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(Miguel Reale)
Sob o enunciado de alguns autores, os atos jurídicos são repartidos em atos anuláveis,
inexistentes e nulos de pleno direito. Em um primeiro sentido do termo, coação é sinônimo de
violência física ou psíquica, cuja “[...] incuta ao paciente forte temor de dano à sua pessoa, à
sua família ou a seus bens” (REALE, p.66, 2002) e se sob quaisquer formas de agressão um ato
jurídico for praticado, sofre anulabilidade. O feito tem existência jurídica, mas provisoriamente,
até que o deturpado prove que agiu sob ameaça coagida. A anulabilidade deve ser requerida.
Por sua vez, os atos inexistentes são os que não reúnem os elementos necessários à sua
formação e por fim, são abortados. Ora os atos nulos de pleno direito, por desrespeitarem
preceitos legais, sua eficácia é retirada através de decisão judicial, determinando o
reconhecimento da invalidade do ato. Os referidos atos nulos dividem-se em duas categorias de
nulidade, as de natureza absoluta e as de caráter relativo. A primeira condena o ato desde o seu
aparecimento, e não produzem efeito válido. Ao contrário deste, o ato anulável de caráter
relativo produz certa repercussão até e enquanto sua nulidade não é declarada.
As sanções não são restritas à ordem jurídica, mas convém também aos ditames da
Moral, no que se trata do peso de um remorso ou arrependimento. O homem de bom-senso
condena a si próprio quando infringe um preceito de foro íntimo, e sanciona-se. A sanção
extrínseca, por sua vez, obedece a dimensão individual-social, e se põe quando o indivíduo age
de modo contrário à tábua de valores vigentes, ator de um demérito para com o meio e a
sociedade em que agem. Há também sanções próprias das normas religiosas, que não só dizem
respeito à crença, à fé e ao perdão, mas à retribuição divina de sua boa conduta e às “auto
sanções” quando necessário, para então serem propriamente encaminhados ao Paraíso.
Com o intuito de evitar certas técnicas judiciárias para o cumprimento das normas
jurídicas, como sanções intimidativas, o Poder Público pretende a adesão espontânea, através,
por exemplo, das sanções premiais, que oferecem benefícios ao destinatário. O Estado é o
detentor das sanções, “[...] disciplina as formas e os processos de execução coercitiva do
Direito” (REALE, p.67, 2002) por meio da competência exclusiva de seus órgãos, e atenta-se
afim da validação das sanções como objetivas e transpessoais. Por intermédio do Estado, a
ordem jurídica é tão vigorosamente preservada que países diferentes do Brasil são favoráveis a
usurpação da vida, o bem supremo de outrem. Ademais, o poder estatal cresce em conjunto
com entidades supranacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), que dispõe de
recursos tão eficazes para aplicar uma sanção de maior êxito.
Afim de evitar conclusões precipitadas, Reale não economiza palavras ao advertir que
a coação não é exclusivamente estatal, ela também vive fora do Direito do Estado. Existe, por
exemplo, o Direito Canônico, exclusivo da Igreja, que como instituição, abrange um complexo
de normas suscetíveis de sanção organizada. O Estado também está na juridicidade das
organizações esportivas – informalmente dizendo, nas torcidas de estádio organizadas, e no
sindicalismo, procedendo uma pluralidade das ordens jurídicas positivas. Contudo, “[...] só o
Estado representa o ordenamento jurídico soberano” (REALE, p.67, 2002). Do Estado a nação
é inescapável, é uma organização tão poderosa que acompanha o indivíduo mesmo após a
morte, pelo ordenamento da divisão das heranças. Se observa unicamente no Estado a
universalidade da sanção e uma força impositiva eficaz.
O pensador Karl Marx apresenta o Estado como entidade destinada a expirar, de forma
que seja substituída por outras formas de vida social, descentralizadas ou com menor poderio.
Mais tarde, os “marxistas” abandonaram a ideia anterior para instituir Estado Totalitário, que
se apoia na fusão da sociedade com o Estado. Para mais, a efetiva diferenciação entre a Moral,
o Direito e um Estado de Direito – que só pode ser democrático, tem condição essencial de
existência que a sociedade civil e o Estado se mantenham correlacionados, mas sem sua fusão.
Conclusão:
1. O termo coação abrange duas acepções, a primeira trata da coação como apelo agressivo
físico ou psíquico, a segunda para impor o cumprimento das normas jurídicas. É diante
da segunda noção da palavra que distingue o Direito de conduta Moral.
2. Atos jurídicos podem ser anulados, considerados inexistentes, e nulos de pleno direito,
sendo a anulabilidade requerida, e os outros dois atos decididos judicialmente.
3. Para compelir a nação a cumprir as normas vigentes, há sanções. Existem sanções da
Moral (cumprimento de valores íntimos e individuais-sociais), jurídicas (Estado
inabdicável), e até religiosas (foco na virtude ultraterrena), correspondente às regras de
cada natureza.
4. Apesar da grandeza do Estado, disciplinador e observante, a tese da pluralidade das
ordens jurídicas positivas é aplicável, pois a coação também vive fora do âmbito estatal.
5. O progresso da cultura humana anda concomitante ao da vida jurídica, todavia afim de
evitar a unidade entre os âmbitos, molde prejudicial à Democracia.