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EDITORA UNISINOS
2013
APRESENTAÇÃO
Neste livro, você encontra alguns aspectos que envolvem a leitura e a produção de
textos narrativos. Primeiramente, você precisa saber que para ser um bom redator de
textos narrativos, você precisa desenvolver as suas habilidades de leitor. Ler e escrever
são habilidades que se complementam na atividade comunicativa. Você também precisa
estar ciente de que a narrativa nas organizações é um importante veículo de
comunicação que se sustenta por ser uma modalidade textual/discursiva que
naturalmente envolve leitores e ouvintes.
Os textos organizados de maneira a narrar podem ser elaborados com diferentes
finalidades: informar, explicar, motivar,… As fábulas, de modo geral, são textos que se
organizam seguindo os princípios do modo de organização textual narrativo, no
entanto, ao final da narrativa, é apresentada uma moral da história para o
leitor/ouvinte. Essa “moral da história”, embora muitas vezes seja até “imoral”, busca
levar o leitor/ouvinte a se convencer da verdade que está sendo apresentada na
história. Outras vezes, o texto narrativo pode servir como ferramenta de motivação.
Em todas as situações de uso da narrativa, o trabalho de leitura e de interpretação faz
parte do processo narrativo. O melhor é entender como ocorre a organização dos
textos e perceber como são construídos os efeitos de verdade do texto, mesmo quando
estamos diante de uma narrativa ficcional.
Convido você a conhecer como ocorre o planejamento e a organização dos recursos
que envolvem o processo narrativo por meio da leitura das páginas que compõem este
livro. Somente conhecendo todo o processo, você poderá aplicá-lo nas Relações
Públicas. Boa Leitura!
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 1
Apesar dessa possibilidade de leitura, prefiro pensar que o poeta era um exímio
conhecedor dos vocábulos da Língua Portuguesa e explorava ao máximo os efeitos de
sentido que as palavras da língua possuem. Com isso, quero dizer que existe outra
possibilidade de interpretação para: “Navegar é preciso, viver não é preciso.” Ou seja,
quero dizer que é possível interpretar esse enunciado como:
b. Navegar é preciso, tem precisão. Já viver, não é preciso, não tem exatidão, não
tem precisão.
Saber que “preciso” pode ser sinônimo de necessário e também de exato é o que
vai ser o diferencial entre o sujeito leitor que tem esse conhecimento vocabular e o que
não tem. Para demonstrar a importância da adequação vocabular ao público-alvo nos
processos comunicativos interpessoais, um último exemplo: “No porto, o navio inglês
entrava o navio francês.” Isso mesmo que você leu. Não há problemas de digitação, o
verbo é “entrava”. O que para alguns leitores pode parecer um enunciado sem nexo,
com total falta de sentido, para outros leitores, conhecedores do vocabulário da Língua
Portuguesa, esse será um enunciado lógico e com sentido. Se você ler “entrava” como
o tempo pretérito do verbo “entrar” a leitura estará comprometida, já que não faz
sentido: “No porto, o navio inglês entrava o navio francês.” Porém, se você ler
“entrava” como presente do verbo entravar, o enunciado terá sentido: “No porto, o
navio inglês é um entrave, é um obstáculo, ao navio francês.”
Em vista disso, podemos afirmar que a leitura, além de ser uma questão social,
cultural, é uma questão de grau, em proporção à bagagem cultural do leitor.
Compreende-se, assim, a leitura como um processo interativo que depende do leitor
para se obter legibilidade. Daí a importância de saber quem será o seu público leitor
antes da produção de qualquer narrativa. Para encerrar essa reflexão sobre a
importância da leitura, do leitor e do redator, cito um dito popular russo: “A leitura é
um jogo conjunto entre quem escreve e quem lê contra as forças da confusão.”
É interessante você observar que a narrativa pode ser baseada em fatos reais ou
pode ser ficcional e sempre terá, no mínimo, seis elementos básicos: fato, personagem,
tempo, espaço mobilizados por um narrador em torno de um conflito ou enredo.
Esses elementos deverão ser organizados de acordo com a finalidade da narrativa:
informar, distrair, explicar, ensinar, persuadir, convencer etc. Além disso, é importante
que você saiba que toda narrativa possui uma característica muito peculiar, ela nunca
pode ser negada. Ou seja, podemos dizer que a narrativa é inexata ou inventada, mas
jamais que ela não existe. Uma vez formulada, a narrativa passa a fazer parte da
memória de leitores ou ouvintes.
Hoje, cada vez mais, as organizações empresariais estão cientes da força que uma
narrativa tem e, por isso, investem em narrativas. A narrativa pode estar presente na
publicidade de produtos e de serviços, em vídeos ou textos institucionais para contar a
história da organização ou a história de vida do fundador da empresa, só para
exemplificar.
Antes de sair escrevendo as suas primeiras narrativas organizacionais, sempre é
bom lembrar que assim como não se vai a uma festa de gala usando camiseta e chinelos
e nem à praia de longo ou usando terno e gravata, também devemos adequar o que
vamos escrever à situação de uso. Quem serão os interlocutores da narrativa? Amigos,
familiares, profissionais com quem você pretende trabalhar? Lembre-se: a situação de
uso determinará o que é mais adequado escrever.
1 Publiquei um artigo com conteúdo muito semelhante à primeira parte deste capítulo sob o título
de Leitura: um jogo social, na revista Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 23 e 24/1998 – p.
219-222.
CAPÍTULO 2
2.1 Exemplo
Veja a seguir um exemplo da disposição dos elementos constituintes da estrutura
da narrativa:
Linguagem formal: também conhecida como forma culta, a linguagem formal é aquela que o
redator usa quando não existe familiaridade com o público-alvo receptor do texto, quando se
dirigem aos superiores hierárquicos ou quando tem de falar para um público-alvo mais amplo
ou desconhecido. É a linguagem que normalmente podemos observar nos discursos públicos,
nas reuniões de trabalho, nas salas de aula etc.
Linguagem informal: é a aquela em que o usuário da língua emprega em um contexto familiar.
Nesse contexto, entre familiares e amigos, pode usar expressões que normalmente não são
usadas em discursos públicos (palavrões ou palavras com um sentido conotado que apenas os
elementos do grupo conhecem).
Linguagem denotada: a linguagem denotada pertence ao primeiro nível de linguagem e está
associada à literalidade dos sentidos. O literal estabelece uma ligação natural entre significado e
significante. Antigamente, dizia-se que o sentido literal de uma palavra era o seu sentido real,
denotado.
Linguagem conotada: a linguagem conotada está relacionada com o simbólico e pertence ao
segundo nível da linguagem. A linguagem conotada é codificada e está relacionada a sentidos
culturais de uma determinada comunidade de usuários da língua. Antigamente, dizia-se que o
sentido conotado de uma palavra ocorria quando a palavra era usada em sentido figurado,
simbólico.
P ara elaborar uma narrativa que cumpra adequadamente a sua finalidade, é necessário
planejar o texto e escolher adequadamente o tipo de narrador (personagem, observador
ou onisciente), o tipo de discurso (direto, indireto ou indireto livre), o tipo de narrativa
(subjetiva ou objetiva), além do tipo de linguagem (prosa ou poética).
Discurso direto: ocorre quando a personagem tem voz e expressa a sua fala por meio de
diálogo com outra(s) personagens ou com os seus próprios pensamentos. O discurso direto é
facilmente reconhecido em uma narrativa, já que apresenta marcas de pontuação específicas
antes de seu aparecimento. Usam-se dois pontos, seguidos de travessão, para indicar a mudança
de personagem e a alternância das falas. Em algumas narrativas, a fala das personagens pode
aparecer entre aspas. No discurso direto, a própria personagem assume a sua fala e é responsável
pelo que diz. Em vista disso, o discurso direto é usado para criar efeito de veracidade, verdade,
já que a fala aparece como sendo dita tal qual a personagem pronunciou. Em narrativas mais
complexas, o narrador pode apresentar a voz da personagem sem demarcar claramente, por meio
de pontuação, o que a personagem falou e o que ela pensou.
Exemplo
Senhor, posso lhe fazer uma pergunta?
Diga, soldado.
O que havia por detrás de assustadora porta?
Vá e veja.
Comentário: duas personagens dialogam e são responsáveis pelo que dizem. Fica bem marcada
a mudança de interlocutor por meio do uso dos sinais de pontuação.
Discurso indireto: o discurso é indireto quando o narrador usa as suas palavras para transmitir
de modo indireto o que a personagem falou. Costuma-se dizer que o narrador parafraseia a fala/o
discurso das personagens. É importante destacar que há distanciamento entre o que a
personagem disse e o que o narrador transmite, porque a narração indireta passaria por um
processo de interpretação. O distanciamento entre o momento em que o personagem falou e o
momento em que o narrador reproduziu a fala da personagem é marcado pelo tempo verbal.
Isso mesmo, o tempo verbal é o que marca o distanciamento. Portanto, o tempo da fala da
personagem e o tempo do narrador nunca coincidem, e é por isso que o narrador narra sempre
em tempo posterior ao da fala da personagem. Isso acontece mesmo quando ela se expressa
com uma frase no futuro. Nesse caso, o narrador usará o futuro do pretérito para reproduzir a
fala.
Exemplo
O jogador disse: – Assinarei o contrato na próxima semana.
Narrador: O jogador disse que assinaria o contrato na próxima semana. (Narração com o uso do
discurso indireto.)
Comentário: Veja, a interpretação fica evidenciada pelo uso do verbo: assinarei não produz o
mesmo efeito de sentido de assinaria.
Discurso indireto livre: ocorre o discurso indireto livre quando o narrador mistura a fala e os
pensamentos da personagem sem distinção, por meio do uso de sinais de pontuação. Ou seja, a
fala das personagens são mescladas por pensamentos e intervenções do narrador. O discurso
indireto livre é mais usual em narrativas literárias complexas como, por exemplo, em Grande
sertão veredas, de Guimarães Rosa.
Notícia de jornal
João Gomes, 35 anos, carregador de feira livre e morador do morro da Babilônia, morreu afogado,
na última sexta-feira, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Conhecidos contam que ele bebeu no bar Vinte
de Novembro, divertindo-se com as músicas e as danças. Logo depois, saiu e não foi mais visto.
Fonte: texto elaborado pela autora a partir de adaptação de poema de Manuel Bandeira (2012).
Observe que o narrador apresenta outras vozes no texto por meio do discurso
indireto: “Conhecidos contam que ele bebeu no bar Vinte de Novembro, divertindo-se
com as músicas e as danças. Logo depois, saiu e não foi mais visto.” Além disso, o
narrador conta o que aconteceu, mas não se inclui na narrativa, criando um efeito de
verdade, já que essa narrativa teria a finalidade informativa. Já completamente
diferente, apesar de tratar do mesmo tema, seria o exemplo da narrativa poética
apresentada a seguir, elaborada por M anuel Bandeira.
Você verá neste capítulo como a descrição pode dar suporte para a narrativa. Descrever
objetos, cenários ou personagens, além de sensações e sentimentos que acompanham
todas as ações narradas, colaboram com a comunicação eficaz. Você já reparou que em
uma narrativa tudo o que sabemos de um objeto, personagem, paisagem, organização
depende das sensações e percepções que o narrador apreendeu e (re)transmitiu para o
público leitor?
Você é um bom observador? Se você não é, passe a prestar atenção nos pequenos
detalhes ao realizar suas leituras: seja a leitura de documentos oficiais (os autorizados
e produzidos pelas organizações) ou a leitura de mundo feita por via de documentos
informais (informações verbais ou textos produzidos por terceiros em blogs, redes
sociais ou outros meios acerca de uma organização). Por que prestar atenção nos
detalhes? Porque eles interferem na interpretação e na imagem que fazemos de pessoas
e de organizações. E, principalmente, porque a descrição é uma atividade altamente
subjetiva. Você já ouviu falar naquele dito popular: “Quem ama o feio, belo lhe
parece.” Pois é, a descrição está associada à subjetividade de quem descreve e à
subjetividade de quem lê. Por isso, nunca considere um único aspecto em um texto.
Considere sempre o conjunto. Um verdadeiro ato de leitura pleno faz supor o
reconhecimento da dimensão sócio-histórica da linguagem, das injunções do poder e
das diferentes posições do sujeito nos textos.
As condições nas quais a leitura se processa abrangem o contexto histórico-social-
ideológico, a situação, os interlocutores e o objeto do discurso. Isso ocorre de tal
forma que aquilo que se diz significa em relação ao que não se diz, ao lugar social do
qual se diz, para quem se diz, em relação aos outros discursos etc. Daí se depreende
que a leitura não é um ato isolado; cada leitura resulta da contribuição do leitor ao
interagir com o texto, da experiência do autor ao elaborar o texto e da relação entre o
texto e outros textos que concorrem com ele. Pode-se dizer que a leitura é um
processo triangular, no qual fazem parte o próprio texto, os agentes da interação e o
contexto situacional. Por isso, em uma narrativa, ao descrever ou interpretar uma
situação, apure os seus cinco sentidos: audição, visão, olfato, paladar e tato.
Você já deve ter observado que são bem variados os textos em que aparecem os
componentes da narrativa. Essa presença massiva da narratividade em diferentes
materialidades (verbal e não verbal) são variações do gênero narrativo. Em outras
palavras, segundo Gancho (2006), os gêneros podem ser identificados segundo a
forma e o conteúdo. Quanto à forma, os gêneros são verso e prosa. Quanto ao
conteúdo, desde os estudos clássicos, costuma-se separar o gênero narrativo em épico,
lírico e dramático. Entre os gêneros narrativos da atualidade mais difundidos em prosa,
temos o romance, a novela, o conto, a crônica, a fábula, o apólogo. Além desses tipos
canônicos de histórias narrativas, as estruturas narrativas também estão presentes em
tiras de jornais, nas novelinhas de rádio, na fotonovela, na telenovela. Usando o verbal
e o não verbal é possível elaborar diferentes tipos de narrativas na atualidade, como,
por exemplo, as narrativas fílmicas e ou as organizacionais. Vivemos cercados de
histórias.
Esses elementos aparecem numa forma ordenada e simples, sem elaboração mais
profunda. Não há a construção de um clima narrativo. Já a narrativa precisa do clima
narrativo, da situação inicial, da situação problema, da dinâmica de ação, do clímax e da
situação final.
As narrativas não são só feitas de palavras, também são constituídas pelo não verbal.
O processo interpretativo envolve a leitura das imagens e a compreensão das palavras
que as acompanham, nos casos em que há o verbal e o não verbal associados. As
imagens não falam por si, mas elas são capazes de atualizar saberes que são de domínio
público e, com isso, significar. A materialidade imagética – o não verbal – quando
associada a legendas, além de mostrar a relação complexa entre palavra e imagem,
restaura o processo narrativo que produz o que nela deve ser visto e lido.
Os textos não são feitos somente de palavras. O não verbal, o imagético, também
produz efeitos de sentido e, por isso, significa. Existem várias formas de comunicação
atualmente em nossa sociedade. O texto verbal e o não verbal devem se complementar.
Quando você se utiliza da palavra, ou seja, da linguagem oral ou da escrita, dizemos
que você está utilizando uma linguagem verbal, pois o código usado é a palavra, e está
centrado no verbo. Tal código está presente, quando falamos com alguém, quando
lemos, quando escrevemos. A linguagem verbal é a forma de comunicação mais
presente em nosso cotidiano. M ediante a palavra falada ou escrita, expomos aos
outros os nossos pensamentos.
No entanto, às vezes, as palavras não são capazes de tornar comum os nossos
pontos de vista. As dificuldades de comunicação ocorrem quando as palavras têm
graus distintos de abstração e variedade de sentido. O significado das palavras não está
nelas mesmas, mas nos sujeitos envolvidos escritor/leitor e no repertório de cada um.
O conhecimento de mundo é que permite decifrar e interpretar as palavras.
Objetivando sempre a comunicação, a humanidade desenvolveu outros códigos e
formas de comunicação ao longo de sua evolução. Se você parar e olhar para os lados,
verá que em nosso dia a dia recebemos dezenas de informações que são comunicadas
pelo não verbal. As pessoas não se comunicam apenas por palavras. Os movimentos
faciais e corporais, os gestos, os olhares, a entoação são também importantes: são os
elementos não verbais da comunicação. Além do gestual, há também vários símbolos
convencionais em nossa sociedade que servem para comunicar. Por exemplo, ao sair de
casa, para se dirigir ao trabalho ou à faculdade, é comum nos depararmos com uma
forma de comunicação não verbal denominada semáforo:
Figura 1 – Exemplo de linguagem não verbal: semáforo.
Fonte: Disponível em: <http://naldoaraujo.blogspot.com.br/2011/09/senta-que-la-vem-noticia.html>.
Acesso em 20 jul. 2012.
É interessante observar que, ao olhar a imagem, o não verbal, sabemos que estamos
diante de um objeto que serve para regular o trânsito de automóveis e pedestres,
embora em cada região esse mesmo objeto possa receber denominações diferenciadas
pelo uso da linguagem verbal: semáforo, farol, sinaleira etc. Sabemos o que representa
essa linguagem não verbal, pois as cores usadas no semáforo foram convencionadas e
fazem parte de nossa cultura.
Outras situações existem em que nos deparamos com o não verbal. Por exemplo,
ao entrar em um consultório médico, podemos encontrar uma das seguintes imagens:
cartaz pedindo silêncio ou uma placa que indique que lá não é um lugar próprio para
fumar.
Figura 2 – Exemplo de linguagem não verbal: placa indicando que é proibido fumar.
Fonte: Disponível em: <http://www.vinxp.com/curso-pare-de-fumar-em-5-dias>. Acesso em 20 jul. 2012.
Figura 3 – Exemplo de linguagem não verbal: placa que indica que se deve parar.
Fonte: Disponível em: <http://recado.info/recados/placas-pare>. Acesso em 20 jul. 2012.
Figura 4 – Exemplo de linguagem não verbal: placa que indica que é proibido usar o celular.
Fonte: Disponível em: <http://metanoiacruz.blogspot.com.br/2012/04/criacao-de-leis-so-pode-ser-uma-
das.html>. Acesso em: 20 jul. 2012.
Em muitos casos, a mensagem visual – o não verbal – serve para reforçar a
mensagem verbal, oral, e não raro é possível ver esse uso conjunto, como em livros
ilustrados, outdoors, reportagens em revistas, jornais e house organ etc. Além da
associação entre palavras e imagens, também é possível associar imagens e sons. A
simultaneidade de imagens visuais e de sonoridades tem criado novos
condicionamentos para a percepção dos significados.
No entanto, é importante ressaltar que os sentidos não nascem do nada, são
criados, são construídos em confronto de relação que são sócio-historicamente
fundadas e permeadas pelas relações de poder. De um mesmo texto, podem-se extrair
leituras diferentes. Portanto, o texto não preexiste a sua leitura, e leitura não é
aceitação passiva, mas é construção ativa. Por exemplo: cinema é ficção, não é mundo
real. Porém, imagem não é só representação, é também produção de sentido(s). As
relações de proximidade entre o que se vê no registro ficcional (filme de ficção) e no
factual (filme documentário) são produtos da posição em que se encontra o leitor,
como o espectador-leitor é afetado pela imagem. As relações de proximidade entre o
que se vê no registro ficcional e no factual são produto da posição em que se encontra
o leitor. É no processo de interação desencadeada pela leitura que o texto se constitui.
O verbal e o não verbal corroboram para a produção dos efeitos de sentido.
As imagens (o não verbal) podem bifurcar-se, movimentando-se para a ficção ou
para a realidade. Tudo depende da memória que é atualizada para ler e dizer o visível.
O confronto de imagens de diferentes esferas de produção e o problema dos sentidos
que provocam está ligado também ao lugar de enunciação (posição sujeito) de quem lê.
Por isso, qualquer que seja a imagem veiculada pelo cinema ou pela televisão, para lê-
la o leitor precisa da mediação de referencial de reconhecimento de si mesmo. Em
outras palavras, as imagens precisam ser lidas, precisam ser interpretadas, e só é
possível interpretar uma imagem nova a partir de um conhecimento anterior sobre o
tema ou assunto tratado. Por isso, muitas vezes, a linguagem não verbal vem
acompanhada de legendas. A legenda em uma fotografia, por exemplo, determina o
modo como a imagem deve ser lida. A legenda conduz o olhar do leitor para a
produção de sentidos. Para exemplificar o funcionamento da legenda como
determinadora do que o leitor deve ler e interpretar, observe a seguir as fotos
veiculadas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma militante em três jornais
gaúchos diferentes.
A seguir, você pode observar um exemplo de linguagem não verbal: imagem que
acompanha notícia do Jornal O Sul, publicada em 16 de julho de 2011 sob o título
“Lula pegador”.
Figura 5 – “ Lula Pegador”.
Fonte: Jornal O Sul, 16 de julho de 2011.
Para evitar que o texto fique repetitivo, você deve usar os recursos de
correferência com a finalidade de diversificar as palavras que integram o texto. Os
principais recursos de correferência são: a pronominalização, a substituição vocabular
e a elipse.
Para dar ritmo à sua redação e não repetir palavras, você pode referir-se a palavras
já citadas no texto por meio do uso de pronomes. Essa forma de correferência chama-
se pronominalização. Convém lembrar que os pronomes representam uma classe de
palavras que acompanha e substitui um nome (um substantivo). Em vista disso, nada
mais natural do que referir-se a uma palavra ou expressão já citada no texto com um
pronome.
Esta última parte do livro apresenta uma síntese geral de aspectos importantes para a
realização da leitura e da interpretação de narrativas. Além da elucidação sobre algumas
noções e conceitos fundamentais da narrativa, são apresentados exemplos de análises
comparativas de textos organizados sob a forma narrativa.
Para ver na prática como é possível ler, analisar e interpretar narrativas, passamos
a trabalhar com dois textos narrativos do tipo fábula, que são apresentados a seguir:
(Fábula de Esopo)
O leão, o rei dos animais, convocou todos os bichos a uma assembleia geral para tratar de
assuntos graves. Acudiram (foram) estes ao convite, que consideravam uma grande honraria. E o
leão lhes disse: “ Prestantes e estimadíssimos vassalos capachos, convidei-vos para que me tirásseis
de uma dúvida cruel: há muito que quero saber se o meu bafo ou fede ou cheira; vou consultar-vos a
cada um em particular.” Dito isso, tomou-os um por um, e os consultou. Aos que diziam que fedia,
ele falava: “ Insolente! Tens o atrevimento de dizer que fede o bafo de teu rei?!”, tornava-lhes o leão,
e logo os matava. “ Adulador! Pois tens cara de dizer-me a mim, que o meu bafo cheira”, dizia aos
que mentiam para lisonjeá-lo; “ não gosto de quem quer me enganar!” E os matava. Chegou a vez
do macaco: “ Meu Rei, há Vossa Majestade de perdoar-me, disse o espertalhão; ando há quinze dias
com um resfriado horrível; saí da cama há pouco e apresentei-me só para não faltar à devida
obediência; mas não estou em estado de perceber cheiro algum. E o Leão riu-se da malandragem e
sutileza do macaco; e este foi salvo.
Moral: Por que ter pressa de dizer aquilo que, não podendo trazer utilidade alguma, só traz
comprometimento?
Fonte: Esopo.
A nossa proposta é realizar uma análise comparativa dos dois textos narrativos.
Passo a passo para analisar os textos narrativos:
a. Leia atentamente todos os dois textos, do começo ao fim. Sem ter ideia do que
é abordado em cada texto, fica difícil realizar uma análise.
b. Responda à seguinte pergunta sobre cada um dos textos: o que trata o texto?
c. Busque identificar qual o tema, assunto e mensagem a narrativa apresenta.
d. Feita a investigação inicial, passe a comentar aspectos que são destaques ou
que se evidenciaram nas duas narrativas.
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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
Reitor
P e. Marcelo Fernandes de Aquino, SJ
Vice-reitor
P e. José Ivo Follmann, SJ
EDITORA UNISINOS
Diretor
P e. P edro Gilberto Gomes, SJ
© da autora, 2013
2013 Direitos de publicação e comercialização da
Editora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
EDITORA UNISINOS
ISBN 978-85-7431-546-1
CDD 808
CDU 808
Dados Internacionais de Catalogação na P ublicação (CIP )
(Bibliotecário: Flávio Nunes – CRB 10/1298)
Esta obra segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua P ortuguesa vigente desde 2009.
Editor
Carlos Alberto Gianotti
Acompanhamento editorial
Mateus Colombo Mendes
A reprodução, ainda que parcial, por qualquer meio, das páginas que compõem este livro, para uso não
individual, mesmo para fins didáticos, sem autorização escrita do editor, é ilícita e constitui uma contrafação
danosa à cultura. Foi feito o depósito legal.
Sobre a autora
MAGDA REGINA LOURENÇO CYRRE é doutoranda em Teorias do Texto e do Discurso pela UFRGS;
mestre em Estudos de Linguagem pela UFRGS; licenciada em Letras com ênfase em P ortuguês e Literaturas
em Língua P ortuguesa também pela UFRGS. Atua como professora na UNISINOS desde 1999 e na Faculdade
P orto-Alegrense desde 1994.
Edição digital: dezembro 2013