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A indústria turística tem vivido um boom. Ano após ano, a Espanha bate
recordes, até chegar aos mais de 75 milhões de visitantes anuais. Em cinco
anos, o turismo internacional cresceu mais de 30%. Simultaneamente,
apareceu e se ampliou a turismofobia. O setor vive com inquietação o aumento
da rejeição ao turismo. "As atitudes dos responsáveis políticos de algumas
Administrações não ajudam a reduzir as tensões", adverte o presidente da
Confederação Espanhola de Alojamentos Turísticos, Joan Molas.
Gasto compartilhado
Precisamente, o especialista em espaço público David Bravo e o geógrafo
Francesc Muñoz concordam que o turismo deve ser tratado como uma
indústria. "Assumimos todos os gastos com limpeza, transporte público e
segurança dos turistas e frequentemente eles só deixam a embalagem da
comida que lhes dão", queixa-se Bravo. Muñoz defende "ir direto ao ponto:
assim como o vendedor que quer fazer negócio tem de pagar uma taxa, as
empresas turísticas que se aproveitam de investimentos coletivos (como os
calçadões para pedestres) teriam de pagar algo em troca para as cidades".
A Fontana di Trevi é um dos centros dos quais falou Franceschini, assim como
a famosa escadaria da igreja Trinità dei Monti, também em Roma, cidade que
recebe dezenas de milhões de visitas a cada ano.
Outro lugar onde as autoridades tentam que o turismo não morra por causa do
sucesso é a Islândia. A ilha vulcânica no norte do Atlântico, na qual vivem
330.000 pessoas, viu como nos últimos anos se multiplicou seu grau de
atração turística. Em 2010, através de seu aeroporto internacional, recebeu
quase meio milhão de visitas. No ano passado, o total chegou a 1,76 milhão. O
aumento levou as autoridades do país a preparar neste ano medidas para
encarecer o preço dos alojamentos turísticos, a fim de limitar a chegada de
visitantes.
Nove lugares que odeiam os turistas
Jornal faz lista de cidades e destinos onde os turistas
começam a não ser bem recebidos
Observo com incredulidade a foto
(publicada faz pouco tempo por este
jornal) de uma pichação que
apareceu no bairro de Grácia: "All
tourist are bastards". Assim, sem
nuances. O 1,2 bilhão de pessoas
que – segundo dados da
Organização Mundial do Turismo –
tirou férias fora do seu lugar de residência é composto de adulterinos, espúrios,
ilegítimos, infames, falsos e vis. Recuperado do susto, me ponho a pensar:
b) Apesar de não confessar, quem pichou também saiu em férias alguma vez
na vida, mesmo que tenha ido a Lloret de Mar, e além de turista bastardo... é
um cínico.
Pode-se odiar os turistas? Sim, infelizmente (embora muitas das cidades que
agora os rejeitam cresceram e se tornaram ricas graças a eles; qual seria o PIB
dos maiorquinos sem o turismo?). O jornal britânico The
Independent preparou uma lista de oito destinos que odeiam ou rejeitam os
turistas. A lista não tem nenhum lugar da América Latina. São os que se
seguem, embora já antecipo que não estou de acordo com vários dos
incluídos. E acrescentei um nono da minha safra: Veneza, que me parece o
paradigma da cidade que despreza os visitantes. E você, o que acha?
Veneza
No caso da cidade italiana, não é novidade: quando a visitei pela primeira vez
há mais de 35 anos já senti
que não era bem-vindo.
Veneza é o paradigma da
cidade devorada pelo
turismo de massas e um
exemplo do que é preciso
evitar. Está há anos
maltratando o visitante
porque sabe que faça o que
fizer no dia seguinte terá
outras centenas de milhares
esperando para entrar. O cruzeiro 'MSC Preziosa' em um dos canais de
Veneza.
Ilhas da Tailândia
É curioso que o país do sorriso e um dos mais amáveis com os estrangeiros
apareça nesta lista. The Independent o inclui porque em maio de 2016 o
governo tailandês decidiu
fechar várias ilhas, entre as
quais Koh Khai Nok, Koh
Khai Nui e Koh Khai Nai,
destinos habituais de
mochileiros em busca de
festa, pelo elevado grau de
deterioração ambiental que
apresentavam. Mas para
mim isso não parece um
sintoma de que odeiem os
turistas; pelo contrário, é o
caminho a seguir para
combinar turismo e proteção. Tailândia, um dos principais receptores de
turismo mochilero. PIXABAY
Barcelona
O jornal britânico destaca as palavras da
atual prefeita, Ada Colau, uma antiga
ativista de esquerda, depois de tomar
posse como prefeita: “Não queremos que
a cidade se transforme em uma loja de
lembrancinhas baratas”, e dando Veneza
como exemplo. O congelamento de
licenças para todos os novos hotéis e
apartamentos de aluguel para férias, as
multas ao AirBnb, os projetos de novos
impostos turísticos e os estudos para limitar o número de visitantes são as
razões apontadas pelo The Independent para incluir a capital catalã. Além da
imagem que a cidade passa ao mundo com cartazes nas sacadas do tipo
“Tourist go home”.
Amsterdã
Outra das capitais que morre de sucesso. The Independent cita o discurso de
Frans van der Avert, diretor executivo de Marketing de Amsterdam, no recente
Foro Mundial de Turismo realizado em Lucerna: "As cidades estão morrendo
pelo turismo. Ninguém viverá mais nos centros históricos. Muitas das cidades
históricas menores na Europa estão sendo destruídas pelos visitantes. Não
gastaremos nem um euro a mais na comercialização de Amsterdam. Não
queremos ter mais gente. Queremos elevar a qualidade dos visitantes,
queremos pessoas que estejam
interessadas na cidade, não que a
queiram somente como pano de
fundo para uma festa. Vemos muitos
visitantes sem respeito pelo caráter
da cidade.” E lançou uma seta
envenenada: “O problema foi criado
pelas companhias aéreas de baixo
custo, com os passageiros da Ryanair
na linha de frente." Barcas no canal
de Prinsengracht, em Amsterdã,
durante o Grachtenfestival.
Butão
Acho que sua inclusão na lista é um
erro. O Butão não odeia os turistas,
muito pelo contrário. Só que tem
sido muito astuto: ao se incorporar
por último ao mercado turístico (o
país esteve fechado aos
estrangeiros até 1974 e o turismo
só começou a deslanchar a partir
de 1991) aprendeu com os erros
alheios e tenta fazer as coisas de
outra maneira. Quem quiser ir ao
Butão é bem-vindo, mas tem que
entrar com uma agência autorizada
e pagar uma taxa fixa de 250 dólares (810 reais) por dia, que inclui o
transporte, guia e alojamento. Assim controlam o fluxo e o número de visitantes
não se torna desordenado.
Os onsen do Japão
Um onsen é um banho público termal
tradicional da cultura japonesa. Nós,
estrangeiros, ficamos encantados também
em nos dar esse relax de água superquente
ao final do dia. Mas há um problema: na
maioria dos onsen é proibida a entrada de
quem tiver tatuagens no corpo, algo mal visto na cultura japonesa, mas não na
ocidental. De todo modo, me parece absurdo colocar nessa lista um país como
o Japão, tão amável com os estrangeiros, somente por isso.
Santorini (Grécia)
A ilha grega mais popular disse
basta. Não cabe nem mais um
cruzeiro nem um turista a mais. No
verão de 2016 chegaram 10.000
cruzeiristas por dia. As autoridades
querem limitar esse número a 8.000
a partir deste ano.
Este fenômeno ocorre sempre que uma cidade atinge sua capacidade de
máxima de visitantes. Passa então a conviver com trânsito humano, filas
intermináveis nos pontos de interesse, e custo de vida alto, entre outros
fatores. Com isto, torna-se nada hospitaleira para quem chega, e insuportável
para quem nela mora. Um estudo da agência holandesa TravelBird apontou
Barcelona (Espanha) com a maior vítima do over-turismo. Ela é seguida por
Mumbai (India), Amsterdam (Holanda), Veneza (Italia) e Hanoi (Vietnam).
Ninguém quer eliminar o turismo, mas buscar o equilíbrio. Ou seja, evitar que o
excesso de visitantes afete a preservação das cidades e a qualidade de vida
dos moradores.
Turismo em expansão
O turismo mundial dobrou em
15 anos para 1.2 bilhão de
pessoas por ano. Seduzidos
pelos gastos dos visitantes,
destinos como Barcelona,
Veneza e Reykjavík,
esqueceram de se equipar para
as consequências. No Brasil, há
bolsões isolados de over-turismo. É o caso de Ilhabela, no litoral paulista. A
cidade não aguenta mais o caos que multiplica a população de 40 mil por
quatro a cada feriado. Falta d’água, blecautes, e engarrafamentos colossais
levaram a cidade a estuda medidas restritivas, como rodízio de veículos.
Mas há casos de sucesso. Como Bonito, no Mato Grosso do Sul. Sem se
deixar seduzir pelo canto da sereia, a cidade estabeleceu cotas para as
principais atrações e encantos naturais. Já o arquipélago de Fernando de
Noronha combinou taxas, restrições e custo de vida extorsivo, e que na prática
inviabiliza a visitação em massa.
Desunião crônica
Está em alta também maior colaboração entre os interessados em contornar o
over-turismo. O melhor exemplo é o Brasil, onde uma crônica desunião da
indústria faz as “tribos” cuidarem apenas dos próprios territórios. Falta uma
organização única para a gestão integrada dos destinos.
A quinta, e mais óbvia das tendências, é proteger as áreas com grande trânsito
de turistas. Assim, Barcelona criou regras para os tours, como limitar o tempo
de permanência de grupos para reduzir o congestionamento em áreas
populares.
Criatura e criador
O turismo sempre determinou o grau de desenvolvimento das cidades. Hoje
ocorre o contrário. Lugares como Disney World ou hotéis em Las Vegas foram
construídos para receber turistas.
Depois, passaram a abrigar eventos,
e com a evolução se tornaram centros
residenciais. Agora, ironicamente os
moradores não querem ser
incomodados por turistas. É o clássico
caso da criatura que se volta contra o
criador.
MAR DE GENTE – o turismo de
massa torna insuportável a vida tanto para o turista como para o destino.