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Curso de Direito

ADELCIMAR ALVES DA SILVA

DO DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO À LUZ DA


CONSTITUIÇÃO FEDERAL E DO NOVO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 2015

Campo Grande - MS

Junho de 2016
ADELCIMAR ALVES DA SILVA

DO DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO À LUZ DA


CONSTITUIÇÃO FEDERAL E DO NOVO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 2015

Trabalho de conclusão de curso apresentado


ao curso de Direito da Universidade Estácio
de Sá, de Campo Grande – Mato Grosso do
Sul, como requisito de obtenção de grau de
bacharel em Direito, sob a orientação do
Professorª: Maria de Cassia Pombal Pangaio.

Campo Grande - MS

Junho de 2016
S586d

Silva, Adelcimar Alves da.


Do dever de fundamentação à luz da Constituição Fedral e do Novo Código de
Processo Civil Adelcimar Alves da Silva.– Campo Grande: MS, 2016.
19 p. ; 30 cm.

Trabalho monográfico (Graduação em Direito)–Faculdade Estácio de Sá, Campo


Grande, Mato Grosso do Sul.

Bibliografia: f. 18-19.

1. Constituição Federal. 2. Do dever de fundamentação. 2. Código do Processo


Civil.
2. I. Título.

CDD 341.46
FOLHA DE APROVAÇÃO

DO DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL E DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015

ADELCIMAR ALVES DA SILVA


Trabalho de Conclusão de Curso (Artigo Cientifíco) apresentado como exigência
para a obtenção do título de bacharelado em Direito pela Faculdade Estácio de Sá
de Campo Grande, sob orientação da Professora Drª. Maria de Cassia Pombal
Pangaio.

Prof. Dr. Loester Ramires Borges

(Membro da Banca Avaliadora)

Profa. Dr.ª Gislane Esther Lubas Moreira Moura

(Membro da Banca Avaliadora)

Prof. Dr. Luiz Carlos Saldanha Junior

(Membro da Banca Avaliadora)

Campo Grande – MS, 15 de junho de 2016


RESUMO: O presente estudo tem como objetivo fazer uma análise acerca da
importância da motivação ou fundamentação das decisões no âmbito judicial. Para
tanto, o tema foi abordado sob a óptica da Constituição Federal, do Código de Processo
Civil de 2015, trazendo diversos ensinamentos de doutrinadores estudiosos do assunto.
Será possível compreender, no transcorrer deste artigo, o prejuízo não só ao
jurisdicionado, mas à sociedade, causado por uma decisão desprovida de motivação. O
tema é de grande relevância no mundo jurídico, devendo ser analisado e estudado
atenciosamente.

Palavras‐chave: Do dever de fundamentação. Constituição Federal. Código de


Processo Civil de 2015.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

2. DO DEVER DE FUNDAMENTAR AS DECISÕES JUDICIAIS ................................... 2

2.1 Breve Evolução Histórica ................................................................................................. 2

3. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO.................................................... 5

3.1 Aspectos Gerais ................................................................................................................ 5


3.2 Garantias Constitucionais: Conceito ................................................................................ 6

4. AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO QUANDO DO


DEVER DE FUNDAMENTAR AS DECISÕES JUDICIAIS .............................................. 7

4.1 Do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ................................................................ 7


4.2 Do Princípio do Devido Processo Legal .......................................................................... 8
4.3 Dos Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa ....................................................... 9
4.4 Dos Princípios da Duração Razoável do Processo ......................................................... 10
4.5 Do Princípio da Publicidade Processual ......................................................................... 10
4.6 Do Princípio da Fundamentação das Decisões Judiciais ................................................ 11

5. DO PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS SOB A


ÓPTICA CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL ............................................................. 12

6. DO DEVER DE FUNDAMENTAR NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO


CIVIL DE 2015 ....................................................................................................................... 14

6.1 Os Novos Requisitos Mínimos a Serem Observados na Fundamentação das


Decisões Judiciais ................................................................................................................. 14

7. CONCLUSÃO..................................................................................................................... 17

8. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 18
1. INTRODUÇÃO

As questões ligadas à obrigatoriedade de se fundamentar as decisões


judiciais vêm ocupando, por parte da doutrina e da sociedade nacional, o interesse que o
tema merece, salvo poucos opositores que se esbarram em argumentos vazios, o novo
código trouxe para o ordenamento jurídico critérios mais sólidos em relação ao dever de
fundamentação das decisões judiciais.

O tema da fundamentação das decisões judiciais, aqui enfrentado, tem o


condão de elevar a difusão do tema a nível constitucional, processual e social.

A questão da fundamentação das decisões judiciais constitui um feliz


exemplo de que o estudo do direito não deve ser efetuado de forma fragmentada, isto é,
apenas por "especialistas" de uma determinada matéria, que ignoram que as regras
normativas dispõem sobre os mais variados assuntos e se interconectam reciprocamente.

Como objetivo geral o trabalho visa demonstrar a importância que a


fundamentação das decisões judiciais ocupa em nosso ordenamento jurídico, bem como
especificamente evidenciar que as decisões judiciais fundamentadas, em harmonia com
os postulados em um Estado Democrático de Direito e a observância dos novos critérios
mínimos trazidos pelo Novo Código de Processo Civil de 2015, assim como as
garantias constitucionais do processo, permitem a participação da sociedade no controle
dos atos jurisdicionais, além de não permitirem o arbítrio e a irresponsabilidade dos
magistrados, pois trata-se de uma questão maior, qual seja, da "reflexão dos limites da
função de juiz e a própria democracia"(STRECK).[1]

Quando fundamentadas, as decisões judiciais são capazes de transmitir


adequação e justiça ao ato de autoridade que é próprio das decisões judiciais.

Optou-se por uma metodologia de cunho dogmático, iniciando o trabalho


a partir da norma jurídica posta, na medida em que a própria Constituição Federal e o
Novo Código de Processo Civil de 2015 reconhecem explicitamente o dever de se
fundamentar as decisões judiciais, bem como da observância dos elementos essenciais

[1]
Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-jul-02/senso-incomum-quando-juizes-dizem-ncpc-nao-
obedecido

1
da sentença e de qualquer decisão judicial, seja interlocutória, sentença ou acórdão (art.
93,IX, da CF e 489, §1º, e incisos, do NCPC/2015).

Por meio do método de investigação cientifica dedutivo indutivo, utiliza-


se a pesquisa bibliográfica para investigar na seara do direito as ferramentas doutrinárias
necessárias para o alicerce da pesquisa.

2. DO DEVER DE FUNDAMENTAR AS DECISÕES JUDICIAIS

2.1 Breve Evolução Histórica

O dever de fundamentar as decisões judiciais não é contemporâneo, nem


se originou na Constituição Federal de 1988, adverso, existia antes mesmo de o Brasil
configurar-se como Estado soberano, pois enquanto colônia regulava-se conforme as
leis portuguesas da época[2], a exemplo do Código Filipino, que já previa tal dever de
fundamentação das decisões, regulado por normas infraconstitucionais.

Apesar da emancipação política do Brasil, as normas processuais


relativas a fundamentação das decisões judiciais não se desvincularam das
portuguesas[3], que no Brasil produziam efeitos e mantinham sua natureza
infraconstitucional por meio de uma portaria de 31 de março de 1824, ou seja, desde
que as leis portuguesas não contrariassem a independência e soberania brasileira, as
normas portuguesas continuariam a ser aplicadas.

Com o Regulamento 737 de 1850, se pôs fim a dependência legislativa


do Brasil em relação a Portugal, haja vista que foi a primeira norma nacional a
determinar a obrigatoriedade da fundamentação das decisões judiciais, pelo que
disposto no art. 232, do regulamento, que preleciona que “a sentença deve ser clara,
sumariando o juiz o pedido e a contestação com os fundamentos respectivos, motivando
com precisão o seu julgado, e declarando sob sua responsabilidade da lei.”[4]

De 1850 até 1939, os códigos de processo civil eram elaborados por cada

[2]
NOJIRI, Sérgio. O dever de fundamentar as decisões judiciais. 2ª Ed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2000, (Coleção estudos de direito de processo de Enrico Tullio Liebman; 16), p. 27 e 28.
[3]
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A motivação das decisões judiciais como garantia inerente ao
Estado de Direito. Temas de Direito Processual, 2ª série, 2ª Ed. São Paulo: Saraiva 1988, p.83.
[4]
NOJIRI, Sérgio. Op. cit. p. 28.

2
estado-membro, nos limites de suas competências, e em todos contento a observância
do dever de fundamentação das decisões judiciais, que mesmo com a elaboração de um
Código Nacional em 1939, o dever de fundamentar as decisões não foi deixado de lado,
mas ainda era uma norma de caráter infraconstitucional.

No Código de 1973, no artigo 131, prelecionava que “O juiz apreciará


livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que
não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe
formaram o convencimento.”

Nos dois, CPC de 1939 e de 1973, o dever de fundamentação das


decisões judiciais não se vinculavam ou se submetiam as normas Constitucionais em
sua aplicabilidade, devido ao apego ao legalismo resultante do princípio da legalidade,
latente em tal período. Nos ensinamentos de Barbosa Moreira, acerca da essência do
dever de fundamentar as decisões “é preciso que o pronunciamento da justiça, destinado
a assegurar a inteireza da ordem jurídica, realmente se funde na lei; é preciso que esse
fundamento se manifeste, para que se possa saber se o império da lei foi, na verdade,
assegurado.”[5]

No entanto, a fundamentação das decisões judiciais visava, àquele tempo,


garantir que a lei seria cumprida e o arbítrio do magistrado afastado, sua função era
meramente técnica e sua razão ideológica.

Por razões meramente de conveniência processual o dever de


fundamentar, para simplificar as decisões para a administração da justiça, houve a
criação de precedentes judiciais e a fiscalização das instâncias inferiores pelas
superiores, analisada sob a ótica endoprocessual.[6]

Porém, nesse período imperava o positivismo jurídico, onde o juiz


exercia estritamente apenas a função de revelar a lei por meio de uma aplicação, por se
dizer assim, mecânica. Os magistrados eram impedidos, de certo modo, da atividade
interpretativa. O juiz era mero aplicador do direito posto. Bastava, no entender do
sistema da época, somente, uma simples aplicação de um silogismo para solucionar
qualquer questão posta sob análise do magistrado.
[5]
BARBOSA MOREIRA, Op. cit. p. 89
[6]
PERO, Maria Thereza Gonçalves. A motivação da sentença civil. São Paulo: Saraiva. 2001, p.70.

3
Contudo, tornou-se impossível ignorar o aspecto axiológico do Direito,
principalmente, no momento das tomadas de decisão, bem como a complexidade das
relações sociais e as implicações relativas ao Direito.

Assim, a simples obrigação infraconstitucional transformou-se em uma


garantia processual prevista na Constituição, trazendo em seu corpo fundamentos com
escopos do Estado Democrático de Direito.

O Estado Democrático de Direito, também conhecido como Estado


Constitucional de Direito, desenvolveu-se sobre três pilares inerente aos fundamentos
constitucionais, que são: o reconhecimento da força normativa da constituição; a
expansão da jurisdição constitucional[7]; desenvolvimento de uma nova dogmática de
interpretação constitucional. Para Barroso as mudanças elencadas caracterizam apenas o
marco teórico, que somados ao marco histórico e ao marco filosófico[8], formam a base
do neoconstitucionalismo.

Com o marco do neoconstitucionalismo que se originou, a Constituição


deixou de figurar como mera carta de recomendações, para então ocupar o mais elevado
posto de um ordenamento jurídico, onde suas normas passaram a irradiar todos os
ramos do direito.

A força irradiante da Constituição unificou duas concepções importantes:


consagra direitos fundamentais e providência garantias para que estes sejam
assegurados e efetivados “rumo àquilo que se pode chamar de constitucionalismo
universal” para abranger o maior número de direitos possíveis.[9]

A constitucionalização do ordenamento infraconstitucional abarcou uma


amplitude imensa e abrangente. A fundamentação das decisões judiciais foi realocada
para o texto constitucional. Havendo uma mudança na natureza do dever de motivação.

[7]
BARROSO, Luis Roberto. Neoconstitucionalismo e a constitucionalização do direito. (O triunfo
tardio do direito constitucional no Brasil) Revista Eletrônica sobre Reforma do Estado (RERE),
Salvador,Instituto Brasileiro de Direito Público, n° 09, março/abril/maio, disponível em
<http://www.direitodoestado.com.br/rere.asp>
[8]
Idem.
[9]
RAMOS, João Palma. Estado de Direito como Estado Constitucional: o neoconstitucionalismo. In
Teoria da Argumentação e Neo-constitucionalismo: um conjunto de perspectivas. Coordenação: Bárbara
Cruz et al, Coimbra: Almedina, 2011.

4
Se percebe essa mudança com a Constituição Federal de 1988, que no
seu artigo 93, IX, prevê a garantia constitucional de obter do Estado as decisões
judiciais e administrativas fundamentadas.

Nada obstante, certo é que nossa Constituição Federal de 1988 trouxe,


de forma expressa, a necessária e obrigatória fundamentação das decisões judiciais,
em seu artigo 93, IX. Foi ainda nosso constituinte além, ao prever penalidade no
texto, com a aplicação de nulidade aos atos decisórios que não observassem o
preceito ali cominado. Preceitos esses que veremos no item seguinte, que são as
garantias constitucionais do processo que o magistrado deve observância quando da
sua fundamentação.

3. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO

3.1 Aspectos Gerais

A Constituição Federal de 1988 se apresenta como árvore do


ordenamento jurídico brasileiro, em cujo tronco ligasse todos os outros ramos do
direito, inclusive o direito processual civil. Daí segue a dedução lógica de que os ramos
do direito devem obediência à Constituição, seja em sua extensão e alcance, sob pena de
vulnerabilidade das garantias nelas arraigadas.

Pode se afirmar, em tal perspectiva, que qualquer ato que viole a norma
constitucional se reveste de gravidade e, no campo própria do processo, deve ser
prontamente expurgada, para assegurar a concretude da norma constitucional.

O respeito aos preceitos constitucionais, deve ser objetivo primeiro a ser


observado e alcançado por cada um que estar inserido em um Estado Democrático de
Direito.

O Novo CPC/2015 traz esse objetivo para dentro do seu corpo, onde faz
a síntese dos princípios constitucionais, elencando-os nos doze primeiros artigos, sendo
aplicável em toda a sua extensão os ensinamentos acima reproduzidos, sem impedir de
alinhar vários outros em dispositivos dispersos.

5
3.2 Garantias Constitucionais: Conceito

Para melhor concepção do assunto, importante se faz esclarecer o


conceito de garantias constitucionais. Com frequência, tal expressão é confundida com
direitos ou princípios, apesar dos mesmos terem profunda semelhança semântica em
dados momentos, ao ponto de não ser incomum haver princípios extraídos do texto com
equivalência às garantias.

Em uma definição ampla, as garantias constitucionais, podem ser inserida


como os pressupostos e bases do exercício e tutela dos direitos fundamentais, ao mesmo
passo que rege, com proteção adequada, nos limites da constituição, o funcionamento de
todas as instituições existentes no Estado. Isto quer dizer que os pressupostos de
validade dos atos estatais servem para a garantia dos direitos individuais e estruturas do
Estado.[11]

Por fim, vamos considerar as garantias constitucionais uma noção mais


específica, em seu sentido individual, a chamada garantia individual, para exprimir os
meios, instrumentos, procedimentos e instituições destinadas a assegurar o respeito, a
efetividade do gozo e a exigibilidade dos direitos individuais[12], expressos no texto do
artigo 5º da Constituição Federal.

4. AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO QUANDO DO


DEVER DE FUNDAMENTAR AS DECISÕES JUDICIAIS

4.1 Do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

Em qualquer que seja o instituto processual, não se pode imaginar a não


observância da dignidade humana, haja vista que se trata um preceito inerente ao
próprio Estado Democrático de Direito. Assim, não seria diferente imaginar a não
observação de tal preceito quando do dever de fundamentar as decisões judiciais, pelos
magistrados.


ROBERTO, Eros. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. São Paulo : editora Malheiros.
[11]
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 10 ed., São Paulo : Malheiros, 2000, p.493.
[12]
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 20 ed., São Paulo : Malheiros,
2002, p. 418.

6
Sobre o assunto, leciona Fux (2011 apud Duarte, 2013): “Assim é que,
v.g., na solução de uma questão humana deve assumir relevo a regra infraconstitucional
à luz do princípio da dignidade da pessoa humana.”[13]

Assim, por haver uma nítida constitucionalização do processo civil,


presente em quase todos os seguimentos processuais, a dignidade humana é resguardada
e promovida como valor máximo da prestação jurisdicional, seja pelo magistrado, partes
e advogado, pois todos devem observância à concretude deste princípio, para que o
torne eficaz, palpável em cada ato realizado, evitando somente sua promoção, mas
como também sua proclamação a toda a sociedade como arquétipo de conduta a ser
alcançado por todas as variadas formas de relacionamento social.

A dignidade da pessoa humana deve ser encarada no contexto do


princípio da reserva do possível, que com este deve estar atrelada, conforme doutrina
Rech[14]:

Segundo essa doutrina, é necessário que além de uma previsão legal para a
prestação desse direito haja também recursos materiais disponíveis para sua
satisfação, motivo pelo qual, em fase judicial, defende que os juízes não
teriam capacidade funcional necessária para garantir a efetivação das
prestações dos direitos sociais, tratando-se de questão que foge dos âmbitos
judiciais. Essa teoria surgiu a partir da jurisprudência constitucional alemã,
segundo a qual a construção dos direitos às prestações materiais por parte do
Poder Público está sujeita à condição de disponibilidade dos respectivos
recursos. Nesse entender, a decisão sobre a disponibilidade, ou não, desses
recursos, é discricionária, governamental e parlamentar, através da
composição dos orçamentos públicos. “A expressão reserva do
possível procura identificar o fenômeno econômico da limitação dos recursos
disponíveis diante das necessidades quase sempre infinitas a serem por eles
supridas."

4.2 Do Princípio do Devido Processo Legal

O devido processo legal constitui princípio constitucional concernente a


todos os níveis de processo representativo da segurança jurídica. Como sequência de
atos concatenados formalmente previstos para a entrega efetiva de uma jurisdição justa,
com respeito às garantias processuais.

[13]
FUX, Luiz. O novo Processo Civil Brasileiro. Direito em expectativa. São Paulo: Forense, 2011.
[14]
RECH, Simone Aparecida. A reserva do possível, o mínimo existencial e o poder judiciário.
Disponível em:
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3942>.

7
Do princípio do devido processo legal, de importância ímpar no processo
civil contemporâneo, extraem-se também os corolários da razoabilidade e
proporcionalidade, ambos como mecanismos normativos de alcance pleno da dignidade
da pessoa humana no processo.

A garantia, ou princípio, do devido processo legal é derivada da


expressão inglesa due process of law, e pode ser extraída principalmente do texto do art.
5º, da CF/1988, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido


processo legal;

Conforme leciona Moraes[15]:

O devido processo legal configura dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto


no âmbito material de proteção ao direito de liberdade e propriedade quanto
no âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de condições com o Estado-
persecutor e plenitude de defesa (direito à defesa técnica, publicidade do
processo, à citação, à produção ampla de provas, de ser processado e julgado
pelo juiz competente, aos recursos, à decisão imutável, à revisão criminal).

4.3 Dos Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa

Os princípios do contraditório e ampla defesa impõem a possibilidade de


participação efetiva dos sujeitos processuais em todas as fases em que desenvolve a
relação processual. A principal característica destes postulados reside na possibilidade
de que cada parte pode contribuir com a construção da verdade, de maneira a influenciar
o Estado-Juiz no exercício da atividade jurisdicional, colaborando reciprocamente ao
nível argumentativo.

Antes de serem vistas como antagônicos, os sujeitos processuais titulares


do direito material em discussão são colaboradores do Estado-Juiz, por meio do
contraditório e da ampla defesa, perfazendo o ideário dialético do processo, lançando os

[15]
MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil Interpretada. 2ª ed. São Paulo : Atlas, 2003, p. 361.

8
elementos necessários à prolação de uma sentença de mérito justa e efetiva (art.6º, do
NCPC/2015).

A garantia do contraditório e da ampla defesa está expressa no art. 5º, LV,


da CF/1988, sendo uma derivação da já comentada isonomia processual, por exigir
igualdade de condições na lide, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados


em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes;

Deve ser ressaltado que o contraditório sofre limitações, em face da


necessidade de eficácia social das decisões judiciais, como nos casos de concessão de
liminares inaudita altera parte, comum nos procedimentos processuais de urgência
(cautelares, mandados de segurança, habeas corpus, decisões liminares em geral, etc.),
que têm como fim garantir a preservação do bem tutelado e a eficácia final do processo,
evitando a sua perda entre os meandros da burocracia judiciária. Entretanto, não se trata
de uma exceção, pois tais provimentos são revogáveis a qualquer momento pelo
magistrado, sendo oportunizado o contraditório.[16]

4.4 Dos Princípios da Duração Razoável do Processo

O fenômeno social do desprestigio da Justiça no seio da sociedade, fruto


da demora na entrega da prestação jurisdicional, despertou a atenção não somente dos
operadores do direito, como da doutrina, porquanto fere, de uma só assentada, vários
princípios constitucionais, merecendo destaque o da eficiência insculpido no art. 37
“caput” da Constituição Federal.

O processo deve ser concebido em sua existência temporal de modo


razoável, mas comprometido com a efetividade e justiça no seu destrame.

[16]
SILVA, Ovídio A. Baptista. Curso de Processo Civil. 4ª. ed., São Paulo : Revista dos Tribunais,
1998, p. 69.

9
Há uma discussão latente quando do dever de fundamentar as decisões
judiciais, pois na busca de uma celeridade processual almejada como objetivo principal,
o requisito que originou-se do dever de fundamentar, pelo novo CPC/2015, traz certo
desequilíbrio as instituições processuais, no argumento de que não se pode seguir o rol
do art. 489, §1º, e incisos, no sentido taxativo, haja vista o excessivo número de
processo que o judiciário comporta em sua atual conjuntura. Contudo, tal justificativa
não se comporta, no sentido de que há uma crescente ampliação da digitalização dos
processos, fator que contribui para a eliminação da lentidão da marcha processual, sem
sombra de dúvidas.

A automatização do processo, por via digital, auxilia para o desfecho da


lide, isso não é mais ponto de duvidas ou conflitos para se pautar uma justificativa de
que o NCPC/2015 não comporta aplicabilidade quanto a uns de seus objetivos fins, que
é o da celeridade processual.

4.5 Do Princípio da Publicidade Processual

A publicidade dos atos processuais ganha status constitucional como


verdadeira garantia contra o absolutismo estatal. Garantia de todos os atores do
processo, inclusive o Juiz.

Pela publicidade, estabelece-se um sólido mecanismo de controle do


acerto das decisões judiciais. Às partes, para impugná-las pelos meios recursais
disponíveis no ordenamento processual. À sociedade, no contexto de fiscalização da
eficiência da atividade judicial por via da consulta aos autos do processo.

A garantia de publicidade é dada para tutelar a transparência dos atos


processuais.

Demais, a publicidade constitui-se em parâmetro ao próprio Juiz, sabedor


de que sua decisão está sendo objeto de análise, em tese, por toda a sociedade, tendendo
a imprimir mais acerto na fundamentação. Traduz-se, sob tal aspecto, verdadeiro
estímulo ao atendimento do princípio da eficiência moldado no art. 37, da Constituição
Federal.

10
4.6 Do Princípio da Fundamentação das Decisões Judiciais

A garantia da fundamentação das decisões judiciais, a qual ganha maior


relevo no direito processual contemporâneo, não deixa de ser também uma garantia do
Juiz, na medida em que expressa sua imparcialidade e torna pública a lisura no
desempenho de suas elevadas funções de distribuir justiça.

Com efeito, ao fundamentar a decisão, o Estado-Juiz torna possível aos


litigantes conhecer as razões fáticas e jurídicas que conduziram ao dispositivo, ao tempo
em que, por via da publicidade do ato, possibilita a fiscalização da sociedade contra
eventuais abusos ou desvio de poder.

Assim já entendia Lenza[17], por exemplo, quando se referia ao CPC/73,


lecionando, que:

[..] o dever de motivar as decisões judiciais (o livre convencimento motivado


– CPC, arts 131,165, 458; CPP, art. 381, III etc.) deve ser entendido, numa
visão moderna do direito processual, não somente como garantia das partes.
Isso porque, em razão da função política da motivação das decisões, pode-se
afirmar que os seus destinatários “… não são apenas as partes e o juiz
competente para julgar eventual recurso, mas quaisquis de populo, com a
finalidade de aferir-se em concreto a imparcialidade de justiça das decisões.

Não deve restar dúvidas que fundamentar, no sentido constitucional e


processual, não é apenas indicar o dispositivo legal e dar a decisão. É necessário que o
julgador demonstre os fatos, a base jurídica e a ligação entre eles, mostrando a
motivação de sua decisão. A decisão que não obedecer tal estrutura conterá vícios que
afetarão seus pressupostos de validade e eficácia.

5. DO PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS SOB A


ÓPTICA CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL

Está expresso no art. 93, IX, da Constituição Federal[18] que:

Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e


fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar
a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do

[17]
LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.793.
[18]
Míni Código Saraiva. Processo Civil. Constituição Federal e Legislação Complementar. 18.ed. São
Paulo: Saraiva, 2015..

11
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

Ao analisarmos a letra da lei, podemos concluir que não é apenas a


sentença e o acórdão que deverão ser fundamentados, mas sim todas as decisões
proferidas pelos juízes. Isto deve-se ao fato de que a Constituição Federal de 1988 deve
prevalecer sobre as demais legislações. E a Constituição não se refere apenas às
sentenças e acórdãos, e sim às decisões. É o novo sentido que o art. 489, do
NCPC/2015, em seus parágrafos e incisos, traz em seu bojo.

Conforme leciona Misael Montenegro Filho[19], toda a decisão judicial


deve ser fundamentada dando às partes envolvidas a oportunidade de entender os
motivos daquela decisão e poder, se for o caso impugnar através de recurso para cada
caso. Se isso não for respeitado, a parte poderá oferecer embargos declaratórios para
que o juiz se manifeste sobre sua omissão, conforme disposto no corpo do art. 1.023, do
NCPC/2015.

A motivação das decisões significa que o juiz deverá mostrar às partes e


aos demais interessados como se convenceu, para chegar àquela conclusão. Deve de
maneira clara e objetiva demonstrar o porquê agiu de tal maneira decidindo em favor de
uma das partes e contrário à outra, não bastando mencionar, por exemplo, que o autor
tem razão e a ação é procedente porque de acordo com as provas dos autos fica evidente
que o réu cometeu ato ilícito.

De acordo com Nelson Nery Júnior[20]:

Fundamentar significa o magistrado dar as razões, de fato e de direito, que o


convenceram a decidir a questão daquela maneira. A fundamentação tem
implicação substancial e não meramente formal, donde é lícito concluir que o
juiz deve analisar as questões postas a seu julgamento, exteriorizando a base
fundamental de sua decisão. Não se consideram “substancialmente”
fundamentadas as decisões que afirmam “segundo os documentos e
testemunhas ouvidas no processo, o autor tem razão, motivo por que julgou
procedente o pedido”. Essa decisão é nula porque lhe faltou fundamentação.

Sob esse prisma, a falta de motivação resultaria em sérios problemas,


primeiro ofenderia o princípio do contraditório, pois a parte derrotada na decisão não

[19]
MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil. Teoria Geral do Processo e
Processo de Conhecimento. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2006. v.1. p.647.
[20]
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1999. p.175-6.

12
teria como elaborar um possível recurso para instância superior, visto que não está claro
o motivo que seu pedido ou sua defesa foi rejeitado pelo juiz. Segundo, ofenderia o
princípio da publicidade, já que todos tem o direito de ter acesso às decisões judiciais
(salvo exceções, como as decisões de segredo de justiça). Além disso, dificultaria o
próprio Tribunal ad quem, que julgaria o recurso da parte vencida, isto porque, o órgão
colegiado, assim como os demais interessados não saberia os motivos daquela decisão e
assim não poderia dizer se está justa ou não.

Como bem argumentam os juristas Fredie Didier Júnior, Paula Sarno


Braga e Rafael Oliveira[21]:

A exigência da motivação das decisões judiciais tem dupla função.


Primeiramente, fala-se numa função endoprocessual e, segundo a qual a
fundamentação permite, que as partes conhecendo as razões que formaram o
convencimento do magistrado, possam saber se foi feita uma análise apurada
da causa, a fim de controlar a decisão por meio dos recursos cabíveis, bem
como para que os juízes de hierarquia superior tenham subsídios para
reformar ou manter essa decisão. (...) Fala-se ainda numa função
exoprocessual ou extraprocessual, pela qual a fundamentação viabiliza o
controle da decisão do magistrado pela via difusa da democracia
participativa, exercida pelo povo em cujo o nome a sentença é pronunciada.
Não se pode esquecer que o magistrado exerce parcela de poder que lhe é
atribuído (o poder jurisdicional), mas que pertence, por força do parágrafo
único do artigo 1º da Constituição Federal, ao povo.

Leciona Nelson Nery Júnior[22], que:

Caso não sejam obedecidas as normas do art. 93, n. IX e X, da CF, a falta de


motivação das decisões jurisdicionais e administrativas do Poder Judiciário
acarreta a pena de nulidade a essas decisões, cominação que vem
expressamente designada no texto constitucional. Interessante observar que
normalmente a Constituição Federal não contém norma sancionadora, sendo
simplesmente descritiva e principiológica, afirmando direitos e impondo
deveres. Mas a falta de motivação é vício de tamanha gravidade, que o
legislador constituinte, abandonando a técnica de elaboração da Constituição,
cominou no próprio texto constitucional a pena de nulidade.

Na mesma esteira, para Misael Montenegro Filho[23]:

Em qualquer hipótese, o magistrado deve revelar quais os argumentos


apresentados pelo autor que o convenceram do preenchimento dos requisitos
específicos, apoiando a sua decisão em fatos do processo, além dos
documentos atados à petição inicial. A decisão que não apresenta essa

[21]
DIDIER JÚNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual
Civil. 5.ed. Salvador: Podivm, 2010. v.2. p.290.
[22]
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1999. p.175-6.
[23]
MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil. 11ª ed. Atlas S.A., 2015.

13
característica é nula, por afrontar o princípio constitucional estampado no
inciso IX do art. 93 do Texto Maior, que assegura a transparência das
decisões judiciais, infringindo, além disso, o princípio do devido processo
legal, o que pode e deve ser reconhecido de ofício pelo tribunal, por ser como
matéria de ordem pública, transpassando o interesse meramente particular das
partes. A nulidade da decisão judicial, pela falta ou pela deficiência de
fundamentação, não se confunde com a decisão judicial equivocadamente
fundamentada, que não é marcada pela nulidade, devendo ser apenas
corrigida, adequando-se aos fatos e aos argumentos jurídicos invocados pelas
partes. Essa Consideração é importante, já que a existência de
fundamentação, embora equivocada, não dá cabimento à interposição de
recurso extraordinário, à míngua de infração a disposição da CF.

6. DO DEVER DE FUNDAMENTAR NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO


CIVIL DE 2015

6.1 Os Novos Requisitos Mínimos a Serem Observados na Fundamentação das


Decisões Judiciais.

Todo provimento jurisdicional deve ser motivado, apresentando


justificação suficiente do seu conteúdo e evidenciando o respeito ao contraditório
participativo através do exame e consideração de todas as alegações e provas pertinentes
apresentadas pelas partes.

O juiz não poderá, ante o que dispõe o art. 489, nos seus parágrafos e
incisos, do NCPC/2015, justamente em consonância com o art. 93, inciso IX, da
Constituição Federal, deduzir uma fundamentação singela e incompleta.

Não se trata de mera recomendação, mas de uma exigência legal, com o


cumprimento de todos os requisitos previstos no art. 489, seus parágrafos e incisos, do
Novo Código Processual, sob pena de nulidade.

O Novo Código de Processo Civil de 2015 estabelece requisitos a serem


observados na fundamentação das decisões judiciais, requisitos estes contidos no art.
489,§1º e incisos, §2º e §3°, do NCPC/15, in verbis: § 1º Não se considera
fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão,
que: I – se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida, ou seja, o juiz deve sempre
explicar a relação de causa e efeito entre um argumento que estiver usando e a causa em
jogo, para evitar desde modo que o juiz diga apenas: "conforme o artigo tal, decido
assim"; II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
14
concreto de sua incidência no caso, ou seja, garante que o juiz ou tribunal não use
conceitos "X,Y", nos quais caibam dezenas de sentidos, devendo explicar em que
sentido está usando a expressão; III – invocar motivos que se prestariam a justificar
qualquer outra decisão, isto é, não se poderá usar os motivos da ilegalidade de um
direito, validos em um processo, em outro processo que nem trate desse tipo de direito;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V – se limitar a invocar precedente ou
enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar
que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI – deixar de seguir
enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar
a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. § 2º
No caso de colisão entre normas, o órgão jurisdicional deve justificar o objeto e os
critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a
interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão. §
3º A decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus
elementos e em conformidade com o princípio da boa-fé.

O §1º acima transcrito, ao contrário das disposições do CPC/73, exige a


observância dos mesmos critérios para todos os tipos de decisão, mencionando
expressamente sentença, acórdão e interlocutória, sendo que, com relação a última, o
regramento atual indica apenas que a fundamentação seja concisa.

Tal inovação mostra-se acertada, pois decisões dessa natureza,


principalmente aquelas que dizem respeito a liminares, antecipação de tutela e outras
medidas de urgência, guardam enorme relevância para as partes e para a continuidade
do trâmite processual e, muitas vezes, são fundamentadas de maneira simplória,
dificultando até a elaboração de recurso para a instância superior. Por outro lado, os
incisos “V” e “VI” daquele dispositivo (art. 489) demonstram a relevância que os
precedentes tem com o novo diploma legal, não da forma mecânica verificada
atualmente, mas de maneira discursiva, exigindo-se a comprovação de similaridade
fática entre os casos, demonstrando ser aplicável o mesmo raciocínio jurídico.
Obviamente que a positivação desses parâmetros não garante, por si só, melhora na
fundamentação das decisões, mas, pelo menos, evidenciou a preocupação do legislador
quanto a efetividade da prestação jurisdicional, pois a fundamentação do julgamento das

15
questões de fato devem permitir que as partes e o público entendam de que modo foram
avaliadas as provas produzidas e porque a umas foi dado mais valor do que as outras,
além de criar critérios que, ao serem sistematicamente interpretados e aplicados pelos
Tribunais, colaborarão para a uniformização da jurisprudência acerca do tema.

Destarte, é notório que o NCPC/2015 preocupou-se com o excesso de


formalismo contido em seu antecessor (CPC/73), que na maioria das vezes impediam
a correta marcha processual, e acabando por denegar, muitas das vezes a própria
justiça. O NCPC/2015 trouxe em seu corpo um novo sentido, o de minimizar o rigor
formal, trazendo em suas previsões uma preocupação com a celeridade da entrega da
prestação jurisdicional, sem deixar de lado a preocupação com a qualidade das
decisões.

Para se aproximar deste ideal de processo, o NCPC/2015 preferiu, como


se percebe da leitura do art. 489, §1° e incisos, a ideia de negação quando trata de
fundamentação da decisão judicial. O que afasta de certa maneira a peculiar prática do
“síntesetismo”, por se dizer assim, das decisões judiciais.

Em linhas gerais, percebe-se que o Novo Código de Processo Civil


possuí o escopo de que as decisões sejam mais céleres, efetivas e de melhor
qualidade, o que também dependerá dos profissionais do direito, elevados à condição
de colaboradores entre si, exatamente para a consecução dos fins almejados pela
função jurisdicional.

7. CONCLUSÃO

O tema trazido a conhecimento é de relevante importância por ter


repercussão diretamente no dia a dia dos jurisdicionados, pois uma decisão judicial sem
a devida motivação colocará em risco a justa tutela jurisdicional pretendida.

Conforme discorrido ao longo do trabalho, o tema merece ser lido e


examinado com a importância que [ele] tem, quer no campo constitucional, quer no
campo processual, pois em razão de sua inobservância haverá uma espécie de sangria no
poder de dizer o direito, a exemplo do que ocorria no século XVII, quando os juízes
interpretavam conforme sua conveniência e interesse, em que deixavam de lado os
direitos do cidadão a ultimo critério.
16
Entretanto, este estudo procurou ir além, procurou também aduzir da
importância às observâncias que um magistrado, bem como toda a sociedade, deve
perseguir na busca para o justo ideal de justiça, por mais utópica que possa parecer tal
ideia. Buscou-se, também, analisar as esferas em que está inserido o dever de
fundamentação das decisões judiciais, seja pelo campo das garantias constitucionais,
quer pela análise dos novos requisitos mínimos trazidos pelo artigo 489, §1, e incisos,
do NCPC/2015, em que trouxe um rol taxativo em relação a obrigatoriedade do que
deve conter em uma decisão judicial para que ela seja válida, bem como contribuir para
uma maior difusão a respeito do tema, que possui grau máximo de importância, tendo
em vista tal dispositivo processual mencionado ser o coração pulsante deste novo
modelo processual, ora em vigor.

Por fim, de se destacar que o tema, seja pela sua obrigatoriedade técnica,
seja pela relevância que ocupa no mundo do direito constitucional e processual, sempre
merecerá atenção e estudos afincos.

17
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1]STRECK___Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-jul-02/senso-incomum-


quando-juizes-dizem-ncpc-nao-obedecido.

[2] NOJIRI, Sérgio. O dever de fundamentar as decisões judiciais. 2ª Ed., São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2000, (Coleção estudos de direito de processo de Enrico Tullio
Liebman; 16), p. 27 e 28.

[3] BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A motivação das decisões judiciais como
garantia inerente ao Estado de Direito. Temas de Direito Processual, 2ª série, 2ª Ed.
São Paulo: Saraiva 1988, p.83.

[4] NOJIRI, Sérgio. Op. cit. p. 28.

[5] BARBOSA MOREIRA, Op. cit. p. 89

[6] PERO, Maria Thereza Gonçalves. A motivação da sentença civil. São Paulo:
Saraiva. 2001, p.70.

[7] BARROSO, Luis Roberto. Neoconstitucionalismo e a constitucionalização do


direito. (O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil) Revista Eletrônica sobre
Reforma do Estado (RERE), Salvador,Instituto Brasileiro de Direito Público, n° 09,
março/abril/maio, disponível em <http://www.direitodoestado.com.br/rere.asp>

[8] Idem.

[9] RAMOS, João Palma. Estado de Direito como Estado Constitucional: o


neoconstitucionalismo. In Teoria da Argumentação e Neo-constitucionalismo: um
conjunto de perspectivas. Coordenação: Bárbara Cruz et al, Coimbra: Almedina, 2011.

[10] ROBERTO, Eros. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. São Paulo:


editora Malheiros.

[11] BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 10 ed., São Paulo:


Malheiros, 2000, p.493.

[12] SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 20 ed., São
Paulo : Malheiros, 2002, p. 418.

[13] FUX, Luiz. O novo Processo Civil Brasileiro. Direito em expectativa. São
Paulo: Forense, 2011.

[14] RECH, Simone Aparecida. A reserva do possível, o mínimo existencial e o


poder judiciário. Disponível em:
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo
_id=3942>.

18
[15] MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil Interpretada. 2ª ed. São Paulo:
Atlas, 2003, p. 361.

[16] SILVA, Ovídio A. Baptista. Curso de Processo Civil. 4ª. ed., São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1998, p. 69.

[17] LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 14 ed. São Paulo:


Saraiva, 2010, p.793.

[18] Míni Código Saraiva. Processo Civil. Constituição Federal e Legislação


Complementar. 18.ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

[19] MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil. Teoria


Geral do Processo e Processo de Conhecimento. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2006. v.1.
p.647.

[20] NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal.


São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p.175-6.

[21] DIDIER JÚNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de
Direito Processual Civil. 5.ed. Salvador: Podivm, 2010. v.2. p.290.

[22] NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal.


São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p.175-6.

[23] MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil. 11ª ed. Atlas
S.A., 2015.

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