Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Os vetores fundacionais
A formação espacial inicial do Brasil tem origens na ação de dois vetores territo
riais: o bandeirantismo e a expansão do gado. Caminhando em sentidos contrários,
* Texto originalmente publicado no Boletim Paulista de Geografia, da AGB-Seção São Paulo, n° 83,
2005.
9
10 A FORMAÇAO ESPACIAL BRASILEIRA
no século XVIII estes dois vetores vão encontrar-se no planalto central e assim cris
talizar a matriz do arranjo da formação espacial que hoje conhecemos. Na fachada
atlântica e na Amazônia ao bandeirantismo vai somar-se a ação dos aldeamentos
jesuíticos.
O bandeirantismo tem foco de irradiação em São Vicente e avança rumo a
quatro direções: o litoral sul, seguindo pelo costeamento; o sudoeste, rumo ao
território das missões jesuíticas; o oeste e noroeste, rumo aos territórios das co
munidades indígenas do planalto central e da Amazônia; e o nordeste, rumo aos
territórios indígenas do sertão e quilombolas da zona da mata, ambos rebelados.
São incursões apresadoras e de repressão, em cujos rastros os bandeirantes vão
deixando comunidades indígenas destruídas e manchas de cultivos e núcleos de
futuras cidades que pontuarão a base logística da sociedade em formação.
Todavia, a inspiração real é a descoberta de minas de ouro e prata, intento per
seguido tenaz e permanentemente, com o destino de cumprir na colônia a política
do metalismo que norteia todo o empreendimento colonial de Espanha e Portugal
neste momento. Daí o bandeirantismo perduraç.por todo o correr dos séculos XVI
ao XVIII, culminando com a descoberta das minas de ouro e diamantes no planalto
central-mineiro, quando então cessa. Em cada ponto para o qual se dirige, combina
então o apresamento de índios e a busca da descoberta do eldorado. Estimulado
pela demanda interna de trabalho escravo, que aumenta na colônia com o sucesso
e a expansão da economia açucareira dos engenhos, o apresamento e venda de
índios como escravos é o que motiva os bandeirantes em todos os seus movimen
tos de incursão pela hinterlândia, não respeitando o marco legal do Tratado de
Tordesilhas, pelo qual o domínio colonial português pouco vai além da faixa estrei
ta do litoral do Atlântico (Monteiro, 1995; Moog, 1966), acumulando com o tempo
uma experiência de guerra, a que recorre a classe plantacionista da zona da mata
em diferentes momentos.
Neste propósito, as incursões bandeirantes avançam rumo ao litoral sul, onde
suas tropas vão disputar hegemonias de território e de apresamento indígena com
as tropas espanholas, que aí também agem, em nome da pertença dessas terras à
Espanha segundo o Tratado de Tordesilhas. Indo para além do limite da região de
Laguna, no litoral de Santa Catarina, o movimento bandeirante alarga os domínios
da colônia portuguesa, ao tempo que garante a mercadoria escrava que o motiva.
É mais rico de possibilidades, todavia, o apresamento nas missões jesuíticas, que
reúnem numerosa população de índios guaranis, aldeados desde 1610 em terras do
atual Paraguai, Argentina e Rio Grande do Sul. Uma sequência de conflitos atraves
sa a história das relações de bandeirantes e a região missioneira, que leva, por fim,
A s fases e vetores da formação espacial brasileira 11
Os ciclos de assentamento
do pau-brasil, da cana e dos metais preciosos, vige no Norte o ciclo das drogas do
sertão. A instituição de aldeamentos indígenas, pelo trabalho de catequisação jesuíta,
instaura a atividade do extrativismo como modo de vida dominante ao longo de todo
o vale. É um ciclo que se esgota nos finais do século XVIII, quando é substituído pelo
da extração da borracha, o novo ciclo que reorganiza a economia regional como
um todo, cria um novo modo de vida, atraindo imigrantes do sertão nordestino,
assolados pelas secas do final do século, e alterando as relações existentes e forma
tando a relação de exploração da floresta em função-do novo empreendimento.
Por fim, o século XIX é a fase do café, o último dos ciclos, que domina os es
tados do Sudeste do começo do século XIX aos meados do século XX, com auge e
epicentro no planalto de São Paulo. Instaurado inicialmente nas matas dos maciços
interiores da cidade do Rio de Janeiro, daí se expande para se instalar nas áreas
florestadas da serra do Mar e do vale do Paraíba, nos Estados do Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo, para, por fim, chegar ao planalto paulista,
quando então atinge seu clímax. O ciclo do café sustenta e faz inúmeras transições,
da colônia para a independência, da escravidão para o capitalismo e-da monarquia
para a república, assim antecipando o momento instaurador da grande transfor
mação que ocorrerá na formação espacial brasileira com o advento da industriali
zação e urbanização do agora país.
Essa sequência de ciclos implanta, pois, o formato de ocupação e assentamento
económico-demográfico da formação espacial brasileira. E cria o padrão do ar
ranjo espacial que irá vigorar até meados do século XX, em que a lavoura ocupa
as áreas de floresta e a pecuária as de vegetação aberta, coincidentemente com o
arranjo diferenciado das paisagens geobotânicas arrumadas em três longas faixas,
no sentido latitudinal. Correlação assim distribuída, no sentido do litoral para o
norte amazônico: a faixa de lavouras e ocupações urbanas, das áreas de floresta da
mata atlântica; a faixa de pecuária, das áreas da vegetação campestre da caatinga,
do cerrado e dos campos da campanha dos sertões; e a do extrativismo vegetal
da Amazônia, fechando o mapa no extremo oeste-norte. A ocupação demográfica
reproduz essa ocupação socioeconômica em três grandes faixas, com maior den
sidade na faixa atlântica e intensidade sucessivamente menor na faixa dos sertões
até minguar e mostrar-se rala na faixa extrativista do extremo oeste-norte.
É nesse longo período dos ciclos que se implanta o modelo de sociedade brasi
leira como uma sociedade concentradora e excludente, levantando a sequência de
movimentos insurrecionais que se desdobram das comunidades indígenas e qui-
lombolas dos ciclos iniciais às comunidades camponesas dos últimos ciclos, cada
qual experimentando um modelo comunitário de sociedade distinto e contraposto
A s fases e vetores da form açao espacial brasileira 15
Paulo (Moreira, 2004). Uma ampla base de infraestrutura para tanto deve ser as
sim instalada, que traga os meios de transporte, de comunicação e de transmissão
de energia para o cerne dessa formação, organizados numa rede de circulação que
visa a que tudo convirja para a instauração do comando da cidade sobre o campo,
da indústria nacional sobre a indústria regional e da indústria paulista sobre o todo
do espaço nacional.
Esta rede no geral é a mesma das trilhas do bandeirantismo e da expansão do
gado, porém orientada agora para outra direção de relações e propósito e com
impacto em geral negativo para os núcleos iniciais de assentamento e suas loca
lizações. Ali por onde passa o eixo modemizante da urbano-industrialização, os
velhos núcleos de assentamento são encarados como de efeito inercial, não raro a
industrialização dissolvendo-os, desalojando seus habitantes ou mesmo extinguin
do seus arranjos de espaço. Daí advindo conflitos de reordenamento urbano que se
acrescentam aos de origem fundiária rural.
Conflitos rurais, urbanos e regionais assim se entrecruzam e se multiplicam
reciprocamente no espaço nacional unificado. Nos conflitos rurais opõem-se gran
des proprietários e camponeses ao redor da questão da reforma agrária. A forte
concentração da propriedade rural herdada do período colonial e que atravessa
sem mudança as transformações fundamentais do século XIX - a independência, a
abolição da escravatura e a república - agora é questionada por um campesinato
que começa a ser expulso do campo por conta das mudanças na agropecuária em
sua resposta de mercado capitalista às demandas urbanas e da industrialização, re
agindo o campesinato com a pressão pela partilha e redistribuição mais equânime
da terra que equilibre as relações no campo e modernize socialmente as relações
agrárias. Já nos conflitos urbanos opõem-se o capital e o trabalho, a população
trabalhadora urbana e a especulação imobiliária e a nova e a velha direção dos
fluxos da circulação. São duas ordens territoriais de conflito, a rural e a urbana,
que aqui e ali se aproximam. O apoio dos segmentos sociais da cidade que veem
um rebatimento positivo da reivindicação dos camponeses no seu modo de vida
urbano - caso dos trabalhadores, que relacionam os problemas rurais a sua pauta
de emprego, salários e moradia - e no alargamento do mercado - caso dos indus
triais, preocupados com os limites do mercado interno para seus produtos -, en
contra a contrapartida no apoio dos segmentos sociais do campo, nacionalizando o
movimento do campesinato por reforma agrária e dos trabalhadores urbanos por
melhores condições de vida, num cruzamento de bandeiras. Já nos conflitos inter-
-regionais, por fim, pontuam as dissonâncias entre as velhas oligarquias rurais re
gionais e as novas nascidas da urbano-industrialização, acentuadas pela passagem
18 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
lar urbana (Reijntjes, Haverkorte Waters-Bayer, 1999; Kraychte, Lara e Costa 2000;
Gaiger, 2004; e Pacheco, 2004).
Contraponto que encaminha a formação espacial brasileira rumo ao formato de
uma organização social mais complexa, em que, de modo claramente explícito, a
sociabilidade capitalista e as sociabilidades não capitalistas coexistam num perfil
societário ainda incerto,, mas que sugere tratar-se de sujeitos estruturais efetiva
mente presentes (Moreira, 2005). Paradigmas de um mundo do trabalho e da polí
tica contarrestantes, sobretudo face à regulação do espaço.
Expressão do novo rumo da organização da formação espacial brasileira pelo
lado das classes hegemônicas, o complexo agroindustrial é uma economia indica
tiva da organização da sociedade e do espaço segundo padrões de regulação mar
cados pela ausência da divisão territorial do trabalho, de um lado, e novo modo
de entrada do Estado, de outro lado, ilustrando o desaparecimento justamente das
estruturas reguladoras das ações e dos ordenamentos do recente passado. E, assim,
a forma estrutural-produtiva que melhor encarna os efeitos da nova base material
trazida à organização da produção e do trabalho no modo de produção capitalista
pela terceira revolução industrial, cujo epicentro técnico são a microeletrônica e a
engenharia genética, e cujo epicentro acumulativo é o capital rentista. Assim, no
campo, para além da interação própria da primeira fase da mais-valia relativa, a
agricultura e a indústria fundem-se na estrutura única do complexo agroindus
trial, uma estrutura de produção e trabalho em que os setores da agricultura, da
indústria, do serviço e da pesquisa tecnológica eliminam as separações setoriais
(em setores primário, secundário, terciário e quaternário) e espaciais (em cidade
e campo; e cidade e região) e introduzem um modo de organização espacial sem
as separações que segmentavam territorialmente a formação espacial capitalista
clássica. E passam a assim relacionar-se no plano estrutural da economia e das
empresas como um corpo global, não mais setores especializados, todos os setores
juntando-se, fundidos, numa só empresa e numa mesma estrutura espacial em
rede. E na cidade, enquanto equivalente urbano do complexo agroindustrial, o
complexo empresarial que junta a produtora, a revendedora e a financiadora num
só domínio de empresa, é a estrutura nova, generalizando o modelo de produção-
-realização do valor do ramo das montadoras de automóveis para o todo do sistema
industrial, produção, venda e financiamento se fundindo numa só unidade corpo
rativa espacialmente. O capital rentista, representado na agência de financiamento
do grupo, assumindo o comando geral por trás das fusões. Daí dizer-se que o es
paço tornou-se uma rede de redes. Um nome apropriado para o espaço de rede de
complexos. O de complexos em rede.
24 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
Bibliografia
Este texto centra sua atenção no papel que o setor agrícola vem desempenhando
no processo de acumulação urbano-industrial, que domina o presente momento
do desenvolvimento capitalista no Brasil, bem como em algumas controvérsias em
torno do assunto.
A importância do tema
* Texto originalmente publicado na revista Legenda, n. 2, ano 1,1978, da Faculdade Notre Dame.
29
30 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
Os modelos teóricos
(CEPAL). Já a corrente funcionalista pode ser vista em Ruy Miller Paiva, André
Gunder Frank, Francisco de Oliveira.
Observe-se que no cerne das controvérsias entre estas duas correntes situam-
-se duas questões: a transformação da estrutura agrária e o tratamento científico
do -tema por via do uso da noção de acumulação do capital. A primeira, posta à
margem dos debates na última década, consiste na principal proposta da corrente
dualista, mas sua necessidade é contestada por alguns teóricos da corrente funcio
nalista; a segunda-consiste num dos pontos de fraqueza teórica da corrente dualista,
constituindo uma das grandes contribuições da corrente funcionalista.
Para Lambert, em nosso país coexistem dois brasis, que estão separados “por
diferenças de séculos”: o Brasil Moderno, representado por São Paulo e estados
sulinos, e o Brasil Arcaico, representado pelo Nordeste. Na origem dessa defasa-
gem, como diz Lambert, está a implantação em solo brasileiro, em tempo e espaço
diferentes, de duas diferentes fases do desenvolvimento europeu:
praticante, mesmo porque é de natureza itinerante, pois não raro o pequeno lavra
dor vê-se forçado a retirar-se para áreas ainda não ocupadas pela grande lavoura
de exportação, toda vez que esta expande seu espaço de cultivo. Lembra Celso
Furtado que há total impossibilidade da pequena competir com a grande lavoura,
face: a) à dificuldade de acesso às melhores terras, sempre controladas pela grande
empresa; b) à exigência de alto investimento pela comercialização e aquisição de
equipamentos e escravos; e, c) à maior rentabilidade da grande empresa propiciada
pela mão de obra escrava.
O monopólio da terra tem ainda outra função relevante: garantir o caráter mo-
nocultor e itinerante da grande lavoura. Sendo a terra fator elástico e a mão de obra
fator limitante, a grande empresa responde aos aumentos de demanda com o uso
extensivo do solo, ou seja, ampliando simplesmente o espaço cultivado. Por outro
lado, tendo em vista a alta especialização do uso (monocultural), fundamental à mi-
nimização dos custos operacionais, a terra toma-se sujeita ao rápido esgotamento,
que conduz à prática da rotação de terras. Por estas duas razões, viáveis apenas nos
quadros de alta disponibilidade" de terras, á*própria monocultura reforça a tendên
cia monopolista da propriedade fundiária. Ao passo que articulando-se em sua pró
pria área de domínio com a lavoura de subsistência, praticada pelo próprio escravo
ou agregados, a grande lavoura garante para si própria o suprimento alimentício,
sem preocupar-se com sua produção, ao mesmo tempo em que se desincumbe de
maiores gastos com a massa de escravos ao transferir-lhe o encargo de reprodução
da sua própria força de trabalho com essa lavoura de.subsistência dominial.
Assim, com apoio no tripé escravatura-latifúndio-monocultura edifica-se o sis
tema agrícola colonial brasileiro. Seus subprodutos são, de um lado, a subutilização
e dilapidação do patrimônio ecológico, e, de outro, uma formação social caracteri
zada pela concentração da riqueza e autoritarismo num polo e por forte pauperis-
mo noutro polo social. Temos, então, um modo de produção que garante altas taxas
de acumulação, viabilizando o empreendimento colonial e tornando-o altamente
compensador. Por isto, construído sobre o estatuto da escravidão, abolido este nem
por isso o sistema desmorona. O monopólio da terra conseguido via domínio do
trabalho escravo garantirá a sobrevivência da grande empresa agromercantil.
Todavia, nota Celso Furtado que a permanência de elasticidade de oferta do
fator terra, estabelecida pelo controle do seu acesso, permite ao sistema manter
intacta sua estrutura fundiária quando da abolição da escravatura. Contudo, se
não se alteram as relações de propriedade fundiária e de troca, a abolição do es
tatuto escravista leva ao estabelecimento de novas formas de relações de trabalho.
Ora, tais formas novas teriam que ser pertinentes ao propósito de preservação das
Setor agrícola e acumulação urbano-industrial no Brasil 35
relações de propriedade e de troca, para tanto tendo que atender a duas exigências:
que abrisse o acesso da terra à população recém-liberta e ao mesmo tempo a man
tivesse despojada de sua propriedade. O intuito, duplo, é o de manter o sistema de
transferir à massa de trabalhadores rurais os gastos com sua própria subsistência
e também mantê-la agregada à grande empresa como reserva de mão de obra para
uso nas épocas de safra ou outros tipos de emprego. Tal solução, encontrada sem
tocar-se no regime monopolista da terra, é duplamente vantajosa à grande em
presa, pois, ao mesmo tempo em que perpetua sua desincumbência com os gastos
de reprodução da força de trabalho que utiliza, mantidos como função da própria
massa trabalhadora, cria no próprio âmbito do seu domínio especial uma conve
niente e crescente disponibilidade de mão de obra. É assim que se multiplicam as
formas de relações de trabalho agrícolas como moradores, condiceiros, parceiros,
rendeiros, colonos e mesmo trabalhadores assalariados, refletindo as metamorfo
ses da grande empresa no seu afã de preservar o monopólio da terra e as fortes
taxas de acumulação de que sempre foi beneficiária.
Dificilmente, e eis aqui um ponto de alta controvérsia na literatura sociológica
latino-americana e brasileira,. pode-se falar então de feudalismo, dado o claro pro
pósito de engendrar-se fôrmas de acumulação compatíveis com os objetivos mer
cantis do empreendimento econômico agroexportador, desenvolvido em formações
sociais periféricas.
Um novo painel, construído a partir da abolição do trabalho escravo em fins
do século XIX, e que dominará a formação social brasileira até seu rompimento
recente em alguns pontos do país, a exemplo do advento de formas de relações de
trabalho do tipo boia-fria, se configura então. E que em suas linhas gerais, se apoia
em três novos elementos que assumem papel crescente na dinâmica das relações
econômicas e sociais do Brasil: a urbano-industrialização, a nova modalidade de
relação pequena-grande lavoura e a aceleração do crescimento demográfico.
Primeiramente temos a urbano-industrialização, elemento novo na sociedade
brasileira que se desenvolve sobretudo a partir da terceira década do século XX ex
teriormente ao setor agrícola e com o qual aos poucos irá relacionar-se em âmbito
nacional como o lado dominante da relação, expropriando-lhe excedentes, renda e
o próprio poder político com a Revolução de 1930. Nessa medida, o setor agrícola
gradativamentè assim se desloca para constituir-se em retaguarda do desenvolvi
mento urbano-industrial, atuando como uma de suas fontes de acumulação.
O segundo elemento é a nova forma de articulação da pequena lavoura inde
pendente de subsistência com a grande empresa agroexportadora, ampliada atra
vés o surgimento da lavoura de subsistência agregada. Fato de importância crucial
36 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
A que Celso Furtado acrescenta que tendo em vista o baixo nível técnico e de
capitalização dessa lavoura, são suas condições precárias de subsistência em ter
ras marginais que determinarão o preço da oferta de mão de obra rural (Furtado,
1972). Por extensão, da mão de obra urbana, cujo salário representa o preço da sua
subsistência, acrescentaríamos.
Por fim, o crescimento demográfico que então passa a ter lugar, fruto dessa
nova articulação surgida entre os setores agrícola e urbano-industrial, é o terceiro
elemento, completando a configuração geral. Tal é um fenômeno sobretudo rural,
que se acentua partir da década de 1940, gerando uma crescente elasticidade de
Setor agrícola e acumulação urbano-industrial no Brasil 37
Em que difere da teoria clássica aquilo que descrevemos acima? Antes de mais,
sendo uma economia colonial de grandes empresas agroexportadoras movidas ini
cialmente pelo trabalho escravo e a seguir por formas de relações de trabalho de
cunho clientelista (seriam feudais?), o quadro estrutural e conjuntural em que
evolui a urbano-industrialização é distinto daquele da Europa.
No modelo capitalista clássico a geração de excedentes é uma pré-condição
para o desenvolvimento urbano-industrial, seja pela oferta de produtos agrícolas e
liberação consequente de mão de obra, seja pela contrapartida em forma de consu
mo de produtos de origem urbana.
A geração de excedentes propicia a especialização produtiva do campo e da
cidade, por via da separação entre a agricultura e o artesanato, estabelecendo-se
desse modo a divisão social básica de trabalho em que se apoiará o desenvolvimen
to urbano-industrial.
Ocorre que a expansão econômica europeia, primeiramente mercantil e depois
industrial, projetará no plano internacional esta macrodivisão de trabalho entre
campo e cidade, ocasionando, por meio da divisão internacional de trabalho, um
tipo de economia produtora de excedentes de escala mundial. Esta divisão interna
do trabalho engendra as formações sociais capitalistas periféricas, nas quais a ge
ração de excedentes é sua própria razão de origem, antecipando-se à industrializa
ção interna e com isto beneficiando seu futuro arranco.
Já nesses países periféricos, centrados em plantations tropicais, organiza-se um
modo de produção em cuja estrutura interna coexistem a grande empresa agro-
mercantil, a pequena lavoura de subsistência e atividades urbano-industriais ele
38 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
mentares. Uma divisão de trabalho que aí define-se espacialmente num forte elo
orgânico com a monocultura de exportação. Nestas condições, a geração de exce
dentes alimentícios visa a recompor a mão de obra empregada na grande empresa
plantacionista, como já vimos, de modo que o advento da urbano-industrialização,
demandando estes excedentes, conduzirá o setor agrícola a um remanejamento
puro e simples dos fatores de produção sob seu alcance em seu processo evolutivo,
sem uma prévia erradicação da estrutura agrária no tocante ao exercício, da sua
funcionalidade.
O fato é que as economias exportadoras de produtos primário-agrícolas, como
a brasileira, desde cedo, tendem a desenvolver uma agricultura capaz de gerar vo
lumoso excedente. De forma que contrariamente à versão dualista, entende-se que
não há uma “rigidez de oferta” e sim “rigidez de demanda”. A urbano-industriali
zação vai assim encontrar essa economia duplamente habilitada, seja. a fornecer ex
cedentes em forma de gêneros alimentícios e seja em matérias-primas industriais,
para tanto bastando à grande empresa plantacionista reorientar nesse sentido o
uso dos fatores de produção de que dispõe.
E uma característica estrutural que transfere para sua relação com a urbano-
-industrialização a partir dos anos 1930. Reside nesta flexibilidade sua grande ca
pacidade de reagir a suas crises cíclicas, alternando os períodos de baixa com os
períodos de recuperação. Bem como seu contínuo poder de expansão espacial, em
razão de um mecanismo particular: as alternâncias de crise-recuperação, comuns
ao setor agrícola em decorrência das oscilações de preços do mercado externo,
transformam-se em alternâncias de expansão ora do subsetor de subsistência/mer-
cado interno, nos momentos de crise do subsetor exportador, e ora do subsetor
exportador, nos momentos de sua recuperação, condição que justamente visa dar
flexibilidade à grande empresa agroexportadora.
A causa tanto do poder de alternar quanto de manter de modo permanente a
capacidade de expansão do espaço cultivado está na elasticidade de oferta dos
fatores terra e mão de obra, bem como na absorção dos fatores de produção das
regiões deprimidas pelas regiões dinâmicas. A liberação de mão de obra permitida
pela produção de excedente é um ponto básico da teoria clássica, tendo em vista
que o aumento da oferta de mão de obra oriunda dos fluxos migratórios do campo
reflete-se nos salários urbanos, permitindo maior rentabilidade e competitividade,
às empresas urbanas. Como o pressuposto dessa geração de excedentes é o progres
so das técnicas agrícolas, eleva-se a média de hàbitantes urbanos nutridos por uni
dade de trabalhador rural (produtividade), o que pressiona ainda mais para baixo
os salários urbanos, fundamental ao movimento da acumulação urbano-industrial.
Setor agrícola e acumulação urbano-industrial no B rasil.. 39
Depreende-se do que foi dito que qualquer que seja o modelo de desenvolvimento
urbano-industrial capitalista cabe à agricultura um papel fundamental no pro
cesso, pela via da acumulação. Vejamos alguns aspectos da questão, relativos aos
mecanismos de transferência de recursos pelo setor agrícola. Basicamente, é uma
contribuição que se concretiza por duas vias: o montante dos salários urbanos e
a transferência de sua renda. No primeiro caso, sendo o salário do trabalhador
40 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
Bibliografia
Em todos esses momentos tem o setor agrícola cumprido este papel seja como
centro de gravidade e seja pela via de sua participação no montante dos salários
urbano-industriais e do financiamento da industrialização. Através da produção
de subsistência, pré e não capitalista, o setor agrícola transfere o baixo preço de
reprodução de sua própria força de trabalho ao setor agrícola de exportação e ao
urbano-industrial. Realiza esta transferência sob a forma de baixos preços rela
tivos, com base nos quais irão definir-se os níveis de subsistência do operariado
agroexportador, industrial e demais classes trabalhadoras urbanas. Mesmo nas
condições atuais, como, segundo observa Francisco de Oliveira, o salário do tra
balhador urbano não incorpora em seu valor a produtividade do seu trabalho, em
rápido crescimento nas últimas décadas, a participação dos preços dos gêneros
agrícolas em seu cálculo tem peso dominante. Acresce que os setores agrários,
transferem, ainda, em fluxos permanentes, parte de sua força de trabalho, para
compor nas cidades “viveiros de mão de obra”, a exemplo das favelas, com os quais
o capital contará para forçar a baixa dos níveis salariais para aquém dos níveis de
subsistência do trabalhador urbano. Contribtjdndo, assim, para a reprodução da
força de trabalho urbano-industrial pela via dos baixos custos de subsistência e
pela do êxodo rural.
Através da produção de exportação, o setor agrícola transfere à urbano-in
dustrialização capitalista também parte de sua renda. Seja pela via direta, de
cunho familiar, seja pela da acumulação mercantil e seja ainda da intermediação
do Estado. Particularidade nacional brasileira, por meio da manipulação da má
quina estatal o capital industrial-financeiro orienta Estado a institucionalmente
captar a renda do setor agrícola em seu proveito, transferindo-a para si sob a
forma do controle da taxa de câmbio, do confisco cambial, da política de preços
mínimos ou da legislação do crédito rural. O meio histórico é o de subsidiar com
as divisas de exportações agrícolas as importações de bens de capital e interme
diários para o fim do desenvolvimento da infraestrutura geral e urbana e assim
da indústria.
Durante o longo período que se estende até o último quartel do século XIX, as
relações de produção escravistas constituem a base da formação econômico-social
brasileira. Praticamente confundida com a produção agrícola, essa formação orga
niza-se, contudo, segundo fins declaradamente mercantis.
Tal produção constitui-se, basicamente, de duas formas espaciais distintas, mas
articuladas: a grande lavoura agromercantil exportadora e a agricultura de subsis
tência. Nesta, inclui-se tanto a pequena policultura de subsistência, quanto a gran
de fazenda de gado. Completa este quadro da formação, até o final do século XVII,
um reduzido sistema urbano constituído pelo que Paul Singer denomina “cidades
de conquista”. São cidades que atuam como locus colonial do capital mercantil e
dos aparelhos ideológicos e jurídico-políticos da Coroa (Singer, 1977).
Um ligeiro painel da estrutura dessa formação mostra como forte determinante
social da sociedade e do espaço o monopólio da terra, que constitui o lado logístico
básico do padrão de acumulação. Mas è a natureza escravista das relações de tra
balho a determinante social principal.
A abundância de terras, tornada escassa à maioria da população por força desse
monopólio, e a escassez da força de trabalho, são dois aspectos dominantes que
estão por trás de toda dinâmica da formação. Isto porque reside no controle da
força de trabalho a base do controle monopolista da terra. E por intermédio desse
duplo controle, garante-se o poder e o prestígio aos seus detentores, internamente
e frente à Coroa, assegurando-lhes, igualmente em caráter monopolista, a fruição
dos benefícios oferecidos pela Coroa e seus prepostos. Assim, o monopólio do po
der e do prestígio é determinado pelo monopólio da terra, e, este, pelo monopólio
do trabalho escravo. Antonil, alcunha de João Antonio Andreoni, já observara que
a força do senhor é medida pelo número de escravos de sua propriedade. De modo
48 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
que atuando como barreira do acesso à terra para a população não escrava restan
te, o monopólio da terra revela o caráter social, antes que físico, da abundância ou
escassez de terras nos quadros coloniais (Andreoni, 1966; Canabrava, 1966).
Como observa Celso Furtado, com isto o grande proprietário monopolista edifi
ca seu sistema de poder e anula todo ensaio de desenvolvimento de uma totalidade
social baseada na pequena propriedade. Estas, vicejam na medida das necessidades
da economia exportadora. Cabe-lhe o papel subsidiário da grande lavoura de ex
portação, suprindo-a de gêneros alimentícios nas épocas de grande demanda inter
nacional de açúcar, sobretudo para a subsistência dos escravos (Furtado, 1972). A
economia exportadora transfere, desse modo, à pequena lavoura de subsistência o
dispêndio com a reprodução da força de trabalho escrava da grande lavoura. Uma
lavoura de subsistência praticada entre outros pelos próprios escravos. Ademais,
há total impossibilidade desta competir com a grande lavoura de exportação, face:
a) à alta exigência em investimentos de capitais, na forma de equipamentos e es
cravos, e, b) à rentabilidade consequentemente superior da grande lavoura frente
à pequena. Some-se a isto as dificuldades de crédito, controlado pelo capital mer
cantil. Estas são as condições sociais-da organização do espaço.
Polo organizador da formação espacial colonial, a agroindústria canavieira es
trutura-se, assim, a partir das três classes fundamentaisr: os senhores de escravos
proprietários de engenho, os senhores de escravos não proprietários de engenho e
os escravos. Os primeiros exercem a hegemonia sobre o conjunto, uma vez que o
engenho-indústria é o centro do sistema produtor da colônia. E sobre o processo da
acumulação internamente. O sobretrabalho expropriado ao escravo pelo lavrador
de partido é objeto de redistribuição a favor dos senhores de engenho-indústria,
que ficam com 50 a 62%, já em forma de pães de açúcar, como pagamento pela
moagem da cana daqueles. Todavia externamente esta é uma hegemonia do capital
mercantil metropolitano. Parte do montante global do sobretrabalho expropriado
pelos senhores de escravos cabe ao capital mercantil, capturada pela via do contro
le sobre a comercialização e o crédito (Oliveira, 1977; Wanderley, 1978).
Destas relações de classes deriva um espaço fragmentado-integrado. Primei
ramente, há sua divisão em espaço de monocultura da cana e espaço de policul
tura de subsistência. Em segundo lugar, há a divisão em grandes propriedades de
lavradores de partido e dos senhores de engenho-indústria. Da unidade desses
fragmentos é que vem o tom sistêmico do todo colonial.
Dado o caráter massivamente exportador do modo de produção colonial, o es
paço melhor em localização e fertilidade, como vimos, é privilégio da monocultura
da cana, que ocupa essas terras melhores, deixando as demais ou as esgotadas para
i
Espaço agrário e classes sociais rurais na sociedade brasileira 49
O final do século XIX marca o seu final, todavia. E a entrada num período de tran
sição a que Francisco de Oliveira designa modo de produção de mercadoria - isto é,
“o capitalismo como modo de produção dominante, ainda que não exclusivo, mas
que redefine, inclusive, o papel das outras formas de organização da economia e da
sociedade em seu favor” -, a face escravista se extinguindo e a face agroexportado-
Espaço agrário e classes sociais rurais na sociedade brasileira 51
ra se mantendo ainda por algum tempo (Oliveira, 1977). É o período que externa
mente corresponde à passagem do capitalismo à fase imperialista, e assim a uma
modalidade de relações internacionais cada vez mais pautada pela organização
mundial à base de uma divisão territorial do trabalho e das trocas generalizada
mente mercantil-capitalista. Repondo-se, em decorrência, internamente os termos
do processo de acumulação de capital e a uma formação espacial nova.
Nas palavras de Oliveira:
dade. As formas de relações de trabalho novas têm que estar pertinentes com a
preservação necessária desse monopólio, que, por sinal, acentua-se. Para conciliar
monopólio da terra com elevação da produtividade do trabalho rural, há então que
atender-se a uma exigência: a população recém-liberta deve ter acesso à terra, mas
numa forma que não implique em propriedade dela. Ou seja, o quase campesinato
ganha acesso ao uso da terra e não a sua propriedade real. O intuito é aqui duplo:
reter o máximo de reserva de força de trabalho livre no âmbito do domínio da
grande lavoura e deixar mantido a seu cargo o custo de sua própria reprodução.
É assim que, no lugar do trabalho escravo multiplicam-se formas de trabalho do
tipo posseiro, parceiro, morador de condição, foreiro, arrendatário, intermediário,
colono e proletário rural. Metamorfoses visando adequar o novo trabalho rural às
necessidades da nova forma de acumulação, elevando sua produtividade e o nível
das forças produtivas. Aspecto fundamental deste elenco de formas novas é o seu
entrecruzamento. Torna-se comum, por exemplo, um mesmo trabalhador rural as
sumir a forma aqui do parceiro, ali do rendeiro e acolá do assalariado.
A expressão espacial desse processo de mudanças fica por conta sobretudo das
transformações que ocorrem na agricultura de subsistência, promovidas de um
lado pela quebra da autarcia da grande lavoura e de outro lado pela urbano-indus
trialização.
A lavoura de subsistência dominial, em sua dupla forma, a do lavrador agrega
do e a do escravo, adquire a feição dominante do agregado, mantida todavia para
a reprodução da força de trabalho dominial. A lavoura de subsistência indepen
dente mantém sua natureza predominantemente abastecedora das fazendas em
caráter suplementar e as cidades, praticando-a desde proprietários minifundiários
a posseiros, estes multiplicando-se sobretudo nas fronteiras de expansão agrícola.
Abrindo em sua relação com a cidade mais e mais para a reprodução da força de
trabalho do operariado urbano-industrial. E assim caminha-se para uma dinâmica
de espaço agrário que Oliveira descreve nos seguintes termos:
a maioria dos gêneros alimentícios vegetais (tais como arroz, feijão, milho) que
abastecem os grandes mercados urbanos provenham de zonas de ocupação recente,
como pelo fato de que a permanente baixa de cotação deles tenha contribuído para
o processo de acumulação nas cidades; os dois fenômenos são, no fundo, uma uni
dade. (Oliveira, 1984)
... para o conjunto do Brasil, entre 1872 e 1920 o número de cidades com mais
de 30 mil habitantes passa de 67 para 265, e sua população de 3.073.886 para
15.746.525. (Silva, 1976)
que amplia as áreas disponíveis para uso capitalista igualmente amplia na fron
teira a pequena produção campesina. Procedimento fundamental, na medida em
que o preço da terra tende a encarecer nas áreas avançadas do espaço brasileiro,
compensado com o distanciamento da fronteira agrícola.
Logo, todavia, o problema aí também se repete. Aspecto contraditório da nova
ordem espacial, é nas áreas de fronteira que acaba se concentrando o conflito de
terras mais fortemente, acarretado pelo deslocamento também para essas áreas do
capital agrário, levado pela tendência ao aumento do preço da terra nas regiões
centro-sulinas. Conflito e esgotamento das terras virgens vão então se combinan
do. Apoiada em forças produtivas sofisticadas e de alto nível, ao chegar à faixa
fronteiriça a expansão capitalista devora terras novas e terras há séculos ocupadas
por posseiros e índios. Originários dos centros capitalistas hegemônicos do país e,
sobretudo, do exterior, os empresários capitalistas facilmente obtêm do Estado os
títulos de propriedade dessas terras, ou os falsificam.
Isto torna as relações de classes mais agudas na fronteira agrícola atual que do
passado. Historicamente, por onde a fronteira agrícola passou, a grande proprie
dade deixou marcas de violência. Reacendidas agora pelo capital na fase avançada
do capitalismo: violência contra a mata virgem, violência contra os posseiros, vio
lência contra os índios.
Mas são conflitos que; motivados pela concentração monopolista, se reprodu
zem em escala não menos intensa em todas as porções do espaço nacional. Nas
áreas centro-sulinas o surgimento do proletário rural do tipo boia-fria, um traba
lhador rural de residência urbana, é acompanhado do surgimento do campesinato
sem-terra. Um segmento social do campo que resulta da aceleração do processo de
expulsão do campesinato pela expansão do capitalismo no campo, mas que reage
e se nega a proletarizar-se, antes optando pelo questionamento e enfrentaniento
do monopolismo fundiário recorrente. Sob essa forma se somando aos conflitos da
zona da fronteira. No fundo uma mesma luta movendo o posseiro, o índio, o boia-
-fria, o sem-terra e os moradores de rua.
Algumas questões cabem aqui ser levantadas, Uma primeira refere-se à natureza
do modo de produção dominante e dos modos de produção dominados, e da for
ma como sua articulação compõe o todo da formação econômico-social brasileira.
Uma segunda refere-se à natureza da correlação de forças entre classes sociais e à
Espaço agrário e classes sociais rurais na sociedade brasileira 59
Bibliografia
Andreoni, João Antonio (André João Antonil). Cultura e opulência no Brasil. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1966.
Canabrava, Alice. Vocábulos e expressões usadas em Cultura e opulência no Brasil.
In: Andreoni, João Antonio (André João Antonil). Cultura e opulência no Brasil.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1966.
D’Incao e Mello, M. C. O boia fria: acumulação e miséria. Rio de Janeiro, Editora
Vozes, 1977.
Furtado, Celso. A estrutura agrária e o subdesenvolvimento brasileiro. In:
Espaço agrário e classes sociais rurais na sociedade brasileira 61
63
64 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
Pouco é preciso para se perceber que este modo de ver o arranjo do espaço
ocupado exprime e revela a apreensão do real pelas relações técnicas, formais, dos
processos mais gerais que comandam a sociedade colonial, qual seja, suas determi
nações externas. O caráter exportador da economia colonial determina a fixação
costeira dos homens e aparelhos produtivos que se veem envolvidos na agroindús
tria canavieira; a natureza portuária dos centros urbanos; a ossatura linear e de
penetração da rede viária; a oposição marinha-sertão. Adensa a população onde ela
se instala como produção-chave do sistema produtor colonial, determinando a di
nâmica dos fluxos espaciais. A sua desvalorização como produto-chave no mercado
mundial impõe o enraizamento do sistema em um outro, mudando o centro da gra
vidade demográfica. A área caída em decadência cede a dinâmica a outra. A mudan
ça do produto-chave, implicando em mudança de locus, significa redistribuição de
homens e aparelhagem produtiva. Eis porque no decurso dos séculos da colonização,
até os finais do século XVIII, a gravidade espacial da população segue três momen
tos: concentração costeira, interiorização meteórica e retomo à concentração costei
ra, o fluxo demográfico acompanhando a dinâmica geral da estrutura produtiva do
sistema econômico: nascimento agrícola mineração renascimento agrícola.
A fixação dos estudos de geografia brasileira nestas relações de superfície, to
madas como o real concreto, reflete, assim, a interpretação “circulacionista” e
“economicista”que substancia toda nossa produção geográfica desde os primeiros
trabalhos.
A análise a partir das determinações internas, realçando a estrutura de relações
de classe e poder dos detentores da terra, permite, todavia, a revelação da natureza
mais ampla do processo, a dimensão mais global do arranjo do espaço, a formação so-
cioespacial colonial-escravista, uma vez que transporta o desenho do arranjo espacial
econômico demográfico para o nível do arranjo jurídico-político, vale dizer, para a to
talidade global. Assim, ultrapassa-se a noção empírica de espaço e resgata-se o papel
das determinações múltiplas, repondo-se os termos espaciais do jurídico-político, de
formados pela ótica das teorias burguesas de geopolítica, pelo qual pode-se conceber
o geopolítico como expressão espacial do jurídico-político. E transpõe-se o seu entra
nhado naturalismo, repondo-se o natural em outros termos de conjunto. Alçando-se,
assim, os limites do território aos limites da formação socioespacial, nãõ restingindo-
-se a organização do espaço aos limites da fronteira económico-demográfica.
Tomando-se o momento dos fins do século XVIII, como num corte transversal no
tempo, encontramos constituindo a totalidade espacial da formação social brasilei
ra cinco macroformas (formas gerais de espaço): o espaço agrícola, o espaço pas
toril, o espaço extrativo-vegetal e o espaço urbano. O trabalho escravo e o caráter
exportador são as relações gerais que dão conformidade unitária ao conjunto des
ses recortes de espaço. Mas em cada macroforma estas relações se amoldam dentro
de determinadas especificidades. Por isto, estas formas gerais ao mesmo tempo se
distinguem e se confundem na totalidade. Superpõem-se, aqui e ali, numa tessitu-
ra.de limites imprecisos e natureza diversa (Mapa 1).
0 arranjo e as macroformas
O ESPAÇO PASTORIL
O ESPAÇO MINEIRO
Algumas inferências podem ser aqui tiradas, no que respeita aos processos de or
ganização do espaço, que estudamos sumariamente:
Guerras Napoleônicas, relata: “Sob o estímulo da alta dos preços no mercado mun
dial, expandiu-se sem demora o setor da economia mercantil, crescendo a produ
ção de açúcar, de tabaco e de algodão. Imediato foi o reflexo sobre a economia na
tural das plantagens: contraiu-se a produção de gêneros alimentícios de primeira
necessidade e os plantadores passaram a disputá-los com as populações urbanas
no restrito mercado da colônia. A consequência só podia ser a escassez e a cares
tia sentida de maneira atroz pelas populações urbanas, enquanto aos plantadores,
recheados de lucros em afluxo pouco importava o preço mais caro dos gêneros
alimentícios, que antes produziam e agora precisavam comprar”.
A exata medida da importância do processo dá-nos o Autor Anônimo, referido,
quando afirma, pondo em dúvida, diz Gorender, a racionalidade do sistema: “Que
importa receber-se em uma mão o alto preço do açúcar, do tabaco e do algodão, se
com a outra entregam o equivalente de uma arroba de açúcar, de duas de tabaco e
de uma de algodão por um alqueire de farinha para o sustento próprio, da família
e da escravatura?”. A rentabilidade da alta estabelece a prioridade da alocação da
mão de obra, momento em que o preço elevado de investimento encontra opor
tunidade de rápido retomo. Fato que os números evidenciam plenamente: “A ne
cessidade de comprar escravos implica uma redução de 50% das possibilidades de
acumulação”. A compra de escravos “se paga mediante parte dos bens exportados”,
representando, em 1798, na Bahia, segundo Vilhena, citado por Gorendei, 24%
do total da exportação e 23% do total da importação o preço global dos escravos
importados.
Faz parte desse processo a própria ação da Coroa, transferindo a sede do Estado
para o território da colônia. Com o que faz-se a máquina do Estado colonial por
tuguês vir a espacialmente confundir-se com a própria estrutura territorial da
colônia, numa consequência inusitada. Parte por suas próprias características de
aparelho central e parte pelas necessidades de dar maior eficácia à tributação,
essa condição de sede do Estado implicará em amplo alargamento e reestrutura
ção administrativa (em particular pelos aparatos militar, judiciário e tributário)
da colônia, mudando-a de status completamente. Em consequência, dirá Kaplan,
reforçam-se ”...o tamanho e o peso específico dos grupos urbanos já incrementados
pelo ciclo mineiro e suas repercussões” (Kaplan, 1974).
Sendo assim, todos os elementos constitutivos da formação espacial brasileira
encontram-se já reunidos. Fecha-se o longo período de três séculos de gestação. A
instalação do aparelho de Estado metropolitano apenas irá dar a conformação de
um fato: a sua passagem ao Estado-nação do Brasil.
Demais, aqui, nenhuma área tinha ascendência absoluta sobre as outras, enquanto
a classe dominante exercia ascendência absoluta sobre as outras classes ou cama
das sociais”. E mais adiante: “Parece ocorrer uma luta entre o poder central e as
províncias. Ocorre, na verdade, uma luta dentro da classe dominante, motivada
pelos seus antagonismos e contradições, e em que reponta, por vezes com a clare
za singular da Cabanagem, uma luta de classes. Quando ocorrem tais lutas, são
ligadas ao quadro provincial: se acontece em zona açucareira, parece tratar-se da
Província de Pernambuco; se ocorre em *onapasloi il, paieee tratar-se da Provinda
do Rio Grande do Sul; se acontece em área econômica coletora, parece tratar-se da
Província do Pará. As províncias são entretanto, meras abstrações, que dão a idéia
do geral, de sua moldura física. O essencial não está nas províncias, mas nas clas
ses, em conseqüência do modo local de produção, de suas peculiaridades. Em todas
as províncias as forças e as opiniões se dividem; quando o poder central intervém,
encontra sempre apoio em uma das facções provinciais. Só isto bastaria para provar
que a apresentação do quadro como de luta entre província e o centro é falsa, des
figura a realidade e mascara os verdadeiros traços do problema.
Através dos processos analisados delineia-se uma dialética que une tendências à
centralização e à descentralização. Na verdade, o principal problema político da
plantation e form ação espacial 89
E ainda:
* tf
O segredo da formação socioespacial
Na fase que precede a separação entre o Brasil e Portugal com o Príncipe D. João
e sua Corte instalados no Rio de Janeiro com a passageira euforia decorrente das
condições do bloqueio napoleônico, a zona economicamente próspera, na extensão
geográfica brasileira, é a do Nordeste. O açúcar retoma impulso na exportação, e
é acompanhado pelo algodão, pelo arroz e, em situação ainda sem destaque, pelo
café. Isto confere à zona nordestina e suas adjacências uma inequívoca preponde
rância. Significa que afração mais importante da classe dominante é a dos senhores
de engenho. Não há, desde que a mineração definiu seu declínio, coincidência entre
o centro de gravidade política e o centro de gravidade econômico, nafase final do
período de subordinação à Metrópole. Mas não há, também, como já foi assinalado,
supremacia absoluta de uma classe sobre as demais. A classe dominante, empresá
ria da autonomia, está distribuída pelo território e pelas atividades: porta-se como
tal onde quer que esteja, seja qual for a atividade que explore. Tem, entretanto,
vista de perto, divergências que apropria autonomia vai agravar [...].
Quando esta contradição - que é apenas uma entre muitas -, ocorre, ocorre
também o surto da lavoura do café, que vai alterar o quadro brasileiro [...].
plantation e formação espacial 91
A sobrevida plantacionista
Os arranjos da sobrevida
1878) para a Amazônia. E assim altera o modo de vida nela vigente desde o período
do ciclo das drogas do sertão. O centro da organização da paisagem é o seringal,
o latifúndio extrativista que segmenta a Amazônia em enormes áreas de domínio,
em parte em decorrência da grande dispersão natural da seringueira pela mata e
em parte pela necessidade da explorá-la em grande escala de modo a alcançar os
lucros que a acumulação do capital seringueiro requer (Santos, 1980). Dentro dos
seringais, a atividade da produção está entregue ao trabalho do seringueiro, um
trabalhador assalariado cujo modo de vida inviabiliza qualquer outra atividade
que não a extrativa da borracha. Seu tempo é assim todo tomado pela extração da
seringa, o que o obriga a adquirir utensílios e mantimentos num galpão localizado
num ponto do seringal, o barracão, onde o seringalista fornece os meios de subsis
tência a título de adiantamento do salário. Esse monopólio de abastecimento man
tém o seringueiro na mão do seringalista, que o usará para manobrar os preços
para forjar o endividamento e prender o seringueiro em caráter permanente numa
situação quase escrava ao seringal. O conjunto da atividade é, entretanto, organi
zado pelo aviador, o intermediador mercantil-usurário instalado nas grandes cida
des, Belém principalmente, que financia (avia) todas as atividades, da produção
à comercialização, organizando e comandando através dessa centralidade todo o
arranjo relacional do espaço amazônico. Por volta dos anos 1940 o ciclo da borra
cha se esgota economicamente, frente à concorrência da borracha vulcanizada e
outras áreas mundiais de produção da borracha natural, numa situação de renda
diferencial a elas mais favorável, a exemplo da Malásia, declinando sua dinâmica
coincidentemente com o declínio do ciclo do café.
No mesmo momento o espaço canavieiro experimenta na zona da mata nor
destina uma forte mudança, relacionada à chegada da usina, após uma malograda
experiência do engenho real. O engenho real é uma reforma do velho sistema do
engenho, forçada pelo fim do trabalho escravo e pelo envelhecimento da tecnologia
dos cultivos e dos fabricos, consistente na tentativa de separação da propriedade da
terra/canavial e da indústria. Pensada como uma forma de resolver, o problema do
capital, sobretudo em vista da modernização tecnológica, entretanto não dá certo.
E a solução vem na forma da substituição do engenho pela usina. A usina reafirma
o sistema de agroindústria tradicional, ao tempo que reestrutura as relações técni
cas da produção, as relações de trabalho e as relações de classes tanto da lavoura
quanto da indústria, através da nova configuração das relações de espaço. Os anti
gos senhores de engenho são transformados em fornecedores, reforçando as fileiras
dos antigos lavradores de partido, e os trabalhadores escravos são substituídos por
trabalhadores contratuais, os moradores de condição, na lavoura, e os moradores
96 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
de rua, na usina. Com a usina vem a ferrovia. E com a ferrovia, a concentração ain
da maior da propriedade da terra. De modo que a usina toma o lugar do engenho
na constituição da paisagem, num ato de organização e domínio do espaço que a
ferrovia leva até o limite visual da zona da mata nordestina (Diégues Júnior, 1960).
É quando é introduzida pelo governo imperial, e particulares no Sul, uma diver
sidade de núcleos coloniais de imigrantes, sobretudo de alemães e italianos, após a
bem-sucedida experiência da imigração de açorianos anteriormente no século XVIII.
Enquanto os açorianos instalam-se no litoral e planícies do pampa, os alemães e ita
lianos vão se instalar no planalto, os primeiros nas encostas e os segundos no topo.
Os alemães chegam ao Rio Grande do Sul em 1824, onde criam a colônia de São
Leopoldo. Desde então, seus núcleos se multiplicam pela encosta do planalto, no Rio
Grande do Sul e em Santa Catarina. Os italianos chegam a partir da década de 1870
e seus núcleos vão igualmente se disseminar tanto pelo Rio Grande do Sul quanto
por Santa Catarina. Nos núcleos coloniais, as famílias de imigrantes recebem pe
quenas parcelas de terra e alguns equipamentos e aí implementam uma forma de
organização econômica em tudo parecida com a das suas áreas de origem. A base
dessa organização é uma policultura e uma indústria artesanal que são a base de
uma intensa atividade de trocas e cuja consequência é a multiplicação de cidades
por toda a área colonial. E que em pouco tempo leva a florescer um modo de vida
e de organização do espaço muito distinto do modo de vida e organização espacial
das áreas ocupadas pelos ciclos de agroexportação (Valverde, 1958).
A hinterlândia pastoril, por fim, conhece ao mesmo tempo uma fase de forte
declínio e ensimesmamento. A extensão de pastos ainda livres vai se aproximando
do seu horizonte. F. as fazendas passam a ser separadas por cercas, inaugurando-se
no século XIX um período de conflitos que se expressam no tropel dos jagunços em
guerra. São diferentes, entretanto, as sociedades que aí se organizam, acentuando
a distinção do modo de vida pastoril do sertão nordestino, do sertão central e do
sertão sulino. No sertão nordestino o gado é levado a se consorciar com o algodão
e no sertão sulino a se consorciar com a indústria do charque, enquanto que no
sertão central a pecuária cai na autarcia da “civilização do couro”.
O começo do século XX flagra uma formação espacial assentada, assim, numa di
versidade de áreas e lugares que a arrumam numa grande pluralidade de formas
de economia e de poder político.
plantation e formação espacial 97
Bibliografia
Abreu, Capistrano de. Capítulos de História Colonial. 6a. edição. Rio de Janeiro:
Editora Civilização Brasileira, 1976.
Baer, Werner. A industrialização e o desenvolvimento econômico do Brasil. 4a.
edição. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1979.
Canabrava, Alice. Vocábulos e expressões usadas em Cultura e opulência do
Brasil. In: Andreoni, João Antônio. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1966.
Castro, Antônio Barros de. Agricultura e desenvolvimento no Brasil. In: 7 ensaios
sobre a economia brasileira, v. 1. Rio de Janeiro: Forense, 1980.
Diégues Júnior, Manuel. População e açúcar no Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro:
Livraria Editora da Casa do Estudante do Brasil, 1960.
Gorender, Jacob. Escravismo colonial. São Paulo: Editora Ática, 1978.
Kaplan, Marcos T. Formação do Estado Nacional. América Latina. Rio de Janeiro:
Livraria Eldorado, 1974.
Milliet, Sérgio. Roteiro do café e outros ensaios. São Paulo: Editora Hucitec, 1982.
Monbeig, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. São Paulo. Editora Hucitec/
Polis, 1984.
Prado Jr., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. Colônia. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1961.
Santos, Roberto. História Econômica da Amazônia (1800-1920). São Paulo: T. A.
Queiroz, Editor, 1980.
100 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIR*
Falando dos rumos e aspectos da questão agrária na Rússia, dizia Lênin em 1905:
* Texto originalmente publicado na revista Terra Livre, n. 6,1988, da Associação dos Geógrafos
Brasileiros (AGB).
101
102 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
çam os processos de acumulação primitiva, que a nova classe revertia agora pro
domo suo, e que significavam, não apenas a ampliação da posse e propriedade da
terra, mas o controle das nascentes trocas entre unidades de produção distintas,
desfeita a autarquia anterior, por intermédio de todas as instituições que depois vão
caracterizar a estrutura política e social da República Velha, como o coronelismo,
o complexo latifúndio-minifúndio, os agregados. Em segundo lugar, a instauração
do trabalho livre no coração das próprias unidades produtivas do complexo agro-
exportador significa uma inversão de situação da economia escravocrata, predomi
nando agora o capital variável e fazendo crescer a rentabilidade das explorações.
Quantitativamente, pois, o volume do excedente sob controle dos “barões do café”
(assim como dos barões do açúcar e dos outros barões) era, agora, maior que em
épocas anteriores.
O ESPAÇO m o l e c u l a r : a fa se d a a c u m u l a ç a o p r im it iv a
paço algodoeiro evolui com pano de fundo na grande propriedade pastoril. E onde
a apropriação monopolista da terra mostra-se ostensivamente o seu caráter para
sitário, pois não é o gado o fundamento da economia e a fonte real da acumulação,
mas a renda fundiária usufruída com o negócio do algodão desenvolvido à sombra
da acumulação primitiva. A renda fundiária identificada com o parcelamento da
terra pelo latifúndio e sua entrega aos cuidados do campesinato foreiro, parceiro
ou rendeiro advindo da metamorfose do trabalho escravo para o cultivo do algodão.
Espécie de relação fundiária pré-capitalista que o grande proprietário rural estabe
lece com este campesinato, reforçada na forma da intermedição mercantil-usuária
que lhe impõe. E ao qual não raro sobrepõe-se o grande intermediador mercantil
externo ao complexo na comercialização do algodão intrarregionalmente e nos
mercados mundiais. Proprietário, arrendador e intermediador mercantil-usurário,
tanto quanto veremos para os demais espaços, a hegemonia dos “coronéis” é aqui
o que temos. Intervindo na intermediação mercantil-financeira a ponto de às vezes
constituir o próprio capital mercantil regional, é frequente sua presença mesmo
na organização do comércio urbano regional. Além de um grande investidor in
dustrial. Vindo de sua acumulação agromercantil a grande parte do investimento
formador do capital industrial têxtil da região.
Se já no passado colonial mata e sertão se entrecruzavam no plano das ma-
uufojiuids plcuitddunistdò, d pecuáiid foi mando d ie tag uai da da subsistência da
plantation canavieiro-açucareira, no presente amalgamam-se numa simbiose ainda
mais forte e cúmplice. A simbiose em que no plano de conjunto formam o todo
de um Nordeste regionalmente estruturado na interligação da economia sucro-
-canavieira e pecuário-algodoeira, através da imbricação dos capitais industriais. A
economia pecuário algodoeiro têxtil que fornece o tecido grosseiro voltado para o
proletariado empregado na agroindústria e para a sacaria necessária ao acondicio
namento do açúcar das usinas e a economia canavieiro-usineira que vai ser o gran
de mercado da primeira, condição que leva frequentemente à reunião dos respecti
vos capitais e capitalistas. Erguendo-se, assim, uma unidade agricultura-indústria
regional fortemente engastada na fusão algodão-açúcar, em que a industrialização
faz-se embaixo da hegemonia das elites agrárias e em cima do todo do trabalho de
uma classe trabalhadora ecleticamente matizada de rural-urbana.
Simbiose que faz da economia pecuário-usineira a força da geografia regional
nordestina. Mas ao mesmo tempo a fonte de inércia que por todo o século irá man
tê-la enraizada nos parâmetros da mais-valia absoluta. Quando noutras regiões a
relação agricultura-indústria empurra o desenvolvimento para os parâmetros mais
efetivos da mais-valia relativa, levantando a barreira que leve a que a acumulação
A marcha do capitalismo e a essência econômica da questão agrária no Brasil 113
ringueiro levanta sua habitação precária, na qual instala o sistema rústico de defu
mação do látex necessário para transformá-lo na forma bruta da matéria-prima da
borracha. Daí diariamente o seringueiro desloca-se ao longo de uma picada aberta
na mata, a estrada de seringueiras, fincando nas seringueiras tijelinhas para re
cepção do látex, recolhendo e reunindo o líquido num balde para defumá-lo ao
final do dia. Percorrendo de uma a duas estradas por dia contendo cada qual uma
média de 123 árvores, não lhe sobra tempo para dedicar-se à produção alimentícia
e demais bens de uso e consumo, tendo que suprir-se com os meios fornecidos pelo
seringalista (proprietário do seringal, a fazenda que emprega o seringueiro congre
gando dezenas de estradas) através da instituição do barracão.
Trata-se de um trabalhador assalariado, mas que no correr do trabalho vê sua
remuneração substituída pelo vale do barracão, um mecanismo de registro e con
trole dos meios de subsistência e de uso fornecidos ao seringueiro num caderno
comum como adiantamento, que ao findar do mês é assim descontado do salário.
A manipulação e o monopólio do suprimento faz que no lugar do pagamento o
seringueiro acumule dívidas sucessivas, tornando o sistema de assalariamento no
fundo uma forma de escravidão disfarçada. E que mantém o seringueiro nas mãos
do seringalista ad etemum.
O trabalho do seringueiro é uma das pontas da complexa cadeia de que os serin-
galistas a rigor não passam de mediadores e que tem o capital mercantil-exportador
no outro extremo. Formando um sistema que da cabana à casa exportadora se des
dobra numa multiplicidade de mediação de “aviadores”. Um sistema de aviamento
que assim articula numa estrutura vertical desde a plêiade de pontos da produção
dos seringais até a praças internacionais da comercialização-industrialização da
pela, passando pelo sistema cotidiano de suprimento, numa gama diversificada de
níveis intermediários cuja projeção espacial é a rede de ligações que se espalha por
dentro da região da bacia amazônica.
O sistema do suprimento é todavia o seu epicentro. Tudo aqui centra-se na
extração da borracha. Polarizado na alta lucratividade oferecida pela exportação
da borracha, o capital mercantil desorganiza toda a produção de subsistência an
teriores, suprimindo as poucas áreas de produção agropastoril do ciclo das drogas.
Chupa-lhes a infraestrutura e força de trabalho. Mas também a numerosa massa
de população que quando do início do ciclo gomífero vem para a Amazônia fugin
do do sertão nordestino afetado por longas ondas de seca, indo buscar trabalho
nas áreas extrativistas em formação. Reside nessa genealogia a forma como vai-se
implantar o sistema do suprimento do barracão e seu correspondente tipo de tra
balho semiescravo. Como a migração até o seringal é custeada por intermediários,
A marcha do capitcdismo e a essência econômica da questão agrária no Brasil 115
que repassam os gastos aos próprios trabalhadores, uma vez instalado este recebe
instrumentos de trabalho e meios de subsistência, que deverão ser descontados
de sua remuneração. Somam-se, desde este momento, os débitos que ele jamais
poderá saldar e, pelo contrário, aumentam incessantemente, dado a forma como a
contabilidade é feita pelo seringalista. Assim instituindo-se umaJorma de relação
de trabalho de duração e controle permanente. E cujo custo de reprodução é dos
mais baixos.
A cadeia do aviamento já começa nesse sistema de suprimento. O resto vindo de
uma forma de organização em rede de que fazem parte quatro estratos de classes
entrecruzados: o seringalista, o importador, o aviador (pequeno, médio e grande)
e o exportador. Todos articulados num todo orgânico cujo alimento é o processo
de produção-extração-distribuição do excedente do trabalho produzido pelo se
ringueiro. Este, extraído pelo seringalista, redistribui-se entre as demais camadas
dominantes até chegar ao topo.
O ponto da medida das partes é o baixo volume dos investimentos, limitando-se
o gasto de capital basicamente ao mecanismo da reprodução da força de trabalho
do seringueiro, numa ordem de proporção dos investimentos que de hábito chega
a 84% do total dos gastos. Sendo uma atividade apenas extrativa, o capital fixo
fica extremamente minimizado. De modo que é o investimento em abastecimento
alimentar o gasto principal. E o pé de apoio da origem da hegemonia em grau tão
elevado do capital mercantil. Já que o suprimento alimentício, vindo de importa
ção das áreas agrícolas do Sul, face a dietética do migrante nordestino, centrada
na carne do charque, de que o Sul é no momento o grande produtor, tudo põe na
dependência da cadeia da intermediação que envolve o importador e os aviadores
mais próximos do esquema dos suprimentos Uma relação assim descrita por Santos:
A partir dos anos 1920 o ciclo extrativo da borracha entra todavia em declínio.
A extração da borracha definha em todo o vale, restando como atividade dominan
te nos anos 1950-1960 apenas nas áreas do extremo-ocidente (no Acre, basicamen
te). Não se alicerçando num eixo agricultura-indústria, mas tão só na rapinagem
da natureza, a acumulação primitiva não desemboca pois na industrialização. E
assim apernas reaparecem aqui e ali a lavoura e a pecuária dos tempos das drogas
do sertão como forma de organização do espaço.
preço da saca, porém pagando este preço fictício com recursos oriundos dos impos
tos de importações-exportações cobrados a outras áreas, o Estado subsidia a espe
culação cafeeira através de um expediente que significa socializar a crise cafeeira
nacionalmente, distribuindo inter-regionalmente seu custeio por todas as regiões
exportadoras numa espécie de transferência de renda para fins de acumulação ca
feeira privada em São Paulo. Como que numa reedição modernizada das políticas
de socialização de crise plantacionista para as macroformas coloniais passadas. Já
instituída como polaridade econômica e política do país pelo simples fato de ter-se
constituído em seu centro de gravidade, a cafeicultura passa agora a tomar-se um
grande polo de expropriação de frações crescentes de excedentes produzidos por
outras frações de espaço do país, como um tributo pago por seus agentes econômi
cos aos que especulam com o café em São Paulo. Acumulando-se no planalto uma
densificação inaudita de capital maior que a do próprio tecido do espaço cafeeiro.
Transformada de especulação produtiva em especulação financeira, dela parti
cipam grandes cafeicultores e grandes bancos internacionais, que também reticen
tes quanto ao primeiro plano passam a partir do segundo a financiar os déficits de
caixa do Estado e os investimentos em capital fixo plantados no espaço cafeeiro,
exigindo em troca o direito de administrar os estoques de café, liberdade para es
pecular com os preços do produto no comércio internacional e margens de frações
ciescenLes de i enda Uansiei ida de todas as regiões exportadoras para debelamento
da crise cafeeira no planalto. Assim acabando por forjar o nascimento da hegemo
nia do capital financeiro sobre a sociedade brasileira. E por meio deste a fonte que
vai alimentar o financiamento da indústria no planalto paulista.
A crise terminal da cafeicultura é também do monopólio da monocultura e da
grande propriedade monocultora no planalto. A crise provoca a fragmentação da
propriedade. E face isto o espaço agrário ganha um novo desenho. Sobressaindo-se
o aparecimento de novas formas de cultura, apoiadas no desdobramento da grande
em médias e pequenas propriedades. Nasce, assim, uma divisão intra-agrícola de
trabalho que vai ser a retarguarda do desenvolvimento da indústria. A qual junta a
força de trabalho liberada. E o capital, transferido da acumulação cafeeira amplia
da pelos planos de valorização. E, então, o quadro de classes sociais e institucional
que vai empurrar a industrialização sempre para frente, de que os entreveros da
Revolução de 1930 e Constitucionalista de 1932 são parte integrante, estilhaçando
e reordenando o quadro de pactos e alianças do Estado plantacionista.
A reordenação pactuai vem em nível nacional, com a nova frente das oligar
quias rurais e urbanas nascidas da acumulação primitiva, e local, com o espectro
das classes do planalto seja rurais da modernização e seja urbana igualmente tra
A marcha do capitalismo e a essência econômica da questão agrária no Brasil 121
zido pela acumulação primitiva no âmbito cafeeiro, num bloco histórico de fundo
industrial-oligárquico. Bloco que trata, assim, de estruturar o aparelho do Estado
na forma que cumpra a função de repor as condições gerais da acumulação, agora
no sentido do arranco industrial. Faça da indústria e da agricultura duas vertentes
que se integrem e interajam no ritmo orgânico da reprodução comandada pelas
necessidades do capital industrial, a agricultura numa forma em que seu excedente
se incorpore incessantemente à formação do capital fabril e a indústria tecnifique o
processo produtivo agrícola e o seu ininteruptamente. Ponha em ordem as normas
da divisão territorial do trabalho e das trocas de mercado numa escala sucessiva
mente ampliada. E leve a roda das forças produtivas a mover-se na sobreposição
crescente ao ritmo movente do espaço nacional.
É neste plano pactuai que a acumulação pós-cafeeira abre para a combinação
espacial desigual que já nos anos 1930 coloca o planalto paulista à frente da in
dustrialização nacional. O fato é que a cafeicultura por si mesma não introduz no
planalto senão margem restrita de meios de industrialização. Produto que só exige
uma indústria de beneficiamento primário, não requerendo ele mesmo processa
mento local, o café, mesmo com o trabalho assalariado do colonato, em si não gera
indústrias além das que vemos nos demais espaços plantacionistas. Por isso, não
veremos surgir em São Paulo senão em 1907 um parque industrial significativo.
Não é no espaço cafeeiro e sim no canavieiro-algodoeiro nordestino que a in
dustrialização tem seu ensaio inicial. As pesquisas e reflexões sobre o processa
mento histórico do capitalismo no Brasil têm-se dedicado a responder as razões da
concentração industrial em São Paulo. Mais frutífero seria talvez indagar porque
não no Nordeste. Quando, porém, em 1930-1932 se refaz a estrutura do aparelho
federal do Estado, a oligarquia industrial paulista está presente na composição do
poder, a tanto terá crescido. É quando São Paulo assume a dianteira da industria
lização brasileira, o Nordeste industrial definhando e ficando progressiva mente
para trás. Há, portanto, uma inversão no tempo. A transposição dos momentos
não é todavia imediata, sendo antes processual, correndo por toda a primeira vin
tena do século uma dinâmica de expansão industrial que se dá na esteira e sob o
benefício da polaridade cafeeira sobre o quadro nacional. Combinando-se a forma
avançada como a relação indústria-agricultura se dá com a crise cafeeira em São
Paulo com a presença cada vez mais visível da força auxiliadora do aparato federal
do Estado. Num desdobramento da política dos planos de valorização do café na
forma moderna do financiamento da importação de máquinas para implementação
de indústrias e investimento de infraestrutura com recursos confiscados à agricul
tura nacional.
122 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
tes dos estados vizinhos, até onde chega a influência crescente de São Paulo, como
a do café no norte do Paraná, de cereais e gado de corte no sul (Dourados) e sudo
este (Pantanal) do Mato Grosso e de cereais (arroz) no sul de Goiás (Mato Grosso de
Goiás). Nessa ampla área, cujo arco se expande progressivamente, transbordando
no tempo para além do Estado de São Paulo, extraordinária divisão intra-agrícola
de trabalho tem lugar, indicando a forte integração agricultura-indústria que desde
então fará de São Paulo o centro de gravidade da economia nacional.
Mas vai até os limites fronteiriços gaúchos o arco dessa divisão territorial do
trabalho até onde chega a área de interação espacial da industrialização paulista,
rumo ao quadro mais amplo que irá compor à luz do eixo agricultura-indústria o
espaço centro-sulino.
Um eixo de tendência inicial mais abrangente, que aos poucos vai ganhando
um tom mais centro-sulino de interação mais constante. Abrindo-se em sua acu
mulação primitiva de capital tanto para o Rio de Janeiro quanto para São Paulo, a
produção agropecuária sulina chegará mesmo para além desses limites, alcançan
do, como vimos, o Norte e o Nordeste.
Inicialmente o movimento da acumulação primitiva sulino fica contido nos ní
veis pontuais dos núcleos coloniais estaduais, só depois irradiando-se para hori
zontes mais regionais de dimensão sulina, primeiro nos quadros da navegação de
cabotagem, e, após 1910, com as ferrovias, por rotas terrestres, até a acelerada
integração extrassulina com o transporte rodoviário. O Rio Grande do Sul é o
exemplo típico dessa fase local, depois regional e a seguir centro-sulina da acumu
lação primitiva do Sul.
A acumulação primitiva aí está relacionada inicialmente a um campesinato for
mado através de núcleos de imigrantes, em particular alemães e italianos, que vão
se localizando em lugares e momentos diferentes nos três estados sulinos no correr
do século XIX. Antecede-os, mas em menor grau de importância neste sentido, a
imigração açoriana. Esta cobre a segunda metade do século XVIII e relaciona-se
essencialmente à estratégia imperial de povoamento das áreas de fronteira. Já os
fluxos migratórios de alemães e italianos se relacionam à dupla estratégia de cobrir
a fronteira e ensaiar a metamorfose do regime de trabalho no Sul, a imigração
alemã no curso da primeira metade do século XIX e a italiana no curso da segunda
metade do século XIX.
A colonização açoreana inicia-se em 1746-48 e encerra-se no começo do século
XIX. Cada família recebe uma gleba de cerca de 200 ha, distribuindo-se pelo lito
ral de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul em inúmeras e densas comunidades.
Aí, dedica-se à policultura de subsistência e pesca no litoral de Santa Catarina e
124 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
policultura com destaque para o trigo no litoral do Rio Grande do Sul, de onde,
findas as guerras platinas, migram para a campanha, requerendo sesmarias e indo
então constituir “o tronco de várias atuais famílias de estancieiros”, formando um
arco que se alonga pelo litoral e inflete por terra pela linha de fronteira, como
observa Orlando Valverde: “De fato, a colonização açoreana da costa sul foi parte
de um plano vasto de defesa do território português na América do Sul, onde quer
que ele estivesse ameaçado”. A que acrescenta: “Ademais da ocupação efetiva do
solo, a colonização açoreana proporcionava grandes contingentes de soldados, bem
como áreas de abastecimento de víveres, junto aos possíveis campos de batalha”
(Valverde, 1958).
As colonizações alemã e italiana irão ocupar as terras mais ao norte, igualmente
interiorizadas do planalto meridional. Os primeiros núcleos são os de colonização
alemã, que se sucedem pela primeira metade do século XIX. Estes, multiplicam-se
entre 1824 e 1859 pelos trechos serranos das encostas que bordejam o planal
to meridional, num arco de longa curvatura que vai do norte de Santa Catarina
(Joinville) às fronteiras continentais do Rio Grande do Sul (Santa Maria). Já a
colonização italiana estende-se pelo período 1870-1920, evoluindo, no que toca à
formação da moderna policultura camponesa, em colônias localizadas em áreas do
topo do planalto, do Rio Grande do Sul ao Paraná.
Alemã ou italiana, a colonização inaugura nas terras do Sul um novo padrão
de arranjo espacial, próprio das comunidades camponesas familiares autônomas.
Nada aqui assemelha-se ao padrão latifúndio-minifúndio característico das macro-
formas do espaço escravista-exportador ou delas egressas. Uma dada área extensa
é dividida em lotes pequenos (35ha em média), incluindo o traçado de estradas des
tinadas ao escoamento da produção, sobretudo porque os lugares escolhidos geral
mente estão afastados dos centros mais povoados, onde as famílias de imigrantes
são instaladas. Uma vez assentada no seu lote, a família imigrante organiza uma
típica unidade camponesa de produção e consumo de molde europeu, adaptada
entretanto às condições locais. Seguindo um processo histórico comum de monta
gem da organização espacial, que Waibel classicamente captou em suas pesquisas,
a colonização inicia-se com a abertura do roçado na mata para substituí-la pela
policultura de subsistência. Planta-se feijão, mandioca, batata e milho, este para
nutrir a criação miúda (aves e porcos), a isto limitando-se a relação lavoura-criação.
Industrializa-se caseiramente as sobras. Comerciantes ambulantes intercambiam
os produtos dos camponeses pelos que estés necessitam, como utensílios. A den-
sificação das relações amplia a rede de estradas e das trocas. A policultura ainda
mais se diversifica, para introduzir entre outras a cultura do trigo. O comerciante
A marcha do capitalismo e a essência econômica da questão agrária no Brasil 125
se instala nos cruzamentos da rede e aí se fixa com seu negócio, criando pontos de
referência da movimentação das trocas no núcleo. Sob esse estímulo, os colonos
introduzem o arado de tração animal (cavalo) na lavoura e a carroça de quatro
rodas num sistema de circulação que servirá para levar os produtos ao mercado e
a família às festas e à igreja. É quando a limitação do tamanho da propriedade à
rotação de terras força a família camponesa a migrar para outra área ou a evoluir
para a rotação de culturas. Esta vem com a introdução de leguminosas na lavoura e
a associação com a pecuária, para o fornecimento do adubo. A paisagem fica mais
complexa, compondo-se agora do xadrez das culturas e das instalações da pecuária,
em particular a leiteira, dado a exiguidade da propriedade exigir pecuária especia
lizada e sua estabulação. Junto, vem a indústria. Esta logo cresce e transborda do
limite caseiro, criando um ramo próprio com capitais vindos tanto da acumulação
mercantil quanto da reunião dos camponeses em cooperativas, fundando com ela
uma divisão do trabalho assentada numa relação cidade-campo que instaura novo
patamar de organização do espaço.
Leva tempo, entretanto, este desenvolvimento. E mesmo quando este ganha
amplitude, pouco extravasará a escala local-regional inicialmente. De modo que
durante todo o correr da segunda metade do século o isolamento cultural será a
característica dos núcleos coloniais, tanto de alemães quanto de italianos, seja no
Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e de eslavos e poloneses no Paraná
É então que o Estado intervém, promovendo as articulações intrapontuais e de
escala vertical que levará as relações locais a regionalizar-se e assim aos poucos
ganhar o nível centro-sulino. É o que vemos ocorrendo no Rio Grande do Sul, onde
a virada do século XIX para o XX registra o declínio das charqueadas, um produto
de mercado nacional com referência então de economia estadual, e a necessidade
de reordenar-se essa economia em termos estruturais mais amplos, na forma da
implantação de uma ramificada rede de ferrovias que promova as interligações das
áreas intra e extraestaduais. É assim que se interligam as áreas coloniais do pla
nalto com as de pecuária da campanha, abrindo o mercado desta para a pequena
produção camponesa imigrante. E em consequência proliferam por todos os cantos
as indústrias locais, todas calcadas nas respectivas produções agrícolas, numa in
tegração e diversidade de relação agricultura-indústria que fará do Rio Grande do
Sul um dos principais abastecedores de meios de subsistência aos grandes centros
industriais e urbanos do país. Mas particularmente aos centros urbano-industriais
paulistas. Juntando numa mesma divisão territorial de trabalho e de trocas de es
cala centro-sulina o processo até então espacialmente segmentado da acumulação
primitiva.
126 ■ A FORMAÇAO ESPACIAL BRASILEIRA
A INTEGRAÇÃO MONOPOLISTA-FINANCEIRA E
O NOVO MODO DE ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO
A década de 1950 vai conhecer a integração de escala que irá juntar essa evolução
desigual-diferenciada do processo de acumulação primitiva, arrumando os capitais
então organizados num parâmetro tipicamente molecularizado, face o seu berço
plantacionista, num todo unificado. E o vetor é a integração de todos os pedaços de
espaço numa divisão territorial do trabalho e de trocas nacional única.
Se o processo da acumulação primitiva segue essa face molecularizada é por
que o seu conteúdo de classe traz a marca indelével da presença das elites agrárias.
A crescente interdependência entre os segmentos de áreas e setores que vai se
abrindo em leque na medida mesma que o processo do desenvolvimento do capi
talismo se aprofunda, ampliando o intercâmbio dos produtos recíprocos e estabe
lecendo uma imbricação entre os compartimentos de divisão interna de trabalho e
de trocas, aos poucos vai vencendo e integrando essa fragmentaridade econômico-
-demograficamente ainda dispersa.
O centro de impulsão é ali onde melhor se dê a identidade entre divisão nacional
de trabalho e mercado, mais levando o processo da acumulação primitiva a chegar à
uma forma de capitalismo plenamente desenvolvido. Aí se instalando a fusão mono
polista que engendra a relação entre a indústria e o capital financeiro. E aí de come
ço se extinguindo as componentes da molecularidade. Dois vetores particularmente
têm para isso importância: a proletarização campesina que gera em escala global a
força de trabalho livre e a concentração-centralização industrial que diferencia ao
tempo que integra as empresas em diferentes áreas e setores produtivos.
A expulsão com que se processa a proletarização do campesinato é a decorrên
cia direta do aprofundamento da divisão local do trabalho. Todavia, é um processo
que se dá dentro dos contornos de divisão do trabalho dos movimentos regionali
zados de acumulação primitiva, variando no seu formato segundo esse contexto. É
assim que no planalto paulista tem um caráter geral de abrangência do colonato,
ao passo que no âmbito nordestino tem caráter parcial, atingindo parcela das for
mas de trabalho egressos da abolição da escravatura e mantendo outra parcela nos
termos instituídos, proletarizando e liberando a primeira e contendo e mantendo
a segunda dentro das grandes fazendas de lavoura da mata e de gado do sertão
como população condiceira. De modo que no planalto paulista é um processo que
vai significar a transferência de força de trabalho do campo para cidade numa
absorção pela indústria e economia urbana aí em desenvolvimento. Enquanto que
no espaço nordestino vai significar a liberação sem a condição de absorção pela
economia industrial e urbana local, proletarizando a força de trabalho campesina
A marcha do capitalismo e a essência econômica da questão agrária no Brasil 127
para oferecê-la quase in totum como reserva de força de trabalho para a concentra
ção industrial em formação no planalto paulista, via sucessivas ondas de migração
que vai transformar o Nordeste na grande fonte de força de trabalho para a indus
trialização paulista. No todo do espaço brasileiro, entretanto, trata-se da proleta-
rização do campesinato que acompanha o começo de tecnificação e especialização
produtiva da agricultura consorciada numa divisão e integração mais avançada do
trabalho com a indústria, cujo resultado é a mobilidade territorial do trabalho que
aqui exprime-se no êxodo rural e acolá na migração rural-rural no modo próprio
de passagem da fase da mais-valia absoluta para a da mais-valia relativa da eco
nomia nacional. Vale dizer, de uma fase de forças produtivas ainda não de todo
capitalistas para uma outra de forças produtivas capitalistas inteirizadas. E assim
de uma fase ainda subsumida pelo capital mercantil para a em que com o capital
industrial se abre e irrompe no seu todo a face da subsunção financeira (Mapa 3).
128 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
É a esta passagem que Lênin designa “a limpeza das terras” para o capitalismo,
que, uma vez completada, instaura a agricultura em moldes capitalistas. Todavia,
esta só se assenta quando a par e articuladamente a esta “limpeza” geradora do
proletariado (pressuposto do livre mercado de terra, capitais e força de trabalho)
a agricultura absorve a tecnologia de escala industrial (pressuposto da mais-valia
relativa). O ponto do espaço nacional onde este duplo processo primeiro se efetiva
é onde se polariza o comando do conjunto do movimento, uma vez que na continui
dade da progressão vai carreando para si parcelas crescentes dos excedentes seja
de força de trabalho e seja de alimentos aqui e ali produzidos.
Desde os anos 1920 mal se esconde dentro da molecularidade o dreno de ex
cedentes que vai se transferindo e SE incorporando à formação do capital em São
Paulo. Se neste período a face financeira está oculta ainda no subsídio que o Estado
passa À região cafeeira na forma da política de preços artificiais do café, a face
mercantil transparece já na estatística do saldo das trocas entre São Paulo e os de
mais estados. E, mais ainda, na das levas de imigrantes que para aí afluem vindas
inicialmente de Minas Gerais, depois do Nordeste, de que a rodovia Rio-Bahia é o
retrato na paisagem, do Sul, por fim de todo o espaço brasileiro.
Confrontando a divisão intra-agrícola do trabalho no planalto paulista com a
de qualquer outra fração do espaço nacional, entende-se a razão dessa polaridade.
Que daí paia diante nào cessa, até evidenciai-se em definitivo a partir nos anos
1950. Quando a concentração de estabelecimentos industriais na área urbana de
São Paulo atinge já mais da metade de todo o parque industrial brasileiro. É jus
tamente em São Paulo onde os pressupostos da instauração do modo de produção
capitalista primeiro completam sua formação no país. Precisamente isto revelando
a paisagem do seu espaço, seja na diversidade do seu amplo arranjo agrário e seja
na escala de concentração técnica do seu arranjo fabril.
E assim a razão porque embora as primeiras manifestações industrializantes
possam ser detectadas nas áreas urbanas nordestinas, não é aí onde o capitalismo
vai efetivamente florescer. Freadas pela forma ambígua como se dá a liberação da
força de trabalho campesina seja na zona da mata canavieira e seja na zona serta
neja pecuarista. Resumindo este freio, diz-nos Oliveira:
Essa breve digressão serve para apontar o fato de que, emergindo a economia do
“Nordeste”algodoeiro-pecuário, que se centrava nasforças de reproduçãojá descritas,
produziu em primeiro lugar uma mão de obra que, pelas flutuações internacionais
da economia algodoeira-pecuária, converteu-se parcialmente em força de trabalho
disponível nas entressafras para alugar-se na produção da cana; a constituição des
A marcha do capitalismo e a essência econômica da questão agrária no Brasil 129
A que acrescenta:
Assim,
A face camponesa
Se é assim entre as elites, não menos será com o campesinato, numa reação que
em 1955 vem em série na forma da criação das ligas camponesas, seguindo uma
linhagem de sindicatos rurais que vem dos anos 1940.
Não por acaso, seu foco genético e irradiador é o Nordeste. Daqui saem as mais
fortes reações regionalistas. E saem também os protestos organizados dos campo
neses. E será o Nordeste a primeira região a motivar a criação dos organismos re
gionais de planejamento, que igualmente irão proliferar nessa década. Criada sob
o calor dos protestos regionalistas e das lutás dos camponeses, a Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) surge de um plano essencialmente
redistributivo de população camponesa no interior do território nordestino, vindo
A marcha do capitalismo e a essência econômica da questão agrária no Brasil 131
A face capitalista
A essência econômica do processo está se deslocando, portanto, dos mecanismos
da mais-valia absoluta, eivada ainda dos termos mercantis da acumulação primiti
va, para os da mais-valia relativa, centrada na acumulação financeira. A limpeza
das terras para o capitalismo, efetuada nos parâmetros do caminho latifundiário-
-burguês, de pura e simples modernização da grande propriedade, e não do ca
minho camponês-burguês, o da reforma agrária que redistribua a terra para a
132 A FORMAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA
A face do conflito
Junto à expropriação e expulsão do campesinato próprias da modernização lati-
fundista chega também a violência dos conflitos de terras. Se não se registram as
longas rebeliões camponesas do passado - a de Canudos, em 1896 no sertão baiano,
dura dois anos, 1896-1897; a do Contestado, em 1912 no sertão catarinense-para
naense, dura cinco anos, de 1912 a 1916; e a de Trombas e Formoso, em 1948 no
sertão goiano, dura oito anos, de 1948 a 1964 -, todas de caráter pontual, os con
frontos camponeses de hoje são de caráter generalizado e permanente, expressan
do a subversão igualmente simultânea e generalizada do modo de vida camponês
no todo do espaço nacional unificado pela ação concentrada da mais-valia relativa.
É assim que dos 23 milhões de trabalhadores (incluindo todas as formas sociais
do trabalho rural) hoje habitantes rurais do Brasil, 12 milhões são camponeses
sem-terra. E o restante são camponeses com pouca-terra. No geral trata-se de uma
imensa massa humana que se desloca demandando terra e trabalho pelo imenso
território do país, locacionalmente variada mas toda tendo em comum o plano de
A
latifundista, uma vez que é sobre a parcela que este ocupa na grande propriedade
que a grande cultura de mercado de imediato amplia seus espaços, antes de buscar
áreas externas de expansão. Situadas dentro das terras do grande proprietário, e a
ele pertencentes, este as retoma para a expansão dos cultivos lucrativos, fazendo
dos minifundistas dominiais as primeiras vítimas da “limpeza” de terras da via
capitalista por cima. Expulsos das áreas que até então ocupavam como moradores,
meeiros, foreiros, pequenos rendeiros e até posseiros, resta-lhes-oferecer sua força
de trabalho à venda na própria grande propriedade transformada em empresa ru
ral ou alhures, trabalhando como mão de obra volante ou somando-se ao exército
dos assalariados temporários que vão se amontando nas cidades rurais do roteiro
das safras. Quando não engrossando as fileiras dos que partem em demanda de
terras nas áreas da “fronteira agrícola” como posseiro.
Situados no quadro dessa dinâmica de territorialização da burguesia e dester-
ritorialização do campesinato, os seringueiros de Xapuri optam pelo contraespaço
do empate, forma de luta criada para bloquearem o avanço da “limpeza de terras”
nas áreas extrativistas da Amazônia. Que complementam com a estratégia da re-
. . * t*1
serva extrativista.
Em meio a esse pipocamento de conflitos de diferentes tipos, três grandes polos
de confronto assim se formam diante do avanço do capital agrário modernizado: o
noroeste gaúcho, o Bico de Papagaio e a Amazônia ocidental. Três polos que se dis
tinguem pelo tipo de campesinato envolvido, projeto de reforma agrária e forma
tático-estratégica de luta. O noroeste gaúcho é o centro nevrálgico do nascimento
do Movimento dos Sem-Terra (MST), entidade criada pelo campesinato expulso de
suas terras pelo avanço da grande propriedade e cujo traço característico é a ocu
pação, seguida da fixação da comunidade em assentamentos coletivos de pequenos
produtores familiares. As ocupações são a forma experimentada em ações de que o
movimento praticamente nasce, em Ronda Alta, Encruzilhada Natalino e Fazenda
Anoni, que logo se difunde como modalidade de ação no campo e transborda para
a cidade, onde é uma forma de luta histórica dos sem-terra urbanos ao redor da
constituição das moradias em favelas. O Bico do Papagaio é a área formada pelo
norte de Goiás, hoje Estado de Tocantins, sudoeste do Maranhão e sudeste do Pará,
onde concentrou-se um campesinato típico de fronteira agrícola. Aí, reagindo ao
avanço da grande propriedade pastoril e à derrubada de mata para a constituição
de pasto, este campesinato cedo passa à tática da ocupação, num confronto aberto
com as formas mais agressivas de avanço latifundista, que vão tornar o Bico do
Papagaio a área de maior violência de luta fundiária no campo brasileiro desde
os anos 1970. São dessa área os mais violentos registros dos conflitos de terra, in
A marcha do capitalismo e a essência econômica da questão agrária no Brasü 135
te que se antecipa e vende suas pequenas propriedades nos campos sulinos para
investir em compra de terras no cerrado do centro do país, por fim, segue o rumo
da vinculação direta com o consumo de insumo industrial, emburguesando-se
e capitalizando-se rapidamente. É esta última que vai formar o grosso da bur
guesia agrária mais moderna, pondo-se à frente das velhas elites plantacionistas
ao tornar-se o epicentro da forma avançada que a modernização capitalista em
presta à agroindústria, através da centração do campo brasileiro na cadeia do
complexo agroindustrial (CAI).
No fundamental, é esta fração que pela forma como modernamente industria
liza a agricultura dá o rumo geral da marcha capitalista nesta quadra da fase de
mais-valia relativa no campo. Trata-se da agricultura altamente incorporadora de
insumos industriais como maquinaria pesada, adubos químicos e defensivos agrí
colas que vai levar a industrialização substitutiva de importações a completar-se
através da criação do setor da indústria para a agricultura, fazendo o mundo todo
entrar na era do agrobusiness. Um processo iniciado nos Estados Unidos nos anos
1950. E em curso acelerado no Brasil a partir dos anos 1970.
£ sobretudo por onde o Estado entra como êmulo, junto ao grande capital fi
nanceiro. Para tanto, o Estado cria a política de crédito agrícola que vincula o
empréstimo bancário ao agricultor à obrigatoriedade deste investir o recurso na
modernização da agricultura, empregando-o obrigatoriamente em compras de in
sumos industriais. De modo a assim estimulá-lo, estabelece um sistema de emprés
timo agrícola a taxa de juros negativos, isto é, abaixo da taxa média empregada
para o cálculo do empréstimo aos demais setores da economia. E assim leva a que
se acelere a incorporação das forças produtivas capitalistas, que mostravam-se já
excedentes no âmbito produtivo da indústria pela agricultura, numa espécie de
conclusão com fecho de ouro da constituição do capitalismo no Brasil sobre a base
da mais-valia relativa.
Encarando de modo direto e cru a revolução agrária camponesa como uma varie
dade de transformação agrária burguesa, denomina-a camponesa-burguesa, Lênin
define-a como indiscutivelmente uma via eminentemente revolucionária, obser
vando a respeito:
A marcha do capitalismo e a essência econômica da questão agrária no Brasil 137 * '
agrário. E onde pode levar ao consórcio do jogo eleitoral. Por força de definir-se o
campesinato como parceiro eleitoral é que se fez dissipar um dos raros momentos de
aproximação do operariado urbano à causa camponesa, ao endossar-se a imagem de
“ecologista”, “sindicalista ecologista”, “mártir da ecologia amazônica” e “Gandhi da
floresta” que se pôs sobre Chico Mendes e o movimento dos seringueiros.
Qual é, assim, a natureza do movimento que está em curso em Xapuri? Com
qual essência econômica se defronta? E o que tem em comum com os movimentos
de ocupação que pipocam em todos os cantos do espaço nacional neste final de
século? Ora, a tática do empate, esta rica criação popular de forma de luta, é o
modo como os seringueiros em seu próprio aprendizado resistem à “limpeza das
terras” pelos latifundiários para o capitalismo. “Limpeza das terras” de que a der
rubada da floresta para substituir a mata pelo pasto é a “face ecológica”. É o que
se aprende com ele.
Bibliografia
__________ Elegia para uma Re(li)gião. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 1977.
Prado Jr., Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1979.
Santos, Roberto. História Econômica da Amazônia (1800-1920). São Paulo: T. A.
Queiróz, Editor, 1980.
Silva, J. Graziano da. A Modernização Dolorosa. Rio de Janeiro: Editora Zahar,
1982.
Silva, Sérgio. Expansão Cafeeira e Origens da Industrialização no Brasil. São
Paulo: Editora Alfa-Ômega, 1976.
Tavares, M. C. Ciclo e crise: o movimento recente da industrialização brasileira.
Tese de professor titular. Rio de Janeiro: UFRJ, 1978,
Valverde, Orlando. Planalto Meridional do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE/CNG-UGI,
Guia n. 9, 1958.
Velho, Otávio Guilherme. Capitalismo autoritário e campesinato. São Paulo: Difel,
1976.
DO ESPAÇO DA MAIS-VALIA ABSOLUTA AO
ESPAÇO DA MAIS-VALIA RELATIVA
Os ordenamentos da geografia operária no Brasil*
* Texto originalmente publicado na revista Terra Livre n. 36, ano 27, vol. 1, 2011, da Associação dos
Geógrafos Brasileiros (AGB).
141