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Curso de Gestão Ambiental Têxtil

AULA 1
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AULA 1
O Setor Industrial Têxtil

Por que estudar este assunto?

É de extrema importância para o profissional da área têxtil que pretende


aprofundar-se na temática ambiental conhecer o contexto em que se encontra a atual
indústria têxtil brasileira, tanto do ponto de vista de mercado interno, como de mercado
externo. A situação sócio-econômica é um fator que influencia as questões ambientais
e energéticas inerentes aos diversos processos desenvolvidos pelas diferentes áreas
de atuação do setor produtivo têxtil, principalmente as áreas de maior impacto ao meio
ambiente, como a área de Acabamento (tinturaria, estamparia e lavanderia).
Nesta aula, estaremos contextualizando os aspectos que influenciam direta ou
indiretamente o modo como as empresas têxteis são geridas, observando os principais
conceitos de gestão ambiental disseminados no Brasil e no mundo.

O que preciso saber...

O setor industrial têxtil

Cabe ressaltar que o processo de fabricação de um tecido pode passar por


diferentes etapas, dependendo do tipo de material que está sendo fabricado, assim
como sua aplicação. Esta complexidade, característica do processo fabril têxtil, torna
os impactos e aspectos ambientais também cada vez mais complexos e difíceis de
serem solucionados.
Se pensarmos neste processo de fabricação de um tecido, de uma ponta a outra da
cadeia, seja de estrutura plana ou de malha, teremos basicamente cinco grandes
subáreas envolvidas :
• Produção da fibra têxtil
o Agroindústria: produz as fibras naturais celulósicas de origem vegetal, como o
algodão e o linho, ou protéicas de origem animal, como a lã e a seda, entre outras;
o Indústria Química: dará origem às fibras artificiais sintetizadas, como poliésteres,
poliuretanas e poliamidas, ou fibras químicas artificiais celulósicas, como viscose e
acetatos de celulose.
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• Fiação
o Processo de transformação das fibras naturais ou artificiais em fios. Ambas
passam por processos de limpeza, estiramento e paralelização, necessários à
formação dos filamentos;
o A principal diferença entre os fios produzidos a partir de fibras naturais e
artificiais é o comprimento da fibra. Enquanto as fibras naturais formam fios de
pequeno comprimento e relativamente uniformes, as fibras manufaturadas originam
fios formados pelo corte de filamentos contínuos em comprimentos maiores e mais
homogêneos;
o A capacidade de produção dos fios é extremamente dependente do tipo de
tecnologia dos equipamentos utilizados na formação dos fios, denominados filatórios.

• Tecelagem
o Os tecidos planos são fabricados a partir do entrelaçamento de fios de diferentes
origens, em equipamentos específicos, denominados teares;
o Os teares convencionais utilizam sistemas de inserção do fio de trama através
de lançadeiras, as quais atravessam as camadas de fios de urdume, previamente
engomados e paralelizados;
o Os teares mais modernos e velozes realizam este processo de inserção do fio de
trama utilizando sistemas a jato de ar, jato de água, projéteis ou pinças;
o As áreas de tecelagem (e também de malharia) devem ser condicionadas, ou
melhor, possuir controles de temperatura e umidade. Também são importantes
sistemas de exaustão com filtros para a retenção de partículas em suspensão no ar,
as quais se desprendem dos fios e tecidos que estão sendo utilizados e formados,
respectivamente.

• Malharia
o Neste caso, o tecido é formado pelo entrelaçamento de um ou mais conjuntos de
fios por meio de laçadas;
o Na malharia por trama, o entrelaçamento ocorre na direção horizontal com um
ou mais fios alimentando várias agulhas dispostas linearmente ou na forma de um
círculo. No sistema circular, é produzida a chamada malha tubular, além de peças
específicas, como meias. No sistema retilíneo, obtêm-se peças abertas para vestuário;
o Já na malha produzida por urdimento, o entrelaçamento ocorre no sentido do
urdume, ou seja, vertical. Neste caso, são produzidos tecidos elásticos, forros, rendas,
redes, etc.

• Acabamento
o Os processos desta etapa são bastante variados e reconhecidamente os mais
impactantes em termos ambientais;
o No Acabamento existem três etapas básicas: Beneficiamentos Primários,
Secundários e Terciários ou Finais, as quais podem ser classificadas e divididas da
seguinte forma, apresentadas nas Figuras 1a , 1b e 1c:
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Fig.1a: Fluxograma de Benefciamento primário (Fonte: Leão, 2002).

Fig.1b: Fluxograma de Beneficiamento secundário (Fonte: Leão, 2002).


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Fig.1c: Fluxograma de Benefciamento terciário (Fonte:Leão, 2002).

o No Beneficiamento Primário, o tecido é preparado principalmente para as etapas


seguintes, de Tinturaria e Estamparia. Nesta etapa de pré-tratamento, temos alguns
processos, como purga, alvejamento, desengomagem e mercerização;
o No Beneficiamento Secundário, ocorrem os tingimentos e estampagens;
o No Beneficiamento Terciário, objetiva-se conferir ao tecido características
especiais, como maior estabilidade dimensional, melhor toque e impermeabilidade à
água;
o Além dos beneficiamentos de tecidos planos ou de malhas, existem outros, de
diferentes materiais têxteis, tais como fibras, fios e peças confeccionadas.
o Ainda podemos considerar como processo de acabamento os processos de
lavagem de peças confeccionadas, normalmente executados na área de Lavanderia;
o Também podemos considerar uma outra área paralela ao Acabamento Têxtil,
conhecida como Manutenção Têxtil. São as lavagens industriais, hospitalares,
hoteleiras ou mesmo de peças confeccionadas.
• Confecção:
o A área de confecção geralmente é considerada um setor à parte do processo
produtivo têxtil, embora seja parte integrante da Cadeia Produtiva Têxtil e de
Confecção. Entretanto, com a constante evolução da cadeia produtiva, e
principalmente com o aparecimento de diferentes processos de beneficiamento em
peças confeccionadas, esta área tem aparecido cada vez mais integrada ao setor
industrial têxtil;
o Diretamente ligada à área de confecção está a reconhecida Indústria da Moda.
Na verdade, a área de Design Têxtil, que suporta esta importante indústria, está
intimamente ligada tanto à Área de Confecção quanto aos demais setores da Indústria
Têxtil.
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Reflita... Que outras informações sobre estas subáreas você considera


relevantes?

A situação da indústria têxtil brasileira


Na década de 90 a indústria têxtil brasileira sofreu uma profunda crise econômica,
devido à abertura repentina do mercado nacional, que expôs o setor à concorrência de
produtos importados com preços muito inferiores, apesar da qualidade duvidosa.
Certamente, o grande problema ocorreu devido justamente à inexistência de
concorrência interna ou externa e, também, à pouca exigência dos consumidores em
relação à qualidade dos produtos fabricados. O preço era o primeiro item de avaliação
na hora da compra.
Como o parque industrial têxtil brasileiro estava estagnado, era pouco dinâmico,
incapaz de reagir prontamente às mudanças impostas na época, muitas indústrias não
resistiram ao verdadeiro choque de mercado e tecnológico a que foram submetidas. A
tudo isto se somaram ainda as variações cambiais da moeda brasileira, que foi
supervalorizada em 1994 com o chamado Plano Real.

Produção Têxtil – 1990 a 1997


% Empresas
por Área 120

100
100
M

80
79

60 T

F A 48
40 46

25
20

0
1990 1997
Fiações (F) 100 25
Tecelagens (T) 100 48
Malharias (M) 100 79
Acabamentos (A) 100 46
Período

Fonte: ABIT, 1999

Fig.2a: Produção têxtil nacional no período.

Podemos perceber claramente o impacto negativo de toda essa conjuntura adversa


através da trajetória produtiva do setor naquele período. Analisando o gráfico da
Figura 2a, observamos que as empresas de todas as áreas têxteis sofreram reduções
percentuais consideráveis em sua produção no início da década de 90. As reduções
nas atividades de cada área geraram uma perda de cerca de 700 mil empregos
diretos.
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Analise o gráfico e a tabela apresentados na figura 2a. Que outras


informações você pode acrescentar à análise feita logo a seguir?

Outros setores importantes da cadeia produtiva têxtil também foram afetados. As


indústrias de matérias-primas fabricantes de fibras e filamentos sintéticos e artificiais
também tiveram suas atividades produtivas significativamente afetadas. O mesmo
pôde ser observado com a principal matéria-prima da indústria têxtil nacional: o
algodão.
Vejamos um outro gráfico comparativo na Figura 2b, que indica o último ano do
regime de reserva de mercado para o produto nacional:

Produção de matérias-primas
% de redução

120

100
100

F
80

72

60 A

48
40

20

0
1989 1998
Fibras e filamentos (F) 100 72
Algodão (A) 100 48
Período
Fonte: ABIT, 1999

Fig.2b: Produção de matérias-primas no período.

A partir deste gráfico, podemos verificar que a abertura do mercado atingiu


principalmente a produção de fibras naturais, como o algodão, o qual sofreu fortíssima
concorrência do algodão importado, visto que este último chegou a abastecer o
mercado nacional com quase 400 mil toneladas em 1998.

A recuperação

Com o ajuste cambial ocorrido em 1999, a balança comercial brasileira conseguiu


se equilibrar, permitindo que todo o setor industrial e, conseqüentemente, a indústria
têxtil brasileira voltasse a ter condições de competir com os produtos importados.
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Muitas empresas que não possuíam estrutura suficiente para melhorar seus níveis de
competitividade, qualidade e produtividade foram atingidas letalmente.
A ordem era elevar a qualidade do produto nacional, a fim de retomar a confiança e
credibilidade dos clientes internos. Um dos caminhos adotados para atingir este
objetivo foi a adoção de normas técnicas que permitissem um controle mais rígido dos
processos produtivos e dos produtos fabricados, que passariam, assim, a ter uma
avaliação de conformidade.

Praticando e aprendendo

Atualmente, as indústrias, de um modo geral, exigem dos seus funcionários uma


série de competências, entre as quais podemos destacar o conhecimento técnico da
análise de um tecido a ser executada; com isto, as tomadas de decisão tornam-se
mais corretas e adequadas aos objetivos das empresas.
Agora, é hora de você aprofundar seus conhecimentos sobre este tema.
Procure informações sobre a atual situação do mercado de algodão no Brasil,
focando alguns pontos importantes:
 Qual a qualidade do algodão brasileiro em comparação à dos importados:
Em termos de preços?
Em termos de produtibilidade?
Em termos de fiabilidade?
 Existe mercado externo para o algodão nacional?
 Hoje, qual o grau de utilização do algodão em relação a outras fibras?
 E os transgênicos? Será que eles alteram algum desses itens acima?

O que estudei
Nesta primeira aula, definimos alguns conceitos fundamentais, necessários para
entender o que é a indústria têxtil de um modo geral, a fim de podermos contextualizar
algumas características importantes, relacionadas às questões ambientais.
Abordamos principalmente as divisões e atribuições de cada uma das diferentes áreas
têxteis e suas subdivisões:

 Setores agroindustrial e químico - fornecedores de matérias-primas;


 Fiações - responsáveis pela produção dos diferentes tipos de fios, a serem
empregados como produtos finais, a serem beneficiados ou usados como
matéria-prima para as áreas de tecelagem e malharia;
 Tecelagens e malharias - áreas responsáveis pela elaboração dos diferentes
tipos de tecidos com estruturas planares, as quais empregam diferentes fios, ou
malhadas, que utilizam apenas um único fio;
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 Acabamentos, que apresentam várias subdivisões, como Tinturarias e


Estamparias, objetivando sempre agregar valor ao material (substrato têxtil)
oriundo ou da fiação, ou da tecelagem ou da malharia;
 A Confecção que, juntamente com a área de Design de Moda, produz as peças
de vestuário a partir dos materiais beneficiados pelo Acabamento;
 Em muitos casos, o material têxtil também pode ser originário da área de
confecção, sendo processado na área de Lavanderia, para o beneficiamento de
peças prontas.

Estudamos também algumas situações históricas que levaram a indústria têxtil


nacional a modificar seus posicionamentos em busca de maior competitividade e
qualidade de seus produtos. Isto exigiu a adoção de normas técnicas e outros
instrumentos metrológicos importantes.

Como andam seus estudos?

Este é um momento de reflexão para checar como está seu aprendizado!


Reflita sobre as afirmações a seguir e marque apenas as opções corretas.
( ) O algodão e o linho são fibras de origem natural.

( ) A área de Fiação só utiliza fibras de origem artificial.

( ) Os fios utilizados na Tecelagem são estruturados diferentemente quando


utilizados na Malharia.
( ) A Tinturaria, a Estamparia e a Lavanderia são subdivisões do Beneficiamento
Secundário da área de Acabamento.
( ) A indústria têxtil brasileira sempre primou por uma dinâmica de investimentos
em melhoria de qualidade e produtividade em nível internacional.

Glossário

Alvejamento: processo químico para eliminar colorações indesejáveis nas fibras, fios e
tecidos.
Celulósicas: fibras compostas por moléculas de celulose.
Desengomagem: processo químico ou bioquímico utilizado para a remoção da goma
impregnada nos fios empregados na fabricaçao de tecidos planos.
Estabilidade dimensional: característica do material têxtil na qual suas dimensões se
mantêm estáveis.
Filamento:material artificial (exceto a seda), de comprimento determinado.
Filatórios: equipamentos empregados na formação dos fios.
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Fio de trama: fios inseridos no sentido da largura por entre os fios de urdume na
formação de tecidos planos.
Fio de urdume: fio posicionado no sentido do comprimento na formação de tecidos
planos.
Mercerização: tratamento químico aplicado aos tecidos de fibras celulósicas com o
objetivo de aumentar sua afinidade com os corantes, resistência mecânica, brilho e
absorção.
Protéicas: fibras formadas por substâncias orgânicas do tipo aminoácidos.
Purga: processo de remoção de impurezas naturais existentes nos fios e tecidos crus,
tais como óleos, gorduras, ceras etc
Substrato: constituinte da parte essencial; base; essência.
Transgênicos: organismos geneticamente modificados (OGM).
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Os processos produtivos têxteis e seus impactos ambientais

Por que estudar este assunto?

Para gerenciarmos as questões ambientais em uma empresa têxtil, precisamos


saber identificar os principais aspectos que compõem estas questões ambientais, bem
como os principais impactos que seus processos produtivos podem causar, não
somente ao meio ambiente, mas também à “saúde financeira” da empresa.
Nesta aula, vamos estudar as características inerentes a alguns processos
produtivos mais impactantes que norteiam o planejamento das ações para a
implantação de um Sistema de Gestão Ambiental.

O que preciso saber...

Os processos produtivos têxteis e a poluição

O conhecimento sobre as diversas etapas de um processo produtivo e as diferentes


operações industriais envolvidas nele é importantíssimo para que se possa fazer uma
previsão da origem, dos volumes e principais parâmetros que caracterizam as cargas
poluidoras de uma indústria têxtil. Este levantamento inicial permite que possamos
pensar nas possíveis intervenções que podem ser realizadas nos processos, com o
objetivo de reduzir ou, ao menos, minimizar as cargas de poluentes que estão sendo
geradas, seja pelos procedimentos adotados nos processos ou pelos produtos e
materiais empregados.
As cargas poluentes veiculadas pelo meio líquido são, em geral, mais facilmente
perceptíveis e de grande impacto negativo. Sendo os efluentes líquidos os principais
tipos de descargas poluentes geradas por indústrias têxteis, daremos uma maior
ênfase a este tipo de poluição.
Nas indústrias têxteis, a área de Acabamento, com uma grande variedade de
processamentos realizados a úmido, é a geradora das maiores quantidades de
efluentes líquidos. Evidentemente, outras formas de substâncias poluentes também
são geradas nos diversos processos existentes nas áreas de Acabamento. Desde os
processos de tratamento da água que será empregada nos processos produtivos até
as etapas de tratamento dos efluentes líquidos propriamente ditos, são gerados
resíduos na forma sólida, que, em maior ou em menor quantidade, deverão ter um
destino adequado.
O mesmo pode ocorrer com algumas possíveis descargas na forma gasosa. Estas,
apesar de serem menos comuns na maioria dos processamentos na área têxtil, podem
ser consideradas emissões gasosas significativas, a ponto de serem controladas.
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Oportunamente, abordaremos no curso algumas destas formas menos expressivas de


descargas poluentes.
Vejamos, no diagrama aapresentado na Figura 1, os diferentes tipos de
beneficiamentos aplicáveis a tecidos planos ou de malha e as principais descargas de
poluentes associadas a eles:

Malha Tecido plano


Entrada dos Administrativo
tecidos

Alcalinização Mercerização Desengomagem

Purga

Estampas fechadas
Tingimento com
Alvejamento
cores claras

Tinturaria Estamparia

Acabamentos
finais

Caldeira Estoque de corantes

Linha de processo

Linha de efluente
Legenda líquido

Emissões atmosféricas

Resíduos sólidos

Fig. 1: Fluxograma de beneficiamentos aplicáveis a tecidos planos ou de malha e


as principais descargas de poluentes associadas.
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O consumo de água

A indústria têxtil é considerada uma das atividades industriais que mais consome
água em seus processos. De uma maneira geral, as tecnologias tradicionais indicam
que cerca de 80 litros de água são consumidos na produção de 1,0 kg de tecido, nos
processos mais críticos. Algumas referências bibliográficas citam valores superiores a
150 l/kg em alguns processos. No dia-a-dia, observamos que quase 90% deste
volume é descartado na forma de efluente; o restante é evaporado.
O principal motivo para o consumo elevado de água é a operação de lavagem,
seguida dos processos de tingimento e acabamento dos tecidos. Não podemos
esquecer que, nestes setores, assim como em outros, são necessárias constantes
limpezas do piso e dos equipamentos e, conseqüentemente, temos um maior
consumo de água.
Na tabela 1, podemos observar alguns dados que demonstram o elevado consumo
de água em cada etapa de processamento. Este consumo é sempre calculado em
relação ao peso de material:

Tabela 1: Consumo de água por etapas.

Etapa Consumo de água (l/kg)


Purga 19-43
Alvejamento 2,5-125
Mercerização 233-309
Tingimento 8,5-300

O consumo de água nas tinturarias depende da classe de corante empregada.

A geração de efluentes líquidos

Os efluentes têxteis podem conter inúmeras substâncias contaminantes. Sua


presença, em maior ou menor grau, vai depender diretamente das tecnologias
empregadas, ou seja, dos equipamentos e processos utilizados e dos tipos de fibras,
naturais ou artificiais, e produtos químicos aplicados, inclusive corantes. Tais
substâncias podem ser extremamente tóxicas, causando danos ao meio ambiente e,
conseqüentemente, ao ser humano, se não forem removidas ou não tiverem sua
quantidade diminuída. Uma parte destas substâncias é descartada nos efluentes por
não ficar retida no tecido.
Podemos observar a seguir alguns valores tabelados que indicam os principais
parâmetros analisados nestes efluentes e suas respectivas concentrações.
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Tabela 2: Composição média dos efluentes líquidos (Leão, 2002).

Parâmetros Valores
DBO5 (mg/l) 196-350
Sólidos em suspensão (mg/l) 77-300
DQO (mg/l) 942-1000
OG (mg/l) 53-65
Fenóis (mg/l) 0,053-0,24
PH 8,0-10,2
Sulfetos (mg/l) 0,005-0,20
Cromo total (mg/l) 0,05-0,07

Numa análise rápida dos valores apresentados na Tabela 2, podemos relacionar as


análises de DQO e DBO5. A razão entre estes dois parâmetros indica basicamente a
biodegradabilidade de um determinado meio líquido. No caso dos efluentes têxteis,
esta biodegradabilidade está relacionada com a capacidade de biodegradação, ou
seja, de depuração ou decomposição da matéria biodegradável contida neste efluente.
Quanto maior o valor da razão DQO/ DBO5, mais dificilmente haverá decomposição da
parcela não biodegradável (ou dificilmente degradável) devido à presença de variadas
substâncias químicas.
Como as vazões médias de descarga da maioria das empresas têxteis que incluem
processos de acabamento são bastante elevadas, os efluentes líquidos gerados
apresentam cargas poluentes consideráveis. De uma maneira geral, estas substâncias
poluentes são quimicamente compostas por moléculas orgânicas e caracterizam-se
também por uma elevada solubilidade.
Podemos caracterizar melhor estas substâncias poluentes associando seus
impactos ambientais mais significativos, os quais deverão ser utilizados como fonte de
informação fundamental para orientar todo o trabalho de gestão ambiental da empresa
têxtil. Vejamos as características mais impactantes de alguns poluentes típicos dos
diferentes processamentos da área de Acabamento na tabela 3.

Tabela 3: Caracterização de poluentes (LEÃO, 2002).

Parâmetro Características Gerais Impactos


pH Efluentes geralmente alcalinos Variações extremas de 5,0< pH >9,0
devido aos hidróxidos e carbonatos. afetam os seres aquáticos.
DBO5 Presença de impurezas, Altas concentrações de DBO5 em
substâncias surfactantes, óleos e meios aquáticos provocam a
graxas elevam seus valores. diminuição do OD ambiente.
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Parâmetro Características Gerais Impactos


Temperatura Quanto maior a temperatura, menor Redução da concentração de O2
a solubilidade de gases no meio dissolvido na água e do O2
líquido, e maior a solubilidade de produzido pelas atividades biológicas
sais minerais. no meio aquático; aparecimento de
microorganismos e plantas
Altera densidade, viscosidade e
pressão de vapor líquido. específicas.

Sólidos Os sólidos totais correspondem à Sólidos em suspensão provocam


cerca de 60% da condutividade do turbidez na água, diminuindo a
meio; cerca de 80% dos sólidos são penetração da luz e reduzindo a
de natureza inorgânica; o restante, atividade fotossintética; sólidos
orgânica; sólidos em suspensão são também podem assorear os corpos
somente 2% dos sólidos totais; o aquáticos e afetar os seres vivos.
restante está dissolvido.
DQO Elevados valores de DQO indicam Parcela não biodegradável do
pouca biodegradabilidade das efluente está relacionada à sua
substâncias presentes. toxicidade.
Cor A presença de cor é devida aos Provoca poluição visual (efeito
corantes e pigmentos empregados estético) e prejudica o processo de
nos processos de tingimentos e fotossíntese no meio aquático.
estampagens; cerca de 50-100%
dos materiais colorantes são fixados
nas fibras e o restante é descartado
nos banhos de efluente.
Surfactantes Existem 4 tipos de substâncias Os detergentes não-iônicos podem
surfactantes: aniônicos, não-iônicos, ser nocivos aos seres aquáticos em
catiônicos e anfóteros; os concentrações próximas de 1 mg/l;
surfactantes sintéticos podem ser surfactantes empregados nos
classificados como agentes processos de purga aumentam a
umectantes, detergentes e DBO e a DQO, além de serem
emulsionantes; os surfactantes tóxicos; os detergentes sintéticos
aniônicos comumente empregados contêm altas concentrações de
na indústria têxtil são fosfatos (os quais formam quelatos,
biodegradáveis em meio aeróbio, que, por sua vez, formam complexos
mas não em meio anaeróbio. solúveis com o cálcio e o magnésio,
responsáveis pela dureza da água).
Fosfatos (na forma de polifosfatos)
são nutrientes para microorganismos
vegetais presentes no meio aquático;
o excesso de detergentes sintéticos
e, conseqüentemente, de nutrientes
para as algas promove a
eutrofização do meio.
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Parâmetro Características Gerais Impactos


Metais Ocorrem devido à utilização de Sua elevada toxicidade afeta
tóxicos corantes à base de complexos diretamente as estações de
metálicos contendo cromo, cádmio, tratamento biológicas, já que podem
cobalto etc.; também ocorrem na interferir nas atividades biológicas
forma de sais inorgânicos. dos microorganismos.

Existem outros parâmetros específicos que também podem ser avaliados, tais
como fenóis, óxidos de ferro e carbonatos, os quais, dependendo dos processos,
podem ser mais significativos ou não.

Toxicidade na indústria têxtil

A variabilidade da toxicidade de um efluente têxtil é extremamente dependente dos


processos empregados, dos equipamentos instalados e, logicamente, dos insumos e
matérias-primas aplicados. Este grau de toxicidade está também relacionado às
concentrações destes insumos, que representam as substâncias químicas
empregadas nos processos. São eles, basicamente, os corantes e pigmentos, além
dos chamados auxiliares químicos: sais, tensoativos, biocidas, enzimas, substâncias
metálicas, entre outros.
Na tabela 4, é possível observar com mais detalhes a origem da toxicidade em
meios aquáticos.

Tabela 4: Origem da toxicidade (Fonte: USEPA, SENAI-CETIQT).

Substância química Origem


Sais Tingimentos
Surfactantes Variada
Metais Corantes
Solventes organo-clorados Purga, limpeza de equipamentos
Biocidas Contaminantes nas fibras
Ânions Corantes sulfurosos

Praticando e aprendendo

Agora, é hora de aplicar seus conhecimentos sobre o assunto, realizando um


experimento simples.
Na sua casa ou no trabalho, colete, em frascos de vidro previamente higienizados,
amostras de descargas oriundas de áreas de lavanderias (máquina de lavar, tanque
de roupas), cozinhas (pia, máquina de lavar louças) ou banheiros (lavatório, vaso
sanitário, chuveiro).
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De posse destas amostras, verifique:


 Sua acidez ou alcalinidade (pH). Para isto, você precisará de um indicador químico
(papel de tornassol, papel universal de pH ou indicador líquido) ou de um aparelho
para a medição do pH (potenciômetro);
 Seu aspecto geral em termos de coloração, turbidez e presença ou não de
materiais sólidos suspensos.
Identifique a presença ou não de odores e tente caracterizá-los. Depois, tente
associar estas observações aos possíveis impactos ambientais que cada um destes
parâmetros pode causar.
Imagine agora a mesma situação em vários lugares, em várias casas de uma rua,
ou de um bairro ou de uma cidade... Em conjunto com outras casas e locais de
trabalho, as quantidades aumentam consideravelmente, certo?

O que estudei
Nesta aula, estudamos alguns conceitos necessários ao entendimento de como a
indústria têxtil, principalmente a área de Acabamento, pode ter um impacto negativo
no meio ambiente, principalmente aquático. Vimos ainda:
 A água é um insumo fundamental para a maioria dos processos a úmido, que
estão presentes na maior parte das atividades têxteis.
 Os principais parâmetros que caracterizam um efluente industrial têxtil, suas
características, origens e destinos são: pH, DBO5, Temperatura, Sólidos, DQO,
Cor, Surfactantes e Metais tóxicos.

Como andam seus estudos?

Pare, reflita e aplique o que você aprendeu.

Preencha as lacunas com a palavra que torna a sentença verdadeira.

1) O elevado consumo de água na maioria dos processos de acabamentos têxteis


pode ser considerado economicamente e ambientalmente um fator ______________.

2) A análise de DBO5 indica a biodegradabilidade do ______________ gerado pelos


processos.

3) Elevados valores de pH indicam a diminuição da ______________ do efluente.

4) A ______________ do efluente pode estar diretamente relacionada à presença de


metais tóxicos como o Cromo, Cádmio ou Cobalto.
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Glossário

Anfóteros: substâncias que, dependendo do meio, apresentam pH ácido ou alcalino.


Biodegradabilidade: capacidade de uma substância ser decomposta, consumida,
degradada, por microorganismos vivos.
DBO: demanda bioquímica de oxigênio – relaciona a quantidade de oxigênio
consumido numa reação bioquímica da matéria orgânica biodegradável presente no
efluente.
DQO: demanda química de oxigênio – relaciona a quantidade de oxigênio consumido
numa reação de oxidação química pela matéria orgânica e inorgânica biodegradável e
não-biodegradável presente no efluente.
Emulsionantes: tipo de substâncias surfactantes que aumentam a viscosidade do meio
líquido.
Eutrofização: processo de falência de um meio aquático devido ao excesso de
microorganismos vegetais (algas), ausência de oxigênio dissolvido e aumento de
microorganismos anaeróbios e resíduos em decomposição, evidenciado pela morte
dos seres vivos superiores (peixes e crustáceos).
Meio aeróbio: meio onde os microorganismos vivem na presença de oxigênio.
Meio anaeróbio: meio onde os microorganismos não vivem na presença de oxigênio.
Microorganismos :seres vivos microscópicos presentes na natureza.
OG: abreviação de óleos e graxas.
Processamentos realizados a úmido: beneficiamentos a úmido.
Surfactantes: substâncias que atuam alterando as tensões superficiais em meios
líquidos, como os detergentes.
Turbidez: índice que indica a absorção da luz numa solução coloidal ou numa
suspensão.
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AULA 3
A certificação ecológica na área têxtil

Por que estudar este assunto?

O estudo da certificação ecológica para a área têxtil é fundamental para que um


sistema de gestão ambiental (SGA) implantado numa indústria do setor possa ser
reconhecido e aceito, tanto internamente, quanto externamente. Internamente, em
relação aos próprios colaboradores, funcionários da empresa a ser certificada, após a
implantação de um SGA. Externamente, em relação aos clientes, fornecedores, aos
familiares e parentes dos funcionários e toda a comunidade próxima à área da
empresa.
Uma das características da certificação ecológica, tecnicamente conhecida como
Selo Verde, é a sua importância em relação às transações comerciais com empresas
que reconheçam e até exijam a existência de uma certificação que comprove o
comprometimento daquela empresa fornecedora do produto ou do serviço com a
saúde e o bem estar social e ambiental. Nesta aula, vamos entender o que são os
Selos Verdes e como estes se relacionam com a indústria têxtil.

O que preciso saber...

Os Selos Verdes

A certificação ambiental ou ecológica é um conceito que pode ser encarado como


uma filosofia ou até mesmo um modo de vida, que ganhou e continua ganhando
enorme importância, não somente na Europa, mas em várias partes do mundo.
Esquemas nacionais e internacionais de certificação verde vêm proliferando, causando
muitas vezes dificuldades nas relações comerciais.
No caso dos materiais têxteis, por exemplo, as informações solicitadas pelas
associações de consumidores são relacionadas às substâncias empregadas nos
tecidos e nas peças de vestuário. A ênfase é na ecologia humana, ou seja, identificar
possíveis efeitos nocivos que os produtos comercializados possam causar ao corpo
humano.
Existem vários selos verdes têxteis. A grande maioria é de selos originários da
Europa. Alguns destes são reconhecidos como certificados nacionais e atuam
somente em nível nacional, enquanto outros, que abrangem regiões mais amplas, são
selos privados.
Inicialmente, estas certificações eram caracterizadas de três formas diferentes:
 A primeira era baseada numa bateria de testes específicos realizados no produto
final, os quais poderiam ser considerados uma garantia à saúde e segurança do
consumidor. Exemplo: OEKO-TEX;
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p. 27

 A segunda baseava-se em auditorias ambientais e numa análise dos produtos e


processos e seria mais próxima tanto da indústria quanto das questões ambientais.
Exemplo: Ecotex;
 O último e mais completo conceito de certificação ecológica baseia-se na análise
do ciclo de vida dos produtos. Exemplo: GuT e Comunidade Européia.
Este último e mais avançado conceito, que envolve a Análise do Ciclo de Vida
(ACV) dos produtos, foi desenvolvido como um critério para grupos de produtos
específicos. A aplicação dessa análise possibilita identificar o impacto que cada fase
do ciclo de vida do produto tem sobre o meio ambiente e reflete a idéia expressada por
um antigo jargão da área técnico-ambientalista - “do berço ao túmulo”, ou seja, desde
a matéria-prima, passando por todos os processos de fabricação, comercialização e
consumo, até a disposição final.
Existe um conjunto de critérios para a certificação ambiental, cujo objetivo é reduzir
os impactos mais importantes identificados, tais como: consumo de energia, geração
de poluentes atmosféricos (que contribuem para o aquecimento global, produção de
chuva ácida etc) e poluição da água de rios, lagos ou mares.

Os certificados ambientais têxteis

Existem certificações ecológicas têxteis adotadas por determinados países ou


regiões, como o “Nordic Environmental Label” (certificado ambiental de países
europeus nórdicos), programa administrado pela Noruega, Suécia, Finlândia e
Islândia. Nesta certificação, foram estabelecidos critérios para a utilização do algodão,
lã, linho, poliéster, poliamida, viscose, lyocell e acetato. Os pré-requisitos são
baseados na produção da fibra, no seu processamento, incluindo a aplicação de
substâncias químicas e seus despejos, no conteúdo químico do produto final e nos
aspectos de qualidade e saúde. As emissões de formaldeído foram estipuladas de
acordo com o tipo de produto.

Descubra outras instituições que oferecem certificados ecológicos


aplicáveis a materiais têxteis.

Uma das certificações ecológicas privadas mais difundidas no mundo é origináriada


fusão dos testes de controle para substâncias nocivas, o OTN 100, do Instituto de
Pesquisa Têxtil da Áustria, e das análises de poluição elaboradas pelo Instituto de
Pesquisa Hohenstein da Alemanha (Hohensteiner Oeko-check). Desta fusão, originou-
se a Associação Internacional para Pesquisa e Testes em Têxteis Ecológicos, mais
conhecida como ÖKO-TEX ou OEKO-TEX.

Inicialmente, foi desenvolvida a Norma Oeko-Tex 100, especificando testes para


materiais têxteis, vestuário e carpetes, baseados em características aplicadas à
ecologia humana. Esta norma padrão detalha procedimentos analíticos que identificam
e quantificam substâncias potencialmente nocivas, estipulando limites de
concentração para cada uma delas a partir de resultados de pesquisas científicas. Se
um produto têxtil atende às condições predispostas na norma, o fornecedor do
material recebe uma certificação comprovando que aquele produto foi testado e
aprovado, não contendo substâncias prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.
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p. 28

A maioria dos produtos têxteis e de vestuário não representa verdadeiro perigo para
a saúde dos seres humanos. Apesar disso, os consumidores desejam adquirir peças
de vestuário, de cama e banho e de decoração que tenham sido testadas e estejam
comprovadamente livres de substâncias prejudiciais. Isto não significa que os
materiais têxteis não tenham sido tratados com substâncias químicas. Até porque para
obter-se produtos úteis, na moda e agradáveis, elas são indispensáveis.
No caso da Norma Oeko-Tex 100, são definidas classes para os produtos. Cada
classe corresponde a um grupo de artigos, que são classificados considerando uma
futura aplicação ou utilização. Para cada classe de produtos são verificados os artigos
prontos para a comercialização, assim como os produtos preliminares empregados em
todos os níveis de fabricação daquele artigo, ou seja, desde a geração da fibra,
passando pela fabricação dos fios e tecidos, até seu acabamento definitivo.

Não podemos nos esquecer que também os acessórios das peças e artigos
comercializados devem ser certificados.

Estas classes de produtos se diferenciam, fundamentalmente, pelos requisitos que


os materiais devem atender e pelos métodos de análise aplicados. Como resultado,
temos quatro diferentes classes de produtos:
 Classe I: Produtos para bebês e crianças de até 2 anos de idade, com exceção de
artigos de couro;
 Classe II: Produtos nos quais a maior parte de sua superfície mantém contato
direto com a pele do usuário. Exemplos: camisas, camisetas e roupas íntimas;
 Classe III: Produtos nos quais somente uma pequena parte de sua superfície
mantém contato direto com a pele do usuário. Exemplos: forros e enchimentos;
 Classe IV: Materiais e acessórios para decoração de mesas, janelas, mobílias,
assoalhos, colchões etc.

Neste ponto, é recomendado que você revise alguns tópicos


fundamentais de química geral, como elementos químicos, substâncias
e compostos orgânicos e inorgânicos. Estes conhecimentos serão cada
vez mais necessários em nosso curso.

Na Tabela 1, encontramos os valores limites para as principais substâncias


pesquisadas que devem ser controladas, a fim de atender às exigências da norma
Oeko-Tex 100.
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Tabela 1: Valores máximos das principais substâncias controladas pela norma Oeko-Tex
100 (McCarthy, 1998).

III - Contato
II - Contato direto IV - Material
Classe do produto I - Bebês indireto com a
com a pele para decoração
pele
pH1 4,0 – 7,5 4,0 - 7,5 4,0 - 9,0 4,0 - 9,0
Formaldeído (ppm)
Lei 112 20 75 300 300
2
Emissão 0,1 0,1
Metais tóxicos
extraíveis (ppm)3
4
As 0,2 1,0 1,0 1,0
5 5
Pb 0,2 1,0 1,0 1,0
5 5
Cd 0,1 0,1 0,1 0,1
Cr 1,0 2,0 2,0 2,0
Cr(IV) Abaixo do limite Abaixo do limite
5 6
de detecção de detecção
5 5
Co 1,0 4,0 4,0 4,0
6 5 5
Cu 25,0 50,05 50,0 50,0
Ni 1,0 4,0 4,0 4,0
4
Hg 0,02 0,02 0,02 0,02
Pesticidas (ppm)4
Todos (inclusive 0,5 1,0 1,0 1,0
PCP/TeCP)
Fenóis clorados
(ppm)
Pentaclorofenol 0,05 0,5 0,5 0,5
(PCP)
2,3,5,6-
Tetraclorofenol 0,05 0,5 0,5 0,5
(TeCP)
Corantes Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável
Aminas aromáticas
Carcinogênicos
Alergênicos
Carrier orgânico 1,0 1,0 1,0 1,0
clorado(ppm)
Acabamento com Nenhum Nenhum Nenhum Nenhum
biocida

1
Valores de pH entre 4,0 – 10,5.
2
Somente para carpetes, colchões e artigos recobertos com espuma.
3
Para Classe I, solução artificial de saliva, para Classe II-IV, solução artificial ácida.
4
Somente para fibras naturais.
5
Sem pré-requisito para acessórios metálicos.
6
Limites quantificados: Cr(IV), 0,5 ppm, aminas aromáticas, 20 ppm, corantes alergênicos,
0,006%.
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III - Contato
II - Contato direto IV - Material
Classe do produto I - Bebês indireto com a
com a pele para decoração
pele
Acabamento com Nenhum Nenhum Nenhum Nenhum
retardante de
chama
Solidez da cor
À água 3 3 3
Ao suor ácido 3-4 3-4 3-4
Ao suor alcalino 3-4 3-4 3-4
7
À fricção seca 4 4 4 4
7
À fricção úmida 2-3 2-3 2-3 2-3
À saliva e suor resistente
Emissão de voláteis
3 2
(mg/m )
Toluol 0,1 0,1
Estirol 0,005 0,005
Vinilciclohexeno 0,002 0,002
4-Fenilciclohexeno 0,03 0,03
Butadieno 0,002 0,002
Cloreto de vinila 0,002 0,002
Hidroc. aromáticos 0,3 0,3
Orgânicos voláteis
Determinação de
odores
8
Geral Nenhum odor
9
anormal

Os selos verdes e a gestão ambiental têxtil

A estrutura de gestão na indústria têxtil vem se alterando significativamente nos


últimos anos. Aumenta cada vez mais o número de empresas certificadas conforme as
normas da série ISO 9000, para qualidade, visto que este modelo de gestão vem
apresentando bons resultados, principalmente do ponto de vista econômico.
Isto facilita a incorporação das normas da série ISO 14000 para a gestão do meio
ambiente, viabilizando a obtenção de um certificado ecológico que garanta não
somente a diminuição da ocorrência de impactos ambientais devido aos processos
produtivos, mas também a redução da toxicidade dos produtos têxteis utilizados pelos
seres humanos. Talvez este seja o melhor caminho a ser percorrido para se obter o
desenvolvimento sustentável associado a um aumento real de competitividade.

7
Para pigmentos, corantes à cuba ou sulfurosos, mínimo grau de solidez da cor à fricção de 3
(seco) e 2 (molhado).
8
Para todos os artigos com exceção de carpetes e tapetes.
9
Sem odor mofo, de solventes de petróleo, aromas e perfumes.
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Satisfazer às condições impostas pelas normas significa obter credibilidade no


mercado. É como um verdadeiro “passaporte” para que as pequenas, médias ou até
mesmo grandes empresas possam ingressar no comércio internacional.
A empresa têxtil que implantar seriamente um sistema de gestão do meio ambiente
visando a obtenção de uma certificação ecológica, certamente verá seu investimento
inicial ser recuperado num prazo bastante razoável. No entanto, é necessário
determinarmos um equilíbrio entre a estabilidade e a rentabilidade, a fim de que um
sistema de gestão ambiental possa ser eficaz.

Tocamos num assunto extremamente interessante e que está bastante


na moda: o desenvolvimento sustentável. Busque informações sobre a
relação entre o desenvolvimento sustentável e as empresas, pessoas e
o meio ambiente.

Iniciativas ambientais têxteis

Nos últimos anos algumas iniciativas vêm surgindo no setor têxtil com o objetivo
claro de melhorar a imagem das empresas em relação às questões ambientais.
Podemos citar:
 A redução gradativa da utilização de substâncias químicas na produção de fibras
de origem natural (vegetal ou animal);
 Maior controle dos processos na fabricação das fibras sintéticas;
 Utilização de fibras de origem alternativa, como a madeira (reciclada ou com
plantio direcionado), que consome menor quantidade de recursos naturais e agride
menos o meio ambiente;
 Incentivo cada vez maior ao emprego de fibras notavelmente biodegradáveis;
 Preocupação com a fabricação de tecidos com características antialérgicas ou
fibras com propriedades antibacterianas, ou ainda tecidos mais permeáveis, os
chamados “dry fit”, que permitem uma melhor transpiração da pele, etc.
Outras iniciativas importantes também vêm limitando o uso de produtos químicos
têxteis auxiliares em processos de acabamento, reduzindo os níveis de ruído e a
quantidade de partículas em suspensão, como poeira, fibras soltas e fumaça
produzidas pelas máquinas.
Vários processos vêm sofrendo alterações significativas como, por exemplo, os
tingimentos feitos com espuma ou banhos curtos, os quais reduzem sensivelmente a
quantidade de água e energia necessárias. Diversos corantes vêm sendo
desenvolvidos com o objetivo de melhorar suas aplicações no esgotamento dos
banhos de tingimento e, conseqüentemente, reduzir a quantidade de corantes nas
águas residuais.
Novas máquinas de estamparia também estão sendo projetadas, visando
economizar a quantidade de pasta e pigmentos utilizados. Além disso, também as
embalagens empregadas passaram a ser recicláveis ou biodegradáveis.
O setor têxtil foi pioneiro na reciclagem de fibras, fios e tecidos, que eram
desperdiçados dentro do processo de fabricação. Desta forma, diminuímos o custo de
produção que, no caso das fibras naturais, é bastante alto. O mercado da moda
desempenha também um papel fundamental neste processo, principalmente no
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
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desenvolvimento de fibras de recuperação, ou seja, em produtos que utilizam fibras


recicladas no lugar de fibras virgens.

Praticando e aprendendo

Considerando o que você aprendeu nesta aula sobre os selos verdes, responda às
seguintes questões:
 Em sua opinião, os selos ecológicos, principalmente os criados para a indústria
têxtil, são ou podem tornar-se algum tipo de barreira comercial?
 Você acha que as empresas que não possuem certificações ecológicas para seus
produtos podem sofrer algum tipo impedimento na comercialização de seus produtos?
 Você conhece algum caso em que isto tenha ocorrido? Investigue e descubra casos
verídicos, mesmo que não sejam da área têxtil, e identifique que tipo de barreiras
comerciais ocorre em cada caso.

O que estudei
Nesta aula, iniciamos nosso estudo sobre as certificações denominadas Selos
Ecológicos ou Selos Verdes, que são aplicadas a diversos setores industriais, cada um
com suas características de avaliação e tipos de análise. Alguns pontos a serem
destacados:
 Para a indústria têxtil e de confecção, observamos a existência de alguns
certificados desta natureza, que visam, basicamente, atender a exigências dos
consumidores destes produtos, principalmente relacionadas à Saúde. Na Norma
Oeko-Tex 100, são descritos os principais parâmetros de controle e análise,
organizados por classificação e aplicações.
 Vimos também algumas iniciativas interessantes do setor têxtil e de confecção
para melhorar seu desempenho ambiental e mais facilmente adequar-se às exigências
das normas e certificações ecológicas.

Como andam seus estudos?

Correlacione a coluna da esquerda com a coluna da direita, com base nos


conceitos observados nesta aula.
(1) Norma de controle dos corantes aplicados a ( ) DRY FIT.
materiais têxteis.
(2) Conceito de verificação ecológica. ( ) Fibras de recuperação.
(3) Tecidos permeáveis que permitem uma ( ) Análise do Ciclo de Vida
melhor transpiração da pele. dos Produtos.
(4) Produtos que utilizam fibras recicladas no ( ) OEKO-TEX 100.
lugar de fibras virgens.
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Glossário

Solidez da cor: É uma característica que o material têxtil tinto ou estampado apresenta
de manter a cor quando este material for exposto a diferentes agentes (água, suor,
fricção etc.) durante seu processo de fabricação ou posteriormente, quando o material
têxtil estiver em uso.
Formaldeído: é uma função orgânica formada pela presença de um grupamento CHO;
também conhecido como aldeído fórmico, acetaldeído, aldeído acético e popularmente
formol.
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AULA 4
p. 34

AULA 4
Educação Ambiental para Gestão Ambiental

Por que estudar este assunto?

No ambiente industrial de uma maneira geral e também no setor têxtil, os avanços


em relação às iniciativas de Educação Ambiental têm sido significativos e já podem ser
notados. Em nossa sociedade, esta valorização veio com a criação da Política
Nacional de Educação Ambiental, instituída por lei em 1999, tornando obrigatória a
incorporação da dimensão ambiental às diretrizes curriculares da educação em nosso
país.
Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) envolvem normas como, por exemplo, a ISO-
14000, que, para sua implantação, devem atender a alguns pré-requisitos, como
treinamento, conscientização e formação de competências. Para alcançar esses
objetivos, o caminho é a realização de um trabalho contínuo e permanente de
Educação Ambiental. A área têxtil e de confecção, apesar de todos os esforços, ainda
é uma área carente de informação, de formação e principalmente de Educação na
área ambiental.

O que preciso saber...

O que é a Educação Ambiental?

Para podermos responder a esta pergunta, precisamos entender o desenvolvimento


histórico de alguns conceitos e aspectos que fundamentam a Educação Ambiental -
alguns conceitos básicos relacionados não somente aos conhecimentos da área
ambiental, mas também à área educacional nos mais diferentes níveis, desde a
educação infantil, passando pela educação fundamental, até a educação em nível
médio e superior. Estas duas últimas são de importância mais decisiva nas práticas
sócio-econômicas, pois envolvem profissionais da indústria, comércio e terceiro setor
e uma série de atividades que influenciam direta ou indiretamente a área ambiental.
Desde seu surgimento até os dias de hoje, várias foram as tentativas de definir o
que realmente é a Educação Ambiental. Algumas definições enfocam mais o lado
educacional. Outras, o lado ambiental. Talvez as melhores e mais coerentes sejam
aquelas que integrem os dois conceitos. A primeira ocasião em que a expressão
“Educação Ambiental” foi citada ocorreu na Inglaterra, numa conferência que
recomendou que a Educação Ambiental (Environmental Teaching) fizesse parte de um
processo educacional local.
Vejamos algumas definições históricas:
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“É um processo que tem como objetivo a produção de cidadãos, cujos


conhecimentos acerca do ambiente biofísico e dos problemas a ele
associados possam alertá-los e habilitá-los a resolver os seus
problemas.” (Stapp et al., 1969).
“É um processo que consiste em reconhecer valores e em clarear
conceitos, com o objetivo de fomentar aptidões e atitudes necessárias
para compreender e apreciar as inter-relações entre o homem, sua
cultura e seu meio biofísico. Ela compreende também a prática na
tomada de decisões e a elaboração de um código de comportamentos
acerca das questões relacionadas com a qualidade do meio ambiente.”
(Reunião Internacional sobre Educação Ambiental da IUCN –
International Union for Nature Conservation, Paris, 1970).
“É um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade
tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos,
valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos
a agir – individual e coletivamente – e a resolver problemas ambientais
presentes e futuros.” (Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal
& Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis, Brasília, 1993).

Reflita e responda: quais os pontos comuns e diferenças entre as


definições acima?

Podemos observar que, mesmo em épocas diferentes, os conceitos apresentam


abordagens não somente técnicas, mas também psicológicas e emocionais, que
perpassam por todos os exemplos de definição. Cabe ressaltar que, atualmente, com
os conceitos de qualidade disseminados e incorporados pela maioria das
organizações e seus funcionários, percebemos claramente, do ponto de vista
gerencial, a necessidade de aplicar a melhoria contínua ao processo educacional
que envolve as questões ambientais.

História da Educação Ambiental no Mundo

Ainda nas décadas de 1950 e 1960, vários episódios prenunciaram a crise


ambiental que viria a ocorrer na década de 70, como:
 A elevação da contaminação do ar de cidades como Londres, capital da Inglaterra,
e Nova York, capital financeira dos Estados Unidos, entre 1952 e 1960;
 Os casos de intoxicação por mercúrio em Minamata e Niigata, no Japão, entre
1953 e 1965;
 As freqüentes mortandades de peixes nos Grandes Lagos Norte-americanos;
 A diminuição da população de pelicanos provocada pelos efeitos de substâncias
organocloradas (o chamado “Efeito Cumulativo”) como DDT (dicloro-difenil-
tricloroetano) e outros pesticidas e;
 A contaminação da água do mar, causada pelo naufrágio do petroleiro Torrei
Canyon, em 1966.
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Tais acontecimentos foram amplamente divulgados, fazendo com que os países


mais desenvolvidos passassem a temer as conseqüências futuras para o homem.
Neste momento, a Educação Ambiental ainda não estava em pauta, mas os
problemas ambientais já demonstravam o quão irracional era o modelo econômico
capitalista. Concomitantemente, na área científica, ocorreram algumas descobertas
que ajudaram a ressaltar a gravidade dos problemas ambientais existentes.
Foi nas décadas de 1960 e 1970 que grande parte dos conhecimentos atuais dos
sistemas ambientais do mundo foi gerada. Grande parte do conhecimento existente
sobre o meio ambiente, que até então era suficiente para satisfazer às necessidades
do passado, passou a ser insuficiente para a organização ambiental da época.
Com o crescimento do Movimento Ambientalista, em meados da década de 50 e
60, os aspectos do meio natural passaram a ser correlacionados com os interesses do
ser humano. O Movimento Conservacionista, que existia anteriormente e visava a
proteção à natureza, interessava-se em proteger determinados recursos naturais
contra a exploração abusiva e destruidora, por razões de ética ou estética. O novo
movimento ambiental estendia seus interesses a um número maior de “situações
ambientais”. A alegação era que a qualidade da vida e a sobrevivência, em longo
prazo, da própria humanidade estavam ameaçadas.
Cronologicamente, podemos citar a reunião do Clube de Roma, em 1968, e a
Conferência de Estocolmo, em 1972, na Suécia, como as primeiras iniciativas
verdadeiramente concretas de discussão das questões ambientais numa dimensão
internacional. Na Conferência de Estocolmo, foi difundida a idéia de que a Educação
Ambiental deveria ser tratada como um instrumento de sociabilização, fazendo com
que os cidadãos passassem a participar mais ativamente na solução de problemas
relacionados ao meio ambiente dos locais e regiões de interesse. Desde então, a
Educação Ambiental passou a ser considerada como uma ação pedagógica,
adquirindo importância internacional. Assim sendo, a UNESCO (United Nations
Educational, Scientific and Cultural Organization, ou Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura), como organismo da ONU (Organização das
Nações Unidas), assumiu a responsabilidade de divulgar e promover o tema Educação
Ambiental em todo o planeta.
Alguns acordos em relação à Educação Ambiental foram definidos nos Princípios
de Educação Ambiental, estabelecidos no seminário realizado em Tammi (Comissão
Nacional Finlandesa para a UNESCO, 1974). A Educação Ambiental permitiria
alcançar os objetivos de proteção ambiental e não mais se tratava simplesmente de
uma ciência ou disciplina independente, mas sim de um processo educacional integral
e permanente. Em 1975, a UNESCO, em colaboração com o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em resposta a uma recomendação da
Conferência de Estocolmo, cria o Programa Internacional de Educação Ambiental
(PIEA) destinado a promover, nos países membros, a reflexão, a ação e a cooperação
internacional nesse campo.
No início dos anos 70, órgãos da ONU iniciaram programas em vários países
desenvolvidos estabelecendo instituições nacionais para tratar de questões
ambientais, tais como Ministérios do Meio Ambiente e Agências Nacionais. A questão
ambiental passou a ser parte integrante de projetos de muitos organismos
governamentais. Na sua primeira fase, o PNUMA priorizou os temas referentes ao
meio ambiente e ao desenvolvimento. Nesse período, em muitos países, foi realizado
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
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p. 37

um conjunto de experiências e práticas em Educação Ambiental que possibilitou


avanços importantes na sua conceituação. Um dos resultados obtidos foi a criação de
uma ética centrada na natureza, identificada como a Vertente Ecológico-
Preservacionista da Educação Ambiental.
A Conferência de Estocolmo causou um interesse renovado na Educação
Ambiental na década de 1970, tendo sido estabelecida uma série de princípios
norteadores para um programa internacional e planejado um seminário internacional
sobre o tema, que se realizaria em Belgrado.
Em outubro de 1975, a UNESCO organizou em Belgrado, capital da Iugoslávia, a
primeira reunião de técnicos e cientistas especialistas na área de Educação e nas
áreas relacionadas às questões ambientais, como Biologia, Oceanografia,
Meteorologia, Química, entre outras, para elaborar o que se constituiu no documento
que fundamentou a Educação Ambiental em todo o mundo: A Carta de Belgrado.
Em 1977, ocorreu, em Tbilisi, na República da Geórgia, antiga União Soviética, a
Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, que constituiu o ponto
culminante do Programa Internacional de Educação Ambiental. Nesta conferência,
postulou-se que a Educação Ambiental seria um elemento essencial para uma
educação orientada para a resolução dos problemas através da participação ativa dos
educandos. Aos princípios básicos da Educação Ambiental, acrescentou-se a
importância que deve ser dada às relações natureza-sociedade, que, posteriormente,
darão origem à vertente sócio-ambiental da Educação Ambiental.
A sensibilidade em relação às questões do meio ambiente aumentou entre as
populações mais ricas e com maior nível de educação, sendo estimulada por meio de
livros e filmes, assim como pelos jornais, revistas e meios de comunicação eletrônicos.
No final da década de 80, destacou-se o Congresso Internacional sobre a
Educação e Formação Relativas ao Meio Ambiente, realizado em Moscou, Rússia, e
promovido pela UNESCO. No documento final, foi ressaltada a necessidade de se
atender prioritariamente à formação de recursos humanos nas áreas formais e não-
formais da Educação Ambiental e incluir a dimensão ambiental nos currículos de todos
os níveis de ensino.
Dez anos após a grande Conferência Rio’92, realizada no Brasil, ocorreu em
Johanesburgo, África do Sul, a Conferência Rio+10 em 2002. O foco principal da
Rio+10 foi a relação entre a sociedade e o meio ambiente. Entre os assuntos
abordados estavam: as reservas de água potável, geração e consumo de energia,
saúde e pobreza, a desertificação, a emissão de gases poluentes na atmosfera, o
consumo de alimentos e o incentivo à indústria e instituições públicas para o
desenvolvimento e pesquisa de tecnologias de produção limpa e promoção do
consumo sustentável.

Educação Ambiental no Brasil

No Brasil, a primeira iniciativa coletiva organizada ocorreu em 1973, quando se


criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA). A Política Nacional do Meio
Ambiente, definida por intermédio da Lei nº 6.983/81, situa a Educação Ambiental
como um dos princípios que garantem “a preservação, melhoria e recuperação da
qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar condições ao desenvolvimento
sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
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vida humana”. Estabelece, ainda, que a Educação Ambiental deve ser oferecida em
todos os níveis de ensino e em programas específicos direcionados para a
comunidade. Desta forma, a Política Nacional visava a preparação de todos os
cidadãos brasileiros para uma maior participação na defesa do meio ambiente.
O Decreto n.º 88.351/83 determinou a necessidade da inclusão da Educação
Ambiental nos currículos escolares de nível médio e superior. Foram recomendadas a
inclusão de temas ambientais da realidade local compatíveis com o desenvolvimento
social e cognitivo da população, e a integração da escola com a comunidade como
estratégia de aprendizagem.
No contexto internacional, começou a ser preparada a Conferência Rio’92, na qual
a grande preocupação centrava-se nos problemas ambientais globais e nas questões
do desenvolvimento sustentável. Nessa conferência, em relação à Educação
Ambiental, destacaram-se dois documentos principais:
 Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, elaborado
pelo fórum das ONGs, que explicitava o compromisso da sociedade civil com a
construção de um modelo de desenvolvimento mais humanizado e harmônico, no qual
os direitos humanos da terceira geração são verdadeiramente reconhecidos, assim
como a perspectiva de gênero, o direito e a importância das diferenças e o direito à
vida;
 Carta Brasileira de Educação Ambiental, elaborada pela Coordenação de
Educação Ambiental no Brasil, na qual foram estabelecidas as recomendações para a
capacitação de recursos humanos.
A Conferência Rio’92 apresentou uma proposta de ação para os anos seguintes,
conhecida como Agenda 21. Esse documento visava garantir o acesso de todos ao
ensino básico, conforme recomendações da Conferência de Educação Ambiental
(Tbilisi, 1977) e da Conferência Mundial sobre Ensino para Todos (Jomtien, Tailândia,
1990).
De acordo com a Agenda 21, deveria se promover, com a colaboração das ONGs
ambientais, feministas, indianistas etc, programas de educação de adultos que
incentivassem a educação permanente sobre meio ambiente e desenvolvimento, com
foco nos problemas locais. As indústrias deveriam estimular as escolas técnicas a
incluírem o desenvolvimento sustentável em seus programas de ensino e treinamento.
Nas universidades, os programas de pós-graduação deveriam organizar cursos
direcionados para capacitar profissionais no exercício de práticas de desenvolvimento
sustentável.
Em cumprimento às recomendações da Agenda 21 e à Constituição Federal, foi
aprovado o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), que previa ações
nos âmbitos de Educação Ambiental formal e não-formal. Na década de 90, o
Ministério da Educação e Cultura (MEC), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)
desenvolveram diversas ações para consolidar a Educação Ambiental no país.
No MEC, foram aprovados os novos “Parâmetros Curriculares”, que incluem a
Educação Ambiental como tema transversal em todas as disciplinas. Foi também
desenvolvido um programa de capitação de multiplicadores em Educação Ambiental
em todo o país.
O MMA criou a Coordenação de Educação Ambiental, que foi projetada para
desenvolver políticas nessa área em todo o país e sistematizar as ações existentes.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
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p. 39

O IBAMA implementou os Núcleos de Educação Ambiental (NEAs) nos estados, o


que permitiria desenvolver Programas Integrados de Educação Ambiental para a
Gestão. Várias organizações estaduais de meio ambiente (OEMAs) implantaram
programas de Educação Ambiental e os municípios criaram as Secretarias Municipais
de Meio Ambiente.
Paralelamente, as ONGs têm desempenhado papel fundamental no processo de
aprofundamento e expansão das ações de Educação Ambiental que complementam e,
muitas vezes, impulsionam iniciativas governamentais. Pode-se afirmar que a
sociedade civil organizada e as instituições governamentais responsáveis pela
Educação Ambiental trabalham juntas na elaboração de um conceito de cidadania
ambiental sustentável, calcada na participação, justiça social e democracia.

Educação Ambiental na Indústria Têxtil

O Meio Ambiente e as Empresas

Para podermos avaliar a importância da Educação Ambiental para as empresas


têxteis, sejam elas indústria, comércio ou prestadoras de serviços, é necessário
primeiramente compreendermos como a Educação Ambiental é apresentada ao
ambiente empresarial.
A primeira abordagem normalmente acontece motivada pela necessidade que a
maioria das empresas têm de, cada vez mais, adequarem-se às novas características
mercadológicas, ou seja, produtos e serviços com qualidade cada vez maior e,
principalmente, com um comprometimento social claro e evidente. E este
compromisso com a qualidade, baixo custo e evidentes ações sociais está diretamente
correlacionado ao comprometimento das empresas com o meio ambiente.
É neste ponto que a Educação Ambiental se apresenta como ferramenta
fundamental para alavancar este processo de melhoria. Através dos reconhecidos e
aceitos instrumentos de qualidade total, como o Ciclo PDCA (Figura 1), buscamos os
chamados processos de melhoria contínua. Nas próximas aulas, estudaremos a
aplicação destes instrumentos de qualidade total na implantação de um SGA.

Fig. 1: Ciclo PDCA.


Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 4
p. 40

Neste contexto, a busca pela qualidade produtiva é influenciada pelo crescente


processo de conscientização, que transcende os portões da unidade industrial. Este
processo, impulsionado pela Educação Ambiental e sustentado pelos Sistemas de
Qualidade Total e Sistemas de Gestão Ambiental (SGA), ultrapassa as fronteiras da
própria empresa e serve como instrumento de divulgação e conscientização de uma
questão de suma importância para todos, que é a preservação ambiental.
No entanto, a Educação Ambiental somente começou a ser realmente considerada
pelas empresas com o surgimento das normas da serie ISO-14000, criadas pela
mesma organização que anteriormente havia organizado as normas de qualidade
internacionais, a ISO-9000. Da mesma forma e com objetivos semelhantes, as normas
da ISO-14000 são utilizadas por toda e qualquer empresa que deseje demonstrar e
comprovar sua eficiência em termos de desempenho ambiental.
Com a chegada da ISO-14000 e toda sua universalidade, homogeneizando e
normatizando a linguagem ambiental, todos os Selos Verdes ou Selos Ecológicos
empregados, de cunho restritivo e regional, passaram a se adequar a fim de serem
aceitos mundialmente.
Através da norma ISO-14001, que fornece as especificações e diretrizes para a
utilização de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), a Educação Ambiental passou
a ganhar a importância devida. Pois, com a necessidade cada vez maior de se
adequarem às novas condições de sobrevivência em um mercado extremamente
competitivo, as empresas, principalmente aquelas que já possuíam a cultura da
qualidade total, iniciaram seus processos de conscientização ambiental com
programas educativos para capacitação de seus profissionais, incluindo seus gerentes
e diretores.

O meio ambiente e o setor têxtil

No setor produtivo têxtil, podemos destacar algumas características especificas,


que o tornam um verdadeiro desafio para a Educação Ambiental. Tais características
poderiam ser generalizadas e apontadas como as mais impactantes dentro de um
SGA. Pode-se considerar que o setor têxtil envolve atividades industriais bastante
complexas, com especificidades em relação a parâmetros de controle de qualidade e
ambientais muito diversos.
Como vimos anteriormente, da agroindústria produtora de matéria-prima à
confecção, incluindo a indústria química e os variados processos de fiação, tecelagem,
malharia e acabamento, temos, como se denomina comumente na área ambiental, um
determinado aspecto ambiental ou um conjunto deles. E, por conseguinte, cada
aspecto ambiental ou conjunto de aspectos relativos a cada uma destas diferentes
atividades do setor têxtil também vão apresentar uma série de impactos ambientais
diferenciados e específicos. De uma maneira generalizada, podemos descrever alguns
dos aspectos que devem ser considerados como impactantes do meio ambiente e,
conseqüentemente, conhecidos e reconhecidos por aqueles que trabalham na sua
detecção e controle.
Dentro do setor produtivo têxtil, as atividades que mais utilizam a água são também
as que mais apresentam aspectos ambientais relevantes. Isto indica a predominância
de sistemas de controle e tratamento nas empresas têxteis que contêm unidades de
tinturaria, estamparia, beneficiamentos e lavanderia, onde notadamente o meio para o
transporte das substâncias químicas que agregarão valor aos produtos têxteis é a
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 4
p. 41

água. E esta água, como substância líquida, após sua utilização nos processos
industriais têxteis, poderá tornar-se um típico efluente líquido, normalmente de elevado
impacto no meio ambiente.
A seguir, são descritas as características ambientais mais importantes de cada um
dos diferentes setores produtivos que compõem o setor têxtil:

 Agroindústria
- Algodoeira e demais fibras de origem vegetal
A utilização ainda ostensiva de substâncias tóxicas - os conhecidos agrotóxicos
– que podem contaminar o subsolo, atingindo os lençóis freáticos e em seguida
fontes de água, rios, lagos etc, provocando o desequilíbrio ecológico. O controle
destes problemas ambientais nestas atividades implica uma série de modificações,
principalmente relacionadas à sensibilização de produtores e empregados das
lavouras. A substituição destas substâncias nocivas por novas tecnologias de
controle de pragas vem sendo realizada com sucesso através da genética e da
utilização de biocontroles.
- Lã e outras de origem animal
Basicamente, as características desta atividade fornecedora de matéria-prima
têxtil são semelhantes às de qualquer outra atividade de criação de animais, com
elevada produção de dejetos orgânicos, como fezes, restos de ração, ou dos
próprios processos de tosquiamento. Em especial, podemos citar a seda, cuja
origem animal está mais intrinsecamente ligada ao controle vegetal das amoreiras,
onde as larvas do bicho-da-seda se desenvolvem.

 Fiação
Nesta área têxtil, dentre as características ambientais mais relevantes, podemos
destacar a questão da poeira em suspensão, normalmente controlada com
aspiradores gigantes (Figura 2), cujo objetivo inicial era controlar a qualidade do
produto (fio) e não a qualidade do ar respirado.
Entretanto, grande parte deste resíduo coletado pode transformar-se num novo
componente de natureza sólida, que provavelmente causará algum tipo de impacto
ambiental. Há ainda a questão da chamada poluição sonora, que pode ser minimizada
pelo uso de EPI’s (Figura 3), mas que ainda influencia bastante o desempenho nas
atividades de trabalho.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
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Sistema de aspiração de particulados. Chuveiro de segurança.

Fig.2: Exemplos de EPCs utilizados na Fiação.

Protetores auriculares.

Fig.3: Exemplo de de EPIs utilizados na Fiação.

Por fim, a necessidade de umidificação e, às vezes, de refrigeração destas áreas


industriais implicam a utilização constante de sistemas de refrigeração, logo intensa
utilização de água, e água com um elevado nível de controle de qualidade,
principalmente devido aos sistemas de resfriamento e circulação utilizados pelas
indústrias têxteis.

 Tecelagem e malharia
Tais áreas têxteis apresentam situações semelhantes à da fiação, com
agravamento dos aspectos relativos às questões de controle da poluição sonora, em
conseqüência da utilização de teares mais ruidosos.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
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Da mesma forma, os sistemas de umidificação são muito importantes e consomem


muita energia e água de qualidade elevada, o que significa a necessidade de
tratamento e a utilização de grande quantidade de produtos químicos. Como resultado,
temos a elevação dos custos de operação.
Tanto nestas áreas específicas como na fiação, há uma constante produção de
resíduos, restos de fios, novelos, fitas e até retalhos, que podem se tornar poluentes,
caso não sejam destinados de forma apropriada.
Podemos considerar a etapa de engomagem bastante comprometedora do ponto
de vista ambiental, mas as atuais tecnologias têm conseguido aumentar
substancialmente a eficiência destes processos, diminuindo as cargas de resíduos e
efluentes produzidos em níveis toleráveis.

 Confecção
Para muitos profissionais do setor têxtil, esta é uma área praticamente livre de
cargas poluidoras, mas, do ponto de vista ambiental, talvez seja uma das áreas mais
importantes, com diversos aspectos ambientais a serem destacados. Podemos citar o
nível de ruído das máquinas de costura, cuja evolução tecnológica constante tende a
reduzi-lo.
A quantidade de retalhos e restos de tecidos é enorme e há uma busca incansável
de sua redução. Há também uma significativa variedade de materiais utilizados, tanto
têxteis como de embalagens de diferentes tamanhos e composições (plásticos,
papelões etc.), os quais também devem ser devidamente eliminados ou minimizados.
Vale ressaltar que, na área de confecção, repleta de máquinas, assim como nas
áreas de fiação, tecelagem e malharia, existem resíduos oriundos das manutenções
dos equipamentos que não podem ser desprezados, tais como óleos, graxas,
detergentes, etc.

 Indústria química
A indústria química, fabricante de fibras sintéticas e artificiais, é um importante
fornecedor de matéria-prima para o setor têxtil, não só do ponto de vista técnico-
econômico, mas também ambiental. Os processos industriais envolvidos na fabricação
de fibras poliméricas têm suas características diferenciadas, com efluentes
quimicamente potentes, tanto líquidos, como gasosos e sólidos. Para a indústria têxtil
e de confecção, é conveniente conhecer não somente as características técnicas das
fibras utilizadas, mas também suas principais implicações ambientais.

 Lavanderia e passadoria
Alguns aspectos específicos podem ser descritos, como: resíduos de pedras de
lavagem de jeans (pedra cinasita), que formam cascalhos e areia em grande
quantidade; e vapores de secagem, que utilizam solventes potencialmente tóxicos,
como é o caso da substância Percloroetileno, a qual está gradativamente sendo
substituída por outras menos agressivas.
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• Acabamento

Os processos desta etapa são bastante variados e são reconhecidamente os mais


impactantes em termos ambientais. No acabamento existem três etapas básicas:
beneficiamentos primários, secundários e terciários ou finais.
No Beneficiamento Primário, o tecido é preparado principalmente para as etapas
seguintes, de Tinturaria e Estamparia. Nesta etapa de pré-tratamento, temos alguns
processos como purga, alvejamento, desengomagem e mercerização .
No Beneficiamento Secundário, ocorrem os tingimentos e estampagens .
No Beneficiamento Terciário, objetiva-se conferir ao tecido características
especiais, como maior estabilidade dimensional .
Existem beneficiamentos de diferentes materiais têxteis além de tecidos planos ou
de malhas, tais como fibras, fios e peças confeccionadas.
Ainda podemos considerar como um processo de Acabamento, os processos de
lavagem de peças confeccionadas, normalmente executados na área de Lavanderia.
Também podemos considerar uma outra área paralela ao Acabamento Têxtil,
conhecida como Manutenção Têxtil. São as lavagens industriais, hospitalares,
hoteleiras ou mesmo de peças confeccionadas.
Do ponto de vista da Educação Ambiental, a identificação das principais
características ambientais da cadeia completa é muito mais interessante do que por
segmento. Isto porque o conceito de educação é, cada vez mais, menos segmentado.
Todos os indivíduos devem ter acesso à maior quantidade possível de informações. E
esta concepção, em se tratando de meio ambiente, é imprescindível.
Para as empresas têxteis, a elaboração de um Programa de Educação Ambiental
deve ser contínua e permanente, seguindo sempre as diferentes etapas apresentadas
na implantação de um SGA. Devemos implementar cada uma das etapas do processo
de melhoria contínua sempre, inequivocadamente.

Praticando e aprendendo

Reflita sobre o que você estudou nesta aula e responda às questões a seguir:
 Destaque uma característica comum às definições de Educação Ambiental
apresentadas no texto.
 Desenhe uma linha do tempo (linha cronológica), incluindo os principais fatos
históricos que formaram as bases da Educação Ambiental.
 Cite as principais características que impactam o meio ambiente nos processos de
Fiação, Lavanderia e Acabamentos Secundários (Tinturarias).

O que estudei
Nesta aula, tivemos a oportunidade de estudar o desenvolvimento de uma das
ferramentas mais importantes da Gestão Ambiental, que é a Educação Ambiental.
Vimos também a evolução de seus conceitos e como foram formados os atuais
conceitos que envolvem a questão ambiental.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
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p. 45

Vimos um histórico resumido, com os acontecimentos que constituem as bases da


Educação Ambiental no mundo e também no Brasil. Desde o Clube de Roma, na
década de 60, até a Conferência Rio+10, realizada em 2002, foram destacadas
reuniões e conferências, envolvendo cientistas, políticos, sociedade civil, empresas,
governos e ONGs. Todos estes considerados “atores” de um processo fundamental
para a elaboração dos preceitos que norteiam a aplicação dos conceitos de Educação
e Meio Ambiente em todas as atividades humanas.
Abordamos ainda um conceito básico para que o processo de conscientização e
aprendizado constante possa vir a ser aplicado: o conceito da Melhoria Contínua.
Concluímos nossa aula com considerações, do ponto de vista da Educação
Ambiental aplicada à Gestão Ambiental, sobre os principais aspectos e impactos
observados nos processos têxteis mais significativos.

Como andam seus estudos?

Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmativas abaixo, com base nos


conceitos abordados nesta aula.
( ) O termo “Educação Ambiental” está mais relacionado com os métodos de
ensino comportamental no ambiente de trabalho.
( ) O Movimento Ambientalista foi o embrião para o desenvolvimento dos
conceitos de Educação Ambiental em todo o mundo.
( ) A Conferência Rio’92, ocorrida no Brasil, foi o grande marco do
desenvolvimento das ações mundiais em prol do Meio Ambiente.
( ) A Educação Ambiental tornou-se uma das ferramentas mais eficazes no
processo de implantação de SGA’s em empresas.
( ) A conscientização ambiental nas indústrias têxteis tem crescido nos últimos
anos graças à presença de Programas de Educação Ambiental nelas
implantados.

Glossário

Biocontroles: métodos de controle de poluição que utilizam organismos vivos ou


microorganismos.
Ciclo PDCA: metodologia empregada nos Programas de Gestão da Qualidade que
indica etapas definidas de execução de um determinado procedimento: planejar, fazer,
verificar e corrigir.
EPI’s: sigla para Equipamentos de Proteção Individual.
EPC’s: sigla para Equipamentos de Proteção Coletiva.
ISO: Organização Internacional de Padronização (International Standardization
Organization).
ONGs: Organizações não-governamentais.
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AULA 5
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AULA 5
O Sistema de Gestão Ambiental e a Norma ISO 14001

Por que estudar este assunto?

À medida que a sociedade se torna cada vez mais consciente em relação às


questões ambientais, crescem as exigências em relação à “performance ambiental”
das empresas em todos os setores produtivos.
Além dos órgãos locais de proteção ambiental, criados para que as leis ambientais
sejam cumpridas pelas empresas, também os clientes, consumidores, fornecedores de
matérias-primas e insumos, acionistas e investidores nacionais e internacionais, ONGs
ambientais, e até mesmo seus concorrentes pressionam estas empresas para que
elas se adaptem à nova realidade. Aquelas empresas com maiores potenciais
poluidores e maiores graus de utilização de recursos naturais são as mais visadas. As
indústrias têxteis, na sua grande maioria, se encaixam neste perfil; logo, a adoção de
selos ecológicos é uma estratégia interessante para minimizar as tais pressões da
sociedade.
Os selos verdes, que garantem o comprometimento ambiental de um ou outro
produto específico de uma determinada empresa, são aceitos por grupos restritos de
consumidores em determinados países. Nesta aula, vamos estudar a ISO-14000, uma
certificação de aceitação internacional, que pode ser adotada por todas as empresas
em todos os países do mundo.

O que preciso saber...

O que é a Série ISO-14000?

A norma ISO-14000 surgiu como uma forma de homogeneizar, padronizar e


organizar o cenário mundial de certificados ecológicos que proliferaram no início da
década de 90. A norma foi elaborada pela Organização Internacional de Padronização,
que já havia criado a série de Normas ISO-9000 para o estudo dos sistemas de
qualidade. Com a ISO-14000, qualquer empresa do mundo pode comprovar sua
performance ambiental e ter seus produtos e serviços reconhecidos
internacionalmente.
A adoção da norma ISO-14000 significa um enorme avanço em termos de
relacionamento internacional. Os critérios de avaliação de desempenho em relação às
questões ambientais são os mesmos para qualquer empresa, independente do lugar,
da língua ou atividade desenvolvida. Considerando um mercado cada vez mais
globalizado, onde as relações comerciais são cada vez mais intensas, esta norma
facilita as transações comerciais entre empresas de diferentes países.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
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A ISO-14000 surgiu num momento de proliferação dos eco-selos. A despeito de a


grande maioria destes certificados ecológicos terem sido criados com seriedade,
também surgiram alguns selos ecológicos cuja única intenção era criar barreiras
comerciais, muitas vezes através de exigências que nada tinham a ver com questões
ambientais. Estes selos mercadológicos (Abreu, 2000) foram responsáveis pela perda
de credibilidade de outros certificados ambientais, que dificilmente poderiam ser
identificados pelos consumidores, ou até mesmo pelas próprias empresas, como
sendo verdadeiros.
Sendo a ISO uma organização não-governamental reconhecida internacionalmente,
sua iniciativa de criar a série de normas ambientais foi muito bem aceita pela
comunidade ambiental internacional. Adotada por mais de 100 países-membros, entre
eles o Brasil, a ISO possui comitês técnicos responsáveis pela definição e
regulamentação das normas, denominados TCs.
O Brasil é representado na ISO pela ABNT, onde se encontra o CB-38, comitê
brasileiro dedicado às discussões sobre as normas e revisões da NBR-ISO-14000.
Várias normas que compõem a série ISO-14000 ainda estão sendo aprimoradas e
revisadas. As principais, já editadas internacionalmente, são as normas ISO-14001 e
ISO-14004; respectivamente, Sistemas de Gestão Ambiental – Especificações e
Diretrizes para Uso e Sistemas de Gestão Ambiental – Diretrizes Gerais sobre
Princípios, Sistemas e Técnicas de Apoio.
Recentemente, estas normas foram revisadas a fim de esclarecer conceitos e
alguns requisitos, visando principalmente sua integração com a norma ISO-9001,
aplicada ao Sistema de Gestão da Qualidade, cuja nova versão foi lançada como ISO-
9001:2000.

Relacione as principais normas da série ISO-14000 disponíveis na


ABNT. Destaque aquelas que sofreram revisões recentemente.

O Sistema de Gestão Ambiental

Ao pensarmos num Sistema de Gestão Ambiental (SGA) nos moldes da norma


ISO-14001, devemos imaginar a aplicação de cinco fases principais, as quais devem
ser seguidas ordenadamente. Estas fases são baseadas num conceito bastante
difundido da Gestão pela Qualidade Total, denominado Ciclo PDCA, conforme vimos
na Aula 4, Figura 1.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 5
p. 48

Na prática, o ciclo PDCA não é tão cíclico assim. O conceito desta ferramenta
oriunda da gestão de qualidade indica que as etapas de implantação que se seguem
não retornam nunca ao mesmo ponto inicial, conforme podemos observar no esquema
da Figura 2. Este ciclo resulta em uma espiral que não deve jamais encerrar o
processo, ou seja, o ciclo é sempre retomado de forma progressiva num novo ponto.
Por este motivo, ele é utilizado para alcançar as melhorias, alterações ou modificações
necessárias ao sistema que está sendo implantado ou que já esteja implantado.

Fig.2: Ciclo PDCA aplicado à Gestão Ambiental.

Antes de iniciar o processo de implantação do SGA, é importante observar em que


ponto a empresa encontra-se em relação às questões ambientais. Esta etapa é
identificada como Diagnóstico Preliminar, também conhecida como Análise Crítica
Preparatória, Revisão Inicial ou Auditoria Preliminar. Apesar de não ser exigida pela
norma, é uma fase de grande importância e que auxilia bastante em todo o processo
de implantação.
As etapas necessárias para a implantação de um SGA estão descritas a seguir:
1) Política Ambiental;
2) Planejamento;
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 5
p. 49

3) Implantação e operacionalização;
4) Verificação e correção e
5) Análise crítica.
Podemos estruturá-las através de um diagrama, que facilita a visualização destas
etapas e mostra como elas irão ocorrer durante o processo de implantação do SGA.
Vejamos a figura 3.

Fig. 3: Diagrama do processo de implantação do SGA.

A Política Ambiental e os Diagnósticos Iniciais

Esta é a etapa na qual se definem as políticas relativas às questões ambientais na


empresa. Mas, afinal, o que é verdadeiramente uma política ambiental? Seria o
pensamento dos dirigentes da empresa em relação às questões ambientais? Seria o
pensamento do setor ou área empresarial? Ou seriam as idéias daqueles que direta
ou indiretamente estão relacionados com as questões ambientais? Talvez a
combinação de todas estas idéias represente melhor esta política ambiental.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 5
p. 50

Historicamente, nem todas as declarações de Políticas Ambientais apresentadas


pelas empresas refletem com fidelidade os anseios de todas as partes envolvidas.
Muitas vezes, por desconhecimento ou até mesmo falta de um comprometimento real,
o documento que expressa a Política Ambiental de uma empresa mais se parece com
um texto de marketing, divulgando compromissos ou metas muitas vezes impossíveis
de serem cumpridos ou atingidos.
Se o objetivo maior da empresa é um comprometimento real em solucionar as
situações decorrentes de seus processos e atividades que afetam negativamente o
meio ambiente, então a política de meio ambiente deverá apresentar características
bem definidas. A política ambiental de uma empresa deve descrever as expectativas
dos diferentes segmentos que compõem os setores organizados dentro e fora da
empresa.
A maneira de se chegar a um consenso de idéias e conceitos sobre como a
empresa e seus colaboradores se relacionam com estas questões ambientais pode
variar de acordo com o tamanho e o nível de comprometimento da empresa. Algumas
empresas elaboram sua Política Ambiental utilizando métodos estatísticos complexos
que indicam matematicamente os anseios e desejos dos envolvidos no processo.
Alguns pré-requisitos, os quais estão prescritos na ISO-14001, são imprescindíveis
à construção da Política Ambiental. Dentre eles, podemos citar:
 A política deve ser relevante em relação às atividades e aspectos ou impactos
ambientais da empresa;
 A política deve ser tornada pública;
 A política deve incluir um compromisso de adequação à legislação vigente, assim
como a requisitos internos da empresa; e
 A política deve comprometer a empresa com a prevenção à poluição e a proteção
ao meio-ambiente.
A ISO-14001 aplica-se a empresas de grande porte e pequenas fábricas ou
empreendimentos, em qualquer área de atividade, que tenham em comum a mesma
preocupação com a proteção ambiental. Portanto, é indiferente se a empresa têxtil é
uma grande empresa contendo setores como fiação, tecelagem, acabamento etc., ou
uma simples confecção de moda praia ou uma lavanderia industrial de peças
confeccionadas.

Procure informações sobre a Política Ambiental adotada pos algumas


empresas. Compare os itens apresentados e a forma como eles são
descritos.

A seguir, apresentamos um exemplo de uma declaração de Política Ambiental


elaborada por uma empresa genérica, segundo a norma ISO-14001.
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p. 51

EMPRESA X
A EMPRESA X LTDA. tem como política ambiental desenvolver suas atividades
industriais orientando-se pelos princípios do desenvolvimento sustentável e da
melhoria contínua, compromentendo-se a:
o Assegurar a manutenção da qualidade da água no entorno do
empreendimento através do controle de seus efluentes;
o Promover a racionalização na utilização de recursos naturais em suas
atividades;
o Aplicar em suas atividades procedimentos e tecnologias de prevenção à
poluição;
o Atender à legislação ambiental vigente e cumprir os acordos firmados com
órgãos de fiscalização locais, clientes e fornecedores;
o Promover a conscientização e a capacitação de colaboradores internos e
externos, buscando a formação de uma cultura ambiental.
A empresa compromete-se ainda a elaborar e revisar periodicamente seu plano de
ações estratégicas ambientais.
Esta Política Ambiental está à disposição do público na área de Qualidade, Meio
Ambiente, Saúde e Segurança da empresa.
_________________
Diretor Geral

Fonte: SAMA-Mineração de Amianto Ltda.

Esta primeira etapa de elaboração de uma política que oriente as ações a serem
tomadas em prol do meio ambiente dentro de uma empresa é de suma importância
para o bom desenvolvimento de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). As etapas
seguintes são extremamente dependentes desta primeira fase e com base nesta serão
construídas, planejadas e implementadas.
Em qualquer tipo de estrutura organizacional, seja uma escola, uma igreja, um
hospital ou uma indústria, a definição coerente e bem orientada de como será tratado
o assunto Meio Ambiente é fundamental para iniciar um bom processo de implantação
de um SGA. Na indústria têxtil ou de confecção não é diferente.

Praticando e aprendendo

Agora, vamos tentar aproximar os conceitos abordados nesta aula do nosso


cotidiano. Imagine que sua casa, ou o lugar onde você reside seja uma organização
interessada em melhorar sua relação com o meio ambiente. Algumas iniciativas
deverão ser tomadas para atender as condições de implantação de um SGA segundo
as normas da ISO-14001. Primeiramente, realize o diagnóstico inicial do que está
acontecendo em sua casa. Este será um primeiro “retrato” de sua relação e de sua
família com as questões ambientais que afetam ou são afetadas pela empresa “Sua
Casa”.
Em seguida, defina alguns objetivos ou metas a serem atingidas visando a
certificação ambiental de “Sua Casa”, ou seja, para que seja reconhecida
publicamente (pela “Sua Vizinhança”) como uma organização consciente dos
problemas que pode causar ao meio ambiente, às pessoas dentro da própria casa ou
fora dela.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 5
p. 52

Para finalizar, relacione o que foi identificado no diagnóstico e os objetivos/metas


definidos e elabore um documento de declaração de suas intenções. Guarde este
documento para que depois possa avaliá-lo numa revisão crítica, que proporcionará a
Melhoria Contínua.

O que estudei
Nesta fase de nosso estudo, iniciamos o processo de estruturação de um SGA
genérico, partindo de conceitos simples, bem próximos de nossa realidade. Facilmente
poderemos aproximá-los de situações profissionais, que fazem parte do nosso dia-a-
dia de trabalho.
A identificação de certas características importantes na implantação de um Sistema
de Gestão Ambiental calcado em uma norma de cunho internacional proporciona-nos
uma dimensão maior de como qualquer organização pode, com relativa facilidade,
estar alinhada com as questões ambientais. Nesta aula vimos conceitos como:
 O que é um Sistema de Gestão Ambiental e qual a sua relação com a série de
normas da ISO-14000;
 A importância da norma ISO-14001 na implantação de um SGA;
 A fase inicial de identificação da situação da empresa em relação às questões
ambientais;
 O caminho para desenvolver e elaborar uma política ambiental fiel à realidade
da empresa e factível de ser atingida pelas futuras ações e planejamento da
empresa.

Como andam seus estudos?

Este é mais um momento de pausa para verificar como está seu aprendizado.
Reflita sobre as afirmações a seguir e marque apenas as opções corretas.
( ) Existe uma relação entre as normas da série ISO-9000 (SGQT) e as normas
da série ISO-14000 (SGA).
( ) Segundo a norma ISO-14001, um SGA pode se basear na ferramenta da
qualidade conhecida como “Espinha de Peixe”.
( ) O processo de implantação de um SGA, baseado no PDCA, deve visar
sempre alcançar um ponto diferente daquele observado anteriormente.
( ) A política ambiental da empresa deve atender aos interesses pessoais
econômico-financeiros de seus diretores.
( ) A política ambiental deve ser tornada pública e divulgada entre todos os
funcionários, clientes e fornecedores da empresa.

Glossário

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas.


CB: Comitê Brasileiro.
TC: Technical Comitee (Comitê Técnico).
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AULA 6
p. 53

AULA 6
Aspectos e Impactos Ambientais

Por que estudar este assunto?

Como vimos na aula anterior, a etapa de elaboração de uma política de metas e


objetivos que norteiem o relacionamento da empresa com as questões ambientais é
de suma importância para o desenvolvimento de todo o processo de implantação do
SGA. Dando continuidade ao nosso estudo sobre o processo de implantação do
Sistema de Gestão Ambiental numa empresa, estudaremos nesta aula as etapas
posteriores à fase de preparação e elaboração de uma Política Ambiental.

O que preciso saber...

O Planejamento e os Aspectos e Impactos Ambientais

A segunda parte do processo de implantação do SGA é o Planejamento, no qual


são identificados todos os Aspectos e Impactos Ambientais inerentes à empresa, que
serão fundamentais no direcionamento das ações que constituirão o Programa de
Gestão Ambiental. Este programa consiste na definição de um conjunto de Objetivos e
Metas a serem atingidos pela empresa em busca de sua excelência ambiental. E é
neste programa que se considera o cumprimento dos requisitos legais que envolvem
as questões ambientais.
Inicialmente, convém discutirmos o que são e quais as diferenças entre Aspectos e
Impactos Ambientais.
Segundo a antiga norma BS-7750, que fundamentou as normas da série ISO-
14000, em seu item 3.3, um Efeito Ambiental é “qualquer intervenção direta ou indireta
das atividades, produtos e serviços de uma organização sobre o meio ambiente, quer
seja benéfica ou adversamente“. Este é o conceito que deu origem aos conceitos de
Aspecto e Impacto Ambiental, apresentados na norma ISO-14001, em seu item 3.3.
Segundo a norma ISO-14001, um Aspecto Ambiental é “um elemento das
atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio
ambiente”. Já o Impacto Ambiental “é qualquer alteração no meio ambiente, positiva
ou negativa, total ou parcialmente resultante das atividades, produtos e serviços de
uma organização”. É interessante ressaltar que um Aspecto Ambiental significativo é
aquele que tem ou pode vir a ter um Impacto Ambiental considerável.
Na norma ISO-14004 (Sistemas de Gestão Ambiental – diretrizes gerais sobre
princípios, sistemas e técnicas de apoio), no item 4.2.2., os conceitos de Aspecto e
Impacto Ambiental são diferenciados da seguinte forma, apresentada na Tabela 1:
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AULA 6
p. 54

Tabela 1: Atividades x Aspectos Ambientais x Impactos Ambientais.

Atividades Aspectos Ambientais Impactos


Ambientais
Fabricação de um Reformulação do Conservação dos
produto produto para reduzir o recursos naturais
seu volume
Manuseio de materiais Vazamento acidental Contaminação da
tóxicos água e do solo

No levantamento dos Aspectos e Impactos Ambientais deve-se observar as


atividades normais de operação, paradas para realizar manutenções ou partidas
operacionais, ou atividades que possam incorrer em algum tipo de risco ambiental.
Durante o processo de implantação de um SGA, a empresa deve reconhecer todos
os seus problemas ambientais, desde os mais simples, muitas vezes desprezíveis, até
os mais significativos e impactantes. O intuito deve ser sempre identificá-los com a
máxima clareza, de forma a permitir que a empresa possa atuar de maneira coerente
a fim de reduzi-los ou até eliminá-los.
Os problemas ambientais gerados por uma empresa são associados quase que
imediatamente com situações negativas. E é justamente esta associação que indicará
os Impactos Ambientais que servirão de base para a confecção de todo o SGA.
A melhor forma de planejar este levantamento é organizar grupos de diferentes
setores da empresa e, se possível, envolver representantes externos da comunidade,
clientes e fornecedores. Tal planejamento pode ser descrito através de um fluxograma,
descrito na Figura 1.
O processo se inicia com os representantes de cada área solicitando aos seus
subordinados uma relação de todas as situações impactantes ao meio ambiente que
cada um deles observa em suas atividades diárias dentro da empresa. Passado este
primeiro contato com o assunto, começa a surgir uma série de “supostos” Impactos,
muitas vezes confundidos com problemas de ordem médica ou de segurança. Neste
momento é necessário ser bastante criterioso, para poder discernir o que é e o que
não é verdadeiramente um impacto de cunho ambiental.

Neste primeiro momento, podemos também nos defrontar com o surgimento de


dúvidas por parte do grupo. Em geral, isto ocorre porque, mesmo com
treinamentos, palestras e seminários sobre o assunto, a maioria dos funcionários
não está habituada a lidar com situações que envolvam a identificação de
problemas ou mudanças em suas atividades rotineiras.

Existe ainda a possibilidade de se incluir nestas avaliações alguns aspectos


relacionados à saúde e segurança dos funcionários, conforme recomenda a norma
NBR ISO-14004. Apesar de não serem consideradas obrigatórias segundo a norma
ISO-14001, tais características podem auxiliar a empresa a identificar problemas que
direta ou indiretamente possam afetar de alguma forma as questões ambientais e
assim saná-las através de ações corretivas, que visam a criação de melhores
condições de trabalho.
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AULA 6
p. 55

Início

Formar equipes de trabalho

Identificação dos impactos ambientais

Classificar os impactos ambientais de


acordo com seu grau de significância,
em desprezíveis e consideráveis

Foram Foram
identificados
Foram identificados
Foram NÃO
SIM NÃO impactos
impactos
identificados identificados
desprezíveis? consideráveis?

SIM
Registrar
aspectos/impactos
desprezíveis Classificar os aspectos e
impactos ambientais
consideráveis com com
relação à necessidade de
Relatório controle

Definir objetivos e metas


para controle de
aspectos e impactos
ambientais consideráveis

NÃO Aspecto/ impacto SIM


requer controle?

Registrar impacto que


Planejar ação de
não necessita de
controle
controle

Relatório Relatório

Fim

Fig. 1: Fluxograma para o planejamento de ações ambientais.


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AULA 6
p. 56

Outra questão importante a ser considerada nesta etapa inicial de identificação dos
Aspectos/Impactos Ambientais existentes na empresa são os fatores relacionados
com o custo e o tempo necessários para a coleta dos dados de maneira idônea e
confiável. Por isto, é fundamental que o procedimento de obtenção e análise destas
informações seja realizado de forma o mais abrangente possível, considerando
situações normais do cotidiano da empresa, situações extraordinárias e situações de
risco em potencial.
Para analisar esta grande quantidade de informações coletadas de maneira
organizada, existem alguns critérios que facilitam a identificação dos Aspectos e
Impactos e suas características mais importantes. Os mais simples classificam
somente os Impactos Ambientais de acordo com sua significância:
 Significativos;
 Mediamente significativos; e
 Não-significativos.
Para esta classificação, deve-se considerar algumas características relativas aos
Impactos Ambientais, tais como:
 Existência de legislação vigente que os controle;
 Se são diretos ou não;
 Se são positivos ou negativos;
 Se ocorrem em situações operacionais normais ou não;
 Se são resultantes de atividades atuais ou não; e
 Se são freqüentes ou não.
Tais considerações devem ser estabelecidas pelas próprias empresas que definirão
a melhor classificação a ser aplicada, determinando pesos de significância para cada
um dos Impactos Ambientais.
Quando a empresa tiver todos os seus Impactos Ambientais devidamente
classificados, será possível decidir se eles serão ou não abordados no plano de
objetivos e metas ambientais. Numa primeira tentativa de aplicação do PDCA
ambiental, pode-se focar os Impactos Ambientais mais significativos. Dessa forma, a
empresa poderá testar seu planejamento e levar em consideração também alguns
fatores econômicos que não inviabilizem o processo de implantação do SGA.

Uma dica importante: o levantamento dos Aspectos Ambientais e Impactos


associados é o ponto chave desta fase de implantação do SGA. É fundamental
que os Impactos Ambientais escolhidos como prioritários sejam abertamente
declarados a todos. São estes que sustentarão os objetivos e metas ambientais
que serão definidos na primeira aplicação do PDCA Ambiental.

Identificação de Aspectos e Impactos Ambientais

Vamos tentar ilustrar melhor esta etapa de suma importância com o exemplo a
seguir, que pode ser facilmente observado numa empresa têxtil.
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p. 57

A área de caldeiraria é onde ocorre a geração do vapor, empregado em grande


parte das indústrias têxteis e de grande importância para os setores de produção,
alimentação, higienização e limpeza de pátios e equipamentos. Esta área apresenta
uma série de atividades nas quais podemos identificar Aspectos e Impactos
Ambientais relevantes. Esta identificação pode ser facilitada com a tabulação de
informações relevantes, que facilitarão todo o processo de classificação e,
posteriormente, a associação aos Impactos Ambientais mais importantes.
No caso deste exemplo, envolvendo a unidade para geração de vapor, podemos
citar algumas atividades inerentes ao processo operacional das caldeiras, conforme
descrito na tabela 2.

Tabela 2: Identificação de Aspectos Ambientais e Impactos Associados.


Aspectos Impactos
Atividades Entradas Saídas Origem Destino
Ambientais Ambientais

Tratamento Água bruta, Água Rios, poços, Reservatório Consumo de Uso de


da água polieletrólitos tratada. abastecimento de água água, recursos
(substâncias público, água para consumo de naturais, risco
antiincrustan reciclada. caldeiras. substâncias de
tes), energia químicas, contaminação
elétrica. consumo de de rios ou
energia solos.
elétrica.

Geração de Combustível Vapor Tanque de Processos Consumo de Uso de


vapor (óleo, lenha, d’água, combustíveis ou industriais, combustíveis, recurso
gás), água gases de madeira de cozinha, emissão de natural,
tratada combustão, reflorestamento, lavatórios, poluentes poluição do
resíduos reservatório de sistema de gasosos, ar,
sólidos água tratamento formação de contaminação
de gases, resíduos do solo
aterro sólidos
industrial

Tratamen- Gases de Efluentes Caldeiras, água Sistema de Redução de Controle da


to de combustão, líquidos, de processo e exaustão partículas poluição do
gases de água resíduos condensados (chaminés), atmosféricas, ar,
combustão recirculada sólidos sistema de aumento de contaminação
coleta de sólidos totais do efluente
efluente no efluente líquido
contaminado líquido

Observe que nesta tabela não nos preocupamos ainda com a classificação dos
Impactos Ambientais em relação a sua significância. Esta classificação pode ser feita
de várias maneiras - numericamente, quantificando esta siginificância, ou
simplesmente categorizando a relação que o Aspecto/Impacto Ambiental tem com o
meio ambiente.
É muito comum correlacionar um Impacto Ambiental a algo negativo. Mas, na
verdade, nem todo Aspecto Ambiental está relacionado a uma situação prejudicial ao
meio ambiente. Podemos também ter Impactos Ambientais considerados positivos.
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p. 58

Ainda considerando esta classificação, podemos incluir ou não os aspectos


voltados para a saúde e segurança dos trabalhadores. Neste caso, relacionamos os
Aspectos/Impactos Ambientais que envolvam riscos à saúde e à segurança de quem
está envolvido com a atividade que está sendo avaliada.

Identifique e registre outros exemplos de Aspectos e Impactos


Ambientais que você vivencia no seu trabalho.

Praticando e aprendendo

Na aula 5, como exercício, você elaborou uma Política Ambiental que retratasse o
relacionamento de “Sua Casa” com o Meio Ambiente. Nesta aula, vamos
complementar este estudo, relacionando os Aspectos e Impactos Ambientais
envolvidos. Somente com a identificação destes itens poderemos realmente Planejar a
implantação de um SGA, determinando os principais objetivos e metas a serem
alcançados.
Crie uma tabela e registre as principais atividades desenvolvidas dentro de sua
casa, em condições normais, ou quando ocorre alguma coisa diferente, por exemplo,
uma festa, ou um churrasco. Certamente, as atividades que ocorrem durante estas
ocasiões especiais apresentarão Aspectos e Impactos correlatos muito mais
significativos e interessantes!
Depois, quantifique o grau de significância de cada uma destas atividades, criando
uma escala de pontuação, de acordo com este grau. Quanto maior a significância
associada à quantidade de repetições das atividades, maior será o Impacto causado e,
conseqüentemente, maior a importância daquele Aspecto Ambiental.
Isto influenciaria decisivamente na definição das ações a serem tomadas a fim de
contornar aquela situação, visando sua eliminação ou minimização dos aspectos
negativos. Isto será o Planejamento Ambiental de “Sua Casa”, o qual dará
continuidade ao seu PDCA interno.

O que estudei
Nesta fase do curso, as informações começam a ser mais consistentes e a ter uma
maior aplicabilidade. Muitas destas informações são de grande importância no
processo de implantação do SGA em qualquer tipo de estrutura organizacional.
Nesta aula, vimos que a estruturação de uma metodologia de identificação das
atividades é o ponto de partida para a definição de um Plano de Ações. As etapas
estudades foram:
 Levantamento de todas as atividades desenvolvidas em cada setor, sejam
consideradas normais , anormais ou de risco;
 Verificação da origem e do destino de todas as entradas e saídas respectivas,
ou seja, de onde vem e para onde vão tudo o que entra e o que sai dos
processos envolvidos nas diferentes atividades;
 Verificação de todas as entradas e saídas dos processos que envolvem estas
atividades, ou seja, tudo o que entra em termos de matérias-primas e insumos,
e tudo o que sai em termos e de produtos, sub-produtos ou rejeitos;
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p. 59

 Identificação dos Aspectos Ambientais referentes às atividades e seus Impactos


Ambientais correspondentes; e
 Classificação e gradação dos Aspectos e Impactos Ambientais identificados.

Como andam seus estudos?

Preencha a tabela abaixo com a letra correspondente:

Atividade Aspecto Ambiental Impacto Ambiental


Fabricação de um produto
Manuseio de material tóxico

(a) Contaminação da água e do solo.


(b) Reformulação do produto para reduzir o seu volume.
(c) Conservação dos recursos naturais.
(d) Vazamento acidental.

Ordene as atividades relacionadas abaixo, de acordo com o fluxograma do


Planejamento de identificação de problemas Ambientais.
( ) Identificação dos impactos ambientais.
( ) Classificar os impactos ambientais de acordo com seu grau de significância,
em desprezíveis e consideráveis.
( ) Formar equipes de trabalho.
( ) Identificar impactos consideráveis.
( ) Classificar os aspectos e impactos ambientais consideráveis com relação à
necessidade de controle.
( ) Registrar aspectos/impactos desprezíveis.
( ) Identificar impactos desprezíveis.
( ) Definir objetivos e metas para controle de aspectos e impactos ambientais
consideráveis.
( ) Registrar impacto que não necessita de controle.
( ) Registrar impacto que não necessita de controle.
( ) Planejar ação de controle.

Glossário
NBR: Normas Brasileiras.
Polieletrólitos: substâncias químicas dispersantes poliméricas, naturais ou sintéticas.
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AULA 7
p. 60

AULA 7
SGA: Etapa de Implantação e Operacionalização

Por que estudar este assunto?

Prosseguindo com nosso estudo sobre as principais fases de implantação de um


Sistema de Gestão Ambiental, nesta aula veremos a etapa de Implantação e
Operacionalização do ciclo do PDCA Ambiental.
Esta etapa ocorre logo após a etapa de Planejamento para a implantação do SGA,
na qual são analisados os problemas ambientais da empresa. As metas e objetivos
definidos durante o Planejamento irão nortear as demais ações do processo de
implantação do sistema na empresa.

O que preciso saber...

Etapa de Implantação e Operacionalização


A terceira parte do processo de implantação do SGA é a Implantação e
Operacionalização das ações ambientais propostas na fase de Planejamento.

Fig.1: Ciclo PDCA aplicado à Gestão Ambiental.


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p. 61

Nesta etapa, precisamos definir como o Planejamento proposto deverá ser


executado, a fim de se atingir os Objetivos e Metas ambientais determinados. Algumas
ações são necessárias para que esta fase seja bem-sucedida, como veremos a seguir:
 Definir claramente as pessoas responsáveis em cada setor da empresa, assim
como suas responsabilidades no desenvolvimento do trabalho;
 Preparar os procedimentos operacionais e seus sistemas de controle que deverão
ser adotados na implantação do SGA na empresa;
 Organizar toda a documentação relacionada com as questões ambientais e os
procedimentos de controle empregados;
 Estabelecer procedimentos e mecanismos eficazes de comunicação entre os
diferentes setores da empresa, além de clientes, fornecedores, e até mesmo a
comunidade do entorno;
 Definir metodologias que permitam identificar rapidamente situações emergenciais,
assim como as ações mitigadoras necessárias para remediar os impactos porventura
causados.
É comum se observar nesta fase uma dificuldade de motivação das equipes
envolvidas, principalmente devido à grande quantidade de material escrito a ser
preparado. Muitos ainda não compreendem a importância de se detalhar cada
atividade e procedimento realizados na empresa ou que deverão passar a realizar.
Nesta etapa, é extremamente importante que a empresa promova treinamentos que
aumentem o conhecimento e comprometimento dos funcionários em relação às
questões ambientais, por exemplo, através de programas de Educação Ambiental. Em
algumas empresas estes programas são confundidos com a simples realização de
palestras ou seminários. Estes eventos são uma boa forma de sensibilizar as pessoas,
mas quando realizados de forma isolada, não criam o comprometimento necessário
para o sucesso de um SGA.
Uma forma de facilitar todo o processo de implementação é correlacionar aqueles
Impactos Ambientais identificados na fase de Planejamento com os Objetivos e Metas
estabelecidos. Para isso, deve-se descrever o Impacto Ambiental relacionando-o às
atividades da empresa correspondentes, aos profissionais responsáveis pelo setor no
qual o impacto é verificado e aos Objetivos e Metas planejados para mitigá-lo. Estas
informações deverão facilitar a identificação dos setores e pessoas responsáveis por
processos relevantes dentro da empresa. Cabe lembrar que todos estes dados
deverão ser revistos periodicamente. Para esta revisão também deverão ser
elaborados mecanismos e procedimentos.
Outra tarefa importante é a elaboração de cronogramas e planilhas pelas pessoas
responsáveis nos setores da empres que permitam o acompanhamento dos trabalhos
que estão sendo desenvolvidos pelas equipes ou times de implantação. Esta
monitoração permite verificar se os Objetivos e Metas Ambientais definidos estão
sendo alcançados.

Provavelmente, o item mais importante para viabilização desta terceira etapa é a


criação de mecanismos que facilitem a Comunicação Interna e Externa entre os
profissionais e setores envolvidos.
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SGA e SGQ
Em teoria, as normas que regem um Sistema de Gestão Ambiental apresentam
notáveis semelhanças com as normas utilizadas para a regulamentação dos Sistemas
de Gestão da Qualidade (SGQ). Ambas as normas fornecem os subsídios necessários
para a melhoria do processo produtivo em qualquer tipo de organização, em qualquer
nível.
Para obtermos a qualidade do processo produtivo considerando a questão de seu
impacto no meio ambiente não é necessária uma mudança drástica nos
procedimentos e processos já instalados na organização. Os resultados desejados são
obtidos através de um processo evolutivo contínuo, que passa pela avaliação,
implementação, controle e revisão.
O sucesso na implementação da norma ISO-14000 depende, como na Gestão da
Qualidade, de um consenso em todos os níveis hierárquicos da instituição, de modo
que não se transforme numa imposição. Como já foi ressaltado anteriormente, o
comprometimento da alta direção e a integração das funções que incorporam
responsabilidades são pré-requisitos indispensáveis.
Hipoteticamente, para uma organização que possui um SGQ implementado, mas
não necessariamente certificado, que já possua indicadores de desempenho de
qualidade, revisões e melhorias em andamento, a implantação de um processo de
Gestão Ambiental fica facilitada pelo simples fato de que cerca de 50 a 70% de toda a
estruturação mínima exigida para o SGA já foi preparada na implantação do SGQ.
Neste caso, podemos considerar que quase a metade ou mais do trabalho envolvido já
foi realizado. Bastaria fazer uma adaptação do SGQ para incluir os requisitos
necessários ao SGA, como, por exemplo, adicionar ao Manual da Qualidade existente
os requisitos específicos de procedimentos e instruções de trabalho inerentes ao SGA,
lembrando que tudo isto deve ser devidamente documentado e registrado.

SGA Têxtil
Como visto anteriormente, na primeira etapa do SGA é definida pela alta
administração da organização a Política Ambiental a ser adotada e que norteará todas
as ações na área ambiental. Paralelamente, é feita a avaliação inicial, ou seja, a
verificação de como se encontra a questão ambiental na organização. Os três
questionamentos básicos nesta etapa são:
 Onde estamos?
 Aonde queremos chegar?
 Como chegar aonde se quer?
O esquema básico demonstrado na figura 2 ilustra bem este conceito.
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Fig.2: Avaliação da questão ambiental na organização.

Numa organização têxtil, estas perguntas começarão a ser respondidas com a


utilização de um questionário baseado naquele apresentado na Tabela 1. Neste
questionário objetiva-se verificar qual o grau de interesse das pessoas que atuam na
organização em diferentes níveis de hierarquia, com relação aos problemas
ambientais de um modo geral. A metodologia a ser utilizada neste simples
levantamento da conscientização ambiental dentro de uma organização têxtil se
baseia em itens voltados fundamentalmente para observação da possibilidade maior
ou menor dos responsáveis pela implantação do SGA na organização em focar um
trabalho mais abrangente com relação à educação ambiental e conseqüente melhor
conscientização das pessoas envolvidas.

Tabela 1: Exemplo de questionário de avaliação ambiental.

DADOS INSTITUCIONAIS
a) Empresa

b) Contato na Empresa
b1. Nome:
b2. Setor/Cargo:
c) Tipo de empresa
( ) Fiação ( ) Tecelagem ( ) Malharia
( ) Confecção ( ) Tinturaria ( ) Estamparia ( ) Química têxtil
( ) Maquinários /Acessórios ( ) Outros _____________________

d) N° de funcionários:
( ) até 50 ( ) 51-100 ( ) 101-300 ( ) mais de 300

e) Tipo de Capital:
( ) Nacional ( ) Estrangeiro ( ) Misto (% nac._____)

f) Faturamento anual (em US$):


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QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL


Sistema de Gestão Ambiental - SGA
Assinale com um X as alternativas, conforme as seguintes características:
A. A afirmativa reflete plenamente a situação da empresa
B. A afirmativa reflete parcialmente a situação da empresa
C. A afirmativa não reflete a situação da empresa
N.A. A afirmativa não corresponde a nenhuma situação na empresa (não aplicável)

1) POLÍTICA AMBIENTAL A B C N.A.

1.1) Existe Política Ambiental.


1.2) Há comprometimento da alta gerência com a melhoria do
desempenho ambiental.
1.3) A Política Ambiental está claramente definida, documentada e
divulgada.
2) ASPECTOS AMBIENTAIS
2.1) Identificação dos aspectos ambientais já iniciados.
2.2) As atividades, produtos e serviços considerados impactantes ao
meio ambiente são documentados e divulgados.
3) REQUISITOS LEGAIS
3.1) A Legislação Ambiental aplicável está identificada.
3.2) As informações sobre leis, decretos, etc estão documentadas.
3.3) Estes documentos são periodicamente atualizados e divulgados.

4) OBJETIVOS E METAS
4.1) Foram baseados na Política Ambiental e nos aspectos
ambientais considerados relevantes.
5) GESTÃO DA QUALIDADE DO AR
5.1) Há monitoramento com instrumentos na área específica de
atuação.
5.2) Os resultados estão dentro dos padrões exigidos.
6) GESTÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA
6.1) Os efluentes líquidos são monitorados periodicamente.
6.2) Os corpos receptores são monitorados periodicamente.
6.3) Os resultados são compatíveis com os padrões legais
estabelecidos.
7) GESTÃO ENERGÉTICA
7.1) Existe racionalização no consumo de água e energia.
8) GESTÃO DE RESÍDUOS
8.1) Existe controle dos resíduos produzidos.
8.2) Há um programa de redução dos resíduos através de reciclagem
ou reaproveitamento.
9) GESTÃO DE PRODUTOS PERIGOSOS
9.1) Há controle dos produtos considerados tóxicos ou nocivos à
saúde.
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QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL


Sistema de Gestão Ambiental - SGA
9.2) O manuseio, armazenamento e transporte ocorrem em
conformidade com requisitos legais.
9.3) Há treinamento para a execução destas tarefas.
10) RECURSOS
10.1) Há alocação de recursos financeiros, humanos e/ou físicos
para a melhoria do desempenho ambiental.
11) RESPONSABILIDADES
11.1) As responsabilidades ambientais são atribuídas aos
funcionários setorialmente.
11.2) Existe uma avaliação periódica do desempenho ambiental de
gerentes e chefes de setores.

12) TREINAMENTO
12.1) Há investimento em programas de treinamento e
conscientização dos funcionários.
13) COMUNICAÇÃO INTERNA
13.1) Existe um sistema de comunicação interna que divulga a
Política, os objetivos e metas ambientais internamente para os
funcionários.
14) COMUNICAÇÃO EXTERNA
14.1) Existe um procedimento interno para a divulgação das ações
ambientais para a comunidade, clientes, fornecedores, órgãos
governamentais, etc.
15) DOCUMENTAÇÃO
15.1) Existe um Manual de Gestão Ambiental que regulamenta um
sistema atualizado de informações.
15.2) Há uma cópia deste manual disponível em todos os setores da
empresa.

16) CONTROLE OPERACIONAL


16.1) As atividades consideradas ambientalmente críticas possuem
procedimentos e instruções específicas.
17) AÇÕES EMERGENCIAIS
17.1) Existe um Plano de Emergência para ações de prevenção e
minimização de impactos ambientais.
17.2) Os funcionários são periodicamente treinados para atuar nestas
situações.
18) MEDIÇÕES
18.1) São realizadas medições periódicas do desempenho ambiental.
19) AVALIAÇÕES AMBIENTAIS
19.1) O desempenho ambiental é avaliado e documentado
periodicamente.
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QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL


Sistema de Gestão Ambiental - SGA
20) MELHORIA CONTÍNUA
20.1) Partindo das medições e avaliações ambientais, a Política,
objetivos e metas são revisados periodicamente.
20.2) São implementadas ações corretivas e preventivas para a
melhoria contínua dos resultados ambientais.

Com a aplicação do questionário detalhado na Tabela 2, será possível situar mais


claramente o estágio atual de conscientização ambiental em que se encontra a
organização. Este questionário deverá ser respondido pelas pessoas responsáveis
pelo direcionamento estratégico da organização, levando em consideração todos os
fatores importantes, não só do ponto de vista ambiental, mas financeiro, econômico e
até político.

Tabela 2: Exemplo de questionário de conscientização ambiental.

QUESTIONÁRIO DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL


Sistema de Gestão Ambiental - SGA
Este questionário foi elaborado com intuito de verificar o nível de conscientização da
comunidade de nossa Instituição com relação às questões ambientais. Os resultados
desta pesquisa serão utilizados como importante ferramenta para melhor direcionar os
trabalhos a serem realizados nesta área.
A identificação é opcional. Caso deseje, faça sugestões ou críticas ao final da pesquisa.
Colabore para a melhoria de nosso Ambiente!
Assinale com um X as alternativas, conforme os graus identificados:
Grau Avaliação
0 Nenhum(a)
1 Pouco(a)
2 Algum(a)
3 Muito(a)

Itens de avaliação 0 1 2 3
1) Interesse por questões ambientais, segurança e saúde no local de
trabalho.
2) Importância do comprometimento da Instituição com questões
ambientais.
3) Nível de informações na área ambiental dentro da Instituição.
4) Interesse por um programa específico de gerenciamento na área
ambiental.
5) Interesse por problemas ambientais fora da Instituição.
Sugestões/Críticas

Avaliador/ramal
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Os diversos itens abrangidos no questionário indicarão de que maneira a


organização conduzirá o Plano de Ação para a implantação do SGA. Entretanto,
podemos inicialmente admitir que os pré-requisitos básicos da área ambiental são
atendidos de modo bastante restrito pelo Sistema de Gestão da Qualidade já
existente. Como já mencionado, a existência de um SGQ pode proporcionar um ganho
de tempo fabuloso, desde que este esteja em funcionamento e seja representativo no
processo produtivo da empresa.
Com a Política Ambiental definida, deverá ser elaborado o Plano de Ação ou
Planejamento que permitirá criarem-se condições para que a organização possa
atendê-la. Se esta política preconiza a preservação do meio ambiente, várias etapas
deverão ser cumpridas para conseguirmos alcançar os objetivos do Plano de Ação.
Principalmente porque, como foi verificado nos itens relativos às características
ecológicas têxteis, os aspectos ambientais são bastante importantes e igualmente
impactantes ao meio ambiente. Assim sendo, podemos antever alguns desses
aspectos, de acordo com as diferentes áreas da cadeia produtiva têxtil, como descrito
na Tabela 3.

Tabela 3: Aspectos Ambientais Têxteis.

Aspectos ambientais
Área Entradas Saídas
FIAÇÃO Energia elétrica, água, ar Fios, fitas têxteis, pó de fibras,
comprimido, fibras naturais e ruído, etc.
artificiais, produtos auxiliares
lubrificantes, etc.
TECELAGEM/ Energia elétrica, água, ar Tecidos planos e malhas,
MALHARIA comprimido, fios e fitas, fibras soltas, retalhos de
auxiliares lubrificantes, goma tecidos e malhas, ruído, etc.
de engomagem, etc.
ACABAMENTO Energia elétrica e de vapor, Tecidos planos
água, ar comprimido, tecidos desengomados, tintos ou
planos engomados e malhas, estampados, malhas tintas,
corantes e pigmentos, produtos efluentes líquidos, emissões
químicos auxiliares, óleo atmosféricas, pó de subst
combustível para caldeira, etc. sólidas, vapores de subst
químicas, odores, ruídos, etc.
CONFECÇÃO Energia elétrica, ar comprimido, Artigos têxteis confeccionados,
água, tecidos planos e malhas ruído, pó de fibras, retalhos
beneficiados, infestos, fios, têxteis, etc.
elásticos, óleo de lubrificação
de máquinas,

Em seguida, deverá ser feita uma avaliação de como estes aspectos ambientais
impactarão no meio ambiente. Com esta avaliação poderão ser definidas as
prioridades referentes aos aspectos ambientais, ou seja, poderá se estabelecer em
que ordem e em que intensidade serão realizados os controles dos aspectos
identificados. É interessante destacarmos que esta identificação é de suma
importância para garantir que os aspectos ambientais responsáveis pelos impactos
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p. 68

mais significativos sejam considerados no momento em que forem definidos os


objetivos e metas ambientais da organização.
Como exemplo, destacaremos uma das principais áreas na organização: o setor de
Acabamento têxtil. Neste setor, os impactos ambientais são claramente mais críticos
devido à grande quantidade de aspectos ambientais relevantes para o processo
aplicado neste setor. Como exemplo, vamos considerar um processo específico do
setor: o tingimento de tecidos. Neste processo, verifica-se o balanço de entradas e
saídas na Figura 3:

Fig. 3:Balanço de entradas e saídas num tingimento

Como ocorre este exemplo, todos os requisitos relevantes ao processo em questão


deverão ser identificados, assim como os requisitos legais que devem ser atendidos
pela organização. Os requisitos da legislação ambiental referem-se ao controle dos
efluentes líquidos lançados na rede de esgotamento da empresa e,
conseqüentemente, na rede pública de esgotos. Os requisitos legais deverão ser
verificados com os órgãos ambientais locais, estaduais ou municipais, ABNT-
Associação Brasileira de Normas Técnicas, CNI-Confederação Nacional da Indústria,
ABIQUIM-Associação Brasileira da Indústria Química e de Produtos Derivados, ou
outras entidades não-governamentais, tais como ONG’s ou empresa de consultoria.
Alguns dos principais parâmetros que deverão ser controlados são bem
conhecidos, como o pH, cor, turbidez e temperatura, dependendo das atividades que
serão desenvolvidas num determinado período de tempo. Ainda poderão ser
controladas as emissões de vapores tóxicos emanadas de algumas áreas de
processamento ou das unidades geradoras de vapor.
Finalmente, deverão ser definidos os objetivos e metas a serem alcançados no
controle do processo, com prazos, custos e definição de responsabilidades. Estes
objetivos e metas deverão considerar alguns pontos importantes:
 A correspondência ao expresso na Política da Qualidade;
 A pertinência aos aspectos e impactos ambientais previamente identificados;
 A possibilidade de avaliação por indicadores numéricos;
 A participação de todos os empregados responsáveis pelo seu cumprimento;
 A abrangências das opiniões de todas as partes interessadas.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 7
p. 69

A elaboração final do Planejamento deverá estabelecer a base para a definição da


gestão ambiental na organização e deve incluir:
 O envolvimento de todos os setores e pessoas responsáveis pela sua
implementação;
 Uma revisão periódica com previsão de recursos humanos, físicos e financeiros
necessários;
 Ações de monitoramento dos programas de gestão específicos, tais como
educação ambiental e reciclagem;
 Cronograma de execução;
 Definição de responsabilidades.

Voltando ao exemplo anterior, que aborda o processo de tingimento, podemos


elaborar um possível Plano de Ação que contemplaria este processo específico
(Acabamento), como o exemplo apresentado na Tabela 4.
Tabela 4: Exemplo de um Planejamento aplicado à área têxtil.

Aspectos Impactos Requisitos Critérios Objetivos Metas Prazos Custos Respons.


legais internos
Efluente Poluição Padrões de Sem Reduzir Atender 6 meses R$ Gerente
líquido da água qualidade de coloração desperdícios aos ambiental
coloração e com corantes requisitos
turbidez legais

A despeito de todas as dificuldades, não somente econômicas e financeiras, mas


principalmente de conscientização sobre os problemas ambientais, a implantação de
um Sistema de Gestão Ambiental em organizações onde um Sistema de Gestão da
Qualidade já esteja implantado e em funcionamento tem enormes chances de obter
sucesso. Pode não ser um sucesso imediato, com a participação intensa de todos,
mas um sucesso gradual, onde o entendimento e conscientização do que realmente
significa gerir o meio ambiente ocorre progressivamente.
O setor têxtil ainda é considerado, não só no Brasil, mas em todo o mundo, uma
das indústrias mais poluidoras do meio ambiente e com modelos de gestão dos mais
conservadores. Visto ser esta uma atividade industrial quase que milenar, pode nos
parecer que a introdução de conceitos ecologicamente corretos seja uma tarefa quase
impossível. Entretanto, esta postura conservadora vem sofrendo fortes modificações,
permitindo cada vez mais que conceitos modernos como Benchmarking, Marketing
Ambiental e Ecobussines estejam cada vez mais presentes no dia-a-dia destas
empresas. Além disso, temos também o aumento das pressões sociais, que têm
facilitado muito todo este processo.

Praticando e aprendendo

Aplique o Questionário de Conscientização Ambiental detalhado anteriormente em


diferentes ambientes onde você convive: no trabalho, na escola de seus filhos, em
casa, na casa de algum parente etc. Depois compare os resultados, fazendo uma
tabulação e criando um gráfico representativo.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 7
p. 70

O que estudei
Nesta aula, estudamos diversos conceitos aplicados ao processo de implantação
de um SGA numa empresa. Vimos como se estrutura a etapa de Implantação e
Operacionalização de um SGA, desde a apresentação de questionários de verificação
da situação ambiental dentro da empresa, até os questionários de verificação da
conscientização em relação às questões ambientais por parte de funcionários,
clientes, fornecedores e demais envolvidos com as atividades da empresa.
Estabelecemos também a relação entre um SGA e um SGQ e entendemos as
vantagens que a existência de um SGQ previamente implantado na empresa pode
trazer para a Implantação e Operacionalização do SGA.

Como andam seus estudos?

Responda as questões a seguir, assinalando a única opção correta:

1) Etapa do Plano de Ações que define os Objetivos e Metas do processo de


Implantação e Operacionalizaçao do SGA:
(a) Definição clara das pessoas responsáveis pelo desenvolvimento do trabalho
de implantação dentro da empresa.
(b) Organizar a documentação relacionada com as questões financeiras e os
procedimentos de controle.
(c) Estabelecimento de procedimentos de comunicação entre os diferentes
setores da empresa, menos com a comunidade do entorno.

2) Característica referente à existência de um SGQ que facilite a implementação do


SGA na empresa:
(a) Existência de indicadores de desempenho de qualidade, revisões e melhorias
em andamento.
(b) Falta de consenso entre os níveis hierárquicos da instituição, de modo a
transformar-se numa imposição.
(c) Comprometimento da alta direção e a integração das funções que incorporam
responsabilidades são pré-requisitos dispensáveis.

3) Num SGA têxtil, as entradas e saídas que podem estar correlacionadas numa área
de Acabamento são:
(a) Corantes e auxiliares, resíduos sólidos.
(b) Fios e tecidos crus ou PTs, tecidos e fios tintos.
(c) Vapor, eletricidade e óleo, ruídos.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 7
p. 71

4) Itens indicados na tabulação de um Plano de Ações para a Implantação e


Operacionalização de um SGA:
(a) Aspectos e impactos ambientais, prazos.
(b) Indicadores financeiros e custos.
(c) Objetivos e horários dos funcionários.

5) Itens apresentados no questionário de avaliação de performance ambiental de


uma empresa:
(a) Gestão de RH e seleção de pessoal.
(b) Aplicações financeiras e poupança dos funcionários.
(c) Gestão de produtos perigosos e de resíduos sólidos.
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AULA 8
p. 72

AULA 8
A quarta etapa do SGA: as Auditorias

Por que estudar este assunto?

A quarta etapa do processo de implantação de um SGA numa indústria têxtil refere-


se à Verificação para Ação Corretiva, cujo objetivo é checar se tudo o que foi
planejado, implementado e colocado em operação até aquele momento está
verdadeiramente sendo realizado. E, mais ainda, se tudo está sendo feito em
conformidade com os requisitos preconizados pela norma adotada, NBR-ISO-14001.
É nesta etapa que devemos nos preocupar com a condução dos procedimentos
operacionais que estão sendo adotados para pôr em prática o Plano de Ação
elaborado anteriormente, a fim de observar a validade das ações previstas no
planejamento inicial, além de checar se tais ações estão conseguindo minimizar os
antigos impactos ambientais já identificados, se não estão afetando os mesmos, ou se
estão até provocando novos impactos ambientais.

O que preciso saber...

Verificação e Ações Corretivas

Vamos nos situar dentro do ciclo de implantação do SGA em nossa empresa,


observando a Figura 1.

Fig.1: Ciclo de implantação do SGA.


Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 8
p. 73

Nesta etapa, deve-se medir o desempenho ambiental da empresa, monitorando e


avaliando todos os itens apresentados durante a etapa de Planejamento que
posteriormente foram implantados. Pode-se dividir esta fase em algumas etapas
intermediárias, que auxiliam a compreender melhor o seu desenvolvimento:

Monitoramento
As medições e avaliações que constituem o monitoramento das atividades
implantadas são extremamente importantes para o funcionamento do SGA, pois
indicarão se o que está sendo realizado até o momento está ou não em conformidade
com o que havia sido planejado e, evidentemente, com as normas adotadas.
A maneira mais adequada de se verificar tudo isto é recolher a documentação de
todos os procedimentos estabelecidos e mantidos pela organização. Isto permitirá que
as principais características de todas as atividades e operações desenvolvidas pela
empresa que causem algum tipo de impacto ambiental possam ser periodicamente
controladas e medidas, assim como avaliadas em relação ao atendimento às leis e
regulamentos ambientais vigentes. Além disso, também os instrumentos e demais
equipamentos empregados nestes controles passarão a ser rotineiramente calibrados.
Podemos citar um exemplo para ilustrar melhor como um monitoramento deve
acontecer: uma indústria têxtil cuja área de acabamento necessita de grande
quantidade de vapor para suas operações possui uma área de caldeiraria com duas
caldeiras cujos combustíveis usados são óleo mineral e madeira. Devido ao tipo de
combustível empregado e à idade dos equipamentos, há uma geração elevada de
gases de combustão que são lançados na atmosfera por chaminés.
Sob o ponto de vista da Gestão Ambiental, pode-se questionar alguns itens de
monitoramento que subsidiariam esta etapa de Verificação:
• Que métodos são empregados para verificar a composição dos gases emitidos
pelas chaminés das caldeiras?
• Que instrumentos de medição ou equipamentos de controle são empregados na
monitoração dessas emissões gasosas?
• Estes instrumentos e equipamentos são calibrados periodicamente?
• Existem registros destas calibrações e dos procedimentos adotados?

Se você trabalha ou conhece uma fábrica, aproveite a oportunidade


para lembrar e identificar outros pontos ou locais onde exista algum tipo
de emissão, ou efluente, ou geração de resíduos que possam ser
analisados desta mesma forma.

Ações corretivas e não-conformidades

Nesta fase, a empresa deve estabelecer e manter alguns procedimentos para


identificar, analisar e corrigir as causas da ocorrência de não-conformidades, que
eventualmente surjam no decorrer do processo. Deve-se definir uma pessoa
responsável que tenha autoridade para investigar e solucionar as possíveis não-
conformidades. Tal pessoa poderá indicar a adoção de medidas para reduzir os
possíveis impactos ambientais causados, assim como a adoção de ações corretivas e
preventivas que eliminem as causas das não-conformidades, registrando as mudanças
resultantes nos procedimentos documentados.
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AULA 8
p. 74

Registro

Os registros são a melhor maneira de verificar a existência ou não de conformidade


aos requisitos da norma. Assim, a empresa fica praticamente obrigada a estabelecer
procedimentos para identificar, manter e eliminar registros ambientais, inclusive
registros de programas de treinamento, avaliações de auditorias e resultados de
análises críticas.
Os registros ambientais devem ser sempre bem legíveis, facilmente identificados e
arquivados, devidamente protegidos contra adulterações, deterioração ou extravio,
podendo incluir:
• Informações sobre legislação ambiental local pertinente;
• Registros de reclamações de clientes, fornecedores e comunidade do entorno;
• Registros de procedimentos de inspeção, manutenção e calibração de máquinas e
equipamentos;
• Informações sobre os processos empregados, os produtos fabricados e os
serviços prestados pela empresa.

Auditoria

Esta é a fase de avaliação do sistema relacionada ao seu funcionamento, conforme


as normas e seus pré-requisitos e com relação a sua conformidade com aquilo que for
estabelecido pelo SGA. É importante que os resultados obtidos nas auditorias sejam
sempre comunicados à administração da empresa, o que torna imprescindível a
elaboração de procedimentos que permitam que a mesma seja auditada
periodicamente.
Esta periodicidade está intimamente ligada aos resultados das próprias auditorias,
bem como ao grau de significância dos aspectos e impactos ambientais relacionados
com aqueles processos ou atividades operacionais que estão sendo auditados.
As auditorias deverão prever também as responsabilidades dos auditores, que
podem ser funcionários da própria empresa ou pessoas externas, assim como a
maneira como os resultados devem ser divulgados. Nesta seleção dos auditores
internos, deve-se considerar os requisitos básicos para a atuação como auditor, o que
inclui um conhecimento real dos problemas ambientais da empresa. É importante
lembrar que o auditor nunca deve fazer parte ou, de alguma forma, estar ligado à área
que está sendo auditada, a fim de evitar qualquer atitude protecionista. Isto seria algo
negativo para o resultado da auditoria, pois poderia omitir ou mascarar fatos e
situações importantes!
Ao final de uma auditoria ambiental interna, após a conclusão do relatório pelos
auditores, a equipe responsável pela área ou atividade auditada poderá visualizar se o
Sistema de Gestão Ambiental está ou não verdadeiramente surtindo efeito, ou seja, se
aquela área ou atividade está conseguindo cumprir os requisitos necessários para
atingir o desempenho ambiental previamente planejado.
Outro ponto importante nas auditorias ambientais é que elas não devem nunca ser
realizadas sem aviso prévio, de surpresa. As auditorias devem acontecer sempre
depois de acordadas com as áreas a serem auditadas. Não se deve ter jamais a
intenção de pegar ninguém desprevenido ou em flagrante!
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
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p. 75

Pode-se observar que grande parte da metodologia utilizada nas auditorias


ambientais é bastante semelhante àquela adotada nos Sistemas de Gestão da
Qualidade, conforme comentado anteriormente. Logo, se a empresa já possui o SGQ
implantado, certamente possui pessoas capacitadas para desenvolver auditorias
internas, as quais poderão ser de grande valia para esta fase do SGA.

Uma dica importante para esta etapa do processo de implantação do SGA, que
garantirá a certificação ambiental da empresa, é a dedicação à fase de realização
das auditorias internas. Quanto mais apuradas, mais claramente poderão indicar as
não-conformidades, que mais facilmente poderão ser corrigidas!

Praticando e aprendendo
Um dos tópicos mais interessantes desta etapa do processo está relacionado com a
parte de Monitoramento e Medições. Segundo a norma NBR ISO 14001, este trabalho
de monitoramento necessário para atender a implantação do SGA é descrito através
de um controle operacional.
O controle operacional visa estabelecer quais as atividades das operações
realizadas numa determinada área que estão ligadas aos impactos ambientais mais
relevantes ou que estejam enquadrados na Política Ambiental, seus objetivos e metas.
Visa também associar cada variável aos critérios operacionais, definindo as faixas de
tolerância e controle para cada processo. Para aquelas atividades já estabelecidas,
também devem ser descritos procedimentos de controle, necessários à manutenção
da Política Ambiental. Ainda segundo a norma, os procedimentos relativos aos
aspectos ambientais de produtos ou serviços devem ser estendidos a fornecedores ou
prestadores, assim como todos os equipamentos e materiais empregados nos
controles, inclusive aqueles utilizados na medição de parâmetros determinados nos
objetivos e metas, os quais devem estar devidamente calibrados.
Desta forma, descreva um procedimento aplicado a um controle operacional
importante numa indústria têxtil: o tratamento de efluentes líquidos.
A primeira coisa a se fazer seria apresentar o objetivo daquele procedimento. Nele,
estaria a descrição de como é realizado o monitoramento dos efluentes líquidos
gerados por aquele processo industrial, suas características físico-químicas e
microbiológicas, o funcionamento dos sistemas de tratamento existentes para executar
as operações de remoção das substâncias poluentes, assim como sua eficiência.
O segundo item a ser descrito é a Responsabilidade, ou seja, qual departamento,
setor, ou área dentro da empresa é responsável pela questão do tratamento dos
efluentes líquidos. Esta pode ser uma área específica para o gerenciamento do meio
ambiente ou associada à qualidade.
Outro item importante é o das abreviaturas ou glossário, que pode vir também como
parte integrante dos anexos. No caso dos efluentes líquidos, encontraremos siglas
como ETE, DBO5, DQO, OD, AOX, SST, entre outras.
Certamente, o item mais importante é o que trata dos procedimentos propriamente.
Este item pode ser subdividido em alguns subitens como, por exemplo, a Descrição
dos Processos e a Descrição das Coletas e Análises. No caso dos efluentes líquidos,
poderíamos descrever a ETE como sendo uma estação compacta, constituída por três
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 8
p. 76

etapas de tratamento. A primeira etapa, denominada Tratamento Preliminar, seria


composta por um sistema de gradeamento, seguido de um sedimentador e um filtro
eletrostático, todos com o objetivo de remover os sólidos em suspensão presentes no
efluente líquido.
Em seguida, teríamos um tanque de equalização com ajuste de pH, o qual
precederia a segunda etapa do tratamento, chamada de Tratamento Secundário ou
Biológico. Nesta fase, seriam removidas as substâncias orgânicas biodegradáveis
dissolvidas no efluente através de microorganismos específicos, chamados de Lodos
Ativados, num Tanque de Aeração, o qual será decantado num Decantador
Secundário para ser depurado numa terceira e última etapa.
Esta é a etapa de Tratamento Terciário e Avançado, quando é aplicado um sistema
de Ozonização para a remoção final de substâncias coloridas, permitindo a
reutilização do efluente tratado no processo industrial. Parte do material removido na
etapa de decantação é encaminhado para um Tanque Adensador de Lodos e em
seguida para uma Prensa Desaguadora, de onde os resíduos de lodo seriam retirados
do sistema para serem reaproveitados como substrato orgânico para adubo.
A descrição das coletas e análises seriam apresentadas conforme um
procedimento específico, cujas amostras seriam encaminhadas a um laboratório de
meio ambiente para a realização das análises, as quais estariam descritas num Anexo.
Os Anexos poderiam aparecer como um último item deste procedimento,
descrevendo a Metodologia de Análise para cada parâmetro indicado, assim como um
Programa de Amostragem da ETE, como exemplificado na Tabela 1.

Tabela 1: Exemplo de programação de amostragem (Fonte: Leão, 2002)


Ponto de Local de Coleta Parâmetros Freqüência Tipo de
Coleta Amostragem
1 Tanque de SST, 2/semana Simples
Efluente bruto
DQO, Vazão, 5/semana
2 Entrada do DBO5, ST, 2/semana Composta
Tanque de
Cor, 5/semana Composta
Aeração
AOX, 1/semana Composta
Temp., pH, Vazão Contínuo -
3 Tanque de OD, pH Continuo -
Aeração
4 Saída do DBO5, ST 2/semana Composta
Decantador
DQO, SST, Cor 5/semana Composta
Temp, pH, Vazao Continuo -
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 8
p. 77

O que estudei
Nesta aula, estudamos a quarta e penúltima etapa do processo de implantação de
um SGA voltado para uma indústria têxtil.
Observamos que esta fase do processo se preocupa muito mais com o atendimento
aos requisitos da norma ambiental, que é a diretriz do sistema de auditoria. Esta
preocupação deve-se, fundamentalmente, ao fato de que as auditorias internas são o
principal instrumento para que se possam fazer ações corretivas e tomar atitudes
preventivas em relação ao processo de implantação e operacionalização do SGA.
Aprendemos que esta etapa fica mais facilmente compreendida quando a
estudamos em diferentes etapas intermediárias:

• Monitoramento;
• Ações corretivas e não-conformidades;
• Registros;
• Auditorias.

A verificação de exemplos relacionados à etapa de Monitoramento trouxe subsídios


maiores para o entendimento de como o processo de Verificação das ações
implementadas até então podem ou não surtir efeito. E, conseqüentemente,
dependendo destes resultados, quais as correções necessárias aos procedimentos
adotados nos diversos processos e atividades das inúmeras operações existentes na
empresa.

Como andam seus estudos?

Considerando os conceitos abordados nesta aula, correlacione a coluna da


esquerda com a coluna da direita.

(1) Registros. ( ) Procedimentos para identificar, analisar e


corrigir as causas da ocorrência de não-
conformidades.
(2) Auditorias ambientais. ( ) Atividades das operações realizadas numa
determinada área ligadas aos impactos
ambientais.
(3) Monitoramento. ( ) Existem registros das calibrações e dos
procedimentos adotados?
(4) Ações corretivas. ( ) Informações sobre legislação ambiental local.

(5) Controle operacional. ( ) Fase de avaliação do sistema conquanto ao


seu funcionamento, conforme as normas e
seus pré-requisitos.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 8
p. 78

Glossário

ETE: Estação de Tratamento de Efluentes.


DBO5: Demanda Bioquímica de Oxigênio (5 dias).
DQO: Demanda Química de Oxigênio.
OD: Oxigênio dissolvido.
AOX: Halogênios orgânicos adsorvidos.
SST: Sólidos suspensos totais.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 9
p. 79

AULA 9
Concluindo o ciclo do SGA: a Análise Crítica

Por que estudar este assunto?

Nesta quinta etapa procede-se à avaliação por parte da administração da empresa,


do próprio processo de implantação do SGA na organização. Teoricamente, seria a
última fase do programa de implantação de um SGA sob o conceito do PDCA. No
entanto, como estamos tratando de um processo de Melhoria Contínua, esta etapa de
Análise Crítica realizada pela administração antecede, na verdade, um novo ciclo,
diferente do anterior, provavelmente melhor e mais fluente.
Deve-se tomar muito cuidado para não confundir esta etapa da implantação do
SGA com uma Auditoria Interna. Nem mesmo deve ser confundida com aquela Análise
Crítica inicial, observada na fase preparatória, quando a empresa ainda sequer
começou todo o processo de implantação do SGA.
Assim, ao concluirmos os estudos desta aula, finalizaremos uma “volta” da espiral
imaginária de nosso processo de implantação de um Sistema de Gestão Ambiental na
empresa. As contínuas repetições das diversas fases permitirão um aperfeiçoamento
cada vez melhor de todo o sistema, fazendo com que o mesmo não fique jamais
estagnado e, conseqüentemente, nunca se torne obsoleto e ineficiente.

O que preciso saber...

A Análise Crítica pela Administração


Temos que continuar nos situando dentro do ciclo de implantação do SGA em
nossa empresa. Assim, voltemos a observar a Figura 1:

Fig.1: Ciclo de implantação do SGA.


Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 9
p. 80

A etapa de realização da Análise Crítica pela Administração tem por objetivo


fundamental identificar as áreas dentro da empresa, ou ligadas a ela, que precisam
sofrer melhoramentos, que necessitam receber maior atenção, ser aperfeiçoadas, a
fim de não comprometer o processo de Melhoria Contínua proposto na implantação do
SGA.
Os responsáveis administrativos têm por obrigação observar se aqueles objetivos e
metas ambientais anteriormente traçados estão sendo alcançados e o que de concreto
foi feito para corrigir as possíveis não-conformidades que foram detectadas pelas
Auditorias Interna e Externa.
Esta etapa também deve gerar um relatório de avaliação, onde deverão constar
todas as recomendações a serem seguidas com o intuito de dar continuidade ao
processo de aperfeiçoamento do sistema, a já conhecida Melhoria Contínua do SGA.

A criação de Planos Operacionais para as diferentes áreas e setores da empresa é


de suma importância para que a Administração possa realizar a Análise Crítica.
Eles são a principal ferramenta utilizada para confrontar se os Objetivos e Metas
Ambientais projetados estão progredindo e como fazer para que contribuam
decisivamente na melhoria do sistema.

Nesta análise gerencial, devem ser abordadas possíveis modificações no sistema


em relação à sua Política Ambiental, Objetivos e Metas Ambientais, entre outros
pontos. Isto pode ocorrer como resultado de mudanças circunstanciais inerentes à
própria empresa, ou advindas de observações realizadas nas fases anteriores de
Verificação e Ação Corretiva, ou ainda pelo simples mas honesto comprometimento da
organização com o conceito de Melhoria Contínua.
Cabe mais uma vez ressaltar que o apoio da alta administração da empresa na
implantação do SGA é fundamental e, sem ele, nada poderia ser feito. A alta gerência
deve estar continuamente inteirada e atuante em todo o processo, e ser ao mesmo
tempo seu maior incentivador.
De acordo com o Anexo A da norma NBR ISO14.001, podemos ressaltar o seguinte
sobre o SGA:
“...fornece um sistema estruturado para atingir a melhoria contínua, cujo
ritmo e amplitude são determinados pela organização, à luz de
circunstâncias econômicas e outras (...). Uma organização tem
liberdade e flexibilidade para definir seus limites e pode optar pela
implementação desta norma para toda a organização ou para as
unidades operacionais ou atividades específicas...”
Esta diretriz considera como premissa o fato de que a empresa que se propõe a
implementar um SGA deverá, periodicamente, fazer Revisões ou Análises Críticas a
fim de identificar as reais oportunidades de melhoria do processo.

No caso de pequenas e médias empresas é sempre interessante iniciar o processo


de implantação de um SGA selecionando alguns setores específicos, com
atividades mais ou menos próximas, preferencialmente menos críticas em relação
ao meio ambiente, ao invés de aplicá-lo para toda a organização.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 9
p. 81

A partir de uma Análise Crítica e da implementação de medidas cabíveis que


aprimorem o desempenho ambiental da empresa, o próprio sistema evolui e permeia
por todos os demais setores da organização.
Uma ferramenta importante para esta etapa de revisão e análise do sistema é o
Diagnóstico Gerencial ou Análise Crítica Inicial, que é realizada no início de todo o
processo, antes de começar a implementação do SGA propriamente dita. Isto porque
as condições da organização, retratadas por aquela avaliação preliminar, em relação
às questões ambientais, podem agora servir como parâmetro de comparação.
Os resultados obtidos com os questionários de avaliação de performance ambiental
da empresa, assim como de conscientização ambiental (aula 07), podem novamente
ser utilizados, de forma mais condensada e direcionada, com o objetivo específico de
avaliar a evolução da equipe diretamente envolvida com o SGA. É possível verificar e
quantificar se houve evolução com relação à identificação e reconhecimento pelas
pessoas envolvidas de problemas ambientais, o que contribui decisivamente para o
processo de Melhoria Contínua de todo o sistema.
Assim, a sugestão é que se apliquem estas ferramentas continuamente, toda vez
que um novo ciclo PDCA Ambiental seja rodado. Isto garantirá a validade de todo o
processo, também do ponto de vista da certificação ambiental.

Auditoria Externa – o “fechamento” do Ciclo

O fechamento de um ciclo de implantação do SGA não significa o fim deste


processo. Como já vimos anteriormente, este ciclo não se fecha totalmente, mas, ao
contrário, ele se sobrepõe ao início do ciclo anterior numa condição diversa, com
diferenças para mais ou para menos.
Quando a empresa conclui um ciclo, corrigindo as não-conformidades detectadas,
ela pode se considerar apta a receber uma Auditoria Externa para Certificação. A
empresa solicita a visita de um órgão certificador credenciado que realizará uma
auditoria que avaliará o SGA implantado e o certificará, ou não.
Este momento, normalmente, é de grande atenção, se não for de apreensão, para
toda a empresa e seus colaboradores comprometidos com o sistema. Cabe lembrar
que a certificação ambiental não faz parte do processo de implantação do SGA; logo,
não é uma etapa do ciclo PDCA, pois é facultativa. Existem empresas que desejam
implantar Sistemas de Gestão Ambiental, sem, no entanto, almejarem uma certificação
do sistema. O intuito destas organizações é somente melhorar seu relacionamento
com questões ambientais. É tudo uma questão de conceitos!
A Auditoria Externa provoca uma grande movimentação na empresa, pois todos os
envolvidos querem se certificar de que tudo está pronto para ser avaliado e aprovado.
Normalmente, são realizadas várias reuniões com o objetivo de motivar os demais
funcionários e colaboradores, e relembrar da importância de todo o processo de
implantação do SGA, não somente para a empresa, mas para eles próprios.
Evidentemente, os responsáveis diretos pelo processo de implantação do SGA,
Comissão de Implantação de Gestão Ambiental, são os mais interessados em que
tudo corra da melhor maneira possível. Mas é fundamental que tudo seja exposto da
forma mais clara possível aos auditores, sem temores, pois se o trabalho foi bem
realizado, o resultado só pode ser positivo.
A aprovação da empresa é outro momento muito importante, que deve ser bastante
divulgado e aproveitado, pois além de refletir o sucesso de um trabalho coletivo, traz a
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 9
p. 82

sensação do dever cumprido. E isto influencia definitivamente para um acréscimo


substancial no processo de conscientização de todos os colaboradores dentro e fora
da organização certificada ambientalmente.
Entretanto, não podemos esquecer que tudo isto se trata de um processo contínuo,
de um ciclo intermitente e inesgotável, que deve ser recomeçado após esta fase de
Análise Crítica, com uma revisão da Política Ambiental, se necessário, dos Objetivos e
Metas Ambientais, para permitir que o processo se mantenha de forma constante na
direção da Melhoria Contínua.

Praticando e aprendendo

A etapa de Revisão ou Análise Gerencial envolve basicamente aquelas pessoas


que estão verdadeiramente coordenando todo o processo de implantação do SGA na
empresa. É nesta etapa que ocorre aquilo que poderíamos chamar de uma “prestação
de contas” de trabalho desenvolvido pela equipe de implantação do SGA, que
normalmente é designada como Comissão de Gestão Ambiental, com a alta
administração da empresa. Mas esta não é uma ”prestação de contas” comum, pois
também a alta administração, na figura do diretor ou presidente da empresa, deve
“prestar contas” à equipe da Comissão de Gestão Ambiental.

Na verdade, o trabalho de Análise Crítica permite que todos estes atores envolvidos
diretamente na execução da implantação do SGA revejam os acertos e erros, os prós
e contras observados durante todo o processo de implantação dos Planos de Ação,
das planilhas de verificação, das ações corretivas, ou seja, tudo que foi prometido e
comprometido, não só com relação à própria Política Ambiental proposta inicialmente,
mas com todas as demais pessoas e organizações envolvidas direta ou indiretamente.

Portanto, é muito importante que, para que haja continuidade no processo de


Melhoria Contínua, esta etapa de revisão envolva pessoas ligadas à Gerência da
empresa que estejam absolutamente comprometidas e transmitam este sentimento,
não só para a Comissão de Gestão Ambiental, mas também para todos os demais.

Vamos imaginar que você seja um administrador, diretor industrial ou até mesmo
diretor-presidente de uma empresa têxtil que esteja implantando um SGA em uma de
suas unidades industriais; por exemplo, uma Tinturaria. Em pleno processo de
implantação do SGA, com o ciclo de PDCA rodando, ou seja, com todas as etapas já
em execução, chega a fase de Revisão Crítica - mais do que nunca será necessária a
participação da alta administração em conjunto com a equipe de Gestão Ambiental.
Qual deve ser a forma de atuação de ambas as partes?Inicialmente, a Comissão de
Gestão Ambiental deve reunir-se conforme um calendário anual elaborado pelo
coordenador, ou extraordinariamente quando este solicitar. Enquanto isso, você, como
representante da alta administração, deve apresentar uma pauta de assuntos a serem
discutidos, visando atender a fase de Análise Crítica. Elabore esta pauta e apresente.
Curso de Gestão Ambiental Têxtil
AULA 9
p. 83

O que estudei

Nesta aula, estudamos a quinta e última etapa do processo de implantação de um


SGA voltado para uma indústria têxtil. Pudemos verificar, principalmente, a
importância do envolvimento de todos os colaboradores, desde o mais simples
funcionário até o presidente ou proprietário da empresa, passando por todos aqueles
que direta ou indiretamente estão envolvidos com o processo de implantação do SGA.
Observamos que a etapa de revisão visa fundamentalmente identificar as possíveis
falhas durante a implementação das ações necessárias para atender aos objetivos e
metas traçados baseados nas normas, assim como as ações corretivas aplicadas para
atender as possíveis não-conformidades identificadas.
Acompanhamos também como ocorre o fechamento do ciclo PDCA para o
processo de implantação do SGA, logo após a conclusão da Análise Crítica, onde foi
observado que, conforme o resultado desta revisão, o processo sofrerá alterações
buscando incrementar todo o processo, ou seja, visando a Melhoria Contínua.

Como andam seus estudos?

Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmativas abaixo, com base nos


conceitos abordados nesta aula.
( ) Os Planos Operacionais para as diferentes áreas e setores da empresa são de suma
importância para que a Administração possa realizar a Análise Crítica;
( ) Esta etapa gera um relatório de avaliação, onde constarão as recomendações a serem
seguidas a fim de aperfeiçoar o sistema.
( ) Quando a empresa conclui um ciclo, corrigindo as não-conformidades detectadas, ela
deve, obrigatoriamente, solicitar a visita de um órgão certificador credenciado que
realiza uma auditoria a qual avaliará o SGA implantado e o certificará ou não.
( ) Existem empresas que desejam implantar Sistemas de Gestão Ambiental, sem no
entanto solicitar certificação do sistema.
( ) Discutir as não-conformidades encontradas e discutir as ações corretivas tomadas para
atender às não-conformidades identificadas são atribuições exclusivas do coordenador
do SGA.
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AULA 10
Tendências para a Gestão Ambiental

Por que estudar este assunto?

Com a velocidade que as informações são transmitidas e repassadas no mundo


atual, as possibilidades delas sofrerem transformações também ocorrem rapidamente.
A temática ambiental é um dos assuntos mais dinâmicos do mundo moderno, e vem
sendo modificada constantemente por novas idéias, por novos ideais, por novos
conceitos e por novos paradigmas.
Os sistemas de gestão ambiental, conseqüentemente, também sofrem alterações,
modificações, no intuito de acompanhar todas estas mudanças, na busca incessante
da já tão anunciada Melhoria Contínua.
E melhorar continuamente é uma necessidade destes sistemas, nada melhor que
vasculhar naquelas novas idéias e conceitos, pelas tendências e novidades que os
especialistas, filófosos, pensadores, cientistas, ou simples estudiosos, que se
interessam pelo assunto, ou mais simplesmente ainda, que se interessam por um
futuro melhor, possam estar pesquisando.
Alguns temas têm surgido nos meios acadêmicos e industriais como possíveis
tendências a serem aplicadas aos sistemas de gestão ambiental, seja como
ferramentas para implantá-lo, controlá-lo ou mantê-lo, seja para modificá-lo e torná-lo
mais eficiente, talvez mais simples, talvez menos complexo.
Dentre estes temas vamos abordar 3 assuntos que já há algum tempo vem sendo
discutidos, mas que ainda são relativamente novos, principalmente em algumas áreas
de aplicação industrial, como por exemplo a área têxtil. Discutiremos um pouco sobre
a Eco-eficência Industrial, as Metodologias de Produção Mais Limpa e os Conceitos de
Desenvolvimento Sustentável.

O que preciso saber...

Eco-eficiência, Produção Mais Limpa e Desenvolvimento


Sustentável

O que é a Eco-eficiência?

O conceito de Eco-eficiência ultrapassa as fronteiras das principais ações ou


programas ambientais desenvolvidos por organismos internacionais, como a
Prevenção à Poluição (P2), a Eficiência Energética ou o Gerenciamento de Riscos. Os
programas de Eco-eficiência buscam, empregando diversas ferramentas tecnológicas,
sociais, econômicas e de gestão, obter recursos para a melhoria da produtividade das
empresas, inserindo uma maior consciência sobre o Ciclo de Vida dos produtos,
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explicitando suas performances produtivas, além de um maior envolvimento daqueles


que realizam as transações comerciais.
Inúmeras são as vantagens que podem ser destacadas para apresentar este
conceito, dentre elas podem ser citadas:
• Redução dos custos graças à otimização no uso de recursos e na redução de
capital freqüentemente destinado à infra-estrutura;

• Minimização dos impactos ambientais, reduzindo os riscos e as


responsabilidades devidas;

• Otimização das condições de segurança e saúde ocupacional;

• Aumento da eficiência e da competitividade;

• Melhoria da imagem e aumento da confiança das partes interessadas.

• Melhoria no relacionamento com os órgãos ambientais, com a comunidade do


entorno e com a mídia.
Tais vantagens passaram a ser traduzidas na forma de indicadores, ou seja,
números que relacionam variáveis com bases econômicas e ambientais, permitindo
que as empresas de um modo geral, possam atingir níveis de desenvolvimento
econômico, sem ter de agredir o meio-ambiente, e conseqüentemente, afetar
condições sociais, de saúde e segurança humana.

Algumas definições

Segundo o Working Group on Eco-Efficiency and Sustainable Enterprise baseado


no Wuppertal Institute for Climate, Environment, Energy GmbH, a Eco-eficiência é a
resposta das empresas à seguinte pergunta: Como a idéia de sustentabilidade pode
ser conseguida dentro de uma empresa?

A Eco-eficiência é uma das ferramentas disponíveis para as empresas alcançarem


este patamar. Ao reconhecerem o potencial que a Eco-eficiência oferece, as principais
empresas ao redor do mundo buscaram o World Business Council for Sustainable
Development (WBCSD) para colocar em prática o desenvolvimento sustentável em
suas unidades.
E, de acordo com a própria WBCSD, a Eco-eficiência pode ser alcançada mediante
o fornecimento de bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as
necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo tempo em que
reduzem progressivamente os impactos ambientais e o consumo de recursos ao longo
do ciclo de vida dos produtos, a um nível, pelo menos, equivalente à capacidade de
sustentação estimada do planeta. [CEBDS, 2003]
As principais ações preconizadas dentro do conceito de Eco-eficiência são:

• Redução do consumo de materiais;

• Redução do consumo de energia;

• Redução da dispersão de substâncias tóxicas;

• Intensificação da reciclagem de materiais;


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• Aumento da utilização sustentável de recursos renováveis;

• Extensão da durabilidade dos produtos;

• Possibilidade de agregar valor aos bens e serviços.

Normas para a Eco-eficiência

O sistema de normas padronizadas criado para atender as questões ambientais foi


desenvolvido a partir de uma cooperação entre a ICC (International Chamber of
Commerce) e a ISO (International Standards Organization) resultando na
relativamente bem sucedida série de normas ISO 14000 e seus Sistemas de Gestão
Ambiental (SGA’s) e Sistemas de Gestão e Auditoria Ambientais (SGAA’s).
A Eco-eficiência, assim como a Produção Mais Limpa, tem estreito relacionamento
com os SGA’s. Estes determinaram as bases nas quais as oportunidades de aplicação
da Eco-eficiência seriam possíveis. A utilização destes sistemas de gestão nas
empresas e suas constantes melhorias [semelhante aos Sistemas de Gestão da
Qualidade (SGQ)] têm levado a um melhor gerenciamento dos riscos e a uma redução
dos impactos negativos que as atividades dessas empresas têm causado ao meio
ambiente, permitindo obter mais benefícios econômicos e conseqüentemente
conquistar novas fatias de mercado.
Até bem pouco tempo atrás, embora tanto os programas de Eco-eficiência como os
de Produção Mais Limpa propagandeassem a utilização dos SGA’s e suas
ferramentas correlatas, eles não eram sequer mencionados nas normas ISO 14001
elaboradas para os SGA’s, muito menos nos SGAA’s. Não havia nenhuma indicação
explícita nas normas existentes, em relação à aplicação da Eco-eficiência como uma
importante estratégia ambiental. Entretanto, ela podia e devia ser entendida
implicitamente como um requerimento dos SGA’s na busca pela Melhoria Contínua.
As Auditorias Ambientais e as Eco-etiquetas (selos verdes) são exemplos de
ferramentas ambientais específicas que podem compor parte destes sistemas de
gestão nas empresas ou em organizações maiores ou até em programas
governamentais. Elas podem auxiliar um empreendimento individual, um setor
industrial ou qualquer outra organização a atingir as melhorias ambientais necessárias.
Porém, o SGA por si só, não passa de um sistema de gerenciamento, e por isso, para
haver uma boa chance de influenciar positivamente na performance ambiental de uma
empresa, seria necessário haver também a inclusão de um comprometimento
estratégico mais abrangente.
Mais recentemente, a ISO apresentou um trabalho que veio justamente amenizar
estas prerrogativas. É o desenvolvimento de uma norma internacional mais específica
que apresenta as regras gerais para a Avaliação da Performance Ambiental,
associadas ou não a um Sistema de Gestão Ambiental. Esta é a International
Standard ISO 14031 – Environmental mangement – Environmental performance
evaluation – Guidelines, cuja primeira edição foi editada em 1999. Tal norma foi
elaborada pelo Comitê Técnico ISO/TC 207 de Gestão Ambiental, Sub-comitê SC-4
para Avaliação da Performance Ambiental.
Desta forma, a Eco-eficiência passaria a ser considerada, de maneira um pouco
mais clara, uma ferramenta importante e necessária, não somente ao desenvolvimento
e manutenção dos SGA’s nas empresas, mas transcendendo seu conceito original
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apresentado anteriormente, para ser empregada como um dos mecanismos utilizados


pelo gerenciamento para aplicar uma Avaliação de Performance Ambiental. Neste
sentido, a Eco-eficiência passaria a ser tratada como um indicador, ou seja, assume
um status quantificável, quantitativo, mensurável, que poderá ser medido antes,
durante e depois, seja num processo produtivo ou na realização de um serviço, em
qualquer tipo de empreendimento.

A literatura [CARVALHO et alli, 2000] aponta alguns tipos de Eco-indicadores como


o Custo Ambiental de Produção (CAP), a Unidade de Custo Ambiental (UCA) e a
Energia Natural Consumida (ENC), que aproximam o linguajar do “econômes” do
ambiente lingüístico ambiental. Talvez esta seja inclusive uma boa maneira de
tornar o tema mais interessante para aqueles que normalmente estão muito mais
preocupados com os números, preferencialmente positivos!

E a Produção Mais Limpa?

A implantação do SGA constitui-se numa estratégia para que a empresa, num


processo contínuo, identifique oportunidades de melhoria para a redução de impactos
ambientais gerados dentro da empresa. O SGA, conforme a série de normas ISO
14000, fundamenta-se na adoção de ações preventivas à ocorrência de impactos
prejudiciais ao meio ambiente. Esta postura pró-ativa pode ser obtida com a adoção
de técnicas de Produção Mais Limpa (P+L), utilizadas como ferramentas básicas para
a melhoria contínua.
Assim sendo, Produção Mais Limpa é a aplicação contínua de uma “estratégia”
ambiental, econômica e tecnológica integrada aos processos e produtos. Objetiva
aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia através da não-
geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados.
As chamadas Tecnologias Ambientais “Convencionais” são tecnologias ambientais
que trabalham, principalmente, tratando resíduos e emissões gerados nos processos
produtivos, através da incorporação de equipamentos, sem que haja alterações
naqueles. São conhecidas como técnicas “end-of-pipe” (“fim-de-tubo” ou “final de
linha”).
A redução dos resíduos e emissões não é somente uma meta ambiental, mas um
programa que visa aumentar o grau de utilização dos materiais, com vantagens
técnicas e econômicas. As empresas se voltam para a origem de seus problemas,
buscando modificações no processo produtivo, substituindo os tratamentos
convencionais “end-of-pipe”. A redução de resíduos e emissões significa uma
possibilidade de maior utilização de insumos e energia diretamente na produção, logo,
há aumento da eficiência. O caso ideal, porém utópico, de 100% de eficiência, seria
um processo livre de resíduos ou emissões!
As Tecnologias Ambientais de Produção Mais Limpa não tratam somente do
“sintoma” como nas Tecnologias Ambientais Convencionais, mas, principalmente,
buscam soluções para o problema gerado.Podemos verificar a abrangência da
Metodologia de Produção mais Limpa observando o organograma apresentado na
Figura 1, que explicita as diferentes possibilidades de aplicação em várias áreas de
atuação dentro de uma empresa:
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PRODUÇÃO MAIS LIMPA

Minimização de Reuso de
resíduos e emissões resíduos e emissões

Nível 1 Nível
Nível22 Nível 3

Redução
Redução Reciclagem Reciclagem
Reciclagem Ciclos
Ciclos
nafonte
na fonte interna
interna externa biogênicos

Modificação
Modificação Modificação Estruturass Materiais
Materiais
no
no produto
produto no processo

Housekeeping Substituição
Substituiçãode
de Modificação de
matérias -primas tecnologia
tecnologia

Fig.1: Organograma de Produção Mais Limpa (Fonte: SENAI-CNTL).

Exemplos de Oportunidades na Área Têxtil

 Recuperação de gomas
Um exemplo de oportunidade de aplicação da Produção mais Limpa, ocorre no
processo de tecelagem, mais especificamente na etapa de preparação à tecelegam
com a engomagem dos fios de urdume.
Os produtos de engomagem podem ser um dos principais componentes na carga
contaminante dos efluentes têxteis, chegando a compor até 50% das análises DQO
total. Portanto a implantação de processos e tecnologias para a recuperação de
gomas neste processo é uma iniciativa que proporcionará economias substanciais em
termos de energia, matéria-prima e água. A substituição das gomas pouco
biodegradáveis por outras com maior biodegradabilidade é considerada uma
oportunidade de aplicação da Produção Mais Limpa.
 Recuperação de índigo
Com a crescente demanda de tecido Denin empregado na produção de jeans,
houve um crescimento visível na utilização de corantes como o índigo.
Concomitantemente, houve um aumento nas regulamentações ambientais locais com
relação à presença de coloração dos efluentes lançados em corpos hídricos, como
rios, lagos e mares. Uma possibilidade de aplicação dos conceitos de Produção Mais
Limpa é a minimização significativa do consumo de água que pode ser obtida pela sua
reutilização durante os processos de lavagem. Outra oportunidade de utilização da
metodolgia de Produção Mais Limpa seria a utilização de tecnologias empregadas
para separar o corante da água de lavagem, como o processo de Ultrafiltração, onde
consegue-se obter um concentrado de corante com até 2,0 %, com uma eficiência de
cerca de 93,0%. Desta forma, a quantidade de corante lançado no efluente é bastante
reduzida, atendendo às exigências da legislação.
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 Minimização de efluentes com a modificação de processos e/ou máquinas


Talvez uma das aplicações mais comuns, principalmente na área de Acabamento
Têxtil, seja a idéia da redução das relações de banho nas máquinas de tingimento.
Normalmente, isto parece ser uma iniciativa óbvia, mas nem sempre é assim. Na
verdade, a Produção Mais Limpa é uma metodologia que tenta ressaltar situações
óbvias, simples, às vezes até ordinárias, mas que parecem estar de alguma forma
escondidas em vícios ou tradições nos métodos de processamento.
Dentre as vantagens da minimização do consumo de água nestas áreas
poderíamos destacar:
• Redução dos custos com água nova;
• Menor necessidade de tratamento dos efluentes líquidos gerados;
• Menor gasto de energia para o aquecimento dos banhos de processamento;
• Menos produtos químicos consumidos nos processos;
Algumas das iniciativas empregadas a fim de aplicar tais vantagens são:
• Utilização de sistemas descontínuos de lavagem;
• Aplicação de sistemas em contra-corrente, para permitir a troca térmica;
• Reutilização dos banhos de enxágüe de tingimentos, em concentrações
decrescentes de corantes.

Um Pouco de Sustentabilidade

O que é ser uma empresa sustentável? É um conceito que busca conciliar as


necessidades econômicas, sociais e ambientais sem comprometer o futuro de
quaisquer dessas demandas. Como impulsor da inovação, de novas tecnologias e da
abertura de novos mercados, o desenvolvimento sustentável fortalece o modelo
empresarial atual baseado em ambiente de competitividade global.

Segundo o historiador Roberto Restrepo, as culturas antigas do mundo


relacionavam-se com o meio ambiente e principalmente com a água de maneira
harmônica e construtiva. Logo, pode-se afirmar que as primeiras civilizações
implantaram por vários anos com sucesso o que hoje chamamos de Desenvolvimento
Sustentável.

Após reconhecer que as questões ambientais estavam estritamente ligadas à


sobrevivência humana e dos demais seres vivos, foi realizada no Rio de Janeiro a RIO
92, conferência mundial sobre ecologia e desenvolvimento, promovida pela UNESCO.
Na época, foi elaborada a AGENDA 21, um dos documentos mais importantes da
conferência, o qual dedicava vários capítulos ao desenvolvimento futuro, sustentável e
compatível com o meio ambiente. A AGENDA 21 previa que até 1997, as principais
cidades dos países participantes deveriam implementar projetos e estabelecer
programas que conduzissem ao desenvolvimento sustentável.

De acordo com o CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento


Sustentável) o modelo sustentável representa a única saída para conciliar produção de
riqueza e o bem estar para a sociedade sem comprometer a sobrevivência do planeta
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e da espécie humana. Deve-se estabelecer uma relação harmoniosa entre as três


dimensões que baseiam o conceito de desenvolvimento sustentável: Economia, Meio
Ambiente e Sociedade.

Praticando e aprendendo

Apesar das visíveis vantagens apresentadas pela aplicação dos indicadores de


Eco-eficiência na gestão de empresas, ainda pode-se observar uma certa renitência,
não somente dos próprios empresários, mas também de alguns organismos de
normalização, em adotar as ferramentas de Eco-eficiência como verdadeiros
instrumentos ambientais. Da mesma forma como também acontece com as
Tecnologias de Produção Mais Limpa, as barreiras enfrentadas para implantar tais
conceitos ainda são muito grandes e parecem permear basicamente pelas
negociações político-econômicas das empresas. Estas negociações tendem a
atender interesses econômicos que vão muito além dos interesses da própria
empresa. Interesses de fornecedores de tecnologias, às vezes já superadas, de
processos e equipamentos muitas vezes obsoletos e matérias-primas pouco
eficientes, de baixas rentabilidades. Infelizmente estas negociações, na maioria dos
casos, não incluem as variáveis ambientais como ponto de sustentação para que
elas ocorram, e logicamente, não consideram aquelas ferramentas necessárias para
avaliá-las. Talvez por algum tempo, ainda serão as pressões sociais, de saúde e
segurança e as pressões legais, que imporão regras mais rígidas às empresas.
Baseado na discussão apresentada, indique, sob ponto de vista econômico,
algumas vantagens da utilização de indicadores de Eco-eficiência e Tecnologia de
Produção Mais Limpa, como ferramentas de Avaliação de Performance Ambiental.

O que estudei

Nesta aula, concluímos este curso de Gestão Ambiental trazendo algumas


informações sobre temas que estão fervilhando nas discussões entre os especilaistas
da área ambiental, como sendo os possíveis assuntos que gerarão novos paradigmas
para futuro da humanidade.

Estes possíveis novos paradigmas são propostos pelas idéias e conceitos


apresentados por estes temas, abordando diferentes aspectos, tanto em nível
empresarial como em nível acadêmico. As prerrogativas apresentadas pelos conceitos
de Eco-eficiência são fortemente calcadas em normas reconhecidas
interncionalmente, que permitem uma amplitude bastante grande de sua utilização
pelas empresas em todo o mundo. A Produção Mais Limpa apresenta um enfoque de
aplicação mais voltado para as regiões do mundo em desenvolvimento, trazendo
benefícios econômicos e ambientais de fácil alcance para as empresas dessas
regiões. Parece que as idéias de Desenvolvimento Sustentável conseguem abranger
empresas de qualquer porte e de qualquer lugar do mundo, e acabam por
complementar os conceitos apresentados pela Eco-eficiência e a Produção Mais
Limpa.
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Como andam seus estudos?

Este é mais um momento de pausa para verificar como está seu aprendizado.
Analise os conceitos relacionados abaixo, marcando somente as alternativas
corretas:
( ) As três dimensões que fundamentam o conceito de desenvolvimento
sustentável são: economia, meio ambiente e sociedade.
( ) Uma das vantagens da aplicação do conceito de Eco-eficiência seria a
redução dos custos graças à otimização no uso de recursos e na redução de
capital destinado à infra-estrutura.
( ) As Tecnologias Ambientais de Produção Mais Limpa tratam somente do
“sintoma”, assim como as Tecnologias Ambientais Convencionais.
( ) Dentre as vantagens da minimização do consumo de água nas áreas de
Acabamento Têxtil como iniciativa de Produçao Mais Limpa, destaca-se o
menor gasto de energia para o aquecimento dos banhos de processamento;
( ) A norma internacional que apresenta as regras para a Avaliação da
Performance Ambiental, associadas ou não a um Sistema de Gestão
Ambiental é a ISO 9000.

Glossário

World Business Council for Sustainable Development (WBCSD): Conselho


Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável.
ICC (International Chamber of Commerce): Câmara de Comércio Internacional.
ISO (International Standards Organization): Organizaçao Internacional de Normas.
Housekeeping: faxina, arrumação, manutenção (industrial).
Ultrafiltração: processo de filtração à vácuo para partículas microscópicas.

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