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FACULDADE SANTA TEREZINHA - CEST

CURSO DE DIREITO

APLICAÇÃO DAS ASTREINTES EM SEDE LIMINAR NO


ÂMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

Marcius Wilson Brás da Silva

São Luís/MA
2012
MARCIUS WILSON BRÁS DA SILVA

APLICAÇÃO DAS ASTREINTES EM SEDE DE LIMINAR NO


ÂMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

Monografia apresentada ao curso de Direito


da Faculdade Santa Terezinha - CEST, como
requisito parcial para obtenção de grau de
bacharel em Direito.

Orientadora: Profª. Lísia Maria Pereira Gomes

São Luís/MA
2012

Silva, Marcius Wilson Brás da

Aplicação das Astreintes em Sede de Liminar no Âmbito dos


Juizados Especiais Cíveis / Marcius Wilson Brás da Silva. – São
Luís, 2012.

71 f.

Impresso por computador (fotocópia)

Orientadora: Lisia Maria Pereira Gomes

Monografia (Graduação) – Faculdade Santa Terezinha - CEST,


Curso de Direito, 2012.
MARCIUS WILSON BRÁS DA SILVA

APLICAÇÃO DAS ASTREINTES EM SEDE DE LIMINAR NO


ÂMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

Monografia apresentada ao curso de Direito


da Faculdade Santa Terezinha - CEST, como
requisito parcial para obtenção de grau de
bacharel em Direito.

Aprovada em: / /

BANCA EXAMINADORA

_________________________

Orientadora: Profª. Lisia Maria Pereira Gomes

Faculdade Santa Terezinha - CEST

Prof. (a)_______________________________________________

Faculdade Santa Terezinha - CEST

Prof. (a)_______________________________________________

Faculdade Santa Terezinha - CEST

São Luis/MA
2012
A minha mãe, maior incentivadora deste trabalho, sem a qual não teria toda esta formação,
agradeço, principalmente pelo exemplo de simplicidade, carinho, pureza e determinação.
Devo-lhes tudo o que sou...;
As minhas filhas e a minha esposa, pelos incentivos constantes e toda a torcida.

AGRADECIMENTOS

A Deus

Aos coordenadores.

Aos professores.

A minha orientadora

Aos funcionários.

Aos colegas.

Aos amigos.

À Faculdade.
Ao 12º Juizado Especial Cível e das Relações de Consumo

“De tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver


agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o
homem chega a rir-se da honra, desanimar-se de
justiça e ter vergonha de ser honesto”
Rui Barbosa

RESUMO

Este trabalho procura demonstrar as importantes mudanças trazida pela lei n.° 8.952/94,
com relação à concessão das astreintes. Tem como principais objetivos verificar as
diferenças existentes em relação aos artigos anteriores a mudança, e o procedimento a ser
utilizado, na concessão da referida liberdade provisória com o advento da lei 12.403/2011.
Para tanto, utilizou-se como base principal de estudo, o Código de Processo Penal
Brasileiro, com as alterações que modificaram sensivelmente o sistema de liberdade
provisória, primitivamente instituído no citado diploma legal. Igualmente, analisou-se a lei
que instituiu o Juizado Especial Criminal (Lei nº 9.099/95), a lei de crimes hediondos (Lei n.°
8.072/90), e a lei de Drogas (Lei n.° 11.343/06), em relação a polemica sobre a concessão
da liberdade provisória sem fiança para tais crimes.

Palavras-chave: Astreintes. Alteração. Lei n.° 12.403/2011.


ABSTRACT

This paper seeks to demonstrate the important changes brought about by Act No.
12.403/2011, regarding to articles prior to change, and the procedure to be used in granting
bail of with the advent of the law 12.403/2011. To this end, it was used as the masin basic of
study, the Brazilian Penal Code, with changes that significantly altered the system of bail,
originally set up in that statute. Furthermore, we analyzed the law stablishing the Special
Criminal Court (Law No 9.099/95), the heinous crimes law (Law No. 8.072/90), and Drug Law
(Law No 11.343/06) regarding the controversy over the granting of bail without bail for such
crimes.

Key-words: Freedom provisional. Change. Law No 12.403/2011.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. – Artigo

Arts. – Artigos

CC – Código civil

CF – Constituição Federal

CPC – Código Processo Civil

DJ – Diário da Justiça

FONAJE – Fórum Nacional dos Juizados Especiais

Inc. - Inciso

JECs – Juizados Especiais Cíveis

Min. - Ministro

P. – Página

§ - Parágrafo

REsp – Recurso Especial


1. INTRODUÇÃO
2. ASTREINTES

2.1. Histórico

A origem das multas coercitivas ou astreintes, remonta do direito francês, na


qual tinham o objetivo de dar efetividade às decisões judiciais, em virtude de existirem
muitas ações de obrigação de fazer e não fazer pendentes de efetividade, por entender-se
que existia uma faculdade por parte do réu, no cumprimento, sendo que se restava apenas
converter a referida ação, em perdas e danos, conforme preceituava o art. 1.142 do Código
Civil Francês.

Apesar de inicialmente os doutrinadores franceses resistirem em aceitar a


aplicabilidade do instituto das astreintes, por entenderem se tratar de uma medida contra lei,
a sua efetividade prevaleceu, de forma a garantir o cumprimento das decisões judiciais.

Depois de constatado a eficácia das astreintes dentro do direito francês, os


países europeus através do direito comparado aderiram a sua utilização, de forma a garantir
maior efetividade no cumprimento de suas decisões.

No Brasil, o aparecimento desse instituto se dar desde as Ordenações Filipinas,


nas ações de natureza possessória e outra de natureza cominatória hoje já extinta no direito
pátrio. Já no Código Processo Civil de 1939, nos artigos 878 à 883, surge mecanismos que
deram previsibilidade para imposição de sanção pecuniária, sendo que no procedimento
executório o art. 1005 do código, previa-se cominação de multa, por obrigação de fazer e
não fazer. Mas foi somente com a lei 8.952/94, é que se introduziu expressamente através
do artigo 461, § 4º, no Código de Processo Civil, o instituto das astreintes, de forma a
garantir a efetividade nas ações de obrigação de fazer e não fazer nas decisões judiciais.

2.2. Conceito

A astreintes é uma sanção pecuniária que tem como objetivo ameaçar o devedor
a cumprir sua obrigação. Nesse sentido é o ensinamento do professor Guilherme Rizzo
Amaral: “A astreintes constituem técnica de tutela coercitiva e acessória, que visa a
pressionar o réu para que o mesmo cumpra mandamento judicial, pressão esta exercida
através de ameaça ao seu patrimônio.”1

No mesmo sentido é o entendimento do professor Luiz Guilherme Marinoni, in


verbis:

“A multa, característica essencial da tutela inibitória, objetiva


pressionar o réu a adimplir a ordem do juiz, visando à prevenção do
ilícito mediante o impedimento de sua prática, de sua repetição ou de
sua continuação.”2

Observa-se claramente que a astreintes é um mecanismo jurídico utilizado pelos


aplicadores do direito para coagir o réu ao adimplemento do comando judicial. Portanto, a
astreintes é um dos meios utilizados pelo juiz para a satisfação do cumprimento da decisão
mandamental.

2.3. Fundamento

As astreintes tem seu amparo legal em várias leis do nosso sistema jurídico, ou
seja, estão presentes no Código de Processo Civil, in verbis:

“Art. 287. Se o autor pedir que seja imposta ao réu a abstenção da


prática de algum ato, tolerar alguma atividade, prestar ato ou entregar
coisa, poderá requerer cominação de pena pecuniária para o caso de
descumprimento da sentença ou da decisão antecipatória de tutela
(arts. 461, § 4º, e 461-A).

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação


de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da
obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

(...) § 4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na


sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do
autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe
prazo razoável para o cumprimento do preceito.

§ 5º Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado


prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento,
determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa
por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e
coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se
necessário com requisição de força policial.

§ 6º O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da


multa, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva.

1
Guilherme Rizzo Amaral. As astreintes e o processo civil brasileiro. Multa do artigo 461 do CPC e outras. p. 85.
A evolução da jurisprudência na busca pela efetividade nas decisões judiciais e o papel da multa coercitiva.
2
Luiz Guilherme Marinoni. Tutela Inibitória (individual e coletiva). 2ª Edição. p. 173-174.
Art. 461-A. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz,
ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da
obrigação.

(...) § 3º Aplica-se à ação prevista neste artigo o disposto nos §§ 1º a


6º do art. 461.

Art. 645. Na execução de obrigação de fazer ou não fazer, fundada


em título extrajudicial, o juiz, ao despachar a inicial, fixará multa por
dia de atraso no cumprimento da obrigação e a data a partir da qual
será devida.”3

No Código de Defesa do Consumidor no seu artigo 84, §4°, do CDC, in verbis:

“Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da


obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

§ 1° A conversão da obrigação em perdas e danos somente será


admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela
específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

§ 2° A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa


(art. 287, do Código de Processo Civil).

§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo


justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o
réu.

§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor


multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se
for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo
razoável para o cumprimento do preceito.”4 (grifos nossos)

E, também, no Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 213, §§ 2° e


3°, da Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990.

“Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de


obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo


justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando o
réu.

§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na


sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de
pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a

3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869compilada.htm
4
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078compilado.htm
obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do
preceito.

§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da


sentença favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que
se houver configurado o descumprimento.”5 (grifos nossos)

Deste modo, de acordo com os artigos acima elencados do código processo civil
e de outros microssistemas do direito pátrio, verifica-se uma evolução na busca da
efetividade nas decisões judiciais, de forma a funcionar como garantidor do direito. O
instituto das astreintes está fundamentado de forma a promover segurança jurídica para a
parte promovente e para o próprio judiciário, em vários artigos do nosso sistema jurídico,
demonstrando a importância de sua aplicação para a eficácia das decisões mandamentais.

2.4. Natureza Jurídica

A natureza jurídica das astreintes é cominatória e instrumental, pois tende a


obrigar o réu a cumprir a obrigação determinada pelo aplicador do direito fixando uma
pecúnia que deverá ser paga caso o devedor não cumpra a obrigação, ou seja, força o
devedor a fazer ou deixar de fazer algo.

Nesse sentido é o entendimento do professor Fabiano Carvalho:

“A multa diária não é pena para sancionar o devedor pelo fato de não
haver cumprido a obrigação. Também não tem natureza de
ressarcimento dos danos. É meio de coação, de simples ameaça, que
tem por escopo constranger o devedor a cumprir a ordem judicial,
com finalidade de obter o resultado ideal.”6

Portanto, observa-se que as astreintes tem a função de impedir que devedor


descumpra as obrigações. Assim, sua natureza jurídica não é apenas instrumental, mas
também de coercitiva.

2.5. Finalidade

A finalidade das astreintes é busca o cumprimento da obrigação mandamental


voluntariamente por parte do réu, bem como a proteção da dignidade do poder Judiciário, ou
seja, além de coagir o réu a cumprir com sua obrigação é também, uma forma de preserva o
respeito jurisdicional evitando assim um desgaste judicial com a aplicação do processo de
execução forçada.
5
Idem.
6
Fabiano Carvalho. Execução da Multa (Astreintes) Prevista no Artigo 461 o CPC. p. 210.
Nesse sentido é o entendimento do doutrinador Gilberto Antônio Medeiros, in
verbis:

“As astreintes, assim, substituem a atividade ‘manu militari’ do


Estado, que seria inoperante e, talvez, poderia tornar-se violenta,
porque, em última análise, recairia diretamente sobre a pessoa do
devedor, atentando, possivelmente, sobre sua liberdade.” 7

No mesmo sentido reza o artigo 461, do Código de Processo Civil:

“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação


de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da
obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento.”(Redação dada pela Lei nº 8.952, de 1994)8

Portanto, percebe-se que o instituto das astreintes tem a finalidade de buscar o


cumprimento da obrigação, valorizar as decisões mandamentais judiciais e promover a
satisfação do direito pleiteado pela parte requerente.

2.6. Requisitos para aplicação das astreintes

As astreintes só poderão ser concedidas depois de analisados todos os seus


requisitos, por tal motivo se faz necessário o estudo dos seus requisitos. Primeiramente, é
sabido que a aplicação da astreinte só poderá ser concedida pelo juiz presidente do
processo, seja a pedido da parte, ou, ex officio.

Tal instituto poderá ser utilizador em qualquer momento processual, bem como
em qualquer instância, basta existe uma decisão de fazer, não fazer ou de dar (desde que
não seja dinheiro).

As obrigações mandamentais que poderão incidir as astreintes estão claramente


previstas no artigo 287, do Código de Processo Civil, in verbis:

“Art. 287. Se o autor pedir que seja imposta ao réu a abstenção da


prática de algum ato, tolerar alguma atividade, prestar ato ou entregar
coisa, poderá requerer cominação de pena pecuniária para o caso de
descumprimento da sentença ou da decisão antecipatória de tutela
(arts. 461, § 4o, e 461-A).” (Redação dada pela Lei nº 10.444, de
2002)9

7
Gilberto Antonio Medeiros. As “Astreintes” no direito brasileiro. p. 124.
8
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869compilada.htm
9
Idem.
Ademais, para a concessão das astreintes é necessário a presença do
periculum in mora10, da irreparabilidade do dano ou da “inocuidade do decisum” 11, pois as
astreintes tem como objetivo garantir a eficiência da decisão compelindo o réu ao
cumprimento da obrigação voluntariamente.

2.6.1 Do periculum in mora

O periculum in mora, nada mais é do que o perigo na demora, pela presença da


ameaça de dano grave ou de difícil reparação, pois se não houver esse instituto, não está
caracterizada a necessidade imediata da medida de contenção do agressor, no qual irá
sofrer uma restrição em seu agir. Desse modo ao conceder a decisão, que para
cumprimento se utiliza do instituto das astreintes, o julgador deve está de posse dessa
situação específica.

2.6.2 Da irreparabilidade do dano

É importante que a condição de irreparabilidade do dano esteja presente, de


forma que o juiz promova a garantia de defendê-lo na decisão, promovendo ao requerido
uma obrigação, de forma a garantir através do instituto das astreintes a sua proteção.

2.7 Principal diferença entre astreintes, multa e dano

A astreintes é uma multa periódica aplicada pelo juiz da causa com o objetivo de
estimular o réu a cumprir a obrigação mandamental. Já a multa é uma clausula pena
presente nos contratos particulares com o objetivo de evitar o descumprimento de tal
contrato. Por fim, o dano é a forma de resolver judicialmente uma obrigação que não é mais
possível ser cumprida, ou seja, a obrigação será convertida em perdas e danos devida à
impossibilidade do cumprimento da obrigação de imediato.

3. LIMINAR

As liminares são provimentos judiciais interpostos pela parte Requerente no


início do processo, de forma a resguardar o direito pleiteado. Para o processualista
Humberto Teodoro Junior, o significado de liminar é:

10
Significado: situação de fato que se caracteriza pela iminência de um dano decorrente de demora de providência que o
impeça.
11
Significado: fato de não ter ação prejudicial.
“Um adjetivo que atribui a algum substantivo a qualidade de inicial,
preambular, vale dizer, é tudo aquilo que se situa no início, na porta,
no limiar - in limine litis.”12(pag.

A liminar se dá antes do procedimento citatório do Requerido, de forma que o


mesmo às vezes não possui direito de resposta, ou seja, antes do debate do contraditório do
tema que constitui o objeto do processo. Na realidade o termo significa apenas e tão
somente ao momento em que o provimento é decretado pelo juiz, observando apenas o
critério temporal ou de lugar no tempo, dentro da sequência dos atos que compõe a cadeia
processual.

4. TUTELA ANTECIPADA

4.1. Conceito

Na realidade a Tutela Antecipada é o ato pelo qual o juiz, por meio de decisão
interlocutória, que antecipa ao autor total ou parcialmente os efeitos do julgamento de
mérito, quer em primeira instância, quer em sede de recurso.

4.2. Fundamentação

O instituto da Tutela Antecipada está amparado no art. 5º, inciso XXXV da


Constituição Federal de 1988, segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação do poder
judiciário lesão ou ameaça a direito” 13, com o objetivo de dar efetividade nas decisões
judiciais.

A introdução deste instituto no direito brasileiro foi através da lei 8.952/94, como
medida tutelar de urgência a dar satisfatividade imediata à parte que requereu, ainda que
antes de o Estado impulsionar o processo para além da fase postulatória ou de proferir sua
decisão definitiva de mérito. Já o Código de Processo Civil no artigo 273, efetiva o referido
instituto, de modo a dar celeridade, efetividade e eficácia as decisões judiciais.

4.3. Requisitos

A Antecipação de Tutela requer alguns requisitos, como forma de satisfazer pelo


menos momentaneamente, a pretensão da parte por cognição não exauriente.

12
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Civil – Processo de Execução e Cumprimento da Sentença, Processo
Cautelar e Tutela de Urgência: Humberto Teodoro Junior – Rio de Janeiro: Forense, 2010.
13
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
4.3.1. A existência de prova inequívoca capaz de convencer o juiz
da verossimilhança das alegações da parte requerente.

Esse requisito é o geral, de forma a convencer o juiz para concessão da medida


satisfativa de urgência. Sua projeção no mundo jurídico deve ter não somente a aparência
da verdade, mas constância semelhante, caso contrário, estar-se-ia em desacordo com o
princípio informativo lógico do direito processual.

O importante é que qualquer meio de prova típico ou atípico, desde que idôneo,
pode servir ao preenchimento do requisito legal. A verossimilhança, para ser mais
elucidativa, não está subordinada somente a existência de prova documental, mais a
qualquer tipo de prova que satisfaça ao convencimento do juiz.

4.3.2. Perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ou


manifesto interno protelatório do réu que dificulte a celeridade
processual.

A prova de perigo de dano irreparável ou de difícil reparação é fundamental para


caracterizar a necessidade de urgência do pedido pelo requerente, visto que, a necessidade
de reparação deve ser inerente diante do sofrimento exposto no pedido pelo autor.

A própria caracterização por parte do requerido de seu manifesto protelatório,


enseja causa de tutela antecipada, visto que, no desejo da parte interessada de retardar a
tramitação processual, quando começa a interpor diversos recursos, para continuar
usufruindo o bem jurídico reclamado em juízo; Sendo assim, para desestimular as condutas
protelatórias, o juiz poderá antecipar os efeitos da tutela.

4.3.3. Reversibilidade da medida antecipatória.

Para poder o juiz ter segurança nas suas decisões interlocutórias, deve o mesmo
gozar do instituto de sua reversibilidade, pois está mais do que claro a possibilidade da
existência do risco do dano inverso. Logo nessa situação está claramente demonstrada a
possibilidade do “status quo antes”, ou seja, “in natura” de forma a poder se garantir a
possibilidade de se reverter ou reparar uma injustiça.

Considerando-se a possibilidade de que a reversão seja “in natura”, o órgão


julgador pode condicionar a antecipação de tutela à prestação de caução.
Mas existe a possibilidade do julgador se deparar com a irreversibilidade da
medida para alguns casos específicos, de modo que deve utilizar o princípio da
proporcionalidade, sopesando o seu convencimento, principalmente quanto à
verossimilhança das alegações, logo é possível antecipar os efeitos da tutela jurisdicional
sem a verificação do requisito da reversabilidade. Esta, inclusive, é a posição perfilada pelo
STJ:

“é possível a antecipação da tutela, ainda que haja perigo de


irreversibilidade do provimento, quando o mal irreversível for maior,
quando ocorre no caso de não pagamento de pensão mensal
destinada a custear tratamento médico da vítima de infecção
hospitalar, visto que a falta de imediato atendimento médico causar-
lhe-ia danos irreparáveis de maior monta que o patrimonial” 14 (STJ.
REsp 801600/RS. Dje 15.12.09).

4.3.4. Aplicabilidade

A possibilidade da concessão da tutela antecipada pode ter lugar em qualquer


que seja a pretensão cognitiva. O autor pode pretender a tutela declaratória, constitutiva e
condenatória, com base no artigo 273 do CPC ou ainda nos casos referentes à tutela dos
artigos 461 e 461-A e requisitar o instituto, de forma a garantir um direito antecipadamente.

“Art. 273 – CPC. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar,


total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial,
desde que, existindo prova inequívoca, se convença da
verossimilhança da alegação e:”15

A efetivação da tutela antecipada segue o rito dos artigos 461 e 461-A do Código
de Processo Civil.

“Art. 461 – CPC. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de


obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica
da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências
que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

Parágrafo 4º - O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na


sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do
autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação fixando-lhe
prazo razoável para cumprimento do preceito.

Art. 461-A - CPC. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o
juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para cumprimento
da obrigação.”16

5. TUTELA CAUTELAR

14
http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8624908/recurso-especial-resp-801600-ce-2005-0199552-8-stj
15
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869compilada.htm
16
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869compilada.htm
Esse instituto se destina a garantir um direito material, e não processual. Na
realidade sempre houve a necessidade de se garantir a proteção dos bens das pessoas, de
forma a não se deixar perder devido a demora diante dos procedimentos processuais.
Conforme preceitua o jurista Luiz Guilherme Marinone:

“A tutela cautelar é direito da parte, correlacionada com o próprio


direito à tutela do direito. Em razão deste direito, a jurisdição tem o
dever de dar tutela a parte que tem o seu direito à tutela do direito
submetido a perigo de dano. O titular do direito ao ressarcimento, que
vê o infrator se desfazer dos seus bens para futuramente não ser
alcançado pela execução, tem ameaçado o seu direito à tutela
ressarcitória, e, por isto, tem direito à tutela de segurança(cautelar) da
tutela ressarcitória.”17 (pag. 22)

A tutela cautelar para a doutrina clássica é tida como provisória, mas na prática a
mesma não está fadada ao desaparecimento, como podemos presenciar na prática do
arresto. Para Ovídio Baptista da Silva, ao tomar em consideração este problema e ter
presente que o arresto não poder desaparecer ou ser consumido pela sentença
condenatória, evidenciou que a tutela cautelar tem natureza temporária e não provisória,
visto que, levando em consideração o arresto, se no processo for atribuída uma sentença
condenatória em favor do autor, o mesmo terá que justificar a penhora que será atribuída
aos bens depois da sentença, pondo uma evidência da existência do arresto como ação
garantidora do pleito até a penhora, que poderá ocorrer em lapso temporal bem depois da
sentença. Isto quer dizer que a tutela cautelar não se destina a resguardar o processo que
culmina na condenação, mas sim a garantir a frutuosidade da tutela do direito material que
depende da técnica condenatória.

5.1. Condições de existência da tutela cautelar

5.1.1Perigo de dano

A primeira condição da tutela cautelar é garantir a preservação do(s) bem(s)


tutelados, de forma a preservar o bem material para que não fique exposto ao perigo de
dano irreparável ou de difícil reparação. O perigo de dano deve ser real de forma a ser
demonstrado pela parte, não precisando exigir certeza absoluta da situação.

5.1.2.Probabilidade do direito à tutela do direito material

O autor deve convencer o juiz de que a tutela do direito provavelmente lhe será
concedida. Para Marinoni:

17
MARINONE, Luiz Guilherme, Arenhart, Sergio Cruz. 4. ed. ver. e atual. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.
“A admissão de uma convicção de verosimilhança, como suficiente à
concessão da tutela cautelar, decorre do perigo de dano e da
conseqüente situação de urgência, a impor solução e tutela
jurisdicional imediatas.”18 (pag. 29)

O juiz deve se ater aos fatos iniciais de forma a garantir em sua convicção o
direito pleiteado, pois não se pode deduzir em se aprofundar sobre os fatos expostos pelo
autor no pedido da cautelar para não se perder o objeto da ação e arriscar em transformar a
ação em um processo de conhecimento.

5.2. Distinção entre tutela antecipada e tutela cautelar

A diferença básica inicial entre os dois institutos esta nos objetivos almejados
pelo requerente, de forma que na tutela antecipada procura-se garantir a efetividade de um
direito material no inicio do processo, de forma a gozar de imediato de seus benefícios, A
tutela cautelar procura garantir um direito material que esteja exposto ao perigo. A tutela
antecipada já garante o uso e gozo do direito pleiteado, antes da sentença de mérito,
enquanto na tutela cautelar procura resguardar e preservar um direito até a sentença.

5.3. Aplicabilidade da Tutela Antecipada no âmbito dos Juizados


Especiais

A aplicabilidade da tutela antecipada no âmbito dos juizados especiais se dá em


função de atender o princípio da celeridade processual, de forma a garantir o mais rápido
possível o direito pleiteado.

Apesar da existência dos princípios que norteiam os juizados especiais,


elencados no art. 2º da lei 9.099/95, como oralidade, simplicidade, informalidade, economia
processual e celeridade, trazerem uma dinâmica diferenciada para esse microssistema. Os
procedimentos tem que existir dentro de um processo que exige tempo para que o requerido
seja citado, elaboração de sua resposta, instrução probatória, interposição de recurso e
julgamento etc. sendo assim, devido esse tempo processual inevitável no âmbito dos
juizados, tornou-se necessária à concessão urgente da tutela jurisdicional.

O instituto da Tutela Antecipada aplicada nos Juizados é a chamada


antecipação-remédio, pelo fato das outras tutelas, como antecipação sansão e antecipação
quanto a parcela incontroversa do mérito serem absolutamente dispensáveis nesse
microssistema específico. A antecipação sansão é caracterizada pelo abuso do direito de
defesa e a antecipação quanto a parcela incontroversa se dá quando uma parcela do mérito

18
MARINONE, Luiz Guilherme, Arenhart, Sergio Cruz. 4. ed. ver. e atual. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.
da causa se tornar incontroverso, por exemplo, quando o demandado reconhece
parcialmente a procedência do pedido do demandante, acontece que nos juizados
especiais, a resposta do requerido é oferecida na audiência de instrução e julgamento,
acontecendo de imediato a referida sentença. apor que pode acontecer de a demora do
processo gerar o perigo de que o direito material cuja tutela que se pretende sofra dano
grave, de difícil ou impossível reparação.

O art. 4º da lei 10.259/01 que criou os Juizados Especiais Federais prescreve


claramente a expressão medidas cautelares, sendo assim, alguns doutrinadores defendem
que não se pode utilizar por analogia aos Juizados Especiais Estaduais regidos pela lei
9.099/95, esse artigo como fundamentação no pedido de tutela antecipada nas ações dos
Juizados:

“Art. 4º. O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir


medidas cautelares no curso do processo, para evitar dano de difícil
reparação.”19

Apesar da lei 9.099/95 que regulamenta os Juizados Especiais Estaduais não


trazer nenhuma referência gramatical na sua contextualização sobre a tutela antecipada,
utiliza-se o CPC às lacunas da Lei, por meio de analogia, observando a não contrariedade
com a norma específica. Neste sentido, defende Misael Montenegro Filho (2005, p. 68):

“A Lei Maior garantiu o direito de ação, abrindo as


portas do judiciário para que as pessoas que se sentem lesadas
apresentem ações formais perante o representante do poder em
análise, impondo a formação de um processo. Porém, evidente que o
direito de ação não se limita a assegurar o acesso ao representante
do Poder Judiciário. No momento em que o processo é formado, o
Estado se torna devedor de uma resposta jurisdicional, não
necessariamente de mérito, segundo a teoria eclética desenvolvida
por Liebman, exigindo-se do autor que preencha as condições da
ação (...). Percebendo que a lei especial prega a celeridade do
processo (...) não nos parece lógico negar a antecipação da tutela no
âmbito dos órgãos especiais, já que o seu deferimento estará sempre
apoiado no princípio em estudo.”20

Os juizados especiais utilizam o rito sumário em seus procedimentos, de forma a


garantir celeridade na tramitação de seus processos, mas apesar dos princípios que
norteiam o processo no âmbito dos juizados existirem de forma a garantir.

Desta sorte, é imprescindível que se admita a hipótese de aplicação do instituto


da tutela antecipada de forma secundária do CPC ante aos Juizados Especiais Cíveis –

19
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10259.htm
20
MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil vol. II. São Paulo: Atlas, 2005.
Estaduais ou Federais - pois o que se pretende é alcançar a justiça e não impor obstáculos
à sua perpetuação, diante da omissão equivocada do legislador.

6. COMPETENCIA EM RAZÃO DO VALOR DA CAUSA E DA MATÉRIA NO


ÂMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS

6.1 Da competência em relação ao valor da causa

Inicialmente deve-se frisar que a própria Constituição Federal traz em relação


aos juizados especiais a sua competência de forma genérica, mostrando a sua
especificidade, no que tange as causas cíveis de menor complexidade:

“Art. 98. A União, no distrito Federal e nos territórios, e os Estados


criarão:

I – Juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e


leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de
causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor
potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo,
permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento
de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;”21

O valor da causa no âmbito dos juizados especiais serve de referência, de modo


que o legislador atribuiu um teto para que houvesse limite de valores de modo a enquadrá-
las nas causas de menor complexidade. O juiz pode verificar de ofício, ou seja, no ato da
impetração da petição inicial, se o valor atribuído a causa na petição inicial está condizente
com as normas do art. 3º, I da lei 9.099/95, de forma a enquadrá-la em uma das
características das causas de menor complexidade:

“Art. 3º - O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação,


processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade,
assim consideradas:

I – as causas cujo valor não exceda a 40(quarenta) vezes o salário


mínimo.”22

O legislador, como forma a ratificar a importância do valor da causa no âmbito


dos juizados especiais cíveis, para enquadrá-la nas causas de menor complexidade ratificou
no art. 14, inciso III da lei dos juizados especiais, no que se refere aos pedidos do
requerente na inicial, fazendo menção novamente ao valor da causa, trazendo a importância
dos pequenos valores de modo a dar mais celeridade processual:

21
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm.
22
ANGHER, Anne Joyce. Vade Mecum Universitário de Direito Rideel. 7ª. Ed. São Paulo, 2009.
“Art. 14 – O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido,
escrito ou oral, à secretaria do juizado.

III – O objeto e seu valor.”23

Por se tratar de lei especial, o legislador afastou as especificações do art. 259 do


CPC, como forma de sintetizar e minimizar as ações enquadradas no sistema dos juizados
especiais. A busca do legislador pela celeridade processual não se coaduna com causas de
altas complexidades e que envolvam montantes vultuosos capazes de causar embaraços e
recursos processuais, não trazendo o grande gargalo da justiça para esse procedimento
especial, que é a demora na solução dos litígios.

6.2 Competências em relação à matéria

A competência em relação à matéria no âmbito dos juizados especiais cíveis


está basicamente elencada no art. 3º, II, III e IV da lei 9.099/95, no qual o legislador
procurou dar maior aplicabilidade aos dispositivos legais, de forma a harmonizar o texto com
as necessidades sociais inerentes do mundo contemporâneo.

“Art. 3º - O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação,


processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade,
assim consideradas:

II – as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código Processo Civil;

III – a ação de despejo para uso próprio

IV – as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não


excedente ao fixado no inciso I deste artigo.”24

Hoje existe uma lógica sobre o entendimento, no qual o valor da causa no


âmbito dos juizados deve corresponder à pretensão econômica existente no momento da
propositura da ação de modo a desconsiderar o valor da causa, se o requerente não tiver
por objeto o recebimento de prestação pecuniária, devendo prevalecer o objeto da ação
desvinculado de seu valor econômico, segundo entendimento do 39º FONAJE:

“Enunciado 39 – Em observância ao art. 2º da lei 9.099/95, o valor da


causa corresponderá à pretensão econômica objeto do pedido.”25

Mesmo assim, se o requerente quiser impetrar ação no âmbito dos juizados


especiais, no qual enseje receber valor pecuniário acima do teto estabelecido, haverá
claramente presunção de renúncia ao crédito remanescente, Esse novo entendimento se
23
Idem.
24
ANGHER, Anne Joyce. Vade Mecum Universitário de Direito Rideel. 7ª. Ed. São Paulo, 2009.
25
CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e pratica dos juizados especiais cíveis estaduais e federais, pag. 35, 11. ed. – São
Paulo: Saraiva, 2009.
dar em virtude de se fazer referência ao valor patrimonial do pedido, de forma a se obter
proveito econômico diante da especificidade da causa, visto que, o objeto material a ser
discutido tem um valor, mas o interesse na demanda tem outro valor, de forma a satisfazer o
interesse do requerente. Essa questão esta muito clara nas ações de despejo, pelo fato de
descumprimento do contrato por parte do requerido, quando deixa de cumprir com a sua
obrigação, ao deixar de pagar o aluguel, sendo que apesar dos valores das mensalidades
serem muito além dos quarenta salários mínimos, como valor da causa no âmbito dos
juizados especiais, o objeto pleiteado não é da ordem econômica, mais na proteção de
requerente em reaver o bem para seu bom proveito. Desse mesmo entendimento comunga
o STJ de acordo com recentes julgados:

6.3 Admissibilidade pelo STJ no pagamento de indenizações de valores


acima do estipulado no art. 3º, inciso I, da lei 9.099/95.

Hoje existe o surgimento de um novo entendimento no STJ, sobre a condenação


em relação a valor superior a quarenta salários mínimos, no que tange a correção de
valores da sentença no âmbito dos juizados especiais.

Na realidade o que houve foi uma decisão em juizado especial, na qual a sexta
turma de recursos de lajes no Estado de Santa Catarina ratificou entendimento do Juizado
de Bom Retiro, em que condenou uma empresa a pagar um determinado valor que corrigido
alcançaria o valor de 100.000,00 reais, a título de indenização por morte. Ao recorrer em
mandado de segurança para a terceira turma do STJ, a ministra Nancy andrighi negou
provimento, entendo que com exceção do art. 3º, inciso IV da lei 9.099/95, existe inteira
possibilidade no pagamento de indenizações de valores acima de quarenta salários
mínimos, no que tange determinada matéria, e que os tribunais estaduais são competentes
para julgar em sede de mandado de segurança no que tange ao controle de competência
nas decisões dos juizados especiais, mesmo tendo transitado em julgado, conforme decisão
abaixo citada por Rodrigo Soares da Silva:

“PROCESSO CIVIL. MEDIDA CAUTELAR COM O FITO DE OBTER


A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA RECURSAL.
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
POSSIBILIDADE, DESDE QUE DEMONSTRADOS O PERICULUM
IN MORA E O FUMUS BONI IURIS. JUIZADO ESPECIAL CÍVEL.
COMPETÊNCIA. COMPLEXIDADE DA CAUSA. NECESSIDADE DE
PERÍCIA. CONDENAÇÃO SUPERIOR A 40 SALÁRIOS MÍNIMOS.
POSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA. CONTROLE. TRIBUNAIS DE
JUSTIÇA DOS ESTADOS. MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO
TRANSITADA EM JULGADO. CABIMENTO. - A jurisprudência do
STJ vem admitindo, em hipóteses excepcionais, o manejo da medida
cautelar originária para fins de se obter a antecipação de tutela em
recurso ordinário; para tanto é necessária a demonstração do
periculum in mora e a caracterização do fumus boni juris,
circunstâncias ausentes na espécie. - Não há dispositivo na Lei
9.099/95 que permita inferir que a complexidade da causa – e, por
conseguinte, a competência do Juizado Especial Cível – esteja
relacionada à necessidade ou não de perícia. - A autonomia dos
Juizados Especiais não prevalece em relação às decisões acerca de
sua própria competência para conhecer das causas que lhe são
submetidas, ficando tal controle submetido aos Tribunais de Justiça,
via mandado de segurança. Esse entendimento subsiste mesmo
após a edição da Súmula 376/STJ, tendo em vista que, entre os
próprios julgados que lhe deram origem, se encontra a ressalva
quanto ao cabimento do writ para controle da competência dos
Juizados Especiais pelos Tribunais de Justiça. - Ao regulamentar a
competência conferida aos Juizados Especiais pelo art. 98, I, da CF,
a Lei 9.099/95 fez uso de dois critérios distintos – quantitativo e
qualitativo – para definir o que são "causas cíveis de menor
complexidade". A menor complexidade que confere competência aos
Juizados Especiais é, de regra, definida pelo valor econômico da
pretensão ou pela matéria envolvida. Exige-se, pois, a presença de
apenas um desses requisitos e não a sua cumulação. A exceção fica
para as ações possessórias sobre bens imóveis, em relação às quais
houve expressa conjugação dos critérios de valor e matéria. Assim,
salvo na hipótese do art. 3º, IV, da Lei 9.099/95, estabelecida a
competência do Juizado Especial com base na matéria, é
perfeitamente admissível que o pedido exceda o limite de 40 salários
mínimos. - Admite-se a impetração de mandado de segurança frente
aos Tribunais de Justiça dos Estados para o exercício do controle da
competência dos Juizados Especiais, ainda que a decisão a ser
anulada já tenha transitado em julgado. Liminar indeferida.(MEDIDA
CAUTELAR Nº 15.465 - SC (2009/0065324-3) RELATORA :
MINISTRA NANCY ANDRIGHI)”26

3. O art. 3º da Lei 9.099/95 adota dois critérios distintos – quantitativo


(valor econômico da pretensão) e qualitativo (matéria envolvida) –
para definir o que são “causas cíveis de menor complexidade”. Exige-
se a presença de apenas um desses requisitos e não a sua
cumulação, salvo na hipótese do art. 3º, IV, da Lei 9.099/95. Assim,
em regra, o limite de 40 salários mínimos não se aplica quando a
competência dos Juizados Especiais Cíveis é fixada com base na
matéria.”(STJ, Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n.
30.170/SC, relatora a Ministra Nancy Andrighi, julgado pela 3ª Turma
em 05.10.2010 e publicado no DJe em 13.10.2010).

Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/21262/valor-da-causa-e-


entrave-no-acesso-ao-juizado-especial-civel#ixzz2DHKN9qY7

Segundo entendimento do jurista Alexandre Pacheco Lopes Filho, sobre a


matéria devemos destacar:

“Não se pode chegar a outra conclusão senão no sentido de


reconhecer o acerto da jurisprudência do STJ, uma vez que a Lei nº
9.099/95 não impede a realização de perícia no âmbito dos Juizados
Especiais (chegando inclusive a prever a possibilidade de haver
parecer técnico no seu art. 35º).

26
SILVA, Rodrigo Soares. Ação de R$ 1 milhão nos Juizados especiais. Disponível em: <
http://jus.com.br/revista/texto/12989/acao-de-r-1-milhao-nos-juizados-especiais> Acesso em 08 de novembro de 2012.
Em nosso entendimento, o artigo 3º da Lei dos Juizados Especiais
traz um conceito objetivo sobre o que vem a ser uma “causa de
menor complexidade”, que coincide com as causas elencadas nos
incisos I a IV. Em nenhum momento, a norma supracitada determina
que os processos que envolvam prova pericial sejam
necessariamente complexos.

Dessa forma, resta apenas aguardar o julgamento do Recurso


Extraordinário (RE) 537427 perante o STF na esperança de que
Corte reverta a tendência de não admitir perícia em Juizado Especial
e siga a jurisprudência criada pela Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça.”27

Sendo assim, concluir que em relação à matéria, para efeitos de referência no


valor da causa, devemos observar a possibilidade de haver julgados com valores acima do
teto pré-estabelecido, tendo que fazer exceção apenas as ações determinadas no art. 3º, IV
da lei 9.099/95.

7. DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA NO ÂMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS


CÍVEIS

Primeiramente devemos entender o significado da expressão “Enriquecimento


sem Causa”, para o direito brasileiro, de forma a garantir sua utilidade para compreensão
futura do abuso das astreintes no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis.

Apesar da Constituição Brasileira de 1988 não fazer nenhuma referência por


escrito, sobre o significado da expressão em debate, os princípios constitucionais que
norteiam o direito brasileiro na atualidade como o da dignidade da pessoa humana, livre
iniciativa, liberdade, justiça social e solidariedade, estão diretamente concatenados, com a
idéia de valores sociais de igualdade, da maneira de não se conceber de forma alguma as
injustiças sociais. Primeiramente a dignidade da pessoa humana esta diretamente ligada a
condição do homem de não poder ter um castigo maior do que o suportável, de forma a
trazer danos irreparáveis diante da sua existência, o segundo que trata da livre iniciativa
esta ligada a possibilidade do homem poder buscar sua independência financeira, de forma
a não sofrer constrangimentos por abusos de terceiros, o terceiro que fala da liberdade está
ligado também a não coerção diante dos mais poderosos, de forma a se promover recursos
de defesas no direito e sociais, para os menos afortunados, já o quarto princípio que trata da
justiça social, diz respeito ao cidadão não poder sofrer desigualdades aberrantes, de forma
a lhe trazer condições de existência miseráveis perante os outros, e finalmente o da
solidariedade, que busca o respeito e a dignidade entre os cidadãos de forma a uns

27
LOPES FILHO, Alexandre Pacheco. Juizado Especial pode julgar ação que envolve perícia. Disponível em: <
http://www.conjur.com.br/2010-nov-20/lei-nao-impede-realizacao-pericia-ambito-juizados-especiais> acesso em 10 de
novembro, 2012.
poderem reconhecer os outros, em qualquer seara social, como seres humanos. Sendo
assim, podemos perceber que a própria constituição federal traz com seus princípios uma
idéia de igualdade, como forma de equilíbrio social, no qual não se pode obter nenhum tipo
de ganho social de forma a causar um desequilíbrio orçamentário nas contas de terceiros.

Já o Código Civil de 2002, trata do tema na parte especial no livro da obrigações,


capítulo IV, nos artigos 884, 885, 886 buscando assim, trazer conceitos expressos em suas
entrelinhas, de forma a demonstrar o expurgamento do direito pátrio, de qualquer forma de
enriquecimento sem causa, de forma a trazer prejuízo para terceiros.

Art. 884 CC/2002 – aquele que, sem justa causa, se enriquecer à


custa de outrem, será obrigado a restituir indevidamente auferido,
feita a atualização dos valores monetários.

Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa


determinada, quem a recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa
não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na época
em que foi exigido.

Art. 885 CC/2002 – a restituição é devida, não só quando tenha


havido causa que justifique o enriquecimento, mas também se esta
deixou de existir.

Art. 886 CC/2002 – não caberá a restituição por enriquecimento, se a


lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo
sofrido.

Na realidade o código civil apenas demonstra que deve haver nas relações comerciais
dentro das sociedades, um equilíbrio econômico de forma a garantir uma determinada
igualdade entre os negócios jurídicos, não podendo uma das partes se prevalecer
financeiramente diante da outra. A vedação do código ao enriquecimento sem causa
demonstra que a liberdade econômica não pode existir de forma a trazer ilicitudes que
coloquem uns em desvantagens excessivas diante dos outros.

Para alguns doutrinadores, como Limongi França e Pedro Luso de Carvalho


respectivamente, enriquecimento sem causa tem o seguinte significado:

"Enriquecimento sem causa, enriquecimento ilícito ou locupletamento


ilícito é o acréscimo de bens que se verifica no patrimônio de um
sujeito, em detrimento de outrem, sem que para isso tenha um
fundamento jurídico".

“A pessoa física ou jurídica que enriquecer sem justa causa, em


razão de negócio jurídico realizado, dará ensejo ao lesado a ajuizar
ação visando à restituição do valor recebido indevidamente,
atualizado monetariamente.

Já no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, no que diz respeito principalmente ao


recebimento de valores indevidos, em relação a capacidade financeira das partes, diante da
menor complexidade da matéria e de valores envolvidos. A limitação de quarenta salários
mínimos, como forma de se impor um teto, para conter indenizações que ultrapassem a
realidade econômica das partes, bem como a menor complexidade da matéria, na qual não
se possa alferir ganhos fora do contexto da realidade dos fatos demonstram a
impossibilidade de existir ganhos indevidos na seara dos juizados, pela limitação da própria
lei, conforme preceitua o art. 3º, inciso I da lei 9.099/95;

Art. 3º - O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação,


processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade,
assim consideradas:

I – As causas cujo valor não exceda a 40(quarenta) vezes o salário


mínimo.

Já no entendimento da jurisprudência de nossos tribunais, verificamos o expurgamento de


qualquer forma de ganhos indevidos, ou seja, que não tenham nenhuma relação com a
causa e com a realidade dos fatos. A Primeira Turma de Recursos do Distrito Federal, assim
se pronuncia sobre indenizações em valores altos que estão completamente
descompatibilizadas com a realidade dos fatos:

Processo:ACJ 258634720098070009 DF 0025863-47.2009.807.0009


Relator(a):RITA DE CÁSSIA DE CERQUEIRA LIMA ROCHA
Julgamento:01/03/2011
Órgão Julgador:PRIMEIRA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS
ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DO DF
Publicação:10/03/2011, DJ-e Pág. 291

Ementa:

CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. NEGLIGÊNCIA DE


FORNECEDOR DE PRODUTOS. ESTELIONATO. REGISTRO
INDEVIDO NOS CADASTROS DE INADIMPLÊNCIA. DANO MORAL
CARACTERIZADO. INDENIZAÇÃO EM MONTANTE
EXCESSIVAMENTE ALTO. VALOR REDUZIDO.

1 - FORNECEDOR DE PRODUTOS E SERVIÇOS COMETE ATO


ILÍCITO QUANDO, NEGLIGENTEMENTE, CONTRATA COM
ESTELIONATÁRIO E PREJUDICA TERCEIRO.

2 - O REGISTRO INDEVIDO DOS DADOS DE CONSUMIDOR EM


CADASTROS DE INADIMPLÊNCIA CAUSA DANOS MORAIS
PASSÍVEIS DE INDENIZAÇÃO.

3 - O ARBITRAMENTO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS DEVE SER FEITO DE ACORDO COM AS
PECULIARIDADES DE CADA CASO CONCRETO E TEM COMO
PARÂMETROS OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA
RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE.

4 - A INDENIZAÇÃO ARBITRADA EM VALOR EXCESSIVO CAUSA


O ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DO INDENIZADO, O QUE NÃO
PODE SER FOMENTADO PELO PODER JUDICIÁRIO.
INDENIZAÇÃO REDUZIDA DE R$ 5.000,00 PARA R$ 2.000,00.

A Turma Recursal do Estado do Maranhão também se pronuncia sobre o caso, de modo a


esclarecer a necessidade de se balizar uma compensação justa e devida, de forma a não
trazer prejuízo desnecessário para a parte, que poderia perder o que não devia, devido a
uma descompensação entre o dano sofrido e a indenização interposta.

8. DOS PRINCÍPIOS APLICADOS NO ÂMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS


CÍVEIS.

Os princípios são mandamentos garantidores de uma ordem social, de forma a serem


considerados a origem de um ordenamento jurídico, no qual as demais premissas desse
sistema não lhe podem contradizer. Se denominam o inicio, o começo, ou seja, a origem das
formas a serem seguidas para resultar nos objetivos a serem alcançados. Nas palavras de
José Afonso da Silva, princípios querem dizer:

A palavra principio apresenta a acepção de começo, de início ou


mandamento nuclear de um sistema ou também como sendo
ordenações que irradiam e imantam o sistema de normas, são
núcleos de condensação, os quais confluem valores e bens
constitucionais.(SILVA, José Afonso, Curso de Direito Constitucional
Positivo), p. 95).

No microssistema dos Juizados Especiais Cíveis (JECs), existem uma gama de princípios
que norteiam sua organização funcional, de forma a garantir uma relativa independência e
autonomia diante dos outros órgãos jurisdicionais.

Os princípios básicos que proporcionam alcançar os objetivos sociais na criação dos


juizados especiais são a facilidade do acesso à justiça e a busca de uma conciliação entre
as partes, de forma de garantir a celeridade processual, na solução dos conflitos. No art. 2º
da lei 9.099/95 estão elencados os princípios da oralidade, simplicidade, informalidade,
economia processual e celeridade, que mostram a dinâmica a ser seguida na solução de
seus conflitos, mais existem ainda dois princípios muito importantes no âmbito dos juizados,
que são o da autocomposição e eqüidade.

Art. 2º - O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade,


simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.

Os princípios como enunciados ou considerados pontos de partida de um determinado


ordenamento jurídico, não podem ser questionados, muito menos interpretados de forma
contraditória às suas premissas, pois caso isso aconteça, poria em xeque a fundamentação
ou amparo legal de determinado ordenamento. Os princípios básicos que norteiam a
finalidade dos Juizados Especiais são:

8.1 - Princípio da Oralidade

Esse princípio é o mais importante que foi inserido na lei 9.099/95, pelo fato de promover o
predomínio da palavra falada sobre a palavra escrita, de forma a haver uma simbiose entre
o falado e o escrito de forma a predominar a oralidade na busca da celeridade. No âmbito
dos Juizados Especiais esse princípio predomina na fase instrutória, se estendendo por toda
a fase cognitiva, conforme preceitua os arts. 14º, § 3º, 30º, 35º da lei 9.099/95.

Art. 14º - O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido,


escrito ou oral, à secretaria do Juizado.

§ 3º - O pedido oral seré reduzido a escrito pela Secretaria do


Juizado, podendo ser utilizado o sistema de fichas ou formulários
impressos.
Art. 30º - A contestação, que será oral ou escrita, conterá toda a
matéria de defesa, exceto argüição de suspeição ou impedimento do
juiz, que se processará na forma da legislação em vigor.

Art. 35º - Quando a prova do fato exigir, o juiz poderá inquirir técnicos
de sua confiança, permitida as partes apresentação de parecer
técnico.

O referido principio é agregador de forma a ser seguido por diversos outros que estão
sucumbidos, como o da concentração dos atos processuais, que procura concentrar todos
os atos, em um único procedimento, ou em poucos, de forma a agregar a conciliação,
instrução e julgamento em um único ato dando celeridade processual, o princípio da
identidade física do juiz que preceitua que o juiz que colhe as provas deve ser o juiz
habilitado para promover seu julgamento, pelo fato de ter colhido pessoalmente os fatos e
de ter competência e segurança jurídica para decidir de acordo com a verdade dos fatos, o
da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, que busca a não paralisação do processo,
em virtude de recursos protelatórios e finalmente do imediatismo que trás a
responsabilidade do juiz de colher diretamente as provas, de forma a garantir a verdade
sobre os fatos, entre outros.

8.2 – Princípio da Simplicidade

O Princípio em questão busca trazer literalmente como próprio nome diz a simplicidade que
deve ser exposta entre o jurisdicionado e as partes, de forma a afastar a complexidade
lingüística do direito de modo a ser bem compreendida entre as partes. Como os Juizados
são considerados as portas do judiciário para a sociedade em geral, deve se voltar para o
jurisdicionado de forma a trazer compreensão lingüística em suas decisões jurídicas,
segundo o próprio art. 14º, § 1º da lei assim se pronuncia:

Art. 14º - O processo instaurar-se-á com a apresentação do


pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.

§ 1º - Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem


acessível:

A simplicidade nos atos processuais buscam valorar toda a sistemática processual no


âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, de forma a alcançar a justiça pleiteada.
8.3 – Princípio da Informalidade

Literalmente falando estaríamos diante de um princípio que não exige formalidade para o
procedimento do processo no âmbito dos Juizados Especiais, mas não é bem assim, o que
esse princípio quer dizer é que os atos processuais devem ser realizados com o mínimo de
formalidade possível. Logo quando os atos são praticados de forma mais simples, temos
como resultado uma economia, efetividade e celeridade processual.

Na realidade, com esse principio se busca retirar os atos que não possuem necessidade de
existir, tornando o procedimento mais eficiente e melhor praticado. O princípio elencado
estar claramente exposto no art. 14º, § 1º que trata da estrutura da petição inicial, bem como
da citação (art. 18º, III), da intimação (art. 19º), da sentença (art. 38º), dentre outros, de
forma a garantir a celeridade processual.

Art. 14º - O processo instaurar-se-á com a apresentação do


pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.

§ 1º - Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem


acessível:

Art. 18º - A citação far-se-á:

III – sendo necessário, por oficial de justiça,


independentemente de mandado, ou carta precatória.

Art. 19º - as intimações serão feitas na forma prevista para


citação, ou por qualquer outro meio idôneo de comunicação.

Art. 38º - a sentença mencionará os elementos de convicção do


juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em
audiência, dispensado o relatório.

8.4 – Princípio da Economia Processual

Esse princípio busca a racionalidade nas atividades processuais, de forma a obter um maior
número de resultados com a realização de um menor número de atos. O importante nos
Juizados Especiais é a solução dos conflitos da forma mais rápida possível, ou seja, quanto
mais rápido se chegar a solução das lides, mais rápida será a satisfação das partes e
menos desgastante será a relação processual.
De acordo com a lei 9.099/95 esse principio está claramente exposto no art. 17º, parágrafo
único.

Art. 17º - Comparecendo inicialmente ambas as partes,


instaurar-se-á, desde logo, a sessão de conciliação,
dispensados o registro prévio de pedido e a citação.

Parágrafo único – Havendo pedidos contrapostos, poderá ser


dispensada a contestação formal e ambos serão apreciados na
mesma sentença.

8.5 - Princípio da Celeridade

Talvez seja o princípio que mais se identifica com a vontade do legislador quando da criação
dos Juizados Especiais, pelo fato da busca na solução rápida dos conflitos de forma a
promover a paz social. Mas devemos fazer uma pequena observação sobre agilidade e
segurança jurídica, de forma a não deixar banalizar o processo que é uma segurança para o
jurisdicionado. Na realidade não podemos deixar de proceder com os atos fundamentais na
realização do processo, pois deixaríamos as garantias processuais de lado, no qual
ofenderia a própria Constituição Federal.

As demandas nos Juizados Especiais devem ser rápidas e simples, de forma a garantir uma
tramitação satisfatória para ambas às partes, resultando no menor custo possível na solução
dos conflitos, mas com segurança jurídica, de forma a garantir o devido processo legal.
Quanto menos tempo durar o processo, menos desgastante para as partes será seu
resultado, de forma que a solução dos conflitos em tempo razoável contempla o princípio
constitucional da celeridade e da paz social.

8.6 – Princípio da Autocomposição

Esse princípio se enquadra muito bem na objetividade dos juizados que é a solução de
conflitos de forma menos desgastante para ambas as partes. A autocomposição está
claramente escrita nos arts. 7º, 17º, 21º a 26º, 53, § 2º da lei 9.099/95 de forma que na
própria conciliação as partes podem solucionar o litígio da melhor forma possível.

A espontaneidade das partes em solucionar suas adversidades, bem como a utilização de


técnicas por parte dos profissionais da autocomposição, que são os conciliadores dos
juizados, trazem uma nova forma na solução dos litígios, pois no momento em que a
vontade das partes prevalece, o jurisdicionado ganha em celeridade e credibilidade social.
8.7 – Princípio da Equidade

Conforme o art. 5º da lei 9.099/95, o juiz de acordo com o caso concreto deverá utilizar uma
decisão livre, mais justa e equânime de forma a proporcionar o bem comum e atingir os fins
sociais que a lei assim exigir. Quando o juiz pretender atingir os fins sociais da lei, deve
diminuir as formalidades diante desta, de forma a decidir não contra a lei, mas
acrescentando um caráter sociológico, dando um aspecto de comprometimento com o
âmbito social da questão.

De acordo com esse princípio o juiz deve se comprometer em resolver os litígios das partes,
de forma a garantir tranqüilidade diante dos interesses sociais em questão, deixando de lado
os interesses da coletividade, de forma a garantir uma solução pacificadora para o conflito
em questão.

De acordo com os princípios básicos elencados para funcionamento dos Juizados Especiais
Cíveis, observamos que juntos colidem para um só objetivo, que é a busca da celeridade
processual, de forma a buscar dentro do microssistema da lei 9.099/95, a satisfatividade das
partes de forma a garantir a efetividade do processo diante das demandas judiciais de
menor complexidade.

9. PRINCÍPIOS RELACIONADOS ÀS ASTREINTES NO ÂMBITO DOS JUIZADOS


ESPECIAIS CÍVEIS.

9.1 Princípio da Efetividade do Processo

A partir desse princípio, o processo deixou de ser apenas burocrático, para se tornar
também efetivo, de forma que o cidadão deixou de ter direitos apenas para ingressar com
ação em juízo reivindicando seus direitos, e receber apenas suas beneficias no plano
jurídico, para também receber no plano do direito material, como forma de ver a efetividade
das determinações judiciais diante da realidade fática. A garantia na efetividade das
decisões judiciais traz ao cidadão a idéia de segurança jurídica, de forma a buscar os seus
direitos frente aos órgãos jurisdicionais.

O art. 5º, XXXV da CF/1988, trás o fundamento da acessibilidade ao poder judiciário, de


forma a garantir a reparação do direito pleiteado, conforme preceitua sua determinação:

Art. 5º, XXXV, CF/88 – a lei não excluíra da apreciação do Poder


Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Acolhendo o novo entendimento sobre apreciação de lesão ou ameaça a direito pelo Poder
Judiciário, o Código de Processo Civil busca da efetividade as normas emanadas pela
nossa Carta Magna. Dentre os instrumentos para dar efetividade ao processo, destaca-se a
tutela específica do art. 461, § 4º desse ordenamento jurídico, no qual procura através da
multa coercitiva dar efetividade nas ordens judiciais.

Esse princípio demonstra a nova concepção do direito brasileiro, na busca da proteção do


jurisdicionado, pois a partir do momento que o judicante percebe a solução efetiva de sua
demanda, conclui automaticamente pela credibilidade no Poder Judiciário, de forma a
depositar suas esperanças na solução de seus conflitos.

O resultado prático a ser atingido diante da efetividade do processo é a busca da paz social,
de forma a tornar a sociedade mais justa, diante dos que vivem desamparados pelo poder
público.

Conclui-se, portanto, que através de medidas efetivas para cumprimento das ordens
judiciais, como a utilização das astreintes, o processo deixou de ser apenas mais um
instrumento de satisfação social, quando da falta de sua efetividade, de modo a ser um
garantidor no resguarde do direito invocado por aquele que necessita da tutela do Poder
Judiciário.

Segundo leciona Zavascki;

O direito fundamental à efetividade do processo – que se denomina


também genericamente, de acesso à justiça, o direito à ordem jurídica
justa – compreende em suma, não apenas o direito de provocar a
atuação do Estado, mas também e principalmente o de obter, em
prazo adequado, uma decisão justa e com potencial de atuar
eficazmente no plano dos fatos26.

26
ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação da tutela. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 65.

Diante da jurisprudência pátria, no que concerne a aplicabilidade do princípio da efetividade


do processo, observamos que está perfeitamente de acordo à busca pelo resultado prático
das demandas com a finalidade judiciária de pacificação social, de forma a harmonizar as
relações entre os cidadãos em uma sociedade.

De acordo com a jurisprudência do STJ:


9.2 - Princípio da Razoabilidade e da Proporcionalidade.

O princípio da razoabilidade busca dar um caráter moderador para as decisões judiciais, de


forma a criar parâmetros para obtenção de um equilíbrio necessário, na busca da
satisfatividade entre as partes no que concerne ao resultado da demanda. Na realidade os
atos do juízo devem decorrer de bom senso, prudência e sensatez, de forma a criar um
ambiente harmônico entre as partes, do qual resultará a aceitação tácita das decisões
judiciais. As decisões desarrazoadas, ou absurdas não podem prosperar diante da realidade
material, de forma que são absolutamente nulas e carecem de efetividade, pela própria falta
de cumprimento por uma das partes, que não vai poder arcar com o ônus de uma aberração
judicial.

Já no que concerne o princípio da proporcionalidade, este configura mais precisamente de


uma derivação do devido processo legal, de forma a funcionar como uma manta protetora
dos direitos fundamentais do cidadão contra as arbitrariedades do Estado Juiz. A garantia
desse princípio concerne principalmente a conter a intolerância da força, no que tange a
perseguição pessoal ou maléfica contra os menos favorecidos.

No Estado Democrático de Direito, a funcionalidade desse princípio, está na condição de se


utilizar um balizamento dos fatos e seus efeitos, de forma a não se abusar do uso do
excesso, no ato da aplicação de uma determinação por exemplo. O Juízo não pode
penalizar o jurisdicionado mais do que o necessário, para fins de atingir objetivos pessoais,
se proceder assim, automaticamente tornará a decisão inócua diante da realidade dos fatos.

É fundamental a utilização dos meios adequados para atingir os objetivos necessários


diante das obrigações de fazer e não fazer, tendo o jurisdicionado que adequar à decisão e
seu cumprimento diante da necessidade, de forma que não haja inconstitucionalidade diante
de uma medida excessiva, desproporcional, ou desarrasoada, diante da realidade dos fatos.

De acordo com a jurisprudência pátria, no que tange as decisões que envolvem obrigações,
a respeito do princípio da razoabilidade e proporcionalidade, o STJ assim se pronuncia:

Processo
AgRg no REsp 1124949 / RS
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL
2009/0033437-4
Relator(a)
Ministro CASTRO MEIRA (1125)
Órgão Julgador
T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento
09/10/2012
Data da Publicação/Fonte
DJe 18/10/2012
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. OBRIGAÇÃO DE DAR. DESCUMPRIMENTO. ASTREINTES.
FAZENDA PÚBLICA. RAZOABILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. É cabível a cominação de multa diária contra a Fazenda Pública,
como meio coercitivo para cumprimento de obrigação de fazer ou para
entrega de coisa. Precedentes:
2. Cumpre à instância ordinária, mesmo após o trânsito em julgado,
alterar o valor da multa fixado na fase de conhecimento, quando este
se tornar insuficiente ou excessivo. Precedentes.
3. Agravo regimental não provido.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior
Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo
regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin (Presidente), Mauro
Campbell Marques e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.
Informações Complementares
Aguardando análise.

Processo
EDcl no REsp 865548 / SP
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL
2006/0104349-3
Relator(a)
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA (1123)
Órgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento
23/03/2010
Data da Publicação/Fonte
DJe 05/04/2010
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS.
PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL. OBRIGAÇÃO DE FAZER.
LIBERAÇÃO DE HIPOTECA DE BEM IMÓVEL. MULTA DIÁRIA. ART. 461, §§ 4º e
6º, DO CPC. VALOR EXORBITANTE. REDUÇÃO. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE.
REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA N. 7 DO STJ. DECISÃO
AGRAVADA MANTIDA.
1. Admitem-se como agravo regimental embargos de declaração opostos
a decisão monocrática proferida pelo relator, em nome dos princípios
da economia processual e da fungibilidade.
2. Ao tempo que o legislador concedeu ao juiz a prerrogativa de
impor multa diária ao réu com vista a assegurar o adimplemento da
obrigação de fazer, ateve-se também com acerto a atribuir-lhe, em
qualquer época e grau de jurisdição, a faculdade de rever a
importância arbitrada, de modo a preservar a essência do instituto e
a própria lógica da efetividade processual (art. 461, §§ 4º e 6º, do
CPC).
3. Consectariamente, a diretriz jurisprudencial do Superior Tribunal
de Justiça tem admitido, por força do princípio da razoabilidade,
que é possível a redução do valor de multa diária em decorrência do
descumprimento de decisão judicial, quando aquele se revelar
exorbitante.
4. Afastar a multa imposta com base no art. 461, § 4º, do CPC, sob o
argumento de que foram adotadas todas as providências com o fito de
cumprir a obrigação de fazer – liberação de hipoteca de bem imóvel
–, em nítido dissenso do entendimento fixado nas instâncias
ordinárias, implica o reexame do acervo fático-probatório dos autos,
medida que esbarra no óbice da Súmula n. 7 do STJ
5. Decisão agravada mantida por seus próprios fundamentos.
6. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual
se nega provimento.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal
de Justiça, por unanimidade, receber os embargos de declaração como
agravo regimental e negar-lhe provimento nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão, Honildo Amaral de Mello


Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Fernando Gonçalves
(Presidente) e Aldir Passarinho Junior votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Referência Legislativa
LEG:FED LEI:005869 ANO:1973
***** CPC-73 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973
ART:00461 PAR:00004 PAR:00006 ART:00644

LEG:FED SUM:******
***** SUM(STJ) SÚMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SUM:000007

Veja
(REDUÇÃO DA MULTA DIÁRIA)
STJ - RESP 700245-PE,

10. APLICAÇÃO DAS ASTREINTES EM SEDE DE LIMINAR NO ÂMBITO DOS


JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS.
10.1 Do Procedimento do Pedido Inicial até a Decisão da Liminar nos Juizados
Especiais.

O procedimento na aplicabilidade das astreintes em sede de liminar no âmbito dos Juizados


Especiais deve observar desde o pedido na petição inicial ou de ofício pelo juiz, até sua
execução, de forma a não se atropelar as fases cognitivas do processo, causando um
descompasso no tramite legal. Inicialmente devemos tecer um breve comentário sobre a
ausência na lei 9.099/95 de especificidade no que tange a possibilidade de concessão de
medidas liminares no contexto dos Juizados Especiais Cíveis.

Apesar desse procedimento não estar expresso na lei 9.099/95, dos Juizados Especiais
Cíveis, essa modalidade está inteiramente em sintonia com a sua estrutura de
procedimentos, bem como com seus princípios fundamentais, visto que, o princípio da
celeridade processual, que é a base no procedimento dos Juizados Especiais Cíveis,
determina um menor espaço de tempo possível na solução dos litígios, de forma a garantir a
tutela jurisdicional.

A Constituição Federal de 1988, assim se pronuncia:

Art. 5º, XXXV – a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário


lesão ou ameaça a direito.

Logo, inicialmente, verificamos que a própria Constituição Federal garante que os Juizados
Especiais Cíveis, como representante do Poder Judiciário, em legislação especial, proteja
ameaça a direito, de forma a garantir o exercício das liminares em suas ações.

No que tange o CPC, como lei subsidiária a aplicabilidade da lei 9.099/95, é perfeitamente
plausível sua utilização, como forma de preenchimento das lacunas dessa lei, já que se
garante a segurança processual, bem como a legalidade dos atos processuais, incluindo
entre esses, as liminares, que dão de imediato, efetividade ao direito devidamente
comprovado.

A experiência na utilização das medidas liminares em sede dos Juizados Especiais Cíveis,
mesmo não existindo previsão expressa na lei 9.099/95, demonstra sua imprescindibilidade
para a adequada prestação jurisdicional, de forma a garantir ao jurisdicionado a efetividade
do direito pleiteado, evitando dano grave ou de difícil, reparação.

Segundo entendimento do professor Felippe Borring Rocha:

As tutelas liminares podem ser aplicadas nos Juizados Especiais, com


base nos dispositivos contidos no CPC e na legislação do Sistema dos
Juizados, não apenas em observância ao comando constitucional de
efetividade na prestação da tutela jurisdicional, mas também porque
tal medida está afinada com os seus princípios fundamentais. Pág.
146

Logo as liminares devem ser utilizadas no microssistema dos juizados especiais cíveis, de
forma a garantir a efetividade na prestação da tutela jurisdicional, desde que atendam aos
seus respectivos requisitos.

Sanado a possibilidade de aplicabilidade de liminares em sede de juizados especiais cíveis,


retornando aos procedimentos das astreintes nesse âmbito, devemos inicialmente descrever
que o termo pedido, utilizado em sede de juizados, de forma a garantir o acesso à justiça.

No CPC, chamamos o documento que inicia os procedimentos processuais de petição inicial,


já em sede dos Juizados Especiais Cíveis chamamos de “Pedido”, conforme preceitua o art.
14º da lei 9.099/95;

Art. 14° - O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido,


escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.

Não devemos fazer confusão entre pedido, como petição inicial em sede dos juizados, com
os pedidos que compõe tanto a petição inicial, como o documento de iniciação processual
(pedido) em sede dos Juizados Especiais Cíveis.

Inicia-se o processo em sede de Juizado Especial Cível, com uma petição inicial proposta
por advogado devidamente habilitado, ou do pedido, que deverá constar conforme preceitua
os princípios fundamentais, de simplicidade e linguagem acessível, identificação pessoal das
partes, bem como os respectivos endereços, fatos e fundamentos sucintos, objeto e valor da
causa, e se preciso for do pedido de tutela antecipada a termo, conforme necessidade e
apresentação dos requisitos necessários para sua concessão, utilizando claro o CPC de
forma subsidiária, tanto na construção do pedido, (art. 14º), como na elaboração da liminar
(tutela antecipada), utilizando-se para isso os artigos 273º, 282 e 283 do CPC.

O Pedido em sede de Juizado Especial Cível pode ser apresentado por escrito ou oralmente,
neste ultimo caso tendo a secretaria do Juizado que fazer a redução a termo, conforme o
artigo 14º, § 3º, da lei 9.099/95, mas que deve ser a interpretação do pedido feita de forma
mais elástica possível, de forma a não sucumbir direitos. Nesse ato a parte é limitada apenas
a um valor da causa de vinte (20) salários mínimos que se ultrapassado terá que ser
dispensada a sua diferença.
Art. 14º - Art. 14° - O processo instaurar-se-á com a apresentação do
pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.

§, 3º - O pedido oral será reduzido a escrito pela Secretaria do Juizado,


podendo ser utilizado o sistema de fichas ou formulários impressos.

Nos Juizados Especiais Cíveis é plenamente aceitável a cumulação de pedidos, conforme


preceitua o art. 15º da lei 9.099/95;

Art. 15º. Os pedidos mencionados no art. 3º desta lei poderão ser


alternativos ou cumulados; nesta última hipótese, desde que conexos
e a soma não ultrapasse o limite fixado naquele dispositivo.

Mas existe três condições para a cumulação de pedidos, ou seja, primeiramente esses
precisão ter uma conexão, bem como as causas de pedir, que nos Juizados chamamos de
conexidade objetiva, isso significa dizer que não basta que o réu seja o mesmo para que o
autor possa cumular diferentes pedidos no mesmo processo, sendo necessário, ainda, que
exista relação entre os pedidos ou as causas destes. Em segundo lugar esses pedidos tem
que serem de causas admissíveis no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, e finalmente que
a soma desses pedidos não ultrapasse a alçada de quarenta(40) salários mínimos, como
critério de valor da causa.

Passada a fase de iniciação do processo através do pedido, que pode vir ou não cumulada
com liminar(tutela antecipada), entraremos no juízo de admissibilidade do pedido ou da
petição inicial. De logo observamos a diferença entre os ritos ordinários e dos Juizados
Especiais, pelo fato das fases de recebimento do pedido ou da petição inicial, da distribuição,
da autuação, da citação, da conciliação e da arbitragem serem feitas pelos funcionários da
secretaria do Juizado Especial, logo não poderá haver juízo de admissibilidade antes da
instrução e julgamento, momento em que o juiz se apresenta no processo, de forma a tomar
conhecimento dos autos e se manifestar. Mas existe a possibilidade do juízo de
admissibilidade aparecer antes da fase instrutória, ou seja, na fase inicial do pedido, quando
o Requerente solicita o instituto da liminar (tutela antecipada), momento em que a secretaria
faz conclusão direta do pedido, para a apreciação do juízo, que pode deferir ou indeferir a
liminar (tutela antecipada), se deferir a liminar logicamente que deferiu a inicial, e se indeferir
a liminar, pode deferir ou indeferir a inicial.

No momento em que o juiz apreciar a liminar (tutela antecipada), e a mesma for deferida,
arbitrará a astreinte, independentemente se for solicitada ou não, no pedido ou na petição
inicial, para dar efetividade no cumprimento das decisões judiciais. Nesse caso específico as
astreintes funcionam como uma ferramenta no cumprimento da determinação judicial, pois
apesar do juiz possuir outras maneiras de obrigar o Requerido para dar cumprimento as suas
determinações, ela se mostra mais eficiente e menos desgastante no momento inicial do
processo.

10.2 Da Condição Necessária para a Cobrança das Astreintes e da


Possibilidade de sua Execução em Sede de Tutela Antecipada.

Existe uma condição necessária para se cobrar a multa em juízo, como forma de garantir
que o executado saiba a partir de quando começa a valer a cobrança das astreintes. Essa
condição é uma segurança jurídica, de forma a dar oportunidade à parte executada para
auferir quanto realmente deve cumprir a obrigação, e se não cumprir, pagar ou contestar a
referida cobrança.

Decisões do STJ sobre o assunto garante o direito do executado em relação as astreintes,


de forma a reconhecer que a sua cobrança somente poderia ser efetivada depois da
intimação pessoal do obrigado;

EMENTA: PROCESSO CIVIL. ASTREINTES. NECESSIDADE DE


INTIMAÇÃO PESSOAL. A intimação da parte obrigada por sentença
judicial a fazer ou a não fazer deve ser pessoal, só sendo exigível as
astreintes após o descumprimento da ordem. Recurso especial não
conhecido. (REsp 629.346/DF, Rel. ministro Ari Pargendler, Terceira
Turma DJ, 19/03/2007.

O STJ almejando garantir esse direito ao executado editou a súmula 410, de forma a tornar
expressa a determinação de que o executado esteja ciente das astreintes para poder se
defender de todas as suas conseqüências, se não vejamos;

Súmula 410 do STJ – “A prévia intimação pessoal do devedor constitui


condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento
da obrigação de fazer ou não fazer.”

Dessa forma o STJ afastou toda e qualquer arbitrariedade no que tange a cobrança das
astreintes, tornando esse procedimento claro diante da ciência do executado pela intimação,
que no caso é pessoal e intransferível.

No que tange a execução das astreintes, é perfeitamente viável a sua execução em sede de
tutela antecipada, antes da sentença definitiva no processo, de acordo com o Enunciado nº
22º, do FONAJE. Sendo assim, nas ações de obrigação de fazer, não fazer e entregar, já de
imediato o Requerente pode pedir o levantamento do valor das astreintes, que foram
executadas, em virtude da desobediência do obrigado, de forma a causar-lhe prejuízo
econômico, de forma a obrig´´a-lo a cumprir a obrigação imputada pelo juízo.
ENUNCIADO nº. 22º - A multa cominatória é cabível desde o
descumprimento da tutela antecipada, nos casos dos incisos V e VI,
do art 52º, da Lei 9.099/1995.

Desse modo o Requerente não precisa mais esperar o fim do processo para proceder a
execução das astreintes, de forma que o juízo não fica mais inerte diante de uma
desobediência, colocando logo em ação as penalidades cabíveis de modo a força o obrigado
a se manifestar sobre pena de prejuízo financeiro que só vai cessar quando cumprir com a
sua obrigação dentro da ordem processual.

10.3 Astreintes versus Valor da Causa no Âmbito dos Juizados Especiais


Cíveis.

Conforme preceitua o art. 3º, inc. I, da lei 9.099/95, o valor máximo da causa é de quarenta
(40) vezes o salário mínimo vigente na época, para incidência das ações de menor
complexidade, no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis.

“Art. 3º - O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação,


processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade,
assim consideradas:

I – as causas cujo valor não exceda a 40(quarenta) vezes o salário


mínimo.”

Dessa forma observamos que as causas no âmbito dos juizados especiais cíveis tem um
parâmetro sobre valores, com exceção das causas em relação à matéria, de forma que a
princípio não se pode permitir que os valores atribuídos as astreintes ultrapassem o valor de
referência da causa no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis.

Hoje a maior discussão no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis em relação as astreintes
está relacionada com a limitação de seu valor, de forma que exista um teto nas execuções
das mesmas, como forma de parâmetro, para que a parte Requerente não receba aquilo
que é indevido, promovendo o enriquecimento sem causa, e a parte Requerida não sofra
perda de patrimônio material indevido, no qual levaria a uma injustiça social.

A princípio devemos observar qual o objetivo literal das astreintes, ou seja, qual seu objetivo
em relação ao processo? Como nós já falamos anteriormente, é forçar o obrigado a cumprir
uma decisão judicial, bem como garantir a dignidade da justiça em suas determinações
mandamentais.

Em relação ao fato de forçar o obrigado a cumprir uma determinação judicial, estamos


diante de uma determinação judicial sancionatória, que procura penalizar as desobediências
sem fundamento, que causam mal estar social tanto para a parte Requerente, como para o
juízo. Já no que tange a dignidade da justiça, temos uma situação obrigacional que deve ser
respeitada, primeiramente por estarmos tratando de ordem judicial, ou seja de uma
determinação por um Poder da República que compõe o Estado, sendo assim temos que
garantir seu cumprimento como forma de preservar a jurisdição como meio na solução dos
conflitos.

10.3.1 Das Correntes Doutrinárias sobre a aplicabilidade das Astreintes em


Relação ao Valor da Causa.
Devido à falta de legislação específica sobre o valor que deve ser atribuído as astreintes no
âmbito das decisões em sede de liminares nos Juizados Especiais Cíveis, no que tange a o
não conflitamento com o valor da causa, surgiram diversas correntes doutrinárias, trazendo
diversos entendimentos, do qual até hoje não se configurou um entendimento jurisprudencial
consolidado dos tribunais superiores, de forma a dirimir esse conflito nas decisões. Dentre
todas essas correntes se destacam três de forma a sustentar a legalidade de sua aplicação
conforme os conceitos de cada uma delas. Na realidade o que existem são pontos de vistas
diferenciados, que procuram justificar cada uma à sua aplicabilidade, se não vejamos;

10.3.1.1 Corrente que Defende que as Astreintes não devem se relacionar com
o Valor de Alçada de Quarenta (40) Salários Mínimos dos Juizados Especiais.
Essa primeira corrente defende que não existe relação entre o valor das astreintes com o
valor da causa, pelo fato da primeira se tratar de forçar a parte a cumprir uma obrigação,
enquanto que a outra se destina a satisfazer a obrigação principal.

Na realidade para alguns juristas, as astreintes não são consideradas nem obrigação, de
forma que só existem até o obrigado cumprir a determinação judicial, sendo que depois de
cumprida elas desaparecem automaticamente, de forma a não vincular nenhum tipo de
cumprimento judicial, ou seja parece que nunca existiram. Segundo essa corrente não se
pode confundir a obrigação principal, com uma determinação do juízo, pois quando a parte
deixa de cumprir determinação do juiz em relação as astreintes, ela estar ofendendo a
dignidade da justiça e prejudicando a parte requerente de alguma forma, de modo que, a
responsabilidade em sanar a obrigação é do obrigado, que no momento em que cumprir o
determinado, não fica sujeito a nenhum tipo de punição cominatória.

Se não existe relação entre a obrigação principal e as astreintes, não pode haver relação
entre os valores de alçada no âmbito dos Juizados especiais e o valor das astreintes, pelo
fato de não haver conexão, sendo que uma não existe em relação à outra, já que são
dispositivos que existem dentro do mesmo processo com objetivos diferentes.

O mais importante sobre o raciocínio dessa corrente, está na condição das astreintes só
existirem pela falta de descumprimento da obrigação imposta pelo juízo, sendo que a cada
dia que passa os valores atribuídos às mesmas vão só aumentando, de modo que quando
passam do valor da obrigação principal, sua geração foi de inteira responsabilidade do
próprio obrigado, sendo que se o mesmo cumprisse a obrigação dentro do prazo estipulado
pelo juiz estaria automaticamente dispensado da existência das mesmas.

O Enunciado 144 do FONAJE, de acordo com essa primeira corrente doutrinária sobre as
astreintes idealiza uma maneira bem conveniente, para se interpretar esse conflito entre as
astreintes e o valor da obrigação principal, se não vejamos;
Enunciado 144 do FONAJE – “A multa cominatória não fica limitada
ao valor de quarenta (40) salários-mínimos, embora deva ser
razoavelmente fixada pelo juiz, obedecendo ao valor da obrigação
principal, mais perdas e danos, atendidas as condições econômicas
do devedor.”

A princípio o enunciado diz que “as astreintes não ficam limitadas ao valor de quarenta (40)
salários mínimos,” até este momento esse enunciado diz que não existe lei que associe
valor das astreintes ao limite de quarenta(40) salários mínimos; em seguida, diz que
“obedecendo ao valor da obrigação principal, mais perdas e danos”, ora, se as astreintes
devem obedecer a obrigação principal, mais perdas e danos, já não existe uma limitação
sobre o valorr de alçada de quarenta (40) salários mínimos. Esse enunciado demonstra
também a condição econômica do obrigado de forma que as astreintes causem um efeito
em relação a dar prejuízo para o obrigado.
10.3.1.2 Corrente que Defende que as Astreintes Devem se Submeter,
Juntamente com a Obrigação Principal a Alçada de Quarenta (40) salários
Mínimos dos Juizados Especiais.
Essa segunda corrente defende um limite na cobrança das astreintes, de forma que o valor
da causa em sede dos Juizados Especiais Cíveis ou seja quarenta(40) salários mínimos
sejam o limite da soma entre a obrigação principal e as astreintes.

Na realidade essa corrente defende um teto no valor da atribuição das astreintes com o
valor da obrigação principal, de forma a se o valor exceder esse teto dos Juizados Especiais
se tornar uma causa complexa, devido aos altos valores envolvidos de forma a gerar
recursos inapropriados para solução da questão.

Quando os Juizados Especiais Cíveis se comprometem a solucionar causas de menor


complexidade, estas também devem fazer referência ao valor, de forma que o litígio se torne
menos interessante economicamente, e mais atrativo do lado da solução amigável pela
conciliação entre as partes, tornando assim, a solução amigável mais efetiva, pelo fato de
deixarem de lado a busca pelo retorno econômico que a causa pode lhes proporcionar.

Essa corrente defende a utilização do teto do valor da causa em sede dos Juizados
Especiais Cíveis, para não banalizar o uso das astreintes, como forma de auferir ganhos
indevidos, pelo fato do valor da ação principal, se tornar irrisória frente aos valores auferidos
pelas astreintes. Desse modo se poderia inverter o sentido do processo diante da obrigação
principal, que se tornaria acessória frente ao valor econômico auferido pelas astreintes.

O juiz possui outros meios de buscar a efetividade processual, sendo assim as astreintes
não podem ser a única solução dos conflitos, de forma a ganhar uma dimensão mais
importante que a obrigação principal. No que tange a essa corrente, a solução dos conflitos
não possui um fim nas astreintes, mas sim um meio, de forma que na falta de sua
efetividade, o juiz procurará outros meios para solução da lide, de forma a buscar a paz
social.

De acordo com encontros dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, que aderiram a essa
Corrente doutrinária, observamos a preocupação na limitação do valor das astreintes, de
forma a não desmerecer o valor da obrigação principal.
Ementa 30 do ETRJECERJ – “Nas sanções pecuniárias fixadas em
sede dos Juizados Especiais, deve-se balizar o quantum fixado pelo
valor de alçada, estabelecido expressamente no texto da lei nº
9.099/95.

Ementa 77 do ETRJECERJ – “Intimação de sentença pelo correio.


Validade. Prova inequívoca do recebimento. Multa diária. Limitação
ao valor de alçada. Provimento parcial do recurso.”

Enunciado 25 do 8º ENCJEES – “A multa cominatória não fica


limitada ao valor de quarenta (40) salários-mínimos, embora deva ser
razoavelmente fixada pelo juiz, obedecendo-se o valor da obrigação
principal, mais perdas e danos, atendidas as condições econômicas
do devedor.”

10.3.1.3 Corrente que defende que as astreintes embora não submetida ao teto
de quarenta (40) salários-mínimos, não poderia ultrapassar, per si, o valor da
obrigação que busca efetivar, por aplicação analógica do art. 412 do CC.
As astreintes existem para dar efetividade ao processo, na busca do cumprimento da
obrigação, de forma a garantir a dignidade da justiça e a efetividade do processo. Já o
cumprimento da obrigação principal busca a dar satisfatividade à parte, de forma a garantir o
resultado pretendido no que tange a reparação do dano sofrido. De acordo com a corrente
em questão, as astreintes não podem ter um valor maior do que o valor estimado para a
obrigação principal, de forma que a busca na reparação do dano, deve ser o foco principal
do processo, enquanto as astreintes devem ser analisadas apenas como instrumentos, para
efetivação da busca pela reparação desse dano.

Essa corrente utiliza como aplicação analógica, o art. 412 do Código Civil, no qual assim se
expressa, in verbis;
Art. 412 CC – O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode
exceder o da obrigação principal.

De forma que não se podem aplicar as astreintes valores maiores do que os existentes no
próprio pedido da obrigação principal, pois estaríamos desvirtuando o objetivo do processo,
com relação aos fins a serem alcançados.

A corrente em análise expõe claramente que embora as astreintes não estejam vinculadas
ao teto de cobrança dos valores das causas imprimidas nos Juizados Especiais Cíveis, que
é de quarenta (40) salários mínimos, devem obedecer ao limite de não exceder o valor da
obrigação principal, de forma que não entrem em contradição com o art. 412 do CC, que
limita claramente o valor das astreintes ao valor da obrigação principal, de forma a não
haver desvirtuamento nos fins almejados pelo processo.

No que tange o objetivo do legislador em relação a este artigo, ele procurou limitar a pena
imposta a parte com obrigação a cumprir, de forma a trazer uma coerência, no que tange a
obrigação principal, pois não seria razoável termos uma desincompatibilidade entre os fins
almejados pelo processo, e as condições impostas pelo juízo para atingiir os objetivos
jurisdicionais.

Apesar do artigo em comento ser utilizado mais especificamente na multa contratual, de


forma a garantir uma penalidade para a parte que não cumprir com as suas obrigações
diante do contrato mútuo essa corrente utilizou o art. 412 do CC, como parâmetro para
incidência também nas multas impostas em obrigações de fazer e não fazer, como forma de
analogia, pelo entendimento do cabimento do artigo, como referência para legislação dos
Juizados Especiais Cíveis.

No entanto, entendo que essa corrente é descabida, no que tange a aplicabilidade do art.
412 do Código Civil, pelo fato de não se tratar as astreintes de cláusula penal, e sim
cominatória e de um instrumento do juízo, para efetividade das decisões judiciais, conforme
sua natureza jurídica; sendo que cumprida a obrigação, as astreintes deixam
automaticamente de existir.

Conforme já preceituado anteriormente, assim ensina o professor Fabiano Carvalho:


“A multa diária não é pena para sancionar o devedor pelo fato de não
haver cumprido a obrigação. Também não tem natureza de
ressarcimento dos danos. É meio de coação, de simples ameaça, que
tem por escopo constranger o devedor a cumprir a ordem judicial,
com finalidade de obter o resultado ideal.”

10.3.1.4 Corrente que Defende que o Valor das astreintes Sozinha, não poderia
ser Superior a Quarenta (40) Salários Mínimos, de modo que faltaria
competência dos Juízes dos Juizados Especiais Cíveis, para Imposição de
Valores Maiores que este.
Essa corrente trata especificamente da competência no valor da causa no âmbito dos
Juizados especiais Cíveis, de forma a não se poder estipular no mesmo processo a
incidência de astreintes que ultrapassem valor máximo de quarenta (40) salários mínimos,
pela falta de competência dos juízes, diante da limitação no valor da causa no âmbito dos
Juizados Especiais Cíveis. As astreintes como obrigação acessória, ou como meio do juízo
para atingir os fins do processo, funciona como uma garantia para o cumprimento da
obrigação principal, de forma que os juízes não podem desvirtuar dos objetivos principais da
tutela jurisdicional.

A competência estipulada nessa corrente leva em consideração o valor de admissibilidade


nas causas impetradas nos Juizados Especiais Cíveis, como parâmetro para aplicabilidade
das astreintes, pelo fato de não se poder haver contradições entre o valor da obrigação
principal, com o valor imposto pelas astreintes, de modo a não causar nenhum tipo de mal
estar para as partes, como para o próprio juízo.

Os Juizados Especiais Cíveis foram criados com o objetivo de resolverem as causas de


menor complexidade, de forma a garantir maior celeridade nessas ações, na busca da
pacificação social. Os juízes enfrentam essa questão, de modo a terem que equalizar o
valor máximo da causa no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis com o valor atribuído ao
cumprimento das obrigações, no caso das astreintes. Para isso os juízes contam com o
princípio da razoabilidade e proporcionalidade, de forma a garantir decisões prudentes no
sentido de buscar a satisfatividade processual dentro da obrigação principal. Esse princípio
é utlizado levando em consideração todo o contexto da causa, que vai desde as condições
econômicas das partes, até os objetivos pretendidos diante da tutela jurisdicional. Para isso
os juízes devem observar principalmente a necessidade da parte tutelante no que se refere
ver sua necessidade judicial suprida no contexto dos objetivos processuais a serem
alcançados.

Essa corrente entende que existe uma condição básica para validade do processo no
âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, que é a garantia de obediência a um valor de
referencia, de forma a não se cometer abusos diante da intenção na solução dos conflitos.
Para isso, as astreintes funcionam como uma das armas do juízo, de forma a garantir o
cumprimento da obrigação, mas não a única, de forma que o juízo não pode ficar inerte
diante do eventual descumprimento pela parte obrigada, desse modo a melhor solução seria
o acompanhamento do processo, pelo juízo, constatando a evolução na solução dos litígios,
trazendo segurança para o controle jurisdicional, de forma a mostrar a real efetividade nas
relações processuais.

Segundo entendimento do Encontro dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, o juiz deve
moderar o valor da cobrança nas astreintes, de acordo com o valor de alçada no âmbito dos
Juizados Especiais, de forma a trazer conformidade entre as determinações desse
microssistema;
Ementa 39 do ETRJECERJ: “Astreintes. Sua fixação pelo Juiz, a
contar do transito em julgado da sentença na fase de conhecimento,
como meio de compelir o devedor a satisfazer o julgado, atendo-se,
porém, aos limites de alçada da lei 9.099/95.”

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