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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS: ENSINO E PRÁTICA
EDUCAÇÃO BILÍNGUE:
UM PROJETO EM CONSTRUÇÃO
Elaborado por
Rio de Janeiro
2016
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EDUCAÇÃO BILÍNGUE:
UM PROJETO EM CONSTRUÇÃO
Rio de Janeiro
2016
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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS: ENSINO E PRÁTICA
Elaborado por
ELIZIA DE JESUS OLIVEIRA CURTI
EDUCAÇÃO BILÍNGUE
Rio de Janeiro
2016
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DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
EDUCAÇÃO BILÍNGUE:
UM PROJETO EM CONSTRUÇÃO
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
1
ELIZIA DE JESUS OLIVEIRA CURTI, Bacharel em Serviço Social pela Universidade UNIABEU/Belford Roxo,
Graduanda Pela UFRJ do Curso de Letras/Libras e Pós graduanda do Curso de tradução e Interpretação de
LIBRAS da Faculdade Celso Lisboa.
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ABSTRACT
Social view on deaf people in Brazil has undergone major changes through
the course of centuries, especially in the Educational Field. Yet, there is still a long
way to go for this portion of population until they can get rid of the condescending
bias stigma of disability. The present article aims to understand better how the
legislative “advances” - relative to Deaf People Education - reflect in the construction
of social and civil imagery of a deaf individual reaching spaces that were once to
them denied access.
Guided by a Socio-cognitive ideology, we view Education as the key element
that coordinates the interaction between man (deaf or listener) and society. We begin
our efforts by punctuating relevant facts in History of Deaf people in Brazil such as
the recognition of sign language in the 60’s. The creation of the first institution in
Brazil dedicated to Deaf People Education - the National Institute of Deaf Education
(INES). Next, we address some national Social Movements, the achievements of the
Death Community and the advances occurred after the implementation of Law
10.436 in 2012 - which recognizes LIBRAS as the official language to deaf people in
national territory. Wrapping up our work, we discuss the current Educational
Framework for deaf people and the effects of the propositions of Project of Inclusive
Education and the Implementation of bilingualism as an educational method. Our
work proposes a critical reflection on the roads taken and the ones yet to be trodden.
KEY-WORDS
.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................8
COMUNICAÇÃO, LINGUA E EDUCAÇÃO: BASE DA SOCIALIZAÇÃO
HUMANA...........................................................................................................9
O SURDO........................................................................................................12
OS SURDOS ÀS MARGENS DA EDUCAÇÃO...............................................13
CONGRESSO DE MILÃO: A LEGALIZAÇÃO DA SEGREGAÇÃO................16
O INICIO DA EDUCAÇÃO DO SURDO NO BRASIL......................................18
ANOS 90; PERÍODO DE SIGNIFICATIVAS CONQUISTAS PARA A
COMUNIDADE SURDA...................................................................................19
LEI 19.436: O RECONHECIMENTO LEGAL DE UMA
LINGUA...........................................................................................................21
BILINGUISMO: UM CAMINHO A SER
DESBRAVADO................................................................................................23
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................26
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INTRODUÇÃO
O referido artigo irá iniciar pontuando alguns dos aspectos mais relevantes da
história da educação dos surdos em diferentes contextos históricos, para que seja
possível realizar uma análise segura das mudanças ocorridas na metodologia
educacional dirigida especificamente às pessoas surdas. Veremos sobre a
invisibilidade social do surdo enquanto cidadão e de sua visibilidade negativa
perante a sociedade e poder público no Brasil.
Através de uma língua, seja esta de modalidade oral (para aqueles que ouvem)
ou de modalidade espaço visual3 (utilizadas pela comunidade surda) que podemos
nos comunicar com o outro e com o mundo. Através da língua podemos expressar
sentimentos, ideias, opiniões, críticas e desejos. A língua é à base da interação e da
socialização humana. Por ela, aprendemos com o outro e nos reconhecemos no
outro.
2
A Língua a que nos referiremos neste trabalho se trata da língua como meio de interação entre os indivíduos
que fazem parte de um corpo social, de um grupo ou comunidade. (grifo do autor)
3
As línguas de sinais são denominadas: línguas de modalidade gestual-visual pois a informação linguística é
recebida pelos olhos e produzida pelas mãos (Quadros, Karnopp, 2004, p. 47,48)
4
A Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 assegura e a promove, em condições de igualdade, o exercício dos
direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
Disponível em: <http//www.planalto.org> Acesso em: 13 de fevereiro de 2016.
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Somente seres humanos possuem a capacidade de ter uma língua, por ela o
homem pode se comunicar e interagir com seu semelhante. Língua e comunicação
estão intrinsecamente associadas, é através da língua humana que se dá a
comunicação. Sem língua, não há comunicação. Na comunicação com o outro é que
expressamos nossos sentimentos, ideias, opiniões, críticas e desejos.
5
Sociolingüística: Sociolingüística ou sociologia da linguagem é uma disciplina da linguística que estuda os
aspetos resultantes da relação entre a língua e a sociedade, concentrando-se em especial na variabilidade
social da língua. Disponível em: < http://www.infopedia.pt/$sociolinguistica-(linguistica)> Acessado em: 16 de
fevereiro de 2016.
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Que ou quem vive à margem da sociedade. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/marginal>
Acessado em: 16 de fevereiro de 2016.
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O SURDO
A história dos surdos, através dos séculos, está pontuada por uma série de
fatos discriminatórios e desumanos, por situações de negligencia, abandono e de
invisibilidade social. Em diferentes contextos históricos os surdos foram tratados
como párias sociais, imbecis, pessoas sem alma e incapazes. Aos surdos era
negado até mesmo o convívio com seus semelhantes, seus direitos de cidadão,
direito a bens e herança, direito ao casamento e direito a se comunicar em sua
própria língua. Sem fala ou audição, sem comunicação, educação ou conhecimento,
os surdos eram percebidos através do viés da crença religiosa: “pessoas sem
almas”, por serem incapazes de proferir os votos de sacramento, ou sob o
pragmatismo da medicina: que se apega por aquilo que o indivíduo não possui,
comparado aos demais. Aquilo que lhe falta é o que o torna deficiente perante o
resto da sociedade.
importância se aprofundar no conhecimento deste além de sua língua para que seja
possível criar políticas educacionais e estratégias pedagógicas que possam atendê-
los em suas especificidades cognitivas e lingüísticas.
Devido a sua diversidade, a história dos surdos está pontuada por uma
série de fatos discriminatórios e desumanos, fatos de negligencia, abandono,
invisibilidade e crueldade. Em Strobel (2009) a autora nos conta que Aristóteles,
filósofo grego da era Antiga, acreditava que a audição era o canal mais importante
para o aprendizado humano, por esse motivo, segundo o filósofo, aqueles que não
possuíam a capacidade de ouvir – e falar - estariam incapacitados de receber
ensinamento e de conseqüentemente possuir consciência humana, desta forma não
poderiam ser considerados humanos.
A pesquisadora diz que; aos surdos foram negados os direitos legais dirigidos
as outras pessoas. Considerados impossibilitados de receber herança ou adquirir
matrimonio e até mesmo responder por si próprio, por serem considerados
estúpidos7, se fazia necessário que houvesse um curador que “falasse” por eles. Os
surdos mais pobres, e que não possuíam bens ou tutores eram abandonados à
própria sorte nas ruas, campos e praças públicas. Na Idade Média, os surdos eram
colocados em fogueiras, àqueles que conseguiam sobreviver, viviam à margem da
sociedade escondidos em casa por suas famílias.
Segundo Skliar (1996) os primeiros esboços para educar a pessoa surda
surgiram na era medieval. Este tipo de ensinamento era ministrado por preceptores
7
Pessoa que revela falta de inteligência, de juízo ou discernimento.
Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=est%FApido>. Acessado em: 16 de fevereiro de 2016.
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Através de uma linha do tempo, Strobel (2009) nos mostra alguns eventos que
suscitaram a idéia de que aos surdos poderia ser dada educação e ensinamento.
Ela nos mostra que Pedro Ponce de Leon (1584), monge católico beneditino do
século XVI, ensinou os filhos surdos dos nobres da sua época, fundou uma escola
para surdos, em Madri, e também uma escola para professores de surdos. Ponce de
Leon desenvolveu o alfabeto manual para ajudar na soletração das palavras,
utilizando também a datilologia8, a escrita e a oralização como método para ensinar
línguas e ciências exatas.
Bartollo Della Marca D’ancova, advogado e escritor, ainda no século XVI, foi a
primeira pessoa a mencionar a possibilidade de que as pessoas surdas pudessem
ser educadas e obter conhecimento através de uma língua de sinais ou mesmo de
uma língua auditiva.
O abade francês Charles-Michel de L´Epée, ficou conhecido como o “Pai dos
Surdos”, por ser um dos primeiros a defender a existência de uma língua de sinais
utilizada como um meio de comunicação pelas pessoas surdas.
L’Epée manteve contato com os surdos carentes e humildes que moravam nas
ruas Paris a fim de aprender a se comunicar com eles e poder iniciar os estudos
sobre a língua de sinais.
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Datilologia: configura-se como empréstimo lingüístico da língua oral. É uma técnica de comunicação
produzida pela soletração de palavras através de sinais feitos com os dedos ou com as mãos, utilizando-se o
alfabeto. É A datilologia é utilizada para: traduzir nomes próprios, de pessoas, lugares, palavras que ainda não
possuem sinal. Disponível em <http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/datilologia> Acessado
em: 16 de fevereiro de 2016.
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Na língua oral esses símbolos são representados pelas palavras (signos). No caso dos surdos os símbolos são
representados pelos sinais. (Grifo do autor)
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Alexander Graham Bell (1847-1922) era contra a utilização da língua de sinais para a comunicação e
aprendizado do surdo. Segundo ele, a mesma não propiciava o desenvolvimento intelectual dos surdos, ou
seja, a sua inserção na cultura ouvinte. Graham Bell negava veementemente a existência de uma cultura surda.
Era contra a união matrimonial entre pessoas surdas, assim como as escolas com que utilizavam o sistema de
internato para surdos, pois, segundo ele, estes fatores propiciavam o isolamento dos surdos, afastando-os da
sociedade. Em 1872 abriu sua própria escola para treinar os professores de surdos em Boston (Estado Unidos),
em 1877 casou-se com uma surda que conhecera na Universidade de Boston no período em que ministrava
aulas de fisiologia da voz para surdos.
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Oralismo: A oralização/oralismo ou oralismo puro são vertentes de uma mesma corrente que tem como
objetivo a integração do surdo na sociedade ouvinte, onde o principal instrumento desta proposta pedagógica
é a reabilitação oral e auditiva. (Aguinello, 2007, pp.34)
12
Língua materna ou L1, ou ainda língua-mãe é a lingua natural de um indivíduo, a L1 não é aprendida como a
L2, mas sim adquirida no meio social em que a criança vive durante a sua idade crítica de aprendizado (grifo do
autor).
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13
Todas as línguas naturais compartilham características que lhes são únicas e que as identificam enquanto
lingua, diferenciando-as de outros sistemas de comunicação. Nesse sentido, é possível identificar, por meio
dessas características, se um dado sistema de comunicação se trata de uma lingua. A
flexibilidade/versatilidade, arbitrariedade, descontinuidade, criatividade/produtividade, dupla articulação,
padrão e dependência estrutural, são algumas das propriedades presentes nas línguas. (Rodrigues, Valente
2012 p.18-20)
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Hernest Huet, professor surdo com experiência de mestrado e cursos em Paris, veio ao Brasil Em 1855 a
convite do imperador D.Pedro II com a intenção de abrir uma escola para pessoas surdas. Disponível em:
<http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade2/historia_surdos.htm>
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No ano de 1957, a palavra “mudo” foi substituída pela palavra “educação” no nome da instituição que
atualmente chama-se Instituto Nacional de Educação para Surdos, ou simplesmente INES, como é,
popularmente, conhecido. E continua sediado no mesmo endereço em que foi fundado, no bairro das
laranjeiras na cidade do Rio de Janeiro. Disponível em :< http://www.ines.gov.br/conheca-o-ines>
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Lucinda Ferreira; Lucinda Ferreira; formada na faculdade de Letras-Portugues, pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1971, Mestra em Linguística pela Universidade de São Paulo (1974) e
doutorado - Universite de Paris IV (1977). Aposentada teve grande importância para as pesquisas da LIBRAS.
Disponível em :< http://www.escavador.com/sobre/1499354/lucinda-ferreira>
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Delegados da Conferência Mundial de Educação Especial, governos de Estado e organizações internacionais
se reuniram entre os dias 7 e 10 de junho de 1994, em Salamanca, Espanha, afim de reafirmar o compromisso
com a Educação para Todos, na qual demanda que os Estados assegurem o direito a educação das pessoas com
deficiências dentro do sistema educacional. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>
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Escola inclusiva é, aquela que garante a qualidade de ensino educacional a cada um de seus alunos,
reconhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a cada um de acordo com suas potencialidades e
necessidades. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aescola.pdf>
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Para Sanches (1991) um marco que separa o bilinguismo das proposta vistas
anteriormente é que, este, não é uma metodologia de ensino, mas sim uma visão
social do surdo. Baseado nessa afirmação a surdez se conceitualiza como uma
condição que acarreta uma diferença no plano linguístico e não como enfermidade
que deve ser curada ou como algo de menor valor que deve ser compensada.
De acordo com Moura (1993), o surdo pode ter um desenvolvimento
cognitivo-linguístico de igual forma ao verificado na criança ouvinte, ao desenvolver
uma identificação harmoniosa entre as culturas ouvinte e surda, tendo acesso às
duas línguas: a língua de sinais e a língua oral.
Essas postulações conduzem a explicita conclusão de que é primordial que
os surdos tenham como sua língua materna a modalidade linguística sinalizada, uma
vez que isso lhes dará oportunidade para desenvolverem o seu entendimento sobre
como os princípios dos sistemas fonológicos, morfológicos, sintáticos e até
pragmáticos são organizados. Assim, além de adquirirem uma identidade linguística
que os levará a uma sociabilização nas comunidades surdas, também, terão mais
chances de se tornarem sujeitos letrados em ambas as sociedades, tanto na
comunidade surda quanto na daqueles que utilizam a língua oral.
Brito (1993) propõe um bilinguismo diglóssico onde os alunos surdos
utilizariam a língua de sinais nas ações e situações em que uma língua materna é
usada nas escolas, exceto quando se referirem à escrita onde ela pode ser o meio,
mas não o objetivo.
Conforme resolução do Decreto 5.626/05 no Brasil, se inicia o processo de de
implantação da educação bilingue na escolas especias e regulares inclusivas, com a
LIBRAS em primeiro plano como língua materna e o português como segunda
língua, inserindo o profissional tradutor e interprete de LIBRAS no espaço escolar a
fim de levar ao aluno surdo o conteúdo ministrado em sala de aula por seus
professores ouvintes em sua língua natural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA