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07/01/2019 Como Escola Sem Partido e bancada evangélica se aliaram - Nexo Jornal

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Como Escola Sem Partido e bancada evangélica se aliaram


André Cabette Fábio 23 Nov 2018 (atualizado 27/Nov 17h31)

Bancada evangélica se movimentou contra indicação por Jair Bolsonaro de ministro da Educação não alinhado ao Escola
Sem Partido. Presidente eleito recuou e anunciou nome alinhado ao movimento

FOTO: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

 MANIFESTANTES A FAVOR DO PROJETO DE LEI LIGADO AO ESCOLA SEM PARTIDO EM REUNIÃO DA COMISSÃO ESPECIAL DA CÂMARA QUE O DISCUTE, EM NOVEMBRO DE 2018

O processo de escolha do futuro ministro da Educação foi marcado pela pressão e pela vitória da bancada evangélica, que teve sucesso em fazer com que um nome
alinhado ao movimento Escola Sem Partido obtivesse o posto.

Inicialmente, grandes jornais haviam publicado informações de bastidor (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2018/11/escolha-de-bolsonaro-para-educacao-


causa-crise-com-bancada-evangelica.shtml) segundo as quais o presidente eleito Jair Bolsonaro havia escolhido para o cargo Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto
Ayrton Senna e ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco.

Parlamentares da bancada evangélica se manifestaram contra o nome de Ramos. Entre os motivos de descontentamento está o fato de que Mozart não apoia o Escola
Sem Partido, que prega contra uma suposta “doutrinação ideológica” e é contrário à abordagem de questões ligadas a sexualidade e gênero nas escolas.

“Nós não vamos indicar qualquer nome, mas nos sentimos no direito de vetar quem for de outro campo ideológico
porque ajudamos a construir a candidatura de Bolsonaro”
Sóstenes Cavalcante
Deputado federal do DEM-RJ e um dos líderes da bancada evangélica, em entrevista (https://congressoemfoco.uol.com.br/legislativo/bancada-
evangelica-tem-direito-a-vetar-ministro-da-educacao-diz-deputado/amp/) ao site Congresso em Foco

A escolha final (https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/11/22/bolsonaro-anuncia-ricardo-velez-rodriguez-como-ministro-da-educacao.ghtml) foi por um


indicado do escritor Olavo de Carvalho, o colombiano naturalizado brasileiro Ricardo Vélez Rodríguez. Assim como a bancada evangélica, ele é um defensor do Escola
sem Partido.

A aproximação entre o movimento e grupos religiosos tem raízes em uma formulação teórica elaborada inicialmente pela Igreja Católica a partir da década de 1990.
Isso ocorreu em reação ao endosso de defensores dos direitos humanos em conferências promovidas pela ONU à ideia de que gênero e relações de gênero são criações
culturais.

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O surgimento do Escola Sem Partido
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O movimento Escola Sem Partido foi lançado em 2004 pelo advogado católico e procurador pelo estado de São Paulo Miguel Nagib.

Em entrevista concedida em 2016 ao jornal El País, ele afirma que a ideia surgira ainda em 2003, quando sua filha afirmou que seu professor de história havia
comparado Che Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana, ao santo católico São Francisco de Assis
(https://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/23/politica/1466654550_367696.html). Ele dizia que ambos haviam deixado tudo por uma ideologia, política em um caso,
religiosa em outro.

Nagib enviou uma carta ao professor, imprimiu 300 cópias e as distribuiu no estacionamento da escola. Alunos o xingaram, fizeram uma passeata em apoio ao
professor e a diretoria conversou com Nagib, afirmando que “nada daquilo tinha acontecido”, segundo seu relato.

Inspirado em um site americano (http://www.escolasempartido.org/quem-somos) chamado NoIndoctrinaction.org, já desativado, Nagib lançou em 2004 o site do
Movimento Escola Sem Partido para a coleta de denúncias de casos como o que sua filha havia vivido. Hoje, o movimento busca abordar duas questões centrais:

A suposta ‘doutrinação política e ideológica dos alunos por parte dos professores’

A suposta ‘usurpação dos direitos dos pais na educação moral e religiosa de seus filhos’

É neste segundo ponto que evangélicos e o Movimento Escola Sem Partido convergem em seus esforços, em especial no que diz respeito ao ensino de questões ligadas a
sexualidade e gênero.

O choque entre Igreja Católica e teoria queer


O pesquisador Rogério Diniz Junqueira, ligado ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e à UnB (Universidade de Brasília),
investigou as origens do conceito de “ideologia de gênero”, combatido por políticos religiosos e outros indivíduos alinhados ao Escola Sem Partido.

Em entrevista (http://clam.org.br/destaque/conteudo.asp?cod=12704) publicada em dezembro de 2017 pelo site do Clam (Centro Latino-Americano em Sexualidade e
Direitos Humanos), ligado ao Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Junqueira afirmou que a crítica ao conceito de gênero se
fortaleceu entre as décadas de 1990 e 2000 na Igreja Católica sob a gestão do papa Karol Wojtyla, ou João Paulo 2º. Essa crítica foi endossada por seu sucessor, Joseph
Ratzinger, ou Bento 16.

Entre 1979 e 1984, Wojtyla apresentou, em pregações, uma visão de mundo que posiciona a família nuclear heterossexual no centro do funcionamento de uma
sociedade harmônica. Essas pregações foram reunidas em uma obra chamada Teologia do Corpo.

A Teologia do Corpo postula que a mulher não é apenas uma entidade subordinada ao homem, mas sim complementar a ele. A mulher possuiria tanto disposições
anatômicas quanto psicológicas naturais, como o “amor materno”, que complementam aquelas do homem.

Segundo Junqueira, “Wojtyla, ao fazer da heterossexualidade e da família heterossexual o centro de sua ‘antropologia’ e de sua doutrina, acabou por produzir uma
teologia cujos postulados situam a heterossexualidade na origem da sociedade e definem a complementaridade heterossexual no casamento como fundamento da
harmonia social”.

O esforço de Wojtyla em posicionar o casamento heterossexual como uma peça central do funcionamento da sociedade se choca com uma outra visão de mundo,
articulada inicialmente por pensadoras feministas do campo dos estudos de feminismo, gênero e sexualidade. Dois marcos foram lançados pouco mais de cinco anos
após as conferências do papa.

Em 1990, a filósofa americana Judith Butler publica Gender Trouble (https://selforganizedseminar.files.wordpress.com/2011/07/butler-gender_trouble.pdf), que
ganhou versão em português como Problemas de Gênero. No mesmo ano, a também americana Eve Kosofsky Sedgwick publica Epistemology of the Closet
(http://shifter-magazine.com/wp-content/uploads/2014/11/Sedgwick-Eve-Kosofsky-Epistemology-Closet.pdf).

Em sua obra, Butler defende um tipo de feminismo que desafie os conceitos dominantes de gênero e identidade. Ela afirma que toda identidade de gênero, como a da
mulher ou a do homem, é um tipo de performance, que está aberta a modificações e multiplicidade.

Sedgwick afirma que oposições binárias, como a de homem e mulher, ou heterossexual e homossexual, são demasiadamente simplistas e não dão conta da diversidade
de práticas sexuais e identidades que ocorrem no mundo de fato -como pessoas que se identificam como heterossexuais mas sentem também homofilia e realizam atos
homossexuais, por exemplo.

As autoras estão entre as pioneiras da teoria queer (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/09/13/De-onde-vem-o-termo-queer-tema-de-mostra-cancelada-


em-Porto-Alegre), uma linha de pensamento que analisa atos sexuais e identidades como múltiplos e culturalmente construídos. Aspectos centrais dessa teoria foram
endossados em meados da década de 1990 por duas importantes conferências da ONU, relativas aos direitos das mulheres:

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE POPULAÇÃO


Ocorreu em 1994 no Cairo e foi organizada pelo Unfpa (Fundo de População das Nações Unidas). Ela é considerada um marco por ter
elaborado metas a favor da saúde sexual e reprodutiva de mulheres jovens (https://news.un.org/pt/audio/2014/09/1110511-assembleia-
geral-marca-20-anos-da-conferencia-sobre-populacao), com ênfase na sua emancipação e autodeterminação como pressupostos para uma
melhor qualidade de vida.
A carta da conferência (http://www.unfpa.org.br/Arquivos/relatorio-cairo.pdf) defende pontos como planejamento familiar, educação, em
especial para meninas, e redução das mortalidades infantil e materna.

CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE A MULHER


Ocorreu em 1995 em Pequim. Ela define o conceito de gênero para a agenda internacional. Segundo a carta da conferência
(http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2015/03/declaracao_pequim1.pdf), a situação da mulher não deveria ser analisada
apenas sob um ponto de vista biológico, mas 'como produto de padrões determinados social e culturalmente, e portanto passíveis de
modificação'. A superação desses padrões de desigualdade passaria pela modificação das 'relações de gênero'.
A carta defende a adoção de políticas públicas que considerem essa perspectiva de forma transversal, ou seja, mesmo quando não forem
especificamente direcionadas para o assunto. E defende a promoção do 'empoderamento feminino', ou seja, que a mulher adquira controle
sobre seu próprio desenvolvimento e trajetória.

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A reação após as conferências
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As ideias de Wojtyla se articularam nas décadas de 1990 e 2000 com a crítica de outros pensadores do campo conservador ao redor do mundo.

Eles se contrapunham à ideia de gênero e das relações de gênero como construções culturais e sociais, e combatiam o endosso conferido às ideias pela ONU e por
pensadores do campo dos direitos humanos. A posição de Wojtyla no Vaticano contribuiu para que essa crítica ganhasse força.

Hoje, Junqueira contabiliza investidas contrárias à discussão do conceito de gênero em mais de 50 países.

Alguns marcos antigênero

THE GENDER AGENDA


Dois anos após a segunda conferência da ONU, em 1997, a jornalista e ensaísta norte-americana Dale O’Leary
(https://centrodafamiliacj.wordpress.com/2014/03/09/entrevista-com-daly-oleary-especialista-em-ideologia-do-genero/) lança seu livro
The Gender Agenda, que foi traduzido em várias línguas, e se tornou uma importante referência do movimento antigênero.

‘IDEOLOGIA DE GÊNERO’
O termo 'ideologia de gênero' aparece pela primeira vez em um documento episcopal em 1998, em uma nota inspirada na obra de O’Leary.
Trata-se de uma nota do bispo auxiliar de Lima, Oscar Alzamora Revoredo, intitulada 'La ideologia de género: sus peligros y alcance'
(http://www.staffcatholic.net/archivos/lexicon/ideologiadegenero.pdf).

‘ATAQUE À FAMÍLIA’
Em 2000, o termo volta a ser usado em um documento organizado com o apoio do cardeal colombiano Alfonso Lopez Trujilo e intitulado
'Família, Matrimônio e ‘uniões de fato’'
(http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/family/documents/rc_pc_family_doc_20001109_de-facto-unions_po.html). Ele
foi elaborado pela Cúria Romana, o corpo administrativo que auxilia o papa em seu exercício de poder - no caso, Wojtyla.

O documento afirma que 'dentro de um processo que se poderia denominar de gradual desestruturação cultural e humana da instituição
matrimonial, não deve ser subestimada a difusão de certa ideologia de ‘gênero’ (‘gender’). Ser homem ou mulher não estaria determinado
fundamentalmente pelo sexo, mas pela cultura. Com isto se atacam as próprias bases da família e das relações interpessoais'.

LÉXICO DO GÊNERO
Em 2003, o Conselho Pontifício para a Família publica, sob Trujilo, o 'Lexicon: termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões
éticas' (http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/family/index_po.htm), que Junqueira descreve como “uma espécie de
dicionário enciclopédico sobre temas relativos a gênero, sexualidade e bioética, para o qual colaboraram mais de 70 autores conselheiros do
Vaticano ou atuantes em suas instituições de ensino”, e que se dedica a atacar o conceito de que gênero e as relações de gênero são
construções sociais.

Ratzinger assume como papa em 2005, após a morte de Wojtyla. Em 2008, quatro anos após a criação do Escola Sem Partido, passa a fazer discursos contrários à ideia
de gênero.

Suas argumentações buscavam apelar não apenas a religiosos. “O alemão defendia que a reflexão sobre a identidade sexual e as construções sociais relativas ao gênero
poderiam desintegrar o ser humano, tal qual a ação humana insensata destruiria a natureza”, afirma Junqueira.

O pesquisador avalia que, no campo político, a reafirmação da doutrina católica e da ideia de uma ordem sexual natural se opõe a ações como a legalização do aborto, a
criminalização de discriminação e violência motivadas pela orientação sexual ou identidade de gênero, a legalização do casamento homoafetivo e o reconhecimento da
diferença e da diversidade de gênero.

A luta antigênero nas escolas


Muitos dos críticos à ideia de que gênero e relações de gênero são construções sociais modificáveis passaram a reivindicar que professores não falassem sobre o tema
ou sobre questões ligadas à sexualidade.

A abordagem, ou não, deveria ser uma prerrogativa da família, de acordo com suas convicções. Por isso, parte da luta “antigênero” consiste em apresentar as escolas
como “campos de reeducação e de doutrinação” da “ideologia de gênero”.

Em um artigo (https://7seminario.furg.br/images/livro_do_seminario.pdf) publicado como parte das conclusões do seminário “Corpo, gênero e sexualidade:
resistência e ocupa(ações) nos espaços de educação” (http://www.anped.org.br/content/vii-seminario-corpo-genero-e-sexualidade-resistencias-e-ocupaacoes-nos-
espacos-de-educacao), realizado em dezembro de 2017 na Universidade Federal do Rio Grande, Junqueira afirma que o Escola Sem Partido costuma citar como
embasamento o artigo 12 da Convenção Americana de Direitos Humanos (https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm), que versa sobre
liberdade de consciência e religião e diz: “os pais (...) têm direito a que seus filhos ou pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja acorde com suas próprias
convicções”.

A interpretação defendida pelo movimento é de que esse direito envolveria inclusive vetar que visões não alinhadas com as convicções dos pais sejam apresentadas às
crianças nas escolas. Junqueira avalia, no entanto, que este ponto do documento protege a educação religiosa no campo privado da intervenção do Estado.

Em seu artigo, Junqueira ressalta que um ponto do protocolo adicional dessa mesma Convenção, publicado em 1988, versa explicitamente sobre a educação escolar, e
determina que ela se paute pelo respeito aos direitos humanos, a promoção do pluralismo e da tolerância.

Evangélicos e Escola Sem Partido se encontram


Em entrevista ao Nexo, o doutor em Direito e professor da UFABC (Universidade Federal do ABC) Salomão Ximenes afirma que, no Brasil, grupos evangélicos
aderiram à crítica formulada inicialmente pela Igreja Católica, posicionando a discussão do ensino de gênero como “um ponto prioritário da agenda política”.

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Este ponto ecoa com os preceitos defendidos pelo Escola
07/01/2019 Sem Escola
Como Partido,Sem
que defende
Partido que a abordagem
e bancada de certos
evangélica se assuntos
aliaram -deve
Nexoficar sob controle da família, e não dos
Jornal
professores, nos campos da moral e da política.

O movimento não formula, logo de partida, uma crítica detalhada ao conceito acadêmico de que gênero e as relações de gênero são construções culturais. Mas, segundo
Ximenes, se aproxima da agenda antigênero entre 2013 e 2015.

Em entrevista publicada em outubro de 2018 no jornal Folha de S. Paulo, o vice-presidente do movimento e professor da UnB (Universidade de Brasília) Bráulio Matos
define “ideologia do gênero” como uma erotização precoce (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2018/10/motores-de-bolsonaro-escola-sem-partido-e-ideologia-
de-genero-tem-raizes-religiosas.shtml), promovida pelo Estado sem consentimento da família. “O fundo da discussão está ligado a movimentos que querem, assim
como no âmbito político, usar a sala de aula para agendas específicas”, afirma.

Em entrevista para a mesma reportagem, o professor Fernando Penna, da UFF (Universidade Federal Fluminense), concorda que o Escola Sem Partido não foi
responsável por pautar a retórica antigênero no princípio. Mas cresceu a partir do momento em que passou a encampá-la.

Entre as vitórias contra a menção do termo gênero e de questões ligadas à sexualidade nas escolas estão:

ESCOLA SEM HOMOFOBIA


Em 2011, o governo Dilma Rousseff cedeu à pressão da Frente Parlamentar Evangélica
(https://www.ifch.unicamp.br/informacoes/arq_eventos_noticias/Q516_Paper_Partidos%20Pol%C3%ADticos%20e%20o%20movimento%20LGBT_Gustavo%20Gome
e deixou de lançar o material didático 'Escola Sem Homofobia', em troca de apoio na aprovação de outras pautas de interesse do Executivo.
Apelidado pejorativamente de 'kit gay', o pacote estava pronto, e trazia informações e materiais didáticos para combate ao preconceito nas
escolas.

BNCC
Em abril de 2017, o Ministério da Educação entregou ao Conselho Nacional de Educação a terceira versão da BNCC (Base Nacional Comum
Curricular), um documento que determina o conteúdo mínimo que deve ser lecionado em cada etapa da educação básica. Sob o comando do
presidente Michel Temer, pressionado pela bancada evangélica, foram retiradas da base
(https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/12/10/Como-a-omiss%C3%A3o-do-termo-%E2%80%98g%C3%AAnero%E2%80%99-na-
base-curricular-afeta-os-livros-did%C3%A1ticos) referências aos termos 'identidade de gênero' e 'orientação sexual'.
Em novembro de 2017, uma quarta versão da Base Nacional Comum Curricular foi concluída. Dessa vez, foram excluídos no mínimo dez
trechos que mencionavam gênero, entre eles alguns que abordavam especificamente a necessidade de um ensino sem preconceitos.

Movimentos do tipo também se deram nas discussões de bases curriculares estaduais e municipais. Discussões sobre gênero e orientação
sexual vinham constando em parâmetros curriculares nacionais desde a década de 1990, inseridas durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso.

As propostas da bancada
Registrada formalmente desde 2003 como Frente Parlamentar Evangélica, a bancada evangélica declarou apoio à candidatura de Jair Bolsonaro
(https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,bancada-evangelica-oficializa-apoio-a-bolsonaro,70002532347) no dia 18 de outubro de 2018, antes do segundo
turno da eleição presidencial.

Ela é composta atualmente por 75 e deve chegar a 84 dos 513 deputados federais na nova legislatura, que toma posse em fevereiro de 2019. No Senado, a bancada é
menos representativa. Mas também deve crescer, de 3 para 7 dos 81 senadores.

Os dados são de levantamento do Diap (http://www.diap.org.br/index.php/noticias/noticias/28532-eleicoes-2018-bancada-evangelica-cresce-na-camara-e-no-


senado) (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), que considera como parte da bancada os políticos que também ocupam cargos religiosos, como
bispos e pastores, assim como cantores gospel e parlamentares que professam a fé publicamente e se alinham às votações em bloco.

Trata-se de um grupo heterogêneo, com variadas denominações evangélicas. Mas que vem ganhando destaque por sua atuação em bloco no Congresso.

A luta contra a menção ao conceito de gênero continua no radar da bancada evangélica, fortalecida após o pleito de 2018. O grupo pretende ir além e instituir o “ensino
moral” nas escolas.

Em 24 de outubro de 2018, dias antes das votações do segundo turno, a bancada articulou suas principais posições em um manifesto chamado “O Brasil para os
Brasileiros” (https://static.poder360.com.br/2018/10/Manifesto-a-Nacao-frente-evangelica-outubro2018.pdf) -um título que, aparentemente, faz alusão à doutrina
articulada pelo presidente americano James Monroe (1758-1831), que afirmava que os Estados Unidos não tolerariam a interferência europeia nas Américas por meio
da máxima “América para os americanos”.

O texto deixa claro o apoio do grupo ao Escola Sem Partido. Em um ponto intitulado “Escola sem ideologia e escola sem partido”, o grupo avalia que as universidades
públicas se tornaram “instrumentos ideológicos” que “preparam os jovens para a Revolução Comunista, para a ditadura totalitária a exemplo da União Soviética e
demais regimes sanguinários”.

Tais regimes levariam à violência contra a “civilização judaico-cristã, atingindo duramente o cristianismo”.

O grupo afirma que é necessário “reinserir a escola e as universidades públicas em seu leito tradicional e conservador: ensinar”. E que é necessário combater a
“ideologia de gênero”, que teria sido adotada pelos “governos do PT” e investiria “na subversão de todos os valores e princípios da civilização”.

É preciso defender a “inocência infantil”, diz o grupo no documento. Seria “necessária uma campanha ininterrupta de combate à sexualização e erotização das crianças
e adolescentes em todo o Brasil, utilizando-se todos os meios possíveis, e punindo severamente todos que atentarem contra a inocência infantil”.

A bancada propõe, por outro lado, instituir o “ensino moral” como conteúdo transversal durante o ensino fundamental. Ou seja, que deveria ser transmitido em todas
as disciplinas. Esse ensino difundiria “os mais elevados e profundos princípios e valores da civilização”. Dentre eles, “amor à pátria, aos símbolos nacionais, aos heróis
nacionais”.

3 projetos alinhados ao Escola Sem Partido


Há dezenas de projetos de lei (https://www.google.com/maps/d/u/0/viewer?mid=1AbaBXuKECclTMMYcvHcRphfrK9E&ll=-17.333745624774274%2C-
49.38082785000003&z=3) inspirados nos preceitos defendidos pelo Escola Sem Partido em tramitação em estados, municípios e no Congresso no Brasil.
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/11/23/Como-Escola-Sem-Partido-e-bancada-evang%C3%A9lica-se-aliaram 4/8
Frequentemente,
07/01/2019 eles são apresentados ou endossadosComo
por políticos
Escolareligiosos. Até oemomento,
Sem Partido bancada decisões judiciais
evangélica têm impedido
se aliaram que aqueles aprovados sejam
- Nexo Jornal
colocados em prática, porque atentariam contra garantias constitucionais. Veja abaixo três projetos:

1 EM ALAGOAS

Em 2015, Alagoas se tornou o primeiro estado a aprovar uma lei inspirada no movimento (https://noticias.r7.com/educacao/aprovada-em-
alagoas-escola-sem-partido-tera-de-superar-batalha-juridica-para-ser-implementada-15082016). Apresentado pelo deputado Ricardo
Nezinho (MDB), o projeto afirmava que professores e autores de livros didáticos vinham buscando 'obter a adesão dos estudantes a
determinadas correntes ideológicas'. Isso incluiria fazer com que adotassem condutas morais, 'especialmente moral e sexual' que seriam
'incompatíveis com o que lhes são ensinados por seus pais ou responsáveis'.
A lei foi vetada pelo governador Renan Filho, que alegou inconstitucionalidade, mas o veto foi derrubado em votação da Assembleia Alagoana
no ano seguinte. Questionado juridicamente, o caso chegou ao STF (Supremo Tribunal Federal) e, em julho de 2016, a AGU (Advocacia-Geral
da União) enviou um parecer afirmando que a lei é inconstitucional, ponto de vista endossado pelo Ministério Público Federal. Decisão do
relator, o ministro Luís Roberto Barroso, suspendeu a lei em 2017 (https://educacao.uol.com.br/noticias/2017/03/22/stf-suspende-lei-de-
alagoas-que-pune-opiniao-de-professor-em-sala-de-aula.htm). O plenário da corte ainda deve, no entanto, votar para chegar a uma decisão
final.

2 NA CÂMARA

Há ao menos 14 projetos de lei na Câmara dos Deputados que seguem o espírito daquilo proposto pelo Escola Sem Partido. Um projeto de
2014 (http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?
codteor=1661955&filename=VTS+1+PL718014+%3D%3E+PL+7180/2014) sob análise de uma comissão especial
(https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/11/21/comissao-adia-pela-8a-vez-a-analise-do-projeto-escola-sem-partido.ghtml) na Câmara
dos Deputados proibiria o ensino envolvendo os termos 'gênero' ou 'orientação sexual' nas escolas. Também seriam afixados cartazes em sala
de aula especificando deveres do professor, entre eles 'não cooptar os alunos para nenhuma corrente política ideológica ou partidária'. Ele foi
apresentado pelo deputado Erivelton Santana (https://www.camara.leg.br/internet/deputado/frenteDetalhe.asp?id=53658) (Patri-BA), que é
membro da bancada evangélica.

3 NO SENADO

Um projeto de lei (https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=3410752&disposition=inline) apresentado em 2016 pelo senador


Magno Malta (PR-ES), membro da bancada evangélica, prevê a implementação do programa do Escola sem Partido no sistema de ensino.
Entre outros pontos, prevê que o poder público 'não se imiscuirá na opção sexual dos alunos', e veta os 'postulados da teoria ou ideologia de
gênero'.

VEJA TAMBÉM

EXPRESSO (HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/EXPRESSO/) De onde vem o termo queer, tema de mostra


cancelada em Porto Alegre (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/09/13/De-onde-
vem-o-termo-queer-tema-de-mostra-cancelada-em-Porto-Alegre)

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/11/23/Como-Escola-Sem-Partido-e-bancada-evang%C3%A9lica-se-aliaram 5/8
07/01/2019 Como Escola Sem Partido e bancada evangélica se aliaram - Nexo Jornal

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