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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS: ENSINO E PRÁTICA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

EDUCAÇÃO BILÍNGUE:
UM PROJETO EM CONSTRUÇÃO

Elaborado por

ELIZIA DE JESUS OLIVEIRA CURTI

Rio de Janeiro
2016
9

ELIZIA DE JESUS OLIVEIRA CURTI

EDUCAÇÃO BILÍNGUE:
UM PROJETO EM CONSTRUÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como exigência da disciplina TCC do Curso de
Pós-Graduação em Tradução e Interpretação em
LIBRAS: Ensino e prática do Centro Universitário
Celso Lisboa, orientado pelo Prof. Carlos Hilton
Cruz Carvalho (Especialista).

Rio de Janeiro
2016
10

CENTRO UNIVERSITÁRIO CELSO LISBOA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS: ENSINO E PRÁTICA

Elaborado por
ELIZIA DE JESUS OLIVEIRA CURTI

EDUCAÇÃO BILÍNGUE

Data da aprovação: _____/ _____/ ________

Rio de Janeiro
2016
11

DEDICATÓRIA

Dedico a conclusão desse artigo à imensa


vontade de me superar a cada dia e da
intenção de não deixar que as adversidades
diárias embacem meu desejo de vencer.
12

AGRADECIMENTOS

Agradeço infinitamente a todos que me


deram apoio, amigos, de perto e de longe e
minha família, pois sem eles eu nada seria
e todo esforço de nada valeria.
13

EDUCAÇÃO BILÍNGUE:
UM PROJETO EM CONSTRUÇÃO

Elizia de Jesus Oliveira Curti1

RESUMO

A percepção social acerca do surdo no Brasil, principalmente no âmbito sócio-


educacional, tem sofrido grandes modificações no decorrer da história, mas há ainda
um longo caminho a ser percorrido para que esta parcela da população deixe de ser
vista pelo viés condescendente da incapacidade e submissão. O presente artigo
objetiva compreender como vem sendo conquistados e administrados os avanços
legislativos relativos à educação para pessoas surdas e como essas leis refletem na
construção da imagem social e civil do indivíduo surdo..
Pautados em uma concepção sócio-cogntivista, encaramos, neste trabalho, a
educação como o elo de coordenação da interação entre homem (surdo ou ouvinte)
e o meio social em que vive. Iniciaremos este trabalho pontuando fatos relevantes à
história do Surdo, como o reconhecimento da língua de sinais como uma Língua
real, tanto quanto as línguas orais, na década de 60. Dissertaremos sobre os
movimentos sociais e as conquistas angariadas pela comunidade surda e sobre os
avanços ocorridos depois da implementação da Lei 10.436 no ano de 2012
reconhecendo a LIBRAS como a língua oficial da pessoa surda em todo o território
nacional. Por fim discutiremos o atual quadro da educação para surdos pós
proposições determinadas pelo Projeto da Educação Inclusiva e a implementação do
bilinguismo como metodologia educacional. Tencionamos assim, uma reflexão
crítica não só dos caminhos percorridos nesta trajetória, assim como também
àqueles a serem trilhados.

PALAVRAS-CHAVE

EDUCAÇÃO; SURDO; BILINGUISMO

1
ELIZIA DE JESUS OLIVEIRA CURTI, Bacharel em Serviço Social pela Universidade UNIABEU/Belford Roxo,
Graduanda Pela UFRJ do Curso de Letras/Libras e Pós graduanda do Curso de tradução e Interpretação de
LIBRAS da Faculdade Celso Lisboa.
14

ABSTRACT

Social view on deaf people in Brazil has undergone major changes through
the course of centuries, especially in the Educational Field. Yet, there is still a long
way to go for this portion of population until they can get rid of the condescending
bias stigma of disability. The present article aims to understand better how the
legislative “advances” - relative to Deaf People Education - reflect in the construction
of social and civil imagery of a deaf individual reaching spaces that were once to
them denied access.
Guided by a Socio-cognitive ideology, we view Education as the key element
that coordinates the interaction between man (deaf or listener) and society. We begin
our efforts by punctuating relevant facts in History of Deaf people in Brazil such as
the recognition of sign language in the 60’s. The creation of the first institution in
Brazil dedicated to Deaf People Education - the National Institute of Deaf Education
(INES). Next, we address some national Social Movements, the achievements of the
Death Community and the advances occurred after the implementation of Law
10.436 in 2012 - which recognizes LIBRAS as the official language to deaf people in
national territory. Wrapping up our work, we discuss the current Educational
Framework for deaf people and the effects of the propositions of Project of Inclusive
Education and the Implementation of bilingualism as an educational method. Our
work proposes a critical reflection on the roads taken and the ones yet to be trodden.

KEY-WORDS

EDUCATION; DEAF PEOPLE; BILINGUISM

.
15

SUMÁRIO

 INTRODUÇÃO...................................................................................................8
 COMUNICAÇÃO, LINGUA E EDUCAÇÃO: BASE DA SOCIALIZAÇÃO
HUMANA...........................................................................................................9
 O SURDO........................................................................................................12
 OS SURDOS ÀS MARGENS DA EDUCAÇÃO...............................................13
 CONGRESSO DE MILÃO: A LEGALIZAÇÃO DA SEGREGAÇÃO................16
 O INICIO DA EDUCAÇÃO DO SURDO NO BRASIL......................................18
 ANOS 90; PERÍODO DE SIGNIFICATIVAS CONQUISTAS PARA A
COMUNIDADE SURDA...................................................................................19
 LEI 19.436: O RECONHECIMENTO LEGAL DE UMA
LINGUA...........................................................................................................21
 BILINGUISMO: UM CAMINHO A SER
DESBRAVADO................................................................................................23
 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................26
16

INTRODUÇÃO

Este trabalho irá dissertar acerca da condução com vem prosseguindo as


garantias dos direitos adquiridos pelas pessoas surdas,através das diversas leis
que amparam essa parcela da população brasileira dentro do contexto da inclusão
bilíngüe educacional e social.

O referido artigo irá iniciar pontuando alguns dos aspectos mais relevantes da
história da educação dos surdos em diferentes contextos históricos, para que seja
possível realizar uma análise segura das mudanças ocorridas na metodologia
educacional dirigida especificamente às pessoas surdas. Veremos sobre a
invisibilidade social do surdo enquanto cidadão e de sua visibilidade negativa
perante a sociedade e poder público no Brasil.

Este artigo mencionará alguns movimentos, nacionais e internacionais, de


promoção dos direitos do homem e das minorias lingüísticas, ocorridos a partir da
década de 90 que permearam mudanças relevantes no papel social do surdo no
Brasil.

Veremos as mudanças acadêmicas ocorridas no que se refere a pessoa surda


depois do reconhecimento legal desta enquanto membro de uma minoria linguística,
possuidor de cultura e identidade próprias, promovidas pela regulamentação da Lei
10.436, A Lei de LIBRAS.

Por fim, mencionaremos acerca da proposta bilíngüe, como método de ensino


para os alunos surdos nas escolas regulares, públicas e particulares, da rede
educacional no território nacional, assim como sobre as leis de amparo a este
segmento da população e da viabilidade da aplicação destas leis no atual quadro
das redes de ensino.
17

COMUNICAÇÃO, LÍNGUA2 E EDUCAÇÃO: BASE DA SOCIALIZAÇÃO


HUMANA.

Através de uma língua, seja esta de modalidade oral (para aqueles que ouvem)
ou de modalidade espaço visual3 (utilizadas pela comunidade surda) que podemos
nos comunicar com o outro e com o mundo. Através da língua podemos expressar
sentimentos, ideias, opiniões, críticas e desejos. A língua é à base da interação e da
socialização humana. Por ela, aprendemos com o outro e nos reconhecemos no
outro.

O direito de ser reconhecido como indivíduo com cultura, identidade e língua


própria levou a comunidade surda do Brasil, juntamente com sociedade civil, através
de movimentos sociais organizados a reivindicar a promulgação da Lei 10.436, de
24 de Abril de 2002, Lei de LIBRAS, que reconhece a língua de sinais como meio
legal de comunicação e expressão das pessoas surdas.

Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS a forma de


comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-
motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de
transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas
do Brasil. (BRASIL, Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002)

A oficialização da lei da LIBRAS, sem dúvida, foi um significativo avanço para a


comunidade surda. Porem percebemos que, somente, a implementação de leis e
políticas públicas sociais, não são suficientes para que os direitos determinados por
elas sejam cumpridos, assim como desmestificar a ótica preconceituosa da
sociedade.

A lei de LIBRAS em conjunto com a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 –


também conhecida como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência4 ou
Estatuto da Pessoa com Deficiência, vem ao encontro das necessidades da pessoa

2
A Língua a que nos referiremos neste trabalho se trata da língua como meio de interação entre os indivíduos
que fazem parte de um corpo social, de um grupo ou comunidade. (grifo do autor)
3
As línguas de sinais são denominadas: línguas de modalidade gestual-visual pois a informação linguística é
recebida pelos olhos e produzida pelas mãos (Quadros, Karnopp, 2004, p. 47,48)
4
A Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 assegura e a promove, em condições de igualdade, o exercício dos
direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
Disponível em: <http//www.planalto.org> Acesso em: 13 de fevereiro de 2016.
18

surda no acesso a bens e serviços, ao direito a educação nas escolas regulares e a


inclusão social.

A educação é condição essencial para o auto-reconhecimento do ser humano


enquanto indivíduo detentor de direitos civis assim como para a sociedade. Ela
quem conecta todos os outros direitos sociais, políticos, educacionais e até mesmo,
os de lazer. Sendo assim; a educação é à base da representação de todos os
direitos do cidadão, pois é através dela que este indivíduo possuirá acessibilidade ao
conhecimento e detenção dos demais direitos. Desta forma, privar o indivíduo de ter
uma educação de qualidade é privá-lo a ter acesso aos seus direitos de cidadão.

Assim como a educação é um direito e uma condição fundamental na


representação do indivíduo social, o direito a comunicação é vital para sua interação
com o mundo que o cerca. Através de comunicação, seja esta de modalidade oral
ou de modalidade espaço visual, é que podemos nos entender com o outro e nos
reconhecer no outro e, assim fazer parte de um grupo. A comunicação, percebida
através da visão sociolinguística5, se mostra como o fundamento da interação entre
os seres humanos.

Somente seres humanos possuem a capacidade de ter uma língua, por ela o
homem pode se comunicar e interagir com seu semelhante. Língua e comunicação
estão intrinsecamente associadas, é através da língua humana que se dá a
comunicação. Sem língua, não há comunicação. Na comunicação com o outro é que
expressamos nossos sentimentos, ideias, opiniões, críticas e desejos.

Língua, comunicação e educação são inegavelmente os elementos que


compõe o pilar, da socialização do homem, a tríade que eleva uma sociedade. O
crescimento do indivíduo como ser social depende dos elementos dessa tríade.
Privar o indivíduo de algum desses meios de elevação social é colocá-lo em uma
posição permanente de submissão e dependência. Esta situação implementa um
sistema segregador, fazendo com que o indivíduo recue para as margens do

5
Sociolingüística: Sociolingüística ou sociologia da linguagem é uma disciplina da linguística que estuda os
aspetos resultantes da relação entre a língua e a sociedade, concentrando-se em especial na variabilidade
social da língua. Disponível em: < http://www.infopedia.pt/$sociolinguistica-(linguistica)> Acessado em: 16 de
fevereiro de 2016.
19

convívio social, figurando como um marginal6 – no sentido próprio da palavra . Sem


direitos e sem o conhecimento de si, do outro, assim como, também, da sociedade
que o cerca.

6
Que ou quem vive à margem da sociedade. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/marginal>
Acessado em: 16 de fevereiro de 2016.
20

O SURDO

Fazer uma dissertação a respeito de alguns dos pontos mais relevantes da


história dos surdos neste artigo se faz de grande importância, como já explicamos
anteriormente, para que se tenha um entendimento dos avanços conquistados por
essa população na luta por seus direitos.

A história dos surdos, através dos séculos, está pontuada por uma série de
fatos discriminatórios e desumanos, por situações de negligencia, abandono e de
invisibilidade social. Em diferentes contextos históricos os surdos foram tratados
como párias sociais, imbecis, pessoas sem alma e incapazes. Aos surdos era
negado até mesmo o convívio com seus semelhantes, seus direitos de cidadão,
direito a bens e herança, direito ao casamento e direito a se comunicar em sua
própria língua. Sem fala ou audição, sem comunicação, educação ou conhecimento,
os surdos eram percebidos através do viés da crença religiosa: “pessoas sem
almas”, por serem incapazes de proferir os votos de sacramento, ou sob o
pragmatismo da medicina: que se apega por aquilo que o indivíduo não possui,
comparado aos demais. Aquilo que lhe falta é o que o torna deficiente perante o
resto da sociedade.

No Brasil a concepção do que é “ser surdo” passou por uma reconstrução


ideológica a partir da década de 70. Hoje a percepção que se tem do surdo está sob
uma ótica antropológica, pois essa referencia este indivíduo como membro de uma
minoria linguística, com identidade e cultura naturais, assim como, direitos e
garantias legais.

O artigo 2º do Decreto nº 5626, que regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de


abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, considera
como pessoa surda aquela que “por ter perda auditiva, compreende e interage com
o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente
pelo uso da língua Brasileira de Sinais – LIBRAS”.

Porém não se pode mensurar um indivíduo e muito menos um Povo ou


comunidade somente pela língua que utiliza para se comunicar. É preciso ter
conhecimento de sua história e cultura para poder se chegar a um entendimento
deste. Em se tratando do surdo como foco deste trabalho, se faz de grande
21

importância se aprofundar no conhecimento deste além de sua língua para que seja
possível criar políticas educacionais e estratégias pedagógicas que possam atendê-
los em suas especificidades cognitivas e lingüísticas.

OS SURDOS ÀS MARGENS DA EDUCAÇÃO

Conhecer a história de como (e do porquê) a educação das pessoas surdas


vem sendo ministradas ao longo do tempo é primordial para que se tenha noção dos
esforços que esta comunidade vem mobilizando em busca de seus direitos
lingüísticos e por conseguintes, sociais. Através de uma revisão da história
poderemos contemplar os avanços conquistados por essa parte da população
brasileira que vem a cada ano angariando visibilidade nos diversos meios da
sociedade.

Devido a sua diversidade, a história dos surdos está pontuada por uma
série de fatos discriminatórios e desumanos, fatos de negligencia, abandono,
invisibilidade e crueldade. Em Strobel (2009) a autora nos conta que Aristóteles,
filósofo grego da era Antiga, acreditava que a audição era o canal mais importante
para o aprendizado humano, por esse motivo, segundo o filósofo, aqueles que não
possuíam a capacidade de ouvir – e falar - estariam incapacitados de receber
ensinamento e de conseqüentemente possuir consciência humana, desta forma não
poderiam ser considerados humanos.

A pesquisadora diz que; aos surdos foram negados os direitos legais dirigidos
as outras pessoas. Considerados impossibilitados de receber herança ou adquirir
matrimonio e até mesmo responder por si próprio, por serem considerados
estúpidos7, se fazia necessário que houvesse um curador que “falasse” por eles. Os
surdos mais pobres, e que não possuíam bens ou tutores eram abandonados à
própria sorte nas ruas, campos e praças públicas. Na Idade Média, os surdos eram
colocados em fogueiras, àqueles que conseguiam sobreviver, viviam à margem da
sociedade escondidos em casa por suas famílias.
Segundo Skliar (1996) os primeiros esboços para educar a pessoa surda
surgiram na era medieval. Este tipo de ensinamento era ministrado por preceptores

7
Pessoa que revela falta de inteligência, de juízo ou discernimento.
Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=est%FApido>. Acessado em: 16 de fevereiro de 2016.
22

pessoais. Essa atenção educacional tinha por objetivo a possibilidade de que o


surdo, possuidor de herança, pudesse vira recebê-la, assim como os títulos
deixados por seus familiares.
Para Sacks (2010), antes de 1750 a situação das pessoas com surdez pré-
linguística era uma calamidade.
(...) incapazes de se comunicar livremente até mesmo com seus pais e
entre seus familiares, restritos a alguns sinais e gestos rudimentares,
isolados, excetos nas grandes cidades, até mesmo da comunidade de
pessoas com o mesmo problema, privados de alfabetização e instrução, de
todo o conhecimento do mundo, forçados a fazer os trabalhos mais
desprezíveis, vivendo sozinhos, muitas vezes à beira da miséria,
considerados pela lei e pela sociedade pouco mais que imbecis (...) mas o
que mais se evidenciava não era nada em comparação com a destituição
conhecimento e do pensamento que a surdez pré-linguística pode acarretar
.(...) ( Sacks, 2010 - p.19)

Através de uma linha do tempo, Strobel (2009) nos mostra alguns eventos que
suscitaram a idéia de que aos surdos poderia ser dada educação e ensinamento.
Ela nos mostra que Pedro Ponce de Leon (1584), monge católico beneditino do
século XVI, ensinou os filhos surdos dos nobres da sua época, fundou uma escola
para surdos, em Madri, e também uma escola para professores de surdos. Ponce de
Leon desenvolveu o alfabeto manual para ajudar na soletração das palavras,
utilizando também a datilologia8, a escrita e a oralização como método para ensinar
línguas e ciências exatas.
Bartollo Della Marca D’ancova, advogado e escritor, ainda no século XVI, foi a
primeira pessoa a mencionar a possibilidade de que as pessoas surdas pudessem
ser educadas e obter conhecimento através de uma língua de sinais ou mesmo de
uma língua auditiva.
O abade francês Charles-Michel de L´Epée, ficou conhecido como o “Pai dos
Surdos”, por ser um dos primeiros a defender a existência de uma língua de sinais
utilizada como um meio de comunicação pelas pessoas surdas.
L’Epée manteve contato com os surdos carentes e humildes que moravam nas
ruas Paris a fim de aprender a se comunicar com eles e poder iniciar os estudos
sobre a língua de sinais.

8
Datilologia: configura-se como empréstimo lingüístico da língua oral. É uma técnica de comunicação
produzida pela soletração de palavras através de sinais feitos com os dedos ou com as mãos, utilizando-se o
alfabeto. É A datilologia é utilizada para: traduzir nomes próprios, de pessoas, lugares, palavras que ainda não
possuem sinal. Disponível em <http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/datilologia> Acessado
em: 16 de fevereiro de 2016.
23

O religioso reconheceu que a língua se desenvolvia e era essencial para


comunicação entre os surdos assim como para o seu desenvolvimento cognitivo e
sua interação social. Inicialmente, seu interesse em aprender a língua foi para que
pudesse levar aos surdos à educação religiosa, porém, percebendo a capacidade de
aprendizado dos surdos, o abade desenvolveu uma metodologia de ensino para
estas pessoas, e no ano de 1760 fundou, em Paris, a primeira escola pública para
surdos em todo o mundo, conhecida atualmente como Instituto Nacional de Jovens
Surdos de Paris. Em 1790 o abade e gramatico Roch Ambroise Sicard (1742-
1822) sucede a L’Épée na desta da instituição
Sacks (2010) relata que, Sicard através durante sua convivência com os surdos
e da percepção destes indivíduos, passou a se questionar se a constituição biológica
destes sujeitos poderia ser diferente das demais pessoas (ouvintes) e se esta
diferença seria o motivo de se mostrarem incapazes de receber instrução e
concatenar ideias como as pessoas que podiam ouvir. Sicard, através da
observação, percebeu que falta de comunicação dos surdos entre si e com as outras
pessoas se devia ao fato de não possuírem símbolos9 que os ajudasse, a fixar e
combinar as ideias. Desta forma Sicard chegou a um método, mais simplificado que
o utilizado por L’pée em que primava pelo benefício do significado no
contexto concreto em que a expressão se produzia.
Sacks (2010) diz que:
É possível dar a um surdo-mudo condições de ouvir pela leitura e falar pela
escrita (...) pois assim como os diferentes sons são usados,
convencionalmente, para significar coisas diferentes, também podem ter
função as diversas figuras de objetos e palavras (...) caracteres escritos e
ideias pode ser conectado sem a intervenção de sons verdadeiros (Sacks,
2010 - pp 20)

Os surdos foram impedidos de utilizar a sua língua-mãe, tratados como parvos,


obrigados a aprender por um método que não respeitava suas características
cognitivas o que os impediam de ter um aprendizado igualitário as outras crianças
ouvintes, fazendo dessa forma com que permanecesse o ciclo de submissão e
dependência desses indivíduos.

9
Na língua oral esses símbolos são representados pelas palavras (signos). No caso dos surdos os símbolos são
representados pelos sinais. (Grifo do autor)
24

CONGRESSO DE MILÃO: A LEGALIZAÇÃO DA SEGREGAÇÃO

No ano de 1880, dos dias 6 a 11 de setembro, em Milão, Itália, realizou-se o


Congresso Internacional de Surdo-Mudez, composto por educadores de surdos cuja
intenção era a de se discutir sobre a melhor metodologia a ser utilizada no ensino
dessas pessoas. O congresso havia sido organizado, patrocinado e conduzido por
pessoas especialistas na área de surdez, porém, todos os palestrantes eram
ouvintes e defensores do oralismo puro. Nenhum professor surdo foi convidado a se
apresentar e, além disso, tiveram seu direito de votar negado.
Sob uma forte e incisiva influência de Alexandre Graham Bell10, o corpo
eletivo declarou o método oralista como sendo a melhor metodologia a ser aplicada
na educação dos surdos.
A maioria dos países logo acatou a decisão do Congresso de Milão adotando
o oralismo11 como procedimento de ensino nas escolas para surdos, proibindo,
oficialmente, a utilização da língua de sinais dentro das instituições de ensino.

O Congresso de Milão extirpou do surdo o direito a se obter conhecimento e a


comunicação em sua língua materna12. Por quase um século proibiu-se aos surdos
utilizarem a língua de sinais fora de suas casas, a língua de sinais passou a ser
marginalizada. Desta forma o desenvolvimento cognitivo, emocional e social do
surdo sofreu significativos e irrecuperáveis prejuízos durante esse período. Assim
as crianças surdas saíam das escolas com qualificações inferiores e habilidades
sociais limitadas comparado as crianças ouvintes devido a privação do aprendizado
em sua própria língua.

10
Alexander Graham Bell (1847-1922) era contra a utilização da língua de sinais para a comunicação e
aprendizado do surdo. Segundo ele, a mesma não propiciava o desenvolvimento intelectual dos surdos, ou
seja, a sua inserção na cultura ouvinte. Graham Bell negava veementemente a existência de uma cultura surda.
Era contra a união matrimonial entre pessoas surdas, assim como as escolas com que utilizavam o sistema de
internato para surdos, pois, segundo ele, estes fatores propiciavam o isolamento dos surdos, afastando-os da
sociedade. Em 1872 abriu sua própria escola para treinar os professores de surdos em Boston (Estado Unidos),
em 1877 casou-se com uma surda que conhecera na Universidade de Boston no período em que ministrava
aulas de fisiologia da voz para surdos.
11
Oralismo: A oralização/oralismo ou oralismo puro são vertentes de uma mesma corrente que tem como
objetivo a integração do surdo na sociedade ouvinte, onde o principal instrumento desta proposta pedagógica
é a reabilitação oral e auditiva. (Aguinello, 2007, pp.34)
12
Língua materna ou L1, ou ainda língua-mãe é a lingua natural de um indivíduo, a L1 não é aprendida como a
L2, mas sim adquirida no meio social em que a criança vive durante a sua idade crítica de aprendizado (grifo do
autor).
25

Esta situação de privação transcorreu durante quase um século. Na década


de 60, o linguista Willian Stokoe surge com uma teoria que se tornaria o divisor de
águas na história das línguas de sinais e do surdo. O estudioso norte americano
comprovou em suas pesquisas sobre a Língua de Sinais Americana (ASL) que os
sinais utilizados pelos surdos apresentavam uma estrutura constitutiva de língua13
genuína, tanto o quanto a das línguas orais.

A partir das pesquisas de Stokoe começaram a surgir dúvidas sobre se o


método da oralização seria, de fato, a melhor prática a ser aplicada na educação dos
surdos; passou-se a ser considerada a importância da aquisição da língua de sinais
como L1, como fonte natural de desenvolvimento social e educacional, assim como
sua utilização nos processos cognitivo da pessoa surda.

13
Todas as línguas naturais compartilham características que lhes são únicas e que as identificam enquanto
lingua, diferenciando-as de outros sistemas de comunicação. Nesse sentido, é possível identificar, por meio
dessas características, se um dado sistema de comunicação se trata de uma lingua. A
flexibilidade/versatilidade, arbitrariedade, descontinuidade, criatividade/produtividade, dupla articulação,
padrão e dependência estrutural, são algumas das propriedades presentes nas línguas. (Rodrigues, Valente
2012 p.18-20)
26

O INÍCIO DA EDUCAÇÃO DO SURDO NO BRASIL

Em 1857 o surdo francês Hernest Huet14 veio ao Brasil convidado por D.


Pedro II, para fundar o Collegio Nacional para Surdos-Mudos15, atualmente chamado
de Instituto Nacional de Educação para Surdos, a primeira escola para surdos. O
instituto funcionava sob o regime de internato e recebia somente meninos. Por
muitos anos esta fundação foi a única instituição oficial a receber alunos surdos de
todo o Brasil e também os alunos de países da América Latina.
O Instituto Santa Terezinha, também foi um importante instituto voltado para a
educação dos surdos. Fundado em 1929 no estado de São Paulo; na cidade de
Campinas, transferiu-se para a capital, São Paulo, em 1933. Até então não existiam
escolas particulares para surdos no Estado de São Paulo. Este instituto se dedicava,
exclusivamente, à educação de moças surdas. Por influência das educadoras
religiosas francesas, até a década de 1990, o instituto adotou o método de
oralização na educação dos surdos. Atualmente o instituto atende a alunos de todo o
Brasil e tem se organizado conforme a filosofia bilíngüe, tendo como objetivo
principal o desenvolvimento cognitivo-linguístico do aluno.

No dia 16 de maio de 1987, foi criada a Federação Nacional de Educação e


Integração dos Surdos (FENEIS). Entidade que trabalha em prol da sociedade surda
garantindo a defesa dos direitos lingüísticos e culturais dessa parcela da população
brasileira.

14
Hernest Huet, professor surdo com experiência de mestrado e cursos em Paris, veio ao Brasil Em 1855 a
convite do imperador D.Pedro II com a intenção de abrir uma escola para pessoas surdas. Disponível em:
<http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade2/historia_surdos.htm>
15
No ano de 1957, a palavra “mudo” foi substituída pela palavra “educação” no nome da instituição que
atualmente chama-se Instituto Nacional de Educação para Surdos, ou simplesmente INES, como é,
popularmente, conhecido. E continua sediado no mesmo endereço em que foi fundado, no bairro das
laranjeiras na cidade do Rio de Janeiro. Disponível em :< http://www.ines.gov.br/conheca-o-ines>
27

ANOS 90: PERÍODO DE SIGNIFICATIVAS CONQUISTAS PARA A COMUNIDADE


SURDA

A partir da década de 90 o Brasil, impulsionado pelos Movimentos


internacionais e nacionais de defesa dos direitos do homem e em conformidade com
leis e políticas públicas voltadas para as pessoas com diversidades e membros das
minorias lingüísticas, ocorreu uma reformulação nas políticas educacionais de
incentivo para práticas da chamada inclusão e educação especial.

A década de 90 foi o início de significativas e vitoriosas mudanças no que


tange a garantia de direitos da população surda. Em dezembro de 1992 a
Assembléia Geral realizada pela Organização das Nações Unidas publicou a
Declaração Sobre os Direitos das Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou
Étnicas, Religiosas e Linguísticas, aprovada pela Resolução 47/135. Em seu artigo
4º esta declaração delibera medidas a serem adotadas pelos Estados na garantia de
que as pessoas pertencentes a minorias linguísticas possam exercer seus direitos
sem discriminação e obriga aos Estados a adotarem medidas que, sempre que
possibilitem as pessoas pertencentes a minorias lingüísticas a terem oportunidades
de aprender seu idioma materno ou de receber instruções sobre este.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no ano de 1993, dos dias 12


a 17 de setembro, organizou o II Congresso Latino Americano de bilingüismo para
Surdos, coordenado pela professora Lucinda Ferreira16

Em junho de 1994 a Conferência Mundial de Educação Especial17, em


Salamanca (Espanha) buscando a melhoria no acesso à educação, reconheceu os
direitos das minorias lingüísticas e a necessidade urgente do providenciamento de
educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais
especiais dentro do sistema regular de ensino. Congregaram a todos os governos a

16
Lucinda Ferreira; Lucinda Ferreira; formada na faculdade de Letras-Portugues, pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1971, Mestra em Linguística pela Universidade de São Paulo (1974) e
doutorado - Universite de Paris IV (1977). Aposentada teve grande importância para as pesquisas da LIBRAS.
Disponível em :< http://www.escavador.com/sobre/1499354/lucinda-ferreira>

17
Delegados da Conferência Mundial de Educação Especial, governos de Estado e organizações internacionais
se reuniram entre os dias 7 e 10 de junho de 1994, em Salamanca, Espanha, afim de reafirmar o compromisso
com a Educação para Todos, na qual demanda que os Estados assegurem o direito a educação das pessoas com
deficiências dentro do sistema educacional. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>
28

adotarem o princípio de educação inclusiva em forma de lei ou de política,


matriculando todas as crianças em escolas regulares e garantindo que, no contexto
de uma mudança sistêmica, programas de treinamento de professores, tanto em
serviço como durante a formação, incluam a provisão de educação especial dentro
das escolas inclusivas. Ficou determinado que as escolas devessem ajustar-se a
todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, sociais,
lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou
marginais, crianças de populações imigradas ou nômades, criança da rua ou
crianças que trabalham.
No ano de 1996, entre os dias 06 e 09 de junho aconteceu a Conferência
Mundial sobre Direitos Lingüísticos, em Barcelona. Esta conferência aprovou, com o
aval da UNESCO, a Declaração Universal dos Direitos Lingüísticos, também
conhecida como Declaração de Barcelona. O ponto principal discutido nesta
conferência foi sobre o reconhecimento dos direitos lingüísticos das diferentes
minorias dos povos da humanidade.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no ano de 1999 em
conjunto com o Núcleo de Pesquisas em Políticas Educacionais para Surdos e em
parceria com a FENEIS do Rio Grande do Sul, dos dias 21 a 24 de abril organizou o
V Congresso Latino Americano de Educação Bilíngue para Surdos. Neste mesmo
período promoveu, ainda, o Pré-Congresso ao V Congresso de Educação Bilíngue
para Surdos, onde se discutiu as propostas para a formação do professor surdo do
intérprete e tradutor de LIBRAS.
A Conferencia dos Direitos e Cidadania dos Surdos do Estado de São Paulo
(CONDISUR) realizada no dia 21 de abril de 2001, teve como objetivo a elaboração
de propostas para o pleno exercício da cidadania do surdo.
Em agosto de 2001 o Programa Nacional de Apoio à Educação do Surdo, a
Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS-RJ) junto com o
Ministério de Educação e Cultura (MEC), formou 54 Professores/Intérpretes surdos
de todo o território brasileiro, para serem Instrutores de LIBRAS, também
desenvolveu métodos de ensino e materiais didáticos que oferecerão aos alunos
Surdos uma educação de qualidade.
Em abril de 2002 a comunidade surda de todo o território nacional angariou
uma das suas maiores conquistas, até hoje, senão a maior delas, através da
regulamentação da Lei 10.436 que reconheceu a legitimidade da Língua Brasileira
29

de Sinais, como meio de comunicação oficial da comunidade surda e assim


determinando a difusão desta em todos os órgãos públicos e empresas
concessionárias de serviços públicos, de todo o território nacional. A Lei 10.436
dispõe também sobre o dever de se incluir na grade curricular dos cursos de
Formação, Educação Especial, Fonoaudiologia e Magistério, a disciplina de ensino
de LIBRAS, em nível médio e superior nas Instituições de Ensino Federais e
Estaduais, constando como matéria optativa nos demais cursos de educação
superior e na educação profissional.
O artigo 3º do capítulo II da supracitada lei, estabelece a inclusão da LIBRAS
como disciplina curricular no ensino público e privado, e sistemas de ensino
estaduais, municipais e federais. O Decreto 5.626 de dezembro de 2005
regulamenta a lei 10.436 em seu capítulo VI, artigo 22, incisos I e II, determina uma
educação inclusiva para os surdos, numa modalidade bilíngue em sua escolarização
básica, garantindo-se a estes alunos, educadores capacitados e a presença do
intérprete nessas classes.

LEI 10.436: O RECONHECIMENTO LEGAL DE UMA LINGUA

A necessidade de ser reconhecido em seu próprio país como um cidadão de


direitos, com identidade e cultura próprias, a insatisfação com a obrigatoriedade em
se adotar a cultura oralista e a busca por uma educação inclusiva e de qualidade,
levou a comunidade surda do Brasil a lutar pela promulgação da Lei 10.436, de 24
de Abril de 2002 - Lei de LIBRAS que reconhece a língua brasileira de sinais como
meio legal de comunicação e expressão das pessoas surdas.
A LIBRAS, língua brasileira de sinais, possibilita o desenvolvimento
lingüístico, social e intelectual daquele que a utiliza enquanto
instrumento comunicativo, favorecendo seu acesso ao conhecimento
cultural e cientifico, bem como a integração no grupo social ao qual
pertence. (Damásio. 2005, p.61)

O artigo 1º da Lei 10.436, lei de LIBRAS, diz que:


Entende-se como língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, a forma de
comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza
visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um
sistema lingüístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de
comunidades de pessoas surdas do Brasil. (Lei 10.436, de 24 de Abril
de 2002)
30

A regulamentação da Lei de LIBRAS através do Decreto nº 5. 626, de 22 de


dezembro de 2005 como a segunda língua oficial brasileira trouxe impactos
significativamente positivos para a comunidade surda.

Respostas das diversas reivindicações por uma educação inclusiva de


qualidade a lei de LIBRAS vem de encontro as determinações das várias legislações
pertinentes àqueles que pertencem a uma minoria linguística.

Skliar (1997, p. 141) diz que a língua de sinais constitui o elemento


identificatório dos surdos, e o fato de constituir-se em comunidade significa que
compartilham e conhecem os usos e normas de uso da mesma língua, já que
interagem cotidianamente em um processo comunicativo eficaz e eficiente. Isto é,
desenvolveram as competências linguísticas e comunicativa e cognitiva por meio do
uso da língua de sinais própria de cada comunidade de surdos.

Monteiro (2006. p. 201) diz que; as escolas de surdos que adotaram o


bilinguismo como metodologia de ensino puderam oferecer aos seus alunos
melhores condições de acesso ao conhecimento do que as escolas inclusivas 18, A
autora acredita que um modelo de bilinguismo que realmente dê conta da
necessidade linguística do sujeito surdo é aquele em que se respeite a língua de
sinais como língua materna do surdo e que o ensino de língua oral seja administrado
como instrumental escrito de segunda língua.

18
Escola inclusiva é, aquela que garante a qualidade de ensino educacional a cada um de seus alunos,
reconhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a cada um de acordo com suas potencialidades e
necessidades. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aescola.pdf>
31

BILINGUISMO : UM CAMINHO A SER DESBRAVADO.

O bilínguismo não é uma modalidade apenas referente à educação de


surdos. O termo bilíngue expressa a condição de um indivíduo que tem fluência em
duas línguas. A primeira língua, chamda língua-mterna ou L1 é adiquirida atraves da
aquisiçao de línguagem. A segunda língua, chamada L2 é obtida de maneira
sistematica do aprendizado.
A língua é suporte indispensável ao desenvolvimento natural dos processos
mentais, afirma Skliar (1999, pp 16) “(...) respeitar a pessoa surda e sua condição
sociolinguística implica considerar seu desenvolvimento pleno como ser bicultural a
fim de que possa dar-se em um processo psicolingüístico normal”.
Garantir ao surdo; aprender e se comunicar em sua língua materna é garantir
que seu desenvolvimento cognitivo seja preservado sem atrasos quando
comparados aos demais alunos ouvintes.
Brito (1997) afirma que:
As línguas gesto-visuais é a única modalidade de língua que permite aos
surdos desenvolver plenamente seu potencial linguístico e, portanto, seu
potencial cognitivo, oferecendo-lhes, por isso mesmo, possibilidade de
libertação do real concreto e da socialização que não apresentaria
defasagem em relação àquela dos ouvintes. São o meio mais eficiente de
integração social do surdo. (Brito apud, Lima 2004, pp37)

Para Quadros (apud Fernandes, 2005 p.28), “O bilinguismo, entre tantas


possíveis definições, pode ser considerado: o uso que as pessoas fazem de
diferentes línguas (duas ou mais) em diferentes contextos sociais”.
Segundo Skliar (apud Quadros 1997 p.28) o bilinguismo, no Brasil, se
apresenta como uma proposta de ensino usada pelo meio escolar em que propõe
um ensino onde a criança surda tenha acesso a sua língua materna (L1) e a língua
oficial do território em que está domiciliado ou de que é nato (L2).
Devido ao fracasso da metodologia oralista, imposto pelo Congresso de milão
a muitos países, a abordagem bilingue, a principio, tende a ser um caminho para a
formação academica do individuo surdo.
Quadros (2008 p.27) salienta que a preocupação atual é respeitar e priorizar a
autonomia das línguas de sinais e estruturar um plano educacional que não afete a
experiência psicossocial e linguística da criança surda contemplando dentre vários
estudos a declaração da UNESCO.
32

Para Sanches (1991) um marco que separa o bilinguismo das proposta vistas
anteriormente é que, este, não é uma metodologia de ensino, mas sim uma visão
social do surdo. Baseado nessa afirmação a surdez se conceitualiza como uma
condição que acarreta uma diferença no plano linguístico e não como enfermidade
que deve ser curada ou como algo de menor valor que deve ser compensada.
De acordo com Moura (1993), o surdo pode ter um desenvolvimento
cognitivo-linguístico de igual forma ao verificado na criança ouvinte, ao desenvolver
uma identificação harmoniosa entre as culturas ouvinte e surda, tendo acesso às
duas línguas: a língua de sinais e a língua oral.
Essas postulações conduzem a explicita conclusão de que é primordial que
os surdos tenham como sua língua materna a modalidade linguística sinalizada, uma
vez que isso lhes dará oportunidade para desenvolverem o seu entendimento sobre
como os princípios dos sistemas fonológicos, morfológicos, sintáticos e até
pragmáticos são organizados. Assim, além de adquirirem uma identidade linguística
que os levará a uma sociabilização nas comunidades surdas, também, terão mais
chances de se tornarem sujeitos letrados em ambas as sociedades, tanto na
comunidade surda quanto na daqueles que utilizam a língua oral.
Brito (1993) propõe um bilinguismo diglóssico onde os alunos surdos
utilizariam a língua de sinais nas ações e situações em que uma língua materna é
usada nas escolas, exceto quando se referirem à escrita onde ela pode ser o meio,
mas não o objetivo.
Conforme resolução do Decreto 5.626/05 no Brasil, se inicia o processo de de
implantação da educação bilingue na escolas especias e regulares inclusivas, com a
LIBRAS em primeiro plano como língua materna e o português como segunda
língua, inserindo o profissional tradutor e interprete de LIBRAS no espaço escolar a
fim de levar ao aluno surdo o conteúdo ministrado em sala de aula por seus
professores ouvintes em sua língua natural.

A lei n° 12.319 de 1° de setembro de 2010 regulamenta o exercício da


profissão de Tradutor e Intérprete da LIBRAS e prega que o tradutor e intérprete de
LIBRAS terá competência para realizar interpretação nas duas línguas: LIBRAS e
Língua Portuguesa. Determinando como atribuições deste profissional, a promoção
da comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos,
por meio da LIBRAS para a língua oral e vice-versa, assim como; interpretar, em
33

Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas


e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e
superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares.
34

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Revendo a história da educação dos surdos podemos perceber dentro do


atual contexto histórico que a metodologia utilizada no ensino das pessoas surdas
vem passando por mudanças extremamente favoráveis em se tratando do respeito
às diferenças cognitivas destes indivíduos. Ensinar o surdo dentro da perspectiva
bilíngüe é atendê-los dentro de suas necessidades especiais enquanto minoria
lingüística.
O bilingüismo configura-se como a melhor prática na alfabetização do aluno
surdo, apresentando-se como uma ferramenta de extrema importância nas políticas
nacionais da educação inclusiva. Na metodologia do ensino bilíngüe a língua de
sinais se conforma como L1 e a Língua portuguesa como L2.
A proposta da educação bilíngüe para surdos pode ser definida como uma
oposição aos discursos e às práticas clínicas hegemônicas características da
educação e da escolarização dos surdos nas últimas décadas e como um
reconhecimento político da surdez como diferença (SKILIAR, 1998, p. 1).
O Decreto 5.626, que regulamenta a lei de LIBRAS, em seu artigo 3º,
determina que a LIBRAS deva ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos
cursos de formação de professores, de pedagogia e demais cursos de licenciatura.
Porém é necessário um aprofundamento maior, que vá além do conhecimento
básico de uma língua para se atender e ensinar um individuo. Seja este surdo ou
ouvinte.
O despreparo e a falta de conhecimento da LIBRAS assim como o
desconhecimento sobre a cultura e as particularidades referentes a pessoa surda
figuram como um considerável e determinante fator de IMPEDIMENTO na
É preciso repensar a a maneira como a proposta da educação bilíngüe vem
sendo ministradas nas escolas. É preciso mudanças nos vários segmentos que
atendem ao aluno surdo, dentro e fora da sala de aula. É preciso um melhor preparo
dos professores, técnicos e até mesmo das instituições e equipamentos de ensino
para um atendimento de qualidade.
Faz-se necessário o aperfeiçoamento e desenvolvimento da metodologia de
ensino bilíngüe, assim como, e melhorias nos recursos didáticos pedagógicos,
capacitação de professores, interação da família junto a escola e o corpo docente a
35

fim de auxiliar na adaptação e desenvolvimento escolar da criança surda no contexto


das escolas regulares. Desta forma a educação estaria sendo proporcionada de
forma mais ampliada em que abrangeria também sua interação no contexto sócia
além do escolar. É necessário proporcionar ao aluno surdo possibilidades para o
desenvolvimento social, político, emocional e cultural.
O modelo de educação bilíngüe prima por uma metodologia em que, a
LIBRAS configure como L1 e a língua portuguesa como a segunda língua. O
atendimento ao aluno surdo é proposto por um currículo diferenciado, que possa
atender às necessidades específicas desse grupo de alunos.
As mudanças legislativas ocorridas no sistema de educação brasileira com o
propósito de atender as demandas das pessoas que fazem parte da minoria
lingüística , assim como aquela com diversidade funciona, foram sem duvida,
positivas. Porém ainda existem desafios a serem enfrentados. Um deles é a
qualificação dos profissionais envolvidos neste processo, assim como a
reconfiguração das instituições, metodologia e materiais educacionais .
A partir da analise do tema tecido neste artigo percebemos que as escolas
deverão ser reestruturadas para que os professores tenham condições de se
capacitarem para atender todos os alunos de modo igualitário. Aliada a essa
mudança institucional, os professores deveram estar abertos a compreender as
diferenças culturais e cognitivas dos alunos surdos, para que possam conduzir
esses alunos através do desenvolvimento sócio-educacional.
36

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