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aquella que edifica y sustenta el Derecho Penal. Eso puesto, resta claro que el fenómeno
ora analizado en que pese envolver aspectos psicológicos, sociológicos y éticos, circunda
de forma inmediata a las funciones registradas al llamado Derecho Penal del trabajo,
sector de la normativa jurídica lo cual se consigna expectativas de eficacia ante la
insuficiencia de tutela presentada por el derecho del trabajo. Se cuida, así, del
tratamiento jurídico del asedio moral en el ambiente de trabajo, comportamiento que se
caracteriza por el acoso continuo de un sujeto por el otro, turbando con eso la
tranquilidad del local, acarreando también, consecuencias diversas, a ejemplo del
sufrimiento psicológico y de sus desdoblamientos a la salud física y mental del asediado.
Preocupa, en estos dominios la variabilidad de enfermedades crónicas de las cuales
pueda ser acometida la victima del asedio, así como de las perpetuas secuelas que
cultive ante la sumisión habitual de las investidas del autor del acoso. Cumple decir que
en el panorama legal, semejante situación, encuentra disciplina y amparo en la CLT,
pero de manera bastante incipiente y lagunosa, puesto que no responde con precisión a
las diferentes modalidades de conductas de esta naturaleza, y todavía, ignora las
hipótesis de acoso moral, que ocurren en las relaciones de trabajo no reglamentadas por
el referido diploma. Esta vez, en virtud de la repercusión que tales acciones provoquen a
la integridad biopsíquica del victimizado, - a saber el peligro que genera para los
aspectos integrantes de la salud humana, - es que se pone en evidencia la necesidad de
si discutir soluciones para este fenómeno de otra manera, que no se agote en la simple
indemnización del asediado, mas sí que se encierre en la incriminación del desvalido
proceder del asediador.
1. Introdução
A atual formatação social, – seja por sua configuração, seja pela predominância de
valores econômicos modulados pelo capitalismo crescente ou atomizado –, comporta
muitas questões de candente relevância, posto que permite evidênciar uma certa e
preocupante inversão axiológica na escala de valores sob a qual se constrói.
Assim se afirma, vez que, as diretrizes adotadas por aquele sistema de produção, estão
comprometidas amiúde com o objetivo de alcance permanente do lucro, ignorando, para
tanto, em certas ocasiões, outros interesses, que a princípio condicionaria a adotação de
quaisquer medidas para a consecução daquela meta. É justamente neste ponto, que
reside a histórica incompreensão de ideologias radicais e antagônicas em torno de
considerações que repercutem (i)mediatamente neste campo, notadamente, ao
considerar o trabalho (humano) como instrumento imprescindível àqueles fins.
O mercado de trabalho, por exemplo, tal qual o próprio local no qual se executa as
atividades laborais afiançados, pela escassez de vagas de emprego; subemprego
crescente; as condições desfavoráveis e precárias nas quais são oferecidos algumas
poucas oportunidades; a competitividade mercadológica e a disputa pelo cumprimento
de metas e alcance de prestígio profissional são todos, fatores que concorrem para a
desestabilização das relações laborativas e a habitual tensão entre seus envolvidos.
Associados a esse rol de circunstâncias exibe-se ainda, como elemento que, também
impulsiona a afetação dos vínculos traçados no ambiente de trabalho, – local que se
mostra manifestamente sensível às comunicações subjetivas –, a permanente sensação
de medo pela perda da função ou cargo exercído pelo trabalhador ou ainda, de certo
status que ostente ou mesmo a estagnação de sua ascensão profissional.
ambiente de trabalho. Cabe mencionar, que o fenômeno denunciado não representa uma
manifestação original, tampouco recente.
O que se faz imprescindível registrar, é que o seu tratamento desde o ponto de vista
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médico-legal encontra espaço nos anos 1980 do século passado, em razão de ser a
partir daquele instante, que a fenomenologia ora em epígrafe, transcende, ou seja,
passa a ser percebida e posta em evidência. Assim sendo, resta claro que, a existência
do assédio (gênero) precede essenciamente à qualquer ângulo de constatação, sendo,
desta forma, tão imemorial quanto as mais primitivas relações humanas.
No particular aspecto das relações trabalhistas, o assédio de natureza moral, que em seu
âmbito se desenvolve passou a ser denominado tecnicamente, pela literatura
especializada de mobbing. Na semântica deste termo, compreende-se a permamente
pressão psicológica de cariz aviltante e humilhante, a qual uma pessoa ou um grupo de
indivíduos empreende habitualmente, contra outro(s) sujeito(s) no local de trabalho.
Demonstra-se como um fenômeno bilateral, estruturado por indivíduos, cujas posições
ocupadas no liame que as unem, tranformam-nas em assediador e assediado.
Do exposto até aqui, fica clarevidente – em virtude até da própria tessitura da posição
que um e outro ocupam na relação de trabalho–, que é tão mais comum quanto
realizável, o assédio praticado pelo empregador em prejuízo do empregado, seja pelo
desnível de escala hierárquica, seja pela vulnerabilidade deste diante das investidas
daquele (assédio vertical descendente). Nessa trilha, aparentemente atípico, porém
factual é o mobbing vertical ascendente, caracterizado pelo assédio do funcionário ou
grupo de empregados contra o chefe, com vistas a v.g. descreditar sua competência
para o exercício de suas atividades de gestão.
Informa-se que qualquer classificação, por mais detalhada que o seja, sempre
representa um elenco exemplificativo de um objeto, especialmente aqueles de alta
complexidade como é o caso da materialização desta particular espécie de bullying. A
casuística demonstra e o têm feito com continuidade, que o mobbing se apresenta por
meio das mais diferentes condutas. Dentre aquelas aqui enunciadas e outras tantas
executáveis extraí-se dividendos que compõe um dado compartilhado a todas as
categorias de assédio, sendo alguns mais ou menos identificados com a forma com a
qual o acosso se realiza.
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Ou seja, os diferentes tipos de violência modulam efeitos correspondentes à vítima na
medida em que se referem à afetação de algum aspecto da higidez e integralidade das
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O tratamento jurídico do assédio moral nas relações
laborais: um posicionamento em (des)favor da tutela
penal da integridade moral?
Por sua vez, a violência laboral ou intelectual apresenta como acima mencionado, o
conjunto de atitudes que atentem contra a pessoa e seu profissionalismo. Abrange,
assim desde a atribuição de encargos em desconformidade com a função desempenhada
pelo trabalhador, ou inadequada para suas aptidões, até a perturbação de seu
rendimento nos mais criativos atos de sabotagem. Os corolários nefastos, não
exaustivamente constatáveis nestes casos são a perda da expectativa de êxito em suas
criações e tarefas, hipersensibilidade à crítica e a vigilância, redução da capacidade de
concentração, pessimismo acerca de seu rendimento, a baixa perspectiva criadora,
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dentre outros tantos mais.
Em conta disso imputam-se, não sem pouca razão, – como destaca Fernández Briceño –,
alguns diagnósticos de síndrome do pânico ou outras moléstias oriundas da exposição do
indivíduo àquelas circunstâncias, como dores musculares, desvios ósseos, lesões por
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esforços repetitivos e/ou inumados e as incontáveis doenças assim originadas. Desta
feita, acrescenta-se a tudo isso, a dificuldade com a qual se encontra a vítima, em
perceber o que se passa consigo, vez que não obstante, a gravidade das consequências
assinaladas, as vezes sua causa, a saber, o comportamento do assediador se mostra
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laborais: um posicionamento em (des)favor da tutela
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Verifica-se, ainda, com não somenos importância, nesse caldo de cultivo, a necessidade
de uma averigação do comportamento do mobber, tal qual a afetação do destinatário do
assédio, nos seguros parâmetros oferecidos pela proprocionalidade. Somente a
submissão do ato agressivo in concreto aos postulados do princípio da razoabilidade é
possível aferir se o mesmo comporta em si, o condão de afigurar um genuíno mobbing,
tendo em vista que, uma ação isoladamente, nem mesmo uma sensibilidade ocasional
da vítima, podem ser reconduzidos à esfera de abrangência do assédio ora em comento.
Uma breve análise da fenomenologia deste singular tipo de bullying, já denota que a
preocupação em torno de si, refere-se às condutas que possam degradar e humilhar
consideravelmente alguns aspectos da dignidade do ser humano, e neste sentido,
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fragmentos estruturantes dos direitos da personalidade do homem. Com isso, as
estratégias de prevenção e medidas de repressão invocam-se, fundamentalmente,
contra esta classe de ações, cuja prática, precisa consolidar-se no local de trabalho, de
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forma tão habitual, a torná-lo um ambiente fértil e frutífero à realização do assédio.
Superado isso, certo é, porém que em todas essas fórmulas ou quaisquer outras, assim
igualmente criadas, traduzem um fenômeno estruturado com base em três elementos
fundantes. São eles, caracteres imprescindíveis à constatação dessa peculiar categoria
de assédio nas mais diferentes realidades espaço temporal.
laboral, como p.ex a aplicação de advertências infundadas ou ainda aquelas que uma
vez fundamentadas, extravazam as fronteiras da finalidade disciplinar do ato ou ainda,
ultrapassam o exercício do direito de direção do empregador. Ante o exposto, outro
componente encerra-se no elemento temporal composto da exigência de que o assédio
se dê em obediência a um lapso temporal mais ou menos contínuo. Esse dado
cronológico de habitualidade do abuso é o conjunto reiterado de atitudes desvaliosas do
acossador, capaz de resultar em um impacto real de significativa perseguição a vítima.
E nesse sentido, calha salientar que as violações unitárias, a saber isoladas, não
perfazidas em meio a sua perpetuação e/ou contumácia do mobber desnatura de plano o
assédio nos termos aqui alinhavados, sendo reconduzido pela melhor técnica e
adequação a outros comportamentos, que se afinem mais à singularidade do ato. A
pontualidade das violações mais gravosoas desloca a conduta do sujeito para
expedientes jurídicos nos quais se ampara ofensas aos interesses assim lesados, como a
honra, a liberdade ambulatorial, a integridade física e psíquica dentre tantos outros.
Naturalmente que as investidas de menor monta são eficazmente, tratadas com o
manejo de indenizações de reparação dos eventuais e respectivos danos morais sofridos.
Feitas essas considerações, subsiste, aqui, a ilação de que o assédio moral, pressupõe
um ato deliberado e consciênte do agente, a dizer de outro modo: reflete a manipulação
de processos causais dirigidos, a uma finalidade determinada, representada na extinção
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ou discriminação do indivídio do ambiente de trabalho e do abandono forçado das
funções que nele desempenha.
Assume-se ao revés disso, dois componentes importantes que obrigam ao exame desde
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a perspectiva jurídica dessa ordem de assédio. Com razão adverte Martínez Escribano,
que se tratam de cofundamentos presentes no acosso praticado nas diferentes relações
de emprego, não só as laborais ordinárias, mas sim também, nas laborais especiais,
inclusive nos vínculos funcionais e estatutários, além é claro daquelas relativas à
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integração de cargos e empregos junto as entidades político-administrativas
(funcionalismo público). Ademais, tendo em vista ambos os requisitos incorporados ao
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O tratamento jurídico do assédio moral nas relações
laborais: um posicionamento em (des)favor da tutela
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4. Da atual tutela aos bens jurídicos atingidos pela conduta do assediador: proposta de
lege ferenda à legislação trabalhista ou necessidade de criminalização?
Quando se aventa profilaxias que atenuem e previnam o mobbing exsurgem dentre elas,
as propostas de criminalização, como é a postura aqui perfilhada. E neste jaez, alguns
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segmentos da doutrina que interpretam essa questão preferem alocar o
comportamento assediador do mobber à tipicidade de injustos penais já existentes como
os delitos contra a honra (injúria – art. 140, CP e difamação – art. 139, CP), o crime de
lesão corporal (art. 129, CP), o de constrangimento ilegal (art. 146, CP), o de ameaça
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(art. 147, CP) ou mesmo o crime de assédio sexual (art. 216-A, CP). Todavia,
nenhuma dessas figuras, a exceção desta última, contém a descrição de uma conduta
habitual de humilhação e constrangimento permanente em desfavor do sujeito
assediado, com uma finalidade específica, qual seja, o alijamento da vítima do ambiente
de trabalho. É preciso entender, que é perfeitamente possível que no local onde se
exerce as atividades laborativas, ocorram condutas pontuais que se subsumam àquelas
tipificações, mas que não se esgotariam em um provável tipo de assédio moral, dado a
incompatibilidade de bens jurídicos protegidos em um e em outro caso.
Sabendo desde logo, que o mobbing menoscaba interesses tão relevantes quanto a
integridade moral e física do homem, seria redundante separar essa lesão da
concomitante afetação de parcela de sua dignidade, já que tais valores constituem,
também, – assim como diversos outros–, base deste dado ontológico do ser. Ao mesmo
tempo, seria impensável, que ofensas a bens jurídicos de tamanha grandeza não
repercutissem em um atentado a algum dos aspectos da dignidade do homem. São
portanto, a dignidade humana e os bens jurídicos assinalados, vinculados pela relação de
conteúdo e contido, ao passo que àquela reveste todo o conjunto de direitos individuais
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e fundamentais à existência humana.
Acerca de seu conceito, como destaca Muñoz Sánchez é possível distinguir diferentes
interpretações. Um setor doutrinário realiza uma compreensão restritiva de sua
definição, ao identificá-la como fragmento integrante do significado mais geral da
integridade pessoal, referindo-se, pois ao direito da pessoa em não ser exposta à
situações que lhes acarrete sensações de dor, sofrimento físicopsíquico ou ainda
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vexações de qualquer natureza . Outra opinião, ao revés, determina o conteúdo da
integridade moral de forma extensiva, posto encará-la como a própria incolumidade
pessoal, sendo assim, caracterizada pela ideia de inviolabilidade da personalidade
humana, identificando-se com as prerrogativas que o homem tem de ser tratado como si
mesmo, a saber como ser humano que o é.
Em efeito, oportuno salientar que não se confunde tais conceitos com a concepção que
se tem em torno da integridade física e muito menos da integridade psíquica, ainda que
a similitude dos vocábulos possam conduzir a uma redução de equivalência. A proteção
da integridade moral, como corretamente ensina Mario Coimbra, está atrelada a
proscrição de tratamentos deteriorantes e infamantes, bem como de humilhações as
quais possa ser sujeitado o homem, cujo assecuramento encontra-se esculpido
graficamente pelo legislador constituinte ao estabelecer, que “ninguém será submetido a
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tortura nem a tratamento desumano ou degradante” (art. 5.º, III, CF/1988).
É notável em múltiplas condições, imaginar situações nas quais ocorra uma visível
afetação à integridade moral, sem que o comportamento causador da lesão subverta,
outrossim, os aspectos cofundamentadores da integridade físicopsíquica da vítima. À
guisa de exemplo, tem-se aqueles indivíduos altamente resistentes em sua saúde, mas
que expostos à vexações e/ou perseguições se vêem vitimizados desde o ponto de vista
da integridade moral, porém ilesos quanto aos componentes físico e psicológico de sua
incolumidade fisiológica.
Deve-se, destarte afirmar, como o faz Lascuraín Sánchez que não se trata de converter
desnecessariamente uma conduta irregular em delito, mas sim da conformação de um
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Direito Penal do trabalho de dimensões adequadas cuja legitimação, argumenta o
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mesmo autor, passa pelo especial esforço de precisão e descrição das condutas
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puníveis, com significativo avanço no prestígio de referenciais jurídicos de afirmação
constitucional, como a existência digna do trabalhador – mormente em seu ambiente de
trabalho –, consoante disposições firmadas junto aos ditames de justiça social.
Sabe-se que o contrato de trabalho, uma vez celebrado, contém alguns requisitos, como
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laborais: um posicionamento em (des)favor da tutela
penal da integridade moral?
Um exame apurado das disposições do Código Penal que cuidam dos “Crimes contra a
organização do Trabalho” (Título IV), permite inferir uma ausência de tutela penal destes
bens jurídicos diante do comportamento do autor do mobbing, embora tipifique ações
perpetradas no contexto laboral. A primeira dessas figuras encontra-se prevista no art.
197 do CP, que sob a rubrica “Atentado contra a liberdade de trabalho”, basicamente
incrimina uma específica forma derivada do crime de constrangimento ilegal. Assim
sendo, já se depara com a preliminar dificuldade de que essa previsão se adeque ao
assédio trabalhista, em virtude de que no tipo em comento, o bem jurídico tutelado
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encontra identidade na liberdade do trabalhador e não em sua integridade moral. Além
do que, se refere ao menoscabo da liberdade enquanto capacidade de autodeterminação
do empregado em optar pelo trabalho que exercerá, não sendo, pois compelido por
violência ou ameaça a exercer atividades desconforme a sua vontade.
Insta relembrar, nesta trilha, que o desvalor da ação deste crime contra a organização
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do trabalho difere-se sobremaneira, do conteúdo do tipo subjetivo estruturante de um
vindouro delito de mobbing, tendo em vista que a finalidade motivadora do agente à
realização das condutas do art. 203, § 1.º, II, CP é bem diferente (oposta, aliás) daquela
que impulsiona o acossador, a saber, a demissão forçada do assediado, já que naquela,
sua ação é dirigida no sentido de embaraçar a saída do trabalhador dos serviços que
exerce e que não mais deseja realizar.
Em definitivo, não parece realmente serem em tais figuras delitivas, o espaço apropriado
à inclusão do comportamento do assediador. Por isso, propugna-se a criação de um tipo
próprio, autônomo e que satisfaça plenamente às exigência de prevenção e punição do
mobbing, já que as respostas com as quais trabalha o Direito Penal contém – como
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adverte com razão Susan Edwards –, um alcance não encontrado por sanções de
natureza civil. Todavia, observa com acerto De La Cuesta Arzamendi, não poder estas
vias, por outro lado, deixar de serem aperfeiçoadas em paralelo, quando se trata de
erradicar ou minimizar os efeitos do psicoterror laboral, além é claro da
instrumentalização de medidas de proteção das vítimas diante das expectativas de
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perpetuação das agressões.
O problema disso contudo, como chama a atenção Gómez Aller, restaria na vinculação
de um plus sancionador com circunstância ligada ao foro íntimo da pessoa – motivos – e
que, em consequência apoiaria uma sanção (adicional) com um recurso próprio do
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condenável Direito Penal de autor, o que exigiria um extraordinário esforço
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interpretativo do julgador no sentido de compatibilizá-lo com o Direito Penal do fato,
perspicácia judicial essa com a qual nem sempre se pode levar em conta.
É preciso, ainda, que a tipicidade formal esteja consciênte de que o acosso se realiza em
todas as relações de emprego, expressão essa designativa de um possível elemento
normativo de valoração jurídica, a ser empregado na redação do tipo, que impediria a
descriminação do alcance da norma à restritas relações de laborais, amparando
portanto, inclusive o assédio realizado no âmbito do serviço público. Como
mencionou-se, a particularidade do comportamento, impulsiona esculpir a norma penal
incriminadora, outrossim, garantidora da estabilidade laboral do empregado, explicação
para que a composição do tipo contenha ao lado do dolo de assediar, uma intenção a
mais nutrida pelo agressor, plasmada no fim de que o assédio importe na saída do
assediado do trabalho que exerce.
No que diz respeito a isso, coloca-se ser despiciendo que esta finalidade seja
efetivamente alcançada para a consumação da infração penal, bastando para a
integralização do injusto as manobras de constrangimento moral. O delito de intenção,
nestes termos, serviria à delimitação das barreiras do punível, necessitando pois para a
responsabilidade do agente, a prova desse elemento subjetivo especial, posto que em
sendo outro o escopo do agente, afigurar um delito distinto, v.g o de assédio sexual (art.
216-A CP), quando sua finalidade for obter vantagens ou favorecimentos sexuais da
vítima.
Data maxima vênia, um rectius construtivo poderia ser feito àquela proposta de lege
ferenda, mais precisamente no tocante ao quantum de sanção fixado na margem de
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máximo da pena. Parece cediço que o fim de prevenção geral está menos ligado à
quantidade (gravidade) de pena, que com a certeza de sua aplicação ou a funcionalidade
do sistema de justiça criminal. Logo, importar literalmente as penas em abstrato da
similar incriminação do Código Penal espanhol – ao menos no concernente ao máximo
estabelecido –, cumpre satisfatoriamente os fins colimados pelos aspectos positivo e
negativo de prevenção, além do que, determinar a pena máxima em até dois anos,
otimizaria no direito brasileiro instrumentos importantes erigidos em prol de um Direito
Penal de garantias, como a concessão para tal incriminação do benefício da suspensão
condicional da pena (art. 77 do CP) e a transação penal (art. 76, Lei 9.099/1995).
Obtempera-se que mecanismos deste gênero precisam ser exercitados sempre que
possível em virtude de sua inclinação para com o programa de Política Criminal
encampado por um Estado que se pretenda democrático e social de direito.
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3 GIDDENS, Anthony. Runaway world: how the globalization is reshaping our lives. New
York: Routledge, 2000, p. 39-53.
5 Cf. MARTÍNEZ LEÓN, M; IRURTIA MUÑIZ, M. J.; CAMINO MARTÍNEZ LEÓN, C.; TORRES
MARTÍN, H.; QUEIPO BURÓN, D. El acoso psicológico en el trabajo o mobbing: patalogía
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2012.
6 Cf. ACOSTA FERNÁNDEZ, Martín; Aguilera Velasco, María de los Ángeles; POZOS
RADILLO, Blanca Elizabeth. Relación Entre el Acoso Moral en el Trabajo y el Estilo
Interpersonal en el Manejo de Conflictos. México, Ciencia e Trabajo, n. 11, año 31, p. 14,
ene.-mar. 2009.
7 O’DONNELL, Ken. Valores humanos no trabalho: da parede para a prática. São Paulo:
Gente, 2006, p. 72.
8 A palavra mobbing provém do inglês, do verbo “to mob” que significa “atacar em
tumulto”, “atropelar”, ou seja, atropelar por confusão, tumulto causado por uma
multidão de pessoas. Cf. GINER ALEGRÍA, César Augusto. Aproximación conceptual y
jurídica al término acoso laboral. Murcia, Anales de Derecho, n. 29. p. 229, 2011.
11 Cf. FERNANDES, Maria de Fátima Prado; FREITAS, Genival Fernandes de; LUONGO,
Jussara. Caracterização do assédio moral nas relações de trabalho: uma revisão da
literatura. Valencia, Revista Cultura de los Cuidados, n. 30, ano 15, p. 73, 2011.
pelo ordenamento jurídico em geral. Cf. MORTORELL, Ernesto. Indemnización del daño
moral por despido. 2. ed. Buenos Aires: Hammurabi, 1994, p. 82.
23 Interessante a averbação que faz Samantha Ribeiro ao tratar sobre “discurso do ódio”
quando ensina, acertadamente que a discriminação possui um impacto maior que a
simples diferença, já que ela é empregada em um sentido pejorativo e tem por base
critérios ilegítimos, normalmente relacionados à ideia de superioridade de um grupo com
relação ao outro, o que amiúde acontece entre empregados e patrões. “A discriminação
sempre se dá em relação a membros de determinados grupos com o qual se identifica
um esteriótipo, um traço comum. Esse comportamento é acompanhado de um aspecto
negativo, de atos que visem a exclusão daquele grupo da sociedade”. Sobre o assunto,
vide com detalhes MAYER-PLUFG, Samantha Ribeiro. Liberdade de expressão e discurso
do ódio. São Paulo: Ed. RT, 2009, p. 109-110.
25 Cf. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 15. ed. São Paulo: Ed.
RT, 1971, p. 356.
28 Para alguns autores esse controle é uma condição básica de vida social por meio do
qual se assegura o cumprimento das perspectivas de comportamentos e os interesses
compreendidos no conteúdo das normativas que regem a convivência comunitária,
confirmando, pois e establizando-as contrafaticamente. Cf. MUÑOZ CONDE, Francisco.
Derecho Pena y control social. Caracuel: Jerez, 1985, p. 36.
29 Ver DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 9. ed. São Paulo: Ed.
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laborais: um posicionamento em (des)favor da tutela
penal da integridade moral?
30 Vide, por todos PELI, Paulo Robert; TEIXEIRA, Paulo Rodrigues. Assédio moral: uma
responsabilidade corporativa. São Paulo: ícone, 2006, p. 116-124.
31 Com mais detalhes, vide SANTOS, Aloysio. Assédio sexual nas relações trabalhistas e
estatutárias. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 23 e ss.
33 Cf. SARLET, Ingo Wolfgang. Os direitos sociais como direitos fundamentais: seu
conteúdo, eficácia e efetividade no atual marco jurídico brasileiro. In: ______; LEITE,
George Salomão (orgs.). Direitos fundamentais e Estado constitucional: estudos em
homenagem a J.J Gomes Canotilho. São Paulo: Ed. RT; Coimbra: Coimbra Ed., 2009, p.
223 e ss.
34 A integridade moral como direito fundamental viria a ser uma das expressões da
dignidade humana, no sentido da possibilidade de configurar, de forma autônoma, os
pensamentos, as ideias ou os sentimentos sem que ninguém possa alterar essa referida
formatação utilizando-se de mecanismos ou procederes opostos à vontade, entre os
quais, exemplificativamente, poder-se-ia citar os atos desumanos e degradantes. Cf.
DÍAZ PITA, María del Mar. El bien jurídico protegido en los nuevos delitos de tortura y
atentado contra la integridad moral. Estudios Penales y Criminológicos, n. 20, p. 59,
Santiago, 1997.
35 Cf. MUÑOZ SÁNCHEZ, Juan. Los delitos contra la integridad moral. Valencia: Tirant lo
Blanch, 1999, p. 21.
36 Cf. COIMBRA, Mário. Tratamento do injusto penal da tortura. São Paulo: Ed. RT,
2002, p. 165. Para o autor, essa fração da dignidade humana, impende tutela já que
também, se perfaz na garantia positiva, na direção de possibilitar ao homem o pleno
desenvolvimento de sua personalidade.
37 Cf. KANT, Immanuel. A metafísica dos costumes. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro,
2003, p. 226 e ss.
40 Cf. LASCURAÍN SÁNCHEZ, Juan Antonio. Los delitos contra los derechos de los
trabajadores: lo que sobra y lo que falta. Anuario de Derecho Penal y Ciencias Penales,
vol. 57, p. 22, Madrid, 2004.
41 AGUIAR, André Luiz Souza. Assédio moral: o direito à indenização pelos maus-tratos
e humilhações sofridos no ambiente de trabalho. São Paulo: Ed. LTr, 2005, p. 74.
42 OLIVEIRA, Flávia de Paiva Medeiros de. El acoso laboral. Tesis (doctoral) – Universitat
de Valencia. Valencia, 2005, p. 197-240.
43 Cf. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial. São Paulo:
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O tratamento jurídico do assédio moral nas relações
laborais: um posicionamento em (des)favor da tutela
penal da integridade moral?
45 CARVALHO, Érika Mendes de; CARVALHO, Gisele Mendes de. O assédio moral no
ambiente de trabalho: uma proposta de criminalização. In: CONPEDI. (org.). Anais do
XVI Congresso Nacional do Conpedi. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2008, p. 2918.
48 EDWARDS, Susan. La función simbólica del derecho penal: violência doméstica. In:
BUSTOS RAMÍREZ, Juan (Dir.). Pena y Estado: función simbólica de la pena. Santiago de
Chile: Conosur, 1995, p. 88.
49 Cf. DE LA CUESTA ARZAMENDI, José Luis. Acoso y derecho penal. Eguzkilore, n. 25,
p. 46 e ss., San Sebastián, dic.2011.
51 Como por exemplo, o crime de tortura (art. 1.º da Lei 9.455/1997) e o delito de
abuso de autoridade, com previsão no art. 4.º, b, da Lei 4.898/1965.
52 Assim procedeu o legislador espanhol ao erigir no art. 65, 4.º, de seu Código Penal,
uma agravante genérica aplicável, aquele que comete o crime por motivos “racistas,
antisemitistas ou outra classe de discriminação referente à ideologia, religião ou crenças
da vítima, a etnia, raça ou nacionalidade a que pertença, seu sexo ou orientação sexual,
a enfermidade de que sofra ou a sua falta de capacidade” (trad. livre).
54 Cf. GÓMEZ ALLER, Jacobo Dopico. Delitos cometidos por motivos discriminatorios:
una aproximación desde los criterios de legitimación de la pena. Anuario de Derecho
Penal y Ciencias Penales, vol. 57, p. 144, Madrid, 2004.
55 Cf. CARVALHO, Érika Mendes de; Carvalho, Gisele Mendes de; Machado, Isadora
Vier; SILVA, Leda Maria Messias. Assédio moral no ambiente de trabalho: uma proposta
de criminalização. Curitiba: JM, 2013, p. 134.
57 Cf. PÉREZ MACHÍO, Ana I. Concreción del concepto jurídico de “mobbing”, bien
jurídico lesionado y su tutela jurídico-penal. Revista Electrónica de Ciencia Penal y
Criminología, vol. 6, p. 6-46. Granada, 2004.
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O tratamento jurídico do assédio moral nas relações
laborais: um posicionamento em (des)favor da tutela
penal da integridade moral?
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