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Eden Mattar1
1. INTRODUÇÃO
1 Mestre em Direito Empresarial pela Faculdade de Direito Milton Campos/MG. Professora Universitária
em Belo Horizonte. Capacitada em Mediação de Conflitos pelo IDDE – Instituto para o Desenvolvimento
Democrático. Ex-analista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região. Defensora Pública no Estado
de Minas Gerais.
2 ALVES, Carolina. Estatuto da pessoa com deficiência – Principais alterações. Migalhas, mar. 2016.
Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI235297,51045-Estatuto+da+pessoa+-
com+deficiencia+Principais+alteracoes>. Acesso em: 1 jan. 2017.
MATTAR, Eden. Estatuto da Pessoa com Deficiência: suas implicações no Código Cvil e no novo Código de Processo Civil. In: PEREIRA, Rodolfo
Viana; ROMAN, Renata; SACCHETTO,Thiago Coelho (Orgs.). Direito e assistência jurídica: um olhar da Defensoria Pública sobre o Direito. Belo
Horizonte: IDDE, 2018. p. 87-120. ISBN 978-85-67134-04-8. Disponível em: <http://bit.ly/2FhGHwe>
feitas há muito tempo. Ressaltando a essência das pessoas com deficiência, trouxe a
possibilidade da efetivação de direitos que conferem a efetiva igualdade entre todos.
Contudo, nem tudo caminhou como esperado. Logo após o início de sua vi-
gência, nosso país acolheu a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil
como um balde de água fria em diversas disposições até então inovadas pelo EPD
no Código Civil.
Assim, em meio a essas novas alterações, e com o intuito de demonstrar ca-
racterísticas positivas e negativas desse debate de leis, é que o estudo se apresenta,
como se verá no decorrer deste trabalho.
A Lei 13.146/2015 (EPD) tem por base a Convenção sobre os Direitos das Pes-
soas com Deficiência e seu Protocolo facultativo, tendo sido ratificada pelo Congresso
Nacional por meio do Decreto Legislativo n. 186/2008, e promulgada pelo Decreto n.
6.949/2009. Passou a viger em nosso ordenamento pátrio em janeiro de 2015.
Tal estatuto legal foi talhado tendo em vista precipuamente a necessidade de
se promover condições de igualdade para as pessoas com deficiência, com vistas
ao exercício de seus direitos e liberdades fundamentais. Embasada em um tratado
que especifica claramente os direitos de tais pessoas, preocupando-se com os
direitos humanos e com a dignidade da pessoa humana, o fim colimado pela lei ora
em vigor no Brasil não poderia ser outro senão o de gerar uma verdadeira inclusão
social e de cidadania.
De uma breve análise das disposições contidas no artigo 3º da convenção
internacional acima referida, observa-se que os princípios a serem seguidos são:
2. A não-discriminação;
4. O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como
parte da diversidade humana e da humanidade;
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5. A igualdade de oportunidades;
6. A acessibilidade;
E isso foi seguido pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, aqui no Brasil.
Em uma visão sistêmica, o Estatuto é dividido em dois livros básicos, a saber:
a Parte Geral e a Parte Especial.
Na Parte Geral há disposições que tratam da caracterização da deficiência e das
formas de sua proteção. Interessante é citar o artigo inaugural que dispõe sobre o
conceito de pessoa com deficiência, a saber, o artigo 2º, verbis:
3 LEITE, Flávia Piva Almeida et al. (Org.). Comentários ao Estatuto da Pessoa com Deficiência. São
Paulo: Saraiva, 2016, p. 67.
4 Art. 9o: A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, sobretudo com a
finalidade de:
I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; II - atendimento em todas as instituições e serviços
de atendimento ao público; III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnológicos, que
garantam atendimento em igualdade de condições com as demais pessoas; IV - disponibilização de
pontos de parada, estações e terminais acessíveis de transporte coletivo de passageiros e garantia de
segurança no embarque e no desembarque; V - acesso a informações e disponibilização de recursos
de comunicação acessíveis; VI - recebimento de restituição de imposto de renda; VII - tramitação pro-
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extensivos ao acompanhante ou atendente pessoal da pessoa com deficiência, como
forma de proteger aquele que é o foco da novel legislação.
Já a Parte Especial tem enfoque no acesso à justiça, tratando do reconheci-
mento de igualdade perante a lei, além dos crimes e das infrações administrativas
contra a pessoa com deficiência.
Esses tópicos serão analisados em um breve resumo, como forma de sintonizar
o espírito da lei às inovações legislativas dos códigos civil e de processo civil brasi-
leiros. É o que se passará a fazer nos próximos itens.
cessual e procedimentos judiciais e administrativos em que for parte ou interessada, em todos os atos
e diligências.
5 A Constituição Federal é atenta em relação à questão da deficiência, trazendo vários dispositivos con-
cernentes à pessoa com deficiência. Entre eles podem ser citados: 5º caput; 7º, XXXI; 23, II; 24, XIV;
37, VIII; 203, IV e V; 208, III e IV; 227 § 1º, II e § 2º e 244.
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O direito à assistência social e à previdência social também se encontra elen-
cado no EPD nos artigos 39 a 41. Seu regramento repete e ressalta algumas normas
constitucionais e legais.
Já o direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer tem seu detalhamento
nos artigos 42 a 45. De especial importância é o dever do poder público de adotar so-
luções que visem a eliminar ou reduzir as barreiras para promoção ao acesso a quais-
quer atividades artísticas, intelectuais, culturais e recreativas, bem como assegurar
o resguardo de percentual mínimo de acomodação para as pessoas com deficiência.
O direito ao transporte e à mobilidade é também foco das atenções da lei,
estando descrito nos artigos 46 a 52. O foco principal foi a eliminação de barreiras à
mobilidade e ao acesso da pessoa com deficiência em qualquer espaço, de forma a
que possa conviver em igualdade de condições com as demais.
Interessantes as disposições do EPD que estabelecem que nas áreas de esta-
cionamento aberto ao público deve ser reservado um percentual de 2% para pessoas
com deficiência, sendo garantido aos veículos que ostensivamente exibirem credencial
de seu beneficiário. Além disso, as frotas de táxi devem reservar um percentual de
10% de veículos e as locadoras de veículos devem oferecer um veículo a cada vinte
acessíveis a essas referidas pessoas.
A mobilidade se liga umbilicalmente ao direito à acessibilidade física. Contudo,
a lei não se restringiu a uma proteção geográfica ou de locomoção.
Por essa razão a lei tratou especificamente da acessibilidade em tópico indepen-
dente, como se demonstrará a seguir.
2.3 Da Acessibilidade
6 BRASIL. Secretaria Especial das Pessoas com Deficiência. Acessibilidade. Disponível em: <http://
www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/acessibilidade-0>. Acesso em: 04 mar. 2017.
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Os procedimentos, instalações e materiais que tenham por função viabilizar a
votação devem ser criados tendo em consideração as necessidades das pessoas com
deficiência. A finalidade é garantir igualdade de condições nos atos de votar e de ser
votado, o que se consubstancia no dever de incentivo à candidatura e ao exercício de
funções públicas, além da garantia de pronunciamentos oficiais com todos os meios
tecnológicos necessários.
O Título I da Parte Especial tem como objetivo maior o acesso à justiça. Sobre
esse tema, é importante a transcrição ora feita por Izaías Branco da Silva Colino7:
Mister se faz afirmar que acesso à justiça não é acesso físico aos tribunais, que
são prédios públicos, e para tanto podem ser visitados por todos os brasileiros,
desde que preenchidos alguns requisitos. Acesso à justiça de uma maneira
resumida é o conjunto de instrumentos que possibilitam aos cidadãos o acesso
ao Poder Judiciário, sendo que este é um direito fundamental em todo Estado
Democrático de Direito.
7 COLINO, Izaías Branco da Silva. O acesso à justiça das pessoas com deficiência. Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XVI, n. 108, jan. 2013. Disponível em: <http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_ar-
tigos_leitura&artigo_id=12697>. Acesso em: 04 mar. 2017.
Para que não se torne letra morta, a própria lei estabelece, no parágrafo único
do artigo 83 que “o descumprimento do disposto no caput deste artigo constitui
discriminação em razão de deficiência”.
Como se percebe pelas transcrições acima, a lei traz inovação no sistema das
capacidades: deve ser reconhecida a capacidade plena da pessoa com deficiência.
Mas como tal assertiva merece análise detalhada, a mesma será estudada com mais
vagar nos capítulos seguintes.
Quanto ao reconhecimento da igualdade perante a lei, o qual capitaneia o Capí-
tulo II, novamente uma inovação, que também merece transcrição:
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Interessante uma exposição clara sobre o assunto, indicando como ainda não
há preparo no Brasil para a assunção de um estatuto com tamanha envergadura. Uti-
lizamo-nos dos ensinamentos de Nelson Rosenvald8, abaixo transcritos em entrevista
por ele proferida para o IBDFAM:
Eu sou muito otimista, mas eu não posso negar que as maiores dificuldades
estão com a Defensoria Pública porque é a ela que recorrem os miseráveis, os
necessitados e estas pessoas, é um paradoxo, mas estas pessoas, é verdade,
elas necessitam de uma curatela historicamente para obter o acesso mínimo
à prestação continuada. Ocorre que o Estatuto da Pessoa com Deficiência foi
explícito ao dizer que a pessoa não precisa de uma sentença de curatela para
obter esse mínimo existencial. Basta que haja uma demonstração de uma de-
ficiência de qualquer natureza que seja. Apesar da clareza do Estatuto e apesar
de uma modificação da Lei 8.213, que é a Lei de Benefícios Previdenciários,
também expressamente dispondo sobre isso, há uma resistência do INSS sobre
isso. Continua exigindo uma prévia curatela, ou seja, a pessoa primeiro precisa
ser incapacitada pelo sistema como requisito básico para receber alimentos, o
mínimo existencial, e isso é uma subversão de valores. E em segundo lugar, os
próprios médicos se sentem constrangidos a conceder, fazer exames, perícias
para essas pessoas, apenas atestando a deficiência delas, com receio de que
amanhã haja uma coalisão com o pensamento do perito do INSS, de alguma
suspeita de fraude, de adulteração do parecer médico dele, ou seja, a lei traz
um caminho muito claro, benéfico para essas pessoas, mas ainda existem os
entraves que devem ser superados. Eu acho essa batalha fundamental, já que
as pessoas de um modo geral que são de classe média ou de classe alta, com
sorte, ainda contam com um advogado, um caminho onde elas podem não
optar pela curatela, pela tomada de decisão apoiada, a curatela não se destina
a obtenção de uma renda, mas à solução de uma questão de uma deficiência
mais grave, enfim, são problemas relacionados a nossa realidade material.
8 ROSENVALD, Nelson. Ainda são muitas as discussões em torno do Estatuto da Pessoa com Deficiên-
cia, sancionado há um ano. [7 de julho, 2016]. IBDFAM. Entrevista concedida ao portal do IBDFAM.
Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/noticias/6051/Ainda+s%C3%A3o+muitas+as+dis-
cuss%C3%B5es+em+torno+do+Estatuto+da+Pessoa+com+Defici%C3%AAncia,+sanciona-
do+h%C3%A1+um+ano>. Acesso em: 27 dez. 2016.
Entre vários comandos que representam notável avanço para a proteção da dig-
nidade da pessoa com deficiência, a nova legislação altera e revoga alguns arti-
9 TARTUCE, Flávio. Alterações do Código Civil pela lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiên-
cia): Repercussões para o Direito de Família e Confrontações com o Novo CPC. Parte I. Migalhas, jul.
2015. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/FamiliaeSucessoes/104,MI224217,21048-Alte-
racoes+do+Codigo+Civil+pela+lei+131462015+Estatuto+da+Pessoa+com>. Acesso em: 13
nov. 2016.
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gos do Código Civil (arts. 114 a 116), trazendo grandes mudanças estruturais e
funcionais na antiga teoria das incapacidades, o que repercute diretamente para
institutos do Direito de Família, como o casamento, a interdição e a curatela.
Para que haja uma compreensão clara das reformas operadas pelo EPD é que
se passa a analisar as mais importantes alterações no Código Civil, como a seguir
exposto.
I - (Revogado);
II - (Revogado);
III - (Revogado).
10 VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida Rabelo. As alterações da Teoria das Incapacidades, à luz do Estatuto
da Pessoa com Deficiência. Jus Brasil, 2015. Disponível em: <http://claudiamaraviegas.jusbrasil.com.
br/artigos/283317036/as-alteracoes-da-teoria-das-incapacidades-a-luz-do-estatuto-da-pessoa-com-
-deficiencia>. Acesso em: 19 dez. 2016.
IV – os pródigos.
O art. 4º, por sua vez, que cuida da incapacidade relativa, também sofreu mo-
dificação. No inciso I, permaneceu a previsão dos menores púberes (entre 16
anos completos e 18 anos incompletos); o inciso II, por sua vez, suprimiu a
menção à deficiência mental, referindo, apenas, “os ébrios habituais e os vicia-
dos em tóxico”; o inciso III, que albergava “o excepcional sem desenvolvimento
mental completo”, passou a tratar, apenas, das pessoas que, “por causa transi-
tória ou permanente, não possam exprimir a sua vontade”; por fim, permaneceu
a previsão da incapacidade do pródigo.
11 STOLZE, Pablo. É o fim da interdição? Jus Navigandi, Teresina, ano 21, n. 4605, fev. 2016. Disponível
em: <https://jus.com.br/artigos/46409/e-o-fim-da-interdicao>. Acesso em: 06 nov. 2016.
Logo, não há mais uma correlação entre incapacidade jurídica e deficiência (seja
ela física ou mental), como anteriormente estabelecia o Código Civil. O indiví-
duo com deficiência mental ou física, pelo simples fato de ser portador destas
deficiências, não é incapaz; Desde que este possa expressar sua vontade, este
é considerado plenamente capaz. Todavia, isto não significa que as alterações
promovidas aniquilaram o instituto das incapacidades no caso de pessoas com
enfermidade ou deficiência mental. Como explicitado anteriormente, a regra é a
capacidade. Entretanto, quando o indivíduo não puder exprimir a sua vontade de
forma livre e consciente, deve ser reconhecida a sua incapacidade. Frise-se que
a incapacidade, neste caso, não é declarada em razão da deficiência mental ou
física da pessoa. Não há qualquer correlação entre tais elementos.
12 Não obstante reconhecer uma série de dificuldades na aplicação da lei, Letícia Franco Maculan As-
sumpção (2015, online) expressa a importância da lei, que vale ser transcrita: “Muitas são as dúvidas
e variados os desafios, mas o objetivo do Direito Internacional na proteção dos direitos humanos, que
agora se observa na Lei nº 13.146/2015, que regulamentou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência, assinada em Nova Iorque, em 30 de março de 2007, é aplicar a proporcionalidade para
garantir cada vez mais a dignidade da pessoa humana, pois ser diferente não significa ser absolutamen-
te incapaz”.
13 COSTA, Aline Maria Gomes Massoni da; BRANDÃO, Eric Scapim Cunha. As alterações promovidas
pela Lei n. 13.146/2015 (Estatuto da pessoa com deficiência) na teoria das incapacidades e seus
consectários. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. 2016. Disponível em: <http://www.tjrj.jus.br/
documents/10136/3543964/artigo-interdicao.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2016.
14 ROSENVALD, Nelson. Tudo o que você precisa para conhecer o Estatuto da Pessoa com Deficiência.
Genjurídico, out. 2015. Disponível em: <http://genjuridico.com.br/2015/10/05/em-11-perguntas-e-
-respostas-tudo-que-voce-precisa-para-conhecer-o-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia/>. Acesso
em: 27 dez. 2016.
Aliás, o artigo 1.550 do CC foi alterado, contando a partir de agora com o pa-
rágrafo segundo, que reza que “A pessoa com deficiência mental ou intelectual
em idade núbil poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade direta-
mente ou por meio de seu responsável ou curador”.
Art. 1.557
[...]
3.2 Da Curatela
No que tange à curatela, o Código Civil de 2002 passou a ter a seguinte redação
para alguns artigos, com as alterações promovidas pelo Estatuto da Pessoa com
Deficiência:
II - (Revogado);
IV - (Revogado);
V – os pródigos.
Art. 1.768. O processo que define os termos da curatela deve ser promovido:
[...]
[...]
A revogação dos artigos referentes à curatela impede, assim, que seja dado um
grande passo na proteção das pessoas com deficiência.
Contudo, não se pode descuidar do fato de que o artigo 84 do Estatuto da
Pessoa com Deficiência preconiza que
Além disso, o escopo do artigo 85 do EPD não deve ser olvidado, pois ele não
se fez revogado pelo NCPC. E então, caso haja dúvida em algum tópico específico
da vida da pessoa com deficiência, isso deverá ser objeto de debate por meio de
procedimentos próprios, mas nunca razão para se determinar a interdição integral,
com estipulação da curatela.
Interessante é o julgado do TJMG abaixo transcrito:
Repita-se: o foco deve ser a capacidade como regra e não o contrário. Ou,
em outras palavras, a atenção deve ser dada ao fato de que a partir de agora os
curatelados não serão considerados pessoas absolutamente incapazes. Além disso,
a curatela não afetará senão e quando muito a prática de atos de cunho patrimonial,
não atingindo a essência de interesses e necessidades do indivíduo.
Aliás, conforme magistério da renomada Maria Berenice Dias15,
15 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015,
p. 687-688.
16 ASSUMPÇÃO, Letícia Franco Maculan. O Estatuto da Pessoa com Deficiência sob a Perspectiva de No-
tários e Registradores. Colégio Notarial do Brasil, dez. 2015. Disponível em: <http://www.notariado.
org.br/index.php?pG=X19leGliZV9ub3RpY2lhcw==&in=Njc3MA>. Acesso em: 27 dez. 2016.
§ 4o A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros,
sem restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado.
§ 5o Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode
solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando,
por escrito, sua função em relação ao apoiado.
§ 6o Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante,
havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores,
deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão.
17 ROSENVALD, Nelson. A tomada da decisão apoiada. Carta Forense, nov. 2015. Disponível em: <http://
www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/a-tomada-da-decisao-apoiada/15956>. Acesso em: 20
dez. 2016.
Ainda bem que duas inovações da Lei 13.146/2015 escaparam dessa confu-
são, criada pelo novo CPC: a curatela compartilhada e a tomada de decisão
apoiada. Pela primeira, a pessoa com deficiência poderá contar com mais de
um curador, para incumbências específicas; pela segunda, a pessoa com defi-
ciência poderá escolher pelo menos duas pessoas para apoiá-lo no exercício de
sua capacidade. A segunda, dependente de decisão judicial, não se confunde
com a curatela e tem por objetivo, principalmente, o apoio para celebração de
determinados negócios jurídicos; se houver divergência entre os apoiadores e
a pessoa apoiada, caberá ao juiz decidir.
18 LOBO, Paulo. Com avanços legais, pessoas com deficiência mental não são mais incapazes. Consultor
Jurídico, ago. 2015. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-ago-16/processo-familiar-avan-
cos-pessoas-deficiencia-mental-nao-sao-incapazes>. Acesso em: 27 dez. 2016.
O Estatuto de 2015, por sua vez, publicado posteriormente ao novo CPC, res-
taura os artigos do Código Civil relativos à curatela revogados por este, dando-
-lhes nova redação, em conformidade com a Convenção. Ocorre que tanto o
novo CPC quanto o Estatuto estabeleceram diferentes tempos para vacatio le-
gis: o Estatuto entrará em vigor no dia 3 de janeiro de 2016 (180 dias) e o novo
CPC no dia 17 de março de 2016 (um ano). A desatenção do legislador fez
brotar essa aparente repristinação. Assim, os artigos 1.768 a 1.773 do Código
Civil, relativos à curatela, terão nova redação dada pelo Estatuto, mas apenas
produzirão efeitos durante dois meses e quatorze dias, sendo revogados com a
entrada em vigor do novo CPC.
19 LOBO, Paulo. Com avanços legais, pessoas com deficiência mental não são mais incapazes. Consultor
Jurídico, ago. 2015. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-ago-16/processo-familiar-avan-
cos-pessoas-deficiencia-mental-nao-sao-incapazes>. Acesso em: 27 dez. 2016.
20 MENEZES, Joyceane Bezerra de. O direito protetivo no brasil após a convenção sobre a proteção da
pessoa com deficiência: impactos do novo CPC e do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Civilistica:
revista eletrônica de direito civil, ano 4, n. 1, p. 1-34, 2015. Disponível em: <http://civilistica.com/o-di-
reito-protetivo-no-brasil/>. Acesso em: 15 dez. 2016. p. 11.
21 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 12.
É essa autonomia e respeito que devem ser buscados não se perdendo de vista
o artigo 85 do EPD (não revogado) que estabelece que
22 DONIZETTI, Elpídio. Novo Código de Processo Civil comentado. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 600.
A doutrina que defende o direito civil constitucional entende que os atos exis-
tenciais integram o conceito de personalidade. Assim, a pessoa é sempre capaz de
praticá-los. E a interdição e a estipulação da curatela devem seguir tais parâmetros.
Por isso a interdição deve sempre ter por foco esse viés, sob pena de se voltar
ao passado restritivo anterior ao Estatuto da Pessoa com Deficiência.
O posicionamento de Rogério Alvarez de Oliveira23 é interessante e por isso ora
se transcreve:
[...]
[...]
Mas nem tudo são flores. Ao se analisar outros dispositivos do NCPC, claro
surge o conflito, como se percebe pelos abaixo transcritos, todos com nossos
destaques:
Art. 755
[...]
Art. 749. Incumbe ao autor, na petição inicial, especificar os fatos que demons-
tram a incapacidade do interditando para administrar seus bens e, se for o caso,
para praticar atos da vida civil, bem como o momento em que a incapacidade
se revelou.
5. CONCLUSÃO
No trabalho apresentado foi feita uma breve análise do Estatuto da Pessoa com
Deficiência (EPD) – Lei 13.146/2015. Inicialmente pode-se perceber que a legislação
recém-criada atravessou as barreiras geográficas de nosso país, indo se alimentar nas
fontes fecundas das Convenções e dos Tratados internacionais.
Com essa inspiração, em especial na Convenção Internacional sobre Direitos
das Pessoas com Deficiência, trouxe um novo olhar para as pessoas que, em nosso
país, sofrem com a desigualdade e com a desconsideração de seus direitos mais
comezinhos.
O EPD é claro em suas intenções quando abertamente explicita que “a pessoa
com deficiência deve ser protegida de toda forma de negligência, discriminação, ex-
ploração, violência, crueldade, opressão e tratamento desumano e degradante” (artigo
5º). Esse é o foco que deve ser perseguido pelo operador do Direito a partir de sua
vigência.
Assim, desde um simples direito de ir e vir, de se manifestar politicamente e de
ter acesso às informações, até o direito de ser considerado capaz, protagonista de sua
própria vida sem as restrições de antigos institutos de cunho restritivo, o Estatuto traz
inovação que deve ser incorporada aos nossos pensamentos e ações.
Promoveu ele uma alteração significativa no Código Civil, incluindo na referida
lei uma nova roupagem constitucionalista, na qual a dignidade e os direitos humanos
REFERÊNCIAS
ALVES, Carolina. Estatuto da pessoa com deficiência – Principais alterações. Migalhas, mar.
2016. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI235297,51045-Estatuto+-
da+pessoa+com+deficiencia+Principais+alteracoes>. Acesso em: 1 jan. 2017.
ASSUMPÇÃO, Letícia Franco Maculan. O Estatuto da Pessoa com Deficiência sob a Perspectiva
de Notários e Registradores. Colégio Notarial do Brasil, dez. 2015. Disponível em: <http://
www.notariado.org.br/index.php?pG=X19leGliZV9ub3RpY2lhcw==&in=Njc3MA>. Acesso
em: 27 dez. 2016.
BRAGA, Sérgio Murilo Diniz (Coord.). Novo Código de Processo Civil. Belo Horizonte: Líder, 2015.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado, 1988.
BRASIL. Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial da Repú-
blica Federativa do Brasil. Brasília, DF, 16 março 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 04 mar. 2017.
BRASIL. Lei 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF, 6 jul.2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm DOU 06.07.2015>. Acesso em: 04 mar. 2017.
BRASIL. Lei 8.742, de 07 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência
Social e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 07
dez. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm>. Acesso em:
04 mar. 2017.
BRASIL. Secretaria Especial das Pessoas com Deficiência. Acessibilidade. Disponível em:
<http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/acessibilidade-0>. Acesso em: 04 mar. 2017.
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
COLINO, Izaías Branco da Silva. O acesso à justiça das pessoas com deficiência. Âmbito Jurídico,
Rio Grande, XVI, n. 108, jan. 2013. Disponível em: <http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=re-
vista_artigos_leitura&artigo_id=12697>. Acesso em: 04 mar. 2017.