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Autor:
Mauricio de Sant’ Anna Jr. Doutorando em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Mestre em Ciências da Atividade Física pela Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), Especialista em
Atividade Física e Promoção da Saúde pela Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), Especialista em Fisioterapia
Respiratória pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional / Associação Brasileira de Fisioterapia
Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva (COFFITO / ASSOBRAFIR), Professor do Centro Universitário
Plínio Leite e Coordenador do Curso de Fisioterapia. É autor e coautor em diversas publicações científica nacionais e
internacionais e revisor dos periódicos Journal of Physical Therapy e Journal of Cardiothoracic Surgery.
Todos os direitos reservados. É permitida uma (01) cópia impressa deste material exclusivamente para o aluno
matriculado neste curso.
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Fisiologia do Exercício
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
Após a leitura deste capítulo, você deverá estar apto a:
Citar as principais fontes bioenergéticas.
Descrever os processos de formação de energia pelos sistemas
anaeróbico alático, anaeróbico lático e aeróbico.
Reconhecer o processo de formação do ácido lático e indução à fadiga.
Identificar os principais mecanismos de ativação de células satélites.
Reconhecer as principais alterações cardiovasculares, agudas e
crônicas, oriundas da realização do exercício físico.
Citar as formas de exercício que podem reduzir o risco de doenças do sistema cardiovascular.
Descrever os mecanismos envolvidos na formação da circulação
colateral e redução de fatores de risco cardiovascular.
Reconhecer as principais alterações ventilatórias oriundas da realização do exercício físico.
Citar as principais repercussões agudas do sistema respiratório, frente ao exercício físico.
Identificar os mecanismos responsáveis pela fadiga muscular ventilatória.
Reconhecer as interações entre o processo bioenergético e as alterações promovidas no sistema
musculoesquelético, cardiovascular e respiratório que ocorrem durante o exercício físico.
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Fisiologia do Exercício
O
CONTRAÇÃO MUSCULAR E
exercício físico é um comportamento básico
EXERCÍCIO FÍSICO (BIOENERGÉTICA)
ao homem. Durante sua execução, são
desencadeados importantes ajustes neurais,
O organismo humano necessita de energia para
humorais, cardiovasculares, respiratórios, endócrinos
andar, correr, trabalhar e, até mesmo, durante o sono.
e metabólicos. O objetivo é garantir a homeostase
A produção de energia é uma condição sine qua non
do organismo, diante da grande demanda energética
para que o organismo continue a desempenhar as mais
exigida pela musculatura esquelética em atividade (1).
diversas tarefas e funções (2). Todo trabalho biológico
Na antiga Grécia, o exercício físico era realizado na
(contração muscular, transmissão nervosa, síntese
forma de ginástica e significava “a arte do corpo nu”
tecidual, produção hormonal, circulação sanguínea,
(1,2). Era usado como treinamento para a guerra. A
digestão, entre outros) depende, basicamente, do
partir do século XIX, surge na Europa o exercício físico
fornecimento contínuo de energia. Portanto, para
na escola, em forma de ginástica, jogos e dança. O
manutenção da vida, há necessidade constante de
momento deu início a novos métodos.
produção de energia. Assim, há garantia permanente
Atualmente, o exercício físico pode ser entendido
do equilíbrio fisiológico, denominado homeostase (5).
como uma situação que retira o organismo de sua
A energia que o corpo necessita é extraída,
homeostase. Ele promove alteração fisiológica
diariamente, dos alimentos, que contêm
em virtude do aumento instantâneo da demanda
carboidratos, gorduras e proteínas. A energia
energética da musculatura exercitada. E,
liberada durante a desintegração do alimento não
consequentemente, do organismo como um todo.
é utilizada diretamente para realização de trabalho.
O mecanismo provoca aumento de liberação de
Ela é transformada em um composto químico,
calor e modificação intensa do ambiente químico
denominado adenosina trifosfato (ATP). Por esse
muscular e sistêmico (1,2).
motivo, a nutrição adequada é o alicerce para o
Durante a realização do exercício de
desenvolvimento físico. A boa nutrição proporciona
natureza aeróbia, ocorre, de forma aguda, um
tanto o combustível para o trabalho biológico quanto
comportamento característico em relação às
às substâncias químicas para extrair e utilizar a
respostas cardiovasculares. Há aumento da pressão
energia potencial contida nesse combustível (5,6).
arterial (PA) e do consumo miocárdico de oxigênio,
Os alimentos apresentam elementos essenciais
traduzido pelo duplo-produto (2,3). As respostas
para a síntese de novos tecidos e reparo das
ocorrem de forma diretamente proporcional à
células existentes. Os nutrientes são divididos em
intensidade do exercício. Há, também, respostas
dois grupos (7): 1) aqueles que são capazes de
pulmonares (ventilatórias), como o aumento
produzir energia, denominados de macronutrientes
da frequência respiratória, do volume corrente,
(carboidratos, lipídeos e proteínas) e 2) os que
da ventilação alveolar e do volume minuto. As
participam do processo metabólico, facilitando a
alterações otimizarão o processo de difusão (4,5,6).
transferência de energia. Além da água, estes são
Todos os fenômenos que envolvem as respostas
os micronutrientes (vitaminas e minerais).
cardiovasculares, ventilatórias, musculares e outras,
O grande propósito do processo metabólico
só são viáveis em virtude dos complexos sistemas
denominado de respiração é transformar os
energéticos do organismo. Esses sistemas são
nutrientes, na presença de CO2 e H2O, para a liberação
capazes de manter o funcionamento do corpo em
de ATP. Após este processo, a energia química é
condições adequadas, assim como no exercício
convertida em várias outras formas, como: mecânica
leve ou intenso (7). A complexidade bioquímica e
(contração muscular e motilidade gástrica), elétrica
funcional dos sistemas geradores de energia merece
(impulsos nervosos), térmica (produção de calor
ser discutida minuciosamente. Assim, será possível,
interno). Além disso, participa como matéria prima
posteriormente, compreender melhor os efeitos
de novos compostos biológicos (hormônios, síntese
oriundos da realização regular de exercício físico (7).
e reparação tecidual). O ATP é armazenado em todas
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Fisiologia do Exercício
as células, inclusive nas musculares. Todo o trabalho novo composto transforme-se em ATP novamente
biológico só ocorre a partir da energia liberada pela (ressíntese), a CP (fosfato creatina) deve ser quebrada
desintegração (hidrólise) desse composto (8). pela ação da enzima creatina cinase, liberando
A produção de energia requer processos tanto energia que une o ADP + Pi em ATP.
aeróbicos quanto anaeróbicos. A razão é haver Ao ser quebrada, a CP transforma-se em C + Pi
quantidade limitada de ATP pronta nas células (creatina simples + fosfato inorgânico). Para que a C
musculares. Isso obriga o organismo a utilizar, + Pi volte a ser CP, é necessário que o ATP formado
regenerar e produzir novos ATP constantemente, para dentro da mitocôndria (no ciclo de Krebs1,2), seja
manter a contração muscular e outras atividades quebrado pela enzima ATPase e libere energia para
biológicas, assim como o exercício físico (9). a ressíntese da CP (12).
A principal fonte de armazenamento e liberação de A produção limitada de energia por esse sistema
energia para a contração muscular é o ATP. O músculo ocorre em função da pouca quantidade de ATP e
estriado esquelético produz ATP para sustentar a CP disponíveis nos músculos. E também devido ao
contração muscular a partir da combinação das processo de ressíntese da CP, que é extremamente
seguintes vias metabólicas (10): demorado, comparado à velocidade das reações de
1. Via ATP–CP (transferência do fosfato da creatina produção de energia pelo sistema. No organismo
fosfato: da CP para a ADP). Esta via também é humano há, em média, cerca de 80 a 100g de ATP
chamada de anaeróbica alática (AA); prontos para serem utilizados, enquanto há em torno
2. Via glicolítica (degradação anaeróbica da de 320 a 600g de CP. A recuperação desse sistema
glicose). A via também é denominada de se dá em 70% em 30 segundos e em 100% dentro
anaeróbica lática (AL); de três a cinco minutos (9,10).
3. Via oxidativa (degradação aeróbica da glicose, de
ácidos graxos e de aminoácidos na mitocôndria). SISTEMA ANAERÓBICO LÁTICO (AL) OU VIA
A via também é conhecida como aeróbica (AE). GLICOLÍTICA
No sistema AL, ou via glicolítica, a glicose é o único
Na prática, nenhum tipo de exercício ou atividade nutriente capaz de produzir ATP anaerobicamente. O
física utiliza uma única via metabólica para a produção processo ocorre no sarcoplasma pela via anaeróbica.
da ATP. O que ocorre é o predomínio de uma determinada Inicialmente, o glicogênio presente no músculo é
via, dependendo da intensidade do exercício. convertido em glicose. Em seguida, quando esta é
quebrada, há geração de duas moléculas de ATP que
SISTEMA ANAERÓBICO ALÁTICO (AA) corresponde a 5% da capacidade de uma molécula
OU ATP-CP de glicose de produzir ATP + ácido pirúvico. Se o
O sistema AA, ou ATP-CP, é capaz de gerar energia ácido pirúvico encontrar O2 insuficiente, como ocorre
durante movimentos rápidos e vigorosos em poucos neste sistema de produção de energia, o resultado é
segundos (máximo de 10 segundos). Não depende de a formação de ácido lático (13).
uma longa série de reações químicas. E não depende O ácido lático em alta concentração inibe
que o O2 captado pela respiração seja transportado a contração muscular 3. E o exercício será
até os músculos em contração (11). interrompido. Após o exercício, durante o repouso
O ATP-CP está presente nos músculos. A última ativo e passivo, o ácido lático formado e acumulado
ligação dos dois últimos fosfatos tem alta concentração é ressintetizado em glicose, no fígado. Denomina-se
de energia. Quando a ligação do ATP é rompida pela ácido lático quando a concentração analisada está
ATPase, há liberação de energia. Esta une as proteínas localizada no músculo. Quando a concentração é
contráteis dos músculos (actina e miosina) e resulta sanguínea, a nomenclatura correta é lactato.
em contração muscular. O ATP rompido transforma- A ressíntese do glicogênio muscular é mais rápida
se em ADP + Pi (fosfato inorgânico). Para que o durante as primeiras horas de recuperação, alcançando
1
Parte do metabolismo dos organismos aeróbicos (que utilizam oxigênio da respiração celular), como a fermentação lática, onde o piruvato é o receptor final de elétrons na via glicolítica, gerando
lactato.
2
O ciclo de Krebs é uma via anfibólica. Ou seja, tem reações catabólicas e anabólicas , com o objetivo de oxidar a acetil coenzima A, obtida da degradação de carboidratos, ácidos graxos e
aminoácidos a duas moléculas de CO2.
3
O acúmulo de ácido lático, resultante de um exercício intenso, provoca dor aguda ou imediata. Assim que o exercício é interrompido, a dor é aliviada. Quando a atividade física é realizada acima
da nossa capacidade, pode provocar dor em vários músculos no dia seguinte (dor tardia). É o resultado de microlesões nas fibras musculares.
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39% em duas horas e 53% em cinco horas. A pirróis estão ligados por pontes de metano, para
ressíntese completa do glicogênio muscular requer formar um anel tetrapirrólico (15).
um período de recuperação de 24 horas (12,13). O átomo de ferro no grupo heme liga-se aos quatro
nitrogênios na parte central do anel protoporfirínico.
SISTEMA AERÓBICO (AE) OU OXIDATIVO O ferro caracteriza-se por formar duas ligações
No sistema AE, a geração de energia ocorre pela via adicionais, uma em cada lado do plano do grupo
aeróbica. O processo inicial é semelhante ao sistema heme. Os pontos de ligação são denominados de
AL, onde a glicose é quebrada e produz ATP (ainda no quinta e sexta posição de coordenação. O átomo de
sarcoplasma) + ácido pirúvico. Este, ao encontrar O2 ferro pode estar no estado de oxidação ferroso (+2)
suficiente, é deslocado para o ciclo de Krebs e sofre ou férrico (+3), além das formas correspondentes da
alteração química, resultando em eliminação de CO2. hemoglobina (ferro-hemoglobina e ferri-hemoglobina).
O gás é eliminado na expiração. Ou seja, há remoção Acredita-se que somente a ferro-hemoglobina, o
de íons hidrogênio (H+) e elétrons, que entram no estado de oxidação +2, é capaz de ligar-se ao O2. A
sistema de transporte de elétrons e sofrem outras mesma nomenclatura aplica-se à mioglobina4.
modificações. Uma molécula de glicose no sistema As subunidades e da hemoglobina
AE produz 36 a 39 ATP. Há uma ordem de utilização apresentam a mesma estrutura. Porém, surgem
de nutrientes pelo sistema AE. Primeiramente, é novas propriedades de grande importância biológica
oxidada a glicose (glicólise). Posteriormente, são quando diferentes subunidades juntam-se, com o
usadas as gorduras (aerobiose) e, por último, são objetivo de formar um tetrâmero.
utilizadas as proteínas (proteólise) (14). Comparada à mioglobina, a hemoglobina é uma
molécula mais complexa e susceptível. Ela transporta
H+ e CO2, além do O2. As suas propriedades de
FISIOLOGIA DAS FONTES AERÓBICAS ligação ao O2 são reguladas por locais separados
DE ATP e não adjacentes. A hemoglobina é, portanto, uma
proteína alostérica, diferente da mioglobina. A
Na presença de oxigênio, 1 mol de glicogênio diferença é expressa de três maneiras:
é transformado completamente em CO2 e H2O, 1. A ligação do O2 à hemoglobina promove captação
liberando energia suficiente para a ressíntese de 39 de mais O2 à mesma molécula. O O2 tende a
moles de ATP. As reações do sistema do O2 ocorrem ligar-se cooperativamente à hemoglobina. Este
dentro da célula muscular, e ficam confinadas mecanismo não ocorre na mioglobina;
em compartimentos subcelulares especializados,
denominados mitocôndrias. O músculo esquelético
é repleto dessas organelas. As reações do sistema
aeróbio podem ser divididas em três séries
principais: glicólise aeróbia, ciclo de Krebs e sistema
de transporte dos elétrons (14).
A capacidade, ou propriedade, da mioglobina ou da
hemoglobina de ligar-se ao O2 está relacionada a uma
unidade não peptídica, um grupo heme.
Muitas proteínas necessitam de unidades
não peptídicas específicas. Essas unidades são
denominadas de grupos prostéticos. Uma proteína
fora de seu grupo prostético característico é
denomina apoproteína. O grupo heme constituí-
se por um componente orgânico e por um átomo
de ferro (Fig. 1). A parte orgânica, protoporfirina,
é constituída por quatro anéis pirrólicos. Os quatro Fig. 1 Representação do átomo de ferro ligado aos quatro átomos
de nitrogênio.
4
É uma proteína globular dos vertebrados. No homem, é formada por uma cadeia de 153 aminoácidos. Apresenta peso molecular de 16.700 daltons. É uma das proteínas mais simples que
transporta O2.
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e durante o exercício prolongado ajuda a reduzir recuperação rápida do O2. Posteriormente, ocorre a
o catabolismo de proteínas. Além do conteúdo fase de recuperação lenta do O2 (11).
de glicogênio, o aumento da degradação de O O2 armazenado na mioglobina auxilia a difusão
proteínas no tecido muscular durante o exercício do O2 do sangue para as mitocôndrias. Durante a fase
pode ocorrer devido a: 1) diminuição da energia de recuperação rápida, as reservas de O2-mioglobina
destinada à síntese, 2) duração da atividade, são refeitas por meio do O2 consumido imediatamente
3) ação dos hormônios glicocorticoides e 4) após o exercício. Já as gorduras são reconstituídas
redução dos níveis plasmáticos de insulina. apenas indiretamente, pelo reabastecimento de
carboidratos (glicose e glicogênio) (12).
Já durante o período pós atividade há aumento A maior parte da reserva de ATP utilizada pelo
da síntese de proteínas. O fato sugere que o período músculo durante o exercício é restabelecida poucos
de recuperação é direcionado, preferencialmente, minutos após o exercício (Quadro 1). Porém, para que
para a síntese de proteínas. Sendo assim, as o processo ocorra de forma adequada, é necessária
recomendações da ingestão de nutrientes no pós a presença de O2 que, nesse momento, encontra-se
treino, em geral, tem o objetivo de otimizar a síntese disponível na circulação sanguínea (12).
e reduzir a degradação proteica. A total recuperação das reservas de glicogênio
A Fig. 3 apresenta um esquema da integração após o exercício pode levar alguns dias (Quadro 2).
metabólica dos macronutrientes. E depende de dois importantes fatores: 1) o tipo
de exercício realizado e 2) a quantidade ingerida de
carboidratos alimentares durante a recuperação.
RECUPERAÇÃO DOS SISTEMAS APÓS O meio mais rápido, utilizado para reconstrução
do ATP, é o sistema ATP–CP. Durante a contração
O EXERCÍCIO
muscular, entretanto, a quantidade de ATP produzida
por essa via é muita pequena. E pode ser utilizada por
Imediatamente após um exercício, o consumo de
período de aproximadamente 6–10 segundos.
oxigênio (VO2) diminui rapidamente. Este processo é
Outra via de reconstrução rápida da ATP é a via
descrito, por alguns autores, como sendo a fase de
glicolítica. Esta degrada a glicose até ácido pirúvico,
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Quadro 1. Tempo de Recuperação do Sistema ATP-CP 3). Apenas por essa via ocorre produção de ATP a
Tempo % partir de ácidos graxos. A produção de ATP pela via
30seg 70 oxidativa envolve a interação entre dois mecanismos
1min 80 metabólicos: 1) ciclo de Krebs, 2) cadeia de transporte
2 a 3min 90
de elétrons. Nos exercícios prolongados, com duração
5 a 10min 100
superior a 10 minutos, a ressíntese do ATP para a
Fonte: adaptado de McArdle WD, Katch FI, Katch VL. Exercise
Physiology: Energy, Nutrition and Human Performance, 2008
manutenção da contração muscular passa a ser,
predominantemente, pelo metabolismo oxidativo.
Quadro 2. Tempo de recuperação de alguns processos
bioquímicos pós exercício
Processo Tempo
Recuperação das reservas de O2 do organismo 10 a 15seg MUSCULATURA ESTRIADA
Recuperação das reservas anaeróbio nos ESQUELÉTICA E EXERCÍCIO
2 a 5min
músculos
Eliminação do ácido lático 30 a 90min
Ressíntese das reservas intra-musculares de O exercício físico é um desafio diferente para o
12 a 48h
glicogênio músculo. Ele envolve o aprimoramento muito mais
Recuperação das reservas de glicogênio no do suprimento de energia ao músculo do que de
12 a 48h
fígado
seu tamanho (20). Os músculos contêm células de
Fonte: adaptado de McArdle WD, Katch FI, Katch VL. Exercise
Physiology: Energy, Nutrition and Human Performance, 2008 tecido conjuntivo, endoteliais dos vasos sanguíneos e
processos neuronais. Mas quase todo o tecido consiste
e produz aproximadamente 2–3 moléculas de ATP. de grandes células musculares altamente diferenciadas.
A glicose chega à célula muscular pela corrente Os componentes da célula muscular recebem nomes
sanguínea. E tem entrada facilitada pela ligação especiais: membrana (denominada sarcolema),
estabelecida entre as proteínas transportadoras citoplasma (denominado sarcoplasma) e o retículo
de glicose (GLUTs). O GLUT–4 é a proteína endoplasmático liso do retículo sarcoplasmático (20).
transportadora de glicose expressa no tecido O sarcolema é uma membrana delgada. Embaixo
muscular esquelético, cardíaco e adiposo (18). dela estão situados os núcleos celulares. Uma pequena
Na célula muscular, cerca de 10 a 15% da porcentagem desses núcleos é representada por células
quantidade total do GLUT-4 localiza-se no retículo satélites (CS), que podem ser fontes importantes de
sarcoplasmático. Durante o exercício, grande parte regeneração muscular após uma lesão (21).
dos GLUTs armazenados no retículo sarcoplasmático As células satélites são indiferenciadas e
migra para o sarcolema, aumentando a captação mononucleadas, cuja membrana basal está em
da glicose pela célula muscular (19). As duas vias continuidade com a membrana basal da fibra
de ressíntese do ATP, a ATP-CP e a glicolítica, muscular. Elas fazem parte de uma população
têm grande importância na contração muscular, de células com grande atividade mitogênica.
principalmente enquanto ainda não existe O2 Contribuem para o crescimento muscular pós-
disponível. Porém, cabe ressaltar que a glicólise natal, o reparo de fibras musculares danificadas
anaeróbica apresenta, como produto final de suas e a manutenção do músculo esquelético adulto.
reações, o ácido lático. E este limita a continuação Adiante, essas células tão essenciais para a
da atividade física por períodos prolongados (14). regeneração muscular, serão elucidadas (21, 22).
A via oxidativa é a mais eficiente na produção de O sarcoplasma contém mioglobina, tecido
ATP e requer a utilização de O2 mitocondrial (Quadro adiposo, glicogênio, fosfocreatinina, ATP e centenas
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O edema aumenta a chance de inflamação aguda, A origem das células satélites ainda não está
que dá início à produção de ácido araquidônico. Este, definida. Há uma hipótese de que elas se originem
por sua vez, sintetiza as prostaglandinas, que ativam de células pluripotenciais da mesoderme dos
as terminações nervosas da dor celular, gerando a somitos (37). Outros sugerem que elas são derivadas
substância P , que ativa os mastócitos no citosol. de células pluripotenciais de origem não somítica,
A hipóxia continuada provoca dano celular irreversível, como as células endoteliais (38).
evidenciado pela vacuolização intensa da mitocôndria, As células satélites musculares fazem parte de uma
pela desintegração da membrana plasmática, pelo população de células com grande atividade mitogênica.
influxo intracelular de cálcio, pelo desenvolvimento de Elas contribuem para o crescimento muscular pós-
proteínas essenciais, coezimas e ácidos ribonucleicos, natal, o reparo de fibras musculares danificadas e a
e pelo vazamento acelerado de metabólitos. Nessa manutenção do músculo esquelético adulto. Foram
conjuntura, a morte celular é iminente. assim denominadas por sua localização anatômica na
periferia de fibras musculares multinucleadas maduras
REGENERAÇÃO CELULAR (27). São células indiferenciadas e mononucleadas,
Antes que o processo de cicatrização possa ser cuja membrana basal está em continuidade com a
iniciado, os estímulos responsáveis pela lesão inicial membrana basal da fibra muscular (39).
precisam ser removidos. O processo de recuperação Enquanto o tecido muscular esquelético mantém-
começa com a minimização da resposta inflamatória, se livre de agressões, as células satélites permanecem
que ocorre com o tecido pós lesão. em estado de quiescência (repouso). Entretanto,
O processo de regeneração obedece a uma em resposta a estímulos, como crescimento,
sequência estruturada. A lesão, em seu estágio inicial, remodelação ou trauma, as células satélites são
provoca a ruptura da estrutura celular. Os macrófagos e ativadas, proliferam-se e expressam marcadores
linfócitos T infiltram-se no tecido, via vasos sanguíneos. da linhagem miogênica. Neste estado, também são
A membrana basal da célula muscular atua como guia denominadas mioblastos. Essas células se fundem às
para os mioblastos desenvolverem-se e fundirem-se. O fibras musculares já existentes ou se fundem às células
objetivo é formar novas fibras musculares. As células satélites vizinhas, para gerar novas fibras musculares.
satélites sobreviventes se dividem, amadurecem Há evidências de que as células satélites constituem
para mioblastos e formam novos miotubos dentro da uma população bastante heterogênea. Algumas
célula muscular. E o desenvolvimento subsequente podem sofrer diferenciação imediata, sem divisão
obedece à sequência embriônica. prévia, enquanto outras primeiramente proliferam,
Uma nova abordagem a respeito da regeneração gerando uma célula filha para diferenciação e outra
muscular foi apresentada por Foshini et al (34). Esses para futura proliferação (40). Um estudo demonstrou
investigadores acreditam que as células satélites, que apenas 50% das células satélites que proliferam
encontradas em sua maioria nas fibras musculares entram em fase final de diferenciação, expressando a
oxidativas ou de contração lenta, possibilitem o reparo proteína miosina do desenvolvimento (41).
das fibras musculares danificadas, acometidas por Morfologicamente, as células satélites quiescentes
traumas, e a manutenção do músculo esquelético adulto. diferem das ativadas por apresentarem alta relação
núcleo/citoplasma, com poucas organelas, núcleo
CÉLULAS SATÉLITES MUSCULARES menor quando comparado com os núcleos adjacentes
A musculatura esquelética tem grande capacidade da fibra muscular e aumento da heterocromatina
de adaptação às demandas fisiológicas, como nuclear, comparada à do mionúcleo (30, 31). Quando
no crescimento, no treinamento e no trauma. ativadas, há redução da heterocromatina, aumento
As fibras musculares esqueléticas adultas são, na relação citoplasma/núcleo e no número de
caracteristicamente, bem diferenciadas. E esse alto organelas intracelulares (26, 30).
potencial adaptativo é atribuído a uma população de Charifi et al (26) e Charge et al (30) descrevem as
células residentes no músculo esquelético adulto, seguintes respostas sobre o exercício físico e as células
denominadas células satélites (35, 36). satélites:
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Fig. 4 Calibres, espessuras endoteliais e parietais, tecido elástico, muscular e fibroso dos componentes vasculares do sistema cardiovascular.
Biofísicamente, os maiores calibres aumentam a condutância e diminuem a resistência. Esta relação é inversa nos vasos de calibre menor. A
maior quantidade de tecido elástico tende a auxiliar na dissipação da onda sistólica e na impulsão anterógrada do sangue na diástole. O gradiente
muscular caracteriza maior vasoatividade, enquanto o gradiente fibroso caracteriza maior proteção parietal à deformação.
Fonte: adaptado de Bufton, 1966.
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O SNA é o principal meio controlador da FC e da por variações na frequência dessa descarga tônica.
PA, embora outros fatores possam alterá-las, como as Geralmente, há redução associada da atividade tônica
mudanças de temperatura e o estiramento tecidual. das fibras vagais para o coração. O principal controle
O SNA é organizado com base no arco reflexo, onde da PA é exercido por grupos de neurônios no bulbo
os impulsos iniciados em receptores viscerais são que, algumas vezes, são denominados, em conjunto,
enviados, pelas vias autonômicas aferentes, para como área vasomotora ou centro vasomotor.
o SNC. Neste são integrados em vários níveis e O coração recebe inervação motora do SNA,
transmitidos, por vias eferentes, para os efetores tanto simpático como o parassimpático. Os efeitos
viscerais. As vias eferentes autonômicas são divididas das ativações destes dois sistemas refletem na FC,
em: simpática e parassimpática. Ambas as divisões na condução AV e na força de contração. Estes são
influenciam tonicamente o nódo SA. O sistema nervoso referidos como efeitos cronotrópico e inotrópico,
simpático (SNS) intensifica o automatismo. Já o respectivamente.
sistema nervoso parassimpático (SNP) o inibe (48). Os
efeitos das ativações destes dois sistemas influenciam Vias Parassimpáticas
a FC, a condução AV e a força de contração (49). Os nervos parassimpáticos originam-se no bulbo,
As alterações da FC envolvem reciprocidade entre em células situadas no núcleo motor dorsal do vago,
as divisões do SNA. Sendo assim, em condições no núcleo solitário e no núcleo ambíguo. O trato de
fisiológicas, os dois sistemas, SNS e SNP, atuam saída cranial consiste de fibras pré-ganglionares
simultaneamente. Há predominância de um ou de em alguns nervos cranianos. Para o coração, é o
outro, com o objetivo de adequar, a cada instante, nervo vago. Os gânglios localizam-se em íntima
a atividade do coração à sua função primordial de relação com o orgão-alvo. Os neurônios pós-
bombear sangue e perfundir adequadamente todos ganglionares são muito curtos, quando comparados
os tecidos (48). A FC eleva-se quando há redução àqueles do SNS. Suas terminações nervosas são
da atividade parassimpática e aumento da simpática denominadas fibras colinérgicas, em analogia ao
(47,49). E diminui com o padrão oposto. Geralmente, seu neurotransmissor, a acetilcolina (49).
o tônus parassimpático predomina nos indivíduos Os nervos vagos direito e esquerdo são distribuídos
sadios em repouso. Os impulsos nos nervos simpáticos para diferentes estruturas cardíacas. O nervo direito
(noradrenérgicos) para o coração aumentam a afeta, predominantemente, o nódo SA. A estimulação
FC (efeito cronotrópico). Já os impulsos nas fibras desse nervo desacelera a atividade do nódo SA. E
cardíacas vagais (colinérgicas) reduzem a FC. pode pará-lo por alguns segundos. O nervo vago
Os mecanismos básicos que regulam o volume esquerdo inibe, principalmente, o tipo de condução AV.
bombeado pelo coração devem-se: 1) à regulação No entanto, a distribuição das fibras vagais eferentes
intrínseca do bombeamento, em resposta às variações é sobreposta. Dessa forma, a estimulação vagal
do volume de sangue que flui para o coração, e 2) esquerda também deprime o nódo SA. E a estimulação
ao controle do coração pelo SNA. A inervação vagal direita impede a condução AV. Geralmente, as
parassimpática, pelo nervo vago, é muito abundante influências parassimpáticas são preponderantes sobre
na musculatura atrial e nódos SA e AV. E é escassa os efeitos simpáticos no nódo SA (48).
nos ventrículos. A inervação simpática se distribui A estimulação dos nervos parassimpáticos produz
extensamente pelas quatro câmaras. Os nódos, os três efeitos importantes sobre o coração. O primeiro
tecidos especializados em condução e, também, o é a diminuição da FC. O segundo é a diminuição em
miocárdio, são muito bem inervados. 20 a 30% da força de contração do miocárdio atrial.
A FC em repouso do adulto sadio é de E o terceiro é a condução retardada dos impulsos pelo
aproximadamente 60 a 100 batimentos por minuto. nódo AV, que alonga o retardo entre as contrações
Durante a atividade física, ela pode ultrapassar esses atrial e ventriculares. Durante o exercício extenuante,
valores. Em atletas, a FC de repouso aproxima-se a FC aumenta por inibição parassimpática adicional
de 50 batimentos por minuto. Os nervos simpáticos e por ativação direta dos nervos cardioaceleradores
que contraem as arteríolas e veias, e aumentam simpáticos. A magnitude da aceleração da FC está
a FC, disparam de forma tônica. A PA é ajustada relacionada diretamente à intensidade e à duração
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Fisiologia do Exercício
é extraída maior quantidade de oxigênio do sangue entre repouso e exercício, onde o organismo
arterial. Em condições de repouso são transportados necessita ajustar-se às demandas metabólicas, com
aproximadamente 20mL/O2/100mL de sangue, o objetivo de manter a homeostase.
combinado na hemoglobina. Cerca de 5mL desse A ativação cardiovascular durante a realização
oxigênio são utilizados pelos capilares teciduais. A do exercício é determinada por dois componentes
diferença nos valores de oxigênio transportado no específicos, um de origem central (comando central)
sangue arterial e o que deixa os tecidos (venoso misto) e outro de origem periférica (reflexo muscular).
é denominado de diferença artério-venosa (Dif A – vO2).
Durante o exercício progressivo, a Dif A-vO2 COMANDO CENTRAL
aumenta tanto em indivíduos sedentários como em Um mecanismo capaz de ativar a circulação
treinados. Entretanto, sabe-se que a contribuição da durante o exercício é denominado de comando
Dif A-vO2 no suprimento sanguíneo de oxigênio para a central (Fig. 6). Muitos autores têm relacionado o
musculatura é expressivamente menor que a do DC. comando central com o componente voluntário
Com o treinamento físico, acredita-se que o aumento para a realização exercício. Apesar de não ter sua
da captação de oxigênio no nível tecidual deva- localização anatômica precisa, o comando central
se a elevação da densidade capilar, decorrente do funciona como um mecanismo antecipatório para a
aumento da quantidade de mitocôndrias. ativação das respostas cardiovasculares.
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Fisiologia do Exercício
Fig. 6 Modelo hipotético de integração neural associada ao reajuste vasomotor e barorreflexo arterial, que ocorre na transição do repouso para o
exercício. O principal determinante dessa redefinição é o mecanismo de feedforward (antecipação), decorrente do comando central. Posteriormente,
o reflexo pressor do exercício e a entrada dos barorreceptores cardiopulmonares. Observa-se o deslocamento do ponto operacional e o barorreflexo
em uma posição mais ideal para neutralizar estímulos hipertensos durante o exercício. NTS = Núcleo do Trato Solitario. SNS = Sistema Nervoso
Simpático; SNPS = Sistema Nervoso Parassimpático.
Fonte: adaptado de Raven et al, Exp Physiol 91, 2006 (51).
muscular pode ser ativado. O objetivo é sinalizar de pressão encontrada nas extremidades deste
um erro de fluxo e contribuir para a modulação da elemento. E é inversamente proporcional à viscosidade
atividade autonômica eferente cardiovascular. sanguínea e a seu comprimento (Q = r pR4/8nL).
O metabolismo do tecido cardíaco depende, quase
exclusivamente, da fosforilação oxidativa. Dessa forma,
EXERCÍCIO FÍSICO E PERFUSÃO o fornecimento adequado para os miócitos é essencial
para o desempenho das funções contráteis do coração.
MIOCÁRDICA
Considerando que a extração de O2 aumente de forma
modesta durante o exercício físico, o fluxo coronariano
O fornecimento de O2 para o músculo cardíaco,
precisa aumentar de quatro a seis vezes para que a
assim como para qualquer tecido do corpo humano,
necessidade miocárdica de O2 seja mantida. Esse
é dependente do fluxo sanguíneo e do conteúdo
fenômeno ocorre, principalmente, pelo aumento do
arterial de O2 deste elemento.
raio das principais artérias do coração e pela redução
O fluxo coronariano é dependente de fatores
da resistência dos vasos na microcirculação.
intrínsecos e extrínsecos ao leito vascular. Entende-
Para obtenção de energia, o miocárdio mobiliza
se como fator intrínseco a presença de produtos
40% de açucares e 60% de ácidos graxos. Apresenta,
metabólicos e neurais que modulam a resistência
também, possibilidade de utilização de ácido lático.
coronariana.
Durante pequenos períodos de ausência de O2,
A contração miocárdica durante a sístole
o miocárdio apresenta pequenos depósitos de
ventricular, por sua vez, restringe o fluxo coronariano,
glicogênio, que podem ser utilizados anaerobicamente.
principalmente na região mais próxima ao endocárdio.
A lei de Poiselle descreve que o fluxo laminar em
determinada estrutura é diretamente proporcional
à quarta potência do raio desse vaso, à diferença
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Fisiologia do Exercício
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Fig. 7 Variação individual no diâmetro da luz da artéria coronariana em resposta à acetilcolina (7,2 mg/min) pré exercício e após quatro semanas
de exercício físico. Observa-se uma variação média significativa após quatro semanas (p <0,05). Os valores negativos apontam para a diminuição
de diâmetro. Cada linha representa a mudança de um indivíduo, com valores descritos em média e erro padrão.
Fonte: adaptado de Hambrecht et al, N Engl J Med, 342, 2000 (54)
Fig. 8 Variação individual do fluxo sanguíneo coronariano em resposta a acetilcolina (7,2 mg/min) pré exercício e após quatro semanas de exercício
físico. Observa-se uma variação média significativa após quatro semanas (p <0,01). Os valores negativos apontam para a diminuição de diâmetro.
Cada linha representa a mudança de um indivíduo, com valores descritos em média e erro padrão.
Fonte: adaptado de Hambrecht et al, N Engl J Med, 342, 2000 (54)
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SISTEMA RESPIRATÓRIO E
EXERCÍCIO FÍSICO
Fig. 9 Visão esquemática do mecanismo de formação de circulação
colateral após realização de exercício físicio em portadores de
coronariopatias. Representação dos diversos vasodilatadores e A função básica do sistema respiratório é suprir o
vasoconstritores. organismo com O2 e remover o CO2 do metabolismo
Fonte: adaptado de Duncker et al, Physiol Rev, 88, 2008 (56).
celular. Os movimentos fásicos de entrada e saída
de gás dos pulmões constituem o processo da
AUMENTO DO TEMPO DE PERFUSÃO
ventilação (57).
DIASTÓLICA
Os dois componentes básicos, responsáveis pela
O fluxo sanguíneo é comprometido durante a
composição do sistema respiratório, são os pulmões, que
sístole ventricular. A perfusão miocárdica é realizada,
estão diretamente envolvidos no processo de hematose,
preferencialmente, na diástole. Existem evidências
e a bomba muscular respiratória, caracterizada pela
na literatura de que um programa de exercício físico
ação dos músculos respiratórios (57).
realizado por período de um ano, em pacientes
A bomba respiratória é responsável pelos
coronariopatas, reduziu a FC basal. E ocasionou
movimentos da caixa torácica. Na inspiração é realizada
maior tempo de perfusão diastólica em repouso.
a expansão da caixa torácica. E a pressão intratorácica
apresenta-se negativa. Com isso, gera um gradiente
pressórico que favorece o fluxo inspiratório (58).
Fig. 10 Escore de circulação colateral no início do estudo e após oito semanas, nos grupos exercíco físico e controle. Dos 12 pacientes
treinados, todos melhoram o escore de circulação colateral após o exercício físico. A média de pontos para a formação de circulação colateral
aumentou significativamente (0.7560.75 vs. 2.560.8). Em contrapartida, dos 11 pacientes do grupo controle, nove apresentaram alterações
e um reduziu a pontuação.
Fonte: adaptado de Belardinelli et al, Circulation, 97, 1998 (55).
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Fisiologia do Exercício
Fig. 11 Angiografia de um homem de 49 anos de idade, com infarto agudo do miocárdio prévio (há sete meses) e redução da função ventricular
esquerda (fração de ejeção de repouso de 28%). Distribuição do fluxo coronariano em três projeções, com infusão de baixa dose de dobutamina.
A = antes do exercício e B = após exercício. No período pré exercício, observa-se redução acentuada da captação de tálio, principalmente nos
segmentos ântero-septal e anterior. Após oito semanas de exercício, observa-se melhora evidente da capitação de tálio nos segmentos ântero-
septal e anterior.
Fonte: adaptado de Belardinelli et al, Circulation, 97, 1998 (55).
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Fisiologia do Exercício
(62). O diafragma movimenta-se em sentido caudal. ação, durante o processo de contração (Fig. 13 ). Os
Durante o movimento inspiratório, ele pode descer mecanismos são:
por volta de 1 a 3cm, com aumento de diâmetro de 1. Utilização do diafragma como fulcro, sobre
270cm3/cm. Em condições de esforço ventilatório, o qual repousa. Dessa forma, a orientação
como em condições de exercício, a incursão pode cefalocaudal e a curvatura de suas fibras
atingir até 10cm. A movimentação do diafragma é auxiliam na insuflação. Isso leva à expansão
0,5cm menor em mulheres. do gradil costal, quando estes se encurtam
A hemicúpula diafragmática esquerda localiza-se, (componente insercional) (59).
geralmente, no espaço intercostal, abaixo da direita. 2. Por meio da zona de aposição. Durante a
Posteriormente, as hemicúpulas diafragmáticas contração, o diafragma transmite, para a parede
encontram-se ao nível das décima e décima primeira torácica, aumento da pressão abdominal. Isso
costelas. Quando considerada anteriormente, a acarreta uma ação expansiva sobre o gradil
hemicúpula diafragmática direita localiza-se ao nível costal (componente aposicional) (59).
das sexta e sétima costelas. O processo de contração 3. A curvatura diafragmática apresenta o raio
das hemicúpulas diafragmáticas é simultâneo (63). (r) que, com base na lei de Laplace (P=2T/r),
A inervação do diafragma é realizada pelos determina a real capacidade de o diafragma
nervos frênicos. Cada nervo frênico conduz fibras gerar força (59).
motoras para a metade do diafragma. E para as
fibras sensitivas do diafragma e da pleura. Fibras O diafragma de um indivíduo adulto apresenta 80%
vasomotoras vão para as artérias do diafragma. de fibras resistentes à fadiga, em uma proporção de
Suas raízes originam-se em C5, C6 e C7 (59). 55% do tipo I e 25% do tipo IIA. As fibras musculares
As fibras do diafragma apresentam área secional diafragmáticas têm maior densidade mitocondrial,
menor que os demais músculos estriados esqueléticos quando comparadas aos demais músculos estriados
dos membros. Em virtude de o número de capilares esqueléticos (64).
que circundam cada fibra ser similar, a distância para A movimentação do diafragma tem correlação
a difusão é reduzida. Isso leva à oxigenação mais importante não apenas com a mecânica respiratória.
eficaz no diafragma do que nos demais músculos. Mas, também, com o retorno venoso. A razão
Portanto, facilita o processo de ventilação durante a é o aumento da pressão abdominal que ocorre
realização de exercícios físicos (63). concomitantemente à descida do diafragma,
A organização anatômica do diafragma é a base facilitando o retorno venoso (63).
para o entendimento dos seus três mecanismos de
Fig. 13 Imagem 3D do diafragma (verde) e gradil costal (pontos brancos). Possibilita visualização da função diafragmática nas situações de: a)
capacidade pulmonar total, b) capacidade residual funcional, c) volume residual.
Fonte: adaptado de Cluzel et al, Radiology, 2000 (59).
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Fisiologia do Exercício
METABORREFLEXO
Estudos envolvendo respostas cardiovasculares
oriundas da ativação da musculatura esquelética datam
de 1937. E foram realizados por Alan e Smirk. Foi
demonstrado que as respostas relativas à PA, advindas
da realização do exercício, eram mantidas pela isquemia
pós exercício, verificada nos membros ativos. Foi
sugerido que estas respostas tinham suas origens em
fibras musculares aferentes, decorrentes da ativação de
metabolitos aprisionados nos isquêmicos. Somente na
década de 70 houve maior desenvolvimento de estudos
Fig. 14 Exemplo de atividade eletromiográfica registrada das porções focados nas investigações decorrentes dos reflexos
dorsais e ventrais dos músculos intercostais externos.
Fonte: adaptado de De Troyer et al. J Physiol 546, 2003 (68).
promovidos pelos músculos em atividade.
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Fisiologia do Exercício
Fig. 15 Metaborreflexo dos Músculos Ventilatórios. Modelo teórico para fadiga muscular ventilatória em virtude da ativação da musculatura
periférica.
Fonte: Adaptado de Dempsey e cols, 2006 (71).
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