teoria de Huxley (1957) não
prediz bem a produção de calor de um músculo alon-
gado. Segundo essa teoria, a taxa de liberação de ca-
lor aumenta linearmente com a velocidade de alon-
gamento, uma predição que superestima em muito a
Figura 9.12 Representação esquemática da disposição produção de calor no músculo em alongamento
geométrica das pontes cruzadas no miofilamento grosso. As (Abbott e Aubert, 1952; Abbott e Wilkie, 1953). No
pontes cruzadas parecem ajustar-se a uma distância linear de entanto, Huxley (1957) destaca que a discrepância
aproximadamente 14,3 nm e uma distância rotacional de 60°. entre o experimento e a teoria poderia ser eliminada
Devido ao fato de parecer que as pontes cruzadas movimentam-
se em pares, ajustadas em 180°, duas pontes cruzadas que ao admitir-se que, durante o alongamento, as cone-
interagem com o mesmo miofilamento são separadas pela xões das pontes cruzadas são quebradas mecanica-
distância de aproximadamente 42,9 nm (3 x 14,3 nm). mente e não liberadas através da hidrólise de ATP.
178 PAAVO V. KOMI

Tal pressuposto tem sido implementado em vários


modelos a fim de considerar as observações feitas du-
rante contrações excêntricas (Cooke et al., 1994).

1971: formulação da teoria das pontes


cruzadas
O transiente de força* constitui outra caracterís-
tica da contração muscular. Ele não pode ser predito
adequadamente com a teoria de 1957 após movimen-
tos com alteração rápida de comprimento. Quando
um músculo é encurtado rapidamente, a força de-
cresce simultaneamente com a alteração do compri-
mento e, então, recupera-se rapidamente (Fig. 9.13).
Dois parâmetros de força foram definidos por Hux-
ley e Simmons (1971) para descrever esses transien- Figura 9.14 Valores de T1 (força extrema alcançada após o
tes rápidos de força: eles são referidos como T1 e T2. passo do comprimento súbito; ver Fig. 9.13), e T2 (força
O primeiro estabelece a força mínima alcançada du- alcançada durante o início da recuperação da força seguindo o
rante o encurtamento rápido; T2 representa a força passo do comprimento) em função da magnitude da liberação
do passo (adaptada de Ford et al., 1977).
ao final da fase rápida de recuperação (Fig. 9.13). T1
torna-se progressivamente pequeno com o incremen-
to da distância de liberação, sendo assumido para ser
linearmente relacionado à distância de liberação (Fig. tamente ativado era rapidamente encurtado, muitas
9.14). Quando comparado à curva de comprimento, pontes cruzadas eram desacopladas durante o grau
T1 representa a elasticidade não-amortecida do me- de encurtamento. Nesse caso, a recuperação da força
canismo contrátil. T2 é sempre maior que T1, indi- dependeria da taxa de acoplamento da ponte cruza-
cando uma recuperação da força em ms do grau de da. A taxa para o acoplamento, contudo, era lenta
comprimento (Fig. 9.14). demais para considerar a rápida recuperação da for-
Na teoria de 1957, a ponte cruzada estava aco- ça. Uma maneira fácil de remediar essa limitação se-
plada e desacoplada. Quando um músculo comple- ria incrementar a taxa de acoplamento das pontes
cruzadas (Podolsky, 1960). No entanto, modelos com
incremento substancial na taxa de função para o aco-
plamento não poderiam predizer a relação força-ve-
locidade de Hill (1938), assim como o modelo de
1957, e não poderiam ajustar aos dados térmicos ex-
perimentalmente observados durante as contrações
de encurtamento (Woledge et al., 1985).
Para considerar os transientes de força após alte-
ração discreta no grau de comprimento e não perder
o bom poder preditivo do modelo de 1957, Huxley e
Simmons (1971) introduziram o conceito de diferen-
tes estados de acoplamento para as pontes cruzadas,
Figura 9.13 Transiente força-tempo para um decréscimo permitindo a elas realizarem trabalho (enquanto aco-
súbito no comprimento de 6 nm por meio sarcômero imposto
pladas) em pequenos valores gradientes. A transição
em uma fibra muscular isolada de rã durante contração a 0°C
(adaptada de Ford et al., 1977). de um acoplamento estável para o próximo foi asso-
ciada com uma energia potencial progressivamente
menor. Além disso, Huxley e Simmons (1971) deter-
*N. de R.T. Relativo à produção momentânea de força, ou seja, minaram a existência de um elemento elástico sem
em um intervalo reduzido de tempo. amortecimento em cada ponte cruzada. Tal conven-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 179

ção permitiu que a ponte cruzada saísse do estado de elástico na ponte cruzada e, então, incrementando
um acoplamento estável para o próximo sem deslo- sua força (Fig. 9.16c). A superioridade do modelo de
camento relativo correspondente dos filamentos gros- 1971, quando comparado ao de 1957, não se mani-
sos e finos. A representação diagramática do modelo festa apenas em experimentos laboratoriais básicos,
de pontes cruzadas de 1971 é demonstrada na Figu- mas parece possuir muitas implicações práticas em
ra 9.15. atividades esportivas. Imagine um esporte como o
Os transientes de força durante a alteração rápi- esqui alpino, em que os principais grupamentos mus-
da do comprimento são explicados a seguir. Caso um culares da perna em trabalho são continuamente sub-
músculo seja liberado de forma extremamente rápi- metidos a pequenas alterações de comprimento de-
da, não haverá nenhuma rotação da cabeça da ponte vido às vibrações geradas pelo solo no esqui. A força
cruzada (Fig. 9.16a,b). Portanto, a queda observada muscular seria perdida em grande escala caso tais al-
na força durante o grau de comprimento (T1) corres- terações vibratórias de comprimento fossem associ-
ponde à propriedade de força-alongamento do ele- adas à liberação contínua e ao acoplamento das pon-
mento elástico não-amortecido* dentro da ponte cru- tes cruzadas (modelo de 1957). No entanto, se tais
zada. Em virtude do argumento de que a relação entre
o valor de T1 e a distância do grau de comprimento
era praticamente linear (a não-linearidade observada
experimentalmente foi associada com o início da re-
cuperação rápida nos maiores graus de comprimen-
to), a elasticidade da ponte cruzada também foi line-
ar (2,3 × 10–4 Nm–1 [Huxley e Simmons, 1971]). Uma
vez que o grau de comprimento extremamente rápi-
do foi completo, a rápida recuperação da força tor-
nou-se possível graças à rotação da cabeça da ponte
cruzada de energia potencial baixa, alongando o link

*N. de R.T. Rígido, sem amortecimento.

Figura 9.15 Representação diagramática do modelo de Figura 9.16 Explanação esquemática da perda e rápida
pontes cruzadas de múltiplo estado, de acordo com a proposta recuperação da força durante e após rápido passo de
inicial de Huxley e Simmons (1971). comprimento (ver texto para explicação detalhada).
180 PAAVO V. KOMI

alterações pudessem ocorrer sem a liberação das pon- de tempo) de que a conexão das pontes cruzadas seja
tes cruzadas (modelo de 1971), as forças tenderiam a clivada é dada pela função g(x) (Fig. 9.9).
flutuar com as vibrações musculares ao redor de um Se considerarmos um grande número de pares
valor de equilíbrio. idênticos M-A (i. e., pares tendo em cada instante
Huxley e Simmons (1971) discutiram o modelo um e o mesmo valor de x), a proporção n(t) dos pares
de pontes cruzadas com três estados acoplados está- acoplados será tão-somente uma função do tempo.
veis e derivaram equações para um sistema conten- Estamos interessados na obtenção de uma fórmula
do dois estados estáveis. Muitos modelos adicionais, para a taxa de alteração n(t). Por definição de f(x) e
com uma variedade de estados estáveis, são propos- g(x), podemos escrever:
tos (Eisenberg e Greene, 1980; Eisenberg et al., 1980),
mas a idéia básica de todos eles pode ser traçada no dn
= (1 − n ) f ( x ) − ng ( x ) (15)
contorno de modelo de pontes cruzadas de 1971 dt
(Huxley e Simmons, 1971).
O modelo de pontes cruzadas, como discutido A equação (15) é mais adiante referida como a equa-
aqui, dominou nosso pensamento no que se refere à ção de Huxley. Note que para o estado de equilíbrio
contração muscular nas últimas quatro décadas. Isso dinâmico, quando dn/dt = 0, devemos ter, de acordo
não equivale ao fenômeno amplamente observado; com a equação de Huxley, o seguinte valor para a
na realidade, argumenta-se que ele negligencia alguns proporção dos pares acoplados:
fenômenos muito básicos, tais como a produção de
força história-dependente de longa duração do mús- f (x)
neq = (16)
culo durante alongamento ou encurtamento (Abbott f (x) + g (x)
e Aubert, 1952; Edman et al., 1978; Maréchal e Pla-
ghki, 1979; Sugi e Tsuchiya, 1988; Granzier e Polla-
como esperado em bases intuitivas; a proporção de
ck, 1989; Edman et al., 1993). Portanto, o modelo de
pontes cruzadas acopladas em equilíbrio é controla-
pontes cruzadas poderia ser revisado ou substituído
da pela probabilidade de acoplamento.
em um futuro próximo. Atualmente, ele representa o
Para solucionar a equação (15) para n(t), deve-
paradigma de escolha e demanda forte evidência e
mos especificar o movimento relativo global x = x(t) e
teoria convincente para ser substituído.
a condição inicial n0 = n(0). Isso é algumas vezes con-
veniente para fornecer, em vez de x(t), a velocidade
Formulação teórica relativa de deslizamento global v = v(t), em que o caso
x(t) pode ser obtido por integração como:
Na versão original do modelo, Huxley (1957)
postulou que o filamento de miosina é dotado de t
“pedaços laterais que podem deslizar ao longo da es-
trutura do filamento, sendo a magnitude do movi- ∫
x ( t ) = x ( 0 ) + v (T ) dT
0
(17)
mento limitada por uma conexão elástica”. Na Figu-
ra 9.8, esses movimentos de acoplamento são repre- onde o v negativo significa encurtamento do sarcô-
sentados pelo M. Admitimos que o “salto” constante mero.
total é k. Os pedaços M acoplam-se aos locais espe- Até agora, determinamos que todos os pares M-
cíficos A fixados ao longo dos filamentos finos adja- A têm a mesma distância x(t). Na realidade, x(t) deve-
centes (Fig. 9.8). Esses acoplamentos são clivados por ria claramente ser distribuído quase que randomica-
reação química que requer ATP. Há oscilação do ele- mente (i. e., uniformemente) na variação [-0,5la,0,5la],
mento de deslizamento desacoplado, M, devido à agi- onde la representa a distância típica entre os locais de
tação térmica. No entanto, a probabilidade do aco- actina. Nesse caso, devemos falar da distribuição da
plamento por unidade de tempo é controlada pela função n(x,t) “por unidade de comprimento” tal que
distância x entre a posição (média) de equilíbrio O e o produto n(x,t) dx represente, no momento t, a pro-
o local de acoplamento potencial A no filamento fino. porção de pontes cruzadas acopladas naquela distân-
Essa distribuição de probabilidade para o acoplamen- cia do local de actina (mais próximo), entre x e x + dx.
to é f(x). Inversamente, a probabilidade (por unidade Pelo pressuposto de uniformidade, a proporção de
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 181

pares desacoplados no mesmo intervalo (x,x + dx) é


dada por:

(18)

Novamente, estamos interessados na obtenção da


taxa de tempo na alteração de n(x,t), como visto por
um observador fixado no local de acoplamento da
actina. Deveria ser notado que isso não é o mesmo
para a derivação parcial , pois, por defini-
ção, a derivação parcial é calculada mantendo-se x
fixo. Ao considerar-se que os filamentos estão em
movimento em relação mútua, calculamos a taxa de
Figura 9.17 Representação esquemática das curvas
tempo material de alteração pela regra de cadeia da
características para solucionar equações diferenciais parciais de
diferenciação como: primeira ordem do tipo demonstrado na equação 20.

(19)
po t a inclinação v(t) depende de x. A observação cui-
onde v é negativo para o encurtamento do sarcôme- dadosa da equação (20) revela que seu primeiro mem-
ro. A análise cuidadosa, em que admitimos miofila- bro representa a derivação de tempo da função
mentos rígidos, confirma que a equação diferencial n(γp(t),t), onde γp(t) representa a curva característica
agora é: única passando através do ponto (x,t). Em outras pa-
lavras, a integração do diferencial parcial da equação
(20) reduz à expressão mais simples para a integra-
(20)
ção da equação comum diferencial de Huxley ao lon-
go da curva característica por meio de cada ponto P
O movimento global da velocidade relativa de deslo- do múltiplo inicial, nomeadamente:
camento v(t) é admitido para ser fornecido.
Para solucionar uma equação desse tipo (equa-
dnp ( t ) ⎛1 ⎞
ção diferencial parcial de primeira ordem), deve-se
dt
( ) (
= ⎜ − np ( t ) ⎟ f γ p ( t ) − np ( t ) g γ p ( t ) )
especificar os valores de n0 da variável desconhecida ⎝ la ⎠
n em uma curva inicial (ou múltiplo inicial), muito (23)
comumente a linha t = 0. Em determinado ponto de
P do múltiplo inicial (Fig. 9.17), passa uma curva ca- com a condição inicial:
racterística única, x = γp(t), obtida como a solução da
equação ordinária diferencial: (24)

dγp (t ) Um tratamento matemático similar também apli-


= v (t ) (21) ca-se às equações diferenciais parciais mais gerais de
dt
primeira ordem em duas variáveis independentes.
com a condição inicial:
Distribuição de probabilidade acopla-
γp(0) = xp (22)
mento/desacoplamento
Diferente do caso geral demonstrado na Figura Como considerado anteriormente, as distribui-
9.17, em nosso caso as curvas características estão ções f(x) e g(x) representam as constantes das reações
todas “paralelas” mutuamente, pois em qualquer tem- químicas associadas com o acoplamento e com o
182 PAAVO V. KOMI

desacoplamento dos pares M-A, respectivamente. Aqui a função de magnitude é a proporção n(x,t) das
Elas são expressas em unidades de tempo recíproco. pontes cruzadas acopladas por unidade de compri-
Para o modelo fornecer os resultados desejados, su- mento. A força total é:
põe-se que f(x) desaparece caso A esteja à esquerda
de M (para a metade direita do sarcômero, como de-
monstrado na Fig. 9.8), enquanto para a mesma con- (26)
dição, g(x) alcança um valor constante maior. Quan-
do A está à direita de M, f(x) e g(x) desenvolvem-se
linearmente, sendo f(x) truncado a um valor de x = h obtida ao se multiplicar a força média por local pelo
(muito menor que 0,5la) representando a amplitude número de locais envolvidos na secção transversa.
da capacidade de união (Fig. 9.9). Uma explicação Ao fornecer ao músculo uma velocidade negati-
para tal comportamento de chance das distribuições va (i. e., encurtamento) constante V, isso resulta em
de probabilidade pode ser encontrada em uma des- velocidade de deslocamento do sarcômero:
crição geométrica mais detalhada das pontes cruza-
das e das estruturas moleculares, que não estavam
disponíveis para Huxley em 1957. Uma possível ex- (27)
plicação é fornecida neste capítulo sob o tópico “Mo-
delos de roquete”, em que uma solução fisicamente onde ns é o número de metades de sarcômero em um
possível é fornecida ao problema das funções. No comprimento muscular. Já que v, nesse caso, é uma
entanto, deve-se considerar que, do ponto de vista constante, a integração da equação (21) fornece as
mecânico, a idéia de um mecanismo de roquete da curvas características como as linhas retas:
contração muscular não é compatível com a idéia do
“golpe potente” dos modelos de pontes cruzadas, γ p ( t ) = xp + vt , ( v < 0 ) (28)
embora o comportamento bruto da produção de for-
ça muscular possa parecer o mesmo em ambos os
modelos. Estrutural e filosoficamente, os modelos Um ponto crucial nesta junção é que em vez de
roquete e das pontes cruzadas não são compatíveis. supor as condições iniciais em t = 0 Huxley efetiva-
mente mudou o múltiplo inicial para a linha x = h e
especificou n = 0 sobre essa linha. Na primeira im-
Quantidades macroscópicas do mode- pressão, pode parecer surpreendente que as condi-
lo das pontes cruzadas ções iniciais possam ser especificadas em uma outra
A força total de um músculo pode ser calculada linha que não t = constante. Mas a linha x = h repre-
pela teoria das pontes cruzadas. Ao assumir que am- senta um múltiplo inicial perfeitamente válido, já que
bas as metades do sarcômero devem produzir a mes- satisfaz a restrição matemática de não estar em qual-
ma força, deve-se somente considerar a soma de quer ponto tangente à linha característica.
ambas as metades do sarcômero em uma secção O tempo de intersecção da curva característi-
transversa fisiológica. A representa a área dessa sec- ca através de P com o múltiplo inicial é calculado
ção transversa, m o número de locais M por unidade como:
de volume e s o comprimento médio instantâneo do
sarcômero. Então, o número de locais contidos em
(29)
todas as metades do sarcômero afetadas pela secção
transversa é igual a mAs/2. A força média por local é
obtida ao calcular a magnitude média das forças nas A solução da equação (20) deve ser contínua. Consi-
molas individuais, que é: derando as retas características, as condições especi-
ficadas no múltiplo inicial, na continuidade e nas
dadas distribuições de probabilidade, a solução da
(25) característica equação diferencial (23) é obtida por
integração direta como (ver também Fig. 9.9):
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 183

⎧ h − xp O resultado da integração requerida na equação (26)


⎪0 para t< é obtido explicitamente como:
⎪ v
⎪ α ⎡1 − e(( α +β)/ 2v )( h2 −( xp + vt )2 ) ⎤
⎪ (α + β) l ⎣⎢ ⎦⎥
⎪ α
⎪⎪ h − xp xp
np = ⎨ para ≤t <− (32)
⎪ v v
⎪ α ⎡1 − e(( α +β) / 2v )h2 ⎤ e( − g0 / v )( xp + vt )
⎪ (α + β) l ⎣⎢ ⎦⎥
⎪ α
⎪ xp Por meio da escolha criteriosa das constantes, essa
⎪ para − ≤t fórmula pode ajustar-se à lei força-velocidade de Hill
⎪⎩ v na variação de encurtamento. Na verdade, com um
(30) tratamento similar para a energia e para a potência
mecânica, Huxley foi capaz de também ajustar algu-
Essas fórmulas, embora obtidas por uma curva ca- mas das considerações termodinâmicas de Hill. De-
racterística, fornecem a solução completa n(x,t). Na senvolvimentos adicionais na direção dessas linhas
realidade, extraímos a característica única através de foram propostos por Huxley e Simmons (1971),
um determinado ponto (x,t). Essa linha forma uma Zahalak e Ma (1990), além de Zahalak e Motabarza-
intersecção com o eixo vertical em xp = x – vt. Obte- deh (1997).
mos o valor de n(x,t) ao substituir adequadamente
esse valor de xp em uma das três fórmulas (equação Modelos de roquete
30). Nesse caso específico, esse procedimento equi-
vale a substituir x para xp + vt no lado direito da equa- Os modelos do tipo Hill são puramente fenome-
ção (30). Utilizamos o procedimento geral para ilus- nológicos. Importantes características, tais como as
trar como o método das características funcionaria relações força-velocidade e força-comprimento, são
mesmo se a velocidade contrátil específica v(t) não introduzidas sem explicação. Os modelos das pontes
fosse constante em relação ao tempo. No caso parti- cruzadas são mais estruturais do que os modelos do
cular em que a velocidade é constante, obtemos o tipo Hill, mas falham, do ponto de vista mecanicis-
mesmo resultado que Huxley (Huxley, 1957), isto é: ta, no nível das funções de taxa “artificialmente” in-
troduzidas sem explicação biológica. Aqui, apresen-
tamos os modelos tipo roquete. Admite-se que o
⎧0 para x > h motor actina-miosina funcione na perspectiva do
⎪ α
⎪ ⎡1 − e(( α +β) / 2v( h 2
− x 2 )) ⎤ motor browniano (miosina), porque ele é capaz de
⎪ ( α + β ) lα ⎢⎣ ⎥⎦ associar um conjunto de potenciais de alteração e
⎪ assimétricos com o motor que produz, em média,
n ( x, t ) = ⎨ para 0 < x ≤ h
⎪ força e movimento direcionais. Embora os modelos
α ⎡1 − e(( α +β) / 2v )h ⎤ e −( g0 / v ) x
2
⎪ tipo roquete para a contração muscular não tenham
⎪ ( α + β ) lα ⎣⎢ ⎥⎦ sido utilizados ou mencionados na literatura bio-
⎪ para x ≤ 0 mecânica, é importante considerá-los, pois permi-

tem uma explanação física da contração muscular
(31) que os modelos de pontes cruzadas e de Hill não
Agora, vamos usar as equações (31) e (26) para cal- contemplam.
cular a força total, F. Note que, como o t não aparece
explicitamente em nenhuma das três fórmulas na Considerações gerais
equação (31), F(t) será a constante para determinada
velocidade constante de contração, em concordância Em 1993, Magnasco considerou um fenômeno
com a interpretação geral dos experimentos de Hill. simples inspirado pelos mecanismos de roquete e de
184 PAAVO V. KOMI

lingüeta discutidos por Feynman: uma partícula tema. Para procedimentos posteriores, admitimos que
browniana em formato dentado, submetida a flutua- importantes movimentos do sistema (filamento mi-
ções externas ou forças externas periódicas, é capaz osina-actina) podem ser descritos com algumas vari-
de movimento vetorial (Magnasco, 1993). O autor áveis conformacionais caracterizadas pelo grande
também discutiu uma possível associação entre esse tempo de relaxamento para o equilíbrio, comparadas
fenômeno e o transporte e a geração de força nos a outras variáveis conformacionais não-consideradas.
sistemas biológicos, tais como a contração muscular As variáveis conformacionais com tempo de relaxa-
e o movimento celular. A partícula browniana foi re- mento rápido podem ser ignoradas, já que são consi-
ferida como “motor molecular”, e o sistema, como deradas em equilíbrio na escala de tempo de relaxa-
“modelo roquete”. Desde o trabalho de Magnasco mento das flutuações “calor-banho”. As variáveis
(1993), são inúmeras as contribuições com o objeti- conformacionais com grande tempo de relaxamento,
vo de caracterizar os diferentes sistemas pelos quais isto é, dinâmica lenta, são indicadas por x1, x2,..., xn.
o movimento unidirecional de uma partícula brow- Como o sistema é controlado por energia química,
niana pode ser induzida sem uma força de gradiente no mínimo uma dessas variáveis conformacionais
macroscópico (Astumian e Bier, 1996; Julicher et al., deve refletir o progresso das reações químicas. Ela
1997). Especificamente, a idéia de roquete tem sido será tomada como variável química, e indicada por
incorporada na descrição de associação mecanoquí- x1. As demais, do tipo conformacional, serão variá-
mica da geração de força na contração muscular veis mecânicas. No mínimo uma dessas variáveis me-
(Zhou e Chen, 1996; Derenyi e Vicsek, 1998) ou no cânicas deve refletir a posição da miosina em relação
movimento direcionado da cinesina e da dineína ao ao filamento de actina durante a contração muscu-
longo dos microtúbulos (Derenyi e Vicsek, 1996). Um lar. Essa variável será indicada por x2. Todas as de-
tema comum nessas investigações é que as proteínas mais variáveis mecânicas representarão uma alte-
motoras podem gerar força e direcionar o movimen- ração conformacional significativa do motor de mio-
to ao retificar reações térmicas. Nesse modelo de ro- sina, como a rotação da cabeça de miosina, o movi-
quete, a energia química não é diretamente utilizada mento do “pescoço” da miosina, etc. Cada confor-
para produzir força. Mais do que isso, o motor mole- mação x1, x2,..., xn é associada com uma energia livre
cular difunde-se ao longo de seu espaço em movi- V(x1, x2,... xn), cuja propriedade é garantir que seus
mento aleatório, e a reação química simplesmente derivados referentes a x1, x2,... xn determinem a força
influencia o movimento de modo que os passos sejam média ao longo dessas variáveis. Em princípio, a ener-
mais prováveis em uma direção do que em outra. No gia livre de cada conformação pode ser calculada pela
caso da contração muscular, é mais provável que a ca- mecânica estatística de Boltzmann, uma vez que o
beça de miosina produza força positiva do que negati- hamiltoniano do sistema de banho é conhecido
va. Essas investigações teóricas são respaldadas pelos (Mcquarrie, 1976; Keller e Bustamante, 2000). Para
resultados de interações isoladas miosina-actina simplificar a descrição da operação do motor mole-
(Svoboda et al., 1993; Finer et al., 1994; Spudich, 1994). cular, consideremos o caso de uma variável química,
No “modelo de roquete”, acredita-se que o siste- x1, descrevendo o passo da reação da hidrólise de ATP,
ma consista de um par de filamentos miosina-actina e uma variável mecânica, x2, descrevendo a posição
como uma pequena máquina operando em banho do centro de massa da cabeça de miosina. Nesse caso,
térmico, sujeito a grandes flutuações no estado con- a energia livre V(x1, x2) define uma superfície de po-
formacional e químico. Em princípio, todas as con- tencial energético bidimensional em que a cabeça de
formações podem ser descritas por um conjunto de miosina se movimenta. Em qualquer posição fixa x2,
variáveis conformacionais, x1, x2,..., que poderiam a curva espacial V(.,x2) será observada como uma re-
incluir todos os graus de liberdade das moléculas ação típica livre de energia do diagrama, em que o
motoras (posições do átomo, ângulo e distância de mínimo representa o estado bioquímico estável, se-
união, etc.). No entanto, essa descrição detalhada de parado pelas barreiras de energia livre que represen-
todas as variáveis conformacionais apresenta um de- tam a ativação energética para o progresso das rea-
safio computacional irreal e, em muitos casos, não é ções químicas. As constantes das taxas de reações
necessária na descrição dos fatores genéricos do sis- químicas podem ser calculadas como o inverso do
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 185

primeiro tempo médio de passagem da transição en- O movimento estocástico do motor mo-
tre o mínimo do potencial energético livre através do lecular
uso do formalismo de Langevin (Kramers, 1940).
Na ausência de flutuações térmicas, o sistema
Observe que as constantes das taxas nessa descrição
deveria ser localizado em um mínimo do potencial
dependem da posição da cabeça de miosina, um fato
de energia livre, V(x1, x2). No entanto, em determina-
reconhecido por Huxley (1957). Uma vez que, após
da temperatura T, cada uma das variáveis de banho
cada hidrólise de ATP, a miosina deve retornar ao
possui energia da ordem kT, onde k é a constante
seu estado inicial, e a energia livre deve ter diminuí-
Boltzmann. As barreiras do potencial de energia li-
do em quantidade fixa, a curva espacial V(., x2) repre-
vre, V(x1, x2), são apenas poucas vezes maiores que o
senta uma curva periódica inclinada em relação à
valor kT. Portanto, as flutuações térmicas teriam gran-
variável química, isto é,
de efeito no movimento do sistema e seriam respon-
sáveis pela hidrólise de ATP e pela geração de força.
V(x1 + C,x2) = V(x1,x2) + V0 (33)
Uma abordagem comum na descrição desse sistema
é o formalismo Langevin. Nele, uma força aleatória
onde V0 é a constante e C representa o período da
(descrevendo o banho térmico) é adicionada à equa-
reação química.
ção determinista do movimento do sistema:
Em qualquer posição fixa na coordenada quími-
ca x1, a curva espacial, V(x1,.), representa a alteração
na energia livre associada com o movimento da ca- dxi ∂V ( x1 , x2 )
γi = + Fi ( t ) + ξi ( t ) , i = 1, 2 (34)
beça de miosina ao longo do filamento de actina. dt ∂xi
Considerando a estrutura periódica do filamento de
actina, com período de d = 38,5 nm, a alteração total onde γi representa as constantes de umidade; Fit são
na energia livre entre dois locais na distância d no as forças externas, em que se pode incluir a força em
filamento de actina tem de ser zero. Portanto, a curva oposição ao movimento da cabeça de miosina, (F2(t)),
espacial, V(x1,.), é periódica com o período d, e seu e a sobrecarga afetando o progresso temporal da rea-
mínimo representa locais de ligação estável da mio- ção química, (F1(t)), e ξi(t) os ruídos brancos Gaussia-
sina ao longo do filamento de actina. Para implemen- nos com pequena variação de correlação, isto é,
tar a idéia de roquete, a curva espacial, V(x1,.), deve
ser assimétrica para alguns valores específicos da va-
riável química x1. A assimetria estrutural dos monô- < ξi ( t ) , ξi ( s ) ≥ 2γ i kT δ ( t − s ) , i = 1, 2 (35)
meros de actina e a cabeça de miosina em certas con-
formações, tais como na ligação da ATP à cabeça de onde δ(x) representa a função Dirac. A clássica força
miosina ou no passo da hidrólise de ATP, seriam pos- de inércia, mẍi, foi negligenciada, assumindo-se que
síveis explanações para essa assimetria. Devido à ge- todos os movimentos são completamente amorteci-
ração de força no músculo representar o resultado dos. Observe que, adicionando uma força, F1(t), ao
do movimento da cabeça de miosina ao longo do fi- movimento da coordenada química x1, uma constante
lamento de actina, devemos especificar regiões na de taxa dependente de carga é fornecida para as rea-
superfície bidimensional V(x1, x2) quando as regiões ções químicas. As flutuações aleatórias do banho tér-
produzem força. A força gerada em qualquer ponto mico tornam também aleatória a trajetória do ponto
nessas regiões pode ser calculada como a derivação do sistema (x1(t), x2(t)). A escolha da dinâmica de ru-
de V(x1, x2) em relação a x2. Observe que essa força ído branco para o banho térmico destrói todas as
pode ser negativa ou positiva (característica ausente correlações de forças térmicas após um tempo infi-
na teoria de Huxley imediatamente sobre o acopla- nitesimal. Portanto, o sistema não possui memória,
mento ou em situações isométricas), mas o mecanis- e a trajetória (x1(t), x2(t)) representa um processo
mo de roquete fornece uma força positiva total (em Markoviano. No entanto, é bem aceito que a produ-
que o positivo é definido como a força que tenderia a ção de força muscular dispõe de memória. Ou seja, a
encurtar o sarcômero). força depende da história das condições contráteis. O
186 PAAVO V. KOMI

modelo de roquete poderia considerar esses efeitos de- processos estocásticos no espaço multidimensional
pendentes de história qualitativamente, por substituir não podem ser empregadas para solucionar tais pro-
o ruído branco pelo colorido, que contém correlações blemas. Uma abordagem comum para esse tipo de
específicas. problema é a conversão da dinâmica bidimensional
Temos analisado a estatística da trajetória a fim para unidimensional às custas do descrédito da co-
de caracterizar os fatores do sistema (x1(t), x2(t)). Isso ordenada química. Ao usar esse procedimento, a
pode ser feito pela definição da densidade de proba- constante da taxa de reação química deve ser forne-
bilidade para o sistema, p(x1,x2,t), para estar em con- cida. A cabeça de miosina flutuará em diferentes po-
formação (x1,x2) no tempo t. Essa densidade de pro- tenciais associados a diferentes estados de reações
babilidade acompanha as equações de Fokker-Planck químicas. A taxa de mudança entre os potenciais é
(Chandrasekhar, 1943): coordenada pelas constantes das taxas de reações
químicas. Esse tipo de roquete é referido como “ro-
∂p ( x1 , x2 , t ) ∂J1 ( x1 , x2 , t ) ∂J 2 ( x1 , x2 , t ) quete brilhante” (Astumian, 1997). Utilizaremos um
+ + =0 modelo de dois estados, equivalente à teoria das pon-
∂t ∂x1 ∂x2
tes cruzadas da contração muscular proposta por
(36) Huxley (1957), para derivar a equação estocástica de
movimentos. Uma generalização ao modelo multies-
onde J1(x1,x2,t) representam a probabilidade da den- tado é fornecida a seguir.
sidade atual definida por Indique por x a posição do centro de massa da
cabeça de miosina. Admita que a variável química
kT ∂p ( x1 , x2 , t ) possui dois estados discretos: A (acoplada) e D (não-
J i ( x1 , x2 , t ) = − +
γi ∂xi acoplada). As reações químicas produzem mudanças
da cabeça de miosina do estado acoplado para o não-
1 ⎛ ∂V ( x1 , x2 ) ⎞
⎜⎜ − + Fi ( t ) ⎟ p ( x1 , x2 , t ) acoplado na taxa g(x), e do estado não-acoplado para
γi ∂xi ⎟
⎝ ⎠ o acoplado na taxa f(x). As duas constantes da taxa
(37) dependem da posição da cabeça de miosina. Ao con-
trário da teoria de Huxley (1957), as constantes de
A equação (37) fornece a equação original da densi- taxa f(x) e g(x) não precisam ser assimétricas para con-
dade atual. O primeiro termo na equação (37) repre- siderar a geração de força positiva na contração mus-
senta um difusivo atual com constante de difusão cular. Uma prática comum é assumir que a constan-
Di = kT/γi, de acordo com a relação flutuação-dissi- te de taxa g(x) está localizada em um local de ligação
pação de Einstein. O segundo termo representa um hipotético no filamento de actina. A constante de taxa
impulso atual causado pela ação da força no sistema. f(x) é independente de x desde que, no estado não-
Ao substituir a equação (37) pela (36), é fornecido acoplado, a cabeça de miosina movimente-se livre-
um sistema de segunda ordem de equações parciais mente e para longe do filamento de actina. Portanto,
diferenciais que podem ser solucionadas para p(x1,x2,t) a reação química provavelmente seria independente
em qualquer determinado tempo t, dada uma distri- da posição da cabeça de miosina. No estado não-aco-
buição conhecida p0(x1,x2) no tempo t = 0. Uma vez plado (D), o potencial de energia livre VD(x) da variá-
que p é conhecido, a probabilidade atual J (compor- vel mecânica x pode ser tido como constante, refle-
tamento de transporte do sistema) pode ser encon- tindo o fato de que as diferentes conformações da
trada por meio da equação (37). cabeça de miosina possuem a mesma energia livre e
são independentes da posição da cabeça de miosina
em relação ao filamento de actina. No estado acopla-
Modelo de roquete multiestado
do (A), o potencial de energia livre VA(x) é periódico e
As características gerais da equação (37) ainda aceito como assimétrico em determinado período
são de difícil solução mesmo com todas as simplifi- devido à assimetria do filamento de actina. O funcio-
cações fornecidas anteriormente (eliminação de va- namento do motor de miosina pode ser compreen-
riáveis conformacionais rápidas, química e mecâni- dido como segue. No estado não-acoplado, a cabeça
ca). As técnicas disponíveis referentes à teoria dos de miosina está em posição x e realiza um movimen-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 187

to browniano livre. A probabilidade de distribuição Fext(t) representa a sobrecarga externa aplicada pela
da posição da cabeça de miosina segue uma função cabeça de miosina. A sobrecarga externa pode ser
gaussiana que se estende no tempo. Uma vez que a compreendida como a força aplicada ao filamento de
reação química avançou, a cabeça de miosina volta actina. Caso a força externa independa do tempo, é
ao estado acoplado; devido à assimetria do potencial possível obter uma solução estacionária. Nessa situa-
nesse estado, é mais provável que a cabeça de miosi- ção, a velocidade do motor de miosina é dada por:
na esteja localizada na região do potencial com incli-
nação positiva do que na região com inclinação ne-
gativa (Fig. 9.18). Portanto, é mais provável que a (40)
cabeça de miosina esteja em posição de exercer força
positiva (que tenderia a encurtar o sarcômero) do que
em posição de exercer força negativa. A probabilida- onde d representa a periodicidade do filamento de
de a densidade descobrir a cabeça de miosina no es- actina. A equação (40) fornece a relação sobrecarga-
tado D ou A no tempo t é, respectivamente, indicada velocidade do motor molecular. Em situação experi-
por pD(x,t) e pA(x,t). Essa probabilidade de densidade mental, a relação sobrecarga-velocidade tem de ser
satisfaz as equações de Fokker-Planck: compreendida como segue. Para determinada sobre-
carga aplicada à fibra muscular, a equação (40) for-
nece a velocidade em estado de equilíbrio do encur-
tamento da fibra. No entanto, na biomecânica
muscular, os experimentos são tipicamente realiza-
dos de outra forma: a fibra é encurtada em velocida-
de constante, e a força em estado de equilíbrio (está-
(38)
vel) é calculada. Para considerar o encurtamento do
filamento de actina em relação ao de miosina, temos
onde a probabilidade da densidade atual é fornecida
de incorporar o deslocamento x sobre o tempo na
por:
equação (38). Nesse caso, as equações tornam-se:

⎧ dpA ( x ( t ) , t ) ∂J A ( x ( t ) , t )
⎪ +
⎪ dt ∂t
⎪⎪= f ( x ) pD ( x , t ) − g ( x ) pA ( x , t )

(39) ⎪ dpD ( x ( t ) , t ) ∂J D ( x ( t ) , t )
⎪ +
⎪ dt ∂t
⎪⎩ = g ( ) A ( ) ( x ) pD ( x, t )
x p x , t − f
(41)
Por diferenciação, isso induz a:

(42)

Figura 9.18 Representação esquemática de uma partícula


(cabeça de miosina, ) em um roquete “brilhante” com
potencial constante para o estado de desacoplamento VD(x), e
um assimétrico potencial em forma de dentes de serra para o onde v(t) representa a velocidade de encurtamento
estado acoplado VA(x). Ver texto para explicações adicionais. (positiva) ou de alongamento (negativa). As probabi-
188 PAAVO V. KOMI

lidades atuais precisam ser alteradas de modo ade- mento fino por um filamento grosso para o motor
quado, isto é, actina-miosina. Desse ponto, a força-velocidade e a
força da fibra isolada ou do músculo ativo poderiam
ser obtidos por extensões apropriadas. Além disso, a
relação força-comprimento seria uma propriedade
básica do modelo proposto (no mínimo, para as re-
giões de platô e “braços” descendentes) quando a for-
ça é diretamente proporcional ao número de cabeças
de miosina acopladas aos filamentos finos (actina).
(43) Portanto, embora o formalismo a respeito da contra-
ção muscular consista de algo um tanto novo e, des-
Marcamos a cabeça de miosina em seqüência por i = se modo, suspeito, representa, no momento, o único
1, 2,..., n, para derivar a força contrátil de um fila- mecanismo possível de explicar fisicamente a produ-
mento fino em metade de um sarcômero. Cada vez ção de força e de movimento. A teoria das pontes
que a cabeça de miosina está no estado acoplado na cruzadas é incapaz de explicar a assimetria das cons-
posição x, isso transmite a força F(x) = –δVA(x)/δx. Essa tantes de taxas necessárias para a produção de força
força é positiva ou negativa dependendo da posição e para a contração muscular.
x. Indica-se por xi(t) a posição da cabeça de miosina,
marcada i, ao local de ligação à actina mais próximo;
isto é, a distância da posição da cabeça de miosina ao Do mecanismo molecular à
mínimo mais próximo do potencial VA(x). A força no produção de força e potência
filamento em função do tempo é então fornecida por:
A contração musculoesquelética tem sido estu-
dada em ampla variedade de níveis estruturais: do
(44) voluntário, contração muscular in vivo, à interação da
cabeça de pontes cruzadas isoladas com o filamento
de actina. Naturalmente, surge a questão sobre quais
As cabeças de miosina com a mesma orientação e, as propriedades observadas em nível estrutural (p. ex.,
portanto, interagindo com o mesmo filamento de nível molecular) que se transferem para outros ní-
actina ocorrem em cada a = 42,9 nm. A distância re- veis (p. ex., músculo humano in vivo)? Provavelmen-
produzida do local de ligação no filamento de actina te, as propriedades em nível molecular não podem
é d = 38,5 nm. Portanto, não há nenhuma periodici- ser reconhecidas no músculo como um todo e as
dade quando o número de cabeças de miosina de um propriedades do músculo como um todo não são
filamento grosso para um filamento fino é de aproxi- capazes de favorecer a compreensão dos mecanismos
madamente 16 (no músculo esquelético de mamífe- moleculares relacionados à contração e à produção
ros). Portanto, o espaçamento médio entre os valores de força.
adjacentes de xi pode ser aproximado por uma distri- Os modelos de pontes cruzadas e o tipo roquete
buição uniformemente densa no intervalo [–b/2,b/2]. já apresentados são baseados em nível molecular,
Como conseqüência, a expressão para a força na enquanto o modelo de Hill deriva de preparação iso-
equação (44) pode ser aproximada por uma média lada de músculo de anfíbios. Portanto, a aplicação
integral: desses modelos para as propriedades do músculo
humano in vivo deve ser feita com extrema cautela.
Nesse caso, pode-se fornecer dezenas de exemplos
(45) ilustrando a dificuldade do emprego desses modelos
na biomecânica do corpo humano. No entanto, para
ser breve, serão dados exemplos específicos, que se
Ao usar as equações (40) e (45), temos formulado a relacionam às propriedades força-comprimento e
força-velocidade e a produção de força em um fila- força-velocidade do músculo esquelético.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 189

Relação força-comprimento para alcançar um comprimento constante do segmen-


to, o comprimento da fibra não poderia ser mantido
A relação força-comprimento do músculo é tipi- em isometria, teria de ser ajustado durante a contra-
camente definida pela força isométrica máxima em ção para manter o segmento-alvo na condição iso-
estado de equilíbrio que o músculo pode exercer em métrica. A relação força-comprimento do “sarcôme-
função de seu comprimento. Experimentalmente, um ro” obtida dessa maneira está demonstrada na Figura
ponto sobre a relação força-comprimento é obtido 9.19. A relação força-comprimento da “fibra” obtida
ao fixar o músculo no comprimento-alvo e, então, por Ramsey e Street (1940) difere claramente da re-
mensurar a força em estado de equilíbrio obtida no lação força-comprimento do sarcômero (Fig. 9.20).
comprimento durante ativação supramáxima. Para Muito notavelmente, a relação força-comprimento
obter o próximo ponto de dados na relação força- da “fibra”possui uma região de platô mais ampla e
comprimento, o músculo é desativado, estabelece-se
o novo comprimento e, novamente, ativa-se de for-
ma supramáxima, e assim por diante. Portanto, a re-
lação força-comprimento representa uma relação es-
tática discreta e não deveria ser representada, ou
suposta, como uma propriedade contínua, como nor-
malmente é feito.
Com base em Huxley (1957), a relação força-com-
primento de uma única ponte cruzada ou filamento
de actina constitui uma linha reta com incremento
da força de acordo com o aumento do comprimento
(extensão) da ponte cruzada (Fig. 9.8). Esse resultado
surge do pressuposto de que a força da ponte cruza-
da é proporcional à sua extensão e de que a força de
extensão surge de um deslocamento linear com a Figura 9.19 Relação força-comprimento “sarcômero”
propriedade força-comprimento Fce = kx, onde Fce inicialmente obtida por Gordon e colaboradores (1996) para
representa a força da ponte cruzada, k é a rigidez do fibras musculares isoladas intactas de rãs. Observe que a linha
deslocamento e x é a extensão (ou comprimento) da retilínea descendente diretamente associada com a perda do
miofilamento sobrepôs-se ao incremento do comprimento do
ponte cruzada, definida como a distância do compri- sarcômero.
mento de equilíbrio da ponte cruzada ao mais próxi-
mo local de acoplamento à actina (Huxley, 1957).
A relação exata força-comprimento do sarcôme-
ro é desconhecida devido ao fato de os sarcômeros
não poderem ser isolados para testes mecânicos. No
entanto, Gordon e colaboradores (1966) obtiveram
uma preparação de fibra isolada e utilizaram um
método de clampe do sarcômero para manter um
pequeno segmento próximo à metade da fibra em
comprimento constante (isométrico). O segmento foi
selecionado em uma região em que os sarcômeros
estavam quase que uniformes antes da contração.
Gordon e colaboradores (1966) mencionaram que,
para manter o segmento-alvo em comprimento cons-
tante e tendo escolhido um segmento do comprimen-
to uniforme do sarcômero, as forças observadas ao Figura 9.20 Relação força-comprimento obtida por Ramsey e
final da fibra refletiam a força isométrica dos sarcô- Street (1940) — pontos de dados — e por Ford e colaboradores
meros “clampeados” no segmento-alvo. Observe que, (1977).
190 PAAVO V. KOMI

maior variação no “braço” descendente do que a re- atividades esportivas, essa relação pode afetar grave-
lação força-comprimento do “sarcômero”. mente o desempenho. Parece que as relações força-
Finalmente, as relações força-comprimento do comprimento em atletas de competição de diferen-
músculo total são diferentes daquelas de fibras isola- tes esportes, os quais requerem uma função muscular
das e de sarcômeros “clampeados”. Em geral, as rela- distinta, podem adaptar-se às exigências funcionais.
ções força muscular-comprimento são maiores do Em estudo com corredores e ciclistas de elite, en-
que as correspondentes propriedades das fibras, pre- contramos que o reto femoral desses dois grupos de
sumivelmente, devido à variedade de comprimentos atletas demonstrava características força-comprimen-
de fibra e à não-uniformidade do comprimento mé- to completamente distintas (Herzog et al., 1991a).
dio do sarcômero. Além disso, a força passiva no Além disso, essas diferentes características foram
músculo total começa a agir em diferentes compri- adaptadas aos requerimentos funcionais de corredo-
mentos musculares (Fig. 9.21). Em alguns músculos, res e de ciclistas, respectivamente (Fig. 9.22). Portan-
a força passiva exerce grande influência em compri- to, concluiu-se que as propriedades força-compri-
mentos de curta extensão, como a região de platô; mento do músculo esquelético humano podem se
em outros, a força passiva substancial manifesta-se adaptar às exigências funcionais crônicas, como as
somente na amplitude média ou final do “braço” des- de atletas de elite.
cendente da curva de relação força-comprimento.
Por último, e possivelmente mais importante, as Relação força-velocidade
propriedades força-comprimento de músculos in situ
são reprimidas pela geometria musculoesquelética, e Do mesmo modo que para a relação força-com-
em geral, a variação total da relação força-compri- primento discutida anteriormente, as propriedades da
mento não é representada. Por exemplo, no tríceps relação força-velocidade do músculo esquelético po-
sural de humanos e de gatos, a relação força-compri- deriam ser descritas e explicadas a partir de uma ampla
mento utilizada para as atividades normais diárias está variedade de níveis estruturais. No entanto, não exis-
no “braço” ascendente e na região de platô da curva tem propriedades força-velocidade para as interações
de relação força-comprimento (Herzog et al., 1991b; de pontes cruzadas isoladas com a actina. Além dis-
Herzog et al., 1992). Outros músculos, como o semi- so, as propriedades força-velocidade de fibras isola-
membranáceo da rã, trabalham predominantemente das estão em boa concordância, assim aparenta, com
no platô (Lutz e Rome, 1993), enquanto outros pare- as do músculo. Contudo, há uma diferença mais im-
cem ocupar o “braço” descendente da relação força- portante entre propriedades força-velocidade de fi-
comprimento, como, por exemplo, o semitendíneo bras isoladas ou de preparações musculares e rela-
da rã (Mai e Lieber, 1990). ção àquelas da contração muscular voluntária em
A relação força-comprimento representa uma humanos. Enfatizaremos essa diferença de forma
importante propriedade do músculo esquelético. Para breve.

Figura 9.21 Relação força-comprimento


ativa (a), passiva (p) e total (t) de três
músculos de rãs em que a força passiva
surge em regiões distintamente diferentes
da relação força-comprimento ativa.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 191

diminuindo a velocidade de encurtamento (Fig. 9.6).


Além disso, em certa velocidade (relativamente bai-
xa) de alongamento, o músculo alcança uma força
constante de aproximadamente 1,5 a 2,0 vezes o va-
lor da força isométrica (p. ex., Katz, 1939). Essa rela-
ção força-velocidade é a base de muitos modelos mus-
culares, e foi estabelecida a partir da eletroestilumação
constante da amostras musculares (ou de fibra).
No entanto, para as contrações voluntárias, a pro-
priedade força-velocidade parece diferir conside-
ravelmente daquela do músculo eletricamente esti-
mulado. A região de encurtamento é similar em am-
bos os casos; contudo, no alongamento, o desenvol-
vimento na força com o aumento da velocidade está
praticamente ausente nas contrações voluntárias
(Westing et al., 1990). A força excêntrica alcança no
máximo 1,1 a 1,2 vezes o valor da força isométrica,
em vez de 1,5 a 2,0 vezes (Fig. 9.23). O uso da técnica
de contração sobreposta e da estimulação artificial
do músculo humano in vivo determina que a depres-
Figura 9.22 Resumo esquemático dos resultados força- são da força excêntrica nas contrações voluntárias é
comprimento para o reto femoral de corredores e ciclistas de causada pela inibição do impulso do motoneurônio
elite. Os corredores pareceram utilizar o reto femoral na região
α. Portanto, para as contrações voluntárias em mús-
ascendente, enquanto os ciclistas, na região descendente da
relação força-comprimento (gráfico superior). Esse resultado culos humanos, a propriedade força-velocidade pode
poderia ser explicado caso o número de sarcômeros em série ser mais bem aproximada pela Figura 9.23 do que
nas fibras do reto femoral fosse maior nos corredores do que pelas relações obtidas através da eletroestimulação.
nos ciclistas (gráfico inferior). Isso poderia ajustar a relação
força-comprimento dos corredores para a esquerda daquela dos
ciclistas. É interessante observar que as relações força-
comprimento do reto femoral de não-atletas parecem estar Aplicações
entre essas demonstradas na figura.
Surgem grandes dificuldades na tentativa de apli-
car o conhecimento geral das propriedades da pro-
dução de força muscular ao movimento humano ou
A relação força-velocidade define a força máxi- na otimização do desempenho esportivo. Por exem-
ma de um músculo em determinado comprimento plo, a relação força-comprimento é mais bem descri-
(caracteristicamente ótimo) em função da velocida- ta para fibras isoladas de rã em contração tetânica.
de de contração. Normalmente, obtém-se um ponto No entanto, de acordo com o conhecimento deste
de dados na curva força-velocidade pela ativação má- autor, não existe medida direta da relação força-com-
xima de um músculo, liberando-o a uma velocidade primento do músculo humano in vivo. As dificulda-
constante de encurtamento (ou alongamento) e men- des estão em mensurar a variação dinâmica e não-
surando a força para determinada velocidade de en- uniforme do comprimento da fibra durante uma
curtamento (alongamento) em um comprimento de- contração isométrica (locais de acoplamento mus-
finido. Portanto, da mesma forma que a relação culares fixados). Outros problemas envolvem a defi-
força-comprimento, a relação força-velocidade é uma nição de contração voluntária máxima, a inibição
propriedade discreta e não-contínua. muscular em função do ângulo articular (Suter e
A propriedade força-velocidade, como descrita Herzog, 1997) e a forma de variação não-linear da
por Hill (1938), aproxima uma hipérbole retangular relação força-comprimento para a ativação submá-
de encurtamento (Fig. 9.4). No alongamento, a força xima (Rack e Westbury, 1969) durante a fadiga e se-
desenvolve-se mais rapidamente com a velocidade, guindo a contração dinâmica. Contudo, e a fim de
192 PAAVO V. KOMI

Figura 9.23 Relação torque-velocidade


angular dos músculos extensores do
joelho de humanos em esforço voluntário
máximo (observações feitas por Westing e
colaboradores, 1990). Observe que a
força para as contrações excêntricas não
aumenta muito além da força isométrica
máxima. Tal resultado, para contrações
voluntárias, está em completo contraste
com as propriedades força-velocidade
tipicamente observadas por meio da
estimulação elétrica artificial e utilizadas
para modelos teóricos (ver exemplo na
Fig. 9.6).

fortalecer certos argumentos, admitiremos que as pro- tantes músculos para o salto) da rã foi maximizada
priedades musculares requeridas são conhecidas de ao se trabalhar na região de platô da relação força-
acordo com o seguinte: tem-se consciência que elas comprimento e pelo encurtamento do músculo em
não são totalmente compreendidas. uma velocidade que permite a produção de potência
Para muitas atividades esportivas, a produção de máxima (Fig. 9.24). A produção de potência máxima
potência de músculos específicos é de extrema im- para um encurtamento muscular pode ser diretamen-
portância para o desempenho. O sucesso em eventos te calculada de acordo com o modelo de Hill, intro-
como o lançamento de peso, disco ou dardo, a corri- duzido no início deste capítulo.
da de velocidade, o ciclismo ou a patinação depende A potência muscular (P) é definida como o pro-
da produção de potência muscular. Como a produ- duto da força pela velocidade (F·v). Portanto, para
ção de potência de um músculo ou grupamento determinada relação força-velocidade de um músculo,
muscular é maximizada? sua potência instantânea como função da velocidade
Em estudo sobre o salto das rãs (as rãs são exce- de ação, P(v), pode ser determinada pela ampla varie-
lentes saltadoras, definitivamente muito melhores que dade de velocidades de encurtamento (Fig. 9.24). Para
os humanos), Lutz e Rome (1993) referiram que, com muitas aplicações práticas, é interessante calcular em
exceção da coordenação e da ativação máxima, a pro- que velocidade de encurtamento a potência máxima
dução de potência nos semimembranáceos (impor- absoluta, P0, é alcançada.

Figura 9.24 Ilustração esquemática de


como se pode obter força e produção de
potência máximas durante a contração
muscular. (a) Trabalho nos arredores da
região de platô da relação força-
comprimento. (b) Trabalho em uma
velocidade constante de encurtamento
que maximiza a potência (i. e., cerca de
31% da velocidade máxima de
encurtamento). (c) Alongamento antes da
contração de encurtamento para
incrementar a força e a produção de
potência.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 193

Por definição: diretas, Lutz e Rome (1993) demonstraram que o se-


mimembranáceo da rã fez exatamente isso e, portan-
P(v) = F(v)v (46) to, estava em uma condição ótima para a produção
de potência durante o salto. Posteriormente, Lutz e
onde: Rome (1993) demonstraram que outros músculos da
rã envolvidos no salto também teriam que produzir
potência máxima, como o semimembranáceo, para
(47) explicar a extraordinária capacidade de salto desses
anfíbios.
e usando a equação de Hill (equação 3): O exemplo anterior, guardadas às devidas pro-
porções, pode ser transferido à realidade das ativida-
des esportivas humanas. Escolhemos o ciclismo de
(48) velocidade como exemplo. Imagine que o objetivo da
atividade seja pedalar 200 m no menor tempo possí-
vel com um início rápido. Esse é precisamente o even-
Percebe-se que dP(v)/dv deve ser zero para P(v) tor- to qualificatório e seletivo para atletas em eventos de
nar-se máxima (i. e., P0), tendo: velocidade na pista. Os melhores ciclistas do mundo
percorrem a distância de 200 m em cerca de 10 s
para homens e 11 s para mulheres.
(49) As regras do ciclismo de velocidade exigem que o
atleta tenha somente uma engrenagem dentada para a
prova de 200 m. Portanto, dependendo do raio da en-
Solucionando a equação (49) para a velocidade, vm, grenagem escolhida, o atleta tem de realizar um nú-
em que P0 ocorre, tem-se: mero precisamente conhecido de revoluções no pedal
para completar os 200 m. Por exemplo, muitos ciclis-
tas escolhem uma engrenagem com um raio que for-
(50) neça aproximadamente 8 m de translação para cada
revolução no pedal; então, 25 revoluções completas
Admitindo que as constantes termodinâmicas de Hill são necessárias para a prova de 200 m. Caso o ciclista
são bem aproximadas para uma variedade de tempe- queira fazer isso em 10 s (tempo de um atleta de nível
raturas por a = 0,25 F0 e b = 0,25 V0, podemos subs- internacional), são necessárias 2,5 revoluções por se-
tituir a e b na equação (50) e obter: gundo (ou 150 revoluções por minuto).
Para determinado raio da engrenagem e modelo
(51) de bicicleta, e admitindo que o ciclista permaneça
sentado durante a prova (o que eles normalmente
fazem), a amplitude de comprimento na qual os mús-
ou: culos da perna propulsora trabalham e a correspon-
dente velocidade de contração podem ser determi-
vm ≈ 0, 31v0 (52)
nadas. Para otimizar o comprimento muscular para a
tarefa de pedalar, a geometria da bicicleta (altura do
significando que a velocidade de encurtamento em banco, comprimento do pedal, etc.) pode ser ajusta-
que a potência muscular máxima pode ser produzida da; para otimizar a velocidade de contração com vis-
representa cerca de 31% da velocidade máxima de tas à produção de potência máxima, o raio da engre-
encurtamento. nagem pode ser modificado. Do ponto de vista teórico,
Portanto, caso se queira maximizar a produção há um modelo ótimo de bicicleta, uma postura óti-
de potência de um músculo em encurtamento, o ma do ciclista, bem como uma escolha ótima do raio
músculo deve estar em comprimento ótimo e encur- da engrenagem, de modo que se desenvolva a pro-
tar em velocidade de aproximadamente 31% de sua dução de potência muscular máxima (Yoshihuku e
velocidade máxima de encurtamento. Das medidas Herzog, 1990). No entanto, tal análise teórica não
194 PAAVO V. KOMI

ocorre sem dificuldades em sua aplicação. Por exem- tração, tais modelos não são normalmente emprega-
plo, a postura ótima para a produção de potência dos na análise do movimento humano, mas servem
máxima (pelas regras da Federação Internacional de como uma necessidade básica, como a identificação
Ciclismo, por exemplo, bicicletas reclinadas não são do encurtamento da fibra durante contração muscu-
permitidas) não é ideal em termos de resistência do lar. Nem mesmo foram considerados os modelos mus-
ar (Yoshihuku e Herzog, 1990). Além disso, as pro- culares relacionados à EMG, visto que estes são tipi-
priedades força-comprimento de músculos específi- camente baseados no modelo muscular de Hill
cos dos membros inferiores em ciclistas bem-treina- (discutido anteriormente) e na tentativa de relação
dos parecem diferir daquelas de pessoas “normais” entre EMG, condições contráteis e força. Infelizmen-
(não-ciclistas) (Herzog et al., 1991a), fato que deve te, a relação entre EMG e força no músculo em con-
ser considerado ao se especificar a postura do atleta tração dinâmica não tem sido modelada de forma bem-
na competição. O raio da engrenagem e, portanto, a sucedida, exceto quando se utiliza abordagens numé-
velocidade de encurtamento muscular também de- ricas de grande escala, tais como filtros adaptados
penderão da distribuição do tipo de fibra específico ou abordagem neural artificial (Savelberg e Herzog,
do atleta. Tudo isso leva à teoria de que o atleta com 1997; Liu et al., 1999).
maior quantidade de fibras de contração rápida nos São encontrados, no mínimo, dois problemas
principais músculos exigidos no ciclismo irá alcançar básicos quando se tenta aplicar modelos musculares
a produção de potência máxima em maior velocida- ao movimento humano.
de absoluta de encurtamento muscular do que o atle-
1 Muitas das propriedades musculares são conhe-
ta com predominância de fibras de contração lenta;
cidas apenas para condições experimentais específi-
logo, o raio da engrenagem deve ser menor para o pri-
cas. Por exemplo, a relação força-comprimento para
meiro, a fim de que a freqüência da pedalada, em pro-
um músculo isolado é facilmente derivada de uma
dução de potência máxima, seja maior no atleta com
sucessão de ações isométricas máximas em diferen-
maior predominância de fibras de contração rápida.
tes comprimentos. No entanto, não sabemos como
essa relação se altera para as contrações submáxi-
mas, na fadiga, após potencialização, em ações dinâ-
Comentários finais
micas, etc.
2 Normalmente, as propriedades musculares indi-
Inúmeros modelos musculares têm sido empre-
viduais são conhecidas por preparações musculares
gados em biomecânica para predizer a força e a pro-
isoladas e estimuladas de maneira artificial. As pro-
dução de potência dos músculos durante o movimen-
priedades atuais in vivo podem diferir consideravel-
to e em atividades esportivas. O modelo mais comum
mente daquelas determinadas artificialmente. Por
é o de Hill, tipicamente uma adaptação do trabalho
exemplo, a parte excêntrica da relação força-veloci-
clássico de Hill (1938) sobre relação força-velocida-
dade apresenta uma elevação abrupta da parte iso-
de do músculo em contração tetânica. No entanto,
métrica (i. e., velocidade de alongamento lenta) e al-
os modelos tipo Huxley e pontes cruzadas também
cança uma força pico de aproximadamente 1,5 a 2
têm sido utilizados, embora tipicamente quando co-
vezes a força isométrica máxima. No entanto, in vivo,
denominados de modelos de dois estágios, modelos
tal incremento da elevação abrupta da força excêntri-
em que as pontes cruzadas estão acopladas ou não-
ca desaparece, e os valores de 1,5 e 2 vezes a força
acopladas (Huxley, 1957). Os diferentes estados de
isométrica não têm sido observados. Mais do que isso,
acoplamento, como introduzido por Huxley e Sim-
a relação força excêntrica-velocidade parece ser plana
mons (1971), não têm sido considerados para a mo-
e alcança valores próximos às forças isométricas (Wes-
delação musculoesquelética, pois são entendidos
ting et al., 1990).
como matematicamente muito complexos (embora,
com a capacidade dos computadores atuais, as com- No entanto, com exceção desses problemas,
plexidades matemáticas não representem problemas pode-se referir que esses modelos e as propriedades
adicionais). Não consideramos qualquer modelo musculares individuais não são tão importantes para
muscular baseado na morfologia atual do músculo; a predição do desempenho esportivo, para a reco-
por sua deformação tridimensional durante a con- mendação do treinamento como um todo e para as
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 195

propriedades in vivo de todos os grupos musculares. Como as propriedades musculares


As curvas de força descrevem a relação das forças ou adaptam-se ao treinamento crônico?
os momentos em função dos ângulos articulares. As
curvas de força são conhecidas para muitos dos ân- Embora haja inúmeros estudos referentes às
gulos articulares no corpo humano (Kulig et al., 1984). adaptações da força muscular, elas são ignoradas aqui,
Elas são facilmente obtidas e descrevem a relação uma vez que existem tratados sobre o tópico. No en-
combinada força-comprimento, ativação-compri- tanto, as alterações associadas às adaptações das pro-
mento e momento-braço-comprimento dos grupos priedades funcionais musculares em função do trei-
de músculos, então, podem representar muito me- namento crônico não têm sido sistematicamente
lhor as necessidades da função muscular in vivo do estudadas em atletas. Mais por acidente do que por
que qualquer relação obtida através de estimulação delineamento, descobrimos, poucos anos atrás, que
artificial em preparações musculares isoladas. as propriedades força-comprimento do músculo reto
Todavia, apesar das dificuldades associadas à femoral de corredores e ciclistas possuem caracterís-
mecânica muscular e aos modelos de contração mus- ticas exatamente opostas. Em corredores, a relação
cular relacionados ao esporte, há uma carência in- força-comprimento apresenta inclinação positiva
justificada de considerações musculares no desen- (“braço” ascendente da relação força-comprimento),
volvimento do desempenho esportivo ou no treina- enquanto em ciclistas tem uma inclinação negativa
mento de atletas. Tradicionalmente, as considerações (“braço” descendente). A razão para essa adaptação
musculares direcionam-se à aquisição de força, isto foi associada a duas diferenças funcionais específi-
é, ao treinamento de força específico ao esporte. Do cas. Na corrida, o reto femoral é submetido a um ci-
nosso ponto de vista, as seguintes considerações mus- clo alongamento-encurtamento ativo e maiores for-
culares têm sido (praticamente) ignoradas e são dig- ças são necessárias em comprimentos musculares
nas de atenção. maiores. No ciclismo, o reto femoral somente encur-
ta ativamente e grandes forças são necessárias em
comprimentos musculares menores. Há inúmeras
Qual o papel funcional dos músculos em
razões para explicar essas diferenças nas proprieda-
determinadas atividades esportivas?
des força-comprimento. A mais óbvia (embora não
Por exemplo: em muitos esportes, não conhece- signifique que esteja correta) é existir uma adaptação
mos os aspectos mais básicos do funcionamento no número de sarcômeros dispostos em série. Em
muscular. Quando o músculo é alongado ou encur- nosso exemplo, seria esperado que os corredores pos-
tado em relação à sua ativação, à produção de força e suíssem mais sarcômeros em série no reto femoral
ao tempo relativo para a tarefa manual? Embora tais do que os ciclistas (Fig. 9.22). Portanto, para deter-
questões possam ser facilmente analisadas para mús- minado músculo e comprimento da fibra, o compri-
culos uniarticulares, a situação é mais complexa para mento médio do sarcômero para os corredores seria
os músculos multiarticulares. Uma vez que a relação menor do que para os ciclistas. Caso a diferença no
entre encurtamento/alongamento muscular, a ativa- número de sarcômeros seja grande o suficiente, po-
ção, a produção de força e o tempo relativo à tarefa deria bem ser, como observamos, que o reto femoral
sejam conhecidos, será um desafio relacionar essas dos corredores trabalhe predominantemente no “bra-
informações no nível do elemento contrátil (fibra), ço” ascendente, enquanto o dos ciclistas trabalha no
assim como é bem conhecido, particularmente para “braço” descendente da relação força-comprimento.
os músculos multiarticulares peniformes, que o alon- É interessante observar que a relação força-compri-
gamento/encurtamento dos músculos não reflete bem mento de pessoas normais (não-treinadas cronica-
a quantidade e o tempo do alongamento/encurtamen- mente) mantém-se entre os dois extremos observa-
to no nível do elemento contrátil (Hoffer et al., 1989; dos em corredores e ciclistas; isto é, ao redor da região
Griffiths, 1991). E, além disso, é (presumivelmente) o de platô (Herzog e ter Keurs, 1988).
comprimento do elemento contrátil, assim como a Esse resultado tem duas importantes mensagens
velocidade de contração, que determinam a produ- para os atletas de elite: (I) um triatleta (que corre e
ção de força (e o controle de feedback regulatório atra- pedala) nunca pode correr (ou pedalar) tão rápido
vés das vias de fuso muscular). como um atleta igualmente talentoso que treina a
196 PAAVO V. KOMI

mesma quantidade, mas enfatiza somente a corrida que, durante esforço máximo e atividade de alta ve-
(ou ciclismo), pois os músculos do triatleta não são locidade, alguns músculos podem não ser recruta-
capazes de se adaptar de forma tão eficiente à tarefa, dos de modo máximo. Assim deixam de contribuir
como os do especialista; (II) o cross-trainig* pode ser para a tarefa. Por exemplo, durante a corrida de velo-
positivo para os atletas de elite por inúmeras razões cidade, é provável que nem todos os músculos da
(prevenção de lesões, reabilitação, condicionamento perna contribuam de modo máximo. Portanto, pode
geral, relaxamento mental, etc.); no entanto, prova- ser útil enfatizar o treinamento dos músculos que não
velmente não seja bom para a adaptação muscular são recrutados ao máximo. A corrida a 80% da velo-
ótima a uma tarefa específica. cidade máxima pode ser muito boa para a capacida-
de de resistência e de condicionamento total de um
velocista, mas ser pouco efetiva para melhorar o tem-
Como funciona a divisão de forças** en-
po nos 100 m. No entanto, o treinamento em altas
tre os músculos sinergistas?
velocidades, ou próximo disso, ou mesmo acima da
As pesquisas experimentais realizadas em animais velocidade de corrida, pode somente ser feito em pe-
demonstram que a divisão de forças entre os múscu- ríodos muito curtos de tempo e limita a quantidade
los sinergistas não é sempre o que se pode suspeitar total de corrida. Uma pergunta de um treinador de
intuitivamente. Por exemplo, o princípio de tamanho velocidade seria: “Como posso estimular os múscu-
de recrutamento das unidades motoras pode ser man- los relevantes para a velocidade e como posso recru-
tido para músculos isolados como inicialmente de- tar as unidades motoras rápidas nesses músculos com
monstrado por Henneman e colaboradores (1965). esforço relativamente pequeno, de modo que eles e
No entanto, o princípio do tamanho não se mantém suas respectivas unidades motoras possam ser sub-
em músculos sinergistas. Por exemplo, no membro metidos a maiores cargas de trabalho?”. Sugere-se
traseiro do gato, o sóleo produz força durante postu- que movimentos rápidos com pouca resistência po-
ra em repouso, enquanto o gastrocnêmio medial pode dem precisamente realizar essa tarefa. Além disso, a
não estar ativado (Hodgson, 1983). Para o movimen- ação muscular excêntrica tem sido implicada no re-
to repetido de escavar ou raspar o solo, o contrário é crutamento de unidades motoras grandes e muito
correto: o gastrocnêmio medial produz maiores for- rápidas em intensidades de trabalho relativamente
ças, enquanto o sóleo não está ativado (Smith et al., baixas. Portanto, o treinamento excêntrico pode ser
1980; Abraham e Loeb, 1985). Isso representa rever- uma forma de fornecer maior carga de trabalho às
são completa da produção de força desses dois mús- unidades motoras e aos músculos que podem ser re-
culos e contradiz a idéia do recrutamento das unida- crutados apenas em velocidades ou esforços extre-
des motoras nos músculos de acordo com o princípio mos de contração (concêntrica). No entanto, fortes
do tamanho. Além disso, do ponto de vista funcio- evidências científicas demonstram que tal padrão de
nal, o sóleo do gato não produz trabalho durante a recrutamento inconfundível não é válido.
locomoção, enquanto o gastrocnêmio medial produz Uma maneira segura de recrutar grandes unida-
(Herzog e Leonard, 2001). Daí surgem as seguintes des motoras das fibras de contração rápida é pela ele-
questões: O que esses dois músculos fazem? Como troestimulação do nervo muscular correspondente.
eles respondem às exigências funcionais? E como Está bem estabelecido que as unidades motoras gran-
podem ser efetivamente treinados? des dispõem de axônios de maior diâmetro do que as
Os resultados desses experimentos com gatos, unidades motoras lentas (pequenas). O maior diâ-
quando transferidos para o atleta humano, implicam metro do axônio das unidades motoras rápidas, com-
parado ao das lentas, reduz a resistência elétrica. Por-
tanto, quando o nervo muscular é eletricamente
estimulado, os axônios motores maiores, pertencen-
*N.
tes às unidades motoras grandes e rápidas, tendem a
de R.T. Relativo ao treino concorrente.
**N. de R.T. Relativo à distribuição das forças, requeridas em ser recrutados preferencialmente em baixa corrente
determinada tarefa motora, entre os músculos sinergistas seja de estimulação. A eletroestimulação muscular pode
a tarefa funcional ou esportiva. representar uma maneira fácil de “treinar” as unida-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 197

des motoras rápidas sem grande esforço muscular tetanic contractions of vertebrate skeletal muscle fibres.
total. Journal of Physiology 281, 139-155.
Resumindo, existem inúmeras possibilidades de Edman, K.A.P., Elzinga, G. & Noble, M.I.M. (1982) Resi-
aplicação da pesquisa muscular, das propriedades dual force enhancement after stretch of contracting frog
single muscle fibers. Journal of General Physiology 80,
musculares, bem como da adaptação muscular rela-
769-784.
cionada ao treinamento e ao desempenho esportivo. Edman, K.A.P., Caputo, C. & Lou, F. (1993) Depression of
No entanto, pouca pesquisa sistemática tem sido de- tetanic force induced by loaded shortening of frog
senvolvida na área. Parece que a pesquisa muscular e muscle fibres. Journal of Physiology 466, 535-552.
a ciência do esporte são separadas uma da outra. Eisenberg, E. & Greene, L.E. (1980) The relation of muscle
Qualquer reconciliação parece difícil. O motivo pelo biochemistry to muscle physiology. Annual Review of
qual a ciência do esporte evoluiu sem muita consi- Physiology 42, 293-309.
deração em relação à mecânica muscular não está Eisenberg, E., Hill, T.L. & Chen, Y.D. (1980) Crossbridge
claro. Há uma ampla variedade de possibilidades de model of muscle biochemistry to muscle contraction:
quantitative analysis. Biophysical Journal 29, 195-227.
pesquisa conectando a ciência do esporte com a pes-
Feynman, R.P., Leis, A.A. & Sands, M. (1966) The Feynman
quisa muscular básica. Espera-se que algumas das Lectures in Physics. Addison-Wesley, Reading, MA.
possibilidades aqui mencionadas sejam sistematica- Finer, J.T., Simmons, R.M. & Spudich, J.A. (1994) Single
mente exploradas no futuro. myosin molecule mechanics: piconewton forces and
nanometre steps. Nature 368, 113-119.
Forcinito, M., Epstein, M. & Herzog, W. (1997) Theoreti-
cal considerations on myofibril stiffness. Biophysical Jour-
Referências
nal 72, 1278-1286.
Ford, L.E., Huxley, A.F. & Simmons, R.M. (1977) Tension
Abbott, B.C.& Aubert, X.M. (1952) The force exerted by responses to sudden length change in stimulated frog
active striated muscle during and after change of length. muscle fibers near slack length. Journal of Physiology 269,
Journal of Physiology 117, 77-86. 441-515.
Abbott, B.C. & Wilkie, D.R. (1953) The relation between Funatsu, T., Harada, Y., Tokunaga, M., Saito, K. & Yanagi-
velocity of shortening and the tension-length curve of da, T. (1995) Imaging of single fluorescent molecules
skeletal muscle. Journal of Physiology 120, 214-223. and individual ATP turnovers by single myosin mole-
Abraham, L.D. & Loeb, G.E. (1985) The distal hindlimb cules in aqueous solution. Nature 374, 555-559.
musculature of the cat. Experimental Brain Research 58, Gasser, H.S. & Hill, A.V. (1924) The dynamics of muscular
580-593. contraction. Proceedings of the Royal Society of London
Astumian, R.D. (1997) Thermodynamics and kinetics of a Series B 96, 398-437.
Brownian motor. Science 276, 917-922. Gordon, A.M., Huxley, A.F. & Julian, F.J. (1966) The varia-
Astumian, R.D. & Bier, M. (1996) Mechanochemical cou- tion in isometric tension with sarcomere length in ver-
pling of the motion of molecular motors to ATP hydro- tebrate muscle fibres. Journal of Physiology 184, 170-192.
lysis. Biophysical Journal 70, 637-653. Granzier, H.L.M. & Pollack, G.H. (1989) Effect of active
Block, S.M. (1995) One small step for myosin. Nature 378, pre-shortening on isometric and isotonic performance
132-133. of single frog muscle fibres. Journal of Physiology 415,
Chandrasekhar, S. (1943) Stochastic problems in physics 299-327.
and astronomy. Reviews of Modern Physics 15, 1-89. Griffiths, R.I. (1991) Shortening of muscle fibres during stretch
Cooke, R., White, H. & Pate, E. (1994) A model of the relea- of the active cat medial gastrocnemius muscle: the role of
se of myosin heads from actin in rapidly contracting tendon compliance. Journal of Physiology 436, 219-236.
muscle fibers. Biophysical Journal 66, 778-788. Henneman, E., Somjen, G. & Carpenter, D.O. (1965) Func-
Derenyi, I. & Vicsek, T. (1996) The kinesin walk: a dyna- tional significance of cell size in spinal motoneurons.
mic model with elastically coupled heads. Proceedings of Journal of Neurophysiology 28, 560-580.
the National Academy of Sciences of the United States of Ame- Herzog, W. (1998) History dependence of force production
rica 93, 6775-6779. in skeletal muscle: a proposal for mechanisms. Journal
Derenyi, I. & Vicsek, T. (1998) Realistic models of biologi- of Electromyography and Kinesiology 8, 111-117.
cal motion. Physica A 249, 397-406. Herzog, W. & ter Keurs, H.E.D.J. (1988) Force-length rela-
Edman, K.A.P., Elzinga, G. & Noble, M.I.M. (1978) Enhan- tion of in-vivo human rectus femoris muscles. Pflügers
cement of mechanical performance by stretch during Archiv, European Journal of Physiology 411, 642-647.
198 PAAVO V. KOMI

Herzog, W. & Leonard, T.R. (2001) A new mechanism for in Physics (eds S.C. Müller, J. Parisi & W. Zimmermann),
force enhancement following stretch for skeletal mus- pp. 46-74. Springer-Verlag, Berlin.
cle. Proceedings of the Society for Experimental Biology An- Julicher, F., Ajdari, A. & Prost, J. (1997) Modeling molecu-
nual Meeting 33, University of Canterbury, Kent. lar motors. Reviews of Modern Physics 69, 1269-1281.
Herzog, W., Guimaraes, A.C.S., Anton, M.G. & Carter- Katz, B. (1939) The relation between force and speed in
Erdman, K.A. (1991a) Moment-length relations of rec- muscular contraction. Journal of Physiology 96, 45-64.
tus femoris muscles of speed skaters /cyclists and run- Keller, D. & Bustamante, C. (2000) The mechanochemistry
ners. Medicine and Science in Sports and Exercise 23, 1289- of molecular motors. Biophysical Journal 78, 541-556.
1296. Kojima, H., Ishijima, A. & Yanagida, T. (1994) Direct mea-
Herzog, W., Read, L.J. & ter Keurs, H.E.D.J. (1991b) Expe- surement of stiffness of single actin filaments with and
rimental determination of force-length relations of in- without tropomyosin by in vitro nanomanipulation.
tact human gastrocnemius muscles. Clinical Biomecha- Proceedings of the National Academy of Sciences of the United
nics 6, 230-238. States of America 91, 12962-12966.
Herzog, W., Leonard, T.R., Renaud, J.M., Wallace, J., Chaki, Kramers, H.A. (1940) Brownian motion in a field of force
G. & Bornemisza, S. (1992) Force-length properties and and the diffusion theory of chemical reactions. Physica
functional demands of cat gastrocnemius, soleus and 7, 284-304.
plantaris muscles. Journal of Biomechanics 25, 1329-1335. Kulig, K., Andrews, J.G. & Hay, J.G. (1984) Human streng-
Hill, AN. (1938) The heat of shortening and the dynamic th curves. In: Exercise and Sport Sciences Reviews, Vol. 12
constants of muscle. Proceedings of the Royal Society of (ed. R.L. Terjung), pp. 417-466. The Collamore Press,
London 126, 136-195. Lexington, MA.
Hill, A.V. (1970) First and Last Experiments in Muscle Mecha- Liu, M.M., Herzog, W. & Savelberg, H.C.M. (1999) Dyna-
nics. Cambridge University Press, Cambridge. mic muscle force predictions from EMG: an artificial
Hodgson, J.A. (1983) The relationship between soleus and neural network approach. Journal of Electromyography and
gastrocnemius muscle activity in conscious cats — a Kinesiology 9, 391-400.
model for motor unit recruitment? Journal of Physiology Lutz, G.J. & Rome, L.C. (1993) Built for jumping: The de-
337, 553-562. sign of the frog muscular system. Science 263, 370-372.
Hoffer, J.A., Caputi, A.A., Pose, I.E. & Griffiths, R.I. (1989) Magnasco, M.O. (1993) Forced thermal ratchets. Physical
Roles of muscle activity and load on the relationship Review Letters 71, 1477-1480.
between muscle spindle length and whole muscle length Mai, M.T. & Lieber, R.L. (1990) A model of semitendino-
in the freely walking cat. In: Progress in Brain Research sus muscle sarcomere length, knee and hip joint inte-
(eds J.H.H. Allum & M. Hulliger), pp. 75-85. Elsevier raction in the frog hindlimb. Journal of Biomechanics 23,
Science Publishers B.V., Amsterdam. 271-279.
Huxley, A.F. (1957) Muscle structure and theories of con- Maréchal, G. & Plaghki, L. (1979) The deficit of the isome-
traction. Progress in Biophysics and Biophysical Chemistry tric tetanic tension redeveloped after a release of frog
7, 255-318. muscle at a constant velocity. Journal of General Physiolo-
Huxley, H.E. (1969) The mechanism of muscular contrac- gy 73, 453-467.
tion. Science 164, 1356-1366. Mcquarrie, D.A. (1976) Statistical Mechanics. Harper & Row,
Huxley, H.E. & Hansen, J. (1954) Changes in cross-stria- New York.
tions of muscle during contraction and stretch and their Molloy, J.E., Burns, J.E., Kendrick-Jones, J., Tregear, R.T. &
structural implications. Nature 173, 973-976. White, D.C.S. (1995) Movement and force produced by
Huxley, A.F. & Niedergerke, R. (1954) Structural changes a single myosin head. Nature 378, 209-212.
in muscle during contraction. Interference microscopy Nishizaka, T., Miyata, H., Yoshikawa, H., Ishiwata, S. &
of living muscle fibres. Nature 173, 971-973. Kinosita, K.J. (1995) Unbinding force of a single motor
Huxley, A.F. & Simmons, R.M. (1971) Proposed mecha- molecule of muscle measured using optical tweezers.
nism of force generation in striated muscle. Nature 233, Nature 377, 251-254.
533-538. Podolsky, R.J. (1960) Kinetics of muscular contraction: the
Iwazumi, T. (1979) A new field theory of muscle contraction. approach to the steady state. Nature 188, 666-668.
In: Crossbridge Mechanism in Muscle Contraction (eds H. Pollack, G.H. (1995) Muscle contraction mechanism: are
Sugi & G.H. Pollack), pp. 611-632. University of Tokyo alternative engines gathering steam. Cardiovascular Re-
Press, Tokyo. search 29, 737-746.
Julicher, F. (1999) Force and motion generation of molecu- Rack, P.M.H. & Westbury, D.R. (1969) The effects of length
lar motors: a generic description. In: Transport and Struc- and stimulus rate on tension in the isometric cat so-
ture in Biophysical and Chemical Phenomena. Lecture Notes leus muscle. Journal of Physiology 204, 443-460.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 199

Ramsey, R. W. & Street, S.F. (1940) The isometric length- Westing, S.H., Seger, J.Y. & Thorstensson, A. (1990) Effects
tension diagram of isolated skeletal muscle fibers of the of electrical stimulation on eccentric and concentric
frog. Journal of Cellular Composition 15, 11-34. torque-velocity relationships during knee extension in
Rayment, L, Holden, H.M., Whittaker, M. et al. (1993) Struc- man. Acta Physiologica Scandinavica 140, 17-22.
ture of the actin-myosin complex and its implications Woledge, R.C., Curtin, N.A. & Homsher, E. (1985) Energe-
for muscle contraction. Science 261, 58-65. tic Aspects of Muscle Contraction. Academic Press, London.
Savelberg, H.C.M. & Herzog, W. (1997) Prediction of dy- Yanagida, T. (1999) Simultaneous observation of individu-
namic tendon forces from electromyographic signals: al ATPase and mechanical events by a single myosin
an artificial neural network approach. Journal of Neuros- molecule during interaction with actin (ed. W. Herzog).
cience Methods 78, 65-74. Canmore Symposium on Skeletal Muscle, p. 22. Canmore,
Smith, J.L., Betts, B., Edgerton, V.R. & Zernicke, R.F. (1980) Alberta.
Rapid ankle extension during paw shakes: selective re- Yoshihuku, Y. & Herzog, W. (1990) Optimal design para-
cruitment of fast ankle extensors. Journal of Neurophy- meters of the bicycle-rider system for maximal muscle
siology 43, 612-620. power output. Journal of Biomechanics 23, 1069-1079.
Spudich, J.A. (1994) How molecular motors work. Nature Zahalak, G.I. (1997) Can muscle fibers be stable on the
372, 515-518. descending limbs of their sarcomere length-tension
Sugi, H. & Tsuchiya, T. (1988) Stiffness changes during relations? Journal of Biomechanics 30, 1179-1182.
enhancement and deficit of isometric force by slow Zahalak, G.I. & Ma, S.-P. (1990) Muscle activation and
length changes in frog skeletal muscle fibres. Journal of contraction: constitutive relations based directly on
Physiology 407, 215-229. cross-bridge kinetics. Journal of Biomechanical Engineering
Suter, E. & Herzog, W. (1997) Extent of muscle inhibition 112, 52-62.
as a function of knee angle. Journal of Electromyography Zahalak, G.I. & Motabarzadeh, I. (1997) A re-examination
and Kinesiology 7, 123-130. of calcium activation in the Huxley cross-bridge mo-
Svoboda, K., Schmidt, B., Schnapp, B.J. & Block, S.M. (1993) del. Journal of Biomechanical Engineering 119, 20-28.
Direct observation of kinesin stepping by optical trap- Zhou, H. & Chen, Y. (1996) Chemically driven motility of
ping interferometry. Nature 365, 721-727. Brownian particles. Phy Rev Lett 77, 194-197.
Capítulo 10
Ciclo alongamento-encurtamento
PAAVO V. KOMI

A natureza do ciclo alongamento- o alongamento. Essa combinação de ações excêntri-


encurtamento cas e concêntricas forma um tipo natural de função
muscular denominado ciclo alongamento-encurta-
No Capítulo 1, os exercícios musculares foram mento, ou CAE (Norman e Komi, 1979; Komi, 1984;
primariamente classificados como estáticos ou dinâ- Komi, 2000) (Fig. 10.1). Esse tipo de seqüência na
micos. A classificação da Tabela 1.1 (p. 19) não pode, função muscular também envolve importantes ca-
no entanto, ser aplicada para descrever a forma natu- racterísticas de pré-ativação e de ativação variáveis. A
ral da função muscular. É difícil estimar a real natu- função muscular CAE possui um propósito bem re-
reza da função muscular a partir de formas isoladas conhecido: desenvolvimento do desempenho na fase
das ações isométrica, concêntrica ou excêntrica. Na final (ação concêntrica) quando comparado à ação
vida real, o exercício raramente envolve uma forma concêntrica isolada. Isso pode ser demonstrado em
pura desses tipos de ações musculares isoladas. A preparações isoladas com estimulação elétrica cons-
variação natural da função muscular é geralmente tante (Cavagna et al., 1965; Cavagna et al., 1968), em
representada por um ciclo de alongamento e encur- experimentos animais com ativação muscular natu-
tamento. Esse modelo fornece uma boa base ao es- ral e variável (Gregor et al., 1988) e em condições de
tudo do músculo normal, assim como do fatigado. esforço máximo em ações CAE de humanos (Cavagna
Dois importantes aspectos desse fenômeno são: et al., 1968; Komi, 1983). A Figura 10.2 demonstra a
(I) pré-ativação e (II) ativação variável dos músculos potencialização da força no CAE em extensões do
que precede a fase funcional de determinado movi- joelho em modelos humanos quando a transição*
mento (p. ex., contato com o solo para os músculos entre o alongamento e o encurtamento é variada. A
extensores do joelho durante a corrida). Outros con- força é claramente potencializada na fase concêntri-
ceitos importantes que carecem de análise são as ca quando não é permitido atraso na fase de transi-
alterações do comprimento do músculo versus do ten- ção. Nas condições demonstradas na Figura 10.2, a
dão durante a fase de contato, além do papel do re- ativação eletromiográfica (EMG) máxima foi manti-
flexo de estiramento no ciclo alongamento-encurta- da durante as ações. Esforço considerável busca ex-
mento. plicar os mecanismos referentes à potencialização
O ciclo alongamento-encurtamento (CAE) da dessa força e da potência no CAE. Cavagna e colabo-
função muscular origina-se da observação de que os radores (1965) foram os primeiros a mencionar que
segmentos corporais são periodicamente submetidos esse incremento surge primariamente de energia
a forças de impacto ou de estiramento. A corrida, a elástica estocada. Desde então, muitas explicações
caminhada e o salto são exemplos típicos na loco- alternativas adicionais têm sido apresentadas
moção humana de como as forças externas (p. ex., (p. ex.,Huijing, 1992; Komi e Gollhofer, 1997; van
gravidade) induzem ao alongamento muscular. Nes-
sa fase de alongamento, o músculo age excentrica-
mente. Depois, ocorre uma ação concêntrica (encur-
tamento). A verdadeira definição de ação excêntrica *N.de R.T. Relativo à transição da fase excêntrica para a fase
indica que os músculos devem ser ativados durante concêntrica no CAE.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 201

Figura 10.1 Na caminhada, sorrida e


saltos realizados por humanos, há
considerável sobrecarga de impacto ao
contato com o solo. Isso requer a pré-
ativação dos músculos extensores das
extremidades inferiores antes do contato
com o solo, para que eles resistam ao
impacto (a) na fase ativa de contato com
o solo (b). A fase de estiramento é
acompanhada por uma ação de
encurtamento (concêntrica) (c) (adaptada
de Komi, 1984).
*N. de R.T. Estiramento e alongamento são conside-

rados sinônimos ao longo do presente texto.

Ingen-Schenau et al., 1997). No entanto, nenhuma A apresentação esquemática da Figura 10.1 con-
evidência convincente que refute a elasticidade como sidera o pressuposto comum de que, no CAE, os ele-
um importante elemento na potencialização da força mentos contráteis e tênsis são alongados na fase ex-
durante o CAE foi apresentada. cêntrica. No entanto, argumentos sugerem que o

Figura 10.2 A demonstração da importância do tempo de transição reduzido entre as fases excêntrica e concêntrica para a
potencialização do desempenho na fase concêntrica do CAE. Direito, ação concêntrica pura de extensão do joelho de 100° até 175°.
Centro, a ação concêntrica é precedida por uma ação excêntrica (–), mas nenhum atraso é permitido quando o tipo de ação é
alterado do estiramento para o encurtamento. A fase excêntrica (estiramento) inicia-se na metade do movimento de 175° (o joelho
em posição estendida) para 90°. Observe a clara potencialização da força na fase concêntrica (+) quando comparada à condição na
figura da direita. Esquerdo, um atraso mais longo (0,9 s) foi permitido entre as fases excêntrica e concêntrica. O efeito de
potencialização na fase concêntrica foi reduzido. A ativação EMG máxima foi mantida em todas as condições (de Komi, 1983).
202 PAAVO V. KOMI

componente contrátil pode manter um comprimen- tância máximo foi realizado sem nenhum tipo de des-
to constante (Hoff et al., 1983; Belli e Bosco, 1992) conforto (Kyröläinen et al., 1989). A Figura 10.3 apre-
ou mesmo reduzido (Griffiths, 1991) durante a im- senta um registro típico obtido durante a corrida em
portante fase inicial de contato com o solo. Todavia, velocidade moderada. Existem várias características
como demonstrado na Figura 10.12, os fascículos que importantes a serem observadas nessa situação. Pri-
primariamente representam o tecido contrátil podem meiro, as alterações no comprimento musculotendí-
alongar e encurtar, respectivamente, nas fases de alon- neo são muito pequenas (6 a 7%) na fase de alonga-
gamento e de encurtamento do CAE. mento. Isso sugere que as condições favorecem a
Este capítulo revisa trabalhos referentes às ações potencial utilização da rigidez elástica de curta varia-
musculares do CAE especialmente realizados em ção (SRES) no músculo (Rack e Westbury, 1974).
modelos humanos. Também, compreensivelmente, Várias alterações de comprimento são registradas na
grande parte dos trabalhos referidos são de nosso literatura, demonstrando que a variação do SRES em
próprio laboratório. Com a limitação de viés e abor- preparações in vivo é de 1 a 4% (Huxley e Simmons,
dagem parcialmente subjetivas, o capítulo enfatiza a 1971; Ford et al., 1978). No tendão muscular intacto,
demonstração — com técnicas de mensuração in vivo in vivo, esse valor aumenta devido à elasticidade serial
— da natureza de recuo do CAE e como os reflexos e à geometria da fibra serem consideradas. Tal situa-
de estiramento desempenham importante papel na ção poderia, então, aumentar o comprimento mus-
potencialização da força. O material apresentado culotendíneo em 6 a 8%. Os valores podem ser na-
constitui uma extensão de nossos trabalhos anterio- turalmente menores quando as medidas são feitas no
res relacionados ao tópico (Komi, 1990; Komi, 1992; nível da fibra muscular, como demonstrado por Ro-
Komi, 2000; Komi e Gollhofer, 1997; Komi e Nicol, berts e colaboradores (1997) em perus correndo no
2000). plano.
Verificam-se alterações de comprimento do seg-
mento nos músculos gastrocnêmio e sóleo nas fases
Uso de medidas de força in vivo de alongamento e de encurtamento do CAE, as quais
para caracterizar o CAE na representam uma segunda característica importante
locomoção humana apresentada na Figura 10.3. Isso é típico para a corri-
da e para o salto e tem importância considerável em
Duas técnicas podem ser aplicadas para registrar virtude das medidas de força tomadas no transdutor
diretamente e in vivo as forças dos tendões em mode- de deformação inserido no tendão comum dos dois
los humanos: método transdutor de deformação e músculos. A situação não é tão simples em algumas
técnica de fibra ótica. outras atividades, como pedalar em bicicleta (Gregor
et al., 1991), nas quais as alterações de comprimento
Método transdutor de deformação estão fora da fase nos dois músculos. Uma terceira
característica importante do exemplo apresentado na
Desses métodos, a técnica de deformação é mais Figura 10.3 é o fato de a forma da curva de força do
invasiva e tem sido aplicada exclusivamente para o TC assemelhar-se àquela do quique da bola, impli-
registro da força do tendão do calcâneo (TC) (Komi cando eficiente potencialização da força.
et al., 1987b; Komi, 1990; Fukashiro et al., 1993; A técnica de deformação introduziu o compor-
Fukashiro et al., 1995). O transdutor de deformação tamento básico do complexo TC-tríceps sural hu-
é cirurgicamente implantado ao redor do TC sob mano em atividades caracterizadas pelo CAE (Komi,
anestesia local, e o sujeito é capaz de realizar 2 a 3 1990; Fukashiro et al., 1993). Surpreendentemente,
horas de locomoção irrestrita que inclui caminhada, a técnica revelou pequena, mas significativa, ação do
corrida (em diferentes velocidades), salto e salto em CAE dos músculos gastrocnêmio e sóleo ao pedalar
profundidade.* Em alguns casos, até o salto em dis- a bicicleta (Gregor et al., 1991). Os métodos também
forneceram a base da análise instantânea da curva
força-velocidade em atividades do CAE em animais
*N. de R.T. Relativo ao salto com queda, no qual o CAE é (Gregor et al., 1998) e em humanos (ver exemplo na
intensificado. Fig. 10.7).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 203

Figura 10.3 Demonstração do


ciclo alongamento-encurtamento
(CAE) para o músculo tríceps sural
na fase de contato com o solo
(funcional) da corrida humana.
Parte superior, posição
esquemática representando as três
fases do CAE apresentadas na
Figura 10.1. As demais curvas
representam parâmetros na
seguinte ordem (de cima para
baixo): registros EMG de superfície
retificados dos músculos tibial
anterior, gastrocnêmio e sóleo;
alterações segmentais do
comprimento dos dois músculos
flexores plantares; força de reação
do solo (componente vertical);
força do tendão do calcâneo
diretamente registrada; e força de
reação do solo (componente
horizontal). A linha vertical
determina o início do contato dos
pés com a plataforma de força. O
sujeito estava correndo em
velocidade moderada (de Komi,
1992).

O método transdutor de deformação é natural- Técnica de fibra ótica


mente muito invasivo e pode tornar-se alvo de obje-
ções dos comitês éticos em experimentos com mo- Método alternativo, a técnica de fibra ótica foi
delos humanos. Uma desvantagem adicional refere-se recentemente desenvolvida para superar algumas das
ao fato de, após as medidas, ser necessário um longo desvantagens do método transdutor de deformação.
período de cicatrização antes da locomoção normal. Como esse método não é amplamente utilizado, mas
204 PAAVO V. KOMI

pode ser muito bem aplicado ao estudo das ativida- A Figura 10.5 demonstra como a fibra ótica é in-
des do CAE, é apropriado explicá-lo em detalhes neste serida no tendão. Uma agulha calibre 19 é inicial-
capítulo. mente passada através do tendão (a). A fibra ótica
Da mesma forma que para o método de defor- estéril passa então pela agulha; a agulha é removida,
mação, essa nova técnica de fibra ótica foi inicialmente e a fibra permanece in situ (b). Ambas as extremida-
aplicada aos tendões em modelos animais (Komi des da fibra são fixadas à unidade de transmissão-
et al., 1996). A diferença refere-se ao fato de ter sido recebimento, e o sistema fica pronto para a medida.
anteriormente aplicada com sucesso como transdu- Em geral, o procedimento de calibração apresenta uma
tor de pressão em aplicações sensíveis à pele (Boc- boa relação linear entre a força externa e o sinal da
quet e Noel, 1987) e para mensurar a pressão plantar fibra ótica. A Figura 10.6 traz um exemplo representa-
em diferentes fases do esqui cross-country (Candau et tivo de tal relação para as medidas do tendão patelar.
al., 1993). Esse foi o último trabalho que teve a cola- O método de fibra ótica tem várias vantagens sin-
boração do Dr. Alain Belli, da França, no desenvolvi- gulares, embora não pareça mais preciso que o trans-
mento do método como um transdutor de força do dutor de deformação. Primeiramente, é muito me-
tendão (Komi et al., 1996). A mensuração é baseada nos invasivo e pode ser reaplicado ao mesmo tendão
na modulação da intensidade de luz pela modifica- após poucos dias de repouso. Além disso, quase to-
ção mecânica das propriedades geométricas da fibra dos os tendões podem ser estudados desde que o raio
plástica. A estrutura das fibras óticas utilizadas em crítico de encurvamento não seja excedido. A técnica
experimentos animais e humanos (Komi et al., 1996; de fibra ótica pode ser aplicada para medir a sobre-
Arndt et al., 1998; Finni et al., 1998; Finni et al., 2000) carga de vários ligamentos. Nas mãos de um cirur-
consiste de duas camadas de cilindros de polímeros gião experiente, a fibra ótica pode ser inserida em li-
com pequenos diâmetros. Diante de encurvamento gamentos profundos, como o talofibular anterior (Alt
ou compressão da fibra, a luz pode ser reduzida li- et al., 2002). Nesse caso, no entanto, deve-se ter cui-
nearmente com a pressão. Assim, a sensibilidade dado especial para assegurar que a fibra ótica esteja
passa a depender do índice da fibra, da sua rigidez e/ somente em contato com o ligamento e preservada
ou das características de encurvamento do raio. A da interação com outras estruturas teciduais moles
Figura 10.4 caracteriza o princípio da modulação da por cateteres.
luz na fibra de duas camadas (central e periférica)
quando o diâmetro da fibra é comprimido por força
externa. As camadas central e externa são deforma- A mecânica muscular e a
das. Com isso, determinada quantidade de luz é trans- potencialização do desempenho
ferida por meio da interface central e periférica. Para no CAE
evitar o efeito puro do encurvamento da fibra, esta,
quando inserida ao tendão (Fig. 10.5), deve ter curva A natureza real da potencialização da força du-
grande o suficiente para exceder o raio crítico de en- rante o CAE pode ser observada pela computação
curvamento. das curvas instantâneas força-comprimento e força-

Figura 10.4 Demonstração do princípio


básico após a compressão na fibra ótica
(esquerda); produz microarqueamento
(direita) e menos luz atravessa a interface
central e periférica (de Alt et al., 2002).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 205

Figura 10.5 Demonstração da inserção de fibra ótica no tendão. (a) Após a agulha de calibre 19 ter sido inserida no tendão, a
fibra ótica de 5 mm de espessura é colocada na agulha. A agulha é, então, removida, a fibra ótica permanece in situ no tendão (b) e
ambas as extremidades da fibra são conectadas à unidade de transmissão-recebimento. (c) Em situações reais de mensuração, essa
unidade é muito pequena e pode ser fixada na pele sobre os músculos da perna.
206 PAAVO V. KOMI

velocidade dos parâmetros demonstrados na Figura


10.3. A Figura 10.7 apresenta os resultados de tais
análises na corrida de velocidade e considera somen-
te a fase funcional de contato com o solo. É impor-
tante notar que a curva força-velocidade demonstra
desenvolvimento muito pronunciado da força na fase
de alongamento, caracterizada pela alteração muito
pequena no comprimento muscular. O lado direito
da figura demonstra a comparação força-velocidade
instantânea computada, sugerindo elevada potenci-
alização na fase de encurtamento (ação concêntrica).
Por sua vez, a Figura 10.8 apresenta exemplos de aná-
lises EMG-comprimento e EMG-velocidade para a
corrida moderada. Claramente, demonstra que os
níveis de ativação muscular são variáveis e primaria-
mente concentrados na fase excêntrica do ciclo. É
importante que isso seja considerado na comparação
entre as ações CAE que ocorrem naturalmente e aque-
las obtidas em preparações musculares isoladas e em
níveis constantes de ativação por meio do ciclo.
A clássica relação força-velocidade (Hill, 1938)
descreve as propriedades mecânicas fundamentais do
Figura 10.6 Mensuração das forças e do braço-momento para músculo esquelético (ver Capítulo 9). Sua aplicação
a calibração da força do tendão patelar (FTP). Os resultados da direta à locomoção natural, tal como o CAE, pode,
fibra ótica foram relacionados à força do músculo (F) convertida
da força externa produzida (F) pela equação Fd = Fd’, onde d no entanto, ser difícil devido à necessidade de prepa-
representa o braço-momento da força do tendão e d’ o braço- rações in situ utilizarem ativação máxima constante.
momento dos pés ou pernas (de Finni et al., 2000). Quando a curva força-velocidade foi mensurada in

Figura 10.7 Curvas força-comprimento e força-velocidade instantâneas do músculo gastrocnêmio para o ciclo alongamento-
encurtamento quando o sujeito corre em alta velocidade (9 m·s–1). A deflexão superior significa estiramento (ação excêntrica),
enquanto a inferior, encurtamento (ação concêntrica) dos músculos durante o contato com o solo. O eixo horizontal derivou das
alterações segmentares de comprimento de acordo com Grieve e colaboradores (1978) (de Komi, 1992).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 207

Figura 10.8 Curvas instantâneas EMG-comprimento e EMG-velocidade do músculo sóleo para o ciclo alongamento-encurtamento
quando o sujeito corre em velocidade moderada. A seta indica a maneira como os eventos passam do alongamento para o
encurtamento na fase de contato. Observe que a atividade EMG é primariamente concentrada na fase excêntrica do ciclo. Compare
esses padrões EMG aos da EMG retificada da Figura 10.3.

vivo durante o CAE (Fig. 10.7), observou-se uma cla- Fukashiro et al., 1993). Quando a intensidade do salto
ra demonstração de que as curvas são muito pouco aumenta ou este é alterado para um salto do tipo con-
similares às curvas clássicas obtidas em uma ação tramovimento, a força do tendão patelar aumenta, e
concêntrica pura com preparações musculares isola- a força do TC pode diminuir (Finni et al., 2001a). O
das (Hill, 1938) ou com os flexores do antebraço em tipo clássico de curva obtido com ativação máxima
humanos (Wilkie, 1950; Komi, 1973). A Figura 10.7 constante para determinada ação concêntrica isola-
sugere considerável potencialização da força, embo- da é também sobreposto no mesmo gráfico com a
ra não apresente diretamente a comparação da curva força do TC (Fig. 10.9a). A área sombreada entre as
força-velocidade para a fase concêntrica final (fase duas curvas do TC sugere potencialização remarca-
final do apoio) com a curva clássica. Infelizmente, o da da força para esse esforço submáximo. Deve-se
experimento humano demonstrado na Figura 10.7 enfatizar que essas comparações de desempenho têm
não inclui registros comparativos obtidos de manei- de ser feitas entre o CAE submáximo e a ação con-
ra clássica. Todavia, nosso recente desenvolvimento cêntrica máxima isolada.
de medidas in vivo com a técnica de fibra ótica (Komi A técnica de medida in vivo para os humanos tem
et al., 1995) serve, agora, para obter essas compara- de ser desenvolvida após experimentos com animais
ções (Finni et al., 1998; Fig. 10.9). (Sherif et al., 1983). Grande parte dos estudos com
Esses experimentos recentes com a técnica de fi- modelos animais inclui parâmetros similares aos uti-
bra ótica, embora ainda não realizados em altas velo- lizados em nossos estudos com humanos, tais como
cidades de corrida, sugerem potencialização similar. comprimento muscular, força e EMG. Os registros
O lado esquerdo da Figura 10.9 apresenta curvas si- mais relevantes para comparação com nossos expe-
multâneas para as forças patelares e para as forças rimentos com humanos são os de Gregor e colabo-
atuantes no TC durante o salto. Os registros signifi- radores (1988), que mediram a carga mecânica no
cam que no salto de contato curto,* o músculo trí- músculo sóleo do gato durante a locomoção em es-
ceps sural comporta-se com uma ação do tipo qui- teira rolante. Nesse estudo, os resultados indicaram
que da bola (ver também Fukashiro e Komi, 1987; que a força gerada em determinada velocidade de en-
curtamento na fase final do apoio foi maior, especial-
mente em maiores velocidades de locomoção, do que
*N. de R.T. Ocorrido, por exemplo, no salto em profundidade. a gerada na mesma velocidade de encurtamento in
208 PAAVO V. KOMI

Figura 10.9 Exemplos de curva força-velocidade instantânea mensurada no salto e nos saltos com contramovimento em humanos.
(a) Os registros (salto submáximo) apresentam maior sobrecarga ao tendão do calcâneo (FTC) quando comparado ao tendão patelar
(FTP). (b) A situação é revertida no caso dos saltos com contramovimento. Os registros significam as fases funcionais de contato
com o solo. O lado esquerdo de ambas as figuras representa a ação excêntrica, enquanto o direito, a ação concêntrica. A linha
pontilhada mostra a curva força-velocidade para os flexores plantares mensurados de forma clássica (de Finni et al., 1998 [a] e
2001a [b]).

situ. Sendo assim, os experimentos de força in vivo monstram que os músculos gastrocnêmio e sóleo
realizados tanto em modelos humanos como em ani- também funcionam no CAE, embora as fases de alon-
mais parecem fornecer resultados similares para a gamento ativo não sejam tão aparentes como na cor-
relação força-velocidade durante o CAE. rida ou no salto (Gregor et al., 1988; Gregor et al.,
A diferença entre a curva força-velocidade e a 1991).
curva clássica em preparações musculares isoladas Importantes características adicionais podem ser
(Hill, 1938) ou em experimentos humanos (Wilkie, observadas na Figura 10.9. Os padrões entre os re-
1950; Komi, 1973) pode dever-se parcialmente às di- gistros do TC e do tendão patelar diferem considera-
ferenças naturais nos níveis de ativação muscular velmente quando o movimento é alterado de um sal-
entre os dois tipos de atividades. Enquanto as prepa- to com contramovimento para um salto em profundi-
rações in situ podem primariamente mensurar as pro- dade. No primeiro — caracterizado por uma fase ex-
priedades de encurtamento dos elementos contráteis cêntrica mais curta —, o tendão patelar é muito mais
no músculo, a locomoção natural sob ação CAE en- sobrecarregado quando comparado ao TC que, por
volve a liberação controlada de forças elevadas, espe- sua vez, é mais fortemente sobrecarregado no salto
cialmente pela ação excêntrica. Essa força elevada comum. Sendo assim, as mecânicas musculares não
favorece o estoque de energia tensional elástica no são similares em todas as atividades relacionadas ao
complexo musculotendíneo. Uma porção dessa ener- CAE. Isso significa que generalizações não deveriam
gia estocada pode ser recuperada na fase subseqüen- ser feitas apenas a partir de uma condição e de um
te de encurtamento e empregada para a potencializa- músculo específico. Por exemplo, ao contrário do
ção do desempenho. Portanto, os experimentos com ocorrido no salto, o recuo elástico do músculo trí-
modelos animais e humanos parecem estar de acor- ceps sural desempenha papel pequeno nos saltos com
do em relação ao fato de a locomoção natural com contramovimento (CMJs)* (Fukashiro et al., 1993;
ação muscular essencialmente CAE produziu respos- Finni et al., 1998). Isso é esperado devido ao fato de,
ta muscular muito diferente das condições de prepa- no CMJ, a fase de alongamento ser lenta e a contri-
rações isoladas, em que os níveis de ativação são man- buição reflexa da potencialização do CAE ser prova-
tidos constantes e o estoque da energia tensional é velmente muito menor do que no salto.
limitado. O CAE possibilita ao músculo tríceps sural
realizar, de forma muito eficiente, atividades como
caminhada, corrida e saltos. Evidências recentes de- *N. de R.T. Sigla inglesa para countermovement jumps.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 209

Uma importante nota de cuidado deve ser consi- mesmo encurtar (Griffiths, 1991) enquanto o com-
derada ao se interpretar a mecânica muscular basea- plexo total musculotendíneo alonga-se.
da nos métodos anteriormente descritos. Em experi- Após o trabalho pioneiro de Ikai e Fukanaga
mentos com modelos animais e humanos — quando (1968), que determinaram a força muscular por área
os transdutores de deformação e as fibras óticas são de secção transversa por meio da técnica ultra-sôni-
aplicados aos tendões —, a força mensurada não pode ca, várias décadas se passaram antes de essa técnica
isolar as forças ou os movimentos do tecido contrátil avançar o suficiente para caracterizar a arquitetura
daqueles do tecido do tendão. Os métodos podem, muscular in vivo. No entanto, trabalhos realizados na
portanto, servir para determinar somente as caracte- década de 1990, no laboratório de Fukunaga, produ-
rísticas da sobrecarga do complexo total musculo- ziram informações relevantes a respeito da arquite-
tendíneo. No entanto, deve-se mencionar que recen- tura dos músculos humanos em contração (ver a re-
temente demonstramos em nosso laboratório (Finni visão de Kawakami et al., 2000). A técnica passou,
et al., 2001b) que as curvas fasciculares força-veloci- então, a ser estendida à locomoção natural e às alte-
dade em formas isoladas de ações excêntricas e con- rações do comprimento no fascículo e nos tendões,
cêntricas máximas assemelham-se muito às relações que podem ser mensurados in vivo (Fukunaga et
clássicas força-velocidade. Também determinamos que al.,1996; Fukunaga et al.,1997). Dois problemas fun-
a curva força-velocidade instantânea no CAE parece damentais podem surgir nessas mensurações: o com-
com aquelas da unidade musculotendínea, mas com portamento de todo o complexo musculotendíneo
uma forma mais irregular. não pode ser o mesmo que o das fibras musculares; e
a velocidade do fascículo pode não estar necessaria-
mente na fase com a velocidade isocinética aplicada
Alterações no comprimento do externamente.
fascículo durante o CAE A definição básica de ação muscular excêntrica
(ver Capítulo 1) refere-se ao alongamento do mús-
Os transdutores do tendão não fornecem regis- culo enquanto é ativado. Como a aplicação desse
tros simultâneos das alterações de comprimento no conceito em relação ao tecido contrátil é questioná-
complexo musculotendíneo, embora seja evidente que vel (Griffiths, 1991; Belli e Bosco, 1992), decidimos
mensurem fidedigna e diretamente a força no ten- analisar as alterações do comprimento do fascículo
dão. Isso deve ser estimado através do uso de vídeo nas ações concêntricas e excêntricas isoladas, assim
de alta velocidade e de modelos anatômicos apropria- como nos exercícios em que se manifesta o CAE
dos (Frigo e Pedotti, 1978; Grieve et al., 1978). Esses (Finni et al., 2000; Finni et al., 2001c). A Figura 10.10
cálculos precisam ser sincronizados com os dados apresenta um exemplo típico dos registros obtidos
de força do tendão, como nas Figuras 10.3, 10.7, 10.8 para as ações concêntricas e excêntricas máximas. O
e 10.9. Os resultados e relações obtidos não servem, esquema claramente demonstra que na extensão do
no entanto, para gerar simultaneamente informações joelho, o fascículo do músculo vasto lateral (VL) é
sobre: (I) alteração no comprimento das fibras mus- encurtado na fase concêntrica e alongado na excên-
culares; (II) alteração na orientação da fibra com a trica (Finni et al., 2001c). A magnitude do encurta-
linha de aplicação da força; e (III) alteração no com- mento do fascículo na fase concêntrica foi menor
primento do compartimento tendíneo. Os registros (2,9 ± 1,4 cm) do que o do alongamento na excêntri-
bem-sucedidos in vivo de alterações no comprimen- ca (5,1 ± 1,6 cm). Essas alterações de compri-
to da fibra muscular englobam modelos animais, mento parecem não depender da velocidade de en-
como o gato durante a caminhada (Griffiths, 1991) e curtamento ou de alongamento. Deve ser enfatizado,
o peru durante a corrida na esteira rolante (Roberts nessa conexão, que as ações de alongamento e de
et al., 1997). O pressuposto comum é que, nas ativi- encurtamento foram precedidas por pré-ativação iso-
dades do CAE, o compartimento da fibra muscular e métrica, similar ao método aplicado nos sarcômeros
o tendão poderiam alterar seu comprimento na fase. e nas fibras musculares isolados (ver Capítulo 9). Isso
Esse pressuposto foi recentemente desafiado, pois fornece uma boa comparação com a fase de pré-ati-
as fibras musculares podem permanecer em um vação tão típica nos exercícios do CAE (Melvill Jones
comprimento constante (Belli e Bosco, 1992) ou e Watt, 1971; Komi et al., 1987a; Horita et al., 1999).
210 PAAVO V. KOMI

Figura 10.10 Alterações do comprimento do fascículo e do tendão durante ações concêntrica (esquerda) e excêntrica (direita)
máximas. Essas contrações foram produzidas pela pré-ativação máxima (fase isométrica). Observe o claro encurtamento do fascículo
na ação concêntrica quando comparado ao estiramento na ação excêntrica (de Finni et al., 2001a).

No CAE de ação lenta, como no CMJ, o fascícu- o importante trabalho de Finni e colaboradores
lo do VL demonstra primeiro um incremento no (2001b) nesses tipos de função muscular.
comprimento durante a ação excêntrica, seguido por Essas observações sugerem que o alongamento
encurtamento na concêntrica. No entanto, quando o e o comprimento muscular, respectivamente, para as
CMJ foi substituído por uma atividade com o CAE ações excêntricas e concêntricas do CAE represen-
do tipo rápida (salto em profundidade), o fascículo tam eventos que ocorrem naturalmente no CAE. No
demonstrou um incremento muito menor no com- entanto, a situação não é sempre constante. Especi-
primento na fase excêntrica. A Figura 10.11 resume almente nas ações multiarticulares, podem existir
condições em que alguns músculos apresentem di-
ferentes padrões dessa regra “geral”. Por exemplo, caso
o fascículo do VL esteja sendo alongado na fase ex-
cêntrica do CMJ, o músculo gastrocnêmio pode não
apresentar qualquer alteração no alongamento ou no
comprimento do fascículo.
Exemplos de comportamento do fascículo dos
músculos vasto lateral e gastrocnêmio durante o
salto com agachamento,* o salto com contramovi-
mento e o salto em profundidade estão ilustrados
na Figura 10.12. Enquanto os dados nessa figura
demonstram claramente que o alongamento/encur-
tamento do fascículo do CAE não ocorre na mesma
Figura 10.11 O músculo esquelético humano pode utilizar fase para os dois músculos mensurados (VL e gas-
diferentes porções da curva força-comprimento do sarcômero,
dependendo do tipo de ação do ciclo alongamento-
encurtamento. Nesta figura de Finni e colaboradores (2001b), a
relação força do fascículo-comprimento é demonstrada nos
saltos com contramovimento (CMJ) e saltos em profundidade *N. de R.T. Salto em que a posição inicial é a de meio-agacha-
(DJ). Observe a pequena alteração no comprimento do fascículo mento; serve para avaliar a potência muscular dos membros in-
no DJ durante toda a fase de contato com o solo. feriores. Na expressão inglesa, squat jump (SJ).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 211

Figura 10.12 Exemplos de alteração do comprimento do fascículo nos músculos vasto lateral (VL) e gastrocnêmio (G) nos saltos
com agachamento (esquerda), nos saltos com contramovimento (centro) e nos saltos em profundidade (direita). A figura também
ilustra as respectivas atividades EMG, assim como a força do tendão patelar (técnica de fibra ótica) e a força da placa de força no
trenó. A segunda linha pontilhada refere-se ao final da fase contato com o solo nas condições de contramovimento e em
profundidade (de Ishikawa et al., em desenvolvimento).

trocnêmio), também sugerem que o comportamen- Papel dos reflexos de estiramento


to do fascículo não é dependente apenas de esforço, no incremento da força durante o
mas também do músculo e da articulação, assim CAE
como do tipo de ação muscular ou movimento. Con-
siderando esse fato, não se pode desconsiderar a di- A questão-chave da discussão sobre os possíveis
ficuldade de modelar, de forma fidedigna, o com- mecanismos reflexos envolvidos na potencialização
partimento muscular para diferentes tarefas de do desempenho no CAE refere-se à determinação das
movimento. características importantes da efetiva função do CAE.
O isolamento do fascículo e do tendão do com- Em nossa compreensão, um CAE eficaz requer três
plexo musculotendíneo pode revelar os papéis espe- condições fundamentais (Komi e Gollhofer, 1997):
cíficos do tendão e da aponeurose na potencializa-
ção do desempenho na função muscular do CAE. 1 pré-ativação muscular bem programada antes da
Mas sua contribuição potencial e individual pode cla- fase excêntrica;
ramente depender do tipo de movimento do CAE e 2 fase excêntrica curta e rápida;
do músculo considerado. Por exemplo, ao contrário 3 transição imediata (curto atraso) entre as fases de
do salto, o recuo elástico do músculo tríceps sural alongamento (excêntrica) e de encurtamento (con-
desempenha papel pouco importante no CMJ cêntrica).
(Fukashiro et al., 1993; Finni et al., 1998; ver tam-
bém Fig. 10.9). Isso é esperado, pois, no CMJ, a fase Essas condições são bem adequadas a atividades
de alongamento é lenta e a contribuição reflexa à “normais”, como a corrida e o salto. Parecem, por-
potencialização do CAE provavelmente é menor do tanto, apropriadas para a possível interação dos re-
que no salto. flexos de estiramento.
212 PAAVO V. KOMI

Demonstração dos reflexos de vendo saltos com ambas as pernas e com tempos de
estiramento de curta latência no contato curtos. Voigt e colaboradores (1998), em es-
CAE tudo similar, mensuraram o comprimento muscular
e o da fibra muscular através da origem e da inser-
A regulação da rigidez constitui importante con- ção. Ambas as medidas demonstraram elevada velo-
ceito na parte excêntrica do CAE. Os reflexos de es- cidade de alongamento na fase inicial de contato, in-
tiramento desempenham papel igualmente importan- duzindo os autores a concluir que as condições foram
te na tarefa. Hoffer e Andreassen (1981) demonstra- suficientes para a ativação aferente do fuso muscu-
ram, de maneira convincente, que, quando os refle- lar. O SLC é sensível às condições de sobrecarga,
xos estão intactos, a rigidez muscular é maior para a como demonstrado na Figura 10.14, em que as so-
mesma força do que em um músculo arreflexivo. brecargas de alongamento variam desde um deter-
Dessa forma, os reflexos de estiramento podem con- minado salto submáximo (os registros no alto) aos
tribuir para a rigidez muscular na parte excêntrica do saltos em profundidade. Na maior altura de queda
CAE. do salto em profundidade (80 cm) o componente SLC
No salto e na corrida, o componente do reflexo tornou-se menos claro, sugerindo decréscimo da fa-
de estiramento de curta latência (SLC) pode ser ob- cilitação dos fusos musculares e/ou incremento do
servado muito facilmente, especialmente no múscu- impulso inibidor de várias fontes (p. ex., órgão tendi-
lo sóleo. A Figura 10.13 ilustra estudos em que esse noso de Golgi, mecanismos voluntários de proteção,
componente aparece, de forma clara, nos padrões etc.). Nos casos em que os saltos em profundidade
EMG quando analisado em várias tentativas envol- são realizados em profundidades excessivas, por
exemplo, 140 cm (Kyröläinen e Komi, 1995), os su-
jeitos sustentam sobrecargas extremas ao contato.
Nessas situações, a menor ativação reflexa pode fun-
cionalmente servir como estratégia de proteção para
a prevenção muscular e/ou para a lesão tendínea.

Magnitude da atividade EMG


induzida por reflexo
Testes de dorsiflexão passiva demonstram que o
SLC e o componente médio de latência (MLC) po-
dem ser reduzidos consideravelmente com medidas
tomadas durante o bloqueio isquêmico dos membros
inferiores (Fellows et al., 1993). Tal método é aplica-
do em condições de corrida rápida (Dietz et al., 1979),
cujas corridas de controle, feitas antes da isquemia,
demonstraram que a EMG do gastrocnêmio apre-
senta claro componente SLC ao contato. O pico EMG
médio foi, no mínimo, duas vezes maior do que o
mensurado no teste de flexão plantar isométrico vo-
luntário máximo (Fig. 10.15). A atividade EMG do
gastrocnêmio durante o contato caiu de maneira con-
siderável no teste de corrida rápida com a mesma ve-
locidade, mas não houve alteração na pré-ativação
diante do bloqueio isquêmico. Esses resultados en-
Figura 10.13 Valores médios de registros EMG retificados dos
fatizam o papel potencial do input aferente Ia em ati-
músculos sóleo (SOL), gastrocnêmio (G) e vasto medial (VM) no
salto bilateral. Observe o pronunciado pico de reflexo EMG no vidades do tipo CAE, como a corrida. O bloqueio
músculo sóleo na fase inicial de contato (de Komi e Gollhofer, isquêmico isola a informação aferente Ia, agindo nas
1997, baseado em Gollhofer et al., 1992). vias espinais (Fel-lows et al., 1993).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 213

Figura 10.14 Padrão EMG médio e


retificado do músculo sóleo e força de
reação vertical do solo em vários saltos em
profundidade (DJs) com ciclo alongamento-
encurtamento em ambas as pernas. A figura
ilustra a modulação no padrão, assim como
no registro da força com o incremento da
sobrecarga de alongamento. Na parte
superior, SAP: salto com ambas as pernas
no lugar (ver também parte superior da Fig.
10.13); 20 a 80 cm: saltos em
profundidade (DJ) com alturas de 20 a 80
cm, aterrissando com ambas as pernas. A
linha vertical pontilhada indica a iniciação
da ativação fásica com latência de 40 ms
após contato com o solo (de Komi e
Gollhofer, 1997).

Os reflexos precisam de um tempo 1997) constitui motivo de questionamento e contes-


para tornarem-se ativos durante o tação. Por isso, é importante analisar o papel que os
CAE? reflexos de estiramento podem desenvolver, caso de-
senvolvam, no CAE. É difícil imaginar que os refle-
O fato de os reflexos de estiramento poderem xos proprioceptivos, cuja existência é conhecida há
operar e contribuir para a otimização da força e da séculos, possam não ter qualquer papel significativo
potência durante o CAE (van Ingen-Schenau et al., na locomoção humana, incluindo o CAE. É verdade

Figura 10.15 Atividade EMG


retificada e média do músculo
gastrocnêmio quando o sujeito produz
alta freqüência de passadas em
corrida rápida. O controle (normal)
antes da isquemia demonstra o típico
incremento rápido da atividade EMG
40 ms após o contato com o solo. A
linha pontilhada indica a mesma
corrida após 20 minutos de isquemia
produzida por torniquete ao redor da
coxa. A atividade EMG induzida por
alongamento (componente SLC) foi
reduzida ao nível da EMG isométrica
máxima (barra da direita) sem
decréscimo na pré-atividade antes do
contato (após Dietz et al., 1979).
214 PAAVO V. KOMI

que em movimentos normais com elevada atividade fase excêntrica do ciclo (Nicol et al., 1991). Como a
EMG a magnitude e a contribuição da regulação re- duração da fase de contato com o solo (início e final
flexa da força muscular são, metodologicamente, de do contato) decresce em função da velocidade da
difícil mensuração. A tarefa fica muito mais fácil quan- corrida (Luhtanen e Komi, 1978), a contribuição re-
do dorsiflexões passivas relativamente lentas (1,2 a flexa materializa-se no final da fase excêntrica em
1,9 rad·s–1) são estudadas; nelas, o EMG reflexo in- velocidades rápidas e pode ser parcialmente estendi-
duzido pelo estiramento registrou incremento na for- da até o final da fase de contato com o solo* nas velo-
ça no TC em 200 a 500% sob estiramento puramen- cidades máximas, nas quais o tempo total de contato
te passivo, sem resposta EMG reflexa (Nicol e Komi, é de aproximadamente 90 a 100 ms (Mero e Komi,
1998). A Figura 10.16 representa um exemplo dessas 1985). Esses cálculos de tempo certamente confir-
medidas, que demonstra um atraso típico de 12 a 13 mam que os reflexos de estiramento possuem um
ms entre o início do sinal EMG reflexo e o da poten- amplo tempo para ativar a otimização da força e da
cialização da força. potência no CAE; em muitos casos, isso ocorre na
Tal retardo de tempo é similar aos encontrados fase excêntrica do ciclo. Então, não existem restri-
em medidas de estimulação elétrica realizadas em ções de tempo para os reflexos serem ativos na regu-
conjunto com os registros da força no TC a partir da lação da rigidez durante o CAE. O importante com-
utilização da fibra ótica (Komi et al., em preparação). ponente EMG induzido por reflexo (ver Fig. 10.15)
Considerando a duração do simples reflexo de esti- deve ser, portanto, considerado como uma contribui-
ramento de 40 ms, o atraso máximo entre o início do ção essencial para a otimização da força no CAE.
estiramento e a potencialização subseqüente da for-
ça seria ao redor de 50 a 55 ms. Em referência à cor-
rida, o primeiro contato com o solo indicaria o ponto
inicial do estiramento. Na maratona, a fase de conta-
to geralmente dura em torno de 250 ms, implicando *N. de R.T. Fase final da flexão plantar durante a corrida, na
que essa otimização da força induzida pelo reflexo qual os músculos gastrocnêmio e sóleo exercem força signifi-
poderia prontamente ter significância funcional na cativa contra o solo. Da expressão inglesa push-off.

Figura 10.16 Demonstração dos reflexos de estiramento induzidos passivamente na força do tendão do calcâneo (FTC). Esquerda,
dorsiflexão passiva no estiramento lento não produz resposta EMG reflexa e induz pequeno e linear incremento da FTC (resposta
passiva pura). Direita, no caso dos estiramentos rápidos e grandes, a contribuição reflexa da FTC corresponde à resposta FTC
adicional acima da influência passiva pura representada pela linha pontilhada (de Nicol e Komi, 1998).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 215

Significância funcional dos reflexos sensível às alterações de comprimento e tensão no


de estiramento nas atividades complexo musculotendíneo. Como discutido ante-
relacionadas ao CAE riormente, as latências para os reflexos EMG são su-
ficientemente curtas para induzir significância fun-
Alguns aspectos da significância funcional dos cional. Tais latências (40 a 45 e 12 a 14 ms, respecti-
reflexos de estiramento durante o CAE foram trata- vamente, para reflexo característico e para atraso
dos anteriormente. É, no entanto, relevante enfatizar eletromecânico) ajustam-se bem à ocorrência dos
que os reflexos contribuem para a eficiência do com- componentes de reflexo de estiramento de curta e de
portamento motor, na medida em que tornam a pro- média latência (Lee e Tatton, 1982). Nossos dados
dução de força mais consistente. No CAE, isso so- recentes referentes ao estiramento combinado e à po-
mente pode ser realizado por uma transferência tencialização reflexa estão em concordância com o
imediata e uniforme do complexo musculotendíneo conceito de SRES, demonstrando que a resistência
pré-ativado e excentricamente alongado para a fase de força das pontes cruzadas ao estiramento é parti-
final concêntrica, nos casos da corrida ou do salto, cularmente eficiente na parte inicial do acoplamento
por exemplo. A amplitude da elevada rigidez limita- das pontes cruzadas (Nicol e Komi, 1998). Portanto,
se, no entanto, à SRES* (Rack e Westbury, 1974; o reflexo induzido pela formação das ligações cruza-
Morgan, 1979). Nesse caso, a rigidez do complexo das parece desempenhar papel muito rápido e subs-
musculotendíneo depende não apenas da amplitude tancial na geração de força ao estiramento. Além dis-
de movimento (Kearney e Hunter, 1982), mas tam- so, como demonstrado por Stein (1982) e Nichols
bém da eficiência do sistema de reflexo de estiramento (1987), o sistema de reflexo de estiramento é o res-
(Nichols e Houk, 1976; Houk e Rymer, 1981). A par- ponsável pelo fornecimento de elevada linearidade
tir dessa constatação, espera-se uma maior atividade na rigidez muscular.
reflexa de estiramento após o potente estiramento do Todos esses aspectos podem contribuir parcial-
músculo ativo (Dietz et al., 1984); esses reflexos são mente para consolidar a observação de que a eficiên-
necessários inicialmente não para elevar o SRES, mas cia mecânica no CAE natural é maior do que no exer-
para tornar linear as características da tensão de es- cício concêntrico puro (p. ex., Aura e Komi, 1986;
tresse (Nichols, 1974; Hufschmidt e Schwaller, 1987). Kyröläinen et al., 1990). O conceito de estoque elás-
Pode-se tomar como premissa que, antes do con- tico favorece a existência da ativação reflexa, além do
tato com o solo no CAE, o alongamento inicial do fato de a elevada ativação muscular na fase excêntri-
complexo musculotendíneo, demonstrado na Figura ca de um CAE constituir um pré-requisito para o
10.3, desenvolva-se no tendão do calcâneo de forma eficiente estoque de energia elástica, especialmente
mais ou menos condescendente. Logo que a tensão no tendão. Estudos em animais demonstram que um
“crítica” dos fascículos é alcançada, a qual é determi- músculo eletricamente estimulado responde aos es-
nada pela quantidade de atividade enviada aos mús- tiramentos em escala crescente, de forma a apresen-
culos antes do contato (pré-ativação), haverá um tar incremento linear da tensão. Tal músculo está
maior rendimento na produção de força das ligações provido de um sistema reflexo intacto (Nichols e
cruzadas do complexo actina-miosina, com conco- Houk, 1976; Nichols, 1987). Essa linearidade restrin-
mitante perda da energia potencial estocada nas pon- ge-se a pequenas alterações de comprimento (p. ex.,
tes cruzadas alongadas (Flitney e Hirst, 1978). A par- Hoffer e Andreassen, 1981). E as pequenas altera-
tir de estudos in vitro, sabe-se que o rendimento das ções são relevantes aos exercícios que apresentam o
pontes cruzadas ativas pode ser antecipado pela ati- CAE, referidos na presente discussão (ver também as
vação muscular intensa. Tal ativação desencadeada Figs. 10.3 e 10.12).
pode ser fornecida, de maneira mais eficiente, pelo Parece existir evidência suficiente para concluir
sistema reflexo de estiramento, o qual é altamente que os reflexos de estiramento exercem papel impor-
tante no CAE e contribuem para a geração de força
ao contato com o solo em atividades como a corrida
e os saltos. Dependendo do tipo de salto, por exem-
*N. de R.T. Relativo à sigla inglesa “short-range elastic stiffness”, plo, a amplitude de pico do componente de curta la-
relacionada à rigidez elástica de reduzida amplitude. tência (SLC) e seu potencial de aumentar ou dimi-
216 PAAVO V. KOMI

nuir a força podem variar consideravelmente. No en- spinal and transcortical reflexes. Neuroscience Letters 44,
tanto, a combinação da ativação “pré-reflexa” e a pos- 131-135.
terior ativação reflexa podem materializar um cená- Fellows, S., Dömges, F., Töpper, R., Thilmann, A. & Noth.
rio que suporta o rendimento compensatório e a J. (1993) Changes in the short and long latency stretch
reflex components of the triceps surae muscle during
rápida taxa de produção de força (Voigt et al., 1998).
ischaemia in man. Journal of Physiology 472, 737-748.
Esse cenário pode ser especialmente eficaz em uma Finni, T., Komi, P.V. & Lepola, V. (1998) In vivo muscle dy-
situação de ausência de fadiga, mas pode ser coloca- namics during jumping. In: 3rd Annual Congress of the
do sob estresse grave diante do aumento das sobre- European College of Sport Sciences, 15-18 July 1998, Man-
cargas de estiramento (ver Fig. 10.14) e da fadiga pro- chester, UK.
gressiva induzida pelo CAE. O claro acoplamento Finni, T., Komi, P.V. & Lepola, V. (2000) In vivo triceps su-
entre atividades reflexas e a redução do desempenho rae and quadriceps femoris muscle function in a squat
mecânico durante a fadiga no CAE constituem um jump and counter movement jump. European Journal of
bom indicador desse cenário. A fadiga induzida pelo Applied Physiology 83, 416-426.
Finni, T., Komi, P.V. & Lepola, V. (2001a) In vivo muscle
CAE será discutida em detalhes no Capítulo 11.
mechanics during normal locomotion is dependent on
movement amplitude and contraction intensity. Euro-
pean Journal of Applied Physiology 85, 170-176.
Referências Finni, T., Ikegawa, S., Lepola, V. & Komi, P.V. (2001b) In
vivo behavior of vastus lateralis muscle during dynamic
Alt, W., Lohrer, H., Gollhofer, A. & Komi, P.V. (2002) Esti- performances. European Journal of Sciences [on line] 1,1.
mation of ankle ligament load using a fiber optic trans- Human Kinetics and European College of Sport
ducer in vivo, submitted for publication. Science. http://www.humankinetics.com/eiss.
Arndt, A.N., Komi, P.V., Brüggemann, G.-P. & Lukkarinie- Finni, T., Ikegawa, S. & Komi, P.V. (2001c) Concentric for-
mi, J. (1998) Individual muscle contributions to the in ce enhancement during human movement. Acta Physi-
vivo Achilles tendon force. Clinical Biomechanics 13, ologica Scandinavica 173, 369-377.
532-541. Flitney, F.W. & Hirst, D.G. (1978) Cross-bridge detachment
Aura, O. & Komi, P.V. (1986) The mechanical efficiency of and sarcomere ‘give’ during stretch of active frog’s mus-
locomotion in men and women with special emphasis cle. Journal of Physiology 276, 449-465.
on stretch-shortening cycle exercises. European Journal Ford, L.E., Huxley, A.F. & Simmons, R.M. (1978) Tension
of Applied Physiology 55, 37-43. responses to sudden length change in stimulated frog
Belli, A. & Bosco, C. (1992) Influence of stretch-shortening muscle fibres near slack length. Journal of Physiology 269,
cycle on mechanical behaviour of triceps surae during 441-515.
hopping. Acta Physiologica Scandinavica 144, 401-408. Frigo, C. & Pedotti, A. (1978) Determination of muscle
Bocquet, J.-C. & Noel, J. (1987) Sensitive skin-pressure and length during locomotion. International Series of Biome-
strain sensor with optical fibres. In: Proceedings of 2nd chanics VI-A, 355-360.
Congress on Structural Mechanics of Optical Systems, 13-15 Fukashiro, S. & Komi, P.V. (1987) Joint moment and me-
January 1987, Los Angeles, CA. chanical power flow of the lower limb during vertical
Candau, R., Belli, A., Chatard, J.C., Carrez, J.-P. & Lacour, jump. International Journal of Sports Medicine 8, 15-21.
J.-R. (1993) Stretch shortening cycle in the skating te- Fukashiro, S., Komi, P.V., Järvinen, M. & Miyashita, M.
chnique of cross-country skiing. Science et Motricité 22, (1993) Comparison between the directly measured Achi-
252-256. lles tendon force and the tendon force calculated from
Cavagna, G.A., Saibene, F.P. & Margaria, R. (1965) Effect the ankle joint moment during vertical jumps. Clinical
of negative work on the amount of positive work per- Biomechanics 8, 25-30.
formed by an isolated muscle. Journal of Applied Physio- Fukashiro, S., Komi, P.V., Järvinen, M. & Miyashita, M. (1995)
logy 20, 157-158. In vivo Achilles tendon loading during jumping in hu-
Cavagna, G.A., Dusman, B. & Margaria, R. (1968) Positive mans. European Journal of Applied Physiology 71, 453-458.
work done by a previously stretched muscle. Journal of Fukunaga, T., Ito, M., Ichinose, Y., Kuno, S., Kawakami, Y.
Applied Physiology 24, 21-32. & Fukashiro, S. (1996) Tendinous movement of a hu-
Dietz, V., Schmidtbleicher, D. & Noth, J. (1979) Neuronal man muscle during voluntary contractions determined
mechanisms of human locomotion. Journal of Neuro- by real-time ultrasonography. Journal of Applied Physio-
physiology 42, 1212-1222. logy 813, 1430-1433.
Dietz, V., Quintern, J. & Berger, W. (1984) Corrective reac- Fukunaga, T., Ichinose, Y., Ito, M., Kawakami, Y. & Fukashi-
tions to stumbling in man. Functional significance of ro, S. (1997) Determination of fascicle length and pen-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 217

nation in a contracting human muscle in vivo. Journal of cy in the stretch-shortening cycle? Journal of Applied Bi-
Applied Physiology 82, 354-358. omechanics 13, 386-415.
Gregor, R.J., Roy, R.R., Whiting, W.C., Lovely, R.G., Hodg- Kawakami, Y., Ichinose, M., Kubo, K., Ito, M., Imai, M. &
son, J.A. & Edgerton, V.R. (1988) Mechanical output of Fukunaga, T. (2000) Architecture of contracting human
the cat soleus during treadmill locomotion in vivo vs. in muscles and its functional significance. Journal of Appli-
situ characteristics. Journal of Biomechanics 21(9), 721-732. ed Biomechanics 16, 88-98.
Gregor, R.J., Komi, P.V., Browning, R.C. & Järvinen, M. Kearney, R.E. & Hunter, I.W. (1982) Dynamics of human
(1991) A comparison of triceps surae and residual mus- ankle stiffness. Variation with displacement amplitude.
cle moments at the ankle during cycling. Journal of Bio- Journal of Biomechanics 15, 753-756.
mechanics 24, 287-297. Komi, P.V. (1973) Measurement of the force-velocity rela-
Grieve, D.W., Pheasant, S.Q. & Cavanagh, P.R. (1978) Pre- tionship in human muscle under concentric and ec-
diction of gastrocnemius length from knee and ankle centric contraction. In: Medicine and Sport, Biomechanics
joint posture. In: Biomechanics VI-A (eds E. Asmissen & III, Vol. 8 (ed. E. Jokl), pp. 224-229. Karger, Basel.
K. Jörgensen), pp. 405-412. University Park Press, Bal- Komi, P.V. (1983) Elastic potentiation of muscles and its
timore. influence on sport performance. In: Biomechanik and
Griffiths, R.I. (1991) Shortening of muscle fibres during Sportliche Leistung (ed. W. Baumann), pp. 59-70. Verlag
stretch of the active cat medial gastrocnemius muscle: Karl Hofmann, Schorndorf.
The role of tendon compliance. Journal of Physiology 436, Komi, P.V. (1984) Physiological and biomechanical corre-
219-236. lates of muscle function: Effects of muscle structure
Hill, A.V. (1938) The heat and shortening of the dynamic and stretch-shortening cycle on force and speed. Exer-
constant of muscle. Proceedings of the Royal Society of Lon- cise and Sport Sciences Reviews/American College of Sports
don Series B 126, 136-195. Medicine 12, 81-121.
Hoff, A.L., Geelen, B.A. & van den Berg, J. (1983) Calf Komi, P.V. (1990) Relevance of in vivo force measurements
muscle moment, work and efficiency in level walking: to human biomechanics. Journal of Biomechanics 23 (Su-
Role of series elasticity. Journal of Biomechanics 16, ppl. 1), 23-34.
523-537. Komi, P.V. (1992) Stretch-shortening cycle. In: Strength and
Hoffer, J.A. & Andreassen, S. (1981) Regulation of soleus Power in Sport (ed. P.V. Komi), pp. 169-179. Blackwell
muscle stiffness in premamillary cats. Intrinsic and re- Scientific Publications, Oxford.
flex components. Journal of Neurophysiology 45, 267-285. Komi, P.V. (2000) Stretch-shortening cycle: a powerful
Horita, T., Komi, P.V., Nicol. C. & Kyröläinen, H. (1999) model to study normal and fatigued muscle. Journal of
Effect of exhausting stretch-shortening cycle exercise Biomechanics 33, 1197-1206.
on the time course of mechanical behaviour in the drop Komi, P.V. & Gollhofer, A. (1997) Stretch reflex can have
jump: possible role of muscle damage. European Journal an important role in force enhancement during
of Applied Physiology 79, 160-167. SSC-exercise. Journal of Applied Biomechanics 13, 451-
Houk, J.C. & Rymer, W.Z. (1981) Neural control of muscle 460.
length and tension. In: Handbook of Physiology. The Ner- Komi, P.V. & Nicol, C. (2000) Stretch-shortening cycle of
vous System II, (ed. V.B. Brooks), pp. 257-323. Waverly muscle function. In: Biomechanics in Sport (ed. V. Zatsi-
Press, Baltimore. orsky), pp. 87-102. Blackwell Science, Oxford.
Hufschmidt, A. & Schwaller, I. (1987) Short-range elastici- Komi, P.V., Gollhofer, A., Schmidtbleicher, D. & Frick, U.
ty and resting tension of relaxed human lower leg mus- (1987a) Interaction between man and shoe in running:
cles. Journal of Physiology 393, 451-465. Considerations for more comprehensive measurement
Huijing, P.A. (1992) Elastic potential of muscle. In: Strength approach. International Journal of Sports Medicine 8(3),
and Power in Sport (ed. P.V. Komi), pp. 151-168. Blackwell 196-202.
Scientific Publications, Oxford. Komi, P.V., Salonen, M., Järvinen, M. & Kokko, O. (1987b)
Huxley, A.F. & Simmons, R.M. (1971) Proposed mecha- In vivo registration of Achilles tendon forces in man. I.
nism of force generation in striated muscle. Nature 233, Methodological development. International Journal of
533-538. Sports Medicine 8, 3-8.
Ikai, M. & Fukunaga, T. (1968) Calculation of muscle Komi, P.V., Belli, A., Huttunen, V. & Partio, E. (1995) Optic
strength per unit cross-sectional area of human mus- fiber as a transducer for direct in-vivo measurements of
cle by means of ultrasonic measurement. Internationale human tendomuscular forces. In: Proceedings of the XVth
Zeitschrift fur Angewandte Physiologic Einschliesslich Arbeits- ISB (eds K. Häkkinen, K.L. Keskinen, P.V. Komi & A.
physiologie 26, 26-32. Mero), pp. 494-495. Jyväskylä, Finland.
van Ingen-Schenau, G.J., Bobbert, M.F. & de Haan, A. Komi, P.V., Belli, A., Huttunen, V., Bonnejoy, R., Geyssant,
(1997) Does elastic energy enhance work and efficien- A. & Lacour, J.R. (1996) Optic fiber as a transducer of
218 PAAVO V. KOMI

tendomuscular forces. European Journal of Applied Phy- Nicol, C., Komi, P.V. & Marconnet, P. (1991) Effects of
siology 72, 278-280. marathon fatigue on running kinematics and economy.
Kyröläinen, H. & Komi, P.V. (1995) Differences in mecha- Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports 1,
nical efficiency in athletes during jumping. European Jour- 18-24.
nal of Applied Physiology 70, 36-44. Nichols, T.R. (1974) Soleus muscle stiffness and its reflex control.
Kyröläinen, H., Avela, J. & Komi, P.V. (1989) Regulation of PhD dissertation, Harvard University, Cambridge, MA.
muscle and stiffness during long jump take-off. In: Bi- Nichols, T.R. (1987) The regulation of muscle stiffness.
omechanics XII (eds R.J. Gregor, R.F. Zernicke & W.C. Medicine and Science in Sports and Exercise 26, 36-47.
Whiting), pp. 364-365. UCLA, Los Angeles. Nichols, T.R. & Houk, J.C. (1976) Improvement in lineari-
Kyröläinen, H., Komi, P.V., Oksanen, P., Häkkinen, K., ty and regulation of stiffness that results from actions
Cheng, S. & Kim, D.H. (1990) Mechanical efficiency of of stretch reflex. Journal of Neurophysiology 39, 119-142.
locomotion in females during different kinds of mus- Norman, R.W. & Komi, P.V. (1979) Electromechanical de-
cle actions. European Journal of Applied Physiology 61, lay in skeletal muscle under normal movement condi-
446-452. tions. Acta Physiologica Scandinavica 106, 241-248.
Lee, R.G. & Tatton, W.G. (1982) Long latency reflexes to Rack, P.M.H. & Westbury, D.R. (1974) The short range sti-
imposed displacements of the human wrist. Dependen- ffness of active mammalian muscle and its effect on
ce on duration of movement. Experimental Brain Research mechanical properties. Journal of Physiology 240, 331-350.
45, 207-216. Roberts, T.J., Marsch, R.L., Weyand, P.G. & Taylor, C.R.
Luhtanen, P. & Komi, P.V. (1978) Segmental contribution (1997) Muscular force in running turkeys: The economy
to forces in vertical jump. European Journal of Applied of minimizing work. Science 275, 1113-1115.
Physiology 38, 181-188. Sherif, M.H., Gregor, R.J., Liu, M., Roy, R.R. & Hager, C.L.
Melvill Jones, G. & Watt, D.G.D. (1971) Observations on (1983) Correlation of myoelectric activity and muscle
the control of stepping and hopping movements in man. force during selected cat treadmill locomotion. Journal
Journal of Physiology 219, 709-727. of Biomechanics 16, 691-701.
Mero, A. & Komi, P.V. (1985) Effects of supramaximal ve- Stein, R.B. (1982) What muscle variable(s) does the ner-
locity on biomechanical variables in sprinting. Interna- vous system control in limb movements? Behavioral
tional Journal of Sport Biomechanics 1(3), 240-252. Brain Science 5, 535-577.
Morgan, D.L. (1979) Separation of active and passive com- Voigt, M., Dyhre-Poulsen, P. & Simonsen, E.B. (1998)
ponents of short-range stiffness of muscle. American Jour- Modulation of short latency stretch reflexes during
nal of Physical Medicine 232, 45-49. human hopping. Acta Physiologica Scandinavica 163,
Nicol, C. & Komi, P.V. (1998) Significance of passively in- 181-194.
duced stretch reflexes on Achilles tendon force enhan- Wilkie, D.R. (1950) The relation between force and veloci-
cement. Muscle and Nerve 21, 1546-1548. ty in human muscle. Journal of Physiology 110, 249.
Capítulo 11
Ciclo alongamento-encurtamento
e sua influência na produção
de força e potência
CAROLINE NICOL E PAAVO V. KOMI

No capítulo anterior, demonstrou-se que a locomo- tópico (Komi e Nicol, 2000a; Komi e Nicol, 2000b),
ção natural do tipo CAE estimula o sistema neuro- com ênfase especial nos ajustes neurais que depen-
muscular de maneira mais complexa do que qual- dem do nível de incapacidade contrátil e da tarefa
quer outra forma isolada de ação muscular. Todos os imposta.
principais componentes das “fontes” de desempenho
(mecânica, neural e metabólica) são estimulados no
Modelos de sobrecarga e de teste
CAE de tal forma que a fadiga induzida difere da ob-
no CAE
servada, por exemplo, após exercício excêntrico puro.
Os exercícios de CAE têm muitas possibilidades de
O material apresentado baseia-se em vários es-
ajuste para o desenvolvimento progressivo da inca-
tudos realizados em humanos nos últimos 10 anos e
pacidade contrátil. No entanto, a deterioração da
relaciona-se a uma ampla variedade de exercícios do
eficácia do CAE com a fadiga induz o incremento
tipo CAE que induzem fadiga. Nos experimentos a
necessário do trabalho concêntrico, o que causa difi-
serem revisados nos parágrafos seguintes, as sobre-
culdades agudas na manutenção do nível de desem-
cargas de impacto dos exercícios CAE foram cuida-
penho necessário. Além disso, a fadiga induzida pelo
dosamente controladas, mas diversificadas em termos
CAE é claramente retardada em natureza. As altera-
de intensidade e duração. Na maioria desses estudos,
ções imediatas pós-exercício estão relacionadas pri-
as técnicas cinemáticas e cinéticas foram combina-
mariamente aos distúrbios metabólicos. Já a recupe-
das com registros EMG de superfície para analisar as
ração retardada deve ser associada com processos
alterações durante o exercício, bem como nos dias
inflamatórios bem conhecidos relacionados à micro-
subseqüentes de recuperação.
lesão muscular (Faulkner et al., 1993).
O presente capítulo busca caracterizar a atual
Exercícios de CAE de curto e longo
compreensão a respeito da fadiga do CAE. A demons-
prazo que induzem fadiga
tração parte de suas consideráveis influências bimo-
dais na mecânica e na ativação muscular responsá- Os exercícios do tipo CAE de curto prazo con-
veis pelas conseqüências principais na regulação da sistem de séries intensas e exaustivas de ressaltos em
rigidez articular e muscular, especialmente nos de- um equipamento específico do tipo trenó* (Horita et
sempenhos tipo CAE. Como a função muscular do
CAE é essencial em muitas atividades esportivas, é
*N. de R.T. Equipamento do tipo trenó utilizado na supra-
importante analisar essa forma fatigante de exercício
ativação do ciclo alongamento-encurtamento (CAE). Ampla-
e descrever seu efeito na produção de força e potên- mente empregado em estudos orientados pelo Prof. Paavo V.
cia. O capítulo representa um seguimento e uma ver- Komi, no Neuromuscular Research Center, da Universidade
são atualizada de nossas revisões anteriores sobre o de Jyväskylä, Finlândia.
220 PAAVO V. KOMI

al., 1996, 1999; Nicol et al. 1996a,b). Ao ajustar a corrida de 85 km de esqui cross-country (Viitasalo et
posição do sujeito no trenó deslizante, a fadiga pode al., 1982) e semana de lazer de esqui alpino (Strojnik
ser induzida seletivamente nos músculos dos mem- et al., 2001a; Strojnik et al., 2001b). Esses modelos
bros superiores (Fig. 11.1a) ou inferiores (Fig. 11.1b). de longa distância caracterizam mais especificamen-
O protocolo referente aos membros superiores (Go- te os efeitos de grande número de ações musculares
llhofer et al., 1987a) incluiu 100 CAEs submáximos excêntricas repetidas em vários aspectos da função
com ambos os braços. No protocolo básico de fadiga neuromuscular.
dos músculos extensores do joelho, o exercício é re-
alizado na posição sentada, com tantos ressaltos Protocolos de teste
quanto possível a uma determinada altura submáxi-
ma (70 a 80% da altura máxima de ressalto). Em ge- Em muitos estudos, a resposta à fadiga é analisa-
ral, a exaustão é alcançada após 100 a 400 repetições da durante a realização do exercício, assim como em
(Horita et al., 1996; Horita et al., 1999; Nicol et al., testes de força estáticos e dinâmicos imediatamente
1996a; Nicol et al., 1996b), correspondendo de 2 a 5 antes e após o exercício do tipo CAE. Os testes são
minutos de exercício intenso. repetidos várias vezes no período de recuperação
Os exercícios do tipo CAE prolongado incluem dife- (após 2 h e 2 dias, assim como 4 a 5 e 7 a 10 dias
rentes combinações de duração-intensidade de cor- após).
rida de endurance e esqui como corrida de 10 km por Para isolar os vários componentes da fadiga in-
não-especialistas em endurance (Nicol et al. [submeti- duzida pelo CAE, comparações avaliam as alterações
do]), corridas experimentais de maratona (Komi et EMG de superfície, cinéticas e cinemáticas em CAEs
al., 1986; Nicol et al., 1991a; Nicol et al., 1991b; máximos e submáximos, assim como em tipos mais
Nicol et al., 1991c; Pullinen et al., 1997; Avela e Komi, isolados de condições ativas e passivas de teste. Os
1998a; Avela et al., 1999; Kyröläinen et al., 2000), níveis séricos de atividade da creatina cinase (CK), de

Figura 11.1 Representação


esquemática do protocolo de ciclo
alongamento-encurtamento em
condições de fadiga para braços (a) e
pernas (b). Os sujeitos realizaram
sucessivos movimentos de ressalto no
trenó para uma altura de elevação
submáxima. Ambos os exercícios
fatigantes demonstraram alteração
progressiva no registro da força de
reação na fase de contato na
plataforma de força. Os registros (c,d)
foram classificados para 10 curvas
força-tempo sucessivas no início, meio
e fim do exercício. Observe no
exercício de braço o claro incremento
no impacto de pico. Em ambos os
protocolos, o impacto é acompanhado
por maior queda na força quando a
fadiga progride. Todas as figuras foram
modificadas das originais. (a e c:
Gollhofer et al., 1987a; b: Nicol et al.,
1996a; d: Horita, 2000).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 221

mioglobina esquelética (Mb), de troponina I (TnI) e trabalho na fase final de contato com o solo (Fig.
de anidrase carbônica (CAIII) atuam como indicado- 11.2b). Esses resultados ainda enfatizam que os tes-
res indiretos de microlesão muscular induzida pelo tes com elevada intensidade de sobrecarga/velocida-
exercício. A concentração de lactato sangüíneo serve de poderiam ser empregados para revelar a real fra-
como indicador de fadiga metabólica. queza da função neuromuscular enquanto se realiza
exercícios do tipo CAE de longa duração, em vez dos
testes convencionais de corrida submáxima. O estu-
Alterações durante o exercício em do da maratona de Avela e Komi (1998b) confirma
condições de fadiga essa observação.
Exercícios do tipo CAE mais curtos, porém com
O desenvolvimento progressivo da fadiga duran- ressaltos mais intensos, geralmente induzem incre-
te a realização de exercícios do tipo CAE prolongado mento de quase 30% no tempo de contato em exer-
é claramente individual e dependente do exercício, cícios de braço (Gollhofer et al., 1987a) e de pernas
tanto do seu timing como da sua amplitude. Os resul- (Horita, 2000) (Fig. 11.1c,d). Similar ao observado em
tados de estudos em corrida de 10 km (Ftaiti et al., exercícios do tipo CAE prolongado, o fator associa-
2000) e em maratona (Nicol et al., 1991c; Kyröläinen se com uma clara queda na resistência ao alonga-
et al., 2000) demonstram que a cinemática em corri- mento. Como demonstrado na Figura 11.1c, muitos
da submáxima e a economia de corrida não se inter- sujeitos apresentaram um claro e progressivo incre-
relacionam diante do progresso da fadiga. Isso suge- mento no pico de impacto (Gollhofer et al., 1987a).
re que as alterações no padrão de corrida refletem Isso faz com que o desenvolvimento da incapacidade
ajustes à fadiga, em vez de qualquer incapacidade real contrátil devido a sobrecargas repetidas de alonga-
para compensá-la. No entanto, testes com maior ní- mento e fadiga metabólica combinadas eventualmen-
vel de sobrecarga (salto em profundidade e corrida te se torne tão fatigante que o sistema neuromuscu-
de velocidade) podem revelar deterioração mais ho- lar precisa alterar a regulação da “rigidez” muscu-
mogênea da função muscular (Nicol et al., 1991a). lotendínea pelo incremento do nível de pré-ativação.
Tal efeito caracteriza-se pelo decréscimo parabólico A partir daí, espera-se que o incremento resultante
da velocidade da corrida após os primeiros 20 km do pico de impacto induza um ciclo vicioso pela me-
(Fig. 11.2a), com diminuição associada na resistência nor tolerância ao estiramento, produzindo uma per-
à sobrecarga de impacto e subseqüente aumento do da no recuo elástico e subseqüente necessidade de

Figura 11.2 (a) Alteração relativa da velocidade máxima de sprint a cada 10 km durante maratona (100% = antes do valor da
maratona). (b) Duração (média ± desvio padrão) da fase inicial de contato com o solo nos sprints ao longo da maratona. Adaptada,
com permissão, de Nicol e colaboradores (1991a).
222 PAAVO V. KOMI

aumento do trabalho na fase final de apoio. A desco- xima de ressalto, o aumento do tempo de contato
berta de Horita (2000) de um claro desvio de ponto compensa eficazmente a menor produção de força,
no ajuste à fadiga após o estágio médio de um exer- contribuindo para manter o trabalho externo. No
cício de ressalto de perna até a exaustão traça um entanto, as tendências opostas de alterações na am-
paralelo a essa concepção. Os primeiros dois terços plitude de movimento (AM) do joelho e do tornoze-
do exercício apresentam limitada alteração cinética e lo sugerem a tentativa de compensação entre os dife-
cinemática na fase de contato (Fig. 11.3b,c), mas gran- rentes segmentos que pode não ser suficiente, como
de alteração cinemática na fase de vôo (Fig. 11.3a), indicado pelo incremento considerável do tempo de
acompanhada por ajuste claro no sinal EMG duran- contato ao final do exercício.
te a respectiva pré-ativação (Fig. 11.4a) e nas fases de Esses resultados demonstram que o processo de
contato com o solo (Fig. 11.4b). Após tendência ini- adaptação neuromuscular pode ser claramente mo-
cial de efeito de aprendizagem no primeiro terço do dificado durante exercício do tipo CAE exaustivo.
exercício de ressalto, a ativação dos músculos exten- Preconiza-se que, no estado não-fatigado, os mús-
sores do joelho demonstra incremento linear na fase culos amortecem o impacto no CAE pelo suave in-
de contato com o solo (Fig. 11.4b). Os valores está- cremento da força e do movimento articular. Duran-
veis associados de amplitude de movimento da arti- te o desenvolvimento progressivo da fadiga, a questão
culação do joelho (AM) e de tempo de contato de- da rigidez de tempo variado demonstra significativa
monstram a eficácia dessa adaptação para contraba- interação entre a cinemática pré-aterrissagem e a re-
lançar a perda de força dos extensores do joelho (Fig. gulação da rigidez pós-aterrissagem. Esses resulta-
11.3b,c). Então, a parte excêntrica do CAE parece agir dos demonstram, ainda, a plasticidade e a eficácia dos
eficazmente até o estágio médio do exercício. Na se- ajustes neuromusculares para o incremento da fadi-
gunda metade das séries de ressalto, no entanto, a ga durante exercícios do tipo CAE submáximos. Es-
cinemática articular pré-aterrissagem altera de ma- ses ajustes nas fases iniciais do exercício fatigante
neira considerável (Fig. 11.3a) e influencia significa- podem explicar por que alguns estudos com exercí-
tivamente a regulação subseqüente da rigidez pós- cios do tipo CAE muito moderados apresentam efei-
aterrissagem (Fig. 11.3b) e o tempo de contato (Fig. tos da fadiga mínimos, ou em alguns casos, até me-
11.3c). No exercício do tipo trenó em altura submá- lhoram o desempenho (Hortobágyi et al., 1991).

Figura 11.3 Alteração relativa na cinemática (a,b) e cinética (c) no período de exercício do tipo CAE. AM: amplitude de movimento
(ref. 0 = primeiros 10% do exercício) (Horita, 2000).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 223

Figura 11.4 Alteração relativa na atividade EMG dos músculos vasto lateral (VL), vasto medial (VM), gastrocnêmio (G) e sóleo
(SOL) nas fases de pré-ativação, início* e final** de contato com o solo no exercício do tipo CAE. As alterações são expressas como
porcentagem dos níveis EMGs iniciais registrados nos primeiros 10% do exercício (dados de Horita, 2000).
*N. de R.T. Relativo à “braking fase”.
**N. de R.T. Relativo à “push-off fase”.

Alterações agudas e retardadas tensão isométrica máxima do joelho decresce cerca


de 20 a 30% após a realização prolongada do esqui
Os exercícios do tipo CAE intensos e/ou inco- cross-country (Viitasalo et al., 1982) e da maratona
muns prejudicam a função neuromuscular. Eles po- (Nicol et al., 1991b; Pullinen et al., 1997; Avela et al.,
dem ser agudos ou retardados em natureza (Komi e 1999). A taxa de produção de força* é também consi-
Nicol, 2000a; Komi e Nicol, 2000b; Komi, 2000). Si- deravelmente reduzida e acompanhada de lenta re-
milaridades notáveis podem ser encontradas nos re- cuperação (Pullinen et al., 1997) (Fig. 11.5). De acor-
sultados dos estudos sobre fadiga no CAE de curta e do com o conceito do efeito “fadiga-dependente”, a
longa duração, assim como na plasticidade dos ajus- recuperação da atividade EMG e da força máximas
tes neuromusculares, que dependem da intensidade pode permanecer incompleta até o 6º- dia após exer-
dos exercícios do tipo CAE em condições de fadiga, cício intensivo do tipo CAE (Pullinen et al., 1997)
além das demandas das tarefas do teste. Nos pará- (Fig. 11.5), enquanto em uma situação de fadiga me-
grafos seguintes, essas respectivas alterações serão nos intensa induzida pelo CAE, tal como uma sema-
referidas como efeitos “fadiga-dependentes” e “tare- na de esqui alpino de lazer, a melhoria na contração
fa-dependentes”. Ademais, será dada ênfase especial voluntária máxima (CVM) pode ser observada já na
às potenciais alterações reflexas e a seu importante segunda metade da semana.
papel nos exercícios do tipo CAE, cujas sobrecargas Algumas tentativas procuram diferenciar o res-
de estiramento são elevadas. Por conta disso, a rigi- pectivo papel da fadiga central e periférica. Susten-
dez muscular deve ser bem regulada a fim de se ade- tando a hipótese de incapacidade contrátil, a queda
quar às sobrecargas externas. na CVM após a maratona é associada com evidente
declínio na capacidade de manter um nível de 60%
Influência na ativação neural da força isométrica, apesar do incremento da ativa-
máxima e na produção de força ção neural (Nicol et al., 1991b). Por sua vez, Strojnik
estática
A ativação máxima e a força isométrica caem con-
sideravelmente após exercícios do tipo CAE. A ex- *N. de R.T. Relativo à “rate of force development”.
224 PAAVO V. KOMI

Influência nos desempenhos


dinâmicos
A comparação das alterações induzidas pela fa-
diga nas várias condições de teste dinâmico revela
contínuos ajustes na incapacidade contrátil. Indepen-
dentemente do exercício tipo CAE empregado para
induzir fadiga, um claro “efeito de teste tarefa-de-
pendente” enfatiza a plasticidade dos ajustes neurais.
Similar ao relatado na condição estática do teste
(Nicol et al., 1991b), observam-se tendências eviden-
tes de facilitação nas tarefas com esforço submáximo
ou inibição em condições de teste máximo mais es-
Figura 11.5 Curva isométrica força-tempo da extensão tressantes. No desempenho do CAE, os ajustes cen-
máxima do joelho mensurada imediatamente antes e após uma trais e reflexos são, portanto, ativos, mas variam no
maratona, assim como 2, 4 e 6 dias após. Observe o grande e
imediato decréscimo na taxa de produção de força e em sua período de recuperação, assim como dependem da
lenta recuperação no 4º- dia após a maratona (Pullinen et al., tarefa do teste.
1997).

Testes de esforço submáximo


e colaboradores (2000) analisaram o efeito de uma Assim como os eficientes ajustes compensató-
semana de esqui alpino de lazer na CVM realizada rios durante a realização de exercícios do tipo CAE
sem (CVM) e com eletroestimulação adicional (CV- fatigantes, os desempenhos submáximos mantidos
MES). Conforme demonstrado na Figura 11.6, hou- são registrados após a maratona (Komi et al., 1986;
ve declínio na força da CVM e da CVMES após o Nicol et al., 1991c), bem como após exercícios de
primeiro dia de esqui, mas no 4º- dia somente a CVM/ ressaltos de braços (Gollhofer et al., 1987a). A fadiga
CVMES é significativamente reduzida, o que sugere induz inúmeras alterações cinéticas e cinemáticas:
ajuste central à fadiga contrátil. Essa última altera- membro mais estendido no impacto, subseqüente fle-
ção é seguida no dia subseqüente (dia 5) pela auto- xão mais longa e mais rápida do membro, com queda
redução significativa da distância a ser percorrida, na força vertical de reação do solo após o pico de
definida livremente pelos esquiadores. impacto. Essa deterioração da eficácia do CAE na fase
de contato com o solo é associada com incremento
da atividade EMG dos músculos extensores e da ra-
zão EMG/força na fase final de contato. O aumento
do trabalho na fase final de contato permite a manu-
tenção do desempenho de corrida ou de salto. Além
disso, uma tarefa fácil de teste do CAE, que consiste
de salto em freqüência preferida, é geralmente carac-
terizada pela ausência de alterações significativas, seja
na atividade EMG ou na produção de força.
O conceito “efeito tarefa-dependente” também é
fundamentado pela análise específica das respostas
EMG reflexas. Como demonstrado na Figura 11.7,
os componentes de curta, média e longa latência da
resposta EMG do reflexo de estiramento variam da
facilitação à inibição com o incremento da sobrecar-
Figura 11.6 Valores relativos de contração voluntária máxima
sem (CVM) e com eletroestimulação adicional (CVMES) antes e
ga (Gollhofer et al., 1987b; Komi e Gollhofer, 1987).
durante uma semana de esqui alpino de lazer e os sete dias Então, em testes submáximos, a contribuição do re-
posteriores (dia 14) (modificado de Strojnik et al., 2001a). flexo de estiramento na fadiga implica a tentativa do
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 225

Figura 11.7 Efeitos da fadiga de 100


movimentos sucessivos com ressaltos
realizados com os braços sobre as
respostas reflexas de estiramento
isoladas dos registros EMGs de superfície
globais em três condições de teste de
intensidade progressiva (SCL, MLC e
LLC, respectivamente, para os
componentes EMG de curta, média e
longa latência das respostas reflexas de
estiramento) (adaptada, com permissão,
de Komi e Gollhofer, 1987).

sistema nervoso de compensar a perda da força con- induzir a um declínio de atraso de dois dias no de-
trátil para resistir a repetidas sobrecargas de impacto sempenho do CAE (salto em profundidade*), sem
em virtude do aumento da ativação. decréscimo associado no desempenho concêntrico
puro (salto em agachamento**) (Horita, 2000).
A evidência é suficiente para sugerir uma relação
Testes de esforço máximo
entre a modulação do input neural aos músculos e as
Os testes de força dinâmica máxima também ca- respectivas alterações na resposta do reflexo de esti-
racterizam a recuperação bimodal do desempenho. ramento ao se considerar as alterações EMG obser-
A tendência bimodal refere-se ao considerável declí- vadas. A Figura 11.8 demonstra paralelismo do de-
nio funcional imediatamente após o exercício do tipo créscimo bimodal das respostas EMG ativas do reflexo
CAE exaustivo, seguido pela recuperação de curto de estiramento (Fig. 11.8a,b) e a regulação da rigidez
prazo (durante as poucas horas pós-exercício). Tam- de aterrissagem (Fig. 11.8a-c), sendo que o último
bém verifica-se uma subseqüente queda secundária parâmetro reflete uma evidente perda de tolerância
próxima do 2º- ou 3º- dia após o exercício (Horita et ao impacto (Avela et al., 1999). As alterações retarda-
al., 1999; Horita, 2000). As reduções paralelas agu- das induzidas pela fadiga ocorrem concomitantemen-
das e retardadas afetam a rigidez articular pré-ativa- te ao incremento retardado na atividade da CK que é
ção e pré e pós-aterrissagem. Elas também modifi- esperado como resultado da microlesão muscular e
cam o desempenho no CAE, independentemente da do subseqüente processo inflamatório. Essas obser-
natureza do exercício tipo CAE em condições de fa- vações confirmam descobertas anteriores
diga (Avela e Komi, 1998a; Avela e Komi, 1998b; (Horita et al., 1996; Avela e Komi, 1998a; Avela e
Horita et al., 1999). Várias estratégias compensatóri- Komi, 1998b).
as para a incapacidade contrátil aguda e retardada
podem ser observadas em testes que apresentam Respostas reflexas específicas
menor demanda para os sujeitos, apoiando o concei-
to de “efeito tarefa-dependente”. A maratona pode Em virtude de não ser sempre fácil isolar a res-
não produzir alterações agudas no salto com contra- posta EMG reflexa de estiramento dos registros EMG
movimento (CMJ) máximo, mas promove um claro globais, o potencial efeito da fadiga induzida pelo CAE
declínio no desempenho isométrico, assim como em também pode ser analisada de forma indireta em tes-
situações do tipo CAE mais estressantes (testes má-
ximos de salto em profundidade, salto quíntuplo e
corrida de velocidade) (Nicol et al., 1991a; Nicol et *N. de R.T. Relativo ao “drop-jump” (DJ).
al., 1991b). O exercício exaustivo de ressalto pode **N. de R.T. Relativo ao “squat-jump” (SJ).
226 PAAVO V. KOMI

Figura 11.8 Tendência bimodal de recuperação observada em sete sujeitos após maratona: padrões EMGs retificados e médios
dos músculos sóleo (SOL) e vasto lateral (VL), assim como a curva da força vertical de reação do solo (Fz) tempo em 10 ressaltos
sucessivos no trenó antes e após corrida (a). Corresponde ao componente ativo do reflexo de curta latência (EMGa M1) dos
músculos SOL e VL (b) e regulação da rigidez pós-aterrissagem como determinado pelo decréscimo da força pico (DFP) mensurada
no registro Fz (c). Adaptada, com permissão, de Avela e colaboradores (1999b).

tes reflexos passivos (Fig. 11.9). Nesse caso, um po- na, no entanto, Avela e colaboradores (1999) obser-
tente instrumento induz alongamento passivo dos varam redução aguda na taxa da onda H/M, mas sem
músculos da perna em velocidades angulares baixas declínio secundário.
e intermediárias (60 a 180°·s–1). O teste de reflexo de A Figura 11.10 combina as descobertas de dois
Hoffmann (reflexo H) do músculo sóleo também de- estudos recentes (Nicol et al., submetido; Kuitunen
tecta potenciais alterações no nível de excitabilidade et al., 2002). Nessas abordagens, a fadiga foi induzida
espinal. Exercícios de ressaltos, do tipo CAE intensi- pela realização de corrida de 10 km em velocidade
vo, fortalecem uma tendência bimodal ao declínio na predeterminada ou em exercício curto, mas intenso,
resposta EMG reflexa pico a pico nos alongamentos de ressalto no ergômetro trenó. A principal influên-
passivos após maratona (Avela et al., 1999). Esse sis- cia da inibição reflexa retardada no decréscimo do
tema pode ser assim configurado também após exer- torque é demonstrada por relações positivas, ambas
cício de ressaltos muito intenso no trenó (Nicol et nos dias 2 (Fig. 11.10) e 7, entre as respectivas altera-
al., 1996a). No último caso, isso foi associado com ções na EMG e nas respostas reflexas de torque.
decréscimo bimodal da resposta do reflexo H, ten- A Figura 11.11 fornece suporte adicional ao pa-
dência observada após um de três sucessivos exercí- ralelismo entre diferentes parâmetros na recupera-
cios exaustivos de ressalto no trenó (Nicol et al., ção bimodal após o exercício do tipo CAE. Na recu-
1996b), assim como após 75 minutos de estimulação peração da corrida de 10 km, as alterações retardadas
elétrica combinada com alongamento passivo repe- de dois dias na resposta reflexa mecânica do tríceps
tido (Ogiso et al., em desenvolvimento). Na marato- sural ao alongamento passivo são significativamente
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 227

Figura 11.9 Representação esquemática do teste reflexo de estiramento com análise EMG associada (esquerda) e resposta reflexa
mecânica (direita).
*N. de R.T. Gastrocnêmio lateral.

relacionadas às respectivas alterações na ativação


muscular na fase de contato inicial do pé com o solo,
em teste máximo de salto em profundidade (DJ). Isso
sugere que, quanto maior a incapacidade contrátil,
maior a redução na ativação do tríceps sural nessa
fase no teste máximo de salto em profundidade (DJ).
Esse fenômeno está de acordo com o ajuste “fadiga-
dependente” dos mecanismos neurais compensató-
rios que variam da facilitação à inibição.
A apresentação precedente pode dar a impressão
de que a resposta à fadiga e a subseqüente recupera-
ção representam padrões muito generalizados. Isso
não é uma verdade absoluta em todos os casos, pois
as respostas induzidas pelo CAE podem ser muito
individuais em natureza. A Figura 11.12 fornece
exemplos dessa variedade de respostas. Nesses estu-
dos recentes (Nicol et al., submetido; Kuitunen et
al., 2002), a resposta reflexa mecânica pura de 12 su-
jeitos foi dividida em três subgrupos; G1 apresenta
somente alterações agudas (Fig. 11.12a); G2 acom-
Figura 11.10 Parte superior, efeitos da fadiga aguda e panha a tendência bimodal esperada (Fig. 11.12b) e
retardada de dois diferentes exercícios do tipo CAE na resposta G3 apresenta taxa lenta adicional de relaxamento nos
reflexa mecânica (resposta de torque) do grupo muscular tríceps dias 2 e 4 após o exercício (Fig. 11.12c). As altera-
sural a uma série de estiramentos passivos. Os valores são ções mecânicas retardadas variam de acordo com
expressos como porcentagem dos valores pré-fadiga. Parte
as respectivas alterações na resposta EMG reflexa e
inferior, relação significativa entre efeitos da fadiga retardada
relativa ao dia dois no torque reflexo de estiramento e as na atividade da CK. Como demonstrado pelas limi-
respectivas alterações da resposta EMG reflexa registrada do tadas alterações na CK, o primeiro subgrupo inclui
músculo sóleo (SOL). os sujeitos menos fatigados de ambos os estudos.
Figura 11.11 (a,b) Alteração relativa induzida por corrida de 10 km em condições de fadiga na resposta reflexa de estiramento
passivo mecânico. (c) Relação, no segundo dia pós-exercício, entre a respectiva alteração induzida pela fadiga na resposta reflexa
mecânica passiva na ativação dos músculos tríceps sural e gastrocnêmio lateral (GL) na fase inicial de apoio do pé no solo no teste
máximo de salto em profundidade (DJ). Dados de Nicol e colaboradores (submetido) e Kuitunen e colaboradores (2002).

Figura 11.12 Efeitos do exercício CAE em condições de fadiga na resposta reflexa passiva mecânica (resposta de torque) (duas
linhas superiores do gráfico) com as respectivas alterações na concentração sérica de lactato e na atividade da creatina cinase (CK).
Os dados são apresentados para 12 sujeitos divididos em três subgrupos de acordo com as respostas reflexas do torque de pico e
médio (T): G1 com somente alterações agudas (a); G2 com tendência bimodal (b); G3 com taxa adicional mais lenta de relaxamento
nos dias 2 e 7 pós-exercício (c) (dados de Nicol et al., submetido).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 229

Esses resultados demonstram que a função mus- tes cruzadas acopladas, provavelmente em combi-
cular e a regulação da rigidez podem ser prejudica- nação com leve aumento em seu número (Sugi e
das em um atraso, mas de maneira individual após Tsuchiya, 1988; Lombardi e Piazzesi, 1990), e a força
exercícios CAE exaustivos. No entanto, há um claro resistiva passiva das proteínas citoesqueléticas encon-
paralelismo entre as respectivas alterações no desem- tradas na região intra-sarcomérica, tal como a titina
penho, na ativação neural (central e periférica) e nos (Edman e Tsuchyia, 1996), a desmina (Lieber et al.,
indicadores indiretos de fontes metabólicas ou es- 1996) e a nebulina (Patel e Lieber, 1997). Os exercí-
truturais de fadiga. Isso implica a existência de po- cios excêntricos também apresentam a vantagem do
tencial ligação entre o tipo contrátil de incapacidade menor custo energético (Asmussen, 1956) que po-
e os ajustes centrais e periféricos durante a recupe- deria resultar de menor recrutamento das unidades
ração. motoras em determinado nível de força (Komi, 1973)
e do desacoplamento mecânico das pontes cruzadas
pela aplicação de força externa (Morgan, 1990).
Mecanismos potenciais No entanto, parece evidente que os exercícios
intensos e prolongados envolvendo ações muscula-
O capítulo anterior enfatizou a demonstração do res excêntricas induzem ajustes neuromusculares
papel dominante da fase excêntrica no CAE em con- agudos e retardados à fadiga. Na análise da fadiga
dições de fadiga. Exercícios intensos ou prolonga- induzida por exercício do tipo CAE, também deve-se
dos, especialmente envolvendo ações musculares ex- considerar as ações musculares concêntricas envol-
cêntricas incomuns, são tipicamente associados com vidas, estímulo que aumenta consideravelmente no
dor muscular tardia — DMT (DOMS*). Já em 1902, exercício padrão no período da fadiga (Fig. 11.2b)
suspeitava-se que essa dor era causada por microle- (Nicol et al., 1991c; Horita, 2000). O aumento do tra-
são muscular induzida por exercício (Hough, 1902). balho concêntrico observado em paralelo com a di-
Desde essas tentativas iniciais, os exercícios excên- minuição da eficácia do CAE com a fadiga é espera-
tricos passaram a ser estudados muito amplamente do para induzir um tipo metabólico potencial de
em modelos humanos e animais. A literatura atual fadiga que varia de acordo com a intensidade e com a
oferece muitos artigos e revisões abrangentes sobre duração do exercício do tipo CAE. Esse componente
as características da fadiga excêntrica. Isso inclui le- de fadiga deveria, então, ser considerado no estudo
são muscular e DMT, mas também distensão e rigi- da tendência bimodal dos distúrbios funcionais. Após
dez muscular, além de reduções associadas da ampli- exercícios do tipo CAE exaustivos, a freqüente ob-
tude de movimento e força muscular, como percepção servação de rápida recuperação parcial dos parâme-
alterada de força e posição (Komi e Viitasalo, 1977; tros funcionais, na segunda hora após o exercício, su-
Waterman-Storer, 1991; Kuipers, 1994; Clarkson e gere que a fraqueza muscular aguda pode resultar
Newham, 1995; MacIntyre et al., 1995; Brockett et dos efeitos combinados das alterações metabólicas
al., 1997; Lieber e Fridén, 1999; Grabiner, 2000). O induzidas pelo exercício e pela lesão ultra-estrutural.
incremento retardado na amplitude de tremor mani- Já a recuperação prolongada poderia resultar de pro-
festa-se após exercício excêntrico intenso do braço cesso inflamatório alguns dias após a lesão. A inten-
(Saxton et al., 1995). Os mecanismos referentes a le- sidade e a duração do exercício que induz fadiga na-
são e dor musculares são muito bem estudados, em- turalmente dependem do exercício do tipo CAE,
bora as respostas finais ainda não tenham sido en- assim como da familiaridade (adaptação) dos sujei-
contradas. tos à tarefa.
Está bem documentado o fato de o aumento da A primeira parte deste capítulo descreveu em
força decorrente do alongamento ativo (ação excên- detalhes como os ajustes neuromusculares ocorrem
trica) resultar da combinação de vários fatores (Ca- em tendência bimodal durante a incapacidade con-
pítulo 9). Isso inclui incremento da tensão das pon- trátil induzida pelo exercício. A principal questão, no
entanto, situa-se na identificação dos mecanismos
capazes de explicar os ajustes observados na indução
*N. de R.T. Sigla originada da expressão inglesa “delayed-onset da incapacidade muscular, especialmente relaciona-
muscle soreness”. dos aos exercícios do tipo CAE.
230 PAAVO V. KOMI

Alterações estruturais e funcionais exercício durante a regeneração muscular. Os mús-


associadas com a fadiga do tipo culos doloridos ficam geralmente rígidos e sensíveis.
excêntrica Sua capacidade de produzir força diminui por vários
dias ou semanas (Asmussen, 1956; Komi e Buskirk,
Tendências gerais 1972; Komi e Ruslo, 1974; Komi e Viitasalo, 1977;
Sherman et al., 1984; Howell et al., 1993; Murayama
Lesão muscular estrutural de longo prazo, mas et al., 2000). Ainda que a rigidez aumente com o
reversível, representa um indicador comum de lesão período de tempo paralelo à dor muscular (Jones et
por exercícios que envolvam ações musculares ex- al., 1987), esta freqüentemente dura mais tempo
cêntricas. A lesão tem sido evidenciada diretamente (Howell et al., 1993; Chleboun et al., 1998).
de análise histológica e indiretamente do decréscimo
na força, na amplitude de movimento e na concen- Efeitos agudos
tração sangüínea de proteínas musculares (para revi-
são, ver Clarkson e Newham, 1995; Fridén e Lieber, No modelo de Armstrong (Armstrong, 1990; Ar-
2001a; Fridén e Lieber, 2001b). Está bem documen- mstrong et al., 1991), o “estágio inicial” inclui eventos
tado que as anormalidades citoesqueléticas e miofi- que desencadeiam o processo total de lesão muscu-
brilares observadas após ações musculares excêntri- lar e reparo. No exercício excêntrico puro, existe for-
cas alcançam um pico entre 2 a 3 dias após o exercício. te evidência de que a lesão local inicial resulte mais
Há perda da arquitetura muscular normal em áreas de mecanismos mecânicos do que de metabólicos
adjacentes aos sarcômeros e às fibras lesionadas (Evans e Cannon, 1991; Lieber e Fridén, 1993;
(Fridén et al., 1983a; Fridén et al., 1983b; Newham Warren et al., 1993a; Brooks et al., 1995). Estudos
et al., 1983a). O modelo proposto por Armstrong histológicos têm relatado evidência direta da exten-
(Armstrong, 1990; Armstrong et al., 1991) diferencia siva desorganização e mesmo de rompimento das es-
quatro estágios subseqüentes: “inicial”, “autogenéti- truturas miofibrilares e dos filamentos intermediá-
co”, “fagocítico” e “regenerativo”. Tal sistema serve rios, induzindo ao desalinhamento da linha-Z classi-
de estrutura para pesquisa sistemática desse proces- camente observado (Fridén et al., 1981; Fridén et al.,
so (Fig. 11.13). Como demonstrado nessa figura, os 1984; Waterman-Storer, 1991). O índice de rompi-
exercícios incomuns e/ou intensos envolvendo ações mento do sarcolema (Hikida et al., 1983; McBride et
musculares excêntricas são associados com DMT, al., 2000), intumescimento e rompimento do sistema
com uma típica sensação de dor e com desconforto. sarcotubular (Armstrong, 1990; Fridén e Lieber,
Os sintomas aumentam em intensidade nos primei- 1996), intumescimento mitocondrial (Warhol et al.,
ros dois dias. A dor então permanece sintomática por 1985; Stauber, 1989), assim como lesão da matriz
mais 1 a 2 dias e desaparece entre 5 a 7 dias após o extracelular (Myllylä et al., 1986; Han et al., 1999;

Figura 11.13 Representação


esquemática de quatro diferentes
estágios relacionados à lesão muscular
induzida pelo exercício (excêntrico) e as
sensações subjetivas de dor e
desconforto associadas às alterações
musculares na dor muscular tardia —
DMT (DOMS).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 231

Koskinen et al., 2001), também têm sido registrados. músculos de ratos 1 a 2 horas após corrida em decli-
Elevadas tensões podem ser geradas por determina- ve (McBride et al., 2000). Foi sugerido que esse re-
do número de fibras recrutadas sob condições ex- sultado seria conseqüência do aumento da permea-
cêntricas (Bigland-Ritchie e Woods, 1976; Faulkner bilidade do Na + no músculo devido à lesão do
et al., 1993). Porém, isso parece não representar um sarcolema, assim como pela ativação dos canais de
alto estresse que, per se, seja a causa primária da lesão íons ativados por estiramento. A magnitude e a dura-
muscular, e sim a magnitude da tensão ativa (Lieber ção da despolarização pós-exercício estão relaciona-
e Fridén, 1993) ou a combinação da tensão e da força das à intensidade (número de contrações excêntri-
média (Brooks et al., 1995). É esperado que a tensão cas) e ao número de exposições anteriores ao
excessiva induza o rompimento da membrana intra exercício. As diferenças entre os protocolos parecem
e/ou extracelular que pode permitir hidrólise das pro- explicar parcialmente os resultados opostos registra-
teínas estruturais, provocando desorganização mio- dos por Warren e colaboradores (1993b e 1999) após
fibrilar (Lieber e Fridén, 1999). O rompimento resul- exercício excêntrico intenso em ratos. De modo si-
tante do sarcômero e da fibra muscular poderia milar, a revisão de Warren e colaboradores (2001)
contribuir para a alteração comum da relação com- baseou-se em estudos do músculo do camundongo
primento-tensão ao longo do comprimento muscu- submetido à estimulação elétrica máxima, modelo que
lar após exercício excêntrico (Katz, 1993; Wood et claramente difere do exercício excêntrico voluntário.
al., 1993; Jones et al., 1997). É interessante notar que Nos exercícios voluntários do tipo CAE, a hipótese
as atividades físicas envolvendo um número elevado de uma dissociação da excitação-contração devido à
e repetido de contrações com alongamentos relati- lesão do sarcolema induzida pelo exercício também
vamente pequenos provocam lesão muscular grave é improvável, pois a recuperação parcial é observada
(Fridén et al., 1983b; Newham et al., 1983b; Lieber e total e sistematicamente quando testada cerca de 2
Fridén, 1993). Há, também, evidência de que o exer- horas pós-exercício (Figs. 11.10 a 11.12).
cício excêntrico representa diferentes gravidades em A literatura apresenta resultados equivocados no
músculos com diferentes arquiteturas (Lieber e que diz respeito aos efeitos desses mecanismos po-
Fridén, 2000; Fridén e Lieber, 2001b) e que as fibras tenciais na queda inicial da força após exercícios ex-
de contração rápida são mais suscetíveis que as de cêntricos e do tipo CAE. De acordo com Morgan e
contração lenta à lesão muscular (Fridén et al., 1983b; Allen (1999), as instabilidades no comprimento do
Fridén et al., 1988; Fridén e Lieber, 2001b; Vijayan et sarcômero explicam mais claramente a queda inicial
al., 2001). Além de suas diferenças estruturais, as fi- na tensão. O estudo de Lieber e colaboradores (1996)
bras de contração rápida apresentam menor capaci- sustenta essa hipótese ao demonstrar a relação sig-
dade oxidativa, que poderia resultar em incapacida- nificativa entre o rompimento citoesquelético indu-
de de desacoplamento das pontes cruzadas durante zido pelo exercício e a respectiva perda na força.
exercícios intensos, provocando uma resistência de- Nossas próprias descobertas empregando diferentes
sigual ao alongamento entre os sarcômeros e as fi- protocolos de fadiga enfatizam a influência adicional
bras musculares (Fridén e Lieber, 1992). da incapacidade metabólica. Considerando a simila-
No entanto, registros apontam que o desacopla- ridade das incapacidades funcionais induzidas por três
mento excitação-contração exerce influência princi- minutos de exercício intenso de ressaltos ou mara-
palmente na incapacidade funcional induzida pelo tona (Fig. 11.10), é sugerido que a acidose induzida
exercício excêntrico (Warren et al., 2001). Entre ou- pelo exercício intenso (refletido por 10 e 4 mmol·L–1
tros parâmetros, distúrbios de condução do poten- de concentração de lactato sangüíneo, respectivamen-
cial de ação do plasmolema* foram registrados nos te) pode ter favorecido o rápido desenvolvimento de
resistência desigual ao alongamento e lesão muscu-
lar em conexão com o exercício mais intenso. Tal re-
lação estaria relacionada ao incremento do efeito le-
sivo das sobrecargas de alto impacto realizadas
durante o exercício de ressaltos. No entanto, supõe-
*N. de R.T. Membrana plasmática. se a ocorrência de desacoplamento excitação-con-
232 PAAVO V. KOMI

tração, mas com aumento do efeito nas fases subse- Horita et al., 1999) e na Figura 11.12, sugere-se que
qüentes do processo de degradação. Finalmente, nos- as alterações relativas na CK podem ser de alguma
sos resultados enfatizam o papel da menor ativação relevância para a detecção de inflamação tecidual e
máxima na queda da força voluntária máxima após de defeitos funcionais associados com a fadiga pe-
exercícios do tipo CAE em condições de fadiga lo CAE. Outros indicadores de inflamação incluem
(Nicol et al., 1991b; Pullinen et al., 1997). A desco- rubor, calor e intumescimento, assim como dor e ri-
berta de grande decréscimo imediato na amplitude gidez.
das respostas de estiramento e do reflexo H (Nicol et O “estágio autogenético” corresponde às primeiras
al., 1996b; Avela et al., 1999) tende a fundamentar a 3 a 4 horas após a lesão e marca o início do processo
hipótese de inibição reflexa da ativação do músculo de degradação das estruturas da membrana. O mo-
lesionado capaz de contribuir para a fragilidade fun- delo prediz que a lesão induzida pelo exercício no
cional (Fig. 11.14). sarcolema, no sistema túbulo-T e no retículo sarco-
plasmático (RS) poderia elevar a perda da homeosta-
Efeitos retardados se do Ca2+. Após o exercício vigoroso, registra-se di-
latação focal extrema do RS acompanhada por
Armstrong (1990) dividiu esse período inflama- depressão na taxa de consumo e diminuição da libe-
tório em dois estágios: autogenético e fagocítico. Am- ração de Ca2+. Com isso, há aumento da concentra-
bos os estágios são associados com a presença san- ção intracelular livre de cálcio [Ca2+]i (Byrd, 1992).
güínea de indicadores indiretos de lesão muscular, De acordo com as revisões de Ebbeling e Clarkson
tais como metabólitos protéicos musculares (p. ex., (1989) e Armstrong (1990), a alteração da [Ca2+]i em
troponina I, miosina de cadeia pesada) e aumento da repouso nas fibras lesionadas poderia aumentar a
atividade de enzimas musculares específicas (p. ex., protease endógena ativada pelo cálcio (p. ex., calpaí-
creatina cinase [CK], lactato desidrogenase) (para re- na), causando lesão muscular adicional. A calpaina
visão, ver Noakes, 1987). A atividade da CK é o sina- induz hidrólise específica de proteínas citoesqueléti-
lizador de lesão muscular mais freqüentemente utili- cas, como a desmina, mas não a actina e a miosina,
zado. No entanto, deveria ser notado que, devido à enquanto outras proteases estimuladas pelo cálcio
considerável variabilidade na magnitude da resposta agem diretamente nas linhas-Z (Reddy et al., 1975).
das enzimas séricas, o valor de pico não reflete a Belcastro (1993) demonstrou incremento da afinida-
quantidade de lesão muscular, sendo considerado um de da calpaína com o cálcio após o exercício. Isso
preditor ruim de alterações funcionais (Ebbeling e sugere que determinada quantidade de lesão poderia
Clarkson, 1989; Mair et al., 1995; Fridén e Lieber, ocorrer em menor concentração de cálcio. Medidas
2001a). Todavia, com base nos resultados de vários quantitativas agudas, assim como retardadas, da
estudos que induziram fadiga pelo CAE (Nicol et [Ca2+]i nos músculos em repouso após corrida em
al.,1996b; Kyröläinen et al., 1998; Avela et al., 1999; declive têm sido recentemente realizadas em ratos

Figura 11.14 Alterações na amplitude do


reflexo de estiramento mensuradas em
diferentes velocidades de estiramento (70,
110, 115 e 120°·s–1) e na razão onda H/M
do músculo sóleo (SOL) imediatamente após
exercício do tipo CAE exaustivo de curto
(experimento 1) e longo prazo (experimento
2) (dados de Avela et al., 1999b; Nicol
et al., 1996b).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 233

(Lynch et al., 1997). Os resultados indicaram aumento ciam com alterações na estrutura da parede vascular,
significativo na [Ca2+]i em repouso coincidente a de- provocando alterações estruturais e funcionais na
créscimo funcional. No entanto, deve ser menciona- membrana basal, além de migração de neutrófilos e
do que Lowe e colaboradores (1994) não registraram monócitos ao local da lesão (Evans e Cannon, 1991;
alteração imediata na [Ca2+]i. Sob o mesmo prisma, Fantone, 1993). A mobilização de neutrófilos é mai-
Lynch e colaboradores (1997) observaram alterações or após exercício excêntrico do que após exercício
na [Ca2+]i e na função muscular em 48 horas, mas concêntrico realizado pelos mesmos sujeitos em ní-
não em 24 horas pós-exercício. De acordo com Lyn- veis similares de consumo máximo de oxigênio (Smith
ch e colaboradores (1997), esses resultados combi- et al., 1989). Durante a inflamação, os monócitos acu-
nados sustentam a hipótese de que os músculos sub- mulam-se no local da lesão por quimiotaxia e sofrem
metidos ao exercício envolvendo ações musculares diferenciação morfológica e funcional, tornando-se
excêntricas mantêm as alterações na [Ca2+]i até a fase macrófagos. Uma vez ativados, os neutrófilos, monó-
inflamatória. citos e macrófagos são capazes de induzir fagocitose
Em relação aos efeitos funcionais relevantes, os (Faulkner et al., 1993) e de fornecer um suprimento
exercícios excêntricos e do tipo CAE são geralmen- fresco de mediadores de citocinas e de fatores citotó-
te associados com grande redução da força em esti- xicos que respondem em parte pela amplificação
mulação de baixa freqüência, mais do que em alta e pelo prolongamento da inflamação (Adams e
(Edwards et al., 1977; Newham et al., 1983a; Hamilton, 1988). Além disso, os macrófagos repre-
Strojnik e Komi, 2000). A menor liberação de Ca2+ sentam a fonte primária de citocinas, tais como a in-
pelo retículo sarcoplasmático serve como explicação terleucina-1 (IL-1) e o fator de necrose tumoral
para as maiores reduções da força em baixas freqüên- (TNF). Ambos alteram a permeabilidade do endoté-
cias de estimulação mais do que em altas (Davies e lio, provocando infiltração de leucócitos e edema.
White, 1981; Newham et al., 1983b; Westerblad et Como revisado por Evans e Cannon (1991), os ma-
al., 1993). De acordo com Allen (2001), a fadiga de crófagos secretam fibronectina e proteoglicanos. Es-
baixa freqüência também poderia ser causada pela ses ajudam a estabilizar a matriz extracelular, pro-
menor taxa de elevação na força dos sarcômeros su- movem adesão celular e estimulam a proliferação de
peralongados enfraquecidos. No presente estágio, não fibroblasto, além de ajudar na síntese de colágeno por
é possível concluir se um desses mecanismos contri- meio da IL-1. Há forte evidência de que a regenera-
bui para a menor taxa de relaxamento de contração ção da lesão muscular induzida pelo exercício não se
observada no 2º- e no 7º- dias após exercício do tipo processa na ausência dos macrófagos (para revisão,
CAE (Fig. 11.12). Maior número de investigações é ver Carlson e Faulkner, 1983 e MacIntyre et al., 1995).
necessário para esclarecer os mecanismos referentes Em 1902, Hough sugeriu que a dor muscular indu-
ao aumento da concentração intracelular de Ca2+ e zida pelo exercício é produzida em sua fase prolongada
para identificar a magnitude em que o incremento por “algum tipo de ruptura dentro do músculo”. Hill
da [Ca2+]i em repouso contribui para as fases subse- (1951) sugere que a dor está relacionada à lesão me-
qüentes de proteólise, inflamação e regeneração. cânica, distribuída microscopicamente ao longo do
O “estágio fagocítico” é caracterizado pela típica músculo. A referência de Asmussen (1956) levou Boje
resposta inflamatória nos tecidos e pode durar de 2 a (1955) a acreditar que as dores são localizadas nos
4 dias ou mais, com um pico por volta do terceiro dia tecidos conjuntivos intramusculares. No entanto,
pós-exercício (Kihlstrom et al., 1984). Vários estu- sabe-se, atualmente, que nem o grau e muito menos
dos relatam maior lesão miofibrilar dois dias após o tempo de lesão estrutural se correlacionam bem
exercício excêntrico do que imediatamente após o com as respectivas alterações na DMT (Newham et
exercício (Fridén et al., 1981; Newham et al., 1983a). al., 1983b; Howell et al., 1993). Nessa direção, a dor
Hikida e colaboradores (1983) demonstraram a pre- muscular experimental induzida por injeções intra-
sença de alterações ultra-estruturais significativas, que musculares de substâncias algogênicas, como a bra-
alcançaram um pico nos dias 1 e 3, algumas das quais diquinina, a serotonina e a substância P, não revela
persistindo no sétimo dia após a maratona. Mais pre- qualquer relação dose-resposta com a intensi-
cisamente, o processo inflamatório pode ser subclas- dade de dor induzida (Babenko et al., 1999). Parte
sificado em agudo e crônico. As respostas agudas ini- dessa discrepância pode ser explicada pelo aumento
234 PAAVO V. KOMI

da sensação de dor em resposta a determinado estí- dade EMG à contração constante submáxima (Komi
mulo quando os tecidos periféricos são lesionados. e Viitasalo, 1977).
Esse fenômeno, denominado de “hiperalgesia”, pode As alterações de rigidez são freqüentemente ob-
envolver a diminuição do limiar de nociceptores* pela jeto de estudo no caso de lesão dos flexores da arti-
presença de agentes químicos liberados localmente culação do cotovelo. Alterações na rigidez têm sido
(para revisão, ver Jessel e Kelly, 1991; Mizumura, 1998; estudadas no caso da dor muscular dos músculos fle-
Millan, 1999). A hiperalgesia ocorre primeiramente xores do cotovelo, a qual é tipicamente associada com
no local da lesão tecidual antes de se propagar por uma capacidade reduzida de flexionar completamente
outros compartimentos (Bobbert et al., 1986; Fields, a articulação (Clarkson et al., 1992) e com uma posi-
1987; Howell et al., 1993). Além disso, a dor não é ção mais flexionada da articulação quando o braço
constante durante todo o tempo, sendo mais intensa está suspenso e em uma posição relaxada (Howell et
quando os membros exercitados são completamente al., 1985; Cleak e Eston, 1992; Saxton e Donnelly,
estendidos ou flexionados ou quando os músculos 1995). Suspeita-se que essa flexão relativa seja
são profundamente palpados (Howell et al., 1993). fruto do aumento da rigidez passiva induzida pelo
Nenhuma relação (Cleak e Eston, 1992) ou rela- edema nos músculos lesionados (Howeel et al., 1985;
ção moderada (Talag, 1973) tem sido relatada ao se Jones et al., 1987; Murayama et al., 2000). Há, tam-
comparar a recuperação da dor muscular com a da bém, registros de outras explicações. De acordo com
força muscular. Além disso, a perda de força e as per- Whitehead e colaboradores (2001), a elevação na ten-
turbações neuromusculares são bem conhecidas por são passiva em músculos humanos e de animais após
iniciarem antes da dor ser percebida e por durarem exercício excêntrico estaria relacionada ao desenvol-
alguns dias após a dor se dissipar (Nicol et al., 1996a; vimento de contraturas no músculo lesionado.
Deschesnes et al., 2000). Sugere-se, portanto, que esse Ebbeling e Clarkson (1989) sugeriram efeito poten-
retardo reflete o curso natural da resposta inflama- cial do acúmulo anormal de cálcio dentro da célula
tória (Hikida et al., 1983; Evans e Cannon, 1991; muscular devido à perda da integridade do sarcolema
MacIntyre et al., 2001) e de intumescimento do mús- e à disfunção do retículo sarcoplasmático. No entan-
culo lesionado. Em relação ao efeito potencial da dor to, a “teoria de espasmo reflexo” (De Vries, 1966),
muscular na atividade EMG, o estudo de dor mus- segundo a qual a rigidez e a dor musculares resultam
cular experimental realizado por Graven-Nielsen e de atividade elétrica nos músculos lesionados, é tida
colaboradores (1997) não revelou aumento no nível como improvável nessa situação de fadiga (Howell et
EMG em repouso, mas reduzida atividade na contra- al., 1985; Bobbert et al., 1986; Jones et al., 1987).
ção voluntária máxima e alterações na coordenação O “estágio regenerativo” inicia nos dias 4 a 6 e re-
ao exercício dinâmico. De acordo com o modelo de flete a regeneração das fibras musculares. A recupe-
adaptação e dor de Lund e colaboradores (1991), vá- ração da força ocorre mesmo diante da diminuição
rios outros estudos registraram aumento da ativida- do conteúdo de proteína contrátil (Lowe et al., 1995;
de dos músculos antagonistas (Arendt-Nielsen et al., Ingalls et al., 1998). No estudo de Lowe e colabora-
1996; Matre et al., 1998; Sohn et al., 2000). No en- dores (1995) com animais, as taxas de síntese protéi-
tanto, ao considerar o atraso na recuperação do sinal ca aumentaram aproximadamente 48 horas após a
EMG após a dissipação da dor, sugere-se que a DMT lesão, permanecendo elevadas em 83% por cinco dias.
contribui primariamente, nos primeiros 2 a 3 dias pós- Nos dias 10 a 14, a degradação e a síntese protéica
exercício, para a redução da atividade EMG observa- muscular retornaram ao normal; não foi detectada
da em esforço máximo e para o incremento da ativi- infiltração fagocítica. No entanto, a massa muscular,
o conteúdo de proteína e a produção de força abso-
luta foram menores. Com base na revisão de Warren
e colaboradores (2001), o conteúdo de proteína con-
*N. de R.T. Um tipo de receptor corporal sensível à dor causa-
trátil e a força muscular deveriam voltar aos valores
da por lesão nos tecidos corporais, a qual pode ser originada
por estímulos físicos (mecânicos, térmicos e elétricos), bem normais em paralelo ao final do período de recupe-
como por substâncias químicas secretadas. São normalmente ração (14 a 28 dias). Retardo similar na recuperação
localizados na pele ou nas paredes viscerais. (Hikida et al., 1983), mas também de maior duração
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 235

(Warhol et al., 1985; Howell et al., 1993) foram regis- registrada por Svensson e colaboradores (1998) e por
trados em humanos após lesão muscular induzida Matre e colaboradores (1998). No entanto, deve-se
por exercício excêntrico. mencionar que Matre e colaboradores (1998) obser-
varam uma depressão retardada (mais do que 40 mi-
Mecanismos de adaptação neural nutos após o final da dor) em alguns registros do re-
à fadiga flexo-H. Atribuiu-se tal situação ao potencial efeito
inibitório produzido pelos aferentes musculares do
As adaptações neuromusculares provavelmente grupo III.
variam de compensações neurais referentes à inca-
pacidade contrátil até mecanismos protetores neu- Ajustes reflexos da ativação neural
rais dos músculos lesionados durante o desenvolvi-
mento progressivo da fadiga induzida pelo exercício Na fase retardada de recuperação, as alterações
excêntrico e pelo CAE (Figs. 11.3 e 11.4) (Horita, estruturais e químicas associadas com a lesão e a in-
2000; Strojnik et al., 2000; Strojnik et al., 2001a; Stro- flamação induzida teriam conseqüências lógicas nas
jnik et al., 2001b). Durante e após exercício do tipo vias sensoriais aferentes. Logo, exerceriam influência
CAE com indução de fadiga, a incapacidade e/ou os nas atividades eferentes. Essas alterações na ativação
ajustes neurais podem afetar diferentes partes das vias (ambas, inibição ou facilitação) induziriam alterações
de ativação. Esses locais potenciais foram divididos ou dificuldades na verdadeira função do sistema neu-
por Bigland-Ritchie e Woods (1984) em três catego- romuscular.
rias gerais: (I) aqueles que dissimulam no SNC; (II)
referentes à transmissão neural do SNC ao músculo;
Ativação dos aferentes musculares de
e (III) dentro das fibras musculares individuais.
pequeno diâmetro

Fadiga supra-espinal A sensação de dor muscular é transmitida pelos


nociceptores que pertencem a dois grupos de afe-
Apesar da incerteza referente à existência de fa- rentes musculares de pequenos diâmetros: III (delta
diga central supra-espinal, essa hipótese não pode A) e IV (C) (Mense, 1977; Kniffki et al., 1978). Essas
ser descartada ao se considerar a grande redução na extremidades nervosas livres são particularmente
ativação neural máxima registrada imediatamente densas nas regiões dos tecidos conjuntivos, mas tam-
após exercícios prolongados do tipo CAE (Viitasalo bém entre as fibras musculares intra e extrafusais,
et al., 1982; Nicol et al., 1991b; Pullinen et al., 1997). assim como próximo aos vasos sangüíneos, no órgão
Na fase retardada de recuperação, essa possibilidade tendinoso de Golgi e na junção miotendínea (Stacey,
é reforçada pelo efeito potencial da dor muscular. Le 1969; Kaufman e Rybicki, 1987). Os aferentes mus-
Pera e colaboradores (2001) demonstraram, pelo uso culares de pequeno diâmetro dos grupos III e IV são
da técnica de estimulação magnética transcraniana, polimodais, portanto, sensíveis a vários parâmetros
que a dor muscular tônica pode inibir o sistema mo- associados com a fadiga metabólica e/ou com a lesão
tor. No pico de dor, a ausência de efeitos na resposta muscular. Somente parte desses receptores são do
do reflexo-H sugeriu que a redução observada no tipo nociceptor (Mense e Meyer, 1985). Mais especi-
tamanho dos potenciais motores evocados ocorreu ficamente, o grupo III mielinizado carreia dor aguda
provavelmente devido à redução na excitabilidade do localizada, enquanto o grupo IV amielinizado carreia
córtex motor. Vinte minutos após a dor, a amplitude dor lenta e de forma difusa. As fibras do grupo IV são
do potencial motor induzido foi deprimida. E a am- consideradas responsáveis pela sensação da DMT
plitude do reflexo-H reduziu-se, sugerindo uma ini- (Armstrong, 1984). Em humanos, a velocidade mé-
bição da excitabilidade espinal dos motoneurônios, dia de condução para as fibras dos grupos III e IV
possivelmente sobrepondo o processo inibitório cor- varia de 3,1 a 13,5 m·s–1 e de 0,6 a 1,2 m·s–1 (Simone
tical. Essa depressão retardada da resposta do refle- et al., 1994).
xo-H é respaldada pelos resultados de Rossi e Decchi No caso de lesão muscular, os metaboceptores
(1977), mas difere em relação à ausência de alteração dos grupos III e IV são ativados para liberar substân-
236 PAAVO V. KOMI

cias químicas como a bradiquinina (Kranz e Mense, A hipótese oposta, mas atualmente mais convin-
1975; Mense e Meyer, 1988) e produtos da ativação cente, refere-se aos efeitos de economia e proteção
da ciclooxigenase (Herbaczynska-Cedro et al., 1976; do músculo fatigado (Bigland-Ritchie et al., 1986;
Kniffiki et al., 1978; Rotto e Kaufman, 1988). Uma Garland, 1991; Enoka e Stuart, 1992; Jammes e
vez ativados, os nociceptores liberam neuropeptí- Balzamo, 1992; Garland e Kaufman, 1995). Parece que
deos. Estes últimos causam vasodilatação, edema e efeitos protetores agem em paralelo com a redução
liberação de histamina. Os processos descritos indu- da sensibilidade do fuso muscular registrada em con-
zem a ativação adicional e de longo prazo em algu- dições de estresse metabólico (Fukami, 1988; Lagier-
mas extremidades sensoriais (Fields, 1987). No caso Tessonier et al., 1993) bem como mecânico (Avela
do exercício intenso, o incremento no potássio, no et al., 2001). O reduzido input do fuso ao conjunto de
fosfato e no ácido láctico extracelular pode consti- motoneurônios também pode ser atribuído aos efei-
tuir estímulo agudo, mas adicional dos metabocep- tos indiretos dos pequenos aferentes musculares via
tores musculares (Mense, 1977; Rybicki et al., 1985; inibição pré-sináptica dos terminais Ia (Duchetau e
Kaufman e Rybicki, 1987; Synoway et al., 1993; Hainaut, 1993). Tal efeito pode, ainda, estar ligado à
Darques e Jammes, 1997; Darques et al., 1998; ativação dos interneurônios espinais inibidores
Decherchi et al., 1998). Os neurônios sensoriais pri- envolvidos nas vias oligossinápticas (Duchateau e
mários desmielinizados são particularmente respon- Haianut, 1993; Rossi et al., 1999). A partir dos estu-
sivos às alterações de longo prazo. Tais alterações po- dos com modelos animais, determinou-se que os afe-
dem processar-se com distúrbios teciduais lentos, rentes musculares dos grupos III e IV possuem po-
como a inflamação (McMahon e Koltzenburg, 1990). deroso input aos interneurônios inibidores (Cleland
et al., 1982). No caso da fadiga induzida pelo estímu-
lo excêntrico, existe evidência mais convincente de
A ativação dos aferentes de pequeno
que a inibição pré-sináptica é sustentada pela ausên-
diâmetro pode ter alguma influência?
cia de recuperação da amplitude do reflexo-H, en-
A influência exata dos aferentes musculares de quanto o acúmulo metabólico induzido pelo exercí-
pequeno diâmetro na ativação neural nas condições cio é retido através de isquemia (Avela et al., 1999).
de fadiga não está claramente estabelecida. A litera- Demonstrou-se claramente uma tendência bimodal
tura apresenta duas tendências principais. Ambas são de recuperação do reflexo-H após 75 minutos de es-
contraditórias no que diz respeito à dor e à lesão. timulação elétrica, combinada com estiramentos me-
Em 1942, Travell e colaboradores (Travell et al., canicamente induzidos (Ogiso et al., em desenvolvi-
1942) propuseram a hipótese de “ciclo vicioso”. Se- mento) (Fig. 11.15), assim como após exercício
gundo essa perspectiva, os aferentes musculares dos exaustivo de ressaltos no trenó (Nicol et al., 1996b).
grupos III e IV ativariam os motoneurônios γ, provo- No último estudo, a resposta do reflexo-H permane-
cando subseqüente elevação na sensibilidade do fuso ceu deprimida durante 15 dias. Nesse período, os
muscular, na atividade do motoneurônio α e no de- sujeitos realizaram três exercícios exaustivos de res-
senvolvimento de fadiga. Essa hipótese tem como base saltos nos dias 0, 5 e 10. O declínio secundário sus-
vários trabalhos em que o incremento na atividade tenta a hipótese de efeito potencial da ativação pro-
fusimotora foi observado após injeção intra-arterial longada dos aferentes dos grupos III e IV pelo
de substâncias pró-inflamatórias (Ellaway et al., 1982; processo inflamatório induzido pelo exercício. No que
Jovanovic et al., 1990; Ljubisavljević et al., 1992). Ten- se refere à baixa velocidade de condução dos peque-
dência similar foi registrada após injeção de KCl e de nos aferentes musculares, sua ativação contínua fun-
ácido láctico (Johansson et al., 1993). Além disso, damenta seu papel potencial na inibição do compo-
sugeriu-se que o aumento da atividade fusimotora nente reflexo de curta latência registrado no CAE
induzida pelos aferentes nociceptivos de determina- (Avela e Komi, 1998b; Avela et al., 1999) e nas situa-
do músculo pode incrementar a ativação dos fusos ções reflexas de alongamento passivo (Nicol et al.,
musculares aferentes (Djupsjöbacka et al., 1995) e/ 1996a; Nicol et al., 1996b). No entanto, além das vias
ou a atividade do motoneurônio α (Appelberg et al., periféricas, há evidência de influência descendente
1983) de músculos homônimos e heterônimos. na transmissão da informação sensorial (Hong et al.,
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 237

Figura 11.15 Alterações relativas no reflexo-H (parte superior) após 75 minutos de estimulação elétrica, associada com
estiramentos mecanicamente induzidos, e a razão onda H/M (parte inferior) durante 15 dias de acompanhamento em que um
exercício do tipo CAE exaustivo de curto prazo foi repetido nos dias 0, 5 e 10. Em ambos os experimentos, as alterações são
expressas como porcentagem do valor pré-fadiga (d0b: dia 0 antes) (dados de Ogiso et al., em desenvolvimento, [esquerda] e de
Nicol et al., 1996b [direita]).

1979; Alstermark et al., 1984; Malmgren e Pierrot- Comentários finais


Deseilligny, 1987; Cervero et al., 1991).
Finalmente, sabe-se muito pouco sobre os efei- O presente capítulo tentou demonstrar que o
tos de modulação dos pequenos aferentes muscula- exercício do tipo CAE ocorre naturalmente, mas é
res na excitabilidade do córtex motor. Com relação exaustivo. Ele sempre induz deterioração muito ex-
aos efeitos de inflamação, Besson e colaboradores pressiva da força muscular e da produção de potên-
(1972, 1975) demonstraram influência inibidora das cia. Embora esses efeitos sejam, em termos de meca-
áreas mesencefálicas nos neurônios localizados na nismos, um tanto similares àqueles que ocorrem após
lâmina do corno dorsal quando previamente sensi- a realização de exercícios intensos puramente excên-
bilizados com bradiquinina. Andersen e colaborado- tricos, a fadiga induzida pelo CAE é muito mais pro-
res (1995) registraram que a somação central da ati- blemática e complexa devido à maneira mais abran-
vidade aferente nociceptiva e não-nociceptiva pode gente com que estimula o sistema neuromuscular:
ocorrer de forma secundária na presença de hiperal- mecânica e metabolicamente, bem como em nível
gesia. A introdução, em humanos, de um novo méto- neural. Todos esses aspectos são responsáveis e ca-
do para induzir descarga de dor tônica pode fornecer racterísticos da tendência bimodal da resposta da fa-
novas perspectivas para a compreensão dos efeitos diga, refletindo seus papéis específicos na caracteri-
imediatos e retardados da dor (Rossi e Decchi, 1997; zação dos processos inflamatórios e de lesão no
Rossi et al., 1998; Rossi et al., 1999; Sohn et al., 2000; progresso da deterioração e da recuperação do de-
Le Pera et al., 2001). Apesar da limitada informação sempenho neuromuscular. Devido a esses fatores, os
relevante disponível no momento sobre as reais in- ajustes neurais, embora acoplados firmemente com
fluências centrais e periféricas, é muito provável que as influências metabólicas e mecânicas, representam
o processamento de diferentes ajustes centrais e pe- o maior desafio na compreensão detalhada dos me-
riféricos dependa do nível de estresse imposto ao canismos envolvidos. Em geral, entende-se que o re-
sistema musculotendíneo (Komi e Gollhofer, 1987; duzido input neural aos músculos, sob a influência
Nicol et al., 1991a; Horita et al., 1999). A variação da fadiga induzida pelo CAE, é, no mínimo, parcial-
nos tipos de receptores e na capacidade para modu- mente de origem reflexa. Diferentes vias têm sido
lar a dor em níveis múltiplos no sistema nervoso tam- mencionadas como envolvendo a falta de facilitação
bém poderia explicar parte da variabilidade inter-su- da sensibilidade do fuso muscular e a inibição pré-
jeito na percepção da dor. sináptica dos motoneurônios α. No entanto, vários
238 PAAVO V. KOMI

aspectos precisam ser explorados para compreensão Avela, J. & Komi, P.V. (1998b) Reduced stretch reflex sensi-
adicional da natureza e dos mecanismos do exercício tivity and muscle stiffness after long-lasting stretch-
do tipo CAE exaustivo e lesivo. Esses incluem possí- shortening muscle cycle (SSC) exercise. European Jour-
veis alterações estruturais nos proprioceptores (es- nal of Applied Physiology 78(5), 403-410.
Avela, J., Kyrölainen, H., Komi, P.V. & Rama, D. (1999) Re-
pecialmente no fuso muscular) e alterações inibitó-
duced reflex sensitivity persists several days after
rias/excitatórias nos centros superiores das vias long-lasting stretch-shortening cycle (SSC) exercise.
sensoriais e motoras. Journal of Applied Physiology 86(4), 1292-1300.
Avela, J., Kyrölainen, H. & Komi, P.V. (2001) Neuromuscu-
lar changes after long-lasting mechanically and electri-
Referências cally elicited fatigue. European Journal of Applied Physiolo-
gy 85(3-4), 317-325.
Babenko, V., Graven-Nielen, T., Svensson, P., Drewes, A.M.,
Adams, D.O. & Hamilton, T.A. (1988) Phagocytic cells: cyto- Jensen, T.S. & Arendt-Nielsen, L. (1999) Experimental
toxic activities of macrophages. In: Inflammation: Basic human muscle pain induced by intramuscular injecti-
Principles and Clinical Correlates (eds J. I. Gallin, I. M. ons of bradykinin, serotonin, and substance P. Euro-
Goldstein & R. Snyderman), pp. 471-492. Raven Press, pean Journal of Pain 3(2), 93-102.
New York. Belcastro, A. (1993) Skeletal muscle calcium-activated neu-
Allen, D.G. (2001) Eccentric muscle damage: mechanisms ral protease (Calpain) with exercise. Journal of Applied
of early reduction in force. Acta Physiologica Scandinavica Physiology 74, 1381-1386.
171, 311-319. Besson, J.M., Conseiller, C., Hamann, K.F. & Maillard, M.C.
Alstermark, B., Lundberg, A. & Sasaki, S. (1984) Integrati- (1972) Modification of dorsal horn cell activities in the
on in descending motor pathways controlling the fore- spinal cord, after intra-arterial injection of bradykinin.
limb in the cat. Experimental Brain Research 56(2), Journal of Physiology (London) 221, 189-205.
279-307. Besson, J.M., Guilbaud, G. & Le Bars, D. (1975) Descen-
Andersen, O.K., Gracely, R.H. & Arendt-Nielsen, L. (1955) ding inhibitory influences exerted by the brain stem
Facilitation of the human nociceptive reflex by stimu- upon the activities of dorsal horn lamina V cells indu-
lation of Aβ-fibres in a secondary hyperalgesia area sus- ced by intra-arterial injection of bradykinin into the
tained by nociceptive input from the primary hyperal- limbs. Journal of Physiology (London) 248, 725-739.
gesic area. Acta Physiologica Scandinavica 155, 87-97. Bigland-Ritchie, B. & Woods, J.J. (1976) Integrated EMG
Appelberg, B., Hulliger, M., Johansson, H. & Sojka, P. (1983) and O2 uptake during positive and negative work. Jour-
Actions of γ-motoneurones elicited by electrical stimu- nal of Physiology (London) 260, 267-277.
lation of group III muscle afferent fibres in the hind Bigland-Ritchie, B. & Woods, J.J. (1984) Changes in muscle
limb of the cat. Journal of Physiology (London) 335, contractile properties and neural control during hu-
275-292. man muscular fatigue. Muscle and Nerve 7, 691-699.
Arendt-Nielsen, L., Graven-Nielsen, T., Svarrer, H. & Bigland-Ritchie, B., Dawson, N.J., Johansson, R.S. & Li-
Svensson, P. (1996) The influence of low back pain on ppold, O.C.J. (1986) Reflex origin for the slowing of
muscle activity and coordination in gait: a clinical and motoneurone firing rates in fatigue of human volun-
experimental study. Pain 64, 231-240. tary contractions. Journal of Physiology (London) 379,
Armstrong, R.B. (1984) Mechanisms of exercise-induced 451-459.
delayed onset muscular soreness: a brief review. Medi- Bobbert, M.F., Hollander, A.P. & Huijing, P.A. (1986) Fac-
cine and Science in Sports and Exercise 16, 529-538. tors in delayed onset muscular soreness of man. Medi-
Armstrong, R.B. (1990) Initial events in exercise-induced cine and Science in Sports and Exercise 18(1), 75-81.
muscular injury. Medicine and Science in Sports and Exer- Brockett, C., Warren, N., Gregory, J.E., Morgan, D.L. &
cise 22(4), 429-435. Proske, U. (1997) A comparison of the effects of con-
Armstrong, R.B., Warren, G.L. & Warren, JA. (1991) Me- centric versus eccentric exercise on force and position
chanisms of exercise-induced muscle fibre injury. Sports sense at the human elbow joint. Brain Research 771,
Medicine 12, 184-207. 251-258.
Asmussen, E. (1956) Observations on experimental mus- Brooks, S.V., Zerba, E. & Faulkner, J.A. (1995) Injury to
cle soreness. Acta Rheumatica Scandinavica 2, 109-116. muscle fibres after single stretches of passive and maxi-
Avela, J. & Komi, P.V. (1998a) Interaction between muscle mally stimulated muscles in mice. Journal of Physiology
stiffness and stretch reflex sensitivity after long-term (London) 488(2), 459-469.
stretch-shortening cycle (SSC) exercise. Muscle and Nerve Byrd, S.K. (1992) Alterations in the sarcoplasmic reticu-
21(9), 1224-1227. lum: a possible link to exercise-induced muscle dama-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 239

ge. Medicine and Science in Sports and Exercise 24(5), turbance outlasts other symptoms of exercise-induced
531-536. muscle damage. Journal of Neurological Science 174(2),
Boje, O. (1955) Bevaegelsestaere, Traening og Øvelsesterapi. Fre- 92-99.
mad, Copenhagen. Djupsjöbacka, M., Johansson, H., Bergenheim, M. &
Carlson, B.M. & Faulkner, J.A. (1983) The regeneration of Wenngren, B.I. (1995) Influence on the γ-muscle spindle
skeletal muscle fibres following injury: a review. Medici- system from muscle afferents stimulated by increased
ne and Science in Sport and Exercise 15(3), 187-198. intramuscular concentrations of bradykinin and 5-HT.
Cervero, F., Schaible, H.G. & Schmidt, R.F. (1991) Tonic Neuroscience Research 22, 325-333.
descending inhibition of spinal cord neurones driven Duchateau, J. & Hainaut, K. (1993) Behaviour of short and
by joint afferents in normal cats and in cats with an long latency reflexes in fatigued human muscles. Jour-
inflamed knee joint. Experimental Brain Research 83, nal of Physiology 471, 787-799.
3675-3678. Ebbeling, C.B. & Clarkson, P.M. (1989) Exercise-induced
Chleboun, G.S., Howell, J.N., Conatser, R.R. & Giesey, J.J. muscle damage and adaptation. Journal of Sports Medici-
(1998) Relationship between muscle swelling and stiff- ne 7, 207-234.
ness after eccentric exercise. Medicine and Science in Sports Edman, K.A.P. & Tsuchiya, T. (1996) Strain of passive ele-
and Exercise 30(4), 529-535. ments during force enhancement by stretch in frog
Clarkson, P.M. & Newham, D.J. (1995) Associations be- muscle fibres. Journal of Physiology 490(1), 191-205.
tween muscle soreness, damage, and fatigue. In: Fatigue Edwards, R.H.T., Hill, D.K., Jones, D.A. & Merton, P.A.
(eds S.C. Gandevia, R.M. Enoka, A.J. McComas, D.G. (1977) Fatigue of long duration in human skeletal mus-
Stuart & C.K. Thomas), pp. 457-469. Plenum Press, New cle after exercise. Journal of Physiology 272, 769-778.
York. Ellaway, P.H., Murphy, P.R. & Tripathi, A. (1982) Closely
Clarkson, P.M., Nosaka, K. & Braun, B. (1992) Muscle func- coupled excitation of γ-motoneurones by group III
tion after exercise-induced muscle damage and rapid muscle afferents with low mechanical threshold in the
adaptation. Medicine and Science in Sports and Exercise cat. Journal of Physiology (London) 331, 481-498.
24(5), 512-520. Enoka, R.M. & Stuart, D.G. (1992) Neurobiology of
Cleak, M.J. & Eston, R.G. (1992) Muscle soreness, swe- muscle fatigue. Journal of Applied Physiology 72, 1631-
lling, stiffness and strength loss after intensive eccen- 1648.
tric exercise. British Journal of Sports Medicine 26(4), Evans, W. & Cannon, J.G. (1991) The metabolic effects of
267-272. exercise-induced muscle damage. In: Exercise and Sport
Cleland, C., Rymer, W. & Edwards, F. (1982) Force-sensiti- Sciences Reviews, Vol. 19 (ed. J.C. Holloszy), pp. 99-125.
ve interneurons in the spinal cord of the cat. Science Williams & Wilkins, Baltimore.
217, 652-655. Fantone, J.C. (1993) Basic concepts in inflammation. In:
Darques, J.L. & Jammes, Y. (1997) Fatigue-induced chan- Sport-Induced Inflammation: Clinical and Basic Science Con-
ges in group IV muscle afferent activity: differences cepts (eds W.B. Leadbetter, J.A. Buckwalter & S.L. Gor-
between high- and low-frequency induced fatigues. don), pp. 25-54. American Orthopaedic Society of
Brain Research 750, 147-154. Sports Medicine, Maryland.
Darques, J.L., Decherchi, P. & Jammes, Y. (1998) Mecha- Faulkner, J.A., Brooks, S.V. & Opiteck, J.A. (1993) Injury to
nisms of fatigue-induced activation of group IV mus- skeletal muscle fibres during contractions: conditions
cle afferents: the roles played by lactic acid and inflam- of occurrence and prevention. Physiological Therapy
matory mediators. Neuroscience Letters 257, 109-112. 73(12), 911-921.
Davies, C.T.M. & White, M.J. (1981) Muscle weakness fo- Fields, H.L. (1987) Pain, p. 35. McGraw-Hill, New York.
llowing eccentric works in man. Pflügers Archiv 392, Franz, M. & Mense, S. (1975) Muscle receptors with group
168-171. IV afferent fibres responding to application of bradyki-
De Vries, H.A. (1966) Quantitative electromyographic in- nin. Brain Research 92(3), 369-383.
vestigation of the spasm theory of muscular pain. Ame- Fridén, J. & Lieber, R.L. (1992) Structural and mechanical
rican Journal of Physical Medicine 45, 119-134. basis of exercise-induced muscle injury. Medicine and
Decherchi, P., Darques, J.-L. & Jammes, Y. (1998) Modifi- Science in Sports and Exercise 24(2), 521-530.
cations of afferent activities from tibialis anterior mus- Fridén, J. & Lieber, R.L. (1996) Ultrastructural evidence
cle in rat by tendon vibrations, increase of interstitial for loss of calcium homeostasis in exercised skeletal
potassium and lactate concentration and electrically- muscle. Acta Physiologica Scandinavica 158, 381-382.
induced fatigue. Journal of the Peripheral Nervous System Fridén, J. & Lieber, R.L. (2001a) Serum creatine kinase le-
3(4), 1-10. vel is a poor predictor of muscle function after injury.
Deschenes, M.R., Brewer, R.E., Bush, J.A., McCoy, R.W., Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports 11(2),
Volek, J.S. & Kraemer, W.J. (2000) Neuromuscular dis- 126-127.
240 PAAVO V. KOMI

Fridén, J. & Lieber, R.L. (2001b) Eccentric exercise-indu- Han, X.Y., Wang, W., Komulainen, J. et al. (1999) Increased
ced injuries to contractile and cytoskeletal muscle fibre mRNAs for protocollagens and key regulating enzymes
components. Acta Physiologica Scandinavica 171, 321-326. in rat skeletal muscle following downhill running.
Fridén, J., Sjöström, M. & Ekblom, B. (1981) A morpholo- Pflügers Archiv 437(6), 857-864.
gical study of delayed muscle soreness. Experientia 37, Herbaczynaska-Cedro, K., Staszewska-Barczak, J. & Jan-
506-507. czewska, H. (1976) Muscular work and the release of
Fridén, J., Seger, J., Sjöström, M. & Ekblom, B. (1983a) prostaglandin-like substances. Cardiovascular Research 10,
Adaptative response in human skeletal muscle subjected 413-420.
to prolonged eccentric training. International Journal of Hikida, R.S., Staron, R.S., Hagerman, F.C., Sherman, W.M.
Sports Medicine 4, 177-183. & Costill, D.L. (1983) Muscle fiber necrosis associated
Fridén, J., Sjöström, M. & Ekblom, B. (1983b) Myofibrillar with human marathon runners. Journal of Neurological
damage following intense eccentric exercise in man. Science 59, 185-203.
International Journal of Sports Medicine 4, 170-176. Hill, A.V. (1951) The mechanics of voluntary muscle. Lan-
Fridén, J., Kjorell, U. & Thornell, L.E. (1984) Delayed mus- cet 261, 947.
cle soreness and cytoskeletal alterations: an immuno- Hong, S.K., Kniffki, K.D., Mense, S., Schmidt, R.F. & Wen-
cytochemical study in man. International Journal of Sports disch, M. (1979) Descending influences on the respon-
Medicine 5, 15-18. ses of spinocervical tract neurones to chemical stimu-
Fridén, J., Seger & Ekblom, B. (1988) Sublethal muscle fi- lation of fine muscle afferents. Journal of Physiology (London)
bre injuries after high-tension anaerobic exercise. Eu- 290, 129-140.
ropean Journal of Applied Physiology 57, 360-368. Horita, T. (2000) Stiffness regulation during stretch-shortening
Ftaiti, F., Grélot, L., Coudreuse, J.M. & Nicol, C. (2000) cycle exercise. PhD thesis, Department of Biology of Phy-
Combined effects of heat stress, dehydration and exer- sical Activity. [Research series published by the Univer-
cise on neuromuscular function in humans. European sity of Jyväskylä, Finland.]
Journal of Applied Physiology 84, 87-94. Horita, T., Komi, P.V., Nicol, C. & Kyrölainen, H. (1996)
Fukami, Y. (1988) The effects of NH3 and CO2 on the sen- Stretch shortening cycle fatigue: interactions among
sory ending of mammalian muscle spindles: intracellu- joint stiffness, reflex, and muscle mechanical performan-
lar pH as a possible mechanism. Brain Research 463, ce in the drop jump. European Journal of Applied Physiolo-
140-143. gy 73, 393-403.
Garland, S.J. (1991) Role of small diameter afferents in re- Horita, T., Komi, P.V., Nicol, C. & Kyrölainen, H. (1999)
flex inhibition during human muscle fatigue. Journal of Effect of exhausting stretch-shortening cycle exercise
Physiology (London) 435, 547-558. on the time course of mechanical behaviour in the drop
Garland, S.J. & Kaufman, M.P. (1995) Role of muscle affe- jump: possible role of muscle damage. European Journal
rents in the inhibition of motoneurons during fatigue. of Applied Physiology 79, 160-167.
In: Fatigue, Neural and Muscular Mechanisms (eds S.C. Hortobágyi, T., Lambert, N.L. & Kroll, W.P. (1991) Volun-
Gandevia, R.M. Enoka, A.J. McComas, D.G. Stuart & tary and reflex responses to fatigue with stretch-
C.K. Thomas), pp. 271-278. Plenum, New York. shortening cycle exercises. Canadian Journal of Sports Sci-
Gollhofer, A., Komi, P.V., Miyashita & M., Aura, O. (1987a) ences 6, 142-150.
Fatigue during stretch-shortening cycle exercises: Chan- Hough, T. (1902) Ergographic studies in muscle soreness.
ges in mechanical performance of human skeletal mus- American Journal of Applied Physiology 7, 76-92.
cle. International Journal of Sports Medicine 8, 71-78. Howell, J.N., Chila, A.G., Ford, G., David, D. & Gates, T.
Gollhofer, A., Komi, P.V., Fujitsuka, N. & Miyashita, M. (1985) A electromyographic study of elbow motion
(1987b) Fatigue during stretch-shortening cycle exer- during postexercise muscle soreness. Journal of Applied
cises. II. Changes in neuromuscular activation patterns Physiology 58, 1713-1718.
of human skeletal muscle. International Journal of Sports Howell, J.N., Chleboun, G. & Conatser, R. (1993) Muscle
Medicine 8 (Suppl. 1), 38-47. stiffness, strength loss, swelling and soreness following
Grabiner, M. (2000) Neuromechanics of the initial phase exercise-induced injury in humans. Journal of Physiology
of eccentric-induced muscle injury. In: Biomechanics in 464, 183-196.
Sport (ed. V. Zatsiorsky), pp. 588-606. Blackwell Scien- Ingalls, C.P., Warren, G.L. & Armstrong, R.B. (1998)
ce, Oxford, UK. Dissociation of force production from MHC and
Graven-Nielsen, T., Svensson, P. & Arendt-Nielsen, L. actin contents in muscles injured by eccentric
(1997) Effects of experimental muscle pain on muscle contractions. Journal of Muscle Research and Cell Motility
activity and coordination during static and dynamic 19, 3215-3224.
motor function. Electroencephalography and Clinical Neu- Jammes, Y. & Balzamo, E. (1992) Changes in afferent and
rophysiology 105, 156-164. efferent phrenic activities with electrically-induced di-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 241

aphragmatic fatigue. Journal of Applied Physiology 73, Komi, P.V. & Rusko, H. (1974) Quantitative evaluation of
894-902. mechanical and electrical changes during fatigue loa-
Jessel, T.M. & Kelly, D.D. (1991) Pain and analgesia. In: ding of eccentric and concentric work. Scandinavian Jour-
Principles of Neural Science (eds E.R. Kandel, J.H. Schwartz nal of Rehabilitation Medicine (Suppl.) 3, 121-126.
& T.M. Jessel), pp. 385-399. Elsevier, New York. Komi, P.V. & Viitasalo, J.T. (1977) Changes in motor unit
Johansson, H., Djupsjobacka, M. & Sjolander, P. (1993) activity and metabolism in human skeletal muscle du-
Influences on the gamma-muscle spindle system from ring and after repeated eccentric and concentric con-
muscle afferents stimulated by KCl and lactic acid. Neu- tractions. Acta Physiologica Scandinavica 100, 246-254.
roscience Research 16, 49-57. Komi, P.V., Hyvärinen, T., Gollhofer, A. & Mero, A. (1986)
Jones, D.A., Newham, D.J. & Clarkson, P.M. (1987) Skele- Man-shoe-surface interaction. Special problems during
tal muscle stiffness and pain following eccentric exer- marathon running. Acta University of Oulu 179, 69-72.
cise of the elbow flexors. Pain 30, 233-242. Koskinen, S.O., Wang, W., Ahtikoski, A.M. et al. (2001) Acute
Jones, C., Allen, T., Talbot, J., Morgan, D.L. & Proske, U. exercise induced changes in rat skeletal muscle
(1997) Changes in the mechanical properties of human mRNAs and proteins regulating type IV collagen con-
and amphibian muscle after eccentric exercise. Europe- tent. American Journal of Regulatory and Integrative Compa-
an Journal of Applied Physiology and Occupational Physiolo- rative Physiology 280(5), R1292-R1300.
gy 76(1), 21-31. Kuipers, H. (1994) Exercise induced by muscle damage.
Jovanovic, K., Anastasijevic, R. & Vuco, J. (1990) Reflex International Journal of Sports Medicine 15, 132-152.
effects on gamma fusimotor neurones of chemically Kuitunen, S., Komi, P.V. & Kyrölainen, H. (2002) Knee and
induced discharges in small-diameter muscle afferents ankle joint stiffness in sprint running. Medicine and Sci-
in decerebrate cats. Brain Research 521, 89-94. ence in Sports and Exercise 34, 1.
Katz, B. (1939) The relation between force and speed in Kyrölainen, H., Takala, T.E.S. & Komi, P.V. (1998) Mus-
muscular contraction. Journal of Physiology (London) 96, cle damage induced by stretch-shortening cycle exer-
45-64. cise. Medicine and Science in Sports and Exercise 30(3),
Kaufman, M.P. & Rybicki, K.J. (1987) Discharge properties 415-420.
of group III and IV muscle afferents: their responses to Kyrölainen, H., Pullinen, T., Candau, R., Avela, J., Huttu-
mechanical and metabolic stimuli. Circulatory Research nen, P. & Komi, P.V. (2000) Effects of marathon run-
(Suppl.) 61, 160-165. ning on running economy and kinematics. European Jour-
Kniffki, K.D., Mense, S. & Schmidt, R.F. (1978) Responses nal of Applied Physiology 82(4), 297-304.
of group IV afferent units from skeletal muscle to Lagier-Tessonier, F., Balzamo, E. & Jammes, Y. (1993) Com-
stretch, contraction and chemical stimulation. Experi- parative effects of ischemia and acute hypoxemia on
mental Brain Research 31, 511-522. muscle afferents from tibialis anterior in cats. Muscle
Komi, P.V. (1973) Measurement of the force-velocity rela- and Nerve 16, 135-141.
tionship in human muscle under concentric and ec- Le Pera, D., Graven-Nielsen, T., Valeriani, M. et al. (2001)
centric contraction. In: Medicine and Sport, Biomechanics Inhibition of motor system excitability at cortical and
III, Vol. 8 (ed. E. Jokl), pp. 224-229. Karger, Basel. spinal level by tonic muscle pain. Clinical Neurophysiology
Komi, P.V. (2000) Stretch-shortening cycle: a powerful 112,1633-1641.
model to study normal and fatigued muscle. Journal of Lieber, R.L. & Fridén, J. (1993) Muscle damage is not a
Biomechanics 33, 1197-1206. function of muscle force but active muscle strain. Jour-
Komi, P.V. & Buskirk, E.R. (1972) Effect of eccentric and nal of Applied Physiology 74, 520-526.
concentric conditioning on tension and electrical acti- Lieber, R.L. & Fridén, J. (1999) Mechanisms of muscle in-
vity in human muscle. Ergonomics 5, 417-431. jury after eccentric contraction. Medicine and Science in
Komi, P.V. & Gollhofer, A. (1987) Fatigue during stretch- Sport 2(3), 253-265.
shortening cycle exercise. In: Muscular Function in Exer- Lieber, R.L. & Fridén, J. (2000) Functional and clinical sig-
cise and Training, Vol. 26. Medicine and Sport Science (eds nificance of skeletal muscle architecture. Muscle and
P. Marconnet & P.V. Komi), pp. 119-127. Karger, Basel. Nerve 23, 1647-1666.
Komi, P.V. & Nicol, C. (2000a) Stretch-shortening cycle Lieber, R.L., Thornell, L.E. & Fridén, J. (1996) Muscle
fatigue. In: Biomechanics and Biology of Movement (eds B. cytoskeletal disruption occurs within the first 15 mi-
McIntosh, B. Nigg & J. Mester), pp. 385-408. Human nutes of cyclic eccentric contraction. Journal of Applied
Kinetics Publishers, Champaign, IL. Physiology 80, 278-284.
Komi, P.V. & Nicol, C. (2000b) Stretch-shortening cycle of Ljubisavljevic, M., Jovanovic, K. & Anastasijevic, R. (1992)
muscle function. In: Biomechanics in Sport (ed. V. Zatsi- Changes in discharge rate of cat hamstring fusimo-
orsky), pp. 87-102. Blackwell Science, Oxford, UK. tor neurones during fatiguing contractions of triceps
242 PAAVO V. KOMI

surae muscles. Journal of Physiology (London) 445, 499- Millan, M.J. (1999) The induction of pain: an integrative
513. review. Progress in Neurobiology 57(1), 1-164.
Lombardi, V. & Piazzesi, G. (1990) The contractile respon- Mizumura, K. (1998) Natural history of nociceptor sensiti-
se during steady lengthening of stimulated frog muscle zation: the search for a peripheral mechanism of hype-
fibres. Journal of Physiology 431, 141-171. ralgesia. Pain Reviews 5(2), 59-82.
Lowe, D.A., Warren, G.L., Hayes, D.A., Farmer, M.A. & Morgan, D.L. (1990) New insights into the behavior of mus-
Armstrong, R.B. (1994) Eccentric contraction-induced cle during active lengthening. Biophysical Journal 57,
injury of mouse soleus muscle: effect of varying 209-221.
[Ca2+]o. Journal of Applied Physiology 76, 1445-1453. Morgan, D.L. & Allen, D.G. (1999) Early events in stretch-
Lowe, D.A., Warren, G.L., Ingalls, C.P., Boorstein, D.B. & induced muscle damage. Journal of Applied Physiology
Armstrong, R.B. (1995) Muscle function and protein 87(6), 2007-2015.
metabolism after initiation of eccentric contraction- Murayama, M., Nosaka, K., Yoneda, T. & Minamitani, K.
induced injury. Journal of Applied Physiology 79(4), (2000) Changes in hardness of the human elbow flexor
1260-1270. muscles after eccentric exercise. European Journal of Ap-
Lund, J.P., Donga, R., Widmer, C.G. & Stohler, C.S. (1991) plied Physiology 82(5-6), 361-367.
The pain-adaptation model: a discussion of the relati- Myllylä, R., Salminen, A., Peltonen, L., Takala, T.E.S. &
onship between chronic musculoskeletal pain and mo- Vihko, V. (1986) Collagen metabolism of mouse skele-
tor activity. Canadian Journal of Physiology and Pharmaco- tal muscle during the repair of exercise injuries. Pflügers
logy 69, 683-394. Archiv 407, 64-70.
Lynch, G.S., Fary, CJ. & Williams, D.A. (1997) Quantitative Newham, D.J., McPhail, G., Mills, K.R. & Edwards, R.H.T.
measurement of resting skeletal muscle [Ca2+]. follo- (1983a) Ultrastructural changes after concentric and
wing acute and long-term downhill running exercise eccentric contractions of human muscle. Journal of Neu-
in mice. Cell Calcium 22(5), 373-383. rological Science 61(109), 122.
McBride, T.A., Stockert, BW., Gorin, F.A. & Carlsen, R.C. Newham, D.J., Mills, K.R., Quigley, B.M. & Edwards, R.H.T.
(2000) Stretch-activated ion channels contribute to (1983b) Pain and fatigue after concentric and eccentric
membrane depolarization after eccentric contractions. muscle contractions. Clinical Science 64, 55-62.
Journal of Applied Physiology 88, 91-101. Nicol, C., Komi, P.V. & Marconnet, P. (1991a) Fatigue effects
MacIntyre, D.L., Reid, W.D. & McKenzie, D.C. (1995) De- of marathon running on neuromuscular performance.
layed muscle soreness: the inflammatory response to I. Changes in muscle force and stiffness characteristics.
muscle injury and its clinical implications. Sports Medi- Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports
cine 20(1), 24-40. 1(10),17.
McMahon, S. & Koltzenburg, M. (1990) The changing role Nicol, C., Komi, P.V. & Marconnet, P. (1991b) Fatigue effects
of primary afferent neurones in pain. Pain 43, 269- of marathon running on neuromuscular performance.
272. II. Changes in force: integrated electromyographic ac-
Mair, J., Mayr, M., Müller, E. et al. (1995) Rapid adaptation tivity and endurance capacity. Scandinavian Journal of
to eccentric exercise-induced muscle damage. Interna- Medicine and Science in Sports 1, 18-24.
tional Journal of Sports Medicine 16(6), 352-356. Nicol, C., Komi, P.V. & Marconnet, P. (1991c) Effects of a
Malmgren, K. & Pierrot-Deseilligny, E. (1987) Inhibition marathon fatigue on running kinematics and economy.
of neurones transmitting non-monosynaptic la excita- Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports 1,
tion to human wrist flexor motoneurones. Journal of 195-204.
Physiology 405, 765-783. Nicol, C., Komi, P.V., Horita, T., Kyrölainen, H. & Takala,
Matre, D.A., Sinkjaer, T., Svensson, P. & Arendt-Nielsen, T.E.S. (1996a) Reduced stretch-reflex sensitivity after
L. (1998) Experimental muscle pain increases the hu- exhaustive stretch-shortening cycle exercise. European
man stretch reflex. Pain 75, 331-339. Journal of Applied Physiology 72, 401-409.
Mense, S. (1977) Nervous outflow from skeletal muscle Nicol, C., Komi, P.V. & Avela, J. (1996b) Stretch-shorte-
following chemical noxious stimulation. Journal of Phy- ning cycle fatigue reduces stretch reflex response. In:
siology 267, 75-88. Abstract Book of the 1996 International Pre-Olympic Scien-
Mense, S. & Meyer, H. (1985) Different types of slowly con- tific Congress, p. 108, 10-14 July, Dallas, Texas.
ducting afferent units in cat skeletal muscle and ten- Noakes, T.D. (1987) Effect of exercise on serum enzyme
don. Journal of Physiology (London) 363, 403-417. activities in humans. Sports Medicine 4, 245-247.
Mense, S. & Meyer, H. (1988) Bradykinin-induced modu- Patel, T.J. & Lieber, R.L. (1997) Force transmission in ske-
lation of the response behaviour of different types of letal muscle. From actomyosin to external tendons. In:
feline group III and IV muscle receptors. Journal of Phy- Exercise and Sport Sciences Reviews, Vol. 25 (ed. J.O. Ho-
siology (London) 398, 49-63. lloszy), pp. 321-363.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 243

Pullinen, T., Leynaert, M. & Komi, P.V. (1997) Neuromus- Stacey, M.J. (1969) Free nerve endings in skeletal muscle of
cular function after marathon. In: Abstract book of the the cat. Journal of Anatomy 105, 231-254.
XIV ISB Congress, 24-27 August, Tokyo. Stauber, W.T. (1989) Eccentric action of muscles: physio-
Reddy, M.K., Etlinger, J.D., Rabinowitz, M., Fischman, D.A. logy, injury, and adaptation. Exercise and Sport Sciences
& Zak, R. (1975) Removal of Z-lines and α-actinin from Reviews 17, 157-185.
isolated myofibrils by a calcium-activated neutral pro- Strojnik, V. & Komi, P.V. (2000) Fatigue after submaximal
tease. Journal of Biological Chemistry 250, 4278-4284. intensive stretch-shortening cycle exercise. Medicine and
Rossi, A. & Decchi, B. (1997) Changes in Ib heteronymous Science in Sports and Exercise 32(7), 1314-1319.
inhibition to soleus motoneurones during cutaneous Strojnik, V., Komi, P.V. & Nicol, C. (2000) Fatigue during
and muscle nociceptive stimulation in humans. Brain one-week tourist alpine skiing. Abstract of the 2nd Inter-
Research 774, 55-61. national Congress on Skiing and Science, pp. 84-85. St Chris-
Rossi, A., Decchi, B., Groccia, della Volpe, R. & Spidalieri, toph, Arlberg.
R. (1988) Interactions between nociceptive and Strojnik, V., Nicol, C. & Komi, P.V. (2001a) Fatigue during
non-nociceptive afferent projections to cerebral cortex one-week tourist alpine skiing. In: Science and Skiing II
in humans. Neuroscience Letters 248, 155-158. (eds E. Müller et al.), pp. 599-607. Kova…, Hamburg.
Rossi, A., Decchi, B. & Ginanneschi, F. (1998) Presynaptic Strojnik, V., Komi, P.V. & Nicol, C. (2001b) Effects of one
excitability changes of group la fibres to muscle noci- week of leisure alpine skiing on jumping power. Abstract
ceptive stimulation in humans. Brain Research 818(1), Book of the 6th Annual ECSS Congress, p. 562. Cologne.
12-22. Sugi, H. & Tsuchiya, T. (1988) Stiffness changes during
Rotto, D.M. & Kaufman, M.P. (1988) Effect of metabolic enhancement and deficit of isometric force by slow
products of muscular contraction on discharge of group length changes in frog skeletal muscle fibres. Journal of
III and IV afferents. Journal of Applied Physiology 64(6), Physiology 407, 215-229.
2306-2313. Svensson, P., De Laat, A., Graven-Nielsen, T. & Arendt-
Rybicki, K.J., Waldrop, T.G. & Kaufman, M.P. (1985) Incre- Nielsen, L. (1998) Experimental jaw-muscle pain does
asing gracilis muscle interstitial potassium concentra- not change heteronymous H-reflexes in the human
tions stimulate group III and IV afferents. Journal of Ap- temporal muscle. Experimental Brain Research 121,
plied Physiology 58(3), 936-941. 311-318.
Saxton, J.M. & Donnelly, A.E. (1995) Light concentric exer- Synoway, L.I., Hill, J.M., Pickar, J.G. & Kaufman, M.P. (1993)
cise during recovery from exercise-induced muscle da- Effects of contraction and lactic acid on the discharge
mage. International Journal of Sports Medicine 16(6), of group III muscle afferents in cat. Journal of Neurophy-
347-351. siology 69, 1053-1059.
Saxton, J.M., Clarkson, P.M., James, R. et al. (1995) Neuro- Talag, T.S. (1973) Residual muscular soreness as influen-
muscular dysfunction following eccentric exercise. ced by concentric, eccentric, and static contractions.
Medicine and Science in Sports and Exercise 27, 1185-1193. Research Quarterly 44, 458-468.
Sherman, W.M., Armstrong, L.E., Murray, T.M. et al. (1984) Travell, J., Rinzler, S. & Herman, M. (1942) Pain and disa-
Effect of a 42.2-km footrace and subsequent rest or bility of the shoulder and arm. Treatment by intramus-
exercise on muscular strength and work capacity. Jour- cular infiltration with procaine hydrochloride. Journal
nal of Applied Physiology 57, 1668-1673. of the American Medical Association 120, 417-422.
Simone, D.A., Marchettini, P., Caputi, G. & Ochoa, J.L. Viitasalo, J.T., Komi, P.V., Jacobs, I. & Karlsson, J. (1982)
(1994) Identification of muscle afferents subserving sen- Effects of a prolonged cross-counting skiing on neu-
sation of deep pain in humans. Journal of Neurophysiolo- romuscular performance. In: Exercise and Sport Biology,
gy 72(2), 883-889. Vol. 12 (ed. P.V. Komi), pp. 191-198. Human Kinetics,
Smith, L.L. (1991) Acute inflammation: the underlying Champaign, IL.
mechanisms in delayed onset muscle soreness? Medi- Vijayan, K., Thompson, J.L., Norenberg, K.M., Fitts, R.H.
cine and Science in Sports and Exercise 23, 542-551. & Riley, D.A. (2001) Fiber-type susceptibility to eccen-
Smith, L.L., McCammon, M., Smith, S., Chamness, M., tric contraction-induced damage of hindlimb-unloa-
Israel, R.G. & O’Brien, K.F. (1989) White blood cell res- ded rat AL muscles. Journal of Applied Physiology 3,
ponse to uphill walking and downhill jogging at similar 770-776.
metabolic loads. European Journal of Applied Physiology 58, Warhol, M.J., Siegel, A.J., Evans, W.J. & Silverman, L.M.
833-837. (1985) Skeletal muscle injury and repair in marathon
Sohn, M.K., Graven-Nielsen, T., Arendt-Nielsen, L. & runners after competition. American Journal of Pathology
Svensson, P. (2000) Inhibition of motor unit firing du- 118(2), 331-339.
ring experimental muscle pain in humans. Muscle and Warren, G.L., Hayes, D.A., Lowe, D.A. & Armstrong, R.B.
Nerve 23, 1219-1226. (1993a) Mechanical factors in the initiation of eccen-
244 PAAVO V. KOMI

tric contraction-induced injury in rat soleus muscle. in contraction-induced muscle injury. Exercise and Sport
Journal of Physiology 464, 457-475. Sciences Reviews 29(2), 82-87.
Warren, G.L., Lowe, D.A., Hayes, D.A., Karwoski, C.J., Pri- Waterman-Storer, C.M. (1991) The cytoskeleton of skele-
or, B.M. & Armstrong, R.B. (1993b) Excitation failure tal muscle: is it affected by exercise? A brief review.
in eccentric contraction-induced injury of mouse so- Medicine and Science in Sports and Exercise 23(11),
leus muscle. Journal of Physiology 468, 487-499. 1240-1249.
Warren, G.L., Ingalls, C.P., Shah, S.J. & Armstrong, R.B. Westerblad, H., Dury, S. & Allen, D.G. (1993) Intracellular
(1999) Uncoupling of vivo torque production from calcium concentration during low-frequency fatigue in
EMG in mouse muscles injured by eccentric contracti- isolated single fibers of mouse skeletal muscle. Journal
ons. Journal of Physiology 515(2), 609-619. of Applied Physiology 75, 382-388.
Warren, G.L., Ingalls, C.P., Lowe, D.A. & Armstrong, R.B.
(2001) Excitation–contraction uncoupling: major role
Parte III

Mecanismos de adaptação
no treinamento de
força e potência
Capítulo 12
Aspectos celulares e
moleculares da adaptação
do músculo esquelético
GEOFFREY GOLDSPINK E STEPHEN HARRIDGE

O músculo esquelético é um tecido que possui a ca- O músculo é constituído de unidades celulares
pacidade intrínseca de adaptar-se ao tipo de ativida- chamadas fibras, que apresentam de 20 a 100 µm de
de física que é solicitado a desempenhar. A adapta- diâmetro. As fibras musculares contêm estruturas
ção acontece durante o crescimento normal e como contráteis, as miofibrilas, com 1 µm de diâmetro. Es-
resposta ao treinamento. Este capítulo refere-se aos tas, por sua vez, são constituídas por filamentos pro-
mecanismos celulares e moleculares envolvidos na téicos, os sarcômeros (Fig. 12.1). O sarcômero é cons-
adaptação relacionada ao aumento da produção de tituído por inúmeras proteínas envolvidas direta-
potência. Com o surgimento de métodos que permi- mente no processo contrátil ou no desempenho de
tem o estudo de mudanças na expressão gênica, hoje função estrutural. As duas proteínas mais importan-
podemos começar a compreender adaptações nos ní- tes envolvidas no processo contrátil são os filamen-
veis de transcrição e na tradução de genes e de suas tos de actina e miosina. O processo contrátil envolve
subpopulações. Dessa forma, será possível compreen- o deslizamento desses dois filamentos, um sobre o
der desde o tecido como um todo até o nível genéti- outro, um processo coordenado por motores mole-
co, sendo possível delinear o treinamento e a reabili- culares. Esses filamentos são partes de pontes cruza-
tação mais apropriados. Com a recente descoberta das que se estendem do filamento de miosina. Cada
da seqüência do genoma, será possível, muito em ponte cruzada é um gerador independente de força
breve, predizer quais indivíduos apresentam potencial que interage com o filamento fino e o desloca na di-
genético para se tornar atletas de nível internacional. reção do centro do sarcômero. Estudos recentes de
cristalografia de raio X demonstraram a estrutura des-
sa molécula, identificando a região que se liga ao fi-
Bases celulares e moleculares da lamento grosso e que se associa e hidroliza ATP no
potência muscular processo contrátil (Rayment et al., 1993a,b). Está claro
que as pontes cruzadas podem se ligar fraca ou for-
Meios pelos quais o músculo se temente aos filamentos de actina em mais de uma
encurta e produz força situação, dependendo da ligação do fosfato inorgâni-
co. A ponte cruzada deve ser inibida pela adenosina
O processo pelo qual o músculo converte ener- trifosfato (ATP) quando for desaclopada do filamen-
gia química em trabalho mecânico chama a atenção to fino antes de iniciar outro ciclo de geração de força.
de muitos fisiologistas, bioquímicos e especialistas em Durante a contração, os filamentos finos desli-
exercício físico. Este capítulo representa uma breve zam sobre os filamentos grossos, encurtando cada
revisão de muitos tópicos. Maiores detalhes podem sarcômero. Isso ocorre ao longo de todo o compri-
ser encontrados em livros-textos de biologia celular mento das miofibrilas; então o músculo se encurta
e fisiologia. completamente. A bioquímica da contração muscu-
248 PAAVO V. KOMI

Figura 12.1 Estrutura muscular do tecido total em nível molecular. As unidades celulares ou fibras musculares contêm elementos
contráteis denominados miofibrilas. Nos músculos esquelético e cardíaco as miofibrilas são estriadas. A característica estriada deve-
se à presença de filamentos grossos (miosina) e finos (actina). Esses filamentos protéicos são dispostos em unidades denominadas
sarcômeros, que se encurtam durante a contração, pelo deslizamento dos filamentos finos sobre os grossos. Esse movimento de
deslizamento é induzido pelas pontes cruzadas de miosina que agem como geradores de força independentes. O movimento dos
filamentos finos inicia quando o cálcio liga-se ao complexo troponina (TnI, TnT, TnC) que parece puxar a tropomiosina para o lado,
de modo que os locais ativos fiquem expostos sobre o filamento de actina. Outra condição é que as pontes cruzadas de miosina são
carregadas com ATP. A ponte cruzada representa a parte da molécula de cadeia pesada de miosina que se projeta do filamento
grosso. A extremidade da ponte cruzada termina em duas cabeças globulares (fragmento S1) que contêm ATPase e locais de ligação
da actina. A taxa em que as pontes cruzadas funcionam é principalmente determinada pela atividade da ATPase do tipo de cadeia
pesada de miosina que constitui a ponte cruzada. As duas cadeias leves de miosina, também associadas com S1, parecem
modificar o tempo de ciclo da ponte cruzada em alguma magnitude.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 249

lar é complexa. Isso significa que o sistema não dis- filamentos de actina. Como mencionado anterior-
põe de um único meio de geração de força, mas tam- mente, cada ponte cruzada de miosina é um gerador
bém de um mecanismo para “acoplar” e “desacoplar” de força independente; o número de pontes cruza-
o aparato contrátil. Os filamentos de actina são simi- das acopladas dependerá da concentração de Ca2+ no
lares a um duplo colar de pérolas que se entrelaça sarcoplasma. Quando estimuladas pelo ATP e ativa-
em forma de espiral ou hélice. Esses filamentos finos das pelo Ca2+, essas pontes cruzadas se movimentam
são complexos regulatórios constituídos de proteí- de acordo com o ciclo de acoplamento do filamento
na, tropomiosina e troponina I, T e C. Quando os fino, geração de força e, então, uma fase de desaco-
íons cálcio (Ca2+) se ligam ao complexo troponina, plamento. Recentes avanços empregando sistemas de
há mudança conformacional que resulta no desliza- isolamento a lazer (pinças ópticas) permitem medir
mento da tropomiosina. Procura-se, então, a exposi- diretamente a força e o deslocamento, resultado da
ção dos locais ativos que permitem, às pontes cruza- interação de uma única molécula de miosina com
das da miosina, interagir com os filamentos finos um único filamento de actina. Forças transitórias de
quando a posição da tropomiosina é alterada. As pon- 3 a 4 pN têm sido medidas sob condições isométri-
tes cruzadas se movimentam em ciclos repitidos ou cas que são consistentes com as previsões do mode-
de atividade até o Ca2+ ser retirado. lo de contração do movimento das pontes cruzadas
O Ca2+ é estocado em sacos intracelulares locali- (Finer et al., 1994).
zados ao redor das miofibrilas (retículo sarcoplasmá- Convém relacionar a força máxima desenvolvida
tico [RS]). O potencial de ação resulta na despolari- com a área de secção transversa da fibra muscular,
zação do sarcolema e na liberação do Ca2+ do RS para pois a força muscular é um reflexo puro do número
o sarcoplasma. Acredita-se resultar de um movimento de pontes cruzadas trabalhando em paralelo. A área
de carga na junção do RS com o sistema de túbulos de secção transversa da fibra representa uma manei-
transversos. Essa voltagem é sensível a receptores ra razoavelmente precisa de predizer a força que de-
dihidropirodina, que ativam os canais de ligação da terminada fibra pode desenvolver. No entanto, isso é
rianodina no RS, que, por sua vez, abrem-se e permi- mais complicado na perspectiva de todo o músculo.
tem a rápida difusão externa do Ca2+. O relaxamento O grau em que o músculo é ativado e as dificuldades
muscular ocorre a partir do seqüestro do Ca2+ de volta na determinação precisa da área de secção transver-
ao RS através de vesículas longitudinais, por um pro- sa fisiológica são fatores que tornam impossível de-
cesso de transporte ativo catalisado pela Ca2+-ATPa- terminar com exatidão a geração específica de força.
se em que duas moléculas de ATP são hidrolisadas O problema é composto pela falta de métodos para a
para cada Ca2+ seqüestrado. determinação da porcentagem de espaço extracelu-
lar dentro do músculo. Na realidade, é possível que
Determinantes ultra-estruturais e uma das respostas iniciais ao treinamento de força
moleculares da força muscular seja a consolidação tecidual quando as fibras mus-
culares aumentam em circunferência em relação aos
A força pode ser definida como a máxima força custos dos espaços extracelulares. Isso quer dizer que
que determinado músculo pode desenvolver duran- a resposta inicial constitui o aumento da área de sec-
te uma única contração. Fisiologicamente, isso em ção transversa das fibras musculares sem aumento
geral é definido quando o músculo é submetido a paralelo da área de secção transversa muscular, re-
testes sob condições isométricas ou estáticas, ou sultando em um músculo mais forte e compacto.
quando ocorre encurtamento do sarcômero, embora Além disso, a disposição das fibras nos diferentes
deva ser considerado que, no início de contrações músculos difere de acordo com a capacidade do mús-
isométricas, o sarcômero encurta em oposição à culo em gerar elevados níveis de força ou produzir
“frouxidão” das estruturas elásticas internas do mús- alta velocidade de encurtamento. As fibras muscula-
culo e do tendão. Portanto, a contração não é com- res são dispostas de modo que aumentem a área de
pletamente isométrica. Em nível ultra-estrutural, a secção transversa efetiva ou “fisiológica” dos mús-
força capaz de ser gerada está intimamente relacio- culos, tais como os da perna. Esses são referidos
nada ao número de pontes cruzadas de miosina tra- como músculos peniformes ou multipeniformes e
balhando em paralelo e que podem interagir com os servem para maximizar a área de secção transversa
250 PAAVO V. KOMI

fisiológica em determinada área anatômica do mús- (Schiaffino e Reggiani, 1996). Diferentemente dos
culo. Uma conseqüência inevitável desse tipo de dis- roedores, nos quais existem quatro, no músculo es-
posição é o fato de que as fibras musculares serão quelético do humano adulto há somente três isofor-
relativamente mais curtas, fazendo com que o mús- mas de MyHC. Elas podem ser expressas como:
culo tenha menor taxa de encurtamento. MyHC-I, MyHC-IIA e MyHC-IIX (Smerdu et al.,
1994; Ennion et al., 1995). A transcrição gênica da
Determinantes ultra-estruturais e última é homóloga à MyHC-IIX encontrada no mús-
moleculares da velocidade de culo do rato e não à MyHC-IIB mais rápida, não ex-
encurtamento pressa nos músculos de locomoção humana. Isso faz
sentido em uma escala perspectiva na qual velocida-
A taxa total de encurtamento de um músculo é, des apropriadas de encurtamento nos humanos e em
ao contrário da força isométrica, determinada em outros mamíferos podem ser atingidas através dos
parte pelo número de sarcômeros em séries, e não grandes membros, das fibras longas e, portanto, de
em paralelo. Quando ativados, os sarcômeros se con- mais sarcômeros em série. Existe confusão referente
traem e têm um efeito aditivo — quanto mais deles à nomenclatura: o termo “tipo IIb” é usado por algu-
estão em série, mais rápida é a taxa de encurtamento mas pessoas para a classificação de fibras, quando as
total da fibra. Então, devido à taxa total de encurta- estão identificando por meio de ATPase histoquími-
mento ser parcialmente determinada pelo compri- ca. Essas fibras expressam apenas a isoforma MyHC-
mento, é necessário expressar a máxima velocidade IIX, ou está em combinação com as isoformas MyHC-
de encurtamento (Vmáx) como a taxa de encurtamen- IIA (Sant’ana Pereira et al., 1994). Essa multiplicidade
to por sarcômero ou por comprimento muscular. de expressão de isoforma ilustra os riscos de extra-
Além do comprimento, a Vmáx também depende da polar dados obtidos diretamente de roedores para
velocidade intrínseca de encurtamento de cada sar- humanos.
cômero, que, por sua vez, depende do tipo predomi- A razão para essa diversidade de miosinas (mo-
nante de ponte cruzada de miosina expressa. tores moleculares) talvez possa ser mais bem com-
A molécula de miosina consiste de duas cadeias preendida pela análise das propriedades mecânicas
pesadas (peso molecular ~ 220 kDa) espiraladas en- das fibras musculares. Isso envolve uma técnica de
tre si, exceto para suas cabeças globulares ou regiões remoção dos sistemas de membrana pelo processo
S1. Parte da região duplamente trançada forma a es- de skinning químico, enquanto preserva o aparato
pinha, a meromiosina leve (LMM), que é encaixada contrátil intacto. Essas fibras permeabilizadas são,
no filamento de miosina. A meromiosina pesada então, imersas em uma solução de concentração de
(HMM) forma a ponte cruzada e termina na região ATP rica em Ca2+ para induzir contração. Os estudos
S1. A parte S1 da cadeia pesada de miosina contém o de fibras individuais realizados no músculo humano
local de acoplamento da actina e o local da ATPase. (Fig. 12.2) confirmaram inicialmente em modelos ani-
Ambos os locais são elementos importantes do me- mais, que as fibras expressando isoformas MyHC-I
canismo contrátil e determinam o ciclo de pontes são mais lentas quando comparadas às fibras
cruzadas, assim como a Vmáx. A parte HMM da mio- MyHC-IIA, que podem ser três vezes mais rápidas,
sina de cadeia pesada (MyHC) que se projeta do fila- enquanto as fibras que expressam a isoforma MyHC-
mento é articulada. Por isso, pode se soltar e permitir IIX são mais rápidas e mais poderosas (Larsson e
à cabeça S1 acoplar-se ao local ativo do filamento Moss, 1993; Bottinelli et al., 1996; Harridge et al.,
fino. As cabeças S1 aparentemente movimentam o fi- 1996; Widrick et al., 1999).
lamento fino, encurtando o sarcômero. O encurtamen- Há também expressão de inúmeras isoformas de
to de cada sarcômero depende do número de pontes miosina de cadeia leve com ~ 20 kDa em adição à
cruzadas que podem alcançar os filamentos de actina. multiplicidade de isoformas MyHC. Há duas cadeias
Isso significa que a sobreposição inicial dos filamen- de miosina leve associadas com cada cabeça S1 e, cer-
tos (comprimento do sarcômero) é importante. tamente nos músculos dos roedores, diferentes iso-
As pontes cruzadas não são proteínas homo- formas dessas proteínas modificam ou ajustam a taxa
gêneas, mas existem como isoformas múltiplas de encurtamento nas fibras que expressam a mesma
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 251

nessas curvas de superfície. Determinadas condições


clínicas, como a cardiomiopatia hipertrófica familiar
(FHMC), algumas vezes descrita como síndrome da
morte súbita, geralmente são associadas com muta-
ções no gene da miosina (tipo 1) cardíaca β. Tal pers-
pectiva tem recebido notável publicidade devido a al-
guns atletas entrarem subitamente em colapso e
morrerem quando se exercitam até o limite. As célu-
las do músculo cardíaco parecem produzir mais mio-
sina para compensar o gene anormal; com isso, o mús-
culo cardíaco atinge um estado de hipertrofia, que se
torna uma ameaça à vida durante esforço extremo.
Agora que sabemos que substituições de somente 1
ou 2 aminoácidos fazem diferença para a harmonia
dos motores moleculares, outras variações nos genes
Figura 12.2 Relação força-velocidade e potência-velocidade estruturais por conta de efeitos indesejáveis ou mes-
de estudos de fibras musculares humanas isoladas a 12°C. As
fibras foram quimicamente manipuladas e ativadas em solução mo desejáveis na função serão certamente elucidadas
com alta concentração de cálcio (pCa 4,5) e submetidas a no futuro. Isso também pode explicar o motivo de al-
contrações de encurtamento isotônico. As três fibras guns aspectos da habilidade esportiva serem herda-
demonstradas são identificadas por meio de eletroforese de gel, dos.
expressando MyHC-I, MyHC-IIA e MyHC-IIX (de Bottinelli et Além da miosina, outras proteínas, como a tro-
al., 1996).
ponina e tropomiosina regulatórias, apresentam di-
ferentes isoformas rápidas e lentas e estão envolvidas
no ajustamento do processo contrátil (Schiaffino e
Reggiani, 1996). No entanto, é a isoforma MyHC que
isoforma MyHC (Reisner et al, 1985; Bottinelli et al., representa o determinante primário da característica
1994). O efeito de ajustamento fino das cadeias leves contrátil.
ainda tem de ser claramente estabelecido nas fibras
musculares de humanos (Larsson e Moss, 1993). Potência muscular e fenótipo de
A determinação da estrutura tridimensional de fibra
uma miosina S1 pelo método de cristalografia de raio
X (Rayment et al., 1993ab) foi um grande passo na Um equívoco comum em relação ao termo po-
elucidação do funcionamento dos motores molecu- tência é empregá-lo quando realmente significa for-
lares. Foi demonstrado por clonagem molecular, por ça. Potência é a taxa de trabalho realizado: potência =
métodos de seqüenciamento e por gráficos compu- trabalho realizado (força × distância) por unidade de
tadorizados que as miosinas lentas e rápidas diferem tempo ou força × velocidade. Como mencionado an-
somente em alguns aminoácidos. A falta de homolo- teriormente, a força muscular pode ser definida como
gia manifesta-se nas curvas um e dois da superfície a força máxima produzida em uma única contração
flexível. A curva um está sobre o local enzimático; isométrica máxima; nesse caso, porém, nenhuma po-
por meio da comparação das miosinas S1 de diferen- tência é gerada. A potência muscular é produzida
tes músculos e diferentes modelos animais foi suge- durante o movimento. No entanto, os requerimen-
rido que isso pode agir como uma tranca eletrostáti- tos dessa variável para os músculos podem diferir
ca. Tal sistema determina a taxa em que a ATP entra consideravelmente conforme a natureza da atividade
ou a taxa em que a ADP deixa o local ativo (Gauvry física. Os requerimentos de potência no levantamento
et al., 2000). As outras curvas de superfície são asso- de pesos e na corrida de velocidade, por exemplo, são
ciadas com o acoplamento à actina. Então parece que claramente diferentes daqueles necessários na mara-
o motor molecular básico é o mesmo, mas pode ser tona. A primeira situação requer curta duração e ele-
ajustado pela substituição de alguns aminoácidos vada potência, enquanto a última requer a manuten-
252 PAAVO V. KOMI

ção de um nível baixo de potência, mas em um perí- aqueles que podem afetar a potência por alterar a
odo prolongado de tempo. Como já mencionado, di- velocidade de encurtamento.
ferentes tipos de fibras musculares sugerem o desem-
penho de papéis específicos. Por exemplo, as fibras Geração de força e hipertrofia
que expressam a isoforma MyHC-IIX são adaptadas muscular
para alta potência em curto período de tempo, pois
apresentam elevada taxa de ciclos de pontes cruza- Devido à força muscular ser extremamente rela-
das e limitado sistema energético (glicolítico). As fi- cionada à sua área de secção transversa, o aumento
bras MyHC-IIA podem ser consideradas com desen- do tamanho da fibra é a principal adaptação para in-
volvimento suficiente para gerarem alta potência crementar a produção de potência muscular. O nú-
muscular por conta de sua elevada taxa de pontes mero de fibras musculares aparentemente não au-
cruzadas cíclicas (no entanto, menor do que a isofor- menta durante o crescimento pós-natal ou como
ma MyHC-IIX), mas durante período prolongado de resultado de treinamento físico em intensidades ra-
tempo. Tal efeito se processa na presença de potencial zoáveis. No entanto, a área média de secção transver-
não somente glicolítico, mas também oxidativo. Am- sa das fibras aumenta consideravelmente durante o
bas as fibras possuem um tipo de miosina e outras crescimento e no músculo adulto em resposta ao
proteínas contráteis, como a isoforma rápida do RS, aumento da sobrecarga mecânica. Estudos realiza-
que produz rápida ativação e elevada taxa de turnover dos com animais de laboratório indicam que o nú-
das pontes cruzadas. No entanto, como as fibras tipo mero total de fibras é geneticamente determinado.
MyHC-IIA têm mais mitocôndria e um metabolis- Essa proposição é a mesma para homens e mulheres,
mo oxidativo mais desenvolvido, são capazes de man- mas o tamanho alcançado pela fibra muscular é maior
ter uma alta potência durante um período mais pro- neles do que nelas. Isso se deve à influência da tes-
longado do que as fibras MyHC-IIX. tosterona e de outros hormônios.
O tipo MyHC-I de miosina é homólogo à isofor- O incremento na área de secção transversa da
ma cardíaca β expressa no músculo cardíaco e tem fibra é associado com um grande aumento no con-
taxa de ciclo lento das pontes cruzadas, tornando es- teúdo miofibrilar das fibras. Isso envolve um proces-
sas fibras mais eficientes e mais econômicas para a so em que uma miofibrila é submetida à divisão lon-
produção de movimentos repetitivos lentos (He et gitudinal em duas ou mais miofibrilas-filhas. Dessa
al., 2000) e para a manutençaõ da força isométrica maneira, a massa miofibrilar torna-se subdividida
(Stienen et al., 1996), mas não para a geração alta de quando aumenta em volume, permitindo ao retículo
potência. As fibras MyHC-I são particularmente nu- sarcoplasmático e aos sistemas tubulares transversos
merosas nos músculos posturais como o sóleo, ati- invadirem a massa e aproximarem-se em justaposi-
vado virtualmente durante todo o tempo na situação ção com os filamentos de actina e miosina. Provavel-
em pé, na caminhada e na corrida, enquanto há bai- mente, a divisão longitudinal das miofibrilas ocorre
xa expressão nos músculos sem funções posturais ou devido ao erro incorporado no entrelaçamento da
locomotoras, como o tríceps braquial (Harridge et al., actina com a miosina assim que os filamentos de ac-
1996). tina são ligeiramente deslocados quando se movimen-
tam do disco-Z (entrelaçamento quadrado) para a
banda-A (entrelaçamento hexagonal). Esse desloca-
Adaptação para o aumento da mento ou tração oblíqua dos filamentos de actina causa
potência estresse mecânico no centro de cada disco-Z, causan-
do a divisão da miofibrila (Goldspink, 1971) (Fig. 12.3).
Qualquer parâmetro capaz de modificar a força e A divisão tende a ser mais completa nas fibras de con-
a velocidade pode alterar a potência. Isso porque esta tração rápida, e, portanto, as miofibrilas nessas fibras
última pode ser determinada pela interação entre for- são pequenas e pontilhadas. A divisão das fibras de
ça e velocidade de contração. Para facilitar a compre- contração lenta geralmente é incompleta. As miofibri-
ensão, os seguintes tópicos foram divididos em me- las parecem ramificadas em secção longitudinal. O
canismos que podem produzir adaptação da força e aumento no número total de miofibrilas em fibras exis-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 253

Figura 12.3 (a) Secção longitudinal demonstrando


miofibrilas no processo de divisão quando observado
por microscopia eletrônica. A secção superior
demonstra uma miofibrila que começou a dividir-se
com os discos-Z intactos em cada lado do disco
rompido. Os elementos do RS e do sistema-T podem
ser observados na bifurcação da divisão. (b) O
mecanismo de divisão longitudinal parece depender do
estiramento oblíquo dos filamentos periféricos de
actina. Isso surge devido a incompatibilidade no
entrelaçamento dos filamentos de actina e de miosina.
Essa característica oblíqua aumenta quando as
miofibrilas crescem e aumentam em diâmetro. Esse
estiramento oblíquo dos filamentos de actina produz
estresse mecânico sendo estabelecido no centro do
disco-Z quando a força é desenvolvida e causa seu
rompimento. Isso se repete ao longo da miofibrila
gerando duas miofibrilas-filhas.
254 PAAVO V. KOMI

tentes ocorre durante o crescimento e na hipertrofia ao freqüente recrutamento, mas em menor magnitu-
em resposta à sobrecarga. A produção de força máxi- de do que as fibras rápidas. As fibras rápidas de alguns
ma de um músculo é relacionada à área de secção trans- músculos podem ser maximamente recrutadas em
versa da miofibrila na medida em que a significância exercício repetido de baixa intensidade e em ativida-
fisiológica desse tipo de adaptação é aparente. des posturais. Sob outras condições, as fibras rápidas
entram em processo de atrofia ao mesmo tempo em
Hipertrofia, síntese protéica e a que as fibras lentas estão sendo induzidas a determi-
importância do alongamento nado nível de hipertrofia, como, por exemplo, durante
corridas de longa distância. Portanto, a resposta é se-
Há duas maneiras de acumular proteínas duran- letiva de acordo com o tipo de treinamento.
te o crescimento ou treinamento. Uma delas é carac- A dúvida que permanece refere-se à ocorrência
terizada pelo incremento na síntese protéica. A outra de hiperplasia (aumento no número de células),
representa o decréscimo na degradação protéica. assim como de hipertrofia (aumento no tamanho da
Mesmo no músculo adulto, as proteínas são cons- célula) como efeito induzido pelo treinamento vigo-
tantemente sintetizadas e degradadas; é provável que, roso. Em geral, modelos animais submetidos a tipos
o turnover, ou meia-vida, das proteínas contráteis seja normais de exercícios não demonstraram qualquer
de 7 a 15 dias. As proteínas sarcoplasmáticas solú- alteração no número total de fibras (Goldspink e
veis possuem meia-vida curta. Nesse processo, mais Ward, 1979; McCall et al., 1996). No entanto, obser-
da metade das proteínas contráteis são degradadas e va-se divisão parcial das fibras musculares em mús-
substituídas a cada sete dias. Esse ciclo pode parecer culos cirurgicamente sobrecarregados (Vaughan e
mais do que devastador. No entanto, o processo ca- Goldspink, 1979); não confundir esse processo com
pacita o músculo a substituir proteínas lesionadas e divisão de miofibrilas. Portanto, é possível que a divi-
confere uma certa adaptabilidade para alterar o tipo são da fibra muscular induza hiperplasia, por exem-
de proteína em determinados estágios de desenvol- plo, sob condições de exercício progressivo com gran-
vimento e sob certas condições fisiológicas. Paralela- de número de repetições. Mas essa divisão deveria
mente, os aminoácidos são reutilizados, o que torna ser completa e produzir fibras inervadas para ser con-
o processo dispendioso em energia, mas não no su- siderada um fenômeno adaptativo, mais do que uma
primento de aminoácidos. alteração patológica.
Todos os tipos de fibras musculares são capazes O nível de atrofia nos músculos em desuso é afe-
de submeter-se à hipertrofia. Esta última, no entan- tado pelo grau de alongamento muscular. O alonga-
to, em geral não ocorre na mesma magnitude nas mento do músculo sóleo de coelhos durante 3 a 5
diferentes fibras. Além disso, parece que as fibras uti- dias produz alterações substanciais no turnover pro-
lizam diferentes estratégias para a secreção protéica. téico. Verifica-se incremento na síntese protéica em
A taxa de síntese protéica é incrementada nas fibras músculos alongados e imobilizados quando mensu-
rápidas de modelos animais, enquanto a taxa de de- rados in vivo (Booth e Seider, 1979; Goldspink et al.,
gradação protéica diminui nas fibras lentas. Os da- 1983; Goldspink e Goldspink, 1986) ou in vitro
dos disponíveis em modelos humanos, embora mui- (Goldspink, 1977). Tais alterações foram detectadas
to limitados, sugerem que não há diferença no turnover até 6 horas após a imposição de alongamento em
protéico entre os tipos de fibras (Rennie e Tipton, músculos normalmente inervados e denervados; esta
2000). As fibras de contração rápida são recrutadas última situação apontando para uma resposta mio-
com pouca freqüência (para movimentos de potên- gênica passiva mais do que qualquer componente
cia rápidos ou contrações isométricas de alta inten- ativo disparado por receptores sensoriais no múscu-
sidade). Mas quando são recrutadas e “sobrecarrega- lo alongado. Sendo assim, o alongamento induz in-
das”, tendem a hipertrofiar muito rapidamente. A cremento significativo na taxa de síntese protéica
hipertrofia seletiva das fibras rápidas pode ser consi- muscular, tal como no número de sarcômeros em
derada uma adaptação para aumentar a produção de série. As aplicações terapêuticas desse alongamento
potência em situações em que todas ou a maio- poderiam, portanto, ser empregadas no delineamen-
ria das fibras estão sendo recrutadas. As fibras lentas to de programas de reabilitação ou na melhoria do
também podem aumentar em tamanho como resposta desempenho esportivo.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 255

Regulação molecular da hipertrofia os ribossomos extras estão disponíveis para transmi-


da fibra muscular tir a mensagem. Portanto, a rápida síntese de maior
número de ribossomos parece ser o primeiro passo
O músculo caracteristicamente é um tecido cuja na indução de hipertrofia da fibra muscular.
expressão gênica é regulada em grande parte por si-
nais mecânicos. As alterações na expressão gênica
Fatores de crescimento local e
podem ser detectadas pela análise do RNA em estu-
sistêmico envolvidos na hipertrofia
dos de hibridização que empregam provas específi-
cas de cDNA para genes das cadeias pesadas de mio- Há muito tempo definiu-se a presença de regu-
sina lenta e rápida (Goldspink e Scutt, 1989; lação local, assim como sistêmica, do crescimento
Goldspink et al., 1991). Os genes MyHC ao longo de muscular. O eixo hormônio do crescimento-fator de
uma família de genes são dispostos em série no cro- crescimento insulina-símile (GH – IGF-I) é o princi-
mossomo 17 em humanos. Os genes da miosina do pal regulador do crescimento tecidual no início da
músculo cardíaco, em que existem duas isoformas (α vida, embora haja também controle local de cresci-
e β), estão no cromossomo 14 em humanos. Exis- mento, reparo e remodelação tecidual. O cDNA de
tem, no mínimo, cinco isoformas gênicas para os dois fatores de crescimento expressos pelo músculo
MyHCs esqueléticos, sendo expressos na seqüência: quando submetido à atividade derivada do gene do
embriônica, neonatal, adulto rápido, adulto rápido IGF-I por encaixe alternativo tem sido clonado (Yang
oxidativo e adulto lento. et al., 1996). Um deles (L.IGF-I) é muito similar ao
Como resultado da sobrecarga na posição alon- tipo endócrino hepático do IGF-IEa. O outro é um
gada, o músculo tibial anterior em contração rápida novo fator de crescimento detectado em músculo
em modelo de coelho adulto é induzido a sintetizar estimulado. Por essa razão e para distingui-lo do
grande quantidade de proteína e a crescer cerca de IGF-I hepático, que possui ação sistêmica, foi deno-
30% em um período de quatro dias. Essa hipertrofia minado fator mecanocrescimento (MGF). A estrutu-
muito rápida estava associada com aumento de 250% ra do cDNA dessa isoforma indica distintos exons*
no conteúdo de RNA do músculo e com alteração para o tipo hepático e diferente do último — o MGF
nas espécies de RNAm produzidas (Goldspink et al., não é glicosilado. Portanto, postula-se que seja me-
1983). Tanto o alongamento isolado como a estimu- nor e tenha meia-vida curta quando comparado aos
lação elétrica isolada induzem certo nível de ativação IGF-Is sistêmicos. Ambas as isoformas musculares
dos genes tipo lento e de repressão dos genes tipo parecem ser supra-reguladas por alongamento e so-
rápido. No entanto, uma alteração mais completa na brecarga (McKoy et al., 1999). Evidências indicam
expressão gênica de MyHc foi alcançada quando es- que, durante o exercício, o L.IGF-I contribui signifi-
ses estímulos mecânicos foram combinados e diante cativamente para os níveis circulantes de IGF-I. Isso
de maiores freqüências de estimulação. Isso sugere poderia explicar as descobertas de Brahm e colabo-
que o fenótipo da fibra muscular adulta é determina- radores (1997), que registraram maior produção de
do pela geração de alongamento e força (tensão pas- IGF-I circulante pelos músculos do que pelo fígado
siva mais ativa), sendo controlado no nível da trans- durante exercício intenso em bicicleta. O MGF, por
crição gênica. A regulação do crescimento, no entanto, sua vez, parece ser delineado para ação local e prova-
é provavelmente limitada pela taxa de transmissão velmente não entra na corrente sangüínea. Existe uma
da mensagem dentro da proteína. Nesse contexto, é inserção na base 49 no domínio E em modelo huma-
interessante notar que a densidade ribossômica no e na base 52 no rato que altera a estrutura de lei-
é aumentada na hipertrofia muito significativamen- tura da extremidade 3’. Essa região codifica a extre-
te. Isso diminui consideravelmente no crescimento midade carboxiterminal do peptídeo que reconhece
pós-natal em paralelo com a lentidão do desenvolvi- a proteína de ligação específica ao tecido neuronal e
mento muscular. Portanto, parece que o processo de
transmissão, mais lento do que o de transcrição, é
um passo determinante na hipertrofia. Certamente,
250% de aumento no RNA ribossômico durante hi-
pertrofia rápida de um músculo adulto significa que *N. de R.T. Relativo à seqüência codificadora de um gene.
256 PAAVO V. KOMI

muscular. Poderia ser esperado para localizar sua ação lar geral (Mathews et al., 1988; Musaro et al., 2001).
quando estivesse instável na forma não-ligada, que é Recentemente, Yang e Goldspink (2001) introduzi-
importante em sua produção por não perturbar ex- ram o cDNA do MGF em um vetor plasmídeo por
cessivamente a homeostase da glicose. Anticorpos injeção intramuscular direta no músculo do camun-
específicos têm sido gerados para essas isoformas dongo. No último caso, foi encontrado que uma úni-
IGF-I musculares e, por meio do emprego de abor- ca injeção de cDNA do MGF aumentou em 25% a
dagem proteômica envolvendo filtragem bidimen- massa muscular com elevação coincidente no tama-
sional de Western e espectrometria de massa, a pro- nho da fibra muscular em duas semanas. Portanto,
teína de ligação específica para o MGF parece ser a parece haver pouca dúvida de que o MGF seja muito
creatina cinase (tipo MM no músculo esquelético e potente. A clonagem e o seqüenciamento dos
BB no sistema nervoso central). A creatina cinase (CK) cDNAs das variantes de encaixe musculares autócri-
liga-se às miofibrilas, mas se desacopla quando o pH nas e sistêmicas do IGF-I (Yang et al., 1996) torna-
cai abaixo de 7 e quando as miofibrilas estão alonga- ram possível desenvolver provas para mensurar as al-
das (Kraft et al., 2000). O MGF se liga fortemente à terações na expressão por meio de ensaios de proteção
CK, que, diante de músculo lesionado, sai das fibras RNase (McKoy et al., 1999) e, mais recentemente,
através da membrana. Isso indica que o MGF pode PCR quantitativo em tempo real. Esta última abor-
ser considerado como fator de reparo e que é supra- dagem pode determinar os níveis de RNAm de dife-
expresso quando o músculo é estimulado, produzin- rentes isoformas de IGF-I em pequenas amostras de
do hipertrofia. Trabalho recente demonstrou que os biópsia muscular. Certamente, os fatores de cresci-
músculos de ratos idosos não respondem ao estímu- mento local e sistêmico precisam ser foco de mais
lo mecânico por não expressar tanto MGF como os trabalhos para que seja definido o mecanismo de me-
animais jovens. Tal estudo propõe que o MGF e o canotransdução e a sinalização oposta envolvida na
IGF-IEa são regulados de forma diferente, mesmo que produção desses e de outros fatores de crescimento.
derivem do mesmo gene (Owino et al., 2001). Esses O mecanismo de mecanotransdução não é co-
dois fatores de crescimento apresentam diferentes ci- nhecido, mas indícios surgiram com a descoberta de
néticas de expressão quando submetidos à lesão por que os músculos distróficos aparentemente não po-
alongamento associada com estimulação elétrica do dem responder ao estímulo mecânico através da pro-
músculo tibial anterior do rato; determinou-se que a dução de MGF. O reparo local é importante no teci-
expressão de MGF alcançou pico de liberação em um do pós-mitótico, e tanto o tecido muscular como o
dia, enquanto a do IGF-IEa ocorreu cinco dias após neuronal possuem um sistema citoesquelético com-
lesão local induzida (Hill e Goldspink, dados não- plexo que envolve o complexo distrofina. A função
publicados). Os experimentos em que as células mus- da distrofina não é conhecida, embora evidências
culares em cultura foram submetidas a diferentes ti- apontem para a função de enrijecimento da mem-
pos de alongamento revelaram que o MGF é expresso brana. Devido à sua estrutura e à sua conexão como
em resposta a um único alongamento progressivo. Já matriz extracelular, e em virtude de existência de uma
o IGF-I responde a alongamentos cíclicos de menor tirosina cinase e da síntese de ácido nítrico neuronal
amplitude (Chema et al., dados não-publicados). A (nNOS) como parte do complexo distrofina, sugere-
dependência de diferentes tipos de sinais mecânicos se que tem maior número de funções do que somen-
pode ajudar a explicar o motivo de alguns programas te estabilizar a membrana. Na realidade, parece que
de treinamento, tais como contração excêntrica, re- o complexo distrofina pode agir como um mecano-
sultarem em aumento na massa muscular enquanto transdutor. O citoesqueleto é defeituoso na distrofia
outros não. muscular de Duchenne relacionada ao gênero, em
A transferência gênica de IGF-I tem sido empre- que não há distrofia; e em distrofias autossômicas é
gada, mas envolvendo o tipo Ea sistêmico do IGF-I também uma de outras matrizes protéicas extracelu-
(Mathews et al., 1988; Barton-Davies et al., 1998). lares-citoesqueléticas que está defeituosa ou ausen-
Um camundongo transgênico supra-expressa essa te. Isso parece causar incapacidade de produzir MGF
forma (Ea) do IGF-I (denominada m.IGF-I). Tal pro- e, portanto, de realizar o processo de reparo tecidual
cessamento gênico também está em desenvolvimen- local nesses músculos, que são mais suscetíveis a le-
tos, demonstrando considerável hipertrofia muscu- sionar-se por indução de morte de células muscula-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 257

res. Essa lesão celular resulta na supra-expressão de rem regularmente a programa de exercícios com pe-
genes de colágeno I e III e em fibrose que, por sua sos quando comparados a indivíduos destreinados
vez, produz mais lesão. O desenvolvimento de colá- (Kadi e Thornell, 2000). Uma vez que a célula-satéli-
geno inextensível vigoroso induz maior quantidade te foi dividida, cada célula-filha pode ser submetida à
de lesão à fibra muscular, o que ajuda a explicar a diferenciação terminal em um mioblasto ou perma-
natureza progressiva dessa doença. O desafio está em necer uma célula progenitora para fornecer novo mi-
frear esse ciclo vicioso de lesão e fibrose, promoven- onúcleo ao próximo ciclo de divisão e diferenciação.
do o reparo tecidual. Atletas usuários de esteróides anabólicos e treinados
com exercícios com pesos exibem fibras musculares
Células-satélite maiores, assim como maior número de mionúcleos
com fibras (Kadi et al., 1999). Essa é a evidência de
O mecanismo que incrementa a expressão de fa- que a manutenção de uma relação núcleo-citoplas-
tores de crescimento e promove o disparo da hiper- ma constante representa um mecanismo fundamen-
trofia é incerto. Provavelmente está envolvido de al- tal para o crescimento da fibra muscular.
guma maneira na diferenciação e na proliferação das As células-satélite também têm recebido consi-
células-satélite (células progenitoras musculares). As derável atenção não somente pelas razões mencio-
fibras musculares são células pós-mitóticas; uma vez nadas, mas também porque representam uma ma-
que a diferenciação embriônica esteja completa, não neira de transferência de genes. Os mioblastos e as
ocorre divisão celular posterior. Em camundongos, células-satélite transferem o gene distrofina (Partridge,
as células-satélite representam aproximadamente 1993). No entanto, a concepção de células progeni-
30% do núcleo muscular no nascimento, caindo para toras pluripotentes que podem se desenvolver nos
5% em animais adultos. As células-satélite fornecem tecidos muscular, hepático ou neuronal, apresenta a
o núcleo para o crescimento pós-natal e também es- possibilidade não apenas de transferir genes, mas de
tão envolvidas no reparo e na regeneração induzidos reconstruir o tecido in situ. Isso, portanto, nos traz à
por lesão local das fibras musculares. No músculo era da engenharia tecidual, sendo altamente prová-
saudável (não-lesionado), essas células permanecem vel que na próxima década, ou antes, os músculos
em estado quiescente e são geralmente detectadas serão reconstituídos após trauma físico e nas crian-
abaixo da lâmina basal, expressando m-caderina. As ças com problemas hereditários e congênitos de cres-
células-satélite expressam m-caderina, c-met, MyoD, cimento muscular.
myf-5 e, posteriormente, miogenina (Cornelison e
Wold, 1997). É provável que elas permaneçam mito- Otimização do comprimento do
ticamente inativas, mas são mobilizadas pelo aumento sarcômero para a produção de
do estímulo mecânico ou por lesão, atuando na adap- força
tação e no reparo do músculo. Recente trabalho de
Yand e Goldspink (2002) demonstrou que o MGF O considerável aumento no comprimento dos
quando adicionado às células musculares em cultu- músculos durante o desenvolvimento pós-natal re-
ra induz os mioblastos mononucleados (células-sa- sulta de fibras constituintes adicionadas aos sarcô-
télite) a se proliferarem, enquanto o IGF-I Ea produz meros em série. Os estudos com precursores radioa-
fusão para formar miotubos. Como as células-satéli- tivos demonstram que os novos sarcômeros são
te são derivadas de resíduos de mioblastos e também adicionados nas extremidades das miofibrilas exis-
de células progenitoras pluripotentes que se diferen- tentes (Williams e Goldspink, 1971). A significância
ciam em mioblastos, parece que um dos papéis do funcional da adição de sarcômeros é aparente, visto
MGF é ativá-las seguindo estímulo mecânico e lesão que a velocidade de contração e a força desenvolvida
local. Hipoteticamente, essas células se proliferam e por determinado músculo dependem do número de
se fundem a fibras, fornecendo novo núcleo para pontes cruzadas que podem se engajar entre os fila-
manter o DNA para as proteínas das fibras submeti- mentos de actina e miosina. Como aludido, isso de-
das à hipertrofia. Nesse caso, recentemente se de- pende da sobreposição desses filamentos no sarcô-
monstrou que o número de mionúcleos e o número mero. A única maneira inicial de o sarcômero ser
de células-satélite é maior em indivíduos que ade- ajustado é alterar o número de sarcômeros em série
258 PAAVO V. KOMI

(Fig. 12.4). Quando os ossos dos membros crescem, que os filamentos finos e grossos são unidos e, em
as fibras estão aparentemente alongadas ao ponto em particular, a proteína titina, que parece transmitir for-
que não haveria sobreposição dos filamentos finos e ça através do sarcômero. Isso tem sido associado a uma
grossos se não fosse a adição de novos sarcômeros. “corda elástica”. Tal propriedade diminui acentuada-
O número de sarcômeros em série é importante para mente com o alongamento. Sua elasticidade pode sig-
determinar não somente a distância através da qual nificar que os sarcômeros retornam à sua posição óti-
o músculo pode se encurtar, mas também o compri- ma de sobreposição, deixando um espaço nas
mento do sarcômero para a produção máxima de extremidades onde os novos sarcômeros são adicio-
potência. O número de sarcômeros não é fixo, mes- nados. As funções musculares normais em muitos
mo no músculo adulto, e pode aumentar ou dimi- comprimentos e, obviamente, em determinados com-
nuir (Tabaru et al., 1972; Williams e Goldspink, 1973) primentos do sarcômero, podem ser ótimas para a pro-
(Fig. 12.4). A regulação do número de sarcômeros é dução de força, mas somente em um ângulo articular.
considerada uma adaptação às alterações no com- Parece provável que o número de sarcômeros seja re-
primento funcional do músculo. Essas alterações as- gulado para alcançar um comprimento ótimo de sar-
sociadas ao comprimento podem ser induzidas quan- cômero no comprimento muscular em que muita for-
do o comprimento do músculo em atividade é ça (ativa e passiva) é normalmente exercida.
experimentalmente alterado (Oudet e Petrovic, 1981)
ou diante de distúrbio do alinhamento postural (Ken-
dall et al., 1952). Efeitos similares são observados na Adaptação ao aumento da
imobilização. No músculo imobilizado em posição velocidade ou economia
encurtada, ocorre perda de sarcômeros. Os sarcôme-
ros restantes são alterados a um comprimento que Ajuste ao comprimento ótimo do
capacita o músculo a desenvolver sua tensão máxi- sarcômero
ma no comprimento que corresponde à posição imo-
bilizada (Williams e Goldspink, 1978). No músculo A velocidade de contração de um músculo de-
imobilizado em posição alongada, sarcômeros são pende do comprimento ou da fibra muscular, da tem-
adicionados, o que reduz o comprimento do sarcô- peratura ou do tipo de ponte cruzada de miosina ex-
mero quando comparado ao músculo fixado não- pressa no músculo. Além disso, também podem existir
adaptado em posição similar. Novamente, a tensão mecanismos de curto prazo para ajuste da velocida-
máxima é encontrada para ser desenvolvida em um de em que o músculo pode encurtar; entre os meca-
maior comprimento funcional, que corresponde à nismos inclui-se a função do óxido nítrico (Maréchel
posição imobilizada. Quando o gesso é removido, o e Gailly, 1999). A maneira como o comprimento e o
número de sarcômeros volta ao normal em alguns número de sarcômeros são ajustados durante o cres-
dias. cimento foi descrita anteriormente. Esses ajustes es-
A regulação do número de sarcômeros para per- tão todos em escala com as alterações nas dimensões
mitir o ajuste do seu comprimento implica que a fibra do esqueleto. No adulto, parece existir pouco inte-
muscular monitorize esse comprimento de alguma resse no ajuste durante o treinamento esportivo nor-
maneira, em um ou vários ângulos. O comprimento mal. No entanto, podem surgir problemas caso o
do sarcômero deveria, então, ser ajustado pela adição músculo não seja habitualmente exposto à sua am-
ou subtração de sarcômeros, respectivamente, aumen- plitude normal de movimento. Por exemplo, a fadiga
tando ou diminuindo o comprimento do sarcômero. causada por calçado de salto alto pode induzir en-
Um fator significativo para a monitorização do com- curtamento do gastrocnêmio, assim como do sóleo,
primento do sarcômero pode ser a quantidade de ten- devido à perda de sarcômeros e à remodelação do
são ao longo da miofibrila e/ou a junção mioneural, seu tecido conjuntivo. Tal efeito pode tracionar o osso
com alta tensão induzindo adição de sarcômeros e baixa pelo tendão do calcâneo quando o músculo, já adap-
tensão, subtração de sarcômeros (Herring et al., 1984). tado às condições de encurtamento, é solicitado a
A sensação de tensão interna pode envolver os ele- contrair em ações de alongamento (excêntricas) sob
mentos do citoesqueleto que formam a estrutura em amplitude normal.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 259

Figura 12.4 (a) Resume dados para a adição de sarcômeros ao longo da miofibrila existente durante o crescimento normal de um
músculo (sóleo do camundongo). São também fornecidos dados de imobilização do músculo em animais jovens em que a produção
de sarcômeros foi suprimida. No entanto, quando o gesso é removido, os sarcômeros são produzidos muito rapidamente até
atingirem sua quantidade normal, o que pode levar uma semana ou mais tempo. No animal adulto, a imobilização do músculo em
sua posição alongada gera 20% de decréscimo de sarcômeros em série. Essa adaptação ao novo comprimento funcional é reversível.
Quando o gesso é removido, o número de sarcômeros em série retorna rapidamente ao normal. (b) Incorporação de adenosina
marcada radioativamente em filamentos de actina novamente formados em um músculo jovem em ativo crescimento, em um
músculo adulto que não está crescendo em comprimento e em diâmetro e em músculo adulto em recuperação de um período de
imobilização na posição encurtada. Os dados foram obtidos através de seccionamento do músculo de uma extremidade a outra e
colocando porções de secções em um contador de cintilação. Algumas secções foram montadas em lâminas de microscópio e
utilizadas para estimar o volume de tecido em cada porção de modo que a radioatividade pudesse ser expressa como desintegrações
por minuto (dpm) por mm3 de tecido. Observe que as extremidades das fibras são as mais marcadas no músculo jovem e adulto
recuperando-se em posição encurtada. Essa e outra evidência indicam que novos sarcômeros são adicionados nas extremidades das
miofibrilas existentes.
260 PAAVO V. KOMI

Determinação do fenótipo da fibra


muscular
Como mencionado anteriormente, existem fibras
de contração rápida adaptadas à alta produção de
potência e fibras de contração lenta adaptadas para
movimentos eficientemente lentos, bem como à pro-
dução de força isométrica em condições de econo-
mia. Recentes mensurações (Stienen et al., 1996) em
fibras humanas demonstraram que, na função de mo-
tores moleculares, as fibras MyHC-I são mais eco-
nômicas na manutenção da força isométrica; em ou-
tras palavras, podem manter determinado nível de
tensão com menor custo por ATP utilizado. Mais re-
centemente, He e colaboradores (2000) determina-
ram a taxa de hidrólise de ATP durante o encurta-
mento nas fibras musculares por meio de proteína
ligada ao fosfato marcada fluorescentemente. A efi-
ciência mecanoquímica-termodinâmica (potência
mecânica-taxa de liberação de energia) de pico foi
similar para as fibras MyHC-I e MyHC-IIA, mas a
velocidade com que a eficiência de pico ocorreu foi
maior nas fibras MyHC-IIA (Fig. 12.5). Então, para
as fibras lentas ou rápidas alcançarem a sua eficiên-
cia máxima, sua taxa intrínseca de encurtamento tem
Figura 12.5 Eficiência termodinâmica do encurtamento
de ser ajustada ao nível exigido de encurtamento. muscular nas fibras expressando MyHC-I (a) e MyHC-IIA (b)
Portanto, as fibras lentas com pontes cruzadas de determinada a partir de preparações quimicamente
miosina lentas são muito mais eficientes em produ- manipuladas em 12 e 20°C. A eficiência termodinâmica foi
zir as contrações lentas e repetidas necessárias, por calculada com base na divisão da potência mecânica pela taxa
exemplo, na corrida de longa distância. Também são de liberação de energia. A taxa de hidrólise de ATP nas fibras
musculares foi determinada com proteína ligada ao fosfato
mais econômicas para desenvolver e manter força iso- fluorescentemente marcada. Em 12°C, a taxa de consumo de
métrica, com um tempo de ciclo lento das pontes ATP foi similar para ambos os tipos de fibras (0,21 – 0,27),
cruzadas. Isso significa que a fase de acoplamento mas foi alcançada em maior velocidade de encurtamento nas
(quando nenhum ATP está sendo utilizado) é muito fibras rápidas (de He et al., 2000).
mais longa do que em um músculo rápido. Sendo
assim, para maximizar o desempenho em eventos de
potência, é preferido possuir motores moleculares que ser alterada pela variação da velocidade de encurta-
liberam elevados níveis de potência (p. ex., isoformas mento. Sem uma alteração no comprimento muscu-
MyHC-IIA/MyHC-IIX). Para eventos de endurance, no lar, isso significaria alteração no tipo de miosina ex-
entanto, motores moleculares mais econômicos são pressa. Seria, então, possível alterar os tipos de fibras
mais apropriados (p. ex., isoformas MyHC-I). musculares com o treinamento? A interconversão dos
tipos de fibras tem sido demonstrada em modelos
animais por meio de inervação cruzada e de experi-
Plasticidade do músculo mentos de estimulação crônica (ver Pette e Vrbová,
1992). Em geral, aceita-se que em alguns modelos
Estudos em modelos animais animais (coelho), mas não em outros (rato), seja pos-
sível alterar as propriedades fenotípicas e mecânicas
Com base na relação força-velocidade apresen- de um músculo “rápido” para as de um músculo “len-
tada pelos músculos esqueléticos, a potência pode to”. Tal modificação torna-se possível pela liberação
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 261

de um padrão de input neural normalmente forneci- do que da transcrição (embora o último seja impor-
do a um músculo lento. Suspeita-se que a freqüência tante para a produção de mais RNA ribossômico e
de liberação (p. ex., baixa, como 10 Hz) é o fator pre- proteína). A indução de hipertrofia parece ter uma
ponderante na determinação da transição do tipo de janela de tempo mais curta do que a indução dos
fibra. No entanto, foi demonstrado que maiores fre- genes tipo I lentos. Portanto, é necessário aumentar a
qüências de estimulação foram eficazes apenas na massa sem supra-regulação da miosina lenta para ocor-
produção de alterações nas fibras de contração rápi- rer adaptação às sessões vigorosas de sprint.
da para lenta (Streter et al., 1982). Determinou-se, Outras subpopulações de genes também estão
também, por meio da imobilização com moldes de envolvidas na interconversão dos tipos de fibras, in-
gesso em posição alongada e sem qualquer tipo cluindo genes de enzimas mitocondriais e citoplas-
de estimulação, que a indução dos sarcômeros das máticas, assim como os que induzem alterações na
fibras rápidas leva à conversão para o tipo lento vascularidade do tecido. Esses aparentemente não são
(Williams et al., 1986a). Sob essas condições, prati- coordenados; na realidade, os sinais envolvidos na
camente nenhum sinal eletromiográfico (EMG) foi alteração da expressão gênica da isoforma da miosi-
detectado (Hnik et al., 1985). Portanto, não é possí- na são provavelmente diferentes daqueles que indu-
vel que a freqüência de estimulação per se represente zem expressão enzimática mitocondrial ou sarcoplas-
a causa única ou primária da determinação do fenó- mática. As direções, no entanto, coincidem sob muitas
tipo muscular. Como mencionado anteriormente, a condições de treinamento. Sanders Williams e cola-
reprogramação mais completa do músculo foi obtida boradores (1986b) registraram que 10 Hz de estimu-
em virtude da combinação de alongamento e esti- lação crônica no músculo tibial anterior do rato du-
mulação elétrica independentemente da freqüência. rante 21 dias incrementaram a expressão de miosina
Isso sugere que o sinal para a alteração de rápido para tipo I, elevaram cinco vezes a presença de RNAm no
lento é mais mecânico do que a freqüência de esti- citocromo b, mas levaram a decréscimo de quatro ve-
mulação per se. Numa perspectiva fisiológica, pode zes na aldolase RNAm. Esses três subgrupos de ge-
ser argumentado que as células musculares, em res- nes possuem diferentes cursos de tempo de expres-
posta à sobrecarga isométrica, estão em processo de são, ilustrando que a duração, assim como a
adaptação para aumentar o papel postural. intensidade dos sinais mecânicos, é importante. Sabe-
Quando um músculo é submetido ao alongamen- se, por estudos de eletromiografia, que as fibras mus-
to e/ou estimulação elétrica, não somente a miosina culares posturais, tais como aquelas do sóleo, são ati-
tipo I é expressa, mas os genes da miosina rápida são vadas em 90% do tempo na posição em pé ou durante
inibidos, isso demonstra uma reprogramação com- caminhada, enquanto as fibras de outros músculos
pleta (Goldspink et al., 1992). Na realidade, parece voluntários são ativadas em somente 5% do tempo
que todas as fibras musculares permanecem fenoti- (Hnik et al., 1985). Portanto, os músculos posturais
picamente rápidas, exceto quando submetidas ao lentos são submetidos a longo período de alonga-
alongamento repetido e à produção de força isomé- mento e estimulação, suficiente para a transição com-
trica. Isso é demonstrado pelo músculo sóleo que, pleta ao fenótipo tipo I ser alcançada.
quando imobilizado na posição encurtada (Loughna
et al., 1990), submetido à sobrecarga cirúrgica Estudos em humanos
(Gregory et al., 1990) ou à hipogravidade (Oganov e
Popatov, 1976), reverte a expressão dos genes de mio- Os estudos transversais desenvolvidos com atle-
sina rápida. Trabalhos recentes desenvolvidos com tas oferecem evidências claras de que os indivíduos
coelhos indicam que a determinação do fenótipo com excelência nos eventos de potência têm múscu-
muscular é controlada no nível da transcrição gêni- los com elevada prevalência de fibras rápidas, enquan-
ca e inicialmente envolve alteração relativamente to atletas de endurance de elite apresentam maior dis-
rápida do MyHC-IIX para o MyHC-IIA RNAm tribuição de fibras lentas em seus músculos (Costill
(Goldspink et al., 1992). No entanto, a hipertrofia da et al., 1976). Até que ponto isso representa um pro-
fibra muscular, que também está relacionada a sinais duto da predisposição genética ou do resultado de
mecânicos, aparentemente envolve um mecanismo anos de treinamento específico ainda é desconheci-
diferente, com a regulação no nível da tradução mais do. Um estudo realizado por Andersen e Henriksson
262 PAAVO V. KOMI

(1975) registrou que o treinamento de endurance em 12 semanas) são incapazes de aumentar a proporção
ciclismo por oito semanas reduziu progressivamente de fibras tipo I.
a proporção de fibras tipo IIb (expressando a miosi- Então, enquanto a conversão do MyHC-IIX para
na MyHC-IIX), aumentou a proporção relativa de fi- o MyHC-IIA ocorre muito rapidamente, parece que
bras tipo IIa, mas não exerceu efeito na proporção a alteração das fibras tipo II para as fibras tipo I é
relativa de fibras tipo I. Nas últimas três décadas, muito mais difícil. Os genes MyHC-I e MyHC-II es-
numerosos estudos delineados com intervenção físi- tão em diferentes cromossomos, e é claro que uma
ca foram desenvolvidos e demonstraram essencial- janela muito maior de tempo é necessária para essa
mente descobertas similares independentemente do conversão. No entanto, evidências recentes sugerem
objetivo (força, potência ou endurance), embora com que a lesão das fibras musculares resulta na expres-
técnicas mais sofisticadas (Harridge, 1996). Por exem- são da miosina tipo lenta (Yang et al., 1997). Isso pode
plo, foi verificado, por eletroforese, que 12 semanas ser um pré-requisito para uma conversão relativa-
de treinamento de força reduziram a proporção de mente rápida para as fibras tipo I, por exemplo, vári-
isoformas MyHC-IIX. A proporção de isoformas as horas de corrida por dia em superfícies duras. Pa-
MyHC-IIA aumentou, mas não houve alteração na rece existir uma janela mínima de tempo necessária
proporção de isoformas MyHC-I (Adams et al., 1993). para a alteração dos genes lentos, tanto que eles so-
Agora, parece claro que o desuso ou a inatividade do mente são alterados em períodos prolongados de tem-
músculo humano sub-regula os genes das fibras len- po. Os sinais celulares para a alteração dos genes
tas e que os genes das fibras rápidas são supra-regu- musculares não são compreendidos. Evidências re-
lados como no caso dos experimentos em animais. centes sugerem que o aumento da concentração ce-
Por exemplo, 80% das fibras do músculo vasto late- lular de cálcio possa servir como mensageiro para a
ral de indivíduos com lesão espinal podem expressar via de sinalização que envolve a ativação da calcineu-
isoformas MyHC-IIX somente ou em combinação rina, uma serina-treonina fosfatase regulada pelo cál-
com o MyHC-IIA (Andersen et al., 1996). Em con- cio e sensível à ciclosporina que supra-regula pro-
cordância com os estudos desenvolvidos com indiví- motores específicos das fibras de contração lenta em
duos sem deficiência física, o treinamento estimula- um mecanismo envolvendo as proteínas das famílias
do eletricamente (3 vezes na semana durante um ano) NFAT e MEF2 (Chin et al., 1998).
reduziu consideravelmente o número de fibras ex-
pressando MyHC-IIX nessas pessoas, mas não
aumentou a proporção de fibras MyHC-I. Então, a Alteração contrátil sem alteração
maioria das fibras após treinamento foi MyHC-IIA. da fibra
Andersen e Schaiffino (1997) demonstraram, por
meio de técnica de hibridização in situ, desacopla- A técnica de fibra quimicamente “manipulada”
mento ou incompatibilidade entre as proteínas MyHC tem permitido o estudo das propriedades mecânicas
e a predominância da transcrição gênica da miosina de fibras musculares humanas isoladas, antes e após
em uma mesma fibra muscular. Essas fibras estão pro- a realização do treinamento. Harridge e colaborado-
vavelmente em um estado de transição. Através des- res (1998) não registraram diferença no Vmáx das fi-
sa técnica, foi demonstrado que o gene MyHC-IIX bras MyHC-I e MyHC-IIA após seis semanas de trei-
pode ser sub-regulado após poucos dias depois de namento de sprint, sugerindo estreita associação entre
uma sessão de exercícios. Esse contraste com uma a expressão de miosina e a função contrátil. No en-
abordagem similar realizada por Harridge e colabo- tanto, mais recentemente estudos longitudinais em
radores (2002), que estimularam cronicamente o que homens idosos foram submetidos ao treino de
músculo tibial anterior de indivíduos com lesão es- força (Trappe et al., 2000) e astronautas acompanha-
pinal, demonstrou decorrer um período de tempo dos durante 17 dias em vôo espacial (Widrick et al.,
consideravelmente maior para o gene MyHC-I ser 1999) demonstram aumento da velocidade do encur-
supra-regulado nas fibras de contração rápida (ver tamento das fibras musculares nas fibras que expres-
Fig. 12.6). Na realidade, essa longa escala de tempo sam a mesma isoforma MyHC. Nenhuma alteração
pode explicar por que tradicionalmente os estudos foi observada na composição da cadeia leve nesses
com exercício (em geral realizados até um período de estudos. A partir disso, postulou-se que uma altera-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 263

Figura 12.6 Secções de músculo humano processadas por hibridização in situ. As secções foram hibridizadas com provas
marcadas para 35S especificamente para a transcrição de RNAm para as isoformas MyHC-I (a) e MyHC-IIX (b) processados para
auto-radiografia e visualizados por microscópio de campo escuro. (a) Secções do músculo tibial anterior de um sujeito com lesão da
coluna espinal submetido a programa diário de condicionamento muscular envolvendo eletroestimulação crônica de baixa freqüência
por nove semanas. (b) Secções extraídas do músculo vasto lateral de um homem jovem em intervalos de até 96 horas após sessão
única de exercícios. Os dados dos dois estudos separados indicam a rápida (horas e dias) sub-regulação do gene de MyHC-IIX após
uma única sessão de exercício (Andersen, observação não-publicada) que contraria a supra-regulação lenta (semanas e meses) do
gene MyHC-I como resultado de estímulo prolongado (Harridge et al., 2002).

ção geométrica no espaçamento do miofilamento potência muscular pode ser influenciada muito sig-
pode ser parcialmente responsável pelas alterações nificativamente pela manipulação do tamanho mus-
nas propriedades mecânicas da fibra. cular. Além disso, uma hipertrofia seletiva das fibras
rápidas resultará em relativamente mais de um mús-
culo sendo ocupado pelas miosinas rápidas. No en-
Mecanismos de incremento da tanto, é mais provável que esses constituam o fenóti-
potência po MyHC-IIX do que o mais rápido e mais potente
MyHC-IIX. Tal perspectiva torna-se consistentemen-
É evidente, a partir da análise dos fatores que in- te clara diante do fato de que os genes para essas
fluenciam a força e a velocidade de contração, que a isoformas rápidas são, infelizmente para atletas de
264 PAAVO V. KOMI

potência, rapidamente reprimidos com o exercício. cias gênicas. Com o desenvolvimento paralelo de tec-
Um estudo interessante sobre esse tópico demons- nologia automatizada, existe atualmente a possibili-
trou que, após um período de destreinamento, a pro- dade da análise de atletas para a diferenciação de se-
porção relativa das isoformas MyHC-IIX tornou-se qüências local-específica em certas sinalizações,
maior do que a observada antes do treinamento assim como na estrutura dos genes. Uma vez identi-
(Andersen e Aargaard, 2000). Tal excesso pode for- ficados como relacionados ao desempenho esporti-
necer um fundamento fisiológico para a utilização vo, é provável que os dados sirvam para selecionar
de exercícios relativamente leves antes da competi- potenciais atletas, e a proibição desse tipo de ativida-
ção no período de “afunilamento”* do treinamento de provavelmente será difícil em nível mundial.
de atletas velocistas. Surpreendentemente, o genoma humano possui
No entanto, o principal mecanismo de adapta- menos genes do que previamente esperado. Há cerca
ção para preservar a potência é o incremento do po- de seis vezes mais proteína do que genes. Portanto, a
tencial metabólico do músculo (aumento do núme- complexidade da expressão da informação hereditá-
ro e do volume de mitocôndrias, aumento da atividade ria parece ser controlada pelas vias de sinalização.
enzimática mitocondrial, aumento da densidade ca- Visto que as células musculares, como vários outros
pilar, etc.), sendo que o desenvolvimento de motores tipos de células, respondem aos sinais mecânicos as-
moleculares mais econômicos, por exemplo, as iso- sim como aos químicos, é provável que os progra-
formas MyHC-I, permanece uma possível resposta mas de treinamento tornem-se mais fundamentados
adaptativa de longo prazo (meses e anos) ao treina- cientificamente através do uso de métodos genômi-
mento de resistência aeróbia. cos e proteômicos. Esses otimizarão a massa muscu-
lar e o fenótipo apropriados alcançados para deter-
minada atividade. Mas provavelmente irão apenas se
O futuro ajustar e não substituir os procedimentos de treina-
mento derivados de maneira ad hoc de muitas déca-
É provável que a esfera de abuso do uso de pep- das. Essa nova tecnologia biomédica, no entanto, será
tídeos e proteínas baseado em aplicações médicas progressivamente empregada na melhoria do desem-
legítimas tenda a aumentar. Na realidade, certos es- penho esportivo quando 1 ou 2% fizerem diferença
teróides e, mais recentemente, certos peptídeos, quan- entre a medalha olímpica e a derrota.
do combinados com o treinamento, são conhecidos
por ser muito eficazes quando utilizados para alterar
a massa e o fenótipo do músculo no intuito de me- Agradecimentos
lhorar o desempenho. Não há dúvida sobre a exten-
são do dopping genético e, quando forem introduzidos O Professor Goldspink recebia fomentos do EU
genes manipulados pela engenharia genética conten- para o estudo da função dos músculos respiratórios
do DNAc humano, os efeitos serão de longo prazo e e do Wellcome Trust para a expressão de fatores de
de difícil detecção. Esperançosamente, os métodos uti- crescimento locais quando este capítulo estava sen-
lizados para a detecção de produtos de gene estranhos do escrito. O Dr. Harridge recebia auxílio à pesquisa
ou vetores empregados para introduzir o DNAsc exó- do Wellcome Trust Fellowship.
genos estarão na dianteira dos “genes impostores”.
Novas questões éticas relacionadas ao seqüencia-
mento do genoma humano surgirão, fornecendo uma Referências
base de dados poderosa para a obtenção de seqüên-
Adams, G.R., Hather, B.M., Baldwin, K.M. & Dudley, G.A.
(1993) Skeletal muscle myosin heavy chain compositi-
on and resistance training. Journal of Applied Physiology
*N.de R.T. Relativo à fase do treinamento na qual o objetivo é 74, 911-915.
o aprimoramento ou “polimento final” do atleta e que antece- Andersen, J.L. & Aagaard, P. (2000) Myosin heavy chain
de um período competitivo ou competição. Há uma redução IIX overshoot in human skeletal muscle. Muscle and
gradativa da intensidade dos exercícios. Nerve 23, 1095-1004.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 265

Andersen, P. & Henriksson, J. (1975) Training induced chains they express. Journal of Muscle Research and Cell
changes in the subgroups of human type II skeletal Motility 16, 35-43.
muscle fibres. Acta Physiologica Scandinavica 99, 123-125. Finer, J.T., Simmons, R.M. & Spudich, J.T. (1994) Single
Andersen, J.L. & Schaiffino, S. (1997) Mismatch between myosin molecule mechanics: piconewton forces and
myosin heavy chain mRNA and protein distribution in nanometre steps. Nature 10; 368 (6467), 113-119.
human skeletal muscle fibers. American Journal of Physi- Gauvry, L., Ennion, S., Ettelaie, C. & Goldspink, G. (2000)
ology 272, C1881-C1889. Characterisation of red and white muscle myosin heavy
Andersen, J.L., Mohr, T., Biering-Sørenson, F., Galbo, H. chain coding sequences from antarctic and tropical fish.
& Kjær, M. (1996) Myosin heavy chain isoform trans- Comparative Biochemistry and Physiology, Part B 127,
formation in single fibres from m. vastus lateralis in 575-588.
spinal cord injured individuals: Effects of long term Goldspink, G. (1971) Ultrastructural changes in striated
functional electrical stimulation (FES). Pflügers Archiv muscle fibres during contraction and growth with par-
431, 513-518. ticular reference to the mechanism of myofibril split-
Barton-Davis, E.R., LaFrambroise, W.A. & Kushmerick, M.J. ting. Journal of Cell Science 9, 123-138.
(1996) Activity-dependent induction of slow myosin Goldspink, D.F. (1977) The influence of immobilization and
gene expression in isolated fast-twitch mouse muscle. stretch on protein turnover of rat skeletal muscle. Jour-
American Journal of Physiology 271, C1409-1419. nal of Physiology 264, 267-282.
Barton-Davis, E.R., Shoturma, D.I., Musaro, A., Rosenthal, Goldspink, D.F. & Goldspink, G. (1986) The role of passi-
N. & Sweeney, H.L. (1998) Viral mediated expression ve stretch in retarding muscle atrophy. In: Electrical Sti-
of insulin-like growth factor I blocks the aging-related mulation and Neuromuscular Disorders (eds W. A. Nix & G.
loss of skeletal muscle function. Proceedings of the Natio- Vrbova), pp. 91-100. Springer Verlag, Berlin.
nal Academy of Sciences of the United States of America 95, Goldspink, D.F., Garlick, P.J. & McNurlan, M.A. (1983)
15603-15607. Protein turnover measured in vivo and in vitro in
Booth, F.W. & Seider, M.J. (1979) Early changes in skeletal muscles undergoing compensatory growth and subse-
muscle protein synthesis after immobilization of rats. quent denervation atrophy. Biochemical Journal 210,
Journal of Applied Physiology 49, 974-977. 89-98.
Bottinelli, R., Betto, R., Schiaffino, S. & Reggiani, C. (1994) Goldspink, G. & Scutt, A. (1989) Stretch and isometric ten-
Unloaded shortening velocity and myosin heavy and sion induce rapid changes in gene expression in adult
alkali light chain isoform composition in rat skeletal skeletal muscle. Journal of Physiology 415, 129.
muscle fibres. Journal of Physiology 478(2), 341-349. Goldspink, G. & Ward, P.S. (1979) Changes in rodent
Bottinelli, R., Canepari, M., Pelligrino, M.A. & Reggiani, C. muscle fibre types during post-natal growth, undernu-
(1996) Force-velocity properties of human skeletal trition and exercise. Journal of Physiology 296, 453-469.
muscle fibres: myosin heavy chain isoform and tempe- Goldspink, G., Scutt, A., Martindale, J., Jaenicke, T., Turay,
rature dependence. Journal of Physiology 495, 573-586. L. & Gerlach, G.-F. (1991) Stretch and force generation
Brahm, H., Piehl-Aulin, K., Saltin, B. & Ljunghall, S. (1997) induce rapid hypertrophy and isoform gene switching
Net fluxes over working thigh of hormones, growth fac- in adult skeletal muscle. Biochemical Society Transactions
tors and biomarkers of bone metabolism during short 19, 368-373.
lasting dynamic exercise. Calcified Tissue International 60, Goldspink, G., Scutt, A., Loughna, P.T., Wells, D.J., Jaeni-
175-180. cke, T. & Gerlach, G.F. (1992) Gene expression in ske-
Chin, E.A., Olson, E.N., Richardson, J.A. et al. (1998) A letal muscle in response to stretch and force genera-
calcineurin-dependent transcriptional pathway controls tion. American Journal of Physiology 262, R356-R363.
skeletal muscle fiber type. Genes and Development 12, Gregory, P., Low, R. & Stirewalt, W.S. (1986) Changes in
2499-2509. skeletalmuscle myosin isoenzymes with hypertrophy
Cornelison, D.D. & Wold, B.J. (1997) Single-cell analysis and exercise. Journal of Biochemistry 238, 55-63.
of regulatory gene expression in quiescent and activa- Harridge, S.D.R. (1996) The contractile system and its adap-
ted mouse skeletal muscle satellite cells. Developmental tation and training. In: Human Muscular Function during
Biology 191(2), 270-283. Dynamic Exercise (eds P. Marconnet, B. Saltin, P. V. Komi
Costill, D.L., Daniels, W., Fink, W., Krahenbuhl, G. & Sal- & J. Poortmans), 41, 82-94. Medicine Sports Science,
tin, B. (1976) Skeletal muscle enzymes and fibre com- Karger, Basel.
position in male and female track athletes. Journal of Harridge, S.D.R., Bottinelli, R., Reggiani, C. et al. (1996) Whole
Applied Physiology 40, 149-154. muscle and single fibre contractile properties and myo-
Ennion, S., Sant’ana Pereira, J.A.A., Sargeant, A.J., Young, sin isoforms in humans. Pflügers Archiv 432, 913-920.
A. & Goldspink, G. (1995) Characterization of human Harridge, S.D.R., Bottinelli, R., Reggiani, C. et al. (1998)
skeletal muscle fibres according to the myosin heavy Sprint training, in vitro and in vivo muscle function
266 PAAVO V. KOMI

and myosin heavy chain expression. Journal of Applied insulin-like growth factor I. Endocrinology 123(6),
Physiology 84(2), 442-449. 2827-2833.
Harridge, S.D.R., Andersen, J.L. & Hartkopp, A. et al. (2002) Musaro, A.K., McCollagh, W.J., Paul, A. et al. (2001) Loca-
Training by low-frequency of tibialis anterior in spinal lized IGF-I transgene expression sustains hypertrophy
cord-injured men. Muscle and Nerve 25, 685-694. and regeneration in senescent muscle. Nature Genetics
He, H.-Z., Bottinelli, R., Pellegrino, M.A., Ferenczi, M.A. 27(1), 195-200.
& Reggiani, C. (2000) ATP consumption and efficiency Oganov, V.S. & Popatov, A.N. (1976) The mechanism of
of human single fibers with different myosin isoform the change in skeletal muscles in the weightless envi-
composition. Biophysical Journal 79, 945-961. ronment. Life Science Space Research 19, 137-143.
Herring, S.W., Grimm, A.F. & Grimm, B.R. (1984) Regula- Oudet, C.L. & Petrovic, A.G. (1981) Regulation of the ana-
tion of sarcomere number in skeletal muscle: a compa- tomical length of the lateral pterygoid muscle in the
rison of hypotheses. Muscle and Nerve 7, 161-173. growing rat. Advances in Physiological Sciences 24,
Hnik, P., Vejsada, R., Goldspink, D.F., Kasicki, S. & Kreku- 115-121.
le, I. (1985) Quantitative evaluation of electromyogram Owino, V., Yang, S-Y. & Goldspink, G. (2001) Agerelated
activity in rat extensor and flexor muscles immobilized loss of skeletal muscle function and the inability to ex-
at different lengths. Experimental Neurology 88, 515-528. press the autocrine form of insulin-like growth factor-1
Kadi, F. & Thornell, L.-E. (2000) Concomitant increases in (MGF) in response to mechanical overload. FEBS Letts
myonuclear and satellite cell content in female trape- 505, 259-263.
zius muscle following strength training. Histochemistry Partridge, T. (1993) Molecular and Cell Biology of Muscular
and Cell Biology 113, 99-103. Dystrophy. Chapman & Hall, London.
Kadi, F., Eriksson, A., Holmner, S. & Thornell, L.E. (1999) Pette, D. & Vrbová, G. (1992) Adaptation of mammalian
Effects of anabolic steroids on the muscle cells of skeletal muscle fibers to chronic electrical stimulation.
strength trained athletes. Medicine and Science in Sports Reviews in Physiology, Biochemistry and Pharmacology 120,
and Exercise 31, 1528-1534. 115-202.
Kendall, H.O., Kendall, F.P. & Boynton, D.A. (1952) In: Pos- Rayment, L, Rypniewski, W.R., Schmidt-Base, K. et al.
ture and Pain (ed. M. D. Baltimore), pp. 103-124. Williams (1993a) Three-dimensional structure of myosin subfrag-
& Wilkins, Baltimore. ment-1: a molecular motor. Science 261, 50-58.
Kraft, T., Hornemann, T., Stolz, M., Nier, V. & Wallimann, Rayment, L, Holden, H.M., Whitaker, M. et al. (1993b)
T. (2000) Coupling of creatine kinase to glycolytic en- Structure of the actin-myosin complex and its implica-
zymes at the sarcomeric I-band of skeletal muscle: a tions for muscle contraction. Science 261, 58-65.
biochemical study in situ. Journal of Muscle Research and Reisner, P.J., Moss, R.L. & Giuliam, G.C. et al. (1985) Shor-
Cell Motility 21, 691-703. tening velocity and myosin heavy chains of developing
Larsson, L. & Moss, R. (1993) Maximum velocity of shor- rabbit muscle fibres. Journal of Biological Chemistry 206,
tening in relation to myosin isoform composition in 14403-14405.
single fibres from human skeletal muscle fibres. Journal Rennie, M.J. & Tipton, K.D. (2000) Protein and amino acid
of Physiology 472, 595-614. metabolism during and after exercise and the effects of
Loughna, P.T., Izumo, S., Goldspink, G. & Nadal-Ginard, nutrition. Annual Review of Nutrition 20, 457-483.
B. (1990) Rapid changes in sarcomeric myosin heavy Sant’ana Pereira, JAA., Wessels, A., Nijtmans, L., Moor-
chain gene and alpha-actin expression in response to man, A.F.M. & Sargeant, A.J. (1994) New method for
disuse and stretch. Development 109, 217-223. the accurate characterization of single human skeletal
McCall, G.E., Byrnes, W.C., Dickinson, A., Pattany, P.M. & muscle fibres demonstrates a relation between mATPase
Fleck, S.J. (1996) Muscle fiber hypertrophy, hyperplasia and MyHC expression in pure and hybrid fibre types.
and capillary density in college men after resistance trai- Journal of Muscle Research and Cell Motility 16, 21-34.
ning. Journal of Applied Physiology 81, 2004-2201. Schiaffino, S. & Reggiani, C. (1996) Molecular diversity of
McKoy, G., Ashley, W., Mander, J. et al. (1999) Expression myofibrillar proteins: gene regulation and functional
of insulin growth factor-1 splice variants and structu- significance. Physiological Reviews 76, 371-423.
ral genes in rabbit skeletal muscle induced by stretch Smerdu, V., Karschizrachi, I., Campione, M., Leinwand, L.
and stimulation. Journal of Physiology 516, 583-592. & Schiaffino, S. (1994) Type IIX myosin heavy chain
Maréchel, G. & Gailly, P. (1999) Effects of nitric oxide on transcripts are expressed in type IIb fibers of human
the contraction of skeletal muscle. Cellular and Molecu- skeletal muscle. American Journal of Physiology 36,
lar Life Sciences 55(8-9), 1088-1102. 1723-1728.
Mathews, L.S., Hammer, R.E., Behringer, R.R. et al. Growth Stienen, G.J.M., Kiers, J.L., Bottinelli, R. & Reggiani, C.
enhancement of transgenic mice expressing human (1996) Myofibrillar ATPase activity in skinned human
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 267

skeletal muscle fibres: fibre type and temperature de- Williams, P.E. & Goldspink, G. (1978) Changes in sarco-
pendence. Journal of Physiology 293(2), 229-307. mere length and physiological properties in immobili-
Streter, F.A., Pinter, K., Jolesz, F. & Mabauchi, A. (1982) zed muscle. Journal of Anatomy 127, 459-468.
Fast to slow transformation of fast muscles in reponse Williams, P.E., Watt, P., Bicik, V. & Goldspink, G. (1986a)
to longterm phasic stimulation. Experimental Neurology Effect of stretch combined with electrical stimulation
75, 95-102. on the type of sarcomeres produced at the ends of
Tabary, I.C., Tabary, C., Tardieu, C., Tardieu, G. & Golds- muscle fibres. Experimental Neurology 93, 500-509.
pink, G. (1972) Physiological and structural changes in Williams, R.S., Salmons, S., Newsholme, E.A., Kaufman,
the cat’s soleus muscle due to immobilization at diffe- R.E. & Mellor, J. (1986b) Regulation of nuclear and
rent lengths by plaster cast. Journal of Physiology 224, mitochondrial gene expression by contractile activity
231-244. in skeletal muscle. Journal of Biological Chemistry 261(1),
Trappe, S., Williamson, D., Godard, M., Porter, D., Row- 376-380.
den, G. & Costill, D. (2000) Effect of resistance training Yang, S.Y. & Goldspink, G. (2000) US patent 09/142583.
on single muscle fiber contractile function in older men. Yang, S.Y. & Goldspink, G. (2002) Different roles of the
Journal of Applied Physiology 89, 143-152. IGF-I Ec peptide (MGF) and mature IGF-I in myoblast
Vaughan, H.S. & Goldspink, G. (1979) Fibre number and proliferation and differentiation. FEBS Lett 522, 156-
fibre size in a surgically overloaded muscle. Journal of 160.
Anatomy 129, 293-303. Yang, S., Alnaqeeb, M., Simpson, H. & Goldspink, G. (1996)
Widrick, J.J., Knuth, S.T., Norenberg, K.M. et al. (1999) Effect Cloning and characterization of an IGF-1 isoform ex-
of a 17 day spaceflight on contractile properties of hu- pressed in skeletal muscle subjected to stretch. Journal
man soleus muscle fibres. Journal of Physiology 516, of Muscle Research and Cell Motility 17, 487-495.
915-930. Yang, S.Y., Alnaqeeb, M., Simpson, H. & Goldspink, G.
Williams, P.E. & Goldspink, G. (1971) Longitudinal growth (1997) Changes in muscle fibre type, muscle mass and
of striated muscle fibres. Journal of Cell Science 9, 751-767. IGF-1 gene expression in rabbit skeletal muscle sub-
Williams, P.E. & Goldspink, G. (1973) The effect of immo- jected to stretch. Journal of Anatomy 190, 613-622.
bilization on the longitudinal growth of striated mus-
cle fibres. Journal of Anatomy 116, 45-55.
Capítulo 13
Hipertrofia e hiperplasia
J. DUNCAN MACDOUGALL

Introdução O tecido conjuntivo constitui somente uma peque-


na proporção do volume muscular total. Portanto,
O músculo esquelético é um tecido extremamen- apresenta capacidade limitada para afetar significati-
te dinâmico, com singular capacidade de adaptação vamente o tamanho muscular quando comparado às
estrutural e fisiológica às diferentes formas de sobre- proteínas contráteis.
carga funcional. A sobrecarga funcional ocorre com Inúmeros modelos experimentais induzem au-
o músculo sob estímulo de contração mais vigorosa mento do diâmetro muscular. Entre eles estão mo-
(como no treinamento de força) ou mais freqüente- delos animais envolvendo ablação* dos músculos si-
mente (como no treinamento de resistência) do que nergistas (Goldberg et al., 1975; Gollnick et al., 1981)
o normal. Ambas as formas de treinamento induzem ou suspensão crônica de pesos por um membro (Ash-
diferentes respostas adaptativas no músculo. O trei- more e Summers, 1981). No entanto, nessas situa-
namento de resistência aeróbia resulta tipicamente ções, o estímulo para a hipertrofia provavelmente será
em aumento mitocondrial e na densidade capilar diferente daquele derivado de contrações voluntári-
com mínima ou nenhuma alteração no tamanho as máximas breves por atletas de levantamento de
muscular. Já o treinamento de força normalmente peso ou fisiculturistas (Timson, 1990). Os modelos
induz aumento no tamanho (hipertrofia) e na força alternativos em que o animal intacto realiza rápidas
muscular. Este capítulo tecerá considerações refe- contrações voluntárias (Goldspink e Howells, 1974;
rentes aos fatores que contribuem para a hipertro- Gonyea e Ericson, 1976) ou involuntárias (Wong e
fia muscular como efeito induzido pelo treinamen- Booth, 1988; Tamaki et al., 1992) são restritos a cer-
to de força. tos músculos e apresentam aparentes limitações no
Em tese, um incremento no tamanho muscular isolamento de determinado movimento articular ou
poderia resultar do aumento no tamanho da fibra na aplicação progressiva de sobrecarga por meio de
muscular, no número de fibras (hiperplasia) e/ou na várias técnicas disponíveis aos humanos. Como re-
quantidade de tecido conjuntivo no músculo. O fato sultado, a aplicação direta das descobertas desses es-
de o treinamento de força e outras formas de sobre- tudos para os humanos é geralmente complicada. A
carga mecânica induzirem aumento na área de sec- discussão deste capítulo será, em grande parte, res-
ção transversa da fibra tem sido bem estabelecido em trita à resposta hipertrófica ao treinamento de força
humanos (MacDougall et al., 1979; MacDougall et realizado por atletas de força e de potência ou fisi-
al., 1980; McDonagh e Davies, 1984; Tesch et al., culturistas.
1987) e em outros mamíferos (Gonyea e Ericson,
1976; Timson et al., 1985). Do mesmo modo, é bem
conhecido que o maior número de fibras é o princi-
pal contribuidor para o crescimento muscular até a
infância (Goldspink, 1974; Mastaglia, 1981; Malina,
1986). No entanto, a potencial contribuição da hi-
perplasia no aumento da área de secção transversa *N. de R.T. Relativo a separação ou deslocamento de um te-
muscular em adultos ainda permanece controversa. cido.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 269

Hipertrofia das fibras musculares maiores miofibrilas sem alterar a densidade do con-
em resposta ao treinamento de junto de filamentos ou o espaçamento das pontes
força cruzadas (MacDougall, 1986b). Uma vez que o
aumento na área total da fibra exceda proporcional-
Uma sessão de treinamento de força de alta in- mente o incremento médio na área miofibrilar, pare-
tensidade produz rápido aumento na síntese protéi- ce evidente que deve também ocorrer um aumento
ca miofibrilar dos músculos exercitados (Chesley et no número de miofibrilas. O aumento no número
al., 1992). A resposta parece alcançar um pico apro- miofibrilar parece resultar da “divisão” longitudinal,
ximadamente 24 horas após a sessão de treinamento, conforme demonstrado com o crescimento normal
mas permanece elevada por 36 a 48 horas (MacDou- pós-natal em animais jovens (Goldspink, 1970;
gall et al., 1995; Phillips et al., 1997). O aumento da Goldspink, 1974). Tal divisão pode ser um processo
síntese protéica é acompanhado por aumento pro- mecânico causado pelas discrepâncias entre os espa-
porcionalmente menor na degradação protéica (Bio- çamentos das bandas A e I. Quando a miofibrila al-
lo et al., 1995; Phillips et al., 1997). Isso reflete em cança tamanho e capacidade de geração de força crí-
um incremento do balanço protéico. A elevação da ticos, as contrações vigorosas parecem rasgar ou
síntese protéica é aparentemente mediada pela tra- romper o tecido conjuntivo no disco-Z. A força, en-
dução mais eficiente do RNAm, pois ocorre na tão, é transmitida ao longo da miofibrila e forma duas
ausência de qualquer alteração no RNA total ou ou mais “miofibrilas-filhas” de mesmo comprimento
RNAm da proteína contrátil (Chesley et al., 1992; (Goldspink, 1992) (Fig. 13.1).
Welle et al., 1999).
O incremento da síntese protéica manifesta-se Alteração na área da fibra
pelo aumento tanto da área como do número miofi-
brilar, sem alteração da densidade do conjunto mio- A área da fibra aumenta em proporção direta à
fibrilar com sessões repetidas de treinamento de for- elevação no tamanho e no número miofibrilar. A
ça (Fig. 13.1). Os filamentos de actina e miosina são magnitude desse aumento varia consideravelmente
adicionados à periferia de cada miofibrila, criando dependendo de inúmeros fatores, que incluem a ca-

Figura 13.1 Ilustração das


adaptações estruturais que produzem
alterações na área da fibra em resposta
ao treinamento de força ou à
imobilização. (a) Com o treinamento, a
área de secção transversa da fibra
aumenta (hipertrofia) em proporção
direta com o aumento do tamanho
miofibrilar e do número de miofibrilas.
(b) Com a imobilização, a área da fibra
diminui (atrofia) em proporção com o
decréscimo no tamanho miofibrilar. (c)
Postula-se que a divisão da fibra
induzida pelo treinamento pode causar
hiperplasia em determinadas espécies,
mas isso não ocorre em humanos (de
MacDougall, 1986b).
270 PAAVO V. KOMI

pacidade de resposta do indivíduo ao treinamento al., 1990; Staron et al., 1994) ou em relação ao con-
(MacDougall, 1986a), a intensidade e a duração do teúdo da cadeia pesada de miosina (Adams et al.,
programa de treinamento, assim como o nível de 1993; Carroll et al., 1998; Andersen e Aagard, 2000).
aptidão física inicial do indivíduo. Os estudos sobre Em humanos, parece que essas conversões nos tipos
treinamento de força conduzidos em nosso labora- de fibras estão restritas aos subtipos do tipo II, sendo
tório demonstram alterações na área da fibra. Tais improvável que o treinamento de força afete a pro-
variações são consideradas não-significativas inde- porção de fibras do tipo I. Essa conclusão é baseada
pendentemente do tipo de fibra no músculo vasto em nossa descoberta de que nenhuma alteração ocor-
lateral de homens e mulheres jovens ativos após seis reu na porcentagem das fibras tipo I em um grupo de
meses de treinamento (Sale et al., 1990). O aumento homens jovens submetidos ao treinamento de força
pode chegar a 33% na área da fibra tipo II e 27% na de alta intensidade durante seis meses (MacDougall
de tipo I de homens jovens fisicamente inativos que et al., 1980), assim como no fato de a porcentagem
treinaram o tríceps braquial durante seis meses de fibras tipo I do tríceps e do bíceps de fisiculturis-
(MacDougall et al., 1979). Em um estudo em que 14 tas de elite ser similar à de sujeitos destreinados, ape-
homens idosos (60 a 70 anos) foram submetidos a sar de os fisiculturistas possuírem cerca de 6 a 8 anos
programa de treinamento de força por três meses, de- de treinamento (MacDougall et al., 1982; MacDou-
tectou-se aumento de 30% na área da fibra tipo II do gall et al.,1984) (ver Fig. 13.2). O tópico referente à
bíceps braquial, e de 14% na de tipo I, (Brown et al., alteração dos tipos de fibras como resultado do trei-
1988). Em estudo de comparação cruzada, observou- namento será apresentado com mais detalhes no
se que a área das fibras do bíceps braquial de um Capítulo 14 (Tesch e Alkner).
grupo de fisiculturistas de elite eram aproximadamen- A significância funcional da redução das fibras
te 58% (tipo II) e 39% (tipo I) maiores do que as de IIB e da sub-regulação da cadeia pesada de miosina
voluntários destreinados ajustados à idade (MacDou- IIX (Baldwin e Haddad, 2001) não é prontamente
gall et al., 1984). óbvia, pois não há “lentidão” das propriedades con-
tráteis após determinado período de treinamento de
força de alta intensidade (Alway et al., 1989a). Uma
Alterações na área da fibra de acordo
possível explicação para isso é que a hipertrofia sele-
com o tipo de fibra
tiva resultante nos subtipos da fibra tipo II sirva para
O treinamento de força aumenta a área de sec- contrabalançar o efeito. Parece também que, quando
ção transversa de todos os tipos de fibras; no entan- os sujeitos interrompem o treinamento, há uma re-
to, muitos estudos indicam que uma maior hipertro- versão da conversão dos subtipos do tipo II, poden-
fia relativa ocorre nas unidades tipo II (Thorstensson, do mesmo ultrapassar, após poucos meses, a propor-
1976; MacDougall et al., 1979; Tesch et al., 1985; ção de fibras IIB (IIX) dos níveis pré-treinamento
Staron et al., 1990). Na medida em que todos os ti- (Andersen e Aagaard, 2000).
pos de fibras parecem ser ativados durante o desem-
penho de contrações máximas ou próximas do má- Outras alterações
ximo, a maior hipertrofia das fibras do tipo II pode
refletir maior envolvimento relativo dessas unidades A proporção de tecido conjuntivo intersticial per-
de limiar elevado do que normalmente ocorreria nas manece constante em uma ampla variedade de ta-
atividades da vida diária. manhos musculares, como indicado pelas biópsias
do bíceps de fisiculturistas, tanto iniciantes como de
elite, e em controles destreinados. Estimamos que o
Conversão dos tipos de fibra como efei-
volume de tecido não-contrátil representa aproxima-
to induzido pelo treinamento
damente 13% do volume muscular total, sendo que
Notadamente, o treinamento de força eleva a cerca de 6% é constituído de colágeno, enquanto 7%
porcentagem das fibras do tipo IIA e reduz proporcio- por outros tecidos (MacDougall et al., 1984). Esses
nalmente a porcentagem das fibras do tipo IIB (ou dados indicam que o maior tamanho da fibra induzi-
IIX), quando as fibras são classificadas de acordo com do pelo treinamento de força é acompanhado pelo
as suas características da miosina ATPase (Staron et aumento proporcional no tecido conjuntivo intersti-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 271

volume miofibrilar, tanto que sua densidade relativa


permanece constante em ambos os tipos de fibras e
as propriedades contráteis eletricamente induzidas
permanecem inalteradas (Alway et al., 1989a).
Diferentemente do treinamento de resistência
aeróbia, não está claro se a maior área das fibras por
conta do treinamento de força é ou não acompanha-
da de suficiente angiogênese* para preservar a densi-
dade capilar normal no músculo. Vários estudos re-
portam decréscimo na densidade capilar (Tesch et al.,
1984; MacDougall, 1986b), enquanto outros não
detectaram alteração ou leve aumento (Green et al.,
1999; McCall et al., 1996). Diferenças na magnitude
da resposta hipertrófica, assim como no protocolo
de treinamento, podem, em parte, explicar as varia-
ções observadas.

Hiperplasia das fibras musculo-


esqueléticas

Proliferação da fibra durante o


desenvolvimento
Figura 13.2 (Parte superior) Porcentagem de fibras tipo I no O músculo esquelético do mamífero se desen-
tríceps braquial de nove jovens do sexo masculino antes (1) e volve embrionicamente a partir da mesoderme. Re-
após (2) seis meses de treinamento com pesos, e após seis
petidas divisões mitóticas possibilitam o surgimento
semanas de imobilização da articulação do cotovelo (3). Note
que não houve nenhuma alteração no tipo de fibra. (Parte de milhões de células multinucleadas, os mioblastos.
inferior) Porcentagem de fibras tipo I no bíceps braquial em um Aproximadamente na quarta semana de gestação,
grupo-controle de 13 indivíduos não-treinados (4), sete grupos de mioblastos se alinham e começam a se fun-
fisiculturistas de nível intermediário (5) e cinco fisiculturistas de dir para formar miotubos multinucleados que even-
elite (6). Note a inexistência de diferenças no tipo de fibras na
tualmente passam a fibras musculares maduras. O
análise intergrupos. Os valores representam média ± desvio
padrão (de MacDougall, 1986a). processo continua até o nascimento e, talvez, por al-
guns meses depois. Em geral, aceita-se que, devido
aos núcleos localizados perifericamente aos miotu-
bos serem incapazes de divisão mitótica posterior, ao
cial. Então, enquanto a quantidade absoluta de teci- nascer (ou período posterior breve), o número total
do conjuntivo aumenta com o treinamento, a quan- de fibras musculares do indivíduo já esteja comple-
tidade relativa permanece a mesma, e sua contribui- tamente estabelecido (Fischman, 1972; Mastaglia,
ção para o aumento no tamanho muscular total pode 1981; Malina, 1986).
ser considerada mínima. O crescimento muscular pós-natal é o resultado
Em nível ultra-estrutural, o aumento nas proteí- do incremento da área e do comprimento da fibra. O
nas contráteis dilui a proporção mitocondrial da fi- aumento em comprimento muscular ocorre por meio
bra, reduzindo significativamente o volume mitocon- da adição dos sarcômeros às extremidades da fibra e
drial (MacDougall et al., 1979; Lüthi et al., 1986; continua até o crescimento ósseo estar completo. O
Chilibeck et al., 1999) e as atividades das enzimas
oxidativas (Tesch, 1987; Masuda et al., 1999). Por sua
vez, a densidade do retículo sarcoplasmático e do
túbulo-T aumenta em proporção às alterações no *N. de R.T. Relativo à formação de novos capilares.
272 PAAVO V. KOMI

incremento na área e no comprimento da fibra é do pelo treinamento em várias espécies animais ocor-
acompanhado pelo aumento proporcional no número reu tanto como resultado de hipertrofia das fibras
de mionúcleos. Esses núcleos parecem ser derivados existentes como da adição de novas fibras (Reitsma,
das células-satélite (progenitoras) (Moss e LeBlond, 1969; Hall-Craggs, 1970; Gonyea et al., 1977; Sola et
1971; Goldspink, 1974; Malina, 1986), consideradas al., 1973; Gonyea et al., 1980).
por derivarem das populações de mioblastos que não Em 1981, Gollnick e colaboradores desafiaram
se fundem para formar miotubos durante o desen- esses últimos estudos e sugeriram que erros meto-
volvimento (White e Esser, 1989). dológicos associados aos métodos de estimativa do
Vários investigadores registraram aumento numé- número de fibras por meio de secções histológicas
rico nas fibras musculares no período inicial do cres- poderiam ter sido mal interpretados. Pelo uso de uma
cimento neonatal em determinadas espécies, tais como técnica em que todas as fibras de um músculo foram
no rato (Chiakulus e Pauly, 1965; Rayne e Crawford, isoladas e contadas, esses autores (Gollnick et al.,
1975). Em razão desses achados, vários mecanismos 1981) concluíram que, em ratos, o aumento do diâ-
têm sido sugeridos para respaldar a hiperplasia. metro muscular pela ablação de um sinergista e pela
corrida em esteira rolante poderia ser completamen-
1 Formação de novo das fibras dos mioblastos resi-
te explicado pela hipertrofia das fibras existentes, sem
duais.
a adição de mais fibras. Isso foi posteriormente cor-
2 Divisão longitudinal ou brotamento* das fibras
roborado por um estudo que usou camundongos
existentes.
(Timson et al., 1985). No entanto, a aplicação da cor-
3 Aumento do comprimento das fibras curtas que
rida como um programa de treinamento diferiu con-
previamente não atravessam o comprimento total do
sideravelmente dos programas de exercícios de força
músculo.
de alta intensidade empregados em muitos dos estu-
4 Separação e posterior crescimento de fibras ima-
dos que registraram hiperplasia. Na realidade, atra-
turas, previamente incluídas na membrana basal das
vés do uso da mesma técnica de contagem de fibras
fibras em estágio mais avançado de desenvolvimen-
de Gollnick e colaboradores, foi observado 9% de
to (Mastaglia, 1981).
aumento no número de fibras de gatos, como efeito
As evidências de microscopia eletrônica no mús- induzido por um programa de levantamento de peso
culo neonatal em desenvolvimento de ratos indicam progressivo, por meio do qual os animais foram ensi-
que provavelmente os dois primeiros mecanismos não nados a realizar contrações voluntárias próximas à
ocorram. Também apontam para uma adição no nú- máxima, recebendo alimento como recompensa
mero de fibras devido aos últimos dois processos (Gonyea et al., 1986). Além disso, houve vários estu-
(Ontell e Dunn, 1978; Mastaglia, 1981). dos subseqüentes oferecendo evidências indiretas de
hiperplasia da fibra após treinamento de força em
gatos (Giddings e Gonyea, 1992) e em ratos (Tamaki
Hiperplasia no músculo adulto? et al., 1997).
É bem conhecido que a aplicação de alongamento
Desde o trabalho de Morpurgo (1897), em que crônico representa um modelo muito potente para
foram treinados cachorros em uma esteira rolante, induzir aumento do diâmetro muscular. O alonga-
aceita-se geralmente que o conteúdo de fibra do mento é geralmente imposto pela suspensão de uma
músculo mamífero adulto não sofre incremento e que sobrecarga intensa em uma das asas de uma ave, tal
o crescimento muscular ocorre exclusivamente atra- como codorna ou galo, enquanto os músculos da asa
vés do aumento do diâmetro das fibras existentes. No oposta servem como controle. Nesses estudos, após
entanto, na década de 1970, inúmeros estudos suge- várias semanas, o aumento na massa muscular re-
riram que um crescimento compensatório e induzi- presenta claramente o resultado do incremento da
área da fibra e do número de fibras (Sola et al., 1973;
Alway et al., 1989b; Alway et al., 1990; Antonio e
Gonyea, 1993a). Um estudo registrou 82% de au-
*N. de R.T. Processo pelo qual uma estrutura origina-se de mento no número de fibras em 37 dias de alonga-
outra preexistente. mento progressivo (Antonio e Gonyea, 1993a). Com
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 273

base na metanálise dos estudos que investigam a hi- mero de fibras, o bíceps desses indivíduos demons-
perplasia da fibra em animais submetidos à sobre- traria evidência de hiperplasia em comparação aos
carga mecânica, Kelley (1996) concluiu que a sobre- controles.
carga de alongamento foi a intervenção mais eficaz, Os dados indicaram que, enquanto o número
sendo que a hiperplasia foi mais provável em aves do total de fibras no bíceps braquial variou de aproxi-
que em mamíferos. Sugere-se aos leitores consultar madamente 172.000 a 419.000, o número médio foi
a revisão de Antonio e Gonyea (1993b) para maior o mesmo para cada grupo (Fig. 13.3). Como ambos
aprofundamento no que se relaciona aos efeitos do os grupos de fisiculturistas treinaram durante pelo
alongamento crônico sobre a hiperplasia da fibra menos seis anos o músculo bíceps para alcançar hi-
muscular. pertrofia e ainda possuíam o mesmo número de fi-
bras que sujeitos-controle, concluiu-se que esse tipo
Hiperplasia da fibra muscular em de treinamento não produz aumento significativo no
humanos número de fibras. Detectou-se também uma tendên-
cia de os sujeitos com maiores músculos possuírem
A magnitude da hiperplasia na fibra dos múscu- maior número de fibras quando comparados aos va-
los de humanos que aderem a programas de treina- lores médios independentemente do grupo. Então,
mento de força de alta intensidade permanece con- embora o tamanho muscular seja primariamente de-
troversa. Evidências indiretas baseadas na medida do terminado pelo tamanho das fibras musculares indi-
tamanho da fibra (MacDougall et al., 1982; Tesch e viduais, também existe influência do número de fi-
Larsson, 1982) e em estimativas do número de fibras bras geneticamente determinado.
por unidade motora (Larsson e Tesch, 1986) suge- Na única investigação longitudinal relacionada à
rem que alguns fisiculturistas possuem mais fibras hiperplasia em humanos, McCall e colaboradores
musculares, quando comparados a sujeitos destrei- (1996) não observaram alteração no número de fi-
nados. No entanto, nessas situações, deve ser reco- bras do bíceps braquial em homens jovens após 12
nhecido que o maior número de fibras musculares semanas de treinamento de força de alta intensidade.
pode ter sido herdado mais do que resultado de hi- Nesse estudo, o método para a estimativa do número
perplasia induzida pelo treinamento. Não é fácil che- de fibras foi o mesmo utilizado por MacDougall e
gar a uma conclusão devido às dificuldades meto- colaboradores (1984); sua validade é baseada no pres-
dológicas na determinação do número de fibras mus- suposto de que a área média da fibra em amostras de
culares.
Examinaram-se os bíceps braquiais de 25 homens
jovens, por um método in vivo, para estimar o núme-
ro de fibras. De todos os modelos, cinco eram fisicul-
turistas de elite, sete fisiculturistas intermediários e
13 controles destreinados ajustados à idade (Ma-
cDougall et al., 1984). O número de fibras muscula-
res foi determinado por medidas da área muscular
total (tomografia computadorizada) e da área da fi-
bra (biópsia), a partir do pressuposto de que, devido
a muitas das fibras do bíceps se estenderem da ori-
gem à inserção, a medida da área de secção transver-
sa no ventre do músculo incluiu todas as fibras. O
bíceps é particularmente apropriado para o estudo
de possível hiperplasia pois os fisiculturistas treinam
para alcançar sua hipertrofia máxima (a área do bí-
Figura 13.3 Número estimado de fibras no bíceps braquial de
ceps em alguns fisiculturistas foi mais do que três
um grupo-controle de 13 indivíduos não-treinados, de um grupo
vezes maior quando comparada a de alguns contro- de sete fisiculturistas de nível intermediário e de um grupo de
les). A hipótese do estudo era que, se o treinamento cinco fisiculturistas de elite. Os valores representam média ±
de força de alta intensidade induz aumento no nú- desvio padrão (de MacDougall, 1986a).
274 PAAVO V. KOMI

biópsia é representativa do músculo total. Examina- et al., 1985; Snow e Chortkoff, 1987; Yarasheski et
mos a precisão dessa técnica comparando as estima- al., 1990). No entanto, muitos investigadores que têm
tivas intra-individuais do número de fibras no bíceps utilizado alongamento crônico das asas dos múscu-
de um braço com as do outro braço. A conclusão los em aves registram maior aumento no número to-
apontou a existência de erro padrão de estimativa de tal de fibras (Alway et al., 1989b; Sola et al., 1973;
aproximadamente 11% (MacDougall et al., 1984). Antonio e Gonyea, 1993a). Além disso, a magnitude
Portanto, é razoável aceitar que esse método não é do aumento no número de fibras parece estar relacio-
tão preciso como, por exemplo, a contagem direta nada à magnitude, bem como à duração do estímulo
das fibras por meio de digestão* do músculo inteiro de alongamento (Antonio e Gonyea, 1993a). Diferen-
utilizando ácido nítrico, e que pequenas alterações temente das aves, é difícil impor um alongamento crô-
no número total de fibras podem não ser detectadas. nico ao músculo de um quadrúpede. Assim, a tendên-
Sjöstrom e colaboradores (1991) realizaram uma cia a hiperplasia de maior magnitude em aves, quando
investigação de autópsia dos músculos tibial anterior comparadas a mamíferos, pode estar relacionada à efi-
direito e esquerdo de homens jovens com predomi- cácia do modelo experimental, mais do que às dife-
nância manual direita e detectaram maior área de renças entre as espécies per se.
secção transversa muscular no lado esquerdo, mas Também suscita dúvidas a questão de o treina-
nenhuma diferença na área da fibra entre os dois la- mento de força convencional submeter o músculo a
dos. Eles concluíram que os maiores músculos da elevado nível de alongamento. Muitos movimentos
perna esquerda deviam-se à hipertrofia compensa- do levantamento de peso iniciam com o músculo em
tória associada ao uso assimétrico de longo prazo (ou ligeiramente além de) seu comprimento em re-
daquela perna por indivíduos com predominância pouso, seguido pelo encurtamento dos sarcômeros
manual direita. Além disso, os autores indicaram que na fase concêntrica do levantamento. Embora algum
o maior diâmetro muscular devia-se ao aumento alongamento dos sarcômeros ocorra ao final da fase
aproximado de 9,8% no número de fibras (Sjöstrom excêntrica, a estrutura de muitas articulações huma-
et al., 1991). nas permite somente um comprimento moderado dos
Então, parece não haver aumento no número de sarcômeros. Uma possível exceção refere-se à arti-
fibras no músculo adulto humano em decorrência culação do tornozelo, em que uma amplitude consi-
do treinamento de força; ou, caso ocorra, é de pouca derável de dorsiflexão pode ser alcançada, impondo,
significância numérica. Como, então, explicar a clara dessa forma, alongamento dos músculos da perna.
evidência de abundante hiperplasia em certos mode- Em um estudo recente (Fowles et al., 2000), foram
los animais, mas ausência em humanos? Uma possí- examinados os efeitos de uma sessão de alongamen-
vel explicação sugere a ocorrência de hiperplasia so- to passivo tolerado sobre a síntese protéica muscular
mente em resposta a uma sobrecarga de alongamento do sóleo. Por meio do uso de um instrumento equi-
significativa que também aumenta o comprimento pado com sensores de força, em que o pé e a perna
muscular. Isso significa que o treinamento de força correspondente ficam fixos (descrito por Sale et al.,
convencional não impõe tal estímulo. Examinemos 1982), oito homens jovens permaneceram por apro-
o fundamento dessa explanação. ximadamente 30 minutos em alongamento passivo
Alguns investigadores relataram pequeno aumen- dos músculos de uma das pernas, servindo a outra
to no número de fibras em mamíferos após treina- como controle. O procedimento iniciou com o pé do
mento com levantamento de pesos** ou ablação si- sujeito bloqueado em dorsiflexão máxima tolerável
nergista (Ho et al., 1980; Gonyea et al., 1986). Outros sem dor e, posteriormente, a cada 2 minutos, a mag-
tantos não relataram (Gollnick et al., 1981; Timson nitude do alongamento foi aumentada. Assim, um
novo ângulo articular máximo foi estabelecido, de
acordo com a tolerância do sujeito. Em média, esse
protocolo resultou em 6° a 7° de aumento no ângulo
*N.
articular, acima do alongamento máximo tolerável ini-
de R.T. Ato de desintegração do músculo, neste caso, uti-
lizando ácido nítrico. cial. A taxa de síntese protéica fracional foi, então,
**N. de R.T. O autor refere-se, neste tópico, à modalidade es- mensurada no sóleo de ambas as pernas, por meio da
portiva levantamento de peso ou “weightlifting”. quantificação da taxa de incorporação de leucina
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 275

L-[1-13C] nas amostras de biópsia. Apesar da inter-


venção, nenhuma diferença na síntese protéica ocor-
reu entre os dois músculos. Visto que a magnitude e
a duração do alongamento nesse experimento exce-
deram substancialmente aquelas observadas em uma
sessão típica de treinamento de força e, ainda assim,
não foram suficientes para estimular a síntese pro-
téica, é aparente que um alongamento muscular mí-
nimo ocorre durante o levantamento de peso.

Células-satélite musculares e o
processo de hipertrofia

Uma hipótese para explicar o aumento no nú-


mero de fibras induzido pelo exercício em animais
adultos já foi representada pela tese da divisão longi-
tudinal das fibras existentes (Hall-Craggs, 1970;
Gonyea et al., 1977), mas agora é geralmente aceito
que esse não seja o mecanismo (Snow e Chortkoff,
1987) e que novas fibras se desenvolveriam das célu-
las-satélite (Kennedy et al., 1988; Antonio e Gonyea,
1993a; Kadi e Thornell, 2000). O termo “célula-saté-
Figura 13.4 (a) Micrografia eletrônica mostrando duas
lite” foi primeiramente usado por Mauro (1961) para
células-satélite no músculo da asa de uma codorna submetida à
descrever um tipo de célula de reserva quiescente sobrecarga de estiramento. O “S” indica uma típica célula-
localizada do lado de fora da membrana plasmática satélite, enquanto o “m”, uma célula-satélite em uma fibra
da fibra muscular, mas dentro da lâmina basal (Fig. adjacente, no provável estágio de mioblasto e de migração.
13.4). No nível do microscópio de luz, essas células Cortesia de S.E. Alway, West Virginia University. (b) Ilustração
esquemática de uma típica célula-satélite. A célula-satélite pode
parecem mionúcleos normais, mas podem ser identi-
ser distinguida de outro mionúcleo por localizar-se fora da
ficadas por meio de microscópio eletrônico desde que membrana plasmática (plasmalema). Cortesia de A.J.
os mionúcleos estejam estendidos no interior da mem- McComas, McMaster University.
brana plasmática. Imagina-se que essas células deri-
vem de uma população de mioblastos que não se fun-
dem para formar miotubos e fibras funcionais durante
o desenvolvimento embriônico (White e Esser, 1989). As células-satélite representam a fonte para a
As células-satélite parecem ocorrer mais freqüen- adição de mionúcleos às fibras musculares quando
temente nos músculos de animais jovens e diminuir aumentam em área e em comprimento com a matu-
nos animais idosos (Schultz, 1989; White e Esser, ração ou com a hipertrofia induzida pelo exercício.
1989). Em humanos adultos saudáveis, o núcleo da Com isso, mantêm a relação mionúcleo-volume ci-
célula-satélite constitui-se de aproximadamente 2 a toplasmático (Kadi e Thornell, 2000). Além disso,
4% de todos os mionúcleos detectados na microgra- parece que sua ativação é, na verdade, necessária para
fia eletrônica (Schmalbruch e Hellhammer, 1976; o processo de hipertrofia ocorrer em primeiro lugar
Roth et al., 2000) e não parece decrescer em freqüên- (Rosenblatt et al., 1994; Phelan e Gonyea, 1997),
cia (Roth et al., 2000) ou em capacidade de resposta embora nem todos os estudos sustentem tal concei-
(Hikida et al., 2000) com o envelhecimento. As célu- to (Lowe e Alway, 1999). Uma segunda importante
las permanecem quiescentes até a homeostase mus- função das células-satélite ocorre em seu papel de
cular ser alterada ao ponto em que se tornam esti- regeneração das fibras lesionadas (Bischoff, 1989;
muladas para se proliferarem por meio da divisão Schultz, 1989). Quando uma lesão traumática, por
mitótica. impacto, por exemplo, ocorre na fibra muscular, as
276 PAAVO V. KOMI

células-satélite da fibra lesionada são ativadas para mais de 40% com rompimento extremo (Gibala et
realizar proliferação mitótica e para migrar ao longo al., 1995). Nos sujeitos treinados, aproximadamente
do comprimento da fibra no local da lesão. Então, 45% das fibras apresentaram algum grau de rompi-
elas entram na célula e se diferenciam para reparar a mento, das quais somente 3% foram classificadas
lesão por meio da formação de novas miofibrilas na como tendo rompimento grave (Gibala et al., 2000).
fibra existente, enquanto os detritos são removidos Além disso, em ambas as investigações, ficou claro
pelos macrófagos (Chambers e McDermott, 1996). que maiores níveis de lesão ocorreram durante a fase
Em caso de lesão grave na fibra, as células-satélite se excêntrica do levantamento. Então, é aparente que
fundem entre si para formar um miotubo multinu- vários graus de lesão na proteína contrátil ocorrem
cleado. Existe maturação do miotubo em uma nova como conseqüência inevitável do treinamento de for-
fibra muscular por meio de um processo similar ao ça de alta intensidade. Essa lesão pode resultar na
que ocorre durante o desenvolvimento fetal e substi- ativação e na proliferação das células-satélite após tal
tui a fibra necrosada (Bischoff, 1989; Schultz, 1989). treinamento (Kadi e Thornell, 2000) com o propósi-
Também parece que, quando uma fibra é lesionada, to de reparo ou substituição de fibras. Kadi e colabo-
a ativação das células-satélite é confinada àquelas da radores (1999) observaram que aproximadamente 3%
fibra lesionada, com pouco ou nenhum recrutamen- das fibras em biópsias do músculo trapézio de levan-
to das células-satélite das fibras não-lesionadas tadores de peso de elite eram anormalmente peque-
(Schultz et al., 1986). Nesse caso, e se somente um nas em diâmetro e expressaram marcadores para mio-
miotubo se desenvolve por fibra necrosada, o pro- gênese inicial. Isso sugere que um ciclo constante de
cesso é caracterizado por substituição sem aumento lesão e reparo muscular ocorre em atletas submeti-
no número de fibras. dos a treinamento de força de alta intensidade. As
lesões relativamente leves são reparadas por meio da
Ativação das células-satélite com o incorporação das células-satélite em fibras existen-
exercício e o treinamento tes, enquanto o reparo de fibras gravemente lesiona-
das ocorre por meio de fusão de células-satélite para
Tem sido observado que a ativação das células- formar novas fibras. Além disso, é provável que o pro-
satélite ocorre em animais após uma sessão aguda de cesso seja de substituição, sem adição de número de
corrida em esteira rolante com característica excên- fibras se, em qualquer momento, 3% das fibras em
trica (Darr e Schultz, 1987) ou em nível plano (Jacobs atletas de força representam fibras “novas” em de-
et al., 1995), assim como no treinamento de força senvolvimento (Kadi et al., 1999). Se não fosse esse o
crônico (Giddings et al., 1985; Tamaki et al., 1997). caso, então, após vários anos de treinamento de for-
Nesses estudos, os protocolos de exercícios também ça, haveria um aumento massivo e evidente no nú-
foram associados com vários graus de lesão na fibra. mero de fibras.
A partir dessa perspectiva, os investigadores levanta- É também possível que as células-satélite pos-
ram a hipótese de que esse pode ter sido o mecanis- sam ser ativadas por outros processos que não a le-
mo para a ativação. Em humanos, a ativação das cé- são (Irintchev e Wernig, 1987; Yan, 2000) e que de-
lulas-satélite tem sido documentada após um período sempenhem um papel importante na adaptação
de ciclismo (Appell et al., 1988) e de treinamento de muscular e na transformação do tipo de fibra com o
força (Kadi e Thornell, 1988). Embora não tenha sido exercício de resistência aeróbia (Yan, 2000). Reforçan-
avaliada a lesão do tecido muscular em nenhum dos do essa idéia, existe evidência de que as células-satéli-
dois estudos, é provável que ela tenha ocorrido, es- te respondem a vários fatores de crescimento que não
pecialmente com o treinamento de força. Tem sido estão necessariamente relacionados à lesão muscular
quantificada a evidência em microscopia eletrônica (Chambers e McDermott, 1996; Miller et al., 2000).
de lesão de proteína contrátil após uma sessão típica
de treinamento de força, tanto em homens jovens
destreinados como em sujeitos treinados em força. Resumo
Imediatamente após o exercício, cerca de 80% das
fibras examinadas nos sujeitos destreinados demons- Os exercícios de força de alta intensidade esti-
traram algum grau de rompimento miofibrilar, com mulam a síntese da proteína contrátil muscular. Isso
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 277

se manifesta per se por meio do aumento da área de fore hyperplasia. Journal of Applied Physiology 75,
secção transversa da fibra e da área do músculo pela 1263-1271.
execução de sessões repetidas de exercício (treina- Antonio, J. & Gonyea, W.J. (1993b) Skeletal muscle fiber
mento). O aumento da área da fibra é o resultado do hyperplasia. Medicine and Science in Sports and Exercise
25, 1333-1345.
incremento na área e no número miofibrilar. Há tam-
Appell, H.J., Forsberg, S. & Hollmann, W. (1988) Satellite
bém um aumento no tecido conjuntivo intersticial, cell activation in human skeletal muscle after training:
que é proporcional ao da área da fibra. evidence for muscle fiber neoformation. International
As células-satélite musculares possuem um im- Journal of Sports Medicine 9, 297-299.
portante (e talvez essencial) papel no processo de hi- Ashmore, C.R. & Summers, P.J. (1981) Stretch-induced
pertrofia em virtude da manutenção da relação volu- growth in chicken wing muscles: myofibrillar prolife-
me citoplasmático-núcleo normal quando a fibra ration. American Journal of Physiology 241, C93-C97.
aumenta em tamanho, assim como por meio do re- Baldwin, K.M. & Haddad, F. (2001) Effects of different ac-
paro e da substituição das fibras lesionadas no trei- tivity and inactivity paradigms on myosin heavy chain
gene expression in striated muscle. Journal of Applied
namento. Em algumas espécies, e com certas pertur-
Physiology 90, 345-557.
bações, tal alongamento crônico, como o dos Biolo, G., Maggi, S.P., Williams, B.D., Tipton, K.D. & Wolfe,
músculos das asas da codorna, induzirá fusão das R.R. (1995) Increased rates of muscle protein turnover
células-satélite para formar novas fibras adicionais, and amino acid transport after resistance exercise in hu-
tanto que há um aumento no número de fibras. No mans. American Journal of Physiology 268, E514-E520.
entanto, há pouca evidência para indicar que, em Bischoff, R. (1989) Analysis of muscle regeneration using
humanos, o treinamento de força de alta intensidade single myofibers in culture. Medicine and Science in Sports
eleve o número de fibras musculares. Portanto, pode- and Exercise 21(Suppl.), S164-S172.
se concluir que as novas fibras formadas a partir das Brown, A.B., McCartney, N., Moroz, D., Sale, D. &
MacDougall, J.D. (1988) Strength training effects in
células-satélite em humanos submetidos a treinamen-
aging. Medicine and Science in Sports and Exercise 20, S80.
to substituem as fibras necrosadas, ocorrendo pouca Carroll, T.J., Abernethy, P.J., Logan, P.A., Barber, M. &
ou nenhuma adição em número. McEniery, M.T. (1998) Resistance training frequency:
strength and myosin heavy chain responses to two and
three bouts per week. European Journal of Applied Physio-
Referências logy and Occupational Physiology 78, 270-275.
Chambers, R.L. & McDermott, J.C. (1996) Molecular basis
Adams, G.R., Hather, B.M., Baldwin, K.M. & Dudley, G.A. of skeletal muscle regeneration. Canadian Journal of Ap-
(1993) Skeletal muscle myosin heavy chain compositi- plied Physiology 21, 155-184.
on and resistance training. Journal of Applied Physiology Chesley, A., MacDougall, J.D., Tarnopolsky, M.A., Atkin-
74, 911-915. son, S.A. & Smith, K. (1992) Changes in human mus-
Alway, S.E., MacDougall, J.D. & Sale, D.G. (1989a) Con- cle protein synthesis after resistance exercise. Journal of
tractile adaptations in the human triceps surae after iso- Applied Physiology 73, 1383-1388.
metric exercise. Journal of Applied Physiology 66, Chiakulus, J.J. & Pauly, J.E. (1965) A study of post-natal
2725-2732. growth of skeletal muscle in the rat. Anatomical Record
Alway, S.E., Winchester, P.K., Davis, M.E. & Gonyea, W.J. 152, 55-62.
(1989b) Regionalized adaptations and muscle fiber pro- Chilibeck, P.D., Syrotuik, D.G. & Bell, G.J. (1999) The effect
liferation in stretch-induced enlargement. Journal of of strength training on estimates of mitochondrial den-
Applied Physiology 66, 771-781. sity and distribution throughout muscle fibres. Europe-
Alway, S.E., Gonyea, W.J. & Davis, M.E. (1990) Muscle fi- an Journal of Applied Physiology and Occupational Physiolo-
ber formation and fiber hypertrophy during the onset gy 80, 604-609.
of stretch-overload. American Journal of Physiology 259, Darr, K.C. & Schultz, E. (1987) Exercise-induced satellite
C92-102. cell activation in growing and mature skeletal muscle.
Andersen, J.L. & Aagaard, P. (2000) Myosin heavy chain Journal of Applied Physiology 63, 1816-1821.
IIX overshoot in human skeletal muscle. Muscle and Fischmann, D.A. (1972) Development of striated muscle.
Nerve 23, 1095-1104. In: The Structure and Function of Muscle: Structure, Part 1,
Antonio, J. & Gonyea, W.J. (1993a) Progressive stretch Vol. 1 (ed. G.H. Bourne), pp. 75-148. Academic Press,
overload of skeletal muscle results in hypertrophy be- New York.
278 PAAVO V. KOMI

Fowles, J.R., MacDougall, J.D., Tarnopolsky, M.A., Sale, Gonyea, W.J., Sale, D., Gonyea, Y. & Mikesky, A. (1986)
D.G., Roy, B.D. & Yarasheski, K.E. (2000) The effects of Exercise induced increases in muscle fiber number.
acute passive stretch on muscle protein synthesis in European Journal of Applied Physiology 55, 137-141.
humans. Canadian Journal of Applied Physiology 25, Green, H., Goreham, C., Ouyang, J., Ball-Burnett, M. &
165-180. Ranney, D. (1999) Regulation of fiber size, oxidative
Gibala, M.J., MacDougall, J.D., Tarnopolsky, M.A., Stau- potential, and capillarization in human muscle by re-
ber, W.T. & Elorriaga, A. (1995) Changes in human ske- sistance exercise. American Journal of Physiology 276,
letal muscle ultrastructure and force production after R591-R596.
acute resistance exercise. Journal of Applied Physiology 78, Hall-Craggs, E.C.B. (1970) The longitudinal division of
702-708. overloaded skeletal muscle fibers. Journal of Anatomy 107,
Gibala, M.J., Interisano, S.A., Tarnopolsky, M.A. et al. (2000) 459-470.
Myofibrillar disruption following acute concentric and Hikida, R.S., Staron, R.S., Hagerman, F.C. et al. (2000) Effects
eccentric resistance exercise in strength-trained men. of high-intensity resistance training on untrained ol-
Canadian Journal of Physiology and Pharmacology 78, der men. II. Muscle fiber characteristics and nucleo-
656-661. cytoplasmic relationships. Journals of Gerontology Series
Giddings, C.J., Neaves, W.B. & Gonyea, W.J. (1985) Muscle A: Biological Sciences and Medical Sciences 55, B347-B354.
fiber necrosis and regeneration induced by prolonged Ho, K.W., Roy, R.R., Tweedle, C.D., Heusner, W.W., Van
weight-lifting exercise in the cat. Anatomical Record 211, Huss, W.D. & Carrow, R.E. (1980) Skeletal muscle fiber
133-141. splitting with weight-lifting exercise in rats. American
Giddings, C.J. & Gonyea, W.J. (1992) Morphological ob- Journal of Anatomy 157, 433-440.
servations supporting muscle fiber hyperplasia follo- Irintchev, A. & Wernig, A. (1987) Muscle damage and re-
wing weight-lifting exercise in cats. Anatomical Record 233, pair in voluntarily running mice: strain and muscle di-
178-195. fferences. Cell and Tissue Research 249, 509-521.
Goldberg, A.L., Edinger, J.D., Goldspink, D.F. & Jablecki, Jacobs, S.C., Wokke, J.H., Bar, P.R. & Bootsma, A.L. (1995)
C. (1975) Mechanism of work-induced hypertrophy of Satellite cell activation after muscle damage in young
skeletal muscle. Medicine and Science in Sports and Exerci- and adult rats. Anatomical Record 242, 329-336.
se 7, 185-198. Kadi, F. & Thornell, L. E. (2000) Concomitant increases in
Goldspink, G. (1970) The proliferation of myofibrils du- myonuclear and satellite cell content of female trape-
ring muscle fiber growth. Journal of Cell Science 6, zius muscle following strength training. Histochemistry
593-603. and Cell Biology 113, 99-103.
Goldspink, G. (1974) Development of muscle. In: Growth of Kadi, F., Eriksson, A., Holmner, S., Butler-Browne, G.S. &
Cells in Vertebrate Tissues (ed. G. Goldspink), pp. 69-99. Thornell, L.E. (1999) Cellular adaptation of the trape-
Chapman & Hall, London. zius muscle in strength-trained athletes. Histochemistry
Goldspink, G. (1992) Cellular and molecular aspects of and Cell Biology 111, 189-195.
adaptation in skeletal muscle. In: Strength and Power in Kelley, G. (1996) Mechanical overload and skeletal muscle
Sport (ed. P.V. Komi), pp. 211-229. Blackwell Scientific fiber hyperplasia: a meta-analysis. Journal of Applied Phy-
Publications, Oxford. siology 81, 1584-1588.
Goldspink, G. & Howells, K.F. (1974) Work-induced hyper- Kennedy, J.M., Eisenberg, B.R., Reid, S.K., Sweeney, L.J. &
trophy in exercised normal muscles of different ages Zak, R. (1988) Nascent muscle fiber appearance in over-
and the reversibility of hypertrophy after cessation of loaded chicken slow-tonic muscle. American Journal of
exercise. Journal of Physiology 239, 179-193. Anatomy 181, 203-215.
Gollnick, P.D., Timson, B.F., Moore, R.L. & Reidy, M. (1981) Larsson, L. & Tesch, P.A. (1986) Motor unit fiber density
Muscle enlargement and number of fibers in skeletal in extremely hypertrophied skeletal muscles in man.
muscle of rats. Journal of Applied Physiology 50, 939-943. European Journal of Applied Physiology 55, 130-136.
Gonyea, W.J. (1980) Role of exercise in inducing increases Lüthi, J.M., Howald, H., Classen, H., Rosler, K., Vock, P. &
in skeletal muscle fiber number. Journal of Applied Physi- Hoppeler, H. (1986) Structural changes in skeletal mus-
ology 48, 421-426. cle tissue with heavy-resistance exercise. International
Gonyea, W.J. & Ericson, G.C. (1976) An experimental mo- Journal of Sports Medicine 7, 123-127.
del for the study of exercise-induced skeletal muscle Lowe, D.A. & Alway, S.E. (1999) Stretch-induced myoge-
hypertrophy. Journal of Applied Physiology 40, 630-633. nin, MyoD, and MRF4 expression and acute hypertro-
Gonyea, W., Ericson, G.C. & Bonde-Peterson, F. (1977) phy in quail slow-tonic muscle are not dependent upon
Skeletal muscle fiber splitting induced by weight lifting satellite cell proliferation. Cell and Tissue Research 296,
exercise in cats. Acta Physiologica Scandinavica 99, 105-109. 531-539.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 279

McCall, G.E., Byrnes, W.C., Dickinson, A., Pattany, P.M. & Miller, K.J., Thaloor, D., Matteson, S. & Pavlath, G.K. (2000)
Fleck, S.J. (1996) Muscle fiber hypertrophy, hyperpla- Hepatocyte growth factor affects satellite cell activation
sia, and capillary density in college men after resistance and differentiation in regenerating skeletal muscle.
training. Journal of Applied Physiology 81, 2004-2012. American Journal of Physiology-Cell Physiology 278,
McDonagh, M.J.N. & Davies, C.T.M. (1984) Adaptive res- C174-C181.
ponse of mammalian muscle to exercise with high loads. Morpurgo, B. (1897) Überaktivitäts-Hypertrophie der Wi-
European Journal of Applied Physiology 52, 139-155. llkürlichen Muskeln. Virchows Archives fur Pathologische
MacDougall, J.D. (1986a) Adaptability of muscle to strength Anatomie and Physiologic 15, 522-554.
training — a cellular approach. In: Biochemistry of Exer- Moss, F.P. & LeBlond, C.P. (1971) Satellite cells as the source
cise VI, Vol. 16 (ed. B. Saltin), pp. 501-513. Human Ki- of nuclei in muscles of growing rats. Anatomical Record
netics, Champaign, Illinois. 170, 421-436.
MacDougall, J.D. (1986b) Morphological changes in hu- Ontell, J. & Dunn, R.F. (1978) Neonatal muscle growth: a
man skeletal muscle following strength training and quantitative study. American Journal of Anatomy 152, 539-
immobilization. In: Human Muscle Power (eds N. L. Jo- 556.
nes, N. McCartney & A.L. McComas), pp. 269-288. Phelan, J.N. & Gonyea, W.J. (1997) Effect of radiation on
Human Kinetics, Champaign, Illinois. satellite cell activity and protein expression in overloa-
MacDougall, J.D., Sale, D.G., Moroz, J.R., Elder, G.C.B., ded mammalian skeletal muscle. Anatomical Record 247,
Sutton, J.R. & Howald, H. (1979) Mitochondrial volu- 179-188.
me density in human skeletal muscle following heavy Phillips, S.M., Tipton, K.D., Aarsland, A., Wolf, S.E. & Wolfe,
resistance training. Medicine and Science in Sports 11, R.R. (1997) Mixed muscle protein synthesis and bre-
164-166. akdown after resistance exercise in humans. American
MacDougall, J.D., Elder, G.C.B., Sale, D.G., Moroz, J.R. & Journal of Physiology 273, E99-E107.
Sutton, J.R. (1980) Effects of strength training and im- Rayne, J. & Crawford, G.N.C. (1975) Increase in fiber num-
mobilization on human muscle fibers. European Journal bers of the rat pterygoid muscles during postnatal
of Applied Physiology 43, 25-34. growth. Journal of Anatomy 118, 347-357.
MacDougall, J.D., Sale, D.G., Elder, G.C.B. & Sutton, J.R. Reitsma, W. (1969) Skeletal muscle hypertrophy after hea-
(1982) Muscle ultrastructural characteristics of elite vy exercise in rats with surgically reduced muscle func-
powerlifters and bodybuilders. European Journal of Ap- tion. American Journal of Physical Medicine 48, 237-259.
plied Physiology 48, 117-126. Rosenblatt, J.D., Yong, D. & Parry, D.J. (1994) Satellite cell
MacDougall, J.D., Sale, D.G., Alway, S.E. & Sutton, J.R. activity is required for hypertrophy of overloaded rat
(1984) Muscle fiber number in biceps brachii in body- muscle. Muscle and Nerve 17, 608-613.
builders and control subjects. Journal of Applied Physio- Roth, S.M., Martel, G.F., Ivey, F.M. et al. (2000) Skeletal
logy 57, 1399-1403. muscle satellite cell populations in healthy young and
MacDougall, J.D., Gibala, M.J., Tarnopolsky, M.A., MacDo- older men and women. Anatomical Record 260, 351-358.
nald, J.R., Interisano, S.A. & Yarasheski, K.E. (1995) The Sale, D., Quinlan, J., Marsh, E., McComas, A.J. & Belanger,
time course for elevated muscle protein synthesis fo- A.Y. (1982) Influence of joint position on ankle plan-
llowing heavy resistance exercise. Canadian Journal of tarflexion in humans. Journal of Applied Physiology 52,
Applied Physiology 20, 480-486. 1636-1642.
Malina, R.M. (1986) Growth of muscle tissue and muscle Sale, D.G., MacDougall, J.D., Jacobs, I. & Garner, S. (1990)
mass. In: Human Growth A Comprehensive Treatise, Vol. 2 Interaction between concurrent strength and endurance
(eds F. Falkner & J. M. Tanner), pp. 77-99. Plenum Press, training. Journal of Applied Physiology 68, 260-270.
New York. Schmalbruch, H. & Hellhammer, U. (1976) The number
Mastaglia, F.L. (1981) Growth and development of the ske- of satellite cells in normal human tissue. Anatomical Re-
letal muscles. In: Scientific Foundations of Paediatrics (eds cord 185, 279-288.
J.A. Davis & J. Dobbing), pp. 590-620. Heinemann, Schultz, E. (1989) Satellite cell behavior during skeletal
London. muscle growth and regeneration. Medicine and Science in
Masuda, K., Choi, J.Y., Shimojo, H. & Katsuta, S. (1999) Sports and Exercise 21(Suppl.), S181-5186.
Maintenance of myoglobin concentration in human Schultz, E., Jaryszak, D.L., Gibson, M.C. & Albright, D.J.
skeletal muscle after heavy resistance training. Europe- (1986) Absence of exogenous satellite cell contribution
an Journal of Applied Physiology and Occupational Physiolo- to regeneration of frozen skeletal muscle. Journal of
gy 79, 347-352. Muscle Research and Cell Motility 7, 361-367.
Mauro, A. (1961) Satellite cells of skeletal muscle fibers. Sjostrom, M., Lexell, J., Eriksson, A. & Taylor, C.C. (1991)
Journal of Biophysical and Biochemical Cytology 9, 493-495. Evidence of fibre hyperplasia in human skeletal mus-
280 PAAVO V. KOMI

cles from healthy young men? A left-right comparison Tesch, P.A., Thorrson, A. & Kaiser, P. (1984) Muscle capi-
of the fibre number in whole anterior tibialis muscles. llary supply and fiber type characteristics in weight and
European Journal of Applied Physiology and Occupational power lifters. Journal of Applied Physiology 56, 35-38.
Physiology 62, 301-304. Tesch, P.A., Häkinen, K. & Komi, P.V. (1985) The effect of
Snow, M.H. & Chortkoff, B.S. (1987) Frequency of bifur- strength training and detraining on various enzyme
cated muscle fibers in hypertrophic rat soleus muscle. activities. Medicine and Science in Sports and Exercise 17,
Muscle and Nerve 10, 312-317. 245.
Sola, O.M., Christensen, D.L. & Martin, A.W. (1973) Hyper- Thorstensson, A. (1976) Muscle strength, fiber types and
trophy and hyperplasia of adult chicken anterior latis- enzyme activities in man. Acta Physiologica Scandinavica
simus dorsi muscles following stretch with and without 433 (Suppl.), 1-44.
denervation. Experimental Neurology 41, 76-100. Timson, B.F. (1990) Evaluation of animal models for the
Staron, R.S., Malicky, E.S., Leonardi, M.J., Falkel, J.E., Ha- study of exercise-induced muscle enlargement. Journal
german, F.C. & Dudley, G.A. (1990) Muscle hypertro- of Applied Physiology 69, 1935-1945.
phy and fast fiber type conversions in heavy resistance- Timson, B.F., Bowlin, B.K., Dudenhoeffer, G.A. & George,
trained women. European Journal of Applied Physiology and J.B. (1985) Fiber number, area and composition of mouse
Occupational Physiology 60, 71-79. soleus muscle following enlargement. Journal of Applied
Staron, R.S., Karapondo, D.L., Kraemer, W.J. et al. (1994) Physiology 58, 619-624.
Skeletal muscle adaptations during early phase of Welle, S., Bhatt, K. & Thornton, C.A. (1999) Stimulation of
heavy-resistance training in men and women. Journal of myofibrillar synthesis by exercise is mediated by more
Applied Physiology 76, 1247-1255. efficient translation of mRNA. Journal of Applied Physio-
Tamaki, T., Uchiyama, S. & Nakano, S. (1992) A weight- logy 86, 1220-1225.
lifting exercise model for inducing hypertrophy in the White, T.P. & Esser, K.A. (1989) Satellite cell and growth
hindlimb muscle of rats. Medicine and Science in Sports factor involvement in skeletal muscle growth. Medicine
and Exercise 24, 881-886. and Science in Sports and Exercise 21(Suppl.), 5158-S163.
Tamaki, T., Akatsuka, A., Tokunaga, M., Ishige, K., Uchiya- Wong, T.S. & Booth, F.W. (1988) Skeletal muscle enlarge-
ma, S. & Shiraishi, T. (1997) Morphological and bio- ment with weight-lifting exercise by rats. Journal of Ap-
chemical evidence of muscle hyperplasia following plied Physiology 65, 950-954.
weight-lifting exercise in rats. American Journal of Physi- Yan, Z. (2000) Skeletal muscle adaptation and cell cycle
ology 273, C246-C256. regulation. Exercise and Sport Sciences Reviews 28, 24-26.
Tesch, P.A. (1987) Acute and long-term metabolic changes Yarasheski, K.E., Lemon, P.W. & Gilloteaux, J. (1990) Effect
consequent to heavy-resistance exercise. Medicine and of heavy-resistance exercise training on muscle fiber
Science in Sports and Exercise 26, 67-87. composition in young rats. Journal of Applied Physiology
Tesch, P.A. & Larsson, L. (1982) Muscle hypertrophy in 69, 434-437.
bodybuilders. European Journal of Applied Physiology 49,
301-306.
Capítulo 14
Adaptações metabólicas
musculares agudas e crônicas
ao treinamento de força
PER A. TESCH E BJÖRN A. ALKNER

Os exercícios de força são geralmente intermitentes. Adaptações agudas ao exercício


O treinamento com sobrecargas muito vigorosas (pró- de força
ximas a uma repetição máxima) e com poucas repe-
tições (1 a 3) é geralmente seguido por um período O consumo de oxigênio representa aproximada-
de repouso relativamente longo (mais do que 5 min). mente 50 a 60% da potência aeróbia máxima em
Essa é uma estratégia praticada por atletas de levan- homens treinados em força ou fisicamente inativos.
tamento olímpico e outros com objetivo de desen- Tal relação refere-se a uma sessão de exercícios en-
volver força e potência. A maioria dos programas de volvendo os grandes grupos musculares dos mem-
exercícios com pesos* emprega uma seqüência ou um bros inferiores enquanto se realiza o leg press ou o
conjunto de séries consecutivas associadas a ações agachamento (Fig. 14.1; Dudley et al., 1991). A ex-
musculares concêntricas e excêntricas (6 a 15 repeti- tensão do joelho é realizada em um nível considera-
ções), geralmente seguidas por um período de repou- velmente menor de consumo de oxigênio por isolar
so e, então, repetidas de 2 a 4 ou, talvez, mais vezes. o músculo quadríceps quando comparada ao agacha-
Nas sessões de exercício com menos sobrecarga e mento, que usa grupos musculares adicionais. O tur-
nas quais as séries são constituídas de aproximada- nover energético para os exercícios que envolvem
mente 12 a 15 repetições até a falha** muscular, o menor massa muscular, por exemplo, os exercícios
período de repouso entre as séries é tipicamente para os membros superiores, é muito menor. Além
menor que 2 minutos. Uma sessão completa de exer- disso, o treinamento de força que enfatiza as ações
cícios que enfatiza vários grupos musculares pode es- excêntricas é realizado com um consumo de oxigê-
tabelecer 10 a 12 exercícios diferentes. É imperativo nio muito menor devido ao fato de o turnover energé-
que o estresse metabólico agudo e as subseqüentes tico durante o exercício excêntrico ser aproximada-
adaptações musculares crônicas sejam influenciados mente um oitavo do requerimento energético para
pelo delineamento do exercício. Então, o conjunto realizar uma tarefa caracterizada por ação concêntri-
das possíveis variações do programa e, conseqüente- ca (Asmussen, 1953). Embora as ações excêntricas
mente, os estímulos do exercício deveriam ser apre- sejam evidentemente essenciais para otimizar o cres-
ciados. cimento muscular e incrementar a força em resposta
ao treinamento de força, tais movimentos parecem
contribuir pouco para a melhora da capacidade oxi-
dativa do músculo.
*N. de R.T. Programas de exercícios com alguma forma de Apesar de o consumo de oxigênio ser aparente-
sobrecarga constituem o treinamento de força muscular.
**N. de R.T. Condição que impossibilita a continuação de um mente baixo, todas as principais fontes energéticas
movimento específico de treino ou teste; associada à fadiga estão disponíveis em uma sessão de exercício que
muscular. objetiva aumentar a massa muscular. Então, nos exer-
282 PAAVO V. KOMI

Figura 14.1 Consumo de oxigênio


antes, durante e após o exercício leg
press em homens não-treinados
(n = 8). Os sujeitos realizaram
cinco séries de 6 a 12 repetições
por série. Cada série foi seguida por
3 minutos de repouso. O ar expirado
foi coletado continuamente, e o
consumo de oxigênio analisado
através de um sistema on-line.
Cada ponto dos dados representa o
valor médio por período de 2,5
minutos (de Dudley et al., 1991).

cícios de força, normalmente realizados por fisicul- lar de glicose, de glicose-6-fosfato e de glicerol-3-
turistas, a adenosina trifosfato (ATP), a fosfocreatina fosfato. Tais concentrações indicam elevada glicólise
(CP) e o glicogênio são reduzidos em resposta a anaeróbia (Tab. 14.1; Tesch et al., 1986). Embora as
30 minutos de exercício realizado em aproximada- fontes energéticas anaeróbias não-glicolíticas e gli-
mente 200 W. Há também um marcado incremento colíticas sejam utilizadas, evidências determinam que
na concentração de lactato sangüíneo e intramuscu- os lipídeos também são mobilizados como substrato

Tabela 14.1 Conteúdo de metabólito muscular (mmol·kg–1) e concentração plasmática de metabólitos (mmol·L–1) antes (após aquecimento)
e ao final de 30 minutos de exercício de força, constituído de quatro séries (6 a 12 repetições por série) para o agachamento frontal e dorsal leg
press e extensão de joelhos. Os sujeitos eram fisiculturistas (n = 9). As diferenças (p < 0,05) entre os valores médios são indicadas pelo
asterisco* (de Tesch et al., 1986 e Essén-Gustavsson e Tesch, 1990)

Pré-exercício Pós-exercício Diferença

Músculo
ATP 24,8 19,7 *
Fosfocreatina 89,5 45,8 *
Creatina 50,8 100,0 *
Glicose 1,5 8,2 *
Glicose-6-fosfato 1,8 16,7 *
Glicerol-3-fosfato 5,7 14,1 *
Lactato 22,7 79,5 *
Glicogênio 690 495 *
Triglicerídeo 23,9 16,7 P > 0,05

Plasma
Ácidos graxos livres 0,22 0,22 P > 0,05
Glicerol 0,02 0,1 *
Glicose 4,2 5,5 *
Lactato 3,8 11,7 *
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 283

energético. Isso ficou evidente no aumento da con- ciam que o estoque de glicogênio intramuscular é a
centração de glicerol plasmático, e, surpreendente- fonte energética mais importante nos exercícios de
mente, muitos indivíduos demonstraram menor con- força. Poder-se-ia esperar que os programas realiza-
teúdo de triglicerídeo muscular após o exercício (Tab. dos com pouca sobrecarga, com maior número de
14.1; Essén-Gustavsson e Tesch, 1990). repetições e curto período de recuperação estimu-
Parece plausível imaginar que os exercícios de lassem a glicólise anaeróbia, assim como o metabo-
força, simulando uma competição, possam somente lismo oxidativo (Fig. 14.2; Tesch et al., 1986). Por
ser executados de acordo com a disponibilidade dos conseguinte, os níveis de lactato plasmático são mai-
estoques de ATP e CP (Keul et al., 1978). Tal pers- ores durante esse programa de exercícios do que com
pectiva desmorona diante da possibilidade de reali- elevada sobrecarga e menor número de repetições
zar muito poucas ações musculares seqüenciadas e (Kraemer et al., 1987). O glicogênio, entretanto, di-
do amplo tempo permitido para a recuperação pos- minui, e o lactato aumenta em taxas similares duran-
terior. Verifica-se queda substancial na CP após so- te uma série de trabalho programado, mas sob dife-
mente uma série de 12 repetições até a falha durante rentes repetições e sobrecarga, por exemplo, 35 ou
o exercício de flexão de cotovelo (MacDougall et al., 70% de uma repetição máxima (1-RM) (Robergs et
1999), sem nenhum decréscimo mensurável no con- al., 1991).
teúdo de ATP. No entanto, uma única série também Deve-se reconsiderar o desconhecimento sobre
é suficiente para estimular a glicogenólise devido ao o fato de o estresse metabólico per se influenciar o
glicogênio reduzir 12 e 24% após duas séries adicio- aumento da massa muscular, da força máxima ou da
nais. Há uma queda de 25% no conteúdo de glicogê- potência. Os estudos clássicos sobre o padrão de de-
nio muscular 6 horas após a realização de exercícios pleção seletiva de glicogênio por histoquímica semi-
vigorosos de força, sendo esses constituídos de apro- quantitativa (ácido-Schiff periódico [PAS]) com pro-
ximadamente nove séries de seis repetições até a fa- cedimentos staining * parecem demonstrar que
lha muscular no exercício de extensão do joelho estímulos abaixo de 20% da contração isométrica vo-
(Pascoe et al., 1993); e quatro séries de 8 a 12 repeti- luntária máxima são mantidos pelo recrutamento iso-
ções até a falha em quatro exercícios consecutivos de lado das fibras musculares do tipo I (Gollnick et al.,
extensão do cotovelo reduziram os estoques de gli-
cogênio da cabeça longa do tríceps braquial aproxi-
madamente 25% (Yström e Tesch, 1996 [dados não- *N. de R.T. Técnica baseada na coloração artificial de uma subs-

publicados]). Os resultados desses estudos eviden- tância.

Figura 14.2 Concentração plasmática de lactato antes e durante exercício de força e subseqüente recuperação. Os valores
representam média ± desvio padrão (de Tesch et al., 1986).
284 PAAVO V. KOMI

1974). Como evidenciado pela taxa progressivamen- disso, deve-se considerar que a magnitude, bem como
te maior de utilização de glicogênio quando o nível as características específicas das adaptações aos exer-
de tensão sustentada é mantido, as fibras tipo II de- cícios de força, ou qualquer outro tipo de exercício, é
vem ser recrutadas para produzir maiores níveis de influenciada por fatores como a idade, o nível de ap-
força. As fibras tipo I e IIa são depletadas, embora tidão física inicial e o histórico retrospectivo de trei-
não completamente, após cinco séries de 10 repeti- namento.
ções de extensão do joelho a 30% e a 45% de 1-RM
(Tesch et al., 1998). A análise da densidade ótica das Composição do tipo de fibra
fibras com coloração-PAS demonstra maior deple-
ção e queda dos níveis de glicogênio nas fibras tipo O treinamento de endurance induz ao ajuste na
IIb e IIab a 60% de 1-RM. Inversamente ao que se composição do tipo de fibra, no mínimo temporaria-
imagina, essas fibras, por inferência, estão envolvidas mente, convertendo fibras rápidas em lentas (cf. Sal-
em menores intensidades. tin e Gollnick, 1983). Parece que os músculos treina-
Como conseqüência, as fibras tipo II demons- dos de levantadores de peso, de levantadores de
tram maior depleção que as fibras tipo I em virtude potência e de outros atletas de potência de nível olím-
dos exercícios com sobrecarga de intensidade ≥ 70% pico não possuem necessariamente predominância
de 1-RM. Na realidade, as fibras do tipo II tiveram de fibras de contração rápida (Tab. 14.2 [Gollnick et
maior depleção que as fibras tipo I após a realização al., 1972; Prince et al., 1976; Staron et al., 1984;
de 20 séries de 6 a 12 repetições em quatro diferen- Tesch et al., 1984; Tesch e Karlsson, 1985; Kadi et al.,
tes exercícios para o quadríceps (ver Tesch et al., 1999]). No caso de ocorrência, é improvável que isso
1986). Na interrupção do exercício, nenhuma fibra seja resultado de treinamento específico realizado por
do tipo I, mas 15% das fibras tipo II examinadas es- esses atletas. Muito provavelmente, isso reflete a pre-
tavam sem glicogênio. Embora o treinamento de for- disposição genotípica dos atletas para o desenvolvi-
ça vigoroso pareça não eliminar os estoques de gli- mento muscular, bem como da velocidade, da po-
cogênio, a elevada taxa de utilização dessa substância tência e da força. Uma característica típica desses
pode ser suficiente para depletar certas fibras mus- atletas é que talvez 80 a 90% dos músculos treinados
culares. Isso, em princípio, pode limitar a capacidade contenham proteína contrátil rápida, pois os exercí-
de realizar uma ou múltiplas sessões diárias de exer- cios de força claramente promovem hipertrofia pre-
cício. ferencial das fibras de contração rápida. Em fisicul-
turistas de vários níveis, uma ampla variedade de
composição do tipo de fibra dos músculos vasto la-
Adaptações crônicas aos teral, deltóide, bíceps e tríceps braquiais tem sido re-
exercícios de força latada (MacDougall et al., 1982; Schantz, 1982;
Tesch e Larsson, 1982; Dudley et al., 1986; Larsson
Muitos programas eficazes de treinamento de e Tesch, 1986; Éssen-Gustavsson e Tesch, 1990;
força produzem maior área de secção transversa Klitgaard et al., 1990). Demonstrou-se repetidamen-
muscular. Isso significa, portanto, produzir maior te em inúmeros estudos desenvolvidos com voluntá-
massa muscular, principalmente devido ao aumento rios de ambos os gêneros (Tab. 14.3) que os progra-
no conteúdo de proteína miofibrilar (ver Capítulo 13). mas de treinamento de força não induzem alteração
No entanto, incremento apreciável na força muscu- na porcentagem das fibras tipo I (Frontera et al., 1988;
lar, assim como nos desempenhos força-dependen- Brown et al., 1990; Staron et al., 1990; Alway, 1991;
tes, é possível com hipertrofia muscular concomitante Charette et al., 1991; Hather et al., 1991; Staron et
nula ou mínima, em resposta aos programas de trei- al., 1991; Adams et al., 1993; Fry et al., 1994; Ploutz
namento de curto prazo (ver Capítulo 15). Eis uma et al., 1994; Kraemer et al., 1995; Lexell et al., 1995;
consideração importante na discussão que envolve Jürimäe et al., 1996; McCall et al., 1996; Hepple et
as adaptações metabólicas específicas em resposta ao al., 1997; Carroll et al., 1998; Bishop et al., 1999;
treinamento de força, pois algumas das alterações Green et al., 1999; King et al., 1999; Masuda et al.,
descritas a seguir acontecem secundariamente à hi- 1999; Andersen e Aagaard, 2000; Hikida et al., 2000).
pertrofia muscular induzida pelo treinamento. Além A descoberta de decréscimo na porcentagem dessas
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 285

Tabela 14.2 Composição do tipo de fibra mensurada por meio de marcação de ATPase histoquímica nas diferentes categorias de atletas
treinados em força. O conteúdo de miosina de cadeia pesada (MHC*) foi analisado em fibras isoladas† ou em homogeneizado muscular total††.
Alguns estudos também incorporaram sujeitos-controle. Os músculos estudados são demonstrados como: VL: vasto lateral; D: deltóide; GL:
gastrocnêmio lateral; GM: gastrocnêmio medial; SOL: sóleo; BB: bíceps braquial; T: trapézio

Composição do tipo de fibra

Autor Ano Sujeitos: n; gênero; categoria; idade Músculo I I/IIa IIa IIa/b IIb/x
Prince et al. 1976 4; M; levantadores de potência VL 45 11 33
5; controle (sem treinamento) VL 36 38 26
Tesch et al. 1984 8; M; levantadores de potência e levantadores VL 59
de peso; 27 anos
8; M; controle (pilotos); 26 anos VL 61
Staron et al. 1984 7; M; levantadores de peso; 24 anos, > 3 anos VL 38 0,3 40 22
treinamento; 4-6 dias/sem
5; M; controle não-treinado; 29 anos VL 23 0 34 43
Larsson e 1986 4; M; fisiculturistas; 30 anos VL 48
Tesch 8; M; controle; 26 anos VL 51
Gollnick et al. 1972 4; M; levantadores de peso; 25 anos VL 46
12; M; não-treinados; 27 anos VL 36
Tesch e 1982 5; M; fisiculturistas; 25 anos VL 40 4
Larsson 50; controle (estudantes); 23 anos VL 53
Tesch e 1985 7; M; levantadores de potência e levantadores VL 44
Karlsson de peso
12; M; estudantes de EF; 22 anos VL 43
Gollnick et al. 1972 4; M; levantadores de peso; 25 anos D 53
12; M; não-treinados; 27 anos D 46
Tesch e 1982 5; M; fisiculturistas; 25 anos D 33 3
Larsson 12; controle (estudantes de EF); 23 anos D 50
Tesch e 1985 7; M; levantadores de potência e levantadores D 54
Karlsson de peso
12; M; estudantes de EF; 22 anos D 50
Schantz e 1989 12; M; treinados em força; 25 anos D 67 21 12
Källman 12; M; não-treinados; 26 anos D 59 23 18
Alway 1991 6; M; fisiculturistas; 27 anos GL 53 47
6; M; ativos; 28 anos GL 53 47
6; M; sedentários; 25 anos GL 51 49
Alway 1991 6; M; fisiculturistas; 27 anos GM 56 44
6; M; ativos; 28 anos GM 65 35
6; M; sedentários; 25 anos GM 57 43
Alway 1991 6; M; fisiculturistas; 27 anos Sol 74 27
6; M; ativos; 28 anos Sol 73 27
6; M; sedentários; 25 anos Sol 80 19
Klitgaard 1990 4; M; fisiculturistas; 25 anos BB 51 0 31 18
et al. > 6 anos de treinamento
4; M; controles sedentários; 28 anos BB 48 0 25 26
4; M; fisiculturistas; 25 anos, BB 41 6 36 16 1
† > 6 anos de treinamento
4; M; controles sedentários; 28 anos BB 36 6 12 34 12
Kadi et al. 1999 10; M; levantadores de potência; 28 anos T 55 2 39 4 0
6; M; controle; 23 anos T 64 0,2 26 10 0,2
†† 10; M; levantadores de potência; 28 anos T 47 44 9
6; M; controle; 23 anos T 54 27 19

N. de R.T. Sigla referente à “myosin heavy chain”.


286 PAAVO V. KOMI

Tabela 14.3 (a) Estudos relacionados ao treinamento de força, nos quais foi registrada a composição do tipo de fibra no músculo vasto lateral,
mensurada por coloração da ATPase ou conteúdo de miosina de cadeia pesada (MHC) em fibras isoladas. Somente foram listados os estudos
que analisaram os subgrupos das fibras tipo II. ↑ aumento na porcentagem do tipo de fibra; ↓ decréscimo na porcentagem do tipo de fibra;
→ porcentagem do tipo de fibra inalterada; ⇑ aumento na área da fibra; ⇓ decréscimo na área da fibra; ⇒ área da fibra inalterada; > aumento
na área relativa ocupada pelo tipo de fibra; < decréscimo na área relativa ocupada pelo tipo de fibra; = nenhuma alteração na área relativa
ocupada pelo tipo de fibra; CON: concêntrico; EXC: excêntrico

Duração, Tipo de fibra (%)


Sujeitos; n; freqüência e
Autor Ano gênero; idade séries/repetições I I/IIa IIa IIa/b IIb/x Comentário

Lüthi et al. 1986 8; M; 18 anos 6 semanas, 3/semana, → → → “Saudável”


1 × 8-9
Staron et al. 1990 24; F; 23 anos 20 semanas, 2/semana, → → ↑ → ↓ 10 ativo,
3 × 6-8 14 inativo
Staron et al. 1991 6; F; 21 anos; 6 semanas, 2/semana → → → → ↓ Estudantes
previamente treinados, 3 × 6-8 ⇒ ⇑ ⇑
30 semanas destreinados
7; F; 21 anos; não- 6 semanas, 2/semana, ↑ → → → ↓
previamente treinados 3 × 6-8 ⇑ ⇑ ⇑
Hather et al. 1991 34 (8 + 8 + 10 + 19 semanas de treinamento, → ↑ ↓ Não treinado
controle); M; meia-idade 2/semana, 4-5 ×6-12 ⇑ ⇑
(con/ecc, con, con/con)
Adams et al. 1993 17 (13 + 4 controle); 19 semanas, 2/semana → ↑ ↓ “Saudável”
M; 36 anos 3 – 5 × 6 – 12 RM
Wang et al. 1993 12; F 20 semanas, 2/semana, ⇑ ↑⇑ ⇑ ↓⇑ Estudantes
3×6–8
Andersen 1994 14; M; 25 anos 12 semanas, 3/semana, → ↓ ↑ ↑ Jogadores de
et al. força + controle 4×8 ⇒ ⇒ ⇒ futebol fora
da temporada
→ → → MHC
Andersen 1994 6; M; 23 anos 3 meses de treinamento, ↓ ↑ ↓ Velocistas,
et al. 6/semana, força treinamento
2,5/semana, 1-8 RM de força e
velocidade
↓ → ↑ ↓ → MHC
Staron et al. 1994 13 + 8 (7 + 5 controle); 8 semanas, 2/semana → → → → ↓ Não-treinado
M + F; 21 anos 3 × 6-12
Ploutz et al. 1994 9; M 9 semanas, 2/semana → → ↑ ↓ Sedentário
3-6 × 12 ⇒ ⇒ ⇒ ⇒
Kraemer 1995 35 (9 + 5 controle); M; 12 semanas, 4/semana → ↑ → ↓ Treinado
et al. 23 anos ⇑ ⇑ ⇑ ⇒ (militares)
Green et al. 1998 6; M; 19 anos 12 semanas, 3/semana → → → ↓ Sedentário
3 × 6-8 ⇑ ⇑ ⇑ ⇑
Masuda 1999 11 (5 + 6); M; 28 anos 8 semanas, 5 × 90% → → → Não-treinado
et al. 2/semana 1 RM ⇑ ⇑ ⇑
9 × 80- → → →
40% ⇑ ⇑ ⇑
Bishop et al. 1999 21 (14 + 7 controle); F; 12 semanas, 2/semana → → → Ciclistas
18-42 anos 3 × 5-15 (15: 50%, ⇒ ⇒
8: 70%, 5: 80%)
Andersen 2000 9; M; 27 anos 3 meses, 3/semana, → → ↑ → ↓ Sedentário
e Aagaard 4-5 × 6-15 ⇒ ⇑ ⇑
Hortobágyi 2000 24 + 24 (12 + 12 +12 12 semanas, 3/semana ↑↑ ↑ ↓↓ Estudantes
et al. + 6 +6); M + F; 22 anos 4-6 × 8-12 (con, ⇑⇑ ⇑⇑ ⇑⇑ ativos
con/ecc, ecc)
Williamson 2000 7; M; 74 anos 12 semanas, 3/semana → → → Não treinado
et al. 3 × 10 ↑ ↓ → ↓ → MHC
Trappe et al. 2000 7; M; 74 anos 12 semanas, 3/semana ↑ → → MHC
3 × 10 ⇑⇑ ⇑ Não treinado
Hikida 2000 9 + 9 ctrl; M; 65 anos 16 semanas, 2/semana → ↑ → ↓
et al. 3 × 6-8 ⇑= ⇑> ⇑<
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 287

Tabela 14.3 (b) Estudos relacionados ao treinamento de força, nos quais foi registrado o conteúdo de isoforma de miosina de cadeia pesada
(MHC). O músculo vasto lateral foi analisado, exceto quando indicado. ↑ aumento na porcentagem; ↓ decréscimo na porcentagem; → porcen-
tagem inalterada

Isoformas MHC
Sujeitos; n; Duração, freqüência e
Autor Ano gênero; idade séries/repetições I Ia IIa/x Comentário

Adams et al. 1993 17 (13 + 4 controle); 19 semanas, 2/semana, 3-5 × 6-12 → ↑ ↓ “Saudável”
M; 36 anos
Fry et al. 1994 21 + 14 (1/2 8 semanas, 2/semana, 3 × 6-12 → ↑ ↓ Não treinado;
controle); M + F; Não demonstrou ↑
21 anos
Carroll et al. 1998 8 + 9 (11 + 6 6 semanas, 3/semana, 3 × 10, → ↑ → Estudantes
controle); M + F; 9 semanas, 2/semanas, 3 × ca 10 → → →
18 anos
Welle et al. 1999 5 + 3; M + F; Dia 1 e 4: 4 × 10, → → → RNAm;
62-75 anos dia 6: 5 × 10 biópsia dia 7
Andersen 2000 9; M; 27 anos 3 meses, 3/semana, 4-5 × 6-15 → ↑ ↓ Sedentário
e Aagaard
Hortobágyi et al. 2000 24 + 24 (12 + 12 12 semanas, 3/semana, 4-6 × ↑ → ↓ Após ausência
+12 + 6 + 6); M 8-12 (1 con, 2 con/ecc, 3 ecc) de sobrecarga
+ F; 22 anos no membro
Hikida et al. 2000 9 + 9 controle; M; 16 semanas, 2/semana, 3 × 6-8 → ↑ ↓
65 anos
Jürimäe et al. 1996 15 (11 + 4 controle); 12 semanas, 3/semana, 4 × 12 → → ↓ Tríceps braquial;
22 anos estudantes
Kadi e Thornell 1999 30; F; 39 anos 10 semanas, 3/semana, 3 × 10-12 ↓ ↑ ↓ Trapézio;
trabalhadores
sociais e de
cuidados à
saúde

fibras no músculo trapézio de mulheres de meia-ida- terminado por procedimentos histoquímicos de


de como efeito induzido por um programa de exercí- coloração para ATPase (Staron et al., 1990; Hather
cios de força constituído de três séries de 10 a 12 et al., 1991; Wang et al., 1993; Ploutz et al., 1994;
repetições em vários exercícios para membros supe- Kraemer et al., 1995), pelo conteúdo ou padrão das
riores é contraditória. Ademais, os resultados não são isoformas de cadeia pesada de miosina (Carroll et al.,
completamente explicados (Kadi e Thornell, 1999). 1998; Kadi e Thornell, 1999) ou empregando ambas
Posteriormente, dois estudos implementando 12 se- as técnicas (Adams et al., 1993; Fry et al., 1994;
manas de treinamento de força registraram aumento Andersen e Aagaard, 2000; Hikida et al., 2000;
na porcentagem de fibras tipo I em homens idosos Hortobágyi et al., 2000). Com isso, tanto o aumento
(Williamson et al., 2000) e em homens previamente da porcentagem do tipo IIa como o decréscimo das
imobilizados por gesso (Hortobágyi et al., 2000). Os fibras tipo IIb/IIx ocorreram simultaneamente. Ou-
resultados desses estudos simplesmente demonstram tros estudos registraram resultados similares, embo-
a plasticidade do músculo esquelético referente à al- ra não-significativos (Staron et al., 1991; Jüriäme et
teração das fibras tipo II para tipo I em resposta ao al., 1996; Green et al., 1999; Williamson et al., 2000)
treinamento de força empregado após meses ou anos (Tab. 14.3). Essas são respostas similares às obtidas
de desuso muscular. como efeito induzido pelo treinamento de endurance.
Vários estudos demonstram ou inferem altera- Não há aumento na porcentagem das fibras tipo I,
ção das fibras tipo IIb/IIx para as fibras tipo IIa ou quando se examina os estudos de sujeitos saudáveis
redução naquelas fibras que expressavam isoformas que demonstram marcado incremento, maior que
MHC IIb/IIx após o programa de treinamento de for- 7%, na área de secção transversa muscular ou da fi-
ça de diferentes intensidades e duração quando de- bra (Staron et al., 1990; Alway, 1991; Charette et al.,
288 PAAVO V. KOMI

1991; Hather et al., 1991; Staron et al., 1991; Wang Thornell, 1999). O decréscimo na MHC das fibras
et al., 1993; Hickson et al., 1994; Kraemer et al., 1995; IIb/IIx, seja com o treinamento de força ou de endu-
Lexell et al., 1995; Hepple et al., 1997; Green et al., rance, pode simplesmente ser explicado pelo “gene
1999; Masuda et al., 1999; Andersen e Aagaard, 2000; ausente” de MHC IIb/IIx expressado sem treinamento
Hikida et al., 2000), com exceção de um trabalho (Adams et al., 1993; Andersen et al., 1994). Então, os
(Trappe et al., 2000). Nos estudos em que foi detec- sujeitos que adotaram um estilo de vida sedentário
tada hipertrofia significativa, a porcentagem das fi- após um programa de treinamento de força demons-
bras IIb/IIx diminuiu (Staron et al., 1990; Hather et traram aumento no conteúdo de MHC IIx acima dos
al., 1991; Staron et al., 1991; Wang et al., 1993; níveis “normais” (Andersen e Aagaard, 2000), suge-
Kraemer et al., 1995; Green et al., 1999; Andersen e rindo potencialização na expressão dessa isoforma,
Aagaard, 2000; Hikida et al., 2000). Dois estudos fo- disparada pela abrupta interrupção do treinamento
ram incapazes de identificar tal resposta (Masuda et de força (Fig. 14.3).
al., 1999; Trappe et al., 2000). A descoberta de um aumento na porcentagem
Em fisiculturistas, os músculos vasto lateral (Es- das fibras tipo I como efeito induzido por treinamento
sén-Gustavsson e Tesch, 1990) e deltóide (Schantz e de força em homens idosos não é consistente (como
Källman, 1989) apresentam muito poucas fibras do vimos anteriormente; Williamson et al., 2000). Por
tipo IIb/IIx. Na realidade, os fisiculturistas e os le- isso, em sustentação aos estudos que examinaram po-
vantadores de potência demonstram maior porcen- pulações jovens e mais ativas, os resultados de vários
tagem de fibras do tipo IIa e menor do tipo IIb/IIx, registros não sugerem aumento ou decréscimo na
quando comparados aos grupos-controle (Klitgaard porcentagem das fibras tipo I em pessoas idosas sub-
et al., 1990; Kadi et al., 1999). Além disso, o número metidas ao treinamento de força (Frontera et al., 1988;
relativo de fibras classificadas como do tipo IIb por Brown et al., 1990; Charette et al., 1991; Lexell et al.,
meio da coloração da ATPase e expressando isofor- 1995). De modo similar ao registrado em populações
mas de cadeia pesada de miosina (MHC) tanto IIb jovens, há decréscimo da proporção relativa de fibras
como IIa diminuiu após o treinamento de força (Wi- IIb e aumento das fibras IIa (Hikida et al., 2000). À
lliamson et al., 2000). Do mesmo modo, o conteúdo luz dessas descobertas, o aumento na porcentagem
muscular total de MHC IIb/IIx também apresentou das fibras tipo I, sem nenhuma alteração na porcen-
redução (Adams et al., 1993; Fry et al., 1994; Kadi e tagem das fibras tipo IIa e IIb, ainda que se verifique

Figura 14.3 Distribuição relativa de


isoformas MHC antes e após o treinamento
de força crônico. Barra clara: pré-
treinamento; barra pintada: pós-
treinamento; barra sólida: pós-
destreinamento. O asterisco (*) indica que
a distribuição de MHC IIa é diferente (p <
0,05) daquela pós-destreinamento < pré-
treinamento < pós-treinamento. O duplo
asterisco (**) indica diferença (p < 0,01)
na distribuição do MHC IIX: pós-
destreinamento > pré-treinamento > pós-
treinamento com pesos. Os valores
representam média ± erro padrão (n = 9).
(de Andersen e Aagaard, 2000, com
permissão de John Wiley e Sons, Inc.)
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 289

um decréscimo nas fibras híbridas (Williamson et al., capilares por fibra do que nos músculos de sujeitos-
2000), não está completamente compreendido. Tam- controle (Kadi et al., 1999). Essa resposta, raramente
bém parece que a resposta ao treinamento de força examinada no músculo trapézio, poderia muito bem
não varia entre homens e mulheres independente- refletir diferentes respostas adaptativas entre os mús-
mente da idade (Staron et al., 1991; Staron et al., 1994; culos que transportam e não transportam peso. Os
Lexell et al., 1995; Kadi e Thornell, 1999). fisiculturistas contam com diferentes programas de
Em resumo, todas as evidências sugerem que os treinamento, mesmo assim, demonstram maior nú-
exercícios de força não produzem alteração das fi- mero de capilares por fibra e similar número de capi-
bras do tipo I para fibras do tipo II, embora os mús- lares por unidade de área quando comparados aos
culos de atletas de elite de potência e de força pos- não-atletas (Schantz, 1982; Tesch et al., 1984; Schantz
sam demonstrar preponderância de fibras tipo II e, e Källman, 1989; Essén-Gustavsson e Tesch, 1990).
certamente, elevado conteúdo de proteína rápida de- Então, à luz de maiores capilares por fibra, uma certa
vido à hipertrofia preferencial das fibras tipo II. Na proliferação capilar do músculo quadríceps femoral
realidade, similar ao exercício de endurance, os exercí- pode ocorrer nesses atletas. No entanto, no músculo
cios de força promovem aumento na proporção rela- tríceps braquial de fisiculturistas, um padrão similar
tiva das fibras tipo IIa às custas das fibras tipo IIb/IIx. àquele observado no músculo vasto lateral de levan-
A significância e as implicações funcionais dessas al- tadores tem sido demonstrado (Tesch et al., 1984).
terações ainda têm de ser demonstradas no desem- Compara-se o suprimento capilar dos músculos vas-
penho de força e de potência. to lateral e tríceps braquial de levantadores de peso e
fisiculturistas (Dudley et al., 1986). Em ambos os
Suprimento capilar músculos, os fisiculturistas demonstraram maior
número de capilares por fibra quando comparados
Inúmeros estudos demonstram que o suprimen- aos levantadores, indicando a proliferação capilar em
to capilar, expresso como capilares por fibra ou capi- músculos posturais e em não-posturais como efeito
lares por mm2, aumenta em resposta ao treinamento induzido pelo treinamento de força que enfatiza ele-
de endurance. Do mesmo modo, atletas treinados em vado número de repetições. Nenhuma alteração na
endurance demonstram maior densidade capilar que densidade capilar foi observada após um programa
indivíduos sedentários (ver Saltin e Gollnick, 1983). de treinamento de força de 6 a 12 semanas (Tesch et
Ao contrário do treinamento de força, o treinamento al., 1983; Lüthi et al., 1986; Tesch et al., 1990; Mc-
de endurance não induz hipertrofia muscular. O au- Call et al., 1996; Hepple et al., 1997; Green et al.,
mento no tamanho da fibra muscular per se diminui 1999).
a densidade capilar. Muitos programas eficazes de trei- Os programas de treinamento com duração en-
namento de força são associados com aumento na tre 16 e 24 semanas produziu nenhum (Wang et al.,
área de secção transversa muscular como resultado 1993; Hagerman et al., 2000) ou pequeno aumento
do aumento do tamanho da fibra muscular. Admi- na densidade capilar (Hather et al., 1991). No entan-
tindo que não há neoformação capilar, pode-se es- to, há muitas evidências sugerindo que o treinamen-
perar um decréscimo da densidade capilar proporcio- to de força de alta intensidade entre 16 e 24 semanas
nal ao aumento no tamanho da fibra muscular em promove proliferação capilar. O aumento no núme-
reposta ao treinamento de força. De acordo com isso, ro de capilares por fibra é menor do que o aumento
os levantadores de peso, assim como os levantadores no tamanho da fibra muscular (Frontera et al., 1990;
de potência olímpicos bem-sucedidos, demonstram Hather et al., 1991; Wang et al., 1993; McCall et al.,
menor densidade capilar do que sujeitos não-treina- 1996; Hepple et al., 1997; Green et al., 1999). Isso
dos (Tesch et al., 1984; Kadi et al., 1999). Então, en- pode sugerir que as adaptações de natureza, mas não
quanto o número de capilares por fibra do músculo de magnitude similar àquelas alcançadas pelo trei-
vasto lateral é similar em levantadores e em não-atle- namento de endurance, são possíveis com o treinamen-
tas, o número de capilares por unidade de área mus- to de força.
cular é significativamente menor em atletas (Fig. 14.4). Conjuntamente, parece que o treinamento de
No músculo trapézio de levantadores de potência, as força constituído de exercícios com elevada sobre-
fibras tipo I, mas não as do tipo II, apresentam mais carga e baixo número de repetições não produz neo-
290 PAAVO V. KOMI

em força demonstram reduzida densidade mitocon-


drial dos músculos treinados (MacDougall et al.,
1982; Alway et al., 1988). Embora essa descoberta
não constitua uma observação consistente (Staron
et al., 1984), ela se sustenta no fato de que a densida-
de mitocondrial diminui em paralelo com o aumen-
to na massa muscular em sujeitos que realizam trei-
namento de força durante 6 a 8 semanas (Fig. 14.5;
MacDougall et al., 1979; Lüthi et al., 1986). Em
outros estudos, a densidade mitocondrial permane-
ce inalterada após 20 semanas de treinamento, ape-
sar do aumento na área da fibra (Alway et al., 1991;
Wang et al., 1993). Caso o decréscimo na densidade
mitocondrial ocorra secundariamente à hipertrofia
muscular induzida pelo exercício, isso é coincidente
com a observação referida a seguir sobre atenuação
do conteúdo enzimático oxidativo nos músculos de
atletas treinados em força ou potência.

Figura 14.4 Área média da fibra, de capilares por fibra e de


densidade capilar do músculo vasto lateral em levantadores de
potência, levantadores de peso, não-atletas e atletas de
endurance (modificada de Tesch et al., 1984).

formação capilar. A densidade capilar diminui quan-


do ocorre hipertrofia pronunciada das fibras muscu-
lares. Os programas de treinamento mais intensos que
enfatizam sobrecarga moderadamente alta e maior
número de repetições por série podem induzir a pro-
liferação capilar, mas não necessariamente aumento
da sua densidade.
Figura 14.5 Densidade do volume mitocondrial do músculo
Densidade mitocondrial tríceps braquial antes e após seis meses de treinamento de
força; o tamanho da fibra muscular aumenta 30%. Os valores
para os atletas (fisiculturistas e levantadores de potência) são
Em pequenos mamíferos, a hipertrofia muscular
demonstrados para comparação. O asterisco (*) indica diferença
induzida pelo exercício parece estar associada ao au- dos valores obtidos após o treinamento de força de curto prazo
mento proporcional de volume mitocondrial (Seiden, (pós-treinamento) ou de longo prazo (atletas) (de MacDougall
1976). No entanto, os estudos com atletas treinados et al., 1979).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 291

Conteúdo enzimático eventos esportivos que requeiram velocidade, força


ou potência; por isso, o treinamento de força induz
Enzimas oxidativas aeróbias aumento significativo no conteúdo das enzimas ana-
eróbias não-glicolíticas. Há um incremento na mio-
O treinamento de força que emprega elevadas cinase em resposta ao treinamento explosivo ou de
sobrecargas não aumenta a atividade das enzimas força, embora essa não tenha sido uma descoberta
envolvidas no metabolismo oxidativo (Komi et al., consistente (Thorstensson et al., 1976a; Komi et al.,
1982; Houston et al., 1983; Tesch et al., 1987; Tesch 1982). Esses estudos registraram que nenhum au-
et al.,1990; Ploutz et al., 1994; Green et al., 1999). mento no conteúdo de ATPase ou de creatina cinase
Então, o conteúdo de enzimas que favorecem a oxida- poderia melhorar o desempenho. No entanto, vários
ção lipídica, como a succinato desidrogenase, a mala- estudos não demonstraram evidência de aumento do
to desidrogenase, a citrato sintase ou a 3-hidroxiacil- conteúdo de enzimas anaeróbias não-glicolíticas em
CoA desidrogenase (HAD), permanece inalterado ou resposta ao treinamento de força (Thorstensson et
mesmo diminui em resposta a programas que indu- al., 1976b; Häkkinen et al., 1981; Houston et al., 1983;
zem aumento substancial da força muscular. Esses re- Tesch et al., 1987; Tesch et al., 1990; Wang et al.,
sultados são respaldados pela atividade normal ou “sub- 1993). A atividade da miosina foi mais elevada nas
normal” das enzimas oxidativas em atletas treinados fibras do tipo II em levantadores/fisiculturistas do que
em força ou potência (Gollnick et al., 1972; Apple e nos sujeitos do grupo-controle. A atividade da mio-
Tesch, 1989; Schantz e Källman, 1989; Tesch et al., cinase das fibras tipo I, entretanto, foi comparável nos
1989a; Essén-Gustavsson e Tesch, 1990). Tal sistema- dois grupos (Tesch et al., 1989a). Mas os fisiculturis-
tização se materializa mesmo que o estabelecimento tas demonstraram maior conteúdo enzimático das fi-
de treinamento de força em populações idosas (Fron- bras tipo II na comparação com levantadores. Esses
tera et al., 1990) ou sedentárias (Wang et al., 1990) resultados fornecem evidência de que algumas adap-
possa produzir resposta diferencial, por exemplo, au- tações metabólicas são sensíveis ao protocolo de exer-
mento na atividade enzimática oxidativa. cícios de força empregado.
A diferença na atividade enzimática entre as fi-
bras de contração rápida e lenta, tipicamente obser-
Enzimas anaeróbias glicolíticas
vada em sujeitos não-treinados e treinados em endu-
rance, também estava presente em atletas treinados Os programas de treinamento de endurance nor-
em força. No entanto, nesses indivíduos, a atividade malmente não incrementam a atividade enzimática
da citrato sintase e da HAD das fibras de contração anaeróbia glicolítica. Para produzir tais alterações, o
lenta foi menor do que nos sedentários. Curiosamen- exercício deve ser realizado em intensidade que ex-
te, os fisiculturistas apresentavam maior atividade da ceda a potência aeróbia máxima (ver Saltin e Gollni-
citrato sintase nas fibras de contração rápida do que ck, 1983). As atividades da fosfofrutocinase ou da lac-
os levantadores de peso e os levantadores de potên- tato desidrogenase não se alteram com o treinamento
cia de nível olímpico. Por isso, o elevado número de de força de alta intensidade (Thorstensson et al.,
repetições praticado por fisiculturistas obviamente 1976a; Komi et al., 1982; Houston et al., 1983; Tesch
produz adaptações referentes ao metabolismo aeró- et al., 1987; Tesch et al., 1990; Wang et al., 1993;
bio mais favoráveis do que os programas de treina- Bishop et al., 1999). No entanto, os atletas treinados
mento de força com alta sobrecarga e baixo número em força possuem atividade ligeiramente maior que
de repetições geralmente praticados por levantado- indivíduos sedentários, por exemplo, da lactato desi-
res (Tesch, 1992). drogenase das fibras de contração rápida (Tesch
et al., 1989a). Essa diferença pode simplesmente re-
fletir o uso limitado das fibras de contração rápida
Enzimas anaeróbias não-glicolíticas
dos indivíduos sedentários, e não uma resposta es-
O elevado conteúdo de enzimas que favorecem a pecífica ao treinamento, uma vez que os atletas trei-
contratilidade ou o rápido reabastecimento de ATP, nados em força ou em endurance e os “não-atletas”
por exemplo, ATPase, creatina cinase ou miocinase, moderadamente ativos demonstram atividade simi-
pode ter implicações fisiologicamente importantes em lar da lactato desidrogenase tanto das fibras de con-
292 PAAVO V. KOMI

tração lenta como das fibras de contração rápida No entanto, três meses de treinamento do quadrí-
(Apple e Tesch, 1989). Do mesmo modo, a atividade ceps femoral realizado três vezes por semana e cons-
da fosfofrutocinase de amostras teciduais mistas de tituído de 48 a 60 ações musculares voluntárias máxi-
um músculo não-postural, por exemplo, o deltóide, mas não alteraram os estoques de ATP e fosfocreatina
foi similar entre fisiculturistas, nadadores e estudan- (Tesch et al., 1990). Resultados que corroboram essa
tes fisicamente ativos (Schantz e Källman, 1989). informação foram subseqüentemente registrados
após programas de treinamento de duração e inten-
Níveis de substrato muscular sidade similares (Goreham et al., 1999; Volek et al.,
1999). Parece que essa ausência de aumento no con-
teúdo de fosfagênios independe da hipertrofia (Tes-
Conteúdo de glicogênio
ch et al., 1990; Goreham et al., 1999; Volek et al.,
A concentração de glicogênio muscular em re- 1999). Além disso, níveis normais de ATP e fosfocrea-
pouso aumenta em resposta ao treinamento de endu- tina foram observados em atletas com hipertrofia
rance. Essa adaptação também parece ocorrer como muscular significativa no músculo vasto lateral
efeito induzido pelo treinamento de força. O con- (Tesch et al., 1986). Pode-se somente especular se
teúdo de glicogênio aumentou em 35% no músculo essas descobertas conflitantes refletem respostas di-
tríceps braquial de indivíduos que treinaram por cinco retas entre os músculos posturais (Goreham et al.,
meses usando sobrecarga variável (MacDougall et al., 1999) e não-posturais (MacDougall et al., 1977; Ma-
1977). De modo similar, o músculo vasto lateral de- cDougall et al., 1979). No entanto, diante das adap-
monstrou um aumento maior que 50% no conteúdo tações no conteúdo de ATP e de fosfocreatina essas
de glicogênio muscular do que aquele geralmente alterações são sutis conseqüências do treinamento
observado em não-atletas (Tesch et al., 1986). Ao con- de força, .
trário dessas observações, o conteúdo de glicogênio
não aumentou em resposta a três meses de treina-
Conteúdo de lipídeos
mento do quadríceps femoral (Tesch et al., 1990;
Goreham et al., 1999). Embora possa requerer um Não está claro se o treinamento de endurance au-
programa de exercícios de maior intensidade e dura- menta o conteúdo de lipídeos estocados no músculo
ção para promover o aumento no conteúdo de glico- (ver Saltin e Gollnick, 1983). De modo similar, tam-
gênio no estado de repouso, a economia de glicogê- bém não está claro se o treinamento de força estimu-
nio, como resultado do treinamento de força, tem sido la aumento no conteúdo lipídico global. O conteúdo
registrada (Goreham et al., 1999). Então, menos glico- de triglicerídeos do músculo quadríceps femoral de
gênio foi utilizado durante uma sessão padrão de exer- fisiculturistas e de indivíduos não-treinados não é di-
cício aeróbio após três meses de treinamento de força. ferente (Essén-Gustavsson e Tesch, 1990). Os fisi-
culturistas mostraram fração de volume lipídico si-
milar à de sedentários ou controles ativos (Alway
Conteúdo de ATP e de fosfocreatina
et al., 1988). As descobertas de menor conteúdo lipí-
As sessões de exercícios de força diminuem os dico no quadríceps femoral de levantadores (Staron
estoques de ATP e de fosfocreatina (como vimos an- et al., 1988) e um aumento na densidade lipídica do
teriormente) com ressíntese parcial ou total entre as músculo tríceps (MacDougall et al., 1979), mas não
sessões (Tesch et al., 1989b). Ainda carece de demons- do músculo quadríceps (Lüthi et al., 1986; Wang
tração o fato de essa resposta metabólica aguda for- et al., 1993), em resposta ao treinamento de força po-
necer o estímulo adaptativo para o aumento da ca- dem implicar respostas diferentes entre os músculos.
pacidade de estocagem de compostos fosfato de alta Por sua vez, o tipo de treinamento de força pode afe-
energia. Incremento substancial nos níveis de fosfa- tar as adaptações subseqüentes.
gênio em repouso do músculo tríceps braquial tem
sido demonstrado após cinco meses de treinamento Conteúdo de mioglobina
de força que produziu marcado aumento na força e
no tamanho das fibras dos extensores do cotovelo A mioglobina desempenha um papel importante
(MacDougall et al., 1977; MacDougall et al., 1979). no transporte de oxigênio no músculo esquelético.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 293

Ela atua com um elemento facilitador da extração de os resultados obtidos em estudos que examinam, por
oxigênio. Embora as fibras de contração lenta tipica- exemplo, crianças pré-púberes, mulheres não-treina-
mente contenham mais mioglobina do que as fibras das ou populações idosas deveriam ser interpretados
de contração rápida, o treinamento de endurance não com cuidado e não ser considerados como refletindo
promove aumento do conteúdo de mioglobina no respostas “clássicas” ao treinamento de força de alta
músculo esquelético humano (ver Saltin e Gollnick, intensidade. De modo similar, as adaptações em atle-
1983). Como o conteúdo de mioglobina aumenta tas treinados com exercícios de força podem não ser
paralelamente ao decréscimo no conteúdo enzimáti- necessariamente aplicáveis aos programas de treina-
co oxidativo, secundário à atrofia muscular induzida mento de força de curto prazo.
pela imobilização (Jansson et al., 1988), parece que o Algumas das conclusões referentes às adaptações
conteúdo de mioglobina diminui com o treinamento musculoesqueléticas em resposta ao treinamento de
de força. Por isso, há uma tendência de atenuação do força originam-se do fato de que os resultados têm
conteúdo de mioglobina nos programas de curto pra- sido reportados de estudos nos quais o treinamento
zo que utilizam estratégias de sobrecarga de fisicul- realizado é denominado como “força”, “peso” ou “re-
turistas e de levantadores de peso em indivíduos se- sistência de alta intensidade”, embora não tenha in-
dentários por oito semanas (Masuda et al., 1999). Em duzido aumento significativo na força ou na massa
outro estudo, o conteúdo de mioglobina foi mensu- muscular. As prescrições de exercício para atletas,
rado no músculo vasto lateral antes e após 16 sema- indivíduos fisicamente ativos ou inativos, populações
nas de treinamento de força que induziu 20% de idosas ou ainda para aqueles indivíduos submetidos
aumento no tamanho da fibra muscular (Tesch et al., à reabilitação devem considerar tais informações.
dados não-publicados). Os dados sugerem que a hi-
pertrofia muscular ocorreu proporcionalmente ao de-
créscimo correspondente no conteúdo de mioglobi- Referências
na. O tamanho da fibra muscular diminuiu após um
período de destreinamento, sendo esse efeito acom-
Adams, G.R., Hather, B.M., Baldwin, K.M. & Dudley, G.A.
panhado de aumento no conteúdo de mioglobina.
(1993) Skeletal muscle myosin heavy chain compositi-
Esses resultados sugerem que a adesão a um progra- on and resistance training. Journal of Applied Physiology
ma de exercícios de força a longo prazo pode reduzir 74(2), 911-915.
o potencial do músculo esquelético em extrair oxi- Alway, S.E. (1991) Is fiber mitochondrial volume density a
gênio. Tal efeito poderia provavelmente diminuir a good indicator of muscle fatigability to isometric exer-
capacidade aeróbia. cise? Journal of Applied Physiology 70(5), 2111-2119.
Alway, S.E., MacDougall, J.D., Sale, D.G., Sutton, J.R. &
McComas, A.J. (1988) Functional and structural adap-
Conclusões tations in skeletal muscle of trained athletes. Journal of
Applied Physiology 64(3), 1114-1120.
Andersen, J.L. & Aagaard, P. (2000) Myosin heavy chain
O treinamento de força promove hipertrofia. Ain- IIX overshoot in human skeletal muscle. Muscle and
da que poucas, algumas adaptações metabólicas fa- Nerve 23(7), 1095-1104.
voráveis ocorrem em resposta ao treinamento crôni- Andersen, J.L., Klitgaard, H. & Saltin, B. (1994) Myosin
co. A ocorrência e a magnitude desses efeitos são heavy chain isoforms in single fibres from m. vastus
influenciadas pelo tipo, pela intensidade e pela dura- lateralis of sprinters: influence of training. Acta Physio-
ção do treinamento. Está claro, por exemplo, que as logica Scandinavica 151(2), 135-142.
adaptações metabólicas são diferentes quando se Apple, F.S. & Tesch, P.A. (1989) CK and LD isozymes in
compara exercícios de alta sobrecarga e baixo núme- human single muscle fibers in trained athletes. Journal
of Applied Physiology 66(6), 2717-2720.
ro de repetições com exercícios de baixa sobrecarga
Asmussen, E. (1953) Positive and negative muscular work.
e alto número de repetições ou se o programa é de Acta Physiologica Scandinavica 28(4), 364-382.
duração e intensidade suficientes para induzir hiper- Bishop, D., Jenkins, D.G., Mackinnon, L.T., McEniery, M.
trofia. & Carey, M.F. (1999) The effects of strength training
Do mesmo modo, o estado inicial de treinamen- on endurance performance and muscle characteristics.
to influencia as respostas de treinamento. Portanto, Medicine and Science in Sports and Exercise 31(6), 886-891.
294 PAAVO V. KOMI

Brown, A.B., McCartney, N. & Sale, D.G. (1990) Positive der men. I. Strength, cardiovascular, and metabolic
adaptations to weight-lifting training in the elderly. Jour- responses. Journal of Gerontological A Biol Science Medical
nal of Applied Physiology 69(5), 1725-1733. Science 55(7), B336-B346.
Carroll, T.J., Abernethy, P.J., Logan, P.A., Barber, M. & Häkkinen, K., Komi, P.V. & Tesch, P.A. (1981) Effect of
McEniery, M.T. (1998) Resistance training frequency: combined concentric and eccentric strength training
strength and myosin heavy chain responses to two and and detraining on force-time, muscle fiber and meta-
three bouts per week. European Journal of Applied Physio- bolic characteristics of leg extensor muscles. Scandina-
logy 78(3), 270-275. vian Journal of Sports Science 3, 50-58.
Charette, S.L., McEvoy, L., Pyka, G. et al. (1991) Muscle Hather, B.M., Tesch, P.A., Buchanan, P. & Dudley, G.A.
hypertrophy response to resistance training in older (1991) Influence of eccentric actions on skeletal mus-
women. Journal of Applied Physiology 70(5), 1912-1916. cle adaptations to resistance training. Acta Physiologica
Dudley, G.A., Tesch, P.A., Fleck, S.J., Kraemer, W.J. & Scandinavica 143(2), 177-185.
Baechle, T.R. (1986) Plasticity of human muscle with Hepple, R.T., Mackinnon, S.L., Thomas, S.G., Goodman,
resistance training. Anatomical Record 214(4), 451. J.M. & Plyley, M.J. (1997) Quantitating the capillary
Dudley, G.A., Tesch, P.A., Harris, R.T., Golden, C.L. & supply and the response to resistance training in older
Buchanan, P. (1991) Influence of eccentric actions on men. Pflügers Archiv 433(3), 238-244.
the metabolic cost of resistance exercise. Aviation Space Hickson, R.C., Hidaka, K., Foster, C., Falduto, M.T. & Chat-
and Environmental Medicine 62(7), 678-682. terton, R.T. (1994) Successive time courses of strength
Essén-Gustavsson, B. & Tesch, P.A. (1990) Glycogen and development and steroid hormone responses to
triglyceride utilization in relation to muscle metabolic heavy-resistance training. Journal of Applied Physiology
characteristics in men performing heavy-resistance exer- 76(2), 663-670.
cise. European Journal of Applied Physiology and Occupatio- Hikida, R.S., Staron, R.S., Hagerman, F.C. et al. (2000) Effects
nal Physiology 61(1-2), 5-10. of high-intensity resistance training on untrained ol-
Frontera, W.R., Meredith, C.N., O’Reilly, K.P., Knuttgen, der men. II. Muscle fiber characteristics and nucleo-
H.G. & Evans, W.J. (1988) Strength conditioning in cytoplasmic relationships. Journal of Gerontological A Bio-
older men: skeletal muscle hypertrophy and impro- logical Science Medical Science 55(7), B347-B354.
ved function. Journal of Applied Physiology 64(3), 1038- Hortobágyi, T., Dempsey, L., Fraser, D. et al. (2000) Changes
1044. in muscle strength, muscle fibre size and myofibrillar gene
Frontera, W.R., Meredith, C.N., O’Reilly, K.P. & Evans, W.J. expression after immobilization and retraining in humans.
(1990) Strength training and determinants of VO2max Journal of Physiology (London) 524 (Part 1), 293-304.
in older men. Journal of Applied Physiology 68(1), 329-333. Houston, M.E., Froese, E.A., Valeriote, S.P., Green, H.J.
Fry, A.C., Allemeier, C.A. & Staron, R.S. (1994) Correlation & Ranney, D.A. (1983) Muscle performance, morpho-
between percentage fiber type area and myosin heavy logy and metabolic capacity during strength training
chain content in human skeletal muscle. European Jour- and detraining: a one leg model. European Journal of
nal of Applied Physiology 68(3), 246-251. Applied Physiology and Occupational Physiology 51(1), 25-
Gollnick, P.D., Armstrong, R.B., Saubert, C.W., Piehl, K. & 35.
Saltin, B. (1972) Enzyme activity and fiber composition Jansson, E., Sylven, C., Arvidsson, I. & Eriksson, E. (1988)
in skeletal muscle of untrained and trained men. Jour- Increase in myoglobin content and decrease in oxidati-
nal of Applied Physiology 33(3), 312-319. ve enzyme activities by leg muscle immobilization in
Gollnick, P.D., Karlsson, J., Piehl, K. & Saltin, B. (1974) man. Acta Physiologica Scandinavica 132(4), 515-517.
Selective glycogen depletion in skeletal muscle fibres Jürimäe, J., Abernethy, P.J., Blake, K. & McEniery, M.T.
of man following sustained contractions. Journal of Phy- (1996) Changes in the myosin heavy chain isoform pro-
siology 241(1), 59-67. file of the triceps brachii muscle following 12 weeks of
Goreham, C., Green, H.J., Ball-Burnett, M. & Ranney, D. resistance training. European Journal of Applied Physiology
(1999) High-resistance training and muscle metabolism 74(3), 287-292.
during prolonged exercise. American Journal of Physiology Kadi, F. & Thornell, L.E. (1999) Training affects myosin
276(3 Part 1), E489-E496. heavy chain phenotype in the trapezius muscle of wo-
Green, H., Goreham, C., Ouyang, J., Ball-Burnett, M. & men. Histochemistry and Cell Biology 112(1), 73-78.
Ranney, D. (1999) Regulation of fiber size, oxidative Kadi, F., Eriksson, A., Holmner, S., Butler-Browne, G.S. &
potential, and capillarization in human muscle by re- Thornell, L.E. (1999) Cellular adaptation of the trape-
sistance exercise. American Journal of Physiology 276(2 Part zius muscle in strength-trained athletes. Histochemistry
2), R591-R596. and Cell Biology 111(3), 189-195.
Hagerman, F.C., Walsh, S.J., Staron, R.S. et al. (2000) Effects Keul, J., Haralambie, G., Bruder, M. & Gottstein, H.J. (1978)
of high-intensity resistance training on untrained ol- The effect of weight lifting exercise on heart rate and
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 295

metabolism in experienced weight lifters. Medicine and MacDougall, J.D., Sale, D.G., Elder, G.C. & Sutton, J.R.
Science in Sports 10(1), 13-15. (1982) Muscle ultrastructural characteristics of elite
King, D.S., Sharp, R.L., Vukovich, M.D. et al. (1999) Effect powerlifters and bodybuilders. European Journal of Ap-
of oral androstenedione on serum testosterone and plied Physiology and Occupational Physiology 48(1), 117-126.
adaptations to resistance training in young men: a ran- MacDougall, J.D., Ray, S., Sale, D.G., McCartney, N., Lee,
domized controlled trial. Journal of the American Medical P. & Garner, S. (1999) Muscle substrate utilization and
Association 281(21), 2020-2028. lactate production. Canadian Journal of Applied Physiolo-
Klitgaard, H., Zhou, M. & Richter, E.A. (1990) Myosin gy 24(3), 209-215.
heavy chain composition of single fibres from m. bi- Masuda, K., Choi, J.Y., Shimojo, H. & Katsuta, S. (1999)
ceps brachii of male body builders. Acta Physiologica Scan- Maintenance of myoglobin concentration in human
dinavica 140(2), 175-180. skeletal muscle after heavy resistance training. Europe-
Komi, P.V., Karlsson, J., Tesch, P.A., Suominen, H. & Hei- an Journal of Applied Physiology and Occupational Physiolo-
kkinen, E. (1982) Effects of heavy resistance and gy 79(4), 347-352.
explosive-type strength training methods on mechani- Pascoe, D.D., Costill, D.L., Fink, W.J., Robergs, R.A. & Za-
cal, functional and metabolic aspects of performance. chwieja, J.J. (1993) Glycogen resynthesis in skeletal
In: Exercise and Sport Biology: International Series on Sports muscle following resistive exercise. Medicine and Science
Sciences (ed. P.V. Komi) Vol. 12, 90-102. Human Kine- in Sports and Exercise 25(3), 349-354.
tics, Champaign, Illinois. Ploutz, L.L., Tesch, P.A., Biro, R.L. & Dudley, G.A. (1994)
Kraemer, W.J., Noble, B.J., Clark, M.J. & Culver, B.W. (1987) Effect of resistance training on muscle use during exer-
Physiologic responses to heavy-resistance exercise with cise. Journal of Applied Physiology 76(4), 1675-1681.
very short rest periods. International Journal of Sports Prince, F.P., Hikida, R.S. & Hagerman, F.C. (1976) Human
Medicine 8(4), 247-252. muscle fiber types in power lifters, distance runners and
Kraemer, W.J., Patton, J.F., Gordon, S.E. et al. (1995) Com- untrained subjects. Pflügers Archiv 363(1), 19-26.
patibility of high-intensity strength and endurance trai- Robergs, R.A., Pearson, D.R., Costill, D.L. et al. (1991)
ning on hormonal and skeletal muscle adaptations. Jour- Muscle glycogenolysis during differing intensities of
nal of Applied Physiology 78(3), 976-989. weight-resistance exercise. Journal of Applied Physiology
Larsson, L. & Tesch, P.A. (1986) Motor unit fibre density 70(4), 1700-1706.
in extremely hypertrophied skeletal muscles in man. Saltin, B. & Gollnick, P.D. (1983) Skeletal muscle adapta-
Electrophysiological signs of muscle fibre hyperplasia. bility: significance for metabolism and performance. In:
European Journal of Applied Physiology and Occupational Handbook of Physiology (eds L. Peachy, R. Adrian & S.R.
Physiology 55(2), 130-136. Gerzer), pp. 555-631. American Physiological Society,
Lexell, J., Downham, D.Y., Larsson, Y., Bruhn, E. & Mor- Bethesda.
sing, B. (1995) Heavy-resistance training in older Scan- Schantz, P. (1982) Capillary supply in hypertrophied hu-
dinavian men and women: short- and long-term effects man skeletal muscle. Acta Physiologica Scandinavica 114(4),
on arm and leg muscles. Scandinavian Journal of Medicine 635-637.
and Science in Sports 5(6), 329-341. Schantz, P.G. & Källman, M. (1989) NADH shuttle enzy-
Lüthi, J.M., Howald, H., Claassen, H., Rosler, K., Vock, P. mes and cytochrome b5 reductase in human skeletal
& Hoppeler, H. (1986) Structural changes in skeletal muscle: effect of strength training. Journal of Applied Phy-
muscle tissue with heavy-resistance exercise. Internatio- siology 67(1), 123-127.
nal Journal of Sports Medicine 7(3), 123-127. Seiden, D. (1976) Quantitative analysis of muscle cell chan-
McCall, G.E., Byrnes, W.C., Dickinson, A., Pattany, P.M. & ges in compensatory hypertrophy and work-induced
Fleck, S.J. (1996) Muscle fiber hypertrophy, hyperpla- hypertrophy. American Journal of Anatomy 145(4), 459-465.
sia, and capillary density in college men after resistance Staron, R.S., Hikida, R.S., Hagerman, F.C., Dudley, G.A. &
training. Journal of Applied Physiology 81(5), 2004-2012. Murray, T.F. (1984) Human skeletal muscle fiber type
MacDougall, J.D., Ward, G.R., Sale, D.G. & Sutton, J.R. adaptability to various workloads. Journal of Histochemis-
(1977) Biochemical adaptation of human skeletal mus- try and Cytochemistry 32(2), 146-152.
cle to heavy resistance training and immobilization. Jour- Staron, R.S., Malicky, E.S., Leonardi, M.J., Falkel, J.E., Ha-
nal of Applied Physiology 43(4), 700-703. german, F.C. & Dudley, G.A. (1990) Muscle hypertro-
MacDougall, J.D., Sale, D.G., Moroz, J.R., Elder, G.C., Sut- phy and fast fiber type conversions in heavy resistance-
ton, J.R. & Howald, H. (1979) Mitochondrial volume trained women. European Journal of Applied Physiology
density in human skeletal muscle following heavy re- 60(1), 71-79.
sistance training. Medicine and Science in Sports 11(2), Staron, R.S., Leonardi, M.J., Karapondo, D.L. et al. (1991)
164-166. Strength and skeletal muscle adaptations in heavy-
296 PAAVO V. KOMI

resistance-trained women after detraining and retrai- Tesch, P.A., Thorsson, A. & Colliander, E.B. (1990) Effects
ning. Journal of Applied Physiology 70(2), 631-640. of eccentric and concentric resistance training on ske-
Staron, R.S., Karapondo, D.L., Kraemer, W.J. et al. (1994) letal muscle substrates, enzyme activities and capillary
Skeletal muscle adaptations during early phase of supply. Acta Physiologica Scandinavica 140(4), 575-580.
heavy-resistance training in men and women. Journal of Tesch, P.A., Ploutz-Snyder, L.L., Yström, L., Castro, M.J.
Applied Physiology 76(3), 1247-1255. & Dudley, G.A. (1998) Skeletal muscle glycogen loss
Tesch, P.A. (1992) Training for Bodybuilding. In: Strength evoked by resistance exercise. Journal of Strength and Con-
and Power in Sport (ed. P.V. Komi), 1st edn, pp. 370-380. ditioning Research 12(2), 67-73.
Blackwell Science Ltd, Oxford. Thorstensson, A., Hultén, B., von Dobeln, W. & Karlsson,
Tesch, P.A. & Karlsson, J. (1985) Muscle fiber types and J. (1976a) Effect of strength training on enzyme activi-
size in trained and untrained muscles of elite athletes. ties and fibre characteristics in human skeletal muscle.
Journal of Applied Physiology 59(6), 1716-1720. Acta Physiologica Scandinavica 96(3), 392-398.
Tesch, P.A. & Larsson, L. (1982) Muscle hypertrophy in Thorstensson, A., Karlsson, J., Viitasalo, J.H., Luhtanen, P.
bodybuilders. European Journal of Applied Physiology and & Komi, P.V. (1976b) Effect of strength training on EMG
Occupational Physiology 49(3), 301-306. of human skeletal muscle. Acta Physiologica Scandinavica
Tesch, P.A., Hjort, H. & Balldin, U.I. (1983) Effects of 98(2), 232-236.
strength training on G tolerance. Aviation Space and En- Trappe, S., Williamson, D., Godard, M., Porter, D., Row-
vironmental Medicine 54(8), 691-695. den, G. & Costill, D. (2000) Effect of resistance training
Tesch, P.A., Thorsson, A. & Kaiser, P. (1984) Muscle ca- on single muscle fiber contractile function in older men.
pillary supply and fiber type characteristics in weight Journal of Applied Physiology 89(1), 143-152.
and power lifters. Journal of Applied Physiology 56(1), Volek, J.S., Duncan, N.D., Mazzetti, S.A. et al. (1999) Per-
35-38. formance and muscle fiber adaptations to creative sup-
Tesch, P.A., Colliander, E.B. & Kaiser, P. (1986) Muscle plementation and heavy resistance training. Medicine and
metabolism during intense, heavy-resistance exercise. Science in Sports and Exercise 31(8), 1147-1156.
European Journal of Applied Physiology and Occupational Wang, N., Hikida, R.S., Staron, R.S. & Simoneau, J.A. (1993)
Physiology 55(4), 362-366. Muscle fiber types of women after resistance training-
Tesch, P.A., Komi, P.V. & Häkkinen, K. (1987) Enzymatic quantitative ultrastructure and enzyme activity. Pflügers
adaptations consequent to long-term strength training. Archiv 424(5-6), 494-502.
International Journal of Sports Medicine 8 (Suppl. 1), Williamson, D.L., Godard, M.P., Porter, D.A., Costill, D.L.
66-69. & Trappe, S.W. (2000) Progressive resistance training
Tesch, P.A., Thorsson, A. & Essén-Gustavsson, B. (1989a) reduces myosin heavy chain coexpression in single
Enzyme activities of FT and ST muscle fibers in muscle fibers from older men. Journal of Applied Physio-
heavy-resistance trained athletes. Journal of Applied Phy- logy 88(2), 627-633.
siology 67(1), 83-87. Yström, L. & Tesch, P.A. (1996) Effect of acute endurance
Tesch, P.A., Thorsson, A. & Fujitsuka, N. (1989b) Creatine exercise on muscle glycogen content and performance
phosphate in fiber types of skeletal muscle before and during subsequent resistance exercise. Medicine and
after exhaustive exercise. Journal of Applied Physiology Science in Sports and Exercise 28 (5 Suppl.), S22, no. 128.
66(4), 1756-1759.
Capítulo 15
Adaptação neural ao
treinamento de força
DIGBY G. SALE

Introdução lar dinâmica (concêntrica) que requer ativação dos


músculos dos membros superiores, inferiores e do
O desempenho de força representa o produto de tronco. Quanto maior a probabilidade de incapaci-
uma parceria entre os músculos e o sistema nervoso. dade inicial para se adequar ao estímulo, maiores são
Os músculos são o “motor” que gera a força, enquan- as exigências ao sistema nervoso como controlador
to o sistema nervoso atua como o controle do motor do motor. Por sua vez, os estímulos mais complexos
(Fig. 15.1). O aumento na força observado em um induzem maiores adaptações neurais para aumentar
programa de treinamento poderia ser o resultado de a probabilidade de sucesso. O principal objetivo do
alterações (adaptações) nos músculos, o motor, ou no treinamento é, ao confrontar-se com esses estímu-
sistema nervoso, o controlador do motor. As altera- los, gerar a maior força e/ou taxa de produção de for-
ções induzidas pelo treinamento no último aspecto, ça possível durante determinado movimento (Fig.
referidas como adaptações neurais, representam o ob- 15.2). Este capítulo focaliza o esquema demonstrado
jeto deste Capítulo (ver Bawa, 2002; Enoka, 1997; na Figura 15.2. Outras formas de adaptação neural,
Moritani, 1993; além dos Capítulos 16 e 17 desta edi- como alteração na velocidade de condução do nervo
ção para outras revisões sobre adaptação neural). motor (p. ex., Kamen et al., 1984; Sleivert et al., 1995)
O desempenho de força representa um ato mo- e na função reflexa (Häkkinen e Komi, 1983; Casa-
tor que estimula o sistema nervoso. Entre os desafios bona et al., 1990; ver Enoka, 1997; e os Capítulos 10,
estão ativar completamente os músculos motores 17 e 24 para revisão), não serão consideradas neste
primários (agonistas). Um segundo desafio é ativar capítulo.
adequadamente os músculos auxiliares (sinergistas),
assim como os músculos que se opõem à ação dos
agonistas (antagonistas). Ambos os desafios devem Incremento da ativação dos
responder a um feedback sensorial dos músculos e das agonistas
articulações, agindo na forma de reflexos ou como
percepção consciente. Os estímulos podem variar em A adaptação neural mais óbvia é o aumento da
complexidade. Um exemplo de estímulo relativamen- ativação dos músculos agonistas (Fig. 15.3). Esse
te fácil poderia ser uma ação isométrica unilateral aumento poderia ocorrer de três maneiras. Primeiro,
(somente um membro) e uniarticular dos extensores o treinamento permitiria o recrutamento ou o recru-
do cotovelo na posição sentada. Um exemplo de es- tamento mais consistente de unidades motoras de
tímulo mais difícil é o exercício de desenvolvimen- limiar mais elevado (parte superior da Fig. 15.3). De
to,* que representa uma ação bilateral e multiarticu- acordo com o princípio do tamanho de recrutamen-
to das unidades motoras (Henneman et al., 1965), as
unidades motoras de alto limiar deveriam consistir
*N.de R.T. O autor refere-se ao exercício realizado com barra, de grandes motoneurônios que inervam as fibras
também denominado de pressão de ombros com barra. musculares do tipo II (contração rápida). É impor-
298 PAAVO V. KOMI

Figura 15.2 As adaptações neurais ao treinamento de força


podem ocorrer em forma de aumento da ativação dos músculos
agonistas, ativação mais apropriada dos músculos sinergistas
(“coordenação”) e menor ativação (relativa) dos músculos
antagonistas. Essas adaptações agiriam para aumentar a força
e/ou a taxa de produção de força.

no tríceps braquial, somente em torno de 5% das


unidades motoras são do tipo IIb (IIx), mas esse pe-
queno número de unidades motoras contém cerca
de 20% do número total de fibras musculares no
músculo (Enoka e Fuglevand, 2001). A segunda ma-
neira de incrementar a ativação ocorre pelo aumento
da freqüência de disparo das unidades motoras (par-
te intermediária da Fig. 15.3). Uma unidade motora
pode variar a sua produção de força aproximadamente
10 vezes, característica conhecida como relação for-
ça-freqüência, através do aumento ou do decrésci-
mo da freqüência de disparo (também referida como
freqüência de descarga ou taxa de codificação). A fre-
qüência de disparo da unidade motora observada em
Figura 15.1 Controle muscular realizado pelo sistema contrações voluntárias máximas parece ser menor do
nervoso. O desempenho voluntário da força é determinado não que a necessária para produzir força máxima (Enoka
somente pela quantidade e qualidade da massa muscular e Fuglevand, 2001; cf. Bellemare et al., 1983). O trei-
envolvida, o “motor”, mas também pela capacidade do sistema namento pode permitir freqüências de disparo con-
nervoso, o operador do “motor”, de ativar eficazmente os
músculos. As adaptações do sistema nervoso ao treinamento de
sistente e suficientemente altas para atingir um platô
força podem melhorar o controle dos músculos para na relação força-freqüência, em que a força é máxi-
incrementar a força máxima. Essas adaptações “neurais” ma. A terceira maneira de aumentar a ativação pode-
podem ocorrer nos centros cerebrais superiores ou na medula ria ocorrer pelo aumento da freqüência de disparo
espinal. das unidades motoras (parte inferior da Fig. 15.3). As
unidades motoras começam a disparar em uma fre-
qüência muito elevada, seguida por declínio rápido,
tante recrutar essas unidades motoras durante uma quando o objetivo é contrair o músculo na máxima
contração máxima por elas conterem o maior núme- velocidade possível e com uma taxa máxima de pro-
ro de fibras musculares. Por exemplo, estima-se que, dução de força (codenominada contração “balística”)
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 299

(Zehr e Sale, 1994). A freqüência de disparo de pico


atingida está acima da necessária para alcançar força
máxima em uma contração sustentada. O aumento
na taxa de produção de força (Miller et al., 1981) re-
presenta o efeito da elevada freqüência de disparo
inicial, mesmo se mantida somente por algumas des-
cargas (Stein e Parmiggiani, 1979). A taxa de produ-
ção de força, assim como a velocidade de contração,
aumenta caso o treinamento também eleve a freqüên-
cia de disparo de pico no início das contrações balís-
ticas (ver parte inferior da Fig. 15.3 e Fig. 15.7; ver
também Capítulo 16).

Estudos eletromiográficos
Muitas das evidências disponíveis referentes ao
aumento da ativação agonista foram possíveis devi-
do aos estudos eletromiográficos. A eletromiografia
constitui método de registro e de quantificação da
atividade elétrica (potenciais de ação da fibra muscu-
lar) produzida pelas fibras musculares das unidades
motoras ativadas. Em um típico estudo de treinamen-
to, os registros eletromiográficos (EMG) são desen-
volvidos por músculos agonistas selecionados durante
contrações voluntárias máximas antes e após o trei-
namento. Muito comumente, os registros EMG são
feitos com uso de eletrodos de superfície aplicados à
pele sobre o músculo ou músculos de interesse. O
registro EMG pode ser quantificado de diferentes
maneiras e reflete a combinação do recrutamento e
da freqüência de disparo de inúmeras unidades mo-
toras. A combinação entre o recrutamento da unida-
de motora e a freqüência de disparo é geralmente re-
Figura 15.3 Demonstração esquemática de como o ferida como ativação da unidade motora. Quando o
incremento da ativação agonista induzida pelo treinamento de treinamento induz um aumento na quantificação do
força aumenta o desempenho em força. No gráfico superior
sinal EMG durante uma contração voluntária máxi-
(ação isométrica máxima antes e após treinamento), é
demonstrado aumento do recrutamento de unidades motoras de ma, pode-se concluir que houve um aumento na ati-
alto limiar. Como essas unidades contêm um número vação da unidade motora (e, portanto, adaptação neu-
relativamente grande de fibras musculares de contração rápida, ral). A EMG de superfície não permite distinguir o
há uma grande vantagem obtida a partir da capacidade de aumento do recrutamento e das freqüências de dis-
recrutar consistentemente essas unidades. O gráfico
paro, embora uma técnica EMG denominada “power
intermediário demonstra como o aumento na freqüência de
disparo máxima das unidades motoras aumentaria a força density spectral analysis” promova essa distinção (So-
produzida pela unidade motora. A maior freqüência de disparo lomonow et al., 1990). Menos comumente, os regis-
após o treinamento permite às fibras musculares operar mais tros EMG têm sido desenvolvidos com eletrodos de
adiante na sua relação força-freqüência. O gráfico inferior ilustra agulha ou cordões metálicos finos inseridos no mús-
o efeito do aumento da freqüência de disparo das unidades
culo. A vantagem desta técnica é permitir a monito-
motoras no início de uma ação isométrica com o objetivo de
produzir força o mais rápido possível. Uma maior freqüência de rização dos padrões de recrutamento e da freqüência
disparo inicial pode não aumentar o pico de força, mas pode de disparo de unidades motoras individuais. Sua di-
permitir que o pico de força seja alcançado mais rapidamente. ficuldade reside na identificação e no registro das
300 PAAVO V. KOMI

mesmas unidades motoras antes e após a interven- Häkkinen e Häkkinen, 1995; Narici et al., 1996;
ção, assim como no registro de grande número de Hortobágyi e DeVita, 2000), assim como exercício
unidades motoras. Ao contrário, o comportamento concêntrico ou excêntrico isocinético (Higbie et al.,
das amostras de populações de unidades motoras é 1996; Narici et al., 1989; Hortobágyi et al., 1996ab;
comparado nas situações pré e pós-treinamento. As Hortobágyi et al., 1997; Aagaard et al., 2000; Ruther-
técnicas de superfície e intramuscular podem ser ford et al., 2001). Os estudos variam de uma (Horto-
comparadas por meio da seguinte analogia: o eletro- bágyi e DeVita, 2000) a 48 semanas de duração
do de superfície é como um microfone colocado no (Häkkinen et al., 2000). Alguns, como o apresentado
centro de um campo de futebol. Pode registrar e quan- na Figura 15.4, controlaram estritamente a “especifi-
tificar o barulho da multidão, mas não o que cada cidade” em que os tipos de ação (isométrica, concên-
membro (unidades motoras) está dizendo. O eletro- trica ou excêntrica), padrão de movimento e equipa-
do intramuscular pode ser associado a um microfo- mentos foram os mesmos para o treinamento e para
ne colocado na boca de um único membro. Embora os testes. Outros estudos envolveram ações distintas
ainda possa ser ouvido barulho, é possível ouvir ape- no treinamento e nos testes; por exemplo, treinamen-
nas o que um único membro está dizendo (p. ex., to com levantamento de pesos e teste com ações iso-
registro da unidade motora individual). cinéticas (velocidade controlada) concêntricas e ex-
cêntricas (Aagaard et al., 2000) ou ações isométricas
(Häkkinen e Komi, 1983). Alguns estudos utilizam
Estudos EMG de superfície
testes EMG específicos e não-específicos (Häkkinen
Um exemplo de técnica EMG de superfície é et al., 1998a).
apresentado na Figura 15.4. Nesse estudo, um pro- Algumas observações gerais podem ser tecidas
grama de treinamento isométrico para os músculos em relação ao efeito do treinamento na ativação das
extensores do joelho foi realizado durante quatro se- unidades motoras no quadríceps femoral. Primeiro,
manas (Rabita et al., 2000). A EMG foi registrada em a maioria dos estudos demonstra aumento da ativi-
3 das 4 cabeças do quadríceps, enquanto os voluntá- dade EMG com o treinamento. Segundo, não se pode
rios realizavam uma ação isométrica máxima breve.
Após o treinamento, somente uma cabeça, o reto fe-
moral, apresentou aumento significativo na EMG,
proporcional ao aumento da força isométrica. Esse
estudo representa apenas um de muitos que mensu-
ram o efeito do treinamento de força sobre o possí-
vel aumento na ativação das unidades motoras (p. ex.,
aumento na EMG integrada [iEMG] ou medida si-
milar) do músculo quadríceps, que se caracteriza por
ser o grupo muscular mais freqüentemente estuda-
do. Os tipos de treinamento incluem exercício iso-
métrico (Komi et al., 1978; Carolan e Cafarelli, 1992;
Garfinkel e Cafarelli, 1992; Bandy e Hanten, 1993;
Weir et al., 1994; Weir et al., 1995; Rabita et al., 2000),
treinamento com sobrecarga* (Thorstensson et al.,
1976; Häkkinen e Komi, 1983; Häkkinen et al.,
1985ab; Häkkinen et al., 1996; Häkkinen et al.,
1998ab; Häkkinen et al., 2000; Häkkinen et al., 2001;
Figura 15.4 Efeito do treinamento isométrico dos músculos
extensores do joelho na força isométrica máxima e na ativação
de 3 das 4 cabeças do quadríceps femoral. Quatro semanas
de treinamento aumentaram a força, mas o aumento da
*N. de R.T. O autor refere-se a exercícios de força realizados ativação (mensurado por EMG) ocorreu somente em 1 dos 3
em condições dinâmicas, em equipamentos com resistência músculos monitorizados (reto femoral) (baseada em Rabita
dinâmica variável e invariável. et al., 2000).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 301

admitir que todas as cabeças do quadríceps respon-


dam da mesma maneira ao treinamento (Fig. 15.4
[Häkkinen e Komi, 1983; Aagaard et al., 2000]). Sen-
do assim, deve haver muito cuidado na extrapolação
dos resultados de apenas uma cabeça para as outras
três. Como exemplo adicional ao apresentado na Fi-
gura 15.4, em que o aumento na atividade EMG foi
observado em somente 1 das 3 cabeças monitoriza-
das, dois estudos mensuraram apenas o vasto lateral
e não detectaram aumento na atividade EMG no pe-
ríodo pós-treinamento (Carolan e Cafarelli, 1992;
Garfinkel e Cafarelli, 1992). As alterações podem ter
ocorrido em uma ou mais das outras três cabeças.
De modo similar, outro estudo encontrou aumento
da atividade EMG mensurando somente o reto fe-
moral (Komi et al., 1978). Pode não ter ocorrido alte-
ração nas demais cabeças. Terceiro, em todos os es-
tudos, os resultados poderiam ter sido influenciados Figura 15.5 Efeitos do treinamento de extensão do joelho
por inúmeros fatores, como intensidade, volume, fre- isocinético concêntrico ou excêntrico na ativação (EMG de
superfície) de 2 das 4 cabeças do quadríceps femoral. A
qüência e duração do treinamento, padrão de movi- especificidade do efeito do treinamento foi observada em ambos
mento e tipo de ação muscular, além da similaridade os músculos. O treinamento excêntrico produziu maior aumento
(especificidade) entre o treinamento e os tipos de tes- na ativação no teste excêntrico, enquanto o concêntrico induziu
tes. Um exemplo de especificidade, em termos tanto maior aumento no teste concêntrico. Relativamente à
de teste como de tipo de treinamento, assim como especificidade dos testes, o treinamento excêntrico causou
maior aumento. *Aumento significativo quando comparado pré-
tipo de ação muscular, é ilustrado na Figura 15.5. treinamento com pós-treinamento; Ho aumento no teste
Nesse estudo, os tipos de teste e de treinamento fo- excêntrico com treinamento excêntrico foi significativamente
ram os mesmos (ações isocinéticas concêntricas e maior do que o aumento no teste concêntrico com treinamento
excêntricas) (Hortobágyi et al., 1996a). A especifici- concêntrico. O padrão de aumento da força foi similar (não-
dade do treinamento foi examinada nas ações con- demonstrado) (baseada em Hortobágyi et al., 1996a).
cêntricas e excêntricas. Entre as principais descober-
tas estão: houve aumento da atividade EMG nas duas
cabeças monitorizadas do quadríceps, a magnitude
do aumento foi específica ao tipo de treinamento aumento inicial no sinal EMG, seguido por decrésci-
(concêntrico versus excêntrico), e o treinamento mo em programas de treinamento (Häkkinen e Komi,
excêntrico induziu maior aumento específico. 1983; Keen et al., 1994; Narici et al., 1996). O estudo
Outros grupos musculares treinados incluem os de Yue e Cole (1992) é singular, apesar do pouco cui-
músculos dorsiflexores do tornozelo (Van Cutsem et dado em relação ao grupo muscular analisado, por
al., 1998), flexores do cúbito (Moritani e deVries, ter comparado os efeitos do treinamento real com os
1979; Thépaut-Mathieu et al., 1988; Ozmun et al., do treinamento isométrico “imaginário”. No treina-
1994; Martin et al., 1995; Colson et al., 1999; Maca- mento imaginário, os sujeitos pensaram em fazer uma
luso et al., 2000), adutor do polegar (Cannon e Cafa- série de contrações isométricas máximas em cada
relli, 1987), primeiro interósseo dorsal (Keen et al., sessão de treinamento que foi idêntica, em número,
1994) e hipotenar (Yue e Cole, 1992). Como os estu- à do outro grupo que desempenhava ações isométri-
dos com o músculo quadríceps, esses estudos variam cas. Ambos os treinamentos produziram aumento sig-
em características de treinamento, em aplicação de nificativo na força e na EMG. É notável que os mús-
especificidade e em número de músculos monitori- culos apresentaram atividade EMG “silenciosa”
zados em um grupo agonista. Um estudo encontrou durante o treinamento imaginário, sugerindo que um
aumento da atividade EMG com o treinamento mecanismo neural supra-espinal foi responsável pelo
(Cannon e Cafarelli, 1987). Outros observaram aumento da força e da atividade EMG no teste (Yue e
302 PAAVO V. KOMI

Cole, 1992). A presença de um mecanismo supra-es- revisão, ver Zhou, 2000) após o treinamento (Mori-
pinal foi posteriormente fundamentada pela imagem tani e deVries, 1979; Yue e Cole, 1992; Hortobágyi et
de ressonância magnética funcional, que demonstrou al., 1997; Hortobágyi et al., 1999) ou o aumento da
ativação do córtex de associação pré-frontal durante atividade EMG pós-treinamento imaginário (Yue e
as contrações musculares imaginárias (Yue et al., 1995). Cole, 1992), não poderiam ser atribuídos às altera-
Muitos estudos têm focalizado a relação entre o ções no músculo. Finalmente, os efeitos específicos
aumento da atividade EMG máxima e o incremento do treinamento, tais como o maior aumento da ativi-
da força máxima. Em dois estudos, o treinamento dade EMG nas ações bilaterais do que nas unilate-
enfatizou o desenvolvimento da força na maior velo- rais após treinamento bilateral (Häkkinen et al., 1996),
cidade possível. A elevação da atividade EMG ocor- apontam para maior ativação das unidades motoras.
reu concomitantemente ao desenvolvimento da for- A potencialização reflexa representa outro método
ça (Häkkinen et al., 1985b; Van Cutsem et al., 1998; de EMG de superfície aplicado nos estudos de trei-
ver também Fig. 15.6). Em um estudo no qual o trei- namento de força. Nele, as respostas EMG reflexas
namento não enfatizou o rápido desenvolvimento da são inferidas durante contrações voluntárias máxi-
força, a taxa de elevação na atividade EMG em uma mas. Existe relação proporcionalmente direta entre
cabeça do quadríceps monitorizada (vasto lateral) não aumento do esforço voluntário — e, portanto, da ati-
foi alterada pelo treinamento, embora a taxa de pro- vação das unidades motoras — e potencialização das
dução de força em condição isométrica tenha aumen- respostas reflexas. Estudos sobre treinamento de força
tado (Narici et al., 1996). demonstram aumento na potencialização reflexa pós-
A conclusão de que o aumento da atividade EMG treinamento (Milner-Brown et al., 1975; Sale et al.,
de superfície representa aumento da ativação das 1983a). Estudos transversais apontam para o fato de
unidades motoras requer a proposição de que o trei- a potencialização reflexa estar aumentada em levan-
namento não produz outras alterações capazes de tadores de peso (Milner-Brown et al., 1975; Sale
modificar a quantidade da atividade registrada das et al., 1983b) e em velocistas (Upton e Radford, 1975).
unidades motoras. As alterações na gordura subcu- O método de potencialização reflexa não pode dis-
tânea, assim como no ângulo peniforme da fibra ou tinguir entre as contribuições relativas do aumento
na amplitude dos potenciais de ação das fibras mus- do recrutamento e do aumento da freqüência de dis-
culares, poderiam aumentar a atividade EMG, inde- paro das unidades motoras relacionadas ao aumento
pendentemente de qualquer alteração na ativação das da ativação das unidades motoras.
unidades motoras. O registro EMG (p. ex., onda-M)
induzido por potencial evocado (estimulação elétri-
EMG intramuscular
ca) em uma sessão de teste máximo, bem como o
registro durante uma contração voluntária, pode- O incremento na atividade EMG de superfície
riam representar algumas das melhores possibilida- induzido pelo treinamento, revisado na seção anterior,
des de controle. Caso a atividade EMG eletricamente poderia resultar de alguma combinação do aumento
estimulada permaneça inalterada, mas verifique-se do recrutamento e da freqüência de disparo das uni-
aumento na atividade EMG voluntária (Van Cutsem dades motoras. Poucos estudos empregam eletrodos
et al., 1998), ou caso a atividade EMG voluntária seja intramusculares para monitorizar o recrutamento e
normalizada pela EMG eletricamente estimulada (Yue a freqüência de disparo das unidades motoras pré e
e Cole, 1992; Keen et al., 1994) e ocorram aumentos pós-treinamento. Esses estudos demonstraram
dos valores normalizados, então pode ser razoavel- aumento da freqüência de disparo das unidades mo-
mente concluído que houve aumento na ativação das toras durante contrações máximas após o treinamento
unidades motoras. Além disso, o aumento da ativida- (Kamen et al., 1998; Van Cutsem et al., 1998; Patten
de EMG de superfície dos membros contralaterais et al., 2001). O treinamento isométrico do abdutor
não-treinados (efeito “treinamento-cruzado”;* para do dedo mínimo da mão resultou em um aumento
na freqüência máxima de disparo das unidades mo-
toras durante contrações máximas após somente dois
dias de treinamento; curiosamente, as freqüências de
*N. de R.T. Relativo ao “cross-training” effect. disparo retornaram aos valores pré-treinamento
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 303

Figura 15.6 Esquerdo, efeito do treinamento explosivo relacionado ao salto na força isométrica e na ativação das unidades
motoras (EMG de superfície quantificada como EMG integrada [IEMG]). O painel superior demonstra que a taxa de produção de
força (TPF máxima) aumentou mais (24%) do que o pico de força (PF, 11%). De modo similar, o painel inferior demonstra que a
taxa máxima de início da atividade EMG aumentou mais (38%) do que o pico EMG (8%). O maior aumento relacionado à taxa de
produção de força pode refletir adaptações neurais específicas ao treinamento explosivo. Direito, pela comparação com o
treinamento de força de alta intensidade, produziu resultados com padrão oposto (baseada em Häkkinen et al., 1985a,b e
reproduzida com permissão de Sale, 1988).

quando o treinamento progrediu (Patten et al., 2001). treinamento “balístico” dos dorsiflexores do torno-
O treinamento isométrico e dinâmico dos músculos zelo, o qual aumentou a força isométrica de pico e a
extensores do joelho elevou a freqüência máxima de atividade EMG de superfície, foi também associado
disparo das unidades motoras do vasto lateral em com aumento da taxa de produção de força e da fre-
ações isométricas máximas (Kamen et al., 1998). O qüência de disparo das unidades motoras (no tibial
304 PAAVO V. KOMI

anterior) no início das ações isométricas, em que o cando o envolvimento tanto de unidades motoras de
objetivo foi induzir a maior taxa de produção de for- baixo como de alto limiar na adaptação ao treina-
ça possível (Fig. 15.7; Van Cutsem et al., 1998). O mento.
treinamento também reduziu a taxa de declínio na Embora não se caracterize estritamente como um
freqüência de disparo durante as contrações balísti- estudo de treinamento, em um estudo relacionado à
cas (contrações isométricas com rápida taxa de pro- fadiga (Grymby et al., 1981), alguns sujeitos foram
dução de força). O treinamento aumentou a porcen- incapazes de disparar unidades motoras de alto limiar
tagem das unidades motoras que exibiam “doublets” nos músculos extensores curtos dos dedos do pé em
nessas ações isométricas (Van Cutsem et al., 1998). freqüências necessárias para a máxima produção de
(Doublets são intervalos de interpicos [potencial de força. Após repetidos experimentos, esses sujeitos
interação] muito curtos [2 a 5 ms] que correspon- foram capazes de alcançar maiores freqüências de
dem a freqüências de disparo instantâneas muito al- disparo; nesse ponto, a força voluntária ajustou-se à
tas [200 a 500 Hz].) A magnitude das alterações no força produzida por estimulação tetânica (alta fre-
comportamento de descarga não foi associada ao li- qüência). Os experimentos repetidos, que consisti-
miar de recrutamento das unidades motoras, indi- ram de contrações máximas sustentadas, poderiam

Figura 15.7 Efeito do treinamento “balístico” na taxa de produção de força e na freqüência de disparo das unidades motoras. Os
músculos dorsiflexores do tornozelo foram treinados com ações balísticas de esforço máximo (em velocidade) com sobrecarga
correspondendo a 30 e 40% do teste de uma repetição máxima (1-RM). As ações do teste foram isométricas com o objetivo de
desenvolver força o mais rapidamente possível. A parte superior direita demonstra esquematicamente o aumento de cerca de 80%
na taxa de produção de força (TPF) que ocorreu com o treinamento. Os picos de força foram estabelecidos no mesmo nível. O
restante da figura demonstra o aumento na freqüência de disparo das unidades motoras induzido pelo treinamento. A partir de uma
amostra de unidades motoras monitoradas antes e após o treino, são ilustradas as taxas de disparo médias (mensuradas como
descargas por segundo, isto é hertz, Hz) nas primeiras quatro descargas no início da contração balística (isométrica) são ilustradas.
Então, houve decréscimo da freqüência de disparo (em média) de 98 para 58 Hz antes do treinamento, mas de 182 para 130 após
o treinamento nos primeiros três intervalos interdescarga. O aumento da freqüência de disparo após o treinamento deveria ter
contribuído para o aumento na taxa de produção de força (ver gráfico inferior da Fig. 15.3). Ver texto para discussão adicional
(baseada em Van Cutsem et al., 1998).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 305

ser considerados uma forma de treinamento. Esse com corredores de longa distância. Os velocistas tam-
treinamento também aumentou o tempo (de poucos bém exibiram maior incidência de recrutamento re-
a cerca de 20 s) em que as unidades motoras de limiar verso nessas ações rápidas; ou seja, as unidades mo-
mais elevado mantinham-se ativas (recrutadas) em toras com menores limiares em ações lentas têm
contrações máximas sustentadas. A “saída” (interrup- maiores limiares em ações rápidas (Saplinskas et al.,
ção no disparo) das unidades motoras durante con- 1980).
trações máximas sustentadas tem sido confirmada Os papéis relativos do aumento do recrutamen-
(Peters e Fuglevand, 1999). O atraso na saída das to e da freqüência de disparo das unidades motoras
unidades motoras contribuiria para o aumento da como adaptação ao treinamento dependem de seus
“resistência de força” após o treinamento. papéis relativos na gradação da força de contração
Além desses estudos longitudinais, um estudo (Fig. 15.8). Nos pequenos músculos das mãos, muito
transversal determinou que levantadores de peso, poucas unidades motoras são recrutadas além de
quando comparados a sujeitos não-treinados, apre- aproximadamente 50% da força máxima (Milner-
sentavam maior freqüência de disparo das unidades Brown et al., 1973; Kurulka e Clamann, 1981; De-
motoras em ações isométricas máximas do quadrí- Luca et al., 1982). As pessoas não-treinadas deveriam
ceps (Leong et al.,1999). Uma comparação entre su- ser capazes de recrutar todas as unidades motoras
jeitos não-treinados, velocistas e corredores de longa em um esforço voluntário máximo, mas elas podem
distância indicou que os velocistas apresentavam não ser capazes de produzir freqüência máxima de
maior freqüência de disparo das unidades motoras disparo dessas unidades; por isso, a elevação da fre-
no tibial anterior (um dorsiflexor do tornozelo) no qüência de disparo das unidades motoras seria uma
início das ações isométricas rapidamente desenvol- possível adaptação ao treinamento. Em músculos
vidas (Saplinskas et al., 1980). Na Figura 15.3 (parte grandes, como o tibial anterior (Hannerz, 1974; Van
intermediária e inferior), observa-se que o incremen- Cutsem et al., 1998), o bíceps (Kukulka e Clamann,
to na freqüência de disparo das unidades motoras 1981) e o deltóide (DeLuca et al., 1982), as unidades
aumenta a força máxima e a taxa de produção de motoras são recrutadas até cerca de 80 a 90% da for-
força. ça máxima, embora a maioria das unidades motoras
A EMG intramuscular registra somente uma seja recrutada em 50% da força máxima (Fig. 15.8).
amostra de unidades motoras dentro do músculo; Isso também pode ser verdadeiro para outros gran-
portanto, é difícil estimar se o treinamento incrementa des músculos associados ao treinamento de força (p.
o recrutamento das unidades motoras. No entanto, ex., grande dorsal, peitoral maior, glúteo máximo).
Patten e colaboradores (2001) encontraram tendên- Em tais músculos, as pessoas não-treinadas podem
cia de aumento no número de unidades motoras ati- ter dificuldade em recrutar unidades motoras de alto
vas no adutor do dedo mínimo da mão durante ações limiar e em produzir freqüência máxima de disparo
isométricas máximas após treinamento isométrico. O dessas unidades. Isso pode ser especialmente verda-
treinamento balístico causa um deslocamento para a deiro quando o treinamento requer coordenação.
esquerda no limiar de recrutamento das unidades Deve-se notar que, para determinado músculo, a
motoras em contrações lentas desenvolvidas em amplitude de contração, na qual ocorre recrutamen-
“rampa”; ou seja, o limiar médio expresso como uma to das unidades motoras, pode ser influenciada pela
porcentagem da força máxima (CVM) diminuída (Van tarefa realizada e pela taxa em que a força é produzi-
Cutsem et al., 1998). Não houve alteração na ordem da (Bernardi et al., 1995; Bernardi et al., 1996; Ber-
de recrutamento das unidades motoras nas contra- nardi et al., 1997).
ções em rampa após o treinamento; então, o princí-
pio do tamanho foi preservado. Os limiares durante
Sincronização das unidades motoras
as contrações balísticas não foram mensurados (Van
Cutsem et al., 1998). Um estudo transversal indicou A sincronização das unidades motoras represen-
que velocistas recrutaram unidades motoras do tibi- ta um aspecto especial da alteração da ativação ago-
al anterior em limiares menores de força em ações nista. Registros longitudinais (Milner-Brown et al.,
isométricas, com rápida taxa de produção de força 1975) e transversais (Milner-Brown et al., 1975;
quando comparados com sujeitos não-treinados e Semmler e Nordstrom, 1998; Felici et al., 2001) com
306 PAAVO V. KOMI

paro de unidades motoras lentas, a produção de for-


ça é maior com estimulação assincrônica do que com
sincrônica. Contudo, tanto a estimulação assincrô-
nica como a sincrônica são igualmente eficazes em
freqüências de alta estimulação correspondentes às
freqüências máximas de disparo das unidades moto-
ras em contrações voluntárias máximas (Rack e
Westbury, 1969; Lind e Petrofsky, 1978). Um início
de ativação mais sincrônico de descarga das unida-
des motoras recrutadas pode concebivelmente au-
mentar a taxa de produção de força (Felici et al., 2001).
Uma vez iniciada, porém, as unidades motoras re-
crutadas deveriam quase que imediatamente dispa-
rar assincronicamente devido às diferentes freqüên-
cias de disparo. O disparo assincrônico nesse estágio
Figura 15.8 Papel relativo do recrutamento das unidades
pode não ser desvantajoso, pois a estimulação sin-
motoras e do incremento da freqüência de disparo das unidades
motoras no aumento da força de uma ação isométrica. Em crônica em freqüências suprafisiológicas não se ajus-
alguns músculos, por exemplo, alguns pequenos músculos das ta à taxa de produção de força alcançada pela con-
mãos, todas as unidades motoras são recrutadas em cerca de tração voluntária (Miller et al., 1981). No entanto,
50% da contração voluntária máxima (CVM). Isso significa que essa comparação não pode ser completamente des-
o incremento da freqüência de disparo das unidades motoras é
cartada devido à impossibilidade de reproduzir, em
somente responsável pelo aumento acima de 50% da CVM. Em
grandes músculos, mais tipicamente envolvidos em programas uma contração eletricamente estimulada, a coorde-
de treinamento esportivo, as unidades motoras são recrutadas nação dos sinergistas presente na contração volun-
até cerca de 80 a 90% da CVM. No entanto, observe que, tária.
mesmo nesses músculos, a maioria das unidades motoras é
recrutada em 50% da CVM; portanto, o aumento da freqüência
de disparo parece exercer um papel principal, se não exclusivo. Imagem de ressonância magnética
Essa predominância da freqüência de disparo é ajustada em
alguma magnitude pelas unidades recrutadas posteriormente e A imagem de ressonância magnética (RM) repre-
que possuem mais fibras musculares (ver Enoka e Fuglevand, senta uma técnica relativamente recente para men-
2001). É possível que os músculos com unidades motoras de surar as alterações induzidas pelo treinamento na
alto limiar sejam mais difíceis de ser completamente ativados.
ativação muscular. O exercício causa “alterações de
Ver texto para discussão adicional.
contraste” (aumento no tempo de relaxamento mus-
cular do momento angular do próton [T2]) na RM
dos músculos (Yue et al., 1994). As imagens podem
indicar quais músculos foram ativados em determi-
nado exercício e sua magnitude de ativação (Adams
et al., 1992). A mensuração da atividade muscular por
meio da RM correlaciona-se bem com as medidas de
métodos EMG de superfície e intramuscular relatam EMG (Adams et al., 1992) e tem a vantagem do pronto
aumento da sincronização (de disparo ou descarga) exame nos músculos inacessíveis à EMG, como as
das unidades motoras associadas ao treinamento de quatro cabeças do quadríceps (Ploutz et al., 1994) ou
força. Embora isso, indubitavelmente, represente uma os músculos extensores superficiais e profundos do
adaptação neural ao treinamento, ainda não está cla- pescoço/cabeça (Conley et al., 1997a). Um estudo com
ro como o aumento da sincronização, geralmente a técnica de RM estimou que sujeitos não-treinados
mensurada com contrações submáximas, eleva o pico podem ativar apenas cerca de 70% do quadríceps em
de força em uma contração voluntária máxima. Es- uma contração voluntária máxima (Adams et al.,
tudos realizados com preparações nervo-músculo de 1993).
modelos animais indicam que em freqüências de baixa A técnica de RM foi empregada em um estudo
estimulação, correspondentes às freqüências de dis- no qual os músculos extensores do pescoço foram
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 307

treinados (treinamento com sobrecarga) durante 12 Contrações voluntárias versus


semanas (Conley et al., 1997a). Foi verificado, em um eletricamente estimuladas*
teste máximo constituído de três séries de 10 repeti-
ções com a maior sobrecarga possível, que a ativação Estimulação sobreposta nas contrações
muscular — expressa como a área de secção trans- voluntárias
versa muscular relativa demonstrando ativação —
aumentou em alguns músculos do pescoço, mas não Existem duas abordagens para aplicar em con-
em outros, após o treinamento (Fig. 15.9). Esses re- trações (eletricamente) estimuladas no intuito de
sultados estão de acordo com os estudos EMG pre- mensurar a magnitude da ativação das unidades mo-
viamente discutidos, demonstrando que alguns, mas toras durante contrações voluntárias máximas, a fim
não todos os músculos em um grupo agonista, po- de analisar a possibilidade de sujeitos não-treinados
dem aumentar sua ativação após o treinamento de ativarem completamente seus músculos (agonistas).
força (Fig. 15.4). Outro estudo demonstrou aumento Uma abordagem consiste na sobreposição, via nervo
da ativação do quadríceps após 12 semanas de trei- motor, de um único estímulo (contração interpolada
namento isocinético de extensão do joelho (Akima [Belanger e McComas, 1981; Bulow et al., 1993;
et al., 1999). Allen et al., 1995; Yue et al., 2000]), um par de estí-
mulos (interpolado “duplo” [Gandevia e McKenzie,
1988; Kent-Braun e Lê Blanc, 1997]) ou estímulos
contínuos (tetania interpolada [Westing et al., 1990;
Strojnik, 1995; Kent-Braun e Lê Blanc, 1997]) du-
rante uma contração voluntária máxima. A ativação
voluntária é considerada menor que a máxima caso
o aumento na força seja causado por um único estí-
mulo ou por estímulos interpolados. Estudiosos e
pesquisadores debatem a validade relativa dessas va-
riações de interpolação, além da questão de uma in-
dicar maior déficit de ativação do que outra (Dowling
et al., 1994; Herbert et al., 1997; Kent-Braun e Lê
Blanc, 1997; Allen et al., 1998; Herbert e Gandevia,
1999; Kent-Braun, 1999; Yue et al., 2000). As men-
surações da ativação das unidades motoras têm sido
conduzidas em inúmeros grupos musculares, geral-
mente por ações isométricas unilaterais. Os resulta-
dos de vários estudos incluem a ativação total alcan-
çada por voluntários não-treinados (Carolan e
Cafarelli, 1992), um pequeno déficit de ativação (5 a
10%; Yue et al., 2000) e um déficit mais substancial
de ativação (~ 20%; Bulow et al., 1995). Os voluntá-
Figura 15.9 Efeito do treinamento na ativação muscular rios não apresentaram resultados consistentes na
analisada por ressonância magnética. Os músculos extensores magnitude de ativação alcançada em várias tentati-
do pescoço (cabeça) foram submetidos ao treinamento com vas por inúmeros dias (Allen et al., 1995). Os grupos
sobrecarga em um exercício de extensão do pescoço. Foi musculares testados (Belanger e McComas, 1981;
verificado em um teste máximo (três séries de 10 repetições
com sobrecarga máxima) realizado no período pré e pós- McKenzie et al., 1992; Allen et al., 1998), a relação
treinamento um aumento na proporção ativa relativa da área
de secção transversa muscular (% ASTm) em 3 de 6
músculos/pares de músculos do pescoço; EC: esplênio da
cabeça; SEC: semi-espinal da cabeça; SEP: semi-espinal do
pescoço e multífido. Esses resultados indicaram maior *N.de R.T. Relativo a contrações evocadas. Contrações eletri-
ativação neural em alguns músculos envolvidos na extensão camente estimuladas e evocadas serão tratadas como sinôni-
do pescoço (baseada em Conley et al., 1997a). mos neste capítulo.
308 PAAVO V. KOMI

ângulo articular-comprimento muscular (Gandevia do método de estimulação interpolada, que há um


e McKenzie, 1988; Huber et al., 1998; Becker e maior déficit de ativação, pelo menos para os exten-
Awiszus, 2001), bem como se a ativação está relacio- sores do joelho, nas regiões concêntrica e excêntri-
nada ao pico de força quando comparada à taxa de ca de baixa velocidade da curva força-velocidade
produção de força (Strojnik, 1995; Strojnik, 1998; Yue (Dudley et al., 1990; Westing et al., 1990; Harris e
et al., 2000) são alguns dos fatores que podem afetar Dudley, 1994). As relações força-ângulo articular/
a magnitude da ativação das unidades motoras. Uma comprimento do músculo entre as contrações eletri-
observação importante, é o efeito do tipo de ação mus- camente estimuladas e voluntárias têm sido compa-
cular. A interpolação de uma contração tetânica exer- radas para os dorsiflexores do tornozelo (Marsh et
ce maior efeito de aumento nas ações voluntárias iso- al., 1981; van Schaik et al., 1994; Koh e Herzog, 1995).
métricas excêntricas do que nas concêntricas Os resultados desses estudos não são consistentes,
(Westing et al., 1990; Amiridis et al., 1996). No en- mas sugerem que o comprimento muscular-ângulo
tanto, a ativação dos flexores do cotovelo (bíceps) é articular exerça pouca influência na habilidade de
similar em ações isométricas e concêntricas em inú- ativar o músculo. Isso está de acordo com um dos
meras velocidades (Gandevia et al., 1998). Além do estudos de estimulação interpolada citado anterior-
aumento do pico de força, a tetania interpolada apre- mente. Tal abordagem examinou os dorsiflexores do
senta elevação da taxa de produção de força isomé- tornozelo, os abdutores do quinto dedo e os flexores
trica (Strojnik, 1995; Strojnik, 1998), assim como do do cotovelo (Gandevia et al., 1988). Apesar dos re-
pico de velocidade e da potência das ações concên- sultados, as conclusões estão em desacordo com dois
tricas (Strojnik, 1998). Estas últimas observações in- outros estudos dos extensores do joelho, que tam-
dicam um déficit de ativação relacionado à velocida- bém são discordantes entre si, um demonstrando
de e à potência. maior ativação em comprimentos musculares curtos
A estimulação transcraniana magnética do cór- (Huber et al., 1998) e outro demonstrando o oposto
tex motor, via ação isométrica máxima, representa um (Becker e Awiszus, 2001).
método mais recente do que a estimulação do nervo Há limitações relativas às técnicas de contração
motor (para revisão, ver Taylor et al., 2000; Taylor e evocada. Uma é que nem sempre é possível estimu-
Gandevia, 2001). Esse método também revela peque- lar todos os músculos de um grupo agonista, tornan-
no déficit na ativação das unidades motoras (Herbert do difícil equalizar a força produzida pela contração
e Gandevia, 1996), que aumenta quando uma con- voluntária e eletricamente estimulada. Na estimula-
tração máxima é sustentada (Gandevia et al., 1996). ção, os músculos não-estimulados permanecem re-
O fato de a estimulação cortical aumentar a força laxados, enquanto em contrações voluntárias os mús-
indica que o déficit é “elevado” tanto na medula es- culos sinergistas provavelmente contribuem para a
pinal como no córtex motor. contração. Na realidade, a força voluntária pode ex-
ceder a força eletricamente estimulada devido à sua
contribuição (Herbert e Gandevia, 1999). Uma se-
Comparação isolada entre as contra-
gunda limitação refere-se ao fato de que pode ser di-
ções eletricamente estimuladas e as vo-
fícil evitar estimular inadvertidamente os antago-
luntárias
nistas junto com os agonistas. Terceiro, é difícil re-
A segunda abordagem ao usar as contrações ele- produzir, com eletrodos de estimulação, a habilidade
tricamente estimuladas para mensurar a magnitude do sistema nervoso central de ativar os músculos. Em
de ativação da unidade motora consiste em compa- particular, há dificuldade em aplicar o método a movi-
rar a força alcançada com as contrações eletricamente mentos bilaterais relativamente complexos envolven-
estimuladas e a força alcançada com as contrações do várias articulações. Por exemplo, a estimulação te-
voluntárias separadamente (Westing et al., 1990) ou tânica aplicada em um dos músculos (quadríceps) que
em comparar a “forma” da relação força-velocidade agem durante a impulsão vertical prejudicaria o de-
(Dudley et al., 1990; Westing et al., 1990) com a for- sempenho, talvez por interferir na coordenação da ação
ma da relação força-ângulo articular (Koh e Herzog, (Strojnik, 1998). A EMG é mais sutil para descobrir
1995) obtidas com contrações evocadas e voluntá- um déficit de ativação e sua respectiva modificação pelo
rias. Essa abordagem indica, conforme os resultados treinamento em atividades como esta (Fig. 15.10).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 309

haver boa correspondência entre o tamanho do défi-


cit de ativação (relativamente grande) e o aumento
na EMG com o treinamento (ver seção “Estudos ele-
tromiográficos” e Fig. 15.5). Também deve-se notar
que o déficit de ativação e, portanto, o potencial para
a adaptação neural podem ser maiores em movimen-
tos mais complexos em que os métodos de estimula-
ção elétrica não podem ser facilmente aplicados. Por
exemplo, isso dificultaria determinar se o músculo
peitoral está completamente ativado em uma única
repetição máxima (1-RM) no supino reto ou se o
deltóide está completamente ativado durante o de-
senvolvimento. É possível que os músculos comple-
tamente ativados sob essas condições sejam mais es-
timulados quando comparados às ações unilaterais e
uniarticulares geralmente estudados. A observação
freqüente de um “déficit” bilateral na força e na ati-
vação quando ações bilaterais versus unilaterais são
realizadas é relevante (Jakobi e Chilibeck, 2001).

Estudos com treinamento


Ao contrário dos inúmeros estudos que usam as
contrações evocadas para mensurar a magnitude de
ativação das unidades motoras em sujeitos não-trei-
nados, há relativamente poucos estudos longitudi-
Figura 15.10 Registros EMG do músculo gastrocnêmio nais ou transversais de treinamento comparando gru-
durante salto em profundidade em um sujeito não-treinado
pos treinados e não-treinados. Em dois estudos
(parte superior) e treinado (parte inferior). Na fase excêntrica da
alta sobrecarga de estiramento (imediatamente à direita da longitudinais, os extensores do joelho foram treina-
linha pontilhada no tempo 0), o sujeito não-treinado respondeu dos com ações isométricas (Carolan e Cafarelli, 1992;
com um período de inibição. Ao contrário, o saltador treinado Garfinkel e Cafarelli, 1992). Nesse caso, os voluntários
respondeu com um período de facilitação. A facilitação no alcançaram a ativação completa, mensurada pelo
saltador pode refletir uma adaptação neural ao treinamento
método de contração interpolada no pré-teste, tanto
relacionada às respostas reflexas (baseada em Schmidtbleicher
e Gollhofer, 1982, apud Komi, 1986 e reproduzida com que não houve alteração na ativação com o treina-
permissão de Sale, 1988). mento. Também não houve alteração na atividade
EMG. Em um estudo, a força e a área de secção trans-
versa muscular (ASTm) aumentaram 28 e 15%, res-
pectivamente; uma adaptação não-hipertrófica não
Em resumo, os métodos de estimulação elétrica foi identificada (Garfinkel e Cafarelli, 1992). Em ou-
indicam algum déficit na ativação das unidades mo- tro estudo, 33% de aumento na força não foram
toras em contrações voluntárias máximas. O poten- acompanhados de alteração na atividade EMG ago-
cial de ativação não-captado e que pode ser desen- nista, mas houve um decréscimo na atividade EMG
volvido pelas adaptações neurais ao treinamento antagonista na fase inicial do treinamento, o que re-
talvez seja menor do que aquele que poderia ser es- presentou parte do aumento da força. Possíveis adap-
perado com base no aumento da atividade EMG que tações hipertróficas não foram avaliadas (Carolan e
tem sido registrado em alguns estudos de treinamen- Cafarelli, 1992). Em outro estudo, ainda, sujeitos ido-
to, bem como na quantidade de aumento da força, a sos treinaram os extensores e flexores do joelho com
qual excede as adaptações musculares observáveis. exercícios de levantamento de peso. A ativação das
No entanto, no caso das ações excêntricas, parece unidades motoras, mensurada pelo método de con-
310 PAAVO V. KOMI

tração interpolada, foi 81 e 85% pré e pós-treina- cotovelo. A ativação baseada no método de contra-
mento, respectivamente (alteração não-significativa). ção interpolada estava próxima ao máximo antes do
No entanto, a ativação foi mensurada em um teste de treinamento (96%) e permaneceu inalterada em oito
força (extensão isométrica do joelho no ângulo arti- semanas de treinamento isométrico. Somente o trei-
cular de 90°) que também não demonstrou aumento namento real induziu aumento significativo na força
significativo na força. Talvez um aumento significati- (Herbert et al., 1998). (Esse estudo contraria o que
vo na ativação pudesse ter sido encontrado caso a foi revisado anteriormente [Yue e Cole, 1992]). No
ativação tivesse sido mensurada em um dos testes caso, o treinamento imaginário de um pequeno mús-
que demonstrou aumento significativo na força (Fig. culo da mão aumentou a força e a atividade EMG em
15.11). De modo similar, o treinamento com sobre- níveis similares aos alcançados com o treinamento
carga dos flexores do cotovelo (Brown et al., 1990) e real.) Vinte dias de repouso na cama diminuíram a
dos extensores do joelho (Sale et al., 1992) aumen- ativação dos extensores do joelho de 86 para 80%,
tou a sobrecarga levantada, mas não a força isomé- enquanto o treinamento específico de extensão iso-
trica. Correspondentemente, não houve alteração na métrica do joelho durante o repouso na cama preve-
ativação das unidades motoras quando mensurada niu a perda da ativação (Kawakami et al., 2001). Um
com técnica de contração interpolada no teste iso- estudo transversal indicou que jogadores de vôlei ti-
métrico. Um estudo comparou os efeitos dos treina- veram menor inibição (maior ativação quando men-
mentos real e imaginário nos músculos flexores do surado por contração interpolada) quando submeti-
dos a um treinamento vigoroso de extensão do joelho
(reabilitação) após lesão (Huber et al., 1998). A redu-
ção na inibição foi maior no ângulo articular em que
maior torque poderia ser gerado. O ângulo articular
foi o mesmo no qual a inibição foi maior em atletas
não-lesionados. Um estudo determinou que a esti-
mulação tetânica superimposta aumentou o torque
concêntrico dos extensores do joelho em sujeitos se-
dentários, mas não em atletas saltadores, sugerindo
que o treinamento incrementou a ativação alcança-
da nessas ações (Amiridis et al., 1996).
Portanto, alguns estudos demonstram aumento
induzido pelo treinamento na ativação por meio do
uso das técnicas de estimulação. A ausência de resul-
tados consistentes pode ser atribuída aos mesmos
fatores provavelmente responsáveis pelos diferentes
resultados dos estudos EMG (especificidade, grupo
muscular, natureza do programa de treinamento, etc.).
Figura 15.11 Especificidade na resposta ao treinamento de
força. Os músculos extensores do joelho foram treinados com
exercícios de força. A força específica, determinada pelo 1-RM, Decréscimo da ativação dos
aumentou significativamente. No entanto, a força isométrica agonistas?
(ISO) mensurada no ângulo articular de 60° aumentou em
muito menor grau, e a força isométrica em 90° não aumentou
Com a atenção focada no aumento da ativação
significativamente. Nesse ângulo, a ativação das unidades
motoras (AUM) também foi mensurada com método de agonista como uma adaptação neural ao treinamen-
contração interpolada e não foi encontrado aumento. Talvez to, pode-se observar decréscimo da ativação dos ago-
pudesse ter sido observado um aumento na AUM caso o nistas após treinamento de força. Essa observação é
método tivesse sido aplicado em um teste isométrico a 60° ou feita quando os indivíduos treinam em uma mesma
em um teste de levantamento de peso. Houve aumento
intensidade absoluta (p. ex., 10 repetições com 50 kg),
significativo na área de secção transversa muscular (ASTm),
mas a quantidade de aumento foi incapaz de contemplar todo o antes e após o treinamento. Determinada sobrecarga
aumento na força específica e em uma força não-específica absoluta pode representar uma intensidade relativa
(baseada em Harridge et al., 1999). máxima (p. ex., 100% de 10-RM) antes do treina-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 311

mento, mas uma intensidade submáxima (p. ex., 75% EMG realizado por Moritani e deVries, 1979, foi en-
de 10-RM) após o treinamento. Uma linha de evi- contrada menor curva EMG-força somente no mem-
dência relacionada ao decréscimo da ativação ago- bro treinado).
nista é a diminuição da atividade EMG observada Outra interpretação para o decréscimo na ativa-
quando se exercita na mesma sobrecarga ou força ção absoluta do agonista em determinada intensida-
absoluta após o treinamento, induzindo decréscimo de absoluta é a de que uma adaptação neural, na qual
na relação EMG-força (Komi et al., 1978; Moritani e os sinergistas ficam relativamente mais ativos após o
deVries, 1979; Häkkinen et al., 1985a; Garfinkel e treinamento, permite ao agonista primário se tornar
Cafarelli, 1992). Uma segunda linha de evidência sur- menos ativo. No entanto, os estudos que mensura-
ge dos estudos de RM, que demonstram uma redu- ram a ativação de todo o quadríceps (Ploutz et al.,
zida ativação da área de secção transversa muscular 1994) e o complexo extensor do pescoço (Conley et
(ASTm) após o treinamento (Ploutz et al., 1994; al., 1997a) encontraram menor ativação ou nenhu-
Conley et al., 1997a). ma alteração na ativação em todos os músculos que
Segundo a interpretação tradicional dos estudos poderiam ter contribuído para a ação.
EMG, a hipertrofia das fibras musculares resulta em Outra adaptação neural considerada é a menor
menor número de fibras (unidades motoras) do que co-ativação antagonista após o treinamento, que de-
as necessárias para produzir determinada força. Por veria também reduzir o nível de ativação agonista para
isso, ocorre uma ativação reduzida das unidades mo- determinada força absoluta (Carolan e Cafarelli,
toras (EMG). Um pressuposto básico é que a mesma 1992). Os estudos de RM dos extensores do joelho e
massa muscular ou área de secção transversa (AST) do pescoço não relataram especificamente alterações
absoluta está ativa após o treinamento, enquanto a AST na ativação dos antagonistas; no entanto, a alteração
relativa está reduzida. No entanto, uma importante da atividade dos antagonistas poderia dar somente
observação dos estudos de RM é de que tanto a AST uma pequena, caso houvesse alguma, contribuição
relativa como a absoluta necessárias para determinada para a menor ativação agonista por unidade de força
força absoluta diminuem com o treinamento. Isso muscular (Ploutz et al., 1994; Conley et al., 1997a).
implica que a força gerada por unidade de AST é
maior para um menor número de fibras musculares
ativas. Uma explicação para tal observaçãop poderia Ativação dos sinergistas
ser a de que a tensão específica (força por unidade de
AST) das fibras musculares treinadas aumentou, per- Os músculos que contribuem para um movimen-
mitindo que poucas sejam ativadas; no entanto, exis- to são sinergistas (Jamison e Caldwell, 1993). Essa
te pouca evidência de que o treinamento específico definição abrangente implica que os agonistas “fixa-
aumenta a tensão específica (mensurada com con- dores” e mesmo os antagonistas (Basmajian et al.,
trações eletricamente estimuladas). Outra possível ex- 1974) sejam qualificados como sinergistas. Logo, to-
plicação é a de que, com o treinamento, o sistema dos os músculos engajados no desempenho de de-
nervoso induz pequeno número de fibras a produzir terminada tarefa de força agem como sinergistas. A
maior força por operá-las na relação força-velocida- seção anterior considerou o incremento da ativação
de; ou seja, os motoneurônios inervando as fibras agonista, enquanto a subseqüente considera a co-ati-
musculares deveriam ser requisitados para descargas vação antagonista. Portanto, esta seção se focalizará
em altas freqüências. Ainda outra possível explicação em uma definição mais estreita de sinergistas — gru-
é a alteração da sincronização das unidades motoras po separado de músculos agonistas, compartimento
ativas (para discussão, ver Ploutz et al., 1994). A evi- dentro de um músculo ou subpopulações de unida-
dência de que um mecanismo neural está envolvido des motoras em um músculo que agem conjunta-
surge da observação de menor ativação muscular mente para realizar determinada função. Por exem-
absoluta nos membros contralaterais treinados e nos plo, o bíceps, os braquiais e os braquiorradiais são
não-treinados (Ploutz et al., 1994). As adaptações agonistas para a flexão do cotovelo. Cada um é con-
musculares não poderiam representar a menor ati- siderado como sinergista para os outros dois; no en-
vação por unidade de força no membro não-treina- tanto, sua ativação relativa pode variar dependendo
do (no entanto, deve-se lembrar, que, no estudo de da ação realizada. As cabeças longa e curta do bíceps
312 PAAVO V. KOMI

podem agir sinergisticamente, mas sua ativação rela- Estudos eletromiográficos


tiva pode ser tarefa-dependente. Finalmente, na ca-
beça do bíceps, as subpopulações de unidades moto- Evidência de coordenação sinergista ta-
ras podem ser mais ou menos ativas, dependendo da refa-dependente
tarefa. Neste último caso, as fibras musculares de al-
gumas unidades motoras podem ser mais estrategi- Muitas das evidências que demonstram variação
camente requisitadas a produzir força em determi- da ativação dos sinergistas em tarefas específicas ori-
nada ação. Outro aspecto da coordenação entre as ginam-se dos estudos eletromiográficos. Muitos gru-
unidades motoras ativas refere-se ao fato de que a pos sinergistas são monitorizados durante a realiza-
força coletiva desenvolvida depende de conexões se- ção de diversos movimentos ou tarefas. Nos flexores
riais e paralelas entre as fibras musculares (Sheard, do cotovelo, por exemplo, os braquiorradiais auxiliam
2000). Finalmente, os músculos podem agir como fi- o bíceps na flexão, mas não na supinação (Caldwell
xadores em alguns movimentos. Os fixadores podem et al., 1993). Durante as ações concêntricas e isomé-
não causar ação articular direta, mas auxiliar na pre- tricas máximas, a ativação relativa do bíceps é afetada
venção de movimentos indesejáveis em outras arti- pelo ângulo articular, enquanto a ativação dos bra-
culações; nesse sentido, eles poderiam ser referidos quiorradiais é afetada pelo ângulo articular durante
como sinergistas. Os fixadores também podem for- ações excêntricas máximas (Kasprisisn e Grabiner,
necer uma “plataforma” estável para a ação articular, 2000). O racio* da ativação braquiorradiais-bíceps é
por exemplo, a estabilização do tronco no exercício maior nos ângulos articulares de maior flexão do que
de desenvolvimento. nos de maior extensão em ações excêntricas e iso-
No desempenho de força, o objetivo da ativação métricas, mas a relação não é afetada pelo ângulo ar-
ou coordenação apropriada dos sinergistas é o de- ticular nas ações concêntricas. Em ângulos estendi-
senvolvimento da maior força possível em direção ao dos, a relação é maior nas ações excêntricas do que
movimento requerido. O fato de o treinamento po- nas concêntricas (Nakazawa et al., 1993). No bíceps,
tencializar a coordenação por adaptações neurais é o aumento do comprimento muscular (ângulo arti-
fortemente sugerido por inúmeros estudos que têm cular estendido) promove aumento na ativação da
demonstrado especificidade na resposta ao treina- cabeça longa em relação à cabeça curta no desenvol-
mento. Essa especificidade pode estar relacionada ao vimento da supinação (Brown et al., 1993). Em am-
padrão de movimento, ao tipo de ação muscular (con- bas as cabeças do bíceps, maior ativação é alcançada
cêntrica, excêntrica, isométrica) e à velocidade em- nas ações combinadas (flexão mais supinação) do que
pregada no treinamento (Sale e MacDougall et al., em qualquer ação isolada (Caldwell et al., 1993;
1981). Uma manifestação geral de especificidade é o Perot et al., 1996), e a ativação atingida no bíceps é
aumento muito maior da força quando o teste de força maior na supinação máxima do que nos esforços de
é idêntico ao exercício do treinamento e o aumento flexão (Jamison e Caldwell, 1993). Na cabeça longa
muito menor quando o teste de força não é idêntico do bíceps, as unidades motoras lateralmente locali-
aos exercícios do treinamento (Kanehisa e Miyashita, zadas são preferencialmente ativadas na flexão, en-
1983; Rutherford e Jones, 1986; Rutherford et al., quanto as medialmente localizadas são preferencial-
1986; Rutherford, 1988; Morrissey et al., 1995; mente ativadas na supinação (Harr Romeny et al.,
Aagaard et al., 1996; Almasbakk e Hoff, 1996; 1984; ver Fig. 15.12).
Häkkinen et al., 1996; Narici et al., 1996; Wilson et A ativação relativa das quatro cabeças do quadrí-
al., 1996; ver também Fig. 15.11). Raramente esse tipo ceps pode variar em diferentes ações. Os vastos me-
de especificidade não é observado (Laidlaw et al., dial e lateral foram mais ativos durante os últimos
1999). O treinamento que causa grande aumento na 15° de extensão do joelho (Gryzlo et al., 1994). No
força específica e hipertrofia pode ser incapaz de au-
mentar a força em um teste de força não-específico
do mesmo grupo muscular (Brown et al., 1990; Sale *N. de R.T. Relativo à relação entre as forças produzidas por
et al., 1992; Higbie et al., 1996; Harridge et al., 1999; dois grupos musculares antagônicos. Da expressão inglesa
ver Fig. 15.11). “ratio”.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 313

Figura 15.12 Efeito do padrão de


movimento no recrutamento de unidades
motoras. O bíceps pode agir como agonista
na flexão do cotovelo e na supinação do
antebraço. No gráfico superior, é
demonstrado que a unidade motora na
porção lateral da cabeça longa do bíceps é
preferencialmente recrutada em relação à
unidade motora da porção medial quando a
força de flexão é desenvolvida primeiro.
Quando os sujeitos diminuíram a força de
flexão e começaram a desenvolver força de
supinação, a unidade medial foi
preferencialmente ativada. A parte inferior da
figura demonstra que quando a ordem de
produção de força de flexão e de supinação é
invertida, o mesmo ocorre na ordem de
ativação preferencial. A ativação seletiva das
unidades motoras de um músculo,
dependendo da tarefa, pode estar
relacionada à especificidade do padrão de
movimento que tem sido observado no
treinamento de força (baseada em ter Harr
Romeny et al., 1984).

exercício de extensão do joelho, a ativação relativa do A ativação relativa dos componentes do tríceps
vasto lateral, do vasto medial e do reto femoral é simi- sural (sóleo e gastrocnêmios medial e lateral) é afeta-
lar na fase concêntrica de cada repetição, mas na fase da pelo padrão de movimento, pelo tipo de ação
excêntrica o reto femoral demonstra a maior ativação muscular e pela velocidade. Nas ações concêntricas
(Narici et al., 1996). No mesmo exercício, o reto femo- de flexão plantar em baixas velocidades (esforços sub-
ral é mais ativo com a tíbia lateralmente rotada do que máximos), o sóleo é relativamente mais ativo do que
na posição neutra ou rotada internamente (Signorile o gastrocnêmio na posição flexionada do joelho em
et al., 1995). O racio da ativação vasto medial-vasto relação à posição estendida. Em velocidades maiores
lateral é maior quando a extensão do joelho é combi- (esforços máximos), o racio da ativação sóleo-gas-
nada com rotação medial da tíbia do que quando com- trocnêmio não é afetado pela posição da articulação
binada com adução do quadril (Laprade et al., 1998). do joelho. Na posição flexionada, o gastrocnêmio é
314 PAAVO V. KOMI

relativamente mais ativo quando comparado ao só- nêmio é relativamente mais ativo em ações excêntri-
leo em maiores velocidades, enquanto o oposto é ver- cas (Nardone e Schieppati, 1988; ver Fig. 15.13). No
dadeiro com o joelho estendido. Uma observação gastrocnêmio, as unidades motoras de contração lenta
geral é o início precoce da atividade do gastrocnêmio são preferencialmente ativadas na fase concêntrica,
quando comparado ao sóleo em ações rápidas enquanto as unidades de contração rápida são mais
(Carpentier et al., 1996). O sóleo é relativamente mais ativas na fase excêntrica (Nardone et al., 1989; ver
ativo do que o gastrocnêmio em ações concêntricas também Fig. 15.14). No ciclismo estacionário, o gas-
submáximas contra-resistência, enquanto o gastroc- trocnêmio é preferencialmente ativado sobre o sóleo

Figura 15.13 Efeito do tipo de ação na ativação muscular. Os registros são feitos nos músculos sóleo (SOL) e gastrocnêmio lateral
(GL) quando estes estão agindo como agonistas na ação de encurtamento para elevar um peso, em uma contração isométrica para
manter o peso ainda brevemente e em uma ação de alongamento (excêntrica) para baixar o peso novamente. Esse padrão de
movimento é típico em programas de treinamento de força. Observe que o sóleo foi preferencialmente ativado nas fases concêntrica
e isométrica, enquanto o gastrocnêmio lateral foi preferencialmente ativado na fase excêntrica. A ativação seletiva do GL foi mais
pronunciada quando a ação excêntrica foi realizada de modo relativamente rápido (baseada em Nardone e Schieppati, 1988).

Figura 15.14 Efeito do tipo de ação no padrão de recrutamento das unidades motoras. Os registros são feitos de unidades motoras
de fibras de contração lenta de baixo limiar (ST) e de contração rápida de alto limiar (FT) do músculo gastrocnêmio quando está
agindo como agonista na ação de encurtamento (concêntrica) para elevar um peso, em uma contração isométrica para manter o
peso ainda brevemente e em uma ação de alongamento (excêntrica) para baixar o peso novamente. Esse padrão de movimento é
típico em programas de treinamento de força. Observe que as unidades motoras de baixo limiar são preferencialmente ativadas nas
fases concêntrica e isométrica, enquanto as unidades motoras de alto limiar são preferencialmente ativadas na fase excêntrica. A
ativação seletiva das unidades de alto limiar foi mais pronunciada quando a ação excêntrica foi realizada de modo relativamente
rápido (baseada em Nardone et al., 1989).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 315

em maiores velocidades (Duchateau et al., 1986; ver orientação do tronco se altera da posição declinada
Fig. 15.15). O mesmo ocorre no salto (Moritani et (cabeça para baixo) para a inclinada (cabeça para cima)
al., 1990). (Barnett et al., 1995). A ativação dos músculos nos
Em geral, os exercícios de “pressão” são aplica- exercícios de pressão é também influenciada pela dis-
dos em programas de treinamento de força. A ativa- tância das mãos na barra; por exemplo, a ativação da
ção relativa de vários músculos é influenciada pela cabeça esternocostal do peitoral maior, mas não a
orien-tação do tronco durante a realização desses clavicular, foi afetada pela distância das mãos em al-
exercícios (Barnett et al., 1995; ver Fig. 15.16). Por guns exercícios (100% versus 200% do diâmetro bia-
exemplo, a cabeça esternocostal do peitoral maior é cromial; Barnett et al., 1995).
altamente ativada quando o tronco está na posição
horizontal (supino reto), mas muito pouco quando o
Estudos com treinamento
tronco está na posição vertical (exercício desenvolvi-
mento ou “military press”). A cabeça anterior do del- Ao contrário de muitos estudos relacionados à
tóide se torna progressivamente mais ativa quando a EMG, que indicam variação da ativação sinergista

Figura 15.15 Efeito da velocidade de ativação muscular. A Figura 15.16 Ativação de alguns músculos agindo na
EMG foi registrada em dois músculos da perna enquanto articulação do ombro em quatro versões do exercício de
pedalava com sobrecarga constante, mas em diferentes “pressão”: supino declinado (cabeça para baixo), supino reto ou
velocidades. O gastrocnêmio medial aumentou sua atividade de plano, supino inclinado (cabeça para cima) e supino vertical. A
acordo com o aumento da velocidade. Ao contrário, o sóleo EMG de superfície das cabeças esternal e clavicular do peitoral
tornou-se ligeiramente menos ativo quando a velocidade maior (PM), do deltóide anterior e da cabeça longa do tríceps
aumentou. A partir desses resultados pode-se supor que o (CLT) foi monitorizada. Na demonstração, a EMG de cada
sistema nervoso ativou preferencialmente o gastrocnêmio em músculo foi normalizada de acordo com o valor obtido no
altas velocidades devido a esse músculo apresentar maior exercício em que foi mais ativo. Pode ser observado que esses
porcentagem de fibras de contração rápida do que o sóleo. Essa músculos são muito mais ativos em alguns exercícios do que
ativação seletiva dos músculos em determinadas velocidades de em outros (ver texto para detalhes). O treinamento com
movimento pode explicar parcialmente a especificidade de determinado exercício provavelmente evoca adaptações neurais
velocidade no treinamento (baseada em Duchateau et al., e musculares específicas relacionadas ao padrão de uso
1986). muscular (baseada em Barnett et al., 1995).
316 PAAVO V. KOMI

tarefa-dependente, poucos trabalhos monitorizam terações nos padrões de ativação como efeito induzi-
possíveis alterações na ativação relativa dos sinergis- do pelo treinamento.
tas após o treinamento.
As observações mais relevantes são as previamen-
Evidência de coordenação sinergista ta-
te discutidas referentes ao aumento na atividade EMG
refa-dependente
observado pós-treinamento (Fig. 15.4). Esses estu-
dos demonstram que o aumento na atividade EMG No exercício comum de flexão do cotovelo com
pode ser restrito a uma cabeça do quadríceps após halteres e antebraço supinado em determinada in-
treinamento de extensão de joelho. Não se sabe ao tensidade, poucas repetições foram necessárias para
certo se essas descobertas indicam que o aumento demonstrar ativação na cabeça curta do bíceps quan-
na EMG foi restrito a um determinado sinergista de- do comparada à longa. Isso indica que a cabeça curta
vido ao fato de este ter sido mais extensivamente ati- é mais ativa no exercício (Yue et al., 1994). Esses re-
vado no treinamento ou se ele não era adequadade- sultados estão de acordo com as descobertas que, com
mente ativado antes do treinamento e, portanto, o uso da EMG, demonstraram uma ativação relati-
apresentava maior capacidade de adaptação* (maior vamente maior da cabeça curta em várias tarefas de
ativação). Por exemplo, na flexão do cotovelo em con- flexão (Jamison e Caldwell, 1993). As ações concên-
dições isométrica e máxima, a ativação do braquiorra- tricas isocinéticas de extensão do joelho envolveram
dial é menor do que a do bíceps braquial (Allen et al., ativação das quatro cabeças do quadríceps, com o reto
1998); portanto, maior aumento na ativação (EMG) femoral parecendo mais ativo (Akima et al., 1999).
induzido pelo treinamento pode ser esperado nos bra- Seis músculos ou pares de músculos podem agir na
quiorradiais. extensão do pescoço; porém, somente três músculos
Um estudo transversal demonstrou que sujeitos são intensamente ativados até mesmo nos exercícios
treinados (que executam corretamente os exercícios) de força de alta intensidade (Conley et al., 1995). O
ativam os músculos abdominais diferentemente dos método de RM tem sido utilizado para mensurar a
sujeitos não-treinados. Nos treinados, o exercício ativação relativa dos músculos dos membros inferio-
abdominal com flexão total** produziu maior ativi- res e superiores nos programas de treinamento de
dade na porção superior do reto abdominal, enquan- força (Tesch et al., 1999). Uma limitação do méto-
to no exercício abdominal com inclinação da pel- do é que não pode ser facilmente aplicado aos mús-
ve,*** a porção inferior foi relativamente mais ativa. culos do tronco (peitoral maior, latíssimo do dorso).
As porções superior e inferior foram menos distin-
tamente ativadas nos sujeitos não-treinados (Sarti
Estudos com treinamento
et al., 1996).
O treinamento pode acentuar, atenuar ou rever-
Ressonância magnética ter o padrão de ativação sinergista em relação à ati-
vação dos músculos extensores do pescoço citada
Conforme discutido anteriormente, a ressonân- anteriormente. Um estudo indicou que os músculos
cia magnética pode indicar a atividade, assim como a mais ativos na extensão do pescoço antes do treina-
magnitude da atividade dos músculos em determi- mento demonstraram maior ativação relativa (com-
nado exercício. Então, esse método pode mensurar a parados aos músculos menos ativos) após o treina-
ativação aguda dos sinergistas, além das possíveis al- mento com a mesma sobrecarga absoluta (intensidade
máxima antes do treinamento, mas submáxima após)
(Conley et al., 1997a; ver Fig. 15.17). Além disso, os
músculos que demonstraram maior ativação relativa
no exercício submáximo sofreram maior aumento
*N. de R.T. O autor refere-se ao que, no treino esportivo, de- na ativação no exercício máximo pós-treinamento
nomina-se “janela de adaptação”.
**N. de R.T. Exercício abdominal em que se realiza inicial-
(Fig. 15.9). O aumento na ativação foi significativa-
mente a flexão da coluna, a qual é seguida pela flexão dos mente marcado nos músculos vasto lateral e inter-
quadris. Em inglês, também denominado “curl-up”. médio em resposta ao treinamento isocinético con-
***N. de R.T. Relativo ao exercício de retroversão da pelve.
cêntrico dos extensores do joelho. Foi também
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 317

de treinamento seria correspondente à hipertrofia


preferencial desses músculos. O treinamento dos
músculos extensores do joelho com ações isocinéti-
cas concêntricas induziu hipertrofia preferencial dos
vastos intermédio e medial quando comparados às
duas outras cabeças do quadríceps; correspondente-
mente, os registros EMG indicaram maior ativação
relativa desses músculos no treinamento (Narici et
al., 1989). No entanto, um estudo anterior, que usou
um protocolo de treinamento muito similar, encon-
trou maior hipertrofia no reto femoral (Housh et al.,
1992). O treinamento de força (ações concêntricas e
excêntricas dos extensores do joelho) produziu hi-
pertrofia preferencial dos músculos vasto lateral e reto
Figura 15.17 Efeito do treinamento na ativação muscular femoral quando comparados aos vastos medial e in-
mensurada por ressonância magnética. Os músculos extensores termédio (Hisaeda et al., 1996). Outro estudo com
do pescoço (cabeça) foram submetidos ao treinamento de força protocolo similar demonstrou resposta hipertrófica
em exercício de extensão do pescoço. Nove regiões musculares mais equilibrada, mas, mesmo assim, com maior efeito
foram monitorizadas, incluindo os seguintes seis músculos/
pares de músculos: EC: esplênio da cabeça; SEC: semi-espinal
no reto femoral. A monitorização EMG durante o
da cabeça; SEP: semi-espinal do pescoço e multífido; EE: treinamento indicou que todas as cabeças do qua-
elevador da escápula; LC: longuíssimo da cabeça; EMA: dríceps foram igualmente ativadas na fase concêntri-
escaleno medial e anterior. A figura demonstra o uso relativo ca de cada repetição, mas o reto femoral sofreu uma
indicado (porcentagem de área de secção transversa muscular sobrecarga desproporcional durante a fase excêntri-
ativa) de cada músculo/par de músculos antes do treinamento
seguindo três séries de 10-RM, e após o treinamento com a
ca, que pode ter influenciado a hipertrofia diferenci-
mesma sobrecarga absoluta, mas agora em menor porcentagem al desse músculo (Narici et al., 1996).
(~ 75%) de 10-RM. Todos os músculos/pares de músculos Dois estudos com os flexores de cotovelo apre-
demonstraram menor ativação após o treinamento, mas ocorreu sentaram resultados opostos: um demonstrou maior
maior decréscimo nos músculos que estavam menos ativos hipertrofia do bíceps do que do braquial (McCall et
antes do treinamento (três músculos/pares de músculos na
direita da figura). A adaptação neural aparente, portanto,
al., 1996), enquanto o outro apresentou resultado
consistiu não somente em um decréscimo geral na ativação inverso (O’Hagan et al., 1995). A diferente resposta
para a mesma sobrecarga absoluta, mas na redistribuição da hipertrófica provavelmente refletiu a aplicação de di-
sobrecarga nos grupos de sinergistas (baseada em Conley et al., ferentes exercícios no treinamento. McCall e cola-
1997a). boradores (1996) empregaram quatro exercícios não
específicos para os flexores do cotovelo, enquanto
O’Hagan e colaboradores (1995) usaram uma com-
encontrada uniformidade no aumento da ativação ao binação de treinamento com pesos livres e um exer-
longo do comprimento do músculo; no entanto, hou- cício em um equipamento com resistência variada.*
ve indicação de maior aumento da ativação nas por- O treinamento dos músculos extensores do pes-
ções anteriores de algumas cabeças do quadríceps coço resultou em hipertrofia preferencial em 3 dos 6
(Akima et al., 1999). músculos ou pares de músculos (Conley et al., 1997b).
Esses foram os mesmos músculos que aumentaram
Hipertrofia preferencial sua ativação no exercício máximo e sua ativação rela-
tiva (para outros músculos) no exercício submáximo
(Conley et al., 1997a; ver Figs. 15.9 e 15.7).
Hipertrofia preferencial dos sinergistas
Uma indicação indireta de que alguns músculos
em um grupo de sinergistas são preferencialmente
ativados em determinado exercício ou que sua ativa- *N. de R.T. Equipamento que apresenta polias excêntricas ou

ção é preferencialmente potencializada após período CAMs.


318 PAAVO V. KOMI

Hipertrofia preferencial regional intramus- trofia por “atingir” os músculos geralmente mais ati-
cular vos, simplesmente por ativá-los com mais regulari-
dade. O mesmo argumento poderia ser aplicado a de-
Alguns programas de treinamento podem pro- terminada região de um músculo que pela primeira
vocar hipertrofia não-uniforme ao longo do compri- vez torna-se regularmente ativo como resultado do
mento dos músculos. Um grupo de pesquisa obser- treinamento. Nenhuma adaptação neural profunda
vou que a hipertrofia relativa (porcentagem de está em ação. O sistema nervoso tem sido estimula-
aumento na ASTm) no quadríceps geralmente maior do para realizar tarefas neuromusculares incomuns.
na região proximal do que na distal após treinamen-
to isocinético (Narici et al., 1989), porém mais uni-
forme em todo o comprimento muscular (fêmur) após Co-ativação de antagonistas
treinamento de força convencional (Narici et al.,
1996). No entanto, outros grupos encontraram ten-
Prevalência e funções
dência de maior hipertrofia distal com o treinamento
isocinético (Housh et al., 1992) e maior hipertrofia A contração dos agonistas (motores primários de
proximal com o treinamento de força convencional determinada tarefa) pode ser associada às contrações
(Smith e Rutherford, 1995). simultâneas de seus antagonistas (músculos que pro-
A hipertrofia proximal quando comparada à dis- duzem força e movimento em direção oposta), refe-
tal pode ser específica à cabeça do músculo quadrí- ridas como contração antagonista ou co-ativação.
ceps. Por exemplo, o treinamento de força produziu Geralmente, os músculos agonistas e antagonistas são
hipertrofia proximal preferencial do vasto medial, mas diferentes (p. ex., flexores e extensores do cotovelo),
hipertrofia distal no reto femoral e no vasto lateral mas podem envolver diferentes porções do mesmo
(Narici et al., 1996). Os resultados com treinamento músculo (p. ex., porções anterior e posterior do del-
isocinético não têm sido consistentes (Narici et al., tóide). Vários fatores afetam a presença e a magnitu-
1989; Housh et al., 1992). de da co-ativação antagonista; além de seus efeitos
A hipertrofia regional nos músculos dos mem- opostos (aos agonistas), tais como grupo muscular
bros superiores desperta pouca atenção. Um estudo (área de secção transversa fisiológica, assim como
indicou que o treinamento com extensão de cotove- braço-momento), velocidade e tipo de ação muscu-
lo causou aumento relativo (porcentagem) uniforme lar, intensidade de esforço, posição articular e nível
na ASTm em todo o comprimento da cabeça longa de lesão (Osternig et al., 1986; Osternig et al.,1995;
do tríceps, exceto para as extremidades proximais e Carpentier et al., 1996; Kellis e Baltzopoulos, 1997;
distais no tendão (Kawakami et al., 1995). Kellis e Baltzopoulos, 1998; Kellis, 1998). A estraté-
gia de recrutamento das unidades motoras pode va-
Adaptações neurais comparadas às riar dependendo de a ação ser agonista ou antago-
musculares? nista (Bernardi et al., 1997; Carpentier et al., 1999).
A co-ativação dos antagonistas poderia parecer
A hipertrofia preferencial dos sinergistas em um contraprodutiva, particularmente em uma tarefa de
grupo ou sub-regiões dentro do músculo encoraja a força, pois o torque oposto desenvolvido pelos anta-
interpretação de que as adaptações neurais, na forma gonistas diminui o torque na direção do movimento.
de ativação preferencial dos sinergistas ou sub-regiões Por exemplo, nas extensões do joelho concêntricas
musculares no treinamento, são responsáveis por essa máximas, os flexores do joelho — antagonistas — irão
hipertrofia. Em algumas situações, há evidências em gerar torque (oposto) variando de 10 a 75% do tor-
sinais EMGs (Narici et al., 1996) ou de RM que cor- que extensor total, dependendo do ponto na ampli-
roboram essa interpretação. No entanto, outras in- tude de movimento (Baratta et al., 1988; Kellis e Balt-
terpretações são possíveis. Por exemplo, alguns mús- zopoulos, 1997; Aagaard et al., 2000). Essas
culos dentro de um grupo de sinergistas podem ser estimativas de torque oposto ocorrerão no nível de
menos ativos em um estilo de vida sedentário. Um ativação dos flexores do joelho associadas com o tipo
programa de treinamento poderia estimular a hiper- de ação muscular (excêntrica para os flexores do joe-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 319

lho), a velocidade e a amplitude de movimento. Tam- Efeitos do treinamento


bém existe evidência de que a co-ativação antagonis-
ta pode prejudicar, por inibição recíproca, a capaci- A alteração da co-ativação antagonista encerra
dade de ativar completamente os agonistas (Tyler e um dilema para o sistema nervoso central. Por sua
Hutton, 1986; Milner et al., 1995). Como discutido vez, a adaptação neural na forma de menor co-ativa-
anteriormente com referência à ativação agonista, os ção antagonista contribuiria para o aumento da for-
antagonistas de um grupo funcional podem não par- ça (torque total na articulação). No entanto, a manu-
ticipar igualmente na co-ativação. Por exemplo, a co- tenção do equilíbrio entre as ativações agonista e
ativação é maior na porção lateral dos isquiotibiais antagonista pode ser o fator mais importante para a
(bíceps femoral) do que na medial (semitendíneo) na estabilidade articular quando a força agindo nas arti-
extensão do joelho isocinética concêntrica relativa- culações aumenta durante o treinamento. O dilema
mente lenta (Aagaard et al., 2000). é, às vezes, solucionado ao permitir algum decrésci-
A aparente desvantagem da co-ativação antago- mo na co-ativação antagonista (Bernardi et al., 1996).
nista (torque oposto) representa uma vantagem po- Em termos de ativação muscular, dois padrões de re-
tencial. A co-ativação antagonista pode auxiliar na sultado são observados em estudos longitudinais de
manutenção da estabilidade articular (Carpentier et treinamento. Primeiro, decréscimo na ativação anta-
al., 1996; Kellis, 1998; Kellis e Baltzopoulos, 1999; gonista absoluta em conjunto, seja com aumento
Aagaard et al., 2000; Solomonow e Krogsgaard, 2001), (Häkkinen et al., 1998a; Häkkinen et al., 2000) ou
além da coordenação do movimento (Jongen et al., nenhuma alteração na ativação do agonista (Carolan
1989; Van Zuylen et al., 1988). Por exemplo, muitas e Cafarelli, 1992); segundo, ausência de alteração na
pesquisas analisam a questão da co-ativação antago- ativação antagonista absoluta, mas aumento da ati-
nista e da estabilidade da articulação do joelho vação agonista, reduzindo a taxa de ativação antago-
(Kellis, 1998). Um exemplo relacionado à coordena- nista-agonista (Colson et al., 1999; Hortobágyi e
ção é que quando o bíceps age para supinar o ante- DeVita, 2000; Häkkinen et al., 2001). Dois estudos
braço, o tríceps tem de ser ativado para eliminar a que fizeram medidas freqüentes encontraram dimi-
flexão desnecessária do cotovelo. A co-ativação an- nuição da ativação antagonista no período inicial do
tagonista é proeminente em ações (balísticas) de alta programa de treinamento (Carolan e Cafarelli, 1992;
velocidade (Corcos et al., 1989; Carpentier et al., Häkkinen et al., 1998a). Um exemplo da contribui-
1996), em que pode fornecer mecanismos de estabi- ção que diminui a co-ativação, podendo aumentar a
lização, de precisão e de bloqueio (Lestienne, 1979; força, está demonstrado na Figura 15.18. Nesse es-
Marsdem et al., 1983; Wierzbicka et al., 1986). Um tudo, os extensores do joelho foram treinados com
padrão de ativação trifásico (agonista-antagonista- ações isométricas por oito semanas (Carolan e Cafa-
agonista) ocorre em ações rápidas que têm a inten- relli, 1992). Após uma semana de treinamento, foi
ção de interromper o movimento (p. ex., alcançar uma verificado que a diminuição da co-ativação antago-
posição-alvo) (Marsden et al., 1983), enquanto as nista (flexores do joelho) contribuiu com cerca de
ações agonistas e antagonistas são concorrentes di- um terço de aumento na força de extensão do joelho.
ante da inexistência de intenção de interromper o No entanto, após oito semanas, não houve decrésci-
movimento (Carpentier et al., 1996). Finalmente, a mo adicional na co-ativação antagonista, então sua
inibição aparentemente deletéria dos agonistas pela contribuição relativa caiu para aproximadamente
co-ativação antagonista pode representar um meca- 10% (Fig. 15.18). A questão é que, mesmo se o trei-
nismo protetor em atividades que envolvam ações namento exclusivo não resultasse em alteração na co-
fortes ou rápidas (Tyler e Hutton, 1986). Nesse pon- ativação antagonista, mensurada ou expressa, o tor-
to, é de interesse que a ativação antagonista (Kellis e que oposto oferecido pelos antagonistas, relativo ao
Baltzopoulos, 1998) e o momento antagonista dos aumento do torque agonista, poderia ser reduzido
flexores do joelho sejam aparentemente maiores em devido às adaptações não-neurais nos agonistas
ações de extensão do joelho excêntricas do que em (p. ex., hipertrofia). A partir dessa perspectiva, ganha
concêntricas (Kellis e Baltzopoulos, 1997; Kellis e força o argumento de que em eventos de treinamen-
Baltzopoulos, 1999). to exclusivo do agonista, a co-ativação antagonista
320 PAAVO V. KOMI

xores do joelho do que sujeitos não-treinados quan-


do realizam extensão do joelho em ações isocinéticas
concêntricas e excêntricas em inúmeras velocidades
(Amiridis et al., 1996). Os atletas com hipertrofia de
quadríceps apresentaram menor co-ativação dos fle-
xores do joelho durante extensões isocinéticas do
joelho do que sujeitos-controle, mas houve aumen-
to na co-ativação dos flexores naqueles atletas que
participaram de treinamento específico de flexão do
joelho quando comparado aos níveis iniciais em pou-
cas semanas (Baratta et al., 1988).

Figura 15.18 Evidência de menor ativação antagonista no


treinamento de força. Os músculos extensores do joelho foram
treinados em ações isométricas. Houve aumento na força Interação entre as adaptações
isométrica após uma semana de treinamento. De acordo com a neurais e musculares
EMG de superfície, a ativação agonista (vasto lateral) não
alterou; no entanto, foi observado decréscimo na co-ativação O conceito de adaptação neural provavelmente
antagonista. Foi estimado que a diminuição da ativação surge de três principais observações. Primeira, o au-
antagonista contribuiu em 34% do aumento total na força após
uma semana de treinamento. Nas sete semanas seguintes de mento quase imediato da força no início do treina-
treinamento, o aumento na força foi muito maior (33% após 8 mento com ausência (mensurável) de hipertrofia. A
semanas), mas nenhuma alteração foi detectada na ativação segunda representa a magnitude total de aumento
agonista e antagonista. Portanto, a contribuição da menor (específico) na força, que poderia ser parcialmente
ativação antagonista para o aumento total na força caiu para explicada pela hipertrofia. A terceira consiste no efeito
10%. Os 90% restantes de contribuição para o aumento na
força não foram considerados. Pode ter havido hipertrofia (não- cruzado do treinamento, em que o aumento da força
mensurada) ou a ativação pode ter aumentado nas cabeças do no membro ativo repercute no membro contralate-
quadríceps não-monitorizadas (baseada em Carolan e Cafarelli, ral não-treinado. O clássico estudo de Moritani e de-
1992). Vries (1979) quantificou as contribuições das adap-
tações neural e muscular, além de traçar o período
de tempo das duas adaptações. Os resultados encon-
deveria aumentar para manter o “equilíbrio da potên- trados nesse e em outros estudos são resumidos na
cia” do pré-treinamento na articulação, com suas Figura 15.20. As adaptações neurais predominam no
implicações para a estabilidade articular. É aconse- início do programa de treinamento. Posteriormente,
lhável considerar esse ponto no delineamento de pro- quando as adaptações neurais alcançam um platô,
gramas específicos de treinamento; ou seja, especifi- ocorre a adaptação muscular (hipertrofia). Eventual-
cidade ao extremo pode pôr em risco a estabilidade mente, as adaptações a qualquer tipo de estímulo al-
articular. No entanto, o treinamento equalizado dos cançam um limite e o aumento na força é interrom-
pares agonistas-antagonistas pode preservar a esta- pido — ocorre um platô no desempenho da força.
bilidade articular (Aagaard et al., 1996). Nesse estágio, o treinamento induz pouca ou nenhu-
Os estudos transversais demonstraram resulta- ma melhoria adicional em indivíduos altamente trei-
dos distintos. Os velocistas apresentam maior grau nados (Häkkinen et al., 1988; Häkkinen et al., 1991;
de co-ativação antagonista do que corredores de dis- Alway et al., 1992). Isso pode induzir ao uso de su-
tância quando realizam extensões do joelho em alta plementos alimentares e esteróides anabólicos no
velocidade (ações concêntricas) em dinamômetro iso- intuito de elevar o desempenho acima desse platô.
cinético (Fig. 15.19). Ao contrário, os atletas de força Não é o caso de ausência de “fornecedores” desses
e potência, quando comparados aos atletas de endu- itens. Em indivíduos fisicamente ativos que perma-
rance, possuem menor co-ativação dos flexores du- necem algum período de tempo nesse platô, talvez
rante extensões lentas do joelho desenvolvidas para parcialmente devido ao sobretreinamento, o treina-
alongar os flexores do joelho (Osternig et al., 1990). mento reduzido, mais do que o aumento, incrementa
Os saltadores apresentam menor co-ativação dos fle- a força, a ativação neural e provavelmente o tama-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 321

Figura 15.19 Representação esquemática da EMG dos flexores do joelho durante extensão e flexão de joelhos rápidas e alternadas
(ações concêntricas) em dinamômetro isocinético. Na fase de extensão, quando os flexores estavam agindo como antagonistas, a
atividade do flexor foi maior em velocistas do que em corredores. A diferença na atividade dos flexores pode refletir adaptação neural
específica ao treinamento (baseada em Osternig et al., 1986 e reproduzida com permissão de Sale, 1988).

nho muscular (Häkkinen et al., 1991; Gibala et al., não o aumento da força, é retardada em grupos mus-
1994; Trappe et al., 2000). culares que participam de exercícios multiarticulares
O período e a magnitude de tempo das contri- mais complexos, como o supino reto e o leg press,
buições neurais e musculares podem ser afetados quando comparados a exercícios uniarticulares mais
pelos estímulos neuromusculares impostos pelo trei- simples, como a flexão do cotovelo (Chilibeck et al.,
namento. Tem sido observado que a hipertrofia, mas 1998). A hipertrofia também é retardada quando o

Figura 15.20 O papel relativo da adaptação neural e muscular


ao treinamento de força. Na fase inicial do treinamento, ocorre
predominância da adaptação neural, mas pode não ser o único
contribuidor para o aumento da força (ver discussão no texto e na
Fig. 15.21). Essa fase também abrange muitos estudos de
treinamento. Em fases intermediárias e avançadas, o progresso é
limitado à magnitude da adaptação muscular que pode ser
atingida. Os atletas de elite que possuem muito tempo de
treinamento despendem grande parte de suas carreiras em um
platô e tornam-se progressivamente suscetíveis à tentação do uso
de suplementos alimentares e de drogas anabólicas. A figura
implica que a hipertrofia representa a única adaptação muscular
que aumenta a força; no entanto, as adaptações que podem
aumentar a força específica (força por unidade de área de secção
transversa) não podem ser excluídas.
322 PAAVO V. KOMI

treinamento do membro não-dominante é compa-


rado ao dominante (Moritani e deVries, 1979), talvez
pelo fato de o primeiro apresentar um maior desafio.
Com base no princípio da especificidade, uma alte-
ração no programa de treinamento, tal como dife-
rentes exercícios envolvendo os mesmos músculos,
poderia desencadear um estímulo transiente de adap-
tações neurais e musculares. Para o indivíduo fisica-
mente ativo, a dor muscular tardia representa um si-
nal de alteração do programa de treinamento após a
primeira “nova” sessão de treino. Mas o platô pode ser
novamente alcançado em qualquer outro momento.
Uma diferença no esquema apresentado na Fi-
gura 15.20, comparado à sua versão anterior (Sale,
1988; Sale et al., 1992), é que a adaptação muscular
(hipertrofia) se eleva acima dos valores pré-treina-
mento em um ponto inicial do tempo. Na realidade,
a adaptação muscular pode ser induzida pela primei-
ra sessão de treinamento. Como se sabe, a primeira
sessão de treinamento realizada por sujeitos fisica-
mente inativos induz lesão da fibra muscular (Gibala
et al., 2000) e estimula tanto a síntese como a degra-
dação protéica, promovendo ganho protéico miofi-
brilar (Phillips, 2000). A questão é quão rapidamente
o ganho pode produzir aumento mensurável no ta-
manho da fibra ou do músculo e contribuir para o
aumento da força. Uma revisão de vários estudos su-
gere que cerca de seis semanas de treinamento são
necessárias para produzir aumento significativo na Figura 15.21 O curso de tempo da área da fibra muscular do
área da fibra, dado o tamanho das amostras utiliza- vasto lateral aumenta durante programa de treinamento de
das e a precisão da medida (Phillips, 2000); no entan- força. (a) A área das fibras musculares tipo I, IIa e IIb foi
to, a hipertrofia poderia concebivelmente estar con- mensurada nas semanas 4, 7 e 12 do treinamento de força em
tribuindo em um ponto precoce de tempo. Dois seis homens jovens. *Aumento estatisticamente significativo na
área da fibra em 7 semanas (baseada em Green et al., 1998);
exemplos de estudos em que biópsias seriais (do vas- (b) medida da área da fibra nas semanas 2, 4, 6 e 8 de um
to lateral) foram coletadas em intervalos de 2 a 4 se- programa de treinamento de força em 8 mulheres jovens e 13
manas são demonstrados na Figura 15.21. Os dados homens jovens (resultados combinados na figura).
da Figura 15.21(a) não demonstram aumento signi- Aparentemente, o aumento substancial na área da fibra não foi
ficativo na área da fibra até a semana 7, embora pare- estatisticamente significativo após 8 semanas (baseada em
Staron et al., 1994). Em ambos os estudos, o tamanho
ça ocorrer alguma hipertrofia por volta de quatro se- relativamente pequeno das amostras comparado à variabilidade
manas. Na Figura 15.21(b), o aumento aparentemente na mensuração da área da fibra (i. e., falta de poder estatístico)
substancial na área da fibra não foi significativo mes- contribuiu para a incapacidade de descobrir aumento
mo nas oito semanas, mas novamente pareceu que a significativo na área da fibra nos momentos iniciais do
hipertrofia iniciou em duas semanas. A variável hi- treinamento.
pertrofia que ocorre ao longo da fibra muscular é um
fator adicional à dificuldade da leitura dos dados de
biópsia; o local de biópsia pode representar a região de sinergistas não ter demonstrado a maior hipertro-
onde ocorreu menor hipertrofia (Narici et al., 1996; fia. A imagem de ressonância magnética possui a van-
ver também seção “Hipertrofia preferencial dos si- tagem de mensurar a área de secção transversa mus-
nergistas”). Outra complicação é o fato de a amostra cular total ao longo de todo seu comprimento. Um
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 323

estudo empregou esse método para mensurar possí- bilidade é a do aumento induzido pelo treinamento
vel hipertrofia após somente duas semanas (nove ses- na força gerada por cada cabeça de miosina na sua
sões de treinamento) de extensão do joelho concên- interação com a actina; todavia, tal adaptação não tem
trica isocinética. O pico de torque voluntário na sido demonstrada.
velocidade de treinamento e a ativação muscular, Em resumo, é ainda razoável concluir que as
mensurados pela alteração no contraste das imagens adaptações neurais possuem papel importante no
de ressonância magnética (RM) induzida pelo exer- aumento da força nas primeiras semanas de treino
cício, aumentou significativamente. O pequeno au- em muitos programas de treinamento de força. A
mento (cerca de 3%) na área de secção transversa magnitude e a extensão em que as alterações neurais
total do quadríceps não foi significativo. No entanto, são os contribuidores exclusivos para o aumento da
um estudo anterior que empregou o mesmo tipo de força são questões que aguardam medidas mais pre-
treinamento demonstrou hipertrofia preferencial de cisas referentes às mudanças no tamanho da fibra
2 das 4 cabeças do quadríceps (Narici et al., 1989). muscular (área de secção transversa e/ou comprimen-
Portanto, é possível que 1 ou 2 cabeças sofram hiper- to) e na força. Algumas adaptações musculares (hi-
trofia maior que aproximadamente 3%. pertrofia) são claramente evidentes e têm papel do-
Uma consideração final é a proposição, apresen- minante após aproximadamente um mês ou mais de
tada na Figura 15.20, de que a hipertrofia (aumento treinamento. Poderia ser reconhecido, no entanto, que
da fibra muscular ou área de secção transversa mus- se o treinamento é alterado, mesmo envolvendo os
cular total) representa a única adaptação muscular mesmos músculos, as adaptações neurais surgiriam
capaz de contribuir para o aumento da força. Poderia novamente em resposta ao novo estímulo neuromus-
ocorrer aumento da força sem hipertrofia caso o trei- cular.
namento pudesse aumentar a força ou a tensão es-
pecífica (força por unidade de área de secção trans-
versa) das fibras musculares em curto período de Considerações futuras
tempo. Um esquema proposto é o aumento no nú-
mero e no tamanho das miofibrilas em uma fibra mus- A aceitação, assim como a evidência das adapta-
cular sem aumento na área da fibra (Phillips, 2000). ções neurais ao treinamento de força avança em es-
No entanto, as miofibrilas representam 80 a 85% do tágios. Primeiro, as adaptações neurais foram sim-
volume das fibras, e isso pode ser um fator limitante plesmente inferidas devido à ausência de adaptações
para a expansão miofibrilar à custa de outros com- musculares que explicassem o aumento da força.
ponentes celulares, tais como o retículo sarcoplas- Segundo, o acúmulo de inúmeros estudos eletromio-
mático. A longo prazo, o treinamento pode diminuir gráficos indicou aumento da ativação muscular. Mui-
a densidade miofibrilar (MacDougall et al., 1982). Ou- tos dos estudos EMG utilizam eletrodos de superfí-
tra possibilidade diz respeito ao fato de o conteúdo cie para o registro do “ruído” total das unidades mo-
da densidade dos miofilamentos ser rapidamente al- toras; em alguns casos, distinguem entre aumento no
terado para aumentar a tensão específica das miofi- recrutamento da unidade motora e na freqüência de
brilas e pela extensão das fibras musculares. Contu- disparo. Ultimamente, os estudos empregando téc-
do, enquanto o desuso é associado com decréscimo nicas de registro intramuscular de uma única unida-
no espaçamento dos filamentos entrelaçados, como de motora começaram a descrever as alterações no
com diminuição na tensão específica (Widrick et al., comportamento da unidade motora em resposta ao
1999), o treinamento a longo prazo não altera a den- treinamento. Esse tipo de pesquisa deve aumentar
sidade do miofilamento (MacDougall et al., 1986; ver no futuro. Além disso, o desenvolvimento da técnica
também Capítulo 13). O treinamento em determina- de imagem de ressonância magnética para monitori-
do comprimento muscular/ângulo articular poderia zar a ativação muscular permite o estudo de múscu-
aumentar (ou diminuir) a força nesta amplitude arti- los inacessíveis pela EMG. Esses estudos, que têm
cular pela alteração do comprimento da fibra mus- produzido novas descobertas, podem estimular a con-
cular (adição ou subtração de sarcômeros) em maior tinuidade da pesquisa com essa técnica.
extensão do que a área da fibra ou a ativação neural O próximo estágio será descobrir os mecanismos
(Koh, 1995; Rassier et al., 1999). Uma última possi- responsáveis pelas alterações observadas na ativação
324 PAAVO V. KOMI

muscular e no comportamento da unidade motora. Alway, S.E., Grumbt, W.H., Stray-Gundersen, J. & Gonyea,
As alterações no córtex motor, as outras áreas cere- W.J. (1992) Effects of resistance training on elbow fle-
brais agindo no córtex motor, os circuitos espinais, xors of highly trained competitive bodybuilders. Journal
as vias neurais e os próprios motoneurônios são lo- of Applied Physiology 72, 1512-1521.
Amiridis, I.G., Martin, A., Morlon, B. et al. (1996) Coactiva-
cais potenciais de adaptações morfológicas que in-
tion and tension-regulating phenomena during isoki-
duzem alterações funcionais. A identificação do im- netic knee extension in sedentary and highly skilled
portante papel dos mecanismos espinais e feedback humans. European Journal of Applied Physiology 73,
aferente dos músculos no efeito cruzado do treina- 149-156.
mento com base em experimentos de estimulação elé- Bandy, W.D. & Hanten, W.P. (1993) Changes in torque and
trica representa um exemplo (Zhou, 2000; cf. Lyle electromyographic activity of the quadriceps femoris
and Rutherford, 1998). Outro desafio de pesquisa muscles following isometric training. Physical Therapy
futura é relacionar as alterações no comportamento 73, 455-467.
da unidade motora aos efeitos mecânicos das suas Baratta, R., Solomonow, M., Zhou, B.H., Letson, D., Chui-
nard, R. & D’Ambrosia, R. (1988) Muscular coactivati-
fibras musculares constituintes. As fibras de diferen-
on. The role of the antagonist musculature in maintai-
tes unidades motoras são mecanicamente “conecta- ning knee stability. American Journal of Sports Medicine
das” em séries e em paralelo. A ativação apropriada 16, 113-122.
dessas fibras vizinhas poderia significativa- Barnett, C., Kippers, V. & Turner, P. (1995) Effects of varia-
mente afetar a força coletiva alcançada (Sheard, 2000). tions of the bench press exercise on the EMG activity
of five shoulder muscles. Journal of Strength and Condi-
tioning Research 9, 222-227.
Basmajian, J.V. (1974) Muscles Alive, 3rd edn. Williams and
Referências
Wilkins, Baltimore.
Bawa, P. (2002) Neural control of motor output: Can trai-
Aagaard, P., Simonsen, E.B., Trolle, M., Bangsbo, J. & Klau- ning change it? Exercise and Sport Sciences Reviews 30, 59-63.
sen, K. (1996) Specificity of training velocity and trai- Becker, R. & Awiszus, F. (2001) Physiological alterations of
ning load on gains in isokinetic knee joint strength. maximal voluntary activation by changes in knee joint
Acta Physiologica Scandinavica 156, 123-129. angle. Muscle and Nerve 24, 667-672.
Aagaard, P., Simonsen, E.B., Andersen, J.L., Magnusson, Belanger, A.Y. & McComas, A.J. (1981) Extent of motor
ST., Bojsen-Moller, F. & Dyhre-Poulsen, P. (2000) An- unit activation during effort. Journal of Applied Physiolo-
tagonist muscle coactivation during isokinetic knee gy 51, 1131-1135.
extension. Scandinavian Journal of Medicine and Science in Bellemare, F., Woods, J.J., Johansson, R. & Bigland-Ritchie,
Sports 10, 58-67. B. (1983) Motor-unit discharge rates in maximal vo-
Adams, G.R., Duvoisin, M.R. & Dudley, G.A. (1992) Mag- luntary contractions of three human muscles. Journal of
netic resonance imaging and electromyography as in- Neurophysiology 50, 1380-1392.
dexes of muscle function. Journal of Applied Physiology Bernardi, M., Solomonow, M., Sanchez, J.H., Baratta, R.V.
73, 1578-1583. & Nguyen, G. (1995) Motor unit recruitment strategy
Adams, G.R., Harris, R.T., Woodard, D. & Dudley, G.A. of knee antagonist muscles in a step-wise, increasing
(1993) Mapping of electrical muscle stimulation using isometric contraction. European Journal of Applied Physi-
MRI. Journal of Applied Physiology 74, 532-537. ology 70, 493-501.
Akima, H., Takahashi, H., Kuno, S.Y. et al. (1999) Early phase Bernardi, M., Solomonow, M., Nguyen, G., Smith, A. &
adaptations of muscle use and strength to isokinetic trai- Baratta, R. (1996) Motor unit recruitment strategy chan-
ning. Medicine and Science in Sports and Exercise 31, 588-594. ges with skill acquisition. European Journal of Applied Phy-
Allen, G.M., Gandevia, S.C. & McKenzie, D.K. (1995) Reli- siology 74, 52-59.
ability of measurements of muscle strength and volun- Bernardi, M., Solomonow, M. & Baratta, R.V. (1997) Mo-
tary activation using twitch interpolation. Muscle and tor unit recruitment strategy of antagonist muscle pair
Nerve 18, 593-600. during linearly increasing contraction. Electromyography
Allen, G.M., McKenzie, D.K. & Gandevia, S.C. (1998) Twi- and Clinical Neurophysiology 37(1), 3-12.
tch interpolation of the elbow flexor muscles at high Brown, A.B., McCartney, N. & Sale, D.G. (1990) Positive
forces. Muscle and Nerve 21, 318-328. adaptations to weightlifting training in the elderly. Jour-
Almasbakk, B. & Hoff, J. (1996) Coordination, the deter- nal of Applied Physiology 69, 1725-1733.
minant of velocity specificity? Journal of Applied Physio- Brown, J.M., Solomon, C. & Paton, M. (1993) Further evi-
logy 81, 2046-2052. dence of functional differentiation within biceps bra-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 325

chii. Electromyography and Clinical Neurophysiology 33, ed sensitive strategy. Journal of Neurophysiology 62,
301-309. 358-368.
Bulow, P.M., Norregaard, J., Danneskiold-Samsøe, B. & DeLuca, C.J., LeFever, R.S., McCue, M.P. & Xenakis, A.P.
Mehlsen, J. (1993) Twitch interpolation technique in (1982) Behaviour of human motor units in different
testing maximal muscle strength: influence of potenti- muscles during linearly varying contractions. Journal of
ation, force level, stimulus intensity and preload. Euro- Physiology 329,113-128.
pean Journal of Applied Physiology 67, 462-466. Dowling, J.J., Konert, E., Ljucovic, P. & Andrews, D.M.
Bulow, P.M., Norregaard, J., Mehlsen, J. & Danneskiold- (1994) Are humans able to voluntarily elicit maximum
Samsøe, B. (1995) The twitch interpolation technique muscle force? Neuroscience Letters 179, 25-28.
for the study of fatigue of human quadriceps muscle. Duchateau, J., Le Bozec, S. & Hainaut, K. (1986) Contri-
Journal of Neuroscience Methods 62, 103-109. butions of slow and fast muscles of triceps surae to a
Caldwell, G.E., Jamison, J.C. & Lee, S. (1993) Amplitude cyclic movement. European Journal of Applied Physiology
and frequency measures of surface electromyography 55, 476-481.
during dual task elbow torque production. European Jour- Dudley, G.A., Harris, R.T., Duvoisin, M.R., Hather, B.M. &
nal of Applied Physiology 66, 349-356. Buchanan, P. (1990) Effect of voluntary vs artificial ac-
Cannon, R.J. & Cafarelli, E. (1987) Neuromuscular adap- tivation on the relationship of muscle torque to speed.
tations to training. Journal of Applied Physiology 63, Journal of Applied Physiology 69, 2215-2221.
2396-2402. Enoka, R.M. (1997) Neural adaptations with chronic phy-
Carolan, B. & Cafarelli, E. (1992) Adaptations in coactiva- sical activity. Journal of Biomechanics 30, 447-455.
tion after isometric resistance training. Journal of Appli- Enoka, R.M. & Fuglevand, A.J. (2001) Motor unit physio-
ed Physiology 73, 911-917. logy: some unresolved issues. Muscle and Nerve 24, 4-17.
Carpentier, A., Duchateau, J. & Hainaut, K. (1996) Velocity- Felici, F., Rosponi, A., Sbriccoli, P., Filligoi, G.C., Fattorini,
dependent muscle strategy during plantarflexion in L. & Marchetti, M. (2001) Linear and nonlinear analy-
humans. Journal of Electromyography and Kinesiology 6, sis of surface electromyograms in weightlifters. Europe-
1-11. an Journal of Applied Physiology 84, 337-342.
Carpentier, A., Duchateau, J. & Hainaut, K. (1999) Gandevia, S.C. & McKenzie, D.K. (1988) Activation of hu-
Load-dependent muscle strategy during plantarflexion man muscles at short muscle lengths during maximal
in humans. Journal of Electromyography and Kinesiology 9, static efforts. Journal of Physiology 407, 599-613.
1-11. Gandevia, S.C., Allen, G.M., Butler, J.E. & Taylor, J.L. (1996)
Casabona, A., Polizzi, M.C. & Perciavalle, V. (1990) Diffe- Supraspinal factors in human muscle fatigue: evidence
rences in H-reflex between athletes trained for explosi- for suboptimal output from the motor cortex. Journal of
ve contractions and non-trained subjects. European Jour- Physiology 490, 529-536.
nal of Applied Physiology 61(1-2), 26-32. Gandevia, S.C., Herbert, R.D. & Leeper, J.B. (1998) Volun-
Chilibeck, P.D., Calder, A.W., Sale, D.G. & Webber, C.E. tary activation of human elbow flexor muscles during
(1998) A comparison of strength and muscle mass in- maximal concentric contractions. Journal of Physiology
creases during resistance training in young women. 512, 595-602.
European Journal of Applied Physiology 77, 170-175. Garfinkel, S. & Cafarelli, E. (1992) Relative changes in ma-
Colson, S., Pousson, M., Martin, A. & Van Hoecke, J. (1999) ximal force, EMG, and muscle cross-sectional area af-
Isokinetic elbow flexion and coactivation following ec- ter isometric training. Medicine and Science in Sports and
centric training. Journal of Electromyography and Kinesio- Exercise 24, 1220-1227.
logy 9, 13-20. Gibala, M.J., MacDougall, J.D. & Sale, D.G. (1994) The
Conley, M.S., Meyer, R.A., Bloomberg, J.J., Feeback, D.L. & effects of tapering on strength performance in trained
Dudley, G.A. (1995) Non-invasive analysis of human athletes. International Journal of Sports Medicine 15,
neck muscle function. Spine 23, 2505-2512. 492-497.
Conley, M.S., Stone, M.H., Nimmons, M. & Dudley, G.A. Gibala, M.J., Interisano, S.A., Tarnopolsky, M.A. et al. (2000)
(1997a) Resistance training and human cervical mus- Myofibrillar disruption following acute concentric and
cle recruitment plasticity. Journal of Applied Physiology 83, eccentric resistance exercise in strength-trained men.
2105-2111. Canadian Journal of Physiology and Pharmacology 78,
Conley, M.S., Stone, M.H., Nimmons, M. & Dudley, G.A. 656-661.
(1997b) Specificity of resistance training responses in Green, H., Goreham, C., Ouyang, J., Ball-Burnett, M. & Ra-
neck muscle size and strength. European Journal of Ap- ney, D. (1998) Regulation of fiber size, oxidative poten-
plied Physiology 75, 443-448. tial, and capillarization in human muscle by resistance
Corcos, D.M., Gottlieb, G.L. & Agarwal, G.C. (1989) Orga- exercise. American Journal of Physiology 276 (Regulatory, In-
nizing principles for single-joint movements II. A spe- tegrative, and Comparative Physiology 45), R591-R596.
326 PAAVO V. KOMI

Grimby, L., Hannerz, J. & Hedman, B. (1981) The fatigue romuscular function of premenopausal women with
and voluntary discharge properties of single motor units fibromyalgia: comparison with healthy women. Annals
in man. Journal of Physiology 316, 545-554. of the Rheumatic Diseases 60, 21-26.
Gryzlo, S.M., Patek, R.M., Pink, M. & Perry, J. (1994) Elec- Hannerz, J. (1974) Discharge properties of motor units in
tromyographic analysis of knee rehabilitation exerci- relation to recruitment order in voluntary contraction.
ses. Journal of Orthopaedic and Sports Physical Therapy 20, Acta Physiologica Scandinavica 91, 374-384.
36-43. ter Harr Romeny, B.M., Denier van der Gon, J.J. & Gielen,
Häkkinen, K. & Häkkinen, A. (1995) Neuromuscular adap- C.A.M. (1984) Relation between location of a motor
tations during intensive strength training in middle- unit in the human biceps brachii and its critical firing
aged and elderly males and females. Electromyography and levels for different tasks. Experimental Neurology 85,
Clinical Neurophysiology 35, 137-147. 631-650.
Häkkinen, K. & Komi, P.V. (1983) Electromyographic chan- Harridge, S.D., Kryger, A. & Stensgaard, A. (1999) Knee
ges during strength training and detraining. Medicine extensor strength, activation, and size in very elderly
and Science in Sports and Exercise 15, 455-460. people following strength training. Muscle and Nerve 22,
Häkkinen, K., Alen, M. & Komi, P.V. (1985a) Changes in 831-839.
isometric force- and relaxation-time, electromyographic Harris, R.T. & Dudley, G.A. (1994) Factors limiting force
and muscle fibre characteristics of human skeletal mus- during slow, shortening actions of the quadriceps fe-
cle during strength training and detraining. Acta Physi- moris muscle group in vivo. Acta Physiologica Scandina-
ologica Scandinavica 125, 573-585. vica 152, 63-71.
Häkkinen, K., Komi, P.V. & Alen, M. (1985b) Effect of ex- Henneman, E., Somjen, G. & Carpenter, D.C. (1965) Func-
plosive type strength training on isometric force-and tional significance of cell size in spinal motoneurons.
relaxation-time, electromyographic and muscle fibre Journal of Neurophysiology 28, 560-580.
characteristics of leg extensor muscles. Acta Physiologica Herbert, R.D. & Gandevia, S.C. (1996) Muscle activation
Scandinavica 125, 587-600. in unilateral and bilateral efforts assessed by motor nerve
Häkkinen, K., Pakarinen, A., Alen, M., Kauhanen, H. & and cortical stimulation. Journal of Applied Physiology 80,
Komi, P.V. (1988) Neuromuscular and hormonal adap- 1351-1356.
tations in athletes to strength training for two years. Herbert, R.D. & Gandevia, S.C. (1999) Twitch interpolati-
Journal of Applied Physiology 65, 2406-2412. on in human muscles: mechanisms and implications
Häkkinen, K., Kallinen, M., Komi, P.V. & Kauhanen, H. for measurement of voluntary activation. Journal of Neu-
(1991) Neuromuscular adaptations during shortterm rophysiology 82, 2271-2283.
‘normal’ and reduced training in strength athletes. Elec- Herbert, R.D., Gandevia, S.C. & Allen, G.M. (1997) Sensi-
tromyography and Clinical Neurophysiology 31, 35-42. tivity of twitch interpolation. Muscle and Nerve 20,
Häkkinen, K., Kallinen, M., Linnamo, V., Pastinen, U.M., 521-523.
Newton, R.U. & Kraemer, W.J. (1996) Neuromuscular Herbert, R.D., Dean, C. & Gandevia, S.C. (1998) Effects of
adaptations during bilateral versus unilateral strength real and imagined training on voluntary muscle activa-
training in middle-aged and elderly men and women. tion during maximal isometric contractions. Acta Physi-
Acta Physiologica Scandinavica 158, 77-88. ologica Scandinavica 163, 361-368.
Häkkinen, K., Kallinen, M., Izquierdo, M. et al. (1998a) Higbie, E.J., Cureton, K.J., Warren, G.L. III & Prior, B.M.
Changes in agonist-antagonist EMG, muscle CSA, and (1996) Effects of concentric and eccentric training on
force during strength training in middle-aged and ol- muscle strength, cross-sectional area, and neural acti-
der people. Journal of Applied Physiology 84, 1341-1349. vation. Journal of Applied Physiology 81, 2173-2181.
Häkkinen, K., Newton, R.U., Gordon, S.E. et al. (1998b) Hisaeda, H., Miyagawa, K., Kuno, S., Fukunaga, T. & Mu-
Changes in muscle morphology, electromyographic raoka, I. (1996) Influence of two different modes of re-
activity, and force production characteristics during sistance training in female subjects. Ergonomics 39,
progressive strength training in young and older men. 842-852.
Journals of Gerontology Series A: Biological Sciences and Me- Hortobágyi, T. & DeVita, P. (2000) Favorable neuromus-
dical Sciences 53, B415-B423. cular and cardiovascular responses to 7 days of exerci-
Häkkinen, K., Alen, M., Kallinen, M., Newton, R.U. & Kra- se with an eccentric overload in elderly women. Journals
emer, W.J. (2000) Neuromuscular adaptation during of Gerontology Series A: Biological Sciences and Medical Sci-
prolonged strength training, detraining and re-strength- ences 55, B401-B410.
training in middle-aged and elderly people. European Hortobágyi, T., Barrier, J., Beard, D. et al. (1996a) Greater
Journal of Applied Physiology 83, 51-62. initial adaptations to submaximal muscle lengthening
Häkkinen, A., Häkkinen, K., Hannonen, P. & Alen, M. than maximal shortening. Journal of Applied Physiology
(2001) Strength training induced adaptations in neu- 81, 1677-1682.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 327

Hortobágyi, T., Hill, J.P., Houmard, J.A., Fraser, D.D., Lam- Keen, D.A., Yue, G.H. & Enoka, R.M. (1994) Training-re-
bert, N.J. & Israel, R.G. (1996b) Adaptive responses to lated enhancement in the control of motor output in
muscle lengthening and shortening in humans. Journal elderly humans. Journal of Applied Physiology 77,
of Applied Physiology 80, 765-772. 2648-2658.
Hortobágyi, T., Lambert, N.J. & Hill, J.P. (1997) Greater Kellis, E. (1998) Quantification of quadriceps and hams-
cross education following training with muscle leng- tring antagonist activity. Sports Medicine 25, 37-62.
thening than shortening. Medicine and Science in Sports Kellis, E. & Baltzopoulos, V. (1997) The effects of antago-
and Exercise 29, 107-112. nist moment on the resultant knee joint moment du-
Hortobàgyi, T., Scott, K., Lambert, J., Hamilton, G. & Tra- ring isokinetic testing of the knee extensors. European
cy, J. (1999) Cross-education of muscle strength is gre- Journal of Applied Physiology 76, 253-259.
ater with stimulated than voluntary contractions. Mo- Kellis, E. & Baltzopoulos, V. (1998) Muscle activation di-
tor Control 3, 205-219. fferences in eccentric and concentric isokinetic exerci-
Housh, D.J., Housh, T.J., Johnson, G.O. & Chu, W.K. (1992) se. Medicine and Science in Sports and Exercise 30,
Hypertrophic response to unilateral concentric resis- 1616-1623.
tance isokinetic resistance training. Journal of Applied Kellis, E. & Baltzopoulos, V. (1999) The effects of the anta-
Physiology 73, 65-70. gonist muscle force on intersegmental loading during
Huber, A., Suter, E. & Herzog, W. (1998) Inhibition of the isokinetic efforts of the knee extensors. Journal of Biome-
quadriceps muscles in elite male volleyball players. Jour- chanics 32, 19-25.
nal of Sports Sciences 16, 281-289. Kent-Braun, J.A. (1999) Central and peripheral contribu-
Jakobi, J.M. & Chilibeck, P.D. (2001) Bilateral and unilate- tions to muscle fatigue in humans during sustained ma-
ral contractions: possible differences in maximal volun- ximal effort. European Journal of Applied Physiology 80,
tary force. Canadian Journal of Applied Physiology 26, 12-33. 57-63.
Jamison, J.C. & Caldwell, G.E. (1993) Muscle synergies and Kent-Braun, J.A. & Le Blanc, R. (1996) Quantitation of
isometric torque production — influence of supination central activation failure during maximal voluntary con-
and pronation level on elbow flexion. Journal of Neuro- tractions in humans. Muscle and Nerve 19, 861-869.1997
physiology 70, 947-960. Comment in Muscle and Nerve 20, 521-523.
Jongen, H.A.H., Denier van der Gon, J.J. & Gielen, C.C.A.M. Koh, T.J. (1995) Do adaptations in serial sarcomere num-
(1989) Inhomogeneous activation of motoneurone po- ber occur with strength training? Human Movement
ols as revealed by co-contraction of antagonistic hu- Science 14, 61-77.
man arm muscles. Experimental Brain Research 75, Koh, T.J. & Herzog, W. (1995) Evaluation of voluntary and
555-562. elicited dorsiflexor torque-angle relationships. Journal
Kamen, G., Taylor, P. & Beehler, P.J. (1984) Ulnar and pos- of Applied Physiology 79, 2007-2013.
terior tibial nerve conduction velocity in athletes. Inter- Komi, P.V. (1986) Training of muscle strength and power:
national Journal of Sports Medicine 5, 26-30. interaction of neuromotoric, hypertrophic and mecha-
Kamen, G., Knight, C.A., Laroche, D.P. & Asermely, D.G. nical factors. International Journal of Sports Medicine 7 (Su-
(1998) Resistance training increases vastus lateralis ppl.), 10-16.
motor unit firing rates in young and old adults. Medici- Komi, P.V., Viitasalo, J., Rauramaa, R. & Vihko, V. (1978)
ne and Science in Sports and Exercise 30 (Suppl.), S337. Effect of isometric strength training on mechanical, elec-
Kanehisa, H. & Miyashita, M. (1983) Effect of isometric trical and metabolic aspects of muscle function. Euro-
and isokinetic muscle training on static strength and pean Journal of Applied Physiology 40, 45-55.
dynamic power. European Journal of Applied Physiology 50, Kukulka, C.G. & Clamann, H.P. (1981) Comparison of the
365-371. recruitment and discharge properties of motor units in
Kasprisin, J.E. & Grabiner, M.D. (2000) Joint angledepen- human brachial biceps and adductor pollicis during iso-
dence of elbow flexor activation levels during isometric metric contractions. Brain Research 219, 45-55.
and isokinetic maximum voluntary contractions. Clini- Laidlaw, D.H., Kornatz, K.W., Keen, D.A., Suzuki, S. &
cal Biomechanics 15, 743-749. Enoka, R.M. (1999) Strength training improves the
Kawakami, Y., Abe, T., Kuno, S.Y. & Fukunaga, T. (1995) steadiness of slow lengthening contractions perfor-
Training-induced changes in muscle architecture and med by old adults. Journal of Applied Physiology 87,
specific tension. European Journal of Applied Physiology 72, 1786-1795.
37-43. Laprade, J., Culham, E. & Brouwer, B. (1998) Comparison
Kawakami, Y., Akima, H., Kubo, K. et al. (2001) Changes in of five isometric exercises in the recruitment of the vas-
muscle size, architecture, and neural activation after 20 tus medialis oblique in persons with and without pate-
days of bed rest with and without resistance exercise. llofemoral pain syndrome. Journal of Orthopaedic and
European Journal of Applied Physiology 84, 7-12. Sports Physical Therapy 27, 197-204.
328 PAAVO V. KOMI

Leong, B., Kamen, G., Patten, C. & Burke, J.R. (1999) Ma- Milner-Brown, H.S., Stein, R.B. & Yemm, R. (1973) The
ximal motor unit discharge rates in the quadriceps orderly recruitment of human motor units during vo-
muscles of older weight lifters. Medicine and Science in luntary isometric contractions. Journal of Physiology 230,
Sports and Exercise 31, 1638-1644. 359-370.
Lestienne, F. (1979) Effects of inertial load and velocity on Milner-Brown, H.S., Stein, R.B. & Lee, R.G. (1975) Syn-
the braking process of voluntary limb movements. Ex- chronization of human motor units: possible roles of
perimental Brain Research 35, 407-418. exercise and supraspinal reflexes. Electroencephalography
Lind, A.R. & Petrofsky, J.S. (1978) Isometric tension from and Clinical Neurophysiology 38, 245-254.
rotary stimulation of fast and slow cat muscle. Muscle Moritani, T. (1993) Neuromuscular adaptations during the
and Nerve 1, 213-218. acquisition of muscle strength, power and motor tasks.
Lyle, N. & Rutherford, O.M. (1998) A comparison of vo- Journal of Biomechanics 26 (Suppl. 1), 95-108.
luntary versus stimulated strength training of the hu- Moritani, T. & deVries, H.A. (1979) Neural factors vs
man adductor pollicis muscle. Journal of Sports Sciences hypertrophy in time course of muscle strength gain.
16, 267-270. American Journal of Physical Medicine and Rehabilitation
Macaluso, A., De Vito, G., Felici, F. & Nimmo, M.A. (2000) 58, 115-130.
Electromyogram changes during sustained contracti- Moritani, T., Oddsson, L. & Thorstensson, A. (1990) Di-
on after resistance training in women in their 3rd and fferences in modulation of the gastrocnemius and so-
8th decades. European Journal of Applied Physiology 82, leus H-reflexes during hopping in man. Acta Physiologi-
418-424. ca Scandinavica 138, 575-576.
McCall, G.E., Byrnes, W.C., Dickinson, A., Pattany, P.M. Morrisey, M.C., Harman, E.A. & Johnson, M.J. (1995) Re-
& Fleck, S.J. (1996) Muscle fiber hypertrophy, hyper- sistance training modes: specificity and effectiveness.
plasia, and capillary density in college men after resis- Medicine and Science in Sports and Exercise 27, 648-660.
tance training. Journal of Applied Physiology 81, 2004- Nakazawa, K., Kawakami, Y., Fukunaga, T., Yano, H. &
2012. Miyashita, M. (1993) Differences in activation patterns
MacDougall, J.D. (1986) Morphological changes in human in elbow flexor muscles during isometric, concentric
skeletal muscle following strength training and immo- and eccentric contractions. European Journal of Applied
bilization. In: Human Muscle Power (eds N.L. Jones, N. Physiology 66, 214-220.
McCartney & A.J. McComas), pp. 269-288. Human Nardone, A. & Schieppati, M. (1988) Shift of activity from
Kinetics, Champaign, IL. slow to fast muscle during voluntary lengthening con-
MacDougall, J.D., Sale, D.G., Elder, G.C.B. & Sutton, J.R. tractions of the triceps surae muscles in humans. Jour-
(1982) Muscle ultrastructural characteristics of elite nal of Physiology 395, 363-381.
powerlifters and bodybuilders. European Journal of Ap- Nardone, A., Romano, C. & Schieppati, M. (1989) Selecti-
plied Physiology 48, 117-126. ve recruitment of high-threshold human motor units
McKenzie, D.K., Bigland-Ritchie, B., Gorman, R.B. & Gan- during voluntary isotonic lengthening of active mus-
devia, S.C. (1992) Central and peripheral fatigue of hu- cles. Journal of Physiology 409, 451-471.
man diaphragm and limb muscles assessed by twitch Narici, M.V., Roi, G.S., Landoni, L., Minetti, A.E. & Cerre-
interpolation. Journal of Physiology 454, 643-656. telli, P. (1989) Changes in force, cross-sectional area and
Marsden, C.D., Obeso, J.A. & Rothwell, J.C. (1983) The neural activation during strength training and detrai-
function of antagonist muscle during fast limb move- ning of the human quadriceps. European Journal of Ap-
ment in man. Journal of Physiology 335, 1-13. plied Physiology 59, 310-319.
Marsh, E., Sale, D., McComas, A.J. & Quinlan, J. (1981) Narici, M.V., Hoppeler, H., Kayser, B. et al. (1996) Human
Influence of joint position on ankle dorsiflexion in hu- quadriceps cross-sectional area, torque and neural ac-
mans. Journal of Applied Physiology 51, 160-167. tivation during 6 months strength training. Acta Physi-
Martin, A., Martin, L. & Morlon, B. (1995) Changes indu- ologica Scandinavica 157, 175-186.
ced by eccentric training on force-velocity relationships O’Hagan, F.T., Sale, D.G., MacDougall, J.D. & Garner, S.H.
of the elbow flexor muscles. European Journal of Applied (1995) Comparative effectiveness of accommodating
Physiology 72, 183-185. and weight resistance training modes. Medicine and Sci-
Miller, R.G., Mirka, A. & Maxfield, M. (1981) Rate of tensi- ence in Sports and Exercise 27, 1210-1219.
on development in isometric contractions of a human Osternig, L.R., Hamill, J., Lander, J.E. & Robertson, R.
hand muscle. Experimental Neurology 73, 267-285. (1986) Co-activation of sprinter and distance runner
Milner, T.E., Cloutier, C., Leger, A.B. & Franklin, D.W. muscles in isokinetic exercise. Medicine and Science in
(1995) Inability to activate muscles maximally during Sports and Exercise 18, 431-435.
cocontraction and the effect on joint stiffness. Experi- Osterning, L.R., Robertson, R.N., Troxel, R.K. & Hansen,
mental Brain Research 107, 293-305. P. (1990) Differential responses to proprioceptive neu-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 329

romuscular facilitation (PNF) stretch techniques. Me- Sale, D.G. (1992) Neural adaptation to strength training.
dicine and Science in Sports and Exercise 22, 106-111. In: Strength and Power in Sport, 1st edn (ed. P. V. Komi),
Osternig, L.R., Caster, B.L. & James, C.R. (1995) Contrala- pp. 249-265. Blackwell Scientific Publications, Oxford.
teral hamstring (biceps femoris) coactivation patterns Sale, D. & MacDougall, D. (1981) Specificity in strength
and anterior cruciate ligament dysfunction. Medicine and training: a review for the coach and athlete. Canadian
Science in Sports and Exercise 27, 805-808. Journal of Applied Sports Science 6, 87-92.
Ozmun, J.C., Mikesky, A.E. & Surburg, P.R. (1994) Neuro- Sale, D.G., MacDougall, J.D., Upton, A.R.M. & McComas,
muscular adaptations following prepubescent strength A.J. (1983a) Effect of strength training on motoneuron
training. Medicine and Science in Sports and Exercise 26, excitability in man. Medicine and Science in Sports and
510-514. Exercise 15, 57-62.
Patten, C., Kamen, G. & Rowland, D.M. (2001) Adapta- Sale, D.G., Upton, A.R.M., McComas, A.J. & MacDougall,
tions in maximal motor unit discharge rate to strength J.D. (1983b) Neuromuscular function in weight-trainers.
training in young and older adults. Muscle and Nerve 24, Experimental Neurology 82, 521-531.
542-550. Sale, D.G., Martin, J.E. & Moroz, D.E. (1992) Hypertrophy
Perot, C., Andre, L., Dupont, L. & Vanhoutte, C. (1996) without increased isometric strength after weight trai-
Relative contribution of the long and short heads of ning. European Journal of Applied Physiology 64, 51-55.
the biceps brachii during single or dual isometric tasks. Saplinskas, J.S., Chobotas, M.A. & Yashchaninas, I.I. (1980)
Journal of Electromyography and Kinesiology 6, 3-11. The time of completed motor acts and impulse activity
Peters, E.J. & Fuglevand, A.J. (1999) Cessation of human of single motor units according to the training level and
motor unit discharge during sustained maximal volun- sport specialization of tested persons. Electromyography
tary contraction. Neuroscience Letters 274, 66-70. and Clinical Neurophysiology 20, 529-539.
Phillips, S.M. (2000) Short-term training: when do repea- Sarti, M.A., Monfort, M., Fuster, M.A. & Villaplana, L.A.
ted bouts of resistance exercise become training? Ca- (1996) Muscle activity in upper and lower rectus abdo-
nadian Journal of Applied Physiology 25, 185-193. minus during abdominal exercises. Archives of Physical
Ploutz, L.L., Tesch, P.A., Biro, R.L. & Dudley, G.A. (1994) Medicine and Rehabilitation 77, 1293-1297.
Effect of resistance training on muscle use during exer- van Schaik, C.S., Hicks, A.L. & McCartney, N. (1994) An
cise. Journal of Applied Physiology 76, 1675-1681. evaluation of the length-tension relationship in elderly
Rabita, G., Perot, C. & Lensel-Corbeil, G. (2000) Differen- human ankle dorsiflexors. Journals of Gerontology: Biolo-
tial effect of knee extension isometric training on the gical Sciences 49, B121-B127.
different muscles of the quadriceps femoris in humans. Schmidtbleicher, D. & Gollhofer, A. (1982) Neuro-
European Journal of Applied Physiology 83, 531-538. muskuläre Untersuchungen zur Bestimmung invividu-
Rack, P.M.H. & Westbury, D.R. (1969) The effects of length eller Belastungsgrösen fur ein Teifsprung-training. Leis-
and stimulus rate on tension in the isometric cat so- tungssport 12, 298-307.
leus muscle. Journal of Physiology 204, 443-460. Semmler, J.G. & Nordstrom, M.A. (1998) Motor unit dis-
Rassier, D.E., MacIntosh, B.R. & Herzog, W. (1999) Length charge and force tremor in skill- and strength-trained
dependence of active force production in skeletal mus- individuals. Experimental Brain Research 119, 27-38.
cle. Journal of Applied Physiology 86, 1445-1457. Sheard, P.W. (2000) Tension delivery from short fibers in
Rutherford, O.M. (1988) Muscular coordination and long muscles. Exercise and Sport Sciences Reviews 28, 51-56.
strength training. Implications for injury rehabilitation. Signorile, J.F., Kacsik, D., Perry, A. et al. (1995) Effect of
Sports Medicine 5, 196-202. foot position on the electromyographical activity of
Rutherford, O.M. & Jones, D.A. (1986) The role of lear- superficial quadriceps muscles during the parallel squat
ning and coordination in strength training. European and knee extension. Journal of Strength and Conditioning
Journal of Applied Physiology 55, 100-105. Research 9, 182-187.
Rutherford, O.M., Greig, C.A., Sargeant, A.J. & Jones, D.A. Sleivert, G.G., Backus, R.D. & Wenger, H.A. (1995) The
(1986) Strength training and power output: transference influence of a strength-sprint training sequence on
effects in the human quadriceps muscle. Journal of Sports multi-joint power output. Medicine and Science in Sports
Sciences 4, 101-107. and Exercise 27, 1655-1665.
Rutherford, O.M., Purcell, C. & Newham, D.J. (2001) The Smith, R.C. & Rutherford, O.M. (1995) The role of meta-
human force: velocity relationship; activity in the knee bolites in strength training. I. A comparison of eccen-
flexor and extensor muscles before and after eccentric tric and concentric contractions. European Journal of Ap-
practice. European Journal of Applied Physiology 84, 133-140. plied Physiology 71, 332-336.
Sale, D.G. (1988) Neural adaptation to resistance training. Solomonow, M. & Krogsgaard, M. (2001) Sensorimotor
Medicine and Science in Sports and Exercise 20 (Suppl.), control of knee stability. A review. Scandinavian Journal
S135-S145. of Medicine and Science in Sports 11, 64-80.
330 PAAVO V. KOMI

Solomonow, M., Baten, C., Smit, J. et al. (1990) Electromyo- Van Zuylen, E.J., Gielen, C.C.A.M. & Denier van der Gon,
gram power spectra frequencies associated with motor J.J. (1988) Coordination and inhomogeneous activa-
unit recruitment strategies. Journal of Applied Physiology tion of human arm muscles during isometric torques.
68, 1177-1185. Journal of Neurophysiology 60, 1523-1548.
Staron, R.S., Karapondo, D.L., Kraemer, W.J. et al. (1994) Weir, J.P., Housh, T.J. & Weir, L.L. (1994) Electromyogra-
Skeletal muscle adaptations during early phase of phic evaluation of joint angle specificity and cross-
heavy-resistance training in men and women. Journal of training after isometric training. Journal of Applied Phy-
Applied Physiology 76, 1247-1255. siology 77, 197-201.
Stein, R.B. & Parmiggiani, F. (1979) Optimal motor pat- Weir, J.P., Housh, T.J., Weir, L.L. & Johnson, G.O. (1995)
terns for activating mammalian muscle. Brain Research Effects of unilateral isometric strength training on jo-
175, 372-376. int angle specificity and cross-training. European Journal
Strojnik, V. (1995) Muscle activation level during maximal of Applied Physiology 70, 337-343.
voluntary effort. European Journal of Applied Physiology 72, Westing, S.H., Seger, J.Y. & Thorstensson, A. (1990) Effects
144-149. of electrical stimulation on eccentric and concentric
Strojnik, V. (1998) The effects of superimposed electrical torque-velocity relationships during knee extension in
stimulation of the quadriceps muscles on performance man. Acta Physiologica Scandinavica 140, 17-22.
in different motor tasks. Journal of Sports Medicine and Widrick, J.J., Knuth, S.T., Norenberg, K.M. et al. (1999) Effect
Physical Fitness 38, 194-200. of a 17 day spaceflight on contractile properties of hu-
Taylor, J.L. & Gandevia, S.C. (2001) Transcranial magnetic man soleus muscle fibres. Journal of Physiology 516,
stimulation and human muscle fatigue. Muscle and Ner- 915-930.
ve 24, 18-29. Wierzbicka, M.M., Wiegner, A.W. & Shahani, B.T. (1986)
Taylor, J.L., Allen, G.M., Butler, J.E. & Gandevia, S.C. (2000) Role of agonist and antagonist muscles in fast arm
Supraspinal fatigue during intermittent maximal volun- movements in man. Experimental Brain Research 63,
tary contractions of the human elbow flexors. Journal of 331-340.
Applied Physiology 89, 305-313. Wilson, G.J., Murphy, A.J. & Walshe, A. (1996) The specifi-
Tesch, P.A. (1999) Target Bodybuilding. Human Kinetics, city of strength training: the effect of posture. European
Champaign, IL. Journal of Applied Physiology 73, 346-352.
Thépaut-Mathieu, C., Van Hoecke, J. & Maton, B. (1988) Yue, G. & Cole, K.J. (1992) Strength increases from the
Myoelectrical and mechanical changes linked to length motor program: comparison of training with maximal
specificity during isometric training. Journal of Applied voluntary and imagined muscle contractions. Journal of
Physiology 64, 1500-1505. Neurophysiology 67, 1114-1123.
Thorstensson, A., Karlsson, J., Viitasalo, J.H.T., Luhtanen, Yoe, G., Alexander, A.L., Laidlaw, D.H., Gmitro, A.F., Un-
P. & Komi, P.V. (1976b) Effect of strength training on ger, E.C. & Enoka, R.M. (1994) Sensitivity of muscle
EMG of human skeletal muscle. Acta Physiologica Scan- proton spin-spin relaxation time as an index of muscle
dinavica 98, 232-236. activation. Journal of Applied Physiology 77, 84-92.
Trappe, S., Costill, D. & Thomas, R. (2000) Effect of swim Yue, G.H., Xue, M., Ng, T. & Enoka, R.M. (1995) The de-
taper on whole muscle and single muscle fiber con- cision to move may begin in the prefrontal cortex. So-
tractile properties. Medicine and Science in Sports and Exer- ciety of Neuroscience Abstracts 21,1421.
cise 32, 48-56. Yue, G.H., Ranganathan, V.K., Siemionow, V., Liu, J.Z. &
Tyler, A.E. & Hutton, R.S. (1986) Was Sherrington right Sahgal, V. (2000) Evidence of inability to fully activate
about co-contractions? Brain Research 370, 171-175. human limb muscle. Muscle and Nerve 23, 376-384.
Upton, A.R.M. & Radford, P.F. (1975) Motoneuron excita- Zehr, E.P. & Sale, D.G. (1994) Ballistic movement: motor
bility in elite sprinters. In: Biomechanics (ed. P. V. Komi), control and muscle activation. Canadian Journal of Ap-
pp. 82-87. University Park Press, Baltimore. plied Physiology 19, 363-378.
Van Cutsem, M., Duchateau, J. & Hainaut, K. (1998) Chan- Zhou, S. (2000) Chronic neural adaptations to unilateral
ges in single motor unit behaviour contribute to the exercise: mechanisms of cross education. Exercise and
increase in contraction speed after dynamic training in Sport Sciences Reviews 28, 177-184.
humans. Journal of Physiology 513, 295-305.
Capítulo 16
Mecanismos de adaptação
muscular e da unidade motora ao
treinamento de potência explosiva
JACQUES DUCHATEAU E KARL HAINAUT

Introdução comando motor (Sale, 1988; Enoka, 1997; Ducha-


teau e Enoka, 2002).
Em muitas atividades esportivas, a capacidade de As evidências de adaptações musculares e neurais
desenvolver rapidamente força é tão ou mesmo mais após o programa de treinamento de força podem ser
importante do que a força máxima per se. Os movi- expressas pela comparação entre o ganho em força
mentos realizados em velocidade máxima são geral- registrado durante a contração voluntária máxima
mente considerados ações balísticas (Desmedt e (CVM) e a tetania eletricamente induzida (Duchateau
Godaux, 1977). Tais movimentos são denominados e Hainaut, 1988). Seis semanas de treinamento do adu-
“pré-programados”, pois o comando motor é libera- tor do polegar com contrações voluntárias contra uma
do como um todo e não controlado por feedback sen- sobrecarga de 60% do máximo resultaram em maior
sorial (Keele, 1968). Os movimentos lentos, por sua incremento na CVM comparada à força tetânica (22%
vez, são realizados de forma mais controlada e conti- versus 15%). Enquanto o aumento na força tetânica
nuamente dirigidos pelo input do sistema sensorial representa a magnitude da adaptação muscular, a di-
periférico (Ghez, 1991). Tal distinção entre ações mo- ferença entre essas duas forças indica a magnitude de
toras é importante, porque sabe-se bem que o siste- incremento da ativação especificamente para esse
ma neuromuscular se adapta especificamente às mo- músculo. Outros estudos registraram evidência de
dalidades de movimento envolvidas nos programas adaptação neural após treinamento de força baseado
de treinamento. Por exemplo, quando o indivíduo no incremento da atividade eletromiográfica (EMG)
realiza um programa de treinamento de força, o au- média (Moritani e de Vries; Häkkinen e Komi, 1983;
mento na força é maior para as tarefas similares aos Narici et al., 1990) e pelo aumento acentuado na força
exercícios do treinamento (ver Sale, Capítulo 15). Os comparada à massa muscular (p. ex., hipertrofia; Jones
detalhes da tarefa que influenciam esse efeito inclu- e Rutherford, 1987; Colliander e Tesch, 1990).
em a postura durante o treinamento, o tipo de con- Tais adaptações neurais e musculares também
tração muscular, assim como a sobrecarga e a veloci- podem explicar o aumento na taxa de produção de
dade de contração (Thorstensson et al., 1976; Kaneko tensão após treinamento, como sugerido por alguns
et al., 1983; Duchateau e Hainaut, 1984; Häkkinen estudos (Häkkinen et al., 1985a; Häkkinen et al.,
et al., 1985a,b; Thépaut-Mathieu et al., 1988; Wilson 1985b; Komi, 1986; Schmidtbleicher, 1992; Behm e
et al., 1996; Pousson et al., 1999). Essas descobertas Sale, 1993). Este capítulo enfatiza as adaptações e os
claramente indicam que o pico de força ou potência mecanismos que ocorrem com o treinamento e en-
que um músculo pode alcançar durante tarefa espe- volvem contrações dinâmicas (balísticas) sob peque-
cífica depende não somente da capacidade do siste- nas sobrecargas. A adaptação das unidades motoras
ma muscular, mas também de fatores qualitativos do nos músculos agonistas será enfatizada.
332 PAAVO V. KOMI

Adaptações musculares

Propriedades contráteis
Força muscular. Os registros têm relatado não so-
mente que o treinamento de força de alta intensi-
dade de longo prazo aumenta a força voluntária má-
xima do músculo (Thorstensson et al., 1976;
MacDougall et al., 1980; McDonagh e Davies, 1984),
mas também que mesmo programas de treinamento
moderado induzem aumento significativo na força
durante contração muscular estimulada eletricamente
(Duchateau e Hainaut, 1984). No último trabalho, o
adutor do polegar de seres humanos foi treinado por
contrações voluntárias. A força máxima foi testada
por estimulação elétrica supramáxima (100 Hz) do
nervo motor no punho, de modo que fosse possível
distinguir as adaptações contráteis das neurais. O
estudo indicou que o exercício isométrico e dinâmi-
co voluntário induz diferentes efeitos na força mus-
cular máxima e na velocidade de contração. Em ses-
sões dinâmicas de treinamento, 10 séries de 15
contrações rápidas foram realizadas, com um con-
trapeso que representava cerca de 30 a 40% da força
muscular máxima. Em um segundo grupo, 10 con-
trações isométricas máximas foram desenvolvidas
contra uma correia e mantidas durante 5 s. Após três
meses de treinamento diário, a força muscular máxi-
ma nos sujeitos que realizaram contrações isométri-
cas aumentou em 20%. Já nos sujeitos que treina-
ram usando contrações dinâmicas, a força muscular
máxima aumentou somente 11% (Fig. 16.1a). A di-
ferença não surpreende, pois sabe-se que o ganho
em força é positivamente correlacionado à intensi-
dade da contração. Nesse estudo, a força muscular
esteve próxima à máxima nas contrações isométri-
cas, mas não nas dinâmicas.
Figura 16.1 Efeito de três meses de treinamento dinâmico
Cinética da contração e potência muscular. Em ani- diário nas propriedades contráteis do músculo adutor do polegar
mais, os estudos demonstraram que a cinética con- humano. (a) Tetania isométrica (A) registrada em uma
freqüência de estimulação de 100 Hz antes (seta) e após o
trátil muscular pode especificamente se adaptar às treinamento. Os traços em (B) representam os registros
diferentes freqüências de estimulação elétrica. Foi ob- correspondentes às taxas de produção de tensão e de
servado que um músculo lento cronicamente esti- relaxamento determinada por diferenciação eletrônica dos
mulado em elevada freqüência tornou-se rápido mecanogramas. (b) Contração mecânica obtida em resposta a
(Gorza et al., 1988), enquanto o músculo rápido esti- uma única estimulação elétrica supramáxima (A) e a primeiras
derivações correspondentes (B) antes e após (seta) o
mulado em baixa freqüência tornou-se lento (Pette e treinamento. Observe que o incremento na taxa máxima de
Vrbova, 1992). Esses resultados, registrados em con- produção de tensão é associado com tempo reduzido para o
dições mais do que extremas, são diferentes daqueles pico (dados de Duchateau e Hainaut, 1984).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 333

prevalentes no treinamento esportivo. Eles sugerem, tam a potência muscular em diferentes sobrecar-
contudo, que a cinética da contração muscular adap- gas, mas o aumento no pico de potência é menor
ta-se especificamente à freqüência de ativação, inde- após treinamento dinâmico quando comparado aos
pendentemente das alterações na inervação (Buller e exercícios isométricos (19% versus 51% [Duchateau
Lewis, 1965; Barany e Close, 1971). Nos experimen- e Hainaut, 1984]). No entanto, quando expresso em
tos realizados em condições fisiológicas compará- valores normalizados, apenas o treinamento dinâ-
veis ao treinamento físico de atletas (Duchateau e mico altera o pico de potência em pequenas sobre-
Hainaut, 1984), foi observado que o treinamento di- cargas (Fig. 16.2d). Essa observação ocorre parale-
nâmico aumentou a taxa de elevação da contração lamente ao fato de que a cinética contrátil foi
tetânica em maior magnitude do que o treinamento intrinsecamente modificada pelos exercícios dinâ-
isométrico (31% versus 18%). Tal observação está ilus- micos.
trada na Figura 16.1(a) pelas primeiras derivações das
respostas tetânicas, registradas antes e depois do trei- Acoplamento excitação-contração
namento dinâmico. É interessante que a velocidade (E-C)
máxima do encurtamento muscular, estimulada ele-
tricamente sem sobrecarga adicional, aumentou após O acoplamento E-C inclui a seqüência de even-
o treinamento dinâmico (21%), mas não após exer- tos disparada pelo potencial de ação de membrana e
cício isométrico. controla a interação das proteínas contráteis (San-
A análise da forma da relação força-velocidade, dow, 1995). As evidências documentadas anterior-
ilustrada na Figura 16.2, e a correspondente curva de mente referentes à adaptação específica das proprie-
potência, antes e após o treinamento, é de importân- dades contráteis musculares aos diferentes programas
cia prática em esportes. Na realidade, não apenas a de treinamento levantam a questão de seus efeitos
força muscular máxima poderia ser considerada, mas, no acoplamento E-C. O acoplamento pode ser abor-
antes de tudo, a relação força-velocidade ótima e, en- dado indiretamente em músculos humanos intactos
tão, a potência, referente aos diferentes esportes. A pela análise do curso de tempo de contração mecâ-
relação entre força e velocidade demonstrou que a nica e o correspondente potencial de ação compos-
velocidade do movimento em pequenas sobrecargas to, ou onda-M (Desmedt e Hainaut, 1968). Nos pro-
é essencialmente relacionada à velocidade máxima gramas diários de treinamento de três meses de
da tensão desenvolvida e, no caso das sobrecargas duração considerados, não foi observada nenhuma
elevadas, a velocidade máxima é mais relacionada à alteração significativa na onda-M, mas a atividade
força muscular máxima. As descobertas de que o trei- mecânica muscular correspondente demonstrou ace-
namento dinâmico aumenta a velocidade de encur- leração do curso de tempo. A velocidade máxima de
tamento para pequenas sobrecargas (Fig. 16.2a) e de contração foi aumentada em 20 e 25%, respectiva-
que os exercícios isométricos predominantemente au- mente, após treinamento isométrico e com exercíci-
mentam essa velocidade para altas resistências me- os dinâmicos. A velocidade máxima de relaxamento
cânicas (não-ilustrado, mas ver Duchateau e Hainaut, aumentou em 12 e 16% após treinamento isométri-
1984) representam outras indicações de efeitos es- co e dinâmico, respectivamente. No entanto, somen-
pecíficos de dois diferentes tipos de programas de te os exercícios dinâmicos reduziram o tempo do pico
treinamento. Tal referência é também sustentada pela de contração (11%), reduzindo, então, o tempo for-
comparação das relações força-velocidade, normali- necido para o componente contrátil alongar os ele-
zadas pela força muscular máxima, antes e após trei- mentos musculares elásticos que conseqüentemente
namento dinâmico (Fig. 16.2b). As duas curvas são reduziram a amplitude de contração em 10% (Fig.
significativamente diferentes somente em forças abai- 16.1b). Após treinamento isométrico, essa amplitude
xo de 50% do máximo. Além disso, tais resultados aumentou (19%), embora o tempo do pico não te-
sugerem que a cinética contrátil muscular foi intrin- nha se alterado, mesmo diante de maior velocidade
secamente modificada pelo treinamento dinâmico. A de contração. A relação contração-tetania (Pt/P0) caiu
análise das curvas de potência muscular (Fig. 16.2c,d) em 18% após treinamento dinâmico, uma observa-
indica que ambos os tipos de treinamento aumen- ção paralela às características de cinética contrátil ace-
334 PAAVO V. KOMI

Figura 16.2 Efeito do treinamento dinâmico na relação força (sobrecarga)-velocidade ((a) e (b)) e curva de potência ((c) e (d)) do
músculo adutor do polegar humano. A contração muscular foi induzida por estimulação elétrica tetânica máxima em freqüência de
100 Hz e pelos dados plotados pela equação de Hill. As sobrecargas são expressas em valor absoluto ((a) e (c)) ou como
porcentagem da força tetânica máxima ((b) e (d)) (dados de Duchateau e Hainaut, 1984).

lerada (Close, 1972) ou à intensificação do acopla- capacidade contrátil dos diferentes tipos de unida-
mento muscular E-C (Desmedt e Hainaut, 1968). des motoras (Burke e Edgerton, 1975). As unidades
motoras de limiares normalizados similares (referen-
Propriedades mecânicas das te à força muscular máxima) são comparadas em ra-
unidades motoras isoladas zão da óbvia impossibilidade de testar as mesmas
unidades antes e após o treinamento (Hainaut et al.,
Devido à cinética contrátil muscular adaptar-se 1981). Após treinamento isométrico, todas as unida-
especificamente ao tipo de contração durante o trei- des motoras demonstraram aumento na força pro-
namento, a próxima questão refere-se ao tipo de pro- porcionalmente idêntico, sem alteração no tempo do
grama de treinamento que exerce influência sobre a pico de contração e de relaxamento. Após treinamento
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 335

dinâmico, as unidades motoras também demonstra-


ram aumento da força, mas menor do que o alcança-
do com exercícios isométricos. Além disso, após exer-
cícios dinâmicos, as unidades motoras de baixo limiar
apresentaram maior aumento percentual da força
contrátil quando comparadas às unidades motoras
mais rápidas que foram recrutadas em maiores limia-
res de força. Outra diferença interessante é que o tem-
po do pico contrátil do conjunto total de unidades
motoras diminuiu significativamente em 9% (Fig.
16.3a) como resultado do treinamento dinâmico. Isso
indicou que o curso de tempo da contração foi ace-
lerado. Após o treinamento, todas as unidades moto-
ras demonstraram menor limiar de recrutamento
quando expresso como porcentagem da força máxi-
ma. Então, para alcançar a força máxima de contra-
ção, a freqüência de disparo máxima das unidades
motoras deve ser aumentada. Não houve evidência
de alteração no “princípio do tamanho” (Henneman
et al., 1965) após treinamento dinâmico. Na realida-
de, foi observada relação linear consistente entre o
tamanho da unidade motora, indicado pela sua força
contrátil, e o limiar de recrutamento (Fig. 16.3b).

Mecanismos relacionados às
adaptações musculares
As propriedades contráteis do músculo humano
parecem adaptar-se especificamente ao tipo de trei-
namento. O aumento da força máxima de contração
está relacionado ao aumento nas proteínas contrá-
teis e na massa muscular (Goldspink, 1977; McDou-
gall e Davies, 1984; Narici et al., 1996; ver Capítulo
13). A observação de que, em condições de treina- Figura 16.3 Efeitos do treinamento dinâmico nas propriedades
mento similares àquelas prevalentes em esportes, a mecânicas de unidades motoras isoladas registradas pelo método
“média do pico disparado” (cf. Milner-Brown et al., 1973). (a) Os
onda-M não é alterada, sugerindo que o número de histogramas demonstram a distribuição do tempo para o pico de
células musculares não aumenta (Duchateau e Hai- 112 e 132 unidades motoras antes e após o treinamento,
naut, 1984). No entanto, deve-se considerar que a respectivamente. Observe a alteração da distribuição em direção
hiperplasia tem sido registrada após treinamento, mas aos curtos valores de tempo para o pico após o treinamento. (b)
é de significância limitada no que diz respeito ao nú- Força da unidade motora plotada em função do limiar de
recrutamento (expressa como a porcentagem de CVM) durante
mero total de fibras musculares em adultos (cf. Fawzi, contração em rampa, antes e após treinamento dinâmico. As
2000; ver Capítulo 13). O menor aumento na força linhas de regressão são estatisticamente diferentes antes e após o
máxima após exercício dinâmico é consistente com treinamento (p < 0,05).
o fato de que a duração da ativação de unidades mo-
toras diferentes limiares de recrutamento não foi idên-
tico. Isso ocorre devido ao fato de as grandes unida- consistente com a observação de que as pequenas
des motoras serem desativadas após a inércia do início unidades motoras, ativadas até o final das contrações,
do movimento e, dessa forma, não treinarem duran- demonstram maior aumento da força comparadas
te todo o período da contração. Tal ponto de vista é com as grandes unidades motoras durante treinamen-
336 PAAVO V. KOMI

to dinâmico. Não ocorre o mesmo após treinamento duz maior aumento na atividade ATPase da miosina
isométrico, pois quase todas as unidades motoras são e nos movimentos fásicos do cálcio quando compa-
ativadas durante as contrações (Hainaut et al., 1981). rado ao exercício isométrico.
O aumento na taxa máxima de produção de ten- A adaptação da cinética contrátil muscular ao trei-
são e a aceleração durante a contração, maiores após namento poderia também estar relacionada às alte-
treinamento dinâmico, poderiam estar relacionados rações na rigidez muscular. Na verdade, tem sido ob-
ao aumento da atividade ATPase da miosina. É bem servada menor complacência no componente elástico
conhecido que a velocidade máxima de encurtamen- em série após exercício excêntrico (Pousson et al.,
to está intimamente relacionada à atividade ATPase 1990). A menor inclinação da relação rigidez-torque
da miosina (Barany, 1967) e que o treinamento de foi relatada após treinamento “pliométrico” (Cornu
alta velocidade (ou sprint) é responsável por aumen- et al., 1997). É possível que o treinamento também
tar a atividade ATPase máxima da miosina das miofi- aumente a transmissão lateral de força aos sarcôme-
brilas (Bell et al., 1992) e promover a conversão da ros adjacentes via sistema de filamentos intermediá-
miosina muscular da forma lenta para a rápida rios e a matriz extracelular através de conexões late-
(Jansson et al., 1990; Andersen et al., 1993). O au- rais ao tecido conjuntivo do endomísio (Patel e Lieber,
mento fásico do movimento do cálcio ionizado re- 1997). Essas alterações facilitariam a transmissão de
presenta um mecanismo adicional que poderia ex- força ao esqueleto. Independentemente dos mecanis-
plicar o aumento da velocidade de encurtamento mos, as adaptações relatadas anteriormente derivam
muscular. Foi demonstrado nas fibras musculares de alterações musculares.
gigantes associadas, através da técnica aequorina,*
que as alterações do tempo de contração são contro-
ladas pelas alterações no movimento do cálcio Adaptações neurais
(Hainaut e Desmedt, 1974a,b; Duchateau e Hainaut,
1986b). A descoberta de que somente o treinamento Além das propriedades musculares relacionadas
dinâmico reduz o tempo de contração sugere que al- à velocidade intrínseca, a magnitude do input neural
guns fatores, tais como a quantidade e/ou qualidade ao músculo é de importância funcional no desempe-
do retículo sarcoplasmático, podem ser especifica- nho de contrações ou movimentos rápidos. Essa as-
mente aumentados por esse tipo de exercício. O retí- sociação é clara quando se compara a atividade EMG,
culo sarcoplasmático é a organela que controla prin- que representa o input neural ao músculo, e a taxa de
cipalmente os movimentos fásicos do cálcio ionizado. produção de força durante contrações isométricas
Evidência experimental comprova que as fibras rápi- máximas rápidas. Os sujeitos que apresentam eleva-
das contêm mais retículo sarcoplasmático do que as da atividade EMG no início da contração são tam-
lentas (Brody, 1976). Registros também confirmam bém aqueles que demonstram maior taxa de produ-
que o retículo sarcoplasmático pode ser qualitativa- ção de força (ver Fig. 3 em Komi, 1986).
mente transformado por repetida ativação elétrica Uma questão de importância nos esportes está
(Ramirez e Pette, 1974). A hipótese de que especifi- relacionada à capacidade de o atleta aumentar o input
camente o treinamento dinâmico altera o movimen- neural durante contrações rápidas por meio de trei-
to do cálcio é consistente com a observação de que o namento específico. Alguns estudos demonstram que
tempo de contração pode ser mais dependente da o programa de treinamento com contrações dinâmi-
qualidade do retículo do que da atividade ATPase da cas eleva a taxa de produção de força pela inten-
miosina (Brody, 1976). Especulações não menos in- sificação do input neural ao músculo (Häkkinen et
teressantes sugerem que o treinamento dinâmico in- al., 1985b; Behm e Sale, 1993; Moritani, 1993; Van
Cutsem et al., 1998). A Figura 16.4(a) representa um
exemplo dessa adaptação, em que a força e a ativida-
de EMG de superfície do tibial anterior durante con-
*N.
trações isométricas balísticas do músculo dorsiflexor
de R.T. Um tipo de proteína isolada de uma espécie de
medusa, bioluminescente em proporção à quantidade de cál- do tornozelo são comparadas antes e após 12 sema-
cio iônico; injetada em células vivas para testar a presença de nas de treinamento (Van Cutsem et al., 1998). Nesse
íons cálcio (Dorlan, Dicionário médico ilustrado, 1999). estudo, o programa de treinamento foi constituído
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 337

de cinco sessões por semana. Cada sessão envolveu


10 séries de 10 contrações entre 30 e 40% da máxi-
ma. Pareceu existir aumento induzido no desenvol-
vimento do torque e na atividade EMG quando con-
trações de nível similar de força (expresso como a
porcentagem do torque máximo) foram comparadas
(Fig. 16.4a). Esse aumento na taxa de produção do
torque foi observado em magnitude proporcional-
mente similar, independentemente do nível de tor-
que produzido durante a contração balística (Fig.
16.4b). Após o treinamento, a média da taxa máxima
de produção de tensão das cinco contrações balísti-
cas mais rápidas em todos os sujeitos aumentou em
82,3% e em 52,9% quando expressa em valores ab-
solutos ou relativos, respectivamente. Concomitan-
temente, o tempo do pico de tensão foi reduzido em
15,9%. Essas adaptações mecânicas foram associa-
das ao aumento médio na atividade EMG de 42,7%.
Esse aumento da atividade EMG é particularmente evi-
dente no início da contração, devido ao tempo médio
para alcançar seu valor máximo se reduzido em 15,6%.
Além disso, foi observada ativação inicial do músculo
após o treinamento (Fig. 16.4a). Essas alterações po-
dem ser interpretadas como modificações do coman-
do neural da contração devido a essas alterações EMG
terem sido registradas sem qualquer alteração na am-
plitude da onda-M. Em adição, o aumento da ativi-
dade EMG foi verdadeiramente relacionado à adap-
tação ao treinamento e não ao efeito de familiarização
pelo fato de o grupo-controle, testado nas semanas
1, 6 e 12, não demonstrar qualquer alteração signifi-
cativa.
Geralmente, são sugeridos vários possíveis me-
canismos neurais que poderiam explicar o aumento
do input neural a determinado músculo. Os mecanis-
mos mais freqüentemente propostos são: (I) ativação
seletiva das unidades motoras rápidas de alto limiar;
(II) aumento da sincronização entre as unidades mo- Figura 16.4 Taxa de produção de tensão dos dorsiflexores do
toras; e (III) aumento da freqüência de disparo das tornozelo durante contrações balísticas antes e após
unidades motoras. treinamento dinâmico. (a) Comparação do torque e EMG
retificada registrada no tibial anterior de um sujeito durante
contração balística com porcentagem de CVM similar (41%
Ativação seletiva das unidades versus 44%) antes e após o treinamento. Observe o aumento
motoras rápidas de alto limiar da taxa de produção de tensão antes e após o treinamento,
assim como a atividade EMG intensificada no início da
Nas contrações caracterizadas pelo aumento gra- contração. (b) Relação entre a taxa de produção de tensão e o
dativo da força, as unidades motoras agonistas são torque (expresso como a porcentagem da CVM) durante
contrações balísticas, para todos os sujeitos. As inclinações da
recrutadas de acordo com o “princípio do tamanho”, relação antes e após o treinamento são significativamente
como documentado por Henneman e colaboradores diferentes (p < 0,001) (de Van Cutsem et al., 1998, com
em 1965. Esse princípio refere que pequenas (lentas) permissão).
338 PAAVO V. KOMI

unidades motoras são ativadas em baixos limiares de Milner-Brown e colaboradores (1973), a sincroniza-
força mais do que as grandes (rápidas) unidades. Pri- ção do impulso das unidades motoras foi definida
meiramente descrito em animais, esse princípio tem como o tempo coincidente de impulsos de duas ou
sido válido em músculos humanos durante contra- mais unidades motoras. Determinou-se que levanta-
ções isométricas (Milner-Brown et al., 1973) ou em dores de peso possuem maior sincronização quando
encurtamento (Desmedt e Godaux, 1979). Tem tam- comparados a sujeitos-controle (Milner-Brown et al.,
bém sido demonstrado que o princípio do tamanho 1975; Semmler e Nordstrom, 1998) e que o treina-
é uma regra geral nas contrações balísticas (Desmedt mento de força aumenta a sincronização entre as
e Godaux, 1977; Garland et al., 1996). No entanto, o unidades motoras (Milner-Brown et al., 1975). Em-
limiar de recrutamento das unidades motoras foi bora seja difícil explicar como a sincronização au-
menor quando comparado ao das contrações lentas mentaria a força máxima (ver Sale, 1988; Yao et al.,
nas últimas condições (Desmedt e Godaux, 1977). 2000), é possível que esse mecanismo contribua para
Essas pequenas diferenças no tempo de ativação en- o aumento na taxa de produção de tensão (Semmler
tre os motoneurônios podem, às vezes, ser suprimi- e Enoka, 2000). A observação de um aspecto mais
das pelas diferenças na velocidade de condução en- segmentado da atividade EMG em contrações balís-
tre pequenos e grandes axônios. Isso porque há forte ticas após o treinamento (Fig. 16.4) poderia estar re-
impulso excitatório durante as contrações balísticas lacionada tanto a maior sincronização entre as uni-
para ativar todo o conjunto de motoneurônios em dades motoras (Komi, 1986), como a tendência de as
alguns milissegundos. Na realidade, foi observada unidades motoras pulsarem em freqüência similar
maior velocidade de condução nas unidades de alto (Fuglevand et al., 1993). De modo interessante, tal
limiar quando comparadas com as de baixo limiar. aumento da segmentação da atividade EMG foi tam-
Apesar dessa contra-ação periférica, a ordem normal bém relatada em exercícios envolvendo o ciclo alon-
é preservada em um músculo durante as contrações gamento-encurtamento (CAE), após treinamento
balísticas (Büdingen e Freund, 1976; Desmedt e pliométrico (Schmidtbleicher, 1992). Embora a sin-
Godaux, 1977; Desmedt e Godaux, 1979; Garland et cronização entre as unidades motoras seja indubita-
al., 1996). Para nosso conhecimento, apenas um es- velmente influenciada por alterações nos níveis da
tudo analisou a possibilidade de alteração na ordem atividade física crônica, isso ainda tem de ser demons-
de recrutamento das unidades motoras após progra- trado de maneira convincente (Enoka, 1997).
ma de treinamento com contrações dinâmicas, mas
não foi observado nenhum recrutamento seletivo das Aumento da freqüência de disparo
unidades motoras de alto limiar (Van Cutsem et al., das unidades motoras
1998). Esses resultados, registrados em um único
músculo, não excluem a possibilidade de alterações Em geral, o aumento da freqüência de disparo
na ordem de ativação da unidade motora nos mús- das unidades motoras tem sido proposto como pos-
culos sinergistas (Duchateau et al., 1986; Nardone e sível mecanismo responsável pelo aumento da taxa
Schieppati, 1988; Moritani et al., 1990). Tais exce- de produção de força (Cracraft e Petajan, 1977; Jans-
ções têm sido relatadas durante movimentos estere- son et al., 1990). Essa hipótese, no entanto, foi testa-
otipados muito rápidos no gato (Smith et al., 1980) e da, de forma experimental, recentemente, através do
durante contrações excêntricas ou eletricamente es- registro do comportamento de uma única unidade
timuladas em humanos (Feiereisen et al., 1997). motora do tibial anterior no início das contrações iso-
métricas balísticas, por meio de eletrodo de fio intra-
Sincronização entre as unidades muscular (Van Cutsem et al., 1998). Para estimar a
motoras contribuição do padrão de disparo das unidades mo-
toras para o aumento na taxa de produção de força, a
A sincronização das unidades motoras é outro taxa instantânea para os primeiros quatro potenciais
mecanismo freqüentemente proposto para explicar de ação foi determinada em unidades motoras isola-
o aumento na força máxima e a taxa de produção das antes (n = 475) e após treinamento (n = 633).
de tensão (Milner-Brown et al., 1975; Komi, 1986; Essa análise limitou-se aos quatro primeiros poten-
Schmidtbleicher, 1992). No estudo conduzido por ciais de ação, pois: (I) poucas unidades estimularam-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 339

se mais do que quatro vezes antes do treinamento; Houve alteração no padrão de disparo da unida-
(II) no momento da medida, o registro não foi influ- de motora após três meses de treinamento dinâmico.
enciado por possíveis movimentos do eletrodo; e (III) Como ilustrado na Figura 16.5(b), o declínio na fre-
a taxa máxima de produção de tensão foi alcançada. qüência de disparo instantânea das unidades moto-
No músculo não-treinado, a freqüência de dis- ras não estava mais presente no músculo treinado.
paro de unidades motoras isoladas seguiu o compor- Sem considerar freqüências superiores a 200 Hz (ver
tamento clássico descrito na literatura durante as motivo a seguir), no conjunto total das unidades, a
contrações balísticas (Desmedt e Goudax, 1977; freqüência média de disparo para o primeiro, segun-
Desmedt e Goudax, 1979; Bawa e Calancie, 1983). do e terceiro intervalo foi 84,6, 64,8 e 59,2 Hz, res-
Como ilustrado na Figura 16.5(a), a unidade come- pectivamente, após o treinamento. O ganho na taxa
çou a disparar em curtos intervalos interpicos, acom- de disparo foi muito maior para o terceiro do que
panhado pelo aumento progressivo do intervalo, in- para o segundo e o primeiro intervalos interpicos.
dicando que a taxa instantânea de disparo declinou A Figura 16.6 ilustra o efeito do treinamento na taxa
progressivamente. instantânea de disparo quando os primeiros três in-

Figura 16.5 Comportamento de unidades motoras isoladas do tibial anterior durante contração balística de níveis de força
similares (41% versus 44% da CVM) antes (a) e após treinamento dinâmico (b). Os traços correspondem à força mecânica (A) e à
atividade eletromiográfica intramuscular plotada em velocidades lenta (B) e rápida (C). (a) Exemplo típico de padrão de disparo de
uma unidade motora isolada no músculo não-treinado demonstrando lapso de curto tempo entre os primeiros dois picos seguidos
por longos períodos interpicos. Os primeiros três intervalos interpicos são 8, 23 e 36 ms, respectivamente. (b) Ilustra o
comportamento comum das unidades motoras no músculo treinado demonstrando que a elevada freqüência instantânea de disparo
inicial é mantida durante picos subseqüentes. Os primeiros três intervalos interpicos são 11,8, 10 e 11 ms, respectivamente. Os
asteriscos indicam descarga da mesma unidade motora e seus traços são sobrepostos com demonstração prolongada (B) (de Van
Cutsem et al., 1998, com permissão).
340 PAAVO V. KOMI

Figura 16.6 Histogramas demonstrando a distribuição da taxa média de descarga registrada nos primeiros três intervalos
interpicos de contrações balísticas para o conjunto total de unidades motoras estudadas antes e após treinamento dinâmico. As
descargas duplas de intervalos menores que 5 ms não são incluídas na distribuição. A comparação das distribuições, antes e após
treinamento, são significativamente diferentes (p < 0,001). Na inserção, os histogramas ilustram a porcentagem de dupla descarga
com intervalo menor que 5 ms para a população total de unidades motoras antes e após treinamento dinâmico. Observe que, entre
as unidades motoras registradas antes do treinamento, somente 5,2% da população testada demonstrou presença de descarga dupla
no início do aumento súbito do sinal EMG, enquanto após o treinamento 32,7% das unidades começaram a disparar com intervalos
interpicos entre 2 e 5 ms.

tervalos interpicos são considerados. Está claro nes- et al., 1996; Van Cutsem et al., 1998). Como é objeti-
sa figura que o treinamento aumentou a freqüência vamente impossível determinar a transição entre o
de disparo do conjunto total das unidades motoras. disparo simples e o duplo, decidimos considerar o
intervalo igual ou menor que 5 ms como duplo. En-
Duplo disparo tre as unidades motoras registradas antes do treina-
mento, somente 5,2% demonstram duplo disparo no
Em algumas circunstâncias, o duplo disparo das início do aumento súbito no sinal EMG (Fig. 16.6).
unidades motoras representa uma comum observa- Nos músculos treinados, 32,7% das unidades moto-
ção nos registros EMG intramusculares (Denslow, ras registradas começaram a disparar em intervalos
1948; Bawa e Calancie, 1983; Kudina e Churikova, interpico entre 2 e 5 ms. Em alguns casos, ocorreu
1990; Garland e Griffin, 1999). Considera-se, em ge- duplo disparo repetido das unidades motoras como
ral, que dois disparos consecutivos com intervalos ilustrado na Figura 16.7(a). Sob essas condições, o
menores que 20 ms são “duplicados” (Simpson, 1969). intervalo interpico do duplo disparo aumentou du-
Tal duplo disparo tem sido observado em contração rante a seqüência de disparo. Algumas unidades mo-
submáxima progressiva ou estável, assim como em toras não demonstraram esse duplo disparo no iní-
contração balística e em rampa rápida (Bawa e cio da contração, mas posteriormente, durante a
Calancie, 1983; Kudina e Churikova, 1990; Garland contração (Fig. 16.7b).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 341

Figura 16.7 Exemplos de dupla descarga de unidades motoras isoladas do tibial anterior durante contração balística após
treinamento dinâmico. Os traços correspondem à força mecânica (A) e à atividade EMG intramuscular plotada em velocidades lentas
(B) e rápidas (C). (a) Ilustra duas diferentes unidades motoras que produzem duplo disparo. A unidade motora 1 promove dois
disparos (2,4 e 4,8 ms, respectivamente), enquanto a unidade motora 2 produz um duplo pico de intervalo de 4,2 ms. (b) Ilustra
um duplo disparo que apareceu posteriormente. A unidade motora ilustrada demonstrou três disparos simples em intervalos de,
respectivamente, 14, 12,5 e 6 ms, seguidos por um duplo de 3,4 ms. Os asteriscos indicam duplos disparos e seus traços são
sobrepostos de forma prolongada. Observe que em (b) D: a dupla descarga foi sobreposta nos três primeiros picos isolados (de Van
Cutsem et al., 1998, com permissão).

Mecanismos que respaldam o nicas é somente alcançada na freqüência de estimu-


aumento na freqüência de disparo lação elétrica de 200 a 250 Hz (Miller et al., 1981;
e de duplo disparo Duchateau e Hainaut; observação não-publicada).
Portanto, a observação de ativação inicial das unida-
Nos músculos não-treinados, a freqüência de dis- des motoras, duplo disparo extra e aumento da fre-
paro das unidades motoras provavelmente não alcan- qüência máxima de disparo após treinamento dinâ-
ça o nível ótimo de modo a controlar o músculo em mico deve contribuir para o aumento na velocidade
sua taxa máxima de produção de tensão. Tal pers- das contrações balísticas voluntárias.
pectiva sustentou-se pela observação de que a taxa A freqüência de disparo de unidades motoras al-
máxima de produção de tensão em contrações tetâ- tas (150 a 200 Hz) no início de contrações sustenta-
342 PAAVO V. KOMI

das (Marsden et al., 1971) e a presença de duplas res- ção nas propriedades intrínsecas da membrana do
postas de curtos intervalos (3,2 a 4 ms) durante esti- motoneurônio. Isso está em paralelo ao aumento na
mulação magnética cortical (Gandevia e Rothwell, excitabilidade do motoneurônio observado por Sale
1987; Day et al., 1989; Bawa e Lemon, 1993) consti- e colaboradores, após o treinamento (Sale et al., 1983;
tuem objeto de registro. Essas freqüências instantâ- ver Capítulo 15).
neas elevadas que também foram observadas no iní-
cio do disparo das unidades motoras induzido pela Significância funcional dos duplos
injeção rápida em rampa (Baldissera et al., 1987) cor- disparos
respondem à variação “secundária” do disparo dos
motoneurônios descrito por Kernell (1965). O au- A partir da discussão anterior, pode-se concluir
mento de curtos intervalos interpico observados após que esses duplos disparos contribuem para o aumento
treinamento poderia estar relacionado ao massivo na taxa máxima de produção de tensão e/ou para a
aumento do input sináptico, devido ao fato de a fre- execução de taxas submáximas, dependendo do mo-
qüência de disparo das unidades motoras estar rela- mento em que aparecem no aumento súbito de sinal
cionada à intensidade da “corrente injetada”.* Uma EMG. Tal perspectiva desperta interesse, pois a taxa
explicação alternativa é a de que a freqüência de dis- máxima de produção de tensão ocorre na segunda
paro das unidades motoras e os duplos disparos ocor- ou terceira contração tetânica (ver Stein e Parmiggiani,
rem devido às alterações nas propriedades intrínse- 1979; Duchateau e Hainaut, 1986a) e é controlada
cas da membrana do motoneurônio. Sabe-se que o minuciosamente pelos movimentos fásicos intrace-
motoneurônio capaz de produzir duplo disparo pode lulares do cálcio ionizado (Duchateau e Hainaut,
sofrer um estado de aumento da despolarização, que 1986b). No entanto, foi previamente registrado que,
ocorre durante a fase de queda do potencial de ação. em intervalos muito curtos (1 ms), o potencial de ação
A despolarização retardada parece resultar de inva- muscular (onda-M), causado por dois pulsos, foi idên-
são antidrômica dos dendritos após o potencial de tico àquele provocado por um único pulso no adutor
ação inicial, que causa pequena inflexão na fase de do polegar (Desmedt e Hainaut, 1968). Então, a ten-
queda do potencial de ação inicial (Granit et al., 1963; dência de o motoneurônio lançar duplos disparos em
Nelson e Burke, 1967). Nesse período, o motoneu- curtos intervalos durante contrações voluntárias de-
rônio seria mais suscetível ao aumento do input si- veria ser ignorada pela membrana devido a seu esta-
náptico, que pode alcançar o nível limiar e produzir do refratário. Visto que os duplos disparos observa-
um segundo potencial de ação em intervalo muito dos nos experimentos atuais incluíram um maior
curto. intervalo interpulso (variando de 2 a 5 ms) do que o
Nossas observações de que a presença de duplos período refratário (1,5 ms), a significância funcional
disparos após o treinamento não está relacionada ao dos duplos disparos no aumento da taxa de produ-
limiar de recrutamento das unidades motoras não ção de tensão claramente aparece. Além disso, um
sustenta a idéia de que o maior input sináptico possui estudo recente de estimulação computadorizada
papel importante no maior número de duplos dispa- (Van Cutsem et al., dados não-publicados) indicou
ros registrados. Na verdade, as unidades motoras de que os duplos disparos de alta freqüência contribuem
baixo limiar, com maior input de resistência, deveriam efetivamente para o aumento na taxa de produção de
demonstrar maior tendência em direção aos duplos tensão.
disparos, mas esse não foi o caso nos experimentos
atuais. A observação, em algumas unidades, de que
os duplos disparos não aparecem no início do dispa- Conclusão
ro, mas posteriormente na seqüência de disparo, é
outro argumento que sustenta a hipótese de altera- O treinamento dinâmico empregando pequenas
sobrecargas aumenta a taxa máxima de produção de
tensão. Da mesma forma que para a força máxima,
essas adaptações ocorrem devido não somente às al-
*N. de R.T. Relativo ao aumento (adicional) da descarga total terações musculares, mas também às neurais e são
das unidades motoras. específicas ao tipo de contração realizada durante o
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 343

treinamento. Em nível muscular, essas adaptações pa- Brody, I.A. (1976) Regulation of isometric contraction in
recem ser principalmente controladas por mecanis- skeletal muscle. Experimental Neurology 50, 673-683.
mos intracelulares (aumento da atividade ATPase da Büdingen, H.J. & Freund, H.J. (1976) The relationship be-
miosina e/ou intensificação dos movimentos fásicos tween the rate of rise of isometric tension and motor
unit recruitment in a human forearm muscle. Pflügers
do cálcio ionizado) e por alterações na complacência
Archiv 362, 61-67.
muscular. Em nível neural, a ativação inicial da uni- Buller, A.J. & Lewis, D.M. (1965) The rate of tension deve-
dade motora, os duplos disparos extras e o aumento lopment in isometric tetanic contractions of mammali-
da freqüência máxima de disparo contribuem para o an fast and slow skeletal muscle. Journal of Physiology
aumento da velocidade da contração voluntária mus- 176, 337-354.
cular após o treinamento dinâmico. A observação de Burke, R.E. & Edgerton, R.V. (1975) Motor unit properties
que as respostas em velocidades específicas decor- and selective involvement in movement. Exercise and
rentes dos treinamentos isométrico e isocinético con- Sport Sciences Reviews 3, 31-81.
cêntrico foram similares sugere que é a intenção de Close, R.I. (1972) Dynamic properties of mammalian ske-
letal muscles. Physiological Reviews 52, 129-197.
realizar contrações balísticas e não um movimento
Colliander, E.B. & Tesch, P.A. (1990) Effects of eccentric
balístico propriamente dito, que determina principal-
and concentric muscle actions in resistance training.
mente a adaptação na velocidade (Behm e Sale, 1993). Acta Physiologica Scandinavica 140, 31-39.
Os dados desse estudo enfatizam a significância das Cornu, C., Almeida Silveira, M.I. & Goubel, F. (1997) In-
adaptações neurais no aumento da taxa de produção fluence of plyometric training on the mechanical im-
de tensão. pedance of the human ankle joint. European Journal of
Applied Physiology 76, 282-288.
Cracraft, J.D. & Petajan, J.H. (1977) Effect of muscle trai-
ning on the pattern of firing of single motor units. Ame-
Referências
rican Journal of Physical Medicine 56, 183-193.
Day, B.L., Dressler, D., Maertens De Noordhout, A. et al.
Andersen, J.L., Klitgaard, H. & Saltin, B. (1993) Myosin (1989) Electric and magnetic stimulation of human
heavy chain isoforms in single fibres from m. vastus motor cortex: surface EMG and single motor unit res-
lateralis of sprinters: influence of training intensity. Acta ponses. Journal of Physiology 412, 449-473.
Physiologica Scandinavica 151, 135-142. Denslow, J.S. (1948) Double discharges in human motor
Baldissera, P., Campadelli, P. & Piccinelli, L. (1987) The units. Journal of Neurophysiology 11, 209-215.
dynamic response of cat gastrocnemius motor units Desmedt, J.E. & Godaux, E. (1977) Ballistic contractions
investigated by ramp-current injection into their mo- in man: characteristic recruitment patterns of single
toneurones. Journal of Physiology 387, 317-330. motor units of the tibialis anterior muscle. Journal of
Barany, M. (1967) ATPase activity of myosin correlated with Physiology 264, 673-693.
speed of muscle shortening. Journal of General Physiology Desmedt, J.E. & Godaux, E. (1979) Voluntary motor com-
50, 197-216. mands in human ballistic contractions. Annals of Neu-
Barany, M. & Close, R. (1971) The transformation of myo- rology 5, 415-421.
sin cross-innervated rat muscles. Journal of Physiology Desmedt, J.E. & Hainaut, K. (1968) Kinetics of myofila-
213, 455-474. ment activation in potentiated contraction: staircase
Bawa, P. & Calancie, B. (1983) Repetitive doublets in hu- phenomenon in human skeletal muscle. Nature 217,
man flexor carpi radialis muscle. Journal of Physiology 339, 529-532.
123-132. Duchateau, J. & Enoka, R.M. (2002) Neural adaptations with
Bawa, P. & Lemon, R.N. (1993) Recruitment of motor units chronic activity patterns in able-bodied humans. Ameri-
in response to transcranial magnetic stimulation in man. can Journal of Physical Medicine and Rehabilitation in press.
Journal of Physiology 471, 445-464. Duchateau, J. & Hainaut, K. (1984) Isometric or dynamic
Behm, D.G. & Sale, D.G. (1993) Intended rather than actu- training: differential effects on mechanical properties of
al movement velocity determines velocity-specific trai- a human muscle. Journal of Applied Physiology 56, 296-301.
ning response. Journal of Applied Physiology 74, 359-368. Duchateau, J. & Hainaut, K. (1986a) Nonlinear summation
Bell, G.J., Petersen, S.R., Maclean, I., Reid, D.C. & Quin- of contractions in striated muscle. 1. Twitch potentiation
ney, H.A. (1992) Effect of high velocity resistance trai- in human muscle. Journal of Muscle Research and Cell
ning on peak torque, cross sectional area and myofibri- Motility 7, 11-17.
llar ATPase activity. Journal of Sports Medicine and Physical Duchateau, J. & Hainaut, K. (1986b) Nonlinear summation
Fitness 32, 10-18. of contractions in striated muscle. Il. Potentiation of in-
344 PAAVO V. KOMI

tracellular Ca2+ movements in single barnacle muscle fi- Hainaut, K., Duchateau, J. & Desmedt, J.E. (1981) Diffe-
bres. Journal of Muscle Research and Cell Motility 7, 18-24. rential effects on slow and fast motor units different
Duchateau, J. & Hainaut, K. (1988) Training of submaxi- programs of brief daily training in man. In: New Develo-
mal electrostimulation in a human muscle. Medicine and pments in Electromyography and Clinical Neurophysiology,
Science in Sports and Exercise 20, 99-104. Vol. 9 (ed. J. E. Desmedt), pp. 241-249. Karger, Basel.
Duchateau, J., Le Bozec, S. & Hainaut, K. (1986) Contri- Häkkinen, K. & Komi, P.V. (1983) Electromyographic chan-
bution of slow and fast muscle to the triceps surae to a ges during strength training and detraining. Medicine
cyclic movement. European Journal of Applied Physiology and Science in Sports and Exercise 15, 455-460.
55, 476-481. Häkkinen, K.P., Komi, P.V. & Alen, M. (1985a) Changes in
Enoka, R.M. (1996) Eccentric contractions require unique isometric force- and relaxation-time, electromyographic
activation strategies by the nervous system. Journal of and muscle fibre characteristics of human skeletal mus-
Applied Physiology 81, 2339-2346. cle during strength training and detraining. Acta Phy-
Enoka, R.M. (1997) Neural adaptations with chronic phy- siologica Scandinavica 125, 587-600.
sical activity. Journal of Biomechanics 30, 447-455. Häkkinen, K.P., Komi, P.V. & Alen, M. (1985b) Effect of
Fawzi, K. (2000) Adaptation of human skeletal muscle of explosive type strength training on isometric forceand
training and anabolic steroids. Acta Physiologica Scandi- relaxation-time, electromyographic and muscle fibre
navica 168, 171. characteristics of leg extensor muscles. Acta Physiologica
Feiereisen, P., Duchateau, J. & Hainaut, K. (1997) Motor Scandinavica 125, 587-600.
unit recruitment order during voluntary and electrically Henneman, E., Somjen, G. & Carpenter, D.O. (1965) Func-
induced contractions in the tibialis anterior. Experimen- tional significance of cell size in spinal motoneurons.
tal Brain Research 114, 117-123. Journal of Neurophysiology 28, 560-580.
Fuglevand, A.J., Winter, D.A. & Patla, A.E. (1993) Models or Janssen, E., Esbjörnsson, M., Holm, I. & Jacobs, I. (1990)
recuitment and rate coding organization in motor-unit Increase in the proportion of fast-twitch muscle fibres
pools. Journal of Neurophysiology 70, 2470-2488. by sprint training in males. Acta Physiologica Scandinavica
Gandevia, S.C. & Rothwell, J.C. (1987) Knowledge of mo- 140, 359-363.
tor commands and the recruitment of human moto- Jones, D.A. & Rutherford, O.M. (1987) Human muscle
neurons. Brain 110, 1117-1130. strength training: the effects of three different regimes
Garland, S.J. & Griffin, L. (1999) Motor unit double dis- and the nature of the resultant changes. Journal of Phy-
charges: statistical anomaly or functional entity? Cana- siology 391, 1-11.
dian Journal of Applied Physiology 24, 113-130. Kaneko, M., Fuchimoto, T., Toji, H. & Suei, K. (1983) Trai-
Garland, S.J., Cooke, J.D., Miller, K.J., Ohtsuki, T. & Ivanova, ning effect of different loads on the force-velocity rela-
T. (1996) Motor unit activity during human single joint tionship and mechanical power output in human mus-
movements. Journal of Neurophysiology 76, 1982-1990. cle. Scandinavian Journal of Sports Sciences 5, 50-55.
Ghez, C. (1991) The control of movements. In: Principles of Keele, S.W. (1968) Movement control in skilled motor per-
Neural Sciences (eds E. R. Kandel, J. H. Schwartz & T. M. formance. Psychological Bulletin 70, 387-403.
Jessell), pp. 531-547. Prentice Hall International, Lon- Kernell, D. (1965) High repetitive firing of cat lumbosacral
don. motoneurones stimulated by long lasting injected cur-
Goldspink, D.F. (1977) The influence of activity on muscle rents. Acta Physiologica Scandinavica 65, 84-86.
size and protein turnover. Journal of Physiology 264, Komi, P.V. (1986) Training of muscle strength and power:
283-296. interaction of neuromotoric, hypertrophic and mecha-
Gorza, L., Gundersen, K., Lomo, T., Schiaffino, S. & West- nical factors. International Journal of Sports Medicine 7,
gaard, R.H. (1988) Slow-to-fast transformation of de- 10-15.
nervated soleus muscles by chronic high frequency sti- Kudina, L.P. & Churikova, L.I. (1990) Testing excitability
mulation in the rat. Journal of Physiology 402, 627-649. of human motoneurones capable of firing double dis-
Granit, R., Kernell, D. & Smith, R.S. (1963) Delayed depo- charges. Electroencephalography and Clinical Neurophysio-
larization and the repetitive response to intracellular logy 75, 334-341.
stimulation of mammalian motoneurones. Journal of McDonagh, M.J.N. & Davies, C.T.M. (1984) Adaptive res-
Physiology 168, 890-910. ponse of mammalian skeletal muscle to exercise with
Hainaut, K. & Desmedt, J.E. (1974a) Calcium ionophore high loads. European Journal of Applied Physiology 52,
A23187 potentiates twitch and intracellular calcium 139-155.
release in single muscle fibres. Nature 252, 407-408. MacDougall, J.D., Elder, G.C.B., Sale, D.G., Moroz, J.R. &
Hainaut, K. & Desmedt, J.E. (1974b) Effect of dantrolene Sutton, J.R. (1980) Effects of strength training and im-
sodium on calcium movements in single muscle fibres. mobilization of human muscle fibres. European Journal
Nature 252, 723-730. of Applied Physiology 43, 25-34.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 345

Marsden, D.C., Meadows, J.C. & Merton, P.A. (1971) Iso- Pousson, M., Amiridis, L.G., Cometti, G. & Van Hoecke, J.
lated single motor units in human muscle and their (1999) Velocity-specific training in elbow flexors. Euro-
rate of discharge during voluntary effort. Journal of Phy- pean Journal of Applied Physiology 80, 367-372.
siology 217, 12-13. Ramirez, B.U. & Pette, D. (1974) Effects of long-term elec-
Miller, R.G., Mirka, A. & Maxfield, M. (1981) Rate of tension trical stimulation on sarcoplasmic reticulum of fast ra-
development in isometric contractions of a human hand bbit muscle. FEBS Letters 49, 180-190.
muscle. Experimental Neurology 73, 267-285. Sale, D.G. (1988) Neural adaptation to resistance training.
Milner-Brown, H.S., Stein, R.B. & Yemm, R. (1973) The Medicine and Science in Sports and Exercise 20(5), 135-145.
contractile properties of human motor units during Sale, D.G., MacDougall, J.E., Upton, A.R.M. & McComas,
voluntary isometric contractions. Journal of Physiology A.J. (1983) Effect of strength training upon motoneu-
228, 285-306. ron excitability in man. Medicine and Science in Sports and
Milner-Brown, H.S., Stein, R. & Lee, R.G. (1975) Synchro- Exercise 15, 57-62.
nization of human motor units: possible rôle of exerci- Sandow, A. (1965) Excitation-contraction coupling in ske-
se and supraspinal reflex. Electroencephalography and Cli- letal muscle. Pharmacological Review 17, 265-320.
nical Neurophysiology 38, 245-254. Schmidtbleicher, D. (1992) Training of power events. In:
Moritani, T. (1993) Neuromuscular adaptations during the Strength and Power in Sport (ed. P. V. Komi), pp. 381-395.
acquisition of muscle strength, power and motor tasks. Blackwell Scientific Publications, Oxford.
Journal of Biomechanics 26, 95-107. Semmler, J.G. & Enoka, R.M. (2000) Neural contributions
Moritani, T. & De Vries, H.A. (1979) Neural factors vs hyper- to the changes in muscle strength. In: Biomechanics in
trophy in time course of muscle strength gain. American Sport: The Scientific Basis of Performance (ed. V. M. Zatsior-
Journal of Physical Medicine and Rehabilitation 58, 115-130. sky), pp. 3-20. Blackwell Science, Oxford.
Moritani, T., Oddsson, L. & Thorstensson, A. (1990) Di- Semmler, J.G. & Nordstrom, M.A. (1998) Motor unit dis-
fferences in modulation of the gastrocnemius and so- charge and force tremor in skill- and strength-trained
leus H-reflexes during hopping in man. Acta Physiologi- individuals. Experimental Brain Research 119, 27-38.
ca Scandinavica 138, 575-576. Simpson, J.A. (1969) Terminology of electromyography.
Nardone, A. & Schieppati, M. (1988) Shift of activity from Electroencephalography and Clinical Neurophysiolo-
slow to fast muscle during voluntary lengthening con- gy 26, 224-226.
tractions of the triceps surae muscles in humans. Jour- Smith, J.L., Betts, B., Edgerton, V.R. & Zernicke, R.F. (1980)
nal of Physiology 395, 363-381. Rapid ankle extension during paw shakes: selective re-
Nardone, A., Romano, C. & Schieppati, M. (1989) Selecti- cruitment of fast ankle extensors. Journal of Neurophysi-
ve recruitment of high-threshold human motor units ology 43, 612-620.
during voluntary isotonic lengthening of active mus- Stein, R.B. & Parmiggiani, F. (1979) Optimal motor pat-
cles. Journal of Physiology 409, 451-471. terns for activation of mammalian muscle. Brain Research
Narici, M.V., Roi, G.S., Landoni, L., Minetti, A.E. & Cerre- 175, 372-376.
telli, P. (1990) Changes in force, cross-sectional area and Thépaut-Mathieu, C., Van Hoecke, J. & Maton, B. (1988)
neural activation during strength training and detrai- Myoelectric and mechanical changes are linked to length
ning of the human quadriceps. European Journal of Ap- specificity during isometric training. Journal of Applied
plied Physiology 59, 310-319. Physiology 64, 1500-1505.
Narici, M.V., Hoppeler, H., Kayser, B. et al. (1996) Human Thorstensson, A., Hulten, B., von Döbeln, W. & Karlsson,
quadriceps cross-sectional area, torque and neural ac- J. (1976) Effect of strength training on enzyme activiti-
tivation during 6 months strength training. Acta Physi- es and fibre characteristics in human skeletal muscle.
ologica Scandinavica 157, 175-186. Acta Physiologica Scandinavica 96, 392-398.
Nelson, P.G. & Burke, R.E. (1967) Delayed depolarization in Van Cutsem, M., Duchateau, J. & Hainaut, K. (1998)
cat spinal motoneurones. Experimental Neurology 17, 16-26. Changes in single motor unit behaviour contribute
Patel, T.J. & Lieber, R.L. (1997) Force transmission in ske- to the increase in contraction speed after dynamic
letal muscle: from actomyosin to external tendons. Exer- training in humans. Journal of Physiology 513, 295-
cise and Sport Sciences Reviews 25, 321-363. 305.
Pette, D. & Vrbova, G. (1992) Adaptation of mammalian Wilson, G.J., Murphy, A.J. & Walshe, A. (1996) The specifi-
skeletal muscle fibers to chronic electrical stimulation. city of strength training: the effect of posture. European
Reviews of Physiology, Biochemistry and Pharmacology 120, Journal of Applied Physiology 73, 346-352.
115-202. Yao, W., Fuglevand, A.J. & Enoka, R.M. (2000) Motorunit
Pousson, M., Van Hoecke, J. & Goubel, F. (1990) Changes synchronization increases EMG amplitude and decre-
in elastic characteristics of human muscle induced by ases force steadiness of simulated contractions. Journal
eccentric exercise. Journal of Biomechanics 23(4), 343-348. of Neurophysiology 83, 441-452.
Capítulo 17
Treinamento proprioceptivo:
considerações relativas à
produção de força e potência
ALBERT GOLLHOFER

Introdução na força muscular (contração voluntária máxima


[CVM]) após o treinamento, são muito mais freqüen-
Os efeitos do treinamento de força e potência são temente investigadas do que a plasticidade da potên-
alvo de ampla investigação. Muitos dos estudos que cia muscular induzida pelo treinamento, comumen-
enfatizam os mecanismos introdutores de adaptações te analisada pela taxa de produção de força. Isso é
referem-se ao tamanho muscular e às características notável, uma vez que a ativação rápida dos músculos
da ativação neuronal. São elaboradas delimitações ou a produção de altos impulsos, como ocorre em
funcionais que demonstram os limiares das adapta- várias situações esportivas e em atividades de vida
ções das áreas ou volumes musculares, assim como diária, é muito mais desejável.
do potencial individual de modulação da composi- A partir da perspectiva neuromuscular, a excita-
ção do tipo de fibra muscular. Os mecanismos neu- ção do sistema motoneuronal é determinada pelos
romusculares que induzem alterações adaptativas no processos de ativação tanto eferente como aferente.
sistema motor, assim como os sistemas sensoriais que Em muitos artigos clássicos sobre treinamento de for-
controlam os sistemas motores nos programas de trei- ça, os mecanismos associados às alterações na ativa-
namento sensório-motores são pouco compreendi- ção eferente voluntariamente gerada são determina-
dos, pois grande parte dos estudos atuais tem sido dos como fatores responsáveis pelas adaptações
conduzida com programas clássicos de treinamen- neuronais. O papel preciso das contribuições aferen-
to de força ou potência (MacDougall et al., 1979; tes não está completamente compreendido.
Häkkinen e Komi, 1986; MacDougall, 1986; Tesch, Por muitos anos, o papel fundamental do feedback
1987; Sale, 1992). A melhoria da ativação muscular sensorial na modulação das ativações musculares tem
eferente voluntariamente produzida e associada com sido estudado em tarefas de locomoção e posturais.
exercício agudo e treinamento crônico tem sido re- Questões como a magnitude em que as alterações
ferida como alteração nas características de recruta- no feedback aferente podem potencializar o desempe-
mento ou no padrão de freqüência dos motoneurô- nho motor, compreendido como mecanismo de feed-
nios envolvidos. Existe consenso de que as alterações back positivo, não têm sido extensivamente analisa-
na força máxima podem ser alcançadas seja pela me- das na literatura do treinamento de força. Como
lhoria do potencial protéico muscular, como con- exceção, a importância funcional do feedback relacio-
seqüência de hipertrofia e/ou hiperplasia, ou pelas nado ao estiramento sensorial ativo tem sido prefe-
adaptações funcionais no controle neuronal da mus- rencialmente investigada somente através de um tipo
culatura. específico de ação muscular, o ciclo alongamento-
As adaptações funcionais que produzem altera- encurtamento (Komi, 1994; Gollhofer et al., 1987).
ções na força básica, determinadas como melhoria Com base em estudos isolados, verifica-se o impor-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 347

tante papel dos reflexos de estiramento para a regu- Para diferenciar as várias fontes de contribuição
lação da rigidez do sistema musculotendíneo. Nichols de feedback, há três tipos específicos de “recepção”:
(1987) demonstrou que um músculo estimulado ele- exterocepção, interocepção e propriocepção.
tricamente responde aos estiramentos em rampa com A contribuição exteroceptiva é organizada pelos
aumento linear da tensão do tipo mola apenas se o receptores que transmitem informação ambiental (vi-
músculo mantiver seu sistema de reflexo aferente sual, auditiva, etc.) ao sistema nervoso. A interocep-
intacto. Hoffer e Andreassen (1981) revelaram que a ção descreve a quantidade de informação processada
contribuição da ativação sensível ao estiramento sob no corpo. Enquanto a propriocepção permite a per-
condições excêntricas é consideravelmente importan- cepção da posição e do movimento dos membros com
te entre uma ampla variedade de forças operantes. referência ao corpo e aos membros.
Apesar da importância aparente da ativação neu- Portanto, a propriocepção representa uma fon-
romuscular aferente, muitos estudos de treinamento te básica de informação para o controle dos movi-
de força e potência geralmente não focalizam a ques- mentos corporais, especialmente no contexto da re-
tão de como as contribuições sensoriais, fornecidas gulação do equilíbrio. Em relação aos membros,
por mecanismos proprioceptivos, podem influenciar a propriocepção fornece grande parte da informa-
a produção de força e de potência. Portanto, o prin- ção necessária referente aos estados ativo e passivo
cipal propósito deste capítulo é descrever as adapta- da estabilização do complexo articular. Ambos os
ções do sistema neuromuscular após programas de componentes, controle do equilíbrio e estabilização
treinamento proprioceptivo. As considerações fun- articular, interagem em tarefas teoricamente sim-
cionais serão elaboradas para revelar mecanismos ples como manter a postura em pé (Gruber et al.,
relevantes, indicando que as melhorias na sensibili- 2000).
dade proprioceptiva aparentemente também podem A propriocepção pode ser subdividida em três
ser benéficas para os processos de ativação muscular modalidades: sentido de posição — representa a
normal. consciência das posições articulares estáticas, torna
possível a impressão do espaço tridimensional; senti-
do de movimento (cinestesia) — organiza a percepção
Propriocepção das alterações dinâmicas das posições articulares uma
em relação à outra; sentido de força — fornece infor-
A postura e o movimento humano são controla- mação referente ao estado de equilíbrio entre forças
dos pela complexa interação de redes neuronais cen- internamente geradas e os movimentos externamen-
tral e perifericamente organizadas. O movimento vo- te aplicados aos sistemas articulares.
luntário dependente da tarefa está permanentemente O conceito de propriocepção simplesmente des-
sob a influência da informação de feedback de várias creve a recepção sensorial do estímulo, assim como a
fontes de receptores proprioceptivos. Esse sistema de codificação desses sinais neurológicos em associa-
controle é altamente eficaz caso o feedback seja orga- ção com o feedback aferente ao sistema nervoso cen-
nizado “em tempo real” e até mais eficaz se os meca- tral (SNC) (Lephart et al., 2000).
nismos antecipatórios estão precipitando os requeri- Inúmeros receptores diferentemente especializa-
mentos motores. É conhecido, a partir dos meca- dos e que podem ser identificados nas extremidades
norreceptores da ponta dos dedos, que, para uma garantem densas redes e elevada eficiência desse sis-
preensão com precisão, as forças devem ser ligeira- tema de informação. Esses receptores são conecta-
mente maiores do que as necessárias para manter o dos à medula espinal via fibras nervosas aferentes. O
objeto (Johansson e Westling, 1984; Johansson e conjunto interneuronal de células nervosas representa
Westling, 1987), assim como é bem conhecido que o principal sistema de controle em que toda essa in-
um distúrbio de sobrecarga resultará em uma força formação aferente converge (Fig. 17.1). Como con-
compensatória com latência de 40 ms (Eliasson et seqüência do input central e da convergência perifé-
al., 1995). Essa reação parece ser organizada pelos rica, os motoneurônios dos músculos sinergistas e
mecanorreceptores e é funcionalmente importante antagonistas podem ser inibidos ou facilitados de
para os ajustes rápidos devido às variações na sobre- acordo com os requerimentos de determinado mo-
carga externa. vimento.
348 PAAVO V. KOMI

Figura 17.1 Esquema demonstrando as


várias influências aferentes e eferentes na
via final de um motoneurônio que ativa o
músculo.

Integração do feedback sensorial A capacidade do sistema nervoso detectar posições


para o controle do movimento, articulares, direções de movimento e aplicações de
uma modulação específica força é principalmente processada pelos aferentes
dependente da tarefa sensoriais. Além disso, uma informação precisa, no
nível articular, é necessária para equilibrar as forças,
A partir da perspectiva biomecânica, a marcha, assim como qualquer alteração ativa no desempenho
por exemplo, é caracterizada por alterações do cen- motor a fim de neutralizar as forças gravitacionais e
tro da pressão (COP) referente à projeção momentâ- produzir movimentos coordenados.
nea do centro de massa (COM) para a área de supor- O sistema proprioceptivo é parte de todo o siste-
te durante determinada tarefa motora (Winter, 1996). ma somatossensorial. Na periferia, por exemplo, os

Figura 17.2 Comparação dos perfis


EMG médios (n=12) dos músculos sóleo
(SOL), gastrocnêmio (G) e vasto medial
(VM), bem como da força vertical de
reação do solo. Os dados foram coletados
de sujeitos saltando no mesmo lugar com
uma perna.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 349

sistemas articulares dos braços e pernas devem ser Contribuição proprioceptiva do


sincronizados para se ajustarem às demandas coor- ciclo alongamento-encurtamento
denativas de determinada tarefa. Aqui, o input pro- (CAE)
prioceptivo é obrigatório para também alinhar os sis-
temas de feedback vestibular e visual, assim como para A transferência imediata do complexo musculo-
continuamente modular a ativação muscular dos tendíneo pré-ativado e excentricamente alongado
músculos dos membros (ver Capítulo 2). No entan- para a tração concêntrica basicamente determina a
to, o controle da sobrecarga gravitacional e a com- eficácia motora no CAE. A análise detalhada dos perfis
pensação situacional da sobrecarga externa no mo- EMGs dos músculos extensores do joelho no salto,
vimento contínuo ou em determinada tarefa depende no sobressalto ou na corrida revelou que a contri-
tanto da tarefa como da fase. Vários autores descre- buição reflexa parece ser interindividualmente mui-
vem a existência de receptores de sobrecarga especi- to pouco consistente com a latência de 30 a 40 ms
ficamente adaptados (Gollhofer et al., 1989; Dietz et após o contato no solo (i. e., aterrissagem nas plata-
al., 1992; Prochazka, 1996). Os receptores de sobre- formas de força). Além disso, as latências musculares
carga exercem papel importante no feedback proprio- específicas aumentam dos músculos mais proximais
ceptivo não somente na atividade locomotora rítmi- para os mais distais, o que pode ser atribuído às va-
ca, mas também em ativações compensatórias de riações no comprimento do reflexo. De acordo com
perturbações articulares mecanicamente induzidas. o perfil EMG médio, essas elevadas contribuições de
A partir de experimentos humanos foi observado que pico ocorrem intraindividualmente com um distinto,
o órgão tendinoso de Golgi, com suas curtas latên- mas constante, retardo de tempo, relacionado ao
cias, é um bom candidato para representar esses ti- momento de contato com o solo. Embora não seja
pos de receptores de sobrecarga (Dietz et al., 1992). possível separar metodologicamente as contribuições
No entanto, sugere-se que a sobrecarga não é so- de ativação aferente das de ativação eferente no mo-
mente percebida por um receptor de sobrecarga es- vimento natural humano, propõe-se que esses picos,
pecífico (Duysens et al., 2000). Inúmeros outros ti- comparáveis aos componentes de curta latência (SCL)
pos de receptores que previamente pareciam do reflexo de estiramento monossináptico, são fun-
desempenhar outras funções podem também repre- cionalmente importantes na potencialização da efi-
sentar um feedback de sobrecarga. Então, uma nova cácia motora produzida no CAE.
definição de sensibilidade de sobrecarga precisa ser De acordo com a atividade fornecida na fase de
considerada. pré-ativação (EMG anterior ao contato), espera-se
Dos registros de motoneurônios isolados, sabe- elevada atividade do reflexo de estiramento após vi-
se que pequenas variações na freqüência de excita- goroso alongamento do complexo musculotendíneo
ção resultam em produtos motores muito distintos. (Greenwood e Hopkins, 1976; Dietz et al., 1984;
Duchateau e colaboradores (1999) (ver Capítulo 16 Gollhofer e Schmidtbleicher, 1989). Sabe-se, a partir
para detalhes) determinaram que um estímulo extra de estudos básicos, que o reflexo de estiramento ati-
duplicado, fornecido na ativação dos motoneurônios, vo é um mecanismo pré-requisito para uma expan-
aumenta a força produzida por considerável período são eficaz da rigidez elástica de curta amplitude
de tempo. Essa transferência de alterações rápidas na (SRES), linearizando, então, as características estres-
ativação neuromuscular em respostas de baixa fre- se-tensão de todo o complexo músculo-tendão.
qüência de força produzida pode ser o principal as- A partir da perspectiva funcional, o conceito de
pecto do ponto de vista mecânico. Em situações como linearização estresse-tensão necessita que o comple-
reações a um tropeço ou a movimentos de inclina- xo músculo-tendão seja efetivamente tensionado so-
ção da articulação do tornozelo, os reflexos polissi- mente dentro dos limites do SRES. As tensões acima
napticamente mediados são sobrepostos no padrão dessa amplitude “crítica” induzem vigorosa “queda
básico de ativação, induzindo, então, um estímulo ex- na capacidade” das ligações cruzadas do complexo
tra que aumenta instantaneamente a freqüência mo- actomiosina, concomitante, com uma perda poten-
tora momentânea (Vallbo, 1981; Vallbo e Al-Falahe, cial de energia estocada nas pontes cruzadas alonga-
1990) e, portanto, o resultado motor. das (Flitney e Hirst, 1974; Ford et al., 1978).
350 PAAVO V. KOMI

Com base na Figura 17.3, percebe-se que os re- para restaurar a função neuromuscular. Os vários
flexos induzidos pelo alongamento não aumentam receptores nos complexos articulares, nos tendões,
necessariamente se a sobrecarga de estiramento, isto nos ligamentos e nas estruturas musculares e cutâ-
é, a altura de queda, aumenta. Funcionalmente, de- neas parecem ser treinados para aumentar as contri-
veria ser mais desejável que o alto reflexo de estira- buições proprioceptivas nas situações funcionais. De
mento estivesse ativado quando o complexo muscu- modo similar ao raciocínio para os movimentos rea-
lotendíneo estivesse mecanicamente envolvido. No tivos, o treinamento proprioceptivo tem como obje-
entanto, a menor amplitude do componente de re- tivo melhorar a eficácia do feedback aferente para atin-
flexo observada nos saltos em profundidade com alta gir o controle funcional do membro, assim como o
sobrecarga de estiramento sugere diminuição da fa- acesso neuromuscular apropriado aos músculo que
cilitação reflexa, servindo funcionalmente como es- compõem os complexos articulares. A função pro-
tratégia de proteção para prevenir sobrecarga exces- prioceptiva do complexo articular do tornozelo foi
siva ao complexo tendão-músculo (ver Capítulo 10 investigada por Konradsen e colaboradores (1993) e
para mais detalhes). por Tropp (1986). Esses autores compararam a esta-
Como conclusão, os componentes do reflexo de bilidade postural de sujeitos saudáveis com aqueles
estiramento provavelmente contribuem para a rigi- portadores de instabilidade crônica do tornozelo. Ou-
dez muscular em movimentos de reação, como o ci- tras abordagens investigaram a reprodução angular
clo alongamento-encurtamento, especialmente na sensorial de diferentes dinâmicas articulares sob con-
parte excêntrica do movimento. dições ativas ou passivas (Freeman et al., 1965; Glick
et al., 1976; Tropp, 1986; Lövenberg et al., 1995). Esses
estudos demonstraram déficit proprioceptivo na re-
Treinamento proprioceptivo e as produção de diferentes dinâmicas articulares no caso
contribuições da ativação da instabilidade crônica do tornozelo.
aferente relacionada ao exercício Verifica-se aumento da ativação muscular gera-
da pelo treinamento proprioceptivo em experimen-
Na reabilitação de lesões do sistema locomotor, tos do joelho (Perlau et al., 1995) e da articulação do
o treinamento proprioceptivo é amplamente aceito tornozelo (Jerosch e Bischof, 1994). No entanto, so-

Figura 17.3 Padrão EMG do músculo


sóleo e força vertical de reação do solo nos
saltos em profundidade com aumento da
sobrecarga de estiramento (do topo: SDP,
salto com as duas pernas; 20 dp a 80 dp,
saltos em profundidade de 20 cm a 80
cm de altura com as duas pernas). A linha
vertical indica os primeiros 40 ms após
tocar a plataforma de força; pode ser
basicamente esperada a contribuição de
reflexo monossináptico nos 40 ms após o
toque.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 351

mente poucos estudos controlados estão disponíveis, ativação proprioceptiva dos grupos musculares trei-
os quais demonstraram, em nível eletromiográfico, nados. Sessenta e cinco voluntários praticaram exer-
que o treinamento proprioceptivo melhora o supri- cícios posturais em plataformas instáveis, em “estru-
mento aferente. turas almofadadas” sob os tornozelos e em superfícies
Em uma série de experimentos, Gollhofer (2000) desniveladas. O clássico treinamento de força não foi
investigou as adaptações neuromusculares como re- permitido.
sultado de intervenções com treinamento proprio- As mensurações pré e pós consistiram de (a) aná-
ceptivo. Com base em estudos longitudinais, o autor lise da força de extensão do joelho, (b) estabilização
apresenta dados experimentais demonstrando a adap- postural em plataforma bidimensional (POSTURO-
tabilidade das contribuições aferentes e eferentes. MED®) e (c) determinação da rigidez articular fun-
Observações indicam que o treinamento desen- cional do joelho (Fig. 17.4). A rigidez articular fun-
volvido para melhorar o equilíbrio postural em qua- cional do joelho foi analisada por um aparato especi-
tro semanas, com freqüência de quatro vezes por se- ficamente desenvolvido que criou um deslocamento
mana, causa impacto substancial não somente nas mecânico na tíbia em relação à coxa. Os sujeitos per-
características de ativação voluntária, analisada por maneciam em posição em pé e estimulavam igual-
testes de força isométrica (CVM), mas também na mente as pernas. Esse estresse mecânico produziu

Figura 17.4 Condições experimentais. (a) Teste de força


máxima. Os sujeitos executaram contrações isométricas
máximas contra a plataforma de força. (b) Estabilização
postural. Os sujeitos realizaram equilíbrio postural em uma
perna sob um período de registro de 40 s. (c) Translação
funcional da tibia. Um estresse mecânico aplicado à tíbia
produziu um curto deslocamento entre a perna e a coxa. A
translação tibial seria determinada por meio de potenciômetros
lineares.
352 PAAVO V. KOMI

uma “gaveta anterior”* na articulação do joelho sob cular total. Além disso, as respostas neuromuscula-
condições funcionais, isto é, sobrecarga axial. A quan- res após a translação mecânica foram potencializa-
tificação dos parâmetros mecânicos da “gaveta ante- das após o treinamento.
rior” e a determinação da resposta neuronal permi- Nossos recentes dados sobre a adaptação de longo
tem uma ampla análise do estado funcional do prazo ao treinamento proprioceptivo (Bruhn et al.,
complexo articular do joelho (Bruhn, 1999). 2001) estão em boa concordância com o conceito de
O programa de treinamento de quatro semanas que o aumento da rigidez dos complexos articulares
induziu melhoria significativa na taxa máxima de pro- após o treinamento está basicamente relacionado às
dução de força (TPF) (Tab. 17.1). Além disso, o tem- adaptações neuromusculares. A adaptação geralmente
po absoluto para alcançar a TPF foi diminuído. Os observada nas ativações voluntárias isométricas pode
sujeitos apresentaram potência explosiva máxima em indicar melhoria da função neuromuscular através
menor período de tempo após o treinamento. A esta- do aumento da potência muscular.
bilização postural foi drasticamente reduzida, o que
explica a melhoria na capacidade dos sujeitos para
controlar o equilíbrio. No entanto, calculando o “ra- Estabilização articular dinâmica
cio de propriocepção”, expresso como o racio da ati- ativa: uma estratégia de reflexo
vidade neuromuscular por unidade de deslocamento controlado de coordenação
da EMG integrada (atividade por deslocamento intermuscular de alta freqüência
[IEMG]), um aumento significativo pós-treinamento
poderia ser estabelecido tanto para os músculos da Um amplo debate na literatura referente aos pa-
coxa como para os da perna. Os testes biomecânicos râmetros neuromusculares gira em torno da explica-
de translação da tíbia revelaram uma redução signifi- ção para a disfunção na instabilidade articular. No
cativa na quantidade de translação e na rigidez arti- entanto, a determinação da latência de reflexo após
perturbação mecânica é geralmente utilizada para
separar sistema articular estável e instável. Karlsson
e Andreasson (1992) observaram latências de reflexo
significativamente prolongadas nos músculos da fí-
*N de R.T. Relativo ao deslocamento anterior da tíbia em rela- bula de sujeitos com instabilidade unilateral do lado
ção ao fêmur. Expressão muito usada na ortopedia clínica. afetado após 30° de movimento de inclinação em in-

Tabela 17.1 Valores pré e pós-treinamento, diferenças percentuais e significâncias dos parâmetros básicos mensurados em quatro semanas
de programa de treinamento

Variável Pré Pós Diferença (Δ %) Significância (P < 0,5)

Teste de força máxima


Taxa de produção de força (TPF, N·m·s–1) 7,8 8,5 9 *
Tempo da TPF (TTPF, ms) 48 44 –8,3 0,21

Estabilização postural
Deslocamento postural (m) 1,49 0,72 –48 ***
IEMG deslocamento da coxa (mV·s·m–1) 8,5 15,0 76,5 ***
IEMG deslocamento da perna (mV·s·m–1) 10,7 15,5 44,9 ***

Translação tibial funcional


Translação da tíbia (mm) 4,6 3,9 –15,2 **
Rigidez articular do joelho (N·mm–1) 37,2 41,8 12,4 0,08
Atividade reflexa extensora (30-90·ms) (mV·ms) 12,2 9,5 –22,1 ***
Atividade reflexa flexora (30-90·ms) (mV·ms) 5,5 5,1 –7,3 0,53
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 353

versão. Ao contrário, vários estudos relatam o aumen- 8,2 Hz. É muito provável que esses aumentos súbi-
to do reflexo de ativação, determinado como a IEMG tos não sejam organizados por programas centrais,
após perturbação bem definida em sujeitos com e sem mas por circuitos espinais processando feedback pro-
sistemas de proteção articular (Lohrer et al., 1999). prioceptivo aferente no sistema do motoneurônio α
Assim como as respostas observadas na postura, as devido ao tipo fásico de ativação neuronal e à alta
latências de reflexo dos músculos da fíbula estão den- freqüência.
tro de 60 e 90 ms após o estímulo mecânico. Há con-
cordância geral em relação ao fato de que essas res-
postas são polissinápticas (Johnson e Johnson, 1993; Papel funcional do input
Konradsen et al., 1993; Scheuffelen et al., 1993). Da proprioceptivo na produção de
perspectiva funcional, as latências de reflexo prolon- força isométrica
gadas podem basicamente explicar que, em desloca-
mentos muito rápidos, os sistemas reflexos podem É bem conhecido dos registros de unidades mo-
contribuir também para o atraso na estabilização ar- toras isoladas que, em condições isométricas, a taxa
ticular ativa. Do ponto de vista fisiológico, a melho- de descarga é reduzida quando as contribuições afe-
ria das latências de reflexo nos pacientes pode refe- rentes são “cortadas” (Fig. 17.6). Com base nos da-
rir-se à incapacidade das estruturas de resposta rápida dos de sete unidades motoras, a taxa de descarga é
no arco reflexo. No entanto, essas vias podem não mais afetada pela contração isométrica fatigante aci-
ser necessariamente as mais importantes para uma ma de 30 s. De acordo com a análise de freqüência,
efetiva função de estabilização articular. Então, a se- os autores concluíram que a aferenciação intacta for-
gurança na determinação das latências de reflexo pode nece impulso fusimotor adequado, o que aumenta a
não considerar todos os aspectos da disposição arti- sensibilidade do sistema de fuso muscular. No en-
cular funcional. tanto, maiores freqüências de descarga são respon-
Scheuffelen e colaboradores (1993) demonstra- sáveis pelas rápidas taxas de produção de força dos
ram que é funcionalmente mais importante o acesso motoneurônios (Desmedt e Godaux, 1977; Grimby
rápido e vigoroso à musculatura que constitui a arti- et al., 1981). Com base no reflexo-H de dados obti-
culação estimulada em situações nas quais grandes dos durante contração em rampa, várias observações
amplitudes mecânicas são aplicadas ao sistema arti- favorecem a hipótese de que a contribuição do refle-
cular do tornozelo. Os músculos necessitam ser su- xo aferente também exerce efeito na produção de for-
pridos com uma quantidade adequada de atividade ça isométrica (Meunier e Pierrot-Deseilliigny, 1989).
neuromuscular de modo a resistir a perturbação me- Os autores compararam o impulso extra-facilitató-
cânica e estabilizar o complexo articular e, dessa for- rio dirigido aos motoneurônios durante as contra-
ma, evitar rupturas ligamentares ou das estruturas ções em rampa sob diferentes velocidades e sob vários
capsulares. Conseqüentemente, os programas de trei- níveis de contração voluntária máxima (CVM) (Fig.
namento proprioceptivo são empregados na reabili- 17.7). Os dados demonstram que a facilitação suple-
tação para “ensinar” os músculos agonistas e anta- mentar do conjunto de motoneurônios é ótima na
gonistas a estabilizar um complexo articular ativo. fase inicial de velocidades em rampa tipicamente rá-
Para analisar essa hipótese, Gollhofer e colabo- pidas realizada em alta porcentagem da CVM. Os
radores (2000) investigaram, por meio de análise ele- autores interpretaram suas descobertas com inibição
trofisiológica, os perfis EMG do controle de estabili- pré-sináptica tônica nos terminais Ia, basicamente sob
zação dinâmica. Os padrões EMG de um sujeito são o controle centralmente programado.
apresentados na Figura 17.5(a,b). Obviamente, a ta- Geralmente, em estudos de adaptação proprio-
refa dinâmica de estabilização postural requer rápida ceptiva, observa-se que o ganho proprioceptivo in-
regulação da ativação dos músculos envolvidos. O duzido pelo treinamento no comportamento do re-
controle é alcançado parcialmente pelas rápidas in- flexo monossináptico está correlacionado à melhoria
terações neuronais entre a ativação agonista e anta- na elevação da produção de força: sujeitos que reali-
gonista com alta freqüência intermuscular. O padrão zaram programa de treinamento de quatro semanas
dessa “comunicação neuronal” consiste de aumen- desenvolvido para a estabilização articular proprio-
tos súbitos fásicos interagindo com freqüência de até ceptiva melhoraram significativamente a capacidade
354 PAAVO V. KOMI

Figura 17.5 (a) Padrões EMG retificados dos músculos gastrocnêmio (G) (superior) e tibial anterior (TA) (inferior) e traço de
aceleração na direção médio-lateral (acML) durante estabilização postural em plataforma instável bidimensional. Os padrões EMG
são obviamente sincronizados de acordo com uma freqüência interpicos de 8 Hz. (b) Padrões EMG retificados dos músculos fibular
(FIB) e gastrocnêmio (G) (inferior) e traço de aceleração na direção médio-lateral (acML) durante estabilização postural em
plataforma instável bidimensional. Os padrões EMG demonstram padrão de ativação antagonista de acordo com a freqüência
interpicos de 8 Hz.

de produzir força explosiva comparados a sujeitos que


se exercitavam com ações concêntricas e isométricas
puras (Gollhofer et al., 1997). A melhoria na ativação
muscular e na produção de força dentro dos primei-
ros 100 ms, após o início da ativação, estava em para-
lelo às adaptações na sensibilidade do reflexo de esti-
ramento monossináptico (Fig. 17.8).
A importância mecânica desses ganhos proprio-
ceptivos parece refletir melhoria da habilidade do sis-
tema neuromuscular para ativar os músculos de modo
mais eficiente no início da produção de força. Funcio-
Figura 17.6 Taxa de descarga antes e após período de 30 s
de contração de várias unidades motoras. As barras indicam as
nalmente, isso pode ser importante para enrijecer os
freqüências de descarga com e sem feedback aferente complexos articulares em condições de distúrbio. Esse
(modificada de Macefield et al., 1991). controle é alcançado por rápidas interações neuro-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 355

Figura 17.7 Facilitação suplementar expressa


como porcentagem da onda-M máxima em
quatro diferentes tarefas de contração em
rampa (modificada de Meunier e Pierrot-
Designy, 1989).

nais entre a ativação agonista e a antagonista com lação central. Portanto, admite-se que os mecanis-
alta freqüência intermuscular (ver Fig. 17.5a,b). O mos de controle estão em nível espinal.
padrão dessa comunicação neuronal consiste de au-
mentos súbitos fásicos interagindo com altas freqüên-
cias. Conclusão
Com base nessa alta freqüência e na coordena-
ção intermuscular altamente específica, muito pro- A importância mecânica do aumento dos
vavelmente a ativação neuromuscular observada em ganhos aferentes no controle neuromuscular parece
tarefas de estabilização articular é gerada pela ativa- refletir capacidade alterada do sistema neuromuscu-
ção reflexa, controlada em nível espinal. Os gerado- lar para ativar os músculos mais eficientemente no
res centrais ou mesmo supra-espinais são imprová- início da produção de força. Especialmente em con-
veis quando a freqüência do padrão intermuscular dições de distúrbio, o acesso rápido aos músculos
observada é alta demais para assumir as vias de regu- pode ser de vital importância para enrijecer os com-

Figura 17.8 Adaptação funcional


seguida de programa de treinamento
delineado diferencialmente (média [pré-
valores = 100%]). As barras indicam a
melhoria de quatro diferentes grupos
exercitando-se com treinamento
proprioceptivo (PROP), isométrico
(FORÇA) e combinado (MIS [PROP +
FORÇA]). O grupo-controle (CON) não foi
envolvido no processo de treinamento.
356 PAAVO V. KOMI

plexos articulares. Os programas de treinamento pro- Ford, L.E., Huxley, A.F. & Simmons, R.M. (1978) Tension
prioceptivo podem representar ferramentas eficien- responses to sudden length change in stimulated frog
tes para melhorar a comunicação intermuscular ago- muscle fibres near slack length. Journal of Physiology 269,
nista/antagonista, não somente na reabilitação mas, 441-515.
Freeman, M., Dean, M. & Hanham, 1. (1965) The etiology
em maior extensão, no treinamento esportivo, como,
and prevention of functional instability of the foot. Jour-
por exemplo, no esqui alpino. Além disso, pode ser nal of Bone and Joint Surgery 47B, 678-685.
de importância funcional em todas as modalidades Glick, J.M., Gordon, R.B. & Nishimoto, D. (1976) The pre-
esportivas com exigências de potência explosiva. vention and treatment of ankle injuries. American Jour-
Do ponto de vista fisiológico, os fusos muscula- nal of Sports Medicine 4(4),136-141.
res aferentes não representam simplesmente respos- Gollhofer, A. (2000) Importance of proprioceptive activati-
tas estereotipadas a estiramentos inesperados. Incrus- on on functional neuromuscular properties. In: Procee-
tados no padrão neuromuscular, eles fornecem dings of the XVlll Symposium on Biomechanics in Sports (eds
elevada rigidez ao sistema musculotendíneo, não so- Y. Hong & D.P. Johns), pp. 117-125. Department of
Sport Science and Physical Education, University of
mente no CAE. Além disso, são altamente eficientes
Hong Kong, Hong Kong.
na produção de força isométrica. Gollhofer, A. & Schmidtbleicher, D. (1989) Stretch reflex
responses of the human m. triceps surae following
mechanical stimulation. Journal of Biomechanics 22, 1016.
Referências Gollhofer, A., Komi, P.V., Fujitsuka, N. & Miyashita, M.
(1987) Fatigue during stretch-shortening cycle exerci-
Bruhn, S. (1999) Funktionelle Stabilität am Kniegelenk. Dis- ses. II. Changes in neuromuscular activation patterns
sertation, University of Stuttgart. of human skeletal muscle. International Journal of Sports
Bruhn, S., Gollhofer, A. & Gruber, M. (2001) Sensorimotor Medicine 8, 38-41.
training for prevention and rehabilitation of knee joint Gollhofer, A., Horstmann, G.A., Berger, W. & Dietz, V. (1989)
injuries. European Journal of Sport Traumatology 23(2). Compensation of transitional and rotational perturba-
Editrice Kurtis, Milano. tions in human posture: stabilization of the centre of
Desmedt, J.E. & Godaux, E. (1977) Fast motor units are gravity. Neuroscience Letters 105, 73-78.
not preferentially activated in rapid voluntary contrac- Gollhofer, A., Scheuffelen, C. & Lohrer, H. (1997) Neu-
tions in man. Nature 267, 717-719. romusculäre Trainingsformen und ihre funktionelle
Dietz, V., Quintern, J. & Berger, W. (1984) Corrective reac- Auswirkung ant die Stabilisierung im Sprunggelenk.
tions to stumbling in man. Functional significance of Novartis 7 (eds L. Zichner, M. Engelhardt & J.
spinal and transcortical reflexes. Neuroscience Letters 44, Freiwald), pp. 109-122. Maurer Verlag, Geislingen,
131-135. Germany.
Dietz, V., Gollhofer, A., Kleiber, M. & Trippel, M. (1992) Gollhofer, A., Lohrer, H. & Alt, W. (2000) Propriozeption
Regulation of bipedal stance: dependency on ‘load’ re- — grundlegende Überlegungen zur sensorimotorischen
ceptors. Experimental Brain Research 89, 229-231. Steuerung. Orthopädieschuhtechnik—Sonderheft Propriozep-
Duchateau, J., Van Cutsem, M. & Hainaut, K. (1999) Me- tion, 10-14.
chanisms underlying neural adaptions following dyna- Greenwood, R. & Hopkins, A. (1976) Landing from an
mic training. In: Sport Science 1999 in Europe. Proceedings unexpected fall and a voluntary step. Brain Research 99,
of the 4th ECSS Congress (eds P. Parisi, F. Pigozzi & G. 375-386.
Prinzi), p. 182. Rome University of Motor Sciences, Grimby, L., Hannerz, J. & Hedman, B. (1981) The fatigue
Rome. and voluntary discharge properties of single motor units
Duysens, J., Clarac, F. & Cruse, H. (2000) Load-regulating in man. Journal of Physiology (London) 316, 545-554.
mechanisms in gait and posture. Comparative aspects. Gruber, M., Bruhn, S. & Gollhofer, A. (2000) Training indu-
Physiological Reviews 80(1), 83-133. ced adaptations of functional stability of the knee joint.
Eliasson, A.C., Forssberg, H., Ikuta, K., Apel, K., Westling, In: Proceedings of 5th Annual Congress of the European College
G. & Johannsson, R. (1995) Development of human of Sport Science (eds J. Avela, P.V. Komi & J. Komulainen).
precision grip. V. Anticipatory and triggered grip acti- Department of Biology of Physical Activity and LIKES
ons during sudden loading. Experimental Brain Research Research Centre, Jyväskylä, Finland, p. 296.
106, 425-433. Häkkinen, K. & Komi, P.V. (1986) Training-induced chan-
Flitney, F.W. & Hirst, D.G. (1974) Cross-bridge detachment ges in neuromuscular performance under voluntary and
and sacromere ‘give’ during stretch of active frog’s reflex conditions. European Journal of Applied Physiology
muscle. Journal of Physiology 276, 449-465. 55, 147-155.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 357

Hoffer, J.A. & Andreassen, S. (1981) Regulation of soleus MacDougall, J.D., Sale, D.G., Moroz, J.R., Elder, G., Sut-
muscle stiffness in premammillary cats: intrinsic and re- ton, J.R. & Howald, H. (1979) Mitochondrial volume
flex components. Journal of Neurophysiology 45, 267-285. density in human skeletal muscle following heavy re-
Hufschmidt, A. & Schwaller, I. (1987) Short-range elastici- sistance training. Medicine and Science in Sports and Exer-
ty and resting tension of relaxed human lower leg mus- cise 11(2),164-166.
cles. Journal of Physiology 393, 451-465. Macefield, G., Gandevia, S.C., Gorman, R., Bigland-Ritchie,
Jerosch, J. & Bischof, M. (1994) Der Einfluß der Proprioze- B. & Burke, D. (1991) The discharge rate of human
ptivität auf die funktionelle Stabilität des oberen Sprung- motoneurons innervating ankle dorsiflexors in the ab-
gelenkes unter besonderer Berücksichtigung von Stabi- sence of afferent feedback. Journal of Physiology 438, 219P.
lisierungshilfen. Sportverletzung Sportschaden 8, 111-121. Meunier, S. & Pierrot-Deseilligny, E. (1989) Gating of the
Johansson, R.S. & Westling, G. (1984) Roles of glabrous afferent volley of the monosynaptic stretch reflex du-
skin receptors and sensimotor memory in automatic ring movement in man. Journal of Physiology 419,
control of precision grip when lifting rougher or more 753-763.
slippery objects. Experimental Brain Research 56, 550-564. Nichols, T.R. (1974) Soleus muscle stiffness and its reflex con-
Johansson, R.S. & Westling, G. (1987) Signals in tactile affe- trol. Unpublished doctoral dissertation, Harvard Uni-
rents from the fingers eliciting adaptive motor respon- versity, Cambridge, MA.
ses during precision grip. Experimental Brain Research 66, Nichols, T.R. (1987) The regulation of muscle stiffness.
141-154. Medicine and Science in Sports and Exercise 26, 36-47.
Johnson, M.B. & Johnson, C.L. (1993) Electromyographic Perlau, R., Frank, C. & Fick, G. (1995) The effect of elastic
response of peroneal muscles in surgical and nonsur- bandages on human knee proprioception in the unin-
gical injured ankles during sudden inversion. Journal of jured population. American Journal of Sports Medicine
Orthopaedic and Sports Physical Therapy 18(3), 497-501. 23(2), 251-255.
Karlsson, J. & Andeasson, G.O. (1992) The effect of exter- Prochazka, A. (1996) Proprioceptive feedback and move-
nal ankle support in chronic lateral ankle joint stability. ment regulation. In: Handbook of Physiology. Exercise: Re-
An electromyographic study. American Journal of Sports gulation and Integration of Multiple Systems (eds L.B. Ro-
Medicine 20(3), 257-261. well & J.T. Shepherd), 12(3), pp. 89-127. American
Komi, P.V. (1984) Physiological and biomechanical corre- Physiological Society, Bethesda, MD.
lates of muscle function: effects of muscle structure and Sale, D.G. (1992) Neural adaptation to strength training.
stretch-shortening cycle on force and speed. Exercise and In: Strength and Power in Sport (ed. P. V. Komi), pp.
Sport Sciences Reviews 12, 81-121. 249-265. Blackwell Scientific Publications, Oxford.
Konradsen, L., Ravn, J.B. & Sorensen, A.I. (1993) Proprio- Scheuffelen, Ch, Rapp, W., Gollhofer, A. & Lohrer, H. (1993)
ception at the ankle: the effect of anaesthetic blockade Orthotic devices in functional treatment of ankle sprain.
of ligament receptors. Journal of Bone and Joint Surgery International Journal of Sports Medicine 14, 1-9.
(Brit) 75-B, 433-436. Tesch, P.A. (1987) Acute and long term metabolic changes
Lephart, S.M., Riemann, B.L. & Fu, F.H. (2000) Introduc- consequent to heavy-resistance training. Medicine and
tion to sensorimotor system. In: Proprioception and Neu- Sport Science 26, 67-89.
romuscular Control in Joint Stability Human Kinetics (eds S. Tropp, H. (1986) Pronator muscle weakness in functional
M. Lephart & F. H. Fu), pp. 1-5. instability of the ankle joint. International Journal of Sports
Lohrer, H., Alt, W. & Gollhofer, A. (1999) Neuromuscular Medicine 7, 291-294.
properties and functional aspects of taped ankles. Ame- Vallbo, A.B. (1981) Basic patterns of muscle spindle dis-
rican Journal of Sports Medicine 27(1), 69-75. charge in man. In: Muscle Receptors and Movement. Proce-
Lövenberg, R., Kärrholm, J., Sundelin, G. & Ahlgren, O. edings of a Symposium (eds A. Taylor & A. Prochazka),
(1995) Prolonged reaction time in patients with chro- pp. 263-275. MacMillan, London.
nic lateral instability of the ankle. American Journal of Vallbo, A.B. & AI-Falahe, N.A. (1990) Human muscle spin-
Sports Medicine 23(4), 414-417. dle response in a motor learning task. Journal of Physio-
MacDougall, J.D. (1986) Morphological changes in human logy (London) 421, 553-568.
skeletal muscle following strength training and immobi- Winter, D.A. (1996) Anatomy, Biomechanics and Control of Ba-
lization. In: Human Kinetics (eds N. L. Jones, N. McCart- lance during Standing and Walking. Waterloo Biomecha-
ney & A. J. McComas), pp. 269-288. Champaign, IL. nics. Waterloo, Ontario, Canada.
Capítulo 18
Tecido conjuntivo e resposta
óssea ao treinamento de força
MICHAEL H. STONE E CHRISTINA KARATZAFERI

Introdução Características anatômicas e


bioquímicas
Estruturalmente, o tecido conjuntivo é respon-
sável por nossa estrutura básica e de sustentação. Ele O tecido conjuntivo é constituído de colágeno,
também forma a base estrutural do complexo de elastina ou células reticulares e fibras. Essas células e
transmissão de força. Portanto, as alterações no ta- fibras são envolvidas por uma substância que con-
manho do tecido conjuntivo, assim como na força, tém fluido tecidual e vários metabólitos. A substân-
em decorrência do desuso ou do exercício crônico cia contém relativamente grandes quantidades de
têm profundos efeitos na saúde e na capacidade de aminopolissacarídeos ou glicoproteínas que confe-
desempenho. rem característica gelatinosa. O colágeno é a princi-
O treinamento de força representa parte vital pal fibra em todos os tipos de tecido conjuntivo, cons-
dos programas de treinamento. Estes últimos, por tituindo cerca de 30% da proteína corporal total (Van
sua vez, têm objetivos diversificados, incluindo me- Pilsum, 1982; Viiduk, 1986).
lhora do desempenho físico, prevenção de lesões, As moléculas de colágeno consistem de três ca-
melhora da aptidão física, aumento do tamanho deias, cada uma em uma hélice esquerda de aproxi-
muscular, além do emprego em programas de rea- madamente 100 resíduos. Essas três cadeias são en-
bilitação (Stone e Wilson, 1985; Stone, 1990; Stone volvidas uma ao redor da outra em uma hélice direita
et al., 2000). É razoável acreditar que o treinamento com resíduos de glicina nos pontos de cruzamento
de força exerce efeitos significativos no tecido con- em cada terceiro resíduo. A fórmula aproximada é
juntivo devido aos seus efeitos bem documentados X-Y-Gli. Grande parte dos resíduos de aminoácidos
no músculo. Embora uma quantidade relativamen- é glicina (33%); a hidroxiprolina constitui cerca de
te grande de dados referentes aos efeitos do treina- 15%, enquanto a prolina 12%. As moléculas de co-
mento de endurance ou do alongamento passivo no lágeno das fibrilas são dispostas alternadamente de
tecido conjuntivo esteja disponível, há bem menos modo paralelo e variam de 10 a 200 nm de acordo
informação sobre os efeitos do treinamento de for- com o tipo de colágeno. Cada molécula é deslocada
ça. Somente nos últimos 10 a 12 anos uma quanti- das moléculas adjacentes por 0, 1, 2, 3 ou 4 compri-
dade substancial de dados sobre os efeitos do trei- mentos alternados axiais de 234 ± 1 resíduos (Schultz,
namento de força no tecido conjuntivo tornou-se 1982). A natureza alternada das moléculas de colá-
disponível. geno é observada em faixas ao microscópio eletrôni-
Este capítulo considera os efeitos potenciais do co (Fig. 18.1).
treinamento de força no tecido conjuntivo. Serão rea- A natureza cíclica dos resíduos de aminoácidos
lizadas inferências dos estudos de treinamento de (X-Y-Gli) aumenta a estabilidade ao limitar a rota-
endurance e alongamento passivo, bem como consi- ção. Aminoácidos adicionais podem agir como gru-
deradas as implicações do treinamento de força. pamentos hidrofobicamente carregados e ocupam as
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 359

Figura 18.1 Estrutura do colágeno.

posições X ou Y. Os genes específicos codificam a aos aldeídos e pela eventual formação de pontes al-
estrutura básica das cadeias de colágeno (Schultz, dol entre as fibrilas colágenas (Viidik, 1968). Existe
1982). No mínimo, existem cinco diferentes tipos de aumento da ligação cruzada com a idade, induzindo
colágeno, com diferente distribuição de órgão (Tab. aumento da estabilidade e da força tênsil (Viidik,
18.1). 1968), o que pode ser parcialmente responsável pe-
A estabilização adicional pode ser alcançada pela las diferenças observadas nas propriedades elásticas
ligação cruzada pós-translacional. As ligações cruza- dos tendões in vivo com o envelhecimento (Shadwick,
das são formadas pela oxidação da cadeia lateral lisil 1990; Kubo et al., 2001a). Além disso, a concentra-

Tabela 18.1 Principais tipos de colágeno

Tipo Distribuição Forma Características

I Osso, tendão, pele, dentina, [a1(I)]2a2 Composto híbrido de duas cadeias baixas
ligamento, fáscia, artérias, útero na hidroxilisina e na hidroxilisina glicosilada
II Cartilagem [a1(II)]3 Alta na hidroxilisina
III Pele, artéria e útero [a1(III)]3 Alta na hidroxilisina, baixa nas ligações
dissulfeto de hidroxilisina
IV Membrana basal [a1(IV)]3 Grande região globular, alta em hidroxilisina, hidroxilisina
glicosilada
V Membrana basal, cápsula cristalina aA e aB Similar ao IV
360 PAAVO V. KOMI

ção total de colágeno no músculo esquelético é mai-


or em animais idosos por conta do decréscimo da
taxa de degradação. O treinamento de endurance tem
demonstrado reduzir a rigidez passiva musculoesque-
lética de ratos idosos, pois diminui a concentração
de ligações cruzadas de colágeno maduro (Gosselin
et al., 1998).

Propriedades mecânicas do
tecido conjuntivo

A composição e o delineamento dos tecidos de


colágeno (tendão, cartilagem, região de amortecimen-
to do calcanhar humano) variam de acordo com a
função que executam. Distintos delineamentos in- Figura 18.2 Curva estresse-tensão para o tecido conectivo.
duzem diferentes propriedades materiais. Além dis- *N. de R.T. Os autores referem-se à falha na estrutura tecidual.
so, em um tipo de tecido, por exemplo, tendão, a “qua-
lidade de fadiga” é ajustada para tolerar seu “estresse
na vida” (Ker, 1999).
O desenvolvimento de curvas estresse-tensão Efeitos do treinamento físico no
representa uma ferramenta valiosa no estudo das pro- tecido conjuntivo
priedades mecânicas do tecido conjuntivo. A curva
estresse-tensão pode ser desenvolvida a partir de uma Há grande quantidade de tecido conjuntivo ao
curva sobrecarga-deformação, em que a sobrecarga redor e dentro do músculo, incluindo o epimísio, o
é expressa em unidades de área transversal, enquan- perimísio, o endomísio (principalmente colágenos
to a deformação é expressa em unidades do compri- tipo I e III) e a membrana basal das células muscula-
mento original (Viiduk, 1986). Geralmente, o ponto res (principalmente tipo IV, V e colágenos XV recen-
de fadiga (σmáx) ou a energia absorvida ao ponto de temente descritos). O tecido conjuntivo também
fadiga constitui importante variável na comparação constitui tendões e ligamentos. Esse tecido é respon-
da força tecidual (Fig. 18.2). sável pela transmissão de força do músculo ao siste-
As curvas estresse-tensão podem ser passivas e ma de alavanca ósseo, assim como pela manutenção
ativas. Por exemplo, a força ligamentar ou do tendão da forma estrutural do órgão muscular. As adapta-
pode ser passivamente analisada pelo simples alon- ções do tecido conjuntivo ao exercício e ao treina-
gamento até a fadiga. As curvas estresse-tensão ativa mento podem incluir inúmeras alterações morfoló-
podem ser desenvolvidas por meio de preparações gicas e bioquímicas.
musculotendíneas. Nesse caso, o músculo é eletrica-
mente estimulado no momento apropriado (Garret Alterações bioquímicas
et al., 1987).
No passado, as propriedades mecânicas do ten- O exercício, particularmente o excêntrico de alta
dão (e ligamento) foram muito estudadas por meio intensidade, impõe considerável estresse ao músculo
de preparações teciduais isoladas; recentemente, a e ao tecido conjuntivo. O exercício excêntrico, que
ultra-sonografia em tempo real permite a investiga- produz dor muscular tardia, tem sido associado ao
ção in vivo de algumas das propriedades mecânicas aumento da concentração sérica de hidroxiprolina
das estruturas do tendão humano (Maganaris e Paul, (Abraham, 1977). O alongamento forçado do mús-
1999). Esses estudos in vivo indicam que as proprie- culo do rato produziu considerável lesão estrutural,
dades mecânicas dos tendões intactos são similares assim como infiltração de células linfóides. Em cinco
às das preparações isoladas. dias, houve localização aparente de proteoglicano,
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 361

sugerindo regeneração do tecido conjuntivo lesionado dem ser o resultado de perda ou de ganho de hidro-
(Fritz e Stauber, 1988; Stauber et al., 1988). A produ- xiprolina no tecido conjuntivo ou, ainda, representar
ção repetida de força, particularmente aquela associ- alterações (perda ou ganho) em outros componentes
ada com o ciclo alongamento-encurtamento, mes- teciduais. Portanto, as alterações na concentração de
mo em níveis de força relativamente baixos, também hidroxiprolina representariam alterações no estado
pode gerar marcadores de lesão e de regeneração. Por tecidual, mas não necessariamente a natureza dessas
exemplo, o exercício de endurance prolongado (corri- alterações (Viiduk, 1986). Em um estudo em que tanto
da de 24 horas) aumenta a concentração sérica de a rigidez passiva como os níveis de hidroxiprolina
enzimas associadas com a síntese de colágeno tipo foram mensurados em ratos jovens e idosos, 10 se-
III (Takala et al., 1976). manas de treinamento de endurance pareceram ate-
Grande parte dos estudos de treinamento que nuar o aumento associado à idade na rigidez muscu-
consideram os efeitos do treinamento nos tendões e lar passiva (Gosselin et al., 1998). Isso pode ter
ligamentos emprega exercício de endurance em mo- implicações para a redução das lesões induzidas pelo
delos animais. O treinamento de endurance produz exercício no músculo idoso, especialmente em con-
aumento no número nuclear e no peso do tendão trações excêntricas. Curiosamente, o alongamento es-
em camundongos jovens, mas não altera o peso do tático pareceu aumentar agudamente a elasticidade
tendão de camundongos adultos (Ingelmark, 1948). das estruturas do tendão do gastrocnêmio medial
O peso dos ligamentos demonstra aumento em ratos humano (Kubo et al., 2001b), que poderiam poste-
adultos masculinos, mas não em femininos (Tipton riormente contribuir para a diminuição da lesão te-
et al., 1975b). O treinamento de endurance também cidual conjuntiva.
pode aumentar a atividade de enzimas aeróbias, as- Outro marcador de biossíntese de colágeno é a
sim como a taxa de síntese de colágeno nos tendões atividade da prolil-4-hidroxilase (PH) e da galactosil-
dos animais (Tipton et al., 1974). Oito semanas de hidroxilsil glicosiltransferase (GGT), enzimas que
treinamento de endurance elevaram em 46% o con- catalisam modificações nas cadeias polipeptídicas de
teúdo de colágeno do tendão do calcâneo de galos, colágeno. O treinamento de endurance aumenta as ati-
mas não afetaram o DNA, o peso seco do tendão ou vidades da PH, assim como da GGT, indicando au-
a concentração de proteoglicano (Curwin et al., 1988). mento da síntese de colágeno. No diabete induzido
Além disso, somente 50% de ligações cruzadas de pela estreptozotocina, a atividade total de PH e de
piridinolina estavam presentes nos tendões treina- GGT estava reduzida e os níveis de hidroxiprolina
dos comparados aos controles. Esses resultados su- aumentados nos músculos vasto lateral, reto femoral
gerem que o treinamento causou maior turnover da e gastrocnêmio de ratos. No entanto, o treinamento
matriz de colágeno nos galos em crescimento, resul- físico foi incapaz de atenuar os efeitos do diabete na
tando em menor maturação do colágeno do tendão síntese de colágeno (Han et al., 1995).
(Curwin et al., 1988) e, então, em reduzida rigidez. A Os modelos de hipertrofia compensatória ou
hidroxiprolina é encontrada como uma fração cons- alongamento crônico não refletem as mesmas adap-
tante de colágeno (Van Pilsum, 1982). Devido à hi- tações crônicas que o treinamento de força. Os efei-
droxiprolina ser encontrada em poucos tecidos (elas- tos diferenciais no tecido conjuntivo são possíveis de-
tina e complemento), não associados com tendões vido às diferenças na intensidade de exercício entre o
ou ligamentos, sua medida pode refletir alterações treinamento de endurance e os modelos de hipertrofia
no conteúdo de colágeno do tecido conjuntivo compensatória ou estiramento crônico. Os invólu-
(Viiduk, 1986). A concentração de hidroxiprolina fi- cros do tecido conjuntivo muscular (epimísio, peri-
cou inalterada nos tendões de camundongos jovens mísio, endomísio) representam um componente pri-
(Kiiskinen e Heikkinen, 1976) ou nos ligamentos de mário, equivalendo à força tênsil muscular, às
ratos adultos (Tipton et al., 1970), mas foi aumenta- propriedades viscoelásticas do músculo, assim como
da em cachorros adultos (Tipton et al., 1975a). As à estrutura de transmissão de força muscular aos ten-
alterações induzidas pelo treinamento na concentra- dões e ossos (Fleck e Falkel, 1986). O treinamento de
ção de hidroxiprolina devem ser analisadas com cau- endurance é associado com aumento da atividade da
tela. As alterações aparentes na hidroxiprolina po- prolil-4-hidroxilase no músculo esquelético; por sua
362 PAAVO V. KOMI

vez, a ausência de aumento no conteúdo total de co- sico pode aumentar a força tênsil máxima e a quanti-
lágeno sugere maior taxa de turnover (Kovanen et al., dade de energia absorvida antes da fadiga (Stone,
1980; Kovanen et al., 1984; Kovanen e Suominen, 1988). A atividade física possibilita o retorno mais
1989). No entanto, a hipertrofia compensatória do rápido dos tendões e ligamentos lesionados à força
músculo plantar do rato (Turto et al., 1974) demons- tênsil normal quando comparada ao repouso com-
trou aumentar o conteúdo de colágeno, bem como a pleto (Tipton et al., 1975b). O treinamento de endu-
asa intacta da galinha quando foi sobrecarregada rance induz aumento da força tênsil máxima em ten-
(Laurent et al., 1978). dões isolados, assim como em preparações de
As ações musculares excêntricas podem ser par- osso-tendão e de osso-ligamento (Elliot e Crawford,
te integral do treinamento de força e de esportes ex- 1965; Viiduk, 1968; Tipton et al., 1974).
plosivos. Uma única sessão de exercício físico resul- Deve-se ter cuidado ao interpretar os dados re-
tando em lesão muscular elevou agudamente a ferentes à força do tecido conjuntivo em animais. Os
capacidade da prolil-4-hidroxilação dos músculos da animais treinados são tipicamente comparados a ani-
pata traseira de camundongos (Myllylä et al., 1986). mais não-treinados confinados em gaiolas. O confi-
Esses dados sugerem que o treinamento de força pode namento pode reduzir o tamanho do tecido conjun-
lesionar o tecido conjuntivo, assim como o muscu- tivo, assim como a força tênsil máxima; portanto, o
lar, e que esses tecidos podem ser importantes na re- treinamento pode simplesmente recuperar as propri-
generação (ver Capítulo 6). edades teciduais (Butler et al., 1978; Stone, 1988).
MacDougall e colaboradores (1984) estimaram Além disso, as taxas de tensões nesses estudos esta-
o conteúdo total de colágeno e de outras proteínas vam abaixo de taxas fisiológicas normais, dificultan-
não-contráteis do bíceps entre sujeitos não-treina- do as generalizações referentes ao animal intacto não-
dos e dois grupos de fisiculturistas. A proporção de confinado (Butler et al., 1978).
colágeno foi similar nos grupos não-treinados, no- Os músculos flexores de muitos animais adultos
vatos e elite, com o colágeno representando 69%, produzem maior força máxima do que os extensores
enquanto 7% foram identificados com outros com- (Elliot e Crawford, 1965). Os tendões flexores de por-
ponentes. Essa descoberta indica um conteúdo de co- cos adultos possuem maior força tênsil máxima e
lágeno estável, em termos relativos, mas um aumen- contêm mais colágeno do que os tendões dos mús-
to do conteúdo total de colágeno como resultado do culos extensores e podem estocar mais energia elás-
fisiculturismo. O aumento do conteúdo de colágeno tica (Woo et al., 1982; Shadwick, 1990). Na perspec-
total provavelmente representa aumento na força dos tiva do desenvolvimento, isso sugere que a força
invólucros musculares. apresentada por esses tendões influencia, no míni-
A possibilidade de uma resposta sistêmica geral mo parcialmente, o conteúdo de colágeno, assim
do tecido conjuntivo é respaldada por várias obser- como a força tênsil máxima na maturação. Após o
vações, tanto em animais como em humanos. A con- treinamento físico, os tendões dos músculos exten-
centração de hidroxiprolina aumentou na pele de sores aumentam o conteúdo de colágeno e a rigidez,
camundongos imaturos e adultos como resultado do alcançando valores similares aos tendões dos flexo-
treinamento de endurance (Kiiskinen e Heikkinen, res (Woo et al., 1982). Isso sugere que o fortaleci-
1976; Suominen et al., 1978). A elasticidade da pele mento do músculo pode afetar os ganhos na força
foi melhorada após oito semanas de treinamento fí- tênsil máxima do tecido conjuntivo, assim como na
sico em indivíduos de 69 anos de ambos os gêneros capacidade de estocar energia elástica.
(Suominen et al., 1977; Suominen et al., 1978), e o Estima-se que o estresse imposto aos tendões
treinamento de força demonstrou estimular o tecido como resultado da contração muscular voluntária
conjuntivo do endomísio em homens jovens (Brzank representa 30% da força tênsil máxima (Hirsch, 1974).
e Peiper, 1986). Isso possibilita 200% de margem de segurança. No
funcionamento intacto normal em que ocorrem ações
Alterações mecânicas concêntricas, assim como excêntricas, cerca de 50%
da margem de segurança é utilizada (Alexander, 1981).
Enquanto o desuso e a inatividade atrofiam e A margem de segurança pode ser aumentada em ta-
enfraquecem o tecido conjuntivo, o treinamento fí- xas rápidas de sobrecarga como resultado da obstru-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 363

ção dos componentes viscosos teciduais (Noyes, também sugeriram que a maior elasticidade (maior
1977). A natureza dessa fadiga tecidual também é uma alongamento) das estruturas do tendão do VL entre
função da taxa de tensão (Noyes, 1977). Em taxas de os velocistas poderia agir como adaptação protetora
tensão muito lentas, a fadiga ocorre na junção osso- contra lesões.
tendão ou osso-ligamento. Em taxas de tensão rápi- A força muscular também pode ser importante
das, a fadiga incide sobre o tendão ou ligamento. Caso no aumento da margem de segurança antes da fadiga
a junção não cumpra sua função, o tendão ou o liga- da junção musculotendínea. Maior força na fadiga e
mento não está sendo testado. Quando as prepara- maior absorção de energia antes da fadiga da junção
ções musculotendíneas estão sendo testadas, a fadi- musculotendínea (JMT) produzem ação muscular te-
ga atinge o ventre do músculo ou, mais geralmente, a tânica e somação de ondas em várias preparações
junção musculotendínea, independentemente da taxa musculotendíneas de coelhos (Garret et al., 1987).
de tensão (Garret et al., 1987; Safran et al., 1988). Os autores sugeriram que a energia elástica estoca-
O tecido conjuntivo submetido a um estresse da, assim como a força da ação excêntrica, foram fa-
constante alonga-se com o tempo (estresse-relaxa- tores importantes no aumento da quantidade de ener-
mento), resultando em queda na tensão abaixo dos gia absorvida antes da fadiga. É possível que o
valores iniciais (Laban, 1962). Um fenômeno similar aumento da força de ação muscular excêntrica resul-
ocorre nas preparações musculotendíneas (Safran et tante do treinamento de força possa posteriormente
al., 1988). O aquecimento proporcionado pela ação melhorar a absorção de energia e reduzir o potencial
isométrica antes do alongamento (em taxas de ten- para lesão.
são fisiológica) alonga a unidade musculotendínea em Esses dados sugerem que o treinamento físico,
um maior comprimento e requer mais força na falha incluindo o treinamento de força, pode alterar as pro-
do que os músculos não-aquecidos (Safran et al., priedades dos tendões e ligamentos de modo que se-
1988). O aquecimento alonga a unidade musculo- jam maiores, mais fortes e mais resistentes à fadiga.
tendínea, resultando aumento em determinada so- Nessa perspectiva, o treinamento de força poderia
brecarga; isso impõe menos tensão na junção mus- acionar eventos que alteram as características de ge-
culotendínea e reduz o potencial para lesão. Tem sido ração de força e potencializam os mecanismos pro-
demonstrado aumento similar no relaxamento por tetores. Por exemplo, as contrações excêntricas de-
estresse nos tendões de coelhos como um resultado monstram acionar intensa síntese protéica na JMT.
do exercício (Viiduk, 1968). Essencialmente, a mar- Isso provoca o remodelamento da JMT (Frenette e
gem de segurança é aumentada pelo aquecimento. Cote, 2000), o que poderia potencialmente aumen-
No entanto, nas situações da “vida real”, o alonga- tar a força dessa área.
mento como parte do procedimento de aquecimen- Deve-se notar que certas drogas comumente uti-
to pode produzir incapacidade. Enquanto o alonga- lizadas em medicina ou em esportes podem exercer
mento pode reduzir as lesões, pode, também, profundos efeitos na força do tendão e do ligamento.
prejudicar os desempenhos em força e potência de- Essas drogas incluem certos antibióticos, tais como
vido ao fato de diminuir a complacência ou alterar a as fluorquinolonas e os corticosteróides. Os corticos-
rigidez muscular ou, ainda, por meio de uma via de teróides tratam inúmeros problemas inflamatórios
inibição neural (Folwes et al., 2000; Schilling e Sto- como tendinites e bursites. Os corticosteróides são
ne, 2000). catabólicos por natureza e podem causar atrofia, perda
O treinamento de sprint consiste principalmente gradual de massa e enfraquecimento do tecido con-
de corridas em sprint e de treinamento de força e pro- juntivo, especialmente quando injetados diretamen-
vavelmente afetará as propriedades viscoelásticas do te no tendão ou ligamento. Pode haver ruptura de
tendão. Registros dão conta de que a complacência tendão como resultado do uso dessas drogas (Che-
das estruturas do tendão do vasto lateral (VL) pode chick et al., 1982; Stannard e Bucknell, 1993). Os es-
estar diretamente relacionada com o tempo de corri- teróides anabólicos podem ser utilizados por atletas
da em 100 metros (Kubo et al., 2000). No entanto, de força e potência para melhorar o desempenho. No
nenhuma diferença significativa na complacência do entanto, algumas evidências sugerem que os esterói-
VL, assim como do gastrocnêmio medial, foi encon- des anabólicos (andrógenos) alteram a biomecânica
trada entre os velocistas e os controles. Os autores do tecido conjuntivo de modo que o tendão ou o
364 PAAVO V. KOMI

ligamento tenham força tênsil reduzida (Wood et al., fortalecer a cartilagem. No entanto, pode ocorrer en-
1988) ou aumento da rigidez (Inhofe et al., 1995) in- fraquecimento da cartilagem caso o volume de exer-
dependentemente do treinamento, aumentando, en- cício seja muito elevado.
tão, o risco potencial de lesão. Esses efeitos no ten-
dão de animais e de humanos têm sido observados Os efeitos exatos do treinamento de força na so-
sem qualquer alteração discernível na bioquímica ou brecarga mecânica da cartilagem não estão claros. Por
na estrutura (Inhofe et al., 1995; Evans et al., 1998). exemplo, não é incomum, especialmente entre os atle-
Todavia, entre humanos do sexo masculino, elevadas tas, utilizam o agachamento como componente pri-
doses de andrógenos têm sido associadas com alte- mário do programa de treinamento de força. As for-
rações bioquímicas na urina e no soro, consistentes ças compressivas de pico no joelho durante o
com aumento da síntese tipo I e III em humanos agachamento podem variar de aproximadamente 550
(Parssinen et al., 2000). a 8.000 N. Sabe-se que a sobrecarga excessiva do
Os exercícios e o treinamento também podem afe- menisco e da cartilagem articular pode provocar al-
tar a força da cartilagem. Por exemplo, a rigidez da car- terações degenerativas, mas não em que magnitude
tilagem articular dos joelhos e dos tornozelos é apa- as forças compressivas tornam-se lesivas à cartila-
rentemente relacionada ao grau de estresse funcional gem (Escamilla, 2001). Deveria ser notado, também,
imposto durante o exercício (Yao e Seedhom, 1993). que as forças compressivas são importantes para a
Enquanto baixos volumes de exercício, incluindo o estabilização do joelho pela oposição às forças de ci-
exercício de força de alta intensidade, podem estimu- salhamento* e redução da translação tibial. Esse au-
lar o crescimento da cartilagem (van de Lest et al., 2000; mento da estabilização deveria oferecer proteção à
Lapvetelainen et al., 2001), elevados volumes de exer- laceração traumática da cartilagem, bem como dos
cício vigoroso (de alta produção de força) podem di- ligamentos cruzados.
minuir a integridade da cartilagem e aumentar o risco Embora os dados de estudos biomecânicos de-
potencial para lesão, induzindo fadiga mecânica senvolvidos com modelos humanos e animais sugi-
(Brama et al., 2000; Barneveld e van Weeren, 1999). ram que longos períodos de treinamento de força
Então, o treinamento com diferentes volumes ou in- muito vigorosos aumentem o risco potencial de le-
tensidades de exercício pode produzir diferentes efei- são à cartilagem, no momento atual há pouca evi-
tos, como demonstrado nos exemplos a seguir. dência de aumento da incidência de lesões traumáti-
cas ou doença degenerativa entre atletas de força e
Efeitos positivos. Algumas evidências sugerem que potência bem-treinados ou em ex-atletas. Na reali-
o aumento observado na atividade dos condrócitos, dade, os estudos originais e as revisões que conside-
resultando de volume apropriado de exercícios, é ram o potencial lesivo não demonstram taxa excessi-
mediado pelo aumento da concentração do fator de va de lesão entre atletas de força altamente treinados,
crescimento insulina-símile (IGF-I) no fluido sinovi- incluindo lesões relacionadas à cartilagem ou dege-
al. Assim, o exercício pode alterar o fluido sinovial de neração (Kuland et al., 1978; Fitzgerald e McLatchie,
maneira que produza efeito “favorável” no conteúdo 1980; Chandler et al., 1989; Hamill, 1994; Stone et
de proteoglicano (PG) da cartilagem por potencializar al., 1994).
a síntese de PG e reduzir a degradação (van de Lest
et al., 2000). Densidade mineral óssea e massa
óssea
Efeitos negativos. Enquanto a fadiga mecânica de-
sempenha papel importante em doenças cartilagíne- O osso age como suporte estrutural e como um
as degenerativas, é difícil estabelecer sua causa exata. sistema de alavanca na transferência da força mus-
No caso da condromalacia patelar, a gravidade da le- cular para a locomoção e outras atividades. É um
são provavelmente não está relacionada ao conteúdo
de colágeno ou de ligações cruzadas, mas parece de-
pender da concentração de proteoglicano (Väätäinen
et al., 1998). Essas observações diferenciais indicam
um nível ótimo (volume) de treinamento capaz de *N. de R.T. Relativo à expressão inglesa “shear forces”.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 365

depósito de estoque para o fósforo e o cálcio. O osso Significância do aumento da massa


representa um material plástico* que altera a densi- óssea
dade, a massa e a forma de acordo com o estresse a
que é submetido no desenvolvimento (Falch, 1982). O grau em que o treinamento físico pode aumen-
A densidade, assim como a massa óssea, está relacio- tar a deposição mineral, assim como a força óssea,
nada à força do tecido. constitui uma questão importante. Ossos fortes po-
dem proteger contra lesões que resultam de tarefas
diárias de trabalho ou de competição esportiva. A per-
Ausência de peso e imobilização da de tecido ósseo (osteoporose) ocorre com o pro-
cesso de envelhecimento; as complicações podem ser
A ausência de peso (Vogel e Whittle, 1976), as-
minimizadas caso a densidade óssea e a força tênsil
sim como a imobilização (Hanson et al., 1975) pode
máxima possam ser aumentadas antes do processo
causar profunda perda de densidade e massa óssea.
osteoporótico iniciar.
A imobilização causa aumento marcado na excreção
urinária de cálcio, que reflete perda de material ósseo
(Falch, 1982). O exercício de baixa intensidade não Nível de aptidão física
reduz a quantidade de perda de cálcio urinário de
modo diferente aos sujeitos imobilizados. A postura O nível do atleta e o tipo de atividade física tam-
em pé durante 3 horas reduz a perda de cálcio uriná- bém podem influenciar a densidade óssea. As com-
rio, mas a atividade física realizada deitada ou em uma parações transversais de homens e mulheres fisica-
cadeira de rodas não (Falch, 1982). Esses dados su- mente ativos geralmente sugerem relação positiva
gerem que os músculos antigravitacionais devem ser entre nível de atividade física e densidade e massa
ativados para manter ou aumentar a densidade e a óssea. Vários estudos relacionam a densidade óssea,
massa óssea. Fleck e Falkel (1986) sugeriram que o particularmente da vértebra lombar, a indicadores da
treinamento de força pode ativar os músculos anti- aptidão física, incluindo a força muscular máxima e
gravitacionais. Nesse contexto, a ativação regular dos a potência aeróbia (VO2máx) (Chow et al., 1986; Po-
músculos durante o vôo (i. e., treinamento de força) cock et al., 1986; Tsuzuku et al., 1988). Além disso,
reduziria os efeitos degenerativos sobre o osso. Em algumas evidências sugerem que a atividade física na
relação aos animais em ambiente de microgravidade, infância pode exercer influência significativa na den-
as condições do meio ambiente podem exercer um sidade óssea adulta (Conroy et al., 1990; McCulloch
profundo papel, produzindo como efeito uma forma et al., 1990). No entanto, nem todos os programas de
de treinamento de força. Quando eles foram agrupa- treinamento necessariamente produzem o mesmo
dos em um mesmo ambiente, até mesmo um vôo es- resultado (Stone, 1988).
pacial relativamente longo induziu efeitos mínimos
na massa óssea, assim como no turnover ósseo em Deposição mineral óssea local
ratos jovens, ao contrário de um trabalho anterior
em que os animais viviam em gaiolas individuais Vários estudos transversais sugerem que a ativi-
(Wronski et al., 1998). Em humanos, as tentativas dade física pode afetar o aumento da densidade mi-
de prevenir os efeitos dos ambientes de microgravi- neral óssea (Helela, 1969; Dalen e Olsen, 1974; Chow
dade pelo uso de vários protocolos de treinamento et al., 1986; Stillman et al., 1986). Espera-se que a
de força têm tido vários graus de sucesso — mais deposição mineral óssea seja maior no local ou na
pesquisas são necessárias (NASA Round Table, área submetidos a maior estresse. Por exemplo, pode-
1996). se esperar que os membros dominantes dos atletas
sejam submetidos a maior estresse e a maior quanti-
dade total de trabalho que os membros não-domi-
nantes, o que pode se refletir nas diferenças na in-
corporação mineral óssea, assim como na densidade
*N. de R.T. Os autores referem-se à plasticidade óssea, que diz e na massa ósseas. O úmero do braço dominante de
respeito à capacidade de deformação apresentada por esse te- tenistas apresenta maior massa (Jones et al., 1977),
cido. diâmetro e conteúdo mineral ósseos (Montoye et al.,
366 PAAVO V. KOMI

1980). Rresultados similares têm sido registrados para treinamento que não incluem exercícios de força de-
jogadores de beisebol (Watson, 1974). Entre vários monstram normalizar a densidade mineral óssea do
atletas, o fêmur da perna dominante demonstra maior osso degenerado (Goodship et al., 1979; Chien et al.,
densidade óssea que o da perna não-dominante 2000). No entanto, Dalen e Olsen (1974) não cons-
(Nilsson e Westlin, 1971). tataram que o treinamento aeróbio tenha afetado o
conteúdo mineral ósseo de trabalhadores de escritó-
rio em três meses. Marguiles e colaboradores (1986)
Treinamento aeróbio
analisaram os efeitos do treinamento militar na densi-
Estudos transversais de atletas altamente treina- dade óssea tibial de 259 recrutas de infantaria durante
dos em atividades aeróbias demonstram resultados 14 semanas. O aumento médio na densidade mineral
mistos, particularmente o jogging, na densidade óssea foi de 5,2% para a perna direita e de 11,1% para
óssea. Corredores de longa distância ( > 64 km por a esquerda. No entanto, 41% dos 268 recrutas origi-
semana) apresentam densidade mineral óssea tibial e nais não completaram o período de treinamento, e o
radial similares, mas significativamente menor den- aumento na densidade mineral óssea foi relacionado
sidade mineral óssea vertebral quando comparados a ao tempo de treinamento realizado. Muitos recrutas
indivíduos sedentários ou corredores moderadamente desistiram do estudo devido a fraturas por estresse.
treinados ( < 64 km por semana). Jovens (13,1 anos) Williams e colaboradores (1984) constataram que cor-
corredores de distância de ambos os gêneros compa- redores que percorriam em média 141 km por semana
rados a controles não-treinados ajustados à idade, à possuíam maior densidade mineral óssea de calcâneo
altura e ao peso, demonstraram menor comprimen- quando comparados àqueles que corriam ≤ 65 km
to ulnar significativo (15,9 versus 17,0 cm), densidade por semana, sugerindo limiar para o volume de trei-
mineral óssea (0,67 versus 0,76 g·cm–1) e mineral/lar- namento.
gura (0,57 versus 0,62 g·cm–2). A densidade mineral Entre as mulheres pós-menopausa, a dança aeró-
óssea foi mais afetada em corredores do que em cor- bica foi mais eficiente na redução da perda óssea em
redoras. Buchanan e colaboradores (1988) estudaram um período de seis meses do que a caminhada (White
30 mulheres na faixa etária de 18 a 22 anos. Foram et al., 1984). Chow e colaboradores (1986) dividiram
analizadas sedentárias, atletas eumenorréicas e atle- 58 mulheres em três grupos: controle, dança aeróbi-
tas amenorréicas/oligomenorréicas. Nenhuma das vo- ca e dança aeróbica associada com treinamento de
luntárias realizava treinamento de força. Nenhuma força de baixa intensidade, caracterizado por sobre-
diferença significativa na densidade mineral óssea da carga manual. Após um ano, os resultados sugeriram
coluna lombar foi encontrada entre elas. No entanto, que a densidade mineral óssea aumentou no grupo
as atletas amenorréicas/oligomenorréicas possuíam de exercícios combinados, demonstrou pouca alte-
menor densidade mineral óssea. Os autores conclu- ração no grupo de dança aeróbica e pequena redu-
íram que o perfil hormonal representou importante ção no controle. Esse resultado indica que o treina-
fator no estado mineral ósseo. Descobertas similares mento aeróbio combinado com o de força pode ser
foram reportadas por Moen e colaboradores (1990) mais eficiente na remodelação óssea do que o treina-
para a densidade mineral óssea da coluna lombar mento aeróbio isolado. Essa descoberta está de acor-
entre corredoras de distância (15 a 18 anos). A densi- do com McDermott e colaboradores (2001). As dife-
dade mineral, assim como a massa óssea, pode ser renças no efeito do treinamento aeróbio na densidade
adversamente afetada pela amenorréia independen- mineral óssea podem ser influenciadas pelo grau de
temente do volume, da intensidade e do tipo de exer- transporte de peso, de taxa de tensão, assim como de
cício (Olsen, 1989). Um problema com os estudos volume e de intensidade do treinamento.
transversais de atletas, especialmente nos últimos 10
a 12 anos, é a proliferação dos programas de treina-
Treinamento de força
mento de força em todos os tipos de esportes, o que
torna difícil a interpretação dos dados. As atividades de alto impacto e elevada exigência
Geralmente, os estudos longitudinais refletem os de força, tais como o salto e o treinamento de força
resultados de estudos transversais. Entre os grupos parecem estar associadas com modificações na geo-
com baixa densidade mineral óssea, os programas de metria óssea nos locais estimulados (Notomi et al.,
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 367

2000; Petterson et al., 2000) e podem induzir altera- kN. O conteúdo mineral ósseo foi altamente correla-
ções axiais (comprimento do osso), desde que um cionado à sobrecarga de treinamento (r=0,82).
estímulo apropriado esteja envolvido. Portanto, atle- Tsuzuku e colaboradores (1998) encontraram que le-
tas engajados em atividades de alto impacto e eleva- vantadores de potência jovens apresentavam maior
da força demonstram maior densidade mineral ós- densidade mineral óssea na coluna lombar, assim
sea. Conseqüentemente, quando se analisa vários como no corpo total, quando comparados a indiví-
esportes, a densidade mineral óssea está relacionada duos normais. Um recente estudo de caso realizado
às demandas da atividade realizada (Bennell et al., por Dickerman e colaboradores (2000) registrou os
1997; Matsumoto et al., 1997; Calbert et al., 1999; maiores valores de densidade mineral óssea na colu-
Pettersson et al., 2000). na lombar em recordistas mundiais no agachamen-
Nilsson e Westlin (1971) estão entre os primei- to (1,859 g·cm–2 comparado ao controle que foi de
ros a analisar a densidade mineral óssea de acordo 1,197 g·cm–2). A força compressiva crítica lombar es-
com as demandas do esporte. Esses autores consta- timada em um agachamento de 469 kg foi duas vezes
taram maior densidade mineral óssea nos membros maior que aquela de valor crítico anteriormente re-
inferiores de atletas internacionais do que nos de gistrado de 18.000 N (Dickerman et al., 2000). Além
menor nível, que, por sua vez, apresentavam maior disso, esses resultados enfatizam a relação entre a
densidade mineral óssea do que controles não-trei- força muscular máxima e a densidade mineral óssea
nados. Além disso, foi demonstrado que nos espor- (Tsuzuku et al., 1998; Rhodes et al., 2000).
tes que requerem movimentos repetidos com eleva- O treinamento de força também tem sido asso-
da exigência de força, tais como o levantamento de ciado com aumento da densidade mineral óssea em
peso e eventos de lançamento, os atletas apresenta- indivíduos que não são atletas. Doze homens enga-
vam maior densidade mineral óssea quando compa- jados regularmente no treinamento de força durante
rados a corredores e a jogadores de futebol. Os na- um ano foram comparados a 50 controles ajustados
dadores (exercício que não requer transporte do peso à idade (19 a 50 anos). Foi observado um aumento da
corporal) possuem menor densidade mineral óssea densidade mineral óssea na coluna lombar (1,35 g·cm–2
(Nilsson e Westlin, 1971). Na realidade, consistente- versus 1,22 g·cm–2), no trocanter (0,99 g·cm–2 versus
mente tem sido demonstrado que os levantadores 0,96 g·cm–2) e no colo do fêmur (1,18 g·cm–2 versus
de peso possuem maior densidade mineral óssea 1,02 g·cm–2), mas não no rádio medial (0,77 g·cm–2
(Suominen, 1993; Klesges et al., 1996). Isso é eviden- versus 0,77 g·cm–2), sugerindo que o treinamento de
te mesmo em jovens levantadores de peso. Conroy e força é associado com um aumento da densidade
colaboradores (1990), ao estudar levantadores de peso mineral óssea em locais que transportam peso, mas
de elite da categoria júnior (17,4 anos), demonstra- não em locais que não o transportam (Colletti et al.,
ram que a densidade mineral óssea foi 113% (LII- 1989).
LIV) e 134% (colo do fêmur proximal) maior quan- Os estudos longitudinais também demonstram
do comparados a valores de referência (20 a 39 anos). que o treinamento de força pode alterar beneficamen-
Além disso, relações significativas foram encontra- te a deposição mineral óssea. Os efeitos do treina-
das entre a densidade mineral óssea na coluna, no mento de força têm sido de particular interesse às
colo do fêmur, no trocanter e no triângulo de Ward mulheres pós-menopáusicas, devido à osteoporose
com a capacidade máxima de levantamento no ar- associada particularmente com o efeito produzido na
ranque, no arremesso desenvolvido e total (arranque coluna lombar. Por exemplo, sobre um período de
mais arremesso desenvolvido). cinco meses, o treinamento de força corporal e auxi-
Observa-se também maior densidade mineral liado por um parceiro em mulheres pós-menopáusi-
óssea entre levantadores de potência. Granhed e co- cas elevou em 3,8% a deposição mineral óssea no
laboradores (1987) demonstraram que, entre oito le- rádio distal, com o grupo-controle demonstrando
vantadores de potência, a força calculada aplicada na decréscimo de 1,9% (Simkin et al., 1987). Dois dias
LIII (terceira vértebra lombar) e a sobrecarga total por semana de treinamento de força durante um ano
levantada no treinamento durante o ano anterior re- aumentaram significativamente a densidade mineral
lacionou-se ao conteúdo mineral ósseo da coluna. óssea da coluna lombar em mulheres pós-menopáu-
As forças compressivas em LIII variaram de 18 a 36,4 sicas (Nelson et al., 1994).
368 PAAVO V. KOMI

Mulheres jovens também podem demonstrar óssea tibial foi aumentada quando comparada aos
melhoria da densidade mineral óssea (DMO). Doze controles sedentários. Não foi demonstrado efeito na
meses de treinamento de força produziram aumento densidade mineral óssea ou na taxa de incorporação
significativo na densidade óssea da coluna lombar de mineral em protocolos de estudos anteriores, nos
mulheres pré-menopáusicas comparadas a contro- quais não foi utilizado o colete (Martin et al., 1981).
les (Gleeson et al., 1990). A densidade óssea da colu- Em humanos, as comparações entre atletas compe-
na lombar (e de outros locais) também foi melhorada tindo em esportes distintos com diferentes caracte-
em 1,9% em mulheres pré-menopáusicas (28 a 39 rísticas de transporte de peso, assim como de impac-
anos) após 18 meses de treinamento de força (Loh- to (taxa de tensão), indicam a importância desses dois
man et al., 1995). componentes na otimização das alterações da DMO.
Homens idosos também se beneficiam do trei- Os atletas envolvidos em atividades de alto impacto,
namento de força. Dezesseis semanas de treinamen- como o basquete e o vôlei, quando comparados a
to de força de característica progressiva (75 a 90% de atletas de esportes de impacto ausente (natação) ou
1-RM) produziram aumento significativo na DMO moderado (pista e futebol), tendem a apresentar va-
do triângulo de Ward em homens idosos (67 ± 1 anos). lores significativamente maiores de densidade mine-
Foi observado aumento da densidade mineral óssea ral óssea (Creighton et al., 2001). Estudos longitudi-
em vários locais em homens jovens (54,6 ± 3,2 anos) nais corroboram as descobertas entre atletas. Por
comparados aos controles após 24 semanas de trei- exemplo, Maddalozzo e Snow (2000) compararam os
namento de força. efeitos de 24 semanas de um programa de treinamen-
Deve-se notar que as alterações na massa corpo- to de força de intensidade moderada realizado em
ral magra, na porcentagem de gordura e na força equipamentos a um programa realizado com peso li-
máxima tipicamente acompanham as alterações na vre (i. e., transporte de peso). Os autores concluíram
DMO. Os dados de estudos desenvolvidos com ho- que o programa com pesos livres foi mais eficaz na
mens e mulheres idosos indicam que o treinamento melhora da DMO da coluna em mulheres (52,8 ±
de força pode melhorar a DMO, assim como outras 3,3 anos) e em homens idosos (54,6 ± 3,2 anos). Es-
variáveis físicas e de desempenho. ses dados novamente indicam que o treinamento de
força, particularmente com maiores taxas de tensão
e com um componente de transporte de peso, pode
Considerações sobre intensidade e trans-
substancialmente alterar a DMO.
porte de peso
Lane e colaboradores (1988) compararam o trei-
namento aeróbio (jogging) com o treinamento de for- Mecanismos que promovem a
ça, ambos realizados durante um período de cinco remodelação do tecido conjuntivo
meses. O treinamento de força produziu um aumen-
to mais significativo na densidade mineral óssea da Lesão tecidual
coluna lombar do que o treinamento aeróbio, quan-
do a adesão ao programa foi considerada uma desco- O exercício, especialmente com grande compo-
berta respaldada por experimentos realizados em ani- nente de ação excêntrica, pode resultar em lesão mus-
mais (Notomi et al., 2000). cular (Ebbling e Clarkson, 1989). Corrida com dis-
A importância da intensidade do exercício e do tância muito longa (24 horas) afeta as alterações
transporte de peso foi considerada por Martin e co- teciduais, provavelmente por lesionar as células que
laboradores (1981). Foram exercitados cães da raça sintetizam colágeno, elevando a concentração sérica
beagle em uma esteira rolante durante 75 minutos a de galactosilhidroxilisil-glicosiltransferase (S-GGT),
3,3 km·h–1, cinco dias por semana, durante 71 sema- assim como de pró-peptídeo aminoterminal pró-co-
nas. Colocou-se um colete com sobrecarga nos cães, lágeno tipo III sérico (S-PRO-(III)-N-P) (Takala et al.,
de modo que a sobrecarga pudesse ser aumentada 1976). A alteração na concentração do S-GGT como
até 130% da massa corporal do animal durante 23 do S-PRO-(III)-N-P correspondeu às alterações na
semanas, permanecendo constante nas últimas 48 fosfocreatina (CPK) ou no lactato desidrogenase
semanas restantes. A taxa de incorporação mineral (LDH). Após o exercício, o S-GGT retornou ao nor-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 369

mal, mas o S-PRO-(III)-N-P continuou a aumentar um fator que contribui para a tensão funcional, que é
(40%). Isso provavelmente estimularia a síntese de o estímulo para a remodelação óssea. Os três fatores
colágeno tipo III. principais que modificam o osso são (Lanyon, 1987):
As elevadas forças associadas às ações excêntri-
1 a magnitude da tensão;
cas causam considerável estresse ao músculo e ao
2 a taxa de tensão;
tecido conjuntivo. Os produtos da lesão de colágeno
3 a distribuição da tensão.
como resultado do exercício podem agir como agen-
tes quimiotáticos para que os monócitos se transfi- Baixas tensões não contribuem para a remodela-
ram do sangue ao músculo (Armstrong et al., 1983). ção eficaz óssea independentemente da distribuição
Os monócitos transformam-se em macrófagos. A fun- (Lanyon, 1987). Esses fatores podem explicar as alte-
ção destes últimos é fagocítica, após se infiltrarem na rações ósseas relativamente pequenas associadas ao
área lesada. As células invasoras podem ser uma con- típico treinamento aeróbio (Notomi et al., 2000). Além
seqüência e não uma causa da lesão e agir para re- disso, mulheres amenorréicas com baixa concentra-
mover componentes celulares lesionados (Jones et al., ção de estrógeno e que realizam treinamento aeró-
1986). As células invasoras podem possuir atividade bio podem experimentar dois problemas: o treina-
miogênica (Stauber et al., 1988). Os proteoglicanos, mento aeróbio pode não ser de intensidade suficiente
componentes do tecido conjuntivo influenciados pe- para afetar adequadamente a remodelação óssea, e a
los processos de lesão muscular, são importantes na baixa concentração de estrógeno pode reduzir a rea-
regulação do processo miogênico (Fritz e Stauber, bsorção do cálcio.
1988). Então, o tecido conjuntivo pode exercer papel O treinamento de força pode satisfazer mais ade-
regulador, assim como estrutural na lesão e no pro- quadamente o critério para a remodelação óssea (No-
cesso de reparo (Ebbling e Clarkson, 1989). tomi et al., 2000). Além disso, a taxa de tensão pode
Os peptídeos que promovem crescimento, tais ser particularmente importante na remodelação ós-
como o fator de crescimento insulina-símile (IGF-I) sea. O exercício desenvolvido para elevar o pico de
e o fator de crescimento de tecido conjuntivo (CTGF), massa óssea, bem como a sua densidade, ou, ainda,
também podem exercer papel na regeneração e no para prevenir o seu decréscimo, tal como o causado
crescimento do tecido conjuntivo (Parkhouse et al., pelo avanço decorrente da idade, deve envolver altas
2000). Muitos desses fatores que promovem o cres- taxas de tensão, mas necessita de duração relativa-
cimento são ativados por respostas autócrinas e pa- mente curta. Certos tipos de treinamento de força/
rácrinas à lesão tecidual, ao estiramento repetitivo ou potência, como o treinamento de levantamento de
à ativação hormonal (Bishoff, 1984; Perrone et al., pesos, que incluem vários movimentos rápidos e ele-
1995; Yarasheki et al., 1997). O treinamento de força vada taxa de produção de força, assim como os exer-
que apresenta um elevado componente excêntrico ou cício com o peso do próprio corpo, provavelmente
um volume suficientemente alto, os quais causam fornecem alta magnitude de tensão, distribuição de
lesão muscular, poderia estimular a produção de tais tensão variada e elevada taxa de tensão.
fatores responsáveis pelo crescimento.
Influências hormonais
Estímulo para incorporação mineral
óssea O exercício e o treinamento podem alterar subs-
tancialmente a concentração hormonal (Terjung,
A remodelação é uma função do estresse e da ten- 1980; Stone, 1990). Os hormônios anabólicos, entre
são experimentada pelo osso. A adaptação óssea é eles a testosterona e o hormônio do crescimento,
modificada por vários fatores, incluindo o nutricional, podem aumentar como resultado do exercício (in-
o hormonal e a tensão funcional. Tem sido sugerido cluindo exercícios de força) de adequada intensidade
que existe uma “tensão efetiva mínima”, que repre- (Terjung, 1980; Stone et al., 1991; Häkkinen et al.,
senta a menor tensão necessária para manter a remo- 2000). A razão testosterona/cortisol pode refletir o
delação equilibrada, assim como para a preservação estado anabólico relativo (Häkkinen et al., 1985). O
óssea em valores relativamente constantes (Frost, treinamento de força adequado pode aumentar essa
1986). No entanto, a magnitude representa somente razão, o que pode induzir aumentos na massa corpo-
370 PAAVO V. KOMI

ral magra, incluindo o tecido conjuntivo (Häkkinen


et al., 1985).
O sobretreinamento pode reduzir essa razão, as-
sim como afetar outros hormônios, como, por exem-
plo, o estrógeno. Este último pode adversamente afe-
tar o crescimento e a manutenção do tecido conjunti-
vo (Stone, 1990; Stone et al., 1991). É interessante
que o elevado volume do treinamento de endurance
tenha sido associado com menor densidade mineral
óssea, tanto em homens como em mulheres (Bilanin
et al., 1989; Michel et al., 1989). Da mesma forma, as
alterações na densidade mineral óssea podem estar
associadas com menor concentração de testosterona
(Smith e Rutherford, 1993).
A testosterona, a insulina, outros hormônios, os
minerais e as vitaminas diretamente relacionados à
deposição mineral óssea podem ser estimulados pelo
treinamento de força. Por exemplo, o treinamento de
levantamento de pesos aumentou a concentração de
testosterona em repouso em levantadores de peso da
categoria júnior em um período de um ano (Fry et Figura 18.3 Mecanismos para a remodelação do tecido
al., 1994). O treinamento com pesos em homens de- conjuntivo.
monstrou aumentar a concentração sérica de proteína
Gla e de vitamina D, ambos marcadores de formação
óssea, quando em comparação aos controles (Bell et
al., 1988). A biodisponibilidade de hormônios, como
IGF-I, também pode aumentar como efeito induzido
Agradecimentos
pelo treinamento de força (Parkhouse et al., 2000).
Outros fatores que afetam a remodelação do tecido
Os autores agradecem a Frances Welsh pelo au-
conjuntivo incluiriam número e sensibilidade hor-
xílio na preparação deste capítulo.
monal, assim como atividade parácrina e autócrina
(Fig. 18.3).
Referências
Resumo Abraham, W.M. (1977) Factors in delayed muscle soreness.
Medicine and Science in Sports 9, 11-20.
As evidências sugerem que a atividade física crô- Alexander, R. Mc (1981) Factors of safety in the structure
nica, particularmente o treinamento de força, pode of animals. Scientific Progress 67, 109-130.
modificar o tecido conjuntivo. Para estimular de modo Armstrong, R.B., Ogilvie, R.W. & Schwane, J.A. (1983) Ec-
mais eficiente o crescimento do tecido conjuntivo: centric exercise-induced injury to rat skeletal muscle.
(I) a intensidade do exercício deve ser alta; (II) os mús- Journal of Applied Physiology 54, 80-93.
culos antigravitacionais deveriam ser ativados, espe- Barneveld, A. & van Weeren, P.R. (1999) Conclusions re-
cialmente para a remodelação óssea axial; e (III) as garding the influence of exercises on the development
of the equine musculoskeletal system with special refe-
atividades de transporte de peso requerendo grandes
rence to osteochondrosis. Equine Veterinary Journal (Su-
tensões e taxas de tensão podem ser mais eficazes ppl.) 31, 112-119.
para estimular a formação óssea. Além disso, o so- Bell, N.H., Godsen, R.N., Henry, D.P., Shary, J. & Epstein,
bretreinamento e os ambientes de microgravidade S. (1988) The effects of muscle-building exercise on vi-
podem, adversamente, afetar o crescimento do teci- tamin D and mineral metabolism. Medicine and Science
do conjuntivo (Fig. 18.4). in Sports and Exercise 21, 66-70.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 371

Figura 18.4 Tecido conjuntivo


tamanho e força: efeitos teóricos
da atividade física.

Bennell, K.L., Malcolm, S.A., Kahn, K.M. et al. (1997) Bone Butler, D.L., Grood, E.S., Noyes, F.R. & Zernicke, R.F. (1978)
mass and bone turnover in power athletes, endurance Biomechanics of ligaments and tendons. Exercise and
athletes and controls: a 12 month longitudinal study. Sport Sciences Reviews 6, 125-181.
Bone 20, 477-484. Calbert, J.A., Diaz Herrera, P. & Rodriguez, L.P. (1999) High
Bilanin, J.O., Blanchard, M.S. & Russek-Cohen, E. (1989) bone mineral density in male elite professional volley-
Lower vertebral bone density in male long distance ball players. Osteoporosis International 10, 468-474.
runners. Medicine and Science in Sports and Exercise 21, Chandler, T.J., Wilson, G.D. & Stone, M.H. (1989) The effect
66-70. of the squat exercise on knee stability. Medicine and Sci-
Bishoff, R. (1986) A satellite cell mitogen from crushed adult ence in Sports and Exercise 21, 299-303.
muscle. Developmental Biology 15, 140-147. Chechick, A., Amit, Y., Israeli, A. & Horozowski, H. (1982)
Brama, P.A., Tekoppele, J.M., Basnk, R.A., Barneveld, A., Recurrent rupture of the achilles tendon induced by
Firth, E.C. & van Weeren, P.R. (2000) The influence of corticosteroid injection. British Journal of Sports Medicine
strenous exercises on collagen characteristics of arti- 16, 89-90.
cular cartilage in thoroughbreds age 2 years. Equine Ve- Chien, M.Y., Wu, Y.T., Hsu, A.T., Ynag, R.S. & Lai, J.S. (2000)
terinary Journal 32, 551-554. Efficacy of a 24-week aerobic exercise program for os-
Brzank, K.D. & Peiper, K.S. (1986) Effect of intensive teopenic postmenopausal women. Calcified Tissue Inter-
strength building exercise training on the fine structure national 67, 443-448.
of human skeletal muscle capillaries. Anatomischer Chow, R.K., Harrison, J.E., Brown, C.F. & Hajek, V. (1986)
Anzeiger 161, 243-248. Physical fitness effect on bone mass in postmenopau-
Buchanan, J.R., Myers, C., Lloyd, T., Leuenberger, P. & sal women. Archives of Physical Medicine and Rehabilitati-
Demers, L.M. (1988) Determinants of trabecular bone on 67, 231-234.
density in women: the role of androgens, estrogens and Colletti, L.A., Edwards, J., Gordon, L., Shary, J. & Bell, N.H.
exercise. Journal of Bone and Mineral Research 3, 673-680. (1989) The effects of muscle building exercise on bone
372 PAAVO V. KOMI

mineral density of the radius, spine and hip in young of weightlifting training. Canadian Journal of Applied Phy-
men. Calcified Tissue International 45, 12-14. siology 19, 400-410.
Conroy, B.P., Kraemer, W.J., Dalsky, G.P. et al. (1990) Bone Garret, W.E., Safran, M.R., Seaber, A.V., Glisson, R.R. &
mineral density in elite junior weightlifters. Medicine and Ribbeck, B.M. (1987) Biomechanical comparison of sti-
Science in Sports and Exercise 22, S77. mulated and nonstimulated skeletal muscle pulled to
Creighton, D.L., Morgan, A.L., Boardley, D. & Brolinsson, failure. American Journal of Sports Medicine 15, 448-454.
P.G. (2001) Weight-bearing exercise markers of bone Gleeson, P.G., Protas, E.J., Leblanc, A.D., Schneider, V.S. &
turnover in female athletes. Journal of Applied Physiology Evans, H.J. (1990) Effects of weight lifting on bone mi-
90, 565-570. neral density in premenopausal women. Journal of Bone
Curwin, S.L., Vailas, A.C. & Wood, J. (1988) Immature ten- and Mineral Research 5, 153-158.
don adaptation to strenuous exercise. Journal of Applied Goodship, A.E., Lanyon, L.E. & McFie, H. (1979) Functio-
Physiology 65, 2297-2301. nal adaptations of bone to increased stress. Journal of
Dalen, N. & Olsen, K.E. (1974) Bone mineral content and Bone and Joint Surgery 61A, 539-546.
physical activity. Acta Orthopaedica Scandinavica 45, Gosselin, L.E., Adams, C., Cotter, T., McCormick, R.A. &
170-174. Thomas, D.P. (1998) Effect of exercise training on pas-
Dickerman, R.D., Pertus, R.M. & Smith, G.H. (2000) The sive stiffness in locomotor skeletal muscle: role of ex-
upper range of lumbar spine bone mineral density? An tracellular matrix. Journal of Applied Physiology 85,
examination of the current world record holder in the 1011-1016.
squat lift. International Journal of Sports Medicine 21, Granhed, H., Jonson, R. & Hansson, T. (1987) The loads
469-470. on the spine during extreme weightlifting. Spine 12,
Ebbling, C.B. & Clarkson, P.M. (1989) Exercise-induced 146-149.
muscle damage and adaptation. Sports Science 7, 207-234. Häkkinen, K., Pakarinen, A., Kraemer, W.J., Newton, R.U.
Elliot, D.H. & Crawford, G.N.C. (1965) The thickness and & Alen, M. (2000) Basal concentrations and acute res-
collagen content of tendon relative to strength and ponses of serum hormones and strength development
cross-sectional area of muscle. Proceedings of the Royal during heavy resistance training in middle-aged and
Society of London Series B 162, 137-146. elderly men and women. Journal of Gerontology 55,
Escamilla, R.F. (2001) Knee biomechanics of the squat exer- B95-B105.
cise. Medicine and Science in Sports and Exercise 33, 127-141. Häkkinen, K., Pakarinen, A., Markku, A. & Komi, P.V. (1985)
Evans, N.A., Bowrey, D.J. & Newman, G.R. (1998) Ultras- Serum hormones during prolonged training of neuro-
tructural analysis of ruptured tendon from anabolic ste- muscular performance. European Journal of Applied Phy-
roid users. Injury 29, 769-773. siology 53, 287-293.
Falch, J.A. (1982) The effects of physical activity on the ske- Hamill, B.P. (1994) Relative safety of weightlifting and weight
leton. Scandinavian Journal of Social Medicine (Suppl.) 29, training. Journal of Strength and Conditioning Research 8(1),
55-58. 53-57.
Fitzgerald, B. & McLatchie, G.R. (1980) Degenerative joint Han, X., Karpakka, J., Kainulainen, H. & Takala, T.E.S.
disease in weightlifters. British Journal of Sports Medicine (1995) Effects of streptozotocin-induced diabetes, phy-
14, 97-101. sical training and their combination on collagen bio-
Fleck, S.J. & Falkel, J.E. (1986) Value of resistance training synthesis in rat skeletal muscle. Acta Physiologica Scandi-
for the reduction of sports injuries. Sports Medicine 3, navica 155, 9-16.
61-68. Hanson, T.H., Roos, B.O. & Nachemson, A. (1975) Deve-
Folwes, J.R., Sale, D.G. & MacDougall, J.D. (2000) Redu- lopment of osteopenia in the fourth lumbar vertebrae
ced strength after passive stretch of the human plan- during prolonged bedrest after operation for scoliosis.
tarflexors. Journal of Applied Physiology 89, 1179-1188. Acta Orthopaedica Scandinavica 46, 621-630.
Frenette, J. & Côté, C.H. (2000) Modulation of structural Helela, T. (1969) Variations of thickness of cortical bone in
protein content of the myotendinous junction follo- two populations. Annals of Clinical Research 1, 227-231.
wing eccentric contractions. International Journal of Sports Hirsch, G. (1974) Tensile properties during tendon hea-
Medicine 21, 313-320. ling. Acta Orthopaedica Scandinavica Supplement 153.
Fritz, V.K. & Stauber, W.T. (1988) Characterisation of mus- Ingelmark, B.E. (1948) Der Bau der sehnen wahrend Vers-
cles injured by forced lengthening. II. Proteoglycans. chiederaltersperioden and unter wechselendes funkti-
Medicine and Science in Sports and Exercise 20, 354-361. onellen Bedigngungen. I. Acta Anatomica 6, 113-140.
Frost, H.M. (1986) The Intermediate Organisation of the Skele- Inhofe, P.D., Grana, W.A., Egle, D., Min, K.W. & Tomasek,
ton. CRC Press, Boca Raton. J. (1995) The effects of anabolic steroids on rat tendon,
Fry, A.C., Kraemer, W.J., Stone, M.H. et al. (1994) Endocri- an ultrastructural, biomechanical and biochemical
ne responses to over-reaching before and after one year analysis. American Journal of Sports Medicine 23, 227-232.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 373

Jones, H.H., Priest, J.D., Hayes, W.C., Tichnor, C.C. & Na- tivation of one allele of type LL procollagen but less
gel, D.A. (1977) Humeral hypertrophy in response to OA after lifelong voluntary wheel running exercise.
exercise. Journal of Bone and Joint Surgery 59A, 204-208. Osteoarthritis and Cartilage 9, 152-160.
Jones, D.A., Newham, D.J., Round, J.M. & Tolfree, S.E.J. Laurent, G.J., Sparrow, M.P., Bates, P.C. & Millward, D.J.
(1986) Experimental human muscle damage: morpho- (1978) Collagen content and turnover in cardiac and
logical changes in relation to other indices of damage. skeletal muscles of the adult fowl and the changes du-
Journal of Physiology 375, 435-448. ring stretch induced growth. Biochemistry Journal 176,
Ker, R.F. (1999) The design of soft collagenous loadbea- 419-427.
ring tissues. Journal of Experimental Biology 202, Lohman, T., Going, S., Pamenter, R. et al. (1995) Effects of
3315-3324. resistance training on regional and total bone mineral
Kiiskinen, A. & Heikkinen, H. (1976) Physical training and density in premenopausal women: a randomized pros-
connective tissue in young mice. British Journal of Der- pective study. Journal of Bone and Mineral Research 10,
matology 95, 525-529. 1015-1024.
Klesges, R.C., Ward, K.D. & Davis, J. (1996) Changes in McCulloch, R.G., Baily, D.A., Houston, C.S. & Dodd, B.L.
bone mineral content in male athletes: mechanisms of (1990) Effects of physical activity, dietary calcium in-
action and intervention effects. Journal of the American take, and selected lifestyle factors on bone density in
Medical Association 276, 226-230. young women. Canadian Medical Association Journal 142,
Kovanen, V. & Suominen, H. (1989) Age- and training- 221-232.
related changes in the collagen metabolism of rat ske- McDermott, M.T., Christensen, R.S. & Lattimer, J. (2001)
letal muscle. European Journal of Applied Physiology 58, The effects of regio-specific resistance and aerobic exer-
765-771. cises on bone mineral density in premenopausal wo-
Kovanen, V., Suominen, H. & Heikkenen, E. (1980) Con- men. Military Medicine 166, 318-121.
nective tissue of fast and slow skeletal muscle in rats– MacDougall, J.D., Sale, D.G., Always, S.E. & Sutton, J.R.
effects of endurance training. Acta Physiologica Scandi- (1984) Muscle fibre number in biceps brachii in body
navica 108, 173-180. builders and control subjects. Journal of Applied Physio-
Kovanen, V., Suominen, H. & Heikkenen, E. (1984) Colla- logy 57, 1399-1403.
gen of fast twitch and slow twitch muscle fibers in di- Maddalozzo, G.F. & Snow, C.M. (2000) High intensity re-
fferent types of rat skeletal muscle. European Journal of sistance training: effects on bone in older men and
Applied Physiology 52, 235-242. women. Calcified Tissue International 66, 399-404.
Kubo, K., Kanehisa, H., Kawakami, Y. & Fukunaga (2000) Maganaris, C.N. & Paul, J.P. (1999) In vivo human tendon
Elasticity of tendon structures of the lower limbs in mechanical properties. Journal of Physiology (London) 521,
sprinters. Acta Physiologica Scandinavica 168, 327-335. 307-313.
Kubo, K., Kanehisa, H., Kawakami, Y. & Fukunaga (2001a) Marguiles, J.K., Simkin, A., Leichtor, A. et al. (1986) Effects
Growth changes in the elastic properties of human ten- of intense physical activity on the bone mineral con-
don structures. International Journal of Sports Medicine 22, tent in the lower limbs of young adults. Journal of Bone
138-143. and Joint Surgery 68A, 1090-1093.
Kubo, K., Kanehisa, H., Kawakami, Y. & Fukunaga (2001b) Martin, R.K., Albright, J.P., Clark, W.R. & Niffnegger, J.A.
Influence of static stretching on viscoelastic properties (1981) Load-carrying effects on the adult beagle tibia.
of human tendon structures in vivo. Journal of Applied Medicine and Science in Sports and Exercise 13, 343-349.
Physiology 90, 520-527. Matsumoto, T., Nakagawa, S., Nishida, S. & Hirota, R.
Kuland, D.N., Dewy, J.B. & Brubaker, C.E. (1978) Olympic (1997) Bone density and bone metabolic markers in
weightlifting injuries. The Physician and Sports Medicine active collegiate athletes: findings in long distance run-
6, 111-119. ners, judoists and swimmers. International Journal of Sports
Laban, M.M. (1962) Collagen tissue: implications of its Medicine 18, 408-412.
response to stress in vitro. Archives of Physical Medicine Michel, B.A., Bloch, D.A. & Fries, J.F. (1989) Weight-bea-
and Rehabilitation 43, 461-466. ring exercise, overexercise, and lumbar bone density
Lane, N., Bevier, W., Bouxsein, M., Wiswell, R., Careter, D. & over age 50 years. Archives of Internal Medicine 149,
Marcus, R. (1988) Effect of exercise intensity on bone 2325-2329.
mineral. Medicine and Science in Sports and Exercise 20, S51. Moen, S., Sanborn, C., Bonnick, S. et al. (1990) Lumbar
Lanyon, L.E. (1987) Functional strain in bone tissue as an bone density in female distance runners. Medicine and
objective and controlling stimulus for adaptive bone Science in Sports and Exercise 22, S77.
remodelling. Journal of Biomechanics 2, 1083-1093. Montoye, H.J., Smith, E.L., Fardon, D.F. & Howley, E.T.
Lapvetelainen, T., Hyttinen, M., Lindblom, J. et al. (2001) (1980) Bone mineral in senior tennis players. Scandina-
More knee joint osteoarthritis (OA) in mice after inac- vian Journal of Sports Science 2, 26-32.
374 PAAVO V. KOMI

Myllylä, R., Salminen, A., Peltonen, L., Takala, T.E.S. & strength and bone density in elderly women. British Jour-
Vihko, V. (1986) Collagen metabolism of mouse skele- nal of Sports Medicine 34, 18-22.
tal muscle during repair of exercise injuries. Pflügers Rodgers, C.D., Vanheest, J.L., Nowak, J.L., Van Huss, W.D.,
Archiv 407, 64-70. Heusner, W.W. & Seefeldt, V.D. (1990) Bone mineral
NASA Round Table, Baldwin, K.M., White, T.P., Arnaud, content in young endurance-trained male and female
S.B. et al. (1996) Musculoskeletal adaptations to wei- runners. Medicine and Science in Sports and Exercise 22,
ghtlessness and development of effective counter mea- 576.
sures. Medicine and Science in Sports and Exercise 10, Safran, M.R., Garret, W.E., Seaber, AN., Glisson, R.R. &
1247-1253. Ribbeck, B.M. (1988) The role of warmup in muscular
Nelson, M.E., Fiatarone, M.A., Morganti, C.M., Trice, I., injury prevention. American Journal of Sports Medicine 16,
Greenberg, R.A. & Evans, W.J. (1994) Effects of high- 123-129.
intensity strength training on multiple risk factors for Schilling, B. & Stone, M.H. (2000) Stretching: acute effects
osteoporotic fractures. Journal of the American Medical on strength and power performance. Strength and Con-
Association 272, 1909-1914. ditioning 22(1), 44-50.
Nilsson, B.E. & Westlin, N.E. (1971) Bone density in athle- Schultz, R.M. (1982) Proteins II. In: Biochemistry with Clini-
tes. Clinical Orthopaedics 77, 179-182. cal Correlations (ed. T. M. Devlin), pp. 124-132. John Wiley
Notomi, T., Okazaki, Y., Okimoto, N., Saitoh, S., Nakamu- & Sons, New York.
ra, T. & Suzuki, M. (2000) A comparison of resistance Shadwick, R.E. (1990) Elastic energy storage in tendons:
and aerobic training for mass, strength and turnover of mechanical differences related to function and age. Jour-
bone in growing rats. European Journal of Applied Physio- nal of Applied Physiology 68, 1033-1040.
logy 83, 469-474. Simkin, A., Ayalon, J. & Leichter, I. (1987) Increased trabe-
Noyes, F.R. (1977) Functional properties of knee ligaments cular bone density due to bone loading exercises in post-
and alterations induced by immobilisation: a correlati- menopausal women. Calcified Tissue International 40, 59-63.
ve biomechanical and histological study in primates. Smith, R. & Rutherford, O.M. (1993) Spine and total body
Clinical Orthopaedics 123, 210-242. mineral density and serum testosterone levels in male
Olsen, B.R. (1989) Exercise induced amenorrhea. American athletes. European Journal of Applied Physiology 674,
Family Physician 39, 213-221. 330-334.
Parkhouse, W.S., Coupland, D.C., Li, C. & Vanderhoek, K.J. Stannard, J.P. & Bucknell, A.L. (1993) Rupture of the tri-
(2000) IGF-1 bioavailability is increased by resistance ceps tendon associated with steroid injections. Ameri-
training in older women with low bone mineral densi- can Journal of Sports Medicine 21, 482-485.
ty. Mechanics of Ageing Development 113, 75-83. Stauber, W.T., Fritz, B.K., Vogelbach, D.W. & Dahlmann,
Parssinen, M., Karila, T., Kovanen, V. & Seppala, T. (2000) B. (1988) Characterisation of muscles injured by forced
The effect of supraphysiological doses of anabolic an- lengthening. I. Cellular infiltrates. Medicine and Science
drogenic steroids on collagen metabolism. International in Sports and Exercise 20, 345-353.
Journal of Sports Medicine 21, 406-411. Stillman, R.J., Lohman, T.G., Slaughter, M.H. & Massey,
Perrone, C.E., Fenwick-Smith, D. & Vandenbourgh, H.H. B.H. (1986) Physical activity and bone mineral incor-
(1995) Collagen and stretch modulate autocrine secre- poration content in women aged 30–85 years. Medicine
tion of insulinlike growth factor-1 and insulinlike gro- and Science in Sports and Exercise 18, 576-580.
wth factor binding proteins from differentiated skeletal Stone, M.H. (1988) Implications for connective tissue and
muscle cells. Journal of Biological Chemistry 270, bone alterations resulting from resistance exercise trai-
20099-20106. ning. Medicine and Science in Sports and Exercise 20,
Pettersson, U., Nordström, P., Alfredson, H., Henriksson- S162-S168.
Larsen, K. & Lorentzon, P. (2000) Effect of high impact Stone, M.H. (1990) Muscle conditioning and muscle inju-
activity on bone mass and size in adolescent females: a ries. Medicine and Science in Sports and Exercise 22, 457-462.
comparative study between two different types of sports. Stone, M.H. & Wilson, G.D. (1985) Selected physiological
Calcified Tissue International 67, 207-214. effects of weight-training. Medical Clinics of North Ame-
Pocock, N.A., Eisman, J.A., Yeates, M.G., Sambrook, F.N. rica 69(1), 109-122.
& Eberl, S. (1986) Physical fitness is a major determi- Stone, M.H., Keith, R.E., Kearney, J.T., Fleck, S.J., Wilson,
nant of femoral neck and lumbar spine bone mineral G.D. & Triplett, N.T. (1991) Overtraining: a review of
density. Journal of Clinical Investigation 78, 618-621. the signs, symptoms and possible causes. Journal of Ap-
Rhodes, E.C., Martin, A.D., Taunton, J.E., Donnelly, M., plied Sports Science Research 5(1), 35-50.
Warren, J. & Elliot, J. (2000) Effects of one year resis- Stone, M.H., Fry, A.C., Ritchie, M., Stoessel-Ross, L. &
tance training on the relation between muscular Marsit, J.L. (1994) Injury potential and safety aspects of
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 375

weightlifting movements. Strength and Conditioning 16(3), dromalacia of the patella. International Journal of Sports
15-24. Medicine 19, 144-148.
Stone, M.H., Collins, D., Plisk, S., Haff, G. & Stone, M.E. Van de Lest, C.H., van de Hoogen, B.M. & van Weeren,
(2000) Training principles: evaluation of modes and P.R. (2000) Loading-induced changes in synovial fluid
methods of resistance training. Strength and Conditioning affect cartilage metabolism. Biorheology 37, 45-55.
22(3), 65-76. Van Pilsum, J.F. (1982) Metabolism of individual tissues.
Suominen, H. (1993) Bone mineral density and longterm In: Biochemistry with Clinical Correlations (ed. T. M. Dev-
exercise: an overview of cross-sectional athlete studies. lin), pp. 1050-1052. John Wiley & Sons, New York.
Sports Medicine 16, 316-330. Viiduk, A. (1968) Elasticity and tensile strength of the an-
Suominen, W.T., Heikkinen, E. & Parkatti, T. (1977) Effect terior cruciate ligament in rabbits as influenced by trai-
of eight weeks physical training on muscle and con- ning. Acta Physiologica Scandinavica 74, 372-380.
nective tissue of the m. vastus lateralis in 69-year old Viiduk, A. (1986) Adaptability of connective tissue. In: Bio-
men and women. Journal of Gerontology 32, 33-37. chemistry of Exercise VI (ed. B. Stalin), pp. 545-562. Aca-
Suominen, H., Heikkinen, E., Moiso, H. & Viljama, K. demic Press, London.
(1978) Physical and chemical properties of skin in ha- Vogel, J.M. & Whittle, M.W. (1976) Bone mineral content
bitual trained and sedentary 31–70 year old men. Bri- changes in the skylab astronauts. American Journal of
tish Journal of Dermatology 99, 147-154. Roentgenology 126, 1296.
Takala, T.E., Vuori, J., Antinen, H., Vaanen, K. & Myllyla, R. Watson, R.C. (1974) Bone growth and physical activity in
(1976) Prolonged exercise causes an increase in the acti- young males. In: International Conference on Bone Mineral
vity of galactosyl hydroxylysyl glucosyl-transferase and Measurements, pp. 380–385. US Department of Health,
in the concentration of type III procollagen amino pro- Education, and Welfare Publications, NIH 75-683.
peptide in human serum. Pflügers Archiv 407, 500-503. White, M.K., Martin, R.B., Yeater, R.A., Butcher, R.L. &
Terjung, R. (1980) Endocrine response to exercise. Exercise Radin, E.L. (1984) The effects of exercise on postme-
and Sport Sciences Reviews 7, 153-180. nopausal women. International Orthopaedics 7, 209-
Tipton, C.M., James, S.L., Merger, J.W. & Tcheng, T.K. 214.
(1970) Influence of exercise on strength of medial co- Williams, J.A., Wagner, J., Wasnich, R. & Heilburn, L. (1984)
llateral knee ligaments of dogs. American Journal of Phy- The effects of long distance running upon appendicu-
siology 218, 894-902. lar bone mineral content. Medicine and Science in Sports
Tipton, C.M., Matthes, R.D. & Sandage, D.S. (1974) In situ and Exercise 16, 223-227.
measurements of junction strength and ligament elon- Woo, S.L.Y., Gomex, M.A., Woo, Y.K. & Akeson, W.H.
gation in rats. Journal of Applied Physiology 37, 758-762. (1982) Mechanical properties of tendons and ligaments.
Tipton, C.M., Martin, R.K., Matthes, R.D. & Carey, R.A. II. The relationship between immobilisation and exer-
(1975a) Hydroxyproline concentrations in ligaments cise on tissue remodelling. Biorheology 19, 397-408.
from trained and non-trained dogs. In: Metabolic Adap- Wood, T.O., Cooke, P.H. & Goodship, A.E. (1988) The effect
tations to Prolonged Physical Training (eds H. Howald & J. of exercise and anabolic steroids on the mechanical
R. Purtmans), pp. 262-267. Birkhauser-Verlag, Basel. properties and crimp morphology of the rat tendon.
Tipton, C.M., Matthes, R.D., Maynard, J.A. & Carey, R.A. American Journal of Sports Medicine 16, 153-158.
(1975b) The influence of physical activity on ligaments Wronski, T.J., Li, M., Shen, Y. et al. (1998) Lack of effect of
and tendons. Medicine and Science in Sports 7, 165-175. spaceflight on bone mass and bone formation in
Tsuzuku, S., Ikegami, Y. & Yabe, K. (1998) Effects of group-housed rats. Journal of Applied Physiology 85,
high-intensity resistance training on bone mineral den- 279-285.
sity in young powerlifters. Calcified Tissue International Yao, J.Q. & Seedhom, B.B. (1993) Mechanical conditioning
63, 283-286. of articular cartilage to prevalent stresses. British Journal
Turto, H., Lindy, S. & Holme, J. (1974) Protocollagen pro- of Rheumatology 32, 956-965.
line hydroxylase activity in work-induced hypertrophy Yarasheki, K.E., Campbell, J.A. & Korht, W.M. (1997)
of rat muscle. American Journal of Physiology 226, 63-65. Effect of resistance exercise and growth hormone on
Väätäinen, U., Kiviranta, I., Jaroma, H., Arokosi, J., Tammi, bone density in older men. Clinical Endocrinology 47,
M. & Kovanen, V. (1998) Collagen crosslinks in chon- 223-229.
Capítulo 19
Respostas endócrinas e adaptações
ao treinamento de força e potência
WILLIAM J. KRAEMER E NICHOLAS A. RATAMESS

Introdução so; (III) alterações crônicas na resposta aguda ao es-


tímulo. Outros fatores, como ingestão nutricional,
O treinamento de força e potência é um estímu- experiência em treinamento, gênero, idade e/ou ma-
lo potente ao sistema musculoesquelético. Esse tipo turação biológica, interação com outras modalida-
de estresse provoca ampla variedade de respostas fi- des de exercício e variações diurnas, assim como o
siológicas e subseqüentes adaptações instrumentais programa de treinamento de força, afetam as respos-
para o aumento da força, da potência, da hipertrofia tas endócrinas e as adaptações ao treinamento de
e da resistência muscular localizada* observado du- força e serão discutidos neste capítulo.
rante o treinamento de força (Kraemer e Ratamess,
2000). O sistema neuroendócrino é vital para o de- Estímulo dos exercícios com
sempenho agudo em exercícios com sobrecarga e para sobrecarga
a remodelação tecidual (Kraemer, 2000). Além disso,
as adaptações crônicas no sistema neuroendócrino têm O estímulo dos exercícios com sobrecarga é o
sido relacionadas à produção de força (Häkkinen, fator primário que determina as respostas e adapta-
1989). ções hormonais agudas e crônicas. As variáveis agu-
O aumento hormonal em resposta aos exercíci- das associadas ao treinamento de força têm sido des-
os com sobrecarga ocorre em um ambiente fisiológi- critas em detalhes (Kraemer e Fleck,1988; Fleck e
co singular. Mais especificamente, os mecanismos de Kraemer, 1997; Kraemer e Ratamess, 2000; Kraemer
reparo tecidual são ativados como parte do processo et al., 2000). Essas variáveis incluem:
de remodelação no período de recuperação dos es-
• Seleção e ordem dos exercícios
tresses mecânico e químico do exercício. Inúmeros
• Tipo de ação muscular
mecanismos hormonais influenciam o crescimento
• Intensidade
e a remodelação tecidual (p. ex., músculo, osso e ou-
• Volume (número de exercícios, séries e total de
tros tecidos conjuntivos) críticos para o desempenho
repetições)
da força e da potência.
• Velocidade de execução do movimento
Vários hormônios são discutidos neste capítulo.
• Período de recuperação entre séries e exercícios
A ênfase recai sobre os hormônios anabólicos e cata-
• Freqüência
bólicos mais relevantes para a remodelação tecidual
• Grupos musculares treinados (corpo total, mem-
muscular. As adaptações ao treinamento de força di-
bros superiores ou inferiores, rotina dividida por gru-
videm-se em três classificações gerais: (I) alterações
po muscular)
agudas durante e após os exercícios com sobrecarga;
(II) alterações crônicas nas concentrações em repou- Todas essas variáveis do programa afetam as res-
postas agudas metabólicas, neurais, musculares e car-
diovasculares aos exercícios com sobrecarga. Tais sis-
*N.de R.T. Relativo à expressão inglesa “local muscular endurance”. temas interagem com o sistema endócrino na
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 377

expressão aguda da força, da potência e da resistên- gramas de treinamento de força elaborados de forma
cia musculares, e nas adaptações crônicas subseqüen- inadequada (destreinamento e/ou sobretreinamento*)
tes. Uma seqüência esquemática geral de eventos é podem limitar os benefícios potenciais e as adapta-
apresentada na Figura 19.1. ções fisiológicas ótimas. Desse modo, os mecanismos
Um programa de treinamento de força adequa- hormonais afetam adversamente o desenvolvimento
do deve incorporar três conceitos fundamentais de tecidual e ativam minimamente os mecanismos que
progressão: sobrecarga progressiva, variação e espe- aumentam os processos de adaptação. Então, o pro-
cificidade. Tais especificações tentam maximizar as grama de treinamento, assim como a predisposição
adaptações do sistema neuromuscular (Kraemer e genética, o gênero, o nível de aptidão física e o po-
Ratamess, 2000). Por exemplo, haverá maior recruta- tencial para adaptação desempenham papel signifi-
mento das unidades motoras com sobrecarga pro- cativo nas respostas hormonais aos exercícios com
gressiva (Sale, 1988). O recrutamento de maior nú- sobrecarga.
mero de fibras musculares capacita a interação O aumento agudo nas concentrações sangüíneas
hormônio-tecido com maior porcentagem de massa hormonais é fruto de vários mecanismos, que incluem
muscular total. Dessa forma, o potencial para me- ajuste no volume de fluido, alteração nas taxas de
lhorar aumenta significativamente. depuração extra-hepática, alterações na depuração
Os mecanismos de interação hormonal com o hepática secundárias ao fluxo sangüíneo hepático,
tecido muscular são baseados em vários fatores (ver degradação hormonal, conjunto venoso de interações
Capítulo 5). O aumento agudo na concentração san- sangue e receptor (Jezova e Vigas, 1981; Kraemer et
güínea de hormônios observado durante e imediata- al., 1992; Schwab et al., 1993). Um ou mais desses
mente após a realização de um protocolo de exercí- fatores podem estar envolvidos na exposição dos re-
cios de força aumenta a probabilidade de interação ceptores celulares a maior concentração de hormô-
destes hormônios com os receptores. O número de nios, o que aumenta a probabilidade de interação dos
receptores disponíveis para a ligação e as subseqüen- receptores, induzindo remodelação tecidual. Além
tes alterações celulares coincide com as concentra- disso, a interação desses hormônios (ações estimu-
ções hormonais sangüíneas. Além disso, consideran- lantes, inibitórias ou permissivas) é de grande impor-
do que as adaptações aos exercícios com sobrecarga tância durante o treinamento de força. Isso porque
intensa são “anabólicas” por natureza, os mecanis-
mos de recuperação envolvidos são relacionados à
remodelação e ao reparo teciduais. Por último, os pro- *N. de R.T. Relativo à expressão inglesa “overtraining”.

Figura 19.1 Seqüência teórica dos


eventos demonstrando a influência do
exercício com sobrecarga nos efeitos
hormonais que induzem aumento nos
desempenhos em força e potência.
378 PAAVO V. KOMI

as demandas metabólicas e de produção de força de- te associados às características do protocolo de exer-


vem ser ajustadas além do reparo tecidual. O perío- cícios de força e podem ser reproduzidos diariamente.
do de tempo das amostras sangüíneas durante os exer- O sangue pode ser extraído de atletas em vários
cícios com sobrecarga também é muito importante. estágios do treinamento de modo que as concentra-
Ele proporciona uma janela fisiológica para visualizar ções sangüíneas hormonais sejam determinadas. En-
os efeitos do estresse por exercício. As amostras são quanto a interpretação das concentrações sangüí-
tipicamente obtidas após o exercício, pois os exercí- neas hormonais pode ser “enganosa”, por represen-
cios com sobrecarga são de natureza intermitente. As tar somente parte do complexo mecanismo de res-
variações hormonais diurnas devem ser controladas posta hormonal total, tais dados indicam estado ou
quando se analisa longos períodos de recuperação. resposta das glândulas ou estados funcionais dos me-
Por último, a concentração pré-exercício afetará a canismos controlados pelos hormônios. Deve-se no-
resposta hormonal aguda aos exercícios com sobre- tar que as concentrações periféricas dos hormônios
carga e determinará a magnitude das alterações. Sendo no sangue não indicam o estado de várias popula-
assim, o efeito do treinamento nas concentrações ções de receptores, os efeitos não-receptores ou os
basais, o tempo de amostragem sangüínea de acordo efeitos de um hormônio na célula. No entanto, ad-
com as variações diurnas e os outros efeitos induzidos mite-se maior probabilidade de interação com recep-
nas concentrações pré-exercício devem ser considera- tores ou célula-alvo diante de grande aumento na
dos na avaliação da resposta provocada pelo estímulo. concentração hormonal. O decréscimo na concen-
tração hormonal indica vários destinos possíveis para
Alterações hormonais no sangue o hormônio, incluindo maior consumo nos recepto-
periférico res teciduais-alvo e/ou maior degradação do hormô-
nio, assim como redução na secreção hormonal.
Em um estudo realizado por Kraemer e colabo- Muitos e diferentes mecanismos fisiológicos podem
radores (1998b), em que foi avaliada a consistência contribuir de forma variada às mudanças na concen-
da resposta sangüínea de vários hormônios em três tração de hormônios observados em nível sangüíneo
dias consecutivos de exercício, foi demonstrada que periférico. A Figura 19.3 demonstra uma seqüência
a reprodutibilidade da resposta hormonal (semelhante de mecanismos que pode afetar a concentração hor-
a uma impressão digital, por assim dizer) a um deter- monal. Alguns dos principais são os seguintes:
minado protocolo de treinamento de força (ver Fig.
19.2) pode ser reproduzida com grande consistência. • Taxa de síntese e degradação. Cada hormônio tem
Tais dados indicam que os hormônios são fortemen- sua própria taxa de síntese (p. ex., 35 minutos de es-

Figura 19.2 Resposta do hormônio


do crescimento durante dias repetidos
do mesmo protocolo de exercícios com
sobrecarga, demonstrando substancial
reprodutibilidade das alterações
hormonais na circulação em resposta
ao estresse do exercício com sobrecarga
(adaptada de Kraemer et al., 1998b).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 379

Figura 19.3 Características circulatórias do transporte de hormônios desde a síntese e da secreção para receptores-alvo até suas
interações com a célula.

teroidogênese) e meia-vida para a degradação depen- • Taxas de depuração. As taxas de depuração tecidu-
dendo da sua forma — livre ou ligada. al (especialmente hepática) de um hormônio; ou seja,
• Interações com as proteínas de ligação no sangue. Os o tempo que um hormônio percorre da circulação
hormônios ligam-se com proteínas especializadas no ao tecido. Os hormônios circulam através de vários
sangue, que auxiliam no transporte. Os hormônios tecidos e órgãos, sendo o fígado um dos principais
livres e ligados interagem de maneira diferente com locais de processamento no corpo. É observado re-
o tecido; finalmente, é o hormônio livre que interage tardo de tempo quando o hormônio percorre da cir-
com a membrana ou outros receptores celulares. culação ao fígado e outros tecidos (p. ex., pulmões).
• Alterações no volume do fluido. O fluido corporal ten- O tempo de depuração de um tecido mantém o hor-
de a alterar do sangue para as células como resulta- mônio fora da circulação e distante do contato com
do do exercício. Essa alteração pode elevar a con- receptores-alvo em outras partes do corpo ou pode
centração sangüínea hormonal sem qualquer degradá-lo e torná-lo não-funcional.
alteração da secreção das glândulas endócrinas. Tem • Volume sangüíneo venoso. O fluxo sangüíneo que
sido sugerido que tais alterações na concentração retorna ao coração torna-se lento pelo volume de
aumentam a probabilidade de interação com os re- sangue nas veias; o sangue é retardado na circulação
ceptores. A interação, nesse caso, independe do me- periférica pela atividade muscular intensa (ações
canismo de aumento. musculares maiores que 45% do máximo). Então, o
380 PAAVO V. KOMI

fluxo sangüíneo deve ser recuperado durante os in- riférica de testosterona total em homens (Weiss et
tervalos em que a atividade muscular é reduzida. O al., 1983; Chandler et al., 1994; Hickson et al., 1994;
volume de sangue pode aumentar as concentrações Häkkinen e Pakarinen, 1995; Kraemer et al., 1998b;
de hormônios no sangue venoso e também o tempo Kraemer et al., 1999), enquanto em mulheres jovens
de exposição aos tecidos-alvo. nenhuma alteração (Häkkinen e Pakarinen, 1995) ou
• Interações entre os receptores. Todos esses mecanis- aumento pode ocorrer (Cumming et al., 1987; Nindl
mos interagem para produzir determinada concen- et al., 2001d). Inúmeras respostas a vários protoco-
tração de hormônio no sangue, que influencia o po- los de exercícios com sobrecarga têm sido observa-
tencial para interação com os receptores no tecido das e algumas das variações são demonstradas na Fi-
alvo e seus efeitos secundários subseqüentes, cau- gura 19.4. Além disso, atribui-se o aumento na
sando o efeito final do hormônio na célula. testosterona durante os exercícios com sobrecarga à
estimulação adrenérgica (Jezova e Vigas, 1981) e à
Também existem muitas adaptações no sistema
secreção estimulada pelo lactato (Lu et al., 1997). As
endócrino, enquanto os tecidos muscular e conjun-
possíveis ações da testosterona foram previamente
tivo representam os alvos finais de muitos progra-
revisadas (ver Capítulo 5). Foi sugerido que as adap-
mas de treinamento de força. Essas alterações são
tações na síntese de testosterona e/ou na capacidade
temporariamente relacionadas às mudanças nos ór-
de secreção das células de Leydig nos testículos po-
gãos-alvo e à tolerância do estresse ao exercício. O
dem representar uma importante causa da elevação
potencial para adaptação no sistema endócrino é
sangüínea deste hormônio (Fry e Kraemer, 1997). Seu
maior na medida em que muitos locais e mecanis-
papel no aumento de outros mecanismos hormonais
mos diferentes podem ser afetados. Os exemplos a
anabólicos parece ser de interesse primário. Em adi-
seguir representam tipos potenciais de adaptações.
ção, os efeitos da testosterona no tecido neuronal pe-
• Quantidade de síntese e estoque hormonal. riférico estão começando a ser apreciados (Nagaya e
• Transporte hormonal através de proteínas de li- Herrera, 1995). Uma vez que aumento na concen-
gação. tração de testosterona tem sido observado durante
• Tempo necessário para a depuração dos hormô- exercícios de endurance, variações em suas ações po-
nios através dos tecidos hepáticos e extra-hepáticos. dem ocorrer pelas diferenças no ambiente celular
• Quantidade de degradação hormonal em deter- como conseqüência do treinamento de força.
minado período de tempo. É a fração livre, ou não ligada, da testosterona
• O quanto de sangue flui ao tecido com o estresse que é biologicamente ativa, de modo que as altera-
provocado pelo exercício. ções no conjunto de testosterona livre têm papel crí-
• Força com a qual o hormônio liga-se ao seu re- tico na ligação do receptor e subseqüente aumento
ceptor (afinidade com o receptor), que não ocorre na síntese protéica. Dessa maneira, a ausência de al-
com o treinamento. teração na concentração total de testosterona nem
• Quantidade de receptores teciduais. sempre é reflexo da sua biodisponibilidade. Então, o
• Magnitude do sinal enviado ao núcleo celular pelo decréscimo da globulina ligada ao hormônio sexual
complexo hormônio-receptor ou segundo mensageiro. (SHBG), associado a nenhuma alteração na concen-
• Grau de interação com o núcleo celular (que de- tração total, indica adaptação potencial benéfica ao
veria controlar a quantidade de proteína muscular treinamento de força.
produzida). Dados insuficientes estão disponíveis em relação
à resposta aguda da testosterona livre aos exercícios
com sobrecarga. Häkkinen e colaboradores (1987,
Testosterona 1988a,b) observaram que a testosterona livre perma-
nece inalterada ou diminui após sessões de exercícios
Respostas agudas aos protocolos com sobrecarga. Recentemente, Kraemer e colabo-
de exercícios com sobrecarga radores (1999b) registraram elevação significativa na
testosterona livre sérica durante sessão aguda de exer-
Em muitos estudos, o treinamento de força cícios com sobrecarga, tanto em homens jovens como
aumenta agudamente a concentração sangüínea pe- em idosos. É interessante observar que a magnitude
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 381

Figura 19.4 Resposta aguda da testosterona a vários protocolos de exercício com sobrecarga em homens. * P < 0,05 corresponde
ao valor de repouso ou pré-exercício; ↑ ou ↓ significativa direção da alteração; NC significa nenhuma alteração em relação aos níveis
de repouso. A: uma série de supino plano, número máximo de repetições a 70% de 1-RM (Guezennec et al., 1986); B: seis séries
de oito repetições a 70% de 1-RM (Guezennec et al., 1986); C: sessão completa de exercício olímpico (segundo dia) (Häkkinen et
al., 1988a); D: sessão completa de exercício olímpico (primeira sessão) (Häkkinen et al., 1988a); E: três séries de quatro exercícios
a 80% de 1-RM (Weiss et al., 1983); F: cinco séries de levantamento-terra com 5-RM – participantes inexperientes (Fahey et al.,
1976); G: cinco séries de levantamento-terra com 5-RM — participantes experientes (Fahey et al., 1976); H: quatro séries de
agachamento com seis repetições a 90 e 95% de 6-RM (Schwab et al., 1993); I e J: três séries de 10-RM com intervalo de
repouso de 1 minuto realizados em oito exercícios (Kraemer et al., 1990; Kraemer et al., 1991); K: cinco séries de 10-RM com
intervalo de repouso de 3 minutos, realizadas no supino plano, abdominal e leg press (Häkkinen e Pakarinen, 1995).

de aumento foi ligeramente maior após 10 semanas nen e Pakarinen, 1993; Schwab et al., 1993; Bosco et
de treinamento de força periodizado quando compa- al., 2000; Raastad et al., 2000), pela ingestão nutricio-
rada à resposta pré-treinamento. Além disso, houve nal (Kraemer et al., 1998b) e pela experiência com
aumento significativo na concentração sérica de tes- treinamento (Kraemer et al., 1998a), porém independe
tosterona livre em repouso em homens jovens. Têm do nível absoluto individual de força muscular
sido relatadas correlações positivas entre a taxa de (Kraemer e Fleck, 1988).
testosterona sérica/SHBG e as alterações na força Os exercícios selecionados e a quantidade de
muscular durante o treinamento de força de longo massa muscular envolvida podem afetar a resposta
prazo (Häkkinen et al., 1985), sugerindo que o nível aguda da testosterona total aos exercícios com so-
de testosterona não-ligada biologicamente ativa pode brecarga. Exercícios que envolvem grande massa
ser de grande importância para a treinabilidade du- muscular, como os levantamentos olímpicos (Krae-
rante o treinamento de força prolongado (Häkkinen, mer et al., 1992) e o levantamento-terra (Fahey et al.,
1989). No entanto, é necessária pesquisa adicional 1976), produzem elevação significativa na concen-
nessa área, pois parece que o hormônio ligado pode- tração de testosterona. Volek e colaboradores (1997)
ria influenciar significativamente a taxa de liberação relataram aumento agudo de aproximadamente 15%
hormonal (Elkins, 1990). na concentração de testosterona após um protocolo
Nos homens, vários fatores parecem influenciar que consistia de saltos com agachamento em com-
as concentrações séricas agudas de testosterona to- paração a 7% de aumento segundo o protocolo cons-
tal. Tem-se observado que a magnitude de aumento tituído inteiramente pelo supino reto. Tais exercícios
durante os exercícios com sobrecarga afetada pela para grandes grupos musculares têm demonstrado
massa muscular envolvida, pela seleção de exercício ser potentes estressores metabólicos (Ballor et al.,
(Volek et al., 1997), pela intensidade e pelo volume 1987); então, um forte componente metabólico tem
(Kraemer et al., 1990; Kraemer et al., 1991; Häkki- sido sugerido como estímulo para a liberação de tes-
382 PAAVO V. KOMI

tosterona (Lu et al., 1997). Com base em dados limi- colos de alta e moderada intensidade). No entanto, a
tados, parece que os programas delineados para esti- concentração de testosterona não aumentou signifi-
mular a secreção de testosterona deveriam consistir cativamente até o final da quarta série. Os autores
de exercícios para os grandes grupos musculares. concluíram que um determinado limiar de volume
Além disso, a seqüência dos exercícios não tem rece- pode ser necessário para induzir aumento significa-
bido atenção na literatura referente à resposta aguda tivo na concentração de testosterona. Bosco e cola-
da testosterona. Foi sugerido que os exercícios para boradores (2000) fizeram observações similares. Eles
os grandes grupos musculares devem ser realizados registraram aumento significativo na concentração
antes daqueles para os pequenos grupos (Kraemer e de testosterona com o treinamento de força de alto
Ratamess, 2000). À luz dessa informação, o desem- volume, sem alteração durante o treinamento de for-
penho de exercícios para os grandes grupos muscu- ça de baixo volume (20 séries de 2 a 4 repetições do
lares (agachamento, levantamento-terra, “metida ao meio agachamento vs. 10 séries de 2 a 3 repetições)
peito”*) no início da sessão de treinamento pode pro- em levantadores de peso. Entretanto, nesse estudo,
duzir elevação significativa na testosterona que pode, as concentrações de testosterona reduziram em um
por sua vez, potencialmente expor os pequenos mús- grupo de fisiculturistas que realizaram um protocolo
culos a uma maior resposta do que aqueles resultan- de baixa intensidade com maior volume do que os
tes do desempenho de exercícios apenas para peque- levantadores de peso, demonstrando a interação en-
nos grupos musculares. No entanto, é necessária a tre volume e intensidade dos exercícios com sobre-
realização de pesquisa adicional para analisar essa hi- carga para estimular a secreção de testosterona.
pótese relacionada à ordem dos exercícios. Häkkinen e Pakarinen (1993) compararam dois pro-
A interação da intensidade e do volume do pro- gramas de treinamento consistindo do agachamen-
grama de treinamento de força afeta a resposta agu- to: (I) 20 séries de 1-RM; e (II) 10 séries de 10 repeti-
da da testosterona. Gotshalk e colaboradores (1997) ções com 70% de 1-RM; houve aumento significativo
demonstraram que três séries de 10-RM com perío- somente na testosterona total e livre na sessão de
do de recuperação de 1 minuto produziram maiores maior volume. Guezennec e colaboradores (1986)
concentrações que uma série de 10-RM. Weiss e co- registraram somente um pequeno aumento na con-
laboradores (1983) registram aumento significativo centração de testosterona durante o treinamento de
na testosterona sérica após três séries de quatro exer- força convencional (i. e., 3 a 4 séries de 3 a 10 repeti-
cícios realizados até a fadiga voluntária usando 80% ções entre 70 e 95% de 1-RM, com 2,5 minutos de
de 1-RM com intervalos de 2 minutos de repouso. recuperação). Todavia, foi observada resposta limita-
Raastad e colaboradores (2000) empregaram dois da na concentração de testosterona quando a sobre-
protocolos similares, exceto por um grupo ter utili- carga foi posteriormente aumentada e as repetições
zado 70% de 3 a 6-RM, e o outro ter utilizado 100% reduzidas para três. Os resultados também demons-
de 3 a 6-RM, registrando resposta significativamente tram um possível componente glicolítico na estimu-
maior da testosterona e do cortisol após um proto- lação da concentração de testosterona. Esses resul-
colo de alta intensidade até 1 hora pós-exercício. tados foram posteriormente fundamentados por uma
Schwab e colaboradores (1993) compararam um pro- série de estudos desenvolvidos por Kraemer e cola-
tocolo de 4 × 6 (90 a 95% de 6-RM) a um de 4 × 9 –10 boradores (1990, 1991). Um programa típico de fisi-
(60 a 65% da sobrecarga empregada para a alta in- culturista (moderada sobrecarga e elevado volume)
tensidade) no agachamento, registrando aumento si- com curto período de recuperação produziu maior
milar na testosterona após ambos os protocolos (31 resposta da testosterona quando comparado a outro
e 27% de aumento, respectivamente, para os proto- com elevada sobrecarga e baixo volume de treina-
mento, com longo período de recuperação (3 minu-
tos). Bosco e colaboradores (2000) registraram de-
créscimo na concentração de testosterona com um
*N. de R.T. Relativo ao exercício “power clean”, no qual a barra
com anilhas é levantada do solo e levada aos ombros em um programa constituído de baixo volume (seis séries
único e potente movimento. É caracterizado como um exercí- de 16 repetições) e de intervalos de repouso de 8
cio de potência muscular. minutos.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 383

A suplementação nutricional parece afetar a res- ção significativa da concentração de testosterona


posta aguda da testosterona aos exercícios com so- durante sessão aguda de exercícios com sobrecarga;
brecarga. Kraemer e colaboradores (1998b) compa- todavia, as concentrações absolutas são significati-
raram a resposta hormonal mediante três dias vamente menores que as de indivíduos jovens (Krae-
consecutivos de levantamento, com placebo ou com mer et al., 1999b).
suplemento carboidrato/proteína, e relataram maior A resposta aguda da testosterona em mulheres
concentração de testosterona no tratamento com pla- parece ser muito limitada (Stoessel et al., 1991;
cebo do que no com suplemento. A ingestão calórica Kraemer et al., 1993b; Häkkinen e Pakarinen, 1995;
adicional pareceu atenuar a testosterona circulante. Bosco et al., 2000), sendo que apenas poucos estu-
É incerta a razão para esse acontecimento, mas pode dos demonstram qualquer alteração (Cumming et al.,
ser o aumento da utilização pelos receptores de an- 1987; Nindl et al., 2001d). Nindl e colaboradores (no
drógenos. Estudo anterior relatou decréscimo das prelo) encontraram, em mulheres, um aumento sig-
concentrações circulantes de testosterona em respos- nificativo na concentração de testosterona total (1,24
ta à baixa ingestão dietética de gordura e dieta com versus 1,55 nmol·L–1; ~ 25% de aumento), testoste-
elevada relação carboidrato/proteína (Volek et al., rona livre (7,18 versus 9,00 pg·mL–1; ~ 25% de au-
1997). Ainda devem ser esclarecidos os mecanismos mento) e SHBG (145,4 versus 150,9 nmol·L–1; ~ 4%
que induzem essas respostas. Além disso, a elevação de aumento) como resposta induzida por um pro-
na concentração de insulina coincidiu com um de- grama de treinamento de força constituído de seis
créscimo na concentração de testosterona em um séries de 10-RM no exercício agachamento. O pe-
estudo que analisou uma suplementação proteína/ queno aumento, o tamanho da amostra e as varia-
carboidrato e em que menor resposta da testostero- ções individuais têm papel importante na detecção
na foi observada (Chandler et al., 1994). Então, a pos- de pequenos efeitos de tratamento. Além disso, as
sível interação entre insulina e testosterona pode tam- variações no conteúdo de andrógeno adrenal podem
bém se constituir em um mecanismo que medeia a exercer efeito significativo e estar relacionadas a di-
resposta da testosterona. ferenças na treinabilidade da mulher em exercícios
A idade e a experiência em treinamento são críti- com sobrecarga. Em mulheres submetidas ao treina-
cas na análise da resposta aguda da testosterona. mento de força, as alterações absolutas na concen-
Fahey e colaboradores (1976) foram incapazes de tração de testosterona são menos responsivas do que
demonstrar aumento significativo em estudantes co- em homens (Stoessel et al., 1991), especialmente
legiais do sexo masculino, enquanto aqueles que já quando o volume é baixo e os intervalos de repouso
haviam ultrapassado o nível colegial apresentaram são grandes (Bosco et al., 2000). Na comparação di-
maior resposta induzida por programa de exercícios reta do mesmo protocolo (5 × 10-RM para três exer-
com sobrecarga. Kraemer e colaboradores (1992) re- cícios; 3 × repetições até a fadiga voluntária × 80%
gistraram maior aumento agudo em levantadores de de 1-RM para quatro exercícios) em homens e em
peso da categoria júnior com mais de dois anos de mulheres, Häkkinen e Pakarinen (1995) e Weiss e co-
experiência em levantamento do que em levantado- laboradores (1983) registraram aumento significati-
res menos experientes. A constatação sugere um au- vo em homens jovens, mas não em mulheres jovens.
mento na concentração de testosterona caso a expe- Mais do que isso, parece que outros hormônios ana-
riência com o treinamento seja de dois ou mais anos bólicos (o hormônio do crescimento; o fator de cres-
em adolescentes na faixa etária de 14 a 18 anos de cimento insulina-símile I [IGF-I]) podem ser mais in-
idade. Kraemer e colaboradores (1998a) foram inca- fluentes para a promoção da hipertrofia muscular em
pazes de demonstrar, em homens previamente não- mulheres. No entanto, pequenos aumentos parecem
treinados e submetidos a programa de treinamento ser possíveis com exercícios com sobrecarga aguda
de força de oito semanas, um aumento agudo de tes- em mulheres, mas os efeitos dessas respostas em fun-
tosterona antes de seis semanas. No entanto, Craig e ção do tempo ainda precisam ser estudados.
colaboradores (1989) registraram que 12 semanas de O efeito da freqüência do treinamento na res-
treinamento de força não alteraram a resposta aguda posta aguda da testosterona não tem sido analisado.
ao treinamento. Indivíduos idosos apresentam eleva- Häkkinen e colaboradores (1988b) registraram maior
384 PAAVO V. KOMI

resposta da testosterona em sessões vespertinas, do quando ratos foram estimulados durante 16 dias
que em matutinas em levantadores de peso de elite (Crowley e Matt, 1996). McCall e colaboradores
em múltiplas sessões de treinamento por dia. As (1999) e Hickson e colaboradores (1994) não regis-
múltiplas sessões de treinamento por dia têm o in- traram alteração na concentração de testosterona em
tuito de maximizar o desempenho. No entanto, é di- repouso durante 9 a 12 semanas de treinamento de
fícil interpretar os dados hormonais em diferentes força. Staron e colaboradores (1994) relataram uma
períodos do treinamento quando as variações diur- elevação significativa na concentração de testostero-
nas são muito influentes; o mesmo ocorre em rela- na em repouso, após 4 de 8 semanas de programa de
ção ao volume total de treinamento, sendo que a con- treinamento de força. As alterações nas fibras do tipo
centração sérica de testosterona voltou ao normal II foram relacionadas à alteração na concentração de
quando a freqüência do treinamento foi reduzida a testosterona em repouso. Häkkinen e colaboradores
uma sessão por dia (Häkkinen et al., 1987). (1988c) relataram aumento na concentração de tes-
tosterona em repouso em levantadores de peso de
Alterações crônicas na elite em um período de dois anos (19,8 ± 5,3 a 25,1 ±
concentração de testosterona em 5,2 nmol·L–1), mas não em um ano (Häkkinen et al.,
repouso 1987). Reaburn e colaboradores (1997) não registra-
ram alteração significativa na concentração sérica de
As alterações na concentração de testosterona em testosterona em repouso após 24 semanas de treina-
repouso durante o treinamento de força têm sido in- mento periodizado em atletas de força dos gêneros
consistentes. Parece não haver aumento gradual ou masculino e feminino. Em mulheres, nenhuma alte-
padrão consistente na concentração de testosterona ração tem sido observada em 3 e 16 semanas de trei-
em repouso com o treinamento de força, tanto em namento de força e potência (Häkkinen et al., 1990;
homens como em mulheres (Alen et al., 1988; Häkkinen et al., 1992). No entanto, um recente estu-
Potteiger et al., 1995), embora uma elevação signifi- do desenvolvido por Marx e colaboradores (2001) do-
cativa tenha sido registrada em meninos pré-púbe- cumentou uma elevação significativa na concentra-
res e púberes (Tsolakis et al., 2000). Mais do que isso, ção sérica de testosterona em repouso com a maior
parece que as concentrações em repouso refletem um resposta no treinamento periodizado de maior vo-
estado do tecido muscular tal que o aumento ou di- lume, múltiplas séries, quando comparado a um pro-
minuição podem ocorrer em vários estágios, depen- grama de uma série única durante seis meses de trei-
dendo do volume e da intensidade do estímulo do namento.
treinamento (Häkkinen et al., 1987), assim como da Talvez o número de receptores de andrógenos
experiência individual no treinamento de força (Kra- (p. ex., através de sub e supra-regulação) que poten-
emer et al., 1992). Esses dados demonstram o estado cialmente interage com a testosterona livre biologi-
de constante alteração do tecido muscular e a im- camente ativa seja mais importante para as adapta-
portância da variação do treinamento durante o de- ções ao treinamento de força. Muito poucos estudos
senvolvimento do programa. analisam as alterações no nível do receptor. O trei-
Há registros de aumento na concentração de tes- namento de força parece supra-regular os receptores
tosterona em repouso em alguns estudos (Häkkinen de andrógenos em ratos (Inoue et al., 1993). Além
et al., 1988c; Staron et al., 1994; Kraemer et al., 1999b; disso, Deschenes e colaboradores (1994) demonstra-
Marx et al., 2001). Vários outros estudos não têm ram que a resposta do receptor é diferente nas fibras
demonstrado diferenças (Häkkinen et al., 1985; musculares dos tipos I e II como efeito induzido pe-
Häkkinen et al., 1987; Alen et al., 1988; Reaburn et los exercícios com sobrecarga quando comparados
al., 1997). É interessante observar que a concentra- aos de endurance. Recentemente, Bamman e colabo-
ção média de testosterona livre e total tem sido alta- radores (2001) compararam a sobrecarga concêntri-
mente correlacionada com a produção de força ca e excêntrica (oito séries de agachamento) e regis-
(r = 0,81 a 0,83) (Häkkinen et al., 1990). No entanto, traram que o RNAm dos receptores de andrógenos
não foi observada alta correlação entre a concentra- aumentou 63% após sobrecarga excêntrica e 102%
ção de testosterona e a alteração na massa muscular após sobrecarga concêntrica sem aumento concomi-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 385

tante na concentração sérica de testosterona. Esses estudos têm examinado a resposta aguda aos exercí-
resultados indicam adaptação positiva em nível celu- cios com sobrecarga. Weiss e colaboradores (1983)
lar, sem alteração significativa nos hormônios circu- registraram aumento de 8 a 11% na androstenedio-
lantes. Parece que a contratilidade muscular e/ou a na circulante em homens e em mulheres em respos-
lesão mecânica exercem um efeito potente na regu- ta a uma sessão aguda de exercícios com sobrecarga,
lação do número de receptores de andrógenos, o que que consistiu de três séries com repetições até a fadi-
aumenta a probabilidade de interação hormonal e ga voluntária a 80% de 1-RM para quatro exercícios,
subseqüente síntese protéica. com dois minutos de intervalo (repouso). No entan-
to, pouco é conhecido sobre o impacto do aumento
Precursores andrógenos agudo na androstenediona no aumento da força e
hipertrofia muscular.
A via biossintética da testosterona contém mui- O treinamento de força crônico (24 semanas de
tos passos. Algumas dessas moléculas precursoras têm treinamento de força e potência) diminui a concentra-
sido investigadas durante o treinamento de força. A ção sérica dos precursores de testosterona 17-OH-pro-
alteração nos precursores pode afetar a concentra- gesterona, androstenediona e DHEA (Alen et al., 1988).
ção circulante de testosterona e potencialmente o O impacto dessas descobertas é incerto, mas pode su-
estado anabólico do tecido muscular. A androstene- gerir maior potencial de turnover dos andrógenos em
diona e a desidroepiandrosterona (DHEA) são an- resposta ao treinamento de força. Então, a influência
drógenos adrenais precursores da testosterona (Long- desses precursores no treinamento de força de longo
cope, 1996). Esses dois compostos despertaram prazo também necessita de ampla investigação.
recentemente muita atenção devido à sua populari-
dade como suplemento nutricional e a seu uso em Resposta do hormônio luteinizante
esportes (Pecci e Lombardo, 2000). Os estudos de-
monstram que doses recomendadas (100 a 300 O hormônio luteinizante (LH) é um hormônio
mg·dia–1) desses compostos não aumentam a con- protéico pulsátil secretado pelas células basofílicas
centração circulante de testosterona em homens sau- da hipófise anterior, que representa o regulador pri-
dáveis (King et al., 1999; Wallace et al., 1999; Ballan- mário da secreção de testosterona das células de
tyne et al., 2000), embora as concentrações de DHEA, Leydig dos testículos (Fry e Kraemer, 1997). A con-
androstenediona e de hormônio luteinizante (LH) centração de LH é positivamente relacionada à in-
estejam significativamente elevadas. Portanto, o po- tensidade e ao volume do treinamento de força
tencial efeito ergogênico dos hormônios precursores (Häkkinen et al., 1987; Busso et al., 1992). A concen-
na hipertrofia muscular, no desempenho, na força e tração de LH em repouso pode não se alterar signifi-
na potência associados ainda deve ser observado e cativamente em homens e em mulheres no treina-
requer análise adicional, particularmente devido ao mento de força e potência de 16 a 24 semanas
fato de muitos indivíduos consumirem uma dose (Häkkinen et al., 1985; Häkkinen et al., 1990), mas
maior do que a recomendada. O método de adminis- um sutil aumento tem sido demonstrado em atletas
tração (oral versus sublingual versus injeção) também de força durante períodos intensos de treinamento
pode ser importante na utilização de hormônios pre- (Häkkinen et al., 1988c; Häkkinen e Pakarinen, 1991),
cursores da testosterona. com as concentrações de LH retornando aos valores
Os andrógenos adrenais exercem papel impor- basais no treinamento normal (Häkkinen e Pakari-
tante em mulheres, considerando os baixos níveis de nen, 1991). Parece que a interação do volume e in-
testosterona. Além disso, as variações nas concen- tensidade é um importante estimulador. Busso e co-
trações de andrógenos adrenais entre mulheres po- laboradores (1992) compararam um programa de
dem afetar sua treinabilidade. Em repouso, as mu- treinamento vigoroso de quatro semanas em levan-
lheres normalmente apresentam maior concentração tadores de peso de elite com um reduzido programa
de androstenediona do que os homens (Weiss et al., de treinamento de duas semanas e relataram decrés-
1983). No entanto, a androstenediona é significati- cimo na concentração sérica de testosterona com
vamente menos potente que a testosterona. Poucos aumento no LH sérico na fase intensa do treinamen-
386 PAAVO V. KOMI

to. Foi assumida a hipótese de que o decréscimo na de SHBG (Häkkinen et al., 1987). Häkkinen e colabo-
testosterona contribuiu para o aumento no LH, sen- radores (1988b) não documentaram aumento agudo
do que as concentrações de testosterona não retor- na concentração de SHBG em sessão matutina em le-
naram ao normal até a redução da fase de treinamento. vantadores de peso olímpico de elite, mas relataram
De modo interessante, a concentração sérica de LH aumento na sessão verpertina do mesmo dia (i. e., duas
se correlacionou altamente com o nível de aptidão sessões em um mesmo dia).
física. Além disso, uma sessão aguda de exercícios
com sobrecarga não induziu secreção de LH (Häkki-
nen et al., 1988a), sugerindo, portanto, que o aumento Hormônio do crescimento
agudo na concentração sérica de testosterona deveu-
se a outros mecanismos reguladores. Nindl e cola- Resposta aguda aos exercícios com
boradores (2001b) documentaram declínio na con- sobrecarga
centração noturna de testosterona em 10 homens
analisados por 13 horas após treinamento de força. O hormônio do crescimento (GH) é um hormô-
Esses dados demonstram que o declínio na concen- nio peptídico (cadeia polipeptídica simples de 22 kDa,
tração noturna de testosterona após sessão aguda de com 191 aminoácidos e duas ligações cruzadas dis-
exercícios com sobrecarga é acompanhado pela ele- sulfeto) secretado pelas células acidofílicas da hipó-
vação da concentração de cortisol e pela neutraliza- fise anterior (Fry e Kraemer, 1997). Recentes evidên-
ção da produção de LH. Essas alterações no eixo hi- cias demonstram que o GH possui variantes de pesos
pófise-adrenal-testicular são centralmente mediadas moleculares da forma de 22 kDa, muitos com poten-
e presumivelmente refletem a grande quantidade de cial atividade biológica (McCall et al., 1999). Além
processos metabólicos. disso, a diversidade em eventos pós-transcricionais e
pós-translacionais, assim como os tipos somatótro-
Globulina ligada ao hormônio fos, resulta em uma situação muito mais complicada.
sexual O resultado é um amplo número de variantes mono-
méricas e polímeros de maior nível. A maioria dessas
A testosterona circulante é predominantemente variantes plasmáticas de GH pode ser mais bem re-
ligada à proteína de transporte SHBG, que preserva sumida pela sua divisão em três grandes categorias
a integridade do hormônio. A alteração da concen- baseadas no peso molecular. Cerca de 31,5% repre-
tração de SHBG pode influenciar a capacidade de li- sentam formas monoméricas não-ligadas do GH
gação da testosterona e a magnitude de testosterona (22 kDa, 20 kDa e acídica). Vários homo e heterodí-
livre disponível para a difusão através da membrana meros covalente e não-covalentemente ligados das
da célula para interagir com os receptores esteróides três formas monoméricas representam 29% (40 a
ligados à membrana. Há respostas diferenciais no trei- 50kDa). Os polímeros de maior peso molecular (tri a
namento de força. Nenhuma alteração na concen- pentaméricos) agregados (14%) e ligados a comple-
tração aguda ou em repouso do SHBG foi registrada xos de proteína-monômero (24,5%) são todos maio-
após 12 e 24 semanas de treinamento de força (Häkki- res que 60 kDa. A pequena porcentagem restante é
nen et al., 1985; McCall et al., 1999), uma semana constituída de várias quantidades de fragmentos de
vigorosa de levantamento de peso olímpico (Häkiki- peptídeo GH que parecem originar-se da hipófise,
nen et al., 1988a), período de dois anos em homens assim como resultam de degradação parcial nos teci-
levantadores olímpicos de elite (Häkkinen et al., dos periféricos e subseqüente recirculação ou peque-
1988c) e seguindo 3 e 16 semanas de treinamento de nos novos peptídeos ainda não determinados. Os
força e potência em mulheres (Häkkinen et al., 1990; pesquisadores têm caracterizado três variações de
Häkkinen et al., 1992). No entanto, um estudo rela- peso molecular para geralmente classificar os varian-
tou aumento agudo após oito semanas de treinamen- tes GH como “pequeno” (20 a 22 kDa), “grande” (40
to de força em mulheres previamente não-treinadas a 50 kDa) e “muito grande” ( > 60 kDa). O peso mo-
(Kraemer et al., 1988). O treinamento de força de longo lecular baseado no gene do típico monômero de GH
prazo pode resultar em concentração sérica reduzida é a molécula GH de 22 kDa.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 387

Embora tenha se observado consumo de GH du- Häkkinen e Pakarinen, 1993; Bosco et al., 2000;
rante exercício dinâmico em humanos (Brahm et al., Williams et al., 2002), do intervalo de repouso entre
1997), alguns dos efeitos do GH são mediados pelos as séries (Kraemer et al., 1990; Kraemer et al., 1991;
fatores de crescimento insulina-símile (IGFs), prima- Kraemer et al., 1995a) e da suplementação de car-
riamente IGF-I (ver Capítulo 5). Pouco se sabe a res- boidrato/proteína (Chandler et al., 1994) independen-
peito das respostas agudas e crônicas das variantes temente da força muscular (Kraemer, 1988), da ex-
de pesos moleculares da molécula de GH ao treina- periência de treinamento em homens (Kraemer et al.,
mento de força, pois as metodologias imunorreati- 1992), mas não em mulheres (Taylor et al., 2000) e
vas empregadas não são sensíveis a todas as formas pode ser um tanto atenuado com o destreinamento
do GH. Então, a parte seguinte deste capítulo (e to- de curta duração (Kraemer et al., 2002). Ao mensu-
das as respostas e adaptações subseqüentes) referem- rar a concentração venosa e arterial de GH durante e
se à forma bem conhecida 22 kDa do GH (ver Capí- após sessão aguda de exercícios com sobrecarga, foi
tulo 5 para análise geral de outras respostas do GH). demonstrado que o consumo de GH no músculo es-
A variedade das respostas 22 kDa do GH no san- quelético (quadríceps) aumentou significativamente
gue aos exercícios com sobrecarga pode variar de (Brahm et al., 1997). Esses dados demonstram que o
acordo com o programa empregado (ver Fig. 19.5). GH pode agir diretamente ou através do sistema IGF.
Tem sido demonstrado que o GH humano aumenta Além disso, registros apontam alta correlação entre
durante e 30 minutos após os exercícios com sobre- lactato sangüíneo e concentração sérica de GH
carga, com a magnitude dependendo da seleção do (Häkkinen e Pakarinen, 1993). Postula-se que o acú-
exercício (Häkkinen et al., 1988a,b; Kraemer et al., mulo de H+ produzido pela acidose láctica pode ser
1992), da intensidade (Van Helder et al., 1984; Pyka o fator primário que influencia a liberação de GH
et al., 1992), do volume (Häkkinen et al., 1988a, b; (Kraemer et al., 1993). Essa descoberta foi respalda-

Figura 19.5 Resposta aguda do hormônio do crescimento a vários protocolos de exercício com sobrecarga em homens. *P < 0,05
corresponde ao valor de repouso ou pré-exercício; ↑ ou ↓ direção significativa da alteração; A: sete séries de sete repetições a 85%
de 7-RM (Van Helder et al., 1984); B: sessão de treinamento de levantamento olímpico (primeiro dia) entre 70 e 100% de 1-RM
(Häkkinen et al., 1988c); C: oito exercícios para três séries de 10-RM com intervalo de repouso de 1 minuto (McCall et al., 1999);
D: quatro exercícios para duas séries de 8 a 10 repetições a 75% de 1-RM com intervalo de repouso de 90 s (Chandler et al.,
1994); E: sessão de levantamento olímpico (Kraemer et al., 1992); F e H: oito exercícios para três séries de 10-RM com intervalo
de repouso de 1 minuto (Kraemer et al., 1990; Kraemer et al., 1991); G e I: oito exercícios para 3 a 5 séries de 5-RM com
intervalo de repouso de 3 minutos (Kraemer et al., 1990; Kraemer et al., 1991); J: supino reto, abdominal, leg press para cinco
séries de 10-RM com intervalo de repouso de 3 minutos (Häkkinen e Pakarinen, 1995).
388 PAAVO V. KOMI

da pela atenuação da resposta do GH após alcalose so seja significativamente maior na mulher no início
induzida durante ciclismo em alta intensidade (Gor- da fase folicular do ciclo menstrual (Kraemer et al.,
don et al., 1994). Hipoxia, apnéia, ajuste ácido-base e 1993b). Häkkinen e Pakarinen (1993) relataram que
catabolismo protéico influenciam a liberação de GH 20 séries de 1-RM no exercício agachamento produ-
(Kraemer et al., 1993b). Assim, a demanda metabóli- ziram um leve aumento na concentração de GH, en-
ca dos exercícios com sobrecarga tem importante quanto 10 séries de 10 repetições a 70% de 1-RM
papel nas concentrações de GH. induziram um aumento substancial. Os protocolos
Nem todos os programas de treinamento de for- de múltiplas séries induzem maior resposta do GH
ça irão elevar significativamente a concentração séri- que os protocolos de séries únicas (Craig e Kang,
ca de GH; então, pode ser necessário um limiar de 1994; Mulligan et al., 1996; Gotshalk et al., 1997),
volume e intensidade (i. e., nível de esforço). Van Hel- demonstrando a importância do volume de treina-
der e colaboradores (1984) não relataram aumento mento. Esses dados indicam que os programas de
significativo na concentração de GH pelo uso de so- intensidade moderada, mas com alto volume total de
brecargas muito leves e grande número de repetições. trabalho e curtos intervalos de repouso (fisiculturis-
Taylor e colaboradores (2000) registraram maior au- ta ou programas em que o objetivo é a resistência
mento agudo em mulheres treinadas com exercícios muscular localizada), podem produzir maior aumento
com sobrecarga quando comparadas a mulheres não- na concentração de GH. Provavelmente tal elevação
treinadas ao mesmo protocolo glicolítico. No entan- seja devida à elevada demanda metabólica.
to, as mulheres treinadas foram capazes de levantar Recentemente, demonstrou-se que o tipo de ação
maiores sobrecargas e talvez isso tenha afetado a mag- muscular pode afetar a resposta aguda do GH aos
nitude total de esforço. Estudos registram uma res- exercícios com sobrecarga. Kraemer e colaboradores
posta aguda limitada do GH em indivíduos idosos (2001b) treinaram três grupos de sujeitos durante 19
(Craig et al., 1989; Pyka et al., 1992; Kraemer et al., semanas, sendo que um grupo realizou todas as re-
1999b). No entanto, o principal fator que contribui petições de forma concêntrica, o segundo realizou
para essa resposta limitada do GH pode ser a magni- repetições concêntricas com duplo volume e o ter-
tude de esforço exigido. Pyka e colaboradores (1992) ceiro realizou repetições concêntricas e excêntricas.
também relataram menor concentração de lactato em Também foi avaliada a resposta aguda do GH a um
sujeitos idosos, respaldando, portanto, a hipótese de protocolo de exercícios de força que consistiu de
que o esforço máximo é necessário para otimizar a ações musculares concêntricas ou excêntricas, a qual
secreção de GH induzida pelo exercício. Todavia, 12 foi mensurada antes e imediatamente após a realiza-
semanas de um protocolo de treinamento de força ção do protocolo. A resposta do GH foi alta nos gru-
em idosos promoveram maior resposta aguda do GH pos de treinamento concêntrico para o protocolo con-
(Craig et al., 1989), sugerindo que a maior resposta cêntrico; no entanto, a resposta aguda foi maior no
deveu-se ao aumento da capacidade de exercer es- protocolo excêntrico para o grupo de treinamento
forço. concêntrico/excêntrico. Os dados indicam que o GH
Os programas de treinamento de força podem é sensível às ações musculares durante o treinamen-
variar diametralmente em um contínuo de sobrecar- to de força. A hipófise anterior pode ser diretamente
ga e número de repetições para vários exercícios, ve- inervada por muitas fibras nervosas com sinapse nas
locidade de levantamento e intervalo de repouso, de- células corticotróficas e somatotróficas (Ju, 1999).
pendendo do objetivo do indivíduo (Fleck e Kraemer, Também tem sido sugerido que a regulação “neuro-
1997). Programas de treinamento com elevado volu- humoral” da secreção de GH pode ocorrer de tal for-
me e intensidade de moderada a alta, usando curtos ma, que uma rápida resposta neural seja observada
períodos de recuperação, têm induzido maior resposta durante o estresse inicial com a ocorrência subse-
aguda no GH que treinamentos de força ou potência qüente da fase humoral (Ju, 1999). Se for esse o caso,
convencional, que empregam alta sobrecarga, baixo os centros cerebrais superiores (córtex motor) teriam
número de repetições e longos intervalos de recupe- um papel ativo na regulação da secreção de GH du-
ração em homens (Kraemer et al., 1990; Kraemer et rante o estresse. Tal mecanismo regulador adicional-
al., 1991). Resultados similares são documentados em mente parece ser sensível às ações musculares espe-
mulheres, embora a concentração de GH em repou- cíficas utilizadas durante o treinamento de força.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 389

Em uma rara observação dos efeitos dos exercí- al., 1999; Marx et al., 2001). Essa controvérsia é tam-
cios de força no GH e em algumas das variantes bém sustentada pelos dados que demonstram con-
moleculares durante a noite, Nindl e colaboradores centração normal de GH em repouso em levantado-
(2001c) examinaram a hipótese de que os exercícios res de peso olímpico de elite (Häkkinen et al.,
com sobrecarga aguda aumentariam a concentração 1988a,b). Os dados são consistentes com os meca-
circulante noturna de GH. Dez homens jovens fo- nismos dinâmicos de feedback do GH envolvidos e seu
ram submetidos a duas coletas sangüíneas serial no- papel no controle homeostático de muitas variáveis,
turna a cada 10 minutos das 17h às 6h: um grupo- por exemplo, a glicose. Isso pode ocorrer devido aos
controle e outro grupo experimental. O protocolo de efeitos interativos de diferentes moléculas, agregados
exercícios com sobrecarga de alto volume e intensi- e variantes de GH com o treinamento. Além disso, os
dade (i. e., alto volume, sessão de exercício de múlti- dados sugerem que a resposta aguda do GH aos exer-
plas séries, com total de 50 séries: agachamento, su- cícios com sobrecarga pode ser o mecanismo mais
pino reto, leg press e puxada lateral que alternaram proeminente para interagir de forma aguda com os
com séries entre 10 e 5-RM, com intervalo de repou- receptores-alvo teciduais que induzem remodelação.
so de 90s entre as séries) foi conduzido das 15h às O aumento induzido pelo exercício tem sido signifi-
17h. Três diferentes imunoensaios serviram para cativamente correlacionado à magnitude da hipertro-
mensurar a concentração de GH, incluindo ensaios fia das fibras musculares tipo I e II (r = 0,62 a 0,74)
policlonal, monoclonal e imunofuncional, cada um (McCall et al., 1999). Essas correlações poderiam in-
descrevendo diferentes aspectos da molécula de GH dicar função da elevação do GH induzida pelos exer-
(o ensaio imunofuncional mensura aquelas molécu- cícios com sobrecarga aguda sobre as adaptações ce-
las que possuem tanto epitopos disponíveis para a lulares no músculo. As alterações na sensibilidade do
dimerização como para a transdução de sinal). Em receptor, outros tamanhos moleculares da molécula
geral, a concentração de GH foi menor sobre o tem- de GH, diferenças nos mecanismos de feedback, po-
po quando comparada à condição controle sem exer- tencialização do IGF-I e variações diurnas podem ser
cício. Quando foram utilizadas análises através de en- de importância significativa com o treinamento de
saios, foi observada uma menor amplitude média de força.
pulso em resposta ao exercício quando comparada à
condição de controle, bem como um diferente pa-
drão de liberação (i. e., menor GH das 21h às 3h, Cortisol
porém maior das 3h às 6h para o exercício do que
para o controle). A menor resposta após o exercício Resposta aguda aos exercícios com
pode implicar maior consumo pelos receptores ou sobrecarga
uso alternado de outras formas da molécula de GH.
Os efeitos do ensaio foram observados ao demons- Os glicocorticóides são liberados do córtex adre-
trar que o GH era dependente do sistema de detec- nal em resposta ao exercício. Desses, o cortisol re-
ção empregado. Pode-se concluir que a prática de presenta aproximadamente 95% de toda a atividade
exercícios com sobrecarga durante o dia pode influ- do glicocorticóide (Guyton, 1991). O cortisol tem fun-
enciar o padrão temporal de pulsabilidade noturna ções catabólicas que exercem maior efeito nas fibras
do GH, e isso pode ser de relevância biológica, uma musculares tipo II (Kraemer, 2000). Os estudos de-
vez que diferentes tipos de moléculas de GH tam- monstram elevação significativa na concentração de
bém foram diferentemente afetadas. cortisol e de adrenocorticotrópico (ACTH) durante
sessão aguda de exercícios com sobrecarga (Guezen-
Alteração crônica na concentração nec et al., 1986; Kraemer et al., 1987; Kraemer et al.,
de GH em repouso 1992; Kraemer et al., 1993b; Kraemer et al., 1996;
Kraemer et al., 1999b; Häkkinen et al., 1988), com
O treinamento de força não parece afetar a con- resposta similar entre homens e mulheres (Kraemer
centração de GH em repouso. Nenhuma alteração et al., 1993b). Outro estudo relatou aumento na con-
na concentração de GH em repouso foi observada centração de cortisol em homens, mas não em mu-
em vários estudos (Kraemer et al., 1999b; McCall et lheres que realizaram o mesmo protocolo (Häkkinen
390 PAAVO V. KOMI

e Pakarinen, 1995). A resposta aguda do cortisol pa- longo prazo. O treinamento de força crônico não pa-
rece independer do estado de treinamento, pelo me- rece produzir padrão consistente de secreção do cor-
nos, em levantadores de peso adolescentes (Kraemer tisol, bem como ausência de alteração (Häkkinen et
et al., 1992). O aumento agudo na secreção de corti- al., 1987; Häkkinen et al., 1988c; Häkkinen et al.,
sol durante os exercícios com sobrecarga pode ser 1990; Häkkinen et al., 1992; Fry et al., 1994; Pottei-
atenuado em usuários de esteróide anabólico (Boone ger et al., 1995), decréscimo (Häkkinen et al., 1985;
et al., 1990). Embora um investigador tenha sugeri- Alen et al., 1988; Kraemer et al., 1998a; McCall et al.,
do que a elevação na concentração do cortisol possa 1999; Marx et al., 2001) e aumento (Häkkinen e Paka-
atenuar os efeitos da testosterona (Cumming et al., rinen, 1991) durante treinamento de força e potên-
1989), não se relatou nenhuma relação com o au- cia normal em homens e mulheres durante treina-
mento induzido pelos exercícios com sobrecarga. mento do tipo overreaching.* Häkkinen e colaboradores
É interessante notar que os programas que in- (1985) relataram maior redução na concentração de
duzem maior resposta do cortisol também provocam cortisol sérico em repouso após 24 semanas de trei-
maior resposta aguda do GH e do lactato. Correla- namento de força comparado ao treinamento de po-
ções significativas entre lactato sangüíneo e cortisol tência. Marx e colaboradores (2001) registraram que
sérico (r = 0,64) (Kraemer et al., 1989) têm sido rela- somente o grupo de maior volume experimentou re-
tadas. Além disso, a elevação aguda no cortisol tem dução significativa no cortisol sérico em repouso
sido altamente correlacionada (r = 0,84) à concen- quando compararam o treinamento com sobrecarga
tração de creatina cinase sérica 24h pós-exercício periodizado de múltiplas séries com o treinamento
(Kraemer et al., 1993b). Os protocolos de elevada de- de série única por seis meses. Recentemente, Kraemer
manda metabólica (i. e., alto volume, intensidade mo- e colaboradores (1999b) relataram que, em indivíduos
derada a alta, com períodos curtos de repouso, de- idosos, a concentração sérica de cortisol em repouso
monstram maior resposta aguda do cortisol (Kraemer foi reduzida na terceira semana de um programa de
et al., 1987; Kraemer et al., 1993b; Häkkinen e Paka- treino de 10 semanas. Um estudo recente desenvol-
rinen, 1993), com pequena alteração durante o trei- vido com modelo animal demonstrou que a concen-
namento de força/potência convencional. A duração tração de cortisol pode explicar grande parte da vari-
do período de repouso representa importante variá- ância (~ 60%) das alterações da massa muscular
vel para induzir resposta significativa do cortisol (Crowley e Matt, 1996). Sendo assim, parece que a
(Kraemer et al., 1987; Kraemer et al., 1993b). Isso resposta aguda do cortisol reflete estresse metabóli-
pode dever-se à maior dependência das fontes glico- co, enquanto a adaptação crônica pode estar envol-
líticas e do impacto no metabolismo da glicose. vida com a homeostase tecidual, integrando o meta-
Kraemer e colaboradores (1996) relataram um au- bolismo protéico (Florini, 1987). Novamente, como
mento significativo na resposta do cortisol sob oito apontado nos capítulos iniciais referentes aos meca-
séries de 10-RM no exercício leg press, com um perío- nismos hormonais, há indicações de que, com o trei-
do de repouso de 1 minuto, em relação ao mesmo namento de força, os receptores de testosterona po-
protocolo com 3 minutos de repouso. Portanto, en- dem adaptar-se aos maiores níveis de cortisol (i. e.,
quanto elevados níveis crônicos podem exercer efei- corticosterona em ratos) produzidos com o estresse
tos adversos em alguns sistemas e inibir os processos do exercício agudo e tornar-se “desinibidos”. Assim,
celulares (inibir a ativação das células-T), o aumento as moléculas de cortisol não afetam a produção de
agudo pode ser parte de um conjunto agudo de me- testosterona ou as características de ligação no nível
canismos de sinalização e processos de remodelação dos testículos (observações não-publicadas). Aqui,
no tecido muscular.

Adaptações crônicas na
concentração de cortisol em *N. de R.T. Estado de pré-exaustão fisiológica temporário in-
repouso duzido pelo treino intenso, o qual pode ser conduzido ao so-
bretreinamento, também conhecido como overtraining. Cons-
Em geral, tem-se considerado que a concentra- titui-se em um importante “indicador” da queda do
ção de cortisol reflete o estresse de treinamento de desempenho físico.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 391

novamente, o aumento na concentração de cortisol namento. No entanto, permanece incerto que o sis-
apenas pode não refletir a natureza adaptativa do pró- tema biológico é responsável por refletir este estado,
prio músculo, mas outros alvos celulares podem ain- que pode não ser decorrente do estresse muscular.
da ser negativamente afetados pelo aumento agudo
no cortisol (células imunológicas). Tais efeitos dife-
renciais relacionados às células-alvo requerem aná- Fatores de crescimento insulina-
lise adicional no contexto do exercício agudo e do símile
treinamento de força crônico.
Resposta aguda aos exercícios com
Rácio* testosterona/cortisol sobrecarga
O rácio testosterona/cortisol (rácio T/C) e/ou o Muitas das ações do GH são reguladas pelos pe-
rácio testosterona livre/cortisol têm sido sugeridos quenos polipeptídeos, os fatores de crescimento in-
como indicadores do estado anabólico/catabólico sulina-símile (IGF-I e IGF-II). Os IGFs são secreta-
durante o treinamento de força (Häkkinen, 1989). dos pelo fígado em resposta à síntese de DNA
Sendo assim, tanto um aumento na testosterona estimulada pelo GH. A resposta aguda do IGF-I aos
como um decréscimo no cortisol ou em ambos pode- exercícios com sobrecarga permanece incerta. Mui-
riam indicar anabolismo tecidual. No entanto, pare- tos estudos não têm demonstrado alteração no IGF-
ce haver uma simplificação excessiva, o que, na me- I durante ou imediatamente após sessão aguda de
lhor das hipóteses, seria somente uma medida indi- exercícios com sobrecarga (Chandler et al., 1994;
reta das propriedades anabólicas/catabólicas do Kraemer et al., 1995a; Kraemer et al., 1998b). No
músculo esquelético (Fry e Kraemer, 1997). Vários entanto, há estudos que demonstraram aumento agu-
estudos demonstraram alteração no rácio T/C du- do durante e após os exercícios com sobrecarga
rante o treinamento de força e potência. Esse rácio (Kraemer et al., 1990; Kraemer et al., 1991). A ausên-
tem sido positivamente associado ao desempenho cia de alteração tem sido atribuída ao atraso na se-
(Häkkinen et al., 1985; Alen et al., 1988). O treina- creção de IGF-I, isto é, 3 a 9 horas, seguida da síntese
mento estressante (overreaching) em levantadores de de RNAm estimulada pelo GH (Kraemer et al.,
peso de elite diminui o rácio T/C (Häkkinen et al., 1993b), visto que os valores de pico podem não ser
1987). Os programas periodizados de alto volume alcançados até 16 a 28 horas após a liberação de GH
induzem aumento significativamente maior no rácio (Chandler et al., 1994). Então, a maioria das pesqui-
T/C do que programas de baixo volume e série única sas indica que a resposta do IGF-I é retardada. Além
(Marx et al., 2001). No entanto, registros dão conta disso, demonstrações sugerem que uma sessão agu-
de que o rácio T/C não consiste de indicador útil de da de exercícios com sobrecarga não influenciou es-
anabolismo tecidual quando manipulado para in- pecificamente o IGF-I, mas afetou significativamen-
vestigar a hipertrofia muscular em animais (Crowley te a maneira pela qual o IGF-I foi dividido entre sua
e Matt, 1996). Então, o uso popular do rácio T/C** família de proteínas ligantes (Nindl et al., 2001). Por-
na monitorização do estado anabólico e catabólico tanto, uma sessão aguda de exercícios com sobrecar-
do corpo humano tem sido mostrado como forma ga pode ou não aumentar a concentração de IGF-I
de refletir o estado biológico geral resultante do trei- circulante, mas parece afetar sua atividade ao modi-
ficar sua afinidade às proteí-nas ligantes.
O IGF-I tem funções autócrinas/parácrinas na
célula muscular (Adams, 1998; Goldspink, 1999). Essa
isoforma de IGF-I no músculo recebe o nome de fa-
*N. de R.T. Relativo à expressão inglesa “ratio”, que significa
tor de mecanocrescimento (MGF) (Goldspink, 1999),
razão, relação ou proporção de uma determinada variável em que parece ser produzido pelo músculo estimulado e
relação à outra. No caso, a proporção da testosterona sobre o
pela subseqüente lesão mecânica, por exemplo, pelo
cortisol.
**N. de R.T. Relativo à relação entre a concentração sérica de treinamento de força, constituindo-se como um re-
testosterona e cortisol. Rácio, relação e razão devem ser inter- gulador proeminente do reparo tecidual (Goldspink,
pretados como sinônimos. 1999; Bamman et al., 2001). Bamman e colaborado-
392 PAAVO V. KOMI

res (2001) registraram elevação significativa no RNAm de IGF-I em mulheres previamente não-treinadas
do IGF-I muscular após exercícios com sobrecarga, após seis meses de treinamento. Ademais, a magni-
particularmente durante o exercício excêntrico. tude foi maior quando um programa de alto volume
Brahm e colaboradores (1997) demonstraram que a e múltiplas séries foi realizado. E maior, também, se
concentração arterial de IGF-I permanece constante comparado a um programa de circuito de uma série.
ao exercício vigoroso. No entanto, foi observado um Então, parece que o volume e a intensidade de trei-
aumento da concentração venosa de IGF-I, o que namento são importantes para as adaptações crôni-
pode indicar uma maior liberação pelo músculo. Al- cas do IGF-I.
guns investigadores sugeriram que esse aumento na
concentração sérica de IGF-I na sessão aguda de exer-
cícios com sobrecarga resulta do rompimento celu- Insulina
lar e do maior fluxo sangüíneo (Brahm et al., 1997;
Kraemer, 2000), o que libera IGF-I dos locais estoca- Estudos demonstram que a insulina afeta signi-
dos. Embora pesquisa adicional seja necessária, pa- ficativamente a síntese de proteína muscular quando
rece que a isoforma muscular do IGF-I possui papel a concentração adequada de aminoácidos está dis-
proeminente na remodelação tecidual. Além disso, a ponível (Wolfe, 2000). A concentração sérica de in-
concentração absoluta de IGF-I pré-exercício pode sulina paralelamente altera a glicose sangüínea (Chan-
influenciar a responsividade ao estresse do exercício, dler et al., 1994). A concentração sérica de insulina
com poucas alterações sendo produzidas nos sujei- diminui durante a sessão aguda de exercícios com
tos com concentrações mais elevadas em repouso. sobrecarga (Raastad et al., 2000), possivelmente de-
vido à inibição α-adrenérgica da secreção de insulina
Adaptações crônicas ao (Galbo et al., 1977). Além disso, os exercícios com
treinamento de força sobrecarga não parecem afetar diretamente a secre-
ção de insulina independentemente da concentração
Nenhuma alteração na concentração de IGF-I em de glicose sangüínea, exceto quando suplementação
repouso foi registrada durante o treinamento de for- com carboidratos, proteínas ou a combinação de
ça de curto prazo (Kraemer et al., 1999b; McCall et ambos é fornecida durante a sessão de treinamento
al., 1999), exceto com suplementação concorrente de em que tem sido documentada uma elevação signifi-
carboidratos/proteína (Kraemer et al., 1998b). No en- cativa (Chandler et al., 1994; Kraemer et al., 1998b).
tanto, os estudos de longo prazo em mulheres de- Além disso, o treinamento de força não parece afetar
monstram elevação no IGF-I em repouso, particular- significativamente a sensibilidade da insulina. Os le-
mente durante treinamento de alto volume (Koziris vantadores de potência demonstram taxas de consu-
et al., 1999; Marx et al., 2001). Recentemente, Borst mo de glicose corporal total e do músculo femoral
e colaboradores (2001) relataram elevação significa- similares às de homens sedentários, mas muito me-
tiva na concentração sérica de IGF-I em repouso em nores que as de atletas treinados em endurance (Takala
somente 13 semanas de um programa de treinamen- et al., 1999). Embora seja um potente hormônio ana-
to de 25 semanas. O aumento documentado por Borst bólico, a insulina parece ser mais afetada pela con-
e colaboradores (2001) foi similar para os grupos de centração de glicose sangüínea e/ou ingestão dietética.
uma única ou múltiplas séries, apesar de um aumen-
to significativamente maior na força ter sido obser-
vado para o grupo de múltiplas séries. Além disso, Catecolaminas
um decréscimo significativo na proteína-3 de ligação
do IGF (IGFBP-3) foi observado entre as semanas 13 As catecolaminas parecem repercutir as deman-
e 25, o qual os autores sugeriram poder representar das agudas e o estresse físico do protocolo de exercí-
uma adaptação positiva ao incremento da força cau- cios com sobrecarga. As catecolaminas são impor-
sado a partir do aumento da concentração de IGF-I tantes para aumentar a produção de força, a taxa de
livre. Marx e colaboradores (2001) relataram aumen- ação muscular e a disponibilidade energética, assim
to significativo na concentração sérica em repouso como para várias outras funções, incluindo aumento
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 393

de hormônios (testosterona) (Kraemer, 2000). Uma β-Endorfinas


sessão aguda de exercícios com sobrecarga aumenta
a concentração plasmática de epinefrina (Guezennec Pouco é conhecido sobre o papel das β-endorfi-
et al., 1986; Kraemer et al., 1987; Kraemer et al., nas durante exercício e treinamento de força. Regis-
1999a), norepinefrina (Guezennec et al., 1986; Krae- tros relatam aumento nos exercícios com sobrecarga
mer et al., 1987; Kraemer et al., 1999a) e de dopami- (Eliot et al., 1984). Kraemer e colaboradores (1992)
na (Kraemer et al., 1987; Kraemer et al., 1999a). A reportaram elevação significativa na concentração
magnitude pode depender da força da ação muscu- plasmática de β-endorfinas em 5 e 15 minutos após
lar, da quantidade de músculo estimulado, do volu- uma sessão de levantamento de pesos em levantado-
me de exercícios e do intervalo de repouso (Kraemer res de peso de elite da categoria júnior. Atribui-se o
et al., 1987). Em estudo desenvolvido por Bush e co- aumento agudo à massa muscular utilizada (exercí-
laboradores (1999), foi demonstrado que a produção cios multiarticulares), à duração do intervalo de re-
de força e potência afetou significativamente as res- pouso, à intensidade e ao volume do programa de
postas da norepinefrina e da epinefrina, sendo que treinamento com sobrecarga (Kraemer et al., 1992;
uma maior produção de força induziu maior eleva- Kraemer et al., 1993a). A elevação também correlaci-
ção mesmo quando o trabalho foi semelhante nos ona-se altamente à concentração de lactato sangüí-
protocolos comparados. Quanto mais intenso o pro- neo (r = 0,72 a 0,82) (Kraemer et al., 1989; Kraemer
tocolo (intensidade ou curtos períodos de repouso), et al., 1993a). Kraemer e colaboradores (1993a) rela-
maior a elevação na epinefrina e na norepinefrina até taram que sessões de treinamento similares às de fi-
5 minutos após o exercício (Kraemer et al., 1987; Bush siculturistas (alto volume, sobrecarga moderada, curto
et al., 1999). Um protocolo de exercícios com sobre- período de repouso) produzem aumento mais subs-
carga de alta intensidade, período curto de recupera- tancial na concentração plasmática de β-endorfinas
ção (10 a 60 s), constituído de três séries de 10-RM do que treinamento de força tradicional (baixo volu-
para 10 exercícios, freqüentemente aplicado nas ses- me, alta sobrecarga, logo período de repouso). A al-
sões de treinamento pelos fisiculturistas, aumentou teração nas β-endorfinas em conjunto com o corti-
a concentração plasmática de epinefrina, de norepi- sol e o hormônio do crescimento sugere que o eixo
nefrina e de dopamina em 5 minutos de recuperação hipófise-adrenal-cortical é significativamente estimu-
(Kraemer et al., 1987). lado durante os exercícios com sobrecarga, ainda que
Uma observação interessante é a “elevação ante- não seja afetado pela experiência de treinamento ou
cipatória” na concentração de catecolaminas antes força muscular (Kraemer et al., 1992). O papel das
dos exercícios com sobrecarga (Kraemer et al., 1991; β-endorfinas durante o treinamento com sobrecarga
Kraemer et al., 1999a). Tem sido observada elevação permanece incerto, mas pode envolver algumas adap-
significativa na epinefrina e na norepinefrina plas- tações benéficas que conduzem ao aumento da ses-
mática antes do exercício intenso (Kraemer et al., são vigorosa ou à aderência ao treinamento.
1991; Kraemer et al., 1999a). Tal elevação antecipa-
tória pode ser parte do ajuste psicofisiológico corpo-
ral para o desempenho em esforço máximo. Hormônios tireóideos
As adaptações crônicas ao treinamento de força
permanecem incertas. Sugere-se que o treinamento O papel dos hormônios tireóideos no treinamento
reduz a resposta das catecolaminas aos exercícios com de força ainda não está claro. Suspeita-se que pos-
sobrecarga (Guezennec et al., 1986). No entanto, as sam ser permissivos na sua interação com outros hor-
alterações na resposta aguda podem refletir as de- mônios. Em indivíduos moderadamente treinados por
mandas do programa, tais como aquela em que a va- 24 semanas de treinamento de força, foi relatado de-
riação sistemática e a sobrecarga progressiva podem créscimo significativo apenas na tiroxina (T4) e T4
prevenir qualquer decréscimo subseqüente. Todavia, livre séricas, enquanto nenhuma alteração foi obser-
esse sistema parece ser muito dinâmico em relação à vada no hormônio estimulante da tireóide (TSH) ou
grande variedade de influências físicas e psicológicas na triiodotironina (T3) (Pakarinen et al., 1988). Paka-
do estresse. rinen e colaboradores (1991) registraram decrésci-
394 PAAVO V. KOMI

mo significativo no TSH, T3 e T4 em uma semana sobrecarga aguda. No entanto, deve ser analisada a
de treinamento com sobrecarga vigorosa (duas ses- extensa curva de recuperação.
sões por dia) em levantadores de peso de elite. No
entanto, durante um ano de treinamento, os levanta-
dores de peso de elite não produziram nenhuma al- Hormônios reguladores de fluidos
teração para qualquer hormônio tireóideo até o perío-
do pré-competição (i. e., menor volume de treina- A homeostase de fluidos é crítica para o desem-
mento), em que um aumento significativo em T4 li- penho agudo em geral, ainda que a maior parte da
vre e em T3 foi relatado (Alen et al., 1993). A altera- literatura tenha analisado modalidades aeróbias de
ção nesses hormônios tireóideos retornou aos valo- exercício. Os hormônios reguladores de fluido, tais
res iniciais quando a intensidade aumentou na como a vasopressina arginina, o peptídeo atrial, a re-
próxima fase de treinamento. Parece que o treina- nina, a aldosterona e a angiotensina II, demonstram
mento com sobrecarga pode alterar potencialmente aumentar em resposta ao exercício, com a magnitu-
a função da tireóide pela inibição do eixo hipotalâ- de dependendo da intensidade e da duração do exer-
mico-hipofisário, diminuindo a liberação de TSH e, cício, assim como do estado de hidratação (Conver-
subseqüentemente, a concentração de T3 e T4. To- tino et al., 1981; Mannix et al., 1990; Mandroukas et
davia, neste momento, o impacto dessas alterações al., 1995; Grant et al., 1996). Os exercícios com so-
ainda permanece especulativo. Não se espera aumen- brecarga reduzem o volume plasmático (Gordon et
to circulante na concentração em repouso devido ao al., 1985), de modo similar à corrida e/ou ao ciclis-
rígido controle homeostático dos hormônios tireói- mo, entre 80 e 95% do VO2máx (Collins et al., 1986).
deos (Kraemer, 2000). Recentemente, Kraemer e colaboradores (1999a) ana-
lisaram a resposta dos hormônios reguladores do flui-
do aos exercícios com sobrecarga. Os levantadores
Leptina de peso de nível competitivo realizaram uma série do
exercício leg press até exaustão, usando 80% de seu
A leptina, um produto do gene ob, é um hormô- respectivo 1-RM. Em 5 minutos de recuperação, hou-
nio protéico que parece retransmitir o sinal de sacie- ve elevação da osmolalidade plasmática, do peptídeo
dade ao hipotálamo para regular o equilíbrio energé- atrial, da atividade da renina e da angiotensina II (sen-
tico e o apetite (Kalra et al., 1999). A concentração de do que a elevação na atividade da renina plasmática e
leptina sérica parece ser proporcional à quantidade na angiotensina II foi maior nos levantadores de peso
de tecido adiposo no corpo humano. Tal volume pode do que nos controles). A concentração de vasopres-
ser influenciado pelo gênero, pelos hormônios me- sina arginina plasmática também foi elevada, mas não
tabólicos (estimulado pela insulina e cortisol, e inibi- houve significância estatística. Os dados foram os
do pelos agonistas α-adrenérgicos) e pelas necessi- primeiros a demonstrar que o equilíbrio de fluido e a
dades energéticas (Considine, 1997). Muitos estudos subseqüente resposta hormonal podem ser afetados
não demonstraram impacto direto do exercício na por tão pouco exercício como a primeira série de uma
concentração de leptina, independentemente de seu sessão de treinamento de força.
efeito no tecido adiposo (Considine, 1997). Desco-
bertas similares têm sido relatadas com o treinamento
de força. Gippini e colaboradores (1999) registraram Peptídeo F
que a leptina não se correlacionou com o índice de
massa corporal (IMC) em fisiculturistas e que o trei- O peptídeo F é um fragmento de pró-encenfali-
namento de força não influenciou sua produção, sem na secretado pelas células cromafim da medula adre-
levar em conta as alterações na composição corporal. nal em conjunto com a epinefrina (Fry e Kraemer,
Nindl e colaboradores (2002) demonstraram que a lep- 1997). A função fisiológica do peptídeo não é com-
tina pode ser reduzida com uma sessão aguda de trei- pletamente conhecida, embora evidências sugiram
namento de força de alto volume na fase final da curva melhora na ativação das células B e na função de pro-
de resposta noturna. Esse foi o primeiro estudo a de- teção dos linfócitos T (Triplett-McBride et al., 1998).
monstrar que a leptina é responsiva aos exercícios com O exercício tem demonstrado aumentar a concen-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 395

tração do peptídeo F (Kraemer et al., 1985). Bush e pouso de LH, testosterona total e livre. A forma livre
colaboradores (1999) demonstraram que o peptídeo da testosterona é mais sensível ao estímulo do so-
F interagiu com as respostas da epinefrina na recu- bretreinamento (Häkkinen e Pakarinen, 1991; Fry e
peração aguda e crônica de 240 minutos, sugerindo Kraemer, 1997). Além disso, o aumento induzido pelo
o efeito co-regulatório. Muito pouco é conhecido so- exercício na testosterona total é atenuado durante o
bre o treinamento de força. O sobretreinamento in- supertreinamento relacionado ao volume (Häkkinen
duzido pelos exercícios com sobrecarga de intensi- et al., 1987). No entanto, o sobretreinamento relacio-
dade máxima não altera a concentração circulante nado à intensidade não parece alterar a concentra-
do peptídeo F em repouso ou após o exercício (Fry et ção hormonal em repouso, demonstrando, assim, uma
al., 1998). Foi observada alteração no rácio de peptí- resposta diferencial em comparação ao grande au-
deo F para epinefrina, sugerindo que o sobretreina- mento no volume de treinamento (Fry e Kraemer,
mento pode alterar o padrão secretório das células 1997). Fry e colaboradores (1998) não registraram al-
cromafim. teração na concentração circulante de testosterona, de
testosterona livre, de cortisol, de GH ou de peptídeo F
durante o sobretreinamento de alta intensidade — 10
Sobretreinamento* séries de 1-RM para o exercício de agachamento to-
dos os dias durante duas semanas. Portanto, parece
O sobretreinamento é definido como qualquer que o sobretreinamento relacionado à intensidade não
aumento no volume e/ou na intensidade de treina- altera significativamente a concentração hormonal em
mento reduzindo o desempenho a longo prazo (Fry e repouso com decréscimo correspondente no desem-
Kraemer, 1997). Por sua vez, overreaching representa penho, enquanto o sobretreinamento relacionado ao
um aumento a curto prazo no volume e/ou na inten- volume parece alterar significativamente a concentra-
sidade de treinamento, geralmente planejado, em pro- ção hormonal circulante.
gramas de treinamento de força. O sobretreinamen-
to pode melhorar o desempenho quando empregado
corretamente (Fry e Kraemer, 1997). O overreaching Destreinamento
repetido pode induzir o sobretreinamento e subse-
qüente decréscimo do desempenho, além de produ- O destreinamento representa a interrupção do
zir alterações neuroendócrinas. Duas semanas de over- treinamento ou a redução significativa do volume,
reaching diminuem a concentração de testosterona e da intensidade ou da freqüência de treinamento. Isso
de IGF-I em repouso (Raastad et al., 2001). Esse de- causa o decréscimo do desempenho, por exemplo,
créscimo foi significativamente correlacionado à di- redução da força muscular, da potência, da hipertro-
minuição da força (r = 0,69) (Raastad et al., 2001). fia e da resistência muscular localizada (Fleck e Kra-
Há diminuição da concentração de testosterona em emer, 1997). A alteração na atividade hormonal pode
repouso durante o overreaching agudo (Häkkinen et associar-se com mudanças na função neural e mus-
al., 1988a). No entanto, o overreaching de curto prazo cular. Presumivelmente, a duração do período de des-
pode não resultar em decréscimo do desempenho ou treinamento é importante para a magnitude da alte-
em elevação do cortisol em repouso. Ademais, pode ração, assim como o estado de treinamento e o
aumentar a resposta aguda da testosterona aos exer- histórico individual (Fleck e Kraemer, 1997). Horto-
cícios com sobrecarga quando o indivíduo tem, no bágyi e colaboradores (1993) registraram aumentos
mínimo, um ano de treinamento em levantamento significativos na concentração de GH, testosterona e
de pesos e exposição anterior ao estímulo do overrea- no rácio T/C em repouso, com decréscimo significa-
ching (Fry et al., 1994). tivo no cortisol após duas semanas de destreinamen-
O sobretreinamento relacionado ao volume au- to em levantadores de potência e jogadores de fute-
menta o cortisol e diminui a concentração em re- bol americano altamente treinados. Os autores
supunham que esse aumento na concentração de
hormônios anabólicos estava relacionado à capaci-
dade do corpo de combater os processos catabólicos
*N. de R.T. Relativo à expressão inglesa “overtraining”. associados ao destreinamento e sugeriram que o des-
396 PAAVO V. KOMI

treinamento de curto prazo pode representar maior hora após o exercício. Isso indica que interações ce-
estímulo para a remodelação e o reparo tecidual. No lulares agudas no período de recuperação imediato
entanto, esse aumento somente tem sido observado após sessão de treinamento de força podem ser mais
no destreinamento de curto prazo. Kraemer e cola- importantes do que anteriormente referido, em vir-
boradores (2002) não relataram alteração significati- tude de incapacidade de afetar o padrão de vigília cir-
va em testosterona, GH, LH, SVG, cortisol ou ACTH cadiano durante o dia.
após seis semanas de destreinamento. Nenhuma al- A resposta hormonal noturna tem sido investi-
teração foi observada para cortisol, SHBG e LH após gada. McMurray e colaboradores (1995) treinaram
oito semanas de destreinamento em mulheres (Häkki- levantadores que realizaram três séries de seis exer-
nen et al., 1990). Todavia, períodos de destreinamento cícios entre as 19h e 20h até a exaustão; as amostras
maiores que oito semanas parecem alterá-los signifi- de sangue foram coletadas antes e em intervalos de
cativamente. Häkkinen e colaboradores (1985) e Alen 20 minutos posteriormente, das 21h às 7h. Os exer-
e colaboradores (1988) treinaram sujeitos por 24 se- cícios com sobrecarga não alteraram o padrão notur-
manas e os acompanharam por mais 12 semanas de no de secreção de GH e cortisol. No entanto, a se-
destreinamento; os autores registraram um decrésci- creção de testosterona foi maior entre 5h e 7h no
mo no rácio T/C, o qual foi altamente correlaciona- grupo que realizou exercícios com sobrecarga. Já a
do à diminuição da força. Aumentos na concentra- secreção noturna de T4 diminuiu. Sugeriu-se que as
ção de T4 foram relatados (Pakarinen et al., 1988). alterações noturnas nesses hormônios podem ter im-
Essas alterações hormonais coincidem com períodos plicações para o anabolismo tecidual. Os estudos re-
de atrofia muscular (Hortobágyi et al., 1993) e indi- alizados por Nindl e colaboradores (2001a, b, c, 2002)
cam que a alteração hormonal desempenha papel im- demonstraram que exercícios com sobrecarga de alto
portante na redução do tamanho e na força muscu- volume realizados por homens treinados durante o
lares observados nos períodos de destreinamento. dia suprimem várias das respostas hormonais notur-
nas (i. e., testosterona, GH, IGF-I, cortisol, leptina).
Ainda deve ser analisada a influência desses hormô-
Padrões circadianos nios em tecidos específicos. Além disso, os aconteci-
mentos no nível do receptor e subseqüentes efeitos
Inúmeros hormônios são secretados em várias moleculares nas células-alvo serão de grande inte-
concentrações durante o dia em um padrão circadia- resse quando as alterações nas concentrações circu-
no. A secreção de testosterona salivar parece ocorrer lantes indicarem diferentes e inúmeros resultados
de maneira circadiana com maior aumento no início para os hormônios.
da manhã e menor no resto do dia (Kraemer et al.,
2001a). Considerando que os exercícios com sobre-
carga estimulam o aumento agudo na concentração Compatibilidade entre o
de testosterona, é interessante analisar a influência treinamento de força e o de
dos exercícios com sobrecarga no padrão circadiano. endurance
Recentemente, Kraemer e colaboradores (2001a) ve-
rificaram que os exercícios com sobrecarga não afe- Vários estudos indicam a incompatibilidade en-
taram o padrão circadiano de secreção de testostero- tre o treinamento de força e o de endurance de alta
na salivar em um período de 16 horas de vigília em intensidade, pois a força e a potência máximas pare-
homens treinados em exercícios com sobrecarga. De- cerem limitadas (Kraemer et al., 1995b; Bell et al.,
monstrações sustentam que o aumento na concen- 2000). Entre as possíveis razões estão as diferenças
tração sérica de testosterona induzido pelo treina- no padrão de recrutamento neural e/ou uma atenua-
mento de força no período da tarde é maior do que o ção da hipertrofia muscular (Kraemer et al., 1995b).
observado durante a manhã (Häkkinen e Pakarinen, Além disso, é provável que haja alteração do sistema
1991), repercutindo, então, na variação diurna. Pare- neuroendócrino. Bell e colaboradores (2000) não re-
ce que os mecanismos reguladores são rapidamente gistraram alteração na concentração sérica de testos-
reengajados após uma sessão de exercícios com so- terona, GH ou SHBG em repouso após 12 semanas
brecarga, de modo que a homeostase seja mantida 1 de treinamentos de força e endurance combinados. No
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 397

entanto, foi observado maior cortisol urinário em Ballor, D.L., Becque, M.D. & Katch, V.L. (1987) Metabolic
mulheres. Kraemer e colaboradores (1995b) subme- responses during hydraulic resistance exercise. Medici-
teram sujeitos a um programa de treinamento de força ne and Science in Sports and Exercise 19, 363-367.
para o corpo inteiro, de alto volume e realizado qua- Bamman, M.M., Shipp, J.R., Jiang, J. et al. (2001) Mechani-
cal load increases muscle IGF-1 and androgen receptor
tro vezes por semana, associado com o treinamento
mRNA concentrations in humans. American Journal of
de endurance, também realizado quatro dias por se- Physiology 280, E383-E390.
mana, ambos durante 12 semanas. Os autores rela- Bell, G.J., Syrotuik, D., Martin, T.P., Burnham, R. & Quin-
taram um aumento substancial na concentração de ney, H.A. (2000) Effect of concurrent strength and en-
cortisol induzida pelo exercício. Esses dados indicam durance training on skeletal muscle properties and hor-
que a incompatibilidade também pode ser causada mone concentrations in humans. European Journal of
pelo sobretreinamento que, per se, produz ambiente Applied Physiology 81, 418-427.
hormonal catabólico. Boone, J.B., Lambert, C.P., Flynn, M.G., Michaud, T.J., Ro-
driguez-Zayas, J.A. & Andres, F.F. (1990) Resistance
exercise effects on plasma cortisol, testosterone and
creatine kinase activity in anabolic-androgenic steroid
Resumo users. International Journal of Sports Medicine 11, 293-297.
Borst, S.E., De Hoyos, D.V., Garzarella, L. et al. (2001) Effects
É evidente que os mecanismos hormonais são of resistance training on insulin-like growth factor-I and
responsivos ao treinamento de força. Os mecanis- IGF binding proteins. Medicine and Science in Sports and
mos neuroendócrinos específicos que medeiam as Exercise 33, 648-653.
adaptações fisiológicas no desenvolvimento de for- Bosco, C., Colli, R., Bonomi, R., von Duvillard, S.P. & Viru,
ça, potência e hipertrofia muscular ainda não estão A. (2000) Monitoring strength training: neuromuscu-
claros. Também não há dúvida de que os mecanis- lar and hormonal profile. Medicine and Science in Sports
and Exercise 32, 202-208.
mos homeostáticos e regulatórios parecem estar in-
Brahm, H., Piehl-Aulin, K., Saltin, B. & Ljunghall, S. (1997)
timamente envolvidos tanto com a resposta aguda Net fluxes over working thigh of hormones, growth fac-
como com as adaptações crônicas ao treinamento tors and biomarkers of bone metabolism during short
com sobrecarga. As alterações nas concentrações cir- lasting dynamic exercise. Calcified Tissue International 60,
culantes fornecem uma breve “janela de observação” 175-180.
para a plasticidade potencial do sistema neuroendó- Bush, J.A., Kraemer, W.J., Mastro, A.M. et al. (1999) Exerci-
crino e sua responsividade aos exercícios com sobre- se and recovery responses of adrenal medullary neuro-
carga direcionados à produção de força e potência. hormones to heavy resistance exercise. Medicine and Sci-
ence in Sports and Exercise 31(4), 554-559.
Busso, T., Häkkinen, K., Pakarinen, A., Kauhanen, H., Komi,
P.V. & Lacour, J. (1992) Hormonal adaptations and
Referências modeled responses in elite weightlifters during 6 weeks
of training. European Journal of Applied Physiology 64,
Adams, G.R. (1998) Role of insulin-like growth factor-I 381-386.
in the regulation of skeletal muscle adaptation to in- Chandler, R.M., Byrne, H.K., Patterson, J.G. & Ivy, J.L. (1994)
creased loading. Exercise and Sport Sciences Reviews 26, Dietary supplements affect the anabolic hormones af-
31-60. ter weight-training exercise. Journal of Applied Physiology
Alen, M., Pakarinen, A., Häkkinen, K. & Komi, P.V. (1988) 76, 839-845.
Responses of serum androgenic-anabolic and catabo- Collins, M.A., Hill, D.W., Cureton, K.J. & DeMello, J.J. (1986)
lic hormones to prolonged strength training. Internatio- Plasma volume change during heavy-resistance weight
nal Journal of Sports Medicine 9, 229-233. lifting. European Journal of Applied Physiology 55, 44-48.
Alen, M., Pakarinen, A. & Häkkinen, K. (1993) Effects of Considine, R.V. (1997) Weight regulation, leptin and growth
prolonged training on serum thyrotropin and thyroid hormone. Hormone Research 48 (Suppl. 5), 116-121.
hormones in elite strength athletes. Journal of Sport Convertino, V.A., Keil, L.C., Bernauer, E.M. & Greenleaf,
Science 11, 493-497. J.E. (1981) Plasma volume, osmolality, vasopressin, and
Ballantyne, C.S., Phillips, S.M., MacDonald, J.R., Tarnopol- renin activity during graded exercise in man. Journal of
sky, M.A. & MacDougall, J.D. (2000) The acute effects Applied Physiology 50, 123-128.
of androstenedione supplementation in healthy young Craig, B.W. & Kang, H. (1994) Growth hormone release
males. Canadian Journal of Applied Physiology 25, 68-78. following single versus multiple sets of back squats: total
398 PAAVO V. KOMI

work versus power. Journal of Strength and Conditioning Implications for relationship between body mass index
Research 8, 270-275. and serum leptin. Journal of Endocrinological Investigation
Craig, B.W., Brown, R. & Everhart, J. (1989) Effects of pro- 22, 824-828.
gressive resistance training on growth hormone and Goldspink, G. (1999) Changes in muscle mass and pheno-
testosterone levels in young and elderly subjects. Me- type and the expression of autocrine and systemic
chanisms of Ageing and Development 49, 159-169. growth factors by muscle in response to stretch and
Crowley, M.A. & Matt, K.S. (1996) Hormonal regulation overload. Journal of Anatomy 194, 323-334.
of skeletal muscle hypertrophy in rats: the testosterone Gordon, N.F., Russell, H.M.S., Krüger, P.E. & Cilliers, J.F.
to cortisol ratio. European Journal of Applied Physiology 73, (1985) Thermoregulatory responses to weight training.
66-72. International Journal of Sports Medicine 6, 145-150.
Cumming, D.C., Wall, S.R., Galbraith, M.A. & Belcastro, Gordon, S.E., Kraemer, W.J., Vos, N.H., Lynch, J.M. & Knut-
A.N. (1987) Reproductive hormone responses to resis- tgen, H.G. (1994) Effect of acid-base balance on the
tance exercise. Medicine and Science in Sports and Exercise growth hormone response to acute high-intensity cycle
19, 234-238. exercise. Journal of Applied Physiology 76, 821-829.
Cumming, D.C., Wheeler, G.D. & McColl, E.M. (1989) The Gotshalk, L.A., Loebel, C.C., Nindl, B.C. et al. (1997) Hor-
effect of exercise on reproductive function in men. Sports monal responses to multiset versus single-set heavy-
Medicine 7,1-17. resistance exercise protocols. Canadian Journal of Applied
Deschenes, M.R., Maresh, C.M., Armstrong, L.E., Covault, Physiology 22, 244-255.
J., Kraemer, W.J. & Crivello, J.F. (1994) Endurance and Grant, S.M., Green, H.J., Phillips, S.M., Enns, D.L. & Sut-
resistance exercise induce muscle fiber type specific res- ton, J.R. (1996) Fluid and electrolyte hormonal respon-
ponses in androgen binding capacity. Journal of Steroid ses to exercise and acute plasma volume expansion. Jour-
Biochemistry and Molecular Biology 50, 175-179. nal of Applied Physiology 81, 2386-2392.
Eliot, D.L., Goldberg, L., Watts, W.J. & Orwoll, E. (1984) Guezennec, Y., Leger, L., Lhoste, F., Aymonod, M. & Pes-
Resistance exercise and plasma beta-endorphin/ beta- quies, P.C. (1986) Hormone and metabolite response
lipotrophin immunoreactivity. Life Sciences 34, 515-518. to weight-lifting training sessions. International Journal
Elkins, R. (1990) Measurement of free hormones in blood. of Sports Medicine 7, 100-105.
Endocrine Reviews 11, 5-45. Guyton, A.C. (1991) Textbook of Medical Physiology, 8th edn.
Fahey, T.D., Rolph, R., Moungmee, P., Nagel, J. & Mortar, W.B. Saunders, Philadelphia, PA.
S. (1976) Serum testosterone, body composition, and Häkkinen, K. (1989) Neuromuscular and hormonal adap-
strength of young adults. Medicine and Science in Sports tations during strength and power training. A review.
and Exercise 8, 31-34. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness 29, 9-26.
Fleck, S.J. & Kraemer, W.J. (1997) Designing Resistance Trai- Häkkinen, K. & Pakarinen, A. (1991) Serum hormones in
ning Programs, 2nd edn. Human Kinetics, Champaign, IL. male strength athletes during intensive short term
Florini, J.R. (1987) Hormonal control of muscle growth. strength training. European Journal of Applied Physiology
Muscle and Nerve 10, 577-598. 63, 191-199.
Fry, A.C. & Kraemer, W.J. (1997) Resistance exercise over- Häkkinen, K. & Pakarinen, A. (1993) Acute hormonal res-
training and overreaching. Neuroendocrine responses. ponses to two different fatiguing heavy-resistance pro-
Sports Medicine 23, 106-129. tocols in male athletes. Journal of Applied Physiology 74,
Fry, A.C., Kraemer, W.J., Stone, M.H. et al. (1994) Endocri- 882-887.
ne responses to overreaching before and after 1 year of Häkkinen, K. & Pakarinen, A. (1995) Acute hormonal res-
weightlifting. Canadian Journal of Applied Physiology 19, ponses to heavy resistance exercise in men and women
400-410. at different ages. International Journal of Sports Medicine
Fry, A.C., Kraemer, W.J. & Ramsey, L.T. (1998) Pituitary- 16, 507-513.
adrenal-gonadal responses to high-intensity resistance Häkkinen, K., Pakarinen, A., Alen, M. & Komi, P.V. (1985)
exercise overtraining. Journal of Applied Physiology 85, Serum hormones during prolonged training of neuro-
2352-2359. muscular performance. European Journal of Applied Phy-
Galbo, H., Christensen, N.J. & Holst, J.J. (1977) Catechola- siology 53, 287-293.
mines and pancreatic hormones during autonomic blo- Häkkinen, K., Pakarinen, A., Alen, M., Kauhanen, H. &
ckade in exercising man. Acta Physiologica Scandinavica Komi, P.V. (1987) Relationships between training volu-
101, 428-437. me, physical performance capacity, and serum hormo-
Gippini, A., Mato, A., Peino, R., Lage, M., Dieguez, C. & ne concentrations during prolonged training in elite
Casanueva, F.F. (1999) Effect of resistance exercise (body weight lifters. International Journal of Sports Medicine 8
building) training on serum leptin levels in young men. (Suppl.), 61-65.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 399

Häkkinen, K., Pakarinen, A., Alen, M., Kauhanen, H. & Kraemer, W.J. (1988) Endocrine responses to resistance
Komi, P.V. (1988a) Daily hormonal and neuromuscular exercise. Medicine and Science in Sports and Exercise 20
responses to intensive strength training in 1 week. In- (Suppl.), S152-S157.
ternational Journal of Sports Medicine 9, 422-428. Kraemer, W.J. (2000) Neuroendocrine responses to resis-
Häkkinen, K., Pakarinen, A., Alen, M., Kauhanen, H. & tance exercise. In: Essentials of Strength Training and Con-
Komi, P.V. (1988b) Neuromuscular and hormonal res- ditioning (ed. T. Baechle), 2nd edn, pp. 91-114. Human
ponses in elite athletes to two successive strength trai- Kinetics, Champaign, IL.
ning sessions in one day. European Journal of Applied Phy- Kraemer, W.J. & Fleck, S.J. (1988) Resistance training: exer-
siology 57, 133-139. cise prescription. Physician and Sports Medicine 16, 69-
Häkkinen, K., Pakarinen, A., Alen, M., Kauhanen, H. & 81.
Komi, P.V. (1988c) Neuromuscular and hormonal adap- Kraemer, W.J. & Ratamess, N.A. (2000) Physiology of resis-
tations in athletes to strength training in two years. Jour- tance training: current issues. In: Orthopaedic Physical
nal of Applied Physiology 65, 2406-2412. Therapy Clinics of North America: Exercise Technologies (ed.
Häkkinen, K., Pakarinen, A., Kyrolainen, H., Cheng, S., Kim, C. Hughes) 9: 4, pp. 467-513. W.B. Saunders, Philadel-
D.H. & Komi, P.V. (1990) Neuromuscular adaptations and phia, PA.
serum hormones in females during prolonged power trai- Kraemer, W.J., Noble, B., Culver, B. & Lewis, R.V. (1985)
ning. International Journal of Sports Medicine 11, 91-98. Changes in plasma proenkephalin peptide F and cate-
Häkkinen, K., Pakarinen, A. & Kallinen, M. (1992) Neuro- cholamine levels during graded exercise in men. Proce-
muscular adaptations and serum hormones in women edings of the National Academy of Sciences of the United Sta-
during short-term intensive strength training. European tes of America 82, 6349-6351.
Journal of Applied Physiology 64, 106-111. Kraemer, W.J., Noble, B.J., Clark, M.J. & Culver, B.W. (1987)
Hickson, R.C., Hidaka, K., Foster, C., Falduto, M.T. & Chat- Physiologic responses to heavy-resistance exercise with
terton, R.T. (1994) Successive time courses of strength very short rest periods. International Journal of Sports
development and steroid hormone responses to Medicine 8, 247-252.
heavy-resistance training. Journal of Applied Physiology 76, Kraemer, W.J., Fleck, S.J., Callister, R. et al. (1989) Training
663-670. responses of plasma beta-endorphin, adrenocorticotro-
Hortobágyi, T., Houmard, J.A., Stevenson, J.R., Fraser, D.D., pin, and cortisol. Medicine and Science in Sports and Exer-
Johns, R.A. & Israel, R.G. (1993) The effects of detrai- cise 21, 146-153.
ning on power athletes. Medicine and Science in Sports Kraemer, W.J., Marchitelli, L., Gordon, S.E. et al. (1990)
and Exercise 25, 929-935. Hormonal and growth factor responses to heavy resis-
Inoue, K., Yamasaki, S., Fushiki, T. et al. (1993) Rapid incre- tance exercise protocols. Journal of Applied Physiology 69,
ases in the number of androgen receptors following elec- 1442-1450.
trical stimulation of the rat muscle. European Journal of Kraemer, W.J., Gordon, S.E., Fleck, S.J. et al. (1991) Endo-
Applied Physiology 66, 134-140. genous anabolic hormonal and growth factor respon-
Jezova, D. & Vigas, M. (1981) Testosterone response to exer- ses to heavy resistance exercise in males and females.
cise during blockade and stimulation of adrenergic re- International Journal of Sports Medicine 12, 228-235.
ceptors in man. Hormone Research 15, 141-147. Kraemer, W.J., Fry, A.C., Warren, B.J. et al. (1992) Acute
Ju, G. (1999) Evidence for direct neural regulation of the hormonal responses in elite junior weightlifters. Inter-
mammalian anterior pituitary. Clinical and Experimental national Journal of Sports Medicine 13, 103-109.
Pharmacology and Physiology 26, 757-759. Kraemer, W.J., Dziados, J.E., Marchitelli, L.J. et al. (1993a)
Kalra, S.P., Dube, M.G., Pu, S., Xu, B., Horvath, T.L. & Effects of different heavy-resistance exercise protocols
Kalra, P.S. (1999) Interacting appetite-regulating pa- on plasma pendorphin concentrations. Journal of Applied
thways in the hypothalamic regulation of body weight. Physiology 74, 450-459.
Endocrine Reviews 20, 68-100. Kraemer, W.J., Fleck, S.J., Dziados, J.E. et al. (1993b) Chan-
King, D.S., Sharp, R.L., Vukovich, M.D. et al. (1999) Effect ges in hormonal concentrations after different
of oral androstenedione on serum testosterone and heavy-resistance exercise protocols in women. Journal
adaptations to resistance training in young men: a ran- of Applied Physiology 75, 594-604.
domized controlled trial. Journal of the American Medical Kraemer, W.J., Aguilera, B.A., Terada, M. et al. (1995a) Res-
Association 281, 2020-2028. ponses of IGF-1 to endogenous increases in growth
Koziris, L.P., Hickson, R.C., Chatterton, R.T. et al. (1999) hormone after heavy-resistance exercise. Journal of Ap-
Serum levels of total and free IGF-1 and IGFBP-3 are plied Physiology 79, 1310-1315.
increased and maintained in long-term training. Journal Kraemer, W.J., Patton, J.F., Gordon, S.E. et al. (1995b) Com-
of Applied Physiology 86, 1436-1442. patibility of high-intensity strength and endurance trai-
400 PAAVO V. KOMI

ning on hormonal and skeletal muscle adaptations. Jour- cle hypertrophy. Canadian Journal of Applied Physiology
nal of Applied Physiology 78, 976-989. 24, 96-107.
Kraemer, W.J., Clemson, A., Triplett, N.T., Bush, J.A., McMurray, R.G., Eubank, T.K. & Hackney, A.C. (1995)
Newton, R.U. & Lynch, J.M. (1996) The effects of plas- Nocturnal hormonal responses to resistance exercise.
ma cortisol elevation on total and differential leukocyte European Journal of Applied Physiology 72, 121-126.
counts in response to heavy-resistance exercise. Euro- Mandroukas, K., Zakas, A., Aggelopoulou, N., Christoulas,
pean Journal of Applied Physiology 73, 93-97. K., Abatzides, G. & Karamouzis, M. (1995) Atrial na-
Kraemer, W.J., Staron, R.S., Hagerman, F.C. et al. (1998a) triuretic factor responses to submaximal and maximal
The effects of short-term resistance training on endo- exercise. British Journal of Sports Medicine 29, 248-251.
crine function in men and women. European Journal of Mannix, E.T., Palange, P., Aronoff, G.R., Manfredi, F. &
Applied Physiology 78, 69-76. Farber, M.O. (1990) Atrial natriuretic peptide and the
Kraemer, W.J., Volek, J.S., Bush, J.A., Putukian, M. & Se- renin-aldosterone axis during exercise in man. Medici-
bastianelli, W.J. (1998b) Hormonal responses to conse- ne and Science in Sports and Exercise 22, 785-789.
cutive days of heavy-resistance exercise with or without Marx, J.O., Ratamess, N.A., Nindl, B.C. et al. (2001)
nutritional supplementation. Journal of Applied Physiolo- Low-volume circuit versus high-volume periodized re-
gy 85, 1544-1555. sistance training in women. Medicine and Science in Sports
Kraemer, W.J., Fleck, S.J., Maresh, C.M. et al. (1999a) Acute and Exercise 33, 635-643.
hormonal responses to a single bout of heavy resistan- Mulligan, S.E., Fleck, S.J., Gordon, S.E., Koziris, L.P., Tri-
ce exercise in trained power lifters and untrained men. plett-McBride, N.T. & Kraemer, W.J. (1996) Influence
Canadian Journal of Applied Physiology 24, 524-537. of resistance exercise volume on serum growth hor-
Kraemer, W.J., Häkkinen, K., Newton, R.U. et al. (1999b) mone and cortisol concentrations in women. Journal of
Effects of heavy-resistance training on hormonal res- Strength and Conditioning Research 10, 256-262.
ponse patterns in younger vs. older men. Journal of Ap- Nagaya, N. & Herrera, A.A. (1995) Effects of testosterone
plied Physiology 87, 982-992. on synaptic efficacy at neuromuscular junctions in ase-
Kraemer, W.J., Ratamess, N.A. & Rubin, M.R. (2000) Basic xually dimorphic muscle of male frogs. Journal of Physi-
principles of resistance exercise. In: Nutrition and the ology 483, 141-153.
Strength Athlete (ed. C.R. Jackson), pp. 1-328. CRC Press, Nindl, B.C., Kraemer, W.J., Marx, J.O. et al. (2001a) Overnight
Boca Raton, Florida. responses of the circulating IGF-1 system after acute
Kraemer, W.J., Loebel, CC., Volek, J.S. et al. (2001a) The heavy-resistance exercise. Journal of Applied Physiology 90,
effect of heavy resistance exercise on the circadian 1319-1326.
rhythm of salivary testosterone in men. European Jour- Nindl, B.C., Kraemer, W.J., Deaver, D.R., Peters, J.L., Marx,
nal of Applied Physiology 84, 13-18. J.O. & Loomis, G.A. (2001b) Luteinizing hormone se-
Kraemer, W.J., Dudley, G.A., Tesch, P.A. et al. (2001b) The cretion and testosterone concentrations are blunted
influence of muscle action on the acute growth hor- after acute heavy resistance exercise in men. Journal of
mone response to resistance exercise and short-term Applied Physiology 91, 1251-1258.
detraining. Growth Hormone and IGF Research in press. Nindl, B.C., Hymer, W.C., Deaver, D.R. & Kraemer, W.J.
Kraemer, W.J., Koziris, L.P., Ratamess, N.A. et al. (2002) (2001c) Growth hormone pulsatility profile characte-
Muscular performance and hormonal changes during ristics following acute heavy resistance exercise. Journal
six weeks of detraining in resistance-trained men. Jour- of Applied Physiology 91, 163-172.
nal of Strength and Conditioning Research in press. Nindl, B.C., Kraemer, W.J., Gotshalk, L.A. et al. (2001d)
Longcope, C. (1996) Dehydroepiandrosterone metabolism. Testosterone responses after acute resistance exercise
Journal of Endocrinology 150 (Suppl.), S125-S127. in women: effects of regional fat distribution. Internati-
Lu, S.S., Lau, C.P., Tung, Y.F. et al. (1997) Lactate and the onal Journal of Sports Nutrition and Metabolism 11, 451-465.
effect of exercise on testosterone secretion: evidence Nindl, B.C., Kraemer, W.J. & Arciero, P.J. et al. (2002) Lep-
for the involvement of a CAMP-mediated mechanism. tin concentrations experience a delayed reduction after
Medicine and Science in Sports and Exercise 29, 1048-1054. resistance exercise in men. Medicine and Science in Sports
McCall, G.E., Goulet, C., Grindeland, R.E., Hodgson, J.A., and Exercise 34, 608-613.
Bigbee, A.J. & Edgerton, V.R. (1997) Bed rest suppres- Pakarinen, A., Alen, M., Häkkinen, K. & Komi, P. (1988)
ses bioassayable growth hormone release in response Serum thyroid hormones, thyrotropin and thyroxine
to muscle activity. Journal of Applied Physiology 83, binding globulin during prolonged strength training.
2086-2090. European Journal of Applied Physiology 57, 394-398.
McCall, G.E., Byrnes, W.C., Fleck, S.J., Dickinson, A. & Pakarinen, A., Häkkinen, K. & Alen, M. (1991) Serum
Kraemer, W.J. (1999) Acute and chronic hormonal res- thyroid hormones, thyrotropin, and thyroxine binding
ponses to resistance training designed to promote mus- globulin in elite athletes during very intense strength
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 401

training of one week. Journal of Sports Medicine and Phy- Takala, T.O., Nuutila, P., Knuuti, J., Luotolahti, M. &
sical Fitness 31, 142-146. Yki-Jarvinen, H. (1999) Insulin action on heart and ske-
Pecci, M.A. & Lombardo, J.A. (2000) Performance-enhan- letal muscle glucose uptake in weight lifters and endu-
cing supplements. Physical Medicine and Rehabilitation rance athletes. American Journal of Physiology 276,
Clinics of North America 11, 949-960. E706-E711.
Potteiger, J.A., Judge, L.W., Cerny, J.A. & Potteiger, V.M. Taylor, J.M., Thompson, H.S., Clarkson, P.M., Miles, M.P.
(1995) Effects of altering training volume and intensity & DeSouza, M.J. (2000) Growth hormone response to
on body mass, performance, and hormonal concentra- an acute bout of resistance exercise in weight-trained
tions in weight-event athletes. Journal of Strength and and non-weight-trained women. Journal of Strength and
Conditioning Research 9, 55-58. Conditioning Research 14, 220-227.
Pyka, G., Wiswell, R.A. & Marcus, R. (1992) Age-depen- Triplett-McBride, N.T., Mastro, A.M., McBride, J.M. et al.
dent effect of resistance exercise on growth hormone (1998) Plasma proenkephalin peptide F and human B
secretion in people. Journal of Clinical Endocrinology and cell responses to exercise stress in fit and unfit women.
Metabolism 75, 404-407. Peptides 19, 731-738.
Raastad, T., Bjoro, T. & Hallen, J. (2000) Hormonal res- Tsolakis, C., Messinis, D., Stergioulas, A. & Dessypris, A.
ponses to high- and moderate-intensity strength exer- (2000) Hormonal responses after strength training and
cise. European Journal of Applied Physiology 82, 121-128. detraining in prepubertal and pubertal boys. Journal of
Raastad, T., Glomsheller, T., Bjoro, T. & Hallen, J. (2001) Strength and Conditioning Research 14, 399-404.
Changes in human skeletal muscle contractility and Van Helder, W.P., Radomski, M.W. & Goode, R.C. (1984)
hormone status during 2 weeks of heavy strength trai- Growth hormone responses during intermittent weight
ning. European Journal of Applied Physiology 84, 54-63. lifting exercise in men. European Journal of Applied Physio-
Reaburn, P., Logan, P. & Mackinnon, L. (1997) Serum tes- logy 53, 31-34.
tosterone response to high-intensity resistance training Volek, J.S., Kraemer, W.J., Bush, J.A., Incledon, T. & Boetes,
in male veteran sprint runners. Journal of Strength and M. (1997) Testosterone and cortisol in relationship to
Conditioning Research 11, 256-260. dietary nutrients and resistance exercise. Journal of Ap-
Sale, D.G. (1988) Neural adaptations to resistance training. plied Physiology 82, 49-54.
Medicine and Science in Sports and Exercise 20 (Suppl.), Wallace, M.B., Lim, J., Cutler, A. & Bucci, L. (1999) Effects
S135-S145. of dehydroepiandrosterone vs androstenedione supple-
Schwab, R., Johnson, G.O., Housh, T.J., Kinder, J.E. & Weir, mentation in men. Medicine and Science in Sports and Exer-
J.P. (1993) Acute effects of different intensities of weight cise 31, 1788-1792.
lifting on serum testosterone. Medicine and Science in Weiss, L.W., Cureton, K.J. & Thompson, F.N. (1983) Com-
Sports and Exercise 25, 1381-1385. parison of serum testosterone and androstenedione
Staron, R.S., Karapondo, D.L., Kraemer, W.J. et al. (1994) responses to weight lifting in men and women. Europe-
Skeletal muscle adaptations during early phase of an Journal of Applied Physiology 50, 413-419.
heavy-resistance training in men and women. Journal of Williams, A.G., Ismail, A.N., Sharma, A. & Jones, D.A. (2002)
Applied Physiology 76, 1247-1255. Effects of resistance exercise volume and nutritional
Stoessel, L., Stone, M.H., Keith, R., Marple, D. & Johnson, supplementation on anabolic and catabolic hormones.
R. (1991) Selected physiological, psychological and per- European Journal of Applied Physiology 86, 315-321.
formance characteristics of nationalcaliber United Sta- Wolfe, R.R. (2000) Effects of insulin on muscle tissue. Cur-
tes women weightlifters. Journal of Applied Sports Science rent Opinion in Clinical Nutrition and Metabolic Care 3,
Research 5, 87-95. 67-71.
Capítulo 20
Respostas cardiovasculares ao
treinamento de força
STEVEN J. FLECK

Este capítulo focaliza as respostas e adaptações car- Adaptações crônicas em repouso


diovasculares ao treinamento de força. As adaptações
cardiovasculares na situação de repouso e durante o O decréscimo da freqüência cardíaca e da pres-
treinamento de força constituem interesse devido à são arterial em repouso, assim como a alteração do
sua relação com a saúde cardiovascular. Estão dispo- perfil lipídico sangüíneo, é normalmente associado
níveis dados limitados referentes a alguns dos tópi- com diminuição do risco cardiovascular, enquanto
cos discutidos neste capítulo, especialmente na área as alterações na morfologia cardíaca, no volume sis-
das respostas agudas e adaptações crônicas ao trei- tólico e no débito cardíaco em repouso podem indi-
namento de força durante a atividade. Isso parcial- car função cardíaca normal ou anormal, também re-
mente se relaciona às dificuldades na determinação presentando indicadores de risco cardiovascular. As
precisa de variáveis como a pressão arterial e o débi- alterações cardiovasculares na situação de repouso
to cardíaco durante a atividade. A determinação pre- induzidas pelo treinamento de força (Tab. 20.1) têm
cisa da pressão arterial requer canulação* intra-arte- sido investigadas por meio de estudos transversais e
rial, embora atualmente a técnica fotopletismográfica longitudinais.
não-invasiva esteja sendo utilizada para determinar a
pressão arterial durante a atividade, e as técnicas de Freqüência cardíaca
impedância cardíaca e ecocardiográfica para analisar
parâmetros centrais, tais como o volume sistólico. A freqüência cardíaca de fisiculturistas competi-
Todas essas técnicas apresentam limitações. Assim, tivos das categorias júnior e sênior, assim como de
os dados devem ser vistos com cautela. As respostas levantadores de potência e de levantadores olímpi-
e adaptações fisiológicas podem ser afetadas pelo cos, varia de 60 a 78 bpm (Colan et al., 1985; Smith e
volume e pela intensidade de treinamento. Portanto, Raven, 1986; Fleck e Dean, 1987; George et al., 1995;
as conclusões referentes às respostas fisiológicas e Haykowsky et al., 2000). A grande maioria dos dados
adaptações crônicas ao treinamento de força devem transversais indica que a freqüência cardíaca de re-
ser analisadas considerando o possível efeito do vo- pouso de atletas altamente treinados em força não é
lume e intensidade do treinamento. significativamente diferente da de indivíduos seden-
tários (Longhurst et al., 1980a,b; Snoecky et al., 1982;
Colan et al., 1985; Menapace et al., 1982; Spataro et
al., 1985; Pearson et al., 1986; Smith e Raven, 1986;
Fleck e Dean, 1987), embora registros de freqüência
cardíaca menor que a média em atletas altamente trei-
nados em treinamento de força também tenham sido
relatados (Saltin e Astrand, 1967; Scala et al., 1987).
*N. de R.T. Relativo à introdução de uma cânula dentro da Registros apontam que a freqüência cardíaca de le-
artéria. vantadores de potência de nível master é de 87 bpm,
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 403

Tabela 20.1 Adaptações em repouso qüência cardíaca em repouso devido ao treinamento


de força não ocorra pelo aumento do tônus cardíaco
Freqüência cardíaca Nenhuma ou pequena alteração ↓ parassimpático e pelo decréscimo do simpático, mas
Pressão arterial pelo aumento da atividade de ambas as ramificações
Sistólica Nenhuma ou pequena alteração ↓
Diastólica Nenhuma ou pequena alteração ↓
autonômicas.
Duplo produto Nenhuma ou pequena alteração ↓
Volume sistólico Pressão arterial
Absoluto Nenhuma ou pequena alteração ↑
Relativo à ASC Nenhuma alteração A maioria dos dados transversais demonstra cla-
Relativo à MM Nenhuma alteração ramente que os atletas altamente treinados em força
Função cardíaca apresentam pressão arterial sistólica e diastólica den-
Sistólica Nenhuma alteração
Diastólica Nenhuma alteração tro da média (Longhurst et al.,1980a,b; Menapace et
al., 1982; Pearson et al., 1986; Fleck e Dean, 1987;
Perfil lipídico
Colesterol total Nenhuma ou pequena alteração ↓ Fleck et al., 1989b; Goldberg, 1989; Byrne e Wilmo-
HDL-C Nenhuma ou pequena alteração ↑ re, 2000). Também há registros de pressão arterial
LDL-C Nenhuma ou pequena alteração ↓
Colesterol total/HDL-C Nenhuma ou pequena alteração ↑
acima (Snoecky et al., 1982) e abaixo da média (Smi-
th e Raven, 1986) em levantadores de peso. Os estu-
dos realizados com treinamento de curto prazo do-
cumentam alteração não-significativa na pressão
significativamente maior que a de controles ajusta- arterial sistólica e diastólica na situação de repouso
dos à idade (Haykowsky et al., 2000). em indivíduos normotensos (Lusiani et al., 1986; Gol-
Os estudos longitudinais de curto prazo (até 20 dberg et al., 1988; Goldberg et al., 1994; Byrne e Wil-
semanas) registram decréscimo significativo de apro- more, 2000). Um decréscimo significativo na pres-
ximadamente 4 a 13% na freqüência cardíaca em re- são arterial sistólica (3,7%), alteração não-significativa
pouso (Kanakis e Hickson, 1980; Stone et al., 1983b; na pressão arterial diastólica em repouso (Stone et
Stone et al., 1987; Haenel et al., 1989; Goldberg et al., 1983b) e diminuição significativa na pressão ar-
al., 1994) ou não-significativo e pequeno (Ricci et al., terial diastólica somente (Hurley et al., 1988) têm sido
1982; Stone et al., 1983a; Lusiani et al., 1986; Blu- documentados em indivíduos normotensos. Há de-
menthal et al., 1990; Goldberg et al., 1994). Em al- créscimo significativo na pressão arterial sistólica e
guns estudos longitudinais, a alteração na freqüên- na diastólica como efeito induzido por programa de
cia cardíaca em repouso não é significativa; no treinamento de força em indivíduos hipertensos li-
entanto, a maioria dos estudos relata a diminuição mítrofes (Hagberg et al., 1984; Harris e Holly, 1987).
significativa ou não-significativa na freqüência car- O decréscimo da pressão arterial na situação de
díaca em repouso. O mecanismo que reduz a freqüên- repouso, quando ocorre em decorrência do treina-
cia cardíaca de repouso associada ao treinamento de mento de força, está provavelmente relacionado à
força não está claramente compreendido, todavia, a diminuição da gordura corporal e às alterações no
menor freqüência cardíaca é tipicamente associada impulso simpatoadrenal (Goldberg et al., 1989), en-
com a combinação de aumento do tônus parassim- quanto a hipertensão em atletas altamente treinados
pático e decréscimo do simpático cardíaco. Algumas em força pode ser explicada pela hipertensão essen-
respostas cardiovasculares às ações isométricas pa- cial, pelo sobretreinamento crônico, pelo uso de an-
recem típicas ao treinamento de força, sendo que al- drógenos e/ou pelos maiores ganhos na massa mus-
guns dados indicam que, durante ações isométricas cular. Ainda que a massa muscular esteja positiva-
de baixa intensidade (30% da contração voluntária mente correlacionada à pressão arterial sistólica (Vii-
máxima), ambas as ramificações autonômicas de- tasalo et al., 1979), os efeitos benéficos na pressão
monstram aumento da atividade (Gonzalez-Cama- arterial se apresentam com aumento concomitante
rena et al., 2000) mais do que retraimento da ativida- na massa corporal magra (Stone et al., 1983b; Gold-
de parassimpática e que aumento da simpática típicos berg et al., 1988). Isso indica que pode haver ganho
observados no exercício dinâmico, como no cicloer- na massa corporal magra sem aumento na pressão
gômetro. Isso possibilita que o decréscimo na fre- arterial em repouso. Mesmo que tenha sido relatado
404 PAAVO V. KOMI

o aumento e o decréscimo na pressão arterial em re- suem maior volume sistólico relativo à área de su-
pouso, a maioria dos estudos transversais e longitu- perfície corporal registram essa diferença como não-
dinais indica que o treinamento de força não produz significativa quando o volume sistólico é corrigido
alteração ou pequeno decréscimo na pressão arterial pela massa corporal magra (Fleck et al., 1989a). A
na situação de repouso. metanálise referente ao volume sistólico em relação
à área de superfície corporal não demonstra diferen-
Duplo produto ça dependente do nível do atleta (Fleck, 1988). En-
tão, o maior volume sistólico absoluto em alguns atle-
O duplo produto (freqüência cardíaca × pressão tas altamente treinados em força de nível nacional/
arterial sistólica) representa uma estimativa do tra- internacional pode parcialmente ser explicado pelo
balho do miocárdio, e é proporcional ao consumo de tamanho corporal.
oxigênio do miocárdio. O duplo produto em repou- Nenhuma alteração no volume sistólico absolu-
so apresenta decréscimo após oito semanas de pro- to em repouso tem sido relatada em resposta a um
grama de treinamento de força estilo olímpico (Sto- programa de treinamento de força de curta duração
ne et al., 1983b). Embora não seja relatado em muitos (Lusiani et al., 1986). A preponderância de evidênci-
estudos, qualquer estudo que demonstre um decrés- as indica que o treinamento de força exerce nenhum
cimo na freqüência cardíaca ou na pressão arterial ou pouco efeito sobre o volume sistólico absoluto
sistólica deveria resultar em um decréscimo no du- ou sobre o volume sistólico corrigido pela área de
plo produto. Assim, o treinamento de força pode di- superfície corporal ou pela massa corporal magra.
minuir o duplo produto, sugerindo que o ventrículo
esquerdo esteja realizando menos trabalho com me- Perfil lipídico
nor consumo de oxigênio em repouso.
Os estudos transversais e longitudinais que ana-
Volume sistólico lisam o efeito do treinamento de força no perfil lipí-
dico sangüíneo são inconclusivos. As revisões de li-
As comparações entre homens altamente treina- teratura relatam que atletas masculinos treinados em
dos em força e sujeitos normais para o volume sistó- força apresentam concentração normal, alta e baixa
lico absoluto em repouso fornecem resultados con- de HDL-C (colesterol lipoprotéico de alta densida-
fusos. Não há informes sobre diferença entre esses de), LDL-C (colesterol lipoprotéico de baixa densi-
dois grupos (Dickhuth et al., 1979; Brown et al., 1983) dade), colesterol total e do rácio colesterol total:
no volume sistólico absoluto, assim como em maior HDL-C (Kraemer et al., 1988; Hurley, 1989; Stone et
valor em indivíduos altamente treinados em força al., 1991). Também tem sido relatado que mulheres
(Pearson et al., 1986; Fleck et al., 1989a). O aumento altamente treinadas em exercícios com sobrecarga de-
do volume sistólico absoluto, quando presente, pa- monstram alteração positiva (Elliot et al., 1987;
rece dever-se à dimensão interna ventricular esquer- Moffatt et al., 1990) ou nenhuma diferença no perfil
da diastólica final significativamente maior e à fração lipídico quando comparadas a controles (Morgan et
de ejeção normal (Fleck, 1988). Uma metanálise in- al., 1986). Dados transversais obtidos de atletas de
dicou que o nível dos atletas pode influenciar o volu- força/potência também demonstram perfil lipídico
me sistólico absoluto. Atletas de nível nacional/inter- indicativo de aumento do risco cardiovascular (Berg
nacional têm maior volume sistólico absoluto do que et al., 1980). Os estudos com treinamento longitudi-
atletas de nível inferior (Fleck, 1988). Somente em nal que submeteram homens e mulheres demons-
um estudo atletas altamente treinados em força mos- tram resultados inconclusivos. O aumento de apro-
traram valores significativamente maiores do que os ximadamente 10 a 15% no HDL-C e o decréscimo
indivíduos do grupo-controle quando a área de su- de cerca de 5 a 39% no LDL-C, além de 3 a 16% no
perfície corporal foi analisada (Fleck et al., 1989a). colesterol total, como resultado do treinamento de
Outras cinco comparações não demonstraram dife- força de curto prazo têm sido demonstrados em in-
renças entre esses dois grupos (Longhurst et al., divíduos normolipidêmicos (Hurley, 1989). No en-
1980a; Pearson et al., 1986). Os estudos demonstran- tanto, outros estudos longitudinais não demonstram
do que indivíduos altamente treinados em força pos- alteração significativa no perfil lipídico devido aos
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 405

programas de treinamento de força de curto prazo fibras mais oxidativas tipo IIA (Staron et al., 1994) e
(Kraemer et al., 1988; Hurley, 1989; Stone et al., 1991; ao aumento nos capilares por fibra muscular (Mc-
LeMura et al., 2000; Staron et al., 2000). Call et al., 1996). Existem também possíveis efeitos
Todos os delineamentos transversais e longitu- negativos do treinamento de força no perfil lipídico.
dinais empregados para analisar o efeito do treina- Os indivíduos com maior porcentagem de fibras mus-
mento de força no perfil lipídico podem ser critica- culares tipo I demonstram maior concentração de
dos. As limitações dos estudos incluem: controle HDL-C (Tikkanen et al., 1996). Alguns programas
inadequado da idade, dieta e programa de treinamen- de treinamento de força induzem maior efeito hiper-
to, assim como possível uso de andrógenos; uso de trófico nas fibras tipo II (Tesch, 1987). O decréscimo
somente uma amostra sangüínea na determinação do resultante na área percentual das fibras tipo I pode
perfil lipídico; ausência de grupo-controle; incapaci- afetar desfavoravelmente o perfil lipídico. Deve exis-
dade para controlar alterações na composição cor- tir equilíbrio entre os fatores com potencial para afe-
poral; e estudos longitudinais de curta duração. Além tar favoravelmente o perfil lipídico e aqueles capazes
disso, o aumento agudo no HDL-C e o decréscimo de exercer efeitos deletérios para que efeito positivo
no colesterol total ocorrem 24 horas após uma ses- seja produzido.
são de exercícios com sobrecarga de 90 minutos, os O treinamento de força pode exercer efeito posi-
quais não retornam aos valores do baseline em 48 horas tivo no perfil lipídico. No entanto, pesquisa adicional
após a sessão de exercício (Wallace et al., 1991). Al- é necessária antes dessa conclusão ser considerada
guns estudos não descartam o possível efeito agudo com segurança. Os programas caracterizados por ele-
da última sessão de treinamento. Sendo assim, as vado volume total de treinamento podem oferecer a
conclusões extraídas desses estudos devem ser con- melhor possibilidade para o efeito positivo. Registros
sideradas com cautela. relatam que uma aptidão para eventos esportivos de
O volume do treinamento de força pode exercer potência/força, incluindo o levantamento de peso, não
algum impacto no perfil lipídico. Informes indicam oferece proteção contra risco cardiovascular em ex-
que os fisiculturistas têm perfil lipídico similar ao de atletas. Já uma aptidão alcançada em eventos espor-
corredores, enquanto os levantadores de potência tivos de endurance e atividade física vigorosa contínua
apresentam menor concentração de HDL-C e maior após a “aposentadoria esportiva” oferecem essa pro-
de LDL-C do que corredores quando a gordura cor- teção. Portanto, uma conclusão prudente pode ser
poral, a idade e o uso de andrógeno (que demonstra encorajar atletas de força/potência a realizar algum
deprimir a concentração de LDL-C) são controlados treinamento de endurance e a seguir práticas dietéti-
(Hurley et al., 1984; Hurley et al., 1987). Há também cas apropriadas após o encerramento da carreira des-
evidências de que ocorrem alterações positivas no portiva, com o objetivo de proporcionar uma reper-
perfil lipídico em homens de meia-idade após 12 se- cussão positiva sobre o perfil lipídico.
manas de treinamento de força (Johnson et al., 1982;
Blessing et al., 1987). Nesse caso, as maiores altera- Espessura da parede ventricular
ções se processam nas fases de maior volume do pro- esquerda
grama de treinamento.
Não está completamente claro o motivo pelo qual A morfologia cardíaca, assim como a espessura
o treinamento de força pode afetar positivamente o da parede ventricular (Tab. 20.2), é freqüentemente
perfil lipídico. O decréscimo na porcentagem de gor- determinada por técnicas ecocardiográficas. No en-
dura corporal afeta positivamente o perfil lipídico tanto, a imagem de ressonância magnética (RM) tam-
(Williams et al., 1994; Twisk et al., 2000). Segundo bém determina a morfologia cardíaca (Fleck et al.,
demonstram alguns estudos, o treinamento de força 1989b). As revisões de literatura concluem que indi-
induz decréscimo da porcentagem de gordura cor- víduos altamente treinados em força apresentam
poral. O treinamento de força pode melhorar a capa- maior espessura média da parede ventricular esquer-
cidade oxidativa do músculo esquelético devido ao da posterior diastólica absoluta (PWTd) (Fleck, 1988;
aumento na atividade de enzimas oxidativas aeróbias Urhausen e Kindermann, 1992) e espessura da pare-
específicas (Wang et al., 1993). Tal alteração pode de do septo intraventricular diastólico (IVSd) (Wolfe
ocorrer devido à conversão de fibras de tipo IIB para et al., 1986; Fleck, 1988; Urhausen e Kindermann,
406 PAAVO V. KOMI

Tabela 20.2 Adaptações morfológicas cardíacas em repouso

Relativo à

Absoluta ASC MM
Espessura da parede ↑↑
Ventrículo esquerdo ↑ ou nenhuma alteração Nenhuma alteração Nenhuma alteração
Septo ↑ ou nenhuma alteração Nenhuma alteração Nenhuma alteração
Ventrículo direito Nenhuma alteração Nenhuma alteração Nenhuma alteração
Volume da câmara
Ventrículo esquerdo Nenhuma alteração ou leve ↑ Nenhuma alteração ou leve ↑ Nenhuma alteração ou leve ↑
Ventrículo direito Nenhuma alteração ou leve ↑ (?) Nenhuma alteração ou leve ↑ (?) Nenhuma alteração ou leve ↑ (?)
Massa ventricular esquerda ↑ ou nenhuma alteração Nenhuma alteração Nenhuma alteração
ASC, área de superfície corporal (m2); MM, massa magra (kg); ?, dados mínimos.

1992; Perrault e Turcotte, 1994). No entanto, a es- foi afetada de acordo com o nível do atleta, sendo
pessura da parede em indivíduos altamente treina- que os atletas de nível regional, nacional e interna-
dos em força raramente excede o limite superior de cional possuíam maior espessura de IVSd do que atle-
normalidade (Wolfe et al., 1986; Urhausen e Kinder- tas que treinam de forma recreativa (Fleck, 1988). Maior
mann, 1992). Em geral, a expessura é significativa- quantidade de pesquisa é necessária para esclarecer a
mente menor do que em estados de doença, como a existência de espessura desproporcional das paredes
estenose aórtica, a cardiomiopatia obstrutiva e a hi- dos ventrículos e seus efeitos na função cardíaca.
pertensão extrema (Wolfe et al., 1986). É também im- Estudos longitudinais de curto prazo embasam
portante notar que o aumento da espessura da pare- o conceito de que o treinamento de força pode au-
de ventricular é aparente em outros tipos de atletas. mentar a PWTd e a IVSd. Isso, porém, não represen-
Um estudo que analisou atletas de ranking nacional ta um resultado necessário do programa de treina-
de 27 diferentes esportes classificou o levantamento mento (Fleck, 1988; Effron, 1989; Perrault e Turcotte,
de peso como o número oito em termos de impacto 1994). A conclusão de que o treinamento de força
na espessura da parede ventricular esquerda (Spataro não tem de produzir aumento na PWTd e na IVSd é
et al., 1994). O aumento na espessura da parede, sustentada pelos estudos transversais que não de-
quando aparente em levantadores de peso, é normal- monstram diferença significativa dos controles na
mente atribuído à elevação intermitente da pressão espessura da parede ventricular em atletas femininas
arterial encontrada durante treinamento de força universitárias treinadas em força/potência (George et
(Effron, 1989). al., 1995) e em levantadores de potência juniores e
Raramente existe diferença do normal quando a seniores de nível nacional (Haykowsky et al., 2000).
PWTd e a IVSd de atletas altamente treinados em As alterações na espessura da parede ventricular es-
força são expressas de acordo com a área de superfí- querda provavelmente decorrem das diferenças do
cie corporal ou com a massa corporal magra (Fleck, programa de treinamento utilizado. O maior valor da
1988; Fleck et al., 1989a; Urhausen e Kindermann, pressão arterial é alcançado durante as últimas repe-
1992; Perrault e Turcotte, 1994). Isso indica adapta- tições de séries até a fadiga voluntária (MacDougall
ção fisiológica mais do que estado patológico de do- et al., 1985; Fleck e Dean, 1987; Sale et al., 1994). Os
ença. Tal perspectiva suscita interesse, pois alguns exercícios que envolvem um grande grupo muscular,
estudos encontraram uma espessura desproporcio- como o leg press, aumentam mais a pressão arterial
nal da IVSd quando comparada à PWTd, possivel- do que exercícios para os pequenos grupos muscu-
mente indicando uma adaptação deletéria, enquanto lares (MacDougall et al., 1985). Portanto, o número
outros estudos encontram que essa relação está den- de repetições até a fadiga voluntária, assim como os
tro dos limites de normalidade (Urhausen e Kinder- tipos de exercícios podem influenciar a espessura da
mann, 1992). De modo interessante, uma metanálise parede ventricular. Outros fatores que podem afetar
concluiu que a espessura de IVSd, e não a de PWTd, a espessura da parede ventricular incluem a intensi-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 407

dade, o volume e a duração do treinamento, bem do expressa em relação à área de superfície corporal
como o intervalo de repouso entre as séries. ou à massa corporal magra (Wolfe et al., 1986; Fleck,
A espessura da parede ventricular direita tem re- 1988; Urhausen e Kindermann, 1992). A LVIDd em
cebido bem menos atenção do que a da esquerda. indivíduos altamente treinados em força também
No entanto, um estudo que empregou RM não rela- pode ser ligeira e significativamente maior que o nor-
tou diferença na espessura da parede ventricular di- mal quando expressa de acordo com a área de super-
reita sistólica e diastólica entre levantadores olímpi- fície corporal (Perrault e Turcotte, 1994). Os estudos
co masculinos juniores quando comparados a con- com treinamento longitudinal de curto prazo sus-
troles ajustados a idade e peso (Fleck et al., 1989b). tentam a conclusão de que o efeito do treinamento
O mesmo estudo determinou que os levantadores de de força na LVIDd é mínimo (Wolfe et al., 1986; Fle-
peso apresentavam significativamente maior espes- ck, 1988; Perrault e Turcotte, 1994).
sura da parede ventricular esquerda. Então, esses re- Em uma comparação de atletas de ranking nacio-
sultados indicam que o ventrículo direito não é ex- nal em 27 diferentes modalidades esportivas, os le-
posto à pressão arterial suficientemente elevada para vantadores de peso foram classificados em 22º lugar
induzir hipertrofia da parede ventricular direita du- em termos do efeito da modalidade esportiva na
rante o treinamento de força. LVIDd (Spataro et al., 1994). Embora o treinamento
O treinamento de força pode aumentar, de modo de força exerça efeito mínimo na LVIDd, é impor-
absoluto, a espessura da parede ventricular esquer- tante que esta variável não seja reduzida em resposta
da. Isso não representa uma conseqüência necessá- ao treinamento de força, como é o caso da sobrecar-
ria de todos os programas de treinamento. O aumento ga pressórica patológica causada pela hipertensão ou
da espessura da parede ventricular esquerda, quan- das várias formas de cardiomiopatia (Urhausen e Kin-
do aparente, é causado pela elevação intermitente da dermann, 1992). O sutil aumento ou a ausência de
pressão arterial durante treinamento de força. Geral- alteração na LVIDd associado com nenhuma altera-
mente, não há aumento na espessura da parede ven- ção ou pequeno aumento na espessura da parede ven-
tricular esquerda quando expressa de acordo com a tricular esquerda representa importante diferença
área de superfície corporal ou a massa corporal ma- entre o treinamento de força e a hipertrofia cardíaca
gra. Além disso, o aumento na espessura da parede patológica, em que o grande aumento na espessura
ventricular esquerda raramente excede o limite su- da parede não é acompanhado por aumento na LVI-
perior de normalidade e está abaixo do aumento na Dd (Urhausen e Kindermann, 1992).
espessura da parede decorrente de condições pato- Dados de uma metanálise indicam que o nível
lógicas. do atleta não influencia significativamente a LVIDd
quando comparado a indivíduos-controle (Fleck,
Tamanho da câmara 1988). Essa conclusão é respaldada por registros de
levantadores de potência juniores e seniores de nível
A dimensão interna ventricular esquerda tem sido nacional com LVIDd normal (Haykowsky et al., 2000)
freqüentemente determinada por ecocardiografia; a e por outros registros de atletas treinados em força
RM também é utilizada (Fleck et al., 1989b). Indiví- do mesmo nível que não possuem LVIDd significati-
duos altamente treinados em força podem ter uma vamente diferente do normal (Dickhuth et al., 1979;
dimensão interna ventricular esquerda diastólica ab- Fleck et al., 1989a). As alterações do volume ventri-
soluta (LVIDd) normal ou significativamente maior cular são normalmente associadas com sobrecarga
do que o normal (Fleck, 1988; Fleck et al., 1989b; de volume; pode-se, portanto, propor que o tipo de
Urhausen e Kindermann, 1992; Perrault e Turcotte, programa de treinamento de força afeta a LVIDd. Isso
1994; George et al., 1995). Assim como a espessura é respaldado por um registro de fisiculturistas com
da parede ventricular esquerda, a LVIDd em indiví- maior LVIDd absoluta em repouso (Deligiannis et
duos altamente treinados em força normalmente não al., 1988). No entanto, a LVIDd não foi significativa-
excede os limites superiores de normalidade (Wolfe mente diferente do normal quando expressa de acor-
et al., 1986; Fleck, 1988; Urhausen e Kindermann, do com a área de superfície corporal ou com a massa
1992; Perrault e Turcotte, 1994). Em muitos casos, corporal magra, tanto para fisiculturistas como para
não é significativamente diferente do normal quan- levantadores de peso.
408 PAAVO V. KOMI

As dimensões internas atrial e ventricular direita rentes à MVE devem ser analisados com cuidado, pois
também são analisadas em indivíduos altamente trei- foram obtidos por meio de cálculos. Por exemplo, 1
nados em força. Os fisiculturistas tipicamente trei- mm de alteração na espessura da parede ventricular
nam com maior número de repetições por série (6 a esquerda pode resultar em aumento significativo de
12 repetições por série) comparados aos levantado- 15% na MVE estimada (Perrault e Turcotte, 1994).
res de peso, que tipicamente realizam pequenos nú- Os estudos transversais (Fleck, 1988; Effron, 1989;
meros de repetições por série (três ou menos) em boa George et al., 1995; Haykowsky et al., 2000) e os lon-
parte do programa de treinamento. Então, os fisicul- gitudinais de curto prazo (Wolfe et al., 1986; Fleck,
turistas geralmente realizam programa de treinamento 1988; Effron, 1989) obtidos em atletas altamente trei-
de maior volume quando comparados aos levanta- nados em força indicam que a MVE absoluta pode
dores de peso. Então, tem sido reportado que os fisi- aumentar significativamente como efeito induzido
culturistas, que geralmente realizam programa de trei- pelo treinamento de força, mas não representa ne-
namento de maior volume quando comparados aos cessariamente um resultado usual de todos os pro-
levantadores de peso, apresentam maior dimensão gramas de treinamento de força. Qualquer diferença
interna ventricular direita diastólica em repouso, tanto dos valores-controle em estudos transversais ou au-
em termos absolutos como relativos à área de super- mento nos estudos longitudinais, todavia, é muito
fície corporal e massa corporal magra (Deligiannis et reduzida ou inexistente quando a MVE é expressa de
al., 1988). Um estudo transversal de levantadores de acordo com a área de superfície corporal ou massa
peso de elite estilo olímpico da categoria júnior rela- corporal magra.
tou que esses sujeitos não possuíam dimensão inter- O tipo de programa de treinamento não pode
na ventricular direita diastólica e sistólica absoluta influenciar a alteração na MVE. Os fisiculturistas,
ou quando corrigida pela área de superfície corporal assim como os levantadores de peso, possuem MVE
ou pela massa corporal magra significativamente di- absoluta significativamente maior que o normal. Não
ferente do normal (Fleck et al., 1989b). Similar à di- há diferenças para esses dois grupos de atletas (Deli-
mensão interna ventricular direita, registros apontam giannis et al., 1988). Nesse estudo, ambos os grupos
que a dimensão interna atrial de ambos, fisiculturis- apresentaram maior espessura da parede ventricular
tas e levantadores de peso, é maior do que o normal esquerda quando comparada ao normal. No entan-
em termos absolutos ou quando corrigida pela área to, somente os fisiculturistas tinham dimensão dias-
de superfície corporal ou pela massa corporal magra. tólica final ventricular esquerda significativamente
Os fisiculturistas apresentam significativamente mai- maior do que o normal. Então, a MVE é aumentada
or dimensão interna atrial esquerda do que os levan- nos fisiculturistas devido à maior espessura da pare-
tadores de peso (Deligiannis et al., 1988). Isso nova- de ventricular esquerda e ao aumento no tamanho
mente indica que o tipo de programa de treinamento da câmara. Já nos levantadores de peso, o aumento é
com sobrecarga pode afetar o tamanho da câmara principalmente causado pelo aumento na espessura
cardíaca. da parede ventricular esquerda. Seria possível suge-
Geralmente o treinamento de força exerce um rir que um programa de treinamento de força que
pequeno ou nenhum efeito na LVIDd. Isso é verda- induz aumento na espessura da parede, assim como
deiro quando a LVIDd é expressa em termos absolu- na dimensão interna ventricular esquerda, deveria re-
tos ou quando corrigida pela área de superfície cor- sultar em maior aumento na massa ventricular es-
poral ou pela massa corporal magra. Os programas querda estimada. Tal programa de treino de força pode
de treinamento de força de alto volume apresentam ser caracterizado pelo elevado volume.
maior potencial para afetar o tamanho das câmaras A MVE absoluta pode aumentar em decorrência
cardíacas. de um programa de treinamento de força; no entan-
to, tal aumento não ocorre como efeito induzido por
Massa ventricular esquerda todos os programas de treinamento de força. O tipo
de programa de treinamento realizado pode influen-
A massa ventricular esquerda (MVE) pode au- ciar a magnitude de aumento na MVE, assim como
mentar devido à elevação na espessura da parede ven- o meio em que esse aumento ocorre, com os progra-
tricular e às dimensões internas. Os resultados refe- mas de maior volume resultando em aumento na es-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 409

pessura da parede ventricular esquerda e no tama- et al., 1986). Essa informação indica que a função
nho da câmara; e os programas de menor volume diastólica não é afetada, ou talvez pouco, apesar do
induzindo aumento na massa ventricular esquerda, aumento na MVE absoluta e relativa à área de super-
principalmente devido ao aumento na espessura da fície corporal em indivíduos altamente treinados em
parede. força.

Função cardíaca
Resposta aguda
Anormalidades na função sistólica e diastólica são
associadas com hipertrofia cardíaca causada por con- A adaptação aguda refere-se à resposta cardio-
dições patológicas, como hipertensão e doença car- vascular durante uma ou várias séries de um treina-
díaca valvular. Considera-se que a hipertrofia cardía- mento de força. A resposta aguda atrai menos aten-
ca induzida pelo treinamento de força prejudica a ção na comunidade científica do que a resposta
função cardíaca. No entanto, a maioria dos estudos crônica ao treinamento de longo prazo. Talvez esse
transversais demonstra que as medidas comuns da menor interesse esteja relacionado à necessidade do
função sistólica, como a porcentagem de encurtamen- uso de técnica intra-arterial para determinar a pres-
to fracional, a fração de ejeção e a velocidade de en- são, pois a esfigmomanometria auscultatória tem li-
curtamento circunferencial, não são alteradas em in- mitações, por exemplo, não ser capaz de mensurar
divíduos treinados com sobrecarga (Fleck, 1988; precisamente a pressão sangüínea nas fases concên-
Effron, 1989; Ellias et al., 1991; Urhausen e Kinder- trica e excêntrica das repetições. Ultimamente, a ple-
mann, 1992; George et al., 1995; Haykowsky et al., tismografia de dedo determina, de maneira contínua,
2000). Em apenas um estudo transversal, a porcen- a pressão sangüínea durante o treinamento de força.
tagem de encurtamento fracional foi significativamen- É também difícil determinar precisamente o débito
te maior que o normal (32% versus 37%) (Colan et cardíaco, o volume sistólico, assim como o volume
al., 1987). Estudos longitudinais de curto prazo com sistólico e diastólico finais no ventrículo esquerdo,
treinamento de força apresentam resultados ambí- através de impedância cardíaca ou de técnicas eco-
guos, sem alteração (Lusiani et al., 1986), e aumento cardiográficas durante o treinamento de força. Por-
significativo na porcentagem de encurtamento fra- tanto, em algumas situações, as conclusões extraídas
cional (Kanakis e Hickson, 1980). A maioria das evi- referentes à resposta cardiovascular aguda ao treina-
dências indica que o treinamento de força não exer- mento de força devem ser analisadas com cuidado
ce efeito na função sistólica, com evidência mínima (Tab. 20.3).
indicando seu aumento.
A função diastólica suscita muito menos aten- Freqüência cardíaca e pressão
ção do que a função sistólica. No entanto, a maioria arterial
dos estudos transversais não relata alteração signifi-
cativa na função diastólica quando comparada à nor- A freqüência cardíaca, assim como a pressão ar-
mal em indivíduos altamente treinados em força terial sistólica e diastólica, aumenta substancialmen-
(Urhausen e Kindermann, 1992). Todavia, em levan- te durante a realização de exercícios com sobrecarga
tadores de potência com MVE absoluta e relativa à de característica dinâmica (Fleck, 1988; Hill e Butler,
área de superfície corporal significativamente maior, 1991). Tem sido registradas pressões arteriais sistóli-
sugere-se alguma indicação de aumento da função ca e diastólica de pico médias de 320 mmHg por 250
diastólica. Os levantadores de potência que compe- mmHg, respectivamente, e freqüência cardíaca de 170
tem em nível nacional demonstram significativamente bpm durante a realização de leg press bilateral a 95%
maior taxa de expansão da câmara, assim como taxa de 1-RM até a fadiga voluntária, em que uma mano-
de alargamento das paredes do ventrículo esquerdo bra de Valsalva foi permitida (MacDougall et al.,
quando comparados ao grupo-controle (Colan et al., 1985). Outros valores médios de pico representati-
1985). A taxa de enchimento atrial de pico também vos incluem 198/160 mmHg e 135 bpm na extensão
demonstra ser maior em levantadores de potência de joelho unilateral realizada a 80% de 1-RM até a
quando comparados a indivíduos-controle (Pearson fadiga voluntária, quando a manobra de Valsalva foi
410 PAAVO V. KOMI

Tabela 20.3 Resposta aguda do exercício com pesos em relação ao repouso

Fase da repetição

Concêntrica Excêntrica

Freqüência cardíaca, nenhuma diferença entre concêntrica e excêntrica ↑ ↑


Volume sistólico (?), valor excêntrico maior que concêntrico Nenhuma diferença ou ↓ Nenhuma diferença ou ↑
Débito cardíaco (?), valor excêntrico maior que concêntrico Nenhuma diferença ou ↑ ↑
Pressão arterial
Sistólica ↑, maior no ponto de maior dificuldade do exercício ↑ ↑
Diastólica ↑, maior no ponto de maior dificuldade do exercício ↑ ↑
Pressão intratorácica, maior quando a manobra de Valsalva é empregada ↑ ↑

?: dados mínimos.

desencorajada (Fleck e Dean, 1987). Os valores de O aumento na pressão arterial e na freqüência


230/170 mmHg também foram registrados quando cardíaca é aparente nos exercícios realizados em má-
o uso da manobra de Valsalva foi permitida durante a quina, com pesos livres e equipamentos isocinéticos
realização de flexão de joelho unilateral a 95% de (MacDougall et al., 1985; Fleck e Dean, 1987; Sale et
1-RM (MacDougall et al., 1985). A pressão arterial al., 1993; Sale et al., 1994; Scharf et al., 1994; Kleiner
(Fig. 20.1) e a freqüência cardíaca aumentarão de acor- et al., 1996; Lellamo et al., 1997). Infelizmente, devi-
do com a progressão do número de repetições, al- do às diferenças no delineamento experimental, tais
cançando maiores valores nas últimas repetições de como séries realizadas até a fadiga voluntária, veloci-
uma série até a fadiga voluntária independentemen- dade de movimento e duração da série nos distintos
te do uso da manobra de Valsalva (MacDougall et al., tipos de exercício, poucas conclusões podem ser al-
1985; Fleck e Dean, 1987). Tem sido demonstrado, cançadas em relação às possíveis distinções entre os
através da pletismografia de dedo, que a freqüência tipos de exercícios. Por exemplo, um estudo identifi-
cardíaca e a pressão arterial aumentam durante cada cou uma pressão arterial sistólica de pico significati-
série sucessiva quando três séries sucessivas até a fa- vamente maior em uma série do exercício extensão
diga voluntária são realizadas (Gotshall et al., 1999). de joelho em equipamento isocinético quando com-
A resposta da freqüência cardíaca e a pressão arterial parado ao mesmo exercício com sobrecarga constante
são maiores de acordo com o aumento da massa mus- e resistência variável (Kleiner et al., 1996). Nenhuma
cular ativa; no entanto, a resposta não é linear (Ma- diferença entre os tipos de treinamento foi relatada
cDougall et al., 1985; Fleck, 1988; Falkel et al., 1992). para a pressão arterial diastólica ou para a freqüência

Figura 20.1 Resposta da pressão


arterial em três séries sucessivas de 10
repetições com 10-RM no exercício leg
press bilateral. PAS: pressão arterial
sistólica; PAD: pressão arterial diastólica
(de Gotshall et al., 1999).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 411

cardíaca de pico. Todos os exercícios foram realiza- No exercício dinâmico, uma pressão arterial sis-
dos até a fadiga voluntária a 60°·s–1. No entanto, a tólica e diastólica mais elevada, mas não a freqüência
duração da série isocinética foi significativamente cardíaca, têm sido observadas na fase concêntrica
maior quando comparada à de sobrecarga variável quando comparada à fase excêntrica das repetições
(48 s) ou constante (67 s). Então, a maior resposta da (MacDougall et al., 1985; Miles et al., 1987; Falkel et
pressão arterial sistólica no exercício isocinético pode al., 1992). No entanto, a pressão arterial altera nas
dever-se à maior duração da série. fases concêntrica e excêntrica de uma repetição. Por-
O aumento substancial na pressão intra-arterial tanto, o valor da pressão arterial será afetado de acor-
de pico (348/157 mmHg) e na freqüência cardíaca do com o ponto em que sua determinação ocorre na
(157 bpm) é aparente durante séries de exercício iso- amplitude de movimento das fases concêntrica e ex-
cinético até a fadiga voluntária realizado a 50°·s–1 cêntrica. Ultimamente, os registros feitos pela pletis-
(Kleiner et al., 1999). No entanto, a freqüência car- mografia de dedo (Fig. 20.2) indicam que os maiores
díaca e a pressão arterial de pico mostraram pouca valores de pressão arterial sistólica e diastólica são
alteração quando a velocidade de ação isocinética va- verificados no início da fase concêntrica no leg press,
riou de 30 a 200°·s–1 (Haennel et al., 1989; Kleiner et com um decréscimo da pressão arterial à medida que
al., 1999). a fase concêntrica da repetição progride, alcançando
A resposta da pressão arterial é maior durante seu menor valor quando a perna é estendida (Gotshall
séries realizadas até a fadiga voluntária a 95% de et al., 1999). A pressão arterial então aumenta à me-
1-RM do que a 100% de 1-RM quando a manobra dida que as pernas são flexionadas na fase excêntrica
de Valsalva é permitida (MacDougall et al., 1985). A de uma repetição e novamente alcança o seu valor
freqüência cardíaca de pico e a pressão arterial au- mais alto quando as pernas são flexionadas o máxi-
mentam de acordo com o aumento da porcentagem mo possível. Isso indica que a resposta da pressão
do 1-RM empregada (50, 70, 80, 85 e 87,5%) em sé- arterial é maior no ponto de maior dificuldade* de
ries com a manobra de Valsalva (Sale et al., 1994). A um exercício, quando a contração muscular é próxi-
resposta pressórica é maior, mas não de forma signi- ma da produção máxima de força.
ficativa, quando a manobra de Valsalva é desencora-
jada em séries de 90, 80 e 70% de 1-RM quando com- Volume sistólico e débito cardíaco
paradas às séries realizadas a 100 e 50% de 1-RM até
a fadiga voluntária (Fleck e Dean, 1987). Por sua vez, O volume sistólico e o débito cardíaco têm sido
a resposta da freqüência cardíaca de pico em séries determinados durante o treinamento de força por
até a fadiga voluntária realizadas com 90, 80, 70 e meio de técnicas de impedância elétrica. O volume
50% de 1-RM é significativamente maior do que a sistólico e o débito cardíaco não são significativamen-
freqüência cardíaca de pico a 100% de 1-RM, com te maiores do que os valores em repouso durante a
valores ligeiramente maiores nas séries com menor fase concêntrica da extensão de joelho em 12 repeti-
porcentagem de 1-RM (Fleck et al., 1987; Falkel et ções com sobrecarga equivalente a 12-RM quando
al., 1992). Então, a resposta da pressão arterial, assim são feitas tentativas para limitar o uso da manobra de
como da freqüência cardíaca, é menor durante uma Valsalva (Miles et al., 1987). No entanto, o volume
repetição a 100% de 1-RM quando comparada às sistólico, assim como o débito cardíaco, aumenta
séries realizadas até a fadiga voluntária com menores muito em relação aos valores em repouso na fase ex-
porcentagens de 1-RM. A resposta da pressão arteri- cêntrica da extensão de joelho e é significativamente
al e da freqüência cardíaca no treinamento de força maior quando comparado à fase concêntrica. Na ex-
dinâmico parece similar à de ações isométricas — há tensão de joelho até a fadiga voluntária a 50, 80 e
aumento da resposta da freqüência cardíaca e da pres- 100% de 1-RM, o volume sistólico e o débito cardí-
são arterial quando a duração da atividade aumenta aco demonstram diferentes padrões de alteração
(Ludbrook et al., 1978; Kahn et al., 1985). Já a dura- quando a manobra de Valsalva é aplicada (Falkel et
ção da atividade não é suficiente para produzir res-
posta máxima da pressão arterial e da freqüência car-
díaca durante uma repetição realizada a 100% de
1-RM. *N. de R.T. Relativo à expressão inglesa “sticking point”.
412 PAAVO V. KOMI

Figura 20.2 Resposta da pressão


arterial durante uma repetição completa
do exercício leg press bilateral (de
Gotshall et al., 1999).

al., 1992). O volume sistólico na fase excêntrica está lume sistólico, assim como o débito cardíaco, são
significativamente acima ou não é consideravelmen- maiores na fase excêntrica do que na fase concêntri-
te diferente dos valores em repouso. Na fase concên- ca da repetição. O volume sistólico, para ambos os
trica, o volume sistólico está significativamente abai- grupos musculares (pequenos e grandes), está geral-
xo ou não é consideravelmente diferente dos valores mente abaixo dos valores de repouso durante a fase
em repouso. O débito cardíaco na fase excêntrica da concêntrica e normalmente acima, mas nem sempre
extensão de joelho estava, em todas as séries, acima de forma estatisticamente significativo, na fase excên-
dos valores de repouso, enquanto, na fase concêntri- trica. Em geral, o débito cardíaco está acima dos va-
ca, estava acima dos valores em repouso, mas nem lores em repouso durante a fase excêntrica de exercí-
sempre significativamente. No exercício agachamento cios para os grandes e pequenos grupos musculares.
até a fadiga voluntária a 50, 80 e 100% de 1-RM, o O mesmo ocorre na fase concêntrica, mas, nos exer-
volume sistólico e o débito cardíaco também demons- cícios para pequenos grupos musculares, pode estar
tram variar entre as fases excêntrica e concêntrica do tanto acima como abaixo.
movimento (Falkel et al., 1992). Na fase excêntrica, o A freqüência cardíaca não é significativamente
volume sistólico estava acima dos valores em repou- diferente entre as fases concêntrica e excêntrica de
so, mas nem sempre significativamente, nas séries a uma repetição (MacDougall et al., 1985; Miles et al.,
50 e 100% de 1-RM. Na fase excêntrica a 80% de 1987; Falkel et al., 1992). Conforme já discutido, o
1-RM, estava significativamente abaixo dos valores volume sistólico é significativamente maior na fase
em repouso. O volume sistólico estava consideravel- excêntrica. Então, o maior débito cardíaco nessa fase
mente abaixo dos valores em repouso na fase con- deve-se somente ao seu maior volume sistólico.
cêntrica, independentemente da intensidade. O dé- O volume sistólico e o débito cardíaco durante
bito cardíaco estava expressivamente acima dos as fases excêntrica e concêntrica dos exercícios de
valores em repouso na fase excêntrica do agachamen- extensão de joelho e agachamento realizados a 50,
to em todas as intensidades, enquanto, na fase con- 80 e 100% de 1-RM até a fadiga voluntária têm sido
cêntrica, estava acima, mas novamente nem sempre comparados (Falkel et al., 1992). Geralmente o volu-
significativamente. Tanto na extensão do joelho como me sistólico e o débito cardíaco em ambas as fases,
no agachamento, o volume sistólico e o débito cardí- concêntrica e excêntrica, na mesma porcentagem de
aco foram significativamente maiores na fase excên- 1-RM são maiores no exercício de extensão de joe-
trica do que na fase concêntrica em todas as intensi- lho do que no agachamento. O maior débito cardía-
dades. Um padrão geral para os exercícios com co durante o exercício de extensão de joelho deve-se
grandes e pequenos grupos musculares é que o vo- ao maior volume sistólico. Isso porque, em geral, a
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 413

freqüência cardíaca no agachamento é significativa- o vigoroso bombeamento muscular superam o de-


mente maior que na extensão de joelho na mesma créscimo no retorno venoso devido ao aumento na
porcentagem de 1-RM (Falkel et al., 1992). pressão intratorácica, auxiliando a preservar o volu-
me sistólico e o débito cardíaco.
O aumento na pressão intratorácica pode desem-
Mecanismos de resposta penhar função protetora para os vasos sangüíneos
pressórica cerebrais (MacDougall et al., 1985). Qualquer aumen-
to na pressão intratorácica é transmitido ao fluido
Várias hipóteses podem ser formuladas a respei- cerebrospinal, pois este percorre os forames inter-
to dos possíveis mecanismos de resposta pressórica vertebrais. Assim, reduz a pressão transmural dos
no treinamento de força. O aumento no débito car- vasos sangüíneos cerebrais, protegendo-os da lesão
díaco pode aumentar a pressão arterial. O débito car- causada pelo aumento na pressão arterial. Esse me-
díaco médio pode não ser elevado durante o treina- canismo é similar ao que está ativo na tosse ou no
mento de força (Miles et al., 1987). No entanto, esforço excessivo (Hamilton et al., 1943).
também foi relatado que o débito cardíaco nas fases O aumento da pressão intramuscular no treina-
excêntrica e concêntrica dos exercícios com sobre- mento de força poderia aumentar a resistência peri-
carga está significativamente acima dos valores em férica total e, então, diminuir a pressão arterial. Para
repouso (Falkel et al., 1992). Então, o maior débito o sangue fluir através dos vasos, a pressão intralumi-
cardíaco pode contribuir para o aumento na pressão nal deve exceder a pressão extravascular. Pressão in-
arterial durante o treinamento de força. tramuscular muito elevada (92 kPa) tem sido mensu-
O aumento da pressão intratorácica ou intra-ab- rada em ações musculares estáticas em humanos
dominal pode exercer impacto na resposta pressóri- (Edwards et al., 1972). Embora exista considerável
ca nos exercícios com sobrecarga (Fleck, 1988). A variabilidade intramuscular, as ações estáticas entre
pressão intratorácica aumenta sob exercícios de for- 40 e 60% do máximo podem impedir o fluxo sangüí-
ça (MacDougall et al., 1985; Falkel et al., 1992; Sale neo (Bonde-Petersen et al., 1975; Sadamoto et al.,
et al., 1994), especialmente quando se emprega a ma- 1983). Um decréscimo na perfusão tem sido demons-
nobra de Valsalva. Classicamente, o aumento da pres- trado estar associado a um aumento na pressão in-
são intratorácica parece eventualmente diminuir o tramuscular (Sejersted et al., 1984; Sjogaard et al.,
retorno venoso ao coração e, portanto, o débito car- 1986). O aumento da pressão intramuscular em de-
díaco. A pressão bucal, uma medida indireta da ma- corrência de ações musculares é a mais provável ra-
nobra de Valsalva, ou a própria pressão intratorácica, zão para a pressão arterial ser maior na fase concên-
têm sido mostradas por indicar uma maior pressão trica do que na excêntrica (Miles et al., 1987), sendo
intratorácica em indivíduos que apresentam débito provavelmente responsável pela pressão arterial mais
cardíaco e volume sistólico reduzidos no treinamen- alta no ponto de maior dificuldade de uma repetição
to de força do que em indivíduos que apresentam (Gotshall et al., 1999).
indicação de menor pressão intratorácica (Falkel et Propõe-se que o aumento da pressão arterial
al., 1992). Então, o aumento na pressão intratorácica durante o treinamento de força ajuda a manter a pres-
pode limitar o retorno venoso. Como conseqüência, são de perfusão em relação ao aumento da pressão
o débito cardíaco, ao mesmo tempo, pode causar ajus- intramuscular (MacDougall et al., 1985). Isso parece
te sangüíneo na circulação sistêmica, aumentando a ser verdadeiro, no mínimo, para os pequenos grupos
pressão arterial. A realização da manobra de Valsal- musculares (Wright et al., 2000). Após a fadiga do
va, que eleva a pressão intratorácica, deveria, portan- músculo adutor do polegar por realizar ações isomé-
to, induzir maior resposta da pressão sangüínea do tricas rítmicas, a pressão arterial aumenta ao contrair
que quando se exercita sem o seu emprego. O débito os extensores do joelho. Dezoito por cento da força
cardíaco e o volume sistólico podem estar acima dos isométrica perdida em razão da fadiga do adutor do
valores em repouso durante o treinamento de força. polegar foi recuperada para cada 10% de aumento
Portanto, pode-se especular que o aumento na pres- na pressão arterial. A recuperação da força contrátil
são arterial no treinamento de força em conjunto com está provavelmente relacionada ao aumento da pres-
414 PAAVO V. KOMI

são de perfusão ao músculo. É incerta a aplicabilida- 1-RM), mas também em maior sobrecarga absoluta.
de ou a magnitude desse mecanismo em relação aos Os fisiculturistas possuem menor freqüência cardía-
grandes grupos musculares. ca e duplo produto, mas não pressão arterial, duran-
te exercício em ergômetro de braço na mesma sobre-
carga absoluta quando comparados a sujeitos seden-
Adaptações crônicas durante a tários (Colliander e Tesch, 1988). Também apresen-
atividade tam menor freqüência cardíaca na mesma sobrecar-
ga relativa durante o treinamento de força do que os
A redução na freqüência cardíaca e na pressão levantadores de potência (Falkel et al., 1992). Esses
arterial sob determinada sobrecarga específica repre- estudos transversais indicam que o treinamento de
senta uma clássica adaptação cardiovascular ao trei- força pode resultar em menor resposta pressórica
namento. Relativamente poucos estudos analisam o durante o trabalho físico, incluindo o próprio treina-
efeito do treinamento crônico sobre as alterações mento de força. A menor resposta pressórica demons-
cardiovasculares durante a atividade física. trada pelos fisiculturistas, quando comparados aos
levantadores de potência, pode, em parte, dever-se à
Freqüência cardíaca, pressão menor utilização da manobra de Valsalva nos exercí-
arterial e duplo produto cios com sobrecarga (Falkel et al., 1992).
Os estudos longitudinais de curto prazo também
Estudos transversais de atletas altamente treina- indicam que o treinamento de força pode induzir
dos em força indicam que esse treinamento reduz o menor resposta pressórica em outras atividades físi-
estresse cardiovascular durante a execução de exer- cas. A freqüência cardíaca, a pressão arterial e o du-
cícios com sobrecarga e em outras tarefas (Tab. 20.4). plo produto diminuem durante a caminhada em es-
Os fisiculturistas demonstram menor pressão intra- teira rolante, caminhada em esteira rolante segurando
arterial sistólica e diastólica, assim como menor fre- pesos leves nas mãos e em cicloergômetro após 12 a
qüência cardíaca máxima durante séries a 50, 70, 80, 16 semanas de treinamento de força (Blessing et al.,
90 e 100% de 1-RM até a fadiga voluntária, do que 1987; Goldberg et al., 1988; Goldberg et al., 1994).
indivíduos sedentários e iniciantes com somente 6 a Os estudos de treinamento de curto prazo também
9 meses de experiência no treinamento de força. E, demonstram decréscimo significativo na resposta da
nessas situações, a manobra de Valsalva foi desenco- freqüência cardíaca e da pressão arterial em ações
rajada (Fleck e Dean, 1987). Os fisiculturistas eram isométricas (Goldberg et al., 1994), em idosos
mais fortes do que os outros sujeitos; então, demons- (McCartney et al., 1993) e em adultos jovens (Sale et
traram menor pressão arterial e freqüência cardía- al., 1993) durante o treinamento de força dinâmico
ca na mesma sobrecarga relativa (porcentagem de na mesma sobrecarga absoluta. Essa informação lon-

Tabela 20.4 Adaptações durante o exercício em decorrência do treinamento de força

Sobrecarga absoluta* Sobrecarga relativa*


Freqüência cardíaca ↓ Nenhuma alteração
Pressão arterial
Sistólica ↓ Nenhuma alteração ou ↓ ou ↑
Diastólica ↓ Nenhuma alteração ou ↓ ou ↑
Duplo produto ↓ Nenhuma alteração ou ↓ ↑
Volume sistólico ↑ ?
Débito cardíaco ↑ ?
VO2máx ↑ ?
*Dados mínimos e contraditórios; ?: desconhecido.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 415

gitudinal indica claramente que o treinamento de for- ma seria necessária para desenvolver uma força ab-
ça pode diminuir a resposta pressórica em inúmeras soluta submáxima. Isso resultaria em menor oclusão
outras atividades físicas. e, portanto, em decréscimo na resistência periférica
No entanto, a resposta da pressão arterial na total. Esse mecanismo pode ser responsável pelo au-
mesma sobrecarga relativa pode ser inalterada ou mento no tempo até a exaustão em cicloergômetro,
mesmo ficar maior por conta de programa de treina- sem aumento no consumo máximo de oxigênio, após
mento de força de curto prazo (Sale et al., 1994). É o programa de treinamento de força, pois permite
importante notar que a mesma sobrecarga relativa maior fluxo sangüíneo aos músculos em trabalho
(porcentagem de 1-RM) após o treinamento repre- (Marcinik et al., 1991).
senta maior sobrecarga absoluta. Após 19 semanas A lei de Laplace também oferece uma possível
de treinamento de força, a pressão sistólica de pico explicação para a redução no duplo produto. A lei
aumenta durante uma série concêntrica a 85% de pode ser representada pela fórmula T = P × R/Wt, em
1-RM até a fadiga voluntária, mas é inalterada em que T representa a tensão da parede do miocárdio, P
séries a 50, 70, 80 e 87,5% de 1-RM. A pressão di- é a pressão, R é o raio da câmara e Wt a espessura da
astólica de pico foi significativamente maior nas séries parede. Em alguns casos, o treinamento de força au-
a 50, 70 e 80% de 1-RM, mas ficou inalterada a 87,5% menta a espessura da parede ventricular esquerda com
de 1-RM. A pressão esofágica de pico aumentou sig- pouca ou nenhuma alteração no tamanho da câmara
nificativamente na série a 80% de 1-RM, mas per- ventricular esquerda. Tais alterações resultariam em
maneceu inalterada nas outras intensidades. Isso in- decréscimo na tensão da parede do miocárdio de acor-
dica o emprego mais vigoroso da manobra de Valsalva do com a lei de Laplace. A diminuição na tensão da
na série a 80% de 1-RM, enquanto a freqüência car- parede pode, simultaneamente, resultar em redução
díaca durante todas as séries tendeu a ser maior na no consumo de oxigênio do miocárdio. Embora os
mesma sobrecarga relativa e menor na mesma so- mecanismos não estejam completamente elucidados,
brecarga absoluta, mas não significativa, após as 19 parece que o treinamento de força pode reduzir o
semanas de treinamento. A informação desse estudo duplo produto e, portanto, o consumo de oxigênio
longitudinal não é consistente com a menor resposta do miocárdio.
da pressão arterial demonstrada por fisiculturistas nas
séries até a fadiga voluntária quando a manobra de Volume sistólico e débito cardíaco
Valsalva é desencorajada (Fleck e Dean, 1987). A di-
ferença entre esses dois estudos pode estar parcial- O volume sistólico e o débito cardíaco de pico de
mente relacionada à aplicação da manobra de Valsal- fisiculturistas são maiores que os de levantadores de
va durante o treinamento de força. potência durante séries de agachamento dorsal e ex-
tensão de joelho a 50, 80 e 100% de 1-RM até a fadi-
Consumo de oxigênio do miocárdio ga voluntária quando a manobra de Valsalva é per-
mitida (Falkel et al., 1992). O maior volume sistólico
O decréscimo no duplo produto indica diminui- e débito cardíaco dos fisiculturistas foi evidente nas
ção no trabalho do miocárdio e no consumo de oxi- fases de repetições concêntrica e excêntrica. Os fisi-
gênio. A redução na resistência periférica total em culturistas também demonstraram indicação de me-
repouso e durante o exercício pode explicar os resul- nor magnitude da manobra de Valsalva (pressão bu-
tados de alguns dos estudos anteriores. A diminui- cal). Então, a diferença observada entre fisiculturistas
ção na resistência periférica total durante o exercício e levantadores de potência no volume sistólico e no
na mesma sobrecarga absoluta pode parcialmente ex- débito cardíaco pode relacionar-se à magnitude da
plicar o decréscimo no duplo produto durante o exer- manobra de Valsalva realizada e, desse modo, às dife-
cício. Após um programa de treinamento de força, a renças no efeito da pressão intratorácica no retorno
sobrecarga absoluta submáxima seria realizada em venoso e na pressão arterial. Em muitas das séries
menor contração voluntária máxima relativa. Isso dos exercícios agachamento e extensão de joelho, os
seria possível após um programa de treinamento de fisiculturistas demonstraram maior freqüência car-
força devido ao aumento na força máxima; então, uma díaca máxima do que os levantadores de potência,
menor porcentagem da contração voluntária máxi- indicando que o débito cardíaco é maior nos fisicul-
416 PAAVO V. KOMI

turistas devido ao aumento no volume sistólico e na é muito pouco afetado pelo treinamento de força. Os
freqüência cardíaca. Os levantadores de potência dados transversais demonstram que o VO2máx rela-
apresentam significativamente maior 1-RM do que tivo de levantadores de peso olímpico, de levantado-
os fisiculturistas, tanto no exercício de agachamento res de potência e de fisiculturistas competitivos varia
como no de extensão de joelho, indicando que o le- de 41 a 55 mL·kg–1·min–1 (Saltin e Åstrand, 1967; Kra-
vantamento de uma sobrecarga absoluta maior pode emer et al., 1988; Stone et al., 1991; George et al.,
resultar em menor volume sistólico e débito cardía- 1995). Esses valores podem ser classificados como
co. As diferenças entre fisiculturistas e levantadores médios ou moderadamente acima da média para o
de potência indicam que o tipo de programa de trei- VO2máx relativo. A ampla variação indica que o trei-
namento pode afetar o volume sistólico e o débito namento de força pode aumentar o VO2máx, mas nem
cardíaco ao treinamento de força. todos os programas apresentam essa possibilidade.
Um estudo longitudinal de curto prazo indica que Os dados longitudinais demonstram que o trei-
o treinamento de força pode afetar a magnitude da namento de força no qual são realizadas poucas re-
manobra de Valsalva (Sale et al., 1994). Após 19 se- petições por série com alta sobrecarga e longos perío-
manas de treinamento de força, a pressão esofágica dos de recuperação promove pequeno aumento ou
durante uma série na mesma sobrecarga relativa (por- nenhuma alteração no VO2máx relativo (Fahey e
centagem de 1-RM) permanece inalterada. No en- Brown, 1973; Hickson et al., 1980; Gettman e Pollock,
tanto, na mesma sobrecarga absoluta, que represen- 1981; Lee et al., 1990). Sete semanas de programa de
ta menor porcentagem de 1-RM após o treinamento, levantamento (estilo olímpico) pode gerar ganhos
a pressão esofágica pode ser diminuída nas primeiras moderados no VO2máx absoluto (9%) e no VO2máx
repetições de uma série. Isso indica uma manobra de relativo (8%) (Stone et al., 1983b). As primeiras cin-
Valsalva menos vigorosa nas primeiras repetições na co semanas do treinamento nesse estudo consisti-
mesma sobrecarga absoluta após o treinamento de ram de 3 a 5 séries de 10 repetições para cada exercí-
força. Essa redução pode permitir que o volume sis- cio, com intervalo de 3,5 a 4 minutos entre as séries e
tólico e o débito cardíaco aumentem quando com- os exercícios, em duas sessões diárias, três dias por
parados ao pré-treinamento. A pressão esofágica nas semana. O treinamento de impulsão vertical foi rea-
últimas repetições não é afetada pelo treinamento e, lizado três dias por semana durante as cinco semanas
portanto, não alteraria o volume sistólico ou o débito iniciais de treinamento. O treinamento durante as duas
cardíaco em relação aos valores pré-treinamento. semanas seguintes foi idêntico ao das primeiras cinco
Imediatamente após o treinamento de força, o semanas nas três séries de cinco repetições foram rea-
débito cardíaco (30 L·min–1) e o volume sistólico (150 lizadas e o treinamento de impulsão vertical foi feito
a 200 mL) dos levantadores de peso estão significati- somente um dia por semana. A maioria do ganho no
vamente elevados acima dos valores em repouso (Vo- VO2máx ocorreu nas primeiras cinco semanas de trei-
robyev, 1988). Em indivíduos não-treinados, a alte- namento, sem nenhum ganho significativo adicional
ração não é significativa. Esses estudos indicam que nas últimas duas. Os resultados indicam que um trei-
o volume sistólico e o débito cardíaco podem ser namento de força de alto volume pode ser necessário
maiores durante o treinamento de força em indiví- para induzir um ganho significativo no VO2máx. No
duos treinados em força quando comparados aos in- entanto, essa conclusão deve ser considerada com cau-
divíduos não-treinados. Qualquer alteração crônica tela devido à inclusão do treinamento de impulsão
no volume sistólico e no débito cardíaco como re- vertical no programa total de treinamento.
sultado do treinamento de força pode estar relacio- O treinamento em circuito consiste de 12 a 15 re-
nada à qualidade de aplicação da manobra de Valsalva petições por série usando de 40 a 60% de 1-RM e
após o treinamento e ao tipo de treinamento realizado. com um pequeno intervalo de recuperação, de 15 a 30
s, entre as séries e os exercícios. Com esse tipo de trei-
Consumo de oxigênio máximo namento, o VO2máx relativo aumenta aproximada-
mente 4% em homens e 8% em mulheres durante 8 a
O consumo de oxigênio de pico (VO2máx) em 20 semanas de treinamento (Gettman e Pollock, 1981).
uma esteira rolante ou cicloergômetro é considerado A freqüência cardíaca durante o condicionamento
um indicador de aptidão cardiovascular. O VO2máx físico deve ser mantida a 60% do máximo por, no
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 417

mínimo, 20 minutos a fim de induzir ganho signifi- nitivamente necessária em relação à resposta e às adap-
cativo no VO2máx (American College of Sports Me- tações cardiovasculares ao treinamento de força. Em
dicine, 1990). A freqüência cardíaca em exercício e o particular, é necessária pesquisa referente ao efeito da
custo metabólico total de uma sessão de treinamen- intensidade e do volume de treinamento na resposta
to em circuito são significativamente maiores do que cardiovascular aguda e sobre os efeitos do treinamen-
em uma sessão tradicional de treinamento de força to de longo prazo sobre a resposta cardiovascular em
(Pichon et al., 1996). Isso pode ocorrer, em parte, por- repouso e durante a atividade física.
que o treinamento em circuito produz aumento signi-
ficativo no VO2máx, enquanto o treinamento mais tra-
dicional e de alta intensidade induz pouca ou nenhuma Referências
alteração. Os períodos de recuperação relativamente
longos, utilizados pelo programa de treinamento de American College of Sports Medicine (1990) The recom-
força tradicional, permitem a redução da freqüência mended quantity and quality of exercise for developing
cardíaca abaixo do nível recomendado (60% do máxi- and maintaining cardiorespiratory and muscular fitness
mo) necessário para aumentar significativamente o in healthy adults. Medicine and Science in Sports and Exer-
VO2máx. Logo, os programas de treinamento de força cise 22, 265-274.
devem utilizar curto período de recuperação quando Berg, A., Ringwald, G. & Keul, J. (1980) Lipoprotein-cho-
o objetivo é o aumento do VO2máx. lesterol in well-trained athletes. A preliminary commu-
Mesmo quando o aumento no VO2máx é produ- nication: reduced HDL-cholesterol in power athletes.
zido pelo treinamento de força, esse aumento é subs- International Journal of Sports Medicine 1, 137-138.
Blessing, D., Stone, M., Byrd, R. et al. (1987) Blood lipid
tancialmente menor que aquele associado ao treina-
and hormonal changes from jogging and weight trai-
mento tradicional de endurance com cicloergômetro,
ning in middle-aged men. Journal of Applied Sports Scien-
corrida e natação (15 a 25%). Portanto, se o aumento ce Research 1, 25-29.
significativo do VO2máx representa o principal obje- Blumenthal, J.A., Fredrikson, M., Khun, C.M., Ulmer, R.L.,
tivo do programa de treinamento, então alguma Walsh-Riddle, M. & Appelbaum, M. (1990) Aerobic
forma de treinamento aeróbio deve ser incluída. O exercise reduces level of cardiovascular and sympatho-
volume de treinamento aeróbio necessário para pre- adrenal responses to mental stress in subjects without
servar ou aumentar significativamente o VO2máx prior evidence of myocardial ischemia. American Journal
pode ser mínimo diante do treinamento de força of Cardiology 65, 93-98.
(Nakao et al., 1995). Sujeitos treinados moderada- Bonde-Petersen, F., Mork, A.L. & Nielsen, E. (1975) Local
mente incrementam pouco, mas significativamente, muscle blood flow and sustained contractions of hu-
man arms and back muscles. European Journal of Applied
o VO2máx relativo (3 a 4 mL·kg–1·min–1) durante 1 a
Physiology and Occupational Physiology 34, 43-50.
2 anos de treinamento de força, com apenas uma ses-
Brown, S., Byrd, R., Jayasinghe, M.D. & Jones, D. (1983)
são de treinamento aeróbio por semana (3,2 km de Echocardiographic characteristics of competitive and
corrida por sessão). Os indivíduos que realizaram so- recreational weight lifters. Journal of Cardiovascular Ul-
mente treinamento de força durante o mesmo perío- trasonography 2, 163-165.
do de tempo demonstraram um decréscimo pequeno, Byrne, H.K. & Wilmore, J.H. (2000) The effects of resistan-
mas significativo, no VO2máx relativo. Nenhuma dife- ce training on resting blood pressure in women. Journal
rença no ganho de força máxima entre os corredores e of Strength and Conditioning Research 14, 411-418.
não-corredores foi demonstrada. Colan, S., Sanders, S.P., McPherson, D. & Borrow, K.M.
Para concluir, a adesão a um programa de treina- (1985) Left ventricular diastolic function in elite athle-
mento de força resulta em uma resposta pressórica tes with physiologic cardiac hypertrophy. Journal of the
American College of Cardiology 6, 545-549.
que afeta o sistema cardiovascular. Informações até
Colan, S., Sanders, S.P. & Borrow, K.M. (1987) Physiologic
o presente momento indicam que o treinamento de
hypertrophy: effects on left ventricular systolic mecha-
força pode produzir adaptações positivas no sistema nisms in athletes. Journal of the American College of Car-
cardiovascular em repouso e durante atividades físi- diology 9, 776-783.
cas. Fatores como volume e intensidade do programa Colliander, E.B. & Tesch, P. (1988) Blood pressure in
de treinamento de força influenciam a magnitude com resistance-trained athletes. Canadian Journal of Sports
que as adaptações ocorrem. Pesquisa adicional é defi- Science 13, 31-34.
418 PAAVO V. KOMI

Deligiannis, A., Zahopoulou, E. & Mandroukas, K. (1988) Goldberg, A.P. (1989) Aerobic and resistance exercise mo-
Echocardiographic study of cardiac dimensions and dify risk factors for coronary heart disease. Medicine and
function in weight lifters and body builders. Internatio- Science in Sports and Exercise 21, 669-674.
nal Journal of Sports Cardiology 5, 24-32. Goldberg, L., Elliot, D.L. & Kuehl, K.S. (1988) Cardiovas-
Dickhuth, H.H., Simon, G., Kindermann, W., Wildberg, A. cular changes at rest and during mixed static and dyna-
& Keul, J. (1979) Echocardiographic studies on athle- mic exercise after weight training. Journal of Applied Sports
tes of various sport-types and nonathletic persons. Zeits- Science Research 2, 42-45.
chrift fur Kardiologie 68, 449-453. Goldberg, L., Elliot, D.L. & Kuehl, K.S. (1994) A compari-
Edwards, R.H.T., Hill, D.K. & McDonnell, M.N. (1972) son of the cardiovascular effects of running and weight
Monothermal and intramuscular pressure measure- training. Journal of Strength and Conditioning Research 8,
ments during isometric contractions of the human qua- 219-224.
driceps muscle. Journal of Physiology 224, 58-59. Gonzalez-Camarena, R., Carrasco-Sosa, S., Roman-Ramos,
Effron, M.B. (1989) Effects of resistance training on left R., Gaitan-Gonzalez, M.J., Medina-Banuelos, V. &
ventricular function. Medicine and Science in Sports and Azpiroz-Leehan, J. (2000) Effect of static and dynamic
Exercise 21, 694-697. exercise on heart rate and blood pressure variabilities.
Ellias, B.A., Berg, K.E., Latin, R.W., Mellion, M.B. & Hofs- Medicine and Science in Sports and Exercise 32, 1719-1728.
chire, P.J. (1991) Cardiac structure and function in Gotshall, R.W., Gootman, J., Byrnes, W.C., Fleck, S.J. &
weight trainers, runners, and runner/weight trainers. Volovich, T.C. (1999) Noninvasive characterization of
Research Quarterly for Exercise and Sport 62, 326-332. the blood pressure response to the double-leg press
Elliot, D.L., Goldberg, L., Kuehl, K.S. & Katlin, D.H. (1987) exercise. Journal of Exercise Physiology online 2,
Characteristics of anabolic-androgenic steroid-free, www.css.edu/users/tboone2.
competitive male and female body builders. Physician Haennel, R., Teo, K.K., Quinney, A. & Kappagoda, T. (1989)
and Sportsmedicine 15, 169-179. Effects of hydraulic circuit training on cardiovascular
Fahey, T.D. & Brown, H. (1973) The effects of an anabolic function. Medicine and Science in Sports and Exercise 21,
steroid on the strength, body composition, and endu- 605-612.
rance of college males when accompanied by a weight Hagberg, J.M., Ehsoni, A.A., Goldring, D., Hernandez, A.,
training program. Medicine and Science in Sports 5, Sincore, D.R. & Holloszy, J.O. (1984) Effect of weight
272-276. training on blood pressure and hemodynamics in hyper-
Falkel, J.E., Fleck, S.J. & Murray, T.F. (1992) Comparison of tensive adolescents. Journal of Pediatrics 104, 147-151.
central hemodynamics between powerlifters and body Hamilton, W.F., Woodbury, R.A. & Harper, H.T. (1943) Ar-
builders during exercise. Journal of Applied Sports Science terial, cerebrospinal, and venous pressures in man du-
Research 6, 24-35. ring cough and strain. American Journal of Physiology 141,
Fleck, S.J. (1988) Cardiovascular adaptations to resistance 42-50.
training. Medicine and Science in Sports and Exercise 20, Harris, K.A. & Holly, R.G. (1987) Physiological responses
S146-S151. to circuit weight training in borderline hypertensive
Fleck, S.J. & Dean, L.S. (1987) Resistance-training expe- subjects. Medicine and Science in Sports and Exercise 19,
rience and the pressor response during resistance exer- 246-252.
cise. Journal of Applied Physiology 63, 116-120. Haykowsky, M.J., Quinney, H.A., Gillis, R. & Thompson,
Fleck, S.J., Bennett, J.B. III, Kraemer, W.J. & Baechle, T.R. C.R. (2000) Left ventricular morphology in junior and
(1989a) Left ventricular hypertrophy in highly strength master resistance trained athletes. Medicine and Science
trained males. In: Sports Cardiology 2nd International Con- in Sports and Exercise 32, 349-352.
ference (eds T. Lukich, A. Venerando, P. Zeppilli & A. Hickson, R.C., Rosenkoetter, M.A. & Brown, M.M. (1980)
Gaggi), Vol. 2, pp. 303-311. Strength training effects on aerobic power and
Fleck, S.J., Henke, C. & Wilson, W. (1989b) Cardiac MRI of short-term endurance. Medicine and Science in Sports and
elite junior Olympic weight lifters. International Journal Exercise 12, 336-339.
of Sports Medicine 10, 329-333. Hill, D.W. & Butler, S.D. (1991) Hemodynamic responses
George, K.P., Wolfe, L.A., Burggraf, G.W. & Normna, R. to weightlifting exercise. Sports Medicine 12, 1-7.
(1995) Electrocardiographic and echocardiographic Hurley, B.F. (1989) Effects of resistance training on lipo-
characteristics of female athletes. Medicine and Science in protein-lipid profiles: a comparison to aerobic exercise
Sports and Exercise 27, 1362-1370. training. Medicine and Science in Sports and Exercise 21,
Gettman, L.R. & Pollock, M.I. (1981) Circuit weight trai- 689-693.
ning: a critical review of its physiological benefits. Phy- Hurley, B.F., Seals, D.R., Hagberg, J.M. et al. (1984)
sician and Sportsmedicine 9, 44-60. High-density-lipoprotein cholesterol in bodybuilders
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 419

vs powerlifters. Journal of the American Medical Association distance runners and weight lifters. Journal of Applied
252, 507-513. Physiology: Respiration, Environmental and Exercise Physio-
Hurley, B.F., Hagberg, J.M., Seals, D.R., Ehsani, A.A., Gol- logy 48, 154-162.
dberg, A.P. & Holloszy, J.O. (1987) Glucose tolerance Longhurst, J.C., Kelly, A.R., Gonuea, W.J. & Mitchell, J.H.
and lipid-lipoprotein levels in middle-age powerlifters. (1980b) Cardiovascular responses to static exercise in
Clinical Physiology 7, 11-19. distance runners and weight lifters. Journal of Applied
Hurley, B.F., Hagberg, J.M., Goldberg, A.P. et al. (1988) Re- Physiology: Respiration, Environmental and Exercise Physio-
sistive training can reduce coronary risk factors without logy 49, 676-683.
altering VO 2max or percent body fat. Medicine and Ludbrook, J., Faris, I.B., Iannos, J., Jamieson, G.G. & Rus-
Science in Sports and Exercise 20, 150-154. sel, W.J. (1978) Lack of effect of isometric handgrip exer-
Iellamo, F., Legramante, J.M., Raimondi, G. et al. (1997) cise on the responses of the carotid sinus baroreceptor
Effects of isokinetic, isotonic and isometric submaxi- reflex in man. Clinical Science and Molecular Medicine 55,
mal exercise on heart rate and blood pressure. European 189-194.
Journal of Applied Physiology 75, 89-96. Lusiani, L., Ronsisvalle, G., Bonanome, A., Castellani, V.,
Johnson, C.C., Stone, M.H., Lopez, S.A., Hebert, J.A., Kil- Macchia, C. & Pagan, A. (1986) Echocardiographic eva-
gore, L.T. & Byrd, R.J. (1982) Diet and exercise in luation of the dimensions and systolic properties of the
middle-age men. Journal of the American Dietic Association left ventricle in freshman athletes during physical trai-
81, 695-701. ning. European Heart Journal 7, 196-203.
Kahn, J.F., Kapitaniak, B. & Monod, H. (1985) Compari- McCall, G.E., Byrnes, W.C., Dickinson, A., Pattany, P.M. &
sons of two modalities when exerting isometric con- Fleck, S.J. (1996) Muscle fiber hypertrophy, hyperpla-
tractions. European Journal of Applied Physiology 54, sia, and capillary density in college men after resistance
331-335. training. Journal of Applied Physiology 81, 2004-2012.
Kanakis, C. & Hickson, C. (1980) Left ventricular respon- McCartney, N., McKelvie, R.S., Martin, J., Sale, D.G. &
ses to a program of lower-limb strength training. Chest MacDougall, J.D. (1993) Weight-training induced at-
78, 618-621. tenuation of the circulatory response of older males
Kleiner, D.M., Blessing, D.L., Davis, W.R. & Mitchell, J.W. to weight lifting. Journal of Applied Physiology 74,1056-
(1996) Acute cardiovascular responses to various forms 1060.
of resistance exercise. Journal of Strength and Conditioning MacDougall, J.D., Tuxen, D., Sale, D.G., Moroz, J.R. & Sut-
Research 10, 56-61. ton, J.R. (1985) Arterial blood pressure response to he-
Kleiner, D.M., Blessing, D.L., Mitchell, J.W. & Davis, W.R. avy resistance exercise. Journal of Applied Physiology 58,
(1999) A description of the acute cardiovascular respon- 785-790.
ses to isokinetic resistance at three different speeds. Jour- Marcinik, E.J., Potts, J., Schlabach, G., Will, S., Dawson, P.
nal of Strength and Conditioning Research 13, 360-366. & Hurley, B.F. (1991) Effects of strength training on
Kraemer, W.J., Deschenes, M.R. & Fleck, S.J. (1988) Physi- lactate threshold and endurance performance. Medicine
ological adaptations to resistance exercise implications and Science in Sports and Exercise 23, 739-743.
for athletic conditioning. Sports Medicine 6, 246-256. Menapace, F.J., Hammer, W.J., Ritzer, T.F. et al. (1982) Left
Kujala, U.M., Sarna, S., Kaprio, J., Tikkanen, H.O. & ventricular size in competitive weight lifters: and echo-
Koskenvuo, M. (2000) Natural selection to sports, later cardiographic study. Medicine and Science in Sports and
physical activity habits, and coronary heart disease. Bri- Exercise 14, 72-75.
tish Journal of Sports Medicine 34, 445-449. Miles, D.S., Owens, J.J., Golden, J.C. & Gotshall, R.W. (1987)
Lee, A., Craig, B.W., Lucas, J., Pohlman, R. & Stelling, H. Central and peripheral hemodynamics during maximal
(1990) The effect of endurance training, weight trai- leg extension exercise. European Journal of Applied Physi-
ning and a combination of endurance and weight trai- ology 56, 12-17.
ning upon the blood lipid profile of young male sub- Moffatt, R.J., Wallace, M.B. & Sady, S.P. (1990) Effect of
jects. Journal of Applied Sports Science Research 4, 68-75. anabolic steroids on lipoprotein profiles of female weight
LeMura, L.M., von Duvillard, S.P., Andreacci, J., Klebez, lifters. Physician and Sportsmedicine 18, 106-115.
J.M., Chelland, S.A. & Russo, J. (2000) Lipid and lipo- Morgan, D.W., Cruise, R.J., Girardin, B.W., Lutz-Schnei-
protein profiles, cardiovascular fitness, body composi- der, V., Morgan, D.H. & Qi, W.M. (1986) Hdl-c con-
tion and diet during and after resistance, aerobic and centrations in weight-trained, endurance trained, and
combination training in young women. European Jour- sedentary females. Physician and Sportsmedicine 14,
nal of Applied Physiology 82, 451-458. 166-181.
Longhurst, J.C., Kelly, A.R., Gonuea, W.J. & Mitchell, J.H. Nakao, M., Inoue, Y. & Murakami, H. (1995) Longitudinal
(1980a) Echocardiographic left ventricular masses in study of the effect of high-intensity weight training on
420 PAAVO V. KOMI

aerobic capacity. European Journal of Applied Physiology Echocardiographic dimensions in athletes in relation
70, 20-25. to their training programs. Medicine and Science in Sports
Pearson, A.C., Schiff, M., Mrosek, D., Labovitz, A.J. & and Exercise 14, 32-34.
Williams, G.A. (1986) Left ventricular diastolic function Spataro, A., Pelliccia, A., Caselli, G., Amici, E. & Verneran-
in weight lifters. American Journal of Cardiology 58, do, A. (1985) Echocardiographic standards in top-class
1254-1259. athletes. Journal of Sports Cardiology 2, 17-27.
Perrault, H. & Turcotte, R.A. (1994) Exercise-induced car- Spataro, A., Pellicca, A., Proschan, M.A. et al. (1994) Mor-
diac hypertrophy fact or fallacy? Sports Medicine 17, phology of the ‘athlete’s heart’ assessed by echocardio-
288-308. graphy in 947 elite athletes representing 27 sports. Ame-
Pichon, C.E., Hunter, G.R., Morris, M., Bond, R.L. & Metz, rican Journal of Cardiology 74, 802-806.
J. (1996) Blood pressure and heart rate response and Staron, R.S., Karapondo, D.L., Kraemer, W.J. et al. (1994)
metabolic cost of circuit versus traditional weight trai- Skeletal muscle adaptations during the early phase of
ning. Journal of Strength and Conditioning Research 10, heavy-resistance training in men and women. Journal of
153-156. Applied Physiology 76, 1247-1255.
Ricci, G., Lajoie, D., Petticlerc, R. et al. (1982) Left ventri- Staron, R.S., Murray, T.E., Gilders, R.M., Hagerman, F.C.,
cular size following endurance, sprint, and strength trai- Hikida, R.S. & Ragg, K.E. (2000) Influence of resistan-
ning. Medicine and Science in Sports and Exercise 14, ce training on serum lipid and lipoprotein concentra-
344-347. tions in young men and women. Journal of Strength and
Sadamoto, T., Bonde-Petersen, F. & Suzuki, Y. (1983) Ske- Conditioning Research 14, 37-44.
letal muscle tension, flow pressure and EMG during Stone, M.H., Nelson, J.K., Nader, S. & Carter, D. (1983a)
sustained isometric contractions in humans. European Short-term weight training effects on resting and reco-
Journal of Applied Physiology 51, 395-408. very heart rates. Athletic Training 18, 69-71.
Sale, D.G., Moroz, D.E., McKelvie, R.S., MacDougall, J.D. Stone, M.H., Wilson, G.D., Blessing, D. & Rozenek, R.
& McCartney, N. (1993) Comparison of blood pressu- (1983b) Cardiovascular responses to short-term Olym-
re response to isokinetic and weight-lifting exercise. pic style weight-training in young man. Canadian Jour-
European Journal of Applied Physiology 67, 115-120. nal of Applied Sports Science 8, 134-139.
Sale, D.G., Moroz, D.E., McKelvie, R.S., MacDougall, J.D. Stone, M.H., Pierce, K., Godsen, R. et al. (1987) Heart rate
& McCartney, N. (1994) Effect of training on the blood and lactate levels during weight-training exercises in
pressure response to weight lifting. Canadian Journal of trained and untrained men. Physician and Sportsmedicine
Applied Physiology 19, 60-74. 15, 97-105.
Saltin, B. & Astrand, P.O. (1967) Maximal oxygen uptake Stone, M.H., Fleck, S.J., Triplett, N.R. & Kraemer, W.J. (1991)
in athletes. Journal of Applied Physiology 23, 353-358. Physiological adaptations to resistance training exerci-
Scala, D., McMillian, J., Blessing, D., Rozenek, R. & Stone, se. Sports Medicine 11, 210-231.
M. (1987) Metabolic cost of a preparatory phase of trai- Tesch, P.A. (1987) Acute and long-term metabolic changes
ning in weightlifting: a practical observation. Journal of consequent to heavy-resistance exercise. Medicine and
Applied Sports Science Research 1, 48-52. Science in Sports and Exercise 26, 67-89.
Scharf, H.-P., Eckhardt, R., Maurus, M. & Puhl, W. (1994) Tikkanen, H.O., Naveri, H. & Harkonen, M. (1996) Skele-
Metabolic and hemodynamic changes during isokine- tal muscle fiber distribution influences serum
tic muscle training. International Journal of Sports Medici- high-density lipoprotein cholesterol level. Atherosclero-
ne 15, S56-S59. sis 120, 1-5.
Sejersted, O.M., Hargens, A.R., Kardel, K.R., Blom, P., Jen- Twisk, J.W.R., Kemper, H.C.G. & van Mechelen, W. (2000)
sen, O. & Hermansen, L. (1984) Intramuscular fluid Tracking of activity and fitness and the relationship with
pressure during isometric contractions of human ske- cardiovascular disease risk factors. Medicine and Science
letal muscle. Journal of Applied Physiology 56, 287-295. in Sports and Exercise 32, 1455-1461.
Sjogaard, G., Kiens, B., Jorgensen, K. & Saltin, B. (1986) Urhausen, A. & Kindermann, W. (1992) Echocardiogra-
Intramuscular pressure, EMG and blood flow during phic findings in strength- and endurance-trained ath-
low-level prolonged static contraction in man. Acta Phy- letes. Sports Medicine 13, 270-284.
siologica Scandinavica 128, 475-484. Viitasalo, J.T., Komi, P.V. & Karovonen, M.J. (1979) Muscle
Smith, M.L. & Raven, B.P. (1986) Cardiovascular respon- strength and body composition as determinants of
ses to lower body negative pressure in endurance and blood pressure in young men. European Journal of Appli-
static exercise trained men. Medicine and Science in Sports ed Physiology 42, 165-173.
and Exercise 18, 545-550. Vorobyev, A.N. (1988) Part 12: Musculo-skeletal and cir-
Snoecky, L.H.E.H., Abeling, H.F.M., Lambrets, J.A.C., Sch- culatory effects of weightlifting. Soviet Sports Review 23,
mitz, J.J.F., Verstappen, F.T.J. & Reneman, R.S. (1982) 144-148.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 421

Wallace, M.B., Moffatt, R.J., Haymes, E.M. & Green, N.R. in man with low, intermediate, and normal-to-high hdl
(1991) Acute effects of resistance exercise on parame- at baseline. Metabolism 43, 917-924.
ters of lipoprotein metabolism. Medicine and Science in Wolfe, L.A., Cunningham, D.A. & Boughner, D.R. (1986)
Sports and Exercise 23, 199-204. Physical conditioning effects on cardiac dimensions: a
Wang, N., Hikida, R.S., Staron, R.S. & Simoneau, J.-A. review of echocardiographic studies. Canadian Journal of
(1993) Muscle fiber types of women after resistance Applied Sports Science 11, 66-79.
training-quantitative ultrastructure and enzyme activi- Wright, J.R., McCloskey, D.I. & Fitzpatrick, R.C. (2000)
ty. Pfliigers Archiv 424, 494-502. Effects of systemic arterial blood pressure on the con-
Williams, P.T., Stefanick, M.L., Vranizan, K.M. & Wood, tractile force of a human hand muscle. Journal of Applied
P.D. (1994) The effects of weight loss of exercise or by Physiology 88, 1390-1396.
dieting on plasma high-density lipoprotein (hdl) levels
Parte IV

Considerações especiais
no treinamento de
força e potência
Capítulo 21
Envelhecimento e adaptação
neuromuscular ao
treinamento de força
KEIJO HÄKKINEN

Envelhecimento, atrofia muscular,


ativação e decréscimo na força e
na potência

A força muscular humana alcança o seu pico


entre os 20 e os 30 anos de idade. Posteriormente,
permanece inalterada ou decresce lentamente por
mais 20 anos. No entanto, há um declínio gradativo
na força muscular máxima em ambos os gêneros com
o avanço da idade, especialmente no início da sexta
década de vida (Viitasalo et al., 1985; Frontera et al.,
1991; Häkkinen e Häkkinen, 1991; Narici et al., 1991;
Porter et al., 1995; Häkkinen et al., 1996b; Häkkinen
et al., 1998a). O decréscimo na força máxima no perí-
odo entre os 30 e os 80 anos pode ser de 30 a 40%. O
decréscimo na força máxima associado à idade pode
também variar ligeiramente entre diferentes grupos
musculares (Fig. 21.1). A perda de força muscular nos
músculos proximais das extremidades inferiores pa- Figura 21.1 Força isométrica máxima média (± desvio
rece ser maior do que a das extremidades superiores, padrão) de vários grupos musculares em homens de três
presumivelmente devido ao menor uso diário dos diferentes grupos etários (de Viitasalo et al., 1985).
músculos dos membros inferiores do que dos supe-
riores em pessoas idosas (Frontera et al., 1991).
O decréscimo na força muscular associado à idade bém com o declínio no volume de atividade física e/
está relacionado a vários fatores resumidos na Figura ou decréscimo na sobrecarga (intensidade) das res-
21.2 (Porter et al., 1995). Contudo, o decréscimo na pectivas atividades. O declínio na massa muscular
força máxima está fortemente relacionado à diminui- deve-se tanto ao decréscimo no tamanho das fibras
ção na massa muscular, no homem e na mulher, de- musculares, especialmente das fibras tipo II (contra-
vido ao envelhecimento estar associado com altera- ção rápida), como à perda de fibras individuais (Larr-
ções no equilíbrio hormonal, especialmente com son et al., 1978; Essen-Gustavsson e Borges, 1986;
decréscimo nos níveis dos andrógenos (Vermulen et Lexell et al., 1988). Os dados apresentados na Figura
al., 1972; Chakravati et al., 1976; Hammond et al., 21.3 indicam a atrofia muscular associada à idade,
1978; Häkkinen e Pakarinen, 1993) e em geral tam- em que idosos de ambos os gêneros na faixa etária de
426 PAAVO V. KOMI

Figura 21.2 Mecanismos


propostos que induzem decréscimo
na força e na potência musculares
com o avanço da idade (modificada
de Porter et al., 1995).

70 anos foram comparados com indivíduos na faixa algumas fibras musculares são permanentemente
de 50 anos, atrofia está relacionada principalmente à desnervadas e perdidas. O processo de desnervação e
atrofia das fibras tipo II. Lexell e colaboradores (1988) o de inatividade parecem ser responsáveis pela alte-
demonstraram que a atrofia muscular do envelheci- ração no tamanho da fibra com o avanço da idade
mento, pelo menos no músculo vasto lateral, é cau- (Lexell et al., 1988). O nível de alteração da propor-
sada principalmente pela perda de fibras e, em me- ção dos diferentes tipos de fibras durante o envelhe-
nor magnitude, pelo decréscimo do tamanho da fibra, cimento representa uma questão muito difícil de ser
especialmente do tipo II. A redução do número de respondida. De acordo com Lexell e colaboradores
fibras pode ser causada pela lesão irreparável das fi- (1988), podem existir vários processos que afetam as
bras ou pela perda permanente do contato entre os propriedades das fibras. As alterações provocadas pela
nervos das fibras musculares. Parte da população das perda específica de um tipo de unidade motora tal-
fibras parece ser submetida a um processo de des- vez não possam ser detectadas.
nervação, embora a reinervação também seja possí- Como a proporção de tecido muscular diminuir
vel com o avanço da idade. Contudo, segue-se sub- com o avanço da idade, o declínio na área de secção
seqüentemente um processo de substituição por transversa muscular total associado à idade também
gordura e tecido fibroso que induz à menor propor- pode ser “facilmente” demonstrado, conforme a Fi-
ção de tecido muscular no envelhecimento, quando gura 21.4, para o músculo quadríceps femoral em

Figura 21.3 Área média das fibras


musculares dos tipos I e II do vasto lateral
em homens e mulheres de três diferentes
grupos etários (Essen-Gustavsson e
Borges, 1986).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 427

alterações nas características “qualitativas” do tecido


muscular.
Atualmente, o declínio da força muscular associa-
do à idade demonstra, em parte, ao decréscimo da
ativação voluntária máxima dos músculos agonistas.
Isso foi indicado pela ativação muscular incompleta
em esforços voluntários máximos realizados com a
adição de pulsos supramáximos simples no quadrí-
ceps femoral (Harridge et al., 1999) e no bíceps bra-
quial (Yue et al., 1999). A ativação muscular incom-
pleta (Fig. 21.5) pode parcialmente ser explicada pelo
decréscimo na freqüência de disparo das unidades
motoras associado à idade (Kamen et al., 1995) (Fig.
21.6). Além das alterações no impulso neural volun-
tário máximo aos músculos agonistas, parece ocor-
rer um aumento na co-ativação antagonista associa-
do à idade, especialmente em ações dinâmicas (Fig.
21.7). No entanto, uma conclusão que parece clara é
que a extensão na qual o impulso neural voluntário é
reduzido com a idade é provavelmente muito menor
do que as alterações neuromusculares periféricas pro-
movidas pelo envelhecimento. Devido ao fato de al-
guns dados também indicarem que a idade não ne-
cessariamente prejudicaria a capacidade voluntária
em ativar de maneira máxima alguns músculos, por
Figura 21.4 Área de secção transversa média (± desvio exemplo, o primeiro interósseo dorsal da mão (Enoka
padrão) do quadríceps femoral e 1-RM para extensão bilateral et al., 1992), o decréscimo nessa capacidade de ativa-
do joelho em homens e mulheres de meia-idade e idosos ção na pessoa idosa pode apresentar alguma varia-
(Häkkinen et al., 1998a).

homens e mulheres de diferentes grupos etários. Os


resultados indicam que o declínio na área de secção
transversa associado à idade e na força máxima pare-
cem ocorrer em paralelo. Nenhuma, ou somente pou-
ca diferença, é geralmente observada entre os dife-
rentes grupos etários quando os valores da força
máxima são relacionados aos da área de secção trans-
versa muscular. Isso respalda o conceito de que o
decréscimo na força com o aumento da idade está
muito mais relacionado à diminuição da massa mus-
cular (Frontera et al., 1991). No entanto, no grupo
idoso as variações interindividuais nos valores de for-
ça, quando ajustados pela área de secção transversa,
podem ser maiores do que nos grupos jovens (Häkki-
nen e Häkkinen, 1991). Isso indica que, além do de-
créscimo da massa muscular, a diminuição da força Figura 21.5 Nível de ativação (%) durante a contração
máxima, especialmente em idosos, também deve-se voluntária máxima em grupos idosos e jovens (Yue et al.,
à redução no input neural voluntário máximo e/ou a 1999).
428 PAAVO V. KOMI

Figura 21.6 Freqüência de disparo das


unidades motoras em jovens e idosos.

ção entre os diferentes músculos e grupos muscula- ção, pois as pessoas idosas podem envolver-se pri-
res, de acordo com a sua menor utilização em ativi- mariamente, em atividades de endurance, aeróbias ou
dades físicas diárias normais. de alongamento, realizadas com baixa sobrecarga.
Contudo, as informações disponíveis sugerem No movimento humano normal, o tempo neces-
que, para minimizar a atrofia muscular e o decrésci- sário para produzir determinado nível de força sub-
mo da força muscular associados à idade, o treina- máxima pode, algumas vezes, ser tão importante como
mento de força deve ser parte de um programa geral o próprio nível de força absoluta. O envelhecimento
de treinamento físico para homens e mulheres em induz declínio na massa muscular e na força máxi-
processo de envelhecimento. Isso merece maior aten- ma. No entanto, estudos demonstram que o prejuízo
na produção de força explosiva é maior (Bosco e Komi,
1980; Clarkson et al., 1981; Häkkinen e Häkkinen,
1991; Häkkinen et al., 1998a; Izquierdo et al., 1991).
Os resultados apresentados na Figura 21.8 respal-
dam essa referência, demonstrando que a impulsão
vertical máxima diminui com o avanço da idade em
homens e em mulheres. No entanto, deve-se consi-
derar que a impulsão vertical, especialmente em ido-
sos, não é influenciada somente pela produção de
força explosiva, mas também pelo nível de força má-
xima absoluta que contribui para essa capacidade
de desempenho neuromuscular. Por sua vez, o de-
créscimo da força explosiva também pode ser ob-
servado pelas diferenças drásticas no formato da cur-
va força-tempo observadas entre sujeitos jovens, de
meia-idade e idosos de ambos os sexos (Häkkinen e
Figura 21.7 IEMG (em valores relativos [%]) média (± desvio Häkkinen, 1991; Häkkinen et al., 1995; Häkkinen
padrão) para o bíceps femoral nas fases isométrica máxima e et al., 1996b; Häkkinen et al., 1998a), conforme mos-
inicial (500 ms) (rapidamente produzida), 1-RM concêntrico e
ações explosivas (com a sobrecarga de 50% de 1-RM) dos trado na Figura 21.9 para os músculos extenso-
extensores do joelho em indivíduos de meia-idade e idosos res do joelho em homens de três diferentes grupos
(modificada de Häkkinen et al., 1998a). etários.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 429

O formato da curva isométrica força-tempo tam-


bém pode ser analisado de forma relativa — referen-
te à porcentagem de força máxima de cada indiví-
duo. O formato da curva isométrica (relativa)
força-tempo também é alterado de modo significati-
vo em pessoas idosas, especialmente em mulheres
(Häkkinen e Häkkinen, 1991) no início da sexta dé-
cada de vida. A curva força-tempo da ação de exten-
são do joelho apresentada na Figura 21.10 para mu-
lheres de três diferentes grupos etários indica que a
capacidade de produção de força muscular explosiva
diminui em pessoas idosas. Essas descobertas tam-
bém respaldam o conceito de que os efeitos de atro-
fia relacionados com o aumento da idade podem ser
maiores nas fibras tipo II do que nas tipo I e/ou que
Figura 21.8 Altura média (± desvio padrão) de elevação no há perda de fibras tipo II e que a taxa máxima de
salto com agachamento* em homens e mulheres de diferentes ativação neural voluntária também pode ser influen-
grupos etários (Bosco e Komi, 1980). ciada pelo envelhecimento. A ocorrência de decrés-
*N. de R.T. Relativo ao “squat-jump”.
cimo associado à idade na taxa máxima de ativação
neural voluntária é corroborada por alguns dados re-
centes (Häkkinen et al., 1998a; Kent-Braun e Ng,
1999). Todas essas observações também podem ser
de relevância prática. O treinamento de força combi-
nado com exercícios adaptados de potência também
poderia fazer parte do programa total de treinamen-
to físico do idoso, a fim de minimizar os efeitos do
envelhecimento no sistema neuromuscular. Isso tam-
bém contribuiria positivamente para tentativa de pre-
servar a capacidade funcional diária de pessoas ido-
sas em nível mais elevado e por período de tempo o
mais prolongado possível.

Figura 21.9 Curva força-tempo média na ação de extensão de


joelho bilateral em homens de três diferentes grupos etários
(modificada de Häkkinen et al., 1995).

Figura 21.10 Curva força-tempo média


(na escala relativa) na ação de extensão
de joelho bilateral em homens de três
diferentes grupos etários (modificada de
Häkkinen e Häkkinen, 1991).
430 PAAVO V. KOMI

Ganhos de força induzidos pelo de força em sujeitos de meia-idade e idosos de am-


treinamento de força em homens bos os sexos. Posteriormente, a taxa de desenvolvi-
e mulheres de meia-idade e idosos mento de força pode ocorrer em menor magnitude
em períodos mais prolongados de treinamento, de-
Moritani e DeVries (1980) demonstraram há 20 pendendo também da sobrecarga, da freqüência e do
anos que o idoso poderia aumentar a força muscular tipo de treinamento. No entanto, homens e mulhe-
por meio do treinamento de força sistemático. De fato, res idosos são capazes de aumentar a força em perío-
após oito semanas de treinamento de força, a força dos prolongados de treinamento de um ano (Fig.
muscular dos flexores do cotovelo de homens idosos 21.12) ou mais (Morganti et al., 1995; McCartney et
(70 anos) melhorou na mesma magnitude (aproxi- al., 1996; Häkkinen et al., 2000a). Então, uma impor-
madamente 22%) que a de outro grupo de homens tante conclusão, do ponto de vista prático, diz res-
jovens (22 anos). Os efeitos do treinamento de força peito ao fato de que a freqüência do treinamento de
em pessoas idosas foram extensivamente avaliados força em indivíduos de meia-idade e idosos de am-
no final da década de 1980 e, especialmente, na dé- bos os sexos fisicamente inativos pode ser de, no mí-
cada de 1990. A Tabela 21.1 demonstra claramente nimo, duas vezes por semana, quando a sobrecarga e
um aumento substancial na força como efeito indu- o volume de cada sessão de treinamento são sufi-
zido por programa de treinamento de força em ido- cientes e/ou aumentam progressivamente (i. e., de
sos de ambos os sexos na faixa etária entre 60 e 98 forma periodizada) durante o período de treinamento.
anos de idade. Pode-se concluir que o treinamento
de força sistemático induz melhora considerável da
força de todos os grupos musculares avaliados, inde- Adaptações neurais durante o
pendentemente de idade e gênero, quando a sobre- treinamento de força em
carga (intensidade), a freqüência semanal e a dura- indivíduos de meia-idade e idosos
ção do programa de treinamento são suficientes. Os
resultados apresentados na Tabela 21.1 também de- Em indivíduos jovens de ambos os sexos previa-
monstram que o maior aumento na força máxima mente fisicamente inativos, o aumento inicial na for-
sobrevém nos primeiros 2 a 4 meses de treinamento ça máxima em decorrência do treinamento de força

Tabela 21.1 Ganhos de força induzidos pelo treinamento de força em homens e mulheres idosos

Duração
Autor Gênero Idade (anos) n Ação (semanas) Ganho de força (%)
Frontera et al. (1988) M 60-72 12 Extensão de joelho 12 1-RM (107)
Hagberg et al. (1989) M/F 70-79 23 Supino reto 26 1-RM (18)
Brown et al. (1990) M 60-70 14 Flexão de cotovelo 12 1-RM (48)
Fiatarone et al. (1990) M/F 86-96 10 Extensão de joelho 8 1-RM (174)
Charette et al. (1991) F 64-86 13 Leg press 12 1-RM (28)
Hicks et al. (1991) M/F 66,3 11 Dorsiflexão 12 1-RM (48)
Judge et al. (1993) M/F 71-97 18 Flexão de joelho 12 1-RM (32)
Nichols et al. (1993) F 67,8 18 Superior/inferior 24 1-RM (18-71)
Rice et al. (1993) M 65-78 10 Extensão de cotovelo 26 1-RM (30)
Pyka et al. (1994) M/F 61-78 25 Superior/inferior 30 1-RM (23-62)
Fiatarone et al. (1994) M/F 72-98 100 Extensão de quadril/joelho 10 1-RM (113)
Häkkinen et al. (1994) M/F 64-73 11 Extensão de joelho 12 CVM (20-37)
Häkkinen et al. (1996a) M/F 60-75 12 Extensão de joelho 12 1-RM (18-21)
Häkkinen et al. (1998) M/F 62-78 11 Extensão de joelho 24 CVM (36-57)
Harridge et al. (1999) M/F 85-97 11 Extensão de joelho 12 MVT (37)
Tracy et al. (1999) M/F 65-75 12 Extensão de joelho 9 1-RM (27-29)
Hagerman et al. (2000) M 60-75 10 Leg press 16 1-RM (72)
Häkkinen et al. (2000) M/F 62-78 11 Extensão de joelho 24 1-RM (16-24)
Roth et al. (2000) F 65-75 6 Extensão de joelho 9 1-RM (25)
Häkkinen et al. (2001) F 60-68 10 Extensão de perna 21 CVM (37)
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 431

primariamente eleva a ativação das unidades moto-


ras dos músculos treinados. Da mesma forma, gra-
dualmente o aumento da hipertrofia muscular con-
tribui para o desenvolvimento da força nas fases
posteriores do treinamento. Uma referência bastante
difundida no final da década de 1980 era a de que os
idosos experimentavam ganhos em força explica-
dos principalmente pela melhoria dos padrões de re-
crutamento neural do que pela hipertrofia das fi-
bras musculares. O grande aumento observado nos
IEMGs máximos dos músculos treinados, especial-
mente nas semanas iniciais do treinamento de força,
em indivíduos de meia-idade e idosos de ambos os
sexos indica uma adaptação considerável induzida
pelo treinamento no sistema nervoso (Moritani e
DeVries, 1980; Häkkinen e Häkkinen, 1995; Häkki-
nen et al., 1998b; Häkkinen et al., 2000a; Häkkinen
et al., 2001a). Os dados registrados em indivíduos de
meia-idade e em idosos de ambos os sexos em perío-
do de treinamento de força demonstrados na Figura
21.13 sustentam bem essa referência (Häkkinen et
al., 1998b). Embora a EMG caracterize-se por um
Figura 21.11 1-RM concêntrico bilateral máximo médio (±
desvio padrão) para os músculos extensores do joelho em sinal complicado e represente somente a média da
homens e mulheres de meia-idade e idosos durante período de ativação neural máxima, o aumento induzido pelo
treinamento de força e controle (Häkkinen et al., 1998b). treinamento de força na magnitude da EMG pode
resultar do aumento do número de unidades moto-
ras ativas e/ou da maior freqüência de disparo em
sujeitos jovens, de meia-idade e em idosos de ambos
os sexos. É difícil determinar a natureza atual da adap-
tação no sistema nervoso. Porém, o treinamento de
força parece induzir alterações nas vias facilitadoras
e inibidoras: (I) a ativação de movimentos primários
é aumentada; (II) ocorre uma melhoria da co-ativa-
ção dos sinergistas; (III) há menor co-ativação dos
músculos antagonistas (Komi, 1986; Enoka, 1988;
Sale, 1992; Häkkinen, 1994). Essas sugestões são for-
temente respaldadas por alguns dados recentes apre-
sentados na Figura 21.14. Tais dados incluem evi-
dência mais direta das adaptações neurais em
decorrência do treinamento de força (Harridge et al.,
1999) e indicam que o homem idoso demonstrou uma
ativação muscular incompleta dos extensores do joe-
lho antes do treinamento, mas aumentou a ativação
em 44%, sendo capaz de em parte de um esforço má-
ximo, alcançar ativação completa após 12 semanas
Figura 21.12 1-RM concêntrico bilateral máximo médio (± de treinamento de força de alta intensidade. No en-
desvio padrão) para os músculos extensores do joelho em
homens e mulheres de meia-idade e idosos durante o período- tanto, os idosos de ambos os sexos parecem demons-
controle, o treinamento de força, o destreinamento e o trar grande variação interindividual nas adaptações
retreinamento de força (Häkkinen et al., 2000a). neurais durante o treinamento de força (Häkkinen et
432 PAAVO V. KOMI

Figura 21.14 Registro original da produção de força


Figura 21.13 Valor médio (± desvio padrão) do IEMG voluntária com um estímulo sobreposto de um homem idoso (a)
máximo dos músculos vasto lateral e medial na ação isométrica antes e (b) após o treinamento de força (de Harridge et al.,
de extensão do joelho em homens e mulheres de meia-idade e 1999).
idosos durante o período controle e treinamento de força
(Häkkinen et al., 2000b).

al., 1996a; Häkkinen et al., 1998b; Häkkinen et al.,


2000a; Häkkinen et al., 2000b; Harridge et al., 1999).
Além do aumento na ativação dos movimentos
primários, a observação de considerável decréscimo
na co-ativação dos músculos antagonistas constitui
importante característica do treinamento de força em
pessoas idosas, e tem sido registrado em ações dinâ-
micas e em isométricas máximas, conforme demons-
trado na Figura 21.15 para mulheres idosas. A altera-
ção na co-ativação antagonista ocorreu na fase inicial
do treinamento. Ao final do período de treinamento,
estava aproximadamente no mesmo nível que aquele
registrado nos voluntários de meia-idade. Os resul-
tados obtidos em idosos de ambos os sexos respal- Figura 21.15 Atividade IEMG média (± desvio padrão)
(IEMG em relação aos valores agonistas [%]) para o bíceps
dam fortemente o conceito de que o treinamento de
femoral em ação isométrica voluntária máxima dos extensores
força pode não somente induzir aumento da ativa- do joelho em mulheres de meia-idade e idosas durante o
ção dos músculos agonistas, mas também que os efei- período-controle e o treinamento de força (modificada de
tos de aprendizagem em termos da menor co-ativa- Häkkinen et al., 1998b).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 433

ção dos músculos antagonistas podem exercer papel Tabela 21.2 Aumento no tamanho da fibra muscular durante trei-
namento de força (12 a 30 semanas) em pessoas idosas (60 a 84
importante no aumento da produção de força dos anos)
músculos agonistas. É difícil interpretar a magnitude
em que esse tipo de menor co-ativação dos antago- Aumento no
nistas é mediada por mecanismos do sistema nervo- tamanho da
so central ou associada com o controle neural peri- fibra muscular (%)
férico, especialmente durante várias ações dinâmicas. Autor Gênero Tipo I Tipo II
Também é possível que a magnitude e o período de
Frontera et al. (1988) M 34 28
tempo da alteração na co-ativação antagonista pos- Brown et al. (1990) M 14 30
sam estar relacionados à ação empregada no treina- Charette et al. (1991) F 7 20
mento e ao estado físico inicial do sujeito em termos Grimby et al. (1992) M 8 5
de experiência e de habilidade no treinamento. Roman et al. (1993) M 24 37
Pyka et al. (1994)
(a) 15 semanas M/F 25 20
(b) 30 semanas M/F 48 62
Hipertrofia muscular induzida pelo Häkkinen et al. (1998) M 31 42
Hikida et al. (2000) M 46 43
treinamento de força em pessoas Häkkinen et al. (2001) F 22 36
de meia-idade e idosas

Embora o ganho de força em pessoas idosas seja


maior em magnitude devido à melhoria no padrão derável hipertrofia muscular induzida pelo treinamen-
de recrutamento neural, tem sido demonstrado, por to com pesos ocorra em pessoas idosas, a magnitude
meio de técnicas sensíveis, como a determinação da do aumento no tamanho das fibras musculares indi-
área da fibra por biópsia, ou da área de secção trans- viduais não corresponde necessariamente à expan-
versa muscular (ASTm) por ultra-som, por tomografia são registrada na área de secção transversa total do
computadorizada (TC) e, especialmente, por resso- músculo treinado. No entanto, o aumento médio na
nância magnética (RM), que a hipertrofia muscular área de secção transversa muscular pode ser de até
representa parte considerável nos ganhos de força em 10% durante um período de treinamento de força de
pessoas idosas de ambos os sexos. Resultados recen- alta intensidade de três meses em sujeitos de meia-
tes de pesquisa apresentados na Tabela 21.2 sobre o idade e em idosos de ambos os sexos (Häkkinen e
aumento induzido pelo treinamento de força no ta- Häkkinen, 1995). Os dados de ressonância magnéti-
manho das fibras do tipo I e do tipo II também de- ca apresentados na Figura 21.16 demonstram adici-
monstram isso. A hipertrofia muscular induzida pelo onalmente que a hipertrofia muscular induzida pelo
treinamento de força em idosos de ambos os sexos treinamento em homens jovens e em idosos ocorre
parece ocorrer nos subtipos IIa e IIb das fibras mus- na mesma magnitude e do mesmo modo para os qua-
culares (Häkkinen et al., 1998c; Häkkinen et al., tro músculos individuais do quadríceps femoral.
2001b). O músculo esquelético de pessoas idosas No entanto, é preciso cautela na análise da inter-
preserva a capacidade de hipertrofia induzida pelo pretação dos dados de área de secção transversa mus-
treinamento de força quando o volume total, a so- cular obtidos somente em determinada porção do
brecarga, a freqüência e a duração de treinamento membro, pois a hipertrofia induzida pelo treinamen-
são suficientes. Além disso, a transformação das fi- to pode não ser uniforme ao longo do ventre muscu-
bras tipo II, do subtipo IIb para IIab e para IIa, tem lar em adultos jovens (Narici et al., 1996) e em ido-
sido previamente observada em jovens (Staron et al., sos (Tracy et al., 1999; Häkkinen et al., 2001b). Tracy
1991; Staron et al., 1994; Adams et al., 1993; Krae- e colaboradores (1999), ao analisarem o fenômeno
mer et al., 1995) e em homens idosos (Häkkinen et de hipertrofia seletiva do quadríceps femoral em in-
al., 1998c), mas não necessariamente em mulheres divíduos idosos de ambos os sexos, demonstraram
idosas (Häkkinen et al., 2001a). O papel da duração e que a hipertrofia muscular induzida pelo treinamen-
do tipo de treinamento, assim como da idade, na to foi maior na região de maior área de secção trans-
transformação da fibra muscular em população de versa (região central da coxa). Também determina-
fibra tipo IIb requer análise adicional. Embora consi- ram que o aumento na área de secção transversa
434 PAAVO V. KOMI

Figura 21.16 Área de secção transversa média (± desvio padrão) dos músculos que compõem o quadríceps femoral, antes e após
período de 10 semanas de treinamento de força, em homens jovens e idosos. (a) Vasto medial; (b) vasto lateral; (c) vasto
intermédio; (d) reto femoral (modificada de Häkkinen et al., 1998c).

muscular apresentou-se progressivamente menor em ção transversa ao longo do ventre desses músculos.
direção às extremidades distal e proximal do quadrí- É interessante notar que nossos resultados demons-
ceps femoral. Os autores concluíram que o método traram que o aumento na área de secção transversa
de somente uma única secção muscular pode supe- do quadríceps femoral ocorreu ao longo do compri-
restimar a verdadeira alteração da área de secção mento do fêmur (Fig. 21.17), enquanto a magnitude
transversa muscular em outras regiões do quadríceps de aumento da área de secção transversa ao longo do
femoral e estar propensa a erro. Todavia, sabe-se que comprimento do fêmur diferiu especificamente en-
os diferentes músculos do quadríceps femoral po- tre cada músculo do quadríceps femoral (Häkkinen
dem diferir não somente em relação às suas áreas de et al., 2001b). Então, o aumento na área de secção
secção transversa, mas também devido à área de sec- transversa nas 21 semanas de treinamento foi maior

Figura 21.17 Área de secção transversa


média (± desvio padrão) do quadríceps
femoral (QF) em comprimentos do fêmur
(CF) de 3/15 a 12/15 em mulheres
idosas, antes e após período de
treinamento de força de 21 semanas (de
Häkkinen et al., 2001b).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 435

nas regiões de maior área de secção transversa, nas seletiva dos músculos treinados. Ainda é possível que,
porções proximal do vasto lateral (VL) e distal do vasto além do aumento da ativação muscular voluntária,
medial (VM) (Fig. 21.18). Esse não foi o caso para o alterações de arquitetura, por exemplo, alteração no
aumento registrado nos músculos vasto intermédio ângulo peniforme das fibras musculares, possa ter
ou reto femoral (o que também é interessante). Em- ocorrido durante o treinamento, contribuindo para
bora o grande aumento induzido pelo treinamento o desenvolvimento da força (Kawakami et al., 1993).
observado em termos globais na IEMG máxima do Nossos dados obtidos em mulheres idosas demons-
VL e do VM não tenha sido diferenciado entre os tram, adicionalmente, que o aumento na área de sec-
dois músculos, as diferenças no grau de hipertrofia ção transversa muscular mensurado por meio de
entre eles poderiam ser explicadas por diferenças es- biópsia muscular foi significativo para os músculos
pecíficas na ativação muscular (e tensão) e/ou dife- VL e VM e para o quadríceps femoral como um todo.
renças na síntese de proteína contrátil ao longo do Então, esse local de biópsia (terceira porção inferior
ventre de cada músculo (Narici et al., 1996). Deveria da coxa) para o VL, como comumente utilizado para
também ser considerado que nosso estudo empre- determinar o grau de hipertrofia de cada fibra mus-
gou um programa de treinamento típico com dois cular, pode ser razoável. Em conclusão, o aumento
exercícios comuns (leg press e extensão de joelhos) da área de secção transversa muscular pode diferir
para a musculatura da coxa. A seleção dos exercícios muito entre cada músculo do quadríceps femoral
também pode contribuir para o grau de hipertrofia quando mensurado no mesmo comprimento do

Figura 21.18 Área de secção


transversa média (± desvio padrão) dos
músculos (a) vasto lateral e (b) vasto
medial do quadríceps femoral em
comprimentos do fêmur (CF) de 3/15 a
12/15 em mulheres idosas, antes e após
período de treinamento de força de 21
semanas (de Häkkinen et al., 2001b).
436 PAAVO V. KOMI

fêmur, sugerindo as vantagens do método de uma al., 2000b; Häkkinen et al., 2001b). Além disso, mu-
única secção muscular para indicar o “real” cresci- lheres idosas parecem ser capazes de adquirir força
mento do tecido muscular decorrente do treinamen- em nível próximo ao de mulheres ou homens jovens
to de força. ou de meia-idade quando submetidos a um tipo si-
O possível papel da distribuição da fibra muscu- milar de protocolo de treinamento de força de baixo
lar (porcentagem de fibras tipo IIb) no aumento da volume e para todo o corpo durante seis meses, mes-
força ou da magnitude de hipertrofia muscular du- mo que os dados disponíveis indiquem menor nível
rante o treinamento de força ainda não foi conclusi- basal do hormônio anabólico testosterona em mu-
vamente determinado. Descobertas recentes obtidas lheres idosas. Todavia, nessas mulheres com nível
em um grupo de homens jovens e idosos indicaram basal de testosterona muito baixo, o ganho na força
que aqueles com maior proporção relativa de fibras máxima e na área de secção transversa dos músculos
tipo II demonstram maior aumento na área de sec- treinados durante o treinamento de força pode ser
ção transversa do músculo treinado do que os com pequeno em comparação ao daquelas com maior con-
menor proporção de fibras tipo II em seus músculos centração de testosterona (Häkkinen et al., 2000b;
(Häkkinen et al., 1998c). Caso isso seja confirmado, Häkkinen et al., 2001b). Portanto, tem sido sugerido
pode ser de alguma importância, especialmente em que a concentração basal de testosterona sangüínea
idosos, pois o envelhecimento está associado não ape- pode ser de grande importância e, os baixos níveis de
nas com a atrofia muscular, mas também com a per- testosterona observados por mulheres idosas em res-
da de fibras musculares, especialmente do tipo II. No posta ao treino de força de alta intensidade típico,
entanto, pesquisas adicionais precisam ser conduzi- parecem ser um fator limitante do desenvolvimento
das empregando um delineamento experimental com da força e hipertrofia musculares. Contudo, é possí-
maior duração de treinamento, com maior número vel que, mesmo que os níveis sangüíneos de testos-
de voluntários, assim como com maior variabilidade terona permaneçam inalterados, o treinamento de
na idade dos voluntários. Depois dessas providências, força possa induzir alterações, por exemplo, no nível
a conclusão poderá ratificar se a magnitude final de dos receptores (Kraemer et al., 1999).
hipertrofia muscular e/ou o desenvolvimento de for- Outra característica singular é a descoberta de
ça depende da distribuição da fibra nos músculos trei- que a resposta aguda do GH ao treinamento de força
nados. diminui em decorrência do envelhecimento em ho-
mens, mas especialmente em mulheres com aproxi-
madamente 70 anos de idade (Häkkinen e Pakari-
Fatores hormonais relacionados nen, 1995). No entanto, pode haver um aumento
ao ganho em massa e força significativo na concentração sérica de GH em mu-
musculares lheres de 64 anos após um período de treinamento
de 21 semanas, não somente imediatamente após o
O quanto a hipertrofia e o desenvolvimento de exercício, mas também permanecendo elevado até 30
força induzidos pelo treinamento podem ser limita- minutos depois (Häkkinen et al., 2001b). A interpre-
dos por fatores hormonais, como os níveis séricos de tação de medidas isoladas deve ser cautelosa devido
hormônios anabólicos e os fatores de crescimento, à natureza pulsátil da secreção de GH. No entanto, a
em sujeitos de meia-idade e idosos de ambos os se- observação pode ser considerada como indicador de
xos carece de análise futura mais detalhada (Krae- uma adaptação do sistema endócrino induzida pelo
mer et al., 1998; Häkkinen et al., 2001b). No entan- treinamento, demonstrando que a resposta aguda do
to, parece que a força máxima pode ser gradualmente hormônio do crescimento pode se tornar mais siste-
aumentada, ao longo do período total de seis meses mática após o treinamento de força, mesmo em mu-
de treinamento, sem alteração sistemática na concen- lheres idosas. É possível que a magnitude da respos-
tração de hormônios anabólicos e catabólicos, quan- ta aguda do GH e o seu tempo de duração sejam
do o volume e a sobrecarga total do treinamento de importantes indicadores fisiológicos de adaptações
força (2 ou 3 sessões por semana) permanece dentro anabólicas durante o treinamento prolongado em
de uma amplitude fisiológica normal (Häkkinen et mulheres idosas.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 437

Especificidade do treinamento de força máxima, mas aumentos consideráveis também


força típico comparado ao foram registrados nas características de força explo-
explosivo siva* tanto em ações isométricas (Fig. 21.19) como
dinâmicas (Häkkinen et al., 1998b). O aumento sig-
Está bem documentado que o treinamento de nificativo observado nos IEMGs dos agonistas na fase
força típico (elevada sobrecarga e baixa velocidade inicial da ação isométrica de extensão do joelho indi-
de ação/movimento) em homens e mulheres jovens ca que o aumento na força explosiva dos músculos
induz maior aumento na força máxima. Já as altera- treinados pode ter sido explicado pelo incremento
ções na porção inicial da curva isométrica força-tem- induzido pelo treinamento na rápida ativação neural
po ou na porção mais elevada da curva força-veloci- das unidades motoras (Van Cutsem et al., 1998).
dade, em geral, permanecem consideravelmente Outra explicação sugere que a hipertrofia seletiva das
menores. Esse princípio da especificidade do treina- fibras musculares do tipo II também pode ter ocorri-
mento parece ser verdadeiro também durante o trei- do em nível similar, não somente nos sujeitos de meia-
namento de força em pessoas idosas (Frontera et al., idade, mas também nos idosos de ambos os sexos. A
1988). O treinamento do tipo explosivo, no qual se observação de que a capacidade de produção de for-
utiliza exercícios com sobrecargas consideravelmen- ça explosiva do sistema neuromuscular permanece
te baixas, mas com velocidade de movimento muito treinável mesmo em idosos também deveria ser de
maior, com freqüência produz melhoria principal- valor prático, por exemplo, na prevenção primária e
mente na porção inicial da curva força-tempo ou na secundária da fragilidade e em programas de reabili-
porção de maior velocidade da curva força-velocida- tação física para idosos de ambos os sexos.
de em sujeitos jovens de ambos os sexos (Häkkinen,
1994). Tem sido relatado que um programa de trei-
namento de alta intensidade combinado com exercí-
cios do tipo explosivos para os músculos extensores N. de R.T. O autor se refere a alterações no formato da curva
do joelho realizado com sujeitos de meia-idade e com F-t, incluindo componentes da força explosiva, como por
idosos de ambos os sexos, não somente aumenta a exemplo a taxa de produção de força.

Figura 21.19 Curva força-tempo média da ação isométrica de extensão bilateral do joelho em mulheres de meia-idade e idosas,
antes e após treinamento de força associado com exercícios do tipo explosivo (modificada de Häkkinen e Häkkinen, 1995).
438 PAAVO V. KOMI

O fato de a força muscular e a habilidade dos Conclusões práticas


músculos extensores do joelho desenvolverem força
rapidamente constitui importante característica do Constitui fenômeno mundialmente comum as
desempenho que contribui para várias tarefas da vida pessoas idosas se envolverem em atividades do tipo
diária, como subir escadas e caminhar ou mesmo na endurance, cujos benefícios para a aptidão cardior-
prevenção de quedas e tropeços (Bassey et al., 1992; respiratória já são conhecidos. No entanto, pode-se
Izquierdo et al., 1999), e deveria ser considerado no sugerir que, para minimizar os efeitos do envelhe-
desenvolvimento de programas de treinamento de cimento no sistema neuromuscular, o treinamento
força para sujeitos de meia-idade e idosos de ambos de força (combinado com algum tipo de exercício
os sexos. De fato, o treinamento de força pode indu- explosivo) deveria ser recomendado como parte
zir melhoria em tipos de tarefas funcionais, como a importante do programa geral de treinamento físi-
velocidade de caminhada, pelo aumento da força e co a fim de preservar a capacidade funcional de in-
da potência dos músculos treinados (Häkkinen et al., divíduos de meia-idade e, especialmente, de idosos,
2000a). Os resultados apresentados na Figura 21.20 no mais elevado nível e por período de tempo o mais
demonstram que, embora a alteração possa não ser prolongado possível. Os benefícios da manutenção
substancial, o treinamento de força pode induzir certo ou melhoria da produção de força e/ou força explo-
nível de aumento na velocidade de caminhada du- siva do sistema neuromuscular na pessoa idosa in-
rante o período total de treinamento de 48 semanas cluem a correção dos distúrbios de caminhada, a
em sujeitos de meia-idade e em idosos. A correlação prevenção de quedas, a melhoria da caminhada e da
significativa observada entre a alteração no 1-RM e na capacidade de subir escadas, o aumento da mobili-
velocidade de caminhada durante o segundo período dade, a melhoria do desempenho das atividades da
de treinamento no idoso indica a importância da força vida diária e o aumento da capacidade para viver de
muscular no desempenho da caminhada, especialmen- modo independente, assim como o retardo do limi-
te em pessoas idosas com níveis muito baixos de força ar de dependência. É justificável concluir que um
e potência musculares. Parece óbvio que pessoas de programa adequado de treinamento de força para
meia-idade e idosos podem realizar programa de trei- pessoas idosas pode ser utilizado como ferramenta
namento de força de maneira bem-sucedida por perí- preventiva, terapêutica e de reabilitação para otimi-
odo prolongado e também alcançar considerável adap- zar a função neuromuscular e potencializar o de-
tação funcional no sistema neuromuscular. sempenho.

Figura 21.20 Valores médios (±


desvio padrão) da velocidade máxima de
caminhada em sujeitos de meia-idade e
idosos durante período-controle,
treinamento de força, destreinamento e
retreinamento de força (de Häkkinen et
al., 2000a).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 439

Referências muscle strength and endurance in 78- to 84-yr-old men.


Journal of Applied Physiology 73(6), 2517-2523.
Adams, G.R., Hather, B.M., Baldwin, K.M. & Dudley, G.A. Hagberg, J.M., Graves, J.E., Limacher, M. et al. (1989) Car-
(1993) Skeletal muscle myosin heavy chain compositi- diovascular responses of 70- to 79-yr-old men and
on and resistance training. Journal of Applied Physiology women to exercise training. Journal of Applied Physiology
74, 911-915. 66, 2589-2594.
Bassey, E.J., Fiatarone, M.A., O’Neill, E.F., Kelly, M., Evans, Hagerman, F.C., Walsh, S.J., Staron, R.S. et al. (2000) Effects
W.J. & Lipsitz, L.A. (1992) Leg extensor power and func- of high-intensity resistance training on untrained ol-
tional performance in very old men and women. Clini- der men. I. Strength, cardiovascular, and metabolic res-
cal Science 82, 321-327. ponses. Journals of Gerontology: Biological Sciences and Me-
Bosco, C. & Komi. P.V. (1980) Influence of aging on the dical Sciences 55(7), B336-B346.
mechanical behavior of leg extensor muscles. European Häkkinen, K. (1994) Neuromuscular adaptation during
Journal of Applied Physiology 45, 209-215. strength training, aging, detraining, and immobilizati-
Brown, A.B., McCartney, N. & Sale, D.G. (1990) Positive on. Critical Reviews in Physical and Rehabilitation Medicine
adaptations to weight-lifting training in the elderly. Jour- 6, 161-198.
nal of Applied Physiology 69(5), 1725-1733. Häkkinen, K. & Häkkinen, A. (1991) Muscle cross-sectio-
Charette, S.L., McEvoy, L., Pyka, G. et al. (1991) Muscle nal area, force production and relaxation characteris-
hypertrophy response to resistance training in older tics in women at different ages. European Journal of Ap-
women. Journal of Applied Physiology 70, 1912-1916. plied Physiology 62, 410-414.
Chakravati, S., Collins, W.P., Forecast, J.D., Newton, J.R., Häkkinen, K. & Häkkinen, A. (1995) Neuromuscular adap-
Cram, D.H. & Studd, J.W. (1976) Hormonal profiles tations during intensive strength training in middle-
after menopause. British Medical Journal 2, 782-787. aged and elderly males and females. Electromyography and
Clarkson, P., Kroll, W. & Melchionda, A. (1981) Age, iso- Clinical Neurophysiology 35, 137-147.
metric strength, rate of tension development and fiber Häkkinen, K. & Pakarinen, A. (1993) Muscle strength and
type composition. Journals of Gerontology 36, 648. serum hormones in middle-aged and elderly men and
Enoka, R.M. (1988) Muscle strength and its development: women. Acta Physiologica Scandinavica 148, 199-207.
New perspectives. Sports Medicine 6, 146-168. Häkkinen, K. & Pakarinen, A. (1994) Serum hormones and
Enoka, R., Fuglevand, A. & Barreto, P. (1992) Age does not strength development during strength training in
impair the voluntary ability to maximal activate muscle. middle-aged and elderly males and females. Acta Physi-
In: The Proceedings of the Second North American Congress ologica Scandinavica 150, 211-219.
in Biomechanics (eds L. Draganich, R. Wells & J. Bechtold), Häkkinen, K. & Pakarinen, A. (1995) Acute hormonal res-
pp. 63-64. Chicago, IL. ponses to heavy resistance loading in men and women
Essen-Gustavsson, B. & Borges, O. (1986) Histochemical and at different ages. International Journal of Sports Medicine
metabolic characteristics of human skeletal muscle in 16, 507-513.
relation to age. Acta Physiologica Scandinavica 126, 107-114. Häkkinen, K., Pastinen, U.-M., Karsikas, R. & Linnamo, V.
Fiatarone, M.A., Marks, E.C., Ryan, N.D., Meredith, C.N., (1995) Neuromuscular performance in voluntary bila-
Lipsitz, L.A. & Evans, W.J. (1990) High-intensity teral and unilateral contraction and during electrical
strength training in nonagenarians. Journal of the Ameri- stimulation in men at different ages. European Journal of
can Medical Association 263, 3029-3034. Applied Physiology 70, 518-527.
Fiatarone, M.A., O’Neill, E.F., Ryan, N.D. et al. (1994) Exer- Häkkinen, K., Kallinen, M., Linnamo, V., Pastinen, U.-M.,
cise training and nutritional supplementation for phy- Newton, R.U. & Kraemer, W.J. (1996a) Neuromuscular
sical frailty in very elderly people. New England Journal of adaptations during bilateral versus unilateral strength
Medicine 330, 1769-1775. training in middle aged and elderly men and women.
Frontera, W.R., Meredith, C.N., O’Reilly, K.P., Knuttgen, Acta Physiologica Scandinavica 158, 77-88.
H.G. & Evans, W.J. (1988) Strength conditioning Häkkinen, K., Kraemer, W.J., Kallinen, M., Linnamo, V.,
in older men; skeletal muscle hypertrophy and impro- Pastinen, U.-M. & Newton, R.U. (1996b) Bilateral and
ved function. Journal of Applied Physiology 71, 644-650. unilateral neuromuscular function and muscle
Frontera, W.R., Hughes, V.A., Lutz, K.J. & Evans, W.J. (1991) cross-sectional area in middle-aged and elderly men and
A cross-sectional study of muscle strength and mass in women. Journals of Gerontology: Biological Sciences and
45- to 78yr-old men and women. Journal of Applied Phy- Medical Sciences 51A, 1, B21-B29.
siology 71(2), 644-650. Häkkinen, K., Alen, M., Kallinen, M. et al. (1998a) Muscle
Grimby, G., Aniansson, A., Hedberg, M., Henning, G.B., CSA, force production, and activation of leg extensors
Grangard, U. & Kvist, H. (1992) Training can improve during isometric and dynamic actions in middle-aged
440 PAAVO V. KOMI

and elderly men and women. Journal of Aging and Physi- different ages. European Journal of Applied Physiology 79,
cal Activity 8(6), 232-247. 260-267.
Häkkinen, K., Kallinen, M., Izquierdo, M. et al. (1998b) Judge, J.O., Underwood, M. & Gennosa, T. (1993) Exercise
Changes in agonist-antagonist EMG, muscle CSA and to improve gait velocity in older persons. Archives of Phy-
force during strength training in middle-aged and older sical Medicine and Rehabilitation 74(4), 400-406.
people. Journal of Applied Physiology 84(4), 1341-1349. Kamen, G., Sison, S., Du Duke, C. & Patten, C. (1995) Motor
Häkkinen, K., Newton, R.U., Gordon, S. et al. (1998c) Chan- unit discharge behavior in older adults during maxi-
ges in muscle morphology, electromyographic activity, mal-effort contractions. Journal of Applied Physiology 79(6),
and force production characteristics during progressi- 1908-1913.
ve strength training in young and older men. Journals of Kawakami, Y., Abe, T. & Fukunaga, T. (1993) Musclefibre
Gerontology: Biological Sciences and Medical Sciences 53A, pennation angles are greater in hypertrofied than in nor-
6, B415-B423. mal muscles. Journal of Applied Physiology 74, 2470-2744.
Häkkinen, K., Alen, M., Kallinen, M., Newton, R.U. & Kra- Kent-Braun, J.A. & Ng, A.V. (1999) Specific strength and
emer, W.J. (2000a) Neuromuscular adaptations during voluntary muscle activation in young and elderly wo-
prolonged strength training, detraining and re-strength- men and men. Journal o f Applied Physiology 87(1), 22-29.
training in middle-aged and elderly people. European Komi, P.V. (1986) Training of muscle strength and power:
Journal of Applied Physiology 83, 51-62. interaction of neuromotoric, hypertrophic and mecha-
Häkkinen, K., Pakarinen, A., Kraemer, W.J., Newton, R.U. nical factors. International Journal of Sports Medicine
& Alen, M. (2000b) Basal concentrations and acute res- (Suppl.) 7, 10-15.
ponses of serum hormones and strength development Kraemer, W.J., Patton, J., Gordon, S.E. et al. (1995) Compa-
during heavy resistance training in middle-aged and tibility of high intensity strength and endurance trai-
elderly men and women. Journals of Gerontology: Biologi- ning on hormonal and skeletal muscle adaptations. Jour-
cal Sciences and Medical Sciences 55A, B95-B105. nal of Applied Physiology 78(3), 976-989.
Häkkinen, K., Kraemer, W.J., Newton, R.U. & Alen, M. Kraemer, W.J., Häkkinen, K., Newton, R. et al. (1998) Acute
(2001 a) Changes in electromyographic activity, muscle hormonal responses to heavy resistance exercise in
fibre and force production characteristics during heavy younger and older men. European Journal of Applied Phy-
resistance/ power strength training in middle-aged and siology 77, 206-211.
older men and women. Acta Physiologica Scandinavica Kraemer, W.J., Häkkinen, K., Newton, R. et al. (1999) Effects
171(1), 51-62. of heavy resistance training on hormonal response pat-
Häkkinen, K., Pakarinen, A., Kraemer, W.J., Häkkinen, A., terns in younger vs. older men. Journal of Applied Phy-
Valkeinen, H. & Alen, M. (2001b) Selective muscle siology 87(3), 982-992.
hypertrophy, changes in EMG and force and serum Larsson, L., Sjödin, B. & Karsson. J. (1978) Histochemical
hormones during strength training in older women. and biochemical changes in human skeletal muscle with
Journal of Applied Physiology 91, 569-580. age in sedentary males age 22-65 years. Acta Physiologica
Hammond, G., Kontturi, M., Vihko, P. & Vihko, R. (1978) Scandinavica 103, 31-39.
Serum steroids in normal males and patients with pros- Lexell, J., Taylor, C.C. & Sjöström, M. (1988) What is the
tatic diseases. Clinical Endocrinology 9, 113-121. cause of the ageing atrophy? Journal of Neurological Sci-
Harridge, S., Kryger, A. & Steengaard, A. (1999) Knee ex- ence 84, 275-294.
tensor strength, activation, and size in very elderly peo- McCartney, N., Hicks, A., Martin, J. & Webber, C. (1996) A
ple following strength training. Muscle and Nerve 22, longitudinal trial of weight training in the elderly: Con-
831-839. tinued improvements in year 2. Journals of Gerontology:
Hicks, A.L., Cupido, C.M., Martin, J. & Dent, J. (1991) Twi- Biological Sciences and Medical Sciences 51A, 6, 13425-
tch potentiation during fatiguing exercise in the elder- 13433.
ly: the effects of training. European Journal of Applied Phy- Morganti, C., Nelson, M., Fiatarone, M. et al. (1995) Strength
siology and Occupational Physiology 63(3-4), 278-281. improvements with 1 year of progressive resistance trai-
Hikida, R.S., Staron, R.S., Hagerman, F.C. et al. (2000) Effects ning in older women. Medicine and Science in Sports and
of high-intensity resistance training on untrained ol- Exercise 27(6), 906-912.
der men. II. Muscle fiber characteristics and nucleo- Moritani, T. & DeVries, H.A. (1980) Potential for gross
cytoplasmic relationships. Journals of Gerontology: Biolo- muscle hypertrophy in older men. Journals of Gerontolo-
gical Sciences and Medical Sciences 55(7), B347-B354. gy 35, 672-682.
Izquierdo, M., Aguado, X., Gonzalez, R., López, J.L. & Narici, M., Bordini, M. & Cerretelli, P. (1991) Effect of aging
Häkkinen, K. (1999) Maximal and explosive force pro- on human adductor pollicis muscle function. Journal of
duction capacity and balance performance in men of Applied Physiology 71, 1227-1281.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 441

Narici, M., Hoppeler, H., Kayser, B. et al. (1996) Human Sale, D.G. (1992) Neural adaptation to strength training.
quadriceps cross-sectional area, torque, and neural ac- In: Strength and Power in Sports. The Encyclopedia of Sports
tivation during 6 months strength training. Acta Phy- Medicine (ed. P.V. Komi), pp. 249-165. Blackwell Scien-
siologica Scandinavica 157, 175-186. tific Publications, Oxford.
Nichols, J.F., Omizo, D.K., Peterson, K.K. & Nelson, K.P. Staron, R.S., Leonardi, M.J., Karapondo, D.L. et al. (1991)
(1993) Efficacy of heavy-resistance training for active Strength and skeletal muscle adaptations in heavy-
women over sixty: muscular strength, body compositi- resistance trained women after detraining and retrai-
on, and program adherence. Journal of the American Geri- ning. Journal of Applied Physiology 70, 631-640.
atrics Society 41(3), 205-210. Staron, R.S., Karapando, D.L., Kraemer, W.J. et al. (1994)
Porter, M.M., Vandervoort, A.A. & Lexell, J. (1995) Aging Skeletal muscle adaptation during early phase of heavy
of human muscle: structure, function and adaptability. resistance training in men and women. Journal of Appli-
Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports 5, ed Physiology 76, 1247-1255.
129-142. Tracy, B., Ivey, F., Hurlbut. D. et al. (1999) Muscle quality.
Pyka, G., Lindenberger, E., Charette, S. & Marcus, R. (1994) II. Effects of strength training in 65- to 75-yr-old men
Muscle strength and fiber adaptations to a one year-long and women. Journal of Applied Physiology 86(1), 15-201.
resistance training program in elderly men and women. Van Cutsem, M., Duchateau, J. & Hainaut, K. (1998) Chan-
Journals of Gerontology: Biological Sciences and Medical Sci- ges in single motor unit behaviour contribute to the
ences 45(1), M22-M27. increase in contraction speed after dynamic training in
Rice, C.L., Cunningham, D.A., Paterson, D.H. & Dickin- humans. Journal of Physiology 513, 295-305.
son, J.R. (1993) Strength training alters contractile pro- Vermulen, A., Rubens, R. & Verdonck, L. (1972) Testoste-
perties of the triceps brachii in men aged 65-78 years. rone secretion and metabolism in male senescence. Jour-
European Journal of Applied Physiology and Occupational nal of Clinical Endocrinology 34, 730-735.
Physiology 66(3), 275-280. Viitasalo, J., Era, P., Leskinen, A. & Heikkinen, E. (1985)
Roman, W.J., Fleckenstein, J., Stray-Gundersen, J.S., Alway, Muscular strength profiles and anthropometry in ran-
S.E., Peshock, R. & W.J.Gonyea (1993) Adaptation in dom samples of men aged 31-35, 51-55 and 71-75 ye-
the elbow flexors of elderly males after heavy-resistance ars. Ergonomics 28, 1503.
training. Journal of Applied Physiology 74, 750-754. Yue, G.H., Ranganathan, V.K., Siemionow, V., Liu, J.Z. &
Roth, S.M., Martel, G.F., Ivey, F.M. et al. (2000) High-volu- Sahgal, V. (1999) Older adults exhibit a reduced ability
me, heavy-resistance strength training and muscle da- to fully activate their biceps brachii muscle. Journals of
mage in young and older women. Journal of Applied Phy- Gerontology: Biological Sciences and Medical Sciences 54(5),
siology 88(3), 1112-1118. M249-M253.
Capítulo 22
Utilização da estimulação elétrica
no treinamento de força e potência
GARY A. DUDLEY E SCOTT W. STEVENSON

Introdução os extremos do espectro humano no desenvolvimento


da potência muscular. O maratonista mantém um
Médicos utilizam a eletroestimulação transcutâ- gasto energético estável impressionante, acima de 2
nea (EMS) para auxiliar na reabilitação de pacientes horas. Tal gasto é respaldado pelo metabolismo ae-
com função motora limitada (Delitto e Robinson, róbio. O levantador de peso olímpico, por sua vez,
1989). Emprega-se esse tipo de terapia em lesões da utiliza grande força muscular para desenvolver cerca
articulação do joelho, como a condromalacia patelar de 15 vezes mais a potência. Porém, ela é mantida
(Johnson et al., 1977), devido à inibição reflexa e ao apenas por milissegundos.
controle voluntário da dor. Tal técnica demonstra O presente capítulo será apresentado em quatro
retardar a atrofia e a disfunção musculares nos pacien- partes: (I) métodos de aplicação da EMS; (II) funda-
tes em estado pós-cirúrgico com articulação imobili- mentos para o uso da EMS no condicionamento de
zada ou habilidade limitada para gerar força em vir- atletas; (III) dados que respaldam a eficácia da EMS
tude da lesão, bem como da inibição neuromuscular no condicionamento de atletas; (IV) direções para
(Eriksson e Häggmark, 1979; Gould et al., 1983; Wi- pesquisas futuras. Esperamos que essa abordagem
gerstad-Lossing et al., 1988). forneça alguma clareza sobre a abundância de con-
Nas últimas três décadas, observa-se uma proli- ceitos e idéias atualmente existentes (muitos dos quais
feração de estudos relacionados à EMS que envol- equivocados) referentes ao uso da EMS.
vem sujeitos saudáveis (para revisão, ver Kramer e
Mendryk, 1982). De modo similar, a EMS recebe
atenção como método de treinamento para atletas Métodos de aplicação da EMS
(Delitto et al., 1989). Muitos desses estudos surgi-
ram em resposta aos registros do trabalho de Jakov Inúmeros protocolos de estimulação servem para
Kots, na antiga União Soviética (Kots e Chwilon, ativar artificialmente o músculo esquelético através
1971). Kots teceu a proposição de que um breve pro- da EMS. Uma abordagem simplista é controlar a du-
grama de EMS de alta freqüência aumenta ganhos ração, assim como a freqüência do pulso, além da
de força em atletas altamente treinados. Desde en- duração e da amplitude de ativação. Por exemplo, 500
tão, vários estudos têm sido conduzidos em um es- μs de pulsos retangulares a 20 Hz são aplicados via
forço aparente para duplicar essas constatações eletrodo bipolar de superfície por 1 s (Hultman et al.,
(Currier e Mann, 1983; St Pierre et al., 1986). 1983). A amplitude de estimulação pode ser estabe-
Neste capítulo, limitaremos nossa discussão à lecida para induzir força igual à determinada porcen-
utilização da EMS no condicionamento de atletas de tagem da força isométrica voluntária máxima (Curri-
elite. Para simplificar, enfatizaremos o uso potencial er e Mann, 1983) ou, como geralmente é feito, à
da EMS por atletas de endurance e/ou de força/potên- tolerância do sujeito (Laughman et al., 1983).
cia, tais como maratonistas e levantadores de peso A influência da alteração de um desses fatores
olímpico, respectivamente. Esses atletas representam no desenvolvimento da força isométrica, enquanto
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 443

outros são mantidos em determinado valor, desperta cessário para induzir aumento modesto na força, su-
atenção. O aumento da duração do pulso de 200 a gerindo que grande parte da corrente adicional não
500 μs durante o estímulo a 20 Hz aumenta a força está ativando os músculos; pelo contrário, está fluin-
(Hultman et al., 1983) (Fig. 22.1). O aumento adicio- do por outras estruturas. Portanto, a força aumenta
nal da duração do pulso para 1.000 μs exerce somente abruptamente com o aumento da amplitude até um
efeito modesto. Os autores recomendam que dura- platô ser alcançado (Fig. 22.2a). O platô não é sem-
ção do pulso entre 500 e 1.000 μs seja utilizada du- pre alcançado em forças maiores que a força isomé-
rante a EMS para o ótimo desenvolvimento da força, trica voluntária máxima (FIVM). No entanto, vários
embora nem sempre isso seja observado (Enoka, estudos têm relatado forças maiores que a FIVM
1988). A relação entre freqüência de pulso e força durante a estimulação (Hultman et al., 1983; Delitto
isométrica é sigmoidal em natureza, com a força te- et al., 1989).
tânica ocorrendo em aproximadamente 50 Hz no
músculo esquelético humano (Davies et al., 1985)
(Fig. 22.2b). De modo similar, a relação entre força
isométrica e amplitude de estimulação (corrente) é
sigmoidal (Davies et al., 1985) (Fig. 22.2a). Quando a
amplitude é aumentada acima do limiar da força iso-
métrica, mais do que um aumento substancial é ne-

Figura 22.1 Relação entre a duração do pulso e a força Figura 22.2 Relação entre a amplitude da estimulação e a
relativa na eletroestimulação transcutânea dos músculos força tetânica (a) e entre freqüência de pulso e força (b) durante
extensores do joelho. A duração do pulso aumentou de 200 μs a eletroestimulação transcutânea dos músculos interósseos
para 1 ms. As janelas de pulsos foram fornecidas a 20 Hz, e a dorsais. As janelas de pulsos de 100 ms foram empregadas
amplitude foi mantida constante em um valor que poderia para duração de 500 ms. A freqüência de pulsos foi de 40 Hz
estimular a força até 70% da ação isométrica voluntária em (a). A amplitude de estimulação foi supramáxima em (b)
máxima sob condições ótimas (de Hultman et al., 1983). (de Davies et al., 1985).
444 PAAVO V. KOMI

O principal obstáculo para o desenvolvimento da do, geralmente em configuração bipolar, para a apli-
força durante a EMS parece ser a intolerância do su- cação da EMS. O eletrodo negativo é geralmente po-
jeito à dor. Em paralelo, a estimulação de alta fre- sicionado no ponto motor de determinado músculo
qüência parece mais tolerável (Moreno-Aranda e ou grupo muscular, enquanto o positivo é posicio-
Seireg, 1981a,b). Uma freqüência de 10.000 Hz de nado distalmente. No caso dos extensores do joelho,
um sinal sinoidal é utilizada e modulada em 100 Hz. maior força é desenvolvida quando o tamanho do ele-
Além disso, a estimulação é aplicada com um ciclo trodo aumenta (Alon, 1985). Demonstrou-se tam-
de 20%. Os 10.000 Hz indicam que a duração do bém que ambos os eletrodos precisam ser posiciona-
pulso é de 100 μs. A modulação de 100 Hz indica dos superficialmente a este grupamento muscular
que o sinal é fornecido em blocos de 10 ms. Final- (Ferguson et al., 1989).
mente, o ciclo de 20% indica que a estimulação está As sensações de dor associadas à EMS surgem
nos primeiros 2 ms do bloco de 10 ms. Então, 20 devido à não-homogeneidade da interface eletrodo-
pulsos sinoidais de 100 μs são enviados continua- pele (Mason e Mackay, 1976). Isso resulta em áreas
mente para os primeiros 2 ms de cada bloco de 10 localizadas de baixa resistência, nas quais as densi-
ms. A duração da estimulação tetânica é de aproxi- dades de corrente podem se tornar grandes o sufici-
madamente 1 a 2 s, com repouso de 4 a 5 s. Enquan- ente para exceder o limiar da lesão. O umedecimento
to esse tipo de estimulação parece ser mais tolerável, dos eletrodos antes da aplicação fornece uma resis-
o desenvolvimento de força não é ótimo, provavel- tência mais uniforme e diminui a ocorrência de “pon-
mente devido à curta duração do pulso. No entanto, tos quentes” (Mason e Mackay, 1976). De modo al-
nossa experiência sugere que muitos indivíduos po- ternativo, a colocação dos eletrodos 30 minutos antes
dem desenvolver tolerância à EMS de alta amplitude da estimulação permite o acúmulo de transpiração
( > 70% FIVM) após vários dias de familiarização (Ste- insensível, que cria uma interface eletrodo-pele mais
venson e Dudley, 2001). homogênea. O uso de grandes eletrodos também
Em um esforço para refutar ou fundamentar o pode reduzir as sensações de dor por diminuir a den-
trabalho de Kots e Chwilon (1971), vários investiga- sidade da corrente, assim como distribuir a corrente
dores empregam estimulação de freqüência média. através de um grande volume de músculo.
O sinal sinoidal em 2.500 Hz é modulado em 50 Hz.
O que não fica óbvio é que os sinais são providos em
ciclos de 50%. Então, pulsos de 400 μs são enviados Fundamentos para o uso da EMS
continuamente nos primeiros 10 ms de cada período no condicionamento de atletas
de tempo de 20 ms. A duração da estimulação ocorre
geralmente em alguns segundos. Devido ao período O uso prático da EMS obviamente requer que
refratário dos motoneurônios estar por volta de 3 ms forneça alguma vantagem quando comparada à ati-
(Miller et al., 1981), eles são ativados três vezes mais vação muscular voluntária. Nesse caso, duas linhas
em cada período de 10 ms ou 150 vezes por segundo de raciocínio são propostas. Primeiro, é sugerido que
para cada 50 blocos de 10 ms. Em essência, sinais de fatores neurais limitam a força em esforços voluntá-
400 μs excitam os motoneurônios 150 vezes por se- rios máximos. Então, a EMS pode permitir uma con-
gundo. Do mesmo modo, na estimulação de alta fre- tração mais intensa do músculo estimulado e, por-
qüência, os motoneurônios são essencialmente ati- tanto, induzir maior resposta adaptativa (Delitto e
vados por pulsos de duração de 100 ms, 100 vezes Snyder-Mackler, 1990). Não está claro como o mús-
por segundo. culo treinado por EMS, que previamente não pode-
Em poucos estudos em que o interesse foi au- ria ser voluntariamente ativado, adquire a capacida-
mentar a capacidade de endurance do músculo esque- de de ativação voluntária após a EMS (McDonagh e
lético, um protocolo de estimulação substancialmente Davies, 1984).
diferente foi utilizado (Scott et al., 1985). Ondas qua- É geralmente aceito que a intensidade do treina-
dradas de pulsos de 50 μs são enviadas a 5 e 10 Hz mento, determinada pela magnitude da sobrecarga
por uma hora, três vezes ao dia. do treinamento, representa o fator mais importante
Utilizam-se eletrodos de diferentes materiais, tais para induzir respostas adaptativas em atletas de for-
como lâmina de alumínio ou carbono-condiciona- ça/potência (Häkkinen e Keskinen, 1989). Não é tão
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 445

óbvio como a EMS poderia fornecer maior estímulo Então, não é óbvio como a EMS poderia incremen-
de treinamento para esses indivíduos. O aumento na tar a intensidade de treinamento e, portanto, induzir
habilidade para ativar o músculo ao máximo consti- maior força. No entanto, devido ao fato de que du-
tui resposta adaptativa fundamental ao treinamento rante a EMS são estimulados os axônios distais dos
de força (Komi, 1986). Além disso, esse treinamento motoneurônios em relação à medula espinal, estão
aumenta a taxa de ativação e, portanto, a velocidade ausentes as influências inibitórias que ocorrem du-
com que determinada força pode ser desenvolvida rante as contrações voluntárias. Isso pode ser especi-
(Fig. 22.3) (Ryushi et al., 1988). Finalmente, a FIVM almente favorável caso a EMS seja aplicada nas con-
por unidade de área de secção transversa muscular é trações excêntricas, durante as quais a tensão
substancialmente maior em atletas treinados em for- específica do músculo parece ser maior que nos es-
ça/potência do que em indivíduos ativos (Ryushi et forços voluntários (Dudley et al., 1990). A EMS que
al., 1988; Häkkinen e Keskinen, 1989). Isso tem sido evoca cerca de 80 a 90% da FIVM resultará em uma
parcialmente atribuído à maior ativação nos atletas força 20 a 30% maior que a FIVM nas ações excên-
treinados. Ainda que atletas de força/potência tenham tricas. Temos aplicado a EMS de maneira a produzir
desenvolvido tal impressionante habilidade para ati- crescimento muscular superior ao observado no trei-
var seus músculos treinados, não está claro como a namento de força voluntário, pelo menos em indiví-
EMS poderia potencializar essa resposta adaptativa. duos previamente inativos (Ruther et al., 1995). Ain-
da deve ser demonstrado se tal efeito pode ocorrer
em atletas de elite com significativa hipertrofia mus-
cular.
Secundariamente, a eficácia da EMS para poten-
cializar as adaptações do treinamento de força é ba-
seada no conceito de que as fibras rápidas, difíceis de
ser ativadas em esforços isométricos voluntários má-
ximos, são preferencialmente estimuladas pela EMS
(Delitto e Snyder-Mackler, 1990). É bem conhecido
que as unidades motoras são recrutadas de maneira
ordenadamente precisa quando a força produzida por
um esforço isométrico voluntário é progressivamen-
te aumentada (Henneman et al., 1965). Há conside-
rável evidência sugerindo que a diferença no tama-
nho do motoneurônio representa o fundamento
fisiológico para o recrutamento ordenado (para revi-
são, ver Burke, 1981). O input de resistência e, então,
a suscetibilidade para a descarga são inversamente
relacionados ao tamanho do motoneurônio de acor-
do com o “princípio do tamanho” de Henneman. As
unidades motoras inervadas por pequenos motoneu-
rônios α são constituídas de fibras de contração len-
ta, pequenas em número e em diâmetro. Por sua vez,
grandes motoneurônios inervam grandes unidades
Figura 22.3 Força plotada em função do tempo na extensão
isométrica bilateral similar ao leg press. A força é desenvolvida motoras, as quais contêm fibras musculares rápidas.
na maior velocidade possível sob comando por áudio. Sete Tal disposição assegura que, para exercícios de baixa
fisiculturistas e levantadores de potência (). Os homens () e intensidade, pequenas unidades motoras resistentes
mulheres () fisicamente ativos não eram treinados, mas à fadiga são preferencialmente recrutadas.
engajados em diferentes tipos de atividade física (jogging ou Hultman e colaboradores (1983) demonstraram
levantamento de peso) de uma a três vezes por semana. O
símbolo indica diferença significativa entre os grupos no tempo que a EMS dos músculos da coxa de pacientes para-
necessário para desenvolver determinada força. *P < 0,05; lisados são incapazes de produzir uma contração,
**P < 0,01; ***P < 0,001 (de Ryushi et al., 1988). mesmo quando a voltagem é maior do que aquela
446 PAAVO V. KOMI

para produzir força antes da paralisia. É, portanto, são de EMS. É difícil interpretar essa observação, pois
aparente que a EMS não ativa diretamente o múscu- o conteúdo de glicogênio de amostras de biópsias de
lo. Em vez disso, a corrente de estimulação é propa- fibras mistas foi o mesmo antes e após a estimulação.
gada ao longo das ramificações nervosas terminais Além disso, é esperado maior uso do glicogênio nas
mais excitáveis do músculo. fibras tipo II, que geralmente possuem maior ativi-
Como a ativação muscular através da EMS en- dade glicogenolítica.
volve a excitação de nervos periféricos e não a esti- A evidência de que a EMS não ativa preferen-
mulação direta do músculo (Hultman et al., 1983), cialmente as fibras de contração rápida foi apresen-
questiona-se se as unidades motoras são ativadas em tada por Knaflitz e colaboradores (1990) e por Kim e
ordem específica. Foi demonstrado que os grandes colaboradores (1995). A ordem de recrutamento das
motoneurônios possuem um baixo limiar de excita- unidades motoras foi analisada pela mensuração da
bilidade elétrica (Solomonow et al., 1986). Isso apa- velocidade de condução, assim como da freqüência
rentemente ocorre como resultado da menor resis- de potência média e mediana em diferentes níveis re-
tência oferecida aos grandes motoneurônios. Pode-se lativos de força voluntária ou de força induzida por
esperar que o uso da EMS através de eletrodos de EMS em Knaflitz e colaboradores (1990). A veloci-
superfície ative as grandes unidades motoras em dade de condução, assim como a freqüência de po-
menor nível de estimulação. Na realidade, duas re- tência média e mediana aumentaram com o aumen-
centes revisões concluíram que a EMS ativa prefe- to da força durante os esforços voluntários, indicando
rencialmente as unidades motoras de contração rá- recrutamento progressivamente maior de fibras com
pida e, então, ocorre o reverso da ordem normal de maior velocidade de condução. Foi demonstrado que
recrutamento (Enoka, 1988; Delitto e Snyder-Mack- a velocidade de condução, assim como a freqüência
ler, 1990). Essa ativação preferencial das unidades de potência média e mediana, foi inferior em meno-
motoras rápidas parece (Enoka, 1988; Delitto e Sny- res níveis de força para as ações musculares voluntá-
der-Mackler, 1990) ser facilitada pelo input aferente rias e para as induzidas pela EMS, sugerindo a ativa-
da estimulação dos aferentes cutâneos, que inibem ção de unidades motoras lentas. Conclusivamente, a
os motoneurônios das unidades motoras lentas e ex- ativação das unidades motoras através da EMS não
citam os das unidades motoras rápidas (Garnett e Ste- ocorre no sentido inverso da ordem normal de re-
phens, 1981). No entanto, devido à EMS ativar as crutamento. Isso pode dever-se ao fato de os grandes
ramificações dos motoneurônios distais (Hultman et axônios motores não possuírem necessariamente
al., 1983), não está claro como a inibição reflexa dos grandes ramificações e/ou por conta de suas ramifi-
motoneurônios lentos através de estimulação cutâ- cações motoras não terem sido orientadas no campo
nea aferente poderia sobrepor essa ativação do mo- de corrente para favorecer a ativação (Feiereisen et
toneurônio distal. al., 1997). Isso pode explicar por que Kim e colabo-
Cabric e colaboradores (1988) forneceram evi- radores (1995) encontraram perda substancial de gli-
dência indireta dessa idéia ao demonstrar que 19 dias cogênio quando utilizaram coloração do ácido-Schiff
de EMS do tríceps sural por 10 minutos a cada dia nas fibras lentas e rápidas após 60 minutos de exer-
resultaram em aumento no tamanho do mionúcleo e cício dinâmico de extensão de joelho induzido pela
da fração mitocondrial. Foi sugerido que as maiores EMS.
respostas aconteceram nas fibras rápidas. Infelizmen- Portanto, não existe evidência de que a EMS ati-
te, os tipos de fibras musculares foram diferenciados ve preferencialmente as fibras de contração rápida.
por medidas morfométricas indiretas. Foi indicado Se esse for o caso, seria uma significativa vantagem,
recentemente, em um estudo de caso, que a EMS cau- uma vez que tem sido sugerido que a composição de
sa depleção preferencial de glicogênio nas fibras de fibras de contração rápida de determinado músculo
contração rápida (Sinacore et al., 1990), sugerindo, pode determinar a magnitude das respostas adapta-
assim, que esse tipo de fibra foi preferencialmente tivas ao treino de força (Häkkinen et al., 1985). No
estimulado. Essa constatação baseou-se na observa- entanto, é também óbvio que os atletas treinados em
ção de que as fibras tipo IIa demonstravam qualitati- força/potência possuem fibras de contração rápida
vamente menor marcação de glicogênio após a ses- (Tesch, 1987). Na realidade, a hipertrofia preferenci-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 447

al das fibras de contração rápida representa uma res- Dados que respaldam a eficácia
posta adaptativa comum ao treinamento de força da EMS no condicionamento de
(Tesch, 1987). Isso deveria indicar que essas fibras atletas
são recrutadas durante o treinamento e respondem
conforme o estímulo. Enquanto, em esforços isomé- Existem poucos registros dos efeitos da EMS na
tricos, as unidades motoras rápidas podem ser de di- força e no tamanho muscular em atletas. O trabalho
fícil ativação parecem ser preferencialmente recruta- de Kots e Chwilon (1971) parece ter gerado interesse
das durante ações excêntricas voluntárias (Romano nessa área. Kots sugere que atletas podem experimen-
e Schieppati, 1987; Nardone e Schieppati, 1988; Nar- tar melhorias de 30 a 40% na força como resultado
done et al., 1989). Então, não é difícil imaginar seu de somente 4 a 5 semanas de EMS. O protocolo de
uso em repetições de alta força, em que ações mus- estimulação utiliza EMS de freqüência média como
culares concêntricas e excêntricas são realizadas. No aquela descrita anteriormente. Um sinal sinoidal de
entanto, parece possível que uma resposta (hipertró- 2.500 Hz modulado em 50 Hz é aplicado por 10 ms
fica) adaptativa nessas unidades motoras potencialize com intervalos de 10 ms entre as séries. Dez contra-
o desempenho caso a EMS ative as unidades moto- ções de 10 s são realizadas por dia, cinco dias por
ras lentas que normalmente não são submetidas à semana, durante 4 a 5 semanas, com um intervalo de
sobrecarga excêntrica. 50 s entre as contrações. Refere-se que a freqüência
Parece que a EMS de baixa freqüência pode ser nesse nível minimiza a sensação de dor, enquanto
utilizada, a longo prazo, para aumentar a resistência maximiza o desenvolvimento da força durante as
à fadiga em atletas treinados em endurance. Esse tipo ações isométricas (Kots e Chwilon, 1971). No entan-
de estimulação em pequenos mamíferos induz várias to, foi sugerido que a EMS é muito dolorosa nessa
alterações bem-documentadas, incluindo conversão freqüência (Moreno-Aranda e Seireg, 1981a,b).
quase que completa das fibras rápidas em lentas, as- Indicações fornecem evidências, sem que os dados
sim como aumento e decréscimo nas enzimas oxida- atuais tenham sido reportados, de que tal EMS per-
tivas e glicolíticas, respectivamente (Pette e Vrbovä, mite de 10 a 30% mais desenvolvimento de força do
1985), embora degeneração das fibras rápidas e atro- que na FIVM.
fia de fibras também possam ocorrer (Maier et al., Infelizmente, Kots e colaboradores não foram
1986). Enquanto as últimas duas respostas não são capazes de replicar esses resultados. A força e o ta-
especialmente atrativas, o músculo esquelético com- manho musculares não foram alterados ou diminuí-
posto principalmente de fibras lentas com alta capa- ram em 10 atletas após sete sessões de EMS (St Pier-
cidade aeróbia é característico do tecido muscular em re et al., 1986). O protocolo de EMS recém-descrito
atletas treinados em endurance. A utilização da EMS foi aplicado para os extensores do joelho durante sete
para esse intuito desperta pouca atenção. Três horas dias de um experimento de oito dias. Os autores in-
por dia de EMS entre 5 e 10 Hz demonstram aumen- dicaram que a força isométrica foi de 80 a 100%
to na resistência à fadiga no músculo tibial anterior FIVM, mas novamente os dados atuais para qual-
de mulheres não-treinadas (Scott et al., 1985). Deve- quer variável não foram registrados. O torque de pico
se notar que os efeitos bem documentados da esti- das ações musculares concêntricas isocinéticas di-
mulação de baixa freqüência de longo prazo do mús- minuiu em média 10%. É interessante o fato de o
culo esquelético de pequenos mamíferos têm sido tamanho das fibras de contração rápida diminuir sig-
erroneamente citados para corroborar a utilização nificativamente em homens e não se alterar em mu-
da estimulação artificial nos estudos de EMS de- lheres. O tamanho das fibras de contração lenta não
senvolvidos para aumentar a força e o tamanho mus- alterou-se em nenhum dos grupos. Esses dados não
culares (ver, por exemplo, Delitto et al., 1989). No parecem respaldar a utilização da EMS no condicio-
entanto, temos observado que ações de alta intensi- namento de atletas. Sugerem, no entanto, que o em-
dade induzidas por EMS, associadas com ações con- prego liberal da EMS pode até provocar sobretreina-
cêntricas-excêntricas, podem induzir simultanea- mento.
mente melhorias no tamanho muscular e na Outros estudos, desenvolvidos com nadadores de
resistência à fadiga (Stevenson e Dudley, 2001). competição (Pichon et al., 1995) e com jogadores de
448 PAAVO V. KOMI

basquete (Maffiuletti et al., 2000), indicam que a apli- do sinais enviados a 150 Hz. A amplitude da EMS foi
cação da EMS durante ações isométricas dos mús- estabelecida para induzir força isométrica em média
culos latíssimo do dorso e quadríceps femoral, res- igual a 112% FIVM. Como normalmente acontece,
pectivamente, aumenta as ações isocinéticas con- os valores isométricos voluntários, inclusive os esti-
cêntricas e excêntricas voluntárias máximas desses mulados, não foram registrados.
músculos. Pichon e colaboradores (1995) constata- Mais notável foi o fato de o 1-RM aumentar cer-
ram que nadadores submetidos à EMS reduziram o ca de 20 kg para o exercício de agachamento durante
tempo nos 25 e 50 metros nado livre, enquanto ne- os períodos de EMS. O 1-RM para o arremesso de-
nhuma melhoria foi notada para o grupo-controle senvolvido e para o arranque também aumentou com
de nadadores. De modo similar, Maffiuletti e colabo- a EMS. A magnitude dessas respostas é impressio-
radores (2000) verificaram que quatro semanas de nante, especialmente no agachamento, consideran-
EMS aumentaram a altura do salto vertical com aga- do o nível do atleta. Atletas de elite treinados com
chamento* 14% e que os jogadores de basquete sub- sobrecarga não demonstram tais aumentos em dois
metidos à EMS melhoraram 17% o salto vertical com anos de treinamento (Häkkinen et al., 1988). É difícil
contra-movimento** quatro semanas após a EMS ter determinar os mecanismos responsáveis pelo desen-
sido interrompida. Infelizmente, nenhum dos estu- volvimento da habilidade no levantamento de peso.
dos controlou o potencial efeito placebo da EMS ou Tanto as fibras de contração rápida como as de con-
a comparou a um programa de treinamento voluntá- tração lenta diminuíram significativamente, levando
rio. Wolf e colaboradores (1986), por sua vez, obser- a uma redução de cerca de 16% na área relativa da
varam que a EMS aplicada bilateralmente ao quadrí- fibra. Os autores sugeriram hiperplasia e, portanto,
ceps femoral de tenistas competitivos durante a aumento da massa muscular. Hiperplasia de tal mag-
segunda metade de um programa de treinamento de nitude não tem sido relatada em outros modelos de
força de seis semanas, baseado em exercícios de aga- hipertrofia muscular (Gollnick et al., 1981; ver tam-
chamento, não teve resultados superiores ao treina- bém Capítulo 13). Não foi conduzida eletromiogra-
mento voluntário somente na potencialização do de- fia; então, não se sabe se houve aumento da ativação
sempenho no agachamento, na velocidade em 25 m neural.
ou na impulsão vertical.
Os dados mais convincentes que respaldam o
emprego da EMS no condicionamento de atletas fo- Direções para pesquisas futuras
ram relatados em estudo de caso (Delitto et al., 1989).
Um levantador de peso que competiu nos Jogos Olím- No momento atual do conhecimento, não exis-
picos de 1984 foi estudado durante 3,5 meses. A ele- tem dados convincentes de que a EMS deveria ser
troestimulação dos extensores do joelho em ações empregada por atletas de força/potência ou de endu-
isométricas foi realizada três dias por semana em con- rance para a melhoria do desempenho. É necessário
junto com o treinamento normal nas semanas 5 a 8 e um estudo bem-controlado para determinar se a EMS
13 a 14. Uma onda triangular de 2.500 Hz interrom- pode potencializar o desempenho em força/potên-
pida em 75 pulsos·s–1 induziu 10 ações musculares cia. Um número suficiente de sujeitos deve ser sub-
de 11 s por dia. Três minutos de repouso separaram metido ao experimento para assegurar validade cien-
as ações isométricas. Em essência, sinais de 400 μs tífica. Sujeitos-controle devem ser utilizados, e um
foram enviados continuamente para cerca dos pri- esforço deve ser feito para delinear o efeito placebo
meiros 7 ms de cada período de tempo de 14 ms. potencial per se da EMS. Além disso o desempenho
Devido ao período refratário dos motoneurônios ser muscular e esportivo precisam ser medidos durante
de aproximadamente 3 ms (Miller et al., 1981), cada a EMS. Finalmente, a mensuração do tamanho mus-
ação muscular isométrica de 11 s foi induzida usan- cular, do desempenho muscular e da ativação neural
deveria ser realizada para estabelecer os mecanismos
responsáveis pelas respostas adaptativas, caso exis-
tam, induzidas pela EMS.
*N. de R.T. Relativo ao “squat-jump”. Também é necessário conduzir estudos para ana-
**N. de R.T. Relativo ao “countermovement jump”. lisar o efeito da EMS aplicada durante as ações mus-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 449

culares dinâmicas. Há muito tempo sabe-se que o riormente, a EMS de alta freqüência (70 Hz) que
músculo esquelético de pequenos mamíferos ativa- aumenta o tamanho muscular também pode induzir
do artificialmente in situ desenvolve força substan- melhorias na resistência à fadiga muscular (Stevenson
cialmente maior durante as ações excêntricas do que e Dudley, 2001).
as isométricas (Katz, 1939). Do mesmo modo, recen-
temente encontramos que a força dos músculos ex-
tensores do joelho foi 40% maior em ações excêntri- Agradecimentos
cas do que em isométricas como efeito induzido pela
EMS (Dudley et al., 1990). No entanto, o torque ex- À assistência gráfica de Ms Susan Loffek. As pes-
cêntrico desenvolvido pelos extensores do joelho em quisas registradas pelos autores foram apoiadas pela
esforços voluntários máximos não é apreciavelmen- NASA (contratos NAS10 10285 e NAS10 11624) e
te maior do que o isométrico, no mínimo para indi- pela National Strength e Conditioning Association
víduos fisicamente inativos (Westing et al., 1988). Graduate Student Research Award (SWS).
Seria possível, portanto, produzir forças com a EMS
maiores do que a força voluntária máxima. Westing e
colaboradores (1989) confirmaram isso. A eletroesti- Referências
mulação dos extensores do joelho foi aplicada em
amplitude que resultou em torque isométrico (262 Alon, C. (1985) High voltage stimulation: Effects of elec-
Nm) correspondente a cerca de 85% do torque iso- trode size on basic excitatory responses. Physical Thera-
métrico voluntário máximo (345 Nm). O torque da py 65, 890-895.
EMS (345 Nm) em ações excêntricas foi maior que o Burke, R.E. (1981) Motor units. Anatomy, Physiology and
torque isométrico voluntário máximo (306 Nm) ou Functional Organization. In: Handbook of Physiology. The
excêntrico (316 Nm). Como a intensidade do treina- Nervous System, Section 1, Vol. II (ed. V.B. Brooks), pp.
345-422. American Physiological Society, Bethesda.
mento, determinada pela magnitude de sobrecarga
Cabric, M., Appell, H.I. & Resic, A. (1988) Fine structural
acionada contra ou a força desenvolvida durante uma changes in electrostimulated human skeletal muscle.
determinada ação muscular, é um importante fator European Journal of Applied Physiology 57, 1-5.
na indução de respostas adaptativas ao treinamento Currier, D.P. & Mann, R. (1983) Muscular strength deve-
de força/potência, a EMS durante as ações excêntri- lopment by electrical stimulation in healthy individu-
cas necessita de consideração como método de trei- als. Physical Therapy 63, 915-921.
namento para atletas competitivos. Recentemente, de- Davies, C.T.M., Dooley, P., McDonagh, M.J.N. & White,
monstramos que a EMS pode ser aplicada durante Mi. (1985) Adaptation of mechanical properties of mus-
ações isocinéticas concêntricas-excêntricas associa- cle to high force training in man. Journal of Physiology
das para aumentar o tamanho muscular em uma taxa 365, 277-284.
Delitto, A. & Robinson, A.J. (1989) Electrical stimulation
rápida (cerca de 10% em oito semanas) em indivídu-
of muscle: techniques and applications. In: Clinical Elec-
os não-treinados (Ruther et al., 1995) e em sujeitos trophysiology: Electrotherapy and Electrophysiologic Testing
treinados de forma recreativa em exercícios com so- (eds L. Snyder-Mackler & A.J. Robinson), pp. 95-138.
brecarga (mais que três anos de treinamento) (Ste- Williams & Wilkins, Baltimore.
venson e Dudley, 2001). Delitto, A. & Snyder-Mackler, L. (1990) Two theories of
Está bem documentado que a estimulação de muscle strength augmentation using percutaneous elec-
baixa freqüência por período prolongado de tempo trical stimulation. Physical Therapy 70, 158-164.
aumenta principalmente o conteúdo mitocondrial nas Delitto, A., Brown, M., Strube, M.I., Rose, S.I. & Lehman,
fibras de contração lenta de pequenos mamíferos R.C. (1989) Electrical stimulation of quadriceps femo-
(Pette e Vrbovä, 1985). Essas características muscu- ris in an elite weight lifter: a single subject experiment.
International Journal of Sports Medicine 10, 187-191.
lares parecem importantes atributos para a competi-
Dudley, G.A., Harris, R.T., Duvoisin, M.R., Hather, B.M. &
ção bem-sucedida em esportes do tipo endurance. Pa- Buchanan, P. (1990) Effect of voluntary vs. artificial ac-
rece, portanto, razoável que a EMS de baixa freqüência tivation on the relationship of muscle torque to speed.
e de longo prazo seja investigada como método de Journal of Applied Physiology 69, 2215-2221.
condicionamento para potencializar a capacidade de Enoka, R.M. (1988) Muscle strength and its development,
desempenho desses atletas. Como observado ante- new perspectives. Sports Medicine 6, 146-168.
450 PAAVO V. KOMI

Eriksson, F. & Häggmark, T. (1979) Comparison of isome- tion pattern during prolonged electrically induced dy-
tric muscle training and electrical stimulation supple- namic exercise in man. Scandinavian Journal of Rehabili-
menting isometric muscle training in the recovery after tation Medicine 27, 51-58.
major knee ligament surgery. American Journal of Sports Knaflitz, M., Merletti, R. & DeLuca, C.J. (1990) Inference
Medicine 7, 169-171. of motor unit recruitment order in voluntary and elec-
Feiereisen, P., Duchateau, J. & Hainaut, K. (1997) Motor trically elicited contractions. Journal of Applied Physiology
unit recruitment order during voluntary and electrically 68, 1657-1667.
induced contractions in the tibialis anterior. Experimen- Komi, P.V. (1986) Training of muscle strength and power:
tal Brain Research 114, 117-123. Interaction of neuromotoric, hypertrophic, and mecha-
Ferguson, J.P., Blackley, M.W., Knight, R.D., Sutlive, T.G., nical factors. International Journal of Sports Medicine 7, 10-15.
Underwood, F.B. & Greathouse, D.C. (1989) Effects of Kots, Y. & Chwilon, W. (1971) Muscle training with the
varying electrode site placements on the torque output electrical stimulation method. Teoriya i Prakitka Fizieheskoi
of an electrically stimulated involuntary quadriceps fe- Kultury, USSR, 3/4.
moris muscle contraction. Journal of Orthopaedic and Kramer, J.F. & Mendryk, S.W. (1982) Electrical stimulation
Sports Physical Therapy 11, 24-29. as a strength improvement technique: a review. Journal
Garnett, R. & Stephens, J.A. (1981) Changes in the recruit- of Orthopaedic and Sports Physical Therapy 4, 91-98.
ment threshold of motor units produced by cutaneous Laughman, R.K., Youdas, J.W., Garrett, T.R. & Chao, E.Y.S.
stimulation in man. Journal of Physiology 311, 463-473. (1983) Strength changes in the normal quadriceps fe-
Gollnick, P.D., Timson, B.F., Moore, R.L. & Riedy, M. (1981) moris muscle as a result of electrical stimulation. Physi-
Muscular enlargement and number of muscle fibers in cal Therapy 63, 494-499.
skeletal muscles of rats. Journal of Applied Physiology 50, McDonagh, M.J.N. & Davies, C.T.M. (1984) Adaptive res-
936-943. ponse of mammalian skeletal muscle to exercise with
Gould, N., Donnermeyer, D., Gammon, C., Pope, M. & high loads. European Journal of Applied Physiology 52,
Ashikaga, T. (1983) Transcutaneous muscle stimulati- 139-155.
on to retard disuse atrophy after open meniscectomy. Maffiuletti, N.A., Cometti, G., Amiridis, I.G., Martin, A.,
Clinical Orthopaedics and Related Research 178, 190-197. Pousson, M. & Chatard, J.C. (2000) The effects of elec-
Häkkinen, K. & Keskinen, K.L. (1989) Muscle cross-secti- tromyostimulation training and basketball practice on
onal area and voluntary force production characteris- muscle strength and jumping ability. International Jour-
tics in elite strength- and endurance-trained athletes nal of Sports Medicine 21, 437-443.
and sprinters. European Journal of Applied Physiology and Maier, A., Gambke, B. & Pette, D. (1986) Degeneration-
Occupational Physiology 59, 215-220. regeneration as a mechanism contributing to the fast
Häkkinen, K., Komi, P.V. & Alon, M. (1985) Effect of ex- to slow conversion of chronically stimulated fast-twitch
plosive type strength training on isometric force- and rabbit muscle. Cell and Tissue Research 244, 635-643.
relaxation-time, electromyographic and muscle fibre Mason, J.L. & Mackay, N.A.M. (1976) Pain sensations as-
characteristics of leg extensor muscles. Acta Physiologica sociated with electrocutaneous stimulation. IEEE Tran-
Scandinavica 125, 587-600. sactions on Biomedical Engineering 23, 405-409.
Häkkinen, K., Pakarinen, A., Akin, M., Kauhanen, H. & Miller, R.G., Mirka, A. & Maxfield, M. (1981) Rate of tensi-
Komi, P.V. (1988) Neuromuscular and hormonal adap- on development in isometric contractions of a human
tations in athletes to strength training in two years. Jour- hand muscle. Experimental Neurology 73, 267-285.
nal of Applied Physiology 65, 2406-2412. Moreno-Aranda, J. & Seireg, A. (1981a) Electrical parame-
Henneman, F., Somjen, C. & Carpenter, D.O. (1965) Func- ters for over-the-skin muscle stimulation. Journal of Bi-
tional significance of cell size in spinal motor neuro- omechanics 14, 579-585.
nes. Journal of Neurophysiology 28, 560-580. Moreno-Aranda, J. & Seireg, A. (1981b) Investigation of
Hultman, E., Sjoholm, H., Jaderholm-Ek, I. & Krynicki, J. over-the-skin electrical stimulation parameters for di-
(1983) Evaluation of methods for electrical stimulation fferent normal muscles and subjects. Journal of Biome-
of human skeletal muscle in situ. Pflügers Archiv 398, chanics 14, 587-593.
139-141. Nardone, A. & Schieppati, M. (1988) Shift of activity from
Johnson, D.H., Thurston, P. & Ashcroft, P.J. (1977) The slow to fast muscle during voluntary lengthening con-
Russian technique of faradism in the treatment of chon- tractions of the triceps surae muscles in humans. Jour-
dromalacia patellae. Physiotherapy Canada 29, 266-268. nal of Physiology 395, 363-381.
Katz, B. (1939) The relation between force and speed in Nardone, A., Romano, C. & Schieppati, M. (1989) Selecti-
muscular contraction. Journal of Physiology 96, 45-64. ve recruitment of high-threshold human motor units
Kim, C.K., Bangsbo, J., Strange, S., Karpakka, J. & Saltin, B. during voluntary isotonic lengthening of active mus-
(1995) Metabolic response and muscle glycogen deple- cles. Journal of Physiology 409, 451-471.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 451

Pette, D. & Vrbovä, G. (1985) Invited review: Neural con- ter for a closed loop control scheme. IEEE Transactions
trol of phenotypic expression in mammalian muscle fi- on Biomedical Engineering 33, 735-745.
bers. Muscle and Nerve 8, 676-689. St Pierre, D., Taylor, A.W., Lavoie, M., Sellers, W. & Kots,
Pichon, F., Chatard, J.C., Martin, A. & Cometti, G. (1995) Y.M. (1986) Effects of 2500 Hz sinusoidal current on
Electrical stimulation and swimming performan- fibre area and strength of the quadriceps femoris. Jour-
ce. Medicine and Science in Sports and Exercise 27, 1671- nal of Sports Medicine 26, 60-66.
1676. Stevenson, S.W. & Dudley, G.A. (2001) Dietary creatine
Romano, C. & Schieppati, M. (1987) Reflex excitability of supplementation and muscular adaptation to resistive
human soleus motoneurones during voluntary shorte- overload. Medicine and Science in Sports and Exercise 33,
ning or lengthening contractions. Journal of Physiology 1304-1310.
390, 271-284. Tesch, P.A. (1987) Acute and long-term metabolic changes
Ruther, C.L., Golden, C.L., Harris R.T. & Dudley, G.A. consequent to heavy-resistance exercise. Medicine and
(1995) Hypertrophy, resistance training, and the natu- Sport Science 26, 67-89.
re of skeletal muscle activation. Journal of Strength and Westing, S.H., Seger, J.Y., Karlson, E. & Ekblom, B. (1988)
Conditioning Research 9, 155-159. Eccentric and concentric torque-velocity characteris-
Ryushi, T.H., Škkinen, K., Kauhanen, H. & Komi, P.V. tics of the quadriceps femoris in man. European Journal
(1988) Muscle fiber characteristics, muscle cross-secti- of Applied Physiology 58, 100-104.
onal area and force production in strength athletes, Westing, S. H., Seger, J. & Thorstensson, A. (1989) Does
physically active males and females. Scandinavian Jour- neural inhibition suppress eccentric knee extension
nal of Sports Science 10, 7-15. torque in man? Medicine and Science in Sports and Exerci-
Scott, O.M., Vrbova, C., Hyde, S.A. & Dubowitz, V. (1985) se 21, S67.
Effects of chronic low frequency electrical stimulation Wigerstad-Lossing, I., Grimby, C., Jonsson, T., Morelli, B.,
on normal human tibialis anterior muscle. Journal of Peterson, L. & Renstrom, P. (1988) Effects of electrical
Neurology, Neurosurgery and Psychiatry 48, 774-781. muscle stimulation combined with voluntary contrac-
Sinacore, D.R., Delitto, A., King, D.S. & Rose, S.J. (1990) tions after knee ligament surgery. Medicine and Science in
Type II fiber activation with electrical stimulation: a pre- Sports and Exercise 20, 93-98.
liminary report. Physical Therapy 70, 416-422. Wolf, S.L., Ariel, G.B., Saar, D., Penny, M.A. & Railey, P.
Solomonow, M., Baratta, R., Shoji, H. & Ambrosia, R. (1986) (1986) The effect of muscle stimulation during resisti-
The myoelectric signal of electrically stimulated mus- ve training on performance parameters. American Jour-
cle during recruitment: an inherent feedback parame- nal of Sports Medicine 14, 18-23.
Parte V

Treinamento de força e
potência nos esportes
Capítulo 23
Biomecânica da força e do
treinamento de força
VLADIMIR M. ZATSIORSKY

Nos últimos anos, os fisiologistas se esforçam para


investigar profundamente os mecanismos da con-
tração muscular. Com isso, outros problemas mecâ-
nicos interessantes relacionados à utilização da for-
ça muscular são deixados para trás. Meu propósito,
portanto, é discutir alguns desses aspectos mecâni-
cos dos movimentos musculares em humanos, de
modo a reacender algum interesse nesse assunto ne-
gligenciado. Isso não deveria restringir-se apenas
às atenções do diretor esportivo e do cirurgião orto-
pédico. (W.O. Fenn, 1938)
Figura 23.1 O comportamento da curva força-tempo (Cf-t) na
O termo força (ou força muscular) designa a capaci- extensão do joelho contra diferentes níveis de resistência. O
dade do atleta de exercer força máxima no ambiente. sujeito foi incentivado a realizar o esforço de maneira explosiva,
Os termos contração voluntária máxima (CVM) e isto é, o mais rápido e forte possível. A magnitude de
força máxima no ponto final também são utilizados. sobrecarga, isto é, resistência (R), variou de 20 a 80% da Fmm.
A Fmm foi determinada em condições isométricas sem qualquer
A magnitude da força depende não somente do
restrição referente ao tempo. É também demonstrada a Cf-t
movimento selecionado (extensão do joelho), mas para um esforço isométrico explosivo (adaptada de
também das várias características da tarefa motora Verchoshansky, 1977).
(postura corporal, velocidade de movimento, tipo e
quantidade de resistência, etc.). Nesse caso, o indiví-
duo gera diferentes forças máximas ao realizar ex- Atletas de força e potência geram grande Fm em
tensões do joelho em esforço máximo contra várias seus movimentos esportivos. Para melhorar o desem-
sobrecargas (Fm nas tentativas) (Fig. 23.1). Quanto penho, geralmente eles necessitam aumentar a pro-
maior a sobrecarga, maior a força máxima Fm. Neste dução de força. Por exemplo, estão interessados em
capítulo, o símbolo Fm será empregado para indicar a exercer força máxima de extensão do joelho durante
força máxima alcançada em determinado movimen- a fase final de contato do pé com o solo no salto em
to sob condições específicas (força máxima durante altura ou força máxima de extensão do cotovelo no
a extensão do joelho a 60% ou em um golpe equiva- arremesso de peso. De modo similar ao exemplo apre-
lente a 7 kg). Sob uma das condições, a Fm é a mais sentado na Figura 23.1, a Fm pode ser muito diferen-
alta entre todas as forças máximas. O valor mais alto te dos valores de Fmm alcançados no mesmo movi-
é a força maximal. O símbolo Fmm é empregado para mento, isto é, extensão do joelho ou cotovelo, em
representar essa grandeza. A Fm pode ser muito me- condições mais favoráveis. Enquanto um dos princi-
nor do que Fmm; como exemplo, compare a Fm na re- pais objetivos do treinamento é aumentar a Fm, os
sistência a 20% com a Fmm (Fig. 23.1). atletas também treinam para aumentar a Fmm, consi-
456 PAAVO V. KOMI

derando essa alteração uma maneira de melhorar o da Fmm. A típica curva força-tempo para diferentes
desempenho. Algumas questões sobre a relação en- níveis de força inicial (Fin) é apresentada na Figura
tre Fm e Fmm são: o que exatamente determina a mag- 23.2. O comportamento da força-tempo pode ser
nitude de Fm e de Fmm e qual a diferença entre elas? O descrito por uma equação exponencial empírica
que impede o atleta de gerar Fmm em seu movimento (Clarke, 1968):
esportivo?
Conforme a Figura 23.1, os valores de Fm contra F(t) = –a1(1 – e–k1t) + a2(1 – e–k2t) + a3(1 – e–k3t) (2)
várias resistências são diferentes. Enquanto diversos
fatores contribuem para as diferenças (postura cor- onde F(t) representa a força em determinado tempo
poral no instante da produção de força máxima, ve- t, além de ser a base do logaritmo natural (e = 2,7182),
locidade de movimento, etc.), um fator é o mais evi- k1, k2 e k3 representam as constantes, enquanto
dente — tempo disponível para a produção de força. Fin + a2 + a3 – a1 = Fmm é a força em estado de equilí-
brio quando a força máxima é alcançada. Pode-se ob-
servar na Figura 23.2 que o tempo para a força pico
Tempo e taxa de produção de não depende do nível de força inicial (Fin).
força* A taxa de produção de força (TPF) pode ser com-
putada como o tempo derivado da equação 2. Para
A força muscular maximal (Fmm)** não pode ser uma única tentativa, a TPF não é constante; é uma
desenvolvida instantaneamente; em geral é preciso função do tempo t. Como estimativa aproximada da
em torno de 0,3 a 0,4 s para gerar a Fmm. Em muitos TPF média, o rácio* Fmáx/Tmáx, em que Tmáx repre-
movimentos esportivos, a duração dos períodos em senta o tempo para a força de pico (parte superior da
que a força máxima seria gerada é menor do que Fig. 23.3), é geralmente utilizado. O rácio é denomi-
0,3 s (Tab. 23.1). Nessas atividades, os atletas não dis- nado força explosiva. Em termos práticos, a força ex-
põem de tempo suficiente para produzir Fmm. plosiva é comumente computada por 1 kg de peso
A diferença percentual entre a Fmm e a Fm durante corporal. Além disso, o gradiente de força, também de-
a produção de força explosiva é denominada de défi- nominado gradiente-S, é utilizado: S significa “iní-
cit de força explosiva (DFE): cio” (Godik e Zatsiorsky, 1965) (parte inferior da Fig.

Fmm − Fm
DFE,% = × 100 (1)
Fmm *N. de R.T. Da expressão inglesa “ratio”.

O DFE demonstra a porcentagem do potencial de


força do atleta que não foi utilizada em determinada
tentativa. Em muitos movimentos esportivos, o DFE
equivale a 50% da Fmm. Por exemplo, em lançamen-
tos entre 20 e 21 m pelos melhores lançadores, a for-
ça de pico Fm aplicada é de 500 a 600 N. Esses atletas
normalmente executam o exercício supino reto com
sobrecarga equivalente a 220 e 240 kg. Com isso, exer-
cem força acima de 1.070 e 1.176 N em cada braço.
No lançamento, eles produzem somente cerca de 50%

*N. de R.T. Relativo à expressão inglesa “rate of force development


— RFD”.
**N. de R.T. O autor denomina essa força como “maximal ma-

ximorum muscular force”, expressão pouco usada na literatura Figura 23.2 Curva tempo-força isométrica em vários níveis de
específica. No presente texto, foi adotada a expressão “força tensão (em zero e 50% da força máxima). O gráfico é baseado
muscular maximal”. nos dados de Godik e Zatsiorsky (1965).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 457

Tabela 23.1 Duração dos períodos de produção de força “explosiva” em alguns movimentos esportivos (M: masculino; F: feminino)

Esporte e movimento Tempo (s) Atletas e desempenho Referência


Apoio do pé no solo
Corrida de velocidade 0,101 (M) M: 10,62 s de recorde médio nos 100 m Mero e Komi (1986)
0,108 (F) F: 12,22 s de recorde médio nos 100 m
Salto em comprimento 0,105-0,125 (M) 680-818 cm (coeficiente de correlação entre o tempo Zatsiorsky (1974)
de apoio e o desempenho é de –0,833; n= 43
Salto em altura 0,15-0,23 (M) Melhores atletas do mundo; M: 234 – 238 cm; Dapena (2000)
0,14-0,18 (F) F: 196 – 205 cm
Salto de esqui 0,25-0,30 Atletas experientes Komi e Virmavirta (2000)
Patins 0,17 Atleta experiente King (2000)
Plataforma de mergulho ≈ 0,33 Apoio dos pés na posição em pé Miller (2000)
≈ 0,15 Mergulhadores
Corrida com salto mortal 0,13 ± 0,02 Ginastas universitários Brüggemann (1994)
para a frente
Salto sobre o cavalo 0,11-0,12
Salto mortal após cambalhota 0,10 ± 0,02 Ginastas experientes Brüggemann (1994)
Impulsão no salto 0,19-0,21 Ginastas experientes Brüggemann (1994)

Arremesso de dardo
Lançamento 0,12 M: 30 m·s–1 de velocidade de liberação (o resultado Bartonietz (2000b)
equivalente de desempenho foi > 80 cm)
Arremesso de peso 0,22-0,27 M: 19,60 – 21,35 m Lanka (2000)

Tempo de apoio
Lançamento de martelo, 0,18-0,22 Atletas mundiais de elite Bartonietz (2000a)
duplo apoio

23.3). O gradiente S caracteriza-se pela TPF média Em pesquisa, a contribuição da TPF pode ser eli-
no início da fase de um esforço muscular. É compu- minada ao aplicar-se o método de liberação rápida: du-
tado como o rácio rante o teste, o sujeito exerce determinada magnitu-
de de força de forma isométrica, então um gatilho é
Gradiente S = F0,5máx/T0,5máx (3) subitamente disparado, e o movimento é realizado
contra determinada resistência. A Figura 23.4 ilustra
onde F0,5máx representa metade da força máxima, en- a diferença percentual na velocidade máxima Vm e Fm
quanto T0,5máx, o tempo para alcançá-la. no mesmo movimento (flexão do cotovelo) realizado
A força F0,5máx e o tempo para alcançá-la T0,5máx sob condição comum e de liberação rápida. A dife-
não se correlacionam um com o outro (Zatsiorsky, rença excedeu 40% para a Vm e 75% para a Fm quan-
1966; 100 atletas masculinos: r = 0,11). Por conse- do o movimento foi de curta duração.
guinte, a capacidade de exercer grande quantidade O período de tempo de utilização de força deve-
de força (força muscular), assim como de exercer força se a vários fatores: “frouxidão”* nos tecidos moles
rapidamente são independentes. A habilidade em re- subcutâneos e no sistema musculotendineo articu-
alizar movimentos com grande freqüência também lar (esse fator está considerado no primeiro termo da
não depende da força muscular (Fenn, 1938). Nesse equação 2); dispersão da excitação do conjunto de
caso, a relação entre momento articular máximo e
momento de inércia difere para as distintas partes do
corpo em muito maior magnitude do que a freqüên-
cia máxima (Tab. 23.2). *N. de R.T. Ausência temporária de tensão/energia.
458 PAAVO V. KOMI

Figura 23.4 Diferença (%) nos valores da velocidade máxima


e da força máxima em condições normais e rápidas. Após a
liberação, a resistência foi fornecida por uma roda de inércia de
vários equivalentes de massa (até 270 kg). O gráfico é baseado
nos valores de Zatsiorsky e Smirnov (1968).

vação); tempo para prolongar o componente elástico


em série do complexo musculotendíneo; entre ou-
tros. A contribuição relativa desses fatores ao Tm em
Figura 23.3 Representação esquemática da força explosiva atletas permanece desconhecida.
(acima) e gradiente S (abaixo). No gráfico superior, a linha Alguns dados indicam que o tempo gasto para o
sólida representa a curva força-tempo para um atleta altamente alongamento do componente elástico em série pode
habilidoso, enquanto a tracejada, para um atleta de pouca
habilidade. O atleta altamente habilidoso exerce grande força
representar importante contribuidor ao tempo para
em menor tempo. O Tmáx representa o tempo de pico, o alcançar a força de pico. A teoria baseia-se na seguinte
intervalo transcorrido entre o início da elevação da força e o observação: se, durante o período de produção de
ponto do pico de força. No teste de força isocinética, o tempo força, o músculo é rapidamente alongado, como po-
de elevação, isto é, o intervalo em que a força ou o torque demos esperar, por exemplo, na fase de “aterissagem”
aumentam de 10 a 90% do valor de pico, também é utilizado
(Weiss, 2000).
do pé no solo na corrida, produz quantidade de força
muito maior (Fig. 23.5). Essa descoberta indica que
os componentes contráteis sustentam grande quan-
motoneurônios que inerva os músculos envolvidos tidade de força sem alongamento nos períodos de pro-
(recrutamento de unidades motoras); propagação de dução de força. Nesse caso, diz-se que o músculo
potenciais de ação ao longo e ao redor das fibras está em estado ativo. No estado ativo, os componentes
musculares; processo de liberação e de re-utilização contráteis geram força em período de tempo muito
de cálcio do retículo sarcoplasmático (dinâmica de ati- curto, aproximadamente 20 ms em alguns animais.
No entanto, o comprimento dos componentes elás-
ticos em série na parte central do músculo diminui a
Tabela 23.2 Freqüência máxima e “aceleração teórica” (momento taxa em que a tensão é elevada nas suas extremida-
articular máximo/momento de inércia) para alguns segmentos corpo- des. Mesmo quando o músculo é mantido em ação
rais (Fenn, 1938) isométrica, há algum encurtamento do componente
contrátil, com simultâneo alongamento do compo-
Período em Aceleração nente elástico em série. Quando o comprimento da
Segmento corporal freqüência máxima teórica (rad·s–2)
unidade musculotendínea permanece constante, as
Membros inferiores 0,24 71 fibras musculares correspondentes podem encurtar-
Perna 0,33 298
Antebraço 0,15 775 se até 30% de seu comprimento inicial (Kawakami et
Dedo mínimo 0,18 42.500 al., 1998). Devido ao alongamento dos componentes
Hálux 0,30 85.800
em série, a força exercida pelo tendão sobre o osso
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 459

Figura 23.5 Diagrama de alterações


mecânicas durante uma contração
muscular. Pn, tensão na extremidade
muscular; Pi, força intrínseca do
componente contrátil muscular; Ps,
tensão no músculo rapidamente alongado
após período latente; P0, valor inicial de
Pi e P0 (reimpressa com permissão de
Hill, 1949).

retarda consideravelmente a força produzida pelos lar do que o Tm. Essa questão merece pesquisas
componentes contráteis (Wilkie, 1956; Carlson e futuras.
Wilkie, 1974; para discussão, ver também Zatsiorsky, A freqüência de descarga das unidades motoras
1997). Infelizmente, essa teoria não explica o motivo é maior durante movimentos balísticos (60 a 120 Hz)
de o Tm ser muito mais curto em alguns atletas do do que em contrações lentas em rampa (≤ 30 Hz)
que em outros. (Desmedt e Godaux, 1977). Essa descoberta sugere
Um dos fatores capazes de afetar a taxa de pro- que a taxa de codificação pode servir para graduar a
dução de força, assim como o tempo de relaxamento, TPF. Caso essa hipótese esteja correta, pode-se espe-
é a composição muscular. As fibras rápidas glicolíti- rar que, em atletas rápidos, os motoneurônios dispa-
cas possuem um tempo de contração mais curto que rem em maiores freqüências (ver Capítulos 3 e 10).
as lentas oxidativas (Burke et al., 1971; Gonyea et al., O treinamento de força induz aumento da Fmm,
1981). Muitos músculos humanos são compostos de mas não da TPF (parte superior da Fig. 23.6). A TPF
fibras lentas e rápidas. Em geral, espera-se que atle- aumenta após o treinamento de força dinâmico (par-
tas com grande porcentagem de fibras rápidas exer- te inferior da Fig. 23.6) e após treinamento no qual é
çam força mais rapidamente do que aqueles com baixa utilizada a produção de força “explosiva” — na taxa
porcentagem de fibras rápidas. No entanto, a relação máxima de produção de força (Behm e Sale, 1993a).
não é direta. O tempo de contração e relaxamento O tipo de ação muscular (isométrica ou concêntrica)
depende não somente da composição muscular, mas parece ser de menor importância. O aumento da TPF
também da ordem de recrutamento. Esta última se- após o treinamento dinâmico (balístico) é associado
gue o princípio do tamanho (Hennemann et al., 1965). com a alteração na atividade da unidade motora (Van
De acordo com esse princípio, as unidades motoras Cutsem et al., 1998). No último estudo desses autores,
lentas (inervadas por pequenos motoneurônios) são o treinamento consistiu de movimentos articulares
recrutadas em baixos níveis de força e, com o au- muito rápidos contra sobrecarga de 30 a 40% da força
mento da força, as unidades motoras rápidas (iner- muscular máxima durante 12 semanas. Foram obser-
vadas por grandes motoneurônios) são ativadas. Na vados breves intervalos interpicos (2 a 5 ms) das uni-
população de fibras musculares mistas, o início e o dades motoras (“disparos duplos”). O treinamento
final da produção de força são determinados pelas aumentou a porcentagem de disparos duplos de 5,2
fibras musculares lentas (o princípio da “ligação mais para 32,7%, assim como a freqüência máxima de dis-
fraca na cadeia”; Savelberg, 2000). Desse modo, a por- paro das unidades motoras.
centagem de fibras musculares rápidas pode não re- Os seguintes fatos e conclusões são os mais rele-
presentar um fator decisivo no tempo para alcançar vantes aos atletas e treinadores:
a força de pico (Tm). No entanto, quando pequenas
forças são produzidas, é substancial a dependência 1 Em esforços de curta duração, a taxa de produ-
da composição muscular para o aumento do tempo ção de força (força explosiva) pode ser mais impor-
(Viitasalo e Komi, 1978; Viitasalo e Komi, 1981). Pa- tante do que a força maximal (Fmm).
rece que o gradiente de força, baseado na determina- 2 Quando atletas são testados, recomenda-se a ava-
ção do T0,5máx, é mais sensível à composição muscu- liação de algumas características, tais como o gradien-
460 PAAVO V. KOMI

Postura corporal
A força que um atleta pode produzir em deter-
minado movimento depende da postura corporal (ân-
gulos articulares). A força máxima que um indivíduo
pode produzir em uma barra depende da altura desta
(Fig. 23.7). A força máxima (Fmm) é exercida quando a
barra está próxima da altura do joelho.
As Figuras 23.8 e 23.9 ilustram as dependências
entre a configuração articular e a força muscular (ex-
ternamente registrada como Fmm) em várias tarefas
uni e multiarticulares. As curvas, conhecidas como
curvas de força humana (Darcus, 1951; Darcus e Salter,
1955), descrevem a força isométrica máxima em fun-
ção da configuração articular. Observe a grande dife-
rença para a força produzida em diferentes posições
articulares (Figs. 23.8 e 23.9). Uma extensa revisão
sobre as curvas de força humana foi publicada por
Kulig e colaboradores (1984).
Para cada movimento articular, existem posições
angulares em que os valores máximos de Fmm podem
ser alcançados. Na flexão de cotovelo, a força máxi-
ma é gerada no ângulo de 90° (Fig. 23.8a); na exten-
são de cotovelo, assim como na extensão de joelho,
os valores máximos são alcançados no ângulo de 120°
(Franke, 1920; Carpenter, 1938). A força máxima de
Figura 23.6 Influência do programa de treinamento de força preensão é alcançada quando a articulação metacar-
de alta intensidade (a) e do programa de treinamento da força pofalângica está em 30° de flexão e a articulação in-
explosiva (b) na força máxima e na taxa de produção de força
em uma extensão do joelho bilateral máxima explosiva. Após o
terfalângica proximal em 70° de flexão (Mundale,
treinamento de força de alta intensidade, somente a Fmm é 1970). As maiores forças na extensão de joelho e co-
aumentada, sendo que o mesmo não ocorreu na parte inicial da tovelo podem ser exercidas quando a extremidade está
curva força-tempo. A taxa de produção de força, especialmente quase que completamente estendida (Fig. 23.9). O
o gradiente S, fica inalterada (adaptada de Häkkinen e Komi, objetivo da discussão que se sucede é emitir alguma
1985ab).
consideração sobre as causas dessas descobertas.
Biomecanicamente, a Fmm é a função das forças
musculares, ou tensões, que sofrem duas transfor-
te de força ou a força exercida em 100 ms do come- mações: a força muscular transforma-se em momen-
ço da ação. Nesse caso, o melhor indicador* da velo- tos articulares, enquanto os momentos articulares
cidade máxima de sprint foi a força produzida nos transformam-se em força externa:
100 ms do início do salto (Young, 1995; Young et al.,
forças musculotendíneas → momentos articulares →
1995).
força no ponto final (força muscular: Fmm)
3 Se o exercício é realizado lentamente, o treina-
mento de força aumenta a Fmm, mas não a TPF (Fig. Consideraremos essas duas transformações na se-
23.6). Por isso, é necessário um treinamento dinâ- qüência.
mico especial. Essa recomendação é especialmente
válida para atletas experientes. Da tensão muscular aos momentos
articulares
A tensão muscular depende do comprimento
*N. de R.T. A variável que tem apresentado maior correlação. muscular e do ângulo articular. Esse fato foi estabe-
Figura 23.7 Força isométrica máxima
aplicada a uma barra em diferentes
posições corporais (em diferentes alturas
da barra). Durante o experimento, a barra
foi estaticamente fixada em várias alturas
(reimpressa de Donskoi e Zatsiorsky,
1979).

Figura 23.8 Curvas de força em movimentos uniarticulares. (a) Flexão de cotovelo (de Zatsiorsky, 1995); (b) flexão de ombro (de
Zatsiorsky, 1995); (c) pronação e supinação de braço (de Salter e Darcus, 1952); cotovelo flexionado a (A) 150°; (B) 90°; (C) 30°.
462 PAAVO V. KOMI

Figura 23.9 Dependência da força de compressão na posição do membro em sujeitos sentados. (a) Concepção experimental. (b)
Compressão máxima média (± 2 DP) exercida isometricamente por seis sujeitos em um pedal colocado em diferentes posições. Para
cada um dos cinco diferentes ângulos da coxa horizontal (α), o ângulo do joelho variou (β). A curva 1 representa os dados para o ângulo
α entre –15° e –6°; a curva 2, entre +5° e +10°; a curva 3, 33° a 36°; e a curva 5 corresponde ao ângulo da coxa α = 48° a 49°. As
curvas 4 e 5 são interrompidas bem antes de o ângulo limitante ser alcançado. Nessas posições da coxa, o joelho não pode ser
posteriormente estendido devido à limitação causada pelos isquiotibiais (adaptada, com permissão, de Hugh-Jones, 1947).

lecido no século 19 por Blix (1891, 1893, 1894), que 2 Qual é a contribuição das forças passivas, caso
mensurou a tensão isométrica máxima que o mús- existam, nas diferentes posturas corporais?
culo exerce em diferentes comprimentos. A discus-
A resposta à segunda questão é evidente: as for-
são, aqui, limita-se à manifestação dessas relações
ças passivas aumentam quando a articulação aproxi-
nos movimentos esportivos, pois a relação compri-
ma-se do limite de sua amplitude de movimento. Por
mento muscular-tensão foi discutida anteriormente
exemplo, no lançamento, durante a elevação do bra-
(Capítulo 9). O comprimento muscular é compreen-
ço,* a rotação externa do ombro ao aproximar-se dos
dido como a distância da origem à inserção e não
180° (Fig. 23.10). Nessa posição angular, os múscu-
como o comprimento da fibra muscular. As altera-
los e outros tecidos anatômicos moles são deforma-
ções de comprimento das unidades musculotendí-
dos (Dillman, 1994). Ao resistir à deformação, os te-
neas em vários movimentos esportivos foram recen-
cidos contribuem para o torque articular que alcança
temente revisadas (Hay, 2000).
valores máximos. Com exceção das articulações dos
dedos, a resistência passiva na amplitude média do
Força muscular em diferentes posições ângulo articular do movimento é pequena. A contri-
corporais buição das forças passivas no torque articular do tor-
nozelo no plano sagital durante a caminhada é me-
Duas questões principais atraem o interesse dos
nor que 6% (Siegler et al., 1984). Na articulação do
praticantes de esportes:
1 Os movimentos esportivos são realizados nas fa-
ses ascendentes ou descendentes da curva força-
comprimento muscular? *N. de R.T. No caso deste exemplo, flexão completa do ombro.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 463

Figura 23.10 Sobrecarga do ombro no lançamento.


No instante demonstrado, o braço foi externamente
rotado a 165° e o cotovelo flexionado a 95°. As
sobrecargas geradas neste momento foram de 67 N·m
de torque de rotação interna, 310 N de força anterior
no ombro, assim como 64 N·m de torque no cotovelo
(reimpressa, com permissão, de Fleisig et al., 1995).

quadril, a contribuição do momento passivo é me-


nor que 10% (Vrahas et al., 1990).
A resposta para a primeira questão é muito mais
difícil. Enquanto a relação comprimento-tensão tem
sido mensurada com abundância em músculos ani-
mais, os dados em músculos humanos são escassos e
não-sistemáticos. A medida direta da relação com-
primento-tensão tem sido realizada em sujeitos am-
putados com túnel cineplástico* na extremidade dis-
tal do músculo (Fig. 23.11). Os sujeitos exerceram
esforço voluntário máximo. Na condição isométrica,
as curvas humanas força-comprimento foram simi-
lares às obtidas em animais (ver Capítulo 10). A quan-
tidade de encurtamento que o músculo alcançou foi
menor diante do aumento de sobrecarga (Fig. 23.12).
No entanto, não está claro o quanto as medidas rea-
lizadas em amputados são representativas dos sujei-
tos não-amputados.

*N. de R.T. Sujeitos submetidos à amputação do membro, na Figura 23.11 Experimentos em amputados cineplásticos. Os
qual o coto é configurado de maneira a permitir o movimento sujeitos exerceram esforço máximo durante as medidas
da articulação (cineplastia). (reimpressa, com permissão, de Ralston et al., 1947).
464 PAAVO V. KOMI

“parte” da relação comprimento-tensão para alguns


músculos pode ser determinada (Fig. 23.13).
Alguns músculos, ou talvez alguns músculos em
algumas pessoas, podem agir na fase descendente da
curva comprimento-tensão. Em particular, uma por-
ção substancial da amplitude normal de movimento
de alguns extensores do punho, por exemplo, o ex-
tensor curto radiocarpal, está na fase descendente da
curva comprimento-tensão (Lieber et al., 1994; Lie-
ber et al., 1997). Esse músculo gera tensão máxima
quando o punho é completamente estendido e ele
encurtado ao máximo. Outro extensor do punho, o
extensor longo radiocarpal, também funciona na fase
descendente, mas em amplitude de comprimento do
sarcômero muito mais estreita. Quando o punho fle-
xiona, o seu torque diminui devido ao alongamento
do extensor ao longo da fase descendente de sua curva
comprimento-tensão e ao encurtamento do flexor ao
longo da fase ascendente de sua curva comprimen-
to-tensão. Os músculos do punho parecem ser deli-
neados mais para equilibrar e controlar do que para
gerar torque máximo (Lieber e Fridén, 1998).
As curvas comprimento-tensão são geralmente
registradas para a contração isométrica em posições
articulares e/ou em comprimentos musculares dis-
cretos. As curvas não representam precisamente a
força durante o alongamento ou o encurtamento
muscular. No alongamento, a tensão é maior, enquan-
to no encurtamento é menor do que a tensão em
condições estáticas. O mesmo é válido para as rela-
ções ângulo-momento articular (Fig. 23.14).
Figura 23.12 (a) Curva força-comprimento mensurada
O comprimento de um músculo biarticular de-
isometricamente. 䢇 medidas realizadas em músculos passivos
(relaxados); 嘷 força registrada durante esforço máximo. (b) pende das posições angulares das duas articulações
Capacidade de um músculo (peitoral maior) encurtar a partir de que cruzam o músculo. Nessas articulações, os valo-
determinado comprimento inicial sob aplicações sucessivas e res de Fmm não dependem somente da posição angu-
progressivas de sobrecarga (reimpressa, com permissão, de lar da articulação testada, mas também da posição
Ralston et al., 1947).
*N. de R.T. Unidade de medida, equivalente a 25,4 mm.
articular da segunda articulação. Por exemplo, as cur-
vas de força isométrica para a flexão de cotovelo e de
ombro, assim como para a pronação-supinação, de-
pendem da configuração total do braço (Winters e
Quando as relações comprimento-tensão foram Kleweno, 1993). A contribuição do gastrocnêmio, um
computadas a partir dos valores de ângulos e torques músculo biarticular, para o torque de flexão plantar
articulares, em geral observou-se que, quando encur- na articulação do tornozelo é reduzida quando os
tam, os músculos geram menor tensão (Franke, 1920; joelhos são flexionados e, conseqüentemente, o gas-
Reijs, 1921; Darcus, 1951; Clarke, 1956). Portanto, trocnêmio é encurtado (Fig. 23.15; ver também Sale
agem principalmente na fase ascendente da curva et al., 1982). Quando o joelho é flexionado ao má-
comprimento-tensão. Infelizmente, os valores preci- ximo e ocorre flexão plantar do tornozelo, o mús-
sos das forças musculares individuais não podem ser culo gastrocnêmio não é capaz de produzir força
estabelecidos a partir desses experimentos. Somente ativa (Herzog et al., 1990). Essa posição da perna
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 465

Figura 23.13 Curva comprimento-tensão do flexor do cotovelo “equivalente” em contrações isométricas máximas. Os quatro
músculos são motores primários para a flexão do cotovelo (cabeças curta e longa do bíceps, braquiorradial e braquial) e são
mentalmente substituídos por um músculo equivalente com o mesmo ponto de inserção que o bíceps. Os pressupostos adicionais
são: (a) o eixo de rotação da articulação do cotovelo é fixado; (b) a linha de ação do músculo “equivalente” é reta; (c) a origem e a
inserção musculares são consideradas em pontos mais do que em superfícies; e (d) os segmentos corporais são rígidos.
Cada ponto representa a média de 10 observações realizadas em cinco sujeitos. Abscissa: comprimentos em porcentagem do
comprimento padrão l0 do músculo equivalente. Ordenada: forças em porcentagem da força máxima correspondente ao
comprimento padrão. O desvio padrão também é indicado. Observe que a força no comprimento muscular mínimo (após
encurtamento muscular máximo) representa aproximadamente 60% da força no comprimento padrão (reimpressa, com permissão,
de Bouisset, 1990; a figura original é de Pertuzon, 1972; e Pertuzon e Bouisset, 1971).

pode servir para o treinamento seletivo do músculo sentada, espera-se que a força de extensão do joelho
sóleo. na posição supina seja maior do que na sentada. No
A curva de força do joelho depende da posição entanto, isso não é verdadeiro para todos os sujeitos
da articulação do quadril (Fig. 23.16; dados para fle- (ver Fig. 23.16, em que tais diferenças não foram evi-
xão de joelho). Como o músculo reto femoral é es- dentemente observadas). Os ciclistas, em particular,
tendido na posição supina* e encurtado na posição tendem a ser mais fortes em comprimentos curtos
do músculo reto femoral do que em longos, enquan-
to o oposto é verdadeiro para corredores (Herzog et
*N. de R.T. Posição em que o quadril está estendido. al., 1991). Essa descoberta foi explicada pela diferen-

Figura 23.14 Curva de torque articular ângulo-articulação para


a ativação voluntária dos flexores do punho. Esses não são os
dados de torque máximo. Durante o experimento, os sujeitos
foram orientados a manter um nível constante de EMG de um
flexor do punho, o flexor radial do carpo. O nível EMG foi
estabelecido a 10% da contração voluntária máxima. O torque
articular foi mensurado em três condições de contração: (i)
isométrica (linha pontilhada); (ii) ± 10° deslocamentos angulares
em cinco diferentes ângulos (arcos pequenos); e (iii) ± 50°
deslocamentos angulares em amplitude total de movimento da
articulação do punho (arcos grandes). Os arcos estreitos no plano
superior da figura demonstram o perfil ângulo-torque com os
músculos completamente relaxados. Os valores de torque são
normalizados ao torque médio de ± 10° do arco ângulo-torque
no ângulo 0 do punho. Observe a diferença entre os valores de
torque registrados nas condições estáticas e dinâmicas. A
diferença depende da amplitude do deslocamento angular
articular (reproduzida de Gillard et al., 2000).
466 PAAVO V. KOMI

Figura 23.15 Força relativa estimada


do tendão do gastrocnêmio medial (GM) e
do sóleo (SOL) (barras). Os valores são
ajustados ao valor máximo quando o
joelho está estendido (0) e o tornozelo
dorsiflexionado a –15°. As linhas nas
barras estimam a força do tendão do
calcâneo (também ajustado ao valor
máximo) (reimpressa, com permissão, de
Kawakami et al., 2000).

te variedade do movimento da articulação do quadril Transformação de forças musculares


no ciclismo e na corrida (Fig. 23.17). Os ciclistas usam em momentos articulares: braço de
o reto femoral em comprimentos mais curtos do que momento
os corredores em seus respectivos esportes. Não está
claro se a diferença entre a curva de força articular Algumas forças tendem a rotar o corpo sobre ei-
dos ciclistas e a dos corredores deve-se ao treinamen- xos que não atravessam a linha de ação de força. Em
to ou foi herdada. particular, quando um músculo exerce tensão, a ten-
Uma mensagem “caseira” para atletas e treina- são muscular gera um efeito rotacional na articula-
dores é que, com algumas exceções mencionadas ção. O momento de força (M) representa a medida de
anteriormente (alguns extensores do punho, o reto efeito rotacional da força. O efeito é proporcional à
femoral em alguns atletas), o músculo exerce menor distância da linha de ação da força do eixo de rota-
tensão em comprimentos menores. ção. Uma ampla revisão referente aos braços de mo-

Figura 23.16 Força isométrica


registrada durante a extensão e a flexão
de joelho nas posições sentada e supina
(reimpressa, com permissão, de Houtz et
al., 1957).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 467

Figura 23.17 Ângulos típicos tronco-


coxa (θ) para o ciclismo e a corrida
(reimpressa, com permissão, de Herzog,
1991).

mento da força muscular foi publicada por Pandy na amplitude de movimento de 95° (Murray et al.,
(1999). A presente discussão é limitada às idéias bá- 1995). Vários modelos de computador que estimam
sicas. o comprimento do braço de momento dos valores
Em um caso planar, o momento de uma força F conhecidos dos ângulos articulares estão disponíveis;
sobre um centro articular equivale ao produto da os modelos são desenvolvidos para as extremidades
magnitude da força F e da distância perpendicular, d, inferiores (Hoy et al., 1990; Hawkins, 1992) e supe-
do centro de linha de ação da força: M = Fd. A dis- riores (Pigeon et al., 1996).
tância d é o braço de momento. Este último é igual ao Em algumas configurações articulares, os braços
momento de força produzido pela unidade de força. de momento assumem seus valores mínimo e máxi-
Os momentos de força em um plano são escalares. mo. Nesses ângulos articulares, a mesma tensão mus-
Uma análise da ação muscular pode reduzir-se a duas cular produz momentos máximos e mínimos de força
dimensões se, e somente se, a linha de ação da força sobre o centro articular, respectivamente. Em geral, um
muscular e o eixo de rotação forem perpendiculares momento articular M(α) produzido pelo músculo em
um ao outro. Nesse caso, o músculo age no plano do diferentes ângulos articulares α equivale ao produto:
movimento articular. A Tabela 23.3 contém as fontes
bibliográficas referentes aos braços de momento ar- M(α) = F(α)d(α) (4)
ticulares nas principais articulações.
Em humanos, devido à deformação dos tecidos Por conseguinte, quando o ângulo articular varia, a
moles, incluindo cartilagens articulares, os braços de força registrada externamente se altera devido a duas
momento durante a produção de força máxima po- razões: (I) os músculos produzem diferentes tensões;
dem diferir dos braços de momento em repouso (Aru- (II) as forças musculares agem em diferentes braços
in et al., 1987). Por exemplo, o braço de momento do de momento (Fig. 23.18).
tendão do calcâneo na flexão plantar isométrica Uma posição articular em que a força máxima
(CVM) é 1,2 a 1,27 vezes maior que o braço de mo- (momento articular máximo) é exercida pode ser di-
mento em repouso (Maganaris et al., 1998; Magana- ferente da posição em que o músculo exerce tensão
ris et al., 1998). Fatos similares são registrados para o máxima. A relação entre força muscular (momento
braço de momento do tibial anterior (Maganaris et ou força externamente manifestados) e os fatores de
al., 1999; Maganaris et al., 2000). Para esse músculo, contribuição — tensões musculares e braços de mo-
o braço de momento a 0% da CVM é significativa- mento — pode ser muito complexa. As relações são
mente menor do que em 30 e 60% da CVM (Ito et dissimilares para várias articulações, assim como para
al., 2000). diferentes movimentos na mesma articulação. Por
Quando o ângulo articular varia, o braço de mo- exemplo, na articulação do punho, o perfil momen-
mento de um músculo acompanha as alterações ar- to-ângulo na flexão é determinado principalmente
ticulares. Na articulação do cotovelo, o braço de pela dependência da tensão muscular do comprimen-
momento flexão/extensão varia em, no mínimo, 30% to muscular. Já o perfil de torque na extensão é forte-
468 PAAVO V. KOMI

Tabela 23.3 Estudos experimentais dos braços de momento dos músculos nas principais articulações

Articulações/músculos Referências
Articulações dos dedos dos pés Aper et al. (1996)
Tornozelo Zatsiorsky et al. (1985); Aruin et al. (1987,1988); Rugg et al. (1990); Klein et al. (1996); Maganaris
et al. (1998,1999, 2000); Maganaris (2000); Ito et al. (2000)
Joelho Smidt (1973); Grood et al. (1984); Nisell (1985); Nisell et al. (1986); Draganich et al. (1987);
Mansour e Pereira (1987); Spoor et al. (1990,1992); Visser et al. (1990); Herzog e Read (1993);
Delp et al. (1994); Kellis e Baltzopoulos (1999)
Quadril Jensen e Davy (1975); Dostal e Andrews (1981); Nemeth e Olsen (1985); Mansour e Pereira (1987);
Visser et al. (1990); Delp et al. (1994,1999); Lengsfeld et al. (1997); Arnold e Delp (2001)
Músculos do tronco Nemeth e Olsen (1986,1987) (eretor da espinal e reto do abdome); Reid et al. (1994) (músculo
psoas)
Ombro Poppen e Walker (1978); Wood et al. (1989); Bassett et al. (1990); Otis et al. (1994); Hughes et al.
(1998); Nakajima et al. (1999); Kuechle et al. (2000)
Cotovelo Amis et al. (1979); An et al. (1981); Gerbeaux et al. (1993); Murray et al. (1995, 2000); Lemay e
Crago (1996); Ettema et al. (1998)
Punho Youm et al. (1976); Brand et al. (1981); Buchanan et al. (1993); Loren et al. (1996); Herrmann e
Delp (1999)
Articulações dos dedos e polegar Smith et al. (1964); Brand et al. (1975); Berme et al. (1977); Armstrong e Chaffin (1978); An et al.
(1979,1983); Chao et al. (1989); Lee e Rim (1990); Casolo e Lorenzi (1994); Smutz et al. (1998);
Wilson et al. (1999); Brand e Hollister (1999); Omokawa et al. (2000); Fowler et al. (2001)

mente influenciado pelas alterações no braço de pender não somente da configuração dos ossos so-
momento (Fig. 23.19). bre esse eixo, mas também da posição óssea sobre
A ação planar da força muscular pode ser com- outros eixos: eixo de supinação-pronação (Mansour
parada ao ato de puxar ou empurrar uma porta em e Pereira, 1987; Murray et al., 1995; Klein et al., 1996).
uma direção horizontal. As dobradiças da porta são Os momentos de força no espaço são vetores.
orientadas verticalmente, e a força está em 90° em Possuem tanto magnitude como direção. Em três di-
relação ao eixo de rotação. Tal situação pode ser es- mensões, um momento de força pode ser determina-
tudada com métodos simples, descritos anteriormente do sobre um ponto ou eixo. O momento de força MO
(ver equação 4). A situação mais complexa ocorreria em um ponto O é definido como um produto cruza-
caso a força das mãos fosse direcionada em um certo do dos vetores r e F, em que r representa a posição
ângulo do plano horizontal. Uma análise tridimen- do vetor de O ao ponto de aplicação da força P (Fig.
sional deveria ser aplicada. Isso é típico de uma ação 23.20):
muscular.
Muitos músculos produzem momentos em mais MO = r × F (5)
de um eixo articular. Eles possuem várias funções.
Por exemplo, na articulação do ombro, a cabeça cur- O momento MO é um vetor que possui as seguintes
ta do bíceps auxilia na flexão, na adução, na rotação características:
interna e na flexão horizontal. Na articulação do co-
tovelo, o bíceps flexiona e supina o antebraço. A li- 1 A linha de ação de MO é perpendicular ao plano
nha de ação de força desses músculos está em outro que contém os vetores r e F. A linha representa o
ângulo, diferente de 90°, ao eixo do principal movi- eixo no qual o corpo tende a rotar em O quando
mento anatômico na articulação (flexão/extensão, ab- submetido à força F.
dução/adução e rotação interna/externa). Em três di- 2 A magnitude do momento é MO = F(r sen θ) =
mensões, o braço de momento de um músculo em Fd, onde θ representa o ângulo entre os vetores r e F
certos eixos, por exemplo, flexão-extensão, pode de- e d, a menor distância de O à linha de ação de F, o
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 469

A expressão “rotação sobre o ponto O” realmen-


te significa “rotação sobre um eixo que passa através
de O na direção perpendicular ao plano que contém
O e a linha de ação da força”. Em duas dimensões, a
linha de ação da força e o eixo de rotação são sempre
perpendiculares um ao outro. Em três direções, eles
podem estar em diferentes ângulos.
O momento da força F sobre um eixo é definido
como um componente do momento ao longo deste
eixo. Considere novamente uma força F agindo em
um corpo rígido (Fig. 23.21). A força exerce um mo-
mento MB = r × F sobre o ponto B, em que r repre-
senta a posição do vetor de B para A (ponto de apli-
cação de força). Considere O-O como um eixo através
de B e UOO a unidade vetora ao longo de O-O. Então,
o momento da força F sobre o eixo O-O MOO é defi-
nido como um componente (ou projeção) do mo-
mento MB ao longo desse eixo. A magnitude do mo-
mento MOO equivale ao ponto do produto dos vetores
UOO e MB:

MOO = UOO · MB UOO · (r × F) (6)

A equação 6 representa o chamado produto triplo


misto dos vetores. Desse modo, o momento de força
sobre um eixo representa o produto triplo misto de
três vetores: a unidade de vetor ao longo do eixo de
rotação, a posição do vetor de um ponto arbitrário
no eixo para qualquer ponto sobre a linha de ação de
força e o vetor de força.
Enquanto a definição do momento de força em
três dimensões está matematicamente envolvida, as
Figura 23.18 Como esquematizado, o momento articular conseqüências da disposição tridimensional dos
(força) registrado no ângulo articular θ representa o produto da
tensão muscular e do braço de momento muscular nesta
músculos no corpo são contínuas. Discutiremos bre-
configuração articular (reimpressa de Zatsiorsky, 1995). vemente dois efeitos que são importantes aos profis-
sionais.
Primeiro, os músculos produzem não somente
momentos de força na direção desejada (momento pri-
mário), mas também momentos em outras direções
braço de momento. O braço de momento está no plano (momentos secundários [Mansour e Pereira, 1987; Li et
contendo O e F. A magnitude do momento de força al., 1998ab]). Músculos adicionais são ativados para
não depende da posição da aplicação de força ao lon- ajustar os momentos secundários, que não são ne-
go da linha de ação de força. Somente o braço de cessários aos propósitos desejados. O número de
momento é importante. Por conseguinte, r é o vetor músculo ativos aumenta, mas a força pode diminuir.
de O a qualquer ponto na linha de ação F. Considere, por exemplo, um movimento vigoroso de
3 A direção do vetor MO é apresentada pelo uso da supinação de braço, com o cotovelo flexionado em
mão direita na rotação de r a F: quando os dedos ângulo reto, como ao parafusar com uma chave de
flexionam-se na direção da rotação induzida, o vetor fenda. Durante o esforço de supinação, o tríceps, ainda
está apontando na direção do polegar. que não seja um supinador, também está ativo. Uma
470 PAAVO V. KOMI

Figura 23.19 Determinantes do torque de flexão (figura esquerda) e de extensão (figura direita) na articulação do punho. Os perfis
de torque das unidades musculotendíneas são ampliados com as relações angulares braço de momento-articulação fornecidas.
Observe a considerável influência das alterações da tensão muscular nos perfis de torque na flexão e as grandes alterações dos
braços de momento dos extensores do punho. Abreviações: ERCC, extensor radial curto do carpo; ERLC, extensor radial longo do
carpo; EUC, extensor ulnar do carpo; FRC, flexor radial do carpo; FUC, flexor ulnar do carpo. Os dados referem-se à rotação neutra
do antebraço. As áreas sombreadas representam a média ± 1 desvio padrão (reimpressa, com permissão, de Loren et al., 1996).

simples demonstração — e adequada para propósi- bém produz momento de flexão (momento secundá-
tos de aula: realize uma supinação vigorosa contra rio) (Fig. 23.22). O momento de flexão é equilibrado
resistência enquanto se coloca a segunda mão no bí- pelo momento de extensão do tríceps.
ceps e tríceps do braço ativo. Tanto o bíceps como o Quando se realiza uma flexão do cotovelo, a pro-
tríceps estão simultaneamente em ação. A explicação nação do antebraço diminui a força de flexão do co-
é simples: quando o bíceps age como supinador, tam- tovelo (Rasch, 1956; Jørgensen e Bankov, 1971). Por
exemplo, foram observados os seguintes valores de
força no segundo estudo (26 homens, ângulo do co-
tovelo em 90°): 43,2 ± 8,4 libras com o antebraço em
posição supinada, 47,8 ± 8,9 libras em posição mé-
dia e 27,5 ± 4,4 libras em pronação. Com o braço
pronado, o bíceps não pode gerar sua tensão máxima
devido ao possível efeito de supinação. Em função
desse fato anatômico, é mais fácil realizar flexões na
barra usando uma pegada supinada* do que uma pe-
gada pronada.**

*N. de R.T. Com a articulação radiulnar na posição de supina-


ção. Da expressão inglesa “undergrasp”.
Figura 23.20 A força F produz um momento de força MO em **N. de R.T. Com a articulação radiulnar na posição de prona-

um ponto O.Ver explicação no texto. ção. Da expressão inglesa “overgrasp”.


FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 471

23.23). Quando esforços máximos são necessários,


os lançadores preferem flexionar o tronco mais do
que levantar o braço acima do ombro.
Alguns músculos possuem maior local de aco-
plamento; os feixes individuais de tais músculos po-
dem apresentar diferentes braços de momento com
relação aos diferentes eixos de rotação. Por exemplo,
foram contados 200 feixes individuais nos músculos
do ombro (Van der Helm e Veenbaas, 1991). A análi-
se mecânica de sua ação é uma tarefa complicada.
Resumindo, a seleção de uma posição corporal
apropriada afeta a produção de torque articular.

Dos momentos articulares à força


Figura 23.21 Momento de força F sobre um eixo O-O. Ver
explicação no texto.
muscular (força final*)
Esta seção analisa a relação entre momento/tor-
que articular e forças exercidas em um efetor final
Segundo, os atletas tendem a realizar movimen- (força muscular). Em uma tarefa uniarticular, a trans-
tos vigorosos de modo a minimizar os momentos formação é descrita pela equação 5. A magnitude da
secundários. Quando flexões de braço são realizadas força (força exercida no efetor final) equivale à rela-
em argolas de ginástica, os atletas geralmente supi- ção momento articular/braço de momento da força externa.
nam o braço enquanto flexionam a articulação do Em cadeias multiassociadas, a transformação dos
cotovelo. Ninguém os ensinou a fazer isso. Esse pa- momentos articulares em força final é mais comple-
drão de movimento é simplesmente mais conveniente xa. A análise é exata, mas, infelizmente, não é trivial.
para eles. No lançamento, os atletas tendem a movi- Baseia-se em uma matriz algébrica.
mentar o braço em paralelo à linha do ombro (Fig. Considere uma cadeia cinemática aberta, tal como
o braço ou a perna. Uma força isométrica F é exerci-
da no efetor final. Admite-se que as articulações pro-
duzam menos fricção. A gravidade é negligenciada.
O seguinte teorema é válido (para verificação e dis-
cussão detalhada, ver Zatsiorsky, 2002):

T = JTF (7a)

Onde T representa o vetor dos torques articulares (T


= T1, T2 .... Tn)T e JT a transposição da matriz Jaco-
biana, que relaciona o deslocamento articular infini-
tesimal dα ao deslocamento efetor final infinitesimal
dP. O modelo Jacobiano é uma matriz 6 × n, onde n
representa o número de articulações (em um caso
plano) ou os graus de liberdade cinemáticos (em um
caso tridimensional). O modelo Jacobiano é explica-
do em Zatsiorsky (1998). De acordo com a equação
Figura 23.22 Vista proximal esquemática do braço direito.
7a, os torques articulares em equilíbrio em determi-
Para o braço completamente pronado, o bíceps age como um
supinador; isso também produz um momento de flexão
(momento secundário). Quando o braço é supinado o bíceps
age como flexor puro. *N. de R.T. Relativo à força útil para o gesto motor.
472 PAAVO V. KOMI

Figura 23.23 Posição dos atletas no


instante de liberação ou de impacto.
Para exercer forças máximas, os atletas
mantêm (quase que) colinearmente o
braço com a linha que conecta os
centros dos ombros (reimpressa, com
permissão, de Atwater, 1979).

nada configuração de cadeia são unicamente defini-


dos pela força externa. Caso a magnitude e a direção
da força final sejam constantes, os torques em todas
as articulações são fixos. A força final depende dos
torques articulares, da seguinte maneira:

F = (JT)–1T (7b)

onde (JT)–1 é o inverso da matriz Jacobiana transver-


sa. A equação é válida quando a cadeia é de configu-
ração não-singular, isto é, caso não seja completa-
mente estendida ou flexionada.
As equações 7a e 7b fornecem uma ferramenta
conveniente para estabelecer a relação entre os mo-
mentos articulares e a força final exercida ou resisti-
da pelo atleta (força muscular). A equação é univer- Figura 23.24 Cadeia plana de duas ligações. A força F é
sal; pode ser utilizada para estudar movimentos exercida no ponto final P. A tarefa é estabelecer uma relação
entre F e os torques nas articulações 1 e 2. O comprimento dos
multiarticulares tridimensionais complexos. Limita-
segmentos 1 e 2 é l1 e l2, respectivamente. O sistema global de
remos nossa discussão aos casos planos simples. coordenadas é O-XY e o sistema local de coordenadas no ponto
final é P-xy.
Relações força final-torque articular para
cadeias cinemáticas simples
onde os subscritos 1 e 2 referem-se aos ângulos α1 e
α2, correspondentemente, enquanto o 12, à soma de
Considere uma cadeia de duas ligações apresen- dois ângulos (α1 + α2). O S e o C são empregados
tada na Figura 23.24. Caso o vetor F seja expresso no para o seno e co-seno, respectivamente. Transpondo
sistema global O-XY em relação ao ambiente, a equa- o modelo Jacobiano e aplicando a equação 7, temos:
ção 7 pode ser imediatamente aplicada.
A cadeia Jacobiana (Equação 3.16 em Zatsiorsky,
1998) é: (9)

(8) Os elementos do modelo Jacobiano transposto


representam os braços de momento da força externa
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 473

F em relação às articulações individuais 1 e 2 quan- S2 = 0 e a equação 11 não pode ser solucionada. Se


do a força externa é escrita em projeções nos eixos X uma cadeia de duas ligações representa um braço ou
e Y (Fig. 23.25). O componente horizontal da força uma perna, a posição singular corresponde à exten-
externa FX exerce momento na articulação 2 que equi- são completa do cotovelo/joelho quando o ângulo
vale a –M2 = FXd2, onde o braço de momento é articular é de 180° e incluso (a flexão completa das
d2 = –l2S12. O momento é negativo, no sentido dos articulações corporais humanas é impossível). Na
ponteiros do relógio. O momento de FX sobre a arti- configuração articular singular, o segmento distal re-
culação 1 é –M2 = FXd1, onde d1 = –(l1S1 + l2S12). Por presenta uma extensão do segmento corporal proxi-
conseguinte, o torque articular na articulação 1 é: mal. Nessa postura articular, o componente de força
em ação ao longo da articulação distal não influencia
T1 = –(l1S1 + l2S12)FX + (l1C1 + l2C12)FY (10) os torques articulares; sua linha de ação de força cruza
os eixos articulares da rotação. A sobrecarga externa
Caso os torques articulares T1 e T2 sejam conheci- é fornecida pelo esqueleto.
dos, a força externa pode ser calculada por inverter a Quando a cadeia, por exemplo, a perna, assume
matriz Jacobiana transposta, JT. Para uma cadeia pla- uma configuração articular singular — uma exten-
na de duas ligações, o inverso existe em todas as con- são completa —, a cadeia pode produzir grande quan-
figurações articulares, exceto para as singulares (as tidade de força na direção da extensão da articula-
configurações das cadeias singulares são explicadas ção, do ponto final à articulação proximal (Fig. 23.26).
em Zatsiorsky, 1998, seção 3.1.1.1.4). O inverso do No entanto, nessa configuração de cadeia, a transfe-
modelo Jacobiano transposto é: rência de velocidade angular articular para a veloci-
dade de extensão do joelho é mínima (ver Zatsiorsky,
1998, seção 3.1.1.1.7).
1 ⎡l2C12 − l1C1 − l2C12 ⎤
(J )
T −1
= ⎢ ⎥
l1l2 S2 ⎣ l2 S12 − l1S1 − l2 S12 ⎦ (11)

Controle das forças externas de


As configurações articulares singulares são observa- contato
das quando α2 equivale a zero ou a π. Nesse caso,
Para se movimentar, as pessoas exercem forças
contra o solo. Para manipular objetos, exercem for-
ças nesses objetos. Em todos os casos, a magnitude,
assim como a direção da força, deveria corresponder
às necessidades da tarefa motora. Esta seção concen-
tra-se nos problemas associados ao esforço de uma
força de contato produzida no ambiente. Em geral, a
força de contato externa pode ser gerada de duas
maneiras, dinâmica e/ou estaticamente. Os esforços
de força dinâmica envolvem o movimento acelerado
dos segmentos corporais distantes do ponto de apli-
cação da força. A força de reação do solo (FRS) muda
caso uma pessoa que permaneça na postura em pé
com as pernas estendidas realize um balanço rápido
Figura 23.25 Correspondência entre os braços de momento dos braços ou flexão do tronco. Nesse caso, as per-
da força externa F e as linhas da transposição Jacobiana. Os nas servem como transmissores de força. Elas não
torques articulares equivalentes T1 e T2 da força externa F têm geram a força, somente a transmitem. A transmissão
a magnitude T1 = Fr1 e T2 = Fr2, onde r1 e r2 representam as de força é observada em muitos movimentos, especi-
distâncias perpendiculares da articulação correspondente à
almente naqueles em que o corpo passa rapidamente
linha de F. As equações podem ser convenientemente
representadas pela transposição Jacobiana da cadeia quando sobre a perna de apoio fornecendo somente um cur-
descritas em forma escalar (adaptada, com permissão, de to tempo para a flexão e a extensão do joelho, por
Zatsiorsky, 2002). exemplo, durante o apoio do pé na impulsão hori-
474 PAAVO V. KOMI

X do sistema global de coordenadas está ao longo de


l. A força final F é caracterizada por sua magnitude e
direção. A magnitude é F = T1/r1 ou F = T2/r2. Conse-
qüentemente, para a determinada configuração arti-
cular e a direção da força (r1 e r2 são constantes), a
magnitude da força final é determinada pelos torques
articulares T1 e T2. Observe que, para produzir gran-
de (pequena) força final na mesma direção, os tor-
ques articulares devem ser alterados proporcional-
mente. Para exercer 2F de força, os torques articulares
devem ser 2T1 e 2T2. Por conseguinte, para alterar a
magnitude da força externa, o sistema nervoso cen-
tral (SNC) deveria alterar o nível de ativação muscu-
lar em todas as articulações envolvidas proporcio-
nalmente (metaforicamente falando, o SNC deveria
“multiplicar o nível de atividade muscular pelo mes-
mo coeficiente”).
Figura 23.26 A posição em que o joelho está mais próximo Para caracterizar a direção da força, considere a
da extensão completa, o menor momento na articulação do diferença ΔT = T1 – T2:
joelho requer a produção da força F. Isso explica o motivo pelo
qual sobrecargas mais elevadas podem ser produzidas quando ΔT = Fr1 – Fr2 = F(r1 – r2) = FΔr (12)
os joelhos estão (quase que) completamente estendidas. O
momento articular equivalente é zero quando a linha de ação da
força passa através do centro articular. Grandes forças externas onde Δr = (r1 – r2). Da Figura 23.27 segue que Δr = l1
podem ser exercidas com baixos momentos articulares quando o sen θ, onde θ representa o ângulo da linha de força
cotovelo/joelho estão próximos da extensão. Compare com a com o eixo X. Portanto, a direção da força final é ca-
Figura 23.9 (reimpressa, com permissão, de Zatsiosrky, 2002). racterizada pela função trigonométrica:

zontal. Nesse caso, a direção e a magnitude da FRS 1


são altamente influenciadas pela aceleração de ou- sen θ = (T1 − T2 ) (13)
Fl1
tros segmentos corporais, além da perna apoiada, de-
vido ao movimento de balanço dos braços e da perna
livre. A perna de apoio resiste ao impulso dos mem-
bros superiores e o transmite ao solo. Isso também
exerce uma força e um momento no tronco que gera
aceleração dos membros superiores. Em condições
estáticas, a situação é simples. Em determinada con-
figuração articular, a força de contato externa é con-
trolada pelos torques articulares dos membros en-
volvidos, o braço ou a perna. Limitaremos a discussão
às cadeias cinemáticas simples.

Cadeias de duas ligações*


Considere uma cadeia plana de duas ligações em
uma configuração não-singular (Fig. 23.27). O eixo
Figura 23.27 Direção da força final em função da diferença
nos braços de momento r1 e r2. Por conveniência, a coordenada
*N. de R.T. Neste contexto, a expressão “ligações” refere-se às do eixo X está ao longo da primeira ligação. Ver explicação no
articulações ou junções de dois segmentos. texto.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 475

De acordo com a equação 13, para uma força final tando o ombro S ao ponto final, o eixo radial; (II) o
de magnitude constante F, a direção da força é con- ângulo pointing φ para a linha extraída do cotovelo E
trolada pela diferença nos torques articulares. Na Fi- ao longo do antebraço, o eixo pointing (Fig. 23.29).
gura 23.28 é apresentado um exemplo de força de Os eixos radial e pointing definem quatro setores
determinada magnitude exercida em diferentes dire- marcados na Figura 23.29. A flexão na articulação do
ções. ombro e a extensão na articulação do cotovelo pro-
Convém analisar a relação entre a força final e os duzem uma força final no setor 1. Esse esforço cor-
torques articulares em um sistema polar de coorde- responde à extensão do braço. No setor 2, a força final
nadas. Para um modelo de duas ligações do braço deve-se à flexão nas duas articulações envolvidas. No
humano, os seguintes ângulos referentes ao eixo X setor 3, a força deve-se à extensão S e à flexão E, e, no
são definidos: (I) o ângulo polar θ para o eixo conec- setor 4, a força final representa o resultado dos tor-

Figura 23.28 Torques articulares que geram uma força final de mesma magnitude em várias direções. (a) Uma cadeia planar de
duas ligações. O eixo X do sistema de referência global está ao longo da ligação proximal. Um ponto final exerce uma força com
magnitude de 1 no ambiente em 16 direções variadas. A distância angular entre as forças vizinhas é 22,5°. As forças são
numeradas em seqüência anti-horária. As forças ocorrem devido aos torques T1 e T2 agindo nas articulações 1 e 2, respectivamente.
O comprimento das ligações, l1 e l2, é igual a 1. O ângulo articular α2 é igual a 45°. A força F11 está ao longo da ligação distal,
oposta à força F3, e não é demonstrada. (b) Torques articulares que produzem uma força final de magnitude de unidade em várias
direções. Os números nos gráficos correspondem às direções das forças demonstradas em (a). Os torques articulares são máximos
quando a direção da força é perpendicular ao braço de momento correspondente: para a articulação proximal nas direções 6 e 14, e
para a articulação distal nas direções 7 e 15. Os torques articulares são zero quando a linha de ação da força passa pelo centro
articular. Em particular, o torque na articulação proximal é zero quando a força final é exercida nas direções 2 ou 10. Já o torque na
articulação distal é zero quando a força final está nas direções 3 ou 11. (c) Torque comparado aos valores de torque para as diferentes
direções da força final da magnitude da unidade (os gráficos a e b foram reimpressos, com permissão, de Zatsiorsky, 2002).
476 PAAVO V. KOMI

brir a correspondente flexão/extensão do quadril/jo-


elho nos setores 2 a 4.
A força final pode ser solucionada em dois com-
ponentes de força de contribuição que são devidos
aos torques articulares individuais. Tal decomposi-
ção permite determinar a contribuição relativa de cada
torque articular à força final. Para encontrar as for-
ças de contribuição, considere casos em que a linha
de ação da força ocorre tanto ao longo do eixo radial
como ao longo do eixo pointing. Quando a força final
é exercida ao longo do eixo radial, o torque na arti-
culação proximal é igual a zero (ver Fig. 23.29). Na
articulação distal, o torque é zero quando a força fi-
nal é exercida ao longo do eixo pointing. Em ambos
os casos, a linha de ação da força cruza o centro arti-
cular e o correspondente braço de momento é zero.
Figura 23.29 Os ângulos polar e pointing de um braço de Assim, nas condições descritas, a força final se deve à
duas ligações e os setores que definem a flexão ou extensão de atividade em somente uma articulação. Pode-se di-
ombro (O) e de cotovelo (C). A flexão representa uma rotação zer que a articulação distal produz a força final ao
em sentido anti-horário, enquanto a extensão, em sentido
horário da ligação correspondente (reimpressa, com permissão, longo do eixo radial, enquanto a proximal, ao longo
de Zatsiorsky, 2002). do eixo pointing.
Para fins de ilustração, considere um simples
modelo de produção de força estática na extensão do
ques combinados de extensão nas articulações do joelho apresentado na Figura 23.30. O peso das per-
ombro e do cotovelo. nas, assim como o torque articular, é negligenciado.
Para a perna, ao contrário do braço, o quadril e a O eixo articular do quadril não se desloca. No mode-
flexão (extensão) do joelho correspondem a direções lo, a força sobre o solo é exercida pelos torques com-
angulares opostas, isto é, caso a flexão na articulação binados de extensão do quadril e do joelho. A força
do quadril seja definida no sentido horário, no joe- produzida pelo torque do joelho FJ age ao longo do
lho ocorrerá em sentido oposto. Portanto, uma pro- eixo do quadril para a articulação do tornozelo (Fig.
dução de força no setor 1, que é típica nos apoios 23.30a). A extensão da articulação do quadril gera
dos pés no solo, corresponde à extensão simultânea força FQ ao longo da perna (Fig. 23.30b). A força re-
do quadril e do joelho. O leitor é convidado a desco- sultante exercida no solo representa a soma de veto-

Figura 23.30 A força resultante


exercida no solo representa a soma dos
componentes de força devido aos torques
nas articulações do quadril (Q) e do
joelho (J). Neste exemplo, o torque
articular do tornozelo (T) é zero. Os
vetores de força estão dimensionados
para cada figura (reimpressa, com
permissão, de Zatsiorsky, 2002).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 477

res desses dois componentes de força (Fig. 23.30c).


Observe que a extensão do joelho pode ser impedida
por uma corda ligando Q e T, enquanto a extensão
do quadril por uma corda ao longo da linha JB. As
cordas deveriam comportar-se como suportes e man-
ter uma direção constante.
A partir da discussão anterior, nota-se que, quan-
do a força é gerada ao longo da perna (“na direção do
pointing”), deveríamos esperar atividade zero ou mí-
nima dos músculos servindo a articulação do joelho.
De modo similar, quando a força é exercida na dire-
ção radial, espera-se que a atividade dos músculos
que servem a articulação do quadril seja próxima a
zero. Maiores torques são necessários quando o ve-
tor de força é perpendicular ao raio da articulação ao
ponto de aplicação da força. Figura 23.31 Análise torque articular-força final de uma
cadeia plana de três ligações. Os torques nas articulações 1, 2
e 3 contribuem para a força efetora final F. O torque T1 que age
Cadeias de três ligações na articulação 1 desenvolve uma força contribuinte F1 ao longo
da linha L23. A magnitude de F1 é igual à razão T1/d1, onde d1
Para uma cadeia de três ligações, a força exercida representa o braço de momento. As magnitudes das forças de
no ambiente pelo indivíduo pode ser resolvida em contribuição de outras articulações podem ser consideradas de
componentes associados aos torques articulares in- maneira similar como os quocientes F2 = T2/d2 e F3 = T3/d3.
dividuais. Considere uma cadeia plana de três liga- Essas forças estão agindo ao longo das linhas L13 e L12,
respectivamente. As forças F1 e F2 são demonstradas com suas
ções em uma configuração não-singular (Fig. 23.31).
ramificações na articulação 3. A força F3 é demonstrada ao
A força externa é exercida na ligação final da cadeia longo da linha de sua ação. Um binário de forças (momento
ao ponto P. Não é necessário para P estar no ponto livre) C está representado na figura por uma linha curvada e é
final da articulação distal (diferentemente dos dan- também exercido no ambiente (reimpressa, com permissão, de
çarinos de ballet, que podem manter-se em seus de- Zatsiorsky, 2002).
dos dos pés, a maioria das pessoas mantém-se na
superfície plantar total dos pés). Para descobrir as
forças de contribuição, introduzimos as linhas pas- Resumindo, o controle da cadeia multiarticular é
sando através dos centros articulares, L23, L13 e L12, diferente daquele do sistema uniarticular. No caso
onde os subscritos referem-se aos centros articula- uniarticular, a força final é proporcional ao torque
res correspondentes. Existe a seguinte regra: torques articular. Nas cadeias de ligações múltiplas, a força
articulares individualmente aplicados, T1, T2 e T3, final depende da magnitude do torque e da configu-
produzem o efetor final para aplicar forças ao am- ração da cadeia. Os mesmos torques articulares em
biente ao longo das linhas L23, L13 e L12, respectiva- diferentes posturas corporais gerariam diferentes for-
mente. ças em distintas direções.
Os sistemas de três ligações permitem não so-
mente exercer forças com características de empur- Exercendo forças nas várias
rar-puxar no ambiente, mas também para produzir direções: forças elipsóides
efeitos de rotação. Em particular, tanto a força como
a força acoplada (momento livre) podem ser aplica- A força final depende dos torques articulares e
das em ferramentas de trabalho. Na ausência de fixa- da configuração da cadeia. Para separar esses fatores,
ção, o momento (acoplado) no ambiente é manifes- é conveniente analisar as forças finais produzidas
tado como o deslocamento de um ponto de aplicação pelos torques articulares de magnitude constante. Um
da força resultante ao longo da ligação final da ca- conjunto de torques articulares T1, T2 .... Tn pode ser
deia (Fig. 23.32). visto como o vetor T = [T1, T2 .... Tn]. A magnitude
478 PAAVO V. KOMI

de tridimensional com o eixo principal ao longo dos


eigenvectors da matriz JJT. O comprimento de um eixo
principal i é fornecido por , onde λ representa
um eigenvalue associado ao eigenvector i. Os maiores
eigenvalue correspondem ao menor eixo do elipsóide,
assim como os menores valores, aos maiores eixos
(Fig. 23.33). Quando a magnitude do vetor do torque
total é constante, a força máxima pode ser exercida
ao longo do eixo principal. Portanto, os esforços são
mais eficazes quando direcionados ao longo desse
eixo: uma unidade de torque é convertida à maior
força final. O menor eixo indica a direção em que a
força final é mínima.
Pelo fato de a equação 14 incluir o modelo Jaco-
Figura 23.32 Uma força exercida no solo. (a) A força é biano, a forma e a orientação da força elipsóide de-
exercida pelos torques do quadril e do joelho. O torque do pendem da configuração da cadeia. Como o efetor
tornozelo é zero. (b) A força é exercida pelos torques de quadril, final movimenta-se de um local a outro, a força elip-
joelho e tornozelo. Observe o deslocamento do ponto de sóide também se altera de acordo com o movimento.
aplicação de força.
A Figura 23.34 ilustra as forças elipsóides para uma
cadeia de duas ligações com l1 = l2 = 1 em diferentes
configurações articulares.
do vetor é descrita pela sua norma. Para o vetor T, a As forças elipsóides, na discussão anterior, foram
computadas sob o pressuposto de que a magnitude
norma é T12 + T22 + K + Tn2 , onde T1, T2... Tn re- do vetor dos torques articulares é constante. Na vida
presentam as magnitudes dos torques nas articula- real, a magnitude pode depender da direção da força
ções individuais (componentes do vetor). Considere e das forças momentâneas exercidas em várias dire-
o caso quando a norma do vetor T é constante e igual ções e pode desviar-se de uma elipse. No entanto, as
a 1. A seguinte equação é válida (para verificação e evidências disponíveis sugerem que esse desvio é re-
discussão detalhada, ver Zatsiorsky, 2002): lativamente pequeno (Fig. 23.35).

FTJJ F = 1 (14) Efeitos das restrições geométricas


No caso planar, a equação representa uma elipse. Nas Os movimentos geométricos, ou holonômicos,
três dimensões, a equação 14 representa um elipsói- são restritos em determinadas direções. Os exemplos

Figura 23.33 Uma força elipsóide.


FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 479

Figura 23.34 Elipse de força de


uma cadeia de duas ligações em
diferentes configurações articulares
(l1 = l2 = 1) (reimpressa, com
permissão, de Zatsiorsky, 2002).

Figura 23.35 Distribuição das forças finais máximas. Parte superior, posição do sujeito e equipamento de medida. O, C e P
posição para ombro, cotovelo e punho, respectivamente. A linha a-d está ao longo do raio do ombro, b-e ao longo do eixo apontado,
enquanto a linha c-f, perpendicular ao antebraço. Os círculos brancos, negros e cinza demonstram a localização dos eletrodos (os
dados EMG não são descritos aqui). Plano superior, distribuição da força máxima em diferentes configurações do braço. a: θ1 = 80°,
θ2 = 80°; b: θ1 = 37°, θ2 = 120°; c: θ1 = 50°, θ2 = 90°; d: θ1 = 60°, θ2 = 60°; e: θ1 = 42°, θ2 = 57°. Os envelopes de força
assemelham-se a elipses (os autores, que desenvolveram um modelo com seis músculos, sugerem que os envelopes são hexágonos)
(adaptada, com permissão, de Fujikawa et al., 1997).
480 PAAVO V. KOMI

incluem o ato de abrir uma porta, empurrar um bobs-


led,* pedalar em uma bicicleta e realizar exercícios com
sobrecarga em equipamentos de treino de força.
Quando o efetor final é restrito, o indivíduo pode
exercer força em uma direção diferente do movimento
e ainda realizar a tarefa. As restrições reais — obstá-
culos físicos tangíveis ao movimento — podem alte-
rar completamente os torques articulares. Conse-
qüentemente, diferentes grupos musculares podem
agir quando o movimento corporal está livre ou (fisi-
camente) restrito. Em particular, quando se faz exer-
cícios em equipamentos de treino de força, a direção
da força final, assim como os torques articulares, po-
dem ser muito distintos daqueles observados no le-
vantamento ou na fixação de pesos livres.
Quando o indivíduo, além de exercer força no
objeto, estabiliza-o no espaço, a produção de força
cai. Por exemplo, em um experimento, os sujeitos
empurraram ao máximo um dos manípulos que es- Figura 23.36 Forças aplicadas ao pedal durante o pedalar em
tava fixo ou livre para rotar em relação a um ou dois bicicleta. Valores médios para ciclista de elite em 100 rpm e
eixos (Bober et al., 1982). Quando o manípulo não 400 W. A orientação do pedal e o vetor de força resultante são
demonstrados em 20 posições do pedal. A força no pedal pode
estava fixo, a força pico estava em média igual a 76%
ser decomposta em componentes tangenciais e normais. A
da força exercida contra o manípulo estacionário. A força tangencial positiva avança o pedal, enquanto a força
porcentagem não se alterou após treinamento espe- positiva normal é direcionada ao centro do pedal.
cial e não dependeu do nível esportivo (atletas cam- Mecanicamente, a força normal pode ser considerada como
peões mundiais em várias modalidades esportivas perdida. Na posição 4, a força é perpendicular ao pedal e está
próxima a 100% de eficácia. No centro morto da figura, tem-se
foram comparados a estudantes que não praticavam
grande força, mas — como pode ser observado — sua
esportes). A perda da força foi o preço que todos os orientação não é eficaz. Nas posições 11 a 17, uma força ainda
sujeitos pagaram para estabilizar o braço e o manípulo. empurra os pedais e, como conseqüência, produz um
movimento oposto contratorque (reimpressa, com permissão, de
Cavanagh et al., 1986).
Direções preferidas para a
produção de força final
Como previamente mencionado, quando as pes- mente, esses componentes de força são perdidos; não
soas exercem forças em objetos com restrições geo- produzem efeito útil. Formalmente, a eficácia da ação
métricas, as forças exercidas não podem estar exata- da força pode ser calculada como a projeção da força
mente na direção do movimento desejado. Durante na direção do movimento. No entanto, tal medida
o pedalar na bicicleta, mesmo atletas profissionais, pode induzir a erro. O exemplo seguinte ilustra o pro-
ao friccionarem os pedais, não exercem força perpen- blema. Suponha que se peça a alguém para empur-
dicularmente ao pedal no ciclo circular completo. Em rar horizontalmente um carrinho cujo guidão está
algumas posições da perna, grandes componentes de localizado muito abaixo, no nível do joelho. A pessoa
força são exercidos ao longo do pedal, tendendo a tem duas escolhas, empurrar o guidão para a frente
comprimi-lo ou estendê-lo (Fig. 23.36). Mecanica- ou em direção oblíqua para a frente e para baixo. No
primeiro caso, não haverá perda de força devido ao
ato de empurrar em uma direção incorreta, mas a
postura corporal será desagradável e a força exercida
*N.de R.T. Equipamento semelhante a um trenó, construído não será muito grande. No segundo, o componente
em aço inoxidável e alumínio, com quatro patins na extremi- vertical da força será perdido para a fricção e a defor-
dade inferior. Utilizado no esporte bobsleigh. mação do carrinho. Todavia, a força gerada será maior.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 481

Uma questão similar é levantada em relação ao Produção de força máxima:


bobsledding. Após o início, os atletas empurram o articulações limitantes
bobsled. Qual o ângulo ótimo para isso?
Em alguns casos, a força máxima em uma dire- De acordo com a equação 7, quando o sujeito
ção desejada pode ser alcançada ao direcionar a for- exerce força estática no ambiente e a postura corpo-
ça em outra direção. A projeção da força exercida na ral, assim como a direção da força, não se altera, os
direção desejada pode exceder a força intencional- torques nas articulações envolvidas são definidos de
mente exercida nessa direção (Fig. 23.37). Essa con- maneira única. Qualquer aumento na força final re-
clusão partiu da análise das forças elipsóides. quer aumento proporcional e simultâneo de todos
Quando são necessários grandes esforços, as pes- os torques articulares.
soas são propensas a exercer força na direção de uma Ao exercer força máxima, os torques em algu-
maior produção de força (ao longo do eixo principal mas articulações alcançam o valor máximo (para de-
da força elipsóide), e não na direção “útil”. Por exem- terminada postura corporal). Outras articulações são
plo, os usuários de cadeira de rodas não exercem ti- somente taxadas de modo submáximo. A força final
picamente forças tangencialmente às rodas. Eles ten- não pode ser posteriormente aumentada devido ao
dem a estender o braço comprimindo, assim, as rodas torque insuficiente em uma (ou duas, ou três) de vá-
(Fig. 23.38). rias articulações envolvidas na tarefa. Tais articula-

Figura 23.37 Força


intencionalmente exercida em
determinada direção Y pode ser
menor do que o componente ao
longo de Y da força exercida em
direção mais benéfica.

Figura 23.38 Direção da força


tangencial (a) e da força real em
usuários de cadeira de rodas (b).
A linha sólida indica os torques
articulares no ombro e cotovelos.
As linhas pontilhadas indicam a
direção de rotação nessas
articulações (reimpressa, com
permissão, de van der Woude et
al., 2000).
482 PAAVO V. KOMI

ções são conhecidas como articulações limitantes (para Postura corporal e treinamento de
determinado indivíduo, para determinada tarefa e para força
determinada postura corporal). As articulações limi-
tantes podem diferir entre os atletas. Por exemplo, A atividade muscular pode variar substancialmen-
dois atletas capazes de levantar do chão uma barra te caso a postura corporal seja alterada. Isso é muito
de 100 kg, mas incapazes de levantar uma barra de comum na prática esportiva, em que os treinadores e
105 kg, podem apresentar diferentes articulações li- os atletas admitem treinar determinado grupo mus-
mitantes (extensão do joelho em um atleta e exten- cular, por exemplo, os extensores do joelho, mas, na
são da coluna no outro). Evidentemente, esses atle- realidade, esse grupo muscular não é estimulado e,
tas deveriam ser treinados de maneiras diferentes. conseqüentemente, não é treinado. É mesmo possí-
Alguns treinadores de força acreditam que o va- vel que os músculos antagonistas, por exemplo, os
lor do torque articular máximo depende de a articu- flexores do joelho, em vez dos extensores, estejam
lação gerar o torque ou transmiti-lo. Uma opinião po- sendo principalmente estimulados (Fig. 23.40).
pular entre os praticantes é a de que a articulação Os efeitos do treinamento de força dependem da
pode transmitir um torque maior do que o capaz de postura específica (Gardner, 1963; Zatsiorsky e Rait-
ser gerado. Essa não é uma questão puramente me- sin, 1974; Wilson et al., 1996). Eles dependem da
cânica, e a equação 7 pode não resolvê-la. O proble- amplitude de movimento articular e, no caso dos exer-
ma deveria ser resolvido por experimentos. Neste mo- cícios isométricos, da posição articular ao treinamento
mento, não existem evidências experimentais (Fig. 23.41).
suficientes para uma conclusão decisiva. As evidên- Na prática do treinamento esportivo, três abor-
cias científicas disponíveis inclinam-se contra a hi- dagens/princípios gerenciam o paradigma força-pos-
pótese: parece que os valores máximos de torque ar- tura (não é dedicada atenção à quarta “solução” nes-
ticular não dependem de a articulação gerar ou te capítulo). Eles são o princípio pico-contração, acomodação
transmitir o torque (Fig. 23.39). da resistência e acentuação. As técnicas são descritas em
detalhes em Zatsiorsky (1995). Somente uma breve
consideração é fornecida aqui.
O princípio contração-pico baseia-se na idéia de evi-
denciar os pontos fracos da curva de força humana. O
princípio é observado, “na pior das hipóteses”, quan-
do a resistência externa, por exemplo, momento da
força gravitacional, é máxima na posição articular em
que a força Fm é mínima. A força é pequena na posi-
ção em que (I) a tensão muscular é baixa, isto é, quan-
do os músculos são encurtados, e (II) os braços de
momentos musculares são pequenos. Como exem-
plo, compare o ato de levantar o joelho de duas posi-
ções iniciais: deitado em decúbito dorsal e suspenso
em uma barra horizontal (Fig. 23.42). O segundo exer-
cício impõe uma demanda muito maior do que o pri-
meiro. Em ambos, o braço de momento da força gra-
vitacional agindo sobre as pernas é máximo quando
colocado em sentido horizontal. No entanto, quan-
Figura 23.39 Medida da força de flexão do cotovelo em do as pernas são elevadas na posição deitada, a resis-
posição supina. Nos experimentos, a articulação do cotovelo tência máxima coincide com os maiores pontos de
agiu tanto como transmissor (plano superior) quanto como força da curva força-ângulo (os flexores do quadril
gerador de força (plano inferior). No primeiro caso, os sujeitos
não são encurtados). Quando a elevação da perna é
deitam-se em uma condição que os habilita a exercer força com
as pernas para ser livremente transmitida ao cotovelo. Os realizada na barra horizontal, os músculos flexores
resultados foram similares para ambos os testes de força do quadril são encurtados no instante em que as per-
(reimpressa, com permissão, de Andersson e Schultz, 1979). nas cruzam a linha horizontal. Então, a posição de
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 483

Figura 23.40 Momentos de força na articulação do joelho (N·m) durante o agachamento com sobrecarga de 80 kg. A magnitude e
a direção (flexão ou extensão) do momento se alteram de acordo com a postura do atleta. Quando o agachamento é realizado com o
tronco inclinado (figura da esquerda), os extensores do joelho não são ativados, enquanto os flexores são. Os extensores do joelho
são estimulados ao máximo quando o tronco está na posição ereta (figura da direita) (reimpressa, com permissão, de Zatsiorsky,
1995).

resistência máxima coincide com o ponto mínimo


(mais fraco) da curva força-posição (“na pior das hi-
póteses”).
Equipamentos especiais de treinamento podem
implementar o princípio pico-contração (Fig. 23.43).
Ao contrário do princípio pico-contração, a idéia
de acomodação da resistência é desenvolver tensão má-
xima na amplitude total de movimento, e não em
particular, por exemplo, no ponto mais fraco. A resis-
tência de acomodação pode ser alcançada de duas
maneiras, por máquinas isocinéticas ou por resistên-
cia variável de acordo com a curva de força humana
(equipamento do tipo Nautilus). A idéia foi sugerida
Figura 23.41 Efeitos do treinamento isométrico em diferentes no século 19 por Zander (1879). Ele desenvolveu
posições articulares no momento do movimento de braço em muitas máquinas para exercícios com sobrecarga ba-
máxima velocidade (diferença entre o tempo de movimento seadas nesse princípio (ver Levertin, 1893, para a his-
antes e após o treinamento). O início depende da postura dos
tória do problema, e Reijs, 1921, para revisão cientí-
sujeitos (n= 32) ao realizarem uma flexão de ombro em
velocidade máxima com halter nas mãos. A massa do halter foi fica do tópico). A resistência de acomodação repre-
2, 6 e 8 kg. Os sujeitos eram levantadores de peso iniciantes senta a base da ginástica médico-mecânica, popular an-
(idade: 17 ± 1,2 anos). Além de manter a rotina principal de tes da Primeira Guerra Mundial. Atualmente, alguns
treinamento, que foi a mesma para todos os sujeitos, o grupo A dos equipamentos de Zander podem ser vistos no
(n= 11) realizou treinamento isométrico dos flexores do ombro
Smithsonian Institution, em Washington DC. Inú-
em um ângulo de 0 a 5°. O grupo B treinou com o ombro em
um ângulo de 90°. O grupo C (n= 10) serviu como controle. O meras tentativas de comparar a eficácia do treinamen-
treinamento isométrico consistiu de três séries de três esforços to isocinético com o treinamento de resistência vari-
máximos por sessão, três vezes por semana, durante 24 ável e com pesos livres não foram bem-sucedidas
semanas. Os intervalos de repouso foram de 10 s entre os devido à especificidade dos ganhos do treinamento,
esforços e de 60 s entre as séries. O treinamento no ângulo de
isto é, o treinamento isocinético resultou em maio-
90° foi benéfico para o levantamento do halter de 8 kg,
enquanto o treinamento na posição inicial foi vantajoso para o res aumentos na magnitude da sobrecarga levantada
levantamento do halter de 2 kg e o movimento de braço sem (para revisão, ver Kraemer et al., 1996; Kraemer
sobrecarga (dados de Zatsiorsky et al., 1967). et al., 2000). Parece que, para atletas, a acomodação
484 PAAVO V. KOMI

Figura 23.42 Elevação da perna a partir de


duas posições iniciais. A sobrecarga é maior na
elevação da perna em uma barra horizontal do
que em uma posição supina (reimpressa, com
permissão, de Zatsiorsky, 1995).

da resistência não deveria ser a primeira escolha de amplitude. Por exemplo, caso o objetivo do treina-
técnica de treinamento, com a possível exceção dos mento seja aumentar a força dos músculos flexores
esportes aquáticos, como a natação e o remo. do quadril para melhorar a velocidade do movimen-
A principal idéia da acentuação é ser específica ao to de balanço, não há razão para aumentar a força
máximo: treinar a força em uma variedade de movi- desses músculos em uma amplitude além da que a
mentos esportivos especícifos em que a demanda para atividade requer. Um exercício demonstrado na Fi-
a produção de força é máxima. De acordo com essa gura 23.44 satisfaz o requerimento para a especifici-
idéia, não há necessidade de os atletas treinarem for- dade da amplitude da aplicação da força.
ça na amplitude total do movimento, pois a força má- Os mecanismos relacionados à especificidade
xima é necessária em somente uma pequena parte da articulação-posição no treinamento de força não es-
tão claros. Talvez devido a mecanismos desconheci-
dos de coordenação neural ou à adaptação específica
dos próprios músculos, por exemplo, alteração no nú-
mero de sarcômeros em série nas fibras musculares
(Herzog et al., 1991).

Tipo e quantidade de resistência

A força exercida pelo atleta em um objeto exter-


no depende da resistência fornecida pelo objeto. Por
exemplo, como previamente mencionado (ver Figs.
23.9 e 23.26), a força isométrica na extensão do joe-
lho é máxima quando o joelho está próximo da ex-
tensão completa. No entanto, ocorre exatamente o
contrário nos saltos durante a corrida: a força pico
ativa no apoio do pé no solo é exercida quando o
joelho é flexionado ao máximo. Nesse instante, a ace-
leração do corpo do atleta é máxima e, como a resis-
tência é fornecida pela inércia corporal (somada ao
Figura 23.43 Equipamento para implementar o princípio da seu peso), a força também é máxima. Conseqüente-
contração de pico. O equipamento realiza a flexão do braço. mente, a dependência da força exercida por um atle-
Com o equipamento, a maior resistência é fornecida ao final do
ta na postura corporal não é absoluta; varia de acor-
movimento. O potencial de força do atleta é mínimo (ver Fig.
23.8a), e a resistência é maior quando o cotovelo é flexionado do com o tipo de resistência. A atividade muscular
ao máximo (“na pior das hipóteses”) (reimpressa, com varia de acordo com o tipo resistência fornecida ao
permissão, de Zatsiorsky, 1995). movimento (Fig. 23.45).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 485

Figura 23.45 Período de atividade muscular durante flexão e


extensão rítmica do cotovelo contra várias resistências. A
duração da flexão ou extensão é de aproximadamente 1 s; a
amplitude de movimento é de 90°. Curvas ascendentes: flexão
do cotovelo; curvas descendentes: extensão do cotovelo. (a)
Forças elásticas (a resistência é fornecida por duas molas). Na
flexão máxima (extensão), os flexores do cotovelo (extensores)
estão ativos. (b) Inércia (movimento horizontal com uma massa
adicionada ao antebraço). A atividade muscular é exatamente
Figura 23.44 (a) Amplitude de movimento “acentuada” no oposta ao caso anterior: na flexão máxima, os músculos
movimento de balanço da perna. (b) Exercício desenvolvido extensores são ativados e, na extensão máxima, os flexores são
para satisfazer as exigências do esforço muscular “acentuado” completamente ativados. Esse padrão de ativação muscular é
(reimpressa, com permissão, de Zatsiorsky, 1995). necessário pela mecânica: no instante da flexão máxima do
cotovelo, a aceleração é direcionada à extensão e é máxima. (c)
Forças viscosas (o braço movimenta-se mediante uma
“substância” espessa). Os músculos são completamente
A magnitude da força aumenta com a amplitude ativados quando o cotovelo está em uma posição intermediária
e a velocidade articular angular é máxima (adaptada de Wagner,
do movimento quando a resistência é baseada no 1925).
princípio da elasticidade. A força é máxima ao final do
movimento quando o objeto de resistência (corda de
borracha, bandas elásticas, corda para estiramento,
molas, etc.) é estendido ao máximo. Em algumas de um objeto acelerado é pequena, a força máxima
máquinas de exercício, a resistência é fornecida pela exercida pelo atleta no objeto depende da quantida-
viscosidade: durante o movimento, o óleo viscoso é de de massa (Fig. 23.46b). É impossível exercer gran-
comprimido através de estreitas aberturas. Quando de Fm contra um corpo de pequena massa. Por exem-
se trabalha em tais máquinas, a resistência é propor- plo, é irreal aplicar grande força a uma moeda. No
cional à velocidade, e a força pico é exercida no ins- entanto, quando a massa de um objeto é grande, a Fm
tante em que a velocidade é máxima. A resistência hi- depende principalmente da força do atleta.
drodinâmica em esportes aquáticos depende do Os ganhos de força que resultam do treinamen-
quadrado da velocidade. to com diferentes resistências são específicos à mo-
Quando a resistência é fornecida pela inércia, o dalidade. Os sujeitos que treinam em um equipamen-
movimento segue a segunda lei de Newton de movi- to que apresenta resistência hidráulica experimentam
mento: a força é proporcional à massa (inércia) do aumento significativo na força pico quando a força é
corpo acelerado e sua aceleração. O movimento con- mensurada nesse equipamento; a força pico exercida
tra a resistência da inércia é geralmente estudado pelo em um equipamento isocinético altera ligeiramente
uso de rodas de inércia (Fig. 23.46a). Quando a massa (O’Hagan et al., 1995).
486 PAAVO V. KOMI

of Science and Technology, 1977). A impedância carac-


teriza a resistência total do corpo humano às forças
externas (Weis e Primiano, 1966; Winters et al., 1988;
Hogan, 1990; Batman e Seliktar, 1993; Tsuji et al.,
1995; Cornu et al., 1997; Tsuji, 1997), sendo especi-
almente importante quando o corpo colide com um
objeto externo ou está sob vibração. A impedância
inclui componentes elásticos, de amortecimento e
de inércia. Isso não será discutido aqui.
2 As curvas força-velocidade submáximas são ob-
tidas da seguinte maneira: o atleta realiza várias ten-
tativas do mesmo movimento, por exemplo, impul-
são vertical. As tentativas são feitas com diferentes
esforços, de baixo a máximo. A força e a velocidade
são mensuradas em cada tentativa, a força pico exer-
cida no solo e a velocidade do apoio dos pés no solo.
Então, os valores de força e velocidade são confron-
tados um contra o outro. A relação é geralmente po-
sitiva: quanto maior a força, maior a velocidade. Essa
relação é considerada trivial e não atrai muita aten-
ção da literatura.
Figura 23.46 (a) Roda de inércia. Uma corda é enrolada
3 Relação entre a força e a velocidade registrada
repetidamente ao redor da roldana, e o sujeito a puxa. A em um único movimento. A força e a velocidade são
resistência inercial (massa equivalente) é alterada por variar o registradas continuamente e, então, plotadas uma
momento de inércia da roda (localizando as sobrecargas contra a outra. Os exemplos são oscilações rítmicas
acopladas próximas ou posteriormente ao eixo de rotação) e por do antebraço (Fig. 23.47a) e corrida (Fig. 23.47b). No
enrolar a corda ao redor de tubos de diferentes diâmetros. A
roda de inércia foi inicialmente sugerida por Hill em 1922 (o
primeiro exemplo, a velocidade angular do antebra-
artigo foi reimpresso em 2001) (reimpressa de Zatsiorsky, ço é plotada contra a aceleração angular e a força (a
1995). (b) Dependência da força de pico na massa em força é proporcional à aceleração). No segundo, a
movimento. A linha pontilhada horizontal representa Fmm, a relação entre a tensão do tendão do calcâneo e sua
força isométrica máxima no ângulo de 90° do cotovelo. Os velocidade de encurtamento e alongamento é apre-
sujeitos estudados são levantadores de peso e lutadores
experientes (dados de Zatsiorsky et al., 1968).
sentada. Tais curvas de força-velocidade de uma única
tentativa são diferentes das curvas força-velocidade
registradas em experimentos que envolveram várias
tentativas descritas a seguir (com uma exceção, o caso
Relações força-velocidade descrito posteriormente; ver Fig. 23.50).

As relações entre a força e a velocidade nos mo- Outras duas relações são obtidas quando os atle-
vimentos esportivos têm atraído considerável aten- tas impõem esforços máximos para produzir a maior
ção entre os pesquisadores. força e/ou velocidade possível.

Tipos de relações força-velocidade 4 Relação entre a força maximal Fmm e a velocidade


máxima de movimento Vm. Para os profissionais do
Várias relações força-velocidade são exploradas esporte, essa relação é importante, pois auxilia a res-
na literatura biomecânica. ponder a questão sobre a utilidade do aumento da
Fmm para a melhoria da velocidade do movimento.
1 Relação entre a força que age no corpo humano Um exemplo é a relação entre a Fmm na extensão de
e a velocidade corporal. A relação “força-velocidade” joelho e a velocidade do apoio dos pés no solo (ou
é denominada impedância mecânica (ver Encyclopaedia altura) na impulsão vertical. A questão é: atletas mais
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 487

Figura 23.47 Curvas força-velocidade obtidas em tentativas Figura 23.48 Relação não-paramétrica entre força máxima
únicas. Os parâmetros de tarefa são constantes. (a) Alterações (Fmm) e velocidade de flexão do ombro (Vm) com o braço
sucessivas da força e da velocidade em movimentos rítmicos do estendido; 100 sujeitos. (a) Sem sobrecarga; não há correlação
antebraço em amplitudes de 0,14 e 0,74 radianos. O movimento significativa entre Fmm e Vm. (b) Sobrecarga de 6 kg. (c)
progride em sentido horário. O momento de inércia do braço é Sobrecarga (halter) de 8 kg nas mãos; existe alta correlação
cerca de 5,16 x 105 g·cm–2 (reimpressa, com permissão, de entre Fmm e Vm (adaptada de Zatsiorsky, 1995).
Fenn, 1938). (b) O perfil força-velocidade do músculo tríceps
sural humano durante o contato do pé com a bola deslocando a
5,78 m·s–1 (inferior). As forças representam forças do tendão do
calcâneo, enquanto as velocidades representam a taxa de
alteração do comprimento musculotendíneo para o músculo
gastrocnêmio (adaptada de Komi, 1990).
488 PAAVO V. KOMI

fortes saltam mais? Tais relações foram considera- relação não-paramétrica. A seguinte discussão limi-
das como relações não-paramétricas (Zatsiorsky et al., ta-se à ação muscular concêntrica. A ação muscular
1968; Zatsiorsky et al., 1969). O porquê dessa termi- excêntrica é analisada no Capítulo 10.
nologia será posteriormente explicado.
5 As relações não-paramétricas são positivas Relações força-velocidade
(quanto maior a Fmm, maior a Vm) ou nulas. A relação paramétricas
depende da quantidade de resistência: quanto maior
a resistência, por exemplo, massa de um implemen- Essa relação desperta maior interesse e é em ge-
to, maior a correlação entre Fmm e Vm (Fig. 23.48). Não ral denominada simplesmente como relação força-ve-
existe correlação entre Fmm e Vmm (velocidade máxi- locidade ou, especialmente, quando se trata de mús-
ma) obtida na resistência zero: a capacidade de pro- culos individuais, a curva de Hill (ver Fig. 9.4 no
duzir força máxima (i. e., força muscular), assim como Capítulo 9). A denominação da curva é uma referên-
alcançar grande velocidade no mesmo movimento, cia ao trabalho de A.V. Hill (1938). Alguns exemplos
requer capacidades motoras independentes (Rasch, de relações paramétricas encontradas na prática es-
1954; Henry, 1960; Clarke e Henry, 1961). portiva são apresentados na Tabela 23.4. Os exem-
5 Relações paramétricas entre a força maximal e a ve- plos da curva força-velocidade são fornecidos na Fi-
locidade. O termo relação paramétrica é utilizado para gura 23.49. Em condições de campo, em vez da
designar as relações força-velocidade obtidas da se- velocidade, sua estimativa aproximada é geralmente
guinte maneira (Zatsiorsky et al., 1968; Zatsiorsky empregada (parte b e c na Fig. 23.49). As relações for-
et al., 1969): ça-velocidade paramétricas são negativas: quanto
maior a velocidade, menor a força. As curvas são côn-
(a) Os sujeitos realizam várias tentativas com
cavas para cima.
esforço máximo.
As curvas força-velocidade que podem ter apa-
(b) Um determinado parâmetro da tarefa, por
rência similar à curva de Hill podem ser registradas
exemplo, peso de um implemento, varia de ma-
em uma única tentativa (caso 3 mencionado ante-
neira sistemática entre as tentativas.
riormente). Isso ocorre quando a velocidade aumen-
(c) Em cada tentativa, tanto a força como a ve-
ta monotonicamente até determinado nível de satu-
locidade são mensuradas, Fm e Vm. Cada par Fm–
ração e, como resultado, a aceleração diminui mono-
Vm corresponde a determinado valor do parâ-
tonicamente (parte a da Fig. 23.50). Quando a
metro (os equipamentos isocinéticos permitem
resistência é provida pela inércia, a relação entre a
estabelecer a velocidade de movimento e regis-
força e a aceleração é estabelecida pela segunda lei
trar o esforço exercido).
de Newton: F = ma. Caso a massa seja constante, a
(d) Os valores de Fm e Vm são plotados um con-
relação força-velocidade é em essência, a relação “ace-
tra o outro.
leração-velocidade”. Em tais casos, a relação força-
Para distinguir essa relação da relação Fmm–Vm velocidade observada é conseqüência da saturação
descrita anteriormente, a primeira foi denominada da velocidade: quando a velocidade aumenta, a ace-

Tabela 23.4 Relações paramétricas força-velocidade em movimentos esportivos

Atividade (parâmetro) Fator variável Força Velocidade

Freqüência de pedal Raio da engrenagem Força aplicada ao pedal Pedal


(ou velocidade) dentada
Remo, caiaque, canoagem Área laminar de um remo Aplicada ao remo Lâmina do remo em relação à água
Caminhar em aclive/declive Inclina/declina No apoio do pé Caminhada
Arremesso Massa do implemento Exercida sobre o implemento Implemento na liberação
Impulsão vertical Peso corporal modificado No apoio do pé Corpo ao final do apoio do pé
Peso adicionado (cinto) ou
deduzido (sistema de suspensão)
Figura 23.50 Curvas pseudo-Hill. (a) Velocidade normalizada
(linhas sólidas) e aceleração (linhas pontilhadas) em uma única
tentativa. Se as flutuações da velocidade intraciclo são
desprezadas ou filtradas, tais curvas são registradas no início da
velocidade da pedalada e do ciclo. A curva de velocidade, V(t),
pode ser descrita pela equação V(t) = Vmáx (1 – e–kt) (Henry e
Trafton, 1951; Zatsiorsky e Primakov, 1969), onde Vmáx
representa a velocidade máxima e k a aceleração constante (a
magnitude de aceleração no início [t = 0]). A aceleração é igual a
a(t) = Vmáxke–kt. As curvas de velocidade e de aceleração são
Figura 23.49 Curvas força-velocidade obtidas em vários ajustadas de acordo com a Vmáx e correspondem ao k = 0,5
movimentos. (a) Extensão do joelho em jogadores de futebol em (círculos negros) e k = 1,0 (círculos abertos). A aceleração
diferentes níveis de habilidade, velocidades angulares diminui quando a velocidade aumenta. A aceleração é zero
articulares comparadas aos momentos articulares (reimpressa quando a velocidade é máxima. (b) Diagrama de aceleração
de Kirkendall, 1985). (b) Massa de implemento (ordenada) em (força) comparada à velocidade para k = 0,5. (c) Relações entre
relação à raiz quadrada da distância de lançamento (abscissa). a velocidade do pedal e torque em três ciclistas. No experimento,
A raiz quadrada da distância aproxima-se à velocidade de os sujeitos realizaram uma série das velocidades em
lançamento (reimpressa de Zatsiorsky et al., 1964). (c) Altura cicloergômetro. As curvas relacionadas ao ângulo-torque do eixo
de salto comparada à sobrecarga extra na impulsão vertical. A do pedal foram registradas nas primeiras 10 rotações. Cada
altura de salto é empregada como estimativa aproximada da ponto corresponde à velocidade e ao torque médios em uma
velocidade de apoio do pé (reimpressa de Viitasalo, 1985). rotação (c é de Butelli et al., 1996).
490 PAAVO V. KOMI

leração diminui. Essa relação não representa uma


relação paramétrica (todos os parâmetros da tarefa
são constantes). A curva correspondente pode ser
denominada de curva pseudo-Hill (a palavra pseudo não
tem conotação negativa; simplesmente indica que a
curva foi obtida de maneira diferente). As curvas pseu-
do-Hill devem ser distinguidas da curva real de Hill
descrita anteriormente. Em geral, as curvas pseudo-
Hill apresentam linhas retas.
Alguns treinadores que tenho encontrado con-
sideram as relações força-velocidade paramétricas
como triviais: obviamente, objetos pesados não po-
dem ser levantados ou movidos com a mesma alta
velocidade de objetos leves. Isso é igualmente válido Figura 23.51 Diagrama para demonstrar como um músculo
para objetos inanimados: a velocidade de um carro isolado encurta-se quando desloca várias sobrecargas a partir
diminui quando puxa um trailer. Então, qual é a preo- de um comprimento inicial fixo. A reta das linhas interrompidas
cupação que tudo isso causa? fornece a velocidade de encurtamento. A velocidade máxima de
encurtamento diminui com o aumento da sobrecarga. Além
Os cientistas têm focalizado as relações força- disso, as seguintes alterações são observadas quando maiores
velocidade paramétricas em comprimento. A razão é sobrecargas são levantadas: (i) o intervalo antes da sobrecarga
que as relações força-velocidade nos movimentos iniciar o movimento aumenta. Esse tempo é gasto
corporais totais resumem as relações força-velocida- principalmente no desenvolvimento da tensão isométrica ao
de para os músculos, a famosa curva de Hill discuti- mesmo nível da sobrecarga. (ii) A quantidade total de
encurtamento diminui (reimpressa de Carlson e Wilkie, 1974).
da anteriormente no Capítulo 9. A importância fun-
damental da curva muscular força-velocidade está
bem fundamentada: a curva força-velocidade é satis-
fatoriamente explicada pela teoria das pontes cruza- se a força ou a velocidade são mantidas constantes,
das de contração muscular (Huxley, 1957) e está for- como variável independente, a variável dependente
temente relacionada à quantidade total de energia não é constante. As variáveis dependentes são men-
(trabalho mecânico + calor) liberada na contração suradas em um ponto específico do tempo, por exem-
muscular: mais energia é liberada quando o encurta- plo, no instante em que a força ou a velocidade má-
mento é permitido (para breve revisão, ver Zatsiorsky, xima ocorre ou em uma posição corporal específica
1998; Huxley, 2000). Em um importante artigo escri- em ângulo de 90°. As possibilidades são numerosas.
to por Hill (1938), a curva força-velocidade foi deri- A escolha feita pelo pesquisador afeta os resultados.
vada de medidas de calor. As medidas diretas da cur-
va força-velocidade em músculos isolados em
Movimentos uniarticulares
humanos são extremamente raras (Ralston et al.,
1949). Em movimentos uniarticulares, as relações for-
A relação entre as curvas força-velocidade para ça-velocidade (ou torque-velocidade angular) têm
músculos isolados e as curvas análogas para o movi- sido estudadas principalmente em duas articulações:
mento corporal total é algo mais simples. O proble- o cotovelo (Dern et al., 1947; Wilkie, 1950; Komi,
ma começa a partir da seleção de valores de força e 1973; Jorgensen, 1976; de Koning et al., 1985; de
velocidade para análise. Há um período significativo Koning et al., 1986; Kojima, 1991; Martin et al., 1995;
de força e velocidade constante durante o movimen- Thomis et al., 1998) e o joelho (Thorstensson et al.,
to nos experimentos realizados em fibras musculares 1976; Lesmes et al., 1978; Perrine e Edgerton, 1978;
ou em músculos isolados (Wilkie,1967; Fig. 23.51). Gregor et al., 1979; Johansson et al., 1987; Westing
Nesses casos, o tempo específico em que as variáveis et al., 1988; Prietto e Caiozzo, 1989; Marshall et al.,
são mensuradas não é crítico. 1990; Kanehisa et al., 1997; Chow et al., 1999; Rah-
Em movimentos humanos naturais, a força e a mani et al., 1999; Seger et al., 1999; Seger e Thors-
velocidade variam de acordo com o tempo. Mesmo tensson, 2000). Outras articulações, em particular a
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 491

do punho (Chow e Darling, 1999), a do dedo (Cook (Fig. 23.52) (Perrine et al., 1978; Kojima, 1991). Hi-
e McDonagh, 1996), a do polegar (De Ruiter et al., poteticamente, isso ocorre devido à inibição do siste-
1999), a do quadril (Hawkins e Smeudlers, 1999) e a ma nervoso central como forma de prevenir lesões
do tornozelo (Fugl-Meyer et al., 1982; Bobbert e van em forças elevadas.
Ingen Schenau, 1990), são menos estudadas. A abor- Em atletas com maior porcentagem de fibras de
dagem mais comum é a extensão e a flexão isocinéti- contração rápida, as curvas força-velocidade apresen-
cas. Outros protocolos também são empregados: pe- tam menor curvatura (Gregor et al., 1979; Tihanyi et
sos manuais (Wilkie, 1950; Kojima, 1991), resistência al., 1982; Froese e Houston, 1985). Resultados simi-
elástica (Hawkins e Smeudlers, 1999), molas de força lares foram obtidos quando se comparou velocistas e
constante (de Koning et al., 1985) e momento de inér- corredores de distância (Johanson et al., 1987;
cia fornecido por uma roda de inércia (Tihanyi et al., Wakayama et al., 1995). Quando a equação de Hill é
1982). empregada (ver equação 10, no Capítulo 9), a forma
As curvas força-velocidade e torque-velocidade da curva força-velocidade pode ser descrita pela re-
angular para movimentos uniarticulares não são idên- lação a/Fmm. Quanto maior a relação, menor a curva-
ticas às análogas curvas de músculos isolados pelo tura. Em média, a relação equivale a 0,39 para a fle-
fato de se sobreporem ao resultado da força de vários xão do cotovelo (Kojima, 1991) e 0,40 para a extensão
músculos, os quais apresentam diferentes caracterís- do joelho (Tihanyi et al., 1982). Na flexão do cotove-
ticas. No entanto, são similares, em forma, às curvas lo, a relação varia de aproximadamente 0,10 a 0,60
força-velocidade obtidas em fibra isolada e músculo. (Zatsiorsky, 1966). Em geral, os atletas de esportes
A exceção mais importante é que em alguns movi- de potência possuem rácio maior do que 0,30, en-
mentos, principalmente na extensão do joelho, os quanto atletas de endurance, menor. Quando a curva-
valores de torque em alta amplitude de torque das tura força-velocidade é pequena, a curva pode ser sa-
curvas torque-velocidade angular são menores do que tisfatoriamente aproximada por uma equação linear
se deveria esperar da equação força-velocidade de Hill (Fugl-Meyer et al., 1982; Kues e Mayhew, 1996).
A fadiga desloca a curva força-velocidade para
baixo (De Ruiter et al., 1999), enquanto um aumen-
to do nível de treinamento a desloca para cima (Jor-
gensen, 1976; de Koning et al., 1985; Dudley e Dja-
mil, 1985; Ameredes et al., 1995; Martin et al., 1995).

Movimentos multiarticulares
De forma geral, as relações força-velocidade pa-
ramétricas registradas em movimentos multiarticu-
lares preservam as principais características das cur-
vas musculares força-velocidade: as relações são
negativas (quanto maior a força, menor a velocidade
— o que mais pode ser esperado?) e, em muitos ca-
sos, as curvas são côncavas para cima. No entanto,
os detalhes dependem de como a força e a velocida-
de foram registradas (máxima, média, em determina-
da posição articular, etc.).
Em movimentos multiarticulares, a força, assim
como a velocidade efetora final, depende da postura
corporal mesmo quando os momentos articulares e as
velocidades angulares articulares não se alteram. Quan-
do a magnitude do vetor de torque articular T é cons-
Figura 23.52 Relação força-velocidade na extensão tante (T = 1), os possíveis vetores de força no ponto
isocinética do joelho (reimpressa de Perrine e Edgerton, 1978). final da cadeia satisfazem a equação 14: FTJJTF = 1,
492 PAAVO V. KOMI

que representa a equação de uma elipse. As velocida- ques articulares na força final aumenta. Portanto,
des angulares articulares  estão relacionadas à ve- mesmo quando as magnitudes dos vetores dos tor-
 (para
locidade final V pela matriz Jacobiana J, V = J ques articulares, assim como das velocidades articu-
explicação detalhada, ver Zatsiorsky, 1998). Quando lares angulares, são constantes, a força e a velocidade
o modelo Jacobiano é invertido (o modelo Jacobiano finais alteram durante extensão de joelho em dire-
representa uma classificação total e a cadeia não está ções opostas. A curva força-velocidade, se fosse deter-
em uma configuração singular), o vetor da velocida- minada pela mensuração contínua dos valores de for-
de angular articular pode ser encontrado a partir do ça e velocidade em diferentes posições do joelho, seria
vetor da velocidade final como  = J–1V. O requeri- hiperbólica. Essa conclusão acompanha a considera-
mento para a magnitude do vetor da velocidade an- ção a seguir. Embora a força F e a velocidade V ao
gular ser constante (␻ = 1) pode ser escrito como o longo da extensão do joelho se alterem, seu produto
produto dos vetores:  T = 1. A substituição fornece: FV = potência permanece constante. Por conseguinte,
a relação F-V descreve uma hipérbole. No entanto, a
VT(J–1)T(J–1)V = 1 (15) curva somente caracteriza a alteração na cadeia Jaco-
biana, que certamente não é uma curva de Hill.
A equação representa a elipse da velocidade final para Nos movimentos multiarticulares, as articulações
determinada magnitude do vetor das velocidades an- e os músculos envolvidos não agem da mesma ma-
gulares articulares. As elipses de força e velocidade neira ao mesmo tempo. Isso se desvia nitidamente
para duas posições do joelho estão ilustradas na Fi- dos experimentos clássicos relacionados às relações
gura 23.53. Quando o joelho aproxima-se da exten- força-velocidade. Portanto, as curvas força-velocida-
são completa, a transferência das velocidades angu- de registradas em movimentos multiarticulares não
lares articulares na velocidade de extensão do joelho confirmam a forma clássica da curva de Hill (Hardyk,
diminui (para melhor discussão sobre esse assunto, 2000). Em particular, as relações lineares entre força
ver Ingen Schenau, 1989), e a transferência dos tor- e velocidade são repetidamente registradas (Sargeant

Figura 23.53 Elipses de força e velocidade em duas posições da perna durante um apoio do pé. Por um pressuposto, o vetor de
velocidade articular e o vetor de torque articular são de magnitude constante em todo o movimento. O ponto final da cadeia está na
articulação do quadril, Q. A velocidade e a força finais dependem somente da posição da perna (cadeia Jacobiana), quando a
magnitude dos vetores T e  é constante. As elipses de força e velocidade alteram em direções opostas durante o movimento. Na
posição de agachamento (figura da esquerda), a velocidade vertical de Q é grande, mas a força de extensão do joelho é pequena. A
velocidade vertical de Q é pequena, mas uma força grande de extensão do joelho pode ser gerada quando a perna está próxima à
extensão completa. As elipses não estão escaladas.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 493

et al., 1981; Driss et al., 1998; Rahmani et al., 2001). cia lançada” são freqüentemente investigadas (a dis-
A relação força-velocidade ainda permanece negati- tância de lançamento é uma função do quadrado da
va: quanto maior a velocidade, menor a força. velocidade de liberação). Essas relações representam
aproximadamente a curva força-velocidade.
Os efeitos do treinamento de força são específi-
Algumas questões práticas
cos à velocidade (Rutherford e Jones, 1986; Behm e
As relações força-velocidade paramétricas têm Sale, 1993b; Almasbakk e Hoff, 1996; Hortobágyi et
várias aplicações na prática esportiva. Pelo fato de ser al., 1996). O treinamento em determinada amplitude
difícil estudar, a relação força-velocidade, em vez dessa de força e velocidade melhora o desempenho, prin-
relação, as relações “sobrecarga-altura de salto” ou cipalmente na amplitude limite da curva em que foi
“massa de um implemento-raiz quadrada da distân- treinada (Fig. 23.54). No treinamento, os atletas po-

Figura 23.54 Resultados do desempenho no arremesso de peso em pé, antes e após 7 semanas de treinamento com diferentes
cargas de arremesso; cargas de arremesso de 4 a 10 kg foram utilizadas nos testes. Os sujeitos estavam entre os melhores atletas
do país. (a) Arremessos padronizados; foram utilizados somente cargas de arremesso de 7,257 kg (n = 4). (b) Cargas de arremesso
pesadas (8 a 10 kg); uma rotina de arremesso consistindo de cargas de arremesso pesadas (70% de todos os arremessos) e cargas
de arremesso padronizadas (7,257 kg, 30%). (c) Cargas de arremesso leves (4,5 a 6 kg); os arremessos de cargas leves
constituíram 70% de todos os esforços (n = 3). No arremesso de peso, a distância de arremesso D é representada em função da
velocidade (v), ângulo (α) e altura (h) de liberação do peso:

v2 ⎛ 2 gh ⎞
D= cos α ⎜ sen α + s e n2 α + 2 ⎟⎟
g ⎜
⎝ v ⎠

onde g representa a aceleração em função da gravidade. Como a distância é a função quadrática da velocidade de liberação, a raiz
quadrada da distância disposta ao longo do eixo da ordenada representa (aproximadamente) a velocidade de liberação. Ainda que tal
aproximação possa não ser precisa o suficiente para uma pesquisa científica, os praticantes esportivos usaram-na devido à
simplicidade (reimpressa de Zatsiorsky, 1995; dados de Zatsiorsky e Karasiov, 1978).
494 PAAVO V. KOMI

dem estabelecer objetivos tanto em amplitudes de An, K.N., Chao, E.Y., Cooney, W.P. & Linscheid, R.L. (1979)
“alta força-baixa velocidade” como de “baixa força- Normative model of human hand for biomechanical
alta velocidade” na curva total força-velocidade. Os analysis. Journal of Biomechanics 12, 775-788.
exercícios com sobrecarga de alta intensidade afetam An, K.N., Hui, F.C., Morrey, B.F., Linscheid, R.L. & Chao,
E.Y. (1981) Muscles across the elbow joint: a biome-
principalmente a “força final” da curva, enquanto os
chanical analysis. Journal of Biomechanics 14, 659-669.
exercícios dinâmicos com elevada velocidade de mo- An, K.N., Ueba, Y., Chao, E.Y., Cooney, W.P. & Linscheid,
vimento têm efeito na “velocidade final” da curva (Ikai R.L. (1983) Tendon excursion and moment arm of in-
e Fukunaga, 1970; Thorstensson, 1977; Lesmes et dex finger muscles. Journal of Biomechanics 16(6), 419-
al., 1978; Caiozzo et al., 1981; de Koning et al., 1985; 425.
Kanehisa e Miyashita, 1983). Andersson, G.B.J. & Schultz, A.B. (1979) Transmission of
Quando a força F e a velocidade V estão na mes- moments across the elbow joint and the lumbar spine.
ma direção, a potência mecânica P equivale ao pro- Journal of Biomechanics 12, 747-755.
duto dos valores instantâneos de força e velocidade: Aper, R.L., Saltzman, C.L. & Brown, T.D. (1996) The effect
of hallux sesamoid excision on the flexor hallucis lon-
P = F × V. Uma conseqüência prática da relação for-
gus moment arm. Clinical Orthopaedics 325, 209-217.
ça-velocidade é que os músculos geram potência Armstrong, T.J. & Chaffin, D. B. (1978) An investigation of
mecânica máxima quando a tensão muscular e sua the relationship between displacements of the finger
velocidade de encurtamento têm cerca de um terço and wrist joints and the extrinsic finger flexor tendons.
de seus valores máximos (ver Capítulo 9). Ao mani- Journal of Biomechanics 11, 119-128.
pular tais parâmetros, como o raio da engrenagem Arnold, A.S. & Delp, S.L. (2001) Rotational moment arms
dentada de uma bicicleta ou a área da pá de um remo, of the medial hamstrings and adductors vary with fe-
é possível, pelo menos em princípio, ajustar a sobre- moral geometry and limb position: implications for the
carga e a velocidade às propriedades musculares. No treatment of internally rotated gait. Journal of Biomecha-
nics 34(4), 437-447.
entanto, para movimentos que envolvem várias arti-
Aruin, A.S., Zatsiorsky, V.M., Prilutsky, B.I. & Shakhnaza-
culações, por exemplo, pedalar na bicicleta, essa ta- rov, A.I. (1987) Biomechanical method used for determi-
refa não é trivial: muitas variáveis interagem de ma- ning the arms of muscular force. In: Biomechanics X-B
neira complexa (Davies e Young, 1984a; Davies e (ed. B. Jonson), pp. 1117-1121. Human Kinetics, Cham-
Young, 1984b; Davies e Young, 1985; Hull e Gonza- paign, IL.
lez, 1988; Gonzalez e Hull, 1989; Hautier et al., 1996; Aruin, A.S., Zatsiorsky, V.M. & Prilutsky, B.I. (1988) Mo-
Yoshihuku e Herzog, 1996; Baron et al., 1999; Ma- ment arms and elongations of muscles of lower extre-
cIntosh et al., 2000; Marsh et al., 2000; Zoladz et al., mities under various values of joint angles. Archives of
2000). Parece que a freqüência de pedaladas que ma- Anatomy, Histology and Embryology 94(6), 52-55.
Atwater, A.E. (1979) Biomechanics of overarm throwing
ximiza a potência mecânica no ciclismo de velocidade
movements and of throwing injuries. Exercise and Sport
decorre da interação entre a relação potência-veloci- Sciences Reviews 7, 43-85.
dade de Hill e da “dinâmica de ativação”, do período Baron, R., Bachl, N., Petschnig, R., Tschan, H., Smekal, G.
de tempo de elevação da tensão muscular e do relaxa- & Pokan, R. (1999) Measurement of maximal power
mento (van Soest e Casius, 2000). output in isokinetic and non-isokinetic cycling. A com-
parison of two methods. International Journal of Sports
Medicine 20(8), 532-537.
Referências Bartonietz, K. (2000a) Hammer throwing: Problems and
prospects. In: Biomechanics in Sport: Performance Enhance-
Almåsbakk, B. & Hoff, J. (1996) Coordination, the deter- ment and Injury Prevention (ed. V.M. Zatsiorsky), pp.
minant of velocity specificity? Journal of Applied Physio- 458-486. Blackwell Science, Oxford.
logy 81, 2046-2052. Bartonietz, K. (2000b) Javelin throwing: an approach to
Ameredes, B.T., Brechue, W.F., Andrew, G.M. & Stainsby, performance development. In: Biomechanics in Sport: Per-
W.N. (1992) Force-velocity shifts with repetitive isome- formance Enhancement and Injury Prevention (ed. V.M. Zat-
tric and isotonic contractions of canine gastrocnemius siorsky), pp. 401-434. Blackwell Science, Oxford.
in situ. Journal of Applied Physiology 73(5), 2105-2111. Bassett, R.W., Browne, A.O., Morrey, B.F. & An, K.N. (1990)
Amis, A.A., Dowson, D. & Wright, V. (1979) Muscle Glenohumeral muscle force and moment mechanics
strengths and musculo-skeletal geometry of the upper in a position of shoulder instability. Journal of Biomecha-
arm. Engineering in Medicine 8(1), 41-48. nics 23, 405-415.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 495

Batman, M. & Seliktar, R. (1993) Characterization of hu- Caiozzo, V.J., Perrine, J.J. & Edgerton, V.R. (1981)
man joint impedance during impulsive motion. Journal Training-induced alterations of the in vivo force-velo-
of Electromyography and Kinesiology 3(4), 221-230. city relationship of human muscle. Journal of Applied Phy-
Behm, D.G. & Sale, D.G. (1993a) Intended rather than ac- siology 51(3), 750-754.
tual movement velocity determines velocity-specific trai- Carlson, F.D. & Wilkie, D.R. (1974) Muscle Physiology. Pren-
ning response. Journal of Applied Physiology 74(1), tice Hall, Englewood, NJ.
359-368. Carpenter, A. (1938) A study of angles in the measurement
Behm, D.G. & Sale, D.G. (1993b) Velocity specificity of re- of the leg lift. Research Quarterly 9(3), 70-72.
sistance training. Sports Medicine 15(6), 374-388. Casolo, F. & Lorenzi, V. (1994) Finger mathematical mode-
Berme, N., Paul, J.P. & Purves, W.K. (1977) A biomechani- ling and rehabilitation. In: Advances in the Biomechanics of
cal analysis of the metacarpophalangeal joint. Journal of the Hand and Wrist (eds F. Shuind, K. An, U.P. Cooney &
Biomechanics 10(7), 409-412. M. Garcia-Elias), pp. 197-224. Plenum Press, New York.
Blix, M. (1891) Die Lange und die Spannung des Muskels. Cavanagh, P.R. & Sanderson, D.J. (1986) The biomecha-
Scandinavian Archives of Physiology 3, 295-318. nics of cycling. Studies on the pedaling mechanics of
Blix, M. (1893) Die Lange und die Spannung des Muskels. elite pursuit riders. In: The Science of Cycling (ed. E.R.
Scandinavian Archives of Physiology 4, 399-409. Burke), pp. 91-122. Human Kinetics, Champaign, IL.
Blix, M. (1894) Die Lange und die Spannung des Muskels. Chao, E.Y.S., An, K.N., Cooney, W.P. & Linscheid, R.L.
Scandinavian Archives of Physiology 5, 149-206. (1989) Normative model of human hand. In: Biomecha-
Bobbert, M.F. & van Ingen Schenau, G.J. (1990) Isokinetic nics of the Hand: a Basic Research Study (eds E.Y.S. Chao,
plantar flexion: Experimental results and model calcu- K.-N. An, W.P. Cooney & R.L. Linscheid), pp. 121-139.
lation. Journal of Biomechanics 23, 105-120. World Scientific Publishing Co., Singapore.
Bober, T., Kornecki, S., Lehr, R.P., Jr & Zawadski, J. (1982) Chow, J.W. & Darling, W.G. (1999) The maximum shorte-
Biomechanical analysis of human arm stabilization du- ning velocity of muscle should be scaled with activati-
ring force production. Journal of Biomechanics 15(11), on. Journal of Applied Physiology 86(3), 1025-1031.
825-830. Chow, J.W., Darling, W.D. & Ehrhardt, J.C. (1999) Deter-
Bouisset, S. (1990) Mechanical properties of human mus- mining the force-length-velocity relations of the qua-
cle. In: Biomechanics of Human Movement: Applications in driceps muscles: 1. Anatomical and geometric parame-
Rehabilitation, Sports and Ergonomics (eds N. Berme & A. ters. Journal of Applied Biomechanics 15, 182-190.
Cappozzo), pp. 10-19. Bertec Corporation, Worthing- Clarke, H.H. (1956) Recent advances in measurement and
ton, OH. understanding of volitional muscle strength. Research
Brand, P.W. & Hollister, A.M. (eds) (1999) Clinical Biome- Quarterly 27(3), 263-275.
chanics of the Hand. Mosby, Chicago. Clarke, D.H. (1968) Force-time curves of voluntary mus-
Brand, P.W., Cranor, K.C. & Ellis, J.C. (1975) Tendon and cular contraction at varying tensions. Research Quarterly
pulleys at the metacarpophalangeal joint of a finger. Jour- 39(4), 900-907.
nal of Bone and Joint Surgery 57-A, 779-784. Clarke, D.H. & Henry, F.M. (1961) Neuromotor specificity
Brand, P.N., Beach, R.B. & Thompson, D.E. (1981) Relati- and increased speed from strength development. Rese-
ve tension and potential excursion of muscles in the arch Quarterly 32(3), 315-325.
forearm and hand. Journal of Hand Surgery 3, 209-219. Cook, C.S. & McDonagh, M.J. (1996) Force responses to
Brüggemann, G.P. (1994) Biomechanics of gymnastic te- constant-velocity shortening of electrically stimulated
chniques. In: Sport Biomechanics (eds R.C. Nelson & V.M. human muscle-tendon complex. Journal of Applied Phy-
Zatsiorsky), pp. 79-120. Human Kinetics, Champaign, siology 81(1), 384-392.
IL. Cornu, C., Almeida Silveira, M.I. & Goubel, F. (1997) In-
Buchanan, T.S., Moniz, M.J., Dewald, J.P.A. & Rymer, W.Z. fluence of plyometric training on the mechanical im-
(1993) Estimation of muscle forces about the wrist jo- pedance of the human ankle joint. European Journal of
int during isometric tasks using an EMG coefficient Applied Physiology 76(3), 282-288.
method. Journal of Biomechanics 26, 547-560. Dapena, J. (2000) The high jump. In: Biomechanics in Sport:
Burke, R.E., Levine, D.N. & Zajac, F.E. (1971) Mammalian Performance Enhancement and Injury Prevention (ed. V.M.
motor units: physiological-histochemical correlation in Zatsiorsky), pp. 284-311. Blackwell Science, Oxford.
three types in cat gastrocnemius. Science 174(10), Darcus, H.D. (1951) The maximum torques developed in
709-712. pronation and supination of the right hand. Journal of
Buttelli, O., Vandewalle, H. & Peres, G. (1996) The relati- Anatomy (London) 85, 55-67.
onship between maximal power and maximal torque- Darcus, H.D. & Salter, N. (1955) The effect of repeated
velocity using an electronic ergometer. European Journal muscular exertion on muscle strength. Journal of Phy-
of Applied Physiology 73(5), 479-483. siology (London) 129, 325-336.
496 PAAVO V. KOMI

Davies, C.T. & Young, K. (1984) Effects of external loading varying elbow and forearm positions: Implications for
on short term power output in children and young male motor control. Human Movement Science 17(2), 201-220.
adults. European Journal of Applied Physiology and Occupa- Fenn, W.O. (1938) The mechanics of muscular contraction
tional Physiology 52(3), 351-354. in man. Journal of Applied Physics 19, 165-177.
Davies, C.T. & Young, K. (1985) Mechanical power output Fleisig, G.S., Andrews, J.R., Dillman, C.J. & Escamilla, R.F.
in children aged 11 and 14 years. Acta Paediatrica Scandi- (1995) Kinetics of baseball pitching with implications
navica 74(5), 760-764. about injury mechanisms. American Journal of Sports
Davies, C.T., Wemyss-Holden, J. & Young, K. (1984) Mea- Medicine 23(7), 223-239.
surement of short term power output: comparison be- Fowler, N.K., Nicol, A.C., Condon, B. & Hadley, D. (2001)
tween cycling and jumping. Ergonomics 27(3), 285-296. Method of determination of three dimensional index
De Ruiter, C.J., Jones, D.A., Sargeant, A.J. & De Haan, A. finger moment arms and tendon lines of action using
(1999) The measurement of force/velocity relationships high resolution MRI scans. Journal of Biomechanics 34(6),
of fresh and fatigued human adductor pollicis muscle. 791-797.
European Journal of Applied Physiology 80(4), 386-393. Franke, F. (1920) Die Kraftkurve menschlichen Muskeln
Delp, S.L., Ringwelski, D.A. & Carroll, N.C. (1994) Trans- bei willkürlichen Innnervation und die Frage der abso-
fer of the rectus femoris: effects of transfer site on mo- luten Muskelkraft. Pflügers Archiv 184, 300-323.
ment arms about the knee and hip. Journal of Biomecha- Froese, E.A. & Houston, M.E. (1985) Torque-velocity cha-
nics 27(10), 1201-1211. racteristics and muscle fiber type in human vastus late-
Delp, S.L., Hess, W.E., Hungerford, D.S. & Jones, L.C. (1999) ralis. Journal of Applied Physiology 59, 309-314.
Variation of rotation moment arms with hip flexion. Fugl-Meyer, A.R., Mild, K.H. & Hornsten, J. (1982) Ou-
Journal of Biomechanics 32(5), 493-501. tput of skeletal muscle contractions. a study of isokine-
Dern, R.J., Levene, J.M. & Blair, H.A. (1947) Forces exerted tic plantar flexion in athletes. Acta Physiologica Scandina-
at different velocities in human arm movements. Ame- vica 115(2),193-199.
rican Journal of Physiology 151, 415-437. Fujikawa, T., Oshima, T., Kumamoto, M. & Yokoi, N. (1997)
Desmedt, J.E. & Godaux, E. (1977) Ballistic contractions Functional coordination control of pairs of antagonis-
in man: Characteristic recruitment pattern of single tic muscles. Transactions of the Japanese Society of Mecha-
motor units of the tibialis anterior muscle. Journal of nical Engineers 63(607), 769-776.
Physiology (London) 264, 673-693. Gardner, G. (1963) Specificity of strength changes of the
Dillman, C.J. (1994) Biomechanical contributions to the exercised and nonexercised limbs following isometric
science of rehabilitation in sports. In: Sport Biomechanics training. Research Quarterly 34(1), 98-101.
(eds R.C. Nelson & V.M. Zatsiorsky), pp. 70-78. Hu- Gerbeaux, M., Pertuzon, E., Turpin, E. & Lensel-Corbeil,
man Kinetics, Champaign, IL. G. (1993) Determination of the length of the lever arm
Donskoi, D.D. & Zatsiorsky, V.M. (eds) (1979) Biomecha- of the triceps brachii. Journal of Biomechanics 26, 795-801.
nics. Fizkultura i Sport, Moscow. Gillard, D.M., Yakovenko, S., Cameron, T. & Prochazka, A.
Dostal, W.F. & Andrews, J.G. (1981) A three-dimensional (2000) Isometric muscle length-tension curves do not
biomechanical model of hip musculature. Journal of Bi- predict angle-torque curves of human wrist in conti-
omechanics 14(11), 803-812. nuous active movements. Journal of Biomechanics 33(11),
Draganich, L.F., Andriacchi, T.P. & Andersson, G.B. (1987) 1341-1348.
Interaction between intrinsic knee mechanics and the Godik, M.A. & Zatsiorsky, V.M. (1965) Method and the
knee extensor mechanism. Journal of Orthopaedic Research first results of the measurements of the explosive
5, 539-547. strength of the athletes. Theory and Practice of Physical
Driss, T., Vandewalle, H. & Monod, H. (1998) Maximal Culture 28(7), 22-24 [in Russian].
power and force-velocity relationships during cycling Gonyea, W.J., Marushia, S.A. & Dixon, J.A. (1981) Mor-
and cranking exercises in volleyball players. Correlati- phological organization and contractile properties of the
on with the vertical jump test. Journal of Sports Medicine wrist flexor muscles in the cat. Anatomical Record
and Physical Fitness 38(4), 286-293. 199(3),321-339.
Dudley, G.A. & Djamil, R. (1985) Incompatibility of Gonzalez, H. & Hull, M.L. (1989) Multivariable optimiza-
endurance- and strength-training modes of exercise. tion of cycling biomechanics. Journal of Biomechanics
Journal of Applied Physiology 59(5),1446-1451. 22(11-12), 1151-1161.
Encyclopaedia of Science and Technology. (1977) Impedance, Gregor, R.J., Edgerton, V.R., Perrine, J.J., Campion, D.S. &
Mechanical, p. 44. McGraw-Hill, New York. de Bus, C. (1979) Torque-velocity relationships and
Ettema, G.J.C., Styles, G. & Kippers, V. (1998) The moment muscle fiber composition in elite female athletes. Jour-
arms of 23 muscle segments of the upper limb with nal of Applied Physiology 47, 388-392.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 497

Grood, E.S., Suntay, W.J., Noyes, F.R. & Butler, D.L. (1984) Herzog, W., Guimaraes, A.C., Anton, M.G. & Carter-Erd-
Biomechanics of the knee-extension exercise. Effect of man, K.A. (1991) Moment-length relations of rectus
cutting the anterior cruciate ligament. Journal of Bone femoris muscles of speed skaters/ cyclists and runners.
and Joint Surgery (American) 66(5), 725-734. Medicine and Science in Sports and Exercise 23(11),
Häkkinen, K. & Komi, P. (1985a) Changes in electrical and 1289-1296.
mechanical behavior of leg extensor muscles during Hill, A.V. (1922) The maximum work and mechanical effi-
heavy resistance strength training. Scandinavian Journal ciency of human muscles, and their most economical
of Sports Sciences 7, 55-64. speed. Journal of Physiology 56, 19-41. [Nota: Reimpressa
Häkkinen, K. & Komi, P. (1985b) Effect of explosive type em Latash, M.L. & Zatsiorsky, V.M. (eds) (2001) Clas-
strength training on electromyographic and force pro- sics in Movement Science. Human Kinetics, Champaign,
duction characteristics of leg extensor muscles during IL.]
concentric and various stretch-shortening cycle exer- Hill, A.V. (1938) The heat of shortening and the dynamic
cise. Scandinavian Journal of Sports Sciences 7, 65-75. constants of muscle. Proceedings of the Royal Society of
Hardyk, A.T. (2000) Force- and power-velocity relationships London 126-B, 136-195.
in a multi-joint movement. PhD dissertation The Hill, A.V. (1949) The abrupt transition from rest to activity
Pennsylvania State University. in muscle. Proceedings of the Royal Society of London 136-B,
Hautier, C.A., Linossier, M.T., Belli, A., Lacour, J.R. & Ar- 405-420.
sac, L.M. (1996) Optimal velocity for maximal power Hogan, N. (1990) Mechanical impedance of single- and
production in non-isokinetic cycling is related to mus- multiarticular systems. In: Multiple Muscle Systems (eds
cle fibre type composition. European Journal of Applied J.M. Winters & S.L.Y. Woo), pp. 149-164. Springer-
Physiology 74(1-2), 114-118. Verlag, New York.
Hawkins, D. (1992) Software for determining lower extre- Hortobágyi, T., Hill, J.P., Houmard, J.A., Fraser, D.D., Lam-
mity muscle-tendon kinematics and moment arm bert, N.J. & Israel, R.G. (1996) Adaptive responses to
lengths during flexion/ extension movements. Compu- muscle lengthening and shortening in humans. Journal
ters in Biology and Medicine 22(1-2), 59-71. of Applied Physiology 80(3), 765-772.
Hawkins, D. & Smeudlers, M. (1999) An investigation of Houtz, S.J., Lebow, M.J. & Beyer, F.R. (1957) Effect of pos-
the relationship between hip extension torque, hip ex- ture on strength of the knee flexor and extensor mus-
tension velocity, and muscle activation. Journal of Appli- cles. Journal of Applied Physiology 11(3), 475-480.
ed Biomechanics 15(3), 253-269. Hoy, M.G., Zajac, F.E. & Gordon, M.E. (1990) A muscu-
Hay, J.G. (2000) Length changes of muscle-tendon units loskeletal model of the human lower extremity: the effect
during athletic movements. In: Biomechanics and Biology of muscle, tendon, and moment arm on the moment-
of Movement (eds B.M. Nigg, B.R. Macintosh & J. Mes- angle relationship of musculotendon actuators at the hip,
ter), pp. 31-47. Human Kinetics, Champaign, IL. knee, and ankle. Journal of Biomechanics 23(2), 157-169.
Hennemann, E., Somjen, G. & Carpenter, D.O. (1965) Hughes, R.E., Niebur, G., Liu, J. & An, K.N. (1998) Com-
Functional significance of cell size in spinal motoneu- parison of two methods for computing abduction mo-
rons. Journal of Physiology 28, 560-580. ment arms of the rotator cuff. Journal of Biomechanics
Henry, F.M. (1960) Factorial structure of speed and static 31(2), 157-160.
strength in a lateral arm movement. Research Quarterly Hugh-Jones, P. (1947) The effect of limb position in seated
31(3), pp. 221-228. subjects on their ability to utilize the maximum con-
Henry, F.M. & Trafton, I.R. (1951) The velocity curve of tractile force of the limb muscles. Journal of Physiology
sprint running with some observation on the muscle (London) 105, 332-344.
viscosity factor. Research Quarterly 22(4), 409-422. Hull, M.L. & Gonzalez, H. (1988) Bivariate optimization of
Herrmann, A.M. & Delp, S.L. (1999) Moment arm and for- pedalling rate and crank arm length in cycling. Journal
ce-generating capacity of the extensor carpi ulnaris af- of Biomechanics 21(10), 839-849.
ter transfer to the extensor carpi radialis brevis. Journal Huxley, A.F. (1957) Muscle structure and theories of con-
of Hand Surgery (American) 24(5), 1083-1090. traction. Progress in Biophysics and Biophysical Chemistry
Herzog, W. & Read, L. (1993) Lines of action and moment 7, 255-318.
arms of the major force carrying structures crossing the Huxley, A.F. (2000) Cross-bridge action: Present views, pros-
human knee joint. Journal of Anatomy 182, 213-230. pects and unknowns. In: Skeletal Muscle Mechanics: from
Herzog, W., Abrahamse, S.K. & ter Keurs, H.E. (1990) The- Mechanisms to Function (ed. W. Herzog), pp. 7-32. John
oretical determination of force-length relations of in- Wiley & Sons, Chichester.
tact human skeletal muscles using the cross-bridge Ikai, M. & Fukunaga, T. (1970) A study on training effect
model. Pflügers Archiv 416(1-2), 113-119. on strength per unit cross-sectional area of muscle by
498 PAAVO V. KOMI

means of ultrasonic measurement. Internationale Zeits- subtalar joints during movement: an in vitro study. Jour-
chrift für Angewandte Physiologie 28(3), 173-180. nal of Biomechanics 29(1), 21-30.
van Ingen Schenau, G.J. (1989) From rotation to translati- Kojima, T. (1991) Force–velocity relationship of human el-
on: Constraints on multi-joint movements and the bow flexors in voluntary isotonic contraction under he-
unique action of bi-articular muscles. Human Movement avy loads. International Journal of Sports Medicine 12(2),
Science 8, 301-337. 208-213.
Ito, M., Akima, H. & Fukunaga, T. (2000) In vivo moment Komi, P.V. (1973) Relationship between muscle tension,
arm determination using B-mode ultrasonography. Jour- EMG, and velocity of contraction under concentric and
nal of Biomechanics 33(2), 215-218. eccentric work. In: New Developments in Electromyogra-
Jensen, R.H. & Davy, D.T. (1975) An investigation of mus- phy and Clinical Neurophysiology (ed. J.E. Desmedt), pp.
cle lines of action about the hip: a centroid line appro- 596-606. Karger, Basel.
ach vs. straight line approach. Journal of Biomechanics 8, Komi, P.V. (1990) Relevance of in vivo force measurements
103-110. to human biomechanics. Journal of Biomechanics 23
Johansson, C., Lorentzon, R., Sjostrom, M., Fagerlund, M. (Suppl. 1), 23-34.
& Fugl-Meyer, A.R. (1987) Sprinters and marathon run- Komi, P.V. & Virmavirta, M. (2000) Determinants of succes-
ners. Does isokinetic knee extensor performance re- sful ski-jumping performance. In: Biomechanics in Sport
flect muscle size and structure? Acta Physiologica Scandi- (ed. V.M. Zatsiorsky), pp. 349-362. Blackwell Science,
navica 130(4), 663-669. Oxford.
Jorgensen, K. (1976) Force–velocity relationships in human de Koning, F.L., Binkhorst, R.A., Vos, J.A. & van’t Hof, M.A.
elbow flexors and extensors. In: Biomechanics V-A (ed. P. (1985) The force–velocity relationship of arm flexion in
Komi), pp. 145-151. University Park Press, Baltimore. untrained males and females and arm-trained athletes.
Jorgensen, K. & Bankov, S. (1971) Maximum strength of European Journal of Applied Physiology and Occupational Phy-
elbow flexors with pronated and supinated forearm. In: siology 54(1), 89-94.
Biomechanics II (eds J. Vredenbregt & J. Wartenweiler), de Koning, F.L., van’t Hof, M.A., Binkhorst, R.A. & Vos,
pp. 174-180. Karger, Basel. J.A. (1986) Parameters of the force–velocity curve of
Kanehisa, H. & Miyashita, M. (1983) Specificity of velocity human muscle in relation to body dimensions. Human
in strength training. European Journal of Applied Physiolo- Biology 58(2), 221-238.
gy and Occupational Physiology 52(1), 104-106. Kraemer, W.J., Fleck, S.J. & Evans, W.J. (1996) Strength and
Kanehisa, H., Ikegawa, S. & Fukunaga, T. (1997) Force– power training: physiological mechanisms of adaptati-
velocity relationships and fatiguability of strength and on. Exercise and Sport Sciences Reviews 24, 363-398.
endurance-trained subjects. International Journal of Sports Kraemer, W.J., Mazetti, S.A., Ratamess, N.A. & Fleck, S.J.
Medicine 18(2), 106-112. (2000) Specificity of training modes. In: Isokinetics in
Kawakami, Y., Ichinose, Y. & Fukunaga, T. (1998) Archi- Human Performance (ed. L.E. Brown), pp. 25-41. Human
tectural and functional features of human triceps surae Kinetics, Champaign, IL.
muscles during contraction. Journal of Applied Physiology Kuechle, D.K., Newman, S.R., Itoi, E., Niebur, G.L., Mor-
85(2), 398-404. rey, B.F. & An, K.N. (2000) The relevance of the mo-
Kawakami, Y., Kumagai, K., Huijing, P.A., Hijikata, T. & ment arm of shoulder muscles with respect to axial ro-
Fukunaga, T. (2000) The length–force characteristics tation of the glenohumeral joint in four positions. Clinical
of human gastrocnemius and soleus muscles in vivo. Biomechanics (Bristol, Avon) 15(5), 322-329.
In: Skeletal Muscle Mechanics: from Mechanisms to Function Kues, J.M. & Mayhew, T.P. (1996) Concentric and eccen-
(ed. W. Herzog), pp. 327-341. John Wiley & Sons, Chi- tric force–velocity relationships during electrically in-
chester. duced submaximal contractions. Physiotherapy Research
Kellis, E. & Baltzopoulos, V. (1999) In vivo determination International 1(3), 195-204.
of the patella tendon and hamstrings moment arms in Kulig, K., Andrews, J.G. & Hay, J.G. (1984) Human strength
adult males using videofluoroscopy during submaxi- curves. Exercise and Sport Sciences Reviews 12, 417-466.
mal knee extension and flexion [in process citation]. Lanka, J. (2000) Shot putting. In: Biomechanics in Sport (ed.
Clinical Biomechanics 14(2), 118-124. V.M. Zatsiorsky), pp. 435-457. Blackwell Science, Oxford.
King, D.L. (2000) Jumping in figure skating. In: Biomecha- Lemay, M.A. & Crago, P.E. (1996) A dynamic model for
nics in Sport (ed. V.M. Zatsiorsky), pp. 312-325. Blackwell simulating movements of the elbow, forearm and wrist.
Science, Oxford. Journal of Biomechanics 29(10), 1319-1330.
Kirkendall, D.T. (1985) The applied sport science of soc- Lengsfeld, M., Pressel, T. & Stammberger, U. (1997) Lengths
cer. Physician and Sports Medicine 134, 53-59. and lever arms of hip joint muscles: geometrical analy-
Klein, P., Mattys, S. & Rooze, M. (1996) Moment arm length ses using a human multibody model. Gait and Posture 6,
variations of selected muscles acting on talocrural and 18-26.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 499

Lesmes, G.R., Costill, D.L., Coyle, E.F. & Fink, W.J. (1978) ferred cycling cadence? Journal of Biomechanics 33(2),
Muscle strength and power changes during maximal 173-180.
isokinetic training. Medicine and Science in Sports 10(4), Marshall, R.N., Mazur, S.M. & Taylor, N.A. (1990) Three-
266-269. dimensional surfaces for human muscle kinetics. Euro-
Levertin, A. (ed.) (1893) Dr Gustav Zander’s Medico-Mecha- pean Journal of Applied Physiology 61(3-4), 263-270.
nical Gymnastics. Stockholm. Martin, A., Martin, L. & Morlon, B. (1995) Changes indu-
Li, Z.M., Latash, M.L. & Zatsiorsky, V.M. (1998a) Force ced by eccentric training on force–velocity relationships
sharing among fingers as a model of the redundancy of the elbow flexor muscles. European Journal of Applied
problem. Experimental Brain Research 119(3), 276-286. Physiology and Occupational Physiology 72(1-2), 183-185.
Li, Z.M., Latash, M.L., Newell, K.M. & Zatsiorsky, V.M. Mero, A. & Komi, P.V. (1986) Force-, EMG–, and elastici-
(1998b) Motor redundancy during maximal voluntary ty–velocity relationships at submaximal, maximal and
contraction in four-finger tasks. Experimental Brain Re- supramaximal running speeds in sprinters. European Jour-
search 122(1), 71-77. nal of Applied Physiology 55, 553-561.
Lieber, R.L. & Fridén, J. (1998) Musculoskeletal balance of Miller, D.I. (2000) Springboard and platform diving. In: Bi-
the human wrist elucidated using intraoperative laser omechanics in Sport (ed. V.M. Zatsiorsky), pp. 326-348.
diffraction. Journal of Electromyography and Kinesiology 8(2), Blackwell Science, Oxford.
93-100. Mundale, M.O. (1970) The relationship of intermittent iso-
Lieber, R.L., Loren, G.L. & Fridén, J. (1994) In vivo measu- metric exercise to fatigue of hand grip. Archives of Physi-
rement of human wrist extensor muscle sarcomere cal Medicine and Rehabilitation 51, 532-539.
length changes. Journal of Neurophysiology 71, 874-881. Murray, W.M., Delp, S.L. & Buchanan, T.S. (1995) Variati-
Lieber, R.L., Ljung, B.O. & Fridén, J. (1997) Intraoperative on of muscle moment arms with elbow and forearm
sarcomere length measurements reveal differential de- position. Journal of Biomechanics 28(5), 513-525.
sign of human wrist extensor muscles. Journal of Experi- Murray, W.M., Buchanan, T.S. & Delp, S.L. (2000) The iso-
mental Biology 200(1), 19-25. metric functional capacity of muscles that cross the el-
Loren, G.J., Shoemaker, S.D., Burkholder, T.J., Jacobson, bow. Journal of Biomechanics 33(8), 943-952.
M.D., Fridén, J. & Lieber, R.L. (1996) Human wrist Nakajima, T., Liu, J., Hughes, R.E., O’Driscoll, S. & An,
motors: biomechanical design and application to ten- K.N. (1999) Abduction moment arm of transposed subs-
don transfers. Journal of Biomechanics 29(3), 331-342. capularis tendon. Clinical Biomechanics 14(4), 265-270.
Macintosh, B.R., Neptune, R.R. & Horton, J.F. (2000) Ca- Nemeth, G. & Ohlsen, H. (1985) In vivo moment arm
dence, power, and muscle activation in cycle ergometry. lengths for hip extensor muscles at different angles of
Medicine and Science in Sports and Exercise 32(7), hip flexion. Journal of Biomechanics 18(2), 129-140.
1281-1287. Nemeth, G. & Ohlsen, H. (1986) Moment arm lengths of
Maganaris, C.N. (2000) In vivo measurement-based esti- trunk muscles to the lumbosacral joint obtained in vivo
mations of the moment arm in the human tibialis ante- with computed tomography. Spine 11(2), 158-160.
rior muscle-tendon unit. Journal of Biomechanics 33(3), Nemeth, G. & Ohlsen, H. (1987) Moment arm lengths of
375-379. the erector spinae and rectus abdominis muscles ob-
Maganaris, C.N., Baltzopoulos, V. & Sargeant, A.J. (1998) tained in vivo with computed tomography. In: Biomecha-
Changes in Achilles tendon moment arm from rest to nics X-A (ed. B. Jonsson), pp. 189-194. Human Kine-
maximum isometric plantarflexion: in vivo observati- tics, Champaign, IL.
ons in man. Journal of Physiology 510(3), 977-985. Nisell, R. (1985) Mechanics of the knee. Acta Orthopaedica
Maganaris, C.N., Baltzopoulos, V. & Sargeant, A.J. (1999) Scandinavica 56 (Suppl. 216), 5-41.
Changes in the tibialis anterior tendon moment arm Nisell, R., Nemeth, G. & Ohlsen, H. (1986) Joint forces in
from rest to maximum isometric dorsiflexion: in vivo extension of the knee. Acta Orthopaedica Scandinavica 57,
observations in man. Clinical Biomechanics 14(9), 661- 41-46.
666. O’Hagan, F.T., Sale, D.G., MacDougall, J.D. & Garner, S.H.
Maganaris, C.N., Baltzopoulos, V. & Sargeant, A.J. (2000) (1995) Response to resistance training in young wo-
In vivo measurement-based estimations of the human men and men. International Journal of Sports Medicine
Achilles tendon moment arm. European Journal of Appli- 16(5), 314-321.
ed Physiology 83(4-5), 363-369. Omokawa, S., Ryu, J., Tang, J.B., Han, J. & Kish, V.L. (2000)
Mansour, J.M. & Pereira, J.M. (1987) Quantitative functio- Trapeziometacarpal joint instability affects the moment
nal anatomy of the lower limb with application to hu- arms of thumb motor tendons. Clinical Orthopaedics 372,
man gait. Journal of Biomechanics 20(1), 51-58. 262-271.
Marsh, A.P., Martin, P.E. & Sanderson, D.J. (2000) Is a jo- Otis, J.C., Jiang, C.C., Wickiewicz, T.L., Peterson, M.G.,
int moment-based cost function associated with pre- Warren, R.F. & Santner, T.J. (1994) Changes in the
500 PAAVO V. KOMI

moment arms of the rotator cuff and deltoid muscles Rutherford, O.M. & Jones, D.A. (1986) The role of lear-
with abduction and rotation. Journal of Bone and Joint ning and coordination in strength training. European
Surgery (American) 76(5), 667-676. Journal of Applied Physiology and Occupational Physiology
Pandy, M.G. (1999) Moment arm of a muscle force. Exercise 55(1), 100-105.
and Sport Sciences Reviews 27, 79-118. Sale, D., Quinlan, J., Marsh, E., McComas, A.J. & Belanger,
Perrine, J.J. & Edgerton, V.R. (1978) Muscle force–velocity A.Y. (1982) Influence of joint position on ankle plan-
and power–velocity relationships under isokinetic loa- tarflexion in humans. Journal of Applied Physiology 52(6),
ding. Medicine and Science in Sports 10(3), 159-166. 1636-1642.
Pertuzon, E. (1972) La contraction musculaire dons le mouve- Salter, N. & Darcus, H.D. (1952) The effect of the degree of
ment volontaire maximal. PhD thesis, Lille. elbow flexion on the maximum torques developed in
Pertuzon, E. & Bouisset, S. (1971) Maximum velocity of pronation and supination of the right hand. Journal of
movement and maximum velocity of muscle shorte- Anatomy (London) 86, 197-202.
ning. In: Biomechanics II (eds J. Vredenbregt & J. War- Sargeant, A.J., Hoinville, E. & Young, A. (1981) Maximum
tenweiler), pp. 170-173. Karger, Basel. leg force and power output during short-term dynamic
Pigeon, P., Yahia, L. & Feldman, A.G. (1996) Moment arms exercise. Journal of Applied Physiology 51(5), 1175-1182.
and lengths of human upper limb muscles as functions Savelberg, H.H.C.M. (2000) Rise and relaxation times of
of joint angles. Journal of Biomechanics 29(10), 1365- twitches and tetani in submaximally recruited, mixed
1370. muscle: A computer model. In: Skeletal Muscle Mecha-
Poppen, N.K. & Walker, P.S. (1978) Forces at the glenohu- nics: from Mechanisms to Function (ed. W. Herzog), pp.
meral joint in abduction. Clinical Orthopaedics and Rela- 225-240. John Wiley & Sons, Ltd., Chichester.
ted Research 135, 165-170. Seger, J.Y. & Thorstensson, A. (2000) Muscle strength and
Prietto, C.A. & Caiozzo, V.J. (1989) The in vivo force–velo- electromyogram in boys and girls followed through
city relationship of the knee flexors and extensors. Ame- puberty. European Journal of Applied Physiology 81(1-2),
rican Journal of Sports Medicine 17(5), 607-611. 54-61.
Rahmani, A., Belli, A., Kostka, T., Dalleau, G., Bonnefoy, Seger, J.Y., Ovendal, A. & Thortstensson, A. (1999) Volun-
M. & Lacour, J.R. (1999) Evaluation of knee extensor tary and electrically evoked torque–velocity curves are
muscles under non-isokinetic conditions in elderly sub- not congruent. Journal of Sports Sciences 17(7), 533-535.
jects. Journal of Applied Biomechanics 15(3), 337-344. Siegler, S., Moskowitz, G.D. & Freedman, W. (1984) Passi-
Rahmani, A., Viale, F., Dalleau, G. & Lacour, J.R. (2001) ve and active components of the internal moment de-
Force/velocity and power/velocity relationships in squat veloped about the ankle joint during human ambulati-
exercise. European Journal of Applied Physiology 84(3), 227- on. Journal of Biomechanics 17, 647-652.
232. Smidt, G.L. (1973) Biomechanical analysis of knee flexion
Ralston, H.J., Inman, V.T., Strait, L.A. & Shaffrath, M.D. and extension. Journal of Biomechanics 6, 79-92.
(1947) Mechanics of human isolated voluntary muscle. Smith, E.M., Juvinall, R.C., Bender, L.F. & Pearson, J.R.
American Journal of Physiology 151, 612-620. (1964) Role of the finger flexors in rheumatoid defor-
Ralston, H.J., Polossar, M.J., Inman, V.T., Close, J.R. & Feins- mities of the metacarpophalangeal joints. Arthritis and
tein, B. (1949) Dynamic features of human isolated vo- Rheumatism 7, 467-480.
luntary muscle in isometric and free contractions. Jour- Smutz, W.P., Kongsayreepong, A., Hughes, R.E., Niebur,
nal of Applied Physiology 1, 526-533. G., Cooney, W.P. & An, K.N. (1998) Mechanical advan-
Rasch, P.J. (1954) Relationship of arm strength, weight and tage of the thumb muscles. Journal of Biomechanics 31(6),
length to speed of arm movement. Research Quarterly 565-570.
25(3), 333-337. van Soest, O. & Casius, L.J. (2000) Which factors determi-
Rasch, P.J. (1956) Effect of position of forearm on strength ne the optimal pedaling rate in sprint cycling? Medicine
of elbow flexion. Research Quarterly 27(3), 333-337. and Science in Sports and Exercise 32(11), 1927-1934.
Reid, J.G., Livingston, L.A. & Pearsall, D.J. (1994) The geo- Spoor, C.W. & van Leeuwen, J.L. (1992) Knee muscle mo-
metry of the psoas muscle as determined by magnetic ment arms from MRI and from tendon travel. Journal of
resonance imaging. Archives of Physical Medicine and Reha- Biomechanics 25(2), 201-206.
bilitation 75(6), 703-708. Spoor, C.W., van Leeuwen, J.L., Meskers, C.G., Titulaer,
Reijs, J.H.O. (1921) Über die Veränderung der Kraff wärend A.F. & Huson, A. (1990) Estimation of instantaneous
der Bewegung. Pflügers Archiv 191, 234-257. moment arms of lower-leg muscles. Journal of Biomecha-
Rugg, S.G., Gregor, R.J., Mandelbaum, B.R. & Chiu, L. nics 23(12), 1247-1259. [Nota: Comentário em Journal
(1990) In vivo moment arm calculations at the ankle of Biomechanics (1991) 24(9), 873.]
using magnetic resonance imaging (MRI). Journal of Bi- Thomis, M.A., Beunen, G.P., Van Leemputte, M. et al. (1998)
omechanics 23(5), 495-501. Inheritance of static and dynamic arm strength and
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 501

some of its determinants. Acta Physiologica Scandinavica Wakayama, A., Yanagi, H., Matsui, H., Sugita, M. &
163(1), 59-71. Fukashiro, S. (1995) Force–velocity curves of knee ex-
Thorstensson, A. (1977) Observations on strength training tensor and flexor in elite runners. In: Xvth Congress of the
and detraining. Acta Physiologica Scandinavica 100(4), International Society of Biomechanics (eds K. Häkkinen, K.L.
491-493. Kekkinen, P.V. Komi & A. Mero), pp. 978-979. Juvaskyla,
Thorstensson, A., Grimby, G. & Karlsson, J. (1976) Force– Finland.
velocity relations and fiber composition in human knee Weis, E.B., Jr & Primiano, F.P. (1966) The motion of the
extensor muscles. Journal of Applied Physiology 40(1), human center of mass and its relationship to mechani-
12-16. cal impedance. Human Factors 8, 399-406.
Tihanyi, J., Apor, P. & Fekete, G. (1982) Force–velocity–po- Weiss, L.W. (2000) Multiple-joint performance over a velo-
wer characteristics and fiber composition in human city spectrum. In: Isokinetics in Human Performance (ed. L.E.
knee extensor muscles. European Journal of Applied Phy- Brown), pp. 196-208. Human Kinetics, Champaign, IL.
siology 48(3), 331-343. Westing, S.H., Seger, J.Y., Karlson, E. & Ekblom, B. (1988)
Tsuji, T. (1997) Human arm impedance in multi-joint Eccentric and concentric torque-velocity characteris-
movement. In: Self-Organization, Computational Maps, and tics of the quadriceps femoris in man. European Journal
Motor Control (eds P. Morasso & V. Sanguineti), pp. of Applied Physiology 58, 100-104.
357-382. Elsevier Science B.V., Amsterdam. Wilkie, D.R. (1950) The relation between force and veloci-
Tsuji, T., Morasso, P.G., Goto, K. & Ito, K. (1995) Human ty in human muscle. Journal of Physiology (London) 110,
arm impedance characteristics during maintained pos- 249-280.
ture. Biological Cybernetics 72, 475-485. Wilkie, D.R. (1956) The mechanical properties of muscle.
Van Cutsem, M., Duchateau, J. & Hainaut, K. (1998) Chan- British Medical Bulletin 12(3), 177-182.
ges in single motor unit behaviour contribute to the Wilkie, D.R. (1967) Muscle. Edward Arnold Ltd, London.
increase in contraction speed after dynamic training in Wilson, G.J., Murphy, A.J. & Walshe, A. (1996) The specifi-
humans. Journal of Physiology 513(1), 295-305. city of strength training: the effect of posture. European
Van der Helm, F.C. & Veenbaas, R. (1991) Modelling the Journal of Applied Physiology and Occupational Physiology
mechanical effect of muscles with large attachment si- 73(3-4), 346-352.
tes: application to the shoulder mechanism. Journal of Wilson, D.L., Zhu, Q., Duerk, J.L., Mansour, J.M., Kilgore,
Biomechanics 24(12), 1151-1163. K. & Crago, P.E. (1999) Estimation of tendon moment
Verchoshansky, Y.V. (ed.) (1977) Special Strength Training in arms from three-dimensional magnetic resonance ima-
Sport. Fizkultura i Sport, Moscow. ges. Annals of Biomedical Engineering 27(2), 247-256.
Viitasalo, J.T. (1985) Effects of training on force–velocity Winters, J.M. & Kleweno, D.G. (1993) Effect of initial
characteristics. In: Biomechanics IX-A (ed. D.A. Winter, upper-limb alignment on muscle contributions to iso-
R.W. Norman, R.P. Wells, L.C. Hayes & A.E. Patla), pp. metric strength curves. Journal of Biomechanics 26(2),
91-95. Human Kinetics, Champaign, IL. 143-153.
Viitasalo, J.T. & Komi, P.V. (1978) Force-time characteris- Winters, J.M., Stark, L. & Seif-Naraghi, A.H. (1988) An
tics and fiber composition in human leg extensor mus- analysis of the sources of muscle-joint impedance. Jour-
cles. European Journal of Applied Physiology and Occupatio- nal of Biomechanics 21, 1011-1025.
nal Physiology 40(1), 7-15. Wood, J.E., Meek, S.G. & Jacobsen, S.G. (1989) Quantitati-
Viitasalo, J.T. & Komi, P.V. (1981) Interrelationships be- on of human shoulder anatomy for prosthetic arm
tween electromyographic, mechanical, muscle structu- control-II. Anatomy matrices. Journal of Biomechanics 22,
re and reflex time measurements in man. Acta Physiolo- 309-325.
gica Scandinavica 111(1), 97-103. van der Woude, L.H.V., Veeger, H.E.J. & Dallmeijer, A.J.
Visser, J.J., Hoogkamer, J.E., Bobbert, M.F. & Huijing, P.A. (2000) Manual wheelchair propulsion. In: Biomechanics
(1990) Length and moment arm of human leg muscles in Sport: Performance Enhancement and Injury Prevention (ed.
as a function of knee and hip-joint angles. European Jour- V.M. Zatsiorsky), pp. 609-636. Blackwell Science,
nal of Applied Physiology and Occupational Physiology Oxford.
61(5-6), 453-460. Yoshihuku, Y. & Herzog, W. (1996) Maximal muscle po-
Vrahas, M.S., Brand, R.A., Brown, T.D. & Andrews, J.G. wer output in cycling: a modelling approach. Journal of
(1990) Contribution of passive tissues to the interseg- Sports Science 14(2), 139-157.
mental moments at the hip. Journal of Biomechanics 23(4), Young, W. (1995) Laboratory strength assessment of athle-
357-362. tes. New Studies in Athletics 10, 89-96.
Wagner, R. (1925) Über die Zusammenarbeit der Antago- Young, W., McLean, B. & Ardagna, J. (1995) Relationship
nisten bei der Wilkürbewegung. I. Abhängigkeit von between strength qualities and sprinting performance.
mechanischen Bedingungen. Zeitschrift fur Biologie 83, 59. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness 35(1), 13-19.
502 PAAVO V. KOMI

Zander, G. (1879) L’Etablissement de Gymnastique Médicale Zatsiorsky, V.M. & Smirnov, Y.I. (1968) The effect of force
Mechanique. Paris. gradient on the performance in speed-strength tasks.
Zatsiorsky, V.M. (ed.) (1966) Motor Abilities of Athletes. Fi- Theory and Practice of Physical Culture 31(7), 63-68 [na
zkultura i Sport, Moscow. Rússia].
Zatsiorsky, V.M. (1974) Studies of motion and motor abili- Zatsiorsky, V.M., Smirnov, Y.I. & Micheev, A.I. (1967) The
ties of sportsmen. In: Biomechanics IV (eds R.C. Nelson effects of the isometric training at the various joint
& C.A. Morehouse), pp. 273-275. University Park Press, angles on the strength and velocity of movements.
Baltimore. Theory and Practice of Physical Culture 30(11), 24-27 [na
Zatsiorsky, V.M. (1995) Science and Practice of Strength Trai- Rússia].
ning, 1st edn. Human Kinetics, Champaign, IL. Zatsiorsky, V.M., Kulik, N.G. & Smirnov, Y.I. (1968-1969).
Zatsiorsky, V.M. (1997) The review is nice. I disagree with The study of the relationships between the motor abi-
it. Journal of Applied Biomechanics 13(4), 479-483. lities. Theory and Practice of Physical Culture, Part 1 1968,
Zatsiorsky, V.M. (1998) Kinematics of Human Motion. Hu- 31(12), 35-48; Part 2 1969, 32(1), 2-8; Part 3 1969, 2,
man Kinetics, Champaign, IL. 28-33. [Na Alemanha: (1) Saciorskij, W.M., Kulik, N.G.
Zatsiorsky, V.M. (2002) Kinetics of Human Motion. Human & Smirnov, Ju. I. Die Wechselbeziehungen zwischen
Kinetics, Champaign, IL. der korperlichen Eigenschaften. Theorie and Praxis der
Zatsiorsky, V.M. & Matveev, E.N. (1964) Force–velocity re- Korperkultur 19(2), S141-159; (2) Saciorskij, W.M., Ku-
lations in throwing. Theory and Practice of Physical Cultu- lik, N.G. & Smirnov, Ju. I. (1977) Wechselbeziehungen
re 27(8), 24-28. zwischen den motorishen Fahigkeiten. In: Bewegungs-
Zatsiorsky, V.M. & Primakov, Y.N. (1969) Dynamics of start lehre Des Sports (ed. H. Rieder). Karl Hoffmann Verlag,
acceleration phase in sprint running and determining Schorndorf; e em italiano: Zaciorskij, W.M., Kulik, N.G.
factors. Theory and Practice of Physical Culture 32(7), 5-11 & Smirnov Ju. I. (1971) Dependenze resiproche tra la
[na Rússia]. [Traduzido e publicado em francês: Zaci- capacita del fizico umano. Atletica Leggera, Gen-
orski, W.M. & Primakov, Y.N. (1970) Dinamique de naio,137.]
l’acceleration de deport du course et ses facteurs leur Zatsiorsky, V.M., Aruin, A.S., Prilutsky, B.I. & Schakhna-
determination. Kinanthropologie 2(1), 69-85.] zarov, A. (1985) Determination of the arms of forces of
Zatsiorsky, V.M. & Raitsin, L.M. (1974) Transfer of the re- the ankle joint muscles (m. triceps surae) by the ‘bio-
sults of training in strength exercises. Theory and Practi- mechanical’ method. Human Physiology 4, 616-622.
ce of Physical Culture 6, 8-14 [na Rússia]. [Na Alemanha: Zoladz, J.A., Rademaker, A.C. & Sargeant, A.J. (2000) Hu-
Zaciorskij, W.M. & Raitsin, L.M. (1975) Die Ubertra- man muscle power generating capability during cycling
gung des kumulativen Trainingseffects bei Kraftubun- at different pedalling rates. Experimental Physiology 85(1),
gen. Theorie and Praxis der Korperkultur 24(9), S826-834.] 117-124.
Capítulo 24
Sobrecargas de vibração:
potencial para a produção de
força e potência
JOACHIM MESTER, PETER SPITZENPFEIL E ZENGYUAN YUE

Introdução do equilíbrio e para o treinamento de força tornou-


se recentemente uma questão de discussão científi-
A vibração mecânica tem sido considerada há ca. Como no esporte atualmente há grande interesse
tempo como uma influência sobre o bem-estar hu- na melhoria do desempenho da força muscular e da
mano. No século 17, alguma atenção foi dedicada às potência, vários estudos realizados consideram os efei-
dores lombares de cocheiros, atribuídas à vibração tos do estímulo vibratório no treinamento de força.
do coxo do cavalo. Na atualidade, muitas fontes que Nesse contexto, é importante compreender melhor o
induzem vibração ao corpo humano podem ser iden- fenômeno dos aspectos biomecânicos e neurofisioló-
tificadas. Essas fontes variam de máquinas de preen- gicos da vibração humana a fim de identificar os be-
são manual, como as serras com motor, as quais exer- nefícios potenciais ao treinamento de força e potên-
cem estímulo vibratório nas mãos e no corpo, a cia, bem como, ao mesmo tempo, considerar e prevenir
determinados equipamentos de transporte que exer- os riscos potenciais.
cem vibração no corpo todo. Nesse caso, um grande
número de equipamentos diferentes pode ser men-
cionado, por exemplo, carros, motocicletas, tratores, Categorias de vibração
barcos, trens, aeroplanos, helicópteros e muito mais.
Regras rigorosas para a vibração crônica em vários A vibração, em termos de movimento oscilató-
locais de trabalho têm sido elaboradas pela ciência rio, pode manifestar-se de várias formas. O movimen-
do trabalho, pois à vibração pode causar dano à saú- to não é, por definição, constante, mas alternadamente
de. Essas regras são expostas em convenções inter- maior e menor do que algum valor médio (Griffin,
nacionais, como a da International Organization for 1994). As principais categorias estão descritas a se-
Standardization (ISO 2631). guir (ver Fig. 24.1). É importante referir que a descri-
Não existe nenhuma regra em esportes, embora ção dessas formas puras de categorias é necessária
em muitos deles haja sobrecarga significativa de vi- para a melhor compreensão do fenômeno. Em rela-
bração, como na navegação, no surfe, no esqui alpi- ção às técnicas de equipamentos de manipulação, as
no, na patinação, no ciclismo em qualquer terreno e formas puras, como o movimento oscilatório sinoi-
na cavalgada. Como o risco potencial da vibração tam- dal periódico, podem ser mensuradas. No entanto,
bém deve ser considerado em esportes, parece estra- ocorrem inúmeras outras formas de vibração em
nho que este campo ainda não tenha sido foco de muitos esportes, e uma ampla variedade de categori-
interesse científico. A quantidade ou a intensidade as pode ser considerada. Nessa definição, choque ou
da exposição à vibração é desconhecida como efeito impacto também são considerados como “vibrações
potencial de treinamento em esportes. No entanto, a transitórias, geralmente de natureza fracamente
significância da vibração mecânica para o controle aleatória” (Cole, 1982).
504 PAAVO V. KOMI

Resposta à sobrecarga de
vibração

A resposta humana às vibrações não envolve ape-


nas processos biomecânicos, mas também fisiológi-
cos. As considerações biomecânicas determinam
como as vibrações alcançam o corpo e se propagam
através dele, como cada parte do corpo movimenta-
se sob determinada condição de vibração externa, etc.
Já as abordagens fisiológicas determinam como o
corpo reage a esses movimentos produzidos pela fonte
de vibração. Embora uma extrema quantidade de da-
dos experimentais referentes à transmissão do “as-
sento à cabeça” ou “dos pés à cabeça” esteja disponí-
vel na literatura (Griffin, 1994), a propagação da
vibração pelo corpo ainda é precariamente com-
preendida. Como exemplo, a complexidade do tópico
pode ser observada pelo fato de que a amplitude de
freqüência de ressonância, em que a vibração é mais
ampliada do que amortecida, depende não somente
da parte do corpo, mas também da sua posição, assim
como da direção da vibração (Dupuis et al., 1972;
Dupuis et al., 1976). Isso se relaciona a uma amplitu-
de entre 8 e 20 Hz, dependendo do órgão envolvido.

Figura 24.1 Categorias de vibração (de Griffin, 1994, com Resposta biomecânica
permissão da Academic Press Ltd).
A resposta biomecânica à sobrecarga vibratória é
difícil devido ao corpo, evidentemente, consistir de
massa rígida e oscilante.
São várias as possibilidades para mensurar a vi- Abordagens teóricas a partir de diversos mode-
bração. Para movimentos de grande amplitude e bai- los de molas-amortecedores-massa têm sido desen-
xa freqüência, o deslocamento simples entre dois pi- volvidas para estimular a vibração de todo o corpo
cos bidirecionais é usado. A magnitude é normal- (Roberts et al., 1966; Anon, 1971; Anon, 1978; von
mente indicada por meio da velocidade ou, mais co- Gierke, 1971; Sandover, 1971; King, 1975; Cole, 1978;
mumente, pela aceleração que pode ser expressa em AGARD, 1979; Ghista, 1982), bem como na corrida
termos de aceleração pico a pico. Como em muitas e nos saltos (Ferris e Farley, 1977; Ito et al., 1983;
situações esportivas envolvendo sobrecarga de vibra- Alexander, 1988; Cavagna et al., 1988; Thompson e
ção, um movimento complexo deve ser admitido em Raibert, 1989; McMahin e Cheng, 1990; Kim et al.,
picos não-representativos. Nesse caso, o valor da raiz 1994; Nigg e Anton, 1994; Farley e Gonzalez, 1996;
quadrada da média (r.m.s.*) representa uma medida Nigg e Liu, 1999; Liu e Nigg, 2000). Esses modelos
de aplicação importante em engenharia (Grif- ajudam a compreender o processo de propagação da
fin, 1994). A aceleração da raiz quadrada média (ms–2 vibração ou da onda de choque pelo impacto ao cor-
r.m.s.) é especialmente adequada para expressar a gra- po. Alguns dos modelos foram desenvolvidos para
vidade da exposição humana à vibração. ajustar certos valores.
Os efeitos das massas oscilantes na vibração cor-
poral total em termos de modelo de análise e raciocí-
nio físico terá uma atenção especial neste capítulo.
*N. de R.T. Da expressão inglesa “root mean square”. Contribuindo, assim, de uma perspectiva principal-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 505

mente teórica, para a compreensão da vibração e da Tabela 24.1 Os parâmetros (massas, constantes de molas e coefi-
cientes de amortecimento) do sistema (de Liu e Nigg, 2000, com
transmissão, através do corpo, das ondas de choque permissão de Elsevier Science)
que afetam o músculo esquelético e induzem o estí-
mulo para a adaptação (Yue et al., 2001). M1 (kg) 6,15
Uma versão um pouco variada do modelo de Liu M2 (kg) 6
e Nigg (2000) (Fig. 24.2 e Tab. 24.1) é empregada como M3 (kg) 12,58
M4 (kg) 50,34
ponto inicial, pois esse modelo inclui massas osci-
lantes e tem sido desenvolvido para estudar os efei- k1 (kN·m–1) 6
tos das massas oscilantes na corrida. É importante k2 (kN·m–1) 6
k3 (kN·m–1) 10
salientar, também, que o modelo não foi desenvolvi- k4 (kN·m–1) 10
do para se ajustar aos dados existentes. Na realidade, k5 (kN·m–1) 18
as constantes de salto e os coeficientes de amorteci- c1 (kg·s–1) 300
mento foram determinados de acordo com a consi- c2 (kg·s–1) 650
deração de algumas propriedades musculotendíneas c (kg·s–1) 1.900
(Liu e Nigg, 2000). Nosso modelo serve para estudar
os efeitos das massas oscilantes nas vibrações corpo- originalmente desenvolvido para estimular o impac-
rais em que o sujeito permanece em pé sobre uma to na corrida quando um pé toca o solo.
plataforma vibratória com um pé, pois o modelo foi A única modificação do modelo original é que a
parte sob M1 no modelo original para a simulação de
reação do solo durante a corrida é substituída pela pla-
taforma vibratória. A coordenada vertical da posição
de equilíbrio do centro de massa de Mj foi significativa
quando o sistema ficou em repouso por Zj0. Já a coor-
denada vertical do centro de massa de Mj, quando o
sistema está vibrando, foi representada por Zj (t) (j =
1,2,3,4). Então, os desvios dos centros de massa de Mj
(j = 1,2,3,4) das suas posições de equilíbrio

ζj = Zj – Zj0 (j = 1,2,3,4) (1)

satisfaz as seguintes equações:

(
M1ζ1 = F − k2 (ζ 1 − ζ 2 ) − c 2 ζ1 − ζ2 − )
(
M1ζ1 = k1 (ζ 1 − ζ 3 ) − c1 ζ1 − ζ3 ) (2)

(
M2ζ2 = −k2 (ζ 2 − ζ 1 ) − c 2 ζ2 − ζ1 − )
(3)
k3 (ζ 2 − ζ 3 )

Figura 24.2 Modelo A: o modelo de mola-amortecedor-massa (


M3ζ3 = −k1 (ζ 3 − ζ 1 ) − c1 ζ3 − ζ1 − )
M3ζ3 = k3 (ζ 3 − ζ 2 ) − ( k4 + k5 ) (ζ 3 − ζ 4 ) −
aplicado no presente estudo para estimular as vibrações do
corpo inteiro. Esse modelo, assim como os parâmetros na (4)
Tabela 24.1, são essencialmente os mesmos que os utilizados
por Liu e Nigg (2000), exceto que a parte sob M1 para (
M3ζ3 = c 4 ζ3 − ζ4 )
estimular a reação do solo no artigo foi substituída por um
vibrador em que é assumida como fixa. Tanto M1 como M2
M4ζ4 = − ( k4 + k5 ) (ζ 4 − ζ 3 ) − c 4 ζ4 − ζ3 ( ) (5)
estimulam as massas rígida e de oscilação dos membros
onde permanece para o derivado tempo d/dt, e
inferiores, enquanto M3 e M4 estimulam as massas rígida e de
F = Fp − Fp0 = Fp − ( M1 + M2 + M3 + M4 ) g (6)
oscilação dos membros superiores (de Liu e Nigg, 2000, com
permissão de Elsevier Science).
506 PAAVO V. KOMI

representa a força externa total agindo no sistema. Fp


é a pressão que a plataforma fornece ao sistema, Fp0
= (M1 + M2 + M3 + M4)g representa a pressão da
plataforma no estado de equilíbrio, g é a aceleração
da gravidade e a massa Mj, constantes de salto kj e
coeficientes de amortecimento cj são fornecidos na
Tabela 24.1.
O comportamento vibratório detalhado desse
modelo, referido como Modelo A, tem sido calcula-
do e comparado com o comportamento vibratório
do Modelo B, exceto pelo fato de a massa de oscila-
ção M4 ser removida e incorporada à massa rígida
M3. Alguns efeitos da massa oscilante podem então
ser observados pela comparação entre os dois modelos.
Na Figura 24.3, é possível observar que a trans-
missão corporal do pé para as extremidades superio-
res diminui para a amplitude de freqüência em que a
transmissão é importante, devido à massa de oscila-
ção. Essa redução pode ser compreendida em termos
de análise da potência como segue. É fácil demons-
trar que a potência média em que a massa de oscila-
ção M4 fornece a massa rígida M3 é

<P43> = ½ω(k4 + k5)⏐A3⏐⏐A4⏐ sen (ϕ4 – ϕ3) (7)

Como ϕ4 é menor que ϕ3 (ver Fig. 24.4b) < P43 > é


negativo. Isso explica por que a amplitude da oscila-
ção de M3 é reduzida pela massa de oscilação M4. O
fato de a fase de oscilação da massa M4 retardar-se Figura 24.4 (a) Rácios de amplitude para o modelo A. (b)
Fase de ajuste para o modelo A.
atrás da fase da massa rígida M3 pode ser observado
na Figura 24.5(a,b), em que ζ4 (t), o deslocamento de
M4, alcança o pico sempre depois de ζ3, o desloca- mento de M3. A razão física para isso é que a vibra-
ção da massa oscilante M4 é transportada pela vibra-
ção da massa rígida M3, o que também é verdadeiro
para o corpo humano, no qual todos os órgãos inter-
nos e os músculos esqueléticos são transportados pelo
esqueleto; portanto, a fase da massa de oscilação re-
tarda-se atrás da fase da massa rígida corresponden-
te durante a vibração corporal. Com isso, esperamos
que os efeitos da massa de oscilação na vibração cor-
poral da análise do presente modelo também sejam
verdadeiros para o corpo humano real, embora a fre-
qüência que varia para a grande transmissão seja
maior no corpo humano real do que na presente aná-
lise de modelo (Griffin, 1994). Na Figura 24.6 obser-
va-se que a amplitude de oscilação do centro de massa
Figura 24.3 Comparação da transmissibilidade dos pés à do sistema é reduzida pela massa de oscilação para a
parte superior do corpo entre os modelos A e B (Figs. 24.3 e amplitude de freqüência em que transmissão é im-
24.7, após Yue et al., 2001). portante. Isso explica por que a amplitude de oscila-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 507

Figura 24.6 Comparação da amplitude do centro de massa


entre os modelos A e B.

oscilação da massa oscilante nos membros superio-


res é transportada pela oscilação da massa rígida dos
membros superiores, a fase de oscilação da massa
retarda-se após a fase da massa rígida. Por essa razão,
a potência média em que a massa de oscilação nos
membros superiores fornece à massa rígida dos mem-
bros superiores é negativa. Esse representa o meca-
nismo básico dos efeitos citados anteriormente da
massa de oscilação no presente modelo.

Resposta neurofisiológica à
sobrecarga de vibração
Vários estudos fisiológicos demonstram que a
resposta humana à sobrecarga de vibração depende

Figura 24.5 Deslocamento versus tempo em diferentes


freqüências para o modelo A: (a) f = 2,5 Hz; (b) f = 5 Hz.

ção da força externa é reduzida pela massa de oscila-


ção na mesma amplitude de freqüência (ver Fig. 24.7).
De fato, a partir do teorema do centro de massa, a
amplitude da força externa deve ser diminuída caso a
amplitude do centro de massa do sistema seja redu-
zida, de modo que a freqüência e a massa total do
sistema permaneçam as mesmas.
Em resumo, a análise do presente modelo revela
os seguintes efeitos da massa de oscilação na vibra-
ção corporal. Para a amplitude de freqüência em que
a transmissão corporal “dos pés à cabeça” é signifi-
cativa, a massa de oscilação é capaz de reduzir a trans-
missão, diminuir a amplitude de oscilação do centro
de massa do corpo e, portanto, a amplitude de flutu- Figura 24.7 Comparação das amplitudes das forças externas
ação da força externa da fonte de vibração. Como a totais dos modelos A e B.
508 PAAVO V. KOMI

principalmente de três fatores: amplitude, freqüên- subsistema biológico humano que responde à vibra-
cia e rigidez muscular ou articular (Hagbarth e ção.
Eklund, 1966; Martin e Park, 1997). A variação de Então, é provável que, sob vibração, o sistema Ia
amplitude e freqüência determina a intensidade da seja o responsável pelo reflexo de alongamento. Isso
sobrecarga. Já a interação reflexa associada com pa- foi investigado no contexto da excepcional sensibili-
râmetros de tensão e rigidez muscular pode ser con- dade dos terminais aferentes primários dos fusos à
siderada como a resposta neuromuscular aos estí- vibração do tendão, onde ocorrem curtas alterações
mulos de vibração. de alongamento. Há muito tempo, Matthews
Os efeitos da vibração, conhecidos de vários es- (1966a,b; 1967) demonstrou que o estímulo vibrató-
tudos, são múltiplos. Alguns são realmente conside- rio que desloca o músculo sóleo em cerca de 10 μm
ráveis e variam de gravemente destrutivos a potenci- ativa seletivamente a fibra Ia. A alta sensibilidade das
almente benéficos (Fritton et al., 1997). Caso a pessoa fibras Ia pode ativar todas as fibras desse tipo caso a
seja cronicamente exposta por período prolongado amplitude e a freqüência da vibração sejam grandes
de tempo à vibração, efeitos como alterações cogni- o suficiente. A resposta do fuso pode até ser reforça-
tivas, vertigem, distúrbios de movimento, dores lom- da e, então, saturada na freqüência de vibração, o que
bares com ou sem alteração degenerativa na coluna torna o fuso não-responsivo ao estiramento muscu-
lombar, distúrbio visual, epilepsia, doenças cerebro- lar normal (Carew et al., 1983). Os terminais aferen-
vasculares, alterações hemodinâmicas além de alte- tes primários fornecem contribuição excitatória equi-
rações na expressão do RNAm nos osteoblastos têm librada ao reflexo de estiramento. É muito importante
sido observados (von Gierke e Parker, 1994; Bovenzi notar que essa atividade Ia não é, ou é somente mui-
e Griffin, 1997; Fritz, 1997; Tjandrawinata et al., 1997; to pouco, submetida à chamada fadiga central, a qual
Pope et al., 1998; Martinho Pimenta e Castelo Bran- promove conseqüências interessantes na ativação e
co, 1999a; Martinho Pimenta e Castelo Branco, no treinamento dos músculos envolvidos.
1999b). Além disso, até efeitos genotóxicos em ter- Os experimentos realizados na metade da déca-
mos de alterações das cromátides-irmãs* nos linfóci- da de 1960 demonstraram que o chamado “reflexo
tos foram demonstrados (Silva et al., 1999). A área de tônico de vibração” (RTV), no músculo é completa-
ressonância do corpo humano representa muitas das do pelo relaxamento sincrônico do antagonista quan-
causas desses efeitos perigosos (Fig. 24.8). do o respectivo tendão é estimulado (Hagbarth e
Em suma, admite-se que quase todo sistema e Eklund, 1966). O RTV também é principalmente in-
subsistema biológico seja afetado pelo input vibra- duzido pela ativação das fibras Ia do fuso muscular.
cional, em especial, quando submetido cronicamen- Os resultados demonstram que os receptores de pele,
te por período prolongado de tempo, como em de- assim como as fibras aferentes tipo II, também po-
terminadas condições de trabalho. Como esses efei- dem contribuir para o RTV (Romaiguère et al., 1991;
tos se devem ao input mecânico que, associado com a Park e Martin, 1993).
reação biológica, cria essas conseqüências, também É importante notar que o RTV pode ser ativamente
devem ser considerados no esporte. No entanto, não influenciado por centros corticais superiores do con-
existem dados empíricos para respaldar ou refutar essa trole motor com o emprego das vibrações como mé-
hipótese. Há muito poucos estudos em ciências do todo de treinamento de força e potência. Ainda não
esporte considerando a reação biológica à sobrecar- foi completamente investigado se as vias mono ou po-
ga vibracional, principalmente em comparação com lissinápticas servem preponderantemente para a trans-
as descobertas em ciências do trabalho. Em esporte, missão do sinal durante a vibração. Da mesma manei-
a reação muscular e — talvez — a adaptação tenham ra, não foi experimentalmente provado que o RTV
um papel importante. Além disso, a musculatura, com ocorre em conexão com a vibração corporal total.
seus vários mecanismos de reflexo, representa o maior Como já demonstrado, a evidência física para o envol-
vimento do músculo como massa de oscilação é con-
sistente. Então, pode-se assumir a ocorrência de uma
estimulação mecânica “fase-bloqueada” ou “fase-re-
*N.de R.T. Relativo às duas cromátides de um cromossomo tardada” não somente dos fusos musculares, mas tam-
mantidas juntas por um centrômero. bém dos órgãos tendinosos de Golgi.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 509

Figura 24.8 Freqüência de ressonância para várias partes do corpo.

É bem conhecido que a vibração aplicada ao No entanto, grande parte da freqüência de estí-
músculo ou tendão provoca contrações reflexas que mulo está abaixo da freqüência associada à tetania
induzem o aumento da atividade muscular, de modo fundida, e a resposta do RTV é aumentada somente
que determinado nível inicial de contração antes e até determinado limite com a freqüência de estímu-
durante a vibração esteja disponível. Esse aumento lo. Em menores freqüências, por meio da primeira
na atividade muscular, mensurado nos registros EMG, sincronização harmônica, a magnitude do RTV au-
não induz necessariamente aumento na força, como menta com a freqüência de vibração. Romaiguère e
Park e Martin (1993) demonstraram, caso o nível de colaboradores (1991) foram os primeiros a demons-
contração inicial seja estabelecido, por exemplo, 10 trar que os elementos polissinápticos do RTV po-
ou 20% da contração voluntária máxima. Essas des- dem ser “fase-bloqueados” ao ciclo de vibração. Isso
cobertas não são inconsistentes, pois a maior ativi- sugere que o aumento no RTV em estímulo de fre-
dade muscular ao RTV não se associa necessaria- qüência ≤ 100 Hz deve-se ao aumento na despolari-
mente ao controle da força muscular pelos centros zação do motoneurônio e ao recrutamento das uni-
supra-espinais. dades motoras com maiores limiares. Embora Martin
510 PAAVO V. KOMI

e Park (1997) tenham demonstrado que a força mus- didade a fim de investigar seus efeitos. Eles determi-
cular média não necessariamente auxilia o RTV em naram uma redução na altura do salto, o aumento do
determinado período de tempo, o aumento depen- tempo de contato e sinais de menor ativação EMG
dente de ciclo da força muscular através do recruta- que, evidentemente, não podem ser interpretados
mento reflexo pode muito bem ocorrer. Logo, é ra- como efeitos positivos para a força e a potência. Tam-
zoável que a fadiga muscular surja em níveis elevados bém, deve-se considerar, para a interpretação dos re-
de vibração. Pode-se admitir que esse efeito também sultados, que o estiramento muscular representou o
seja disparado pelo reduzido conjunto de unidades mo- principal tópico do estudo e que os respectivos mús-
toras disponíveis adicionais devido à vibração em ge- culos estavam relaxados.
ral demandar mais unidades motoras para determina- Comparado a várias outras publicações, em que
da força muscular. Dessas descobertas, deduz-se que se estabeleceu a pré-inervação dos músculos, foram
a ativação Ia induzida pela fibra muscular e o RTV determinados consideráveis aumentos na força e na
induzido pelo tendão devem ser considerados. potência. Issurin e colaboradores (Issurin et al., 1989;
Issurin et al., 1994; Issurin e Tenenbaum, 1999) em-
pregaram o termo “treinamento de estimulação vi-
Produção de força e potência bratória” e estudaram os efeitos do treinamento de
força/potência e flexibilidade usando um “equipamen-
As descobertas referentes à produção de força e to de vibração” (Issurin et al., 1994) (Fig. 24.9), com
potência associada ao treinamento vibratório corpo- freqüência de vibração de 44 Hz e amplitude de 3
ral ou segmentado não são recentes. Resultados já mm em um período de treinamento de três semanas
discutiram esses métodos, principalmente na litera- (grupo experimental). O grupo-controle realizou trei-
tura russa. Os resultados de publicações ocidentais namento de força e flexibilidade convencional. O gru-
modernas foram apresentados por Nazarov e Spivak po experimental demonstrou aumento de 49,8% na
(1985). Eles discutiam a “estimulação neuromuscu- força máxima, enquanto o grupo-controle apresen-
lar rítmica” ou a “estimulação muscular biomecâni- tou aumento de 16,1% no treinamento de força tra-
ca” para melhorar a força e a flexibilidade, admitindo dicional sem vibração (Fig. 24.10). Os resultados em
que sobrecargas vibratórias excêntricas repetitivas flexibilidade foram similares (aumento de 8,7% e
com pequenas amplitudes seriam eficazes devido à 2,4% nos grupos experimental e controle, respecti-
melhor sincronização das unidades motoras. Kün- vamente).
nemeyer e Schmidtbleicher (1997) tentaram mensu- Os autores associaram o considerável aumento
rar essa abordagem pela estimulação vibratória dos da força com um maior recrutamento das unidades
extensores do joelho alongados, utilizando o tempo motoras, referido nos estudos sobre RTV na litera-
de contato e a altura dos saltos em saltos em profun- tura. Em um estudo recente, Issurin e colaboradores

Figura 24.9 Desenho experimental do


“treinamento de estímulo vibratório”
(Issurin et al., 1994).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 511

Figura 24.11 Potência máxima (䢇) e média (嘷) em dois


períodos do treinamento de força. EV: estimulação vibratória
(Issurin et al., 1999).
Figura 24.10 Efeitos do “treinamento de estímulo vibratório”
(Issurin, 1994).

ça associado com vibração. Em um desses estudos,


os sujeitos realizaram uma sessão de treinamento com
(1999) avaliaram a resposta aguda ao treinamento de sobrecarga vibratória por 60 s nos dedos dos pés de
vibração, comparando um grupo de sujeitos de es- uma perna. Foram realizadas 10 repetições com in-
porte de elite a um grupo de sujeitos de esporte em tervalo de repouso de 60 s. A outra perna fez o mes-
massa. Os sujeitos foram submetidos aleatoriamente mo exercício e serviu como controle. Vários testes de
a duas sessões de treinamento constituídas de três força demonstraram melhoria significativa da perna
séries de três repetições cada entre 65 e 70% de submetida à vibração.
1-RM, com 2 a 3 minutos de intervalo de repouso. Outro estudo desse grupo demonstrou aumento
Em uma sessão, foi realizado o treinamento de força significativo do desempenho de potência nos mús-
sem vibração, enquanto, na outra, foi aplicada uma culos do braço de boxeadores. Como no estudo men-
sobrecarga de vibração correspondente a 44 Hz com cionado anteriormente, os boxeadores realizaram cin-
amplitude de 1,5 mm. A potência serviu como variável co repetições de 60 s de contração isométrica com
de critério. Os resultados demonstraram aumento sig- sobrecarga de vibração seguida por 60 s de intervalo
nificativo da potência sob a influência da vibração de repouso em um braço. O outro braço realizou o
(aproximadamente 10%) na segunda série (Fig. 24.11). mesmo tipo de treinamento sem sobrecarga e serviu
O aumento da potência foi significativamente maior como controle. O braço-controle não demonstrou
no grupo de esportes de elite. A redução da potência aumento no desempenho de potência (Fig. 24.12).
na terceira série foi explicada pela fadiga. Bosco e seu grupo atribuíram o aumento na for-
Investigações similares também foram realizadas ça à melhoria da regulação neuromuscular e referi-
por Weber (1997), que estudou o efeito do treina- ram os resultados de Burke e colaboradores (1976) e
mento de vibração em ginastas de elite. Houve au- de Hagbarth e Eklund (1966) ao tornarem a ação re-
mento de 24 a 34% na força máxima após 12 semanas flexa dos fusos musculares (RTV) responsável pelo
de treinamento de força com vibração, realizado duas aumento da força. Além disso, os autores considera-
vezes por semana. O autor aludiu ao fato de que esse ram a estimulação vibratória da tensão muscular pe-
aumento seria determinado, embora uma sobrecarga los receptores cutâneos.
relativamente baixa tenha sido empregada. Somados às principais descobertas da literatura,
O grupo de Bosco (Bosco et al., 1999a,b) reali- muitos dos resultados indicam efeito considerável do
zou vários estudos em termos de treinamento de for- treinamento de força e potência com a sobrecarga de
512 PAAVO V. KOMI

de oscilação sinoidal com amplitude de 2,5 mm e 24


Hz. A sobrecarga de vibração foi gerada pelo treina-
mento e pelo equipamento de diagnóstico, usando
uma polia excêntrica eletricamente movida, gerando
freqüências máximas de até 24 Hz com amplitudes
de até ± 6 mm (Fig. 24.13).
Os outros períodos do treinamento foram reali-
zados sem sobrecarga de vibração (período sem vi-
bração). O treinamento consistiu de exercícios co-
muns ao treinamento de força para o esqui alpino:
agachamento (unilateral) a 70% de 1-RM, passada à
frente (ambos com halteres), saltos laterais, saltos
enfatizando a flexão plantar, saltos em profundidade,
Figura 24.12 Desempenho da potência média durante o passada à frente com degraus, etc. Foram utilizados
treinamento dos flexores do braço com (C) e sem (S) sobrecarga os seguintes testes para diagnóstico: leg press estático
de vibração (modificada de Bosco et al., 1999a, com para a força máxima estática; saltos em profundidade
permissão de Springer-Verlag GmbH e Co.).
e salto com agachamento em plataforma de força para
a força máxima dinâmica; teste em step com vibração
para habilidades de estabilização sob sobrecarga vi-
bracional. Freqüência cardíaca, lactacidemia, EMG,
vibração. Becerra Motta e Becker (2001) sintetizam creatina cinase, uréia, fatores de transmissão e força
os resultados de vários estudos em que houve cerca
de 50% de melhoria na força e potência. Resultados
contraditórios parecem estar relacionados à pré-ten-
são muscular.
Esse efeito também poderia ser observado em
nossos próprios estudos. Nos estudos de caso em vá-
rios equipamentos de vibração, os resultados EMG
demonstraram um comportamento sincrônico da
tensão muscular e relaxamento ao input de vibração.
Mas, ao aumentar a aceleração, o sistema biológico
aumenta proporcionalmente sua ativação tônica
(RTV) dos músculos envolvidos. Esse aumento da
rigidez muscular e articular induz comportamento
ótimo de amortecimento do corpo ao diminuir a
transmissão da amplitude da força de vibração à massa
rígida e, dessa forma, à massa de oscilação do corpo.
Quanto maior o aumento da aceleração, mais sobre-
carregado é o sistema de amortecimento corporal. A
tensão muscular aumenta de forma adicional, e a
transmissão da amplitude excede as áreas biologica-
mente aceitáveis.
Em um estudo longitudinal de 21 dias, foram re-
alizadas 36 sessões de treinamento com atletas bem-
treinados (28 anos, 193 cm de altura, 93 kg de peso)
(Mester et al., 1999). A fase de treinamento foi divi-
dida em seis períodos, cada um consistindo do mes-
mo conteúdo. Nos períodos 1, 3 e 5, o estímulo vi-
bratório foi aplicado (período de vibração) consistindo Figura 24.13 Gerador de vibração mecânica.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 513

foram mensuradas em todos os testes. Os testes fo- 25,2 ± 4,7 anos, altura de 179 ± 8 cm e peso de
ram realizados em cada dia do período de vibração; a 73,9 ± 9,9 kg serviram como voluntários para a in-
creatina cinase e a uréia foram determinadas em to- vestigação do comportamento e da adaptação asso-
dos os dias de treinamento. ciada com diferentes freqüências de vibração. Todos
Os resultados (ver Fig. 24.14) demonstram au- os sujeitos executaram oito sessões de treinamento
mento considerável da creatina cinase no início do consistindo de agachamento com sobrecarga corres-
experimento em cada período de vibração, indicando pondente a < 40% de 1-RM. Ao contrário do con-
alta tensão comparada ao período sem vibração. De trole, o grupo experimental foi submetido à sobre-
acordo com isso, o desempenho em força no leg press carga de vibração.
estático primeiramente teve redução na fase inicial Os resultados relacionados ao controle motor
do estudo, mas aumentou, ao final, cerca de 43%. A demonstraram que o amortecimento foi significati-
análise descritiva dos saltos também demonstra au- vamente melhor (p < 0,05) em freqüências maiores
mento na altura dos saltos com agachamento de 38,9 (20 e 24 Hz) do que em baixas freqüências (5, 9, 12 e
cm no início para um valor máximo de 47,8 cm após 16 Hz) (Fig. 24.15), o que pode ser obviamente atri-
14 dias de treinamento. Esses resultados correspon- buído ao aumento da atividade muscular (Fig. 24.16).
dem muito bem às descobertas registrados na litera- O aumento da atividade muscular em maiores fre-
tura (citados acima), em que pode ser observado o qüências está também relacionado ao decréscimo da
efeito significativo do treinamento de força vibracio- coordenação intermuscular.
nal e potência. No entanto, o elevado desvio padrão, mesmo na
Como também discutido anteriormente, alguns maior atividade muscular, indica — além dos aspec-
resultados sugerem que o estímulo vibracional pro- tos metodológicos bem conhecidos da EMG — a res-
duz relaxamento muscular e decréscimo dos parâ- posta individual à sobrecarga de vibração.
metros de força e potência mais do que melhoria Os resultados na adaptação de força não demons-
(Mester, 1999). Com o objetivo de estudar os possí- traram aumento significativo no grupo-controle, nem
veis efeitos desse tipo de tratamento, um grupo de 20 mesmo no experimental, o que pode ser atribuído
sujeitos (14 homens e 6 mulheres) com idade de principalmente à baixa sobrecarga adicional.

Figura 24.14 Treinamento de força


com vibração do corpo inteiro e
resposta muscular. CK: creatina
cinase; SV: sobrecarga de treinamento
sob vibração (número de repetições no
agachamento unilateral); SN:
sobrecarga de treinamento sem
vibração (número de repetições no
agachamento unilateral).
514 PAAVO V. KOMI

tema pode ser responsável pelas atividades de reflexo


de estiramento quando submetido à vibração. Essas
atividades não devem-se apenas à energia vibracio-
nal que mecanicamente afeta o músculo, mas tam-
bém a pequenas alterações no comprimento muscu-
lar observadas nas respectivas articulações, por
exemplo, joelho e tornozelo, submetidas à vibração.
As articulações podem ser consideradas como um
amortecimento ativo. No entanto, esse movimento é
efetivamente coordenado apenas em freqüências
menores, como < 10 Hz. Em freqüências maiores
( > 20 Hz), em que o treinamento de força e potência
vibracional normalmente seria localizado para evitar
Figura 24.15 Média, desvio padrão e ajuste exponencial do
quociente de amortecimento (QA) em todas as freqüências.
as áreas de ressonância biológica, uma coordenação
“fase-bloqueada” das articulações à freqüência do
estímulo vibratório não é permanentemente possí-
vel; então, há uma “fase-retardada” ou mesmo movi-
mento caótico. Nesse caso, a atividade reflexa deve
Discussão ser considerada como extraordinariamente elevada,
de modo que possa ser observado incremento na ri-
As considerações biomecânicas demonstram os gidez. Define-se que há maior sobrecarga biomecâ-
efeitos de massas oscilantes como a vibração. Além nica e neurofisiológica ao sistema musculotendíneo
do efeito de amortecimento ativo devido ao sistema caso haja incremento na rigidez muscular. Em nos-
musculotendíneo contrátil, o efeito mecânico de sos estudos sobre treinamento de força e sobrecarga
amortecimento pode estar associado à fase retardada vibracional, um gerador de vibração do corpo todo
da massa de oscilação quando comparada à massa foi empregado. Os sujeitos realizaram saltos em pro-
rígida. Isso induz à transformação de energia que afeta fundidade em uma plataforma. Por isso, na fase de
diretamente o sistema musculotendíneo. A alta sen- contato de, por exemplo, 300 ms, em uma freqüência
sibilidade das fibras Ia à vibração sugere que esse sis- de vibração de 25 Hz, 6 a 8 microcontrações induzi-
das pela vibração ocorrem, associadas à redução da
sensação de fadiga relacionada ao recrutamento adi-
cional de motoneurônios, que parece ser altamente
eficaz. É importante enfatizar o nível de pré-inerva-
ção/contração dos músculos envolvidos. Caso a pré-
inervação seja baixa, efeito semelhante à massagem
das massas oscilantes pode ser esperado como indu-
tor do relaxamento, mais do que melhoria na força e
na potência.

Referências

AGARD (Advisory Group for Aerospace Research and De-


velopment). (1979) Models and analogues for the eva-
luation of human biodynamic response, performance
and protection. In: Aerospace Medical Panel’s Specialists’
Figura 24.16 Média, desvio padrão e ajuste exponencial da Meeting (ed. H. E. von Gierke), Paris, 6-10 November
atividade muscular dos músculos bíceps femoral e vasto medial 1978, Conference Proceedings CP-253. AGARD,
em todas as freqüências. Neuilly-sur-Seine.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 515

Alexander, R.M. (1988) Elastic Mechanisms in Animal Move- Ferris, D.P. & Farley, C.T. (1977) Interaction of leg stiffness
ment. Cambridge University Press, Cambridge. and surface stiffness during human hopping. Journal of
Anonymous. (1971) Symposium on Biodynamic Models and Applied Physiology 82, 15-22.
Their Applications. Technical Report no. 21-29, Aeros- Fritton, J.C., Rubin, C.T., Qin, Y.X. & McLeod, K.J. (1997)
pace Medical Research Laboratories. Whole-body vibration in the skeleton: development of
Anonymous. (1978) Proceedings of Symposium on Biody- a resonance-based testing device. Annals of Biomedical
namic Models and Their Applications, 15-17 February Engineering 25, 831-839.
1977, Dayton, Ohio. Aviation, Space and Environmental Fritz, M. (1997) Estimation of spine forces under whole-
Medicine 49 Section II. body vibration by means of a biomechanical model and
Becerra Motta, J.A. & Becker, R.R. (2001) Die Wirksamkeit transfer functions. Aviation, Space, and Environmental
der Biomechanischen Stimulation (BMS) in Verbindung Medicine 68, 512-519.
mit traditionellen Methoden der Kraftausdauerentwi- Ghista, D.N. (1982) Human Body Dynamics: Impact, Occupa-
cklung im Schwimmsport. Leistungssport 31 no. 2, 29-35. tional, and Athletic Aspects. Clarendon Press, Oxford.
Bosco, C., Cardinale, M. & Tsarpela, O. (1999a) Influence von Gierke, H.E. (1971) Biodynamic models and their ap-
of vibration on mechanical power and electromyogram plications. The Journal of the Acoustical Society of America
activity in human arm flexor muscles. European Journal 50, 1397-1413.
of Applied Physiology 79, 306-311. von Gierke, H.E. & Parker, D.E. (1994) Differences in oto-
Bosco, C., Colli, R., Introni, E. et al. (1999b) Adaptive res- lith and abdominal viscera graviceptor dynamics: im-
ponses of human skeletal muscle to vibration exposu- plications for motion sickness and perceived body po-
re. Journal of Clinical Physiology 19, 183-187. sition. Aviation, Space, and Environmental Medicine 65,
Bovenzi, M. & Griffin, M.J. (1997) Haemodynamic chan- 747-751.
ges in ipsilateral and contralateral fingers caused by Griffin, M.J. (1994) Handbook of Human Vibration. Academic
acute exposures to hand transmitted vibration. Occupa- Press Limited, London.
tional and Environmental Medicine 54, 566-576. Hagbarth, K.-E. & Eklund, G. (1966) Motor effects of vi-
Burke, D., Hagbarth, K.-E., Löfstedt, L. & Wallin, B.G. bratory muscle stimuli in man. In: Proceedings of the First
(1976) The response of human muscle spindle endings Nobel Symposium. Stockholm 1965 (ed. R. Granit), pp.
to vibration during isometric contraction. Journal of Phy- 177-186. Stockholm.
siology 261, 695-611. ISO, 2631-1 (1997) Mechanical Vibration and Shock–Evaluati-
Carew, T.J., Hawkins, R.D. & Kandel, E.R. (1983) Differen- on of Human Exposure to Whole Body Vibration, Part 1. Ge-
tial classical conditioning of a defensive withdrawal re- neral Requirements. International Organization of Stan-
flex in Aplysia california. Science 219, 397-400. dardization.
Cavagna, G.A., Franzetti, P., Heglund, N.C. & Willems, P. Issurin, V.B. & Tenenbaum, G. (1999) Acute and residual
(1988) The determinants of step frequency in running, effects of vibratory stimulation on explosive strength
trotting, and hopping in man and other vertebrates. Jour- in elite and amateur athletes. Journal of Sport Science 17,
nal of Physiology (London) 399, 81-92. 177-182.
Cole, S.H. (1978) The vertical transmission of impulsive energy Issurin, V.B., Kuksa, S.V. & Temnov, P.N. (1989) Effecti-
through the seated human. PhD thesis, Loughborough veness of different vibrostimulational regimes during
University of Technology. speed-strength exercises. In: Proceedings of the Confe-
Cole, S. (1982) Vibration and linear acceleration. In: The rence ‘Speed-Strength Training in Top-Level Athletes’,
Body at Work (ed. W. T. Singleton), pp. 201-233. Cam- Moscow.
bridge University Press, Cambridge. Issurin, V.B., Liebermann, D.G. & Tenenbaum, G. (1994)
Dupuis, H., Hartung, E. & Louda, L. (1972) Vergleich re- Effect of vibratory stimulation training on maximal force
gelloser Schwingungen einesbegrenzten Frequenzbe- and flexibility. Journal of Sport Science 12, 561-566.
reiches mit sinusförmigen Schwingungen hinsichtlich Ito, A., Komi, P.V., Sjodin, B., Bosco, C. & Karlsson, J. (1983)
der Einwirkung auf den Menschen. Ergonomics 15, Mechanical efficiency of positive work in running at
237-265. different speeds. Medicine and Science in Sports and Exer-
Dupuis, H., Hartung, E. & Hammer, W. (1976) Biomecha- cise 15, 299-309.
nisches Verhalten, Muskelreaktion und subjektive Kim, W., Voloshin, A.S. & Johnson, S.F. (1994) Modelling
Wahrnehmung bei Schwingungserregung der oberen of heal strike transients during running. Human Move-
Extremitäten zwischen 8 and 80 Hz. Internationales ment Science 13, 221-244.
Archiv für Arbeits and Umweltmedizin 37, 9-34. King, A.I. (1975) Survey of the state of the art of human
Farley, C.T. & Gonzalez, O. (1996) Leg stiffness and stride biodynamic response. In: Aircraft Crashworthiness (eds
frequency in human running. Journal of Biomechanics 29, K. Saczalski, G.T. Singley III, W.D. Pilkey & R.L. Hus-
181-186. ten), pp. 83-120. University Press of Virginia.
516 PAAVO V. KOMI

Künnemeyer, J. & Schmidtbleicher, D. (1997) Die neuro- Nigg, B.M. & Anton, M.G. (1994) Energy aspect for elastic
muskuläre Stimulation (RNS). Leistungssport 2, 39-42. and viscous shoe soles and playing surfaces. Medicine
Liu, W. & Nigg, B.M. (2000) A mechanical model to deter- and Science in Sports and Exercise 27, 92-97.
mine the influence of masses and mass distribution on Nigg, B.M. & Liu, W. (1999) The effect of muscle stiffness
the impact force during running. Journal of Biomechanics and damping on simulated impact force peaks during
33, 219-224. running. Journal of Biomechanics 32, 849-856.
McMahon, T.A. & Cheng, G.C. (1990) The mechanics of Park, H.-S. & Martin, B.J. (1993) Contribution of the tonic
running: how does stiffness couple with speed? Journal vibration reflex to muscle stress and muscle fatigue.
of Biomechanics 23 (Suppl.), 65-78. Scandinavian Journal of Work Environment and Health 19,
Martin, B.J. & Park, H.-S. (1997) Analysis of the tonic vi- 35-42.
bration reflex: influence of vibration variables on mo- Pope, M.H., Magnusson, M. & Wilder, D.G. (1998) Kappa
tor unit synchronisation and fatigue. European Journal of Delta Award. Low back pain and whole body vibration.
Applied Physiology 75, 504-511. Clinical Orthopaedics 354, 241-248.
Martinho Pimenta, A.J. & Castelo Branco, N.A. (1999a) Roberts, V.N., Terry, C.T. & Stech, E.L. (1966) Review of
Neurological aspects of vibroacoustic disease. Aviati- mathematical models which describe human response
on, Space, and Environmental Medicine 70(3 Part 2), A91- to acceleration. In: American Society of Mechanical Engi-
A95. neers 66-WA/BHF-13, pp. 2-12. American Society of
Martinho Pimenta, A.J. & Castelo Branco, N.A. (1999b) Mechanical Engineers.
Epilepsy in the vibroacoustic disease. Aviation, Space, and Romaiguère, P., Vedel, J.-P., Azulay, J.-P. & Pagni, S. (1991)
Environmental Medicine 70(3 Part 2), A122-A127. Differential activation of motor units in the wrist ex-
Matthews, P.B. (1966a) Reflex activation of the soleus mus- tensor muscles during the tonic vibration reflex in man.
cle of the decerebrate cat by vibration. Nature 209, Journal of Physiology 444, 645-667.
204-205. Sandover, J. (1971) Study of Human Analogues, Part 1. A Sur-
Matthews, P.B. (1966b) The reflex excitation of the soleus vey of the Literature. Department of Ergonomics and
muscle of the decerebrate cat caused by vibration ap- Cybernetics, Loughborough University of Technology.
plied to its tendon. Journal of Physiology (London) 184, Silva, M.J., Carothers, A., Castelo Branco, N.A., Dias, A. &
450-472. Boavida, M.G. (1999) Sister chromatid exchange analy-
Matthews, P.B. (1967) The reflex response to muscle vibra- sis in workers exposed to noise and vibration. Aviation,
tion in the decerebrate cat. Journal of Physiology (Lon- Space, and Environmental Medicine 70(3 Part 2), A40-A45.
don) 192, 18P-19P. Thompson, C. & Raibert, M. (1989) Passive Dynamic Run-
Mester, J. (1999) Biological response to vibration load. In: ning. In: International Symposium of Experimental Robotics
International Society of Biomechanics XVllth Congress (eds (eds V. Hayward & O. Khatib), Springer, New York, pp.
W. Herzog & A. Jinha), Calgary, 1999. Book of Abs- 74-83.
tracts, p. 32. Tjandrawinata, R.R., Vincent, V.L. & Hughes-Fulford, M.
Mester, J., Spitzenpfeil, P., Schwarzer, J. & Seifriz, F. (1999) (1997) Vibrational force alters mRNA expression in
Biological reaction to vibration–implications for sport. osteoblasts. FASEB Journal 11, 493-497.
Journal of Science and Medicine in Sport 2, 211-226. Weber, R. (1997) Muskelstimulation durch Vibration. Leis-
Nazarov, V. & Spivak, G. (1985) Development of athlete’s tungssport 1, 53-56.
strength abilities by means of biomechanical stimulati- Yue, Z., Kleinoeder, H. & Mester, J. (2001) A model analy-
on method. Theory and Practice of Physical Culture 12, sis of the effects of wobbling mass on the whole-body
445-450. vibration. European Journal of Sport Science 1, no. 1.
Capítulo 25
Treinamento para o
levantamento de pesos
JOHN GARHAMMER E BOB TAKANO

Introdução ticulações do joelho e do quadril são, então, ligeira-


mente flexionadas e rapidamente estendidas em uma
Em 1972, dois levantamentos acima da cabeça ação de salto (elevação a partir das plantas dos pés)
foram introduzidos nas competições de levantamen- para impulsionar a barra para cima. O atleta desloca
to de peso, o arranque* e o arremesso desenvolvi- um pé para a frente e o outro para trás ou novamente
do.** O esporte é geralmente referido como levanta- flexiona de forma rápida as articulações dos joelhos
mento (estilo) olímpico, pois a competição ocorre nos e quadris para abaixar o corpo e segurar a barra aci-
Jogos Olímpicos. No arranque, a barra é levantada ma da cabeça com os braços estendidos. Os pés e as
em um movimento contínuo da plataforma de com- pernas são unidos para manter a barra sob controle
petição até acima da cabeça com os braços estendi- acima da cabeça até o sinal de “abaixar” dos árbitros
dos. O atleta em uma posição completamente aga- (Fig. 25.2). Os três movimentos anteriores são reali-
chada controla a barra acima da cabeça até o sinal de zados muito rapidamente, com a maior força aplica-
“abaixar” dos árbitros (Fig. 25.1). da à barra durante o levantamento em cerca de 0,8 s
A fase “de puxada” do arremesso desenvolvido é no arranque e na elevação da barra e de 0,2 no “des-
similar à do arranque, exceto pelo fato de a barra ser locamento potente da barra”.
primeiramente levantada até os ombros e, após, aci- Os programas de treinamento para os atletas que
ma da cabeça com uma pegada mais fechada. Quan- competem em levantamento olímpico baseiam-se
do o atleta finaliza a fase de levantamento da barra a principalmente em três princípios: especificidade,
partir da posição de agachamento deve “deslocar em sobrecarga e variabilidade. A especificidade implica o
um movimento potente” a barra acima da cabeça para uso de levantamentos de treinamento similares aos
completar a segunda fase do levantamento. O “des- levantamentos competitivos, realizados com baixo
locamento potente da barra” é realizado com a barra número de repetições e sobrecarga próxima à máxi-
inicialmente mantida firmemente nos ombros. As ar- ma. Isso porque, na competição, o objetivo é levantar
o maior peso possível em uma única execução, no
arranque e no arremesso. A sobrecarga refere-se ao
maior peso total e/ou maior peso levantado pelo atleta
*N.
nas sessões de treinamento. E a variabilidade refere-
de R.T. Relativo ao exercício “snatch”. No qual o atleta le-
vanta a barra com sobrecarga do solo (denominada fase “cle- se às alterações na composição do programa de trei-
an”) até acima da cabeça em um movimento único e potente. namento de modo a evitar problemas relacionados à
Constitui-se em um clássico exercício de potência muscular. má adaptação fisiológica e psicológica comumente
**N. de R.T. Relativo ao exercício “clean e jerk”. No qual o atleta
referida como “sobretreinamento”*** (Stone et al.,
desloca a barra da mesma forma que no “snatch” (também de-
nominada fase “clean”), porém deslocando-a até os ombros.
Posteriormente, desloca a barra em um movimento potente
(denominado “jerk”) até acima da cabeça, mantendo os coto-
velos estendidos. Outro clássico exercício de potência muscular. ***N. de R.T. Da expressão inglesa “overtraining”.
518 PAAVO V. KOMI

Figura 25.1 O levantamento arranque. (a) Posição inicial; (b) final da primeira puxada; (c) início da segunda puxada (posição de
potência) após a transição da primeira puxada (observe o “arqueamento” dos joelhos); (d) final da segunda puxada (fase de
impulso); (e) posição “catch”; (f) final do levantamento (cortesia de B. Klemens Photos).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 519

Figura 25.2 O levantamento arremesso — desenvolvido. (a) Início (“lift-off”); (b) metade da primeira puxada; (c) próximo ao
início da segunda puxada; (d) final da segunda puxada (fase de impulso); (e) posição “catch”; (f) postura em pé a partir da posição
“catch” (movimento de agachamento frontal) (continua na página seguinte).
520 PAAVO V. KOMI

Figura 25.2 (continuação) (g) início da posição para o


arremesso; (h) parte inferior da “baixada” antes do impulso
para cima; (i) final da fase de impulso do arremesso; (j) posição
“catch” dividida; (k) final do levantamento (cortesia de B.
Klemens Photos).
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 521

1990). Como a discussão a seguir enfatiza, o princí- estratégia por período prolongado de tempo (dias a
pio da variabilidade induz a algum delineamento do semanas). A razão para tanto resume-se no termo “so-
programa de treinamento que parece violar os prin- bretreinamento”. O sobretreinamento pode envolver
cípios de sobrecarga e especificidade. Antes de uma fatores psicológicos, como a perda de motivação, e/
apresentação mais detalhada dos métodos de treina- ou fisiológicos, relacionados à fadiga muscular ou le-
mento para o levantamento de peso, deve-se obser- são, assim como alterações neurais e hormonais
var que os detalhes do desenvolvimento do progra- (Nilsson, 1986; Kuipers e Keizer, 1988; Stone et al.,
ma de treinamento e satisfação podem variar 1990). Sale (1988) e Enoka (1988) discutem a impor-
consideravelmente de acordo com: (I) o nível de ha- tância das adaptações neurais para o incremento da
bilidade, os anos de treinamento e a experiência com- força, particularmente nos estágios iniciais de um pro-
petitiva de determinado atleta; (II) a disponibilidade grama de treinamento de força.
do atleta para treinar em período integral devido a Kraemer (1988, 2000) revisou as respostas endó-
responsabilidades profissionais e educacionais; (III) crinas ao treinamento de força e apontou para resul-
filosofia do treinador na supervisão do treinamento. tados de pesquisa conflitantes, provavelmente devi-
Muitos atletas norte-americanos de nível nacional não do a variáveis como volume de exercício (número total
podem treinar como profissionais e devem ajustar o de levantamentos realizados) e intensidade (peso
programa de treinamento às demais responsabilida- médio levantado de acordo com o máximo possível),
des. Exemplos de tais programas têm sido publica- intervalo de repouso e estado de treinamento dos
dos (Jones, 1993; Drechsler, 1998). O restante deste sujeitos. Como discutido a seguir, Häkkinen e cola-
capítulo relacionará primariamente os levantadores boradores realizaram considerável pesquisa referen-
de peso de elite que treinam há mais de três anos e te às respostas neurais e hormonais de levantadores
competem em nível nacional e internacional. Desde de peso de elite em programas típicos de treinamen-
a publicação inicial deste capítulo em 1992, conside- to. Em estudos de 1 a 2 anos de duração, Häkkinen e
rável informação adicional referente ao treinamento colaboradores (1987, 1988a) observaram que o in-
de atletas de levantamento de peso de elite, incluin- cremento do desempenho foi correlacionado com o
do atletas femininas, tem sido publicada na forma de aumento na força isométrica dos extensores do joe-
livros, artigos e entrevistas. De interesse particular são lho e na atividade eletromiográfica integrada (IEMG)
os artigos contidos nos anais do simpósio de levan- (nível de ativação neural), níveis séricos de testoste-
tamento de pesos realizado na Grécia em 1993 e 1997, rona e rácio dos hormônios anabólicos/catabólicos
e publicados pela International Weightlifting Fede- (A/C) (resposta endócrina). Os estudos de curta du-
ration (IWF). Alguns artigos desse simpósio serão ração (Häkkinen et al., 1988b, 1988c) demonstraram
referidos neste capítulo. que as respostas eram sensíveis às sessões agudas de
treinamento intenso, com declínio da atividade IEMG
e da força isométrica dos extensores do joelho. Hou-
ve aumento da concentração de testosterona na se-
Variabilidade como chave do gunda sessão de treinamento em um dia, mas de-
princípio de treinamento créscimo gradual após vários dias de treinamento
intenso. Um único dia de repouso foi suficiente para
Se a especificidade e a sobrecarga fossem domi- reverter essa tendência. Os resultados de tais pesqui-
nantes e/ou constituíssem princípios exclusivos do sas indicam a importância das adaptações neurais,
treinamento, o delineamento do programa de treina- mesmo em atletas experientes em força e potência, e
mento de um levantador de peso seria muito sim- que a fadiga neural (menor nível de atividade IEMG)
ples: (I) realizar levantamentos competitivos em bai- ocorre com o exercício intenso. Além disso, as res-
xas repetições com sobrecarga máxima; (II) adicionar postas endócrinas deveriam ser monitorizadas em
alguma “assistência” aos exercícios para enfatizar e atletas de elite de força e potência em períodos im-
melhorar as qualidades físicas associadas à adequada portantes de treinamento para ajustar a intensidade
execução dos levantamentos competitivos, tais como de treinamento a níveis ótimos, ou seja, sem causar
velocidade, força e flexibilidade. No entanto, a expe- decréscimo nos níveis séricos de testosterona e no
riência prática demonstra que é impossível seguir tal rácio A/C, que provavelmente se relaciona ao menor
522 PAAVO V. KOMI

nível de adaptabilidade e à possibilidade de sobre- menor intensidade (70 a 85%), enquanto o que ne-
treinamento. Um artigo adicional sugere que essas cessita melhorar a força deveria enfatizar maior in-
conclusões são aplicáveis para atletas masculinos e tensidade ( > 85%). Para determinado peso, as mes-
femininos (Häkkinen et al., 1990). Então, a variabili- mas tendências dos parâmetros recém-mencionados
dade em programas de treinamento bem delineados têm sido notadas nas últimas repetições em uma se-
para levantadores de peso pode reduzir a possibilida- qüência de múltiplas repetições (série) (Häkkinen,
de de sobretreinamento enquanto mantém um pro- 1988). Numerosos registros publicados comparam as
gresso razoável, se não ótimo, do atleta. Isso é possí- propriedades biomecânicas de vários exercícios de as-
vel por meio de oscilações periódicas na sobrecarga, o sistência aos levantamentos de competição; por exem-
que significa sobrecarga planejada ou sessões e sema- plo, exercícios relacionados ao arranque (Häkkinen,
nas de treinamento “sem sobrecarga”, assim como dias 1988; Häkkinen e Kauhanen, 1986; Frolov et al.,
de repouso estrategicamente adotados. 1977); exercícios relacionados à primeira fase do ar-
remesso desenvolvido (fase “clean”) (Häkkinen e
Kauhanen, 1986; Medvedjev et al., 1981); exercícios
Variabilidade versus relacionados ao arremesso desenvolvido (Medvedjev
especificidade biomecânica et al., 1982). Os exercícios de assistência mais co-
muns relacionados ao arranque são: (I) arranque po-
Inúmeros exercícios de levantamento, além dos tente — muito similar ao arranque competitivo, mas
levantamentos competitivos, são regularmente em- com ligeira flexão de joelho e quadril, ao contrario
pregados no programa de treinamento de levantado- da profunda posição de agachamento, durante a ma-
res de peso (para ampla discussão, ver Vorobyev, nutenção da barra sobre a cabeça; (II) arranque pu-
1978). Isso permite não apenas enfatizar o desenvol- xado — similar ao arranque competitivo, mas a barra
vimento de várias qualidades físicas necessárias para é apenas empurrada à altura da área abdome-tórax e
executar os levantamentos de competição de manei- nenhuma tentativa é feita para manter o peso acima
ra ótima, como força, velocidade e flexibilidade, mas da cabeça; (III) arranque ou arranque puxado com a
também uma variação biomecânica que pode auxili- barra suspensa — a posição inicial da barra não é no
ar a evitar sintomas de sobretreinamento pela mo- solo, mas logo acima dos joelhos; (IV) arranque ou
notonia do padrão de movimento. O treinador, por arranque puxado a partir de blocos — a barra é ini-
sua vez, precisa estar ciente de que as propriedades cialmente posicionada acima do solo e em blocos,
de movimento de determinado exercício de “assis- geralmente na altura do joelho. É difícil tecer consi-
tência” diferem daquelas dos levantamentos de com- derações gerais a respeito dos resultados de compa-
petição. Ou seja, como o padrão de força aplicado, a rações biomecânicas entre esses exercícios de assis-
velocidade de movimento e o perfil de trajetória da tência e os levantamentos de competição devido à
barra, a amplitude de movimento das articulações cor- dependência de parâmetros mensurados sobre o peso
porais envolvidas e a potência mecânica do exercício da barra em determinado exercício. Alguns casos es-
relacionam-se às qualidades físicas necessárias de- pecíficos podem ser considerados. A sobrecarga má-
senvolvidas pelo exercício? Além disso, como esses xima no arranque potente para determinado atleta
fatores alteram-se quando o peso da barra muda? representa cerca de 80% da máxima alcançada no
Em artigo de revisão, Garhammer (1989) aponta que arranque durante a competição. Com essa sobrecar-
vários cientistas do esporte publicaram dados indi- ga, a barra será empurrada mais alto, alcançará maior
cando que o aumento do peso da barra provoca um velocidade vertical máxima, resultará maior força de
decréscimo da altura em que a barra é levantada, da propulsão vertical aplicada, demonstrará pouca dife-
velocidade máxima vertical da barra, bem como da rença na atividade IEMG dos músculos extensores
força vertical de pico aplicada e/ou da produção de do joelho, incluirá maior velocidade angular pico dos
potência (Häkkinen et al., 1984; Garhammer, 1985; joelhos, assim como maior amplitude de movimento
Garhammer e Gregor, 1979; Garhammer e Gregor, nos joelhos. O resultado é a obtenção de maior po-
1992). Então, o atleta que precisa ser mais rápido tência mecânica do que no arranque em competição.
deveria enfatizar a realização de levantamentos de O arranque potente é, portanto, um exercício de as-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 523

sistência útil para o atleta que necessita melhorar a tantes relacionadas ao sucesso no arremesso desen-
velocidade de movimento e a potência (velocidade volvido. O arremesso e o arremesso atrás do pescoço
por força). foram determinados como os mais eficazes para a téc-
Por sua vez, o arranque puxado com a barra no nica perfeita do arremesso desenvolvido. Já o meio
solo pode ser realizado com sobrecarga de 5 a 10% arremesso e os saltos em profundidade constituíram-
acima da máxima correspondente a um arranque de se nos mais eficientes para o desenvolvimento da força
competição. Sendo a sobrecarga igual ou maior que potente. Foi também recomendado que não mais do
a máxima, a barra será empurrada em uma altura que 5 a 7 arremessos sejam realizados por sessão de
menor, alcançando menor velocidade máxima verti- treinamento com 90% ou mais do arremesso máxi-
cal, que resultará em menor força de propulsão ver- mo (quanto maior a classificação do levantador, me-
tical pico aplicada, provocará atividade IEMG pouco nor o número de arremessos vigorosos).
diferente dos músculos extensores do joelho, além
de menor potência mecânica do que o arranque com-
petitivo. O arranque puxado serve, portanto, para o Conceitos gerais no plano do
atleta que necessita melhorar a força no padrão de treinamento para levantadores de
movimento do arranque. As características biomecâ- peso
nicas dos exercícios de assistência do arranque sus-
penso ou a partir de blocos dependem da posição A discussão anterior apresentou uma informa-
inicial exata da barra, tal como acima ou abaixo do ção útil para o treinador de levantamento de pesos
nível do joelho, assim como da sobrecarga. Em geral, diante de decisões específicas referentes ao conteú-
se a posição inicial é acima do nível do joelho, o exer- do do plano de treinamento. Alguns conceitos gerais
cício enfatiza a força potente na fase final do arran- em teoria do treinamento precisam ser explicados
que puxado (acima ou no topo da puxada). Se a posi- antes da apresentação de exemplos detalhados dos
ção inicial é mais próxima do solo, as características programas atuais de treinamento para levantadores
biomecânicas são mais similares ao arranque puxa- de peso.
do do chão. Essencialmente, considerações idênticas Matveyev (1972) apresentou as idéias básicas do
àquelas do exercício de assistência do arranque po- programa de treinamento periodizado. O programa é
dem ser feitas em relação aos exercícios de assistên- periodizado ao ser dividido em fases, sendo que cada
cia que enfatizam a fase “clean”, ou seja, o “clean” po- uma possui objetivos primários e secundários. Em
tente, o “clean” puxado e o “clean” ou o “clean” puxado seu modelo original, Matveyev sugeriu que a fase ini-
suspenso ou a partir de caixas/blocos. cial de um programa de força-potência (fase de pre-
Os exercícios primários de assistência para me- paração) deveria conter alto volume (muitas repeti-
lhorar o arremesso desenvolvido são: (I) arremesso ções) e baixa intensidade (baixa sobrecarga média
— barra retirada do suporte em posição mais eleva- levantada de acordo com o máximo possível em cada
da; (II) arremesso atrás do pescoço (retirado do su- movimento). O volume diminui e a intensidade au-
porte); (III) puxada ou arremesso potente — o halter menta de acordo com a progressão do treinamento.
é impulsionado como no arremesso desenvolvido em A maior intensidade e o menor volume resultantes
competição, mas seguro acima da cabeça com ape- representam características da fase competitiva de
nas uma pequena flexão do joelho e do quadril; (IV) treinamento, que alcança até a competição.
meio arremesso desenvolvido — impulsionado para As típicas fases de alto volume (preparatória) para
cima como na competição, mas apenas até aproxi- os levantadores de peso devem conter mais sessões
madamente a altura da cabeça; então, retorna aos de treinamento por semana (6 a 15), maior número
ombros do atleta. O trabalho de Medvedjev e cola- de exercícios por sessão de treinamento (3 a 6), de
boradores (1982) indica que a geração de força máxi- séries por exercício (4 a 8), assim como de repetições
ma contra o solo, o intervalo de tempo para alcançar por série (4 a 6). As típicas fases de alta intensidade
a força máxima, assim como o intervalo de tempo de (competição) para levantadores de peso contêm pou-
bloqueio ou interrupção da fase descendente inicial cas sessões de treinamento (5 a 12), poucos exercí-
do movimento representam as variáveis mais impor- cios por sessão de treino (1 a 4), séries por exercício
524 PAAVO V. KOMI

(3 a 5), assim como repetições por série (1 a 3). A zes os levantamentos da semana de menor volume.
duração de cada fase pode ser de várias semanas até Cada semana dispõe de seu volume dividido em um
meses. Dois ou mais ciclos completos (preparatório número apropriado de sessões de treinamento, de
+ competição) podem ajustar-se em um ano de trei- modo que nenhuma sessão tenha número de levan-
namento. Stone e colaboradores (1981) propuseram tamentos desproporcionalmente grande ou peque-
e, de maneira bem-sucedida, testaram um modelo pe- no. Hoje é comum a existência de múltiplas sessões
riodizado de treinamento de força e potência com diárias de treinamento entre levantadores de elite. Um
fases seqüenciais que mudam drasticamente; por atleta de levantamento de peso pode treinar 5 a 6
exemplo, a fase para aumentar o tamanho muscular dias por semana, sendo comum 1 a 3 sessões por dia.
(5 séries de 10 repetições no agachamento e exercí- Cada sessão deve ser distribuída de acordo com exer-
cios de puxada), a fase para melhorar a força básica cícios específicos de levantamento com base nas for-
(3 a 5 séries de 5 repetições), a fase para melhorar a ças e fraquezas específicas do atleta. Essa abordagem
força potente (3 a 5 séries de 3 repetições) e a fase de ao desenvolvimento do programa de treinamento
“pico” para a competição (1 a 3 séries de 1 a 3 repeti- fornece extensa variação, que permite estimular o pro-
ções). O uso de 10 repetições por série é maior do gresso enquanto se minimiza as chances de sobre-
que o normalmente recomendado na fase inicial de treinamento. Vorobyev (1978) discute detalhes refe-
preparação, mas tem provado ser bem-sucedido em rentes ao desenvolvimento do plano de treinamento.
inúmeros estudos (Stone et al., 1982). A Figura 25.3 ilustra uma possível divisão de re-
Em geral, o programa de treinamento para o le- petições para os primeiros seis meses (26 semanas)
vantador de peso é planejado em termos de ano de de um programa anual de treinamento de acordo com
treinamento. São feitas modificações enquanto o ano o volume anual de 20.000 repetições. Essas 26 sema-
de treinamento progride, de acordo com as necessi- nas contêm dois macrociclos completos (semanas 1
dades específicas observadas em cada atleta. O plano a 14 e 15 a 26), cada um constituído de uma fase
começa com o julgamento de quantos levantamen- preparatória (mesociclos das semanas 10 e 8) e uma
tos totais (contando todos os principais exercícios) competitiva (a cada quatro semanas de mesociclo).
deveriam ser realizados durante o ano. Como exem- Pode-se observar que, em ambos os macrociclos, a
plo, 20.000 é um número razoável para um atleta de fase preparatória inclui um volume muito maior do
elite. Esse “volume” total anual é, então, igualmente que a fase competitiva seguinte. Além disso, o segun-
dividido em 12 meses de treinamento de quatro se- do macrociclo contém menor número total de repe-
manas cada, sendo que em alguns o volume será mais tições do que o primeiro. As competições ocorrem
do que duplicado. Assim, cada mês de treinamento ao final das semanas 14 e 26. O segundo período de
terá seu volume dividido de forma desigual em qua- seis meses desse treinamento anual segue padrão si-
tro volumes semanais. A semana de maior volume milar, mas com um menor número total de repeti-
em determinado mês pode ter mais do que duas ve- ções (9.500 versus 10.500). Esse tipo de variação de

Figura 25.3 Volume semanal de


treinamento em repetições para as
primeiras 26 semanas de um ano de
treinamento de 52 semanas para um
atleta de levantamento de peso de elite.
O volume total demonstrado é de
10.500 repetições.
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 525

volume semanal de treinamento (microciclo) é típico comando rigoroso de Abadjiev. Vários países peque-
para atletas de levantamento de peso. A seção seguinte nos que recentemente têm se destacado em levanta-
descreve exemplos de semanas de treinamento nas mento de peso em nível mundial, tais como a Grécia,
fases preparatória e competitiva representativas de a Turquia e o Irã, seguem conceitos de treinamento
duas diferentes filosofias de programa nacional. similares aos do sistema búlgaro.
Os dois programas mencionados diferem filoso-
ficamente na longevidade esperada das carreiras de
Métodos de treinamento seus atletas de elite. Os búlgaros esperam que o atle-
ta amadureça rapidamente, produza ótimos resulta-
Muitos dos programas de treinamento de levan- dos em uma única Olimpíada e, então, com toda a
tadores de peso de nível mundial representam varia- probabilidade, seja substituído antes dos próximos
ções de modelos estabelecidos pelas federações de Jogos. Desse modo, são raros os medalhistas em duas
levantamento de peso da Bulgária e da antiga União Olimpíadas. Os soviéticos, no entanto, esperavam uma
Soviética, dois programas de excelência no esporte carreira mais longa.
por grande parte das três décadas do biatlo. Recente- Ambos os programas foram desenvolvidos para
mente, ambas as nações têm permitido a treinadores, treinar atletas talentosos sem nenhuma limitação sé-
assim como a atletas estrangeiros, participarem de ria na mobilidade articular. A técnica aprendida pelo
seus programas de treinamento, tornando essa infor- atleta no primeiro ano de treinamento não é signifi-
mação disponível aos pesquisadores de esporte. Es- cativamente alterada, exceto quando se considera o
ses dois programas e suas filosofias foram extrema- aumento no peso corporal. A grande bateria de exer-
mente afetados por fatores geopolíticos. cícios empregada no ano inicial de desenvolvimento
A antiga União Soviética beneficiou-se da diver- do treinamento minimizaria qualquer tipo de dese-
sidade de tipos humanos que habitavam seu vasto quilíbrio no desenvolvimento da anatomia musculo-
complexo geopolítico. A distância geográfica entre os esquelética. Os atletas envolvidos nesses programas
centros de treinamento criou problemas que inibi- de treinamento devem ser aptos o suficiente para to-
ram a monitorização precisa do treinamento, além lerar o estresse gerado. O retorno do indivíduo, após
de permitir maior nível de variação das filosofias na- a reabilitação de lesão ou qualquer outra interrup-
cionais estabelecidas. Isso também inibiu a freqüên- ção do treinamento, deveria incluir um programa mais
cia de treinamento coletivo por membros de equipes diversificado e menos intenso antes de ele realizar o
nacionais. Na última década da União Soviética, hou- treinamento como no período anterior à lesão.
ve descontinuidade no desenvolvimento de metodo- O valor k representa um parâmetro derivado para
logia padronizada de treinamento quando a posição monitorizar a intensidade dos programas de treina-
de treinador nacional, condição cuja ênfase era ad- mento. O valor k pode ser definido como a sobrecar-
ministrativa, foi preenchida por quatro diferentes trei- ga média executada por repetição em um ciclo com-
nadores. Com a fragmentação do país em 15 diferen- pleto de treinamento dividido pelos dois levanta-
tes repúblicas, cada uma com diferentes problemas mentos totais realizados ao final da fase competitiva.
econômicos e de fundos, muitos treinadores conti- Os resultados empíricos indicam que a variação óti-
nuaram a formar levantadores de peso pelos méto- ma de sobrecarga média executada por repetição ocor-
dos que correspondiam minuciosamente ao antigo re entre 38 e 42% do total competitivo (Takano, 1990).
programa soviético. A restauração representa uma necessidade de o
O programa búlgaro envolve menor número de atleta treinar nesses tipos de regimes. Hidromassagem,
atletas cuidadosamente selecionados, ocupando uma banho de vapor, sauna ou massagem devem ser em-
área geográfica muito menor do que a da União So- pregados rotativamente várias vezes na semana. Tam-
viética. O período de serviço de cerca de 30 anos do bém há necessidade de suplementos nutricionais.
treinador nacional Ivan Abadjiev possibilitou grande
continuidade com pouca oportunidade para varia- Treinamento búlgaro
ção. O tamanho relativamente pequeno do país per-
mite às equipes nacionais júnior e sênior treinarem A abordagem do treinamento búlgaro é singular
coletivamente durante grande parte do tempo sob o pois não trabalha com porcentagens do máximo ou
526 PAAVO V. KOMI

levantamento máximo esperado, procedimento co- 5 kg abaixo do máximo entre as seis tentativas máxi-
mum no treinamento de levantamento de pesos por mas. O levantamento é finalizado ao limite de 45 mi-
no mínimo quatro décadas. A bateria básica limita- nutos. O atleta, então, pode descansar enquanto es-
se a seis exercícios (arranque, arremesso desenvolvi- cuta música por 30 minutos. A segunda sessão de
do, arranque potente, arremesso desenvolvido poten- complexo envolve a execução do arremesso desen-
te, agachamento frontal e agachamento dorsal). As volvido no mesmo padrão de progressão. Menos tem-
sessões de treinamento são limitadas a períodos de po é necessário devido à exigência de menor tempo
45 minutos. Esse limite de tempo assegura que os para o aquecimento. Os agachamentos frontais com
atletas estão treinando somente durante o período vários levantamentos máximos seguem o arremesso
em que o corpo pode preservar elevada concentra- desenvolvido. O treinamento é encerrado aos 45 mi-
ção sangüínea de testosterona (Abadjiev, 1989). Duas nutos. O mesmo padrão de progressão é empregado
sessões de 45 minutos são combinadas com um pe- para o arranque potente, para o arremesso desenvol-
ríodo de repouso de 30 minutos, nos quais os níveis vido potente, assim como para o agachamento dor-
de testosterona podem ser restaurados. sal nos complexos das manhãs de quarta-feira e de
Para começar uma seqüência de arranque (Tab. sábado (Tab. 25.1).
25.1), os atletas aquecem com arranques simples com Aparentemente, parece que as variações são li-
sobrecarga próxima da máxima esperada para aquele mitadas, mas as seguintes variantes estão disponíveis
dia. Caso o primeiro levantamento seja bem-sucedi- no discernimento do treinador: (I) número de levan-
do, mais sobrecarga é adicionada. Esse procedimen- tamentos máximos por sessão, dia e semana; (II) nú-
to é repetido em seis tentativas. Como alternativa, o mero de complexos por dia. Além disso, o peso má-
atleta pode realizar levantamentos com 15, 10 ou ximo para cada dia varia de acordo com a condição
do atleta. Essas sobrecargas servem como indicado-
res para o planejamento do futuro treinamento por
meio da supervisão do treinador. Esse sistema requer
Tabela 25.1 Preparação semanal búlgara supervisão minuciosa. Conseqüentemente, a relação
Segunda de atletas por treinador deve ser pequena. Três trei-
Manhã nadores dividem-se para uma equipe de 20 atletas
Sessão 1 Arranque – 6 esforços máximos experientes, com o auxílio periódico de treinadores
Repouso de 30 minutos
Sessão 2 Arremesso desenvolvido – 6 esforços máximos pessoais. Esses treinadores devem ser capazes de iden-
Agachamento frontal – 1 a 6 esforços máximos tificar as características de cada fase e realizar ajustes
Tarde apropriados do treinamento.
Repetir seqüência da manhã Na fase competitiva, os mesmos exercícios são
Noite empregados no mesmo dia, da mesma forma que na
Repetir seqüência da manhã
fase preparatória. O número de vezes que os com-
Terça plexos podem ser realizados é reduzido para uma ou
Repetir a programação de segunda
duas vezes por dia na segunda, terça, quinta e sexta-
Quarta
Sessão 1 Arranque potente – 6 esforços máximos feira. O número de vezes em que a sobrecarga é re-
Repouso de 30 minutos duzida e aumentada também pode variar durante as
Sessão 2 Arremesso desenvolvido potente – 6 esforços sessões nessa fase.
máximos
Agachamento dorsal – 1 a 6 esforços máximos
Quinta
Treinamento soviético
Repetir treinamento de segunda
Devido aos fatores geopolíticos anteriormente
Sexta
Repetir treinamento de segunda mencionados, o sistema soviético pode ser mais di-
Sábado
versificado do que parece. Os treinadores de elite am-
Repetir treinamento de quarta plamente difundidos tenderam a desenvolver e
Domingo enfatizar o sucesso de seus próprios métodos de trei-
Manhã namento, embora em limites muito próximos.
Sessão 1 Treinamento estruturado de forma menos formal
Essa situação pode induzir maior variação no de-
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 527

Tabela 25.2 Referência máxima para determinar a sobrecarga para cada exercício
Exercício Referência de levantamento para 100% da sobrecarga

Arranque, arranque puxado, arranque potente, arranque “peso morto” Arranque


Arremesso desenvolvido, arremesso puxado, arremesso potente, Arremesso desenvolvido
arremesso “peso morto”, agachamento frontal
Pressão de ombros Pressão de ombros
Flexão do tronco com sobrecarga** *
Agachamento dorsal No mínino 125% do arremesso desenvolvido
*O estilo de desempenho determinará a sobrecarga máxima.
**N. de R.T. Relativo ao exercício “good morning”, no qual uma barra com sobrecarga é colocada atrás do pescoço e posteriormente deslocada em direção ao solo por

meio da flexão das articulações do quadril e da coluna. Os joelhos são mantidos totalmente estendidos durante o movimento.

senvolvimento do programa de treinamento, espe- rior. Outros sistemas utilizam sobrecargas seleciona-
cialmente quando se considera a ausência de forte das para a temporada que se inicia como 100%. Existe
liderança prolongada, como na Bulgária do ex-trei- alguma concordância de que a sobrecarga máxima é
nador Ivan Abadjiev. circunstancial. Os romanos, que somente utilizavam
O sistema soviético utiliza grande variedade de intensidades ≥ 80%, consideravam que a sobrecarga
exercícios e poucas sessões de treinamento por dia e máxima deveria ser determinada de acordo com as
na semana. Todos os movimentos delineados como condições atuais de treinamento (Ajan et al., 1988),
“suspensos” podem ser realizados de três diferentes embora não tenham fornecido método definitivo para
alturas acima do solo. A questão referente à porcen- a sua determinação. Os gregos utilizavam a maior
tagem é discutida na próxima seção. sobrecarga levantada na sessão anterior para repre-
O sistema soviético também utilizava atividades sentar a sobrecarga máxima da sessão atual (Iliou,
diversificadas não caracterizadas por levantamento, 1993). Os nigerianos trabalham até 100% do máxi-
coletivamente denominadas como repouso ativo. O mo a cada manhã antes das sessões formalizadas de
repouso ativo normalmente envolve calistenia, cor- treinamento iniciarem (Ganev, 2000). Essa aborda-
rida e salto, natação, jogos competitivos, assim como gem impõe grande responsabilidade ao treinador, que
atividades similares que encorajam o desenvolvimento tem de selecionar um meio apropriado para a deter-
da competitividade, da capacidade anaeróbia, da mo- minação da sobrecarga máxima; provavelmente ela é
tivação da qualidade e o aumento da circulação local. ajustada no decorrer do treinamento.
A orientação para o desenvolvimento dos pro-
gramas de treinamento (Tabs. 25.3 e 25.4) é
(70%/3)3, em que o numerador representa a porcen- O treinamento das mulheres
tagem do máximo, o denominador é o número de
repetições por série, e o número logo após o parên- O levantamento de peso feminino, oficialmente
tese representa as séries, enquanto a ausência de pa- iniciado em 1987, no primeiro campeonato mundial
rênteses indica uma única série. feminino, está rapidamente passando por estágios de
desenvolvimento. Hoje, representa um esporte olím-
pico e foi disputado em sete categorias pela primeira
vez nos Jogos Olímpicos de Sydney. O treinamento
das levantadoras aparentemente varia pouco em re-
A determinação da sobrecarga lação ao treinamento masculino, devido às intensi-
máxima (100%) dades em geral serem baseadas no máximo individu-
al. Os níveis sangüíneos de testosterona e a capacidade
A sobrecarga máxima (100%) deve ser identifi- de a mulher mantê-los quando a sobrecarga de trei-
cada para determinar as intensidades de esforço. Em namento diminui antes da competição parecem re-
várias situações, os sistemas utilizam a sobrecarga presentar os principais fatores fisiológicos no deli-
máxima alcançada ao final do ano competitivo ante- neamento do treinamento.
528 PAAVO V. KOMI

Tabela 25.3 Preparação semanal soviética Tabela 25.4 Semana competitiva soviética

Dia 1 Dia 1
Manhã Manhã
1 Pressão de ombros: (60%/3)2, (70%/3)2 1 Arranque: (70%/3)3, (80%/2)2, (90%/1)2
2 Arranque: (60%/3)2, (70%/3)3, (80%/2)2 2 Arremesso desenvolvido: (70%/2 + 1)3, (80%/2 + 1)2,
3 Agachamento frontal: (60%/4)2, (70%/4)23, (80%/4)2 (90%/1 + 2)2, (100%/1 + 1)2
Tarde 3 Arremesso: 70%/2, 80%/2, 90%/2, 100%/2
4 Arremesso desenvolvido em suspensão: (60%/3 + 13), (70%/3 Tarde
+ 1)2, (80%/3 + 1)3 4 Agachamento frontal: (70%/3)3, (80%/3)2, (90%/3)2
5 Arranque potente: 70%/4, (80%/4)2, (85%/4)2 5 Arranque puxado: 60%/3, 70%/3, 80%/3, 90%/2
6 Flexão do tronco com sobrecarga: (X/8)4 6 Flexão do tronco com sobrecarga: (X/8)4

Dia 2 Dia 2
Manhã 1 Arranque potente: (60%/3)2, (70%/3)2, (80%/2)2
1 Arranque potente: (65%/3)3, (75%/3)2, (80%/2)2 2 Puxada potente: (60%/3)2, (70%/3)2, (80%/2)2
2 Arremesso desenvolvido potente: (60%/3 + 1)2, (70%/3 + 1)2, 3 Arranque puxado: (80%/3)3, 90%/3, (100%/2)2
(80%/2 + 1)3 4 Agachamento dorsal: 70%/3, (80%/3)2, 90%/3
3 Arremesso: (70%/3)2, (80%/2)2 5 Pressão de ombros: 60%/3, (70%/3)2
4 Arranque excêntrico “peso morto”: (80%/3)6-20 s descendente
5 Arremesso excêntrico “peso morto”: (90%/3)6-20 s descendente Dia 3
Repouso ativo
Dia 3
Repouso ativo Dia 4
Manhã
Dia 4 1 Arranque: (70%/2)2, (80%/2)2, 90%/1
Manhã 2 Arremesso desenvolvido: (70%/2 + 1)3, (80%/2 + 1)3, (90%/1
1 Pressão de ombros: 60%/4, 70%/4, (80%/3)2 + 1)2
2 Arremesso desenvolvido: (60%/3 + 1)2, (70%/3 + 1)2, 3 Arremesso: 70%/3, 80%/2, (90%/1)2
(80%/3 + 1)2 Tarde
3 Agachamento dorsal: (60%/5)2, (70%/5)2, (80%/5)2 4 Agachamento dorsal: 70%/3, (80%/2)2, (90%/2)3
Tarde 5 Arranque puxado: 60%/4, (70%/3)2, (80%/3)2
4 Arranque em suspensão: (60%/3)2, (70%/3)2, (75%/2)3 6 Flexão do tronco com sobrecarga: (X/8)4
5 Arranque puxado: (70%/4)2, 80%/4, (90%/4)2
6 Flexão do tronco com sobrecarga: (X/8)4 Dia 5
1 Arranque em suspensão: 60%/3, (70%/2)2, (80%/2)2, (90%/
Dia 5 1)2
Manhã 2 Arremesso desenvolvido: 60%/3 + 1, (70%/2 + 1)2, (80%/2 +
1 Arranque: (60%/3)3, (70%/3)2, (80%/2)2 1)2
2 Arremesso desenvolvido em suspensão: (60%/3 + 1)3, 3 Arranque puxado: 70%/3, (80%/3)2, (90%/3)2
(70%/3 + 1)2, (80%/2 + 1)2 4 Agachamento dorsal: (70%/3)2, (80%/3)2, (90%/3)2
3 Arranque puxado: (70%/4)2, (80%/4)2, (90%/3)2 5 Pressão de ombros: (70%/3)2
4 Agachamento frontal: (70%/5)2, (80%/4)2, (90%/3)2
Total de repetições: 324
Dia 6
Manhã X: ver nota da Tabela 25.3.
1 Arremesso desenvolvido potente: (60%/3 + 1)2, (70%/3 + 1)2,
(80%/2 + 1)2
2 Arremesso: 70%/3, (80%/3)2, (90%/2)2
3 Agachamento dorsal: (70%/5)2, (80%/5)2, (90%/3)2
Tarde A China é uma nação hegemônica nesse esporte.
4 Arranque em suspensão: (60%/3)3, (70%/3)2, (80%/2)2 As chinesas conquistaram os títulos por equipes de
5 Arranque puxado: (60%/4)2, (70%/4)2, 80%/3
6 Arranque lento “peso morto”: (80%/3)6-10 s todos os campeonatos mundiais femininos. Estão
surgindo algumas informações referentes aos efeitos
Dia 7 do ciclo menstrual no treinamento. Algumas atletas
Repouso completo
femininas treinaram de maneira mais eficiente nos
Total de repetições: 582 períodos de pós-ovulação e pós-menstrual, enquan-
to outras pareceram experimentar pouca variação. Em
X: sobrecarga interindivíduos extremamente variável com variada relação
para qualquer um dos dois levantamentos competitivos (ver também Tabela
1993, os chineses consideravam que a menstruação
25.2). exercia alguma influência no treinamento (Cao, 1993),
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 529

mas recentemente parece não existir evidência de Häkkinen, K. (1988) A biomechanical analysis of various
qualquer variação no programa de treinamento (Ma, combinations of the snatch pull exercises. Journal of
2000). Human Movement Studies 15, 229-243.
Häkkinen, K. & Kauhanen, H. (1986) A biomechanical
A utilização de um maior número de séries em
analysis of selected assistance exercises of weightlifting.
maior intensidade para as mulheres, quando compa- Journal of Human Movement Studies 12, 271-288.
radas aos homens (10 versus 6), e os longos ciclos de Häkkinen, K., Kauhanen, H. & Komi, P.V. (1984) Biome-
treinamento entre as semanas sem sobrecarga (3 se- chanical changes in the Olympic weightlifting techni-
manas para mulheres e 2 para homens) representam que of the snatch and clean & jerk from submaximal to
duas variações empregadas no treinamento das atle- maximal loads. Scandinavian Journal of Sports Sciences 6(2),
tas chinesas (Cao, 1993; Ma, 2000). Há também al- 57-66.
guma variação entre homens e mulheres nas freqüên- Häkkinen, K., Pakarinen, A., Alen, M., Kauhanen, H. &
cias com que os movimentos específicos são Komi, P.V. (1987) Relationships between training volu-
me, physical performance capacity, and serum hormo-
realizados durante o treinamento, embora isso tam-
ne concentrations during prolonged training in elite
bém pudesse ser atribuído mais às diferenças indivi- weight lifters. International Journal of Sports Medicine 8
duais do que ao gênero. (Suppl.), 61-65.
Häkkinen, K., Pakarinen, A., Alen, M., Kauhanen, H. &
Komi, P.V. (1988a) Neuromuscular and hormonal adap-
Referências tations in athletes to strength training in two years. Jour-
nal of Applied Physiology 65(6), 2406-2412.
Abadjiev, I. (1989) The Bulgarian Training System (lecture). Häkkinen, K., Pakarinen, A., Alen, M., Kauhanen, H. &
National Strength and Conditioning Association study Komi, P.V. (1988b) Daily hormonal and neuromus-
tour, Sophia, Bulgaria. cular responses to intensive strength training in 1
Ajan, T. & Baroga, L. (1988) Weightlifting Fitness For All Sports. week. International Journal of Sports Medicine 9(6), 422-
International Weightlifting Federation, Budapest. 428.
Cao, W. (1993) Training differences between males and fe- Häkkinen, K., Pakarinen, A., Alen, M., Kauhanen, H. &
males. In: Proceedings of the Weightlifting Symposium, Olym- Komi, P.V. (1988c) Neuromuscular and hormonal res-
pia, Greece, pp. 97-101. International Weightlifting Fe- ponses in elite athletes to two successive strength trai-
deration, Budapest. ning sessions in one day. European Journal of Applied Phy-
Drechsler, A. (1998) The Weightlifting Encyclopedia. A Is A siology 57, 133-139.
Communications, Whitestone, NY. Häkkinen, K., Pakarinen, A., Kyrolainen, H., Cheng, S., Kim,
Enoka, R.M. (1988) Muscle strength and its development. D.H. & Komi, P.V. (1990) Neuromuscular adaptations
Sports Medicine 6, 146-168. and serum hormones in females during prolonged po-
Frolov, V., Efimov, N. & Vanagas, M. (1977) Training wer training. International Journal of Sports Medicine 11(2),
weights for snatch pulls. Tyazhelaya Atletika, 65-67. In: 91-98.
Soviet Sports Review 18(2), 58-61, 1983. Ilion, G. (1993) Annual competition program for juniors.
Ganev, I. (2000) Weightlifting in Nigeria (lecture). U.S. Wei- In: Proceedings of the Weightlifting Symposium, Olympia,
ghtlifting International Coaching Symposium, Colora- Greece, pp. 51-62. International Weightlifting Federa-
do Springs, USA. tion, Budapest.
Garhammer, J. (1985) Biomechanical analysis of weightlif- Jones, L. (1993) Training programs for the athletes unable
ting at the 1984 Olympic Games. International Journal of to train full time. In: Proceedings of the Weightlifting Sym-
Sport Biomechanics 1(2), 122-130. posium, Olympia, Greece, pp. 77-88. International
Garhammer, J. (1989) Weight lifting and training. In: Bio- Weightlifting Federation, Budapest.
mechanics of Sport (ed. C. L. Vaughan), pp. 169-211. CRC Kraemer, W.J. (1988) Endocrine responses to resistance
Publishers, Boca Raton, FL. exercise. Medicine and Science in Sports and Exercise 20(5)
Garhammer, J. & Gregor, R. (1979) Force plate evaluations (Suppl.), S152-S157.
of weightlifting and vertical jumping. Medicine and Kraemer, W.J. (2000) Endocrine responses to resistance
Science in Sports and Exercise 11(1), 106 (abstract). exercise. In: Essentials of Strength Training and Conditio-
Garhammer, J. & Gregor, R. (1992) Propulsive forces as a ning (T. R. Baechle & R. W. Earle), pp. 91-114. Human
function of intensity for weightlifting and vertical jum- Kinetics, Champaign, IL.
ping. Journal of Applied Sports Science Research 6(3), Kuipers, H. & Keizer, H.A. (1988) Overtraining in elite ath-
129-134. letes. Sports Medicine 6, 79-92.
530 PAAVO V. KOMI

Ma, J. (2000) Weightlifting in China (lecture). U.S. Weightlif- Sale, D.G. (1988) Neural adaptation to resistance training.
ting International Coaching Symposium, Colorado Medicine and Science in Sports and Exercise 20(5) (Suppl.),
Springs, USA. S135-S145.
Matveyev, L.P. (1972) Periodisienang das Sportlichen Training Stone, M., O’Bryant, H. & Garhammer, J. (1981) A hypo-
(translated into German by P. Tschiene with a chapter thetical model for strength training. Journal of Sports
by A. Kruger). Beles and Wernitz, Berlin. Medicine and Physical Fitness 21(4), 342-351.
Medvedjev, A., Frolov, V., Lukashev, A. & Krasov, E. (1981) Stone, M., O’Bryant, H., Garhammer, J., McMillan, J. &
A comparative analysis of the clean and clean pull te- Rozenek, R. (1982) A theoretical model of strength trai-
chnique with various weights. Tyazhelaya Atletika 10, ning. National Strength and Conditioning Association Jour-
33-35. In Soviet Sports Review 18(1), 17-19, 1983. nal 4(4), 36-39.
Medvedjev, A.S., Masalgin, N.A., Herrera, A.G. & Frolov, Stone, M.H., Keith, R.E., Kearney, J.T., Fleck, S.J., Wilson,
V.I. (1982) Classification of jerk exercises and methods G.D. & Triplett, N.T. (1990) Overtraining: a review of
of their use depending upon weightlifters qualificati- the signs, symptoms and possible causes. Journal of Ap-
on. In: 1982 Weightlifting Yearbook, Fizkultura i Sport, plied Sports Science Research 5, 35-50.
Moscow. (Translated by Andrew Charniga, Sportivny Takano, B. (1990) K-Value: a tool for determining training
Press, Livonia, Michigan, pp. 4-9.) intensity. National Strength and Conditioning Association
Nilsson, S. (1986) Overtraining. In: An Update on Sports Me- Journal 12(4), 60-61.
dicine (eds S. Maehium, S. Nilsson & P. Renstrom), pp. Vorobyev, A.N. (1978) A Textbook on Weightlifting (translated
97-104. Proceedings of the Second Scandinavian Conference by J. Brice). International Weightlifting Federation, Bu-
on Sports Medicine, March 1986, Soria Moria, Oslo, dapest.
Norway.
Índice

A Adenosina trifosfato (ATP) 18 relativo aos pés 33-34


conteúdo muscular 292 Ciclo alongamento-encurtamento (CAE)
Ação concêntrica 19 AIDS 106 20
Ação excêntrica 19 Ajuste postural antecipatório (APA) 28 comprimento fascicular altera
Ação isocinética 19 Alterações hormonais no sangue durante 209-211
Ação isométrica 19 periférico 378-380 contribuição proprioceptiva no 348-
Ação isotônica 19 ajustes do volume de fluidos 379 350
Acentuação 483-485 interações com proteínas de ligação emprego das medidas de força in vivo
Acoplamento excitação-contração 69-74 no sangue 378-379 202-204, 206
Actina 66-67, 69-70, 131 interações com receptores 380 mecanismos musculares e
Adaptação reflexa 33-34 taxas de remoção 379 otimização do desempenho
Adaptações neurais ao treinamento de taxas de síntese e de degradação 378 no 204, 206-209
força 297-324 volume venoso sangüíneo 379-380 natureza do 200-202
ativação dos sinergistas 311-319 Angiotensina II 103 reflexos de estiramento de curta
aumento da ativação dos agonistas Ângulo pointing 474-476 latência no 211-212
297-312 Ângulo polar 474-476 Ciclo das pontes cruzadas 66-70, 133-
co-ativação dos antagonistas 318-321 “Aparato de reflexo de Eigen” 25-26 135, 169-171
contrações voluntárias versus Aponeurose 154 Citocinas 105-106
eletricamente estimuladas características comprimento-força Colágeno 112, 358-359
307-311 154-156 Compatibilidade do treinamento de
decréscimo da ativação dos agonistas Articulações limitantes 480-482 força e de resistência aeróbia
310-312 396-397
hipertrofia preferencial 317-319 Complexo hormônio-receptor
adaptações neurais comparadas B (H-RC) 91
às musculares? 317-319 Complexos sarcoglicanos 69-70
dentro da região muscular 317- Bandas I 131 Componente de latência média (MLC)
318 β-endorfinas 393-394 211-212
entre sinergistas 317-318 Braços de momento 465-472 Componente do reflexo de estiramento
interação das adaptações neurais e de curta latência (SLC) 211-
musculares 320-324 212
Adaptações neurais ao treinamento C Componente elásticos em série (CES)
explosivo 336-343 153-154
ativação seletiva das unidades Caminhada dividida em duas esteiras 30 Conceito efeito tarefa-dependente 224-
motoras rápidas de alto Cardiomiopatia hipertrófica familiar 226
limiar 337-338 (FHMC) 251 Consumo de oxigênio
aumento da freqüência de disparo das Catecolaminas 392-394 de pico 416-414, 417
unidades motoras 337-342 Células de Renshaw 43 do miocárdio 415
disparo duplo 340-343 Células-satélite 256-259 Consumo máximo de oxigênio
sincronização entre unidades hipertrofia muscular e 274-277 (VO2máx) 79-80
motoras 337-338 Centro de gravidade 25-26 Conteúdo enzimático muscular 290-292
Adenilato ciclase 92 na posição em pé 28 Conteúdo lipídico muscular 292
532 PAAVO V. KOMI

Conteúdo muscular de glicogênio 291-292 dados para respaldar a eficácia no Estado ativo 458
Conteúdo muscular de mioglobina 292 condicionamento de atletas Estimulação magnética transcraniana
Contrações balísticas 298, 302-303 447-448 36-37
Controle neuronal direções para pesquisa futura 448- Estimulação muscular biomecânica 509
função vestibular e visual 35-37 449 Estimulação neuromuscular rítmica 509
interação entre programas centrais e fundamentos para o uso no Estradiol 101
estímulo aferente 36-37 condicionamento de atletas Estrutura muscular 248
significância do estímulo do receptor 444-447 Exercício, definição 17
de carga 33-36 métodos de aplicação 442-444 Exercício dinâmico, ações musculares e
Coordenação intermembros; controle Eletromiografia (EMG) 25 19
neuronal 30-32 adaptações neurais ao treinamento Exercício estático, ações musculares e 19
Cortisol 104-105 de força 299-306
adaptações crônicas das EMG intramuscular 302-306
concentrações em repouso estudos com EMG de superfície F
390-391 300-302
rácio testosterona-cortisol 390-392 ativação dos sinergistas 211-212, Fadiga do ciclo alongamento-
resposta aguda aos exercícios com 315-316 encurtamento 219-237
sobrecarga 389-391 estudos de treinamento 315-316 alterações agudas 223-224, 230-232
Costâmeros 69-70 evidência de coordenação alterações durante o exercício
Curva de Hill 488, 489 sinergista tarefa-dependente fatigante 220-224
Curva pseudo-Hill 488, 489 312-314 alterações estruturais e funcionais
Curvas de força humana 460 reflexo de alongamento 211-213 229-236
Curvas potência-velocidade 20 Elipsóides de força 477-479 ajustes reflexos da ativação
Endotendão 120 neural 235-236
Endurance ativação de aferentes musculares
D definição 17 de pequeno diâmetro 235-236
energia, potência e 17-18 fadiga supra-espinal 235
Débito cardíaco 415-416 Energia 17-18 mecanismos básicos 234-235
adaptação em repouso 408-409 estoque e transferência 79-81 tendências totais 229-231
resposta ao treinamento de força Envelhecimento alterações tardias 223-227, 229, 231-
411-413 adaptações neurais durante o 235
Déficit de força explosiva (ESD) 457-458 treinamento de força 432- alterações de rigidez 234-235
Desmina 132 433 dor muscular induzida pelo
Destreinamento, resposta endócrina ao atrofia muscular, ativação e exercício 233-234
395-396 decréscimo na força e na estágio autogenético 232-234
Dinâmica de ativação 458 potência 426-430 estágio fagocítico 233-234
Direção comum, na regulação da força conclusões práticas 437-439 estágio regenerativo 234-235
muscular 48-50 especificidade do treinamento de influência em desempenhos
Discos-Z 65, 131 força de alta intensidade dinâmicos 224-226
Disparo duplo 340-343 comparado ao explosivo influência na ativação neural máxima
Distrofia muscular 152 437-438 e produção de força estática
Distrofia muscular de Duchenne 256-257 fatores hormonais e ganhos na 223-225
Dopamina 392-393 massa e na força musculares mecanismos potenciais 227, 229-230
Dor muscular tardia (DMT) 227, 229- 436-438 modelos de sobrecarga e teste 219-221
231, 233-234 ganhos de força durante treinamento exercício fatigante de curto e
Duplo produto de força 430-432 longo prazo 219-221
adaptação em repouso 403 hipertrofia muscular durante o protocolos de teste 220-221
adaptações crônicas à atividade 410, treinamento de força 433- papel dos reflexos de estiramento no
414-415 436 incremento da força durante
Enzimas anaeróbias glicolíticas 291- 211-216
292 respostas reflexas específicas 225-
E Enzimas anaeróbias não-glicolíticas 291- 227, 229
292 testes de esforço máximo 224-226
Eixo pointing 474-476 Enzimas oxidativas aeróbias 290-292 testes de esforço submáximo 224-
Eixo radial 474-476 Epinefrina 392-393 225
Elasticidade 484-486 Espessura da parede ventricular Fadiga muscular, mecanismos celulares
Eletromioestimulação, transcutânea esquerda, adaptação em da 144-146
(EMS) repouso 405-408 Fadiga supra-espinal 235
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 533

Fator de crescimento do tecido Freqüência cardíaca Hormônios catabólicos 104-106


conjuntivo (CTGF) 369-370 adaptação em repouso 382-384 Hormônios reguladores de fluidos 394-
Fator de crescimento glial 97-104 adaptações crônicas durante a 395
Fator de mecanocrescimento 98 atividade 353-354, 415 Hormônios tireoidianos 393-394
Fator de necrose tumoral α (TNF-α) 106 resposta ao treinamento de força
Fatores de crescimento insulina-símile 406, 409-412
96-100 Freqüência de disparo 43-47 I
adaptações crônicas ao treinamento Função vestibular 35-37
de força 391-393 Função visual 35-37 Imagem de ressonância magnética
fator de crescimento insulina-símile Fuso muscular 41 adaptação neural ao treinamento
1 (IGF-1) 369-371 com pesos 305-306
resposta aguda aos exercícios com ativação de sinergistas 316-317
sobrecarga 391-392 G estudos de treinamento 316-317
Fibras aferentes do reflexo de flexão e tensão tecidual em humanos
(FRA) 32-33 Galactosil-hidroxilsil glicosiltransferase 162-163
Fibras musculoesqueléticas (GGT) 361 evidência de coordenação
desativação pelo encurtamento 141- Geração de padrão locomotor 25-28 sinergista dependente de
144 Ginástica médico-mecânica 484-485 tarefa 316-317
estrutura do sistema de geração de Glicocorticóides 104-105 Impedância mecânica 486, 488
força 129-132 Glicólise 84-85 Inércia 485-486
eventos moleculares durante a Glicólise anaeróbia 18 Inervação recíproca 43
contração 132-135 Golpe potente da miosina 67-70 Inibição autogênica 42
mecanismos celulares da fadiga Gradiente de força (gradiente S) 457-458 Inibição disináptica 43
muscular 144-146 Inibição não-recíproca 42
relação comprimento-tensão 134- Insulina 99-101, 392-393
138, 188-191 H Interações hormônios esteróides 91
relação força-comprimento 188-191 Interações hormônios polipeptídicos 91-
relação força-velocidade 138-141, Hidroxiprolina 361 92
190-192 Hiperalgesia 233-235 Interleucinas
rendimento contrátil 134-146 Hiperplasia das fibras IL-1 105
tipos, maquinário contrátil 65-70 musculoesqueléticas 271-275 IL-6 105
Filamento fino 66-67 em humanos 272-273 Interneurônio inibidor Ia 42-43
Filamento grosso 66, 131 no músculo adulto 272 Interneurônios
Filamentos A 131 proliferação da fibra durante o Isoformes de proteínas miofibrilares 74-76
Filamentos I 131 desenvolvimento 271-272
Força Hipertrofia, músculo 20-21, 269-271
definição 17, 20 alterações na área da fibra 269-270 J
mensuração 20-21 conversão dos tipos de fibras Junção neuromuscular 71-72
Força explosiva 457-458 com o treinamento 270
Força muscular 249-250, 332, 458, 471- de acordo com o tipo de fibra 270
472 células-satélite musculares e 274-277 L
Força muscular maximal (Fmm) 456- outras alterações 270-271
458, 486-488 Hipótese da somatomedina 98 Leptina 393-395
Força no ponto final 471-474 Hormônio adrenocorticotrópico Levantamento de peso, treinamento para
Forças externas de contato, controle das (ACTH) 105 517-528
473-482 Hormônio de liberação da corticotropina conceitos gerais no planejamento do
cadeias de duas ligações 473-477 (CRH) 105 treino 523-525
cadeias de três ligações 476-478 Hormônio do crescimento determinação do peso máximo 527-
direções preferenciais 479-481 alteração crônica na concentração 528
efeitos dos distúrbios geométricos em repouso de GF 389-390 métodos 524-528
(holonômicos) 478-480 família 92-101 treinamento búlgaro 525-527
produção de força em várias direções isoformes 95-96 treinamento soviético 526-528
477-479 resposta aguda aos exercícios com variabilidade como princípio chave
produção de força máxima 480-482 sobrecarga 386-390 do treinamento 520
treinamento de força e 481-485 Hormônio luteinizante 385-386 variabilidade comparada à
Fosfocreatina (CP) 18, 82-85 Hormônio sexual ligado à globulina 380, especificidade biomecânica
conteúdo muscular 292 386 522-524
Fosforilação oxidativa 78 Hormônios anabólicos 92-104
534 PAAVO V. KOMI

Ligamentos e tendões 120-124 Modelos tipo Huxley ver Modelos das conteúdo de mioglobina 292
efeitos do exercício 121-124 pontes cruzadas 175-184, conteúdo enzimático 290-292
estrutura 120-122 193-194 densidade mitocondrial 290-291
propriedades mecânicas 121-122 Momento articular/braço de momento nível de substrato muscular 291-292
da força externa 471-472 suprimento capilar 287-291
Momento de força 465-467 Músculo esquelético
M Momentos primários 470-471 acoplamento excitação-contração
Momentos secundários 470-471 69-74
Marcha Motoneurônios β 42 adaptação no 247, 262-264
controle neuronal da 25-28 Motoneurônios γ 42 alteração contrátil sem alteração
estímulo corticoespinal 28-29 Movimentos geométricos (holonômicos) da fibra 262-264
programação central 28-32 478-480 bases celulares e moleculares da
técnicas de análise 25-26 Movimentos holonômicos (geométricos) potência 247-252
Massa ventricular esquerda, adaptação 478-480 mecanismos de aumento da
em repouso 408-409 Mulher 527-528 potência 262-264
Mecanismos hormonais 88-106 ganhos de força no treinamento de para aumento da potência 252-
hormônios anabólicos primários 92- força em idosos 430-432 257
104 treinamento no levantamento de para aumento da velocidade ou
hormônios catabólicos 104-106 pesos 527-528 da economia 258, 260-261
interações entre sistemas 89-90 Músculo, adaptação celular e molecular plasticidade do músculo 260-263
papel dos receptores na mediação das no 247-264 arquitetura, lesão por tensão e
alterações hormonais 90-92 alteração contrátil sem alteração da recuperação da lesão por
Mecanismos reflexos 31-34 fibra 262-264 tensão 163-164
monossináptico 31-33 aumento da potência 252-257 arquitetura e função in vivo 160-163
polissináptico 32-34 fatores de crescimento local e fisiologia e função 156-160
Menisco 123-124 sistêmico na hipertrofia 254- interação entre elementos contráteis
Metabolismo aeróbio 78-81 257 e elásticos 158-160
Método de rápida liberação 458 geração de força e hipertrofia da comprimento da fibra comparado
Método transdutor de deformação 202- fibra muscular 252-254 ao comprimento do tecido
204 hipertrofia, síntese protéica e conjuntivo 158-160
Miosina 66, 69-70, 131 alongamento 254-255 localização das lesões por tensão
Mitocôndria 78 mecanismos 262-264 160-161
densidade no músculo 290-291 regulação molecular da padrões de tensão in vivo 161-163
Modelo do filamento deslizante 65 hipertrofia 254-255 see also entries under muscle
Modelos das pontes cruzadas (tipo aumento da velocidade ou economia transmissão de força 156-159
Huxley) 175-184, 193-194 258, 260-261 direção da aplicação da força
distribuições probabilísticas de potência 247-252 158-159
acoplamento/ meios em que o músculo se integração de fibras isoladas e
desacoplamento 181-182 encurta e produz força 247- unidades motoras 156-159
formulação em 1954 175-178 249 Músculo estriado ver Músculo
formulação em 1971 177-180 velocidade de encurtamento esquelético
formulação teórica 180-182 250-251
quantidades macroscópicas do Músculo, adaptações ao treinamento
modelo das pontes cruzadas explosivo 332, 336 N
182-184 acoplamento excitação-contração
Modelos musculares 171-197 (E-C) 333-334 Nebulina 132
aplicações 191-194 cinética de contração e potência Neurônio motor 42
modelos das pontes cruzadas (tipo muscular 332-333 Norepinefrina 392-393
Huxley) 175-184, 193-194 força muscular 332
modelos de roquete 183-189 mecanismos relacionados ao 335-
modelos tipo Hill 171-176, 193-195 336 O
Modelos roquete 183-189 propriedades contráteis 332-333
considerações gerais 183-186 propriedades mecânicas de unidades Onda-H 55-57
movimento estocástico do motor motoras isoladas 334-335 Onda-M 55-56
molecular 185-187 Músculo, adaptações metabólicas Órgão tendinoso de Golgi (OTG) 42
multi-estado 186-189 crônicas ao exercício com Osso 111-120, 364-369
Modelos tipo Hill 171-176, 193-195 sobrecarga 284, 287-292 adaptação funcional e alterações
críticas e possíveis extensões 174- composição do tipo de fibra 284, relacionadas ao exercício
176 287-288 115-120
FORÇA E POTÊNCIA NO ESPORTE 535

ausência de sobrecarga e no esporte 18-19 Relações força final-torque articular


imobilização 364-366 Potencial de corrente 113-114 472-474
considerações sobre intensidade e Potencialização reflexa 302 Relações não-paramétricas 486, 488
transporte de peso 368-369 Prescrição de exercícios de força 20-21 Relações paramétricas 486, 488
conteúdo mineral 112 Pressão arterial Repetições máximas (RM) 20-21
efeitos do exercício 116-118 adaptação em repouso 403 Resistência 20
entrelaçado 112 adaptações crônicas durante a estímulo do exercício 376-378
estímulo de incorporação mineral atividade 410, 414-415 tipo e quantidade de 484-486, 488
369-370 resposta ao treinamento de força treinamento 20
estrutura 111-113 406, 409-412 Resistência de acomodação 483-485
fadiga 119-120 Princípio da contração de pico 483-484 Resistência hidrodinâmica 485-486
interação exercício-crescimento 118- Princípio do tamanho 44-45, 445 Resposta motora programada 28
119 Produto triplo misto dos vetores 469- Respostas cardiovasculares ao
laminar 112 471 treinamento de força
compacto 112, 113 Programação central 28-32 adaptação crônica em repouso 402-
esponjoso 112 Prolil-4-hidroxilase (PH) 361 406, 409
níveis de aptidão física 365-366 Propriedades musculares catchlike 46-49 adaptações crônicas durante a
no treinamento aeróbio 365-367 Proteína de ligação IGF 17-97 atividade 410, 414-415
no treinamento de força 366-369 Proteínas miofibrilares, isoformas das consumo de oxigênio de pico 416-
região de deposição mineral 365-366 74-76 414, 417
remodelação 113-115 consumo de oxigênio do miocárdio
significância do aumento da massa 415
óssea 365-366 R mecanismos de resposta pressórica
sobrecarga artificial 116-117 412-414
sobrecarga funcional 115-117 Rácio testosterona-cortisol 390-392 resposta aguda 406, 409-413
tensão in vivo 116-117 “Reafferenzprinzip” 36-37 volume sistólico e débito cardíaco
Recrutamento 43-47 415-416
Reflexo de estiramento 41 Retículo sarcoplasmático, acoplamento
P componente de curta latência (SLC) excitação-contração 71-74
211-212, 348-349 Rigidez elástica de curta amplitude
Padrões hormonais circadianos 395-397 componentes neurais básicos 42 (SRES) 215, 348-349
Paratendão 120 magnitude da atividade EMG Rigidez muscular, medida da 145
Passada da criança 28 induzida por reflexo 211-213 Roda de inércia 485-486
Peptídeo F 394-395 no ciclo alongamento-encurtamento Roquete brilhante 186-188
Peptídeo tibial 103 (CAE) 211-216 Rotações de dorsiflexão dos pés 34
Perfil lipídico, adaptação em repouso significância funcional 215-216
403-405 tempo de operação 213-214
Período de silêncio 54-58 Reflexo de estiramento de curta latência S
Pés juncionais 71-72 32-33
Piezoeletricidade 113-114 Reflexo de estiramento gastrocnêmio/ Sarcômero 65-66, 69-70, 247-248
Plasticidade muscular 260-263 sóleo 32-33 otimização do comprimento ao
estudos em modelos animais 260- Reflexo-H 31-32, 55-58 desenvolvimento de força
262 Reflexos monossinápticos 31-33 257-258
estudos em seres humanos 261-263 Reflexos polissinápticos 32-34 proteínas 71-72
Postura corporal 460-474 Relação comprimento-tensão do músculo relação comprimento-tensão 135-138
da tensão muscular aos momentos esquelético 134-237 Sinapse; acoplamento excitação-
articulares 461-472 Relação força-comprimento no músculo contração 71-72
dos momentos articulares à força esquelético 188-191 Síndrome de adaptação geral 104
muscular 471-474 Relação força-velocidade 20, 203, 486, Síndrome de Cushing 105
força muscular em diferentes 488-494 Síndrome do sobretreinamento 105
posições corporais 461-467 músculo esquelético 138-141, 190- Sinemina 132
relações torque e força articular final 192, 204, 206-209 Sistema vestibular 35-37
472-474 paramétrica 488-492 Sistema visual durante a locomoção 35-
transformação da força muscular em movimentos multiarticulares 37
momentos articulares 465- 491-492 Sistemas de suprimentos energéticos 78-
472 movimentos uniarticulares 490- 86
Potência 491 escolha de substrato e 84-86
definição 17 questões práticas 493-494 estoque e transferência de energia
energia, endurance e 17-18 tipos 486, 488-494 79-81
536 PAAVO V. KOMI

glicólise 84-85 respostas do hormônio luteinizante formas e localização de fibras


metabolismo aeróbio 78-81 385-386 musculares no músculo 150-
sistema fosfocreatina 82-85 Tipos de fibra muscular 74-78 151
Sobretreinamento, resposta endócrina ao distribuição 77-78 freqüência de disparo 337-342
394-396 fenótipo 251-252, 258, 260-261 interface fibra muscular-tecido
Somações não-lineares 157 isoformas de proteínas miofibrilares conjuntivo 152
Sonomicrometria e tensão tecidual em 74-76 inter-relações estrutura-função 150-
animais 161 recrutamento da unidade motora 152
Sub-regulação da função receptora 91 76-77 mecanismo de controle neuronal 41-
Substrato 1 do receptor insulínico Titina 69-72, 132 43
(IRS-1) 97 Torque, definição 17 modelo hidráulico 49-51
Supra-regulação da função receptora 91 Trabalho, definição 17 padrões de ativação no movimento
Transferência dos pés 33-34 explosivo 49-58
Treinamento com estímulo vibratório desenvolvimento de potência
T 509-510 máxima 49-52
Treinamento com pesos soviético 526- movimento balístico máximo 54-
Tamanho da câmara atrial, adaptação em 528 58
repouso 407-409 Treinamento de levantamento de pesos treinamento de potência máxima
Tamanho da câmara ventricular, búlgaro 525-527 e adaptações neurais 51-55
adaptação em repouso 407- Treinamento muscular, bases estruturais potenciais corticais relacionados ao
409 85-86 movimento na ação máxima
Taxa de codificação 43-47 Treinamento proprioceptivo 346-356 58-61
Taxa de produção de força (TPF) 457-458 ciclo alongamento-encurtamento princípio do tamanho 44-45, 445
Tecido conjuntivo (CAE) 348-350 propriedades mecânicas da 334-335
características anatômicas e desenvolvimento de força isométrica propriedades musculares catchlike
biomecânicas 358-360 353-355 46-49
efeitos do treinamento físico no 360- estabilização articular dinâmica ativa recrutamento 76-77
369 352-354 recrutamento e freqüência de
alterações biomecânicas 360-362 integração do feedback sensorial ao disparo (taxa de codificação)
alterações mecânicas 362-365 controle do movimento 348- 43-47
mecanismos de promoção da 349 sincronização 305-306, 337-338
remodelação 368-371 para contribuições de ativação territórios 140
estímulo de incorporação aferente ao exercício 370- tipos 43-44
mineral óssea 369-370 371 Unidade reguladora 66-67
influências hormonais 369-371 propriocepção 347-349
lesão tecidual 368-370 Tropomiosina 66-67
propriedades mecânicas do 360 Troponina 66-67 V
Tempo de elevação 457-458 troponina-C 66-67
Tempo de pico (Tmáx) 457-458 troponina-I 66-67 Valor K 525-526
Tempo de reação 28 Velocidade máxima 486, 488
Tempo e taxa de produção de força 456- Vibração
460 U categorias de 503-504
Tendões e ligamentos 120-124, 154-156 produção de força e potência 509-
efeitos do exercício 121-124 Ultra-sonografia e tensão tecidual em 512
estrutura 120-122 humanos 161-162 resposta à sobrecarga 504-509
propriedades mecânicas 121-122 Unidade motora resposta biomecânica 504-508
Teoria “chave-fechadura” 90 acoplamento excitação-contração 70 resposta neurofisiológica 507-
Teoria da cadeia reflexa 25-26 ativação seletiva 337-338 509
Testosterona 101-103 distribuição espacial das fibras 150 Vibração tônica reflexa (VTR) 507-511
alterações crônicas nas duplo disparo 49-50 Vimentina 132
concentrações em repouso estímulo comum, na regulação da Viscosidade 485-486
383-385 força muscular 48-50 Volume sistólico 456-458
hormônio sexual ligado à globulina excitabilidade do motoneurônio no adaptação em repouso 403-404
386 movimento explosivo 57-74 resposta ao treinamento de força
precursores andrógenos 384-385 fatores que afetam as atividades e 411-413
respostas aguda ao exercício com características contráteis 41,
sobrecarga 380-384 49-50

Potrebbero piacerti anche