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PUC-SP
São Paulo
2016
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC-SP
Dissertação apresentada à
Banca Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial
para obtenção do título de
MESTRE em Ciência da
Religião, sob a orientação do
Prof. Dr. Frank Usarski
São Paulo
2016
Banca examinadora
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“Sempre afirmei e continuo afirmando:
quem deseja ser feliz deve primeiramente
tornar feliz seus semelhantes, pois a divina
recompensa que disso provém será a
verdadeira felicidade. Buscar a própria
felicidade com o sacrifício alheio é criar
infelicidade para si mesmo.”
Mokiti Okada
Agradecimentos
Agradeço à CAPES pela bolsa concedida, pois sem esta não seria
possível a iniciação e conclusão deste trabalho.
Agradeço igualmente à Fundação São Paulo, pela bolsa concedida, pois
sem ela não seria possível a iniciação e conclusão deste trabalho.
Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Frank Usarski, por ter-me conduzido
a um nível mais elevado de aprendizado.
Agradeço aos professos Deborah Pereira e João Décio Passos pela
acolhida.
Agradeço especialmente ao meu querido e amado avô, Emile Zola Pereira
Mendes (in memoriam), que sempre investiu em minha educação.
Agradeço à Andreia Bisulli, pelo carinho e dicas nos momentos em que
eu não enxergava uma saída.
Resumo
ABREVIATURAS .............................................................................................................. 8
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................................. 9
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 12
CAPÍTULO I – SOBRE A INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL OU “QS” ........................................... 15
I.1. Primeira aproximação........................................................................................ 15
I.2. A construção do conceito de inteligência espiritual ............................................ 17
I.3. A relação entre o QS e a configuração do indivíduo .......................................... 21
I.4. O conceito de felicidade segundo o QS ............................................................. 25
I.5. A busca pelo sentido ......................................................................................... 27
I.6. Mercado, marketing, pessoas “3.0” ................................................................... 29
I.7. O líder segundo a inteligência espiritual ............................................................ 31
CAPÍTULO II – INTELIGÊNCIA E ESPIRITUALIDADE............................................................ 35
II.1. Breve panorama introdutório ............................................................................ 35
II.2. A contextualização do conceito de inteligência ................................................. 36
II.2.1. A arquitetura da mente............................................................................... 36
II.2.2. O processamento do pensamento criativo ................................................. 39
II.2.3. A mentalidade cognitiva fluida.................................................................... 40
II.2.4. Comparativo da evolução da mente ........................................................... 41
II.2.5. O mapa das inteligências ........................................................................... 42
II.2.6. Inteligência emocional................................................................................ 46
II.2.7. QI – quociente de inteligência .................................................................... 47
II.3. A contextualização do conceito de espiritualidade ............................................ 47
II.3.1. A espiritualidade – contexto religioso ......................................................... 48
II.3.2. As práticas espirituais ................................................................................ 48
II.3.3. Espiritualidade em tempos contemporâneos .............................................. 50
II.3.4. Espiritualidade e psicologia ........................................................................ 51
II.3.5. Experiências de espiritualidade e cérebro .................................................. 53
II.3.6. Espiritualidade e marketing ........................................................................ 54
II.3.7. Espiritualidade nas empresas .................................................................... 57
II.4. Espiritualidade no ambiente de trabalho ........................................................... 61
II.4.1. A espiritualidade no local de trabalho......................................................... 66
II.4.2. O mapa de sentido ..................................................................................... 71
II.4.3. Parcerias espirituais e parcerias no trabalho .............................................. 76
CAPÍTULO III – ANÁLISE CRÍTICA DO CONCEITO DE INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL .................. 79
III.1. Apresentação dos termos da análise ............................................................... 79
III.1.1. A inteligência espiritual no âmbito acadêmico da inteligência ................... 79
III.1.2. A inteligência espiritual no âmbito acadêmico da espiritualidade .............. 84
III.1.2.1. Práticas relacionadas à espiritualidade ............................................... 85
III.1.2.2. Afinidades entre a inteligência espiritual e a espiritualidade ............... 86
III.1.2.3. Inteligência espiritual e espiritualidade: distinção de conceitos ........... 87
III.2. A inteligência espiritual em comparação à "workplace spirituality"................... 89
III.2.1. Liderança espiritual inteligente na "workplace spirituality" ......................... 90
III.2.2. A workplace spirituality dentro do conceito de inteligência espiritual –
críticas e controvérsias ........................................................................................ 92
III.2.3. Imagem de empresas bem-sucedidas que enfatizam a "workplace
spirituality" no conceito de inteligência espiritual .................................................. 95
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 98
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 101
Introdução
12
Já o psicólogo Robert Emmons (2000) aborda o conceito de inteligência
espiritual como a relação da experiência religiosa e ética e o uso adaptativo que
se faz da informação espiritual como provedora de capacidade que abarca a
transcendência humana, o sentido e os comportamentos virtuosos, a fim de
facilitar a vida cotidiana.
Frances Vaughan (2003) afirma que inteligência espiritual é a capacidade
para compreender com profundidade as questões existenciais por meio de
distintos níveis de consciência, indo além de uma habilidade mental. Ou seja,
trata-se da conexão da vida pessoal com o transpessoal, do Eu com o espírito.
Na obra de Tony Buzan (2001), defende-se a ideia de que a inteligência
espiritual no âmbito dos negócios empresariais, além de capacitar para viver
experiências na busca de sentido, serviria para lidar com problemas profissionais
através de atitudes altruístas e solidárias, ajudando inclusive a aumentar os
rendimentos.
Francesc Torralba (2013) pondera que a inteligência espiritual habilita a
levar a cabo os variados aspectos da vida e salienta que não se deve confundi-
la com a consciência religiosa. Para o autor, o fato de o indivíduo possuir essa
forma de inteligência permite-lhe a vivência da experiência religiosa. Para ele, a
inteligência espiritual é um dado antropológico, não uma questão de fé.
Isabel Gómez Vilalba (2014) e Hermínia Prado Godoy (2010) pesquisam
a espiritualidade na educação, tendo estudos sobre a inclusão do tema na
construção de um currículo interdisciplinar na educação. Hermínia é doutora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e faz parte de dois grupos de
estudos e pesquisas sobre espiritualidade na instituição: GEPI e INTERESPE.
David King (2008) entende que a inteligência espiritual é própria dos
filósofos, pois transcende a inteligência lógico-matemática, pois seu pensar
penetra nas questões existenciais e capacita para um pensamento crítico que
contempla a natureza da existência, o universo, o tempo.
Além dos autores citados acima, existem pesquisas acadêmicas que se
referem ao estudo empírico e teórico da espiritualidade e inteligência espiritual
nas áreas de administração de empresas, pedagogia e teologia.
Essas pesquisas abordam a experiência da espiritualidade e sua relação
com o desempenho dos trabalhadores, educação espiritual e espiritualidade nas
empresas.
13
Já existem na Europa e nos Estados Unidos publicações virtuais sobre a
temática da inteligência espiritual (KING, 2008) que ajudam na discussão sobre
o tema, o que não deixa de ser um indicativo de um crescente interesse literário
pelo assunto.
No âmbito da Ciência da Religião, alguns estudos de mestrado e
doutorado abordam temas como a relação entre espiritualidade e a formação do
administrador na contemporaneidade e a espiritualidade no mundo corporativo,
mas não especificamente sobre inteligência espiritual.
A Ciência da Religião já transcendeu os limites de estudos das religiões
no âmbito institucional. Cabe então, a Ciência da Religião estudar esse
fenômeno, impelida por conhecer mais sobre o conceito, acompanhando as
mudanças e inovações, para saber se se trata de uma nova modalidade de
espiritualidade.
Isso tudo reflete a pluralidade interdisciplinar do conceito de inteligência
espiritual, em um mundo cada vez mais interconectado, o que corrobora para
que a Ciência da Religião, com sua estrutura multidisciplinar, estude o
neologismo a fim de tentar entender como se processa a configuração inspirada
pela discussão em outras áreas citadas anteriormente.
A proposta desta dissertação é apresentar esse novo conceito de
inteligência espiritual, cunhado por Danah Zohar e Ian Marshall, e desvendar o
processamento desse conceito do ponto de vista antropológico.
Analisaremos esse novo conceito em três capítulos. O primeiro capítulo
será dedicado à apresentação dos principais aspectos sobre a inteligência
espiritual. A pesquisa procede no segundo capítulo, quando abordaremos a
inteligência na origem do pensamento criativo e racional; em seguida
pontuaremos os elementos da espiritualidade e como se desenvolve a
espiritualidade no ambiente de trabalho. No terceiro capítulo faremos uma
análise comparativa com base no conceito de inteligência espiritual.
14
Capítulo I
Sobre a inteligência espiritual ou “QS”
15
Rio Grande do Sul), ministrando o workshop "QS – conectando o 'cérebro
corporativo' a uma liderança com propósito e motivação".
Ambos são autores do livro Inteligência espiritual. QS – aprenda a
desenvolver a inteligência que faz a diferença, que relaciona os conceitos de
inteligência e espiritualidade. Publicada em Londres no ano 2000, essa é a obra
inaugural do conceito e das discussões subsequentes sobre a inteligência
espiritual. Foi traduzida para a língua portuguesa e publicada no Brasil em 2012,
depois de ter sido publicada em outros 27 idiomas. A edição brasileira é dividida
em cinco partes: I – “O que é QS”; II – “A prova científica da inteligência
espiritual”; III – “Um novo modelo do Eu”; IV – “Usando o QS”; e V – “Podemos
melhorar nosso QS?”.
Depois de estabelecer o conceito, Zohar e Marshall publicaram outras
obras relacionadas ao tema, como Capital Espiritual, SQ: Connecting with our
Spiritual Intelligence, O ser quântico e SQ – Spiritual Intelligence: The Ultimate
Intelligence, esta última escrita em coautoria com o psicólogo e escritor Daniel
Goleman.
A partir da introdução do conceito, outros autores escreveram livros e
utilizaram a temática da inteligência espiritual como referência ou conceito
central. O tema aparece em pelo menos 795 citações. Entre os autores que
utilizaram o conceito estão B. Mac Gilchrist, J. Reed e K. Myers (2001), J. R.
Carrette (2005), R. King (2005), S. Cartwright e N. Holmes (2006), R. Gill (2011)
e M. J. Johnstone (2015).
O tema é tratado nos contextos da bioética, da enfermagem, da psicologia
do trabalho, da educação básica, das novas formas de liderança, da aquisição
silenciosa da religião e de novas formas de marketing. As áreas que concentram
o maior volume de estudos são as da psicologia, administração de empresas,
pedagogia e filosofia.
Vale observar que, a despeito das possíveis representações não
acadêmicas de um conceito como o de inteligência espiritual – em contextos
como o da literatura de autoajuda, por exemplo –, é perfeitamente possível
observar, ao relacionar os trabalhos, a seriedade com que o tema é encarado
pelo universo acadêmico.
16
I.2. A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL
Para construir seu conceito, Danah Zohar e Ian Marshall fizeram uma
profunda pesquisa dos trabalhos de 137 autores que investigaram as relações
entre “espiritualidade” e “inteligência”. Entre eles, figuram nomes como John
Locke, Thomas Kuhn, Sigmund Freud, William James, Carl Gustav Jung, Viktor
Frankl, Joseph Campbell, Daniel Goleman, Geoffrey Ahern, Margaret Boden,
David Bohm, S. L. Bressler, Jean Chevalier, Howard Gardner, W. Singer, James
Hillman, Julian Houston e Claridge Gordon.
Seu conceito de uma nova forma de inteligência, contudo, toma forma a
partir da apropriação e expansão da Teoria das Múltiplas Inteligências, de
Howard Gardner.
A inteligência espiritual, QS (quociente espiritual) ou inteligência da alma
seria o principal fator de referência para determinar de que maneira abordar e
solucionar questões de sentido e valor, “a inteligência com a qual podemos
inserir nossos atos e nossa vida em um contexto mais amplo, mais rico, mais
gerador de significado” (ZOHAR; MARSHALL, 2012, p. 17). Essa inteligência,
segundo os autores, propicia uma avaliação mais consistente de uma ação ou o
porquê de a escolha de um determinado caminho na vida ter mais sentido do
que outro.
Esse porquê, de fato, assume valor exponencial em uma civilização
marcada pela instabilidade, em que mudanças rápidas, ambiguidades e
incertezas fazem com que o indivíduo se sinta exaurido, inseguro e desprotegido.
Diante disso, os autores propõem o desenvolvimento do quociente espiritual
(daqui para a frente, QS), inteligência capaz de formular e revogar criativamente
as regras para estabelecer uma nova visão de cada situação existencial, mesmo
as mais singelas.
A natureza do cérebro é conservadora; as mudanças de hábitos,
sentimentos e pensamentos são demoradas. As complexas estruturas cerebrais
registram cada fato ao longo da história de cada indivíduo, em uma arquitetura
fascinante que se assemelha à dos becos tortuosos e prédios amontoados de
antigas cidades.
O QS, observam Zohar e Marshall, não mantém conexão necessária com
a religião, podendo ser elevado em indivíduos autodeclarados “ateus” e reduzido
17
em pessoas que se consideram “religiosas”. A chave reside em que o indivíduo
com alto grau de QS poderia praticar qualquer religião, mas sem preconceito,
fanatismo, exclusividade ou estreiteza. Do mesmo modo, sem ser absolutamente
“religioso”, ele poderia ter qualidades extraordinariamente espirituais.
Segundo os autores, um QS devidamente desenvolvido seria capaz de
ampliar a criatividade da pessoa, participando ainda de mudanças de regras e
situações. Ele também permitiria fazer escolhas acerca das questões associadas
ao bem e ao mal, inerentes a cada ser humano.
O QS diferiria das demais inteligências por ser o embasamento
necessário para o funcionamento eficaz do QI (quociente de inteligência ou
inteligência intelectual) e do QE (quociente emocional ou inteligência emocional),
sendo o QS (quociente espiritual ou inteligência espiritual) a inteligência final, em
condições ideais de promover o funcionamento das três inteligências juntas e
apontar, como resultado, para um novo direcionamento de pensamento e
emoção ao indivíduo que se propõe a desenvolver esse tipo de inteligência.
Tal processo, ao contrário do que preconizou por muito tempo o
paradigma ocidental, não é exclusivamente lógico e racional. Pensamos não só
com a “cabeça”, friamente, mas também com as emoções, o corpo (QE) e o
espírito, as visões, esperanças, percepção de sentido e valor (QS).
A diferença principal entre QE e QS, segundo os autores, é o limite. O QE
promove uma adaptação comportamental a determinada situação, ou seja,
“significa trabalhar dentro dos limites da situação, permitindo que a situação me
oriente” (ZOHAR; MARSHALL, 2012, p. 19). No QS ocorrem perguntas em
relação a uma situação particular, através da criação de um “segundo Eu” que
pode criar uma visão mais ampla de si, o que “implica trabalhar com os limites
da situação em que se encontra, permitindo conduzir a situação” (IDEM).
Portanto, ocorre uma expansão criativa da consciência para poder conduzir a
situação de forma mais benéfica.
As inteligências podem estar ligadas a um dos três sistemas neurais do
cérebro. Todos os tipos de inteligência que Howard Gardner descreve são, na
verdade, variações do QI, do QE e do QS, bem como de suas configurações
neurais associadas.
A inteligência humana tem suas raízes no código genético e na evolução
da vida. A percepção da inteligência sofre influência diária pelo acesso às
18
informações, contato com pessoas e contato audiovisual. Do ponto de vista
neurológico, porém, tudo o que influencia a inteligência é processado no cérebro
e também por prolongamentos neurais ao longo do corpo.
Certo tipo de organização neural permite um pensamento basicamente
lógico, racional, pautado por regras – a chamada inteligência intelectual ou QI.
Um segundo tipo de pensamento, mais associativo, afetado por hábitos e
que capacita para o reconhecimento de emoções e padrões, é o QE ou
inteligência emocional.
Um terceiro tipo permite aflorar o pensamento criativo, formulador e
revogador de regras – o QS ou inteligência espiritual. Esse tipo de pensamento
transforma o padrão dos outros dois tipos de inteligência, conferindo o papel de
mediador da vida espiritual e proporcionando senso de sentido e valor em cada
contexto.
Até poucas décadas atrás, só era conhecida a “fiação neural serial” no
cérebro humano, base da inteligência intelectual, sendo que posteriormente foi
identificada a “fiação neural associativa”, base da inteligência emocional.
Já são estudadas linhas que comprovam a existência de uma terceira
fiação neural, chamada unitiva ou integrativa, capaz de unificar dados no
cérebro, ou seja, permitir a visão integrativa, sistêmica ou contextual. A
inteligência espiritual integra o material surgido dos outros dois processos: razão
e emoção. Ela dá ao Eu um centro unificado, gerador de sentido.
O QS, como descrito pelos autores, “é a capacidade interna, inata, do
cérebro e da psique humana, extraindo seus recursos mais profundos do âmago
do próprio universo” (ZOHAR; MARSHALL, 2012, p. 23). Ele independe da
cultura ou de valores; é um instrumento desenvolvido ao longo de milhões de
anos que “habita” e habilita o cérebro a descobrir e aplicar o sentido na solução
de problemas. É anterior a qualquer forma de expressão religiosa que seu
portador possa ter tido.
Danah Zohar e Ian Marshall compilaram grande volume de estudos
neurológicos, psicológicos e antropológicos para fundamentar teoricamente a
existência da base neurológica do QS. Esses estudos tentam provar
cientificamente a existência do QS como sendo a inteligência que opera a partir
do centro do cérebro – das funções neurológicas unificadoras do cérebro – e que
19
integra todas as outras inteligências. Segundo os autores, há diversas correntes
específicas de pesquisa científica para comprovar a existência do QS.
Os autores se apropriam de uma dessas correntes para sustentar a
existência do QS e elaborar a conceituação da inteligência espiritual. Essa
corrente diz respeito ao programa de pesquisa do neurologista e antropólogo
biólogo Terrance Deacon, da Universidade de Harvard. A pesquisa se refere à
evolução da imaginação simbólica e seu consequente papel no cérebro, e segue
a linha de argumentação da evolução social para expor a faculdade da
inteligência espiritual em questão.
Danah Zohar e Ian Marshall afirmam que, do ponto de vista evolutivo, o
trabalho de Deacon sobre a linguagem e a representação simbólica demonstra
que, literalmente, o QS foi usado para desenvolver o cérebro humano. Assim
Danah Zohar e Ian Marshall (2012, p. 26) afirmam:
O QS instalou uma “fiação” necessária para nos tornarmos quem somos e nos fornece
o potencial de instalar “nova fiação” – para crescimento e transformação, para evolução
ulterior de nosso potencial humano.
20
contribui para a inteligência espiritual. Danah Zohar e Ian Marshall (2012, p. 108)
afirmam:
Segundo Zohar e Marshall, o ser humano nasce para cumprir uma missão
como indivíduo, sendo livre de crenças ou religiões, concebido para ser um ser
completo e constituído por duas substâncias ou naturezas: “corpo” e “espírito”.
A existência ou não do espírito não será tratada no presente estudo. O
uso do termo aqui tem por objetivo indicar uma condição: há um “direcionamento
moral que o ser humano, em sua integralidade, assume ao ir na direção de
valores carnais ou espirituais” (ANJOS, 2007); o espírito seria, então, uma
21
“característica específica do ser humano, como ser pensante e livre, torna-se um
fator decisivo para a conceituação de espírito” (IDEM).
Zohar e Marshall defendem a ideia de que cada ser humano possui suas
próprias características e de que sua evolução espiritual se dá de forma singular,
tanto no nível íntimo quanto por maneiras diferentes de experimentar e testar
vivências individuais. Para galgar as etapas da evolução espiritual, identificá-las
e desenvolvê-las ao longo da jornada da vida, o processo se inicia no nível da
individualidade, do Eu. Essas etapas podem ser divididas e classificadas a partir
de categorias do QS, como frequência, intensidade e constância das práticas.
Já os níveis são subdivididos em graus de maturidade e estados espirituais.
Zohar e Marshall prometem que, através de uma abordagem centrada no
ser humano e com foco nas suas necessidades, a vivência plena do QS
propiciaria uma manifestação íntima e por inteiro das necessidades reais e
intangíveis. Os indivíduos que fazem ou pretendem fazer uso profundo dessa
prática espiritual passariam por mudanças de pensamento nas maneiras de ver
e pensar, o que propiciaria alterações no comportamento. Ao mesmo tempo,
deve-se perceber que o conhecimento do centrar-se em si mesmo não deve ser
o objetivo final, e, sim, uma ferramenta de autoconhecimento para estabelecer
uma conexão mais estreita, em que se sinta uma ligação mais amável, amorosa
e serena para com o próximo, o planeta e natureza.
Os autores postulam que o cumprimento da missão do indivíduo precisa
estar alinhado com os valores que ele tem como primordiais, sua visão de mundo
e as perspectivas de futuro. A descrição de um modelo mais profundo e
detalhado da individualidade, do Eu, representaria o caminho dessa nova forma
de encarar a realidade e a possibilidade de ser um catalisador para gerar
mudanças. Afinal, Zohar e Marshall argumentam que o desenvolvimento do QS
sem mudança de comportamento não implica o verdadeiro propósito da
inteligência espiritual.
O ser humano é descrito pelos autores a partir de uma perspectiva que
passa de análises exteriores para uma maior importância às análises do interior,
do interno, do Eu, da individualidade. A visão essencialmente racional de o
indivíduo encarar as experiências vivenciadas está sendo repensada.
A funcionalidade do conceito de QS busca tornar o indivíduo consciente
da sua capacidade de acesso à própria consciência e a seu inconsciente
22
pessoal, bem como situá-lo em uma esfera mais próxima do Eu, com acesso a
uma lógica espiritual. Essa seria, de acordo com os autores, uma nova forma,
uma nova motivação, assim como novas vontades e novas premissas que
influenciariam pensamento, sentimento e comportamento. Dessa forma, criar-
se-ia um ciclo virtuoso no qual o ser humano iria adquirindo essas novas
habilidades de conotação espiritual.
Através de práticas, o indivíduo começa a sentir vontade de fazer mais
reflexões, um trabalho interior, para se aperceber de e aprimorar essas
habilidades a ponto de elas se tornarem naturais e inerentes a seu modo de vida.
O desenvolvimento de QS é realizado no Eu interior, profundo, amplo, íntimo e
constante.
Danah Zohar e Ian Marshall sugerem a formulação de algumas perguntas
que propiciariam o conhecimento e a possível verificação dos valores que o
indivíduo tem mais em conta e como ele sente determinada situação. Essas
perguntas ajudariam a identificar as potencialidades individuais e ampliar o
alcance do Eu interior dentro dessa nova perspectiva. Essas potencialidades são
consideradas individuais e diferentes em cada indivíduo e relacionam-se com a
integração dos aspectos comportamentais, dentro de uma escala de valores com
diferentes graus de relevância e níveis de importância.
As constantes mudanças interiores, menores ou maiores, acabam por
culminar com a própria mudança de conduta e rumo da missão de vida.
Aumentam a probabilidade de o indivíduo progredir e elevar-se continuamente,
sobretudo aquele que desenvolve a prática do QS. Mas vale a ressalva de que
quem o pratica o faz para atingir na reta final o objetivo de ser uma pessoa mais
solidária, mais altruísta.
A prática do QS, sugerem os autores, desperta no indivíduo a capacidade
de fazer questionamentos e permite que ele faça perguntas a si mesmo,
deslocando-se para um “segundo Eu” para checar se quer estar em uma
situação particular e trabalhar para gerar um movimento que transcenda os
limites, e não uma adequação a determinada situação.
Zohar e Marshall chamam a atenção para a metáfora sobre a natureza e
incitam a observá-la, lá onde tudo continua em constante evolução, o que
resultaria em um paralelo de uma lógica natural de evolução do QS. O ser
23
humano também deveria evoluir continuamente em seu lado espiritual, seguindo
o exemplo da natureza.
Contudo, com esse novo conceito o progresso atinge, além da esfera
material (negócios, profissão e posição socioeconômica), a esfera espiritual,
criando-se uma base sólida para reter essas conquistas, com a liberdade de
assumir uma postura sobre si mesmo e fazer de sua vida pessoal um projeto
único.
Não obstante a inteligência espiritual excluir as necessidades materiais e
se preocupar unicamente com o bem-estar espiritual, não está promovendo uma
verdadeira transformação, pois a ideia de solução dos problemas materiais (não
estamos falando de problemas existenciais) é que permitirá obter uma
verdadeira tranquilidade espiritual. Quando se reconhece que esse é um dos
benefícios do desenvolvimento do QS, adquire-se um estado de tranquilidade
quase absoluto, mesmo diante dos problemas. Esse, segundo os nossos
autores, seria um benefício central do cultivo do QS.
O ápice desse desenvolvimento seria a percepção da inteligência
espiritual no indivíduo, que pode ser identificada com alguns critérios pontuados
por Torralba (2013, p. 107):
24
surgiria em um estilo de vida paralelo à vida cotidiana; ele estaria intimamente
unido e gerando a força da autorrealização – assim como quando Maslow
redefiniu a base de sua pirâmide. Pois quem cultiva a inteligência espiritual vive
mais intensamente cada sensação, cada situação, experiência e relação
interpessoal, das passageiras às duradouras.
O ser humano experimenta a capacidade do autodirigir a vida como um
projeto, sendo que a vivência do conceito de QS impulsiona essa possibilidade
de transformar a vida em um projeto dentro da missão, visão e valores que mais
se aproximam da identidade individual, para ordenar o QI e QE. Ou seja,
segundo Zohar e Marshall, a realização pessoal de um projeto abre a
possibilidade de uma experiência de se dedicar a uma atividade que transcenda
o Eu, gerando felicidade.
25
Madinier (1969), inscrevendo também a questão do imediatismo tecnológico
como fator de alienação do Eu.
Em uma cultura marcada pelo embotamento espiritual, facilmente ocorre
a distorção de valores, sentido etc. As pressões sociais do grupo e a urgência
em comprar cercam os indivíduos por todos os lados, confundindo o motivo da
busca por algo. A pergunta que gera confusão é a que relaciona o querer e o
precisar. Os autores afirmam categoricamente que, para ter a felicidade, uma
das maneiras é ser espiritualmente mais inteligente, buscando a verdadeira
motivação pessoal e procurando a realidade por trás de qualquer desejo
superficial.
Se a análise for superficial, pode-se perceber, talvez, certa discordância
entre felicidade e inteligência. Em geral, a felicidade ou infelicidade do ser
humano depende de como estão seus pensamentos. O QS capacita a pessoa a
antecipar problemas, resolver situações, imaginar alternativas e planejar o
projeto de vida. Danah Zohar e Ian Marshall propõem essa prática para capacitar
o indivíduo a ser o gerador de mais momentos de felicidade.
No conceito de inteligência espiritual, na elevação espiritual, a principal
condição é a inteligência da percepção verdadeira. Esse elemento, explicam
Danah Zohar e Ian Marshall, consiste em ter o discernimento aguçado para
entender o funcionamento das relações interpessoais de forma mais correta,
com maior grau de pureza, condizente com a circunstância e sem auferir
julgamentos.
Conseguir compreender as coisas significaria possuir uma inteligência
espiritual elevada. Descobrir rapidamente a lógica que rege a situação seria uma
capacidade resultante de um indivíduo que possui uma aguçada inteligência
espiritual, significando que houve reflexo no espelho da alma.
Estando em conformidade com a lógica da inteligência espiritual, tudo
transcorrerá com mais facilidade, e os obstáculos irão sendo derrubados tanto
quanto possível com sabedoria e clareza de pensamentos, alternando
momentos de resignação, reflexão e conscientização para lidar e, assim,
proceder diante dos acontecimentos da vida, emendam os autores Francesc
Torralba e Ian Marshall.
26
Essa abordagem reitera a afirmativa de que se reconhece que o QS está
novamente participando da esfera do intelecto e que, por isso, requer a devida
atenção.
Outro aspecto fundamental para a compreensão do tema é a confusão
entre prazer e felicidade. Zohar e Torralba reforçam a diferença entre os dois
conceitos: o prazer é a percepção subjetiva de um bem corporal, uma impressão
agradável, e a felicidade não se identifica com o prazer, embora tampouco se
oponha a ele. A felicidade, do ponto de vista do QS, é muito mais que um estado
de ânimo imaginário, como define Torralba: “A felicidade tem a ver com a
realização dos próprios valores e ideais, com a experiência de cumprir com o
próprio dever, com a sensação interior de viver uma vida com sentido”
(TORRALBA, 2013, p. 289).
A felicidade seria possível, segundo Torralba e Zohar, pelo cultivo do QS,
ao facilitar um diálogo entre a razão e a emoção, entre a mente e o corpo. A
inteligência espiritual (QS) forneceria um núcleo para crescimento e
transformação, um centro ativo, unificador e gerador de sentido ao Eu.
Danah Zohar observa que, em várias partes do mundo, muitas pessoas já
conseguiram atingir um nível de bem-estar material. “Ainda assim, querem mais.
Muitas falam de um vazio […]. O ‘mais’ que preencheria o vazio raramente não
tem qualquer ligação com a religião formal” (ZOHAR; MARSHALL, 2012, p. 22),
e, sim, com o cultivo do QS.
27
Seguir um caminho com inteligência espiritual significa ser uma pessoa
fortemente comprometida e dedicada a algo. O QS pode ser utilizado como
ferramenta para entender todas as “coisas” de forma correta, e o critério do
conceito é dar sentido à solução de problemas existenciais.
Nossos autores acrescentam que essa busca de sentido deve ser feita
pelo uso do QS, porque ele é inato a qualquer ser humano. O QS serve para
abrir novos caminhos, descobrir novas manifestações de sentido, ser algo que
“nos toque” e que possa nos guiar para dentro de “nós mesmos”.
Entendendo o âmago das palavras e reconhecendo não só valores
existentes em nossa cultura, é possível fazer a conexão com a sabedoria que
chega além do ego ou da mente consciente e ter parâmetros para averiguar se
se está de acordo com um propósito que supera o ego, e também a capacidade
interna, inata, do cérebro e da psique humana, de extrair seus recursos mais
profundos do âmago do próprio universo.
Os autores denominam o QS, ou a inteligência espiritual, de “inteligência
da alma” (ZOHAR; MARSHALL, 2012, p. 23),
a inteligência com a qual nos curamos e com a qual nos tornamos seres verdadeiramente
íntegros. Ansiamos por uma união mais profunda, mais comunhão […], mas poucos
recursos encontraram em nosso ser limitado […]. O QS […] conecta com a sabedoria
que nos chega de além do ego ou da mente consciente.
28
de beleza; a capacidade de comover-se intimamente diante de tudo o que existe;
a intuição que não advém somente de um raciocínio lógico; a convicção de que
a força do QS é poderosa; a fidelidade à voz interior; a capacidade de aceitar
situações limítrofes e perder, mesmo estando com a razão; a esperança,
determinação e coragem que se estendem no tempo e com um bem querer
universal.
29
As lideranças que conseguirem enxergar esses valores precisam também
estar alinhadas com o próprio cultivo do QS, a fim de que possam adotar uma
gestão mais condizente com o conceito de inteligência espiritual.
Dessa forma, postulam Danah Zohar e Ian Marshall, as lideranças
ofereceriam uma contribuição maior à concretização da missão, visão e valores
ao conciliar o interesse dos indivíduos, fossem eles stakeholders (agentes do
processo produtivo) ou clientes, com o objetivo final do conceito de inteligência
espiritual: oferecer soluções para os problemas da sociedade, pensar no
próximo, no semelhante.
Segundo Kotler, o “marketing 3.0” leva o conceito de marketing à arena
de aspirações, valores e espírito humano. O “marketing 3.0” acredita que os
consumidores são seres humanos completos, cujas outras necessidades e
esperanças jamais devem ser negligenciadas. Desse modo, o “marketing 3.0”
complementaria o marketing emocional com o marketing do espírito humano.
Pensando nos valores imprescindíveis em uma sociedade que precisa
reinventar a forma de fazer negócios para que possa se manter viva, Kotler
(2012, p. 5) pontua o momento que estamos vivendo:
Em épocas de crise econômica global, o marketing 3.0 adquire relevância ainda maior
para a vida dos consumidores, na medida em que são afetados por rápidas mudanças e
turbulências nas esferas social, econômica e ambiental. Doenças tornam-se pandemias,
a pobreza aumenta e a destruição do meio ambiente caminha a passos largos. As
empresas que praticam o marketing 3.0 oferecem respostas e esperança às pessoas
que enfrentam esses problemas e, assim, tocam os consumidores em um nível superior.
No marketing 3.0, as empresas se diferenciam por seus valores […] e voltados para o
espírito.
30
I.7. O LÍDER SEGUNDO A INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL
32
7. Independência. Significa “estar contra a multidão”, estar disposto a ser
impopular pelo que se acredita. É uma vontade de ir sozinho, mas só
depois de considerar cuidadosamente o que os outros têm a dizer.
Qualquer líder visionário deve, quase por definição, ficar sozinho às
vezes. Esses líderes estão muitas vezes à frente de seu tempo.
8. Humildade. É o outro lado do campo da independência, quando se
percebe ser um ator numa peça maior e que a própria atuação poderia
estar errada. Então o líder se questiona impiedosamente. “Estou certo de
pensar o que penso? Ouvi todos os argumentos contra o oponente?
Tenho pensado seriamente sobre isso?” Humildade torna um líder grande,
não pequeno.
9. Tendência a fazer perguntas fundamentais. “Por que estamos fazendo
isso dessa forma, em vez de outra maneira? Por que estou nesta
empreitada, e qual sua finalidade? Por que não estamos realizando outra
coisa?” Einstein contava que, quando era criança, estava sempre com
problemas na escola, porque os professores o acusavam de fazer
perguntas estúpidas. Quando se tornou famoso, brincava dizendo que,
agora que todos pensavam que ele era um gênio, estava autorizado a
fazer todas as perguntas estúpidas. As respostas são um jogo finito
jogado dentro de limites, regras e expectativas. As perguntas são um jogo
infinito. Grandes líderes são chamados para grandes questões.
10. Ressignificação. Refere-se à capacidade de distanciar-se de uma
situação para ter uma visão mais ampla do todo. Um dos maiores
problemas do mundo atual é o pensamento de curto prazo. Como a
comunidade empresarial sabe, a maioria das empresas mantém o foco no
retorno trimestral, quando são apresentados os resultados, e
consequentemente os retornos e dividendos para os acionistas são
pagos.
11. Uso positivo da adversidade. Esse princípio diz respeito à capacidade
de reconhecer e aceitar os próprios erros. Quantos ficam presos em
atitudes equivocadas, por não admitir terem dado um passo inicial errado
para não perder a credibilidade? Em vez de ter a coragem de reconhecer
o erro, mantêm o curso equivocado da ação, enredando-se mais
profundamente na confusão. Os grandes líderes têm confiança em admitir
33
erros com o uso positivo da adversidade, e também da capacidade de
reconhecer que o sofrimento é inevitável na vida. Há coisas dolorosas que
os seres humanos têm dificuldade de lidar, mas os erros tornam o líder
mais forte, sábio e corajoso.
12. Senso de vocação. Esse princípio resume a inteligência espiritual e o
capital espiritual. Vocação vem do latim vocare, que significa “chamar”.
Originalmente, referia-se à vocação de um religioso para servir a Deus.
Hoje, muitas vezes refere-se às profissões, como medicina, magistério e
direito. Segundo Danah Zohar, o ideal seria se os negócios se tornassem
uma vocação que atraísse pessoas com um propósito maior e um desejo
de fazer riqueza que beneficiasse não apenas aqueles que os criaram,
mas também a comunidade e o mundo. Pode-se chamar de “cavaleiros”
os líderes de negócios que podem trazer tal mudança, homens e mulheres
que, como os Cavaleiros Templários da Idade Média, fazem um voto de
prestar serviço para algo maior do que eles mesmos.
34
Capítulo II
Inteligência e espiritualidade
35
que é fundamental para o estudo da inteligência, espiritualidade e inteligência
espiritual.
A escolha desses elementos, novamente, levou em conta a relevância
deles quanto ao conceito de inteligência espiritual, como ressonância a algumas
características apresentadas no primeiro capítulo.
Traçaremos, então, de forma sucinta as principais abordagens –
antropológica, histórica e ontológica – sobre a espiritualidade, que também são
apresentadas no conceito de inteligência espiritual.
36
Ainda segundo Mithen, a primeira explosão cultural aconteceu entre
sessenta mil e trinta mil anos atrás, quando apareceram as primeiras
manifestações artísticas, com uma tecnologia complexa para o momento em
questão e com o surgimento de formas ritualistas de cunho religioso, propiciando
importantes transformações comportamentais associadas ao Homo sapiens
sapiens.
A compreensão de que a mente moderna é produto de um longo e lento
processo evolutivo, que precisou de milhares de anos nesse caminho de
transformação, ocorre desde os primeiros acontecimentos da história, os quais
contribuíram para definir a natureza da mente humana (MITHEN, 1996).
A visão da mente moderna pode começar a ser conceituada a partir da
análise de que o processo de adquirir conhecimento se desenvolve pela mente-
esponja e pela mente-computador. O conceito de mente-esponja refere-se à
maneira como a mente absorve, embebeda-se, de informação e “espreme” para
lembrar a informação e utilizá-la. O conceito de mente-computador é o de que a
mente, além de registrar a informação, tem outros mecanismos que são
comparados a outras informações e combinações, adquirindo aprendizagem
(MITHEN, 1996).
Ambos os conceitos são tentativas de descrever o funcionamento da
mente. Mas ainda existe outra questão a ser analisada: como ocorre o processo
criativo e como a mente corresponde a vários e diferentes estímulos ao mesmo
tempo?
Para entender o processo criativo e imaginário, os psicólogos Tom Wynn
e Jean Piaget (1985) introduzem o conceito de mente-canivete-suíço e criticam
o conceito de mente-esponja e mente-computador.
Segundo eles, a mente opera como um canivete suíço, em que cada
dispositivo é projetado para solucionar um tipo de problema bem específico
(MITHEN, 1996). Essa analogia funciona melhor a partir da adoção de algumas
terminologias para especificar esses dispositivos (domínios cognitivos, módulos
de inteligência), a fim de compreender o processo da imaginação e o
pensamento criativo.
Investigar o processamento e desenvolvimento desses dispositivos na
visão da mente-canivete ajudará a análise da arquitetura da mente. Trata-se de
37
um processo importante que servirá de embasamento para a correlação entre
pensamento e inteligência espiritual.
Dois grandes pesquisadores da década de 1980, Jerry Fodor e Howard
Gardner, introduzem novas ideias sobre a arquitetura da mente e apresentam o
processo de modularidade.
Fodor (1980) defende que existem dois sistemas: de percepção (inata à
mente humana) e de cognição; e, segundo ele, é neste último que ocorrem os
processos de pensar, resolver problemas, imaginar, e que também é nele que
reside a inteligência. Porém, declara que é impossível estudá-los, embora
conclua seu estudo dizendo que o processo da evolução humana foi possível
pelo fato de a arquitetura da mente moderna ser tão engenhosa que permitiu a
adaptação ao mundo ao redor.
Gardner (1986), por sua vez, propõe que a mente é constituída de vários
tipos de inteligência e que o desenvolvimento de cada uma delas sofre influência
do contexto cultural individual. Enfatiza que as múltiplas inteligências interagem,
trabalham em conjunto harmoniosamente e se fortalecem mutuamente. Essa
seria uma característica do desenvolvimento humano.
Portanto, Steven Mithen (1996) compila os estudos de Fodor e Gardner e
apresenta a possibilidade de a arquitetura da mente ser composta de dois
canivetes suíços, em que um dos dispositivos trabalha independentemente e o
outro, em conjunto. Para defender esta hipótese, Mithen traz para discussão as
recentes ideias da psicologia evolutiva, na qual a grande diferença em relação à
ideia do funcionamento da mente, em comparação com a teoria de Gardner, é
que as inteligências não podem ser moldadas pelo contexto cultural do
desenvolvimento, ou seja, são imunes ao mundo externo.
Os psicólogos Leda Cosmides e John Toody (1987), que defendem essa
teoria, afirmam que a mente moderna é produto da evolução humana e que
existe uma compulsão positiva e uma facilidade no envolvimento e na aplicação
de regras, refletindo uma característica fundamental da arquitetura da mente.
A psicologia do desenvolvimento tem outra visão, mais favorável, segundo
Steven Mithen, de como é o processo de modularidade mental. Existe um
conjunto de conhecimentos (linguísticos, psicológicos, biológicos e físicos)
intuitivos e inatos dentro da mente, que estão diretamente relacionados com as
escolhas do estilo de vida.
38
A psicologia do desenvolvimento, na análise de Karmiloff-Smith (1992),
costura a possibilidade de que a modularização dos processos mentais possa
ser produto da evolução humana. Essa evidência tece o argumento de que os
módulos (dispositivos) começam a operar juntos, “ou seja, podem surgir
pensamentos que combinem conhecimentos antes ‘presos’ dentro de domínios
específicos” (MITHEN, 1996, p. 89).
39
II.2.3. A mentalidade cognitiva fluida
40
Ainda segundo ele, a religião é um produto da fluidez cognitiva:
41
II.2.5. O mapa das inteligências
42
A cultura em que o indivíduo está inserido sofre também influências da
época e lugar geográfico em que se encontra, o que interfere no grau de
manifestação das potencialidades das inteligências.
A importância das estruturas econômico-sociais de determinada
sociedade corrobora com a afirmativa, na visão do autor, de que a inteligência é
conceituada como representante de uma dinâmica entre inclinações individuais
e necessidades e valores de uma sociedade.
A pluralização do conceito de inteligências confere ao indivíduo um
avanço no conceito de visão unitária sobre inteligência. A medida a ser auferida
é o termômetro cognitivo, evidenciando que, assim como a voz e o rosto das
pessoas são diferentes, a mente de cada indivíduo é diferente.
Essa pluralidade da inteligência pode ser dimensionada em combinações
de sete a várias centenas de dimensões mentais. Somando-se a isso a
contextualização cultural, socioeconômica e biológica, fica evidente a quantidade
imensa de mentes distintas com personalidades diferentes.
Portanto, faz-se necessário o entendimento sobre os possíveis traços de
comportamento devido à “crescente consciência do indivíduo de suas próprias
forças e estilo intelectual característico”, encerra Gardner (1980, p. 194). Então,
é de máxima importância reconhecer e estimular todas as variadas inteligências
humanas e todas as possíveis combinações.
Gardner (1983) também explora e ressalta os aspectos das competências
das inteligências em sua obra, para depois deixar um caminho para ampliar a
noção de inteligência espiritual.
A seguir, será apresentado o mapa das inteligências traçadas por Howard
Gardner:
43
2. Inteligência sonora. As competências da inteligência sonora facilitam a
capacidade de reconhecer padrões sonoros, como sons e ritmos.
Grandes músicos e compositores têm esta qualidade potencializada.
Indivíduos podem utilizar essa inteligência para apreciar ritmos e detectar
sons que geram desconforto, alegria, ansiedade, e diversas outras
emoções.
3. Inteligência lógico-matemática. Essa inteligência é a base principal para
os testes de QI (coeficiente intelectual). Por muitos anos foi considerada
a única forma de mensurar a inteligência. Atualmente, é mais uma
expressão dela, não sendo mais considerada como o ápice da inteligência
humana. A competência da inteligência lógico-matemática é a resolução
de problemas por métodos indutivos e dedutivos mediante raciocínio
lógico, com números e padrões abstratos.
4. Inteligência cinestésico-corporal. É a capacidade de utilizar o corpo
para realizar atividades. A competência está ligada ao domínio da própria
corporeidade e à capacidade de orientar os movimentos para fins mais
elaborados, como atividades físicas. A educação desse tipo de
inteligência é adquirida através de modalidades de exercícios físicos,
dança, esportes, artes cênicas. Um domínio maior sobre o corpo e
habilidades motoras (e também emocionais), como equilíbrio,
concentração, destreza, rapidez, precisão, dentre outras, é alcançado
pelo estímulo para atingir os limites de superação.
5. Inteligência espacial-visual. Essa inteligência permite reconhecer
imagens visuais, criar imagens mentais, raciocinar acerca de espaço e
dimensão, reproduzir imagens internas e externas. As competências
desse tipo de inteligência capacitam para resolver questões relativas à
elaboração e construção de projetos em formatos tridimensionais,
desenhos, cálculos e medições, tecnologia da informação.
6. Inteligência intrapessoal. Essa inteligência é crucial para formar uma
imagem da identidade do sujeito, compreender as necessidades, aptidões
e desejos. As competências dessa inteligência propiciam um contato com
os próprios sentimentos e uma maior aproximação entre distintas
emoções para possibilitar um conhecimento de si mesmo, o
44
autoconhecimento, como condição para o êxito na vida pessoal e
profissional.
7. Inteligência interpessoal. Essa inteligência, também chamada de social,
habilita a compreensão do outro, bem como o altruísmo, a empatia, o
saber colocar-se na pele do outro para tentar captar e entender pontos de
vista distintos e semelhantes, sofrimentos, temperamentos, motivações e
intenções. As competências dessa inteligência contribuem para as
relações sociais, criam vínculos e alianças entre pessoas que às vezes
não têm afinidades mas sim objetivos em comum, e criam coesão para a
gestão do trabalho em equipe. Essa capacidade está presente de modo
mais aprofundado e sofisticado em líderes.
8. Inteligência naturalista-ecológica. Essa inteligência habilita a observar
o ambiente natural e os processos, a identificar os elementos da natureza.
Tal competência capacita para estudar os fenômenos e proteger os
organismos vivos.
45
pode trazer insights e entendimentos importantes para ajudar a entender
fenômenos como a crise de identidade.
46
Concluindo essa linha de raciocínio, Goleman introduz o termo "espiritual"
ao explicar o significado da autoconsciência: “Consciente ao mesmo tempo de
nosso estado de espírito e de nossos pensamentos sobre esse estado de
espírito” (GOLEMAN, 1995, p. 60).
48
consegue assegurar que todas as possibilidades espirituais são bem
compreendidas pelas doutrinas das religiões.
Harris (2015) começa a trilhar um raciocínio para distinguir a
espiritualidade e as práticas da espiritualidade. O autor inicia essa diferenciação
ao discorrer sobre as doutrinas encontradas nas tradições religiosas, ocidentais
e orientais, por não derivarem dos mesmos insights nem serem lógicas, sábias,
empíricas ou parcimoniosas. E o mote dessas tradições tampouco aponta para
uma mesma realidade fundamental.
Harris então conclui que as doutrinas religiosas com “seus ensinamentos
também não se prestam no mesmo grau a serem exportadas para além das
culturas que as conceberam” (HARRIS, 2015, p. 29).
Assim, na visão do autor, existe uma diferenciação nítida no conceito de
espiritualidade, que é a experiência, a prática, que ele chama de instruções
empíricas. Ele considera que qualquer indivíduo, em princípio, pode ter uma
experiência de transcendência com o espiritual e cita como exemplo Mestre
Eckhart (c. 1260 – c. 1327) e Al-Hallaj (858-922), reiterando que o ponto de vista
de ambos não condizia com as ideias básicas de suas fés.
Aponta, com isso, que existe uma abertura para a possibilidade da
experiência espiritual sem dependência de uma determinada fé, vínculo a uma
determinada religião ou crença em alguma divindade. As práticas da
espiritualidade, como ele reitera, salientam a primazia da mente e têm por
objetivo permitir ao indivíduo compreender a natureza de sua própria mente.
Quando se tem conhecimento sobre o funcionamento da mente, o
domínio sobre ela se torna mais controlado e fácil, e sua adaptação às
circunstâncias difíceis é possível, trazendo paz de espírito. Essa afirmativa é
coerente com Harris, quando este enfatiza que o domínio da mente está
intimamente conectado a uma conduta de vida ética e à vida espiritual. O objetivo
final é asseverar “com absoluta clareza que a vida espiritual consiste em superar
a ilusão do self com uma grande atenção voltada à nossa experiência” (HARRIS,
2015, p. 40).
Tal experiência conjumina com a verdade da espiritualidade, que é
incentivar o indivíduo a investigar certos insights da consciência por conta própria
e seus possíveis estados de espírito.
49
Nesse sentido, Harris emenda que o egoísmo com sabedoria e o altruísmo
são quase equivalentes, quando devidamente pré-moldados na mente, pois
capacitam o indivíduo a servir em prol de um bem comum, em um mundo que
precisa desesperadamente melhorar.
O encontro da reorientação do caminho a seguir, a descoberta da missão
pessoal perante os outros e o mundo não deixam de ser a famigerada busca de
sentido. A mudança de consciência é mais uma maneira de interpretar o conceito
sobre espiritualidade.
Clarissa Franco elencou diversas definições sobre o conceito de
espiritualidade e percebeu um denominador comum: “A ideia corrente hoje em
termos de espiritualidade é a de que ela está vinculada a uma busca pessoal de
sentido, com ênfase no aperfeiçoamento do potencial humano” (2013, p. 402).
Isso para criar condições de atender aos anseios de autorrealização, autonomia
em relação às instituições, autenticidade, espontaneidade, criatividade,
liberdade, mal-estar em relação à materialidade do mundo.
Outros autores que conceituam a espiritualidade no campo da psicologia
reafirmam que sua inclusão no rol da saúde foi um impacto significativo e
positivo.
Com ou sem comprovação científica concluída, mas com estudos em
grupos de indivíduos, constatou-se que a espiritualidade é um instrumento
bastante utilizado para dar suporte às questões que se referem ao significado da
vida, como forma de incentivo a uma mudança de comportamento no que diz
respeito à busca desse sentido, da existência, da missão, do darma, termos
esses encontrados nas obras citadas.
50
Alan Charles Robertson (2010) cita como exemplo dessa tendência o
aparecimento, desde a década de 1990, de livros sobre o tema da
espiritualidade, os quais permaneceram por longo tempo na lista top ten do New
York Times, como os de Deepak Chopra e Sam Harris, por exemplo.
A sociedade americana de psicologia está bastante sensível ao estudo da
espiritualidade como fator de importante à saúde mental, física e psicológica do
ser humano, pelo fato de considerar a natureza humana complexa e pela
maneira como o indivíduo se relaciona com a experiência espiritual.
Na mesma linha segue a teoria de Abraham Maslow, a qual fundamenta
que existe um colapso total de todas as fontes de valores fora do indivíduo e que
“não há outro lugar para onde nos voltarmos senão para dentro, para o Eu, como
local de valores. Paradoxalmente, até alguns existencialistas religiosos
concordam em boa parte com essa conclusão” (MASLOW, 1962 p. 36).
51
Essa formulação tange às características da inteligência espiritual.
Maslow faz a seguinte afirmação:
Isso é assim porque a nossa descrição das características reais das pessoas
autorrealizadoras ou individualizantes equipara-se, em muitos pontos, aos ideias
recomendados pelas religiões, por exemplo, a transcendência do Eu, a fusão do
verdadeiro, do bom e do belo, a contribuição para outros, a sabedoria, honestidade e
naturalidade, a renúncia de desejos “inferiores” em favor dos “superiores”, maior amizade
e gentileza, a fácil diferenciação entre fins (tranquilidade, serenidade, paz) e meios
(dinheiro, poder, status), o declínio de hostilidade, crueldade e destrutividade (1962, p.
190).
52
humano. Essas formas basicamente compõem seu modo de ver o mundo e de
viver dentro do conceito de inteligência espiritual.
Resta, então, a vontade de querer fazer com que essas potencialidades
aflorem. E o meio para isso é o cultivo do QS.
Outro autor que reverencia a importância da espiritualidade é Carl Jung.
Segundo ele, trata-se de um campo de estudo para a psicologia por ser a
espiritualidade um fenômeno psicológico.
Para Jung, a principal função da espiritualidade é manter o indivíduo em
equilíbrio, e ela é inerente ao ser humano. O cultivo da espiritualidade
proporciona-lhe o autoconhecimento e vice-versa, e, a partir do aprofundamento
do conhecimento de si mesmo, suas escolhas tendem a ser mais assertivas. É
através da conscientização de que existe a necessidade da expressão do Eu
que há o resultado da integração entre inconsciente e consciente.
Na visão junguiana, se essa perspectiva se configura, proporciona ao
indivíduo condições para alcançar seu objetivo supremo, sua missão, tornando-
se a fonte para encontrar sentido na vida. Isso tudo acontece através da
individuação, do autoconhecimento, pela identificação dos arquétipos como
guias espirituais da formação da personalidade (ou capacidades mentais, ou
talentos, ou inteligências) a serviço de um bem maior.
53
Quanto aos fenômenos mais complexos, faz-se necessário apontar para
estudos já realizados sobre os psiquismos do lado direito e esquerdo do cérebro.
Há três mil anos, atribuía-se como factível a comunicação entre os
deuses, com suas “vozes”, e os seres humanos “mortais”, ou seja, entre mundo
invisível e mundo visível. Hoje se entende que esse fenômeno processou-se no
lado direito do cérebro, e o que permaneceu foram as orações e súplicas.
Jose Luiz Cazarotto explica assim esse fenômeno: "Em resumo, quanto
mais complexas forem as experiências, tanto mais elementos do cérebro atuam
e interagem ao mesmo tempo, demandando teorias compreensivas do
fenômeno" (2013, p. 374).
Na década de 1950, pesquisadores tentaram relacionar obsessões e
preocupações com um viés religioso; assim conduziram estudos sobre o
funcionamento do cérebro na direção de associar algumas patologias, como
epilepsia, esquizofrenia etc., às práticas religiosas.
Nos tempos atuais e com o uso de alta tecnologia, pode-se obter em
tempo real imagens do funcionamento do cérebro, permitindo o estudo da
experiência religiosa com pessoas normais e/ou saudáveis.
Em pessoas meditando ou orando, constatou-se uma redução de suas
atividades neurológicas. Cazarotto explica:
Em ambos os casos houve uma redução da atividade neurológica nos lóbulos parietais
e um aumento nos lóbulos frontais. Houve também um aumento de ativação
bilateralmente no giro cíngulo e no tálamo. Eles concluem que, uma vez que a região
parietal está relacionada à somestesia, às perturbações do esquema corporal e ao senso
do self, a hipoperfusão das regiões parietais resulta na dissolução da percepção dos
limites do self e em experiências religiosas intensas. Isso estaria correlacionado
positivamente com os relatos dos místicos, que afirmam estar mais próximos de Deus,
“esquecendo-se” de si mesmos. Ainda que esses estudos lancem mão de técnicas
refinadas, eles têm atrás de si ainda uma ideia da relação das áreas do cérebro e suas
funções (2013, p. 375).
54
A passagem do marketing 1.0 para o marketing 2.0 ocorreu devido à
transformação de um mundo mecânico (marketing 1.0) para um mundo
mecânico mais informatizado (marketing 2.0), o que implicou mudança no
relacionamento entre produtores e consumidores.
Novamente ocorreu outra transformação de um mundo mecânico
informatizado (marketing 2.0) para um mundo digital (marketing 3.0), o que
implicou um profundo impacto no comportamento entre produtores e
consumidores.
Esse novo desafio do marketing 3.0 exige uma guinada na forma de
pensar e fazer marketing, levando o executivo da área a repensar o conceito que
pretende adotar nas tomadas de decisão.
Ao longo dos anos o marketing evoluiu e acompanhou as tendências da
sociedade de mercado com o intuito de criar bem-sucedidas organizações
empresariais, as quais se mantiveram na vanguarda do desenvolvimento, da
qualidade da produção e da tecnologia de ponta.
Os avanços tecnológicos provocaram enormes mudanças na maneira
como as pessoas se relacionam, exigindo também uma transformação na
maneira como os produtos e serviços são elaborados nas organizações.
Portanto, é muito raro não encontrar uma empresa organizacional cuja
direção não declare, ao menos publicamente, que desejaria uma organização
suficientemente flexível para poder se ajustar rapidamente às necessidades de
seus consumidores, ao mercado, para fornecer seus produtos e serviços com o
máximo de qualidade e excelência no atendimento ao cliente.
A era do marketing 1.0 iniciou-se durante o desenvolvimento da tecnologia
na produção, na Revolução Industrial, e ele era estritamente centrado na venda
de produtos, sendo este seu único objetivo final. As empresas viam o mercado
e os consumidores como potenciais compradores em massa, que tinham apenas
necessidades físicas a serem supridas. A padronização e o ganho em escala, a
fim de reduzir ao máximo os custos de produção, para que os produtos fossem
adquiridos por preços baixos e por um volume maior de consumidores, foi a
estratégia central. Essa estratégia funcionou muito bem e teve famosos
defensores, como Henry Ford, que em uma frase exemplifica o conceito do
marketing 1.0: “O carro pode ser de qualquer cor, desde que seja preto”. A
exigência dos executivos no marketing 1.0 em relação a conceito e diretrizes era
55
de simplesmente desenvolver produtos que tivessem uma determinada
funcionalidade e instigar o consumidor sobre a necessidade de possuí-los.
O conceito de marketing 2.0, por sua vez, surgiu em decorrência da
tecnologia da informação e do advento da Internet, cujo núcleo é a disseminação
da tecnologia da informação. Ele tinha única e exclusivamente o objetivo de
satisfazer e reter os consumidores. O que se observa é que, desde o início dos
anos 1980, a força dominante na relação vendedor-cliente foi deslocada. Os
clientes passam a ter o controle do mercado, em vez dos vendedores, e são
aqueles primeiros que informam aos fornecedores o que desejam, quando
desejam, como o desejam e quanto pagarão. Portanto, o papel dos
consumidores já não era tão simples, o que exigia certa maleabilidade do
executivo de marketing, pois eles estavam mais bem informados e, com isso,
comparavam as marcas em categorias como qualidade e preço. Essa nova
situação, a princípio, foi perturbadora para as empresas que se acostumaram a
atuar no mercado de massa. Por isso, os executivos precisaram aprender a
acolher as preferências do consumidor, o que exigiu, para a perpetuidade da
venda dos produtos da empresa, a segmentação de mercado. Os consumidores
passaram a ser tratados de acordo com a regrinha de que “o cliente é rei”. Assim,
suas necessidades vão sendo solucionadas. As empresas que conseguiram
visualizar o consumidor em um novo patamar, considerando-o inteligente e
dotado de coração e mente, adaptaram-se melhor, ao tentar atender às
expectativas desse novo perfil de consumidor. O principal conceito do marketing
2.0 era a distinção, ou seja, tentar se diferenciar de outros produtos similares
disponíveis no mercado. As diretrizes da empresa direcionaram-se a ganhar
espaço no posicionamento do produto e da empresa perante o mercado. O valor
que os produtos conferiam era de que deveriam ser funcionais, como no
marketing 1.0, porém com certo apelo emocional, sim, para atingir o coração e a
mente do consumidor.
Por fim, a última fase do marketing, o marketing 3.0, se concretiza pela
pulverização de acesso à tecnologia, e também com o avanço das redes sociais.
O consumidor deixa de ser alvo de campanhas passivas de marketing. O
marketing 3.0 surgiu com a nova onda tecnológica, em que o mundo está nas
mãos dos consumidores (por exemplo, ao alcance dos smartphones). As
empresas estão mais atentas à voz do consumidor, a fim de entender sua mente
56
e captar os insights do mercado. O marketing 3.0 é voltado, portanto, para os
valores, e seu objetivo é fazer do mundo um lugar melhor. As empresas passam
a ver o ser humano como um indivíduo pleno, com coração, mente e espírito, e
seu conceito maior são os valores. Valores estes que devem estar inseridos no
desenvolvimento do produto, mantendo sua funcionalidade, mas ligados ao
emocional, já que agora o componente mais importante e inovador é a parte
espiritual. A empresa enxerga as diretrizes pelo ponto de vista da tentativa da
execução fiel de sua missão, de sua visão e de seus valores.
A diferença fundamental entre, de um lado, o marketing 3.0 e, do outro, o
marketing 1.0 e 2.0 é que o foco passou a ser o indivíduo, tornando-se a
organização secundária. Mesmo que se chegue a uma organização ideal, se o
modo de pensar e agir de cada indivíduo estiver errado, eles não poderão ser
administrados com eficiência, e o resultado, infalivelmente, não será bem-
sucedido. Portanto, a única forma de solucionar essa equação é melhorar a
natureza espiritual de cada indivíduo. Ou seja, deve-se considerar que o ser
humano é o ponto principal, e a organização social, um ponto secundário.
57
facilitando seu sentido de estar conectado a algo com sentimentos de compaixão e
alegria (BIBERMAN; TISCHLER, 2000, p. 2).
Reconhece-se a espiritualidade como uma manifestação íntima e inteira que propicia aos
indivíduos mudanças internas e maneiras de ver e pensar que geram mudanças de
comportamento. Para as organizações, essas mudanças podem vir na visão, propósito,
valores, culturas e programas internos, e as mudanças no comportamento, estruturas e
relações exteriores (BIBERMAN, 2008, p. 3).
as empresas estão cada vez mais usando técnicas como a investigação apreciativa,
discernimento e da meditação para aprofundar o pensamento de seus gestores e
desenvolver suas habilidades de pensar, sentir e agir de forma mais eficaz (BIBERMAN;
TISCHLER, 2000, p. 4).
58
Organizações estão incentivando os funcionários a crescer em muitos aspectos: pessoal,
profissional e espiritual. O aumento da capacitação e o trabalho em equipe estão criando
a necessidade de treinar os funcionários não só em áreas técnicas, mas também em
habilidades interpessoais, habilidades de equipe, habilidades de tomada de decisão e
assim por diante (BIBERMAN; TISCHLER, 2000, p. 4).
59
DIMENSÃO DEFINIÇÃO
60
Esta categoria destina-se a capturar todas as outras
Outros medidas. Um tipo que podemos antecipar é medidas de
lucratividade, participação de mercado e outros
resultados organizacionais ou de negócios. No nível
individual, promoções e aumentos de salário poderiam
ser as medidas previstas na presente categoria. Os
pesquisadores também podem estudar ou comparar a
adesão de pessoas em grupos profissionais ou outros
grupos: como a qualidade do desenvolvimento da
espiritualidade afeta alguns aspectos da carreira.
61
a ampliação de uma ênfase global sobre os diretos humanos e a preocupação
com a justiça global e, finalmente, um movimento em contraposição às estruturas
organizacionais conhecidas (MARQUES; DHIMAN; BIBERMAN, 2011).
Sendo assim, a espiritualidade no trabalho não versa sobre as práticas da
organização, não é sobre a teologia de um líder espiritual. Em vez disso, é o
reconhecimento do posicionamento da espiritualidade dentro de uma
comunidade organizacional.
Empresas baseadas em uma cultura espiritual utilizam recursos voltados
à espiritualidade em programas de treinamento, seminários, workshops, que
prometem propiciar autodesenvolvimento espiritual, autorrealização, para ajudar
seus colaboradores na mudança de pensamentos negativos, ao combinar
transformações pessoais com resultados e metas da empresa.
Por que as organizações atualmente dão ênfase à espiritualidade?
Acredita-se que modelos históricos de gestão não tinham espaço para a
espiritualidade. Esses modelos geralmente eram focados em organizações que
foram executadas de forma eficiente sem fazer distinção ou dar relevância a
sentimentos e necessidades nas relações com os outros. Da mesma forma, a
preocupação com a vida interior de um empregado não teve nenhum papel na
gestão de organizações. Mas o estudo das emoções melhora nossa
compreensão de como e por que as pessoas agem. Uma consciência da
espiritualidade pode, portanto, ajudar a entender melhor o comportamento dos
colaboradores nas organizações.
Segundo Marques, Dhiman e Biberman,
62
preservação do eu a qualquer custo, essas organizações estão voltadas à condução de
uma existência harmônica com a natureza, e, portanto, favorável à ecologia e ao meio
ambiente e mais atenta às necessidades internas e externas dos clientes. Essas
organizações frequentemente estimulam o pensamento criativo e o trabalho em equipe
das áreas para estabelecer e acompanhar o cumprimento da missão e dos objetivos da
organização (MARQUES; DHIMAN; BIBERMAN, 2011, p. 81).
63
Aqueles que argumentam contra a espiritualidade nas organizações
geralmente se concentram em duas questões: a primeira é a da legitimidade, ou
seja, as organizações têm o direito de impor valores espirituais a seus
empregados? A segunda questão relaciona-se à economia, ou seja, a
espiritualidade no local de trabalho pode ser revertida em lucros? Vamos olhar
brevemente para essas questões.
Os críticos alegam que as organizações não devem impor valores
espirituais aos trabalhadores. Essa crítica é, sem dúvida, válida quando se define
que espiritualidade significa levar a religião e Deus ao mundo do trabalho. No
entanto, a crítica parece ser menos severa quando se acredita que seu objetivo
limita-se a ajudar os funcionários a encontrarem significado em suas vidas no
âmbito do trabalho (MARQUES; DHIMAN; BIBERMAN, 2011).
A questão de saber se a espiritualidade e os lucros são objetivos
compatíveis, certamente, é relevante para qualquer ramo de negócios. A
evidência, embora limitada, indica que os dois objetivos podem ser
particularmente compatíveis. Vários estudos mostram que, em organizações que
introduziram a espiritualidade no local de trabalho, têm-se testemunhado
aumento da produtividade, maior satisfação do empregado e maior compromisso
organizacional. Tais estudos foram realizados em empresas metalúrgicas do Sul
do Brasil (BETTEGA, 2009).
Entre as características das empresas espirituais estão:
64
e, por fim, uma cultura que incentiva os funcionários a serem eles mesmos
e expressarem seus humores e sentimentos sem culpa ou medo de
reprimenda (MARQUES; DHIMAN; BIBERMAN, 2011).
65
em termos de nosso intelecto e a intensidade da luz que temos; e genialidade
não como um bem escasso, mas como algo que todo mundo tem. O verdadeiro
trabalho é conectar-se com esse gênio. E, além disso, a espiritualidade no local
de trabalho também leva a um aumento da autorrealização, da satisfação
pessoal, e a um profundo sentimento de pertença (MARQUES; DHIMAN;
BIBERMAN, 2011).
Na maioria das empresas, hoje, espírito e espiritualidade não são temas
falados. A primeira coisa necessária é tornar o ambiente seguro para que se
possa falar disso naturalmente, como as muitas outras conversas que temos no
trabalho, tais como: rentabilidade e inovações, assuntos pessoais sobre família,
saúde, planos, acontecimentos políticos, sociais… E por que não poder falar
sobre espiritualidade?
66
para que seus membros possam colaborar positivamente não só no trabalho,
mas também nos lugares em que vivem. Assim, percebem a importância de
fornecer a eles um ambiente que promova relações positivas, em que tenham
oportunidade de trabalhar com outros membros da equipe em torno de um
mesmo objetivo comum.
Contudo, segundo Hicks, ainda existem muitas pessoas que confundem
espiritualidade com religião:
67
de seu “eu completo” para o trabalho, de implantar ali mais criatividade, emoções
e inteligência. Em suma, as organizações vistas como mais espirituais recebem
mais de seus participantes, e vice-versa.
Quem pratica a espiritualidade no seu local de trabalho não ofende a seus
colegas nem causa animosidade. Ao contrário, motiva-os a usar também sua
energia espiritual, que está no cerne de todos, para produzir produtos e serviços
com empenho e criatividade.
Nos últimos anos, de acordo com Hicks (2003), estudos sobre a
espiritualidade têm crescido consideravelmente, e uma parcela significativa
deles aborda os benefícios que traz para o ambiente de trabalho. Mesmo assim,
ainda carecem de avaliações empíricas direcionadas a mensurar tais benefícios.
Se a espiritualidade é uma experiência humana fundamental, por que ainda não
recebeu um tratamento sistemático. Uma das razões para essa negligência é
que se acredita que a espiritualidade é um fenômeno muito tênue, nebuloso e
polêmico para merecer um estudo acadêmico sério.
Apesar disso, certos estudos que nos chegam, como o de Hicks (2003),
revelam que praticar a espiritualidade no trabalho ajuda em pontos como:
68
insatisfação. E, como todo empregador consciente sabe que certos erros
do empregado podem ser prejudiciais ao sucesso da empresa, isso pode
torná-lo ansioso, passando a gerenciar cada passo do empregado,
criando uma relação de opressão. Trabalhar a espiritualidade ajuda na
resolução desses problemas, pois falar abertamente e dizer a verdade,
respondendo às perguntas dos funcionários com verdade e entusiasmo,
e não com hesitação e incerteza, cria confiança na cultura organizacional.
Em contrapartida, o funcionário, ao ganhar o respeito de seu empregador,
tem mais chance de manter o emprego.
d) Bom relacionamento interno. Devem ser estabelecidas relações
internas positivas. O local de trabalho é composto de diferentes
personalidades que têm seus próprios valores, opiniões e crenças. Os
funcionários devem: aprender a aceitar as diferenças uns dos outros e
trabalhar para o bem comum; ser solidários com os colegas e tratá-los
com cortesia; evitar fofocas; dar exemplos positivos para os colegas de
trabalho, exibindo integridade, honestidade, dedicação, espírito de
abertura e confiança; ouvir as instruções; tomar a iniciativa quando a
situação pede; e assumir a responsabilidade por suas ações.
69
os trabalhadores a proteger o que é significativo e valioso para eles, suas
famílias e comunidades.
Nesse contexto, pessoas de todos os níveis da hierarquia corporativa
cada vez mais estão querendo nutrir o espírito de seus funcionários, pois
perceberam que, quando eles são incentivados a expressar sua criatividade, o
resultado é uma força de trabalho mais satisfatória e sustentada. Pessoas felizes
trabalham mais e são mais propensas a permanecer em seus postos.
Um estudo realizado pelo altamente respeitado instituto Wilson Learning
Company (2008), sobre o desempenho de negócios, descobriu que 39% da
variabilidade no desempenho das empresas é atribuível à satisfação pessoal dos
funcionários. A espiritualidade foi citada como o segundo fator mais importante
para a felicidade pessoal (depois da saúde) pela maioria dos norte-americanos,
em uma pesquisa feita pelo EUA Weekend (2006), com 47% dos entrevistados
dizendo que a espiritualidade era o elemento mais importante de sua felicidade.
Portanto, grandes corporações já perceberam essa tendência e passaram a
valorizar a prática da espiritualidade na rotina de seus funcionários.
Os escritórios da Apple Computer, na Califórnia, têm uma sala de
meditação onde os funcionários reservam um tempo diário na empresa para
meditar ou rezar. Esse hábito comprovadamente melhorou a produtividade e a
criatividade da equipe. Um ex-gerente, que é agora um monge budista, faz
meditações regulares ali.
O presidente da Aetna, grande empresa internacional de seguros, Michael
A. Stephen, elogia os benefícios da meditação e explica a seus funcionários o
uso da espiritualidade em suas carreiras.
Avaya, uma empresa global de comunicações, tem uma sala reservada à
oração e à meditação que é especialmente apreciada pelos muçulmanos; como
eles devem rezar cinco vezes por dia, sentem-se respeitados e valorizados por
isso.
A editora Prentice-Hall criou uma sala de meditação em sua sede, que os
funcionários chamam de “Quiet Room”, onde podem sentar-se calmamente e
realizar um retiro mental, quando se sentem muito estressados no trabalho.
Já os diretores da Greystone Bakery, em Nova York, promovem um
período de silêncio meditativo antes de começar as reuniões para que todos
70
possam entrar em contato com seu estado interior e concentrar-se nas questões
a serem discutidas.
71
no local de trabalho. As descobertas foram recolhidas a partir do depoimento de
um grupo de voluntários, levando à conclusão de que a espiritualidade no
trabalho se correlaciona diretamente com o significado que dão a suas
atividades.
A pesquisa inicial de Lips-Wiersma produziu um modelo de significado no
trabalho que começou a ser aplicado por um número de pessoas familiarizadas
com a própria atividade. Dada essa aplicação inesperada do modelo, Lips-
Wiersma e Morris expandiram a pesquisa para um conjunto muito maior e mais
amplo de participantes, o que levou ao desenvolvimento do mapa de sentido.
72
1. desenvolvimento do eu interior (developing the inner self),
2. unidade com os outros (unity with others),
3. demonstração de pleno potencial (expressing full potential),
4. serviço aos outros (service to others).
73
Ressalte-se que o autoconhecimento é incorporado em todos os três
tópicos.
A unidade com os outros refere-se ao significado da convivência com
outros seres humanos. Isso não quer dizer uniformidade. Envolve
principalmente encontrar a unidade na diversidade, que vem do
entendimento de que a humanidade é essencialmente uma e que
experimentar essa unidade é o que enriquece nossa humanidade global.
Tal dimensão também tem três principais subtemas: (1) trabalho em
conjunto, (2) partilha de valores e (3) pertença ao grupo.
A demonstração de pleno potencial diz respeito ao sentido de deixar
nossa marca no universo, ou seja, ser ativo e exteriormente focado. Este
quadrante baseia-se no conceito de que todos somos únicos e
responsáveis por trazer nossos dons e talentos únicos ao mundo. Os três
subtemas para expressar todo esse potencial são: (1) criação, (2) alcance
e (3) influência.
O serviço aos outros é a necessidade humana de fazer contribuições
para o bem-estar dos outros, de ajudar um indivíduo a fazer a diferença
no mundo em geral. Seus dois subtemas são: (1) fazer a diferença e (2)
satisfazer as necessidades da humanidade e do planeta.
Quando pedimos a centenas de pessoas que identificassem o que faz sentido em seu
trabalho, todos elas apresentaram as mesmas dimensões de sentido. Estas são tão
antigas quanto a humanidade, tanto a familiar quanto a universal. O mapa de sentido
74
não diz o que deve ser feito, mas captura o que os seres humanos sempre souberam a
respeito do sentido em seu trabalho (NEAL, 2013, p. 229).
75
trabalhando de forma constante, com propósito, de forma colaborativa e
sustentável.
76
união na relação bem definida entre o gerenciador e o gerenciado (GIACALONE;
JURKIEWICZ, 2003, p. 44).
Sendo assim, é preciso um grande esforço concentrado para realizar
plenamente os objetivos da organização. O valor de colegas que são capazes
de colaborar e criar parcerias fortes não deve ser subestimado. Confiança e
lealdade construídas durante o processo de trabalho cria um ambiente de
respeito na equipe, pelas ideias individuais, e motiva.
Mudanças na força de trabalho ao longo do último meio século têm sido
numerosas, em que é evidente o esforço para aumentar a eficiência. Os espaços
de escritórios têm evoluído para estações de trabalho abertas, que exigem
flexibilidade e colaboração, e também se expandem para as casas e locais
remotos de todo o mundo, exigindo o enfrentamento de uma série de barreiras
de comunicação e distrações.
Manter os funcionários de longo data também é um desafio moderno no
negócio. Habilidades de parceria são valiosas na cultura geral da empresa em
termos de contração, para construir uma rede que vale a pena manter ao longo
do tempo. Pessoas que não são incapazes de construir parcerias ou trabalhar
de acordo com cultura da empresa não são indicados para permanecer em um
emprego por muito tempo (GIACALONE; JURKIEWICZ, 2003).
O professor da Universidade de Bradley, Helja Antola Crowe (2009)
escreveu um artigo sobre o desenvolvimento de parcerias, em que reconhece
que os ambientes verdadeiramente colaborativos transformam obstáculos em
oportunidades. Ou seja, ser flexível para as perspectivas dos outros cria
oportunidades para se chegar a ideias inovadoras, novas abordagens, além de
ajudar a conectar-se com diversos grupos de pessoas. A parceria impulsiona as
pessoas a desenvolver seus pontos fortes e a criar coisas únicas. Crowe também
observa que a diminuição de recursos normalmente força as pessoas a trabalhar
juntas em lugares diversos, e muitas vezes com pequenos orçamentos.
A colaboração eficaz conduz à satisfação individual, o que indiretamente
cria uma cultura entre empregado e empresa mais valiosa. Portanto, aí entra a
inteligência espiritual, que é um recurso para melhorar o estabelecimento de
parcerias, quando os empregadores valorizam os funcionários por certas
habilidades, tais como resolução de conflitos, calma sob pressão, aceitação de
críticas, liderança, empatia para com os colegas e outras atitudes colaborativas.
77
A linguagem corporal, cuidados com a própria saúde e comunicação são
algumas maneiras de melhorar a inteligência espiritual. Vale a pena ser capaz
de compreender outras pessoas e chegar a um acordo com ideias diferentes.
A colaboração pode soar como um slogan para a empresa moderna, mas
é uma maneira muito real de aprender com diversas circunstâncias e beneficiar
não só o indivíduo, mas a empresa como um todo. Os objetivos da organização
precisam ser claros e evidentes em todas as fases, para com todos os membros,
de modo que as técnicas de trabalho em conjunto possam ser realizadas. Dessa
forma, a colaboração diz respeito a um envolvimento eficaz, ou seja, é um acordo
de negócios necessário na era moderna, que não deve ser subestimado.
78
Capítulo III
Análise crítica do conceito de inteligência
espiritual
79
assunto. O que chamamos inteligência é, antes de tudo, a capacidade que ela tem de
criar-se a si mesma (2010, p. 19).
80
Visto que os autores Danah Zohar e Ian Marshall utilizam a teoria das
múltiplas inteligências como base para o conceito cunhado por eles, veremos
alguns pontos de concordância e rejeição em relação a Gardner.
A inteligência espiritual, segundo Danah Zohar e Ian Marsall, é um meio
de gerar o autoconhecimento para criar um entendimento do significado da
existência (missão da vida), sendo que o objetivo final é entender que fazemos
parte de um todo e estamos interligados, interconectados, sendo o altruísmo a
finalidade.
A inteligência espiritual apresenta ferramentas para o autoconhecimento.
Entretanto, os autores ressaltam que devemos perceber que o conhecimento do
centrar-se em si mesmo não deve ser o objetivo final, mas sim uma ferramenta
de autoconhecimento para estabelecer uma conexão mais estreita, amável,
amorosa e serena para com o próximo, o planeta e a natureza.
Os momentos de dificuldade, quando nos deparamos com obstáculos,
desafios, surgem como medidores de pensamento e, conforme o padrão deste,
as respostas acontecem com maior ou menor grau de fluidez.
Os padrões comportamentais também se submetem ao mesmo critério,
quando enfrentamos problemas no trabalho, relacionamentos de qualquer
natureza ou doenças físicas. São nesses momentos que o QS nos direciona a
buscar soluções criativas que transcendam o Eu, que geram superação.
Se analisarmos as perspectivas de autores como Howard Gardner, Danah
Zohar, Ian Marshall e Francesc Torralba, antes expostas, percebemos que eles
entram em divergência, pelo fato crucial da falta de comprovação científica.
Porém, Gardner não descarta que a inteligência espiritual possa ser, sim, uma
forma de espiritualidade.
A contra-argumentação de Gardner alude às recomendações de como
desenvolver as potencialidades da inteligência espiritual. Essas habilidades do
ponto de vista da inteligência espiritual são aquelas necessárias para elevar o
“estado de espírito”, que, segundo Gardner, nada mais são do que práticas de
tipos de inteligências descritas a seguir:
81
contemplação (para ser receptivo ao invisível) – inteligência naturalista,
ecológica;
espiritualidade na arte (que, impregnado na obra artística, serve de deleite
ao observador) – inteligência espacial-visual;
exercício físico (para transcender as resistências da natureza e o cansaço
corporal) – inteligência cinestésico-corporal;
exercício da solidariedade (através da consciência da conexão com o
outro, de suas dores e sofrimentos) – inteligência interpessoal.
A inteligência existencial se qualifica bem como uma inteligência à luz do oitavo critério,
pois jovens de todo o mundo levantam as questões fundamentais sobre a existência:
Quem somos? De onde viemos? Do que somos feitos? Por que morremos? E estas
questões são capturadas em sistemas simbólicos tais como o mito, a arte, a poesia, a
filosofia e a religião. Alguns indivíduos parecem precoces em suas capacidades de
colocar tais questões cósmicas onde outros se prendem às coisas mais mundanas. Há
pouca evidência de tendências existenciais em primatas não humanos, mas nossos
próprios antecedentes evolutivos, tais como os neandertalenses, evidenciam sinais de
preocupação, se não preocupações últimas, em seus rituais fúnebres (2000, p. 6).
82
Como são descritos esses elementos/habilidades espirituais? Qual o
diferencial?
Eles levam necessariamente a uma resolução de problemas mais eficaz
ou rápida, ou podem ser enganadores?
Existem recursos que poderiam substituir os espirituais?
83
extensão, hereditários, e isto é usado indevidamente para concluir pela
existência de uma base cerebral e genética da espiritualidade.
Por fim, o autor finaliza ao relacionar que o conceito de inteligência
pertence mais propriamente ao campo da cognição e é correntemente conectado
às formas de processamento de informação.
84
III.1.2.1. Práticas relacionadas à espiritualidade
A perspectiva espiritual inclui conteúdos existenciais que, por sua vez, têm
profundas implicações no bem-estar físico e psicológico. À medida que a pessoa
se abre para a espiritualidade, há uma integração com as outras dimensões da
vida, uma vez que atua como elemento integrador; por isso sua importância em
relação à saúde, mas não limitada a ela, contemplando também relacionamentos
e finanças.
A dimensão espiritual não requer condições especiais, podendo ser
trabalhada individualmente, em grupos, com pessoas de vários graus de
instrução, em ambientes variados, pois o que determina o start é uma vontade
que conjumina com uma conversa nos lugares mais inusitados possíveis, como
supermercados, academias, restaurantes, táxis, ambientes de trabalho. A
facilidade de sua aplicabilidade é uma das vantagens que a faz ser estimulada e
desenvolvida, também por não requerer arsenal ou conhecimento tecnológico.
A espiritualidade é, também, reconhecida como um processo que engloba
variadas práticas para encontrar a vontade de algo que transcenda o Eu. As mais
comuns, citadas por Sam Harris (2015), são a meditação, mindfullness,
consciência sem self. Outros estudos, como o de Carla Soares em sua tese de
mestrado sobre espiritualidade em enfermagem, também apontam para
meditação, ioga, exame de consciência, exercícios espirituais.
Já Victor Frankl acreditava que a dimensão espiritual do ser humano se
manifesta através da intuição, e para tal “é necessário que considere algo em si
que lhe diz o que fazer, que considere a voz da consciência moral […] percebida
como algo transcendente […] e capaz de orientá-lo” (FRANKL, 1993, apud
COELHO JÚNIOR, 2001).
As práticas espirituais servem para a pessoa orientar, mental e
fisicamente, suas motivações e prioridades, procurando não o benefício próprio,
mas o bem da comunidade.
Concentração, paz e libertação são também efeitos relatados por quem
pratica meditação, especialmente quando se enfrentam problemas na vida.
Sam Harris apresenta o estudo dos psicólogos e neurocientistas
Killingsworth e Gilbert (2012), que reconhecem os efeitos que a divagação dos
pensamentos na mente produz nas diversas fases da meditação.
85
A mente divagante é correlacionada à atividade nas regiões da linha
mediana do cérebro, em especial o córtex pré-frontal medial e o córtex parietal
medial. Essas áreas com frequência são chamadas de “rede padrão” ou “rede
de estado de repouso”, porque são as mais ativas quando estamos apenas em
compasso de espera, aguardando que algo aconteça. A atividade na rede padrão
tem a abrevição de DMN (default-mode network).
O importante sobre o DMN é que tende a ser mais ativo quando avaliamos
uma cena do ponto de vista da primeira pessoa (em vez de da terceira pessoa),
ou seja, quando nos colocamos sob a perspectiva do outro. De modo geral, esse
é um exemplo de como as práticas espirituais nos ajudam a prestar atenção ao
que está fora de nós, através de um olhar na primeira pessoa.
O estudo insinua, mesmo que ainda sem validação científica, uma ligação
física entre a experiência da prática espiritual, no caso a meditação, com o
sentido do self, em paralelo ao autoconhecimento segundo a inteligência
espiritual.
86
referencial, isto é, considerando e ponderando a vontade e necessidades, os
valores e os objetivos que se deseja alcançar.
Na trajetória do desenvolvimento das práticas espirituais é fundamental
parar e rever sistematicamente, avaliar e tentar construir algo melhor para o
futuro a partir do presente e das condições reais que as pessoas envolvidas no
processo de desenvolvimento possuem, além de introduzir a criatividade em
busca de novas soluções.
Então, a espiritualidade é apontada como uma forma de ultrapassar o erro
de exportar modelos de desenvolvimento com base em outra cultura que não a
local, respeitando as características individuais e seus talentos, e integrando e
respeitando a diversidade, dando valor aos hábitos, às relações e à cultura.
87
possível, com um olhar espiritualmente inteligente, se aproximar de belezas
peculiares.
Nesse sentido, Zohar (2000, p. 30) elenca algumas perguntas utilizadas
por indivíduos com um QS altamente desenvolvido, a quem os psicólogos
denominam “independentes de campo”, isto é, que possuem a capacidade de
trabalhar contra as convenções:
88
III.2. A INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL EM COMPARAÇÃO À "WORKPLACE SPIRITUALITY"
89
suas vidas do que adquirir “coisas” (comprar, gastar, endividar-se, pagar,
acumular).
Tais comportamentos é que despertam nosso interesse, a partir do olhar
para o indivíduo e para sua unidade familiar até para dentro das empresas, no
ambiente de trabalho, em que as exigências de um bom comportamento, qual
seja, seguir as regras, estão cada vez mais atreladas à expectativa de um
resultado produtivo positivo, ou seja, lucrativo.
90
Observar X
(satisfação)
Mudanças interiores: Reta final: ser mais
conduta e rumo da Indagar X (impulso) solidário, mais
missão de vida Agradecer altruísta
(transcender)
Organização:
Colaborador: Objetivo final:
Cidadania compartilhamento de
Significado do corporativa e riqueza e
trabalho responsabilidade conhecimento e bem-
Vida integrada social estar coletivo
91
compreender as aspirações do outro e fornecer na medida certa os recursos
materiais e espirituais para as pessoas a seu redor realizarem suas funções.
O capital espiritual, que inclui o capital moral, serve para apontar os
caminhos que conduzem a uma liderança espiritual. Liderança esta que deve
estar de acordo com a missão, visão e valores da empresa, isto é, por que aquela
empresa existe, no que ela acredita e qual sua responsabilidade corporativa.
Philip Kotler cita precisamente:
Vemos uma empresa não apenas como um operador isolado em um mundo competitivo,
mas como uma instituição que opera com uma rede leal de parceiros – empregados,
distribuidores, revendedores e fornecedores. Se a empresa escolher com cuidado sua
rede de parceiros, se seus objetivos estiverem alinhados e as recompensas forem
equitativas e motivadoras, a empresa e seus parceiros, juntos, vãos se tornar um
competidor de peso. Para que isso ocorra, a empresa precisa compartilhar sua missão,
sua visão e seus valores com os membros da equipe, para que eles ajam em uníssono
com o objetivo de alcançar suas metas.
92
“ganho-ganho-ganho”: bom para o trabalhador, bom para os colegas de trabalho
e bom para a organização (LIPS-WIERSMA et al., 2009). Reforçam a ideia de
que a workplace spirituality é uma revolucionária mudança de paradigma numa
direção nunca antes cogitada.
Isso corrobora a argumentação de que essa não é uma questão fácil de
lidar, ao contrário, é um assunto difícil, pois envolve um olhar cuidadoso, delicado
e fundamental para o Eu interior, o autoconhecimento da inteligência espiritual,
tão reforçada por Zohar (2012), através de um exercício permanente de reflexão-
ação e mudança de pensamentos e atitudes. Nesse contexto, então, a workplace
spirituality se tornaria uma ferramenta para esse autodesenvolvimento.
Entre os artigos publicados no Brasil, a maioria dos autores concorda com
essa linha de raciocínio, como, por exemplo, Souto e Rego (2006). Segundo
Kotler:
93
O resultado que se apresenta dessa crescente tendência da sociedade é
que os indivíduos estão não apenas buscando produtos e serviços que
satisfaçam suas necessidades, mas também experiências e modelos de
negócios que toquem seu lado espiritual. Nesse sentido, no conceito de
inteligência espiritual o papel dos líderes é inspirar pelo caráter sincero, em
contrapartida ao carisma manipulador e interesseiro.
Estar atento para essa tendência de mercado é um passo que os gestores
e líderes, ou todos que ocupam cargos influentes, devem dar para que todos os
funcionários os levem a sério. Analisar as metas de longo prazo e a utilização
pessoal do cultivo da inteligência espiritual e seu desenvolvimento
provavelmente é uma forma eficaz de dirigirem suas equipes e otimizarem
recursos para o aumento da lucratividade, o que vem ao encontro da proposta
da workplace spirituality.
Os empregados – liderados - e líderes são, na realidade, os consumidores
mais próximos das práticas das empresas, as quais precisam fortalecer a
confiança em sua missão, visão e valores, para que ressoem no espírito humano
de seus empregados. Com autenticidade, devem realmente praticar esses
conceitos a ponto de se tornarem admiradas pelas concorrentes como aquelas
que fazem a diferença pessoal na vida das pessoas.
A alta direção da empresa deve estar ciente de que as mudanças são
necessárias e devem ser profundas:
95
Os fornecedores, quando percebem que são importantes como seres
humanos e não como instituição, conseguem ter mais flexibilidade,
selecionar as melhores ofertas e conceder mais benefícios adequados a
situações específicas de negócio.
A comunidade, quando seus interesses são postos de forma que
promovam bem-estar e respeito, sente orgulho da presença da empresa
em sua região.
Os acionistas também sentem orgulho da empresa que investe no fator
humano, sendo mais exigentes em relação ao caráter moral das
empresas que não o fazem, pois admiram as transformações que esse
tipo de gestão promove na sociedade e, claro, na lucratividade.
96
coração do seu cliente, e ele oferecerá a você participação na carteira”
(SISODIA, 2008, p. 3).
Quando a empresa entende qual é seu papel e por que está em
determinado ramo de atividade, e se esforça pela realização de sua missão, os
retornos financeiros são resultado de suas ações.
A responsabilidade corporativa nada mais é do que colher o lucro que
resulta da valorização, pelos indivíduos, da contribuição das empresas para o
bem-estar humano.
O modelo abaixo exemplifica a matriz baseada em valores SRM
(Stakeholder Relantionship Management) no conceito de inteligência espiritual.
97
Conclusão
98
transcendência, ou seja, o desapego de ideias fixas, que se desenvolvem
naturalmente no cérebro humano por meio de uma evolução neurobiológica e
continua com a mudança de comportamento. Wright (2014, p. 256) descreve a
significativa direção dessa evolução que faz com que os religiosos suponham
que a origem dessas respostas seja, de algum modo, mais profunda que a
própria natureza.
Assim sendo, nosso objetivo nesta dissertação foi sugerir uma reflexão
acerca do paradigma espiritual como uma forma de compreensão da adoção do
conceito de inteligência espiritual nas empresas.
Por meio das análises realizadas na pesquisa, pudemos depreender que
em ambientes empresariais mais espiritualizados, nos quais os profissionais
(tanto liderados, quanto líderes) utilizam-se dos valores espirituais citados no
presente estudo, os relacionamentos podem ser viabilizados de forma mais
consciente, demonstrando a real situação empresarial, visto que quem decide
ou não por sua utilização possui dentro de si esses valores, praticando-os
habitualmente.
Caso a empresa opte pela workplace spirituality com a formação de um
sistema de cooperação mútua entre todos os participantes da equipe
empresarial em prol de um objetivo comum maior, podemos observar tal fato por
meio dos benefícios que serão gerados para a empresa, seus colaboradores e
stakeholders, no que diz respeito aos bons hábitos adquiridos a partir da
repetição sistemática dos valores elencados anteriormente, conforme defendeu
Cavanagh (2002).
A ciência da religião estuda mais de perto esse fenômeno religioso que
ocorre onde passamos a maior parte do dia, ou seja, no trabalho. Então,
academicamente, descortina-se uma possível abordagem alternativa à
racionalidade econômica, ao consumismo exagerado.
Profissionalmente, tal paradigma contribui para a formação de uma
empresa espiritualizada com atitudes voltadas às questões de ordem espiritual,
por meio da motivação e construção de um clima organizacional adequado aos
colaboradores, não somente visando ao lucro ou aspectos econômico-
financeiros.
Por fim, sugerem-se estudos complementares a este, que demonstrem a
influência da inteligência espiritual nas empresas. Há uma variedade de
99
perspectivas e abordagens. Assim, consideramos importante um estudo
empírico em profundidade, por meio de entrevistas ou estudos experimentais
que possam evidenciar uma situação antes e depois da utilização de valores
espirituais no ambiente empresarial.
100
Referências bibliográficas
101
DRUCKER, P. F. O melhor de Peter Drucker; homem, sociedade,
administração. São Paulo: Nobel, 2002.
HARRIS, S. Despertar; uma guia para a espiritualidade sem religião. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015.
102
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